YOU MUST - PARQ magazine

Transcrição

YOU MUST - PARQ magazine
PA RQ Maga zine
N o.4 6 A no VII M aio. Junho. Julho 2015
DIRECTOR
TEXTOS
EDITORIAL
Francisco Vaz Fernandes
[email protected]
Beatriz Teixeira
Carla Carbone
Carlos Alberto
Oliveira
Claúdia Aleixo
Francisco Vaz Fernandes
Hugo Filipe Lopes
Joana Teixeira
Marcelo Lisboa
Maria São Miguel
Marta Inês Santos
Paula Melâneo
Pedro Lima
Roger Winstanley
Rui Lino Ramalho
Rui Miguel Abreu
Sara Madeira
Vânia Marinho
#46
EDITOR
Francisco Vaz Fernandes
[email protected]
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Rui Lino Ramalho
COORDENAÇÃO DE MODA
Tiago Ferreira
DIRECÇÃO DE ARTE
Valdemar Lamego
[email protected]
www.k-u-n-g.com
PERIOCIDADE: BImestral
DEPÓSITO LEGAL: 272758/08
REGISTO ERC: 125392
EDIÇÃO
Conforto Moderno Uni, Lda.
NIF: 508 399 289
PARQ
Rua Quirino da Fonseca,
25 – 2ºesq.
1000-251 Lisboa
T. 00351.218 473 379
FOTOS
Celso Colaço
Maria Rita
Matilde Travassos
Pedro Mineiro
Sal Nunkachov
STYLING
Ana Benedita
Tiago Ferreira
Não há como contornar a sinonímia
entre Primavera e PARQ. As águas mil
de abril foram osso duro de roer, mas
Maio já vai deslindando um semblante
mais risonho. O banco de jardim volta a
ser mais apetecível que o sofá da sala.
É o passeio à beira-rio, a relva felpuda
e seca onde apetece deitar, a dentada
ainda tímida no primeiro gelado do
ano, o concerto ao ar livre, enfim, é a
celebração da cidade, uma celebração
que se completa com uns bons parágrafos
PARQ. Continuamos a ser equinócio,
porque a medida da nossa ambição é
proporcional à medida da nossa entrega.
Vemos Primavera no desabrochar dos
primeiros ‘instagramers’ portugueses,
criadores e difusores de paradigmas
pictóricos, numa paisagem urbana
tão polifacetada. Vemos Primavera
na irreverência de Wasted Rita que,
com grande e incompreensível delay,
lá começa a conquistar as atenções
nacionais. E vemos, ainda, Primavera
nos pólenes libertados pelos promotores
independentes na noite portuguesa,
que vai conhecendo novas sonoridades
e linguagens e que, sobretudo, não
tem medo da miscigenação.
PA RQ Maga zine
N o.4 6 A no VII M aio. Junho. Julho 2015
YOU MUST
polo FRED
PERRY
Fotografia: MATILDE TRAVASSOS
Styling: TIAGO FERREIRA
Modelo: MICHAELA BEDNÁROVA
@ Just Models
Make-up: SANDRA ALVES
Sainer
The Kid
Apex Predator
Jean Julien
Bienal de Veneza
Milan Design Week
Nika Zupanc
Festivais de Verão
Capitão Falcão
Jimmy P
Klar
Birkenstock + Cos
Yes Sir
Pinarelo + Le Coq Sportif
Orbea F10 + Levis 501CT
Nixon + Merrell + Lacoste
Beleza
Shopping
Ar te
Ar te
Ar te
Ilustração
Ar te
Design
Design
Música
Cinema
Música
Moda
Moda
Moda
Bike
Bike
Moda
Beauty
Buy
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30-31
Música
Música
32-33
34-35
Social
Noite
Ilustração
36-39
40-43
44-47
Moda
Moda
48-57
58-61
SOUNDSTATION
Blur
Tyler, the kid
CENTRAL PARQ
Instagramars
Arquitetos da Noite
Wasted Rita
FASHION
por Francisco Vaz Fernandes
Michaela
Frederico
PARQ HERE
IMPRESSÃO
EURODOIS
12.000 exemplares
DISTRIBUIÇÃO
Conforto Moderno Uni, Lda.
A reprodução de todo o material
é expressamente proibida
sem a permissão da Parq.
Todos os direitos reservados.
Copyright © 2008 — 2015 PARQ.
tudo DIESEL
Espiga + Sneak Peek
Two.Six
Ink&Wheels
Underdogs Public Art Tour
Zé Robertson
Fotografia: CELSO COLAÇO
Styling: TIAGO FERREIRA
Modelo: FREDERICO VENTURA
@ Just Models
Make-up: SANDRA ALVES
ASSINATURA ANUAL
12 euros
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Espaço
Espaço
Espaço
Espaço
Espaço
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Authentic é a proposta da FRED
PERRY para este verão de 2015,
numa celebração do espírito de
originalidade. A Authentic Men é
inspirada nas subculturas Mod que
se adaptaram à marca FRED PERRY
bem como no seu próprio arquivo de
sportswear clássico. É uma coleção
que regressa às origens da marca
com inspiração no pólo de algodão,
que recebe agora traços das silhuetas
slim e do estilo acutilante da diáspora
jamaicana. Os estilos sportswear
do arquivo primordial da marca são
também rebuscados, em jeito de
homenagem a FREDERICK PERRY,
antigo tenista e fundador da marca,
pelas fitas desportivas, também
em malha, e pelo tecido piqué. Os
padrões corte-e-costura e detalhes
retro acrescentam sofisticação a
este estilo simples. O pólo de malha
veranil, com cores de arquivo, é a
pedra-de-toque desta coleção.
Fred Perry Authentic Store
Lisboa, Rua do Ouro, 234 Lisboa
Gaia, Arrábida Shopping, loja 107
Fred Perry Store
El Corte Inglés Lisboa, 2º Piso
El Corte Inglés, V. N. Gaia, 2º Piso
FOTOGRAFIA Maria Rita • REALIZAÇÃO Tiago Ferreira • MAKE-UP Joana Lobão Teixeira • MODELO Nelson Bolela @ Blast Models • ALL CLOTHES FRED PERRY SS15
You Must
Sainer
Crossroads
Qual é coisa, qual é ela, que
está entre a rotunda do Areeiro
e a rotunda das Olaias e é tão
grande, tão grande, que é impossível não se reparar nela?
Não, não são os prédios. Mas
está morno... a aquecer... quase a escaldar... Certo! A mulher que fuma –ou melhor,
Crossroads–, o novo mural da
cidade de Lisboa.
O artista visual SAINER é o
autor desta pintura colossal na
fachada lateral de um edifício
situado na Av. Afonso Costa.
Mesmo contando com a preciosa ajuda de uma grua, o polaco,
de 27 anos, precisou de quase
dez dias (de 3 a 11 de Abril) para
completar a obra. Os murais
megalómanos de SAINER, que
forma a dupla ETAM CRU com o
artista compatriota BEZT, estão
espalhados um pouco por toda
a Europa e também pelos EUA.
Crossroads
(cruzamento,
encruzilhada) tem uma metade de realismo e outra de onirismo. Uma senhora –já para
os seus setenta e muitos– passeia descontraidamente (e até
meio aluada), enquanto vai dando umas passas na sua boquilha de cigarro; no seu antebraço, carrega uma sacola com
uma pseudo-caveira estampada; acima da sua cabeça, estão
umas orelhas de coelho em levitação; os ossos sobressaem-lhe das mãos e as costas caminham para o corcundismo; o
andar da velhota enleia-se com
o do cão à sua direita e o do
ganso que vem na direção contrária; a sensação de movimento é-nos dada pelo calcanhar
suspenso do pé direito da senhora. SAINER aproveitou a cor
natural da fachada do prédio
como background da pintura.
A peça mural Crossroads
faz parte do PROGRAMA DE ARTE
PÚBLICA UNDERDOGS 2015. Esta
iniciativa, iniciada em Maio de
2013, passa agora a contar com
um total de 19 intervenções murais no espaço público da capital portuguesa. A UNDERDOGS,
responsável pela residência
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A r te Ur bana
criativa do artista polaco em
Lisboa, é uma plataforma internacional dedicada à arte urbana, dirigida por ALEXANDRE
FARTO (aka VHILS) e PAULINE
FOESSEL.
Texto: Rui Lino Ramalho
Foto: André Santos
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A r te
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U ntil th e q ui et c o m e s 1 31 8 , © 2 015 T H E K I D. ES C U LT U R A
E M S I LI C O N E . C O L EÇ ÃO PR I VA DA .
K
You Must
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São 23 anos de uma personalidade metade holandesa, metade brasileira –uma combinação
exótica que transparece na criatividade artística de THE KID. A
sua arte contemporânea “questiona a fronteira entre a inocência e a corrupção”. Os sujeitos
que ilustra no papel são jovens
com passados de crime, uma
“geração perdida” que retrata
a caneta, procurando encontrar
algures no caos do seu olhar
uma beleza inocente, uma vontade de redenção. Com uma
caneta BIC, confronta visualmente o observador, numa luta
artística que levanta temas políticos e sociais. Encontra na arte
uma forma de imortalizar os sujeitos das suas obras, jovens
e corrompidos, “destinados a
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D y l a n , © 2 013 T H E K I D. D ES E N H O C O M
C A N E TA B I C. C O L EÇ ÃO PR I VA DA .
D i e go, © 2 014 T H E K I D. D ES E N H O C O M
C A N E TA B I C. C O L EÇ ÃO PR I VA DA .
d
A r te
murchar como uma flor”, para
sempre presos a uma linha que
separa o inocente do corrupto. THE KID promete uma revolução imagética, um manifesto
pro-juventude em retratos duros, mas ao mesmo tempo frágeis na sua essência jovem.
Texto: Joana Teixeira
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You Must
Apex
Predator
A r te
crer que pertencem a um universo a que o público não tem
acesso de imediato. Em última
instância, parecem dirigir-se a
um público de presas.
O seu último projeto propõe a criação de uma empresa,
a DARWING VOODOO, com uma marca de lifestyle, a Apex Predator,
Desde 2008 que arte e ciência
andam de mãos dadas com a
dupla criativa de FANTICH&YOUNG,
que tem por trás MARIANA
FANTICH e DOMINIC YOUNG.
Estes artistas plásticos, residentes em Londres, procuram
estabelecer paralelos entre a
evolução social e a evolução no
mundo natural. Os seus trabalhos de caráter conceptual nascem de uma interpretação da
natureza em que a lei do mais
forte e adaptado é que vence,
daí resultando projetos esculturais carregados de uma matéria
simbólica, que apenas alguns
parecem ter capacidade de interpretar. Na verdade, fazem
que parte da teoria da evolução
das espécies e da seleção natural de Darwin. Nesse universo
fantasioso, o ser humano está
no topo da cadeia, mas ainda assim, imaginam grupos exclusivos que se entregam a práticas
secretas, onde ocorrem rituais
sobrenaturais para manter a sua
supremacia. Como já acontecia
em outros projetos, um conjunto de peças foram produzidas
para criar este universo ficcional, para clientes com um gosto peculiar. Visualmente fortes,
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destacamos os Apex Predator
Shoes, sapatos com milhares de
dentes humanos verbalizando o
lado de predadores dos destinatários. Além de dentes, cabelos e ossos humanos, são igualmente para criação de peças de
roupa máscaras e todo um conjunto de objetos bizarros, quase primitivos, mas sempre servidos em embalagens de luxo.
