Revista Frutas e derivados - Edição 05

Transcrição

Revista Frutas e derivados - Edição 05
CAPA
SUMÁRIO
MARÇO 2007
PRODUÇÃO: PerformanceCG
FOTO: Banco de Imagens do
Ibraf
07
ENTREVISTA
27
14
38
07 À FRENTE DE DESAFIOS
Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo,
João de Almeida Sampaio Filho, fala sobre
fruticultura paulista.
FRUTAS FRESCAS
SEÇÕES
14 FRUTAS FINAS
04 editorial
06 espaço do leitor
10 campo de notícias
Frutas finas ainda têm produção limitada por causa
do alto custo de produção.
Panorama dos principais acontecimentos do trimestre.
CERTIFICAÇÃO
12 no pomar
18 PASSAPORTE PARA EXPORTAÇÃO
30 tecnologia
Comércio internacional exige certificação e
segurança do alimento. Projeto Fruta Paulista segue as normas.
AGROINDÚSTRIA
27 TENDÊNCIA MUNDIAL
Frutas minimamente processadas começam a
fazer parte do cotidiano das redes de varejo.
MEIO AMBIENTE
33 PERIGO VIAJANTE
A introdução de espécies exóticas altera o
ambiente e traz perigos ao homem do campo.
Lançamentos, dicas, normas e leis do setor.
Pesquisador desenvolve processo inovador que garante mais
sabor e aroma no processamento de sucos.
36 opinião
Osvaldo Dias: a força do associativismo mudou a história de
Junqueirópolis/SP.
37 agenda
Acontecimentos
do trimestre.
38 eventos
Fechamento de negócios e divulgação no país europeu que
mais consome frutas brasileiras e no mercado promissor dos
Emirados Árabes.
41 artigo técnico
Abacaxi minimamente processado requer cuidados para manter qualidade e sabor.
48 campo & culturap
44 produtos e serviços
46 fruta na mesa
Delicadeza do figo.
editorial
CUIDANDO DO FUTURO
DIRETOR PRESIDENTE
Moacyr Saraiva Fernandes
Na vida de uma cultura perene, o primeiro ano é determinante para sua
produção futura. Muito há para se fazer até colher os primeiros frutos. Os
cuidados com solo, fertilização, controle de pragas e doenças e a correta
irrigação para a pequena árvore precisam ser constantes. Traçando um
paralelo, assim é com o ‘plantio’ de uma publicação. Seu primeiro ano é de
cuidados intensos para que não se perca a semente da informação plantada.
Foi assim que caminhamos nos primeiros 365 dias da Frutas e Derivados,
que se completam em março: cuidando da ‘fruteira’ da notícia para que, no
seu devido tempo, dê frutos abundantes de informação. O seu retorno,
leitor, nos dá a segurança de que o tratamento está certo. E é, para você,
que preparamos uma edição apontando caminhos para maior rentabilidade.
VICE PRESIDENTE
Aristeu Chaves Filho
O passaporte para exportar está na certificação, que ampliam mercados à
sua colheita, além de ajudá-lo na organização da propriedade. O
processamento mínimo de frutas, tendência mundial, começa a ganhar espaço no País, principalmente, nos grandes centros urbanos, devido à procura do consumidor por produtos que ofereçam praticidade e sejam saudáveis. Para que esse consumidor tenha praticidade, sem perder a delícia do
sabor, a pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveu
método inovador de processamento de sucos de frutas, outro segmento em
crescimento contínuo na cadeia frutícola. Em se tratando de crescimento, as
frutas no Estado de São Paulo são o maior exemplo. O Estado mais industrial
da Nação é também a maior plataforma frutícola e, para valorizar esse fruticultor e sua colheita, o Instituto Brasileiro de Frutas, em parceria com o
Sebrae-SP, lançou o programa Fruta Paulista.
Vale ressaltar que todos os esforços para o aprimoramento do setor cairão
por terra, se não houver os devidos cuidados ambientais e os bioinvasores
continuarem entrando no País. Hoje, a fruticultura luta para manter sob controle e erradicar as espécies exóticas invasoras cydia pomonella, mosca-dafruta, sigatoka negra e a mosca-da-carambola, um desafio atual. O setor e as
autoridades do País precisam estar alertas: a questão ambiental, mais do que
uma bandeira, é questão de sobrevivência econômica e das espécies.
Uma ótima leitura e obrigada pelo apoio em nosso primeiro ano!
TESOUREIRO
José Benedito de Barros
DIRETORES
Carlos Prado (Superintendente Nordeste)
Roland Brandes (Superintendente Sul)
Etélio de Carvalho Prado, Jean Paul Gayet, Paulo Policarpo Mello
Gonçalves, Waldyr S. Promicia.
CONSELHEIROS
Luiz Borges Jr., André Luiz Grabois Gadelha, Américo Tavares, Carla Castro
Salomão, Dirceu Colares, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco
Cipriano de Paula Segundo, James C. Bryon, Sylvio Luiz Honório,
Washington Dias.
COMITÊ TÉCNICO-CIENTÍFICO
Antônio Ambrósio Amaro (Presidente)
Admilson B. Chitarra, Alberto Carlos de Queiroz Pinto, Aldo Malavasi,
Anita Gutierrez, Carlos Ruggiero, Fernando Mendes Pereira, Geraldo
Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José
Fernando Durigan, José Luiz Petri, José Rozalvo Andrigueto, Josivan
Barbosa de Menezes, Juliano Aires, Lincoln C. Neves Filho, Luiz Carlos
Donadio, Osvaldo Kiyoshi Yamanishi, Rose Mary Pio, Tales Wanderley Vital.
COMITÊ DE MARKETING
Jean Paul Gayet (Presidente)
Paulo Policarpo Mendes Gonçalves, Pedro Carvalho Burnier, Waldyr S.
Promicia, Elis Simone Ferreira Fernandes, Fabio Nino, James Howard Beeny,
Angela Maria Maciel da Rocha, Sergio Abreu, Rogério de Marchi.
CONSELHO EDITORIAL
Moacyr Saraiva Fernandes
Maurício de Sá Ferraz
Valeska de Oliveira
COORDENAÇÃO
Luciana Pacheco
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EDIÇÃO
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REDAÇÃO
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Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do
Instituto. Para a reprodução do artigo técnico e do artigo opinião, é
necessário solicitar autorização dos autores.
A reprodução das demais matérias publicadas pela revista é permitida,
desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de
publicação.
Frutas e Derivados é uma publicação trimestral do IBRAF - Instituto
Brasileiro de Frutas, distribuída a profissionais ligados ao setor.
ESPAÇO DO LEITOR
“ A revista é ótima, supera as expectativas, com temas atuais e dinâmicos.
Deixo uma sugestão para que vocês aumentem o espaço que traz publicações
sobre a fruticultura e os endereços de
onde adquiri-las.”
Waldemar Domingos de Santana Júnior
Produtor Rural, Itumbiara – GO
“Gostaria de parabenizá-los pela excelente
qualidade da revista e seu conteúdo
técnico. Sem sombra de dúvidas, a revista
é de grande importância para o desenvolvimento da fruticultura nacional.”
Fernando Augusto de Souza
Gerente Geral da Korin Agricultura Natural
“ S ou pesquisadora-científica do
Fruthotec/Ital na área de tecnologia de
frutas. Acho as reportagens da Revista Frutas e Derivados muito esclarecedoras e bem
acessíveis ao público leigo.”
Ms. Silvia Cristina Sobottka Rolim de Moura
Campinas - SP
“Ao visitar a empresa Frutas Boutim, de
Porto Amazonas/PR, minha esposa,
Suzana M. R. Gorniski, encontrou um
exemplar da revista Frutas e Derivados e
elogiou as matérias abordadas e as bemelaboradas composição e arte, além de uma
impressão sofisticada. Parabéns à equipe.”
Aramis Gorniski
Editor do jornal “A Tribuna Regional” e da
revista “Informação”, Lapa - PR
“Foi uma satisfação receber a revista Frutas e Derivados e deparar com artigos que
atendam diferenciados segmentos da cadeia frutícola. Assim como o amigo Professor Pesquisador Dr. Rafael Pio, concordamos que existam muitos entraves para
podermos conquistar recursos públicos
para fins científicos. Como opção, buscamos os produtores como parceiros, que nos
apoiam e se beneficiam diretamente de
nossas pesquisas.”
Prof. Adjunto Fabio del Monte Cocozza
Universidade Estadual da Bahia
Campus IX - Barreiras
ERRATA
Na matéria de capa Altos e Baixos,
publicada na edição 4, de dezembro
de 2006, a informação sobre o volume de exportação de figos está errada. Onde se lê “no acumulado de janeiro a outubro, o Brasil exportou
482 mil toneladas da fruta”, leia-se
482 toneladas.
Agradecemos o alerta sobre os números referentes à exportação, enviado pelo produtor e exportador
Maurício Brotto, de Campinas/SP.
ESCREVA PARA
Endereço:
Avenida Ipiranga, 952 • 12º
andar • CEP 01040-906 • São
Paulo • SP
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E-mail:
[email protected]
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JOÃO SAMPAIO
JOÃO LUIZ - SAA/COMUNICAÇÃO
ENTREVISTA
À FRENTE DE
DESAFIOS
João de Almeida Sampaio Filho, 41 anos,
nasceu na capital paulista, cidade onde a zona rural
praticamente acabou, mas sua história de vida está
associada à agricultura. Economista e produtor
rural nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e
Paraná, esteve à frente de diversas entidades ligadas ao agronegócio. Foi presidente da Associação
dos Produtores de Borracha do Estado do Mato
Grosso e vice-presidente da Associação Paulista do
Setor. Ocupou, também, a presidência da Câmara
Setorial Nacional de Borracha e da Comissão Na-
cional da Borracha da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). Foi vice-presidente na Associação Comercial do Estado de São Paulo, conselheiro da Associação Brasileira do Agronegócio de
Ribeirão Preto e, a partir de 2002, ocupou a presidência da Sociedade Rural Brasileira, função que
deixou para assumir a Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo. À frente
do Estado, detentor da maior plataforma agrícola
do País, ele fala de projetos para sua gestão, iniciada este ano.
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ENTREVISTA
JOÃO SAMPAIO
Frutas e Derivados - Qual é plano de governo
para a agricultura nesta nova gestão?
João Sampaio - São Paulo, apesar de pouco sabido, é a maior plataforma agrícola do País, responsável por 17% do valor bruto da produção
agropecuária brasileira. No entanto, nosso maior
trunfo não está tão somente dentro da porteira, e,
sim, em nossa capacidade de multiplicar o valor da
produção fora das fazendas. Agregamos valor aos
produtos, graças à infra-estrutura de industrialização, à logística de exportação e ao grande mercado consumidor. Nosso plano está concentrado em
ampliar e melhorar a renda do produtor, apostando na agregação de valor aos produtos.
“A fruticultura paulista é das mais
diversificadas e das mais fortes.”
Frutas e Derivados - O novo governo implica em
direcionamento de novos projetos da Secretaria
focados na agricultura do Estado mais industrial da
Nação? Quais? Por quê?
João Sampaio - Como disse anteriormente, o
Estado de São Paulo sintetiza esta capacidade de
unir a indústria e a agricultura; processamos os produtos agrícolas com eficiência industrial. Trabalhar
as cadeias produtivas e apostar nas vocações agrícolas e agroindustriais de cada região é o caminho
para otimizar recursos e ampliar a renda.
Frutas e Derivados - Investir em programas para
melhorar a renda e a vida do produtor rural paulista
está entre os planos do governo? O que pretende?
Como acredita ser possível?
João Sampaio - O governador José Serra, quando me chamou para a Secretaria de Agricultura,
disse-me exatamente o objetivo número 1 deste
governo: o crescimento econômico.Precisamos
gerar trabalho e renda e como podemos fazer isto?
Por meio de programas e parcerias com a iniciativa
privada, que trabalhem na direção de unir o produtor e o consumidor. Entre estas duas pontas é
onde está a chance de crescermos. A Secretaria de
Agricultura possui seis institutos de pesquisa, alguns
deles centenários, com larga experiência em pes8
quisa, desenvolvimento e produção de novas variedades agrícolas e na adaptação de tecnologias.
Temos uma rede de extensionistas, que está à disposição do produtor e do empreendedor rural e
precisa ser melhor utilizada. A melhor integração
entre a pesquisa, a extensão e a iniciativa privada
pode render ótimos frutos, com o perdão do trocadilho. A agricultura tem mostrado, pelos consecutivos superávits da balança comercial, que é a
vocação do nosso País. E mais que agricultura, o
agronegócio, esta rede, que envolve produção, industrialização, comercialização e serviços, geradora de 37% dos empregos no País, será a responsável pelo crescimento econômico tão esperado e
prometido nos últimos anos.
Frutas e Derivados - Quais são os projetos para
a fruticultura no Estado, cuja atividade gera muitos
postos de trabalho por hectare no campo?
João Sampaio - A fruticultura paulista é das mais
diversificadas. Por incrível que pareça, não produzimos somente laranja para indústria, onde somos
os maiores produtores e exportadores de suco de
laranja do mundo. Essa atividade importante é nosso terceiro item na pauta de exportações do
agronegócio; perde apenas para cana (açúcar e álcool) e carne bovina. São Paulo produz frutas frescas com alto valor agregado e baseado na pequena
propriedade – reside nestas características o grande potencial de crescimento econômico. Regiões,
como a do Circuito das Frutas, compreendendo
municípios de Valinhos, Jundiaí, Louveira, Vinhedo,
entre outros; Jales, com uva e parte do sudoeste
do Estado de São Paulo são pólos de produção que
precisam de uma concentração de atendimento e,
assim, ampliaremos o poder de geração de empregos. A Secretaria de Agricultura possui o Centro Apta de Frutas, em Jundiaí/SP, um centro de
pesquisa totalmente dedicado à fruticultura, onde
foram geradas as principais variedades desenvolvidas no Estado. Temos o Instituto de Tecnologia dos
Alimentos (Ital), que se dedica a novas embalagens,
rotulagens, conservação dos alimentos e frutas processadas. E ainda temos o Instituto Agronômico,
onde a última novidade é o desenvolvimento de
variedades de tangerinas sem semente, já com fazendas em produção no sudoeste do Estado. Estas
oportunidades estão aí para serem aproveitadas. A
Câmara Setorial de Frutas, da Secretaria, tem estas
ferramentas à mão. Precisamos melhor aproveitá-las
ENTREVISTA
e utilizá-las, conjuntamente, com empresas do setor
em projetos diferenciados e adequados a cada região.
Frutas e Derivados - Quanto ao seguro rural,
haverá alguma subvenção do Estado?
João Sampaio - Já temos um projeto de 50%
de subvenção ao prêmio do seguro rural no Estado
de São Paulo. Começamos em 2003 com um
projeto piloto e estamos no quarto ciclo agrícola.
São 23 culturas envolvidas no projeto e grande parte
delas é de frutas. É um projeto voltado para o
pequeno produtor com renda bruta anual de até
R$ 215 mil. Nele, o produtor faz o seguro junto a
uma das seguradoras credenciadas. De posse da
apólice, e dentro das especificações técnicas do
projeto, ele pleiteia a subvenção. Se aprovada, em
menos de um mês, ele recebe metade do valor
que pagou do prêmio do seguro por intermédio
do Banco Nossa Caixa. Este projeto é um sucesso,
principalmente entre os fruticultores, por se tratar de
culturas mais susceptíveis às intempéries climáticas.
Nossos maiores beneficiados são produtores de uva,
caqui e figo, nas regiões de Campinas. Queremos que
produtores de todo o Estado participem. Para isso,
basta procurar a Casa de Agricultura local e se informar mais detalhadamente sobre o projeto. É um instrumento de proteção à disposição do produtor. E mais:
é um projeto pioneiro em todo o País.
Frutas e Derivados - Sebrae-SP e Ibraf acabam
de lançar o Projeto Fruta Paulista. Como analisa essa
parceria para os fruticultores de São Paulo?
João Sampaio - Este é o caminho para a fruticultura paulista: unir a cadeia produtiva desde o
produtor até o consumidor, apostando na capacidade destas instituições de agregar valor aos produtos. A Secretaria não só apóia como é co-participante deste projeto. A Câmara Setorial de Frutas
participa de todo o processo. A nossa estrutura,
enquanto instituição de pesquisa e assistência
técnica, adaptadora de tecnologia, vai participar
ativamente deste projeto, colaborando na
certificação e normatização da produção até a mesa
do consumidor, seja ele paulista, brasileiro ou dos
países importadores.
Frutas e Derivados - Em sua opinião, quais as
maiores necessidades da fruticultura paulista?
João Sampaio - O mercado consumidor é dinâmico e alcançar sucesso junto ao consumidor de-
JOÃO SAMPAIO
pende da capacidade de leitura destas mudanças e
o poder de adaptação e incorporação de novas
tecnologias. A fruticultura paulista passa pelos mesmos desafios que outros setores. A seleção e o
processamento das frutas com embalagens apropriadas que dêem durabilidade e frescor às frutas,
assim como o desenvolvimento de variedades agrícolas, cada vez mais condizentes com as demandas
de consumo, são as principais necessidades da fruticultura paulista. A certificação, sanidade e adequação aos mercados são os grandes desafios.
