Tradução_FP na WEB_ Anos Póstumos

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Tradução_FP na WEB_ Anos Póstumos
FULVIOPENNACCHI / ANOS PÓSTUMOS
INTITULAÇÃO DA PRAÇA DE PIANNACCI
TOSCANO, ASCÉTICO, PINTOR E PAI!
Pianacci, Villa Collemandina, Lucca, Itália – 27.12.1905 / São Paulo, SP, Brasil – 05.10.1992
A título de prólogo, creio que seja obrigatório escrever duas palavras relativas ao Rev.mo. Padre Francesco
Milini, outrora superior provincial em São Paulo da Pia Sociedade dos Missionários de São Carlos, que
manteve relações de amizade com Pennacchi desde 1937, quando do encontro com ele no momento em
que se tratou de projetar a Igreja de Nossa Senhora da Paz. Ambos eram professores no Istituto Medio
[Italo Brasiliano] Dante Alighieri de São Paulo, e Padre Milini, com a sua visão moderna, aguçada e
previdente, não hesitou em confiar a um pintor jovem e desconhecido a elaboração do projeto e a
construção da igreja scalabriniana (carlista) de São Paulo.
O projeto Pennacchi-Pettini, aprovado pelo Padre Milini foi severamente criticado e reprovado por muitas
pessoas de destaque na “boa” sociedade ítalo-brasileira. Angelo Marchetti Zioni escreveu no remoto 1939
que para muita gente “os muros simples e nus daquela igreja pareciam-se com uma fábrica e não com a
casa de Deus...”. A defesa de Zioni continua: “...São Paulo, centro cosmopolita e industrial, vanguardista
na ciência, na labuta e nas artes, será mesmo a terra que há de mostrar mais esse templo majestoso e
rico, que há de perpetuar, na simplicidade austera de suas linhas, a característica viril e trabalhadora de
sua gente ...enriquecendo, sem dúvida, de modo brilhante o patrimônio artístico da Paulicéia”.
Depois de muitos anos, precisamente em 1986, Padre Milini, respondendo a Demo Ghidelli do Il Corriere,
a respeito de uma ampla reportagem sobre a personalidade e atividade artística de Pennacchi por ocasião
do seu octogésimo aniversário, escreve encomiasticamente e com uma generosidade surpreendente
que...
« ...Pennacchi é uma figura emblemática de imigrante italiano que, exuberante de valores humanos e
espirituais, sem desorientação alguma soube suportar os enormes sacrifícios encontrados no seu
primeiro impacto com uma sociedade diferente e indiferente às atenções dele. Sociedade que ele,
como bom cristão, não recusou nem desprezou; ao contrário, procurou entendê-la e com força de
vontade se inseriu nela, orgulhoso de sua identidade cultural, mas confiante em poder encontrar
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pontos de encontro sobre os quais estabeleceu as suas energias e desenvolveu a sua criatividade. E o
ponto de encontro foi aquele dos valores humanos e espirituais da gente humilde e simples que como
ele lutava pela vida, e de todos aqueles que fizeram dos dons da própria extração social meios de
avanço humano.»
Anos Italianos ( ... 1929)
Fulvio Pennacchi nasceu em Pianacci, pequeno distrito do município de Villa Collemandina em
27.12.1905, de uma família de antiga estirpe longobarda, católica, monárquica e historicamente ligada ao
Risorgimento, naquela mesma Garfagnana que, às vezes, para chegar a Lucca, via transpor os seus
montes e passar pelos seus caminhos a Grande Condessa. De origem lombarda e proveniente de Lucca,
Matilde de Canossa, com a morte do pai – por volta de 1071 – herdou um vastíssimo patrimônio feudal,
estendido da atual província de Lucca a Ferrara, e da Garfagnana a Brescia.
Hábil desenhista, estudou em Castiglione di Garfagnana, Pisa, Lucca e Firenze. Com a seriedade da
tradição acadêmica, torna-se participante da rajada de puro patriotismo fundado sobre as obras dos
nossos grandes do Trecento e Quattrocento; consegue entender e reunir as concessões artísticas próprias
da Paris pós-impressionista; compreende bem o significado dos intervalos cubista, futurista e do
intelectualismo metafísco e se prepara para atingir uma pintura de matriz clássica que, segundo ele,
devia ser caracterizada pela precisão do traço, decisão da cor e resolução da forma. Se quisermos,
podemos reduzir a fórmula estética desse “neoclassicismo” a idéias claras, medida, proporção, modéstia
e bom senso.
1
Conhecia a fundo os “antigos” e a espiritualidade o aproximava de Masaccio; do Novecento ; herdou a
noção espacial e volumétrica que será representada nas suas paisagens – depois de longos estudos –
através da solidez dos muros, da maciça geometria das casas e das figuras, e da ancoragem das figuras na
2
terra .