Texto: Marta Inês Santos
WWW.FANTICHANDYOUNG.CO.UK
You Must
A r te
Jean
Bienal de Veneza 2015
A r te
Japão abr iu c om c have(s) de ouro
contundentes. A matéria-prima encontra-a em lugares tão
triviais quanto transportes públicos ou bancos de esplanada. O artista francês desenha
acerca da deterioração dos laços sociais motivada pelo uso
compulsivo das tecnologias e
dos social media. Carregadas
de um tom satírico e indiscreto, as suas ilustrações são uma
JEAN JULLIEN é aquele tipo de
artista que não é de complicar –
e a verdade é que nem precisa. É
provável que a explicação para
isso resida no facto de, na maioria das vezes, utilizar uma escova como ferramenta de trabalho.
O ilustrador e designer gráfico natural de Nantes, França,
é especialmente vocacionado
para criar personagens e usá-las como veículo das suas inquietações. No fundo, põe nas
“bocas” da bonecada as suas
próprias palavras –que é quase o equivalente a dizer que se
autorretrata.
O motor de trabalho de
JULLIEN é mais movido por
observações fortuitas do que
propriamente por inspirações
You Must
Julien
Uma verdadeira obra de arte
não cai do céu, assim sem mais
nem menos. A não ser que estejamos a falar de The Key In The
Hand, instalação do Pavilhão
do Japão, no âmbito da 56ª
Exposição Internacional de
Arte da Bienal de Veneza. Mas
mesmo esta é de um teto que
cai, alicerçada na força sublime de uma memória coletiva.
CHIHARU SHIOTA, sua progenitora, passou o ano de 2014 a
colecionar chaves de todas as
partes do mundo – cerca de 50
mil, para sermos mais precisos.
chaves acumulam camadas incontáveis de memórias que habitam dentro de nós. Depois, a
dada altura, nós cedemos essas chaves a outros em quem
confiamos, para cuidarem das
coisas que são importantes
para nós (...)Os barcos simbolizam duas mãos a apanhar uma
chuva de memórias», explica
HITOSHI NAKANO, curador da
instalação.
A viver atualmente em
Berlim, CHIHARU SHIOTA trabalha recorrentemente com
objetos vulgares, como camas,
Ta b l et , © J E A N J U LI E N .
H olid ay T im e , © J E A N J U LI E N .
espécie de coluna de opinião
de um periódico, tanto que, se
não fosse ilustrador, queria ser
jornalista.
Desde 2012 que, a par dos
irmãos YANN e GWENDAL LE BEC,
JEAN JULLIEN tem desenvolvido a rubrica “News of the
Times”, para a qual selecionam
e ilustram notícias do dia-a-dia. É bem provável que JEAN
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JULLIEN não vos seja de todo
um estranho. O jovem francês
foi um dos artistas que se associou ao movimento “Je Suis
Charlie”, com um cartoon em
que obstrui o cano de uma AK47 com um lápis de carvão.
Até final de Maio, JULLIEN
terá a sua instalação In Case of
Ubiquity em exibição na Industrial
Colours Brand Gallery, em Nova
Iorque. Durante os seis meses
de residência criativa, fez 22
ilustrações, em janelas, que interagem com os arranha-céus
da cidade que nunca dorme.
Texto: Rui Lino Ramalho
Numa encriptação quase Roland-Barthiana, a artista
contemporânea japonesa construiu um emaranhado abissal
de fios vermelhos, aos quais
anexou milhares de signos
(i.e. chaves), cada um veiculando uma ou mais narrativas.
Debaixo desta web difusa e, ao
mesmo tempo, consensual, temos um espaço quase claustrofóbico, entre dois barcos envelhecidos e maltratados, por
onde os visitantes podem caminhar. A brincar a brincar, o
Pavilhão do Japão ficou totalmente coberto por um manto
vermelho.
«No nosso quotidiano, as
chaves protegem coisas valiosas como as nossas casas,
bens, segurança pessoal, e nós
usamo-las enquanto as abraçamos no calor das nossas mãos.
Ao estarem em contacto com o
calor humano diariamente, as
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janelas ou sapatos, para explorar a noção de memória e a sua
correlação com esses objetos.
É certo que os Leões de Ouro
foram para a Arménia e para
a norte-americana ADRIAN
PIPER, mas, pela sua viralidade e ratificação em termos
virtuais, The Key In The Hand
merece, no mínimo, a nossa
menção honrosa.
Texto: Rui Lino Ramalho
You Must
Milan Design Week
Design
Salone Inter na zionale del M obile
A tradição é certamente o pilar
que sustenta a MILAN DESIGN WEEK
—ou SALONE INTERNAZIONALE DEL
MOBILE, como os italianos preferem dizer—, um dos eventos
mais concorridos do planeta. Falar de tradição, para uma
área em constante inovação,
até podia soar pejorativo, mas
não, dadas as circunstâncias,
especialmente em tempos difíceis. Na verdade, tornou-se
a feira mais consensual, agora
que outros modelos alternativos provam as suas dificuldades em se impor nas agendas
dos profissionais. Ou seja, a
MILAN DESIGN WEEK tornou-se a
feira global que tem o design
como epicentro, mas que se
estende às mais variadas áreas
limítrofes. Milão parece ter capacidade de absorver tudo e,
na verdade, tudo se torna um
bom pretexto para expor e para
estar na maior feira do mundo.
M in i C it ysur fe r, © J A I M E H AYO N .
E xerc ise s in sit tin g,
© M A X L A M B . Fo t o: C l au d i a Z a l l a
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Será certamente esta capacidade de trazer a uma cidade, num espaço curto de tempo, um tão grande número de
profissionais das mais diferentes áreas, que faz com que
este seja um momento único,
propício a encontros e oportunidades, que de outra forma levariam muito mais tempo a se concretizarem. O peso
da indústria automóvel, assim
como da indústria da moda, é
cada vez mais evidente e, através das parcerias com estrelas
do design e arquitetura, acabam por proporcionar grandes
intervenções e assim desviar a
atenção dos media do seu foco
natural. O projeto da Mini, concebido por JAIME HAYON, foi
um bom exemplo disso. Para
promover a sua nova scooter, a
Citysurfer, a empresa alemã solicitou ao designer catalão uma
visão da locomoção futura.
Daí surgiu Urban Perspectives
–uma cidade futurista, acompanhada de um conjunto de
You Must
equipamentos que passam por
óculos, capacetes, fatos, que
para além da fantasia de um
designer, são protótipos com
um sentido prático.
Fora do Salão, o que realmente foi apresentado como
novo este ano na MILAN DESIGN
WEEK foi o programa da 5vie,
que reunia um conjunto de espaços expositivos em galerias,
museus e lojas. O programa ti-
Design
C a e se r ston e
M ovem e nts , © PH I LI PPE
M A LO U I N . Fo t o: To m M a n n i o n
M I N D C R A F T, © G A M FR AT ES I . Fo t o: J u l e H e r i n g
nha naturalmente como objetivo valorizar o património de
um dos bairros históricos da
cidade, até na tentativa de trazer público e dinheiro para o
mercado local, tal como já faz
Brera, outra zona histórica e
elegante de Milão, há várias
edições. Por outro lado, é uma
reação ao bairro vizinho, Zona
Tortona, que já foi sinónimo
do design alternativo, mas que
nas últimas edições da feira
transformou-se num espécie
de centro de peregrinação de
cerveja na mão e ruas interrompidas pela massa humana. Ou
seja, a 5vie é mais uma alternativa que trouxe espaços incríveis como velhos palácios, dinamizou os museus do bairro e
deu a conhecer algumas jóias
da produção artesanal de luxo,
que ainda se mantém em Milão.
De resto, grande parte dos focos de interesse do programa
já eram conhecidos e antecedem esta organização, como
é o caso do Spazio Rossana
Orlandi, que desde sempre reúne o melhor do design atual,
apresentado sempre de forma
tão despretensiosa. Tem sido
uma seta em Itália do design
jovem e independente, sempre
marcado por jovens holandeses. No entanto, a rainha deste ano, foi uma eslovena, NIKA
ZUPANC, (ver texto seguinte)
que ocupou um espaço adjacente gerido nos últimos anos
pela Sé London. Sendo uma
das designers controversas do
momento, tornou-se um dos
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pontos fortes do programa da
5Vie, que ainda tinha para oferecer uma exposição de MAX
LAMB —Exercises in Seating—
centrada na ideia de assento.
Eram 25 projetos nos mais diversos materiais brutos, expostos em círculo numa antiga
garagem abandonada, um cenário perfeito para peças que
em muitos casos se aproximam a esculturas.
Alguns dos projetos mais
mediáticos desta edição partem
precisamente da capacidade de
adaptação ao espaço. Mindcraft,
uma mostra de designers dinamarqueses, que contou com a
espetacular conceção de espaço do atelier GamFratesi, foi um
exemplo disso. Merecidamente
premiado, o projeto criou uma
superfície espelhada no centro claustro do convento de
Sam Simpliciano, sobre a qual
pousavam iglos de ferro que
protegiam as obras expostas
ao centro. Também PHILIPPE
MALOUIN apresentou um conjunto de jarras realizadas a partir de materiais de pavimentos
da Caeserstone, mostra que teria passado despercebida, não
fosse a associação a um gigantesco baloiço montado numa
sumptuosa sala do Palazzo
B o sa A n im a lita , © S A M B A RO N .
You Must
Design
You Must
Design
Nika Zupanc
Design G lam — MILAN DESIGN WEEK
© M O O O I . Fo t o: A n d r ew M e r e d i t h
Serbelloni, que acolhia a exposição. Para quem vem em grande maratona para não perder
nada, baloiçar terá sido, certamente, uma das melhores experiências do dia. Para muitos, esta ficará como a imagem
mais forte desta edição.
Quando falamos de projetos fora do salão, Tortona
ainda é um local obrigatório,
especialmente se conseguirmos evitar as enchentes de
curiosos, ou seja, tentar realizar este percurso nas primeiras horas da manhã. Contudo,
Tortona está cada vez mais reduzido ao pavilhão da Moooi,
empresa holandesa liderada
por MARCEL WANDERS, que
até agora tem parecido insensível a um panorama de crise.
É sempre expectável um grande número de novidades, que
este ano recaíram num conjunto de tapetes realizados a
partir da impressão fotográfica. O foco está numa tecnologia avançada que permite uma
resolução nunca antes alcançada. Os resultados à vista
são excelentes e as primeiras edições contaram com colaborações dos STUDIO JOB
ROSS LOVEGROVE, FRONT,
CHRISTIAN DELACROIX e
EDWARD VAN VLIET, entre
outros.
© M O O O I . Fo t o: A n d r ew M e r e d i t h
Mas quem procura design
mais alternativo, sem dúvida,
terá que se virar para Ventura
Lambrate, que nos seus cinco
anos de existência, conseguiu
impôr-se como zona obrigatória. É um quarteirão igualmente industrial, parecido com o
da Tortona, mas que se reclama mais alternativo. Ou seja,
à medida que os jovens designers deixaram de ter acesso à Tortona, a zona alternativa por excelência, agora cada
vez mais ocupada pelas iniciativas das grandes empresas
e das representações nacionais, Ventura Lambrate constituiu-se como nova alternativa.
