BRASIL
Transcrição
BRASIL
Ano 11 nº 6 - novembro/dezembro de 2012 ISSN 1678-2410 Enfermagem Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012 Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL Assistência de enfermagem Infecção hospitalar • Processo de trabalho dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família • Enfermeiro na recuperação de dependentes de álcool • Uso do açúcar em úlceras de pressão • Práticas de humanização em UTI • Promoção da saúde do idoso • Higienização das mãos: adesão da equipe multidisciplinar Hipertensão arterial • Medicamentos como fatores de risco para hipertensão Resíduos hospitalares • Gerenciamento de resíduos sólidos em UTI 13 anos www.atlanticaeditora.com.br Enfermagem BRASIL Índice Volume 11 número 6 - Novembro / Dezembro de 2012 EDITOR CIENTÍFICO – Presidente do Conselho Científico Prof . Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo) CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS – Mato Grosso do Sul) • Profa. Dra. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra – Portugal) • Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro) • Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC – Santa Cruz do Sul) • Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba) • Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO – Rio de Janeiro) • Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF – Rio de Janeiro) • Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM – Maringá) • Profa. Dra. Jacileide Guimarães (UFRN – Rio Grande do Norte) • Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante – Espanha) • Profa. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL – Londrina) • Profa. Dra. Márcia Galan Perroca (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo) • Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP – Ribeirão Preto) • Profa. Dra. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) • Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA – RS) • Profa. Dra. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem – IPVC – Portugal) • Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul) • Profa. Dra. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ – Rio de Janeiro) • Profa. Dra. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP – Campinas) • Profa. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG – Belo Horizonte) • Profa. Dra. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP – São José do Rio Preto) • Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio – Rio de Janeiro) • Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) • Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo) • Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO – Rio de Janeiro) • Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba) • Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP – Ribeirão Preto) • Profa. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC – Santa Catarina) • Profa. Dra. Taka Oguisso (USP – São Paulo) • Profa. Drª Teresa Tonini (UniRio – Rio de Janeiro) • Profa. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG – Rio Grande do Sul) • Profa. Dra. Vera Regina Salles Sobral (UFF – Rio de Janeiro) • Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO – Rio de Janeiro) • Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG – Rio Grande do Sul) a GRUPO DE ASSESSORES Profa. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul) • Profa. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul) • Profa. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) • Profa. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) • Profa. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio – Rio de Janeiro) • Prof. Ms. William Malagutti (UGF – São Paulo) E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Administração e vendas: Antonio Carlos Mello [email protected] Editor executivo: Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor assistente: Guillermina Arias [email protected] Direção de arte: Cristiana Ribas [email protected] Marketing e Publicidade: Rainner Penteado [email protected] EDITORIAL Anatomia orientada para Pós-Graduação Lato Sensu em Enfermagem Obstétrica: experiência de uma gestação sem distocia, Fernando Batigália............................................. 319 ARTIGOS ORIGINAIS Promoção da saúde do idoso: desafios contemporâneos para a administração pública municipal, Wiliam César Alves Machado, Nébia Maria Almeida de Figueiredo, Rodrigo Sousa de Miranda, Carla Oliveira Shubert, Queila Gaudino................................... 320 Uso do açúcar na cicatrização de úlceras de pressão, Eduardo da Rosa Brandão, Thaís Fronczak, Andersom Ricardo Fréz, Marinêz Boeing Ruaro, João Afonso Ruaro ............................... 329 Higienização das mãos: adesão da equipe multidisciplinar de saúde de um hospital ao norte do Estado de Minas Gerais, Écila Campos Mota, Mirelle Gonçalves de Melo, Viviane Ribeiro Barbosa, Joanilva Ribeiro Lopes, Luís Paulo Souza e Souza, Carla Silvana Oliveira e Silva, Diego Dias de Araújo ........................... 334 Processo de trabalho e os resultados dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família de um município do Sul do Brasil: o olhar do enfermeiro, Francielle Rosso Mazzuchello, Luciane Bisognin Ceretta, Valdemira Santina Dagostin, Francielle Lazzarin de Freitas Gava........................................... 340 Utilização de serviços de atenção básica à saúde por caminhoneiros, Helisamara Mota Guedes, Alessandra Custódio de Paula, Aline Mara da Conceição Silva, Martha Elisa Ferreira de Almeida.................. 347 Gerenciamento de resíduos sólidos em unidade de terapia intensiva, José Dionísio de Paula Júnior, Sandra Maria Jannotti Quintão, Maria Augusta Coutinho de Andrade Oliveira, Larissa Rosa da Neiva Sampaio, Letícia Moreira Carlos................ 353 Alcoólicos Anônimos e o processo terapêutico, Marcos Michel dos Santos, José Otávio Feltrim, Ana Regina Losso, Sonia Maria Correa, Luciane Bisognin Ceretta, Maria Tereza Soratto .............. 358 REVISÕES Práticas de humanização na assistência de enfermagem prestadas aos clientes em unidades de terapia intensiva, Magno Conceição das Merces, Juliana Bahia Rigaud, Fabricia Passos Pinto, Layara Souza, Maria Lucia Silva Servo...................................... 365 Medicamentos como fatores de risco para hipertensão arterial secundária: um saber necessário para a enfermagem, Fernanda Furtado da Cunha, Luciana de Paiva Rêgo, Andrezza Ozela de Vilhena..................................................... 373 NORMAS DE PUBLICAÇÃO........................................ 379 EVENTOS....................................................................... 380 Atendimento: (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura: 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisiologia do Exercício, Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Síndromes I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Editorial Anatomia orientada para Pós-Graduação Lato Sensu em Enfermagem Obstétrica: experiência de uma gestação sem distocia Fernando Batigália* Na era globalizada da Farmacogenômica, da Epigenética e da Genômica Comparada e Funcional, o avanço científico tem se associado ao progresso tecnológico: tudo é exponencial e tende a ser efetuado rapidamente. Nesta avalanche de ideias e ideais que compõe a “geração Y”, o ensino e o aprendizado devem também se modernizar, ao se concentrarem menos na transmissão intensiva de informações, e mais em como a formação deve ser atualizada e eticamente elaborada. Neste contexto, desde 2004, elaborou-se a disciplina de Anatomia Obstétrica no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Enfermagem Obstétrica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (Enfobs/EspecialiZa/FAMERP). Objetivos incluem reforçar, atualizar, aplicar, adaptar e monitorar o aprendizado de conceitos e situações em anatomia clínica ou cirúrgica da pelve, do períneo, do útero e da parede do abdome aplicados à vida profissional cognitiva, psicomotora e ético-atitudinal do enfermeiro obstétrico. As aulas presenciais seguem uma dinâmica que prioriza a interação (por meio da preleção), o fluxo e a problematização de conceitos e de situações clínicas ou cirúrgicas, com o devido respeito ao tempo necessário para a interiorização das ideias, para a adequada manutenção do aprendizado e para a permissão de criatividade. As avaliações (presenciais e on-line) focam a capacidade do aluno em autogerenciamento e o seu grau de envolvimento ético-cognitivo. A disciplina é estruturada por atividades em pré-aulas, aulas presenciais com atividades em grupo, atividades em pós-aulas, avaliações (presenciais e on-line) e autogerenciamento. O material introdutório de todas as pré-aulas é imediatamente disponibilizado ao aluno, a fim de promover familiarização de conceitos por prévia revisão de conteúdos ao longo de todo o curso, a partir da seguinte disposição organizacional e dinâmica: anatomia clínica da pelve orientada para a Enfermagem, anatomia clínica do períneo orientada para a Enfermagem, anatomia da parede do abdome aplicada ao parto cesáreo e anatomia do desenvolvimento uterino orientada para a Enfermagem. Existe monitoramento pedagógico, em que a avaliação de cada aluno tem sido efetuada a partir dos seguintes critérios de perfectibilização, em uma escala proporcionalmente cardinal de 0 a 10, com aprovação mínima por média aritmética igual ou acima de 7 de um total de 14 *Professor Dr. responsável pela disciplina “Anatomia Obstétrica” no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Enfermagem Obstétrica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (Enfobs/EspecialiZa/FAMERP) 318 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) avaliações formativas, a seguir: 50% (envio das tarefas individuais on-line de pós-aula em tempo hábil e grau de coerência semântico-sintática nas respostas enviadas, a compor, assim, 4 avaliações formativas individuais on-line de pós-aula); 17,5% (grau de participação e de domínio cognitivo nas atividades individuais presenciais, a compor, assim, 4 avaliações formativas individuais presenciais); 17,5% (grau de participação e de domínios cognitivo e psicomotor nas atividades em grupo, a compor, assim, 2 avaliações formativas em Grupo); e 15% (comportamento ético-atitudinal nos encontros presenciais e on-line, a compor, assim, 4 avaliações formativas individuais ético-atitudinais presenciais). O seguimento do grau de aprendizado de cada aluno tem sido estimado pela análise do valor absoluto de cada avaliação formativa (de um total de 14), e serve de escopo para discussões com o corpo discente e com a equipe de implementação tecnológica para análise crítica da eficácia das habilidades, competências, estratégias de ensino, conteúdo e tecnologias adotadas. Depois de decorrida mais da metade do período de tempo estimado para término da disciplina, há disponibilização on-line de questionário referente ao grau de satisfação de cada aluno quanto à estruturação física, organizacional e pedagógica do curso. A expressão gráfica de estimativa do grau de aprendizado de cada aluno, a partir dos valores absolutos obtidos em cada avaliação formativa, tem sido efetua- da por meio da elaboração de histogramas de barras, e percentagens de respostas referentes ao questionário preenchido individualmente sobre grau de satisfação quanto à estruturação física, organizacional e pedagógica do curso são também representadas graficamente por meio de histogramas de barras. Ao término do curso, ambos os gráficos são comparados para análise crítica final das políticas educacionais adotadas, e desde 2006 existe a entrega do CD-ROM “Anatomia Obstétrica orientada para a Enfermagem”, elaborado pela equipe pedagógica. Ao permitirmos que o aluno se sinta bem-vindo para aprender a crescer pela aplicação da associação de ideias, no âmbito da inteligência emocional, “frutos” deste imenso esforço têm sido colhidos: oito anos consecutivos de Curso, com profissionais contratados em hospitais das cidades de São Paulo e Ribeirão Preto, e ex-alunos como professores no próprio Curso. Neste processo contínuo de iniciação, motivação, assimilação e finalização de profissionais em Anatomia Obstétrica, deixamos aqui nosso exemplo, e convidamos todos os profissionais de Saúde a transformar informação infinita disponível em informação essencial interiorizada, para que o juízo ético seja sempre capaz de harmonizar inovações tecnológicas e métodos de aprendizado, sem perder o humanismo que caracteriza os fundamentos do processo de estar e, principalmente, de ser enfermeiro. 319 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Promoção da saúde do idoso: desafios contemporâneos para a administração pública municipal Wiliam César Alves Machado, D.Sc.*, Nébia Maria Almeida de Figueiredo, D.Sc.**, Rodrigo Sousa de Miranda***, Carla Oliveira Shubert****, Queila Gaudino***** *Enfermeiro, Professor e Orientador Acadêmico no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, **Enfermeira, Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, Professora e Orientadora nos Programas de Pós-Graduação – Mestrado e Doutorado em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, ***Enfermeiro, Mestrando no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, ****Enfermeira, Mestranda no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Enfermeira, Prefeitura Municipal de Três Rios, Secretaria Municipal do Idoso e da Pessoa com Deficiência de Três Rios, Centro Dia para Idosos Resumo Objetivos: Descrever como idosos usuários de políticas públicas de saúde percebem mudanças no seu dia a dia, decorrentes dos atendimentos intersetoriais prestados na unidade Planeta Vida. Método: Estudo exploratório-descritivo, com enfoque qualitativo, realizado no período de maio e junho de 2011, com 28 pessoas com 60 anos ou mais. O instrumento para coleta de dados foi um questionário, com perguntas sobre as alterações percebidas entre o antes e o após frequentar a unidade. Resultados: Os idosos perceberam mudanças significativas no dia a dia após frequentar a unidade, passando de vida sedentária e sem perspectiva, para vida mais participativa, com novo horizonte, resgate da autoestima e sensação de melhor qualidade de vida. Conclusão: Conclui-se que os atendimentos pautados na perspectiva intersetorial contribuem para a inclusão, resgate da autoestima, autonomia, promoção da saúde para que as pessoas desfrutem de um envelhecimento saudável. Palavras-chave: envelhecimento, promoção da saúde, políticas públicas, cuidados de saúde. Abstract Health promoting of elderly: contemporary challenges for municipal public administration Objectives: To describe how elderly users of health public policy perceived changes in their daily living activities due to care provided in the unit - Planeta Vida. Method: This was a descriptive exploratory study, with a qualitative approach, carried Artigo recebido em 16 de outubro de 2012; aceito em 21 de dezembro de 2012. Endereço de correspondência: Wiliam César Alves Machado, Rua Silva Jardim, 5 Centro 25805160 Três Rios RJ, Tel: (24) 2255-5840, E-mail: [email protected]r, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] 320 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) out from May to June 2011, with 28 elderly aged 60 or more. The instrument for data collection was a questionnaire, with questions about perceived changes before and after attending the unit. Results: The elderly perceived significant changes from day to day after attending in the unit, from a sedentary life to a more participating life, with new horizons, rescuing the selfesteem and sensation of better quality of life. Conclusion: The treatment inserted into this perspective greatly contributes to inclusion, self-esteem recovery, autonomy, health promotion, for elderly enjoying a decent and healthy aging. Key-words: aging, health promotion, public policy, health care. Resumen Promoción de la salud de los ancianos: desafíos contemporáneos de la administración pública municipal Objetivo: Describir cómo los usuarios de políticas Públicas de Salud con edad avanzada se dan cuenta de los cambios en su día a día, derivados de los cuidados intersectoriales ofrecidos en la unidad - Planeta Vida. Método: Estudio exploratoriodescriptivo, con enfoque cualitativo, realizado de mayo a junio 2011, con 28 ancianos con 60 años o más. El instrumento de recolección de datos fue un cuestionario, con preguntas acerca de los cambios percibidos entre antes y después de haber sido asistido en la unidad. Resultados: Los ancianos perciben cambios significativos en el día a día después de asistidos en la unidad, de una vida sedentaria y sin perspectivas para una vida más participativa, con nuevos horizontes, con rescate de la autoestima y el sentido de nueva calidad de vida. Conclusión: Se concluye que los tratamientos guiados por una perspectiva intersectorial contribuyen en gran medida para la inclusión, la recuperación de la autoestima, la autonomía, la promoción de la salud, para que las personas desfruten de un envejecimiento digno y saludable. Palabras-clave: envejecimiento, promoción de la salud, políticas públicas, cuidados de salud. Introdução O Planeta Vida constitui-se unidade da administração pública municipal de Três Rios, na região Centro Sul do Estado do Rio de Janeiro. Foi implantado em maio de 2009 com propósitos de oferecer serviços e atendimentos com implicações intersetoriais, para dar conta da diversidade de elementos envolvidos nas necessidades de saúde e inclusão social de idosos de limitado poder aquisitivo e excluídos dos serviços oferecidos na rede privada. Na unidade, idosos podem ser atendidos gratuitamente nos programas de reabilitação física e sensorial, promoção da saúde, inclusão digital, ginástica e condicionamento físico, hidroginástica, hidroterapia, entre outros, que lhes concedem oportunidade de transformar suas vidas para um envelhecimento saudável. O desafio maior no século XXI, no Brasil, será cuidar de uma população de mais de 32 milhões de idosos, a maioria com baixo nível socioeconômico e educacional, e com alta prevalência de doenças crônicas e incapacitantes [1-2]. Com o crescimento progressivo do número de idosos, o Brasil deve passar, no período de 1960 a 2025, da décima sexta para a sexta posição mundial em relação a esse contingente populacional. Trata-se de resultado da queda das taxas de fecundidade e mortalidade e do consequente aumento da expectativa de vida [3]. Diante do que se anuncia, cabe destacar a oportuna crescente tendência global de descentralização das políticas sociais e, consequentemente, de descentralização e municipalização de recursos e programas. No Brasil, o processo de descentralização, iniciado nos anos 1980, tem uma estreita relação com os processos de democratização política [4]. Essa descentralização política oferece perspectivas interessantes, em particular pelo fato de que as políticas locais podem integrar os diferentes setores e articular os diversos atores. Ademais, o papel desempenhado pelas autoridades locais, ou gestores sociais, passa a ter uma importante função na definição de políticas e na execução de programas que beneficiam a população da cidade. Nesse contexto, destaca-se o papel do Planeta Vida, como espaço inclusivo que exprime sintonia de gestores públicos municipais da região Centro Sul Fluminense, no qual amplo espectro de procedimentos intersetoriais disponíveis para que idosos tenham acesso a mudanças substantivas no seu dia a dia. Serviços e atendimentos intersetoriais que envolvem profissionais das Secretarias Municipais do Idoso e da Pessoa com Deficiência, Esportes e Lazer, Saúde e Defesa Civil, e Educação, de Três 321 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Rios, convergindo esforços voltados para assegurar aos idosos o melhor em termos de promoção da saúde e inclusão social [5]. A unidade oferece atmosfera mágica capaz de atrair as pessoas como imã, amalgamando esperanças, envolvendo-as num bailado que confunde o inverossímil e o verossímil. Muitos chegam cedo, antes mesmo do amanhecer, ainda que no intenso frio das madrugadas na região Centro Sul Fluminense, apenas para garantir presença e satisfação de compartilhar com seus pares mais um dia de experiências transformadoras, embora todos os atendimentos sejam previamente agendados [5]. Apesar dessa atmosfera promissora é preciso captar a impressão dos seus usuários, com vistas no aprimoramento do programa. A partir daí surgem as seguintes questões de pesquisa: Como era e o que mudou na vida dos idosos com os atendimentos no Planeta Vida? ; e O que é preciso fazer para melhor atender aos usuários na unidade? A propósito do subjacente compromisso da equipe para com os usuários da unidade, vale destacar que a implementação de políticas sociais com enfoque intersetorial implica na superação de ações fragmentadas e o privilégio dado a projetos articulados, com o compartilhamento de informações e permeáveis à participação do cidadão, tanto no planejamento quanto na avaliação de ações e serviços [4]. Neste estudo, compreende-se promoção da saúde como o processo de capacitação dos idosos para assumir maior autonomia nas atividades cotidianas e, consequentemente, desfrutar de melhor qualidade de vida. Para atingir um estado de completo bem estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente [6]. A OMS recomenda que políticas de saúde na área de envelhecimento levem em consideração os determinantes de saúde ao longo de todo o curso de vida (sociais, econômicos, comportamentais, pessoais, culturais, além do ambiente físico e acesso a serviços) [7]. É o que se pode identificar naquelas que optam pela adoção de estratégias focadas na intersetorialidade, como a do contexto estudado. Além das políticas públicas instituídas nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) em favor dos idosos, vale ressaltar que, nas últimas décadas, importantes avanços no campo da saúde têm sido conquistados no Brasil. Assim, o processo 322 de construção do Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Complementares, vem ocorrendo sobre os pilares da universalização, da integralidade, da intersetorialidade, da descentralização e da participação popular [3]. Com efeito, os fatos e as evidências apontam urgência de mudanças no cuidado à população idosa. Os modelos tradicionais vigentes se mostram ineficientes e de alto custo. Assim, tornam-se necessários novos métodos de planejamento e gerência, pois a prestação dos cuidados reclama estruturas criativas e inovadoras, com propostas de ações diferenciadas, de modo que o sistema ganhe eficiência e o idoso possa usufruir integralmente os anos proporcionados pelo avanço da ciência [7]. É inegável que o prolongamento da vida é uma aspiração de qualquer sociedade. No entanto, só pode ser considerado como uma real conquista à medida que se agregue qualidade aos anos adicionais de vida [3]. É importante destacar que qualquer política destinada aos idosos deve levar em conta a capacidade funcional, a necessidade de autonomia, de participação, de cuidado, de auto-satisfação [7]. Sabe-se que a utilização do conceito de promoção da saúde é anterior a Conferência de Ottawa, elaborada em 1986, na qual foi definido como processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação nesse processo. As definições da Carta de Ottawa evidenciam a expectativa da comunidade internacional por uma saúde pública inclusiva, levando em conta os determinantes do processo saúde-doença-cuidado, na busca por equidade e justiça social. Este documento adota o conceito positivo de saúde, enfatizando que a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem estar global [8]. Neste aspecto, a promoção da saúde é uma das estratégias para buscar a melhoria da qualidade de vida da população. Seu ideal abarca o fortalecimento da capacidade individual e coletiva em saber conviver com as multiplicidades dos condicionantes da saúde. Este fortalecimento da saúde dá-se por meio da capacidade de escolha, da utilização do conhecimento com o discernimento de perceber as diferenças e semelhanças dos acontecimentos geradores de saúde ou de doença [9]. A qualidade de vida (QV) e a satisfação na velhice têm sido muitas vezes associadas às questões Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) de dependência e autonomia, sendo importante distinguir os ditos efeitos da idade. Algumas pessoas apresentam declínio no estado de saúde e nas competências cognitivas precocemente, enquanto outras vivem saudáveis até idades muito avançadas [10]. Representa respostas individuais a fatores físicos (objetivos) e mentais (subjetivos) que contribuem para uma vida mais equilibrada, permeada pela satisfação pessoal, autoestima, comparação com o outro, experiências prévias, situação econômica, estado geral de saúde e estado emocional. Além disso, a QV é considerada uma percepção eminente humana que abrange múltiplas definições, influenciada por diversos fatores que não se restringem ao tempo, condições socioeconômicas, culturais e de saúde. Embora não exista um significado consensual, há uma concordância acerca do constructo, cuja característica é ser: multidimensional, relacionando-se ao fato de que a vida compreende múltiplas dimensões, tais como a social, mental, material, física, cultural, econômica, dentre outras [11]. O que pressupõe a intersetorialidade primordial no trato de questões que englobam condições e os recursos para a saúde, como paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Nessa sintonia, o objetivo deste estudo é descrever como idosos usuários de políticas públicas de saúde percebem mudanças no seu dia a dia, decorrentes dos atendimentos intersetoriais prestados na unidade Planeta Vida. Material e métodos Trata-se de estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa, entendendo que esta oferece ao pesquisador a possibilidade de compreender como as pessoas pensam e reagem diante de questões que lhes afetam, assim como possibilita uma aproximação da dinâmica e a estrutura da situação em estudo, de acordo com a concepção daqueles que as vivenciam [12]. A pesquisa qualitativa também é entendida como capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo estas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas [13]. O cenário do estudo foi uma unidade de reabilitação da rede pública municipal de Três Rios/ RJ, Brasil, pioneira na oferta de modalidades de serviços e atendimentos pautados na intersetorialidade, o que agiliza a resolução de situações e necessidades nas quais idosos teriam de recorrer a uma série de unidades para consulta, avaliação e encaminhamentos profissionais especializados em várias áreas de conhecimento. Foram sujeitos do estudo 28 idosos com 60 anos ou mais, com escolaridade equivalente ao ensino básico, regularmente inseridos e usuários dos atendimentos da unidade denominada Planeta Vida. Os critérios utilizados para inclusão dos sujeitos no estudo foram: a) estar regularmente inscrito em serviço da unidade; b) dispor de habilidade e autonomia para responder com escrita individual; c) pessoas com 60 anos ou mais; d) ter nível escolar equivalente ao atual ensino básico e; e) que concordaram espontaneamente em participar da pesquisa. Foram critérios de exclusão: a) ter idade inferior a 60 anos; b) não ser usuário da unidade; c) não ter escolaridade equivalente ao ensino básico e; d) negar-se assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Foi aplicado um questionário com perguntas abertas, visando à livre associação de ideias por parte do participante, nas instalações da unidade, mediante a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com as normas da resolução 196/96 que dispõe sobre os aspectos éticos de pesquisa com seres humanos, e após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIRIO (Parecer CEP-UNIRIO - 268983) [14] Os dados foram coletados pelos pesquisadores que atuam na unidade, os quais apresentaram aos idosos o questionário, após autorização do participante e mediante garantia de sigilo e do anonimato. Optou-se por identificá-los através das iniciais do nome, sexo e idade, conforme observado na análise dos dados. Foram aplicados 30 (trinta) questionários, sendo que 2 (dois) idosos desistiram de participar por alegar não ter solicitada autorização prévia do (a) companheiro (a). Para análise dos dados adotou-se a técnica de análise de conteúdo, que consiste em identificar os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja frequência de aparição pode significar algo correlato ao objetivo do estudo [15]. Resultados e discussão Após a análise dos dados, foram construídas Unidades de Significado (US) que, aproximadas por 323 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) semelhança de significado, deram origem as seguintes categorias: “Vida sedentária e sem perspectiva: O dia a dia antes do Planeta Vida”; “Vida mais participativa e com novo horizonte: mudanças percebidas após frequentar a unidade” e; “Acolhida fraterna: bem estar, segurança e satisfação do usuário”. No que diz respeito ao gênero dos participantes do estudo, identificou-se tratar de 19 mulheres (68%) e 9 homens (32%). O perfil dos informantes segundo faixa etária revelou 20 (71%) informantes com idade entre 60 e 69 anos, 7 (25%) dos informantes na faixa etária de 70 a 79 anos, e 1 (4%) dos participante com idade entre 80 e 89 anos. Entre os idosos que participaram do estudo 22 (79%) declararam fazer uso regular de medicamentos, enquanto outros 6 (21%) informaram não fazer uso de qualquer medicamento. A avaliação dos serviços, segundo registros dos informantes, mostrou que 18 (64%) dos idosos do estudo avaliaram os atendimentos como excelentes, com destaque para a forma como os profissionais interagem com a clientela, 9 (32%) dos idosos consideraram bom o nível dos atendimentos, e 1 (4%) avaliou como regular a interação dos profissionais da unidade com seus usuários. Vida sedentária e sem perspectiva: O dia a dia antes do Planeta Vida O padrão de vida entre os brasileiros de todas as idades permanece cada vez mais baixo, sendo que 2/3 da população vive abaixo da linha de pobreza e em péssimas condições de saúde. A família é a fonte primeira de cuidados, mas as relações familiares estão mudando cada vez mais em função da modernização. Como resultado, os idosos na maioria das vezes não recebem o cuidado que esperam receber de seus familiares. Existe uma visível falta de oportunidades, para os idosos no Brasil, de poder participar em atividades sociais fora da esfera familiar, fato esse que limita a participação deles em um leque mais amplo de relações sociais [16]. Um efeito negativo a ser considerado na idade avançada é a falta de autoestima, que acontece devido ao reconhecimento, por parte das pessoas idosas, de sua dependência, e causa a percepção de uma falta de autonomia e a inabilidade para retribuir ajudas recebidas. Isto pode levar a insatisfação, estresse, e depressão da pessoa idosa. Normalmente essa depressão está também associada com um 324 sentimento de ser uma carga para aquelas pessoas a quem ela ama [17]. Falta de autoestima, sedentarismo, entre outras situações vivenciadas pelos idosos que podem levar à perda da memória. A esse respeito, uma das consequências do envelhecimento mais temidas pelos idosos é o declínio cognitivo. Assim, estudos que investiguem os fatores de risco associados a esse declínio são necessários. Deve-se enfatizar que a função intelectual está fortemente relacionada com a habilidade de desempenhar as atividades de vida diária e, dessa maneira, viver com independência [18]. A esse respeito, os registros dos participantes deste estudo deixam claro suas difíceis experiências cotidianas no antes de frequentar o programa, a saber: “Monotonia, sem expectativa nenhuma de melhorar.” (OGM, M, 67) “Meu dia era um dia longo, pois meu filho que é especial também ficava o dia todo em casa.” (NMR, F, 60) “Eu vivia como a maioria dos idosos, sem fazer nada, ou melhor, na frente da TV, pois com idade a gente não tem muito ânimo para sair.” (AECM, M, 79) “Eu era a “Maria das Dores” (...) dores no joelho, na coluna, do pescoço para baixo até o Cox. Só queria ficar deitada, tinha uma preguiça fantástica, nem gostava de caminhar, nem sair de casa, desanimada...”