BRUXARIA - O Desvendar de Segredos Ocultos

Transcrição

BRUXARIA - O Desvendar de Segredos Ocultos
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Senhor, o Deus da minha salvação,
que pela Sua infinita misericórdia livrou-me das garras do inferno. À
minha amada esposa Francine, que mesmo em meio às batalhas, tem
sido companheira e amiga. Aos meus filhos Thalles e Matheus, que são
meus maiores presentes.
Às minhas ovelhas da Igreja Evangélica Unção e Poder.
Aos amados Railton, Paty e seus filhos. Edson B. dos Santos Jr,
Pastor Aroldo (2ª Batista de Campos), Pastores Jairinho e Cassiane
(ADAlpha), Nadir «Dile» Moreira e sua esposa Iolanda (meus pais na
fé) e tantos outros que foram cruciais na minha conversão, ministério e
lançamento deste livro.
Aqueles que têm acompanhado meu ministério através dos livros,
DVDs, entrevistas na TV ou em publicações na internet.
Aos que me acompanham pelas redes sociais (Facebook, Twitter,
Instagram etc.) e que lêem tudo o que escrevo. Obrigado pelo seu
carinho.
Aos pastores que tem levado-me às suas igrejas para ministrar a
Palavra de Deus e treinamentos em batalha espiritual. Obrigado pela
confiança, cuidado e amor.
Deus abençoe todos vocês!
Pastor Carlo Ribas
PREFÁCIO
Há alguns anos atrás, tive o privilégio de ter em minhas mãos um
dos exemplares do livro BRUXARIA do pastor e querido amigo Carlo
Ribas. Ao iniciar sua leitura fui tomado pelo anseio de descobrir em
suas linhas o desfecho daquele testemunho que viria complementar
minha busca incessante sobre o tema Batalha Espiritual. O fato é que
em alguns outros livros, sobre o mesmo tema, não encontrei a riqueza
de detalhes abençoadores que encontrei neste, que considerei
importante e conveniente para minha busca. A peculiaridade do livro
BRUXARIA é que não enaltece as figuras satânicas, mas sim o
processo de libertação do autor, por meio da verdade do evangelho de
Cristo.
O tema abordado pelo livro é um assunto muito palpitante, porém
sério demais, e realidade de muitos em nosso místico país. Por isso,
cresce cada vez mais a necessidade das igrejas estarem se inteirando
à respeito das artimanhas do inferno e suas estratégias para destruição
dos seres humanos.
Quando o pastor Carlo aborda sua libertação
percebemos o quanto é necessário conhecermos o poder que as trevas
têm e seus limites em relação ao Reino de Jesus, antecipando assim
nossas ações como igreja militante, no processo de libertação dos
cativos.
Creio então que este livro é parte do projeto de Deus de pregar a
liberdade aos aprisionados do mundo das trevas para a liberdade
eternal em Cristo Jesus.
Pr. Aroldo Félix - Segunda Igreja Batista de Campos – RJ
INTRODUÇÃO
QUANDO ESCREVI O LIVRO BRUXARIA, há mais de uma
década, eu era um jovem novo convertido, cansado de contar a todo
mundo a minha história. Escrevi na época em um caderno de dez
matérias, a mão, e a história explodiu. Não havia muitos no Brasil com
coragem de dizer o que eu disse. Tudo aconteceu tão rápido que,
quando dei conta, já era um livro e eu já estava viajando o mundo todo,
falando sobre o tema.
Hoje, vinte anos após minha conversão, sou um homem maduro,
casado, pai de dois filhos e pastor de uma igreja. Por isso resolvi
reescrever esta obra, que impactou o Brasil e o mundo.
Muitas coisas descrevi sem riquezas de detalhes, outras deixei de
mencionar, por medo de retaliações, por imaturidade e, talvez, por falta
de direcionamento, portanto, se você já leu o livro Bruxaria - O
Desvendar de Segredos Ocultos há Milênios (Editora Naós, 2003), você
precisará ler esta nova edição, ampliada, reescrita e condicionada de
uma forma linda, valorizando a obra da Salvação que só Jesus Cristo
pode fazer na vida de uma pessoa.
Espero que as páginas que seguem possam levá-lo ao
conhecimento da natureza pecaminosa do homem distante de Deus,
fazendo-o capaz de coisas terríveis e desprezíveis; mas também almejo
que você conheça a Obra da Redenção que o Senhor Deus gerou ao
enviar seu Próprio Filho Jesus, fazendo-se sacrifício em nosso lugar. À
ELE, toda honra e glória.
Pastor Carlo Ribas
1 – O INÍCIO
Aos doze anos de idade eu já era um menino muito atípico, em
relação aos garotos da minha idade, na década de oitenta. Gostava das
coisas místicas e da magia. Não tinha muitos amigos, porém um
grupinho da minha rua é o que restringia meu mundo. Jogava bola com
eles constantemente em um campinho próximo a minha casa, na rua
principal da cidade.
Vivíamos em uma cidade de interior, no estado do Paraná, sul do
Brasil. A cidade, apesar de pequena, era um dos principais polos do
satanismo em nossa nação. Ali grandes rituais eram realizados
secretamente em uma mata atrás de um morro que estava no acesso
principal da cidade. Eu vim de uma tradicional família satanista, de
várias gerações de sacerdotes superiores. Apesar de muita gente não
saber, vivi uma infância diferente, prometido à Satanás, reservado ao
sacerdócio.
No satanismo existem três linhas de força: Tradições, que são
responsáveis por manter o ensino e conhecimento da magia através
dos séculos, de forma hierárquica, passando de geração em geração;
Irmandades, que são responsáveis pelos cultos satânicos, por organizar
a liturgia e os locais específicos para rituais; Organizações, que são
responsáveis por sustentar o satanismo, através de comércios no
mercado negro, como o tráfico de pessoas, sequestros de crianças,
vendas de órgãos, armas, drogas etc.
Meu avô materno era Sacerdote Superior de uma Tradição
Satânica, responsável em passar os conhecimentos organizacionais do
satanismo para novos membros. Além de um mestre em
conhecimentos, ele era um grande mago, termo usado por sacerdotes
que desenvolvem a magia ativamente. Fazia rituais, encantamentos e
muitas ações mágicas.
Sem que eu soubesse, minha mãe tinha um chamado dentro da
Tradição: gerar um descendente para o meu avô, uma vez que os filhos
dele, meus tios, não haviam sido aceitos pelos demônios designados
por Satanás naquela época, para dar continuidade à Tradição em nossa
família. Na ordem numerológica, a cabala, o número 3 é um número
que simboliza a maldição, impureza. No satanismo não se utiliza quatro
dígitos, apenas três. Nasci no dia 6-1-76, que são quatro dígitos.
Subtraindo os dois números do meio (1-7) têm o número 666, que todo
satanista precisa ter, de alguma forma, em seu nome ou data de
nascimento. É a identificação espiritual.
Desde muito cedo eu sentia que era diferente. Havia em mim uma
sensibilidade espiritual muito maior do que nas outras pessoas. Certa
vez, com apenas cinco anos de idade, minha mãe levou meu irmão
mais velho e eu em uma curandeira, para fazer alguns encantamentos
que pudessem nos curar de problemas de saúde. Eu tinha asma e
bronquite e fiquei esperando a curandeira realizar os encantamentos
em meu irmão, que na época estava sofrendo com interferências
espirituais que o fazia ver vultos e imagens que o impediam de dormir.
Na salinha em que eu estava, comecei a cantar uma canção antiga, que
havia aprendido com um “amigo imaginário” (hoje sei que era um
demônio), da Tradição, que abria uma portinha bem pequena e me
possibilitava olhar para outro lugar, no planeta, como se fosse um portal
para ir a qualquer lugar. Como estava muito chato esperar ali, comecei
a cantar aquela canção, na esperança de abrir aquela portinha
pequenina, próximo a mim, e eu pudesse correr para outro lugar. Os
espíritos que estavam possuindo aquela mulher começaram a ficar
agitados a tal ponto que minha mãe veio até mim e ordenou que
parasse de cantar. Fiquei intrigado e, quando minha mãe saiu
novamente, cantei com mais força e a portinha apareceu! Todos os
demônios que estavam na feiticeira foram sugados por aquela porta e
jogados em algum lugar que nenhum de nós fazia ideia de onde fosse.
A feiticeira extremamente assustada mandou minha mãe me
chamar para conversar com ela, a sós, na salinha de encantamentos.
Lembro como se fosse hoje: ela abaixou-se na minha altura e disse:
- Onde foi que você mandou os espíritos da tia?
Eu realmente não fazia ideia e respondi:
- Não sei tia.
Ela, visivelmente irritada disse:
- Eu sei quem você é. Sei do que você é capaz. Então devolva os
meus espíritos!
Como eu não fazia ideia do que ela estava dizendo, corri assustado
para minha mãe, que prontamente me levou até meu avô.
Era o ultimo ano de vida do meu avô Carlo, de quem herdei o nome
e todos os seus demônios. Ele contou para minha mãe que o que eu
tinha estava começando a se manifestar aos poucos e que a abertura
desses portais, até espontaneamente, seria normal. Meu avô foi até a
casa da feiticeira e trouxe os seus espíritos de volta, sei lá de onde.
Perto da minha casa havia um estacionamento usado por um hotel,
que tinha uma grande área gramada. Lá era nosso campinho. Todos
tinham entre doze e treze anos e jogávamos todos os dias.
Certa vez, em um final de tarde notei que um homem permanecia
no portão olhando para nós. Ao vê-lo senti algo perturbador, diferente,
apesar de sua aparência ser normal. Continuei jogando, mas sem
deixar de notar a sua presença. Não demorou muito para que fizesse
um gesto com a mão, me chamando até ele. Seu nome era Luiz e era o
dono de um pequeno jornal da cidade. Disse que sempre nos via
jogando ali e perguntou se não estávamos interessados em montar um
time para jogar no campeonato infantil da cidade, com um jogo de
camisas do jornal dele. Reuni meus amigos e aceitamos, empolgados!
Seria ótimo! Eu não sabia que aquilo era apenas uma isca para que ele
pudesse se aproximar de mim: Luiz era um mestre da Tradição e havia
sido enviado para minha iniciação, que deveria ser feita aos doze anos.
Passou uma semana e decidi ir até o jornal conversar com o Luiz.
Queria acertar com ele alguns detalhes sobre nosso time de futsal e
conhece-lo melhor. Como eu estudava à tarde, passaria lá depois da
aula, porque o jornal ficava perto da escola. Ao término da aula, como
se houvéssemos combinado, Luiz estava na frente da escola me
esperando. Espantei-me:
- Luiz? – Disse.
- Eu sei, você estava indo lá me ver, não é? Eu estava passando
aqui perto e resolvi te buscar. - Ele sorriu dizendo.
Fiquei impressionado, mas como coisas muito estranhas
aconteciam comigo sempre, deixei simplesmente acontecer e fui até o
jornal.
O jornal era em um quarto de hotel, de baixa qualidade, no centro
da cidade. Ali também era sua casa. Tudo muito desorganizado e sujo.
A primeira coisa que vi quando entrei foi uma coleção de discos de vinil
do Iron Maiden, e gastei um tempo olhando capa por capa. Apesar de
ter imagens diabólicas e satânicas, eram extremamente bem
desenhadas e atraiu minha atenção.
- Quero um dia poder desenhar como esse artista. – Comentei.
- Olha, é perfeitamente possível, desde que você encontre essa
habilidade dentro de si. – Afirmou sorrindo.
Sentamos e começamos a falar sobre tudo, menos futebol. Ele me
disse que era carioca, mas que amava o Paraná. Tinha trinta anos e era
um prodígio. Seu QI era alto para pessoas da idade dele e sempre teve
facilidade em aprender as coisas. Nunca soube nada mais sobre ele,
apenas que seus pais eram separados e sua mãe havia casado
novamente com um homem a quem o Luiz nutria um ódio mortal.
Sonhava em poder vê-lo morto. Ele também tinha uma namorada,
chamada Cris, que era especial! Ativa, dinâmica, esperta. Sempre há
um passo a frente de tudo. Ela era extremamente liberal, ao ponto de
andar nua no quarto, mesmo comigo lá dentro.
O tempo foi passando e fui me apegando a eles. Era um casal
modelo para mim e eu queria ser como o Luiz era. Obviamente a falta
de um pai presente em casa gerava esta necessidade em mim. Meu pai
e minha mãe separaram-se quando eu tinha seis anos de idade e,
depois disso, nunca mais tive uma presença paterna real em casa.
Luiz sempre sabia algo sobre tudo. Qualquer assunto, ele sabia o
que falar. Quando eu tinha alguma dúvida, era ao Luiz que eu recorria.
Pouco a pouco fui passando cada vez mais tempo no hotel com ele e
sempre aprendendo alguma coisa nova. Sua sabedoria assustava,
apesar da aparência desleixada que tinha. Ele tocava violão e disse que
gostaria de aprender, mas via o sacrifício do meu irmão, que estava
estudando guitarra, que me fazia desistir antes mesmo de tentar. Ele
sorriu singelamente, como sempre fazia, e me disse:
- Seu irmão sofre porque faz do jeito errado. Você precisa buscar
isso dentro de você. É fácil! Pegue o violão todos os dias, sente-se em
uma cadeira e comece a conversar com ele. Passe suas mãos sobre
ele e sinta a madeira, as cordas... Peça a ele que te ensine a tocar.
Diga que gostaria de lembrar-se disso, porque todo conhecimento e
toda a sabedoria já está inserida dentro de nós. – Ensinou.
Confesso que achei meio ridículo ficar conversando com um violão,
mas a forma com que ele falava era tão viva e convincente que resolvi
tentar. Eu sentava todos os dias e mexia no violão, deslizava os dedos
pelas cordas e dizia ao meu cérebro: “eu ordeno a você que me mostre
como tocá-lo!”. Em poucos dias já estava tocando violão, sem nunca
haver feito aulas.
ISSO TUDO SE TRATA DE UMA AÇÃO DIABÓLICA E SATÂNICA E
NÃO DEVE SER FEITO POR NINGUÉM. OBVIAMENTE AS AÇÕES
DESCRITAS NESTE LIVRO NÃO SÃO ACOMPANHADAS DE
PALAVRAS MÍSTICAS DE INVOCAÇÕES, POR NÃO SER ESTE O
OBJETIVO DO LIVRO.
Quando percebi que em poucos dias já estava tocando violão,
aquilo me fez confiar ainda mais nas coisas que Luiz me dizia e
ensinava. Passei a ir todos os dias ao hotel e sempre buscava aprender
mais alguma coisa. Eu via nele a possibilidade de ser alguém.
Luiz começou aos poucos demonstrar suas habilidades com a
magia. Primeiro ele pregava peças, fazendo objetos se moverem
(telecinese) sem o uso de suas mãos. Ele era realmente muito bom
nisso. Copos, talheres, lápis... Tudo vinha até suas mãos por um
simples olhar. Certa vez ele me ensinou a fazer algo. Era simples. Tudo
consistia em espetar uma borracha de escola com um alfinete e colocar
um papel amassado em cima. Disse-me para focar minha força naquele
papel e ordenar que se movesse. Tentei uma, duas, várias vezes até
que se moveu. Senti-me o “Superman”! Eu, uma criança pobre, sem
amigos, agora fazendo coisas fantásticas que ninguém fazia! Comecei
a treinar em tudo o que podia. Movia folhas, pequenos objetos. Minha
autoestima aumentava a cada dia e eu, cada vez mais, queria ser como
o Luiz. Eu queria saber o que ele sabia e ter o que ele tinha.
Em uma noite, enquanto desenhávamos algumas tirinhas de
histórias em quadrinhos para o jornal, Luiz me mostrou algo muito
interessante. Ele me pediu para pegar um lápis da cor azul. Quando o
segurei na mão, ele me perguntou:
- Tem certeza que é o azul que você pegou?
Eu tinha! Então me disse:
- Olhe novamente!
E o lápis estava com a cor amarela e o azul estava na mão dele.
Era impossível! Fiquei estarrecido e perguntei como ele havia feito
aquilo. Mais uma vez o olhar sereno dele, acompanhado de um sorriso
trouxe uma resposta simples:
- Você só precisa desejar! É simples, apenas queira o lápis azul na
sua mão.
Fechei meus olhos e desejei de todo o meu coração. Quando abri
os olhos, o lápis azul novamente estava comigo.
Outro dia, ao chegar ao hotel notei que o quarto estava escuro,
porque o sol já havia se posto. Luiz, que olhava para fora da janela em
um momento contemplativo, me pediu para acender as luzes. Quando
fui tocar no interruptor ele disse:
- Não com a mão. Acenda com o seu pensamento.
Forcei muito a minha mente e nada aconteceu e ele me explicou:
- Quanto mais força mental você fizer, mais pesado o interruptor
ficará. Tente ser suave e imaginar sua mão saindo do interruptor, ao
invés de tocá-lo.
Imediatamente imaginei minha mão tocando suavemente, como se
estivesse flutuando. A luz do quarto se acendeu.
Luiz fazia todas essas coisas para me cativar, para me convencer
de que a magia era o meu destino. Passei a trabalhar com ele no jornal,
ajudando com a arte. Cada dia de trabalho era muito mais um dia de
aula do que qualquer outra coisa. Ele me ensinava sobre a magia,
sobre os mestres do universo e sobre a manipulação das coisas.
Sentávamos na varanda do hotel e ele movia as nuvens com
movimentos das suas mãos. Fazia buracos no meio delas e cortava
outras em dois pedaços.
Algumas vezes eu o vi levitar levemente do chão, quando ficava
muito feliz, como no dia em que seu time de futebol ganhou o
campeonato brasileiro. Ele vibrou tanto, gritou, festejou, pulou tanto
que, em determinado momento pude notar que seus pés não estavam
tocando o chão.
Desde criança eu era fascinado pela magia. Assistia aos desenhos
animados e imaginava ter superpoderes e isso, de certa forma, auxiliou
no desenvolvimento psíquico e místico em mim. Agora, vendo Luiz ali
na minha frente, eu sabia que tinha a chance de ter tudo o que sempre
sonhei. Eu queria ter um poder que ninguém tivesse. Sentei com Luiz
no tapete do quarto e pedi:
- Luiz, quero ser como você. Quero ter o que você tem e quero
fazer o que você faz. Ensine-me!
Ele então passou a me contar tudo, sobre quem ele era, sobre a
Tradição, sobre minha família e o poder que meu avô Carlo havia
deixado para mim. Ele me disse sobre os graus que havia no satanismo
e o que seria necessário para eu alcançar a iluminação. Ele disse que
eu era um escolhido e que a missão dele era me treinar e me preparar
para ser um sacerdote superior, um dia. Ele seria meu mestre. Levantei
dali com uma certeza em meu coração: eu seria um sacerdote da
Tradição.
2 – A TRADIÇÃO
A alta magia antiga é dividida em três seguimentos: Tradições,
responsáveis pelo ensino da magia; Irmandades, responsável pelos
cultos e liturgias e as Organizações, responsável pelo sustento e
logística das demais.
A Tradição a que pertenci veio das raízes mais antigas do
satanismo e, infelizmente, de um dos personagens mais emblemáticos
da Bíblia: o rei Salomão. A Bíblia Sagrada diz que Salomão casou-se
com mil mulheres e dentre elas, várias mulheres que adoravam
demônios cananeus. Com o passar do tempo, Salomão se contaminou
com a idolatria das suas mulheres e se distanciou de Deus. Com o
passar do tempo passou a ser influenciado por mágicos, místicos e
feiticeiros que ajudaram Davi, seu pai, a construir o Templo como
artífices, como Hiran Abiff e Tubalcaim, e escreveu livros de magia, que
se tornaram referência para o ensino da "antiga religião", como era
chamada.
Salomão escreveu alguns livros usados pela Tradição: o
Lemegeton, também chamado de "A Chave Menor de Salomão", onde
há os nomes dos demônios, orações necessárias para invocá-los e
fazê-los obedecer ao bruxo. Lá existe a descrição dos 72 demônios das
ordens antigas. Outro livro atribuído ao rei Salomão é "A Chave de
Salomão", onde existem 36 lições sobre como ligar o mundo físico ao
espiritual, abrindo portais mágicos.
A Tradição fazia uso de outro livro mágico, o Heptameron que,
dividido em duas partes, ensinava a se comunicar com os demônios do
ar com invocações específicas durante os sete dias da semana e
também a realizar rituais para forçar os demônios a mostrar o lugar de
coisas valiosas, fazer pessoas escravas, atrair amor de pessoas, mover
coisas etc.
Em 1487 a Europa estava dominada pela bruxaria, porém dentro da
igreja católica havia muitos bruxos e satanistas infiltrados. Dois bruxos,
passando por inquisidores, chamados Heinrich Kraemer e James
Sprenger escreveram um manual de caça às bruxas, onde era possível
saber quais tipos de pessoas eram bruxas (como as mulheres que não
choravam, por exemplo) e quais as formas de condená-las a morte e
executá-las. Esse livro se chamou Mallevs Malleficarvm e foi apoiado
por uma bula papal de Inocêncio VIII, o principal documento católico
sobre bruxaria. O livro era uma jogada da Tradição para desviar o foco
dos inquisidores das verdadeiras bruxas. O nome da Tradição era
Mallevs Malleficarvm e, após a publicação homônima. O livro nunca foi
aprovado pela igreja católica e entrou para a lista de livros restritos
(Index Librorum Prohibitorum). Kraemer foi condenado pela inquisição e
morto em 1490. No Brasil ele foi lançado em 1976, exatamente no ano
em que nasci.
A função da Tradição era administrar o ensino da magia. Passar
para as gerações futuras os tratados mágicos e a cultura mística que
tínhamos. Comunicação com demônios, uso de poderes sobrenaturais,
favorecimento a custas de forças ocultas. Como toda religião, a bruxaria
desenvolve formas de ligar o mundo espiritual ao plano físico e tirar
proveito disso. Dentre as muitas coisas ensinadas, havia o uso do
poder dos sonhos, também chamado de energia onírica, que nos dava
condições de dominar completamente o que sonhávamos, e até com o
que queríamos sonhar.
Tínhamos o poder de entrar nos sonhos dos outros. Vinculávamos
alguém no mundo espiritual através de um demônio que agia na
pessoa. Com isso podíamos dominar completamente os sonhos dele,
fazendo-o até mudar decisões tomadas, pensando ser um "aviso divino"
ou algo assim.
DEMÔNIO DOS SONHOS
Quando eu estava na Tradição conheci um demônio dos sonhos,
também chamado de Álphar, que era capaz de invadir a mente de
qualquer pessoa enquanto dormia. Não me lembro de ter perguntado a
ele se podia entrar na mente dos "crentes", porque só fiquei sabendo da
existência de um povo chamado "evangélico" anos depois, mas era
incrível o que ele fazia. Muitas vezes colocava tanto medo em uma
pessoa que a levava à loucura.
Ele tinha uma porta de entrada muito simples no sonho: o estado
que antecede ao sono, chamado de sono NREM, estágio 1. Ali, naquele
ponto, o espírito humano (também chamado de corpo espiritual) se
eleva acima do corpo físico e deixa uma brecha para o demônio invadir
a área de mente que fica ativa durante o sono. Como nessa fase as
atividades oníricas ficam mais sucessíveis aos acontecimentos
recentes, o demônio entra em imagens geradas por legalidades
espirituais, como filmes de terror, livros de ocultismo, músicas profanas
etc.
Quando Álphar entrava, chamava os Íncubos e Súcubos, demônios
sexuais que atuam apenas nos sonhos. Eles tinham uma ação
conjunta: os Súcubos, demônios femininos apareciam nos sonhos de
homens, com aparência sedutora, para fazê-los ter uma polução
noturna, a fim de recolher o sêmen deles, passando assim para os
Incúbus, demônios masculinos, para que pudessem ter legalidade de
manter relações sexuais com mulheres e, em alguns casos, até
engravidando-as. Como o sêmen era humano, obviamente as crianças
provenientes dessas profanações eram seres humanos legítimos,
porém com uma terrível maldição sobre suas vidas.
Outra atividade bastante usada na Tradição é o poder sobre os
elementos naturais, fogo, água, terra e ar. Esse poder se tornava
absurdo, com o passar dos anos e graus alcançados na escala
evolutiva. A energia telúrica é amplamente utilizada, por entender-se
que a terra é um ser vivo, energético, que abastece os bruxos. Por esta
razão a grande maioria das invocações ou rituais são realizados na
natureza, aproveitando essa energia.
O poder de mover o vento é atribuído ao príncipe do inferno Belial.
É através dele, que os bruxos podem fazer ventar, chover, mover
nuvens etc. O poder de mover as águas é trazido pelo príncipe Belial, o
demônio das águas. O fogo é gerenciado por Satanás e a terra por
Lúcifer. Cada um dos quatro príncipes do inferno, com seu poder,
entrega ao bruxo à possibilidade de manipular os elementos naturais.
Dentro da Tradição era comum a realização de rituais onde esses
demônios eram invocados e adorados. Em alguns rituais os bruxos
ofereciam seus corpos cortados, sangrando, a essas entidades. Em
outros, oferendas ritualísticas eram feitas, que variavam de pratos com
fezes até a entrega do sangue de um holocausto sacrificado vivo,
humano ou animal.
A magia branca, também chamada de teurgia, era utilizada para
curar fisicamente pessoas que procuravam os bruxos e pagavam
grandes quantias para isso. A magia negra, chamada de maleficia, era a
mais utilizada. Tanto para promoção própria como para obter benefícios,
os bruxos sempre usavam a magia negra, o tempo todo. Palavras
mágicas de encantamentos, gestos místicos, liberação do prana,
substância espiritual criadora do universo e que está nos seres vivos,
segundo os místicos. É usado para canalização da vontade do feiticeiro
em algum lugar, como uma demarcação. Acredita-se erroneamente que
os demônios são seres neutros, portanto podem praticar tanto o bem
quanto o mal, dependendo apenas da motivação e ordem do bruxo.
O crescimento fundamental e filosófico na Tradição era muito
grande e poderoso. Havia nove graus necessários para cada membro.
Nem todos atingiam os últimos três graus, mas todos deviam iniciar o
primeiro.
PRIMEIRO GRAU - APRENDIZ
É aqui que tudo começa. Um mestre de sétimo grau é enviado a
um escolhido, descendente de algum grande sacerdote, para iniciá-lo.
Tudo começa com demonstrações de sinais e prodígios, para gerar o
desejo da pessoa a ser iniciada em seguir os caminhos da magia. O
período inicial demora meio ano e é um prazo em que a pessoa
escolhida deve, espontaneamente, pedir para ser iniciado. Nada é
forçado neste primeiro grau. Acredita-se que o caminho da magia passa
apenas uma vez na vida de uma pessoa. Se a pessoa perde-lo, nunca
mais ele volta. Portanto, no primeiro grau tudo é espontâneo e tranquilo,
para que a pessoa escolhida tenha certeza do que quer.
Após o escolhido desejar ser um iniciado, ele precisa passar pelo
período de um ano lunar (treze meses de vinte e oito dias) mais um dia
de treinamentos sobre magia. É o tempo em que aprende a filosofia da
Tradição, a psicologia, demonologia. A espiritualidade do aprendiz é
aguçada ao máximo e a sensibilidade espiritual muito trabalhada.
Na Tradição só há duas formas de ingresso:
O hierárquico, quando um membro a partir do sétimo grau tem um
parente de até quarta geração que deve dar seguimento ao nome da
sua família nos tratados mágicos. Então ele é o escolhido.
Por escolha, quando um sacerdote de oitavo ou nono grau precisa
de certa pessoa da sociedade dentro de seu grupo, por ser muito rico
ou então muito influente em determinada área. Então é realizada uma
assembleia e o nome é colocado à aprovação. No período de vinte e
oito dias a um ano o candidato é vigiado por membros da Tradição.
Nesse período tudo o que a pessoa faz é vigiado. Passado o tempo de
análise, reúne-se novamente a assembleia e discute-se os pareceres.
Uma votação é realizada onde treze mestres decidem. Cada um tem
em sua mão uma bolinha branca e outra preta, que há seu tempo é
depositada em uma salva de tecido aveludado. A branca significa "sim"
e a preta "não". No fim da votação, conta-se quantas bolas brancas e
pretas tem e a que tiver maior número ganha.
Um membro escolhido por votação será apenas usado para
favores. São considerados seres inferiores e jamais chegam a graus
elevados. Morrem antes disso.
