Tema desta edição: “Ministrando para Pessoas em Crise”

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Tema desta edição: “Ministrando para Pessoas em Crise”
Nº 06 | Julho | 2011
Tema desta edição: “Ministrando para Pessoas em Crise”
• Momentos que demandam uma resposta de púlpito | Richard Dresselhaus | p.04
• Fé de 24 quilates: Tragédia e recuperação na vida do crente | Richard Dobbins | p.08
• Socorrendo os que estão em crise: As primeiras 48 horas | Jay Martin | p.14
• Um modelo de ministério para todos os tempos | Benny Aker | p.19
• Pastores: Chamados para a crise | James Berkley | p.27
• Excelência na oração | George Wood | p.31
• Abstinência de reclamação: Líderes otimistas superam a distância | Scott Hagan p.37
www.enrichmentjournal.ag.org
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
•1
Editorial
É com grande satisfação que levamos até você a
revista Recursos Espirituais, publicada originalmente
pelas Assembleias de Deus dos Estados Unidos,
através da Life Publishers International, sob o
título Enrichment Journal.
Esta edição apresenta reflexões acerca de
momentos de crise que, por sua dimensão e
alcance, e pela comoção que por vezes ocasionam,
requerem do líder uma resposta de púlpito, como
é o caso das inesperadas tragédias envolvendo
servos fiéis ou jovens dedicados ao Senhor.
Momentos estes que demandam do pastor
um posicionamento equilibrado para situações
de desequilíbrio emocional e sobretudo espiritual.
Como enfrentar a tragédia e a busca pelo
estabelecimento com uma fé equivalente a ouro 24
quilates? Este número apresenta respostas a
esta adversidade, bem como um prisma da
crise com base no trinômio choque-tempestadebusca.
As 48 horas subsequentes à eclosão de uma crise
contemplam tanto a oportunidade quanto o perigo
e é, por isso, crucial que a Igreja esteja preparada
para uma resposta que elimine o fator de pressão
dos envolvidos e os reconduza, ainda que sob
pesar, à normalidade da vida.
Este número também inclui reflexões sobre a
excelência na oração e a importância de um obreiro
abster-se das murmurações, dando oportunidade
para que o Espírito Santo opere livre e
abundantemente sobre a Igreja de Cristo.
Nosso desejo é que você seja grandemente
abençoado com esta edição.
Aprecie sem moderação!
márciomatta
editor | versão em português
Life Publishers International
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Publicado por Life Publishers, Springfield, Missouri (EUA)
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Equipe Editorial / V
ersão em Português
Versão
Tradução: Nadja Matta e Lucas do Carmo
Revisão de Textos: Martha Jalkauskas e Miriam Estevan
Diagramação e Lay-out: ©LMDesign
Revisão Final: Neide Carvalho
Coordenação Geral: Márcio Matta
Entre em contato conosco para obter informações adicionais ou fazer perguntas através do e-mail
[email protected]
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• Recursos Espirituais | JULHO 2011
Quais são os sinais ao longo do caminho que
poderiam ajudar o pastor a usar momentos de
crise de forma sábia e eficaz?
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
•3
Momentos que demandam uma
RESPOSTA DE
PÚLPI O
Pregando em Tempos de Crise
Por RICHARD L. DRESSELHAUS
O
toque do telefone quebrou o silêncio da noite: "Pastor, houve um terrível acidente de carro."
Eu rapidamente me vesti e me dirigi até o hospital, somente para ser
saudado pelas novidades de que a garota do departamento de adolescentes já havia falecido e um segundo
atrás estava lutando por sua vida. Antes de que uma hora tivesse passado,
ela já tinha ido embora.
Adolescentes e pais que tinham
vindo para compartilhar sua tristeza
e tentar encontrar algum consolo para
seu pesar encheram o corredor. A atmosfera estava pesada com incredulidade e consternação: "Como isso
pode ser?"
Sugeri que nos dirigíssemos para
uma capela adjacente. O que eu digo?
O que eu faço?
Enquanto o choque do momento
tinha apagado da memória o que eu
disse, eu certamente sei que falei hesitantemente sobre a bondade de
Deus e a necessidade de depositar
nossa confiança nEle. Hesitante como
foi, era uma palavra necessária e essencial dos céus falada no meio de
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• Recursos Espirituais | JULHO 2011
quase que inacreditável quebrantamento, incerteza e medo.
Somente 6 meses antes deste acidente os jovens de nossa igreja tinham
dito adeus para outro de seus companheiros. Um jovem e corajoso adolescente, depois de meses de luta, finalmente se tornou a vítima de um implacável tumor cerebral.
Aqui também estava um momento que demandava uma resposta pastoral – uma palavra da parte de Deus
que iria transpor o sofrimento e ajudar ancorar as emoções dispersas. Não
era momento para profundas digressões teológicas, mas para alguma coisa do coração do pastor que compartilhou vicariamente a dor daqueles
que ele lidera e ama.
Seis meses após o acidente de carro, eu me retirava a jato com nosso
grupo de viagem retornando de Israel
para ser saudado com a novidade de
que tínhamos perdido uma quarta
garota de nossa juventude... a vítima
de um assassinato brutal. Um intruso
tinha entrado em casa enquanto sua
mãe estava fora e a ultrajado das maneiras as mais horríveis que se possa
imaginar.
O que nós podemos dizer para o
povo de Deus em momentos como
este? Como um grupo de adolescentes consegue encarar a perda de quatro companheiros em um período de
18 meses? O que nós podemos dizer
para os pais ávidos por respostas? O
que nós podemos dizer num culto
memorial repleto de colegiais, líderes
cívicos, administradores escolares e
professores?
Estes momentos demandam uma
resposta de púlpito.
Eu estava me preparando para o
dia quando nossa filha anunciou: "Papai, um avião bateu em uma das Torres Gêmeas na cidade de Nova York".
Aquele era o começo de uma história
que ainda reverbera em toda a nação
e em todo o mundo.
Então veio o Domingo após 11 de
Setembro. Como um pastor poderia
permanecer calado ou alheio a tal
evento? O povo de Deus se reúne em
determinado horário acreditando que
irá, e deve, ouvir uma palavra da parte de Deus. Perder este momento é
perder uma das grandes oportunidades de demonstrar o poder do Evangelho no crisol da vida. Pessoas têm
Momentos que demandam uma Resposta de Púlpito:
Pregando em Tempos de Crise
se aproximado para ouvir alguma coisa de um outro mundo, uma declaração da eternidade, uma palavra ungida
do Trono.
Estes momentos demandam uma
resposta de púlpito.
Haddon Robinson, notável educador e pregador, cunhou a frase "Pregando através da dor". Enquanto ele
ilustra o princípio ao observar os tempos em que ele foi para o púlpito em
momento de grande dor pessoal, isto
também se aplica em um sentido mais
amplo e mais congregacional. Dor e
pregação normalmente andam juntas,
tanto na experiência do pregador
como também no coração dos que
ouvem.
Às vezes eu me pergunto: "Onde
Jesus é mais inteiramente encontrado?". Poderia ser que quando encontrarmos a dor também O encontraremos? Ou, de outro modo, é a dor que
muitas vezes arromba o coração para
ouvir a terna voz do Supremo Pastor?
Se isto for verdade, que oportunidade a crise fornece! Isto ocorre quando
as pessoas ouvem melhor.
O que eu disse no púlpito no Domingo seguinte ao 11 de Setembro
não se encontra mais em minha memória, mas eu sei que eu usei o púlpito naquele Domingo para falar sobre o pesar, os medos e as incertezas
que todos os americanos sentiam – e
para o corpo de Cristo, que deve carregar um profundo senso de responsabilidade e preocupação para os
eventos que acarretam consequência
para a sociedade em geral.
Mas momentos que exigem uma
resposta de púlpito vão muito mais
além das crises impostas sobre a igreja por forças externas; eles também incluem a agonia da desunião, a dor da
discórdia doutrinária, a dor da falha
da liderança, o efeito destruidor da
conduta pecaminosa e a pressão de insuficiências orçamentárias.
Sim, estes também são momentos
que exigem uma resposta de púlpito.
Quais são os sinais ao longo do caminho que poderiam ajudar o pastor
a usar esses momentos sábia e eficazmente?
Mensure Cuidadosamente o
Mote da Crise
Pastores não devem ser alarmistas –
nem tampouco minimizar possíveis
ramificações.
Depois de 11 de Setembro teria
sido inapropriado falar de um outro
ataque como iminente, mas também
nada sábio sugerir que os inimigos de
nossa liberdade se contentavam em
atacar uma só vez.
Quando os números de desemprego se mudam para a casa dos dois dígitos, é impróprio sugerir que irão
provavelmente subir muito mais, mas
também nada sábio sugerir que nesta
vida há qualquer coisa perto de absoluta segurança de emprego.
Se descobrirmos que um líder da
igreja está vivendo em pecado, não é
apropriado sugerir que tal conduta
seja galopante, mas também nada sábio sugerir que imperfeições de liderança são consistentemente raras.
Esperançosamente, o ponto é este
– pastores sábios e eficazes evitarão a
armadilha de uma reação exacerbada
e a atenuação dos fatos. Ambos os extremos criam desconfiança e resultam
em uma falta de credibilidade.
A necessidade de uma avaliação
precisa é imperativa. A uma igreja que
enfrenta crise, seja lá de que proporção for, deve ser permitido enfrentála de forma realística, objetiva, justa e
propositada. Isto demanda uma linguagem não inflamada, emoções em
cheque e fatos precisos e confiáveis.
Crises financeiras são comuns na
igreja média. Este é o tempo de informações fatuais e não de retórica infundada. É o tempo para o ensino bíblico sobre o ato de dar e não motivação baseada em culpa. Este é o tempo de encorajamento e esperança, não
de vergonha e culpa.
Momentos que demandam uma
resposta de púlpito requerem equilíbrio, precisão e mensuração cuidadosa das circunstâncias que podem se assomar em tempo de crise.
Monitore Deliberadamente seu
Envolvimento Emocional
O chamado bully pulpit está fora dos
limites de atuação do pastor. É inadequado a um ministro usar suas habilidades oratórias e autoridade pelo
posto que ocupa a persuadir os ouvintes a abraçarem uma perspectiva
somente confinada à opinião e preferência pessoal.
Deixe-me ilustrar. Há questões sociais que a Igreja é chamada a enfrentar – legalização de jogos de azar,
aborto, crime, tráfico de drogas, violência doméstica e pobreza. Se de um
lado um pastor deve ter opiniões pessoais formadas sobre essas questões,
é essencial que no púlpito ele lide com
elas segundo uma perspectiva bíblica. As pessoas precisam ouvir a Palavra do Senhor e não meramente a
opinião de um pastor.
Billy Graham fala em separação entre o pregador e a mensagem. Afirma
que às vezes ele se sente como se ele
estivesse de pé e observando a partir
de um outro lado o que está acontecendo na pregação da mensagem. Este
é um entendimento saudável e correto. A mensagem tem vida própria. É a
Palavra do Senhor. Ela se basta. Supostamente, há um sentido em que
mensagem e mensageiro se fundem,
mas nunca para diminuir a solidariedade e a independência da mensagem.
Esta é a Palavra do Senhor.
O ponto: quando um pastor cede
ao impulso das emoções pessoais em
detrimento da objetividade, do equilíbrio e da imparcialidade, a crise que
deveria se tornar uma ocasião para desafio e ministério eficaz se torna, em
vez disso, em ocasião para perdurar a
mágoa e a dor. Apesar de nosso Senhor envolver Sua mensagem em carJULHO 2011 | Recursos Espirituais
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ne humana, permanece sob a responsabilidade do pastor entregar a Palavra como ela é – clara, ungida, autêntica.
AS PERGUNTAS "POR QUÊ?"
Estas são as perguntas sempre presentes. "Por que isto está acontecendo?"; "Por que eu?"; "Por que isto
aconteceu agora?". Aqui está uma lista com possíveis porquês:
• Cada um de nós faz parte de uma
raça decaída. Ninguém está imune às
suas consequências.
• Nunca conseguimos entender
completamente os caminhos de
Deus. Seus caminhos estão muito acima dos nossos.
• Deus usa o que Ele não pode causar, por isso aprendemos a confiar.
• Porque o nosso pertencer aqui
deve permanecer experimental. A
vida do projeto perfeito de Deus nos
aguarda na eternidade.
Aqui estão advertências sobre os porquês:
• As pessoas feridas precisam de
uma presença amorosa. Ficar ao lado
de pessoas feridas tem mais poder do
que palavras.
• Aceitar o fato de que não há respostas fáceis. Deus, sendo Deus, escolheu não explicar tudo o que Ele faz
ou permite que seja feito.
• Confiança é sempre a cobiçada
resposta para a crise. Tendo feito
tudo, permanecer.
• Ficar de olho no eterno. AquEle
que vê a todos, como agora, reserva
uma perspectiva na qual podemos
confiar.
— RICHARDL. DRESSELHAUS, D.MIN.
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• Recursos Espirituais | JULHO 2011
Proteção Contra Inferências
Personalizadas
A trágica história aqui vai: A igreja
estava em crise e o pastor utilizou o
púlpito para dar vazão à sua zanga,
desgosto e agressividade. Embora não
citasse nomes, era claro a quem a referência se dirigia. O resultado foi catastrófico.
Sim, há momentos que exigem
uma resposta de púlpito, mas como
isto é feito é de extrema importância.
Anos atrás, a igreja que eu pastoreava enfrentou uma crise devastadora. Um pequeno grupo de membros
havia se tornado insatisfeito com a liderança da igreja, incluindo ambos a
diretoria e o pastor. Esse grupo expressou e fez circular seu descontentamento por meio de uma enxurrada de cartas anônimas – enviadas indiscriminadamente para membros e não-membros. O resultado foi o mais desconcertante.
Como pastor eu me senti pessoalmente atacado. O conteúdo das cartas anônimas era insultante e ofensivo. Como eu deveria responder?
Quando a disciplina da igreja se faz
necessária? E que forma ela pode ter?
Em meio à crise, o Senhor colocou
dentro do meu coração que: Se você
quer lutar nesta batalha, vá em frente,
se você quer que Eu lute, Eu lutarei. A
escolha foi fácil – e eu deixei que o
Senhor apresentasse uma solução que
eu jamais teria imaginado. Levou cerca de um ano e meio, mas finalmente
a crise se dissipou e a igreja adentrou
um período de unidade e paz.
Como esta história direciona o assunto diante de nós? Simplesmente
isso. Às vezes, a resposta do púlpito
para a crise é simplesmente pregar a
Palavra semana após semana, permitindo que o Espírito Santo faça a Sua
parte como uma agência de correção
específica e reconhecível.
Durante todos aqueles meses, eu
fui muitas vezes tentado a falar sobre
a questão diretamente; às vezes esse é
o caminho certo a seguir. Neste caso,
entretanto, o Senhor levou a me concentrar na pregação da Palavra e permitir que o Espírito agisse como a
agência de correção.
Se eu tivesse personalizado a crise
e conduzido o público com minhas
mágoas e inseguranças, duvido que o
resultado teria sido positivo. O que
ocorreria se eu tivesse singularizado
as pessoas por inferência? E se eu tivesse permitido que minha zanga tomasse expressão? E se eu tivesse cedido ao conselho de alguns para tratar
disso a partir do púlpito?
Sim, há momentos que exigem
uma resposta de púlpito, mas, algumas vezes, esta resposta é a exposição
simples, clara e equilibrada da Palavra de Deus.
Evite Politizar Desafios Sociais
Um reconhecido senso de relevância
caracteriza a vida e a mensagem de
uma igreja vibrante. Esta igreja ousa
discutir as questões que confrontam
a cultura da qual faz parte. A lista de
questões que terá que enfrentar é quase ilimitada: aborto, crime, casamento entre mesmo sexo, divórcio, tráfico de drogas e corrupção na liderança
cívica.
Mas como? Há um princípio que
deve orientar a igreja. A igreja deve
contextualizar os desafios da sociedade dentro da Palavra de Deus. Isto é,
deixar que o apelo seja baseado somente no ensino da Palavra de Deus.
Partidos políticos, grupos de interesses especiais, endosso de candidatos
– estes são assuntos a serem tratados
pessoalmente – não pertencem ao
púlpito, que deve ser reservado para
o "assim diz o SENHOR".
