Universidade, para sempre uma experiência

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Universidade, para sempre uma experiência
Universidade, para sempre uma experiência.
Trabalho Final de Amanda Salimon, n° USP 7166871.
1. Introdução
Mais do que uma fonte de educação e ensino, uma universidade é um rito de passagem
para muitos, onde encontram amigos, professores e ensinamentos (que muitas vezes
nem são acadêmicos) que levarão para o resto da vida.
A USP, Universidade de São Paulo, é uma universidade pública, mantida pelo Estado
de São Paulo e ligada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência e
Tecnologia. Em seus 79 anos de existência (criada em 1934), ela tornou-se uma das
maiores instituições de ensino superior da América Latina, com participação em
diversos rankings mundiais e possui em torno de 90.000 alunos, graduandos e pósgraduandos, matriculados por ano.
Porém, não estamos aqui para discorrer sobre a grandiosidade dessa Universidade, já
que sua magnitude encontra-se registrada em páginas da Internet para quem se
interessar. O importante, dentro dessa imponência, é pontuar que o futuro das
universidades e, principalmente, da USP, tem um relação direta com o futuro do país, já
que nela produzimos conhecimento, tecnologia e seres humanos pensantes.
Por isso, queremos refletir um pouco, a partir desse trabalho, como seria a USP daqui a
20 anos, o que queremos para nossa Universidade até lá.
2. IEA – Instituto de Estudos Avançados
Preocupado com o rumo intelectual e organizacional da USP, temos o Instituto de
Estudos Avançados a Universidade de São Paulo1, também conhecido como IEA. O
Instituto preocupa-se com a difusão das ideias resultantes do diálogo entre as diversas
áreas de trabalho intelectual.
Os estudos produzidos pelo IEA são divulgados na revista “Estudos Avançados” e em
outras plataformas online, como em ouros meios de comunicação da USP. Além disso,
os grupos de pesquisa do Instituto também realizam diversos eventos diversificados
durante o ano em espaços dentro e fora da Universidade.
1
IEA. Disponível em: <http://www.iea.usp.br>. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
1
A finalidade do IEA é realizar estudos e reuniões públicas sobre questões
fundamentais e palpitantes da ciência e da cultura, bem como estar atento aos
desafios estratégicos com que a sociedade brasileira se defronta, oferecendo a
ela subsídios, alternativas e formulações que contribuam para a elaboração de
políticas públicas. A publicação e divulgação dos resultados também são
prioridade. (STEINER, 2003, p. 01)2.
Dentre esses diversos eventos e publicações, outra importante parte do IEA é a
plataforma metalinguística Sala Verde3, que discute e organiza as principais ideias e
debates que inspiram o projeto institucional da gestão do IEA.
Mas qual o principal papel que percebemos no IEA perante a uma Universidade tão
grandiosa? A plataforma de crítica institucional e de vanguarda no interior da
Universidade, que é um sistema conservador.
A sociedade atual e a tecnologia não nos permite que fiquemos estagnados em certas
ideologias e pensamentos, ainda mais com as mudanças que acontecem cada vez mais
rápido e desestruturam conceitos e formas.
Se isso acontece nesse exato momento, imagine daqui a 20 anos.
3. Uma visão do Futuro
Vinte anos é muito tempo, pensar em como seria uma universidade daqui a 5 anos já é
complicado, imagine quatro vezes isso.
Com a tecnologia invadindo nossas vidas, é inevitável que ela tenha uma participação
crucial nas mudanças que estão por vir. Muitos acreditam que educação a distância,
também conhecida como EAD, é uma das saídas. Um de seus principais defensores, o
professor do MIT Anant Agarwal, foi o presidente e criador do primeiro curso da edX,
uma plataforma de aulas gratuitas pela internet (MOOC, na sigla em inglês) (NOVAES,
2013)4.
2
STEINER, João. A missão do IEA. IEA. 24-30 de Novembro de 2003. Disponível em:
<http://www.iea.usp.br/iea/sala-verde/textos-1/a-missao-do-iea>. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
3
Sala Verde. IEA. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/iea/sala-verde>. Acesso em: 25 de junho de
2013.
4
NOVAES, Marina. “Guru” da educação online, professor do MIT defende a qualidade da EAD. Portal
Terra,
Notícias.
Disponível
em:
<http://noticias.terra.com.br/educacao/guru-da-educacao-online-
professor-do-mit-defende-qualidade-da-ead,56b7d1ad5c9dd310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>.
Acesso em: 25 de Junho de 2013.
2
Agarwal discursa que os quatro ou cinco anos que passamos na universidade são
desnecessário, que podemos simplesmente assistir aos vídeos online e fazer diversos
exercícios que são corrigidos online e voltarmos para o campus da universidade
somente para discutir com professores e colegas.
