a aldeia limão verde e a política do spi 1910-1967
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a aldeia limão verde e a política do spi 1910-1967
1 A ALDEIA LIMÃO VERDE E A POLÍTICA DO SPI – 1910-1967 Valdevino Gonçalves Cardoso1 Antonio Jacó Brand2 Introdução: A presente pesquisa tem como o tema “A Aldeia Limão Verde e a Política do SPI 1910 -1967” Trata-se de identificar formação da aldeia Limão Verde localizada no município de Aquidauana-MS e analisar a organização política do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) que afetou diretamente os povos indígenas, entre eles os Terenas da aldeia Limão Verde. Os documentos do SPI fornecem importantes informações sobre a política exercida por esse órgão dentro da aldeia, bem como evidenciam também as ações que os Terenas tiveram junto a essa política, nem sempre aceitando-a e buscando forma para interagir com ela, sendo esse o principal objetivo a ser aqui desenvolvido. Essa documentação oficial somadas a outras que foi constituída principalmente por entrevistas realizadas junto aos índios mais velhos da aldeia e as releituras de algumas obras referentes à história indígenas possibilitaram o desenvolvimento dessa pesquisa e ainda a melhor compreensão deste contexto da história regional, contribuindo assim a história indígena e com a historiografia brasileira. A formação da aldeia Limão Verde Situada a 25 km do município de Aquidauana, localizada na região Noroeste do Estado de Mato Grosso do Sul entre os paralelos 20º18’2”S e 20º22’25” e os meridianos 55º39’57”WGR e 55º42’33”WG, terra esta considerada do referido município de Aquidauana a formação da aldeia Limão Verde que compreende também a aldeia Córrego Seco, não se tem uma data precisa, pois, segundo o ancião Isac Pereira Dias nome este dado pelos não indígenas, já que o mesmo tinha o nome em terena de Atalé,cujo o mesmo veio fugido da guerra do Brasil com do Brasil como o Paraguai. Segundo Isac3: 1 Acadêmico do 6º semestre de História Drº em História da América e profº do curso de História e dos programas de Pós-graduação e Mestrado em Desenvolvimento Local e Educação. 3 Isac Dias, ancião indígena 2 2 Limão Verde foi fundado pelo índio de nome Atalé: conhecido em portugue por nome Manuel Lutuma Dias e sua esposa, que se chamava em portugue Rosa em português foi colocado pelo fazendeiro onde eles trabalhavam. Manuel Lutuma Dias veio corrido da Guerra do Paraguai e quando a Guerra acabou ficou trabalhando junto com a sua mulher (DIAS 2009)³. A formação da aldeia Limão Verde aconteceu de forma contínua e podemos destacar três momentos diferentes: O primeiro momento durante a guerra com a vinda do indígena Atalé (Lutuma) este segundo (Dias) veio fugido, ou seja, a Guerra estava acontecendo naquele período. O segundo momento da formação da referida aldeia acontece no período pós-guerra do Paraguai, tanto é que segundo (Dias) cessando o conflito da Tríplice Aliança, Lutuma foi à busca de outros indígenas que se encontravam em outras regiões ou fazendas e integraram junto a essa comunidade com Lutuma. Conforma a fala de Isac (2009): “plantando e viu que o lugar era bom e saiu a procura dos companheiros que estava espalhado nas fazendas e achou três casais convidou para trabalhar junto na roça, os três chamavam: Wayahó, Paraxu-y e Manekoké”. Tratando ainda do segundo momento da formação da aldeia Limão Verde por nós destacado, Altenfelder Silva (1949, apud VARGAS) relata: Pouco após a campanha do Paraguai, habitavam os terenas segundo eles próprios afirmaram, seguintes aldeias: Ipegue (em área compreendida entre as atuais aldeias Ipegue e Bananal); Imokovooti (nas proximidade da aldeia Caichoeirinha); Tuminiku (nas proximidade da aldeia Bananal); Coxi (próximo ao córrego Taquari); Naxe-Daxe (nas proximidades do córrego do mesmo nome); Hákoé (nome terena para afruta do pindó, situava-se a aldeia e uma légua de Tuminiku); Moreira e Akoelá (ambas na proximidade de Miranda); Kamakuê (próximo a aldeia de Duque Estrada); Brejão (próximo a Nioaque); Limão Verde (próximo de Aquidauana). O terceiro momento (apesar das existências indígenas muito antes) da formação da aldeia Limão Verde que observamos foi à chegada de um bandeirante paulista por nome de João Dias, que morava no lugar onde hoje é o município de Aquidauana, este bandeirante era casado com uma índia e deslocou-se primeiro para o lugar chamado Morrinho, e trabalhava com roças e criações no lugar onde hoje