35 LIXO ELETRÔNICO: UM DESAFIO PARA A GESTÃO
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35 LIXO ELETRÔNICO: UM DESAFIO PARA A GESTÃO
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 LIXO ELETRÔNICO: UM DESAFIO PARA A GESTÃO AMBIENTAL E-WASTE: A CHALLENGE FOR ENVIRONMENTAL MANAGEMENT 1 1 Adilson Carlos da Rocha ; Gilberto Francisco Ceretta , Andriele de Prá Carvalho 2 1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE - Francisco Beltrão – PR – Brasil. [email protected] , [email protected] 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Ponta Grossa – PR – Brasil [email protected] Resumo: Este artigo apresenta uma abordagem referente à gestão ambiental, observando a correlação entre o ambiente globalizado e a poluição, tendo como tema principal a poluição denominada eletrônica ou lixo eletrônico, fazendo uma associação com as consequências da poluição causada pelos equipamentos da área de TI, os poluentes utilizados na industrialização desses equipamentos e suas formas de descarte. Esse estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica, na qual foi possível constatar que a gestão do lixo eletrônico vem sendo objeto de pesquisas e políticas públicas voltadas a gestão ambiental, principalmente nos países desenvolvidos. No Brasil é um tema que não tem recebido um tratamento adequado, havendo sim uma carência de informações e estudos que tratem do problema com maior atenção e discutam sobre políticas voltadas a gestão desse tipo de resíduo. Palavras-chaves: Meio ambiente, Poluição, Lixo eletrônico Abstract: This article presents an approach relating to environmental management, observing the correlation between the global environment and pollution, with a major pollution called electronic or e-waste, making an association with the consequences of pollution of information technology equipment, pollutants used in the manufacturing of such equipment and means of their disposal. This study was conducted through a literature search, in which it was established that the management of electronic waste has become an object of research and public policies related to environmental management, especially in developed countries. In Brazil, it is a subject that has not received adequate treatment, but there is a lack of information and studies that address the problem more carefully and discuss policies focused on the management of such waste. Key words: Environment, Pollution, E-waste 35 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 1 INTRODUÇÃO A preocupação com as ações e os consequentes impactos da atividade humana ao meio ambiente pode ser considerada recente. As discussões sobre o tema aconteceram nas últimas décadas devido a gravidade da situação. O principal fator talvez seja o modelo de produção urbano industrial que tem provocado a poluição ambiental das águas, do solo e do ar. A concentração de milhões de pessoas nos centros urbanos tem mostrado a população uma péssima perspectiva de atendimento as necessidades mais elementares, como alimentação, moradia, abastecimento de água, tratamento sanitário, serviços de coleta e destinação do lixo urbano, elementos essenciais para saúde humana. Diante deste cenário, um dos principais desafios é a busca por estratégias para administrar o processo de degradação da qualidade ambiental, em consequência do aumento expressivo da poluição associada ao esgotamento dos recursos naturais e a geração de resíduos domésticos e industriais. Nesta busca pela eficácia no uso dos recursos naturais, a sociedade necessita de práticas inovadoras de gestão, principalmente para amenizar os problemas causados pelo consumo elevado, o ritmo acelerado da inovação tecnológica e a chamada obsolência programada fazem com que grande parte dos equipamentos eletrônicos transforme-se em “sucata tecnológica” em um curto espaço de tempo. Esta mesma sociedade gera um apelo muito intenso para que a população se mantenha sempre atualizada e adquiram produtos novos. Tal fato leva o nome de consumismo, o qual proporciona ciclos de substituição de equipamentos cada vez mais acelerados e uma relação direta com o aumento da produção do lixo eletrônico. O principal fator que pode motivar a desatualização destes equipamentos e a sua transformação em lixo eletrônico é que, em geral, a aquisição de um aparelho novo é monetária e tecnologicamente mais vantajosa que o reparo de um usado. As pessoas perdem o hábito de usar algo até que ele esteja completamente