PRÉ-ASSENTAMENTO EMILIANO ZAPATA, AGROECOLOGIA E
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PRÉ-ASSENTAMENTO EMILIANO ZAPATA, AGROECOLOGIA E
PRÉ-ASSENTAMENTO EMILIANO ZAPATA, AGROECOLOGIA E REDE DE CONSUMO: TECENDO E CONSOLIDANDO POSSIBILIDADES PRE-ASENTAMIENTO EMILIANO ZAPATA, AGROECOLOGÍA Y RED DE CONSUMO: TRAMANDO Y CONSOLIDANDO POSIBILIDADES André de Souza Fedel – Graduando em Geografia – UEPG e membro da IESol/UEPG - [email protected] Luciane Gomes Pereira – Geógrafa e Técnica da IESol/UEPG - [email protected] Adriano da Costa Valadão – Dr. em Sociologia pela UPFR, Professor Colaborador UNICENTRO/PR e Técnico da IESol/UEPG - [email protected] Resumo A agricultura camponesa que busca uma base agroecológica tem se destacado cada vez mais por ter seu processo e práticas cotidianas sustentáveis e emancipadoras, ao passo que a economia solidária traz em seus princípios propostas organizativas alternativas ao sistema capitalista. O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre as ações espaciais que os agricultores e agricultoras do Pré Assentamento Emiliano Zapata juntos com a IESol (Incubadora de Empreendimentos Solidários - UEPG) têm buscado no sentido de apoiar os processos de autonomia das famílias da comunidade. A problemática da produção e comercialização dos alimentos e consequentemente o acesso à renda é abordada apontando os primeiros passos como acesso a programas federais, a organização solidária e associativa, chegando a consolidar uma rede solidária de produtores e consumidores na cidade de Ponta Grossa – PR. Nosso trabalho é composto de um resgate histórico-espacial, observações, problematização e discussão conceitual da atuação em rede, descrições de ações em conjunto e articulações para efetivar os anseios dos agricultores e agricultoras, assim como, da propagação dos alimentos orgânicos. Palavras Chave: Economia Solidária; Agroecologia; Redes consumidores, Assentamento Rural, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Resumen La agricultura campesina que busca una base agroecológica se he destacado cada vez más por tener su proceso y práctica cotidiana sustentables y emancipadores, al tiempo en que la economía solidaria trae en sus principios, propuestas organizativas alternativas al sistema capitalista. Este trabajo tiene como objetivo discutir sobre las acciones espaciales que agricultores y agricultoras del Pre-Asentamiento Emiliano Zapata juntos con la IESol (Incubadora de Emprendimientos Solidarios – UEPG) he buscado, en el sentido de apoyar los procesos de autonomía de las familias de la comunidad. La problemática de la producción y comercialización de los alimentos, y consecuentemente el acceso al ingreso es abordada discutiendo los primeros pasos como acceso a los programas federales, a la organización solidaria y asociativa, llegando a consolidar una red solidaria de productores y consumidores en la ciudad de Ponta Grossa – PR. Nuestro trabajo es compuesto por un rescate históricoespacial, observaciones, problematización y discusión conceptual de la actuación en red, descripciones de acciones en conjunto y articulaciones para construir los deseos de los agricultores y agricultoras, así como de la propagación de los alimentos orgánicos. Palabras Clave: Economía Solidaria, Agroecología, Redes, Asentamiento rural, Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra - MST Eixo de inscrição: 5 - Comunidades Tradicionais, Resistência/Recriação Camponesa e Agroecologia, Ponta Grossa e a Comunidade Pré Assentamento Emiliano Zapata: um pouco da geograficidade... O município de Ponta Grossa faz parte de uma região denominada Paraná Tradicional, composta por diversos processos geográficos e históricos como salienta Cunha (2003) e, apesar da área de 2.011,99 km² (ITCGEO, 2011) possui atualmente apenas 2,21% de sua população morando na área rural (IBGE, 2010). Também como em muitas outras cidades do Brasil, em períodos de abertura econômica passou por momentos de modernização em sua economia, onde Complexos Agroindustriais foram solidificados, tornando a cidade um pólo de processamento de soja. Luiz Alexandre Gonçalves Cunha delineia sobre o assunto: A modernização correspondeu, na verdade, à expansão das culturas adaptadas a um padrão tecnológico que permita a dinamização de alguns setores industriais, como, por exemplo, os produtores de insumos químicos, máquinas e equipamentos agrícolas e processadores de matérias-primas agropecuárias. Destacou-se, principalmente, a cultura da soja, que se expandiu