Sem jamais praticar a cópia, por meio do seu talento e sensibilidade, ele deu àquela arte uma nova
fisionomia, bem diferente daquela obtida pelo triunfalismo da forma, desejado por Margherita Grassini
1 O Novecento, neste caso, é aquele representado por Carrà, Sironi, Funi, Rosai e Ceracchini.
2 Guglielmo Lera, Rivista di Archeologia, storia, costume. Lucca: Istituto Storico Lucchese, Aprile-Giugno,
1984.
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Sarfatti e pelo grande equívoco de Mario Sironi ao emparelhar (1933), o rappel à l’ordre e o esprit
nouveau aos chamados “valores fascistas” e à instauração de uma “arte estatal”, pouco a pouco
transformada na “retórica littoria” e no “realismo fascista” apoiado por Farinaci e finalmente sepultado
no esquecimento, seja em consequência da damnatio histórica que ainda envolve a era fascista, ou então
1
por não haver obtido consenso para transformar-se em um movimento nacional .
De fato, Margherita Grassini Sarfatti – “a bela judia de olhos azuis”, amiga, amante e conselheira cultural
de Mussolini por quase quinze anos – procurou instrumentalizar o Novecento para representar na arte as
diretrizes do fascismo e da política do tempo, já claramente expressas pela participação de Mussolini na
inauguração da Mostra de Grosseto e pelo seu discurso na Academia de Belas Artes de Perugia, ambos em
1926. Mesmo não se apresentando como imagem do fascismo, o Novecento testemunha “uma orientação
conservadora” contra as imprudências da vanguarda; ou seja, do futurismo. Por que? Na minha opinião, o
fascismo, no princípio, foi um entrincheiramento conservador. O reino parlamentar italiano torna-se uma
ditadura com monarquia anexada e a permanência da classe burguesa no poder sustenta a reestruturação
política para evitar o desenvolvimento dos movimentos socialistas e comunistas. A Rússia e 1917 estavam
muito perto!
No decorrer de seus anos acadêmicos desenhou muito e até executou algumas pinturas murais a têmpera
nas residências de Valerio Pennacchi e Armando Giannotti. Na residência de tio Armando decorou a sala
das armas pintando a fauna silvestre autóctone, objeto de caça assídua – uma velha paixão dos Giannotti.
Na casa do avô paterno Valerio, a pedido dele, pintou um grande friso (de cerca de 60 centímetros de
altura) que do átrio se prolongava até a sala de visitas (hoje destruída), onde havia representado em
figuras diáfanas e cores quase transparentes a “Ballata Grande – Il Trionfo di Bacco e d’Arianna” de
Lorenzo, o Magnífico (1449-1492), quintessência do sentimento festeiro e gozador do Renascimento
2
florentino . Na sala de almoço, um segundo friso de folhas de louro e de acanto fazia moldura para o
1 Rossana Bossaglia, Il Novecento Italiano. Milano: Edizione Charta, 1995.
Philip Cannistraro & Brian Sullivan, The Duce’s other woman. New York: William Morrow, 1993.
Elena Pontiggia, Da Boccioni a Sironi - Il mondo di Margherita Sarfatti. Milano: Skira Editore, 1997.
Patricio Mercuri, I Cartoni di Ceracchini. Rimini: Guaraldi, 1998.
2 “Quant’é bella giovinezza che si fugge tuttavia; chi vuol essere lieto sia; di doman non c’è certeza.
Quest’è Bacco e Arianna; belli e l’un dell’altro ardenti; perché il tempo fugge e inganna; sempre insiem stan
contenti...” . Tradução livre: “Como é bela a juventude que se escapa todavia; quem quer ser alegre, seja; do
amanhã não há certeza. Estes são Bacco e Arianna; belos e apaixonados um pelo outro; porque o tempo foge e
engana; sempre juntos estão contentes...”
F. Isoldi, Anthologia Italiana. São Paulo: Casa Editora Antonio Tisi, 1927.
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brasão de família; nem ao menos este sobreviveu à arquitetura racionalista pós-moderna que “na paz
1
patriarcal da Garfagnana serrana e no verde silêncio carducciano ” já chegou faz tempo!
Os Primeiros Anos no Brasil (1929 – 1935)
Pennacchi – desenhista, pintor de afrescos, pintor, escultor e poeta – é um artista quase desconhecido na
sua terra natal; é um fato que não me surpreende, dado que ele viveu 63 dos seus 87 anos de vida no
Brasil. Como todos os garfanhinos, Pennacchi foi obrigado ao exílio porque estava em desacordo com a
política imperante no fascismo megalômano na Lucchesia. Era o único caminho a seguir para continuar a
2
viver honestamente a vida . Carlo Scorza – incontestável “Ras3 de Lucca” – havia implantado ali uma
sucursal daquela corja que o regime reprimia em outros países; verdadeiro calabrês típico, meio
5
camponês, meio brigante4, digno representante do bas-fond calabrês . Chi di rustica progenie6... !
