A COLONIZAÇÃO INGLESA NA AMÉRICA DO NORTE Embora

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A COLONIZAÇÃO INGLESA NA AMÉRICA DO NORTE Embora
A COLONIZAÇÃO INGLESA NA AMÉRICA DO NORTE
Embora tenham o mérito do pioneirismo, Portugal e Espanha não foram os únicos países europeus a colonizar a
América. Em diferentes momentos, a França, a Holanda e a Inglaterra também investiram na exploração do novo
continente, contestando a divisão do território entre espanhóis e portugueses imposta pelo Tratado de Tordesilhas.
O primeiro país a fazer isso foi a França, que no sul do continente encontrou terreno propício para promover o
contrabando de pau-brasil. No norte, os franceses conquistaram a região que corresponde hoje ao Canadá, onde
fundaram Quebec, em 1607. A seguir, dominaram a região chamada por eles de Louisiana, em homenagem ao rei
francês Luís XIV, hoje um estado ao sul dos Estados Unidos.
Os holandeses deixaram claro que seu principal interesse em terras americanas eram os negócios relacionados à
produção de açúcar. No século XVII, depois de expulsos de Pernambuco, instalaram-se nas Antilhas e no atual
Suriname. Os ingleses, por sua vez, colonizaram algumas ilhas do Caribe, como Barbados e Jamaica, tomadas aos
espanhóis no século XVII. Seu maior empreendimento, contudo, seria a conquista, a ocupação e a colonização de
territórios na costa atlântica da América do Norte, a partir de 1607. Nessa extensa faixa litorânea, eles fundaram
treze colônias, onde, como veremos, acabou se desenvolvendo uma sociedade singular.
1. POVOAR E PRECISO
Ao contrário do que ocorreu na parte da América colonizada por espanhóis e portugueses, a colonização inglesa
no norte do continente não foi feita pelo Estado, mas por empresas privadas. O processo de ocupação também
foi bem diferente: as colônias inglesas na América do Norte receberam, desde o começo do século XVII, enorme
fluxo de europeus em busca de oportunidades nas novas terras.
Segundo o economista Celso Furtado, calcula-se que, durante quase três séculos — de 1509 a 1790 —, cerca de
150 mil pessoas deixaram a Espanha em direção à América. Já da Inglaterra, somente no século XVII saíram aproximadamente 500 mil. As razões para que tantos ingleses deixassem suas terras e decidissem viver no novo continente não foram poucas.
A partir do século XV, a Inglaterra passou por um lento processo de mudanças na organização do trabalho e na
estrutura da propriedade rural, com conseqüências desastrosas para a população camponesa. A valorização da lã
como matéria-prima na fabricação de tecidos nos Países Baixos levou muitos senhores de terras a cercar as terras comunais, antes utilizadas pelos camponeses, para criar ovelhas.
Esse processo de cercamentos, como ficou conhecido, estendeu-se também a vastas áreas anteriormente ocupadas pelos camponeses, provocando desemprego e migrações de trabalhadores do campo para a cidade, onde
nem sempre encontravam ocupação. Isso fez com que, no decorrer do século XVII, muitos deles, ou seus descendentes, emigrassem para a América do Norte.
Outra razão importante que explica a transferência em massa de ingleses para o novo continente foram as guerras e perseguições religiosas dos séculos XVI e XVII. Na Inglaterra, as principais vítimas dessas perseguições eram
os puritanos, que em grande número acabaram se refugiando na América.
2. AS TREZE COLÔNIAS
O primeiro navegador a serviço da Inglaterra a explorar o continente americano foi o genovês Giovanni Caboto
(John Cabot), que esteve na região duas vezes, em 1497 e 1498. Cabot percorreu a Terra Nova, no Canadá atual,
mas não deu início à colonização do território. As primeiras tentativas de povoamento só seriam feitas bem mais
tarde. Entre 1584 e 1585, sir Walter Raleigh fundou na ilha de Roanoke o primeiro núcleo de colonização inglesa
na América do Norte. A povoação, entretanto, desapareceu, possivelmente destruída pelos índios.