A história da Igreja está repleta de
narrativas de ministros que se torna-
Momentos que demandam uma Resposta de Púlpito:
Pregando em Tempos de Crise
ram ativistas políticos mais do que
pregadores da Palavra de Deus. O que
tipicamente se segue é uma perda de
foco bíblico e compromisso de missão. Temos ouvido isto repetidas vezes: "O pastor se tornou muito político". Novamente, o trabalho da igreja
é o de desafiar a sociedade, mas deve
fazê-lo através da proclamação fiel da
Palavra de Deus. Ela fala poderosamente aos problemas sociais a confrontarem a igreja.
Estes ainda são momentos que exigem uma resposta de púlpito.
Aprenda a Ouvir do Banco
Seria ótimo se todo ministro pudesse
se tornar uma parte da congregação,
tempo suficiente para descobrir como
as coisas soam para quem está no banco. Mais de uma vez alguém me corrigiu por algo que eu dissera no púlpito e não revelado corretamente. Enquanto tal passo em falso é tipicamente acidental, os pastores precisam tomar cuidado para garantir que o que
dizem do púlpito é apropriado para
as pessoas que se encontram no banco da igreja.
Lembro-me de ouvir um palestrante de renome nacional que usava
histórias que não eram adequadas. Ele
não conseguiu manter em mente a
que ele se referia. Pregadores podem
ser tentados a usar sua posição de autoridade associada à capacidade de
oratória para cruzar a linha e trazer
insulto para as pessoas presentes no
banco da igreja. Algumas práticas têm
maior capacidade de criar desunião na
igreja do que isso. "Como ele poderia
dizer uma coisa dessas?"; "O comentário improvisado do pastor foi lamentavelmente inadequado".
Karl Barth fala do sermão como
um evento. Deus vem ao Seu povo
através da Sua Palavra. Alguma coisa
grandiosa está acontecendo. Deus está
transformando vidas. O eterno visitou
o temporal. O céu está tocando a terra. Quão trágico é se um maneirismo
descuidado e um discurso simplista
do pregador macular a majestade de
um momento como esse.
Minha oração pessoal é: "Senhor,
o inimigo buscará roubar o ouvinte
de escutar a Palavra de Deus, mas, por
favor, Senhor, ajude-me a não atrapalhar seu ouvir por causa de meus
maneirismos peculiares, descuido no
discurso ou outras formas de insensatez". A trombeta da verdade deve
soar com clareza, precisão e verdade.
Tudo contribui para estragar o momento em que o púlpito deve falar
com poder.
Abstenha-se de Usar Culpa como
Motivação
Apenas uma palavra sobre o berço teológico que pode conter uma igreja
firme em tempos de crise... o tipo de
consciência que permitirá ao pastor
falar com eficácia a uma congregação
em tempos de grande dor e mágoa.
A rede de alimentos McDonald's
criou um mito através do qual comercializa seus produtos. Isto é, uma percepção, algo que vem imediatamente
à mente quando o nome McDonald's
é falado. O mesmo é verdade para
qualquer empresa que detém a sua
participação no mercado.
O mesmo é verdadeiro em relação
a uma igreja. Ela tem um mito – uma
percepção – que desenvolveu ao longo do tempo. Pergunte a um não participante sobre a igreja da esquina e
você provavelmente terá uma descrição do mito ou a percepção daquela
igreja: "Oh, eles ajudam a nossa comunidade" ou "Eu nunca ouvi nada
sobre aquela igreja". Respostas como
essas expõem a forma como uma comunidade sente determinada igreja.
Um dos elementos-chave no desenvolvimento de um mito bíblico e
positivo para uma igreja é ter a certeza de que a atmosfera da igreja está
revestida de um sentido profundo da
graça de Deus. A graça é convidativa.
Graça é transferência de vida. A graça
é libertadora. A graça é o favor de Deus
expresso ao Seu povo. Uma igreja
saturada com este entendimento será
saudável em sua vida interior e eficaz
em sua ação social.
Um forte foco na graça está em
oposição a uma ênfase desequilibrada na lei. Enquanto as leis de Deus
são imutáveis e certas, é a graça que
lhes dá uma aplicação de ternura e
misericórdia.
Uma igreja equilibrada pesadamente sobre a lei tende a ser julgadora
e exigente. Uma igreja equilibrada
pesadamente sobre a graça será aceitadora, convidativa e engajada com
um mundo ferido.
A motivação baseada na lei recorre à culpa. É ameaçadora e severa. As
pessoas se tornam instáveis e muitas
vezes hostis. Acentuam diferenças e
traçam linhas de divisão. O resultado
é frequentemente catastrófico. Esta
igreja viverá em crise.
Sim, há momentos que exigem
uma resposta do púlpito – uma palavra que ressoe com um profundo sentido de amor e graça de Deus.
Esses momentos de crise se tornam
convites para proclamar a Palavra de
forma tal que traga a paz onde havia
conflitos, a compreensão onde havia
confusão, esperança onde havia desespero, conforto onde havia tristeza e
vida onde havia morte.
Estes são os momentos que exigem
uma resposta de púlpito.
RICHARD L. DRESSELHAUS, D.MIN.
Presidente de Convenção Estadual e ex-pastor-presidente
da First Assembly of God, em San Diego, Califórnia (EUA).
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
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8 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
Fé de
24 Quilates:
Tragédia e Recuperação na
Vida do Crente
Reconhecendo que a tragédia pode levá
lo a criar
levá-lo
o fundamento espiritual para enfrentá
la com
enfrentá-la
“fé de 24 quilates”.
Por RICHARD D. DOBBINS
O
ouro sempre foi uma mercadoria preciosa. Sua raridade estabelece o seu valor.
Goldsmiths estima que em todas as
refinarias da história humana tenhase refinado cerca de apenas 100.000
toneladas de ouro.
Toda vez que você compra ouro,
independentemente de onde você esteja, isso exige um preço alto... especialmente o ouro de 24 quilates. Nesta forma mais pura encontra-se um
metal muito macio. O quilate do
ouro indica quantas ligas o joalheiro misturou para enrijecê-lo. Por
exemplo, apenas um pouco mais da
metade de joias de 14 quilates de
ouro é, de fato, ouro. Quando 24
quilates são carimbados em uma barra, você sabe que ela foi feita de ouro
puro.
Para a produção de ouro puro, as
fundições devem aquecer o minério
durante o processo de fundição a
5252°F. Como você pode ver, o ouro
puro nunca sai barato, nem tampouco a fé de 24 quilates. Como o ouro,
fé de 24 quilates é refinada no fogo.
Portanto, uma vez refinada, sua fé é
mais valiosa do que ouro de 24 quilates.
O Que É Fé de 24 Quilates?
Aqui está a definição de Pedro sobre
a fé de 24 quilates: "Na qual exultais,
embora agora por um pouco você possa
ter tido de sofrer a dor em todos os tipos
de provações. Estes vieram de modo que
sua fé – de maior valor do que o ouro,
que perece mesmo embora refinado pelo
fogo – possa ser genuína e possa resultar
em louvor, glória e honra quando Jesus
Cristo for revelado." (1Pe 1:6,7).
Quando Cristo falou à igreja de
Laodiceia, aconselhou-a a comprar
dele "ouro provado no fogo" (Ap 3:18).
A natureza morna de sua fé davaLhe náuseas. Ele ansiava para que ela
tivesse uma fé fervorosa e capaz de
ajudá-la a suportar as provações que
os primeiros cristãos enfrentaram.
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
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Fé de 24 Quilates
Quilates: Tragédia e Recuperação na Vida de um Crente
Os Crentes Não Estão Imunes
às Tragédias da Vida
Em meu trabalho eu tenho precisado muitas vezes lembrar meus pacientes que, como crentes, não estamos imunes a provações e a tragédias. Deus quer usar esses testes para
do mundo (Jó 1:8), quando a calamidade sobre ele recaiu, seus amigos estavam certos de que ele tinha
falhado com Deus de alguma forma. Além disso, ao perder Jó sua riqueza, seus rebanhos e manadas,
sua família e sua saúde, o conselho
Uma vida cristã disciplinada nem
sempre protege uma pessoa da
tragédia.
produzir em nós uma fé mais preciosa que o ouro... uma fé que, refinada no fogo, é capaz de suportar o
calor da adversidade.
Hoje, alguns ensinadores dizem
aos crentes que, se eles obedecem a
Palavra de Deus, Deus irá protegêlos de todas as experiências dolorosas da vida. Eles, então, nunca ficarão doentes. Ou, se ficarem, Deus
sempre irá curá-los. (Quando não
são curados, esses ensinadores dizem que eles não têm fé suficiente.
Se eles tivessem mais fé, Deus os
curaria.) Dizem que eles sempre irão
prosperar financeiramente. Que
nunca terão que passar por dificuldades relacionadas a desemprego.
Deus irá milagrosamente fornecer
algum tipo de guarda-chuva divino
para protegê-los de acidentes aéreos, acidentes de carro, terremotos,
epidemias, inundações, tsunamis. A
maioria das pessoas que acredita
neste tipo de ensino tem dificuldade para lidar com as realidades da
vida quando elas lhes sobrevêm.
A esposa de Jó e seus amigos acreditavam neste tipo de protecionismo divino. Muito embora Deus declarasse ser Jó a pessoa mais justa
10 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
de sua esposa foi para "blasfemar
Deus e morrer" (Jó 2:9). No entanto, através de todas as coisas trágicas que lhe sobrevieram, Jó permaneceu fiel a Deus insistindo "... ele
sabe o caminho que eu tomo, quando
ele testar-me, surgirei como o ouro" (Jó
23:10). Jó tinha fé de 24 quilates.
As Tempestades da Vida
Testam Todos
Às vezes, a má escolha de uma amizade ocasiona a crise que a traz até
você. Mau comportamento sexual,
fumo, má gestão financeira e condução negligente são algumas poucas escolhas ruins que uma pessoa
faz que podem acarretar desastre.
Entretanto, uma vida cristã disciplinada nem sempre protege uma pessoa da tragédia.
As Vida nos Trata de Forma
Muito Semelhante
Jesus concluiu Seu Sermão do Monte com uma ilustração que aponta o
fato de que crentes poderiam experimentar as tempestades da vida (Mt
7:24-27). Dois homens construíram
casas idênticas. Jesus disse aos Seus
ouvintes que as mesmas coisas que
aconteceram com uma das casas
também aconteceu com a outra.
Desceu a chuva, os ventos sopraram
e investiram contra ambas. Uma
entrou em colapso sob o peso destas tragédias naturais. A outra se
manteve firme.
Muito embora um homem obedeça a tudo o que Jesus ensinou,
Deus não o protege das tempestades da vida. Muita coisa que acontece aos incrédulos e aos crentes desobedientes também acontecem aos
crentes obedientes. Cristãos exemplares morrem de males fatais. Seus
filhos têm problemas mentais e/ou
físicos ao nascer. Crentes fiéis perdem seus empregos. Incêndios ou
inundações destroem seus lares. São
vítimas de acidentes trágicos ao viajarem. Seus cônjuges os forçam a
aceitar divórcios indesejados. Perdem seus empregos em função de
crises econômicas. O entendimento de que tragédia pode lhe sobrevir
cria o fundamento espiritual para
enfrentá-la com fé de 24 quilates.
Algumas Vezes Nós Sofremos
por Nossos Próprios
Julgamentos Frágeis
Pessoas cujas decisões frágeis resultam em suas próprias tragédias precisam de ajuda para lidar com a culpa e o arrependimento. Pedir e receber o perdão de Deus para este
comportamento irresponsável é o
primeiro passo rumo à recuperação.
O segundo passo é ajudá-las a perdoar a si mesmas, o que muitas vezes é mais difícil para elas do que
receber o perdão de Deus.
Às vezes, todos nós gostaríamos
de desfazer e refazer a vida. Muitas
pessoas perdem horas preciosas se
perguntando como poderiam ter
Fé de 24 Quilates
Quilates: Tragédia e Recuperação na Vida de um Crente
evitado o que aconteceu. Isso geralmente resulta na prática dolorosa e
inútil de culpar a si mesmas enquanto ruminam sobre o que iria, deveria ou poderia ter feito para que as
coisas fossem diferentes.
Ao ajudar as pessoas a romperem
este ciclo sem esperança, é importante lembrá-las que todos nós temos uma margem de erro. Embora
o nosso objetivo devesse ser reduzir
esta margem, nenhum de nós é perfeito. Mesmo o apóstolo Paulo tomou decisões trágicas. Entre outras
coisas, ele aprisionou cristãos e expôs muitos deles à morte. Como ele
lidou com toda esta culpa e arrependimento? Com o tempo, ele escolheu esquecer todas essas coisas (Fp
3:12-14). Precisamos lembrar às
pessoas que, se permitirmos, o Diabo irá usar os julgamentos frágeis do
nosso passado para destruir o potencial de nosso futuro.
Não podemos desfazer ou refazer a vida. Buscamos o perdão de
Deus. Nós nos perdoamos. E vamos
em frente.
Tragédias Geram Crises
Uma crise é um momento perigoso: uma situação ou período em que
as coisas estão incertas, difíceis e dolorosas. Alguns se veem através da
crise como pessoas amargas e alguns
como pessoas melhores. A diferença entre estas duas palavras no inglês é apenas uma letra (bitter e
better), o "e", As escolhas que eu faço
à medida que atravesso a crise determinam se ela irá me fazer amargo ou melhor.
Ao ajudar as pessoas a lidarem
com crises, lembre-se que elas conseguem lidar com certeza desagradável mais facilmente do que com a
incerteza. Assim, independentemente do quão dolorosas sejam as circunstâncias, ajude a pessoa a enfrentá-las com honestidade. Às vezes, na tentativa de sermos compassivos, tentamos proteger as pessoas
da dor que elas gerenciam melhor
no início da crise do que mais tarde.
Muitas vezes, durante as primeiras horas e dias após a eclosão de
uma crise, as pessoas tendem a estar
preocupadas com a tentativa de descobrir por que isso aconteceu. Ten-
tar responder essa pergunta para as
pessoas é provavelmente agravar a
sua recuperação. É mais saudável admitir: "Eu simplesmente não sei".
Ao passar por crises com as pessoas, você irá observar que elas se
movem através de quatro estágios:
choque, tempestade, busca e sequela.
Choque
Inicialmente, a pessoa não consegue
entender a realidade do que aconteceu. Felizmente, Deus criou a men-
Conscientize
aqueles que
buscam a sua
ajuda de que
não existe vida sem dor.
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 11
Fé de 24 Quilates
Quilates: Tragédia e Recuperação na Vida de um Crente
te para temporariamente desligar-se
quando oprimida pela tragédia. As
pessoas pensam e às vezes dizem: "Eu
não posso acreditar que isso esteja
acontecendo". "Isto é apenas um sonho ruim". "Mais cedo ou mais tarde eu vou acordar e descobrir que isto
não é verdade". Outras pessoas podem reagir chorando alto, com fúria,
com raiva ou recolhida ao silêncio...
às vezes por horas.
A fase de choque da recuperação
da crise dura
horas, dias ou
até mais. Guerras e desastres
naturais podem
prolongar a fase de choque
por semanas ou
mesmo por meses. Durante esse tempo o ministério precisa se concentrar na compaixão e no apoio espiritual. Resistir aos esforços para explicar por que Deus permitiu que esta
tragédia acontecesse. Tais esforços só
irão alienar a pessoa de você.
rependimento. A depressão também
esgota a energia mental à medida que
ela absorve o choque de sua crise. Durante este tempo, ela precisa procurar seu pastor ou um conselheiro cristão regularmente. Pode também precisar de medicação para ajudar neste
tempo difícil.
Às vezes, amigos e entes queridos
ficam impacientes com a duração da
tempestade. O tempo de recuperação
normal para uma crise grave, no en-
chego aqui hoje. Um louco idiota me
fechou no caminho. Por um triz eu
não o pego". Ao contar a história,
você reduz a sua ansiedade.
Pesquisa
À medida que a resposta emocional
de uma pessoa para a crise se assenta, começa a etapa mais importante
do processo de recuperação. Durante os meses que se seguem, ela irá
compor uma história sobre a crise
que a deixa uma
pessoa amarga ou
uma pessoa melhor. Sobretudo,
nenhum de nós
vive com os fatos
de nossas vidas.
Vivemos com a
história que contamos a nós mesmos sobre os fatos de nossas vidas.
Vemos isso nas muitas diferentes
maneiras que crianças crescidas na
mesma família recordam sua história.