desgastado, ao primeiro sinal de defeito são substituídos por um novo produto. Os impactos sócio-ambientais associados ao rápido crescimento desses resíduos, a conseqüente incapacidade de metabolização dos mesmos, têm sido mundialmente 36 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 reconhecidos como um risco emergente para o meio ambiente e a saúde pública, devido aos crescentes volumes de sucatas geradas e as substâncias tóxicas presentes em sua composição. O objetivo proposto neste trabalho é discorrer sobre a temática da poluição ambiental, tendo como tema principal a poluição denominada eletrônica ou lixo eletrônico, fazendo uma associação com as consequências da poluição causada pelos equipamentos elétricos e eletrônicos. Para realização deste trabalho utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica com base em material previamente elaborado, compreendendo: artigos científicos, teses, periódicos e livros. O artigo está estruturado numa seqüência comum em artigos científicos, iniciando-se com uma referência aos resíduos de equipamentos eletrônicos e sua composição, trantando dos temas sobre impactos ambientais e impasses para a sustentabilidade, riscos e alternativas, e soluções como a logística reversa e a reciclagem e por fim as considerações que os autores encontraram sobre o assunto em tela. 2 RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS E SUA COMPOSIÇÃO Os equipamentos eletrônicos de forma geral são compostos por vários módulos básicos que geralmente constituem-se de placas e circuitos impressos, cabos, plásticos antichama, comutadores e disjuntores de mercúrio, equipamentos de visualização, como telas de CRT (Cathodic Ray Tube) e de LCD (Liquid Cristal Display), pilhas, baterias, meios de armazenamentos de dados, dispositivos luminosos, condensadores, resistências, relês, sensores e conectores. As substâncias presentes nos resíduos eletrônicos consideradas mais problemáticas do ponto de vista ambiental e da saúde humana são os metais pesados, gases de efeito estufa, como os CFC (clorofluorcabonetos), as substâncias halogenadas, bifenilas policloradas, bromatos e ainda o arsênio (NORDIC COUCIL OF MINISTER apud RODRIGUES, 2007). A composição de um computador pessoal é um exemplo da diversidade de materiais com substâncias tóxicas. A Tabela 1 demonstra as principais substâncias utilizadas no processo de industrialização dos equipamentos eletrônicos, correlacionada aos malefícios à saúde humana. 37 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 Material Mercúrio Cádmio Arsênio Berílio Localização Computadores, MONITORES e TV de plasma Computadores, monitores de tubo e baterias de laptops Celulares Malefícios a Saúde Danos no cérebro e fígado Envenenamento, problemas nos ossos, rins e pulmões Podem causar câncer no pulmão, doenças de pele e prejudicar o sistema nervoso Causar câncer no pulmão Computadores e Celulares Usados para prevenir Retardantes Problemas hormonais, no sistema incêndios em diversos de Chamas nervoso e reprodutivo eletrônicos Computador, celular e Causa danos ao sistema nervoso e Chumbo televisão sanguíneo Lâmpadas fluorescentes e Edema cerebral, fraqueza muscular, Bário tubos danos ao coração, fígado e baço Usado em fios para isolar Se inalado, pode causar problemas PVC correntes respiratórios Fonte: Ferreira; Ferreira (2008, p.165) Tabela 1 - Substâncias encontradas em equipamentos eletrônicos De acordo com Rosa (2007), dados foram divulgados pela Universidade das Nações Unidas, resultados de uma pesquisa coordenada pelo professor Ruediger Kuehr, constatou que aproximadamente 1,8 toneladas de materiais dos mais diversos tipos são utilizadas na produção de um único computador. O cálculo foi realizado tomando-se como base um computador de mesa com um monitor CRT de 17 polegadas. Somente em combustíveis fósseis, o processo de fabricação de um computador consome mais de 10 vezes o seu próprio peso. Esta mesma pesquisa mostrou que a fabricação de um computador é mais intensiva, em termos de peso, que a fabricação de eletrodomésticos da linha branca, como refrigeradores e fogões, e até mesmo do que a fabricação de automóveis. Esses produtos exigem apenas de 1 a 2 vezes o seu próprio peso em combustíveis fósseis. Há de se considerar ainda que à medida que novas tecnologias são disponibilizadas no mercado e aparelhos são substituídos com uma freqüência cada vez maior, o volume de lixo eletrônico cresce rapidamente e apenas 11% desse tipo de resíduo é reciclado no mundo. Calcula-se que cada cidadão europeu produza 14 quilos de lixo eletrônico por ano. (ESTRADA, 2004 apud LEITE et al. 2009). Nos últimos anos a exportação desse tipo de resíduo dos países desenvolvidos para o os países em desenvolvimento aumentou de forma considerável. Isso ocorreu 38 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 devido a diversas razões, entre elas os custos elevados para o descarte adequado ou para a desmontagem com fins de reciclagem. Contudo, esse tema tem sido objeto de estudos voltados à gestão desses resíduos, principalmente na maioria dos países desenvolvidos. 