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O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O
MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR)
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César Costa Sanches; Sueli de Castro Gomes
1 [email protected]
2 Departamento de Geografia - Universidade Estadual de Maringá / [email protected]
Resumo: Esta pesquisa tem por finalidade estudar o albergue Santa Luiza de Marillac,
localizada no município de Maringá, situado no noroeste do Paraná, de modo com que
entendemos a importância da instituição para a mobilidade humana e o que ele altera no
processo de desenvolvimento da cidade, tanto econômico como populacional. Para isso, será
observado e relatado o que se passava no albergue, o contexto histórico em que a cidade se
encontrava, a origem dos migrantes, seus principais objetivos, o que buscavam ou pretendiam
fazer quando chegavam ao albergue e qual era o período que esses albergados pretendiam ficar
na casa de abrigo ao migrante. Mediante a isso foi usado para a realização desta pesquisa,
entrevistas orais com membros do albergue, com auxilio da realização de leituras, afim de
adquirir um embasamento teórico necessário sobre tal assunto, para que possamos compreender
e demonstrar de forma mais clara os resultados obtidos. Nesta pesquisa podemos notar como
se deu a origem do albergue no município de Maringá e assim notarmos que ele tornou-se algo
necessário para abrigar os migrantes que vinham para a cidade. Na presente pesquisa é possível
observar como a politica da cidade auxilia a manter instituição e a sua relação com esta a fim de
manter o trabalho feito aos migrantes.
Palavras-chave: Albergues; Migrante; Processo migratório.
Anais do XI Seminário de Ciências Sociais - 21 a 25 de Outubro de 2013
Ciências Sociais em foco: faces do Brasil no mundo contemporâneo
Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais
O SIGNIFICADO DO ALBERGUE PARA O MUNICÍPIO DE MARINGÁ (PR)
INTRODUÇÃO
O estudo do albergue, espaço de acolhimento e apoio ao migrante, que usa sua força de trabalho
como mercadoria, nos ajuda a compreender as mudanças que são evidentes no processo de
crescimento populacional e o contexto urbano em que está inserida, ou seja, usaremos da
dinâmica da cidade e da instituição para assim observarmos e entendermos a razão pela qual se
comporta parte do fluxo migratório da cidade de Maringá.
Esta pesquisa tem o propósito de estudar a mobilidade humana, usando assim, o
albergue Santa Luiza de Marillac como objeto de estudo, em que este recebe migrantes de
diversos momentos que em primeiro momento acabam se fixando na instituição para buscarem
no município emprego e moradia, tornando-se assim uma casa de passagem temporária, assim
também ocorre no albergue da cidade de Maringá.
Segundo o ex-coordenador da instituição, assim que alcançam seus objetivos, acabam
na maioria das vezes saindo rumo á outro lugar, migrando novamente, ou seja, os albergues
de forma geral estão em constante fluxo de itinerantes, gerando assim um fluxo migratório,
por parte dos migrantes que se encontram economicamente inativos na sociedade, ou seja,
trabalhadores desempregados, moradores de rua e até mesmo os dependentes químicos.
No período em que foi inaugurado o albergue, 1959, a cidade de Maringá, possuía 11
anos de história e passava por alguns momentos que valem ser ressaltados.
Segundo o site da prefeitura, a cidade tinha como prefeito na época, Américo Diaz
Ferraz. A linha férrea da cidade foi inaugurada em 1954, quando passa o primeiro trem na
cidade, meio muito utilizado pelos itinerantes naquela época.
Segundo Vercezi (2001), em seu trabalho é exposto que na cidade de Maringá o projeto
inicial sofreu algumas modificações, apesar de possuir um zoneamento definido.
O crescimento da cidade se deu inicialmente pelo sentido Oeste-Leste, fazendo com
que os sentidos Norte-Sul fossem preenchidos posteriormente. A partir do primeiro processo
de povoamento da cidade, correspondente ao “Maringá Velho”, onde também possamos
ainda observar construções antigas, deu-se então um crescimento espontâneo, fazendo com
que o aglomerado inicial se evolua, surgindo assim outros centros comercias para que fossem
gradativamente suprindo a demanda populacional, interferindo assim na estrutura ocupacional
e física da cidade. A autora ainda expõe que o período que foi registrado os maiores índices de
crescimento de Maringá foram entre os anos de 1953 a 1963. O traçado original da cidade era
linear, mas a presença da zona férrea fez com que a direção do crescimento se desse em outro
sentido privilegiando a orientação Leste-Oeste.