“Trabalhar a imagem da fruta
paulista passa por certificação
na produção, padronização dos
processos, combinado com
campanha de marketing.”
Frutas e Derivados - Como a Secretaria pode
contribuir para saná-las?
João Sampaio - A Secretaria de Agricultura,
como enumerado anteriormente, possui várias das
ferramentas necessárias para que estas dificuldades
possam ser superadas. A articulação dentro da cadeia produtiva é um dos caminhos e, para isto, a
Câmara Setorial de Frutas é o foro adequado.
Frutas e Derivados - Mesmo produzindo quase
metade das frutas nacionais (47% do total nacional), e sendo exportador, São Paulo é pouco reconhecido como pólo de fruticultura. A Secretaria tem algum plano para reverter essa imagem?
João Sampaio - A fruticultura paulista é das mais
fortes do País. Com grande rentabilidade, é responsável por uma distribuição e ampliação de renda nos seus pólos de produção. Trabalhar a imagem da fruta paulista passa pela certificação na produção, padronização dos processos e da embalagem, combinado com uma campanha de marketing.
O caminho já foi iniciado pelo Projeto Fruta Paulista,
que é criar a marca e o selo do produto de
São Paulo. Isto deve ser ampliado para que alcancemos maior visibilidade e consolidação da marca
fruta paulista.
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CAMPO DE NOTÍCIAS
Luciana Pacheco
Brasil Recupera Registro
da Marca Açaí
O açaí, que desde 2003 estava registrado no Japão como marca de
propriedade da empresa K.K. Eyela
Corporation, é de novo brasileiro.
O Departamento de Patrimônio
Genético, do Ministério do Meio
Ambiente, informou, em fevereiro,
que o registro da marca “açaí” foi
cancelado por ordem do Japan
Patent Office, o escritório de registro de marcas do Japão. Porém, a
empresa ainda tem 30 dias para
recorrer da decisão.
Para coibir o registro indevido de
componentes da biodiversidade nacional, o governo formulou lista com
3 mil nomes científicos de plantas brasileiras e distribuiu para escritórios de
registro de marcas no mundo inteiro. Produtos típicos, como cupuaçu,
rapadura e até escapulário já foram
registrados indevidamente como
marcas fora do País.
Embrapa Lança Processo
Agroindustrial de Passas
de Mamão
A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical (Cruz das Almas/BA)
lançou em dezembro o processo
agroindustrial “passas de mamão”,
sem o uso de conservantes, que demanda baixo investimento em equipamentos - basta um secador para
que a temperatura durante o processo de secagem seja controlada.
O aspecto do produto é um grande diferencial, pois possui textura
e cor brilhantes, diferente dos produtos disponíveis no mercado, que
são geralmente escuros, cristalizados na superfície e com textura rígida. Esta tecnologia, segundo a
Embrapa, terá impactos significati-
10
vos no aproveitamento do mamão,
além de gerar receitas para a
agroindústria de pequena escala,
pois requer baixo investimento.
Mais informações: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical,
telefone (75) 3621-8076, fax (75)
3621-8015, e-mail: leacunha@
cnpmf.embrapa.br.
Usos Sustentáveis da
Casca de Coco
Segundo dados da Embrapa
Agroindústria Tropical, cerca de
70% do lixo gerado na orla das
grandes cidades brasileiras é composto por cascas de coco verde,
material de difícil degradação e foco
de proliferação de doenças, que
diminui a vida útil de aterros sanitários e lixões. Em Fortaleza/CE,
nos meses de alta estação, só a
Avenida Beira-Mar e a Praia do Futuro recebem 40 toneladas por dia
do resíduo.
Para reduzir este efeito e aproveitar a matéria-prima, a Embrapa
Agroindústria Tropical desenvolveu
uma tecnologia e um conjunto de
equipamentos para processamento
da casca de coco verde, transformando o resíduo em pó e fibra. O
trabalho viabilizou a implantação de
uma unidade de beneficiamento no
bairro do Jangurussu, em Fortaleza, com recursos do Banco Mundial, em parceria com diversas instituições públicas e privadas. O projeto pretende instalar cercas verticais de contenção, feitas a partir das
mantas de coco verde. As mantas
ajudarão a barrar a ação do vento,
evitando que as partículas de areia
invadam as residências dos moradores da Praia do Serviluz. Elas
também serão usadas como cobertura de solo para a plantação de
espécies adaptadas ao ambiente,
como cactáceas (palma forrageira),
arbustivas (murici, guajiru e nim), frutíferas (cajueiro e goiabeira) e herbáceas (salsa e amendoim), além de
canteiros com 14 espécies de plantas medicinais, como, por exemplo,
alecrim-pimenta, malvarisco, confrei, chambá, capim-santo, hortelã
japonesa e alfavaca.
A casca do coco também está sendo transformada em vasos e placas por uma empresa de Fortaleza/CE. Confeccionados à base de
fibra de coco, os produtos atendem ao critério de similaridade ao
xaxim, espécie em extinção, devido à sua extração para paisagismo.
A fibra de coco consegue reter umidade e deixa as plantas ultrapassarem as paredes dos vasos e das placas, permitindo, assim, que se desenvolvam conforme suas necessidades e funções.
Embalagens de Madeira
Ganham Novas Regras
O Brasil passará a exigir dos seus
parceiros comerciais mercadorias
acondicionadas em embalagens de
madeiras certificadas. A medida
objetiva reduzir o risco de introdução de pragas exóticas no Brasil e manter o País livre das principais pragas quarentenárias florestais com ocorrência em países da
Ásia, Europa e dos Estados Unidos. Nesse sentido, o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou Portaria,
que coloca em consulta pública
por um prazo de 60 dias o projeto da Instrução Normativa, que
visa adotar diretrizes e recomendações para certificação fitossanitária das embalagens e dos suportes de madeira, usados no
acondicionamento e transporte de
quaisquer mercadorias destinadas
ao comércio internacional.
A nova norma estabelecerá critérios de rastreabilidade, emissão de
certificados, exportação, inspeção
e fiscalização, e medidas fitossanitárias cabíveis para essas embalagens e os suportes de madeira.
A madeira deverá, por exemplo,
estar livre de insetos vivos e sem
sinal de infestação de pragas. A
responsabilidade de cumprimento
das regras recairá sobre a empresa
exportadora e importadora, que
deve estar em concordância com as
regras da Instrução Normativa.
A certificação será necessária para
embalagens e suportes de madeira em bruto - aqueles que não sofreram processamento, nem foram submetidos a tratamento -,
que inclui caixas, engradados,
paletes, madeira de estiva, lastros
e calços. Estão isentos das exigências de certificação, as embalagens
e os suportes de madeira industrializados, processados ou que,
no processo de fabricação, tenham
sido submetidos ao calor, colagem
ou pressão, a exemplo de compensados e aglomerados de partículas,
fibras orientadas ou folhas com espessura de 6 mm ou menos.
Para mais informações, consulte a
Portaria de nº 7, publicada na edição de 17/01/07 no Diário Oficial da
União, disponível no site da Imprensa Nacional, no endereço eletrônico
www.in.gov.br.
Castanhas do Rio Grande
do Norte Acessam o
Mercado Externo
Exportação para Europa e preços
de venda melhores, com aumen-
to da rentabilidade do negócio são
os resultados das ações, promovidas pelo Sebrae, há três anos,
para fortalecer e desenvolver a
cultura empreendedora entre os
produtores de castanha de caju,
organizados em 11 municípios do
Rio Grande do Norte. No ano
passado, foi criado um projeto
para promover a ocupação e o aumento das vendas das castanhas
de forma competitiva e sustentável, fundamentadas na cultura de
cooperação. Desde então, foram
construídas e revitalizadas dezenas
de indústrias que, juntas, são responsáveis por quase 20% da produção de castanhas de caju de
todo o Brasil.
Nos períodos de safra, entre os
meses de outubro e janeiro, as indústrias chegam a empregar 280
famílias, beneficiando 600 pessoas diretamente e 3 mil indiretamente. De acordo com o gestor
do projeto no Estado, Lecy Carlos
Gadelha Júnior, em 2006, as
minifábricas produziram 90 toneladas de castanhas de caju, das
quais 75 foram enviadas para Itália e Alemanha e 15 toneladas foram vendidas para o mercado interno. Além disso, os produtores aumentaram o preço do quilo das castanhas de R$ 0,70 para R$ 1,10,
melhorando sua rentabilidade.
Com a implantação das unidades
familiares nas minifábricas e acompanhamento do Sebrae, os produtores se organizaram, investiram em embalagens novas e mais
modernas, reduziram a sua
dependência sobre os atravessadores na comercialização
e aumentaram a oferta para os
mercados interno e externo da
castanha e dos subprodutos do
caju, inclusive o orgânico.
Fazenda de Goiaba
Conquista Certificação
Rainforest Alliance
O Sítio São Nicolau, da empresa Val
Frutas, produtora e processadora de
goiaba de Vista Alegre do Alto/SP, foi
a primeira fazenda de goiaba do
mundo a receber autorização para
utilizar o selo Rainforest Alliance
Certified em seus produtos.
Roberto Rossi, supervisor de
Marketing da empresa, explica que
“este é um selo reconhecido internacionalmente e, no intuito da
melhoria contínua de suas práticas agrícolas, a Val Frutas encontrou nesta certificação os requisitos ideais para a promoção da
agricultura sustentável”. A
certificação garante que a empresa respeita o meio ambiente, os
trabalhadores e a região onde está
inserida. Para conquistar a
certificação, a propriedade se
comprometeu com as regras da
Rede de Agricultura Sustentável,
rede internacional de organizações
sem fins lucrativos, que estabelece, entre outras normas, a conservação dos rios, dos solos e do
meio ambiente. Além disso, as propriedades devem garantir que os trabalhadores e suas famílias sejam respeitados, recebendo um salário digno e tendo acesso à saúde e à educação. Para o Imaflora, organização
sem fins lucrativos,responsável pelo
processo de certificação Rainforest
Alliance no Brasil, a conquista da Val
Frutas representa o primeiro passo
para a ampliação do segmmento de
certificação para frutas. Além da
goiaba, outros cultivos possuem o
selo Rainforest Alliance, como
café, banana, laranja e flores, em
diversos países da América Latina
e mais recentemente na África.
11
NO POMAR
Marlene Simarelli
BANANA RESISTENTE
EMBRAPA CNPMF
A SIGATOKA NEGRA
Quando o fungo Mycosphaerella fijiensis Morelet, causador da Sigatoka negra, atinge
os bananais, com variedades suscetíveis em condições de clima quente e úmido, as
perdas chegam a 100% da produção. Para ajudar na solução do problema, a Embrapa
Mandioca e Fruticultura Tropical lançou as novas cultivares de bananeira Japira e Pacovan
Ken, resistentes à doença. O pesquisador Sebastião de Oliveira e Silva, responsável
pelo melhoramento de bananeira, afirma que “o uso das duas variedades evita a
aplicação de fungicidas no controle das sigatokas amarela e negra, prática de elevado
custo e com implicações ambientais”.
A cultivar Japira produz 25 toneladas por hectare; apresenta a maioria das características de desenvolvimento e de rendimento superior à Prata e bastante semelhante a
Pacovan. Mas é superior na reação às doenças, sendo resistente a Sigatoka amarela, a
Sigatoka negra e ao mal-do-Panamá. Foi lançada no Espírito Santo e avaliada em diferentes ecossistemas na Bahia, no Amazonas e no Acre.
A Pacovan Ken tem porte de médio a alto, ciclo médio e se destaca das demais por
apresentar produção de 30 toneladas por hectare. Os cachos, de frutos mais doces,
podem chegar a 28 quilos, com sete a dez pencas por unidade. Apresenta também
resistência a Sigatoka amarela e ao mal-do-Panamá. Lançada na Bahia, a Pacovan Ken
foi testada e recomendada para outros estados da região Norte.
Informações sobre as mudas das novas variedades podem ser obtidas na Campo
Biotecnologia, telefone (75) 3621-2584, email: [email protected].
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CUIDADOS COM O MAMOEIRO
A partir de março, quando diminuem as chuvas e a temperatura cai, a cultura do mamoeiro, de produção contínua, exige que os
produtores fiquem atentos, principalmente para os problemas fitossanitários, como o ácaro-rajado e as doenças viróticas meleira e
mosaico do mamoeiro. Isto porque sua ocorrência fica favorecida com a entrada do período da seca.
O pesquisador David Martins, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper –, explica que “os
ácaros-rajados (Tetranychus urticae) surgem com o início da seca. São pequenos indivíduos, pouco perceptíveis a olho nu, encontrados
associados às folhas mais velhas do mamoeiro, geralmente na parte inferior do limbo, formando colônias entre as nervuras mais
próximas do pecíolo, onde tecem teias e depositam seus ovos. Quando as folhas são intensamente atacadas, secam e caem, prematuramente, provocando redução da área foliar. A queda das folhas afeta o desenvolvimento e a produtividade da planta e deprecia a
qualidade dos frutos pela sua exposição à ação direta
dos raios solares”. O ataque do ácaro-rajado aos pés de
mamoeiro normalmente surge em reboleiras. “E é nas
reboleiras que a praga deve ser combatida antes que se
disseminem pela lavoura”, enfatiza Martins.
As duas doenças viróticas meleira e mosaico do mamoeiro aparecem com o final do verão, em condições de
temperaturas mais amenas. Essas condições climáticas
favorecem o aparecimento dos sintomas com maior rapidez, ou seja, ficam mais evidentes. Como para essas
doenças não há controle, o pesquisador recomenda que
O clima mais ameno e seco
as plantas atacadas sejam erradicadas, tão logo aparefavorece o aparecimento de pragas
çam os primeiros sintomas, para evitar que se dissemie doenças como ácaro rajado
nem pela lavoura.
(acima) e meleira (ao lado).
FOTOS INCAPER/ES
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Japira (acima) e Pacovan Ken são
resistentes a sigatoka negra.
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EM CÂMARA FRIA
As mudas de morango da cultivar Camarosa, uma das mais plantadas no País e a mais
importante no Rio Grande do Sul, produzem mais quando vernalizadas em câmara fria. A
vernalização, técnica que consiste em colocar as mudas em câmara fria durante uma fase de
seu crescimento, fez com que a produtividade fosse de 1,07 kg por planta por ano, o
equivalente a 117% superior em relação a muda sem vernalização. As mudas oriundas do
Chile, também usadas para comparação, tiveram produção semelhante a muda nacional
vernalizada. “Os resultados da pesquisa tornam competitivas as mudas produzidas no Brasil,
sendo possível reduzir a importação e oferecer uma alternativa de renda aos produtores
nacionais”, afirma Roberto Pedroso de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS,
coordenador do estudo. Para se ter uma idéia do mercado, mais de 80% das mudas de
morango utilizadas no Rio Grande do Sul, provêm do Chile e da Argentina. O pesquisador
explica que “a vernalização das mudas foi feita por 24 dias em câmara fria, sob condições de
temperatura de 4±1oC e umidade relativa de 94±2%”.
A produção e a qualidade dos frutos do morangueiro estão diretamente relacionadas ao
número de horas de frio que as mudas recebem no viveiro. Em sua maioria, as mudas
produzidas no País não atingem o padrão de certificação, apresentando produtividade inferior às importadas dos Estados Unidos, do Chile e da Argentina. O experimento foi realizaProdutor de mudas Pedro Signorini tesdo no sítio Simon, município de Pelotas/RS, utilizando sistema de produção sob túneis com
tou e aprovou a tecnologia desenvolvida.
mudas de morango da cultivar Camarosa, produzidas em viveiro da região de Pelotas. Para
a vernalização, as folhas foram removidas, mantendo-se as raízes intactas, sendo realizado
um tratamento preventivo com fungicida tiofanato metil. Em seguida, as mudas foram dispostas em câmara fria no interior de sacos
plásticos transparentes de 0,05 mm de espessura, contendo 20 plantas cada. O transplantio das mudas foi realizado de acordo com
as técnicas de produção em uso no País. Mais informações sobre a pesquisa com Roberto Pedroso de Oliveira, email:
[email protected], telefone (53) 3275-8100.