. (NSA, F, 67) “Triste e abandonada, assim que eu me sentia.” (MMAS, F, 63) “O dia era triste e vazio.” (MJCR, F, 71) “Eu me sentia uma pessoa muito desanimada pra baixo mesmo.” (LABA, F, 61) “Eu ficava em casa a toa sem fazer nada.” (AJ, M, 68) “Era sedentária (preguiçosa)” (SRMM, F, 60) “Ansiedade e depressão.” (MHC, F, 64) Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) “Era meio complicado, pois acabamos caindo na velha rotina, (...) ir pra praça jogar baralho (...) ficar o dia inteiro sentado num banco de cimento...” (GRG, M,63) “Sem nenhuma perspectiva ficava de um lado para o outro, só pensando nos problemas que não são poucos (...).” (DCT, F, 60) A condição prevalente de sedentarismo observada na população em geral, notadamente nos mais idosos, representa uma séria ameaça para o organismo, estimulando o surgimento de doenças crônico-degenerativas, transtorno de humor, diminuindo as funções fisiológicas e cognitivas, provocando imunossupressão, piora do perfil lipídico, glicêmico e da qualidade do sono. Além disso, o sedentarismo diminui a autoestima, aumentando a ansiedade; podendo ainda contribuir para o agravamento de quadros de depressão [19]. Além de se perceber ociosos, deprimidos, abandonados, os idosos brasileiros convivem com medo de violências, falta de assistência médica e de hospitais e escassas atividades de lazer, além de angústias com os baixos valores das aposentadorias e pensões. Apesar do substancial aumento desses valores nos últimos anos, e os valores ainda serem reconhecidamente pequenos, já se observam reflexos positivos, conforme indicado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) [20]. Com efeito, a depressão é a doença psiquiátrica mais comum entre os idosos, frequentemente sem diagnóstico e sem tratamento. Ela afeta sua qualidade de vida, aumentando a carga econômica por seus custos diretos e indiretos e, pode levar a tendências suicidas [21]. A depressão é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo [22], devido à sua alta morbidade e mortalidade. Sua incidência é estimada em aproximadamente 17% da população mundial. Vida mais participativa e com novo horizonte: mudanças percebidas após frequentar a unidade O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e, no Brasil, as modificações se dão de forma radical e bastante acelerada, processo que, do ponto de vista puramente demográfico, deve-se unicamente ao rápido e sustentado declínio da fecundidade. As projeções mais conservadoras indicam que em 2020 já seremos o sexto país do mundo em número de idosos, com um contingente superior a 30 milhões de pessoas [2,16]. Segundo a Organização Mundial de Saúde, desde 1986, após a divulgação da carta de Otawa, o conceito de promoção de saúde é definido como um processo de capacitação da comunidade para melhorar suas condições de vida e saúde. Seu significado contém uma combinação de ações: do Estado nas suas políticas públicas de saúde; da comunidade, com o reforço das ações comunitárias; dos indivíduos, com o desenvolvimento das habilidades; de reorientação das intervenções para ações conjuntas intersetoriais [3,20]. No concernente às constatações de mudanças no dia a dia percebidas pelos idosos após frequentar o Programa, destacam-se: “Minha vida mudou bastante, sou mais ativo. Antes não tinha o que fazer, agora estou mais interessado em participar. Vida nova.” (JBES, M, 66) “Melhorou muito, faço fisioterapia, andava até de muletas... “ (ZS, F, 80) “Mudou tudo. Agora saio mais, tenho mais ligações com as pessoas. Eu era muito desanimada.” (MAMA, F, 75) “Depois que passei a fazer atividade física, virei outra, demorou seis meses, mas fiquei nova outra vez (...) hoje eu danço, eu caminho uma hora por dia, três vezes na semana, eu viajo para qualquer lugar, sem problema nenhum, durmo bem durante o dia, porque eu trabalho a noite, doze horas de plantão todos os dias, de segunda a sábado das 19hs às 07hs.” (NSA, F, 67) “O aprendizado em manusear o computador abriu novos horizontes.” (MJCR, F, 71) “Quando conheci o Planeta Vida após uma visita tomei conhecimento do curso de informática, interessei e fiz minha matrícula no curso. Como eu só sabia ligar o computador e mais nada, cada aula era mais novidade, consegui concluir o primeiro ciclo do estudo e recebemos o diploma numa festa muito bonita.” (AECM, M, 79) 325 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) “O Planeta Vida moldou nossas vidas, eu sempre digo que aqui é a extensão de minha casa além das atividades físicas. Fazemos algo muito importante que é fazer novas amizades.” (GRG, M) “É que tenho mais saúde e mais ânimo e coragem.” (ECVC, F, 65) “Esse programa pra mim tornou-se uma obrigação (muito bom), prazeroso.” (SRMM, F, 60) “Na parte do exercício físico, muito bom a atividade física (musculação, esteira, bicicleta) deu um novo animo no meu dia a dia, sinto-me bem mais disposto para as atividades rotineiras, houve uma melhora visível no meu eu. Melhorou as relações sociais com um novo estado de espírito me sinto rejuvenescido.” (MA, M, 70) O contato com pares aumenta o sentimento de utilidade, talvez porque contatos sociais fora da esfera da família sejam mais voluntários e menos baseados em obrigações sociais, portanto menos desiguais. O suporte social pode exercer um papel essencial promovendo e mantendo a saúde física e mental. Entretanto cada pessoa pode não ter igual acesso a este importante recurso. Existem talvez significantes variações de classe na natureza e na quantidade, em que o suporte social está disponível [17]. Por outro lado, o exercício físico é uma necessidade absoluta para o homem, pois com o desenvolvimento científico e tecnológico advindo da revolução industrial e da revolução tecnológica pela qual passamos, deparamo-nos com elevado nível de estresse, ansiedade e sedentarismo que compromete a saúde de boa parte das populações de países desenvolvidos e em desenvolvimento [19]. Acolhida fraterna: bem estar, segurança e satisfação do usuário Os idosos participantes deste estudo perceberam expressivas mudanças em suas vidas a partir do simples fato de serem atendidos com deferência pela equipe do Planeta Vida, o que não deveria ser exceção, mas regra na gestão pública. Destacam algumas oportunidades e atendimentos profissionais especí326 ficos como emblemáticos ou maiores responsáveis pela melhoria da qualidade de vida (informática), sensação de bem estar, resgate da autoestima e disposição (condicionamento e exercício físico), melhor estabilidade e controle dos sintomas de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, entre outras, com distinção para algumas categorias profissionais (promoção da saúde). Ficando evidente, sobretudo, o reconhecimento dos idosos de que o programa tem contribuído para que levem a vida com mais saúde, bem estar, autoestima e dignidade. Sabe-se de estudos que relacionaram a diminuição da depressão, após 10 meses de exercício físico, com alterações no sistema imunológico. Uma possível explicação para esses resultados seria a liberação de hormônios como epinefrina, norepinefrina, somatotrofina, endorfina e cortisol, que atingem receptores específicos situados nos linfócitos e macrófagos, promovendo um aumento na concentração dessas células [23]. Os termos qualidade de vida na velhice, bem estar psicológico, bem estar percebido, bem estar subjetivo e envelhecimento satisfatório ou bem sucedido são expressões tidas como equivalentes. Formam um construto global, referenciado a diversos pontos de vista sobre o envelhecimento como fato individual e social [3]. Quanto às mudanças percebidas, satisfação dos participantes deste estudo e avaliação dos serviços prestados pela equipe destaca-se: “Gastava na farmácia, R$ 200,00 reais por mês, só de medicação para dores.” (NSA, F, 67) “Melhorei, até o meu colesterol melhorou.” (DRO, F, 75) “Sempre nos recebem com carinho, com sorriso, assim sentimos que somos queridos e aqui podemos nos sentir como muitas das vezes não sentimos nem em nossos lares.” (GBJ, F, 66) “São todos excelentes, faço atividade física, informática, alongamento e vou ao médico.” (LABA, F, 61) “Todos excelentes na recepção, odontologia, inclusão digital, na musculação.” (SRMM, F, 60) Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) “Paciência dos profissionais com as pessoas.” (MTSSC, F, 62) “Todos os profissionais do Planeta são atenciosos, não só com os usuários mais com todos que por aqui passam. Tenho profunda admiração por todos, inclusive pela seriedade das enfermeiras na avaliação se a gente pode ou não fazer exercícios na academia, na piscina.....” (GRG, M,63) “Luto contra a obesidade. Quanto a parte da assistência, todos são muito bons, o pessoal está sempre solicito (...) a nutricionista muito boa atenciosa ... (...) o cuidado das enfermeiras com a pressão da gente... pra gente não passar mal...(...) essa atenção que os profissionais dedicam a minha pessoa é fundamental.” (MA, M, 70) Ao atender o idoso, a equipe de saúde deve estar atenta a uma série de alterações físicas, psicológicas e sociais que normalmente ocorrem nessas pessoas, e que justificam um cuidado diferenciado [24]. Esses profissionais têm um importante papel com o idoso, pois se acredita que, através de uma relação empática, haja uma assistência humanizada e um comprometimento com o cuidado personalizado, garantindo o seu equilíbrio físico e emocional [2]. É importante reiterar que o conceito de qualidade de vida do idoso está relacionado à autoestima e ao bem estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de vida, com atividades diárias e o ambiente em que se vive. O conceito de qualidade de vida, portanto, varia de autor para autor e, além disso, é um conceito subjetivo dependente do nível sociocultural, da faixa etária e das aspirações pessoais do indivíduo [25,26]. Conclusão O estudo confirma que o implemento de unidades da administração pública, para atender a complexa realidade das pessoas idosas e suas necessidades de saúde, inclusão e cidadania, deve se caracterizar pela oferta de serviços e atendimentos profissionais focados na intersetorialidade subja- cente aos múltiplos elementos neles envolvidos, como forma de agilizar a resolução dos mesmos com menos desgaste para seus usuários. Iniciativas dos gestores públicos fazem a diferença qualitativa para o amplo contingente de idosos da nossa sociedade. Revela como as pessoas idosas vivem ociosas, deprimidas e sem perspectivas, quando gestores públicos perdem oportunidade de inovar no sentido de suprir a sociedade com programas capazes de transformar a vida dos idosos, como o Planeta Vida. Demonstra que ações intersetoriais contribuem substancialmente para êxito dos programas de educação para a saúde, considerando-se a multiplicidade de aspectos próprios do domínio de conhecimento dos profissionais que nelas atuam, uníssonos e focados na meta de atender as prioridades e necessidades da clientela. Além de reiterar aspectos subjacentes, como os benefícios advindos do bem estar dos idosos refletidos em menores despesas com procedimentos de maior complexidade em instituições da rede de saúde do setor público ou privado. Identifica substanciais mudanças registradas pelos idosos que transformaram o curso de suas vidas, em particular oportunidades que lhes dão acesso às informações sobre promoção da saúde, prevenção de doenças e cuidados de enfermagem, bem como os habilitando para o acesso às informações disponíveis no ciberespaço. Da mesma forma relevante para eles a prática orientada de exercícios físicos, a troca de experiências no convívio com seus pares, entre outras, essenciais ao envelhecimento saudável. Referências 1. Berlezi EM, Eickhoff HM, Oliveira KR, Dallepiane LB, Perlini NMOG, Mafalda A et al. Programa de atenção ao idoso: relato de um modelo assistencial. Texto Contexto Enferm 2011;20(2):368-70. 2. Lima TJV, Arcieri RM, Garbin CAS, Moimaz SAS. Humanização na Atenção à Saúde do Idoso. Saúde Soc 2010;19(4):866-77. 3. Tahan J, Carvalho ACD. Reflexões de idosos participantes de grupos de promoção de saúde acerca do envelhecimento e da qualidade de vida. Saúde Soc 2010;19(4):878-88. 4. Mendes R, Bogus CM, Akerman M. Agendas urbanas intersetoriais em quatro cidades de São Paulo. Saúde Soc 2004;13(1):47-55. 5. Machado WCA. Gestão Pública Municipal, Inclusão e Promoção da Saúde do Idoso e da Pessoa com Deficiência. Entre-Rios Jornal. 2011 junho 2; Coluna Sírius. (1º Caderno). 6. Silva ACS, Santos I. Promoção do autocuidado de idosos para o envelhecer saudável: aplicação da teoria de Nola Pender. Texto Contexto Enferm 2010;19(4):745-53. 327 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) 7. Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Pública 2009;43(3):548-54. 8. Lopes MSV, Saraiva KRO, Fernandes AFC, Ximenes LB. Análise do conceito de promoção da saúde. Texto Contexto Enferm 2010;19(3):461-8. 9. Sebold LF, Randuz V, Carvalho TE. Percepções sobre cuidar de si, promoção da saúde e sobrepeso entre acadêmicos de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm 2011;15(3):536-41. 10. Joia LC, Ruiz T, Donalisio MR. Condições associadas ao grau de satisfação com a vida entre a população de idosos. Rev Saúde Pública 2007;41(1):131-8. 11. Ferreira CG, Alexandre TS, Lemos ND. Fatores associados à qualidade de vida de cuidadores de idosos em assistência domiciliária. Saúde Soc 2011;20(2):398-409. 12. Victora CG. Uma ciência replicante: a ausência de uma discussão sobre o método, a ética e o discurso. Saúde Soc 2011;20(1):104-12. 13. Lopes ALM, Fracolli LA. Revisão sistemática de literatura e metassíntese qualitativa: considerações sobre sua aplicação na pesquisa em enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008;17(4):771-8. 14. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde; 1996. 15. Bardin L. Análise de conteúdo. 3a ed. Lisboa: Edições 70; 2004. 16. Ramos M. Os sintomas depressivos e as relações sociais na terceira idade. Rev Dep Psicol UFF 2007;19(2):397410. 328 17. Ramos M. Apoio social e saúde entre idosos. Sociologias 2002;7(2):156-75. 18. Di Nucci FRCF, Coimbra AMV, Neri AL, Yassuda MS. Ausência de relação entre hipertensão arterial sistêmica e desempenho cognitivo em idosos de uma comunidade. Rev Psiquiatr Clín (São Paulo) 2010;37(2):52-6. 19. Antunes HKM, Santos RF, Cassilhas R, Santos RVT, Bueno OFA, Mello MT. Exercício físico e função cognitiva: uma revisão. Rev Bras Med Esporte 2006;12(2):108-14. 20. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto promoção da saúde. As cartas de promoção da saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2002. 21. Oliveira DAAP, Gomes L, Oliveira RF. Prevalência de depressão em idosos que freqüentam centros de convivência. Rev Saúde Pública 2006;40(4):734-6. 22. Huang Y, Carpenter I. Identifying elderly depression using the Depression Rating Scale as part of comprehensive standardised care assessment in nursing homes. Aging Ment Health 2011;15(8):1045-51. 23. Moraes H, Deslandes A, Ferreira C, Pompeu FAMS, Ribeiro P, Laks J. O exercício físico no tratamento da depressão em idosos: revisão sistemática. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul 2007; 29(1):70-9. 24. Wild D, Szczepura A, Nelson S. How social care staff working in residential homes perceive their professional status. Nurs Older People 2011;23(7):29-35. 25. Silva PCS, Terra FS, Graciano ADS, Magalhães ECR, Santos WAL. Elderly people practicing physical activity in social projects and life satisfaction. Rev Enferm UFPE online 2012;6(2):409-16. 26. Vecchia RD, Ruiz T, Bocchi SCM, Corrente JE. Qualidade de vida na terceira idade: um conceito subjetivo. Rev Bras Epidemiol 2005;8(3):246-52. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Uso do açúcar na cicatrização de úlceras de pressão Eduardo da Rosa Brandão*, Thaís Fronczak*, Andersom Ricardo Fréz, M.Sc.**, Marinêz Boeing Ruaro***, João Afonso Ruaro, M.Sc.*** *Fisioterapeuta pela Faculdade Anglo-Americano/FAA, **Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, ***Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN Resumo Este estudo teve o objetivo de avaliar os efeitos da aplicação de açúcar cristal em úlceras de pressão. Três úlceras foram acompanhadas como controle e três submetidas ao tratamento com açúcar aplicado na úlcera de pressão 4 vezes ao dia, por 28 dias. Foram realizadas análises microbiológicas laboratoriais, avaliação através da escala de úlceras de pressão e mensuradas as áreas das úlceras. Não se observou diferença significativa (p < 0,05) nas áreas das úlceras. Foram encontradas bactérias do tipo Staphylococcus sp. em todas as amostras. Na escala de cicatrização observou-se melhora na qualidade do tecido e de seu exsudato, em ambos os grupos. Assim, o uso de açúcar não se mostrou um método significativo na cicatrização de úlceras de pressão. Palavras-chave: açúcar, úlceras de pressão, cicatrização de feridas. Abstract Sugar in pressure ulcers healing The purpose of this study was to evaluate the crystal sugar paste effects in pressure ulcers. Three pressure ulcers were studied as control group and three were treated with crystal sugar paste. The sugar paste was applied on the wound four times a day for 28 days. Microbiological lab analysis, ulcer area measurement and evaluation with pressure ulcer scale were done before and after treatment. Significant differences were not found (p < 0.05) in ulcer area. Staphylococcus sp. were found in all the collected samples. The healing scale analysis showed better tissue and exudate quality in both groups. The sugar use was not a significant method in the healing process of pressure ulcers. Key-words: sugar, pressure ulcer, wound healing. Resumen La utilización del azúcar en la cicatrización de las úlceras de presión Este estudio tiene como objetivo evaluar los efectos de la aplicación del azúcar cristal en las ulceras de presión. Tres úlceras fueran acompañadas como control y tres sometidas al tratamiento con azúcar aplicado en la ulcera de presión 4 veces al día, por un periodo de 28 días. Fueron realizadas análisis microbiológicas y de laboratorio, evaluación a través de la escala de úlceras de presión y mensuradas las áreas de las ulceras. No se observó significativa diferencia (p > 0,05) en las áreas de las úlceras. Fueron encontradas bacterias del tipo Staphylococus sp. en todas las muestras. En la escala de cicatrización observase mejoría en la calidad del tejido y de su exudado, en ambos los grupos. Así, la utilización del azúcar no se mostró un método significativo en la cicatrización de las úlceras de presión. Palabras-clave: azúcar, úlcera por presión, cicatrización de heridas. Artigo recebido em 26 de agosto de 2011; aceito em 20 de novembro de 2012. Endereço de correspondência: João Afonso Ruaro, Faculdade de Ciências da Saúde – FACISA/UFRN, Rua Trairi, s/n, 59200-000 Santa Cruz RN, E-mail: [email protected] 329 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Introdução Os pacientes que permanecem por longos períodos acamados em hospitais, ou mesmo em suas residências, possuem alta probabilidade de formação de úlcera de pressão [1,2]. Estas são definidas como uma lesão cutânea, provocada pela pressão exercida nos tecidos subcutâneos pelas proeminências ósseas e por objetos em contato com o corpo. Podem se relacionar à sua etiologia alguns fatores extrínsecos, como: pressão, cisalhamento, fricção e umidade; e intrínsecos: idade, fatores nutricionais e doenças crônicas [1,3,4]. Os indivíduos mais suscetíveis à formação de uma úlcera de pressão são aqueles que apresentam algum tipo de hipomobilidade, algum nível de lesão medular, idosos e/ou indivíduos cronicamente doentes, principalmente os mal nutridos [5,6]. A classificação das úlceras de pressão, segundo o Centro Nacional de Dados sobre a Lesão Medular e do Ministério da Saúde, é descrita em: grau I – as lesões são limitadas à epiderme e derme superficial; grau II – envolvem a pele em espessura total e tecido subcutâneo; grau III – comprometimento da epiderme, derme e as lesões se estendem até o plano muscular; grau IV – destruição de todos os tecidos [1,7]. Quanto à localização, 32,5% das úlceras de pressão são sacrais, 32,5% trocantéricas, 15,6% isquiáticas, 5,2% em joelho, 3,9% em calcâneo, 2,6% em perna, ombro e região lombar e 1,3% em região torácica e occipital [1]. O processo de cicatrização das úlceras de pressão só se torna completo quando a resposta inflamatória estiver controlada, e não houver a presença de detritos necróticos, permitindo, assim, o crescimento do tecido de granulação [8]. Para a remoção deste tecido necrótico é utilizada a técnica de desbridamento. Esta possui vantagens e desvantagens, sendo o método escolhido dependente da condição e necessidade do paciente [2,3]. É possível a realização do desbridamento de forma alternativa e de fácil execução, através da aplicação de açúcar no tratamento de feridas. O açúcar atua diminuindo o odor, inibindo o crescimento bacteriano, reduzindo, o edema e o pH no local da ferida. Também dilata pequenos vasos, melhora a nutrição do tecido, estimula o tecido de granulação (pela irritação local) e coopera, assim, para o bom crescimento do tecido de reepitelização [2,3]. Neste contexto, considerando a capacidade do açúcar em acelerar a cicatrização e a viabilidade econômica para várias camadas sociais, devido ao 330 baixo custo deste tratamento, este trabalho teve como objetivo avaliar a influência do açúcar cristal na cicatrização de úlceras de pressão, considerando-se a área, a presença de patógenos e a qualidade do tecido e seu exsudato. Material e métodos A pesquisa foi aprovada, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Assis Gurgacz (CEP/FAG) sob parecer 012/2008. A amostra foi composta por 6 úlceras de pressão, sendo aplicado o protocolo de tratamento com açúcar cristal (GA) em 3 úlceras de pressão; e as outras acompanhadas como controle (GC). Não se considerou o número de úlceras por paciente. Os pacientes faziam parte do Programa de Internamento Domiciliar (PID) disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu ou estavam em tratamento na Clínica-Escola de Fisioterapia da Faculdade Anglo-Americano/FAA. Estes pacientes apresentavam idade entre 20 e 60 anos e, obrigatoriamente, não eram portadores de diabetes mellitus. Procedimento metodológico O protocolo foi aplicado de forma domiciliar. O cuidador responsável recebeu orientação dos pesquisadores e folheto explicativo sobre a aplicação da técnica. A cada troca de curativo o paciente era posicionado em decúbito que facilitasse o acesso à úlcera de pressão Realizava-se a limpeza local com jatos de soro fisiológico em temperatura ambiente. Quando havia a presença de tecido necrótico exercia-se maior pressão na aplicação do jato, e quando removido totalmente era exercida menor pressão, para evitar lesão no tecido de granulação. A pasta de açúcar preparada continha 98% de açúcar cristal e 2% de água destilada, fornecidos pelos pesquisadores. A medida utilizada para a preparação, sem utilização da balança [9], consistia em 01 copo americano de açúcar cristal (140g), para uma colher de café (2,8ml) de água destilada. A mistura era realizada em recipiente plástico ou de vidro, com o auxílio de colher plástica, sempre preparada na hora da utilização, para melhor aproveitamento das suas propriedades. A pasta foi aplicada no local da ferida, cobrindo toda a extensão da lesão, 4 vezes ao dia, durante a troca de curativos a cada 6 horas. O protocolo foi aplicado por 28 dias. No GC foi Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) realizada apenas a limpeza com soro fisiológico e trocado os curativos na mesma frequência. As avaliações foram realizadas no primeiro e no último dia de aplicação. Amostras da úlcera foram coletadas com swab e submetidas à análise microbiológica laboratorial. As amostras foram cultivadas em ágar manitol; após 24 horas, foi realizada a prova de catalase e Gram. A área, o tipo do tecido de cicatrização e a quantidade de exsudato das úlceras foram avaliados e qualificados através da escala de cicatrização da úlcera de pressão [10]. A área da úlcera foi mensurada através de fotografia, posicionando uma referência de 1 cm próximo da borda, e a imagem analisada e quantificada pelo software Image Tools. O tipo de tecido foi classificado em 5 categorias: cicatrizado, epitelizado, de granulação, desvitalizado e necrótico. Já a quantidade de exsudato foi categorizada da seguinte forma: nenhum, escasso, moderado ou abundante. Para a verificação da aplicação do protocolo foi realizada visita semanal no domicílio do paciente. Análise dos dados A análise estatística foi realizada através do software Graph-Pad Instat versão 3.05. Os dados são apresentados em média e desvio padrão, após análise de normalidade pelo teste de Shapiro-Wilks, para os dados de pré e pós-aplicação. Para análise intergrupos foi utilizado teste t de Student, sendo comparados: diferença pré e pós-aplicação no GA e no GC. Resultados Na análise do efeito das técnicas propostas para a cicatrização das úlceras de pressão, compararam-se as áreas pré e pós-tratamento e a diferença entre elas (Tabelas I e II). Ao submeter os resultados, pré e pós-aplicação, a análise estatísticas intragrupo não foram encontrados resultados significativos, sendo p = 0,3660 no GA e p = 0,2175 no GC. Considerou-se estatisticamente significativo p < 0,05, segundo teste t de Student. A comparação da diferença de área pré e pós-aplicação intergrupos também não foi significativa, sendo p = 0,5504. Nos exames microbiológicos laboratoriais foram encontrados, em todas as amostras, bactérias do tipo Staphylococcus sp. Não foram identificados o tipo de bactéria, podendo ser Staphylococcus aureus ou Staphylococcus epidermidis, sendo o primeiro patológico, e o segundo componente da flora bacteriana natural do corpo humano. Tabela I - Análise intragrupo das diferenças das áreas das úlceras pré e pós-aplicação, GA (em cm2). Pré Pós D %D* 1,22 2,75 42,34 0,89 2,37 35,30 - 0, 33 - 0,38 - 7,04 - 27,04% - 13,81% - 16,62% Úlcera 1 2 3 *p = 0,3660 Tabela II - Análise intragrupo das diferenças das áreas das úlceras pré e pós-aplicação, GC (em cm2). %D* Úlcera Pré Pós D 4 3,28 1,78 - 1,50 - 45,73% 5 6,61 3,10 - 3,51 - 53,10% 6 1,31 3,50 2,19 167,20% *p = 0,2175 Através da escala de cicatrização da úlcera de pressão onde foram avaliadas a qualidade do tecido e a qualidade do exsudato presente na úlcera foi possível observar melhora na qualidade do tecido e de seu exsudato, em ambos os grupos, o que favorece e acelera o processo de cicatrização local (Tabelas III e IV). Tabela III - Escala de cicatrização da úlcera de pressão, GA. Úlcera 1 2 3 Tipo de tecido Pré Pós 2 2 3 1 2 1 Tipo de exsudato Pré Pós 1 2 3 1 1 1 Tabela IV - Escala de cicatrização da úlcera de pressão, GC. Úlcera 4 5 6 Tipo de tecido Pré Pós 3 3 3 1 2 3 Tipo de exsudato Pré Pós 0 2 1 0 3 1 Discussão Segundo Rocha et al. [11], cerca de 34% dos lesados medulares desenvolvem úlceras de pressão durante primeiro período de internamento, 3040% nos primeiros 5 anos de lesão, e 50-80% pelo menos uma vez na vida, podendo chegar a 100% [1]. No presente estudo, 90% da amostra de úlceras de pressão foram observadas em indivíduos lesados medulares. 331 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Mesmo com os avanços da ciência fitoterápica ainda há muitas controvérsias sobre a utilização de tratamentos alternativos como a aplicação de açúcar cristal em úlceras infectadas. Pois, se levanta a hipótese destas serem colonizadas ou não. Zanon e Neves [12] reforçam que as feridas são colonizadas, porém poucas supuram, e em casos assim a sobrevivência e a multiplicação bacteriana dependem do número de micro-organismos invasores. No entanto, existem micro-organismos como: Pseudomonas aeruginosa, Klebsiela sp, Proteus sp e Streptococcus sp que estão presentes na flora microbiana do indivíduo portador da úlcera. O açúcar apresenta bons resultados no tratamento de úlceras infectadas, devido a sua ação bactericida, bacteriostática e antisséptica. Estas ações são explicadas através do efeito osmótico desenvolvido pelo açúcar na membrana e parede celular bacteriana, sendo eficaz no tratamento antimicrobiano contra Staphylococcus, Streptococcus, Enterobacter, Escherichia coli, Klebsiela sp, Pseudomonas e Serratia [12,14,15]. Segundo Chirife e Herszage [16], todos os organismos vivos necessitam de água para a sua sobrevivência. A utilização do açúcar cristal altera esta disponibilidade de água na úlcera a níveis suficientes para impossibilitar o crescimento de micro-organismos. O Staphylococcus aureus é o germe patogênico mais resistente a pouca disponibilidade de água, sendo assim, se ele não puder crescer e se reproduzir no leito da úlcera, dificilmente outros micro-organismos menos exigentes, como Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli, crescerão, por isso o açúcar é um antimicrobiano universal. Forrest [17] concorda que o efeito bactericida do açúcar ocorre predominantemente pela ação osmótica, acrescentando ainda que ele não desidrata apenas as bactérias, como também células epiteliais, macrófagos, e fibroblastos na margem da ferida. Dessa forma, reduz a migração e a divisão das células, potencializando, a cicatrização. No entanto, apesar de concordar que o açúcar é um tratamento tópico barato e disponível, discorda plenamente da teoria de Chirife e Herszage [16], de que o açúcar seja um antimicrobiano universal. Afirma ser complicado transferir resultados obtidos em laboratórios para situações clínicas, e ainda, que úlceras infectadas por Staphylococcus podem ser tratadas na maioria das vezes com desbridamento cirúrgico e drenagens, não sendo necessária a utilização de agentes tópicos. Em relação às análises laboratoriais realizadas, onde foi encontrado Staphylococcus sp em todas as amostras, conclui-se que não houve efeito bactericida contra este 332 micro-organismo, porém, o não aparecimento de outras espécies bacterianas pode indicar o efeito bacteriostático da aplicação da pasta de açúcar cristal. Estudos sobre a utilização de açúcar em feridas limpas sugerem a troca de curativos a cada 4 horas, e para as infectadas a cada 2 horas [18]. Já Haddad et al. [15] realizaram as trocas a cada 8 horas até o surgimento de tecido de granulação; a partir deste período trocas a cada 12 horas, até o aparecimento de tecido epitelial nas bordas das úlceras e redução da profundidade da lesão; e neste ponto passaram a realizar as trocas a cada 24 horas. No presente estudo foi utilizado um intervalo de 6 horas entre cada troca de curativo, pois acima deste tempo estimou-se uma diminuição da concentração do açúcar, proporcionando, assim, um meio propício para o desenvolvimento de micro-organismos, ao invés de estimular as propriedades bactericidas do açúcar. Porém, Chirife et al. [14] relataram que, com o uso do açúcar, após 10 horas a osmolaridade continua sendo eficaz para inibir o crescimento da maioria dos microrganismos patógenos. Sugerindo assim, que as trocas possam ser feitas com intervalos superiores a 10 horas. Já Cavazana et al. [19] realizaram as trocas de curativos a cada 24 horas e não observaram prejuízos para a cicatrização. Dor e mau odor das úlceras são descritos como os maiores desconfortos dos pacientes [5, 13,20,21]. Tais relatos não foram observados nesta pesquisa. Isso pode ser explicado pelas alterações de sensibilidade portadas pelos pacientes da amostra. Castro et al. [13] ainda citam que na presença de mau odor após o início do tratamento com açúcar cristal foi observado que em poucos dias o mesmo desapareceu. É possível explicar este fenômeno, pois como com a presença de açúcar no leito da úlcera estimularam as bactérias ali existentes a utilizar glicose para o seu metabolismo, produzindo assim ácido láctico, uma substância que não apresenta odor. Quanto à área da úlcera, semelhante ao presente trabalho, Cavazana et al. [19] em seu estudo sobre uso do açúcar na cicatrização, também observaram que o percentual de redução de feridas que o uso do açúcar propicia não é satisfatório. Utilizou-se como critério de exclusão sujeitos diabéticos, pois além de terem maior dificuldade de cicatrização [22], considerou-se prudente evitar uma possível sobrecarga glicêmica com a aplicação direta de açúcar na úlcera e por consequência na corrente sanguínea. Porém, Shi et al. [23] demonstraram que o uso de 70% de açúcar e 3% de povidine-iodine Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) acelera a reepitelização de úlceras em ratas diabéticas, mesmo as infectadas com Staphylococcus aureus. E ainda Herszage et al. [24], após aplicação de sacarose sobre lesões supurativas, observaram que a cicatrização evoluiu rapidamente e com desaparecimento de agentes patógenos, mesmo nos indivíduos diabéticos. Cavazana et al. [19] afirmam que o açúcar não apenas promove a cicatrização de feridas, mas a modulação da resposta inflamatória celular. Kössi et al. [25], em seu estudo sobre o efeito de diferentes concentrações de soluções contendo açúcar, observaram que estas não modificam qualitativamente o tecido de granulação. Porém, observou-se, através da escala de cicatrização da úlcera de pressão, melhora na qualidade do tecido e de seu exsudato, em ambos os grupos. Mesmo no GC, sugerindo que, apenas com a troca de curativos mais frequente e o aumento de cuidados, o leito da úlcera se manteve mais limpo e preparado para o processo de cicatrização. Conclusão Possivelmente pelo tamanho reduzido da amostra os resultados encontrados não mostram a utilização de açúcar cristal como um método significativo na cicatrização de úlceras de pressão. Porém, observou-se que o aumento dos cuidados propicia melhores condições de cicatrização, sendo ou não associado a agentes tópicos. Referências 1. Costa MP, Sturtz G, Costa FPP, Ferreira MC, Barros Filho TEP. Epidemiologia e tratamentos das úlceras de pressão: experiência com 77 casos. Acta Ortop Bras 2005;13(3):124-33. 