Encher o depósito emocional

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Encher o depósito emocional
O AMOR É A BASE
de Ben deu-me coragem para escrever este livro. O meu primeiro livro
sobre as linguagens do amor aborda a forma como os nossos cônjuges se sentem amados quando falamos as sua principal linguagem do
amor. As Cinco Linguagens do Amor inclui um capítulo dedicado à identificação da linguagem principal do amor do seu filho. Agora, Ross Campbell e eu abordaremos a forma como essas cinco linguagens do amor
podem ajudar o seu filho a sentir-se amado.
Falar a principal linguagem de amor do seu filho não significa que
ele não venha, mais tarde, a rebelar-se; significa que saberá que o leitor
o ama, e isso poderá trazer-lhe segurança e esperança; poderá ajudá-lo
a criar o seu filho até um estado adulto responsável. O amor é a base.
Na educação das crianças, tudo depende da relação de amor entre
os pais e os filhos. Nada funciona se as necessidades de amor de uma
criança não são satisfeitas. Apenas a criança que se sente genuinamente
amada e cuidada pode dar o seu melhor. O leitor pode amar verdadeiramente o seu filho, mas se ele não o sentir – a não ser que fale a linguagem
de amor que lhe transmite esse amor por ele – ele não se sentirá amado.
Encher o depósito emocional
Ao falar a linguagem do amor do seu filho, o leitor pode encher o
“depósito emocional” dele ou dela com amor. Se o seu filho se sente
amado, torna-se muito mais fácil discipliná-lo e treiná-lo, do que
quando o “depósito emocional” está quase a ficar na reserva.
Cada criança tem um depósito emocional, um lugar de força emocional que pode servir-lhe de combustível durante dias difíceis da
infância e da adolescência. Assim como os automóveis funcionam através de reservas no depósito do combustível, também as nossas crianças
funcionam com base nos seus depósitos emocionais. Devemos encher
esses depósitos emocionais para eles agirem tal como devem e atingirem o seu potencial.
Então, com que encher esses depósitos? Amor, claro, mas amor de
um determinado tipo que permitirá aos nossos filhos crescer e funcionarem em condições adequadas.
Precisamos de encher os depósitos emocionais dos nossos filhos com
amor incondicional porque o verdadeiro amor é sempre incondicional.
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O AMOR É A BASE
bem-sucedido que sustentava generosamente a família. Além disso,
passava a maior parte do tempo fora de casa. A mãe de Stephanie era
enfermeira. O irmão estava longe de casa num colégio particular. Stephanie também tinha sido enviada para um colégio interno durante 3
anos até que implorou para frequentar a escola pública local. Com o
pai fora, e a mãe a trabalhar tanto, com frequência a família fazia as
refeições fora.
Molly e Stephanie foram boas amigas até ao nono ano, quando
Stephanie foi mandada para uma escola de preparação para a faculdade próxima da casa dos avós. Durante o primeiro ano, as raparigas
mantiveram o contacto por carta; depois disso, Stephanie começou a
namorar, as cartas tornaram-se menos frequentes, até que deixaram
de chegar. Molly fez outras amizades e depois começou a namorar um
rapaz que havia sido transferido para a sua escola. Depois de a família
de Stephanie se mudar, Molly nunca mais voltou a ter notícias dela.
Se Molly tivesse tido notícias, teria ficado triste por saber que, depois
de casar e ter um filho, Stephanie foi presa por tráfico de droga e passou
vários anos na prisão, período esse durante o qual o marido a deixou.
Por contraste, Molly estava casada e feliz, e tinha dois filhos.
O que fez a diferença no resultado das duas amigas de infância?
Apesar de não haver uma resposta, podemos ver parte da razão em algo
que Stephanie disse certa vez ao seu terapeuta: “Nunca me senti amada
pelos meus pais. Ao princípio envolvi-me com drogas porque queria
que os meus amigos gostassem de mim.” Ao dizer isto, ela não estava a
tentar culpar os pais, mas sim a tentar compreender-se a ela própria.
O leitor prestou atenção ao que Stephanie disse? Não é que os pais
não a amassem, mas ela não se sentia amada. A maioria dos pais ama
os seus filhos e também querem que estes se sintam amados, mas poucos sabem como transmitir esse sentimento de forma adequada. É apenas quando eles aprendem a amar incondicionalmente que deixarão os
filhos saberem quão amados realmente são.