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ABACAXI VITÓRIA
PARA ENFRENTAR FUSARIOSE
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO/INCAPER
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EMBRAPA CPACT
MUDAS DE MORANGO
Resistência a fusariose é a principal característica do abacaxi Vitória, nova cultivar lançada
pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper -,
em parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. A doença, causada
pelo fungo Fusarium subglutinans f.sp. ananás, é o problema fitossanitário que mais
ataca a cultura. A nova cultivar, com folhas sem espinhos, é destinada ao consumo in
natura e à agroindústria. Seus frutos têm polpa branca, boa suculência, eixo central de
tamanho reduzido e elevado teor de açúcares (média de 15,8 °Brix). Outras características favoráveis para produção são a cor amarela da casca, o formato cilíndrico e o
peso dos frutos, em torno de 1,5 kg. De acordo com as instituições, o abacaxi Vitória
é 30% mais produtivo, dispensa o uso de fungicidas para controle da doença, possibilitando a redução do impacto ambiental e dos custos de produção. Apresenta, tamVitória chega ao mercado depois de
bém, maior resistência ao transporte e ao pós-colheita. As recomendações técnicas
uma década de pesquisa.
de cultivo são as mesmas usadas para as cultivares Pérola e Smooth Cayenne.
O Programa de Melhoramento Genético do Abacaxizeiro da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical começou em 1984. Os
híbridos gerados passaram por avaliações e seleção em diferentes regiões produtoras. Deles, três híbridos foram introduzidos nas
fazendas experimentais do Incaper, onde, nos últimos 10 anos, realizou-se a seleção, que originou o Vitória. Para outras informações
e locais de aquisição de mudas, contatar Aureliano Nogueira da Costa, na coordenação do Programa Estadual de Fruticultura do
Incaper, telefone (27)3137-9887, email: [email protected].
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NICEBERRY
FRUTAS FRESCAS
FRUTAS FINAS
Empresas apostam na
produção e comercialização de
frutas finas e delicadas como
mirtilo e physalis, exigentes em
cultivo, colheita e transporte,
cujo alto valor agregado é o
principal diferencial.
Beth Pereira
14
Embora representem um grande potencial econômico, frutas finas como mirtilo, framboesa, cereja, amora, pitaya e physalis, têm consumo restrito
por causa do alto valor agregado, em decorrência
da produção limitada, do manejo da difícil colheita,
da exigência em mão-de-obra, dos cuidados no
transporte e armazenagem e por serem altamente
perecíveis. Os preços elevados fazem com que seu
consumo fique praticamente restrito às pessoas com
maior poder aquisitivo. Júlio Cesar Zanardi, gerente de importação da Irmãos Benassi, concorda que
a demanda por frutas finas no País ainda é bastante
limitada às pessoas da classe A. “Apenas no pico da
safra, quando os preços caem, elas ficam mais acessíveis também às classes B, C e D”, observa. Ele
lembra que a amora é a que apresenta maior produção e preço mais reduzido, principalmente no
pico da safra. Segundo Zanardi, as frutas finas são
muito sensíveis, apresentando bastante dificuldade
de manuseio. Isso faz que o preço do mirtilo, por
exemplo, seja muito alto, tornando praticamente
impossível consumi-lo fresco. No geral, essa fruta
é comercializada congelada, sob a forma de polpa
ou utilizada no preparo de doces e geléias.
Outra fruta difícil de ser comercializada fresca,
na opinião de Zanardi, é a framboesa. “É muito sensível para ser comercializada fresca, exige cuidados
na colheita e na pós-colheita, além de uma estrutura muito boa de armazenagem e refrigeração”, explica. Já a pitaya, embora seja uma fruta nova no
mercado, tem tido o consumo aumentado aos poucos, mas os preços ainda estão elevados. “Se aumentar a produção, a tendência é o preço cair e o
consumo ampliar”, analisa. Enquanto isso, para a
physalis, a demanda é reprimida, por ser uma fruta
pouco divulgada e pouco conhecida. “A venda é
quase irrisória. O consumo tem aumentado, porém de forma insignificante.”
EXCLUSIVO
FOTOS NICEBERRY
A empresa Irmãos Benassi é distribuidora de frutas finas para o Brasil da italiana Italbras, com sede
em Vacaria/RS. São Paulo responde pelo maior consumo dessas frutas, por uma questão de logística.
Na safra, a empresa recebe remessas de frutas diariamente. Agora, porém, com a colheita chegando ao fim, o recebimento ocorre apenas duas vezes por semana. Para Zanardi, a forma de tornar
essas frutas acessíveis ao consumidor brasileiro é
reduzir o valor agregado, o que ele considera difícil, por causa do alto custo de produção e da alta
exigência em mão-de-obra. “Daí a preferência por
congelar a fruta”, observa. “Um quilo de framboe-
sa vale mais do que o quilo de filé mignon”, compara, lembrando que, atualmente, na Ceasa, o quilo
chega a R$ 35,00, o mesmo vale para a physalis.
Enquanto isso, o preço do quilo da amora é R$
30,00, atualmente, e, na safra, R$ 10,00; e da
pitaya, R$ 10,00.
Há algumas frutas, porém, as quais o Brasil importa praticamente toda a necessidade de consumo. É o caso da cereja e da pêra, porque o clima
não favorece o cultivo. Zanardi afirma que há testes em andamento, mas ainda não foram encontradas variedades que se adaptem ao nosso clima, até
porque muitas delas precisam de muito frio. O Brasil
produz uma ou outra variedade de pêra, mas, para
atender à demanda, importa a fruta dos Estados
Unidos, Chile, Espanha, Argentina, Itália e Portugal. “É uma fruta produzida e importada em escala,
portanto, de preço barato”, diz Zanardi.
INCENTIVO
Há três anos, a Nice Berry, empresa do Grupo
Hathor, está incentivando o cultivo de frutas finas
no Brasil. Possui pomares de physalis, blue berry
(mirtilo), framboesa e amora nos municípios
catarinenses de Itá e Bom Retiro, e nas cidades argentinas de Santa Isabel e Concórdia. Segundo Débora Schäfer, responsável pela área de Marketing
de empresa, os 22 hectares cultivados no País com
frutas finas produzem 60 toneladas, sendo a maior
produção de amora e framboesa, cuja colheita se
concentra de outubro a janeiro, com exceção do
physalis, que produz o ano todo, cerca de 17 toneladas. Na Argentina, onde a produção é maior,
90% da colheita é exportada para os Estados
Unidos e a Europa. Débora diz que o maior mercado de frutas finas é São Paulo, mas a idéia é trabalhar o Brasil como um todo. “O consumidor brasileiro aprecia frutas e acreditamos que a divulgação das propriedades e do sabor das frutas finas vai
aumentar a demanda e, ao mesmo tempo, baixar
Physalis e mirtilo têm
alto valor agregado e
são acessíveis apenas
aos consumidores de
maior poder aquisitivo.
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FRUTAS FRESCAS
os preços, tornando-as mais acessíveis”, observa.
“Já existe uma demanda, embora pequena. Temos
realizado ações promocionais, que incluem
degustação nos pontos-de-vendas, anúncios em
revista e folders.”
As frutas finas exigem cuidados na
colheita, e estrutura de armazenagem
e refrigeração.
ROBERTO PEDROSO DE OLIVEIRA/EMBRAPA CLIMA TEMPERADO
Débora aponta uma demanda mundial crescente por mirtilo. Ela conta que a Argentina deve produzir 140 toneladas este ano. Outra fruta com
bom potencial de mercado é a framboesa, muito
procurada pelo sabor e pela cor. “Grandes empresas a têm utilizado para enriquecer outros alimentos, principalmente sobremesas e lácteos”, afirma
e acrescenta que a demanda por amora também
vai aumentar bastante. “A oferta está crescendo e o
preço está ficando mais acessível para as empresas
industrializarem os produtos.”
A venda da produção da Nice Berry no Brasil é
feita por meio de distribuidores nas Ceasas e no
Ceagesp, em São Paulo, principalmente. A empresa vende as frutas in natura, em embalagens de 125
gramas, e também congeladas (IQF), visando à produção de geléias, iogurtes, tortas e sucos. Conhecido como fonte da juventude, pelo seu poder
antioxidante, além de propriedades nutricionais, o
blue berry (mirtilo) é comercializado em embalagens de 125 gramas, por cerca de R$ 8,00. “O
mirtilo exige muita mão-de-obra porque os frutos
têm de ser colhidos com bastante cuidado, para
não se romperem, vão direto na embalagem com
gelo no fundo.” Segundo Débora, no ano passado,
foram colhidas seis toneladas da fruta. “A idéia é
dobrar a produção de mirtilo este ano”, planeja e
acrescenta que os pomares são novos e a planta
entra no seu pico de produção a partir do quinto
ano, produzindo até 15 anos.
A embalagem de amora é comercializada
por R$ 4,00. “Além de maior produtividade, comparada a outras frutas finas, é mais fácil de conduzir.” A framboesa é vendida por R$ 7,00 a embalagem de 125 gramas, o mesmo preço da sofisticada
physalis, de sabor único e incomparável, que une o
ácido e o adocicado, e é apreciada pelos grandes
chefs da cozinha internacional. “Tem sido muito utilizada na decoração de pratos e na elaboração de
bombons”, diz Débora. Também, é consumida na
forma de doces, sucos, sorvetes, geléias ou como
acompanhamento de vinhos. Originária da Amazônia e dos Andes, possui alto teor de vitaminas A,
C, fósforo e ferro, licopeno e betacaroteno, que
tem efeito antioxidante. De olho no mercado internacional, a produção já está em fase de
certificação. “A idéia é ter o EurepGap para exportar para o mercado europeu”, diz Débora. Por enquanto, o foco da empresa é consolidar o mercado
interno. “Apenas quando a oferta for maior do que
a demanda, passaremos a exportar.” Embora não
seja orgânica, a produção não utiliza agrotóxicos.
“Como as frutas são colhidas direto na embalagem,
que vai para o processo de refrigeração, o consumidor tem à sua disposição uma fruta de excelente
qualidade”, diz.
POTENCIAL
O Programa Estadual de Fruticultura do Rio
Grande do Sul tem estimulado o cultivo de frutas
finas. Na região, as mais importantes são morango,
amora e framboesa, mas já começam a despontar
espécies como physalis e mirtilo. Mercado existe,
há o interesse de compradores estrangeiros, mas
ainda não há uma estrutura de logística no aeroporto, segundo o coordenador do programa, Paulo Lipp João. “Falta estrutura de câmara fria para o
embarque dessas frutas congeladas via aérea. O aeroporto não está preparado para essa finalidade”,
afirma João. Ele acrescenta que, por essa razão, o
fruticultor tem de preparar a carga e levar na hora
País já dominou tecnologia para produção
e comercialização do delicado morango.
16
para o aeroporto. “Além disso, muitas vezes, é preciso disputar lugar com outros produtos. Quando
tem lugar no avião, a fruta é embarcada, caso contrário, volta para a propriedade. Por essa razão, a
produção tem sido direcionada principalmente ao
mercado de São Paulo, em especial para os sacolões
de frutas finas.”
Entre as frutas finas, a mais popular, segundo
João, é o morango, com produção anual de 12 mil
toneladas, direcionada basicamente para o mercado interno e muito pouco para exportação à Europa. Ele conta que “há cerca de cinco anos, produtores da Serra Gaúcha começaram a exportar a
fruta, mas as vendas não avançaram mais por causa
da baixa taxa cambial”. Segundo ele, são 450 hectares cultivados com morango, cuja produtividade
tem aumentado, graças ao uso da fertirrigação. Além
disso, ele conta que há variedades americanas e
espanholas que podem ser plantadas e colhidas o
ano inteiro. De amora, são 120 hectares e produção anual de 1.000 toneladas e, de framboesa, cerca
de 10 hectares e produção de 50 toneladas. O cultivo da framboesa vem crescendo na região de Va-
caria, visando à exportação – principalmente para
a Itália, por meio de empresas italianas sediadas na
região, como a Italbras – e também para o mercado interno, principalmente São Paulo.
De acordo com João, a argentina Nice Berry
tem fomentado o physalis, de forma ainda incipiente;
além de mirtilo, na Serra Gaúcha, em Vacaria e
Caxias do Sul, e no Alto Uruguai, em Erechim, onde
está surgindo um novo pólo de cultivo de mirtilo.
”Graças ao incentivo da Nice Berry, são 22 hectares de frutas finas e produção de 60 toneladas. Ele
também lembra que “na região de Farroupilha está
começando o cultivo de pitaia.”
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PASSAPORTE
PARA EXPORTAR
Sistema garante a qualidade e a procedência da fruta, facilitando a
entrada e a abertura de novos mercados para o produto brasileiro
no Exterior, mas não é garantia de preços melhores.
Beth Pereira
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CERTIFICAÇÃO
Segurança alimentar é uma das maiores preocupações mundiais, tanto que países e blocos comerciais têm criado legislações especiais para proteger o consumidor, que, a cada dia, aumenta o nível de exigências em relação a rastreabilidade dos
alimentos. Com as frutas não é diferente. Na Europa, a maioria das grandes redes de varejo exige o
EurepGap (Euro Retailer Produce Working Group),
criado por grandes grupos varejistas desse continente. Mas há outros protocolos de certificação voltados para a fruticultura, como o GAP (Good
Agricultural Practices), para o mercado americano;
o TNC (Tesco Nature’s Choice) para os países onde
a rede atua, mas principalmente para a Inglaterra; e
o HACCP (Hazard Analysis and Critical Control
Points), sendo este último recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), além do programa brasileiro Produção Integrada de Frutas (PIF).
“Enquanto no sudeste asiático o alvará para a entrada de frutas é a declaração de boas práticas agrícolas, nos Estados Unidos, além da legislação sobre
contaminações microbiológicas (Lei Clinton), os exportadores têm de cumprir as determinações da Lei
Antiterror do presidente Bush”, destaca o presidente
do Conselho do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf)
e da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
Luiz Borges Junior. De acordo com Borges, o cerco
está se fechando e a União Européia (UE) está se
estruturando para implementar as normas de produção integrada de frutas em todos os países do
bloco. Ele lembra que a Itália, Espanha, Alemanha,
França e Bélgica já se adequaram ao programa, porém, os novos integrantes dos blocos da União Européia (UE) ainda estão se preparando para essa
finalidade. “Quando esses novos países estiveram
adequados, eles vão exigir que todos os exportadores estejam dentro das premissas do PIF”, diz.
Neste mês de março, uma missão da UE virá
ao Brasil para vistoriar a produção de melão, manga e outras frutas da pauta de exportação. “Certamente vão exigir a análise de resíduos, como já ocorre com a maçã e o mamão”, acredita Borges Junior.
Ele conta que o País está se estruturando com laboratórios para atender a essa nova demanda. Além
disso, laboratórios internacionais estão se instalando no território nacional para essa finalidade. Segundo Borges Junior, vale a pena adotar a
certificação, até porque no futuro todos os mercados vão exigir rastreabilidade. “A pressão será maior e as exigências, também”, salienta. Ele acrescenta que “a segurança do alimento é o princípio básico para acesso aos mercados internacionais, inclusive para o mercado interno”.
CONSUMO CONSCIENTE
Gustavo Sanches Bacchi, da certificadora BCS
Öko-Garantie - Brasil, considera que há vários tipos de exigências dos mercados importadores, entre elas as relacionadas às preferências do consumidor, como tamanho, cor, sabor; e as que se referem ao atendimento das mais diversas legislações
vigentes no Brasil e nos países para os quais são
exportadas as frutas brasileiras. “Além disso, há normas decorrentes do ‘consumo consciente’, que exige garantias sobre o cumprimento de padrões sociais e ambientais mínimos por parte dos fruticultores
e distribuidores”, destaca. Bacchi lembra que um
exemplo bastante importante de exigência do consumo consciente, que ganha cada vez mais relevância em muitos países, é a certificação orgânica. “O
consumo dos produtos orgânicos ampliou-se nas
últimas décadas na mesma proporção em que aumentou a consciência do consumidor sobre os benefícios da produção e do consumo das frutas orgânicas”, observa. Embora reconheça a necessidade
e as vantagens da certificação, Bacchi afirma que há
alguns mitos em torno do assunto. Um deles é a
crença de que a certificação de uma propriedade,
uma vez obtida, resolve todos os problemas de
comercialização do produto em questão, o que não
é verdade. “Muita gente também acredita que o
esforço necessário para conseguir o certificado termina quando o mesmo é emitido pela certificadora.
Isso, porém, não é real, até porque a maioria dos programas de certificação
demanda uma melhoria contínua do
produtor”,
1919
CERTIFICAÇÃO
OG
AG
R
C
OE
OL
IA
ressalta. “Na prática, isso significa que o produtor
precisa se organizar para conquistar a certificação e
para mantê-la (ou seja aprimorá-la) nos anos seguintes. Além disso, também precisa atender às
demais exigências dos mercados em questão.”
Para Bacchi, outro aspecto interessante da
certificação de propriedades agrícolas é o fato de
que os produtores foram apresentados a esse tipo
de serviço muito recentemente e, por esse motivo,
ainda não há uma cultura de certificação bem consolidada no meio rural. “Conceitos fundamentais
para uma certificação de alto nível, como por exemplo, conflito de interesses, independência, imparcialidade, transparência são, em muitos casos, completamente desconhecidos por parte dos produtores”, enfatiza. Ele acrescenta que pouco se sabe,
também, sobre o rigor dos processos de acreditação
aos quais são submetidas as certificadoras. “Nos
processos de acreditação, as certificadoras são fiscalizadas constantemente, demandando, de forma
permanente, a capacitação técnica dos seus funcionários, organização e muitas outras exigências que
são pouco conhecidas pelos produtores rurais e
pelos consumidores das suas frutas certificadas.”
