análise dos resultados de práticas de sustentabilidade - Abes-RS

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análise dos resultados de práticas de sustentabilidade - Abes-RS
ANÁLISE DOS RESULTADOS DE PRÁTICAS DE
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL EM AEROPORTOS
Lícia Rodrigues Negreiros – [email protected]
Universidade Federal de São Carlos
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil
Rod. Washington Luís, km 235
13.565-905 – São Carlos – São Paulo
Douglas Barreto – [email protected]
Universidade Federal de São Carlos
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil
Rod. Washington Luís, km 235
13.565-905 – São Carlos – São Paulo
Resumo: Aeroportos internacionais tem se comprometido, globalmente, com a adoção e gestão de
práticas de sustentabilidade ambiental, incitados, não somente pela obrigatoriedade contida em
legislações locais, mas também por instruções de organizações não governamentais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU), que acabam por influenciar a criação e atualização de
políticas ambientais, cujas exigências também são de âmbito mandatório. Somado a esses fatores,
tem-se as instituições internacionais voltadas para as iniciativas sustentáveis em ambientes
construídos; e as políticas de incentivos fiscais. Tal postura também foi estimulada por resultados
positivos, obtidos e comprovados por meio da análise de uma série de estudos de casos, notadamente
de aeroportos norte-americanos, europeus e asiáticos, que indicam, além da redução dos impactos
ambientais e da diminuição das políticas sociais mitigadoras, a redução dos custos operacionais e de
manutenção desses aeroportos. O objetivo principal deste artigo é o de identificar, compilar e
analisar, através desses mesmos estudos de caso, as práticas de sustentabilidade ambiental que estão
sendo adotadas em aeroportos em vários países, e de relacionar tais práticas aos resultados obtidos,
nos casos para os quais os resultados foram disponibilizados, identificando as similaridades e
sucessos alcançados.
Palavras-chave: Aeroporto, Construções sustentáveis e Sustentabilidade ambiental.
ANALYSIS OF RESULTS OF ENVIRONMENTAL SUSTAINABILITY
PRACTICES IN AIRPORTS
Abstract: International airports has been committed, globally, with the adoption and management
practices of environmental sustainability, encouraged not only by the requirements contained in local
laws , but also by statements of non-governmental organizations such as the United Nations (UN),
which influence the creation and updating of environmental policies, whose requirements are also
mandatory under . Added to these factors, there are the international institutions concerned with
sustainable initiatives in built environments, and policies of tax incentives. This attitude was also
stimulated by positive
results obtained and tested through the analysis of a series of case studies, especially from Europeans
Americans and Asians airports, which indicate, in addition to reducing environmental impacts and
reduction of social policies mitigating, reducing operating and maintenance costs of these airports.
The main objective of this paper is to identify, through the analysis of these case studies, the practices
of environmental sustainability being taken at airports worldwide, and to relate these practices to the
results obtained in the cases for which the results were available.
Keywords: Airport, Sustainable buildings and Environmental sustainability.
1. INTRODUÇÃO
Segundo a Caixa Econômica Federal (CEF, 2011), estima-se que setor da construção civil
é responsável pelo consumo de cerca de 70% do volume total de recursos extraídos da natureza; e cuja
tendência de crescimento é relevante, visto os altos níveis de urbanização e industrialização
alcançados em cidades nas últimas décadas. Essa tendência é preocupante, não somente em relação
aos altos índices de recursos naturais consumidos, mas também em relação aos resíduos produzidos
durante a fase de transporte, processamento, beneficiamento e distribuição desses recursos, com uma
estimativa de que “entre a metade e três quartos dos materiais extraídos da natureza retornam como
resíduos em um período de um ano” (MATTHEWS et al, 2000). A CEF (2011) orienta que, para que
as construções sustentáveis se insiram na realidade do desenvolvimento sustentável, faz-se necessária
a adoção de duas ações fundamentais: “uma desmaterialização da economia e da construção –
construir mais usando menos materiais; e a substituição das matérias-primas naturais pelos resíduos,
reduzindo a pressão sobre a natureza e o volume de material nos aterros”.
Estudos desenvolvidos por Souza et al (2008) demonstram que aeroportos, como o
Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos – Governador André Franco Montoro, tem o
comportamento semelhando a cidades de médio porte no que diz respeito ao consumo de recursos
naturais, como água e energia. Segundo Pitt et al, apud Carra et al (2013), “alguns aeroportos produzem volumes de resíduos equivalentes a pequenas cidades, causando significantes impactos nas
regiões em que estão situados”.
