O crescimento do espaço urbano - Anais Programa Ciência na Escola
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O crescimento do espaço urbano - Anais Programa Ciência na Escola
ANAIS PCE 2015 CIÊNCIAS HUMANAS O crescimento do espaço urbano: um estudo a partir dos loteamentos irregulares Eduardo Braga I e II, no município de Itacoatiara – AM Eliaquim Gomes do NASCIMENTO1*, Elisângela Socorro Batista MONTEIRO2, Emily Lemos de SOUZA3, Eva Christina Teixeira SOARES3, Isis Inarai Nogueira ARAÚJO3 Jennifer Martins CORREIA3, Lucas de Lucena GUEDES3 1 Professor Jovem Cientista, Escola Estadual Maria Ivone de Araújo Leite, Itacoatiara, AM, Brasil 2 Apoio Técnico, Escola Estadual Maria Ivone de Araújo Leite, Itacoatiara, AM, Brasil 3 Iniciação Científica Júnior, Escola Estadual Maria Ivone de Araújo Leite, Itacoatiara, AM, Brasil *E-mail: [email protected]* RESUMO O presente estudo evidencia um importante passo na construção e solidificação do conhecimento científico no município de Itacoatiara – AM, através dos loteamentos irregulares. Como premissa, a pesquisa iniciou-se com o intuito de identificar os principais fatores que levaram à gênese, expansão e periferização da área, baseados nos loteamentos não legalizados Eduardo Braga I e II, localizados na zona leste. Foram feitos, em princípio, levantamentos e revisões bibliográficas de acordo com a proposta metodológica adotada. O método utilizado para a execução do estudo foi o dedutivo, acompanhado de algumas técnicas de pesquisa como: levantamentos de dados primários e secundários em órgãos e instituições ligados à temática; registros fotográficos no início e término da pesquisa, bem como entrevistas aos moradores dos bairros supracitados. Através da pesquisa, foi realizado um diagnóstico dos loteamentos, onde foi possível detectar algumas dificuldades enfrentadas pelos munícipes, destes recortes de conceituação, como a falta de infraestrutura dos bairros, a ausência de serviços públicos e, sem deixar de citar, a má qualidade da água que lhes é oferecida. Diante do exposto, os loteamentos irregulares Eduardo Braga I e II são o resultado da relação que o homem mantém com a natureza. É através desta relação que, progressivamente, o espaço natural cede lugar ao urbano; onde, as áreas de antigos pastos se tornam parte da cidade, contribuindo assim para o crescimento urbano contemporâneo de Itacoatiara. PALAVRAS-CHAVE: transformação, expansão, campo, cidade The urban space enlargement: a study based on the undocumented suburban settlements Eduardo Braga I and II, in the county of Itacoatiara – AM ABSTRACT This study indicates an important step in the construction and consolidation of scientific knowledge in Itacoatiara- AM, through its subdivisions. As a premise, the research began by identifying the main factors leading to the genesis, expansion and movement toward the outskirts, as based on the undocumented suburban settlements, Eduardo Braga I and II located in the eastern part of the municipal seat. First, we made bibliographic surveys and reviews in accordance with the adopted, methodological approach. The method used for the implementation of the study was the deductive one, accompanied by some research techniques, such as primary and secondary data from surveys from official agencies and institutions linked to the theme; photographic records depicting the beginning and end of the study, as well as the interviews with residents of the aforementioned districts. Through research, we conducted a diagnosis of these undocumented settlements, where it was possible to detect some difficulties faced by their residents, such as the lack of infrastructure, the lack of public services and, the poor quality of water offered to them. Given the above, the undocumented suburban settlements Eduardo Braga I and II are the result from Man-Nature relationship, which, in turn, makes countryside become city; where old grazing areas turn into city blocks, thus contributing to the contemporary urban growth found in Itacoatiara. KEYWORDS: transformation, expansion, field, city