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INFORMAÇÕES AO LEITOR: ESSE É UM TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DATADA EM OUTUBRO DE 2010. PORTANTO ALGUNS LINKS E CITAÇÕES PODEM ESTAR DESATUALIZADOS. CASO TENHA INTERESSE EM ADQUIRIR NA INTEGRA AS ENTREVISTAS CONCEDIDAS PELOS TRES PROFISSIONAIS CITADOS NA OBRA, BASTA ENTRAR EM CONTATO COM OS MESMOS PELO ENDEREÇO ELETRÔNICO. ESTA OBRA FOI REGISTRADA PELA BIBLIOTECA NACIONAL UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI PATRICIA DE REZENDE CHEDID SIMÃO A APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO FINANCEIRA: Diagnóstico Prevenção e Intervenção Psicopedagógica São Paulo 2010 PATRÍCIA DE REZENDE CHEDID SIMÃO A APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO FINANCEIRA: Diagnóstico, Prevenção e Intervenção Psicopedagógica Trabalho apresentado e aprovado, como exigência parcial para a Pós Graduação da Especialização em Psicopedagogia da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Professora Drª Maria Elisa Mattos Pires Ferreira. São Paulo 2010 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a meu Sobrinho João Vitor que inicia seus primeiros passos em sua Aprendizagem na Educação Financeira e em especial a meu Pai, Paulo Chedid Simão (in memoriam), que sempre soube nos passar o verdadeiro valor e lugar do dinheiro, sem deixar que o mesmo ocupasse a frente de nossas Vidas. AGRADECIMENTOS A meus pais, meu irmão e sua familia que sempre acreditaram neste projeto; a minha orientadora Maria Elisa, sem a qual não seria possivel a realização deste trabalho; aos meus colegas de curso; às amigas e aos amigos de quem sempre recebi incentivo; a Universidade e a todas as professoras com quem estive caminhando nesses dezoito meses; a todos os profissionais da Educação e Consultoria Financeira que me dividiram suas experiências nesse novo campo; a meus clientes, por me confiarem suas histórias e sem as quais eu não chagaria onde estou e em especial a minha querida amiga Vera (in memoriam) por ter sempre me incentivado na arte de escrever. EDUCAÇÃO FINANCEIRA: Diagnóstico, Prevenção e Intervenção Psicopedagógica Patrícia de Rezende C.Simão "A partir de um certo ponto, o dinheiro deixa de ser o objetivo. O interessante é o jogo." (Aristóteles Onassis) RESUMO A presente monografia aborda a atuação do Psicopedagogo junto a Educação Financeira dentro da realidade econômica em que vivemos. O trabalho se justifica tendo em vista a impossibilidade dos Cursos em Educação Financeira por si só atingirem os aspectos cognitivos, afetivos e socioculturais envolvidos nesta aprendizagem. Por meio de entrevistas, leituras de textos, depoimentos e trabalho junto a grupos constatou-se a necessidade de um profissional especializado no comportamento humano, uma vez que atitudes financeiras podem sugerir uma demonstração da psique. Isso explicaria os problemas de ordem sócio-econômica os quais vêm tendo um aumento significativo mundialmente e, assim, o papel do psicopedagogo seria o de orientar e conscientizar a forma como o individuo aprende a se utilizar do dinheiro e os significados do mesmo em sua vida, possibilitando-lhe, dessa forma, vir a se desenvolver nos aspectos nos quais ainda se encontra em defasagem. Palavras-Chave: Psicopedagogia. Educação Financeira. Aprendizagem. ABSTRACT This project will address the psychopedagogist next to Financial Education within the economic reality in which we live. The work is warranted in view of the impossibility of courses in Financial Education alone achieve the cognitive aspects of human and sociocultural involved in learning. Through interviews, readings of texts, testimonies and work with the groups noted the need for a professional specializing in human behavior, since financial attitudes may suggest a demonstration of the psyche. This clarifying the socio economic problems that come with a significant increase in worldwide and thus the role of psychopedagogist would guide and educate how individual learns if use of money and the meanings of the same in your life, enabling him thus likely to develop on aspects in which is still in gap. Keywords: Psychopedagogy. Financial Education. Learning. SUMÁRIO: INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................10 CAPITULO 1: EDUCAÇÃO FINANCEIRA...........................................................................................13 1.1 UM BREVE HISTÓRICO ...................................................................................................................13 1.2 O Educador Financeiro no Brasil ...................................................................................................18 1.3 Sucessos e Desafios .....................................................................................................................24 CAPITULO 2 : O DINHEIRO E SEUS PAPEIS ......................................................................................28 2.1 DAS CONCHAS AO MUNDO VIRTUAL...................................................................................................28 2.2 Significados e Valores...................................................................................................................29 CAPITULO3: A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO.............................................................................33 3.1 A Psicopedagogia ...........................................................................................................................33 3.2: Da Psicologia para a Psicopedagogia ...........................................................................................35 3.3: A atuação do psicopedagogo........................................................................................................41 3.3.1. Bibliografia utilizada ...................................................................................................41 3.3.2 O Perfil do paciente.....................................................................................................42 3.3.3 Estudo de caso............................................................................................................45 CAPITULO IV:CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................51 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .....................................................................................................55 LEITURAS COMPLEMENTARES ........................................................................................................57 SITES RELACIONADOS.......................................................................................................................59 VIDEOS RELACIONADOS....................................................................................................................61 ANEXOS................................................................................................................................................62 10 INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como tema Aprendizagem em Educação Financeira e toma por base o estágio que, como estudante do curso de Psicopedagogia, realizei numa Empresa situada na cidade de São Paulo cuja missão consiste em levar para as Organizações uma Consultoria de Alto Nivel. A realização do estágio foi voltada a um tema para o qual eu já tinha sido despertada: a dificuldade que alguns alunos têm em aplicar o que é ensinado nos Cursos e a falta de preparo dos profissionais para lidar com essas dificuldades; por essa razão, decidi-me por realizar a monografia de final de curso tendo por objeto de estudo as Dificuldades de Aprendizagem em Educação Financeira. Normalmente, quando falamos em finanças pessoais, o primeiro pensamento que nos vêm à mente é o Dinheiro. Baseada em trabalhos já publicados de autores renomados, tais como os de Eduardo Gianete, Clara Regina Rappaport, Sigmund, Freud. Elisabeth Polity, Jacob Needleman, e Jack Weatherford, que mencionarei mais adiante, sinto-me segura para afirmar que a nossa forma de lidar com o dinheiro reflete nossos valores, conflitos e personalidade; assim, arrisco dizer que algumas das dificuldades mais enfrentadas hoje pelos Economistas e Educadores Financeiros — ganho escasso, dívidas e descontrole do impulso em comprar — não passam de sintomas, de obstáculos de outra ordem, pertinentes ao campo da Psicopedagogia, como procurarei demonstrar. Dentre os fatores que muito interferem nessa relação estão as questões familiares como, por exemplo, as expectativas que os pais colocam nos filhos mesmo antes de nascerem. É muito relevante que ao tratarmos da educação financeira nos voltemos também para os aspectos culturais que envolvem o mesmo objeto a partir de diferentes aspectos; o modo como percebemos as questões financeiras, sem dúvida, nos é passado inicialmente por meio da educação que recebemos em nossa família. Portanto, neste trabalho, meu objetivo principal é abordar as dificuldades da aprendizagem financeira, incluindo os aspectos do ganhar, do investir e do gastar, tendo como suporte as teorias adotadas pela Psicopedagogia. Espero, com isto, trazer informações atuais e úteis aos que se dedicam a essa área do conhecimento, para que possam refletir a respeito dos problemas que assolam a nossa realidade social, econômica e educacional. 11 A minha experiência de mais de dez anos como Psicóloga e Orientadora Financeira permite-me levantar a seguinte hipótese: "As dificuldades de Aprendizagem em Educação Financeira podem ser vistas como qualquer outra dificuldade de aprendizagem, envolvendo os aspectos, cognitivos, afetivos e socio-culturais.” Além disso, também me sinto autorizada a afirmar, pela experiência que adquiri nesse campo do saber e pelos cursos que já realizei, que avançar na direção da superação dos problemas de aprendizagem em Educação Financeira exige mudanças de hábitos, mas, para isso ocorrer é necessária a Conscientização a respeito das questões envolvidas com as dificuldades apresentadas. É nesse momento, então, que entra o Profissional em Psicopedagogia, o qual, empregando ferramentas específicas dessa área do saber, pode levar o sujeito a compreender sua forma de apreender o mundo e, consequentemente, as finanças. Os estudos relativos à Aprendizagem em Educação Financeira são bastante recentes, por isso ainda é difícil de encontrarmos material específico sobre o assunto. Diante dessa dificuldade, foi preciso que eu atuasse no estágio experimentando e organizando os pontos dessa proposta que considero básicos e que serão apresentados nesta monografia. Além disso, para completar esse trabalho, realizei entrevistas com três profissionais que puderam contribuir trazendo relato de suas experiencias profissionais e pessoais, sejam como Educadores Financeiros, ou como Economista de Formação: Andréa Voute, José Codo Neto, e Maurício Galhardo. A organização do texto monográfico segue a seguinte lógica: são apresentados quatro capítulos que buscam fazer o leitor entender a ligação que estabeleço entre Educação Financeira – Dinheiro – Psicopedagogia: Capitulo I: Educação Financeira; Capitulo II: O Dinheiro e seus papeis Capitulo III: Atuação do Psicopedagogo Capitulo IV: Considerações Finais Quanto à Metodologia empregada, trata-se de uma pesquisa qualitativa, cujos instrumentos principais foram a observação realizada no estágio e em atendimentos anteriores ao mesmo e os estudos teóricos baseados em autores das diferentes áreas abordadas. Para a Psicopedagogia tomei como base as obras de Alícia Fernadez e Jorge Visca, para a Psicanálise, as de Sigmound Freud e tambem me 12 apoiei na Psicoterapia Cognitiva de Aron Beck. Para aqueles que se interessarem em aprofundar seu conhecimento no tema, coloco ao final do trabalho as obras desses autores bem como outras fontes que consultei, alem de sugestões para leituras. Encerrando o texto, apresento minhas considerações finais com questionamentos para melhor pensarmos sobre o papel de todos os educadores e profissionais que hoje se envolvem no processo de Aprendizagem Financeira. Educar Financeiramente, será só uma questão de matemática? Assim, espero ter conseguido passar aos leitores a proposta deste trabalho e desejo que a mesma possa efetivamente Psicopedagogia. contribuir de alguma forma para com a 13 CAPITULO I: EDUCAÇÃO FINANCEIRA Como a proposta desta monografia consiste em abordar a atuação do psicopedagogo em Educação Financeira, e por ser esse um novo campo de trabalho, acreditei ser de interesse comentar antes de qualquer coisa um pouco a respeito dos cursos de finanças. Assim, nesse primeiro capítulo farei um breve histórico deles, sua importância e desde quando passaram a existir no Brasil; num segundo momento, apresentarei o perfil dos alunos e dos nossos educadores financeiros, suas formações e preparo. Para finalizar, os resultados obtidos e as dificuldades ainda encontradas. 1.1 EDUCAÇÃO FINANCEIRA: BREVE HISTÓRICO A Educação Financeira no Brasil é recente, não temos data especifica de quando surgiu, mas, a julgar pelos trabalhos publicados, arriscaria dizer que é uma preocupação de pouco mais de uma década, no entanto vem repercutindo de tal modo que em 2004 já existia o projeto de lei para que fosse incluída como componente curricular obrigatório nas escolas de Ensino Fundamental e Médio em nível nacional: O ilustre Deputado Lobbe Neto propõe a criação da disciplina Educação financeira a ser introduzida nos currículos das últimas quatro séries do ensino fundamental e no ensino médio. Argumenta, o ilustre proponente, sobre a responsabilidade da educação básica na formação do 1 aluno para o exercício da cidadania em consonância com as demandas da sociedade. Fato esse que faz com que tenhamos muito a ganhar uma vez que uma disciplina como esta poderá contribuir para que os consumidores se tornem mais 1 PROJETO DE LEI Nº 3.401-A, DE 2004 (Do Deputado Federal Lobbe Neto, PSDB/SP). BRASIL, DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. ANO LXI - Nº 103 – 13. jun. 2006 - BRASILIA-DF, p. 29981. 