Nesse contexto, e visto que aeroportos podem ser comparados a médias e pequenas
cidades, no que se refere, respectivamente, ao consumo de recursos e a produção de resíduos, percebese a importância do emprego de ações de sustentabilidade ambiental em aeroportos, justificadas não
somente por aspectos ambientais, mas também econômicos.
Do ponto de vista ambiental, tem-se não somente o atendimento aos dispostos exigidos
por legislações ambientais, mas também a redução dos impactos ao meio ambiente e,
consequentemente, o aumento da qualidade de vida da população localizada no entorno dos
empreendimentos ambientalmente sustentáveis. Do ponto de vista econômico, a adoção dos requisitos
de sustentabilidade ambiental representam a redução dos custos operacionais e de manutenção nos
aeroportos. Ambos os fatos podem ser comprovados pela análise de uma série de estudos de caso,
disponíveis na página eletrônica da Enviro.aero (ENVIRO.AERO, 2011), objetos deste presente
artigo.
2. OBJETIVOS
O objetivo principal deste artigo é o de identificar, compilar e analisar, através desses
mesmos estudos de caso, as práticas de sustentabilidade ambiental que estão sendo adotadas em
aeroportos em vários países, e de relacionar tais práticas aos resultados obtidos, nos casos para os
quais os resultados foram disponibilizados, identificando as similaridades e sucessos alcançados.
3. METODOLOGIA
A metodologia consiste na breve revisão bibliográfica dos termos ‘aeroportos’ e
‘construções sustentáveis’; e no estudo das práticas de sustentabilidade ambientais que vem sendo
adotadas em aeroportos e seus respectivos resultados.
As práticas de sustentabilidade ambiental em aeroportos foram investigadas a partir das
informações disponíveis na página eletrônica da Enviro.aero (ENVIRO.AERO, 2011) pela qual foi
possível identificar e relacionar as práticas e resultados aos seus aeroportos correspondentes.
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1.
Aeroportos
Segundo a Lei nº 7.565, de 19 de Dezembro de 1986 (BRASIL, 1986), que dispõe sobre o
Código Brasileiro da Aeronáutica, aeródromo pode ser definido como toda a área destinada a pouso,
decolagem e movimentação de aeronaves; sendo a infraestrutura aeronáutica o conjunto de órgãos,
instalações ou estruturas terrestres de apoio à navegação aérea, para prover-lhe a segurança,
regularidade e eficiência, compreendendo alguns sistemas específicos, dentre eles o sistema
aeroportuário.
Ainda de acordo com a respectiva Lei, o sistema aeroportuário é o conjunto de
aeródromos brasileiros, com todas as pistas de pouso, pistas de táxi, pátio de estacionamento de
aeronaves, terminal de carga aérea, terminal de passageiros e as respectivas facilidades.
Segundo Ashford & Wright (1992), as facilidades aeroportuárias dividem-se em três
grandes grupos: pistas (runways), taxiways, e Terminal de Passageiros, sendo as premissas técnicas
estabelecidas para a construção de aeródromos normalmente definidas por órgão internacionais, a
saber:
− OACI – Organização de Aviação Civil Internacional (“Internacional Civil Aviation
Organization – ICAO”), em seus documentos Anexo 14 (“Aeródromos”), da Convenção de Chicago;
Manual de Projetos de Aeródromos, código OACI: 9157; e Manual de Planejamento de Aeroportos,
código OACI: 9184;
− FAA – Federal Aviation Administration,, através do Advisory Circular: “Planning
and Design Guidelines for Airport Terminal Facilities”, código AC 150/5360-13 e;
− IATA – International Air Transport Association, através do “Airport Development
Reference Manual”.
Em complementação às referencias acima citadas, os projetos de aeroportos brasileiros
também deverão atender às Normas ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, para cada
especialidade, bem como às normas e às resoluções da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC),
do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e da Secretaria da Aviação Civil (SAC).
4.2.
Construções sustentáveis
Segundo o Green Building Concil Brasil (GBCB, 2012), construção sustentável é “a
edificação ou espaço construído que teve na sua concepção, construção e operação o uso de conceitos
e procedimentos reconhecidos de sustentabilidade ambiental, proporcionando benefícios econômicos,
na saúde e bem estar das pessoas” e que, por consequência, gera benefícios ambientais, sociais e
econômicos para toda uma sociedade.
O Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA, 2013) apresenta
um conceito parecido, de “um sistema construtivo que promove alterações conscientes no entorno, de
forma a atender as necessidades de habitação do homem moderno, preservando o meio ambiente e os
recursos naturais, garantindo qualidade de vida para as gerações atuais e futuras”. Considera, ainda, a
definição de outros pesquisadores renomados no assunto, como a de Carvalho, apud IDHEA (2013)
(1996) que diz ser “aquela que, com especial respeito e compromisso com o Meio Ambiente, implica
no uso sustentável da energia”; e de Lanting, apud IDHEA (2013), que conceitua construção
sustentável como “aquela que reduz os impactos ambientais causados pelos processos construtivos,
uso e demolição dos edifícios e pelo ambiente urbanizado”.
A primeira definição, mais abrangente, discorre sobre a preservação do meio ambiente e
dos recursos naturais; a segunda ramifica para a eficiência energética; e a terceira deixa implícita a
importância de se analisar o ciclo de vida de uma edificação, pelos materias especificados e pelos
processos construtivos e plano de manutenção empregados, reduzindo os custo durante sua vida útil e
minimizando os impactos de uma possível demolição, com o aproveitamento dos resíduos já
inicialmente definido.
5. RESULTADOS
5.1.
Práticas de sustentabilidade ambiental em aeroportos
A página eletrônica da Enviro.aero (ENVIRO.AERO, 2011), em sua sessão ‘Case
Studies’ relaciona uma série de estudos de casos que reúnem as atitudes ambientalmente sustentáveis,
adotadas aeroportos, visando à redução de sua pegada ecológica1 e à aquisição da certificação ‘Carbon
Neutral’2. A Carbon Neutral Certification pode ser conseguida pela redução, ao mínimo possível, das
emissões de gás carbônico em edificações e processos operacionais; e pela mitigação das emissões
remanescentes, que não são passíveis de serem reduzidas pela realidade da época, até que novas
tecnologias e soluções sejam desenvolvidas.
As práticas de sustentabilidade ambiental adotadas em aeroportos, possíveis de análise
através das publicações disponíveis da Enviro.aero (ENVIRO.AERO, 2011), encontram-se reunidos
na Tabela 1.
Tabela 1. Práticas de Sustentabilidade Ambiental em Aeroportos.
País
Aeroporto
(Ano) Iniciativa
Nova
Christchurch
International (2008) Programas de redução de emissão de Gás
Zelândia Airport
Carbônico.
(2006) Pintura reflexiva de telhas metálicas da cobertura
Austrália Melbourne Airport
do terminal de passageiros.
(2005) Emprego de tecnologias mais no sistema de
condicionamento de ar e implantação de um 'termoAlemanha Hamburg Airport
labirinto', sistema que pré aquece o ar exterior no
inverno e pré resfria durante o verão.
(2003) Inauguração do Environment Partners Clubs,
para auxílio ao aeroporto e suas concessionárias na
França
Charles de Gaulle Airport
implementação e gestão de políticas de sustentabilidade
ambiental; (2007) Inauguração de linha de metrô direta
ao aeroporto.
1
Entende-se por ‘Pegada Ecológica’ a metodologia que contabiliza a pressão do consumo das populações
humanas sobre os recursos naturais, permitindo a comparação de diferentes padrões de consumo. Essa
comparação permite comparar de os padrões vigentes de consumo estão de acordo com a capacidade ecológica
do planeta.
2
A certificação Carbon Neutral é concedida pela The Carbon Neutral Company, empresa fundada em 1997 com
o objetivo de propor soluções para a redução na emissão de gás carbônico. Maiores informações podem ser
obtidas no endereço eletrônico http://www.carbonneutral.com/our-services/carbonneutral-certifications.
(2005) Instalação de painéis solares para o aquecimento
de água.
Orly Airport
Birmingham
Airport
Reino
Unido
Canadá
International
(2008) Participação no Mercado de Carbono.
Heathrow Airport
(2008) Utilização de materiais sustentáveis na
construção do novo terminal (T5); e incentivo ao uso de
transportes públicos.
Vancouver Airport
(2003) Instalação de painéis solares para o aquecimento
de água.
Montréal-Trudeau
(2004) Instalação de painéis solares para o aquecimento
International Airport
de água.