2. Pieper B, Caliri MHL. Nontraditional wound care: a review of the evidence for the use of sugar, papaya/ papain, and fatty acids. J WOCN 2003;30(4):175-83. 3. Blanes L, Duarte IS, Calil JA, Ferreira LM. Avaliação clínica e epidemiológica das úlceras por pressão em pacientes internados no Hospital São Paulo. Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):182-7. 4. Giaretta VMA, Posso MBS. Úlceras por pressão: determinação do tempo médio de sinais iniciais em idosos sadios na posição supina em colchão hospitalar. Arq Med ABC 2005;30(1):39-43. 5. Spilsbury K, Nelson A, Cullum N, Iglesias C, Nixon J, Mason S. Pressure ulcers and their treatment and effects on quality of life: hospital inpatient perspectives. J Advanced Nurs 2007;57(5):494-504. 6. Shahin ESM, Dassen T, Halfens RJG. Pressure ulcer prevalence in intensive care patients: a cross-sectional study. J Evaluation Clinical Practice 2008;14:563-8. 7. Ministério da Saúde. Secretária de políticas de saúde. Departamento de ação básica. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Brasília: Ministério da Saúde; 2002. 8. Rocha RPA, Gurjão WS, Brito Junior LC. Avaliação morfológica da cicatrização de lesões ulcerativas assépticas tratadas com soluções de papaína. In: VII Congresso Virtual Hipanoamericano de Anatomia patológica y I Congresso de Preparaciones Virtuales por Internet; 2005,01-31/10. 9. Tabela de Medidas. Algumas dicas para se conhecer medidas sem a utilização de balança. Disponível em: URL: http://www.see.go.gov.br/educacao/servicos/ merendaescolar/pdf/tabela.pdf 10. Ferreira PL, Miguéns C, Gouveia J, Furtado K. Medição da qualidade de vida de doentes com feridas crônicas: a escala de cicatrização da úlcera de pressão e o esquema Cardiff de impacto da ferida. Nursing 2007;221:32-41. 11. Rocha JA, Miranda MJ, Andrade MJ. Abordagem terapêutica das úlceras de pressão – intervenção baseadas na evidência. Acta Med Port 2006;19:29-38. 12. Zanon U, Neves J. Infecções hospitalares: prevenção, diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Medsi; 1987. 13. Castro SZ, Franco MJ, Acosta YR. Experiencia en la cura de úlceras por presión con sacarosa. Rev Cuba Enferm 2006;22(3):1-9. 14. Chirife J, Herszage L, Joseph A, Kohn ES. In vitro study of bacterial inhibition in concentrated sugar solutions: microbiological basis for the use of sugar in treating infected wounds. Antimicrob Agents Chemother 1983;23:766-73. 15. Haddad MCL, Bruschi LC, Martins EAP. Influência do açúcar no processo de cicatrização de incisões cirúrgicas infectadas. Rev Latinoam Enferm 2000;8(1):57-65. 16. Chirife J, Herszage L. Sugar for infected wounds. Lancet 1982;1(8276):861-910. 17. Forrest RD. Sugar in the wound. Lancet 1982;1(861). 18. Écheli CSB, Busato CR. Tratamento tópico de úlcera de estase venosa – proposta para padronização. Publ UEPG Cienc Biol Saúde 2006;12(1):7-14. 19. Cavazana WC, Biondo-Simões MLPB, Yoshii SO, Bersani-Amado CA, Cuman RKN. Açúcar (sacarose) e triglicerídeos de cadeia média com ácidos graxos essenciais no tratamento de feridas cutâneas: estudo experimental em ratos. An Bras Dermatol 2009;84(3):229-36. 20. De Laat E, Scholte RWJ, Van Achterberg T. Pressure ulcers: diagnostics and interventions aimed at wound-related complaints: a review of the literature. J Clinical Nursing 2005;14:464-72. 21. Hopkins A, Dealey C, Bale S, Defloor T, Worboys F. Patient stories of living with a pressure ulcer. J Advanced Nursing 2006;56(4):345-53. 22. Greghi SLA, Brito MCT, Oliveira MR, Guimarães MCM. Relação entre diabetes mellitus e doença periodontal. Rev APCD 2002;56(4):265-9. 23. Shi CM, Nakao H, Yamazaki M, Tsoboi R, Ogawa H. Mixture of sugar and povidine-iodine stimulates healing of MRSA-infected skin ulcers on dB/db mice. Arch Dermatol Res 2007;299:449-56. 24. Herszage L, Montenegro J, Joseph A. Traitement des plaies suppurees por applications de ssaccharose. Nouv Presse Med 1982;12:940. 25. Kössi JA, Ekfors TO, Aaltonen V, Laato M. Sucrose has no beneficial effects on wound healing in rats. Eur J Surg 2000;166:818-22. 333 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Higienização das mãos: adesão da equipe multidisciplinar de saúde de um hospital ao norte do Estado de Minas Gerais Écila Campos Mota*, Mirelle Gonçalves de Melo**, Viviane Ribeiro Barbosa**, Joanilva Ribeiro Lopes***, Luís Paulo Souza e Souza****, Carla Silvana Oliveira e Silva*****, Diego Dias de Araújo****** *Enfermeira, Professora de Enfermagem das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, das Faculdades Santo Agostinho e da Unimontes, Montes Claros, **Enfermeira graduada pelas Faculdades Santo Agostinho, ***Enfermeira, Professora de Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho, ****Acadêmico do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), *****Enfermeira, Professora de Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho e da Unimontes, ****** Enfermeiro Residente Multiprofissional em Saúde do Idoso pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais Resumo Este estudo objetivou verificar a adesão da equipe multiprofissional de um Hospital ao norte do Estado de Minas Gerais quanto à higienização das mãos e em quais situações é utilizada. Estudo quantitativo, descritivo e observacional. Foi utilizado um roteiro de observação previamente validado e testado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o registro das observações. Foram observadas 85 oportunidades entre 15 profissionais de saúde, tendo 44% de adesão. Destaca-se a categoria médica pela baixa adesão, sendo que das 36 oportunidades de higienização das mãos, somente 4 oportunidades foram realizadas (11,2%). Quanto à categoria de enfermagem, os técnicos obtiveram 35, com 62,8% de adesão que equivale a 22 oportunidades realizadas; já os enfermeiros, das 14 oportunidades que tiveram, 12 foram concretizadas equivalendo a 85,8% de adesão à higienização das mãos. A higienização das mãos em algumas indicações não está incorporada à prática diária desses profissionais e, por isso, espera-se que as ações educativas possibilitem a reflexão da atuação de cada sujeito, propiciando a aprendizagem e modificando as práticas instituídas. Palavras-chave: lavagem de mãos, controle de infecções, pessoal de saúde. Abstract Hand hygiene: adherence of multidisciplinary health team of a hospital in the north of Minas Gerais This study aimed at verifying adherence of multiprofesional team of a hospital in the North Minas Gerais – Brazil regarding hand hygiene and when done correctly. This is a quantitative, descriptive and observational study. An observation guide previously validated and tested by the National Health Surveillance Agency to record the observations. 85 opportunities have been observed between 15 health professionals, with 44% of adherence. We observed low adhesion of medical professionals, as they had 36 hand hygiene opportunities and had only 4 hand washing were performed (11.2%). Nursing professionals, 35 Artigo recebido 20 de março de 2012; aceito em 12 de dezembro de 2012. Endereço para correspondência: Luís Paulo Souza e Souza, Rua Doze, 47, Santo Antônio Dois, 39402-285 Montes Claros MG, Tel: (38) 9138-1405, E-mail: [email protected] 334 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) nursing technicians had 22 opportunities and 62.8% of adherence; as regards to nurses, with 14 opportunities, 12 hand washing were performed (85.8%). The hand hygiene in some occasions is not incorporated to daily practice of these professionals and, therefore, educational actions should be taken in order to provide learning and changing practices. Key-words: hand washing, infection control, health personnel. Resumen Higiene de las manos: adhesión del equipo multidisciplinario de la salud de un hospital en el norte del Estado de Minas Gerais Este estudio tiene como objetivo verificar la adhesión de equipo multidisciplinario de un hospital en el norte del Estado de Minas Gerais – Brasil relativo a la higiene de las manos y en qué situaciones es realizada correctamente. Estudio cuantitativo, descriptivo y observacional. Se utilizó un guion de observación previamente reconocidos y autorizados por la Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria para el registro de observaciones. 85 oportunidades han sido observadas entre 15 profesionales de la salud, con 44% de adhesión. Se destaca la categoría médica a la baja adhesión, puesto que en 36 oportunidades de higiene de manos, sólo 4 fueron realizadas (11,2%). En relación a la categoría de Enfermería, 35 técnicos de enfermería tuvieron 62,8% de adhesión, o sea, 22 oportunidades realizadas; los enfermeros, 14 oportunidades y se realizaron 12 que equivale a 85,8% de adhesión a la higiene de las manos. La higienización de las manos en algunas situaciones aún no está incorporada a la práctica diaria de estos profesionales y, por lo tanto, se espera que las acciones educativas permitan la reflexión de cada sujeto, propiciando el aprendizaje y cambio de las prácticas establecidas. Palabras-clave: lavado de manos, control de infecciones, personal de salud. Introdução As infecções hospitalares ocorrem por diversas razões e existem muitos mecanismos que favorecem seu aparecimento, um desses é a transmissão de microorganismos pelos profissionais da área de saúde, que atuam direta ou indiretamente na transmissão de microrganismo patogênico aos pacientes [1]. As infecções relacionadas à assistência à saúde representam atualmente uma preocupação não somente dos órgãos de saúde competentes, mas um problema de ordem social, ética e jurídica em face às implicações na vida dos usuários e o risco a que estes estão submetidos. Essas infecções, além de acometerem clientes, ameaçam também profissionais da área de saúde, trabalhadores dos serviços de apoio, acompanhantes e demais usuários do serviço. O impacto das infecções relacionadas à assistência à saúde implica em prolongado período de internação hospitalar, aumento da resistência antimicrobiana, gastos excessivos para o sistema de saúde, pacientes e familiares e alta mortalidade [2]. A higienização das mãos é a maneira mais eficiente e econômica para a prevenção de tais infecções nasocomiais e esse fato é mundialmente reconhecido. As mãos são o principal meio de transmissão de infecções hospitalares e sua lavagem deve ser realizada antes e após qualquer procedimento empregado na assistência ao paciente [1]. Faz-se necessário descrever que a lavagem higiênica das mãos consiste no uso de água e sabão por um tempo de aproximadamente 30 segundos e é suficiente para a redução (>90%) da microbiota transitória. Por outro lado, na remoção da microbiota normal deve ser considerada a utilização de formulações contendo antissépticos. Na rotina diária de um profissional de saúde, há inúmeros procedimentos passíveis de contaminação das mãos, exigindo a higienização antes e após a sua execução [3]. A partir de estudos experimentais, em 1847, o médico húngaro Ignaz Philip Semmelweis, ao se deparar com os elevados índices de febre puerperal, postulou a interação entre lavagem das mãos e infecção hospitalar, de modo a instituir a obrigatoriedade da higiene das mãos com solução clorada entre o atendimento de cada paciente. Com esse procedimento, evidenciou-se a redução drástica da taxa de mortalidade materna e comprovou que a higienização das mãos constitui medida primária para a prevenção das infecções hospitalares, uma vez que se caracteriza como principal ferramenta de transmissão dos micro-organismos. Contudo, a falta de adesão dos profissionais de saúde a essa prática acarreta a necessidade de reformulação cultural, a fim de valorizar a segurança e a qualidade da assistência [4]. No anexo IV da portaria 2616/98, a higienização das mãos é, isoladamente, a ação mais importante para a prevenção e controle das infecções hospitalares; 335 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) a higienização das mãos deve ser realizada tantas vezes quanto necessária, durante a assistência a um único paciente, sempre que envolve contato com diversos sítios corporais e entre cada uma das atividades [5]. Devem ser empregadas medidas e recursos com os objetivos de incorporar a prática da higienização das mãos em todos os níveis de assistência hospitalar. A distribuição e a localização de pias para a higienização das mãos de forma a atender à necessidade nas diversas áreas hospitalares, além da presença de produtos, são fundamentais para a obrigatoriedade da prática [2]. A importância da prática de higienização das mãos é baseada na capacidade de abrigar micro-organismos e transferi-los de uma superfície para outra, por contato direto, pele a pele, ou indireto por meio de objetos. O controle dessas infecções por meio da higienização cuidadosa e frequente das mãos atende às exigências legais e éticas, promove a segurança e a qualidade da atenção prestada ao cliente. Apesar de a transmissão de infecções relacionada à assistência à saúde pelo contato das mãos ser admitida mundialmente e sua efetividade comprovada, o cumprimento das normas técnicas para sua prevenção é insatisfatório [2]. A adesão a essa medida tem-se constituído em um dos maiores desafios para as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar – CCIH que, dentre outros aspectos, envolve os recursos humanos nos estabelecimentos de saúde, seu preparo e sua conscientização. Frequentemente, as infecções hospitalares são associadas à baixa adesão dos profissionais da área da saúde à higienização das mãos [6]. Os profissionais que trabalham nas instituições de saúde necessitam conhecer a verdadeira importância da correta higienização das mãos, sendo que esta medida está relacionada com as boas práticas de higiene do ambiente que possibilitam ao paciente proteção contra infecções durante todo o período de internação. A maioria dos profissionais de saúde lavam as mãos de maneira corriqueira, como a desenvolvem no dia a dia em suas residências, ou seja, como se não estivessem em âmbito hospitalar, dando, então, menor ênfase a essa medida tão necessária [7]. Devido à longa jornada de trabalho, a equipe de saúde multiprofissional normalmente apresenta também um grande volume de atividades a serem realizadas. Assim, não é incomum observar a realização da técnica de higienização das mãos de forma rápida e desatenta, o que pode aumentar a incidência no quadro de infecções hospitalares, principalmente para os profissionais que prestam 336 atendimento a pacientes mais vulneráveis. Como no século passado, os profissionais de saúde ainda necessitam ser lembrados constantemente de lavar suas mãos durante o contato com o paciente [7]. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), devem higienizar as mãos todos os profissionais que trabalham em serviços de saúde. Recomenda-se, ainda, que familiares, acompanhantes e visitantes higienizem as mãos antes e após terem contato com os pacientes nos serviços de saúde [8]. A higienização das mãos dos profissionais que atuam em serviços de saúde pode ser realizada utilizando-se água e sabão, preparações alcoólicas e antissépticas degermantes. Dependendo do objetivo ao qual se destinam, as técnicas de higienização das mãos podem ser divididas em higienização simples, higienização antisséptica, fricção de antissépticos, antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório [8]. A eficácia da higienização das mãos depende da duração e da técnica empregada. Antes de iniciar qualquer uma dessas técnicas, é necessário retirar anéis, pulseiras e relógios, pois tais objetos podem acumular micro-organismos. Devem ser seguidas também algumas recomendações, como: manter as unhas naturais, limpas e curtas, não usar unhas postiças, quando entrar em contato direto com os pacientes, evitar o uso de esmaltes nas unhas, aplicar creme hidratante nas mãos (uso individual), diariamente, para evitar ressecamento da pele [8]. A higienização das mãos é, sem dúvida, um tema que pode se tornar constrangedor quando abordado diretamente, pois é difícil para um profissional de saúde assumir que falha em um aspecto tão fundamental. Sendo assim, são necessários estudos observacionais que busquem informações mais fidedignas possíveis quanto ao hábito de higienizar as mãos [9]. Deve-se entender a importância da higienização das mãos e que a realização incorreta ou a não realização desse procedimento traz implicações para as instituições, profissionais e pacientes. O estudo teve como objetivo verificar a adesão da equipe multiprofissional quanto à higienização das mãos e em quais situações essa prática é utilizada. Material e métodos Trata-se de estudo quantitativo, descritivo e observacional, realizado no hospital Municipal São Vicente de Paulo do Município de Coração de Jesus, localizado ao norte de Minas Gerais. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) oportunidades foram aproveitadas (11, 2%). Quanto à categoria de enfermagem, incluindo os técnicos e os enfermeiros, somam-se 49 oportunidades de higienização das mãos. Destas 49 oportunidades, os técnicos tiveram 35 oportunidades de higienizar as mãos, ficando com 62,9% de adesão, que equivale a 22 oportunidades aceitas. Já os enfermeiros tiveram menos oportunidades, devido à sobrecarga dos serviços administrativos e não estarem tão presentes ao serviço prático, tendo, assim, 16,5% de todas as oportunidades ocorridas, ou seja, 14 oportunidades e, destas, 12 foram realizadas, equivalendo a 85,8%. Os fatores que buscam explicar a baixa adesão às práticas de higienização das mãos são atualmente conhecidos graças a estudos observacionais, de intervenção ou de inquéritos epidemiológicos, nos quais os profissionais de saúde apontam as razões de não seguirem as recomendações [8]. Mas, uma questão a ser analisada é o comportamento humano, que pode variar, caso o profissional saiba que está sendo observado. Nesse caso, sua atitude em relação à higienização das mãos pode mudar, no sentido de aumentar a adesão nos períodos que estão sendo observados [10]. Autores realizaram um estudo relevante, observando 2.834 oportunidades para higienização simples das mãos com água e sabonete, e identificaram 48% de adesão. Na análise multivariada, a adesão foi maior entre enfermeiros, durante os dias da semana, em comparação com outras categorias profissionais [9]. O fato de ser médico é associado à baixa adesão à higienização das mãos e varia de acordo com a especialidade. Em estudo realizado, observando a adesão à higienização das mãos entre médicos, a taxa global de adesão foi de 57%, variando de 23% entre os anestesiologistas a 87% entre os clínicos [9]. Neste estudo, os médicos também obtiveram baixa adesão à higienização das mãos. É importante ressaltar que o Hospital Municipal São Vicente de Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de observação previamente validado e testado pela Anvisa para o registro das observações. Nesse instrumento constaram as oportunidades para a higienização das mãos, os tipos de higienização das mãos e as indicações para essa prática. O estudo foi realizado no ambiente hospitalar, com todos os profissionais da equipe de saúde que exerceram suas atividades nos turnos matutinos e vespertinos, durante o período da coleta de dados que ocorreu no primeiro semestre de 2011, totalizando 15 profissionais. A pesquisa foi embasada nas orientações da Resolução do Conselho Nacional de Saúde no. 196/96, que estabelece as diretrizes de pesquisa que envolve seres humanos. Ressalta-se que o presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE), sendo aprovado por meio do parecer consubstanciado número 030/11. Resultados e discussão Quinze profissionais foram observados (03 enfermeiros, 02 médicos e 10 técnicos de enfermagem), sendo identificadas, ao todo, 85 oportunidades de higienização das mãos, conforme pode ser observado na Tabela I. Entende-se por oportunidades os momentos em que a higienização das mãos era necessária e/ ou recomendada, do ponto de vista do controle de infecção. No total, os médicos tiveram 36 oportunidades de higienização das mãos, os enfermeiros 14 oportunidades, já os técnicos de enfermagem tiveram 35 oportunidades. Dentre as categorias profissionais que obtiveram mais oportunidades de higienização das mãos, estão os médicos, técnicos de enfermagem e, por último, os enfermeiros. Dessas, destaca-se a categoria médica pela baixa adesão, sendo que, das 36 oportunidades de higienização das mãos, somente 4 Tabela I - Adesão à higienização das mãos, segundo número de oportunidades para essa prática pelos profissionais do Hospital Municipal São Vicente de Paulo – Coração de Jesus, 2011. Categoria profissional Enfermeiro Médico Técnico de enfermagem Total tunidades 14 36 35 85 Adesão Adesão Número de opor- Total (Não) (Sim) n % n % 12 04 22 38 85,8 11,2 62,9 02 32 13 47 14,2 88,8 37,1 100 100 100 100 Fonte: Coleta de dados, 2011. 337 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Paulo é de pequeno porte e possui infraestrutura inadequada, por exemplo: número de pias insuficientes e posicionadas incorretamente, e falta de sabão líquido e álcool gel a 70% nos dispensadores, o que pode ter influenciado a baixa adesão. Em alguns hospitais brasileiros, observam-se problemas relacionados à falta de pias, ou pias em número insuficiente, como também a ausência de dispensadores para sabão, fazendo-se necessária a utilização de antissépticos [2]. Atualmente, o álcool em gel a 70% é citado na literatura como uma forma de aumentar a adesão dos profissionais de saúde à higienização das mãos e diminuir a taxa de infecções relacionadas à assistência à saúde, pois se gasta menos tempo para a realização dessa prática e o produto age mais rápido e é eficaz na redução da carga microbiana [2]. A Anvisa lançou, em 2007, uma cartilha de higienização das mãos em serviço de saúde que é distribuída a instituições de todo o país. Além disso, foi aprovada uma resolução que obriga os serviços a disponibilizar álcool em gel em torno dos ambientes onde ocorrem procedimentos com paciente. Para a apresentação dos dados em relação às ações e indicações segundo a categoria profissional foi construída uma tabela de acordo com o formulário de observação. São priorizadas cinco indicações: antes de contato com paciente, antes de realizar procedimentos assépticos, após risco de exposição a fluidos corporais, após contato com paciente, após contato com superfícies e objetos próximos ao paciente (Tabela II). Dos 85 registros de oportunidade de higienização das mãos, a adesão foi 38 (44,7%), considerando o uso de álcool a 70% e água e sabão. Desses registros, 17 (44,7%) foram fricção com álcool a 70% e 21(55,3%) de higienização das mãos com água e sabão. Como se observa na Tabela II, em todas as indicações, os médicos obtiveram 19% de adesão com água e sabão e nenhuma com álcool a 70%; os enfermeiros tiveram adesão de 28,6% com água e sabão e 35,2% com álcool a 70%. Os técnicos de enfermagem aderiram 52,4% com água e sabão e 64,7% com álcool. Os dados mostram em quais situações os profissionais mais aderem à higienização das mãos. Dessas, a que houve menor adesão foi antes do contato com o paciente, pois 80,8% das oportunidades não foram realizadas, apenas 11,5% foram realizadas com água e sabão, 7,7% com fricção alcoólica. A indicação após contato com paciente foi a segunda de menor adesão com (18,9%) com água e sabão, (21,6%) fricção com álcool e (59,5%) não aproveitadas. Podemos observar que a prática da higienização das mãos foi mais utilizada na realização de procedimentos assépticos, após riscos à fluidos corporais e após contato com superfícies e objetos próximos ao paciente, tendo de (75%) a (88,9%) de adesão. É difícil mudar os hábitos, costumes, conceitos e, principalmente, comportamentos, mas se não se investir nessa simples atitude, nada se conseguirá. Para que isso ocorra de forma efetiva, deverão ser priorizados pela comissão de controle de infecção Tabela II - Realização da higienização das mãos segundo a ação, indicação e categoria profissional. Hospital Municipal São Vicente de Paulo – Coração de Jesus, 2011. Indicação Água e sabão Categoria Total M E TE n % Antes contato com 01 01 01 paciente Antes realizar proce01 05 dimento asséptico Após riscos de exposição a fluidos 01 02 corporais Após contato com 01 03 03 paciente Após contato com superfície e objeto 02 próximo a paciente Total 04 06 11 03 11,5 06 75 03 60 07 02 Fricção álcool Categoria Total M E TE n % Não realizada Categoria Total M E TE n % - 7,7 16 01 04 21 80,8 100 - 02 02 n % - - - - - - 02 02 25 100 - 01 - 01 20 - - 01 01 20 100 18,9 - 03 05 08 21,6 16 01 05 22 59,5 100 22,2 - 02 04 06 66,7 - - 01 01 11,1 100 32 02 100 - 06 11 17 100 13 Legenda: M = médico, E = enfermeiro; TE = técnico em enfermagem. Fonte: Coleta de dados, 2011. 338 Total 47 100 85 100 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) hospitalar (CCIH) e estrutura máxima hospitalar em parceria com os pacientes, familiares e/ou visitantes, treinamentos, aulas, pesquisas, além de um trabalho de “corpo a corpo” com as equipes multidisciplinares [2]. Embora a higienização das mãos seja um procedimento simples e barato, a negligência dos profissionais da área da saúde em não realizar frequentemente essa prática é um problema mundialmente questionado. Os dados encontrados neste estudo reafirmam o que vários outros já evidenciaram, a baixa adesão dos profissionais da saúde à prática de higienização das mãos [2]. Todos os profissionais que trabalham em serviços de saúde, que mantém contato direto ou indireto com os usuários, que atuam na manipulação de medicamentos, alimentos e material estéril ou contaminado devem adotar, em sua prática, as recomendações básicas de higienização das mãos [2]. Em diversos estudos, a baixa adesão à higienização das mãos não está diretamente associada ao conhecimento teórico do ato da higienização das mãos ou da situação em que se deve realizá-la, mas sim a incorporação desse conhecimento à prática diária dos profissionais. Muitas vezes não sendo incorporada a prática do profissional em função da falta de motivação, da não concepção do risco de disseminação de micro-organismo, do excesso de atividade/tarefas e da falta de materiais e/ou deficiência da estrutura física da instituição. Quanto aos aspectos relacionados à instituição, deve estar atenta a estrutura física da unidade avaliando-se a necessidades de dispensadores de álcool a 70% devidamente instalados e abastecidos [10]. Conclusão Tendo em vista os objetivos propostos no estudo, os resultados da pesquisa mostraram que houve baixa adesão à higienização das mãos do hospital estudado. Foram observadas 85 oportunidades, das quais 36 foram dos médicos, com adesão de apenas 4 oportunidades (11,2%). Os enfermeiros tiveram 14 oportunidades e 12 foram aderidas (85,8%). Os técnicos de enfermagem tiveram 35 oportunidades, e realizaram a higienização 22 vezes com (61,8%) de adesão. A pesquisa identificou que os profissionais de saúde não higienizam as mãos de acordo com as indicações, deixando de fazer nos momentos mais recomendados. Com isso, a adesão à higienização das mãos em algumas indicações não está incorporada à prática diária desses profissionais e as ações educativas, com objetivo de aumentar a adesão dos profissionais de saúde à higienização das mãos, são necessárias e emergentes. Portanto, é necessário avaliar a melhor estratégia de incentivo a ser abordada, pois a educação como a principal forma de divulgação e multiplicação do conhecimento e informações, não tem conseguido modificar comportamentos e condutas específicas. Espera-se que as ações educativas possibilitem a reflexão da atuação de cada sujeito, propiciando a aprendizagem e modificando as práticas instituídas. Referências 1. Felix CCP, Miyadahira AMK. Avaliação da técnica de lavagem das mãos executada por alunos do Curso de Graduação em Enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2009;43(1):139-45. 2. Primo MGB, Ribeiro LCM, Figueiredo LFS, Sirico SCA, Souza MA. Adesão à prática de higienização das mãos por profissionais de saúde de um Hospital Universitário. Rev Eletrônica Enferm 2010;12(2):266-71. 3. Rocha LA, Almeida BLF, Filho PPG. Falta de adesão à lavagem de mãos, ação irritante do uso de sabão e luvas e sua influência na microbiota qualitativa e quantitativa das mãos de enfermeiros. Newslab 2007;82:114-22. 4. Coelho MS, Arruda SC, Faria SM. Higienização das mãos como estratégia fundamental no controle de infecções hospitalar: um estudo quantitativo. Enfermería Global 2011;21:1-12. 5. Tipple AFV, Mendonça KM, Melo MC, Silva SAC, Pereira MS, Vieira SSL. Higienização das mãos: o ensino e a prática entre graduandos na área da saúde. Acta Sci Health Sci 2007;29(2):107-14. 