Há poucas referências ao seu trabalho e poucas pessoas, na Itália, falaram dele e da sua arte. Foram
escritos artigos no La Garfagnana em 1970, 1973, 1986 e 1989. Em 1973, foi premiado com o Diploma e a
Medalha de Ouro junto com luqueses que honraram a Itália no mundo com o seu trabalho. La Nazione
1 Carta de Nicola Pennacchi dei Cannari ao autor.
2 Com ele viajava um parente (Dr. Fedele Pennacchi, médico) líder do partido em Garfagnana, que deveria se
afastar por haver denunciado certos assuntos escusos do mencionado secretário fascista.
3
Ras é uma autoridade local déspota e arbitrária, hoje também um sentido depreciativo assumido pelo nome que
vem da denominação dada aos chefes feudais etíopes, adotada por Italo Balbo (ministro da Aeronáutica da Itália
nos anos de 1920) como título fascista, mais ou menos equivalente ao de duque na hierarquia (Nota da tradução).
4
Brigante designa pessoa ligada ao brigantaggio, fenômeno normalmente associado ao banditismo relacionado à
insurreição armada política e social em regiões do sul da Itália, sobretudo durante e pouco depois do processo de
unificação do país. Geralmente associado a fora-da-lei, brigante também empresta sentido depreciativo, razão pela
qual é frequentemente traduzido como “bandido” (Nota da tradução).
5 Carlo Scorza nasceu em Paola (Cosenza) em 1897 e em 1932, logo após uma investigação sobre o estado
do fascismo na Lucchesia foi proibido de ir a qualquer parte da província de Lucca. Dado que os luqueses
o fizeram saber que era persona non grata no Brasil, Scorza emigrou para a Argentina. Nos anos de 1950
voltou à Italia.
“Carta aberta do Dr. Fedele Pennacchi (meu tio paterno) aos jornais italianos”; 1932.
6
Na verdade, esse dito popular aqui truncado vem de um provérbio latino, Rustica progenies semper villana fuit
(Ancestralidade rústica sempre permanecerá interiorana), que assumiu sentidos bem negativos e jocosos,
diferentes daquele do latim, nos provérbios que atravessaram inúmeras fronteiras. No Brasil, há o popular “...não
nega a raça!”, um dos resultados das transformações para o sentido pejorativo (Nota da tradução).
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publicou uma notícia em 1975 referente à sua doação à paróquia de Castiglione de um quadro
raffigurante “La Vergine col Bambino e San Giovannino”, como Pascoli sonhara. Em 1986, na Sala ExArchivio Provinciale di Castelnuovo, houve uma mostra de sua produção artística jovem. Eis tudo!
Fulvio Pennacchi parte de Gênova em 14 de junho, chega a Santos (Brasil) em 5 de julho de 1929. Não é
um pioneiro. Não chegou, como muitos garfanhinos, ao Eldorado dos desesperados pela pá ou pela
1
picareta. Vinha da Academia de Belas Artes de Lucca, das aulas de Antonio Pio Semeghini – e traz consigo
uma grande riqueza representada, como já dissemos, pela essência e pela magia das formas e das cores.
Seria um digno representante do ditado que diz “A imigração é cultura”!
Pennacchi no Brasil; a descoberta de um pintor! (1935 1936)
Chega ao Brasil formado e informado. A Commisione Esaminatrice del Regio Istituto d'Arte “Augusto
Passaglia” de Lucca, na reunião plenária de 3 de julho de 1928, conferia a ele a “Licenza dal Corso
Superiore nella Sezione Decorazione Murale” (diploma de curso superior na seção de decoração de
murais); Lucca, 27 de abril de 1929 – Ano VII.
Mas, economicamente, o que era, em linhas gerais, o Brasil ao final dos anos 20? O atraso políticoinstitucional endêmico era representado pela monocultura do café que produzia cerca de 1.700 milhões
de toneladas por ano. A economia estava baseada na exportação; por isso, numa condição de total
dependência do capital estrangeiro. Em conseqüência da crise norte-americana de 1929, o consumo
mundial diminuiu cerca de 50%! A soma da perene instabilidade política brasileira e da grave crise
econômica mundial resulta na Revolução de 1930, que dá origem à Revolução de 1932.
Como podia viver, ainda que modestamente, um artista dito “futurista”? Cedemos a palavra ao próprio
2
Pennacchi :
«Quando chegamos à vista do porto de Santos, a alvorada estava tingida de amarelo e
de vermelho, no entanto cores tão intensas que as percebi como um presságio nada
auspicioso... a cidade inteira estava envolvida pela fumaça... grão sobre grão,
milhares de toneladas de café não vendido eram queimadas... Santos era toda
invadida por um odor acre, muito forte de café queimado...»
1 Giorgio Cortenova & Francesco Butturini, Pio Semeghini. Milano, Electa, 1998.
2 Vivências pessoais, recordações, observações, impressões variadas retiradas do seu “Diário de viagem”
escrito no período de 5 de julho de 1929 a 19 de agosto de 1932.
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«São Paulo era semi-abandonada... fiquei muito impressionado com as placas de
venda ou de aluguel penduradas nas portas... e a situação artística era das mais
precárias...»