Oakland
International
(2002-2007) Instalação de painéis solares.
Airport
(2005) Incentivo ao uso de veículos de combustível
Dallas/Fort Worth Airport
alternativo.
Adoção de políticas de reciclagem; Instalação de uma
Estados
central de gás comprimido, para abastecimentos da frota
Unidos
Phoenix
Sky
Harbor
aeroportuária e de clientes e usuários; paisagismo
International Airport
sustentável; instalação de sensores de presença para
iluminação e ar condicionado.
San Francisco International
(2007) Instalação de painéis solares.
Airport
(2005) Incentivos para o uso de aeronaves com menores
Japão
Narita International Airport
emissões de ruídos.
Fonte: compilado de Enviro.aero (Enviro.aero, 2011).
Por essa mesma tabela, é possível perceber uma concentração de ações ambientalmente
sustentáveis em países europeus e norte-americanos. Isso pode ser explicado, em partes, e
respectivamente, pelos programas ambientais desenvolvidos na Europa em função da assinatura do
Protocolo de Kyoto, cuja principal meta era a de obter a redução na emissão de gases poluentes
causadores do efeito estufa3 por meio de compromissos vinculativos; e pela forte presença, nos
Estados Unidos, da certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), e também
pelas políticas de incentivos fiscais, existentes naquele país, para as ‘construções verdes’.
Ainda, e se analisada separadamente as ações, percebe-se a predominância por aquelas
que contribuem para a redução da emissão dos gases de efeito estufa, com a predominancia da
substituição de fontes de energia elétrica por energias limpas, notadamente a solar, pela instalação de
placas fotovoltáicas; pela instalação de tecnologias que visam à redução de energia elétrica, como
sensores de presença para iluminação e condicionamento de ar; e também pelo incentivo ao uso de
combustíveis alternativos.
Contribui para essa predominância as políticas de ‘carbono zero’4 difundidas e adotadas
por muitos países.
5.2.
Análise das práticas de sustentabilidade ambiental em aeroportos
3
Os principais gases causadores do efeito estufa, segundo o Protocolo de Kyoto são: dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidroflurocarbonetos (HFCs), perfluorocarbonos (PFCs) e o exafluoreto de
enxofre (SF6).
4
A política de ‘carbono zero’ refere-se a reduzir a zero as emissões de dióxido de carbono, com fontes de
energias substituídas para rodar em zero de emissão de gás de carbônico.
Depois de identificadas as práticas de sustentabilidade ambiental em aeroportos,
disponíveis para os anos entre 2003 e 2008, faz-se a análise dos benefícios decorrentes da adoção
dessas mesmas práticas, para os aeroportos cujos dados encontram-se disponíveis; e na mesma
sequência apresentada na Tabela 1, a saber:
Christchurch International Airport
O Aeroporto Internacional de Christchurch, na Nova Zelândia, tornou-se o primeiro
aeroporto do Hemisfério Sul a receber a certificação ‘Carbon Neutral’, através da adoção de medidas
para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa, que tiveram início no ano de 2008. A
produção desses gases, estimada em cerca de 5.236 toneladas equivalentes de dióxido de carbono, para
aquele ano, decorria principalmente da utilização da energia elétrica como fonte de energia,
responsável por 55% das emissões; seguida pela liberação de gás metano decorrente de atividades
agropecuárias realizadas dentro dos limites do sítio aeroportuário, responsável por 19% das emissões.
Demais atividades, como o pouso e decolagem das aeronaves, manutenção das pistas e
taxiways e queima de combustíveis, completava a porcentagem das emissões.
A redução na emissão dos gases causadores do efeito estufa deveu-se à implantação de
quatro medidas principais:
- Implementação de programas para identificar e solucionar ineficiências energéticas no
Terminal de Passageiros.
- Utilização de energia proveniente de fontes renováveis para todas as demandas do
aeroporto. A energia é proveniente da concessionária Meridian Energy, certificada pela ‘CarbonNeutral’.
- Implementação de programas de reciclagem, incluindo a reutilização de mais de 10% do
volume de asfalto utilizado para manutenção das pistas e taxiways, em obras de manutenção e
reforma.
- Aquisição de veículos energeticamente eficientes.
Essas medidas, juntamente com o desenvolvimento de ações mitigadores, tiveram como
resultado o recebimento da certificação ‘Carbon-Neutral’ pelo Aeroporto, significando que, em suas
atividades operacionais, o aeroporto emite o mínimo possível de gases do efeito estufa.