6. Neves ZCP, Tipple AFV, Souza ACS, Pereira MS, Melo DS, Ferreira LR. Higienização das mãos: o impacto de estratégia de incentivo À adesão entre profissionais de saúde de uma unidade de terapia intensiva neonatal. Rev Latinoam Enferm 2006;14(4):546-52. 7. Santos FM, Gonçalves MS. Lavagem das mãos no controle da infecção hospitalar: um estudo sobre a execução da técnica. Rev Enferm Integrada 2009;2(1):1-12. 8. Brasil. Agencia Nacional de vigilância sanitária. Segurança do paciente em serviço de saúde: Higienização das mãos/Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa 2009.105p. 9. Mendonça AP, Fernandes MSC, Azevedo JMR, Silveira WCR, Souza ACS. Lavagem das mãos: adesão dos profissionais de saúde em uma unidade de terapia intensiva neonatal. Acta Scientiarum Health Sciences 2003;25(2):147-53. 10. Barbosa LR. Correlação entre métodos de mensuração da adesão a higienização das mãos em unidade de terapia intensiva neonatal [tese]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2010. 11. Oliveira AC, Cardoso CS, Mascarenhas D. Precauções de contato em Unidade de Terapia Intensiva: fatores facilitadores e dificultadores para adesão dos profissionais. Rev Esc Enferm USP 2010;44(1):161-65. 339 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Processo de trabalho e os resultados dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família de um município do Sul do Brasil: o olhar do enfermeiro Francielle Rosso Mazzuchello*, Luciane Bisognin Ceretta, M.Sc.**, Valdemira Santina Dagostin, M.Sc.***, Francielle Lazzarin de Freitas Gava**** *Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), **Professora do curso de enfermagem e Coordenadora da Unidade de Ciências da Saúde da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC, ***Professora do curso de enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC),****Especialista em Saúde Coletiva com área de concentração em Saúde da Família e em Gerenciamento de Unidades Básicas de Saúde. Professora do curso de enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) Resumo A presente pesquisa teve como objetivo identificar os resultados do projeto Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) oferecido às unidades de referência em um município do sul do Brasil, a partir da organização do processo de trabalho na ótica dos enfermeiros. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, descritiva cuja coleta de dados foi feita por meio de uma entrevista semiestruturada com os enfermeiros que atuam nas unidades de saúde da família apoiadas pelos NASF. Os sujeitos do estudo constituíram-se de 24 enfermeiros. Os resultados da pesquisa denotam as dificuldades encontradas na organização do processo de trabalho do NASF, observando-se que essa organização encontra-se ainda fragmentada, isolada das equipes, sem discussões de casos e elaboração de projetos terapêuticos, constatando-se que as diretrizes nacionais do NASF não são seguidas pelos seus integrantes na sua totalidade, o que demonstra um apoio matricial oferecido às Unidades de Saúde da Família ainda falho. Concluiu-se que a proposta de implantação do NASF no município necessita de profissionais instrumentalizados, estruturados e com perfil para atuação no cenário da saúde da família para que essa proposta possa ser efetivada. Palavras-chave: atenção primária à saúde, saúde da família, Enfermagem, promoção da saúde. Abstract Work process and results of support in Family Health Units of a city in Southern Brazil: a nurse point of view This study aimed to identify the results of support in Family Health Units project provided to reference units of a city in southern Brazil, related to organization of work process from a nurse point of view. This was a qualitative and descriptive study. Data was collected using a semi-structured interview with nurses who worked in family health units supported by NASF. The study subjects consisted of 24 nurses. The survey results showed difficulties found in the organization of work process of the Artigo recebido em 8 de dezembro de 2011; aceito em 12 de novembro de 2012. Endereço para correspondência: Francielle Rosso Mazzuchello, Rua Leontino Colodel, 626, 88820-000 Içara SC, E-mail: [email protected] 340 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) NASF, and observed that the organization is still fragmented, isolated from teams, without case discussions and elaboration of therapeutic projects. Also, national guidelines of NASF are not followed by the members as a whole, which shows a matrix support offered to the Family Health Units defective. We conclude that the implementation of NASF in the city needs trained and well-structured professionals with profile to work in the health family scenario in order to accomplish this objective. Key-words: primary health care, family health, Nursing, health promotion. Resumen Proceso de trabajo y los resultados del Núcleo de Apoyo a la Salud de la Familia de un municipio en el sur de Brasil: desde la óptica del enfermero Esta investigación tuvo como objetivo identificar los resultados del proyecto Núcleo de Apoyo a la Salud de la Familia (NASF) ofrecido a las unidades de referencia en un municipio en el sur de Brasil, a partir de la organización del proceso de trabajo desde la óptica del enfermero. Se trata de un estudio cualitativo, descriptivo y la recolección de datos se realizó a través de una entrevista semiestructurada con enfermeros que trabajan en unidades de salud familiar apoyados por el NASF. Los sujetos de estudio fueron 24 enfermeros. Los resultados de la investigación indican las dificultades encontradas en la organización del proceso de trabajo del NASF, señalando que la organización aún se encuentra fragmentada, equipos aislados, sin discusiones de casos y elaboración de proyectos terapéuticos, y se constató que las directrices nacionales NASF no son seguidas por sus miembros como un todo, lo que demuestra un soporte matricial ofrecido a las Unidades de Salud de la Familia aún defectuoso. Se concluyó que la propuesta de implementación del NASF en el municipio necesita de profesionales instrumentalizados, estructurados y con perfil para trabajar en el escenario de la salud de la familia para que esta propuesta pueda ser efectiva. Palabras-clave: atención primaria de la salud, salud de la familia, Enfermería, promoción de la salud. Introdução O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) foi constituído pelo Ministério da Saúde por meio da portaria GM nº154, de 24 de janeiro de 2008, com o objetivo de apoiar à inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e ampliar a abrangência, a resolutividade, a territorialização, a regionalização, bem como a ampliação das ações da atenção básica no Brasil [1]. Tais núcleos devem ser constituídos por uma equipe, na qual profissionais de diferentes áreas de conhecimento atuam em conjunto com os profissionais da equipe de Saúde Família compartilhando e apoiando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade destas equipes [1]. O NASF é um projeto recente, cuja essência reúne potencial para contribuir de modo significativo com a consolidação da Estratégia Saúde da Família (ESF) e do próprio Sistema Único de Saúde (SUS), motivo pelo qual é importante compreender como os enfermeiros que atuam na gerência das Unidades de Saúde da Família adstritas ao NASF compreendem e vivenciam essa proposta. Entende-se que a percepção do enfermeiro que atua como gerente das Unidades de Saúde da Família apoiadas pelo NASF seja essencial, enquanto norteadora para as intervenções dos núcleos. Cabe enfatizar que este núcleo trabalha de forma integrada com as redes de serviço, a partir das necessidades encontradas junto com a equipe das Estratégias de Saúde da Família, portanto não é porta de entrada para o sistema, mas sim, um apoio para a equipe de saúde na atenção básica enfatizando a promoção a saúde e não a assistência especializada [1]. Concorda-se quando os autores refletem que a interdisciplinaridade possibilita reconstruir uma prática de ações voltadas aos diversos saberes profissionais e, deste modo, criar uma intervenção comum à equipe baseada na realidade das demandas daquele território [2]. Nesse contexto, verificam-se ainda algumas dificuldades enfrentadas pela equipe do NASF para o desenvolvimento de suas atividades em grupo, pois esses profissionais inclusos nos NASF são voltados para a formação assistencialista/especializada em sua maioria, tendo então que se adaptar a esse novo meio que procura não o atendimento individual – exceto em certas condições específicas – mas sim, o compartilhamento em grupos [3]. Diante dessa contextualização e das discussões sobre o assunto, elaborou-se para a pesquisa 341 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) o seguinte questionamento: Qual a contribuição do NASF, em um município do sul do Brasil, a partir de o apoio matricial oferecido às Unidades de Referência em Saúde da Família? O objetivo do presente estudo foi de identificar os resultados do NASF oferecido às unidades de referência em um município do sul do Brasil, a partir da organização do processo de trabalho na ótica dos enfermeiros. Material e métodos Trata-se de um estudo de cunho qualitativo e descritivo. Participaram do estudo 24 enfermeiros que atuam nas unidades de saúde da família de um município do Sul do Brasil. A coleta de dados foi realizada no período de julho a agosto de 2011, por meio de entrevistas semiestruturadas com os enfermeiros e após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após a coleta de dados, as informações foram agrupadas, categorizadas por temas e discutidas com base na compreensão sobre esses resultados, utilizando-se a análise de conteúdo de Bardin [4]. Durante o desenvolvimento do estudo, foi garantido o anonimato dos entrevistados, conforme determina a Resolução no 196/96. A digitação das respostas dos entrevistados foi fiel ao mencionado, identificando os sujeitos como E1, E2, E3, respectivamente. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, com o registro de número 190/2011. Resultados e discussão Para compreender como se processa a articulação do trabalho desenvolvido pelos NASF às unidades de saúde da família na ótica dos enfermeiros foram analisados seis unidades temáticas: Atividades desenvolvidas pelo NASF; Planejamento conjunto das atividades do NASF com a equipe de Saúde da Família; Retorno dos atendimentos efetuados pelo NASF à equipe de referência; Seguimento das diretrizes nacionais pelas equipes do NASF; Preparo dos profissionais para atuarem no NASF e Avaliação sobre os resultados do NASF para a Saúde da Família. Atividades desenvolvidas pelo NASF As atividades desenvolvidas pelo NASF na opinião dos enfermeiros entrevistados referem-se, 342 principalmente, às atividades de apoio a grupos terapêuticos e com muita frequência surge a caminhada orientada. Não são relatadas atividades coerentes com as diretrizes do NASF tais como: visitas domiciliares, construção de projetos terapêuticos singulares e de território dentre outras. As atividades são individuais dos integrantes do NASF e não apresentam, ao olhar dos enfermeiros, forte interlocução com as equipes, tal qual propõem as diretrizes. A fala a seguir remete a análise explícita. “Desde quando atuam fizeram dois grupos só, não fazem mais; fazem raros atendimentos individuais; [...] eles não fazem seu papel. Não priorizam nenhuma coisa e nem outra”. (E8) Entende-se que esta fragmentação das atividades desenvolvidas pelo NASF fragiliza a proposta de apoio matricial. No documento que trata das diretrizes do NASF este organizará o seu processo de trabalho com foco nos territórios de sua responsabilidade, conjuntamente com as equipes de SF que a ele se vinculam de forma a priorizar: ações clínicas compartilhadas, para uma intervenção interdisciplinar, com troca de saberes, capacitação e com ênfase em estudo e discussão de casos, realização de projeto terapêutico singular, espaços de reuniões, bem como consultas/atendimentos conjuntos, etc. Intervenções específicas do profissional do NASF com os usuários e/ou famílias, com discussão e negociação a priori com os profissionais da equipe de SF responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento individualizado pelo NASF se dê apenas em situações extremamente necessárias [5]. Ações compartilhadas nos territórios de sua responsabilidade devem ser desenvolvidas de forma articulada com as equipes de SF, bem como o desenvolvimento de um projeto de saúde no território, planejamentos, reuniões, apoio aos grupos, trabalhos educativos, de inclusão social, enfrentamento da violência, ações junto aos equipamentos públicos, como escolas, creches, igrejas, pastorais etc. [6]. O apoio matricial em saúde objetiva assegurar retaguarda especializada as equipes e profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde. Trata-se de uma metodologia de trabalho complementar àquela prevista em sistemas hierarquizados, a saber: mecanismos de referência e contrarreferência, protocolos e centros de regulação [7]. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) A falta de organização das atividades, sobretudo com um cunho muito individualista, além de corromper a proposta do matriciamento e da clínica ampliada, leva ao descrédito a representação desta proposta no imaginário dos enfermeiros e consequentemente da equipe multiprofissional de saúde. Planejamento conjunto das atividades do NASF com a equipe de Saúde da Família Constata-se que o planejamento das atividades junto aos enfermeiros acontece de modo muito incipiente, sem organização e sistematização. Esta atitude compromete a credibilidade do programa junto aos enfermeiros e também junto à população. “Não. Acontece mais individual e quando há necessidade”. (E4) “Poucas vezes discutimos as ideias em conjunto”. (E7) Na ótica dos enfermeiros entrevistados não há um planejamento conjunto de atividades, de acordo com as demandas da comunidade. Mesmo os enfermeiros que responderam positivamente a esta questão referem que não há um planejamento de fato, que seja efetivo. O processo de implementação do NASF implica a necessidade de estabelecer espaços rotineiros de discussões e de planejamento em equipe (NASF) e entre equipes (NASF e equipe de SF). Com reuniões para definir objetivos, critérios de prioridades, critério de avaliação dos trabalhos, resolução de conflitos, discussões de casos/situações, entre outros [5]. O trabalho em equipe entra como uma proposta estratégica, como forma de subsídio aos profissionais para melhor lidar com o processo de especializações na saúde, de forma que vise a um aspecto individualizado produzindo conhecimentos e intervenções verticalizadas. Assim, o trabalho em equipe pretende contemplar a articulação das ações e dos saberes simultaneamente [8]. Atrelado a isso, o Apoio Matricial facilita a vinculação do usuário nos serviços da rede, sem que haja a diluição de responsabilidades, pois os casos acabam sendo compartilhados no momento da reunião, a fim de que se saiba como está sendo o andamento dos mesmos. Retorno dos atendimentos efetuados pelo NASF à equipe de referência Nas falas descritas a seguir, verifica-se a falta de retorno dos casos acompanhados para a equipe de referência, demonstrando uma atuação falha no sentido de apoio do NASF a essas equipes. Essa falta de retorno dificulta a implantação da proposta do NASF, uma vez que este vem apoiar as ESF e, portanto, não é a porta de entrada do serviço. Para tanto, faz-se necessário repensar o processo de trabalho que deve ser pensado na lógica de uma equipe interdisciplinar em que as ações planejadas ocorram em conjunto, permeando vários saberes e construindo várias estratégias para o bem da comunidade. “Não retornam”. (E2) “Nem todos, alguns sim”. (E4) A falta de retorno dos atendimentos desenvolvidos pelos integrantes do NASF para a equipe de referência é um ponto de significativa importância a ser discutido, tendo em vista que se não houver um retorno dos atendimentos e dos planos terapêuticos desenvolvidos há fragmentação no processo de cuidar dos sujeitos, e esta não é a proposta do NASF. Trabalhar para a construção de uma prática interdisciplinar remete uma aproximação entre as partes envolvidas, no qual o diálogo é a ferramenta essencial para uma aproximação entre as equipes, e todo conhecimento parcial só ganha importância e significado quando compartilhado e trabalhado no conjunto [9]. Atuar como apoio matricial implica em decidir conjuntamente as ações, construir coletivamente os projetos terapêuticos e, sobretudo, oferecer retorno dos casos atendidos. Seguimento das diretrizes nacionais pelas equipes do NASF Referente ao seguimento das diretrizes nacionais pelas equipes do NASF, verifica-se que esse processo apresenta-se falho diante do cenário apresentado, a fala a seguir demonstra a análise explícita. “Algumas sim, outras não. Alguns, por exemplo, seguem quando se empenham em fazer ou auxiliar em algum grupo, porém outros profissionais não fazem nem grupos e nem atendimentos individuais”. (E2) 343 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Constata-se uma carência significativa de comprometimento dos integrantes do NASF para com as atividades que necessitam de apoio matricial pelas equipes de referência. Percebe-se nitidamente na fala deste enfermeiro que nem todos os integrantes do NASF são empenhados e colaborativos. “Eu acho que aqui a equipe do NASF está bem ausente, só aparece de 15 em 15 dias nesse grupo de obesidade”. (E3) A ausência da equipe do NASF à unidade de saúde, comparecendo a cada 15 dias, compromete o processo de trabalho e está completamente contrário ao que preconizam as diretrizes do NASF. Trabalhar em saúde da família quer seja em equipes de referência, quer seja em equipes apoiadoras matriciais, como é o caso do NASF, implica em reorganizar os horários com a finalidade de atender as demandas da população, das comunidades e das próprias unidades de saúde. A não participação dos integrantes do NASF aos convites para reuniões da equipe de referência após o horário de trabalho, sendo que este pode ser compensado, torna-se um significativo fator limitante para que o processo de trabalho seja adequadamente organizado e para que o NASF participe da vida das comunidades. “Eu nem sei se eles sabem o que é isso”. (E8) Na visão dos enfermeiros entrevistados os integrantes do NASF desconhecem as diretrizes da proposta e por esse motivo não as aplicam. Nesse âmbito o NASF constitui-se como um passo importante para a consolidação da ESF e para o aprimoramento deste novo modelo de traballho inserindo uma equipe ampla, multiprofissional e interdisciplinar na APS. Com foco nesse modelo, as diretrizes como integralidade, equidade e participação social devem ser concretizadas em ações conjuntas e com ênfase no desenvolvimento humano e na promoção a saúde, ultrapassando o marco assistencialista e individualista [10]. Preparo dos profissionais para atuarem no NASF O preparo dos profissionais para atuarem no NASF na visão de alguns enfermeiros apresenta-se razoavelmente bom, porém apontam alguns aspectos a serem melhorados em relação a um planejamento mais efetivo, um direcionamento eficaz 344 das ações propostas, objetivos e metas definidas. As falas a seguir demonstram este cenário. “Sim, só tem que melhorar em alguns itens como um planejamento mais efetivo”. (E1) “Sim. Mas falta união entre eles, por exemplo, um dia pedi que um profissional falasse sobre medicação no grupo da psicóloga, ai ela falou que não, porque o grupo não era dela. Mas eu acho que o trabalho é de todos”. (E2) O NASF deve atuar dentro de algumas diretrizes relativas à APS, a saber: ação interdisciplinar e intersetorial; educação permanente em saúde dos profissionais e da população; desenvolvimento da noção de território; integralidade, participação social, educação popular; promoção da saúde e humanização. Assim, a organização dos processos de trabalho do NASF, com foco no território sob sua responsabilidade, deve ser estruturada priorizando o atendimento compartilhado e interdisciplinar, com troca de saberes, capacitação e cadernos de responsabilidades mútuas, gerando experiência para todos os profissionais envolvidos, mediante amplas metodologias, tais como estudo e discussão de casos e situações, projetos terapêuticos, orientações e atendimento conjunto etc. Intervenções diretas do NASF frente a usuários e famílias podem ser realizadas, mas sempre sob encaminhamento das equipes de saúde da família com discussões e negociação a priori entre os profissionais responsáveis pelo caso. Nas falas avaliadas negativamente pelos enfermeiros, constata-se que falta entrosamento, interação com a equipe de referência, trabalho em equipe, multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. “Ainda não, falta ainda entrosamento com a equipe de SF”. (E3) A falta de entrosamento apontada pelos enfermeiros implica dizer que o trabalho em equipe entre NASF e equipe de referência encontra-se defasado no município do estudo. O trabalho em equipe mesmo considerado importante é um processo difícil. Nele os sujeitos envolvidos procuram dividir responsabilidades, a fim de chegar o mais rapidamente possível na resolução de um caso ou situação-problema. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Nos serviços de atenção básica as equipes de profissionais enfrentam dificuldades em organizar seu trabalho. Compor-se e manejar-se, enquanto equipe, estabelecer equilíbrio entre atividades de acolhimento e atividades planejadas, discutir casos e implementar projetos terapêuticos que ampliem a clínica com centralidade no sujeito (usuário) são atividades que têm sido deixadas de lado em função do cumprimento de tarefas, de uma forma mecânica, como “dar conta” da “demanda espontânea” que procura as Unidades Básicas de Saúde e do atendimento ambulatorial tradicional por “programas”, condenando os serviços ao funcionamento burocratizado e médico-centrado [11]. Avaliação sobre os resultados do NASF para a Saúde da Família Como se observa nas falas abaixo, os enfermeiros avaliam os resultados do NASF para a ESF positivamente, porém expõem pontos pertinentes de que esta avaliação apresenta-se omissa, tendo em vista que a falta de empenho, um trabalho individualizado e não efetivo remete a ideia de que o resultados do NASF para ESF não está sendo totalmente satisfatório e condizente com a proposta do mesmo. “Um bom trabalho, as pessoas que participam dos grupos deles gostam. Falta um pouco mais de empenho. Sugere-se trabalho em equipe, pois estão trabalhando individualmente, tem que ter trabalho de equipe entre eles. Tem auxiliado, porém resolvido os problemas mesmo, não”. (E2) Por se tratar de um processo em construção, a implantação do NASF implica a necessidade de estabelecer espaços rotineiros de reuniões, planejamentos e discussões de casos para definição de projetos terapêuticos compartilhados por toda a equipe, de forma validada e significativamente reconhecida sob o ponto de vista dos gestores, na forma de projetos terapêuticos singulares (PTS) e projetos de saúde no território (PST) [12]. Dentre as dificuldades que estão sendo identificadas no processo de trabalho do NASF está a formação dos profissionais que não atendem às necessidades do SUS, muito menos da atenção básica. O distanciamento dos serviços na formulação das propostas pedagógicas para formação inicial, assim como a iniciativa crescente de educação à distância na pós-graduação, não contempla questões tão singulares como vínculo, acolhimento, escuta e o próprio trabalho em equipe, indispensáveis para a proposta do NASF [12]. “Eu não conheço muito o trabalho do NASF. Poderia ser melhor tanto com a equipe de SF (discussão de casos) e pacientes (pois atendimentos individuais todos fazem, não precisa do NASF para isso) precisa de inovação. Sugere-se inovar [...] precisa de criatividade [...] A equipe esta muito dividida NASF e NASF e equipe de SF. [...]” (E7) Trabalhar em conjunto com a equipe de referência é a estratégia fundamental para que a proposta do NASF se consolide. A ESF é uma grande aliada para a qualificação do processo de trabalho do NASF, deste modo, não há processo de trabalho que se encontre eficaz para a ESF sem que ambas as equipes tenham forte interlocução. A proposta do NASF tem na clínica ampliada o conceito norteador das ações, não para reduzir os usuários a um recorte diagnóstico ou por áreas profissionais, mas como uma ferramenta para que os profissionais e gestores dos serviços de saúde possam enxergar e atuar na clínica para além dos pedaços fragmentados, sem deixar de reconhecer e utilizar o potencial desses saberes [11]. Por se tratar de uma estratégia recente no campo da saúde, percebemos que o cotidiano desta prática encontra-se em processo de construção na rede. Ainda enfrentando algumas dificuldades até mesmo com relação ao seu papel. Há um equívoco frequente que é o de considerar o apoio matricial como supervisão de caso, o que não vai ao encontro com a proposta inicial do apoio que é o do envolvimento, de produzir desvio na forma como são feitos os procedimentos com o usuário. Deste modo, acreditamos ser necessário que a experiência do apoio matricial pelo NASF seja posta em análise entre seus atores, no intuito de favorecer sua potencialidade de agenciar mudanças nas práticas hegemônicas da saúde, a fim de não incorrer no erro de se tornar um modo cristalizado de trabalho. Conclusão Concluiu-se no estudo que a efetividade do NASF enquanto apoio para as estratégias de saúde da família no município do estudo não se encontra, 345 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) de fato, adequada. Constatou-se pouca resolubilidade das ações efetuadas pelos núcleos de apoio a saúde da família nas unidades de referência. Os resultados da pesquisa denotam dificuldades encontradas na organização do processo de trabalho do NASF, constatando-se que essa organização encontra-se isolada das equipes, sem discussões de casos e elaboração de projetos terapêuticos, constatando-se que as diretrizes nacionais do NASF não são seguidas totalmente pelos seus integrantes, o que demonstra um apoio matricial oferecido às Estratégias de Saúde da Família insatisfatório. Constatou-se ainda o despreparo dos profissionais do NASF para atuação na Saúde da Família, demonstrando um olhar voltado para a área clínica. Os enfermeiros apresentam uma avaliação negativa em relação ao processo de trabalho do NASF para as ações prestadas às unidades de referência. Percebeu-se que alguns pontos prioritários foram ressaltados pelos enfermeiros que refletem num processo de trabalho inadequado, como a falta de um planejamento efetivo, de uma agenda fixa, de um cronograma junto às ESF e ainda a falta de conhecimento da realidade do território, implicando em ações e intervenções não condizentes com as demandas populacionais. Essa avaliação dos enfermeiros faz refletir sobre a forma como os núcleos desenvolvem o processo de trabalho das unidades de saúde da família e a pouca contribuição do NASF, enquanto apoio para essas unidades. Entende-se assim que os Núcleos surgem como apoio a essas unidades de saúde da família, de forma a proporcionar as mesmas uma melhor maneira de reorganizar o modelo de saúde contribuindo para a ampliação do vínculo com a população e da continuidade do cuidado. Diante de tais fatos, percebe-se que para a proposta da implantação do NASF nos municípios serem de fato efetivas é necessário que os núcleos sejam e estejam bem instrumentalizados, estruturados e detenham de profissionais com perfil adequado para atuação no complexo cenário da saúde da família. 346 Referências 1. Ministério da Saúde. Ações e Programas. Portaria n°154/GM, de 24 de janeiro de 2008, republicada em 04 de março de 2008. Cria o NASF. Brasília: MS; 2011 2. Araújo MBS, Rocha PM. Trabalho em equipe: um desafio para a consolidação da estratégia de saúde da família. Ciênc Saúde Coletiva 2007;12(2):455-64. 3. Barbosa EG, Ferreira DLS, Furbino SAR. Experiência da fisioterapia no Núcleo de Apoio à Saúde da Família em Governador Valadares, MG. Fisioter Mov 2010;23(2):323-30. 4. Bardin L. Análise de conteúdo. Traduzido por: Reto LA, Pinheiro A. Lisboa: Edições 70; 2002. 5. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio a Saúde da Família. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Caderno de Atenção Básica, n. 27). Brasília: MS; 2010. 152 p. 6. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Diretrizes do NASF. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica ; n. 27). Brasília: MS; 2009. 160 p. 7. Campos GWS, Domitti AC. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad Saúde Pública 2007;23(2): 399-407. 8. Pavoni DS, Medeiros CRG. Processos de trabalho na equipe Estratégia de Saúde da Família. Rev Bras Enferm 2009;62(2): 265-71. 9. Kell MCG, Shimizu HE. Existe trabalho em equipe no Programa Saúde da Família? Ciênc Saúde Coletiva 2010;15(1):1533-41. 10. Molini-Avejonas DR, Mendes VLF, Amato CAH. Fonoaudiologia e Núcleos de Apoio à Saúde da Família: conceitos e referências. Rev Soc Bras Fonoaudiol 2010;15(3):465-74. 11. Oliveira RG, Marcon SS. Trabalhar com famílias no Programa de Saúde da Família: a prática do enfermeiro em Maringá-Paraná. Rev Esc Enferm USP 2007;41(1): 65-72. 12. Nascimento DDG, Oliveira MAC. Reflexões sobre as competências profissionais para o processo de trabalho nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família. O Mundo da Saúde 2010;34(1):92-96. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Utilização de serviços de atenção básica à saúde por caminhoneiros Helisamara Mota Guedes, M.Sc.*, Alessandra Custódio de Paula**, Aline Mara da Conceição Silva**, Martha Elisa Ferreira de Almeida, M.Sc.*** *Enfermeira, Professora Assistente II da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJ-MG, **Enfermeira pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG,***Nutricionista, Professora Assistente II da Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba – CRP/UFV Resumo O objetivo foi verificar a adesão de caminhoneiros aos serviços de Atenção Básica à Saúde. Trata-se de um estudo quantitativo, cujo instrumento de coleta de dados foi um formulário semiestruturado. Os 248 participantes foram questionados sobre o seu conhecimento acerca dos serviços oferecidos pela Atenção Básica à Saúde, dos quais 151 (60,8%) disseram conhecêlos. Os serviços mais citados e utilizados foram: consulta médica, vacinação e controle da pressão arterial. 65 (26,2%) dos caminhoneiros afirmaram que não utilizavam nenhum dos serviços. Quanto à forma de tratamento de problemas de saúde, apenas 73 (29,4%) dos avaliados procuravam o Posto de Saúde, sendo a presença de Postos de Saúde nas estradas a sugestão mais citada para melhorar o atendimento à saúde. Entre outras atribuições, cabe aos enfermeiros criar estratégias para atrair esta população aos serviços de saúde, uma vez que a promoção da saúde trará benefício para esta categoria de trabalhadores e, por extensão, para toda a sociedade. Palavras-chave: Serviços Básicos de Saúde, cuidados de enfermagem, Sistema Único de Saúde. Abstract Truck drivers access to Primary Health Care Services The objective of this study was to verify the adhesion of truck drivers to Primary Health Care Services. This was a quantitative study, using a semistructured questionnaire to collect data. 248 participants were asked about their knowledge about services offered at Primary Health Care, and 151 (60.8%) said they know them. The most cited and used services were: medical consultation, vaccination and blood pressure control. 