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YUNY
A
R E V I S T A
D A
Y U N Y
I N C O R P O R A D O R A
BAIRRO
Vila Olímpia, novo polo de negócios
de São Paulo cresce e aparece
CULTURA
Entrevista com Heitor Martins,
presidente da fundação
Bienal, e Fernanda Feitosa,
organizadora da SP-Arte
ANO 1 | REVISTA NÚMERO 02
1
REVISTA
OUTUBRO 2010
PARA UMA PESSOA, É CEDO.
PARA A YUNY, 14 ANOS significam TEMPO
SUFICIENTE PARA MOSTRAR A SUA VOCAÇÃO DE
FAZER MUITO E FAZER CADA VEZ MELHOR.
Vocação. É isto que faz com que algumas pessoas e empresas consigam destaque
em seu foco de trabalho antes das outras. Quando nasceu, em 1996, a Yuny sabia
exatamente o que queria fazer, como fazer e qual a sua verdadeira vocação.
Passados 14 anos, a vocação da Yuny de fazer pensando em cada
detalhe pode ser medida pelos metros quadrados construídos,
pelas parcerias firmadas, pelos empreendimentos lançados
e, fundamentalmente, pela satisfação de cada cliente.
E como fazer mais e melhor é a vocação da Yuny.
Que venham os próximos 14 anos. Estamos prontos.
Editorial
Ao longo de 14 anos de muito trabalho e suor, a Yuny vem
conquistando seu espaço de uma maneira bem própria. Para
nós, esse é um espaço especial, pois se alicerça sobre os pilares
dos nossos valores mais básicos e profundos. A engenharia que
ergue estes pilares é feita de ética e competência. O material é
um composto de pessoas da nossa equipe, dos nossos parceiros,
muitos fornecedores e vocês, clientes. Para uma empresa que
tem como conceito de prosperidade algo bem mais amplo, não
nos importa qual o tipo de resultados estamos buscando, mas
também a forma como queremos atingi-los. Para isto, tornamse indispensáveis ingredientes como arte, saúde, culinária,
sustentabilidade, entre tantos outros que permeiam o nosso dia
a dia. Prosperar, para nós, significa também compartilhar com
vocês estes valores, as matérias que vêm a seguir e permitir que
compartilhem suas experiências nas mais diversas interfaces que
possamos ter hoje e sempre. Portanto, um caráter interativo neste
veículo é muito bem-vindo. Escreva quando quiser para nós no
e-mail [email protected] e incremente, sugira, critique.
Um abraço,
Marcos Yunes
Presidente
4
REVISTA
OUTUBRO 2010
ÍNDICE
ANO 1 NÚMERO 02
16
28
2 0 1 0
34
40
82
EXPEDIENTE
Marcelo Yunes
Diretor-Executivo
Fábio Romano
Diretor de Incorporação
Carolina Khappaz
Gerente de Marketing
PROJETO EDITORIAL
PUBLISHING
Rua Artur de Azevedo, 560
Pinheiros – SP – 05404-001
Tel.: 2182-9500
www.j3p.com.br
Fabio Pereira
Diretor de Criação
Sergio Zobaran
Editor chefe
pág.
10
INSTITUCIONAL
Tom Shapiro: entrevista com o
presidente do GTIS Partners
pág.
16
CULTURA
O casal de colecionadores Heitor
Martins e Fernanda Feitosa
agitam a Bienal e a SP-Arte
pág.
22
GIFT
Festa no céu: o passeio de
helicóptero vale cada centavo
pág.
28
BEM-ESTAR
Atletas nada amadores treinam
por amor aos esportes
08
REVISTA
OUTUBRO 2010
pág.
34
ARTE
Grafite: o movimento pop
ganha status
pág.
40
GASTRONOMIA
Comendo e bebendo em São Paulo
com Ed Motta
pág.
54
ESTILO YUNY
Limited Funchal traduz o jeito de
morar contemporâneo
pág.
58
SOCIAL
Meio Ambiente e educação:
as ações da Yuny
pág.
80
VERNISSAGE
Um passeio fotográfico no Ibirapuera
para lançar o Marquise
pág.
90
ESTILO YUNY II
Boutique Offices no “novo” bairro de
Pinheiros, escritórios cult ganham espaço
Cesar Rodrigues
Projeto Gráfico
Direção de Arte
Chico Volponi
Coordenador de
Custom Publishing
Giuliano Pereira
Diretor de Atendimento
Raphael Siqueira
Diretor Executivo
Ana Paula Bueno
Gerente de Núcleo
Sandro Biasoli
Diretor de Produção Gráfica
Helder Lange Tiso
Revisão
pág.
44
BAIRRO
Na Vila Olímpia, o futuro
já começou
pág.
50
PERFIL
Dr. Marcelo Terra: Morar, comprar
ou vender um imóvel
pág.
62
LIFESTYLE
Beto Pandiani, o executivovelejador
pág.
68
TURISMO
De volta aos países de origem
pág.
92
NOTAS YUNY
Atua, o braço econômico da Yuny
Incorporadora, faz lançamentos
estratégicos
Ana Luiza Vaccarin
Arte Final
Paulo Brenta
Fotógrafo
Colaboradores
Lea Maria Aarão
Ana Maria Santeiro
Contato
[email protected]
09
REVISTA
OUTUBRO 2010
INSTITUCIONAL
Tom Shapiro
Em entrevista exclusiva, o presidente GTIS Partners fala da economia brasileira, do crescimento
imobiliário no eixo Rio-São Paulo e da parceria de sucesso com a Yuny.
O caminho brasileiro que o fez atingir o status de quinta
economia mundial, atualmente, reforçou esta decisão?
Com certeza. O caminho de desenvolvimento do Brasil
e os principais fatores de crescimento que surgiram na
última década contribuíram muito para nossa decisão de
investir no Brasil. Há três fatores principais.
O primeiro é a estabilização da economia brasileira.
Depois de anos caracterizada pela volatilidade e crescimento
lento, acreditamos que o Brasil está progredindo em
10
REVISTA
Por que decidiu investir no Brasil? E como encontrou a
finalmente chegado. O mercado imobiliário estava prestes
direção à estabilidade macroeconômica por meio de uma
Yuny Incorporadora?
a decolar. Em 2005 abri um novo fundo de investimento
política fiscal e monetária mais disciplinada. A hiperinflação
Ainda me recordo da minha primeira viagem ao Brasil
chamado GoldenTree InSite Partners (hoje GTIS Partners) e
foi derrotada e as taxas de juros foram reduzidas de
em 1996, quando o País estava apenas começando a
comecei a arrecadar recursos de private equity, que seriam
mais de 25% em 2003 para menos de 10% em 2010.
colher os primeiros frutos do Plano Real e das reformas
parcialmente destinados para investimentos no Brasil.
O crédito soberano brasileiro recebe agora a classificação
que foram implantadas no primeiro mandato de Fernando
Os primeiros investimentos tiveram um desempenho
de investment grade e as reservas internacionais do País
Henrique Cardoso. As pessoas diziam, brincando, que
extraordinário até agora e, por isso, ampliamos nosso foco
cresceram de forma constante, atingindo mais de $250
o Brasil era o “País do Futuro” – e assim seria para
no Brasil ao mesmo tempo em que o mercado americano
bilhões. O Brasil tornou-se um credor externo líquido, o
sempre. No entanto, havia algo real e concreto sobre as
começou a ficar incerto.
que é bastante notável levando-se em consideração sua
Tom Shapiro: Ja investimos 770 milhões de reais no eixo Rio-SP.
reformas que estavam sendo introduzidas após a dolorosa
Um ponto-chave de nossa estratégia foi a nossa parceria
experiência no passado com crises relacionadas com dívidas
experiência de hiperinflação, e os investidores começavam
com incorporadoras locais de grande talento, tais como a
e repetidas moratórias. Mas, como dizem, da crise surgem
a se dar conta disso. Sem confiança no funcionamento do
Yuny e a Atua (braço econômico da Yuny). Nós podemos
as oportunidades. A crise de crédito mundial certamente
sistema financeiro – como nós ironicamente presenciamos
contribuir com know-how, bem como com nossa fonte de
impôs um ambiente de desafio para todos os países e, ao
Estima-se que a população de São Paulo vai aumentar em 2 milhões
atualmente nos Estados Unidos – nenhum país pode
capital estável e segura em troca da experiência de nossos
mesmo tempo em que o Brasil não ficou imune, passou
de habitantes nos próximos 15 anos. Embora sem apresentar o mesmo
permanecer no caminho de crescimento por muito
parceiros em incorporação no mercado local. Realmente
muito bem no teste e está agora entre as economias mais
crescimento rápido da Índia, a projeção da taxa de crescimento para o Brasil é
tempo. O Plano Real e as decorrentes reformas no
acreditamos que fazer parcerias com empresas que são
robustas no cenário mundial. As estimativas recentes para
significativamente maior do que a da China, por exemplo. Cerca de metade da
processo regulatório e legal, tais como a independência
reconhecidas por seu conhecimento, mas que estão
um crescimento do PIB de quase 9% no primeiro semestre
população brasileira tem idade inferior a 26 anos e todos esses jovens ainda
do Banco Central, as novas leis de falência e a Lei de
querendo crescer, é a melhor forma de ampliar nossa
mostram que o Brasil é uma das maiores economias do
entrarão em sua idade mais produtiva daqui alguns anos. Tal crescimento da
Responsabilidade Fiscal tiveram grande importância para
própria plataforma. Embora outros fundos de investimento
mundo a sair da recessão mundial com sucesso.
população produtiva se traduzirá diretamente em uma maior força de trabalho
abrir caminho à recente vitalidade da economia brasileira.
tenham entrado recentemente no mercado brasileiro,
A segunda razão são os números demográficos
e maior base de consumidores. Demograficamente, o Brasil assemelha-se aos
A crise na Argentina e a desvalorização cambial no Brasil
acreditamos que somos um dos poucos que possui um
positivos do Brasil. Numa época em que muitos
Estados Unidos do final da década de 70, quando o ápice da geração do baby
entre 2001 e 2002 foram entraves temporários, mas em
histórico de sucesso comprovado em fornecer capital para
países desenvolvidos estão passando por uma fase
boom estava entrando em idade produtiva e começando a contribuir para
2005 já dava para ver o futuro finalmente chegando.
incorporadores locais. Estamos muito impressionados
difícil; caracterizada por crescimento lento e pelo
a formação de famílias e criação de riquezas. O ingresso daquele grupo na
Ao interagir com as inúmeras empresas que atuavam
pelo profissionalismo, perspicácia nos investimentos e o
envelhecimento da população, espera-se que a idade da
economia levou a um período de 25 anos de forte crescimento nos Estados
no mercado brasileiro, passei a respeitar o espírito
conhecimento do mercado imobiliário da Yuny e da Atua
população economicamente ativa do Brasil crescerá por
Unidos sem precedentes, e acreditamos que é provável que o efeito seja
empreendedor que lhes permitiu investir, construir e
e, na verdade, criamos parcerias exclusivas para injetar
volta de 14% entre 2010 e 2030. A taxa de crescimento
parecido no Brasil.
crescer, apesar de uma grande escassez de capital no
centenas de milhões de reais de capital em seus programas
da população brasileira de aproximadamente 1,5% é
Por fim, nossa decisão em investir no Brasil foi motivada pelo fato de o País ser
mercado. Com minha experiência, me convenci de que o
de investimento. Estamos no Brasil visando planos de
significativamente mais alta do que a taxa média de
um mercado deficitário – tanto de capital como de imóveis de qualidade. A falta
Brasil era o membro esquecido do BRIC, cuja hora tinha
longo prazo porque vemos grandes oportunidades aqui.