Soma-se a isso o fato de que cada país possui uma
legislação própria, com variações conforme as diferentes espécies de frutas. “A própria União Européia, que tem realizado um grande esforço para
harmonizar a legislação entre os países-membros,
ainda possui diferenças na legislação de produtos
fitossanitários referentes a produtos agroquímicos
banidos e/ou limites máximos de resíduos”, analisa.
Embora acredite que vale a pena investir na
certificação, Bacchi destaca a importância de um
bom plano de negócio, no qual todas as variáveis são
estimadas e projetadas. “Os projetos de fruticultura certificados com a maior longevidade que conheço estão
bem apoiados num bom planejamento”, salienta.
Ele lembra que alguns aspectos relacionados à certificação tornam-se cada vez mais
evidentes. “O enriquecimento da experiência dos produtores em conhecimento, organização, capacitação e outros quesitos exigidos pelos diferentes programas de certificação
são bastante significativos”, afirma. “Talvez a
avaliação econômica de curto prazo da relação entre os investimentos e os benefícios de um processo de certificação não
consigam captar os ganhos em termos
de produtividade, de eficiência administrativa, de redução de passivos
ambientais, de saúde do consumidor
e de tantos outros aspectos requeri-
20 Daniel Velloso, Agroecologia.
dos pelos diferentes programas de certificação e que
se mantêm no longo prazo.”
SEGURIDADE E
BOAS PRÁTICAS
O presidente do Instituto Agroecologia, Daniel
Velloso, afirma que as principais premissas dos importadores de frutas são a comprovação da
seguridade alimentar e a adoção das boas práticas
agrícolas. Além de protocolos internacionais como
EurepGap, US GAP e Tesco Natures Choice, ele
afirma que outros países exportadores estão definindo legislações próprias. Caso do Chile, que criou
o Chilegap, com benchmarking - técnica que consiste em acompanhar processos de organizações que
sejam reconhecidas como representantes das melhores práticas administrativas. “Outros países exportadores estão buscando o benchmarking, ou seja,
a equivalência e o reconhecimento com o
EurepGap, a exemplo do México, China GAP, Kenia,
Japão (J-GAP) e outros”, explica.
Como representante do oficial da EurepGap no
Brasil, Velloso destaca como as principais exigências
desse selo requisitos da rastreabilidade, de
sustentabilidade ambiental, seguridade alimentar e
viabilidade econômica, mediante a aplicação das
boas práticas agrícolas. Nessas práticas, está proibida a utilização de tecnologias agressivas ao ambiente e à saúde humana, segurança e bem-estar dos
trabalhadores. “Isso implica em uso racional e exclusivo de produtos oficialmente registrados para
Principais Pontos para
Obter Certificação
Fazer controle de agroquímicos;
Cuidar da higiene na colheita e pós-colheita;
Oferecer condições de trabalho adequadas à legislação trabalhista;
Proteger o Meio Ambiente;
Uma vez conquistada a certificação é
necessário fazer uma melhoria contínua
da propriedade para mantê-la;
O tempo e o preço da certificação variam
de acordo com o estágio em que se encontra a propriedade e tempo que o produtor leva
para corrigir os pontos não conformes.
SGS DO BRASIL
Compradores preocupam-se com questões
ambientais e bem estar dos trabalhadores Katia Leal Nogueira, SGS do Brasil.
cada cultivo, respeitando-se os intervalos de segurança; conservação do solo, aplicação de fertilizantes, recursos hídricos, recursos naturais de maneira geral,
análise de resíduos, colheita, pós-colheita”, detalha.
PREOCUPAÇÃO
DOS COMPRADORES
Katia Leal Nogueira, gerente comercial da SGS
do Brasil, também ressalta que há, atualmente, por
parte dos compradores, uma preocupação muito
grande com as questões relacionadas a resíduos
químicos, ambiente e bem-estar dos trabalhadores.
“O reflexo dessas preocupações está nas principais
normas de certificação que, na maioria das vezes,
são elaboradas pelas próprias redes varejistas ou entidades criadas por eles, caso do EurepGap e Tesco
Natures Choice”, cita. “As exigências estabelecidas
nessas normas visam a garantir a produção de fruta
sustentável, de qualidade, livre de resíduos, respeitando o ambiente e os trabalhadores.”
Ela chama a atenção para as questões relacionadas ao cumprimento do limite máximo de resíduo
(LMR) permitido e a não-utilização de produtos proi-
bidos, o que, na
sua opinião, é de
suma importância e pode comprometer a aceitação da fruta.
Além disso, lembra que alguns
países estabelecem regras de
produção
e
empacotamento
para o controle
da mosca-dafruta. “Dentro desse contexto, percebe-se que a
certificação pode ser um fator determinante para
alguns compradores e mercados, aliada ao atendimento às especificações estabelecidas por cada importador (cor, tamanho, etc.).” Na opinião de Katia,
vale a pena investir na certificação de frutas, principalmente porque pode facilitar o acesso do produtor certificado a mercados mais exigentes e, em alguns casos, que melhor remuneram. “O investimen-
21
to em certificação é rapidamente recuperado, haja vista o
aumento da produtividade e a melhora da qualidade dos
frutos”, pondera.
Katia destaca como vantagens da certificação de frutas
a redução do uso de agroquímicos, melhora do controle
da produção, adequação à legislação quanto ao armazenamento, uso e descarte de agrotóxicos e maior qualificação dos funcionários. “Com a diminuição da necessidade de ações corretivas no solo e de controle de pragas
e doenças, há uma economia de até 40% no uso de
insumos agrícolas, diante da menor necessidade de ações
corretivas no solo e do controle de pragas e doenças”,
salienta. “Na parte administrativa, há uma melhor gestão
da propriedade, entre outras vantagens.”
PREOCUPAÇÕES RELEVANTES
O engenheiro agrônomo da certificadora OIA (Organização Internacional Agropecuária) Edegar de Oliveira Rosa,
destaca que, quem está comprando a fruta, quer ter a certeza de não estar trazendo nenhuma praga. “Para exportar limão para a Europa, é necessário dar um banho de hipoclorito
na fruta, para evitar o tráfego de patógenos”, exemplifica.
“Outra exigência é com a segurança do alimento (que não
faça mal para quem o consome). As legislações começam a
ser mais rígidas em relação a isso”, diz.
A condição ambiental é outra preocupação, principalmente, no sentido de reduzir o risco de contaminação do ambiente e garantir um nível de justiça social, o que passa pela
proibição do trabalho escravo e do uso de mão-de-obra infantil, além de garantias de condições mínimas para os funci-
onários ligados à produção da fruta.
“Essa exigência está vindo
de duas formas: por meio dos protocolos da iniciativa privada e dos governos, que prevê boas práticas agrícolas, e, ao mesmo tempo, está crescendo as legislações de orgânicos, cuja diferença
principal é a proibição de uso de agrotóxicos”, enfatiza. Ele
lembra que, no pólo brasileiro de Mossoró, exportador de
melão, além das certificações exigidas pelos importadores, já
há um movimento em torno da certificação orgânica.
De acordo com Oliveira Rosa, atualmente, a primeira
questão levantada na mesa de negociação com um produtor,
que pensa em exportar frutas, é sobre a certificação que ele
tem. Segundo ele, no passado alguns produtores aderiam à
certificação de forma equivocada, acreditando que isso seria
garantia de venda da produção, o que não é verdade. “É
uma ferramenta comercial, mas não é salvação da lavoura,
não é uma garantia de venda”, observa e lembra que o papel
da certificação é garantir qualidade ou por produto ou por
processo de produção. “Hoje, isso já está mais claro”, pondera. “Outro ponto é a melhoria no sistema de gestão da
propriedade, muitas vezes até acompanhada de uma redução do custo de produção.” Ele aponta também um ganho
financeiro, por dois motivos: é possível vender melhor o produto e obter mais lucro ou ter acesso a mercados antes restritos. “No caso da certificação orgânica, indiscutivelmente,
há uma vantagem com relação ao preço.”
LIMITES MÍNIMOS DOS RESÍDUOS
Quando se pensa em exportações de frutas, um dos assuntos mais preocupantes para o produto brasileiro é a
questão dos limites mínimos de resíduos (LMR) de pesticidas.
Segundo o coordenador do Comitê de Defensivos Agrícolas
do Fundecitrus, Eliseu Nonino, atualmente, existem, apenas
normas relativa a limites de resíduos para produtos in natura.
“O Codex ainda não definiu sobre limites de resíduos para
alimentos processados”, explica e acrescenta que esse assunto será discutido, na China, em maio, durante reunião.
Em relação às frutas in natura, Nonino observa que cada
país define quais são os defensivos permitidos e tem sua
legislação sobre esse assunto. “Caso um produto seja aprovado para determinada cultura, é estabelecido um mínimo
permitido de resíduos”, diz. No Brasil, ele lembra que são
três os órgãos reguladores: o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) e o Ministério do Meio Ambiente.
22
Em nível internacional, Nonino lembra que há o Codex
Alimentarius, programa conjunto da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e
da Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem instâncias para cada tipo de alimento na comercialização internacional entre países. “Dentre essas instâncias alimentares, há também os limites de resíduos de pesticidas permitidos, válidos para o comércio internacional. Hoje há
uma lista composta por 52 substâncias, que são aprovadas no Brasil, pelos importadores e pelo Codex”, explica.
“No âmbito da citricultura brasileira há um comitê ligado
ao Fundecitrus com a participação de vários órgãos.
Trabalhamos com uma lista de defensivos apro-vados para
uso no Brasil e pelos países que importam produtos
cítricos brasileiros”, observa e acrescenta que
“no País há 108 substâncias permitidas pelos mercados
externos”.
NYKLAURITZENCOOL DO BRASIL - PORTO DE NATAL/RN
Produtos certificados têm
maior aceitação no Exterior.
PROGRAMA
BRASILEIRO
Atualmente, o Brasil tem 40,4
mil hectares de frutas cultivados
dentro do programa Produção Integrada de Frutas (PIF), cerca de
cinco mil hectares a mais do que
2005. O PIF tem como meta a produção de frutas de qualidade, de
maneira segura para alimentação,
sem resíduos danosos à saúde humana. Desta maneira, as frutas são
produzidas sem insumos poluentes,
com monitoramento dos procedimentos e rastreabilidade do campo à mesa do consumidor, em
condições socialmente e ecologicamente justas e sustentáveis.
Instrução Normativa, publicada
em outubro de 2006 pelo Mapa,
criou novas regras para a exportação de frutas. Segundo a medida, os produtores devem fazer
parte do Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos de Origem Vegetal (PNSQV),
do Mapa. De acordo com o coordenador-geral do Sistema de Produção Integrada e Rastreabilidade do Mapa, José Rosalvo
Andrigueto, além de garantir a
qualidade dos alimentos, o programa tem a preocupação de produzir sem agredir o ambiente. “É
uma melhoria do processo produtivo para se obter um alimento seguro, que não tenha contaminações. O sistema também é
econômico, pois reduz o custo da
produção ao usar menos
agrotóxicos e fertilizantes.”
LIVRO DE CAMPO
Há três anos, a Daros-BR, de
Mogi Mirim (SP), iniciou as exportações de papaia, limão, mamão formosa, figo, goiaba, manga, banana e abacaxi para a Europa. Na época, apenas um dos
produtores que entrega frutas
tinha o pomar certificado com o
EurepGap. Segundo o diretor da
empresa, Marcio Eduardo Bertin,
nesse período, muitos conseguiram o selo, outros, porém, estão
em fase de validação. Embora o selo
não signifique valor agregado, mas
apenas o atendimento a uma barreira, Bertim garante que o mesmo
favorece a conscientização no meio
em que a pessoa trabalha. “O produtor visualiza problemas que ele
não percebia anteriormente,
como, por exemplo, o uso de defensivos”, afirma e acrescenta que
a empresa recebe frutas da região
e de outros Estados, de produtores e packing houses certificados
ou em validação.
A Andrad Sun Farms, também de
Mogi Mirim, tem o EurepGap e o
selo orgânico americano NOP. A
certificação orgânica foi conquistada há sete anos e segundo a gerente comercial e administradora
da empresa, Aline Fátima Andrade
Rosai, a principal mudança foi a
adoção dos procedimentos de descrição de tudo que é realizado na
lavoura, até porque a propriedade
já não utilizava defensivos químicos. “Depois do selo, começamos a
anotar e a descrever no livro de campo o dia-a-dia do sítio; os funcionários foram treinados para não cometer erros no manuseio de produtos autorizados pelo protocolo e
passamos a fazer a rastreabilidade
do pomar”, enumera.
A Sun Farm vende a produção para
empresas parceiras que fazem o
processamento de suco e do óleo
de limão orgânico, exportados
para os Estados Unidos e, em pequena quantidade, para a Europa.
No entanto, não consegue vender
a fruta in natura, como orgânica,
para o mercado europeu, por causa do banho de hipoclorito de
sódio, que é uma barreira para
aquele mercado. “Exportamos
limão orgânico como convencional para a Europa.” Segundo Aline, as principais adaptações da
propriedade para atender ao
EurepGap foram a construção de
sanitários e de depósito de defensivos; a adequação do packing
house; o plantio de cercas-vivas;
a realização periódica de análises de resíduos; o treinamento
da equipe de trabalho e a
implementação de uso de EPI.
“Com o selo, não conseguimos
vantagem com relação aos preços, mas ajudou bastante no cotidiano da propriedade. Além de
reduzir custos, melhorou a qualidade da fruta.”
CARTA DE
CONFORMIDADE
A Associação Paulista dos Produtores de Caqui (APPC) exporta a
fruta para a Europa desde 2001.
Todos os associados estão em
fase de certificação da produção
como o EurepGap. Segundo o assistente administrativo da APPC,
Fábio Válio de Camargo, o único
problema é que não há, no País,
uma lista de defensivos autorizados para a cultura. Por essa
razão, ele afirma que a
certificadora vai dar uma carta
de conformidade, informando sobre o cumprimento de todos os
itens, com exceção do que trata
de defensivos autorizados.
“O governo precisa ter defensivos autorizados, afinal, esse é
um dos itens principais do
EurepGap”, afirma o produtor de
caqui, Paulo Shigueru Toyoda, de
Pilar do Sul (SP), que considera
essa a principal dificuldade para
receber o selo para a fruta.
Ele não espera vantagens
econômicas ou de preços com o
selo. “É apenas uma forma de
garantir mercado”, resume o
dono do Sítio Toyoda, que cultiva caqui há 10 anos. Desde 2004,
exporta a fruta para a Europa,
via APCC, e está adequando a
propriedade às normas EurepGap.
Para ele, as principais mudanças
em função da adequação à certi
ficação são as anotações sobre
defensivos, o uso correto e o respeito à carência dos produtos.
23
CERTIFICAÇÃO
FRUTA
PAULISTA
Projeto enriquecerá a experiência dos produtores em conhecimento,
organização e capacitação exigidos pelos diferentes programas
internacionais de certificação, levando maior rentabilidade ao campo.
Marlene Simarelli
Fotos Sebrae-SP
Os pomares de acerola, caqui, figo, goiaba, laranja,
limão, pêssego, uva, morango, entre outras, fazem do
Estado de São Paulo o detentor de 47% da produção
brasileira de 40 milhões de toneladas de frutas, distribuídas em 2,3 milhões de hectares. Mesmo com quase
metade da produção nacional, e sendo exportador, São
Paulo é pouco reconhecido como pólo nacional de fruticultura. Nesse contexto, foi lançado o projeto de Boas
Práticas Agrícolas e promoção comercial Fruta Paulista,
uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Frutas – Ibraf,
e o Sebrae–São Paulo, com a participação de cerca de
400 fruticultores das diversas regiões produtoras do Estado. O projeto pretende preparar os fruticultores para
atender e superar as exigências dos mercados interno e
externo quanto à rastreabilidade e à segurança dos alimentos. Assim como no restante do País, a fruticultura
paulista está fundamentada em micro, pequena e média
propriedades e gera de 2 a 5 postos de trabalho na cadeia. “O mercado das frutas nacionais, hoje, é o de longa distância, formado por países da Europa, sendo a Alemanha o maior consumidor. Emirados Árabes e outros
do Oriente Médio surgem como nova alternativa”, afirma Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do Ibraf. “Esse
projeto é importante porque promove a integração dos
pequenos agricultores. A grande vantagem do Brasil é
produzir quase tudo e a grande força do País é o produtor”, ressalta o presidente do Sebrae-SP, Fábio Meirelles.
O Fruta Paulista abrangerá as plantações das regiões
de Araçatuba com abacaxi; de Araraquara, com goiaba,
limão e manga; de Botucatu, com frutas de caroço; de
Campinas, com figo e goiaba; de Itapeva, com caqui; de
Presidente Prudente, com acerola e manga; e de
24
Frutas paulistas serão valorizadas com convênio entre Ibraf
e Sebrae.
