O antidopping do leite

Transcrição

O antidopping do leite
PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DA BRF | ANO 4 | NÚMERO 44
janeiro/fevereiro - 2012
Saiba o melhor
momento de
fazer a ensilagem
[ pág. 5 [
Não perca
dinheiro no
vazio outonal
[ pág. 10[
O antidopping do leite
Adição de água e níveis altos de acidez
podem prejudicar sua produção
[ págs. 6 e 7 [
A publicação do Clube do Produtor de Leite
está de cara nova. Em 2012, estamos com
mais páginas: de 12, passamos para 16.
Com isso, teremos mais espaço para trazer
informações para melhorar sua produção
de leite. Além disso, a publicação está mais
moderna, com tons terrosos e cores ligadas
ao campo e à terra.
E 2012 também começa com novidades
para os produtores do Brasil. No dia 1º de
janeiro entrou em vigor a Instrução Normativa 62 (IN 62), que altera a IN 51 e prevê
novos parâmetros para a qualidade do leite.
Com a atualização, os índices de CBT e CCS,
que podiam chegar a 750 mil/ml, passam
a ter como limite máximo 600 mil/ml. Os
produtores das regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste já cumprem a nova determinação. Os do Norte e Nordeste do país
cumprem a partir de janeiro de 2013.
Na matéria de capa do jornal, você confere
como o leite adulterado prejudica sua produção e como é feito o teste do alizarol. Ele
mede a estabilidade térmica do leite e indica
se ele poderá ou não ser aquecido para pasteurização na indústria.
Boa leitura!
Brasil Foods
Jornal Clube do Produtor é uma publicação bimestral
da Brasil Foods.
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Jornalista Responsável: Camila Lustosa (RP 10574)
Redação: Andrea Lopes, Bruno Cardoso, Daiana Araújo
e Jacqueline de Oliveira
Editoração: Paola Gandolfo
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Fotos: Glauco Cavalheiro e Tânia Meinerz
Tiragem: 10 mil exemplares
Dúvidas ou sugestões, escreva para o Clube do Produtor de
Leite, pelo e-mail [email protected] ou
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- Porto Alegre - RS - CEP 90200-290 - Departamento de
Originação de Leite.
BRF participa de ação sustentável
A BRF é uma das empresas que participam do programa Boas Práticas na Fazenda –
Produção de Leite Sustentável, que incentiva métodos para acelerar a melhoria da
qualidade e segurança da matéria-prima. A iniciativa tem o apoio do Polo do Leite,
ligado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais. Fazem
parte do programa as empresas DPA (Nestlé/Fonterra), Itambé, Embaré e LBR.
O programa Boas Práticas na Fazenda auxilia as propriedades leiteiras no controle
de drogas veterinárias, plano sanitário e tratamento de efluentes, higienização dos
utensílios, registro de entrada e saída de animais, conforto animal e adequação da
fazenda à legislação ambiental e trabalhista.
Mudanças na IN 51
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento alterou a Instrução Normativa 51
(IN 51) que começou a valer no dia 1º de janeiro de 2012 e prevê novos parâmetros para
Contagem Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células Somáticas (CCS).
A Instrução Normativa nº 62 incrementa o texto original, complementando o controle
sanitário de brucelose e tuberculose. Também torna obrigatória a realização de análise para
pesquisa de resíduos de inibidores e antibióticos no leite.
O Ministério atendeu ao pedido de produtores que não conseguiram cumprir o prazo para
redução dos limites previstos na proposta do Plano Nacional de Melhoria da Qualidade do
Leite. A edição da norma reduz gradativamente os prazos e limites para a redução de CBT e
CCS até o ano de 2016, chegando a 100 mil/ml e 400 mil/ml, respectivamente.
Tradição, simplicidade e
modernidade: a receita do
Sítio São Jorge
Tradicionalmente, o estado do Paraná é um legítimo produtor de leite, título herdado da população europeia e consolidado pela estrutura fundiária, em que a prevalência de pequenas
propriedades é marcante. Na localidade de São Bahz,
interior de Ipiranga, no Paraná, uma dessas propriedades se destaca: o Sítio São Jorge, do seu Roque,
figura de referência na região quando o assunto é
produção leiteira. Roque Jorge Bahrt, 53 anos, há
sete dedica-se à atividade. “Até temos um pouco
de lavoura, mas aqui o negócio é mesmo o gado
leiteiro”, resume.