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Figura 1:Mapa de Localização do Albergue na cidade de Maringá-PR
C e n s o
Demográfico
População Do Município
Urbana
Taxa
de
crescimento
Rural
Taxa
de
crescimento
31.318
Total
Taxa
de
crescimento
1950
7.270
38.588
1960
47.592
654,63%
56.539
80,54%
104.131
169,85%
1970
100.100
210,32%
21.274
(-)37,63%
121.374
16,56%
1980
160.689
60,53%
7.550
(-)35,49%
168.239
38,61%
1991
234.079
45,68%
6.213
(-)8,23%
240.292
42,83%
2000
283.792
21,24%
4.673
(-)7,52%
288.653
20,05%
Tabela 1:Crescimento populacional de Maringá- 1950 a 200.
Fonte: IBGE -Censos 1959, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000
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METODOLOGIA
Na pesquisa realizada no Albergue Santa Luiza de Marillac da cidade de Maringá cujo objeto de
estudo em relação ao processo migratório que a cidade sofreu, foi analisado a procedência dos
migrantes, objetivo e também o papel do albergue no aspecto de desenvolvimento de Maringá.
Durante todo o processo de pesquisa, foram realizadas leituras, que consistem em artigos
de revistas, livros, dissertações e teses com o objetivo em obter um embasamento teórico sobre
o assunto. Posteriormente a isso fez-se a coleta dos dados quantitativos no albergue e em fontes
como o IBGE, para que compreendêssemos a ideia do novo universo da nossa pesquisa.
Esses autores contribuem para um maior entendimento sobre o assunto, para um maior
embasamento teórico sobre a pesquisa que nos ajuda a compreender com mais facilidade os
resultados coletados da pesquisa fazendo com que possamos demonstrá-los de forma precisa e
clara para o leitor.
Na saída de campo foram realizadas entrevistas com as pessoas envolvidas no assunto,
como por exemplo, os albergados, o assistente social, funcionários e um breve diálogo com
presidente Osvaldo Zanollo, para obtermos informações precisas, principalmente sobre o
albergue, seu funcionamento e história.
Nesse sentido, a pesquisa nos leva a estudar por meio do método dialético, historicizando
os processos analisados, para perceber a dinâmica e as transformações que o albergue está
inserido.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O albergue de Santa Luiza de Marillac situado em Maringá, foi fundado, como mostra o site
Filhas da Caridade, em 27 de março de 1959 pelo Arcebispo de Maringá Dom Jaime Luiz
Coelho, cujo seu objetivo era acolher trabalhadores rurais que vinham em busca de auxílio.
As primeiras irmãs chegaram ao abrigo somente um ano após a inauguração, em 1960, para
organizarem toda a parte administrativa da entidade.
O albergue surgiu devido a uma necessidade que se encontrava na época, pois ali havia
um alojamento para trabalhadores da companhia de melhoramentos de terras do norte do Paraná
sendo assim, a Companhia cedeu este terreno para a criação de uma obra de caridade, no caso
o albergue e assim que conseguiu constituir uma diretoria se firmou como uma instituição que
atende migrantes e moradores de rua, como acontece na perspectiva atual.
O albergue Santa Luiza de Marillac situado na zona 9 de Maringá, localiza-se na parcela
central da cidade, caracterizado assim, segundo Vercezi, sendo antigamente, zona de armazéns,
que eram estas destinadas para as áreas que situavam-se próximo ao pátio da estação ferroviária
da cidade, para o beneficiamento da produção de café.
A parcela da zona 9 em que se encontra o albergue está situada próximo a áreas destinadas,
por exemplo, ao comércio principal da cidade, a famílias de baixo e médio rendimentos que
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trabalham no comércio e também próximo a universidade. Também se encontra ao redor da
instituição áreas destinadas a famílias de médio padrão de vida, mas por situar-se próximo ao
centro, e possuir ótima arborização, com o decorrer do tempo atraiu famílias de alto padrão
de vida. Encontra-se também, áreas destinadas primeiramente ao armazéns gerais, abrigando
assim grande diversidade populacional, entre eles, aqueles ligados aos quadros profissionais de
armazenagem.
Nas proximidades do albergue é possível encontrar, como principais pontos, o Atacadão
e a garagem da Viação Garcia, como também pequenos comércios.
Figura 5: Foto da Fachada do Albergue Santa Luiza de Marillac
Fonte: Site Filhas da Caridade- Província de Curitiba
O ALBERGUE
O Albergue Santa Luiza de Marillac contribuiu historicamente, principalmente em relação
aos migrantes, que chegavam à cidade em busca de emprego, na época a grande demanda
populacional tinha como objetivo trabalhar em lavouras de café, que necessitavam de
principalmente mão-de-obra, gerando assim o sustento dessas pessoas que vinham em busca
de trabalho. A instituição surgiu primeiramente a fim de atender justamente essa parcela da
população, os que chegavam à busca de emprego, auxiliando-os principalmente em moradia e
alimentação.