«Visto que não havia possibilidade de viver com a minha profissão, fiz tentativas em
todos os campos; ...concursos de todo tipo ...os trabalhos mais humildes ...como
estúdio tinha um porão, e como aluguel pintei um ‘Sagrado Coração’ para a
proprietária ...fiz o desenho e executei o friso a óleo do sobradinho Ciampolini
(16.07.1929), ...participei do concurso para desenhista junto à empresa ‘Severo e
Villares’, ...por intermédio do bom amigo Petraconne fui apresentado ao redator
Rivelli do Fanfulla para me ajudar a obter trabalho como reclamista (27.07.1929);
1
...Cerca de dois dias depois estive com Antello Del Debbio e ele me pediu para fazer
o modelo (maquete) e desenhar para um concurso para o ‘Monumento Ramos de
Azevedo ’ ...em Santana, na casa da família Remedi, fiz uma paisagem a óleo na
parede... volto para casa satisfeito (26.09.1929) – não me pagaram e depois acharam
que eu fiz um trabalho de nada. ...Realizei tentativas para painéis publicitários, as
minhas amostras de moldes não foram apreciadas pelos comerciantes (20.10.1929).
...em 06.11.1929 vou até o padre do Belém (Brás) e tiro as medidas para fazer um
projeto para uma capela; (por volta do dia 12 do mesmo mês escreve) ...há três ou
quatro dias estou fazendo projetos para a mencionada capela. ...às 15h00 do dia
26.12.1929 vou ao amigo Del Debbio e combino de fazer um outro desenho colorido
de um dos seus esboços para o “Monumento a Campos Salles” ...concurso perdido em
2
Janeiro de 1930. ...às 18h00 do mesmo dia, volto a Emendabile , que não tem
1 Filho de agricultores abastados - in illo tempore, ele próprio trabalhou no campo – o escultor Antello Del
Debbio estudou com Pennacchi em Lucca. Nos anos de 1950 tinha um ateliê bem encaminhado de
escultura e pintura em São Paulo, na Rua Cônego Eugênio Leite. Teve dois filhos, um dos quais morto na
juventude. Sabemos da existência de um neto.
2 O escultor Galileo – sempre chamado Ugo em família - Emendabile (Ancona, 1898 – São Paulo, 1974), que
Pennacchi conheceu em 12.07.1929 por intermédio do advogado Dr. Orlandi, será um bom amigo e fará as
esculturas da Igreja da Paz.
Sobrevêm ainda os problemas econômicos. Na profissão de marceneiro lhe interessa sobretudo a arte do
entalhe e descobre-se com uma verdadeira paixão pelo desenho. Um dos seus primeiros trabalhos será a
bela figura da Liberdade, realizada em pedra calcárea de Conero de acordo com a escola déco, muito
próximo ao gosto secessionsita e liberty de Adolfo Wildt, que será o escultor preferido pela Sarfatti.
Simpatizante dos republicanos locais, e encontrando dificuldades na participação em concursos públicos
de arte, Emendabili tomou a penosa decisão de partir da Itália. Desembarcado em Santos em 3 de julho de
1923, estabeleceu-se em São Paulo, onde tornou-se em pouco tempo um dos artistas mais conhecidos,
vencendo numerosos concursos.
Em 1997 a Pinacoteca do Estado organizou uma exposição individual dedicada a Emendabili, intitulada
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necessidade de trabalho algum.»
Começam os trabalhos publicitários, num primeiro tempo junto ao amigo luquese Sartini (Julho de 1930),
depois com Antello em 1931, e em fevereiro de 1932, monta com Del Debbio, um “Ateliê Publicitário” e
naqueles mesmos dias Pennacchi preparou muitas projetos dos mencionados cartazes. Os trabalhos ditos
publicitários faziam parte da tradição italiana dos pintores, desenhistas e xilógrafos.
De fato, já nos anos de 1920 existiam anúncios publicados pela Rivista Mensile Illustrata d’Arte e Coltura
[Revista Mensal Ilustrada de Arte e Cultura] – Emporium, que conclamavam os artistas a enviar para
exame esboços, desenhos... ao Instituto Italiano de Artes Gráficas de Bergamo, para serem utilizados em
calendários, cartazes publicitários, capas de livros profanos e religiosos, publicações, etc. A revista
Emporium era o órgão oficial do Instituto Italiano de Artes Gráficas.
Infelizmente, em 07.03.1932 nos conta:
1
« ...O ateliê Clamor não rendeu mais nada. Realizei muitíssimos projetos, nesses
últimos dias, até dois desenhos para uma casa de moda, mas a dona, ao ouvir o preço
de 120 mil réis, só faltou bater na gente!» [tradução de Mariarosaria Fabris]
« ...por natureza detestava adaptar a minha arte a qualquer ambiente. Preferia viver
humildemente de outras atividades do que submeter a minha sensibilidade aos gostos
2
burgueses (locais) ...»
