revista angrad - Informação para Autores

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revista angrad - Informação para Autores
Associação Nacional dos Cursos de
Graduação em Administração
REVISTA ANGRAD
Volume 7
Número 1
Rio de Janeiro
Jan/Fev/Mar
2006
A Revista ANGRAD é uma publicação da ANGRAD (Associação Nacional dos cursos de
Graduação em Administração). Com periodicidade trimestral, a Revista ANGRAD tem
como missão ser um meio de difusão do estado da arte do ensino e pesquisa em administração, oportunizando a apresentação de teorias, modelos, pesquisas e retrospectivas que
abordem o processo de ensino-aprendizagem e intensifiquem a prática da educação em
disciplinas dos Cursos de Administração.
Revista ANGRAD/Associação Nacional dos cursos de Graduação em Administração.
– v.7, n.1, (Jan./Fev./Mar. 2006) - Rio de Janeiro: ANGRAD, 2006 –
trimestral
1. Administração - Periódico
ISSN – 1515 -5532
Projeto Gráfico e Editoração: Milla Santana
Impressão: Gráfica Dominaret
Revisão Editorial: Milla Santana
As opiniões emitidas nos textos publicados são de total responsabilidade dos seus respectivos autores.Todos os
direitos de reprodução, tradução e adaptação estão reservados.
A Revista ANGRAD, publicada trimestralmente, completa um volume a cada ano e é distribuída gratuitamente aos seus associados. Associações através do Portal www.angrad.org.br e os números anteriores estarão
disponíveis, enquanto durarem os estoques.
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Mauro Kreuz
Equipe ANGRAD
Luiz Carlos da Silva
Renata Demôro
Gleverson Bruno G. Soares
Carlos Augusto Cruz
Editorial
O primeiro volume de nossa Revista ANGRAD do ano de 2006 traz como novidades
a reforma do nosso Comitê Editorial e a modificação de sua missão. Buscando incrementar
sua qualidade e internacionalizar nosso periódico, foram convidados novos componentes
para integrarem o Comitê Editorial. Os professores convidados são pesquisadores de renome internacional que vão contribuir para, através de suas sugestões, elevar o padrão de
nossa Revista, dando-lhe maior visibilidade e respeitabilidade no ambiente acadêmico.
A nova missão da Revista ANGRAD, exposta no verso da folha de rosto de cada
exemplar, foi ajustada aos objetivos precípuos da ANGRAD que conduzem ao fomento da
qualidade do ensino da Administração. Entendemos que o ensino para ser eficiente precisa
estar associado à prática, induzindo o estudante à reflexão das teorias divulgadas nos livros
adotados nos cursos existentes no país, colocando-o em contacto direto com a realidade.
Em nosso país, parece não haver um periódico científico voltado, especificamente,
para o tema Ensino e Pesquisa em Administração. Para atender a essa missão, a nossa Revista estará veiculando teorias, modelos, pesquisa e retrospectivas que abordem o processo de ensino-aprendizagem e intensifiquem a prática da educação em disciplinas do Curso
de Administração. Neste número, portanto, encontram-se artigos que abordam essa temática
e revelam resultados de pesquisa elaborada por docentes com a participação de discentes.
Ressaltamos que os artigos continuam sendo escolhidos pelo sistema de blind-review com
dois pareceristas, para garantir a imparcialidade do processo.
Como convidado, temos, neste exemplar, a contribuição do Prof. Omar Acktuff, da
Escuela de Altos Estudios Comerciales de Montreal – Canadá que aceitou fazer parte do
nosso Comitê Editorial e nos autorizou a divulgar um capítulo de seu livro Administración Y
Pedagogia, que discorre sobre o objetivo do ensino de Administração, destacando que nossas instituições de ensino precisam ser capazes de proporcionar uma formação aos futuros
profissionais a fim de que possam administrar uma empresa de maneira economicamente
eficaz, mas humanamente viável.
Expressamos nossos agradecimentos aos autores dos artigos que deram preferência
à nossa Revista para divulgar sua contribuição à ciência da Administração. Convidamos os
demais professores e pesquisadores que nos encaminhem suas reflexões e suas experiências na prática do ensino de administração e compartilhem os resultados de suas pesquisas,
pois as teorias são renovadas a partir da observação da realidade.
Profa. Maria da Graça Pitiá Barreto
Editora - Chefe
Sumário
Gestão
do Conhecimento
na Educação
Ambiental:
09 A GestãoAdo
Conhecimento
na Educação
Ambiental:
Integração
das Escolas
Primária e Secundária
a Integração adas
Escolas Primária
e Secundária
com a Universidade
paraMelhor
um Futuro Melhor
com a Universidade
para um Futuro
Edson RobertoEdson
ScharfRoberto Scharf
Eduardo José Floriano-Sierra
Eduardo José Floriano-Sierra
Eletrônico:
Tendências
e Necessidades
de Pesquisa
23 ComércioComércio
Eletrônico:
Tendências
e Necessidades
de Pesquisa
Mauricio
Mauricio Gregianin
TestaGregianin Testa
Edimara
Mezzomo Luciano
Edimara Mezzomo
Luciano
Henrique Freitas
Henrique Freitas
Identificação
dosCríticos
Fatoresde
Críticos
de Sucesso
43 Identificação
dos Fatores
Sucesso
emdeInstituição
de Ensino Superior
em Instituição
Ensino Superior
Romualdo
Douglas Colauto
Romualdo Douglas
Colauto
Caio Marcio Gonçalves
Caio Marcio Gonçalves
Ilse Maria Beuren
Ilse Maria Beuren
La Administración
y su Enseñanza:
¿Entre Doctrina
63 La Administración
y su Enseñanza:
¿Entre Doctrina
y Ciencia?y Ciencia?
Omar Aktouf Omar Aktouf
da Burocracia:
umdeEstudo
de Caso Teórico-Empírico
79 O EnsinoOdaEnsino
Burocracia:
um Estudo
Caso Teórico-Empírico
Jaqueline
de Fátima Cardoso
Jaqueline de Fátima
Cardoso
Janaína RenataJanaína
Garcia Renata Garcia
Maurício
Fernandes Pereira
Maurício Fernandes
Pereira
Um Ambiente
Virtual
para Experiências
em Administração
99 Um Ambiente
Virtual para
Experiências
em Administração
Jessé Alves Amâncio
Jessé Alves Amâncio
Elis Regina de Elis
PaulaRegina de Paula
A Gestão do Conhecimento na Educação
Ambiental: a Integração das Escolas
Primária e Secundária com a Universidade
para um Futuro Melhor
Edson Roberto Scharf
Mestre em Administração, professor universitário
Instituição: FURB – Universidade Regional de Blumenau
Rua Antonio da Veiga, 170 - 89010.970 – Blumenau - SC
e-mail: [email protected]
Eduardo José Floriano-Sierra
Dr., professor universitário
Instituição: UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
Campus da UFSC – Trindade - 88010.970 – Florianópolis - SC
e-mail: [email protected]
Resumo
Atualmente, o respeito pela natureza é mais uma atenção às normas explicitadas pela propaganda do que por aquilo que deveria ser feito para auxiliar o planeta. As pessoas sabem
que devem usar produtos que minimizam o impacto negativo na natureza, que devem
reciclar o lixo e reutilizar o papel da impressora. Não levam, porém, em consideração
pequenos detalhes, achando que, somente, quem entra para o Greenpeace ou WWF é que
estará ajudando. Este trabalho pretende demonstrar de que é possível às pessoas serem
mais conscientes com relação à conservação da natureza, mas é provável que os resultados
sejam melhores quanto mais cedo se tiver contato com o assunto de forma adequada e se
aprender a respeitar a natureza de maneira correta e sem xenofobias. A integração do
sistema educacional, ligando a escola primária e secundária com a universidade, através de
um único pensamento sistêmico com relação à educação ambiental é o fator primordial
para um planeta com um futuro. O estudo toma por base uma instituição de ensino em
Blumenau. Das 320 famílias questionadas, que representam a totalidade dos pais de alunos
matriculados, 69% responderam. Através da pesquisa percebe-se que a integração escola-
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universidade deve ocorrer em conjunto com a gestão do conhecimento para criação de
valor para o tema.
Palavras-chave: Educação ambiental, integração escola-universidade
Abstract
Currently, the respect for the nature is plus an attention to the norms explanationed for
the advertising of that by what it would have to be made to assist the planet. The people
know that they must use products that minimize the negative impact in the nature, that
they must recycle the garbage and reuse the paper of the printer. However, they do not
take in consideration small details, finding that only who enters for the Greenpeace or
WWF is that will be helping. This work intends to demonstrate of that it is possible the
people to be more conscientious with regard to conservation of the nature, but is probable
that the results are better the more early will have contact with the subject of adequate
form and if to learn to respect the nature in correct way.The integration of the educational
system, binding the primary and secondary school with the university, through an only
sistêmico thought with relation to the ambient education is the primordial factor for a
planet with a future. The study it takes for base an institution of education in Blumenau.
Of the 320 questioned families, who represent the totality of the parents of registered
pupils, 69% had answered.Through the research it is perceived that the integration schooluniversity must occur, in set with the knowledge management for creation of value for the
subject.
Key-words: ambient education, integration school-university
1. Introdução
No cotidiano das pessoas, o respeito pela natureza é mais uma atenção a algumas
normas explicitadas pela propaganda e pelo senso-comum do que exatamente por aquilo
que deveria ser feito para auxiliar a continuidade do planeta. As pessoas, em geral, sabem
que devem usar produtos que minimizam o impacto negativo na natureza, que devem
reciclar o lixo e reutilizar o papel da impressora. Grande parte destas mesmas pessoas,
porém, não leva em consideração pequenos detalhes, achando que somente quem entra
para o Greenpeace ou WWF é que estará ajudando, sem se aperceber de que as pequenas
mudanças do dia-a-dia são as mais importantes, porque se repetem milhares de vezes.
Os problemas ambientais estão entre os vários que o homem criou, como conseqüência da sua procura incessante pela evolução. Nas últimas décadas, diante da dificuldade
de criar naturalmente uma forma de ação coerente, um modo de vida que inclua o conjun-
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e Secundária com a Universidade para um Futuro Melhor
to das pessoas e atenda às necessidades humanas, a questão ambiental passou a ser tratada
oficialmente, pelo governo (1ª. reunião ocorreu em Estocolmo, 1972), e extra-oficialmente, pelas ONGs.
Este trabalho pretende demonstrar de que é possível às pessoas serem mais conscientes com relação à conservação da natureza, mas é provável que os resultados sejam
melhores quanto mais cedo se tiver contato com o assunto de forma adequada e se aprender a respeitar a natureza de maneira correta e sem xenofobias. É o pensamento, a consciência e a ação das pessoas que pode mudar o quadro atual no ambiente em que se vive.
Podem-se obter resultados mais facilmente quando as crianças e os jovens estão envolvidos
e comprometidos com a idéia. E sempre envolvido com aquilo que se pensa, se percebe, se
entende. É a Gestão do Conhecimento criando corpo.
O estudo toma por base uma instituição de ensino em Blumenau, o Colégio Shalom,
única empresa da região a ganhar duas vezes a medalha de ouro em premiação ecológica.
Das 320 famílias questionadas, que representam a totalidade dos pais de alunos matriculados, 61% responderam.
Através da pesquisa é possível perceber que a maioria tem consciência dos danos que
o consumo não consciente traz, mas muitos crêem mais na força da propaganda do que na
argumentação dos seus filhos. A integração das escolas primária e secundária com a universidade, no sentido do ensino de educação ambiental pode minimizar impactos negativos que as pessoas fazem ao planeta.
2. Desenvolvimento
2.1. Educação Ambiental
Tema cada vez mais recorrente nos noticiários, nas salas de aula e nas conversas em
meios mais intelectualizados, a proteção à natureza e o reconhecimento das fraquezas humanas relacionadas a um convívio ideal tem se tornado para muitos uma obsessão.
As conseqüências desta fragmentação de habitat tornam importantes os efeitos de
movimentos individuais e da estrutura do habitat sobre a dinâmica populacional. Ainda de
acordo com Ricklefs (2003), “...a fragmentação de habitat coloca os organismos mais próximos às bordas do habitat adequado.”
Isto se torna muito importante quando se entende que a distribuição de uma população é a sua abrangência geográfica. A presença ou ausência de habitats adequados
freqüentemente determina a extensão da distribuição de uma população, embora outros
fatores possam ter influência. O mesmo autor argumenta de que, nessa questão, “...as
distribuições geográficas das populações são determinadas pelos habitats ecologicamente
adequados.”
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Assim sendo, a preocupação, o cuidado e, em especial, o aprendizado de todos os
assuntos que dizem respeito ao trato e a preservação da natureza são fundamentais. E a
palavra fundamental, aqui, não quer dizer apenas importante, mas sim um fundamento,
uma base. Ou seja, deve ser iniciado ainda em tenra idade, quando a capacidade de
discernimento é menor, mas, em compensação, a possibilidade de as crianças entenderem
as reais importâncias da natureza são bem maiores, visto que seus valores são outros, formarem uma base firme para os assuntos relacionados à natureza. Ao chegar na universidade, a transição é mais bem aceita.
O planeta em que se vive caracteriza-se por ser semi-aberto, onde todos os elementos que o compõem estão disponíveis em quantidade determinada. Somente o Sol (energia) vem de fora do sistema. Tal qual a mensagem do comercial publicitário da ONG
OneEarth, veiculado no mundo inteiro em canais fechados, a Terra é uma nave com muitos
tripulantes. O que cada um faz dentro dela depende somente de cada um.
2.2. O cotidiano mostra a realidade
Recentemente, o Diário Catarinense trouxe matéria de Ana Paulo Cardoso (Alunos
Têm Aula Prática em Rio, p. 32, de 05.06.2005) referindo-se a cerca de 120 alunos de
duas escolas de Criciúma que analisaram os recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio
Criciúma. Ao invés de discutir geografia e ciências em sala de aula, foram conferir de
perto os problemas ambientais do município, como áreas degradadas pelo carvão ou dejetos
jogados nos rios, num projeto desenvolvido em parceria com acadêmicos da Universidade
do Extremo-Sul Catarinense.
Na matéria, há o depoimento de um aluno de 10 anos, Fernando Back, que ilustra
bem a discussão, quando fala sobre a importância de não destruir as florestas: “Vi que Criciúma
tem poucas áreas preservadas e que é preciso manter o ar puro. Se as matas forem destruídas, vamos ter
problemas também com os rios.” Não há pensamento aludindo sobre quanto o progresso é
necessário ou se será possível gastar menos água no banho de hoje à noite; apenas a percepção de que é preciso preservar. Isso, ele deve levar para a sua vida. É um aprendizado
prático que o fará perceber que as pequenas atitudes podem ser capazes de grandes alterações positivas no mundo.
Outro fato memorável foi o discurso da menina canadense Severn Suzuki, de 12
anos, durante a Eco92, no Rio de Janeiro, que em determinada altura do seu discurso diz
“...No meu país, geramos tanto desperdício. Compramos e jogamos fora. E os... Mesmo quando temos
mais do que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las.” Traz,
também, uma fala em que cita o ensinamento paterno, e conclui o pensamento com base
nele, ao dizer “...Meu pai sempre diz:Você é aquilo que faz, não aquilo que diz. Bem, o que vocês
fazem nos faz chorar à noite.Vocês, adultos, nos dizem que vocês nos amam. Eu desafio vocês. Por favor,
façam suas ações refletirem suas palavras.”
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A Gestão do Conhecimento na Educação Ambiental: a Integração das Escolas Primária
e Secundária com a Universidade para um Futuro Melhor
São palavras que trazem ensinamentos simples, porém poderosos. É o tipo de razão
que pode dar sentido ao sentimento. É uma ação contundente, ainda que seja apenas uma,
no meio de milhares de ações que são tomadas contra a natureza.
2.3. Desenvolvimento sustentável
O conceito de desenvolvimento sustentável, que contempla o equilíbrio entre os
aspectos econômico-financeiro, ambiental e social, vai sendo incorporado à sua vida pouco a pouco, sem pressão e sem falsos conceitos.
Montibeller (2004) argumenta que o ser humano não tem instruções genéticas quanto
ao consumo de energia e materiais, e que isto é mais uma questão cultural. E defende
dizendo que “...o consumo exossomático define-se em função do modo de produção e
consumo e das relações e valores sociais que se estabelecem, refletindo um modo de vida.
É neste sentido que ele é cultural.”
Landes (1998) comunga com esta idéia ao raciocinar que “...se aprendemos alguma
coisa através da história do desenvolvimento econômico, é que a cultura é a principal
geradora de suas diferenças.”
Uma economia baseada no mercado, em que cada um tem a liberdade de comprar e
vender e os preços podem encontrar o seu próprio nível baseado na procura e oferta, é
basicamente um mecanismo eficiente. Dahl (1996) diz que os problemas são atribuídos
não ao princípio abstrato, mas à sua aplicação. “Os poderosos são tentados a manipular a
situação para seu maior proveito”. Obviamente, se refere ao uso indiscriminado das riquezas naturais ou do prejuízo que podem fazer a ela.
Conforme afirma Brügger (1998), porém, o conceito de natureza não é natural, mas
um produto histórico. E os efeitos dessa visão de mundo sobre tal conceito foram profundos: a natureza deixou de ser um todo vivo e tornou-se um conjunto de recursos (instrumentos para se atingir um fim). Dessa forma, na visão da autora, “...dentro do pensamento dominante, só o que é ‘recurso’ merece ser preservado, por sua utilidade (imediata ou
potencial). Essa é a essência da ética conservacionista: a instrumentalização e a reificação
da natureza.”
A informação de que a Terra é o nosso bem mais precioso deve ser repassada às crianças, de modo que entendam a importância de tomarem pequenas ações no dia-a-dia que
podem fazer uma grande diferença para a vida de todos os seres. Especialmente com relação
a tecnologia e a produção, que normalmente são içados ao posto de vilões do meio ambiente
e o grande entrave para conseguir-se um desenvolvimento sustentável, é válido buscar a
teoria proposta por Eisler (1989), com o título de Teoria da Transformação Cultural.
É comum atribuir-se à tecnologia, em particular, a causa dos problemas ambientais.
É sabido, porém, que as pessoas não conseguiriam viver sem o uso de tecnologias. O que
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Edson Roberto Scharf e Eduardo José Floriano-Sierra
se torna conveniente discutir é o uso que se dá à tecnologia, se para a vida ou para a morte,
caso de muitas dos engenhosos produtos e programas desenvolvidos pelo homem.
Considerando toda a extensão da evolução cultural do ponto de vista da sua teoria,
Eisler (1989) afirma que se verá que as raízes das atuais crises globais remontam à mudança fundamental na pré-história, que trouxe grandes modificações não só na estrutura social, mas também na tecnologia. Foi a mudança na ênfase dada “...a tecnologias que sustentam e elevam a vida para as tecnologias simbolizadas para a lâmina; tecnologias destinadas
a destruir e dominar. Essa tem sido a ênfase tecnológica ao longo de grande parte da
história registrada. E é essa ênfase tecnológica, em vez da tecnologia por si só, que hoje
ameaça toda a vida no planeta.”
2.4. Consumo consciente: questão de consciência
Novamente, chega-se a um ponto único: é na cabeça das pessoas que o meio ambiente pode alterar seu curso. É na maneira como se vêem as coisas e não em como se fazem. A
integração escolas primária e secundária com a universidade carece de um trabalho com
este foco.
Pensando dessa mesma forma, Mendonça (2005) diz que os impactos ambientais são
problemas decorrentes de relações sociais e estas, por sua vez, são resultados de processos
mentais. “...Acostumamo-nos a pensar as coisas separadamente: indivíduos, subjetividades, grupos, sociedades, economias, raciocínios, opiniões, intuições, sensações, ambientes
internos e externos.” Há o convívio consciente com essas separações, mas quando se
aprofundam as reflexões, no longo caminho para a compreensão do mundo em que se
vive, essas separações perdem sentido, de acordo com a autora. “...Senão como explicar
onde ficam as fronteiras que separam o ambiente interno (de nossas percepções sensoriais
de sentimentos e intuições) do ambiente externo (do espaço físico e fábricas dos locais de
residência e trabalho)?”
2.5. O projeto de educação ambiental para um futuro melhor
O Colégio Shalom, na figura do seu atual diretor, prof. João Batista Cardoso de
Aguiar, juntamente com a equipe de professores e funcionários, iniciou o processo de
ensino de disciplinas de ecologia nas salas de aula, aplicando os conceitos de gestão do
conhecimento para criação de valor junto à comunidade em geral e aos pais dos alunos,
especificamente. O projeto é que os alunos, mais conscientes, cheguem à universidade e à
vida adulta vendo o planeta e as ações praticadas por eles mesmos, de uma nova maneira.
Como cada aluno do Colégio Shalom pode ser um agente multiplicador do que aprendeu sobre ecologia e suas ações podem ser inspiradoras de outras ações de outras pessoas,
natural se imaginar que a comunidade em que está inserida essa criança, agora com amplos
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A Gestão do Conhecimento na Educação Ambiental: a Integração das Escolas Primária
e Secundária com a Universidade para um Futuro Melhor
conceitos sobre respeito à natureza, tende a se influenciar por ela e tomar cuidados que
talvez até então não tivesse.
O projeto do Colégio Shalom, denominado SGA – Sistema de Gestão Ambiental foi
vencedor por dois anos consecutivos do prêmio de Gestão Ambiental instituído pelo órgão
FAEMA. Essas medalhas de ouro vieram confirmar o esforço feito por todos os envolvidos. Na sua implantação, ele fez uma apresentação e avaliação de diversas áreas, a saber:
educação ambiental; matéria-prima; otimização do consumo de energia elétrica, otimização
do consumo de água; esgotamento sanitário, poluição sonora e visual; resíduos sólidos;
paisagismo e horta orgânica. Este trabalho foca uma das áreas, a educação ambiental.
Brügger (1998) tece um comentário interessante a este respeito, quando diz que
...esse modo de pensar faz com que, na maioria das estratégias educacionais, o ‘meio ambiente’
fique limitado a seus aspectos naturais e técnicos, como mostra a forte identificação com poluição, extinção e outros temas ecológicos. Há um empobrecimento conceitual, decorrente do
diálogo insuficiente entre as áreas do conhecimento, separadas historicamente em ‘ciências humanas’, ‘ciências naturais’ e ‘ciências exatas’ e ainda pulverizadas em disciplinas.
A equipe do Colégio Shalom, ainda sem a participação dos alunos, iniciou seus encontros no formato de reuniões para que todos os envolvidos tivessem o mesmo vocabulário e pensasse de forma dirigida aos objetivos. Para isso, determinaram, em conjunto, as
metas do programa, para que pudessem agir e monitorar de forma mais constante e correta todos os passos do programa.
Aos alunos, foi dispensado um tempo realmente grande para essa conscientização.
Todos foram envolvidos e a importância desse tempo foi traduzida em dois momentos:
um, a conquista das medalhas de ouro instituídas pela FAEMA às empresas que se destacam em atividades de gestão ambiental. O outro foi a formação dos alunos como cidadãos
zelosos do planeta, atentos às suas responsabilidades como pessoa da comunidade e
multiplicadoras do esforço de conscientização.
A educação alimentar para a promoção da saúde, por exemplo, foi um dos temas que
teve ampla participação e resultados práticos. A idéia básica era mudar os hábitos alimentares das crianças, visando o melhor aproveitamento do que a natureza tem a oferecer em
termos de alimentação. Os alunos deveriam aprender as inter-relações entre solo, plantas
microorganismos e saúde.
Dentre as ações feitas com as crianças, alguma delas surtiram especial efeito, como
peças de teatro com fantoches, peças em caixote de papelão imitando televisão, palestras
para pais e crianças sobre a pirâmide alimentar, vários álbuns de germinação (feijão e
outros), brincadeiras com papel e idas a supermercados.
Também, os trabalhos feitos com hortas orgânicas e jardinagem obtiveram efeitos
excelentes, com a participação maciça dos alunos, demonstrando interesse e tornando-se,
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Edson Roberto Scharf e Eduardo José Floriano-Sierra
naturalmente, multiplicadores do conceito de preservação e respeito à natureza junto aos
seus familiares, amigos e vizinhos.
O trabalho lúdico feito com as crianças, considerado fundamental por todos os envolvidos, inclusive por elas próprias, ao demonstrarem seu agrado com as técnicas aplicadas pelas professoras, através do ensino teatral, das brincadeiras dirigidas e das aulas práticas em campo, teve um resultado ótimo.
E isto traz um retorno também para as séries superiores, visto que adolescentes já
têm muitos outros interesses, além da escola. O simples fato de as crianças estarem fazendo os trabalhos (apresentados em cartazes periodicamente) já criava um clima de boa
vontade para que os adolescentes também “vestissem a camisa”. É provável que, a partir
disto, a integração fácil entre a escola e a universidade traga resultados valiosos para a
sociedade.
Os resultados foram excelentes, também nessas fases, considerando os prêmios recebidos. Para os pais dos alunos, essa conquista e posterior divulgação foi um motivo de
orgulho e certeza de tê-los num espaço adequado para o aprendizado e para a formação de
cidadãos equilibrados e respeitosos.
Como bem afirmou Dahl (1996), a dimensão humana deve regressar ao seu lugar
central no nosso conceito de sociedade (...referindo-se ao excesso de importância dada a tecnologia
e às coisas materiais...), através do reconhecimento da importância do capital humano no
funcionamento de todos os sistemas sociais.
Temos exposta, aí, a Gestão do Conhecimento. E ao adotá-la como linha-mestra,
considerando o exemplo estudado, faz necessário entender o que pode estar por trás das
ações e possíveis reações de alunos, pais e comunidade. Afinal, a gestão do conhecimento
só é possível com seres pensantes alimentando o processo.
2.6. O pensamento como modelador da educação ambiental
A cultura ocidental adota predominantemente o pensamento linear em contraponto
aos pensamentos sistêmico e complexo. Segundo Mariotti (2000) o modelo mental linear
consolidou-se na Grécia clássica e ampliou-se tempos depois, como uma resposta do
Renascimento à Idade Média, época em que tudo era visto em termos de dogmas e teologias. “...Foi no Renascimento que se firmou o uso da razão aristotélica e da argumentação
lógica como balizadores do nosso sistema de raciocínio.”
O predomínio deste modelo foi se expandindo e tem perdurado na cultura ocidental. Esse modo de pensar é conhecido por método cartesiano. A competição predatória é
própria do sistema mental linear, por exemplo.
Já o modelo mental sistêmico relaciona os componentes de um sistema, não se restringindo a vê-los separadamente. A ecologia, por exemplo, é uma ciência sistêmica, pois
inclui o conhecimento das relações entre os seres vivos, incluindo estudos do solo, água,
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A Gestão do Conhecimento na Educação Ambiental: a Integração das Escolas Primária
e Secundária com a Universidade para um Futuro Melhor
plantas, animais etc. A prioridade é a compreensão dos fenômenos, das relações, dos fluxos de influência entre os diferentes componentes de um sistema.
O pensamento sistêmico, portanto, entende as coisas como um todo, vê as partes
como componentes de uma organização, vê as relações entre as partes. Conforme Mariotti
(2000), sistema é um conjunto de dois ou mais componentes inter-relacionados e
interdependentes, cuja dinâmica se dirige a um objetivo comum. Qualquer alteração em
uma das partes refletirá na totalidade.
O modelo mental complexo, no entanto, pede com que o usuário decida sobre as
estruturas de pensamento que deseja utilizar, adequando-as às necessidades de cada situação. O pensamento complexo propõe que se utilize o pensamento linear quando ele for
mais eficaz. Quando for ineficiente, que se utilize o sistêmico.
Conforme a introdução deste trabalho preconizou quanto ao meio, também o sistema de pensamento complexo entende de que pequenas ações podem levar a grandes resultados, dependendo da compreensão do problema. Com uma leitura distanciada e desapegada, pode-se aprender com a experiência. Considerando o tema e a proposição deste
trabalho, é possível que o pensamento complexo seja o mais adequado a ser adotado pelo
colégio Shalom. O estudo dos ecossistemas, por exemplo, inclui todos os elementos que
os compõem, assim como todas as redes de relações entre eles.
Um dos autores que mais importância dá ao pensamento complexo (MORIN, 2000)
propõe que “...analisemos nosso próprio pensamento, pois temos sido muito apegados à
estrutura de pensamento na qual fomos educados.”. E complementa dizendo que
...o modelo mental proposto pelo pensamento complexo aceita e procura entender as constantes mudanças do mundo e não nega a multiplicidade, a diversidade, a aleatoriedade e a incerteza. Ao contrário, ressalta a importância de aprendermos a conviver com elas, uma vez que
fazem parte da realidade.
Ao comparar com o sistema de pensamento que, normalmente, é usado, o linear,
vê-se que se vive freqüentemente situações que não fazem sentido para nós.
As sociedades modernas estão em processo de mudança cada vez mais rápida. Está
ocorrendo um crescente distanciamento da natureza, o que favorece um modo de vida que
supõe a idéia de que não se pertencer à natureza. Ele é vista de fora. Conseqüentemente,
os impactos ambientais gerados pelos seres humanos revelam que não são avaliados tão
graves.