O SÍTIO SÃO JORGE
Área Total da Propriedade:
40 hectares
Área utilizada
para o leite: 12 hectares
Início do trabalho: julho/2010
Produção antes do Balde Cheio:
150 litros/dia
Produção média
(2010-2011): 372 litros/dia
Produção Atual: 480 litros/dia
dade, com acompanhamento dos resultados
econômicos e zootécnicos. Hoje ele tem um
custo de produção de R$ 0,42 por litro de leite
e uma produtividade de 1.300 litros por hectare. Antes do projeto, utilizava praticamente os
40 hectares do sítio e hoje destina ao projeto
12 hectares, dos quais apenas cinco estão sendo utilizados, e com sobra de alimentos. “Corrigi o solo, passei a produzir novas variedades
de pastagem e a trabalhar com irrigação. Segui
todas as orientações e o resultado foi o aumento da rentabilidade”, comemora.
O técnico Agnaldo Brandt, da BRF, conta que, anEle mesmo faz a ordenha diariamente. Mas a simpliMaior produção
tes da participação no projeto, a propriedade não
cidade e a tradição sustentadas por seu Roque con(Dez/2011):
570
litros/dia
tinha controle de custos e o sistema de produção
vivem em harmonia com as novas tecnologias. “Quem
Objetivo: 3 mil litros/dia
era a pasto, semiextensiva. “Hoje seu Roque dinão se moderniza não permanece na atividade”, gaminuiu a área, trabalha com o mesmo número
rante. Para tanto, ele sempre esteve atento às mude animais, aumentou a produção e reduziu os custos, porque utiliza pasdanças do mercado, às novidades em técnicas e sistemas de trabalho,
to e ração. Além disso, tem o controle de todo o processo e do que pode
via televisão, rádio e na conversa e troca de ideias com outros produtoinvestir no futuro.” O problema é a falta de animais. Comida há de sobra.
res, principalmente em feiras agropecuárias. Mas foi a entrada do sítio no
Clube do Produtor de Leite e no projeto Balde Cheio (Cooperideal) e o
O produtor está guardando a quitação do financiamento para a irrigação
auxílio do técnico Vilson Baratta que trouxeram novo fôlego à propriepara investir em animais com melhor genética. “Sei que estou apenas no
começo do trabalho, ainda há muito a fazer. Mas estamos empenhados
em crescer mais e mais”, adianta seu Roque.
Garanta a
produção leiteira
mesmo em tempos difíceis
O segredo da silagem de milho e sorgo é o planejamento do plantio e da ensilagem
Sorgo: corte da planta deve
ser realizado entre 10 cm e
15 cm de altura do solo
Em períodos em que o clima não ajuda, a silagem – plantio
da forragem verde, suculenta, conservada por meio de um processo de fermentação em silos – é a alternativa para manter a
boa alimentação do gado leiteiro e, consequentemente, a produção de leite intacta. Jackson Silva e Oliveira, pesquisador da
Embrapa Gado de Leite na área de conservação de forragem e
nutrição de ruminantes, ensina o passo a passo para a ensilagem
do milho e do sorgo. “O trabalho começa bem antes da necessidade de se fazer uso da silagem para alimentar o gado. É preciso ter planejamento e estoque para não acabar gastando muito mais nos períodos de seca, por exemplo, como o Sul vive hoje”, adianta ele. E se você ainda ficar com dúvidas sobre o processo, converse com o técnico de Originação de Leite da BRF. Ele
saberá orientá-lo sobre a melhor forma de fazer a silagem.
Confira:
[ Plantio ] A lavoura para silagem deve ser
plantada nas mesmas condições em que se
planta lavoura para grão. Com a adubagem
é preciso ter cuidado: quando esse
processo já ocorreu mais de uma vez na
mesma área, é necessário fazer uma
adubação com mais potássio.
[ Preparo para a colheita ] Faça uma revisão
nas máquinas para não ser pego de surpresa.
É preciso ver se não há facas quebradas,
correia faltando, também providenciar os silos
para armazenagem, comprar as lonas para o silo
etc., para não perder o ponto de colheita.
