De educadora a médica: trajetória de uma pioneira

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De educadora a médica: trajetória de uma pioneira
ARTIGOS
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De educadora a médica:
trajetória de uma pioneira
metodista
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From educator to medical doctor:
the career of a Methodist pioneer
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Maria Lúcia Mott
Doutora em História - USP
Bolsista de Pós-Doutorado da FAPESP Escola de Enfermagem da USP
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Uniterms: medicine;
women; volunteer work;
medical teaching; Brazil
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Unitermos: medicina; mulher; trabalho voluntário; ensino médico;
Brasil
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This article follows the professional
career of Dr. Maria Rennotte and provides
insights on the formation and role of
women toward the end of the 19th century
and beginning of the 20th century. The
author deals with aspects related to the
prejudices about women working in the
field of medicine and the deficiencies of
medical teaching in Brazil, as she criticizes the deeply rooted customs that hindered women’s professional accomplishments. Dr. Rennotte’s story is an example
of determination and competence in a
sexist and excluding society.
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Esse artigo traça a trajetória profissional da Dra. Maria Rennotte e faz um
recorte da formação e do papel da mulher
no fim do século XIX e início do XX. As
questões do preconceito em relação à
atuação das mulheres no campo da
medicina e da deficiência do ensino
médico no Brasil são levantadas pela
autora, que critica costumes enraizados
que entravam a realização profissional
da mulher. A história da Dra. Rennotte
serve de exemplo de força de vontade e
competência numa sociedade machista e
excludente.
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As mães eram assistidas
por Mme. Laborde, que
trazia uma maleta, dentro
da qual as crianças
acreditavam estar os bebês
O colégio tinha curso
normal e ensinava
matérias científicas de
forma bastante avançada
para a época
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Em 1889, foi para a
Filadélfia, nos Estados
Unidos, a fim de estudar
medicina
orge Americano, no livro de memórias São Paulo naquele tempo, conta
que a Maternidade São Paulo iniciou como um estabelecimento de
caridade para o atendimento de mulheres indigentes. As crianças não indigentes, no final do século passado e início deste, nasciam em casa. As mães
eram assistidas por Mme. Laborde, que trazia uma maleta, dentro da qual as
crianças acreditavam estar os bebês, “ou pela Dra. Maria Rennotte, médica
obstetra, ou por Dr. Espinheira, diretor do Hospital de Isolamento, que também era médico obstetra”. Diz ainda o autor que “aquelas duas senhoras
costumavam atender de ‘tílburi’ e o Dr. Espinheira, de ‘vitória’”1.
Na pesquisa sobre a assistência ao parto e ao atendimento ginecológico
na cidade de São Paulo na virada do século, tem razão Oscar Americano: a
Dra. Rennotte é uma figura constante.
Nascida na Bélgica no dia 11 de fevereiro de 1852, com pouco mais de
20 anos terminou o curso para magistério em Paris, obtendo o diploma com
distinção2. Por três anos foi professora em Mannheim. Lá ensinou francês
com bastante zelo e sucesso, conforme carta de apresentação da diretora da
escola3, e, em 1878, teria se transferido para o Brasil, onde ensinou por seis
meses na casa de uma família com carinho, assiduidade, interesse, talento,
conhecimento e procedimento exemplar, sendo considerada por isso uma
boa professora4. Em 1882 a encontramos no Colégio Piracicabano, na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo, fundado por Metodistas do Sul dos
Estados Unidos, cujo ensino era voltado sobretudo para o sexo feminino. O
colégio tinha curso normal e ensinava matérias científicas de forma bastante avançada para a época. Foi contratada pela diretora, Martha Watts, para
ministrar cursos na área de ciências, tornando-se ela mesma, anos mais tarde, diretora5. Ainda na década de 1880, foi contatada por Ana Werneck
para trabalhar no Colégio Werneck, no Engenho Novo, Rio de Janeiro, para
dar aulas de francês, caligrafia, alemão e desenho6. Em 1888 e 1889 colaborou com o jornal A Família, publicação feminista que congregava algumas
das mais conhecidas escritoras brasileiras do período7.
Em 1889, a trajetória profissional da professora tomou outro rumo: foi
para a Filadélfia, nos Estados Unidos, a fim de estudar medicina, obtendo
três anos depois o diploma no Women’s Medical College of Pennsylvania.
De volta ao Brasil, em 1895, apresentou na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro a tese intitulada Influência da Educação da Mulher sobre a Medicina
Social8, com o objetivo de revalidar o diploma obtido no exterior, como era
exigido por lei. Dois meses depois já estava dirigindo a Maternidade São
Paulo, onde permaneceu como diretora interna por quatro anos.
Nos anos seguintes, Dra. Rennotte se dedicou à medicina: tinha consultório próprio, trabalhou na clínica ginecológica da Santa Casa de Misericórdia,
participou de associações de classe e de congressos médicos e desenvolveu
trabalhos de benemerência, sendo uma das fundadoras da Cruz Vermelha
em São Paulo e do hospital de Indianópolis, dirigido por aquela sociedade.
Na década de 30, as notícias sobre a médica são as mais tristes possíveis e
foram obtidas no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo9, onde foi
sócia por quatro décadas. Estava quase cega e surda, doente e pobre, sendo
necessária a obtenção de uma pensão do governo estadual para poder se
manter. Morreu aos 90 anos, em novembro de 194210, tendo vivido mais de
60 anos no Brasil.