Novamente neste ponto, a importância de processos bem realizados de educação
ambiental, de valoração do meio, de aumento da consciência quanto ao consumo e do
entendimento do que vem a ser crescimento sustentável, para que estas gerações vindouras consigam ser melhores do que as atuais na relação com a natureza.
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Edson Roberto Scharf e Eduardo José Floriano-Sierra
Levando em consideração essas explanações, a expressão desenvolvimento sustentável, em princípio, tem o risco de se tornar uma expressão nula, pois a maneira de vida das
pessoas hoje não é, por definição, sustentável. Nesse sentido, Furtado e Furtado (2001)
afirmam que a questão da sustentabilidade deve ter sido a maior vítima do processo de
globalização, forçando blocos regionais a avançar isoladamente, “...onde a comunidade
internacional falhou em agir.”
Continuam o raciocínio, dizendo que a pouca vontade política para implementar a
regulamentação internacional e iniciativas voluntárias tímidas, “...fazem com que a arena
internacional continue sendo bastante desigual, criando uma desvantagem competitiva
para os países que buscam maior valor agregado aos seus produtos e menor legado tóxico
para o ambiente.”
Veiga (2005) acrescenta que
...ninguém duvida de que o crescimento é um fator muito importante para o desenvolvimento. Não se deve esquecer, contudo, que no crescimento a mudança é quantitativa, enquanto no desenvolvimento ela é qualitativa. Os dois estão intimamente ligados, mas não são
a mesma coisa.
Realmente, é difícil conciliar as duas coisas, crescimento e sustentabilidade, somente com ações isoladas, sem o envolvimento do pensamento integral dos envolvidos.
3. Apresentação dos dados/evidências
Foi aplicado um questionário com perguntas fechadas e abertas, com preenchimento feito pelos pais de alunos matriculados. Dos 320 questionários enviados, 69% obtiveram resposta, sendo um excelente índice de devolução dos mesmos. Com relação à coleta
dos dados, foram obtidos os resultados a seguir detalhados:
Sobre a Q1 – Importância dos comentários e conversas dos filhos sobre o
que aprendem de educação ambiental no colégio, tem-se que 85% dos pais responderam que os filhos comentam sobre o que aprendem de educação ambiental em casa.
Por meio das respostas da Q2 – Diminuição do consumo de industrializados, a partir das conversas com os filhos, em que os pais indicaram quais produtos
eles diminuíram o consumo, a partir das conversas com os filhos, obtiveram-se respostas
diversas como: 14,5% diminuiu a compra de refrigerantes, 12,5% diminuiu a compra de
enlatados, 8,5% reduziu o consumo de salgadinhos e quase 5% diminuiu o consumo de
bolachas recheadas. Os demais produtos, como sacolas plásticas, detergentes, desinfetantes, alimentícios, água e energia, condimentos, chocolates ou balas obtiveram em média
de 1 a 2% das respostas. Nessa questão, alguns pais não responderam porque não adotaram
o consumo consciente.
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A Gestão do Conhecimento na Educação Ambiental: a Integração das Escolas Primária
e Secundária com a Universidade para um Futuro Melhor
Uma questão pode ser complementar à outra, pois se os filhos comentam com os
pais sobre o aprendizado de temas ambientais, conservação, sustentabilidade ou consumo
consciente, talvez haja reações positivas em direção a minimizar a compra de produtos
industrializados. Além disso, os pais percebem que se os filhos estão dando importância ao
tema, também eles têm que dar o exemplo, como pais cônscios das suas responsabilidades
e como educadores.
Quando perguntado na Q3 – Percepção da consciência sobre assuntos relacionados ao meio ambiente, 37% dos respondentes disseram que percebem estar
conscientes no dia-a-dia sobre a importância da educação ambiental e 38% afirmaram já
ser conscientes antes mesmo das conversas com os filhos. Para quase 21% dos entrevistados, percebem que estão um pouco mais conscientes, mas quase 5% afirmaram que não,
que continuam agindo como antes das conversas com os filhos.
Embora a consciência ecológica possa ser estimulada por vários meios, é importante
entender que os filhos podem ser os grandes motivadores de uma ação nessa direção,
principalmente como forma de valorizar o ato de estudar. É sabido que muitas crianças
preferem brincar a estar no colégio e os pais, ao dar atenção, entender e praticar o que o
filho comenta, está diretamente dando importância a ida dos filhos à escola.
Na Q4 – Há conversas ou dá exemplos a outras pessoas do seu círculo,
36% dos respondentes afirmaram que têm contato sobre o assunto educação ambiental
com familiares, enquanto 22% dizem contatar ou dar exemplos a amigos. Já 17% afirmam
contatar vizinhos e, aproximadamente, 12% dizem contatar colegas de trabalho. O restante das respostas, como namorado ou conhecidos, não tem representatividade.
O compartilhamento das informações é uma forma legítima e definitiva de fazer
outras pessoas entenderem da importância da educação ambiental. Como uma espiral, em
algum momento essas ações desencadeadas voltam às crianças, o que vai ao encontro do
que aprendem na escola.
Na última questão a Q5 – Acredita que o esforço do colégio Shalom no
ensino de educação ambiental conseguirá alterar a consciência das pessoas,
foi praticamente unânime o “sim, o esforço do colégio pode gerar essa ação”. Muito fortes,
no entanto são as defesas do Não. Como exemplo, 5% dizem que na escola os alunos
aprendem, mas no dia-a-dia não conseguem aplicar o que aprenderam; aproximadamente,
2,5% dos respondentes disseram que os alunos não estão preparados para convencer outras pessoas e a mesma quantidade de respostas explicou que os esforços de propaganda
são muito mais fortes do que o esforço feito pela escola. Essas explicações dadas por quem
optou pelo não, ou seja, que o esforço do colégio não consegue alterar a consciência das
pessoas quanto ao consumo consciente e que podem ser múltiplas, concordam com algumas das respostas da Q3, o que confirma a exatidão das respostas.
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
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Edson Roberto Scharf e Eduardo José Floriano-Sierra
4. Conclusão e propostas
O Colégio Shalom buscou a excelência no ensino da educação ambiental aos seus
alunos, tentando fazê-los cidadãos mais completos, cônscios de suas responsabilidades enquanto ocupantes deste planeta e preparando-os para a entrada na universidade, normalmente coincidente com o início das responsabilidades da idade adulta.
Educar, porém, é só o primeiro passo do processo. Uma vez dotados de conhecimento necessário e motivados por um conjunto de valores e crenças, os alunos deveriam
ter a oportunidade de usar suas capacidades e potencial através do uso no ambiente.
Os resultados vieram: primeiro, internamente, com alunos sabedores da sua importância no sistema ambiental global e tomando frente na tomada de medidas para proteção
à natureza. Depois, como multiplicadores, através do repasse do conhecimento aos pais,
amigos, vizinhos, conhecidos e demais pessoas.
Neste sentido, Dahl (1996) afirma que a educação, incluindo os processos formais e
informais pelos quais a pessoa adquire linguagem, capacidades, conhecimento e valores, é
a chave para a transmissão de informação e, assim, para o funcionamento, sobrevivência e
renovação de qualquer ecossistema.
A Gestão do Conhecimento se encontra neste momento: a criação de valor para um
ou mais conhecimentos adquiridos, nem sempre ligados diretamente, com um objetivo
final claro de melhoria de algo ou alguma coisa. Deve-se lembrar que, na origem da palavra educação, no latim, encontra-se o “conduzir para fora”, “fazer emergir”. Esse fora (da
condução e do emergir) é o ambiente. Portanto, o termo educação, em sua origem, já
contém em si o componente ambiental.
A sociedade é constituída de um conjunto de pessoas. Como têm liberdade de pensar, elas podem induzir o desenvolvimento que desejarem. É preciso refletir e analisar com
distanciamento sobre a vida que se leva. Quanto mais tempo se estiver recebendo informações e insights desse teor, maior a probabilidade de se agir como tal. Assim, ações como
a do colégio Shalom são importantes, pois evocam sentimentos mais profundos nos alunos, desde cedo.
Conforme sugere Brügger (1998),
...para reverter ou amenizar esse processo de ruptura com o entorno é preciso, portanto, ir
além das visões reificadas no tempo e no espaço e empobrecidas ética e politicamente. Só assim,
o meio ambiente será percebido como uma construção e uma possibilidade histórica - e com
isso impregnado de escolhas e significados políticos, culturais, éticos, estéticos, sociais e outros.
Mendonça (2005) corrobora com esse pensamento ao dizer de que “...se quisermos
desenvolver uma relação harmônica com a vida, devemos cuidar de questões profundas
em cada indivíduo, resgatar a ligação com a fonte da vida.”
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A Gestão do Conhecimento na Educação Ambiental: a Integração das Escolas Primária
e Secundária com a Universidade para um Futuro Melhor
Entre os resultados altamente positivos alcançados com o SGA – Sistema de Gestão
Ambiental do colégio Shalom, estão a medalha de ouro da FAEMA, a reutilização de resíduos em diversas atividades, inclusive moda, a separação de resíduos, a reforma dos banheiros com instalação de torneiras de pressão, construção de um espaço para coleta seletiva de lixo, futura implantação de mini-usina de lixo, criação de várias hortas orgânicas,
lixeiras sinalizadas, reutilização de papel e reutilização de resíduos na confecção de painéis
artísticos.
Não há dúvida, no entanto, que o maior resultado foi o conhecimento como estado de consciência coletiva para o respeito à natureza por parte dos alunos e estes como
multiplicadores da educação ambiental. Mesmo assim, não se pode iludir quanto aos
resultados.
Se este trabalho tem a intenção de enfocar a importância da educação ambiental
como fortalecedora de resultados positivos ao ambiente através dos alunos diretamente e
dos pais, amigos, conhecidos e comunidade, indiretamente, ao mesmo tempo, é importante entender que o mesmo pensamento pode ser entendido de formas diferentes por
diferentes pessoas. Daí, a relevância da Gestão do Conhecimento.
E essa relevância mostra-se mais contundente quanto mais se aproxima de um modelo
de pensamento complexo. Infelizmente, grande parte das pessoas, inclusive professores, adota
fielmente o modelo linear. O que, dadas as características do modelo, pode criar restrições à
adoção de uma cultura de desenvolvimento consciente quanto ao meio ambiente.
Mariotti (2000) exprime o modelo linear com precisão, ao dizer que
...o automatismo concordo-discordo é típico da orientação da lógica da cultura do patriarcado,
que faz da desconfiança uma reação automática. Com efeito, numa cultura competitiva e reativa
como a nossa, gostar dos outros e confiar neles não é nada fácil. O argumento ad hominem está
na gênese dos preconceitos e continuará existindo e predominando enquanto durar a hegemonia
desse sistema de pensamento.
Parece, portanto, que o modelo complexo de pensamento mostra-se como mais
equilibrado.
É sabido que a Terra, a natureza são recursos esgotáveis. Essa informação não parece
estar presente nas ações quando se definem prioridades e necessidades em relação à vida no
mundo. Ao se olhar a quantidade crescente de shopping centers, de novos produtos de categorias antes desconhecidas e de novos modos de vida (e com eles, mais produtos), vê-se que a
prioridade não é a manutenção do planeta. Mais uma vez, o pensamento é a chave para o
sucesso de um programa de educação ambiental, com base na Gestão do Conhecimento.
Como propostas do trabalho para o colégio Shalom, de forma que ele, realmente,
consiga seu intento maior, que é o preparo das pessoas nas escolas primária e secundária
para o desafio da universidade e da vida, seguem algumas idéias:
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Edson Roberto Scharf e Eduardo José Floriano-Sierra
a) que o colégio Shalom realize pesquisa periódica com a totalidade dos pais sobre as
práticas dos filhos quanto ao que é aprendido em sala de aula e sobre a possível
influência nos pais e comunidade;
b) que o colégio Shalom faça interações constantes com as universidades ao seu entorno, para que ambos os setores percebam a importância dos trabalhos de consciência ambiental;
c) que o colégio Shalom incorpore um modelo de pensamento complexo no seu
cotidiano de aulas. Assim, a possibilidade dos alunos reverterem o ensinamento em
prática é muito maior;
d) que o colégio Shalom tenha um plano de divulgação dos resultados e das ações
implantadas, como forma de conscientização de outras pessoas.
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CENTRO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (org.). Comércio e Meio Ambiente. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2001.
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DAHL, Arthur Lyon. O Princípio Ecológico: Ecologia e Economia em Simbiose. Lisboa: Instituto
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EISLER, Riane. O Cálice e a Espada. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1998.
LANDES, David S. A Riqueza e a Pobreza das Nações. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1998.
MARIOTTI, Humberto. As Paixões do Ego: Complexidade, Política e Solidariedade. São Paulo:
ed. Palas Athena, 2000
MENDONÇA, RITA. Conservar e Criar. São Paulo: Ed. SenacSP, 2005.
MONTIBELLER-Filho, Gilberto. O Mito do Desenvolvimento Sustentável. Florianópolis: Ed.
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MORIN, Edgar e KERN, Anne Brigitte. Terra Pátria. Porto Alegre: Sulina, 2000.
PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artes Médicas,
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RICKLEFS, Robert E.. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003
(5ª. ed.)
VEIGA, José Eli. Desenvolvimento Sustentável – O Desafio do Século XXI. Rio de Janeiro:
Garamond Universitária, 2005.
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Comércio Eletrônico: Tendências
e Necessidades de Pesquisa
Mauricio Gregianin Testa
Doutorando em Administração – PPGA/EA/UFRGS
Professor da FACE/PUCRS
Endereço: Rua Washington Luís, 855 – sala 309
90010-460 – Porto Alegre
e-mail: [email protected]
Edimara Mezzomo Luciano
Doutora em Administração
Professora da FACE/PUCRS
Endereço: Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 50 – Bairro Partenon
90619-900 – Porto Alegre/RS
e-mail: [email protected]
Henrique Freitas
Doutor em Gestão
Professor e Pesquisador do PPGA/EA/UFRGS
Endereço: Rua Washington Luís, 855 – sala 309
90010-460 – Porto Alegre
e-mail: [email protected]
Resumo
A internet e o comércio eletrônico, mais do que modismos, estão se tornando uma alternativa estratégica. Assim, é preciso pesquisar o tema, contribuindo com empresas que
desejem operar via internet. O objetivo deste artigo é identificar os diversos componentes
do que se conhece genericamente como comércio eletrônico (CE) ou e-business, traçando um panorama do estado da arte das publicações de CE e necessidades de pesquisa. A
pesquisa é exploratória, utilizando a pesquisa survey como estratégia de pesquisa. A técnica
de coleta de dados é a análise de documentos e, dessa forma, os dados coletados são secundários. A base de dados foi composta por 515 artigos publicados em congressos realizados
em território norte-americano, latino-americano e brasileiro, dos anos de 1997 a 2001. A
análise de dados ocorreu através de análise de conteúdo a partir do resumo de cada artigo.
Como resultados, identificaram-se temas e tendências, no sentido de auxiliar pesquisado-
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
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Mauricio Gregianin Testa, Edimara Mezzomo Luciano e Henrique Freitas
res a fazerem pesquisas que possam vir a suprir as necessidades das organizações que pretendem comprar e vender eletronicamente.
Palavras-chave: Comércio eletrônico, Internet.
Abstract
The Internet and electronic commerce are becoming a strategic alternative. Thus, it’s
necessary to develop researches on the subject, contributing with companies that want to
work by Internet. The objective of this article is to identify the diverse components which
everyone knows generically as electronic commerce (e-commerce) and e-business, tracing
a state of art overview of e-commerce publication and necessities of research.The research
is exploratory, using a survey as strategy. The technique to data collection was documents
analysis.The data base was composed by 515 articles published in North-American, LatinAmerican and Brazilian congresses, from 1997 to 2001. The data analysis has occurred
through content analysis, from the summary of each article. As result, identified subjects
and trends, in direction to assisting researchers to make researches that might come to
supply the necessities of organizations that want to buy and sell electronically.
Key-words: Electronic commerce, Internet.
1. Introdução
As empresas hoje são mais complexas, o meio empresarial está mais dinâmico e
competitivo e, cada vez mais, passa a fazer parte do passado o cenário de um mundo
estável. A economia globalizada impõe desafios às organizações tradicionais, diretamente
afetadas pelas mudanças da chamada sociedade da informação. Essa nova realidade provoca
uma reorganização intensa em todos os setores, gerando modificações profundas nas organizações (HACKNEY, BURN e SALAZAR, 2004), que precisam adaptar-se aos novos tempos, sendo dinâmicas, inovadoras e com alta capacidade de resposta às necessidades do
ambiente.
Nos últimos anos, a internet é a Tecnologia da Informação que mais tem se sobressaído, pelo seu impacto na condução de negócios e como um novo e rentável canal para o
desenvolvimento de relações de trocas, provendo amplo acesso a serviços, informações e
recursos (CHANG,TORKZADEH e DHILLON, 2004). Seu uso tem o potencial de revolucionar a forma de operação das organizações, proporcionando ganhos significativos de
produtividade, reinventando processos, reduzindo os custos operacionais e a eliminação
de funções que não agregam valor (TURBAN e outros, 2004). Segundo Choi e Whinston,
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
(2000, p. 19), “a regra em TI agora é o crescimento de projetos ambiciosos em comércio
eletrônico, sendo isto uma oportunidade reconhecida por estrategistas”.
Operar via internet exige a reestruturação da empresa em diversos aspectos: infraestrutura tecnológica, processos, aplicações, revisão de soluções que envolvam pessoal
interno e externo. A organização deve deixar de olhar apenas para os seus processos e
passar a enxergar a si própria dentro de um contexto com diferentes atores, que inclui
fornecedores, parceiros e clientes como parte essencial do negócio. A figura 1 mostra a
inter-relação entre a TI e os vários componentes da organização.
Figura 1 - Framework de impactos sociais da TI nas organizações
Fonte: TURBAN et al. (1999, p.20)
Devido à velocidade de crescimento e por trazer novas formas de comunicação, a
internet muda a forma de conceber e realizar negócios nas organizações, permitindo, além
de interações entre pessoas, povos e culturas, o delineamento de um novo modelo de
negócios. Com ela, as organizações podem definir critérios de atuação em um ambiente
competitivo onde “o mais rápido é melhor que o maior” (FORGE, 1993, p. 493).
Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo identificar, de forma exploratória,
os diversos componentes do que se conhece genericamente como comércio eletrônico, salientando os temas já pesquisados em congressos científicos, verificando diferenças de enfoques
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Mauricio Gregianin Testa, Edimara Mezzomo Luciano e Henrique Freitas
e, também, necessidades de pesquisa. Desta forma, pode-se fornecer subsídios para averiguar se o que está sendo pesquisado academicamente é útil às organizações, se tem relação
com a prática e com os temas que emergem do dia-a-dia, para com isso, “... buscando o rigor,
caminhar na direção das necessidades da sociedade” (FREITAS, 2000).
Na seqüência deste documento, o item 2 aborda a base teórica do estudo proposto,
o item 3 expõe o método da pesquisa, enquanto o item 4 relata os resultados obtidos e o
item 5 contém algumas considerações finais.
2. Comércio eletrônico: aspectos
envolvidos, temas, aplicações e desafios
O comércio eletrônico (CE) está provocando mudanças intensas na organização das
empresas e na relação das empresas com seus clientes, parceiros e fornecedores, inaugurando uma nova era no mundo dos negócios. Por trás da aparentemente simples mudança
na forma de comprar, há modificações na economia, na organização da indústria, na legislação, empregos, formas de consumo, de relacionamento e de criação de valor. A mudança
é tão grande que é possível dizer que “o mundo está em meio a uma revolução na forma de
fazer comércio” (KALAKOTA e WHINSTON, 1997, p. 28). Dessa forma, as empresas
devem repensar a forma de operar os seus negócios, pois o comércio eletrônico não significa apenas mais uma forma de vender e comprar (FREITAS e outros, 2001).
O primórdios do comércio eletrônico datam da década de 70 do século XX nos
Estados Unidos, com a criação dos fundos eletrônicos de transferência (EFT). Eles eram,
no entanto, restritos a empresas de grande porte, principalmente a instituições financeiras. Na metade da década de 80, surgiu o intercâmbio eletrônico de documentos (EDI),
também utilizado por empresas de porte médio. Até aí, é o chamado comércio eletrônico
pré-internet (AMOR, 2000), ainda, sem números expressivos e restrito a operações entre
empresas. Na década de 90, vários avanços tecnológicos iniciam: barateamento do hardware
e software, popularização da internet, melhoria na infra-estrutura telefônica e de redes, desenvolvimento de protocolos e especificação de padrões, desenvolvimento de softwares de
navegação mais intuitivos. Esse cenário possibilitou o surgimento do comércio eletrônico
como se conhece hoje.
2.1. Aspectos envolvidos em operações de comércio eletrônico
Atualmente, vender pela internet tornou-se quase um imperativo em alguns segmentos, como as livrarias e lojas de cd’s. Ainda que o crescimento do comércio eletrônico
esteja acelerado, já atingindo cifras bastante significativas, sabe-se que há desafios
tecnológicos, de estruturação de processos e estratégicos. Independente disto, porém, o
comércio eletrônico está revitalizando as necessidades e o valor inovador dos processos de
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Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
negócio está abrindo novas formas de relações entre as empresas e capacitará novos mercados, novos negócios e novos paradigmas de marketing (FRUHLING e SIAU, 2000).
Há várias definições para comércio eletrônico, com enfoque e profundidade diferentes. Para Kalakota e Robinson (2002), o CE pode ser definido sob várias formas, de acordo
com diferentes perspectivas:
• comunicação: é entrega de informação, produtos, serviços ou pagamentos via linha
telefônica, redes de computadores ou outros meios;
• processos de negócios: é a aplicação de tecnologia na direção de automação de
transações de negócios e fluxos de trabalho;
• serviços: é a ferramenta que permite cortar custos, ao mesmo tempo em que se
aumenta a qualidade e a velocidade de entrega;
• on-line: permite capacidade de compra e venda de produtos e informação na Internet
e outros serviços on-line.
Na definição de Zwass (1996), comércio eletrônico é o compartilhamento de informações do negócio, manutenção de relações de negócios e condução de transações por
meio de redes de telecomunicação. Choi e Whinston (2000) observam que a tecnologia
está transformando muitos aspectos dos modelos de negócios e atividades do mercado,
por isso propõe uma definição mais ampla: comércio eletrônico se refere a usar meios
eletrônicos e tecnologias para conduzir o comércio, incluindo interações dentro da empresa, entre empresas e da empresa com consumidores.
Para Albertin (2000), comércio eletrônico é a realização de toda a cadeia de valor
dos processos de negócio em um ambiente eletrônico, por meio da aplicação intensa das
tecnologias de comunicação e de informação, atendendo aos objetivos do negócio. Dessa
forma, é uma ferramenta que permite reduzir os custos administrativos e o tempo do ciclo
fabricar-vender-comprar, agilizar processos de negócios e aperfeiçoar o relacionamento
tanto com os parceiros de negócios quanto com os clientes (FRANCO, 2001).
Uma definição mais simplista poderia dizer que comércio eletrônico é troca de bens
e serviços por pagamento na internet. Essa visão, porém, não leva em consideração as vantagens competitivas resultantes da associação dos participantes das cadeias de abastecimento e de valor (as pessoas envolvidas no fluxo de mercadorias, serviços, dinheiro e
informações necessários para levar os produtos de matéria-prima até as mãos do consumidor). Nesse sentido, comércio eletrônico inclui qualquer atividade comercial que ocorra
diretamente entre uma empresa, seus parceiros ou clientes, por meio de uma combinação
de tecnologia de computação e comunicação (TREPPER, 2000, p. 4). Já Rayport e Jaworski
(2001, p. 3), propõem uma definição contemporânea de CE: “trocas mediadas em tecnologia
entre partes (indivíduos, organizações, ou ambos) bem como baseadas eletronicamente
em atividades intra ou inter-organizacionais que facilitam tal troca”.
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Mauricio Gregianin Testa, Edimara Mezzomo Luciano e Henrique Freitas
O conceito de comércio eletrônico nos aporta diferentes percepções das suas
potencialidades. De fato, as empresas podem usar o comércio eletrônico como uma parte
de sua estratégia de vendas business-to-business (B2B) ou para complementar métodos de
venda existentes. Dessa forma, comércio eletrônico pode ser usado para aumentar o processo de prospecção, criação de credibilidade e qualificação e usado para substituir vendas
representativas via serviço arranjo e gestão de pós-venda (MIREE, 2000).
A seguir, são abordados temas necessários ao funcionamento do comércio eletrônico e algumas áreas de aplicação, bem como algumas potencialidades e desafios de operar
através de comércio eletrônico.
2.2. Temas relacionados ao comércio eletrônico
O comércio eletrônico faz uso de diversas terminologias, utilizadas para descrever
diferentes aplicações e camadas, técnicas e gerenciais, além de políticas públicas de utilização, padronização e segurança, indo da infra-estrutura de rede até a estrutura comum de
negócios e serviços. Para a compreensão da abrangência desse universo, é preciso elucidar
algumas das terminologias principais, que correspondem aos aspectos mais relevantes do
comércio eletrônico, tais como:
a) e-payment: é a parte financeira das transações de CE, que permite o intercâmbio
de dinheiro entre compradores e vendedores, para efetivar uma compra.Ainda aquém
às expectativas, a meta é desenvolver conjuntos de métodos de pagamento que possam ser utilizados pelas pessoas e que sejam mais confiáveis às instituições bancárias
(CUNNINGHAM, 2001). Para Amor (2000, p. 38), uma transação via web requer:
confidencialidade (as informações só devem ser utilizadas para o que o cliente autorizou, ou seja, fazer a compra), integridade (a quantia deve ser a combinada, nunca
com débitos inapropriados) e a autenticação (certeza de que realmente a operação
foi feita com segurança). Segundo Rayport e Jaworski (2001), ainda há carência de
métodos convenientes (que evitem o uso do telefone ou cheques), de segurança
(quem paga com cartão precisa saber mais detalhes sobre sua compra) e carência de
cobertura (nem todas as pessoas possuem cartão de crédito e estes não suportam
todos os tipos de compra);
b) e-security: a segurança nas transações via web está muito próxima aos sistemas de
pagamento. Turban e outros. (2004) citam como requisitos a uma compra segura:
autenticação (verifica a identidade do comprador antes do pagamento ser autorizado), encriptação (criptografia de mensagens entre comprador e vendedor, só
descriptografa com um código chave autorizado) e a integridade (assegura que as
informações não serão acidentalmente ou maliciosamente alteradas durante a transmissão). A criptografia pode ser com chave pública (é a mesma para criptografar e
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Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
descriptografar) ou com chave privada (duas chaves, uma pública e uma privada) e a
assinatura digital (feita por uma empresa certificadora);
c) e-SCM (supply chain management): quando o comércio eletrônico começou a
se sobressair no Brasil, muitas empresas tinham constantes atrasos na entrega dos
produtos, o que acabou criando uma consciência da necessidade de uma eficiente
gestão da cadeia de suprimentos. Há alguns anos atrás, as empresas iniciavam as suas
atividades no comércio eletrônico preocupadas em como atrair clientes e vender
pela internet e menos em como entregar nos prazos acordados com custos competitivos. Esse desafio é mais acentuado no Brasil devido às suas dimensões, costumes e
mercados diferentes e baseado, quase que exclusivamente, no transporte rodoviário
e aéreo. Portanto, é preciso um processo de planejamento, implementação e controle, de um eficiente e efetivo fluxo e armazenamento de produtos, serviços e respectivas informações desde a origem até o ponto de consumo (FRANCO, 2001). Muitos projetos de comércio eletrônico têm fracassado por problemas de logística, a
qual precisa ser adequada ao tipo de produto comercializado e ao público-alvo. É
preciso considerar onde o produto está, quanto tempo leva até o consumidor, quais
os canais de distribuição, qual é a demanda, a sazonalidade, entre outras variáveis.
d) e-taxas e aspectos legais: há uma grande indefinição e muitas dúvidas em
relação a aspectos legais e éticos no comércio eletrônico. Esses aspectos envolvem
problemas de taxação (como a colisão entre taxas de países diferentes), privacidade
(em relação às informações coletadas numa transação eletrônica), propriedade intelectual (é quase impossível evitar cópias desautorizadas na internet), direitos do consumidor (como no caso de fraudes em vendas realizadas por empresas no exterior),
liberdade de expressão (que possibilita, por exemplo, a divulgação de idéias nazistas
ou a promoção da pornografia), entre outros (TURBAN e outros, 2004; AMOR,
2000). Apesar de, muitas vezes, esses aspectos não estarem previstos em lei, certamente existem um problema ético envolvido.
e) e-CRM: o comércio eletrônico demanda mudanças radicais no processo de
marketing. O CRM – customer relationship management propõe atender o cliente, cada
cliente de forma unificada, mesmo que através de meios de comunicação e interação
diferentes (e-mail, telefone, mala-direta, pessoalmente na loja), enfim, fazer com
que o cliente perceba ‘a empresa’ em cada atendimento. Junto a isso, pretende-se
com o CRM, chegar a um atendimento maior das necessidades de cada cliente, através da identificação do que este valoriza, para então diferenciar o atendimento,
interagir mais profundamente e customizar os produtos e serviços oferecidos a esses
clientes. As possibilidades nessa área são imensas, mas ainda existem erros nas estratégias de empresas, que, muitas vezes, reduzem sua atuação ao envio de e-mails ou a
publicação de páginas institucionais na internet (KALAKOTA e WHINSTON, 1997).