[ Colheita ] Um bom indicador
é a textura do grão. Quando o
grão estiver com uma textura
pastosa, nem muito duro nem
líquido, essa é a hora da colheita
para a ensilagem.
[ Corte ] Deve ser feito de 10 a 15 cm de altura do
solo. A ensiladeira colhe e, ao mesmo tempo, vai
picando o material e despejando-o dentro de uma
carreta. A carreta cheia é levada ao silo para ser
descarregada. Importante: o corte que a máquina
faz no material deve ser entre 1 e 2 cm. Para
conseguir um corte no tamanho correto, regule as
facas e contrafacas da máquina para o tamanho
desejado e mantenha-as afiadas durante a colheita.
[ Descarga e compactação ] As
carretas vão descarregando o milho
e o sorgo picados dentro do silo, até
uma camada de 20 a 25 cm. Aí vem
o trator para fazer a compactação.
Ela é feita para expulsar o ar.
[ Fechamento ] Quando o
silo estiver cheio é hora de
colocar a lona plástica, para
evitar a entrada de ar e
água e permitir o início do
processo de fermentação.
[ Uso ] O material ensilado
estará próprio para o
consumo a partir de 30 dias
depois do fechamento do
silo. Entretanto, se o
silo não for aberto e
não houver
penetração de ar ou
água, a silagem fica
garantida por muito tempo.
[ Rebrote ] No caso do milho não há rebrote.
Com o sorgo, basta fazer outra adubação de
cobertura e esperar ele crescer até chegar ao
ponto de silagem outra vez. Plantando cedo e
se a chuva ajudar, é possível fazer até três
ensilagens com a mesma lavoura de sorgo.
Cenário favorável em 2011
pode estimular a oferta em 2012
Por Marcelo Pereira Carvalho
e Maria Beatriz T. Ortolani
Cenário atual
apresenta preços
de insumos
mais brandos
e rentabilidade
favorável para esta
época do ano.
No ano passado, o produtor de leite se
deparou com preços de insumos mais caros, elevando o custo de produção. Ao longo de 2011, segundo dados da Embrapa, o
índice de custo de produção de leite acumulou aumento de 18,67%.
Felizmente, para o produtor, os preços pagos pelo leite no campo também se apresentaram altos em boa parte do ano, com
pequena oscilação. Com isso a rentabilidade
do produtor rural manteve-se interessante
e competitiva.
O ano de 2011 foi um ano de maior estabilidade frente aos anos anteriores. Além disso, os preços médios foram significativamente superiores. Os preços corrigidos pela inflação em 2011 devem ser cerca de 8% mais
altos do que em 2011. Mais importante do
que os picos de preços foi a ausência de vales: momentos em que os preços atingem
patamares mais baixos e afetam significativamente o resultado da operação.
É interessante fazer uma observação sobre
o comportamento da curva de preços a partir de junho. A elevação não característica
dos preços no início do segundo semestre
ocorreu devido à fraca safra na região Sul.
A produção local foi afetada pelo clima e
não respondeu como se esperava. Com isso, em agosto e setembro os preços voltaram a subir, após alguns meses de relativa
estabilidade.
Em uma simulação feita pelo MilkPoint, é
possível avaliar que mesmo com os aumentos nos custos de produção o produtor teve
estabilidade e trabalhou no lucro de abril a
novembro. Essa conclusão é obtida ao se
analisar a receita menos o custo da ração,
sendo o resultado corrigido pela inflação.
Percebe-se que o segundo semestre de 2011
proporcionou um resultado cerca de 20%
superior em relação ao mesmo período de
2010. Considerando que os demais custos
apresentam pouca variação no curto prazo,
esse é um indício de melhoria da rentabilidade da atividade em 2011.
O cenário atual apresenta-se com leve baixa
de preços ao produtor, preços de insumos
mais brandos e rentabilidade favorável para
essa época do ano. Tudo isso nos leva a concluir que o produtor está otimista com a atividade e sugere boa oferta para 2012, que
deve crescer mais do que os prováveis 3%
(na captação formal) de 2011, podendo voltar
às médias históricas de 5 a 6% – talvez mais,
caso o consumo se mantenha elevado, estimulando as indústrias a elevar a captação.
Assim como o dopping adultera a
capacidade física de um atleta,
melhorando-a de forma irreal, isso
também pode acontecer com o leite.