Valmir Aranha destaca em sua pesquisa as principais características de um albergue,
sua representação na sociedade e as transformações que e a instituição imprime no município
e na sociedade. O autor afirma que a interiorização do crescimento representa a extensão ou o
aprofundamento das desigualdades, modificando os padrões de comportamento e os hábitos da
população, que passam a conviver diretamente ou indiretamente com a pobreza e a violência
urbana, de modo com que apareçam novos movimentos migratórios, principalmente das cidades
menores em direção as maiores, ou seja, as metrópoles. Para amenizar essa problemática,
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algumas prefeituras que conseguiram diagnosticar esse fato com antecedência, tentam controlálo pelo meio da triagem (método de cadastramento dos itinerantes) da entrada de migrantes
surgindo assim os albergues dos migrantes.
O autor ainda expõe em sua pesquisa, que:
Modificaram-se os padrões de comportamento e hábitos de consumo da população.
Cidades médias passaram a conviver com a pobreza urbana (favelas, cortiços,
expansão das áreas periféricas) e a violência; surgiram novas modalidades de
movimentos migratórios em direção ás cidades ( migração de população de
pequenas cidades em direção as maiores, migração pendular, sazonal e de retorno).
Enfim esse é o cenário de uma sociedade industrial de massa que reproduz, cada
vez mais, as desigualdades sociais, expandindo essa reprodução no interior do
espaço paulista ( Bógus & Baeninger, 1989:70)
Sendo assim, o ex funcionário do albergue Santa Luiza de Marillac expõe que:
[...] os recursos pra isso são bem escassos, mas por outro lado as pessoas não
tem preconceito da instituição mas sim do usuário , elas pensam “ pra que um
albergue daquele tamanho pra atender vagabundo, bêbado?” então é o preconceito
do usuário e não é essa visão do resgate do ser humano, resgate dos valores da
pessoa, porque muitos acham que os que veem aqui são casos perdidos, mas
agente tem que olhar com outros olhos, tentar buscar, encontra a pessoa que esta
ali.
Segundo ARANHA estes albergues visam atender um tipo especifico de migrantes
auxiliando-os em vários quesitos como, por exemplo, a obtenção da moradia, trabalho, recursos
financeiros.
O albergue de Maringá hospeda diversos tipos de migrantes, como dependentes
químicos, pessoas com problemas familiares e de saúde, além de receber também, em minoria,
uma parcela de pessoas que vieram em busca de trabalho. Após a realização das triagens esses
itinerantes recebem o encaminhamento e o auxílio que necessitam, sendo ele de saúde, moradia,
alimentação e emprego.
O Albergue registra fortemente as migrações de uma região, caracterizando-se assim
como um dos fatores em que podem contribuir para que o migrante se acostume a ir à busca de
trabalho e também para aquele que já não mais possui endereço fixo, que já está integrado na
rotina de migração, este sim localiza com mais facilidade as regiões que possuem as instituições
que oferecem moradia ao migrante, de modo com que saiba quais municípios possuem casa
de abrigo. Aranha expõe em sua pesquisa realizada no interior do estado de São Paulo que há
os chamados, migrantes “experientes”, que na maioria das vezes já possuem um trajeto para
onde desejam ir, pois provavelmente conhecem alguma instituição de abrigo que irá atendê-los.
Diante disso é possível observar que na instituição de Maringá acontece um processo semelhante
na qual os albergados, ou os que procuram qualquer tipo de apoio, possuem um maior interesse
em passagens para cidades que também possuem albergues.
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O autor ainda expõe que, as regiões que se caracterizam como pontos de passagem
dos migrantes são basicamente aquelas que possuem albergues, casa de abrigo voltado á este
público, mas isso não pode ser aplicado como uma regra geral, pois mesmo os municípios que
não possuem essas instituições em pró do migrante, realizam em conjunto com a assistência
social local, projetos para acolherem ou atenderem os migrantes, dando também algum tipo de
suporte e assistência aos mesmos.
Segundo o ex-coordenador do albergue Santa Luiza de Marillac, a instituição possui um
tipo de acolhimento dentro da política de assistência social, transitório e também emergencial,
pois além de não permanecerem albergados por longos períodos, também realizam o trabalho
de atender os albergados á qualquer hora devido a necessidade e a procura que há em relação ao
albergue, devido a sua estrutura e recursos á oferecer ao albergado.