ISSN: 2317-1804 / VOL. 3 (1) 2015: 105-110. NASCIMENTO et al. 105 ANAIS PCE 2015 CIÊNCIAS HUMANAS INTRODUÇÃO Os bairros Eduardo Braga I e II são uns dos recentes loteamentos irregulares localizados na zona leste da cidade de Itacoatiara - AM. São áreas de expansão urbana que, predominantemente, caracterizam-se pela ocupação irregular de lotes. O presente estudo se iniciou com o interesse de averiguar os principais fatores que contribuíram para a formação dos novos bairros (Eduardo Braga I e II), enfatizando a análise dos principais agentes formadores do espaço que colaboraram para a expansão urbana contemporânea de Itacoatiara. Diante de tal panorama, cumpriu-se um cronograma metodológico adotado para se alcançar o objetivo geral deste trabalho, que foi diagnosticar os principais motivos que contribuíram para o processo de transformação da área rural em área urbana na formação de novos bairros, criado a partir de dois loteamentos não legalizados. Com isso, dentro do objetivo geral, desdobraram-se os específicos para melhor abarcar os resultados que se pretendiam alcançar, ou seja, foram identificados as melhorias urbanísticas e os problemas sociais que, esse espaço possui como patamar de bairro residencial e, verificou-se a presença de um possível impacto ambiental causado pela metamorfose da área rural em área urbana. Prossegue-se, portanto, com ideia de que os loteamentos irregulares supracitados são elementos definidores para a expansão e reprodução do espaço urbano do município de Itacoatiara, evidenciando seus agentes, expansão e periferização da área, onde o rural cede lugar ao urbano. Para que pudessem alcançar os objetivos aqui propostos, aplicou-se na pesquisa de campo o método Dedutivo e algumas técnicas adotadas que foram essenciais para a concretização do presente artigo, como: Levantamento de bibliografias; revisão bibliográfica; levantamento de dados secundários em órgãos e instituições ligadas à temática; levantamento de dados primários que elas abarcaram: observação direta no bairro em estudo, registros fotográficos no início e término da pesquisa; entrevistas com os moradores dos loteamentos; busca de trabalhos publicados referentes ao tema estudado; e, por fim, elaboração do relatório final. MATERIAL E MÉTODOS Antes de darmos início à presente pesquisa, foi realizada, no primeiro mês de vigência do projeto, uma mini reunião com os alunos bolsistas, apoio técnico, coordenador e equipe gestora da escola, onde foi feita a apresentação do trabalho e sua importância para o campo da ciência. Além disso, ficou evidenciado que o comprometimento e a parceria entre os membros da equipe seriam cruciais para o seu. Os alunos selecionados 106 ISSN: 2317-1804 / VOL. 3 (1) 2015: 105-110. NASCIMENTO et al. para compor a equipe da presente pesquisa foram alunos do 9° ano da Escola Estadual Maria Ivone de Araújo Leite. Foram feitos levantamentos e revisão bibliográfica (com o auxílio de artigos científicos, vídeos e documentários ligados ao tema da proposta, literaturas) durante todo o período de execução do projeto. Pois, acredita-se que o conhecimento teórico é indispensável para se conhecer o concreto através da prática. Martins (2008), considera como dados secundários os já coletados e organizados em arquivos, podendo ser indicados, como exemplos, o anuário estatístico e bancos de dados, e esclarece que “em contraste, os dados primários são aqueles colhidos diretamente na fonte”, podendo, nesse sentido, os dados encontrados nesta pesquisa serem caracterizados essencialmente como “dados primários”. Fomos 3 (três) vezes a campo. E, em nossas visitações aos alvos de estudo, utilizamos o GPS como equipamento tecnológico para nos auxiliar no desenvolvimento da nossa pesquisa. A primeira ida prática foi no primeiro mês de vigência do trabalho, tendo como finalidade conhecer as áreas de estudos (Eduardo Braga I e II). Já as duas últimas visitações in lócus foram para aplicação dos questionários aos moradores dos loteamentos. Foram aplicados, no total, 26 questionários com perguntas