Da esq. para dir. Paulo Arruda, diretor técnico do Sebrae,
Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do Ibraf, Fábio
Meireles, presidente do Sebrae-SP e Ricardo Tortorella, diretor superintendente do Sebrae, assinam convênio.
25
CERTIFICAÇÃO
Sorocaba, com caqui e uva. O projeto
terá três grandes frentes de atuação: aumento da competitividade da fruta por
meio da melhoria da qualidade na produção, realização de ações de divulgação no
mercado interno e abertura de mercados
externos. Para tanto, deverão ser promovidas ações de capacitação de produtores
em Boas Práticas Agrícolas, de gestão da
propriedade, implantação de novas
tecnologias e de manejo sustentável, com
o intuito de melhorar a qualidade da fruta. “Vamos preparar as cadeias produtivas das frutas paulistas selecionadas para
atender às novas exigências de qualidade,
agregando valor, garantindo os mercados
atuais e possibilitando acesso a novos”, afirmou o gerente do Ibraf, Mauricio de Sá
Ferraz, durante o lançamento, em fevereiro, em São Paulo/SP. Para atingir esse
objetivo, os participantes receberão trei-
As regiões Sudeste e
Sul consomem 66,6%
das frutas produzidas
no País, sendo que
São Paulo consome
25,53%.
Fonte: Ibraf
26
namento e capacitação em Boas Práticas
Agrícolas. “A meta é certificar produtores
que atingirem as exigências dos protocolos internacionais de certificação, visando
à exportação”, diz Sá Ferraz. “Desenvolveremos
ferramentas
para
a
rastreabilidade, importante para a
comercialização, e para oferecer alimentos seguros, em respeito à sociedade”,
assegura Saraiva Fernandes. Ele acrescenta que “os consumidores, a distribuição e
as instituições públicas cada vez mostram
mais preocupação pela qualidade e segurança das frutas e demais alimentos”.
COMERCIALIZAÇÃO
E VALORIZAÇÃO
O projeto não pára no campo, pois é
preciso que a fruta paulista seja
comercializada e valorizada. “Por isso, depois do campo, haverá ações de
marketing, com abrangência nacional e internacional. Internamente, vamos fazer
campanhas de degustação, decoração e
distribuição de folhetos em parceria com
supermercados para atrair os consumidores e aumentar as vendas das frutas
paulistas”, explica Sá Ferraz. A campanha
para o mercado internacional inclui, entre
outras ações, a participação em feiras e
eventos, além de campanhas de promoção com redes de supermercados dentro
do programa Brazilian Fruit, de divulgação
e valorização da fruta brasileira no exterior. As estratégias de marketing internacional e acesso a mercados também
contam com o apoio da Apex-Brasil –
Agência de Promoção de Exportação
e Investimentos.
Saraiva Fernandes lembra que o produtor precisa ser mais empresário e reduzir os custos de produção para ganhar
competitividade. Segundo ele, a fruticultura rentável passa por diversificação, investimento em pós-colheita e logística,
agroindustrialização, acesso dos pequenos
ao crédito e à infra-estrutura; otimização
dos custos controláveis, promoção e propaganda, etc. “É o que pretendemos com
o projeto, que terá como juiz a D. Maria
(consumidora). Se ela se convencer do
que fizemos, a fruta será vendida e valorizada”, conclui Saraiva Fernandes.
AGROINDÚSTRIA
TENDÊNCIA
MUNDIAL
As frutas minimamente processadas começam a fazer parte
do cotidiano nacional, principalmente dos grandes centros
urbanos, e têm condições técnicas necessárias para desenvolver
e ampliar o segmento.
Beth Pereira
A mudança nos hábitos, ocorrida nos últimos
anos, está abrindo espaço para o consumo de alimentos frescos, dentro do conceito de produtos
saudáveis. Neste cenário, surge um novo nicho para
a comercialização de frutas minimamente processadas (fresh cut), prontas para consumo. Os Estados Unidos são o maior consumidor de frutas minimamente processadas, com venda anual destes itens
na faixa de US$ 8 milhões a US$ 10 milhões, segundo a International Fresh-Cut Produce Association
(IFPA - http://www.fresh-cuts.org/fcf.html). No Brasil, ainda não há estatísticas oficiais, porém, quando
se fala em tecnologia, o País não fica atrás de nenhum outro nesse segmento. “Temos pesquisadores qualificados, técnicas apropriadas, laboratórios
bem montados e todas as condições necessárias para
ROGÉRIO LOPES VIEITES/UNESP BOTUCATU/SP
Kiwi, manga, melão, melancia estão entre as frutas
indicadas para processamento mínimo.
desenvolver esses produtos”, afirma o pesquisador
Murillo Freire Junior, da Embrapa Agroindústria de
Alimentos, de Guaratiba/RJ, que esteve em
Montpellier, na França, em 2004, fazendo seu pósdoutorado em manga pré-cortada, embalada com
revestimentos comestíveis.
O professor José Fernando Durigan, do Departamento de Tecnologia da Unesp, campus de
Jaboticabal/SP, considera que o potencial de venda
de frutas minimamente processadas é grande no
País, embora o consumo seja relativamente novo.
“Seja em residências, em restaurantes ou em locais
de refeições coletivas, essa tecnologia oferece
praticidade por causa da economia de tempo e de
trabalho”, diz. Durigan cita pesquisa do Instituto Nielsen,
segundo a qual, desde 1996, o consumo desse tipo de
produto tem aumentado 80% ao ano.
Porém, ele aponta um desafio: a falta
de conhecimento sobre o comportamento fisiológico, químico e
bioquímico do produto. Um dos problemas, explica, é a curta vida útil desses produtos, de 3 a 4 dias.
De acordo com o professor, o
processamento mínimo de frutas
tem contribuído para a diversificação das indústrias regionais, reduzindo as perdas pós-colheita, melhorando o manejo de resíduos dentro da propriedade, facilitando o
27
EMBRAPA CTAA
AGROINDÚSTRIA
transporte e eliminando problemas sanitários. “A
tecnologia fresh cut permite maior aproveitamento da produção e agrega valor às frutas”, afirma.
O professor, no entanto, observa que falta uma
legislação sanitária sobre produtos minimamente
processados, que, em sua opinião, deve abranger produção, colheita, preparo, manipulação,
embalagem e transporte ao mercado e exposição
em balcões para a venda.
REDUÇÃO DE PERDAS
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, acredita que
o consumo de frutas minimamente processadas
pode ajudar a reduzir as perdas de frutas. “O Brasil
produz um volume muito grande de frutas, mas
perde muito também. Assim, nesse modelo, quando você tem operações adequadas, evita-se perdas”, observa. Na opinião de Honda, o consumo
de frutas minimamente processadas é uma tendência mundial. “Atende aos requisitos de praticidade e
de racionalização de tempo”, afirma e acrescenta
que o mercado americano é gigantesco. “Lá, o consumidor tem um bom poder aquisitivo e pode pagar pelo
produto, que tem valor agregado.” Lembra que nos
aeroportos americanos, as frutas minimamente processadas estão à disposição, para consumo imediato.
“Atende ao apelo de alimento mais saudável e substitui
os fast-foods e outros alimentos processados.”
Processamento mínimo deve seguir
normas rigorosas de higiene e
tecnologia apropriada, para garantir
qualidade e seguridade no consumo.
Ele lembra que nos Estados Unidos, a tecnologia
de frutas minimamente processadas está bastante
avançada. “No caso de maçã, que se oxida rapidamente, já há tecnologia para impedir o processo”,
conta. Segundo Honda, os supermercados brasileiros começam a oferecer frutas preparadas - melão,
mamão, melancia, uva, abacaxi, além de salada e
até uma mix de frutas - prontas para consumo. “Nos
grandes centros urbanos do País, isso já começa a
se apresentar como tendência”, diz e lembra que
há outra opção, com menor valor agregado, ideal
para frutas grandes, que são cortadas pela metade,
para atender às famílias menores, o que é uma forma de evitar o desperdício. O presidente da Abras,
porém, observa que o processamento mínimo requer
28
uma manipulação cuidadosa. “O produto é fresco, pronto para consumo e
tem vida de prateleira bastante curta.
Além de cuidado na manipulação e no
ambiente onde se faz o processamento,
a questão de higiene e seguridade é
fundamental”, afirma.
Pesquisador
Murilo Freire,
tecnologia
mantém gosto
original da fruta.
REALIDADE
O consumo de frutas minimamente processadas não é mais uma tendência futura, mas uma realidade visível nas gôndolas dos supermercados,
onde as áreas destinadas a esses itens estão cada
vez maiores. A diversificação de produtos é grande, o volume de produção tem aumentado e o preço está baixando, analisa Freire Junior, da Embrapa
Agroindústria de Alimentos. Em sua opinião, as frutas minimamente processadas apresentam a conveniência de não requerer qualquer preparação significativa por parte do consumidor, em termos de
seleção, limpeza, lavagem ou cortes. “Além disto, o
valor agregado ao produto, pelo processamento,
aumenta a competitividade e propicia meios alternativos para a comercialização. O sucesso deste empreendimento depende do uso de matérias-primas de
alta qualidade, manuseadas e processadas em condições adequadas de higiene”, explica o pesquisador.
Freire Junior afirma que, atualmente, o consumidor tem à sua disposição uma boa variedade de
frutas minimamente processadas, tais como abacaxi, melão, kiwi, melancia, manga, além de salada de
frutas. São vários os tipos de apresentação, em pedaços pequenos ou em pedaços maiores, de acordo com as frutas, já prontos para consumo. As frutas selecionadas são previamente higienizadas,
descascadas, pré-cortadas, embaladas em bandejas
transparentes PET (polietileno tereftalato) e armazenadas sob refrigeração.
“A proposta é atender à demanda da mulher
moderna que cada vez mais está trabalhando fora”,
afirma. E cita, como principais vantagens do consumo, a conveniência, a praticidade e a seguridade.
LINHAS DE PESQUISA
A Embrapa Agroindústria de Alimentos
desenvolve algumas linhas de pesquisa relacionadas ao processamento mínimo de
frutas. Em convênio com a Fundação de
Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) está pesquisando a utilização
de filmes comestíveis em mangas pré-cortadas e, em projeto financiado pela
Embrapa, a aplicação da tecnologia em abacaxi e melão.
Freire Junior afirma que a técnica consiste basicamente em imergir as frutas précortadas, por dois minutos, em algumas soluções refrigeradas de quitosana ou de
alginato de sódio (obtidos de algas) ou de
carboximetilcelulose (derivado da celulose).
“Essas substâncias formam um filme protetor
comestível”, explica. O abacaxi, por exemplo,
é descascado, cortado em rodelas de dois centímetros de espessura, retirado o miolo, cortado em oito partes e levado à imersão. Depois, é embalado em bandejas PET. Também
pode ser embalado em sacos plásticos a vácuo e armazenado sob refrigeração.
Há também em andamento um outro
projeto de nanotecnologia em parceria com
a Embrapa Instrumentação Agropecuária (São
Carlos/SP). Trata-se da utilização de embalagens ativas, que liberam uma substância com
função antimicrobiana (que impede o crescimento de microrganismos) ou antioxidantes
(que evitam o escurecimento da fruta).
EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS
“As frutas são processadas segundo as normas de higiene e com tecnologia apropriada, o que garante a qualidade e a seguridade no consumo do produto”, explica.
“Graças à tecnologia, o gosto original da fruta se mantém.” Outros segmentos potenciais que podem ser beneficiados com essa
tecnologia são os de refeições coletivas,
catering, hospitais e restaurantes que não
possuem grandes áreas de cozinha.
O ponto crítico, porém, é a temperatura. De acordo com o pesquisador, a condição ideal para a conservação desses produtos, é em torno de 2°C, mas nem sempre os
supermercados mantêm a cadeia do frio. Enquanto nas gôndolas dos supermercados, o
tempo médio de vida útil é de três a quatro
dias, com a aplicação de revestimentos naturais comestíveis pode-se chegar a sete dias,
sem afetar a qualidade do produto.
Demanda é
crescente
Nas lojas da OBA Hortifrúti, na capital e no interior de
São Paulo, a procura por frutas minimamente processadas tem aumentado, segundo o gerente de Marketing
da rede, Luciano Scherer. Ele acrescenta que a dona de
casa adora comprar produtos já manipulados, graças
ao apelo de praticidade. Contudo, ele considera que as
opções ainda são poucas, por causa da perecibilidade
das frutas. “Esse mercado está crescendo e existem algumas frutas que, atualmente, já são comercializadas
com sucesso, como abacaxi, melancia e melão. No entanto, como as frutas são extremamente perecíveis, a
manipulação pode prejudicar seu sabor”, acredita. “Apesar de a tecnologia ter avançado muito rapidamente, ainda é difícil encontrar algo no mercado que faça uma fruta
ser conservada após a manipulação, sem perder seu principal atributo, o sabor”, avalia.
Na opinião de Scherer, os produtos minimamente processados são um hábito dos grandes centros, onde há
concentração de pessoas e a correria do dia-a-dia faz
com que o consumidor busque a praticidade. No entanto, ele afirma que no Brasil o consumo ainda é baixo
por vários fatores: alto custo na manipulação dos produtos, dificuldade no preparo aliado à alta perecibilidade
dos produtos. “Isso torna o processo oneroso, refletindo
no preço final ao consumidor, conseqüentemente, gerando dificuldades na comercialização dos mesmos.”
A rede OBA possui 26 lojas, distribuídas na capital
paulista e no interior do Estado, em Jundiaí, Campinas, Americana e Limeira, além de Brasília/DF e Belo
Horizonte/MG. Scherer afirma que, nas lojas OBA, as
frutas são abertas ou cortadas e embaladas com PVC.
“Também há potes com os produtos descascados para
degustação”, conta.
29
TECNOLOGIA
MAIS
SABOR
Processo inovador permite a obtenção de suco concentrado de frutas,
com teores de sabor e de aroma elevados, usando equipamentos mais
compactos e de operação mais simples, que podem ser instalados em
qualquer unidade industrial.
Marlene Simarelli
30
Os sucos de frutas processados
estão por toda parte: restaurantes,
refeitórios, hospitais, cantinas de
escola e até em carrinhos de lanches. A tendência do mercado é de
crescimento, mas, mesmo deliciosos, alguns não guardam o sabor
real da fruta, principalmente, quando o suco é de laranja. Essa realidade poderá ser diferente a partir das
novas técnicas descobertas para recuperar aromas e concentrar sucos,
resultado da tese de doutorado do
engenheiro químico Cláudio Patrício
Ribeiro Júnior, no Programa de
Engenharia Química da Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia – COPPE, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Desenvolvido com foco
no suco de laranja, devido a sua importância na economia nacional, o
processo pode ser usado também
para processar outras frutas tropicais.
O Brasil é o segundo maior produtor de suco concentrado de laranja no mundo e possui grande
potencial para produção de suco de
outras. Ribeiro Júnior acredita que
“a nova rota de processamento desenvolvida, ao minimizar as alterações de sabor, pode fornecer um
diferencial de qualidade para o suco
de laranja nacional, aumentando sua
competitividade no mercado externo”. O país responde atualmente
pela exportação de US$1,3 bilhões
de suco de laranja. Para o pesquisador, “a melhoria na qualidade do
produto pode possibilitar a abertura do mercado interno para o suco
de laranja concentrado, que não é
bem aceito pelo consumidor brasileiro, habituado ao consumo do
suco fresco, com características
organolépticas superiores. Além disso, um processo mais ameno de
concentração pode ampliar a variedade de sucos produzidos,
viabilizando a disseminação da grande gama de frutas tropicais cultivadas no País”.
O processo, vencedor do grande prêmio Capes César Lates de
2006, já teve sua patente depositada. Poderá ser usado em qualquer
unidade industrial de produção de
suco concentrado, pois utiliza equipamentos mais compactos e de
operação mais simples, aplicável a
qualquer tipo de fruta. Os principais
equipamentos usados são o
evaporador por contato direto e o
módulo de membranas seletivas. O
pesquisador observa que “as duas
técnicas que aplicamos são usadas
em nível industrial para outras aplicações, de modo que ambos os
equipamentos já existem no mercado. É só uma questão de
dimensioná-los”. Em relação aos
custos de operação e manutenção,
tanto do módulo de membranas
quanto do evaporador por contato
direto, ele supõe que sejam mais
baixos do que os associados aos
equipamentos usados, mas ainda
não se tem um valor exato para a
montagem de montar uma nova
unidade. A próxima etapa do processo, hoje restrita a laboratório, é
um aumento de escala, com a construção de uma unidade piloto para
avaliação do desempenho da técnica
para maior capacidade de
processamento e posterior aplicação
industrial. Três empresas já estão em
negociação para a implantação.