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
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Mauricio Gregianin Testa, Edimara Mezzomo Luciano e Henrique Freitas
A seguir, serão abordadas outras terminologias referentes a comércio eletrônico (outros ‘e’). A separação em dois itens foi proposital, pois apesar desses itens estarem listados
adjacentemente na literatura, eles representam elementos ou ações diferentes dentro do
comércio eletrônico.
2.3. Aplicações de comércio eletrônico
No início da utilização da internet para fins comerciais, vender era a única experiência em comércio eletrônico (AMOR, 2000). Aos poucos, com o refinamento das técnicas
e estruturas de venda pela internet, a ação de vender foi sendo refinada, aprimorada, dando
origem a diversos termos (e-procurement, e-learning, e-banking, e-gambling, e-auctioning), que
representam diferentes aplicações dentro do comércio eletrônico:
a) e-procurement: é a automação da compra de bens e serviços não-produtivos, os
chamados bens MRO (Manutenção, Reparo e Operações), tais como material de escritório e de informática, copa, serviços de manutenção (AMOR, 2000). Iniciando a
desintermediação de vendas pelos produtos MRO, as empresas podem testar a integração
de seus dados com os das empresas conveniadas para a compra, podendo então partir para
compra de outros produtos. Com a desintermediação, a venda ocorre direto do fabricante
ao consumidor, tendo uma intermediação eletrônica do portal de e-procurement (SCHUTZ,
FREITAS e LUCIANO, 2002). Os benefícios para os compradores são a agilidade e dinamismo das compras, redução expressiva de custos, menos burocracia, decisões de compra
mais rápidas (FRANCO, 2001). Para os vendedores, as vantagens são a ampliação da carteira de clientes, maior exposição através da internet, redução de custos na administração
de vendas (RAYPORT e JAWORSKI, 2001). A figura 2 ilustra este processo.
Figura 2 - Desintermediação e reintermediação pelo comércio eletrônico
Fonte: TURBAN e outros (2004)
30
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
Dessa forma, o e-procurement é uma espécie de leilão reverso entre empresas previamente cadastradas, que agiliza e barateia o processo de aquisição de bens. No Brasil, já há
diversos portais privados de e-procurement (BcomB, Webb etc.) e portais de grandes empresas (Cisco, montadoras de automóveis) que criaram portais de e-procurement, os chamados
portais verticais, pois reúnem participantes de um único setor (madeira, papel, automotivo,
construção civil). O e-procurement é ideal para organizações que sofrem de longos ciclos de
requisição, tem muitos fornecedores, alto custo de processamento de pedidos e alta carga
administrativa dos profissionais de compras.
a) e-learning: é também conhecido como educação a distância através da internet.
O objetivo do e-learning é fazer com que o conhecimento chegue a um grande número de pessoas, e que estas possam ‘acessar’ este conhecimento de qualquer lugar,
a qualquer hora do dia, que possam voltar a ele rapidamente quando sentir necessidade, enfim, que seja algo constante, contínuo (CUNNINGHAM, 2001).
b) e-banking: “o e-banking é um dos mais bem sucedidos negócios on-line” (AMOR,
2000, p. 25), que possibilita que os clientes de um banco façam, à distância, uma
série de operações em suas contas bancárias. Movidos pelo ambiente digital ou por
força dos concorrentes, o setor bancário é um dos mais afetados pela nova realidade
do comércio eletrônico e essa situação tem exigido um grande esforço para a assimilação e utilização da tecnologia referente a comércio eletrônico, na sua
operacionalização e na sua estratégia competitiva (RAMOS e COSTA, 1999). A
atratividade do e-banking é que o cliente não necessita um software específico para
acessar a sua conta bancária, basta um computador conectado à internet e um browser.
O e-banking tem crescido intensamente pois é extremamente vantajoso ao cliente e
também ao banco: ao cliente, traz comodidade e agilidade, para os bancos, uma
redução de custos considerável.
c) e-gambling: refere-se aos cassinos eletrônicos, com apostas reais em dinheiro (cartão de crédito ou débito). Segundo Amor (2000, p. 26), o e-gambling é um dos negócios
mais rentáveis da internet. A grande astúcia do e-gambling é contornar a ilegalidade do
jogo em alguns países, armazenando o site em um país que autoriza o jogo, mas podendo ser acessado e utilizado por pessoas de qualquer país (FRANCO, 2001).
d) e-auctioning: os leilões ganharam uma nova dimensão na internet. Nos leilões tradicionais, os lances são limitados a um certo número de pessoas, além da necessidade
do deslocamento físico até o local onde se realiza o leilão. Através do e-auctioning, os
leilões tornaram-se mais acessíveis, mais democráticas e mais rápidos (AMOR, 2000).
Além das citadas acima, há ainda outras categorias de menor expressão, como o edirectories (catálogos eletrônicos), e-franchising (franquias eletrônicas), e-trade (compra eletrônica de ações), e-engineering (desenvolvimento colaborativo de projetos), e-drugs (farmácias on-line), entre outras (AMOR, 2000; FRANCO, 2001).
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Mauricio Gregianin Testa, Edimara Mezzomo Luciano e Henrique Freitas
Conforme citado anteriormente, mesmo existindo diversas categorias e terminologias relacionadas ao que é eletrônico, essas se referem a ações diferentes dentro de um
ambiente de e-business, conforme evidenciado na figura 3.
Figura 3 - Relação entre as áreas de comércio eletrônico
A figura acima mostra a diferença entre as categorias de aplicação (e-commerce, eprocurement, e-banking, e-learning, e-auctioning, e-gambling) e as categorias fundamentais ao
funcionamento das demais (e-payment, e-security, e-SCM, taxas, legislação, e-CRM).
2.4. Potencialidades, vantagens e desafios
A natureza global da tecnologia, o baixo custo, as inúmeras oportunidades para alcançar centenas de milhares de pessoas, a natureza interativa, a variedade de possibilidades, reforçada pelo rápido crescimento das infra-estruturas de suporte (especialmente a
web) resultam em muitos benefícios potenciais para as organizações, os indivíduos e a sociedade (TURBAN e outros, 1999). Para as organizações, os benefícios são (TURBAN e
outros, 2004; TREPPER, 2000; AFUAH e TUCCI, 2001):
• possibilita a expansão do mercado de regional para nacional e internacional;
• com baixo investimento de capital, uma empresa pode facilmente obter mais clientes e
melhores fornecedores e parceiros de negócios;
• redução de custos para criação, processamento, distribuição, armazenamento e recuperação de bens baseados na informação;
• proporciona novas maneiras de gerenciar a cadeia de suprimentos e de valor;
• automatiza o fluxo de negócios e de informações na empresa;
• proporciona a redução de custos na prestação de serviços ao cliente, ao mesmo tempo
em que aumenta a qualidade do gerenciamento da relação;
• possibilita reunir parceiros de negócios em um meio operacional uniforme;
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Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
• menores custos para implementar produtos ou serviços que propiciem grande vanta-
gem competitiva;
• tem baixo custo de comunicação;
• melhora a imagem e os serviços ao cliente, possibilita novas parcerias, simplifica processos, reduz o tempo para atividades, melhora a produtividade, elimina papéis, facilita o
acesso a informação, reduz custos de transporte e aumenta a flexibilidade.
Para os consumidores, o comércio eletrônico traz os seguintes benefícios (TURBAN e
outros, 2004; TREPPER, 2000; AFUAH &TUCCI, 2001):
• possibilita que clientes possam comprar ou fazer outras transações 24 horas por dia, 7
dias por semana, de qualquer lugar do mundo;
• fornece mais opções de escolha aos clientes, mais produtos de mais vendedores;
• em alguns casos, como produtos digitais, tem entrega rápida e os consumidores podem
receber informações relevante e detalhada em segundos;
• facilita a interação com outros consumidores, formando comunidades eletrônicas para
trocar idéias e experiências;
• facilita a competição, resultando em preços menores para o consumidor.
Para a sociedade, podem ser elencados os seguintes benefícios (TURBAN e outros, 2004;
TREPPER, 2000; AFUAH e TUCCI, 2001):
• maior igualdade de acesso à informação e ao conhecimento;
• contribuição para diminuir as diferenças entre países e culturas;
• facilidade para a disponibilização de produtos e serviços por pequenas empresas ou por
empresas isoladas geograficamente;
• democratização do acesso a serviços públicos.
Apesar dos benefícios, o comércio eletrônico ainda tem em seu entorno diversos desafios, entre eles:
• privacidade: como compatibilizar e manter a privacidade que o usuário espera com a
qualidade de atendimento e o targeting que a internet pode permitir ainda é um desafio;
• logística: a entrega precisa ser rápida e por um custo compatível, em um país de
grandes dimensões, costumes e mercados diferentes, precariedade de diversos modos de
transporte.Também, há dificuldade do produtor/fornecedor gerenciar sua cadeia de suprimentos e distribuição, conciliando estoque zero com entrega imediata
• pagamentos: uma pesquisa feita em outubro e novembro de 1999 (Fonte: Pesquisa
Jupiter/Ibope, 1999) apontou que 48% das pessoas não possuem cartão de crédito. Embora este dado não possa ser generalizado para todo o país (a amostra – de 1200 pessoas
- não foi muito significativa), o retrato brasileiro não deve ser muito diferente;
• segurança: não há muita tranqüilidade em comprar utilizando o cartão de crédito, embora a fraude possa ocorrer de muitas outras formas além da interceptação de
uma compra eletrônica (LAUDON e LAUDON, 2000);
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• entrega dos produtos: ainda não há confiança de que os produtos vão chegar
em bom estado de conservação e, caso isto não ocorra, que a troca ou devolução
possa ser feita sem muita ‘dor de cabeça’;
• a integração dos sistemas de comércio eletrônico com os aplicativos e
bancos de dados existentes também é um desafio de dimensões desafiadoras;
• a infra-estrutura de telecomunicações ainda precisa melhorar, para que o
acesso à internet seja mais rápido (AMOR, 2000).
Os benefícios e os riscos citados podem variar de intensidade, se ao invés da empresa
atuar no comércio eletrônico tradicional de bens físicos, ela optar por comercializar produtos virtuais (LUCIANO e FREITAS, 2003).
3. Método de pesquisa
Este estudo explora um conjunto de dados secundários (artigos de congressos científicos, abordando o tema comércio eletrônico), o qual permitiu organizar uma base de
dados qualitativos, com base nos quais se fez uso de técnicas de análise léxica e de análise
de conteúdo para produzir sumarizações que permitissem evidenciar temas, tendências e
mesmo necessidades de estudo.
Os artigos selecionados são de renomados congressos nacionais e internacionais,
exclusivamente sobre comércio eletrônico (por exemplo, artigos sobre internet não fizeram parte do escopo desta pesquisa), identificando título, sessão em que foram apresentados e as palavras-chave, para a partir disto identificar qual o tema abordado.
Foram analisados 515 artigos, dos seguintes congressos: os norte-americanos AMCIS e
ICIS, os europeus ECIS e BLED, o latino-americano CLADEA e o brasileiro ENANPAD, dos
anos de 1997 a 2001. A tabela 1 lista o número de artigos por ano em cada um dos congressos.
Tabela 1 – Número de artigos por ano e congresso
Revista/A no
1997
1998
1999
2000
2001
Total
AIS/AMCIS
26
41
36
79
76
258
BLED
26
24
47
17
41
155
ECIS
1
6
3
5
33
48
ICIS
1
2
2
6
17
28
ENANPAD
2
2
3
3
5
15
CLADEA
0
0
3
4
4
11
Total
56
75
94
114
176
515
Fonte: Dados do estudo
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Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
Ao analisar cada um dos artigos, buscou-se identificar até cinco palavras-chave. Nos
artigos que não citavam as palavras chave, a identificação das mesmas foi feita pelo título,
por uma leitura nos subtítulos e chamadas no decorrer do artigo.
O crescimento de publicações pode ser observado, de 56 artigos em 1997 para 176
artigos em 2001.Também, é possível observar na tabela 1 que os congressos americanos e
europeus tem uma quantidade maior de papers do que o latino-americano e o brasileiro,
bem como iniciaram mais cedo a publicação de artigos sobre comércio eletrônico. Mesmo
assim, pode-se dizer que a produção na área já adquiriu uma certa constância, mesmo nos
congressos com menor quantidade de publicações.
4. Resultados: o que já foi publicado
sobre comércio eletrônico?
Ao analisar as palavras-chave de cada um dos artigos selecionados, foram emergindo
categorias ou temas, nos quais estes foram classificados.
Havia um conjunto inicial de categorias, que foi sendo aprimorado e mesmo ampliado no decorrer da análise. A fim de reduzir a subjetividade dessa etapa, essa classificação
foi feita através da técnica de teste-reteste (FREITAS e JANISSEK, 2000), ou seja, houve
uma primeira classificação e, após um certo intervalo de tempo, foi feita uma segunda
classificação. Os resultados das duas etapas foram confrontados, chegando então ao conjunto final de temas ou categorias. Foram identificados 37 temas, conforme ilustrado na
tabela 2, a seguir.
Conforme pode ser visto no na tabela 2, os artigos ainda são bastante genéricos, não
se atendo a aspectos mais específicos, de forma que uma grande quantidade de trabalhos
foi classificada como sendo apenas sobre “e-commerce”, “e-business”, “internet/WWW” e “emarkets”. Em contrapartida, outros assuntos mais específicos não estão sendo muito abordados nas publicações.
Observando os temas pesquisados em diferentes anos, observa-se um crescimento
de citações para: redes e comunicações, sistemas de informação, tecnologia da informação, lojas virtuais, tecnologias para CE, logística e distribuição, segurança, e-procurement e
comportamento do consumidor. Também, houve um acréscimo de citações para planejamento/estratégia e dificuldade/riscos, que cresceram na mesma proporção. Houve um
decréscimo de citações aos temas EDI e redefinição de processos.
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Tabela 2 – Temas e número de artigos em que são abordados
Temas
A rtigos
Temas
A rtigos
E-commerce
252
Investimentos
13
Internet/WWW
145
Impacto
12
E-business
56
Segurança
12
E-markets
43
E-mail
11
Aplicação em um setor
41
Dificuldades/riscos
8
Redes/comunicação
25
Aspectos estratégicos
8
SI
24
B2C
7
TI
24
Redef. Processos
7
E-shopping
21
Benefícios
7
E-publishing/CRM
20
Conhecimento
7
7
E-tecnologia
20
Comp. Consumidor
B2B
19
E-procurement
6
Organizações virtuais
19
Supply chain
4
4
Logística/distribuição
17
Value chain
E DI
17
Aspectos culturais
3
E-payment
17
Informação
3
Informação
14
Pivacidade
2
Case empresa
14
ERP
2
Total de observações: 515. Total de temas: 751 *
Fonte: Dados do estudo
* O total de temas é maior do que o total de observações por se tratar de uma questão de resposta múltipla.
A fim de refinar a análise, uma nova avaliação dos artigos foi realizada, onde se realizou um agrupamento dos artigos, que foram classificados em 10 categorias, obtendo a
classificação mostrada na tabela 3.
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Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
Tabela 3 – Agrupamento dos temas citados
Temas agrupados
Citações
Comércio eletrônico (genérico)
214
Infraestrutura tecnológica
91
Aplicação em um setor
63
Marketing/vendas
40
Impacto (interno e externo)
28
E-learning
26
Privacidade/segurança/pagamentos
21
Intermediação
15
Estratégia
10
Legislação/taxas
7
TOTAL DE CITAÇÕES
515
Fonte: Dados do estudo
Pode-se observar que boa parte dos artigos publicados se refere a comércio eletrônico de uma maneira geral. Se, por um lado, ainda se está no início do estudo do tema, o que
de certa forma justifica os papers com enfoque mais genérico, faz-se necessário estudos
mais específicos, a fim de relatar experiências vivenciadas, a fim de acumular conhecimento acadêmico e prático na área.
Ao se fazer um cruzamento da variável congresso com o tema, percebe-se a predominância de temas específicos em alguns congressos. A figura 4 demonstra esta relação.
Figura 4 – Relação entre o Congresso e o Tema
aaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaa
a aaaaaaa
aa
aa
a a a
aaaaaaa
a a a
aaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaa
a a a a a a
aaaaaaa
aaaaaaaaaa
a a a a
aaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaa
a a a a a a a
aaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaa
aaaaaaaa
aaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaa
aaa
a a
Fonte: Dados do estudo
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Mauricio Gregianin Testa, Edimara Mezzomo Luciano e Henrique Freitas
4O item ‘comércio eletrônico (genérico)’ surgiu em bom número em todos os congressos. Já o ítem ‘Infraestrutura tecnológica” foi mais citado no AIS/AMCIS, BLED e
ICIS, ou seja, nos congressos norte-americanos e europeus e menos citado no ENANPAD
e CLADEA. O tema ‘privacidade/segurança/pagamentos’ só foi citado no AIS/AMCIS e
BLED;‘legislação e taxas’, assim como ‘intermediação’ só foi citada nos AIS/AMCIS, BLED
e ECIS. Os artigos abordando a ‘aplicação em um setor’ foram citados em todos os congressos, com exceção do ECIS, ‘marketing/vendas’ só não foi citado no CLADEA, mas este
congresso privilegiou artigos referentes a ‘estratégia’, tema este que nem foi abordado
(ENANPAD e ECIS) ou foi pouco abordado (AIS/AMCIS, BLED, ICIS). Já o ‘impacto
(interno e externo)’ surgiu em todos os congressos, com exceção do CLADEA.
A Tabela 3 ilustra a predominância dos temas em cada congresso, onde pode ser
identificado um certo perfil de temas privilegiados nos diferentes congressos.
Tabela 3 – Predominância dos temas em cada congresso
Congresso
Tema do artigo
(os 3 mais citados)
Congresso
Tema do artigo
(os 3 mais citados)
AIS/AMCIS (258)
Comércio eletrônico (genérico)
Infraestrutura tecnológica
Marketing/vendas
ENANPAD (35)
Comércio eletrônico (genérico)
Impacto (interno e externo)
Marketing/vendas
BLED (155)
Comércio eletrônico (genérico)
Aplicação em um setor
Infraestrutura tecnológica
ICIS (28)
Comércio eletrônico (genérico)
Aplicação em um setor
Infraestrutura tecnológica
ECIS (48)
Comércio eletrônico (genérico)
Infraestrutura tecnológica
Marketing/vendas
CLADEA (11)
Estratégia
Comércio eletrônico (genérico)
Infraestrutura tecnológica
Fonte: Dados do estudo
A pesquisa de questões gerais ao comércio eletrônico aparece em todos os congressos. Nos congressos europeus e no latino-americano, surge o tema infra-estrutura, menos
abordado no congresso brasileiro. O tema impacto é uma preocupação maior do congresso brasileiro, provavelmente, devido à escassez de recursos e particularidades culturais.
Em relação ao local de origem do autor de cada paper, observa-se uma grande supremacia em relação à quantidade de publicações por parte dos países do continente europeu,
seguidos pela América do Norte. A tabela 4 mostra essa relação.
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Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
Tabela 4 – Continente de origem dos autores dos papers
Local - continente
Citações
Europa
266
América no Norte
135
Oceania
50
Asia
41
América do Sul
21
Africa
América Central
TOTAL CIT.
1
1
515
Fonte: Dados do estudo
Se por um lado, a Europa e a América do Norte lideram a quantidade de papers, por
outro lado, continentes historicamente menos favorecidos, também, foram bem representados nos congressos. Isso indica que o tema é de interesse global, mesmo porque,
como o comércio eletrônico é algo sem fronteiras, ele pode auxiliar países do terceiro
mundo a aumentar as suas exportações, desenvolver-se e, em conseqüência, melhorar a
qualidade de vida.
5. Considerações finais
Estamos vivendo uma era sem igual no tocante a novas empresas, formas de
gerenciamento e comunicação. A internet transformou a relação das empresas com seus
clientes, parceiros e fornecedores, inaugurando uma nova era no mundo dos negócios,
alterando processos, funções, relações e formas de realizar negócios. Não há mais necessidade dos elementos clássicos para que ocorra uma venda: endereço físico, vendedor, dinheiro. Pode-se comprar sem sair de casa, receber em casa, pagar sem usar moeda em
papel. Ainda, a internet pode ser acessada por novos meios, tais como telefones celulares
(com tecnologia WAP) e dispositivos hand held. Ao mesmo tempo em que esta nova realidade é fascinante, ela merece atenção, pois muito do que conhecíamos sobre comprar e
vender pode ser alterado, em maior ou menor escala.
De fato, a área ainda é recente, necessitando de pesquisas científicas sobre temas
específicos, já aplicados nas organizações e comentados no meio empresarial, tais como
segurança (2,3% dos temas pesquisados nos artigos analisados), e-procurement (1,1% dos
temas), micropagamentos (3,3% dos temas se referem a e-payment), entre outros.
Como fatores limitantes desta pesquisa, pode-se considerar o fato de que as publicações analisadas são até 2001, o que poderia representar uma base de dados um pouco
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desatualizada. Dada a complexidade de localização de todos os papers, no entanto, (na
maioria das vezes indisponíveis em web sites), a criação do banco de dados e a análise qualitativa dos resumos, um a um, ainda com teste/reteste, representa um esforço de pesquisa
muito grande, o que torna compreensível a necessidade de um tempo razoável para a
realização da pesquisa e a redação do artigo.
Como pesquisas futuras, pretende-se tanto estudar os temas aqui indicados como
lacunas, bem como continuar a montagem da base de dados e a exploração da evolução dos
temas. Acredita-se que esta pesquisa possa contribuir, ao fornecer aos pesquisadores o
acesso a um mapeamento dos temas atuais e tendências de pesquisa, como forma de
embasamento na escolha dos temas de pesquisa. Tal postura refletiria na análise de temas
essenciais com maior proporcionalidade, evitando que temas já bastante pesquisados o
sejam, novamente.
O presente artigo analisou publicações nacionais e internacionais sobre comércio
eletrônico, buscando identificar os temas estudados, possíveis tendências, enfoques e mesmo necessidades de pesquisa, além da evolução dos temas ao longo dos anos. De acordo
com a análise realizada, os dados parecem convergir para alguns temas: a diferença de
enfoque e mesmo estrutura e planejamento das organizações que operam com business-tobusiness (B2B) ou business-to-consumer (B2C), além de temas-chave, tendo estes diferentes
níveis de complexidade, conforme mostrado na figura 5.
Figura 5: Temas-chave em CE e sua convergência com B2B e B2C
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Comércio Eletrônico: Tendências e Necessidades de Pesquisa
As setas indicam, para cada um dos grandes temas de comércio eletrônico identificados através desta pesquisa, quais são de maior, menor ou igual complexidade para a atuação em B2B (business to business) ou B2C (business to consumer). Esta análise pode auxiliar
tanto na definição de um melhor escopo de pesquisa, como para que as organizações entendam quais são os seus pontos cruciais de atuação. A título de exemplo, o tema segurança é mais crítico para B2C, onde o cliente é desconhecido e em maior quantidade do que
em B2B, onde os clientes são em número bem menor e mais conhecidos por parte da
empresa cliente. Já a discussão sobre novas atribuições dos profissionais é igual para B2C e
B2B, uma que o comércio eletrônico altera processos, rotinas e metodologias nas organizações que acabam por interferir nas atribuições profissionais de todas as operações voltadas a e-commerce.
As organizações precisam repensar sua estrutura e diretrizes tecnológicas e os seus
processos de negócio, pois operar, eletronicamente, exige o pensar e repensar de diversos
componentes de gestão de uma empresa.
Tendo em vista essa realidade ainda pouco conhecida, é meritório o desenvolvimento de novas pesquisas de cunho científico sobre temas que possam auxiliar as organizações
a melhor planejar e gerir os seus negócios eletrônicos. Para acompanhar esse cenário complexo e em constante transformação, é preciso compreendê-lo em todos os seus aspectos,
a fim de minimizar seu impacto e maximizar seus benefícios.
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p. 3-23.
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Identificação dos Fatores Críticos de
Sucesso em Instituição de Ensino Superior
Romualdo Douglas Colauto
Doutorando em Engenharia de Produção
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Resumo
O artigo tem por objetivo identificar os fatores críticos de sucesso na percepção dos gestores
e dos clientes como suporte ao processo de gestão, em uma instituição de ensino superior.
Assim, realizou-se uma pesquisa exploratória com abordagem predominantemente qualitativa, por meio de um estudo de caso centrado em uma instituição de ensino superior. Na
coleta de dados optou-se pela técnica de entrevista semi-estruturada aplicada aos níveis
estratégico, administrativo e pedagógico. Após, aplicou-se questionário fechado aos alunos do curso de administração de empresas em uma instituição de ensino superior na
Grande Florianópolis do Estado de Santa Catarina. A pesquisa contribui para identificar os
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fatores críticos de sucesso em âmbitos institucional e de clientes com vistas a possibilitar o
alinhamento entre o planejamento estratégico e as expectativas dos clientes.
Palavras-chave: Fatores críticos de sucesso. Processo de gestão. Instituição de ensino
superior.
Abstract
This article has the objective to identify the critical factors of success in the perception of
the managers and the customers as supporting the management process, in an institution
of graduation.Thus, It was realised an exploration research with predomination qualitative
aspects, by a study of case centred in an institution of graduation. In the Collection of data
It was opted to the technique of interview half- structuralized applied to the levels
strategical, administrative and pedagogical. After, close questionnaire was applied to the
students of the course of business administration in an institution of graduation in the
great Florianópolis of the State of Santa Catarina. The research contributes to identify the
critical factors of success and customer to achieve the possibility of alignment between the
strategical planning and the expectations of the customers.
Key-words: Critical factors of success. Process of management. Institution of graduation.
1. Considerações iniciais
A existência de incertezas no processo de gestão reflete-se no conjunto de diretrizes
estratégicas que se precisam ser viabilizadas na consecução dos resultados planificados.
Nessa perspectiva, as organizações deparam-se com dificuldades para se adaptarem ao
cenário competitivo, o que implica, não raras vezes, submeterem sua gestão à mudanças
abruptas. Com isso, pode haver alterações que afetam sensivelmente os sistemas de controle, implicando inclusive na necessidade de conceitos e técnicas que possibilitem o adequado controle das atividades.
As ameaças de novos entrantes no mercado e a confluência de necessidades
informacionais mostram que planejar as estratégias, anualmente, não é mais suficiente
para definir as ações rumo à competitividade. No cerne do processo do conceito empresarial, encontra-se a capacidade de criar novas estratégias que gerem riquezas constantemente, uma vez que o mercado está se adequando à globalização e às tecnologias de informação, reduzindo-se o tempo disponível para a tomada de decisões (HAMMER, 2001).
O monitoramento do ambiente externo (mercado, concorrentes, clientes) e do
ambiente interno (processos, tecnologias, fornecedores e conhecimento humano) precisa
ocorrer de forma direta e constante no suporte ao processo de tomada de decisões. A
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identificação dos fatores críticos de sucesso, como um processo sistemático para agregação de valor aos bens e serviços, busca coletar informações estratégicas para apoiar a tomada de decisão. Caracteriza-se como um importante meio de auxiliar na administração
das organizações.
Os fatores críticos de sucesso podem ser entendidos como elementos determinantes
para o melhor desempenho, pois, se a organização os identifica e consegue incorporá-los
ao planejamento estratégico e ao sistema de informações, passam a complementar as atividades de análise competitiva. Segundo Stollenwerk (2001), esses estão sendo cada vez
mais utilizados na formulação da estratégia em organizações que atuam em ambientes de
transformações. Considera-se que uma das contribuições dos fatores críticos de sucesso é
subsidiar o planejamento de caráter estratégico, sendo que estas informações ganham importância quando alinhadas aos objetivos institucionais.
Uma das formas de otimizar o processo de gestão das instituições de ensino superior
é monitorar continuamente os fatores de sucesso na consecução de planos estratégicos,
pedagógicos e administrativos. Isso significa disponibilizar informações preditivas que subsidiem o processo decisório para uma dada situação. A identificação dos fatores de sucesso
permite que as organizações focalizem, estrategicamente, suas ações e monitorem, continuamente, o ambiente sócio-produtivo em que atuam.
Assume-se como pressuposto que as constantes mudanças provocadas pela evolução
tecnológica e pelo desenvolvimento social e econômico dos países desafiam as organizações na capacidade de respostas às demandas do macro-ambiente. Simultaneamente, as
entidades necessitam saber quais fatores precisam ser considerados para maximizar suas
potencialidades e minimizar as ameaças, com vistas a aumentar a probabilidade de sucesso
e sua continuidade. A inteligência competitiva auxilia na sistematização de dados, análise
sobre os concorrentes, identificação das competências essenciais e no monitoramento dos
fatores críticos de sucesso, que paralelamente promovem reflexos diretos na sua
performance.
