universidade de são paulo escola de educação física e esporte
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE DEPARTAMENTO DE ESPORTE CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA ALEXANDRE LIMA ZENI SÃO PAULO 2002 ALEXANDRE LIMA ZENI CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA Monografia apresentada à disciplina Monografia em Esporte III, do Curso de Bacharelado em Esporte, do Departamento de Esporte. ORIENTADOR: PROFESSOR DR. ANTÔNIO CARLOS SIMÕES SÃO PAULO 2002 RESUMO 2 CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF E FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA AUTOR: Alexandre Lima Zeni ORIENTADOR: Prof. Dr. Antônio Carlos Simões A preparação física vem sendo apontada como um dos principais componentes do desempenho esportivo. Diversas modalidades desenvolvem estudos e pesquisas sobre o assunto visando obter um conhecimento específico que possa ser aplicado no treinamento dos atletas. No surf, porém, ainda existe uma enorme carência de produção científica nas áreas de fisiologia, biomecânica ou controle motor, entre outras, o que certamente dificulta não só o planejamento e periodização do treinamento como toda a estrutura e evolução do esporte. Por ser atualmente uma das modalidades mais populares no Brasil e no mundo, o surf atrai cada dia novos adeptos em busca dos prazeres de deslizar sobre o oceano. Ao aprenderem os fundamentos e noções básicas para a prática, os surfistas envolvem-se num estilo de vida indescritivelmente prazeroso e desafiador, contagiando-se pelo espírito de liberdade de deslizar sobre as ondas. 3 SUMÁRIO 1. 2. 2.1 2.2 2.3 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4 2.5 2.5.1 2.5.2 2.5.3 2.5.4 2.6 2.6.1 2.6.2 2.6.3 2.6.4 2.7 2.8 2.9 2.9.1 2.9.2 2.9.3 2.9.4 2.9.5 2.9.6 2.9.7 2.9.8 2.9.9 Resumo..........................................................................................................03 INTRODUÇÃO.............................................................................................05 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................06 A História do Surf..........................................................................................06 O Surf no Brasil.............................................................................................08 Atividades Físicas de Aventura na Natureza.................................................10 Variáveis Naturais do Surf.............................................................................11 Ondulação......................................................................................................11 Fundos............................................................................................................12 Ventos............................................................................................................12 Marés..............................................................................................................13 Equipamentos.................................................................................................13 Prancha...........................................................................................................13 Parafina...........................................................................................................15 Leash...............................................................................................................15 Roupa de Neoprene.........................................................................................16 A Preparação Para o Surf – Aspectos Técnicos, Táticos, Psicológicos e Físicos.............................................................................................................16 Preparação Técnica.........................................................................................16 Preparação Tática............................................................................................17 Preparação Psicológica...................................................................................17 Preparação Física............................................................................................18 Caracterização das Capacidades Físicas do Surf............................................19 O Equilíbrio Como Parâmetro Motor da Eficiência das Habilidades dos Praticantes do Surf..........................................................................................23 Fundamentos Para a Prática e Principais Manobras.......................................26 Remada...........................................................................................................27 Joelhinho.........................................................................................................27 Sentar na Prancha............................................................................................28 Drop.................................................................................................................28 Cavada.............................................................................................................29 Cut Back..........................................................................................................29 Batida...............................................................................................................30 Floater..............................................................................................................30 Tubo.................................................................................................................30 4 3. CONCLUSÃO.................................................................................................32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................33 1. INTRODUÇÃO O surf é uma das modalidades esportivas que mais se desenvolveu nos últimos anos. Prova disso é o significativo aumento de seu número de praticantes e as proporções alcançadas pelo seu mercado em nível mundial. A imagem do surf já não é mais aquela de tempos atrás, quando os surfistas eram vistos como irresponsáveis e desocupados. Pelo contrário, com a evolução do esporte existe atualmente um grande número de pessoas que vivem do surf e protagonizam um estilo de vida saudável e profissional. Desde sua criação pelos polinésios, seu desenvolvimento junto aos povos havaianos e sua introdução nas sociedades ocidentais, o surf sempre apresentou uma estreita relação com o bom condicionamento físico. Mesmo assim, tudo que se sabe por enquanto está baseado mais na observação e no senso comum do que na ciência, diferente de outras modalidades que apresentam padrões bem definidos que facilitam bastante o entendimento e evolução de sua prática. Tal dificuldade se explica por não ser possível a reprodução fidedigna dos movimentos executados durante o surf, já que as condições naturais se alteram a cada instante como conseqüência da ação dos ventos, correntes, ondulações e marés. Apesar disso, o surf é atualmente um dos esportes mais praticados no Brasil e no mundo, representando uma opção de lazer, saúde e desafio a todos os seus praticantes, além de ser uma modalidade repleta de história, cultura e grandes personagens. 