NOVA ROTA
O suco processado passa por
duas etapas principais: a concentração e a recuperação de aromas. A
concentração é uma fase primordial na produção, influindo diretamente na qualidade do suco e,
consequentemente, na aceitação
pelo mercado consumidor. Outro
fator importante no processamento
é a perda de aromas, compostos
orgânicos responsáveis pelo sabor
e odor de um suco, presentes em
concentrações baixas e voláteis. O
grande desafio é conseguir um suco
processado com características superiores de paladar e de aroma.
“Sabemos que o principal fator para
a compra no setor alimentício é o
31
COPPE/UFRJ
TECNOLOGIA
gosto, principalmente, o suco cuja
referência é o sabor natural das
frutas”, explica o pesquisador.
O processo de Ribeiro Júnior
aplica uma nova rota para a produção de sucos de frutas concentrados envolvendo as técnicas de
evaporação por contato direto e
permeação de vapor com membranas seletivas. “Todo mundo
que já tomou um suco de laranja
reconstituído de caixinha sabe
muito bem que o gosto é bem
diferente do suco fresco. A técnica de evaporação por contato direto, aplicada na nossa rota, tem
a grande vantagem de permitir a
vaporização da água a temperaturas mais baixas, minimizando a
degradação térmica dos compostos do suco, e garantindo um sabor mais próximo do suco real”,
assegura o pesquisador. O equipamento do novo processo é
considerado de fácil construção,
constituído basicamente por uma
coluna de líquido através da qual
borbulha um gás superaquecido. O
contato direto entre os fluidos,
quente e frio, permite maior eficiência de transmissão de calor, possibilitando a utilização de temperaturas moderadas.
O trabalho desenvolvido
em Coppe/UFRJ possibilita
a redução de custos no
processo industrial.
“A rota proposta envolve duas
etapas: o arraste com gás inerte dos
compostos responsáveis pelo aroma do suco, que são recuperados
pela técnica de permeação de vapor empregando-se membranas
de silicone, permitindo a passagem
dos aromas, mas retendo a água e
o gás inerte. Em seguida, o suco
segue para concentração no
evaporador por contato direto,
onde faz-se basicamente o
borbulhamento de um gás inerte
32
Cláudio Ribeiro Júnior, COPPE/UFRJ, desenvolveu processo inovador de
processamento de sucos que preserva sabor e aromas.
quente através do suco para remoção da água. Ao final da concentração, os aromas recuperados são re-adicionados ao suco
concentrado”, detalha o pesquisador. O processo atual de concentração aplicado nas indústrias,
segundo ele, “utilizam os chamados evaporadores de película
descendente, com temperaturas
de operação para a vaporização da
água suficientemente altas para
modificações químicas, em alguns
compostos do suco, resultando em
alterações indesejáveis de cor e sabor no produto final”. Além das
modificações por degradação térmica, com a vaporização da água,
são removidos os chamados aromas do suco, compostos orgânicos responsáveis pelo odor e sabor característicos do suco da fruta. Esses compostos devem ser
recuperados para evitar alterações de sabor, mas estão presentes em concentrações muito baixas, dificultando a recuperação.
CONCENTRADO
DE AROMAS
Ribeiro Júnior explica que “na
indústria, a recuperação dos aromas é feita por destilação e/ou
condensação parcial, em sistemas
que, para serem eficientes, são
relativamente complexos. Com a
adoção das membranas seletivas,
não só simplificamos esses sistemas, mas melhoramos sobremaneira a eficiência de recuperação
dos aromas, o que também contribui positivamente para a obtenção de um suco concentrado com
sabor mais próximo do suco natural”. Para se ter uma idéia, o
suco de laranja tem mais de 200
substâncias na composição do
aroma e o suco de morango, mais
de 360.Outra grande vantagem
no novo processo, segundo o
pesquisador, é a obtenção de um
concentrado de aromas do suco
processado, produto de alto valor agregado, atualmente perdido em grande parte das indústrias de concentração de sucos.
Os interessados em implantar a
nova tecnologia desenvolvida no
Coppe/UFRJ, que trabalha há mais
de 10 anos com separação de aromas, devem entrar em contato com
o pesquisador Cláudio Patrício Ribeiro Júnior, pelo telefone (21)
2562-7162 ou pelo e-mail:
[email protected]. Para conhecer mais detalhes sobre o processo, pode ser feita uma consulta
à tese de doutorado disponível na
Internet no endereço http://
teses.ufrj.br/coppe_d/
ClaudioPatricioRibeiroJunior.pdf.
MOSCAMED BRASIL
MEIO AMBIENTE
Plantas, insetos, flores e frutos fora de seu habitat podem
se transformar num grande problema e trazer impactos
econômicos e ambientais.
Marlene Simarelli
Quando se trata de biodiversidade, há o orgulho nacional latente por causa da riqueza brasileira
na diversidade de espécies. Porém, desde os
primórdios, espécies exóticas entram no País com
conseqüências ao ambiente e reflexos econômicos
na cadeia atingida. São os bioinvasores, que podem
chegar na mala de um viajante, saudoso da terra
natal ou encantado pela novidade; nas embalagens
de importação e exportação ou até mesmo ser
inserida propositalmente visando a um prejuízo econômico premeditado. As pragas e doenças vindas
do Exterior causam danos nos mais variados setores como o bicudo, no algodão; o geminivirus, no
tomate; o retorno da febre aftosa no gado, após
erradicação, só para citar alguns. Na fruticultura, são
conhecidos a Sigatoka Negra, nos bananais; o
greening, nos laranjais e a mosca do Mediterrâneo
Ceratitis capitata, que atinge várias fruteiras, cujo
registro de invasão data de 1901, entre outros.
A pesquisadora, Maria Regina Vilarinho, da
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, explica que “a entrada de pragas em áreas do sistema
produtivo traz conseqüências dramáticas e muitas
vezes irreversíveis para a agricultura, além de gastos da ordem de milhões de reais para controle e
erradicação desses organismos, perdas na
biodiversidade, nos recursos biológicos e genéticos,
impacto na indústria alimentícia pela falta dos produtos primários e ainda desemprego na área rural.
Nos últimos anos, mais de 11 mil espécies invasoras entraram no Brasil, de acordo com levantamentos de pesquisadores internacionais”. Olinda Maria
Martins, pesquisadora da mesma unidade Embrapa,
acrescenta que “a contenção de uma praga introduzida
num país de extensão continental, como o Brasil, é
muito difícil. As diferentes condições climáticas favorecem a adaptação de pragas exóticas, importantes para
a fruticultura tropical e de clima temperado”.
NO COTIDIANO DO CAMPO
Para manter a competitividade, os produtores
precisam estar atentos, pois o bioinvasor não tem
predadores - elemento responsável pelo equilíbrio
na natureza -, e, por isso, prolifera rapidamente. É
o caso do caramujo gigante africano, símbolo de um
problema que atinge vários Estados e se dispersa
rapidamente mundo afora. Voraz, ele se alimenta
de, pelo menos, 500 tipos de plantas, como frutapão, mandioca, cacau, mamão, amendoim, seringueira, feijão, ervilha, pepino, melão, abóbora, repolho, alface, batata, cebola, girassol, eucalipto,
citros, plantas ornamentais, etc.
O fruticultor deve manter-se informado
sobre os perigos da introdução de
pragas exóticas.
Os fruticultores podem atuar para minimizar a
bioinvasão. A pesquisadora Olinda sugere algumas medidas. “A adoção de sistemas de alerta, quando existente, é uma medida que auxilia na prognose de doenças e permite planejar o seu controle. A introdução de
mudas deve ser rigorosamente inspecionada, pois por
meio destas ocorre a introdução de pragas. A aquisição de mudas sadias é fundamental para garantir a exclusão de pragas do pomar. O fruticultor deve manter33
MEIO AMBIENTE
se informado sobre os perigos da introdução de pragas exóticas. As importações de material vegetal para
enxertia ou mudas devem obedecer rigorosamente às
instruções normativas estabelecidas pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).”
A pesquisadora chama a atenção para o momento da compra de mudas. “Em caso da praga já se
encontrar em determinadas regiões, os produtores
não devem adquirir material vegetal proveniente
dessas áreas infestadas, sem a devida quarentena.”
Ela lembra que “as opções de utilização de cultivares resistentes são desfavoráveis ao estabelecimento de pragas e doenças e as substituições de portaenxertos suscetíveis pelos resistentes são importantes
meios de evitar doenças. Para Olinda, “o diagnóstico
rápido de pragas e doenças ajuda na tomada de decisões para erradicação e controle, antes de sua dispersão. Existem mapas de zonas de risco, zoneamento
agroclimático, acoplados a modelos de simulação que
podem ser úteis para indicar as áreas geográficas de
maior probabilidade de ocorrência de doenças”.
CONVIVENDO COM INIMIGOS
FOTOS ABPM
A exportação enfrenta exigências e restrições
rigorosas dos importadores para frutas in natura e
industrializadas. Os fruticultores têm aprimorado
sistemas de produção e estabelecido regras para
garantir a sanidade e qualidade das frutas frente a
bioinvasores. “Haja vista a organização dos produtores de maçã, que fez do país um exportador,”
observa Olinda. A organização dos pomicultores
inclui ações no campo e na cidade com o desenvolvimento, inclusive, de campanhas de erradicação,
como a da cidade de Lages/SC. Lá, folhetos ensinam a população a substituir fruteiras hospedeiras
da mariposa e alertam para o perigo da praga para
a fruticultura do Sul, hoje sob controle.
Em 1998, constatou-se a ocorrência da Sigatoka
Negra, causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis var.
difformis, em plantios de banana no Amazonas e Acre.
O fungo, originário da República de Fiji (Ásia), causa
prejuízos em Rondônia, Mato Grosso e outras regiões produtoras. Para controlá-lo, Olinda sugere “a inspeção, o treinamento de técnicos para reconhecer os
sintomas da doença, o controle cultural, os cuidados
na aquisição e no transporte de mudas como medidas
que auxiliam para que não atinja outros Estados. Ela
destaca ainda a seleção de variedades resistentes feita
pela pesquisa, mas, em sua opinião, “é um entrave
impactante, pois as desenvolvidas atualmente não
atendem o mercado consumidor”.
Na citricultura, Olinda relata a ocorrência da mosca negra dos citros (Aleurocanthus woglumi), detectada
no Pará em 2001, vinda do sudoeste da Ásia. Já dispersa em cinco Estados da região Norte, é praga
quarentenária A2, sob controle oficial. Outra doença
introduzida da China, é o Greening ou Huanglongbing,
cujo vetor é a bactéria Candidatus Liberibacter. “Em
todos os casos, na maioria das vezes, recorre-se ao
controle químico das pragas e doenças. Além do alto
custo dos agroquímicos, salientam-se os efeitos indesejáveis destes no meio ambiente, na saúde humana e
animal”, observa a pesquisadora.
De acordo com Vilarinho, “muitos organismos apresentam uma evolução lenta de crescimento e podem
passar despercebidos por horas ou dias. É importante
lembrar que os que atacam plantas e animais não atuam sobre os seres humanos, podendo, portanto, ser
facilmente transportados junto ao corpo, em maletas
ou malas”. Para a pesquisadora, “a segurança de áreas
importantes de produção agrícola deve ser levada em
consideração em qualquer país que depende do
agronegócio. No Brasil, segundo ela, são considerados
produtos de risco a soja, as frutas, a carne e seus derivados e todos os outros itens que compõem a pauta
de exportação agrícola do mercado brasileiro”.
A bioinvasora Cydia Pomonella, sob controle, é resultado da união dos pomicultores.
34
A mosca-da-carambola, Bactrocera carambolae, foi detectada em
fevereiro na divisa do Pará e Amapá, saindo da região do Oiapoque/
AP, onde foi identificada há 10 anos. Considerando o risco para a
economia brasileira, a Superintendência Federal da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento do Pará publicou, em fevereiro, no Diário Oficial da União, a proibição da saída de frutas frescas de
espécies hospedeiras da praga, em especial carambola, jambo,
goiaba e acerola, do distrito de Monte Dourado, município de
Almerin/PA, para quaisquer outras áreas onde não ocorra a praga.
Os prejuízos causados, caso seja disseminada, vão desde perdas na
produção, contaminação ambiental até a proibição de exportação
de frutas. O diretor da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário e Quarentenário (Abrafit), João Luiz Duarte
Alvarez, alerta: “se não houver inspeção de 100% das cargas que
entram no País, o risco da introdução de novas pragas tão nocivas
quanto essa é enorme”.
A mosca-da-carambola entrou no Brasil vinda do Suriname, mas
sua origem é a Indonésia. “É uma praga muito séria, pois ataca os
frutos nos primeiros estágios de formação, tornando sem efeito o
controle por meio de ensacamento, feito quando as frutas estão
maiores”, comenta a pesquisadora Maria Regina Vilarinho. Ela ressalta que “os resultados da pesquisa apontam que a goiaba é o
hospedeiro preferencial, no Amapá, quando se compara com a
carambola, tornando ainda mais sério o problema, já que a goiabeira pode ser encontrada em quintais nas cidades brasileiras. De
WILSON RODRIGUES DA SILVA
Mosca-da-Carambola
acordo com estudos de
pesquisadores brasileiros, além das perdas
no campo, a interrupção das exportações de
frutas frescas, causada pela presença da
mosca, pode levar o
Brasil a prejuízos de
US$60 milhões, apenas no primeiro ano de dispersão da praga,
caso ela se estabeleça em áreas de produção de goiaba, carambola,
manga, acerola, citros, banana, etc”. A praga ainda não se difundiu pelo País devido à ação do Programa de Erradicação da mosca-da-carambola, sob coordenação do Ministério da Agricultura.
No final de 2006, o programa ganhou uma rede de pesquisa de
apoio, a ser conduzida pela Embrapa Amapá, para avaliar riscos
de difusão e impactos na exportação de frutas. O coordenador,
Ricardo Adaime, explica que “durante os três anos do projeto
haverá palestras sobre a mosca-da-carambola. Como se trata de
uma rede regional, haverá campanhas de educação fitossanitária
nos Estados do Amapá, Pará, Acre, Amazonas, Maranhão, Rondônia,
Roraima e Tocantins”.
Mais informações sobre a mosca-da-carambola podem ser obtidas pelo telefone (11) 5668-7444 ou www.abrafit.org.br.
35
OPINIÃO
Nos anos 80, a economia de
Junqueirópolis/SP era baseada no café,
cultivado em sua maioria por pequenos agricultores. Quando a cultura entrou em declínio, no final daquela década, a cidade viveu uma crise sem precedentes e assistiu à migração para os
grandes centros, de cerca de 13 mil dos
seus 27 mil moradores. Alguns agricultores decidiram, então, cultivar maracujá. Por causa do preço pago para a
fruta, optou-se por formar uma associação, cujo grande incentivador foi um
padre espanhol. Em junho de 1990,
nascia a Associação Agrícola
Junqueirópolis – AAJ - com quarenta e
quatro associados.
investiu na formação técnica do produtor, necessária para a transição do plantio do café para frutas. Investiu, também,
na formação humana com palestras sobre saúde, motivação, etc.
O maior desafio para uma associação é a consciência da importância da
soma de idéias, do capital de inteligência. Esse é um ponto chave. Outro ponto fundamental é a representatividade
do grupo. Sendo representativo, passa
a ser alvo de interesse dos órgãos de
pesquisa. É o caso da AAJ, que tem um
produto diferenciado: Junqueirópolis é
a campeã da acerola em São Paulo. A
fruta segue para o Japão, Estados Unidos e Europa, onde os consumidores
minhas. Quem participa de uma associação deve dar o melhor de si, da sua
essência, do seu tempo, da sua experiência de vida. O dinheiro não é o diferencial, mas o capital da experiência à
disposição de todos. Com a grande escola de vida no associativismo, nós associados aprendemos também a acreditar mais em Deus, pois nos propusemos a mobilizar a cidade inteira e a cidade se mobilizou, graças a Ele. As grandes mudanças vêm da base e não de
A falta de sucesso das cooperativas é a falta de participação dos sócios.
Quando se fala em associativismo,
pensa-se que ele só funciona bem porque está ligado ao poder público. Em
relação à AAJ, inicialmente, a Prefeitura
Municipal cedeu um terreno e a mãode-obra para construção de um barracão. Posteriormente, houve dificuldades
com a administração municipal. Mas
essas dificuldades impulsionaram para o
crescimento. Os sindicatos locais foram
mobilizados e a Associação Comercial
transformou-se numa grande parceira.
A associação ganhou vida própria e se
valorizou. Mais tarde, introduziu o cultivo da acerola no município. A partir
de 97, a Prefeitura Municipal retomou
o apoio inicial, porém, hoje, a associação tem receita e vida próprias. São 91
produtores, dos quais 65 de acerola,
sendo os demais de uva e café. Há 6
câmaras frias, avaliadas em mais de um
milhão de reais, financiadas e pagas pelos produtores. Há ainda salão para cursos e cozinha industrial onde as mulheres fazem licores, doces e geléias, que
são comercializadas na feira livre da cidade e na própria sede. A associação
36
são exigentes. A produção atende às regras do mercado internacional. A associação têm contado com o apoio do
Ibraf, Sebrae, Cati e universidades, que
pesquisam e indicam os melhores caminhos. A política do governo atual
também colabora com linhas de crédito a juros baixos e programas como o
Venda Antecipada, da Conab, que adianta o valor da transação em conta exclusiva. O projeto da AAJ, de venda de
polpa - que tem maior valor agregado
-, é o sexto assinado no Estado. É um
projeto que cria oportunidades para os
produtores associados, pois a forma de
ajudar através de grupos organizados é
mais barata e mais eficiente.