De que forma uma criança se sente amada
Na sociedade moderna, criar crianças emocionalmente saudáveis é
uma tarefa cada vez mais difícil. O actual cenário de drogas mantém
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A S CINCO L INGUAGENS DO A MOR DAS CRIANÇAS
muitos pais em pânico. A condição do nosso sistema de educação levou
muitos pais a optarem por “escola em casa” ou por inscrever os filhos
em escolas particulares. A violência que se vive em tantas cidades, grandes e pequenas, levam os pais a interrogar-se se os seus filhos chegarão
a atingir a maturidade.
É nesta realidade tão dura que nós endereçamos uma palavra de
esperança aos pais. Nós queremos que usufruam de uma relação amorosa com os vossos filhos. A nossa ênfase neste livro assenta sobre um
aspecto extremamente importante da educação dos nossos filhos: satisfazer as necessidades de amor deles. Se as crianças se sentirem genuinamente amadas pelos pais, serão mais receptivas à orientação parental
em todas as áreas das suas vidas. Escrevemos este livro para o ajudar a
dar aos seus filhos uma experiência maior do amor que sente por eles.
Isto acontecerá na medida em que o leitor falar as linguagens do amor
que eles compreendem e às quais são capazes de reagir.
Para uma criança sentir amor, temos de aprender a falar a sua linguagem especial do amor. Cada criança tem uma forma especial de
percepcionar o amor. Há basicamente cinco formas de as crianças
(aliás, todas as pessoas) falarem e compreenderem o amor emocional.
São elas o contacto físico, palavras de apreço, tempo de qualidade, receber presentes e actos de servir. Se o leitor tem várias crianças na sua
família, são fortes as probabilidades de cada uma delas falar uma linguagem diferente, pois, tal como as crianças têm, com frequência, diferentes personalidades, também poderão escutar diferentes linguagens
do amor. Regra geral, duas crianças precisam de ser amadas de formas
diferentes.
Aquele tipo de amor “não importa o quê”
Seja qual for a linguagem do amor que o seu filho compreende
melhor, ele precisa que essa linguagem seja expressa de uma forma:
incondicionalmente. O amor incondicional é uma luz de orientação
que ilumina a escuridão e nos permite, enquanto pais, saber em que pé
estamos e o que precisamos de fazer à medida que educamos os nossos filhos. Sem este tipo de amor, educar os filhos é desconcertante,
desorientador e confuso. Antes de explorarmos as cinco linguagens do
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O AMOR É A BASE
amor, consideremos primeiro a natureza e importância do amor incondicional.
A melhor forma de definir o amor incondicional é mostrar o que
ele é capaz de fazer: o amor incondicional mostra amor a uma criança
não importa o quê. Amamos independentemente do aspecto da criança,
das suas vantagens, responsabilidades ou desvantagens, do que esperamos que ela seja e, o mais difícil de tudo, independentemente da forma
como ela age. Isto não significa que gostemos de todos os seus comportamentos, isto significa que damos e mostramos amor ao nosso filho a
todo o momento, mesmo quando ele se porta mal.
Parece-lhe permissividade? Não é. Pelo contrário, é fazer as primeiras coisas em primeiro lugar. O depósito emocional de uma criança
deve estar cheio antes de qualquer treino ou disciplina eficazes serem
aplicados. Uma criança com um depósito emocional cheio pode reagir
à orientação parental sem ressentimento.
Algumas pessoas temem que isso “estrague” a criança, mas isso é
uma noção errada. Nenhuma criança pode receber amor incondicional
apropriado em demasia. Uma criança pode ser “estragada” por falta de
treino ou por um amor inadequado que dá ou treina incorrectamente.
O verdadeiro amor incondicional nunca poderá estragar uma criança
porque é impossível os pais darem em demasia.
Tais princípios podem ser difíceis para o leitor porque vão contra
aquilo que pensou até agora ser verdade. Se esse é o caso, poderá ter
dificuldade em dar amor incondicional aos seus filhos. No entanto,
à medida que for praticando e vendo os benefícios, verá que é mais
fácil de pôr em prática. Por favor, coragem, e faça o que é melhor para
os seus filhos, sabendo que o seu amor por eles fará a diferença entre
crianças bem ajustadas e felizes e aquelas que são inseguras, zangadas,
inacessíveis e imaturas.
Se o leitor não tem amado os seus filhos desta forma, sentirá dificuldades no princípio; mas à medida que for praticando um amor incondicional descobrirá que ele tem um efeito maravilhoso, uma vez que
se tornará uma pessoa mais generosa e amorosa em todas as suas relações. Ninguém é perfeito, claro, e não pode esperar de si próprio ser
capaz de amar incondicionalmente a todo o momento. No entanto, ao
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avançar para esse objectivo, descobrirá que é mais consistente na sua
capacidade para amar, não importa o quê.