Meu encontro com Maria Rennotte se deu a partir da prática médica,
através da atividade que desenvolveu na Maternidade São Paulo e depois pela
sua luta em favor da criação do curso de enfermeiras pela Cruz Vermelha de
São Paulo. Nesse artigo vou me deter nesta etapa da vida da doutora, transcorrida entre os anos de 1890 e 1920, por levantar questões importantes sobre o
acesso ao ensino médico, a profissionalização e a participação das mulheres
no espaço público, sobretudo através de obras de benemerência.
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Atividades antes
exercidas livremente pelas
mulheres, como a medicina
e a obstetrícia, foram sendo
paulatinamente retiradas
de suas mãos
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Para furar essa barreira
algumas mulheres se
travestiram de homem
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Grupos de militantes
reformistas, que lutavam
pela emancipação das
mulheres, propuseram a
criação de escolas
exclusivas para o sexo
feminino
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Pode-se dizer que a Renascença, apesar da renovação que trouxe para a
cultura e para as artes na Europa, não foi favorável ao sexo feminino. Algumas atividades antes exercidas livremente pelas mulheres, como a medicina
e a obstetrícia, foram sendo paulatinamente retiradas de suas mãos. Até
então, a história da medicina guarda o nome de uma série de mulheres que
foram reconhecidas como médicas, algumas entre elas tendo inclusive seguido cursos nas mais famosas escolas da Europa.
Segundo a historiadora Evelyne Berriot Salvadore11, o final da Idade Média foi um período decisivo para a história da medicina e para a história das
mulheres. Foi quando foram criados uma série de decretos outorgando às
faculdades de medicina um verdadeiro monopólio do exercício profissional e científico. Os práticos, diante de uma legislação cada vez mais rigorosa, foram aos poucos abandonando o ofício, devido à pressão dos médicos
diplomados. E as mulheres foram as primeiras excluídas dada a impossibilidade de seguir cursos acadêmicos.
Para furar essa barreira algumas mulheres se travestiram de homem,
entre elas Dr. James Barry (1790-1865), que cursou a famosa Escola de Medicina de Edimburgo no início do século XIX. Dr. Barry entrou para o serviço militar britânico, esteve a serviço em várias colônias inglesas e chegou a
Inspetor Geral da Armada. A autópsia revelou que era mulher e que pelo
menos uma vez havia dado à luz. Usar roupas masculinas foi o conselho
dado a Elizabeth Blackwell, primeira médica diplomada nos Estados Unidos, devido a dificuldade encontrada para fazer o curso de medicina naquele país, na década de 184012.
Nos Estados Unidos, a partir das primeiras décadas do século XIX, houve
uma expansão dos cursos médicos. Seguindo o modelo europeu, as escolas
deixaram as mulheres de fora, embora elas continuassem a exercer o ofício
como práticas. Em 1848, Elizabeth Blackwell, depois de longa peregrinação recorreu a onze escolas médicas, antes de obter o direito de se matricular –,
conseguiu, com apoio de um médico quaker, ser admitida no Geneva College
of Medicine, em Nova York. Porém, a situação não era regular, nem significava
que as portas das escolas médicas tivessem sido franqueadas ao sexo feminino.
Para contornar essa restrição, grupos de militantes reformistas, que lutavam
pela emancipação das mulheres com propostas bastante amplas, como melhor
educação secundária, oportunidades de trabalho em profissões rentáveis e melhor atendimento médico, propuseram a criação de escolas exclusivas para o sexo
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As primeiras médicas
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As escolas médicas eram
os únicos lugares onde as
mulheres interessadas em
ter uma melhor educação,
no sentido de se tornarem
melhores esposas e mães,
podiam aprender mais
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A escola possuía idéias
avançadas para a época:
condenava o uso do
espartilho, defendia aulas
de educação física e o
acesso a profissões
rentáveis
feminino. Uma lei do Estado da Pennsilvania, de 11 de março de 1850, finalmente acatou a proposta, sendo fundado naquele ano, na cidade de Filadélfia, o Female
Medical College of Pennsylvania (FMCP)13, a primeira de uma série de escolas de
medicina para mulheres14. Vale lembrar que a Pennsilvania possuía uma comunidade quaker reformista bastante atuante e era um centro médico importante na
época, tendo sido criadas, entre 1840 e 1850, sete escolas médicas.
O FMCP tinha por objetivo instruir mulheres responsáveis e inteligentes
nos vários campos da Medicina, num curso que em nada ficaria a dever aos
ministrados pelas demais escolas americanas e européias oficiais (ortodoxas, em oposição às ecléticas, que ensinavam, por exemplo, homeopatia e
outros tipos de terapias hoje denominadas alternativas). No início, o curso
era de três anos e a idade mínima para obter diploma era 21 anos. Não se
exigia exame de admissão e contava apenas com professores homens – já
que havia somente duas médicas formadas nos Estados Unidos, no período.