O ambiente da era da informação, tanto para as organizações do setor de produção
quanto para o setor de serviços, exige novas capacidades para assegurar o sucesso competitivo. O impacto, não obstante, é ainda mais revolucionário para as prestadoras de serviços. A capacidade de mobilização e de exploração dos ativos intangíveis tornou-se ainda
mais decisiva do que investir e gerenciar ativos físicos. Considera-se que os ativos intangíveis proporcionam às organizações a possibilidade de: a) relacionamentos que convergem
à fidelidade dos clientes e permitem a criação de novos segmentos de clientes e áreas a
serem atendidas; b) lançamento de produtos inovadores, customizados e com qualidade e
preços atrativos e ciclos de produção mais curtos; c) mobilização das habilidades e motivação dos funcionários para melhoria contínua; e, d) utilização da tecnologia da informação,
bancos de dados e sistemas de informações (KAPLAN e NORTON, 1997).
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Normalmente, as organizações definem seus negócios em termos de produtos. De
acordo com Kotler (1998), as definições de mercado de um negócio devem ser superiores
às definições de produtos. Um negócio precisa ser visto como um processo de satisfação
do consumidor e, não apenas, como um processo de produtos de bens e serviços. Explica
que uma unidade de negócio precisa monitorar as forças macroambientais, como os aspectos demográficos, econômicos, tecnológicos, políticos, legais, sociais e culturais; e ainda,
os atores microambientais importantes, como, por exemplo, os consumidores, concorrentes, canais de distribuição, fornecedores, que afetam as habilidades das organizações
em obter os resultados planejados. Desse modo, as unidades de negócios devem estabelecer um sistema de informação para rastrear as tendências e desenvolvimento de bens e
serviços. Para cada tendência e desenvolvimento, cabe aos gestores a identificação das
ameaças e oportunidades associadas aos produtos, por meio do monitoramento dos fatores críticos de sucesso do setor em que atuam.
De acordo com Ayres e outros (1999), a inserção da universidade, antes norteada
apenas pelo enfoque acadêmico, em um modelo de gestão empresarial é premente para a
diferenciação destas instituições no mercado. A identificação dos fatores críticos de sucesso na percepção dos gestores das instituições de ensino e na visão dos clientes auxilia na
gestão universitária, nos níveis estratégico, pedagógico e administrativo, e possibilita
visualizar os principais focos de atuação dessas instituições para, concomitantemente,
redirecionar estratégias competitivas. Nessa perspectiva, o artigo tem por objetivo identificar os fatores críticos de sucesso na percepção dos gestores e dos clientes, como suporte
ao processo de gestão, em uma instituição de ensino superior.
2. Procedimentos metodológicos
O delineamento da pesquisa caracteriza-se como estudo exploratório, utilizando-se
de fontes secundárias, com abordagem lógica dedutiva. De acordo com Tripodi, Fellin e
Meyer (1981, p.64), o estudo exploratório tem por finalidade principal “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, a fim de fornecer hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Ao se referir à pesquisa exploratória, Andrade (2002) elenca como finalidades substanciais: a) proporcionar maiores informações sobre o assunto que se vai investigar; b) facilitar a delimitação do tema de pesquisa; c) orientar a fixação dos objetivos
e a formulação das hipóteses; e d) descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto.
A abordagem lógica dedutiva, segundo Popper (1972, p.33), é um método para
submeter uma idéia nova, formulada conjecturalmente e, ainda, não justificada de algum
modo (antecipação, hipótese, sistema teórico ou algo análogo), a partir da qual se podem
tirar conclusões por meio de dedução lógica. Explica que “essas conclusões são em seguida
comparadas entre si e com outros enunciados pertinentes, de modo a descobrir-se que
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relações lógicas (equivalência, dedutibilidade, comparabilidade ou incomparabilidade)
existem no caso”.
Utilizou-se a pesquisa bibliográfica, para a formação do marco referencial teórico e
do estudo de caso, centrado em uma única organização. A pesquisa bibliográfica, de acordo
com Cervo e Bervian (1983), busca explicar um problema a partir de referenciais teóricos
já publicados. Pode ser utilizada independentemente ou como parte de uma pesquisa descritiva ou experimental. Tem por finalidade conhecer e analisar as contribuições culturais
ou científicas do passado acerca de um determinado assunto ou problema.O estudo de
caso, de acordo com Raupp e Beuren (2003), predomina nas pesquisas em que se desejam
aprofundar conhecimentos a respeito de uma situação específica. Salientam que o pesquisador tem a oportunidade de verificar in loco os fenômenos a serem pesquisados.
A escolha do sujeito da pesquisa foi intencional em função da acessibilidade aos dados. Trata-se de uma instituição de ensino superior privada, localizada na Grande
Florianópolis. Quanto aos procedimentos de coleta de dados, optou-se, primeiro, por
aplicar um questionário fechado aos alunos da primeira à sétima fase do curso de Administração de Empresas da mesma instituição, a fim de identificar os fatores críticos de sucesso
na percepção do cliente. Da população de 142 alunos, referente primeira, terceira, quinta
e sétima fases, obtiveram-se 102 respostas, o que representa uma amostra significativa
para o universo pesquisado. Após, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em junho de 2004, para identificar os fatores críticos de sucesso da instituição pesquisada em
três níveis de gestão: estratégico, pedagógico, e administrativo. No nível estratégico, entrevistou-se o Diretor da instituição de ensino. Os fatores de sucesso no nível pedagógico
foram obtidos com o Coordenador do curso de Administração de Empresas. No nível
administrativo, realizou-se entrevista com a Coordenadora Geral da instituição.
Para a análise dos dados oriundos das entrevistas, utilizou-se a técnica de análise de
conteúdo, que possibilita compreender melhor o discurso, aprofundar suas características
e extrair os momentos mais importantes, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens. Bardin (1977 apud TRIVIÑOS, 1987)
explica que a análise de conteúdo pode ser entendida como um conjunto de técnicas de
análise das comunicações que visa, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos,
descrever o conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos, ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção de variáveis inferidas das mensagens.
Por sua vez, a análise dos dados coletados por meio de questionário fechado deu-se
por meio da tabulação dos dados e de tratamento estatístico simples. Para isso, realizou-se
uma distribuição de freqüência e calculou o percentual de aceitação de cada uma das questões abordadas para identificar os fatores críticos de sucesso na percepção dos alunos.
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Em relação aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos fenômenos, o estudo se desenvolveu num ambiente que privilegiou a abordagem qualitativa.
O método qualitativo, conforme Richardson (1999), caracteriza-se pelo não emprego de
instrumental estatístico como base no processo de análise de um problema. Isto é, não se
atém a numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas.
3. Fenomenologia dos fatores críticos de sucesso
As mudanças, os eventos, as ameaças e as oportunidades no ambiente, continuamente, criam sinais e mensagens. As organizações detectam essas mensagens, executam algum
tipo de processamento para transformá-las em informação e as utilizam para se adaptarem
às novas condições. Quando as decisões se baseiam nessas mensagens, mais informações
são geradas e transmitidas, provocando novos sinais e decisões (MORESI, 2001).
O monitoramento contínuo auxilia a organização a prever situações inusitadas. Por
meio do monitoramento e da avaliação da performance de segmentos de mercado e da
dinâmica competitiva, a organização pode adotar ações estratégicas apropriadas em tempo
real. Isto significa dizer que a gerência deve voltar, constantemente, sua atenção para os
ambientes interno e externo. Assim, não se deve restringir a monitorar os competidores,
mas qualquer movimento que tenha implicação na organização.
De acordo com Grunert e Ellegaard (1992), quatro visões de fatores críticos de
sucesso podem ser distinguidas na literatura. Historicamente, o conceito originou-se do
campo do gerenciamento de sistemas de informação, transferindo-se, posteriormente,
para o campo da pesquisa de negócios estratégicos. Normalmente, podem-se distinguir os
fatores críticos de sucesso como uma característica do negócio, como uma ferramenta de
planejamento e como uma descrição do negócio.
Vale dizer que na literatura recorrente há diversas interpretações e conceitos sobre
fatores críticos de sucesso. Alguns autores os tratam como fatores-chave, outros como
fatores críticos, configurando-se, dessa forma, um neologismo em um quadro de divergências de ordem semântica. Por considerar tênues as diferenças conceituais entre as expressões fatores críticos e fatores chaves, adota-se a expressão fatores críticos, como usado
pela maioria dos autores.
Hofer e Schendel (1978, p.77 apud STOLLENWERK 2002, p.188) conceituam FCS
como “variáveis cujo gerenciamento poderá afetar significativamente a posição competitiva de uma empresa dentro de seu ramo de atividade, podendo variar de acordo com o
ramo”. Rockart (1979) diz que os FCS são aquelas poucas áreas, para qualquer negócio,
nos quais os resultados, se satisfatórios, irão assegurar um desempenho competitivo e de
sucesso para organização.
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Rockart, em 1979, consagrou o conceito de Fatores Críticos de Sucesso (FCS) ao
propor uma nova abordagem metodológica para definir as necessidades de informações
junto à alta administração das empresas, metodologia cujo ponto central era o mapeamento
dos fatores críticos pelos executivos. Inicialmente, foi aplicado na área de planejamento
estratégico e de sistemas de informação e, dada sua eficácia, consolidou-se como um instrumento de focalização estratégica para os sistemas de planejamento em geral.
A partir do reconhecimento que os sinais do mercado exigem técnicas e que é preciso determinar uma metodologia sobre quais dados são essenciais e, ainda, sobre o modo
como podem ser analisados, Porter (1996) define os FCS como um número limitado de
áreas de uma determinada organização ou processo, nas quais os resultados, se satisfatórios,
assegurarão desempenho superior. Para Tarapanoff (2001, p.311), os FCS representam:
os meios que garantem a realização dos objetivos da organização, ou seja, fatores que, pela sua
natureza, podem comprometer todo o sucesso de um plano ou de uma estratégia, devendo ser
considerados como ‘críticos’ e merecer atenção especial por parte da administração.
Price (1997, p.70) explica que “os fatores críticos de sucesso são aquelas poucas
áreas-chave nas quais tudo tem de dar certo para que o negócio prospere”. Originam-se do
que é fundamental para a sobrevivência da empresa: seus clientes, seu posicionamento, sua
estabilidade financeira e sua estratégia empresarial. Para o autor, quase tudo pode ser um
fator crítico. Por exemplo, em uma empresa que entrega documentos, o cumprimento do
prazo pode ser um fator crítico. Ressalta, todavia, que os FCS definem somente as áreas
críticas e não todas as áreas importantes da organização.
Stollenwerk (2001) destaca que, em 1976 e 1980, Anthony, Dearden e Vancil descreveram a utilidade dos FCS para elaborar projetos de sistemas gerenciais na área de
planejamento e controle. Além de reconhecerem que a metodologia do FCS provê informações sobre rentabilidade e outros indicadores de desempenho, poderia, também, identificar variáveis-chave consideradas de impacto nos resultados da empresa. O´Brien (2002),
referindo-se aos sistemas de informação executiva, argumenta que a primeira meta desses
sistemas busca fornecer aos executivos o acesso fácil e imediato a informações sobre fatores críticos de sucesso de uma empresa. Define FCS como aqueles decisivos para a consecução os objetivos estratégicos de uma organização.
Albertin (1999) considera FCS como a base para a definição de informações gerenciais.
Destaca que, a partir dos trabalhos pioneiros de Daniel (1961) e dos incrementos promovidos por Rockart (1979) e Bullen e Rockart (1981), os FCS podem ser considerados sob
três aspectos: a) o desempenho da organização será assegurando à medida que um fator
considerado crítico receba devida atenção e investimento, garantindo-se seu desempenho;
b) se um fator é considerado crítico e recebe atenção e investimento, ele deve ser acompanhado de informações que permitam seu controle, conseqüentes ações corretivas e de
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melhoria; e, c) uma vez que o fator crítico deve estar intimamente ligado ao negócio da
organização, os próprios executivos responsáveis pelo negócio devem definir os fatores,
suas formas de medição, seu padrão de desempenho e as informações necessárias.
Os fatores críticos de sucesso consubstanciam-se em um método que auxilia na definição das necessidades dos gestores e especialistas de focarem questões estratégicas da
empresa.Wanderley (1999, apud ROCKART, 1979) explica que os FCS são elementos de
posturas essenciais, que ajudam a assegurar ou melhorar a posição competitiva da organização. O mapeamento das necessidades informacionais estratégicas, por meio de fatores
críticos, torna possível definir os objetivos e metas do sistema de inteligência competitiva
nos negócios, as redes de inteligência e as fontes de informações necessárias.
Na perspectiva do planejamento estratégico, Costa (2002) enumera algumas perguntas que podem servir de orientação para avaliar a competitividade e chama a atenção
para o questionamento da velocidade de mudança dos FCS. Nesse sentido, introduz o
conceito de fator crítico de escolha e reforça que a identificação deste para uma certa área
estratégica, que não está associada diretamente com pontos fortes ou fracos da instituição.
Alerta que pode ocorrer que um fator-chave seja exatamente um ponto fraco da organização, ao contrário, um ponto que não seja percebido externamente como um fator relevante no mercado.
Os fatores críticos de sucesso podem ser entendidos como elementos determinantes
para o melhor desempenho, pois, se a organização os identificar e conseguir incorporá-los
ao planejamento estratégico, aos sistemas de informação, passam a complementar as atividades de análise competitiva. Considera-se que uma das contribuições dos fatores críticos
de sucesso é subsidiar as informações de caráter estratégico, sendo que estas informações
ganham importância quando alinhadas aos objetivos institucionais.
3.1. Finalidades dos fatores críticos de sucesso
O método dos fatores críticos de sucesso tem por objetivo, segundo Stollenwerk
(2001), identificar as características, condições ou variáveis que devem ser monitoradas e
gerenciadas pela organização para que ela fique bem posicionada em seu ambiente de competição. O método tem sido aplicado, especialmente, para: a) definir as necessidades de
informações gerenciais; b) mapear as características exclusivas de uma organização; c)
redefinir, heuristicamente, os mapas mentais dos gerentes; e, d) auxiliar na definição das
habilidades, tecnologias e conhecimentos essenciais (competências essenciais).
Nesse contexto, os FCS são usados, de acordo com Gomes e Braga (2001), para
avaliar a atratividade da indústria e a força do negócio. O gestor pode elencar os diversos
fatores que afetam a indústria e o negócio, atribuindo-lhes graus e, a seguir, encontrar a
média desses valores para organizá-los em uma matriz. Essa matriz pode ser usada para
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avaliar as forças de um determinado empreendimento, ao configurar-se como um instrumento que possibilita a comparação das ações empregadas nos ambientes interno e externo. Salientam que o método dos FCS somente é um instrumento útil ao sistema de informação, se dispor de uma lista correta dos fatores críticos de sucesso.
O método FCS visa identificar as características, condições ou variáveis que deverão
ser monitoradas e gerenciadas pela organização para que ela fique bem posicionada em seu
ambiente de competição. A aplicação dos FCS apresenta natureza eclética, variando desde
sua utilização como ferramental de definição das necessidades de informação, como delineador
das características exclusivas da organização até como auxiliar na definição das habilidades,
tecnologias e conhecimentos essenciais da organização (GOMES e BRAGA, 2001).
Gomes e Braga (2001) sustentam que o método de FCS é utilizado para avaliar a
atratividade da indústria e a força do negócio. Sugerem a adoção de uma matriz que contemple os vários fatores que afetam a indústria e o negócio. Essa matriz visa avaliar as
forças de um determinado negócio e comparar concorrentes em uma indústria. Acrescenta que o sucesso do método é proporcional à correta identificação e listagem dos fatores
críticos de sucesso.
Ainda no que se refere às informações estratégicas,Wanderley (1999) assinala que os
FCS podem auxiliar no seu mapeamento, tornando-se possível definir os objetivos do
sistema de informação de negócios, as redes e fontes de informação. A partir dos trabalhos
de Prescott e Grant (1988), ressalta que os FCS apresentam pequeno tempo de desenvolvimento e moderado tempo de execução, médio custo e requer dos gerentes as habilidades conceitual, analítica e de realização de diagnóstico. Seguindo na apresentação das características dos FCS, chamam a atenção para a exigência periódica e freqüente de atualização, destacam a rapidez e baixo custo de focalização estratégica como vantagem e a
superficialidade como limitante do método.
Como instrumento de suporte para formulação de estratégias das organizações, caracteriza-se pela dinamicidade, arborescência, sendo que os FCS são sistematicamente
hierarquizados. Essas características remetem os FCS à revisão e avaliação sistemáticas e ao
desdobramento em árvore de pertinência, na qual se reconhece a importância de cada ramificação e a identificação das necessidades de informação. Quanto à hierarquia, podem estar
relacionados com o ramo de negócio como um todo, ou ser específico da empresa, outros se
referem a determinadas unidades de negócio de uma empresa (STOLLENWERK, 2001).
Os fatores chaves de sucesso fornecem a fundação para o desenvolvimento do plano
estratégico (SANTOS, 2003). Esses fatores, que descrevem o que uma organização deve
fazer bem para ter sucesso em uma dada indústria, devem ser extraídos do plano estratégico e utilizados para direcionar a coleta de dados e os esforços de análise.
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3.2. Fontes de fatores críticos de sucesso
Os fatores críticos de sucesso devem ser identificados por meio da aplicação dos
princípios e/ou definições com base em pesquisa teórica, utilizando as diversas fontes de
dados disponíveis e serem complementados com pesquisas de campo. Esses dados, depois
de analisados, se transformam em informações estratégicas e táticas, para nortear o projeto e a operacionalização do empreendimento. Bullen e Rockart (1981, apud GRUNERT e
ELLEGAARD, 1992) distinguem cinco fontes de fatores críticos de sucesso: a) indústria
ou ramo de negócio; b) estratégia e posicionamento competitivo do negócio; c) fatores
ambientais externos; d) fatores temporais; e) posição administrativa.
Os fatores críticos de sucesso na indústria ou ramo de negócio representam as características de demanda, tecnologia empregada, características de produto. Estes podem
afetar todos os competidores dentro de uma indústria, mas sua influência varia de acordo
com as particularidades e sensibilidade dos segmentos empresariais. Os fatores relativos à
estratégia e posicionamento competitivo do negócio são aqueles históricos determinantes
e o posicionamento competitivo do negócio.Tais condições podem favorecer o crescimento mais rápido da empresa em relação a seus concorrentes.
Fatores ambientais externos representam as influências macroeconômicas que afetam
todos os competidores dentro de uma empresa e, sobre os quais, os competidores têm pouca
ou nenhuma influência. Por exemplo, aspectos demográficos, políticas econômicas e legislação. O monitoramento desses fatores significa a antecipação de oportunidades. Os fatores
temporais dizem respeito às áreas do negócio que demandam um certo tempo para
implementar uma estratégia. São atribuições temporárias, geralmente, em função da falta de
administradores especialistas ou de trabalhadores qualificados, crises causadas por acidentes,
publicidade negativa, escassez de recursos ou mesmo a perda de posição no mercado.
Os fatores concernentes à posição administrativa são situações relacionadas a um
determinado gerente e, sobretudo, às atribuições de seu cargo que exige a associação dos
fatores críticos. Segundo Santos (2003), os FCS podem ser extraídos do plano estratégico
e utilizados para direcionar a coleta e análise de dados. Desse modo, segmenta e caracteriza-os em: a) ambientais; b) empresariais; c) organizacionais; e, d) setoriais.
Os ambientais são aqueles que influenciam, de alguma forma, todos os negócios.
Como exemplo, fatores econômicos, reguladores e políticos que impactam o mercado.
Embora o nível de controle que o negócio tenha sobre esses fatores seja reduzido, em
alguns casos, seu impacto pode ser substancial. Os empresariais são comuns a todas as
organizações. Para exemplificar, tem-se o processo de recrutamento, contratação e
capacitação de pessoas ou a eficiência geral e o controle de custos das organizações. Esses
fatores, todavia, são raramente considerados como críticos para fins de inteligência, pois
se aplicam a todas as organizações, o que impossibilita garantir algum diferencial estratégico competitivo unilateral.
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Os fatores organizacionais definem, em última análise, uma identidade relacionada
ao empreendimento em particular, ou seja, se aplicam a um determinado setor. Como
exemplo, o projeto de arquitetura para uma determinada organização. Os setoriais são
relativos aos mercados que estão sendo servidos ou os fatores específicos relativos às organizações naqueles mercados. Um FCS setorial poderia ser a competição por custos, qualidade, flexibilidade ou tempo de reação.
A avaliação dessa segmentação fornece uma quantidade razoável de dados e informações que podem ajudar no monitoramento de questões estratégicas em cada ramo de negócio. Com esse propósito, a segmentação dos fatores críticos permite avaliar o impacto
do ambiente e analisar comparativamente uma organização em relação aos seus sistemas
de operações internas, ao setor e em relação a outras empresas, de forma a identificar
forças e fraquezas, perfis de recursos e análise das competências essenciais. As quatro
segmentações dos fatores críticos de sucesso têm uma característica em comum, isto é,
explorar com critério as áreas de maior e menor desenvolvimento da empresa.
Os fatores críticos de sucesso, quando aplicados no processo de gestão de instituições de ensino superior, podem garantir o fluxo de informação, nos níveis estratégico,
administrativo e pedagógico, para subsidiar o processo decisório. Esse conjunto de elementos integrados permite identificar as principais áreas nas quais as instituições de ensino devem concentrar seus esforços e, assim, focar o planejamento estratégico de modo a
elevar suas ações para torná-las competitivas frente às oportunidades e ameaças.
4. O ambiente do ensino superior
O processo de globalização e as tecnologias de informação e comunicação têm impelido as instituições educacionais a uma redefinição do seu papel. Em nível de educação
superior, esses condicionantes determinam a adoção, pelas universidades, centros universitários, faculdades e institutos ou escolas superiore,s de modelo includente, em detrimento de um modelo concentrador.
Na perspectiva includente, concebe-se educação superior como uma instituição social que apresenta como propósito a formação intelectual e científica da sociedade em que
está inserida. A instituição social caracteriza-se por apresentar estabilidade e durabilidade
de sua missão e repousa sua estrutura em normas e valores do grupo ou sociedade em que
se insere (COLOSSI, CONSENTINO e QUEIROZ, 2001).
No Brasil, o aumento da demanda pelo ensino superior propiciou oportunidade de
ingresso de instituições de ensino privado. Com o processo de abertura do mercado e dos
dispositivos legais, houve um crescimento na participação de instituições privadas, ampliando o número de vagas e, conseqüentemente, gerando maior necessidade de controle em
função da delegação das atividades por parte do governo às instituições privadas.
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O ensino superior privado brasileiro esteve focado, em passado recente, na oferta de
cursos de formação plena. Os cursos de graduação, em específico, apresentavam um currículo extenso, às vezes, com sobreposição de conteúdo para justificar a extensão da carga
horária, enquanto se acenava para a adequação dos currículos às necessidades do mercado,
como por exemplo, cursos com carga horária reduzida e que atendessem a problemas
emergentes. O fato é que essa defasagem passa a demandar o monitoramento da regulamentação do ensino e dos anseios do mercado de trabalho.
Considerando as mudanças tecnológicas e o cenário evolutivo da educação, Abreu,
Gonçalves, Panozzi (2003) pontuam que as organizações buscam no processo de aprendizagem contínua uma forma de construir inteligência corporativa competitiva. Explicam,
ainda, que, em função da estruturação organizacional, as empresas têm caminhado rumo à
adoção de um modelo de educação híbrido, participando ativamente do processo de ensino-aprendizagem e compartilhando responsabilidades com instituições de ensino, atividade anteriormente exclusiva da academia.
Em face de novos entrantes no mercado e do aumento da oferta de vagas, as instituições de ensino superior foram forçadas a conviver com o acirramento da concorrência.
Com isso, aumentaram a necessidade de desenvolver meios para identificar os atores e
suas forças a fim de implementar estratégias que permitissem melhorar o posicionamento
competitivo.
Consoante às tendências do mercado profissional, a educação brasileira passa por mudanças decorrentes da aplicação de dispositivos legais, com ênfase para a delegação parcial
das atribuições governamentais à iniciativa privada (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988;
LDB, 1996). Nessa perspectiva, a educação em nível superior passa a se ancorar em investimentos de iniciativa privada, responsável por oitenta por centro das vagas oferecidas.
A partir daí, de acordo com Santos (1999), as instituições educacionais envolvidas
num contínuo processo de inovação, fundamentam suas políticas em princípios: a) cidadania como patrimônio universal; b) autonomia universitária; c) ética na atividade humana;
d) responsabilidade institucional e social; e) nova visão de futuro; f) relação com a sociedade e o mundo do trabalho; g) empreendedorismo; h) excelência no ensino.
Nas raízes da expansão do ensino superior, observa-se a predominância dos critérios
de busca de atendimento de necessidades voltadas para o mercado com predominância dos
interesses econômicos. Isso pode trazer risco de mercantilização do ensino superior, em
detrimento das ações que privilegiem os aspectos sociais e o atendimento de minorias
(COLOSSI, CONSENTINO e QUEIROZ, 2001).
A nova legislação aponta para a conciliação entre os aspectos econômico e social, incitando as instituições de ensino superior para: a) incorporação de metodologias inovadoras e
ativas; b) articulação da subjetividade com a objetividade; c) criação de ambiente favorável ao
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Identificação dos Fatores Críticos de Sucesso em Instituição de Ensino Superior
exercício das atividades acadêmicas; d) indissociação do ensino-pesquisa-extensão; e)
integração curricular; f) interdisciplinaridade; g) aceleração da educação (VEIGA, 2000).
Os princípios e valores norteadores do novo modelo educacional convergem para a
profissionalização de operações. Por sua vez, provocam o desenvolvimento de modelos de
gestão capazes de reconhecer vantagens competitivas e de desafiar a competitividade
institucional, por considerar que o ambiente apresenta-se de forma recessiva em função da
diminuição do poder de compra de seus clientes.
5. Descrição e análise dos dados coletados
A instituição, na qual se realizou a pesquisa, desenvolve atividade de ensino superior
na Grande Florianópolis no Estado de Santa Catarina. Encontra-se em estágio inicial de
implantação, justificando a identificação dos fatores críticos de sucesso para a elaboração
de seu planejamento estratégico. É mantida por uma sociedade educacional privada e sem
fins lucrativos e oferece doze cursos de ensino superior. Atualmente, possui aproximadamente quinhentos alunos. A instituição caracteriza-se por uma estrutura funcional,
departamentalizada nos níveis estratégico, administrativo e pedagógico.
A identificação dos fatores críticos de sucesso implica no apontamento das necessidades de informação da organização. O Quadro 1 evidencia os fatores críticos de sucesso
da instituição pesquisada. Embora a literatura classifique os fatores críticos de sucesso em
ambientais, empresariais, organizacionais e setoriais, adotou-se, neste trabalho, uma classificação com segmentação específica para a instituição, dado o objetivo da pesquisa restringir os fatores críticos de sucesso à dimensão organizacional. Os fatores de sucesso
organizacionais foram categorizados nos níveis estratégico, administrativo e pedagógico.
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Romualdo Douglas Colauto, Caio Marcio Gonçalves e Ilse Maria Beuren
Quadro 1 - Fatores críticos de sucesso na percepção da instituição de ensino
NÍVEL ESTRATÉGICO
Localização geográfica
Tradição da instituição
Imagem da organização
Garantia de reconhecimento do curso
Valor de mensalidade menor que a concorrência
Parceria com outra instituição de ensino superior de reconhecimento nacional
NÍVEL A DMINISTRATIVO
Infra-estrutura
Campanha publicitária periódica
Serviços de secretaria e de pessoal
NÍVEL PEDA GÓGICO
Qualificação do corpo docente
Atualização do corpo docente
Interação da coordenação com o corpo discente
Integração dos alunos com a instituição
Metodologia aplicada à realidade do mercado de trabalho
Fonte: elaborado pelos autores.
A identificação dos fatores críticos de sucesso na percepção dos clientes, conforme
demonstrado no Quadro 2, busca ampliar o escopo dos fatores críticos de sucesso da instituição para alinhar o planejamento estratégico às necessidades dos clientes. Vale explicar
que a pesquisa envolveu cinco alternativas de questionamento quanto à percepção dos
fatores, considerados relevantes pelos clientes. A alternativa “concordo totalmente” considera que o cliente não apresenta nenhuma restrição quanto ao enquadramento da questão
como fator crítico de sucesso. Na alternativa “concordo”, apesar de ser um fator de sucesso, apresenta alguma restrição. O cliente, na opção “indiferente”, declina uma posição de
indiferença pela variável. O item “não concordo” denota que o cliente apresenta alguma
restrição quanto a inserção do item como fator crítico de sucesso. E ainda, a alternativa
“discordo totalmente” implica em haver restrições suficientes para não considerar o item
como fator crítico de sucesso.