O atual governo tem enfatizado a
importância do associativismo, cuja força o País ainda desconhece. À medida
que as pessoas se organizam, todos ganham porque cada um coloca o seu
conhecimento, o que tem de melhor,
à disposição. Em meu caso, tenho somente 4 anos de escola. Para suprir as
deficiências, há uma boa equipe, com
qualidades e habilidades diferentes das
cima. O associativismo ajudou, e muito, a cidade a se recuperar, inclusive,
voltou a crescer, pois está hoje com 18
mil habitantes.
A falta de sucesso das cooperativas
decorre da falta de participação dos
sócios, que, geralmente, abandonam a
equipe eleita e, então, a cooperativa
acaba. Associação é comprometimento; é participação. Não tem outra forma para melhorar as condições existentes. Quando sou convidado a fazer palestras, sempre digo: viver em comunidade é difícil, viver sozinho é impossível. Até em casa há dificuldade, quando
se isola. Quando o homem descobrir a
importância da comunidade se organizará em todas as áreas, não somente
para produção. O associativismo ganhará força à medida que o homem evoluir no sentido humano, deixar do “eu”
e tiver humildade para viver junto.
Osvaldo Dias
Presidente da Associação Agrícola
Junqueirópolis/SP
AGENDA
nacionais
internacionais
10 a 13 • ALIMENTARIA 2007
FIA - LISBOA (Lisboa/Portugal)
Info: Conceito Congressos e Eventos - Tereza Rodrigues (34 93) 4520722 • (34 93) 451-6637 • [email protected]
www.conceitobrazil.com.br
10 a 12 • III Workshop Internacional de Pós-Colheita de Citros e
II Workshop Internacional de Pós-Colheita de Frutas
Instituto Agronômico (IAC) - Av. Barão de Itapura, 1.481 (Campinas/SP)
Info: Instituto Agronômico (19) 3231-5422 • [email protected]
www.iac.sp.gov.br
11 a 14 • TECNOHORT
Parque de Exposições de Teresópolis (Teresópolis/RJ)
Info: Versão BR Comunicação e Marketing • [email protected]
www.tecnohort.com.br
14 e 15 • Food Expo 2007
Centro de Convenções de Porto Rico (San Juan/Porto Rico)
Info: Serviço Comercial dos Estados Unidos - Renato Sabaine
(11) 5186-7300 • (11) 5186-7399 • [email protected]
www.focusbrazil.org.br
abr
abr
01 a 30 • V FEPAGRI - Feira do Pq. Agricultor (Sind. Rural de Araraquara)
CEAR - Centro de Eventos de Araraquara (Araraquara/SP)
Info: Sindicato Rural Patronal de Araraquara (16) 3335-9100
[email protected]
30/04 a 05/05 • AGRISHOW Ribeirão Preto 2007 (Abimaq)
Pólo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do CentroLeste Anel Viário Km 321 (Ribeirão Preto/SP)
Info: Publiê Publicações e Eventos (11) 5591-6300
[email protected] • www.agrishow.com.br
22 a 26 • Intervitis Interfructa
Messe Stuttgart (Stuttgart/Alemanha)
Info: Câmara Brasil-Alemanha (11) 5187-5215 • (11) 5181-7013
[email protected] • www.intervitis-interfructa.de
26 a 28 • Mac Frut
Cesena Fiera (Cesena/Itália)
Info: Ibraf - Paulo Passos (11) 3223-8766 • [email protected]
www.brazilianfruit.com.br • www.macfrut.com.br
07 a 10 • Rebulid Iraq 2007 - 4 ª Feira Intl p/ Reconstrução do Iraque
Al Abdali Project (Omã/Jordania)
Info: Ibraf - Paulo Passos (11) 3223-8766 • [email protected]
www.rebuild-iraq-expo.com
10 • 9º Dia da Tangerina (Centro Apta Citros Sylvio Moreira)
Centro Apta Citros “Sylvio Moreira” - Inst Agronômico (Cordeirópolis/SP)
Info: Centro Apta Citros Sylvio Moreira (19) 3546 -1399
[email protected] • www.centrodecitricultura.br
08 a 11 • SAL - Salón de la Alimentación
Feira de Madrid (Madri/Espanha)
Info: Expotrade Consultoria Ltda (11) 3284-0069 • (11) 3171-0736
[email protected] • www.sal.ifema.es
mai
mai
03 a 06 • Bio Brazil Fair 2007 - 3ª Feira Intl. de Prods. Orgânicos e
Agroecologia (Assoc. de Prod. e Processadores de Orgânicos do Brasil)
Pavilhão da Bienal - Parque Ibirapuera, portão 3 (São Paulo/SP)
Info: Francal Feiras (11) 4689-3100 • [email protected]
www.biobrasilfair.com.br
10 a 11 • ETECPONKAN (Centro Apta Citros Sylvio Moreira)
Parque Municipal de Exposições(Teresópolis/SP)
Info: Versão Br Comunicações e Marketing • [email protected]
www.etecponkan.com.br
09 a 10 • Foodnews Juice Latin America
Hotel Sofitel (São Paulo/Brasil)
Info: IBC Brasil (11) 3017 6888 • customer.service@ ibcbrasil.com.br
www.ibcbrasil.com.br/juice
21 a 23 • V Cong. Iberoamericano de Tec. Agroexportaciones
Escuela Técnica Superior de Ingenierie Agronómica (Cartagena, Mucia/
Espanha)
Info: Depto. Ing.de los Alimentos y del Equip. Agricola - Francisco Artés
Calero (34 96) 832-5510 • (34 96) 832-5435 • [email protected]
www.upct.es/gpostref/congresoAITEP/index.php
20 a 23 • FRUTAL Amazônia (Instituto de Desenvolvimento da
Fruticultura e Agroindústria - Frutal)
Hangar de Convenções (Belém/PR)
Info: Inst Frutal (85) 3246-8126 • [email protected] • www.frutal.org.br
23 a 26 • Agrotecnologia 2007 (Instituto Agrotecnologia)
Sítio Pavilhão de Eventos da Nova Sede do SENAI (Petrolina/PE)
Info: Nelbe Assessoria (87) 3862-1892 • [email protected]
www.agrotecnologia.org.br/evento2007
jun
jun
13 a 16 • 14ª HORTITEC (RBB Promoções & Eventos e Flortec
Consultoria)
Recinto de Exposições de Holambra (Holambra/SP)
Info: RBB Promoções & Eventos (19) 3802-4196 • [email protected]
www.hortitec.com.br
28 e 29 • 6º Congresso Brasileiro de Agribusiness (ABAG –
Associação Brasileira de Agribusiness)
Hotel Transamérica (São Paulo/SP)
Info: Wenter Eventos e ABAG (11) 5181-2905 • [email protected]
www.abag.com.br
18 a 20 • Foodnews Juice Asia 2007 & Technical Seminar
Shanghai Convention Center (Shanghai/China)
Info: Agra Net 44 (0) 207 017 7496 • [email protected]
www.agra-net.com/juiceasia
13 a 15 • 16ª Feira Internacional de Alimentos, Bebidas e Food Services
China World trade Center (Beijimg/China)
Info: Ferias Alimentarias - Irene Salazar (54 11) 4555-0195 • (54 11)
4554-7455 • [email protected] • www.feriasalimentarias.com
28 a 30 • Asia Natural & Organic Products
Suntec City Hall 6 (Singapura/Singapura)
Info: HQ Link Pte. Ltda. (65) 6534-3588 • (65) 6534-2330
[email protected]/ [email protected] • www.npoasia.com
37
EVENTOS
COLHEITA
FARTA
Empresários brasileiros apostam em eventos para
compradores e consumidores na Alemanha e Emirados
Árabes, para aumentar as exportações diretas, e colhem
resultados animadores para os próximos meses.
Fotos Ibraf
Na Semana Verde de Berlim consumidores
conheceram os sucos do Brasil.
38
Quase cinco mil copos de sucos de frutas oferecidos para os visitantes e negócios da ordem de
US$27,9 milhões são o balanço principal da participação brasileira na Semana Verde de Berlim e na
Fruit Logística, realizadas na Alemanha, que é responsável pela importação de 13,3 milhões de toneladas frutas (FAO). Além disso, o consumo per capita
de frutas frescas e processadas naquele país é de
122,5 quilos, segundo o GFK – organização alemã
de pesquisa sobre o consumidor - sendo maçã, banana, laranja, tangerina e uva as frutas mais
consumidas. A participação nos dois maiores eventos de alimentos alemães foi uma promoção do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), com o apoio da ApexBrasil (Agência de Promoção de Exportação e Investimentos), que contou com a presença do embaixador
do Brasil em Berlim, Luiz Felipe de Seixas Corrêa.
O objetivo do Ibraf foi atingir duas frentes ao mesmo tempo. Na Semana Verde, houve contato direto com consumidor final, que provou o suco brasileiro e participou de pesquisa qualitativa. Já, a Fruit
Logística é uma das maiores vitrines para expor produtos a compradores do mundo inteiro, que conta
com a participação brasileira desde 2003. Para
Valeska Oliveira, gerente executiva do Ibraf, “as duas
feiras têm focos distintos, mas são eventos-chave para
entender e atender o mercado alemão. Na Semana
EVENTOS
Verde, foi possível traçar o perfil do consumidor diante
do produto brasileiro e oferecer uma ferramenta às
empresas, que permitirá estabelecer estratégias para
acessar esse mercado. Por outro lado, os compradores precisam continuamente estar informados sobre o
potencial de suprimento do Brasil, como fornecedor
de frutas frescas e processadas”. A gerente executiva
ressalta ainda que “os expositores brasileiros na Fruit
Logística inovaram ao apresentar frutas menos conhecidas, como carambola, atemóia e goiaba, além de
produtos conhecidos internacionalmente, mas pouco
tradicionais no Brasil, como o mirtilo e a amora”.
EFETIVAÇÃO DE NEGÓCIOS
A Fruit Logística, realizada em fevereiro, gerou muitos frutos às 46 empresas brasileiras. Foram US$27,9
milhões em negócios contra US$2,4 milhões realizados no ano passado, o que gerará cerca de 4,4 mil novos
postos de trabalho nas empresas exportadoras. A participação deve proporcionar, ainda, mais US$ 28,8 milhões
em negócios nos próximos 12 meses, resultado dos 1251
contatos de 43 países, realizados durante o evento.
Na edição deste ano, a feira inovou com a criação
do Hall das Américas, onde ficou o Pavilhão brasileiro.
O espaço foi criado especialmente para os países americanos, em função da importância das frutas provindas
deste continente e do crescimento do evento, com
15% a mais no número de expositores. Houve um
aumento também no número de compradores. Segundo dados da Messe Berlim, organizadora do evento, circularam no local 42 mil compradores de 120 países, um
incremento de 12% comparado com o ano anterior.
Abpel e Coex promoveram limão e melão na Feira Alemã.
A Messe Berlim realiza, de 5 a 7 de setembro, a 1ª
edição da Ásia Fruit Logística, feira de negócios, que
acontecerá junto ao Congresso de mesmo nome, em
Bangkok. Em 2008, Berlim também será palco para os
produtos minimamente processados e de conveniência, no Freshconex, feira a ser realizada paralelamente
à Fruit Logística, voltada para o setor de fresh cut e
para as indústrias de produtos de conveniência.
SUCO BRASILEIRO:
PROVADO E APROVADO
A degustação de 4.832 copos de sucos de goiaba,
maracujá, caju, manga, limão e água de coco, além de
marmelada, goiabada, geléia e caipirinha foi a principal
ação dos brasileiros durante a Semana Verde de Berlim,
ocorrida em janeiro. A feira recebeu 430 mil visitantes, 6% a mais do que no ano anterior, dentre eles
100 mil compradores. Nos dez dias de feira, foram
realizadas 971 pesquisas de opinião para diagnosticar
se o consumidor daquele país conhece os sucos brasileiros e se aprova o seu sabor. “O público gostou bastante dos produtos degustados e ficou interessado em
saber quando e onde poderia encontrar os sucos brasileiros”, afirma Paulo Passos, representante do Ibraf
no evento. O público entrevistado, em sua maioria,
era adulto (88%) e do sexo feminino (77%). Foi constatado que 66% dos entrevistados não tinham conhecimento das frutas e nem dos sucos do Brasil, e 88%
nunca tinham provado sucos ou bebidas à base de frutas nacionais, porém, ao degustar o produto, 90% dos
entrevistados avaliaram como ótimo e bom.
Fruit Logística é vitrine para as frutas nacionais na Alemanha.
39
EVENTOS
LIMÃO E MELÃO
Paralelamente à Fruit Logística, a Abpel (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Limão) e o Coex
(Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte), em parceria com a Apex-Brasil, promoveram o limão
taiti e melão brasileiros em Berlim. A promoção foi na
Kadewe, uma das maiores lojas de departamento; no Aero-
porto Tegel; numa escola de culinária para futuros formadores de opinião; e na Churrascaria Brazil, localizada na principal avenida da cidade. A ação compreendeu a degustação do
melão e entrega de “kits limão”. Conforme Waldyr Promicia,
presidente da Abpel, como o limão precisa ser preparado
para degustação, “o consumidor levou o limão, acompanhado de folheto com informações nutricionais e de preparo,
para poder prová-lo”, ressalta Promicia.
Mercado Promissor
mais países árabes, têm tido crescimento expressivo no
Para acessar um mercado altamente demandante de alimenconsumo de frutas e sucos, por causa do clima quente,
tos e aumentar as exportações de frutas e derivados, o
alto poder aquisitivo e restrições governamentais para conInstituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), em parceria com a
sumo de refrigerantes para combater a obesidade”.
Apex-Brasil, levou cinco empresas brasileiras à Gulfood,
feira de negócios para os segmentos de alimentação, bebidas, food service e equipamentos de hospitalidade que
PARCERIAS
abrange o Oriente Médio, África e Índia. Atlântica Foods,
Itacitrus, Predilecta Alimentos, RBR Trading e ASTN (AssociO Ibraf também promoveu, em parceria com a Abiec (Asação das Indústrias Processadoras de Frutos Tropicais), efetisociação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne),
a divulgação dos sucos de frutas brasileiros a cerca de 240
varam negócios de US$400 mil e prevêem mais US$3 milhões
convidados de redes de varejo, representantes do goverpara os próximos 12 meses. O evento, realizado em fevereiro,
no, empresas de cattering, rede hoteleira e formadores de
em Dubai, nos Emirados Árabes, gerou oportunidade de neopinião. A Abiec ofereceu aos convidados um workshop
gociar com compradores de países não tradicionais, como
com degustação de churrasco e sucos de goiaba, manga,
Emirados Árabes, Paquistão, Síria, Jordânia, Somália, Índia,
abacaxi e maracujá, além de goiabada, no Hotel Jumeirah
Iraque, Irã, Palestina, Marrocos, Tanzânia, Malásia e Arábia
Beach, em Dubai. Fernandes considera esta fórmula de parSaudita. Luis Curado, representante da ASTN no evento, acreceria muito interessante e planeja expandir o modelo com
dita que “a região tem forte potencial para os sucos, sendo
novas parcerias.
que houve muita procura pelos sabores do Brasil, como o
Foram realizados também encontros com redes de supercaju”. A goiaba vermelha, oferecida como suco, foi a grande
mercados visando a promoção da fruta nacional e seus deatração para os compradores da região, que conhecem apenas
rivados no varejo do Exterior por meio do projeto Brazilian
Fruit Festival. Lívia Mara variedade branca.
ques, coordenadora do
A Gulfood é uma feira de
Público presente saboreou sucos brasileiros em estande na Gulfood.
projeto, comenta que
negócios em plena evolu“não foram encontradas
ção. Segundo dados dos
nenhuma variedade de
organizadores, houve aufrutas brasileiras nas
mento de 40% no espaço
principais lojas da região,
de exposição comparado
o que demonstra oportucom a edição anterior, renidades de novos negócifletindo o incremento do
os para este mercado”. Os
mercado de alimentos na
frutos da visita já podem
região. Para Moacyr Saraiser contabilizados. Seva Fernandes, presidente
gundo a coordenadora, “o
do Ibraf, “este é um evenprojeto será levado para
to-chave para acesso e amuma rede de supermercapliação das exportações de
frutas frescas e processados indiana de Dubai, no
das a este mercado”.
segundo semestre, e há
Fernandes ressalta que “os
outras negociações em
andamento”.