abertas e fechadas aos munícipes dos bairros para diagnosticarmos suas realidades e atingirmos nossos objetivos. Houve algumas tabulações de dados referentes às informações prestadas pelos entrevistados. Por exemplo, utilizamos tabulações para diagnosticarmos o percentual de quantos se consideram ou não, donos de seus respectivos lotes; ou, quantos por cento dos moradores saberiam explicar o termo: “Loteamentos Irregulares”. Aproveitando o ensejo, foram realizados os registros fotográficos tanto no início como no término da pesquisa, bem como foi utilizado um programa especifico de mapeamento (Google Earth) para a exata localização de ambos os loteamentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO CRESCIMENTO POPULACIONAL X LOTEAMENTOS REGULARES E IRREGULARES O processo de urbanização na Amazônia teve um crescimento considerável a partir do século XX, vindo posteriormente caracterizar-se em um alto grau de urbanização na região. Segundo Picoli (2006), “a taxa de urbanização da região elevou-se de 26% para 41% entre as décadas de 1950 e 1970”. Uma década mais tarde, este crescimento urbano continuou muito significativo na região conhecida como vazio demográfico, onde a sua massa populacional urbana passou de 37,7% para 51,8% da população total, e isso sem considerar os núcleos pioneiros não computados como urbanos nas ANAIS PCE 2015 CIÊNCIAS HUMANAS estatísticas (BECKER, 1996). Diante dessa dinamicidade populacional, pode-se dizer que a Amazônia, hoje, é uma região urbanizada. Assim, Itacoatiara é influenciada pelo processo constante de reprodução e expansão do espaço urbano. Essa realidade de crescimento populacional é cada vez mais comum nas grandes metrópoles, nas capitais estaduais e nas sedes regionais e/ou municipais, fazendo com que haja a necessidade da expansão urbana, com o intuito de abrigar esse número de pessoas que vem crescendo nas estatísticas. Vale ressaltar que, o crescimento populacional do município de Itacoatiara, impulsiona a expansão urbana do território tacoatiarense. A paisagem do rural será cada vez mais modificada devido às gêneses dos loteamentos regulares e irregulares que vêm crescendo constantemente no cenário municipal da cidade. Regulares, porque têm todo um aparato legal estipulado por leis, com destaque parae o Plano Diretor Municipal. Já os loteamentos irregulares, diferentemente dos regulares, caracterizam-se, principalmente, pela forma de ocupação. Para Costa (2003), A situação da ilegalidade não é necessariamente um atributo de classe social, nem se restringe aos pobres, porém certamente os atinge de forma muito mais perversa, pois, numa sociedade regida pela lógica da mercadoria e caracterizada pela extrema desigualdade e assimetria de poder nas relações sociais, a legalidade transforma-se de direito em mercadoria, de valor de uso em valor de troca, de norma geral em privilégio, tornando-se necessariamente elitista e excludente. Assim, acreditamos poder considerar, que a dualidade entre os loteamentos regulares/legais e os irregulares/ não legais, não necessariamente é um atributo reflexo de uma determinada classe social, mas sim da legalidade e dinamicidade que transforma-se em mercadoria, onde, ao invés de valor de uso, temos o valor de troca. Sendo assim, há uma constante busca pela promoção da cidade como um bem a ser comercializado e consumido. Observa-se que esta realidade está bem presente na expansão urbana contemporânea de Parintins, onde muitos especuladores imobiliários aproveitam-se da compra de terrenos baratos para que, posteriormente, possam vendêlos por um valor mais alto e, consequentemente, obtendo um lucro maior. Nesse contexto, de maneira semelhante, Silveira (2003) apud Carlos (1993) afirma que, A difusão do mundo da mercadoria, enquanto condição de reprodução, passa pela desagregação do modo de vida tradicional e pela construção de um novo, no qual as relações passam a ser mediatizadas pela mercadoria e pelo mercado. Nesse sentido, as formas de dominação se estabelecem em todos os níveis da vida, englobando os conjuntos