é a aldeia Córrego Seco, com a morte desse bandeirante seus filhos dirigiram-se para aldeia Limão Verde (CARDOSO,1976): 3 Contaram-nos que a comunidade existe desde a Guerra do Paraguai e que teria fundada por um tal João Dias, bandeirante paulista. Este bandeirante vivia com uma índia Terena, no lugar onde é hoje Aquidauana, teria cedido sua gleba para a fundação da cidade, mudando se para Morrinho, uma légua a noroeste da Aquidauana. Trabalhava no lugar chamado Córrego Seco, a uma légua do Morrinho, com gado e roçado. Depois de sua morte, seus filhos abandonaram Morrinho e foram para o Córrego Seco, no lugar chamado Limão Verde. O capitão do Limão Verde – onde já deveria existir uma pequena concentração de índios Terena – era o célebre Lutuma, conhecido em toda região por seus feitos na Guerra do Paraguai (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, p. 80) Durante a formação até os dias de hoje encontramos na aldeia Limão Verde, indígenas de outras localidades ou reservas indígenas, como afirma o autor acima citado: “que se dispersaram em regiões diferentes durante a Guerra do Paraguai, e alguns inclusive vindos do Chaco Paraguaios. Estes originários do Chaco foram denominados por Paraguaios e mestiços” (CARDOSO, 1976). É evidente que a miscigenação ocorreu na aldeia Limão Verde, pois este lugar serviu de refúgio para todos aqueles que fugiam da guerra, esta mestiçagem ocorreu entre os indígenas Terenas e Guaicurús (kadiwéus) e não indígenas (Paraguaios), com afirma Cardoso de Oliveira: De toda comunidade Terena, parece que Limão Verde é aquela cuja composição étnica é a mais variada. Provavelmente mais ainda que o Lalima. Apenas no núcleo Limão Verde há 10 famílias brasileiras e duas paraguaias, alem de muito mestiço de origem Terena. (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, p.81). Tratando da mestiçagem indígena ocorrida durante a formação da aldeia Limão Verde outro ancião daquela localidade, o Sr. Félix de Souza relatou-nos que seus pais eram mestiços a avó Terena e o avô Guaicuru: “a minha vó era Terena e meu vô era Guacuru, que participou da guerra, minha mãe conta que ela só comia castanha de coco, meu avô tinha ido à guerra lutar com o exército ele e todos os homens inclusive os rapazes.”...(Félix de Souza, 2009). É evidente que seria impossível a mestiçagem na aldeia Limão Verde, pois, o lugar serviu de refúgio para os indígenas vindo da Guerra, porém esta estratégia de refúgio deparou-se com a falta de uma política a favor dos indígenas, cujas proximidades junto ao município de Aquidauana e as formações de fazendas próximas a aldeia, não evitou a mestiçagem entre os indígenas e a invasão por parte de não indígenas naquela localidade dando origem ao sistema de perda territorial ou ao 4 confinamento. A sobrevivência dos indígenas no âmbito social, político e cultural deuse graças ao perfil lutador e guerreiro dos indígenas Terenas, vindo com eles desde a guerra até os dias atuais fazendo com que pudessem formar e manterem aquela localidade como reserva indígenas até os dias atuais. A Aldeia Limão Verde e a Política do SPI. Ao tratar da política do SPI (Serviço de Proteção aos Índios), é notório a criação deste órgão pelo Estado em 1910 para que as articulações políticas fossem de acordo com a vontade dos dirigentes políticos da época e não correspondiam com o modo de ser indígena. A primeira idéia deste órgão era o de civilização e catequização nota-se ai uma parceria entre Estado e Igreja, ou seja, este órgão não correspondia com o rótulo de SPI, pois as organizações indígenas foram afetadas, havendo Serviço para o Estado mais a Proteção dos Índios não ocorreu principalmente na aldeia Limão Verde é o que veremos mais adiante. Retomando as parcerias entre Igreja/Estado (LIMA, 1995) e a criação do SPI, nota-se que a atuação da Igreja (catequização) neste período perante aos Terenas foi: “nada mais que um extermínio das culturas religiosas tradicionais indígenas”, principalmente os Terenas da aldeia Limão Verde onde houve a construção da igreja de pedra (católica) em 1924 e logo após a construção da primeira igreja protestante em 1933 denominada de MIU (Missão Indígenas Uniedas) evidentemente não se pratica mais os rituais tradicionais naquela localidade. Já o Estado com a política de (civilização), apoiava a iniciativa de catequização, pois, isso tornaria mais fácil a “civilização” e conseqüentemente a integração dos indígenas a uma política