Talvez o ajude se frequentemente se recordar a si próprio algumas
coisas bastante óbvias sobre os seus filhos:
1. Eles são crianças.
2. Têm tendência para agir como crianças.
3. A maior parte do comportamento infantil é desagradável.
4. Se eu fizer a minha parte de pai (ou mãe) e amá-los, apesar do
seu comportamento infantil, eles amadurecerão e desistirão das
suas criancices.
5. Se eu os amar apenas quando eles me agradam (amor condicional), e se exprimir o meu amor por eles apenas nesses momentos, eles não se sentirão genuinamente amados. Isso prejudicará
a imagem que eles têm de si próprios, fá-los-á sentirem-se inseguros e, de facto, impedi-los-á de avançarem para um melhor
auto-controlo e comportamento mais maduro. Assim, o desenvolvimento e comportamento dos meus filhos são tanto minha
responsabilidade quanto deles.
6. Se eu os amar apenas quando eles satisfazem as minhas exigências ou expectativas, eles sentir-se-ão incompetentes e acreditarão que não vale a pena darem o seu melhor, uma vez que isso
nunca é suficiente. Eles sofrerão sempre de insegurança, ansiedade, baixa auto-estima e raiva. Para me proteger de tudo isto,
eu tenho de me recordar com frequência da minha responsabilidade pelo seu total crescimento. (Para mais informação sobre
isto, o leitor vai querer ler How To Really Love Your Child, de Ross
Campbell).
7. Se eu os amar incondicionalmente, eles sentir-se-ão confortáveis
na sua pele e serão capazes de controlar a sua ansiedade e o seu
comportamento à medida que vão crescendo até à idade adulta.
Claro que há comportamentos adequados a determinadas idades
dos nossos filhos e filhas. Os adolescentes agem de forma diferente
das crianças pequenas, e uma criança de 13 anos reagirá de forma
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O AMOR É A BASE
diferente de outra de 7. Contudo, não podemos esquecer que eles ainda
são menores, não são adultos maduros, por isso é de esperar que por
vezes falhem. Demonstre paciência para com eles à medida que eles
crescem.
Ame e… muito mais
Este livro concentra-se principalmente nas necessidades de amor
dos nossos filhos, e como dá-lo, isso porque esta é a maior necessidade
emocional deles e afecta profundamente a nossa relação com eles. As
nossas necessidades, principalmente as necessidades físicas, são mais
fáceis de reconhecer e normalmente mais fáceis de satisfazer, mas não
são tão gratificantes nem modificam tanto a nossa vida. Sim, nós temos
de dar abrigo, alimentação e vestuário aos nossos filhos, mas somos
também responsáveis por acarinhar o seu crescimento e saúde mental
e emocional.
Volumes e volumes já foram escritos sobre as necessidades de uma
auto-estima saudável de uma criança, ou sobre o sentimento apropriado
de valor próprio. Uma criança com um sentido embelezado do seu eu
sentir-se-á superior às outras – como se fosse uma dádiva de Deus ao
mundo e, por isso, merecedora de tudo o que quiser. A criança que se
desvaloriza a si própria será assombrada por pensamentos como “eu
não sou tão inteligente, tão atlética ou tão bonita como as outras”.
“Não sou capaz” é o tema da sua canção, e “não fui capaz” a sua realidade. Enquanto pais, é digno dos nossos melhores esforços tentar que
os nossos filhos desenvolvam uma auto-estima saudável para que eles
se reconheçam como membros importantes da sociedade, com talentos e competências especiais, e que sintam o desejo de serem produtivos.
Outra necessidade universal das crianças é protecção e segurança.
Neste nosso mundo de incertezas, torna-se cada vez mais difícil para
os pais transmitirem este sentimento de protecção. São cada vez mais
os pais que ouvem a pergunta dolorosa dos filhos que perguntam: “Tu
vais deixar-me?” O triste facto é que a maioria dos pais dos amigos
deles deixaram-nos. Se um dos pais de facto já partiu, uma criança
pode temer que o outro pai também se vá embora.
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A S CINCO L INGUAGENS DO A MOR DAS CRIANÇAS
Uma criança precisa de desenvolver aptidões de relacionamento de
forma a tratar todas as pessoas atribuindo-lhes igual valor e a ser capaz
de construir relações de amizade através de um fluxo equilibrado entre
dar e receber. Sem tais aptidões, uma criança está em risco de se afastar e assim permanecer até à idade adulta. Uma criança que não tem
aptidões de relacionamento essenciais pode ainda transformar-se num
monstro controlador que atropela todos para atingir os seus objectivos.