T h e A n im a l Pa r t y,
© J ES S I C A D U B O C H E T.
16
© JA I M E H AYO N .
Evidentemente, o fenómeno vai-se repetir e desta vez já vimos
a Noruega estrategicamente
colada ao novo espaço alternativo. Mas Lambrate tinha muito
para oferecer nesta edição e um
seus dos grandes destaques foi
para a instalação do grupo holandês We Make Carpets, constituído por MARCIA NOLTE,
STIJN VAN DER VLEUTEN e
BOB WAARDENBURG –que simulam tapetes com padrões a
partir de objetos do dia a dia,
dispostos no chão. Tudo o que
podemos encontrar numa cozinha tem sido nos últimos
cinco anos motivo das suas
experiências.
Texto: Francisco
Vaz Fernandes
A designer eslovena NIKA
ZUPANC apresentou, na ainda recente feira de Milão 2015,
novo mobiliário, onde é explícito um recurso a uma imagética de luxo. A coleção de peças
foi desenvolvida sob a égide da
marca britânica Sé e exposta
pela primeira vez no espaço de
Rossana Orlandi, onde se pode
ver um sofá gigante, uma multiplicidade de cadeiras de sala
de jantar e atualizações de peças anteriores.
A designer NIKA ZUPANC
desperta algumas reflexões sobre os temas design de luxo,
objetos de figuração e símbolos de status. Além do mais, espelha o tema do Gosto a que se
referia GILLO DORFLES, na sua
conhecida obra de referência,
"As Oscilações do Gosto". Quando
observamos a obra de NIKA
ZUPANC, assola-nos à mente, e de imediato, um princípio
universal, de que a preocupação primordial do designer desenvolve-se em torno, e face, à
sociedade. Espera-se que o designer desenvolva o seu próprio trabalho, exprimindo as
necessidades e valores dessa
sociedade –em termos marxistas, como nos refere DORFLES,
"a justa atitude sociológica".
Em NIKA ZUPANC, o design parece estabelecer uma trajetória
inversa a este princípio e recorda o papel desempenhado pelo
artista, muitas vezes desenvolvendo-se contra o seu próprio
tempo: "Em que o artista está
em oposição ao seu tempo e
às condições sociopolíticas em
que se encontra e dentro das
quais deve operar".
Ao invés, NIKA ZUPANC
oferece-nos um desfile de objetos que lembram DORMER
e a metáfora da "pornografia".
Na realidade, estes são objetos que evocam a ideia de que
o design de luxo não é concebido para servir uma necessidade, mas apenas para provocar
uma excitação. Sem esquecer
que essa excitação é vivida de
forma extrovertida, socialmente e em comunidade, ao contrário da "pornografia" que, de
um modo geral, é uma atividade vivida de forma introvertida
e privada.
As peças de NIKA ZUPANC
situam-se na categoria dos objetos de figuração, objetos
destinados a serem comprados por aqueles que gostariam
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de pertencer a um determinado extrato social, ou que gostariam de ser ricos. E essa figuração permite que o artista,
ou neste caso o designer, sem
culpa, desenvolva um design
onde não há tabus sobre o que
se pode fazer quando se tem
oportunidade de possuir estes
objetos: ostentar, exibir.
O objetivo poderá ser
transformar todo um grupo de
objetos vulgares numa versão
cara dos mesmos. Em boa verdade, este despudor em exibir
produto de luxo exalta e permite, ou pelo menos evidencia, a
sensualidade, o glamour e uma
forma voluptuosa de viver uma
certa cultura.
Texto: Carla Carbone
You Must
Festivais
de Verão
Músic a
SUPER BOCK SUPER ROCK
A DFA Records, de James
Murphy, pode já não gozar da
mesma vitalidade dos tempos
dos LCD Soundystem, mas foi
por lá que, em 2012, conheci
Sinkane. Aos menos atentos,
tenho a dizer: este é um dos
concertos que se vão arrepender de perder quando toda a
gente começar a falar nele! E
porquê? Uma voz caramelosa,
ritmos inspirados numa África
feliz e baixos groovy que te vão
fazer querer agarrar a alguém e
arranjar companhia para essa
noite.
O salvador do salvador da pátr ia.
PLANETARY
ASSAULT SYSTEMS
CHANCHA VIA CIRCUITO
FESTIVAL MÚSICAS DO
MUNDO (FMM SINES)
Ainda se lembram de
Nicolas Jaar? Agora imaginem
um tipo com ar menos enfadonho e com música mais original. PEDRO CANALE irá levar ao
FMM Sines eletrónica misturada com raízes orgânicas (instrumentais e vocais), que se expandem ao folclore mexicano e
às cumbias colombiana, peruana e argentina.
PEAKING LIGHTS
MILHÕES DE FESTA
Conheci os PEAKING LIGHTS
no início de 2012, através da
Rádio Oxigénio. Na altura, tocava uma remistura atmosférica que me lembrou os temas de
boa gente de Chicago, como o
Larry Heard. Lembro-me de ter
gostado também dos tiques eletro funk que facilmente foram
explicados quando soube que
era uma versão de Dam Funk.
Fui à internet e descobri que os
PEAKING LIGHTS eram um casal
com um bebé, jovens com ar de
quem vive numa casa de madeira no meio da floresta e que oferecem tartes de frutos silvestres
às visitas. Porém, a julgar pela
sua música contemplativa, lo-fi,
Cinema
Capitão F a l c ã o
orgânica, dub, hipnótica e preguiçosa, diria antes que as tartes são de canabinóides! Bom!
SINKANE
You Must
ROBERT HOOD
NEOPOP ELECTRONIC
MUSIC FESTIVAL
Alega-se que Detroit é o
berço do techno, uma mistura imaginada por um grupo de
miúdos que ouvia o “MIDNIGHT
FUNK ASSOCIATION”, um programa
de rádio onde Electrifying Mojo
rodava discos de soul, funk,
eletrónica europeia e até new
wave! ROBERT HOOD faz parte
de uma colheita um pouco tardia onde se incluem Mike Banks
e Jeff Mills, parceiros de guerra e membros fundadores dos
Underground Resistance."Make
your transition!".
18
FESTIVAL FORTE
Numa altura em que a
Alemanha é o território no
qual grande parte dos amantes de techno concentram as
suas atenções, o britânico
Luke Slater, sob o disfarce de
Planetary Assault Systems,
toma de assalto o Castelo de
Montemor-o-Velho e acredito
que vai mostrar que os produtores da Terra de Sua Majestade
também estão FORTES!
Primeiro
filme
s
ê
u
g
u
t
r
o
p
sem o
Nicolau
Breyner
Numa altura em que os super-heróis estão a invadir todos os
ecrãs, a ausência de um representante português começava
a fazer-se sentir. JOÃO LEITÃO
decidiu colmatar a falha, criando Capitão Falcão. Aplaudida
como
curta-metragem
no
MOTELX, em 2011, e depois rejeitada como série televisiva,
a ideia ganhou pernas e chegou finalmente ao grande ecrã
como longa-metragem. O filme
leva-nos ao Portugal de 1968.
Sob a égide direta de António
Salazar, cabe ao Capitão Falcão
lutar contra as forças subversivas que ameaçam a estabilidade da Nação. O que os portugueses fazem melhor é rir,
portanto o tom nunca seria outro que não comédia. Capitão
Falcão ousa pegar num período
histórico infeliz e construir uma
sátira hilariante e inteligente.
«Deus, Pátria, Família» (reescrito para «Salazar, Pátria, os
comunistas são a corja da sociedade») alia-se a uma ação
estilo BD, estética retro e referências óbvias aos antigos êxitos de super-heróis,
para contar a história de um
anti-herói egocêntrico e iludido, que defende ferrenhamente os moldes e ideais
distorcidos do Estado Novo.
GONÇALO
WADDINGTON,
DAVID CHAN CORDEIRO, MIGUEL
GUILHERME, JOSÉ PINTO são alguns dos nomes a salientar
entre todo um elenco e enredo
que conseguem manter o público a rir ininterruptamente.
Texto: Claúdia Aleixo
JAZZANOVA FEAT.
PAUL RANDOLPH
LISB-ON #JARDIMSONORO
Enquanto os Festivais
NEOPOP e FORTE se apresentam como referências para os
amantes de techno de estilo
mais dark, o LISB-ON nasce e
traz a Lisboa nomes associados a estilos mais solarengos:
soul, funk, jazz funk, acid jazz,
disco, house e techno mais
americano do que europeu.
Entre as poucas confirmações
até à data, ouvir e ver a banda
dos Jazzanova com a voz de
Paul Randolph é uma das coisas que me faz crer que comprar o bilhete já vale a pena!
Primeiro
filme
portuguê s
sem a s
maminha s
da Soraia
Chave s
Texto: Marcelo Lisboa
19
Verdadeiro
O nosso hip hop começa finalmente a perceber que o seu tecido não se pode fazer apenas
de linhas underground e que
precisa também de ídolos com
potencial pop.
Ver JIMMY P em palco é entender todo o seu potencial. Ao segundo álbum,
FAMILY FIRST, sucessor de #1,
JIMMY ergue-se com uma força
Jimmy P
tremenda que, ainda recentemente, provou ter estofo para
aguentar o estatuto de cabeça de cartaz num espectáculo
do Coliseu, papel que repartiu com a dupla SAM THE KID
/ MUNDO. Esse estatuto resulta, claro, do binómio que todos os livros apontam como
crucial para se obter sucesso:
trabalho e talento.
Músic a
Ídolo
No novo álbum, que começou por se anunciar com a
bomba Marcha, tema em que
surgiam também VALETE e DJ
RIDE, JIMMY aborda questões
simples, de relações entre
pessoas que se apaixonam,
entre amigos. JIMMY P entendeu que é preciso falar com as
pessoas, comunicar com elas
na mesma língua, falar-lhes
de assuntos correntes, importantes naquela fase em que já
não se é criança e ainda não
se sente o peso total da idade adulta. E essa é uma virtude. A música, como de resto
toda a arte, deve ocupar todos
os espaços. Deve servir para
combater, para pensar, para
relaxar ou simplesmente para
comentar o que se passa à
nossa volta. E JIMMY P tem as
histórias certas e as palavras
que parecem estar a fazer eco
junto de uma geração. E não
há como não aplaudir isso.
Num disco que inclui participações de AGIR ou JÊPÊ, que
navega pelas águas do hip
hop, mas também se aproxima do R&B, reggae e até rock,
percebe-se que a música foi
feita para a dimensão de palco
e para comunicar com multidões. E o hip hop também precisa disso. Podem confirmar a
força num palco próximo de
vocês. Como por exemplo no
Sudoeste, já este Verão.
Texto: Rui Miguel Abreu
Foto: Carlos Ramos
20
© 2015 AirWair International Limited. All Rights Reserved
You Must
“I STAND
FOR PRIDE.”
SAM
STANDFORSOMETHING
DRMARTENS.COM
You Must
K
M oda
L
A
22
R
You Must
Nas palavras dos criadores, KLAR é sinónimo de
“Clarificação, límpido, distinto
e consciente”. ANDREIA OLIVEIRA,
TIAGO CARNEIRO e ALEXANDRE
MARRAFEIRO juntaram-se em
2012 e no ano seguinte foram
apresentados ao panorama
nacional, através da plataforma Bloom do Portugal Fashion.