14 cientes de seus atos. É o que defendem vários estudiosos da área, inclusive organismos internacionais como a OCDE2: Educação financeira sempre foi importante aos consumidores, para auxiliá-los a orçar e gerir a sua renda, a poupar e investir, e a evitar que se tornem vítimas de fraudes. No entanto, sua crescente relevância nos últimos anos vem ocorrendo em decorrência do desenvolvimento dos mercados financeiros, e das mudanças demográficas, econômicas e políticas. (OCDE, 2004:223, apud SAVOIA ET alii, 2007, p. 1122) Segundo Savoia e colegas, Na sociedade contemporânea, os indivíduos precisam dominar um conjunto amplo de propriedades formais que proporcione uma compreensão lógica e sem falhas das forças que influenciam o ambiente e as suas relações com os demais. O domínio de parte dessas propriedades é adquirido por meio da educação financeira, entendida como um processo de transmissão de conhecimento que permite o desenvolvimento de habilidades nos indivíduos, para que eles possam tomar decisões fundamentadas e seguras, melhorando o gerenciamento de suas finanças pessoais. Quando aprimoram tais capacidades, os indivíduos tornam-se mais integrados à sociedade e mais atuantes no âmbito financeiro, ampliando o seu bem-estar. (2007, p. 1122) A educação financeira então passa a ser importante até mesmo para integrar o individuo a sociedade, no entanto as mudanças economicas inclusive tecnologicas se tornam tão complexas às vezes podendo vir a dificultar no momento de decisões financeiras. Mudanças tecnológicas, regulatórias e econômicas elevaram a complexidade dos serviços financeiros. Mas a insuficiência de conhecimento sobre o assunto, por parte da população, compromete as decisões financeiras cotidianas dos indivíduos e das famílias, produzindo resultados inferiores ao desejado. (SAVOIA ET alii, 2007, p. 1122-23) Posição também a ser considerada é a de Cássia D´Aquino 3. Segundo essa educadora, assim como o ensino a respeito da Educação Financeira ainda falta nas escolas brasileiras, também não é habito nacional tratar dele no espaço familiar, exceção feita a algumas famílias de origem estrangeira, originárias de países desenvolvidos. De acordo em ela, 2 OCDE: sigla da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que é uma organização internacional e intergovernamental que agrupa os países mais industrializados da economia do mercado. Tem sua sede em Paris, França. Na OCDE, os representantes dos países membros se reúnem para trocar informações e definir políticas com o objetivo de maximizar o crescimento econômico e o desenvolvimento dos países membros. [Cf. Controladoria Geral da União, CGU; informação disponível em: http://www.cgu.gov.br/ocde/sobre/index.asp. Acesso em 10.08.2010]. 3 Educadora com especialização em crianças, autora de artigos e livros sobre Educação Financeira, criadora e coordenadora do Programa de Educação Financeira em inúmeras escolas do País e, também, representante do Brasil no Global Financial Education Program (iniciativa voltada para o desenvolvimento da educação financeira da população de baixa renda em todo o mundo), além de assessora de diversas instituições, dentre as quais se destaca o Banco Central. 15 A Educação Financeira nos países desenvolvidos tradicionalmente cabe às famílias. Às escolas fica reservada a função de reforçar a formação que o aluno adquire em casa. No Brasil, infelizmente, a Educação Financeira não é parte do universo educacional familiar. 4 Tampouco escolar. (D´AQUINO, s.d., s.p.) A verdade é que falar em Educação Financeira no Brasil tem tomado tal proporção que até as Instituições Financeiras, sempre apostando na oferta de créditos, hoje orientam o público e seus funcionários sobre a forma correta de utilização da mesma, além dos incentivos para os investimentos do mercado (na maior parte das vezes são cursos on-line). Um exemplo dessas instituições é “O Dinheirama”, empresa especializada em Educação Financeira que, por meio de ações estruturadas, busca aprimorar o grau de informação econômica tanto de cidadãos quanto de organizações. O trabalho que ela desenvolve visa basicamente difundir conhecimentos que possibilitem às pessoas ampliarem suas capacidades de gerirem suas finanças pessoais. No blog dessa empresa podemos ler: [...] de uns tempos para cá é comum notar diversos materiais sobre educação financeira sendo criados e patrocinados por grandes bancos brasileiros. Cartilhas, campanhas publicitárias (on e off-line), material para download, palestras com consultores renomados, simuladores e planilhas são alguns exemplos facilmente encontrados em agências e sites de 5 bancos na Internet. A própria Bolsa de Valores de São Paulo, BMFBovespa, é uma das pioneiras na matéria. Ainda a antiga BOVESPA, em 1989, criou o Educacional Bovespa 6 que oferece hoje desde cursos gratuitos sobre Finanças Pessoais, Mercado de Ações, O Bovespa Vai Até Você e, mais recentemente, em parceria com a TV Cultura, um programa especializado no assunto, a TV Educação Financeira 7, apresentado pela Jornalista Denise Chahestian. Suas ações buscam, além de mostrar a importância das Bolsas de Valores para a economia do país, transmitir conceitos básicos de economia, como hábitos de poupança, formas de 4 D´AQUINO, Cássia. E o que é a Educação Financeira?. s.d. Disponivel http://www.educacaofinanceira.com.br/conteudo.asp?inicio=SIM&id_area=3. Acessado em: 09.ago.2010. 5 em Disponivel em: http://dinheirama.com/blog/2009/03/16/os-bancos-e-suas-campanhas-de-educacao-financeira/. Acessado em: 09.ago. 2010. 6 Educacional BM&Fbovespa . Cursos Online e Presenciais http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/cursos/cursos.aspx?idioma=pt-br 7 http://www.tveducacaofinanceira.com.br/ 16 investimento e como as empresas podem financiar seus projetos de crescimento por meio do 8 mercado de capitais. A verdade é que tem crescido consideravelmente o número de cursos em Educação Financeira, sejam através de Instituições já de renome, de literatura auto-ajuda ou de empresas e profissionais que se apresentam como especializados no assunto. Os cursos são oferecidos desde o público infantil até mesmo para a chamada Terceira Idade. “A terceira idade tem características peculiares. Por isso, precisam procurar orientações específicas para as finanças", diz Marcos Silvestre, economista e coordenador do Centro de Estudos de Finanças Pessoais & Empreendedorismo. A principal peculiaridade de quem já vive a aposentadoria, segundo Silvestre, é a renda mensal. "Não há incremento de renda, tampouco 9 a expectativa de haver um aumento significativo ou coisas desse tipo, afirma. Assim, não encontro uma data exata de quando a Educação Financeira surgiu no Brasil, nem mesmo quando surgiram trabalhos científicos sobre ela; não ousaria dizer que tudo não passa de modismo, mas a verdade é que se houve em algum momento oportunismo ou não por parte dos muitos que a oferecem, a Educação Financeira se faz essencial para que sejamos menos lubridiados e manipulados pelo poder que o mercado de consumo associado à ilusão que o crédito fácil exerce ainda hoje. Por isso, se bem orientado, é possível que o público se deixe levar menos por ações impensadas quando o assunto envolve decisões financeiras ou, se o fizer, estará mais ciente das possíveis conseqüências das decisões que tomarem. Junto a tudo isso, é fato que necessitamos urgentemente mudar nossa forma de consumir, uma vez que nossas opções colocam em risco a vida no planeta. Em uma palestra,10 Fritjof Capra baseado em seu livro As Conexões Ocultas: Ciência para uma Vida Sustentável11, alertou sobre esses riscos mostrando a necessidade de uma mudança radical em nossos habitos. 8 Informações obtidas no site www.Financenter.com.br, de propriedade da BML Serviços Financeiros Ltda., empresa independente, sem nenhum vínculo com qualquer Instituição do mercado financeiro. Disponível em: http://www.financenter.com.br/Index.cfm/Fuseaction/Secao/Id_Secao/2150. Acessado em: 10.08.2010. 9 SCRIVANO, Roberta. Cresce interesse da 3ª idade por cursos de Educação Financeira. O Estado de São Paulo. Caderno Economia & Negócios. Versão online. 21/06/ 2010. Disponível em: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100621/not_imp569558,0.php. Acessado em: 10.ago.2010. 10 Palestra realizada no Fórum Ambiental promovido pela Petrobrás nos dias 06, 07 e 08 de agosto, em Aracaju. O evento ocorreu no Hotel Parque dos Coqueiros e reuniu cerca de 1000 participantes. Fonte: Balaio de Notícias. Webjornal - Quinzenal - Edição 36 - Aracaju, 17 e 24 de agosto de 2003. Disponível em: http://www.sergipe.com.br/balaiodenoticias/entrevistaj36.htm. Acessado em: 16.ago.2010. 11 CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix. 2002. 17 Nos últimos anos, o impacto social e ecológico da globalização vem sendo discutido extensivamente por acadêmicos e lideres comunitários. Suas análises demonstram que a nova economia está produzindo uma resultante de conseqüências interligadas e de conseqüências danosas — aumentando a desigualdade social e a exclusão social, um colapso da democracia, deterioração mais rápida e abrangente do ambiente natural e ascensão da pobreza e alienação. O novo capitalismo global ameaça e destrói as comunidades locais por todo o globo; e amparado em conceitos de uma biotecnologia deletéria, invadiu a santidade da vida ao tentar mudar diversidade em monocultura, ecologia 12 em engenharia, e a própria vida numa commodity. Então, ao que tudo indica, educar financeiramente passa a ser imprescindível para uma Economia Sustentável, deixando de ser apenas de interesse do público em geral, mas uma obrigação política-econômica e social. O autor ainda afirma: Nós temos que repassar para os nossos filhos os fatos fundamentais da vida: que a sobra abandonada por uma espécie é alimento para outra; que a matéria circula de forma contínua através da teia da vida, que a energia que promove os ciclos ecológicos fluem do sol; que a diversidade assegura flexibilidade, que a vida desde seus primórdios, mais de três bilhões de anos atrás, não assumiu o planeta através do combate, mas através de redes de trabalho integrado. Ecoalfabetização é o primeiro passo na estrada da sustentabilidade. O segundo passo é movimentar se da ecoalfabetização para o ecoplanejamento (ecodesign). (CAPRA, 13 2003, p. 6) (...) Concluindo, eu gostaria de enfatizar que a transição para um futuro sustentável, não mais configura um problema técnico ou conceitual. É um problema de valores e de empenho 14 político. Conforme sempre afirmo, “um outro mundo é possível. (CAPRA, 2003, p. 9) Finalizando, minha experiência profissional tem me mostrado que, quase sempre, quando falamos em Educação Financeira, a primeira coisa que vem a nossa mente é o dinheiro. E o que é o dinheiro? Qual a função dele em nossas vidas? As jornalistas Heloisa Campos e Maria Fernanda Vomero, autoras do artigo O Fetiche do Dinheiro, Matéria publicada na revista Emoção & Inteligência15, conversam com diversos especialistas da aréa buscando razões que mostrem para o público a seguinte afirmação de abertura da materia: No seu relacionamento com a grana existe uma rede intricada de emoções e neuroses, na qual as moedas assumem simbolismos que você nem imagina. Então ter consciência disso pode levar mesmo pessoas inteligentes a fazer burradas. (CAMPOS; VOMERO, 2002, p.1) 12 CAPRA, F. AS CONEXÕES OCULTAS. São Paulo: IDESA. 11 de Agosto de 2003. p. 6. Disponível em: http://www.slideshare.net/ecaniso/as-conexoes-ocultas. Acesso em: 16. ago.2010. 13 CAPRA, F. AS CONEXÕES OCULTAS. São Paulo: IDESA. 11 de Agosto de 2003. p. 9. Disponível em: http://www.slideshare.net/ecaniso/as-conexoes-ocultas. Acesso em: 16. ago.2010. 14 Idem. Ibidem. p.12. 15 CAMPOS, Heloisa; VOMERO, Maria Fernanda. O Fetiche do Dinheiro. Revista Emoção & Inteligência. São Paulo: Abril. Dezembro de 2000. Disponível em: http://www.gestori.com.br/website/diversos/psicologia/o_fetiche_do_dinheiro.pdf. Acessado em: 16.ago.2010. 18 Se isso for verdade podemos dizer então que para aprender finanças pessoais é preciso mais do que compreensão racional. Eu diria até que é um conjunto em que inteligência e raciocínio matemático pouco adiantam, aprender finanças é muito mais uma questão comportamental, tem início em casa e envolve os aspectos de ordem emocional, social e cultural. Com tudo isso, a responsabilidade dos hoje conhecidos como Educadores Financeiros, passa a ser maior; só interessa saber, agora, quem são eles e se estão preparados para isso, se sabem de fato em que significados tocam. Hoje, os cursos falam muito em hábitos a serem desenvolvidos, gastar menos do que se ganha e poupar, mas no que isso implicaria dentro de um contexto cultural, social e psíquico na vida de cada indivíduo? É o que apresento na continuidade desta leitura. 1.2 O EDUCADOR FINANCEIRO NO BRASIL Quem são nossos educadores financeiros, uma vez que sabemos ser A Educação Financeira ainda um ensino novo e informal? Quando procuramos sobre o assunto encontramos muitos cursos, mas estariam seus instrutores preparados para realizálos? Teriam eles tido fundamentação suficiente nesse campo em sua formação profissional? Por ainda ser uma área nova no Brasil e mesmo em outros países, os instrutores que vejo atuarem em finanças pessoais parecem surgir de dois segmentos. O primeiro segmento diz respeito àqueles que tiveram esse ensino de maneira informal em suas vidas, conhecimento passado pelas poucas famílias que cultivam esse hábito ou, então, adquirido por interesse próprio pelo assunto. Especializando-se nele, hoje atuam como consultores ou educadores financeiros. O segundo segmento refere-se a profissionais que receberam em sua formação acadêmica bases sobre o tema, boa parte formada em Economia ou Administração, e que mesmo sem serem educadores financeiros strico sensu muito têm a contribuir nessa área; isso explicaria porque são tão solicitados profissionalmente. 