No primeiro grau o aprendiz começa a realizar pequenos prodígios,
desde o primeiro dia. Mover pequenos objetos através da telecinese,
com ou sem a ajuda de seu mestre.
Logo após a metade do ano, o aprendiz começa a se preparar para
a iniciação, que o fará ingressar na antiga religião: a magia.
SEGUNDO GRAU – INICIAÇÃO
Nesse estágio a pessoa faz o primeiro grande pacto com demônios.
Até então tudo girava em torno de encantamentos e pequenos pactos,
como os de “aceitação”, também chamados de “pactos involuntários”,
como ir até algum médium que lê tarô, mão etc. É nisso que o inimigo
coloca escondido legalidades para poder entrar na vida das pessoas.
Muitos acreditam que não passa de uma curiosidade ou brincadeira,
mas é uma armadilha terrível.
Veja, por exemplo, o horóscopo: tecnicamente é uma fraude!
Pessoas comuns escrevem nos jornais o que querem em cima dos
signos. Mas o simples fato de uma pessoa desejar saber o seu futuro,
faz uma “troca” da sua pureza espiritual por uma informação
sobrenatural (saber o futuro está acima do natural, por isso é operado
por forças espirituais que manipulam essas informações. Não é algo
natural). Isso gera o direito legal do demônio que manipulou as
informações entrar na vida da pessoa.
NOTA: todo ser humano é formado por espírito (corpo espiritual),
alma e corpo. O espírito humano é ligado a Deus, caso a pessoa tenha
uma vida cristã ativa. Quando uma porta espiritual, ou brecha, é aberta
por legalidade, como no caso dos pactos involuntários, o Senhor se
distancia do ser humano, como diz em Isaías 59:2. Com isso o demônio
tem direito legal de entrar na vida da pessoa, criando um vínculo com o
espírito humano. A isso chamamos “opressão maligna”.
Os grandes pactos são levados muito a sério dentro da Tradição e
tem diversas finalidades. Alguns são feitos para selar acordos entre
demônios e pessoas. Outros ainda são gerados no mundo espiritual,
para entregar a vida de pessoas da mesma família. Nesses grandes
pactos existe a assinatura de um contrato, feito em papel especial e
assinado com o sangue de quem está pactuando com os demônios. É
extremamente necessária à assinatura com o sangue, que simboliza a
vida e identidade biológica da pessoa que assinou.
Para a realização de um pacto é necessário um ritual, que serve de
ambiente para o acontecimento. Os rituais são cerimônias que abrem
os portais mágicos, permitindo a entrada de demônios específicos no
plano físico e, com isso, selando os pactos. Pequenos rituais são
realizados diariamente, para liberar demônios de proteção, auxílio etc.
São tão comuns entre os bruxos que fazem parte da vida deles.
Hoje em dia a internet está, infelizmente, lotada de sites que
ensinam as pessoas a fazerem pactos com demônios e rituais de várias
formas. Nas livrarias as seções de livros espiritualistas e exotéricos
estão cada vez maiores. Mesmo uma pessoa aprendendo na internet
um pacto ou ritual, isso não significa que não haja demônios ligados a
ele.
TODO PACTO OU RITUAL É SATÂNICO!
Não entrem nisso de forma alguma! Vou demonstrar neste livro
alguns rituais que participei, excluindo claro as palavras ritualísticas
ditas neles. Muitas seitas modernas não aceitam o nome “Satanás” ou
“diabo” ou ainda “demônio”, mas tem o mesmo poder maligno e nocivo
espiritualmente. Não se iluda com “bruxinhas do bem” ou “magia
branca”. Todas essas formas de magia são malignas e satânicas, não
importando o nome que tenham.
Na Tradição, o segundo grau é também chamado de grau da
consciência, porque a partir dele o iniciado passa a conhecer a magia.
O mundo mágico fica muito mais aguçado e sensível e o iniciado
desenvolve o círculo mágico, que é representado por um círculo de oito
metros de diâmetro ao redor da pessoa. Este círculo mágico faz com
que o bruxo domine tudo o que entra nele: pessoas, animais, objetos
etc. Com o passar do tempo um bruxo desenvolve isso de uma forma
absurda, fazendo-o crescer ao ponto de absorver casas, ruas,
montanhas, cidades.
O iniciado precisa passar por um período de um ano e um dia,
aprendendo encantamentos, rituais, pactos e outras atividades
espirituais, até fazer um segundo ritual de “votos”, onde declara que
deseja continuar no caminho da magia e que não será um peso para a
Tradição. Só então ele está pronto para o terceiro grau.
O MENSAGEIRO
O inferno envia a cada pessoa que nasce um demônio, chamado
de “demônio pessoal”. Sua função é aprender tudo sobre aquela
pessoa, independente se ela é satanista ou não. Quando a criança
aprende a andar, aquele demônio aprende junto com ela. Quando fala
as primeiras palavras, aquele demônio aprende junto. Quando começa
a escrever o demônio aprende também e passa a ter a mesma letra.
À medida que a pessoa cresce o demônio desenvolve todas as
características do indivíduo e passa a ter um temperamento e
personalidade parecidos. Por isso quando morre um parente, alguém
tem uma experiência de tê-lo visto depois de morto. Na verdade não era
o morto quem apareceu, mas sim o demônio pessoal que, com a morte
da pessoa passa a dar um direito dele se manifestar com a mesma
imagem, voz, letra e assinatura. Os médiuns que psicografam livros,
afirmando que um morto incorporou neles e escreveu, fazendo a
mesma assinatura inclusive, estão fazendo uso desses demônios, que
acompanharam a vida toda da pessoa e sabem imitá-lo em tudo.
Na bruxaria utilizam-se esses demônios para outros fins. O
demônio pessoal passa a se chamar “mensageiro”, a partir da iniciação.
É uma das primeiras experiências com demônios. É necessário uma
série de rituais e invocações para ter direito a presença dele todo o
tempo.
O MENSAGEIRO É UM DEMÔNIO E, COMO TODO DEMÔNIO,
PRECISA SER EXPULSO EM NOME DE JESUS CRISTO!
A Tradição sempre ensinou que os demônios mensageiros eram
neutros e que cabia ao bruxo dominá-lo e direcioná-lo no que fazer.
Caso um iniciado não conhecesse seu mensageiro, poderia correr o
risco de ser morto pelo mesmo. Por isso o mensageiro deveria se tornar
o melhor amigo do iniciado.
Esta é uma artimanha para manter a mente do iniciado presa aos
princípios da Tradição. Com o envolvimento cada vez maior do iniciado
com o mensageiro, sem perceber ele se distancia da realidade, da
família, da sociedade e se aprofunda no mundo sombrio do satanismo.
Sempre é bom frisar que a bruxaria se apoia em uma série de
seduções, ilusões e mentiras, tentando com isso preencher o vazio
existencial e espiritual que sentem, fazendo as pessoas iniciadas
acreditarem nos enganos do inimigo.
O nome do demônio mensageiro é muito importante e passa a ser
o nome mágico do iniciado. Ninguém deveria sabê-lo, para que não
fosse destruído por outros bruxos que, conhecendo o nome do
mensageiro, poderiam invoca-lo em um ritual e fazer um pacto com ele,
matando a pessoa em que ele trabalhava. O mensageiro que habitou
em mim por muitos anos se chamava Stinuts. Ele já foi expulso pelo
Poder do Nome de Jesus.
No período da iniciação o iniciado passa a sentir coisas que nunca
sentiu antes, devido à sensibilidade espiritual que está aumentando a
cada dia. Passa a ver espíritos malignos, que mesmo sendo demônios
aparecem com a forma de santos, pessoas, luzes. Em algumas
situações é possível ouvi-los e até conversar com eles.
No início é necessário invocar o mensageiro quando se quer ter um
contato. Passado certo tempo, o iniciado gera tanta afinidade e
intimidade com o mensageiro que passa a se comunicar com ele todos
os momentos, in rapport, que é uma forma de harmonização, onde liga
a mente ao mundo espiritual. O mensageiro opera inclusive nos sonhos
do iniciado.
Um mensageiro é utilizado em tudo, na vida de um bruxo. Ele é o
demônio pessoal então nada é decidido sem que haja um parecer dele
primeiro. Através dele acontece a transferência de sensibilidade (muito
usada no voodoo), quando a sensibilidade física de alguém é
transferida para um objeto, em geral um boneco, através da magia
negra. Tudo o que se faz ao objeto é acometido na pessoa. Também é o
mensageiro quem auxilia nos projecionismos, ou viagens astrais,
quando o espírito sai do corpo e viaja por regiões onde deseja ir.
Feitiços, encantamentos, magias, rituais... Tudo é auxiliado pelo
mensageiro, que é o representante do bruxo no mundo espiritual.
Muitos infelizmente pensam, como eu também pensava, que
dominam seus mensageiros. Acham que estão no controle, mas não
estão. Mensageiros são demônios perigosíssimos e terríveis. Eles
dominam as pessoas e as leva ao inferno. CARO LEITOR, se você
ainda é satanista, ou feiticeiro, bruxo, wiccan e tem um mensageiro,
faça um teste: peça ao mensageiro quem é Jesus Cristo! Ele se irritará
com você, porque não aceita o Salvador do Mundo. Procure uma igreja
evangélica, conte sua história a um pastor ou pastora e peça que ore
por você. Eu tinha muito medo de ir até uma igreja e fugia de todos os
convites, mas foi isso que salvou a minha vida. Tome coragem e vá!
Sua vida depende disso!
Quando passa o período de iniciação e o iniciado tem já um contato
íntimo com seu mensageiro, é necessário passar para o terceiro grau,
fazendo seus votos. Antes, porém, precisa ter um contato com seu livro
da vida, onde – supostamente – estaria escrito o seu futuro. O nome é
rito da catedral e vou contar como funciona:
Era necessário entrar em um estado de meditação muito grande e
fazer o projecionismo, tirando o espírito do corpo e subindo em direção
ao céu o mais alto que pudesse. Várias tentativas eram feitas até que,
em pleno espaço sideral encontraria uma catedral gótica flutuando, em
cima de uma pedra. A pessoa devia, em espírito, entrar na catedral e
fazer algumas ações lá dentro, que não vem ao caso contar aqui.
Muitas vezes, dentro da catedral havia “pessoas” do nosso convívio,
amigos e parentes, que já morreram e (claro que não eram eles, eram
demônios pessoais se passando por eles) se apresentavam em
aparência decomposta. No lado direito da porta principal da nave da
catedral havia uma porta que levava a uma escada em espiral para
baixo, onde se encontrava uma biblioteca enorme. Cada um que
entrava lá precisava encontrar um livro com o seu nome na capa. Todos
estavam dispostos em ordem alfabética nas prateleiras rústicas feitas
com madeira de lei. Lembro que o meu não foi difícil de achar e logo
após encontra-lo pude sentar próximo a uma mesa muito grande, de
madeira. No livro continha minha vida, coisas do meu passado e
algumas coisas que aconteceriam no meu futuro (lembrando que
Satanás não tem poder para ver o futuro então são previsões, ou seja,
coisas que poderiam acontecer). Notei que, em determinado ponto do
meu futuro as páginas começaram a ficar em branco. Eu folheava
avidamente para saber o que aconteceria nos anos vindouros mas,
depois de certa data, não tinha mais nada lá! Apenas páginas em
branco. Perguntei ao Stinuts a razão daquilo e ele respondeu que seria
um momento da minha vida que eu deveria traçar meu próprio caminho.
Hoje, acredito que eles só tinham permissão de Deus para escrever
coisas ali até o dia em que eu entregaria minha vida ao Senhor Jesus. A
partir daí demônio nenhum teria mais legalidade sobre mim.
Quando volta da catedral e o ritual é finalizado, o mestre do iniciado
pergunta se ele deseja realmente seguir o caminho da magia, um
caminho difícil e injustiçado por milhares de anos. O iniciado responde
sim e então o mestre fura a ponta do dedo indicador esquerdo do
iniciado e, com o próprio sangue, desenha no peito dele o símbolo
mágico da Tradição, o hexagrama de Salomão. Depois o iniciado assina
com o próprio sangue o pacto do voto à Tradição que é queimado, logo
após, pelo mestre. Começa assim o terceiro grau.
ATENÇÃO INICIADOS: Não importa em qual estágio você esteja!
JESUS CRISTO é Poderoso para livrar sua vida do engano. ELE TE
AMA e quer salvar a sua vida.
TERCEIRO GRAU – ÁGUA
O estágio da água é chamado de estágio da intuição. É o primeiro
dos estágios com períodos definidos pelos mestres e não por um tempo
específico. Depende muito da desenvoltura, aprendizado e também do
poder adquirido de cada iniciado. Na maioria dos casos leva anos para
a pessoa desenvolver todas as habilidades necessárias para avançar.
Eu passei em poucos meses.
É um grau científico. O mestre ensina tarô egípcio e de Marselha,
quiromancia, que é a leitura de mãos, a numerologia, ciências e
organizações ocultas, como rosa crucianismo, maçonaria, catolicismo
negro etc., reconhecimento e visão de aura, visualizações espirituais,
contemplação ativa e passiva, transferência de sensibilidade entre
outras coisas.
Nesse período é muito maior o contato com os demônios e a
comunicação com eles aumenta significativamente. O iniciado passa a
ouvir quando os demônios chamam. Quando passei por esse estágio
lembro que eu ouvia como um assobio do vento. Quando ouvia isso,
sabia que era algum demônio chamando, então concentrava minha
atenção na esfera espiritual e permitia que o demônio aproximasse. No
início me assustava por que, logo após ouvir o sinal e autorizar a
aproximação visível deles, quando os via, a imagem de cada um era
ainda terrível e abominável aos meus olhos. Infelizmente com o tempo
fui me acostumando e se tornou um hábito tão normal que nada mais
me assustava.
No terceiro grau Leviatã, um dos quatro príncipes do inferno
comanda o iniciado durante todo o tempo, através dos seus demônios
específicos para isso. Por ser o demônio da água, o poder dele é
passado à pessoa que, com isso, ganha um aumento de poder e uma
evolução maior na magia, dominando a água e a intuição.
Intuição na magia é a capacidade de “saber” ou “prever”
acontecimentos significativos a cerca de um assunto. Quando o bruxo
precisa, por exemplo, invadir uma casa em seu corpo espiritual, ele faz
uso do poder que Leviatã lhe dá para, através da intuição espiritual,
saber exatamente quais são os portais abertos. Podem ser eles os
pecados de um dos moradores daquela casa ou ainda objetos
amaldiçoados dentro da casa. Talvez o antônimo espiritual disso seja a
revelação ou o discernimento espiritual, descrito em 1 Coríntios 12:10.
A partir daí começa uma grande mudança na vida da pessoa. O
ocultismo seduz de tal forma que passa a mudar hábitos.
Personalidade, modo de vestir, de falar são transformados. As pessoas
notam que algo está acontecendo, por que sua mente fica alterada,
devido a grande quantidade de demônios que passam a habitá-la.
QUARTO GRAU – AR
Belial, outro dos quatro príncipes do inferno comanda este
treinamento e envia seus demônios para ensinar ao iniciado tudo sobre
comunicação extrassensorial. Neste período aprendi a leitura dos
pensamentos dos outros. Vale ressaltar que só é permitido a leitura de
pensamentos de pessoas que estejam, no mínimo, oprimidas por algum
demônio. Os crentes em Jesus têm suas mentes cativas no Espírito
Santo e, portanto, bloqueadas para qualquer tipo de invasão. Mas isso
não impede que demônios astutos façam os crentes falarem demais e,
assim, entregarem todos os seus tesouros.
Quando fui instruído a primeira vez sobre como ler a mente de uma
pessoa achei que seria impossível, mas como eu tinha muita facilidade
em aprender coisas místicas, foi bem fácil. Primeiro fazíamos um teste
com cartazes. Luiz escrevia uma letra ou número, a certa distância, de
forma que não podia ver, em um papel que segurava em sua mão. Ele
ficava olhando para aquele papel e repetindo mentalmente aquele
número ou letra várias vezes. Eu fazia alguns exercícios mentais e
pronunciava algumas palavras de invocação do mensageiro e fazia com
que ele, o demônio, potencializasse a minha percepção mental,
conseguindo então ouvir – literalmente – o que o Luiz estava repetindo
mentalmente.
Depois os números e letras foram sendo substituídos por palavras
e datas e, com o passar do tempo, por frases inteiras. Quando eu já
conseguia ler um pensamento de frase inteira passei a focar a leitura de
pensamentos aleatórios, ou seja, aqueles em que a pessoa não ficava
repetindo mentalmente várias vezes. Essa foi a etapa mais difícil, mas
enfim consegui. Depois disso se tornou fácil olhar para qualquer pessoa
(sem Jesus em sua vida, claro) e distinguir linhas de pensamentos que
estava tendo.
Também nesse estágio aprendemos a levitação, não apenas de
objetos como de nós mesmos. Essas experiências fantásticas são
forçadas logo no início da caminhada de um iniciado para seduzi-lo de
tal forma que nunca venha a abandonar a magia. Na levitação é usada
a força telúrica, ou seja, energia emanada da Terra. É através dessa
energia que os antigos encontravam terras férteis, fontes de águas e
também locais apropriados para adoração. Acredita-se que ao redor do
planeta Terra fluam feixes de energia telúrica, desde o núcleo até a
crosta terrestre. Na levitação, os demônios potencializam o campo
eletromagnético que todo ser vivo possui ao ponto de criar um campo
positivo. A energia telúrica passa a ser positiva também, repelindo
assim o bruxo que está energizado, fazendo-o levitar. É como dois imãs
que se repelem ao chegarem perto um do outro, se os campos
magnéticos forem os mesmos. A função dos demônios, neste caso, é
aumentar a energia do bruxo e convertê-la na mesma polaridade da
energia telúrica que estiver no local.
A levitação de objetos ocorre da mesma forma, porém havendo a
transferência de sensibilidade do bruxo para o objeto primeiro, quando
através de uma palavra liberada no mundo espiritual, chamado de
“palavra-forma”, uma determinada quantia de prana é liberada sobre o
objeto. Com isso, o campo eletromagnético do bruxo fica sobre o objeto
e aí acontece a levitação.
Belial era chamado de “o demônio mais bonito do inferno”, por que
era mestre em persuasão. Nesse estágio aprendíamos a regra das três
etapas para convencer alguém: a primeira era através de elogios
exagerados e honras; a segunda era através do choro, comoção,
emoção; a terceira era através de ameaças sutis e chantagens. Sempre
que queríamos algo de alguém, usávamos essa regra das três etapas.
Convencíamos a pessoa através de suntuosos elogios e presentes. Se
a pessoa ainda não se dobrasse à nós, fazíamos com que ficasse com
pena, sentindo dó. Se isso ainda não mudasse a opinião ou vontade de
alguém, então encontrávamos um meio de chantagear, intimidar,
ameaçar e oprimir a pessoa, até que fizesse por medo.
Nesse estágio aprendi a me comunicar. Eu era um menino tímido,
acanhado. Não tinha amigos e sempre era motivo de chacotas na
escola. Magro, pobre, feio. Comecei a usar todas as técnicas
aprendidas e me destaquei, tornando-me querido pelas pessoas. Nessa
época desenvolvi um senso de liderança muito grande, porque nos
ensinaram que sempre é melhor você tomar as decisões. Um satanista
nunca deve ficar apoiado em pensamentos ou decisões alheias. Ele
deve ir à frente e avançar! Por isso me tornei um líder a partir daí, com
boa oratória, leitura dinâmica e facilidade em outros idiomas.
QUINTO GRAU – TERRA
O quinto grau é dominado pelo príncipe Lúcifer, demônio da altivez
e astúcia. É o grau da transmutação, onde comecei a estudar muito a
alquimia, de Hermes Trismegisto, o deus da magia. Eu nessa época me
apaixonei por isso. Era uma forma de magia científica, onde usávamos
elementos naturais para criar formas espirituais. Toda magia alquímica
é gerada através da combinação de elementos que, em determinada
proporção e posicionamento reagem espiritualmente. De certa forma,
na baixa magia, isso acontece com as oferendas no candomblé. Na alta
magia aprendi a usar plantas, madeiras, pedras, água. Lúcifer, o deus
da terra inspirava a utilizar elementos naturais. Com três pedras
semipreciosas colocadas em certo lugar, de uma forma bem peculiar,
eu conseguia alterar o equilíbrio de quem entrasse ali. Colocando lado
a lado alguns gravetos, combinados com um pouco de areia branca em
forma de círculo, eu conseguia gerar uma claridade no ambiente. Aquilo
era muito fascinante.
Meu objetivo aqui neste livro não é ensinar receitas mágicas para
ninguém, por isso não coloco as palavras mágicas e tampouco a ordem
correta dos elementos ritualísticos. Relato para que você, leitor, saiba
que muitas coisas do ocultismo são muito mais avançados do que
possa imaginar.
No grau da transmutação o iniciado consegue mudar a ordem
natural das coisas. Eu conseguia mudar a cor dos meus olhos, cor do
cabelo. Quando queria passar despercebido em um local com pessoas,
conseguia mudar a aparência do meu rosto, parecendo outra pessoa.
Também é nesse estágio que aprendi a transformar cabelo humano em
fios de prata, ou outro metal. Isso me deixou bem conhecido por onde
passei. Eu já conseguia fazer com que o meu prana ficasse sobre
objetos, fazendo-os desaparecer.
Lúcifer liberava um poder específico para a realização de curas
físicas. Também era possível adoecer pessoas. Tudo no satanismo é
uma troca. Não havia como curar uma pessoa de uma enfermidade
sem que, de alguma forma, outra pessoa não passasse a ter a mesma
doença. Por esta razão muitas pessoas morrem, porque são usadas
como hospedeiras de uma maldição, para que outras permaneçam
vivas.
A manipulação espiritual era tão usada que éramos ensinados a
conquistar amigos, namoradas para que se tenha muitas pessoas em
nosso círculo mágico e, caso precisássemos nos curar de algum mal,
poderíamos enviar este mal para qualquer uma dessas pessoas
próximas, sem qualquer piedade ou remorso. Ouve-se que àqueles que
entram para seitas e irmandades mágicas passam a conviver com a
morte de parentes, amigos e funcionários. É exatamente isso!
SEXTO GRAU – FOGO
O estágio do poder, por que nele os quatro elementos naturais,
juntamente com os quatro príncipes do inferno se unificam. A partir
desse grau Satanás passa a comandar o iniciado até sua formatura no
sétimo grau e ao seu sacerdócio no oitavo e nono graus. O título de
“feiticeiro” é usado a partir daqui, pois com o conhecimento adquirido
em cada uma das etapas, ao longo dos anos, já tem domínio em usar
os feitiços abertamente. O poder que está sobre este grau é muito
grande, onde um feiticeiro pode somar várias fontes de magia e até
matar uma pessoa apenas com um gesto de sua mão.
Lembro-me de quando eu estava nessa fase, sofria muito com
crises de ódio e raiva. Quando eu canalizava toda a energia mágica que
havia em mim, e através de um acesso de ira gritasse, portas e janelas
próximas abriam e batiam contra as paredes. Vasos caíam das estantes
e outros objetos, porque havia a soma da força telúrica, do poder dos
quatro príncipes do inferno e ainda da habilidade mágica que tinha
desenvolvido, através do ensinamento e sensibilidade espiritual.
Eu passei a ser pior a cada dia da minha vida. No sexto grau já
achava que não precisava de mais ninguém, além do meu mestre Luiz
e do demônio Stinuts, meu mensageiro. Tornei-me arrogante, boçal e
presunçoso.
SÉTIMO GRAU – BRUXO (MESTRE DE ALTA MAGIA)
Os bruxos são os verdadeiros membros da Tradição. Eles são os
responsáveis por levar adiante a magia e todo o conhecimento milenar
que lhes é confiado. Foi o grau aonde cheguei e, para isso, passei por
rituais feitos a base de sangue humano e de animais, que contarei mais
detalhadamente no decorrer do testemunho.
Cada bruxo, quando formado, recebe um título honorífico, nomeado
por Satanás. São vários títulos, como “Sábio”, “Conselheiro”, “Valente”,
“Conquistador” etc. O que recebi foi “Homem da Palavra”. A escolha era
feita previamente por Satanás para cada um, de acordo com o que ele
precisava usar do potencial de cada um. Quando o bruxo recebe seu
título, precisa passar pelo “ritual de purificação”, parecido com outros
rituais, porém com maior duração, de seis dias e seis noites. Deixe-me
explicar como é: prepara-se um quarto onde o chão, paredes e teto
precisam ser pintados de preto. A janela tem que ser trancada e
lacrada, para que não entre nenhuma luz externa. No chão é
desenhado, com giz, um pentagrama (estrela de cinco pontas, que
simboliza a magia) com um círculo ao redor. Em cada uma das cinco
pontas do pentagrama há o simbolismo dos quatro elementos naturais,
além de uma vela negra para a invocação de cada um dos demônios,
representados por seus príncipes do inferno, fogo (Satanás), terra
(Lúcifer), ar (Belial) e água (Leviatã), além do quinto elemento,
espiritual, chamado Éther. Fora do círculo, em disposição triangular,
invocando os demônios do tempo, chamados de “senhores do tempo
passado, presente e futuro”. Nos quatro cantos do quarto, norte, sul,
leste e oeste, são colocadas quatro velas, uma verde, outra azul, outra
amarela e outra laranja (ou marrom), invocando os demônios chamados
“guardiões das torres cardeais”. Em frente a cada uma dessas velas
coloridas é colocado um prato com a oferenda específica de cada um.
Em frente ao pentagrama, fora do círculo, centralizada fica a vela
branca, do demônio mensageiro, que conduzirá o espírito do bruxo
neste ritual. O bruxo fica deitado no centro do pentagrama, de onde não
poderá sair durante os seus dias e seis noites. O mestre, em sua última
função sobre ele, faz a oração em latim e abre o ritual. Todos os
demônios que estão no bruxo vão sendo invocados e se manifestam no
quarto, um a um. Esses demônios são os que o bruxo adquiriu até
aquele dia. No meu caso, ficamos quase dois dias inteiros invocandoos, pois eram muitos, devido a herança espiritual que meu avô havia
deixado.
O demônio mensageiro fica o tempo todo sentado no chão, próximo
a parede, em frente a vela branca colocada especialmente para ele.
Durante esse tempo todo a única coisa que o bruxo pode se alimentar é
de sangue de galinha e carne crua (que no dia ele não sabe que carne
é aquela). Então, após todos os demônios estarem manifestos, o
mestre faz com que o bruxo entre em transe e permaneça assim até o
ultimo dia do ritual. Nesse período seu corpo espiritual é expulso do seu
corpo físico e ele passa a ser habitado por todos os demônios, que
antes apenas o seguiam. São dias de pesadelos terríveis, dores físicas
e sensações nauseantes. A pele é rasgada e os órgãos internos
afetados. Após este período de quase morte, o bruxo acorda do coma
no sexto dia, com dores, respiração ofegante, arritmia cardíaca. Seu
corpo coberto por sangue podre, coagulado. O cérebro não consegue
ordenar bem os pensamentos e, tampouco, demandar movimentos aos
órgãos inferiores. Daquele dia há um período de uns três meses a
pessoa fica com um retardo considerável, até que tudo volte ao normal.
Debilitado física e espiritualmente, o bruxo sai do quarto e toma um
banho. Suas roupas são queimadas e passa um tempo em repouso e
alimentação, para recuperar-se, pois em breve participará da sua “festa
de nomeação e ordenação”, onde receberá seu Áthame (punhal
mágico), como símbolo da alta magia.
A festa de ordenação de um bruxo é parecida com qualquer outra,
feita em uma fazenda. Nela estão apenas mestres de sétimo grau e,
acima, sacerdotes de oitavo e nono graus. Como toda festa, tem
músicas, comidas e bebidas. Em um determinado momento, o
sacerdote mais antigo ordena que a música pare e que os recémformados fiquem em uma posição, para serem testados em algumas
provas. Para se receber o Áthame é necessário passar por isso e
provar que o merece.
Na minha vez fui colocado em um local onde outro mestre atiraria
algumas facas em mim. Eu deveria ampliar meu círculo mágico para
rebatê-las, com a ajuda de demônios que gerariam um campo
magnético muito forte ao redor do meu corpo. Lembro-me de ter visto
outros recém-formados no mesmo dia, passando por testes parecidos.
Alguns tinham que levitar coisas, outros fazer brotar água do chão ou
fogo de suas mãos. Eram atitudes mágicas relativamente fáceis para
mim, porém difíceis demais para os despreparados.