Não obstante todas as dificuldades, Pennacchi não cedeu. Continuou o seu processo de grande trabalho
interior, de tormento, de pesquisa. Desenhou e pintou com sinceridade inflexível, sem uma só concessão
polêmica e com grande energia, seguindo em frente a golpes de livre audácia. Em poucos anos as suas
figuras quase esculturais, que contudo eram revividas por um sopro de poesia sonhadora, haviam
assumido formas mais delicadas e tonalidades mais variadas e quentes.
Marchava silenciosamente na vanguarda do movimento artístico local! Em 1936 recebe duas vezes a
“Monumento a Ramos de Azevedo: do concurso ao exílio”, sobre a qual a crítica de arte Annateresa Fabris
publicou um livro. Para a Itália não voltará mais: permanece incompreensível o motivo desse retorno
frustrado, uma vez que a sua saudade se fez absolutamente dilacerante e os anos passados no Brasil
foram vividos sempre como um doloroso exílio.
Annateresa Fabris (Org.). Monumento a Ramos de Azevedo. São Paulo: FAPESP & Mercado das Letras,
1997.
1 Atualmente, a chamada Coleção Clamor é de propriedade do Instituto Moreira Salles, que preparou uma
exposição em abril de 2005.
2 Carta manuscrita de Fulvio Pennacchi, s.d., localizada junto à Biblioteca e Centro de Documentação do
Museu de Arte de São Paulo.
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1
Grande Medalha de Prata, a primeira no Rio de Janeiro e a segunda em São Paulo .
2
Perto do final dos anos de 1930, pode-se observar que, para Pennacchi, Ceracchini e Sironi já eram uma
lembrança distante. Antes deles, conforme mencionamos, Pennacchi havia assimilado seriamente, sobre
um fundo clássico, os pintores gerados por Masaccio, Giotto e a experiência da arte moderna do
impressionismo até Daumier e Cézanne.
Pintura Mural (1937-1959) e A integração no Brasil
Sem nunca abandonar o desenho – o desenho será uma linguagem artística importante que Pennacchi não
abandonará nunca durante a sua longa carreira – e o cavalete, na serenidade do seu ideal e de uma
maneira sintética e potente, voltou-se decisivamente (1937) à pintura mural, num primeiro momento a
3
4
óleo e em seguida “a fresco ”, com extraordinário sucesso crítico e resultado artístico, até 1959 . Ele
trouxe consigo os valores ligados a uma realização unitária e harmoniosa, na qual a arquitetura, o
ambiente, a decoração e a grafismo pudessem se fundir num único projeto a várias mãos... É certo que
Pennacchi avaliou a importância de trabalhar no renascimento da arte proposto pelos artistas unidos sob
a asa do “retorno à ordem”, e aceitou esse caminho, dada a necessidade de superar a ênfase
vanguardista, cara a muitos movimentos da primeira metade do século XX, e também movido por um
conceito de pintura como exercício lento, construído com habilidade manual, sensível aos valores das
cores e das linhas.
Contudo, imbuído por uma cultura mais cristã, era fascinado pelo milagre da vida e pela grandiosidade do
1 Salão Paulista – 1935: Gino Restelli conta que “...entre os muitíssimos quadros apresentados por jovens e
velhos autores, célebres ou não, a Comissão encarregada de fazer aquisições para a Pinacoteca do Estado
escolheu e comprou ‘La Fuga in Egitto’ [‘A Fuga para o Egito’], obra de Fulvio Pennacchi ...”
2 Referência específica aos últimos afrescos aretinos de Ceracchini, e aos quadros expostos na Quadrienal
de Roma.
Franco Cenni, “Profili d’Artisti – Fulvio Pennacchi” [“Perfis de Artistas – Fulvio Pennacchi”] Fanfulla. São
Paulo, jul 1936, XIV. Franco Cenni foi pintor e escritor (Milano, 1909 – São Paulo, 1973)
Francesco Piccolo, “Scoperta di un pittore” [“Descoberta de um pintor”] Fanfulla. São Paulo, out 1936, XIV.
O Prof. Dr. Francesco Piccolo foi Titular na área de Literatura Italiana na Universidade de São Paulo.
3 O termo “afresco” no sentido literal e tradicional significa pintura sobre a parede preparada a cal extinta. É
necessário ser muito rápido na execução, porque é preciso pintar enquanto a cal ainda está molhada, uma
vez que quando estiver enxuta, os pigmentos coloridos permanecerão, por assim dizer, presos na própria
parede.
Valerio Pennacchi, Pennacchi, Pintura Mural. São Paulo: Metalivros, 2002.
4 “(...) entre os pintores mencione-se o luquese Fulvio Pennacchi, e nestes últimos anos foi de grande
importância a chegada do pintor, que é considerado sem dúvida como a mais séria aquisição para a arte
brasileira.” Pietro Maria Bardi “Pittori Italiani in Brasile” [“Pintores italianos no Brasil”] Fanfulla. São Paulo,
13 jun 1954.
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Criador, mais que pelo “mito maduro do classicismo romano” e ao mesmo tempo absolutamente contrário
a quem sustentava a pintura pequeno-burguesa do final do Ottocento.