19 Pude, durante esse trabalho, conhecer e conversar pessoalmente com alguns desses profissionais, foi o caso do Consultor e Educador Financeiro Maurício Galhardo, Engenheiro de Formação16. Em uma breve entrevista a mim concedida 17 relata que tudo começou quando percebeu que, sempre próximo a data de receber o salário, havia uma queda no rendimento dos operários da empresa em que trabalhava. Investigou a questão e confirmou o que já suspeitava: “dividas e quase sempre poderiam ser evitadas se tivesse tido uma orientação para isso”; propôs, então, desenvolver ele mesmo um trabalho de esclarecimento e orientação em relação ao assunto. Hoje, esse tipo de atividade tornou-se sua área de atuação. Galhardo é um exemplo dos profissionais que surgiram da experiência de vida. Entrevistei, também, a Consultora e Professora em Educação Financeira, Andréa Voute, que migrou da Informática para Administração, curso de sua Pós Graduação.18 Como ela mesma conta, recebeu influência da sua família, visto ser filha de pai Europeu que possuía preocupação com as finanças e esposa de Economista; portanto, planejamento financeiro sempre fez parte da sua vida. Temos ainda nesse segmento a anteriormente citada Cássia D´Aquino, referência hoje em Educação Financeira no Brasil. Na área há mais de sete anos, pode ser considerada pioneira nesse campo. Ela é Bacharel em História com Pós-graduada em Ciências Políticas; as duas formações realizadas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em entrevista que concedeu a Vitor Casimiro, do Portal Educacional,19 ela conta sobre seu interesse no assunto: Seu interesse em educação financeira de crianças teve alguma motivação pessoal? Seus filhos tiveram dificuldades em lidar com dinheiro? Não, não é nada disso (risos). Meu caminho ao encontro da educação financeira foi bem diferente. Na universidade eu trabalhava na área de Ciência Política, com consolidação da democracia. Como é que a gente faz para ter uma democracia sólida no Brasil? É um preceito da Ciência Política que o capitalismo é o inventor da democracia moderna. Existem várias ditaduras capitalistas, mas não há democracia moderna que não tenha sido capitalista. De modo que, se a gente quiser ter algum dia uma democracia decente temos que ter um capitalismo decente também, e não essa esculhambação que a gente vê. A esse impasse acadêmico, eu somei minha experiência como professora de crianças pequenas e como mãe. Foi daí que saiu o Programa de Educação Financeira. 16 Mauricio Galhardo é autor do livro Finanças Pessoais, publicado pela editora Totalidade, São Paulo, em 2008. [Nota da autora] 17 A entrevista concedida encontra-se na íntegra no final deste trabalho, em Anexos. 18 Idem. 19 Disponivel em >: http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0056.asp. Acessado em: 16. ago.2010. 20 Do segundo segmento também pude conhecer pessoalmente alguns profissionais que atuam em empresas, foi o caso de Jose Codo Neto, Economista e Empresário, Chefe da Tecninvest no Brasil por 20 anos e Presidente da Tecninvest nos Estados Unidos desde 2007. Ele igualmente muito contribui neste trabalho com depoimentos sobre a relação com o dinheiro e a respectiva experiência no campo profissional, quer em investimentos, em reestruturação de empresas, em treinamento de pessoas e em consultoria empresarial, além de administração de bens. Além dessas atividades, mesmo sem ser Educador Financeiro, é procurado para orientações nessa área. Ele diz já ter realizado alguns trabalhos no “ensino finanças” (palavras próprias). Para ele, as pessoas que procuram esse tipo de orientação é porque já chegaram num momento de emergência ou apresentam uma necessidade imediata, é como se procurassem por uma especie de pronto –socorro.20 Continuando dentro deste segmento não poderia deixar de citar, Eduardo Gianete da Fonseca, Economista, atualmente professor em período integral no Ibmec São Paulo.21 Autor de vários livros sobre o assunto, entre eles O valor do Amanhã22, alerta para a questão da necessidade de se conter hoje para ter amanhã. No entanto, é exatamente a Psicologia que explica o necessário processo de maturidade para que o indivíduo consiga esse “conter” de forma equilibrada ou, melhor dizendo, controlar seus impulsos e, assim, evitar atitudes desastrosas para o orçamento financeiro, como por exemplo, gastar mais do que se pode. O termo impulso deve ser entendido como um estado que envolve manifestações públicas e privadas de ansiedade, vinculadas a extrema necessidade de emitir certos comportamentos. (...) Na prática clínica são usuais os impulsos de jogar (jogo patológico), arrancar fios do próprio cabelo (tricotilomania), comprar compulsivamente, furtar objetos, e comportamentos sexuais 20 A entrevista concedida encontra-se na íntegra no final deste trabalho, em Anexos. 21 Eduardo Giannetti da Fonseca é graduado em Economia e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e PhD em economia por Cambridge, na Inglaterra, onde lecionou de 1984 a 1987. Nos três anos seguintes deu aulas na FEA/USP e atualmente é professor do Ibmec São Paulo, sendo que em 2004 foi eleito economista do ano pela Ordem dos Economistas de São Paulo. É autor, entre outros livros, dos best-sellers Auto-engano e Felicidade (publicados pela Editora Companhia das Letras, de São Paulo), sempre dentro da linha da economia comportamental, ramo empírico dessa ciência. [Nota da autora]. 22 GIANNETTI Eduardo. O valor do amanhã - ensaio sobre a natureza dos juros. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 21 considerados como parafílicos ou excessivos (compulsões sexuais). (RANGÉ, 1995, Pag.116.) 23 Isso explicaria o fato de a psicologia também vir atuando expressivamente no campo da Educação Financeira. Eu mesma passei a ser exemplo vivo desse tipo de atuação quando me propus trabalhar junto a alguns clientes que portavam dificuldades com o dinheiro; essa demanda fez com que eu pesquisasse o assunto, encontrando sobre ele alguns trabalhos interessantes, entre os quais Tese Avareza e Perdularismo, de Fábio Roberto Rodrigues Belo e Lúcio Roberto Marzagão, 24 que com apoio na Psicanálise, aborda a relação entre o complexo monetário e a fase anal. A psicanálise sempre associou o “complexo monetário” do sujeito à fase anal. No artigo Caráter e erotismo anal, Freud (1908) sugere três motivos para essa associação. O primeiro nos é dado pela cultura “nas formas arcaicas de pensamento, nos mitos, nos contos de fada, nas superstições, no pensamento inconsciente, nos sonhos e na neurose o dinheiro é intimamente relacionado com a sujeira” (ESB, IX, p. 179; GW, VII, p. 207). O segundo motivo refere-se ao contraste entre o mais precioso e o mais desprezível: a identificação entre o ouro e as fezes se deve justamente por sua justa oposição, como é comum acontecer no inconsciente, a representação de algo pelo seu contrário. Por fim, o terceiro motivo da equação entre as fezes e o dinheiro tem a ver com o período da fase anal e o interesse espontâneo pelo dinheiro. (...) Portanto, trata-se de um deslocamento de interesse das fezes para o dinheiro. Nesse artigo de Freud, pode-se ver, o adulto não aparece em nenhum momento. Por que a criança deslocaria seu interesse das fezes para o dinheiro? O que a motiva a ir nessa direção? Qual o papel da mãe no controle dos esfíncteres e na apresentação dessa novidade que é o dinheiro? (BELO; MARZAGÃO, 2006, p.109) Em outro trabalho, Miopia Coletiva, Eduardo Giannetti,25 alerta-nos para a impaciência da sociedade brasileira e como futuramente esse sentimento poderá prejudicá-la. Dos vários pontos questionados, ele fala sobre o que se pode esperar da criança em cada idade. São muitas as variáveis. O ciclo de vida, por exemplo, afeta muito a psicologia temporal. Experimentos mostram que uma criança de 4 anos não consegue esperar vinte minutos para ganhar o dobro do confeito de que ela mais gosta. Aos 12 anos, logo antes da puberdade, 60% das crianças já agüentam esperar os vinte minutos para ganhar o dobro do confeito, ou seja, 23 RANGÉ, Bernard. Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiátricos. Editorial Psy. Campinas.1995 24 . BELO, Fábio Roberto Rodrigues; MARZAGÃO, Lúcio Roberto. Avareza e perdularismo. Psyche (Sao Paulo), São Paulo, v. 10, n. 19, dez. 2006 . p. 109-128. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382006000300008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 ago. 2010. 25 GIANNETTI, Eduardo. Miopia Coletiva. Revista Veja. São Paulo: Editora Abril. Edição 1930. 9 de novembro de 2005. Disponível em: http://veja.abril.com.br/091105/entrevista.html. Acessado em: 20. ago. 2010. 22 100% de juro real. Isso mostra que é dos 4 aos 12 anos que se forma, no ser humano, o equipamento cerebral e mental necessário para exercitar a arte da escolha no tempo. O modo de vida da sociedade também conta muito. Numa aldeia indígena pré-agrícola tudo conspira para que se viva intensamente o presente quase absoluto. (GIANNETTI, 2005, s.p.) Estou convencida de que ninguém é melhor do que Jean Piaget, para corroborar a fala de Giannetti: Ao longo de sua vida Piaget observou que existem formas diferentes de interagir com o ambiente nas diversas faixas etárias. A estas maneiras típicas de agir e pensar, Piaget denominou estágio ou período. Assim sendo podemos dizer que a determinadas faixas etárias correspondem determinados tipos de equisições mentais e de organização destas aquisições que condicionam a atuação da criança em seu ambiente. A criança irá, pois, à medida que amadurece fisica e psicologicamente, que é estimulada pelo ambiente físico e social, 26 construindo sua Inteligência. (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981, p. 67) Além de discorrer sobre o desenvolvimento infantil, Giannetti reforça outro aspecto importante a respeito da Educação Financeira no Brasil, fazendo uma relação entre o hábito de poupar e a nossa cultura de origem, a indígena. A natureza era tão generosa que eles talvez não tenham sido estimulados a desenvolver o hábito mental da espera. Nem precisavam, pois viviam basicamente da caça e da coleta. Ao relatar a viagem que fez com índios guaranis a Paris no século XIX, o naturalista francês SaintHilaire informou ter explicado a eles que era desejável guardar coisas para o amanhã. E eles perguntavam “O que é o amanhã?”, como se não entendessem o significado da palavra. Algo similar ocorreu com os jesuítas que queriam acostumar os índios à disciplina do trabalho agrícola, para o qual jamais haviam sido treinados. Uma das maiores dificuldades era precisamente impedir que eles consumissem, às vezes até mesmo antes da colheita, as espigas e sementes que deveriam ser guardadas para o plantio da safra seguinte. (GIANNETTI, 2005, s.p.) Dessa forma, quando se trata de dar suporte teórico às respostas esperadas para comportamentos financeiros, poderíamos dizer que, nos dias atuais, não podemos nos olvidar dos conhecimentos construídos pela Psicologia Social, pois ela nos mostra que é preciso que levemos em conta a cultura de origem das pessoas em todas suas condutas. A Psicologia Social tem-me mostrado quão grande é a influência da cultura sobre esse aspecto, infelizmente não se encontram trabalhos que falem especificamente sobre isso. Assim nossos Educadores financeiros vão se deparar também com essa questão, principalmente se falando de Brasil, onde encontramos povos de todas as raças e origens. Qual teria sido a influência de cada cultura na nossa forma de agir e lidar com o dinheiro? Essas questões fazem parte dos motivos da minha proposta de trabalho Psicopedagógico junto à educação financeira, pois, assim como o que está 26 Rappaport, Clara Regina e outros. 1991. Psicologia do Desenvolvimento Volume 1 Teorias do desenvolvimento Conceitos fundamentais.Sãopaulo.Editora pedagógica e Universitária. 23 ocorrendo com o ensino formal em geral, é evidente que há um grande número de pessoas que vem encontrando dificuldades nesta Aprendizagem. Para alguns, aprender finanças não é simplesmente uma questão de matemática e, mesmo se o fosse, estariam envolvidos seus aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Como vimos até agora, cabe ao profissional em Psicopedagogia justamente lidar com tais aspectos. Para clarear a função desse profissional, apoiar-me-ei em Alicia Fernández, que ressalta o papel da família em nossa formação e concomitantemente na Epistemologia Convergente de Jorge Visca que aborda a importância destes aspectos na aprendizagem. Completando me apoiarei nas ideias de outros autores. Agora vejamos o que pensam Visca e Fernadez: Pois se ocorresse uma paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura, também suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto seriam diferentes, devido às 27 influências que sofreram por seus meios sócio-culturais. (VISCA, 1991, p. 66) A criança ao nascer, instala-se numa constelação de significações. Vêm preencher muitos desejos, carências, objetos dos pais. E lhe é designado um nome, seja um nome da moda, do pai, ou de um personagem famoso que signifique algo para os pais. A criança terá de inserir28 se no lugar que o nome signifique (FERNANDEZ. 1990, p. 41) Continuando em sua entrevista,José Codo Neto, economista e empresário, Chefe da Tecninvest no Brasil por 20 anos e Presidente da Tecninvest nos Estados Unidos desde 2007, é prova viva disso; eis como reforça a importância da família em sua formação. Para mim o primeiro ponto mais marcante de minha formação foi ter, literalmente, andado com meu pai. Eu o acompanhava em viagens de cunho profissional, participei de muitas das mais importantes reuniões de sua carreira, em casa e no escritório. Presenciei fatores decisivos nos rumos das empresas. O segundo ponto mais marcante, da mesma forma, foi ter andado com meu avô, de quem herdei o “Neto” no nome. Era o neto mais novo entre os homens e por vários fatores acabei me aproximando de meu avô. Talvez eu tenha sido o único que, tanto quando solteiro como casado, convidava meu avô para sair almoçar e o acompanhava em suas viagens. Ainda hoje aprendo, também, com os irmãos do meu pai, com os quais também trato de negócios. Se do meu pai herdei seu lado meio, imediatista; com meu avô aprendi a ser 29 manso e paciente. E finalizando este capítulo, para entendermos melhor a especificidade de atuação do Psicopedagogo, veremos um pouco mais das dificuldades que aparecem durante os cursos, assim como alguns sucessos já alcançados. 27 VISCA,Jorge. Clínica Psicopedagógica:Epistemologia Convergente. Porto Alegre Artes medicas.. 1987 28 FERNANDEZ, Alícia. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre.Artmed.1991 29 A entrevista concedida encontra-se na íntegra no final deste trabalho, em Anexos 24 1.3 SUCESSOS E DESAFIOS: Como foi dito, a Educação Financeira surgiu da necessidade de atender mudanças no comportamento financeiro, no entanto ainda não existem registros sobre a eficiência da mesma. O que se sabe, mas apenas por relatos de educadores e alunos, é que parece ter havido uma compreensão do perigo dos juros, empréstimos e dívidas, assim como da importância de se fazer uma reserva financeira. Tais colocações fazem sentido se atentarmos para o fato de que a maioria dos cursos tem seu foco nessas questões, principalmente os patrocinados por instituições financeiras que estão visando à aquisição do hábito da economia por parte de seus clientes. Ao que tudo indica, é grande a tendência para o consumo consciente, logo, o que se espera é que os produtos antes oferecidos a partir do “dinheiro fácil” percam força. Savoia, Saito e Santana, no artigo Paradigmas da Educação Financeira no Brasil (2007), já haviam alertado para essa tendência, citando inclusive alguns importantes autores da literatura internacional sobre educação financeira, como é o caso de Douglas B. Bernheim e Daniel M.Garrett: Bernheim e Garrett (2003) apresentam evidências de que a inclusão de programas de educação financeira nas empresas norte-americanas, a partir da década de 1980, vem estimulando o aumento da adesão aos planos previdenciários, como os 401 (k)s. Além de expandir esses programas em outras organizações, esse resultado contribui para campanhas em defesa da formação de poupança previdenciária, com base no conhecimento financeiro. (SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007, p. 1126) O leitor poderá confirmar essa informação consultando alguns sites que deixo como sugestão ao final deste trabalho. Poderá, também, tomar conhecimento de alguns cursos oferecidos; a maior parte deles aborda contenção de despesas, negociação de dívidas e investimentos. No entanto, ainda não existe em nenhum deles elementos que ajudem o consumidor a entender a razão de suas dificuldades financeiras e o principal, do meu ponto de vista: Como ganhar dinheiro? Que movimentos devem ser realizados para alcançar tal meta, qual o significado do dinheiro em nossas vidas e o que ele representa de fato além de ser um meio de subsistência. Não que contenção de despesas não seja importante, o é, até porque a população mundial está consumindo descontroladamente e isso tem inclusive prejudicado o meio ambiente. “Na relação com a natureza, estamos consumindo nosso patrimônio ambiental num ritmo absolutamente desastroso” (GIANNETTI, 2005, s. p.) 25 A preocupação com o consumo excessivo tem até suscitado projetos do Governo para orientar o povo em relação a essa questão, é o caso da coleção de cartilhas Meio Ambiente e Consumo, elaborada pelo IDEC, cuja preocupação está em justamente contribuir para a melhoria da formação de cidadãos conscientes em relação ao consumo.30 Contudo, para consumirmos, mesmo que de forma consciente, precisamos antes de qualquer coisa saber ganhar dinheiro, afinal, quando falamos em Finanças, uma das primeiras coisas que vem a nossa mente é a moeda, um recurso que nos cabe buscar e exige de nós um esforço, não só mental como físico e emocional. Mas, fomos preparados para essa busca? Em tese, poderíamos dizer que sim, pois vale ressaltar que já iniciamos esse processo ao nascer; como diz Rappaport, nossa primeira luta para sobreviver no mundo começou no momento de nosso parto: (...) A Carência é sentida e o organismo já luta para sobreviver. A luta entre os instintos de vida e os instintos de morte já é um combate franco nesse momento. É preciso reagir, inspirar, introjetar o mundo externo. Ou se recebe o externo, ou se deixa de viver. A angústia é a perda do paraíso Bíblico e o início da conquista do pão com o suor do próprio rosto. Perdido o útero, a criança terá de enfrentar o mundo. Construirá progressivamente suas relações afetivas e intelectuais, até que ela própria se torne progenitora. (....) Respirar marca o ponto inicial da 31 independência humana. (RAPPAPORT, 1991, p.35) No entanto, eu estaria sendo injusta se dissesse que nenhum autor se preocupou com essa questão. A educadora Cássia D´Aquino, em seu Programa para escolas públicas, apresenta os quatro pontos principais de uma Educação Financeira , entre eles Como Ganhar Dinheiro. “Desenvolver o espírito empreendedor e estimular modos inovadores de raciocínio, por exemplo, são ferramentas essenciais à preparação de nossas crianças e jovens para o futuro. 32 A colocação acima reforça a importância de estimular desde cedo para o ganho financeiro. Parece que nossa cultura não recebeu esse incentivo, talvez porque ganhar dinheiro esteja associado apenas a cumprir obrigações financeiras, assim 30 A publicação do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e do Ministério do Meio Ambiente "Consumo Sustentável: Manual de Educação" foi elaborado para o desenvolvimento de atividades de formação de professores em educação para o consumo sustentável, abordando questões como água, energia, alimentos, transportes, florestas, publicidade e lixo, sempre do ponto de vista do consumo. O manual está disponível para download gratuito no site http://www.idec.org.br/biblioteca.asp#mcs. [Nota da autora}. 31 RAPPAPORT, Clara Regina e Outros. Teorias do Desenvolvimento: Conceitos Fundamentais. São paulo:Editora Pedagógica e Universitária, 1991 32 Cf. http://www.cpt.com.br/materia/51/educacao-financeira-e-empreendedorismo-para-criancas. 26 como ganhar boa nota só é valorizada para passar de ano na escola; nunca aprendemos o prazer de estudar, sendo que este é o degrau para a vida profissional e essa por sua vez está associada ao ganho financeiro; com isso, torna-se fácil entender o porquê da falta de motivação para se ir à busca deste objeto. Portanto, meu desafio está justamente em levar o indivíduo jovem ou adulto, que apesar da idade cronológica ainda se porta como criança quando o assunto é dinheiro, a reencontrar o prazer de ir à busca pelo ganho financeiro, a suportar frustrações e estabelecer limites; com isso, ele será capaz de gerenciar suas finanças. Se hoje não consegue gerenciá-la, talvez seja justamente porque em alguma fase de sua vida a sensação de prazer foi perdida ou lhe foi tirada. Assim, eu diria que os cursos em finanças muito têm conseguido em termos de passar informações para o uso correto do dinheiro, contudo, para que ocorram os comportamentos necessários a essa mudança, ainda há muito trabalho pela frente; precisamos reaprender e isso se faz tomando consciência de como estamos nos relacionando com o uso do dinheiro hoje. Em vista do exposto, procuro com esse trabalho contribuir para que se abra uma nova frente de trabalho para os Psicopedagogos que venham a se interessar em atuar nesse campo. O terceiro capítulo será dedicado justamente à Atuação do Psicopedagogo junto a Educação Financeira, porém farei antes uma breve passagem sobre o Dinheiro, seus significados e valores, pois desconhecer essa questão afetaria a referida atuação da mesma forma que se propor a ensinar matemática sem saber o que são números, o quanto e como eles fazem parte de nossas vidas. Afinal ensinagem não se faz apenas com o Porquê sem o Para quê. 27 CAPITULO II: O DINHEIRO E SEUS PAPEIS Não é difícil de percebermos que o dinheiro tem um enorme significado para a vida humana. Ele exerce uma forte influência naquilo que pensamos sobre nós e no que os outros pensam a nosso respeito. No cotidiano, para levarmos avante nossas vidas, temos que procurar saber o custo de cada coisa da qual necessitamos. No nível sócio-político, dele depende o grau de desenvolvimento de um povo. Em vista disso, reservei este capítulo para abordar os papeis que o dinheiro pode ter para os humanos e, para tanto, trarei à consideração alguns aspectos históricos do dinheiro. 2. 1 DAS CONCHAS AO MUNDO VIRTUAL Uma coisa é certa, quando falamos em Finanças pensamos em dinheiro. Por mais que o papel – moeda se transforme e passemos cada vez menos a ter contato direto com o mesmo ainda será ele nosso foco. O dolar está morrendo, e também o iene e o marco, e as demais moedas nacionais do mundo moderno. Nosso sistema monetario global está infectado por um virus mortal e já está seriamente enfraquecido, agora é apenas uma questão de tempo até sucumbir. “O dolar, o marco e o iene se unirão ao ducado, as conchas e ao guinéu no cesto de lixo da história, como itens de interesse principalmente de antiquários excentricos” (WEATHERFORD. 1999, prefácio) 33 O Antropologo Jack Weatherford, acima mencionado, chama a atenção para o denominado “dinheiro virtual” retratando a trajetória de nossa relação com o mesmo desde a época em que o homem primitivo trocava conchas, ao escambo até os dias de hoje. Explorando tambem como as diferentes formas de troca interferiram na humanidade e todos os apspectos de nossas vidas. Vale à pena a leitura, no entanto aqui serei breve, apenas vou ressaltar algumas curiosidades como o uso do chocolate como dinheiro. Os astecas usavam o chocolate como dinheiro, ou, mais precisamente, usavam sementes de cacau, era possível comprar frutas e legumes como milho, tomates, pimentas, abóbora e amendoins. Jóias de ouro, prata, jade e turquesa. Produtos manufaturados como sandálias, 33 WEATHERFORD,Jack. A História do Dinheiro. São Paulo: Negocio Editora, 1999. 28 roupas, capas emplumadas, aramduras acolchoadas com algodão, armas, cerâmica e cestos. Carnes como peixe, veado, pato. E produtos especiais como álcool e escravos. (WEATHERFORD, 1999.pag.20) 34 Assim seja em conchas, sal, moeda, chocolate, ouro, papel ou mesmo virtual o que se sabe é que o dinheiro compra, sempre comprou e que deveria ser um meio de troca e construção. Agora o que nos resta é perguntar, para o que de fato ele tem servido e o que pode ou não comprar. E disso que vamos tratar nesse capitulo. 2.2 SIGNIFICADOS E VALORES Hoje é comum nos perguntarmos a que papel cabe o dinheiro, que lugar ele ocupa e o que exatamente ele estaria comprando em nossas vidas, ou pelo menos acreditamos poder comprar. O filósofo americano Needleman, nos leva a essa reflexão. (...) Usado de maneira correta, o dinheiro nos permite viver, comer, beber, proteger, ajudar nossas famílias e amigos, manter nossa saúde, alcançar determinados objetivos. Isso ele faz ao reconciliar conflitos externos, propiciando a existência de relacionamentos e trocas entre elementos díspares. Pode ser um instrumento do amor, do ódio, do desafio, da ternura – todos os sentimentos formais de um ser humano normal. Porém, se usado de maneira errada, o dinheiro impede o relacionamento, impede a troca entree certos elementos essenciais da vida. Enquanto droga o dinheiro simplesmente substitui uma reconciliação externa por uma confrontação interna de forças. Resolve problemas onde é necessário vivenciar as questões (...) (NEEDLEMAN, 2000, pag. 128 e 35 129) Needleman defende a ideia de que o dinheiro passa a ter o mesmo papel que a Droga. O que faz todo o sentido quando falamos em compradores compulsivos, só que ao inves de alcool e drogas usa-se o poder da compra. Dependência de substâncias é um estado caracterizado por um forte impulso para o consumo que algumas vezes se instala após um período variável de uso destas substâncias. Este impulso frequentemente apresenta um carater compulsivo, não sendo controlado apesar de consequencias fisicas, psicologicas ou sociais eventualmente graves. (RANGÉ,1995, pag 36 167) 34 WEATHERFORD,Jack. A História do Dinheiro. São Paulo: Negocio Editora, 1999. 35 NEEDLEMAN, Jacob. O Dinheiro e o significado da vida: Uma redefinição do do valor do dinheiro pela via do autoconhecimento. São Pauo: Editora Best Seller, 2000. 36 RANGÉ, Bernard. Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiatricos.Campinas: Editorial Psy,1995, 29 Isso explicaria porque os sintomas de um comprador compulsivo e as consequencias são tão semelhantes de um viciado, pois comprar compulsivamente nada mais é do que um vício, hoje já estudado e conhecido como a Oneomania atingindo especialmente as mulheres. Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, coordenador de Ensino e Pesquisa do Ambulatório 37 do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO) , do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a proporção é de quatro mulheres para cada homem com a doença. Os especialistas ainda não sabem precisamente o porquê da oneomania ser mais comum em mulheres, mas acreditam que o motivo está diretamente relacionado a condições culturais. Os fatores que levam a doença a afetar principalmente as mulheres são objeto de estudo da equipe do AMJO. Para Fuentes, a doença pode estar associada a transtornos do humor e de ansiedade, dependência de substâncias psicoativas (álcool, tóxicos ou medicamentos), transtornos 38 alimentares (bulimia, anorexia) e de controles de impulsos. Sendo assim da mesma forma que o dependente químico, onde o excesso causa danos, a abstnência fará tão mal quanto. Isso explica estados de depressão e euforia diante da presença ou falta do objeto que lhe de a sensçasão de “poder”. A oneomania também emerge para aliviar sentimentos de grande frustração, vazio e depressão. É um desejo de possuir, de ter poder, que fica reprimido. Ao não conseguir dar vazão ao seu desejo, a pessoa sofre uma enorme pressão interna que a leva à necessidade de possuir coisas novas como única forma de prazer, explica a psicóloga Denise Gimenez Ramos, 39 coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP. Se podemos então encontrar respostas do comprador compulsivo na psicologia, onde fica então a avareza, ganâcia, luxuria e pobreza nessa questão? Bem não sou historiadora e nem religiosa, mas tenho de reconhecer serem áreas riquissimas onde podemos encontrar respostas e novamente casa-las com a Psicologia. Assim voltando a Needleman. O mesmo que acontece com o sexo acontece com relação ao dinheiro. A igreja medieval tolerava a troca, necessária de dinheiro por bens, mas considerava o comercio ou o ramo dos negocios, em si, algo moralmente perigoso. A tarefa da igreja era regular a vida economica da sociedade, de forma que as necessidades materiais dos individuos não se tornassem os 37 AMJO, Ambulatório do Jogo Patológico Amjo - do Instituto de Psiquiatria - IPq-HCFMUSP e a Associação Nacional do Jogo e outros Transtornos do Impulso 38 GUERRA, Marcelo. Oneomania: Gastadores compulsivos uma doença cada vez mais frequente, São Paulo, 05/09/2007. Disponivel em >: http://saudealternativa.org/2007/05/09/oneomania-gastadores-compulsivosuma-doenca-cada-vez-mais-frequente 39 GUERRA, Marcelo. Oneomania: Gastadores compulsivos uma doença cada vez mais frequente..São Paulo, 05/09/2007. Disponivel em >: http://saudealternativa.org/2007/05/09/oneomania-gastadores-compulsivosuma-doenca-cada-vez-mais-frequente 30 anseios que fazem uma pessoa se distanciar dos princípios religiosos de comportamento. Por exemplo, as leis contra a usura, ou interesse excessivo pelo infortúnio ou necessidade de outra pessoa. No mundo capitalista é dificil para nós compreender porque as tradições religiosas sempre desaprovavam com tanta veemência a cobrança de juros. Esquecemos, que antes de nossa era, em geral , o indivíduo só pedia um empréstimo de dinheiro quando em situação de miséria absoluta. A cobrança de juros de tal empréstimo era visar lucro sobre a miséria do meu 40 proximo – portanto uma forma de avareza.