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A HISTÓRIA DO SURF De acordo com KAMPION e BROWN (1998), o culto do surf nasceu num passado distante irrecuperável – ninguém sabe onde ou como ao certo. O primeiro povo a fazer-se ao oceano em barcos, de certeza apercebeu-se rapidamente da capacidade inerente das ondas para impelir ou se opor a uma embarcação. Talvez a resposta esteja no DNA dos habitantes costeiros da África Ocidental ou do Peru, onde os dois maiores poderes naturais eram o arco-íris e as ondas. Segundo FINNEY e HOUSTON (1996), tudo começou aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, quando os ancestrais dos polinésios e outros habitantes do Pacífico começaram-se a mover para explorar e colonizar esta vasta região. Ninguém sabe exatamente quem primeiramente idealizou a idéia de domar as constantes ondulações que faziam parte do dia a dia das ilhas. Para os autores, o ato de surfar uma onda era uma atividade recreacional que provavelmente fazia parte da adaptação destes pioneiros para adentrar o Oceano Pacífico. Já para LORCH (1980), o surf vem sendo praticado desde 900 antes de Cristo, quando o rei Moikeha, do Taiti, resolveu velejar até o Havaí só para surfar. Além de encontrar ondas perfeitas, o rei também foi presenteado ao receber da monarquia local a oportunidade de casar-se com duas princesas havaianas. FARIAS (2000) afirma que alguns indícios apontam 1.500 anos atrás como sendo o período em que os Polinésios desciam as ondas com pranchas de surf de madeira. Era um ritual festivo onde os chefes agradeciam aos deuses a fartura do mar, 6 das ondas e os prazeres de brincar nas suas águas. Apesar da diversidade de informações, o que se sabe é que a semente do surf surgiu no Pacífico Sul e no início era apenas diversão, o puro prazer de deslizar sobre as ondas. KAMPION e BROWN (1998) relatam que ao regressar à terra firme após horas ou até mesmo dias trabalhando mar afora, descobriu-se ser mais emocionante e desafiador descer as ondas de pé sobre o casco das embarcações. Navegando pelos padrões que os ventos, a terra e as correntes criavam na água e seguindo o caminho das estrelas e do coração, os aventureiros polinésios cruzaram o Equador. Vieram do sul, a remar sobre as suas grandes canoas de viagem, embarcações de casco duplo equipadas com velas de folhas de pândano tecidas. Sem saber ao certo para onde iam ou o que iriam encontrar, atravessavam lentamente a imensidão do Pacífico. Chegaram às ilhas mais remotas da terra pelo arquipélago havaiano, encontrando apenas formações rochosas, tempestades e furacões de Kona (Kona wind = vento que sopra no Havaí), produzindo um inconsciente coletivo fundamental para o desenvolvimento de uma grande mitologia cultural. Uma vez no Havaí, os exploradores deram origem a uma nova civilização, adaptando a mitologia e o modo de vida das ilhas à sua cultura, especialmente no brincar com as ondas do oceano. As tarefas diárias eram deixadas de lado sempre que houvesse um bom surf. Os homens, as mulheres, os jovens, todos participavam, até mesmo a realeza das ilhas, que por seu grande amor à atividade, davase ao luxo de reservar os melhores locais para uso particular. Na segunda metade do século XVIII, os primeiros havaianos continuavam a ser peritos do surf. Como uma árvore, a força dessas antigas raízes polinésias continua a ser a fonte de vida na cultura moderna do surf. Infelizmente, as poucas relíquias que encontramos de 200 anos atrás escassamente revelam o que se passou antes da frota de dois navios do Capitão James Cook, Resolution e Discovery, avistarem as ilhas em 1778. Segundo CARROLL (1991), a carreira de navegador e escritor do capitão James Cook, descobridor das ilhas havaianas, acabou abruptamente no dia 14 de fevereiro de 1979, quando um grupo de nativos enfurecidos atacou e matou o capitão e quatro de seus marinheiros. Seu segundo comandante, James King, foi então o responsável por descrever o espetáculo que era o surf no antigo Havaí. 7 Para KAMPION e BROWN (1998), a chegada do homem branco trouxe todo tipo de novidades às ilhas: metais, armas, uniformes e uma nova religião, levando o Havaí a um século de desintegração cultural, que culmina no desmoronamento da antiga cultura do surf. No virar do século as ilhas tinham se tornado território americano, a população de havaianos puros foi dizimada pelas doenças, os nativos eram sobretudo cristãos e o surf regredira pelo menos 100 anos. Muitos surfistas resistiram à colonização branca, mantendo o surf como a mais amada e praticada atividade cultural. Com a ida de inúmeros turistas para o Havaí, aumentava o interesse e o mercado do surf. Destaque nessa época para o jovem Duke Kahanamoku, que introduziu pranchas mais largar e facilitou o aprendizado aos visitantes ávidos por surfar uma onda. Nascido em 1890, Duke transformou-se num esportista fenomenal, ganhando duas medalhas de ouro olímpicas (1912 e 1920) e batendo o recorde mundial dos 100 metros livres em 1914, com 53,8 segundos. Após as Olimpíadas de Estocolmo, na Suécia, foi tratado como um rei ao viajar pela Europa e Estados Unidos. Sua popularidade era tanta que chegou a gravar sete filmes, contracenando até com John Wayne em “Wake of the Red Witch”, em 1948. Em 1914, foi convidado pela Associação de Natação de Nova Gales do Sul para ir à Austrália. Entre as participações em demonstrações e competições de natação, em 23 de dezembro o havaiano fez uma exibição de surf para as multidões de Freshwater, perto de Sidney. Com a semente plantada na América, Europa e Oceania, Duke tornou-se o símbolo universal do surf e do espírito aloha (alo = experiência / há = sopro da vida), sendo lembrado até hoje como o pai do surf moderno. Segundo HALL e AMBROSE (1995), Duke representou os Estados Unidos nas olimpíadas por mais de vinte anos, ganhando não apenas medalhas mas o coração das pessoas de todo mundo. Ele é lembrado como um nadador não apenas por sua incrível velocidade, mas por sua graça na água, seu bom humor e seu espírito esportivo. 2.2 O SURF NO BRASIL Analisando a história do surf em nosso país, pode-se concluir que o seu surgimento e popularização ocorreram em momentos distintos. 8 De acordo com SARLI (2001), o santista Thomas Rittscher afirma não ter visto ninguém surfando no Brasil antes dele. Na praia juntava gente para assistir e o povo dizia “olha o homem andando em cima da onda”. Isso foi entre 1934 e 1936. Segundo GUTEMBERG (1989), em 1938 o santista Osmar Gonçalves ganhou de presente de seu pai uma revista científica norte-americana, que entre outros assuntos ensinava passo a passo como construir uma prancha de surf de madeira. Após mais de três meses de dedicação e trabalho, no verão de 1939, estava pronta a primeira prancha de surf brasileira. Osmar e seu amigo Juá foram durante muito tempo os únicos surfistas no país, desfrutando sozinhos o prazer de deslizar em pé sobre as ondas da Praia do Gonzaga, em Santos. Devido à falta de conhecimento generalizado em relação à atividade, nenhuma outra prancha fora construída, limitando o surf nacional somente aos amigos santistas. O outro momento de destaque da história do surf brasileiro acontece na década de 50. Com o aumento do número de vôos internacionais para o país, sobretudo para o Rio de Janeiro, os estrangeiros puderam descobrir todas as maravilhas de nosso litoral, especialmente as ondas cariocas. Vindos principalmente dos EUA, onde o surf já se desenvolvia há mais de meio século, os pilotos aproveitavam o período de folga no Brasil para descansar e se divertir, e encontraram no surf uma ótima opção. Contagiados pela nova mania que invadia as praias, logo os cariocas que viajavam para o exterior começaram a trazer em suas bagagens algumas pranchas, afim de também desfrutar do prazer proporcionado pelo surf. Nessa época os surfistas concentravam-se em Copacabana, principal reduto “hippie” da juventude. Nos anos 60, contudo, mudaram seu “point” para o Arpoador, buscando isolar-se de dois problemas que transformariam para sempre a vida do Rio de Janeiro: o aterro de Copacabana (para construir um emissário submarino, que acabou com as ondas) e o início da Ditadura Militar, que reprimia todo e qualquer indivíduo que fosse contra seus argumentos (como eram os surfistas, que buscavam viver sempre seguindo o lema “paz e amor” eram vistos como vagabundos irresponsáveis pelas autoridades da época). Com a superação desses obstáculos e a expansão do surf para o sul do país o esporte cresceu num ritmo acelerado, originando as primeiras indústrias e competições nacionais na década de 70. A explosão mesmo veio nos anos 80, com o apoio da mídia e a mudança da imagem do 9 surf perante a sociedade, que passou a encará-la como uma atividade séria e profissional. Segundo ARAÑA e ÁRIAS (1996), foi a partir da década de 60, com as exibições do australiano Peter Troy no Brasil, que a prática tornou-se mais eficiente. Os brasileiros assimilaram as técnicas, aproveitamento das ondas, impulso, e também formas de fabricação de pranchas com fibra de vidro. Atualmente o Brasil é a terceira maior potência do surf mundial, junto com os EUA e a Austrália. Em termos de competições, temos campeonatos e atletas de altíssimo nível, nas categorias amadoras e profissionais, masculina e feminina. Também em nível de educação, encontramos diversas escolas de surf espalhadas por todo o litoral. Além disso, muitos colégios e faculdades ensinam o surf nas aulas de educação física, sem contar o Circuito Universitário, que reúne anualmente mais de dois mil jovens estudantes nas praias de todo o Brasil. 