Um aspecto importante da aptidão de relacionamento é a capacidade
de se relacionar adequadamente com a autoridade. Sem isso, nenhuma
outra capacidade terá muito significado.
Os pais têm de ajudar os filhos a desenvolver os seus dons e talentos
especiais para que as crianças sintam a satisfação interior e tenham o
sentimento de realização que resultam da utilização das aptidões inatas de cada uma. Os pais conscientes devem manter um equilíbrio delicado entre pressionar e encorajar.
O amor é o máximo!
Todas estas, e outras, são necessidades legítimas das crianças e, apesar disso, neste livro concentramo-nos no amor. Acreditamos que a
necessidade de uma criança por amor é básica a todas as outras necessidades. Receber amor e aprender a dar amor constituem o terreno a
partir do qual todos os empreendimentos positivos crescem.
Durante os primeiros anos
Durante a infância, uma criança não distingue leite de ternura, alimentos sólidos de amor. Sem alimento, uma criança morrerá à fome.
Sem amor, uma criança morrerá de fome emocional e pode ficar emocionalmente debilitada para toda a vida. Uma boa parte da investigação indicia que a base emocional da vida é estabelecida nos primeiros
18 meses de vida, especialmente numa relação de mãe/filho. O “alimento” para a futura saúde mental é o contacto físico, palavras afáveis
e cuidados de ternura.
À medida que as crianças em idade de começar a andar ganham
maior sentido de identidade, eles começam a separar-se dos seus objectos de amor. Apesar de, antes desse momento, a mãe ter começado a
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O AMOR É A BASE
afastar-se da área de visão da criança, agora a criança possui a capacidade de se afastar das pessoas de quem depende. À medida que se torna
mais comunicativa, ela aprende a amar de forma mais activa. Ela não
é mais uma receptora passiva de amor – já tem a capacidade de reagir.
Contudo, tal capacidade é mais de natureza de posse da pessoa amada
do que de se dar. Durante os anos seguintes, a capacidade da criança
para exprimir amor aumenta, e, se ela continuar a receber amor, continuará a dar amor cada vez mais.
A base do amor criada nos primeiros anos de vida afecta a capacidade de aprendizagem da criança e determina grandemente quando
ela está pronta para apreender nova informação. Muitas crianças começam a escola mal preparadas para aprender porque ainda não estão
emocionalmente preparadas para aprender. As crianças precisam de
atingir níveis emocionais de maturidade apropriados antes de serem
capazes de aprender de forma eficaz ao seu nível etário. O simples acto
de matricular uma criança numa escola melhor ou mudar os professores não é a solução. Nós temos de nos certificar de que os nossos filhos
estão emocionalmente prontos para aprender (vide capítulo 9 para mais
informação sobre a relação entre o amor e a aprendizagem).
Durante a adolescência
Satisfazer as necessidades de amor de uma criança não é tão simples
quanto parece, e isto é especialmente verdade no início da adolescência. Os perigos da adolescência são por si só suficientemente ameaçadores, mas uma criança que entre neste período da sua vida com um
depósito emocional vazio fica particularmente vulnerável a problemas
inerentes à adolescência.
As crianças que são educadas com amor condicional aprendem a
amar dessa forma. Quando atingem a adolescência, elas frequentemente manipulam e controlam os pais. Quando estão satisfeitas, agradam aos pais; quando não estão satisfeitas, deixam os pais frustrados.
Isto deixa os pais paralisados porque esperam que os seus adolescentes
lhes agradem, mas estes adolescentes não sabem como amar incondicionalmente. Este ciclo vicioso conduz habitualmente à raiva, ao ressentimento e a fazer cenas por parte dos adolescentes.
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A S CINCO L INGUAGENS DO A MOR DAS CRIANÇAS
O amor e os sentimentos dos nossos filhos
Em primeira instância, as crianças são seres emocionais e a sua
primeira apreensão do mundo é emocional. Vários estudos recentes
demonstraram que o estado emocional da mãe chega a afectar o bebé
ainda no ventre. O feto reage à raiva ou à felicidade da mãe e, à medida
que as crianças crescem, tornam-se extremamente sensíveis ao estado
emocional dos pais.
Na família Campbell, muitas foram as vezes em que os nossos filhos
estavam mais conscientes dos sentimentos dos pais do que dos seus
próprios sentimentos. Por exemplo, com frequência um deles identificava a forma como eu estava a sentir-me sem que eu estivesse consciente disso. A minha filha diria qualquer coisa como: “Estás zangado
com quê, papá?” Apesar de eu não estar consciente da minha raiva, eu
parava para pensar e, sim, continuava zangado com qualquer coisa que
tinha acontecido durante esse dia.