Vêm de diferentes back­
grounds e contribuem com diferentes perspetivas para uma
marca que respira inovação:
“Queríamos estruturar o pensamento e conceito de uma marca
enquanto produto de design e
de evolução ética, a necessidade de praticabilidade e a noção
de sustentabilidade”, afirmam.
Assim nasceu a KLAR.
Inserida no seu próprio
universo criativo e com uma
estética sofisticada e apurada,
M oda
a marca afirma-se numa perspetiva contemporânea, em que
a aposta em novas tecnologias
conceptualiza coleções despidas de preconceitos. Este
ano, no Portugal Fashion, para
as propostas outono-inverno,
os jovens criadores apresentaram uma coleção clean, com
linhas estruturadas, onde os
tons black&white imperaram.
O resultado? Peças soft and
loose, que emitem um espírito
23
de descontração, sportswear e
muito casual.
A marca portuguesa, que
caminha em fast foward para
se afirmar no mercado da moda
nacional, procura conquistar
novos públicos e “continuar
a investir na internacionalização e consciencialização da
marca. O epítome será K L A R
como uma marca sustentável
e green, esteticamente atual e
appealing”.
Texto: Marta Inês Santos
Foto: Sal Nunkachov
Leg: KLAR@backstage
da coleção SS2015 no
Portugal Fashion, Porto
You Must
M oda
C O S
Birkenstock
A filosofia da BIRKENSTOCK inspira-se na fisionomia natural do pé e a sua palmilha é desenhada para espelhar a forma de um pé saudável e
para proporcionar a sensação de caminhar descalço. Para homem, destacamos o modelo clássico Arizona, que nesta nesta Primavera-Verão tem
uma edição de luxo, com apontamentos de moda
e materiais premium. Para as mulheres, a coleção
é sempre extensa, especialmente no que se refere
ao modelo Gizeh, um bestseller da marca junto do
público feminino. A pensar numa jovem urbana, a
coleção veio com uma paleta de cores vibrantes
e matérias brilhantes. Também os prints não faltaram, em geral com motivos florais ou com um
look étnico, incluídos no portfólio da Papillio, uma
linha dentro da marca alemã a pensar na mulher
mais alternativa.
A COS criou uma coleção cápsula para a plataforma de vendas online Mr Porter, a pensar no viajante moderno. Em entrevista à PARQ, MARTIN
ANDERSSON (ler em www.parqmag.com), responsável pela equipa de design da COS, refere que,
é antes de tudo, uma coleção que segue o princípio da intemporalidade defendido pela COS, mas
com pequenos ajustes para que pudesse responder melhor ao perfil do clientes da Mr Porter, bem
como a questões práticas. É uma coleção constituída por 23 peças, pensada a partir de uma
economia de meios, onde as questões da acomodação da roupa na bagagem, assim como a
versatilidade de cada peça, estiveram em foco.
Ou seja, conta apenas com as peças essenciais
na mala de um viajante, que tanto podem ser
usadas numa situação mais formal como informal. Esta é a primeira colaboração da COS com
uma platafoma de comércio online, que segundo
MARTIN ANDERSSON, lhes vai permitir chegar a
um consumidor global.
Texto: Maria São Miguel
24
You Must
A influência do modelo de
homem passado de geração
para geração tem diminuído
comparativamente aos padrões que nos chegam a partir das imagens difundidas
pelos mais diversos meios.
Certamente, a moda tem sido
um dos mais prolíferos produtores que, em muito, tem
contribuído para estender as
fronteiras da masculinidade.
De resto, MARIO TESTINO tem
sido um dos seus principais
agentes, pela forma como o
homem tem sido moldado a
partir da sua câmara.
Para o sul americano, a
masculinidade é, desde que
chegou à fotografia, um enigma que tem ganho densidade com o número de trans-
Texto: Francisco Vaz Fernandes
formações a que assistiu. O
seu percurso de mais de 30
anos tem sido um testemunho documental disso, até
porque, como repetidas vezes disse, vê a sua fotografia
como um retrato fiel da forma
como o homem se expõe. Ou
seja, para TESTINO tudo mudou radicalmente: os rostos,
o corpo, a atitude, o estilo e,
em última análise, a aceção
que cada um tem da própria
masculinidade.
yes SIR
Nesse sentido, quando
lhe foi proposto pela Taschem
criar um livro com base no
seu espólio fotográfico, tendo como objetivo uma composição da essência do homem,
de imediato veio-lhe à memória um conjunto de imagens
icónicas, verdadeiros testemunhos dessa revolução. Ao
todo, HELLO SIR reúne mais de
300 imagens, numa viagem de
três décadas, que nos levam
a vários modelos homem, que
vão desde o dandy ao gentleman, passando pelo macho
e pelo andrógeno. Uma parte
dessas imagens é apoiada nos
M oda
rostos de figuras públicas,
mas também segue o olhar de
muitos desconhecidos.
HELLO SIR é uma edição de
luxo, limitada a 1000 exemplares, numerados e autografados.
Texto: Francisco
Vaz Fernandes
You Must
Bike
Pinarello
Cycling
Nascida de uma colaboração entre a PINARELLO
e a JAGUAR, a DOGMA K8-S é a primeira bicicleta
no mundo especialmente concebida para pisos
empedrados e exigentes. Desenhada para os ciclistas do Team Sky, a PINARELLO DOGMA K8-S apresenta um quadro leve (900 gr), que contém, pela
primeira vez, um sistema de suspensão exclusivo e escoras planas em carbono, que permitem
um conforto absoluto. O quadro inovador oferece
maior segurança e ajuda o ciclista a reduzir o seu
nível de fadiga. As garantias são dadas pelos longos meses de testes em laboratório e no terreno,
envolvendo acelerómetros, potenciómetros e instrumentação GPS.
Texto: Rui Lino Ramalho
You Must
Bike
F10
Graças à robustez do seu quadro e garfo em aço, com a
FOLDING F10, da ORBEA, não
há razões para te preocupares
com a tua bagagem de aeroporto. Esta bicicleta foi feita para
durar. É a companheira ideal
de viagem, uma vez que o seu
design de quadro dobrável permite ao utilizador fugir a taxas
adicionais e às dores de cabeça com as limitações de bagagem das companhias aéreas.
Reduz o tamanho da tua carga e faz com que as tuas férias
com bicicleta sejam mais proveitosas. A FOLDING F10 está à
venda por 379€.
Texto: Rui Lino Ramalho
CYCLING PERFORMANCE é a nova coleção LE COQ
SPORTIF para a temporada de Primavera/Verão
2015. A pensar nos amantes do ciclismo, a marca tricolor francesa recorreu precisamente aos
mesmos materiais utilizados pelos peritos do
Tour de France.
Especialmente desenhada para o homem
desportista, elegante e moderno, desde as cores
aos têxteis, passando pelos estampados, CYCLING
PERFORMANCE é composta por cortaventos, maillots,
cullotes, luvas e punhos. Para os dias de maior calor, a LE COQ criou uma camisola ultra ligeira.
Graças à sua variedade de materiais, alta comodidade e logotipos reluzentes, esta é a oportunidade ideal para se tornar no ciclista mais elegante do pelotão.
Texto: Rui Lino Ramalho
26
501CT
Tudo merece uma reforma e até
os icónicos 501, da LEVI’S, sofreram uns ajustes, nascendo
os 501CT, ou seja o neto rebelde. As LEVIS 501, com a intemporal perna direita, corte folgado
e a braguilha com botões, conquistaram o estatuto de jeans
mais desejados do mundo, sendo usados geração após geração e personalizados ao sabor das modas do momento.
As vezes apertando a perna e
descaindo a cintura. A pensar
nisso, a LEVI’S pegou nos 501
originais, customizou-os e afunilou-os dos joelhos para baixo, construindo o corte perfeito
e uma versão moderna de uns
27
jeans clássicos. Dependendo
do tamanho escolhido ou do
look desejado, os novos 501CT
podem ser usados um número
abaixo, no seu tamanho habitual, ou um número acima, mais
folgado na coxa. É tudo uma
questão de cintura: colocado
bem acima no ponto ou bem a
baixo, três atitudes, três looks
diferentes.
Texto: Maria São Miguel
You Must
M oda
Smart Watch
Numa colaboração exclusiva com a SURFLINE, a
NIXON apresenta o seu novo relógio ULTRATIDE, o
primeiro com as condições para a prática do surf
em tempo real. Com o ULTRATIDE no pulso, o surfista fica a conhecer o tamanho da onda, a direção do
swell, a direção e velocidade do vento, a temperatura do ar e da água e a classificação da SURFLINE.
Ah!, também dá para ver as horas, claro.
Vintage Ads
O ULTRATIDE representa a evolução na tecnologia de relógios de surf, resultado de uma extensa pesquisa e desenvolvimento e uma parceria
exclusiva com a SURFLINE, maior e mais credível fonte para condições de surf do mundo. Toda
a informação é disponibilizada, em tempo real no
pulso do utilizador, ao qual é permitido configurar alertas personalizados para cada local. Ao
praticante, são fornecidos 10 pontos de detalhe
das condições em tempo real, o que corresponde
a dez vezes mais informação do que a fornecida
por outros aparelhos desta natureza.
Para esta actual estação, a LACOSTE apresenta LACOSTE L!VE VINTAGE ADS, uma coleção cáp­sula
que homenageia, de forma divertida, as campanhas publicitária da marca em 1970.
L!VE VINTAGE ADS con­trasta o branco dos pólos com os ocres bar­ren­tos dos courts de ténis,
impri­mindo temas vin­tage nas peças essen­ci­ais
do guarda-​​roupa L!VE. A paleta é colo­rida e evoca
os tons satu­ra­dos de um verão sem fim.
A nova cole­
ção cáp­
sula LACOSTE L!VE está
dis­po­ní­vel para venda nas bou­ti­ques Lacoste do
Colombo, Braga Parque, Dolce Vita Porto e Aveiro.
Texto: Rui Lino Ramalho
Texto: Rui Lino Ramalho
Good Vibes
Se eleger os festivais não é tarefa fácil, na hora
de escolher o outfit a opção certa chama-se
MERRELL. A marca outdoor número um do mundo
é mestre em performance em qualquer terreno e
um exemplo de conforto em qualquer ocasião, seja
no meio de um moche ou num ambiente chill out.
A coleção Primavera-Verão é prática, colorida e
cheia de estilo, o que a torna muito versátil para
combinar com os mais diferentes outfits. Este Verão
sente a good vibe da Merrell ao som de boa música.
Texto: Maria São Miguel
28
You Must
Belez a
Beauty
Beauty
Beauty
dedica às mulheres. Numa
nova embalagem, mais
afirmativa, esta água de
colónia contém notas de
essência de Néroli e flor
de laranjeira e uma base
amadeirada almiscarada.
A partir de 76,50€.
Effortlessly
chic
Tal como a estética de MARIA
GRAZIA CHIURI e PIERPAOLO
PICCIOLI, diretores criativos
da Valentino, o perfume UOMO
só se revela se fizermos
zoom. Os ingredientes foram
cuidadosamente escolhidos
para compor uma fragrância
que celebra o homem
sofisticado e genuinamente
elegante em todas as ocasiões.