(NEEDLEMAN. 2000, pags 66-67) Irônico pensar, mas quando falamos de miséria - avareza e ganância estamos vivendo da mesma forma que a Idade Medieval, apenas que se mudam as Instituiçoes, o que antes era papel da Igreja hoje são as grandes financeiras. Isso falando de um País onde se empresta dinheiro por juros a mais de 7% a/m. O que daria um total de 84% a/a. São Paulo - Os juros cobrados por bancos no empréstimo pessoal e no cheque especial voltaram a subir em agosto, informou hoje a Fundação Procon de São Paulo. Esta foi a quarta alta seguida registrada na pesquisa mensal, após um período de estabilidade. No empréstimo pessoal, a taxa média subiu de 5,42% ao mês em julho para 5,44% ao mês em agosto. Já a taxa média do cheque especial registrou alta de 9,06% ao mês para 9,10% ao 41 mês, na mesma comparação. Sem falar ainda nas Igrejas Evangélicas que tem sido motivo de escandalos com os milhões que lucram de seus fieis, entre muitos os casos um dos que mais chamou atenção da imprensa foi o do casal da Renascer em Cristo. (...) A Igreja Apostólica Renascer em Cristo é a segunda maior denominação neopentecostal do País em número de fiéis e de templos. Movimentação financeira. Estevam e Sônia Hernandes deixaram de comparecer à audiência em que seriam confrontados com uma equipe de fiscais da Fazenda Estadual que rastreou a movimentação financeira de dez empresas abertas pelo casal e depois repassadas para outros integrantes da igreja. Ao final do levantamento, os fiscais detectaram nelas rombo de R$ 7 milhões, apenas em tributos não 42 pagos.(...) 40 NEEDLEMAN, Jacob. O Dinheiro e o significado da vida: Uma redefinição do valor do dinheiro pela via do autoconhecimento. São Paulo: Editora Best Seller, 2000. 41 CASTRO, Fabricio. Juros bancários sobem pelo 4º mês seguido. Agência Estado.São Paulo, 12/08/2010. Disponivel em >: http://portalexame.abril.com.br/economia/noticias/procon-sp-juros-bancarios-sobem-pelo-4omes-seguido-587256.html 42 TOZZI, Antônio. Na prisão também se evangeliza, diz juiz ao casal Hernandes: Líderes da Igreja Renascer declaram-se culpados de contrabando de divisas, mas pedem clemência. Agência Estado. 17 de agosto de 2007 | 14h 17. Disponível em>: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,na-prisao-tambem-se-evangeliza-diz-juiz-ao-casalhernandes,36507,0.htm 31 Assim estamos diante de um quadro onde um se torna escravo, totalmente dependente do outro que exerce o poder econômico. E isso nós vivemos em todos os tipos de relações sejam entre casais, familias e governo. É claro que aqui me refiro à “relacionamentos doentios”, não há problema que um provenha financeiramente se e outro que receba retribuido de outras formas, num casamento isso é comum, o risco é justamente quando existem cobranças impossiveis de serem pagas, sejam elas financeiras ou emocionais, fazendo assim o papel dos juros abusivos. Na psicologia comportamental cognitiva encontramos o que se chama de transtorno de personalidade dependente, individuos que na tentativa de manter seus relacionamentos se colocam numa postura de total dependência se deixando incluisive serem manipulados. (...) O problema central destes pacientes é a dificuldade de tomar decisões independentemente. O paciente considera-se incapaz, não tem autoconfiança e elege alguem de quem dependa integralmente para que o comande. Esse alguem pode ser um dos pais ou o conjuguê. O paciente sente medo intenso de ser rejeitado e anula-se o tempo todo com o 43 objetivo de evitar a rejeição (RANGÉ , 1995, pag. 214) O que se esperar finaceiramente do individuo com esse transtorno? Isso merece um estudo, eu mesma inicei meus primeiros atendimentos abordando esses aspectos, mas infelizmente ainda não se encontram tantos estudos dentro de outros comportamentos financeiros que não o de comprador compulsivo, mas não é dificil imaginar que esses pacientes se liguem em individuos controladores, manipuladores, provavelmente de personalidade narcisica e histriônica, que nescessitam de se sentirem superiores e admirados, utilizando para isso do dinheiro e sexo. Os sintomas aqui que poderiamos sugerir seriam a ganacia, luxuria e miséria. No entanto os cineastas já foram mais longe que estudiosos do comportamento financeiro. Filmes: E O Vento Levou44, Wall Street45, Proposta Indecente46 e Prenda- 43 RANGÉ, Bernard. Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiatricos. Campinas. Editorial Psy, 1995. 44 FLEMING, Victor, CUKOR, George e WOOD, Sam. Produção:David O. Selznick. DVD: O Vento levou. Estados Unidos: 1939. Sinopse do filme: Ambientado na época da Guerra Civil Americana, conta a história de Scarlet O'Hara, sua transformação em uma mulher guerreira, após ver sua família em má situação Scarlet luta para defender sua terra e jura a si mesma que nunca mais passará fome. Duração: 241 min. Fonte: Internet 45 STONE, Oliver. Wall Strett – Poder e Cobiça. Produção:Edward R. Pressman Estados Unidos: 1987. Sinopse do filme: Um ambicioso e jovem corretor da bolsa sonha conhecer seu ídolo, um milionário ganancioso 32 me se For Capaz47 esse baseado em fatos verídicos, retratam bem essa relação: dinheiro - poder - sexo. Esse último me chama a atenção, é impossivel não perceber o quanto foi psicopedagogico o papel do agente Carl Hanratty na vida de Frank William Abagnale48, Jr, com o qual mantem relação de amizade até hoje. Assim tanto a psicanalise ou linhas da psicologia muito podem esclarecer sobre algumas condutas financeiras e a relação das mesmas com possiveis transtornos e/ou desvios de personalidade. Nesse momento o educador financeiro encontra uma barreira que vai alem de seus conhecimentos, onde cabe a interferencia destes campos, no entanto trata-se de um processo longo, tempo esse que alguns casos não podem esperar. Assim deposito aqui minha esperança na Psicopedagogia que tem um papel importante em trazer a consciência a forma como o individuo apreende o uso do dinheiro no seu mundo, podendo assim rever conceitos e valores e se for o caso apreender de outras formas atingindo resultados num espaço de tempo a curto e medio prazo. Pelo que podemos ver até o momento os cursos de Educação Financeira foram buscar bases na Economia, Administração e mais recentemente na Psicologia ou Psicanálise. A atuação do Psicopedagogo nesse caso seria justamente fazer a ponte entre essas ciências. e frio, que ignora os sentimentos quando se trata de negócios, manipulando o jovem para obter informações. Duração: 126 min.Fonte : Internet 46 LYNE, Adrian. DVD Proposta Indecente. Produção:Sherry Lansing. Estados Unidos: 1993.Sinopse: Um casal falido conhece um excentrico milionário que oferece ao marido a proposta de um milhão de dolares para passar uma noite de amor com a sua mulher. Duração: 117 min. Fonte: Internet 47 SPIELBERG, Steven. DVD: Prenda-me se for capaz. Produção:Walter F. Parkes e Steven Spielberg.Estados Unidos: 2002. Sinopse: Baseado em fatos reais, conta a história de Carl Hanratty, agente do FBI que passa anos atrás de Frank Abagnale Jr, um falsário que aplicava golpes, chegando a descontar 2,5 milhões de dólares em cheques falsos. Atualmente Frank trabalha para o FBI. Duração: 140 min. Fonte: Internet 48 Frank William Abagnale, Jr. (Condado de Westchester, 27 de Abril de 1948) foi um falsificador de cheques e impostor estado-unidense por cinco anos na década de 1960. Atualmente preside a Abagnale and Associates, uma empresa de consultoria contra fraudes financeiras. Sua história serviu de inspiração para o filme Catch Me If You Can ("Prenda-me se for capaz" no Brasil ), baseado em sua biografia não oficial de mesmo nome. Fonte: Internet. 33 CAPÍTULO III: ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO O psicopedagogo é um profissional que atua em diversos campos como escola, saúde e empresas. Para iniciar esse capitulo farei um breve relato sobre o trabalho em psicopedagogia, apresentando o nome de alguns autores e suas obras. 3.1 A PSICOPEDAGOGIA : A Psicopedagogia chegou ao Brasil em 1970, visando atender inicialmente a educação nos problemas de aprendizagem tendo como contribuição outras áreas, como a médica, psicologia, psicanalise, pscopedagogia, sociologia e outras. A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda,o problema de aprendizagem, colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que embrionários, para atender essa demanda, constituindo-se, assim, numa prática.” (BOSSA. 49 2000) A Psicopedagogia é reconhecida como uma especialização, já sendo aprovada e implantada nos estabelecimentos de ensino. O Projeto de lei nº 128, de 2000, do O Ilustre Deputado Claury Alves da Silva – PTB. Autoriza o Poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir 50 problemas de aprendizagem. Hoje são muitos seus campos de atuação desde clínicas e instituições, como as escolas, hospitais e empresas. Quanto a sua regulamentação acontece o Manifesto de apoio a aprovação ao PROJETO DE LEI No 3512 DE 2008 , Autoria: Deputada Professora Raquel Teixeira. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da atividade de Psicopedagogia. 51 49 50 BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. PROJETO DE LEI No 128, DE 2000. Deputado Claury Alves da Silva – PTB. http://www.abpp.com.br/leis_setembro_integra.htm. 51 Disponivel em>: PROJETO DE LEI No 3512 DE 2008. Autoria da Deputada Professora Raquel Teixeira- PSDB. Disponivel em >: http://www.abpp.com.br/lei_3512_de_2008.pdf 34 Presentemente temos dentre os profissionais muitos que se destacam e tiveram grande contribuições, cito abaixo alguns nomes apenas para conhecimento fazendo abaixo referencia a alguns de seus livros. Entre eles Jorge Pedro Luiz Visca, 52 Criador da Epistemologia Convergente linha que propõe um trabalho clínico utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Escola de Genebra (Psicogenética de Piaget), Escola Psicanalítica (Freud) e Psicologia Social (Enrique Pichon Rivière) Seu Livro Clinica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente. Porto Alegre, 1978 Alicia Fernandez, formada pela Facultad de Psicopedagogía da Universidade de Salvador, Buenos Aires, Argentina. Tem desempenhado fundamental papel no desenvolvimento e formação de psicopedagogos em toda a América Latina e em Portugal. Seus livros, entre eles Inteligência Aprisionada,53 Porto Alegre, RS. 1991, são base teórica de muitos estudos recentes nesta área. No Brasil temos nomes como Nádia Bossa54, graduada em Pedagogia e Psicologia, com especialização em Psicopedagogia, Mestra em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutora em Psicologia e Educação pela Universidade de São Paulo. Autora de diversas obras sobre o tema. Tornou-se uma grande referencial na área de Educação no Brasil e Elisabeth Polity55, psicopedagoga, psicanalista, terapeuta familiar, Mestre em educação e Doutorando em psicologia. Ainda poderia citar muitos outros nomes, no entanto seria impossivel num só trabalho, no entanto deixo outras referencias em sugestões para leitura caso seja de interesse. 52 VISCA,Jorge, SANTOS. Epistemologia Convergente: Clinica Psicopedagogica. São Paulo: Artes Medicas,1987. 53 FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua familia. Porto Alegre: Artmed editora, 1991. 54 55 BOSSA, Nadia. Dificuldades de Aprendizagem. São Paulo: Artmed, 2000. POLITY, Elisabeth. Dificuldade de aprendizagem e familia: Construindo Novas narrativas. São Paulo: Vetor editora, 2001. 35 Como disse no incio, a Psicopedagogia chegou ao Brasil em 1970, com muitas conquistas e realizações que merecem maior atenção no entanto inviável numa breve apresentação ilustrar todos esses anos. No entanto, a Associação Brasileira de Psicopedagogia completa 30 anos, e seu site está disponivel para todas duvidas e informações que possam vir interessar. Atualmente sobre a Presidência de Quézia Bombonatto. 56 Para Finalizar não poderia deixar de citar a frase do grande educador Jean Piaget quando se refere a Educação. A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. (JEAN PIAGET) E como criar, criticar, verificar, não aceitando simplesmente o que nos é passado se não aprendemos isso? Acredito que é esse o momento de atuação do Psicopedagogo, trazer a luz capacidades que já existem mas que por alguma razão nunca foram descobertas. 