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O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR) 1 2 César Costa Sanches; Sueli de Castro Gomes 1 [email protected] 2 Departamento de Geografia - Universidade Estadual de Maringá / [email protected] Resumo: Esta pesquisa tem por finalidade estudar o albergue Santa Luiza de Marillac, localizada no município de Maringá, situado no noroeste do Paraná, de modo com que entendemos a importância da instituição para a mobilidade humana e o que ele altera no processo de desenvolvimento da cidade, tanto econômico como populacional. Para isso, será observado e relatado o que se passava no albergue, o contexto histórico em que a cidade se encontrava, a origem dos migrantes, seus principais objetivos, o que buscavam ou pretendiam fazer quando chegavam ao albergue e qual era o período que esses albergados pretendiam ficar na casa de abrigo ao migrante. Mediante a isso foi usado para a realização desta pesquisa, entrevistas orais com membros do albergue, com auxilio da realização de leituras, afim de adquirir um embasamento teórico necessário sobre tal assunto, para que possamos compreender e demonstrar de forma mais clara os resultados obtidos. Nesta pesquisa podemos notar como se deu a origem do albergue no município de Maringá e assim notarmos que ele tornou-se algo necessário para abrigar os migrantes que vinham para a cidade. Na presente pesquisa é possível observar como a politica da cidade auxilia a manter instituição e a sua relação com esta a fim de manter o trabalho feito aos migrantes. Palavras-chave: Albergues; Migrante; Processo migratório. Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR) INTRODUÇÃO O estudo do albergue, espaço de acolhimento e apoio ao migrante, que usa sua força de trabalho como mercadoria, nos ajuda a compreender as mudanças que são evidentes no processo de crescimento populacional e o contexto urbano em que está inserida, ou seja, usaremos da dinâmica da cidade e da instituição para assim observarmos e entendermos a razão pela qual se comporta parte do fluxo migratório da cidade de Maringá. Esta pesquisa tem o propósito de estudar a mobilidade humana, usando assim, o albergue Santa Luiza de Marillac como objeto de estudo, em que este recebe migrantes de diversos momentos que em primeiro momento acabam se fixando na instituição para buscarem no município emprego e moradia, tornando-se assim uma casa de passagem temporária, assim também ocorre no albergue da cidade de Maringá. Segundo o ex-coordenador da instituição, assim que alcançam seus objetivos, acabam na maioria das vezes saindo rumo á outro lugar, migrando novamente, ou seja, os albergues de forma geral estão em constante fluxo de itinerantes, gerando assim um fluxo migratório, por parte dos migrantes que se encontram economicamente inativos na sociedade, ou seja, trabalhadores desempregados, moradores de rua e até mesmo os dependentes químicos. No período em que foi inaugurado o albergue, 1959, a cidade de Maringá, possuía 11 anos de história e passava por alguns momentos que valem ser ressaltados. Segundo o site da prefeitura, a cidade tinha como prefeito na época, Américo Diaz Ferraz. A linha férrea da cidade foi inaugurada em 1954, quando passa o primeiro trem na cidade, meio muito utilizado pelos itinerantes naquela época. Segundo Vercezi (2001), em seu trabalho é exposto que na cidade de Maringá o projeto inicial sofreu algumas modificações, apesar de possuir um zoneamento definido. O crescimento da cidade se deu inicialmente pelo sentido Oeste-Leste, fazendo com que os sentidos Norte-Sul fossem preenchidos posteriormente. A partir do primeiro processo de povoamento da cidade, correspondente ao “Maringá Velho”, onde também possamos ainda observar construções antigas, deu-se então um crescimento espontâneo, fazendo com que o aglomerado inicial se evolua, surgindo assim outros centros comercias para que fossem gradativamente suprindo a demanda populacional, interferindo assim na estrutura ocupacional e física da cidade. A autora ainda expõe que o período que foi registrado os maiores índices de crescimento de Maringá foram entre os anos de 1953 a 1963. O traçado original da cidade era linear, mas a presença da zona férrea fez com que a direção do crescimento se desse em outro sentido privilegiando a orientação Leste-Oeste. Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 163 CÉSAR COSTA SANCHES; SUELI DE CASTRO GOMES Figura 1:Mapa de Localização do Albergue na cidade de Maringá-PR C e n s o Demográfico População Do Município Urbana Taxa de crescimento Rural Taxa de crescimento 31.318 Total Taxa de crescimento 1950 7.270 38.588 1960 47.592 654,63% 56.539 80,54% 104.131 169,85% 1970 100.100 210,32% 21.274 (-)37,63% 121.374 16,56% 1980 160.689 60,53% 7.550 (-)35,49% 168.239 38,61% 1991 234.079 45,68% 6.213 (-)8,23% 240.292 42,83% 2000 283.792 21,24% 4.673 (-)7,52% 288.653 20,05% Tabela 1:Crescimento populacional de Maringá- 1950 a 200. Fonte: IBGE -Censos 1959, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 164 O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR) METODOLOGIA Na pesquisa realizada no Albergue Santa Luiza de Marillac da cidade de Maringá cujo objeto de estudo em relação ao processo migratório que a cidade sofreu, foi analisado a procedência dos migrantes, objetivo e também o papel do albergue no aspecto de desenvolvimento de Maringá. Durante todo o processo de pesquisa, foram realizadas leituras, que consistem em artigos de revistas, livros, dissertações e teses com o objetivo em obter um embasamento teórico sobre o assunto. Posteriormente a isso fez-se a coleta dos dados quantitativos no albergue e em fontes como o IBGE, para que compreendêssemos a ideia do novo universo da nossa pesquisa. Esses autores contribuem para um maior entendimento sobre o assunto, para um maior embasamento teórico sobre a pesquisa que nos ajuda a compreender com mais facilidade os resultados coletados da pesquisa fazendo com que possamos demonstrá-los de forma precisa e clara para o leitor. Na saída de campo foram realizadas entrevistas com as pessoas envolvidas no assunto, como por exemplo, os albergados, o assistente social, funcionários e um breve diálogo com presidente Osvaldo Zanollo, para obtermos informações precisas, principalmente sobre o albergue, seu funcionamento e história. Nesse sentido, a pesquisa nos leva a estudar por meio do método dialético, historicizando os processos analisados, para perceber a dinâmica e as transformações que o albergue está inserido. RESULTADOS E DISCUSSÕES O albergue de Santa Luiza de Marillac situado em Maringá, foi fundado, como mostra o site Filhas da Caridade, em 27 de março de 1959 pelo Arcebispo de Maringá Dom Jaime Luiz Coelho, cujo seu objetivo era acolher trabalhadores rurais que vinham em busca de auxílio. As primeiras irmãs chegaram ao abrigo somente um ano após a inauguração, em 1960, para organizarem toda a parte administrativa da entidade. O albergue surgiu devido a uma necessidade que se encontrava na época, pois ali havia um alojamento para trabalhadores da companhia de melhoramentos de terras do norte do Paraná sendo assim, a Companhia cedeu este terreno para a criação de uma obra de caridade, no caso o albergue e assim que conseguiu constituir uma diretoria se firmou como uma instituição que atende migrantes e moradores de rua, como acontece na perspectiva atual. O albergue Santa Luiza de Marillac situado na zona 9 de Maringá, localiza-se na parcela central da cidade, caracterizado assim, segundo Vercezi, sendo antigamente, zona de armazéns, que eram estas destinadas para as áreas que situavam-se próximo ao pátio da estação ferroviária da cidade, para o beneficiamento da produção de café. A parcela da zona 9 em que se encontra o albergue está situada próximo a áreas destinadas, por exemplo, ao comércio principal da cidade, a famílias de baixo e médio rendimentos que Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 165 CÉSAR COSTA SANCHES; SUELI DE CASTRO GOMES trabalham no comércio e também próximo a universidade. Também se encontra ao redor da instituição áreas destinadas a famílias de médio padrão de vida, mas por situar-se próximo ao centro, e possuir ótima arborização, com o decorrer do tempo atraiu famílias de alto padrão de vida. Encontra-se também, áreas destinadas primeiramente ao armazéns gerais, abrigando assim grande diversidade populacional, entre eles, aqueles ligados aos quadros profissionais de armazenagem. Nas proximidades do albergue é possível encontrar, como principais pontos, o Atacadão e a garagem da Viação Garcia, como também pequenos comércios. Figura 5: Foto da Fachada do Albergue Santa Luiza de Marillac Fonte: Site Filhas da Caridade- Província de Curitiba O ALBERGUE O Albergue Santa Luiza de Marillac contribuiu historicamente, principalmente em relação aos migrantes, que chegavam à cidade em busca de emprego, na época a grande demanda populacional tinha como objetivo trabalhar em lavouras de café, que necessitavam de principalmente mão-de-obra, gerando assim o sustento dessas pessoas que vinham em busca de trabalho. A instituição surgiu primeiramente a fim de atender justamente essa parcela da população, os que chegavam à busca de emprego, auxiliando-os principalmente em moradia e alimentação. Valmir Aranha destaca em sua pesquisa as principais características de um albergue, sua representação na sociedade e as transformações que e a instituição imprime no município e na sociedade. O autor afirma que a interiorização do crescimento representa a extensão ou o aprofundamento das desigualdades, modificando os padrões de comportamento e os hábitos da