Luna Rossa
Sport
A PRADA lança um novo
aroma de verão para o homem
que procura a aventura e não
tem medo de procurar os seus
limites. Vai beber ao imaginário
da equipa que conduz o LUNA
ROSSA, o veleiro patrocinado
pela PRADA na maior prova
de veleiros do mundo, a Volvo
Ocean Race que terá Lisboa
numa das sua etapas. Esta é a
terceira versão deste perfume,
desta vez, mais Sport com as
notas frescas e minerais de
gengibre, zimbro, lavanda,
baunilha e tonka bean.
Jogo de Luz
Para recriar o efeito dos
primeiros raios de sol, a
GUERLAIN apresenta o POUDRE
DUO BONNE MINE NATURELLE, da
linha Teracotta Joli Teint. Os dois
tons que compõem este pó
bronzeador complementamse e basta um movimento
circular com o pincel para
os combinar. O tom quente
deixa a pele naturalmente
bronzeada e o tom alperce dá
frescura às maçãs do rosto.
Texto: Beatriz Teixeira
Dandismo num
frasco
Moderna, audaz e elegante.
É assim GENTLEWOMAN, a
fragrância masculina de
Juliette has a Gun, que se
29
You Must
Buy
Converse
Birkenstok
Le Coq Spor tif
You Must
Buy
DC
Converse by Missoni
Fred Perr y
Le Coq Spor tif
Car ven
Pepe Jeans
Adidas Originals By Rita Ora
Moschino
Lazy OAF
Liu Jo
30
Acne Studios
Aristrocrazy
Andy Warhol By Pepe Jeans
Adidas Originals by Farm
New Era
Merrell
O'Neill
Franklin&Marshall
31
Ray- Ban
Soundst ation
Blur
Surpreendentemente, os BLUR regressam aos
discos com canções originais, editando MAGIC
WHIP. Surpreendentemente porque, já ninguém
esperava um novo álbum da banda, passados 16
anos do lançamento do último registo, em 1999. E
surpreendentemente porque MAGIC WHIP é mais do
que o reavivar dos momentos gloriosos do grupo. Esta é a história de um álbum que nasceu no
outro lado do mundo.
A saída controversa do guitarrista GRAHAM
COXON em 2003, altura em que a banda se preparava para lançar o álbum THINK TANK, deixou
marcas profundas. Nem a sua reunião em 2009
para concertos no Hyde Park, nem mesmo a edição de temas novos, comemorativos do RECORD
STORE DAY (Fool’s Day e Under The Westway), resultou num formato LP, embora possa ter criado
essa ilusão.
Mais tarde, entusiasmado com o resultado
da sessão num pequeno estúdio de Hong Kong
em 2013, devido ao cancelamento de concertos
no Japão e Taiwan, GRAHAM COXON convida o
produtor STEPHEN STREET, com quem os BLUR
trabalharam em meados dos anos noventa, para
testar o material produzido.
O guitarrista assume que a concretização
deste álbum se deve à sua reconciliação com
a banda, naquilo que vê como um processo de
auto-cura. Convencido pelos argumentos e entusiasmo de COXON, DAMON ALBARN, fez o ano
passado, uma paragem de dois dias em Hong
Kong, durante a apresentação ao vivo do seu último disco a solo. O resultado é notório nas letras
das canções que refletem a visão do artista sobre
a cidade, e as suas preocupações politicas e sociais, ao mesmo tempo que a sua relação de amizade com o parceiro da banda.
A gigante metrópole asiática é o palco de
uma cena que poderia ter saído da imaginação de romancistas como Aldous Huxley ou
George Orwell. A cidade, musa inspiradora, é
desde logo denunciada na capa pelos caracteres e néons. O sentir-se por vezes alienista,
outras apenas o espectador de um fervilhante pulsar humano, por vezes esmagador, claustrofóbico até, está espelhado em temas como
Thought I Was A Spaceman, Lonesome Street e
There Are Too Many Of Us.
Lonesome Street inscreve-se classicamente
no género Indie-Pop, que nos remete para a era
THE GREAT ESCAPE, abre o disco e faz de imediato a
ponte com o passado. Go Out e I Broadcast inscrevem-se igualmente nessa abordagem, marcando
fortemente a presença química da dupla ALBARN
e COXON, na conjugação perfeita entre a vocalização e os riffs das guitarras.
32
Soundst ation
Blur
A voz melancólica, e em alguns momentos maquinalmente fantasmagórica, denuncia uma maior
amplitude dos territórios já explorados pelo cantor,
sobretudo no seu último disco. New World Towers é
o exemplo perfeito e traça elegantemente a arquitetura da cidade, através de uma bateria subtil, um
órgão inusitado e uma guitarra cristalina.
Ice Cream Man e Ghost Ship trazem uma atitude descontraída, muito próxima de um ritmo soul,
rico em batidas solarengas, a desejar momentos
felizes, fraternos, e com uma boa dose de joie de
vivre. Ainda nesta linha de pensamento, embora
estruturalmente mais vocacionada para a construção rock, Ong Ong mantém a boa disposição.
MAGIC WHIP despede-se com Mirrorball, uma
balada na mesma matriz de Miss America, do álbum MODERN LIFE IS RUBBISH, conjugando magistralmente os arranjos musicais com aquilo que a
banda tem de melhor: quatro músicos exemplares carregados de experiências e de um amor incondicional pela música.
Embora se pressinta uma certa ressaca dos
álbuns de DAMON ALBARN, como o do ano passado EVERYDAY ROBOTS, há também referências
aos seus projetos paralelos como os GORILLAZ
e THE GOOD, THE BAD & THE QUEEN. A verdade
é que o contributo dos companheiros no novo álbum da banda, eleva-o a patamares próximos dos
Quase como oposição, musicalmente falando, Pyongyang revela também uma estupefação
política sobre a Coreia do Norte, num registo em
camadas, que sobrepõe as vocalizações e as linhas de cordas, como se fossem tocadas debaixo de água.
As coisas tornam-se efetivamente mais pessoais em My Terracotta Heart. Numa construção
mágica, combinando a secção rítmica, as guitarras e as linhas do baixo com a voz de DAMON,
atinge-se um relato muito honesto e sentido do
quão difíceis foram as suas relações. Porém, perdoadas as diferenças, caminha-se agora para um
patamar onde é possível conviver com o passado,
culminando no reatar de uma profunda amizade.
anteriores registos dos BLUR, mas com a paleta
mais alargada. COXON não hesita em definir o álbum como Sci-fi Folk.
Há sobretudo neste álbum uma vontade de fechar um ciclo que tinha sido interrompido abruptamente, devolvendo ao futuro um novo horizonte
que se espera mais feliz. Não querendo com isto
dizer que vão haver novos discos da banda, mas
seguramente deixa em aberto essa possibilidade.
Seguramente, os laços da banda saem mais fortificados. Seguramente, a sua música ganhou uma
nova dimensão. Seguramente, o quer que o futuro reserve será com certeza mágico.
33
Texto: Carlos Alberto Oliveira (www.punch.pt)
Soundst ation
Tyler, the kid
TYLER THE CREATOR sucede a BASTARD, GOBLIN e
WOLF com um novo álbum, CHERRY BOMB, trabalho
que prossegue a sua singular visão artística e lhe
planta ambos os pés em firme terreno para o ano
da graça de 2015.
Não há dúvidas. Para o melhor e para o pior,
TYLER THE CREATOR mudou o jogo do rap.
Quando o coletivo ODD FUTURE começou a dar
nas vistas nos alvores da presente década, TYLER
contava apenas 19 anos, mas já era uma tremenda força criativa. Foi, nomeadamente, dos primeiros a perceber que as dinâmicas de criação, edição e de gestão de carreiras se tinham alterado
profundamente com a chegada da internet. A sua
juventude, mas também a sagacidade do seu intelecto, permitiram-lhe entender desde logo que
este era um mundo diferente que comunicava de
forma diferente. TYLER começou por estabelecer o seu coletivo ODD FUTURE no tumblr e usou
as redes sociais como trampolim para conseguir
um dos mais importantes capitais do presente
- visibilidade.
Claro que a sustentar tudo isso existe a música. Mas é preciso entender que o rap é apenas um
dos aspetos do que TYLER faz. E TYLER faz muita
coisa: ele é street smart, entendeu a cultura skate
34
Soundst ation
Tyler, the kid
como poucos, usou-a para forçar uma imagem diferente, transformou isso numa marca, criou roupas, programas de televisão. Criou, enfim, um
personagem. TYLER, o criador. Talvez uma tradução mais apurada seja até TYLER, o criativo.
Entretanto, esgotadas as três sessões com
o seu psico-terapeuta, o Dr TC, que oferece a
moldura conceptual para os três primeiros álbuns, TYLER chega a CHERRY BOMB, o seu álbum
pop (?). Para trás ficam canções repletas de temas abjetos, como a violação, e uma suposta homofobia, que na verdade nunca fez sentido –ele
é afinal de contas um dos mais firmes apoiantes
no que à arte das rimas diz respeito –ouça-se o
que EARL SWEATSHIRT faz em I Don't Like Shit, I
Don't Go Outside, por exemplo– e tenha decidido
afirmar a sua condição de produtor. TYLER declarou paixão por STEVIE WONDER, convidou LEON
WARE e até gravou cordas no estúdio de um famoso compositor de Hollywood, o que aliás gerou um tweet de incrível humor, algo como "pensei em Rick Ross para o tema 2Seater mas acabei
antes por escrever e gravar uma secção de cordas
no estúdio de Hans Zimmer". O jazz parece ser
afinal de contas uma ambição natural para esta
nova geração de Los Angeles –além de TYLER
de FRANK OCEAN. O que TYLER entendeu desde logo é que no oceano da internet não vale a
pena esbracejar. O importante mesmo é chocar.
E chocar é uma estratégia tão válida como apaixonar, seduzir ou inspirar. Escolham qualquer
outro verbo mais inofensivo se quiserem, mas
TYLER gosta mesmo de chocar.
Em CHERRY BOMB, TYLER parece também
apostado em sublinhar a sua veia de produtor,
afinal de contas ele tem sido uma força constante em praticamente todos os trabalhos do coletivo ODD FUTURE. Talvez ele tenha percebido que
há companheiros mais fortes do que ele mesmo
podem igualmente apontar-se os exemplos de
KENDRICK LAMAR ou FLYING LOTUS. Inspirado
em PHARRELL, que aliás surge no álbum, como
também surgem LIL WAYNE ou KANYE WEST,
inspirado no rock dos STOOGES que certamente
ouviu enquanto skatava nas ruas de LA, TYLER
criou um disco dinâmico, variado e divertido que
o posiciona, uma vez mais, na linha dianteira desta cultura. E a fasquia continua a elevar-se: há
quanto tempo o hip hop não tinha um ano como
este 2015? E ainda mal vamos a meio...
35
Texto: Rui Miguel Abreu
C entral Parq
Redes Soc iais
C entral Parq
De rede social de partilha de comida a diário visual de viagens de
fazer inveja, o Instagram caiu nas graças de fotógrafos profissionais e
amadores. Há quem partilhe fotografias captadas com câmaras reflex
e lentes XPTO, e há os novos fotógrafos de iPhone em punho –a
comunidade criativa da maçã, que compensa os poucos megapíxeis
das imagens com construções visuais originais, que atraem seguidores
e “hearts”. O Instagram serve agora também de montra virtual de
fotografias, de Portugal para o Mundo, à distância de um @username.
