Connections with Leading Thinkers
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Instituto de Alta Performance Connections with Leading Thinkers A economista Fernanda de Negri discute os méritos e deficiências das políticas de inovação brasileiras. Connections with Leading Thinkers Fernanda De Negri é diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), think tank ligado ao Ministério do Planejamento. Ela pesquisa políticas públicas para melhorar os níveis de inovação e produtividade no Brasil. Eduardo Plastino, do Instituto de Alta Performance da Accenture, a entrevistou como parte de uma pesquisa sobre inovação na economia brasileira. 2 | Instituto de Alta Performance da Accenture | Copyright © 2015 Accenture. Todos os direitos reservados. Connections with Leading Thinkers IAPA: Como você avalia os esforços do governo para apoiar a inovação no Brasil? DE NEGRI: Tivemos progressos significativos em políticas de apoio à inovação nos últimos dez anos, aproximadamente. Por exemplo, foram adotadas leis que beneficiam as empresas que procuram inovar, como a Lei de Inovação, de 2004, e a Lei do Bem, de 2005. Desde 2011, temos o Plano Inova Empresa, que visa a reforçar a coordenação entre as diferentes agências do governo envolvidas nesses esforços. O Plano inclui programas e instrumentos, como crédito, subvenções e subsídios, para os setores de alta prioridade. IAPA: Tendo em vista esse progresso, o que explica os baixos níveis de inovação que ainda vemos nas empresas brasileiras? DE NEGRI: Houve uma melhoria em alguns indicadores importantes até a crise financeira global. Por exemplo, a taxa de despesa em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) como proporção do PIB aumentou significativamente entre 2005 e 2008. Mas nossas melhorias não foram suficientes para fechar o abismo que nos separa dos líderes em inovação, porque os outros avançaram tão ou mais rápido do que nós. “O Brasil fez grandes progressos em políticas de inovação na última década” Desde a crise, infelizmente, a situação do Brasil piorou. Entre as empresas em setores de alta intensidade tecnológica, despesas em P&D aumentaram de 1,89% da receita, em 2008, para 2,28%, em 2011. Entre as empresas de setores que classificamos como de intensidade tecnológica média a alta, essa taxa passou de 1,13% para 1,27%. Mas a participação dos setores intensivos em tecnologia no chamado “valor de transformação industrial”, que é um proxy de valor agregado na indústria de transformação e extrativa, caiu de 6,8% para 5,7% no mesmo período. Isso anulou o impacto global positivo dos esforços feitos pelos setores altamente tecnológicos. Além do mais, a participação da indústria de transformação no PIB do Brasil caiu consideravelmente desde a crise. 3 | Instituto de Alta Performance da Accenture | Copyright © 2015 Accenture. Todos os direitos reservados. IAPA: Temos mais crédito e políticas mais favoráveis à inovação, mas nossos indicadores não têm mostrado melhora significativa. O que está faltando? DE NEGRI: Do ponto de vista da política de inovação, talvez seja necessário aprimorar o nosso foco. Investimento em inovação é caro e arriscado, e não temos como oferecer um apoio gigantesco a todos os setores. Também não podemos esquecer as questões mais amplas decorrentes do nosso ambiente institucional e regulatório, bem como nosso excesso de burocracia. Esses fatores afetam a economia como um todo. Exemplo disso é o tempo necessário para que um importador tenha acesso a mercadorias que chegam aos portos, algo relevante para toda a economia brasileira, e crucial para a inovação. E o tempo necessário para se obter uma patente no Brasil tem de cair. Connections with Leading Thinkers “Precisamos de políticas para apoiar os esforços de inovação tanto das pequenas quanto das grandes empresas” IAPA: Você mencionou a queda da participação da indústria de transformação no PIB. A economia está andando na direção errada no que diz respeito à inovação? DE NEGRI: Não quero dizer que não seja possível inovar em todos os setores, mas que temos enfrentado alguns desafios. O superciclo das commodities, por exemplo, beneficiou a economia brasileira, e seu fim traz claras dificuldades. Mas, em termos de inovação, o fato de alguns dos setores de maior crescimento estarem ligados às commodities não é o ideal. Esse fenômeno levou a uma mudança na nossa estrutura produtiva que nenhuma política de inovação tem como compensar. A eficiência do nosso agronegócio e mineração também contribuiu para este quadro. IAPA: O governo tem sido frequentemente acusado de focar as políticas industrial e de inovação excessivamente nas grandes empresas. Por exemplo, as vantagens fiscais incluídas na Lei do Bem beneficiam apenas grandes empresas. Você concorda com essa crítica? Essas políticas pioram o ambiente de inovação para as empresas menores, inclusive as start-ups? IAPA: Você enxerga uma contradição DE NEGRI: Não concordo com essa entre os esforços de inovação do governo e o protecionismo comercial crítica. É claro que as pequenas empresas são muito importantes, mas elas precisam brasileiro? DE NEGRI: Até certo ponto sim. A imposição de barreiras comerciais não ajuda. Você pode ter todo o apoio à inovação que quiser, mas, se não houver concorrência, as empresas não terão muito incentivo para inovar. As políticas pró-inovação e protecionistas não apontam na mesma direção. 