2.3 ATIVIDADES FÍSICAS DE AVENTURA NA NATUREZA De acordo com FEIXA (1995), as AFAN são uma tendência social de se fazer coisas fora do comum e escapar das grandes cidades, com o intuito de recuperar o contato com a natureza. BELTRÁN (1995) relata que essas novas atividades constituem-se em um conjunto de práticas recreativas que surgiram na década de 70, desenvolveram-se, estenderam-se e consolidaram-se nas décadas seguintes como novos hábitos e gostos da sociedade pós industrial, com fins e características totalmente diferentes. Para PEREIRA e MONTEIRO (1995), as AFAN caracterizam-se por movimentos realizados num meio natural, variado e por vezes variável, com controle de eventuais riscos. Nesta área podemos encontrar um vasto leque de atividades físicas e desportivas, como a corrida de orientação, a escalada, os percursos terrestres e o surf, tendo como denominador comum a sua prática num ambiente natural, proporcionador 10 de uma estreita relação dialética com a natureza. Estas atividades são um bom exemplo de prática física e desportiva num ambiente físico de incerteza. A ação concretiza-se num meio enriquecedor, dadas as suas condições de imprevisibilidade, proporcionando situações específicas de aprendizagem que muito enriquecem a estrutura psicomotora dos praticantes. Por isso as AFAN encontram nos jovens diversos motivos de interesse e um público apaixonado. Para ele, as práticas assumem uma nova maneira de viver o esporte, uma maneira original de penetrar e “explorar” a natureza. É a chamada cultura dos “Sports Fun”, que com ingredientes de conquista e liberdade, proporciona emoção e aventura. Para MIRANDA, LACASA e MURO (1995), todas as atividades em ambientes naturais têm como peculiaridades as seguintes características: não está sujeita a horários fixos; sua forma de praticar, intensidade, modo e ritmo podem variar de acordo com cada praticante; são originais e criativas; troca tradicional do esforço por um paradigma de equilíbrio e satisfação; o componente fundamental das atividades de aventura é a sensação de risco, aumentando a motivação e as emoções das atividades. MELO NETO (1995) coloca que o surf surgiu como esporte dos amantes da praia e virou um esporte em ascensão. As razões do seu sucesso explicam-se pela imagem que possui de um novo estilo de vida, saudável, naturalista e irreverente. Pode-se perceber, desta maneira, que o surf é um esporte que representa muito bem as características associadas às atividades físicas de aventura na natureza. 2.4 VARIÁVEIS NATURAIS DO SURF Os oceanos ocupam atualmente cerca de três quartos da superfície do planeta, sendo 53% no Oceano Pacífico, 24% no Atlântico e 23% no Índico. Debaixo de suas águas aparentemente calmas e serenas vivem mais de 250 mil espécies de organismos. Em algumas praias, ao aproximar-se da terra, o oceano oferece ondas perfeitas para a prática do surf. No Brasil, essa afirmação pode ser constatada em diversos pontos dos mais de 8 mil quilômetros de costa. O surf é um esporte praticado em contato direto com a natureza, estando assim sujeito à influência de diversas variáveis que podem interferir na formação e tamanho das ondas. Conjugados, esses fatores irão determinar 11 as condições ideais para a prática do surf, ou seja, de acordo com o posicionamento da praia, a intensidade e direção dos ventos, correntes, ondulações e marés, pode-se decidir qual o local mais apropriado para surfar naquele momento. 2.4.1 ONDULAÇÃO De acordo com GUTEMBERG (1989), os ventos transferem energia para a água criando as ondulações, que carregam consigo quantidades enormes de energia. LORCH (1980) afirma que as longas distâncias entre as massas de terra possibilitam que a energia do vento seja transferida para a água do oceano. No entanto, antes de estas ondas atingirem a costa, o vento tem de satisfazer três condições: (1) soprar sobre a água com velocidade bastante para que a água da superfície se mova; (2) soprar durante um período de tempo não muito curto; (3) soprar sobre uma longa extensão de água. A altura de uma onda é mais ou menos a metade da velocidade do vento. Assim, se o vento sopra a 20 quilômetros por hora, as ondas no oceano podem crescer até 10 metros. Quando as ondulações chegam à praia, formam-se as ondas. Uma onda quebra quando o fundo é suficientemente raso para forçar um movimento abrupto no equilíbrio orbital. Dessa forma, as ondulações inclinam-se para a frente e arrebentam, liberando a energia que carregam desde a sua formação em alto mar. GUTEMBERG (1989) acredita que para cada praia vai existir uma ondulação que quebra melhor do que as outras. Isto é definido pelo seu posicionamento, onde as ondulações podem entrar mais perfeitas ou não, pois as ondulações podem ser barradas por ilhas que estão em frente à praia, costões ou até mesmo morros. Por isso, torna-se importante o conhecimento geográfico para a escolha da praia. 2.4.2 FUNDOS Existem diferentes tipos de fundo espalhados pelas praias de nosso planeta, cada um com características específicas que irão influenciar decisivamente na formação das ondas. 12 Para LORCH (1980), o primeiro é formado por um banco de areia e tem o nome inglês de “beach break”. Uma onda de “beach break” quebra em bancos de areia localizados em partes da plataforma continental, sendo a formação de grande parte da costa brasileira. O fato de o fundo constituir-se de areia não faz o surf tão perigoso, porém torna-o menos previsível, podendo a onda quebrar de diversas formas. Outro tipo são os recifes de coral ou pedra conhecidos por “reef break”, e têm a vantagem de quebrar sempre no mesmo local e de forma previsível, devido ao seu fundo fixo. O perigo é a pouca profundidade e as pedras muito rasas, às vezes até visíveis. O terceiro tipo de arrebentação recebe o nome de “point break” e quebra em uma ponta de terra entrando em direção ao restante da praia em perfeita simetria. O “point break” é quase sempre de pedra e quebra sempre igual às condições de vento e ondulação, sendo a onda formada por seções proporcionais ao fundo sobre o qual estão quebrando. 