3 IMPACTOS AMBIENTAIS E IMPASSES PARA A SUSTENTABILIDADE O desenvolvimento tecnológico presenciado nas ultimas três décadas tem proporcionado incontestáveis benefícios a sociedade, mas também resultou em efeitos indesejáveis, pois constantemente transforma produtos duráveis, recém lançados, em obsoletos, gerando de forma precoce, grandes volumes de resíduos, resultado entre outros da velocidade da inovação tecnológica largamente utilizada como estratégia competitiva do setor produtivo industrial. Segundo Torres (2008), o maior perigo do avanço da tecnologia é seu considerável impacto ambiental. Principalmente a indústria de computadores e seus periféricos eletrônicos que constituem um dos setores industriais que proporcionalmente ao peso dos seus produtos, mais consomem recursos naturais, tanto na forma de matéria-prima, como em termos de água e energia. Os impactos ambientais gerados a partir da comercialização desses equipamentos têm sido por muito tempo negligenciado, sendo de difícil gestão e controle, pois a partir da transferência de posse para o consumidor final a responsabilidade pelo produto torna-se difusa. Isso é preocupante, pois como já mencionado, a inovação tecnológica, a diversidade de produtos, a massificação do consumo e a tendência à miniaturização são fatores de produção exponencial de resíduos. A geração desses resíduos na fase pós-consumo não é menos grave que a poluição gerada no processo produtivo de industrialização. Ao menos sobre esta etapa existem regulamentações ambientais, baseadas no controle das emissões industriais, enquanto que na geração difusa de resíduos pós-consumo, não há gestão e controle necessário, uma vez que estes equipamentos acabam sendo inseridos em parte dos resíduos domiciliares (RODRIGUES, 2007). De modo geral a sociedade como um todo acaba sendo responsável pela destinação dos resíduos produzidos por qualquer bem durável utilizado e 39 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 descartado, que são agregados a massa de lixos domiciliares. A coleta e destinação dos resíduos urbanos são de responsabilidade dos governos locais, sendo custeado pela própria população, na forma de taxas igualmente, independente de quem obtenha lucros com a veloz dinâmica da descartabilidade induzida pelos bens de consumo duráveis. Numa pesquisa sobre impactos socioambientais dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos realizado por Rodrigues (2007), através de um estudo de caso que teve como objeto de estudo aproximadamente 50 organizações envolvidas com atividades relacionadas aos equipamentos elétricos e eletrônicos, concluiu que em nosso país a infra-estrutura de coleta desses resíduos é praticamente inexistente, uma vez que não há atualmente legislação que considere suas peculiaridades tóxicas ou que obrigue ao estabelecimento de sistemas de coleta específicos. No Brasil, cerca de 500 mil toneladas desse tipo de lixo são descartadas por ano em locais inadequados porque alguns materiais, tóxicos, contaminam o meio ambiente. A situação pode piorar com os sucessivos recordes de consumo. De acordo com artigo publicado no jornal Estadão de São Paulo (2008), a vida útil de um computador não passa de cinco anos, enquanto um celular não chega a durar dois anos. Em levantamento da Universidade das Nações Unidas, o mundo produz 14 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos anualmente. Esses resíduos ao serem destinados para os grandes lixões a céu aberto, podem causar danos à saúde, tanto animal quanto humana. Conforme ressalta Moreira (2007), as contaminações destes resíduos podem ser por contato direto, como no caso da manipulação das placas eletrônicas e seus componentes, como pode também ocorrer de forma acidental, como é o caso dos aparelhos que vão para os aterros sanitários, existindo