Outras vezes, um dos meus filhos diria: “Porque estás tão contente,
papá?”
“Como é que descobriste que eu estava contente?” perguntava eu,
querendo saber se tinha dado alguma pista. Uma vez, a nossa filha
Carey respondeu: “Porque estavas a assobiar uma música alegre.” Eu
nem me tinha apercebido de que estava a assobiar…
As crianças não são o máximo? São tão sensíveis aos nossos sentimentos. Esta é a razão pela qual eles estão profundamente conscientes
das nossas demonstrações de amor por eles; e esta é também a razão
pela qual eles tanto temem a nossa raiva. Falaremos deste assunto mais
tarde.
Devemos comunicar amor numa linguagem que os nossos filhos
compreendam. O adolescente em fuga é uma criança que está convencida de que ninguém a ama. Muitos pais destes fugitivos reclamariam que amam de facto os seus filhos, o que até pode ser verdade. No
entanto, eles não foram bem-sucedidos na forma como comunicaram
esse amor. Os pais prepararam as refeições, lavaram a roupa, providenciaram transporte e deram-lhes oportunidades de educação e de lazer.
Tudo isto representa expressões de amor válidas se o amor incondicional estiver presente em primeiro lugar; mas nunca são substitutos
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O AMOR É A BASE
do tipo de amor mais fundamental, e as crianças conhecem a diferença. Elas sabem se estão a receber aquilo que mais profundamente
anseiam.
Como comunicar o seu amor
A triste verdade é que poucas crianças se sentem incondicionalmente amadas e cuidadas. Contudo, apesar disso, também é verdade
que muitos pais amam profundamente os seus filhos. Então, porquê
tão terrível contradição? A principal razão prende-se com o facto de os
pais não saberem como transferir o seu profundo amor para os corações dos seus filhos. Alguns pais assumem que, porque ama os seus
filhos, as crianças sabem-no de forma automática. Outros pais pensam
que simplesmente dizer a uma criança “gosto muito de ti” é o suficiente
para transmitir amor. Infelizmente, isto não é verdade.
Motivar através do seu comportamento
Claro que é bom sentir amor e verbalizá-lo, mas isto não é suficiente para fazer uma criança sentir-se amada incondicionalmente porque as crianças são motivadas através do comportamento. Elas reagem
a acções – o que o leitor lhes faz. Então, para chegar até elas, tem de as
amar nos termos delas, ou, em alternativa, através do seu próprio comportamento.
Há vantagens para os pais nesta abordagem. Por exemplo, se o leitor teve um dia terrível, está em baixo e sente-se desencorajado quando
regressa a casa, não se sente especialmente inclinado a ser amoroso.
Pode até interrogar-se se isso é honesto e se os seus filhos são capazes de ver através de si. De certa forma, eles até conseguem porque eles
são particularmente sensíveis a nível emocional. Eles sabem quando
não está amoroso, mas, no entanto, sentem amor através do seu comportamento. O leitor não concorda que eles ficam mais agradecidos
quando é amoroso, independentemente da forma como se sente?
Os seus filhos percepcionarão o que sente por eles através do seu
comportamento para com eles. O apóstolo João escreveu: “Meus
filhos, não amemos com palavras e discursos, mas com acções e com
verdade.”1 Se o leitor começar a fazer uma lista de todas as formas
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A S CINCO L INGUAGENS DO A MOR DAS CRIANÇAS
comportamentais de amar uma criança, duvido que conseguisse preencher mais do que uma página. O facto é que não há assim tantas,
mas isso não é problema porque quer manter as coisas simples. O que
importa é manter cheio o depósito de amor dos seus filhos. Para isso
pode simplesmente recordar-se de que as expressões comportamentais
de amor podem dividir-se em toque físico, tempo de qualidade, receber
presentes, actos de servir e palavras de apreço.
Falar a linguagem de amor do seu filho
Tal como salientámos anteriormente, há cinco linguagens do amor,
e provavelmente o seu filho tem uma linguagem principal que melhor
lhe transmite amor. Falar a linguagem de amor do seu filho satisfará
as necessidades emocionais de amor dele ou dela. Isto não significa
que o leitor fale apenas essa linguagem principal do amor. As crianças necessitam de todas as cinco linguagens do amor para manterem
cheios os seus depósitos emocionais. Isto significa que os pais devem
aprender a falar todas essas linguagens. Os próximos cinco capítulos
mostrar-lhe-ão como.