Naquele dia é feito os “votos perpétuos”, mais um pacto de sangue,
onde o bruxo declara a sua entrada na Tradição e permanência
perpetuamente. Segundo eles, depois de haver feito os votos
perpétuos, nunca mais a pessoa pode deixar a magia. O sétimo grau é
um período muito difícil para o bruxo, porque passa a trabalhar sozinho,
sem seu mestre que o acompanhou o tempo todo. A partir daí ele passa
a agir apenas com o seu demônio mensageiro e em cooperação a
outros mestres e sacerdotes da Tradição.
NOTA: A Cruz de Cristo é superior a qualquer pacto de sangue!
Não há maldição, pacto, ritual ou qualquer voto feito na magia,
satanismo, paganismo ou qualquer ordem mística, que não possa ser
quebrado pelo Poder do NOME DE JESUS CRISTO! Tudo se faz novo,
quando entregamos nossa vida completamente ao senhorio de Jesus.
Nosso corpo, alma e espírito são renovados e, através de Seu Sangue,
somos limpos, purificados e perdoados. O profeta Isaías nos diz, no
capítulo 53 que “o castigo que nos trás a paz estava sobre ELE e por
causa das suas pisaduras fomos sarados”. Isso por si só é suficiente
para livrar qualquer um da condenação do inferno.
Recebi meu Áthame aos dezesseis anos de idade e fui nomeado o
bruxo mais jovem no Brasil, pela Tradição. Isso gerou certa repercussão
sobre meu nome e fiquei muito conhecido pelas pessoas realmente
influentes na bruxaria, em meu país.
OITAVO GRAU – SACERDOTE
Não cheguei neste estágio. Graças a Deus me converti no sétimo
grau, mas sei algumas coisas sobre isso. Para o mestre se tornar
sacerdote é preciso avançar na magia. Existe oito festas mágicas
durante cada ano e, em cada uma delas, um grande ritual comandado
por sacerdotes. Os sacerdotes de oitavo grau comandam essas festas
e realizam seus rituais. Das oito festas mágicas, quatro delas exigem
sacrifícios humanos. No satanismo acredita-se que alguns humanos
são seres inferiores, criados para um propósito maior, que é servir à
magia. Por esta razão as pessoas são raptadas e mortas em rituais
satânicos. Os jornais estão cheios de notícias sobre isso. As polícias já
sabem da existência de seitas de magia negra sequestrando e matando
pessoas. Então porque não há uma legislação penal sobre isso?
Porque sacerdotes satanistas estão infiltrados em todas as esferas do
governo, da polícia, da sociedade.
Para sustentar vários rituais nos quais é necessário o sacrifício de
crianças, algumas casas em lugares estratégicos são criadas, por
grupos de “angariadores”, satanistas especializados em adquirir coisas
para a Tradição. Nessas casas vivem mulheres que são usadas para
rituais sexuais, gerando filhos de sacerdotes e mestres. Essas crianças
nascem nas casas mesmo, com o auxilio de médicos satanistas que
fazem os partos. Sem que haja registro do nascimento, essas crianças
ficam puras, sempre enroladas em mantos mágicos ou vestes talares,
sendo alimentadas por leite materno. As “mães” furam levemente os
bicos dos seios para que as crianças bebam um pouco de sangue junto
com o leite, até se tornar um paladar normal para elas. Quando
crescem e desmamam, uma das refeições diária é uma mamadeira com
sangue, para manter aberto o transe e a possessão maligna na criança.
Em meu livro “Revelação – O caso filhas da luz” (Editora Palavra Viva)
eu conto sobre esses rituais malignos com crianças.
Os angariadores também sequestram crianças nas cidades, para
que sejam mortas em rituais de magia negra. Na maior parte dos casos,
se passam por vendedores de revistas ou artigos infantis, para terem
acesso às escolas e casas. Assim podem traçar um perfil de cada
família e criança e, livremente, escolher as mais fáceis de sequestrar.
As crianças sequestradas são sacrificadas em rituais ou, então, mortas
para ter seus órgãos vendidos no mercado negro, para transplantes ou
para sodomizações e deglutições em rituais malignos.
NONO GRAU – SACERDOTE SUPERIOR
Este é o ultimo grau da Tradição, onde o sacerdote recebe o título
de Mago. O grau começa quando o sacerdote consegue sua espada
após uma peregrinação escolhida pelo conselho da Tradição. Durante
esta peregrinação o sacerdote é submetido a muitas lições e provas
para testar sua fidelidade a magia e a Tradição. No final, o “rito de
entrega” é realizado e então sua caminhada termina. A partir daquele
momento riquezas e honras passam a habitar sua vida. Um mago é tão
poderoso que é capaz de matar uma pessoa apenas olhando para ela.
Na época em que servi ao diabo, havia poucos magos no Brasil,
em relação ao número de mestres de alta magia. São os magos que
dirigem as diretrizes da Tradição. Eles determinam ações mágicas,
grandes rituais e tomadas de territórios para algum objetivo final.
Também eles tem direitos específicos além dos demais membros da
Tradição, podendo, por exemplo, selecionar membros para participarem
de alguma invocação satânica. Nos rituais de fertilidade, onde há orgias
sexuais, apenas os sacerdotes podem praticar o sexo ritualístico,
gerando filhos para a Tradição. Os demais podem participar dos rituais
e das relações, porém as crianças que, por ventura venham a nascer,
serão abortadas.
3 – A MAGIA
Após aquele dia em que Luiz havia me explicado sobre a Tradição
e como eu havia sido escolhido pela magia, decidi que seria um bruxo.
Eu estava convicto que era exatamente aquilo que eu buscava. Para
tanto era necessário fazer o ritual de iniciação. Vou descrever como foi:
Era 31 de outubro de 1989, noite do ritual de Shamain no
hemisfério norte e uma importante data de adoração pagã em todo o
mundo. Saímos do apartamento do Luiz as 21:00h para irmos até o
local escolhido para o ritual, em um carro velho que ele tinha. Embora
eu não soubesse onde era, disse para minha mãe que iríamos
acampar, pois ninguém além de mim deveria saber o que aconteceria.
Era uma terça-feira e ela contestou a ideia, mas não dei ouvidos a ela e
saí logo.
Luiz, Cris e eu chegamos ao local escolhido, de difícil acesso, em
um morro na saída velha da cidade, de frente a famosa Ponte do Arco,
sobre o Rio Iguaçu. Luiz ia à frente, abrindo caminho com um facão e
iluminando fracamente a mata com uma lanterna. Em suas costas havia
uma mochila cheia de utensílios que usaríamos no ritual. Andava
silencioso o tempo todo, compenetrado, diferente de seu estado normal,
sempre feliz e falante com todo mundo. Caminhava com rapidez e
agilidade, como se passasse por ali todos os dias. A mata estava
extremamente escura e os sons naturais da noite tornavam aquela
caminhada assustadora. Eu estava imediatamente atrás dele e Cris ia
atrás de mim. Era perceptível uma energia emanando dos dois e
passando por mim, deixando meu corpo completamente arrepiado e
fazendo meu coração acelerar.
Depois de meia hora de caminhada, chegamos a clareira onde o
ritual seria feito. Um casal que eu nunca havia visto já estava lá e tinha
arrumado tudo. A clareira era na parte de cima de um vale feito por
pedras muito altas, com um riacho correndo há uns trinta metros
abaixo. No centro dela estava uma grande fogueira acesa, rodeada por
quatro outras pequenas, também acesas, separadas umas das outras
por uns cinco metros de distância. O casal que arrumou tudo estava lá
há um dia, consagrando o lugar. Eram sacerdotes superiores da
Tradição e vieram de outra cidade para realizar os encantamentos.
Outubro já começava a fazer calor naquela região, mas um vento muito
frio soprava aquela noite. Luiz deixou-me em um canto, próximo a umas
árvores e pedras, onde havia coisas pessoais do casal e, agora, nossas
coisas também, e foi conversar com os sacerdotes. Cris ficou comigo,
abraçada com carinho. Lembro-me dela me dizer:
- Fique calmo, tranquilo. Vai ser ótimo. – Encorajando-me.
Luiz voltou depois de uns instantes e me disse que iríamos iniciar o
ritual e, para isso, era necessário eu me despir e vestir uma roupa pura,
chamada de túnica talar. Ela era feita de um tecido confortável, parecido
com o veludo, e tinha um pentagrama finamente estampado em branco,
na frente. Com seu áthame Luiz iniciou o fechamento espiritual do lugar,
fazendo um círculo mágico no ar. Gestos específicos, coreografados,
associados a invocações de alguns demônios produzem um ambiente
místico ideal para a realização dos ritos. Chamou a proteção dos
guardiões das torres cardeais, norte, sul, leste e oeste. Esses guardiões
são demônios que ficam constantemente protegendo os locais de
cultos, cerimônias, celebrações e rituais.
Passou então a chamar a presença dos oito subpríncipes do
inferno, cada um responsável por uma área na existência humana:
Behemoth (alimentação), Astaroth (religião), Belam (armas), Asmodevs
(artes), Belzebú (descendência), Címerio (ciência), Belfegor (sexo) e
Azazel (oferendas). Chamou também a presença do meu demônio
mensageiro Stinvts, que seria o meu guia para sempre. Passou então a
escrever palavras ritualísticas no ar com seu áthame, um punhal de
lâmina curvada em forma de serpente, e após veio e selou meu corpo
com vários encantamentos e passes mágicos, repetindo as mesmas
palavras ritualísticas, que por prudência, não vou escrevê-las aqui.
Senti-me incomodado, porque um calor muito grande invadiu meu
corpo e comecei a queimar. Eu suava muito e pensei que iria desmaiar.
Olhei para o lado procurando a Cris e ela fez um gesto para que eu
permanecesse calado. Obedeci e aguardei o Luiz terminar. Ele saiu e
foi até a fogueira menor, a minha direita a frente. Sentou-se lá em
posição de lótus e ficou repetindo orações satânicas em um tom grave
e baixo.
Veio então o sacerdote e passou a falar em uma língua estranha.
Sua expressão era temível e quando abriu os braços em direção ao
céu, um vento muito forte soprou no local. Eu podia sentir uma
presença muito maligna e forte. Ele veio em minha direção e olhou
profundamente em meus olhos. Possuído por um demônio, ele deu uma
gargalhada alta e estridente. Seus olhos chamuscavam como se
houvesse fogo dentro deles. Fiquei tão assustado que não contive o
choro, então ele veio novamente e, estupidamente me mandou calar a
boca. Ameaçou bater na minha cara e eu passei a sentir muito medo.
Pensei realmente que iria morrer naquela noite. Eu era apenas um
garoto de treze anos. Passado aquele momento, o sacerdote retornou
ao seu lugar, atrás da fogueira, a minha esquerda, à frente. Sentou-se e
passou a fazer as orações satânicas que Luiz estava fazendo também.
Cris veio até mim dançando sensualmente. Não era mais ela, tinha
algo diferente. Sua expressão não era mais meiga e gentil. Agora ela
era alguém possuidora. Colocou sua mão em minha face, na altura da
testa e eu desabei. Tudo escureceu de repente e senti náuseas. Tudo
estava rodando. Foi horrível. Quando recobrei os sentidos, Cris já
estava sentada a frente da terceira fogueira pequena, com um cálice
nas mãos. No cálice, soube depois, havia meu sêmen. Ela o colheu
enquanto eu estava desmaiado, possivelmente através de demônios
sexuais que me fizeram ter uma ejaculação espontânea.
Veio, por fim, a outra mulher, sacerdotisa, e começou a falar os
tratados mágicos comigo, em latim. Embora eu tivesse um
conhecimento bem básico do idioma, pelos estudos que havia feito no
decorrer daquele ano, consegui entender perfeitamente tudo o que ela
me dizia, que aquele era o dia mais importante da minha vida e que eu
devia estar ciente disso. Falou que precisava de um pouco do meu
sangue, para poder fazer o ritual de iniciação e o pacto com os
príncipes. Eu consenti. Ela pegou um punhal e fez um pequeno corte na
minha testa, dizendo:
- Que o sangue daqui jorrado não seja para a morte, mas para o
poder e bem da Tradição. Que as bênçãos do senhor do sangue
possam ser tuas, enquanto viveres na magia.
Como não doeu nada e também não escorreu sangue, pensei que
era apenas um ato simbólico.
Com suas mãos rasgou a túnica que eu estava usando, na altura
do peito, fazendo um corte e dizendo:
- Que este sangue, vindo do coração, possa combater com amor e
ódio os interesses mágicos da Tradição e defender com sua própria
vida seus irmãos.
Novamente não saiu sangue e tampouco senti dor. Ela pegou
minha mão esquerda, e no meu dedo médio fez um corte dizendo:
- Que o senhor da maleficia possa usar esta mão, não para
derramamento de sangue, mas para magia.
Pegou então um cálice metálico e colocou minha mão esquerda
dentro. Senti uma dor muito forte e vi que começou a escorrer sangue
do dedo cortado por ela. Começou a escorrer sangue da minha testa e,
quando escorreu em meu nariz, o espalhei no rosto com minha mão
direita, pensando ser água que estava caindo de alguma das imensas
árvores ao nosso redor, naquela clareira. Meu peito começou a arder e
sangrar também. A sacerdotisa, com o cálice nas mãos, contendo meu
sangue, foi até a ultima fogueira e sentou-se. Fiquei em pé sangrando
muito, sem saber o que fazer.
Passado vários minutos, Luiz veio até mim com um sorriso no rosto
e disse:
- Está na hora de você conhecer papai. – Me conduzindo até a
frente da fogueira maior, que estava bem no centro da clareira, e
começou a pronunciar as palavras principais do ritual de iniciação.
Imediatamente começou a soprar um forte vento e o céu cobriu-se
de nuvens. A alegria de Luiz era extrema, fazendo-o andar de um lado
ao outro, gargalhando, saltando freneticamente. Ele levantou suas
mãos aos céus e invocou a presença de Satanás ali, naquele lugar. Sua
expressão começou a mudar e já não era mais a mesma. Sangue
começou a escorrer do seu nariz e seu rosto ficou desfigurado, com os
olhos saltando para fora das órbitas.
De repente alguém apareceu atrás da fogueira principal. As chamas
agitadas pelo vento iluminavam deficientemente a face daquele que
veio do vale, possivelmente levitando, ou aparecido em meio a poeira
que se levantou com o vento que soprava. Ele, que estava com a
cabeça curvada para baixo, levantou-a e, fixando seus olhos negros em
mim sorriu e, andando por dentro do fogo, veio até mim e abraçou-me
fraternalmente.
Pela primeira vez eu estava vendo Satanás, materializado, na
minha frente. Ele estava vestido com um fino terno branco, muito
bonito. Apesar de estar sorrindo, seus olhos não tinham a parte branca
do globo ocular e isso atribuía a ele uma expressão maligna.
Segurando em meus ombros, calorosamente me disse:
- Hoje é um dia muito especial para nós! Eu passarei a te amar e
proteger como um filho e estarei contigo todos os dias da sua vida.
Aquilo me deu conforto e acalmou meu coração. O medo passou e
me senti confiante. Ele continuou dizendo:
- Existem coisas que são necessárias, para que ninguém possa nos
separar. Você está tomando uma decisão muito corajosa e difícil, por
isso muitas pessoas se levantarão contra você, por não entenderem a
sua decisão, mas é necessário que você lute! Resista às ideias
divergentes, combata àqueles que são contrários, porque em toda
guerra existe um exército inimigo. Em algumas batalhas venceremos;
em outras, teremos que recuar, para alcançar uma vitória maior no
futuro. Mas não esqueça o poder que eu te dou hoje! Use-o, gaste-o a
vontade! Espalhe meus ensinamentos pelo mundo! Converta pessoas
ao nosso propósito e ensine a magia que está em seu coração desde
quando era uma criança pequena. Ensine as pessoas a deixarem a
fraqueza e se tornarem fortes como você, e sobrevivam! Mas para isso,
é necessário que você faça o pacto comigo. Apenas este pacto
impedirá que as pessoas nos separem. Quero poder celebrar contigo
bebendo do cálice da aliança, onde faço do seu sangue o meu sangue.
O sacerdote então pegou o cálice onde estava o meu sangue, que
havia sido colhido pela sacerdotisa, e despejou algumas gotas em outro
cálice, cheio de água, que estava nas mãos do Luiz. Ele ofereceu a
mim e bebi um pouco. Satanás pegou das minhas mãos e bebeu o
resto, quebrando o cálice logo após. Em sua mão havia uma folha de
papel amarelado e envelhecido, contendo o pacto. Nele havia algumas
cláusulas, como “você deverá seguir a Tradição todos os dias de sua
vida, como seguiram seus antepassados; Deverá recusar e rejeitar toda
e qualquer ação do Deus de Jesus na sua vida, evitando que ele possa
te influenciar de qualquer maneira; Seu corpo, sua alma, seu espírito e
sua vida pertencem a Satanás, deixando-o livre para usá-la quando,
como e onde bem entender, sendo você um servo fiel e obediente,
tendo em troca o poder e sabedoria suficientes para ser um sacerdote
superior”, entre outras.
Eu acreditava em tudo aquilo e concordei plenamente. Trouxeram o
restante do sangue e molharam uma pena nele. Assinei com meu nome
completo e minha data de nascimento e entreguei ao demônio. Ele
olhou atentamente, em um silencio macabro e depois a folha queimou
em sua mão. Luiz se afastou de mim, bem como os demais que
estavam ali. Satanás disse que chamaria os cinco elementos para me
trazer o poder de bruxo que eu precisaria. Uma oração em língua
incompreensível passou a ser feita por ele e o local ficou saturado com
uma névoa. Ao chamar o ar, um vento forte começou a circular ao redor
do local, como se estivéssemos no centro de um pequeno ciclone; Ao
chamar a terra, houve um tremor tão forte no chão, que parecia que
iríamos cair; Ao chamar o elemento água, senti que aquela névoa
passou a se tornar densa e úmida; Com a evocação do fogo, a fogueira
maior, que estava no centro da clareira explodiu, como se alguém
houvesse jogado pólvora sobre ela. Satanás então evocou o quinto
elemento, o éther e senti meu corpo todo mudar de consistência, como
se minha pele passasse a ser gelatinosa, voltando a se tornar prana, a
essência que os místicos creem que o universo foi criado. Ele veio
novamente até mim e disse:
- Eu vou liberar sobre você o demônio mensageiro, para que ele
seja seu guia espiritual. – E soprou nas minhas narinas.
Caí desacordado e fiquei ali por um bom tempo. Quando acordei,
meu corpo estava suado e exausto. Sentia muitas dores. Já era de
manhã e todos estavam ali, menos Satanás. Haviam se embriagado
com o vinho após o meu desmaio e cada um dormia em um canto do
acampamento. A exaustão era tão grande que não conseguia raciocinar
direito. Meu corpo pesava uma tonelada e quando tentei me levantar,
vomitei sangue coagulado. Olhei para minha mão esquerda e estava
coberta de sangue e terra. Meu rosto e corpo estavam cheios de
sangue e minha pressão sanguínea estava realmente baixa. Consegui
rastejar até Luiz e pedir ajuda. Ele acordou os demais e disse que
precisaria levar-me para casa, o quanto antes.
Em casa minha mãe perguntou o que havia acontecido comigo,
então mentiram, dizendo que eu havia caído e me cortado em uma
moita de espinhos, que poderiam ser venenosos. Fui levado ao hospital
e internado, mas os médicos não sabiam o que eu tinha e não
conseguiram descobrir. Os exames de sangue não apontavam
envenenamento. Eu não tinha fraturas, tampouco hematomas. Apenas
três pequenos cortes, na testa, peito e dedo médio da mão esquerda.
Os medicamentos não faziam efeito. Meu corpo não reagiu ao
tratamento. Eu não tinha forças para respirar. Estava tão debilitado que
não queria lutar para isso. Um sono muito profundo tomou conta de
mim e eu só queria dormir. Lentamente comecei a morrer, aos treze
anos de idade. Até que uma voz veio em minha mente e disse:
- Não desista! Lute! Lute com todas as suas forças. Não é para
você morrer agora! Você precisa lutar!
O Senhor estava falando comigo... Mas eu ainda não sabia que era
Ele. Senti o conforto daquelas palavras em meu coração e um calor
invadiu meu corpo. Não importava de quem era aquela voz, eu só
estava feliz que havia alguém ali comigo e que eu não estava sozinho.
Comecei a reagir ao tratamento. Os medicamentos fizeram efeito e em
questão de uma semana eu já havia recebido alta e estava em casa.
Lá, em minha casa, tudo estava diferente. Não fisicamente, mas
espiritualmente. Tinha algo dentro da minha casa que eu não
compreendia. Na verdade, sempre houve essa presença lá, apenas eu
não conseguia discernir e visualizar o que era. Comentei para minha
mãe o que estava sentindo e ela achou que fosse reação dos remédios.
Disse que me acalmasse, pois logo aquilo passaria. Não passou. Os
quadros se moviam, fotos sorriam para mim. Plantas balançavam em
direção a mim, quando eu passava perto delas. Uma samambaia que
estava presa ao teto apontava seus galhos cheios de minúsculas
folhinhas em minha direção, como se quisesse me abraçar. Um Papai
Noel de gesso que havia em nossa estante se moveu, certa noite, e
andou até mim para conversar. Comecei a achar que estava louco.
Apesar de ser maduro para minha idade, eu ainda era um garoto de
treze anos e, como todo adolescente, muito confuso com o mundo ao
meu redor.
Na noite em que a imagem de gesso conversou comigo, ela me
disse que “papai” viria conversar em meu sonho. Quando adormeci tive
uma experiência incrível, que nunca havia tido em toda a minha vida.
Entrei em um sono tão profundo, que meu espírito desgrudou do meu
corpo. Eu podia ver a mim mesmo deitado na cama, adormecido, e
podia ver minhas coisas no quarto. Uma névoa avermelhada começou
a se formar no chão do quarto e comecei a sentir náuseas muito fortes.
Olhei para meu corpo espiritual e vi que estava nu. Quando percebi
isso, notei que várias pessoas estavam olhando para mim e rindo,
apontando suas mãos em minha direção e gargalhando. Notei que já
não estava mais em meu quarto e procurei saber onde estava, olhando
em todas as direções. Ao olhar para o lado vi que estava na clareira do
ritual de iniciação e pude ver as cenas que vivenciei há alguns dias
atrás, só que desta vez eu era o expectador. Vi quando Satanás veio
flutuando do fundo daquele vale, de um abismo escuro, até a grande
fogueira colocada no meio da clareira. Pude ver quando ele atravessou
o fogo e me abraçou. Senti nesse momento a presença de alguém ao
meu lado e voltei-me para ver, e deparei-me com o rosto sorridente de
Satanás, com sua feição meiga e gentil, contrastando com olhos negros
e escuros, refletindo maldade e ódio.
- Como você está, filho? – Perguntou-me ele.
- Bem, eu acho. E o senhor? – Respondi sem jeito, meio acanhado.
- Vim aqui te ver, quero que saiba que me importo com você. –
Respondeu.
- Foi o senhor quem falou comigo lá no hospital? – Perguntei com
muito interesse.
- Sim querido, era eu ao seu lado o tempo todo. – Ele mentiu.
Satanás sempre foi mestre na mentira. Ele é o pai da mentira.
Mente sem remorso, sem demonstrar emoção. Ilude, engana com
naturalidade. Tira proveito de méritos dos outros, dizendo ser seus. Eu
estava fragilizado, confuso. Não tinha condições de discernir se a voz
que eu ouvira era dele ou não, então acreditei. Senti-me confiante com
suas palavras e decidi prosseguir no projeto de me tornar um sacerdote
da Tradição.
Minha vida mudou radicalmente após aquele dia. O mundo
espiritual se abriu para mim de tal maneira que tudo o que acontecia ao
meu redor, me afetava e eu não entendia. Havia dias que eu acordava
no meio da noite, simplesmente porque alguns demônios voadores
paravam por alguns instantes em cima do telhado da minha casa, para
repousar suas asas. Os demônios voadores são uma classe desses
seres espirituais que tem o mundo físico como base para sua
movimentação. Eles voam no nosso espaço aéreo, pousam em árvores,
telhados, muros. Alimentam-se de oferendas mas não são materiais.
São seres espirituais que se movem em nosso mundo físico. São
percebidos com facilidade, através da sensibilidade eletrostática. Em
algumas casas a TV sai do ar, os cachorros uivam ou latem. Pessoas
sentem arrepios inesperados e descontrolados. Servem para causar
confusão em um lugar, gerar pânico em uma casa e tantas outras
aplicações.
Vendo a necessidade de entendimento espiritual, comecei o árduo
caminho para buscar o meu guia, o demônio mensageiro. Fiz o primeiro
ritual de iniciação para poder visualizá-lo. Este ritual consistia em fazer
duas pequenas colunas com seis pedras médias, cada uma delas,
afastadas a um metro aproximadamente, uma coluna da outra. No meio
das duas colocava-se um prato com uma vela branca, para abrir o
portal mágico, que traria o mensageiro. Eu sentava a uns cinco metros
de distância das colunas e fazia as invocações necessárias para a
vinda do demônio, ali entre as colunas. Eu limpei um lugar no fundo do
quintal da nossa casa e todos os dias, no início da noite, fazia o ritual.
Levei alguns dias até poder visualizar alguma coisa. No começo, eu via
apenas uma formação nebulosa entre as colunas, como se fosse uma
neblina. Depois passou a aparecer uma espécie de gelatina
esverdeada, que molhava a terra. Com o passar dos dias e a minha
insistência, passei a ver um vulto, que se formava ao lado da coluna
verde. Minha empolgação e desejo em ver meu mensageiro era tão
grande que meus dias demoravam a passar. Eu não aguentava esperar
até o completo por do sol, para começar a invoca-lo.
Em uma sexta-feira, já cansado de tantas semanas a fio tentando
me comunicar, ele apareceu. Eu já havia feito a oração inicial e recitado
de cor as palavras ritualísticas de invocação. Estava apenas focando
minha mente na vela branca, até que as duas colunas desaparecessem
do meu campo de visão, abrindo assim o portal. De repente, como de
costume, ele apareceu para mim. Usava um manto verde escuro, de
veludo velho. Tinha seu rosto coberto por um capuz e seu queixo e
boca apenas apareciam. Ele andou de um lado ao outro e parou em
frente a vela. Tive que controlar minha emoção porque meus
batimentos cardíacos começaram a acelerar e isso poderia afugentá-lo.
Mentalmente eu disse “vamos, diga-me seu nome”. Ele olhou para mim
e sorriu. Sua mão direita passou por cima da chama da vela e o fogo a
acompanhou. Lentamente ele começou a crescer e seu tamanho ficou
um pouco maior do que as colunas feitas com seis pedras. O fogo que
estava na mão dele passou a criar forma. Ele jogava-o para os lados e
para cima e lentamente foram se formando letras, até que seu nome foi
revelado: STINVTS.
Passei a me comunicar com ele apenas por gestos e, com o passar
do tempo e esforço, comecei a ouvi-lo. Stinvts tinha uma voz jovem,
doce e aveludada como seu manto. Durante os rituais no fundo do meu
quintal, ele me contava muitas coisas sobre o inferno, sobre minha
família e sobre minha vida. Foi ele quem me disse que existe trinta
bilhões de demônios para cada pessoa na Terra e que, quando uma
pessoa nasce, o inferno já libera o mensageiro para ele. Esse demônio
mensageiro vigia a pessoa desde o primeiro dia do seu nascimento,
acompanhando cada passo, cada palavra, cada evolução no
aprendizado. Quando a pessoa aprende a escrever, o mensageiro
aprende junto com ela, e conquista a mesma caligrafia, a mesma
assinatura. É por esta razão que, quando alguém morre, alguns
“médiuns” dizem incorporar o espírito do morto e escrever livros
psicografados, assinados pela pessoa morta. Na verdade são
possuídos pelos demônios mensageiros daquelas pessoas que já
morreram. Os mensageiros também tem o poder de adquirir a
personalidade da pessoa, a aparência estética e outros atributos do
caráter. Por esta razão muitos tem relatos de haver visto “o espírito” de
um parente morto, alguns dias depois do sepultamento. O “morto”
supostamente falou com alguém, dizendo estar bem, estar em um lugar
de luz. Na verdade não era o espírito do falecido, porque a Bíblia
Sagrada nos ensina que a memória do morto fica no esquecimento.