assim, uma grande possibilidade de que os componentes tóxicos contaminem o solo chegando aos lençóis freáticos e consequentemente, afetando a água, que tem seus diversos fins, como a irrigação do próprio solo, dos alimentos, e do próprio consumo humano. De acordo com Rodrigues (2007), a abordagem tradicional das políticas ambientais para a proteção do meio ambiente tem se voltado para a remediação da poluição 40 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 dos processos produtivos ou na gestão dos resíduos. Contudo, estas estratégias apenas constituem em mecanismos para minimização dos impactos ambientais de natureza local ou regional, não considerando a concepção e as fases de uso e pósconsumo dos produtos. Desta forma as etapas de utilização, manutenção, reutilização e disposição final ou reciclagem no final da vida útil dos produtos tem estado quase que totalmente desvinculadas das indústrias. Na última década tem se observado uma evolução gradativa da conscientização e das intervenções nos problemas ambientais, seguindo um percurso que vai do tratamento da poluição, passando pela interferência nos processos produtivos que geram a poluição – tecnologias limpas – chegando ao redesenho dos produtos – ecodesign – e a orientação da demanda que motiva a produção desses produtos com incentivo ao consumo ambientalmente responsável (MANZINI; VEZZOLI, 2005). Neste sentido Leite et al. (2009), relatam em seu trabalho que as Nações Unidas vem propondo um engajamento na viabilização de projetos para a reciclagem dos resíduos eletrônicos, com o lançamento do programa STEP (Solving the E-Waste Problem) - reduzindo o problema do lixo eletrônico - O projeto tem como objetivo a criação de padrões mundiais de processos de reciclagem de sucata eletrônica e a harmonização entre as legislações nacionais. 4 RISCOS E ALTERNATIVAS Algumas questões ambientais e de saúde humana relacionadas ao descarte e destinação dos mais diversos tipos de equipamentos elétricos e eletrônicos após sua vida útil, vem sendo debatidas no decorrer desta década, principalmente nos países desenvolvidos, considerados até então os maiores geradores de lixo eletrônico. Segundo Rodrigues (2007), essa preocupação se dá em virtude do exponencial crescimento das taxas de geração de resíduos, da presença de substâncias tóxicas na composição dos mesmos e adicionalmente devido ao aumento dos custos com a gestão dos resíduos urbanos, até então arcados pelo poder público. Para Afonso (2008), o lixo eletrônico é como uma bomba-relógio, cujos efeitos vão recair da maneira mais inesperada possível sobre a sociedade, devido a fatores que estão contribuindo para o aumento deste tipo de resíduo. Ainda segundo o autor, o 41 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 Brasil conta com 30 milhões de computadores ficando atrás dos EUA e China (180 milhões cada), e estima-se que em 2010, o mundo terá 1 bilhão de computadores obsoletos. De acordo com relatórios do Greenpeace, rios e águas subterrâneas de países da Ásia e no México estão sofrendo com a inserção de substâncias químicas tóxicas por parte de indústria de componentes eletrônicos, onde, países considerados paraísos da indústria eletrônica estão a caminho da contaminação por substâncias altamente nocivas e perigosas. Áreas industriais na China, México, Filipinas e Tailândia, responsáveis pela fabricação de componentes de aparelhos da IBM, HP, Sony e Sanyo, estão provocando sérios problemas em rios e águas subterrâneas (FERREIRA; FERREIRA, 2008). O relatório GAO (2008), constatou que grande parte da exportação de produtos eletrônicos utilizados até o presente momento tem-se centrado na China, a consciência da reciclagem de resíduos electrônicos e problemas de escoamento em outros países asiáticos tem crescido nos últimos anos. Como reflexo dessa crescente conscientização, oito países asiáticos se reuniram em Camboja, em março de 2007 para discutir questões de gestão electrônica de resíduos. Na conferência, agentes da Indonésia relataram que produtos eletrônicos utilizados são importados dos Estados Unidos para reexportação para a China, Hong Kong e Taiwan, e a falta de medidas eficazes de controle ambiental tornam os sistemas falhos e inseguros. O mesmo relatório fez alguns registros como exemplo na Indonésia onde são encontrados centenas de portos marítimos, que são impossíveis de controlar. De acordo com os agentes ambientais, atividades de reciclagem de eletrônicos ocorrem