A primeira turma teve cerca de 40 alunas inscritas, muitas como ouvintes,
e um grupo de oito mulheres decididas a obter diploma e a exercer a profissão. A razão desse grande número de ouvintes devia-se ao fato das escolas
médicas preencherem, na época, uma lacuna no que se refere à educação
feminina. Eram os únicos lugares onde as mulheres interessadas em ter uma
melhor educação, no sentido de se tornarem melhores esposas e mães, podiam aprender mais sobre o funcionamento do corpo humano e onde as professoras podiam adquirir conhecimentos de anatomia e fisiologia15.
Embora vencida a barreira da matrícula e da formação teórica, as primeiras turmas de alunas que se destinavam à carreira médica tiveram dificuldades de fazer clínica médica nos hospitais, sofreram hostilidade da
comunidade médica e dos alunos dos cursos de medicina e não foram
aceitas na Medical Society of Pennsylvania – que considerava o curso fraco, já que não tinham como fazer a parte clínica.
Ann Preston, uma ex-aluna que se tornou professora e diretora da escola, levantou recursos para a fundação de um hospital, o Women’s Hospital,
onde as alunas passaram a completar sua formação principalmente nas áreas de obstetrícia, ginecologia e cuidados com as crianças. No final da década de 60, foram aceitas num hospital geral da cidade e, em 1895, a própria
escola abriu um dispensário na cidade ampliando o ensino clínico.
Com o passar dos anos a escola se tornou conhecida e recebeu alunas de
várias partes do mundo. Além de fornecer uma boa formação teórica e prática, sobretudo no que se refere à saúde da mulher e das crianças, propiciava a
pesquisa científica e possuía idéias avançadas para a época sobre educação e
profissionalização das mulheres: condenava o uso do espartilho, defendia aulas
de educação física e o acesso a profissões rentáveis. Muitas ex-alunas seguiram
carreira e abriram consultório, outras se tornaram missionárias, pertenceram
a sociedades de medicina, publicaram trabalhos, fizeram conferências. Entre
1850 e 1897, publicaram mais de 400 títulos na área médica16!
Em 1867, a escola mudou de nome, passando a se chamar Women’s
Medical College of Pennsylvania (WMCP). Foi nessa escola que, em 1892, a
ex-diretora do Colégio Piracicabano, Mlle. Rennotte, com cerca de 40 anos,
obteve o título de doutora em medicina.
Muitas das primeiras
médicas fizeram o curso
normal ou foram
professoras antes de se
diplomarem em medicina
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Esses cursos acabaram
abrindo novos caminhos
para muitas mulheres
alçarem vôo e obterem
realização profissional
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Para Maria Rennotte a
educação não preparava
as moças para a vida, nem
do ponto de vista
intelectual, nem físico
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O fato de Dra. Rennotte ser professora antes de tornar-se médica e a
idade que iniciou o curso foram questões que me deixaram a um só tempo
surpresa e intrigada. Examinando a biografia de algumas mulheres médicas
no Brasil e no exterior, verifiquei, porém, que ela não era uma exceção:
muitas das primeiras médicas fizeram o curso normal ou foram professoras
antes de se diplomarem em medicina, como também decidiram mudar de
profissão quando já tinham cerca ou mais de 30 anos. A inglesa Elizabeth
Blackwell teve uma escola antes de se tornar, aos 28 anos, a primeira médica
formada nos Estados Unidos; a americana Ann Preston, que chegou a ser
diretora do WMCP, tinha 38 anos de idade quando se formou; e a brasileira
Carlota Pereira de Queiroz também foi professora e tinha 34 anos quando
terminou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro17.
A importância que o curso normal teve na vida de muitas pioneiras nas
primeiras décadas do século é conhecida. Apesar de fornecer uma formação geral para que bem desempenhassem o papel de mãe de família e da
freqüência nem sempre significar profissionalização, esses cursos acabaram
abrindo novos caminhos para muitas mulheres alçarem vôo e obterem realização profissional, seja pela instrução diferenciada, como pelo salário recebido como professora, já que essa era uma das poucas atividades “respeitáveis” de trabalho fora de casa, no período, para o sexo feminino18.
A mudança de profissão e a escolha da escola americana feminina, justamente ela que era defensora da coeducação, foram duas outras questões
que também procurei entender.
No que se refere à escolha da medicina, a tese Influência da Educação da
Mulher sobre a Medicina Social para revalidação de diploma no Brasil, conforme era exigido por lei, nos fornece algumas pistas: aí a Dra. Rennotte deixa
evidente a sua crença na importância da Medicina Preventiva e no papel
reformador dos médicos. A tese foi apresentada em março de 1895, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na cadeira de Higiene e Mesologia.
Retoma algumas idéias dos artigos publicados no jornal A Família, sobretudo no que diz respeito à igualdade entre os sexos, usando inclusive a mesma
retórica, com o objetivo explícito que sua mensagem também atingisse as
mulheres.