população, que passam a conviver diretamente ou indiretamente com a pobreza e a violência urbana, de modo com que apareçam novos movimentos migratórios, principalmente das cidades menores em direção as maiores, ou seja, as metrópoles. Para amenizar essa problemática, Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 166 O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR) algumas prefeituras que conseguiram diagnosticar esse fato com antecedência, tentam controlálo pelo meio da triagem (método de cadastramento dos itinerantes) da entrada de migrantes surgindo assim os albergues dos migrantes. O autor ainda expõe em sua pesquisa, que: Modificaram-se os padrões de comportamento e hábitos de consumo da população. Cidades médias passaram a conviver com a pobreza urbana (favelas, cortiços, expansão das áreas periféricas) e a violência; surgiram novas modalidades de movimentos migratórios em direção ás cidades ( migração de população de pequenas cidades em direção as maiores, migração pendular, sazonal e de retorno). Enfim esse é o cenário de uma sociedade industrial de massa que reproduz, cada vez mais, as desigualdades sociais, expandindo essa reprodução no interior do espaço paulista ( Bógus & Baeninger, 1989:70) Sendo assim, o ex funcionário do albergue Santa Luiza de Marillac expõe que: [...] os recursos pra isso são bem escassos, mas por outro lado as pessoas não tem preconceito da instituição mas sim do usuário , elas pensam “ pra que um albergue daquele tamanho pra atender vagabundo, bêbado?” então é o preconceito do usuário e não é essa visão do resgate do ser humano, resgate dos valores da pessoa, porque muitos acham que os que veem aqui são casos perdidos, mas agente tem que olhar com outros olhos, tentar buscar, encontra a pessoa que esta ali. Segundo ARANHA estes albergues visam atender um tipo especifico de migrantes auxiliando-os em vários quesitos como, por exemplo, a obtenção da moradia, trabalho, recursos financeiros. O albergue de Maringá hospeda diversos tipos de migrantes, como dependentes químicos, pessoas com problemas familiares e de saúde, além de receber também, em minoria, uma parcela de pessoas que vieram em busca de trabalho. Após a realização das triagens esses itinerantes recebem o encaminhamento e o auxílio que necessitam, sendo ele de saúde, moradia, alimentação e emprego. O Albergue registra fortemente as migrações de uma região, caracterizando-se assim como um dos fatores em que podem contribuir para que o migrante se acostume a ir à busca de trabalho e também para aquele que já não mais possui endereço fixo, que já está integrado na rotina de migração, este sim localiza com mais facilidade as regiões que possuem as instituições que oferecem moradia ao migrante, de modo com que saiba quais municípios possuem casa de abrigo. Aranha expõe em sua pesquisa realizada no interior do estado de São Paulo que há os chamados, migrantes “experientes”, que na maioria das vezes já possuem um trajeto para onde desejam ir, pois provavelmente conhecem alguma instituição de abrigo que irá atendê-los. Diante disso é possível observar que na instituição de Maringá acontece um processo semelhante na qual os albergados, ou os que procuram qualquer tipo de apoio, possuem um maior interesse em passagens para cidades que também possuem albergues. Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 167 CÉSAR COSTA SANCHES; SUELI DE CASTRO GOMES O autor ainda expõe que, as regiões que se caracterizam como pontos de passagem dos migrantes são basicamente aquelas que possuem albergues, casa de abrigo voltado á este público, mas isso não pode ser aplicado como uma regra geral, pois mesmo os municípios que não possuem essas instituições em pró do migrante, realizam em conjunto com a assistência social local, projetos para acolherem ou atenderem os migrantes, dando também algum tipo de suporte e assistência aos mesmos. Segundo o ex-coordenador do albergue Santa Luiza de Marillac, a instituição possui um tipo de acolhimento dentro da política de assistência social, transitório e também emergencial, pois além de não permanecerem albergados por longos períodos, também realizam o trabalho de atender os albergados á qualquer hora devido a necessidade e a procura que há em relação ao albergue, devido a sua estrutura e recursos á oferecer ao albergado. De acordo com Aranha (1996), os itinerantes podem dirigir-se ao albergue de duas formas. Na primeira delas os migrantes chegam através de iniciativa própria, pois na maioria das vezes eles já ouviram falar que naquela cidade existe algum sistema de albergagem, então se dirigem para lá contando com esse auxílio. Algumas cidades possuem informações em forma de cartazes colados na rodoviária ou na ferroviária, indicando ao recém-chegado para que se encaminhe rumo á instituição. No albergue da cidade de