Redes Soc iais
@ mariana_ msr
Texto: Joana Teixeira
@catsanches
CATARINA SANCHES é uma
jovem alfacinha, de 26 anos,
que trabalha em Marketing
e Comunicação Digital. A
sua estratégia no Instagram
é colorir o ecrã de alguém
todos os dias, com imagens
divertidas e um grande
investimento em acessórios
para construir imagens
curiosas. 39.700 seguidores
acompanham a sua paixão
pela fotografia como uma
ferramenta através da qual
desconstrói o mundo à sua
volta, partilhando a sua
perspetiva com a realidade
virtual. Vê o Instagram como
“um alimento à inspiração”,
que serve de “motor de
busca” diário da criatividade.
CATARINA fotografa “histórias
36
com pessoas dentro” e
também conta fantasias visuas
com autorretratos de rosto
escondido. As selfies são
supervalorizadas? Para ela,
são “uma tendência natural do
ser humano –Me, Myself and I”.
MARIANA RODRIGUES é uma
ilustradora de 28 anos, a viver
em Londres. No Instagram,
é uma artista de sombras
e contrastes, com imagens
que brincam com o corpo
e o colocam em simbiose
com elementos da natureza.
Encara a fotografia como
“uma linguagem universal,
com capacidade de provocar
emoções” –um meio visual
que move pessoas, que
move o mundo. Com 25.900
seguidores, admite que o
Instagram se transformou num
vício, através das suas galerias
intermináveis, dos seus
usuários criativos e cativantes,
que a inspiram a “criar algo
novo todos os dias”. A famosa
selfie é um fenómeno que não
37
compreende, daí talvez preferir
partilhar, nesta rede social,
outras partes do corpo que
não o rosto. MARIANA procura
a beleza em tudo o que a
rodeia, e materializa-a em
imagens poéticas, românticas,
delicadas. No Instagram
dá “asas à imaginação”.
C entral Parq
Redes Soc iais
C entral Parq
Redes Soc iais
@sejkko
@o_ pinheirojose
JOSÉ PINHEIRO é um designer
gráfico, do Porto, que faz as
pessoas voar. O Instagram é o
seu poiso virtual, onde provoca
vertigens aos seus 21.500
seguidores, com imagens
flutuantes, sem pé, que fazem
cócegas no imaginário. No
seu mural de fotografias,
não há chão, há apenas
céu, nuvens e saltos para o
infinito. Seja em que posição
for, haverá sempre alguém
no ar no Instagram de José –
um elixir diário de éter visual.
Fascinado pelo Instagram,
o designer confessa-se
surpreso com o poder desta
rede social para promover
o seu trabalho pelo mundo,
com um feedback direto em
comentários, seguidores
e “hearts” –uma rede que
motiva talentos, também. As
38
suas fotografias incorporam
uma estética minimalista,
com base no conceito de
“congelar o momento e
guardá-lo”. E boas selfies?
Que as há há, “desde que não
sejam fotografias tiradas ao
espelho da casa de banho”.
MANUEL PITA, um português
que estudou Inteligência
Artificial na Escócia e agora
trabalha na Gulbenkian –não
há caminho mais curioso
que se tenha cruzado
com o da fotografia.
Na vida real o tempo passa
depressa, mas MANUEL utiliza
a fotografia como mecanismo
para “transmitir uma
mensagem mais lentamente”.
MANUEL gosta de casas,
árvores e paisagens idílicas.
Todas as suas imagens têm
um toque de surrealismo
e uma pitada de magia,
através de filtros vintage que
conferem um tom pastel às
suas fotografias. O Instagram
é o seu retiro visual, onde
a “distância geográfica é
embaciada” e a “fotografia
é democratizada” –já não é
39
preciso uma câmara XPTO
para ter um doce lugar à
sombra da fotografia. Nesta
rede social, a criatividade
encontra um espaço livre de
partilha imagética. A selfie é
um conceito filosófico para si:
tem um je ne sais quoi criativo,
mas ao mesmo tempo, serve
de espelho de uma segunda
persona –o alterego virtual.
C entral Parq
N oite
Quando a prioridade é reciclar a garrafinha de plástico que temos lá em casa para a atestar com a fusão da vodka e do sumo de limão, ou fazer aquela
visita de médico aos messiânicos monhés para granjear a litrosa por menos de dois euros, deixamos de
perceber ao certo que lugar ocupa a música numa
noitada. O programa das festas nas noites portuguesas, em particular nas lisboetas, tende a encaminhar-se para dois destinos: o do clubbing enfadonho, com
uma oferta musical à base do mainstream, selecionada por um DJ (com o titânico decote em V) a fazer figura de corpo presente, perante uma audiência
lasciva que, mais do que dançar, esfrega os rabos
por onde passa; ou o do ‘bairro-alting’, qual romaria
que repousa no capô dos carros alheios ou nos degraus vomitados, em conversas demoradas, de copo
na mão, indispondo a vizinhança insone. A dicotomia
entre nomadismo e sedentarismo pode dissolver-se
Texto: Rui Lino Ramalho
J o s é M o ur a , N o i t e Pr í n c i p e n o
M U S I C B OX . Fo t o: Pe d r o M i n e i r o
Uma vez por mês, o MUSICBOX, em Lisboa, é invadido por novos sons, formas e estruturas com
um código sui generis de poética e identidade
cultural. Organizada pela editora homónima, a
Noite Príncipe é uma espécie de laboratório de testes para novos DJ’s e produtores, onde se diluem
os lugares-comuns da estratificação social. O
status que fique à porta porque a pista de dança
é um lugar comunitário do mais genuíno que há.
Afinal de contas, até mesmo o sangue mais azul
é impercetível nos suores que emanam de estéticas tão versáteis como house, tecnho, kuduro,
N oite
com uma programação noturna mais inovadora, assente numa agenda de entretenimento eclética, que
canalize as energias gastas no engate e na bezana
para uma diversão empolgante mas, ao mesmo tempo, inteligente. É preciso catalisar novas criações,
sobretudo as mais subversivas e periféricas, e trazê-las para o centro do debate de uma noite cuja
virtude reside na heterogeneidade. Pelo menos, é
esta a missão com a qual os novos promotores independentes se estão a comprometer. Pedras no caminho? Falta de espaços adequados, falta de patrocínios, exigência de resultados imediatos, saturação
do mercado e, em alguns casos, discriminação de
género. Um dia, eles vão construir uma editora. Para
alguns, esse dia já chegou.
Noite
Prí n ci p e
C entral Parq
batida, kizomba, funaná e tarrachinha. JOSÉ
MOURA, gestor da Príncipe Discos, diz que «é uma
coisa bonita de ver acontecer». Viver a Príncipe é
experimentar uma sensação de nobreza acessível a todos, independentemente da disparidade
de backgrounds. A Noite Príncipe é para os curiosos, investigadores e entusiastas. De acordo com
JOSÉ MOURA, é uma noite que se destaca pela
«mistura de gente e pelo modo como acontece».
W W W.SO U N D C LO U D.C O M / PRI N CI PEPRO M O S
W W W. M USI C BOX LIS BOA .C O M /
40
N un o Patr íc i o, c o f u n d a d o r d a FU N G O e d a n o i t e
O R A N G E n o L o u n g e e m L i s b o a . Fo t o: Pe d r o M i n e i r o
Fungo
Enquanto associação cultural, o investimento
da FUNGO incide na intervenção em –e na difusão de– novos projetos dentro do seu principal
raio de ação: música e audiovisuais. A riqueza da
sua programação resulta, essencialmente, da eficiência com que gerem os diferentes know-hows
dos seus intervenientes: design gráfico, gestão e
programação cultural, vídeo-arte. A Noite Orange,
uma das rubricas da calendarização da FUNGO,
tem lugar no Lounge, em Lisboa, com uma periodicidade bimestral. Nas palavras de NUNO
PATRÍCIO, cofundador da FUNGO, a Orange é
uma noite «focada em projetos eletrónicos, com
sonoridades que vão do ambiente ao tecnho». As
noites com curadoria da FUNGO são, geralmente, adornadas pelas suas live performances: o
BALLET STATIQUE, onde atuam, em simultâneo,
um DJ, um VJ e uma bailarina, «um cruzamento
interdisciplinar que combina música, movimento e vídeo»; o RLSMT (Regressar Leva Sempre
Muito Tempo), também multidisciplinar, mas desta feita com a estrutura de peça de teatro; e LA
NUBE a/v e ASCENDENTE, atuações de LUCAS
GUTIERREZ, que consistem na manipulação de
imagem e som em tempo real, envolta no experimental-glitch, bass e broken-beats.
W W W. FU N G O. P T
41
C entral Parq
N oite
C entral Parq
N oite
Waterfalls
T I AG O C A R N EI RO, p r o g r a m a d o r d a s n o i t e s M O D E R N A
n o C l u b e Pa s s o s M a n u e l n o Po r t o. Fo t o: M a r i a L o u c e i r o
SY M A TA R I Q E M A RG A R I DA M EN D ES ,
n o i t e s WAT E R FA L L S . Fo t o: Em i l i e G o u b a n d
A Noite Waterfalls acontece de dois em dois meses, entre a GALERIA ZÉ DOS BOIS (ZDB) e o
BAR 49, em Lisboa. Natural de Inglaterra, SYMA
TARIQ trouxe na bagagem o ambiente musical
que absorveu das venues londrinas e aliou-se a
MARGARIDA MENDES, curadora e investigadora da cena cultural lisboeta. Quando começou,
em 2013, a Waterfalls não passava de uma simples nigthclub, mas depressa tomou outros contornos, albergando agora instalações artísticas,
concertos ao vivo e atmosferas de luz arrebatadoras. Músicos, produtores, DJ’s e artistas têm
oportunidade de apresentar o seu trabalho, numa
montra que acolhe sonoridades de proveniência
improvável, para além das ambiências sensoriais
que proporciona. «Nunca quisemos cingir-nos a
um estilo», garantem SYMA e MARGARIDA. Arab
folk, tecnho, rap crioulo, colagens de sons tropicais e dubstep, são alguns dos exemplos de que
“Every Musicdrop is a Waterfall” para estas promotoras. A programação de Waterfalls é também
marcadamente unissexo: «Somos inspiradas
pelo trabalho de mulheres incríveis, que muitas
vezes permanece oculto e não tem espaço suficiente na indústria musical».
W W W.SO U N D C LO U D.C O M /
W AT E R F A L L S W AT E R F A L L S
42
Moderna
A Noite Moderna nasceu do –e para o– PASSOS
MANUEL. Habitué deste espaço desde o final de
2005, altura em que a programação era arriscada e heterogénea, TIAGO CARNEIRO começou a
conceber a Moderna especificamente para uma
cidade que, a seu ver, «sempre significou evolução e inovação» –o Porto. A estrutura da Noite
Moderna foi convencionada desde o seu começo: um programa com dois artistas nacionais e,
pelo menos, um convidado internacional, com a
condição de que todos eles «têm de fazer sentido juntos nessa noite». Até à data, o PASSOS
MANUEL hospedou quatro edições da Moderna –
as primeiras três em Abril, Junho e Outubro de
2014 e a mais recente no passado dia 1 de Maio.