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Identificação dos Fatores Críticos de Sucesso em Instituição de Ensino Superior
Quadro 2 - Índices dos fatores críticos de sucesso na percepção dos clientes
Concordo
totalmente
Concordo
Indiferente
Discordo
Discordo
totalmente
3%
38%
28%
16%
14%
3%
19%
25%
26%
27%
Qualificação do corpo docente
16%
24%
17%
32%
11%
Serviços administrativos e suporte
técnico
4%
36%
38%
13%
11%
Qualidade do curso (imagem, processo
seletivo, número de alunos por sala)
12%
48%
22%
12%
7%
Tradição da instituição
3%
20%
38%
25%
14%
Promoção de eventos (congressos,
seminários, encontros e simpósios)
3%
17%
28%
23%
29%
Valor da mensalidade
29%
36%
11%
17%
8%
Localização geográfica
48%
22%
15%
9%
6%
Horário das aulas
44%
37%
10%
6%
3%
Carga horária total do curso
9%
38%
33%
11%
10%
Exigências acadêmicas para conclusão
do curso
9%
48%
29%
11%
4%
FATORES PESQUISA DOS
Recursos físicos (laboratórios de
informática, empresa júnior, acervo
bibliográfico)
Serviços adicionais (cursos de idiomas,
convênios para estágio, atividade
desportiva, programa de iniciação
científica)
Fonte: elaborado pelos autores.
Com o objetivo de comparar a percepção dos fatores críticos de sucesso entre níveis
institucional e do cliente, apresentam-se, no Quadro 3, os fatores críticos de sucesso estratégico, administrativo e pedagógico, relacionado-os com a percepção do cliente.
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
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Romualdo Douglas Colauto, Caio Marcio Gonçalves e Ilse Maria Beuren
Quadro 3 - Comparação entre os fatores críticos de sucesso institucionais e
do cliente
PERCEPÇÃ O DO
CLIENTE
PERCEPÇÃ O DA INSTITUIÇÃ O
Nível estratégico
Localização geográfica
70%
Tradição da instituição
23%
Imagem da organização
60%
Garantia de reconhecimento do curso
Não apontado
Valor de mensalidade menor que a concorrência
Parceria com outra instituição de
ensino superior de reconhecimento nacional
65%
Não apontado
Nível administrativo
Infra-estrutura
41%
Campanha publicitária periódica
Não apontado
Serviços de secretaria e de pessoal
40%
Nível pedagógico
Qualificação do corpo docente
40%
Atualização do corpo docente
Não apontado
Interação da coordenação com o corpo discente
Não apontado
Integração dos alunos com a instituição
Não apontado
Metodologia aplicada à
realidade do mercado de trabalho
57%
Fonte: elaborado pelos autores.
A descrição dos dados mostra que a localização geográfica, a imagem da organização,
o valor da mensalidade e a metodologia de ensino aplicada à realidade de mercado constituem-se em fatores críticos de sucesso, tanto pela instituição quanto pela maioria dos
clientes. A tradição, infra-estrutura, serviços de secretaria e de pessoal e a qualificação do
corpo docente, embora, considerados fatores críticos de sucesso pela instituição, não foram contemplados pela maioria dos alunos.
Vale ressaltar que os fatores apontados pela instituição como determinantes de sucesso, tais como: (1) garantia do reconhecimento do curso, (2) parceria com outra instituição de ensino superior de reconhecimento nacional, (3) campanha publicitária periódi-
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Identificação dos Fatores Críticos de Sucesso em Instituição de Ensino Superior
ca, (4) atualização do corpo docente, (5) interação da coordenação com o corpo discente,
(6) integração dos alunos com a instituição não foram questionados aos alunos, uma vez
que o questionário foi aplicado antes de realizar a entrevista com os gestores dos três
níveis, denotando uma limitação da pesquisa.Assim, a expressão “não apontada”, referenciada
no Quadro 3, não descaracteriza os itens como fatores críticos de sucesso, posto que esses
itens não constavam no questionário aplicado aos alunos.
Quanto à percepção dos alunos, no que se refere aos serviços adicionais (cursos de
idiomas, convênios para estágios, atividades desportivas, programa de iniciação científica), 24% concordam que esse recurso é fator crítico de sucesso. E ainda, 81% e 47%,
respectivamente, consideraram que o horário das aulas e a carga horária total do curso
representam diferenciais de sucesso para a instituição. Nota-se que esses itens contemplados pelos alunos não foram considerados fatores de sucesso pelos níveis estratégico, administrativo e pedagógico.
A identificação dos fatores críticos de sucesso na percepção da instituição e dos clientes permite alinhar as estratégias da instituição à consecução dos objetivos constitutivos.
Assim como, analisar se as expectativas dos alunos quanto aos recursos, procedimentos
pedagógicos e administrativos adotados estão sendo contemplados no processo de gestão
da instituição de ensino superior.
Considerações finais
A sobrevivência e o desenvolvimento das empresas no atual contexto requer a capacidade de reagir às mudanças e, ao mesmo tempo, prever tendências do mercado de forma
a antecipar-se em suas estratégias. Isto remete à necessidade de criação de novas técnicas e
métodos que auxiliem no processo de gestão.
Os fatores críticos de sucesso podem ser entendidos como um método que auxilia
na definição das necessidades dos gestores e especialistas e no estabelecimento de foco nas
questões estratégicas da empresa. São varáveis cujo gerenciamento pode afetar, de forma
significativa, a posição competitiva das empresas dentro de seu campo de atuação. Entende-se que os fatores críticos de sucesso corroboram na coleta, análise e mensuração de
dados estratégicos em áreas que os gestores consideram críticas para o sucesso do empreendimento.
Com relação ao objetivo de identificar os fatores críticos de sucesso em uma Instituição de Ensino Superior, observou-se que a maioria dos fatores identificados nos níveis
estratégicos, administrativos e pedagógicos converge à percepção dos clientes. Os procedimentos da técnica triangulação possibilitaram apontar alguns dos fatores considerados
como críticos nos níveis institucional (estratégico, administrativo e pedagógico) não foram, assim, considerados pelos estudantes. Outros, considerados críticos pelos estudan-
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Romualdo Douglas Colauto, Caio Marcio Gonçalves e Ilse Maria Beuren
tes, não fazem parte do elenco daqueles mapeados pela instituição. Assim, acredita-se que
a pesquisa mostra uma das possibilidades de alinhar, estrategicamente, as ações que agregam valor na ótica do cliente.
À medida que as organizações interagem em seus ambientes, elas absorvem informações, transformam-nas em conhecimento e agem com base nessa combinação de conhecimento, experiências, valores e regras internas, buscando identificar as informações
como uma ferramenta para alavancar sucesso organizacional e criar diferenciais competitivos que sustentem sua permanência no mercado. Com o monitoramento das ações estratégicas, administrativas e pedagógicas, as instituições de ensino superior podem agregar
maior valor à estrutura interna da instituição e, conseqüentemente, aos clientes.
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62
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
La Administración y su Enseñanza:
¿Entre Doctrina y Ciencia?
Prof. Dr. Omar Aktouf
HEC - École des Hautes Études Commerciales
de la Universidad de Montreal - Canadá
Capítulo do livro Administración Y Pedagogia
Primera Edición: Marzo de 2000
© Fondo Editorial Universidad EAFIT
ISBN 958-9041-49-3
Debemos al profesor Alain Chanlat (1981), de la Escuela de Altos Estudios
Comerciales de Montreal, un análisis muy instructivo - y tanto más interesante cuanto
raro en su género – a propósito de la enseñanza y la pedagogía en administración. Continuando en el camino por él iniciado intentaremos, a nuestro turno, argumentativamente
defender una enseñanza de la administración menos peligrosamente ideológica; más autenticamente científica y humanista; menos dogmática y más cálida.
Más de quince años de estudios, práctica y enseñanza en la administración nos plantean
interrogantes que consideramos un deber compartir, con el fin de ampliar el debate. Hace
algunos años C. Vuillez (1978), director de la Escuela de Altos Estudios Comerciales de
París, declaró que la filosofía futura que regiría la enseñanza en su institución se inspiraría
en los grandes principios siguientes:
... formar administradores que no estén llenos de certezas...Ofrecer esquemas flexibles de
comprensión con el fin de que los jóvenes estén más capacitados para resolver un cierto número
de problemas.
Finalmente, y más que nunca, formar en conocimientos generales y disminuir, en
cantidad y en importancia relativa,los cursos llamados ‘técnicos’.
Lo menos que puede deducirse de esta especie de toma de posición es que, a finales
de los años setenta, se estaba poco convencido no sólo de la universalidad y precisión de
los contenidos de los programas de administración, sino también y sobre todo de la
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
63
Omar Aktouf
pertinencia de estas enseñanzas con relación a su objetivo: una administración de las empresas «económicamente » eficaz y... «humanamente» viable.
En todo caso, el mundo industrial es acusado regularmente por ser un universo de
«cosas» y de gestión de «cosas», en el que el hombre está definitivamente desterrado, al
menos a título de input particular (c.f. M. Godelier, 1971, L. Sfez, 1976, H. Braverman,
1976...). Por otra parte, y desde los mismos templos norteamericanos de las «ciencias
administrativas», se elevan voces (L. Sayles, 1970, H. Mintzberg, 1973, W. Skinner, 1977,
J.N. Behrman y R. Levin, 1984) que deploran la separación de las teorías administrativas
en relación con la «realidad» que pretenden representar... ¡ legitimándose en esta
separación!... Se constata cada vez más que la práctica de la administración tiene muy
poco que ver con lo que se enseña en las instituciones ad hoc: y esto tanto en las escuelas
como sobre el terreno (Friedrich, 1981).
Es en esta perspectiva de la constitución del saber y de la influencia sobre lo que
ocurre en la fábrica que queremos problematizar la enseñanza de la administración: ¿cuáles
son sus fundamentos y contenidos?
La administración como contenido
y materia de enseñanza
Aquí planteamos la pregunta de la definición de la administración como «materia»
dotada de unidad y coherencia y como «materia enseñable».
En primer lugar, como contenido, diremos que la administración, desde Taylor, Fayol
y Urwick, permanece en el nivel del proceso llamado «integrado», que es aquél que va
desde la «planificación» hasta el «control» pasando por la «decisión», «la organización» y
la «dirección». Cada una de estas actividades da lugar a la posesión de una o varias
«herramientas» destinadas a hacer que las tareas se hagan mejor y más rápido.
La amplia defensa de H. Fayol (1962) en favor de la enseñanza de la administración
para desarrollar la «capacidad administrativa » de los dirigentes y su invitación a la
constitución de una «doctrina» de la administración nos muestran que, hasta los años veinte,
la conducción de las empresas era un asunto puramente personal e intuitivo. ¿Nos
sorprenderíamos entonces del fracaso de nuestra búsqueda de una definición diferente a
aquéllas que consisten en una enumeración de actividades?
Si miramos un poco la historia y los primeros hitos fayolianos, nos daremos cuenta
de que aquello que nos esforzamos por enseñar en nuestras escuelas de administración
proviene de una actividad, que con el tiempo se ha, más o menos, sistematizado, pero que
sólo era, al comienzo, la habilidad que manifestaban algunos para mantener a los artesanos
en la «fábrica» y para hacerlos producir. La Revolución Industrial nos muestra que estos
héroes, entre ellos Arkwright, contribuyeron esencialmente disciplinando y organizando
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
La Administración y su Enseñanza: ¿Entre Doctrina y Ciencia?
la mano de obra para obtener, finalmente, un excedente de trabajo que se ha convertido en
una necesidad económica absoluta. La competencia particular y específica de los primeros
«administradores» era pues la de obtener más trabajo, mediante la disciplina y la organización
(c.f. P. Mantoux, 1959, J.P. Rioux, 1971 H. Braverman, 1976).
El objetivo general de esta actividad no ha cambiado, sólo los métodos y los instrumentos han evolucionado: se trata siempre de maximizar la proporción del factor trabajo.
Es con H. Fayol, uno de los primeros autores que afirmó la «necesidad y la posibilidad
de una enseñanza administrativa», con quien vemos configurarse una «doctrina» de la
administración. Ésta era, para él, la condición explícita de la «enseñabilidad de la actividad
administrativa»; decía:
La verdadera razón de la ausencia de la enseñanza administrativa en nuestras escuelas profesionales
es la ausencia de doctrina. Sin doctrina no hay enseñanza posible. Ahora bien, no hay doctrina
administrativa consagrada,nacida de la discusión pública. (1962: 15).
Un poco más adelante define lo que entiende por «doctrina consagrada»:
Un conjunto de principios, de reglas, de métodos, de procesos probados y controlados por la
experiencia pública.
Aunque no tiene la precaución de definir lo que llama «experiencia pública», agrega:
No sería difícil constituir esta doctrina si algunos grandes jefes se decidieran a exponer sus ideas
personales sobre los principios que consideran como los más propios para facilitar la marcha de
los negocios... (1962: 16)
Es una «experiencia» y un «público» bastante restringidos para hablar de «principios
generales» y de «experiencia pública consagrada»... De todas maneras constatamos, por
lo menos, que el primer esfuerzo de sistematización de la enseñanza de la administración
conserva el término «doctrina» y no el de «ciencia» o «ciencias». Este término significa
etimológicamente «enseñanza», y su definición según el diccionario es:
Conjunto de nociones que se consideran verdaderas y por las cuales se pretende proporcionar
una interpretación de los hechos, orientar y dirigir la acción de los hombres en materia religiosa, filosófica y científica...
Esta definición parece bastante acertada para caracterizar el corpus teórico de la
administración, y la historia nos muestra cómo se constituyó en este dominio su vocación
primera: el servicio al comerciante transformado en «fabricante-mercader». (Fueron los
mercaderes de telas adinerados quienes se convirtieron en industriales y patronos de fá-
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
65
Omar Aktouf
brica, no los maestrosartesanos.) La realización y encarnación de los «derechos» de los
propietarios «fijan el modo de uso de los medios de producción» (según M.Weber, 1971)
y el «ejercicio del poder» (según A. Etzioni, 1964), es decir, imponen el «querer» de los
poseedores, especialmente en materia de índices de ganancias, de excedentes y de
destinación de estos excedentes.
Esta vocación se concretiza en la capacidad de crear organizaciones, es decir, de
formalizar y hacer artificiales las relaciones entre los hombres, y esto alrededor de la
voluntad deliberada de maximizar las ganancias del ciclo «compratransformación-venta».
El fondo del problema es de esencia eminentemente comercial, y el servicio central que
prestan la fábrica y la «organización» es el de hacer lo más rentable posible el factor trabajo.
A esto deben dedicarse los organizadores y los gerentes.
Pues bien, todo esto es -y lo sabemos- en sentido estricto doctrinal, es decir, del
orden interpretativo e ideológico. Es la formalización de las relaciones de trabajo alrededor
de una voluntad maximalista (la «conducción eficaz» de estas relaciones), lo que constituye
el corazón de la materia administrativa enseñable. ¿Podemos ver entonces en la
administración, erigida como «doctrina», algo diferente a aquella realidad particular propia
del comercio, que se funda en la voluntad de producir (y/o comprar) y vender conservando la mayor distancia posible entre costos y ganancias? Es ésta una manera de truncar la
realidad humana y de reducir el todo a la lógica de un subsistema: aquél de la economía
mercantil y de la producción-contabilidad.Toffler (1980), «recuperando» ideas planteadas
desde hace mucho tiempo por autores considerados «sospechosos», muestra cómo todo
esto constituye el fundamento mayor de la «segunda ola»: la de la industria manufacturera.
Lo que podemos decir en definitiva, sobre el sentido de este «saber-administrativoenseñable», es que no tiene ni fundamentos humanos ni fundamentos científicos; incluso
si, con cierto cinismo, se afirma que la industria y los principios de la economía mercantil
y marginalista son productos del hombre.
El contenido didáctico de la administración
Como acabamos de ver y de acuerdo con la «tradición», la administración sólo se
define en términos de actividad(es). En el mismo orden de ideas, la psicología general casi
ha renunciado también a una definición de inteligencia diferente a aquélla que se enuncia
en términos de actividades (recordemos el exabrupto de Binet y Simon que declaraban
que la inteligencia es...¡aquello que mide su test!). ¿Quiere esto decir que tenemos que
buscar una «doctrina consagrada» de la inteligencia para tratar de hacer de ella una materia
«enseñable»? Ciertamente, la inteligencia se desarrolla y se forma, pero siempre con motivo de y en función de las demandas del medio y de las reacciones generadas. Guardando
las proporciones, «el arte» del gerente es un juego de este mismo orden, ¿cómo entonces
pretender enseñarlo?
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
La Administración y su Enseñanza: ¿Entre Doctrina y Ciencia?
En un folleto publicado por la Cámara de Comercio de Estrasburgo en 1935, se
declara explícitamente: «La práctica del comercio nacional e internacional no se aprende
bien sino allí donde se hace...» (p. 12). Su autor aboga además en favor de la descentralización
de las escuelas de comercio y su acercamiento a los centros de negocios. Incluso condena
toda enseñanza del tipo «estudios superiores después del pregrado», pues producirán
... más teóricos para cátedras de universidad, consejeros de trusts de cerebros, que hombres de
acción necesarios al comercio en grande de un país... (p.31)
He aquí una posición consecuente consigo misma: ni ciencias, ni teorías, se trata de
acciones, de pragmatismo y... de comercio.
Hoy vemos propagarse costumbres y usos que pretenden hacer de la administración
una ciencia, que sus diplomas tengan un carácter universitario que cubra «ciclos» completos. Encontramos incluso, además de las «ciencias contables» o de las «ciencias de
comportamiento organizacional», «ciencias inmobiliarias» en nuestras escuelas de
administración (no es nuestro propósito extendernos en un tema que tiene que ver con el
abuso del lenguaje y, en última instancia, con el abuso de confianza). Sorprende sin embargo ver lo que dicen acerca de esto los primeros autores. Por ejemplo, en una obra titulada
La educación del jefe de empresa, que data de 1933 y firmada por P. Jolly, encontramos ciertas
posiciones bastante «lúcidas»:
Siempre nos hemos equivocado llamando «ciencia» lo que sólo es una técnica destinada a obtener
el máximo de rendimiento en un negocio industrial. Si para el dirigente de empresa no puede
existir una ciencia de los negocios, no le está prohibido al menos servirse de las ciencias aptas
para guiar o secundar sus esfuerzos... (pp. 72-77)
La situación es clara: no hay «ciencia» de los negocios, pero hay ciencias establecidas
que pueden ser utilizadas según el servicio que presten a la rentabilidad industrial-financiera.
¿Es éste el tipo de toma de conciencia que se fomenta hoy en día en nuestros cursos de
formación en los «negocios»?... Es innegable que el contenido didáctico de la administración
permanece en el nivel de la utilización sectaria de las ciencias, de las cuales sólo se retiene
el mínimo utilizable desde una óptica explícita o implícitamente productivista... ¿se puede
todavía hablar de ciencias?
Queda por saber cómo puede hacerse la «transición» en términos de «acciones»,
puesto que el «hombre de acción» debe ser el producto de esta enseñanza. Si nos referimos a escritos anteriores, encontramos en La formación de los jefes de empresas de la Universidad
Laval (1954) lo siguiente:
Es el administrador el encargado, en la empresa, de las actividades de pensamiento, que debe
ejercer con prudencia y sabiduría. Debe poseer el arte de prever, de organizar, dedirigir y de
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controlar... El departamento de administración tiene como objetivo desarrollar el sentido de
los negocios...
¿El «arte de» y el «sentido de»... son «materias» definibles, universales y científicas?... ¿El «sentido de los negocios»? Hay acuerdo en reconocer a hombres como Arkwright
o Roebbuck - ingleses del siglo XIX -, pero se trata sobre todo de hombres poco escrupulosos y de grandes intrigantes (la obra de P. Mantoux, muy documentada, no deja ninguna
duda a este respecto). Por otra parte, el mismo texto invita a la desconfianza hacia los
universitarios «clásicos», para quienes «un largo período de desaprendizaje» sería necesario
antes de aprender el «manejo de los hombres» (sic). Así se llega a la habilidad real y distintiva del jefe de industria: «el manejo de los hombres», o más claramente, el arte de
maximizar la jornada laboral. Esto es totalmente visible en la obra de Taylor, que es un
esfuerzo constante para encontrar los medios más diversos (desde la herramienta hasta el
salario, pasando por el método) para aumentar la jornada laboral y la plusvalía.
Y ya que estamos hablando del hombre, resulta interesante conocer el lugar que se le
dio en los primeros programas de administración. Según P. Jolly (1935):
El programa de los conocimientos que se impone al futuro dirigente conllevará el examen
obligado de la organización industrial y de la organización comercial, de la función producción
y de la función venta, de las finanzas, tanto desde el punto de vista de la vida interior de la
empresa como de las relaciones con el banco.
Un examen como éste sería incompleto si no se refiere también a los instrumentos de análisis,
de control y de previsión, sobre la contabilidad, las estadísticas económicas, el derecho de
negocios y la fiscalidad, finalmente, no se puede dejar de insistir sobre la contribución que
pueden aportar a la organización industrial y comercial la fisiología del trabajo y la psicotécnica
que, aunque nuevas, valen más que el desprecio con el cual algunos espíritus «fuertes» tienden
a rodearlos. (p. 75)
Se sabe claramente que hacia los años treinta la psicología no se reducía solamente a
la psicotécnica. Sufría una serie de revoluciones teóricas, sobre todo entre los años 19151930, debidas a la aparición de la psicología social, la expansión del psicoanálisis, el desarrollo
de la psicología diferencial, de la psicología animal e incluso de los trabajos de tipo
behaviorista y motivacional (especialmente en Estados Unidos). La psicotécnica comienza
incluso a perder terreno muy seriamente a partir de 1915, cuando la psicología llamada
científica salió del laboratorio. Pero no es sorprendente que sea bajo esta forma como
mejor la recuerda el mundo industrial. P. Jolly lo explica con claridad:
La máquina más compleja e infortunadamente la más rica en incógnitas es la máquina humana.
Ahora bien, ¿cuál industrial aceptaría una máquina sin conocer previamente todas sus características anatómicas y funcionales, sin tener informaciones precisas sobre la energía que consu-
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me, sobre el trabajo que puede producir, sobre su régimen óptimo de actividad, sobre la técnica
minuciosa de su enfoque práctico? (p. 89)
¿Invocaremos la antigüedad del texto? ¿Se puede mostrar verdaderamente una diferencia de fondo en la manera como se trata siempre lo humano en la enseñanza de la
administración?
Admitimos, y esto no data de ayer, que el elemento humano sigue siendo el aspecto
crucial y último de toda organización y, al mismo tiempo, no hacemos de ella sino una
fuerza que hay que «domesticar» - este punto de vista prevalece sobre cualquier otro -, lo
cual nos lleva a enseñarla - en la medida conveniente dentro de los programas - bajo la
forma de «recetas» basadas, la mayoría de las veces, en postulados mecanicistas y alejados
de lo que las «verdaderas» ciencias tienen para enseñarnos sobre el hombre (Cfr. los capítulos VII y IX de nuestra tesis: O. Aktouf, 1983).
En una serie de artículos, F. Hertzberg (1980) fustiga las enseñanzas de las facultades
de administración y toma posición decididamente contra la ausencia de cultura general y
de humanismo en la formación de los administradores que son – dice - «tácticos técnicoeconómicos» que actúan y deciden como «estrategas ».
Llega hasta afirmar que no debería haber especialistas que no estén en primer lugar
dotados de una sólida cultura general... Lo peor que podemos hacernos a nosotros mismos
es, según este autor, promover una tecnología sin bases humanistas. Una de las soluciones
que propone es, precisamente, la introducción «en dosis para adulto» de temas «humanistas»
en todas las materias del currículum clásico de las escuelas de administración. En pocas
palabras: nuestro autor invita a la formación de administradores «cultivados» y «conocedores
de las humanidades»...
Notemos, sin embargo, que aunque el autor no define cuáles serían estas «humanidades», hace al menos una invitación para que se ofrezca un lugar al hombre, al saber más
«auténtico» y a la cultura general. Daremos detalladamente nuestro punto de vista en lo
referente a este tema en la última parte de este capítulo.
En un orden de ideas similar, hace varios años que se pretende aplicar el enfoque de
sistema a la administración. Se pretende presentar una visión integrada de la administración
y del hombre haciendo de la organización un sistema «humano y técnico». Esta anotación
de L.Von Bertalanffy (1973), padre del procedimiento sistemático, nos invita a reflexionar
sobre las verdaderas implicaciones de una aproximación como ésta:
... Son las necesidades en ‘generalizadores científicos’ entrenados y en los ‘principos funadamentales’
interdisciplinarios los que la teoría general de los sistemas trata de satisfacer. (p. 69)
¿No son estos mismos «generalizadores» los que busca Herzberg con sus «gerentes
educados»?
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J. De Rosnay (1975), al denunciar la ausencia de verdaderos acercamientos sistemáticos en la enseñanza, nos da una fórmula que refleja bien el estado de cosas en
administración:
... Sin un acercamiento sistemático que permita dosificar e integrar las contribuciones respectivas
de cada disciplina, la pluridisciplinariedad no sobrepasará el estadio de la «yuxtadisciplinariedad».
Una verdadera pluridisciplinariedad no puede nacer de la yuxtaposición a priori de ciertas disciplinas en un mismo campus o en un mismo edificio universitario. (p. 262)
Por otra parte, las dificultades de transferencia que tiene la administración en tanto
que disciplina importada a los países que buscan seguir el camino del desarrollo industrial
(incluso la URSS tiene su «Academia Soviética de administración») son tales, que estamos
en el derecho de preguntarnos si no hay una buena parte de la humanidad que sea refractaria
a ella de manera absoluta o, por lo menos, a un cierto período de su «evolución»... No nos
detendremos en este punto, pero podemos señalar, a título de ejemplo, el fracaso total de
la formación en administración impartida por los norteamericanos a jóvenes habitantes de
ciertas islas del Pacífico: éstos terminan, debido a múltiples problemas «socioprofesionales», por constituir una clientela bastante asidua de los servicios neurosiquiátricos
de los hospitales de sus islas (ejemplo citado por L. Laborit durante el coloquio «Ciencias
de la vida en administración». HEC-Montreal, junio de 1980).
Es también ampliamente conocido que los habitantes de algunos países no
desarrollados «no están hechos para gerenciar», a pesar de que numerosas multinacionales
han intentado integrar a los autóctonos a su personal de dirección suministrándoles
informaciones previas... (pensemos en la presencia de miles de ejecutivos franceses en
Costa de Marfil por ejemplo). ¿Habrá allí un problema más complejo que tiene que ver
con la socialización y la aculturación y que por lo tanto está mucho más allá del de la
transmisión simple y directa de un saber? No hablamos, lo que sería aún más evidente a
este respecto, de países que confiesan oficialmente una ideología y un proyecto social
opuestos a los de los países «exportadores» de administración... En el fondo, «hacer
negocios» es un tipo particular de «socialización», ligada a una época, una humanidad y
una «cultura»: aquélla del reino de las relaciones mercantiles en la que la institución
productora de excedente monetario es una especie de divinidad que impone sus leyes y
sus caprichos. Los «viejos fundadores» de la «doctrina de los negocios» no se equivocaban:
se trata pura y simplemente de «inculcar» a los futuros «jefes» las convicciones, maneras y
comportamientos de sus brillantes predecesores: las «ideas personales» y los «principios
propios» de «algunos grandes jefes» de Fayol.
¿Qué ocurre realmente cuando se trata de realizar esta misma operación con personas
de otros lugares, de otras culturas? ¿Allí donde, oficialmente o no, ideológica y
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explícitamente o no, los sacro-santos «rentabilidad /costos / beneficios/excedentes» no
son los valores dominantes?
¿No es, mirándolo bien, el «servicio pos-venta» del vasto «comercio» de tecnología
al cual se entregan los países ricos? Utilizada en un comienzo por el empleador como un
modo de contratación en la fábrica de puertas abiertas, la administración se propone hoy a
domicilio (con gran refuerzo de programas de ayuda) bajo la forma de implantaciones de
institutos, de escuelas e incluso de facultades ad hoc, ¡desde Hawai hasta la India, pasando
por África y América Latina!
Volvemos a encontrarnos con G. Corm (1978), para agregar a su análisis de la
mundialización de la ideología occidental del desarrollo, aquél de la expansión de la
administración: uno y otro contribuyen a hacer de los países no industrializados los cómplices
activos de un servilismo económico y cultural aún más profundo.
Por otra parte, como la enseñanza de la administración se reserva para las «élites» a su vez provenientes de otras «élites» -, refuerza las burguesías compradoras del Tercer
Mundo (y a los establecimientos tecnocráticos) contribuyendo así a una gran aculturización
y agravando la no interpenetración sociológica, cada día más dramática, entre los dos
sectores que han sido “sabiamente” separados desde la era colonial: el sector moderno
presa y cómplice del «progreso occidental» y el sector tradicional víctima de los dos...
Sin hablar del hecho de que la administración es, por el tipo de relación entre los
hombres que conlleva, una intrusión en la vida misma de las personas. Más de un autor
occidental ha denunciado los perjuicios que esto causa - desde G. Friedman hasta A.Toffler
pasando por Marcuse y Whyte -, perjuicios que comienzan a padecer los hombres de mundo no industrializado... con infinitamente menos preparación y precauciones.