0,3% na Europa e de 1% nos Estados Unidos.
de capital foi a herança de muitos anos de hiperinflação e dos riscos decorrentes.
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INSTITUCIONAL
Notavelmente, mesmo enquanto o resto do mundo
a Atua, foi completamente vendido um mês após seu lançamento,
estava passando por um processo de alavancagem
e as unidades da Fase 1 do Club Life se esgotaram em apenas um
financeira e tanto os consumidores como as empresas
dia. No Rio, somos parceiros no recém-construído Ventura Towers,
estavam se endividando de forma ostensiva, o Brasil
que é uma das contribuições mais notáveis à paisagem do centro
permaneceu relativamente sem dívida. Com a crise do
do Rio nos últimos anos.
“Há dois
investimentos dignos
de destaque em nosso
portfólio: o 106 Seridó
e o Infinity.”
crédito, o Brasil estava mais protegido de seus efeitos do
Todas as nossas decisões sobre investimentos são baseadas
que a maioria dos outros países. Ao invés de um espiral de
em uma análise rigorosa do mercado e da rentabilidade do
deleveraging negativo que atinge no momento o mundo
investimento proposto. Buscamos identificar oportunidades
desenvolvido, o Brasil está, na verdade, apresentando
únicas de investimento e as validamos por meio de processos
uma expansão do crédito, parcialmente graças às
de due diligence e intensa pesquisa de mercado. Devido à nossa
A terceira razão concerne às nossas próprias operações
iniciativas do governo. A maioria dos projetos imobiliários
experiência prévia como incorporadores, focamos na valorização
e nossa equipe. O Brasil é um mercado bastante grande,
ainda depende de capital privado proveniente de fundos
do imóvel por meio de melhor eficiência e projeto diferenciado,
conforme foi colocado, e é simplesmente mais efetivo para
de investimento, e é neste sentido que podemos contribuir
em conjunto com nossa experiência em estruturação financeira.
nossa equipe focar oportunidades que estejam mais próximas.
com nossa experiência. Até o momento, já investimos no
Preferimos ter conhecimento local, conhecer o mercado
Brasil por meio de três veículos diferentes de investimento,
E por que seus investimentos se concentram em São Paulo,
realmente bem antes de investir. Nós expandimos nossos
e estamos no processo de abrir um novo fundo que é
enquanto o Brasil vê crescerem outros de grande porte ao
investimentos para o Rio porque tínhamos uma experiência
longo de sua costa tropical de 8 mil km?
anterior nesse mercado, e porque há diversos atrativos de
dedicado exclusivamente aos investimentos por aqui.
Ao mesmo tempo em que o Brasil apresenta falta
de capital, também há uma baixa oferta de imóveis de
os aluguéis aumentaram significativamente. Nós estamos sempre em busca
desse tipo de atrativos ao procurar oportunidades de investimento, e o Brasil
vem sendo um investimento muito bom para nós.
qualidade. Há um déficit habitacional bem conhecido,
Na verdade, atuamos tanto em São Paulo como no Rio. A razão
curto prazo, tais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
para focar nestas duas regiões é novamente devido a três fatores.
Às vezes, leva-se o mesmo tempo para cruzar de um lado a
Primeiramente, porque acreditamos veementemente em investir
outro em São Paulo, e ir de avião para o Rio. Estamos abertos a
principalmente de imóveis populares. O governo está
Quais são seus principais investimentos por aqui e em que valores? Como
em mercados primários que possuam liquidez e uma base sólida
expandir nossos investimentos para novas regiões. Mas até o
tentando resolver este problema com o programa Minha
baseou estas decisões?
de compradores ou locatários, dependendo da natureza do projeto,
momento não foi necessário. Se nós encontrarmos mercados
Casa Minha Vida, bem como disponibilizando financiamento
Desde o início de nossos investimentos no Brasil, já investimos capital em
seja para locação ou venda. Grandes mercados como São Paulo e Rio
suficientemente atraentes e parceiros altamente qualificados
para os compradores. No setor de edifícios comerciais, a
24 projetos residenciais e comerciais, sendo 16 com a Yuny, em São Paulo
nos permitem comparar nossos projetos em relação à concorrência
que entendam nossas demandas e que queiram trabalhar
maioria dos prédios existentes foi construída nos anos
e no Rio, totalizando mais de R$ 770 milhões de capital privado. Possuímos
para ver, por exemplo, qual o nível de preços de empreendimentos
conosco, estaremos atentos a novas oportunidades.
1960 e 70, e apenas por volta de 5% é considerado classe
16 empreendimentos residenciais, 7 dos quais são de alto padrão, 4 para
vizinhos e de que forma nosso projeto pode ser melhor. Dessa
A pelos padrões internacionais. Para uma economia do
classe média e 5 populares. No total, estamos financiando a incorporação de
forma, podemos garantir o sucesso financeiro de nosso próprio
Estamos em ano eleitoral e isso, com certeza, pode alterar
tamanho da brasileira, isto é simplesmente insuficiente.
mais de 5.300 apartamentos. De todos esses projetos que lançamos, 85% das
investimento com um risco menor. Também precisamos no final
a conduta da política econômica da nação. O que pensa
Enquanto Nova York é comparável com o tamanho de São
unidades já foram vendidas. Além disso, nosso portfólio ainda conta com 6
liquidar nossos investimentos, e para tal é necessário que haja uma
do Governo Lula e das próximas eleições em que pese
Paulo, o estoque de espaços comerciais (sem incluir toda
empreendimentos comerciais classe A para locação, um edifício comercial e
base suficientemente grande de compradores para colocar em
possíveis mudanças?
a área metropolitana) é mais de três vezes maior. Mesmo
um edifício-garagem. Os projetos comerciais compreendem mais de 178.000
prática nossa estratégia de saída. Neste momento, São Paulo e Rio
o estoque de espaços comerciais considerados classe A de
metros quadrados de área disponível para locação.
são os mercados com maior liquidez no Brasil.
Quando Lula assumiu o poder em 2002, os investidores
ficaram preocupados, achando que um governo de esquerda
Boston é maior do que o de São Paulo, e Boston é uma
Como se pode ver, atuamos em vários setores e com diferentes tipos de
A segunda razão é que esses dois mercados, até agora, nos
implantaria mudanças que prejudicassem o livre mercado e
cidade relativamente pequena em escala mundial. Não é
imóveis. Há dois investimentos dignos de destaque em nosso portfólio, são eles:
ofereceram inúmeras oportunidades, e conseguimos diversificar
o investimento estrangeiro. Com o passar do tempo, tornou-
de se estranhar que São Paulo e Rio constituam-se um dos
o 106 Seridó, o qual é provavelmente o condomínio residencial mais luxuoso
nossos investimentos em tipos diferentes de imóvel, ao invés
se claro que a forte retórica de Lula não se traduziria em uma
mercados de prédios comerciais com melhor desempenho
de São Paulo no momento; e o Infinity, o qual acreditamos que será o melhor
de migrar para outras regiões. Por exemplo, com a Yuny nós
ameaça real para os mercados. De fato, seu governo continua no
no mundo atual. A maior parte dos prédios comerciais
prédio comercial classe A na região da Faria Lima. Possuímos outros dois projetos
atuamos no setor residencial e comercial. Quando o mercado
caminho das reformas. O Brasil deu grandes passos em direção
sofreu uma grande perda de ocupação devido à crise
residenciais menores, mas com o mesmo prestígio, na região do Parque do
de empreendimentos populares tornou-se uma oportunidade
à estabilidade macroeconômica sob a presidência de Lula, graças
mundial nos últimos dois anos, mas a taxa de vacância
Ibirapuera: o Le Paysage e o Marquise. O Club Life no Morumbi e o Hipódromo
interessante, conseguimos trabalhar com a Yuny para estruturar
em grande parte à posição independente do Banco Central. Quando
permaneceu estável em São Paulo e, no Rio, houve, na
na Mooca são exemplos de nossos projetos populares de grande sucesso. O
uma nova parceria em conjunto com a Atua, que é especializada
chegou a crise, o Brasil estava relativamente bem posicionado para
verdade, uma melhora para menos de 4%, enquanto que
Hipódromo, um empreendimento com 422 unidades realizado em parceria com
no mercado de imóveis populares.
lidar com o choque mundial.
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REVISTA
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INSTITUCIONAL
“A parceria com a
Yuny contribuirá para
mudar a paisagem de
São Paulo.”
Nossa contribuição é em grande parte em forma de
capital, e em oferecer conhecimento na avaliação de
oportunidades atrativas de investimento. A contribuição
primária da Yuny é em identificar negócios atrativos
e depois trabalhar intensamente para executá-los.
Uma das grandes iniciativas, pela qual o governo Lula pode
Com o passar dos anos, a Yuny construiu operações
levar o crédito, é o programa de habitação popular Minha
sólidas de incorporação e conhecimento profundo
Casa Minha Vida. O governo reconheceu que a habitação tinha
sobre vários aspectos do mercado imobiliário, e nós
potencial de continuar a ser um mecanismo de crescimento para
estamos muito impressionados com o profissionalismo
toda a economia, mas que precisava do apoio do governo, uma
com que eles conduzem seus negócios. A Yuny cresceu
vez que os investidores privados rapidamente se retiravam após
ao ponto de se tornar um grande participante deste
a quebra do Lehman Brothers no final de 2008. Nós acreditamos
mercado, e estamos felizes em poder contribuir para
que o programa, apesar de suas deficiências administrativas e
isso. Temos uma parceria exclusiva para os projetos
objetivos otimistas demais, vem trazendo muitos benefícios para
que a Yuny identifica e realizamos inúmeros projetos
o setor. Ele melhorou o acesso a financiamentos e possibilitou
em conjunto nos últimos três anos. Por exemplo, a
a compra da casa própria, pela primeira vez para um grande
Yuny está atualmente desenvolvendo um dos projetos
número de pessoas das classes média e baixa.
comerciais mais sofisticados na Faria Lima chamado
A expansão dos limites de empréstimos SFH, os aumentos
Infinity, e grande número de empreendimentos
dos prazos de financiamento para até 25 anos e uma queda nas
residenciais em São Paulo, muitos dos quais foram
taxas de juros reduziram drasticamente as prestações mensais
totalmente vendidos em tempo recorde.
necessárias para se comprar uma casa.