Era um moderno. O público foi atraído pelo rumor das polêmicas, em vez da vontade de entender. A arte
moderna era um osso muito duro de roer.
Trabalhou muitíssimo. Pinturas murais a óleo nas residências Prada, Filizola, Pellegrino, Ramenzoni, na
capela de Santa Rita do Passa Quatro e no átrio do jornal A Gazeta, seguidas de afrescos, os dois
primeiros (infelizmente destruídos) na residência do arquiteto Carlos Botti.
Logo depois, aos poucos 36 anos, a sua obra-prima: os afrescos monumentais de majestosas dimensões e
claro frescor de cores executados na Igreja de Nossa Senhora da Paz, para a qual realizou também a
concepção e o projeto arquitetônico em estilo românico, não somente para o que é construção de fato,
mas também para a decoração mural, uma ideia que tomou forma concretizando-se no equilíbrio sóbrio
entre espaços cheios e vazios. Conseguiu criar, nos seus afrescos, a pintura vertical em contraste com a
pintura de cores fortes, em consequência da monumentalidade da concepção e da transcendência dos
planos. Tudo muito simples; gosto moderno a partir do sabor do antigo, ou seja, o ritmo geométrico
encerra com discrição cada figura e cada elemento de figura. Não desdenhou da colaboração de Leopoldo
Pettini (construção) e Galileo Emendabili (esculturas), porque Pennacchi acreditava numa obra unitária e
harmoniosa, na qual arquitetura, ambiente, decoração e grafismo pudessem se fundir num único projeto
1
a várias mãos . A via crucis, em cerâmica esmaltada (maiólica), será completada em 1952.
Alguns anos depois seguem-se os afrescos da catedral de Uruguaiana no Rio Grande do Sul, depois, nas
igrejas de Ribeirão Pires, da igreja do Instituto Cristóvão Colombo no Ipiranga, de Nossa Senhora
Auxiliadora, na capela da Vila São Francisco em Osasco e na capela do Hospital das Clínicas.
Além dos belíssimos projetos arquitetônicos e afrescos pintados nas suas duas casas – o conjunto dessas
2
duas obras é grande e colossal de tal maneira que mereceria outro estúdio . Outros exemplos de belos
1 A herança Bauhaus.
Conde Giuseppe Scapinelli, “Il Tempio della Pace in San Paolo” [“O templo da paz em São Paulo”] Tribuna
Italiana. São Paulo, jan 1949.
2 “A residência do Jardim Europa” é a maior e mais importante residência construída pelo artista (19451948). Pennacchi realizou o projeto arquitetônico da casa e da capela que cerca o pátio úmbrio –
infelizmente em São Paulo não se respira o ar de ciprestes – e os detalhes particulares, como: lareira,
portas, janelas, lustres, tijolos, azulejos brancos que depois seriam pintados individualmente e usados na
cozinha e nos banheiros, mobília de madeira em geral – cama de casal com dossel e cabeceira
ornamentada em espirais, camas de solteiro para todos os filhos, cadeiras de palhinha, mesas e mesinhas,
barzinho, etc. – molduras e penteadeiras, afrescos, cerâmicas, castiçais e quebra-luzes em cerâmica,
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afrescos de grandes proporções encontram-se nas paredes das propriedades Bonfiglioli, Cerqueira Leite
em Mauá, Emendabili, Giorgi, Lancellotti, Lunardelli, Maiorana, Matarazzo, Pellegrino, Pucci, RamenzoniToldi, Hotel Toriba em Campos do Jordão e Liga das Senhoras Católicas.
A integração brasileira do pintor continua com o seu interesse pela paisagem tropical, pelas nossas figuras
e festas folclóricas. Frequenta o ateliê de Rebollo, que com outros jovens pintores alugara salas no
1
Palacete Santa Helena , não obstante tivessem quase nada em comum no que diz respeito a ideias ou
afinidades artísticas. No final dos anos de 1940, a sua arte já havia assimilado os modos próprios dos
brasileiros inscritos numa simbologia interessada em comunicar sentimentos preferindo a compostura da
tradição.
Os Poemas (1940 – 1952)
Houve um período na vida de Pennacchi em que ele sentia a necessidade de expressar-se por escrito.
Além das centenas de cartas escritas para sua futura mulher, que no início dos anos de 1940 vivia com os
pais dela na Argentina, uma segunda forma de expressão – de duração mais longa – fez-se presente. Eram
2
os poemas , escritos em italiano, que não levavam absolutamente em consideração o complexo
3
movimento cultural do Decadentismo ou algum estilo específico; ao contrário, diria-se comparável à
série dos idílios de fábulas e pastoris de Giambattista Marino (1569-1625), porque a ação é narrada em
primeira pessoa com as impressões e as paixões suscitadas nela. Todos os que conheço têm em comum
uma moleza musical cheia de graça e delicadeza. Como na sua pintura, trata-se de um mundo refinado e
mesmo a simplicidade é um refinamento.
vasos, cinzeiros, jarras, jarrinhas, etc.