De acordo com Aranha (1996), os itinerantes podem dirigir-se ao albergue de duas
formas. Na primeira delas os migrantes chegam através de iniciativa própria, pois na maioria
das vezes eles já ouviram falar que naquela cidade existe algum sistema de albergagem, então
se dirigem para lá contando com esse auxílio. Algumas cidades possuem informações em forma
de cartazes colados na rodoviária ou na ferroviária, indicando ao recém-chegado para que se
encaminhe rumo á instituição.
No albergue da cidade de Maringá, podemos notar, através de ex-membro do albergue
que:
O albergue mesmo não tem serviço de ronda, mas a prefeitura sim, a prefeitura
tem o serviço de abordagem de rua, esse serviço que faz a ronda na cidade, atende
as denúncias, que faz o translado do morador de rua, migrante para cá, que as
vezes nem sabe. Muitos param na rodoviária, ‘dai’ os funcionários da rodoviária,
os guardas já estão instruídos a chamar esse serviço, o serviço vai lá na rodoviária,
traz a pessoa pra cá dai ela é atendida.
Outra forma dos migrantes chegarem aos Albergues é através do sistema de ronda, que
é um trabalho feito pelo Albergue integrado junto a Policia Militar, cuja sua função é percorrer
certos pontos da cidade de modo a recolher a população que se encontra na rua, que também
conta um sistema de comunicação onde a própria população comunica a secretaria da produção
social sobre a localização das pessoas que ficam perambulando pela rua.
De acordo com os dados quantitativos levantados na instituição, podemos perceber
que o Albergue Santa Luiza de Marillac, registrou as principais procedências, originadas de
Londrina-PR, Presidente Prudente-SP e Sarandi-PR, sendo essas as três cidades de maiores
números registrados de procedências em um ano.
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Figura 6: Representação das 3 cidades que apresentaram maiores procedências
que o albergue Santa Luiza de Marillac recebeu durante um ano.
Fonte: Cadastro do albergue Santa Luiza de Marillac
Segundo o autor, esses itinerantes ao chegarem aos albergues, independente da forma
como se dirigiram para lá, em primeiro momento passam por um processo de triagem e
cadastramento, sendo em seguida encaminhados para uma entrevista com a assistência social.
De acordo com o ex-coordenador do Albergue Santa Luiza de Marillac, na instituição
é realizada uma entrevista social com o itinerante que chega ao albergue, em que é realizada
a identificação do sujeito, verificar seus endereços, telefones, vínculos familiares e até mesmo
seus documentos quando possuem, pois na maioria das vezes, os itinerantes acabam perdendo
seus documentos, de modo com que o albergue solicite ao albergado o boletim de ocorrência,
que fora realizado mediante a perda dos seus documentos, sendo assim, o albergue providencia
através do boletim de ocorrência, a segunda via dos seus documentos, facilitando assim o
ingresso do albergado em algum emprego na cidade ou em outra região.
De acordo, com Dornelas (1997), a AVIM (Associação dos Voluntários pela Integração
do Migrante), atualmente Casa do Migrante, localizada na cidade de São Paulo, um tipo de
albergue especializado em atender apenas migrantes e que, como o albergue Santa Luiza de
Marillac, é dirigido pela igreja católica da cidade, mas que se relaciona com a prefeitura, devido
as necessidades de financiamento, tratando-se assim de uma dependência econômica, que
segundo o autor se transforma numa relação de subordinação burocrática e política, tornando
praticamente o albergue numa instituição pública. Os estudos de Dornelas nos ajuda a entender
melhor como se dá a relação dessas casas de abrigo com a política da cidade.
Em Maringá, a instituição possui certa relação com a prefeitura em que esta, colabora a
despender 20% (vinte por cento) dos gastos que a instituição realiza. Este pagamento é realizado
de forma bimestral de modo com que ajude o albergue arcar com suas despesas, juntamente
com doações de pessoas jurídicas e físicas, o aluguel do salão de festas e através de promoções
e eventos que realizam.
Segundo reportagem feita pelo jornal O Diário, Albergue Santa Luiza de Marillac pede
doações (2008), o albergue de Maringá recebe por dia para a realização de refeições, em torno
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de 150 pessoas e diariamente são consumidos 20 quilos de feijão e 80 quilos de arroz. Segundo
o presidente da instituição, Osvaldo Zanollo, em entrevista concedida ao jornal, ele afirma
que muita gente do Paraná e de outros Estados vem em busca de trabalho e acabam optando
pelos albergues para se alojarem. ( tratar dos recursos financeiros) e caracterização da demanda,
primeiro o que entra e depois o que sai.