O valor da prestação caiu de 15 a 50% dependendo da classe
social e para algumas famílias passou a ser menor do que o valor
E o que espera, no futuro, como resultado deste
trabalho conjunto?
do aluguel. Este tipo de mudança da acessibilidade econômica,
Nossa parceria tem sido vantajosa para ambas as partes,
estimulada pelo programa de subsídio do governo, aumentou
e esperamos que assim seja por muito tempo, uma vez que
consideravelmente a demanda por imóveis. Acreditamos
nossos planos no Brasil são de longo prazo. Os executivos
que o programa acrescentou 12 milhões de famílias na base
seniores da Yuny sempre nos deram todo apoio e têm sido
de compradores em potencial. É claro que esta acessibilidade
um recurso de grande valor para nossos investidores, que
financeira hipotética não significa que todas essas pessoas irão
gostam de viajar para o Brasil para ver o mercado de perto
agora correr para comprar uma casa. Mas significa que um dos
e falar com nossos parceiros operacionais. Agora que um
maiores entraves ao crescimento foi minimizado, uma vez que o
grande número de nossos projetos com a Yuny já saiu do
financiamento imobiliário está agora à disposição e em expansão
papel, posso dizer que a parceria contribuirá certamente
– diferentemente da situação da maioria dos outros países.
para mudar a paisagem de São Paulo. Antes de qualquer
coisa, estamos focados em investimentos lucrativos, mas
Como vê esta parceria com a Yuny Incorporadora?
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REVISTA
é bom saber que nossos negócios estão contribuindo para
Nossa parceria com a Yuny foi e continua sendo baseada
mudar de forma positiva o espaço urbano e o crescimento
no reconhecimento de que ambos os parceiros contribuam
sustentável de São Paulo, e mudando a cara da cidade
de forma significativa para o negócio.
para melhor.
OUTUBRO 2010
C U LT U R A
UM
CASAL
BRILHA
NA CENA
DAS
ARTES
Os colecionadores Heitor Martins e Fernanda
Feitosa agitam a Bienal e a SP-Arte.
Paulo-Arte/Foto, realizada todos anos no salão do roof
do Shopping Iguatemi. Enquanto Heitor garante uma 29ª
edição da Bienal vigorosa e de “fôlego”, porque “a arte é
para todos e a sua demanda, hoje, é enorme”, Fernanda
completa a ideia do marido: “Eu não diria que arte é coisa
para as elites”. Aqui, mostramos em um pingue-pongue
artístico, de quem conhece profundamente seu ofício, a
complementaridade e a harmonia existente entre os dois
de gostos, tendências e afeto.
HEITOR MARTINS: “O MINC É UM
PARCEIRO ESTRATÉGICO”
Yuny: Há um ano o senhor previu que a 29ª Bienal, em
outubro, estava orçada em R$ 20/25 milhões. Mantém
esse orçamento?
Heitor: O orçamento está um pouco maior, em R$ 30 milhões,
porque acrescentamos a parte educativa, um programa que
prevê a visita monitorada de 300 a 400 mil alunos por 40 mil
professores contratados — daí a diferença do original.
Y: E disse também que essa seria uma “Bienal de fôlego”.
Confirma a sua previsão? Será uma Bienal vigorosa, marcante?
H: Sem dúvida! Será 160 artistas, dos quais 110
estrangeiros, formando uma Bienal bem contemporânea:
um retrato fidedigno da produção atual. Trata-se de uma
POR LÉA MARIA AARÃO REIS
das maiores proporções entre brasileiros (que chegam a
N
30%) e estrangeiros. É um limite alto, considerando que
a sala da casa de Heitor Martins e Fernanda
anteriormente eles não chegavam a 20%.
Feitosa, no Morumbi, se destacam trabalhos
de Tunga e de Farnese, dois artistas muito
Y: Não haverá mais um artista único homenageado na
queridos do casal. Suas obras fazem parte de
29ª Bienal. Por quê?
uma bela coleção que vem sendo montada
H: Não existem mais artistas homenageados ou núcleos
pelos dois, com todo cuidado e carinho, ao longo dos
históricos ou salas de referência. São sete curadores sendo
últimos treze anos. A amostra é diversificada e seus donos
dois brasileiros – Moacyr dos Anjos e Agnaldo Farias – e cinco
brilham no cenário das artes plásticas brasileiras. Heitor
internacionais, quase todos ligados a grandes instituições: da
é sociodiretor da McKinsey Consultoria, e há um ano foi
Espanha, do Japão, da Inglaterra e de Angola, além de uma
eleito, praticamente por unanimidade, para a presidência
independente, de Miami, nos Estados Unidos. A ideia é cobrir
da Fundação Bienal de São Paulo – “uma máquina que
a produção contemporânea, com uma visão abrangente.
tem de ser administrada profissionalmente”, ele observa.
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REVISTA
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Já Fernanda, sua mulher, idealizou e é a coordenadora da
Y: Artistas brasileiros que vivem e trabalham na Europa,
festejada mostra SP-Arte, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo,
em especial em Berlim, dizem que a discussão que vem
da Bienal, com 80 estandes e faturamento, em 2009,
se travando no Brasil, há algum tempo, de que “a arte
de US$ 15 milhões, assim como o seu filhote, como ela
estaria morrendo” ou “esvaziou conteúdos”, não existe por
mesma diz, o desdobramento da SP-Arte, a simpática São
lá. Qual a sua opinião?
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H: O Ministério da Cultura é um parceiro estratégico, tem efetivamente
um projeto e entende a importância da Bienal. Vem apoiando nos
diversos planos inclusive com aporte de recursos – é muito bacana.
Y: Sua eleição para a Fundação da Bienal foi quase unânime.
Apenas um voto contra. Isto deve ser motivo de grande orgulho.
Y: Qual ou quais os trabalhos da coleção do casal são os
H: Era um momento muito específico e não votaram em mim, mas
prediletos, os mais queridos?
na Bienal.
F: Temos muito carinho pelas obras do artista já falecido
Farnese de Andrade que conseguimos juntar ao longo
Y: Deve ser gratificante e agradável ser marido de uma mulher
desses anos todos. Foi uma das primeiras obras de que
que também aprecia arte e possui excelente cultura nessa área.
nós gostamos, mas não foi possível comprar quando
Costumam frequentar junto galerias e mostras especiais em
éramos jovens. Por causa de uma dessas voltas que a vida
museus quando viajam?
dá, terminamos comprando inúmeras obras dele depois.
H: A melhor parte do casal é ela. Há uma complementação muito
Temos também uma pequena coleção de trabalhos de
grande nas artes, na coleção e na relação como um todo.
Volpi, que fomos juntando, e muitas outras obras. É difícil
dizer: gostamos de tudo que está em casa!
Y: Vocês têm gostos e tendências semelhantes? Quais as diferenças?
H: Ela é mais contemporânea. Eu sou mais moderno, mais tradicional.
FERNANDA FEITOSA:
Y: Repetidas vezes você ressalta que comprar e colecionar
arte não deve significar status ou ascensão social, mas
sim prazer estético. Essa percepção já existe por parte
“Temos muito carinho pelo trabalho de Farnese”
da maioria dos colecionadores brasileiros? Eles não
Yuny: Sua coleção começou a ser montada no Brasil ou quando
consideram ainda que comprar arte é um investimento
morou fora? É um costume que vem de família? Qual o primeiro
meramente financeiro?
trabalho que adquiriu?
F: Acho que tudo feito por prazer ou hobby deve estar
H: Esta discussão está superada no Brasil. O papel da Bienal é ser rica
Fernanda: Compramos a primeira obra durante a nossa lua de mel, no
ligado ao que se gosta ou ao que se acredita. Assim
do ponto de vista plástico. É fazer uma mostra provocativa, bonita e
Nordeste, em 1993, e temos até hoje! Depois, quando do nascimento
começou nossa coleção. No entanto, tenho que admitir
quinze anos. Nessa época decidi fazer o mesmo aqui no Brasil. Viagens a outras
política também. Em nível plástico e não teórico.
do nosso primeiro filho, compramos outra e assim foi indo. Aos
que, às vezes, em um determinado momento, esse hobby
feiras internacionais fizeram parte, no início, de estudo e aprendizado de como
poucos, o gosto de ver e conhecer novos artistas ia aumentando
pode tomar uma dimensão maior e acabar representando
são montadas as maiores e melhores feiras de arte do mundo. Atualmente,
Y: Como faz para conciliar suas atividades de empresário e consultor
e as possibilidades de adquirir alguns trabalhos foram aparecendo.
uma parcela importante do patrimônio. Nesses casos,
essas viagens fazem parte do processo contínuo de relacionamento e divulgação
na McKinsey com as de presidente da Fundação Bienal?
Meus dois tios por parte de pai, Roberto Feitosa e Mario Pacheco,
obviamente, o aspecto do investimento não pode ser
da nossa feira no exterior.
H: Trabalhamos em equipe, em uma diretoria com nove pessoas,
são artistas plásticos. Desta forma, convivi bastante, na infância, com
ignorado, e tem que ser levado em consideração também
diferente do passado centralizador. E temos trinta colaboradores. Ou
telas e tintas. Mas nunca no meio colecionador em si.
no momento da decisão de compra. Acho que muitos
Y: Nesta próxima SP-Arte/Foto, serão quantos visitantes entre galeristas,
Heitor Martins: no seu escritório há trabalhos de Ernesto de Fiori e José Resende
seja, somos cerca de quarenta pessoas, todos nós voluntários.
Fernanda Feitosa: na coleção do casal, obras de Thiago Pitta e do argentino Matias Duville
colecionadores pensam desta forma na maior parte das
artistas e colecionadores? E quantos expositores?
Y: Quando decide adquirir algum trabalho, quem bate o martelo – você
compras. Obviamente, quando a paixão por uma obra bate
F: A SP-Arte/Foto, 4ª edição, é uma feira dedicada exclusivamente à fotografia
Y: Qual o seu balanço depois de praticamente um ano nesse cargo?
ou seu marido? Ou os dois juntos? Você tem o gosto semelhante ao dele?
forte, o aspecto financeiro perde para o emocional.
e vídeo. É realizada anualmente no nono andar do Shopping Iguatemi, em São
H: Um balanço positivo. Porque especialmente descobrimos que
F: Combinamos desde que começamos que seriam decisões
a sociedade tem vontade que a Bienal dê certo. Temos muitos
conjuntas – compraríamos o que ambos admirássemos. Temos gostos
Y: Foi depois de viagens à feira de Basel, à Fiac, à Frieze,
parceiros, dos meios de comunicação ao apoio das empresas: Itaú,
semelhantes, gostamos das mesmas coisas, mas às vezes temos
entre outras, que idealizou a sua SP-Arte? Como é que a
Fiat, Rede Globo, Oi, e das pessoas, artistas, galerias, sociedade civil
pontos de vista diferentes e discutimos se um determinado trabalho se
ideia surgiu?