A crítica central do trabalho era a educação dada, então, ao sexo feminino, que excluía “o conheça a si mesmo”, fornecendo, ao contrário, uma
educação fútil, superficial, sem atrativos, massacrante e cheia de sentimentalismo, na qual a aquisição dos ditos “predicados” acabavam por resultar
em frivolidade, desgaste físico, excessos e excitação nervosa. Para Maria
Rennotte a educação não preparava as moças para a vida, nem do ponto de
vista intelectual, nem físico e o desenvolvimento intelectual não seria possível sem o desenvolvimento físico. Que energia, que pensamentos, que descendência poderá ter um corpo debilitado pelas exigências absurdas da moda
e dos costumes, que preconizam o uso de roupas inadequadas, como o
espartilho, e restringem o esforço físico saudável e prazeroso, como aquele
obtido pela ginástica? O médico, diz ela “ciente dos efeitos desastrosos de
uma educação da qual se exclui toda noção de fisiologia, que todos os dias
presencia os resultados de uma civilização que tiraniza a organização da
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Judith Maurity Santos
conta que havia um rapaz
que, em dias de chuva,
insistia em colocar os pés
nas costas da cadeira,
sujando-a de lama
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mulher, torna a vida miserável, causa o atraso do desenvolvimento nacional,
favorece uma progênie de debilitados e concorre à decadência social, deve
erguer a voz em favor da reforma do ensino público, porque enquanto nossas escolas ficarem o que ora são, tanto que as influências políticas, e não a
competência qualificam para os empregos e ofícios, o ensino não será mais
do que um simulacro, nunca uma base do edifício social”19.
Quanto à escolha da escola americana, vale lembrar que ela poderia ter
seguido o curso de medicina no Brasil, numa das duas faculdades de Medicina existentes, a do Rio de Janeiro e a da Bahia. Desde 1879, a lei tinha
franqueado o ensino superior ao sexo feminino e, na década de 90, algumas
brasileiras já tinham terminado o curso de medicina e defendido tese. No
WMCP, porém, certamente ela não passaria pelos mesmos constrangimentos sofridos pelas primeiras alunas dos cursos médicos no Brasil, que seguiam o curso acompanhada de familiares ou governantas, ou sofriam agressão dos colegas. Judith Maurity Santos, relembrando seu tempo de aluna da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1900, conta que os colegas
reagiram à sua presença negativamente e que havia um rapaz que, em dias
de chuva, insistia em colocar os pés nas costas da cadeira, sujando-a de lama20.
Não pode ser descartada ainda a hipótese de que Maria Rennotte desejasse uma melhor formação em ginecologia e obstetrícia, como a fornecida
no Women´s Hospital, mantido pelo WMCP. No início de 1889, A Família,
jornal em que Dra. Rennotte havia colaborado, publicou um artigo não assinado sobre A Mulher e a Medicina, no qual são elogiadas as formandas de
uma faculdade de medicina de Washington, que fizeram uma viagem para
visitar os hospitais europeus. O texto defende o exercício da medicina pelas mulheres usando como argumentos a pressa dos médicos no trato dos
pacientes; a crença em determinadas características específicas do sexo feminino, entre estas a delicadeza, o que tornaria as mulheres mais aptas para
determinadas especialidades médicas; e a pudicícia, que fazia com que muitas doentes ficassem sem tratamento porque não admitiam ser examinadas
por um homem.21
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A medicina e a benemerência
Contratada como
diretora interna, Dra.
Rennotte decidiu, por cerca
de um ano e meio,
trabalhar gratuitamente
Dois anos depois da formatura, em maio de 1895, a Dra. Rennotte já
estava trabalhando na Maternidade São Paulo, fundada um ano antes, com
o objetivo de recolher as mulheres pobres em adiantado estado de gravidez,
ampará-las durante o parto e prestar socorros aos recém-nascidos, gratuitamente. Vale lembrar que a idéia da fundação da Maternidade é atribuída ao
médico Bráulio Gomes, mas a manutenção, a organização e a supervisão
administrativa ficaram a cargo de um grupo de mulheres da elite paulista.
Contratada como diretora interna, em maio de 1895, Dra. Rennotte
decidiu, por cerca de um ano e meio, trabalhar gratuitamente. Passou a
receber 400$000 réis por mês, em setembro de 1896. Durante a sua gestão,
criou uma enfermaria para atendimento de mulheres pobres não parturientes, que foi posteriormente desativada. Nos quatro anos em que permaneceu como diretora, foram realizados por ela mesma, ou sob sua supervisão, cerca de 600 partos, a maioria normais, e um pequeno número de
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Dra. Rennotte se
dedicou à clínica, à
pesquisa e à benemerência
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A criação da escolas de
enfermeiras e melhor
atendimento médico à
população mais pobre
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A Cruz Vermelha recebeu
apoio do governo do Estado
e da elite paulistana e a
Dra. Rennotte assumiu o
cargo de presidente efetiva
da sociedade
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dificultosos, em que foi necessário algum tipo de operação obstétrica. Nos
registros de entrada das parturientes, Dra. Rennotte deixou sua marca de
professora: incluiu, ao lado dos dados pessoais das mulheres assistidas, a
informação se eram alfabetizadas ou analfabetas22.
Em junho de 1899, Dra. Rennotte se demitiu e as Atas da Diretoria da
Maternidade registram a gratidão e um voto de louvor pelos relevantes serviços prestados como médica interna e pela organização da enfermaria das
mulheres pobres. Infelizmente a documentação não esclarece a razão da
demissão.23
Nos anos seguintes, verifica-se que ela se dedicou à clínica, à pesquisa e
à benemerência. Carlota Pereira de Queiroz, numa pequena autobiografia,
conta que quando tinha mais ou menos oito anos de idade foi com a mãe ao
consultório da Dra. Rennotte, a primeira mulher médica que conheceu.
