MGP Magazine 2008_Final 291008
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MGP Magazine 2008_Final 291008
EMOÇÃO EM DUAS RODAS POR CHRIS CARTER, JORNALISTA DE MOTOCICLISMO INTERNACIONAL E COMENTADOR O Circuito da Guia tem sido palco de grandes emoções, ao longo de 42 anos, para milhões de adeptos do motociclismo, quer sejam espectadores de bancada ou de sofá, em frente à televisão. A combinação de curvas e contra curvas, ganchos perigosos e rectas velozes tem sempre algo de diferente, para todos os gostos. as, o que pensam os actores no terreno? Quais as partes favoritas da pista para as estrelas do passado e do presente das corridas de estrada? M Talvez, sem grande surpresa, as opções dos corredores são vastas e variadas. Ron Haslam, o hexacampeão britânico do GP de Macau, agora com 52 anos, tem agradáveis recordações da carreira no Circuito da Guia e não tem dúvidas quanto à sua preferência: “A curva apertada do Hotel Lisboa. Com a escapatória, podemos arriscar cometer um erro sem ter de pagar por isso. Eu conseguia travar a fundo e depois ganhar terreno aos meus adversários, pois sabia que tinha sempre a escapatória se algo corresse mal”, diz Ron. Steve Plater (CGPM) 55 GRANDE PRÉMIO DE MACAU Michael Rutter tem sido o concorrente predominante do evento na década mais recente. O britânico de 35 anos também já venceu seis das 14 edições do GP de Macau em que esteve presente. “Acho que o meu ponto preferido nem sequer tem nome. Mas, é a curva à esquerda logo seguir à linha de partida, muito rápida... Se se entrar a voar, a cabeça fica muito próxima das barreiras de protecção. Mas, a sensação é extraordinária quando é feita com perfeição”, diz Michael. Para Steve Plater, o britânico de 40 anos e campeão de Macau em 2006 e 2007, a preferência é, mais uma vez, diferente: “A secção do Gancho Melco até a linha de chegada é a mais importante. O gancho é a parte mais lenta de todo o circuito. Sair bem, todavia, significa o percurso final do Reservatório e Pescadores até à meta. “Eu sei que se conseguir aguentar a liderança na Melco e sair bem do gancho apertado posso manter qualquer adversário mais directo à distância, como aconteceu com John McGuinness,” afirma Steve. O facto de nunca ter tido a necessidade de usar a escapatória diz bem da qualidade de Haslam. 42 (Da esquerda para a direita) Michael Rutter, Ron Haslam, Kevin Schwantz, Mick Grant e John McGuinness celebram o 40º Grande Prémio de Motos de Macau em 2006 (CGPM) O mesmo John McGuinness, vencedor do Grande Prémio em 2001, que elege a curva do Mandarim como ponto favorito. “É preciso andar sempre a mudar de direcção – esquerda, direita, esquerda, direita - na maioria do circuito. Mas, a curva do Mandarim é muito rápida.” “Aproximamo-nos em sexta, a 280 km/h, reduzimos duas velocidades e cortamo-la a direito, tal como acontece na Mather’s Cross de North West 200. Com todos os hotéis, arranhacéus, barreiras e outras protecções em ambos os lados do circuito, sentimos como se estivéssemos num túnel a 500 km/h. Não é o prazer da alta velocidade ou do perigo, mas sim do total empenho e concentração que exige todo o percurso, barreira após barreira, até à entrada e saída desta curva de alta velocidade.” O australiano Cameron Donald entreou-se em 2001 no Circuito da Guia vencendo a corrida na categoria de 600cc. Depois disso, e até hoje, o piloto de 31 anos tem sido uma presença regular no evento, sempre com lugar marcado entre os três primeiros finalistas da sua categoria. Macau deu a Cameron o primeiro cheiro das verdadeiras corridas de estrada, que lhe permitiu prosseguir com uma carreira de sucesso, tanto na Ilha de Man TT como nos principais encontros irlandeses. “S. Francisco é a parte do circuito que mais aprecio, atacando a subida pelo conjunto de curvas e contra-curvas até chegar ao topo. “Poucas pessoas sabem que Macau foi a minha primeiríssima corrida de estrada como piloto ou espectador! E, um grande acontecimento, bem como a razão de acabar por experimentar as verdadeiras corridas de estrada no Reino Unido. Depois das ruas de Macau, as cercas verdes parecem menos intimidantes!” “O circuito da Guia é um grande desafio, pois requer uma precisão ao milímetro para correr a alta velocidade, sem grande espaço de manobra para qualquer erro, e os pilotos em prova são os melhores especialistas mundiais de corridas de motos”, diz Cameron. Abraçar a parede faz parte do desafio de Macau (Steven Davison, Pacemaker