Y: A economia no Brasil, hoje, favorece em que medida o movimento de
como um todo, passando pelos governos em todas as instâncias.
encaixa ou não na coleção, se precisamos ou não dele ou se teremos
F: Não. Foi quando morei na Argentina e visitei a feira de
compra e venda de arte?
outra oportunidade de adquiri-lo, se podemos esperar mais, etc. O
lá; me chamou atenção que um país como aquele, com
F: A economia aquecida do País favorece, e muito, o mercado de arte. Na
Y: E como está a colaboração do MinC em relação à Bienal? Apoia de
interessante é que nunca o processo de compra é igual ao outro. Cada
mercado de arte e produção artística bem menor que a
medida em que as pessoas sentem a economia forte, ficam mais esperançosas
que modo?
obra tem sua particularidade, sua história, sua procedência.
brasileira, tivesse uma feira de arte contemporânea há
e as decisões de investimento em arte são mais fáceis.
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Paulo. São 18 galerias participantes e o público aguardado é de 7 mil pessoas.
O patrocínio é da Oi e do Shopping Iguatemi.
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C U LT U R A
Fernanda Feitosa (2ª à esq. ) e a equipe das duas SP-Arte
Y: Essa movimentação continua sendo de elite?
sobre a SP-Arte e faz confusão. A última SP-Arte/2010 foi um grande
F: Nem tanto. Eu não diria que arte é um movimento de elite. O ato
sucesso de público, de vendas e de qualidade de obras. Estamos
de colecionar arte, no sentido de comprar um conjunto expressivo
orgulhosos do padrão alto de qualidade que conseguimos alcançar.
de obras que representam um movimento ou um período não é
A feira já é comentada espontaneamente no exterior, por outras
para todos, como nunca foi. A feira vem crescendo bastante. Este
galerias internacionais e por curadores que passaram por aqui.
ano quase metade dos visitantes nunca tinha ido à feira antes. São
pessoas curiosas e interessadas em ver arte, e isso é um sinal de que
Y: E a SP-Arte/Foto do Iguatemi?
esse interesse está aumentando. O número de compradores na feira
F: A SP-Arte/Foto é um evento filhote da SP-Arte, e vem sendo
representa menos de 10% dos visitantes. Ou seja, o resto do público
realizada desde 2007 no Iguatemi. É um evento muito importante
está “consumindo cultura” e participando da economia cultural do
para a fotografia nacional porque procura colocar a fotografia e seus
País. Isso é importantíssimo em uma nação se pretende ser desenvolvida!
protagonistas em destaque especial.
Y: Fora do eixo Rio-SP, há outros centros de excelência artística no
Y: Seus filhos também gostam de artes plásticas? Como vocês
Brasil, hoje?
inculcaram neles esse interesse?
F: Sim, mas não o suficiente. Fora de São Paulo-Rio, já temos Minas
F: Nossos filhos gostam muito de arte e curtem visitar a feira. Isso
Gerais, Recife, Bahia.
é um processo de educação que começa na infância, com visitas a
museus, tanto no Brasil como no exterior, sempre que possível. No
Y: Pode fazer um balanço da mais recente SP-Arte na Bienal?
início reclamam, é claro, pois acham tudo muito parado essa coisa
F: Gostaria que o público tivesse muito cuidado. A SP-Arte nada
contemplativa. Mas depois passou a fazer parte dos seus repertórios,
tem a ver com a Bienal. Ela é um evento que ocorre no Pavilhão
tanto quanto ir ao parque. Uma coisa interessante é tentar fazer com
Ciccillo Matarazzo. O evento não se confunde com a Bienal, mostra
que esse processo seja atraente. Isto é: por trás de cada obra, por
de arte realizada pela Fundação Bienal de dois em dois anos. Tenho
exemplo, há uma história a ser contada sobre o artista e isto desperta
um cuidado especial em distinguir as duas mostras. Muita gente lê
a atenção deles e ajuda a criar o interesse.
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GIFT
FESTA NO CÉU:
O PASSEIO VALE
CADA CENTAVO
POR ANA MARIA SANTEIRO • FOTOS HELIBRAS/DIVULGAÇÃO
A
lgum tempo atrás uma escritora americana entrou em meu escritório esfuziante. Havia acabado de
fazer um voo turístico em helicóptero pelo Rio de Janeiro e, de maneira bem enfática, exclamava: it
worths every cent I paid! Desde então, quando algo muito bom me acontece, sempre lembro desta
expressão. Outros tantos anos já se passaram depois da experiência da escritora, quando um amigo,
médico do Corpo de Bombeiros, me perguntou se eu já havia voado de helicóptero. Naquele momento,
a experiência não era de maravilha, mas de espanto, por constatar que, visto do alto, o Rio de Janeiro era uma
grande favela com uma Zona Sul, tal a ocupação dos morros pelas camadas mais pobres da cidade. Entre um
tempo e outro, voar de helicóptero deixou de ser exclusivo dos passeios turísticos, das ações de salvamento
ou de operações militares. Com a crescente urbanização das cidades e o tráfego a partir da década de 1970,
sobretudo nas metrópoles, transitar pelos ares tornou-se uma real possibilidade para muitos executivos e homens
de negócio que tentavam exercer o dom da onipresença.
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GIFT
Os céus brasileiros têm uma frota
de cerca de 1.000 aparelhos, dos
quais 452 estão concentrados em São
Paulo, a maior frota do mundo,
deixando Nova Iorque em segundo
lugar, com uma frota de 445 – que
possui 272 helipontos, apesar de
apenas 86 terem licença para operar.
No Brasil, o início da exploração do petróleo em alto
mar pela Petrobras também contribuiu para um aumento
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própria frota. Atualmente são 51 aeronaves dedicadas,
embrionário, este voo elevou-se cerca de 30 cm acima do solo, e por apenas
voos turísticos. Os céus brasileiros têm uma frota de cerca
sobretudo, às opererações off-shore.
20 segundos! Um ano antes, em Paris, Santos-Dumont realizara os voos com os
de 1.000 aparelhos, dos quais 452 estão concentrados em
na demanda por helicópteros para operações off-shore.
Apesar de ter sido pensado por Leonardo da Vinci em
Oiseau de Proie (1, 2, 3), elevando-se, com o terceiro, a 6 metros do chão, e
São Paulo – a maior frota do mundo, deixando Nova Iorque
Em 1973, por exemplo, a Líder, a mais antiga empresa
1510, a invenção do helicóptero só aconteceu no início
percorrendo 220 metros. Um pouco antes teria também iniciado a construção de
em segundo lugar, com uma frota de 445 – que possui 272
brasileira de serviço de táxi aéreo, ganhou a primeira
do século XX, período em que as ideias e as invenções
um helicóptero, projeto que, entretanto, logo abandonou. Entre os anos 1920 e
helipontos, apesar de apenas 86 terem licença para operar.
concorrência para prestação de serviços à Petrobras,
fervilhavam, no rastilho da chamada Revolução Industrial,
1926, novos avanços são introduzidos pelo argentino Raul Panteras Pescaras —
A indústria brasileira tem se destacado na aviação
interligando as plataformas de prospecção de petróleo
iniciada na segunda metade do século XIX, com a substituição
ajuste angular das pás — e, finalmente, em 1937, a piloto de teste alemã Hanna
executiva tanto na produção quanto na comercialização
na costa brasileira. Para essa atividade foram adquiridos
da energia humana pela energia motriz, e do modo de
Reitsch realiza o primeiro voo de um helicóptero completamente controlável.
de voos, com a presença de importantes empresas,
na ocasião oito helicópteros Sikorsky S-58T. Entretanto,
produção doméstico pelo sistema fabril, gerando uma
A presença do helicóptero é, portanto, bastante recente na aviação, pois
como a Helibras, fundada em 1979, pertencente ao
levaria ainda onze anos para definitivamente incluir
notável evolução tecnológica. Grandes desenvolvedores
apenas na década de 1940 é que se inicia a sua produção em série. Destinados
grupo francês Eurocopter, que também possui fábricas
o helicóptero como uma unidade importante de suas
da época, como Louis Breguet, Igor Sikorsky e Paul Cornu
originalmente apenas ao uso militar, os helicópteros, da metade do anos
na França, Alemanha e Espanha. A fábrica brasileira está
operações, passando a representar — até 2003 — a Bell
abriram caminho para esse tipo de aeronave (com rotor),
1960 em diante, foram encontrando outras funcionalidades de natureza civil:
situada em Itajubá, Minas Gerais, onde recentemente
Helicopter Textron, no país. E só na década seguinte
cujo primeiro voo bem sucedido e registrado ocorreu em
transporte de passageiros, salvamento, resgates, transporte de cargas, vigilância
inaugurou uma nova planta. “Não se trata apenas de uma
incluiria um helicóptero — o Sikorsky S-76 — na sua
1907, realizado por Cornu, em Lisieux, na França. Ainda
civil e contra incêndios, filmagens, coberturas jornalísticas, transporte de doentes,
simples expansão da fábrica, mas também do aumento da
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capacidade de engenharia da Helibras, para que, a partir da próxima
mercado são os centros de serviços voltados exclusivamente para
década, a empresa passe a fabricar completamente os helicópteros
o segmento. É o caso do Helipark, helicentro privado, inaugurado
no Brasil”, impulsionando o mercado de fornecedor de peças,
em 2002, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, seguindo a
como lembra Eduardo Marson, presidente da Helibras. Desde 1979
tendência mundial de se afastar o tráfego intenso de helicópteros
a Helibras já entregou mais de 500 helicópteros no Brasil, sendo
dos aeroportos e grandes concentrações urbanas por razões de
70% do modelo Esquilo, dentre os 11 modelos que fabrica. Cotada
segurança. Projetado pelo arquiteto João Armentano, é o maior da
como a indústria líder no Brasil, tem 49% do mercado civil, 81%
América Latina, com estrutura necessária para que se realizem —
do mercado governamental, 66% do mercado militar e 46% do
com segurança — operações de atendimento de pista, manutenção,
mercado corporate. Mas se o tráfego aumenta, outras oportunidades
abastecimento e hangaragem de helicópteros. Ali, empresários,
surgem para novos negócios e outras empresas vêm compartilhar
executivos, personalidades circulam em modernos aparelhos Bell
este céu promissor. A paulista Helimarte Taxi Aéreo, por exemplo,
Textron, Robson Helimagic e Esquilo (da Helibras).
em apenas onze anos no mercado, dispõe de uma frota de 10
Se na canção da Angélica ela ia de táxi, numa versão atual da
helicópteros com capacidade de 3 a 6 passageiros, transportando
fábula Festa no Céu o sapo não precisaria ir de clandestino na viola
de executivos em viagens de negócios a monitores de trânsito,
do urubu. Certamente pediria carona a um besouro muito estranho,
entre outros. Um outro indicador que revela o potencial deste
de nome mais esquisito ainda: helicóptero.