Nós não podemos mudar os fatos de nossas vidas. Felizmente podemos editar a história que contamos
a nós mesmos sobre os fatos de nossas vidas. Para os crentes, chamamos
essas histórias que contamos a nós
mesmos sobre as tragédias da vida de
teodiceias. A teodiceia é uma explicação teológica dos acontecimentos
da vida. Durante um período de tempo, conversando com Deus e conosco mesmo, chegamos a uma versão
desta história com a qual escolhemos
viver.
O papel do pastor ou conselheiro
cristão durante este período de recuperação é crítico. Nossa tarefa é assistir a pessoa que procura a nossa
ajuda a entender que o caminho que
O Senhor tem uma diversidade
de maneiras criativas que Ele
quer que a pessoa veja nas
tragédias.
Tempestade
À medida que uma pessoa começa a
se recuperar do choque e a lidar com
a realidade, suas emoções irrompem
de formas imprevisíveis. Às vezes, ela
pode se sentir culpada por maneiras
que acredita que possam ter contribuído para o seu dilema. Em outros
momentos ela pode ser invadida pelo
seu medo do futuro. Ela pode exibir
raiva intensa por outros que ela culpa pela sua situação.
Mostras de turbulência emocional
podem se estender por várias semanas ou meses. Uma pessoa pode cair
em depressão profunda expressa por
tristeza avassaladora, remorso e ar12 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
tanto, é de 1 a 2 anos. Em casos de
perda severa, onde os acidentes estranhos ou a violência tomou um
ente querido, a recuperação pode
exigir de 3 a 5 anos. Em tais casos, a
vida nunca mais será a mesma outra
vez... mas pode ser boa novamente.
Uma forma de a pessoa facilitar a sua
recuperação é processando mentalmente a crise ao recontar sua história. Isso pode fazê-la se tornar cansativa para familiares e pessoas próximas. O que realmente não ajuda no
processo de recuperação, no entanto, é dizer à pessoa: "Supere isso".
Por exemplo, suponha que a caminho da casa de um amigo alguém
lhe dá uma fechada à sua frente e
você por pouco escapa de uma colisão. Qual é a probabilidade de você
não falar a respeito disso para o seu
amigo ao chegar em sua casa? Uma
das primeiras coisas que você provavelmente diz é: "Quase que eu não
Fé de 24 Quilates
Quilates: Tragédia e Recuperação na Vida de um Crente
ela escolheu para falar a si mesma
sobre estes capítulos dolorosos não
é a única versão dos fatos. Ela pode
contar uma história diferente para si
mesma sobre estes fatos se quiser.
Nosso objetivo deve ser o de ajudála a descobrir uma maneira de ver este
capítulo doloroso sob um prisma
consistente com o amor de Deus e
seu amor por Ele. Esta tarefa pode
não ser fácil ou rapidamente alcançada, mas o futuro da pessoa está em
jogo.
O Diabo tem uma diversidade de
maneiras destrutivas que ele quer impor sobre fatos trágicos. O Senhor
tem uma diversidade de maneiras criativas que Ele quer que a pessoa veja
nas tragédias. A batalha espiritual
assola a mente do crente. O objetivo
do pastor ou conselheiro cristão é o
de ajudá-lo a escolher uma das maneiras criativas que Deus tem para ele
para colocar os fatos de suas tragédias juntos. Em nenhum lugar isto é
mais demonstrado claramente do
que na vida de José.
Os irmãos de José trataram-no de
maneira vergonhosa, vendendo-o à
escravidão e dizendo ao seu pai que
ele havia morrido. O esposa de seu
senhor o acusou de ultrajá-la sexualmente, resultando que ele fosse lançado na prisão. Entretanto, durante
o tempo em que José foi regente do
Faraó, Deus o ajudou a vencer a batalha mental a respeito de como ele
veria os acontecimentos de seu passado.
Quando a fome forçou os irmãos
de José a o enfrentarem no Egito porque era sua única fonte de alimento,
ele foi capaz de dizer-lhes: "Vinde
perto de mim". Quando haviam feito
isso, ele disse, “Eu sou seu irmão José,
a quem vendestes para o Egito! E agora,
não se perturbe e não fique com raiva de
si mesmo por ter me vendido, porque foi
para salvar vidas que Deus me mandou
adiante de vós." (Gn 45:4,5).
Observa-se que José não esqueceu
o fato de seus irmãos o terem vendido ao Egito. Entretanto, mental e espiritualmente, ele vencera a batalha
de uma forma saudável ao colocar
esta parte de sua história junto... uma
teodiceia saudável. Esta versão dos
fatos permitiu a ele estar em paz consigo mesmo e reconciliado com seus
irmãos.
Aqueles que me conhecem bem
sabem que meu nascimento causou
a morte de minha mãe. Não há como
eu possa mudar os fatos. Até entregar minha vida para Cristo, eu me
considerava o assassino de minha
mãe. Afinal, meu nascimento a tinha
matado. Entretanto, um dia, à sua
cova, eu observei que ela estava com
apenas 19 anos quando morreu. Eu
disse a mim mesmo: "É muito cedo
para alguém morrer". Então, o Senhor falou ao meu coração, "Está
certo; não só Jesus, mas também sua
mãe morreu por você. Quão valiosa
sua vida deve ser. Esteja certo de fazer isso valer alguma coisa".
Não penso mais como sendo eu
o assassino de minha mãe. Eu vejo
sua morte como acrescentando valor
à minha vida. Desde aquele dia em
que eu estive à sua cova, tenho me
motivado a tentar e a fazer diferença
na vida das pessoas.
Sequela
Este estágio de recuperação revela a
maneira com que nós finalmente
interiorizamos a crise. Durante as semanas e meses de batalha pelo nosso caminho de choque através da
tempestade e da busca, estabelecemos uma versão da história com a
qual escolhemos viver.
A forma que nós mentalmente escolhemos para gerenciar as tragédias
da vida é evidente pela nossa presença. Está registrada em nosso semblante.
As pessoas que vivem conosco podem dizer se nós temos estabelecido
uma forma redentiva ou destrutiva de
conviver com as tragédias da vida.
Elas podem dizer se nós temos encontrado cura e paz para os pesares
do passado ou se ainda estamos esfolados sob a dor.
Lembre aqueles que procuram sua
ajuda que não há vida sem dor. Entramos neste mundo através de uma
experiência dolorosa. Entre nosso
nascimento e nossa morte cada um
de nós é tentado no crisol da vida. É
por isso que o apóstolo Pedro admoesta: "Amado, não estranheis a ardente
prova que você está passando, como se
isso fosse alguma experiência anormal:
mas alegrai-vos, na medida em que sois
protetores dos sofrimentos de Cristo; para
que, quando sua glória for revelada, você
possa ser feliz também com alegria demasiada." (1Pe 4:12-13, paráfrase do
autor).
RICHARD D. DOBBINS, Ph.D.
Fundador do EMERGE e atualmente diretor do Richard D.
Dobbins Institute of Ministry, em Naples, Flórida (EUA),
fundado por ele em 2007.
Visite seu website: www.drdobbins.com
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 13
48
SOCORRENDO OS QUE ESTÃO EM CRISE:
As
Primeiras
Por JAY MARTIN
14 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
Horas
Porque as primeiras 48 horas
encerram perigo e oportunidade,
é essencial que os pastores e os
líderes da igreja deem séria
consideração a vários problemas
na preparação de suas respostas.
A
crise, ou incidente crítico, por
sua própria natureza é um
evento ou experiência humana repleta de perigo e oportunidade.
Uma crise desafia e muitas vezes contempla recursos humanos internos e
externos, causando um nível extremamente elevado de angústia.
O perigo reside na possibilidade de
que uma crise pode traumatizar uma
pessoa além de sua capacidade de se
recuperar. A consequência traz prejuízo no funcionamento ocupacional,
social, psicológico e relacional que
dura semanas, meses ou mesmo anos.
A oportunidade reside no fato de as
pessoas em crise estarem mais abertas à influência dos outros do que em
qualquer outro momento. Se as pessoas recebem uma resposta de apoio
qualitativa, a maioria irá se recuperar
mais rapidamente e alguns irão crescer com a experiência. Segundo a pesquisa, um terço das pessoas impactadas por uma crise terá seu funcionamento prejudicado por um ano ou
mais .
O que faz as primeiras 48 horas serem tão significativas? As primeiras 48
horas são normalmente um momento ideal para se ir ao encontro daqueles impactados por eventos críticos e
fornecer apoio imediato, bem como
estabelecer as bases para um futuro
ministério.
Sua meta para responder durante
este período inicial é estabelecer uma
potencial relação de cura com aqueles diretamente impactados, bem
como aqueles que os assistem. É também para comunicar de forma efetiva
a sua preocupação e vontade de prestar assistência prática imediata e suporte contínuo nos próximos dias.
Por causa das primeiras 48 horas
terem em si tanto perigo como oportunidade, é essencial que pastores e líderes da igreja deem séria consideração a vários problemas: Quem é
impactado por um evento como esse?
A que tipo de evento eu estou respondendo? Como inicio um contato melhor? Que tipo de reações posso esperar de pessoas afetadas? Como posso
me relacionar de uma forma que seja
a mais útil? Quais armadilhas eu preciso evitar? É sempre essencial eu responder dentro de 48 horas? Quando
não devo responder durante este período? Que recursos estão disponíveis?
Quem é impactado por um
evento como esse?
Um evento que afeta o indivíduo e sua
família que são membros ou participam de sua igreja é a crise mais frequente que você provavelmente enfrentará. Como seu pastor, espera-se
que você inicie o contato com aqueles impactados por esta crise. Apenas
a natureza do evento e a disponibilidade dos impactados impedirá sua
resposta.
Um evento que afeta múltiplas
pessoas e famílias além de sua comunidade, como enchente, tornado, furacão, acidente de carro, etc., torna-se
um desafio quando você não tem relacionamento estabelecido com eles.
Portanto, não pode assumir que irão
confiar em você o bastante para receber e aceitar sua assistência. Ainda
mais, você deve coordenar sua resposta com outros que estão tentando ajudar também.
Sua resposta deve lidar com o impacto do evento em sua comunidade
fiel assim como participar do esforço
pela recuperação dela.
A que tipo de evento estou respondendo?
Uma crise que acontece com um sentido de expectativa e preparação cria
desafios para seu enfrentamento e
padrões típicos de funcionamento,
mas, geralmente, não tem o mesmo
grau de impacto negativo como a crise causada pelo ser humano. Por
exemplo, a morte de alguém amado
que batalhou contra o câncer por vários anos geralmente não é tão impactante quanto a morte causada por um
motorista bêbado ou assassino.
Um desastre natural, como uma
enchente, um tornado, furacão ou terremoto, geralmente não tem um impacto poderoso como um estupro,
roubo, suicídio, tiroteio em uma escola, bombardeio ou um ataque terrorista. As reações daqueles impactados pelos últimos eventos são geralmente mais intensos e mais negativos.
As pessoas da primeira crise irão lhe
receber como um representante de
Deus, enquanto os da última crise
podem rejeitar seus esforços e possivelmente invocar reações hostis,
como, "Por que Deus deixou isto
acontecer?".
Um desastre causado por homens
geralmente envolve questões legais
que desaceleram e complicam o processo de recuperação. Pode também
estender a necessidade para um suporte e assistência contínuos àqueles
impactados.
Como melhor dou início a um
contato?
Se você já possui um relacionamento
estabelecido com a pessoa ou as pessoas impactadas pelo evento, é apropriado que se inicie um contato direto através de visitas pessoais, telefonemas, e-mail ou uma combinação
destes. Se não possui relacionamento
com elas, você deve inicialmente
contatá-las indiretamente através de
um conhecido comum ou através do
pedido de permissão via telefonema
para então encontrá-las.
Se as pessoas são impactadas por
um evento acontecido na comunidade (enchente, tornado, incêndio, etc.)
ou um evento causado por homens
(estupro, assassinato, suicídio, tiroteio, bombardeio, etc.) e você vai ao
local, deve-se iniciar um contato com
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 15
A crise, ou incidente crítico, por sua
própria natureza é um evento ou
experiência humana repleta de
perigo e oportunidade.
o chefe do incidente e expressar sua
disposição em prover assistência. Esse
contato será provavelmente a primeira pessoa a reagir, como prestador de
serviços médicos de emergência, oficial da lei, bombeiro ou agente do
governo (mais detalhes disponíveis no
curso "Introduction to Incident
Command" no site www.fema.gov
onde também fornecerá informações
sobre como melhor fornecer assistência imediata em coordenação com
outros).
As pessoas diretamente impactadas por eventos causados por homens estão geralmente preocupadas
com um processo investigativo e, portanto, indisponíveis para o contato
direto. Em tais casos, concentre seus
esforços de ajuda imediata em direção aos primeiros respondedores envolvidos no evento. Fazendo isso, você
pode obter uma visão de como melhor assistir aqueles diretamente
impactados no futuro.
Se um desastre natural impacta sua
comunidade, trabalhe com a congregação para suspender suas atividades
usuais e assim fornecer assistência prática com necessidades básicas. Os
exemplos incluem: oferecer seu esta16
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
belecimento para a Cruz
Vermelha como abrigo
ou voluntariar-se na distribuição de comida, cobertores e outros itens
para os necessitados.
Se o incidente crítico
impacta pessoas além de
sua congregação, responda como um representante do Senhor, ou como um membro da comunidade. Coordene
seus esforços com outros
ajudantes profissionais
em sua comunidade ao
invés de trabalhar independentemente. Você
obterá favor e influência
fazendo isto.
Que tipo de reação posso
esperar de pessoas afetadas?
Durante este período inicial, aqueles
diretamente impactados passarão pela
experiência de uma ampla gama de
reações. Comum a todos os eventos
estão a surpresa, a descrença, a confusão, o adormecimento, o medo, o sentimento de estar sobrecarregado e a
sensação de incerteza e de indecisão.
Se o evento for causado por homens, esteja preparado para acessos
de ira, raiva e fúria. Esta crise interrompeu abrupta e completamente , se
não destruiu suas vidas. Alguém roubou sua sensação de proteção e segurança e assaltou sua identidade. Sua
confiança na vida e em outros, até em
Deus, foi profundamente abalada, e
essas pessoas se sentem incrivelmente vulneráveis. Seu sofrimento é maior do que as palavras podem transmitir e geralmente se sentem isoladas
e sozinhas. Estão agora encarando
sonhos destruídos e problemas esmagadores ao mesmo tempo em que tentam compreender o que aconteceu. A
intensidade de suas reações é assustadora, assim como é a sua dificuldade
com pensamentos racionais, memória curta e indecisões.
Tais reações são compreensivelmente humanas e não refletem a falta
de fé ou fidelidade de sua parte. As
pessoas impactadas podem pensar de
outra maneira e ser relutantes ao se
expressarem. Espere que eles necessitem do seu sentimento de aceitação,
compreensão e reafirmação.
Como posso me relacionar de
maneira a mais útil?
O objetivo deve ser discutir a necessidade imediata das pessoas impactadas e não qualquer outra agenda.
Portanto, não queira evangelizar, fazer proselitismo ou, do contrário,
atender as suas necessidades ou de sua
congregação. Tais ações podem traumatizá-los ainda mais, fazendo-as fechar qualquer porta de oportunidade
para ministros e cuidadores de outras
religiões.
Pode-se entender também o que
nutre resiliência, isto é, o processo de
se adaptar bem em face de adversidade, trauma, tragédia, ameaças ou um
estresse significativo.
Pesquisas mostram que os fatores
a seguir alimentam a resiliência: (1)
relacionamentos carinhosos dentro e
fora do ambiente familiar, os quais
criam confiança, fornecem modelos,
encorajam e tranquilizam; (2) a capacidade de fazer planos realísticos e os
implementá-los; (3) autoconfiança;
(4) comunicação e habilidade para
resolver problemas e (5) a capacidade de administrar emoções.
O objetivo de todos deveria ser reduzir a angústia, restabelecer o funcionamento, prevenir a angústia e a
disfunção e fornecer conforto e suporte. Alguns fazem isto através da escuta ativa, a base de todos os esforços,
da validação de seus sentimentos, reações e respostas, quaisquer que forem, e de ajudar as pessoas impactadas a normalizarem suas ações. Uma
citação de Viktor Frankl pode ajudar:
"Reações anormais a eventos anormais se igualam ao comportamento
normal". Podemos também encorajar
as pessoas a normalizarem suas respostas ajudando-as a delinearem seus
pontos fortes e habilidade de enfrentamento que as ajudaram no passado. Incentivá-las a identificar os próximos passos que precisam dar para
ajudar a si mesmas e, então, a realmente dar esses passos.