1 A bibliografia é muito volumosa. As obras relevantes são:
L.E.M. Kawall, Lisbeth Rebollo Gonçalves, 8 Pintores do Grupo Santa Helena. São Paulo: Centro de Artes
Novo Mundo, 1973.
Walter Zanini, A Arte no Brasil nas décadas de 1930 e 1940: O grupo Santa Helena. São Paulo: NobelEDUSP, 1991.
Walter Zanini, O Grupo Santa Helena. São Paulo: MAM, 1995.
Maria Cecília França Lourenço, Operários da Modernidade. São Paulo: HUCITEC-EDUSP, 1995.
Elza Ajzenberg (org.), Operários na Paulista. São Paulo: USP-MAC-SESI, 2002.
2 Dona Filomena Maria, esposa do artista, acredita que existam derca de 50 poemas. O autor deste ensaio
conhece somente 23, por isso qualquer estimativa é relativa.
3 O Decadentismo na Itália manifesta-se como uma acentuada “desconfiança nas forças da razão”, que
assume as formas de uma verdadeira “crise existencial”; é como a exasperação do individualismo e do
egocentrismo, a visão pessimista do mundo e da vida humana, e um sentido cruel da solidão e do mistério,
característicos da tragédia da primeira guerra mundial. Ver D’Annunzio, Pascoli, Svevo e Pirandello.
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INTITULAÇÃO DA PRAÇA DE PIANNACCI
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Pennacchi rebate a crise do idealismo e do subjetivismo romântico :
« ... Raro em ti é o gosto de olhar longamente
o teu trabalho
e sentes tal horror de teu obrar.
E, mais te elevas, tão menor te sentes
2
no espaço infinito da criação. »
[tradução de Mariarosaria Fabris]
« Fantoches movidos por gestos vivazes.
Toques de trombetas, livres explosões de risos,
danças, cantos, canções, saltos mortais;
o eco de desconcertadas risadas invade o ar
e parece alegria de ébrios.
Rostos de gente cansada
e o trágico sabor da vida
de quem sabe rir, com o coração ferido pela humana dor
... lindas garotas, no frescor de suas formas,
dançam festivas, capricham nos passos,
leves e maliciosas
e o rosto de cada espectador
é uma máscara de riso; cada um no sorriso
1 Francesco De Sanctis, Storia della Letteratura Italiana. Milano: Soc. Anon. Alberto Matarelli, 1939, Anno
XVII.
2 Fulvio Pennacchi, “Vita di Pittore” [“Vida de Pintor”]. Santa Helena, 02.12.1941, 17h15min.
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INTITULAÇÃO DA PRAÇA DE PIANNACCI
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esconde a própria dor. »
[tradução de Mariarosaria Fabris]
« Jaz na sombra da cova escura
já sem vida:
Marta e Maria vencidas pela dor
já sem paz. Chegou Jesus:
plangentes as irmãs “Tarde demais!
já se partiu; se aqui estivesses
com vida ainda estaria.”
E chorou Jesus, sensível àquela dor
das pias mulheres, àquela humana dor
àquelas lides, à pena.
Onde foi enterrado? Levem-me até lá.
E foram todos com o semblante triste, o coração torturado
e foi aberta a tumba.
Jesus ajoelhou-se em oração
e Lázaro chamou com voz amiga.
‘Lázaro vem, levanta-te, caminha.’
Espanto imenso, a gente estarrecida
bocas abertas, olhos arregalados.
Lázaro ergue-se, com custo se aproxima
1 Fulvio Pennacchi, “Circo Equestre”, ou seja, “Circo Piolin”, 13.12.1942, 20h:15min.
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cambaleante, em faixas atado.
Cada um, de estupor, de maravilha, está perplexo
e ao humano coração o milagre aparece
da divina força, de amor e de bondade,
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o generoso Coração do Senhor. »
[tradução de Mariarosaria Fabris]
O distanciamento deliberado e a descoberta da cerâmica (1950-1964)
Durante cerca de 14 anos (de 1950 a 1964) retira-se da cena artística brasileira e a causa principal foi –
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como ele afirma – “a anarquia destrutiva reinante sobre as Artes Plásticas”. Continuou a sua atividade
criativa e despertou para o mundo da cerâmica, executando várias figuras múltiplas, várias via crucis,
santos, grupos variados de pássaros, faces humorísticas e outras tantas quantidades de diversos objetos,
até a reabertura do seu estúdio ao público.
O MASP e a redescoberta de um pintor (1973)
Para festejar os seus quarenta anos de pintura, foi realizada – em 1973 – uma retrospectiva de sua obra
no Museu de Arte de São Paulo (MASP). O sucesso foi grande como era previsível e a sua grande,
respeitável e consistente produção causou surpresa e admiração, talvez também a ele mesmo!