Os seus filhos podem receber amor através de todas estas linguagens. Contudo, e apesar disso, a maioria das crianças tem uma linguagem principal do amor, aquela que lhes fala mais alto do que as outras.
Se o leitor quer satisfazer as necessidades de amor dos seus filhos de
uma forma eficaz, é fundamental que descubra a linguagem principal
do amor de cada um deles.
Começando no capítulo 2, nós ajudá-lo-emos a descobrir a linguagem principal do amor do seu filho. Porém, uma palavra de aviso: se
o seu filho tem menos de 5 anos, não espere descobrir a sua linguagem principal do amor. Não pode. A criança poderá dar-lhe pistas,
mas a sua linguagem do amor é raramente apercebida de forma clara.
Limite-se, neste caso, a falar todas as cinco. Gestos de ternura, palavras de apoio, tempo de qualidade, receber presentes e actos de servir,
todos eles vão ao encontro da satisfação da necessidade de amor do seu
filho. Se tal necessidade for satisfeita e se o seu filho se sentir genuinamente amado, será muito mais fácil para ele aprender e reagir em
outras áreas. Este tipo de amor interage interfaces com todas as outras
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O AMOR É A BASE
necessidades de uma criança. Fale todas as cinco linguagens do amor
também quando o seu filho for mais velho, pois ele precisa de todas
elas para crescer, apesar de ansiar mais por uma do que pelas outras.
Uma segunda palavra de aviso: quando descobrir a linguagem do
amor do seu filho e, dessa forma, ele receber o amor de que necessita,
não parta do pressuposto de que tudo na vida dele decorrerá normalmente. Continuará a haver lugar a contratempos e mal-entendidos. No
entanto, o seu filho, tal como uma flor, beneficiará do seu amor por
ele. Se regado com amor, o seu filho florescerá e abençoará o mundo
com beleza. Sem esse amor, ele tornar-se-á uma flor murcha, ansiosa
por água.
Uma vez que o leitor quer que os seus filhos cresçam para a maturidade, vai querer mostrar-lhes o amor em todas as diferentes linguagens
e depois ensinar-lhes a usá-las em benefício próprio. O valor não reside
apenas nos seus filhos, mas também nas pessoas com quem eles viverão e com quem se associarão. Uma das marcas de um adulto maduro é
a capacidade de dar e receber apreço através de todas as linguagens do
amor – contacto físico, tempo de qualidade, palavras de apreço, receber
presentes e actos de servir. Poucos são os adultos capazes disto; a maioria dá ou recebe amor de uma ou duas maneiras.
Se isto não corresponde a nada que tenha feito no passado, o leitor
poderá descobrir que também está a mudar e a crescer em compreensão e na qualidade das suas próprias relações. A seu tempo, terá uma
família multilingue.
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As Cinco Linguagens do Amor
das Crianças
Contacto Físico
Palavras de Apreço
Tempo de Qualidade
Receber Presentes
Actos de Servir
CAPÍTULO 2
Linguagem do Amor n.o 1:
Contacto Físico
Samantha está no quinto ano, e a sua família mudou-se recentemente para uma nova comunidade. “Este ano tem sido difícil, a
mudança e fazer novas amizades. Na minha antiga escola, eu conhecia
toda a gente, e toda a gente me conhecia.” Quando lhe perguntámos se
alguma vez ela sentira que os seus pais não a amavam porque a tiraram
da antiga escola e cidade, Samantha disse: “Oh! Não, eu nunca pensei
que eles fizessem isso de propósito! Eu sei que eles me amam porque
dão-me sempre montes de abraços e beijos. Eu gostava que não tivéssemos de mudar, mas eu sei que o trabalho do papá é importante.”
A linguagem do amor de Samantha é o contacto físico; todo aquele
contacto diz-lhe que o papá e a mamã a amam. Abraços e beijos são a
forma mais comum de falar esta linguagem de amor, mas também há
outras formas: um pai atirava ao ar o seu filho de 1 ano, anda à roda
sem parar com a sua filha de 7 anos, que ri perdidamente, uma mãe
que lê uma história com a sua filha de 3 anos no colo.
Tais actividades de contacto físico acontecem entre pais e filhos,
mas não com tanta frequência quanto poderíamos imaginar. Estudos
A S CINCO L INGUAGENS DO A MOR DAS CRIANÇAS
indicam que muitos pais tocam os seus filhos apenas quando necessário: quando estão a vesti-los ou despi-los, quando os sentam no automóvel ou quando os levam para a cama. Parece que muitos pais não
têm consciência da necessidade que os seus filhos sentem de serem tocados, e de quão facilmente podem usar o contacto físico para manter os
depósitos emocionais dos seus filhos cheios de amor incondicional.