Você simbolicamente representa a
presença de Deus apenas pela sua presença. Você demonstra a coragem de
presença pelo fato de estar presente
com a pessoa em crise quando a maioria se afastaria por medo ou incerteza sobre o que dizer ou fazer. Seu ministério de estar presente nos momentos os mais obscuros das crises é o ato
de carinho definitivo. Quem você é e
não o que você faz é que, sim, conta
neste momento.
Você pode oferecer a compaixão de
ouvir enquanto testemunha o sofrimento delas. Ao permitir que descrevam com suas próprias palavras o que
aconteceu e quais suas reações, você
pode dar suporte e começar a recuperar um sentimento de comando sobre suas vidas e situação. Oferecendo
empatia e validação, você permite que
comecem a se reconectar com a vida
dos outros em um ambiente seguro.
Você também pode oferecer integridade de mistério. Este aspecto é particularmente desafiador. Muitas pessoas em crise tentam fazer sentido daquilo que aconteceu e querem uma
explicação. Alguns irão repetidamente perguntar: "Por que isto aconteceu?" ou "Por que Deus deixou que
isto acontecesse?". Evite este campo
minado teológico. Enquanto se sentaram com ele em silêncio, os amigos
de Jó foram muito úteis; quando ofereceram explicações, só aumentaram
seu sofrimento. Tenha a integridade
de dizer a verdade, que é "Eu não sei".
Não existe explicação que você ou apoiá-las ao enfrentarem esta realidaqualquer outra pessoa possa fornecer de seja lá a qual for a extensão que
que irá reduzir ou extinguir a angús- tome. Com sua atitude e suas palavras,
tia das pessoas. A resposta sincera é: você pode ser um lembrete vivo de
"Às vezes a vida não faz nenhum sen- que a esperança é sempre uma escotido" ou "Esperamos entender algum lha, não apenas baseada no que alguém pode ou não pode ver no modia o que não faz sentido agora".
Você pode também oferecer hu- mento. Você pode manter a conscimildade de desamparo. Como você entização da possibilidade de novos
não pode fazer ou dizer nada que eli- inícios, novos relacionamentos, novas
mine o sofrimento das pessoas e como possibilidades no futuro quando elas
sabe que apenas Deus cura, você é li- não conseguem fazer por si mesmas.
Você pode simultaneamente oferevre para estar totalmente presente.
Convide-as a explorar e descobrir suas cer a liberdade de inadequação. A
próprias forças, perfeitas na fraqueza, conscientização de suas limitações hue a encontrar suas
próprias soluções através de sua jornada
de fé.
Você pode oferecer a graça de aceitação. Pessoas impactadas por crises geralmente reagem de maneira que parecem
estar alheia ao seu caráter. Algumas podem dizer ou fazer
coisas no calor da reação e mais tarde se
O objetivo deve ser discutir a
arrependerem. Você
necessidade imediata das pessoas
pode demonstrar a
impactados e não qualquer outra
benevolência que faz
com que lembremos
agenda
que imprudência em
palavras, ações e atitudes não prejudicam relacionamen- manas e de seu ministério de presento com Deus ou entre humanos que ça permite que seja apenas quem você
é para eles – um representante de Deus
esteja baseado no amor.
Pode também incorporar o com- e não seu salvador ou solucionador
promisso de esperança. Eventos de problemas. A percepção de que
traumatizantes roubam das pessoas a precisarão muito mais da assistência
normalidade da vida tal como conhe- que você ou sua igreja podem dar as
ceram. Elas passam pela experiência liberta para construir uma ponte para
de um profundo desespero sobre a re- outros recursos que estão disponíveis
alidade de que a vida nunca mais será para elas e para fazer encaminhamena mesma. O desespero pode ser tos apropriados para aqueles recursos
avassalador e derrotador, e pode não (Cruz Vermelha, médico da família,
ser minimizado, especialmente neste patrocinador dos Alcoólicos Anôniperíodo inicial. De fato, você pode mos, conselheiros, etc.).
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 17
Que armadilhas preciso evitar
em meus esforços para ajudar?
Não simule entender sua experiência
– aprenda com as pessoas em crise o
que isto representa para elas. Não
tome para si qualquer expressão de
raiva expressadas a Deus ou atitudes
negativas direcionadas a religiões ou
ministros – é apenas uma reflexão de
sua angústia, desilusão e desconfiança. Não seja rápido em incentivar rituais religiosos, como a oração. Antes
de orar, pergunte quais são as preocupações imediatas pelas quais desejam
orar. Não se concentre em distinções
sectárias e religiosas. Você representa
a realidade e importância da fé, independentemente de tradição.
É sempre essencial que eu
responda dentro de 48 horas?
Se não, quando não devo
responder?
Uma resposta dentro das primeiras 48
horas pode não ser ideal em algumas
situações porque pode não ser uma
opção baseada na circunstância em
que a crise se encontra. Por exemplo,
se um tornado acabou de destruir
uma área de casas, múltiplas casas,
pode não ser seguro aventurar-se nesta área devido aos vazamentos de gás,
fontes de energia destruídas e outros
perigos. A segurança pessoal é o prérequisito para se estar capaz de ajudar outros; por isso, não responda até
que esteja seguro.
Existem várias situações para as
quais você deve adiar seus esforços de
cuidado e suporte até que as pessoas
impactadas possam receber sua ajuda
de forma segura e legal. Por exemplo,
uma família de seis pessoas passou
pela experiência de um suicídio aparente de um garoto de 16 anos. Uma
ação policial está investigando para
que se elimine a possibilidade de ter
ocorrido um crime. A polícia está detendo membros da família e os inquirindo e, portanto, eles estão indispo18
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
níveis para você.
Há vezes também em que você
deve não responder durante o período inicial com base em sua situação. Seu compromisso profissional
atual pode impedir suas respostas
dentro desta janela de tempo. Por
exemplo, um acidente automobilístico acontece em uma noite de sexta-feira, impactando quatro famílias
em sua comunidade, as quais são
amigas porém não membros de sua
congregação. No sábado você tem
dois funerais durante o dia e um casamento à noite. No domingo você
tem dois cultos para conduzir, uma
classe de novos membros para ensinar e visitas hospitalares a membros
criticamente doentes. Aguardando
para iniciar um contato após o final
de semana, honre seus compromissos existentes, mantenha a integridade com as pessoas que dependem de
sua liderança e trabalhe dentro de
suas limitações.
Existem momentos em que seus
relacionamentos pessoais e responsabilidades têm primazia. Se um
membro de sua família está doente
ou em crise, se sua saúde não está
bem, ou se você tem responsabilidade de cuidar de pais idosos, então
cuidar de si mesmo e de sua família
deve ser sua prioridade. Também, se
você está exausto da combinação de
compromissos profissionais e pessoais e é incapaz de estar totalmente
presente para pessoas impactadas
por uma crise, então não responda
até que você tenha um descanso adequado. Do contrário você correrá o
risco de prejudicar ainda mais as pessoas impactadas pela crise.
Lembre-se que existem muitos
ministros e leigos que podem representar o Senhor no cuidado com os
outros. Sua esposa não tem outro
parceiro, seus filhos não têm outro
pai e seus pais não têm ninguém para
substituí-lo. Sem sua saúde, você não
consegue ajudar ninguém.
Quais os recursos disponíveis
para que eu possa ajudar as
pessoas em crise?
Há um recurso projetado especificamente para preparar você para participar efetivamente em crises, tanto
naturais quanto causadas por homens. Trata-se de uma publicação,
PRIMEIROS SOCORROS PSICOLÓGICOS, disponível no site www.ptsd.va.gov (você
pode fazer o download deste manual
totalmente gratuito). O International
Society of Traumatic Stress Studies, o
International Critical Incident Stress
Foundation, o National Center for Posttraumatic Stress Disorder e o American
Red Cross adotaram essa abordagem,
projetada para toda pessoa que participa de respostas a desastres, substituindo o CRITICAL INCIDENT STRESS MANAGEMENT como padrão de tratamento
para aqueles que experimentam incidentes críticos.
Outro recurso está também disponível para você sem custos. Intitula-se
QUALIDADE PROFISSIONAL DE VIDA, disponível no site www.isu.edu/bhstamm
(você também pode fazer o download
e imprimir para usar em múltiplas
ocasiões com estipulações claramente definidas).
O último recurso no ministério é
o exemplo da presença espiritual do
Senhor. Que nossa oração possa ser
como a que São Francisco de Assis fez
em seu coração: "Senhor, faça-me um
instrumento de Sua paz".
JAY MARTIN,
D.Min, LFTM, CT,
CFS, CEAP
Codiretor do
Oklahoma
Traumatology
Institute, em
Oklahoma City,
Oklahoma (EUA).
Enriquecimento Teológico
O Outro Lado dos Sinais e Maravilhas: Atos 3:1-10
Um Modelo de Ministério
para Todos os Tempos
Por BENNY C. AKER
A
cura do coxo registrada em Atos 3 frequentemente se torna uma espécie de mantra para
os pentecostais e carismáticos, especialmente
com relação à declaração de Pedro: "Não temos dinheiro, mas nós damos-lhe o que temos". Vários problemas
tratam crentes bem-intencionados em circunstâncias
como em Atos 3. Primeiro, a causa se torna justificativa por não haver recursos financeiros ou por não
pôr em ação recursos financeiros em um problema
físico ou social que este milagre representa. Ou, segundo, esse milagre se torna um artifício retórico (a
moldura de um sermão persuasivo) tentando incentivar os santos a crerem por sinais e maravilhas.
As circunstâncias contemporâneas que proporcionam oportunidade de replicar o milagre de Atos 3
nem sempre geram o mesmo resultado. Verdade seja
dita, os resultados raramente são os mesmos. Por
outro lado, não-pentecostais ignoram seu profundo
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 19
Enriquecimento Teológico
significado por ignorarem sua intenção ou espiritualizarem a causa.
Todos nós pertencemos ao mesmo campo: queremos fazer o que
Deus quer, mas nós nos encontramos aquém na luz de expectativas
desta passagem. Há uma lição neste
milagre para nós? Sugiro que sim. O
objetivo deste artigo é apresentar um
novo olhar para o milagre em Atos
3:1-11 e sugerir que ele seja de fato
um exemplo a ser seguido em todos
os tempos.
O Pano de Fundos
Literário,
Histórico e Social
Como os destinatários de Lucas-Atos teriam entendido esse relato de cura?
lógico de Lucas/Atos e Lucas o baseia na promessa de Deus a Abraão.
Este é o escopo da nova aliança.
A maior parte da atividade de
Atos 2 ocorre no dia de Pentecostes
(vv. 1-41). Nos versículos 37-41,
Lucas resume o que havia acontecido naquele dia. Os versículos 43-47
resumem o que aconteceu nos dias
subsequentes. Observe as perspectivas do tempo nestes dois parágrafos:
em 2:41, Lucas tem "naquele dia" (en
th hmera ekeinh), com
ênfase "naquele dia".
Isto denota que o escritor olhou para trás
naquele dia com significado especial. Mas,
no parágrafo seguinte,
Lucas simplesmente
usou referências de tempo gerais
para relacionar outros eventos, sem
descrição específica, nos dias posteriores ao Dia de Pentecostes – versículos 46, 47, "diariamente" (kaq
hmeran). Esses acontecimentos foram maravilhosos e milagrosos, mas
enfatizaram os resultados da ação de
Deus através das mãos de Seus apóstolos com o poder do Espírito.
É importante observar que Atos
3:1 começa com aquela distinção de
assuntos e pessoas. Decorrentes dos
resumos do capítulo 2 sobre o início da nova era sob a nova aliança, o
capítulo 3 serve como um modelo
distinto para o ministério nesta nova
era escatológica de Jesus e do Espírito. Lucas desacelera e explode uma
imagem de um desses incidentes maravilhosos para começar a mostrar
como os crentes deveriam proceder
em relação ao ministério neste novo
tempo. Porque isso é o primeiro incidente descritivo no esquema de
Atos seguindo o histórico da vinda
do Espírito, isso torna-se típico; ou
seja, ele fornece um modelo, indicando a natureza do ministério da
nova aliança – a idade de Jesus e do
Esta cura do coxo ocorre logo após a
vinda do Espírito Santo no capítulo 2
e flui como resultado desta vinda.
A LITERATURA
Considere as seguintes observações
sobre a estrutura literária dessa passagem. Nós precisamos ver a forma
como Lucas, sob a inspiração do Espírito, estruturou Lucas e Atos 1 para
entender como essa história se encaixa dentro do esquema de Lucas.
A estruturação de Atos feita por
Lucas, especialmente para o texto em
relevo, requer que o intérprete preste atenção ao foco narrativo para
cada unidade até Atos 3.
Esta cura do coxo ocorre apenas
após a vinda do Espírito no capítulo
2 e flui a partir dos resultados que
daí advêm. Atos 1 conecta o Evangelho de Lucas e o Livro de Atos e serve como uma introdução a Atos.
Atos 2 é o episódio paradigmático
que fornece a base estrutural para a
missão de Deus em Atos. Este capítulo é significativo porque fala da
conclusão do ministério de Jesus em
relação à chegada de uma nova aliança – especialmente destacando a
chegada do Espírito – o componente final e a chave para a obra de Deus
20
no mundo. A vinda do Espírito sinaliza que os últimos dias chegaram
e que os crentes devem proclamar o
Evangelho até os confins da terra.
Atos 2 apresenta o relato da vinda do Espírito em plenitude – a terminologia de Lucas (At 2:4). O Evangelho de Lucas faz um relato do trabalho de Deus em Cristo, Seu Filho,
o Messias prometido. A obra de Jesus, o Messias, traz à fruição o segundo pacto prometido – baseado na
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
promessa de Deus a Abraão – que o
seu prodígio iria abençoar todas as
nações. Uma grande parte dessa aliança pertence à presença e obra do
Espírito. Ezequiel 36:24-27 torna
isto claro (ver também Jr 31:31-34).
Mas o Espírito ainda não havia chegado, muito embora a obra de Jesus
estivesse quase acabada. Ela não foi
concluída até que Ele ascendesse à
destra do Pai, no trono, de cuja posição de autoridade Ele enviou o Espírito. Isso explica a vinda do Espírito em Atos 2 – Ele veio porque Jesus
terminou Seu trabalho e então entregou o Espírito em Sua plenitude.
Esta é a resposta que o sermão de
Pedro oferece.
O Espírito veio em Sua plenitude
porque Jesus havia terminado Seu
trabalho e estava começando sua
missão escatológica global. Esta é a
função de Atos 2 – a obra de Jesus
está concluída, a nova aliança está
totalmente em vigor, e Jesus, como
Senhor, envia Seu Espírito para conferir poder a Seus apóstolos para que
levassem o Evangelho a todas as nações e plantassem congregações sadias. Este é o forte impulso missio-
Enriquecimento Teológico
Espírito. A partir desse relato, tomamos conhecimento do que Deus
considera importante.
A DIÁSPORA HISTÓRICA
Também é importante olhar para o
contexto histórico de Atos 3. De particular interesse são as diásporas (dispersões) dos israelitas no Antigo Testamento. Diáspora é a palavra em inglês para um método um tanto violento de julgamento usado por Deus.
A palavra diáspora descreve antigas
técnicas políticas e
campanhas de guerra em que o rei conquistador levava os
povos conquistados
para longe de sua
pátria para prevenir
de qualquer outro
problema posterior, entre outras formas de sujeição. A primeira diáspora
ocorreu quando Deus julgou as tribos do Norte, geralmente referidas
como Israel, pelo seu grave e contínuo pecado de idolatria. Deus usou
os assírios para conquistar e levar os
cativos de volta para sua pátria. Mais
tarde, várias diásporas ocorreram
quando os babilônios conquistaram
as tribos do Sul, conhecidas como
Judá. A última ocorreu por ocasião
da queda de Jerusalém em 587/86
a.C.
40 em diante, Isaías fala deste tempo em termos de um novo êxodo,
uma nova criação. A linguagem que
os escritores usavam para descrever
o primeiro êxodo torna-se a linguagem para o "novo" êxodo , um tempo de salvação de Deus.