Afirma que ela tinha uma grande clientela, e foi então que a menina Carlota,
que mais tarde se tornou médica, percebeu “que uma mulher podia exercer
a medicina com sucesso”.24
Em 1906, a encontramos trabalhando na Clínica Cirúrgica, da Enfermaria de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia25, ao lado de um dos mais
renomados médicos da época, o Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, onde ela
realizava algumas operações e aplicava clorofórmio quente, tema aliás de
seu trabalho, apresentado em 1910, para admissão como sócia titular da
Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo.26
Como se verifica, a médica, pouco a pouco, foi conquistando espaço profissional. Entre 1907 e 1917, participou de vários Congressos Médicos27, onde
apresentou trabalhos referentes à sua especialidade médica, como também
sobre dois outros temas ao quais se dedicou com afinco: a criação da escolas
de enfermeiras e melhor atendimento médico à população mais pobre.
Foi sobretudo através da Cruz Vermelha em São Paulo que a Dra.
Rennotte pôde desenvolver essas campanhas. A Cruz Vermelha Internacional foi fundada em 1863, em Genebra, na Suíça, a partir do empenho de
Henri Dunant, que participou da batalha de Solferino, na Itália, com o objetivo de providenciar socorro não partidário para feridos de guerra. Posteriormente ampliou-se o programa de atividade da sociedade, incluindo a
ajuda a vítimas de desastres e calamidades públicas (1907) e prisioneiros de
guerra (1929). Por volta de 1910, a Dra. Rennotte foi comissionada pela
Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo para fazer uma viagem à
Europa, no sentido de observar a Cruz Vermelha em alguns países e colher
informações para a organização de uma filial em São Paulo28. Visitou, entre
outros países, a França e a Alemanha de onde voltou muito entusiasmada
com o trabalho desenvolvido na guerra e na paz pela entidade, especialmente pelas mulheres, abraçando, a partir de então, a causa da fundação
em São Paulo.
A Cruz Vermelha foi fundada no Brasil em 1908 e reconhecida em março
de 1912. O órgão central funcionava no Rio de Janeiro, capital da República,
com filiais nos Estados29. A de São Paulo foi oficializada em 05 de outubro de
1912 e o jornal Correio Paulistano noticia a solenidade de inauguração como
sendo a realização do início do “sonho dourado” da Dra. Rennotte, que ten-
Havia dois tipos de
cursos, um de socorrista de
guerra e um de enfermeiras
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Em 1912, a Dra.
Rennotte lançou duas
outras campanhas. Uma
em favor da fundação da
casa do convalescente e a
outra a favor da criação de
um hospital de crianças
do lançado a idéia, contou com a colaboração das mais distintas senhoras do
nosso meio. Pela relação dos participantes, verifica-se que a Cruz Vermelha
recebeu apoio do governo do Estado e da elite paulistana e a Dra. Rennotte
assumiu o cargo de presidente efetiva da sociedade.
Uma das primeiras campanhas da médica foi a criação de um curso de
enfermeiras, idéia aliás que ela afirma que vinha defendendo desde a década de 1890 e que foi bem aceita pela classe médica e pela elite, mas que
parece ter acabado tomando um rumo diferente do previsto30.
A escola começou a funcionar em 1912, na Santa Casa de Misericórdia,
onde permaneceu por alguns anos, e teve um pequeno número de alunas.
Transferiu-se depois para a sede da sociedade, na rua Líbero Badaró, no
período que coincidiu com o início da I Guerra e, por isso, teve uma grande
procura. Em 1917, a Revista Feminina noticiou o compromisso de honra das
alunas ocorrido no mês de junho. Pelo artigo verifica-se que havia dois tipos
de cursos, um de socorrista de guerra e um de enfermeiras, que tinham
como professoras, a Dra. Rennotte e a Dra. Casemira Loureira31.
Depois do final da Grande Guerra, o curso entrou em um período de
refluxo e em 1919 não estava funcionando, conforme relatório elaborado
por uma comissão da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo32.
Filogonio Lisboa, num artigo sobre as enfermeiras no Maranhão, faz algumas observações sobre as dificuldades de funcionamento do curso naquele
estado, que levam a pensar se o grande número de alunas no início do curso
não teria sido motivado por um certo modismo, despertado pelas enfermeiras européias voluntárias da Cruz Vermelha que foram prestar socorros nos
campos de batalha. Diz o médico que, em 1918, um grupo de senhoritas da
sociedade, “num raid de resistência entre o então 48º batalhão de caçadores
e os tiros de guerra do Maranhão” juntou-se ao grupo uniformizadas e trazendo os símbolos da Cruz Vermelha, para prestarem serviços de enfermeira. Como não tinham preparo, pensou-se em fundar um curso, cuja prática
seria obtida na assistência aos flagelados. Porém, a associação teve vida curta
pois as enfermeiras, recrutadas num meio mundano, se recusaram a esse
trabalho. “Apareceram num dia da parada, uniformizadas nas brancas vestes da Cruz Vermelha e desapareceram no dia em que as feridas dos mendigos delas esperavam a ação benfazeja do Bom Samaritano”.33
No mesmo ano de 1912, a Dra. Rennotte lançou duas outras campanhas. Uma em favor da fundação da casa do convalescente e a outra a favor
da criação de um hospital de crianças, dada a alta taxa de mortalidade no
Estado e a precariedade de meios existentes para cuidar das crianças enfermas. A primeira campanha não foi adiante, pois pareceu impossível de ser
realizada pela classe médica. A partir de doações feitas por mulheres de
elite, ela pretendia abrir uma enfermaria fora da cidade destinada a receber
e a consolidar a cura de convalescentes pobres onde, além de condições
higiênicas ideais, os assistidos deveriam trabalhar.34
Já a idéia de criação do hospital de crianças recebeu apoio dos médicos
e políticos e acabou resultando na fundação do Hospital de Crianças de
Indianópolis, em São Paulo, que funcionou até a década de 1980. Segundo
Dra. Rennotte, o Estado de São Paulo tinha 176 mil crianças matriculadas.