Press International) Será, talvez, porque posso ver o mar por cima do pequeno muro que arranha o meu ombro esquerdo? Ou, simplesmente, porque sobrevivi a mais uma volta violenta em tão magnífica pista de corridas sendo agora recompensado com breves instantes de relaxamento, antes de iniciar uma outra? É uma sensação fantástica”, diz Mark. Outro ponto notável fica à saída da curva no cimo do monte de S.Francisco, onde se entra a raspar a tinta das barreiras, a uma velocidade impensável. Os mais de 200 cavalos de potência das máquinas deixam um rasto de listas negras no pavimento e, como as motos não são mais largas do que os nossos ombros, podemos quase entrar, como um fio no buraco de uma agulha, através do serpenteado infinito de curvas e contracurvas onde, à mais pequena distracção, se pode sair em ricochete de uma esquina mais saliente das barreiras e bater com força, a noventa graus, na próxima... paragem fatal! “Outra parte interessante da encosta de S. Francisco Os americanos têm deixado, tem a ver com o facto também, o seu carimbo em da organização pintar as O americano Mark Miller (CGPM) Macau. Mark Miller assinala, barreiras de amarelo e este ano, a oitava comparência no evento. Com preto. Um piloto a acelerar dos 60 até aos cerca 34 anos de idade, conseguiu ficar quatro vezes de 250km/h na subida tem a sensação de que entre os seis primeiros classificados e o seu melhor acabou de carregar no botão do hiperespaço resultado, um terceiro lugar, aconteceu em 2000. de um Millenium Falcon da´Guerra das Estrelas`! É uma grande investida”, admite. “Nas sete vezes em que já recebi o telefonema mágico do convite para correr no Grande Prémio Kevin Schwantz é outro americano que não de Motos de Macau, vem-me sempre à cabeça deixou os créditos por mãos alheias em Macau. os pontos que mais me encantam na corrida, O ex-campeão mundial de 500cc só aqui correu ou seja, a Curva dos Pescadores e, logo a seguir, uma vez, em 1988, mas teve uma prestação a recta curta até à última curva de cada volta brilhante com a Suzuki de fábrica que o levou completa ao circuito,” afirma Miller. à vitória. “Não sei bem o motivo, mas sinto-me envolvido por uma estranha sensação de calma sempre que entro nesta parte específica do circuito. Tal como todos os corredores dos EUA, Kevin nunca tinha competido num circuito como o da Guia e, para um profissional do mais alto nível, habituado às escapatórias de eventos GP, deve ter sido um choque cultural: “No sector de curvas e contracurvas, no topo de S. Francisco, quase encostamos à direita ou à esquerda do muro. Não me recordo do nome, mas era realmente uma sequência interessante de curvas.” Ao pensar na sua apresentação triunfal em Macau, admite que a última curva é a que tem mais presente até hoje, uma vez que significava o fim da prova e que tinha sobrevivido. O austríaco Thomas Hinterreiter, de 41 anos, tem sido um impressionante concorrente da linha da frente em Macau. Para ele, existe um lugar de eleição: “A curva do Mandarim é um grande desafio e, também, muito bonita. Ao passar por ela é como se tívessemos uma montanha-russa na nossa sala de estar,” diz Thomas. O britânico Mick Grant concorda. O homem de 64 anos de Yorkshire venceu duas vezes o GP de Macau, em 1977 e 1984, mas foi em 1982, quando terminou em segundo para Ron Haslam, que Grant enfrentou uma situação inolvidável. “Macau tem para mim momentos únicos e excelentes recordações das corridas e das pessoas que ali conheci. Mas, nunca esquecerei uma das voltas da corrida de 1982, ao comando da enorme Suzuki 1023cc de quatro tempos. Em algumas curvas, um piloto acredita sempre que pode fazêlas mais depressa do que o normal. “Nesse tempo, a linha de chegada e partida situava-se num local diferente do actual e a primeira curva, hoje conhecida por Curva do Mandarin, chamava-se então Curva do Yacht Clube. Entrava-se nela a alta velocidade, mas não no limite. Com o decorrer da prova, comecei a acreditar que era possível, afinal, entrar e avançar pela curva sempre a acelerar. Numa das voltas tentei, mas perdi o controlo da dianteira a qualquer coisa como 250 km/h. Ainda pensei que era o dia da minha lotaria. Todavia, de algum modo consegui sair e continuar a corrida em segurança. Nunca mais tentei repetir a proeza que, no final, se transformou numa viagem à lavandaria para lavar a roupa interior!” admite Mick. 55 GRANDE PRÉMIO DE MACAU 43
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