NOVA ALIANÇA, SINAIS E
MARAVILHAS
Não só Isaías fala do novo êxodo, o
modelo de salvação escatológica,
como de uma nova aliança que,
Pedro acrescenta "sinais" ao citar Joel
(At 2:19).
"Sinais e maravilhas", baseado especialmente na linguagem de Êxodo
e de Deuteronômio, torna-se o termo bíblico técnico para o poder de
Deus na salvação ao libertar povos
da opressão do pecado. Está sempre
associado nas Escrituras desta maneira e torna-se o termo que associa o
poder da aliança de Deus com Sua
atividade miraculosa de salvação e
missão.
O profeta Malaquias nos informa
que o novo êxodo
ainda não tinha
acontecido, pois o
povo nesta época
estava ainda em
grande pecado e,
juntamente com Isaías 40, fala de um
novo mensageiro da aliança que ainda estava por vir. João Batista, que se
refere a estes versículos identificando a si próprio e à sua missão, é o
indício de que este novo êxodo está
à mão. De fato, Jesus é o “EU SOU”
de Isaías que vem para resgatar Seu
povo e fazer brilhar uma luz para os
gentios. Ele é o Bom Pastor que vem
para reunir suas ovelhas oprimidas
e alienadas. Ele faz sinais e maravilhas e sobretudo a expiação. Ele é
Aquele que batiza no Espírito.
Esta é a cena de Atos 2 e nosso
milagre no capítulo 3. Atos 2:22-24
claramente se refere a estas atividades. O versículo 22 denota em particular que "Jesus de Nazaré foi um homem acreditado por Deus para vós por
milagres, sinais e maravilhas, o qual
Deus realizou entre vós por meio dele."
O milagroso (sinais e maravilhas)
em Atos 3 é o que Deus faz em missão. Na verdade, o tema “Novo
Êxodo” forma todo o Livro de Atos
– Lucas propositadamente moldou
o livro de Atos para mostrar a consequência da nova aliança, novo êxodo
As pessoas frequentemente associam
coxeadura com cegueira para descrever
os povos oprimidos e marginalizados
que precisam da libertação de Deus.
NOVO ÊXODO
Os profetas do Antigo Testamento refletem a angústia de Deus por Seu
povo pecador e sua contínua obstinação. Isaías especialmente prega
contra a idolatria de Israel e outros
pecados, mas promete um tempo em
que Deus viria de novo e o levaria
para o deserto. Os filhos de Israel iriam preparar um caminho para Ele
no deserto. Isaías 40 sugere que este
seria um tempo longo (ou seja, "os
que esperam no Senhor [pela sua libertação da dispersão]"). Do Capítulo
como uma aliança eterna, ancora e
guia esta nova salvação. Jeremias e
Ezequiel aderem explicitamente à
pregação contra os pecados de Israel
e Judá, mas estendem-se sobre essa
nova salvação e nova aliança (Jr
31:31ss; Ez 37:26,27), e o novo
êxodo como salvação. Enquanto a
nova aliança sustenta a natureza de
Deus e a fidelidade das antigas alianças, novos e significativos acréscimos pertencem à atividade expiatória de Jesus e da vinda do Espírito
Santo para salvar e conferir poder às
pessoas para servirem na missão de
Deus no mundo. Isaías particularmente enfatiza isso – além de trazer
a salvação ao povo judeu, uma luz
iria brilhar para os gentios – a missão de Deus iria incluí-los – e eles
iriam morar junto como os redimidos judeus e gentios. Joel 2:28-32
transporta este tema no imaginário
do novo êxodo, especialmente no
versículo 30, onde ele usa primeiro
a linguagem do êxodo: "sinais e maravilhas". Embora não esteja presente em Joel, a palavra "sinais" está implícita em sua estrutura paralela e
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 21
Enriquecimento Teológico
e missão de Deus para o mundo.
COXEADURA – O FOCO DA
ATIVIDADE SALVÍFICA DE DEUS
A questão do homem coxo em Atos
3 também é significativa. As pessoas
frequentemente associam coxeadura
com cegueira para descrever os povos oprimidos e marginalizados que
precisam da libertação de Deus.
Mateus 21:14 ilustra isso: “Os cegos e
os coxos vieram a ele no templo, e ele os
curou”. Mas um anfitrião em outras
condições de opressão, com cegueira e coxeadura, descreve pessoas em
circunstâncias terríveis aguardando
libertação de
Deus e
22 • Recursos Espirituais | JULHO
JUNHO2011
2011
poder missional. Em todos os casos
nos Evangelhos, pessoas nestas condições receberam a atenção de Jesus.
Mateus 15:30 atesta: "Grandes multidões aproximaram-se dele,trazendo os
coxos, os cegos, os aleijados, os mudos e
muitos outros, e pô-los a seus pés; e ele
os curou". Jesus se concentrava em
pessoas aprisionadas a essas doenças, e Lucas/Atos eleva em âmbito
literal e tipológico a necessidade do
poder de Deus na missão da Igreja.
Na igreja primitiva (no período apostólico), os coxos se tornaram tipos
Pedro e João empregam
uma abordagem
apropriada com base no
Evangelho e radicada no
amor de Deus para os
marginalizados
de pessoas marginalizadas à espera
do Evangelho.
Promessas do Antigo Testamento para este tipo de atividade abundam e servem como diretivas para o
futuro, quando Deus inaugura Seu
plano para as etapas da vida. Atos estabelece a agenda de Deus para esta
atividade, a qual é fundamentada em
textos e promessas do Antigo Testamento.
Jesus compreendeu o Seu ministério (Lc 4:18,19) em termos de
Isaías 61:1,2 e 58:6 estar no contexto do novo êxodo. Lucas, especialmente, fornece a imagem mais clara
destas conexões. Em Lucas 4, na rejeição de Jesus em Nazaré, Lucas fornece um relatório extenso do sermão
de Jesus naquele lugar. Mateus e Marcos deixam de fora o Seu sermão e
os textos
Enriquecimento Teológico
de Isaías e simplesmente fazem referência à Sua rejeição. Lucas enfatizou
que o Espírito Santo estava sobre Jesus: Ele foi ungido para pregar as
Boas Novas aos pobres, proclamar a
liberdade aos prisioneiros, trazer a
vista aos cegos, libertar os oprimidos,
realizar sinais e maravilhas como evidência de que o Reino estava próximo, e que o novo êxodo havia chegado. Isaías 35:6 também aparenta
ter sido influente: "Então o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo
cantará de alegria.
Águas transbordarão na
selva e córregos no deserto." Os judeus compreenderam este texto
m e s s i a n i c a m e n t e,
cumprindo a restauração de Israel na
nova aliança – era escatológica. O homem coxo pulou de alegria depois
que foi curado em Atos 3.
"Quando o dia de Pentecostes tinha
chegado completamente" (At 2:1, paráfrase do autor) aponta para a chegada plena do plano de Deus com a
vinda do Espírito. Este foi o último
de uma série de atividades divinas
combinadas que culminaram na
efetivação do plano. A cura do coxo
captou a essência daquele plano na
história – a atenção de Deus para este
coxo se torna um modelo para Sua
invasão dos povos e sistemas opressores e marginalizados na história.
"Coxeadura", enquanto descreve de
uma forma literal a condição desta
pessoa, torna-se algo muito maior.
Ela serve como uma imagem tipológica de pessoas e grupos de pessoas oprimidas e marginalizadas.
nificativamente para a compreensão
de seu significado. Na Bíblia, os escritores originais levaram em consideração que seus ouvintes/leitores
abraçaram o mesmo mundo social
que eles e não deram nenhuma explicação sobre sua matriz social. Por
isso é importante para leitores posteriores tentarem recuperar esse pano
de fundo tanto quanto possível, pois
isto influenciou o significado de textos escritos, não menos do que o texto à mão e o evento em que este coxo
O agrupamento básico era familiar naquele parentesco pertencente
às conexões biológicas. Famílias nucleares, famílias expandidas e clãs
formavam tais relações de parentesco. Enquanto algumas diferenças
existiam entre gregos, romanos e judeus, todos os grupos tinham a mesma orientação básica – parentesco.
Além disso, a identidade de cada pessoa era proveniente do seu grupo –
não de seu próprio eu. Naquele caso,
sentimentos de autovalor e de identidade vinham da
afirmação do grupo – não de seu
feito individual.
Honra e vergonha governam todos os
comportamentos.
O SOCIAL
O pano de fundo social refere-se particularmente à recuperação de informações sociais que os insights antropológicos fornecem. Este tipo de exploração ajuda a recuperar a matriz
de um texto literário e contribui sig-
foi curado.
Foi um ato subversivo quando
Deus curou o coxo na era da nova
aliança dentro do templo à porta
chamada "Formosa".
PARENTESCO
Culturalmente falando, todas as sociedades antigas eram orientadas
pelo parentesco. Isto significa muitas coisas. Relacionamentos formados e grupos sociais humanos controlados; eles eram a base de todas
as culturas. Nós chamamos este tipo
de estrutura social de parentesco. O
termo descreve a ideia básica nestes
relacionamentos – de sangue ou laços biológicos. Enquanto essas sociedades sustentavam fortemente laços de sangue, elas tinham meios
pelos quais forasteiros poderiam ter
o mesmo tipo de relacionamento. O
instrumento pelo qual isto era feito
era a adoção. Quando usavam este
tipo de ação, eles chamavam o relacionamento de parentesco de fictício. Esta é a forma de entender nosso relacionamento um com o outro
e com Deus, a considerar que somos
todos irmãos e irmãs em Sua família, a Igreja.
HONRA E VERGONHA
Honra e vergonha governam todos
os comportamentos. O grupo espera que cada pessoa esteja em conformidade com as leis, costumes e tradições do grupo. Nos dias de Jesus,
receber o reconhecimento positivo e
afirmação do grupo de alguém equivalia a receber honra. Honra é um
reforço positivo das expectativas de
um grupo. Receber o input negativo
é vergonhoso, um reforço negativo.
Uma vez que honra e vergonha são
uma questão de cultura particular de
grupo, tudo transparece na esfera pública. Todos os níveis da sociedade,
especialmente os aristocratas (elite)
que pensavam que eram mais desejáveis que quaisquer propriedades ou
dinheiro oferecidos, altamente buscado depois da honra.
SISTEMA DE PATROCÍNIO
Pessoas basearam uma parte significativa desta sociedade de honra/vergonha em retribuição entre as classes mais altas e as mais baixas. A classe média virtualmente não existia.
Isto ficou conhecido como um sistema de patrocínio. Juntamente com
o imperador romano e os membros
do senado, além de outros com eles,
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 23
Enriquecimento Teológico
incluindo proprietários de terra
em todo o império, a classe aristocrata – elite (estimada em torno de 3% da população) deteve
todo o poder e riqueza.
Embora tivessem todo o poder, eles dependiam das classes
mais baixas para sustentar sua
riqueza, razão por que tinham
que assegurar sua existência. Fizeram isto distribuindo apenas
o suficiente para as classes mais
baixas – trabalhadores livres, escravos, mulheres e comerciantes
(no topo da classe mais baixa)
para subsistir. A classe mais alta
(elite) neste sistema de patrocínio eram os patronos; a classe
mais baixa, que dependia deles
para sua subsistência, eram os
clientes. Os aristocratas (elite)
desejavam honra (retribuída) e
os clientes eram aqueles que se
beneficiavam de seus patrocínios e davam (isto é, retributivamente) sua honra em uma
configuração pública, tal como
nas celebrações comunitárias e
na época de contrato no mercado (ver Parábola dos Trabalhadores na Vinha, em Mt 20:1-15).
Os ricos construíam edifícios públicos como templos e sinagogas (o judeu rico por si só
era patrono (elite), assim como
os romanos). Eles exibiam seus
nomes em lugares conspícuos
de forma que as pessoas continuamente lhes tributariam honra.
Todo mundo podia ver que
esta pessoa era generosa e assim
recebia grande honra. Desta forma, o povo a chamava de benfeitor.
Uma outra pessoa neste sistema de patrocínio era um corretor que intermediava tratos entre um patrono e um cliente.
Esta é a configuração da cura do
24 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
Foi um ato subversivo, quando Deus curou o coxo
na era da nova aliança dentro do templo, à
porta chamada "Formosa".
coxo registrada no capítulo de Atos.
IMPLICAÇÕES
A Natureza Subversiva do Evangelho
Atos 2, um episódio paradigmático, contém em si elementos subversivos. Atos
2:5-11 encerra uma lista de pessoas de
nações ao redor do mundo romano. O
Enriquecimento Teológico
governo romano, em sua propaganda, desfilava seus talentos e controle
pelo mundo ao listar as pessoas que
havia conquistado. Aquele grupo
que habitualmente dava problema a
eles eram os partos, o primeiro grupo listado em Atos 2:5. Os romanos
não puderam listar este grupo. Implicações disto são: o que o poder
romano não pôde fazer – Deus pôde
e fez – mas por meios completamente diferentes. Sutilmente de forma
subversiva de reino Deus conseguiu
fazer o que Roma não
pôde e de maneira diferente. A cura do coxo
em Atos 3 é, analogamente, subversiva.
Enquanto não estava claro que este homem era um pária, como o eram os
leprosos, ele ainda pertenceu aos
marginalizados da sociedade e foi ridicularizado por sua cultura. Enquanto mendigo, ele serviu de cliente às elites que vinham em seu caminho para o templo. Ele tinha que ser
carregado para e de seu lugar de mendicância por várias pessoas. (O verbo é plural em 3:2 -"colocavam-no diariamente no porta", tradução do autor).
Esses amigos colocavam o coxo
ao lado do porta do templo chamada "Formosa", onde o tráfego era
intenso. A subsistência desta pessoa
dependia do desejo da elite de receber honra. Cada vez que alguém lhe
dava uma moeda, essa pessoa receberia honra pública – o coxo estava
preso neste sistema e não tinha saída. A cultura o havia congelado neste sistema, para o qual não havia escapatória. Ao continuar a doar como
patronos, seu desejo por honra mantinha o coxo encarcerado em sua
opressão.
As pessoas aceitavam o destino
muito embora desse honra e mostrasse a crueldade dos outros. Quan-
do Pedro e João vieram por seu caminho para o templo como ministros cheios do Espírito Santo na nova
aliança, eles ofereceram pela primeira vez um raio de esperança para ele
– e para todos. Esta cura iria confrontar e mudar o sistema, além de fornecer uma nova cultura de comunidade na qual todos os seus membros
tinham o mesmo status e eram aceitos com honra.
Pregar o Evangelho na era da nova
aliança inclui a realidade da liberta-
víduos – uma outra maneira de dizer honra (o Reino tem seu próprio
sistema de honra também conhecido como glória). Deus recebe honra
ao estender a salvação e integridade
(física, social e bem-estar espiritual)
– não por meio de oprimir as pessoas.
A abordagem do mundo ainda
era a mesma, mas com o novo êxodo,
o (ex) coxo estava cantando louvores a Deus que o levantara e lhe dera
grande honra. O status alterado do
coxo estava manifesto no templo – cultura de Deus – os apóstolos recebendo o
homem curado. Eles
não estavam com receio de tocá-lo – um
sinal de aceitação social – quando
eles pela primeira vez o abordaram
(3:7). A alegria agora preenchia a
nova pessoa, e ele acompanhou os
apóstolos (v. 8) andando, saltando
e louvando a Deus.
Observe, no entanto, a natureza
da subversão de Deus. Ele não faz
isso de uma forma política ou má –
antes, Ele faz isso com a mais elevada integridade. Ao invés de abordar
a situação como uma questão política ou social (os primeiros cristãos
não tinham voz no governo), Pedro
e João empregam uma abordagem
apropriada com base no Evangelho
e radicada no amor de Deus para os
marginalizados, embora as autoridades prevalecentes do templo oferecessem respostas ameaçadoras à pregação do Evangelho.
Além disso, Lucas não era contra
ajudar os pobres e oprimidos através de outros meios, tais como dar
esmolas. O Antigo Testamento, o Judaísmo, Jesus e Seus seguidores
apoiam esta atitude benevolente. Ao
tomar conhecimento do milagre nesta forma, a cura do homem em Atos
3 enfatiza que o Evangelho promo-
O Cristianismo desafiou os sistemas
políticos romano e judaístico,
cultural e religioso.
ção como salvação e seu resultado –
a alegria. Muitas vezes ela tomou a
forma de cura, como aconteceu aqui
em Atos 3, mas sempre estava incluída uma elevação no status. Esse homem já não era mais coxo ou marginalizado – o Evangelho não tinha
apenas o libertado, mas tinha lhe
atribuído um sobre-passo social – no
Reino.