2.4.3 VENTOS Além da fundamental importância que têm na formação das ondulações, os ventos também são responsáveis por determinar as condições ideais para a prática do surf, dependendo de sua direção e intensidade. Para GRÊ e MEDEIROS (2001), os ventos influenciam diretamente nas ondas, marés e correntes. São formados pelo aquecimento diferenciado provocado pelo sol nos continentes e oceanos. Os ventos se deslocam das áreas de alta pressão para as áreas de baixa pressão, das regiões mais frias para as mais quentes. Durante o dia tanto os oceanos como os continentes recebem a mesma quantidade de luz e calor. Acontece que os continentes se aquecem mais rápido, então os ventos sopram do oceano para o continente (vento maral ou brisa marítima). Durante a noite o processo se inverte, os oceanos retêm mais calor que os continentes, o que provoca uma mudança de direção do vento. Isto explica porque, geralmente, pela manhã o vento está terral, ideal para a prática do surf. 2.4.4 MARÉS 13 As marés, segundo GRÊ e MEDEIROS (2001), são a subida e a descida das águas do mar causadas principalmente pela atração gravitacional da Lua sobre a água da Terra. Diariamente temos em nosso litoral duas marés vazantes e duas marés enchentes. Como as marés determinam os níveis de água nas praias, deverão ser sempre observadas e consideradas no momento de escolher o local mais apropriado para a prática do surf. 2.5 EQUIPAMENTOS O surfista deve conhecer bem os diversos equipamentos para a prática esportiva, pois além de sua influência na performance, são itens fundamentais para a segurança e tranqüilidade dentro do mar. 2.5.1 PRANCHA Segundo LORCH (1980), desde a época dos antigos polinésios as pranchas de surf eram instrumentos feitos especialmente para uma certa condição de mar ou de pessoa. Na antiga Polinésia as pranchas maiores, conhecidas como “ollo”, eram usadas apenas pela realeza, enquanto as menores, ou “alaia”, eram usados pelo povo. Em 1823, de acordo com FINNEY e HOUSTON (1996), o missionário inglês C. S. Stewart observou no Havaí que a prancha de surf era uma propriedade particular entre todos os chefes, homens e mulheres, e entre muitas das pessoas comuns. As antigas pranchas havaianas eram esculpidas em troncos de árvores e chegavam a pesar 80 quilos ou mais, sendo que a primeira gravura sobre uma prancha de surf vem de um desenho de 1778, durante a terceira viagem do capitão Cook ao Pacífico. Para CONWAY (1988), a atual prancha de surf feita de fibra de vidro e poliuretano demorou mais de trinta anos para se desenvolver. Na verdade, FINNEY e HOUSTON (1996) afirmam que a evolução das pranchas e a própria evolução do esporte caminham lado a lado, dependem uma da outra. À medida que a prancha se tornou mais eficiente e acessível, mais pessoas surfaram. 14 LORCH (1980) afirma que com a difusão do surf no mundo várias pessoas tentavam mudar algo nas pranchas em que usavam. No início dos anos 40 o californiano Robert Simmons criou uma prancha de madeira balsa revestida de fibra de vidro. Por apresentar um equipamento leve e viável o surf ganhava mais e mais adeptos. No final da década de 60 as pranchas pequenas já haviam se firmando completamente, o que proporcionou ao surf manobras totalmente novas e inacreditáveis, fazendo o surf atingir dimensões nunca antes atingidas. Outro personagem fundamental para a evolução das pranchas, segundo WARSHAW (1997) foi Tom Blake, que além de desenhar e construir a primeira prancha oca foi também a primeira pessoa a surfar em Malibu, famosa onda da Califórnia. Nas décadas seguintes ele inventou a prancha à vela, a quilha, e ganhou diversos títulos em competições de remada e surf. CABRAL (2000) salienta a importância das condições da prancha, que não devem apresentar rachados, lascas ou pedaços de fibra de vidro quebrado que possam ocasionar cortes e lesões. Para este autor a prancha de surf é composta de diversas partes, entre elas o bico, a rabeta, a borda, o deck (parte de cima da prancha, onde o surfista se levanta), o bottom (parte de baixo da prancha) e as quilhas. ARAÑA e ÁRIAS (1996) esclarecem que as pranchas podem ter tamanhos diferentes. As medidas das pranchas são feitas em pés (unidade de medida linear anglosaxônica, de 12 polegadas, equivalente a cerca de 30,48 cm do sistema métrico decimal), e as pranchas podem variar de 5 até 12 pés de comprimento. Para WERNER (1999), a prancha certa para aprender é grande o suficiente para se remar com facilidade e sentar confortavelmente sem afundar-se. Isso é crucial! O surfista deve escolher uma prancha grande e larga durante a fase de aprendizagem, lembrando apenas que uma prancha muito grande é mais difícil de transportar e manejar durante o surf. Também existem algumas pranchas de espuma disponíveis que são ideais para iniciação. 2.5.2 PARAFINA 15 Para CABRAL (2000) parafina é um dever! Passando uma barra de parafina na sua prancha em movimentos circulares, o praticante estará prevenindo-se de escorregar para fora da prancha quando sentar ou ficar em pé. CONWAY (1988) relata que a parafina é usada na parte de cima da prancha (deck) para dar aderência. Existem muitas variedade, cada uma para diferentes condições climáticas. Uma fina camada de parafina deve ser aplicada na prancha, pois a aplicação excessiva de parafina não ajudará a estabilizar-se mais sobre a prancha. Pelo contrário, seu excesso pode derreter com o sol, grudando areia ou detritos da praia. Esse excesso irá formar uma superfície áspera contra sua pele, causando assaduras na região da barriga. Além disso, a parafina deve ser periodicamente removida e trocada. 2.5.3 LEASH Segundo WERNER (1999), o leash é uma corda elástica que conecta o surfista à sua prancha de surf. Para CABRAL (2000), o surfista deve sempre ter certeza que sua prancha está equipada com leash, pois perseguir uma prancha perdida pode ser frustrante. O leash deverá estar preso no tornozelo da perna que ficará localizada na parte de trás quando o praticante levantar na prancha. Já CONWAY (1988) afirma que a última coisa que um surfista quer é perder a prancha enquanto está surfando, por isso o leash é um acessório muito importante. Seu funcionamento é muito simples, com uma extremidade presa ao deck da prancha e a outra no tornozelo do praticante. Quando o surfista se separa da prancha a onda vai carregá-la até que o leash se estique ao máximo. Então o leash começa a voltar ao seu comprimento original e a prancha retorna ao seu dono. 2.5.4 ROUPA DE NEOPRENE 16 De acordo com CABRAL (2000) uma roupa de neoprene pode ser usada em condições de água fria para evitar a fadiga muscular e a hipotermia. Existem muitos modelos de roupa de neoprene, desde os que cobrem o corpo inteiro até os sem manga e com shorts nas pernas. A roupa de neoprene é uma barreira térmica entre o corpo e os elementos como vento e água, considera CONWAY (1988). Uma vez molhada a roupa irá encharcar-se de água, que será aquecida com o calor do corpo. Cada vez que o surfista cai da prancha, no entanto, a água quente é trocada novamente por água fria e é nesse momento que o surfista irá perceber como a roupa de neoprene realmente o aquece. Para FARIAS (2000), do corpo nu à roupa de neoprene, os surfistas têm ao seu dispor cada vez mais vestimentas especiais de proteção térmica. Um dos últimos lançamentos é uma roupa de material sintético de espessura igual à da pele. Essa roupa permite aos atletas realizarem os movimentos mais livremente. Como na natação a indústria do vestuário surf investiga cada vez mais formas de evitar o frio. 2.6 A PREPARAÇÃO PARA O SURF – ASPECTOS TÉCNICOS, TÁTICOS, PSICOLÓGICOS E FÍSICOS 2.6.1. PREPARAÇÃO TÉCNICA Para MATVEIÉV (1977), a preparação técnica e o ensino ao atleta dos fundamentos técnicos das ações a executar nas competições ou servem de meio de treino ou ao aperfeiçoamento de determinadas formas da técnica do desporto. É um processo de direção de formação de conhecimentos, aptidões e hábitos. Ele cita que o preparo técnico deverá ter como propósito: - A assimilação e a ampliação da teoria do desporto em treinamento; - A ampliação do arsenal de destrezas e hábitos motores favoráveis ao aperfeiçoamento do desporto eleito; - O aperfeiçoamento dos gestos desportivos específicos da modalidade em preparação. 17 Segundo TUBINO (1980), por preparo técnico, isoladamente, entende-se o treinamento dos fundamentos técnicos individuais acrescidos das estratégias ensaiadas, tudo com o sentido de enfrentar a competição com recursos técnicos suficientes para o alcance do êxito nos objetivos formulados. 