vigilância de escorpiões no estado da bahia

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vigilância de escorpiões no estado da bahia
Boletim Entomológico Nº 04
22 DE JUNHO DE 2016
VIGILÂNCIA DE ESCORPIÕES NO ESTADO DA BAHIA
Principais espécies de escorpiões no
Estado da Bahia
Tityus serrulatus Lutz & Mello, 1922
Foto: Eduardo Motta
É a espécie de maior importância médica do Brasil.
Apresenta populações partenogenéticas* e, originalmente, habitava ambientes de mata de transição,
florestas secas, cerrados e caatinga. Atualmente, tem
vivido em ambientes antropizados. Na Bahia, a espécie
apresenta distribuição generalista, com ocorrência em
86 municípios.
Tityus stigmurus (Thorell, 1876)
No Brasil, especialmente no Nordeste, as notificações de acidentes por escorpiões têm crescido mais de 100% nos últimos 10 anos, ultrapassando o número de acidentes
ofídicos. Na Bahia, este agravo correspondeu a 70% dos acidentes por animais peçonhentos nos últimos quatro anos (2012-2015) segundo o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN), que notificou 54.578 casos, sendo que 38.106 foram ocasionados por
escorpiões.
Respeitando o fluxo de encaminhamento das amostras zoológicas estabelecido
pelo Ministério da Saúde, o LACEN/BA já recebeu 2.205 escorpiões coletados pelas Regionais de Saúde. Estes exemplares estão tombados na Coleção Zoológica de Referência do
Núcleo de Entomologia do LACEN/BA, contemplando 15 espécies, o que representa 65%
da diversidade do estado da Bahia, que possui 23 espécies registradas perdendo apenas
para o estado do Amazonas (Porto, 2008).
No levantamento das espécies coletadas, além das duas de importância médica
do estado: Tityus serrulatus e Tityus stigmurus, as espécies Tityus brazilae e Rhopalurus
rochai que também possuem registros de acidentes com pouca gravidade, foram as que
apresentaram maior distribuição geográfica nos municípios trabalhados (Figura 1). A espécie Tityus serrulatus possui a maior representatividade na Coleção Zoológica de Referência
do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA, encontrada em 73 municípios baianos (Mapa A);
Tityus stigmurus em 31 municípios (Mapa B); Tityus brazilae em 13 municípios (Mapa C) e
Rhopalurus rochai em 46 municípios (Mapa D).
Foto: Tom Ende
Assim como T. serrulatus, esta espécie é partenogenética*, com ninhadas entre 6 a 13 filhotes. Ocorre na
região Nordeste do Brasil, nos Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande
do Norte e Piauí. Na Bahia, está amplamente distribuída em 45 municípios, com ocorrência em todos os
biomas.
Tityus brazilae Lourenço & Eickstedt, 1984
Foto: Tiago Porto
A
B
C
D
Ocorre nos estados da Bahia, Espírito Santo e Sergipe, e
até o momento, é registrada nos biomas da Mata
Atlântica, Caatinga e Cerrado. Na Bahia, sua distribuição é ampla, registrada em 34 municípios.
Rhopalurus rochai Borelli, 1910
Sua ocorrência é registrada para quatro Estados do
Nordeste do Brasil: Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. Suas ninhadas variam de 23 a 55
filhotes (a mais numerosa dentre os escorpiões da
família Buthidae). Na Bahia, sua ocorrência é ampla,
registrada em 45 municípios, todos dentro dos biomas
de Caatinga e Cerrado.
Figura 1 - Mapas da distribuição geográfica na Bahia das espécies Tityus serrulatus, Tityus stigmurus, Tityus brazilae e Rhopalurus rochai para os
municípios trabalhados pelos profissionais das Regionais de Saúde.
VIGILÂNCIA DE ESCORPIÕES NO ESTADO DA BAHIA
Curiosidades
Partenogênese em Tityus serrulatus e Tityus
stigmurus
FLUXOGRAMA
DE AMOSTRAS
A partenogênese é uma forma de reprodução
assexuada, na qual as fêmeas maturam seus
óvulos gerando embriões viáveis sem a necessidade de fecundação. Este fenômeno facilita a dispersão de espécies que apresentam grande valência
ecológica, capazes de se adaptar à diversos ambientes, incluindo áreas antroponizadas.
É o caso das espécies de interesse em saúde pública T. serrulatus e T. stigmurus, as quais apresentam alta capacidade de infestação e proliferação.
Assim, as medidas de controle devem ser desencadeadas a partir da ocorrência ainda que de um
único exemplar em áreas povoadas.
