CAVERNA DO DIABO (ELDORADO/SÃO PAULO/BRASIL

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CAVERNA DO DIABO (ELDORADO/SÃO PAULO/BRASIL
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
CAVERNA DO DIABO (ELDORADO/SÃO PAULO/BRASIL):
INCLUSÃO SOCIAL DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS ATRAVÉS
DO SERVIÇO DE MONITORIA AMBIENTAL
HETIENNE JULIANI PONTES DE AGUIAR1
Resumo: Eldorado, localizado ao sul do estado de São Paulo (Brasil), apresenta uma grande
concentração de comunidades remanescentes de quilombos. O Município apresenta, além da riqueza
cultural presente nessas comunidades, uma rica biodiversidade, com grande parte de sua aera
coberta por Mata Atlântica em bom estado de conservação. Dentre os atrativos turísticos de Eldorado
se encontra a Caverna do Diabo, localizada nos limites do Parque Estadual Caverna do Diabo. Muitos
residentes das comunidades quilombolas do município encontraram no turismo uma alternativa para
geração de emprego e renda através do serviço de monitoria ambiental que é obrigatório para a visita
ao atrativo. Assim, este trabalho visa apresentar de que forma os remanescentes de quilombos são
incluídos socialmente através desse serviço.
Palavras-chave: Inclusão Social. Comunidade Quilombola. Caverna do Diabo.
Abstract: Eldorado, located to the south of São Paulo (Brazil), has a large concentration of
quilombos remnant communities. The municipality presents, in addition to the cultural wealth present
in these communities, a wealthy biodiversity, with much of its area covered by Atlantic Forest in good
condition of conservation. Among the Eldorado attractive tourist is located the Devil's Cave, located on
the edge of the Devil's Cave State Park. Many residents of the municipality's the quilombola
communities found in tourism an alternative for generating jobs and income through environmental
monitoring service that is required to visit the attraction. This work aims to present how the quilombo
remnants are included socially through this service.
Keywords: Social Inclusion. Quilombos’s Community. Devil’s Cave.
1- INTRODUÇÃO
A atividade turística pode ser considerada como agente do espaço, pois
abrange fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais. O turismo é, segundo
Cruz (2001, p. 5), “antes de mais nada, uma prática social que envolve o
deslocamento de pessoas pelo território e que tem no espaço geográfico seu
principal objeto de consumo”.
Para Santos (1994, p. 26), espaço é definido da seguinte maneira:
1
Bacharel em Turismo pelo Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte). Especialista em Gestão
dos Recursos Naturais (PUC-PR). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Email: [email protected]
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[...] conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de
objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro a vida
que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento [...].
O autor apresenta a importância da natureza e da sociedade na constituição
do espaço. Segundo Santos (2008, p. 153) “o espaço deve ser considerado como
um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se
apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e
do presente”.
O espaço é organizado de acordo com a necessidade do homem, podendo
ser produzido de diversas maneiras, o turismo é uma delas, já que se trata de uma
atividade que envolve socialização, conhecimento, adaptação e transformação (ou
não) do lugar ou território para que possa acontecer. De acordo com o entendimento
de Rodrigues (1999, p. 56), “o turismo é uma atividade que produz (mesmo quando
se apropria sem transformar) um espaço”. Esta atividade, desde que bem planejada,
tende a auxiliar no desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade, além de
contribuir para a preservação de seu patrimônio cultural. A geração de emprego e
renda advinda do turismo é uma das formas de inclusão daqueles que muitas vezes
permaneceram esquecidos pela sociedade. “A exclusão social tem se constituído um
traço fundante da sociedade brasileira, enquanto espaço dominado pelos ditames
desta economia globalizada de um Estado-nação submisso a essa ordem e,
portanto, controlador dos movimentos sociais” (CORIOLANO, 2005, p. 296). A
atividade turística pode beneficiar a cadeia econômica, envolvendo todos os que
moram numa localidade em diversas formas de atuação como produção agrícola,
serviços de hospedagem e alimentação, artesanato, guia e monitoria, entre muitos
outros.