das relações sociais. Isto pode ser visto nitidamente no argumento de Corrêa (2005) quando coloca que, Os proprietários de terras atuam no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas propriedades, interessandose em que estas tenham o uso mais remunerador possível, especialmente uso comercial ou residencial de status. Estão particularmente interessados na conversão da terra rural em terra urbana, ou seja, tem interesse na expansão do espaço da cidade na medida em que a terra urbana é mais valorizada que a rural. Isto significa que estão fundamentalmente interessados no valor de troca da terra e não no seu valor de uso. Com isso, pode-se dizer que o espaço urbano de Itacoatiara está sempre em dinamicidade. O rural vai cedendo lugar ao urbano à medida em que o capital se incremente e se prolifere para as mais diversas áreas da cidade, devido ao déficit de terrenos dentro dela própria. LOTEAMENTO: ORIGEM DO TERMO E SUA PRINCIPAL CARACTERÍSTICA Sabe-se que o loteamento é o pré-requisito para o crescimento urbano de uma determinada cidade, independentemente de sua legalização ou não. Essa dicotomia de loteamentos regulares e irregulares cria e configura as paisagens sócio espaciais de áreas que vêm crescendo progressivamente em Itacoatiara. Segundo Pasquale (2009), de acordo com a reforma ortográfica, loteamento é o ato ou efeito de lotear, ou seja, dividir em lotes. Lote, por sua vez, “é cada uma das partes medidas e separadas, numa mesma área de terra, pelo processo de loteamento, que constituem uma unidade imobiliária autônoma”. Diante do esclarecimento acima, vale evocar que a expansão de uma determinada área urbana é modelada conforme as normas do Plano Diretor Municipal, obedecendo as suas diretrizes que, muitas das vezes, se tornam flexíveis principalmente quando se tem o espaço como mercadoria. Para a configuração e ordenamento territorial de uma determinada área em expansão, são necessários a presença e o cumprimento das diretrizes que norteiam o Planejamento Físico Territorial Urbano. Segundo Souza (2008), uma das principais premissas ligadas ao Planejamento Físico Territorial, no que diz respeito à sua ideia-força central, está na modernização da cidade (outras ideias-forças, menos sintéticas, mas também fundamentais, são a de ordem e a de racionalidade). Assim, necessário faz considerar que existem alguns instrumentos (urbanismo, zoneamento de uso e ocupação do solo, os vários tipos de índices ou parâmetros que regulam a densidade e a forma da ocupação do espaço) que vinculam-se, muito fortemente, à dimensão física do Planejamento Urbano (SOUZA, 2008). A divisão das cidades em lotes foi algo que se deu ISSN: 2317-1804 / VOL. 3 (1) 2015: 105-110. NASCIMENTO et al. 107 ANAIS PCE 2015 CIÊNCIAS HUMANAS a partir da Lei de Terras, logo, percebe-se que foi uma atitude necessária para a transformação do solo urbano em mercadoria, bem como sua forma de ocupação irregular. Em virtude dessas considerações a respeito do loteamento, ratifica-se que a zona urbana do município de Itacoatiara, assim como de outras cidades brasileiras, expande-se cada vez mais com o planejamento e transformação da área rural para urbana ligados, principalmente, pelo déficit habitacional e o crescimento da população. Entende-se por déficit habitacional a defasagem entre crescimento populacional e ofertas de moradias. DIAGNÓSTICO DOS BAIRROS EDUARDO BRAGA I E II, BASEADO EM SEUS MORADORES. Os bairros Eduardo Braga I e II, edificados no ano de 2004 por um grupo de pessoas que não tinham onde morar, configuram a paisagem do município de Itacoatiara. Segundo seus moradores, apesar da sua irregularidade, os bairros servem para abrigar pessoas que, outrora, não tinham onde residir. Por ser um território não legalizado, muitas pessoas habitam lugares não propícios à permanência do homem, por se caracterizarem como áreas impactadas por fenômenos naturais (cheias) - (Figura 02). Em detrimento a isto, sabe-se que todo ser o humano tem direito a uma moradia e uma vida de qualidade, porém, muitos cidadãos não têm uma