Curso Recuperação de Áreas Degradadas

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Curso Recuperação de Áreas Degradadas
Curso Recuperação de Áreas
Degradadas
Módulo 1 – Degradação Ambiental
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Curso Recuperação de Áreas Degradadas
Módulo 1 – Degradação Ambiental
Fundamentos de ecologia
Tipos de processos do meio físico
Formas de degradação ambiental do solo
Consequências da degradação para a sociedade
Bases teóricas para a recuperação de áreas degradadas
O material desse módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
programa de educação do CENED. É proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na bibliografia consultada.
Tutor: Prof. Amarildo R. Ferrari
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Módulo 1 – Degradação Ambiental
1. FUNDAMENTOS BÁSICOS ECOLOGIA
Estamos começando o Módulo 1, nele vamos encontrar material sobre
fundamentos dos sistemas ambientais, sobre a sinergia entre os modelos
ecológicos e sobre as exigências para que estes sistemas e modelos se
mantenham em equilíbrio e pleno funcionamento.
A ecologia é sempre descrita como uma ciência que estuda os seres vivos e
sua relação entre eles. Entende-se que dentro do tema ecologia atualmente se
estuda o comportamento dos seres vivos, dos fenômenos ambientais e as
mudanças de correntes destes fenômenos tanto nos seres vivos, como no
clima. Para a escolha de um modelo de recuperação de área degradada –
RAD, é preciso conhecer profundamente a interação e a relação entre o
sistema a ser recuperado, portanto, deve ter domínio do sistema ecológico
determinante e de todas as exigências legais para efetuar o projeto de
recuperação.
Assim iremos definir alguns conceitos básicos e usuais dentro do tema a ser
tratado pelo curso e especifico em cada módulo.
Existe uma variedade de conceitos sobre meio ambiente, estes estão
dissipados pelas legislações estaduais do Brasil e na Política Nacional do Meio
Ambiente. As definições apresentadas geralmente são abrangentes, sendo
difícil o entendimento do que vem a ser meio ambiente, torna-se complexo e
figurativo determinar o perfil de meio ambiente observando somente às
definições legais. Porém o conceito apresentado pela ABNT é também
abrangente, mas determina com clareza os componentes que compõem o meio
ambiente.
Neste curso o conceito adotado será o formulado pela ABNT, conforme figura
apresentada abaixo (Proin/Capes & Unesp/IGCE, 1999).
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Portanto, meio
ambiente é a
interação entre
os meios físico,
biológico e
sócio-econômico
( 1 ) - O meio físico condiciona, primeiramente, as características do meio
biológico e sócio-econômico, através de fluxos de energia e matéria.
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( 2 ) e ( 3 ) - Os meios biológico e sócio-econômico, por realimentação,
completam a interação com o meio físico, regulando seus processos (Fornasari
Filho et al., 1992 apud Fornasari & Bitar, 1995).
O meio físico é um dos componentes que devem ser obrigatoriamente tratados
no EIA/RIMA, podendo ser considerado como passivo e/ou ativo, recebendo ou
deflagrando impactos e processos, em resposta à interação com determinado
empreendimento.
Neste contexto, devemos considerar o meio físico como "uma totalidade
estruturada em equilíbrio dinâmico, com seus vários aspectos guardando
relações de interdependência em termos causais, de gênese, evolução,
constituição e organização" (Leite, Fornasari Filho & Bitar, 1990).
Portanto, é necessário realizar uma abordagem integrada do meio físico,
enfocando a dinâmica de cada uma de suas formas de interação, envolvendo
desde fluxos energéticos atuantes no meio até seus componentes materiais.
Para isso deve-se rever noções fundamentais relacionadas com à inserção do
meio físico no contexto dos grandes ciclos terrestres (ciclo da água, do ar e das
rochas) e suas interações (Bitar, Fornasari Filho & Vasconcelos, 1990).
A figura abaixo sintetiza as informações descritas (modificado de Proin/Capes
& Unesp/IGCE, 1999).
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2. TIPOS DE PROCESSOS DO MEIO FÍSICO
Para abordar o meio físico nos Estudos Ambientais deve-se conhecer as
principais características dos processos do meio físico, para que seja feita a
melhor avaliação possível dos processos atuantes no meio em questão .