O contacto físico é a linguagem do amor mais fácil de utilizar incondicionalmente porque os pais não precisam de uma ocasião ou desculpa especial para o fazer. Eles têm oportunidades quase constantes
de transferir amor para o coração de uma criança através do contacto.
A linguagem do contacto físico não está limitada a abraços e beijos; ela
também inclui qualquer tipo de contacto físico. Mesmo quando estão
ocupados, os pais podem facilmente tocar uma criança suavemente
nas costas, no braço ou num ombro.
Apesar de alguns pais serem bastante expressivos, outros quase evitam tocar nos filhos. Muitas vezes este contacto físico limitado acontece porque os pais simplesmente não têm consciência do seu padrão
comportamental, ou não sabem como mudá-lo. Muitos deles ficam
felizes por aprender como demonstrar amor de forma tão básica.
Fred estava preocupado com a sua relação com a filha de 4 anos,
Janie, porque ela se afastava e parecia evitar estar com ele. Fred tinha um
grande coração, mas era muito reservado e guardava habitualmente para
si os seus sentimentos. Sempre se sentira desconfortável em exprimir
as suas emoções através do contacto físico. No entanto, porque queria
tanto estar próximo de Janie, estava disposto a fazer algumas mudanças e começou a demonstrar amor por ela através de um leve toque no
braço, nas costas ou nos ombros da filha. Gradualmente, foi utilizando
esta linguagem do amor cada vez mais e acabou por ser capaz de abraçar
e beijar a sua querida filha sem sentir qualquer desconforto.
Esta mudança não foi fácil para Fred, mas, à medida que se tornou
mais expressivo, descobriu que Janie necessitava de quantidades extraordinárias de afecto paternal. Se não o recebesse, ela virava-se contra
ele, revoltada. Fred acabou por compreender como a falta de afecto da
sua parte poderia distorcer as relações de Janie com outros elementos
masculinos mais tarde na vida.
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L INGUAGEM DO A MOR N.º 1: CONTACTO FÍSICO
A necessidade de contacto físico
de uma criança pequena
Fred descobriu o poder desta linguagem do amor em particular. Em
anos recentes, muitos estudos chegaram à mesma conclusão: os bebés
que são pegados ao colo, abraçados e beijados desenvolvem uma vida
emocional mais saudável do que aqueles que são deixados durante longos períodos de tempo sem contacto físico.
O contacto físico é uma das mais fortes vozes do amor. Ele grita:
“Eu amo-te!” A importância de tocar as crianças não constitui uma
noção moderna. No primeiro século d.C., os hebreus que viviam na
Palestina levaram os seus filhos até Jesus “para que ele os tocasse”.
O escritor Marcos conta que os discípulos de Jesus repreenderam os
pais pensando que o seu mestre estava demasiado ocupado com assuntos “importantes” para despender tempo com crianças. Jesus, indignado, disse aos seus discípulos: “‘Deixem as crianças vir ter comigo!
Não as estorvem, pois o Reino de Deus é dos que são como elas. Lembrem-se disto: quem não for como uma criança para aceitar o Reino de
Deus não entrará nele.’ Depois tomou as crianças nos braços, pôs as
mãos sobre elas e abençoou-as.”1
O leitor aprenderá a detectar a principal linguagem do amor do seu
filho no capítulo 7. Pode não ser contacto físico, mas isso não importa.
Todas as crianças necessitam de ser tocadas, e pais sensatos em muitas
culturas reconhecem a importância de ter contacto físico com os seus
filhos. Eles também reconhecem a necessidade de os seus filhos receberem o toque terno de outros adultos importantes, tais como, avós, professores ou líderes religiosos. Sim, aqueles que falam a linguagem do
amor através do contacto físico precisam de maior contacto, mas todas
as crianças precisam de abraços e carícias por parte dos adultos para
sentirem a verdade na expressão “Eu amo-te”.
Muitas pessoas evitam formas saudáveis de tocar as crianças com
receio da questão dos abusos sexuais. Isso é triste. Talvez o medo o
tenha impedido de recorrer a uma das mais naturais expressões de
amor. Sim, nós sabemos que alguns adultos se envolvem em comportamentos sexuais distorcidos e obsessivos; tais criminosos deveriam ser
julgados e severamente punidos. Contudo, ninguém que abrace uma
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A S CINCO L INGUAGENS DO A MOR DAS CRIANÇAS
criança deveria ser suspeito de ser pedófilo. Poderemos ter de tomar
certas precauções, mas não devemos permitir que o medo de sermos
acusados nos impeça de demonstrações adequadas de afectos. O leitor deve sentir-se à vontade para abraçar e beijar os seus filhos, os seus
familiares e as crianças que fazem parte do seu círculo de influência.