O Evangelho tinha invadido a sociedade do mundo de uma forma
subversiva e ameaçado o controle das
coisas. O restante do capítulo 3 confirma isso – o milagre trouxe tanto
espanto (isto é, a maravilha do milagre chamou a atenção de forma
grandiosa) e oposição. A elite, religiosa ou secular, já não conseguia obter a sua honra social/cultural tirando vantagem desta pessoa desamparada (coxo desde o ventre de sua
mãe).
O Reino de Deus não funciona
daquela forma. Ele não usa técnicas
de autopromoção para fazer avançar
sua própria agenda da mesma forma que a cultura do mundo daquele dia e do nosso faz. O Reino traz
plenitude e bondade para seus indi-
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 25
Enriquecimento Teológico
ve uma mudança notável em, e eleva para, os marginalizados e pecadores. Isto está em contraste gritante
com as situações religiosas e culturais do dia.
O Cristianismo desafiou os sistemas políticos romano e judaístico,
cultural e religioso. Por um lado, o
sistema romano prevalecente havia
influenciado as autoridades judaicas.
Mas, há muito tempo atrás, a idolatria de Israel havia causado o afastamento do Espírito de Deus do templo em Jerusalém.
Ezequiel 8ss chama
essa partida de Icabode
– A Glória se Foi. Mas
o Espírito voltaria um
dia – na nova aliança,
no novo templo. O Espírito retornara
ao templo em Atos 2 – desta vez o
templo consistia do povo redimido
(incluindo agora o homem curado e
não mais marginalizado) de Deus;
eles haviam orado e recebido o Espírito à sombra do templo construído por mãos herodianas e romanas. Foi um ato subversivo, quando
Deus curou o coxo na era da nova
aliança dentro do templo, à porta
chamada "Formosa".
uso desta metáfora instrui a todos
nós sobre o papel fundamental do
corretor e mediador mencionados
acima.
Em Atos 3, o Evangelho é o meio
pelo qual todos os pecadores são trazidos de volta a Deus. É Jesus e Sua
obra que ligam um mundo pecaminoso a um Deus santo. Jesus é o Corretor no decurso dos Evangelhos. Entretanto, os apóstolos (e todos os
crentes) são corretores menores (mediadores) quando pregam o Evange-
vo e relevante ao mesmo tempo, o
líder/crente do século 21 deve ser
destemido e espiritualmente discernente. Esta verdade é fundamental e progressiva, com ênfase em todo
treinamento e exercício de habilidades, e isto deve ser intencional.
Nós somos pessoas do Espírito e
devemos crescer continuamente no
âmbito espiritual através de orações,
jejum e leitura da Bíblia. O resultado do crescimento espiritual é viver
e ser liderado pelo Espírito – para
usar o termo de
Lucas – "cheios do Espírito". Como líderes,
devemos olhar para
Deus para nos relacionarmos com o
mundo e olharmos para Ele para ajudar na avaliação de nossa cultura – o
Reino (regra de Deus) é fundamentalmente subversivo.
Devemos direcionar nossos recursos para onde eles serão os mais eficazes – para aqueles que são ridicularizados, marginalizados e feridos.
O coração do Evangelho é missional
– o centro da salvação é a redenção e
libertação de todas as pessoas.
Finalmente, as pessoas de Deus
devem fornecer uma comunidade do
Reino onde justiça e retidão prosperam, onde todas as pessoas encontram perdão e aceitação (ênfase nos
relacionamentos), onde todas as pessoas são iguais no status, e onde amor
e cuidados funcionam. Em resumo,
a comunidade de crentes deve estar
em processo, servindo de instrumento de Deus através do qual Ele traz
pessoas feridas para a plenitude.
O coração do Evangelho é missional –
o centro da salvação é a redenção e
libertação de todas as pessoas.
UM MODELO DE MINISTÉRIO
Deus trabalhou subversivamente
através de Pedro na cura do coxo,
mas em uma outra forma Ele falou à
cultura de forma relevante. Pedro
rompeu as normas culturais de seu
dia quando tais normas contribuíram para o alívio do pecado e do sofrimento humano.
Ao mesmo tempo, Pedro usava
uma metáfora para comunicar que
o novo êxodo é a única solução para
os problemas culturais de hoje. Os
apóstolos sabiam que tinham que se
relacionar com a cultura enquanto
subvertiam seu déficit de pecado básico. Na metáfora, os apóstolos se colocaram a serviço do Evangelho. O
26 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
lho ("Nós não temos dinheiro, mas
temos, na realidade, Jesus"). Este é o
cerne da questão e isto é o que torna
a Igreja missional.
Este evento de cura/salvação
tipifica a natureza da obra salvífica
de Deus no mundo e flui para fora
da nova aliança. Deus não somente
expia pelos pecadores, mas os liberta da consequência do pecado. O
Senhor ressurreto e a atividade do
Espírito implementaram e direcionaram esta era da nova aliança.
O mais alto componente nesta
nova era é o Espírito. Ele é o mais
preocupado com os marginalizados,
doentes e oprimidos. Este também
deveria ser o máximo na mente de
líderes de igreja em nossa era póscristã e além. Antes de qualquer outra coisa, nós devemos harmonizar
nossa teologia (convicção) e costume para este fato. Para ser subversi-
BENNY C. AKER, PH.D,
Professor emérito de Exegese do Novo Testamento, AGTS
(Assembly of God Theological Seminary), Springfield,
Missouri (EUA).
E OS MAIORES DESAFIOS DO CUIDADO PASTORAL D
Prontos ou não, o aconselhamento para crise nos encontra como
pastores, e leva tudo o que conseguimos reunir para encará-lo.
Por JAMES D. BERKLEY
M
uitas pessoas alimentam um
conceito irrealista sobre a
vida de um pastor. Ouvir deboches do tipo "Ah! Você só
trabalha uma vez por semana" é o conceito bizarro de que pastores levam uma vida
enclausurada e resguardada, longe das realidades deslumbrantes da existência a que
a maioria das pessoas resiste. Pessoas há
que supõem que os pastores despendem
seus dias em reflexão quieta, em um resplandecente doceticismo pastoral. Estas
pessoas acreditam que os pastores parecem
apenas estar neste mundo e não poderia
possivelmente receber cotoveladas ou se
machucar com arranhões como elas.
Tais pessoas acreditam que os pastores
bebem chá em seus serenos e benignamente luxuriantes gabinetes entre pensamentos sublimes na maior parte da semana.
Eu me lembro de haver conhecido o filho de um membro da igreja em uma ocasião social. Ele era um promotor adjunto,
e, naquela época, eu era voluntário como
capelão da polícia local. Aproximamo-nos
imediatamente e estávamos tendo um momento agradável a contar histórias sobre a polícia e os tribunais. Então sua mãe, andando ao redor,
ouviu parte de nossa conversa. Horrorizada, ela gentilmente repreendeu
seu filho promotor por me dizer sobre tais leviandades. "Ele não quis
pensar sobre essas coisas terríveis", ela repreendeu, "ele é um ministro".
Em outras palavras, "O que ele saberia ou se importaria com as coisas
desagradáveis sobre este mundo que o restante de nós vive?".
"Muito!" eu poderia ter dito. "Desde quando me tornei pastor, estou
sendo puxado para uns dos incidentes mais escuros, tristes e violentos da
vida das pessoas. Longe de estar protegido das realidades duras da vida,
eu as trago até mim em vertiginosa carreira". O que eu deveria ter dito
para aquela mãe é, "os pastores são chamados nas crises". Faz parte do
pacote quando Deus nos chama para sermos pastores que tratam as feridas das ovelhas.
Um dos meus escritores seculares favoritos é Ivan Doig, que tece histórias coloridas baseadas em sua infância em um rancho de ovelhas da família em Montana. Em sua biografia, ESSA CASA DO CÉU, ele conta sobre
seu cuidado com as ovelhas em um verão: "Não houve uma partícula
sequer em todas essas milhas de alcance em que uma ovelha pudesse se
esfregar e um ataque de carrapatos estava começando a causar coceira
debaixo de sua lã... As ovelhas estavam rolando no chão para se coçar –
rolando tanto que as levou para longe, fazendo com que não pudessem
se levantar e, dentro de minutos naquele calor, sua dificuldade de levantar iria levá-las à morte. Tivemos a perspectiva de infinitos cadáveres inflados em torno de nós".
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 27
Uma crise. Pelos 14 dias seguintes ele
continuou a patrulha ostensiva entre suas
ovelhas e freneticamente ajudava-as a levantar sempre que uma rolasse. Esse é o
trabalho de um pastor de ovelhas. A crise
naturalmente os encontra e eles improvisam um plano de intervenção pelo bem da
ovelha. E assim fazem os pastores.
Todo pastor poderia relembrar histórias tristes como essas:
• Uma doce ex-rainha do baile vai
para a faculdade. Uma terrível transformação acontece e ela se lança de um viaduto.
Alguns minutos depois sua mãe passa pelo
mesmo viaduto para visitar sua filha.
• Um pai jovem e sadio é acometido
por um tumor cerebral e outro e mais outro. Ele aguenta firme cirurgia após cirurgia, procedimento após procedimento.
Então, sua filha mais nova contrai leucemia.
• Um casamento aparentemente normal se destrói quando uma sequência de
infidelidades aparece. O padrão do marido se torna contínuo e frequente e a humilhação da esposa e a sensação de traição quase a sufocam.
Pastores podem não apenas contar tais
histórias, como também se tornar participantes nesses eventos juntamente com a
expectativa das pessoas de que eles podem
fazer alguma coisa para ajudar a trazer algum tipo de bálsamo, cura e palavras de
esperança. Enquanto outros leem ou fofocam sobre tais acontecimentos e talvez alguma vez já tenham tido essa experiência ,
os pastores entram nestas situações várias
vezes por ano, possivelmente centenas de
vezes durante sua vida de ministro.
Os pastores, em sua maioria, não são
altamente treinados como conselheiros. Eu
me formei em psicologia na faculdade e
tive algumas aulas de aconselhamento. Mas
trabalhar com ratos em caixas Skinner e ler
um ou dois livros dificilmente me prepararia para aconselhamento em tempos de
crise. Eu esperava que a maioria dos pastores se sentisse inadequada como eu com
essa tarefa. Nós trabalhamos em tempo
real: aprendemos ao longo da jornada.
Deus de alguma maneira nos usa e nós adquirimos a experiência como treinamento
durante o trabalho.
28
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
Como a maioria do ministério, as intervenções de crise não
deve ser sobre nós, sobre a nossa necessidade de resgatar
as pessoas, sobre a nossa necessidade de provar o nosso
valor ou sobre a nossa necessidade de ser bem sucedido.
Enquanto não há um diploma avançado em "crisiologia" para o Espírito
trabalhar através de nós, não nos custa darmos ao assunto um pouco de
reflexão. Assim como a maioria das pessoas tem um extintor de incêndio
em sua cozinha porque querem estar preparadas para o fogo, é recomendável que pastores pensem um pouco sobre a crise antes que o telefone
toque e que tenham que correr pela porta com sua Bíblia em mãos para
ajudar alguma ovelha a se virar e a ficar novamente em pé.
Em 1989, tive a oportunidade de me consultar com alguns excelentes
conselheiros sobre crise – ambos pastores de congregação e conselheiros
cristãos profissionais. A Christianity Today, Inc., havia feito uma pesquisa
sobre que crises que demandam o cuidado pastoral e que os pastores
consideram mais difíceis. Fiquei encarregado de destilar a sabedoria de
especialistas nos nove maiores desafios dos cuidados pastorais: conflito
matrimonial e divórcio, má conduta sexual, violência e abuso domésticos, homossexualidade, doenças e lesões graves, a morte de uma criança,
a morte de um cônjuge, suicídio e problemas com drogas e álcool.
O livro de liderança CALLED INTO CRISIS (que pode ser baixado pelo site
www.ChristianityTodayLibrary.com) resultou em fornecer uma visão no
aconselhamento em tempos de crise em geral e como lidar com vários
tópicos em particular. A seguir estão algumas das lições que aprendi e
comuniquei neste processo, e ainda uma atualização para circunstâncias
particulares em que pastores se encontram hoje.
MODO DE CRISE
No centro de uma crise está a sensação de se perder o controle. Quando
alguém se sente no controle, até mesmo um problema grande ou difícil
pode ser resolvido rotineiramente. Mas quando sentimos que não estamos
mais no controle, entramos em crise. Por exemplo, dirigir em uma rodovia com chuva e com visibilidade limitada é mais difícil, mesmo com o
motor ligado. Quando o sinal de trânsito fica vermelho, no entanto, e
pisar no freio não faz nenhuma diferença porque o carro está em
aquaplanagem, o motorista está em uma crise. Durante a crise, o mecanismo de enfrentamento pode não funcionar quando a vida de alguém
está fora de controle. Muitas vezes as pessoas batem literal e figuradamente.
É quando os pastores se fazem necessários.
Quando um pastor adentra uma situação de crise, é necessário que
faça algumas avaliações rápidas.
Esta crise é resultado de fatores reais ou imaginários?
Aqueles que se observam estar em crise, de fato estão, mas é útil para os
pastores saberem o que está por trás dela. Uma mulher repetidamente
chamava a polícia porque extraterrestres estavam tentando roubar seus
pensamentos lançando feixes de luz pela sua janela. Alguém adivinharia
que a crise desta mulher era imaginária – embora provasse ser facilmente
resolvida quando um policial desconfiado adverte-a pedindo para cobrir
sua janela com papel alumínio para refletir os raios. Mas quando fui chamado para confortar uma família cujo filho tinha sido eletrocutado em
um estranho acidente rural, não havia nada de imaginário nesta circunstância. É sobretudo útil ter conhecimento dos fatos de uma situação.
Que história a pessoa traz para a crise?
Pessoas passam por experiência em diferentes níveis de estresse e capacidade de lidar com a situação. Uma mulher que acabou de perder o emprego, de enterrar seu pai e acabou de ver seu marido ir embora é suscetível de responder com a possibilidade de ser presa de forma diferente de
uma mulher que está no topo do mundo. As experiências da vida e os
traços de personalidade capacitam alguns a lidarem melhor que outros.
Algumas pessoas tiram proveito de uma placa em cima da mesa dizendo:
"Posso lidar com qualquer coisa, menos com a adversidade".
Nossa fé cristã e maturidade espiritual geralmente têm maior impacto
em nossa habilidade de lidar com as situações. Ajuda se um pastor puder
olhar através da bagunça imediata e enxergar quais recursos ou obrigações uma pessoa traz para a situação.
Que apoio a pessoa tem?
Um dia a polícia me chamou em um condomínio. Esperavam, com um
homem idoso, o legista retirar o corpo de sua esposa que havia morrido
de repente. Este novo viúvo não tinha igreja, tampouco pastor. Não conhecia seus vizinhos. Havia perdido contato com sua família, tendo se
alienado dela por anos. Não tinha filhos. Não tinha amigos. Ele e sua
esposa haviam estreitado seu círculo apenas em torno de si próprios e
agora ela havia partido. Finalmente, ele sugeriu que eu ligasse para seu
corretor de valores. Aquele era o único número que ele tinha. Era trágico
– aquele homem estava em crise. Obviamente, quanto mais perto de uma
rede de apoio que uma pessoa esteja, maiores são suas perspectivas de
gerenciar uma crise.
©2006 George Crenshaw
Quais os sintomas presentes?
Certamente uma hemorragia ou uma parada cardíaca sinalizam uma crise, porém há mais sintomas psicológicos sutis que também podem ser
indicativos: dores de cabeça, vômitos, hiperventilação e pânico são alguns exemplos. O humor também é um indicador – este inclui o sentimento de se estar sobrecarregado, sem esperança, abatido, arrasado, desesperado ou agitado. Na pior de suas manifestações, os sintomas da crise
são: alcoolismo, depressão e desespero, como exemplos. Enquanto os sin-
tomas agudos precisam de cuidado, os sintomas geralmente apontam o problema
subjacente.
Duas questões fundamentais persistem.
A primeira é: De quem é o problema? Os
pastores são sábios para lembrar que Deus
e o participante são os únicos detentores
do problema. Os pastores podem ajudar,
mas não é bom assumir para si o problema. Um pastor da Califórnia disse: "Se as
pessoas tentassem entregar o problema
para mim, eu devolveria e diria: 'É seu.