que se denominava “nacional”. Seria o índio um estrangeiro? Como? Conforme Lima: Indígenas selvagens, isto é – brasileiro a condições de brutos, inúteis e a coletividade e, o que é mais de um ponto, o aproveitamento de terra e das forças naturais, ele inclusive, e sendo exterminadas barbaramente, como feras, por pseudocivilizados sem consciência e sem alma, a quem os índios involuntariamente prejudicavam na tranqüilidade e na cobiça (...) (Lima 1995, p. 113). “Apesar da parceria entre os Estados e a Igreja na criação do SPI, é necessário focalizar que houve, no entanto alteração política entre os parceiros e o Estado achava se necessária outra substituição para essa parceria dando continuidade a esta política 5 positivista, que foi encontrada junto aos militares” (Lima, 1995, p. 115). Nessa época um militar era um funcionário público, ou seja, trabalhador a serviço do Estado, com isso aparece a figura de Cândido Rondon, um militar: Os vínculos sociais são mais extensos. Cândido Rondon fora, em 1882, durante a sua formação militar, amanuense da secretária do 2º Regimento de Artilharia a Cavalo, servindo na 4ª bateria, comandada pelo à época capitão Hermes da Fonseca, tendo sido na mesma companhia e sob o mesmo comando elemento de ligação entre Marinha e Exército no episódio da Proclamação da República (LIMA, 1995, p. 64-65) Tratando da política do SPI na aldeia Limão Verde ela não poderia ser diferente, os propósitos positivistas dos militares ambiciosos por terra, principalmente no final da Guerra do Brasil com o Paraguai ficou clara que o órgão estatal não evitou a desterritorialização dos indígenas Terena da aldeia Limão Verde, um exemplo disso foi o relatado por outro ancião da referida aldeia o Sr. Juventino Francisco Dias, pois o lugar de seu nascimento antes denominado Rancharia, nome este dado devido as construções indígenas baseadas em palhas da planta do Vacuri (casa tradicionais), hoje é uma área invadida por pastos e com o nome alterado pelo nome de Amabaí, nome dado aos fazendeiros, novos proprietários da região. Até hoje essa é uma área de lutas por partes dos indígenas para que seja reconhecida como terra tradicional. O senhor Juventino reforça a idéia da formação da aldeia pelo indígena Lutuma: “Eu nasci aqui NE/ Eu sou nasci aqui na região do Amambaí né? Lá que nosso povo, era só família do meu pai né? Alípio..E aqui é família de minha mãe que é Lutuma, Henrique né? Ce chegou a conhecer a história dela né? Lutuma, então é esse ai são família de minha mãe né? Eu nasci aqui no Amambaí né? (...)Lutuma o primeiro fundador foi ele né? O pessoar do meu pai é fundador ali do Amambaí nos chamava de ardeia né é chamado é...rancho, que tinha só rancho ali era só de paia né? De paia de bacuri, então pessoar falava de rancharia porque ali era o lugar do pessoar, morava ali naquela cabeceira do corgo ali né? Tudinho até aqui em baixo onde nasce o corgo nascente né? João Dias i ali tudo nosso povoado né? Onde plantaram aqueles pé de manga antigo ali ta, ainda existe agora então por isso que nos chamaram de rancharia ali...” (DIAS, 2009) O Sr. Juventino relatou-nos que durante a existência do órgão indígena SPI, tratando-se de auxílio para socorrer os indígenas das doenças, os atendimentos prestados aos mesmos não era suficiente e com muita precariedade ou chegava de forma 6 tardia que quando da chegada do auxílio médico, medicamentos ou transportes para hospitais e farmácias muitos indígenas haviam falecidos ou até mesmo sarados de suas enfermidades pelos medicamentos tradicionais baseados em ervas após as consultas dos pajés ou curandeiros da aldeia. É evidente que com a perda de território, houve dificuldades em buscar medicamentos tradicionais como ervas e plantas para os tratamentos de muitas doenças, pois, muitas destas plantas se encontravam cercadas em campos agora pertencentes a novos “donos”, com gado e coberta por pastos. Caso que ocorresse de alguns indígenas sair é busca de medicamento para o tratamento de doenças na época em regiões ocupado agora por fazendeiros os indígenas eram considerados invasores sendo necessário agora todo um cuidado durante a busca de medicamentos tradicionais. Muitas vezes quando não da proibição os indígenas eram alertados por parte dos proprietários das terras para não levarem cachorros e muito menos para não fazerem barulhos, pois segundos os proprietários o silêncio era necessário para não espantar os gados. Conta-nos Juventino: Naquela época não tinha transporte, naquela época que conheço não tinha nada, só careta mesmo, de boi, não tinham onde corre, não tinha dotor muito difícil né, ai em mil novecentos e sessentas por ai que começou dotor né e foi Aquidauana foi crescendo né, então, então o SPI trazia remédio de vez enquanto, (...) então aquele tal de doença, maleita né aquele que trema que fica com frio né, aquele que era doença antigamente a catapora, catapora o pessoar tomava remédio do mato né, esse pa catapora tem o tar de sabugueiro, né então aquele lá é muito bom pa catapora não toma outro remádio só aquele lá ai depois que sara um pouquinho já toma banho de folha de guavira, cozinha ele bastante toma banho, aquele lá vou te fala é um remédio muito bom, só esse que esse ai que sei que é bom pra catapora, né? benzendo também existia,isso ajudava, finado do meu pai gostava de ajuda. (DIAS, 2009) Com os relatos dos velhos anciões e algumas pesquisas bibliográficas, observamos que a política do SPI na aldeia Limão Verde não foi aplicada e nem deveria, de acordo com as necessidades indígenas, pois, a criação deste órgão aliado ao positivismo militar 1910, foi mais que um treinamento militar junto aos selvagens, pois não havia na falta de treinamento militar na época nas selvas os militares executavam seu treinamentos dirigindo-se nas regiões onde haviam indígenas associando suas ações ao termo de proteção, havendo no entanto outro tipo de política dentro da organização do SPI, a do Estado e seus aliados. (Lima. 1990) 7 O Estado ao atuar sobre os indígenas do Limão Verde era o continuísmo do processo na qual damos o nome de desterritorilização, que ocorreu com os povos chaquenhos principalmente os dos grupos Guaná (Terena, Laiana, Kinikinau e Exeoladi) sendo que a maioria desse povo ou etnias desapareceram ou se aliaram dirigindo-se as aldeias terenas durante ao longo período da guerra com o Paraguai: Os exeoladi teriam desaparecidos, por ocasião da Guerra do Paraguai; em relação aos Laianas e os Kinikinaus – que por esse tempo deveriam ter respectivamente, 300 e 1000 indivíduos -, atualmente com já sublinhamos deles não só registra uma só comunidade, havendo apenas um número bem reduzido de remanescentes espalhados pelas aldeias Terena (CARDOSO DE OLIVEIRA, p. 26) A presença do SPI e de missionários nas áreas indígenas, não só causaram transformações culturais religiosas, na chamada conversão, mas principalmente conflitos políticos entre os próprios índios, motivando as divisões externas que ocorrem até hoje na aldeia Terena. Durante a nossa pesquisa observamos em um pequeno espaço de terra várias congregações evangélicas e dois líderes indígenas (caciques) e três associações de moradores: Essa tensão que se cria entre missionários evangélicos e funcionários do SPI, naturalmente não deixam de se refletir na forma de conversão. Noutras palavras o individuo passam do grupo “católico” ao “protestante”, ou vice-versa, são em regras levados por uma multiplicidade de razões (...). Podemos registrar muitos casos, por exemplo, de indivíduos (e mesmo famílias inteiras) que adotaram outra religião por questão de desavenças na comunidade. Mas comum ainda, era a canalização para o grupo “protestante” dos descontentes com a administração do posto. Mas oque deve acentuar é que nem por isso esses indivíduos continuavam necessariamente no novo grupo político e religioso de adoção, desde que a primeira oportunidade mudavam novamente, passando com relativa facilidade de um para outro grupo, de acordo com a conjuntura política no momento (...) (CARDOSO DE OLIVEIRA p. 98) Hoje a aldeia Limão Verde tem mais duas aldeias que se formaram no mesmo território da aldeia devido ao processo anteriormente relatado, são elas: aldeia Cruzeiro, Buritizinho de além da existente aldeia de Córrego Seco que buscam até hoje reconquistar seus territórios perdidos durante o período do SPI. Um exemplo claro dessas lutas aconteceu em fevereiro de 2008, onde a fazenda denominada Amambaí local do nascimento do Sr. Juventino Francisco Dias, foi ocupada por vários indígenas das aldeias acima citadas na tentativa de pressionarem as autoridades responsáveis pela 8 regulamentação territorial alegando a demora nos procedimentos judiciais. Durante o acampamento dos indígenas na área que os Terenas reivindicavam alguns funcionários da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), ficaram detidos para que os processos fossem