Eram demônios mensageiros que apareceram aos parentes enlutados,
para enganá-los e iludi-los a cerca das coisas espirituais. Os locais que
afirmam se comunicar com mortos, estão apenas falando com
demônios que se passam pelas pessoas que já morreram.
O mensageiro é um demônio condicionado ao comportamento
humano, para que seja o melhor amigo de um bruxo. É ele quem
auxiliará o bruxo em sua vida mágica e também comandará as hostes
de demônios que o bruxo fará uso. Stinvts passou a fazer parte da
minha vida, diariamente. Era meu único amigo, confidente, alguém que
me amava e me protegia. Sem eu perceber, ele passou a dominar
rapidamente a minha vida, me tornando cada dia mais distante de tudo,
e mais próximo do inferno.
Comecei a dominar mais meu corpo espiritual, muito necessário
nas ações espirituais, e passei a fazer então o projecionismo, também
conhecido como viagens astrais, onde o corpo fica deitado em uma
cama e o espírito conscientemente se eleva acima do corpo e passa a
se mover livremente por onde quer. No início foi uma sensação de
liberdade e aventura, mas com o tempo passou a ser um meio de
transporte espiritual e de estratégias espirituais. Também desenvolvi o
poder de dominar o meu campo eletromagnético e a gerar cargas
magnéticas nos objetos, movendo-os assim, sobrenaturalmente. Stinvts
me ajudava a fazer a leitura da mente das pessoas e, com esses
prodígios, passei a impressionar as pessoas próximas a mim.
A leitura de pensamentos feita por um bruxo ocorre com o auxílio
de poderes demoníacos, que criam um canal entre a mente da pessoa
sem Cristo e a mente do bruxo. Este canal é chamado de “rapport”, e é
conseguido porque os demônios que estão oprimindo cada pessoa se
comunicam entre si e geram esta ligação. A partir do momento em que
o rapport é feito, o bruxo pode ouvir, sentir e até comandar os
pensamentos alheios. É importante frisar que uma pessoa crente,
habitada pelo Espírito Santo, impede totalmente qualquer prática de
rapport e o elo com um bruxo é impossível. Assim jamais um servo de
Jesus terá sua mente dominada por demônios ou servos de Satanás,
nem seus pensamentos lidos. Essa é uma prática reservada apenas
àqueles que estão oprimidos ou possessos por demônios.
Conforme meu poder mágico ia aumentando, passei a mudar meu
caráter e me tornei arrogante e grosseiro. Comecei a tramar planos de
vingança contra aqueles que me humilhavam ou batiam, por ser uma
criança pobre e franzina. Havia um garoto que estudava na mesma sala
de aula que eu, que vivia me incomodando. Entre várias coisas que
fazia, a que mais me irritava era o habito de jogar coisas em mim.
Naquela época as salas de aula possuíam quadros negros com giz. Ele
pegava no lixo os pedaços de giz que os professores descartavam e
ficava jogando em mim, do fundo da sala, nas minhas costas e cabeça.
Isso me deixava terrivelmente irritado mas, por ele ter o dobro do meu
tamanho e peso, não podia fazer nada contra. Resolvi contar ao Luiz
sobre isso. Disse à ele que o garoto me ameaçava, empurrava e
intimidava. Ele pediu que eu pegasse um giz que o garoto atirasse em
mim e trouxesse para ele, o que fiz prontamente no dia seguinte. Luiz
pediu para que eu ficasse tranquilo, pois daria uma lição naquele
menino. Isso me agradou muito. No dia seguinte o garoto não foi às
aulas e também no restante da semana. Eu achei que ele havia
morrido, mas não. Na semana seguinte ele voltou ao colégio muito
debilitado. Estava doente! Suas unhas estavam esfarelando e seu
cabelo estava caindo. Os médicos disseram que ele estava passando
por um problema de descalcificação, devido uma deficiência vitamínica.
Eu sabia que não era isso. Sentia-me protegido pelo meu mestre que
me defenderia contra qualquer um! Stinvts falou comigo, dizendo para
dar um recado ao garoto:
- Diga a ele que não se meta mais com quem não pode. Fale que
tudo isso está acontecendo porque ele mexeu com você. Fale que
enquanto ele não pedir perdão à você, de joelhos, ele não vai sarar.
Disse isso a ele, mas não me deu muita atenção, porque não
gostava realmente de mim. Os dias foram passando e suas unhas já
haviam caído. Seu cabelo estava bem afetado e agora haviam feridas
horríveis no couro cabeludo, orelhas e também nos dedos, próximo às
unhas. No final de uma das aulas ele contou a sua mãe o que eu havia
dito. Isso foi suficiente para que ela viesse a mim com ofensas, me
chamando de “macumbeiro”. Obviamente neguei, pois queria evitar o
confronto, mas ela foi até a minha casa falar com minha mãe. Na
discussão minha mãe chamou-me perguntando o que eu tinha dito ao
menino e eu, com um caráter mentiroso inspirado pelos demônios,
disse que apenas havia falado que aquilo era um castigo de Deus para
ele, por ser tão mal e ficar incomodando os outros adolescentes. Ao fim
da discussão no portão da minha casa, minha mãe a despediu dizendo:
- Onde já se viu! – Esbravejou ela. – Uma mulher adulta acreditar
que uma criança pode fazer um mal desses!
Eu até poderia fazer aquilo, mas naquela ocasião, o mal foi gerado
pelo Luiz, em minha defesa.
Na manhã seguinte encontrei o garoto no colégio e o ameacei.
Disse a ele que, caso contasse novamente a alguém, eu mesmo o
mataria. Disse também que se ele não pedisse perdão para mim ali
mesmo, de joelhos, os dias dele estariam contados e o próximo mal
seria a morte. Ele caiu prostrado em minha frente e me pediu perdão.
Disse que não aguentava mais aquela situação e que queria ser
curado. Aquilo gerou no mundo espiritual um bônus para mim. Um
ponto importante para um aspirante a bruxo é conquistar a necessidade
das pessoas, fazendo-as recorrer a ele para buscar seus préstimos
mágicos.
O ser humano é tricotomista, formado por espírito, alma e corpo. No
mundo espiritual, quando uma pessoa cede ao desejo de ser
beneficiado por algum ato místico, seja uma cura, como foi o caso do
menino da minha escola, ou seja, através de uma consulta a um
médium, permite dando direito legal a demônios de tomar um lugar
específico entre o espírito e a alma da pessoa, o que chamamos de
possessão maligna. No final deste livro há um compêndio sobre
libertação e lá ofereço informações mais precisas sobre isso.
O acontecimento trouxe muito respeito por mim entre os meninos
no colégio. Ninguém dizia nada, mas tinham medo de mim, medo de
algo ruim acontecer. Passei a me mostrar, realizando pequenos
prodígios entre eles, fazendo uso dos poderes mágicos que os
demônios a cada dia davam a mim. A telecinese era muito usada,
movendo objetos das carteiras dos colegas, em plena aula. Também
desenvolvi uma forma de escrever palavras no quadro negro, sem tocálo. Algo que passei a fazer com frequência, para atrair a atenção das
pessoas era praticar adivinhações. As pessoas sentavam a certa
distância de mim e desenhavam algo em uma folha de papel. Eu pedia
ao Stinvts que se comunicasse com os demônios que estavam nas
pessoas próximas a quem desenhou, para que a possuíssem por uns
instantes e, através dos olhos dela pudessem ver o desenho feito. Aí
então o demônio comunicava ao Stinvts e ele, a mim. Tudo isso em
uma fração de segundo.
Como eu era uma criança de família muito pobre, as serventes do
colégio passavam a me dar bolos e doces, para que eu lesse tarô e
revelasse o futuro delas. Isso me fez passar da posição de menino
medíocre para um dos mais respeitados e queridos da escola, inclusive
pelos professores e coordenadores. Minhas notas subiram, fui eleito
líder da sala, capitão do time de futebol de salão do colégio. Nascia ali
um líder que sabia se impor e expor suas vontades. Em casa meus
novos dons foram bem aceitos pela família. Minha vó trazia as amigas
para que soubessem o futuro comigo. Fui ganhando algum dinheiro e
achando muito boa aquela nova fase. Fui a capital do estado para
atender uma pessoa muito importante, diretora de uma empresa
multinacional de ônibus e caminhões, para fazer algumas consagrações
lá dentro da fábrica e consultar os demônios para saber quais seriam as
novas estratégias da empresa. Aos poucos comecei a ficar conhecido
no meio místico, principalmente por ser um menino novo, de pouca
idade, o que eles consideravam um “iluminado”.
Meu avô Carlo, que era sacerdote superior da Tradição possuía
muitos demônios a seu domínio. Legiões e mais legiões específicas, de
demônios que lhes davam muito poder. Quando ele faleceu, deveria ter
feito um desligamento espiritual dessas hostes infernais, porém não o
fez, deixando-os para mim, que levaria seu nome e sua descendência
mágica. Por esta razão desde muito cedo eu tinha poderes natos
incríveis. As reações físicas a potencialização espiritual era evidente
quando, por exemplo, eu tirava uma blusa de lã e a quantidade de
faíscas que se levantava era tamanha que iluminava um quarto escuro.
Com isso e o passar do tempo, passei a usar esse poder com mais
habilidade e fui crescendo dentro da Tradição, impressionando a todos
e passando rapidamente os estágios que precisava passar.
Entrei para o terceiro estágio, onde um dos quatro príncipes do
inferno domina, chamado Leviatã, o demônio da água e da intuição. Eu
passava horas em contato com a água, andando em leitos de pequenos
riachos, fazendo as rezas repetitivas de adoração ao demônio. Por ser
o demônio da intuição, os rituais da lua passaram a entrar na minha
rotina e comecei a praticar a meditação. Aprendi a concentrar minha
mente e liberar meu espírito de tal maneira que poderia ficar imóvel por
horas, sem perceber o que estava acontecendo ao meu redor, em uma
espécie de transe.
Uma semana antes de iniciar o terceiro estágio precisei passar por
sete rituais de purificação, com invocação aos demônios lunares,
guiados pela deusa (demônio) Diana. Consistia em colocar em uma
bacia uma quantidade de água, sal grosso, cinza de cedro, cristais das
cores dos pontos cardeais, para invocar os quatro guardiões. Então em
um horário específico abria a janela do meu quarto e deixava a imagem
da lua refletir na bacia. Com uma faca cortava a imagem refletida
algumas vezes, recitando as palavras ritualísticas. Depois disso o
banho de purificação era feito com aquela água salgada e suja com as
cinzas.
Luiz havia me avisado que o rito de passagem seria na quarta feira,
a meia noite e meia, em uma cachoeira de uma mata fechada que a
Tradição usava para seus rituais, em uma propriedade de posse de um
dos sacerdotes. Chegado o dia fomos até lá, para minha passagem
para o terceiro grau, onde eu veria pela primeira vez Leviatã, o demônio
das águas. Luiz limpou com o facão um pequeno pedaço da margem do
riacho, onde estava a cachoeira. Ficamos embaixo, onde as águas
caíam. Cris e outra moça, também da Tradição, ficaram encima, com as
mãos levantadas fazendo as rezas sagradas, que eram necessárias
para a invocação de um dos quatro príncipes. Luiz, o dono da terra, que
era sacerdote e eu ficamos na margem, no local que havia sido limpo.
Começamos a fazer a reza sagrada e percebi que o lugar começou a
ficar denso e úmido, como havia ficado no ritual de iniciação. Luiz havia
levado um violão e começou então a entoar cânticos espirituais, como
mantras, onde repetia sons desconexos e afônicos. O sacerdote passou
então a dirigir as palavras de abertura do portal necessário para a vinda
de Leviatã. Por ser um dos príncipes, Leviatã só poderia estar ali por
alguns minutos. Lembro-me de ouvir as pedras da cachoeira estalar,
como se alguém as estivesse quebrando. Cris e a outra garota tremiam,
rodopiavam, pulavam enquanto Luiz entoava os mantras, ao ponto de
eu ter medo delas caírem de lá. O sacerdote me deu o comando para
descer até a água, porque o príncipe havia chegado. Desci temeroso. A
água estava morna, por mais que fosse uma mata, a noite, aos pés de
uma cachoeira, e isso me acalmou. Aos poucos eu já estava me
acostumando com todas aquelas cerimônias e as aparições
demoníacas que presenciava. Em um grito, o sacerdote começou a
invocar Leviatã, repetindo as palavras em latim, da invocação. Uma
garoa começou a descer e foi ficando mais forte, ao ponto de se
transformar em chuva. Debaixo dos meus pés eu podia sentir a terra
tremer e o ruído de pedras quebrando aumentou. Luiz tocava mais
rápido e cantava o mantra mais alto. Cris e a outra moça giravam
freneticamente e o sacerdote gritava repetidamente o nome de Leviatã.
Em um estrondo, do meio da cachoeira eu senti uma pressão vindo em
minha direção que me atirou para trás e caí no riacho, sendo
submergido pelas águas, que gelaram imediatamente, quase
congelando. Quando consegui me colocar em pé vi, parado em meio às
rochas uma figura medonha, humanoide, com escamas duras e escuras
e barbatanas em seu pescoço e mãos. Media uns três metros de altura
e exalava um cheiro desagradável, parecido com algo estragado. Era
ele, um dos príncipes do inferno: Leviatã.
Assustado, fiquei estático olhando para ele e ele para mim. Os seus
olhos eram terríveis e sua cabeça ficava se movimentando lentamente
para os lados, constantemente. Ele não disse uma palavra o tempo
todo. Olhei para o lado e vi Luiz e o sacerdote prostrados, com seus
rostos no chão. Não me lembro de ter visto as meninas. Ouvi um
sussurro e vi Luiz me dizendo “invoque seu mensageiro”. Naquela
época eu ainda precisava dizer um conjunto de palavras ritualísticas
para invocar Stinvts, e o fiz. Quando ele chegou, imediatamente passou
a se comunicar com Leviatã em uma língua estranha e
incompreensível. Depois de um tempo Stinvts se prostrou em frente a
ele, o reverenciou e sumiu. Entendi que Leviatã devia ter passado
instruções sobre como agir comigo naquele estágio. O sacerdote
chamou-me à margem e deu-me um papel para assinar o pacto com
Leviatã. Era necessário porque ele seria quem comandaria o inferno
depois que Satanás deixasse o trono, e isso se daria durante meu
período na terra. Furei meu dedo indicador esquerdo e assinei com meu
nome mágico, com a mão esquerda, a mão da maleficia. Queimaram
aquele papel e estava selado. Havia se passado um ano e um dia,
exatamente, depois da minha iniciação.
Depois do ritual e da aparição de Leviatã, sentamos na sede da
fazenda para fazer um lanche. Enquanto preparavam a mesa, sempre
muito farta, conversei um pouco com Luiz sobre o ritual:
- Porque o príncipe Leviatã não se personificou como um humano,
como fez papai, no ritual de iniciação? – Perguntei.
- Ele o fez! Aquilo é o mais próximo que ele consegue chegar de
uma aparência humana, pode acreditar. Eu já o vi na sua forma natural
e é incrivelmente grande e terrível. Você não aguentaria vê-lo assim. –
Respondeu ele.
- Mas porque aquela aparência é o mais próximo que ele consegue
chegar? – Indaguei novamente.
- Por que ele está se preparando para dominar o mundo! Ele será o
quarto príncipe! O período do príncipe Lúcifer já passou. O do príncipe
Belial também. Nosso pai Satanás está no final do seu período e, então,
Leviatã reinará. Por isso ele não está conseguindo aparecer como
homem, porque sua aparência de príncipe está muito forte agora. E
quando ele reinar, tudo será diferente nessa terra! Pense, ele é o
demônio da intuição, do raciocínio, do pensamento. Vamos ter domínio
sobre a mente das pessoas, sobre o pensamento filosófico de cada um
deles. O que quisermos que eles acreditem, vão acreditar. O que
desejarmos que sejam serão! – Disse Luiz, empolgado.
- Isso será realmente fantástico! – Completei. – As pessoas farão o
que quisermos. Já pensou? Poder dominar a mente de alguém! Falei.
- Muito mais do que isso, derrotaremos todos os nossos inimigos. O
sistema como é hoje, baseado no conceito falho do cristianismo, nós
vamos destruir. Nosso pai diz que podemos fazer o que quisermos, pois
será nossa lei. Então faremos com que as pessoas sejam o que elas
desejam ser ou – completou rindo – o que nós quisermos que elas
sejam.
Abro um parênteses aqui, para explicar algo: O relato que você leu
acima se passou no ano de 1990. Leviatã já domina o inferno nos dias
de hoje. Uma das estratégias dele é fazer as pessoas parecidas com
ele. Se você ler no livro de Jó, no capítulo 41:9 diz que apenas vê-lo já
é assustador. Hoje as pessoas estão cada vez mais mudando suas
aparências, alterando o formato do rosto, língua, implantando chifres e
tatuando escamas no rosto. Tingem os próprios olhos, se tornando
assustadores! Em Jó 41:19-21 diz que sua boca faz fagulhas de fogo
estalarem, que fumaça sai das suas narinas e que seu sopro acende o
carvão e de sua boca saem chamas. Este relato nada mais é do que
uma pessoa que fuma cigarros, charutos ou cachimbos. Sem saber,
esses pobres viciados estão sendo usados por demônios para
reverenciar Leviatã, o príncipe do inferno, e o adorarem com seus
corpos.
Em um centro de baixa magia, quando uma pessoa precisa de cura
física, para alguma enfermidade, é feito um "passe”, que é uma
invocação maligna feita através da fumaça do charuto ou do cigarro.
Mas a Palavra de Deus, no livro de Tiago 5:14 diz que se há alguém
doente, é necessário orar e ungir com o óleo, em Nome do Senhor. O
óleo é um dos símbolos da presença do Espírito Santo. A fumaça do
cigarro, por sua vez, é um dos símbolos da presença do demônio
Leviatã. É por isso que a maioria dos fumantes são mal educados!
Fumam em qualquer lugar, sem ao menos perguntar às pessoas ao
redor se lhes incomoda o fato de estar fumando ali. Eles não fazem isso
motivados por uma educação deficiente, mas por uma motivação
espiritual! A fumaça, para o inferno, tem a mesma função que o óleo
tem para a igreja: demarcação territorial. Quando um servo de Jesus
unge um local com o óleo, ele está declarando que aquele lugar
pertence ao Senhor Deus, porque o óleo simboliza o Espírito Santo.
Semelhantemente, quando uma pessoa fuma em um local, ele está
demarcando aquele lugar para o demônio, porque a fumaça simboliza
Leviatã.
Por esta razão não devemos permitir que pessoas fumem em
nossas casas, nem mesmo nas varandas ou áreas. Caso o façam, unja
com o óleo e ore, em Nome de Jesus, cancelando qualquer
demarcação maligna em sua casa, local de trabalho ou qualquer outro
lugar em que você esteja.
Naquela época minha mãe saía muito de casa. Trabalhava durante
o dia todo e, a noite, saía para bailes e festas. Por isso eu tinha muito
tempo para praticar tudo o que aprendia, sem a interferência de
ninguém. No terceiro grau fui doutrinado a ter uma percepção
extrassensorial muito alta, ao ponto de dominar os sonhos,
pensamentos alheios e entrar nos sonhos dos outros. O domínio dos
sonhos era muito importante para uso em várias incursões mágicas,
portanto bastante praticado pelos satanistas e bruxos.
Eu havia aprendido a desenhar por intermédio de demônios
relacionados ao terceiro grau, e comecei a trabalhar como desenhista
no jornal do Luiz. Ele me ajudava muito, em tudo. Era muito mais que
um amigo. Nos trabalhos da escola, nos estudos da magia, nas
brincadeiras em casa, com meus amigos. Passou a frequentar a minha
casa e ele e Cris se tornaram amigos da minha mãe. Assimilei muito
rápido tudo oque me era passado e logo passei ao quarto grau, o
estágio do ar, da comunicação, da levitação, comandado por Belial. O
poder que tinha era tão grande que eu já não conseguia dominá-lo.
Fazia coisas mágicas com naturalidade e uma facilidade que
impressionava meu mestre Luiz e aos outros mestres da Tradição. No
quinto grau, o estágio da terra, conheci as irmandades satânicas,
comandadas por Lúcifer. É neste estágio que aprendi sobre os cultos e
ritos sacrificiais, onde pessoas eram sacrificadas (falo sobre isso em
meu livro “Revelação, o caso Filhas da Luz”) e mortas em honra aos
demônios. Também foi nessa época que aprendi sobre Maçonaria,
Rosacrussianismo e outras doutrinas e irmandades. No quinto grau
meu fortalecimento humano se tornou visível e minha personalidade
passou a ser moldada pelos demônios. Neste estágio aprendi a
alquimia, a transmutação, onde conseguia mudar a cor dos meus olhos,
cabelo, forma física. Também já conseguia mudar a cor de outros
objetos. Na chegada ao sexto grau, o estágio do fogo, comandado por
Satanás, fechou-se o primeiro ciclo, que se iniciou na minha iniciação.
Neste estágio desenvolve-se o poder para atingir pessoas com
doenças, males súbitos e até a morte. Muitos neste nível se tornam
pessoas desprezíveis e arrogantes, porque realmente alcançam um
poder muito grande. Este foi meu caso, infelizmente. Tornei-me uma
pessoa insuportável, maligno e vingativo. Brigava constantemente com
minha mãe, ao ponto de agredi-la fisicamente algumas vezes. Passei a
estudar a noite e me tornei um sujeito malquisto pela maioria dos
colegas. Eu não tomava muitos banhos, por causa de vários rituais que
fazia ao longo do dia, assegurando minha proteção e mais poder.
Todos os dias eu precisava passar por uma série de ritos
específicos, para manter meu corpo fechado. Por exemplo, eu dormia
sempre com uma camiseta que estava consagrada, sempre virada ao
avesso. A usava por baixo das roupas durante o dia. Ela nunca era
lavada, para não perder a consagração, então exalava um forte odor
pútrido. Também eu precisava colocar cristais que eram consagrados
em pontos específicos da minha casa, cercando o lugar. Aos pés das
colunas do portão de entrada da minha casa havia oferendas aos
demônios protetores enterradas. Todas as vezes que eu passava por ali
precisava fazer uma referência, bater três vezes o pé esquerdo no chão
e dizer o nome deles. Eram tantas coisas que minha vida se tornou
exclusiva para uso do inferno e virei um fantoche nas mãos de Satanás.
Stinvts me acompanhava em tudo e lembrava sempre que eu se
esquecia de algum rito necessário.
No sexto estágio, fui orientado a conhecer um sacerdote da
Tradição que me ensinaria a dominar meus sentidos espirituais e
esotéricos e, com isso, conseguir unificar os quatro elementos. Esse
homem se disfarçava de “Pai de Santo” e tinha uma casa de materiais
de Umbanda. Também fazia trabalhos espirituais e lia búzios para as
pessoas que o procuravam. Invoquei Stinvts e ele levou-me até o local.
Era em um bairro vizinho ao centro da cidade. Ao chegar lá, desprezei
de imediato, pois era um centro de espiritismo. Os satanistas
consideram a baixa magia como uma área pobre da magia, onde os
demônios usam os médiuns. São pessoas sem cultura, sem estudo,
pobres que mendigam favores aos demônios. A alta magia era a elite,
formada por pessoas estudadas, que davam comandos aos demônios.
Procurei pelo homem indicado por Stinvts e descobri que ele era o líder
ali e eu precisava ter hora marcada, porque inúmeras pessoas vinham
até ele para serem atendidas.
- Diga que papai o enviou. – Disse Stinvts para mim.
- Olha moça, diga à ele que papai me enviou aqui. – Falei.
- Meu filho, eu entendo que seu pai quer que você o veja, mas você
precisa marcar hora para ser atendido. – Contestou. – Diga seu nome e
vou agenda-lo para semana que vem. – Disse ela.
- Espere. – Disse Stinvts. – Vou resolver isso de uma maneira
engraçada. Quer ver? –Perguntou-me ele.
- Claro que quero! – Disse eu ao demônio, apenas com meu
pensamento.
De repente a mulher estalou os olhos e começou a rodopiar. Ela
passou a balançar de um lado para o outro e a rodar no mesmo lugar.
Imediatamente algumas pessoas que trabalhavam ali no centro vieram
e começaram a sustenta-la para que não caísse e disseram que um
orixá estava baixando nela. Em um momento aquela mulher olhou para
mim sorrindo e piscou o olho. Eu entendi que era Stinvts que havia
entrado nela. Ele disse através dela:
- Eu trouxe meu filho aqui, para ver Jorge! Porque ele não pode ver
Jorge? – Gritava a mulher possuída pelo meu demônio mensageiro.
Segurei-me para não rir e passei a me comunicar mentalmente com
Stinvts:
- O que é que você está fazendo? – Perguntei.
- Fique tranquilo, é só para agitar um pouco isso aqui. – Respondeu
ele em minha mente.
Os “filhos de santo” foram correndo buscar ele, Jorge de Ogum, o
pai de santo. Quando ele chegou, olhou para mim e soube que eu era
um dos filhos de Satanás, pertencente a Tradição. Olhou para a
secretária, que ainda estava possuída por Stinvts e deu um comando:
- Mensageiro! Já pode sair da minha secretária. Pare de causar
confusão aqui!
- Sim senhor. – Disse Stinvts, em uma rara demonstração de
respeito por alguém, e saiu.
- Venha filho, entre aqui. Vou te ensinar a dominar este demônio,
para que não faça mais isso. – Disse para mim, colocando seu enorme
braço sobre meu ombro, conduzindo-me para uma ampla sala, na parte
dos fundos.
- Então você é o novo filho? – Perguntou-me olhando no fundo dos
meus olhos, de forma tão penetrante que parecia estar lendo minha
mente.
- Sim! Pelo menos é assim que papai me chama. Recebi a
instrução de meu mestre Luiz para procurar o senhor. Meu mensageiro
trouxe-me aqui. – Respondi.
- Você sabia que, normalmente, demônios mensageiros não
incorporam em pessoas? O seu é muito habilidoso rapaz. Isso
demonstra que você tem muito poder e eu sei de onde veio todo esse
poder. Conheci seu avô, trabalhei com ele. – Disse o homem de um
metro e noventa e seis de altura, com mais de cento e quinze quilos de
peso.
- O Vô Carlo?? Como assim? – Perguntei entusiasmado, porque
sabia pouca coisa sobre meu avô.
- Isso. Ele tinha uma chácara no Rio de Areia. Íamos lá fazer as
consagrações. Ele, o Baiano e eu. Seu avô era um grande sacerdote, o
maior de toda essa região. Tinha um poder incompreensível, por isso
admirávamos tanto ele. O único problema dele foi que a magia
consumiu a sua prana (força vital), que o fez adoecer. – Falou o
sacerdote.
Alguns bruxos fazem tanto uso da magia que não cuidam da sua
própria saúde. Quanto mais se utiliza as forças místicas, mais o corpo
físico é consumido. Eu mesmo, por usar muito a magia, tinha as mãos
cobertas por verrugas, devido à quantidade de poder que passava por
elas. Associando o poder espiritual a energia eletrostática do corpo, as
correntes elétricas que passavam por mim saíam pelas mãos,
direcionadas até onde eu concentrava minha visão. Isso afetava
terrivelmente a pele das mãos, ocasionando as verrugas. Incrivelmente,
depois da minha conversão, em questão de meses, todas elas secaram
e caíram. Nunca mais as tive.
Jorge era um pai de santo conhecido da região. Naquele dia
contou-me muitas coisas sobre minha família, principalmente sobre meu
avô e suas aventuras. Foi muito importante para a compreensão da
minha história familiar e porque eu tinha um poder visivelmente maior
que as outras pessoas. Muitos demoravam três, quatro anos para
passar do terceiro para o quarto estágio, e eu desenvolvi a magia tão
naturalmente que avancei em questão de meses apenas. Os demônios
que produziam o poder do meu avô foram todos transferidos para mim
no dia do meu nascimento.
- Eles tomaram você nos braços, assim que nasceu, e com o
sangue da placenta da Dal (minha mãe) consagraram você. O seu
cordão umbilical foi tirado e guardado, porque nele contém a sua
herança genética. Ele foi usado para o ritual de transferência, onde os
poderes (demônios) do seu avô puderam ser passados para sua vida. É
por isso que você tem tanta facilidade na magia e todo esse poder que
nem sabe controlar ainda. – Explicou-me Jorge. – Você foi escolhido
para nascer. Nasceu mediante um planejamento, para ser o próximo
sacerdote superior da Tradição. Eu vou morrer e os outros também,
mas você vai durar muito ainda. – Concluiu.