em Java Oriental, em uma propriedade industrial e sobre Batam Island - próximo de Cingapura - em uma zona especial limitada isentos de regulamento do governo. A maioria dos resíduos reciclados em Batam Island são nocivos a saúde humana. Essas questões são objeto de regulamentações, acordos e programas voluntários para retorno dos produtos, por parte das indústrias e governos, além de muitas pesquisas acadêmicas e industriais, envolvendo tecnologias para recuperação de materiais e componentes, ecodesign, entre outras. Um marco e referência quanto às 42 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 iniciativas de enfrentar o problema aconteceu na Comunidade Européia, na década passada, quando se deu início uma discussão para a formulação de diretrizes políticas voltada a gestão desses resíduos. Esta iniciativa culminou com a aprovação em 2003 de duas diretivas, a WEEE (Waste Electric and Electronic Equipment) e a RoHS (Restriction of the use of certain Hazardous Substances) (RODRIGUES, 2007). Como principal ação a norma européia WEEE restringiu o uso de algumas substâncias tóxicas na industrialização dos equipamentos, e previu que somente há três destinos possíveis para o lixo eletrônico: reciclagem, incineração ou exportação. Estas medidas vêm influenciando, tanto no sentido econômico, como no político, países de todo o mundo, como os EUA, Canadá, e parte dos países asiáticos, atualmente os maiores produtores de componentes para a indústria eletrônica e também outros países como a Índia, África e China, estes últimos tem sido os destinos de grande parte da sucata proveniente desses produtos no final de sua vida útil. No Brasil as avaliações dos resíduos são realizadas de acordo com as Normas NBR 10004, 10005, 10006 e 10007, que classificam os resíduos sólidos quanto aos seus ricos potenciais ao meio ambiente e a saúde pública, para que esses resíduos possam ter manuseio e destinação adequados. Quando as características de um determinado resíduo não forem determinadas nos termos da NBR 10004, por motivos técnicos ou econômicos, a classificação deste resíduo caberá aos órgãos estaduais ou federais de controle e preservação ambiental. (ANDRADE, 2002). A regulamentação vigente que trata especificamente do lixo eletrônico no Brasil, é a Resolução n° 257, do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que estabelece limites para o uso de substâncias tóxicas em pilhas e baterias e imputa aos fabricantes a responsabilidade de ter sistemas para coleta e encaminhamento para reciclagem. De acordo com Cornils (2009), uma nova proposta para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que define a forma como o país vai fazer a gestão dos materiais resultantes das atividades humanas em sociedade, esta tramitando no congresso 43 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 nacional. O projeto se refere a todo tipo de resíduo, como lixo doméstico, industrial, entulho de construção civil, produtos industrializados como baterias, óleos, computadores e celulares. A proposta pretende criar um sistema de gestão e distribuição de responsabilidades para que esses materiais não sejam descartados de maneira poluidora, passem por processos de reciclagem e, na medida do possível, sejam reaproveitados. 5 LOGÍSTICA REVERSA E RECICLAGEM O simples descarte dos equipamentos eletrônicos tecnicamente obsoletos representa um desperdício enorme de recursos, pois existem metais preciosos nessas montanhas de sucata de alta tecnologia. E não é força de expressão, o ouro está mesmo presente nos contatos dos microprocessadores, das memórias e da maioria dos circuitos integrados. Devido a estas características o lixo eletrônico com grande potencial de contaminação ambiental, necessita de sistemas de gestão e controle da disposição final. A logística reversa e a reciclagem dos componentes pode ser a solução mais adequada. As atividades da logística reversa consistem em coletar os materiais utilizados, danificados ou até mesmo rejeitados, produtos fora de validade, a embalagem e transporte do ponto do consumidor final até o revendedor (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999). Neste contexto cabe observar a relevância que a logística reversa assume, entendida como o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência, estoques em processo, produtos acabados e informações relacionadas do ponto de consumo ao ponto de origem com objetivo de re-agregar valor ou efetuar o descarte