1- erosão pela água,
2- erosão eólica,
3- escorregamento,
4- queda de blocos,
5- queda de detritos,
6- rastejo de solo ("creep"),
7- corrida de massa,
8- subsidência,
9- carstificação
10- deposição de sedimentos ou partículas,
11- escoamento de água na superfície,
12- dinâmica de água no subsolo,
13- interações físico-químicas na água e no
solo,
14- dinâmica da água no ar,
15- potencialização e desencadeamento de
sismo,
16- radioatividade,
17- inundação,
18- processos pedogenéticos
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3. PROCESSO TECNOLÓGICO
A tabela acima apresenta os tipos de processos do meio físico.
Conjunto de técnicas utilizadas na implantação, no funcionamento, na
ampliação e na desativação de uma atividade modificadora do meio ambiente
(Fornasari Filho et al., 1992 apud Fornasari Filho & Bitar, 1995).
O entendimento dos processos tecnológicos como agentes de alteração
ambiental e seu potencial modificador dos processos do meio ambiente é de
fundamental importância para a realização do EIA, isso porque deve-se
conhecer em detalhes os processos tecnológicos de um empreendimento, para
analisar a interação destes com os meios físico, biológico e sócio-econômico.
A intervenção do PROCESSO TECNOLÓGICO sobre PROCESSO DO MEIO
FÍSICO acarreta, na maioria das vezes, em um PROCESSO ALTERADO. As
figuras a seguir esquematizam e exemplificam como o processo tecnológico
pode modificar os processos físicos, levando muitas vezes a sérios problemas
ambientais, com prejuízos econômicos associados.
Fonte: modificado de Fornasari Filho et al. (1992)
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EXEMPLO
No exemplo apresentado podemos observar uma área de uma antiga
mineração em zona urbana. A remoção da cobertura vegetal realizada pela
mineração, a impermeabilização do solo e a concentração do fluxo d´água no
loteamento (Processo Tecnológico) causaram a intensificação dos processos
físico, resultando no aparecimento de sulcos e ravinas, que podem evoluir para
boçorocas (Processos Alterados). Também como conseqüência, o material
erodido se acumula nas porções mais baixas (Processo Alterado)
Muitas vezes os processos físicos que vimos na página anterior são
acelerados, como no caso do exemplo acima, os processos de erosão pela
água e a deposição de sedimentos e partículas foram intensificados,
acarretando em prejuízo econômico pela necessidade de obras de correção
para a implantação de futuros empreendimentos na área alterada.
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Em geral, a área de expansão urbana apresenta muitos problemas ambientais
devido a intervenção brusca na dinâmica do meio físico pelos processos
tecnológicos, produzindo os processos alterados.
4. FORMAS DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DO SOLO
A degradação do solo caracteriza-se pela redução da fertilidade e dos
potenciais recursos oferecidos. Esta degradação pode levar à desertificação
da terra ou ao seu abandono como área cultivável e produtora de alimentos.
Conforme dados da FAO (1980),
“11% da área mundial não apresentam limitações para uso
agrícola; em 28% o clima é muito seco, e em 10% é muito
úmido; em 23% o solo apresenta desequilíbrios químicos
críticos e em 22% é muito raso; os 6% restantes estão
permanentemente congelados (Souza Araújo;Almeida;Teixeira
Guerra)”.
A produção de alimentos está sofrendo drástica redução. Este fato somado ao
vertical crescimento populacional tem criado novas situações de conflito em
diversas partes do mundo. Um dos fatores causadores da redução de
alimentos disponíveis à população é o mau uso das terras. As atividades
agrícolas com o uso indiscriminado de pesticidas e fertilizantes cria condições
favoráveis à infertilidade do solo e ao seu conseqüente abandono ou
desertificação. Em torno de 1990, foi constatado que devido às práticas
agrícolas inadequadas, 562 milhões de hectares de terras férteis haviam sido
degradados. Isto correspondia a 38% das terras agrícolas do mundo todo.
Desde então, 5 ou 6 milhões de hectares a cada ano apresentam severas
degradações.
A degradação do solo acontece de diversas maneiras, porém a mais conhecida
delas e causa maior impacto negativo é a erosão.