65 (26.2%) truck drivers said they did not use these services. In relation to the way to treat health problems, only 73 (29.4%) attended Health Center, and suggested that Health Units should be more accessible on the roads in order to improve health care. Among other duties, nurses should create strategies to attract this population and convince them to use health services, since health promotion will benefit these workers and for extension the society as a whole. Key-words: Basic Health Services, nursing care, Unified Health System. Recebido em 14 de fevereiro de 2012; aceito em 24 de janeiro de 2013. Endereço de correspondência: Helisamara Mota Guedes, Rua da Glória, 183, 39100-000 Diamantina MG, E-mail: [email protected] 347 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Resumen Utilización de servicios de salud en atención primaria por camioneros El objetivo fue verificar la adhesión de los camioneros a los servicios de salud en atención primaria. Se trata de un estudio cuantitativo que utilizó un formulario semiestructurado para recolectar los datos. A los 248 participantes se les preguntó sobre sus conocimientos acerca de los servicios que ofrecen los servicios de salud en atención primaria, y 151 (60.8%) dijeron que los conocen. Los servicios más citados y más utilizados fueron: consulta médica, vacunación y control de la presión arterial. 65 (26.2%) de los camioneros dijeron que no utilizan ningún servicio. Con relación a la forma de tratar los problemas de salud, sólo 73 (29.4%) de los participantes buscaron el Centro de Salud, y sugirieron que debería haber mayor accesibilidad a las unidades de salud en las carreteras para mejorar la atención a la salud. Entre otras atribuciones, corresponde a los enfermeros crear estrategias para atraer esta población a los servicios de salud, ya que la promoción de la salud beneficiará estos trabajadores y por extensión toda la sociedad. Palabras-clave: Servicios Básicos de Salud, atención de enfermería, Sistema Único de Salud. 348 Introdução Material e métodos O Brasil possui uma frota aproximada de 1,8 milhões de caminhões e uma população de mais de 700.000 motoristas caminhoneiros [1]. Estima-se que 58% do transporte de cargas brasileiras seja realizado pelas rodovias, o que evidencia a importância desta profissão [2]. Pressionados por fatores socioeconômicos, como dívidas pessoais e exigências de entrega de cargas em curto prazo, muitos caminhoneiros chegam a rodar mais de 18 horas por dia [3], sendo o grande período que passam fora de casa um facilitador para práticas de risco, como o grande número de parceiras (os) sexuais e o uso de drogas como o “rebite” [4-5]. Os caminhoneiros podem estar mais expostos a riscos cardiovasculares devido às características peculiares de sua profissão, considerando que esses profissionais se alimentam, de modo geral, em restaurantes à beira das estradas, onde há uma grande oferta de alimentos com alto teor calórico e baixo teor nutritivo, além de bebidas alcoólicas [5-6]. A Atenção Básica à Saúde é caracterizada como um conjunto de ações de saúde destinadas ao âmbito individual e coletivo da população. Abrange a promoção da saúde e a proteção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde, considerando o sujeito em sua singularidade e também na sua complexidade, integralidade e inserção sociocultural, tratando problemas que possam comprometer suas possibilidades de viver de forma saudável [7]. Neste contexto, este estudo teve como objetivo verificar a adesão dos caminhoneiros que trafegavam na BR–381, em Minas Gerais, aos serviços da Atenção Básica a Saúde. Para a realização da pesquisa, de caráter transversal com abordagem quantitativa, foi aplicado um estudo piloto com 10 condutores de veículos, o que subsidiou o cálculo do tamanho da amostra pelo programa Diman 1.0. Foi definida uma amostra de 128 caminhoneiros, porém, para dar maior confiabilidade aos dados foram entrevistados 248 caminhoneiros que trafegavam na BR–381, abordados no posto de combustível Torque Diesel Ltda., localizado no município de Timóteo/MG. Os critérios de inclusão dos pesquisados foram: ter um ano ou mais de exercício da profissão e concordar em participar do estudo através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com base na Resolução 196/96 [8]. A coleta de dados ocorreu do dia 1 ao dia 12 de junho de 2008, no horário das 13:00 às 17:00 horas. A escolha do posto de combustível foi realizada com base na presença dos seguintes setores: serviço de abastecimento, borracharia, loja de peças, troca de óleo, restaurante, lanchonete, banheiros com duchas dentro do próprio posto, presença de uma transportadora de cargas onde se concentravam muitos caminhoneiros à espera de cargas e um amplo estacionamento para o descanso desses profissionais. O caminhoneiro era abordado, individualmente, à media que chegava ao posto. Após a assinatura do TCLE, os participantes foram encaminhados a um local reservado, anexo ao escritório geral do posto, onde todos os procedimentos foram explicados. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um formulário semiestruturado, contendo 10 questões, cuja aplicação, de forma individualizada, durou, em média, 15 minutos. Nos itens relativos Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) ao conhecimento e utilização dos serviços oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde, formas de acesso a esses serviços e sugestões para melhorar o atendimento de saúde, os participantes marcaram mais de uma resposta. Os dados foram tabulados, expressos em frequência absoluta e relativa e apresentados em tabelas e figuras. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste/MG, com o parecer n° 13.57.08. O Ensino Fundamental não foi concluído pela maioria, entretanto, nos estudos de Villarinho et al. [4] e Nascimento [11] foi observado que a maioria dos motoristas avaliados possuíam o Primeiro Grau completo, o que levou tais autores a sugerir que o nível de escolaridade pode impactar diretamente sobre os hábitos de saúde do indivíduo. Entre os motoristas profissionais, o risco de doenças cardiovasculares e musculoesqueléticas varia em função da idade e dos anos de escolaridade dos motoristas, com risco aumentado para os trabalhadores dos setores de cargas e de passageiros [9]. Resultados e discussão Tabela I - Frequência absoluta e relativa de motoristas que trafegam na BR-381 quanto ao perfil sociodemográfico. Timóteo/MG, 2008. Participaram do estudo 248 caminhoneiros, sendo 99,6% do sexo masculino e 0,4% do sexo feminino. A faixa etária que predominou no estudo foi de 30 a 39 anos (Tabela I), e os idosos representavam 3,8% dos pesquisados. Em relação ao estado civil, observou-se que 73,0% eram casados. Quando perguntados em quais regiões brasileiras residiam, 92,8% relataram ser na região Sudeste, seguida pelas regiões Sul (5,2%) e Nordeste (2,0%). A maioria dos caminhoneiros (47,1%), com relação à escolaridade, não concluiu o Ensino Fundamental, 59 (23,8%) cursaram todo esse nível de ensino e 48 (19,3%) terminaram o Ensino Médio. Enquanto neste estudo a faixa etária predominante foi de 30 a 39 anos, em estudo realizado com motoristas de caminhão no interior de São Paulo [9], a maioria tinha entre 40 e 49 anos; apenas 3,8% dos pesquisados eram idosos, sendo a idade neste grupo um importante fator de risco para as doenças crônicas não transmissíveis [1]. Tal porcentagem de pesquisados idosos foi semelhante àqueles observados em estudo com caminhoneiros da cidade de Santos/SP [4] e do interior de São Paulo [9], onde 2,9 e 5,0%, respectivamente, eram idosos. A maioria dos entrevistados eram casados. Este dado também foi observado no estudo feito por Villarinho et al. [4], no qual 81,4% dos motoristas eram casados e em outra pesquisa realizada no Rio de Janeiro para analisar a qualidade de vida de 206 caminhoneiros, quando identificou-se que 76,6% eram casados [10]. Sugere-se que, pelo fato de ser casado, o cônjuge incentiva mais o motorista sobre a prevenção e/ou tratamento das doenças, gerando como consequência uma maior busca aos serviços de Atenção Básica à Saúde. Variável n % 37 88 75 39 9 14,8 35,4 30,4 15,6 3,8 181 51 15 1 73,0 20,6 6,0 0,4 117 59 18 48 2 4 47,1 23,8 7,2 19,3 1,0 1,6 17 79 91 30 10 2 12 7 6,8 32,0 36,5 12,0 4,0 0,8 5,0 2,9 45 39 41 43 31 22 27 18,0 15,7 16,5 17,3 12,5 8,8 11,2 Idade (anos) 21-29 30-39 40-49 50-59 ≥ 60 Estado civil Casado Solteiro Separado Viúvo Escolaridade Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo Ensino Superior incompleto Ensino Superior completo Média de tempo fora de casa (dias) Durante o dia 1-5 6-10 11-15 16-20 21-25 26-30 ≥31 Tempo de profissão (anos) 1-5 6-10 11-15 16-20 21-25 26-30 ≥31 349 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Quando questionados sobre a média de tempo em que ficavam fora de casa por conta do serviço, a maioria relatou ficar de 6 a 10 dias (36,5%), seguidos dos que ficavam de 1 a 5 dias; já 2,9% dos entrevistados afirmaram ficar mais de 31 dias longe de casa, esperando cargas para serem transportadas. Segundo relatos de alguns caminhoneiros durante a entrevista, “longos períodos longe de casa culminam com o sentimento de insatisfação por não acompanharem de perto o crescimento e o desenvolvimento dos filhos, e a rotina da família”. O período de tempo de exercício da profissão que teve a maior percentagem de caminhoneiros foi o de 1 a 5 anos, em seguida aparecendo o período de 16 a 20 anos. O caminhoneiro com maior experiência no trabalho registrou 50 anos de estrada. Observou-se, através de relatos, que a escolha da profissão se deu por motivação pessoal e por influência familiar, e que o tempo de profissão estava ligado, principalmente, à necessidade de prover recursos básicos para o sustento da família. Com relação à ausência do domicílio por causa do trabalho, a maioria relatou ser de 6 a 10 dias, enquanto no estudo de Villarinho et al. [4] 62,0% dos avaliados ficavam somente até 24 horas fora de casa. Quanto ao período de tempo de profissão, a maior percentagem foi de caminhoneiros com 1 a 5 anos, enquanto no estudo de Nascimento et al. [3] a maioria desses profissionais (81,0%) tinha acima de 10 anos de profissão. Quando questionados sobre o conhecimento dos serviços oferecidos pela Atenção Básica à Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), 151 (60,8%) disseram conhecer os serviços, enquanto 97 (39,2%) disseram não conhecer. Os serviços mais conhecidos eram o de consulta médica (28,7%), vacinação (27,2%) e controle da pressão arterial (14,2%) (Tabela II). A pesquisa feita por Guedes et al. [5] registrou que somente 53,85% dos caminhoneiros buscavam a Unidade Básica de Saúde. A não-utilização de qualquer um dos serviços oferecidos pelo SUS foi relatada por 65 (26,2%) dos caminhoneiros, por não apresentar qualquer necessidade de saúde que os fizesse buscar os mesmos. Ao serem interrogados se buscavam os serviços de saúde do SUS, 133 (53,5%) afirmaram não buscar o serviço nos últimos 12 meses, enquanto 115 (46,5%) disseram que buscavam esses serviços, e destes, 78 (31,4%) frequentavam somente quando estavam doentes, 20 (8,1%) anualmente, 11 (4,4%) mensalmente e 6 semestralmente. Os serviços mais 350 utilizados foram o de consulta médica (33,1%), o de vacinação (34,9%) e o de controle da pressão arterial (15,7%) (Tabela II). Tabela II - Frequência absoluta e relativa de caminhoneiros segundo o seu conhecimento e utilização dos serviços oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde. Timóteo/MG, 2008. Conhecimento sobre os Serviços Consulta médica Vacinação Controle da pressão arterial Curativo Saúde bucal Controle do diabetes mellitus Consulta de enfermagem Saúde do idoso Exames Utilização dos serviços serviços N % n % 119 113 28,7 27,2 55 58 33,1 34,9 59 14,2 26 15,7 47 36 11,3 8,7 11 9 6,6 5,5 20 4,8 2 1,2 11 2,7 1 0,6 7 3 1,7 0,7 4 2,4 A dependência do SUS foi relatada por 58,5% dos entrevistados. Dado semelhante foi descrito por Scochi et al. [12], em que o SUS tinha em torno de 110 milhões de usuários, o que correspondia a 60,0% dos brasileiros [12]. No estudo realizado com motoristas na BR–381 [5], foi observado que 65,7% dos caminhoneiros só procuravam o SUS quando estavam doentes ou sentindo algum desconforto, e que 38,2% dos pesquisados nunca fizeram um check-up médico, apresentando como motivos a falta de tempo e dificuldade de se locomover com o caminhão dentro das cidades. Dos caminhoneiros que não buscavam o serviço de saúde do SUS, 48 (19,4%) relataram não ter tempo para ir à UBS, 37 (14,9%) por não terem tido nenhuma doença, 36 (14,5%) preferiam utilizar o plano de saúde particular, 8 (3,2%) afirmaram que o serviço era muito demorado, e 4 (1,6%) foram mal atendidos, o que os levou a não mais optar pelos serviços do SUS. Segundo relatos de alguns caminhoneiros, “a busca pelo atendimento ocorre nos casos quando o processo da doença já está instalado, pois a falta de tempo entre uma viagem e outra não permite que eles procurem assistência à saúde”. A busca dos serviços de saúde do SUS como forma de prevenção foi relatada por 57 (23,1%) dos participantes, 24 (9,6%) não procuravam as UBS Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) de assistência (curativo) - orientado somente para a cura de doenças e realizado principalmente nos hospitais - para um modelo que prioriza ações de promoção a saúde e prevenção. Ao serem questionados pelo motivo de adesão ao plano de saúde particular, 46,5% relataram que a empresa na qual eram funcionários ofereciam o benefício; 40,7% adquiriram o plano para sua segurança e a de seus familiares; 3,8% relataram que a espera pelo SUS era demorada e o plano oferecia a maior comodidade por não enfrentar filas; 2,9% que o atendimento era melhor; 1,9% afirmaram ter convênio com o seu sindicato e 0,4% relataram que foi devido ao plano ter maior opção de médicos e dentistas. Segundo Scochi et al. [12], cerca de 21,0% dos brasileiros usam planos de saúde particulares. Quando questionados sobre a forma de busca de tratamento para algum problema de saúde, 123 (49,5%) disseram ir ao hospital, 73 (29,4%) procuravam o Posto de Saúde, enquanto 27,0% disseram procurar uma farmácia, conforme demonstrado na Figura 1. at o s ic nd ho Si in viz e os ig Am lín ic a pa rti ili cu la r es ar ia Fa m ác e m úd Fa r sa C Po s to de os pi ta l % Figura 1 - Distribuição das formas de acesso aos serviços de saúde. Timóteo/MG, 2008 60 49,5 50 40 29,4 27 30 20 10 4,4 4,4 2,4 0,8 0 H em nenhuma circunstância, 2 (0,8%) apenas para controle da pressão arterial, 01 (0,4%) procurava para receber preservativo e outro (0,4%) só procurava a UBS em caso de acidente. Segundo alguns relatos, “a não-procura pelo serviço de saúde do SUS está relacionada à preocupação em não atrasar a viagem, bem como pelo fato dos caminhões de carga pesada serem proibidos de circular dentro das cidades, dificultando assim o acesso ao Posto de Saúde”. Os caminhoneiros apresentam-se como uma clientela diferenciada para o SUS por não conseguirem aderir às normas e rotinas das UBS, uma vez que o seu trabalho exige grande tempo fora de casa. Somando-se a isto, estes trabalhadores são submetidos a horários irregulares para dormir, alimentar-se e descansar, surgindo para os profissionais de saúde o desafio de planejar estratégias e ações criativas que visem contemplar essa população, promovendo sua saúde e prevenindo doenças [1,5]. Ao serem interrogados sobre a presença de algum problema de saúde, 203 (81,9%) negaram qualquer patologia, e dos 45 (18,1%) que relataram possuir algum problema de saúde, 16 (6,5%) mencionaram a hipertensão arterial, 7 (2,8%) o diabetes mellitus, 3 (1,2%) disseram ter ácido úrico elevado, 3 (1,2%) com bronquite e distúrbio da tireóide, 2 (0,8%) com cardiopatias, 2 (0,8%) com o colesterol elevado, 2 (0,8%) com gastrite, 2 (0,8%) com lombalgia, 1 (0,4%) com alergia, 1 (0,4%) com hipoglicemia, 1 (0,4%) com problema psicológico, 1 (0,4%) com toxoplasmose, 1 (0,4%) com triglicerídeos elevado e 1(0,4%) com problemas de vesícula. Em decorrência dos problemas de saúde relatados, foi questionada qual a necessidade de assistência que eles teriam em função da sua doença. A maioria (84,6%) disse não ter nenhuma necessidade de assistência, pois não tinham doenças; já 26 (10,4%) necessitavam de medicação para controle ou cura da patologia, 8 (3,2%) para o controle da pressão arterial, 6 (2,4%) de exames, 5 (2,0%) de controle da glicemia, 3 (1,2%) de acompanhamento da doença e 2 (0,8%) de consulta médica. Os dados reforçam que os caminhoneiros ainda se orientavam pelo modelo curativo, focado na doença, na investigação, diagnóstico e cura das patologias, e não na prevenção e promoção da sua saúde. De acordo com dados do Ministério da Saúde [13], o modelo atual de promoção à saúde visa a reorganização da prática assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional Quando questionados se estavam fazendo algum tratamento, 220 (88,7%) disseram não estar e 28 (11,3%) afirmaram estar fazendo. Dos que afirmaram, 12 (4,8%) disseram fazer tratamento da hipertensão arterial, 6 (21,4%) do diabetes mellitus, 3 (1,2%) do ácido úrico elevado, 2 (0,8) odontológico, 1 (0,4%) de bronquite, 1 (0,4%) de cardiopatia, 1 (0,4%) fazia dieta, 1(0,4%) de distúrbio da tireoide, 1(0,4%) de gastrite, 1 (0,4%) de tratamento psicológico e 1 (0,4%) de rinite e toxoplasmose. A hipertensão arterial foi relatada um problema de saúde para 16 caminhoneiros, sendo que apenas 12 faziam tratamento. A hipertensão arterial é considerada um dos principais fatores de risco para a paralisia dos rins, lesões das artérias e doenças do coração quando não tratada [14]. 351 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Ao serem perguntados em qual lugar estavam fazendo o tratamento de saúde, os locais citados foram: 11 (39,5%) em Posto de Saúde, 8 (28,5%) em consultório particular, 4 (14,2%) em hospital, 3 (10,7%) com amigos e vizinhos, e 2 (7,1%) com farmacêuticos. Como demonstrado na Figura 2, a presença de Postos de Saúde nas estradas foi a sugestão mais citada por 22,9% dos entrevistados para melhorar o atendimento à saúde, sendo que 21,3% não tinham sugestões para dar aos profissionais de saúde. Criar estratégias para levar o caminhoneiro até a UBS Acha que o serviço está bom Não sabe responder Campanhas educativas Melhorar o atendimento no Posto de Saúde Palestras educativas Conscientização Orientação Não tem sugestão Ter postos de saúde nas estradas % Figura 2 - Sugestões dos caminhoneiros para melhorar o atendimento de saúde. Timóteo-MG, 2008. 25 22,9 21,3 20 13,5 15 10,5 8,1 8,1 7,1 10 5,6 5 1,6 1,2 0 As palestras e orientações são sugestões importantes na conscientização do caminhoneiro quanto a importância do cuidado com a saúde, uma vez que eles têm excessiva carga horária de trabalho em sua rotina diária, o que muitas vezes se torna um empecilho para que eles busquem informações a respeito de sua saúde. Visando uma melhoria na qualidade de vida desses profissionais, é importante que estas sugestões sejam transformadas em ações, de preferência no ambiente de trabalho dos caminhoneiros. Conclusão Embora os caminhoneiros conheçam alguns serviços oferecidos pela Atenção Básica à Saúde, foi relatada dificuldade de acesso a estes serviços devido à exaustiva rotina de trabalho à qual eles são submetidos. É importante repensar na estrutura do funcionamento das Unidades Básica de Saúde subsidiando propostas que visem atender melhor esta clientela, pois o desenvolvimento de medidas 352 que promovam o bem-estar físico, psíquico e social desses profissionais trará benefícios tanto para esta categoria quanto para a toda a sociedade. Referências 1. Guedes HM, Brum KA, Costa PA, Almeida MEF. Fatores de risco para o desenvolvimento de hipertensão arterial entre motoristas caminhoneiros. Cogitare Enferm 2010;15(4):652-8. 2. Codarin MAF, Moulatlet EM, Nehme P, Ulhôa M, Moreno CRC. Associação entre prática de atividade física, escolaridade e perfil alimentar de motoristas de caminhão. Saude Soc 2010;19(2):418-28. 3. Nascimento EC, Silva JP, Nascimento E. Uso de álcool e anfetaminas entre caminhoneiros de estrada. Rev Saúde Publica 2007;41(2):290-3. 4. Villarinho L, Bezerra I, Lacerda R, Latorre MRDO, Paiva V, Stall R et al. Caminhoneiros de rota curta e sua vulnerabilidade ao HIV, Santos, SP. Rev Saúde Publica 2002;36(4):61-7. 5. Guedes HM, Paes MSL, Botelho SSP. Uso do “rebite” entre caminhoneiros que trafegam na BR 381 do interior de Minas Gerais: papel do enfermeiro na educação para a saúde. Enfermagem Brasil 2008;7(3):134-40. 6. Cavagioni LC, Pierin AMG, Batista KM, Bianchi ERF, Costa ALS. Agravos à saúde, hipertensão arterial e predisposição ao estresse em motoristas de caminhão. Rev Esc Enferm 2009;43(2):1267-71. 7. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: MS; 2006. 8. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Brasília: MS; 1996. 9. Penteado RZ, Gonçalves CGO, Costa DD, Marques JM. Trabalho e saúde em motoristas de caminhão no interior de São Paulo. Saúde Soc 2008;17(4):35-45. 10. Souza JC, Paiva T, Reimão R. Qualidade de vida de caminhoneiros. J Bras Psiquiatr 2006;55(3):184-9. 11. Nascimento E. Desenvolvimento de pesquisa-ação com motoristas de caminhão de estrada: trabalhando na problematização das questões voltadas a sexualidade: DST/ AIDS e remédios [Tese]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo; 2003. 12. Scochi MJ, Mathias TAF, Souza RKT, Gazola S, Tavares CRG. Conhecimento e utilização de serviços de atenção básica em saúde por famílias em município da região Sul do Brasil. Rev Eletr Enferm 2008;10(2):347-57. 13. Ministério da Saúde. Programa de Saúde da Família. Brasília: MS; 2001. 14. Ministério da Saúde (BR). Pratique saúde contra a hipertensão arterial. Brasília: MS; 2007. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Gerenciamento de resíduos sólidos em unidade de terapia intensiva José Dionísio de Paula Júnior*, Sandra Maria Jannotti Quintão**, Maria Augusta Coutinho de Andrade Oliveira***, Larissa Rosa da Neiva Sampaio****, Letícia Moreira Carlos**** *Enfermeiro do Trabalho, Docente da Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC/Ubá, Doutorando em Ciências Biomédicas IUNIR, Argentina, **Enfermeira especialista em Educação Profissional pela FIOCRUZ, Coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Casa de Saúde Padre Damião (FHEMIG), docente da Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC/ Ubá, ***Enfermeira Responsável Técnica pela Irmandade Nossa Senhora da Saúde Hospital São Vicente de Paula, Especialista em Gestão Hospitalar. Docente da Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC/Ubá, ****Curso de Enfermagem da Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC/Ubá Resumo Objetivo: Descrever o processo de acondicionamento de resíduos sólidos do serviço de saúde (RSSS) produzidos em unidades de terapia intensiva (UTI). Material e métodos: Pesquisa descritiva exploratória com temporalidade transversal. O cenário foi a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital filantrópico do município de Ubá/MG. As informações do acondicionamento dos RSSS foram registradas por câmera digital da marca Nikon®, por acadêmicas do curso de graduação de Enfermagem. Resultados: São produzidos no setor resíduos que pertencem aos grupos A, D e E, identificados por nomes e símbolos padronizados pela instituição. Foram identificados resíduos comuns acondicionados junto aos infectantes. Conclusão: A pesquisa mostrou a existência de falhas no acondicionamento dos resíduos sólidos gerados na UTI. Palavras-chave: gerenciamento, resíduos, unidade de tratamento intensivo. Abstract Solid waste management in the intensive care unit Objective: To describe packaging process of solid health service waste (SHSW) produced in intensive care units (ICU). Methods: This was a descriptive and exploratory research with transverse temporality. The scenario was the Intensive Care Unit (ICU) of a philanthropic hospital in the city of Ubá/MG. Data concerning packaging of SHSW were recorded by Nikon® digital camera by students of undergraduate nursing course. Results: The packaging was carried out in the solid waste management department that belongs to groups A, D and E, identified by names and standardized symbols. We identified common waste packaged next to infectious waste. Conclusion: The research showed that there was packaging failures of solid waste generated in the ICU. Key-words: management, waste, intensive care unit. Artigo recebido em 2 de abril de 2012; aceito em 20 de dezembro de 2012. Endereço de correspondência: José Dionísio de Paula Júnior, Rua Matilde Rocha Balbi, 558, 36500-000 Ubá MG, E-mail: [email protected] 353 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Resumen Gestión de residuos sólidos en la unidad de cuidados intensivos Objetivo: Describir el proceso de almacenamiento de residuos sólidos de servicios de salud (RSSS) en la Unidad de Cuidados Intensivos (UCI). Materiales y métodos: Se trata de investigación descriptiva y exploratorio con temporalidad transversal. El escenario fue la Unidad de Cuidados Intensivos (UCI) en hospital de la ciudad de Ubá, Minas Gerais. Los datos de imágenes referente al acondicionamiento fueron creados con cámara digital Nikon®, por estudiantes del curso de graduación en enfermería. Resultados: Se producen en el sector los residuos que pertenecen a grupos A, D y E, identificados por sus nombres y símbolos estándar. Hemos identificado residuos comunes depositados junto a los infecciosos. Conclusión: La investigación ha demostrado la existencia de fallas en la separación de los residuos sólidos generados en la UCI. Palabras-clave: manejo, residuos, unidad de cuidados intensivos. Introdução Os Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) são definidos conforme a Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente 283/2001 (CONAMA) como aqueles provenientes de qualquer unidade que execute atividades de natureza médica, assistencial, humana e animal, os provenientes de centros de pesquisa, desenvolvimento ou experimentação na área de farmacologia e saúde, medicamentos e imunoterápicos vencidos ou deteriorados, aqueles provenientes de necrotérios, funerárias, serviços de medicina legal e aqueles provenientes de barreiras sanitárias [1-5]. Para que haja um controle sobre o gerenciamento destes RSS, cada unidade geradora deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), seguindo normas e regulamentos exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Neste caso, conhecer os procedimentos para um gerenciamento adequado dos RSS representa desafios a serem enfrentados pelas equipes de saúde [6]. O PGRSS deve ser constituído de procedimentos de gestão, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar um encaminhamento seguro e eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente. Este plano é estabelecido nas seguintes etapas: segregação, que consiste na separação dos resíduos no momento e local de sua geração de acordo com suas características; acondicionamento, que é o ato de embalar os resíduos segregados corretamente, em sacos e/ ou recipientes impermeáveis, resistentes à ruptura e vazamentos, e sua capacidade deve ser compatível com sua geração diária; identificação, os resíduos 354 devem ser identificados por símbolos, cores e frases diferentes de acordo com sua classificação, atendendo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); transporte interno, que consiste no transporte do local da sua geração até o local de armazenamento temporário, ou a apresentação para coleta externa que deve ser realizada separadamente e em recipientes específicos a cada grupo de resíduos; armazenamento temporário, onde ocorre a guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em local próximo aos pontos de geração, visando agilizar a coleta dentro do estabelecimento; tratamento, que consiste na aplicação de processo que modifique as características biológicas ou a composição dos RSS, que leve à redução ou eliminação dos riscos de causar doenças; armazenamento externo, que acondiciona os resíduos até ser realizada a sua coleta externa, com acesso facilitado para os veículos coletores; coleta e transporte externos, onde ocorre à remoção dos resíduos até a unidade de tratamento ou destinação final; destino final, onde há disposição de resíduos no solo [6,7]. Os resíduos são classificados em cinco grupos (A, B, C, D e E): No grupo A, são resíduos com presença de agentes infectantes, que são acondicionados em saco plástico branco-leitoso, e seu tratamento consiste na incineração, que é a queima dos resíduos em fornos ou usinas próprias. No grupo B, consistem os resíduos contendo substâncias químicas, que são acondicionados dentro de sua própria embalagem, envolvidos por um saco e devolvidos ao fabricante. No grupo C, são resíduos resultantes de atividade humana que contenham rejeitos radioativos, que são descartados de acordo com normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN. O grupo D, pode ser equiparado com o lixo domiciliar, seu acondicionamento ocorre em saco plástico preto, Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) sendo reutilizados, reciclados ou aterrados. O grupo E, são os resíduos perfurocortantes ou escarificantes, que devem ser acondicionados em recipientes rígidos e incinerados [7,8]. As falhas ocorridas no processo de gerenciamento de resíduos acarretam em riscos para a saúde ambiental, porém, estes riscos podem ser minimizados pelo gerenciamento adequado e um destino final seguro destes resíduos [9-13]. Observa-se que o gerenciamento de resíduos em unidades de terapia intensiva (UTI) precisa seguir padrões rigorosos na prevenção de riscos a saúde do trabalhador e impactos para a saúde pública. É de grande importância estabelecer, por meio de investigação científica, a relação entre o manuseio dos resíduos sólidos de serviços de saúde (RSSS) e os riscos para saúde do trabalhador em instituição hospitalar. Esta pesquisa tem como objetivo descrever o processo de acondicionamento de resíduos sólidos do serviço de saúde produzidos em unidades de terapia intensiva. Nacional de Saúde e foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da FUPAC (02/011). Para análises dos dados realizou-se a relação das imagens obtidas com as normas técnicas empregadas para o acondicionamento dos RSSS, fundamentado na RDC Anvisa [6]. Resultados São produzidos no setor, resíduos que pertencem aos grupos A, D e E, identificados por nomes e símbolos padronizados pela instituição (Figura 1). Figura 1 - Identificação dos resíduos por símbolos. Material e métodos Esta pesquisa é um estudo descritivo exploratório com temporalidade transversal. A pesquisa aconteceu no período de setembro e outubro de 2011. O cenário foi um hospital filantrópico do município de Ubá, Minas Gerais. O local investigado foi a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), constituído por 9 leitos e 18 funcionários, composto pela equipe de enfermagem, médicos e profissionais da limpeza. A coleta de dados ocorreu por acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem da Fundação Presidente Antônio Carlos (FUPAC), em dias que os funcionários não conheciam, a fim de prevalecer maior fidedignidade da amostra. A investigação aconteceu entre os horários de 7:00 h as 19:00 h, após levantamento de horários preconizados pela instituição para o gerenciamento de resíduos. As informações do acondicionamento dos RSSS foram registradas por câmera digital da marca Nikon®, pelas próprias acadêmicas do curso de graduação. Método de inclusão foram os resíduos sólidos, resíduos gerados na UTI; resíduos gerados no dia do registro de imagens. Método de exclusão foram os resíduos líquidos. O trabalho obedeceu todos os critérios éticos em acordo com a resolução 196/96 do Conselho O grupo A deveria estar acondicionado em saco plástico branco, em recipientes rígidos, com pedal e tampa, pois foram encontrados resíduos comuns acondicionados junto aos infectantes, como copos descartáveis e papeis toalha (Figura 2). Figura 2 - Acondicionamento de resíduos infectantes e comuns. Lixeira de resíduos infectantes apresentou em seu envoltório interno saco plástico preto, que é referente ao do grupo D (Figura 3). 