Mas o que é feito em busca de um
melhor desempenho pode acabar
em prejuízo. É importante que os
produtores estejam atentos ao leite
que sai de sua propriedade, para não
perderem credibilidade e dinheiro.
Com as mudanças na Instrução
Normativa 62 (antiga IN 51), que traz
novos parâmetros na Contagem
Bacteriana Total (CBT) e Contagem
de Células Somáticas (CCS), vigente
a partir de 1º de janeiro deste ano,
os cuidados devem ser redobrados.
Testes “antidopping”
Para assegurar que o leite esteja no padrão exigido pela legislação, são aplicados diversos testes. O nível de alizarol e o resultado da prova de crioscopia são considerados na obtenção das
contagens exigidas em legislação. O teste do alizarol é feito no
momento da coleta e indica estabilidade térmica do leite. O procedimento indica se o leite poderá ou não ser aquecido para
pasteurização, por exemplo. Após a mistura do leite a uma solução alcoólica que contém um indicador de pH (alizarina), será
observado se ocorrerá formação de coágulos ou grumos. Caso
isso aconteça, o leite será reprovado e descartado.
A responsabilidade pelo descarte é do produtor, e o agente
de coleta informa à BRF para que o técnico responsável pelo
produtor possa orientá-lo na correção de problemas. “Para
evitar que o leite seja recusado na propriedade rural, o
produtor precisa ficar atento ao resfriamento do leite e
ao correto manejo da ordenha, adequado manejo nutricional e controle de mastite, além de descartar o leite
colostro que é sempre positivo no teste do alizarol”, recomenda Ana Cláudia Sprangoski Marcondes, técnica de Originação de Leite da BRF. O agente de coleta será responsabilizado pelo descarte desse leite sempre que carregar o produto alterado na propriedade.
O índice crioscópico, ou
crioscopia, é usado para
detectar adulteração do
leite com água.
[ Leite reprovado no teste do alizarol ]
[ Leite dentro dos padrões corretos ]
O leite, para ser bom, não deve ter:
• Acidez alterada, odor forte e desagradável;
(mamite e brucelose, por exemplo);
• Sabor alterado, (ácido);
• água, soro ou urina;
• Colostro (leite de “bezerro novo”) ou originário de
algum animal doente
• Conservadores como formol
e água oxigenada;
Sem passar do ponto
O índice crioscópico, ou crioscopia, é a medida do ponto de congelamento do leite em relação ao da água.
O ponto de congelamento máximo do leite aceito pela legislação brasileira é –0,512ºC (-0,530 Hº). Como essa é uma das características físicas mais constantes do
leite, é usada para detectar adulteração do leite com
água. Quando se adiciona água ao leite, o ponto de
congelamento aumenta em direção ao ponto de congelamento da água (0ºC). O teste é realizado pela unidade receptora do leite.
A presença de água no leite pode ser intencional (o
que é considerado fraude) ou acidental. Na adição acidental, os resíduos de água nos latões/tarros e a drenagem incompleta após a limpeza dos sistemas de ordenha ou tanque de resfriamento podem acarretar esse resultado.
“O produtor deve tomar cuidado com o funcionamento dos sistemas de resfriamento. Eles não podem permitir o congelamento de água ou do próprio leite, pois
isso leva, às vezes, a resultados duvidosos ou falsos nos
testes”, afirma Ana Cláudia. No caso de reprovação no
teste de crioscopia, o leite será destinado à alimentação animal. As amostras individuais serão analisadas
para que se identifique o produtor responsável pelo
leite adulterado. O desconto da carga comprometida
será de responsabilidade desse produtor.
• Qualquer tipo de redutor como soda cáustica,
bicarbonato de sódio etc.;
• Resíduos de antibióticos (animais em tratamento
Entenda melhor:
regiões
CBT
Css
De 01/07/2008 até
31/12/2011
S - SE - CO
750.000
750.000
De 01/07/2008 até
31/12/2011
N - NE
750.000
750.000
De 01/01/2012 até
30/06/2014
S - SE - CO
600.000
600.000
A partir de 01/01/2013
até 31/12/2015
N - NE
600.000
600.000
A partir de 01/07/2014
até 30/06/2016
S - SE - CO
300.000
500.000
A partir de 01/07/2015
até 30/06/2017
N - NE
300.000
500.000
devem ter o leite descartado);
• Sujidades, como resíduo de milho,
areia, pelos etc.