de uma forma bastante acentuada na região centro-sul do Brasil. Formou-se, então, um verdadeiro Complexo Soja no qual as empresas processadoras de soja destacavam-se pelo seu porte e importância econômica (2001, p. 81). Esta atividade econômica, como analisa ainda o autor, avança outros territórios do nordeste, além do que é reduzido o trabalho impregnado no município: Contata-se que as indústrias instaladas em Ponta Grossa fazem, quase que exclusivamente, o processamento primário da soja, exportando a maior parte da produção para outros países e estados, nos quais farelo, óleo e outros subprodutos são usados como matérias-primas de indústrias mais agregadoras de valor (CUNHA, 2001, p. 82). Apesar da crença de que desenvolvimento é simplesmente industrialização, tendo assim, um sentido muito estreito ao crescimento econômico, a cidade de Ponta Grossa demanda uma mudança no pensamento relacionado ao desenvolvimento territorial. Cunha simplifica: Atividades territorializadas são aquelas que dependem de ativos locais, promovem movimentos de internalização e fixação de atores e atividades econômicas e, o que é mais importante, não apresentam propensão às mudanças de localizações relacionadas aos ciclos econômicos capitalistas (2001, pg. 78). Neste cenário de ausência de atividades territorializadas exclusivas ao circuito econômico local, existem as ações construídas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e os assentamentos instituídos no sentido de luta pela terra, pela reforma agrária e mais recentemente na transição agroecológica de produção e comercialização solidária que trazem importantes subsídios para a compreensão de atividades territorializadas, abrindo caminhos para um desenvolvimento local dos atores sociais. A Comunidade Emiliano Zapata constitui-se em um pré-assentamento situado no município de Ponta Grossa, Paraná. Esta área localiza-se no interior de uma Fazenda da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária1, no Distrito de Itaiacoca, a cerca de 12 km da sede do município de Ponta Grossa – PR. A ocupação desta área foi realizada em maio de 2003 por aproximadamente 150 famílias que integravam o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, oriundas de municípios dos Campos Gerais e da região metropolitana de Curitiba, que estavam organizadas em um acampamento há cerca de 30 km do local em um lote do Assentamento Palmares II, no município de Palmeiras. (ROCHA FILHO, 2009; ENGELMANN, 2011). A fazenda da Embrapa é constituída de aproximadamente 3600 ha, sendo que uma parte é cedida ao IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná, que realiza pesquisas no local. Parte é utilizada pela própria EMBRAPA para pesquisa e reprodução de sementes, mas uma grande parte estava sendo arrendada para fazendeiros e empresas da região, principalmente para o plantio de pinus e soja e o entorno estava sendo objeto de grilagem para a instalação de chácaras. Após negociações entre o Movimento Social e órgãos públicos, 660 hectares da área foram cedidos para o INCRA – Instituto Nacional de Colonização Agrícola, para implementação de um assentamento com 1 Apesar de o site da Embrapa apresentar que sua missão seria viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira, grande parte da área da fazenda estava destinada a atividades estranhas às finalidades apontadas. Recentemente, noticiou-se uma derrota judicial da empresa transnacional Monsanto, que havia processado cinco militantes presentes em uma manifestação com 600 participantes da II Jornada de Agroecologia, na estação experimental da empresa, em Ponta Grossa, no ano de 2003 (TERRA DE DIREITOS, 2013). capacidade para instalação de até 58 famílias. Entretanto, problemas com a documentação da área e conflitos com vizinhos que não concordaram com a realização de serviços de medição, além da morosidade burocrática, têm sistematicamente impedido a concretização do assentamento. A área (Figura 01) destinada ao Programa de Reforma Agrária ainda se configura como um pré-assentamento, (apesar das famílias já estarem morando e produzindo no local há dez anos), principalmente devido aos trâmites burocráticos que impedem sua concretização legal, ainda que exista decisão política e comprometimento por parte do governo com sua implantação. FIGURA 01: Mapa de extensão da área do Pré-assentamento Emiliano Zapata FONTE: adaptado de ELGELMANN (2011) organizado por PRIETTO (2010) A fase de pré-assentamento pode durar pouco tempo ou muitos anos (como no caso da Comunidade Emiliano Zapata), impedindo, desta forma, o acesso pelas famílias a maior parte das políticas públicas destinadas aos assentamentos e a agricultura familiar. Estas famílias não têm condições de acesso, por exemplo, ao PRONAF - Programa Nacional da Agricultura Familiar, ou mesmo à luz elétrica2. Ainda no caso da Comunidade Emiliano Zapata, já foi realizado o depósito do valor da área pelo INCRA em favor da Embrapa desde o ano de 2005. 