Diversas outras ações semelhantes foram discutidas no evento realizado pelo
Inspirare/Porvir e pela Fundação Lemann, em São Paulo: Transformar5. Todas apostam
em um futuro no qual “os alunos vão usar cada vez mais de modelos híbridos, assistindo
vídeoaulas, se encontrando em grupos de discussão fora da sala de aula” (PORVIR,
2013).
Porém, será essa a melhor saída para a educação?
O estudioso Zigmunt Bauman foi o cunhador do termo modernidade líquida, com o
qual explica que, na sociedade moderna em que estamos, todas as nossas certezas foram
deixadas para trás, e ideias e conceitos antes sólidos, moldam-se como líquido às
mudanças e acontecimentos.
Bauman, quando discorre sobre educação, defende que ela é o caminho para se mudar a
sociedade, são os seres humanos que, com suas predisposições internar, podem
reorganizar as percepções do mundo.
O problema de não ser fácil nos dias de hoje é porque ninguém realmente
sabe onde está a força da ação de educar. Está na escola? Na universidade?
Na internet? Nas ruas? Nos comerciais? Você provavelmente já foi
confrontado pelo Walmart por mais comerciais do que o seu avô foi em toda
a vida dele. Tudo isto são forças educacionais. O impacto da cadeira escolar é
limitado! Se você quer ir para um outro caminho você tem que nadar contra a
corrente. Esse é de certa forma o problema da educação. (BAUMAN apud
MANFIO, 2012, p. 06)6.
O estudioso polonês afirma que são diversas as formas educacionais que nos guiam, o
professor formal é mais um guia do que a fonte de informação e sabedoria como era
antigamente. Quando questionado se a educação deve ser líquida ou sólida, Bauman
afirma que:
5
PORVIR. “A oportunidade do Brasil na educação é agora”. Porvir.Org. 05 de Abril de 2013.
Disponível em: <http://porvir.org/blog/a-oportunidade-brasil-na-educacao-e-agora/20130405>. Acesso
em: 25 de Junho de 2013.
6
MANFIO, João Nicodemos Martins. Educação líquida ou sólida? Relações entre Bauman, Bourdieu e
Gramsci para uma análise crítica da Educação. 36º Encontro Anual da ANPOCS. GT08 Educação e
Sociedade. Maio 2012. Disponível em:
<http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=7927&Itemid=76>
. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
3
...um dos desafios decisivos da educação permanente para a “outorga de
poderes” está ligado à reconstrução do espaço público hoje cada vez mais
desabitado, onde homens e mulheres possam empenhar-se em uma realização
contínua dos interesses, dos direitos e dos deveres individuais e comunitários,
privados e públicos. (BAUMAN, apud PORCHEDDU, 2009, p. 680)7.
[grifos nossos]
Acreditamos, então, em uma visão futura, que o misto de aprendizado extraclasse,
proveniente de diversas fontes, principalmente das tecnológicas, será essencial no
futuro, porém, um espaço para conversa e discussão é mais do que fundamental.
O sociólogo francês Dominique Wolton que explica em cinco etapas sua teoria da
comunicação (NASCIMENTO, 2012, p.02)8:
1) Comunicação é inerente à condição humana, viver é comunicar;
2) Queremos comunicamos por três razões: compartilhar, seduzir e convencer,
mesmo que não explicitemos;
3) Porém, esbarramos na incomunicação: “os receptores não estão sintonizados ou
discordam das mensagens que o incomodam, ao mesmo tempo em que almejam
mostrar seu modo de ver o mundo” (NASCIMENTO, 2012, p.02);
4) Quando acontece a incomunicação, abre-se uma fase de negociação, em que
tentam chegar a um acordo;
5) Depois da negociação, há a coabitação e convivência, que tentam a evitar a
incomunicação e as suas consequências.
A primeira etapa já é essencial para entendermos porque discutirmos com o outro é tão
importante, é essencial do humano. Por mais que voltemos ao campus para discutir com
colegas e professores, não é a mesma coisa que estar dentro de uma sala de aula e surgir
uma dúvida que possa ser sanada imediatamente através do conhecimento e da
experiência do outro.
7
PORCHEDDU, Alba. Zygmunt Bauman: Entrevista Sobre A Educação. Desafios Pedagógicos e
Modernidade Líquida. Segunda parte da entrevista: Os desafios da educação: aprender a caminhar sobre
areias movediças. Espaço Plural. Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 137, maio/ago. 2009. P. 661-684.
Disponível em: <661-684 http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n137/v39n137a16.pdf>. Acesso em: 25 de
Junho de 2013.