2.6.2 PREPARAÇÃO TÁTICA BOVCHERIN (apud TUBINO, 1980) selecionou, entre vários conceitos de tática existentes na literatura internacional especializada, o de THEODORESCO: “A tática é a totalidade das ações individuais e coletivas dos atletas de uma equipe, a qual está organizada numa forma racional dentro de limites do regulamento e da desportividade, cujo objetivo é conseguir a vitória, levando-se em conta, por um lado, as qualidades e particularidades dos atletas, e por outro, as condições dos adversários”. Embora o preparo tático seja mais abordado nos desportos coletivos, ele também tem a sua vez nos desportos individuais, onde sempre surgirão ocasiões oportunas para indicações táticas. A adaptação às condições adversárias dependerá sempre do chamado “olho clínico” do treinador, nas observações precedentes. 2.6.3 PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA Segundo DANTAS (1986), “ao encarar o homem como um ser total, percebe-se que somente por submetê-lo à melhor preparação física e técnico-tática não se estará conduzindo-o ao máximo de suas possibilidades. Há que considerá-lo como um indivíduo diverso dos demais, com seus próprios motivos e emoções, sujeito às exigências do meio e tendo que se relacionar com outros homens dentro da sociedade. Surge a necessidade de se propiciar ao atleta uma perfeita preparação psicológica. A preparação psicológica é a parte do treinamento desportivo que, considerando as características individuais e hereditárias (genótipo) e as influências assimiladas do meio 18 (fenótipo), propiciará ao atleta suportar o treinamento a atingir o máximo de suas potencialidades através de mobilização de sua vontade”. ROCHA e CALDAS (1978), nos dizem que “uma avaliação psicológica deve ser procedida constantemente, visando um desenvolvimento harmonioso da personalidade do desportista. O treinador tem grande responsabilidade nesse setor, cabendo-lhe observar constantemente o comportamento de seus atletas, para evitar ou sanar os problemas extrínsecos os quais, muitas vezes, arruinam a performance de elementos em perfeitas condições físicas, técnicas e táticas”. Segundo ZULIANI (1977), “da própria definição de treinamento podemos auferir que o atleta não é um feixe de músculos sujeito somente a reações fisiológicas, concomitante ao desenvolvimento da força, velocidade, resistência, técnica, tática. Devemos educar a vontade, as qualidades morais, considerar os fatores intelectuais e os mecanismos psíquicos de reação e reflexão do atleta. O comportamento do atleta quando treina ou compete é influenciado pelos estados afetivos, cognoscitivos e evolutivos, portanto o preparo psicológico deve ser considerado como um dos fatores de treinamento que deverá ser planejado, orientado e analisado igualmente como é feito para o preparo físico, técnico e tático.” 2.6.4 PREPARAÇÃO FÍSICA A preparação física é tida como base do treinamento desportivo. Caracteriza-se esse aspecto da preparação do atleta como sendo maior que os outros, pela influência que as cargas físicas exercem nas propriedades morfológicas do corpo humano, conduzindo ao desenvolvimento físico. Assim, a preparação física está intimamente ligada ao fortalecimento e habituação do organismo, designando a educação das suas qualidade físicas que se transferem para aptidões motrizes, necessárias à prática do desporto afim. Conforme TUBINO (1980), a preparação física assumiu, nos últimos tempos, uma grande importância no treinamento de alta competição, evidenciando inclusive uma certeza de que grandes resultados desportivos serão sempre correlacionados com 19 condicionamentos físicos de padrões elevados e sempre com aplicação de programas atualizados nas concepções científicas modernas. Para que se possam discriminar as qualidades consideradas essenciais a um praticante do surf, baseamo-nos em analogias e estudos feitos em modalidades similares, pois pesquisas na área de treinamento dos surfistas se mostram carentes, justificando-se a realização de mais trabalhos investigativos nesta área. Para FERNANDES (1981), a melhorias das capacidades ou qualidades físicas é conseguida mediante um trabalho feito sobre o sistema cárdio-respiratório, articular, muscular e nervoso, voltados para os parâmetros de resistência, flexibilidade, força e velocidade. Essas qualidades são necessárias como premissas e condições de aperfeiçoamento de um determinado desporto, pois só assim se consegue evolução de resultados e do próprio desporto em questão, tendo em vista o grau de complexidade que possa envolvê-lo. 2.7 CARACTERIZAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS DO SURF Segundo KAMPION e BROWN (1998), as primeiras competições de surf aconteceram no início do século XX entre os clubes de surf havaianos, na praia de Waikiki. Nestas ocasiões, os atletas eram divididos entre os havaianos e os “haoles”, vencendo aquele que percorresse a maior distância deslizando sobre as ondas. A partir de 1976, com a fundação da IPS (International Professional Surfing), depois substituída pela ASP (Associação dos Surfistas Profissionais), vem acontecendo o Circuito Mundial de Surf, que apresenta regras padronizadas e serve como modelo para as competições tradicionais, onde os atletas devem seguir os critérios de julgamento preestabelecidos. Além das competições profissionais e amadoras, os eventos em ondas gigantes vêm conquistando cada vez mais espaço entre a mídia e os próprios surfistas. Para LYON (1997), estes atletas têm um grande senso de respeito mútuo, de respeito às ilhas e aos oceanos que as cercam. Estão em busca da liberdade, é uma jornada espiritual interior. 20 Também o surf feminino vem se desenvolvendo rapidamente. De acordo com YOUNG (1994), as mulheres vem surfando na Califórnia desde da década de 20 e hoje existem mulheres surfando em todos os países do mundo. Como os homens, elas disputam o ranking amador e profissional, criando uma identidade própria que culminou com o surgimento de marcas especializadas no surf feminino. Apesar de sempre depender das variações das condições do mar, que determinarão a intensidade da atividade, o surf envolve alguns exercícios básicos. As fases do surf podem ser divididas para uma melhor compreensão e isolamento de suas características neurológicas, motoras e metabólicas: 1. Remada para o outside (fundo): surfista deitado sobre a prancha, exige uma resistência predominantemente aeróbica do praticante, que deverá atravessar a arrebentação das ondas antes de chegar ao local ideal para a prática da atividade; 2. Remada para entrar na onda – exige do atleta um bom condicionamento anaeróbio de membros superiores para a realização de braçadas fortes e rápidas que o permitam adquirir velocidade suficiente para entrar na onda; 3. Manobras – exigem do atleta um bom condicionamento anaeróbio (sobretudo nos membros inferiores) para realizar manobras explosivas com potência, precisão, agilidade, e controle. Percebe-se, assim, a importância de um bom condicionamento, sobretudo da parte física, para que os atletas suportem a alta intensidade da atividade no curto período de tempo. De acordo com LOWDON (1988), a prática do surf exige do praticante: 1- Velocidade, força e agilidade para realizar manobras 2- Resistência aeróbica para remar 3- Força para entrar na onda. Segundo McCREREY (1987), nas manobras e situações inesperadas o surfista tem de reagir rapidamente, e por isso deve possuir uma velocidade de reação alta, assim poderá prevenir-se e não cair da prancha. Após surfar a onda, o surfista terá de retornar em velocidade, necessitando portanto de uma boa resistência de força para que chegue rapidamente à linha de arrebentação, sem que a fadiga o prejudique. 