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QUASE
PROFISSIONAIS
Atletas nada amadores treinam por amor ao esporte
POR ANA MARIA SANTEIRO
H
á algumas décadas, a OMS – Organização Mundial
desenhado para esta prática. A difusão do cooper pode ser
da Saúde – vem propondo o incentivo à prática
considerada como o início de uma rotinização da atividade
de atividades físicas como política preventiva
física entre os habitantes das zonas mais urbanizadas das
para uma série de doenças relacionadas ao
cidades em todo o mundo, fazendo, inclusive, surgir um
sedentarismo presente em nossas sociedades tão
novo mercado – o dos atletas quase profissionais. Sim,
urbanizadas. No decorrer das últimas, pelo menos quatro
porque entre os atletas existem algumas categorias:
décadas, o conceito de vida saudável foi se associando ao
os profissionais, que têm no esporte a sua profissão e
desenvolvimento do esporte de lazer de tal maneira que
fonte de renda; os amadores, que têm outras profissões,
um cardápio variado de opções de esportes e de exercícios
mas também se dedicam a atividades esportivas com
físicos se abriu para milhões de pessoas no mundo.
regularidade; e os amadores de fim de semana, que só se
Quem não se lembra do cooper (ou jogging), aquela
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exercitam nos dias livres de trabalho.
corrida (ou trote) num ritmo sem exagero, criada pelo
Tradicionalmente a prática dos esportes estava restrita
médico americano Kenneth Cooper, muito difundida nas
aos clubes e associações particulares, que ofereciam aos
décadas de 1970 e 1980, cuja meta é aumentar a condição
seus associados a possibilidade de nadar, remar, jogar
física com menos desgaste ao corpo? Muitas pistas para
tênis, golfe, vôlei, basquete, judô, jiujitsu, ginástica rítmica,
sua prática foram criadas nas áreas litorâneas das cidades,
bocha. Apenas o futebol e o vôlei eram, e continuam
em parques, nos condomínios, em volta de lagos e
sendo, os esportes que também se praticava fora dos
lagoas, ao longo de rios canalizados. Até um vestuário foi
clubes: nas várzeas, nos campinhos, na areia das praias.
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Na pág. à esquerda dedicação é a
palavra para quem busca completar
provas de triathlon ou maratona.
De cima para baixo: o helicóptero que
registra o evento; a largada ao nascer
do sol em Floripa; a chegada de uma
atleta profissional - nove horas ou mais
de muito esforço.
Os novos atletas, igualmente aos atletas profissionais,
são disciplinados e dedicam um bom par de horas aos
exercícios. Alguns deles vão mais longe, incorporando
a atividade como um hobbie. Participam, inclusive, de
eventos esportivos e de competições não-profissionais que,
entretanto, requerem praticamente o mesmo aparato de
uma competição profissional. Como diz o médico paulista
Dr. Ruggero Bernardo Guidugli, especialista em medicina
esportiva, e ele mesmo um ultramaratonista, “quem corria
para fugir da obesidade ou por recomendação médica se
tornou um atleta com equipe multidisciplinar: personal
Bikes leves e confortaveis
para suportar os 180 km
trainer, nutricionista, fisioterapeuta, ortopedista. Para os
triatletas, por exemplo, a rotina de exercícios é diária:
corrida, nado, pedalada, musculação. O paulista Carlos
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A universalização do conceito de prática esportiva com
Caminhar e correr são boas opções de atividade física
Galvão, consultor de marketing, diretor geral do Ironmman
vida saudável e prevenção de doenças estendeu-se a
por serem fáceis de praticar e sem maiores custos. A
Brasil, e triatleta desde 1998, corre, nada, pedala e faz
todos os segmentos da sociedade e novas modalidades
adesão maciça a ela foi uma das primeiras manifestações
musculação todos os dias, alternando as modalidades, em
de esporte de lazer foram sendo criadas e desenvolvidas,
da mudança de hábitos neste sentido. À tradicional
alta carga, de domingo a domingo. A modalidade criada
como, por exemplo, os esportes de aventura e os radicais.
corrida de São Silvestre, na capital paulista, no último
há 20 anos no Havaí inclui 3.880 metros de natação no
Outros ambientes também foram surgindo para a prática
dia do ano, veio somar uma infinidade de corridas,
mar, 180 quilômetros de bicicleta e, para finalizar, uma
de esportes ou de atividades físicas orientadas para o
maratonas, meia-maratonas, de orientação, de aventura,
maratona de 42 quilômetros de corrida. Ou seja, para a
condicionamento e bem-estar físico: as academias ou
de montanha, Ironman, triathlon (associada ao nado e
maioria dos participantes, mais de 10 horas de exercício
centros de fitness, os ginásios pluriesportivos e quadras
à bicicleta). Se os participantes não são profissionais,
físico ininterruptos. Desafio que tem atraído cada vez mais
de futebol, de vôlei, de tênis, públicas. Muitos clubes
a organização, entretanto, passou a ser, contando com
participantes no mundo todo. Na última prova da edição
ampliaram a categoria socioatleta, abrindo suas instalações
equipe, inscrição, largada no horário, percurso aferido,
brasileira da competição, que acontece em Florianópolis
para aqueles que buscam um local para exercitar o
hidratação, classificação, cobertura de imprensa e ranking.
desde 2001, participaram 1.650 atletas, de 33 países. A
esqueleto e fugir do sedentarismo. Novos condomínios de
Uma excelente ferramenta de marketing promocional para
organização do evento distribuiu 50 vagas para o Havaí,
casas e edifícios também têm sido pensados com quadras
muitas empresas, sempre associando alguma campanha
entre profissionais e amadores, além de prêmios em
de esporte ou salas de ginástica.
de responsabilidade social.
dinheiro para os melhores profissionais.
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B E M - E S TA R
Para Marcos Paulo Reis, carioca radicado em São
Paulo, um dos maiores treinadores de corrida, triathlon e
pedestrianismo, a prática esportiva é uma filosofia de vida.
Assim, além de seu trabalho, seja à frente de sua assessoria
esportiva, ou das equipes olímpicas que treina, ou ainda de
suas colaborações como comentarista esportivo em várias
mídias, encontra tempo para desenvolver um programa
de iniciação esportiva junto a comunidades carentes,
como o que desenvolve em parceira com o Projeto
Arrastão, proporcionando a centenas de crianças, jovens
e adultos moradores da região de Campo Limpo, Zona
Sul da capital paulista, a oportunidade de usar o esporte
como ferramenta para a melhora da qualidade de vida e
da inclusão social.
A ideia de superação é inerente à prática esportiva ou
física, tanto para atletas amadores e profissionais como para
os atletas com deficiências físicas. Incontáveis são, portanto,
as histórias e testemunhos de pessoas que se revelaram,
se descobriram, superaram traumas ou encontraram novos
sentidos para suas vidas através do esporte. No curioso livro
Operação Portuga - 5 homens e um recorde a ser batido
(Arquipélago Editorial), o jornalista Sergio Xavier Filho, diretor
de redação das revistas Placar e Runner’s, relata como
um grupo de amigos corredores não-profissionais busca
alucinadamente bater um recorde pessoal do empresário
Amílcar Lopes Jr. (o “Portuga”): 2 horas 43 minutos e 50
segundos, na Maratona de Chicago, em 2006. Uma marca
extraordinária para um amador, que fez dele uma espécie
de lenda no circuito dos corredores de rua de São Paulo. Para
alcançar o objetivo, os amigos, que são executivos ocupados,
driblam suas agendas apertadas, desviam de compromissos
sociais e deixam de lado muitas horas de descanso ou de
convívio familiar. E o circuito das maiores maratonas do
mundo – Berlim, Boston, Chicago, Nova York e Paris – é o
cenário ideal para as tentativas de derrubar o recorde do
Portuga. O treinamento dos atletas não profissionais é quase
um rito de passagem que requer muitos itens a cuidar e a
cumprir. De amador fica apenas o sentido etmológico da
palavra: esporte de quem ama fazer esporte.
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Acima, Marcos Paulo Reis, idealizador
do Projeto Arrastão.
Abaixo, Amilcar Lopes, conquista
tempo invejável para um atleta
amador na maratona de Chicago rendeu assunto até para o livro de
Sérgio Xavier (capa à direita)
ARTE
GRAFITE
DISCIPLINADO
O MOVIMENTO POP GANHA STATUS: VAI
AO MUSEU, É RESTAURADO NA RUA E SE
APRENDE NA ESCOLA.
POR SERGIO ZOBARAN
À
s vezes confundido por gente mais desavisada
Sobre pastilhas ou madeira, os grafites de César Profeta
com a pixação (ou pixo) — aqueles rabiscos que
têm até alfabetos próprios que representam
Da inspiração hip-hop e marginal, o grafite conquista a cidade
a rebeldia de alguns grupos de jovens
definitivamente, e outros nomes também se fizeram importantes
considerados criminosos, e por isso passíveis de prisão
na cena paulistana: Ciro Schunenam, Boleta, Mazu, Rafa Cachos,
–, o grafite (ex-”graffiti”, em inglês e no plural) cresce e
Akeni. E mais: Titi Freak, Prozac, Espeto... São dezenas de famosos
aparece em São Paulo há mais de trinta anos. Só que hoje
ou quase, talvez centenas de ainda anônimos querendo a fama de
é reconhecido, aceito e até incentivado por muita gente
“Osgêmeos”, por exemplo. “Todo grafiteiro tem a sua identidade,
– de galeristas a colecionadores, de jovens até museus,
a sua assinatura que é reconhecida pelos outros – e atualmente
literalmente. O MASP, por exemplo, a instituição cultural
também pelo público”, diz a jovem marchande Jaqueline Martins.
mais visitada na capital, dedicou meses de seu maior salão
O grafite começou a aparecer nas ruas de São Paulo no final
a uma exposição específica de alguns dos maiores nomes
da década de 1970. O pioneiro oficial foi Alex Vallauri (1949-
da área (como Zezão, Carlos Dias e Stephan Doitschinoff,
1987), italiano nascido na Etiópia, criado em Santos e depois
este grande artista, que aliás não se diz grafiteiro) entre
em São Paulo. “Erudito” para um meio que se espera marginal,
2009 e 2010. A Prefeitura também se mexe e o defende:
foi artista gráfico formado em Comunicação Visual pela FAAP,
o grande mural grafitado no túnel da Av. Paulista, uma
onde deu aulas de desenho. Foi também pintor, cenógrafo e
vez pixado, foi imediatamente restaurado por seus
gravador – por ela começou sua arte. E, por fim, foi grafiteiro,
funcionários. E mesmo uma instituição de ensino, instalada
depois de especializações em Artes Gráficas na Suécia e
na Rua Augusta, e que se dedica a cursos independentes,
desenho na Inglaterra, além de ter estudado nos Estados
a Escola São Paulo, faz do grafite uma disciplina com o
Unidos, onde já grafitava. Aqui deu continuidade ao trabalho
professor-grafiteiro Loro Verz. Disciplina no grafite? É a
nos muros da cidade: anonimamente imprimiu o grafite de uma
nova realidade de uma arte hoje abrigada pelas galerias.
bota preta, de salto agulha e cano longo por aí, em um de seus
As expressões são muitas: vão de Ozéas com seu Jesus
trabalhos mais reconhecidos à época. Em breve, Vallauri volta à
Cristo de orelhas de Mickey Mouse a tatus de Gejo feitos
cena, pelas mãos de Jaqueline Martins, que reabre sua galeria.
em estêncil nos bueiros abertos da cidade, como um alerta.