Este trabalho tem por objetivo mostrar de que forma os moradores das
comunidades quilombolas são incluídos socialmente através do serviço de monitor
ambiental na Caverna do Diabo.
A Caverna do Diabo é o principal ponto de visitação do Parque Estadual de
mesmo nome. Este se localiza no município de Eldorado (São Paulo, Brasil), região
do Vale do Ribeira. O município possui diversos atrativos naturais, além disso, uma
grande concentração de comunidades quilombolas, sendo atualmente doze já
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reconhecidas como remanescentes de quilombos e outras em fase de elaboração de
laudos antropológicos para o reconhecimento.
Em 2008, a Caverna do Diabo foi interditada para a visitação turística devido
ao embargo estabelecido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA, 2015), em razão da ausência do Plano de Manejo
Espeleológico para o atrativo. Diversas pessoas que atuavam como monitores
ambientais no parque, durante este período, deixaram suas comunidades em busca
de melhores condições de vida, iniciando um processo de perda da identidade
étnica. Para os quilombos esta identidade se dá por meio do sentimento de
pertencimento que está preso ao território em que vivem (GUSMÃO, 1999).
A relação entre o Parque Estadual e as comunidades tradicionais se ampliou
no momento da reabertura da Caverna do Diabo, uma vez que, dentre as exigências
estabelecidas para a retomada à visitação estava a obrigatoriedade de o passeio ser
acompanhado por monitor ambiental. Esse fato resultou em uma parceria entre o
parque e a Associação dos Monitores Ambientais de Eldorado (AMAMEL). O grupo,
composto por aproximadamente trinta pessoas, mantém plantão diário no local para
guiar os visitantes, sendo formado por moradores das comunidades tradicionais
quilombolas situadas no entorno da Unidade de Conservação.
O serviço de monitoria ambiental tem permitido a geração de renda para
pessoas que anteriormente não tinham opção de emprego ou realizavam trabalhos
informais, além de valorizar a cultura quilombola, já que seus costumes podem ser
transmitidos aos visitantes, despertando assim o desejo de visitar as comunidades e
fomentar ainda mais a cadeia produtiva do turismo, inserindo no contexto, inclusive,
aqueles que não atuam diretamente no Parque Estadual Caverna do Diabo.
O trabalho se trata de artigo de teor ensaístico, de caráter exploratório, em
que se buscou como metodologia a pesquisa bibliográfica, juntamente com pesquisa
documental e de roteiro de observação em campo em abordagem qualitativa.
2- CONTEXTUALIZAÇÃO
O município de Eldorado, localizado ao sul do Estado de São Paulo, região
do Vale do Ribeira, é o quarto maior município paulista com mais de 70% de sua
área coberta por Mata Atlântica em bom estado de conservação (ELDORADO,
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2015). Possui atrativos naturais, como trilhas, cachoeiras e cavernas que atraem
adeptos do ecoturismo, além de apresentar uma rica cultura que vem se mantendo
preservada com o passar dos anos nas comunidades tradicionais quilombolas. O
ecoturismo, de acordo com Conti (2003), pode ser entendido como um modo de
usufruir a natureza ao mesmo tempo em que favorece o envolvimento das
populações locais, assim como incentiva a preservação ambiental.
Por volta de 1630 o município inicia a sua história com a chegada de
portugueses através do rio Ribeira em busca de ouro, sendo que Ivaporunduva, hoje
uma das comunidades reconhecidas como remanescente de quilombo, foi um dos
primeiros povoados a se formar às margens do Ribeira (PINTO, 2007). De acordo
com Carril (1995), foi no período das expedições de mineração, que partiram do
litoral sul de São Paulo com destino ao Vale do Ribeira no século XVI, que ocorreu a
chegada dos escravos na região.
Devido às suas belezas naturais e ao patrimônio histórico e cultural, no ano
de 1995 o município de Eldorado foi reconhecido como Estância Turística
(ELDORADO, 2015).