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4.1 Erosão
A erosão do solo é um processo natural e acontece pela ação do vento e da
água sobre as camadas superficiais do solo. O escoamento superficial da água
sobre o solo carrega consigo as partículas férteis e, aos poucos, cria uma
redução no potencial fértil do solo. A erosão eólica (ocasionada pelo vento)
desloca as partículas da camada superior do solo. Esse tipo de erosão é mais
comum em solos áridos ou semi-áridos.
“A perda dessa camada de solo reduz a fertilidade porque: a)
conforme o solo se torna mais denso e fino, fica menos
penetrável às raízes e pode se tornar superficial demais a elas;
b) reduz-se a capacidade de o solo reter água e torná-la
disponível às plantas, e c) os nutrientes para as plantas são
lavados com as partículas de
solo erodidas”.
(Souza
Araújo;Almeida;Teixeira Guerra)
A ação humana sobre o meio ambiente contribui grandemente para a
aceleração do processo erosivo do solo. Conseqüentemente temos “a perda de
solos férteis, a poluição da água, o assoreamento dos cursos d'água e
reservatórios e a degradação e redução da produtividade global dos
ecossistemas terrestres e aquáticos”.
(http://www.drenagem.ufjf.br/06erosao_02_Introd.htm )
A sociedade global como um todo tem perdas muito grandes devido à erosão
contínua dos solos, pois além do dano ao meio ambiente, problemas sociais e
econômicos gerados pela escassez de alimentos, criam clima de instabilidade
em muitas regiões do mundo. Devido ao assoreamento de reservatórios e de
cursos d’água, a energia e as regiões urbanas também são afetadas,
ocasionando grandes transtornos e gastos financeiros em busca de soluções.
Quando o solo é submetido a contínuas remoções da camada superficial
podem surgir a voçorocas e estas, se não forem controladas, tornam o solo
infértil à agricultura e podem prejudicar construções, obras viárias, projetos de
irrigação e até mesmo o abastecimento de energia elétrica.
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A erosão acontece em maior ou menor proporção dependendo das condições
naturais, do uso inadequado da terra ou mesmo das características das
encostas. O clima é uma das condições naturais que mais influencia na erosão,
especialmente as chuvas. Porém, qualquer forma de remoção da cobertura
vegetal, com ação humana ou não, facilita e promove a erosão.
4.2. Deterioração Química
Segundo Souza Araújo, Almeida e Teixeira Guerra, a deterioração química de
uma área geralmente consiste em;
a) perda dos nutrientes do solo;
b) Acúmulo de sais na camada superior do solo devido a diversos fatores
como:
i)“manejo mal realizado da irrigação ou alta concentração de
sais na água de irrigação ou atenção indevida à drenagem,
levando
facilmente
à
rápida
salinização
dos
solos,
especialmente em regiões áridas onde as altas taxas de
evaporação estimulam o processo; ii) invasão da água do mar
ou águas subterrâneas salinas em reservas de água de boa
qualidade...; iii) atividades humanas que elevam a evaporação
em solos com material salino ou com lençol freático salino”.
(Souza Araújo;Almeida;Teixeira Guerra)
c) A acidificação que ocorre por uso abusivo de fertilizantes ácidos ou por
drenagem em tipos de solo não adequados.
d) Pelas diversas formas de poluição (acúmulo de lixo, agrotóxicos,
derramamento de óleo, etc).
4.3. Deterioração física
Conforme (Souza Araújo;Almeida;Teixeira Guerra) são três os tipos de
deterioração física:
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a) Compactação do solo, geralmente ocasionado pelo pisoteamento
contínuo do gado sobre um determinado solo, pelo uso de máquinas
pesadas em solos sem estabilidade e pelo selamento e encrostamento
ocasionado pelas gotas de chuva.
b) Elevação do lençol freático até a zona radicular das plantas, ocasionada
pela entrada de excessiva quantidade de água, além da capacidade de
drenagem natural do solo. Isto acontece em sua maioria em áreas
irrigadas, mas também devido a enchentes.Esta forma de deterioração
do solo também eleva a salinidade.
c) Rebaixamento
da
superfície
de
solos
orgânicos
(subsidência),
ocasionado pela drenagem ou oxidação.