Para cada dois litros de leite produzidos, 1,2 kg de matéria seca
é consumido. Para vacas com produção de 40 litros por dia, são necessários 2,6 kg de comida. É essa a relação de necessidade alimentar durante o período de lactação. O problema é que, embora a produção de
leite aumente a demanda por nutrientes, o estresse pós-parto faz com
que a ingestão de alimento seja diminuída nas primeiras semanas, podendo causar perda de peso e prejuízo na ordenha. Para aumentar o valor energético do que o animal consegue comer, a inclusão de óleo vegetal na dieta pode ser indicada em alguns casos. Mesmo nesses casos,
um técnico especializado em composição de dietas deve acompanhar
os procedimentos.
“Se a vaca produz 10 litros de leite por dia, só o pasto de boa qualidade
e 1 kg de concentrado (contendo milho, farelo de soja, ureia e sal mineral) atende às necessidades nutritivas”, sinaliza Rogério de Paula Lana,
professor de nutrição de ruminantes da Universidade Federal de Viçosa
(UFV), em Minas Gerais. Segundo ele, por causa dos custos – em torno
de R$ 1,50 seria adicionado à despesa diária com a alimentação de cada
animal – somente uma produção superior a 30 litros justificaria o uso do
item como fonte de lipídios (gordura) para o gado leiteiro.
Por que usar o óleo
Na dieta de uma vaca em lactação, a quantidade de óleo de soja ou de
caroço de algodão, que são os mais indicados, não pode exceder 6% da
quantidade de matéria seca. Na hora de fazer o cálculo, é preciso não
esquecer que existem outros elementos que o animal ingere que também contêm óleo, como o milho (3%) ou o pasto (0,5 a 1%).
“Em nossos experimentos, obtivemos resultados com 500 ml/dia de óleo.
Mais do que isso compromete a digestão e causa a diminuição na formação do ácido acético, responsável por metade do teor de gordura do
leite. O que quer dizer menor qualidade do produto”, avalia.
Os efeitos positivos mais significativos de misturar a dose adequada de
óleo à ração são, além de uma alimentação mais energética, uma síntese microbiana mais eficiente, o que aumenta a absorção de proteínas, e
uma maior concentração de ácido linoleico conjugado (CLA) no leite.
O CLA é considerado um agente de prevenção a cânceres e doenças
coronárias para humanos.
De acordo com o pesquisador, após os seis primeiros meses o complemento de lipídios pode ser dispensado. “Para diminuir os custos, em vez
do óleo, poderia ser dado o próprio caroço do algodão ou o grão de soja. Eles podem compor 20% da matéria seca”, explica.
Confira a importância do óleo na
pirâmide de alimentação das vacas
Sal mineral (0,1 a 1,0% do peso da
matéria seca da dieta): importante
para o crescimento, a reprodução e a
produção de leite.
De acordo com o pesquisador, após
os seis primeiros meses de lactação
o complemento de lipídios pode ser
dispensado. “Para diminuir os custos,
em vez do óleo, poderia ser dado o
próprio caroço do algodão ou o grão
de soja. Eles podem compor 20% da
matéria seca”, explica.
no cocho
Lipídios (Óleo e gorduras/ 0 a 4% do peso da matéria seca da
dieta): fonte de energia (com elevado nível energético e usado em
baixos níveis na alimentação). Importante para vacas leiteiras de
alta produção. Evitam a perda de peso no pós-parto e melhoram a
eficiência reprodutiva, desde que não usados em nível elevado.
Ureia (0 a 1,5% do peso da matéria seca da dieta):
fonte de nitrogênio não proteico. Importante para
a fermentação da fibra e de outros carboidratos
dos alimentos, disponibilizando proteína
microbiana e energia.
Concentrados proteicos (farelos de soja, algodão,
amendoim etc./ 0 a 20% do peso da matéria seca da
dieta): aumentam a quantidade de proteína no
intestino delgado. Isso é importante para a
qualidade do leite, que contém em torno de 28%
de proteína nos sólidos totais.