- Luiz me disse que eu aprenderia a unificar os quatro elementos.
Você pode me ensinar? – Perguntei.
- Você já sabe. Basta buscar isso dentro de si. Os quatro elementos
estão contidos na sua essência, desde o seu nascimento. Se você
levantar uma folha, o universo inteiro estará debaixo dela. Se você
partir uma maçã ao meio, a magia estará dentro dela. Tudo está contido
na sua existência e naquilo que você tocar. Quando sentir o calor do
sol, ou o frio da chuva; quando sentir a árida terra ou o sopro do vento,
você saberá que os quatro elementos estão unidos e esse será o
momento certo de você subir na escala da existência mágica. –
Completou filosoficamente ele.
Aquele dia foi cheio para mim. Tantas informações e aprendizados!
Muitas coisas que eu, sequer sonhava saber, soube. Ao voltar para
casa, caminhando, um vento forte tomou conta da rua onde eu estava.
A poeira soprada pelo vento veio sobre mim e senti o gosto seco da
terra na minha boca. O vento soprou sobre meus cabelos que, na
época eram grandes e volumosos. As nuvens se abriram e um raio de
sol muito forte bateu sobre meu rosto, impiedoso. Fiquei parado ali,
sozinho, em uma rua deserta pensando no que estava acontecendo
naquele momento quando, do nada, uma fria chuva caiu sobre mim.
Este era o sinal! Eu estava pronto! Poderia ser consagrado um mestre
de alta magia da Tradição. Finalmente alcançaria o primeiro grau da
alta magia e seria conhecido como um bruxo de verdade. Tudo estava
acontecendo tão rápido que mal podia dominar meus sentimentos.
Olhei para a esquina e vi legiões de demônios fechando aquela rua.
Olhei para meu lado e, embaixo de uma árvore vi Stinvts sentado, me
aplaudindo. Aquele era o dia que eu esperava tanto. Corri para a casa
do Luiz para lhe contar a experiência que havia tido. Ele ficou
surpreendido pela rapidez com que tudo estava acontecendo e me
informou que seria a hora da minha ordenação. Enfim, eu estava
pronto!
Passados algumas semanas, finalmente no dia 28 de junho de
1992, um domingo à tarde, fui ordenado mestre de alta magia da
Tradição, sendo o bruxo mais novo ordenado no Brasil pela Tradição,
com apenas dezesseis anos de idade. Todos os mestres precisavam ter
um título, dado por Satanás, para exercer seu chamado. O meu era “O
Homem da Palavra”, devido minha condição de atrair a atenção das
pessoas com minha retórica e facilidade em expressar o ensino através
da didática que havia desenvolvido. A ordenação ao sétimo grau gerou
uma nova fase na minha vida, onde o poder dos quatro elementos,
fogo, água, terra e ar se uniram ao elemento espiritual éther. Esses
cinco elementos foram simbolizados com a criação da vela, que surgiu
para abrir portais espirituais e gerar passagens de demônios para o
mundo físico.
Deixe-me explicar sobre a VELA: ao contrário do que pensam as
velas não são objetos criados para iluminação. Nos primórdios das
eras, a iluminação passou de tochas a candelabros alimentados por
gordura animal ou azeite (óleo). Depois começaram a surgir as
lamparinas e as candeias. As velas nunca entraram no conjunto de
objetos existentes para iluminar ambientes, até porque são deficientes
nisso, iluminando muito pouco cada uma delas, sendo necessária uma
grande quantidade delas para iluminar um único local. Elas foram
criadas para aberturas de portais mágicos. São o símbolo da unidade
entre os cinco poderes místicos, que é a junção dos quatro elementos
naturais (fogo, água, terra e ar) com o elemento espiritual (éther/prana).
Ao acender uma vela, imediatamente um portal espiritual é aberto,
MESMO SEM AS PALAVRAS DE INVOCAÇÃO A DETERMINADOS
DEMÔNIOS. As velas brancas são usadas para invocar os demônios
mensageiros, como o Stinvts por exemplo. Também são usadas para
abrir portais para espíritos (demônios) familiares. Note que são acesas
velas brancas em funerais ou em cemitérios. Velas coloridas são
acesas de acordo com cada demônio associado à elas.
Nos seminários e ministrações que faço ao longo dos anos, nas
mais variadas igrejas e cidades, nos muitos países por onde tenho
passado, a pergunta é sempre a mesma: “mas se acabar a luz, posso
acender uma vela?”. NÃO! Sob hipótese alguma acenda uma vela! No
escuro, sobre bolos de aniversário (assistam meu vídeo “Desvendando
o Satanismo 2”, onde explico sobre o ritual satânico que há escondido
nas velas de aniversário), velas coloridas, velas aromáticas etc.,
nenhum tipo deve ser aceso. São armadilhas espirituais que devem ser
evitadas!
O poder que o sétimo grau trouxe era demais para que eu
conseguisse controla-lo nos primeiros meses. Quando eu sentia ódio,
meu corpo queimava. Se a raiva fosse externada por um grito, as portas
e janelas da minha casa se abriam e batiam. Coisas voavam dentro de
casa e quando eu saía à rua, algumas pessoas passavam mal perto de
mim, chegando a tontear e, até, a cair. Apesar da minha fraqueza física,
os demônios me dotaram de uma força descomunal para minha
estrutura humana, ao ponto de erguer pessoas com apenas uma mão.
Stinvts que antes precisava ser invocado, agora estava o tempo todo ao
meu lado, visível, se comunicando e dando orientações a cerca de tudo
o que eu deveria fazer. O relacionamento com minha mãe estava
arruinado, bem como com todos. Eu não conseguia mais me relacionar
com as pessoas, pois havia me trancado em um egoísmo sombrio e
mesquinho onde só a Tradição era boa para mim. Eu estava disposto a
fazer qualquer coisa pela magia e o que Satanás ordenasse, seria feito.
A bruxaria agora era minha família. Tudo o que eu precisava estava
nela e o que eu tinha de melhor era reconhecido apenas por eles.
Minha mãe, apesar de também servir ao inimigo, não aguentou a
maldade que havia sido gerada dentro de mim e me mandou embora de
casa. Fui morar com meu pai, em outra cidade, um homem pelo qual
não nutria qualquer sentimento ou respeito, por haver me abandonado
desde cedo. Era a chance que eu tinha de exercer meu chamado na
magia, em uma cidade grande. Fui morar em Cascavel, oeste do estado
do Paraná. Lá passei a iniciar pessoas no satanismo, como meu mestre
Luiz fez comigo. Comuniquei-me com os sacerdotes da região e passei
a formar um coven para treinar meus discípulos. Ensinei, iniciei e treinei
desde adolescentes de quinze anos a senhoras da alta sociedade.
Onde Satanás mandava eu ia. Montei com isso vários covens,
chegando a uma grande assembleia.
Cada coven era formato por, no máximo, treze pessoas. A partir de
treze covens abria-se uma assembleia menor. A partir de treze
assembleias menores abria-se uma assembleia maior. A partir de treze
assembleias maiores, abria-se uma assembleia regional. Então, para se
ter uma ideia do poder de abrangência que o sistema da Tradição tem,
em uma assembleia regional poderia ter mais de vinte e oito mil
satanistas em treinamento AO MESMO TEMPO, em uma região de
aproximadamente quinhentos mil habitantes. Claro que não significa
que todos esses chegarão a ocupar os três últimos níveis, pois é muito
difícil, mas é um grande contingente de pessoas servindo ao diabo,
bem próximas a nós.
Os treinamentos aconteciam o tempo todo, nos mais variados
locais. Passamos a treinar um grupo de iniciados para se infiltrar nas
igrejas evangélicas. Eram nossos inimigos em potencial e estavam
crescendo muito no Brasil, tirando pessoas do ocultismo. A estratégia, a
partir da década de noventa era colocar pessoas disfarçadas dentro das
igrejas e atrair a confiança dos líderes e das pessoas influentes da
congregação. Depois de um tempo descobrir fraquezas e gerar boatos,
acusações e calúnias sobre os líderes, a fim de desmoraliza-los e
destruir suas igrejas. Os filhos dos pastores eram atacados
constantemente para não seguirem os exemplos dos pais. Fazíamos de
tudo para que não chegassem a ser crentes, quando alcançassem a
idade adulta. Havia no Paraná grandes igrejas que já tinham pastores
auxiliares, ministros de louvor e líderes de jovens que eram satanistas
infiltrados da Tradição. Cheguei a participar de uma reunião de
assembleia menor no centro de eventos de uma grande convenção
evangélica, onde um dos pastores era um mestre da Tradição. Falo
sobre as estratégias de infiltração de satanistas no meu livro
“Infiltração”, lançado por esta mesma editora, na série de romances
policiais cristãos.
Meu poder e autoridade espiritual cresciam a cada dia. Era
evidente que logo eu seria um sacerdote superior do satanismo. Vários
bruxos vinham até mim, para saber quem eu era, porque seus
demônios mensageiros sentiam minha presença na cidade e isso os
atraía. Eu morava em um hotel no centro da cidade de Cascavel e os
feiticeiros, curandeiros, bruxos, místicos, médiuns vinham se hospedar
ali para ter contato comigo e aprender alguma coisa. Todos
demonstravam um respeito enorme por mim e isso fez com que meu
nome fosse cada vez mais conhecido no mundo místico. Algumas
bandas de rock satânico vinham me conhecer e pedir que fizesse
invocações malignas sobre seus discos. Passei a conhecer cantores
que tinham expressão nacional. O fato de ser um garoto novo, com
tanto poder, atraía as pessoas. Era natural pensarem que havia algo a
mais em mim. Porém também atraía uma concorrência negativa e, até,
perseguições por parte de bruxos que se sentiam ameaçados por mim.
Certa vez, ao chegar ao hotel o porteiro, que também era um
grande amigo e sabia que eu era um bruxo, disse-me que uma bruxa
estava hospedada no hotel e que queria me ver. Quando perguntei
como ele sabia que ela era uma bruxa, a mesma estava descendo as
escadas e disse:
- Por que pareço uma bruxa!
De fato, era uma senhora gorda, com um vestido longo, florido, uns
lenços de seda no pescoço e sobre o vestido, com vários anéis nos
dedos, inclusive com o anel do poder (igual ao que eu tinha), formado
por uma serpente Urubórus, que morde o próprio rabo, e o colar da
Tradição no pescoço. Sentamos e ela disse-me que estava com um
problema que só eu poderia resolver. Tinha um filho de quarenta e dois
anos que havia recebido um feitiço de outra bruxa e ficou demente, com
uma mentalidade de uma criança de cinco anos de idade. Ela até tinha
um feitiço para reverter a bruxaria, mas existia uma substância
(ingrediente da poção) que só eu poderia ensiná-la a conseguir, mas
que o mensageiro dela disse que primeiro eu precisaria aprender o que
era. Enquanto ela ficou hospedada no hotel, eu passei dias
conversando com o Stinvts tentando descobrir o que era substancia que
ela tanto precisava. Uma coisa estranha começou a chamar a minha
atenção. Todas as vezes que eu conversava com a bruxa, notava que
os olhos dela mudavam de cor. Stinvts disse-me que não confiava nela.
A janela do quarto que eu morava no hotel tinha a vista para um
muro de tijolos. Todos os dias um gato preto ficava ali, sentado sobre o
muro, olhando para dentro do meu quarto. Eu tentava me comunicar
com ele, sensorialmente mas não conseguia. Ele passou a ser um
companheiro nas intermináveis tardes de leituras dos tratados mágicos
da Tradição, das chaves de Salomão e do Heptameron. Certa tarde o
gato fez algo inesperado, e saltou do muro para dentro do meu quarto,
pela janela aberta. Assustei-me por um momento até que ele se tornou
um homem adulto, de manto escuro, na minha frente. Era um dos
guardiões das torres cardiais, demônios específicos de proteção de um
mestre. Ele se prostrou na minha presença e reverenciou Stinvts, que
também estava ali, ao meu lado, como sempre.
- O que houve, guardião? – Perguntou Stinvts.
- Vim avisá-lo de que alguém muito próximo quer atacar e destruir o
meu senhor. – Respondeu ele.
- Quem? – Perguntei. – Onde está?
- É aquela bruxa! Eu sabia que não podia confiar nela. – Replicou
Stinvts.
- Sim. É ela. – Respondeu o guardião. – Ela está aqui com o
propósito de destruí-lo. O que devo fazer? – Perguntou ele.
- Deixe comigo. Sei bem o que fazer com eles. – Encerrei o
assunto.
Pedi ao Stinvts que chamasse os demônios de retaliação e
segurassem os dois no quarto do hotel. Eu queria que o homem que
estava se passando pelo filho dela fosse punido por isso, então ordenei
aos demônios que o deixassem com a mentalidade que ele estava
fingindo ter, ou seja, que sua mente retrocedesse à idade de cinco
anos. Imediatamente o homem teve uma convulsão fortíssima e ficou
debilitado mentalmente.
A feiticeira quando viu o que fiz à ele, invocou seus demônios para
partirem contra mim mas, tamanha foi sua surpresa quando percebeu
que não eram nem a metade dos que estavam me cercando e fazendo
minha proteção. Ao sentir a ameaça sobre sua vida, fugiu do hotel
correndo, se desvencilhando do cerco que eu havia feito. Stinvts disse
saber onde ela estava indo e pediu permissão para fazer algo a ela.
Como minha raiva era enorme, consenti. Os olhos do demônio
mensageiro flamejaram e ele desapareceu.
Esta mulher era uma sacerdotisa de oitavo grau, de uma
assembleia menor, próximo a mim e sentia-se ameaçada pela minha
proximidade ao seu território. Ela era também uma grande empresária
da cidade e foi, infelizmente, encontrada morta, assassinada pelo
amante, um jovem usuário de drogas e cheio de demônios parasitas.
Os demônios parasitas são uma classe que não é usado na batalha
espiritual pelo inferno. São demônios de baixa grandeza e pouca
intensidade que permanecem em uma pessoa, apenas se alimentando
dela. É o caso dos viciados em drogas. Os parasitas espirituais sugam
toda a vitalidade da pessoa, tirando-lhes a força e a vontade de viver.
Quando conseguem matar a pessoa, ganham um status na região em
que atuam e podem possuir pessoas de níveis sociais maiores. Assim
vão galgando posições e crescendo na escala evolutiva. O demônio de
um milionário não é da mesma classe que o demônio de um mendigo.
Ambos estão em escalas diferentes. Quando um demônio é expulso
pelo poder do Nome de Jesus, ele volta aos lugares áridos e, se não
tiver como voltar à pessoa de onde saiu, tem que iniciar novamente
como um demônio parasita, sugando a vitalidade de viciados e doentes.
4 – DEUS COMEÇA A ME
CERCAR
Quando olho para minha vida, percebo que nasci para servir ao
Senhor. Costumo dizer, por onde passo, que nasci crente, mas na
família errada. Eu via todos bebendo muito, se embriagando e nunca
bebi. Todos fumando e se drogando, mas nunca fumei e, tampouco me
droguei. Meu anseio era por uma verdade, saber o que havia além do
mundo físico. Eu desenvolvi, é verdade, um desejo e apreço pelo poder
que a magia trazia, mas porque fui direcionado a isso. A verdade que eu
buscava não era aquela, porque quanto mais conhecia do oculto, mais
eu precisava conhecer para ter meu espírito saciado. Quanto mais
aprendia da magia, dos tratados, dos rituais, mais precisava fazer
invocações para manter-me ativo espiritualmente. A cada grau que eu
ascendia, mais obrigações! A cada dia, mais e mais coisas a serem
feitas e cada vez piores. Cheguei a um momento em minha vida que o
inferno começou a cobrar a maldade em mim, mas eu não tinha esse
desejo. Tinha um caráter terrível, era arrogante, vingativo, mas nunca
fui um assassino, e com o sétimo grau vinham os rituais de morte e isso
era algo que me angustiava.
No satanismo matam-se muitas pessoas. Crianças, no geral, são as
mais usadas. Meu coração congela só de lembrar-se disso e me dá um
nó no estômago, porque sei que neste exato momento existem pessoas
morrendo nas mãos de satanistas ávidos por sangue, para satisfazer o
desejo de poder e manter conexões abertas entre eles e o mundo
espiritual.
Os rituais de morte são necessários em todas as religiões místicas,
uma vez que o derramamento de sangue mantém aberta a ligação
entre o ser humano e uma (ou mais) entidades espirituais. Na
Umbanda, por exemplo, são feitos sacrifícios com animais bípedes; na
Quimbanda, com quadrúpedes. No satanismo com seres humanos. A
morte sacrificial é levada muito a sério e extremamente necessária para
manter os demônios de alta grandeza, como os príncipes e subpríncipes ligados as Organizações, Irmandades e Tradições, como no
caso da que eu pertenci.
No colégio, com dezessete anos de idade, eu falava abertamente
de Satanás. Tinha orgulho de ser um satanista e ensinava a todos
sobre as coisas do reino das trevas. Essa era a minha religião e eu
queria que todos soubessem, tomando apenas o cuidado para não
revelar os segredos da Tradição, que eram muito bem guardados. Eu
usava livremente meus poderes satânicos para a autopromoção e para
impressionar as pessoas. Um dia, quando estava resfriado, espirrei
perto de uma colega e ela educadamente disse “saúde”. Imediatamente
olhei profundamente para ela e disse:
- Obrigado! Agora sua saúde está em mim e meu resfriado em
você.
De fato, no dia seguinte eu estava são, e ela resfriada. Isso
causava furor entre os estudantes que, de certa forma, temiam a mim.
As pessoas começaram a me procurar para aprenderem sobre o que eu
conhecia. Como Luiz gerava uma atração sobre minha vida, agora eu
fazia isso nas pessoas. Passei a ter muitos amigos, iniciados e
discípulos e me tornei rapidamente muito popular.
Eu usava o colar mágico da Tradição, dado aos mestres de alta
magia, sempre por baixo da roupa. Ele era feito de madeira, com uma
pedra incrustrada no verso, preso em um cordão encarnado. Ficava sob
consagração em maçãs de cipreste e outros elementos místicos.
Portanto ninguém além de mim poderia tocá-lo. Um colega meu, cristão
porém sem intimidade com o Senhor, me perguntou o que era aquele
cordão que eu tinha ao redor do meu pescoço e eu expliquei que era
um símbolo mágico da Tradição que pertencia, e que era dado só aos
mestres de alta magia, como no meu caso. Falei também que ninguém,
além de mim, poderia tocá-lo. O menino, para me afrontar, tocou
rapidamente nele e me disse “e agora?”.
- Agora seu dedo vai apodrecer e cair. – Respondi sério e
categórico.
Ele riu, porque não acreditava naquilo, mas no dia seguinte,
quando acordou, o dedo estava tão infeccionado ao ponto da unha cair.
Isso causou espanto e respeito dele por mim, clamando para que eu
retirasse o feitiço. Ele era meu amigo e, claro, retirei. Em questão de
alguns dias o dedo já estava melhor.
Um dia entrou em nossa sala de aula uma aluna nova. Ela era
bonita, magra, alta, cabelos negros longos e um olhar misterioso. Como
eu era o mais comunicativo de todos, fui logo me apresentando a ela e
fiquei sabendo seu nome: Inajara. Gostei de imediato dela e decidi
chamar-lhe a atenção a qualquer custo. Minha maior intensão era
convencê-la a entrar para a bruxaria, conhecendo mais sobre o
satanismo e a magia, mas ela sempre afirmava não gostar dessas
coisas e que acreditava em Deus e em Jesus. Expliquei a ela, várias
vezes, sobre o que o satanismo ensinava a cerca de Jesus, dizendo
que em uma batalha entre Satanás e Jesus, o vitorioso mataria o outro,
e exporia o corpo do adversário derrotado, morto, em um pedaço de
madeira, nas igrejas, praças, ou em qualquer lugar que pudessem.
Então, quando éramos crianças, nos levavam até a porta de uma igreja
católica e apontavam para o altar, perguntando: “Quem é que está lá,
pendurado, morto?” Respondíamos: “Jesus!”. “Então esta é a prova de
que papai (uma das formas que chamam Satanás) venceu”. Crescemos
sabendo que Jesus havia sido morto e que o diabo havia vencido.
Nunca ouvimos sobre a ressurreição.
Ela sorria ao ouvir as minhas histórias a cerca do satanismo e dizia:
- Carlo, você pode até acreditar nessas histórias de monstros e
demônios. Mas eu creio em Jesus. Não vou deixar de crer Nele, só por
ouvir suas histórias.
- Mas como você crê em um derrotado? – Eu perguntava. – Já te
disse que ele morreu. Foi morto porque perdeu a batalha. Meu deus é
poderoso! Ele venceu Jesus. – Eu acreditava nas mentiras que me
ensinaram e defendia minha fé.
Inajara não sabia como contestar, então apenas ria e não falava
nada. Várias eram as vezes que eu fazia sinais para ela ver. Pegava
alguns fios do longo cabelo dela e amassava em minha mão esquerda.
Quando abria, havia se tornado cobre, como os fios usados nos cabos
elétricos. Ela não acreditava e dizia que aquilo era truque. Eu tinha
algumas habilidades em transformar coisas, adquiridas no estágio da
transmutação e alquimia, então pedia para ela pegar duas pedrinhas do
chão e segurá-las fortemente em sua mão. Eu focava meu poder na
mão e as duas pedras se tornavam uma só, porém maior. Não
adiantava, nada disso impressionava aquela menina. Certa vez aprendi
com um sacerdote da tradição, renomado escritor, a manipular o fogo.
Ele tinha o hábito de comer o fogo que colocava na palma de sua mão.
Passei a conseguir produzir fogo mágico, na palma da mão também.
Essas coisas, para minha amiga, eram apenas truques e nada a
convencia. Tentei então uma abordagem um pouco mais mística.
- Se eu conseguir entrar invisível dentro da sua casa, hoje a noite, e
escrever um bilhete e deixa-lo no seu quarto, assinado por mim, você
acreditaria no que estou te falando há tantos dias? – Perguntei.
- Como assim? – Indagou ela.
- Vá para a sua casa hoje. Tranque a sua casa, feche as janelas.
Tranque seu quarto e coloque no centro dele uma mesinha com uma
folha de papel branco no meio, e uma caneta. Eu vou de madrugada lá
na sua casa, em espírito, e vou escrever um bilhete para você. Se eu
fizer, você vai comigo a uma reunião do meu coven, que acontece
amanhã? – Desafiei.
Ah, duvido! Se você conseguir, vou com você na sua reunião, com
certeza! – Respondeu ela, toda animada.
Pra mim seria a coisa mais fácil, porque estava acostumado a fazer
isso. Eu elevava facilmente meu corpo em projecionismo (viagem astral)
e viajava quilômetros, para ver minha mãe em outra cidade. Com a
prática que já havia adquirido em telecinese, podia facilmente mover
objetos apenas alterando o campo magnético deles. Para fazer a
caneta escrever no papel era necessário a mesma manobra que movia
copos na "brincadeira do copo" ou a palheta no "tabuleiro de Ouija".
Stinvts e eu treinávamos essas coisas constantemente, porque
realmente impressionava quem via.
Combinei com o demônio sair as três horas da manhã porque é um
horário onde há uma abertura espaço/tempo em que o mundo espiritual
fica mais sensível e fácil de manipular. No hotel onde eu morava, fiz
todo o preparo para o projecionismo, que consistia em um período de
meditação e contemplação ativa, terminando em uma contagem
regressiva de trinta até um. Meu corpo espiritual era empurrado para
cima com tanta violência que eu passava pelos três andares acima do
meu, no prédio e alcançava o telhado, já com meu espírito totalmente
dominado pela minha consciência. A partir dali eu via as coisas físicas e
algumas espirituais. Não podia ver o trânsito espiritual de demônios,
senão minha consciência ficaria confusa, devido o grande número de
demônios que transitam ao redor do nosso planeta. Por esta razão os
príncipes não permitiam que víssemos tudo do mundo espiritual, mas
apenas aquilo que nos traria crescimento.
Quando cheguei ao telhado Stinvts já estava me esperando e
partimos, voando, pela região central da cidade. Eu não sabia
exatamente onde era a casa da menina, mas o demônio conseguiu
descobrir e me revelou a rua e o número da casa. Ele mostrava
algumas informações inversas, como o número que era 375, por
exemplo, me mostrava 753. No mundo espiritual as imagens e
informações são espelhadas, na maior parte das vezes.
Voamos muito baixo, a altura dos carros, indo pelo meio da rua,
para encontrar o endereço. Saindo da avenida principal da cidade,
viramos a direita na rua da casa dela, e seguimos para uma baixada
onde dava início o bairro onde morava, até que algo nos surpreendeu:
no meio da rua havia uma criatura com mais de três metros de altura.
Quando pensei em me mover percebi que estávamos travados.
Perguntei para Stinvts o que era aquilo e ele, com uma expressão
assustada disse "É um anjo do Deus de Israel". Eu sabia pouco sobre o
Deus dos hebreus, aquele povo que passou a se chamar Israel, então
pouco me importava. Disse ao demônio:
Não me importo quem ele seja! Tire-o logo daí! - Gritando.
Stinvts, que parecia estar congelado de medo, olhou para mim
girando a cabeça rapidamente e disse:
Com esse aí eu não posso não. Se quer, vá você sozinho! - E
desapareceu.
Fiquei ali, no meio da rua, abandonado pelo meu demônio
mensageiro, a quem eu julgava ser meu melhor amigo, sendo atacado
por um anjo de um Deus de um povo antigo, de quem eu supunha nem
existir mais. O anjo não tinha aparência de "anjo". Não havia asas,
pernas ou braços. Apenas uma presença fortíssima do Amor de Deus.
Sua coloração era tão linda que não há como descrever quais cores
tinha.
Em um momento ele fez um gesto com algo que eu compreendi ser
sua mão e meu corpo espiritual foi atraído, como que por magnetismo,
até ele. Estávamos a uns duzentos metros da casa da menina e fui
trazido até bem próximo dele. Pude distinguir sua forma, através da sua
silhueta, porque até então era apenas uma forma transparente,
multicolorido, no meio da rua. Ele olhou diretamente em meus olhos e
perguntou:
O que você quer aqui, Carlo? - Pela primeira vez alguém tinha
acertado meu nome, sem o "s".
Quero que você saia da minha frente, porque vou até a casa de
uma amiga. - Firmei a voz e bradei no universo espiritual, com uma
coragem forçada.
Onde? - Perguntou ele.
Naquela casa azul ali atrás! - Gritei com ele, já com muita raiva
daquele amor que ele exalava.
Aquela ali? - Apontou ele em direção da casa que eu pretendia
invadir.
Sim! Daquela casa ali. Então sai agora da minha frente senão eu
juro que vou acabar com você, seu... - Gritei todos os palavrões que
sabia, naquele momento.
O anjo sorriu e uma paz bateu em mim tão forte, que não suportei e
fiquei calado. Que poder era aquele? Nunca tinha visto nada parecido
até aquele dia. O anjo disse:
Ali naquela casa nem você, nem seu demoniozinho de estimação,
nem Satanás podem entrar, porque fui enviado por Adonai para guardála. Ali vive uma família que teme ao Deus Vivo de Israel. - Disse o anjo,
referindo-se a família da garota, que eram crentes em Jesus Cristo,
servos de Deus em uma igreja batista da região. - Você ainda pode
voltar para Ele. Basta aceitar o sacrifício que Jesus fez por você. Pense
nisso! Satanás está o enganando. Jesus Cristo morreu por você, Carlo.
Quem dera fosse por mim! - Disse o anjo, tocando em mim.
Meu corpo espiritual foi expulso daquele lugar, com o toque do
anjo, e voltei em uma fração de segundo ao meu corpo físico, que deu
um pulo involuntário na cama em que estava deitado. Imediatamente
uma dor terrível tomou conta do meu corpo. Meus braços e pernas
doíam tanto quanto se estivessem quebrados. Minha cabeça parecia
que iria explodir. Passei o resto daquela madrugada sentindo muita dor,
sem conseguir dormir, pensando no que havia acontecido. Chamava
Stinvts mas ele não aparecia. Pela primeira vez senti medo e
abandono. Algo muito estranho estava acontecendo e eu não sabia
ainda o que era.