21 Baseando-se em observações do esporte, LOWDON (1988) especulou que a energia predominante durante uma ou duas horas de surf provém do metabolismo aeróbico, sendo que os movimentos vigorosos usados para entrar na onda e manter-se sobre a prancha ao realizar-se manobras é fornecido pelo sistema anaeróbico alático, e ainda diz que a energia utilizada durante a rápida remada de volta para o local de formação das ondas é fornecida pelo sistema anaeróbico lático. LOWDON, PATERMAN, PITMAN e ROSS (1987) sugeriram que a principal forma de atividade muscular do surfista deriva da remada sobre a prancha, realizada para deslocar-se na água. Em estudo posterior, MEIR, LOWDON e DAVIE (1991) observaram que, em uma hora, o tempo de realização real do surf representou apenas 5% do tempo total na água, enquanto a remada representou 44%. O tempo gasto esperando a chegada das ondas foi de 35% do tempo total. CORRÊA, ANDRADE e JÚNIOR (1994) analisaram as características metabólicas de sete surfistas profissionais brasileiros durante a prática do surf. Os dados obtidos indicam a utilização das fontes aeróbica e anaeróbica para a realização da atividade, sendo que a freqüência cardíaca (FC) variou nos 3 momentos da atividade: 146,5 na remada para o fundo, 165,2 na espera pelas ondas e 173,5 durante o ato de surfar. A proporção de tempo total da atividade foi: na espera 12,52 minutos (65,23%), na remada 5,14 minutos (26,51%) e no surf 1,38 minutos ( 8,26%). Em estudo feito com o objetivo de determinar o somatotipo de surfistas profissionais durante o circuito mundial, LOWDON (1980) usou o método HealthCarter em 76 homens e 14 mulheres voluntários, encontrando os valores 2,6 / 5,2 / 2,6 para homens e 3,9 / 4,1 / 2,6 para mulheres. Em termos de somatotipo, os resultados mostram que os homens possuem uma semelhança com nadadores olímpicos do estilo livre, de peito e borboleta e ainda com jogadores de pólo aquático. Em relação ao grupo feminino, as três primeiras do ranking possuíam o componente de ectomorfia maior, sendo semelhantes às nadadoras do estilo livre. Os parâmetros fisiológicos de surfistas do circuito mundial profissional foram investigados por LOWDON e PATERMAN (1980). Assim, uma série de testes foram aplicados nas áreas de velocidade de reação, velocidade de movimento, equilíbrio 22 estático e dinâmico, composição corporal, função pulmonar, estimativa de consumo de oxigênio e velocidade de recuperação. A análise dos dados mostrou que não existe diferença de velocidade de reação e velocidade entre homens e mulheres surfistas, entretanto quando comparados com estudantes de educação física os surfistas apresentam resultados melhores. Os surfistas também apresentaram altos índices para capacidade pulmonar, consumo de oxigênio e velocidade de recuperação. A baixa correlação obtida nos testes de equilíbrio sugerem que o equilíbrio é altamente específico, como diz a literatura. Em relação ao percentual de gordura, os surfistas apresentaram um baixo percentual quando comparados á população. O percentual de gordura encontrado foi de 9,1% a 13% para homens (os universitários têm 14,6% em média) e 18,2% a 20,8% para mulheres (24% em média nas universitárias). Apesar da semelhança com os nadadores, os surfistas apresentam um percentual de gordura maior, que segundo LOWDON (1988) seria devido aos estímulos de frio e vento do ambiente. MEIR, LOWDON e DAVIE (1991) examinaram a freqüência cardíaca (FC) e o subsequente gasto energético de seis surfistas em uma hora de surf recreacional, encontrando os seguintes valores para FC: 135 (+ ou – 6,9) para surf, 143(+ ou – 10,5) para remada e 127 (+ ou – 6,9) na espera pelas ondas. O gasto médio de energia durante uma hora de surf recreacional representou 33,7 kj/min ( 8,03 kcal/min), aproximando o surf, em termos de gasto energético, a atividades físicas como a natação (estilo livre), o ciclismo e o tênis. Para Farias (2000), “o ambiente marinho é um excelente estimulante do sistema nervoso e favorece a percepção espaço-temporal. Passar a arrebentação, em um tempo relativamente extenuante, exige uma boa capacidade aeróbia e auxilia nos movimentos de capacitação cardiorrespiratória. O surf, quando praticado regularmente, melhora a força, a resistência muscular, aprimora a concentração, o tempo de reação e os movimentos de equilíbrio sustentado.” Na densidade maior da água o surfista sofre perda de sincronia corporal, por função do empuxo (princípio de Arquimedes). Com isso, o deslocamento é mais lento na submersão, bem como na retomada da remada. Em alguns casos o atleta é levado a remar trinta metros ou mais até atingir o ponto de quebra das ondas. Nessa ação de deslocamento há uma degradação de trabalho podendo 23 chegar até a 70%. O surf, por solicitar nas suas manobras movimentos de curta duração, é uma atividade predominantemente anaeróbia. Os mandamentos do treino para crianças e jovens devem nortear as cargas e os métodos nas aulas. O surf, ao exigir a flutuação sobre a prancha para esperar a onda, a remada explosiva em direção ao alcance das ondas, a subida para ficar equilibrado durante o drop e as manobras, consome muitas calorias. Em média o gasto energético de um surfista pode variar de 350 a 500 kcal/h. Segundo SNYDER (2001), atualmente pessoas de todas as idades estão surfando, muitos se preparando para competições, o que vem aumentando significativamente o número de lesões no surf, principalmente no pescoço, ombros, costas, costelas e joelhos. Dessa forma, necessita-se desenvolver um treinamento específico aos praticantes da modalidade, com base em exercícios de força, de resistência e de flexibilidade, além de um trabalho com atividades que possibilitem a transferência de habilidades. Os elementos mais importantes a serem observados durante os treinos de força devem ser a carga, o número de repetições, a amplitude do movimento, o intervalo e o descanso. Já para os treinamentos de resistência deve-se evidenciar a freqüência, a duração, a intensidade e o tipo de exercício. A partir dos resultados obtidos, os autores consideram o surf uma atividade capaz de desenvolver e manter bons níveis de aptidão física, técnica, tática e psicológica, embora as condições do mar devam sempre ser consideradas, pois podem alterar significativamente os parâmetros fisiológicos associados à modalidade. 2.8 O EQUILÍBRIO COMO PARÂMETRO MOTOR DA EFICIÊNCIA DAS HABILIDADES DOS PRATICANTES DO SURF De acordo com FARIAS (2000), o surf é mundialmente identificado como correr uma onda apoiado ou estando em pé sobre uma prancha. Nesta intenção, o surf é um desporto de equilíbrio instável. Ao deslizar, apoiado num implemento, uma superfície móvel, instável e com alterações de forma quase sempre inconstante (a onda), o surfista tem de buscar acomodar-se em várias posições. O equilíbrio então é uma condicionante básica da aprendizagem do surf. Proporcionar aos alunos a descoberta do centro de 24 gravidade na posição deitado, remando, sentado e de pé na prancha é um importante objetivo do ensino de surfar. O surf atual procura a execução das manobras possantes e com mudanças de direção muito rápidas, exigindo do executante uma precisa consciência da posição de seu corpo no espaço, assumindo posturas em relação à gravidade que lhe permitem agir e movimentar-se economicamente. BUETTENMÜLLER e GLAPORT (1974) afirmam que a posição ideal é “quando se mantém cada parte do corpo uma acima da outra, para que a linha central da gravidade passe pelas pernas e pelos pés.” Raramente esta posição se manifesta durante a execução das habilidades desportivas. Segundo RACH e BUKK (1977), “o centro de gravidade de um corpo é o ponto no qual se pode considerar concentrado o seu próprio peso.” MOSSTON (apud GUISELINI, 1983), define o “equilíbrio como a capacidade de assumir e sustentar qualquer posição contra a lei da gravidade”. DAMBROZ (1988) considera o equilíbrio como a habilidade de distribuir o peso do corpo, de maneira que este controle o centro de gravidade. Os pés exercem função importante na obtenção do equilíbrio, pois são eles a base do corpo na posição ereta. Se eles cedem, cedem também as demais partes do corpo. Na habilidade de equilíbrio, MEINEL (1984) dá importância especial às informações por ele chamadas sensomotoras, processadas através do analisador estático-dinâmico e do analisador cinestésico. Esses analisadores podem ser entendidos como cada sistema parcial de caráter sensório que recebe, codifica, conduz e elabora preliminarmente as informações, com base em sinais. São analisadores importantes para a coordenação motora os seguintes: Cinestésico: Apresenta-se como “sensor de movimento”. Seus receptores, encontram-se em todos os músculos, nervos e articulações, com a característica que apresentam velocidade de transmissão e rendimento superior em relação a outros analisadores. 