A modo de conclusión
Hoy más que nunca, con C. Argyris, F. Herzberg, A . Chanlat... decimos: la ausencia
de una cultura general, de un saber realmente científico, de las «humanidades» y del espíritu
crítico no beneficia a nadie. Una enseñanza hasta ese punto ideológica y disecada puede
conducir a absolutos y aproximaciones muy peligrosas. Como dice Herzberg (1980), de
este modo las escuelas de administración ponen en la cabeza de los administradores la
imagen de un hombre parecido a la termita, y ya se sabe perfectamente a dónde puede
conducir esto...
Una reflexión para lograr una reestructuración seria de los contenidos y métodos en
los programas de administración y en varias direcciones nos parece necesaria e incluso
imperativa:
• En primer lugar, en los contenidos debe hacerse un esfuerzo considerable por separar lo bueno de lo malo. J. A. Lee de la Universidad de Ohio (1980) ha mostrado
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cuántas mentiras y distorsiones graves hay en los fundamentos teóricos más
sólidamente establecidos de la administración; algunos autores «originales» se
contradicen de manera evidente e incluso han transformado sus «datos» o sus
conclusiones según... los auditorios y las circunstancias... ¿Cuántas «verdades
primeras» se trajinan en nuestras numerosas teorías y «generalizaciones» sin que
surja la idea de problematizarlas?
• En segundo lugar, en términos éticos y de actitudes: la administración es ante todo
una praxeología, un conjunto de preceptos destinados a ser interpretados en función
de las relaciones humanas y la práctica. Por esto, los conocimientos cada vez más
fragmentarios y descarnados representan un peligro real: aquél de poner en manos
cada vez menos «responsables » (porque están cada vez más llenas de certezas y de
«cajas de herramientas» a modo de saber y de cultura) un poder «tecnológico » cada
vez mayor... La investigación de la revista Time (Friedrich 1981) es bastante reveladora
con respecto a este punto: los egresados de los M.B.A. estadinenses son, sobre todo,
arrogantes, semi-ignorantes, pretenciosos e inútilmente «agresivos ».
¿Cuándo tendremos una deontología de la profesión administrativa? ¿Estos dos elementos - si se juzga de acuerdo a la antigua tradición de los negocios - son incompatibles?
De ser así sabemos entonces el precio que hay que pagar...
Finalmente, en términos didácticos -sin abordar el problema particular del método
pedagógico (cfr.cap.4)-, expresamos nuestro acuerdo con los caminos que preconizan T.N.
Behrman y R.I. Levin (1984) de la North Carolina Graduate School of Business:
• Reducir la enseñanza presentada bajo la forma de «packages» y de «cajas de
herramientas», en las cuales son excelentes las escuelas de administración.
• Reducir el énfasis que se da (explícitamente o no) a la manipulación de los datos, la
información, las personas.
• Reducir la importancia, que va hasta el monopolio, de los enfoques cuantitativos,
contables y financieros.
• Ampliar los modelos y paradigmas simplistas con los que se trata generalmente a la
sociedad, la economía y el comportamiento humano.
• No especializar - para humanizarlos - los diferentes «perfiles» de Ph.D y de
profesores. Reconciliarlos con el «terreno» que abandonan e ignoran para «hablarse
entre ellos»;
• Hacer de tal manera que los estudiantes de administración «aprendan a aprender»,
en lugar de atropellarse para acumular toda clase de «recetas»;
• Hacer de tal manera que puedan comprender y admitir diferentes culturas, en lugar
de prepararlos meticulosamente para ejercer un constante «imperialismo cultural»;
• Hacer de tal manera que puedan seguir y comprender el desarrollo de las ciencias
y sus implicaciones;
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• Integrar con sus conocimientos la preocupación por el aspecto ético de sus
decisiones... «administrativas»;
• Reorientar la investigación hacia las preocupaciones menos estrechamente
cuantitativas y menos obsesivamente «metodológicas »;
• Sistematizar la interdisciplinariedad y el examen de los límites de cada materia
enseñada.
He aquí todo un programa, vasto y ambicioso, pero la convergencia y la importancia
actual de las críticas tanto internas como externas lo hacen urgente. ¿Qué podríamos
agregar si no que como lo recuerda el eminente biólogo A. Jacquard (1983), «el hombre es
un animal programado para comprender y no para aprender»?
¿Qué lugar tiene el «por qué» en nuestras escuelas de administración, tan definitivamente instaladas en el «cuánto» y el «cómo»?
La clientela, de todos los ciclos y de todas las profesiones, ¿no llega a la facultad de
administración para acumular – y nosotros los preparamos con cuidado - «herramientas»,
recetas y modelos más «eficaces» unos que otros? Nuestros estudiantes y practicantes
deben aprender a comprender y buscar comprender cuál es la esencia real de la empresa,
de la organización, cuáles han sido las encrucijadas de la Revolución Industrial, los protagonistas y los «vencedores» y cuáles son las encrucijadas de hoy.
¿La empresa es ese universo cerrado, armónico, todopoderoso y bienhechor que el
estudiante tiene en la cabeza desde antes de sufrir nuestras enseñanzas que, según parece,
«deben» reforzarlo en sus convicciones y sumergir todos sus prejuicios en un mundo
funcionalista sereno? ¿Este estudiante no debe, al menos, aprender que privilegia una manera
de ver? ¿Y a nombre de qué?...
Finalemte, sin entrar en detalles, invitamos a un uso menos parcial (y parcializado)
de las ciencias, sobre todo en lo referente a las ciencias humanas: algunos cursos obligatorios
de conocimientos «puros» y de reflexión sobre el sentido de estos conocimientos serían
ciertamente un excelente remedio para la falta de cultura y de juicio general que algunos
deploran hoy en día en numerosos administradores... Y esto en el momento en el que la
generalización de la informática se hace tan importante... y seductora para la tenaz tradición
del administrador «rápido-yeficaz». Es grande la tentación de reemplazar - después de
haberlo hecho con nuestros obreros - nuestras memorias, nuestros lenguajes, nuestros
diálogos... y nuestro razonamiento, por esa «super herramienta» que se exime (y exime)
a la vez de la significación, de la finalidad y de la ética... ¡El algoritmo solo justifica la
acción! Nietszche (en Goldman. 1971) nos previno, ya en su época, del precio que
tendríamos que pagar por haber puesto la filosofía fuera de la ciudad. Sartre (1980). Marcuse
(1968), Whyte (1959) e incluso Herzberg (1980) lo constataron... Nuestras escuelas de
administración figuran entre los bastiones más sólidos de la «tecnologización» de las relaciones y de la desaparición progresiva del cuidado ético; es indudablemente el tiempo -
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sean cuales fueren las modalidades concretas propuestas - de rehabilitar todo lo que hemos
desterrado, entre otras cosas:
• el reverso necesario de la «medalla» que enseñamos;
• el mundo simbólico y su papel crucial en las organizaciones;
• el relacional “total” en todo hecho humano;
• el gusto por la lectura, la cultura y un poco de saber para sí mismo;
• el gusto por la reflexión y el esfuerzo intelectual;
• el sentido de lo relativo, del espíritu crítico y de la humildad.
Porque, no lo olvidemos, estamos en uno de los terrenos que llevan más directamente
a la acción de unas personas sobre otras y sobre sí mismas. Más que en cualquier otra
institución de formación, estamos implicados en las consecuencias de nuestras enseñanzas.
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
O Ensino da Burocracia: um Estudo
de Caso Teórico-Empírico
Jaqueline de Fátima Cardoso
Mestre em Administração - UFSC
Profª do Curso de Administração da Universidade do Vale do Itajaí
Pesquisadora do Núcleo de Estudos Estratégicos do CPGA – UFSC
Endereço: Rua Procópio Manoel Pires, 153/301 – Trindade
88036-090 – Florianópolis/SC
e-mail: [email protected]
Janaína Renata Garcia
Mestranda em Engenharia de Produção – UFSC
Pesquisadora do Núcleo de Estudos Estratégicos do CPGA – UFSC
Endereço: Rua Lauro Linhares, 739 – Bl. C – ap.102 -Trindade
88036-002– Florianópolis/SC
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Maurício Fernandes Pereira
Doutor em Engenharia de Produção – UFSC
Prof° do Curso de Administração e do Mestrado em Administração da UFSC
Diretor do Centro Sócio-Econômico da UFSC
Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina - Centro Sócio-Econômico
Campus Universitário – Trindade - 88040-900 – Florianópolis/SC
e-mail: [email protected]
Resumo
O artigo tem por objetivo identificar o nível de burocratização em organizações, sob o
ponto de vista dos alunos da disciplina Teorias da Administração, do primeiro período do
Curso de Administração da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Tal objetivo foi
proposto com o intuito de que os alunos pudessem identificar, junto às organizações, características da burocracia discutidas em sala de aula. Em seus estudos, Weber (1978) não
se preocupou em definir burocracia, preferiu conceituá-la por meio da enumeração de
suas características. Por isso, o entendimento da burocracia passa pela identificação de suas
características dentro de um contínuo onde não há presença ou ausência, mas sim, diferentes níveis de burocratização. Quanto aos procedimentos metodológicos, a pesquisa foi do
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tipo quantitativa e de caráter descritivo. Embora a burocracia seja um requisito para a
caracterização de sistemas sociais organizados, suas dimensões não necessariamente precisam estar presentes na sua totalidade, mas sim, em determinadas dimensões com maior ou
menor intensidade. Da mesma forma, a presença de uma característica não necessariamente implica na presença ou ausência de outra.
Palavras-chave: burocracia; ensino da administração; organizações.
Abstract
The article has for objective to identify the level of bureaucratization in organizations,
under the point of view of the pupils of disciplines Theories of the Administration, of the
first period of the Course of Administration of the Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Such objective was considered with the intention of that the pupils could identify,
together to the organizations, argued characteristics of the bureaucracy in classroom. In
its studies,Weber (1978) was not worried in defining bureaucracy, preferred to appraise it
by means of the enumeration of its characteristics. Therefore, the agreement of the
bureaucracy passes inside for the identification of its characteristics of a continuous where
it does not have presence or absence, but yes, different levels of bureaucratization. How
much to the methodologicals procedures, the research was of the quantitative type and
descriptive character. Although the bureaucracy is a requirement for characterization of
organized social systems, its dimensions not necessarily need to be gifts in its totality, but
yes, in determined dimensions with greater or minor intensity. In the same way, the presence
of a characteristic not necessarily implies in the presence or absence of another one.
Key-Words: bureaucracy; education of the administration; organizations.
1. Introdução
Com a expansão das indústrias, os problemas se cumularam em escalas geométricas,
exigindo uma nova ordem organizacional e uma nova estrutura de autoridade e poder.
Visando encontrar uma maneira mais racional de organizar o trabalho, bem como analisar
o comportamento dessas grandes corporações, é que o professor e sociólogo alemão Max
Weber desenvolveu seus estudos. Sua contribuição foi importante para o desenvolvimento
das estruturas organizacionais.
Weber (1978) descreveu a burocracia como um “tipo ideal”, sem conotação de valor.
O tipo ideal é uma abstração, na qual são definidas as características extremas desse fenômeno, de forma que ele apareça em seu sentido puro. Como o tipo ideal é inatingível, até
mesmo em função da natureza humana, não existe organização exatamente pura.
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O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
Hall (1978) ao conceituar a burocracia, destaca que Weber enumerou uma série de
atributos, que quando presentes, formariam a estrutura burocrática. Suas dimensões tiveram grande aceitação e aplicação tanto no sistema capitalista privado quanto público, proporcionando desenvolvimento com base em estruturas estáveis e rigorosas. Hall (1978)
explica que, para haver uma uniformidade das ações dentro dessas corporações, seria preciso desenvolver normas, regras e rotinas, que pudessem definir as responsabilidades.
Essas características proporcionaram à burocracia um papel fundamental na sociedade, destacando-se como um recurso em todas as administrações. Seu caráter racional contribuiu para elevar a eficiência organizacional e individual. Em resumo, a burocracia assumiu um papel grandioso na sociedade, transformando-se em um dos mais poderosos instrumentos de gestão. Sua influência modificou e transformou ambientes desordenados em
sistemas organizados e racionalmente estruturados.
O estudo da burocracia nasce numa Alemanha dominada pelo poder do Estado sobre
a sociedade civil e dentro de uma crise social e política estabelecida. A situação econômica
é de instabilidade, pouco competitiva e dominada por cartéis. A Alemanha movia-se,
alternadamente, entre o irracionalismo e o objetivismo científico. Foi dentro desse cenário que Weber delineou a burocracia e sua erudição, criando uma nova sociologia, nem
positivista e nem marxista. A teoria da dominação foi o ambiente central de seus estudos.
A importante obra de Weber não negligenciou as delimitações históricas. As organizações
administrativas são pesquisadas em épocas muito diversas, de forma que os estudos da
racionalidade burocrática e do capitalismo são paralelos (MOTTA E PEREIRA, 1987).
De acordo com Motta e Pereira (1987), a burocracia ganhou espaço privilegiado de
estudos a partir das décadas de 60 e 70 do século XX. Primeiramente como instrumento
gerenciador e impulsionador das organizações, depois como a grande vilã de tudo que há
de errado nos processos estruturais e gerenciais das empresas. É bom ressaltar, contudo,
que a burocracia é um fenômeno antigo, vem ocorrendo desde antes de Cristo. Os autores
observam que Weber não partiu do ponto zero em seus estudos sobre a burocracia. Segundo os autores, a burocracia nas organizações vem desde a antiguidade, com destaque para
o Império novo Egípcio (1580 a.C - 712 a.C), considerado por Weber como um modelo,
frente aos demais. Relacionados, também, estão o Império Romano, o Estado Bizantino, o
Império Chinês, Estados Europeus organizados a partir da idade média e a Igreja Católica,
que se constitui na mais antiga das burocracias.
Motta e Pereira (1987) compactuam da importância do estudo das organizações,
tendo em vistas que estas são centrais no desenvolvimento da sociedade moderna. Apontam, entretanto, os autores que não é apenas a predominância das organizações que torna
particularmente importante seu estudo, mas sim a existência de outras razões. De um
lado, as organizações têm um papel essencial na formação da personalidade do indivíduo
moderno; por outro lado, as organizações e sua administração são fatores para o desenvol-
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vimento de qualquer país. Portanto, o estudo de organizações burocráticas justifica-se pela
sua importância no desenvolvimento da sociedade.
Em seus estudos, Weber (1978) não se preocupou em definir burocracia, preferiu
conceituá-la por meio da enumeração de suas características. Por isso, o entendimento da
burocracia passa pela identificação de suas características dentro de um contínuo, onde
não há presença e ausência, mas sim, diferentes níveis de burocratização.
O presente estudo tem por objetivo identificar o nível de burocratização em organizações, sob o ponto de vista dos alunos da disciplina Teorias da Administração, do primeiro
período do Curso de Administração da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Tal
objetivo foi proposto com o intuito de que os alunos pudessem identificar, na prática, ou
seja, em organizações, características peculiares da burocracia discutidas em sala de aula.
2. A organização burocrática
A burocracia é uma estratégia de administração adotada desde as formações précapitalistas, mas que assumiu um papel decisivo e autônomo no século XX. Para Motta e
Pereira (1987, p. 21), “[...] uma organização ou burocracia é um sistema social racional, ou
sistema social em que a divisão do trabalho é racionalmente realizada tendo em vista os
fins visados”. Assim, as organizações são frutos do racionalismo, que é a crença ilimitada na
razão humana.
Motta e Pereira (1987) enfatizam que Max Weber não considerou a burocracia como
um tipo de sistema social, mas como um tipo de poder ou de dominação. Isto foi resultado
de seus estudos sobre os tipos de autoridade presentes em diferentes organizações sociais.
A tipologia de autoridade apontada por Weber apud Etzioni (1989), baseia-se nas fontes e
tipos de legitimidade empregados e, não, nos tipos de poder aplicados. Weber (1978)
identificou três tipos de autoridade legítima: (1) a autoridade tradicional, cuja autoridade
é passada de uma geração para outra; (2) a autoridade carismática, onde as características
e ações do indivíduo sustentam sua autoridade; e (3) a autoridade racional-legal, em que
leis e normas garantem, de forma racional, a autoridade de um cargo a ser assumido por
um indivíduo - este tipo de autoridade é a base da burocracia.
Para Motta e Pereira (1987) as organizações são indiscutivelmente o tipo de sistema
social predominante das sociedades industriais. Antes, a sociedade era constituída de pequenos sistemas sociais desorganizados – família, feudo, clã, tribo, pequena empresa familiar de caráter agrário, artesanal e, eventualmente, comercial. Dizem os autores que, na
sociedade moderna, são as organizações, cada vez maiores e melhor estruturadas, que
dominam. Diante disso, é possível afirmar que a sociedade moderna se caracteriza pelas
organizações, denominada por Drucker (2002) de sociedade das organizações.
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Ao buscar conceituar organizações, Motta e Pereira (1987) evidenciam dois sentidos
para organização. Na primeira concepção, a organização é um tipo de sistema social, uma
instituição existente. Em um segundo sentido, organização é a forma pela qual determinada coisa se estrutura, é inclusive o modo pelo qual as organizações se ordenam.
As organizações são sistemas sociais, onde pessoas se relacionam, executam serviços
e transformam matérias-primas em bens de consumo ou de capital. Como sistemas sociais, elas desenvolvem culturas de crenças, valores e posições sociais ocupadas pelos indivíduos, assim como uma estrutura burocrática claramente definida, ligando os vários escalões hierárquicos por toda a instituição. Essa estrutura burocrática está presente em todos
os sistemas sociais organizados, agindo em perfeito equilíbrio. Nela, as pessoas são ensinadas e treinadas para ocupar cargos, exercer funções e desenvolver tarefas, dentro de diretrizes básicas previamente estabelecidas pelas autoridades superiores. Assim, a organização burocrática, através de seus princípios, normas e leis, torna-se acessível e útil a todos
aqueles que, embora interessados, não teriam individualmente, condições de operacionalizar
seus conhecimentos. Esse sistema, firmemente entremeado e funcionando de forma competente, compõem-se de acordo com os grupos de trabalho interligados, com alto grau de
lealdade e atitudes favoráveis de confiança entre superiores e subordinados (LIKERT, 1975).
Weber apud Hall (1984) compreende a organização burocrática como um grupo
empresarial que envolve um relacionamento social que ou está fechada ou limita a admissão de estranhos. Desse modo, a própria organização tem uma fronteira, diferenciando-a
das demais organizações de outras entidades sociais. Acrescenta ainda Weber apud Hall
(1984) que os padrões de interação não surgem simplesmente, são impostos, sugerindo
dessa forma uma hierarquia de autoridade e uma divisão de trabalho.
Já Barnard apud Hall (1984, p. 21), define organização como sendo “um sistema de
atividades ou forças de duas ou mais pessoas conscientemente coordenadas, isto é, atividade desempenhada através de coordenação consciente, deliberada e intencional”. O autor,
ainda, se preocupa com o indivíduo, acentuando o papel deste, pois são os indivíduos que
devem comunicar-se, estar motivados e tomar decisões. Enquanto Barnard apud Hall (1984)
se preocupa com os membros do sistema, Weber apud Hall (1984) enfatiza o sistema e
sustenta que as organizações efetuam atividades intencionais contínuas. Assim sendo, as
organizações transcendem a vida de seus membros, destinando-se a fazer alguma coisa. Se
a organização transcende, é porque é perene no tempo e essa obrigação está no pressuposto de que ela existe porque tem uma missão e uma função a cumprir na sociedade.
Segundo Motta e Pereira (1987), a burocracia é um sistema social racional, em busca
de objetivos visados ou um sistema social, cuja divisão do trabalho é corrente e, ordenadamente, executada. Uma das grandes características da burocracia é o seu sistema de cadeia
hierárquica, onde há uma firme subordinação de autoridades. Weber (1978) assevera que
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Jaqueline de Fátima Cardoso, Janaína Renata Garcia e Maurício Fernandes Pereira
onde houver uma burocracia perfeitamente desenvolvida, a hierarquia de funções é do
tipo “monocrática”, ou seja, a subordinação a um único chefe.
Segundo Motta e Pereira (1987), a preocupação crescente das organizações em romper o ambiente caótico que se havia instalado em suas bases, proporcionado pela expansão
e o aumento de suas estruturas, transforma esse espaço em um ambiente extraordinário
para a propagação de novos instrumentos gerenciais eficazes. Aproveitando esse momento
histórico, a burocracia passa a aplicar nas organizações elementos importantes de gestão
tais como: divisão do trabalho, hierarquia de autoridade e poder, normas extensivas, salários e promoções baseados no mérito - necessários para tornar os ambientes organizados e
estruturados. São essas condições formais explícitas, cujas características podem ser reconhecidas e avaliadas por todos, que conseguem reduzir a desordem, as incertezas e instabilidades, até então ocasionadas. A implementação desse modelo oportunizou às organizações um impulso, proporcionando desenvolvimento e prosperidade. Conseqüentemente,
os benefícios se estenderam para toda a sociedade, na medida em que organizou os sistemas e gerou riqueza.
Destaca Weber (1974) que, devido a sua variação, a burocratização é ocasionada mais
pela ampliação intensiva e qualitativa e pelo desdobramento do âmbito das tarefas administrativas do que pelo seu aumento extensivo e quantitativo. Outro fator importante que
influenciou o processo burocrático nas organizações, foi a necessidade de se criar verdadeiros exércitos permanentes de pessoas, determinada pela política de poder e pelo desenvolvimento das finanças públicas. Destaca-se, ainda dentro dessa perspectiva, que o
progresso da burocratização na própria administração estatal é um fenômeno paralelo da
burocracia, como se torna evidente em países como a França, Estados Unidos e Inglaterra
(WEBER, 1974).
O fator decisivo que impulsionou o desenvolvimento da organização burocrática foi
a sua superioridade técnica sobre qualquer outra forma de organização (WEBER, 1974).
Compara-se seu mecanismo plenamente desenvolvido às outras organizações, da mesma
forma como a máquina pode ser comparada aos modos não mecânicos de produção. Tal
precisão, complementa o autor, tornou-se efetivamente imprescindível ao crescente aumento da economia de mercado, que exigia dos negócios capacidade técnica, velocidade,
controle, continuidade e descrição. O alcance dessas exigências fica facilitado devido à
burocracia ter uma configuração estrutural rígida, políticas de gerenciamento estabelecidas
e a inflexível obediência dos indivíduos aos padrões técnicos e culturais da organização.
Em toda parte, a burocracia, até agora, teve resultados satisfatórios. Segundo Weber
(1974, p. 282), “o avanço da burocracia destruiu as estruturas de domínio que não tinham
caráter racional”. Dessa forma, a administração burocrática tornou-se a mais racional do
ponto de vista técnico, tornando-se simplesmente indispensável para a administração de
massa. Freund (1987) afirma que pode ser constatado cada vez mais que a sorte material
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O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
das massas depende fundamentalmente do funcionamento constante e correto das organizações burocráticas.
As normas e regulamentos são as bases que sustentam e ostentam o poder da autoridade burocrática, estipulando quais são os deveres e direitos e qual é o comportamento
esperado dos participantes do sistema organizacional. Na burocracia, a forma como as
pessoas se comportam dentro da organização está subordinada às normas e regulamentos
racionais, que definem quais são os direitos e deveres e o que deve ou não ser aplicado
como sanções, bem como o tipo de poder que será exercido sobre as pessoas. A burocracia
estabelece que a autoridade é responsável pela obediência e o cumprimento às ordens e
comandos, dentro de uma estrutura protetora. A autoridade representa, dentro do contexto burocrático, a oficialização e a institucionalização do poder constituído. Onde existe
autoridade, existe poder existindo e, portanto, uma complementaridade entre ambos
(MOTTA E VASCONCELOS, 2002; KWASNICKA, 1989; ETZIONI, 1989).
De acordo com Weber (1974), como instrumento de socialização das relações de poder, a burocracia foi e é um instrumento de poder de primeira ordem. O poder é a capacidade de aceitação de ordens e, onde a burocratização da administração foi implementada, uma
forma de relação de poder se estabelece de modo praticamente inabalável.
O poder da autoridade se manifesta nos cargos ocupados pelas pessoas, dentro de uma
determinada área de competência, onde ao superior cabe dar as ordens e estas devem ser
obedecidas. A obediência, todavia, não está relacionada com a pessoa, mas sim com autoridade do cargo no qual está investida. Assim, cabe ao cargo a obediência e não a alguém individualmente, numa relação em que a autoridade está claramente definida pelos papéis estabelecidos dentro das organizações formais (MOTTA E VASCONCELOS, 2002).
Os cargos, na burocracia, são distribuídos de acordo com o princípio hierárquico, de
forma que a autoridade se estabelece dentro das faixas de cada chefia. A hierarquia de
autoridade contempla aos ocupantes certos privilégios e obrigações devidamente definidas por normas e leis. Essa prescrição de atribuições da autoridade serve para diminuir os
atritos pessoais bem como garante ao funcionário a proteção necessária das atitudes despóticas dos seus superiores (FREUND, 1987).
Weber (1978) defende em seus estudos que, devido ao caráter racional da burocracia, o exercício de controle da autoridade está baseado no saber. Assim como o relacionamento, através do conhecimento prático adquirido no serviço, faz com que os detentores
do poder se tornem ainda mais poderosos. Apesar de todo esse poder, porém, predomina
na dominação burocrática um espírito de impessoalidade formalista, sem ódio ou paixões
e, portanto, sem afeição ou entusiasmo. As normas dominantes são conceitos de dever
estrito sem atenção para as considerações pessoais. Todos estão sujeitos a tratamento formalmente igual, isto é, todos na mesma situação de fato.
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Jaqueline de Fátima Cardoso, Janaína Renata Garcia e Maurício Fernandes Pereira
Na atividade burocrática habitual, o exemplo típico de poder é o domínio legal,
onde as pessoas são submetidas a rígidos controles de obediência e formalismo. Dentro
dessa perspectiva dominante, a burocracia é capaz de atingir um alto grau de eficiência e,
nesse sentido, é, formalmente, o mais racional e conhecido meio de exercer dominação
sobre os seres humanos. Este tipo é superior a qualquer outro em precisão, estabilidade,
rigor disciplinar e confiança (WEBER, 1978).
O poder como instrumento de gerenciamento da autoridade burocrática define e
especifica os interesses da organização, impondo aos subordinados a forma como devem
ser realizadas as tarefas para o alcance dos objetivos traçados. Merton apud Etzioni (1989)
observa que o poder burocrático vai mais longe. Exerce determinadas influências sobre as
personalidades de seus membros, que estimula as tendências para a aceitação rígida de
regras e regulamentos como valores independentes, sendo as bases da burocracia as suas
próprias características, conforme pode-se observar na seqüência.
3. Características da burocracia
As principais características da burocracia do “tipo ideal” preconizada por Weber
(1978) são: disciplina, especialização das funções, hierarquia, autoridade legal, carreira
vertical e formalização. Ao analisar o “tipo ideal” de burocracia é possível perceber que a
grande maioria das características anteriormente apresentadas está presente nas organizações de hoje, claro que em uma graduação diferente da sua forma pura, já que Weber não
considerou, nesse modelo, a estrutura informal, que se cria a partir das crenças e valores
dos seus membros.
Para uma maior compreensão do modelo burocrático de gestão, tendo como base
Weber, Motta e Vasconcellos (2002) consideram as dimensões burocráticas dentro de algumas características básicas. Para os autores, a proposta de Weber objetiva tirar das organizações, o caráter dominador tradicional e carismático, cuja gestão não está preocupada
com a realidade e a eficiência. Para atingir esse objetivo, o modelo burocrático precisa
especificar claramente as suas características básicas em detalhes. As características consideradas como instrumentos de maior eficiência são as seguintes:
1. Sistemas de normas: são regras gerais escritas, determinando os procedimentos
formais, definindo como a organização deve funcionar. Essas atitudes tornam possível a coordenação e garantem a uniformidade e continuidade das atividades, não
importando se há rotatividade das pessoas nas funções burocráticas ou não. Impossibilitam, também, a tomada de decisões arbitrárias e autoritárias.
2. Divisão do trabalho: é um instrumento que possibilita a sistemática especialização
de alto grau, determina o emprego de pessoas tecnicamente qualificadas, garantindo, assim, a eficiência da organização.
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3. Hierarquia da autoridade: objetiva proporcionar uma estrutura hierárquica na
organização. As pessoas executam suas atribuições dentro de um sistema de controle
escalar, indo do topo à base da pirâmide. Tudo é regido pela obediência à autoridade
superior, donde o comando e a responsabilidade estão claramente estruturados e
dimensionados.
4. Impessoalidade: são relações que se caracterizam pela individualidade, sem qualquer interferência ou preferências emocionais. A obediência é ao cargo, não à pessoa, de modo que a disciplina e as decisões não sofram interferência alheia à
racionalidade no alcance dos objetivos da organização. O caráter impessoal da burocracia é claramente definido por Weber quando ele afirma que esta segue o princípio
administrativo, sem ódio ou paixão. Na burocracia, em seu estado puro, não há lugar
para sentimentos, favoritismo, gratidão, demonstrações de simpatia e antipatia. O
administrador burocrático é imparcial e objetivo e tem como missão cumprir as
obrigações de seu cargo e contribuir no alcance dos objetivos organizacionais.