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02
ARTE
01
A arte de rua
seria assimilada
no nosso
mercado mais
cedo ou mais
tarde.
A galeria Triângulo representa o Nunca (é, os grafiteiros
normalmente têm apelidos irreverentes). A Thomas Cohn
trabalha com Alex Hornest. E a futura galeria Zipper, de
Fábio Cimino (que se instala em breve na Rua Estados
Unidos, nesta febre de arte que ganha de novo a cidade),
representa o Higraff. Mônica Filgueiras, tradicional
galerista que sempre se renova, ou melhor, nunca deixou
de ser atualizada e inovadora, trabalha com Oséas e
Gejo, por exemplo. E existe também um grupo, o Família
Baglione, que atua no mercado nacional e internacional
com quatro grafiteiros, com destaque para Herbert
Baglione (vale entrar no blog deles, ou no Facebook, e
dar uma olhada). Obviamente, por vocação, a Choque
Jaqueline Martins: “Ainda tem espaço para muitos artistas.”
Ao lado, outra obra de César Profeta
Cultural de Baixo Ribeiro e Mariana Martins tem a maior
concentração de grafiteiros inseridos no mercado. “Mas
ainda tem espaço e muitos artistas desconhecidos a serem
E como e quando o grafite saiu das ruas e foi parar
abrigados”, Jaqueline complementa, lembrando daqueles
nas galerias? “A partir da década de 1980, a galerista
em que também aposta: Pato, César Profeta, Vitché (com
Suzanna Sassoun expõe Alex Vallauri. Aliás, ela foi a
importantes exposições no exterior, como na Fundação
primeira galeria a trabalhar com grafite em São Paulo”,
Cartier em Paris, e em museus e galerias na Bélgica,
diz Jaque. Hoje a mais emblemática entre as galerias de
Alemanha, Los Angeles, Londres, etc.): “ótimos artistas
grafiteiros é a Choque Cultural, inicialmente instalada em
nas ruas, nas galerias, ou dentro de qualquer coleção.”
uma casinha da Rua João Moura, em Pinheiros, e que
E para falar de comercialização do grafite, consultamos
ganhou recentemente outra unidade, na Vila Madalena,
Jaque mais uma vez: “Acho que o critério deve ser a
também especializada neles. Mas o movimento migratório
qualidade. Se a obra é boa, o artista é sensível e criativo,
não para por aí. “Galerias dos mais variados estilos têm
OK!”. Ela encerra: “A arte de rua seria assimilada no nosso
em seu time artistas que saíram da rua para elas”. Senão,
mercado mais cedo ou mais tarde. Na verdade, por aqui
vejamos: a Leme representa Nina Pandolfo — que, além
demorou muito a chegar. Imagine que, em 1977, Alex
do talento, ainda é casada com um dos irmãos-estrelas-
Vallauri já estava participando da Bienal de São Paulo. E
do-grafite, vulgo “Osgêmeos”, de notoriedade irrefutável
pouco tempo depois já tinha uma galeria, e mesmo assim
– representam para o grafite o que os Irmãos Campana
a gente continua tratando o grafite como uma novidade,
também o são para o design nacional.
um movimento de agora...”.
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ARTE
Flávio no ateliê do Beco do Batman e em frente ao seu grafite na rua.
NA CONTRAMÃO
Flávio Rossi foi cartunista, artista plástico e hoje é grafiteiro até sob encomenda.
Era uma vez um menino de Campinas que, como muitos, gostava
Hoje, aos 31 anos, este Flávio ex-ilustrador e ex-caricaturista,
de desenhar. Aos seis anos, o filho de projetista (e músico nas
é artista e tem seu atelier no Beco do Batman, na Vila Madalena,
horas vagas) sentava-se ao lado da prancheta do pai e rabiscava,
epicentro da cena grafiteira de São Paulo. Com técnica e precisão,
rabiscava... As consequências juvenis foram a banda de garagem e
virou do avesso e, por convivência e vontade de ir para a rua
o curso de Artes Plásticas na PUC. Depois vieram as ilustrações para
democratizar sua arte, é grafiteiro também. Entre seus orgulhos
os manuais da Tigre e a descoberta do humor, da caricatura. Prêmios
estão: o de ter seu grafite intacto no muro do bairro, e flashes de
na área? Em (quase) todos os salões de humor brasileiros, do Piauí
visão antes de começar cada novo trabalho, além de uma história
a Piracicaba, o mais importante de todos. A passagem pelo Correio
meio à la Jean-Michel Basquiat, que já grafitava enquanto ele apenas
Popular de sua cidade serviu de trampolim para as colaborações
nascia. No mesmo tempo em que Alex Vallauri espalhava pelos
na Editora Abril, produzindo para revistas como Superinteressante,
muros da cidade de São Paulo a sua bota, entre outros ícones. Então,
Playboy, Veja, Saúde, Vip e Placar. Conheceu Ziraldo e trabalhou para
enquanto discutimos, cerca de trinta anos depois de seu surgimento
o (re)lançamento do Pasquim, onde “fez” de José Serra a Lula. Com
no Brasil, a “validade” do grafite como obra de arte – e há mais de
sucesso, mas sem reconhecimento artístico, o que mais queria, Flávio
vinte anos comemoramos seu Dia Nacional, 27/3 –, o movimento se
Rossi abandonou tudo e partiu para as telas em 2003, incensado por
institucionaliza de forma avassaladora em São Paulo, como no mundo
Pedro Martins, filho de Aldemir, seu primeiro marchande. Livre da
(vide o fenômeno inglês Banksy). Como na história de Flávio Rossi,
pauta jornalística, mas não do aluguel, foi criticado e despejado. Mas,
com sua obra que hoje é feita até sob encomenda para restaurantes
estimulado por Reinaldo Marques, fez uma exposição no Shopping
como o Farofa Paulista (nos Jardins) e o Ringue (em Pinheiros). Flávio
Iguatemi, vendeu e foi em frente.
expõe na nova galeria de Luis Tripoli.
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GASTRONOMIA
Depois de lançar Piquenique, o músico e gourmet revela suas
preferências enogastronômicas.
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N
IO ZOBARA
POR SERG
ÇÃO
N
eto de cozinheiro, o cantor e compositor carioca Ed Motta trouxe ao
público, no primeiro semestre de 2010, o décimo disco de sua carreira,
Piquenique – que marca a estreia da parceria com sua mulher Edna Lopes,
também companheira de degustações “clássicas e conservadoras”. Em
seguida, este expert em boa comida e bebida, especialmente vinhos,
conversou com a revista Yuny sobre seus gostos à mesa. Respondeu às nossas
perguntas de uma forma objetiva e franca, atendendo à nossa curiosidade – e
ainda deu dicas preciosas sobre restaurantes. Especialmente em São Paulo, que,
para ele, faz uma das melhores gastronomias do planeta: “tem excelência”.
IVULGA
• FOTOS D
Yuny: Qual é o seu maior prazer: comer ou beber?
Ed Motta: Adoro comer, mas os vinhos me dão vontade de chorar, me
emocionam mais.
Y: Quais são as suas preferências gastronômicas? O que seria um menu ideal?
EM: Adoro desde um menu de trufas brancas até uma simples e boa massa
pommodori basilico. Minha carne favorita é o pato – e as aves em geral.
De sobremesa, prefiro queijos como um Époisses de Bourgogne com um
bom Sauternes.
Y: O que mais preza em um restaurante – boa comida, é claro, e o que mais?
EM: Taças corretas para vinho, isso é fundamental. Música baixa ou de
preferência sem música. Ela não merece ser pano de fundo para a gastronomia
– me irrito muito com isso. Quanto mais alta a música, mais sem noção é o
lugar... geralmente esses restaurantes que têm um mesmo menu (que mistura)
pratos de influência tailandesa com outros clássicos europeus.
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GASTRONOMIA
Ed Motta: “Bebo de
joelhos vinhos brancos e
tintos da Borgonha”.
“Adoro vinhos do Velho Mundo,
principalmente franceses, que pairam
em um patamar acima de tudo.”
Y: E o vinho é indispensável como acompanhamento a uma boa
EM: D.O.M., Kinoshita, Vecchio Torino, Rufinos, La Brasserie / Erick
refeição? Quais os vinhos de sua preferência?
Jacquin e a cantina Speranza. Mas a lista é grande: vai de Due Cuochi
EM: Adoro vinhos do Velho Mundo, principalmente franceses, que
até a Casa Garabed (de esfihas especiais). O motivo é simples: São
pairam em um patamar acima de tudo. Gosto sempre de um branco
Paulo faz uma das melhores gastronomias do planeta, com grande
antes do tinto, isso é religião.
excelência em tudo.
Y: O couvert é indispensável?
Y: O que come rezando? E o que não come em qualquer hipótese?
EM: Se for do Alex Atala, sim! Mas torradinha com focaccia velha
EM: Trufas brancas e pretas. Não como fast-food jamais. Nunca
muitas vezes é dispensável.
gostei, prefiro arroz com ovo.
Y: E a sobremesa? Qual, quais?
Y: O que bebe de joelhos? E o que não bebe “nem que a vaca
EM: As melhores para mim são as do Antiquarius: a torta de nozes e
tussa”?
a siricaia, e doces conventuais, meus favoritos.
EM: Brancos e tintos da Borgonha. Malbecs em geral descem
quadrado para mim.
Y: A valorização do chef no Brasil está sendo correspondida na
qualidade da comida?
Y: Quem o acompanha nestas refeições? E de onde vem o amor
EM: De certo ponto sim, mas tem muito curioso fazendo experimentos
pela comida e pela bebida?
e querendo desconstruir sem saber o que é uma construção.
EM: Minha mulher Edna. Isso começou de casa, com minha mãe, por
influência do meu avô que era cozinheiro.
Y: Onde é melhor para se comer, Rio ou São Paulo?
EM: No Rio é bem fraco: eu conto nos dedos de uma mão os lugares
Y: E quais são as descobertas recentes e as combinações
legais, e mesmo assim acho bem inferior a São Paulo. Comida na
gastronômicas (inusitadas) que costuma fazer?
América Latina é em SP, sem sombra de dúvida. Sushi, por exemplo,
EM: Uma descoberta simples e deliciosa foi um risoto de quinua na
só como aqui. No Rio e incomível.
Casa de Francisca, uma casa de shows minúscula e muito charmosa
no Jardim Paulista. Não sou adepto das misturas inusitadas: sou
Y: Quais os restaurantes que mais frequenta em SP? E por quê?
conservador e clássico à mesa.
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BAIRRO
NA
VILA
OLÍMPIA
O FUTURO
JÁ COMEÇOU
Novo polo de negócios de São Paulo cresce e aparece.