4.4. Desertificação
A desertificação é definida com um processo de deterioração e diminuição do
potencial produtivo de regiões de clima árido, semi-árido e sub-úmido seco. A
Conferência sobre Desertificação das Nações Unidas (UNCOD), em 1977,
definiu a desertificação como: “a redução ou destruição do potencial biológico
da terra, resultando, finalmente, no aparecimento de condições desérticas”. A
FAO em 1986, definiu a desertificação da seguinte maneira; “é somente um
aspecto extremo da deterioração dos ecossistemas, disseminada sob a
pressão combinada do clima adverso e da exploração agrícola”.
“As causas mais freqüentes da desertificação estão associadas ao uso
inadequado
do
solo
e
da
água
no
desenvolvimento
de
atividades
agropecuárias, na mineração, na irrigação mal planejada e no desmatamento
indiscriminado.
Conseqüências da desertificação:
Natureza ambiental e climática
Como perda de biodiversidade (flora e fauna), a perda de solos por erosão,
a diminuição da disponibilidade de recursos hídricos, resultado tanto dos
fatores climáticos adversos quando do mau e a perda da capacidade
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produtiva dos solos em razão da baixa umidade provocada, também, pelo
manejo inadequado da cobertura vegetal.
Natureza social
Abandono das terras por partes das populações mais pobres, a diminuição
da qualidade de vida e aumento da mortalidade infantil, a diminuição da
expectativa de vida da população e a desestruturação das famílias como
unidades produtivas. Acrescente-se, também, o crescimento da pobreza
urbana devido às migrações, a desorganização das cidades, o aumento da
poluição e problemas ambientais urbanos.
Natureza econômica
Destacam-se a queda na produtividade e produção agrícolas, a diminuição
da renda do consumo das populações, dificuldade de manter uma oferta de
produtos agrícolas de maneira constante, de modo a atender os mercados
regional e nacional, sobretudo a agricultura de sequeiro que é mais
dependente dos fatores climáticos.
Natureza político institucional
Há uma perda da capacidade produtiva do Estado, sobretudo no meio rural,
que repercute diretamente na arrecadação de impostos e na circulação da
renda e, por outro lado, criam-se novas demandas sociais que extrapolam a
capacidade do Estado de atendê-las”.
Fonte:
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./agropecuario/inde
x.html&conteudo=./agropecuario/artigos/desertificacao.html
5. CONSEQUÊNCIAS DA DEGRADAÇÃO PARA A SOCIEDADE
Em áreas onde a degradação é bastante acentuada, as terras podem ser
abandonadas ou mesmo transformadas em áreas de pastagens, ocasionando
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uma degradação cada vez maior e por vezes leva a uma infertilidade total. Em
áreas irrigadas onde o lençol freático eleva-se e em áreas com alto teor de
salinização o empobrecimento do solo e a sua degradação são acelerados.
Esta redução na capacidade produtiva da terra gera um empobrecimento
econômico de toda uma sociedade que depende dela para a sua manutenção.
O rápido crescimento populacional cria uma necessidade mundial de mais
alimentos e consequentemente o solo produtivo é superexplorado, causando
desequilíbrios grandiosos nos ecossistemas das áreas exploradas. Esta
superexploração gera um acelerado desgaste dos nutrientes presentes no solo
e em pouco tempo a terra produz pouco ou mesmo nada. Dessa forma, os
problemas agravam-se de modo grandioso, pois enquanto a população cresce
verticalmente e demanda por mais alimentos, as terras férteis diminuem
vertiginosamente.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura) dois milhões de pessoas não têm segurança alimentar, ou seja,
não possuem a qualquer instante o alimento que pode lhe proporcionar uma
vida saudável.
Estima-se que a produção de alimentos deverá aumentar em até 60% até 2025
para poder nutrir de modo desejável a população que até este ano estará em
aproximadamente 8,5 bilhões de pessoas. Porém, percebemos que diversas
regiões que necessitam aumentar sua produção alimentar sofrem de escassez
de água ou possuem terras em péssimo estado para produzir alimentos. As
terras são desgastadas rapidamente com o plantio contínuo de produtos,
erosão, fertilizantes, adubos e agrotóxicos. Essa relação desarmônica com as
terras cultiváveis tem ocasionado perda de biodiversidade e acelerado a
extinção de espécies.