NASCIMENTO, Bruno Ribeiro. Resenha: Informar não é comunicar. Revista Temática. Ano VIII, n.
07. Julho/2012. Disponível em: <http://www.insite.pro.br/2012/Julho/resenha_informar_comunicar.pdf >.
Acesso em: 23 de Junho de 2013.
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Quando há um confronto de ideias e opiniões, uma incomunicação (etapa 3), a
universidade é o local ideal para se haja negociações e o incentivo do IEA, através da
transdisciplinaridade, abertura para diferentes profissionais e assuntos, é crucial nessa
etapa em termos mais amplos, quando a incomunicação acontece fora da sala de aula
física.
Dessa forma podemos, mesmo recebendo tanto informação das redes e de programas à
distância, partilhar o saber através da comunicação e negociarmos juntos, já que essa
etapa é fundamental para crescermos como ser humanos e como sociedade. É essa etapa
que devemos carregar ao sair da universidade e partilhar com o mundo.
4. Considerações... Finais?
Se pudéssemos olhar para o início da nossa vida universitária, tenho certeza que
teríamos feito muitas coisas diferentes. Muitas delas estão associadas ao que a USP tem
a nos oferecer e desconhecemos.
O que percebemos da Universidade como um todo são diversos caminhos obscuros que
possuem pontos de chegada muito interessantes, alguns simples como o próprio IEA,
desconhecido por muitos; projetos de iniciação científicas, os quais ouvimos falar desde
nossos primeiros anos, mas que, quando percebemos suas importância, normalmente já
estamos ocupados pensando em estágios e nossa carreira profissional fora da
universidade.
Palestras, workshops, projetos. Uma Universidade tão grande e tão atrativa que parece
que esconde seus maiores tesouros para aqueles que não pertencem à mesma unidade ou
campus.
Esse é mais do que um detalhe que precisa ser melhorado, e não daqui 20 anos.
5
5. Bibliografia
GROSSMANN, Martin. Novos desafios se apresentam ao IEA da USP. Projeto de
Gestão
2012-17.
25
de
Abril
de
2012.
Disponível
em:
<http://www.iea.usp.br/iea/sala-verde/textos-1/projeto-de-gestao-do-iea-20122017>.
IEA. Disponível em: <http://www.iea.usp.br>. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
MANFIO, João Nicodemos Martins. Educação líquida ou sólida? Relações entre
Bauman, Bourdieu e Gramsci para uma análise crítica da Educação. 36º
Encontro Anual da ANPOCS. GT08 Educação e Sociedade. Maio 2012.
Disponível
em:
<http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view
&gid=7927&Itemid=76>. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
NASCIMENTO, Bruno Ribeiro. Resenha: Informar não é comunicar. Revista Temática.
Ano
VIII,
n.
07.
Julho/2012.
Disponível
em:
<http://www.insite.pro.br/2012/Julho/resenha_informar_comunicar.pdf
>.
Acesso em: 23 de Junho de 2013.
NOVAES, Marina. “Guru” da educação online, professor do MIT defende a qualidade
da
EAD.
Portal
Terra,
Notícias.
Disponível
em:
<http://noticias.terra.com.br/educacao/guru-da-educacao-online-professor-domit-defende-qualidade-daead,56b7d1ad5c9dd310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>. Acesso em: 25
de Junho de 2013.
PORCHEDDU, Alba. Zygmunt Bauman: Entrevista Sobre A Educação. Desafios
Pedagógicos e Modernidade Líquida. Segunda parte da entrevista: Os desafios
da educação: aprender a caminhar sobre areias movediças. Espaço Plural.
Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 137, maio/ago. 2009. P. 661-684. Disponível em:
<661-684 http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n137/v39n137a16.pdf>. Acesso em:
25 de Junho de 2013.
PORVIR. “A oportunidade do Brasil na educação é agora”. Porvir.Org. 05 de Abril de
2013. Disponível em: <http://porvir.org/blog/a-oportunidade-brasil-na-educacaoe-agora/20130405>. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
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PORVIR. Confira os termos mais atuais no mundo da educação. Porvir.Org. 05 de
Abril de 2013. Disponível em: <http://porvir.org/porpensar/confira-os-termosmais-atuais-mundo-da-educacao/20130313>. Acesso em: 25 de Junho de 2013.
Sala Verde. IEA. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/iea/sala-verde>. Acesso em:
25 de junho de 2013.
STEINER, João. A missão do IEA. IEA. 24-30 de Novembro de 2003. Disponível em:
<http://www.iea.usp.br/iea/sala-verde/textos-1/a-missao-do-iea>. Acesso em: 25
de Junho de 2013.
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