2.1 – COMUNIDADES TRADICIONAIS QUILOMBOLAS DE ELDORADO
O termo quilombo, datado ainda do período colonial, foi conceituado pelo
Conselho Ultramarino em 1730 como “toda habitação de negros fugidos, que
passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados
e nem se achem pilões nele”. (ALMEIDA, 2002, p. 47). Para o Estado brasileiro,
quilombos são:
[...] os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com
trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com
presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à
opressão histórica sofrida. (BRASIL. DECRETO 4887/03 art. 2°).
Atrelando-se a esse aspecto considera-se pertinente afirmar que o conceito
de território não se dá somente através de dimensões políticas e econômicas, mas
também culturais (HAESBAERT, 2005). Os remanescentes de quilombo possuem
vínculo, além de físico, também emocional com o território em que vivem, pois é
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nesse lugar que trabalham, se sociabilizam, mantém suas raízes e se relacionam
com seu passado através de suas histórias. Por meio do sentimento de
pertencimento, se dá a identidade étnica e para os quilombolas, essa disposição
afetiva está presa ao território em que vivem. Deste modo, o território não é apenas
físico, como também simbólico (SANTOS, 2004), indo além de ser o local em que se
vive, circula, trabalha, reside etc. Para Claval (2014, p. 214), “não há sociedade sem
espaço que lhe sirva de suporte. A instituição da sociedade é, assim, inseparável
daquela do espaço”. Santos (1997) afirma que os quilombos surgiram de diversas
maneiras como alforria, compra de terras, herança, troca por serviços, entre outros.
Desse modo, os negros fixaram-se mata adentro, dando origem às comunidades
negras do Vale do Ribeira.
Atualmente, 28 comunidades são reconhecidas como remanescentes de
quilombos no estado de São Paulo, sendo que destas, 21 estão localizadas na
região do Vale do Ribeira (SÃO PAULO, 2015). No município de Eldorado, 12
comunidades já foram reconhecidas: Abobral, André Lopes, Bananal Pequeno
Engenho, Galvão, Ivaporunduva, Nhunguara, Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima,
Poça, São Pedro e Sapatú (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2013). Estas
comunidades, exceto Abobral, Bananal Pequeno e Engenho, compõem a Área de
Proteção Integral (APA) Quilombos do Médio Ribeira, sendo uma Unidade de
Conservação (UC) de Uso Sustentável que, segundo o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, tem por objetivo assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais, proteger a diversidade biológica e disciplinar o processo de
ocupação do solo (REDE BRASILEIRA DE RESERVAS DA BIOSFERA, 2009). Esta
APA se localiza no entorno imediato de outra UC, o Parque Estadual Caverna do
Diabo.
Os remanescentes de quilombos de Eldorado sempre se encontraram em
meio a lutas por seus direitos. Primeiramente houve a busca da liberdade pelos
escravos negros, num segundo momento os conflitos para o reconhecimento de
seus territórios. Paralelo a isso, atualmente um dos maiores problemas enfrentados
pelos tradicionais se dá por conta do projeto de construção de quatro barragens
(Tijuco Alto, Funil, Itaóca e Batatal) ao longo do rio Ribeira de Iguape, sendo este o
último rio de grande porte do estado de São Paulo livre deste tipo de edificação.
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Esta luta se dá por mais de 25 anos e vem unindo diversos segmentos da sociedade
no movimento de resistência. A justificativa apresentada para a construção das
mesmas seria a geração de energia e, hipoteticamente, a contenção das constantes
cheias do rio, porém, estas barragens causariam enormes danos ambientais,
inundando cavernas e Unidades de Conservação, além de ampliar o sentimento de
exclusão vivenciado pelos tradicionais, uma vez que os mesmos perderiam o lugar
em que vivem para as águas, perdendo também o elo com o seu passado que se dá
também pela relação com a terra em que habitam.
2.2 – PARQUE ESTADUAL CAVERNA DO DIABO
De acordo com a Rede Brasileira de Reservas da Biosfera (2009, p. 22, 23)
para o Sistema Nacional de Unidades de Conservação:
Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de
ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica,
possibilitando a realização de pesquisas e o desenvolvimento de atividades
de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a
natureza e de turismo ecológico.