M
ais recente, e quinto downtown corporativo a nascer na capital paulista – depois da tradição secular
do Centro velho, da grandiosa Paulista e das consagradas regiões das avenidas Brigadeiro Faria Lima
e Engº. Luis Carlos Berrini –, a Vila Olímpia é um dos bairros mais famosos com esta denominação tão
bucolicamente provinciana de vila, como outras centrais de vocações tão diversas na cidade: a residencial
Vila Mariana e a hypada Vila Madalena. É na Vila Olímpia, hoje lugar nobre da megalópole, que o futuro
paulistano se desenha, e no seu cenário já o presente se afirma. Nas ruas e avenidas dessa Vila, algumas alargadas há
muito pouco, existe uma atmosfera otimista e evolutiva de Blade Runner light, com seus edifícios altos. De futurismo, da
fulminante eficiência no modo de produzir e de trabalhar no século XXI.
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BAIRRO
Fachadas espelhadas para
edifícios inteligentes: a nova
fase de um bairro que já foi
um charco.
Poucos podem imaginar, portanto, que a região, na sua parte alta (até a
muitas dessas torres são verdadeiros cartões de visitas
década dos anos 30 do século passado), se espreguiçava ainda sonolenta. Era
de grandes empresas, como diz o arquiteto e urbanista
uma vasta área verde pontilhada de bonitas propriedades rurais, de imigrantes
Roberto Aflalo Filho, do Aflalo & Gasperini, escritório
italianos e portugueses, que então começaram a ser loteadas. Na parte baixa
autor de inúmeras obras no bairro “O endereço é uma
desta Vila, a várzea do Rio Pinheiros – depois aterrada por causa das enchentes
forma de uma empresa se apresentar, de se expor”, diz
–, indústrias de médio porte, galpões, casas de vila e sobradinhos mostravam
Aflalo. No décor que nos remete a fibras ópticas, às super
a outra face do bairro. Ali estavam todos instalados num charco, tornando a
tecnologias de ponta e às soluções arquitetônicas radicais,
sub-região menos valorizada.
as fachadas das torres, de modo geral – e isto vale para as
O boom imobiliário da Vila Olímpia – com seu passado de chácaras, e hoje
da Vila Olímpia, ainda segundo Aflalo – são uma espécie de
com quase 200 prédios e 25 helipontos – é recente. Ocorreu a partir da abertura
“membranas que separam o ambiente externo do interno,
da imponente Avenida Faria Lima, que se chamaria Radial Oeste, na gestão do
sem excluir a importância de pensar na estética”. Por detrás
prefeito Vicente Faria Lima, nos anos 1960, e que ligava os bairros de Pinheiros
de fachadas fascinantes, algumas quase hiper-realistas, há a
ao Itaim Bibi. E, depois, da construção do seu prolongamento, nos anos 1990. A
preocupação de manter a qualidade ambiental, a qualidade
partir daí começaram a brotar as torres impressionantes e os edifícios inteligentes
térmica (para bloquear a penetração do calor) e a qualidade
típicos do fim do século passado no mundo todo, e uma das características básicas
do ar. “E controlar a entrada excessiva da luz, interferindo na
do século atual. Era o novo polo de negócios de São Paulo que se formava. Hoje,
iluminação dos escritórios.”, observa o arquiteto.
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BAIRRO
APOSTA NO BAIRRO
Restaurantes, chocolateria,
ateliê de cerâmica e o Shopping:
bucolismo e progresso.
Mas há um outro rosto da Vila Olímpia que contrasta
com o cenário francamente progressista. Ele foi criado por
algumas pessoas visionárias e criativas que ali instalaram
nas décadas passadas, nas casas sobreviventes do bairro,
ateliês, cafés, restaurantes e pequenos escritórios de
microempresas em que o tema é sempre este: charme.
Stella Ferraz, a emblemática ceramista, é uma delas. Está
há anos na Rua Chilon. A sapateira Paula Ferber é outra.
Abriu seu primeiro espaço na mesma Vila. O restaurante
Trio ali nasceu, há quatorze anos, e se criou com o
poderoso banqueteiro Charlô entre seus sócios. Até hoje,
sob o comando de Dudu Linhares, que abriu também um
espaço de eventos com o mesmo nome, o Trio faz grande
sucesso no horário do almoço comercial, no jantar e aos
domingos, com o seu afamado brunch. Paula de Lima
Azevedo ali instalou a sua conhecida chocolateria Sweet
Brazil há mais de vinte anos, em uma casa de vila na
Rua Cassiano da Silva Passos. “Quando cheguei aqui, em
1987, o bairro era uma grande favela, com ruas estreitas
e engarrafadas, esburacadas ou sem saída, inundadas
quando chovia, e praticamente sem calçadas – além dos
pontos de crack. Eu trabalhava de portas fechadas e a minha
primeira fábrica era protegida por grades porque, de vez
em quando, recebíamos ameaças,” ela lembra, com o ar
de quem diz parece que foi ontem. E foi mesmo! Hoje em
novo endereço, com arquitetura de Alfredo Pimenta, muitos
doces, bombons, barras de chocolate e salgados, a Sweet
Brazil conta com trinta funcionários e uma loja defronte da
pequena fábrica que é outro grande sucesso: serve mais de
trezentos cafés, no horário do almoço, para executivos e,
especialmente, segundo sua proprietária, publicitários que
descem de seus edifícios de escritórios na Rua Funchal e na
Rua das Olimpíadas e circulam pela ainda pacata Alameda
Raja Gabaglia, onde está a Sweet Brazil de Paula. Outro que
apostou na Vila Olímpia foi o chef Roberto Ravióli. Lá, ele
inaugurou o seu primeiro espaço gastronômico, o Empório
Ravioli, na Rua Fidêncio Ramos. E o bairro é também
incubadora de outras cozinhas muito apetitosas: foi ali
que se estabeleceu a cozinha do Arábia, famosa cadeia de
restaurantes de comida árabe da cidade, entre outras.
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PERFIL
MORAR E COMPRAR
(OU VENDER)
BEM UM IMÓVEL
Dr. Marcelo Terra: “O Direito Imobiliário é uma proteção a toda a sociedade”.
POR LÉA MARIA AARÃO REIS
U
m dos mais respeitados especialistas em
atenção à trilogia que acompanha a boa compra de
Direito Imobiliário do Brasil, o advogado
imóvel: a escolha do local, a análise atenta da planta e
Marcelo Terra, sócio do escritório Duarte
o preço convidativo. A seguir, uma entrevista construtiva
Garcia, Caselli Guimarães e Terra, tem duas
do Dr. Marcelo.
certezas. A primeira é de que a construção,
cada vez mais frequente, de condomínios horizontais
Yuny: Quase diariamente lemos, na mídia, o noticiário
e verticais na capital do estado e em outros grandes
sobre o boom da indústria da construção civil e uma
centros, atende necessidade dos habitantes das cidades,
retomada das atividades imobiliárias, nos grandes
hoje básica e crescente, de segurança não apenas
centros do País. Ela existe mesmo?
patrimonial, mas também pessoal. São empreendimentos
Marcelo Terra: Sim, sem dúvida. Todos os indicadores
que, além do mais, em geral, oferecem serviços in loco
divulgados apontam para este incremento na atividade
aos seus moradores – o que proporciona mais flexibilidade
da indústria imobiliária. Aqueles que de alguma forma
de locomoção através de ruas e avenidas congestionadas.
trabalham com a indústria imobiliária sentem este
A segunda afirmativa de Terra diz respeito à prática da
acréscimo de atividade. E todos os indicadores apontam
sua especialidade no Direito. “É o Direito que trata dos
para uma efervescência sustentada.
negócios cuja base é o imobiliário”, diz ele. Trata-se de uma
atividade que visa a proteção de todos os protagonistas
Y: Em uma grande cidade como é São Paulo, em quais
envolvidos nas operações de negócios – investidores de
regiões essa movimentação se verifica?
imóveis e compradores de unidades habitacionais.
MT: Em todas as regiões. São Paulo é, na realidade, um
Membro do Conselho Jurídico do Sindicato de Compra e
conjunto de diversas cidades. Cada bairro do centro
Venda de Imóveis (Secovi-SP) e autor de diversos livros
urbano e cada cidade da região metropolitana têm as
sobre o tema, Marcelo Terra também observa que esses
suas características e o seu público. Com o programa de
condomínios atendem a todas as classes. E para quem
governo Minha Casa Minha Vida, efetivamente todas as
deseja seguir o seu exemplo pessoal, deve prestar
regiões encontram demanda para os produtos imobiliários.
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Dr. Marcelo Terra em seu
escritório de São Paulo
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PERFIL
Y: No Brasil, o Direito Imobiliário já é uma área jurídica bastante
conhecida. Como ele pode ser definida e quais são os seus objetivos?
MT: O Direito Imobiliário é uma expressão bastante ampla. Na
realidade, o advogado que trabalha com Direito Imobiliário pratica
uma série de ramos do Direito (Civil, Comercial, Ambiental,
Urbanístico, Tributário) interagindo com Direito Societário, Família e
Sucessões. Gosto de dizer que o Direito Imobiliário praticado pelo
nosso escritório é o direito dos negócios com base no Imobiliário.
Y: E a quem ele protege? Aos incorporadores e construtores, e
também aos clientes?
“A atividade da indústria
imobiliária permeia o meio
ambiente, o consumidor, o
urbanístico. A complexidade da
legislação é cada vez maior”.
MT: Como todo ramo do Direito, o Imobiliário existe e está à disposição
da sociedade. Seu objetivo é regrar e disciplinar a vida em sociedade,
protegendo, portanto, não essa ou aquela parte isoladamente, mas
a relação contratual firmada. Portanto, em última análise, protege a
própria sociedade como um todo.
Y: Um empreendimento que seja espetacular, por exemplo, em São
Y: Qual é a função do advogado nas incorporações, na
Paulo, em uma área até então semidegradada, tem capacidade
aprovação da compra do terreno, no contrato entre os
de atrair negócios nas proximidades dele e, em médio prazo,
sócios do negócio, na montagem jurídica do processo e no
transformar a qualidade de vida dos moradores da região?
relacionamento da empresa com poder público?
MT: Sem dúvida. Há vários e inúmeros exemplos. Basta olharmos
MT: Hoje em dia, o advogado dos negócios com base imobiliária
o mapa da cidade. Alguns exemplos podem ser vistos no Shopping
exerce estas múltiplas facetas, incluindo o relacionamento com o
Iguatemi, em Alphaville, no Centro Empresarial.
adquirente final do produto imobiliário: lote, unidade autônoma,
ou título de valor mobiliário com base imobiliária como certificados
Y: E qual é a sua opinião sobre a legislação – nacional, estadual,
de recebíveis imobiliários, debêntures imobiliárias, fundos de
municipal – que regulamenta o zoneamento urbano? Ela
investimento imobiliário, etc.
realmente protege o patrimônio público? E as alterações mais
recentes nesse conjunto de leis? São justas? Elas procedem?