Para as emissões que não são passíveis de redução, são utilizadas as ações mitigadoras,
como a regeneração de florestas locais.
Melbourn Airport
A cobertura do Aeroporto de Melbourn, na Austrália, compõe-se de telhas metálicas, que
sob altas temperaturas transmitem calor para o interior das edificações. Para reduzir os ganhos
térmicos provenientes dessa situação específica, no ano de 2006, o Aeroporto de Melbourn investiu na
pintura de mais de 35.000,00 metros quadrados de telhas com uma tinta denominada ‘SkyCool’,
desenvolvida pelos próprios australianos, que tem como única função refletir os raios solares
infravermelhos, evitando, assim, o aquecimento da edificação.
Como resultado, após os 18 primeiros meses do término da pintura das telhas metálicas,
verificou-se uma redução de 40.000,00 toneladas de CO2, devido a redução da utilização de ar
condicionados.
A comparação dos ganhos de temperatura nas superfícies pintadas e não pintadas com a
‘SkyCool’ pode ser visualizada na Tabela 2.
Tabela 2. Comparativo do ganho térmico em coberturas pintadas e não pintadas com
‘SkyCool’.
Unpainted
Roof temp.
56º
Interior
41º
SkyCoolTM
Fonte: ACI, 2007.
33º
27.5º
Hamburg Airport
As ações de sustentabilidade ambiental adotadas no Aeroporto de Hamburgo tiveram
início em 2005 e foram consideradas para construção do Terminal de Passageiros 1, no intuito de
representarem uma melhora da eficiência energética desse mesmo Terminal em torno de 15 a 20%.
Destacando-se duas dessas ações:
- Utilização de sistemas de condicionamento de ar a base de água.
- Adoção de um “termo-labirinto” no piso do terminal.
A utilização de sistemas de condicionamento a base de água representam uma eficiência
energética em torno de 15% maior do que os sistemas de condicionamento a base de ar. A adoção de
um “termo-labirinto”, sistema que pré aquece o ar exterior durante o inverno e pré resfria o ar durante
o verão, por sua vez, representa uma diminuição anual de aproximadamente 1.450MWh no consumo
de energia do Terminal 1.
Além das ações consideradas acima, ressalva-se que toda a demanda de água não potável
são provenientes da reutilização das águas de chuva.
Heathrow Airport
O Aeroporto de Heathrow, considerado um dos aeroportos internacionais de maior
movimentação do mundo, obteve a redução dos impactos ambientais, que decorreriam em função da
construção de seu Terminal 5, através do emprego de materiais de construção ambientalmente
sustentáveis e programas de reciclagem, que iniciaram-se no ano de 2008, a saber:
- Utilização somente dos tipos de madeiras certificadas pela Forest Stewardship Council
(FSC)5.
- Reciclagem de mais de 300.000,00 toneladas de resíduos provenientes de demolições e
desperdícios de concreto.
- Adoção de um sistema de classificação e segregação de resíduos de construção, com a
reciclagem de mais de 85% desses resíduos.
Somada a essas ações, tem-se a reutilização de 85% das águas provenientes das chuvas, o
que proporciona uma economia de até 70% na demanda de água potável da rede pública de
abastecimento.
Vancouver Airport
O Aeroporto de Vancouver, o segundo mais movimentado do Canadá (ACI, 2007),
investiu, no ano de 2003, na instalação de 100 painéis solares, a fim de compor um sistema solar de
aquecimento de água. Instalados na cobertura do Terminal Doméstico do Aeroporto, o sistema
composto pelos painéis solares contribui para o aquecimento de cerca de 800 galões de água a cada
hora. Somam-se a essa iniciativa a implementação de sistemas de controle de iluminação e
temperatura noturnos; instalação de sensores para controle de emissão de CO2; e melhoria do
programa de manutenção dos recursos e sistemas.
A instalação do sistema de aquecimento solar, por si só, resultou em uma redução de
energia de aproximadamente 8.569 GJ por ano, com uma consequente economia em torno de
$90.000,00 também por ano. As demais ações, em conjunto com o sistema de aquecimento solar,
responderam por uma diminuição em torno de 30% no consumo de gás natural no Terminal
Doméstico do Aeroporto de Vancouver.