Na sua seleção, o gerente de programação TIAGO
CARNEIRO não se rege por um estilo predominante, assegurando que, até agora, todos os artistas
trabalharam «espetros diferentes da música eletrónica». Num espaço onde a clientela habitual se
conta pelos dedos, TIAGO CARNEIRO diz já começar a reconhecer as caras que vão ao PASSOS
MANUEL propositadamente para a Noite Moderna.
W W W. PA S S O S M A N U E L . N E T/
43
C entral Parq
Entrevist a
Sem papas na língua, e protegida pelo seu alter ego.
WASTED RITA, RITA GOMES, é uma jovem designer
gráfica que soube usar as armas que tinha ao seu dispor, uma entrada no mundo cybernético, onde destilava os seus pensamentos íntimos, em geral, carregados de um sarcasmo dolorido. Disparava no tumblr
ou facebook, e outras redes sociais, em pequenas
doses diárias e assim alimentou durante alguns anos
um público de fãs crescente que comentavam e partilhavam cada um dos seus posts, em geral, desenhos
elementares e imediatos que tinham por base uma
pequena frase, quase sempre em Ingles. WASTED RITA
transformou-se num fenómeno internacional, saiu detrás do ecrã e os seus mais recentes projetos passam
por uma colaboração com a Converse e uma exposição na Underdogs, galeria de arte urbana em Lisboa.
WASTED RITA tal como é, para a PARQ.
Sentes-te uma porta-voz da
insatisfação da tua geração?
Não. Considero-me uma pessoa demasiado individualista e à-parte-de-generalizações para poder ser a voz de uma geração. O facto de existir
tanta proximidade de um público vasto e heterogéneo com o meu trabalho explica-se de duas
formas: 1) o ser humano é um bicho, no seu essencial, emocional e interior, muito parecido, básico e previsível; ou 2) o ser humano tem uma capacidade de absorver informação distorcendo-a,
de forma a que esta seja mais identificável com o
próprio, enorme.
Mas muitas das questões que levantas,
que passam pela incapacidade de um
indivíduo ganhar autonomia e espaço de
liberdade num panorama económico adverso,
imagino que sejam temas que tocam muita
gente. Em que medida a tua geração é
um espelho do teu próprio trabalho?
Sim, como disse, o ser humano é, na sua essência, muito parecido. O meu trabalho é extremamente íntimo e auto-biográfico, daí ao abordar temas que me interessam acabo por falar de temas
que aproximam o ser humano, no geral. Nem reduziria essa identificabilidade à minha geração, é
um bocado redutor, quando o meu trabalho chega a pessoas de todas as idades, culturas, etc.
O que é que te mais apaixona no ser
humano, ou melhor dizendo, em ti?
O que me apaixona no ser humano é o facto de
não conseguir sentir qualquer amor pelo mesmo. Relações amor-ódio. Isto faz com que esteja numa constante luta e busca por coisas, sinais, acções, sentimentos que me surpreendam.
Tanto em mim com nos outros. É um ciclo vicioso: ter curiosidade, explorar, encontrar, usufruir
dos 5 minutos de felicidade, cair na realidade, sofrer um bocado e voltar ao início. Um ciclo vicioso
que me mantém acordada.
Texto: Francisco Vaz Fernandes
Fotos: Bruno Lopes
44
C entral Parq
Entrevist a
O teu nome tem sido muito mediatizado.
Consideras-te agora uma pessoa de sucesso?
O meu trabalho já é reconhecido internacionalmente há muitos anos, só agora começou a ser
falado em Portugal: bem-vindos!. Mediatismo
é uma palavra que me dá um bocado de asco.
Sucesso é a consequência natural do trabalho árduo e da paixão pelo que faço. Se me considero
uma pessoa de sucesso? sim; mediática? não.
O que falta para ser mediático?
Até onde queres chegar?
Eu não estou interessada no mediatismo. Não
acho que ninguém de sucesso chegue onde chega focada na atenção que é dada ao seu trabalho.
Eu concentro-me em não perder a adrenalina de
emoções que é para mim escrever ou desenhar
a confusão interior que me define. Quero continuar fazer o que gosto como gosto. Tentar fugir
de rotinas ou prisões criativas. Fazer menos e
melhor. O meu trabalho é, acima de tudo, auto-terapia, o facto de ter conseguido fazer do mesmo
um modo de vida foi a mais feliz realização pessoal até ao dia.
Sei que quero desafios constantes; como
foi a minha primeira exposição a solo em Lisboa
Human Beings: God’s Only Mistake; como está a ser,
neste momento, na Bélgica, participar de forma
quase anónima no Beyonderground (um festival de
design e ilustração), onde a minha missão é apenas irritar pessoas e pregar partidas pela cidade,
em intervenção pública ou interação direta com
pessoas envolvidas no mesmo; como irão ser, assim que voltar a Portugal, as minhas primeiras,
também, intervenções públicas, em Lisboa, promovidas pela Underdogs10. Continuar a estender
suportes para o meu trabalho é um dos objetivos,
aumentar a lista de locais por onde deixo a minha marca, e fazer coisas que me deixem nervosa, quase a vomitar de medo.
Planos, ideias, vontades, tenho muitas (há
toda uma imaginação ambiciosa a funcionar 24h
por dia, 7 dias por semana, dentro da minha cabeça) que nunca revelarei antes de começar a executar. Saber exatamente onde quero chegar parece-me um passo certeiro para não chegar a lado
nenhum, daí só querer fazer um bom trabalho
onde estou de momento.
Achas que se estivesses fora de
Portugal, num outro contexto cultural,
isso ia-te ajudar ou pelo contrário?
Poder estar exposta a culturas completamente
diferentes é provavelmente a parte mais interessante de estar viva. Se isto me ajudaria? O meu
trabalho vive precisamente da mudança, choque emocional, e surpresa. Isto são coisas que
acontecem facilmente em contextos culturais diferentes, por isso, acho que iria beneficiar o meu
processo criativo. Aliás, a dependência de ambientes diferentes já me fez viver em mais de três
países diferentes num ano, e viver em mais de 10
casas diferentes, em Portugal, e fora no ano passado. Consegui estabelecer-me em Lisboa nos
últimos seis meses porque todos os meses estive fora.
Podes dizer que também tu tens rotinas e um
dia típico de trabalho como o resto dos mortais?
Desde pequena que tenho uma relação muito difícil com rotina. Fui criada num ambiente familiar
muito seguro, previsível e certeiro. As semanas
eram todas iguais, os domingos sempre os dias
mais depressivos e nunca me expus a grandes
estímulos ou coisas que saíssem da minha bolha
anti-social de conforto e medo.
Começar a trabalhar como a WASTED RITA foi
a maior transformação da minha vida. Neste momento não tenho qualquer tipo de rotina de trabalho, nem tão pouco existe dia típico: nas últimas
duas semanas, estive em três países diferentes,
em situações completamente distintas, a trabalhar para clientes que vão desde revistas infantis
francesas, e marcas de perfume independentes,
45
C entral Parq
Entrevist a
C entral Parq
Entrevist a
à CONVERSE. A minha vida profissional está em
constante mudança e torna-se caótica ao ponto de ser impossível de tratar de tudo
sozinha. É claro que este caos também se torna a própria rotina. Não
acho que o ser humano seja capaz de sobreviver sem rotinas.
Mesmo que a nível profissional não consiga manter um padrão, o bicho-ser-humano em
mim está sempre à procura de
rotinas alternativas –por exemplo, emocionais. Ou ouvir a
mesma playlist todos os dias. Ou
passar a noite com os flatmates no
sofá só porque é reconfortante. É importante este sentimento de segurança.
Se não o tens no ambiente profissional, a tendência, suponho quase que técnica de sobrevivência, é procurar em todo o resto.
Imagino que fazer menos e melhor, a que
te referias, possa ser um dilema para quem
aparentemente tem um traço rápido e um
comentário imediato. Pelo menos assim me
parecia quando te seguia nas redes sociais.
Como lidas com os impulsos criativos?
É precisamente isso. O meu trabalho tem uma falta de processo muito reativa e espontânea. E a
juntar a isto ao impulso de imediatamente após a
sua criação partilhar nas redes sociais. Quando
digo que quero fazer menos e melhor estou a falar em controlar este impulso de partilha, limitar
e selecionar melhor o que aparece diariamente
para poder, por exemplo, apresentar em exposições como séries alongadas. Não é fazer menos, porque eu nunca vou limitar a minha espontaneidade, é selecionar aquilo que mostro e como
mostro. Esta necessidade emocional e ingénua
que tenho de fazer do muito trabalho que crio público fá-lo parecer leviano e fácil para o público
no geral. Quero mantê-lo mais seguro e seleto.
O que é que te dá mais gozo fazer e qual dos
dois achas que comunica melhor o teu estado
de espírito: os statements ou os desenhos?
Claramente prefiro a escrita. O desenho foi, ao
longo do meu percurso, perdendo importância.
Uso apenas quando é necessário para complementar ou clarificar a mensagem que quero passar. Quando me apercebi, no meu trabalho, que
o desenho tinha, por vezes, apenas a utilidade,
para mim inútil, de enfeitar visualmente, comecei
a perder vontade de o fazer. Se não é necessário,
não o quero.
O sarcasmo é o teu porto seguro/
manto de invisibilidade?
O meu porto seguro, sim. É a minha estratégia
de defesa, suponho, para poder ser sincera num
46
mundo que não admite assim tanta honestidade.
Manto de invisibilidade? Acho que o sarcasmo
só quer é atenção e consegue todos os
holofotes apontados para ele. Quer
dizer: o meu sarcasmo é normalmente rude; e normalmente mal
interpretado; e usado para dizer
verdades que magoam. Não me
parece que isso me torne invisível, a não ser que as pessoas se sintam tão incomodadas que me queiram apagar da
memória.
No teu dia a dia com os teus
amigos também és sarcástica?
Fico sempre surpreendida que me digam que sou sarcástica. Mas dizem-me,
quase diariamente, coisas como "o teu nível
de sarcasmo é tão avançado que eu já nem percebo se é sarcasmo ou não". Acho que o faço de
forma muito natural para tentar parecer menos
desinteressada, na esperança de confundir as
pessoas. Pelos vistos, faço-o com distinção.
Nunca te disseram, num momento mais privado,
“Está na hora de deixar a Wasted Rita lá fora!”?
Não. A WASTED RITA é muito desejada, pouco
conseguida.
47
Fotografia MATILDE TRAVASSOS
Styling TIAGO FERREIRA
Hair & M-U SANDRA ALVES
Model MICHAELA BEDNÁROVA @ Just Models
<
blusão DIESEL
bikini PAPUA
cinto 39A CONCEPT
bikini + saia H&M
colar MARC by MARC JACOBS
sabrinas MELISSA
49
vestido MANOUSH
mala LACOSTE
casaco ADIDAS ORIGINALS
mala LOUIS VUITTON
vestido H&M
sapato FLY LONDON
<
polo FRED PERRY
53
<
vestido H&M
55
crop top ADIDAS
ORIGINALS
jeans MANOUSH
<
casaco DIESEL
Fotografia CELSO COLAÇO
Styling TIAGO FERREIRA
Hair & M-U SANDRA ALVES
Model FREDERICO VENTURA @ Just Models
56
camisola + calças DIESEL
<
casaco LEVI'S
calças H&M
59
casaco FRED PERRY
>
polo FRED PERRY
calças DIESEL
casaco FRED PERRY
calças DIESEL
sandálias BIRKENSTOCK
60
Parq Here
Espaç os
Parq Here
Espaç os
Sneak Peek
Espiga
Para quem chega ao Jardim do Carregal depressa se apercebe de um novo espaço de arquitetura depurada e um decoração cuidada proporcionando, construida a partir de peças vintage com
o objectivo de proporcionar um ambiente “cozy”.