3.2 DA PSICOLOGIA PARA A PSICOPEDAGOGIA Hoje em dia, Especialistas em Finanças e da Psicologia já conversam sobre a atuação destes dois campos de conhecimento quando falamos em Finanças Pessoais, já é possível se encontrar livros e trabalhos publicados na Internet que apresentam essa proposta de trabalho. Quando todo mundo está excitado com o mercado, você deve tomar muito cuidado. O preço das ações não se baseia apenas em valores econômicos, mas também em fatores psicológicos que influenciam o mercado. O economista da Yale University, Robert Shiller, um dos líderes do movimento das finanças comportamentais, enfatizou que as modas e as dinâmicas sociais têm uma função muito importante na determinação do preço das ações. Ele demonstrou que o preço das ações tem se mostrado muito volátil para ser explicado apenas por flutuações nos fatores econômicos, como dividendos e lucros. Shiller desenvolveu a hipótese de que muito da 56 Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) http://www.abpp.com.br 36 volatilidade adicional poderia ser explicado por modas e manias que têm grande impacto nas 57 decisões dos investidores. (SHILLER, s.d., s.p) A Psicanalista Vera Rita Ferreira de Mello defendeu seu doutorado sobre Psicologia Economica, assunto tambem de seu livro: Psicologia Econômica: estudo do comportamento economico e tomada de decisão. Trazendo o tema para o Brasil. (...) o estudo do comportamento econômico dos indivíduos e dos grandes grupos pode representar uma possibilidade de debater fenômenos psico-econômicos de modo a contribuir 58 para políticas econômicas mais justas e apropriadas aos nossos problemas; (FERREIRA) Continuando no trabalho em consultorio, como Psicologa Clinica, busquei junto a Profissionais de Finanças e Economia obter essa troca de experiencias pois se trata de campos que fogem do meu conhecimento, em entrevista a Educadora Financeira Andreá Voute já atentava para essa questão da Psicologia e das possibilidades da atuação de um profissional mais especializado para alguns casos. Uma confusão mental, a mesma que faz com que entrem numa dívida, faz com que não saibam o que querem. Assim, não tem metas e muitas nem sonham mais, só reagem aos estímulos de consumo e se esforçam para pagar o que já devem. Com o tempo essas pessoas podem se desorganizar e precisar de ajuda para equilibrar as finanças, ajuda profissional e das pessoas com quem elas convivem. O problema é que nem todos os clientes de serviços financeiros com dificuldades aceitam fazer terapia, acho que o psicopedagogo pode ser mais bem recebido. O lado humano das finanças é forte, mas nem sempre reconhecido, o ser humano não tem apenas o lado intelectual que faz contas. A Economia é uma matéria de 59 humanas representada por números). (VOUTE) O economista Jose Codo Neto reforça em sua entrevista. Porque então se compra tanto a crédito? Aí é que entra o psicológico, por duas vias de acesso: A) Emoções individuais e coletivas com relação à aceitação, idealização, medo, insegurança além de outros; e B) A propaganda profissional. As empresas e as mensagens publicitárias lançam mão de ferramentas psicológicas para atrair o consumidor. Mas o 57 SHILLER, Robert, Escreve sobre finanças comportamentais e foi co-organizador do NBER workshops com Richard Thaler, um dos mais conhecidos autores em Finanças comportamentais. Disponivel em>: http://www.monitorinvestimentos.com.br/forum/?q=node/1190 58 FERREIRA, Vera Rita de Mello. Em 2005, tornou-se representante da IAREP no Brasil, e hoje é membro também da SABE-Society for the Advancemente of Behavioral Economics, que reúne economistas comportamentais e funciona em conjunto com a IAREP. D E FE N D E U T E S E D E D O U T O R A D A O P S IC O L O G I A E C O N Ô M IC A : O R I G E N S , M O D E L O S , P R O P O S T A S . Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2007. Disponivel http://www.verarita.psc.br/portugues.php?id=psico 59 VOUTE, Andréa. Palestrante e consultora de planejamento financeiro. Tem criado e ministrado cursos e palestras, sobre dívidas e orçamento. Atualmente trabalha com gestão focando em finanças. Idealizadora do site: http://intfinanceira.wordpress.com. Segue em anexo a Transcrição de sua Entrevista. 37 consumidor ainda não aprendeu ferramentas psicológicas para fazer prevalecer seus 60 interesses ou se defender). (NETO, s.d.,s.p) Alem disso, parecia que depoimentos de clientes, não deixavam dúvidas da ligação existente entre finanças e psicologia; como tambem da importancia de um outro profissional, nesse caso propus a atuação do psicopedagogo, que é meu interesse apresentar neste trabalho. Já com base na Psicanálise, eu podia encontrar respostas a nossos comportamentos financeiros, no entanto o tratamento nesses casos pode ser longo o que dificultava para atender o publico com o qual trabalhava até o momento em questão, adultos necessitando de soluções mais rapidas, foi quando me propus trabalhar com técnicas da Psicologia, especificamente com a linha TCC: Terapia Comportamental - Cognitiva, pois estava lidando com quadros que apresentavam um alto estado de depressão e ansiedade por consequencias de problemas finaceiros , ficava claro a necessidade de obter algumas respostas mais imediatas. Utilizando uma base empírica para a teoria da melancolia de Freud, Beck desenvolveu estudos sobre a depressão. Beck (2006) diz que, ao descobrir que sua pesquisa invalidava conceitos psicanalíticos de depressão, Aeron Beck descobriu que os sintomas da psicopatologia da depressão podiam ser melhor explicados através do exame dos pensamentos conscientes do paciente, no lugar de tentar trazer a tona (hipotéticos) desejos reprimidos e motivações inconscientes. Ele desenvolveu um tratamento para depressão baseado em auxiliar os pacientes a solucionar seus problemas atuais, mudar seus comportamentos disfuncionais e 61 responder de forma adaptativa a seus pensamentos disfuncionais.(STRAUCH, 2009) Com isso fica claro entender o que Andreá Voute percebe como confusão mental. Assim cheguei ao trabalho o qual intitulava de Psicologia Financeira, adaptando instrumentos da Terapia Cognitiva na tentativa de diminuir estado de ansiedade e angustia, atraves da conscientização de como pensamos, sentimos e nos comportamos diante de determinadas situações que envolvem dinheiro, de um modo geral. 60 NETO, José Codo. Economista e Empresário, Chefe da Tecninvest no Brasil por 20 anos e Presidente da Tecninvest nos Estados Unidos desde 2007. Segue em anexo a Transcrição de sua Entrevista. 61 STRAUCH, Zeo. Aron Beck e Terapia Cognitiva. 20 de Abril de 2009. Disponivel em http:// http://www.psicologado.com/site/escolas/cognitivismo/aaron-beck-e-a-terapia-cognitiva 38 As descrições dos pacientes sobre si mesmos e de suas experiências evidenciavam pensamentos e visões negativas de si mesmos, de suas experiências de vida, do mundo e do seu futuro. Beck deu a esses pensamentos o nome de “pensamento automático”, visto que não precisam ser motivados pelas pessoas para vir à tona. Esses pensamentos são o resultado da forma do indivíduo interpretar as situações do dia-a-dia, ou seja, o que fica “gravado” como importante não é o que está acontecendo, mas a visão do indivíduo sobre aquele fato. Tais 62 visões demonstram distorções cognitivas da realidade vivida. (STRAUCH, 2009) No entanto com todos esses trabalhos percebo que o alcance de resultados ainda parece ser de poucos e caminha lentamente. O consumidor brasileiro terminou o primeiro semestre com mais dívidas e isso faz com que a segunda metade do ano comece com aumento nos níveis de inadimplência. Segundo a consultoria Serasa Experian, o calote ficou 3,9% maior em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Este foi o terceiro aumento seguido. Os economistas da Serasa explicam que o brasileiro ainda está endividado com as compras realizadas no Dia das Mães e Dia dos Namorados. O resultado de pendências acumuladas é o 63 atraso em algumas contas. Fato esse explicado facilmente uma vez que vivemos numa sociedade de consumo, assim não é apenas uma mudança de habitos que nos propomos, e sim uma conscientização social. Lojas de departamentos de vários andares, shopping centers que oferecem todos os tipos de serviços, boutiques finas que servem champanhe aos clientes, pequenas lojas que vendem toda sorte de produtos por menos de R$ 2,00. Há décadas consumir deixou de ser um simples ato de subsistência para ser identificado com uma forma de lazer, de libertação e até mesmo de cidadania. Homens e mulheres são levados a consumir, mesmo sem necessidade, apenas pelo simples ato de comprar. Para alguns pesquisadores, consumir é indispensável para fazer a economia girar e os países se desenvolverem. Para outros, o consumo desenfreado é uma grave doença moderna, com complicadas conseqüências para a sociedade e para o meio 64 ambiente. Assim apesar dos esforços de todos esses profissionais é fato que nem todas as pessoas conseguem aplicar conceitos e orientações basicas passados nos cursos de finanças. E como se existisse um espaço a ser preenchido entre a Economia e a Psicologia, foi quando me deparei com a Psicopedagogia, afinal falar em finanças tanto para o adulto como para a criança é mais do que simplesmente fazer calculos ou saber investir, é tambem um aprendizado e esse por sua vez e resultado do meio em que vivemos desde a familia ao social. 62 STRAUCH, Zeo. Aron Beck e Terapia Cognitiva. 20 de Abril de 2009 . Disponivel em http:// http://www.psicologado.com/site/escolas/cognitivismo/aaron-beck-e-a-terapia-cognitiva 63 Disponivel em>: http://noticias.r7.com/economia/noticias/brasileiro-faz-mais-dividas-e-calotes-crescem-emjulho-20100812.html 64 A Insustentável sociedade de Consumo. http://www.agrosoft.org.br/agropag/101315.htm Agrosoft Brasil: 16/06/2008. Disponivel em>: 39 A modalidade de aprendizagem é como uma matriz, um molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas diferentes situações de aprendizagem. Se analizarmos a modalidade de aprendizagem de uma pessoa, veremos semelhanças com sua modalidade sexual e até com sua modalidade de relação com o dinheiro. Pois a sexualidade como a aprendizagem e até a conquista do dinheiro, são maneiras diferentes que o desejo de posessão do objeto tem para 65 apresentar-se” (FERNANDEZ) Quando trabalhamos em Educação Financeira esses desejos tambem veem aparecer, brincadeiras do tipo “esse será rico”, “esse é meu herdeiro’ ou “vai ser pobre que nem seu pai” são tão significativos como quando um pai expressa para a profesora que o filho é “burro” que nem ele, ou “tem de ser melhor do que eu fui na escola”. Ora já sabemos que o ganho financeiro é resultado de um esforço que se inicia no nascimento, chegando na vida adulta onde seu trabalho é reconhecido financeiramente, com isso fica facil de entender essa relação. Se por um lado, em familias com maior grau de escolaridade, desde cedo, espera-se que a criança seja bem sucedida, por outro, em familias com baixo grau de escolaridade é muitas vezes a escola, que espera que a criança não seja bem sucedida. Estas expectativasconstruidas sob preconceitos-costumam gerar um quadro paralisador que afeta o desempenho 66 escolar do sujeito. (POLITY) Afetam o desempenho escolar e sem duvida o desempenho social, então o que se esperar desse individuo agora adulto e provedor. Com relação ao conhecimento, podemos observar esses fatores presentes quando se trata de repetir a relação com o saber, impostas pelos membros das gerações anteriores, determonando escolhas, impondo decisões sobre a carreira e mesmo levando o sujeito a seguir caminhos profissionais, que as vezes nada tem a ver com suas possibilidades ou 67 desejos. (POLITY) Numa familia onde é dificil aceitar que o filho pense diferente, isso pode gerar conflitos, e assim na tentativa de recusar os papeis que lhe são impostos poderá vir a se formar os sintomas, pois ou é isso ou terá que enfrentar a desaprovação dos pais. Além da influencia da familia, não podemos deixar de levar em conta o meio social, quais valores e preconceitos são passados em relação ao trabalho, classes sociais e diferentes profissões. 65 65 FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua familia. Porto Alegre: Artmed editora,1991, pag107. 66 POLITY, Elizabeth. Dificuldade de Aprendizagem e Familia: Construindo novas narrativas.São Paulo: Vetor editora, 2001, pag.33. 67 POLITY, Elizabeth. Dificuldade de Aprendizagem e Familia. 2001, pag.33. Vetor editora. São Paulo. 40 Pois se ocorresse uma paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura, também suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto seriam diferentes, devido as influências que sofreram por seus meios sócio-culturais” (VISCA) 68 Isso faz sentido como já disse anteriormente, se fossemos analisar sobre culturas, onde é passado de pai para filho e neto as profissões, é o caso das panificadores quando portugueses, cantinas na cultura italiana, ou o comercio nos povos arabes. No entanto ainda não existem estudos voltados para isso, são apenas vistos como tradições, mas a razão destas permanecerem em tantas gerações não teriam respostas no meio familiar e cultural? E no caso do Brasil, o que nos foi passado sobre a cultura do dinheiro? Tudo indica que gastar é o que mais fazemos, no entanto isso não é feito com planejamento e equilibrio. Assunto abordado no livro do economista Eduardo Gianetti Onde cita Locke e Russell. Agir no presente tendo em vista o futuro envolve antecipar consequências (antevisão) , delinera um caminho (estratégia) e atuar consistentemente (implementação). O problema é que cada uma destas etapas de ação intertemporal está sujeita a interferências, golpes e reviravoltas que subvertem o ideal da ação racional. No conflito entre as possibilidades e premências do momento, de um lado, e os objetivos e intenções de longo prazo, do outro, a força desgarrada e parcialmente subterrânea dos nossos desejos, afetos e pulsões resiste surdamente ao exercício sereno da liberdade (locke) e a ação pautadapela antecipação e ponderação racional 69 das consequências (RUSSELL, apud GIANNETTI,2005, pag.173) Assim diante dos fatos e estudos tudo parece gritar que soluções e mudanças de habitos finaceiros sejam mais praticos e no que for possivel aplicados a curto e medio prazo, a proposta para isso é de um acompanhamento onde possamos levar o indivio aprender diferente a trabalhar com o dinheiro, repensar e se conscientizar de suas atitudes financeiras. Esse é nosso principal aprendizado hoje. 68 Disponível em>: http://www.psicopceara.com.br/xiiencontro/visca.pdf. 69 O Valor do amanhã. GIANNETTI, Eduardo. 2005, pag. 173. Companhia das letras. São Paulo. 41 3.3 A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO Neste item, falarei um pouco sobre a proposta do trabalho, mostrando possiveis áreas de atuação do Psicopedagogo, o perfil do cliente, aspectos a serem trabalhados e as sessões propriamente ditas. Para ilustração cito um caso atendido em clinica, preservando a identidade do cliente, portanto me referindo a ele como C, e as minhas intervenções como Pp. Não existem ainda estudos especificos sobre o Atendimento Psicopedagogico junto a clientes com Dificuldades em Finanças Pessoais, assim adaptei da Psicopedagia Aplicada à Dificuldades de Aprendizagem. A atução do Psicopedagogo é possivel em clinica e instituições, minha experiência tem sido até o momento em clinica junto a jovens e adultos. 