5
“O FSC, Forest Stewardship Council, é uma organização independente, não governamental, sem fins
lucrativos, criada para promover o manejo florestal responsável ao redor do mundo” (FSC, 2013).
Outras ações de sustentabilidade ambiental são implementadas como, por exemplo:
- Educação ambiental dos funcionários do Aeroporto, com foco na importância e
resultados ambientais e econômicos de eficiência energética e conservação de energia, inclusive
incentivos financeiros para aqueles funcionários que conseguirem reduzir o consumo de energia em
suas estações de trabalho.
- Instalação de lâmpadas tipo LED para a iluminação das taxiways.
- Instalação de lâmpadas energeticamente eficientes em alguns dos andares do prédio de
estacionamentos.
- Substituição de equipamentos, como computadores, por modelos mais econômicos e
eficientes.
- Melhorias diversas no chiller do sistema de distribuição de água.
Para essas outras ações foi estimada uma redução de mais de 800.000 kWh de energia,
por ano; e, no caso da instalação das lâmpadas tipo LED, redução dos custos de manutenção.
Oakland International Airport
Localizado na área litorânea de São Francisco, Califórnia, o Aeroporto Internacional de
Oakland tem investido, desde 2007, em iniciativas focadas na utilização de fontes
alternativas/sustentáveis de energia e combustíveis, com o objetivo de reduzir as emissões de gases
causadores do efeito estufa e garantir a qualidade do ar local. As iniciativas incluem:
- Inauguração de uma central de Gás Natural para o abastecimento de veículos, em
substituição ao tradicional uso da gasolina.
- Inclusão, nos contratos com as companhias responsáveis pelo transporte de solo, de
cláusula que obriga a aquisição de veículos movidos a combustíveis alternativos, notadamente gás
natural, em uma porcentagem de 50% para as frotas de cada companhia de transporte.
Com essa medida, 65% dos táxis e 20% dos transportes coletivos (shuttle vans) que
operam no Aeroporto passaram a serem movidos à gás natural.
- Redução da utilização de combustíveis fósseis, como o diesel, na movimentação e
operação de aeronaves.
- Instalação de um sistema fotovoltaico no prédio ocupado pela transportadora FedEx.
Esse sistema gera cerca de 80% da energia elétrica consumida pela transportadora.
Em questão de resultados, apenas a inauguração da central de Gás Natural foi
responsável pela substituição de mais de 720.000,00 galões equivalentes de gasolina. Para as outras
ações não foram disponibilizados os benefícios
alcançados.
Dallas/Fort Worth Airport
Desde a década de 90, o Aeroporto Forth Worth, em Dallas, tem adotado medidas para a
redução das emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) e monóxido de carbono (CO), com a finalidade
de reduzir as emissões de gases poluentes causadores do efeito estufa, contribuindo para garantir,
assim, a qualidade do ar local.
Os principais esforços para atingir tais anseios foram concentrados em alterações nos
sistemas de energia e condicionamento de ar, bem como de mudanças na frota de veículos terrestres.
Até o ano de 2005, foram contabilizadas as seguintes conquistas:
- 100% dos veículos terrestres das categorias leve e média, incluindo ônibus e minivans, e
72% das categorias pesada e off-road foram substituídos por veículos movidos à combustíveis
alternativos, a maioria a gás natural.
- 87% da frota dos veículos tipo leve e médio enquadravam-se nos requisitos de
qualidade para veículos de baixa emissão.
- 3% da frota dos veículos tipo leve e médio eram do tipo híbrido ou elétrico.
- Substituição dos equipamentos existentes de boilers e chillers por aqueles com
tecnologia low-e.
Somente esta última ação resultou na diminuição de 97% dos óxidos de nitrogênio;
enquanto que todas as ações, em conjunto, contribuíram para a redução das 120 toneladas de emissão
de gases poluentes, em 1996, dominadas pelos óxidos de nitrogênio e monóxidos de carbono, para 15
toneladas no ano de 2005, representando uma redução total nas emissões de 87,5% em menos de 10
anos.
San Francisco International Airport
O Aeroporto Internacional de São Francisco (SFO), localizado no litoral da Califórnia,
tem implamentado, continuamente, e através de um departamento próprio (Departmental Climate
Action Plan), programas que visam à mitigação e redução dos impactos ambientais a serem causados
pelos próximos anos de operação do Aeroporto, com o foco na melhoria da qualidade do ar local,
redução da poluição, conservação e qualidade da água, redução e reciclagem dos resíduos, e
conservação e eficiência energética.