de forma correta dos equipamentos eletrônicos. A logística reversa torna possível tanto o desagravo dos impactos ambientais causados pelos resíduos eletrônicos, quanto o ganho de eficiência e sustentabilidade das operações nas organizações (LEITE et al, 2009). De acordo com Leite (2003) existem dois tipos de canais de distribuição reversos, definidos como de pós-venda e pós-consumo. Os produtos de pós-venda retornam à cadeia de suprimentos por diversos motivos como término da validade, excesso de 44 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 estoques nos canais responsáveis pela distribuição, sistema de consignação ou problemas de qualidade. Estes por sua vez, como destinação final podem ser destinados para os mercados secundários, reforma, desmanche, reciclagem dos produtos e de seus componentes ou por último encaminhado para disposição final. A Tabela 2 apresenta os níveis de devoluções médios de setores de atividades econômicas diferentes: Porcentagem média de retorno Editores de revistas 50% Editores de livros 20 – 30% Distribuidores de livros 10 – 20% Distribuidores de eletrônicos 10 – 12% Fabricantes de computadores 10 – 20% Fabricantes de CD-ROMs 18 – 25% Impressora para computador 4 – 8% Peças para a indústria automotiva 4 – 6% Fonte: Rogers; Tibben-Lembke (1999, p.7) Tabela 2 – Porcentagem de retorno de bens de pós-venda Ramo de Atividade Quanto ao processo de reciclagem este pode acontecer através do reuso, recuperação de resíduos ou de seus constituintes que apresentam algum valor econômico, que também parece ser uma das formas mais atraentes para solucionar os problemas de gestão desses resíduos, tanto do ponto de vista econômico como dos órgãos de proteção ambiental. Esta reciclagem pode ocorrer através da recuperação de matéria prima, produto final, subproduto, energia e embalagem (ANDRADE, 2002). Algumas indústrias de equipamentos vêm implantando programas baseados na sustentabilidade ambiental, um exemplo é a Itautec, empresa que comercializa 1 milhão de computadores por ano e implementou um sistema ambiental desde 2001, através da certificação ISO 14000 em suas fábricas de São Paulo e Manaus. O programa é desenvolvido com empresas que possuem um contrato de utilização dos produtos Itautec por certo período e que retornam o computador para a reciclagem. O segmento de vendas à pessoas físicas não é contemplado pelo programa de coleta, apenas os consumidores que procuram a Itautec têm seus computadores reciclados. A Tabela 3 demonstra os principais materiais utilizados na indústria de um 45 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 microcomputador pessoal, seu percentual em relação ao seu peso total e o percentual de material reciclável. Material Alumínio Chumbo Ferro Estanho Cobre Bário Níquel Zinco Berílio Ouro Manganês Prata % em relação ao peso total 14, 172 6, 298 20, 471 1, 007 6,928 0,031 0,850 2,204 0,015 0,016 0,031 0,018 % Reciclável 80 5 80 70 90 0 80 60 0 98 0 98 Localização Circuito integrado, solda, bateria Semicondutores Estrutura, encaixes Circuito integrado Condutivo Válvula eletrônica Estrutura, encaixes Baterias Condutivo térmico Conexão, condutivo Estruturas, encaixes Condutivo Decoração, proteção contra Cromo 0,006 0 corrosão Cádmio 0,009 0 Bateria, chip, semicondutores Bateria, ligamentos, termostato, Mercúrio 0,002 0 sensores Sílica 24,880 0 Vidro Fonte: Microelectronics and Computer Technology Corporation, 2000. Tabela 3 - Composição Física de um computador e índice de materiais recicláveis A empresa Itautec em seu centro de fabricação localizado na cidade de Jundiaí, Estado de São Paulo, onde foram investidos aproximadamente R$ 350 mil na construção de uma área destinada à reciclagem de equipamentos ao final da vida útil. Neste espaço são recicladas aproximadamente 7 toneladas mês de resíduos oriundos de equipamentos que são recebidos, desmontados, descaracterizados, pesados e após segregação das partes por tipo de material, cada um é enviado aos recicladores homologados e específicos para o processamento e destinação final. Ao reciclar, essas matérias-primas são reinseridas na cadeia para a produção de novos produtos. A mesma empresa também realiza modificações em seus projetos de forma garantir os mercados de exportação à Europa, obedecendo às diretivas RoHS, reduzindo a presença de metais nocivos ao meio ambiente, como por exemplo, a eliminação de soldas de chumbo nas placas, substituição de anti-corrosivo cromo hexavalente, altamente perigoso e prejudicial ao meio ambiente, pelo cromo trivalente, menos agressivo (LEITE, 2003). 