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. AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo (1895-1915). São Paulo, Editora Saraiva, 1957. p. 482-3.
2
. Diploma do Cours Normaux, Societé pour l´Instruction Élémentaire (19/07/1874);
Brevet de Capacité pour l´enseigment –Institutrice II ordre (1875). No Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, além desses documentos encontram-se os seguintes: declaração atestando que trabalhou como professora
○
NOTAS
1
Revista do Cogeime nº 15 Dezembro / 99
Não foi possível
levantar, até o momento,
qualquer informação sobre
aspectos da vida íntima,
doméstica ou familiar de
Dra. Rennotte
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Se cada criança desse um tostão por mês seria possível não só construir, mas
manter o hospital. Em 1913, foi apresentado ao Legislativo paulista o projeto do Tostão Nacional, que foi arquivado. No entanto, Altino Arantes, Secretário dos Negócios do Interior, autorizou que fossem colocadas nas escolas caixas para a arrecadação. Levantou-se, então, 9.500$000 contos de réis,
soma que foi utilizada para o início das obras.35
Para terminar, gostaria de dizer que não foi possível levantar, até o momento, qualquer informação sobre aspectos da vida íntima, doméstica ou
familiar de Dra. Rennotte, somente sobre sua atuação na esfera pública,
através do trabalho como professora, como médica e organizadora da Cruz
Vermelha de São Paulo, o que de certa forma contradiz o discurso dominante da virada do século: que a realização das mulheres só se daria na
esfera privada, através dos papéis de mãe e esposa.
Essa contradição, porém, me parece ser apenas aparente. É sabido que a
benemerência na época era considerada um campo de atuação pública legítima para as mulheres e, para a Dra. Rennotte, era também entendida
como um dever cívico. Ou seja, através da benemerência ela não se afastou
das consideradas virtudes femininas, não fugiu do papel esperado das mulheres. Nem mesmo ao escolher a medicina como profissão, já que prestava
atendimento clínico às mulheres e acreditava na função transformadora dos
médicos.
A benemerência é um assunto pouco estudado pela historiografia brasileira36. Certamente o caráter paternalista, machista, conservador, militarista
e elitista de muitas das associações beneficentes dificultam uma empatia
imediata. A partir da análise da trajetória de Dra. Rennotte, no entanto, é
possível se levantar uma série de questões que apontam para a importância
de se trabalhar o tema37. Embora algumas realizações tenham sido efêmeras,
como o curso de enfermeira da Cruz Vermelha na década de 1910, quando
a adesão de parte das alunas certamente foi motivada pelo exemplo de socorro prestado pelas enfermeiras européias no decorrer da Primeira Grande Guerra, outras tiveram caráter permanente e vieram preencher uma lacuna na sociedade brasileira, como a Maternidade de São Paulo e o Hospital para Crianças de Indianópolis. Qual o significado para a sociedade brasileira dessa atividade desempenhada pelas mulheres num período em que
os serviços de saúde começavam a ser organizados pelo governo e era
reduzidíssimo o número de leitos nos hospitais? Qual o montante dos fundos levantado pelas mulheres para a criação e manutenção dessas obras sociais? Vale lembrar que o recenseamento de 1920 registrou para o Estado de
São Paulo um total de 815 associações (beneficentes e de mútuo socorro),
sendo que na Capital existiam 13138.
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entre 01/03/1872 e 01/03/1873 (em francês, sem local); carta de apresentação do Instituto de Educação Grossherzogliches de Mannheim (13/02/1880);
carta de apresentação escrita em português, assinatura ilegível (Ribeiro
Avellar?) datada 06/05/1881; correspondência recebida de Ana Werneck,
12/06/1885 (?); passaporte belga obtido no Rio de Janeiro (1885); diploma
do Women´s Medical College of Pennsylvania (1892); sócia titular da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1897 e 1910); diploma do Asilo e
Creche da Associação Feminina Beneficente de Instrução, dirigido por Anália
Franco (09/06/1905); diploma de sócia efetiva da Associação Médica Beneficente de São Paulo (01/03/1905); diploma de sócia da União Cooperativista
Familistaria Internacional (1912). O passaporte a descreve como tendo os
olhos cinzas, cabelo loiro, nariz reto e queixo e rosto redondos, 1m60 de altura e 23 anos, portanto, cerca de 10 anos a menos do que tinha na época.