Como posso te ajudar com isso?'".
A segunda questão é: Por que estou fazendo isto? Como a maior parte do ministério, a intervenção da crise não deve estar
em nós – nossa necessidade de resgatar as
pessoas, de provar nosso valor ou de sermos bem-sucedidos. Pular para dentro de
uma crise não é fácil. É confuso e arriscado. Muita coisa é desconhecida. Uma crise
toma tempo e pode ser inconveniente.
Pastores não fazem aconselhamento
para crise para seu próprio benefício. Fazem-no para ministrar e servir outros. Deus
chama pastores em tempos de crise para
cuidar das ovelhas que Ele ama. As ovelhas, algumas vezes, precisam de uma mão.
A REALIDADE DE HOJE
Desde que escrevi CALLED INTO CRISIS, quase
2 décadas foram gravadas na paisagem cultural. Enquanto Deus e Sua Palavra entregue pelo Espírito Santo permanecem firmes, a sociedade mudou, os costumes sociais foram reescritos, e as atitudes sociais
se afastaram das atitudes cristãs. Isso significa que a imagem e o papel do pastor
como conselheiro de crise está em um solo
mais frágil do que estava na década de 80.
Quando um pastor adentra
uma situação de crise, ele
precisa fazer algumas
avaliações rápidas. Fazer
perguntas o ajudará decidir
como desembaraçar
emaranhados de fatos.
Você promete amá-la e protegê-la na saúde ou
na doença, até que o convênio médico o faça?
Por exemplo, notei que enquanto revia
uma crise que intervim há 30 anos eu me
relacionei com uma mulher jovem perturbada de maneira que hoje não seria prudente: dirigindo com ela sem ninguém no
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 29
carro, me encontrando com ela sozinhos,
trazendo-a para nossa casa para ficar brevemente comigo e com minha esposa.
Minha conduta era inocente: nada impróprio aconteceu. Mas uma boa política
de conduta sexual desaprova tal prática
para evitar um dano ou a oportunidade de
suspeita ou falsas acusações que poderiam
facilmente acontecer por causa de uma atitude inocente. Hoje, ser platônico, piedoso, e bem intencionado não cola. Infelizmente, os pastores devem ser mais cautelosos.
Aqui estão algumas outras influências
da sociedade de hoje que afetam a intervenção da crise.
Pós-Cristandade
Há pouco tempo atrás os valores culturais
e valores cristãos eram os mesmos. Este não
é mais o caso. O Cristianismo não é mais a
tendência. Muitas pessoas não entendem
o Cristianismo. Os cristãos – e especialmente pastores – são geralmente mal-entendidos, senão alvo de desconfiança. Há
algum tempo os pastores podiam esperar
um pouco de respeito, honra e confiança,
porém não podem mais adentrar uma crise assumindo tais vantagens.
Desde que me tornei pastor,
tenho sido levado a atender
pessoas com os mais
tenebrosos e desoladores
incidentes em suas vidas.
Pós-cristandade também significa que os
valores básicos de uma pessoa podem estar em desacordo com o Cristianismo.
Tome a valorização da vida, por exemplo.
Não é todo mundo que pensa que suicídio deve ser impedido. Ouvimos histórias
de multidões gritando: "Pula! Pula!" para
uma potencial vítima de suicídio que está
no alto de uma laje. Os pastores não podem esparar que as pessoas compartilhem
valores cristãos.
JAMES D. BERKLEY, D.Min.
Diretor de questões
ministeriais dos
Presbiterianos para
Renovação.
30
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
Pós-modernismo e Desconstrucionismo
Estes termos tratam de como as pessoas pensam, o que é muito diferente
de o que elas estão acostumadas a ser. Respostas racionais e lógicas não
carregam mais o mesmo peso. Verdade e significado estão em disputa –
antes, efêmera e sem valer a pena se preocupar, alguns dizem. Reações
que uma vez poderiam ser efetivas em responder questões fundamentais
de pais sobre o problema do mal na morte de uma criança agora caem
em ouvidos mistificados. Ler uma passagem da Bíblia sobre o amor inabalável de Deus pode também provocar um: "E daí?". Para muitos, "sua
verdade" pode ser muito diferente da "minha verdade". Também há uma
grande indiferença sobre a verdade. Os pastores não podem assumir que
estas pessoas irão automaticamente ressoar com os tipos de ajuda que
têm sido tradicionalmente providenciados.
Individualismo e Intitulação
As pessoas se tornaram extremamente individualistas, desejando estilizar
a religião para que combine com suas fantasias pessoais. Elas esperam
selecionar sua experiência com Deus da mesma maneira que fazem o
pedido de seu café preferido. Enquanto são constantemente barradas pelos slogans da adversidade, essas pessoas também se sentem no direito de
ter prazer e realizações constantes, onde a frustração e a decepção são
certas na vida real em um mundo decaído. Como resultado, elas se preparam para uma grande caída.
Quando muitos atingem a crise inevitável, não se ligam no benefício
de um clássico cuidado pastoral. Os pastores que mergulham em crises
podem primeiramente precisar entender como mergulhar em seu “sistema de fiação”, o qual é diferente de nossa maneira de pensar. Podemos
assumir que algumas pessoas reagirão contra a fé implícita em nossa ajuda.
Relativismo Moral
Hoje, as pessoas consideram imoral pastores que mantêm romances com
um membro da congregação – não porque viola os padrões sexuais definidos por Deus – o que é dificilmente o segundo pensamento – mas por
causa do poder desigual no relacionamento. As pessoas podem não concordar que a infidelidade sexual por si só seja errada, fazendo com que
seja difícil recolher os cacos após a situação. Elas podem considerar Deus
o vilão se a esposa morre de alcoolismo. Neste caso, o pastor deve lidar
com a raiva do viúvo contra Aquele que é capaz de curar sua dor.
O "cônjuge" o qual a morte causa a crise pode ser do mesmo sexo ou
apenas um parceiro com quem vive. Os pastores não podem mais assumir que as pessoas estarão na mesma página com eles em relação ao
comportamento moral.
Enquanto a cultura se modifica, Deus não; tampouco Seus mandamentos e promessas. Aqueles que se perguntam se Deus existe, aqueles
que debatem Sua vontade para suas vidas, aqueles que são criativos em
moldar deuses falsos para que se encaixem em seus próprios propósitos
– entram em crise e podem, por fim, passar pela experiência da crise de
fé, que é uma das maiores crises. Estas pessoas – confusas e viradas de
ponta-cabeça, zangadas e perdidas, caídas e enganadas – continuam a ser
o objeto do amor de Deus. Também continuam a ser objeto de nosso
cuidado em tempos de crises, um cuidado mais difícil por causa de seus
desafios, porém necessário.
Para aqueles que são chamados em tempos de crise, a verdadeira compaixão cristã encontrará um caminho.
Excelência
na
Oração
Por George Wood
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 31
Rumo à Excelência
NÃO IMPORTA NOSSA IDADE, NOSSOS ANOS
DE SERVIÇO CRISTÃO, NOSSA MATURIDADE
NO MINISTÉRIO, SEMPRE PRECISAREMOS
CONTINUAR CRESCENDO NO EXERCÍCIO E NA
DISCIPLINA DE ORAÇÃO.
ERNEST S. WILLIAMS FOI SUPERINTENDENTE GERAL DAS
ASSEMBLEIAS DE DEUS de 1929 a 1949. Pessoas em todas
Assembleias de Deus o amavam e respeitavam profundamente
por sua humildade, sabedoria e santidade. Anos antes de se tornar nosso líder, ele tinha sido um dos professores da minha mãe
na Escola Bíblica.
E
u gostava de ouví-lo orar. Tinha uma rica e profunda voz
de barítono que poderia cortar o nevoeiro. Como um jovem casal a pastorear nossa primeira (e única) igreja, minha esposa e eu viemos
da Califórnia para Springfield para
uma visita. O irmão Williams estava
com seus 90 anos. Fomos chamados
em sua casa humilde. Nós só queríamos obter sua bênção e sua oração.
Foi um momento comovente e memorável. Que experiência poderosa
de nossa parte ouvir a abordagem de
um santo senhor acerca do Trono da
Graça.
Eu nunca ouvi o apóstolo Paulo
orar, mas a Bíblia me permite voltar
através de 20 séculos para ouvir no
meu espírito como ele orava. Quero
especificamente me concentrar em
sua oração em Efésios 3:14-21 : "Por
esta razão eu me ajoelho diante do Pai,
de quem toda a sua família no céu e na
32 • Recursos Espirituais | JULHO 2011
terra toma o nome. Oro para que fora
de suas gloriosas riquezas que ele possa
fortalecê-lo com poder pelo seu Espírito
em seu ser interior, para que Cristo habite em seu coração através da fé. E oro
para que você, estando arraigados e estabelecidos no amor, possa ter poder, juntamente com todos os santos, compreender a largura e o comprimento, e a altura, e a profundidade que é o amor de
Cristo, e conhecer este amor que excede
todo o entendimento – que você possa
ser preenchido com a plenitude de Deus.
Ora, àquele que é poderoso para fazer
infinitamente mais do que tudo o que
pedimos ou pensamos, segundo o seu
poder que está operando dentro de nós,
a ele seja glória na igreja e em Cristo
Jesus por todas as gerações, para todo o
sempre! Amém".
Não importa nossa idade, nossos
anos de serviço cristão, a nossa maturidade no ministério, sempre precisaremos continuar crescendo no
exercício e disciplina de oração. Neste
artigo, quero incentivá-lo, enquanto
cumpre o chamado de Deus em sua
vida, a ser uma pessoa comprometida com a excelência em oração.
À medida que entramos na oração de Paulo, deixe-me observar duas
coisas: sua postura e seu prefácio.
POSTURA
Na oração dos judeus, ficar de pé é a
postura normal (Mt 6:5; Lc 18:11,13).
Ajoelhar-se, porém, é a forma mais
intensa de oração. Encontramos o ato
de ajoelhar em tempos de crise nas
seguintes circunstâncias:
• Salomão se ajoelhou na dedicação do templo (1Rs 8:54).
• Jesus se ajoelhou no Getsêmani
(Lc 22:41).
• Estêvão se ajoelhou em seu martírio (At 7:60).
• Pedro se ajoelhou no leito de
morte de Dorcas (At 9:40).
Rumo à Excelência
• Paulo se ajoelhou em sua oração de despedida dos
anciões de Éfeso (At 20:36) e novamente em sua despedida na praia de Tiro (At 21:5).
Paulo disse, "Por causa disso me ponho de joelhos" (Ef
3:14, ênfase minha). Esta é uma dica para o fervor de
uma oração eficaz. Um dos pais da igreja primitiva colocou assim: "Ajoelhando, nós demonstramos a plena for-
(vv. 3,4,6,9). O "mistério" é que a igreja – composta de
gentios e judeus – poderia tornar conhecida a sabedoria
multiforme e de múltiplas faces para governantes e autoridades no reino dos céus.
Em linguagem clara, Paulo está dizendo: "Antes de
iniciar minha oração, me permita dizer o que está por
trás disso. A igreja tem o nome de Deus nela. Nós somos
assembleia de Deus. A igreja é Seu orgulho e Sua alegria".
A primeira coisa que mostrarei a vocês
quando visitarem meu escritório serão as
pinturas a óleo de cenas de missionários
penduradas em minha parede. Para mim,
são obras-primas. Paulo está dizendo:
"Deus quer exibir Sua igreja na categoria
de seres celestiais e dizer, 'Esta igreja aqui
embaixo – é minha obra-prima!'".
Mas quantas vezes a igreja partiu o coração de Deus? Ele quer que os arcanjos
olhem para Sua obra-prima; mas quando levanta a igreja para exibi-la, ela está
cheia de divisões, mesquinhez, disputas
desnecessárias, egoísmo e falta de oração,
evangelismo e compaixão, além de cuidados para com relação às preocupações
que estão no coração do Pai.
Toda igreja Assembleia de Deus local
deve mostrar a glória e a sabedoria do Pai
à sua comunidade, à sua cidade. Uma
igreja dividida ou derrotada não é um boa
referência para o Rei dos reis. Mas, oh, que gloriosa é
uma igreja que adora, evangeliza, discipula, é compassiva e que, sobretudo, ora.
O apóstolo Paulo tem uma visão grande da igreja – e
devemos ter também. A igreja é o templo, a habitação do
Deus vivo. E, porque as autoridades celestiais estão olhando a igreja (acrescentamos – o mundo e nossa comunidade estão olhando para a igreja) – essa se torna a razão
que fortalece nossa oração. "Oh Jesus, ajude-nos a anunciar o mistério que está se tornando conhecido, o de que
Tu estás fazendo uma igreja gloriosa a partir de um povo
maltrapilho; a partir dos pobres, dos ricos, dos intermediários; a partir do branco, do negro, do vermelho e do
amarelo; a partir dos jovens, dos de meia-idade, dos idosos; a partir dos brasileiros e dos americanos, dos árabes
e dos judeus. A igreja, oh, Jesus, é Sua obra-prima."
Portanto, a postura e o prefácio da oração de Paulo
nos levam à intensidade de três petições que ela traz, as
quais resumimos em três palavras: poder, compreensão e
crescimento.
Paulo está dizendo:
“Antes de iniciar
minha oração, me
permita dizer o que
está por trás disso.
A igreja tem o nome
de Deus nela. Nós
somos assembleia
de Deus.
A igreja é Seu orgulho e Sua alegria.
ma da oração. Não devemos simplesmente inclinar nossas mentes para a oração, mas também nossos corpos.
Fazemos bem em diminuir os nossos corpos para que
não se crie uma impressão de elevação ou uma aparência de orgulho".
Jesus "posto em agonia, orava mais intensamente" (Lc
22:44). O que aconteceria em nossas vidas, nossas casas
e nossas igrejas se nos ajoelhássemos e orássemos mais
veementemente – indo além do hábito e da rotina da
oração – para uma oração fervorosa?
PREFÁCIO
Paulo começa dizendo, "Por causa disso me ponho de joelhos" (Ef 3:14, ênfase minha). Qual a razão? Qual a razão que o leva a orar? É a frase que ele também usa em
3:1, "Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo..."
De alguma maneira Paulo conecta a razão – o prefácio – a toda a oração a seguir. Paulo une aquela "razão"
à palavra mistério que é citada quatro vezes em Efésios 3
JULHO
JUNHO2011
2011 | Recursos Espirituais
• 33
Rumo à Excelência
PETIÇÕES
1. Poder. "Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos
conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito
no homem interior; Para que Cristo habite pela fé nos vossos
corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor"
(Ef 3: 16,17).
Pense em si mesmo estando numa sala de ginástica
flexionando-se em uma barra paralela. O problema: em
um curto momento você perde sua força. Você precisa de
força não só para segurar mas também para apertar mais
forte. É por isso que dizemos, "Segura!", quando estamos
quase caindo.
Como você, oro por várias pessoas. Ao longo dos anos,
minha lista diária de orações cresceu para mais de 250
pessoas. Coloquei a oração de Paulo sobre minha lista e
percebi quão oportuna sua oração é – por causa de tantas pessoas em minha lista, incluindo a mim mesmo,
precisamos que nossas mãos sejam fortalecidas pelo poder do Espírito. Aqui estão algumas amostras de pessoas
por cujo poder eu oro diariamente:
• Um novo crente que acabou de sair das drogas e
teve problemas com a lei;
• Várias lutas com doenças terminais;
• Plantadores e revitalizadores de igreja:
• Cônjuges recentemente enlutados e passando por
um momento de grande dor;
• Pais de crianças deficientes;
• Pessoas aprisionadas por sua fé;
©2010 Paul F. Gray
Quero que vocês saibam que eu sempre
estarei aqui, à vossa disposição, isto é,
das 08:00h às 17:00h. Depois disso,
chamem o 190.
34
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
• Desviado que se voltou para fé na prisão;
• Outros servindo no perigo da noite e do dia por
causa de religiões hostis;
• Alguns lidando com tormento em sua própria
família;
• Casais com dificuldades no casamento ou com
os filhos;
• Crentes encarando grandes tentações e estresse;
• Uma esposa ou filhos lidando com as ruínas
emocionais e espirituais de um romance ilícito ou de
um novo casamento do marido.