Frustrado o primeiro ensaio, a Inglaterra só se lançaria à colonização efetiva da América do Norte em 1607,
quando um grupo de colonos ingleses, agenciados pela London Company, fundou a Virgínia, assim chamada em
homenagem à "rainha virgem", Elizabeth I.
Com grande afluxo de colonos, a Virgínia logo se transformou em exportadora de fumo, produto que tinha boa
aceitação na Europa. Ao sul da colônia, surgiram depois a Carolina do Norte, a Carolina do Sul e a Geórgia. Em sua
fronteira norte, os ingleses fundaram Maryland.
Por sua localização geográfica e pelo seu clima, essas colônias se voltariam para o plantio de produtos tropicais
de exportação, como o fumo, o arroz e, mais tarde, o algodão. O cultivo era feito em grandes propriedades sob
regime de trabalho escravo. Esse sistema, conhecido como plantation, era muito semelhante ao da cana-deaçúcar na colônia portuguesa.
Ao norte da Virgínia, surgiu outro conjunto diferente de colônias. Em 1620, um grupo de puritanos vindos da Inglaterra desembarcou do navio Mayflower e fundou a colônia de Massachusetts. Antes do desembarque, eles
firmaram um pacto de governabilidade, pelo qual assumiram o compromisso de "se congregar num corpo político civil" e de se autogovernar "para o bem geral da colônia".
Algum tempo depois, grupos de perseguidos religiosos estabeleceram, nas proximidades de Massachusetts, as
colônias de New Hampshire, Rhode Island e Connecticut. O conjunto dessas quatro colônias formava a Nova
Inglaterra. Por sua localização, não era possível cultivar ali produtos tropicais de exportação. Além disso, a grande maioria dos colonos era pobre e não tinha meios para administrar propriedades extensas como as do sistema
de plantation, característico das colônias do sul.
Por essa razão, acabou surgindo na Nova Inglaterra um sistema econômico baseado na pequena propriedade
familiar da terra, no trabalho livre e na produção de subsistência. Os colonos da Nova Inglaterra também tiravam seu sustento do mar. A atividade pesqueira, aliada à existência de madeira em profusão nas florestas vizinhas, estimulou a construção de navios, ocupação que logo se tornaria uma das fontes de renda das cidades da
região.
Como a Coroa inglesa estava mais interessada em explorar os produtos tropicais na parte sul da colônia, não
impôs na Nova Inglaterra, de modo rígido, a política de monopólios, característica do mercantilismo. Por isso, os
moradores dessas colônias se viram livres para comerciar e desenvolver certas atividades industriais, como a
própria construção naval.
Ao sul e a oeste da Nova Inglaterra, as regiões de Nova York, New Jersey, Pensilvânia e Delaware formavam outro bloco de colônias. Como se situavam entre as colônias do norte e as do sul, em geral são conhecidas como
colônias centrais. Nessa faixa de terra desenvolveu-se uma agricultura voltada, num primeiro momento, ao mercado interno. Mais tarde, o trigo se transformou no principal produto agrícola e seus excedentes passaram a ser
exportados para as colônias inglesas das Antilhas. Assim como nas colônias do norte, as atividades comerciais e
manufatureiras das colônias centrais assumiram grande importância econômica.
Uma brecha na política mercantilista
As medidas restritivas com respeito à produção manufatureira que a Inglaterra impunha às suas colônias, na
época mercantilista, tiveram de ser aplicadas de forma muito especial na América do Norte, pelo simples fato de
que o sistema de agricultura de exportação não dera resultado nas colônias do norte. As linhas gerais da política
inglesa passaram a ser as seguintes: fomentar nas colônias do norte as indústrias que não competissem com as
da metrópole, permitindo a esta reduzir suas importações de outros países. As medidas coercitivas começam a
surgir quando as colônias do norte chegam a concorrer com a metrópole nas exportações de manufaturas.