2 Somente cerca de 5 famílias tem acesso precário à luz elétrica que é ligada em um ponto da sede da comunidade, mas com grandes limitações. Só no mês de abril deste ano pós anos de pressão sobre os órgãos competentes e de fiscalização e com interferência do Ministério Público é que iniciou a instalação de energia elétrica para as famílias e que no momento de elaboração deste trabalho está em seus momentos iniciais. Apesar das diversas dificuldades, a comunidade conseguiu acessar o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos3. Através deste programa, os alimentos produzidos pela comunidade são adquiridos pela Conab – Companhia Nacional de Abastecimento e doados a instituições assistenciais. Este programa representa a principal renda agrícola desta comunidade e também auxilia na segurança alimentar destas famílias. A renda média mensal gira em torno de R$ 375,00 ao mês, variando conforme as safras e produtos produzidos, mas sempre com o valor máximo de R$ 4500,00 ao ano. As famílias da comunidade Emiliano Zapata, ainda optaram pela produção com base na agroecologia4. Discussão que ganhou força no MST a partir do seu IV Congresso Nacional realizado em Brasília no ano de 2000 (VALADÃO, 2005; BORGES, 2007). Como produtores de alimentos orgânicos também participam da Rede Ecovida de Agroecologia que tem como objetivo desenvolver e multiplicar as iniciativas em agroecologia e de possuir um selo próprio de certificação dos produtos orgânicos. A Rede Ecovida realiza a certificação dos produtos orgânicos/agroecológicos através de um sistema solidário onde os agricultores e consumidores participam da elaboração e verificação das normas de produção agroecológica (PEREZ-CASSARINO, 2012). Com a dificuldade de geração de renda agrícola no local e falta de perspectivas de curto prazo, membros de algumas famílias tem buscado empregos temporários na área urbana principalmente na construção civil devido ao aquecimento deste segmento econômico O que leve em alguns casos a relegar a produção agrícola para um segundo plano, sendo que em alguns casos, o trabalho nas hortas fica sob a responsabilidade das mulheres. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo discutir sobre as ações espaciais que os agricultores e agricultoras do Pré Assentamento Emiliano Zapata, através do apoio realizado pela IESol (Incubadora de Empreendimentos Solidários - UEPG) têm de forma a viabilizar os processos de autonomia e geração de renda das famílias desta comunidade. 3 4 O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma ação do Governo Federal que tem como objetivo colaborar para o enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e igualmente fortalecer a agricultura familiar. O programa se baseia no estabelecimento de mecanismos de comercialização, agregação de valor e organização social. (MDA, 2012) O PAA prevê a aquisição de até R$ 4500,00 (quatro mil e quinhentos reais) por família/ano. A agroecologia que pode ser compreendida como uma ciência ou campo de conhecimento interdisciplinar (ALTIERI, 2001) ligado aos contextos socioeconômicos locais e globais que as práticas agroecológica são desenvolvidas e os processos de ação coletiva (SEVILLA-GUZMANN, 2000) e que dialogam com os conhecimentos e saberes populares dos agricultores. Destaca-se ainda uma dimensão subversiva e crítica ao questionar a destruição das culturas camponesas com base no mito da superioridade do mundo urbano sobre o rural (SEVILLA GUZMANN e LÓPEZ CALVO, 1993). A atuação da IESol junto a Comunidade Emiliano Zapata : possibilidades e limites A atuação da IESol – Incubadora de Empreendimentos Solidários e baseia nos princípios da Economia Solidária onde através dos processos de pré-incubação, incubação e desincubação dos empreendimentos populares busca-se a autonomia financeira e política, trabalho autogestionado, organização associativa e cooperada, solidariedade de classe, entre outros princípios deliberados conforme a última Conferência Nacional de Economia Solidária. A IESol – é um Programa de Extensão da UEPG, vinculado à PROEX – Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Culturais, e é afiliada da Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares – Rede ITCPs, e se inscreve neste contexto em que a Economia Solidária integra as Políticas Públicas no âmbito Federal e Estadual. O Programa visa à formação, constituição e consolidação de empreendimentos solidários, capacitando-os para a geração de trabalho e renda baseados nos princípios da economia solidária (BRASIL et al, 2011). Em relação à Comunidade Emiliano Zapata a atuação da IESol inicialmente apoiou a instalação de uma horta comunitária através da apresentação de projetos junto à agências de fomento, como os projetos realizados com apoio do Programa Universidade Sem Fronteira da Secretária Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A comercialização da produção desta horta estaria ligada a realização de feiras de alimentos orgânicos para ampliar a renda oriunda do PAA. Não devendo ser um espaço para a produção destinada ao PAA, e sim para complementar a renda. A Comunidade Emiliano Zapata, como já colocado, que desde seu surgimento optou por uma produção sem o uso de insumos químicos, seguiu com esta prática também na horta comunitária. Essa base de recursos autocontrolada e autogerenciada, característica da agricultura agroecológica, foi ampliada buscando manter ou retomar o controle e a capacidade de gestão dos recursos naturais provenientes. Além do apoio para implantação da horta, foram articulados pontos de comercialização no Campus da UEPG durante o ano de 2011, tendo dificuldade em retornar após o período de férias. Da mesma forma diversas pessoas vinham desistindo do trabalho na horta ao priorizar o trabalho individual em seus lotes ou alguma ocupação urbana. A IESol, em articulação com um grupo que permaneceu na horta articulou a retomada das feiras, com apoio de um projeto apresentado à Caritas Brasil que forneceu insumos básicos e apoio para o transporte da produção através de um veículo da própria universidade uma vez por semana. Durante o ano de 2012 e 2013 a Feira Solidária (Figuras 02 e 03) é novamente articulada e novamente se consolida e se mostrando como um ponto de inserção de comercialização paralela às grandes redes de varejo, ausente de atravessadores, integrando os produtores, a universidade e os consumidores, gerando renda, capacitação, integração social e cultural, melhor padrão de alimentação e melhores condições de vida, tanto aos agricultores que têm sua renda ampliada, quanto aos consumidores pelos benefícios de uma alimentação livre de agrotóxicos. Além dos produtos agroecológicos, a feira também tem a participação de um grupo de artesanato que passa também pelo processo de incubação através da IESol. Figura 2 – Cartaz da Feira solidária FONTE: Iesol (2013) Figura 3 – Foto da Feira Solidária FONTE: Thais Maria Ferreira – Acervo Iesol (2013) A Economia Solidária e a Agroecologia, mesmo mantendo suas especificidades apresentam importantes interfaces como aponta Schimidt e Tygel (2009, p. 125), principalmente como “campos de contestação social e desenvolvimento de práticas alternativas”. Assim, como ressalta Rocha Filho (2009), a agricultura agroecológica estabelecida pelos agricultores e agricultoras da comunidade Emiliano Zapata proporciona a propagação e inserção da Economia Solidária, mais especificamente através do trabalho da IESol. Já as feiras solidárias, são espaços permanentes de divulgação e comercialização, tema amplamente abordado e ao alcance da IESol executado com duas organizações incubadas5. A renda ainda se mostra insuficiente para as famílias que comercializam nas feiras, apesar de garantir uma renda mínima e uma relativa diversidade de alimentos para o consumo próprio. No caso do pré-assentamento Emiliano Zapata, as dificuldades enfrentadas para produzir de forma agroecológica estão relacionadas a questões específicas como escassez de insumos para a elaboração de compostos orgânicos e biofertilizantes e falta de mão de obra permanente na execução de tarefas diárias relacionadas ao manejo cultural e aquisição de mudas e sementes. Todas essas dificuldades acabaram desestimulando alguns agricultores que desistiram do projeto coletivo. Como forma de apontar perspectivas junto às famílias, a equipe de incubação do grupo Emiliano Zapata elaborou questionários com objetivos de compreender os principais motivos desta desistência e identificar possíveis interessados em retornar ao trabalho coletivo. As entrevistas foram realizadas com 15 agricultores e agricultoras vinculados (as) a horta comunitária, sendo que destes, apenas 3 ainda permaneciam no trabalho coletivo até aquele momento. Assim, constatou-se que a baixa renda gerada com o trabalho na horta comunitária foi o principal motivo das desistências., conforme indica a seguir a figura 04: 5 Atualmente duas organizações de trabalhadores participam diretamente na feira, a AFESOL – Associação dos Feirantes da Economia Solidária, que trabalha com artesanato e alimentação e o Grupo Chão e Vida de hortiecológicos, pertencente a ATERRA, Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Reforma Agrária da Comunidade Emiliano Zapata. FIGURA 04 – Gráfico sobre os principais motivos da desistência pelas famílias do projeto coletivo. FONTE: GOMES (2012). Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores e trabalhadoras da horta do pré-assentamento e dos conflitos entre muitos dificultando a consolidação da horta como espaço coletivo de produção, algumas pessoas resistiram e permaneceram trabalhando durante os três anos desde a implantação do empreendimento, demonstrando, dessa forma, possibilidades de ampliação da produção no espaço da horta, desde que outras pessoas demonstrassem interesse em retornar ao trabalho na horta. Assim, a pesquisa realizada com as pessoas que não estavam mais atuando na horta revelou que algumas pessoas tinham interesse em retomar o trabalho coletivo, desde que houvesse ampliação dos espaços de comercialização e novas discussões sobre a organização e utilização do espaço de produção. As discussões entre os agricultores e a incubadora apontaram como caminho para ampliação da produção, a constituição de uma rede de produtores e consumidores dos produtos da comunidade como apontamos a seguir. A rede de produtores e consumidores: tecendo espaços Assim como bem coloca Cláudia Schmitt (2010), diversos eventos que colocam em cheque a organização capitalista contemporânea tem possibilitado, em diversas escalas territoriais, articulações entre processos econômicos, ecológicos, políticos e sociais. Não diferente a Agroecologia e a Economia Solidária se inserem como estes eventos alternativos, pois, ...se identificam como redes de redes, espaços de articulação e diálogo ou articulações de movimentos sociais e organizações – têm chamado atenção para uma problemática que se projeta muito além das discussões sobre a “geração de trabalho e renda” ou a “viabilização econômica da agricultura familiar”, ao colocarem em sua agenda uma série de temas que remetem sobre as possibilidades de construção de modos de vida sustentáveis (SCHMITT, 2010. p.56). Nesse cenário de consolidação das feiras semanais pela associação, surgiram novos agricultores e agricultoras que também estavam com uma produção em transição agroecológica e diversificada. Através de contatos com outras organizações como o sindicato de professores (SINDUEPG), organizaram-se para comercializar seus alimentos. A IESol colaborou propagando a ideia de uma rede de produtores e consumidores, aproximando possíveis consumidores e refletindo sobre qual a forma mais adequada seria o contato dos produtores com os consumidores. Foi escolhido um modelo em que os agricultores indicassem quais os produtos que disporiam para a próxima semana e os consumidores informavam quais desejavam. Considerando algumas dificuldades de comunicação, foi escolhido que a comunicação dos produtos disponíveis seria via e-mails. A comunidade conseguiu um acesso à internet e assim têm articulado a rede de consumidores. Assim foi constituída a Rede Solidária de Produtores e Consumidores Agroecológicos Emiliano Zapata que iniciou suas atividades em fevereiro de 2013 e em três meses de funcionamento já contava com cerca de 40 consumidores. A produção de alimentos agroecológicos destas famílias é feita por cinco famílias da Comunidade Emiliano Zapata. Com o crescimento da rede outras famílias vão sendo incorporadas (Figura 05). FIGURA 05: Esquema da Rede Solidária de Consumidores e Produtores Agroecológicos – Emiliano Zapata. FONTE: Os autores Tendo por base questões ligadas ao consumo responsável, na qual os consumidores também possuem responsabilidade pelas relações de exploração e degradação ambiental dos produtos que consomem (MANCE, 2009), foi deliberado que os consumidores realizam o pagamento de forma antecipada. Ao início de cada mês os consumidores fazem o pagamento do valor mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e se comprometem a consumir este valor ao longo do mês. Isto garante a geração de uma renda