Quando criado por um Estado, denomina-se Parque Estadual, assim, o
Parque Estadual Caverna do Diabo (SP) foi criado em 21 de fevereiro de 2008
através da Lei Nº 12810 e possui uma área de 40.219,66 ha (FUNDAÇÃO
FLORESTAL, 2015). Seu território abrange os municípios de Barra do Turvo, Cajati,
Eldorado e Iporanga. Seu rico ecossistema e seu principal ponto turístico, a Caverna
do Diabo, atraem visitantes de diversas localidades (FUNDAÇÃO FLORESTAL,
2015).
O Parque possui um único núcleo, situado no município de Eldorado, e
todos os atrativos pelos quais os turistas vêm em busca se localizam nele, exceto a
Cachoeira Dito Salú, localizada no município da Barra do Turvo e a Trilha do
Lamarca, que dá acesso às Cachoeiras da Luz e Santa Isabel, localizadas no
Distrito de Barra do Braço, em Eldorado.
O núcleo Caverna do Diabo possui infraestrutura para o uso público, com
restaurante, sanitários e estacionamento e há cerca de 5 anos passou por obras no
intuito de melhorar sua qualidade. O objetivo principal dos visitantes no Parque é
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conhecer a Gruta da Tapagem, popularmente chamada de Caverna do Diabo. O
local conta ainda com atrativos como a Trilha e Cachoeira do Araçá, Trilha do
Mirante, Mirante do Governador e o Centro de Visitantes (FUNDAÇÃO FLORESTAL,
2015).
O passeio pela gruta é obrigatoriamente monitorado para que o visitante
possa receber a orientação necessária visando a preservação do ambiente. E,
conforme dito anteriormente, os remanescentes de quilombos integrantes da
Associação dos Monitores Ambientais de Eldorado, realizam o serviço diariamente
no parque. Os quilombolas têm ligação com a natureza e este forte vínculo com o
meio ambiente caracteriza as comunidades tradicionais, o que justifica o alto nível
de preservação ambiental nessas áreas (ANDRADE, T.; PEREIRA; ANDRADE, M.
R., 2000). O turismo, que neste caso se manifesta especialmente através do serviço
de monitora ambiental, vem complementar essa relação uma vez que os residentes
atuam na informação aos visitantes.
3- RELAÇÃO ENTRE RESIDENTES DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS E O
PARQUE ESTADUAL CAVERNA DO DIABO
O Parque Estadual Caverna do Diabo exerce papel positivo no que tange a
relação dos remanescentes de quilombos com o ecoturismo. Há muitos anos se
iniciou a formação do grupo de monitores ambientais, a AMAMEL, cujo objetivo
principal era atuar com visitantes na Caverna do Diabo. O grupo atualmente é
formado por 30 pessoas, sendo todos residentes das comunidades quilombolas de
entorno.
Antes de exercerem esta função, muitos deles atuavam com atividades
ilegais, como a extração de palmito (PIVA, 2008).
Em fevereiro de 2008, a visitação à Caverna do Diabo foi proibida através de
embargo do IBAMA pela ausência de Plano de Manejo Espeleológico da cavidade.
(IBAMA, 2015). Essa proibição perdurou por 4 meses, período este em que muitos
monitores ambientais se encontraram em situação difícil, sem exercer função com
retorno financeiro, ocasionando com que alguns retomassem às atividades ilegais ou
deixassem suas comunidades em busca de alternativas de emprego. Dentre as
normas para a reabertura da Caverna do Diabo, consta a obrigatoriedade, que até
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então não existia, de a visita na gruta ocorrer de maneira monitorada. A partir de
então, criou-se uma parceria extraoficial entre a Fundação Florestal, entidade ligada
a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que administra o PECD, e a
AMAMEL para que se mantivessem plantões diários no local para atender aos
visitantes. Além da Caverna do Diabo, os monitores são capacitados a acompanhar
e informar aos visitantes sobre demais atrativos do núcleo.
A imposição desta norma gerou impactos positivos tanto na organização e
atendimento aos visitantes, como redução dos impactos ambientais causados pela
visitação desordenada. Mas, um dos maiores benefícios gerados foi a inclusão
social dos quilombolas residentes no entorno no Parque. Apesar de a AMAMEL já
existir antes do embargo, foi após este fato que o grupo ganhou força, já que o
serviço de monitoria passou a ser fundamental para que a Caverna do Diabo
pudesse ser visitada.