acelerados e resolvidos o mais rápido possível, acha vista que o aumento da população indígena inevitavelmente causou o confinamento desses povos, um exemplo desse aumento populacional foi a existência de duas escolas dentro da aldeia Limão Verde, uma do Ensino Fundamental e a outra de Ensino Médio, funcionado em três períodos manhã, tarde e a noite respectivamente. O confinamento gerado na gestão do SPI na aldeia Limão Verde tem causado de forma contraditória a saída e o retorno de várias famílias indígenas eu deixaram a aldeia a procura de melhores condições de vidas, pois, o espaço territorial já não permite que os Terena sobrevivam como de costumes tradicionais e muito menos a produção de alimentos para suas sobrevivências não é o suficiente quebrando o perfil tradicional do Terena que é o de grande agricultores habilitados nas plantações de onde também praticam comércios vendendo seus produtos colhido das roças como no período do Chaco. A partir do SPI, com o sistema de aldeamento, os indígenas passaram de agricultores a servidores (tempo de servidão) de mão-de-obra barata nas fazendas como ocorrem hoje nas usinas de cana-de açúcar que se instalam nas regiões do Estado de Mato Grosso do Sul, observamos a ausências de vários indígenas na aldeia Limão Verde, muitos estavam na usinas e outros se encontram nas periferias das cidades principalmente na capital do estado – Campo Grande – concentrando – se nas chamadas aldeias urbanas Marçal de Souza e Tarsila do Amaral. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante a formação da aldeia Limão Verde junto ao SPI, órgão responsável para atender aos indígenas na época, não foi de garantir a proteção e de realizar as reivindicações dos Terenas previstas em seu regulamento aprovado por meio Decreto nº 8.072, de 20 de junho de 1910, não evitando a invasão de fazendeiros ou não índios na área indígena da aldeia Limão Verde, mas tratou de limitar os espaços territoriais, causando confinamento e conseqüentemente conflitos entre os indígenas e os fazendeiros próximos. Durante o governo do então estado de Mato Grosso, houve uma confusão proposital da legislação denominada “Lei de Terra” criada em 1950, a qual determinava 9 que a partir desta data as terras, incluindo ai as terras indígenas, poderiam ser compradas ou vendidas sem precisar a aprovação do governo. Esta lei tinha como finalidade de forçar a colonização de mais terras e autorizava o governo o governo a vender por leilão as “terras de volutas”. Nesse período muitos territórios tradicionais indígenas foram tomados e vendidos. (BITTENCOURT E LADEIRA, 200: 75) Na aldeia Limão Verde as terras indígenas não tiveram uma atenção por parte do SPI e demarcada por Rondon como aconteceu nas outras reservas indígenas onde habitavam os povos Terenas. Com isso os fazendeiros apossaram-se das terras dos indígenas. No entanto até hoje a aldeia os Terenas esperam por legalizações de suas terras pressionadas pelo aumento populacional que ocorrem na aldeia desde o final do século XIX e início do século XXI. Outras formas alternativas dos povos Terenas para sobreviverem ao sistema aplicado pelo Estado registrado por nós foi o deslocamento destes povos para as cidades próximas a procura de emprego passando a viver em condições subumanas nas mais diversas regiões do Estado, provocado principalmente pelo processo de desterritorialização ocorrido no período do SPI. Apesar dessa alternativa de vidas os indígenas não perderam sua identidade étnica, sendo inevitável reconhecê-lo como agentes históricos que durante vários séculos de lutas e desafios construindo sua própria história. Referencias: 1 - Fontes orais: DIAS, Isac Pereira. Ancião da aldeia Limão Verde, entrevista realizada 06/04/09. DIAS, Juventino Francisco Dias. Ancião da aldeia Limão Verde, entrevista realizada no 07/04/09. SOUZA, Félix de. Ancião da Aldeia Limão Verde, morador atualmente na aldeia urbana Tarsila do Amaral, entrevista realizada no dia 28/07/09. 2 - Fontes bibliográficas: OLIVEIRA, Roberto Cardoso. Do Índio ao Bugre: O processo de assimilação Terena. Rio de Janeiro, F. Alves. 1976. LIMA, Antônio Carlos de Souza. Um Grande Cerco de Paz. Tese (Doutorado), 1995, (UFRJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro. 10 VARGAS, Vera Lucia Ferreira. A Construção do Território Terena (1870-1960): Uma sociedade entre a oposição e opção. Tese de mestrado, 2003 (UFMS) Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.