No que diz respeito aos assuntos relacionados à eficiência energética, o Aeroporto
Internacional de São Francisco, iniciou, no ano de 2007, a aquisição de 2.832 painéis solares a serem
instalados na cobertura do Terminal Doméstico 3, com capacidade de produção de 445kW, necessário
para suprir toda a demanda de energia para a iluminação diária do referido terminal, uma vez que
previa-se a substituição de mais de 6.000 lâmpadas existentes por modelos mais eficientes e
econômicos.
Como a instalação desses painéis, que compõe o segundo sistema fotovoltaico do
Aeroporto, espera-se uma geração anual de aproximadamente 628.000,00 kWh e consequente redução
de 7.200,00 toneladas de dióxido de carbono (CO2) em um período de trinta anos após o início do
funcionamento do sistema. O primeiro sistema fotovoltaico instalado, em setembro de 2001, com
capacidade de produção de 20kW contribuiu para a redução de cerca de 150.000 kwh nos seis
primeiros anos de funcionamento.
Além da instalação de painéis solares, no ano de 2003, foi realizada e inauguração de um
sistema automatizado de transporte de passageiros entre os terminais do aeroporto, estacionamentos e
empresas de aluguel de carros, eliminando cerca de 200.00,00 viagens de veículos entre esses trajetos
e reduzindo em 565 toneladas as emissões anuais de C02.
Narita International Airport
O Aeroporto internacional de Narita, localizado no Japão, diferentemente das abordagens
feitas pelos estudos de caso relacionados acima, investiu esforços não para a redução e/ou mitigação
dos impactos ambientais causados pela operacionalidade do Aeroporto, mas para a redução dos níveis
de ruídos causados pela movimentação das aeronaves. Objetivando tal conquista, o Aeroporto
introduziu, em outubro de 2005, um sistema diferenciado de cobrança de tarifas para pouso,
decolagem e manobras de aeronaves, baseado no nível de ruído gerado durante essas operações, o
Narita Aircraft Noise Rating Index (NANRI).
O Narita Aircraft Noise Rating Index (NANRI) definiu, de acordo com o estabelecido
pela ICAO, seis categorias, de ‘A’ a ‘F’ para a classificação dos ruídos. Para a categoria ‘A’, de menor
índice, as reduções das tarifas chegavam a 31%; enquanto que para as aeronaves classificadas na
categoria ‘F’, as mesmas tarifas eram reduzidas somente em 12%.
Com a implantação desse sistema, os resultados refletiram-se na redução de até 60% no
índice de ruídos causados pela movimentação das aeronaves, entre os anos de 2004 e 2006.
Além dessas reduções, outra consequência, visto que a redução dos níveis de ruídos devese à aquisição de aeronaves com tecnologias mais avançadas e modernas, que necessitam de uma
menor queima de combustível para os eu funcionamento, é a redução da emissão de gases poluentes,
contribuindo, também, para a melhora da qualidade do ar local.
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos dispostos acima, pode-se perceber a complexidade de atividades que envolvem a
operacionalidade de um aeroporto. Devido a essa mesma complexidade, é notável o grande consumo
dos mais variados recursos, principalmente naturais, nessas diversas atividades; como também é
preocupante a quantidade de resíduos gerados.
Assim, torna-se necessária a adoção de medidas de sustentabilidade ambiental que visem
a redução do impacto causado pelas atividades aeropotuárias ao meio ambiente. Como demonstram os
estudos de caso considerados nesse artigo, conclui-se que, as iniciativas compreendidas no período do
estudo, entre os anos de 2002 a 2007, tinham como foco a redução das emissões de gases causadores
do efeito estufa, como o dióxido de carbono.
Para a redução das emissões, investiu-se predominantemente na substituição das fontes
de combustíveis fósseis por combustíveis alternativos, como o gás natural; e a substituição de energia
elétrica convencional pela energia solar, proveniente tanto da instalação de sistemas de coletores
solares, para o aquecimento de água, quanto da instalação de sistemas fotovoltáicos para a geração de
energia elétrica.
REFERÊNCIAS
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Wiley & Sons, INC, 1992. 528 p.
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CARRA, T.A.; CONCEIÇÃO, F.T.; TEIXEIRA, B.B. Indicadores para a gestão de resíduos sólidos
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