residência fixa, ou vivem em situações precárias, como nos mostra a figura acima. Vale ressaltar, portanto, que um dos fatores preponderantes que impulsionou a ocupação de forma irregular nos referidos bairros foi a falta de condições financeiras dos moradores. Pois, eles não tinham o suficiente para poderem adquirir um terreno em outros locais da cidade, pelo fato do seu valor não caber dentro suas rendas mensais. Foi detectado que, dentre os 26 entrevistados, 16 (dezesseis) nos apontaram que recebem até 1 (um) salário mínimo; 8 (oito) entre 1 e 2 (dois) salários mínimos; e 2 (dois) não responderam. Logo, com a falta de condições financeiras, a população, para ter um lugar onde morar, resolveu invadir terras para construir suas moradias de forma não legalizada. A maior parte dos entrevistados relatou que ganha abaixo de 1 (um) salário mínimo, pois, na maioria das vezes, em uma residência habitada por 6 (seis) pessoas, por exemplo, apenas 1 (uma) trabalha. E, como se não bastasse, uma grande parcela delas trabalha de forma temporária. No decorrer da presente pesquisa, fazíamos uma pergunta de cunho aberto para conhecer a concepção dos residentes acerca de “loteamentos irregulares”. Algumas pessoas souberam muito bem expor sua ideia a partir do questionamento levantado, outros, nunca ouviram falar deste termo (Gráfico 01). Após explicarmos às pessoas o que de fato seria um loteamento irregular, fixemos, automaticamente, uma outra pergunta de cunho fechado. A pergunta foi: se os 108 ISSN: 2317-1804 / VOL. 3 (1) 2015: 105-110. NASCIMENTO et al. mesmos se consideravam donos dos lotes nos quais estavam morando (Gráfico 02). Como se percebe no gráfico acima, a maior parte dos entrevistados respondeu-nos que sim, que é dona dos lotes onde mora. Uns, inclusive, falaram que são donos por que já constituíram uma família. 38% que responderam que não são donos, estão cientes de que, as terras, de fato e de direito, pertencem a alguém, e que eles mesmos são donos apenas dos bens construídos em cima de cada lote (casa), mas que, na verdade, o “chão” não é de nenhum morador do bairro, até porque ninguém possui “título definitivo” das terras, apenas alguns munícipes possuem meros documentos de compra e venda. O fato é que, além dos bairros não serem legalizados, os mesmos apresentam problemas sociais seríssimos, sem falar na sua falta de infraestrutura física. Aproveitando o ensejo, vale destacar que os bairros não possuem escolas, posto de saúde, área de lazer para a população, nada, absolutamente nada, apesar dos loteamentos terem áreas reservadas para estes fins. Segundo os moradores, os bairros quase que não têm fornecimentos de serviços públicos, exceto da coleta de lixo que é realizada 3 (três) vezes na semana, e da presença (quase ausência) do programa de segurança “ronda nos bairros” o que é insuficiente para inibir certos elementos que tiram o sossego da população com assaltos ou cobranças de pedágio a partir das 20 ou 21h da noite. Um dos principais problemas enfrentados pelos moradores do bairro Eduardo Braga I, é a oferta da má qualidade da água. Quando a eletricidade “vai embora”, vai também a água. E, quando volta, vem suja, cheia de barro e com um tom amarelado (da cor da água do Rio Amazonas – comparação dos próprios moradores). E, para piorar, quando a população se sente impactada com os danos advindos da água ou da falta falta de saneamento básico, os residentes têm a se deslocar para um outro bairro em busca de consulta ou atendimento médico, enfrentando, muitas vezes, a criminalidade que imperam nesses recortes. Já no bairro Eduardo Braga II, a água vai embora pela manhã (por volta das 07h00min, no máximo) e só retorna a partir das 22h00min. Um outro problema detectado em ambos os bairros é a precariedade na pavimentação de algumas ruas. Em outras, nem pavimentação há. Existem alguns trechos de ruas nos bairros que são aterrados por empresários locais. Em consequência dessas novas camadas de terras, houve um impacto socioambiental na área e suas adjacências (Figura 03). Com o aterro da