46 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 Quanto a políticas públicas, o governo federal iniciou a implantação de um projeto visando à reciclagem de computadores, chamado Computadores para Inclusão, onde envolve a construção de centros de recondicionamento e reciclagem de computadores, idealizados para dar escala a captação de componentes e máquinas descartadas, formar e capacitar pessoal de baixa renda para trabalhar com hardware e software, e para servir de fonte fornecedora de equipamentos para programas de inclusão digital. Este projeto começou a ser posto em prática no Rio de Janeiro e no Distrito Federal (CORNILS, 2005). Existem ainda outras iniciativas que estão concentradas no aproveitamento social de material de informática descartado: o MetaReciclagem, movimento descentralizado que prega a autonomia tecnológica no hardware e no software; e a campanha MegaAjuda, da regional de São Paulo do Comitê para Democratização da Informática (CDI), que coletam micros doados e os destina às Escolas de Informática e Cidadania da sua rede. Desde o ano 2000, quando iniciou a campanha, o CDI-SP recebeu aproximadamente 6,6 mil computadores. Mesmo existindo algumas empresas especializadas e programas governamentais em coleta e reciclagem de equipamentos eletrônicos, o número é insignificante, se comparado com o aumento de equipamentos inseridos no mercado. Ferreira e Ferreira (2008) relatam que publicações do IBGE em 2007, apontaram que as vendas de produtos eletrônicos e de informática no varejo brasileiro cresceram 24,4%, com uma tendência de aumento gradativo. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS No atual sistema global de produção e consumo da indústria eletrônica, verifica-se que as atividades da produção e descarte dos resíduos mais impactantes e prejudiciais ao meio ambiente são direcionadas aos países em desenvolvimento, talvez em função da fragilidade das legislações ambientais e trabalhistas, onde as carências sociais estão servindo de justificativa para tal atividade. Essa questão é preocupante, considerando a precariedade das atuais políticas de gestão dos resíduos eletrônicos e a ausência de informação sobre os potenciais riscos ambientais e a saúde pública. 47 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS – CESCAGE http://www.cescage.edu.br/publicacoes/technoeng 2ª Edição vol. I Jul – Dez de 2010 ISSN 2178-3586 A evidente ausência de regulamentação quanto a destinação e responsábilidade por esse tipo de resíduos faz com que o fluxo dos produtos eletrônicos através da cadeia de pós-consumo formada por varios atores, aconteça de forma caótica, difusa e sem eficiente controle. Dessa forma é possível apontar para a necessidade de um gerenciamento da cadeia de pós-consumo dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, com o objetivo de se otimizar a recuperação de valor em materiais e energia e principalmente minimizar os riscos ambientais e a saúde humana. No Brasil a existência de algumas normas parece não ser suficiente para amenizar o problema e o país presencia um lento processo para aprovação das políticas para tratamento de resíduos sólidos. Há projetos em andamento no Congresso Nacional que trata o lixo eletrônico como resíduo reverso, responsabilizando os fabricantes pelo manejo antes da disposição final. Mas essa iniciativa enfrenta grande resistência, em particular por parte da própria indústria, afinal este setor terá que inicialmente arcar com a grande parte dos custos. Porem é extremamente necessário para tirar o atraso em que a legislação brasileira se encontra sobre o assunto, e para oferecer uma solução para um problema que cresce a cada ano e com uma perspectiva de crescimento preocupante. Enfim, o desafio do Brasil é implantar políticas de informação e de responsabilização para a destinação adequada de resíduos de lixo eletrônico, sendo logística reversa e a reciclagem com reaproveitamento de matérias primas a principal ou até as únicas formas para a destinação correta desse tipo de resíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, J. C. Semana de Inclusão Digital discute 50 milhões do lixo eletrônico. Telebrasil (online) 18-04-2009. Disponível em: http://www.telebrasil.org.br/artigos/outros_artigos.asp?m=725. Acesso em: Julho 2009. ANDRADE, R. 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