Emirados Árabes, e os de40
ABACAXI
MINIMAMENTE
PROCESSADO
Considerada uma
das melhores frutas
para processamento
mínimo, o abacaxi
permite vários
tipos de preparo.
O abacaxi, também chamado de ananás, é nativo da América do Sul. Seu fruto é, na verdade, uma frutescência: cada
gominho é um fruto independente, que se juntou com os
demais durante o processo de crescimento. É rico em vitamina C, contém boas quantidades de sais minerais como cálcio, fósforo e ferro e vitamina A. O abacaxi facilita a digestão
de produtos protéicos como carnes, peixes e aves pela alta
porcentagem de celulose. Cem gramas de abacaxi fornecem
52 calorias. Nos últimos anos, tem-se enfatizado a necessidade do consumo de frutas e hortaliças frescas para uma dieta saudável. Ao mesmo tempo, há uma demanda crescente
de alimentos mais convenientes, frescos, que sejam menos
processados e prontos para o consumo.
O abacaxi é considerado o “rei dos frutos” devido sua
excelente qualidade sensorial. Os maiores problemas com
abacaxi minimamente processado são a alteração de cor,
perda de “flavor” (sabor e aroma) e textura. Isto acontece
devido ao estresse das operações para o processamento mínimo (eliminação das partes não comestíveis, seguida de cortes em tamanhos menores). Esse estresse causa um aumento no metabolismo das frutas e hortaliças, levando à sua deterioração. Técnicas que retardam estes problemas incluem
armazenamento em baixas temperaturas, atmosfera modificada, usando baixa concentração de O2 e alta concentração
de CO2. A sanitização com cloro (100 ppm por no mínimo 5
minutos) é amplamente recomendada para as frutas minimamente processadas, entre elas o abacaxi. Também tem sido
demonstrado que, em produtos que possam perder a quali41
ARTIGO TÉCNICO
PATÓGENOS IMPORTANTES
Na indústria, o manuseio impróprio, o uso de
equipamentos mal-sanitizados e algumas etapas do
processamento mínimo, como o fatiamento, geralmente, promovem aumento na população de microrganismos em frutas e hortaliças e podem comprometer a qualidade e a segurança do produto final ou diminuir o tempo de conservação. Por outro
lado, as técnicas para estender a vida útil desses produtos podem aumentar o risco potencial de desenvolvimento de patógenos e, portanto, devem ser
cuidadosamente
avaliados.
Durante
o
descascamento, corte e fatiamento, a superfície do
abacaxi é exposta ao ar e, com isso, é possível a
contaminação com bactérias, leveduras e mofos.
A microbiota de produtos frescos consiste, em
geral, de espécies de Enterobactérias e Pseudomonas,
enquanto bactérias do ácido lático e fungos podem estar
presentes em números relativamente baixos. Ocasionalmente, patógenos podem ocorrer em razão do uso
de água para irrigação ou fertilizantes contaminados,
durante o cultivo ou como consequência da falta de
higiene durante o processamento. Embora o crescimento de microrganismos patogênicos e
deterioradores, em produtos minimamente processados, possa ser inibido ou retardado pela combinação
adequada de atmosfera modifica e temperatura. Dentre os patógenos psicotróficos encontrados em produtos minimamente processados destacam-se L.
Bolhas de ar
denigrem
imagem e
qualidade dos
produtos
minimamente
processados.
42
monocytogenes, Yersinia enterocolitica e Aeromonas
hydrophyla, que são capazes de crescer em certos produtos minimamente processados, mantidos sob refrigeração. Entretanto outros microrganismos patogênicos
são de relevância nesses produtos e incluem:
Salmonella, Shigella, Campylobacter, Escherichia coli,
Staphylococcus aureus, C. botulinium, Bacillus cereus,
espécies de Vibrio, vírus da hepatite A e Norwalk, além
de parasitas como Cryptosporidium e Cyclospora.
O abacaxi minimamente processado deve ser
mantido entre 3 e 6o C durante o processamento,
o transporte e o armazenamento até o consumo.
Temperaturas mais baixas, como 0 o C, durante o
processamento podem causar injúrias no tecido das
frutas. A compreensão dos efeitos que os principais
gases presentes em embalagens sob atmosfera modificada exercem sobre a microbiota do produto é
fundamental para prever o comportamento dessa
microbota e, dessa forma, estimar o tempo de conservação do produto. O oxigênio, em geral, permite o crescimento de bactérias aeróbias e pode inibir o crescimento dos anaeróbios estritos, embora
exista uma grande variação na sensibilidade dos
aeróbios ao O2. A redução do oxigênio no interior
da embalagem, inibe a proliferação da microbiota
aeróbia presente mas vai estimular o crescimento
de microaerófilos e anaeróbios.
CONDIÇÕES ADEQUADAS
O gás carbônico, solúvel em água e lipídeos, é
o principal responsável pelo efeito bacteriostático
observado em microrganismos nos produtos minimamente processados embalados sob atmosfera
modificada. No entanto, concentrações altas possibilitam o estabelecimento de condições onde microrganismos patogênicos aeróbios, tais como
Clostridium botulinum , possam crescer. Deve-se
considerar também que a exposição de produtos
frescos a concentrações de O2 e CO2, respectivamente, abaixo de 2,0 % e acima de 10 % , limites
de tolerância, pode aumentar a respiração anaeróbia
e acelerar o desenvolvimento de odores desagradáveis, pelo aumento de etanol e acetaldeído. As
combinações requeridas de temperatura, concentrações de O2 e CO2 variam com o tipo de produto vegetal, variedade, origem, maturação e a
estação em que foi colhido.
O armazenamento do abacaxi minimamente processado em condições adequadas é um
ponto fundamental para o sucesso dessa
tecnologia. Temperatura, umidade relativa e
composição atmosférica no interior da embalagem são condições ambientais que podem
ser manipuladas para diminuir a respiração.
TU/SP
NESP BOTUCA
PES VIEITES/U
ROGÉRIO LO
dade por escurecimento enzimático, tratamentos de
lavagem com ácido ascórbico podem reduzir o
escurecimento observado em fatias de maçã, batata e abacaxi. Com relação ao emprego de cloro
como sanitizante em unidades de processamento
mínimo do abacaxi, sugere-se para saladas cubetadas
uma concentração ótima de cloro ativo de 100 ppm.
Convém salientar entretanto que o cloro simplesmente retarda a alteração microbiana, porém não
mostra nenhum efeito benéfico sobre as desordens
bioquímicas e fisiológicas .
ARTIGO TÉCNICO
Depois da diminuição de temperatura dos produtos vegetais, considera-se que a embalagem em atmosfera modificada é o método mais eficaz para prolongar a vida útil de
vegetais frescos e pré-processados. A aplicação efetiva de
tecnologia para o processamento mínimo do abacaxi, depende, portanto, do conhecimento das características intrínsecas da fruta e das transformações bioquímicas específicas que ocorram nelas. O controle dessas transformações
através do manuseio adequado do produto e das condições
do ambiente (notadamente temperatura, umidade e concentração de gases) durante o processamento, armazenamento,
distribuição e comercialização é a melhor forma para a obtenção de produtos com boa qualidade, maior tempo de vida útil
e com segurança para o consumo.
Prof. Dr. Rogério Lopes Vieites
UNESP - Faculdade de Ciências Agronômicas - Botucatu/SP;
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial
Tel (14) 3811-7172 • [email protected]
Processamento passo-a-passo
O abacaxi permite vários tipos de preparo, como cortado em
cubos, em rodelas sem o cilindro central, em metades longitudinais com a casca ou em metades transversais. O
processamento mínimo pode também ser feito para aproveitamento de partes de frutos que não estejam lesionados ou
deformados. Seu processamento mínimo envolve várias etapas:
Colheita e transporte: Os frutos de abacaxi devem ser
colhidos ao atingirem o ponto de amadurecimento “pintado”, pois neste estádio apresentam as melhores características para o consumo. Os frutos devem ser transportados para o local de processamento em, no máximo, 24
horas após a colheita.
Câmara fria: Em seguida os frutos devem ser mantidos
em câmara fria a 10ºC, previamente lavada e higienizada
com solução de cloro a 200 mg.L-1, por um período de 12
horas, para o abaixamento da temperatura.
Processamento mínimo: Deve ser feito a 10ºC, com os
utensílios (facas, baldes, escorredores etc.) previamente
higienizados. Os operadores devem usar luvas, aventais,
gorros e máscaras, procurando proteger ao máximo o produto de prováveis contaminações. Os frutos podem ser
submetidos a vários tipos de preparo, com destaque para
os descascados e cortados em rodelas de 1,5 cm de espessura
ou descascados e cortados em metades longitudinais.
Recepção: Os frutos, por ocasião do recebimento devem
ser selecionados, para tornar o lote mais uniforme quanto ao grau de maturação e de danos mecânicos ou podridões. Em seguida, as coroas são cortadas, deixando-se
um “talo” de aproximadamente 2,0 cm, para evitar a entrada de patógenos e minimizar o estresse.
Enxágüe com água clorada: Para eliminar o suco celular
extravasado, os pedaços devem ser enxaguados com água
clorada, a 20 mg de cloro.L-1.
Lavagem: Os frutos selecionados são então lavados em
água corrente utilizando detergente neutro comum, que
tem como ingrediente ativo o alquil benzeno sulfonato
de sódio.
Embalagem: Podem ser utilizadas embalagens de
polietileno tereftalatado (PET), plásticas ou bandejas de
isopor recobertas com filme de cloreto de polivinila (PVC)
esticável.
Enxágüe: Após a lavagem, os frutos são imersos por cinco
minutos em água fria a 5ºC contendo 200 mg de cloro. L-1
(100 mL de água sanitária em 10 L de água), para desinfecção e remoção do calor de campo (Toda Fruta, 2003).
Armazenamento: Os produtos devem ser armazenados em
condições refrigeradas. Esta temperatura deve ser mantida
durante o transporte e a comercialização. Indica-se temperaturas entre 3ºC e 6ºC.
Escorrimento: Os pedaços devem ser escorridos por dois
a três minutos, para se eliminar o excesso de umidade.
artigos técnicos podem ser enviados para [email protected]
43
CAMPO & CULTURA
FRUTAS BRASILEIRAS E
EXÓTICAS CULTIVADAS
POMAR DOMÉSTICO
CASEIRO - FAMILIAR
A publicação “Frutas Brasileiras e Exóticas Cultivadas
de consumo in natura” contempla 827 tipos diferentes
de frutas nativas e exóticas e é resultado de ampla
pesquisa sobre o assunto nos últimos cinco anos em
todo o território brasileiro. O livro aborda principalmente
o grupo das espécies nativas, no qual são discutidos
vários aspectos do cultivo das plantas frutíferas, sua
importância econômica, seu valor nutricional como
alimento e detalhes sobre sua multiplicação.
Na primeira parte do livro são apresentadas apenas
espécies nativas no território brasileiro, tanto as
cultivadas comercialmente, quanto as domésticas ou
as encontradas na natureza. Na segunda parte são
tratadas apenas as espécies exóticas ou as introduzidas
de outros países e cultivadas comercialmente ou
em pomar doméstico no Brasil. Dos 827 diferentes
tipos de frutas abordados no livro, 312 são nativas e
515 exóticas.
Cada fruta é apresentada em uma única página inteira,
com indicações de sua origem ou habitat natural,
descrição resumida de suas características morfológicas,
época de floração e frutificação. Sob o título
“Utilidades”, é descrito o modo de consumo dos frutos
e, sob o título “Multiplicação”, é apresentada a forma
de propagação da planta.
Frutas de primeira qualidade na família 365 dias do
ano, para você e sua família plantar e cuidar estão
em Pomar Doméstico - Caseiro – Familiar. O livro
orienta na escolha de mudas, local do pomar, preparo
do solo, variedades, época e maneira correta de
plantar, adubar, tratos culturais e ponto de colheita
dos frutos maduros para o consumo da família.
Aborda ainda a indicação para o controle de doenças
e das pragas com o uso de produtos mais naturais
para garantir a melhor qualidade na produção e no
consumo de frutas de primeira qualidade.
As frutas colhidas têm ótimo ponto de maturação,
garantia de qualidade, sem a presença de produtos
químicos prejudiciais à saúde, equilíbrio entre acidez,
sólidos solúveis, muitas vitaminas, sais minerais e
fibras. Estão disponíveis, diariamente, e permitem seu
consumo ao natural, em receitas especiais, na forma
de suco, no preparo de geléias, suco concentrado,
doce de massa, cristalizados, polpa concentrada e
congelada.
As plantas frutíferas melhoram o visual, embelezam
e valorizam a propriedade, além de absorver o excesso
de água das chuvas, contribuir para diminuir a erosão,
melhorar o microclima, regularizar as temperaturas
extremas, aumentar a microflora e criar um ambiente
saudável, contribuindo para a melhoria e manutenção
da qualidade de vida dos seus moradores.
Autores: Harri Lorenzi, Luis Bacher, Marco Lacerda e
Sergio Sartori
Editora: Plantarum
Páginas: 627
Onde encontrar:
Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda.
Avenida Brasil, 2.000 - Distrito Industrial
CEP 13460-000 - Nova Odessa/SP
Fone: (19) 3466-5587
Fax: (19) 3466-6160
Site: www.plantarum.com.br
E-mail: [email protected]
44
Autores: Ivo Manica, Ivone M. Icuma, Keize P.
Junqueira e Nilton T. V. Junqueira
Editora: Cinco Continentes Editora
Páginas: 112
Onde encontrar:
Rua Buarque de Macedo, 480 - bairro São Geraldo Porto Alegre/RS - CEP 90.230-250
Fone: (51) 3264-1377
Fax: (51) 3019-8768
E-mail:[email protected]
PRODUTOS E SERVIÇOS
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FRUTA NA MESA
DELICADEZA DO
FIGO
Marlene Simarelli
O fruto carnoso da figueira (Fícus
carica) é conhecido desde os
primórdios da humanidade, com relatos na Bíblia. Pesquisadores estimam
que sua procedência seja do sul da
Arábia, de onde se espalhou para o
mundo. No Brasil, chegou com os portugueses no século 16. A variedade Figo
Roxo foi introduzida pelo italiano Lino
Busato, em 1900, em Valinhos/SP. Imigrantes italianos ali radicados começaram a produção comercial no País. A
cultura se tornou tão importante para
o município que a variedade é conhecida, hoje, como “De Valinhos”. “Existem mais de 150 variedades de figos,
com cores que vão do branco ao verde, marrom, vermelho, roxo e até o
preto”, relata o professor Rogério
Lopes Vieites, do Departamento de
Gestão e Tecnologia Agroindustrial da
Faculdade de Ciências Agronômicas, da
Unesp, em Botucatu/SP. Seu cultivo se
dá em São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e, mais recentemente,
nas serras do Ceará.
O figo é consumido verde, na forma
de doces, e maduro ao natural. Vieites
explica que “o valor nutritivo muda conforme a variedade. É rico em açúcar,
contém sais minerais, sendo um dos
frutos de clima temperado que possui
mais cálcio. Possui ainda cobre, potássio, magnésio, sódio e traços de
zinco”. Uma curiosidade, segundo
Vieites, “é o uso do látex do figo verde
para coalhar o leite, sendo de 30 a
100 vezes mais potente do que
outros coalhos”.
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RECEITAS DA PRODUTORA
ANTONIA BROTTO
SORVETE DE FIGO
Ingredientes: 10 figos maduros descascados, 2 xícaras (chá)
de água, 2 xícaras (chá) de açúcar, 2 claras em neve e 1 lata de
creme de leite.
Modo de preparo: bata no liquidificador 8 figos e a água.
Passe pela peneira, acrescente o açúcar, misture bem e leve
ao fogo até formar uma calda grossa. Adicione a calda quente
às claras em neve, aos poucos, mexendo sempre até misturar
bem. Acrescente o creme de leite e os 2 figos restantes picadinhos, misturando bem até formar um creme homogêneo. Leve
ao congelador. Remexa o sorvete de vez em quando para que
gele por igual.
DOCE RAMI
Ingredientes: 2 ½ quilos de figo quase no ponto de comer,
2 copos de açúcar, 2 copos de água, algumas folhas novas
da fruta.
Modo de preparo: coloque os figos para aferventar durante
uma hora, trocando a água duas vezes. À parte, prepare uma
calda de espessura média com 2 copos de açúcar, 2 copos de
água e as folhas do figo. Pegue os figos aferventados e passe
para a calda, deixando apurar por 1 ½ hora. Retire, coloque
numa assadeira e leve ao forno por mais 1 hora. Sirva as unidades uma a uma.
Antonia Brotto é produtora de figo em Campinas/SP, onde clima e solo
favorecem o cultivo. Sua família planta figos desde 1965. Para ela, o maior
desafio da cultura é o controle da mosca-da-fruta na época de chuva, feita
com armadilhas. Parte da produção de Brotto é exportada para a Europa,
seguindo os princípios exigidos pelo EurepGap. Ela conta que “a colheita é manual, com pessoal treinado, pois o figo é uma fruta muito delicada”.
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