As composições de inspiração italiana continuam refinadamente toscanas e de sabor giottesco. Os seus
quadros brasileiros apresentam uma simbiose pela qual, através um modo próprio de observar, as suas
colinas, casinhas e figuras parecem transpostas em gestos e tonalidades mais quentes e vivas como em
uma combinação feliz de cores. E as figuras? O nosso Pennacchi não colheu a aparência real – não é um
pintor realista –, porém edifica a sua pintura baseado sobre as gotas do real, cujos gestos essenciais
1 Fulvio Pennacchi, “Resurrezione di Lazzaro” [“Ressurreição de Lázaro”], 30.06.1942, 09h:15min.
2 Pennacchi intencionava dizer que a pintura, hoje, desconsiderada e escarnecida pela plêiade de
descarados manipuladores de novidades a todo custo “plus hétéroclites les unes que les autres et qui
constituent par leur succès même, une témoignage implacable de la régression de l’esprit critique en
Occident” [“mais anormais uns que os outros e que constituem por seu próprio sucesso um testemunho
implacável da regressão do espírito crítico no Ocidente”], como escrevera Jean Gimpel. (Tradução livre)
Jean Gimpel (1918 – 1996). Contro l’arte e gli artisti. Milano: Bollati Boringhieri Editore, 2000.
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revelam o significado humano deles. Por outro lado, não é absolutamente um “primitivo”; as suas obras
revelam composição, síntese, clareza, relevo e harmonia própria de um pintor que conhece muito bem o
seu ofício e serve-se disso com incomparável maestria absoluta.
Uma declaração dele demonstra que a sua modéstia estava à altura de sua grandeza:
« A oportunidade desta Retrospectiva quer mostrar o meu trabalho incessante e
honesto, que é o reflexo da minha alma, do meu sofrimento artístico, e do meu
desejo de amar o criado e sobretudo o Criador, que é o centro da minha existência.»
O Sereno Crepúsculo
Continua a trabalhar por muitos anos. De 1973 a 1990 participou de cerca de 50 exposições de arte
sempre bem concluídas segundo a simpatia da crítica e a intensidade das vendas.
As mais importantes individuais serão aquelas feitas nos anos de 1980 na Galeria Academus, em 1982,
1984 e 1987 (em comemoração aos seus sessenta anos de pintura) na Galeria de Arte André. Os seus
oitenta anos foram comemorados com uma grande exposição na Galeria Grossman em 1985. Em junho de
1988 apresenta em Curitiba (PR) uma exposição organizada pela Simões de Assis Galeria de Arte; e,
1
finalmente, em 1989 por ocasião da publicação do livro Ofício de Pennacchi , o artista se apresentou pela
última vez ao público brasileiro, na Galeria Jacques Ardies. De importância basilar é o fato de que para
2
cada uma das mostras “o elegantíssimo octogenário toscano ” criava cenas populares brasileiras com
inesgotável imaginação, únicas e originais, chegando sempre a surpreender os mais ardilosos críticos com
a sua envolvente linguagem poética de expressiva eficácia pictórica.
Felizmente o valor transcendente de sua obra foi reconhecido a tempo, recebeu muitas homenagens e
premiações, entre as quais, duas vezes a “Grande Medalha de Prata” no Salão de Belas Artes do Rio de
Janeiro e de São Paulo (1936); a “Medalha de Ouro” do Salão Paulista de Arte Moderna (1952); a “Medalha
Anchieta” e o “Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, Brasil” (1973); a “Medalha de Ouro” para os
luqueses que honraram a Itália no mundo (1973); a condecoração de “Commendatore nell’Ordine Al
1 Somadas as críticas, artigos e ensaios publicados, a bibliografia existente sobre Pennacchi é muito
extensa e não é o caso de mancioná-la completamente. Não haveria nem mesmo espaço. Mencionamos os
quatro livros escritos em diferentes períodos:
P.M. Bardi, Fabio Porchat, Valerio Pennacchi, et al., Pennacchi, quarenta anos de pintura. São Paulo:
Centro de Artes Novo Mundo, 1973.
P.M. Bardi, Fulvio Pennacchi. São Paulo: Raízes Artes Gráficas, 1980.
Valerio Pennacchi, Ofício de Pennacchi. São Paulo: Raízes Artes Gráficas, 1989.
Valerio Pennacchi, Pennacchi, pintura mural. São Paulo: Metalivros, 2002.
2 Assim o chamava afetuosamente o crítico de arte Olivio Tavares de Araújo.
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Merito della Reppublica Italiana” [Comendador da Ordem ao Mérito da República Italiana] (1974); a
“Medalha Mário de Andrade” pelo Governo do Estado de São Paulo, Brasil (1979); e, em 1985, com
motuproprio (de própria iniciativa) do Presidente da República do Brasil, a “Medalha” do XVIII Salão
Brasileiro de Belas Artes” como reconhecimento da sua contribuição à arte brasileira.
A sua carreira não impede a do homem. Em 1945 casou-se com Dona Filomena Maria, dos condes do ramo
Brandolini-Matarazzo, e foi pai amoroso de oito filhos, ainda com numerosa descendência.
Por Valerio Pennacchi-Pennacchi
[Tradução de Gabriela Kvacek Betella]

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