Entende-se que o serviço de monitoria ambiental realizado na Unidade de
Conservação integra cultura, geração de renda e preservação ambiental. A cultura
do tradicional quilombola é fonte de interesse para os visitantes, uma vez que faz
parte da história do país. Para Coriolano e Silva (2005, p. 31) cultura é:
[...] o conjunto de valores materiais e imateriais (espirituais), forma de ser de
um povo envolvendo os conhecimentos, artes, leis, costumes e valores de
uma sociedade. É o veículo que possibilita a comunicação entre residentes
e turistas.
A história do tradicional quilombola pode ser considerada um atrativo a mais
do parque e assim, aqueles que lá atuam podem se sentir valorizados e orgulhosos
de suas origens. Cruz (2001, p. 8) afirma que: “Nenhum lugar turístico tem sentido
por si mesmo, ou seja, fora do contexto cultural que promove sua valorização, em
dado momento histórico”.
O trabalho desenvolvido no PECD gera a oportunidade para aqueles que
permanecem nas comunidades sejam incluídos socialmente. A divulgação dessas
comunidades tende a despertar o interesse do visitante para conhecer tais
comunidades, que nesse momento terão possibilidade de trabalho por meio da
venda de artesanato, alimentos típicos, serviço de guia, entre outros. O ecoturismo,
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turismo étnico, turismo rural e turismo cultural são alguns exemplos de tipologias que
podem ser desenvolvidos se relacionando às comunidades quilombolas. Estes são
apropriados ao desenvolvimento do turismo de base comunitária. De acordo com
Coriolano (2003, p. 41):
O turismo de base comunitária é aquele desenvolvido pelos próprios
moradores de um lugar que passam a ser os articuladores e os construtores
da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na comunidade e
contribuem para melhoria da qualidade de vida.
Cabe salientar que o turismo de base comunitária não visa, apesar de sua
importância, apenas o desenvolvimento econômico de uma localidade, mas também
social e cultural, inserindo toda comunidade na cadeia produtiva, visando seu
desenvolvimento tanto quantitativo quanto qualitativo.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho se buscou mostrar que as comunidades tradicionais
quilombolas de Eldorado são incluídas socialmente através do serviço de monitoria
ambiental realizado na Caverna do Diabo.
Percebeu-se que essa atividade pode auxiliar na renda dos tradicionais
permitindo que permaneçam em suas comunidades, mantendo suas origens e
preservando sua cultura. Os quilombolas vivenciaram diversas lutas no decorrer dos
anos e a possibilidade de continuar no local que residem, tende a aumentar o
sentimento de pertencimento. O território em que vivem os identifica.
A
atividade
turística,
quando
bem
planejada
pode
auxiliar
no
desenvolvimento de uma comunidade de diversas maneiras, fatores sociais,
econômicos e culturais são alguns exemplos que podem ser citados como
beneficiados. O retorno positivo envolve diversos setores, tanto os ligados
diretamente ao turismo como alimentação, hospedagem, serviço de guia, como
indiretamente, como o setor agrícola, o comércio local, entre outros, ou seja, a
atividade movimenta e distribui a renda de uma localidade.
Permitindo a geração de emprego e renda, o turismo inclui socialmente
aqueles que por muitas vezes são esquecidos pela sociedade. As comunidades
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quilombolas de Eldorado, localizadas no entorno do Parque Estadual Caverna do
Diabo por muito tempo se mantiveram apenas com atividades agrícolas, porém, com
o passar do tempo se fez necessário novas fontes de renda. Alguns deixaram suas
comunidades em busca de oportunidades, outros permaneceram em suas terras
com a esperança de encontrar situações favoráveis, mantendo suas tradições e
podendo transmiti-las para as próximas gerações.
O serviço de monitoria ambiental no PECD, mais especificamente na
Caverna do Diabo, tem permitido que os residentes das comunidades permaneçam
em seus territórios, auxiliando na renda familiar e apresentando aos visitantes a
cultura tradicional do quilombola.
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