25 Estático-dinâmico: Analisador vestibular, localizado no ouvido interno, que passa informações aos centros superiores sobre a posição da cabeça no campo gravitacional. Segundo MEINEL (1984), o ouvido interno é denominado de labirinto devido à sua estrutura complexa. Apresenta duas partes: o labirinto ósseo e o membranoso. O primeiro envolve, como uma cápsula, o segundo. O labirinto membranoso é constituído por um sistema de vesículas (utrículos e sáculos) e tubos membranosos (canais semicirculares superior, frontal e lateral), nos quais se abrigam células sensoriais para a percepção do equilíbrio e da audição, transmitida até o sistema nervoso central pelo nervo vestibular. HOLLE (1979) analisa as percepções proprioceptivas da seguinte forma: - as sensações visuais nos ajudam a orientar o corpo no espaço e nos indicam onde podemos colocar o pé para obter o equilíbrio; - as sensações labirínticas relacionam-se com o labirinto (ouvido interno), influenciam o tônus muscular e reflexos posturais, orientam os movimentos da cabeça e registram alterações de direção e velocidade; - as sensações cinestésicas, entre outras coisas, registram a posição das partes do corpo, ajudando a equilibrar todos os movimentos; - as sensações plantares referem-se ao contato dos pés com o solo, influenciando na posição em queda do corpo; Exercitar-se de pés descalços tem por finalidade uma melhor consciência dos apoios plantares. O arco plantar tem um papel importante no equilíbrio do ser humano. A educação deve permitir um equilíbrio mais harmonioso e uma “economia de energia”, seja em situações estáticas ou em movimento (DEFONTAINE, 1981). As estruturas proprioceptivas fornecem dados aos reflexos da equilibração, que, segundo ROSADAS (1986), são encontrados nos centros nervosos, desde os mais inferiores aos mais sofisticados. Estes reflexos são : - reação de suporte positivo e reação de suporte negativo (medula); - reflexos tônicos labirínticos e reflexos tônicos cervicais (bulbo); - reflexos de endireitamento labirísticos; 26 - reflexos de endireitamento cervicais; - reflexo de endireitamento do corpo sobre a cabeça e do corpo sobre o corpo (mesencéfalo); - reflexos do endireitamento (córtex); - reflexos de endireitamento ótico; - reações de apoio; - reações de salto (córtex). De acordo com o ponto de vista físico, GONZALES (1987) afirma que o “equilíbrio de um corpo depende da superfície de base de sustentação, da altura do centro de gravidade e do ponto de base de sustentação por onde passa a força da gravidade. FRACCAROLI (1981) concorda que os equilíbrios estão condicionados aos fatores: Base: A estabilidade é diretamente proporcional à área de base na qual o corpo repousa; Peso: A estabilidade é diretamente proporcional ao mesmo. Isto é, quanto mais pesado o corpo, mais difícil será desequilibrá-lo, pois o centro de gravidade está mais abaixo. Altura do Centro de Gravidade: Quanto mais alto do solo estiver o centro de gravidade, tanto mais fácil será o desequilíbrio. Projeção Vertical da Gravidade: Para haver maior estabilidade, a projeção deverá cair no centro da base de sustentação. A soma dos mencionados fatores neurofisiológicos com os de origem física nos leva a perceber a importância fundamental do desenvolvimento do equilíbrio, para uma melhor retenção não só das habilidades atléticas como também dos gestos rotineiros. A manutenção do equilíbrio se processa pela união dos estímulos do meio sobre a visão e o aparelho vestibular, enviados ao cérebro e cerebelo, onde são decodificados e analisados e por fim enviados ao aparelho executor (músculos), através do tronco e da medula espinhal, para que sejam executadas as correções. Segundo GOMES (1987), para o ser humano realizar qualquer movimento orientado e preciso, é necessário um controle permanente e automático da equilibração 27 corporal, portanto o equilíbrio é elemento essencial para a coordenação. Este autor enfatiza que as atividades que estimulam o equilíbrio como capacidade básica geral devem seguir os seguintes critérios: a) Equilíbrio em situações estáticas: . diminuição das bases de sustentação; . eliminação do fator visual; . localização do corpo em posições que não são comuns e com apoio instável; b) Equilíbrio em situações dinâmicas: . diminuição da base de sustentação em movimento; . realização de seqüências descontínuas de movimentos sobre bases reduzidas; . equilibrar-se sobre bases de sustentação móveis . equilibrar o corpo sobre base de sustentação elevada e/ou inclinada. c) Equilibração do corpo frente à ação de forças externas. 2.9 FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA E PRINCIPAIS MANOBRAS De acordo com ARAÑA e ÁRIAS (1996) para aprender a surfar é necessário vontade e dedicação. Estilo é fundamental e as dicas de atletas experientes são sempre bem vindas. Uma vez com a prancha correta nos pés é hora de realizar os fundamentos e manobras radicais. É consenso entre os autores que a segurança no mar é fundamento básico para a prática do surf. Deve-se analisar as condições do mar, do equipamento, a habilidade do praticante em relação ao ambiente, tomar precauções para proteção solar e principalmente saber nadar, além de um aquecimento e alongamento específicos. Para WERNER (1999), o surfista deve sentir-se confiante e confortável em sua habilidade de ir de um ponta A para um ponto B no surf e no mar aberto. 2.9.1 REMADA A remada, a princípio, é utilizada para progredir no meio líquido e chegar no local onde as ondas começam a se formar. Quando realizada eficazmente, com o centro 28 de gravidade, os membros superiores e inferiores em perfeita sincronia, promove o menor gasto energético inicial. Este fundamento ocorre basicamente com o surfista em decúbito ventral, tórax e abdomêm apoiados na prancha, membros superiores em um movimento semelhante ao nado crawl, com os braços penetrando na água alternadamente e os membros inferiores preferencialmente unidos. WERNER (1999) afirma que a remada é fundamental para o surf. O surfista gasta a maior parte do seu tempo remando, é como ele se movimenta e pega as ondas. CABRAL (2000) explica que a maioria das pranchas tem uma linha que divide a prancha do bico à rabeta, conhecida como longarina. Quando deitado na prancha o surfista deve usar a longarina como referência para manter o seu corpo equilibrado. A cabeça deverá estar levantada para que se possa ver a direção a seguir. O bico da prancha deverá estar pelo menos de 20 a 30 cm acima da água. Isso irá ajudar a deslizar mais rapidamente na superfície do mar. Já SANBORN (2000) afirma que para remar corretamente, o surfista deve balancear seu peso corporal adequadamente sobre a prancha, podendo remar tão rápido quanto possível sem que o bico afunde na água. .2 JOELHINHO É o fundamento utilizado para ultrapassar as ondas em direção ao fundo do mar. CABRAL (2000) considera que há diversas maneiras de se praticar o joelhinho. Uma maneira seria afundar o bico da prancha aproximadamente um metro antes da onda atingir o surfista, que deverá mergulhar junto com o bico de sua prancha e depois voltar a superfície, empurrando a rabeta da prancha com os joelhos. Uma segunda opção seria segurar as bordas da prancha a uma distância aproximada de 2 metros da onda ou espuma e fazer um movimento de rotação entre o corpo e a prancha, ficando o corpo submerso e a prancha na superfície. O surfista deve segurar o bico da prancha e puxá-lo para baixo até que a onda passe. Em situações mais críticas, CONWAY (1988) aconselha que o surfista abandone a prancha. No entanto, surfistas que indiscriminadamente abandonam as suas pranchas 29 são perigosos, pois poderão causar sérias lesões em outros surfistas que estiverem por perto. .3 SENTAR NA PRANCHA Para visualizar melhor a série de ondas após ultrapassar a arrebentação, os surfistas sentam sobre a prancha. Para CABRAL (2000) ao sentar-se na prancha, o surfista deverá estender os dois braços e segurar as bordas, mantendo o bico da prancha fora da água. CONWAY (1988) considera esse fundamento muito fácil. O autor crê que o mais difícil é partir da posição de remada para a posição sentada. 