Concentrados energéticos (fubá de milho,
sorgo, farelo de trigo, farelo de arroz, polpa
cítrica etc. /0 a 50% do peso da matéria seca
da dieta): importantes, principalmente, para
vacas leiteiras de média a alta produção.
Volumosos (pasto, capim
elefante, cana, silagem/ 40% a
99% do peso da matéria seca da
dieta): principal fonte de energia
na alimentação de animais
ruminantes.
O que
podemos aprender
com os
americanos
Durante dez dias, Jeferson Farias, gerente de Originação de
Leite da Brasil Foods (BRF), visitou fazendas no interior do estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Ele viajou a convite da empresa de melhoramento genético Alta Genetics. “Visitei sete cidades
e oito propriedades. O estado de Nova Iorque é conhecido pela tradição na produção de leite e por ter rebanhos da raça holandesa de
alta produtividade”, conta Jeferson, que viajou com mais oito brasileiros e um total de 130 pessoas de 36 países.
• O clima de Nova Iorque é temperado.
A temperatura média no inverno varia de -10°C a
-1°C. No verão, a temperatura média é de 19 °C a 23 °C;
• Uma das atrações turísticas mais conhecidas
são as Cataratas do Niágara, localizadas no noroeste
do estado, junto à fronteira com o Canadá;
• A bebida símbolo
do estado
é o leite;
• Granizo e geada
são comuns na região;
• Predominam planícies;
• Nova Iorque possui cerca de 2 mil lagos e lagoas.
A produção em Nova Iorque
As propriedades visitadas seguem um modelo de gestão familiar
com uma média de duas mil vacas por fazenda em sistema de confinamento. “Cada integrante da família é especializado em uma área
na propriedade. Por exemplo, o pai administra e um filho é especializado em reprodução, outro filho em alimentação”, conta o gerente
de Originação de Leite. O melhoramento genético das vacas americanas busca animais que produzam leite por mais tempo dentro
do rebanho, mais saudáveis e vacas que tenham no máximo 13 meses de intervalo entre os partos. “O leite possui alto teor de sólidos.
Isso quer dizer mais proteína, gordura e um alimento com maior valor nutritivo”, explica Jeferson. Ele destaca que as vacas têm alimentos à disposição 24 horas por dia, e o sistema é altamente mecanizado (alta produtividade da mão de obra).
Bons exemplos
“Os produtores americanos se preocupam muito com o conforto animal.
Mesmo que as vacas fiquem confinadas, os cuidados com espaço, camas,
circulação de ar e disponibilidade de água são grandes. Mesmo no Brasil,
onde deixamos as vacas soltas no pasto, são necessários esses cuidados
como sombra, água fresca e alimento”, conta Jeferson. A base da alimentação das vacas nas fazendas visitadas é a silagem de milho produzida na
Fazenda no estado de
Nova Iorque (EUA)
própria fazenda. “Além de ótimos produtores de leite, os americanos são
excelentes agricultores”, completa. Outra preocupação nos Estados Unidos é com a mastite. “O controle da doença é muito rigoroso. Os produtores têm muito cuidado com equipamentos de ordenha e higiene na
ordenha. Esse é outro ponto que deveria ser seguido aqui no Brasil.”
A contagem bacteriana nos EUA é menor que 50 mil colônias (CBT)
por ml de leite.
Pontos negativos
Cuidados com o meio ambiente e falta de mão de obra são questões que Jeferson destaca como pontos fracos na produção de leite nos Estados Unidos. “Os produtores americanos despejam os dejetos dos animais direto no solo, sem muita preocupação com a saturação. Eles se preocupam mais com a questão econômica do que
com a ambiental”, afirma.
A falta de mão de obra faz com que os produtores contratem imigrantes do México, da Guatemala e de outros países da América
Central. Mas a situação pode piorar com as medidas do governo
americano na fiscalização de imigrantes. “Os produtores avisam que,
se o governo mandar os latinos de volta para os países de origem,
o leite nos Estados Unidos vai ‘acabar’”, conta Jeferson.
Auxílio na produção
Apesar das diferenças entre a produção americana e brasileira, Jeferson conta que os americanos recorrem a muita assistência técnica para administrar a produção de leite. Empresas parceiras gerenciam o melhoramento genético e agrônomos e veterinários auxiliam
nas questões de alimentação e saúde das vacas.