3.3.1 Bibliografia utilizada Como já citei tomei por base a Epistemologia Convergente de Visca, concomitantemente com Alicia Fernandez e Polity, por levarem em conta o papel da familia, no entanto no decorrer como poderam ver precisei da busca de outros autores e até mesmo de outras areas, como foi o caso da Terapia Comportamental e Cognitiva e Economia, como tambem já mencionado. Assim utilizei de varios instrumentos de todas essas áreas: entre eles: Jogos, Teste do Par Educativo, Caixa de Trabalho, avaliação dos pensamentos; exercicios teatrais; planilha financeira, outros... Assim temos dificuldade de aprendizagem de origem orgânica, de origem intelectual/cognitiva, de origem emocional (incluindo-se aí a familiar/relacional) O que se observa, na maioria dos casos, é um entrelaçamento destes fatores, que nos faz conhecer a complexidade da 70 situação.(POLITY. 2001. Pag.18) 70 POLITY, Elisabeth. Dificuldade de Aprendizagem e Família: Construindo Novas Narrativas. São Paulo: Vetor Editora. 2001. 42 3.3.2 O Perfil do Paciente O paciente que chega ao consultório normalmente já veem ciente de que suas dificuldades com o dinheiro podem ter sua causa também em aspectos emocionais, isso se deve por tres fatores: Eles tem um certo conhecimento por serem mais esclarecidos. Pessoas com quem convivem lhe dizem isso Já frequentou Cursos ou Consultoria Financeira e não consegue aplicar as orientações. Indicado por outros profissionais da área medica e hoje tambem financeira. Paciente que já fora atendido ou vem sendo em Psicoterapia e/ou Psicanálise A faixa etária é desde Jovens que ainda estão em formação profissional até adultos, incluisive aposentados. As queixas são proprias da fase de vida. Não sabe lidar com a mesada,o salario nunca é o suficiente, ou então no caso de aposentados hoje é comum serem vistos como “muro de arrimo” sustentando filhos já adultos e até mesmo netos. Assim em alguns casos o envolvimento da familia nesse processo é de grande importância para que o paciente alcance resultados na sua também chamada Educação Financeira. No sistema familiar, a capacidade de proporcionar um continente seguro para o desenvolvimento intelectual está primeiramente ligada à habilidade dos mesmbros da família (em especial os pais) de separarem seus próprios conflitos relativos às realizações, das expectativas e conflitos dos filhos. Esta capacidade evidentemente, está intrinsecamente enraizada no grau de satisfação, ou pelo menos de resolução, nas questões 71 intelectuais/profissionais que afetam os próprios pais. (POLITY. 2001.pag.44-45) Essa participação pode ser facilitada com o projeto de iniciação da disciplina nas escolas: 71 POLITY, Elisabeth. Dificuldade de Aprendizagem e Família: Construindo Novas Narrativas. São Paulo: Vetor Editora, 2001. 43 Estudantes de escolas públicas vão agora estudar orçamento doméstico, poupança, aposentadoria, seguros e financiamentos -- assuntos que interessam a todos, mas que apavoram até os pós-graduados. A partir de hoje, 450 escolas públicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Tocantins e do Distrito Federal iniciam aulas do projeto-piloto de educação financeira, que pretende chegar a mais de 200 mil instituições de ensino oficial e erradicar o analfabetismo 72 financeiro no país. No ensino formal, é comum solicitar os pais diante de dificuldades de aprendizagem dos filhos, acredito que o mesmo ocorrerá com Educação Financeira. Com isso amplia-se a atuação do psicopedagogo como intermediador entre escola-alunoprofessor. A escola, como instituição social, pode ser considerada de forma ampla e, de acordo com a teoria sistemica, como um sistema aberto que compartilha funçoes e que se inter-relaciona com outros sistemas que integram todo o contexto social. Entre esses sistemas o familiar é o que adiquire o papel mais relevante no referente à educação e assim, na atualidade, vemos a escola e a familia em inter-relação contínua, mesmo que nem sempre sejam obtidas atuações adequadas, já que, muitas vezes agem como sistemas contrapostos mais do que como 73 sistemas complementares. (BASSEDAS e Cols. 1996, pag.26) Vejo como positivo o fato das escolas publicas terem em seu curriculo educação financeira, por dois motivos. Primeiro a concorrência que fará junto a cursos particulares já oferecidos obrigando com isso a especialização de profissionais e qualidade deste ensino, com isso o oportunismo também tende a perder espaço, e segundo é uma maneira de forçar outra postura de instituiçoes financeiras que orientavam visando apenas seu proprio lucro ou induzindo a investimentos que tragam retorno para as mesmas. Por outro lado, penso também num aspecto negativo, como ficaria o fator de conscientização desta população em relação ao valor dos Impostos pagos. Estariam as escolas publicas autorizadas a levar o aluno questionar, refletir, repensar, criticar, sugerir, mudanças nessa politica. Em pesquisa recente pelo Ipea 74, o Brasil hoje é o pais onde mais se paga impostos e quem sofre com isso é a classe carente. O estudo divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre carga tributária e capacidade do gasto público no Brasil revela que são os trabalhadores os 72 Artigo: Escola pública inicia projeto de educação financeira. SCIARRETTA,Toni. Folha.com.09/08/2010.Disponivel em>: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/780001-escola-publica-iniciaprojeto-de-educacao-financeira.shtml 73 BASSEDAS, Eulália e COLS. Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. São Paulo: Artes Médicas, 1996. 74 Ipea: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Endereço eletrônico: www.ipea.gov.br 44 responsáveis pela maior parcela da arrecadação tributária no país. O percentual despendido para o pagamento de tributos é inversamente proporcional à renda dos brasileiros. Quem recebe até dois salários mínimos de renda familiar mensal, ou seja, meio salário mínimo percapita por mês (levando-se em conta que o padrão de estrutura familiar no Brasil é composto por quatro pessoas), contribuiu no ano passado, com 53.9% desses recursos para o pagamento de tributos. Ao passo que o esforço dos que se encontram na outra 75 ponta da tabela e recebem acima de 30 salários mínimos ficou na casa dos 29%. Seria de interesse dos Governos incluir essas informações dentro desta disciplina? Principalmente sendo sua clientela a população mais carente? Não acredito que o façam, com isso corremos o risco da Educação Financeira nos colegios estaduais sofrer a mesma repressão que o ensino passou no governo da ditadura militar. Afinal conscientizar a população dos impostos abusivos tambem faz parte de educar financeiramente, mas como faze-lo nessa situação , onde quem educa é quem cobra? Assim estou otimista em acreditar na Educação Financeira como novo campo de trabalho para o Profissional em Psicopedagogia junto ao Professor, onde cabe a esse atender a instituição. Saberá lidar com os questionamentos de seus alunos quanto a cobrança de impostos e juros? Como enfrentar esse fato sem ir contra a Escola enquanto Instituição ? (...) Assim a escola não pode agir independentemente;existe um outro sistema mais abrangente, que é a administração do estado, dentro do qual ela está inserida e que é o que propoe os objetivos minimos que cada aluno deve atingir o ensino obrigatório. Podemos , assim, considerar que, no que se refere aos objetivos finais, a escola tende a homogenização. (BASSEDAS ET cols., 1996, pag. 27) Sem dúvida essa disciplina alem de atingir nossos aspectos cognitivos e emocionais, trará muitos questionamentos que nos farão repensar sobre atitudes, valores e direitos. Assim encerrando esse trabalho pretendo agora ilustrar um pouco do que nos espera essa atuação. Escolhi para isso algumas situações viviadas em clinica e no caso o sujeito aqui já terá participado de um Curso em educação Financeira. 75 Rodrigues, Lucia. Quem paga mais impostos no Brasil são os Pobres. Publicado em 25/05/2010. Disponivel em>: http://www.capixabao.com/v3/noticia/2821/artigo/quem-paga-mais-impostos-no-brasil-sao-ospobres/ 45 3.3.3 Estudo de caso Quando tratamos de Dificuldades de Aprendizagem temos o objeto de aprendizagem, a forma como o paciente se relaciona com o mesmo e a queixa. Vamos entender no caso da Educação Financeira quais seriam cada um desses pontos: Objeto de aprendizagem: Dinheiro ou meda. Comportamentos esperados desta aprendizagem: Ganhar, Poupar/Investir e Gastar As dificuldades na aplicação desses habitos, podem ser considerados como problema na aprendizagem resultando num desequilibrio financeiro, formando assim os sintomas: PrivaçãoFinanceira, Consumismo, Avareza, Dividas, Luxuria. Todos consequencias da forma como o sujetio apreende o dinheiro. Cabe então ao Psicopedagogo investigar quais seriam as causas, ou seja, diagnosticar. Nós, no momento do diagnóstico, pretendemos fazer um corte que nos permita observar a dinâmica da modalidade de aprendizagem, sabendo que tal modalidade tem uma estória que vai sendo construída desde o sujeito e desde o grupo familiar, de acordo com a rela experiência de aprendizagem e como foi interpretada por ele e por seus pais. No diagnóstico tratamos de observar, desnudar e começar a esclarecr os significados da modalidade de 76 aprendizagem. (FERNANDEZ. 1991, pag.108) Veja o caso de C, jovem de 26 anos, completou o colegio, trabalhando desde os dezesseis anos; já havia passado por quatro empregos e tentara duas vezes montar negócio próprio. Num determinado momento, sem nenhuma explicação aparente, se desestimulava dos seus empreendimentos. Chegara a mim a ponto de fechar sua segunda empresa. C- ...Eu canso, não sei o que acontece, simplesmente me canso. Chega uma hora que não tem mais graça. Perco o “pique”. Então ou peço demissão, como fiz em 76 FERNANDEZ, Alicia. Inteligência Aprisionada. 1991.pag.108. Artmed. Porto Alegre. 46 todos meus empregos, ou fecho a empresa. Estou agora querendo fazer isso. Minha esposa reclama, fica preocupada que eu não paro em nada, e ela tm razão. Pp – Tente ver em que momentos isso acontece, você percebe alguma semelhança entre eles? C- É estranho P, mas é sempre quando estou indo bem. No ensino formal temos dificuldade de leitura, dislalia, dislexia, dificuldade de escrita, desatenção, etc... Aqui trabalharemos com comportamentos compulsivos por compra, apego ao dinheiro, desorganização financeira, desinteresse pelo trabalho, tudo isso associado às ideias, sentimentos, sensações e valores com relação ao objeto. Continuando o trabalho com C pedi que anotasse tudo o que conseguisse relacionar aos momentos que dizia perder o “pique’’. O exercico confirmou as impressões de C. C – Eu fiz o exercício, olha só o que eu observei, todas as vezes que saí de um emprego ou desisti do meu negócio, estava indo bem e ganhando muito dinheiro. Ainda fazendo o diagnóstico, investiguei também aspectos da vida familiar de C no que diz respsito a finanças e profissão. Veja o que ele me trouxe para as sessões: C- Eu lembro muito do meu pai, sabe ele se separou da minha mãe. Ele nunca me apoiara nos estudos, dizia que eu só ia gastar dinheiro com isso, que eu precisava era trabalhar e ganhar dinheiro. Nossa! Era uma cobrança em cima disso. Acho que nunca aceitei isso, tenho vergonha de dizer, mas nessas horas sinto raiva, muita raiva dele, mas ao mesmo tempo sinto culpa por me sentir assim. Hoje ele não está bem financeiramente. É um cara que não se realizou. Não acho que seja feliz. Como posso sentir isso. O Sintoma implica colocar em outro lado, jogar fora, atuar o que não se pode simbolizar, enquanto que a simbolização permite ressignificar e a ressignificação possibilita que a modalidade possa ir se modificando. Ao não poder estabelecer esse processo de ressignificação interna à propria modalidade de aprendizagem, esta modalidade fica enrijecida, impedidno ou dificultando a aprendizagem de determinados aspectos da realidade. A intervenção psicopedagogica não se dirige ao sintoma, mas pode mobilizar a modalidade de aprendizagem. A partir de tal mobilização, vamos relativizando os fatores que constroem o 77 síntoma. (FERNANDEZ. 1991, pag.117) 77 FERNANDEZ, Alicia. Inteligência Aprisionada. 1991. Artmed. Porto Alegre 47 O trabalho passa então a ser entender a modalidade de aprendizagem do sujeito, no caso de C, conscientizando-o do significado que aquele sintoma, desânimo, perda de entusiasmo, representava para que ele, permitindo com isso a elaboraração dos aspectos objetivos e subjetivos, podendo com isso apropriar-se do uso do objeto, no caso aqui, ganhar dinheiro. Como já havia dito anteriormente Fernandez atenta para as semelhanças da modalidade de aprendizagem, com a modalidade sexual e modalidade de conquista do dinheiro. Aprender é apropriar-se, apropriação que se dá a partir de uma elaboração objetivante e subjetivanmte. A elaboração objetivante permite apropriar-se do objeto ordenando-o e classificando-o, quer dizer, por exempo, reconhecer uma cadeira pondo-a na classe “cadeira”, quer dizer, trayando de usar o que a iguala a todas as cadeiras do mundo. Por outro lado, a elaboração subjetivante tratará de reconhecer, de apropriar-se dessa cadeira, à partir daquela única e intransmitível experiência que haja tido o sujeito com as cadeiras. 78 (FERNANDEZ.1991.pag117) Na outra semana, continuei com C usando na sessão uma adaptação para adultos, da caixa de Trabalho de Visca, colocando objetos, jogos, figuras relacionadas ao tema: trabalhoxprofissãoxdinheiro e levando em conta o diagnóstico de C. Veja sua reação. C – Nossa! Quantas coisas. Posso mexer em tudo? Pegou um livro: Síndrome de Peter Pan79. Do que fala esse livro? Fiquei curioso. Contei-lhe um pouco sobre o livro e a importância do mesmo na Psicologia. O livro trata de homens imaturos que se recusam a crescer. C. Trabalhou em cima da caixa, porém sempre muito reticente, perguntando sempre se poderia mesmo mexer em tudo, se poderia recortar figuras etc... A caixa deverá ser única porque ela representa uma importância significativa para o sujeito, já que contém objetos que foram escolhidos para ele, os quais intencionam promover “... a 80 superação ou a minimização das dificuldades de aprendizagem” (BARBOSA, 2002, p. 36). Trabalhei com C as suas dificuldades de explorar a caixa, ele verbalizou que de fato se sentiu constrangido em mecher nas coisas que não são suas. Esclareci então que durante as suas sessões ele poderia trabalhar a vontade com os objetos daquela caixa. Além desses recursos utilizei jogos, desenhos e solicitei que descrevesse 78 79 80 Idem. KILEY, Dan. Síndrome de Peter Pan. São Paulo: Circulo do Livro, 1983. SAMPAIA, Simaia. Caixa de trabalho: um depositário do mundo interno do aprendiz. Site Psicopedagogia Brasil. 