355 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Figura 3 - Lixeira de resíduos infectantes. A lixeira do grupo D, no momento da pesquisa, ultrapassava sua capacidade máxima permitida (Figura 4). Figura 4 - Lixeira de resíduos comuns. Os resíduos do grupo E foram acondicionados em recipiente rígido, resistente à ruptura, punctura e vazamento, como determina a legislação, ressaltado que dentro deste recipiente havia também o descarte de resíduos do grupo D, como: embalagens de seringas e papeis no geral (Figura 5). Figura 5 - Acondicionamento dos perfuro cortantes. 356 Os resíduos gerados na UTI eram recolhidos de acordo com a atividade diária do setor. O transporte interno de resíduos deve ser realizado atendendo um roteiro previamente definido e em horários não coincidentes com a distribuição de roupas, alimentos e medicamentos, períodos de visita ou de maior fluxo de pessoas ou de atividades. O carro para o transporte interno apresentava todos os padrões necessários para atividade, no setor pesquisado, entretanto transportava todos os grupos (A, D e E) simultaneamente. Discussão Analisando as informações obtidas por foto imagem dos resíduos da UTI, e em acordo com a norma NBR 7.500 da ABNT [14], os RSS devem ser identificados para permitir fácil visualização, de forma indelével, utilizando símbolos, cores e frases, atendendo as características de cada resíduo. O estudo de Lopes et al. [15] possibilita refletir sobre os problemas referente aos procedimentos de enfermagem. A escassez de recursos, materiais de baixa qualidade, relacionando ainda com o pouco incentivo para os profissionais de enfermagem, podem refletir em um gerenciamento de resíduos em UTI de baixa qualidade. De acordo com a NBR 12.807/93 [14], a segregação, primeira fase do gerenciamento, diz respeito ao ato de separar os resíduos no momento de sua geração, segundo a classificação previamente estabelecida. Para Lopes et al. [16], a segregação do RSSS por grupos, possibilitaria o melhor manejo e destino para cada tipo de resíduo, reduzindo custos e permitindo inclusive a implantação do sistema de coleta seletiva e reciclagem. Em estudos de Macedo et al. [17], sobre a segregação dos serviços de saúde, foram encontradas algumas falhas na segregação envolvendo resíduos dos grupo A. Almeida et al. [9] recomendam que o acondicionamento dos resíduos nos serviços de saúde ocorra em sacos plásticos resistentes ou em recipientes adequados, rígidos e que não exceda a dois terços do total de sua capacidade mínima. Os autores alertam ainda sobre o elevado risco infectante que esta classe de resíduo apresenta [9]. Em pesquisa realizada com profissionais de enfermagem em hospital universitário, Canini et al. [18] preconizam a importância da conscientização da equipe de enfermagem, quanto à necessidade de descartar os materiais perfurocortantes em local Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) adequado, que influencia diretamente na redução de acidentes de trabalho. Segundo Takada [19], metade dos leitos ocupados por pacientes que contraíram alguma infecção hospitalar foi associado a problemas de saneamento, higiene do ambiente, instalações inadequadas e negligência dos profissionais de Enfermagem ao manipular materiais exercendo os cuidados em locais impróprios. Expõem também, que o manejo inadequado dos resíduos é responsável, direta ou indiretamente, por 10% das enfermidades adquiridas pelos pacientes, durante o período de internação hospitalar [17]. Entretanto Naime et al. [20] frisam a importância de educação em biossegurança com a capacitação dos profissionais expostos aos RSS, a fim de preservar a integridade desses profissionais e a conservação da saúde dos pacientes internados. Os carros para transporte interno devem ser constituídos de material rígido, lavável, impermeável, resistente ao processo de descontaminação, provido de tampa articulada ao próprio corpo do equipamento, cantos e bordas arredondados, e identificados com o símbolo correspondente ao risco do resíduo neles contidos [6]. Segundo Almeida et al. [9],esse transporte deve ser realizado em sentido único e separadamente para cada tipo de resíduo. Conclusão A pesquisa mostrou a existência de falhas no acondicionamento dos resíduos sólidos gerados na UTI. O cumprimento adequado de todas as etapas do manejo interno dos RSSS representa diminuição de riscos para a saúde do trabalhador e saúde ambiental. Referências 1. Feitosa LJ, Antunes JRP, Aranda AC. Boas práticas em resíduos de serviços de saúde (RSS). Rio de Janeiro: Secretaria do Estado do Rio de Janeiro; 2002. p.1-15. 2. Paveloski EM, Hamaba J. Segregação dos resíduos de serviços de saúde como processo de produção mais limpa: estudo de caso da 7ª Região administrativa do Estado de São Paulo. 2009. [citado 2012 Jan 25]. Disponível em: http://www.advancesincleanerproduction. net/second/files/sessoes 3. Zamoner M. Modelo para avaliação de planos de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (PGRSS) para secretarias municipais da saúde e/ou do meio ambiente. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(6):1945-52. 4. Sales CCL, Spolti GP, Lopes MSB, Lopes DF. Gerenciamento dos resíduos sólidos dos serviços de saúde: aspectos do manejo interno no município de Marituba, Pará, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2009;14(6):31-8. 5. Silva CE, Hoppe AE. Diagnóstico dos resíduos de serviços de saúde no interior do Rio Grande do Sul. Eng Sanit Ambient 2005;10(2):146-51. 6. Ministério da saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução – RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2006. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: MS; 2006. 7. Garcia LP, Zanetti-Ramos BG. Gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde: uma questão de biossegurança. Cad Saúde Pública 2004;20(3):744-52. 8. Tramontini A, Pandolfo A, Guimarães J, Reinehr R, Oliveira CRR, Pandolfo LM. Resíduos de serviços de saúde: uma abordagem prática em hospitais gerais da cidade de Passo Fundo. Revista Saúde e Ambiente 2009;10(2):45-53. 9. Almeida VCF, Pinto SL, Nascimento AJR, Feitosa CR, Alencar PRP. Gerenciamento dos resíduos sólidos em unidades de saúde da família. Rev RENE 2009;10(2):103-12. 10. Naime R, Ramalho AHP, Naime IS. Avaliação do sistema de gestão dos resíduos sólidos do hospital de clínicas de Porto Alegre. Revista Espaço para a Saúde 2008;9(1):1-17. 11. Takahashi RT, Gonçalves VLM. Gerenciamento de recursos físicos e ambientais. In: Kurcgant P, Tronchin DMR, Fugulin FMT, Peres HHC, Massarollo MCKB, Fernandes MFP, et al. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 2005;1(1):184-94. 12. Corrêa LB, Lunardi VL, Conto SMD. O processo de formação em saúde: o saber resíduos sólidos de serviços de saúde em vivências práticas. Rev Bras Enferm 2007;60(1):21-5. 13. Oliveira JM. Análise do Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde nos hospitais de Porto Alegre. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2002; p.1-96. 14. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Resolução – RDC nº33, de 25 de fevereiro de 2003. Dispõe sobre o Regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: MS; 2003. 15. Lopes L, Dyniewicz A, Kalinowski L. Gerenciamento de Materiais e custos Hospitalar em UTI Neonatal. Cogitare Enferm 2010;15(2):278-85. 16. Lopes LKO, Tipple AFV, Damando SN, Miranda CS, Gomes IV. Atendimento aos profissionais vítimas de acidentes com material biológico em um hospital de doenças infectocontagiosas. Rev Eletrônica de Enferm 2004;06(03):324-9. 17. Macedo L, Larocca L, Chaves M, Perna P, Muntsch S, Damaceno C, et al.,Segregação de resíduos nos serviços de saúde - a educação ambiental em um hospital - escola. Cogitare Enferm 2007;12(2):183-8. 18. Canini SRMS, Hayashida M, Machado AA. Acidentes perfurocortantes entre trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário do interior paulista. Rev Latinoam Enferm 2002;10(2):172-8. 19. Takada ACS. O plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde e o direito do trabalhador. Brasília: Escola Nacional de Saúde Pública; 2003. p.1-35. 20. Naime R, Sartor I, Garcia AC. Uma abordagem sobre a gestão dos resíduos de serviços de saúde. Revista Espaço para a Saúde 2004;5(02):17-27. 357 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Artigo original Alcoólicos Anônimos e o processo terapêutico Marcos Michel dos Santos *, José Otávio Feltrim, M.Sc.**, Ana Regina Losso, M.Sc.**, Sonia Maria Correa***, Luciane Bisognin Ceretta****, Maria Tereza Soratto, M.Sc.***** *Acadêmico de Enfermagem, UNESC, **Professores do Curso de Enfermagem, UNESC, ***Especialista, Professora do Curso de Enfermagem, UNESC, ****Doutoranda em Ciências da Saúde, Professora do Curso de Enfermagem, UNESC, *****Mestrado em Educação, Professora do Curso de Enfermagem, UNESC Resumo O presente estudo tem como objetivo conhecer a estratégica terapêutica dos Alcoólicos Anônimos (AA) na recuperação dos dependentes de álcool e a inserção do enfermeiro no programa. Esta pesquisa caracterizou-se como qualitativa, exploratóriadescritiva e de campo. Participaram da pesquisa quatro integrantes do AA e duas enfermeiras atuantes na Unidade de Saúde e hospital de referência. Os dados foram analisados por categorização. Os doze passos e as doze tradições do AA fundamentam a estratégia de recuperação compartilhando experiências e mantendo a sobriedade com sentimento de triunfo, paz e serena sobriedade. Considera-se essencial conhecer para atuar. É imprescindível que os profissionais de saúde conheçam, reflitam e incorporem a responsabilidade profissional na prevenção, promoção e recuperação da saúde mental, física, emocional e espiritual de um dependente em recuperação. Somente conhecendo a estratégia terapêutica do AA e suas demarcações filosóficas, é que realmente ocorrerá a inserção do profissional da saúde no significado espiritual do AA. Os integrantes, independente do tempo de participação no AA, afirmam que são alcoólatras em recuperação. Palavras-chave: alcoólicos anônimos, alcoolismo, Enfermagem. Abstract Therapeutic process in Alcoholics Anonymous The present study aims at evaluating the therapeutic strategy of Alcoholics Anonymous (AA) to recover from alcohol addiction and the insertion of the nurse in the program. This is a qualitative exploratory-descriptive and field research. Four members of AA and two nurses working in the health unit and referral hospital participated in the research. Data were analyzed by categorizing system. The twelve step therapy and twelve beliefs of AA based on a recovery strategy, sharing experiences in maintaining triumph of sobriety, peace and quiet sobriety. It is essential to know to act. Health professionals should know, reflect and incorporate the professional responsibility in the prevention, promotion and rehabilitation of mental, physical, emotional and spiritual life of a recovering addict. Health professionals need to know the detailed insight of the therapeutic strategy of AA and its philosophical meaning in order to fully understand these spiritual principles of AA. The members, regardless of time of participation in AA, reported that they are recovering from alcoholism. Key-words: alcoholics anonymous, alcoholism, Nursing. Artigo recebido em 1 de dezembro de 2011; aceito em 10 de dezembro de 2012. Endereço de correspondência: Maria Tereza Soratto, Rua Dom Joaquim Domingos de Oliveira, 50/301 Ed Jatobá 88801-100 Criciúma SC, E-mail: [email protected], [email protected] 358 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Resumen Alcohólicos anónimos y el proceso terapéutico El presente estudio tiene como objetivo evaluar la estrategia terapéutica utilizada por los Alcohólicos Anónimos (AA) en recuperación y la inserción del enfermero en el programa. Esta investigación fue de tipo exploratorio-descriptivo y de campo. Participaron cuatro miembros del AA y dos enfermeros que trabajan en la unidad de salud y hospital de referencia. Los datos fueron analizados por categorización. Los doce pasos y doce tradiciones de los AA es una estrategia de recuperación basada en compartir experiencias y mantenimiento de la sobriedad con sensación de triunfo, paz y sobriedad serena. Es imprescindible conocer para actuar. Los profesionales de la salud deben saber, reflexionar e incorporar la responsabilidad profesional en la prevención, promoción y rehabilitación de la salud mental, física, emocional y espiritual de un adicto en recuperación. Los profesionales de la salud deben conocer la estrategia terapéutica de los AA y sus fundamentos filosóficos para que se produzca la inserción del sentido espiritual de los AA. Los miembros, sin importar el tiempo de participación en el AA, se dicen alcohólicos en recuperación. Palabras-clave: alcohólicos anónimos, alcoholismo, Enfermería. Introdução O alcoolismo é um problema de saúde pública no mundo. Um fator incapacitante associado a acidentes de trânsito e mortes, que podem provocar incapacidade de terceiros; problemas afetivos, levando ao espancamento de mulheres e crianças; deserção do trabalho e da escola; e o maior problema é a exclusão da sociedade devido a problemas familiares, despertando, assim, atenção de autoridades médicas e sanitárias em diversos países [1-5]. O Ministério da Saúde apontou, no ano de 2000, o alcoolismo como a segunda causa de todas as internações psiquiátricas, e como o álcool é uma droga lícita permitida pela sociedade, seu abuso torna-se sem perceber uma dependência e um vício [5]. O alcoolismo, além de ser bastante antigo e disseminado, é também um dos mais graves problemas de saúde pública dos grandes centros civilizados, o que preocupa os profissionais da saúde, tanto envolvidos com pesquisa quanto aqueles dos programas de tratamento [6]. O profissional de saúde dever ter consciência da importância social do uso do álcool e de como isso pode estar presente no âmbito do trabalho, além de saber identificar situações relacionadas com o alcoolismo. Deverá também investigar o uso de álcool em seus pacientes de maneira interessada e respeitosa [7]. O processo de formação do enfermeiro está voltado para a saúde coletiva e abrange tanto a saúde pública quanto a mental, e associa-se à constatação científica de que, no mundo atual, cerca de 90% da população adulta consome algum tipo de bebi- da alcoólica. Além disso, entre os bebedores, 10% irão apresentar uso nocivo (abusivo) e outros 10%, a dependência (alcoolismo) [6]. Percebe-se que o uso do álcool vem causando considerável prejuízo à saúde, e sendo essa uma droga lícita, não há restrições para seu consumo, afetando homens e mulheres de diferentes grupos étnicos, independentemente de classe social, econômica ou mesmo idade. Justifica-se a presente pesquisa no sentido de conhecer a estratégia terapêutica do AA, como forma de subsidiar o cuidado de enfermagem aos alcoólicos e o encaminhamento de casos aos serviços de apoio e ajuda de forma integralizada. A enfermagem para intervir no alcoolismo precisa conhecer a doença, desvelar suas crenças, preconceitos e atitudes em relação ao dependente. A partir do conhecimento e atuação conjunta no programa de recuperação do AA poderá utilizar a proposta dos 12 passos como suporte, alicerce e estratégia na recuperação do alcoólico e em outros grupos de autoajuda, de forma a buscar a integralidade do cuidado com grupos organizados de ajuda. Este estudo teve como objetivo conhecer a estratégica terapêutica do AA na recuperação dos dependentes de álcool e a inserção do enfermeiro no programa, no município estudado. Material e métodos A pesquisa caracterizou-se como qualitativa, descritiva-exploratória e de campo. Participaram da pesquisa quatro participantes do AA e duas enfermeiras atuantes na Unidade de Saúde e hospital de 359 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) referência. Os dados foram analisados por sistema de categorização [8]. Após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP UNESC - nº Projeto 185/2011, iniciou-se a coleta de dados, a partir da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Para preservar o sigilo decorrente das entrevistas realizadas, de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras da Resolução 196/96 que envolve pesquisa com Seres Humanos e Grupos Vulneráveis, utilizou-se a letra “AA” para os participantes do AA e “E” para os enfermeiros. Resultados e discussão A entrevista com os participantes do AA A idade dos participantes do AA variou de 40 a 60 anos; sexo masculino. A escolaridade de dois participantes foi segundo grau completo, um possui a quarta série primária e um primeiro grau completo. Todos são casados. Em relação à profissão dois (02) são aposentados, um é vigilante noturno, um gerencia ginásio escolar. O integrante AA1 participa do AA há 3 anos e o AA3, AA4 há 12 anos. As histórias dos participantes do AA são muito parecidas, a história de um é espelho para outro integrante; sendo que a família é suporte para recuperação e o encaminhamento para o AA. O AA representa hoje a esperança, conforme descrito na fala: 360 peração. Um serve de marco para outro, um ouve e respeita o outro. Os Alcoólicos Anônimos (AA) foi fundado nos Estados Unidos na cidade de Akron, estado de Ohio no dia 10 de junho de 1935. A idéia surgiu na conversa entre Willian Grifith Wilson corretor de bolsa de valores e Robert Holbuk Smith médico cirurgião, dois dependentes de álcool [9]. Uma das manifestações mais importantes dessa identificação se traduz na crença dos AA que segundo a qual somente um alcoólico pode ajudar outro alcoólico a se recuperar, reforçando o sentido da mútua ajuda que é praticada pelo AA: ajudar um alcoólico a se recuperar é a melhor maneira de eu manter a sobriedade [10]. A estratégia terapêutica do AA está vinculada aos 12 passos que pressupõe: A impotência diante do alcoolismo; a decisão e entrega a algo maior, a um poder superior; um despertar espiritual, oração; uma verdadeira comunhão com humildade, coragem, consciência, discernimento de pensamento: O Alcoólico Anônimo não segue nenhum movimento religioso, mas o programa de recuperação é um programa espiritual que são os 12 passos sugeridos. • Primeiro passo: admitirmos que somos impotentes perante o álcool e que podemos dominar as nossas vidas. O alcoólatra deve aceitar sua fraqueza e sua derrota perante o álcool, só assim ele pode seguir em frente num estado que somos serena sobriedade. “Não conhecia nada, a ficha caiu mesmo na terceira reunião, um companheiro foi dar um depoimento e começou a falar de mim. Na minha cabeça a minha esposa entrou em contato com um deles e contou toda minha vida. Eu pensei: vou falar com esse cara, o que a Rose disse para ele? [...] Quando tem recém-chegados os mais velhos ficam em volta, então perguntei o que minha esposa tinha falado para eles? Este me respondeu: companheiro a novela da nossa vida é a mesma, tudo o que eu falei era de mim. Daí então eu percebi que todos tínhamos os mesmos problemas com a família e com a sociedade e comecei a frequentar intensamente direto as reuniões do AA”.(AA1) • Quarto passo: Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. Este passo é balancete de nossas vidas e de tudo aquilo que praticamos durante a nossa vida no alcoolismo. Pelas histórias semelhantes, um alcoólatra é a melhor pessoa para ajudar a outra, para entender, sem preconceito, a vida do outro e apoiar na recu- • Quinto passo: Admitimos perante Deus, perante a nos mesmos e perante os seus homens, a natureza exata de nossas falhas. • Segundo passo: viemos a acreditar num Poder Superior e que ele poderá devolver a sanidade. • Terceiro passo: decidir integrar a nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus. Conforme concebemos o Deus de nossa espiritualidade (Jeová, Jesus) é o passo de decisão, de entrega total ao poder superior. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Nos grupos de AA existe um momento de desabafo, então ali o alcoólatra coloca as coisas ruins para fora, contam as experiências, e este desabafo seria como ajuda para outro alcoólatra. • Sexto passo: prontificamos inteiramente a Deus que modifique todos estes defeitos de caráter. Este passo é o que os deixa prontos e preparados para Deus remover seus defeitos, então devem estar prontos e deixar que Deus entre em suas vidas para que assim possam viver em comunhão com eles e com os irmãos. • Sétimo passo: Humildemente rezemos a ele que nos livre de nossas imperfeições. O alcoólatra que alcançar um estágio de humildade perante Deus e que não peça a Deus por se libertar de suas imperfeições, pode ter abstinência, mas não tem aquilo que chamamos Serena Sobriedade. • Oitavo passo: Fizemos uma relação de pessoas que tínhamos prejudicado e dispusemos reparar os danos a ela causados. Fazer uma lista de pessoas que o alcoólico prejudicou requer muita coragem e humildade, somente fazendo isto é que podem ter uma liberdade de consciência e pensamentos. • Nono passo: Fizemos reparações diretas aos outros, reparando a tais pessoas sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicar a outrem. Muitas vezes que prejudicamos pessoas que já não existem em nosso meio, pessoas que faleceram, pessoas que se mudaram, enfim, mesmo assim se adota uma atitude de humildade e ajuda a outras pessoas, tudo ficara bem com Deus e conosco. • Décimo passo: Continuamos fazendo um inventário pessoal, quando estamos errados admitimos prontamente. Este inventário pessoal diário é um exercício. Ao deitarmos fazemos um balancete do que aconteceu durante o dia, se ofendemos alguém, se discutimos com outro, é bom e saudável que no outro dia reparemos nossos erros. • Décimo primeiro passo: Procuramos através de preces e de meditação melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma que o concebemos, rogando apenas o conhecimento da sua vontade em relação a nós e força para realizar essa vontade. Este passo é para os membros do AA o passo de mais profunda espiritualidade, porque tentam melhorar o contato deles com Deus em relação a eles. Pedem força para realizar a vontade de Deus não a deles. • Décimo segundo passo: Tendo experimentado um despertar espiritual graças a este passo, possam transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar este princípio em todas as nossas atividade. “Este passo é o que nos deixa pronto para levar a mensagem aos outros alcoólicos e o entendimento desses princípios espirituais os quais praticamos em todas as nossas atividade diárias, quer no trabalho ou no dia a dia”(AA2). “É feita através do poder superior, que intervém, pois somos fracos perante a bebida. Então a espiritualidade é uma virtude que deve ser regada e nunca esquecida”. (AA4) A terapêutica do AA estabelece atitudes que devem ser tomadas para a recuperação do alcoólico, através da partilha de vivências, emergindo uma mudança de comportamento, um efeito moral. O princípio dessa recuperação é norteada pelos 12 passos para que haja uma metamorfose a identidade do doente alcoólico. Uma doença espiritual que necessita de que o ex-bebedor se aprofunde, se conheça mais, pois o objetivo do AA não é só se abster do álcool e sim uma sobriedade dando um novo sentido a vida, quando se fala de AA se fala de responsabilidade e comprometimento [11]. A estratégia do AA consiste num desabafo sem julgamento, o ouvir atento significa ouvir o outro com respeito e sentir a vivência do outro, desta forma tomamos nosso remédio uma partilha mútua, reconstruindo um habitat espiritual, seguro e responsável. Realiza-se um inventário pessoal diário para alcançar uma de vida de espírito, com intuito de alcançar a serena sobriedade [10,11]. Em relação aos motivos que levam ao alcoolismo, o membro AA1 e AA3 consideram existir propensão e predisposição ao alcoolismo; AA4 não sabe os motivos e AA2 pela curiosidade: “Existe um fato que eu me lembro quando eu era pequeno e via adultos beberem e ficarem alegres, então eu pensava assim: deve ser bom 361 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) e fui beber. A curiosidade ajuda a levar ao alcoolismo” (AA2). Não se sabe o motivo real ao alcoolismo, e sim que é doença multifatorial que não limita a esta ou aquela pessoa ou grupo social, contudo sabe-se que se deve tratar o alcoólico e sua família, pois o alcoolismo compromete e muito as pessoas mais próximas [12]. O alcoolismo é uma doença multifatorial que está evidente na sociedade e compreende fatores sociais, culturais, políticos, econômicos genéticos. E como é de fácil aceitação pela sociedade o uso do álcool é introduzido na vida do ser humano de maneira simples e tradicional, mas quando se torna doença o seu uso, o ser humano vira alcoólatra, a sociedade discrimina [1]. A busca pela recuperação esta relacionada à família, problemas físicos e dificuldades financeiras, conforme nos relatam os participantes AA1 e AA3. No relato do membro AA2, a divulgação e a mensagem do AA, a curiosidade e busca de uma saída são motivos que os levaram a procurar o AA. Segundo o participante AA4 “foi um despertar”. Entre os problemas pessoais que motivam a procurar o AA, é a destruição que o alcoolismo causa na pessoa alcoólica e sua família, história de problemas emocionais como depressão, angústia, insegurança, retraimento social, conflitos em casa, a necessidade de recuperação e melhor perspectiva de vida [13]. Através das experiências, da história de consumo do álcool, que se correlaciona com a denegação, é que se entende que a falta de controle no consumo do álcool está diretamente relacionado à recusa na aceitação da identidade de ser alcoólico, ou da necessidade de tratamento e a minimização das implicações do abuso do álcool, rejeitando a ideia da estratégia terapêutica [14]. É por isso que a estratégia terapêutica dos AA não visa apenas à abstinência de bebidas alcoólicas, mas visa, sobretudo, a manutenção da sobriedade do alcoólico por meio da integração do doente numa nova ordem de sentimento, que possibilita uma unidade de experiência. O AA permite que o alcoólico reconstrua vínculos familiares adquirindo responsabilidade, cumprindo seus deveres perante a sociedade revigorando seus laços de afetividade [10]. É importante ressaltar que o participante AA3 relatou que poderia ter entendido e compreendido a 362 doença antes, se tivesse apoio e incentivo da equipe de saúde para admitir que é um alcoólico, tomando a decisão pela recuperação. “Falta da área da saúde em participar e visitar. É difícil a gente se preocupar conosco, eu poderia entender mais cedo que eu estava doente”. (AA3) É significante ressalvar que a temática está relacionada com pouco conhecimento dos profissionais deste campo a respeito do assunto, o que causa um comportamento equivocado no profissional que atende o alcoolista, que não conhece a seriedade do problema, inclusive há falta de interesse em buscar conhecimento sobre assunto [1]. A entrevista com os enfermeiros Em relação ao perfil das enfermeiras entrevistadas, a Enfermeira E1 não possui capacitação e a Enfermeira E2 possui especialização – pós-graduação na área de saúde mental. O alcoolismo é considerado uma doença, segundo a enfermeira E1 e dependência química, segundo a enfermeira E2. “É uma doença, que é um vício que quando começa e não estar atento, logo vira uma doença”. (E1) “Alcoolismo é uma dependência química geralmente de origem cultural, biológica ou genética da pessoa e que se dá pelo uso abusivo, ou seja, rotineiramente de álcool ou similares”. (E2) A caracterização do alcoolismo como doença mesmo em diferentes definições dos termos abuso ou dependência do álcool teve o reconhecimento como doença e a classificação internacional de doenças (CID-10) [15]. A enfermeira E1 mencionou que não se sente preparada para lidar com alcoolismo e que não recebeu capacitação sobre a temática. Já a enfermeira E2 considera ter preparo para lidar com o paciente alcoolista, em virtude da capacitação na área. Os enfermeiros não participam do Programa AA. Então, como compreender o alcoólico se não se conhece o problema daquele que bebe diariamente, seus efeitos psicossociais e físicos, os estágios de evolução da dependência e do próprio Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) alcoolismo? A capacitação desses profissionais é de suma importância, no sentido de prepará-los para o acolhimento, o reconhecimento e a prevenção de transtornos relacionados ao alcoolismo [16]. É indispensável ao profissional de saúde conhecimento específico para problemas físicos e psicológicos acerca desta problemática, a fim de que um número maior de pacientes tenha a oportunidade de receber intervenção e terapêutica adequada à dependência alcoólica [1]. O profissional da saúde, e, principalmente o enfermeiro, deve considerar suas próprias atitudes com relação ao alcoolismo para ampliar seu plano de cuidados mais humano e sem ajuizamentos e crítica de valores ao paciente com problemas relacionados ao alcoolismo. As atitudes negativas caracterizam suas habilidades interferindo na assistência prestada e prejudicando o olhar dos alcoólicos em relação ao profissional de saúde [7]. As ações de enfermagem na educação em saúde, que abrangem, prioritariamente, o conceito, a epidemiologia e as consequências do alcoolismo, devem oferecer orientações iniciais para que o alcoólatra possa entender melhor sobre sua doença e a ação do álcool no organismo, motivos que o levaram a beber e sucesso nos tratamentos, além de encaminhamento aos grupos de autoajuda citando o AA. Dessa forma a enfermagem propicia condições facilitadoras por meio de uma informação qualificada e contínua que visa a manutenção da abstinência do álcool e a reformulação no estilo de vida que resulte numa melhor reinserção do usuário na sociedade [6]. No meio dos grupos de autoajuda, encontra-se o de Alcoólicos Anônimos (AA), composto por um grupo que tem como objetivo manterem-se sóbrios. O grupo é gerido por 12 passos e as tradições e 12 mandamentos. É necessário, porém, reforçar a importância da estratégia na identificação do grupo na recuperação do alcoolista. Esta ajuda mútua fortalece o desejo do alcoolista em manter-se sóbrio pelas próximas 24 horas [17]. A recuperação do alcoolismo demanda em primeiro lugar a aceitação da pessoa que é um alcoólico e precisa da responsabilidade para a tomada de decisão para o enfrentamento para que aconteça uma mudança de vida diária. Os doze passos e as doze tradições do AA fundamentam a estratégia de recuperação compartilhando experiências e mantendo a sobriedade com sentimento de triunfo, paz e serena sobriedade. A estratégia terapêutica do AA está vinculada aos 12 passos que pressupõe: a impotência diante do alcoolismo; a decisão e entrega a algo maior, a um poder superior; um despertar espiritual, oração; uma verdadeira comunhão com humildade, coragem, consciência, discernimento de pensamento; sendo que a espiritualidade é uma virtude que deve ser regada e nunca esquecida. Além disso, consiste também num desabafo sem julgamento, o ouvir atento; significa ouvir o outro com respeito e sentir a vivência do outro, realizando um inventário pessoal diário para alcançar uma mudança de vida, de espírito com intuito de alcançar a serena sobriedade. As histórias dos participantes do AA são muito parecidas, a história de um é espelho para outro integrante; através da identificação eles estão face a face com sua história vivenciada. Pelas histórias semelhantes, um alcoólatra é a melhor pessoa para ajudar a outra, para entender, sem preconceito, a vida do outro e apoiar na recuperação, um serve de marco para outro. O AA considera o alcoolismo como uma doença e pressupõe viver a vida diária com 24 horas de serena sobriedade. Os integrantes do AA se assumem como doentes e impotentes perante o álcool. Viver a vida, cuidar de si e cuidar da família foi a maior aprendizagem nas palavras de um participante do AA. O AA representa hoje a esperança e a imersão em si mesmo, possibilitando uma profunda mudança de caráter. Conclusão Constatou-se, através dos resultados da pesquisa, que a estratégia terapêutica do AA vincula-se a sobriedade como um valor, a espiritualidade e na tríade dar/ receber/ retribuir. O processo de recuperação do alcoolismo é lento e gradual e necessita de suporte e apoio familiar. Considera-se essencial conhecer para atuar; sendo imprescindível que os profissionais de saúde conheçam, reflitam e incorporem a responsabilidade profissional na prevenção, promoção e recuperação da saúde mental, física, emocional e espiritual de um dependente em recuperação. Somente conhecendo a estratégia terapêutica do AA e suas demarcações filosóficas é que realmente ocorrerá a inserção do profissional da saúde no significado espiritual do AA. 363 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Referencias 1. Acauan L, Donato M, Domingos AM. Alcoolismo: um novo desafio para o enfermeiro. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008;12(3):566-70. 2. Campos EA. As representações sobre o alcoolismo em uma associação de ex-bebedores: os Alcoólicos Anônimos. Cad Saúde Pública 2004;20(5):1379-87. 3. Rossato VMD, Kirchhof ALC. Família Alcoolista: a busca de nexos de manutenção, acomodação e repadronização de comportamentos alcoolista. Rev Gaúch Enferm 2006;(27)2. 4. Vargas D, Labate RC. Atitudes de enfermeiros de hospital geral frente ao uso do álcool e alcoolismo. Rev Bras Enferm 2006;59(1):47-51. 5. Braga CS, Barcelos ICRR. O imaginário de cura e o vínculo com o trabalho terapêutico. Representações de alcoolistas acerca de sua internação. Revista Técnico Cientifica Enfermagem 2005;3(12):357-62. 6. Fornazier ML, Siqueira MM. Consulta de enfermagem a pacientes alcoolistas em um programa de assistência ao alcoolismo. J Bras Psiquiatr 2006;55(4):280-87. 7. Pillon SC. Atitudes dos enfermeiros com relação ao alcoolismo: uma avaliação de conhecimentos. Revista Eletrônica de Enfermagem 2005;7(3):303-7. 8. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28a ed. Petrópolis: Vozes; 2009. 108 p. 9. Edwards G, Marshall EJ, Cook CCMD.O tratamento do alcoolismo: um guia para profissionais da saúde. 4a ed. Porto Alegre: Artmed; 2005. 342 p. 364 10. Campos Edemilson Antunes de. Porque os alcoólicos são anônimos? Anonimato e identidade no tratamento do alcoolismo. Interface (Botucatu) 2009;13(28):1930. 11. Ferreira LO. Nosso remédio é a palavra: uma etnografia sobre o modelo terapêutico de alcoólicos anônimos. Cad Saúde Pública 2011;27(1):195-197. 12. Lima HP. Significados do feminino no discurso de alcoolistas e a interface com a saúde mental. Texto Contexto Enferm 2010;19(3)496-503. 13. Frois CO. A reinvenção do eu através do discurso: narrativa, estigma e anonimato nas Famílias Anônimas. Mana 2007;13(1):63-84. 14. Pombo S, Reizinho R, Ismail F. Denegação do alcoolismo nos subtipos I e II de Cloninger. Anál Psicol 2008;26(1)59-69. 15. Silva SED, Vasconcelos EV, Padilha MICS, Martini JG, Backes VMS. A educação em saúde como uma estratégia para enfermagem na prevenção do alcoolismo. Esc Anna Nery Rev Enferm 2007;11(4):699-705. 16. Vargas D, Luis M, Antônia V. Álcool, alcoolismo e alcoolista: concepções e atitudes de enfermeiros de unidades básicas distritais de saúde. Rev Latinoam Enferm 2008;16(spe):543-550. 17. Chagas M, Hildebrandt LM, Leite MT, Miladi E. O alcoolismo e o grupo de alcoólicos anônimos: o conhecimento de alcoolistas. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental 2008;2(4-5):190-212. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Revisão Práticas de humanização na assistência de enfermagem prestadas aos clientes em unidades de terapia intensiva *Magno Conceição das Merces, **Juliana Bahia Rigaud, ***Fabricia Passos Pinto, ***Layara Souza, ****Maria Lucia Silva Servo, D.Sc. *Enfermeiro, Biólogo Sanitarista, Especialista em Gestão Hospitalar, Mestrando em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Feira de Santana, Docente da Faculdade Montenegro BA/PE, **Enfermeira Intensivista, Hospital Inácia Pinto dos Santos, ***Enfermeira Intensivista,, SAMU de Feira de Santana ****Enfermeira, Professora Plena da Universidade Estadual de Feira de Santana Resumo A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente cuja dinâmica impõe ações complexas, nas quais o risco de morte iminente é constante, e que requer pessoal altamente qualificado e um grande aparato tecnológico para a manutenção da vida humana. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi analisar o desenvolvimento das práticas de humanização na assistência de enfermagem prestada aos clientes nas UTI. A metodologia utilizada é exploratória e descritiva, realizada através da revisão integrativa de literatura com levantamento de artigos indexados em bases de dados eletrônicas utilizando para critério de busca os descritores: humanização, enfermagem, UTI. Dos 266 artigos encontrados, foram incluídos apenas 06. O estudo sinaliza que práticas de humanização na assistência prestada aos clientes nas UTI necessitam que a equipe de enfermagem fortaleça as relações interpessoais, maneje os sentimentos, respeite os valores, crenças e limitações, para compreender suas ações em relação às pessoas que estão sob seu cuidado, não só o cliente, mas seus acompanhantes, que também têm necessidades. Palavras-chave: humanização, Enfermagem, unidade de terapia intensiva. Abstract Humanization practices in nursing care provided to clients in intensive care units The Intensive Care Unit (ICU) is a dynamic environment requiring complex actions, in which the risk of imminent death is constant, and that requires highly qualified staff and a great technological apparatus for the maintenance of human life. Accordingly, the objective of this study was to analyze the development of humanization practices in nursing care to clients in the ICU. This was a literature review using the search criteria descriptors: humanization, nursing, ICU. Of the 266 articles found, only 06 were included. The study indicates that humanization practices in assisting clients who require ICU nursing Artigo recebido em 1 de novembro de 2011; aceito em 24 de novembro de 2012. Endereço para correspondência: Magno conceição das Merces, Rua Campo Florido, 204, 44003-366 Serraria Brasil, Feira de Santana BA, E-mail: [email protected] 365 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) staff is needed to strengthen interpersonal relationships, handle feelings, respects the values, beliefs and limitations, in order to understand their actions in relation to persons who are under their care not only the customer, but their companions, who also need assistance. Key-words: humanization, Nursing, intensive care unit. Resumen Prácticas de humanización en los cuidados de enfermería prestados a clientes en las unidades de cuidados intensivos La Unidad de Cuidados Intensivos (UCI) es un entorno dinámico que requiere acciones complejas, en las que el riesgo de muerte inminente es constante y que requiere de personal altamente calificado y un gran aparato tecnológico para el mantenimiento de la vida humana. En consecuencia, el objetivo de este estudio fue analizar el desarrollo de las prácticas de humanización en la atención de enfermería a los clientes en la UCI. La metodología es de carácter exploratorio y descriptivo, realizada a través de una revisión sistemática de la literatura con estudios indexados en bases de datos electrónicas utilizando los criterios de búsqueda los descriptores: humanización, enfermería, UCI. De los 266 artículos encontrados, sólo 06 fueron incluidos. El estudio indica que las prácticas de humanización en el cuidado a los clientes en la UCI requieren que el personal de enfermería fortalezca las relaciones interpersonales, maneje los sentimientos, respecte los valores, las creencias y limitaciones, para entender sus acciones en relación a las personas que están bajo su cuidado, no sólo el cliente, sino que sus acompañantes, que también tienen necesidades. Palabras-clave: humanización, Enfermería, unidad de cuidados intensivos. Introdução O cuidado ao cliente crítico teve início em 1854 com Florence Nigthingale na guerra da Criméia. Por separar e estabelecer cuidados especiais para clientes mais graves reduziu de 40% para 2% o índice de mortalidade na época. No Brasil, foram instaladas as primeiras Unidades de Terapia Intensiva (UTI) na década de 70, com o propósito de concentrar os indivíduos com alto grau de complexidade em uma área adequada do hospital para os cuidados específicos, infraestrutura própria, equipamentos e materiais necessários para tal, além de recursos humanos adequados [1]. Nas últimas décadas, com o conceito ampliado de saúde pautado nos determinantes e condicionantes sociais do processo saúde e doença, muito se tem discutido a respeito da humanização nas UTI, pontuando a questão do bem-estar, consideração das características e necessidades individuais nesse ambiente, além de maior aproximação da equipe com seus clientes em vez de relacionar-se com os mesmos por meio dos aparelhos que o monitorizam [2]. O conceito de humanização tornou-se conhecido e popularizado por meio da concepção de que humanizar é cuidar do cliente como um todo, englobando o contexto familiar, social e cultural 366 em que ele está inserido e respeitando seus valores, esperanças, crenças e particularidades. Em 1990 a Society Critical Care and Medicine (SCCM) elaborou diretrizes para implantação de programas de humanização em virtude da grande preocupação com o cuidado humanizado em clientes internados em UTI. Entre essas diretrizes estão: cada indivíduo deve ser tratado individualmente, pois possui necessidades e valores específicos; a humanização não deve comprometer a segurança, nem ultrapassar as barreiras éticas e legais; o cliente e sua família conhecem suas necessidades; o cliente e sua família devem ter a autonomia preservada e sua privacidade respeitada por todos da equipe [2]. Dessa forma, este trabalho busca responder o questionamento, a seguir: como se desenvolvem as práticas de humanização na assistência de enfermagem prestadas aos pacientes nas UTI a partir da literatura brasileira do período de 2000 a 2010? O objetivo estabelecido para este estudo foi analisar o desenvolvimento das práticas de humanização na assistência de enfermagem prestadas aos clientes nas UTI a partir da literatura brasileira do período de 2000 a 2010. Trata-se de uma temática relevante que necessita de estudos dessa natureza para contribuir com a construção do conhecimento sobre a humanização da assistência de enfermagem. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Unidade de terapia intensiva: aspectos históricos e conceitos Na Guerra da Criméia, no ano de 1854, quando os feridos de guerra eram submetidos a cuidados precários, a enfermeira, Florence Nightingale, passou a classificar os clientes de acordo com seu grau de gravidade, colocando-os de forma que os mais graves ficavam próximos ao posto de enfermagem, idealizando desta forma um sistema de maior monitoração. Com o avanço da ciência e da medicina, houve o aumento da necessidade de maiores cuidados aos clientes submetidos a procedimentos cirúrgicos e no período de pós-operatório imediato, o que levou ao desenvolvimento das unidades especiais de terapia. Inicialmente o tratamento era realizado em salas especiais, próximas às salas de cirurgias, sendo o acompanhamento conduzido pelo cirurgião e, posteriormente, pelo anestesista. Com o passar do tempo, essas atividades foram atribuídas aos enfermeiros e à equipe [3]. O início das práticas em UTI representou um marco dentro dos progressos obtidos pelos hospitais, visto que, antes dela, os clientes graves não tinham suporte para um tratamento específico e eram tratados na própria enfermaria, faltando, assim, área física adequada, além de recursos materiais e humanos para uma melhor qualidade do cuidar. A UTI se constitui em um ambiente complexo que atende clientes graves, que dispõe de assistência médica e de enfermagem ininterruptas, dotado de tecnologias avançadas e de profissionais capacitados, apresentando características diferentes de outras unidades. É um ambiente cuja dinâmica impõe ações complexas, nas quais o risco de morte iminente é um constante, gerando ansiedade [3-6]. Esses serviços têm como objetivo atender enfermos que se encontrem em estado grave e que necessitem de assistência permanente, reunindo dessa forma uma equipe especializada e equipamentos tecnológicos específicos e adequados ao ambiente e ao indivíduo, proporcionando, assim, o monitoramento contínuo de seu estado geral e a intervenção emergencial no caso de descompensações iminentes [7]. Nesse sentido, a enfermagem presta assistência qualificada durante 24h na UTI, utilizando técnicas específicas para cuidar de clientes graves ou que apresentem risco de vida, contando com equipamentos de alta tecnologia e equipe multiprofissional capacitada. Sendo um ambiente com grande concentração de recursos tecnológicos, é vista como um ambiente frio, de dor, tristeza, onde esses sentimentos prevalecem sobre ações humanísticas. Entretanto, a tecnologia deve ser vista como mediadora, favorecendo e aprimorando o cuidado ao cliente crítico [8]. Humanização na UTI e a relação enfermagem/ família O internamento em UTI é bastante tenso, pois se espera a qualquer momento uma desestabilização físico-emocional, pois o cliente crítico encontra-se em risco de vida, tem incerteza quanto ao tratamento e recuperação, e ainda encontra limitações na prestação do suporte psicossocial. O aprimoramento tecnológico vem permitindo uma mudança positiva da dinâmica operacional nas UTI, fazendo com que os clientes críticos permaneçam mais tempo nessas unidades, já que as decisões frente à morte e o morrer são mais eficientes. Com isso, cada vez mais o tema humanização é abordado, uma vez que constatado a importância da harmonia entre profissionais, clientes internados e familiares [9,10]. Com os avanços relacionados ao tratamento na UTI, a enfermagem passa a dedicar-se muito mais aos serviços administrativos, o que os distancia do cuidar direto ao cliente. Com isso, há a necessidade de resgatar os valores relacionados à humanização da assistência/cuidar. Outrossim, a humanização do cuidar é conceituada como: “dar qualidade à relação profissional da saúde-cliente. Nesse enfoque, não é o ambiente físico somente que faz com que a humanização se faça presente ou não, e sim a conduta que é utilizada pelas pessoas para lidar com outros, esse sim é um fator determinante, e para que a humanização se faça presente é de suma relevância a comunicação entre profissional e cliente. Contudo, a comunicação vai muito além das palavras, sejam elas escritas ou faladas, a postura, os gestos, o olhar, o tom de voz e a maneira de tocar o outro são algumas das muitas maneiras que temos de transmitir e receber informações [4,9-13]. Apesar do empenho por parte da enfermagem na tentativa de humanizar a assistência na UTI, ela encontra obstáculos, pois tem que realizar ações que vão de encontro a todo o sistema tecnológico existente. Muitas vezes os profissionais de enfermagem, por vários fatores negligenciam os valores e direitos dos clientes, esses direitos às vezes são desconhecidos; o que gera a desumanização na assistência, esta 367 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) pode está ligada à falta de estímulos da equipe de enfermagem. Nesse sentido, a humanização deve ser colocada em prática não apenas com os clientes, mas também com todos aqueles envolvidos no processo, dando ênfase a equipe multiprofissional e ao ambiente [4,14,15]. A hospitalização é um processo estressante e singular tanto para o cliente quanto para a família. Normalmente o espaço físico da UTI é frio e “afastado da vida”, o que afasta ainda mais os familiares e visitantes do cliente, ali internado. Nesse tocante, existe a necessidade de a equipe de enfermagem fortalecer as relações com sentimentos, valores, crenças e limitações, para compreender suas ações em relação às pessoas que estão sob seu cuidado, não só o cliente, mas seus acompanhantes, que também requerem atenção e cuidado. O cuidar dos familiares é uma das partes mais importantes do cuidado que é prestado aos clientes internados em UTI, logo a família que é inserida neste contexto está exposta a elevados níveis de estresse e ansiedade durante todo o processo [16-20]. Estudos apontam que a comunicação entre equipe e família geralmente ocorre de forma impessoal, normalmente em corredores ou em sala de espera, as informações que são passadas nem sempre são otimistas e ainda podem não ser compreendidas, pois são fornecidas com palavras técnicas, com termos específicos, que nada querem dizer a quem está ouvindo. É preciso uma comunicação dialógica entre estes, sendo de grande importância para que a assistência prestada seja humanizada e de qualidade. Pontua-se que, através da relação com os familiares, informações sobre o estilo de vida, dentre outros fatores, podem ser colhidos pela equipe de enfermagem e podem ser cruciais na terapêutica do cliente. Nesse aspecto, é plausível pontuar que a família tem direito legal de ser informada sobre as condições de saúde e comunicada sobre a forma que está sendo realizado o tratamento do familiar [7,10,21-23]. Acredita-se que lançando mão desses pontos supracitados, o impacto da hospitalização, a ansiedade e o medo do que virá a acontecer diminuirá consideravelmente. Material e métodos A revisão de literatura tem a finalidade de reunir informações e conhecimentos prévios acerca de um problema ou hipótese. Com isso, é possível avaliar o conhecimento produzido em pesquisas 368 prévias, destacando conceitos, procedimentos, resultados, discussões e conclusões relevantes para o trabalho [24,25]. Nesse sentido, foi realizado um estudo exploratório, “que proporciona maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”, através de uma abordagem qualitativa que permite avaliar a qualidade das fontes utilizadas, visto que estabelece critérios de análise [26]; descritivo, pois expõe as características de determinada população ou de determinado fenômeno, podendo ainda estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza [27]; através da revisão integrativa de literatura, que tem como foco principal trazer veracidade aos fatos lançados no trabalho [28]. O levantamento bibliográfico foi realizado entre abril de 2011 e maio do mesmo ano, através de busca em bases de dados eletrônicos, utilizando como descritores: humanização, enfermagem, UTI. Foram adotados como critério de inclusão: artigos publicados em língua portuguesa no período de 2000 a 2010 que respondessem os objetivos da pesquisa e acessibilidade por meio virtual. Adotou-se como critério de exclusão: artigos que não foram encontrados na íntegra. Das 266 referências encontradas, foram excluídas 89 por estarem em outra língua, 77 não correspondiam ao tempo de publicação proposta, 86 não correspondiam aos objetivos da pesquisa e 08 por não estarem disponíveis na íntegra. Apenas 06 foram elegíveis para o presente estudo, conforme Quadro I. Após leitura seletiva e analítica dos elegíveis, estes foram utilizados como norteadores desta pesquisa. Assim, emergiram as seguintes categorias: Humanização na Unidade de Terapia Intensiva; Relações entre equipe de enfermagem, clientes e familiares; Ações que fortalecem a humanização em Unidade de Terapia Intensiva. Os estudos realizados na área de enfermagem fornecem uma base de conhecimentos científicos especializados que fortalecem a profissão por antecipar e atender desafios que mudam constantemente, mantendo a relevância social [29]. Resultados e discussão Após realização da coleta de dados conforme descrito na metodologia, os resultados foram apresentados inicialmente através da caracterização dos Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) artigos coletados (Quadro 1). Em seguida, a produção científica de enfermagem foi apresentada em forma de discussão das temáticas abordadas pelos autores, indiciadas de acordo com três categorias descritas a seguir. Quadro I - Distribuição das publicações encontradas nas bases de dados eletrônicas no período de 2006 a 2009. Título Revista Ano Autor O significado de humanização da as- Revista sistência para Eletrônica de enfermeiros Enfermagem que atuam em UTI 2006 Salicio e Gaiva [30] Humanização dos cuidados Caderno em saúde: de Saúde Conceitos, Pública dilemas e práticas. 2007 Deslandes [31] Humanização em Unidade de Terapia Intensiva Adulto: compreensões da equipe de enfermagem. Interface: Comunicação, Saúde e Educação. 2009 Costa [32] Cuidado Humanizado em Terapia Intensiva: um estudo reflexivo. Escola Anna Nery 2007 Caetano et al. [33] Humanização do Cuidado Revista na UTI: uma Eletrônica de possibilidade Enfermagem real 2008 Dias et al. [8] Humanização do cuidado de enfermagem na UTI: a visão dos clientes 2008 Correa et al. [34] Revista do Hospital Universitário - UFMA • Categoria I – Humanização na Unidade de Terapia Intensiva A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como o estado completo de bem-estar físico, mental e social não apenas com a ausência de doenças. Este conceito reforça o contexto de que se deve ter uma visão holística com relação à qualidade de vida do cliente internado em ambiente hospitalar. O ambiente hospitalar oferece ao cliente todo suporte terapêutico necessário para o tratamento de sua patologia clínica, dependendo da complexidade dos recursos tecnológicos oferecidos. Atualmente, têm-se vivenciado no cotidiano hospitalar o desenvolvimento tecnológico quanto aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Esses avanços vêm contribuindo para a melhoria da assistência, com ênfase nas unidades críticas, particularmente nos serviços de terapia intensiva [33]. Nos últimos anos, tem-se discutido bastante sobre a implementação da humanização nas UTI, desde a infraestrutura até as relações humanas do ponto de vista ético, psicossocial e espiritual, principalmente evidenciar a interação da equipe multiprofissional com o cliente e a família. Humanizar na UTI significa cuidar do paciente como um todo, englobando o contexto familiar e social, devendo na prática associar os valores, as esperanças, os aspectos culturais e as preocupações de cada pessoa em se ter um ambiente hospitalar humanizado que possua estrutura física, tecnológica, humana e administrativa respeitando o ser humano e colocando-se a seu serviço e garantindo-lhe um atendimento de qualidade [35]. A UTI é tida como um local onde se realiza uma assistência especializada, independentemente que os mecanismos tecnológicos utilizados sejam cada vez mais avançados, capazes de tornar mais eficiente o cuidado prestado ao cliente em estado crítico. Esse setor é constituído de um conjunto de elementos funcionalmente agrupados, destinado ao atendimento de clientes graves ou de risco que exijam assistência médica e de enfermagem ininterruptas, além de equipamentos e recursos humanos especializados [33]. A humanização passa pela radicalidade democrática do bem comum, sobretudo por entender que o cuidado está presente no cotidiano do ser humano e faz parte da sua essência, pois todos necessitam receber cuidados [31]. Partindo do pressuposto que a UTI é um ambiente que concentra clientes graves, mas recu369 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) peráveis, que recebem o cuidado por profissionais que se empenham para maximizar suas chances de viver mais e, principalmente, melhor e com uma assistência de qualidade e humanizada, têm-se observado nos últimos anos um considerável crescimento e aprimoramento de ações concretas destinadas a promover a humanização da assistência hospitalar no âmbito das UTI [30]. Nessa perspectiva, Costa, Figueiredo e Shaurich contrapõem a afirmativa de Salício e Gaiva onde a UTI tornou-se um local em que a técnica se sobrepõe aos aspectos relacionais de cuidado, uma vez que os profissionais que ali desenvolvem suas ações estão sobremaneira envolvidos com máquinas e monitores e tendem a esquecer que, velados pelos problemas de doença, existem um cliente e sua família [30,32] O indivíduo quando adoece e seu estado torna-se grave, necessitará de um atendimento especial, principalmente se o estado patológico está associado à complexidade da UTI, onde serão oferecidos recursos tecnológicos e terapêuticos avançados. Os familiares e o próprio cliente apreciam a dimensão da qualidade de recursos físicos e dos profissionais, dando realce aos de enfermagem que ali atuam, porém nesse período encontram-se sensíveis e necessitados de orientação e acolhimento. • Categoria II – Relações entre equipe de enfermagem, clientes e familiares A humanização está relacionada principalmente à mudança no comportamento e nas atitudes frente ao cliente, familiares e a equipe multiprofissional. Os profissionais de enfermagem que assistem direta e/ou indiretamente os clientes são verdadeiros responsáveis pela humanização na UTI. Nas UTI atuam profissionais altamente qualificados e habilitados, que diariamente são cobrados por um atendimento com o mínimo possível de falhas e isso muitas vezes pode prejudicar o relacionamento deles com o cliente, no sentido de que esses profissionais não dispõem de maior tempo para diálogo, pela sobrecarga de tarefas na sua rotina. A hospitalização em uma UTI traz uma variedade de responsabilidades emocionais e psicológicas para a família que muitas vezes são manifestadas por quadros de choque, ansiedade, raiva, culpa, desespero e medo [7,35]. Faz-se necessário uma reflexão sobre as ações realizadas no cotidiano pela equipe de saúde que atua na UTI, principalmente relacionada ao domí370 nio do conhecimento científico e mais preparo dos profissionais, não só sob o aspecto teórico e técnico, mas, também, voltada à transformação da assistência numa perspectiva mais humanitária [33]. A enfermagem deve prestar o cuidado tanto para pacientes quanto a seus familiares, ajudando-os a entender, aceitar e enfrentar a doença, seu tratamento e sua repercussão na vida da família, sendo então capazes de oferecer suporte e bem-estar a eles. Porém, o apoio à família muitas vezes é negligenciado pelos profissionais diante da falta de recursos e pela grande carga de trabalho. A equipe de enfermagem tende a direcionar seus cuidados somente para os clientes, ignorando as necessidades das famílias, gerando insatisfação com a assistência, o que pode exacerbar o stress e impedir que a família desenvolva maneiras de ajudar o cliente. Apesar de tantas mudanças no desenvolvimento das UTI, esta equipe vem desenvolvendo suas práticas de assistência humanizada no ambiente de terapia, visando um melhor atendimento ao paciente, e ainda, a redução do estresse vivenciado pelo profissional que faz este cuidado integral [7,34]. A presença do da equipe de enfermagem, sobretudo do enfermeiro, junto aos familiares deve possibilitar a troca de informações da evolução do cliente, por meio de uma comunicação efetiva, contribuindo para a identificação de dificuldades dos familiares e oferecendo o apoio necessário. A proposta de humanização da assistência à saúde é um caminho para a conquista de melhor qualidade de atendimento à saúde do cliente e de melhores condições de trabalho para os profissionais [30,34]. • Categoria III – Ações que fortalecem a humanização em Unidade de Terapia Intensiva Humanizar pressupõe resgatar e revelar as características humanas como partes constitutivas do funcionamento hospitalar e como forma de valorizar o cliente, a família e a equipe de saúde, com vistas à mudança paradigmática e ao cuidado humanístico. Além disso, outros estudos sinalizam benefícios trazidos pela política de humanização aos hospitais, como: a redução do tempo de internação, a diminuição das faltas ao trabalho, o aumento da sensação de bem-estar entre clientes, familiares e funcionários e, com isso, consequentemente, a redução dos gastos em saúde [32]. Existem inúmeras maneiras de interagir com o ser humano; assim, um olhar, um sorriso, um gesto, Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) um deslocamento físico de aproximação ou afastamento, constituem formas de interação entre pessoas. O acolhimento é um método imprescindível para criar uma relação humanizada entre cuidador e quem é cuidado. Para conseguir um acolhimento efetivo da enfermagem, não se deve focar na doença, pois esse não é o objetivo, mas sim transcender os aspectos biológicos, culturais, socioeconômicos e éticos. Ainda, para acolher é necessário ser acolhido e reorganizar o serviço de modo a confrontar ao modelo biomédico atual, fazendo com que o cliente e a família se sintam seguros, confortáveis e amparados pela instituição [8]. É preciso estar sempre em busca de novos conhecimentos, com vista a qualificar a assistência e partilhar seus conhecimentos com a equipe de trabalho, numa visão voltada para o ser humano. O processo reflexivo faz-nos repensar sobre as ações enquanto profissionais e pesquisadores para a produção científica da enfermagem [33]. Conclusão Sabe-se que a diversidade das máquinas na UTI é uma realidade que encanta e assusta paralelamente e que apresenta constantes perspectivas para os profissionais de enfermagem que deverão refletir na necessidade real de seu uso. A tecnologia presente nas UTI, apesar de indispensáveis para o tratamento do cliente, é insuficiente para alcançar o cuidado holístico. Buscar alternativas baseadas em valores pessoais e humanos para melhorar a assistência e atingir a totalidade do cuidado é uma possibilidade, pois um grande quantitativo de profissionais ainda não está sensibilizado da verdadeira importância de humanizar, traduzindo esta última expressão como um limite. Acredita-se que a análise sobre as práticas de humanização na assistência de enfermagem prestadas aos clientes em UTI, foi formidável e reflexiva, logo este trabalho não se pretende acabado, constitui-se em reflexões iniciais para estimular outras reflexões, dessa forma recomenda-se a continuação dos estudos com esta abordagem. Referências 1. Cheregatti AL, Amorim CA. Enfermagem: Unidade Terapia Intensiva. 1ª ed. São Paulo: Martinari; 2010. 2. Knobel E. Condutas no paciente grave. 3a. ed.São Paulo: Atheneu; 2006. 3. Cintra EA. Monitorização Hemodinâmica Invasiva. In: Cintra EA, et al. Assistência de enfermagem ao paciente crítico. São Paulo: Atheneu; 2005. 4. Vila VSC, Rossi LA. O significado cultural do cuidado humanizado em unidade de terapia intensiva: muito falado e pouco vivido. Rev Latinoam Enferm 2002;10(2):137-44. 5. Nascimento ERP, Trentini M. O cuidado de enfermagem na UTI: Teoria Humanística de Paterson e Zderad. Rev Latinoam Enferm 2004;12:250-7. 6. Hudak CM, Gallo BM. Cuidados intensivos de Enfermagem: uma abordagem holística. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 7. Leite RS, Nunes CV, Beltrame I. Humanização Hospitalar: Análise da literatura sobre a atuação da enfermagem. São Paulo: Sobragen; 2006. 