2.9.4 DROP Segundo ARAÑA e ÁRIAS (1996), o drop significa descer a onda até a sua base. Para WERNER (1999), o ato de ficar em pé sobre a prancha é rápido como um piscar de olhos e pode ser praticado antes de se entrar na água. O executante deverá deitar-se no chão com se estivesse sobre a prancha de surf, empurrando o corpo para cima com as mãos e posicionando seus pés abaixo do quadril. Depois de fazer isso algumas vezes o surfista descobrirá se é “goofy” ou regular. Os que colocam o pé direito à frente do esquerdo são denominados “goofy”. Os que colocam o pé esquerdo à frente do direito são denominados regular. É uma preferência natural, como ser destro ou canhoto. SANBORN (2000) afirma que ao remar o surfista deve olhar e perceber para que lado a onda vai quebrar. Ao sentir a onda carregando-o sem o auxílio da remada o surfista deve ficar em pé, mantendo o corpo compacto e olhando atenciosamente a onda para decidir qual direção irá tomar. CABRAL (2000) considera que quando a onda está próxima ao surfista, este deverá remar com toda a força possível até que a onda o impulsione. Neste momento o 30 surfista deve levantar-se e olhar adiante, com uma perna à frente e outra atrás e os joelhos ligeiramente arqueados. 2.9.5 CAVADA A cavada, ou “bottom turn”, é o ato de realizar uma curva na base da onda após o drop, definindo a direção a ser seguida pelo surfista na onda . Segundo SANBORN (2000), durante o drop o surfista deve decidir qual a direção irá seguir. Para iniciar a sua cavada o surfista deverá posicionar os seus ombros na direção que deseja seguir, enquanto pressiona com o pé de trás a rabeta da prancha com um pouco mais de peso na direção que se deseja virar. Ao planejar a cavada o surfista deve olhar a parede da onda, visualizando a área onde irá manobrar. Para COHEN (1997), se a parte ventral do corpo do surfista estiver voltada para onda, tal posição recebe o nome de “frontside”. Se a parte dorsal do corpo do surfista estiver voltada para onda estará caracterizado o surf de “backside”. 2.9.6 CUT BACK Definido por ARAÑA e ÁRIAS (1996) como ato de realizar curvas na parede da onda que se assemelham a um “s”. Uma vez na parede da onda e após a cavada, o surfista pode voltar para a área de maior força da onda e para isso utiliza o cut back, uma manobra que envolve elementos de “frontside” e “backside”. Para executar um cut back, a rabeta da prancha deve ser empurrada com força até afundar a borda interna, afirma CONWAY (1988). COHEN (1997) relata que o cut back é um retorno rápido em direção à espuma da onda, a parte que concentra maior energia. É uma manobra relativamente fácil de se realizar, sendo fundamental para um bom aproveitamento da onda. 2.9.7 BATIDA 31 A batida pode ser realizada tanto na crista da onda quanto na junção das espumas e é caracterizada por colocar a parte de baixo da prancha em contato direto com a onda. Para CONWAY (1988), o surfista deve dirigir a prancha verticalmente em direção à crista da onda, atingindo um ponto de impacto perfeito onde possa colocar novamente a prancha de volta na parede da onda. SANBORN (2000) explica que a prancha irá seguir naturalmente a direção apontada pelos ombros dos surfistas, que deve gradativamente tirar a pressão do pé de trás e mover o peso para a frente. A batida poderá ser executada de “frontside” ou de “backside”, devendo ao final o surfista permanecer na mesma posição que estava antes de executar a manobra. .8 FLOATER Essa manobra é utilizada para ultrapassar uma sessão da onda já quebrada ou que tende a fragmentar-se. O surfista deverá passar por cima da espuma como se estivesse flutuando sobre ela até atingir a parede da onda. CONWAY (1988) explica que se uma sessão da onda está fechando e mais adiante ainda existe uma parede manobrável, o surfista pode projetar a prancha sobre a crista da onda, descendo depois com a crista para a parte manobrável na parede da onda. Segundo SANBORN (2000), o sucesso do floater depende da velocidade com que o surfista se move na crista da onda. .9 TUBO O ponto máximo do surf, onde o surfista é engolido pela onda e consegue sair de dentro dela seco e na maioria das vezes, segundo ARAÑA E ÁRIAS (1996), incrédulo com o acontecimento. COHEN (1997) afirma que o tubo é a manobra ideal, aquela que transporta o surfista à essência do esporte, uma sensação inigualável. Para CONWAY (1988), o tubo de uma onda é o melhor lugar para surfar e requer bastante habilidade. Para a maioria dos surfista pegar um tubo é um momento 32 memorável e muito comentado. Dias perfeitos de surf são aqueles onde o vento acaricia as ondas para que seus tubos quebrem numa rasa bancada, comprimindo o ar de seu interior e soprando uma fina camada de vapor d’água em seu final. 33 3.CONCLUSÃO Com o desenvolvimento do fenômeno esporte e a sua popularização em todas as partes do mundo, parece natural que o interesse do público e mídia sobre o assunto também cresça proporcionalmente. Dessa forma, as competições adquirem importância cada vez maior no âmbito sócio-cultural, pois é a partir daí que surgirão os novos mitos e heróis responsáveis pela manutenção deste cenário. Com o início das competições profissionais na década de 70, o surf também passou a ocupar um lugar neste contexto, levando seus praticantes à busca de instrumentos que maximizassem sua performance na água. Mesmo assim, o máximo que podemos encontrar atualmente sobre o assunto são séries de exercícios adaptados de outras modalidades, como a natação e a musculação. Há uma enorme carência de estudos e pesquisas laboratoriais que permitam uma análise complexa e real sobre o metabolismo humano durante a prática do surf. Em termos gerais, sabe-se que o surf exige tanto um condicionamento aeróbio (sobretudo durante a remada para o “outside”) como anaeróbio (para entrar na onda e realizar manobras explosivas), sendo que sua predominância irá depender das condições do mar e objetivos do surfista. Devido à sua imensa contribuição para a obtenção de resultados expressivos, a preparação física assume um papel fundamental no treinamento dos atletas. Dessa forma, o desenvolvimento de trabalhos específicos junto ao público especializado em educação física e esporte torna-se essencial para a evolução do surf e para sua solidificação como uma das mais populares modalidades esportivas do mundo. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÑA, F. & ÁRIAS, M. A história do surf em Santos. Caderno Semes – Secretaria Municipal de Esportes, Santos, 1996. BETRÁN, J.O. Las actividades físicas de aventura en la naturaleza: análisis sociocultural. Barcelona, Revista Apunts, 1995. BEUTTENMÜLLER, M. de G. & GLAPORT, N. Expressão vocal e expressão corporal. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1974. CABRAL, C. Instructional guide to surfing: quick tips. Havaí, Island Heritage Publishing, 2000. CARROLL, N. The next wave: the world of surfing. Austrália, Abbeville Press Publishers, 1991. COHEN, S. Surf. Paris, EPA Éditions, 1997. CONWAY, J. Adventure sports: surfing. Londres, Stackpole Books, 1988. CORRÊA, F.M; ANDRADE, D.R. & JÚNIOR, A.J.F. 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