Maringá, podemos notar, através de ex-membro do albergue que: O albergue mesmo não tem serviço de ronda, mas a prefeitura sim, a prefeitura tem o serviço de abordagem de rua, esse serviço que faz a ronda na cidade, atende as denúncias, que faz o translado do morador de rua, migrante para cá, que as vezes nem sabe. Muitos param na rodoviária, ‘dai’ os funcionários da rodoviária, os guardas já estão instruídos a chamar esse serviço, o serviço vai lá na rodoviária, traz a pessoa pra cá dai ela é atendida. Outra forma dos migrantes chegarem aos Albergues é através do sistema de ronda, que é um trabalho feito pelo Albergue integrado junto a Policia Militar, cuja sua função é percorrer certos pontos da cidade de modo a recolher a população que se encontra na rua, que também conta um sistema de comunicação onde a própria população comunica a secretaria da produção social sobre a localização das pessoas que ficam perambulando pela rua. De acordo com os dados quantitativos levantados na instituição, podemos perceber que o Albergue Santa Luiza de Marillac, registrou as principais procedências, originadas de Londrina-PR, Presidente Prudente-SP e Sarandi-PR, sendo essas as três cidades de maiores números registrados de procedências em um ano. Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 168 O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR) Figura 6: Representação das 3 cidades que apresentaram maiores procedências que o albergue Santa Luiza de Marillac recebeu durante um ano. Fonte: Cadastro do albergue Santa Luiza de Marillac Segundo o autor, esses itinerantes ao chegarem aos albergues, independente da forma como se dirigiram para lá, em primeiro momento passam por um processo de triagem e cadastramento, sendo em seguida encaminhados para uma entrevista com a assistência social. De acordo com o ex-coordenador do Albergue Santa Luiza de Marillac, na instituição é realizada uma entrevista social com o itinerante que chega ao albergue, em que é realizada a identificação do sujeito, verificar seus endereços, telefones, vínculos familiares e até mesmo seus documentos quando possuem, pois na maioria das vezes, os itinerantes acabam perdendo seus documentos, de modo com que o albergue solicite ao albergado o boletim de ocorrência, que fora realizado mediante a perda dos seus documentos, sendo assim, o albergue providencia através do boletim de ocorrência, a segunda via dos seus documentos, facilitando assim o ingresso do albergado em algum emprego na cidade ou em outra região. De acordo, com Dornelas (1997), a AVIM (Associação dos Voluntários pela Integração do Migrante), atualmente Casa do Migrante, localizada na cidade de São Paulo, um tipo de albergue especializado em atender apenas migrantes e que, como o albergue Santa Luiza de Marillac, é dirigido pela igreja católica da cidade, mas que se relaciona com a prefeitura, devido as necessidades de financiamento, tratando-se assim de uma dependência econômica, que segundo o autor se transforma numa relação de subordinação burocrática e política, tornando praticamente o albergue numa instituição pública. Os estudos de Dornelas nos ajuda a entender melhor como se dá a relação dessas casas de abrigo com a política da cidade. Em Maringá, a instituição possui certa relação com a prefeitura em que esta, colabora a despender 20% (vinte por cento) dos gastos que a instituição realiza. Este pagamento é realizado de forma bimestral de modo com que ajude o albergue arcar com suas despesas, juntamente com doações de pessoas jurídicas e físicas, o aluguel do salão de festas e através de promoções e eventos que realizam. Segundo reportagem feita pelo jornal O Diário, Albergue Santa Luiza de Marillac pede doações (2008), o albergue de Maringá recebe por dia para a realização de refeições, em torno Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 169 CÉSAR COSTA SANCHES; SUELI DE CASTRO GOMES de 150 pessoas e diariamente são consumidos 20 quilos de feijão e 80 quilos de arroz. Segundo o presidente da instituição, Osvaldo Zanollo, em entrevista concedida ao jornal, ele afirma que muita gente do Paraná e de outros Estados vem em busca de trabalho e acabam optando pelos albergues para se alojarem. ( tratar dos recursos financeiros) e caracterização da demanda, primeiro o que entra e depois o que sai. PERFIL DOS ALBERGADOS Aranha (1996) afirma que esses albergues possuem predominantemente homens em idade ativa, com baixos níveis de escolaridade e baixa qualificação profissional sendo que, assim que não conseguem emprego em determinada cidade vão à procura de novas oportunidades. Segundo, ex-coordenador do albergue Santa Luiza de Marillac, o ramo que proporciona a esta população, um maior número de vagas para emprego, é o ramo da engenharia civil, pois temos que pensar, que é um público em que o nível de escolaridade