8. Dias GT, Souza JS, Barçante TA, Franco LMC. Humanização do cuidado em UTI: Uma possibilidade real. [citado 2011 Maio 3]. Disponível em: URL: www. portaldoenfermeiro.com.br. 9. Gala MF, Telles SCR, Silva MJP. Ocorrência e significado do toque entre profissionais de enfermagem e pacientes de uma UTI e Unidade semi-intensiva cirúrgica. Rev Esc Enferm USP 2003;37(1):52-61. 10. Moritz RD. Como melhorar a comunicação e prevenir conflitos nas situações de terminalidade na Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Ter Intensiva 2007;19(4):485-89. 11. Pessini L, Bertachini L. Humanização da dor e sofrimentos humanos na área de saúde. In: (Orgs.). Humanização e cuidados paliativos. 2a ed. São Paulo: Loyola; 2004. p.11-30. 12. Albuquerque NMG. Vivência do enfermeiro no cuidado humano na unidade de terapia intensiva adulto [Dissertação]. Natal: Universidade Federa do Rio Grande do Norte; 2007. 13. Backs SD, Martins D, Dellazzanam AR. É possível humanizar o cuidado no CTI? In: Costenaro RGS, ed. Cuidando em enfermagem: pesquisas e reflexões. Santa Maria: Centro Universitário Franciscano; 2001. 52p. 14. Hayashi AAM, Gisi ML. O cuidado humanístico num contexto hospitalar. Texto & Contexto Enferm 2000;9(2):800-81. 15. Bastos MAR. O saber e a tecnologia: mitos de um Centro de Tratamento Intensivo. Rev Latinoam Enferm 2002;10(2):131-6. 16. Pinho LB, Santos SMA. Dialética do cuidado humanizado na UTI: contradições entre discurso e a prática profissional do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP 2008;42(1)66-72. 17. Pauli MC, Bousso RS. Crenças que permeiam a humanização da assistência em unidade de terapia intensiva pediátrica. Rev Latinoam Enferm 2003;11(3):280-6. 18. Oliveira LJ, Casaril S. Humanização: Comunicação entre enfermeiros e familiares de pacientes internados na UTI [dissertação]. Cascavel: Faculdade Assis Gurcacz; 2008. 19. Soares M. Cuidando da família de pacientes em situação de terminalidade internados na unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva 2007;19(4):481-4. 20. Madalosso ARM. Iatrogênia do cuidado de enfermagem: dialogando com o perigo no quotidiano profissional. Rev Latinoam Enferm 2000;8(3):11-7. 371 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) 21. Nogueira MJC. Assistência de enfermagem a família. Rev Enf Novas Dimens 1977;3(6):327-46. 22. Rodrigues IG, Zago MMF. Enfermagem em cuidados paliativos. O mundo da saúde 2003;27(1):89-92. 23. Inaba LC, Silva MJP, Telles SCR. Paciente crítico e comunicação: visão de familiares sobre sua adequação pela equipe de enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2005;39(4):423-9. 24. Oliveira SL. Tratado de Metodologia Científica: projetos de pesquisa, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. 2a ed. São Paulo: Pioneira; 1997. 25. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia Científica. 4a ed. São Paulo: Markron Books; 1996. 26. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas; 2006. 27. Medeiros JBM. Redação científica: A prática de fichamentos, resumos, resenhas. 9a ed. São Paulo: Atlas; 2007. 28. Mertens RSK, Fumanga M. Como elaborar projetos de pesquisa: linguagem e método. Rio de Janeiro: FGV; 2007. 372 29. Wood GL, Haber J. Pesquisa em Enfermagem. Métodos, avaliação e utilização. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 30. Salicio DMB, Gaiva MAM. O significado de humanização da assistência para enfermeiros que atuam em UTI. Revista Eletrônica de Enfermagem 2006;8(3):370-6. 31. Deslandes SF. Humanização dos cuidados em saúde: conceitos, dilemas e práticas. Resenhas – Book Reviews. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006. 416 p. 32. Costa SC, Figueiredo MRB, Schaurich D. Humanização em Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI): compreensões da equipe de enfermagem. Interface Comunicação, Saúde, Educação 2009;13(1):571-80. 33. Caetano JA, Soares E, Andrade LM, Ponte RM. Cuidado Humanizado em Terapia Intensiva: um estudo reflexivo. Esc Anna Nery R Enferm 2007;11(2):325-30. 34. Correa RF, Rodrigues JCS, Coutinho NPS. Humanização do cuidado de enfermagem na UTI: a visão dos clientes. Revista do Hospital Universitário/UFMA 2008;9(2):26-30. 35. Cheregatti AL, Amorim CP. Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva. 1a ed. São Paulo: Martinari; 2010. Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Revisão Medicamentos como fatores de risco para hipertensão arterial secundária: um saber necessário para a enfermagem Fernanda Furtado da Cunha*, Luciana de Paiva Rêgo**, Andrezza Ozela de Vilhena*** *Acadêmica de enfermagem da Universidade do Estado do Pará, **Enfermeira formada pela Universidade do Estado do Pará, pós-graduanda em enfermagem do trabalho pela Faculdade Metropolitana da Amazônia , ***Enfermeira, Professora da Universidade do Estado do Pará Resumo A doença hipertensiva atinge uma parcela significativa da população mundial, e uma das causas é o uso indiscriminado de medicamentos prescritos por médicos ou automedicados. Com base nos fatos, este estudo tem como objetivo identificar os fármacos que elevam a pressão arterial no organismo humano, gerando a hipertensão secundária, dando ênfase a seus efeitos nos sistemas pressóricos. Para tal estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica considerando alguns tópicos como: medicamentos que podem desencadear a hipertensão secundária, hábitos de saúde que se tornam agravantes para tal situação, atuação da enfermagem diante da administração de um desses medicamentos e as complicações desta patologia. Com esta pesquisa, concluiu-se que os principais medicamentos causadores da hipertensão secundária são os antidepressivos, cafeína, ciclosporina, contraceptivos orais, anti-inflamatórios não esteroides e eritropoetina. Os profissionais de enfermagem devem ter conhecimento de quais são esse medicamentos e como estes agem no organismo, a fim de evitar complicações tanto para o paciente quanto para sua atuação profissional, uma vez que são os responsáveis pela administração desses fármacos. Palavras-chave: hipertensão arterial, medicamentos, Enfermagem. Abstract Medications as risk factors for having secondary hypertension: knowledge needed for nursing The hypertensive disease affects a significant portion of world population; one of the causes is the indiscriminate use of drugs under prescription or self-medication. Based on the facts, this study aimed to identify drugs that increase blood pressure in humans, leading to secondary hypertension, emphasizing its effects on the pressure. For this study a literature search was carried out considering some topics, such as products that may trigger secondary hypertension, health habits that will aggravate hypertension, nursing activities before the administration of these drugs and the complications of this pathology. With this research, it was concluded that a major drugs that cause secondary hypertension are antidepressants, caffeine, cyclosporine, Artigo recebido em 21 de dezembro de 2011; aceito em 20 de novembro de 2012. Endereço para correspondência: Fernanda Furtado da Paz, Conjunto Promorar Quadra 41 Rua 25 no 292, 66110017 Belém PA, E-mail: [email protected] 373 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) oral contraceptives, nonsteroidal anti-inflammatory drugs and erythropoietin. Nurses should be aware of which drugs may cause this disease and how they act in the body in order to avoid complications for both the patient and to their professional practice, since they are responsible for the administration of these drugs. Key-words: hypertension, medicine, nursing. Resumen Medicamentos como factores de riesgo para la hipertensión secundaria: un conocimiento necesario para la enfermería La enfermedad hipertensiva afecta a una porción significativa de la población mundial, una de las causas del uso indiscriminado de medicamentos, que a menudo son prescritos por médicos y automedicación. Con base en los hechos, este estudio tiene como objetivo identificar los fármacos que aumentan la presión arterial en los seres humanos, lo que lleva a la hipertensión secundaria, haciendo hincapié en sus efectos sobre la presión. Para este estudio se realizó una búsqueda bibliográfica considerando los siguientes temas: productos que pueden desencadenar la hipertensión secundaria, hábitos de salud que agravan esa situación, actuación de enfermería frente a la administración de estos fármacos y las complicaciones de esa patología. Con esta investigación, se concluyó que los principales medicamentos que causan la hipertensión secundaria son los antidepresivos, la cafeína, ciclosporina, anticonceptivos orales, antiinflamatorios y la eritropoyetina. Los enfermeros deben ser conscientes de las indicaciones de los medicamentos y cómo actúan en el cuerpo con el fin de evitar complicaciones para el paciente y su práctica profesional, ya que son responsables por la administración de estos fármacos. Palabras-clave: hipertensión, drogas, enfermería. Introdução A doença hipertensiva é caracterizada por ser uma doença quase sempre assintomática, o que justifica a sinonímia de “doença silenciosa”, portanto na maioria dos casos o seu diagnóstico é tardio. O Ministério da Saúde estima que 35% da população acima de 40 anos tenha hipertensão arterial [1]. A doença hipertensiva é uma síndrome cardiovascular progressiva, crônica não transmissível, surgindo a partir de complexos e aspectos etiológicos, tendo como característica a elevação da pressão arterial e com anormalidade no funcionamento de estruturas cardíacas e vasculares com lesões em órgãos como coração, cérebro, rins, artérias e outros órgãos, levando a morbidades e mortalidades [2]. A doença hipertensiva resulta do aumento do tônus do músculo liso vascular periférico, que leva ao aumento da resistência arteriolar e a redução da capacitância do sistema nervoso, sendo definida como Pressão Sanguínea Sistólica (PSS) sustentada maior que 140 mmHg e/ou uma Pressão Sanguínea Diastólica (PSD) superior a 90 mmHg [3]. Logo a doença hipertensiva se trata de um importante problema de saúde pública que deve ser abordado pelos profissionais de saúde para melhor atuação, diagnóstico, prevenção e tratamento. 374 Sabendo-se que certos fármacos têm a propriedade de elevar a pressão arterial, faz-se necessária uma história clínica minuciosa, considerando o histórico clínico do paciente. O manuseio adequado é fundamental para evitar complicações mais severas, como desenvolvimento de crises hipertensivas, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e até mesmo morte [1]. Material e métodos O presente estudo tem como proposta identificar as causas da doença hipertensiva secundária relacionada ao uso de fármacos que favorecem o aumento dos níveis pressóricos no organismo humano. O estudo é descritivo e foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa. Nesse contexto, considerou-se os componentes da situação em estudo e suas interações, buscando uma visão integrada. Para a análise e interpretação dos resultados foram considerados os conhecimentos teóricos sobre o assunto, bem como as relações existentes entre as variáveis envolvidas a partir dos dados pesquisados. No processo, também, foi discutido como os achados decorrentes do trabalho podem influenciar a vida das pessoas envolvidas e na saúde pública, e Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) ressalta como os dados obtidos podem ser usados para melhorar o cotidiano. Resultados e discussão De acordo com a pesquisa desenvolvida, pode-se ter conhecimento dos vários fármacos que podem desencadear a doença hipertensiva, dentre eles estão: 1) Antidepressivos - conhecidos como tricíclicos e tetracíclicos juntamente com os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) são considerados antidepressivos clássicos. Os principais efeitos das drogas tricíclicas e tetracíclicas são exercidos sobre o sistema nervoso central, embora efeitos anticolinérgicos das drogas produzam uma faixa diversificada de efeitos adversos mediados pelo sistema nervoso autônomo, além dos efeitos significativos no sistema cardiovascular. Em dosagens terapêuticas, as drogas são classificadas como drogas antiarrítmicas do tipo 1A, já que terminam com a fibrilação ventricular e podem aumentar o suprimento sanguíneo colateral para um coração isquêmico. Entre os antidepressivos temos: Imipramina, Desipramina, Trimipramina, Amitriptilina, Doxepina, Maprotilina, dentre outros. Estas podem causar taquicardia, aplainamento das ondas T, prolongamento de intervalos QT e depressão dos segmentos ST no registro eletrocardiográfico. A imipramina tem efeito tipo quinidina em níveis plásmicos terapêuticos e pode reduzir o número de extrassístoles. E ainda em casos de interações medicamentosas, os antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos bloqueiam a recaptação neuronal da guanetidina, necessária para a atividade anti-hipertensiva. Os efeitos anti-hipertensivos dos antagonistas de receptores beta-adrenergicos, por exemplo, propranolo e da clonidina também podem ser bloqueados pelas drogas tricíclicas e tetracíclicas [4]. Um dos efeitos adversos desta medicação é a crise hipertensiva, ainda que de ocorrência rara, produzida quando esta droga é usada em associação com uma droga simpatomimética (fenilpropanolamina e dextrometorfano, encontrados nos descongestionantes nasais adquiridos sem prescrição médica e antitussígenos) ou alimentos e/ou bebidas que contenham tiramina (como queijos, vinhos, licores), ou ainda em alimentos conservados (molho de soja, caviar, uvas passas etc.). A crise hipertensiva relacionada aos IMAOs se manifesta por cefaleia pulsátil acompanhada de elevações graves da pressão arterial. O tratamento da crise compreende o uso de clorpromazina, inicialmente, e o paciente deve ser orientado a procurar auxílio médico imediato para controle da pressão arterial. A buspirona, um alfa agonista do receptor tipo 1 da serotonina também tem sido relacionada a um aumento dos níveis pressóricos decorrente de seu metabolito 1,2-pirimidinil-piperazina, que é um antagonista do receptor alfa2-adrenergico. Esta elevação de pressão é descrita não apenas como a buspirona, mas com outros agonistas da serotonina [5]. A cafeína, conhecida como a droga mais consumida no mundo, está presente em diversos alimentos como cacau, refrigerantes, chocolate, chá mate, chás em geral, medicamentos do tipo analgésicos e antigripais. Presente em mais de 60 espécies de plantas, a cafeína é a droga psicoativa mais consumida. Essa substância pertence ao grupo de compostos das metilxantinas, no qual se inclui também o chá. As xantinas são substancias capazes de estimular o sistema nervoso, produzindo certo estado de alerta de curta duração. As xantinas são bases nitrogenadas da mesma classe (alcalóides) em que se incluem a atropina, cocaína, efedrina, morfina, quinina, nicotina, e varias outras, todas relacionadas à grande variedade de ações fisiológicas. A xantina por sua vez é uma substancia química derivada da purina, é uma dioxipurina estruturalmente relacionada com o ácido úrico. A ligação da adenosina, um neurotransmissor natural, aos seus receptores, diminui a atividade neural, dilata os vasos sanguíneos, entre outros. Com isso, a cafeína se liga aos receptores da adenosina e impede a ação da mesma sobre o SNC [5]. Muitos medicamentos contra cefaleias, tal como a aspirina forte, contém cafeína. Ela irá contrair os vasos sanguíneos e aliviar a dor. Com o aumento da atividade neural, a glândula pituitária reage como se algum tipo de emergência estivesse ocorrendo, e libera grandes quantidades de adrenalina, causando uma série de efeitos no corpo humano, como taquicardia, aumento da pressão arterial, abertura dos tubos respiratórios (por isso muitos medicamentos contra asma contém cafeína), aumento do metabolismo e contração dos músculos, entre outros. A cafeína também aumenta a concentração de dopamina no sangue por diminuir a recaptação desta no SNC. A dopamina também é um neurotransmissor, relacionado com o prazer, 375 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) e suspeita-se que seja justamente este aumento dos níveis de dopamina que leve ao vício da cafeína. Essa substância, em curto prazo, impede o bloqueio e a recepção de adenosina, dando mais disposição, pois causa liberação de adrenalina, e lhe faz “sentir melhor”, pois manipula a produção de dopamina [6]. A cafeína resulta numa estimulação dos sistemas envolvidos, aumentando tanto a liberação de norepinefrina como a taxa de ativação espontânea dos neurônios noradrenergicos. Entre os efeitos autonômicos estimulantes da cafeína como antagonista da adenosina observa-se a estimulação cardíaca, aumento da pressão arterial, redução da mobilidade intestinal enfim, produz-se um clássico estado de estimulação simpática, tal como se houvesse uma atitude e estresse onde as reservas corporais se mobilizariam. Na hipersensibilidade a cafeína sente-se inquieta, agitada, com um discreto mal-estar e ansiedade. A seguir ocorre taquicardia, sensação de zumbido no ouvido e distúrbios visuais parecendo faíscas no ar. A musculatura torna-se tensa e tremula, podem ocorrer palpitações devido ao surgimento de extra-sístoles no coração [7]. A ciclosporina é uma droga imunossupressora, porém sem qualquer efeito sobre a reação inflamatória aguda. Foi descoberta por Borel e colaboradores em 1976 durante uma triagem de produtos fúngicos, foi isolada do fungo Tolypocladium inflantum, habitante do solo. As ciclosporinas são indicadas para a redução de incidência de rejeição de enxerto em transplantes de órgãos e para variadas doenças autoimunes. A principal ação da ciclosporina consiste em ocorrer uma diminuição da proliferação clonal de células T, primariamente ao inibir a liberação de interleucina-2 e, possivelmente, também, ao reduzir a expressão dos receptores da interleucina-2. Esta diminuição ocorre devido à ciclosporina ligar-se a uma proteína citosólica, denominada imunofilinas [8]. O complexo fármaco/imunofilin liga-se a calcineurina e a inibe, interferindo assim na ativação das células Th e na produção IL-2. O resultado do estudo geral com o tema “Efeitos cardiovasculares num modelo experimental”, realizados em ratos Wistar, machos, durante sete (7) semanas com CsA (Sandimmun Neoral) dissolvida em suco de laranja, nas doses de 5 mg/kg/dia em um grupo de ratos e 30 mg/kg/dia em outro grupo. Na segunda semana os dois grupos já apresentavam hipertensão arterial. Seguindo o estudo, concluiu-se que os resultados obtidos sugerem que os efeitos cardiovasculares da CsA no rato Wistar são precoces e se caracterizam 376 por HTA, e após sete semanas de tratamento com doses elevadas correspondente a Cmax humana por cardiopatia isquêmica e taquicardia, não apresentando hipertrofia ventricular esquerda. A dose inferior 5 mg/kg/dia induz menores lesões cardíacas, aumentando, no entanto, a pressão arterial diferencial. A função renal, para ambas as doses de ciclosporinas, apresentou-se sem alterações significativas, o que os levou a sugerir que estas alterações, se existirem, serão posteriores as alterações cardiovasculares, nomeadamente a HTA [9]. A problemática das ciclosporinas está nos seus efeitos adversos, tendo como efeito mais comum nefrotoxicidade, hepatotoxicidade e hipertensão. Os menos relevantes incluem anorexia, letargia, hirsutismo, tremor, parestesia, hipertrofia gengival e distúrbios gastrointestinais. O que leva o paciente a apresentar um quadro de doença hipertensiva secundaria é a vasoconstrição renal intensa, ativação do sistema nervoso simpático, inibição do óxido nítrico, aumento do influxo de cálcio, retenção de volume com supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterna, dentre outros [10]. Os contraceptivos orais, desde sua introdução no início dos anos 60, começaram a ser publicados casos na literatura que relacionavam o uso de contraceptivos orais (CO) a aumentos dos níveis pressóricos. A presença de hipertensão arterial leve é habitualmente uma contraindicação relativa para o uso de contraceptivos orais, e enquanto nas pacientes com hipertensão arterial mais grave, com fatores de risco adicionais para doença cardiovascular ou quando houver lesão em órgãos-alvo, é considerada uma contraindicação. Na maioria das mulheres o uso de contraceptivos orais (CO) causa ligeira elevação dos níveis pressóricos. A magnitude da elevação pressórica varia de acordo com a população avaliada e a dose do contraceptivo, variando de 3-6 mmHg na sistólica e 2-4 mmHg na diastólica, quando a dose de estrógeno variava de 30-35 Ug de estrógeno 3,4. Em alguns casos, entretanto, o uso de CO pode desencadear o desenvolvimento da hipertensão arterial que se mostra reversível com sua suspensão [4]. O mecanismo pelo qual os CO causa elevação da pressão arterial deve-se a retenção de sódio pelo estrógeno e parte da progesterona sintética contida nos contraceptivos. O diagnóstico de hipertensão causada por CO resulta da normalização dos níveis pressóricos a partir da descontinuação de sua administração. Esta normalização é vista em média 3 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) meses após a suspensão do CO, embora em algumas pacientes isto possa ocorrer em até 6 meses. Em alguns destes casos, recomenda-se o monitoramento da pressão arterial com maior frequência de modo a viabilizar o uso dos CO quando não houver outra alternativa. Entre as drogas anti-hipertensivas recomendadas para uso na vigência de CO, estão os diuréticos que atuam sobre a retenção de sódio. Já com relação à terapia de reposição hormonal o uso de estrógenos ou estrógenos combinados com progestágenos não constitui um contra, pois estas substâncias são, em geral, administradas em baixas doses, podendo ocorrer inclusive uma ligeira redução dos níveis pressóricos. Mesmo assim, recomenda-se o monitoramento da pressão arterial, pois em raros casos observou-se elevação da pressão [6]. Os antiflamatórios não esteroides (AINEs) (antipiréticos e analgésicos) estão entre as drogas mais prescritas no Brasil [1]. Dada a alta prevalência da hipertensão arterial, é muito frequente o uso concomitante de AINEs e anti-hipertensivos no mesmo paciente, assim como o surgimento de interações medicamentosas clinicamente significativas entre tais classes de fármacos. Há estudos que têm como enfoque o efeito dos AINEs sobre a pressão arterial, gerando a diminuição da eficácia dos medicamentos anti-hipertensivos. Os AINEs não-seletivos agem sobre a COX1 e COX2 que principalmente se envolvem em interações potencias com os anti-hipertensivos como o ibuprofeno, naproxeno, piroxicam, indometacina, diclofenaco e o ácido acetilsalicitico [11]. Outros, inclusive analgésicos e antipiréticos, como a dipirona e o paracetamol, também podem interferir na ação dos anti-hipertensivos. O principal mecanismo que envolve a elevação da pressão arterial pelos AINEs é a inibição da enzima COX. Tal inibição gera a redução sistêmica e renal da síntese de prostaglandinas (PGs). No rim, a inibição da enzima COX gera diminuição das taxas de PGI e PGE2. Tais prostaglandinas agem mantendo a homeostasia renal por regulação da reabsorção de sódio e água, mediando o tônus vascular e a liberação de renina. O uso de AINEs é limitado e é motivo de precaução por desenvolverem hipertensão, edema, doença cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral em uma proporção significativa de pacientes. O efeito dos AINEs na instabilidade da pressão arterial é clinicamente relevante tanto em pacientes em tratamento anti-hipertensivo como em aqueles sem tratamento. Todos os AINEs podem antagonizar a terapia anti-hipertensiva, seja parcial ou totalmente. Dessa forma, podem aumentar a morbidade relacionada à hipertensão arterial. O efeito na pressão arterial pode variar de nenhum até crises hipertensivas. O risco é maior em idosos, afrodescendentes e naqueles com hipertensão arterial com renina baixa. Recomenda-se que pacientes com doença hipertensiva controlada com medicamentos sejam submetidos a monitoramento cuidadoso da pressão arterial e da função renal após o início da terapia com AINEs e que se avaliem os benefícios do tratamento em relação aos riscos. Em caso de perceber qualquer dano ao paciente, deve-se interromper a terapia do anti-inflamatório, mudar o agente anti-hipertensivo ou alterar a dose deste último. Entretanto estudos atuais demonstram que a dipirona, quando administrada intravenosamente, pode causar diminuição da pressão arterial por mecanismos ainda não muito claros, acredita-se, porém, que seja por inibição de canais de potássio dependentes da voltagem no músculo liso vascular. Portanto, sendo a dipirona um fármaco pouco estudado, sua ação na hemodinâmica ainda é controversa [7]. O diclofenaco é considerado o segundo AINE com maior risco de desenvolver eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio) em pacientes hipertensos, devido, principalmente, ao aumento da pressão arterial. Já o AAS é relacionado ao aumento dos níveis pressóricos quando em uso crônico, sobretudo no paciente idoso. Os AINEs associados a outros fármacos podem antagonizar o efeito dos anti-hipertensivos, tal fato pode ser visto com preocupação, pois pode haver um “sinergismo” no antagonismo gerado por tais drogas no efeito dos anti-hipertensivos. Todos os AINEs parecem elevar a pressão arterial média e antagonizar os efeitos hipotensores dos anti-hipertensivos, incluindo os analgésicos e antipiréticos como a dipirona e o paracetamol [12]. A eritropoetina (EPO) é atualmente utilizada no tratamento da anemia de pacientes com doença renal crônica, pode piorar a hipertensão e aumentar a necessidade de drogas anti-hipertensivas. Este efeito, entretanto, não é observado em pacientes recebendo eritropoetina, sugerindo que a doença renal crônica pode conferir uma susceptibilidade particular a ação hipertensiva da eritropoetina. Quanto mais intensa a anemia e mais rápida a sua correção, maior a incidência da hipertensão induzida 377 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) pela eritropoetina recombinante humana. Desde o artigo de Eschbach, que empregou EPO pela primeira vez em humanos em programa de hemodiálise, já foi verificado o advento de hipertensão arterial ou o agravamento de quadro hipertensivo pré-existente, inclusive com descrições de quadros graves de encefalopatia hipertensiva. A correção da anemia com eritropoetina está associada com o agravamento ou surgimento de quadro hipertensivo em cerca de 20% dos pacientes. A monitorização e o controle dos níveis pressóricos devem ser feitos de maneira rigorosa em todas as situações em que se utiliza a eritropoetina recombinante humana, no sentido de evitarmos o agravamento de doenças vasculares presentes em grande parte dos pacientes portadores de insuficiência renal crônica e o advento de encefalopatia hipertensiva, que muitas vezes pode ser acompanhado de crise convulsiva. Os pacientes em tratamento conversador merecem atenção adicional, pois a doença hipertensiva pode acelerar o quadro de progresso da doença renal. Deve-se manter o controle adequado do volume circulante e dos agentes anti-hipertensivos. Em alguns casos, a dose de eritropoetina pode ser reduzida e a via de administração modificada, de endovenosa para subcutânea [14]. Conclusão Os resultados levantados a partir deste estudo enfatizaram a importância do conhecimento técnico que os profissionais de saúde devem adquirir para uma melhor intervenção no processo de tratamento do paciente. Com isto, verificou-se que os medicamentos possuem efeitos adversos que tem que ser levados em consideração durante a prescrição médica, assim como as interações medicamentosas, que podem ocasionar uma hipertensão arterial 378 secundária. Com base nisto, a enfermagem deve levar educação à comunidade quanto ao perigo da automedicação, assim como ao realizar as consultas de enfermagem estar atento a história de saúde do paciente, os medicamentos em uso, alergias, e todas as informações pertinentes ao cuidado, para assim estar orientando, educando e evitando maiores complicações. Referências 1. Ministério da saúde. Hipertensão: um mal que pode ser evitado. [citado 2011 Ago 12]. Disponível em URL: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area. 2. Savage J. Tudo sobre hipertensão arterial. 1a ed. São Paulo: Andrei; 2000. 3. Póvoa R. Bombig MTN. Cardiopatia Hipertensiva. 1ª ed. São Paulo: Atheneu; 2011. 4. Plavnik FL. Hipertensão arterial induzida por drogas: como detectar e tratar. Rev Bras Hipert 2002;9:185-91. 5. Kaplan HI, Sadock BJ, Grebb JA. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do comportamento e Psiquiatria Clínica. 7ª. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. 6. Póvoa R. Hipertensão arterial a prática clínica. 2ª. ed. São Paulo: Atheneu; 2007. 7. Rang HP, Dale MM, Ritte JM. Farmacologia. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 2001. 8. Page C. Farmacologia integrada. 2ª. Ed. São Paulo: Manole; 2004. 9. Tavares P, Reis F, Ribeiro CAF, Teixeira F. Efeitos cardiovasculares da ciclosporina num modelo experimental. Revista Portuguesa de Cardiologia 2002;21(2):141-55. 10. Kester M. Farmacologia. 1ª. ed. São Paulo: Elsevier; 2008. 11. Ribeiro A. Atualização em hipertensão arterial. São Paulo: Atheneu; 2007. 12. Pimenta E, Calhoun DA, Oparil S. Mecanismos e tratamentos da hipertensão arterial refratária. Arq Bras Cardiol 2007;88(6): 683-92. 13. Abensur H. Reações adversas referentes a eritropoetina. J Bras Nefrol 2000;22(5):39-41. 14. Asperheim M. Farmacologia para Enfermagem. 11ª ed. São Paulo: Elsevier; 2009. Enfermagem Brasil Maio / Junho 2012;11(3) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp:// www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavraschave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words, Resumen, Palabrasclave) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http:// decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: [email protected] Consulte o texto completo das Normas em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br 379 Enfermagem Brasil Novembro / Dezembro 2012;11(6) Calendário de eventos 2013 Abril 16 a 19 de abril VI Congreso Internacional de Urgencias, Emergencias y Cuidados Intensivos Habana, Cuba Informações: [email protected] 7 a 10 de outubro 65º. Congresso Brasileiro de Enfermagem–CBEn Centro de Convenções Sulamércia Rio de Janeiro RJ Informações: www.abenrio.rjvnet.com.br 18 a 21 de abril Reatech – XII Feira Internacional de tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo SP Informações: www.reatech.tmp.br 9 a 11 de outubro I Congreso Internacional Hispano-Luso de Enfermería Lisboa, Portugal informações: www.funciden.com/congreso-enfermeria Junho 21 a 22 de junho XII Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia Ribeirão Preto, SP Informações: [email protected] Novembro 12 a 15 de novembro IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas João Pessoa PB Informações: [email protected] Julho 24 a 27 de julho 11º Congresso Brasileiro de Enfermagem de Centro Cirúrgico, RA e CME São Paulo, SP Informações: [email protected] 380 Outubro Ano 11 nº 6 - novembro/dezembro de 2012 ISSN 1678-2410 Enfermagem Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012 Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL Assistência de enfermagem Infecção hospitalar • Processo de trabalho dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família • Enfermeiro na recuperação de dependentes de álcool • Uso do açúcar em úlceras de pressão • Práticas de humanização em UTI • Promoção da saúde do idoso • Higienização das mãos: adesão da equipe multidisciplinar Hipertensão arterial • Medicamentos como fatores de risco para hipertensão Resíduos hospitalares • Gerenciamento de resíduos sólidos em UTI 13 anos www.atlanticaeditora.com.br