A escassez de alimentos não afetará os países uniformemente, sendo que nos
países desenvolvidos da Europa e da América do Norte, com lento crescimento
populacional, sobram alimentos para exportar, enquanto em países em
desenvolvimento, com rápido crescimento populacional, má distribuição das
terras e degradação constante do solo e do meio ambiente, a tendência é uma
aceleração na falta de alimentos para a maioria da população. Esses países
sofrem do que a FAO chama de “déficit alimentar”, pois têm dificuldade de
produzir alimentos e de importar. Segundo a FAO são aproximadamente 800
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milhões de pessoas que vivem nestes países e que sofrem de má nutrição.
Outros países, com poucas terras para cultivar alimentos suficientes para sua
população, mas com recursos financeiros, importam alimentos de outros
países, como é o caso do Japão, Singapura, Chile e outros.
Nos últimos constatou-se que o crescimento populacional está sendo maior
que a produção de alimentos, principalmente na África e estima-se que em
poucos anos a China torne-se um grande importador de alimentos.
Em muitas áreas degradadas acontece um deslocamento populacional, pois
comunidades inteiras que viviam de suas terras não encontram mais nela
sustento e migram para outros lugares.
É interessante buscar soluções urgentes. A reforma agrária, a gestão local e
políticas de conscientização que evitem a erosão dos solos podem contribuir no
aumento da produção alimentar. A voz das populações locais deve ser ouvida,
em especial a das mulheres, que são na maioria dos casos, as responsáveis
pelo alimento e água para a sua família. Os governos locais e a nível de
cooperação internacional devem trabalhar para valorizar as comunidades locais
e empenhar-se para que estas tenham segurança alimentar, acesso ao
alimento e possibilidades de comprá-lo.
6. BASES TEÓRICAS PARA A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
A multidisciplinaridade de conhecimento tem sido considerado como a base
eficiente para o sucesso do processo de restauração de áreas degradadas,
entendido como um conjunto de ações idealizadas e executadas por
especialistas das diferentes áreas do conhecimento, visando proporcionar o reestabelecimento de condições de equilíbrio e sustentabilidade, existentes nos
sistemas naturais.
O desenvolvimento de modelos de recuperação de áreas degradadas também
tem sido um tema de estudo, com suporte técnico em três princípios básicos: a
fitogeografia, a fitossociologia e a sucessão secundária Muito se tem avanço,
nos últimos anos, no que diz respeito à “restauração florestal” e tem-se
desenvolvido pesquisas e muito se tem agregado conhecimentos, envolvendo
dinâmica de formações florestais nativas. Isto não elimina a necessidade de
muitos outros estudos que preencham lacunas do conhecimento e promovam
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um maior sucesso dos projetos de recuperação e conservação da
biodiversidade.
A pesquisa vem evoluindo no sentido, de determinar ferramentas mais
eficientes nesta área, existem hoje, diversos modelos possíveis de serem
utilizados no repovoamento vegetal, pelo plantio de espécies arbóreas de
ocorrência em ecossistemas naturais, procurando recuperar algumas funções
ecológicas das florestas, bem como a recuperação dos solos. Em geral estes
modelos envolvem levantamentos florísticos e fitossociológicos prévios, bem
como estudos da biologia e ecologia e da ecofisiologia das espécies em
bancos de sementes, em viveiros e em campo, o que, em conjunto com um
melhor
conhecimento
de
solos,
microclimas,
sucessão
secundária
e
fitogeografia, deve favorecer a auto-renovação da floresta implantada. Poucos
estudos são encontrados sobre a recuperação de áreas de cerrado e de
vegetação de manguezais e das restingas litorâneas no estado de São Paulo,
por exemplo, apesar de serem fortemente impactadas pela ocupação humana
desde o princípio da colonização européia até os dias atuais. As áreas de
restinga com características naturais são raras e ainda em menor escala
aquelas que estão protegidas em Unidades de Conservação sendo que as
florestas de restinga estão entre os ecossistemas brasileiros que mais vêm
perdendo espaço por ações antrópicas.
As experiências de recuperação de áreas de restinga ainda são preliminares,
sem muitos dados conclusivos, dificultadas pela grande relação da vegetação
com a dinâmica da água no solo e sua qualidade, intensidade e freqüência
(Rodrigues & Camargo, 2000; Carrasco, 2003).