3
.Carta de apresentação do Instituto de Educação Grossherzogliches de Mannheim.
4
.Carta de apresentação assinatura ilegível (de Ribeiro Avellar ?).
5
.«Se miss Martha era a fundadora, a administradora do Piracicabano, Mademoiselle
Rennotte era o seu pensamento». Ver: BARBANTI, Maria Lúcia Spedo Hilsdorf.
Escolas americanas de confissão protestante na Província de São Paulo: um estudo de
suas origens. Dissertação de Mestrado apresentado à Faculdade de Educação
da USP, 1977, p. 174. Ver também pp. 165,172,173.
6
.Ana Werneck, correspondência citada. Em 1881 o Almanaque Laemmert trouxe um
anúncio do Colégio Werneck (p. 653): «A diretora tendo completado seus
estudos na Europa, onde visitou diversos estabelecimentos de Educação, espera continuar recebendo a confiança dos senhores pais de família, que quiserem dar às suas filhas uma educação sólida e esmerada, baseada na moral e
na religião, atento sobretudo ao brilhante resultado obtido, no ano próximo
passado, perante as mesas examinadoras de Instrução Pública. Participa que
acaba de fazer grandes melhoramentos no prédio próprio em que funciona o
colégio acima, o qual está colocado no centro de uma vasta chácara arborizada,
na posição a mais salubre do Engenho Novo, e tem todos as comodidades
necessárias a um estabelecimento deste gênero. Recebe um número limitado
de alunas. N.B. As alunas do interior podem desembarcar diretamente na
Estação do Engenho Novo. A Diretora: D. Ana Isabel Lacerda de Werneck.».
7
.Artigos de Mlle. Rennotte publicados em A Família. A luta pela existência e a necessidade de associação para a luta, 04/05/1888; Mulher força ativa da sociedade,
20/04/1889 (este artigo foi publicado em A Mensageira (1)9:141-2,
15/02/1898);. A Mulher e a Liberdade, 25/05/1889. Escreveu também em Gazeta de Piracicaba defendendo a educação das mulheres.
8
.RENNOTTE, M. Influência da Educação da Mulher sobre a Medicina Social. Tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a fim de poder exercer a
profissão na República dos Estados Unidos do Brasil, 1895. Rio de Janeiro,
Tip. Aldina, 1895.
9
.Ver: Revista do Instituto Histórico Geográfico de São Paulo: v. 33, 1936, pp. 421-3 e 442;
v. 34, 1937, pp. 768; v. 35, 1938, pp. 277, 358 e 383, 138; v. 38, 1940, pp. 284,
383; v. 43, 1943, pp. 382, 365.
10
.Foi enterrada no Cemitério Protestante, na Rua Sergipe, em São Paulo. Estado de
São Paulo, 22/11/1942.
11
.BÉRRIOT-SALVADORE, Évelyne. La femme soignante à la Renaissance: de la profession
médicale à la vocation charitable. Penelope, n.5; 24, automne 1981.
11
.As informações sobre as mulheres e o ensino médico nos Estados Unidos foram
obtidas no livro MARKS, G. & BEATTY, W.K. Women in white. Their role as doctors
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through the ages. New York, Charles Schribner´s Sons, 1972; BLAKE, John B.
Women and medicine in ante-bellun América. Bulletin of the History of Medicine. (39)2,
mar./abr. 1965; KAUFMAN, Martin. The admission of women to nineteenth-century
American Medical Societies. Bulletin of History of Medicine (50):251-260, 1976.
13
.Sobre o FMCP ver os textos acima citados e os trabalhos de: ALSOP, Gulielma Fell.
History of the Women´s Medical College of Pennsylvania (1850-1950). Philadelphia,
J.B. Lippincott Company, 1950; MARSHALL, Clara. The Women´s Medical College
of Pennsylvania. An Historical Outline. Phil. P. Blakiston, 1897.
14
.Entre 1850 e 1895 foram criadas 19 nos Estados Unidos. In: MARKS, G. & BEATTY,
W.K. Obra citada, p. 109.
15
.BLAKE, John B. Artigo citado, p.112.
16
.Ver relação dos trabalhos no anexo incluído no livro de: MARSHALL, Clara, obra
citada.
17
.SCHPUN, Mônica. Carlota Pereira de Queiroz: uma mulher na política. Revista Brasileira
de História. (17)33:167-201, 1997.
18
.HAHNER, June E. Educação e ideologia: profissionais liberais na América Latina no
século XIX. Estudos Feministas (2)4: 57, 1994.
19
.RENNOTTE, M. Influência da Educação da Mulher sobre a Medicina Social. p. 10.
20
.Ver: SILVA, Alberto. A primeira médica no Brasil. Rio de Janeiro, Pongetti, 1954.
p.135-8; SAFFIOTTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade.
Petrópolis, Vozes, 1979, p.203; e FRANCO, Talita. Doutora Judith, a primeira
mulher médica formada no Rio de Janeiro. Anais da Academia de Medicina (154)1:42,
1994. Carlota Pereira de Queiroz, que seguiu o curso na década de 20, viu ser
colocado na sua bolsa um pênis retirado de um cadáver na aula de anatomia
por um dos seus colegas (depoimento de Dona Malvina de Oliveira Ramos
Netto, professora aposentada da Escola de Enfermagem da USP).