O toque ao longo do crescimento
Os nossos bebés
Os nossos filhos necessitam de muitos contactos físicos durante os
seus primeiros anos de vida. Felizmente que pegar ao colo e acariciar
um bebé parece algo quase instintivo para as mães, e, em muitas culturas, os pais também participam activamente no acto de dar afecto.
Contudo, na América tão atarefada, por vezes os pais não tocam os
seus filhos tanto quanto os seus próprios pais costumavam fazê-lo. Eles
trabalham longas horas e com frequência chegam a casa cansados. Se a
mãe trabalha, ela deve certificar-se de que a mãe substituta está disponível e é capaz de tocar. Será a criança tocada de uma forma cheia de
amor, durante o dia, ou será deixada no berço, sozinha e mal-amada?
Nos cuidados a crianças, um bebé merece toques amorosos e ternos,
seja ao mudar a fralda, na hora da refeição ou quando pegamos neles.
Até um bebé é capaz de distinguir toques doces de severos ou irritantes. Os pais deveriam envidar todos os esforços para garantir o tratamento amoroso dos seus filhos durante as horas em que estão longe
deles.
À medida que um bebé cresce e se torna mais activo, a necessidade
de contacto físico não diminui. Abraços e beijos, lutas no chão, andar
às cavalitas e outras formas de contacto amoroso e brincalhão são vitais
para o desenvolvimento emocional da criança. As crianças necessitam
todos os dias de muitos toques com significado, e os pais devem fazer
tudo por tudo para prestar estas expressões de amor. Se, por natureza,
o leitor não é alguém que goste de abraçar, pode sentir que está conscientemente a ir contra a sua tendência natural. Mas pode aprender
a fazê-lo. Quando compreendemos a importância de tocar amorosamente os nossos filhos, sentimo-nos motivados a mudar.
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L INGUAGEM DO A MOR N.º 1: CONTACTO FÍSICO
Tanto os rapazes como as raparigas necessitam de afecto físico,
embora os rapazes mais pequenos recebam, com frequência, menos
que as raparigas. Há muitas razões que explicam tal facto, mas a mais
comum é que os pais sentem que o afecto físico pode, de alguma
forma, efeminar o rapaz. Claro que isto não é verdade. A realidade é
que quanto mais os pais mantiverem o depósito emocional cheio, mais
saudável a auto-estima e a identidade sexual da criança serão.
O seu filho em idade escolar
Quando o seu filho vai para a escola pela primeira vez, continua a
ter uma necessidade desesperada de contacto físico. Um abraço pela
manhã quando sai de casa pode constituir a diferença entre segurança
e insegurança emocional durante o resto do dia. Um abraço quando
ele chega ao fim do dia a casa pode determinar se o seu filho terá
um serão tranquilo de actividade mental e física positiva, ou se fará
um esforço indisciplinado para ter a sua atenção. Porquê? As crianças
estão a ter novas experiências na escola todos os dias, e sentem emoções positivas e negativas em relação aos professores e aos colegas.
Assim, o lar deve ser um abrigo, o lugar onde o amor é seguro. Lembre-se: o contacto físico é uma das mais fortes linguagens do amor.
Se essa linguagem for falada de uma forma natural e agradável, o seu
filho sentir-se-á mais confortável, e ser-lhe-á mais fácil comunicar com
os outros.
Mas eu tenho dois rapazes, e à medida que vão crescendo, têm menos
necessidade de afecto, especialmente de contacto físico, podem argumentar alguns pais. Isso não é verdade. Todas as crianças necessitam de
contacto físico durante toda a infância e adolescência. Muitos rapazes
entre os 7 e os 9 anos passam por uma fase em que resistem ao toque
afectivo, mas, apesar disso, necessitam de contacto físico. A tendência
deles é para contactos mais vigorosos como, por exemplo, andar à luta,
aos empurrões e encontrões, a fingir que se batem, abraços muito apertados, cumprimentos do tipo “dá cá cinco” e outros. As raparigas também gostam deste tipo de contacto físico, mas não resistem aos toques
ternos porque, ao contrário dos rapazes, elas não passam pela fase de
resistência ao afecto.
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