População Sexuada de Tityus serrulatus e Tityus
stigmurus
Até o ano de 1999, quando foram descritos pela
primeira vez machos de T. serrulatus provenientes
do município de Irapé (Minas Gerais), esta espécie
era reconhecida como estritamente partenogenética; e, T. stigmurus tinha sua estratégia reprodutiva ainda em discussão. Em 2009, quando pesquisadores do Instituto Butantan publicaram a descrição completa e distribuição dos machos de ambas
as espécies, passou-se a reconhecer que ambas
também se reproduzem sexuadamente. Há um
consenso que a ocorrência de machos é rara e que
as populações sexuadas estão restritas a áreas
ainda preservadas, enquanto que as populações
partenogenéticas prevalecem nas regiões antropizadas.
Em 2011, pesquisadores da Universidade Federal
da Bahia publicaram a ocorrência da população
sexuada de T. serrulatus no município de São
Desidério-BA, antes conhecida apenas para a
Região Sudeste do país (Irápé-MG e Espinosa-MG),
e ampliaram a distribuição da população sexuada
de T. stigmurus para mais 8 municípios desse
Estado (Feira de Santana, Iraquara, Jacobina, Lauro
de Freitas, Morro do Chapéu, Ruy Barbosa, Salvador e Santo Estevão). Sua ocorrência anterior era
publicada apenas para Camaçari e Paulo Afonso.
Recentemente, uma das autoras desta publicação,
dando continuidade aos estudos com a equipe de
profissionais do Núcleo de Entomologia do LACEN/
BA e, a partir dos exemplares enviados pelas
Regionais de Saúde, identificou-se novas populações sexuadas na Bahia para ambas espécies.
Tityus serrulatus para dois novos municípios
(Caetité e Jaborandi) e T. stigmurus para mais um
(Itaberaba). Estes exemplares encontram-se depositados na Coleção Zoológica de Referência do
Núcleo de Entomologia do LACEN/BA (Figura 3-B).
Figura 2 - Fluxograma de envio de amostras
estabelecido pelo Ministério da Saúde adaptado para a estruturação/implementação do
Programa de Controle e Manejo de Escorpiões na Bahia (Fonte: Ministério da Saúde,
CIAVE/BA e LACEN/BA).
A EQUIPE
A Capacitação em Controle e Manejo de Escorpiões no estado da Bahia, coordenada
pelo Ministério da Saúde, implantada em 2009, objetivou formar profissionais que atuavam nos
serviços de vigilância entomológica do estado da Bahia como multiplicadores do programa de
controle dos animais peçonhentos de importância em saúde.
Dando continuidade a este ciclo de formação, entre os anos de 2013 e 2014 o Núcleo de
Entomologia do Laboratório Central de Saúde Pública Prof. Gonçalo Moniz (LACEN/BA), através de
uma ação integrada com o Centro de Informações Antiveneno da Bahia (CIAVE/BA) e a Diretoria
de Vigilância Epidemiológica do estado da Bahia (DIVEP/BA), realizou as Capacitações em Controle
e Manejo de Escorpiões em quatro Regionais de Saúde: Santa Maria da Vitória, Caetité, Guanambi
e Vitória da Conquista visando a estruturação/implementação do Programa para o Controle e
Manejo desses animais no estado e, consequentemente, a diminuição do número de acidentes e
a sua morbi-mortalidade. As capacitações foram compostas de aulas teórico-práticas, que tinham
como objetivos a identificação das espécies de escorpiões de importância para a saúde pública;
treinamento dos métodos de captura, manejo, acondicionamento e fluxo dos exemplares; além
da discussão das medidas de educação em saúde para a orientação da população sobre o risco e
controle dos acidentes escorpiônicos, Figura 3.
A
C
B
F
Referências:
Boletim elaborado pelo Núcleo de Entomologia
do LACEN/BA
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de controle de escorpiões. Série B. Textos Básicos de
Saúde. Brasília: Fundação nacional de Saúde. 131p.
2009
PORTO, T. J. Escorpiofauna do Estado da Bahia,
Brasil: diagnóstico, distribuição e caracterização.
Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas) –
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Biologia, 100f. 2008.
D
Mapas: Bruno Cova
Contatos Entomologia/LACEN
E-mail: [email protected]
Telefone: (71) 3116-5034
Página 2
E
Figura 3 - Capacitações em Controle e Manejo de Escorpiões para os profissionais das Regionais de Saúde do estado da Bahia: A: Capacitação em
Salvador (2009); B: Coleção Zoológica de Referência do Núcleo de Entomologia do LACEN/BA; C: Aula Prática para a equipe da Regional de Saúde de
Santa Maria da Vitória; D e E: Aula de Campo em Riacho de Santana para as equipes das Regionais de Saúde de Caetité e Guanambi; F: Equipe que
trabalhou na Capacitação para os profissionais da Regional de Saúde de Vitória da Conquista.

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