Um marido passando pela dor de seu divórcio disse:
"Não é fácil ver um amigo casando com a mulher que
foi minha esposa por 17 anos. Vê-la vivendo na mesma
comunidade, trabalhando no mesmo distrito e ver seus
filhos expostos a duas filosofias distintas de vida não é
fácil. Nem sempre gosto das oportunidades que Cristo
me disponibiliza, em que eu testemunho do amor que
cura e perdoa. O amor que é para o meu quebrantamento,
quando, entretanto, eu permito, ele cura".
Qual é a resposta para estes amigos, estes irmãos e
irmãs em Cristo pelos quais oramos? É essa – que irão
fortalecer seu poder. Que irão tocar as riquezas – os recursos – de Deus, o que resultará em que seu interior se
torne forte; onde Cristo fará morada em seus corações
através de sua fé.
Um acidente de carro logo após seu casamento fez
com que minha ex-aluna ficasse permanentemente cega.
Ela olhou para a frente e juntamente com seu marido se
tornou missionária e, anos depois, veio a falecer devido
a um câncer. Em seu funeral, recitei um poema que ela
tinha escrito alguns anos antes:
“Se eu desistisse, como poderia me encarar,
E como teria colocado tantas Escrituras na prateleira?
Uma desistente ou vencedora eu posso ser,
E Deus deixou a escolha para mim.
Eu pergunto: Podemos ainda sorrir quando recebemos notícias ruins sobre nossa saúde? Podemos
aguentar firme quando um ente querido vem a falecer? Podemos viver com bom humor? Podemos
permanecer fiéis em nosso posto de serviço, mesmo quando é difícil?
Você está fraco? Cansado? Estressado? Prestes a
desistir? Existe Alguém que está pronto para lhe
ajudar através do Espírito em seu interior”.
O Espírito ora através de nós e intercede por nós com
palavras que não podem ser articuladas em nossa lín-
Rumo à Excelência
gua. Temos um Intercessor nos céus que está à direita do
Pai suplicando por nós (Rm 8:26,34). O resultado do
fortalecimento do Espírito é que Cristo está firmemente
estabelecido em nossas vidas e ministérios.
O que vai
conquistar
esta
geração
não é outra
coisa senão
uma igreja
que move
na
presença e
no poder
do Espírito
Santo.
2. Compreender. "Para que Cristo habite pela fé nos
vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em
amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o
entendimento" (Ef 3:17-19)
Paulo não só ora por nós para que tenhamos um poder forte. Ele também ora para que tenhamos grande compreensão. Amo a oração da garotinha: "Querido Deus,
eu aposto que é difícil para o Senhor amar todo o mundo no mundo todo, pois existem apenas quatro pessoas
em nossa família e nunca consigo fazê-lo".
Anos antes de ter escrito esta carta aos efésios a partir
de uma prisão em Roma, Paulo já havia levantado e
pastoreado uma igreja em Éfeso por 2 anos e meio. Durante esse período, ele enviou cartas à igreja de Corinto
que foi assediada com todos os tipos de problemas e
orgulho. Ele disse, em 1 Coríntios 13, o que estava faltando em sua comunidade. Ela não estava arraigada e
fundamentada em amor.
Esta é sempre uma palavra séria às igrejas pentecostais
e carismáticas porque, em nosso desejo pela restauração
e presença de charismata, podemos ser tentados a construir com base nos dons e não no Doador; no sensacional acima da ética ou da moral; no sucesso e nos números em lugar do amor.
• Se falarmos em línguas mas não tivermos amor,
é apenas uma dor de cabeça barulhenta para Deus, um
bronze que ressoa ou o clangor de um címbalo;
• Se entendermos todos os mistérios e conhecimentos mas não tivermos amor, somos deixados com
egos enormes e personalidades abusivas.
• Se podemos profetizar e pregar sem amor, devemos então arrumar as coisas e irmos embora.
• Se temos fé para mover montanhas mas sem
amor, temos uma fé sem amor. Que bem há em ministério com objetivos, focado e dirigido com sucesso porém
sem amor?
• Se dermos tudo, mas não o fizermos com a motivação do amor, que bem há?
• Mesmo se entregarmos nossa vida por Cristo,
tornando-nos mártires – mas o fizermos sem amor, não
ganhamos nada.
Mas quando estamos arraigados e fundados no amor
– então podemos...
Compreender a amplitude de Seu amor é vasto. Começa antes da corrente do tempo e flui para o oceano da
eternidade. Não é um amor estreito. Abrange todas as
etnias, todas as idades, masculino e feminino. Não existe uma única pessoa que Deus não ame.
Compreender a duração de Seu amor é longo. O compositor escreveu bem:
"Se pudéssemos encher os mares de tinta,
E os céus fossem feitos de pergaminho,
E cada graveto neste mundo se tornasse uma pena
de escritor, e todo homem,um escriba por profissão, e escrevêssemos sobre o amor de Deus,
Secaríamos os oceanos;
E os rolos não poderiam conter todas as palavras
Ainda que se estendessem de um extremo ao outro do céu".
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 35
Rumo à Excelência
Compreender a extremidade de Seu amor é profundo. Aprendi um hino maravilhoso no seminário e nunca mais o ouvi. Samuel Trevor Francis é o compositor.
Em uma noite fria de inverno, em um momento da vida
quando sua fé vacilou, ele se encontrou andando pela
Ponte London's Hungerford. Remoendo sua tristeza e
solidão, ouviu um sussurro tentando-o a acabar com sua
angústia e a pular nas águas agitadas.
Felizmente, Francis não deu atenção àquela voz. Ao
contrário, ouviu as palavras reconfortantes de Deus falando com ele naquela noite. Naquela ponte, ele reafirmou sua fé em Jesus Cristo e então escreveu: "Ó profundo, profundo amor de Jesus, vasto, imensurável, ilimitado e livre!".
Que o Espírito nos ajude a compreender a largura,
comprimento, altura e profundidade do amor de Cristo
que O trouxe dos palácios de marfim para um mundo
de horror, em uma manjedoura de Belém, numa pequena vila de Nazaré. Cruz do Calvário cruel e o túmulo
vazio na Páscoa. Que possamos dizer como Paulo, "Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente,
nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Rm 8:38,39).
3. Crescimento. "E qual a sobrexcelente grandeza do seu
poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força
do seu poder" (Ef 3:19)
Não há oração já emoldurada que tivesse um pedido
mais ousado. Colocando a plenitude de Deus dentro de
você e de mim é como tentar colocar um oceano em um
dedal. Como acontece esse processo? Através do Espírito
Santo.
Quando foi pela primeira vez a Éfeso, Paulo encontrou uns 12 discípulos (At 19:1). Tiveram uma experiência incompleta. Foram salvos. Estava do lado de dentro
da porta, mas não estavam fazendo avanços no sentido
de ganhar a cidade. Paulo perguntou, "Vocês receberam o
Espírito Santo quando creram?" (v. 2).
Há muita conversa hoje sobre igreja emergente. Percebi que em toda geração a igreja deve encontrar meios
de alcançar as pessoas enquanto permanecem fiéis às doutrinas apostólicas. Porém, o que irá alcançar essa geração
é uma igreja que se move na presença e no poder do
Espírito Santo. A pergunta que devemos continuamente
fazer é simplesmente aquela que Paulo fez em Éfeso:
"Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?".
Quando uns 12 receberam e foram batizados no Es36
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
pírito Santo com a evidência do falar em línguas, a restauração chegou em Éfeso. Em pouco tempo toda a cidade foi sacudida. Uma igreja pentecostal que não cresce e
não evangeliza é, em termos, uma contradição. O Pentecostes diz respeito a ser cheio para ser habilitado como
testemunha. Mas Paulo sabia que estar cheio do Espírito
não era apenas uma experiência de uma única vez. Quando lê os últimos dois capítulos e meio de Efésios, você
pode ver que os crentes batizados no Espírito ainda eram
forçados a crescer. Era dito o que deveria ser posto para
fora e o que deveria entrar. Paulo advertiu-os a estarem
continuamente cheios do Espírito e a orarem em Espírito em todas as ocasiões, com todas os tipos de orações e
pedidos.
Não importa a nossa idade, nossos anos de serviço
cristão, a nossa maturidade no ministério, sempre precisaremos continuar crescendo porque, mesmo se formos
cheio do Espírito agora, ainda não estaremos cheios com
toda a plenitude de Deus. Ele é infinito e capaz de nos
dar mais; e somos expansivos e capazes de receber mais.
O JÚBILO NO FINAL
O poder. A compreensão. O crescimento. Mas não é tudo.
Ele é "poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente
além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que
em nós opera" (Ef 3:20). Pense nisso – "Abundantemente
além."
Ficaria feliz se o Senhor respondesse minha oração e
então adicionasse mais um centímetro de resposta. Melhor ainda, 12 centímetros. Ainda melhor – um metro.
Que tal uma fita métrica completa de 6 metros de resposta além de meu pedido? Posso medir todas essas coisas. Mas Paulo disse: "Abundantemente além." Permitanos acreditar que o Senhor opera quando oramos por
poder, compreensão e crescimento.
Orações grandiosas conduzem a grande poder – "Ele
é poderoso", Paulo disse. Grande poder conduz a grandes
louvores. "A Ele seja glória na igreja em Jesus Cristo, em
todas as gerações, para todo o sempre. Amém." (Ef 3:21).
THOMAS TRASK
Presidente das Assembleias de
Deus norte-americanas
Springfield, Missouri (EUA).
Corra Bem... Termine Bem/Por Scott Hagan
Abstinência de Reclamação:
Líderes Otimistas Superam a Distância
O
pulso de Miriã ficou com
os batimentos acelerados.
O seu e o meu também ficariam. Prestação de contas era uma
coisa, mas ter o Todo-Poderoso, pessoalmente, dando uma advertência
e deixando-a leprosa, era completamente outro tipo de experiência.
Em um minuto Miriã estava exercendo sua "licença-família" ao criticar seu irmãozinho adulto, Moisés.
No minuto seguinte a sua pele verde-oliva foi tomada de lepra. (Ver
Nm 12).
Miriã acreditava que a queixa
aberta contra Moisés nada mais era
que uma preocupação legítima. Afinal, um etíope tinha invadido seu círculo íntimo. Sentindo-se fora de seu
lugar, Miriã viu a mulher de Moisés
como uma fora-da-lei em vez de propriamente uma cunhada. Nem mesmo seu amor por seu irmão poderia
pôr freio em sua língua. Sua boca
procurou fazer o que não poderiam
os exércitos Faraós: abater Moisés.
Com a ajuda de seu irmão mais novo,
Aarão, os dois vulcões entraram em
erupção. Então, de repente, seus dois
irmãos – Moisés e Arão – olharam
horrorizados como o Deus que destruíra o Egito agora enfrentava a sua
irmã.
Mas a negatividade comendo o
seu caminho através de Israel, como
um câncer fulminante, não foi iniciada pelo discurso destrutivo de Miriã.
Aquele era, na verdade, o segundo estágio.
A verdadeira história começou
dias antes. Números 11:01 nos diz:
"Aconteceu que o povo começou a queixar-se das suas dificuldades aos ouvidos
do Senhor. Quando ele os ouviu, a sua
ira acendeu-se e fogo da parte do Senhor
queimou entre eles e consumiu algumas
extremidades do acampamento." (NVI).
Moisés orou e o fogo desapareceu.
Mas o problema da reclamação não
havia acabado. O versículo 4 nos diz:
"Um bando de estrangeiros que havia
no meio deles encheu-se de gula, e até os
próprios israelitas tornaram a queixarse, e diziam: Ah, se tivéssemos carne para
comer!".
Observemos que o espírito crítico em Israel começou na periferia, ou
nas beiradas do acampamento. É aí
que o primeiro fogo cai. A Bíblia chama os principais instigadores de
"bando de estrangeiros" – um termo interessante. Isso significa "multidões
misturadas". Eles eram aqueles que caminhavam juntamente com Israel
para o Êxodo, não porque amavam a
Deus, mas apenas por causa de sua
aversão e ódio em relação a Faraó.
O bando de estrangeiros não estava comprometido com Jeová ou
com Seu povo; eles só queriam ficar
livres do Egito. Por ser este o motivo,
viviam nos arredores do acampamento. Adoração era o que havia de
mais distante em sua mente. É irônico que a reclamação começou lá.
É também onde a negatividade geralmente começa na vida de um líder... nas bordas sem sentido e nas
trivialidades periféricas da vida e da
liderança. É nos arredores ociosos do
coração de um líder onde ele é mais
vulnerável. O inimigo quer desfazer
a fecundidade e o corpo do líder e
abater sua força tentando-o com padrões de negatividade.
Nós deslizamos para este padrão
como líderes quando choramingamos por coisas casuais. Nós não percebemos que, uma vez não controlado, o choramingo pode resultar em
JULHO 2011 | Recursos Espirituais
• 37
Abstinência de Reclamação: Líderes Otimistas Superam a Distância
um surto de lepra na liderança.
Satanás adora apanhar líderes em
armadilhas em suas bordas negativas.
Uma vez que se estabelecem, essas
bordas consumirão a face mais interior da vida do Reino.
Ministros podem ser os piores
transgressores. Às vezes, agimos tal
qual o bando de estrangeiros do Antigo Testamento. Criticamos o sermão e o terno do outro colega de ministério. Damos tiro no Conselho da
to nos faz responsáveis, como fez
com Miriã, para falar contra aqueles
que amamos e contra aqueles a quem
lideramos.
Deus quer nossas bordas limpas,
mas Ele também exige que sejamos
bem-sucedidos nos relacionamentos
essenciais em nossas vidas. Deus feriu Miriã com lepra porque ela se permitiu tornar-se negativa no que tange aos relacionamentos familiares.
Por alguma razão, os líderes ten-
Líderes otimistas parecem liderar
por toda a vida. Líderes que murmuram, não importa quão trivial possa
parecer em seu discurso, geralmente
desaparecem com o tempo. As pessoas não fazem nenhum uso da
negativi-dade, especialmente as encontradas em seus líderes; querem ser
inspiradas positivamente.
O ministério é muito parecido
com o maná; às vezes ele se apresenta sem graça e repetitivo. Há espaço
A Bíblia toda consistentemente ensina acerca da
existência de dois grupos distintos fora da comunhão
que Deus tenciona ter com o povo de Sua aliança.
igreja, no gramado do vizinho; todas
bordas claras da vida que realmente
não têm nenhuma relação com o Reino. Afinal de contas, é apenas uma
borda ociosa. Ademais, Deus sustenta um líder responsável pelas suas periferias pessoais, onde as coisas triviais da vida existem. Esta é a forma
mais comum que um líder permite a
deterioração de sua influência – desperdiçando suas energias e palavras
em assuntos da vida sem qualquer
importância.
Encontramos a próxima fase onde
um líder sabota sua sustentabilidade
na liderança em ações de Miriã. Na
esteira das bordas caídas de Israel, as
relações dentro da estrutura de liderança de Israel azedaram. Isto permanece verdade até hoje; só temos um
momento difícil reconhecendo-o.
Por alguma razão, muitos líderes,
como Miriã, sentem-se na liberdade
de criticar aqueles mais próximos a
eles na liderança. Mas o Espírito San38
• Recursos Espirituais | JULHO 2011
dem a seguir o mesmo padrão. Choramingamos com coisas sem importância tão facilmente quanto lamentamos a respeito das coisas mais valiosas.
Há uma regra tácita na liderança
que parece dar credibilidade a este
tipo de padrão. Uma rápida olhada
em Números 14 mostra-nos que, de
repente, toda a nação de Israel começou a murmurar. Esta é a consequência natural quando nossa borda e nosso foco se corrompem com
sentimentos e palavras negativos.
Tudo vai mal.
Esta é uma realidade poderosa na
liderança: o todo é o resultado da
borda e do núcleo.
suficiente para se obter uma borda
ociosa. Há também uma enorme
pressão em nossos relacionamentos
executivos – aqueles com quem vamos ombro a ombro na batalha. É
muito fácil tornar-se negligente e casual e fazer-se de ofendido com aqueles que mais amamos.
Líderes sustentáveis mantêm seus
corações limpos em ambos os espectros – a borda e o núcleo. Eles percebem que há muita coisa em jogo...
que o todo permanecerá saudável ou
será vencido pela murmuração que
pressiona contra eles a partir da borda e do núcleo.
Portanto, é tempo de abster-se de
reclamação.
SCOTT HAGAN
Pastor-Presidente da Mars Hill Community Church, das
Assembleias de Deus de Sacramento, Califórnia (EUA).

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