Os trabalhos desenvolvidos por Casagrande et al. (2002 a, b) Reis-Duarte et al.
(2002 a; b) indicam que as correlações entre fertilidade de solo e
desenvolvimento da vegetação de restinga devem proporcionar informações
para o melhor entendimento dos modelos de recuperação desse ecossistema.
Os cerrados paulistas têm também uma situação bem crítica, sendo que dos
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cerca de 14% da área do território paulista ocupado originalmente por cerrados,
hoje estariam reduzidos a menos de 4%, estando praticamente desaparecidas
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as grandes manchas de cerrado que existiram no Estado (Serra Filho et al.,
1975; Durigan, 1996; Kronka, 1998). Poucos estudos preocupam-se com a
recuperação destas áreas, destacando-se os trabalhos de Bertoni (1992),
Cavassan et al. (1994), Durigan (1996), Durigan et al. (1997), Correa & Melo
Filho (1998) e Correa & Cardoso (1998).
As matas ciliares, ripárias ou de galeria, geralmente aquelas com flora
influenciada pela formação vegetal circundante, são as que têm recebido maior
atenção dos pesquisadores, quer pela sua importância ecológica na
manutenção da biodiversidade ou de corredores biológicos, quer pela sua
importância na manutenção da qualidade hidrológica dos mananciais sendo
necessário, no entanto, considerar a região ecológica em que elas se localizam
(cerrado ou floresta) o que pode facilitar a forma de recuperação.
Mesmo com os avanços obtidos nas pesquisas desenvolvidas, os modelos de
recuperação gerados ainda estão limitados ao âmbito da ciência e da situação
a ser recuperada, com aplicabilidade restringida, muitas vezes, pelos altos
custos de implantação e manutenção, sendo necessário maior envolvimento da
pesquisa científica no desenvolvimento de tecnologias cada vez mais baratas e
acessíveis
Sabe-se que a conservação in situ de recursos genéticos tem sido considerada
a forma mais efetiva, principalmente para os casos em que toda uma
comunidade de espécies está sendo o objetivo da conservação. Nesse caso,
não só as espécies alvo, que têm valor econômico atual, como também
aquelas de valor potencial, devem estar incluídas na programação de
conservação genética, inclusive também os seus polinizadores, dispersores de
sementes e predadores. Ressalta-se a necessidade de se conhecer
geneticamente as espécies em conservação, não bastando apenas mantê-las
intocáveis na área onde as espécies em conservação estejam ocorrendo.
Sem dúvida, as florestas tropicais formam os biomas com maior diversidade de
espécies do planeta, tendo sido o alvo da discussão para conservação in situ e
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objeto de um acordo mundial assinado por cerca de 170 países na Rio-92, que
foi a Convenção da Diversidade Biológica. Para o Brasil, que possui dois
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biomas florestais tropicais de suma importância, a Amazônia e a Mata
Atlântica, a discussão sobre a conservação genética in situ é de importância
estratégica, justamente neste momento em que a grande evolução do
conhecimento da biotecnologia de ponta coloca em evidência a biodiversidade
como uma das mais valiosas matérias primas no mundo em termos
econômicos, principalmente para a indústria farmacêutica e de química,
envolvendo a produção de cosméticos e indústria alimentícia.
Proteger o meio ambiente não significa impedir o desenvolvimento. O que se
faz necessário é promover o desenvolvimento em harmonia com o meio
ambiente. Daí a idéia de “desenvolvimento sustentável”, que tomou corpo nas
últimas décadas e norteia a ação dos órgãos públicos encarregados da defesa
do meio ambiente, no mundo todo.
O êxito dos projetos de recuperação de áreas degradadas só ocorrerá se
houver uma manutenção constante as mudas plantadas e um monitoramento
da condição permanente do sistema ambiental natural
A degradação das áreas pode ocorrer por ação natural ou antrópica, mas
sempre ficará um rastro de impacto ambiental negativo, onde muitas das
vezes, torna-se irrecuperável a função do sistema natural. Avaliar o grau de
impacto e a metodologia a ser aplicada para recuperação desta área é a
designação do profissional que irá trabalhar nesta atividade.
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Referências Bibliográficas
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