Passei o restante da semana muito mal e não fui às aulas. Na outra
semana faltei a segunda e a terça-feira e então, na quarta-feira resolvi ir
ao colégio, pensando que Inajara havia esquecido da promessa não
cumprida, em entrar no quarto dela a noite, em espírito, na semana
passada. Ao pisar no corredor principal do colégio, olhei para a minha
sala de aula e ela estava na porta, sorridente, olhando para mim.
Estávamos a uma distância em que eu não conseguia ouvir o que ela
dizia, mas fiz leitura labial: "Você não conseguiu!", disse ela toda
sorridente.
Fui tomado por um ódio tão grande que fiquei possesso por algum
demônio que eu julgava controlar. Não pude perceber como cheguei até
ela, apenas quando estava com minha mão em sua garganta,
levantando-a do chão, gritando ensandecido:
Você quase me matou! Tinha um anjo lá, você sabia? Eu quase
morri lá!
Meu ataque de fúria foi tão grande que meus dedos estavam-na
enforcando. As pessoas ao redor me seguraram e socorreram-na. Fui
levado até a sala da direção e, supondo eles que eu havia tido um
surto, me mandaram ir para casa, mas não pude. Fiquei sentado no
meio-fio, em frente ao colégio, o tempo todo, até o final da ultima aula.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Me achava o
ser mais poderoso do planeta mas, de repente, uma menina fraca, sem
muita convicção na vida, tinha uma proteção tão poderosa que havia
amedrontado meu mensageiro e o feito correr até aquele dia. Que
poder era aquele? O que aquele anjo queria dizer com "Jesus Cristo
morreu por você"? Porque alguém morreria por mim, sem ao menos me
conhecer? As dúvidas estavam povoando minha mente de tal forma que
eu não conseguia ordenar os pensamentos de forma a compreender
toda aquela situação.
As horas foram passando e eu permaneci inerte ali, sentado na
calçada, com os cotovelos sobre os meus joelhos e as mãos tapando
meu rosto. Em dado momento as aulas acabaram e ouvi as pessoas
saindo do colégio e passando atrás de mim, mas era como se eu
estivesse invisível. Até que senti a presença de algo sentando ao meu
lado. Abri os olhos e vi ao meu lado um par de pés femininos. Olhei
para o lado e vi que Inajara estava ali, sentada. Ela era a garota que eu
acabara de tentar estrangular dentro da escola. Seu pescoço ainda
tinha as marcas arroxeadas que deixei com meus dedos. Olhei para ela
e perguntei:
Vai ficar aí sentada? Não vai falar nada não?
Sim, vou sim. - Disse ela. - Eu te falei que o meu Deus era mais
poderoso do que o teu! - Levantou-se e saiu.
Aquela frase acabou comigo! Meu espírito gritava! O anjo dizendo
que Satanás estava me enganando, agora a menina dizendo que o
Deus dela era mais poderoso do que o meu. E, na verdade, havia sido
mesmo, porque não pudemos nem reagir! A situação agora acabara de
ficar inversa: antes eu queria ensinar algo à ela. Agora era eu quem
precisava aprender algo com aquela menina.
Começava o cerco de Deus a mim! Naquela mesma semana houve
um evento cultural na escola e um garoto da outra série montou sua
bateria e fez uma apresentação muito legal. Depois, com o microfone,
falou sobre jazz e citou James Brown, porém na hora de falar o nome,
se equivocou e disse "Charlie Brown". Quando desceu do palco eu me
apresentei a ele e o cumprimentei pela sua excelente apresentação,
mas o alertei do equívoco com o nome do cantor norte americano. Ele
ficou constrangido mas, a partir dali nasceu uma grande amizade. Ele
baterista, eu guitarrista. Nossas conversas giravam em torno da música.
Seu nome era Peter e era um garoto fenomenal. Tinha um amor incrível
e eu sentia algo nele, que havia sentido quando tive a experiência com
o anjo. Isso me atraía. Peter era capaz de me abraçar, dizer que me
amava. Para mim era algo incomum e muito estranho, mas lá no fundo
eu gostava e me fazia muito bem.
Certa vez ele decidiu que iria orar por mim, dentro do colégio, na
hora do recreio. Todos os alunos passando para lá e para cá e o Peter
abraçado comigo orando em voz alta! Quase morri de vergonha! Para
mim aquilo era uma situação que nunca pensei que passaria, permitir
que um dos "do Caminho" (forma como os satanistas chamam os
crentes) tocasse em mim. Peter se tornou um exemplo para mim de
amor, conduta e modo de vida.
Em frente ao hotel que eu morava, no outro lado da rua, no centro
da cidade de Cascavel, no Paraná, existia a Livraria Evangélica
Esperança, cujos proprietários eram o Dile e sua esposa Iolanda. Dile
era um crente muito influente da Igreja Evangélica Livre e ganhava
muitos jovens para Jesus através do futebol. Certa vez alguém me
convidou para jogar bola em um campinho e o conheci lá. Ele, sempre
cativante, me convidou para ir na sua livraria escutar música. Lá havia
muitos CDs e (na época) discos de vinil e fitas K7 de bandas
evangélicas.
Fui no dia seguinte e conheci muitas bandas de rock gospel, como
Bride, Petra, WhiteCross, Oficina G3, Katsbarnéa, Resgate e outras.
Aquilo foi um choque para mim, porque sempre imaginei que os
"crentes" eram chatos, pobres, ignorantes e fanáticos. Jamais
imaginaria que poderia haver bandas tão boas, evangélicas. Passava
minhas tardes lá, ouvindo músicas gospel e conversando com o Dile.
Muitas vezes entrávamos em discussões ferrenhas e terríveis, onde eu
saía bravo, gritando com ele. O ofendi várias vezes. Chutei coisas lá
dentro. Xinguei. Ele sempre calmo, sorridente e esperto. Me mandava
embora rindo, dizendo que eu voltaria no dia seguinte e, de fato, lá
estava eu de novo.
Dile era para mim o pai que nunca tive perto, embora morasse com
ele. Me desafiava a conhecer mais sobre Deus. Nunca me dava uma
resposta pronta, sempre me fazendo procurar a resposta. Fazia com
que eu fosse instigado pela curiosidade. Ele e Dona Iolanda sempre me
viam na rua, brigando, fazendo coisas erradas. Já haviam ouvido que
ali no Hotel Flórida morava um jovem satanista, bruxo, por isso estavam
felizes porque o garoto que oravam há tanto tempo, sem o conhecer,
agora frequentava a casa deles.
Muitas foram as refeições feitas por Dona Iolanda para mim, junto
com seus filhos. Passei aos poucos a ter algo que nunca tive, um
ambiente familiar. A família deles foi minha primeira experiência em uma
família cristã.
Naquele tempo comecei a trabalhar em uma empresa de
advocacia, por intermédio de um colega de sala. Lá eu ajudava na
computação, informatizando o sistema para eles. Os donos, pai e filho,
eram muito bons comigo. O filho, Doutor Ricardo, porém, era evangélico
de uma igreja comunidade. Falava comigo sobre o Amor de Deus na
hora do café e sempre que podia, contava alguns testemunhos. Ali, aos
poucos, comecei a perceber que Deus estava me cercando de crentes
por todos os lados.
No hotel em que eu morava veio se hospedar um artesão, desses
que vendem seus trabalhos nas ruas, mas crente. Homem de Deus,
que lia a Bíblia todos os dias e que orava muito. Fiz amizade com ele e
aprendi a fazer algumas coisas, como pulseiras e colares. Como eu
tinha o meu dia livre, passava bastante tempo com ele. Certo dia fomos
comer um pastel e ele perguntou se poderia orar. Perguntei o porquê da
oração. Ele respondeu:
Muitas coisas podem ter nesse pastel! Desde bactérias, até
veneno! - Ele era bem teatral no que falava. - Se eu orar, mesmo que
tenha algo ruim, o Senhor vai neutralizar e nada me fará mal. Concluiu.
Eu pensei que seria realmente uma boa ideia aprender aquela
oração, porque ultimamente minha vida estava começando a ficar de
cabeça para baixo e uma proteção a mais seria ótimo. Edison era o
nome dele e foi essencial na minha conversão porque, com
simplicidade me ensinou a orar.
De volta ao colégio, aquilo que Inajara me dissera me incomodava:
"O meu Deus é mais poderoso que o teu". Vivi acreditando que Satanás
era mais poderoso que tudo! E o anjo que havia dito sobre o desejo de
que Jesus houvesse morrido por ele? Aquilo não saía da minha cabeça.
Eu sabia que Satanás tinha matado Jesus em uma cruz, como um
criminoso. Essa era a versão que aprendíamos na Tradição. Conversei
com Inajara e tomei coragem:
Me fale sobre Jesus. Preciso saber quem Ele era. - Pedi, com o
coração trêmulo de medo.
Você realmente não sabe nada sobre Ele? Perguntou duvidando.
Não sei nada sobre Ele. - Respondi cabisbaixo.
Oras, Jesus é o Salvador da humanidade. Deus permitiu que Ele
viesse e morresse por nós naquela cruz, como um sacrifício. Para que
ninguém mais precisasse morrer, Ele morreu de uma vez por todas. Respondeu resumidamente.
Mas porque Ele morreu por mim, sem ao menos me conhecer? Segui com minhas perguntas.
Ele morreu por todos nós, seu tonto! - Fez um gracejo. - E Ele te
conhecia sim. A Bíblia diz que o Senhor nos conhecia antes mesmo de
nascermos! - Arriscou um texto bíblico, mesmo com o pouco
conhecimento que tinha. - Olha, amanhã temos um culto de jovens na
minha igreja. Você gostaria de ir e conhecer? O pessoal lá é bem legal.
- Convidou.
Aceitei o convite e pensei em ir com meu amigo "hippie", o Edison,
que morava lá no hotel também.
No dia seguinte me arrumei para ir à igreja mas começou uma
chuva muito forte e teríamos que ir a pé uns dois ou três quilômetros.
Decidi desistir. Edison profetizou:
Nós vamos na Casa do Senhor hoje! E se é para irmos, Deus vai
fazer essa chuva parar meu amigo! E você vai ver o poder de Deus
hoje. - Disse solenemente.
Incrivelmente a chuva parou assim que pisamos fora do hotel.
Aquilo me impressionou tanto quanto as coisas que Luiz fazia quando
eu ainda o seguia na Tradição. Andamos felizes, conversando.
Chegando perto da igreja tomei o cuidado de colocar o meu colar
mágico da Tradição para trás, jogando-o nas costas. Lembrei-me de
uma vez em que passei a frente de uma igrejinha e o porteiro me
convidou para entrar. Tive curiosidade em ver como era lá dentro mas,
ao passar do portão, fiquei paralisado. O colar me empurrava para trás,
repelindo-me dali. Como eu estava decidido a ir na igreja, queria evitar
que aquilo me atrapalhasse. Também tomei o cuidado em não contar ao
Stinvts sobre onde eu ia e o que pretendia fazer. Stinvts estava
estranho comigo depois do encontro com o anjo e da minha amizade
com o Peter, Edison, Dile e com o Doutor Ricardo, o advogado.
Ao chegar na igreja, sentamos no ultimo banco. Eu me sentia
estranho, não sabia como me portar. Minhas roupas eram estranhas,
mas ninguém me tratou com indiferença. Todos vinham, sorridentes, e
me abraçavam. Era realmente um ambiente muito tranquilo. Vi os
instrumentos musicais e fiquei feliz. Teria música! Chamei minha amiga
e lhe disse que havia lido o primeiro capítulo da Bíblia na livraria do Dile
e que conhecia aquele trecho. Ela, prontamente foi até o ministro de
louvor e cochichou algo no ouvido dele e no momento de louvor eles
cantaram "Nosso Deus é Soberano", que fala desse trecho lido.
Eu estava me sentindo muito bem, quando senti algo ruim
emanando do fundo da igreja. Olhei para trás e vi que um dos
guardiões havia trazido um demônio de retaliação. Ele estava parado
no corredor, dentro da igreja, de braços cruzados olhando para mim.
Perguntei a Inajara se demônios poderiam entrar na igreja dela e ela
me perguntou se eu estava vendo algum ali. Respondi afirmativamente
quando Stinvts sentou-se do meu lado.
O que é que você está fazendo aqui? Ficou maluco? Se papai
descobre, vai te matar! - Bradou o demônio mensageiro. - Já fica
andando com esse povo esquisito e agora vai querer virar um deles? Concluiu.
Sem dizer nada, levantei-me e saí sozinho da igreja, envergonhado
e triste. Stinvts veio atrás, me acompanhando. A chuva havia voltado
então ele não pode ver que, em meio as gotas de água, umas lágrimas
também caiam. Eu chorava de raiva por não poder ficar na igreja, afinal
estava me sentindo muito bem. Edison permaneceu lá até o final do
culto e eu fui para casa dormir. A música não saía da minha mente e eu
ficava cantarolando enquanto o sono não vinha: "Nosso Deus é
soberano, Ele reina antes da fundação do mundo... A terra era sem
forma e vazia, e o Espírito do nosso Deus, se movia sobre a face das
águas...". Naquela noite o sono veio, como um manto suave sobre a
minha vida. Parecia que Alguém havia vindo ali, só para me cobrir.
No dia seguinte, a primeira coisa que fiz, logo após acordar foi ir até
a livraria do Dile, do outro lado da rua. Eu queria saber sobre a morte
de Jesus.
Dile, porque Jesus morreu por mim? - Perguntei.
Olha, eu não tenho tempo para ficar te explicando tudo. Pegue este
livreto e leia. - Disse ele jogando no meu peito um livrinho pequeno,
amarelo, chamado "As 4 Leis Espirituais".
Dile usava uma estratégia precisa para o meu evangelismo. Ele
sabia que se informasse tudo sobre Jesus, Deus ou a Bíblia, eu
dificilmente aceitaria, por ser uma pessoa extremamente crítica. Então
ele me fazia ler e pesquisar as próprias respostas. Seria uma forma de
me fazer quebrar as cadeias que Satanás havia posto em minha vida,
no meu entendimento.
As pessoas não entendem as coisas de Deus por serem carnais.
Os carnais pensam e entendem tudo de uma maneira carnal. Como
ensinar um carnal as coisas espirituais? Fazendo-o pensar com lógica!
Era isso que o Dile fazia, todas as vezes que eu perguntava algo, ele
me fazia outra pergunta, me fazendo pensar e não somente recebendo
passivamente uma informação em troca.
Certo dia perguntei a ele:
Dile, se Deus é tão bom e maravilhoso, porque nascem crianças
com doenças e problemas de deformidades? Não somos imagem e
semelhança Dele?
Você é parecido mais com o seu pai ou com a sua mãe? - Ele
retrucou.
Com os dois, mas o semblante é da minha mãe, porque sou
branco. Meu pai é mais moreno. Mas, afinal, o que isso tem a ver com a
minha pergunta? - Indaguei.
Adão era a imagem e semelhança de Deus. Eva passou a ser sua
imagem. Os filhos deles passaram a ser imagem deles. Somos imagem
e semelhança da nossa cadeia genética. Se ao longo dos anos, seus
antepassados tiveram problemas nessa cadeia genética, há uma
probabilidade de alguém na sua descendência nascer com alguma
doença ou deformidade. Isso não tem nada a ver com Deus. Somos
parecidos com o Senhor por sermos feitos de três partes: espírito, alma
e corpo. Deus é Criador, gerador de vida (alma), mas também veio
como homem através de Jesus Cristo (corpo) e, ao ressuscitar, enviou
sobre nós o Espírito Santo (espírito). Nisso somos parecidos com Deus.
- Concluiu.
Naquele tempo minha vontade de sair da Tradição começou a
aparecer. No sétimo grau eram exigidos sacrifícios de sangue e isso
envolvia morte de pessoas. Eu não queria ser um assassino. Porém era
extremamente difícil abandonar aquilo tudo que eu havia aprendido e
cultivado durante uma vida inteira. Para quem "entrou" na magia, é até,
de certa forma, fácil sair, porque não há apegos familiares, emocionais.
Mas para quem nasceu nisso é praticamente impossível. Além do que,
eu conhecia muitas coisas que poderiam ser usadas contra pessoas
dentro da Tradição. Não seria Satanás que conseguiria me matar, pelo
fato de o abandonar. Nisso Peter, Edison, Dile sempre me ensinavam
que o diabo não conseguiria me tocar, caso eu encontrasse a Salvação
em Jesus e entregasse minha vida à Ele. Meu medo eram os
sacerdotes e mestres que eu havia visto fazendo coisas terríveis e
repulsivas. Eles tentariam me matar para evitar que os acusasse e
entregasse às autoridades os locais secretos de culto e rituais.
A Tradição, sentindo minha fraqueza, resolveu me envolver mais
para tirar minha atenção dos "do caminho". Eu ainda era possuído por
muitas legiões e todas as noites, durante alguns rituais diários que eu
precisava fazer, os demônios traziam ódio, acusações, calúnias sobre
aqueles que estavam me evangelizando. Os demônios me faziam ver
apenas as coisas ruins de cada pessoa que me cercava e também os
seus defeitos. Essa era uma arma muito usada para me desencorajar a
seguir a Cristo.
Os sacerdotes começaram a perceber que eu já não era mais o
mesmo. Estava desanimado e nas assembleias não falava mais. Antes
eu sempre ministrava o ensino, mas agora não fazia mais questão.
Durante os dias eu já deixava de fazer algumas obrigações e, quando
questionado, dizia que havia me esquecido e deixava passar. Dentro de
mim algo estava acontecendo, porque passei aos poucos a perder o
amor pela Tradição.
Quando me reunia com outros satanistas, passava a questioná-los
sobre várias coisas. Eu queria saber o que eles achavam sobre Jesus e
os evangélicos. Eu sabia que existia algumas igrejas evangélicas que
tinham satanistas disfarçados e infiltrados mas queria saber sobre os
crentes de verdade. Eles então começaram a dizer que meu tempo
estava chegando ao fim. Lembrei-me do ritual da catedral, quando
puder ler o meu livro da vida e lá, seis anos atrás, havia páginas em
branco. Será que era isso que eles referiam? Estavam chegando as
páginas em branco? Para Satanás esse dia nunca chegaria!
Certa noite, voltando do colégio, ao passar por uma alameda
deserta no centro da cidade, um mendigo disse "Ei, meu filho, vem
aqui". Eu respondi que não tinha dinheiro para dar e segui andando,
quando a voz dele mudou e me chamou pelo nome mágico, que só a
Tradição conhecia. Percebi que era um demônio enviado por Satanás e
voltei. Ele me deu uma missão:
Você foi designado para iniciar um jovem na sua cidade natal.
Precisa ir para lá essa semana ainda. - Disse o demônio.
Naquela época eu trabalhava como designer e digitador para uma
congregação da igreja Católica, chamada Santa Marcelina. Minha
chefe, uma freira, me dispensou do trabalho, consegui o dinheiro que
precisava e o colégio entrou em greve. Tudo o que eu precisava para ir
até União da Vitória, no sul do Paraná, para iniciar alguém. Viajei para a
minha cidade natal e conheci o jovem que seria iniciado. Prontamente
perguntei o que havia acontecido porque, normalmente, o mestre que
influenciava era o que iniciava. Ele me contou que passou pelo período
de um ano e um dia para a iniciação mas seu mestre teve um mal
súbito e morrera. Agora ele estava na espera de um novo mestre para
iniciá-lo e que este mestre seria eu. Concordei e passamos alguns dias
em um período de pré iniciação, preparando tudo para o ritual. Entrei
em contato com um casal de sacerdotes que vivia ali, conhecidos meus,
para meu auxiliar no dia. Também precisava de mais uma pessoa e
esse casal indicou outro sacerdote. Preparamos o lugar em um morro
da região, próximo ao morro onde eu havia sido iniciado. Limpamos
uma clareira e montamos as fogueiras, da forma exata que deveriam
ser montadas: uma grande bem no centro da clareira, quatro menores
ao redor da grande, distantes uns cinco metros uma das outras e da
fogueira grande. Voltei para casa da minha mãe, que morava lá na
cidade e me preparei para a noite realizar o ritual. Marcamos um horário
de saída mas, ao chegar na casa do rapaz, havia ambulâncias, viaturas
da polícia e muitas pessoas. Ele havia sido alvejado por uma arma de
fogo e estava morto. Imediatamente algo muito ruim tomou conta do
meu coração. Como Satanás havia me enviado ali para iniciar uma
pessoa que acabara de morrer? Será que ele não sabia que o rapaz
morreria? Satanás não era onisciente e, portanto, sabia de todas as
coisas?
Retornei no dia seguinte para a cidade onde eu estava morando e
passei a questionar ainda mais tudo e todos. Sabia que algo errado
estava acontecendo comigo e na minha vida. Desconfiei realmente que
Satanás nos enganara por toda a vida e que, não só minha família, mas
todos os que o seguiam estavam correndo um grande perigo. Passei a
frequentar ainda mais a livraria do Dile e ouvir suas explicações sobre o
mundo espiritual. Antes eu o questionava, não acreditando. Agora eu o
ouvia com temor, querendo aprender e entender tudo aquilo. Dile me
alertou para algo importante:
- Agora que você está buscando conhecer a Deus, Satanás vai
tentar te matar. – Disse ele, arrancando um suspiro de susto, da minha
parte.
- Como? – Indaguei. – Ele me ama! É meu pai! Impossível, Dile.
Não há como isso acontecer.
- Carlão. – Disse ele, da forma como me chamava. – Satanás é o
pai da mentira. Ele não é seu pai. Você pode se tornar filho de Deus, se
crer Nele e reconhecer Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor
e Salvador.
- Não entendo isso, Dile. – Continuei. – Se Satanás não é meu pai,
quem então ele é? Acreditei nisso a vida toda!
- Ele é um demônio, caído do céu. Foi expulso por Deus por ser
ladrão, mentiroso e homicida. Aqui na Bíblia, - disse ele enquanto a
abria em Ezequiel, no capítulo 28 – diz que ele, Satanás, era um
querubim da guarda, ungido, e que morava no Monte de Deus. Ele
perverteu os seus caminhos e pecou contra Deus. Está aqui! Leia! –
Completou, jogando a Bíblia aberta no meu colo.
- Nossa! – Exclamei. – Então fomos enganados todo esse tempo?
Mas como saberei que a Bíblia não é apenas um livro escrito por
alguém que odeia papai, digo, Satanás?
- Ore ao Espírito Santo, pedindo à Ele que lhe dê provas da
veracidade da Palavra de Deus. – Ensinou ele. – Foi o Espírito Santo
quem inspirou mais de quarenta homens, todos distantes uns dos
outros, diferentes em suas raças, culturas e posições sociais, além de
estarem separados por séculos de distância. E todos escreveram um
livro perfeito, que aponta para Jesus, o autor da nossa Salvação.
- Como oro Dile? – Perguntei aflito. – Nuca fiz isso para Deus.
Sempre para o... diabo. – Falei cabisbaixo.
- Agora, mais do que nunca, você precisa orar, porque Satanás vai
vir com tudo para te matar. Mas fique calmo, porque quando ele
aparecer, você o repreende em Nome de Jesus, entendeu? –
Perguntou.
- Entendi. Nome de Jesus. E isso funciona?
- Claro! Esse é o nome mais poderoso que existe. Nome sobre todo
nome. – Exaltou ao Senhor. – Qualquer demônio tem que obedecer
esse Nome. Fique tranquilo que vai dar certo. Isso será a sua proteção.
– Concluiu.
Passei a ter uma boa amizade com Edison. Ele era simples, vendia
seus artesanatos no calçadão do centro da cidade, e eu passava boa
parte do meu tempo sentado ao lado dele. Ninguém da Tradição
desconfiava que aquele "hippie" era um crente fervoroso e que estava
me ensinando a orar. Falávamos da Bíblia e aos poucos eu ia tendo
mais conhecimento da Palavra de Deus. Sentado no chão, em meio as
pessoas que passavam freneticamente todos os dias no centro da
cidade, eu lia uma pequena Bíblia, ao lado de um hippie que vendia
pulseiras e colares, estendidos em um pano negro. A Palavra de Deus
foi purificando meu ser. Cada trecho que lia do Velho Testamento era
refrigério para meu espírito angustiado e perturbado.
Em uma tarde, no escritório do Dr. Ricardo, onde eu trabalhava
alguns dias da semana, ele perguntou se podia orar comigo. Como
“oração” já havia se tornado um termo comum para mim, devido as
várias orações do Edison e também do Peter, aceitei sem problemas.
Ele me pediu para ficar sentado mesmo e impôs suas mãos sobre mim,
tocando em minha cabeça. Quando fez isso, imediatamente algo
aconteceu comigo. Dentro de mim, ouvi um grito vindo de muito longe,
como de um buraco profundo, e juntamente com esse grito, uma
sensação de mal estar terrível. Ele passou a orar com firmeza,
ordenando que eu fosse liberto em Nome de Jesus e então comecei a
tontear e pedi que parasse de orar. Minha pressão baixou e precisei ir
ao banheiro. Os demônios ficaram terrivelmente irritados comigo por
permitir aquela oração, que por ser eu muito forte, não manifestaram.
Ao chegar no banheiro vomitei todo meu almoço. Fiquei realmente
impressionado com aquilo, porque o Dr. Ricardo era uma pessoa
comum e a sua simples oração trouxe uma reação fortíssima no meu
círculo mágico e abalou a minha proteção. Os Guardiões das Torres
Cardeais, demônios de proteção, foram chamados por Stinvts. Eles
precisaram vir para fortalecer a minha estrutura espiritual, senão eu
teria manifestado os demônios ali mesmo.
Pedi para sair mais cedo e fui correndo para o hotel em que
morava. Me tranquei no quarto e fui tomar um banho. Enquanto a água
quente caía sobre mim, eu refletia sobre o que havia acontecido. Stinvts
apareceu no banheiro e me repreendeu:
- Nunca mais faça isso! – Esbravejou meu mensageiro.
- Fazer o que? – Questionei.
- Permitir que alguém do caminho coloque as mãos sobre você e
invoque aquele nome! – Gritou mais ainda.
- Não entendo. – Perguntei. – Se somos mais poderosos do que
qualquer povo da Terra, se não há outro deus maior que papai, porque
devo temer essas pessoas?
Stinvts se enfureceu de tal forma, que seu aspecto mudou. Os
demônios aparecem em uma forma humana aos humanos, para que
não sejam rejeitados. Mas quando se enfurecem, distorcem a aparência
humana e acabam revelando sem querer suas verdadeiras faces.
- Você é insolente! – Gritou. – Faço tudo para te resguardar! Eles
tem um plano para te destruir, para te enganar. Já estão te iludindo!
Você foi escolhido por papai para ser um dos seis sacerdotes desta
nação e você despreza isso! – Bradava com toda força, fazendo seus
olhos flamejarem.
Os Seis Sacerdotes são um grupo escolhido por Satanás para
comandar uma nação. Cada país possui um grupo desses dentro da
Tradição. São eles quem definem ações espirituais e determinam a
ordenação de novos sacerdotes em cada região.
Vi o demônio mensageiro desaparecer em meio ao vapor da água
do chuveiro, deixando um forte cheiro no ambiente. O acesso de fúria
dele era para mim conclusivo: eles não queriam que eu me
aproximasse dos evangélicos. A dúvida que ficava era se Stinvts estava
falando realmente a verdade e eu estava sendo enganado por uma
seita que iria me matar, ou se os crentes eram verdadeiros e puros e eu
estava errado na Tradição, servindo a Satanás. Eu precisava tirar isso a
limpo e seguir meu coração. As páginas em branco, encontradas no
meu livro da vida, lá no ritual da catedral, estavam cada dia mais perto.
Certo dia Peter me convidou para visitar a sua igreja e aceitei o
convite. Ao chegar lá, sentei-me no ultimo banco e ele foi tocar bateria
no ministério de louvor. Senti que não era bem vindo ali. As pessoas me
olhavam com desprezo e reprovação. Eu estava vestindo um jeans
surrado, uma camiseta preta de rock e um boné que havia ganhado do
Peter, escrito Jesus Brasil. A pregação da Palavra de Deus começou e
comecei novamente a passar mal. Os demônios começaram a fazer
barulho na minha cabeça. Eles voavam, gritavam, sussurravam ao
ponto de eu quase ter um surto dentro da igreja. Minha pressão
sanguínea novamente caiu e precisei sair um pouco para respirar.
Tomei água, respirei e voltei para dentro. Estava decidido a ficar até o
fim, desta vez! Comecei a bloquear os sons espirituais e focar minha
atenção no pastor que estava pregando. Eu podia vencer tudo aquilo e
descobrir o porquê os demônios queriam tanto que eu não ouvisse o
que aquele homem falava.