21
.A mulher e a medicina. A Família, 02/03/1889 e 09/03/1889.
22
.Livros de registro de entrada das parturientes (pesquisados o n. 1 e o n. 2, referentes ao período de 1894-1899). Arquivo da Maternidade de São Paulo.
23
.Atas da Diretoria. Maternidade de São Paulo, n.1 (1894-1899).
24
.HELLSTEDT, L.M. Women Physicians of the World. New York McGraw Hill, 1978,
p.85, citado por: BERNARDES, Maria Thereza Caiuby Crescente. Mulheres de
ontem? São Paulo, T.A. Queiroz, 1989, p.135-6. Em 1914 a Dra. Maria Rennotte
possuía os seguintes imóveis: Rua Santo Antonio, 99 e 101 e Rua Conselheiro
Ramalho, 203 (Diário Oficial, 19/11/1914, p.4.507), o que leva a crer que tenha tido uma grande clientela.
25
.Registro da Clínica Cirúrgica da Enfermaria de Mulheres (1905-1909). Museu da
Santa Casa de Misericórdia.
26
.RENNOTTE, M. Do emprego do clorofórmio seco. Arquivo da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1)1:27-31, jun.1910. Desde 1896 participava das reuniões da
Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Seu nome aparece na relação
dos sócios efetivos em 1898. Boletim da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São
Paulo (3)32:32, fev.1898. Seu nome não está entre os sócios no ano de 1914.
Anais da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, 3-5, mar./maio 1914.
27
.Apresentou no VI Congresso Médico Brasileiro, realizado em São Paulo, em 1907,
o trabalho “Laceração do períneo e a utilidade, ou antes, a necessidade de sua imediata reparação”. MAIA, Jorge Andrade. Índice Catálogo Médico Paulista (1860-1936).
São Paulo, Revista dos Tribunais, 1938, p. 507; em 1912 participou do Congresso realizado em Belo Horizonte onde “patrocinou a fundação da Cruz
Vermelha” (Arquivo de Medicina e Cirurgia de São Paulo(3)1-2:14, jan./fev. 1912);
e no 1º Congresso Paulista, em 1916, onde apresentou o trabalho “Os estabele-
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cimentos de Beneficência com a Medicina Social” (Anais do Primeiro Congresso Médico
Paulista. São Paulo, Seção de Obras d´O Estado de São Paulo, 1917. 3 v., p.
211-216).
28
.RENOTTE, M. Relatório da Dra. Rennotte sobre a “Cruz Vermelha”. Arquivo da Sociedade
de Medicina e Cirurgia de São Paulo (2), 7: 237-251, jun.1911; ———. A Cruz
Vermelha. Arquivo da Sociedade de Medicina e Cirurgia (3) 3-8: 111-2, mar./ago.
1912; ———.A Cruz Vermelha. Socorros Públicos. São Paulo, Tip. do Diário Oficial, 1912.
29
.CRUZ VERMELHA. Histórico da Cruz Vermelha Brasileira. 1908-1923. Primeira Conferência pan-americana da Cruz Vermelha. Rio de Janeiro, s. c. p., 1923.
30
.Em sua tese, Dra. Rennotte afirma que em 1893 ela alertou, através da imprensa,
da necessidade de se criar escolas de enfermeiras. No ano de 1896 ela integrou uma comissão da Sociedade de Medicina de São Paulo sobre o mesmo
tema. Boletim da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (2)17:32, nov.1896.
31
.Cruz Vermelha Brasileira. Revista Feminina (4)38, junho 1917
32
.Boletim de Medicina e Cirurgia de São Paulo, 2 (6):121-124, ago. 1919; Arquivo de Medicina e Cirurgia de São Paulo, 3 (1 e 2) :14, jan./fev. 1912.
33
.LISBOA, Filogonio. Organização do Serviço de Enfermeiras no Maranhão. Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Higiene. Rio de Janeiro, 1923, p. 144.
34
.Revista Médica de São Paulo (15)11:225, 15/06/1912.
35
.CRUZ VERMELHA. Histórico da Cruz Vermelha Brasileira. 1908-1923. Obra citada, p.
309-312.
36
.Ver os trabalhos de: BESSE, Susan K. Modernizando a desigualdade. Restruturação da
ideologia de gênero no Brasil (1914-1940). São Paulo, Edusp, 1999; LEITE, Miriam
Moreira. Outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura. São Paulo, Ática,
1984; HANER, E. June. A mulher brasileira e suas lutas políticas e sociais 18501937. São Paulo, Brasiliense, 1981; SCHPUN, Mônica. Paulistanos & Paulistanas.
Rapports de genre à São Paulo. Thèse de Doctorat en Histoire. UFR Geographie,
Histoire et Sciences de la Societé. Université Paris VII, 1994.
37
.Ver, por exemplo, o trabalho de: LINDENMEYR, Adele. Public Life, private virtues:
womem in Russian Charity. Signs: Journal of Women in Culture and Society (18)31:562591, spring 1993.
38
.Recenseamento de 1920. Anuário Estatístico do Estado de São Paulo. São Paulo, Repartição de Estatística e Arquivo do Estado de São Paulo. 1921, p.380-410.