A gênese da cidadania americana
Durante boa parte do século XVII, a Inglaterra esteve envolvida em guerras civis, em disputas entre o Parlamento
e o rei e em conflitos na Europa. Isso de certa forma impediu que o país exercesse um controle mercantilista mais
rígido sobre suas colônias. Só que, mesmo ocupada em resolver tantos problemas, a Coroa inglesa não deixou de
arregimentar colonos para o empreendimento de povoar e explorar as novas terras na América. E, com o firme
objetivo de atraí-los, chegou a conceder-lhes o direito de se reunir em assembléias e de votar suas próprias leis e
impostos.
A essas circunstâncias favoráveis acabaram se somando as características peculiares dos colonos interessados
em deixar a Inglaterra. Muitos deles eram adeptos de seitas religiosas — como os puritanos e os quakers —, que
viviam em "rota de colisão" com a religião oficial da metrópole, o anglicanismo. Por isso, quase sempre suas decisões divergiam das determinações do governo inglês.
Ao chegar à nova terra, essas pessoas estabeleceram formas de poder político coerentes com suas concepções e
experiências. Dessa iniciativa, surgiu a prática do autogoverno (self-government).
O governador de cada colônia geralmente era nomeado pelo rei, mas havia também, como órgão de poder, uma
assembléia de representantes eleitos pelos próprios colonos. As assembléias desempenhavam funções legislativas e deliberativas. Embora o governador detivesse o poder de veto, com o tempo os colonos impuseram uma
tradição de respeito às decisões da assembléia. Conseguiram essa vitória usando como meio de pressão a recusa
em aprovar novos impostos ou em votar iniciativas do governador.
Durante certo tempo, os colonos de algumas colônias da Nova Inglaterra chegaram a eleger seus governadores,
além dos delegados que integravam as assembléias. Essa experiência, totalmente nova num mundo regido por
monarcas e poderes absolutistas, seria decisiva para a formação da concepção moderna de cidadania.
Os quakers e a Pensilvânia
Por volta de 1652, surgiu na Inglaterra uma seita de tradição protestante denominada Sociedade dos Amigos.
Fundada por William Fox, a seita opunha-se ao que chamava de excessos da Igreja Anglicana, mas também rejeitava o calvinismo. Seus adeptos eram ridicularizados com o nome de quakers, que significa "trêmulos". Fox e
seus seguidores preconizavam o pacifismo, a pureza moral, a solidariedade e a vida simples e frugal. Perseguidos
ferozmente por Carlos II na Inglaterra, os quakers emigraram em massa para a América, onde fundaram, em
1681, sob a liderança de William Penn, a colônia da Pensilvânia.
Intenso cicio comercial
Em meados do século XVII, os holandeses introduziram a produção de açúcar em ilhas de colonização francesa e
inglesa na região das Antilhas. Essas ilhas, até então ocupadas por pequenos proprietários, logo se converteram
à monocultura da cana, e o trabalho livre deu lugar à mão-de-obra escrava.
Extinta a economia de subsistência, a região passou a ser abastecida por gêneros alimentícios importados da
Nova Inglaterra, que encontrou, desse modo, uma possibilidade de escoar seus excedentes.
Com o tempo, essa atividade deu origem a um intenso comércio entre a Nova Inglaterra, as Antilhas e a África.
Da Nova Inglaterra, os comerciantes saíam com carregamentos de trigo, peixe seco, madeira e outros artigos
para vender nas Antilhas. Na volta, além de açúcar, transportavam melaço, utilizado como matéria-prima na produção de rum. A bebida, levada em barris para a África, era trocada por escravos que, por sua vez, seriam transportados para as Antilhas e vendidos aos senhores de engenho.

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