O pastor começou a falar sobre a ressurreição de Jesus. Ele
passou a contar os momentos finais da morte de Cristo e sobre como
tudo acontecera. O terremoto, o céu enegrecido e até os mortos
levantando dos túmulos. Aquilo me chocou! Fiquei parado prestando
atenção em cada palavra que ele falava.
- Na manhã de domingo, o terceiro dia, as mulheres foram até o
túmulo na rocha, onde haviam colocado o corpo de Jesus, para o
prepararem para o enterro, mas ele não estava mais lá! – Disse
enfaticamente. – Jesus já havia ressuscitado, como a profecia falava!
Satanás conseguiu feri-lo somente no calcanhar, mas Jesus, ao se
levantar dentre os mortos, o pisou na cabeça! Ele venceu a morte e o
inferno e nos deu vida eterna!
Todos aplaudiram confiantes e eu permaneci mudo e estático,
sentado naquele banco. Por um segundo tudo desapareceu ao meu
redor. Aquilo ia contra tudo o que eu havia aprendido a vida toda. Jesus
tinha ressuscitado? Então a Sua morte foi apenas um plano de Deus,
para que depois Ele pudesse vencer ao inferno todo? Satanás estava
derrotado? Por isso Stinvts não conseguiu fazer nada contra aquele
anjo, porque um demônio já está derrotado.
Todos aqueles pensamentos vinham em minha mente a uma
velocidade incrível e eu não conseguia parar de pensar em todos os
anos da minha vida em que fui enganado. Sem perceber, lágrimas
começaram a brotar nos meus olhos e rolar pela minha face.
No final da mensagem o pastor fez um apelo, perguntando se havia
alguém que estava sentindo-se mal e gostaria que lhe fosse feito uma
oração. Não me lembro como eu levantei e fui para frente, apenas que
quando abri os olhos estava lá, cercado por obreiros com suas mãos
impostas sobre mim. Entrei em pânico, pois sabia que iria passar mal
novamente, então bloqueei a oração de todos eles. Fechei meu círculo
mágico e não permiti que nada entrasse através dele.
Então os demônios usaram uma estratégia simples para me
dissuadir de tudo o que havia ouvido. Enquanto os irmãos oravam
sobre mim, pude ouvir o que alguns diziam: “Senhor, liberta este jovem
das drogas”, “Senhor, tira todo vício dele”, “Senhor, que ele pare de
beber e de fumar”. Aquilo me deixou extremamente irritado, pois eu
jamais havia fumado, bebido ou me drogado. Como as pessoas podiam
me julgar assim? Como podiam estar orando sem ao menos saber o
que eu precisava naquela oração?
Abri meus olhos e vi, entre as pessoas, Stinvts sentado em um dos
bancos da igreja. Ele sorria debochadamente e aplaudia.
Imediatamente fechei o rapport com ele e perguntei “Você está rindo do
que?”. Ele respondeu telepaticamente “Da sua insistência. Eu não te
falei que eles querem acabar com você? Nem sabem que você é um
bom rapaz e já estão te acusando de viciado”. Dei razão à ele e,
quando a oração terminou, saí chateado daquela igreja.
Abro um parênteses aqui para fazer uma explicação necessária a
você, leitor. Diariamente pessoas vão às nossas igrejas, conhecer como
se comportam os “crentes”. Não há poder maior do que o amor.
Devemos recebê-los bem, amá-los com todas as nossas forças e servilos com carinho. Antes de orar com alguém que nos visita, devemos
perguntar quais são suas necessidades e orar por elas. Os demônios
vão fazer as pessoas sentirem-se incomodadas dentro da Casa do
Senhor. Precisamos rebater isso e provar para as pessoas que a Igreja
é um lugar de paz, restauração e amor, aonde as pessoas vão à busca
de Deus e O encontram em nós, seus filhos.
Eu estava em um momento decisivo da minha vida. Apesar de
ainda fazer os rituais diários da Tradição, falhando alguns claro, porém
mantinha as obrigações, os encantamentos, as orações. Continuava
fazendo sinais e prodígios às pessoas, a fim de impressioná-las, mas
tudo o que eu havia vivido nos últimos dias não saía da minha cabeça:
o que o anjo falara, as frases da Inajara, as orações do Peter e a
pregação daquele pastor, sobre a ressurreição. Sem perceber, estava
abrindo meu coração ao Senhor. Sentia que Ele estava à porta batendo,
mas eu hesitava em abri-la todas às vezes.
Certo dia cheguei ao meu quarto no hotel e assustei-me ao ver que
um homem alto, vestindo um terno branco, cabelos penteados, olhos
muito negros e um leve odor desagradável estava me esperando.
Reconheci que era papai e, por medo dele, sentei-me na outra cama,
próxima a janela.
- O que o senhor quer, papai? – Perguntei timidamente.
- Estou preocupado contigo. – Disse-me calmamente. – Você tem
tido umas atitudes que me desagrada, mas sei que é uma fase. Logo
tudo isso passará e você ficará bem. – Concluiu, levantando-se da
cama próxima a porta de entrada em que estava sentado, desde que
entrei no quarto.
- Não papai. Não é uma fase. – Enchi-me de coragem e falei. –
Algo está acontecendo comigo. Tenho aprendido muitas coisas sobre o
Deus dos crentes, que é o mesmo Deus de Israel. Também descobri
sobre a ressurreição de Jesus Cristo.
- Já não te falei que eles tentariam te enganar? – Mentiu. – É por
isso que estou aqui. Eu me importo com você e vim ajuda-lo.
- Esses dias peguei Stinvts e fui até a casa de uma menina. –
Comecei a lhe contar o que houve. – No meio do caminho havia um
anjo! Stinvts não pode fazer nada contra ele! Ele simplesmente disse
que não podia e me abandonou lá, sozinho.
- Eu sei, eu vi tudo. – Mentiu novamente. – Por isso ele passou
alguns dias sendo punido. Não notou sua ausência?
- Mas e o Willian? – Perguntei sobre o rapaz que havia ido iniciar e
que, fatalmente fora assassinado. – O senhor não sabia que ele iria
morrer? Eu pensei que soubesse tudo.
- Eu sabia, meu filho. – Mentiu mais uma vez. – Mas precisava te
ensinar uma grande lição sobre a morte e a valorização da nossa
Tradição.
- Eu não acredito nisso! – Gritei. – Não é verdade! Eu li na Bíblia
que você é o pai da mentira. Você nunca foi meu pai, nem de ninguém!
Eu li sobre sua queda, e também que arrastou vários contigo.
- Não acredite em tudo o que você lê. – Tentou me dissuadir. – Eu
sou real. Você não pode me ver aqui? E o Deus dos crentes? Você
pode vê-lo? Claro que não! Porque Ele não é real! – Debochou, o
demônio.
- E o livro da vida? Na catedral? – Perguntei. – Também era falso?
E as páginas em branco? O que era aquilo? O dia da minha morte ou o
dia em que eu descobriria as suas sujeiras e mentiras e te
abandonaria? Ou o dia em que eu reconheceria o poder do Deus de
Israel e me entregaria à Ele? – Desafiei, sem noção do perigo que era
aquilo.
Satanás ficou furioso e transmutou sua forma, antes um homem
bem arrumado, para uma criatura horrenda e demoníaca.
- Chega! Seu imbecil! – Berrou. – Eu mando em você! Sou seu
dono. Não há nada que você saiba que não tenha sido eu quem o
ensinou! Não seja insolente e mal agradecido. Você fez os votos
perpétuos, não pode mais sair das minhas mãos. Você me entregou
sua alma e seu espírito, então sua vida aqui nessa terra e também no
inferno me pertence!
Meu corpo começou a tremer e uma cólica terrível tomou conta de
mim. Senti um gosto amargo na boca que depois se transformou em
sangue. Satanás, bem ali na minha frente, parecia um monstro, podre,
em forma de homem e bode, bufando e expelindo fumaça da boca e
narinas. A dor na barriga expandiu-se para o peito e comecei a perder
os sentidos. Stinuts apareceu ao lado dele e, num gesto rápido, pulou
dentro do meu corpo. Sangue veio a minha boca e o cuspi, enquanto
caía de joelhos, sem conseguir respirar.
- Aquelas páginas em branco. – Disse o demônio. – Era, de fato, o
dia da sua morte! – Gargalhou alto.
Eu não conseguia lembrar exatamente as palavras que o Dile tinha
ensinado, mas eu precisava tentar alguma coisa, então gritei com as
ultimas forças:
- Deus do Dile, me ajude! – Gritei.
Naquele instante Stinvts foi arrancado do meu corpo e atirado para
fora, com tanta força, que fui atirado para trás, na direção oposta. Ele
caiu ao lado de Satanás e os dois se entreolharam.
- Nossa, Deus funciona mesmo. – Murmurei atordoado, não
acreditando no que tinha acontecido.
Satanás voltando imediatamente a sua forma humana riu e,
voltando para mim, disse:
- Tudo bem. Eu entendo. Se você quer sair, saia. Eu deixo. Mas
fique neutro, não se envolva com ninguém dos do caminho. Viva sua
vida, se divirta! – Propôs.
- Não. Não vou voltar atrás! – Disse com toda confiança. – Descobri
quem é Jesus Cristo e que você não o matou. Era tudo mentira sua. Por
isso eu estou te abandonando hoje, seu perdedor!
- Você não tem amor próprio? – Gritou novamente, irritado. – Seu
humano mortal idiota! Eu venci Jesus! Eu venci! Você já está morto! Eu
vou acabar com você. Eu venci o seu Deus uma vez e o venço de novo.
Você não pode comigo! Se não tem amor próprio, então vou pegar
quem você ama! – Bradou e desapareceu.
Naquele mesmo instante, sem que eu soubesse, minha mãe estava
sendo tomada por demônios terríveis, lá na minha cidade natal, onde
ela morava. Os demônios a possuíram e lhe colocaram um câncer
maligno. Minha avó, sacerdotisa da Tradição foi instruída a me
persuadir a abandonar minha decisão. Ela me ligou:
- Querido, sua mãe está mal. Ela incorporou um guia aqui em casa,
que estava revoltado. Quebrou tudo! Não tinha como segurá-lo. O guia
que estava na Dal desenhou no chão de casa letras e tratados que
nunca antes vimos. Ele disse que estava fazendo aquilo porque você o
havia decepcionado. – Explicou ela.
- Vó, respeito muito a senhora, mas tomei uma decisão. Não mexo
mais com essas coisas. Chega pra mim. É tudo mentira, engano.
Chega. – Rebati.
- Mas e sua mãe? – Perguntou ela. – Faça algo por ela!
- Vou fazer, vó. – Respondi. – Vou orar por ela e tirá-la disso.
Fiquei ainda mais revoltado com o que o diabo estava fazendo.
Passado alguns dias, a saúde da minha mãe começou a ficar
debilitada, piorando, ao ponto de precisar ser medicada. Lá fizeram os
exames e descobriram o câncer que os demônios colocaram. Quando
eu soube, procurei Inajara para conversar e perguntei o que fazer.
- Preciso que Deus me ajude a defender minha mãe! – Clamei à
ela.
- Você precisa ser forte. Não vai ser fácil, mas vai dar tudo certo. –
Disse ela.
Ser forte? Como? Com minha mãe morrendo aos poucos. Aquilo
gerou um ódio tão grande dentro de mim que apaguei. Não percebi,
mas o demônio Stinvts me possuiu e falou com ela:
- Você acha que pode ajuda-lo? – Disse Stinvts.
- Quem é você? O que você fez com o Carlo? – Perguntou
assustada.
- Eu sou o demônio, menina. Ele me pertence. Vou leva-lo
novamente à União da Vitória e vou fazê-lo se jogar do mesmo
precipício que o levei para ser iniciado. – Ameaçou ele. – A sua
ingratidão precisa ser punida com a morte!
O demônio só obteve permissão para me possuir por poucos
segundos, então deu o recado e saiu. Eu caí da cadeira, em plena
sorveteria onde havíamos nos encontrado. Ela me socorreu e disse,
pasma, que havia acabado de falar com o demônio. Contou-me tudo o
que ele disse. Depois de ouvi-la, decidi ir para casa.
- Eu preciso me deitar um pouco. – Disse a ela. – Vou para o hotel.
Enquanto andava pelas ruas, percebi que Satanás estava
realmente decidido em me matar. Chegando ao quarto do velho hotel
em que eu morava, no centro da cidade, deitei na cama e fiquei
pensando no que fazer. De repente a mesma voz que falou comigo,
quando eu tinha treze anos, após a iniciação, falou novamente,
dizendo: “Ore”. Ajoelhei-me ao lado da cama, mas não sabia o que
dizer. Comecei a chorar e repetir: “Deus, não quero morrer”. Passado
alguns minutos, algo inexplicável aconteceu comigo. Uma sensação tão
forte começou a tomar conta de mim e uma voz firme e segura disse:
- Você não vai morrer agora, mas precisa lutar.
Aquilo deu refrigério ao meu espírito aflito. Senti uma paz que
talvez nunca antes havia sentido. Levantei-me, lavei o rosto e saí do
quarto. Fui até o Bar do Joel, no outro lado da rua, tomar um café. Lá
eu era amigo do dono e tinha liberdade para entrar atrás dos balcões
para servir meu próprio café. Minha intensão era ficar ali um pouco e
relaxar, afinal havia passado por muitas emoções nos últimos dias. Em
um momento, deixei meu copo sobre o balcão e fui até a pia lavar as
mãos. Quando voltei para pegar meu copo, ele escorregou sozinho pelo
balcão, quase um metro. Olhei para aquilo confuso, pois eu não havia
ordenado que aquele copo andasse, então senti um calafrio e um bafo
quente ao meu ouvido, dizendo: “Aqui eu consigo te matar”. Era
Satanás, que estava me esperando ali, naquele lugar.
- Lá dentro eu não pude encostar em você, porque Emanuel não
deixou. – Disse Satanás com desprezo. – Mas aqui é um lugar imundo.
Aqui eu mando. Coloco vícios, prostituição. Ele não vai querer vir aqui
sujar Seus Santos Pés neste antro de pecados! – Murmurava o
demônio, em meus ouvidos, ofegante.
- Engano seu, diabo! – Eu ouvi Aquela Voz novamente! – Desço até
o inferno para salvar aqueles que me pertencem! – Disse Jesus
naquele lugar!
Sua Voz era doce, mas firme! Suave mas forte. Senti um desejo de
sair correndo daquele lugar. Era uma sexta-feira, quatro horas da tarde.
Uma tempestade começou a cair lá fora e fui até a porta do bar. Algo
me dizia para correr até a Avenida Brasil, a minha direita, onde
certamente os demônios me matariam. Mas a Mão do Senhor me
puxou para a esquerda, onde no meio da quadra havia a Livraria
Evangélica Esperança, do Dile.
Saí correndo pela chuva e rapidamente cheguei à livraria. Quando
entrei um vento forte bateu sobre nós, jogando folhas e galhos para
dentro. A luz acabou. Dile sabia da minha situação e viu a minha
expressão de desespero.
- Dile, me ajuda! – Clamei. – Está acontecendo! Satanás veio atrás
de mim, para me matar.
- Corre lá para trás, no escritório, que vou ligar para o Nelsão. –
Disse ele.
Nelsão era o presbítero da igreja na época (depois ele foi ordenado
pastor), que cuidava da igreja em que Dile e sua família congregavam.
Ele tinha um trabalho forte de libertação nas casas, orando pelas
pessoas e expulsando os demônios. Naquela época eu já treinava
taekwondo e estava na faixa azul. Meu mestre era muito meu amigo e
eu o ajudava em tudo, nas academias por onde ele lecionava a arte
marcial. Enquanto eu esperava o Nelson chegar, meu mestre de
taekwondo apareceu e disse que precisava de mim na academia
naquele momento, para dar uma aula para iniciantes.
- Não posso mestre. Estou esperando uma pessoa. – Respondi.
- Você precisa dar aulas! Como vai chegar à faixa preta se não fizer
isso? – Ameaçou.
Sem ele saber, os demônios queriam tirar-me dali de qualquer jeito,
para que eu ficasse sozinho na rua e, provavelmente, matar-me. Eu
consenti e disse ao Dile:
- Eu vou lá, Dile. Depois a gente se fala. – E saí.
Dile não disse uma só palavra. Apenas cruzou os braços e ficou me
olhando sair até a porta. Tenho certeza que ficou em espírito de oração
naquele momento. Antes de sair, porém, olhei para trás e o vi assim.
Ele não disse nada, apenas abaixou a cabeça. Naquele momento pude
entender! Não adiantava ele falar nada, porque era uma atitude minha.
Lembrei-me da Inajara me dizendo que o Deus dela era mais poderoso
que o meu, e disse ao meu mestre:
- Não posso ir, mestre. Preciso ficar aqui e resolver meu assunto
com Deus.
Ele entendeu e foi embora. No mesmo momento Nelsão entrou
pela porta! Fomos à sala dos fundos, onde ficava o escritório do Dile.
Lá, naquele escritório, centenas de vidas já haviam sido entregues ao
Senhor Jesus. Nelsão pediu para orar por mim e disse:
- Querido Deus, bondoso Pai, Tu sabes que este dia estava escrito
muito antes da fundação do mundo. Tu tens guardado a vida do Carlão
até aqui e não deixou que nada acontecesse a ele. Agora peço-Te,
receba-o na Salvação em Cristo Jesus e perdoa-lhe todos os pecados.
Escreva o nome dele no livro da vida e o aceite na vida eterna, em
Nome de Jesus Cristo, o Senhor. Amém! – Orou.
Depois desta oração simples, porém poderosa, ele me fez repetir
uma oração renunciando todos os pactos, maldições, encantamentos,
rituais que eu havia feito. Todas as alianças malignas foram quebradas
e portas espirituais foram fechadas. Todo o poder do diabo foi anulado e
desfeito em minha vida e convidei o Espírito Santo para morar dentro
de mim, de onde nunca mais saiu.
Hoje posso dizer também:
- O MEU DEUS É O MAIS PODEROSO!
5 - NAQUELA NOITE
Não consegui dormir aquela noite toda. Pesadelos assolaram meu
sono me fazendo acordar assustado várias vezes. Eu sabia que estava
sendo atacado por demônios que orbitavam meu campo espiritual e que
queriam, a qualquer custa, entrar em mim novamente. Eu ainda não
tinha o conhecimento bíblico ensinado em Mateus 12:43-45 onde diz
que quando um espírito imundo saí de uma pessoa, ele passa a habitar
lugares áridos, mas em determinado momento volta, querendo entrar
novamente na pessoa de onde foi expulso. Se ele encontrar essa
pessoa vazia, sem proteção, além de ter o poder para voltar, leva
consigo outros sete demônios piores. Durante a noite eu fechava meus
olhos, insistentemente, querendo dormir, mas imagens de pessoas
vinham até mim, como se voassem em minha direção a uma velocidade
absurda e parassem há alguns centímetros do meu rosto. Ficava
ouvindo vozes e sons desconexos. Assistia mentalmente cenas de
mortes, rituais, ouvia os gritos das vítimas. Era horrível, mas
infelizmente, tudo o que estava dentro de mim, toda maldade, todos os
atos pecaminosos, toda uma vida longe do Senhor estava explodindo,
sendo expelida do meu corpo, que acabara de se tornar tempo do
Espírito Santo. Agora eu era uma nova criatura e precisava de
libertação.
Esses pesadelos duraram a noite toda e me fizeram ter medo de
dormir, pois sabia que a luta seria ferrenha. Dile havia me dito que eu
poderia repreender todas as hostes malignas em Nome de Jesus.
Ensinou-me a ler o Salmo 4:8 antes de deitar e orar por um sono
tranquilo, mas a luta era tão grande que, naquele primeiro dia parecia
que não surtiu efeito.
Em um momento, já não suportando ficar acordado, levantei da
cama no meio da madrugada e fui até a portaria do hotel, pegar uma
garrafa de água. Meu amigo porteiro estava dormindo em uma poltrona
e preferi não acorda-lo, pois era três e meia da manhã. Fui até a porta
do hotel, mas a rua estava deserta. Apenas o guarda noturno que
cuidava dos carros e das lojas estava na esquina, conversando com um
vendedor de cachorros-quentes. Voltei para a recepção e sentei-me em
uma das várias poltronas. Uma tristeza muito grande se apossou de
mim e uma sensação de solidão tomou conta do meu coração. Eu havia
abandonado tudo, toda minha vida, toda minha família, tudo o que
sabia. Estava sozinho, sem ninguém, em um mundo completamente
diferente daquele que havia vivido até ali. Literalmente precisava
aprender a andar novamente. A ausência do Stinvts estava me
matando. Eu realmente sentia a sua falta e, confesso, desejei que ele
estivesse ali comigo naquela madrugada, mas ele não veio.
Olhei para o balcão do hotel e vi uma pequena Bíblia cinza,
daquelas com apenas o Novo Testamento, Salmos e Provérbios, dos
Gideões Internacionais (bendito seja este ministério). Tomei-a nas mãos
e pedi:
- Senhor, fale comigo nessa madrugada. Eu estou me sentindo tão
sozinho. Não sei o que fazer... Só sei que tomei a decisão correta. – E
abri aleatoriamente a pequena Bíblia.
O texto aberto foi Atos 9:15-16 onde diz: “Mas o Senhor lhe disse:
Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu
nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel;
pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”.
Será que Deus estava falando que eu era um instrumento
escolhido?! Imediatamente pensei em tudo o que passei na minha vida.
As pessoas ao meu redor prostituíam-se, drogavam-se, bebiam e
fumavam, mas eu nunca participei de nenhuma dessas coisas. Não
havia provado um copo de cerveja sequer. Por quê? Se era tão normal
e aceitável onde eu vivia!
Li novamente o texto e meus olhos pararam em “sofrer pelo meu
nome”. Meu corpo gelou de alto a baixo. Não seria fácil, realmente.
Continuei lendo e encontrei a parte em que Ananias chama Saulo de
irmão. Era o que estava acontecendo comigo! Eu tinha a missão de
destruir os cristãos, mesmo que indiretamente. Imediatamente após eu
ter aceitado a Jesus como Salvador da minha vida, o Dile me abraçou e
disse “agora posso te chamar de irmão”. Fechei meus olhos e abri
novamente a Bíblia aleatoriamente. Eu precisava de uma confirmação
de que era Deus quem falava comigo. Abri em Mateus 5:11-12: “Bemaventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos
e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”. Perseguição,
sofrer pelo nome do Senhor. Gelei novamente. Uma confirmação estava
acontecendo ali. Os profetas antes de mim que foram perseguidos! E o
texto anterior falava de Saulo, que era matador dos cristãos. Ele foi
perseguido depois que se converteu. Nunca imaginei que isso estaria
acontecendo comigo e essa confirmação na Bíblia era algo realmente
surpreendente para mim, que estava tão novo na fé. Sentei-me no
banco e fiquei pensando como seria minha vida a partir dali. Eu teria
que ser uma pessoa comum, como todos os outros. Precisaria trabalhar
da forma certa para manter meu sustento. Lembrei-me da Janete, uma
garota que eu estava namorando, apenas por conveniência, porque ela
era uma garota bonita.
- Você não a ama. – Ouvi alguém falar.
Levantei assustado.
- Quem disse isso? – Perguntei, olhando para todos os lados.
Não houve resposta e o silêncio da madrugada imperou soberano
novamente. Olhei para meu amigo que ainda dormia na poltrona da
recepção do hotel. Não podia ser ele. Não tinha mais ninguém ali, além
de mim. Sentei-me novamente e decidi falar com a Janete no dia
seguinte, para acabar o namoro. Agora eu era uma nova criatura. Via
coisas que não via antes. Podia discernir e entender o que era errado.
Precisava reparar, consertar muitas áreas da minha vida e precisava
começar o quanto antes. Eu sabia que tinha recebido perdão dos meus
pecados naquela tarde, mas precisava corrigir a iniquidade que havia
dentro de mim. O perdão veio pela Graça Salvadora de Jesus. Mas a
mudança partiria de mim. Eu precisava mudar e sabia que não seria
nada fácil. Precisava dominar meus ímpetos, meu temperamento,
mudar hábitos e costumes.
Lembrei-me Daquela Voz que ouvi no hospital, quando era criança
e havia decidido morrer. Satanás mentiu dizendo ser ele quem falava
comigo naquela ocasião mas quando ele mesmo quis me matar dentro
do Bar do Joel eu ouvi novamente Aquela Voz dizendo ser Jesus! Eu
acabara de ler tudo àquilo na Bíblia e sentia a Sua Presença, ali
naquele banco de hotel, no meio da madrugada. Eu não sabia se
estava preparado para lutar. Enfrentar a Tradição sozinho não seria
fácil. Provavelmente eles conseguiriam me matar em alguns dias e seria
da forma mais terrível. Eu mesmo já tinha presenciado o que eles
faziam com os desertores. As retaliações a quem traía a Ordem eram
as piores possíveis. O medo tomou conta de mim e me senti angustiado
novamente. Talvez eu quisesse lutar, mas tinha medo naquele momento
de aceitar o chamado. Fiquei debruçado sobre meus joelhos, chorando
em silêncio.
- Não tenha medo. – Ouvi novamente.
Não levantei meu rosto, porque senti alguém sentar ao meu lado.
Senti que a pessoa colocou sua mão nas minhas costas e fez um
carinho.
- As vezes não sei o que fazer da minha vida. – Solucei.
- Eu compreendo. Já passei por isso uma vez. Mas saiba de uma
coisa, não vou deixa-lo só. – Respondeu.
Achei tão estranho aquela resposta que levantei o rosto para ver
quem era e não tinha absolutamente ninguém. Foi muito estranho! Não
sei se peguei no sono e sonhei ou se realmente alguém veio ali e falou
comigo. Uma coisa tenho certeza: era Jesus o tempo todo.
Meu amigo acordou e me viu ali, desligado do mundo.
- Tudo bem com você? – Perguntou.
- Sei lá meu. Tem tanta coisa acontecendo comigo nessa instante. –
Respondi e lhe contei tudo o que estava acontecendo.
- Você vai largar a bruxaria? Vai deixar de ser mestre? – Perguntou
estarrecido. – Cara, foi tudo o que você lutou na vida e vai abandonar
agora?
“É... foi tudo o que eu lutei a minha vida toda”, pensei.
- Vou sim. – Respondi, levantando-me e indo para o quarto. – Vou
largar tudo.
Abri meus olhos e o quarto estava todo iluminado. Minha cabeça
doía. Olhei para o relógio e tomei um susto.
- Meio dia! – Gritei.
Levantei correndo e fui até a livraria do Dile, do outro lado da rua,
para conversar sobre o acontecido. Eu tinha muitas dúvidas para
esclarecer e só lá, na livraria dele e em sua casa eu me sentia seguro.
Lá era o ponto de encontro das pessoas da igreja e sempre estava
cheia de pessoas, tomando o delicioso chá da Dona Iolanda e
conversando sobre tudo, desde futebol até assuntos da Bíblia. Quando
cheguei, tinham alguns irmãos e também o Nelson, que havia orado
comigo no dia anterior. Senti-me protegido ao vê-lo ali. Todos me
chamaram de irmão e me abraçaram e, embora eu ficasse um pouco
desconfortável com aquela demonstração de carinho, no fundo eu
gostava.
Nelson me chamou em um canto e conversou sobre maldições que
poderiam estar na minha vida. Explicou-me a necessidade de irmos a
meu apartamento fazer um “pente fino” e tirar todos os objetos ligados a
magia, para que não gerassem pontos de apoio na minha vida
espiritual, atrapalhando assim a minha conversão. Concordei
prontamente e montamos uma equipe com alguns irmãos, liderados
pelo Nelson e Dile, para fazer isso.
Os rapazes que foram junto acreditavam que encontrariam lá
alguns cds de bandas seculares, revistas pornográficas ou outras
coisas típicas de um jovem distante de Deus. Quando entraram e viram
os tratados de magia negra, muitos deles compilados com sangue,
livros e mais livros de rituais satânicos, tratados de alta magia, objetos
da Tradição que eram necessários como o colar e o anel da Tradição,
que conferiam poder e proteção a mim, elementos ritualísticos e o
Áthame, o punhal que tanto havia lutado para ter, que simbolizava
minha formatura no sétimo grau, como mestre da Tradição.