é baixa. Figura 7 : Representação da diferença de homens e mulheres atendidos no albergue Santa Luiza de Marillac. Fonte: Cadastro do Albergue Santa Luiza de Marillac-2012 No albergue de Maringá, a grande maioria dos albergados são homens que, na maioria das vezes vem, em primeiro momento sozinhos, até se estabelecerem financeiramente, para então conseguirem trazerem suas famílias e nesses casos aonde o migrante vem em busca de trabalho e emprego, para melhorar sua condições de vida, o albergue ajuda por exemplo a dispor móveis que o albergado necessite para sua moradia. Nasser, na sua pesquisa em um albergue de São Paulo, se preocupa em mostrar como se dava o convívio desses itinerantes dentro desses albergues, o perfil dos migrantes e como eram as tarefas dentro do albergue. A autora afirma que as tarefas que realizavam dentro dos albergues eram todas coletivas e quem descumprisse essas atividades, correria o risco de sair do Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 170 O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR) albergue e se transformaria num indivíduo isolado. Neste sentido, a disciplina do Albergue também é representada como um meio de demarcar a identidade de cada um, sem que a convivência obrigatória entre eles se torne insuportável. O grande problema dos migrantes que chegam em busca de trabalho é justamente a falta dele. Segundo Martins (1989) a angústia e o sentimento de fracasso desses migrantes vão aumentando cada vez mais, pois não estão completamente assimilados no processo de produção e com isso estão dispostos a qualquer tipo de trabalho. Segundo Rangel (1997) esses migrantes fazem parte do mercado de mão-de-obra livre, que se encaminham para onde há trabalho disponível para eles, com esse movimento territorial constante o migrante vai se marginalizando socialmente perdendo os valores dessa sociedade que o impede de mostrar sua verdadeira face. Segundo a autora o conforto de poder ter uma casa para si vai ficando num passado distante e viver nessa sociedade em contradição com seus valores civilizatórios é mutilar-se, é ter que se negar como sujeito dessa sociedade para dar sentido a outra conduta de vida, esse sujeito altera entre o viver em determinadas normas e desprender-se totalmente delas. Esses estudos, tanto os de Rangel como os de Martins nos contribui para nossa pesquisa em compreender e entender melhor como esses moradores de albergues se sentem, ficando longe de suas origens e ter que se verem obrigados a morarem em lugares que não sejam os mais agradáveis para eles, a modo com que tenham vergonha de dizerem que são albergados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa pode nos proporcionar um melhor entendimento sobre, o papel do albergue no desenvolvimento da cidade de Maringá, mostrando que o albergue pode ser um dos fatores que motivou a vinda de mais trabalhadores para a cidade, pois sabiam que iriam possuir alguma moradia, ou também que a casa de abrigo foi fundada para atender o grande número de pessoas que estavam chegando ao município em busca de emprego, saúde e etc. Podemos observar que o aspecto do albergue de Maringá, mudou em vista do que era antes, hoje ele atende mais usuários de drogas e moradores de rua, fazendo com que o número de pessoas que vêm em busca de trabalho como antigamente, diminuísse drasticamente. Analisamos também que a instituição funciona basicamente de doações, tanto de pessoas como das instituições, pois a prefeitura auxilia com muito pouco, disponibilizando, como por exemplo, algumas passagens e meios de transportes para que levem os albergados, onde precisam ir e arcam com 20% das despesas da instituição. Diante disso podemos observar que, com poucos recursos associados a muitos necessitados, não são todas as pessoas que recebem o beneficio, sendo assim os albergados são capazes de omitir algumas informações, a fim de terem prioridade sobre as outras para receberem tal auxilio. Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013 Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 171 CÉSAR COSTA SANCHES; SUELI DE CASTRO GOMES Na pesquisa nos defrontamos com alterações que ocorreram na estrutura administrativa da instituição, como o desligamento da participação das irmãs e também do ex-coordenador que nos proporcionou várias fontes e dados quantitativos para que fossem representados em gráficos e tabelas. Sendo assim foi realizado novos contatos e visitas a fim de obter algumas explicações do presidente da instituição, nos deparando assim com certas dificuldades no encaminhamento da pesquisa. REFERÊNCIAS ARAGÃO, Marcia Beatriz Carneiro; Um Perfil dos Migrantes que Recorrem aos Albergues da Região de Sorocaba. TRAVESSIA, São Paulo, nº29, p. 12-16, set/dezembro. 1997. ARANHA, Valmir. 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