5. Especialização da administração: há uma separação entre o dono do capital e o
dirigente. Quem administra a organização é um profissional, qualificado para o cargo. O administrador é selecionado pela sua capacidade técnica, recebe um salário e
pode ser demitido. Os meios de produção não pertencem ao burocrata (administrador), estão acima deste. Sua função é gerir, racional e competentemente, a organização em busca dos resultados traçados.
6. Formalismo das comunicações: a burocracia é uma organização ligada à comunicação, de modo que o seu formalismo é indispensável. Esse procedimento objetiva
adequar a documentação, de forma que as comunicações sejam interpretadas
univocamente.
7. Formalização dos procedimentos: a burocracia estabelece que as regras e normas
técnicas sejam fixadas para cada cargo. O ocupante do cargo está sujeito às imposições da burocracia, não podendo agir de forma independente. É regulado por regras
e leis, dentro das quais suas atividades são executadas, seguindo um padrão previamente definido e estabelecido pelas normas técnicas. Cada conjunto de ações tem
suas relações funcionais ligadas aos objetivos da organização. Essa padronização possibilita avaliar adequadamente o desempenho de cada um dos participantes.
8. Seleção e promoção de pessoal: a seleção para admissão do funcionário é baseada
no mérito técnico. A escolha segue padrões técnicos e não preferências pessoais.
Todos são tratados igualmente, de forma que a transparência e a promoção de pessoal é determinada por critérios iguais para todos. São critérios de caráter universal,
considerando apenas a competência, a capacidade e o mérito do funcionário.
9. Profissionalização do participante: na organização burocrática, os participantes
são profissionais pelos seguintes motivos: (1) cada funcionário é um especialista no
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seu cargo, na medida que sobe ao topo da organização, gradativamente vai se tornando um generalista; (2) o funcionário é um ocupante do cargo, ele não o ocupa por
vaidade ou honraria, mas porque é a sua principal atividade; (3) é um profissional
selecionado e escolhido por competência e capacidade; (4) seu tempo de permanência na organização é indefinido, não porque seja vitalício, mas porque não existe uma
norma ou regra que determine a permanência do indivíduo no cargo ou função; (5)
o funcionário é recompensado dentro da organização por uma sistemática de promoções, através de um plano de carreira, com base na competência técnica e capacidade; e (6) o participante não é o dono dos meios de produção.
10. Previsibilidade do funcionamento: todos os funcionários devem comportar-se
dentro das normas e regulamentos determinados pela organização, para que seja
possível a obtenção da máxima eficiência possível, daí, o caráter de previsibilidade
do comportamento de seus membros. A visão burocrática é de padronização, não
havendo tratamento diferenciado. Dessa forma, todas as ações e reações do comportamento humano na organização devem ser previsíveis.
Esse modelo de organização, segundo Motta e Vasconcelos (2002), estabelece decisões racionais e alcança desempenho operacionalmente eficiente. A burocracia é a forma
mais eficiente de organização administrativa, já que estabelece oportunidades e cria condições para tomada de decisões, tecnicamente, corretas. Possibilita, também, um comportamento disciplinado das pessoas, tendo em vista que as ações são definidas por leis e a
coordenação é feita por uma hierarquia de autoridades, socialmente, aceita que promove e
facilita a racionalidade e a constância na consecução dos objetivos.
Ainda para os mesmos autores, evidencia-se claramente nas dimensões burocráticas,
a preocupação apenas com o sistema estrutural da organização e o seu conjunto de cargos
e funções. Não há a menor preocupação com o comportamento individual das pessoas.
Tudo na burocracia é fixado de forma racional no sentido de prever antecipadamente as
reações humanas.
Perrow (1972) salienta a importância desse contexto dimensional e diz que o modelo burocrático é uma organização controladora das influências externas ao ambiente de
trabalho, exercendo o poder de dominação sobre as pessoas através das regras e dos regulamentos. Os participantes são separados por categoria de forma que haja um perfeito
controle, já que seria muito custoso e complicado estabelecer um tratamento individualizado. A divisão por classe permite administrar a organização sem que seja preciso estar
tomando decisões a cada instante. O tratamento formal e impessoal é indispensável para
desviar-se do perigo da discriminação e do favoritismo, além de proteger o indivíduo do
constrangimento provocado por amizades, quando o momento exige uma tomada de decisão impessoal.
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O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
Enfatizam Motta e Pereira (1987) que a burocracia tem como fonte de legitimidade,
o poder racional legal e que por sua vez as organizações são sistemas sociais racionais.
Assim sendo, é possível expressar de modo simplificado algumas de suas características
básicas que manifestam esta qualidade racional:
a) o caráter formalista da burocracia exprime-se no fato de que a subordinação está
submetida ao poder da autoridade superior, isto é, ao ocupante do cargo e não à
pessoa;
b) a administração burocrática é executada de forma impessoal, sem consideração ao
elemento humano;
c) por serem as burocracias estruturas sociais de grandes dimensões, é necessário
que as organizações sejam administradas por homens especializados;
d) o crescente controle, o prestígio e o poder que os administradores profissionais
exercem sobre as burocracias, acentuam-se cada vez mais, a ponto de estas passarem
a ser totalmente dominadas por eles.
Assim, pode-se concluir que as organizações burocráticas são relacionadas por uma
reunião de congruências sociais estáveis, capaz de alcançar os fins a que se propõe. São
sistemas sociais, onde os indivíduos, num esforço de relações pessoais, buscam encontrar
o melhor meio de atingir suas metas e objetivos. Pode ser, também, caracterizada a organização como um conjunto de indivíduos mobilizados, coordenados e controlados que,
em forma de grupos especializados, desempenham variadas funções, no sentido de alcançar objetivos comuns.
Ou ainda, como assinala Selznick apud Etzioni (1973, p. 30), “a organização pode ser
o arranjo e a obtenção de pessoal para facilitar a realização de algum objetivo de comum
acordo, por meio da distribuição de funções e responsabilidades”. Observa-se, também,
que, nas organizações, os grupos de trabalho em operação desenvolvem profissionalmente
seus papéis, conduzidos por posições hierárquicas que comandam as relações entre pessoas, organizados em departamentos, que, por sua vez, são limitados pela organização, constituindo a sua forma, objetivos e políticas a serem implementados ou desenvolvidos. São
regidos por um conjunto de regras e regulamentos, devidamente documentados. As organizações burocráticas são sistemas que se caracterizam pela divisão do trabalho em níveis
hierárquicos e tendo como atribuição, atender às necessidades dos seus componentes e da
sociedade, na produção de bens e serviços. A burocracia produz ambiente organizacional,
em que a rígida normatização das atividades faz as pessoas agirem de maneira integrada,
conjunta e uniforme em todo o complexo empresarial.
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
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Jaqueline de Fátima Cardoso, Janaína Renata Garcia e Maurício Fernandes Pereira
4. Procedimentos metodológicos
O presente artigo teve como base um trabalho desenvolvido com os alunos do 1°
período do Curso de Administração da Universidade doVale do Itajaí – UNIVALI – Campus
Tijucas, na disciplina Teorias da Administração I, cujo conteúdo refere-se ao estudo da
Teoria Geral da Administração, sob a orientação da professora. Após discutir assuntos pertinentes à Burocracia, foi solicitado aos alunos um estudo de campo a fim de que observassem na prática os conceitos relativos ao assunto.
No estudo de campo, foram objetos de pesquisa as características ou dimensões da
Burocracia. Dentre as características pertinentes à Burocracia, foram escolhidas seis, a
saber: divisão do trabalho; hierarquia de autoridade; sistema de normas; formalização dos
procedimentos; impessoalidade; e seleção e promoção de pessoal. A escolha destas características foi baseada nos estudos de Hall (1978) onde o autor examina as bases do modelo
burocrático – as dimensões organizacionais que são caracteristicamente citadas como atributos burocráticos. Em tal estudo, Hall (1978) verificou alguns autores que estudaram as
diversas dimensões da burocracia e, a partir disso, escolheu seis, segundo a freqüência da
citação e importância teórica. Hall (1978) destaca que a burocracia é uma condição que
existe ao longo de um contínuo e, não, uma condição que esteja presente ou ausente.
Portanto, foi estabelecida uma escala de 1 a 5, sendo 1 para maior escassez de burocracia e
5 para maior excesso.
A pesquisa foi do tipo quantitativa, porque utiliza referencial estatístico para análise
e interpretação dos dados e, também, descritiva. Sob o ponto de vista dos alunos, esta
pesquisa pode ser considerada exploratória, no sentido de que estavam testando na prática
os conhecimentos adquiridos em sala de aula. O processo de amostragem utilizado foi não
probabilístico. A amostra foi por conveniência, tendo em vista que os alunos tiveram a
liberdade de escolher em qual organização fariam a coleta de dados. (COOPER E
SCHINDLER, 2003)
O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário composto pelas seis
características escolhidas, cabendo ao aluno indicar o nível de burocratização – de 1 a 5,
mediante justificativa da indicação.
Foram pesquisadas 41 organizações compreendendo tanto empresas de produtos
tangíveis (indústria) como prestadoras de serviços. As atividades destas organizações são
muito variadas, tais como: mineradoras, cerâmicas, confecções, higiene, calçados, circuitos eletrônicos, móveis, argamassa, esquadrias de alumínio. Prestadoras de serviços como
bancos, comércio de confecções, de calçados e de eletrodomésticos, supermercados, transportadoras, projetos de construção civil, hospital, informática, distribuidora de autopeças,
imobiliária, contabilidade, e serviço público.
90
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
Os trabalhos foram entregues pelos alunos à professora para avaliação. Em seguida,
iniciou-se a análise e interpretação dos dados, utilizando-se nessa fase, o software SPSS
para o tratamento dos dados.
5. Descrição e análise dos dados
A seguir, são demonstrados os dados da pesquisa junto às organizações, assim como
a sua análise.
A Tabela 1 apresenta freqüência com base na média da pontuação das características
da burocracia pesquisadas pelos alunos. Observa-se que a maioria das organizações
pesquisadas (29) teve média de pontuação compreendida no intervalo de 3,0 a 3,9 (nem
excesso nem escassez) no nível de burocratização. Já o baixo nível de burocratização (entre 1,0 e 1,9) foi identificado em apenas uma organização.
Tabela 1: Distribuição de freqüência da média das características da burocracia
Nível de burocratização
Freqüência
1,0 a 1,9
1
2,0 a 2,9
5
3,0 a 3,9
29
4,0 a 5,0
6
Fonte: Dados do estudo
De acordo com as características pesquisadas – divisão do trabalho, hierarquia de
autoridade, sistema de normas, formalização dos procedimentos, impessoalidade e seleção e promoção de pessoal - a freqüência apresenta-se distribuída conforme demonstram
as Tabelas 2, 3, 4, 5, 6 e 7.
Tabela 2: Divisão do Trabalho
Nível de burocratização
Freqüência
Percentual
1- Maior escassez
0
0
2- Média escassez
4
9,8
3- Nem escassez nem excesso
11
26,8
4- Médio excesso
21
51,2
5- Maior excesso
5
12,2
Total
41
100
Fonte: Dados do estudo
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
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Jaqueline de Fátima Cardoso, Janaína Renata Garcia e Maurício Fernandes Pereira
Tabela 3: Hierarquia de autoridade
Nível de burocratização
Freqüência
Percentual
1- Maior escassez
5
12,2
2- Média escassez
5
12,2
3- Nem escassez nem excesso
7
17,1
4- Médio excesso
12
29,3
5- Maior excesso
12
29,3
Total
41
100
Fonte: Dados do estudo
Tabela 4: Sistema de normas
Nível de burocratização
Freqüência
Percentual
1- Maior escassez
3
7,3
2- Média escassez
12
29,3
3- Nem escassez nem excesso
9
22,0
4- Médio excesso
10
24,4
5- Maior excesso
7
17,1
Total
41
100
Fonte: Dados do estudo
Tabela 5: Formalização dos procedimentos
Freqüência
Percentual
1- Maior escassez
Nível de burocratização
5
12,2
2- Média escassez
7
17,1
3- Nem escassez nem excesso
12
29,3
4- Médio excesso
8
19,5
5- Maior excesso
9
22,0
Total
41
100
Fonte: Dados do estudo
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O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
Tabela 6: Impessoalidade
Nível de burocratização
Freqüência
Percentual
2
4,9
1- Maior escassez
2- Média escassez
4
9,8
3- Nem escassez nem excesso
11
26,8
4- Médio excesso
13
31,7
5- Maior excesso
11
26,8
Total
41
100
Freqüência
Percentual
Fonte: Dados do estudo
Tabela 7: Seleção e promoção de pessoal
Nível de burocratização
1- Maior escassez
1
2,4
2- Média escassez
6
14,6
3- Nem escassez nem excesso
13
31,7
4- Médio excesso
13
31,7
5- Maior excesso
8
19,5
Total
41
100
Fonte: Dados do estudo
Ao analisar as Tabelas 2 a 7, obtém-se a média e o desvio padrão do nível de
burocratização das características da burocracia, apresentados na Tabela 8.
Tabela 8: Características da burocracia, média e desvio padrão do nível de burocratização
Nível de burocratização
Características da burocracia
Média
Desvio padrão
Sistema de normas
3,15
1,23614
Formalização dos procedimentos
3,22
1,31362
1,36239
Hierarquia de autoridade
3,51
Seleção e promoção de pessoal
3,51
1,05171
Divisão do trabalho
3,66
0,82492
Impessoalidade
3,66
1,13159
Fonte: Dados do estudo
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De acordo com a Tabela 8, a divisão do trabalho, juntamente com a impessoalidade,
na média, são características com maior graus de burocratização. A hierarquia de autoridade e seleção e promoção de pessoal aparecem logo atrás. Com menor grau de burocratização,
tem-se formalização de procedimentos e sistema de normas. O desvio padrão mostra a
dispersão do conjunto de valores em relação à média, quanto maior seu valor mais distante
os valores se encontram da média. Analisando o desvio padrão encontrado, é possível dizer
que, na divisão do trabalho, os valores do conjunto de dados encontram-se mais próximos
da média e, na impessoalidade, estão mais dispersos da média, embora, na média, ambas
características sejam iguais. Da mesma forma, a seleção e promoção de pessoal e a hierarquia de autoridade apresentam essa diferença: o desvio padrão mostra que, na seleção e
promoção de pessoal, os valores estão menos dispersos em relação à média, ou seja, existe
maior uniformidade dos valores, já na hierarquia de autoridade os valores estão mais distantes da média.
Das 41 organizações pesquisadas, 19 (46,3%) são prestadoras de serviços e 22 (53,7%)
pertencem à atividade industrial. A Tabela 9 relaciona o tipo de atividade das organizações
com a média do nível de burocratização encontrado.
Tabela 9: Características da burocracia em relação ao tipo de atividade
Características da burocracia
Serviço
Indústria
Divisão do trabalho
3,68
3,64
Hierarquia de autoridade
3,63
3,41
Sistema de normas
3,26
3,04
Formalização dos procedimentos
3,05
3,36
Impessoalidade
3,95
3,41
Seleção e promoção de pessoal
3,47
3,54
Fonte: Dados do estudo
Conforme ilustra a Tabela 9, nas organizações do grupo de prestadoras de serviços, o
nível de burocratização é superior em divisão do trabalho, hierarquia de autoridade, sistema de normas e impessoalidade. Já as do grupo das indústrias, destacam-se apenas em
sistema de normas e formalização de procedimentos.
Com o objetivo de correlacionar os níveis de burocratização encontrados nas variáveis pesquisadas (características da burocracia), fez-se a correlação entre tais variáveis,
com base no Coeficiente de Correlação Linear de Pearson. Os resultados encontrados são
apresentados na Tabela 10.
94
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O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
De acordo com Barbetta (1999), as variáveis estão positivamente correlacionadas
quando caminham num mesmo sentido, ou seja, valores pequenos de X tendem a estar
relacionados com valores pequenos de Y, enquanto valores grandes de X tendem a estar
relacionados com valores grandes de Y. Por outro lado, as variáveis estão negativamente
correlacionadas quando caminham em sentidos opostos e, assim, valores pequenos de X
tendem a estar relacionados com valores grandes deY, enquanto que valores grandes de X
tendem a estar relacionados com valores pequenos de Y. Diante disso, analisando a Tabela
10, observa-se que, na maioria, as correlações foram positivas e fracas (9 casos), já a correlação negativa fraca ficou pouco evidente (2 casos).Verificou-se, também, que a ausência
de correlação ocorreu em 4 casos.
Tabela 10: Correlação das variáveis com base no
Coeficiente de Correlação de Pearson
Variáveis correlacionadas
Coeficiente de
Pearson (r)
Correlação das
variáveis
Divisão trabalho X Sistema normas
0,026
Ausência
Divisão trabalho X Formalização
-0,068
Ausência
Divisão trabalho X Impessoalidade
0,006
Ausência
Impessoalidade X Seleção pessoal
0,046
Ausência
Hierarquia X Seleção pessoal
-0,170
Negativa fraca
Sistema normas X Seleção pessoal
-0,213
Negativa fraca
Sistema normas X Formalização
0,118
Positiva fraca
Formalização X Impessoalidade
0,119
Positiva fraca
Divisão trabalho X Seleção pessoal
0,120
Positiva fraca
Hierarquia X Impessoalidade
0,132
Positiva fraca
Hierarquia X Formalização
0,159
Positiva fraca
Formalização X Seleção pessoal
0,242
Positiva fraca
Hierarquia X Sistema normas
0,266
Positiva fraca
Sistema normas X Impessoalidade
0,269
Positiva fraca
Divisão trabalho X Hierarquia
0,271
Positiva fraca
Fonte: Dados do estudo
6. Considerações finais
Os resultados desta pesquisa refletem a compreensão dos alunos pesquisadores a
cerca dos conteúdos relativos à Burocracia. O nível de burocratização, na maioria das
organizações pesquisadas, parece não ser nem escasso e nem em excesso, o que corrobora
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
95
Jaqueline de Fátima Cardoso, Janaína Renata Garcia e Maurício Fernandes Pereira
com Hall (1978) no sentido de que as organizações existem ao longo de uma série de
contínuos e dimensões da burocracia.
Ao analisar a média e o desvio padrão do nível de burocratização das características
da burocracia, pode-se considerar que a divisão do trabalho e impessoalidade possuem
médias semelhantes, porém, na divisão do trabalho os valores ficam mais próximos da
média, da mesma forma acontece com a seleção e promoção de pessoal e hierarquia de
autoridade, em que os valores, na seleção e promoção de pessoal, são mais próximos da
média. Isso significa que, quando se tem valores mais próximos da média, há maior uniformidade no nível de burocratização relacionados a essas características nas organizações
pesquisadas.
Apesar de as organizações industriais teoricamente necessitarem de um maior nível
de burocracia, na pesquisa, as prestadoras de serviços demonstraram maior nível de
burocratização em divisão do trabalho, hierarquia de autoridade, sistema de normas e
impessoalidade. Ao contrário das organizações industriais que se apresentaram mais burocratizadas, apenas, em sistema de normas e formalização de procedimentos. Diante disso,
cabe destacar a importância do ensino e da pesquisa caminharem juntos na formação acadêmica do aluno, ressaltando que os resultados desta pesquisa podem mostrar aos alunos a
realidade das organizações, fixando o conteúdo discutido na disciplina.
Analisando as características da burocracia não foi encontrada nenhuma correlação
forte e moderada entre as variáveis. Sendo assim, cabe destacar que a presença de determinada característica não necessariamente influencia a existência ou ausência de outra, ou seja, as
características podem estar presentes nas organizações isoladamente uma das outras.
É relevante, entretanto, destacar que houve ausência de correlação, correlação negativa fraca e positiva fraca. Em relação à ausência de correlação, observa-se que a variável divisão do trabalho aparece em três dos quatro casos, o que significa dizer que, apesar do trabalho
ser dividido, não implica necessariamente em sistema de normas, formalização dos procedimentos e impessoalidade, o que sugere ser a divisão do trabalho algo bastante utilizado nas
organizações independente da existência das demais características da burocracia.
Na correlação negativa fraca, verificou-se uma contradição, posto que a seleção e
promoção de pessoal está negativamente correlacionada com o sistema de normas. A seleção e promoção de pessoal devem ser tratadas, com base na burocracia, de forma a considerar normas para contratar e promover as pessoas na organização com base na meritocracia.
No que se refere à correlação positiva fraca, a hierarquia se destaca entre as variáveis, ou seja, o nível de hierarquia influencia positivamente o nível de burocratização de
outras variáveis, além do que sua correlação, dentre as positivas fraca, é a mais alta. É
relevante apontar a influência do sistema de normas e da impessoalidade, ambos aparecem
correlacionados positivamente em maior número, o que significa dizer que essas organizações estão próximas de um modelo burocrático.
96
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
O Ensino da Burocracia: um Estudo de Caso Teórico-Empírico
Embora a burocracia seja um requisito para a caracterização de sistemas sociais organizados, suas dimensões não necessariamente precisam estar presentes na sua totalidade,
mas sim, em determinadas dimensões com maior ou menor intensidade. Da mesma forma, a presença de uma característica não necessariamente implica na presença ou ausência
de outra.
7. Referências
BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às Ciências Sociais. 3ª ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.
COOPER, Donald R.; SCHINDLER, Pamela S. Métodos de pesquisa em administração. 7ªed.
Porto Alegre: Bookman, 2003.
DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 2002.
ETZIONI, Amitai. Organizações modernas. 8ª ed. São Paulo: Pioneira, 1989.
FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária,
1987.
HALL, Richard. Organizações: estruturas e processos. Rio de Janeiro: PHB, 1984.
HALL, Richard. O conceito de burocracia: uma contribuição empírica. In: CAMPOS,
Edmundo. Sociologia da burocracia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
KWASNICKA, Eunice Lacava. Teoria geral da administração. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1989.
LIKERT, Rensis. Novos padrões de administração. São Paulo: Pioneira, 1975.
MOTTA, Fernando C. Prestes; PEREIRA, Luiz C. Bresser. Introdução à organização burocrática. 7ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
MOTTA, Fernando C. Prestes; VASCONCELOS, Isabela F. Gouveia de. Teoria geral da
administração. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
PERROW, Charles B. Análise organizacional: um enfoque sociológico. São Paulo: Atlas, 1972.
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
WEBER, Max. Os fundamentos da organização burocrática: uma construção do tipo ideal. In: CAMPOS, Edmundo. Sociologia da burocracia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
97
Um Ambiente Virtual para
Experiências em Administração
Jessé Alves Amâncio
Mestre em Administração (CEPEAD/FACE/UFMG)
Professor de Estratégia e consultor de empresas
Endereço: Rua Jacarina, 516/102 30720-180 Belo Horizonte - MG
e-mail: [email protected]
Elis Regina de Paula
Mestre em Administração (CEPEAD/FACE/UFMG)
Professora de TGA e Recursos Humanos
Endereço: Rua Augusto de Lima, 1121/1802 30190-002 Belo Horizonte - MG
e-mail: [email protected]
Resumo
No ensino da Administração, tem-se levantado, dentre outras, a questão da especialização
funcional dos conteúdos - que dificultaria a construção de uma visão global por parte do
aluno, como também os distanciaria de seus ambientes de aplicação - comprometendo a
formação do profissional. Utilizando a teoria da aprendizagem experimental de Kolb (1984),
a qual relaciona experiência concreta e conceitualização abstrata, buscou-se a superação
desses problemas através da implementação de um software de simulação de código aberto
que propicia um ambiente virtual para experiências onde fenômenos econômicos, financeiros, administrativos e sociais interagem entre si. Neste artigo, esse software é apresentado em seus aspectos estruturais e funcionais, ressaltando como suas importantes inovações
as ênfases: (1) na interdependência entre os diversos fenômenos acima mencionados e (2)
na participação ativa e crítica do aluno no processo. Destaca-se, como contribuição deste
trabalho, a incorporação de um novo recurso didático/tecnológico para o enriquecimento
do processo de ensino e aprendizagem da Administração.
Palavras-chave: Experiência concreta, conceitualização abstrata, recurso tecnológico,
processo de ensino e aprendizagem.
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
99
Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
Abstract
In the field of business education, it has been raised the question of specialized contents –
what could make hard the construction of an global vision, as well, could enlarge the
distance between theory and practice – with consequences to the professional formation.
Based on the Kolb (1984) theory, which relates concrete experience and abstract
conceptualization, this work tried to overcome these problems through the implementation
of open source computer simulation software that creates a virtual environment, that
enables experiments in the economics, finance, social and administrative fields. In this
paper, this software is presented in its structural and functional concepts, stressing as
important innovations the emphasis on: (1) the interdependency the various fields cited
above; and (2) the active and critical participation by the students in the work with the
software. As one contribution of this work, it is pointed out the incorporation of a new
didactic and technological resource to the enrichment of the teaching and learning process
in the business field.
Key-words: Concrete experience, abstract conceptualization, technological resource,
teaching and learning process.
1. Introdução
O mecanismo mais importante dos seres humanos para a adaptação ao ambiente está
relacionado com seu processo de aprendizagem - somos uma espécie que aprende. Essa
habilidade se manifesta na capacidade de reagir para adaptar-nos física e socialmente ao
mundo como também agir criando e moldando-o.
Segundo Kolb (1984, p.2), esse processo de aprendizagem precisa ser permeado
“com a textura e o sentimento” das experiências humanas e compartilhadas através do
diálogo com o outro. Para o autor, a concepção de aprendizagem é distorcida pelo
racionalismo e pelo behaviorismo, que desvalorizam a experiência pessoal do aprendiz e
focam no conteúdo e na matéria. Como reação a essa distorção, o autor propõe uma teoria
da aprendizagem experimental que fornece “uma estrutura para examinar a ligação crítica
entre educação, trabalho e desenvolvimento pessoal” (p.4), ressaltando a relação entre a
sala de aula e o mundo real. Insere sua proposta na filosofia educacional defendida por
Dewey (1910, 1938), a qual reconhece como fundamental a relação entre o processo de
experiência real do aluno e educação.
Muitas das idéias de Dewey (1910, 1938) têm sido aplicadas mesmo nos programas
educacionais chamados tradicionais - focados no ensino e no professor, caracterizados pela
transmissão de conteúdos, onde cabe ao professor expô-los e ao aluno mostrar que sabe
reproduzi-los. Como exemplo dessas atividades, têm-se os programas de estágios, as aulas
100
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Um Ambiente Virtual para Experiências em Administração
em laboratórios e os trabalhos de campo. Em todas essas atividades, o aprendizado é feito
através da experiência, no sentido de que o aprendiz está diretamente em contato com a
realidade estudada. Essa estratégia está de acordo com a percepção de que métodos de
aprendizado que combinam estudo e trabalho, teoria e prática proporcionam um processo
mais produtivo para o aprendizado, pois “as pessoas aprendem através de suas experiências” (Kolb, 1984, p.6).
Essas experiências concretas, segundo Lewin (1951), contribuem para o processo
de aprendizado em razão da tensão dialética e conflito entre as experiências e sua análise
conceitual. Esse processo de conflito entre a experiência e a teoria é central na dinâmica
da aprendizagem e várias abordagens educacionais procuram criá-lo de várias formas, tais
como exercício estruturado, simulações, casos, jogos e observações, buscando induzir o
questionamento e a compreensão.
Kolb (1984) diz que os conceitos de aprendizagem pela experiência de Dewey (1938)
e Lewin (1951) representam desafios externos ao racionalismo e behaviorismo mencionados anteriormente. Ainda nessa linha, trabalhando a experiência no processo de aprendizagem, tem-se o trabalho de Piaget (2002), o qual descreve como a inteligência é moldada
pela experiência.
Piaget (2002) salienta que a inteligência não é uma característica interna inata de um
indivíduo, mas o resultado de interações entre a pessoa e seu ambiente. Suas pesquisas propiciaram o desenvolvimento de processos educacionais nos quais se procura por meio de objetos concretos e experiências pessoais, descobrir os princípios científicos neles contidos, pela
dialética entre assimilação conceitual da experiência e a acomodação conceitual dessa experiência. Essa metodologia de ensino permitiu libertar o aluno da imposição da memorização,
permitindo que o aprendizado se tornasse individualizado e concreto. Os alunos se tornaram
cientistas, explorando, experimentando e construindo suas próprias conclusões, em um ambiente potencialmente mais motivador (Kolb, 1984). Corroborando esta concepção, tem-se
o trabalho de Freire (1987), o qual defende que o sistema educacional é uma agência de
controle social opressiva e conservadora, argumentando que a valorização da experiência
pessoal do aluno - através do diálogo entre iguais, é uma possibilidade para um processo
educacional mais rico e efetivo. A partir dessas abordagens teóricas sobre o processo de
aprendizagem, buscou-se descrever o software (programa de computador) de simulação para
a aprendizagem da Administração, desenvolvido pelos autores.