mínima às famílias e evitam perdas da produção ou de trabalho desnecessário, visto que as famílias somente vão colher os produtos já previamente vendidos. Por fim, são criados espaços de entrega enlaçando outras organizações-instituições, a partir de três espaços ligados a Universidade, um no campus central, outro no Sindicato dos Docentes, localizado muito próximo a um dos portões do campus. O conceito de rede, muito discutido na Geografia, aparece em diversos campos disciplinares como um conceito e uma ferramenta prática que ainda são pouco explorados para alternativas ao sistema capitalista, principalmente no tocante a produção e comercialização de alimentos. Leila Dias (1995) salienta que a história das redes é a história das inovações técnicas e que de uma maneira ou de outra transformaram o espaço onde se instalaram conduzindo a novas e diferentes relações sociais. Assim, entendemos que a rede é instrumento de empoderamento e induz ações, cria fronteiras, podendo até estabelecer um território. Possuindo a propriedade de conexidade, onde os nós das redes são os lugares de conexões, podendo gerar exclusão ou solidariedade. No mesmo rol de debate acerca das técnicas e suas implicações, Milton Santos (1996) faz a importante análise sobre como a heterogeneidade de difusão das técnicas e dos objetos técnicos resulta do modo desigual como eles vão se inserir no espaço e no tempo. Por isso percebe-se que as inovações técnicas e as redes técnicas, ou simplesmente as redes (transportes, comunicação, bancárias) são impregnadas de sofisticação e trabalho altamente especializado. Também devido a isso gostaríamos de ressaltar a pouca exploração do conceito e, mais enfaticamente, da ferramenta prática que é a rede, em um contexto onde a expropriação e a organização capitalista estejam completamente ausentes. O filósofo Euclides André Mance, ao refletir sobre o mundo globalizado, consegue ver esperanças em pontuar a estratégia e a tática das redes nas organizações de sociedades, como ele diz “pós-capitalistas”, onde há a conexão entre unidades de produção e unidades de consumo ecologicamente e socialmente sustentáveis (2002). Mance (2009) destaca que a rede de colaboração solidária vem como um meio de subversão de padrões e processos hegemônicos mantenedores do capitalismo, utilizando-se das conexões existentes para interligar os pontos de produção, comercialização, financiamento, consumidores e outras organizações populares em um movimento de mobilização conjunta para o crescimento conjunto em paralelo ao modelo capitalista regente atualmente. O objetivo comum entre os integrantes da rede em si fortalece e recompõe a estrutura de uma forma solidária onde o lucro, ou sobra chamada dentro da economia solidaria não é o ponto central, mas sim o bem viver de todos juntamente com práticas que interajam com o meio ambiente de forma sustentável. Um dos pontos mais importantes dentro das redes se refere à logística e a distribuição, abordada por Mance (2009), ou seja, como fazer com que o produto chegue até os consumidores com condições que diferem das maneiras convencionais competitivas do mercado capitalista é de fato uma tarefa que envolve uma dinâmica enorme. Muitas pessoas desejam praticar o consumo solidário, porém, não têm acesso a esses produtos e serviços. Finalmente destacamos que a rede proporciona certa segurança as famílias que possuem uma renda mínima, praticamente anula o risco de perda de produtos e aproxima os consumidores dos produtores. Ainda a presença da IESol, fomentou a discussão de fundação de uma Cooperativa para articular questões produtivas no local. Esta cooperativa estava também em processo de regularização. Referências ALTIERI, M.: Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3.ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001. BORGES, J.L. A transição do MST para a agroecologia. Dissertação. Programa de PósGraduação em Ciências Sociais. Mestrado. Londrina UEL, 2007. BRASIL, M.S. et al Limites e possibilidade das incubadoras populares: o caso da Incubadora de Empreendimentos Solidários – IESol/UEPG. III CEPIAL: Semeando Novos Rumos, Curitiba-PR, julho de 2011. Disponível em http://cepial.org.br/inc/anais/eixo2/200_ALNARYNUNESROCHAFILHO.pdf Acesso em 19/03/2013. CUNHA, L.A.G. O complexo agro-industrial e o cluster madeireiro de Ponta Grossa. In: DITZE L, C; LOWEN, C. (org). Espaço e Cultura: Ponta Grossa e os Campos Gerais. Ponta Grossa: Ed. da UEPG, 2001. CUNHA, L.A.G. 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