Tudo estava ali no chão, bem no centro do meu quarto. Todos
estavam impressionados com o volume de coisas encontradas e que
deveriam ser destruídas. Eu olhava para o Áthame com profunda
tristeza, por ter lutado tanto para conseguir e agora estava desistindo
de tudo. Quando percebi que algumas lágrimas estavam se formando
em meus olhos, limpei e mudei minha postura. Eu estava decidido!
Estava saindo da Tradição e mudando minha vida. Estava cansado de
ser enganado por Satanás, por todos aqueles anos.
Nelson começou a orar e um frio intenso tomou conta do quarto.
Mesmo com as portas e janelas fechadas, um vento soprou sobre nós e
os irmãos passaram a orar mais fortemente. Senti tontura e precisei me
segurar em alguém para não cair. Senti uma grande força vindo contra
mim, saindo daquela pilha de materiais que estavam no chão. Abri
então meus olhos e pude ver demônios rodeando o quarto, como se
estivessem fazendo um cinturão de isolamento ao nosso redor. Também
pude ver demônios que voam acima desses e vinham contra nós, para
atacar os irmãos da equipe que ali estava, mas não podiam tocar neles.
Ao ver isso clamei:
- Senhor, eu não quero mais fazer parte dessa Tradição. Quero
render-me aos Seus Pés!
Algo aconteceu! Os demônios começaram a ser sugados para fora
dali, com uma violência impressionante. Por mais que lutassem contra
isso, eram expulsos, primeiro os que atacavam e em seguida, os que
faziam a barreira ao nosso redor. O vento cessou e houve paz naquele
lugar. Todos estavam suados, cansados, mas felizes. Alguns sentiram
medo, mas compreenderam que haviam passado por uma experiência
única. Pude perceber que o ambiente havia sido liberto de uma
opressão maligna que ali existia.
Voltando a livraria, falei com o Dile que precisava de uma igreja. Eu
não tinha para onde ir e ele me convidou para ir em uma programação
na sua igreja, Evangélica Livre, onde um ex-maçom falaria do seu
testemunho de conversão. Foi o primeiro culto que participei nesta
igreja, onde passei a congregar. Lá finalmente eu conseguia entender
tudo. Não havia mais escamas nos meus olhos, que impediram tantos
anos de ver a verdade. Decidi naquela noite que queria ser crente em
Jesus, servir a Deus e lutar, não importando o quanto fosse difícil. Eu
iria lutar.
Numa tarde, alguns dias após minha conversão, pedi uma Bíblia do
Dile, pois queria pela primeira vez lê-la. Ele me presenteou com uma
Bíblia preta, com zíper. Comecei a ler o evangelho de Mateus e achei
impressionante. Li todo ele de uma vez e passei para Marcos, Lucas e
João. Não conseguia parar. Como uma pessoa seca, em um deserto, a
Palavra de Deus era água refrigerando-me. Quando percebi já era de
noite. Estava tão bom ler a Bíblia que eu não queria parar, mas minha
barriga doía de fome. Fui comer alguma coisa e voltei rápido ao quarto
para ler de novo o evangelho de João. Jesus revelou sua graça e me
fez ver, somando as narrativas dos quatro evangelhos, a Sua morte,
ressurreição e ascensão. Parti para Atos dos Apóstolos e fiquei
maravilhado com a ação do poder de Deus no início da igreja. Era isso
que Satanás me escondia todos esses anos! Pensei: “Quero ser como
eles, Deus. Quero ter o Teu Poder em minha vida”. Seguia lendo o livro
de Atos e me colocando no lugar dos discípulos, que operavam sinais e
prodígios, no Nome de Jesus. Finalizei o dia exausto, adormecido sobre
o livro de 2 Coríntios.
Nessa minha caminhada em busca de conhecimento bíblico e
teológico, li a Bíblia toda na primeira vez em três meses. Li também
alguns livros cristãos e estudos bíblicos sistemáticos. Comecei a me
preparar para a batalha. Não há arma de guerra mais importante que o
CONHECIMENTO da PALAVRA DE DEUS. Resolvi fazer, então, uma
consagração, de alguns dias, para que o Senhor falasse comigo, como
tinha falado antes. Entrei no quarto e iniciei um jejum de três dias. No
primeiro dia, a dor de cabeça tirou um pouco a minha concentração
mas segui lendo a Bíblia, orando e louvando a Deus. Colocava umas
fitas K7 em um aparelho que tinha e permanecia ali deitado, adorando a
Deus. No segundo dia a dor não era tão intensa e eu podia sentir mais
a presença de Deus. No terceiro dia tive uma visão: um clarão invadiu o
quarto com uma luz muito forte e intensa, que mudava de cor. Da luz
ouvi uma voz que dizia “Meu filho, não temas porque eu estou contigo.
Fique na minha presença e não te desvies dela, nem para a direita,
nem para a esquerda, e estarei contigo todos os dias da tua vida e farei
de ti um vencedor”. Eu não conseguia falar, porque estava maravilhado
com aquela visão espiritual e com a voz de Deus falando comigo.
Aquela voz continuou: “Quero que pregues a Minha Palavra, que instrua
as pessoas no caminho em que devem andar e desmascares as trevas,
que tantos anos te aprisionaram. Confirmarei esta palavra a você, ainda
outras vezes, para que saibas que sou o Senhor, teu Deus”.
Após esta visão não aguentei e caí, desacordado. Fiquei assim o
restante do dia até que ouvi alguém batendo na porta do quarto. Era a
camareira do hotel, querendo limpar, afinal já estava ali trancado há uns
dias. Saí muito fraco, com tontura, pois jamais havia feito um jejum na
vida e meu organismo não estava acostumado. Procurei um restaurante
e pedi uma vitamina de frutas com leite. Enquanto esperava, um
homem se aproximou de mim e me cumprimentou. Eu retribui o
cumprimento e fiquei ali, alheio a ele. Porém ele permaneceu ao meu
lado e perguntou:
- Então, meu irmão. Quer dizer que está buscando o caminho das
sombras?
- Quem é você? – Perguntei assustado.
- Ninguém. – Respondeu. – Apenas um irmão.
- Quem você pensa que é? Quer morrer, seu safado? – Falei
rispidamente, pensando que ainda tinha algum poder espiritual.
Ele apenas riu e disse:
- Te vejo no inferno, traidor. – E saiu.
Eu ainda tinha dificuldade em definir uma personalidade. Por mais
que tinha passado três dias em jejum, ainda minhas reações eram
extremamente carnais. Isso levou muito tempo para ser transformado.
Fiquei ali até que minha vitamina chegasse e logo depois fui até a
livraria do Dile, que tinha se tornado meu quartel general. Lá aprendia
tudo para meu crescimento espiritual, me nutria da comunhão com os
irmãos e era cercado pelo amor deles. Claro que ainda tinha conflitos
internos, que me impediam de entender muitas coisas sobre o Reino de
Deus. Tudo isso porque ainda não tinha uma consciência espiritual
formada. Com os estudos que estava fazendo fui aos poucos me
fortalecendo e iniciando meu preparo para as batalhas que viriam no
futuro.
Minha mãe estava doente. O câncer era maligno e estava tomando
conta de todo o seu corpo. Satanás estava cumprindo a promessa em
matar alguém que eu amava. O câncer já havia aparecido sob a pele e
tinha sido tirado através de uma cirurgia com mais de cinquenta pontos
de sutura. Eu precisava ir até União da Vitória para visita-la, mas meu
coração temia voltar para lá. Aquela cidade onde tudo começou, onde
conheci o Luiz, onde foi feito minha iniciação no satanismo e tantos
rituais, pactos e maldições... Não sabia o que encontraria lá, mas
precisava ver minha mãe. Estava confiante em tudo o que o Senhor já
me dissera, que eu seria um vencedor. O que temeria então?
Embarquei em um ônibus e fui até lá.
Quando cheguei, minha mãe já estava melhor e se recuperando da
cirurgia, porém via-se o sofrimento em seus olhos. Levei uma Bíblia de
presente para ela e a notícia: eu agora era crente! A família
aparentemente reagiu bem à minha nova vida. Eu sabia que por trás
disso existiam demônios descontentes que manipulariam eles, mas era
um preço a ser pago pela minha conversão.
A nossa casa onde minha mãe morava era ao lado da casa da
minha avó. Em uma noite em que estávamos na casa da minha avó,
notei que minha mãe havia sumido. Fui até nossa casa, no terreno ao
lado mas não a encontrei. Quando olhei para o fundo do enorme quintal
que tínhamos, pude notar um brilho estranho no chão, como de uma
chama. Forcei minha visão para adaptar ao escuro e vi que era uma
vela, com um vulto atrás. Andei lentamente no escuro, em direção
àquela luz, quando percebi que era minha mãe, ajoelhada no chão,
possessa por um demônio, fazendo gestos no ar e invocando outras
hostes.
- Mãe, o que é isso? – Perguntei.
- Estou cumprindo com minha obrigação, com meus guias. – Disse
ela, com uma voz rouca e estranha.
- A senhora sabe que isso é algo maligno mãe. – Expliquei. – Não
faça mais isso.
- Você não sabe o que estou fazendo? – Perguntou. – Estou com
meu deus e por isso preciso cumprir com minhas obrigações.
Não suportei ver aquela cena e, por minha pouca experiência,
chutei aquela vela que estava mantendo o portal aberto para o demônio
mensageiro dela e, abaixando-me, abracei-a com carinho e comecei a
chorar. Ela chorou também. Percebi como a mente da minha mãe
estava confusa e como ela estava desesperada com aquela doença.
Ela sabia que em breve estaria morta e queria, a todo custo, buscar um
conforto espiritual. Infelizmente estava procurando no que conhecia,
mas que era completamente errado. Em silêncio ficamos sentados ali
no chão, abraçados chorando, debaixo de um manto de estrelas no
céu, naquela noite de verão.
Em alguns dias ela melhorou e pude voltar para casa, onde
precisava trabalhar, estudar e frequentar a igreja, porém em algumas
semanas minha mãe piorou e precisei voltar rapidamente, pois tinha
sido internada e os médicos diziam que não sairia mais do hospital com
vida, pois o câncer já estava generalizado. Todos estavam preparados
para sua morte, inclusive ela que já havia feito o seu próprio seguro
funerário, para bancar suas próprias despesas com o funeral. Dividimonos em grupos para permanecer com ela no hospital o tempo todo. Meu
horário era das 10:00h às 14:00h. Comecei então a batalha.
Aquela era a minha chance de fazer algo pela minha mãe, então
buscava ao Senhor todos os dias em oração. Lia a Palavra de Deus
constantemente, pedindo a Deus fortalecimento espiritual e
revestimento de Poder. Todas as vezes que eu ia ler a Bíblia ou
ministrar a Palavra de Deus para ela, Satanás enviava seus servos no
hospital, vestidos de enfermeiros para me atrapalhar. Muitas vezes
pude ver demônios no quarto, nos vigiando. Cada dia que passava eu
sentia que o tempo era mais curto, até a noite do dia primeiro de março,
quando Deus falou novamente comigo.
Eu estava no meu quarto orando, já fazia umas três horas que eu
estava ali, adorando ao Senhor, quando Deus me disse:
- Amanhã, a estas horas, você estará pranteando a morte da sua
mãe.
Fiquei chocado. Sabia que minha mãe estava para morrer, mas eu
não estava preparado para isso. Acordei cedo e fui à casa do meu tio,
irmão mais novo da minha mãe, e escrevi no calendário que estava
pendurado na parede da casa: “02 de março de 1997, o dia em que a
minha mãe morreu”. Minha tia ao ler aquilo brigou comigo dizendo:
- Credo Carlo! Não venha com essas tuas coisas de adivinhar o
futuro!
Ela se esquecera de que agora eu não era mais o mesmo. Não
tinha mais um dom de adivinhação, mas sim a revelação que o Espírito
de Deus dá aos seus filhos.
Chegando minha hora de cuidar da minha mãe no hospital, pedi ao
Senhor que desse um pouco de lucidez a ela, para que pudesse ouvir o
que eu tinha a lhe dizer. O câncer já havia tomado seu cérebro, por isso
estava em coma. Peguei minha Bíblia, orei ao Senhor pedindo que
lacrasse aquele quarto, para que ninguém entrasse ali. Em alguns
minutos minha mãe abriu os olhos e me reconheceu, fato que já não
acontecia mais. Controlei minhas emoções, para não chorar, e disse:
- Mãe, hoje você vai partir. Sei que é ruim ouvir isso, mas não tenho
muito tempo. Preciso que a senhora renuncie tudo o que fez na sua
vida. Seus pactos, maldições, participações em rituais. Todo o poder de
Satanás e toda a legalidade que ele tem na sua vida. Quero que a
senhora peça a Deus para salvar seu espírito, em Nome de Jesus, e
convide o Espírito Santo para habitar dentro da senhora. – Metralhei
sem parar.
Ela olhou para mim com ternura com seus olhos mareados, e me
disse:
- Eu quero meu filho. Hoje eu entendo que se não fosse o Senhor,
eu não aguentaria até aqui.
Glorifiquei ao Senhor! Chorando, abracei-a. Durante o tempo que
fiquei fora, ela passou a ler a Bíblia que eu havia dado. Nas noites e
madrugadas que ela não conseguia dormir, por causa das terríveis
dores de cabeça, ela assistia aos programas do Missionário R. R.
Soares na TV e anotava na Bíblia o que era pregado por ele.
- Me perdoe filho, por tudo o que eu fiz de mal a você. Eu não fui
uma boa mãe. – Chorou ela, abraçada a mim.
- Esquece isso mãe. – Respondi. – Só preciso que a senhora repita
uma oração comigo, tudo bem?
Ela concordou com um aceno e foi repetindo todas as palavras da
oração de renúncia e aceitação do senhorio de Jesus Cristo sobre sua
vida, convidando ao Senhor Jesus para habitar seu coração. Houve
derrota no inferno e júbilo nos céus naquela manhã quente de março.
Voltei para a casa da minha avó feliz, alegre. Aproveitei o resto do
dia para descansar, pois sabia que a noite inteira ficaria acordado. Pedi
a minha avó que chamasse meu irmão mais novo, que morava com o
outro tio, irmão mais velho da minha mãe. À noite, tocando alguns
acordes no violão, comecei a compor alguma coisa pensando nela,
quando minha avó chegou com a notícia:
- Ligaram do hospital e sua mãe entrou em colapso.
Ela estava morrendo. Corremos todos para lá e ao chegar ao
hospital fui o primeiro a entrar no quarto. Ela estava com mais de
quarenta e dois graus de febre. Seus olhos já estavam amarelos,
saltados para fora das órbitas. Abracei-a e comecei a chorar. Tentaram
me tirar de cima dela em vão, porque eu não sairia dali. Encostei meu
ouvido esquerdo sobre seu peito e ainda pude ouvir o seu coração
batendo lentamente. Com o ouvido direito ouvia o monitor do
equipamento hospitalar.
- Pode ir mãe. – Disse baixinho. – A senhora está segura. Deus
está aqui para recebê-la.
Lentamente o seu coração foi parando e se ouviu um som lânguido
e contínuo no equipamento que a estava monitorando. O médico veio,
analisou suas pupilas, auscultou seu coração e atestou sua morte,
desligando os equipamentos. Ela estava clinicamente morta, mas
espiritualmente havia encontrado a vida eterna em Jesus Cristo.
6 – O CAMINHO
O início da minha caminhada não foi fácil. Fui vigiado e perseguido
por satanistas o tempo todo. Mantive-me fiel e confiante no Senhor e
isso foi fundamental para minha segurança. Nunca me escondi, troquei
o nome ou qualquer outro artifício. Sempre estive na posição de servo e
ciente que, se Deus não me guardasse, em vão eu me esconderia. Eu
tinha um temperamento muito forte e estava começando a caminhar
com Deus, por isso não foi fácil mudar tão rápido, mas com esforço e
dedicação as coisas foram acontecendo.
Algumas vezes, enquanto estava comendo em um restaurante ou
comprando alguma coisa em uma loja, entravam satanistas enviados
pela Tradição para me amedrontar. Perguntavam com tom ameaçador
quando eu iria acordar e voltar para a luz. Coitados, nem ao menos
sabiam que eu estava na luz e eles, enganados, nas trevas.
Logo nos primeiros meses de conversão surgiu a oportunidade de
estudar teologia em um seminário. Seria ótimo para me fortalecer e
aprender mais sobre tudo o que era novo para mim. Também abriria
meus olhos para o Reino de Deus. Também passei a frequentar todos
os retiros da Igreja Evangélica Livre, onde estava congregando. Certa
vez, quando estava auxiliando meu pastor Nelson, o mesmo usado por
Deus em meu processo de libertação, em um retiro de adolescentes,
Satanás enviou três assassinos profissionais para me executar.
Primeiro foram atrás de mim na cidade, mas não encontraram.
Identificaram-se como policiais federais, mostrando uma documentação
falsa. Então sem querer um amigo meu disse que eu estava em outra
cidade, na casa de retiros da igreja. Eles saíram rapidamente em
direção ao local onde eu estava.
Dile sabendo disso ligou imediatamente para a casa de retiro e me
avisou, pedindo que eu saísse e me escondesse em algum lugar. Decidi
não fugir. Se fugisse, eles me perseguiriam sempre. Eu não poderia
viver me escondendo como um derrotado. Resolvi ficar e enfrentar. Mal
eu sabia que em algumas horas passaria pela primeira das grandes
provações que tive, ao aceitar a Jesus como Salvador da minha vida.
Quando eles chegaram, eu estava no altar do salão de cultos, na casa
de retiros. Perguntaram sobre o “Carlão”, forma como me chamavam
quando era jovem. Eu me apresentei e perguntei o que eles queriam. O
líder deles disse que precisava conversar comigo em particular, e eu
aceitei. Descemos até um gramado, próximo ao campo de futebol, onde
estava escuro e paramos próximo a algumas araucárias quando, de
repente, senti um empurrão nas costas e ouvi:
- Vire-se para mim. – Disse o assassino, apontando uma arma.
Eu fiquei de frente com ele, em espírito de oração, pedindo a Graça
de Deus sobre a minha vida e sobre as pessoas que estavam naquele
lugar. Notei que o homem não falava nada, apenas apontava a arma
em direção a minha cabeça, então o Senhor dotou-me de coragem e
ousadia e perguntei:
- Você não veio aqui para me matar? Então faça logo o serviço. –
Desafiei.
- Você duvida seu merdinha! – Gritou ele.
- Duvido sim! Deus não me trouxe aqui para morrer. – Respondi
com coragem.
Ele deu um passo em minha direção e colocou o revolver no meu
rosto, com o cano encostado na minha boca e disse:
- E o que o seu Deus acha disso aqui?
Por uma fração de segundo olhei para o revolver e vi que estava
engatilhado. Senti o cheiro de pólvora e raciocinei que ele recentemente
havia atirado com ele. Senti também o cheiro de óleo lubrificante e
percebi que a arma estava limpa e preparada para ser usada
novamente. Ele realmente não estava blefando! Viera até ali para me
matar. Enchi-me de coragem e disse:
- Eu te repreendo demônio, em Nome de Jesus! – Pela primeira vez
havia dito aquilo. – Minha vida está debaixo do Sangue de Jesus e você
não vai tirá-la. – Completei.
Fechei meus olhos e comecei a cantar um hino, sem saber o que
estava cantando, apenas esperando o momento do tiro. Algo aconteceu
naquele lugar, pois parei de ouvir minha própria voz. Uma sensação de
leveza tomou conta de mim e uma paz tremenda invadiu meu ser.
Quando abri meus olhos, aquele homem não estava mais na minha
frente e nem os seus comparsas parados junto à casa de retiros. Todos
haviam ido embora. Pude glorificar o Nome do Senhor porque, na
primeira vez que repreendi um demônio usando o poder do Nome de
Jesus, foi para salvar a minha própria vida.
Mais ou menos um mês depois desse acontecimento, fui tomar um
café no centro da cidade com um novo amigo da igreja. Eu começava a
me entrosar com o pessoal e isso estava sendo muito bom para mim.
Novas e abençoadas amizades cristãs. Quando entramos na
lanchonete, deparei-me com um rapaz que eu havia iniciado na
Tradição, há alguns anos atrás. Ao ver-me, veio até mim e me abraçou
alegremente, nos convidando para sentar em sua mesa, o que
aceitamos prontamente. Gaúcho, como o chamávamos, já estava em
um dos níveis sapienciais da Tradição, onde já conseguia ordenar sua
própria proteção espiritual, através do seu mensageiro.
- Nossa Carlão, sinto tanta falta dos velhos tempos cara! –
Começou ele entusiasmado por me ver.
- Então meu, preciso te contar uma coisa: saí da Tradição. – Falei
logo de cara.
- Como assim? – Perguntou assustado.
- “Ixi”. – Exclamei. – Descobri tanta coisa, tantas mentiras, que
minha permanência ficou insustentável. Você acredita que tudo o que
nos ensinam sobre Jesus é mentira? Deus e Jesus são a mesma
pessoa e qualquer um que O sirva é mais poderoso que a Tradição toda
junta. – Declarei.
Ele sorriu e disse:
- Não tem como sair. Ninguém sai. Alguém mesmo disse-me que
você estava doente, mas olha, quem vendeu a alma ao diabo nunca
mais a tem de volta. – Falou com um ar sombrio em sua voz.
- Tem sim amigo. Jesus Cristo morreu por nós, justamente para que
ninguém mais precisasse morrer. Ele nos deu essa liberdade. Chega de
sangue. Jesus já derramou o Seu Sangue para nos salvar. –
Evangelizei.
- Carlão, - sorriu. – Eu também sou um homem de deus. – Disse
ele.
- Qual deus? – Perguntou meu amigo, sem se conter.
Gaúcho olhou furioso para ele e ficou em silêncio. Olhou para uma
cadeira vazia ao seu lado e murmurou baixinho algumas palavras. Em
segundos entrou um homem alto e muito forte, visivelmente
endemoninhado e sentou-se ao lado dele. Havia um cheiro terrível nele
e ficava nos olhando e rosnando, o tempo todo. Era um demônio que o
Gaúcho tinha chamado para protegê-lo.
- Não seja bobo Carlão. – Continuou falando. – Quem esteve nas
mãos de papai um dia, nunca mais sai dos seus dedos. – Disse isso
enquanto levantava-se junto com seu demônio.
- Gaúcho. – Gritei enquanto ele já estava saindo pela porta. Ele
olhou e completei. – Eu saí, graças a Jesus Cristo.
Ele levantou os ombros, em sinal de desprezo, e foi embora.
Passado dois anos da minha conversão, os ataques diminuíram um
pouco e eu comecei a me preocupar em ter uma família. Já tinha
conhecido boas garotas cristãs, mas nenhuma delas era especial. Orei
ao Senhor e pedi que revelasse uma esposa. Lembrei-me de uma
profecia entregue pelo Edison, ainda quando me evangelizava, em que
me disse que no dia em que eu entregasse a minha vida ao Senhor, Ele
me daria um presente, que seria minha esposa, e ela seria bonita,
crente e virgem. Eu acreditava nisso e esperava em Deus. Tínhamos
montado uma banda evangélica, de rock gospel, chamada
Conhecimento Sagrado e estávamos em processo de gravação do
nosso CD. Dentro do meio evangélico ficamos bem conhecidos na
região e, por isso, íamos a todos os eventos das igrejas.
Um dia fomos chamados para ir a um culto especial na Igreja
Evangélica Livre do bairro Faculdade, onde teria uma banda de Foz do
Iguaçu tocando. Chegando lá, a igreja estava muito cheia e decidi ficar
em pé, junto a porta, para assistir ao culto. De repente ouvi a Voz do
Senhor falando comigo, dizendo: “esta que está ao seu lado, dou-a
como esposa à você”. Assustei-me em ouvir o Senhor ali, naquele
momento, mas olhei para o lado, e vi a menina mais fantástica e
espetacular que jamais meus olhos haviam visto. Ela tinha um sorriso
lindo e olhos castanhos vivos e cativantes. Sua face era corada e ela
era muito bonita. Ela sorriu para mim e eu, meio sem jeito, arrisquei um
“oi”. Fiquei envergonhado e sem jeito de falar com ela, mas torcendo
para vê-la no final do culto. Quando a programação terminou ela veio
me procurar para conversar. Conversamos muito, sobre tudo. Meus
amigos que vieram comigo foram embora e eu fiquei ali, com ela. Não
queria ir para nenhum lugar, que não fosse dentro do seu coração. Algo
estava acontecendo comigo que nunca antes havia acontecido: o amor.
Eu tentava parar de olhar para ela, mas não conseguia. Ficou tarde
e marcamos para nos ver no dia seguinte, e no outro e nas semanas
seguintes. Começamos a orar um pelo outro e isso só confirmou o amor
que sentíamos. Falamos com nossos pastores e com os pais dela e,
depois de mais um período de oração, começamos a namorar. Foi aí
que demos o primeiro beijo. Passados dois anos de namoro e noivado,
casei-me com a mulher da minha vida, Francine, no dia 24 de março de
2001.
Depois de tudo o que vivi, de toda a dificuldade que passei no
período em que estava sendo evangelizado. Depois da dor de perder
tudo e começar do zero, servindo a Cristo. Ainda mesmo depois de
haver passado dificuldades incontáveis no início da minha fé, hoje
posso dizer confiadamente que até aqui tem me ajudado e sustentado,
o Senhor.
Amo o meu Deus mais que a minha própria vida. Minha família e eu
vivemos para louvor de Sua Glória, e a cada manhã, quando fazemos
nossa oração juntos, lembramos das Suas Misericórdias sobre nós e da
Salvação que pela graça recebemos.
Glória ao Pai, ao Filho Jesus e ao Espírito Santo. Amém.
7 – DEPOIMENTO
Louvo a Deus pela vida do meu esposo, esse homem de Deus que
venceu o inferno e todos os demônios para servir ao Senhor Jesus.
Cada dia ao seu lado, para mim é um aprendizado, pois além de marido
é meu pastor, em quem confio e me sinto protegida.
Lembro-me que certa vez o Carlo, que na época era meu
namorado, perguntou se eu estaria realmente preparada para viver ao
seu lado e para tudo o que poderia acontecer. Eu, uma jovem
apaixonada, não tinha noção do que estava por vir. Em um domingo a
tarde eu estava sentada próximo ao portão da minha casa, quando
senti um bafo quente em meu pescoço e uma voz dizendo: «Ele é meu.
Você não vai tirá-lo de mim, porque ele é meu!». Quando virei-me para
ver quem era, notei que estava sozinha e que havia presenciado a fúria
do diabo contra meu namorado. Corri e liguei para ele que, com uma
risadinha me disse: «Não te perguntei se estava preparada?».
Daquele momento em diante percebi que enfrentaria forças que
nunca imaginava enfrentar e, de uma menina inexperiente em batalha
espiritual, tornei-me uma forte intercessora e esposa de um dos mais
requisitados ministros de libertação do nosso país.
Agradeço muito a Deus pela linda família que temos hoje, por
nossa casa ser um altar para o Senhor, onde habita o Espírito Santo.
Francine Gava M. Ribas
8 – IGREJA UNÇÃO E PODER
Hoje, depois de mais de duas décadas desde o dia em que
entreguei incondicionalmente a minha vida ao Senhor Jesus Cristo, sou
um pastor evangélico. Como Deus é tremendo: Ele tem o poder de
transformar a pior pessoa em um vaso honrado.
«Levanta o pobre do pó e, desde o esterco, exalta o necessitado,
para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de
glória; porque do SENHOR são os alicerces da terra, e assentou sobre
eles o mundo». (1 Samuel 2:8)
Minha esposa e eu fundamos uma igreja chamada Igreja
Evangélica Unção e Poder. Fizemos o primeiro culto na sala da nossa
casa, com mais dois irmãos. A mesa se transformava no púlpito e o sofá
era o banco da igreja. Bons e singelos dias foram aqueles. Da sala de
casa fomos para uma sala comercial no centro da cidade, e de lá para
um prédio. Meu ministério cresceu e viajo o mundo ministrando nas
mais variadas denominações evangélicas treinamentos estratégicos em
batalha espiritual.
O que eu quero expressar é o zelo e o cuidado do Eterno por nós e
- principalmente - por Sua Obra, ao escolher um satanista, dentre
tantos, curá-lo, limpá-lo, libertá-lo. Depois ensina-lo Seu Amor e
transformá-lo em um pregador da Sua Palavra. Pondere comigo algo:
se o Senhor pode fazer isso em minha vida, o que ele pode fazer na
sua a partir de agora? Infinitamente mais! Basta você crer e declarar:
EIS-ME AQUI, SENHOR JESUS!