• Comunidade Micaela Município: Caém Nº de Famílias: 190

Transcrição

• Comunidade Micaela Município: Caém Nº de Famílias: 190
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Comunidade Micaela
Município: Caém
Nº de Famílias: 190
Entidade: MPA
As longas estiagens do semiárido levaram o povo a se organizar e lutar
pela água, mudando a realidade da seca tão presente no imaginário social por
uma imagem de vida e convivência com o clima da região. Aos poucos, o
cenário da “indústria da seca” marcado pelo fornecimento de água de má
qualidade pelo carro pipa foi dando lugar às ações de construção de cisternas,
poços, cacimbas, barragens.
A comunidade Micaela, no município de Caém, ilustra bem como a união
e organização ajudaram a mudar a vida das famílias locais. Essa história
começou em 2002, quando o governo do Estado da Bahia iniciou o processo
de implantação da adutora de água para beneficiar o povoado de Piabas, no
município de Caém, saindo da barragem de Pedras Altas que represava as
águas do rio Itapicuru Mirim. Na ocasião, padre Luis perguntou às famílias que
viviam em volta do morro da Micaela sobre o percurso que faria a adutora.
Ficou evidenciado que o trajeto passaria pelas roças e, em alguns casos, nos
terreiro das casas.
Embora a adutora passasse muito próxima às casas, os moradores da
região não seriam beneficiados pela obra. Iniciou-se então um trabalho de
conscientização sobre o direito de todo cidadão à água. Algumas pessoas
tiveram medo de entra na luta, mas aos poucos o grupo foi se firmando.
Quando o traçado da adutora chegou na roça do Sr. César, em junho de
2005, o trator foi impedido de avançar. Os trabalhadores pararam e os
moradores organizados pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
levantaram o acampamento exigindo que as famílias da região tivessem
acesso à água. Foram quatro meses de espera embaixo da lona. Por duas
vezes ocuparam a sede da Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia de
Senhor do Bonfim (CERB) encarregada da obra.
O acampamento foi ganhando força com a adesão de outras
comunidades. Os trabalhadores ampliaram o número de famílias a serem
contempladas, todas do município de Caém. Diante da determinação e
resistência das comunidades o governo se sentiu obrigado a fazer um acordo,
incluindo todas as famílias assinaladas no mapa confeccionado pelos próprios
moradores. Dois anos depois, em 2007 foi inaugurada a adutora levando água
a 190 famílias das comunidades de Micaela, Baraúnas, Várzea do Rancho,
Várzea Grande, Várzea Queimada.
A consciência de que a água é um bem necessário e direito de todos e
um dever do Estado, conduziu o povo às conquistas significativas para
melhoria da qualidade de vida na região. As constantes mobilizações feitas
pelos camponeses têm forçado o Estado a assumir financeiramente seus
projetos tornado-os políticas públicas e de domínio das organizações
populares.
Graças a este movimento de luta e o trabalho das organizações,
sobretudo à participação popular, já não se ouviu mais falar em fome, frentes
de emergência, cestas básicas, intensas migrações, animais morrendo e outras
tantas tragédias que faziam parte do cotidiano dos sertanejos.
As primeiras ações de construção de cisternas, poços, cacimbas,
barragens, para ajudar o povo a conviver com o clima da região tiveram apoio
financeiro, principalmente, de cooperações internacionais, além da participação
das famílias e comunidades que realizam os trabalhos em mutirão.
Todo
este
movimento
de
luta
pela
água,
contribuiu
para
a
implementação de ações integradas para a região, fortalecendo inserções de
natureza política, técnica e organizacional, demandadas pelas entidades que
atuam na área, ajudando na difusão de métodos, técnicas e procedimentos que
possibilitam a convivência sustentável com o semiárido.