19/12/2003. Disponivel em>: http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/artigos_simaia_caixa_de_trabalho.htm 48 suas metas, avaliamos cada uma delas passa a passo do como se sentia em relação às mesmas. A figura de seu pai sempre aparecia nas sessões, no entanto seus sentimentos foram se transformando. No desenho em particilar solicitei que ele me fizesse dois desenhos um que representasse ele e seu atual ganho financeiro, outro que representasse seu pais e seu atual ganho financeiro. Veja o que sugiu na analise; C – Nossa! Hoje eu ganho exatamente o que meu pai ganha, só que ele trabalhoiu toda a vida para isso. É justo eu ganhar igual a ele, isso significa que com sua idade provavelmente estarei ganhando mais. Pp – Você já tinha se dado conta disso? C- Acho que sim, mas nunca tinha parado para pensar sobre isso. Iniciamos então um trabalho de avaliação dos sentimentos e ideias que C tinha em relação à possibilidade de se superar ao pai profissional e financeiramente falando. Pp – Como você se sente em relação a isso? C – Estranho, sei que está certo, eu estudei mais do que ele, é natural e acho que até bom os filhos conseguirem superar os pais, mas ao mesmo tempo também fica uma sensação estranha de culpa. Pp – E seu pai ele está ciente de seu ganho hoje? C- Está. Pp – O que ele diz sobre disso? C – Não fala muito, diz que bom, mas eu sinto que no fundo é dificil para ele. E como se ele tivesse inveja de mim, ao mesmo tempo em que fala que eu preciso ganhar dinheiro tenho impressão de que o incomoda quando isso acontece. 49 Arrisco em dizer que o crescimento dos filhos, leva a questão do tempo de vida dos pais. Assim inconscientemente na tentativa de garantir sua juventude impedem emocionalmente que seus filhos se desenvolvam, atitudes como brigar com a escola, mudar de escola podem ocorrer nessa hora. No mundo adulto a luta passa a ser contra o trabalho dos filhos, assim como com o namoro e tudo o que possa representar essa independencia dos filhos, assim esse passa a ser eleito a ter um sintoma, por exemplo o não aprender,ou não ter um ganho financeiro suficiente para seu proprio sustento, mantendo com isso a fantasia dos pais em não envelhecer. Na visão de Carter, com a chegada da adolescência, um novo Ciclo Vital se inaugura na família, trazendo possibilidade de crise evolutiva ou de um momento de paralização, que se 81 encarregará de permitir que o sistema não evolua no tempo. (POLITY. 2001. Pag.39) Pp – E como você reage a isso? C- Ah! Me desanimo (tristeza). Pp – É o mesmo desânimo que relata hoje, diante de seu trabalho? C- Com certeza. Mas é dificil reagir a isso. Parece que não vou conseguir. Continuando as sessões, introduzi o desenho do par educativo, para que pudesse avaliar a relação que C tinha com o aprendente e fazê-lo repensar nessa relação, uma vez que a mesma poderia estar sofrendo influências de sua relação com a figura paterna. Aqui no caso, o ensinante seria representado pelos Educadores Financeiro, Clientes e Funcionários, enfim toda e qualquer relação voltada para seu crescimento profissional e financeiro. É pelo interesse de conhecer melhor esses modelos vinculares que começamos a incluir no diagnóstico psicopedagógico uma tecnica projetiva grafica: o desenho do par educativo. (MUNIZ. 1987. Pag. 47) 82 81 POLITY, Elizabeth. Dificuldade de Aprendizagem e Família: Construindo Novas Narrativas. São Paulo: Vetor. 2001 82 MUNIZ, Ana Maria Rodrigues. O desenho do par educativo: Um recurso para o estudo dos vinculos na aprendizagem. Boletim ABPp. (Associação Brasileira de Psicopedagogia). Ano 6, numero 13. Junho de 1987 50 Continuando intervi então com Jogos. No início C algumas vezes falava em desistir, aos poucos ia conseguindo vencer esses desfios encontrando prazer em levar até o fim os jogos, mesmo os que pareciam mais dificeis. Paralelamente a esses trabalhos propus a C. que fizesse uma lista com os ganhos que teria com sua realização profissional e financeira, para ele mesmo e para sua familia. Com o tempo C conseguiu elaborar seus conflitos que não o deixavam ir adiante em seu trabalho, precisando sempre começar de novo. C entendeu que um ganho financeiro ao contrario de lhe afastar de sua familia poderia aproximá-los mais e ainda assim proporcionar-lhes maior conforto, com isso ao inves da desmotivação C. agora tinha motivos para cresecer profissioanl e financeiramente, aprender e desenvolver suas aptidões não lhe causava mais medos. Atualmente C. voltou aos estudos e retomou o trabalho em sua empresa, a qual pensava em fechar no inicio de nossas sessões. A sessão de C pode representar um início de um novo campo de trabalho para o psicopedagogo. 51 CAPITULO IV: CONSIDERAÇÕES FINAIS Posso confessar como boa neta de Árabe que meu interesse pelo assunto Dinheiro é uma curiosidade que me acompanha desde o momento que tomei noção da existência do mesmo. Juntando a essa descoberta, situações de minha vida só vieram reforçar minha crença no quanto nossas atitudes finaceiras são tomadas de afeto, isso provavelmente explique o fato de ter escolhido inicialmente a psicologia para trabalhar essa questão. Assim, só esperei minha formação para que pudesse colocar em prática no consultório uma psicoterapia mais focada no assunto. No início foi difícil, sem trabalhos científicos e profissionais preparados nessa questão, eu podia contar apenas com a leitura de obras de auto-ajuda, com minha crença e determinação, assim levei adiante meu projeto. Como toda iniciativa pioneira, também a minha foi alvo de críticas, piadas e inveja, porém são os elogios e apoios, do público em geral que me escreve, dos meus amigos, familiares, e finalmente professores e colegas da Psicopedagogia que chego hoje à conclusão deste trabalho. Durante o processo, já com o trabalho em Psicologia Financeira em andamento, fui me deparando com outros profissionais que vinham estudando o assunto, os livros de auto-ajuda passaram, então, a dividir espaço com artigos e livros mais científicos; nessa trajetória, me deparei com a Psicologia Econômica, que sem sombra de dúvida muito virá a contribuir para o papel do psicologo/psicanalista nesse campo. Fez-se então o casamento entre economia e psicologia. No entanto minha questão ainda não era essa. Primeiro porque quando falamos em finanças, dinheiro, mesmo que virtual, ainda é a palavra e, segundo, que junto com tudo isso os cursos de educação financeira vêm crescendo desenfreadamente, bem como aqueles que se auto-intitulam terapeutas financeiros. No entanto, constato que há um grande despreparo desses profissionais em lidar com dificuldades surgidas por parte dos alunos — fato simples de entender, pois a maior parte desses educadores não teve formação adequada. Tanto a educação financeira, como a psicologia financeira ou econômica, são áreas novas no Brasil, não existe formação acadêmica para isso, as duas profissões surgiram para atender uma necessidade que há pouco vem despontando e, ao mesmo tempo, pede soluções rapidas: Entender finanças. 52 Do meu ponto de vista, esse entender finanças compreende três aspectos: Conhecimento teórico dos assuntos: Psicologia e Economia Didática de ensino. E finalmente, olhar o aluno: quem ele é e como aprende. Em meu primeiro Curso de Educação Financeira, bastou que eu formasse uma única turma para perceber que precisava desse último aspecto. Eu já me apoiava na psicologia, na pedagogia e na economia, mas não havia dúvidas, existia um espaço a ser preenchido. Foi quando cheguei à Psicopedagogia. No trabalho individual, principalmente clínico, pode ser mais fácil de trabalhar e perceber todos esses aspectos em um curto a médio espaço de tempo, no entanto, em cursos, isso é mais difícil, pois nesse caso estamos lidando com grupos heterogêneos. Ao contrário das escolas formais, onde o fator econômico seleciona o público, em Educação Financeira podemos numa mesma turma possuir pessoas de diferentes culturas, valores e classes sociais, contudo são oferecidos a elas o mesmo conteúdo, espaço, materiais e principalmente a mesma didática de ensino. Isso ocorre primeiramente porque as queixas são as mesmas, e em segundo lugar por serem cursos rápidos e de pagamentos “facilitados”— o indivíduo se propõe a pagar, mesmo sendo um valor alto para seu orçamento, outras vezes terceiros pagam por ele. Com isso já nos deparamos com uma questão que vai contra o que se ensina em finanças: parcelar e assumir compromissos acima do que sua realidade financeira permite. Existem profissionais que se propõem fazer valores de acordo com as possibilidades do cliente, mas infelizmente isso não ocorre sempre e alegando ser um curso rápido e que resolverá seus problemas o aluno assume esse gasto. Outro agravante, há cursos que são apenas uma forma de oferecer produtos, livros, cartilhas, apostilas que afiançam ser a solução, além do incentivo em investimentos na própria empresa, no caso das instituições financeiras. Assim o objetivo, que seria Administração Financeira, mantendo o equilíbrio entre o ganhar, poupar e gastar, acaba fugindo desse propósito e o aluno esperançoso, passado alguns dias do curso e não conseguindo manter na prática o que lhe é 53 ensinado, se vê novamente fracassado, reforçando uma crença negativa com relação a esse aprendizado — exatamente a mesma sensação do aluno que vai mal na escola. Assim, a famosa frase “estudar não é para mim”, passa a ser “dinheiro não é para mim”. O problema poderia ser resolvido com a disciplina adotada nas escolas: ao se levar em conta o perfil do aluno, as chances de melhores resultados aumentam. Outro ponto a ser destacado é a concorrência com cursos particulares, obrigando os profissionais do ramo a se especializarem; dessa forma, os oportunistas certamente não sobrevieriam. Nessa questão, o público das escolas estaduais já tem a ganhar uma vez que passa a ser disciplina obrigatória, mas ainda assim nos deparamos com o despreparo dos professores, isso explica o fato dos mesmos se mostrarem aterrorizados com a ideia. Mais um aspecto negativo: é como seria trabalhada a questão dos impostos pagos ao governo, bem como os juros abusivos do setor bancário, pois isso poderia gerar conflitos. Já as empresas de consultorias particulares têm mais a ganhar nesse sentindo, mesmo assim podem vir a sofrer, no futuro, certa repressão. Esse fato talvez ainda não tenha ocorrido por serem pequenas e estarem apenas começando, não oferecendo riscos para as grandes instituições financeiras e ao Governo, os quais têm muito a ganhar com a alta de juros e impostos. Com isso já antevejo uma nova possibilidade de campo para o Psicopedagogo atuar: junto aos professores e aos alunos. E com a Instituição, é claro, seja ela do Governo ou particular. E como se daria essa atuação? Quando trabalhamos dificuldades de aprendizagem, o ponto principal é entender como o aluno aprende, de onde ele vem, e a função de seu sintoma na familia. O perigo que vejo nos cursos de educação financeira é que eles caiam no mesmo erro das escolas tradicionais, onde o que importa é a nota para passar de ano; aqui no caso, a nota é Poupar: comportamento socialmente aceito. Para isso temos de aprender que dívidas são erradas e devemos gastar menos do que ganhamos. Mas como chegar a isso se nem ao menos aprendemos a ganhar e entender a razão de nossos sintomas? E mesmo que aprendêssemos, a questão não é fazer, mas como fazer. 54 Existe uma grande diferença em ensinar: Ganhe, Poupe e Gaste ou ensinar Como Ganhar, Como Poupar e Como Gastar. No primeiro modo você ensina a ação, no segundo modo você conscientiza a ação. Isso explica porque algumas pessoas aplicam o que lhes é ensinado em finaças, apenas por um tempo depois não o fazem mais. E como colar para a prova. Diante destes fatos, vejo que é possivel ver quantos são os aspectos que atingimos quando nos propomos a ensinar, sejam finanças, história, geografia, não importa, é grande a responsabilidade. Conceitos são passados, mas como fica isso em um país onde existe uma diferença gritante entre classes sociais e culturais? Como ensinar a gastar menos do que se ganha para aqueles que mal recebem para se alimentar? Como diferenciar necessidades, exessos, ou extravagâncias? Como definir até onde devemos e podemos comprar, poupar e mesmo ganhar? Quando fazer uma divida é necessário? E os que não conseguem gastar? Esbanjar para alguns pode de fato ser necessidade para outro? E como atingir aos mais abonados e gananciosos que montam suas fortunas em função da fragilidade de outros? Com tudo isso, arrisco em dizer que caminhamos pouco, seja com economia, psicologia, estamos a passos curtos. Ainda temos de vencer desigualdades sociais, entender fatores culturais e saber ler os valores e papeis familiares. Assim temos muito trabalho pela frente. Espero que com esse trabalho consiga despertar o interesse de alguns colegas em iniciarmos nesse projeto e poder dar andamento a uma nova proposta de atuação do psicopedagogo, assim como sensibilizar aos professores e instituições que prestam esse serviço, afinal, como toda e quaquer educação, aqui também se faz necessário muito estudo, muita dedicação e muito amor, aqui o aprendizado é: Fazer uso do dinheiro de forma sensata, adulta e consciente, afinal são nossas “Ações Financeiras” que muito definem do mundo em que vivemos. 55 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS: BELO, Fábio Roberto Rodrigues; MARZAGÃO, Lúcio Roberto. Avareza e perdularismo. Psyche (Sao Paulo), São Paulo, v. 10, n. 19, dez. p. 109-128. 2006 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141511382006000300008&lng=pt&nrm=iso>. 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