principal via de acesso ao bairro Eduardo Braga II, por exemplo, a água do igarapé não tem por onde escorrer. Logo, fica concentrada no quintal dos moradores junto a diversos lixos domésticos, trazendo malefícios à saúde da população dessa área. ANAIS PCE 2015 CIÊNCIAS HUMANAS Eduardo Braga II Eduardo Braga I Figura 1. Município de Itacoatiara. Fonte: Google Earth/2014. Figura 2. Casas do Eduardo Braga I invadidas pelas águas dos igarapés em época de cheia. Figura 3. Residências impactadas devido ao aterro na principal rua do Eduardo Braga II. Foto: Eliaquim Nascimento. Fonte: Prática de campo/Junho de 2014. Foto: Eliaquim Nascimento. Fonte: Prática de campo/Outubro de 2014. ISSN: 2317-1804 / VOL. 3 (1) 2015: 105-110. NASCIMENTO et al. 109 ANAIS PCE 2015 CIÊNCIAS HUMANAS CONCLUSÃO REFERÊNCIAS Mediante as considerações feitas no decorrer do presente trabalho, percebe-se que os loteamentos irregulares Eduardo Braga I e II (recente área de expansão urbana do município de Itacoatiara, criada no ano de 2004), contribuíram e, de certa forma, contribuem para a configuração territorial paisagística do município. Pois, é uma área resultante e reflexa das relações das classes sociais que as mesmas mantêm entre si. Sua criação, portanto, se deu por vários motivos, dentre eles, pelo fato da maioria da população não ter um terreno na cidade. Além disso, foram identificados impactos ambientais nestes recortes de conceituação, por motivo das áreas verdes, darem lugar a novas moradias. Com isso, além de derrubadas das árvores centenárias (castanheiras), houve também um razoável aumento da temperatura. Vale evocar que, apesar de todos os problemas enfrentados nos bairros Eduardo Braga I e II, 73% da população sente-se bem morando nesses lugares. Em derradeiro, pode-se ratificar que diante dessa metamorfose do espaço, o rural cede lugar ao urbano, as áreas de antigos pastos passam a ser cidade. E, como consequência, haverá sempre uma nova relação social. Becker, B. K. 1996. Amazônia. 6ª Ed. Ática, São Paulo, SP. 168 p. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, pelo apoio financeiro e, sobretudo, pelos suportes dispensados para a realização desta pesquisa. Ao Programa Ciência na Escola – PCE, pelas oficinas de orientação pedagógica oferecida nas fases deste trabalho. À SEDUC/AM, por acreditar no nosso potencial para capacitar pesquisadores. À minha equipe de trabalho (alunos bolsistas e apoio técnico) pelo esforço liberado na realização deste projeto. Aos moradores dos bairros Eduardo Braga I e II, pelas informações prestadas. À professora Jannes Mary Muniz Rabelo, pela sensatez no acompanhamento de cada fase desta obra científica. A todos, o meu muito obrigado! 110 ISSN: 2317-1804 / VOL. 3 (1) 2015: 105-110. NASCIMENTO et al. Carlos, A.F.A.1994. Espaço e Indústria. 6ª Ed. Contexto, São Paulo, SP. 70 p. Corrêa, R.L. 2005. O espaço urbano. 4ª Ed. Ática, São Paulo, SP. Costa, H.S.M. 2003. Gestão urbana e controle social: a trajetória recente e alguns desdobramentos do Orçamento Participativo de Belo Horizonte. In:Gonçalves, M.F.; Brandão, C.A.; Galvão, A.C.Regiões e cidades, cidades nas regiões: o desafio urbano-regional. Unesp/Ampur, São Paulo. Pasquale, C.N. 2009. Dicionário de Língua Portuguesa. Gold Editora, Barueri, São Paulo. Lefebvre, H. 2001. O direito à cidade. Centauro, São Paulo. Nascimento, E.G.D. 2011. Loteamento recente em Parintins/AM (Pascoal Alágio): uma breve consideração e um diagnóstico de suas principais características. Trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade do Estado do Amazonas – UEA, Parintins, Amazonas. Picoli, F. 2006. O capital e a devastação da Amazônia. 1ª Ed. Expressão Popular, São Paulo, SP. 255 p. Silveira, R.L.L.D. 2003. Cidade, corporação e periferia urbana: acumulação de capital e segregação espacial na (re)produção do espaço urbano. Edunisc, Santa Cruz do Sul. 242 p. Souza, M.L.D. 2008. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbana. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, RJ. Recebido em 01.12.2014 Aceito em 08.04.2015