PERFIL DOS ALBERGADOS
Aranha (1996) afirma que esses albergues possuem predominantemente homens em idade ativa,
com baixos níveis de escolaridade e baixa qualificação profissional sendo que, assim que não
conseguem emprego em determinada cidade vão à procura de novas oportunidades.
Segundo, ex-coordenador do albergue Santa Luiza de Marillac, o ramo que proporciona
a esta população, um maior número de vagas para emprego, é o ramo da engenharia civil, pois
temos que pensar, que é um público em que o nível de escolaridade é baixa.
Figura 7 : Representação da diferença de homens e mulheres atendidos
no albergue Santa Luiza de Marillac.
Fonte: Cadastro do Albergue Santa Luiza de Marillac-2012
No albergue de Maringá, a grande maioria dos albergados são homens que, na maioria
das vezes vem, em primeiro momento sozinhos, até se estabelecerem financeiramente, para
então conseguirem trazerem suas famílias e nesses casos aonde o migrante vem em busca de
trabalho e emprego, para melhorar sua condições de vida, o albergue ajuda por exemplo a
dispor móveis que o albergado necessite para sua moradia.
Nasser, na sua pesquisa em um albergue de São Paulo, se preocupa em mostrar como
se dava o convívio desses itinerantes dentro desses albergues, o perfil dos migrantes e como
eram as tarefas dentro do albergue. A autora afirma que as tarefas que realizavam dentro dos
albergues eram todas coletivas e quem descumprisse essas atividades, correria o risco de sair do
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albergue e se transformaria num indivíduo isolado.
Neste sentido, a disciplina do Albergue também é representada como um meio de
demarcar a identidade de cada um, sem que a convivência obrigatória entre eles se torne
insuportável.
O grande problema dos migrantes que chegam em busca de trabalho é justamente a
falta dele. Segundo Martins (1989) a angústia e o sentimento de fracasso desses migrantes vão
aumentando cada vez mais, pois não estão completamente assimilados no processo de produção
e com isso estão dispostos a qualquer tipo de trabalho.
Segundo Rangel (1997) esses migrantes fazem parte do mercado de mão-de-obra livre,
que se encaminham para onde há trabalho disponível para eles, com esse movimento territorial
constante o migrante vai se marginalizando socialmente perdendo os valores dessa sociedade
que o impede de mostrar sua verdadeira face.
Segundo a autora o conforto de poder ter uma casa para si vai ficando num passado
distante e viver nessa sociedade em contradição com seus valores civilizatórios é mutilar-se,
é ter que se negar como sujeito dessa sociedade para dar sentido a outra conduta de vida, esse
sujeito altera entre o viver em determinadas normas e desprender-se totalmente delas.
Esses estudos, tanto os de Rangel como os de Martins nos contribui para nossa pesquisa
em compreender e entender melhor como esses moradores de albergues se sentem, ficando
longe de suas origens e ter que se verem obrigados a morarem em lugares que não sejam os
mais agradáveis para eles, a modo com que tenham vergonha de dizerem que são albergados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa pode nos proporcionar um melhor entendimento sobre, o papel do albergue no
desenvolvimento da cidade de Maringá, mostrando que o albergue pode ser um dos fatores que
motivou a vinda de mais trabalhadores para a cidade, pois sabiam que iriam possuir alguma
moradia, ou também que a casa de abrigo foi fundada para atender o grande número de pessoas
que estavam chegando ao município em busca de emprego, saúde e etc.
Podemos observar que o aspecto do albergue de Maringá, mudou em vista do que era
antes, hoje ele atende mais usuários de drogas e moradores de rua, fazendo com que o número
de pessoas que vêm em busca de trabalho como antigamente, diminuísse drasticamente.
Analisamos também que a instituição funciona basicamente de doações, tanto de
pessoas como das instituições, pois a prefeitura auxilia com muito pouco, disponibilizando,
como por exemplo, algumas passagens e meios de transportes para que levem os albergados,
onde precisam ir e arcam com 20% das despesas da instituição.
Diante disso podemos observar que, com poucos recursos associados a muitos
necessitados, não são todas as pessoas que recebem o beneficio, sendo assim os albergados
são capazes de omitir algumas informações, a fim de terem prioridade sobre as outras para
receberem tal auxilio.
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Na pesquisa nos defrontamos com alterações que ocorreram na estrutura administrativa
da instituição, como o desligamento da participação das irmãs e também do ex-coordenador que
nos proporcionou várias fontes e dados quantitativos para que fossem representados em gráficos
e tabelas. Sendo assim foi realizado novos contatos e visitas a fim de obter algumas explicações
do presidente da instituição, nos deparando assim com certas dificuldades no encaminhamento
da pesquisa.
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