4 | Instituto de Alta Performance da Accenture | Copyright © 2015 Accenture. Todos os direitos reservados. de apoio sob a forma de outras políticas e mecanismos. Acredito que temos esses mecanismos em vigor. Subvenções para a inovação são um bom exemplo. Isto posto, não devemos minimizar a importância das grandes empresas. Eles respondem por 80% do investimento em P&D no Brasil. Nenhuma política industrial ou de inovação pode ignorálas. As grandes empresas podem infundir dinamismo na economia, porque, à medida que crescem, trazem consigo suas cadeias de suprimento, beneficiando também as pequenas empresas. Isso não quer dizer que nossa política industrial seja perfeita. Mas eu não diria que ela se concentra excessivamente nas grandes empresas. Acho que uma crítica mais justa seria dizer que ela se concentra demais em setores tradicionais, em vez de investir em novos setores. Connections with Leading Thinkers IAPA: Nossa pesquisa sugere que a baixa colaboração entre os diferentes atores em ecossistemas de inovação mina a capacidade inovadora do Brasil. Como você analisa essa questão? DE NEGRI: Fico mais confortável focando essa discussão na falta de colaboração entre universidades e outras instituições de pesquisa, de um lado, e o mundo empresarial, do outro, porque é uma área que conheço melhor. Concordo com você. Acredito que a colaboração tem aumentado um pouco, mas permanece muito abaixo do que poderia e deveria ser. Há dois motivos principais para isso. O primeiro é que a maioria das nossas principais instituições de pesquisa, inclusive as universidades, é pública. Isso não é ruim em si, mas faz com que haja uma burocracia a ser superada para estabelecer parcerias com a iniciativa privada. Por exemplo, pesquisadores acadêmicos que queiram desenvolver projetos conjuntos com empresas enfrentam restrições para ser pagos por eles ou para usar recursos de uma empresa em um laboratório público. Os pesquisadores têm de resolver problemas como encontrar uma forma de comprar equipamento com dinheiro dado por uma empresa privada. O segundo motivo é que nossos laboratórios privilegiam muito mais a educação de pessoas do que a realização de pesquisa de ponta. É claro que educar pessoas é importante, mas precisamos dos dois. Temos muitos laboratórios em departamentos de engenharia nas universidades onde um acadêmico trabalha com dois ou três estudantes. Nosso sistema de pesquisa precisa de instituições de peso maior, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz, um dos principais centros de P&D em ciências biomédicas) e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Ter mais instituições como essas pode ajudar a melhorar as relações entre os mundos acadêmico e empresarial no Brasil. “Ter mais instituições de pesquisa de peso melhoraria as relações entre os mundos acadêmico e empresarial” IAPA: Você tem pesquisado IAPA: Muito obrigado por dividir extensivamente o que o Brasil seus pontos de vista conosco. poderia fazer para ser mais inovador DE NEGRI: Foi um prazer. e produtivo. Mesmo considerando que as estruturas econômicas variam de um país para outro, que lições poderíamos aprender com outros países e aplicar aqui? DE NEGRI: Existem muitas lições. Nós, do Ipea, estudamos as políticas de Estados Unidos, Europa e China, a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Vários países têm focos claramente definidos para as suas políticas. Antes de identificar áreas prioritárias, eles constroem roteiros baseados em estudos prospectivos de áreas onde poderiam desenvolver vantagens competitivas. Também temos o ponto que acabamos de discutir sobre as grandes instituições de pesquisa. A China tem mais de 100 grandes laboratórios, todos ligados à Academia Chinesa de Ciências. Cada um tem um foco claramente definido. Os EUA têm uma abordagem similar. Lá, o governo dedica orçamentos significativos a grandes instituições, como os Institutos Nacionais da Saúde. Cada um desses institutos tem um foco específico, como câncer, oftalmologia ou envelhecimento, por exemplo. 5 | Instituto de Alta Performance da Accenture | Copyright © 2015 Accenture. Todos os direitos reservados. Como parte da missão do Instituto de Alta Performance da Accenture de desenvolver ideias e insights de ponta, seus pesquisadores conversam com frequência com líderes acadêmicos, executivos de empresas e analistas setoriais. A série Connections with Leading Thinkers inclui algumas dessas entrevistas, mostrando os bastidores das interações entre os pesquisadores e alguns dos experts mais renomados do mundo. www.accenture.com/institute Para mais informações, favor entrar em contato com: [email protected] [email protected] Sobre a Accenture A Accenture é uma empresa líder global em serviços profissionais, com ampla atuação e oferta de soluções em estratégia de negócios, consultoria, digital, tecnologia e operações. Combinando experiência ímpar e competências especializadas em mais de 40 indústrias e todas as funções corporativas - e fortalecida pela maior rede de prestação de serviços no mundo -, a Accenture trabalha na interseção de negócio e tecnologia para ajudar companhias a melhorar seu desempenho e criar valor sustentável para seus stakeholders. Com mais de 358.000 profissionais atendendo a clientes em mais de 120 países, a Accenture impulsiona a inovação para aprimorar a maneira como o mundo vive e trabalha. Visite www.accenture.com.br. Sobre o Instituto de Alta Performance da Accenture O Instituto de Alta Performance da Accenture desenvolve insights estratégicos acerca de questões essenciais de gestão e tendências macroeconômicas e políticas por meio de pesquisa e análise originais. Seus pesquisadores conjugam reputação global com a vasta experiência da Accenture em consultoria, tecnologia e outsourcing para produzir pesquisas e análises inovadoras sobre como as empresas alcançam e mantêm o alto desempenho. Visite-nos em www.accenture.com/institute Copyright © 2015 Accenture Todos os direitos reservados. Accenture, seu logotipo e High Performance Delivered são marcas registradas da Accenture.
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