Os produtores americanos também estão de olho nos profissionais
do futuro. “Eles levam crianças e adolescentes para as propriedades
para que conheçam e aprendam sobre a produção de leite. O principal objetivo é que no futuro elas fiquem no campo e trabalhem
com leite”, descreve o gerente.
Lições da viagem
• Gestão familiar: cada integrante da família é responsável
por uma área da propriedade;
• Melhoramento genético: busca vacas que produzam leite
por mais tempo;
• Cuidados com o conforto animal;
• Controle de doenças, principalmente mastite;
• Assistência técnica para a produção de leite.
Previna-se contra
Planejamento é fundamental para garantir a alimentação do gado leiteiro, em quantidade e
qualidade, também em períodos climáticos mais drásticos
O Sul do Brasil sofre com a falta de forragens na chegada
do outono, quando as noites já começam a ficar mais frias, diminuindo a produção das pastagens. Os fenômenos La Niña, que
traz a seca, e El Niño, que traz a enchente, também influenciam
a disponibilidade de alimento para o gado leiteiro. Para evitar a
pane nutricional dos animais, ter uma reserva de silagem ou feno
torna-se fundamental para a manutenção da produção leiteira,
consequência da boa alimentação dos animais, alerta Elmar Luiz
Floss, pesquisador da Universidade de Passo Fundo (RS) e diretor
do Instituto de Ciências Agrônomas (Incia). Contudo, poucos produtores de leite têm essa preocupação, ocorrendo uma descontinuidade da alimentação das vacas, a baixa na produção de leite
e o prejuízo. “Os produtores ainda têm o pensamento de que fazer
silagem é muito caro e acabam, mais adiante, gastando mais com
farelo e ração em tempos de estiagem”, diz.
Pesquisas têm demonstrado que, para o bom desempenho da
vaca leiteira, é preciso que se tenha uma disponibilidade mínima de 1.500 quilos de matéria seca por hectare. Isso corresponde a um montante de 800 a 1.000 gramas de pasto verde por metro quadrado, cortado a 7 cm de altura. “Aí a vaca fica pastando oito horas e enche o rúmen de alimento
em quantidade e qualidade que possam realmente produzir leite suficiente”, explica Floss. “Quando não há alimentação em quantidade e qualidade, o animal não enche o rúmen,
caminha muito, gasta mais energia e ainda por cima pisoteia muito o solo, prejudicando o próximo pastejo e o rendimento da soja ou milho semeado em sucessão.”
O pesquisador ensina o caminho das pedras. “Os agricultores
devem fazer a silagem, sobretudo de milho no verão e aveia-branca ou triticale no inverno. A maioria dos produtores de
leite tem terras ociosas nesse período, pois a plantação de
o vazio outonal
“Os produtores
ainda têm o
pensamento de
que fazer silagem
é muito caro e
acabam, mais
adiante, gastando
mais com farelo e
ração em tempos
de estiagem”
verão já foi colhida.” Além disso,
a ensilagem é operacionalmente mais recomendada do que
a fenação (desidratação de forragens), por apresentar um resultado com mais qualidade e
maior valor nutritivo. Também
é importante escolher a forrageira adequada para determinado período de plantio. “No inverno
é possível plantar aveia-branca e triticale. Já o azevém e a aveia-preta, por exemplo, têm crescimento inicial mais lento e
são mais indicados para fenação. O Centeio BR1 tem
um crescimento inicial mais rápido”, indica.
Já Rodrigo Zambon, assessor técnico de Originação de Leite da Brasil Foods, recorda o estudo de Ângela Ruoso, Elisângela Loss e Mikael
Neuman, da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná, que aponta a utilização de gramíneas anuais de estação fria com pastagens perenes como uma alternativa de produção de forragem
em sistemas de rotação, para suprir a deficiência alimentar ocasionada por baixas temperaturas, geadas e
pouca luminosidade no outono e inverno. A utilização
dessa prática, garante a pesquisa, tende a diminuir os
custos com suplementação e a produção de leite acontece de forma mais ecológica. Fabio Woiciechoski,
técnico de Originação da empresa, complementa:
“A sobressemeadura de azevém em pastagens perenes de estação quente é uma alternativa de ajuste no fornecimento de forragem, pois permite a
ocupação das áreas durante todo o ano, tornando
mais eficiente a utilização de pastagens”.

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