Para tanto, buscou-se principalmente em Kolb (1984) e, também, em Dewey (1910,
1938), Lewin (1951), Vygotsky (1999), Freire (1987), conceitos de aprendizagem fundamentados na experiência do aluno, os quais são apresentados no próximo tópico. Em seguida, são feitas considerações sobre simuladores e seus usos, passando-se, então, à descrição do simulador objeto deste trabalho, o qual propicia um ambiente virtual para experiências em Administração. No último tópico, a partir dos conceitos de aprendizagem e das
Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
101
Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
características do simulador apresentado, são feitas algumas considerações para a utilização efetiva do mesmo no processo de ensino-aprendizagem.
2. O processo de aprendizagem pela experiência
O processo de aprendizagem pela experiência enfatiza duas proposições básicas: (1)
o relacionamento entre a aprendizagem, o trabalho e as outras atividades da vida; e (2) o
papel central da experiência no processo de aprendizagem. Estas proposições diferenciam
a teoria da aprendizagem pela experiência da teoria racionalista que enfatiza a aquisição,
manipulação e recuperação de símbolos abstratos como, também, a diferencia das teorias
de aprendizado behavioristas que não destacam o papel da consciência e da experiência
subjetiva nesse processo. A aprendizagem pela experiência, todavia, não é uma terceira
alternativa, mas, através de uma perspectiva holística, busca integrar experiência, percepção, consciência e comportamento, a partir dos trabalhos de autores como Lewin (1951),
Dewey (1910, 1938), Piaget (2002), Vygotsky (1999) e Freire (1987).
No trabalho de Lewin (1951), a aprendizagem é concebida como um ciclo de quatro
estágios: (1) experiências concretas; (2) observações e reflexões; (3) formação de conceitos abstratos e generalizações; (4) teste das implicações dos conceitos em novas situações.
Para o autor, as experiências concretas são a base das observações e reflexões. Essas observações são assimiladas em uma teoria da qual novas implicações para ações podem ser
deduzidas. Essas implicações ou hipóteses servem como guias para a criação de novas experiências. Como o processo é caracterizado pela interação e transformação, o mesmo
pode ser pensado como uma espiral e, não, um círculo.
Essa interação mútua entre o processo de acomodação de conceitos ou esquemas para
a experiência no mundo e o processo de assimilação de eventos e experiências do mundo
em conceitos e esquemas é para Piaget (2002) a chave para o aprendizado. O aprendizado
ou a adaptação inteligente é o resultado de uma tensão balanceada entre esses dois processos. O autor alega que, se o processo de acomodação dominar, tem-se a imitação, ou seja,
a conformação sem reflexão do indivíduo ao ambiente. Quando a assimilação predomina,
tem-se a imposição de conceitos e imagens sem consideração com a realidade. O processo
de crescimento consciente do concreto para o abstrato e do ativo para o reflexivo é baseado nessa contínua interação entre assimilação e acomodação, ocorrendo em sucessivas
etapas, cada uma contribuindo para novos e mais elevados estágios de consciência.
Aprender é um processo, não um produto. Esse princípio da experiência continuada
significa que toda experiência toma algo do que foi vivido e deixa algo que vai influenciar
o que vem depois. Segundo Kolb (1984), é nesse intervalo que o aprendizado ocorre,
chegando a dizer que qualquer experiência que não viole expectativas não merece ser
chamada experiência. Acrescenta, ainda, que as rupturas que essas violações causam são
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Um Ambiente Virtual para Experiências em Administração
magicamente reparadas, produzindo uma mudança no indivíduo. Reforçando esse argumento,
Pepper (1942) salienta que tanto o dogmatismo quanto o ceticismo absoluto são fundamentos inadequados para a criação de sistemas de conhecimentos válidos. Em outras palavras, aprender é re-aprender sempre, contínua e ininterruptamente.
Kolb (1984) salienta que o aprendizado é, pela própria natureza, uma tensão e um
processo repleto de conflitos adquiridos através de quatro fases: (1) experiências concretas - EC; (2) observação reflexiva - OR; (3) conceitualização abstrata - CA; (4) experimentação ativa - EA. O aprendizado acontece quando as pessoas se envolvem em novas
experiências (EC), refletem e observam essas experiências de várias perspectivas (OR),
criam conceitos que integram suas observações em teorias (CA), e finalmente, elas são
capazes de usar essas teorias para tomarem decisões e resolverem problemas (EA). Esse
processo pode ser considerado em duas dimensões básicas: a primeira representa a experiência concreta de eventos de um lado e a conceitualização abstrata do outro e a segunda
dimensão tem a experimentação ativa em um extremo e a observação reflexiva de outro.
No processo de aprendizagem, o indivíduo se movimenta entre o ator para o observador e
do envolvimento especifico para a análise geral, conforme representado na FIG. 1.
Figura 1 - O processo de aprendizagem pela experiência
Fonte: Adaptado de Kolb (1984)
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Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
Sem negar a realidade da maturação biológica e das estruturas que organizam o pensamento e a ação, a teoria da aprendizagem pela experiência foca nas transações internas e
nas circunstancias externas, entre o conhecimento pessoal e o conhecimento social. Para
Kolb (1984), é esse processo que molda e realiza o desenvolvimento das potencialidades,
o que para Vygotsky (1999) é a zona de desenvolvimento proximal (zone of proximal
development). Essa zona é a distância entre o nível de desenvolvimento atual do indivíduo definida pela capacidade de independentemente resolver problemas e a capacidade de resolver problemas em colaboração com seus pares mais capacitados. Segundo Vygotsky
(1999), é, nessa zona, que ocorre o aprendizado. Esse conceito, também, está estreitamente relacionado ao que Freire (1987) denomina práxis, onde o conhecer somente pode
acontecer problematizando as realidades naturais, culturais e históricas nas quais o indivíduo
está imerso.
Kolb (1984) enfatiza que a aprendizagem pela experiência não é um conceito educacional molecular e, sim, um conceito que descreve o processo central de adaptação do ser
humano ao ambiente físico e social. Aprender envolve o funcionamento integral do organismo: pensar, sentir, perceber e comportar. O autor afirma ainda que “a aprendizagem é
um processo onde o conhecimento é criado através da transformação da experiência” (p.41).
Pode-se inferir, portanto, que o processo de aprendizagem não é idêntico para todas as
pessoas e grupos sociais. Por exemplo: alguns indivíduos têm facilidade para reflexão e
outros para experimentação. Essa concepção tem fundamento nos tipos psicológicos de
Jung (1998), descrevendo as pessoas como (1) introvertidos e extrovertidos; (2) os que
enfatizam a ordem e os que enfatizam as informações; (3) aqueles que valorizam os fatos,
detalhes e eventos concretos e os que valorizam as possibilidades, imaginações e significados; e (4) os indivíduos que consideram mais o raciocínio e os que consideram mais a
intuição.
Segundo Kolb (1984), em termos filosóficos, o ciclo da aprendizagem experimental
representada na FIG. 1, mostra as limitações tanto do racionalismo (Descartes, Spinoza e
outros) quanto do empirismo (Locke, Hobbes e outros) como fundamentos epistemológicos
para a aprendizagem experimental. Afirma que a aprendizagem pela experiência é baseada
em uma teoria do conhecimento dual: no empirismo através da experiência concreta que
abraça a realidade pelo processo de apreensão direta e na conceitualização abstrata racional que abraça a realidade mediante o processo de conceitualização abstrata. Essa teoria do
conhecimento dual tem, na posição interacionista de Piaget (2002), o seu fundamento
principal, a qual propõe que o conhecimento pela apreensão está no mesmo nível da compreensão, onde o conhecimento emerge de um relacionamento dialético entre apreensão
e compreensão.
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Em todas essas considerações, é importante reconhecer que o aprendizado experimental não é uma série de técnicas a serem aplicadas na prática corrente, mas um programa que exige a recriação dessa prática. Assim, na busca de um ambiente que propicie
condições para a realização dessa prática, dentro dos limites (muitas vezes bastante restritos) do espaço educacional é que se recorre, dentre outras possibilidades, ao uso de simuladores, os quais são discutidos a seguir.
3. A utilização de simuladores
como um ambiente de experimentação
A vantagem de se utilizar modelos - como maquetes, fluxogramas, organogramas,
diagramas, mapas e simuladores - é que esses podem ser manipulados livremente, sem
quaisquer riscos, problemas éticos ou legais. Dentre todos esses tipos de modelos, os simuladores se destacam por várias razões, dentre elas: (1) facilitar uma suposta modelagem
dinâmica do que se pretende estudar, tornando-a, assim, mais próxima da realidade; (2)
obter, imediatamente, os resultados das decisões, propiciando um aprendizado com ciclos
mais curtos; (3) adquirir conhecimentos que são considerados válidos e úteis e (4) admitir
o caráter aproximativo, parcial e provisório do conhecimento de um mundo, que não se
pode apreender em toda a sua complexidade.
Robinson (2002) acrescenta que simuladores são utilizados em uma variedade de
campos, da matemática pura e ciências físicas, até engenharia, ciência da computação,
negócios, economia, ciências sociais e militares. O autor afirma que os simuladores podem ser classificados em três tipos: (1) preditivos, (2) comparativos e (3) investigativos.
Os simuladores preditivos são caracterizados por um desenvolvimento complexo, longo e
com altos custos. O objetivo principal desses simuladores é a representação fiel do mundo
real. Seus resultados requerem uma criteriosa análise e certificação, os quais são validados
comparando suas saídas com a realidade. Os simuladores comparativos buscam fornecer
meios para entender e resolver problemas. Eles são de construção menos dispendiosa que
os simuladores preditivos, não requerendo verificações e validações. Os simuladores
investigativos constituem-se de modelos construídos para facilitar o debate, através do
qual busca-se entender melhor a realidade.A fidelidade do modelo é de pequena significância
por ser ele utilizado para promover a discussão de um grupo de investigadores.
A maior parte dos simuladores de negócios em uso é do tipo comparativo e
investigativo, ou seja, são simuladores não validados, que auxiliam investigadores a compreenderem melhor a realidade (ROBINSON, 2002). Os simuladores de negócios têm
sido utilizados nos últimos 50 anos de diferentes e variadas formas, uma vez que a tecnologia
tem se popularizado (DOYLE e BROWN, 2000; FARIA, 1998, 2001). Em seu estudo,
Faria (1998) apontou que mais de 95% das escolas filiadas a AACSB (Associação internaci-
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Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
onal constituída de instituições educacionais, corporações e outras organizações dedicadas
à promoção e ao melhoramento da educação superior em negócios com sede em Tampa,
EUA) e mais de 60% das empresas americanas com mais de 500 empregados usavam simuladores em seus programas de educação em negócios. Faria (1998), Keys e Wolfe (1990) ,
Kontts e Keys (1997) e Wolfe (1997) ressaltam que esse não é um fenômeno apenas americano, mas mundial.
Wolfe e Luethge (2003) declaram que há várias razões para a expansão do uso de
simuladores na área de educação em negócios, sendo que o mais relevante é a possibilidade
de criar um ambiente de tomada de decisões mais próximo da realidade em sala de aula,
fornecendo um ambiente dinâmico, competitivo e incerto como o experimentado em
muitas situações de mercado. Os autores alegam ainda que outra vantagem é o maior
envolvimento e participação por parte dos alunos em atividades que utilizam simuladores,
o que, segundo os autores - resulta em maior aproveitamento no aprendizado. Ressaltando
que a ligação entre desempenho no ambiente simulado e aprendizado não está demonstrada, apesar de haver considerável evidência de que a compreensão de conceitos gerenciais é
melhorada quando simulações são utilizadas como meios pedagógicos.
Sobre o envolvimento dos participantes em atividades com simuladores, Wolfe e
Luethge (2003) afirmam que, devido à arquitetura dos simuladores, é possível que esta
seja aparentemente alta mas efetivamente baixa, fazendo com que o participante apenas
reaja às solicitações do software. Assim, um alto envolvimento por parte do participante
não corresponderia apenas ao uso do simulador, mas também questões como: (1) estudar
o manual do simulador antes de iniciar a simulação; (2) compreender a lógica das operações do simulador e (3) recuperar a teoria aprendida antes da simulação para analisar as
situações apresentadas e decidir as ações a serem implementadas nas situações vividas na
simulação.
Como formas de se ter um processo de aprendizagem rico, Parker (1997) ressalta
que é importante considerar os seguintes fatores: os estudantes trabalharem em problemas reais e buscar soluções em equipes; o diálogo entre os alunos e o professor deve ser
incentivado; avaliações, análises e sintaxes devem ser trabalhadas ao invés de memorização;
questões devem ser formuladas tanto pelo professor quanto pelos alunos e que, a partir
delas, se estabeleçam hipóteses e se definam grupos para explorá-las; e que se busquem
fontes de informações variadas.
Falando sobre novas tecnologias na educação – onde também se podem incluir os simuladores, Gregoire e outros (1996) salientam que a exploração de seu potencial pode trazer contribuições tanto para os alunos quanto para os professores. Os alunos são estimulados
a desenvolverem habilidades intelectuais, a buscarem novas informações, a estabelecerem
maior número de relações entre essas informações e a contribuírem para o desenvolvimento
de todo o grupo através da cooperação. Para o professor, os benefícios são uma maior interação
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Um Ambiente Virtual para Experiências em Administração
com os alunos em comparação com as aulas tradicionais, o estabelecimento de um processo
de pesquisa mais rico, maior facilidade de rever os caminhos de aprendizagem percorridos
pelo aluno, identificando os seus pontos fortes e suas dificuldades.
Assim, evidenciado as potencialidades dos simuladores (ROBINSON, 2002), o crescimento do uso dos mesmos (FARIA,1998, 2001; KEYS e WOLFE, 1990 ; KONTTS e
KEYS, 1997; WOLFE, 1997), os cuidados que tal uso reclama (WOLFE e LUETHGE,
2003), passa-se a descrever a arquitetura do simulador desenvolvido para o ensino da Administração, objeto deste trabalho.
4. Um ambiente virtual
para experiências em Administração
A maior parte dos simuladores de negócios tem a mesma estrutura básica, a qual
pode ser resumida em quatro etapas: (1) a concepção de um modelo de um ambiente real
ou hipotético no qual os vários atores interagem; (2) a tomada de decisões pelos participantes da simulação; (3) o processamento pelo simulador das decisões tomadas; (4) a exibição dos resultados das interações entre o ambiente e as decisões; sendo que o processo
de tomar decisões, executá-las e exibir os resultados pode se repetir por vários períodos
(FRIPP, 1997). A estrutura do simulador descrito neste artigo é a apresentada na seguinte
ordem: implementação; classes de dados; e algoritmo de simulação.
4.1. Implementação
A implementação do simulador foi feita sob licença GPL (mais informações sobre
esta licença em www.gnu.org), permitindo seu uso, distribuição e acesso ao código fonte
sem qualquer necessidade de pagamento de licença e tendo acesso completo e livre a toda
informação técnica relativa ao desenvolvimento do mesmo. A seguir, são descritas: as classes de dados do simulador, a dinâmica das simulações, as equações de simulação e as funcionalidades operacionais do mesmo.
4.2. Classes de dados do simulador
Destaca-se, inicialmente, que o simulador distingue três tipos de usuários: (1) o
administrador de um stakeholder, o qual tem acesso somente às informações específicas do
próprio stakeholder e define ações para o mesmo com o intuito de buscar o sucesso do
mesmo; (2) o administrador do modelo, o qual define todo o ambiente de simulação (econômico, financeiro, administrativo e social) e, também, todos os stakeholders que atuam
nesse ambiente; e (3) o administrador da instalação gerência a segurança de todo o siste-
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Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
ma. Os itens onde atuam os administradores de stakeholders e de modelo estão representados na FIG. 2.
A FIG. 2 mostra que o simulador tem duas classes fundamentais: a classe
STAKEHOLDER e a classe MERCADORIA. A classe STAKEHOLDER descreve as categorias
de stakeholders no modelo a ser simulado através da quantidade de indivíduos (pessoas
físicas e jurídicas) dessa classe, a riqueza média dos mesmos, o desvio padrão da distribuição dessa riqueza e o valor médio que eles mantêm em reserva (os valores acima da reserva estão disponíveis para aplicações financeiras).
A classe MERCADORIA descreve as categorias de mercadorias no modelo a ser
simulado. Informa-se o preço da mercadoria, a elasticidade preço-demanda, o valor desta
mercadoria exportada ou importada para ou de fora do ambiente do modelo simulado.A
ligação entre as classes STAKEHOLDER e MERCADORIA é feita pela classe MERCADO, a
qual tem duas sub-classes: CONSUMO e PRODUÇÃO. Através dessas sub-classes, os
stakeholders se relacionam fornecendo mercadorias e transferindo riquezas.
Relacionando diretamente com a classe MERCADORIA, a classe CUSTO representa os custos com mão-de-obra (outros stakeholders) para fornecer a mercadoria. A classe
CONSUMO INSUMO representa as mercadorias de sua cadeia produtiva. As outras classes: SUBSTITUTO e COMPLEMENTAR representam as mercadorias substitutas e complementares, assim qualquer alteração de preço em uma mercadoria afeta a demanda pelas
mercadorias de todo modelo.
Quanto à classe STAKEHOLDER, a classe TIPO identifica dentro de cada categoria de
stakeholders características específicas como sexo, idade, estado civil, perfil de consumo, ou
qualquer outra. A classe INVESTIMENTO registra os investimentos feitos pelos stakeholders:
valor do investimento, prazo para pagamento, taxa de juros, quem o financiou (que receberá os valores referentes às amortizações e juros). A classe CUSTOS INTERNOS registra os custos de manutenção de stakeholders (em geral, pessoas jurídicas). A classe RELAÇÃO SOCIAL registra as relações sociais entre os stakeholders e, eventualmente, as transferências de riquezas que acontecem entre os participantes destas relações.
As classes representadas na FIG. 2 se relacionam através do algoritmo descrito a
seguir.
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Um Ambiente Virtual para Experiências em Administração
Figura 2 – Diagrama de classes UML
Fonte: Dados do projeto
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Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
4.3. A dinâmica das simulações
O aspecto dinâmico das simulações é feito pela interação entre todos os elementos
do modelo definido através das classes (onde consumidores e produtores trocam mercadorias e riqueza) e eventos que modificam essas relações (não representados na FIG. 2 por
limitação de espaço).
Um recurso fundamental no simulador é a possibilidade de incluir os eventos nos
modelos. Os eventos permitem programar ações que afetam várias condições no ambiente simulado como: aumento e diminuição de preço de um produto (conseqüentemente,
alterando sua demanda e as demandas de seus substitutos e complementares), aumento ou
diminuição da exportação e importação de mercadorias (aumentando ou diminuindo a
riqueza de alguns stakeholders), mudança da taxa de juros (aumentando a riqueza dos
aplicadores de recursos financeiros e diminuindo a riqueza dos tomadores), dentre outros.
Os eventos gerais que podem afetar todo o ambiente são definidos somente pelo administrador, ao participante – no caso o aluno – cabe somente definir eventos particulares que
afetam ao stakeholder ao qual está ligado (lembrando que em ambas situações não há controle sobre as conseqüências sobre os efeitos dos eventos).As etapas da rotina de cálculo
estão listadas no QUADRO 1 a seguir.
Quadro 1 – Etapas da rotina de cálculo das simulações
Etapas
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Descrição
Se estiver calculando o período 1, então gera séries
aleatórias de riquezas para cada stakeholder.
Se estiver calculando período posterior a 1, então recupera
a riqueza de cada stakeholder no período anterior.
Implementa o efeito de cada evento preparado
para o período que está sendo calculado.
Calcula o consumo desejado por cada stakeholder
dentro de sua capacidade de compra.
Calcula recursivamente o custo de produção
de cada mercadoria demanda.
Implementa o efeito das transferências
relativas às relações sociais.
Calcula a disponibilidade de aplicação
financeira de cada stakeholder.
Calcula a necessidade de tomar recursos
financeiros de cada stakeholder
Relaciona as disponibilidades financeiras com
as necessidades para cada stakeholder, calculando os juros.
Atualiza a riqueza de cada stakeholder a partir de sua riqueza
inicial - consumo + (ou -) transferência nas relações sociais
+ ganhos do trabalho + (ou -) os lucros + (ou -) os juros.
Fonte: Dados do projeto
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Um Ambiente Virtual para Experiências em Administração
As simulações ocorrem a partir da definição de um modelo (stakeholders, mercadorias, regras de consumo e produção) aplicando-se o algoritmo descrito no QUADRO 1 em
cada período de simulação. Para utilização didática, que é o objetivo deste trabalho, sugere-se entre sete e dez períodos de simulação para que a mesma não fique muito longa, mas
que permita aos alunos elaborarem as correspondências entre a teoria objeto de estudo e
as posições de cada stakeholder no modelo da experiência simulada. As posições vão se
alterando conforme as equações descritas no tópico seguinte.
4.4. As equações de simulação
As equações utilizadas no algoritmo descrito no QUADRO 1 são descritas a seguir.
Elas expressam os diversos relacionamentos entre as diversas classes que compõem o simulador.
As equações são apresentadas resumidamente na forma matemática seguida da descrição das variáveis das mesmas.
4.4.1 Equação da riqueza dos stakeholders
Equação 1 – Riqueza dos Stakeholders no período t
Quadro 2 – Variáveis equação 1
Variáveis
Descrição
Riqueza (i,t)
Total da riqueza do stakeholder i no período t
Saída (i,t)
Total de saídas do stakeholder i no período t
Entrada (i,t)
Total de entradas do stakeholder i no período t
Fonte: Dados do projeto
No primeiro período (t = 1), não se tem riqueza no período anterior (t-1). Assim, o
valor da riqueza no primeiro período é obtido pela distribuição aleatória feita pelo simulador, utilizando os campos RIQUEZA e DESVIO da classe stakeholder, conforme a Equação 2.
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Equação 2 - Riqueza dos Stakeholders no período 1
Quadro 3 – Variáveis equação 2
Variáveis
Descrição
Riqueza (i,1)
Riqueza do stakeholder i no período 1
Valor Aleatório
Riqueza média
Desvio
Valor estatístico aleatório tendo como
parâmetro uma riqueza média e um desvio
Riqueza média dos stakeholders em torno
da qual é gerada a aleatoriedade
Desvio-padrão que determina o grau
de variância dos valores aleatórios
Fonte: Dados do projeto
4.4.2 Equação das saídas dos stakeholders (termo da Equação 1)
O termo Saídas da Equação 1 é definido para cada stakeholder em cada período como:
Equação 3 – Definição de saída
Quadro 4 – Variáveis equação 3
Variáveis
Descrição
Saída (i,t)
Total das saídas do stakeholder i no período t
Financeiro
Total das amortizações de investimentos, acrescido dos juros
sobre os investimentos, acrescido das amortizações de
empréstimos operacionais, acrescido dos juros sobre os
empréstimos operacionais pagas pelo stakeholder.
Social
Total dos valores doados devido às relações sociais.
Consumo
Total dos valores usados em consumo limitados tanto pela riqueza
do stakeholder quanto por sua demanda de consumo, limites
nferiores e superiores respectivamente.
Efeito de eventos que atuam no período como, mudança de taxa
de juros, valor de reserva de stakeholders, preço de mercadoria,
níveis de importação e exportação.
Fonte: Dados do projeto
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4.4.3 Equação das entradas dos stakeholders (termo da Equação 1)
O termo Entrada da Equação 1 é definido para cada stakeholder em cada período como:
Equação 4 – Definição de entrada
Quadro 5 – Variáveis equação 4
Variáveis
Descrição
Entrada (i,t)
Total das entradas do stakeholder i no período t
Financeiro
Total das amortizações de investimentos, acrescido dos
juros sobre os investimentos, acrescido das amortizações de
empréstimos operacionais, acrescido dos juros sobre os
empréstimos operacionais recebidas pelo stakeholder.
Social
Total dos valores recebidos devido às relações sociais.
Produção
Valor total obtido por produzir mercadorias
demandadas pelo consumo.
Efeito de eventos que atuam no período como, mudança
de taxa de juros, valor de reserva de stakeholders, preço de
mercadoria, níveis de importação e exportação.
Fonte: Dados do projeto
Os valores que entram como empréstimos no termo Financeiro da Equação 3 e Equação 4 são calculados conforme a equação a seguir.
Equação 5 – Definição de valor de empréstimo
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Quadro 6 – Variáveis equação 5
Variáveis
Descrição
Empréstimo
O valor de empréstimo em um período t
Disponibilidade
É o valor da riqueza de um stakeholder i que após os
cálculos de todas as transações do período excedem ao seu
valor de reserva.
Necessidade
É o valor da riqueza de um outro stakeholder j que após os
cálculos de todas as transações do período falta para
completar sua reserva.
Fonte: Dados do projeto
4.5. Funcionalidades operacionais do simulador
Em cada modelo simulado, há dois tipos de usuários: o administrador do modelo e o
administrador de um único stakeholder (tipo que será usado pelos alunos), ambos controlados por senhas.
O administrador do modelo tem acesso total ao modelo para verificar qualquer informação ou alterar qualquer dado. Já o administrador de um stakeholder tem acesso somente a uma área restrita para definir as estratégias para esse stakeholder, não podendo ter
acesso a outros e nem a informações globais do ambiente.
Os modelos, no entanto, podem ser exportados e importados entre distintos computadores para permitir o trabalho distribuído, ou seja, tanto o aluno quanto o professor
podem trabalhar em qualquer computador e trocar dados entre os modelos.
5. Considerações finais
Apesar das várias possibilidades apresentadas pelo uso de simuladores e, particularmente, pelo simulador descrito acima como trabalhar modelos mais realistas, evoluir de
modelos mais simples a modelos mais complexos, explorar perguntas do tipo e se, facilitar
a comunicação, a adquirir visão sistêmica (DOYLE e BROWN, 2000; FARIA, 1998;WOLFE
e LUETHGE, 2003), existem também várias barreiras. Dentre as barreiras existentes,
destacam-se a complexidade de se criarem modelos da realidade a ser estudada e a facilidade de se utilizar inadequadamente - para o processo de aprendizagem, a atividade de simulação (PARKER, 1997; WOLFE e LUETHGE, 2003).
Aprender envolve construção ativa e intencional do significado. O resultado da aprendizagem deve ser bem integrado aos conhecimentos prévios do aprendiz e o processo de
aprendizagem deve envolver várias estratégias e estar inserido em processo de
monitoramento e avaliação (KINTSCH e outros, 1995). Os autores afirmam, ainda, que
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os programas devem explorar erros como oportunidades para desenvolver a aprendizagem e diferenças individuais de interesse, conhecimento e habilidades. Ressaltando que a
metodologia de ensino deve ter como premissas a prevalência do projeto pedagógico,
adequação do projeto tecnológico ao projeto pedagógico, a articulação entre teoria e prática e a maximização da interação aluno-informação, aluno-professor e aluno-aluno.
Neste trabalho, buscou-se integrar o pensamento de Kolb (1984) sobre a necessidade de se pensar a educação em termos de experiências e conceitos no âmbito do ensino da
Administração, utilizando-se um software para permitir a realização de experiências. Essa
abordagem foi utilizada por duas razões básicas: primeiro a dificuldade de propiciar experiências concretas – do tipo e nos momentos dos temas ensinados no ensino da Administração; e segundo a crescente disponibilidade de computadores no ambiente escolar.
Como requisitos para o projeto do simulador, pensou-se que o mesmo deveria ser
construído como um software aberto, onde qualquer interessado pudesse ter acesso a ele
para usá-lo e modificá-lo livremente (em oposição ao software proprietário onde ao acesso
a modificações é restrito e, em geral, o uso só é permitido por meio da compra de licenças
de uso). O motivo desse requisito foi o entendimento de que o software aberto permitiria
ampla utilização pela comunidade, contribuindo dessa forma para melhor formação dos
profissionais da Administração.
Por ser o software livre, não só o uso do mesmo seria ampliado, como também o
número de colaboradores – aqueles que contribuem com o desenvolvimento do software,
seria aumentado, resultando em um produto de alta qualidade em um tempo menor.
Quanto à utilização do simulador, uma vez que a primeira versão operacional do
mesmo foi disponibilizada no início de 2005, as experiências ainda estão em fase preliminar. Essas experiências, todavia, têm mostrado alto potencial, criando modelos que integram conceitos de marketing, produção, finanças e recursos humanos. Elas têm sido de
diversos tipos, onde os alunos são desafiados a: (1) modelarem um ambiente específico
(um ramo do comércio, um setor industrial etc) para se avaliar suas capacidades de perceberem os elementos do ambiente; (2) definirem ações para uma determinada empresa
buscando seu sucesso; (3) definirem ações para uma organização não governamental; (4)
definirem ações para uma instituição governamental; (5) identificarem possíveis conseqüências para os diversos stakeholders de alterações no ambiente global (taxa de juros, instabilidade política etc) do modelo simulado;
Essas experiências serão objetos de novas pesquisas que procurarão avaliar o impacto
do uso do simulador na aprendizagem dos alunos. No momento, o simulador está disponível livremente para qualquer interessado no endereço eletrônico www.geocities.com/
jesseamancio.
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Jessé Alves Amâncio e Elis Regina de Paula
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Revista ANGRAD - V. 7, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2006
Esta Revista Científica é uma publicação da ANGRAD
(Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração)
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