Chama-se ESPIGA e a Inês Viseu e o Hugo Moura
querem que seja um espaço multidisciplinar que
tanto pode ser visto como um café, restaurante
ou galeria de arte. Os espaços estão bem definidos e a sala da frente convida-nos para um café
ou uma bebida ligeira, mas conforme nos vamos
aprofundando no seu interior apercebemo-nos
de algumas mutações. Um conjunto de fotos,
fazem-nos adivinhar que as paredes do corredor
são naturalmente uma galeria de arte que vai ter
uma programação regular. Se avançarmos chegamos a uma verdadeira sala de família e onde
obviamente se almoça. Encontramos no ESPIGA
sumos naturais feitos com fruta da época, a sangria e iogurtes caseiros e podem ser acompanhados com crumble ou chocolate quente. Têm ainda
vários tipos de bruschettas e saladas, tudo dentro de um imaginário de uma cozinha casual, simples mas verdadeira.
Eduarda Jotta, como muitas mulheres, tem uma
grande paixão por sapatos e quando pensou que
estava na hora de lançar um negócio próprio, percebeu que o melhor seria dedicar-se à criação de
uma escolha dirigida a um público selecionado.
Encontrou um espaço que foi primorosamente decorado e trouxe para o Chiado marcas femininas e masculinas que não se encontravam no
mercado nacional, mas que são grandes referências no mercado premium. Nesta loja, podemos
encontrar sneakers da GIENCHI que se tornaram
populares pelo revestimento de tachas e que são
uma presença nas melhores lojas do mundo. Já
não tão pop, a LAST CONSPIRANCY oferece um
sapato produzido à mão, mas que tem por detrás
um estúdio de design dinamarquês que assegura inovação, em termos da aplicação, e tratamento de materiais sempre dentro de um universo artesanal contemporâneo. De destacar ainda FREE
LANCE e JEAN-BAPTISTE RAUTERAU, marcas
de luxo que tanto produzem o stiletto chic, como
confortáveis derbies de cores fluorescentes, essenciais para uma imagem cool. Este é o primeiro grande passo, a que a SNEAK PEEK vai juntar,
de futuro, outras marcas e linhas de acessórios.
Rua Clemente Menéres, 65 A, Porto
Texto: Maria São Miguel
62
Rua Ivens, 8 Chiado, Lisboa
Texto: Francisco Vaz Fernandes
Foto: Luísa Ferreira
Two.Six
Um design pensado,
ref letido e debatido
É provável que o nome Two.Six
não nos seja de todo familiar.
Embora já exista há cerca de
três anos, esta editora de design
portuguesa nasceu com um
pensamento dirigido para o mercado internacional –já que por
cá a coisa não estava famosa.
A ambição era –e continua
a ser– clara: repensar o design
e a forma como este alimenta a cultura contemporânea.
E isso passa por criar pontes
com designers de todo o mundo, numa lógica de estabelecimento de embaixadas da marca.
Contrariamente ao habitual paradigma, o crescimento da Two.
Six foi feito de fora para dentro,
graças aos esforços no sentido de promover os seus produtos em feiras e eventos internacionais. Depois de conquistar o
seu espaço e reconhecimento lá
fora, a editora começa agora a
abrir portas ao design nacional.
Dividida em dois segmentos –Two.Six Design e Two.Six
for Kids–, a Two.Six abraça um
63
design de linhas simples, privilegiando a funcionalidade e
a alta qualidade, com especial
foco na cor e na forma. Para
além dos acabamentos inteligentes e da riqueza estética, o
portefólio da Two.Six prima pela
versatilidade dos objetos, que
coabitam em ambientes ecléticos. A produção de mobiliário
é ainda marcada por uma seleção de materiais e técnicas criteriosa, especialmente alicerçada em preocupações de teor
ambiental. A utilização de óleos
e ceras naturais e de matérias-primas renováveis garante um
produto sustentável e inofensivo para a saúde.
W W W.T WOSIX.PT
Texto: Rui Lino Ramalho
Parq Here
Espaç os
Parq Here
Underdogs Public
Ar t Tour
Espaç os
Um passeio pela tela que é Lisboa
Ink&Wheels
Aqui, o nome explica tudo. A
paixão de Mariza por pintar o
corpo casou-se com o amor de
Marco pelas motas clássicas, e
juntos abriram as portas de um
espaço diferente no coração de
Lisboa –INK & WHEELS.
De um lado, Mariza promete boa disposição e um sorriso
de lábios vermelhos, enquanto
procura ideias para novas tatuagens nos seus decalques que
decoram as paredes. Tatuadora
há seis anos, veste a personagem de uma jovem dócil dos
anos 50 em estilo, e de uma talentosa artista, com um toque
old school, de máquina de tatuar
em punho! Inspira-se em outros
artistas como QUYEN DINH e
SAILOR JERRY, e convida qualquer pessoa, de qualquer idade,
a ser tatuada por ela.
Do outro lado, Marco, na
sua camisa havaiana e cabelo abrilhantado, convive com
quadros de STEVE MCQUEEN
e pisca o olho aos exemplares
motorizados que expõe “dentro de casa”. É representante
64
da MASH, uma marca de motas
neo-clássicas inspiradas nos
modelos da década de 70, e faz
parte da Moustache Sardine, uma
comunidade de amantes de motas, com uma atitude rock´n´roll!
A INK & WHEELS chegou para
tatuar Lisboa com estilo e pô-la
a andar de mota!
Av. Oscar Monteiro
Torres 6A, Lisboa
Texto: Joana Teixeira
15:00h, Sábado, 16 de maio, Lisboa. Ponto de encontro: Hotel Ritz. Quem nos recebe é a simpática
MARINA REI, para nos levar a turistar –artisticamente falando– pela capital. Trata-se da Public Art
Tour, organizada pela UNDERDOGS GALLERY. Afinal,
Lisboa tem ainda mais encanto do que aquele que
a azáfama das nossas vidas nos deixa perceber.
Já dizia o mestre: «Se podes olhar, vê; Se podes
ver, repara.» Nota: A narração será feita segundo
o modelo infantil.
Primeiro, torneámos a Hall of Fame das
Amoreiras (sim, isto existe), qual exposição itinerante da street art portuguesa desde a década de 80, altura em que as paredes eram livros
de reclamações. Depois, encostámos na Fontes
Pereira de Melo para conhecer o Projeto Crono,
d’OS GEMEOS. Depois, saudámos o mais recente e gigantesco mural de Lisboa –Crossroads,
do polaco SAINER. Depois, vimos o urbanismo
caótico de CLEMENS BEHR e o Pedro Álvares
Cabral sem-abrigo de NUNCA. Depois, juntinho
à Gare do Oriente, foi a vez da cultura pop americana de CYRCLE e do surrealismo robótico de
PIXELPANCHO. E depois, ficámos atónitos perante o mural azulejado e azulado de OLIVIER. E
depois, em pleno terminal de cruzeiros, fizemos
a vénia à collab entre PIXELPANCHO e VHILS,
a parede mais melhor boa de todas. E depois,
Alcântara trouxe-nos o lado mais escultural de
VHILS e o ultimato labiríntico de HOW & NOSM.
E depois, fomos felizes para sempre ao cortar a
meta no Mercado da Ribeira.
Há quem queira doar o corpo à Ciência.
Graças a plataformas como a UNDERDOGS, há outros que querem doar a parede à Arte.
O Pe dinte , © N U N CA 2 014. f o t o: J o s é V i c e nt e
Ru a d o Va l e Fo r m o s o d e C i ma , M a r v i l a
© B I CI C L E TA S E M FR EI O 2 014. f o t o: Ru i G a i o l a
C l u b e N ava l d e L i s b o a , C a i s d o S o d r é
UNDERDOGS GALLERY
Rua Fernando Palha, Armazém 56, Lisboa
UNDERDOGS ART STORE
TimeOut Mercado da Ribeira,
Cais do Sodré, Lisboa
W W W.U N D ER- D O G S. N E T
© H OW& N O S M 2 013 . f o t o: A l ex a n d e r S i l va
Ave n i d a d a Í n d i a , A l c â nt a r a
Texto: Rui Lino Ramalho
65
Parq Here
Espaç os
Zé Rober t son
o bar tender que
“ bot a ‑ abaixo”
Aviso prévio: leia com moderação, para não ser apanhado com excesso de palavras no sangue. Vamos
dar-lhe a provar o Bottoms Up, um cocktail à base de
bourbon. É servido numa caneca de metal, repleta de
gelo picado, a partir da garrafa reciclada de uma mini.
Gostou? ZÉ ROBERTSON, o seu autor, é bartender
há cerca de seis anos. Ele prefere chamar-lhe «apanhar bebedeiras com estilo».
Uns trocos para ir de férias. Foi a razão que
levou ZÉ ROBERTSON, de 28 anos, a responder a
um anúncio na internet para um trabalho de serviço de mesa no bar CINCO LOUNGE, em Lisboa
(nada em que os estudos de Marketing lhe pudessem ser muito úteis). Não levou muito tempo
para que, de garçon, passasse a exercer funções
de barman. Passaram-se seis anos desde então
e garante-nos que já não se imagina a trabalhar
noutra área. No CINCO LOUNGE, ZÉ ROBERTSON
trabalha sob a chancela de DAVE PALETHORPE,
o experiente barman de cocktails britânico, responsável pela abertura do bar, em 2004. Foi com
ele que aprendeu tudo o que sabe sobre o ofício.
Em Janeiro deste ano, ZÉ ROBERTSON decidiu pôr à prova as suas qualidades de criador
de bebidas. O Bottoms Up foi a proposta que apresentou na primeira ronda do World Class, o evento de mixologia mais prestigiado do mundo, que
conta, pela primeira vez, com participação portuguesa. «A ideia do “Bottoms Up” era incutir às
pessoas o espírito de beber na rua que nós sempre tivemos, e que tanto é moda ainda no Bairro
Alto», explica o bartender. Precisamente por ser
uma bebida urbana, foi altamente recomendada
pelo próprio à PARQ.
Embora não tenha sido um dos três selecionados para passar à final nacional, ZÉ
ROBERTSON já está a preparar uma nova bebida
para tentar a sua sorte na segunda eliminatória,
donde sairão mais três finalistas. Desta vez, o desafio é outro: «Pedem-nos uma bebida de Verão.
Logo, tem de ser uma bebida mais frutada. Como
é um desafio com espíritos brancos, a minha preferência recaíu sobre a tequila».
ZÉ ROBERTSON elege o gelo, o sumo de limão e o xarope de açucar como três ingredientes
fundamentais para a concepção de um cocktail
de frutas. E o ideal mesmo é que a matéria prima
seja caseira. Mas lembra que a preparação da bebida não é o único fator que determina a sua qualidade. É preciso esmerar e divertir no que toca à
apresentação. É preciso saber vender. E até atribui uma pequena percentagem à forma como o
cocktail é consumido pelo cliente.
W W W.CI N C O LO U N G E .C O M
Texto: Rui Lino Ramalho
66
ORGANIZAÇÃO
APOIO

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