Y: Em que medida os novos lançamentos de condomínios
Y: Problemas na aquisição dos terrenos, por exemplo: pessoas
MT: O grande segredo de uma boa legislação urbanística ambiental
horizontais ou verticais, onde os moradores podem usufruir de
idosas que não pretendem deixar as suas casas; o número cada
consiste na sábia e ponderada coordenação entre atividade econômica
dezenas de serviços, estão determinando novos comportamentos
Y: Qual é o perfil do cliente mais cortejado pela atividade
vez menor de terrenos disponíveis para compra; o tombamento
e proteção urbanística e ambiental. E precisa ser de fácil compreensão
e estilos de vida inéditos para os moradores das cidades?
imobiliária? Jovem? Idoso? Desejoso de adquirir seu primeiro
de imóveis pelos serviços de patrimônio... Em que medida tudo
por todos os cidadãos. Mais ainda: precisa haver um grau de segurança
MT: Em um grande centro urbano recheado de preocupações
imóvel? Vem do interior do estado? É investidor? Compra para
isto dificulta o trabalho de incorporação e compra de áreas
jurídica para os investimentos que não podem ser surpreendidos a
relacionadas ao trânsito e à segurança pessoal e patrimonial, os
fazer negócio?
interessantes?
meio do caminho, seja por causa da alteração legislativa ou pela
grandes condomínios vieram preencher uma lacuna para determinada
MT: Penso que todo cliente é cortejado. O segredo está em se
MT: A sociedade é cada vez mais complexa nos seus múltiplos
modificação de entendimento de legislação anterior.
camada da população. São extremamente positivos.
descobrir o projeto adequado para o público desejado.
ambiente, o consumidor, o urbanístico. A complexidade da legislação
Y: Quais os cuidados que o empresário da atividade imobiliária,
Y: E a insegurança crescente, em um grande centro como São
Y: O senhor mora em condomínio? Em apartamento? Em casa?
é cada vez maior. Alie-se este incremento de complexidade à natural
devidamente assessorado pelos seus advogados, deve ter para
Paulo? Determina mudanças nos lançamentos imobiliários?
Costuma se beneficiar dos serviços do seu condomínio?
diminuição de áreas destinadas a empreendimentos imobiliários nos
realizar um bom negócio e, ao mesmo tempo, evitar a agressão
MT: Sem dúvida. Voltamos ao exemplo dos grandes empreendimentos.
MT: Moro em apartamento situado em prédio, e me beneficio da
grandes centros urbanos. Resultado: maior dificuldade na aquisição,
ao meio ambiente?
E devemos lembrar também dos empreendimentos do tipo
sala de fitness.
com rapidez e com a necessária segurança, de áreas destinadas a
MT: Trabalhar com os melhores profissionais de todas as áreas, saber
loteamento fechado e de alterações arquitetônicas mais singelas,
empreendimentos imobiliários.
compreender a importância de sua atividade e de sua atuação no
como as guaritas, que eram inexistentes nos projetos e no cenário
Y: Como escolheu a sua moradia?
seio da coletividade.
paulistano até a década de 1980.
MT: Pelo local, pela planta e pelo preço.
regramentos. A atividade da indústria imobiliária permeia o meio
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ESTILO YUNY
NA VILA OLÍMPIA,
O NOVO MODO DE
VIDA
Limited Funchal traduz o jeito de morar contemporâneo.
01. Perspectiva ilustrada da Fachada.
C
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om uma localização excepcional – um dos
objetivos. As unidades são totalmente integradas, como
iluminado, como em edifícios de escritórios nova-iorquinos – um loft moderno. “Buscamos trabalhar
últimos terrenos localizados no coração da Vila
manda o jeito de morar contemporâneo: sala, quarto,
com muito vidro, e por isso todos os terraços têm este tipo de fechamento e massa texturizada branca.
Olímpia, na esquina das ruas Funchal e Gomes
lavabo e cozinha formando um único volume – todos
Portanto, é um edifício bem clean, com o forro dos terraços em madeira para aquecer um pouco“, diz
de Carvalho –, em duas torres residenciais, com
com janelas de piso a teto e terraço em toda a sua
a arquiteta Grazzieli S. Gomes, coordenadora de projetos no Aflalo&Gasperini, escritório emblemático
apenas algumas lojas abaixo do corpo de um
frente, permitindo assim uma grande luminosidade no
na cidade e no país, e autor do Limited Funchal, cujo paisagismo leva a assinatura de Marcelo Novaes.
destes dois edifícios, o Limited Funchal lança,
apartamento e flexibilidade total de layout. Ainda há os
O Limited tem um salão de festas no térreo e no sexto pavimento está a área de lazer, que inclui
em São Paulo, o conceito nova-iorquino de arquitetura
duplex, apartamentos diferenciados, com 1 dormitório
fitness, sauna, área de descanso e uma raia descoberta em cima do edifício mais baixo, conectado ao
contemporânea: espaços inteligentes e multiuso. São
no pavimento superior, e as áreas sociais no inferior.
corpo mais alto por uma elegante passarela – e as garagens ficam nos quatro subsolos. “Em todas as
pouco mais de 80 apartamentos de áreas variadas, com
O fechamento dos terraços do Limited Funchal é feito
opções de apartamentos buscamos criar um espaço qualitativo e flexível”, diz Grazielli. E continua: “Na
um ou dois dormitórios, em cinco tipos de plantas –
em “pele de vidro”, e em ambos os andares do duplex
verdade, trata-se de um grande ambiente que pode ser dividido como se queira. Afinal, somente nos
entre 62 e 130 m2 – os tamanhos ideais para os seus
a sensação (e a realidade) é de um espaço amplo e
apartamentos de dois dormitórios é que eles aparecem definidos e mais separados”. Mas ela relembra
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ESTILO YUNY
02
02. Imagem ilustrativa.
03. Perspectiva ilustrada do apartamento de 67 m2.
que a solução estrutural “limpa” da torre possibilita
que, no contexto urbano de uma megalópole, a
a junção de apartamentos, dando maior flexibilidade
localização da moradia é fundamental – e traz
aos futuros moradores e/ou investidores.
contemporaneidade, além de status ao seu morador.
03
FICHA TÉCNICA*
Como no Limited Funchal, cujo nome já diz tudo,
NADA MAIS A DIZER
é para quem preza conforto com praticidade! “Ser
Tem gente que é antenada com o mundo, que tem
Limited já traz uma dimensão da exclusividade e alto
um lifestyle globalizado. E que busca as melhores
padrão”, diz a campanha de lançamento. Porque o
marcas porque sabe que seus produtos têm mais
nome do empreendimento, que tem este conceito,
qualidade. A Yuny entendeu isso e buscou enfrentar
já diz tudo. Daí o slogan criado: “Nada mais a dizer”,
um de seus maiores desafios: trazer para São
que mostra a força do produto, valorizando tudo
Paulo um novo padrão “grifado” de apartamentos.
o que é Limited. E que começa na Vila Olímpia,
A partir de pesquisas, a incorporadora constatou
desenvolvido para quem tem muito a dizer.
TORRE A
TORRE B
03 apartamentos duplex com 65,40 m²
16 apartamentos com 67,30 m²;
18 apartamentos duplex com 64,53 m²
14 apartamentos com 66,37 m²
16 apartamentos com 62,51 m²
01 apartamento com 129,43 m²
01 apartamento com 130,79 m²
06 apartamentos com 106,06 m²
07 apartamentos com 76,25 m²
VAGAS
VAGAS
1 ou 2 vagas para unidades duplex
1 vaga por unidade
* Material preliminar sujeito a alteração.
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SOCIAL
MEIO AMBIENTE,
EDUCAÇÃO
E ENSINO
PROFISSIONALIZANTE
O investimento social da Yuny
Como toda corporação que se preze no mundo de hoje, a Yuny tem uma estratégia
de investimento socioambiental, o que contribui para minimizar o impacto
causado pela sua atividade econômica e para promover o desenvolvimento social.
Os projetos desta área, desenvolvidos com a assessoria especializada da Lynx
Consultoria, são quatro até o momento.
Toca, Zezinho!
Iniciado em fevereiro de 2009, visa o ensino de canto coral, musicalização infantil e o
uso dos instrumentos musicais, atingindo 440 crianças e adolescentes atendidos pela
ONG Casa do Zezinho. Utilizando um repertório de música erudita internacional, e
com especial enfoque na música brasileira clássica e folclórica – além da participação
de músicos das principais orquestras de nossa cidade –, o Toca, Zezinho! busca a
educação e o crescimento dessas crianças através da música. Em 2010, a Yuny
duplicou seus investimentos nesse projeto.
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SOCIAL
Semana do Planeta
Utilizando a Semana Internacional do Meio Ambiente, de 7 a 11 de junho, a
Semana do Planeta Yuny promoveu a conscientização dos funcionários da
incorporadora através de uma série de iniciativas que tinham como objetivo o
engajamento e a sensibilização do público interno para questões ambientais.
Escola Verde
Houve testes de consumo, revoada de balões biodegradáveis, plantio de mudas
Trata-se de um projeto de educação ambiental em escolas públicas, localizadas no
e sorteios de itens orgânicos, buscando assim sensibilizar os colaboradores diante
entorno dos empreendimentos da Yuny. E que visa mobilizar e capacitar gestores,
do desafio de se preservar nossa natureza.
professores e, ainda, mobilizar alunos através de um conteúdo pedagógico
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adequado às necessidades e realidades de cada público-alvo. A primeira Escola
Construindo o futuro
Verde Yuny está sendo implantada próximo aos empreendimentos Le Paisage
Este projeto quer contribuir para a qualificação profissional e inclusão dos jovens
e Marquise, no bairro do Ibirapuera, dentro da Escola Municipal de Educação
com menos oportunidades no mercado de trabalho, dentro do setor da construção
Infantil (EMEI) Heitor Villa Lobos, localizada na Rua Curitiba, e que atende 165
civil, promovendo seu desenvolvimento socioeconômico. Após a conclusão do
crianças de 3 a 6 anos de idade. Neste projeto pioneiro, o foco é em jardinagem,
curso, a intenção é que os jovens, de 18 a 24 anos, sejam contratados pelas
reciclagem, e na horta.
construtoras parceiras para trabalhar nos empreendimentos da Yuny.
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LIFESTYLE
EXECUTIVO
IMPREVISÍVEL
Depois de fazer a noite paulista, Beto Pandiani veleja profissionalmente em busca do inóspito.
POR SERGIO ZOBARAN • FOTOS ARQUIVO PESSOAL
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LIFESTYLE
E
m São Paulo, o ex-homem da noite Beto Pandiani
inusitado. Ele explica como tudo começou: “Velejo
leva hoje uma vida regrada de executivo, ainda
desde os 23 anos, e só não comecei aos 15 por motivos
que sem terno e gravata. Em casa o velejador e
financeiros e falta de oportunidade, mas já sonhava em
palestrante lê (livros prediletos: O Poder do Mito,
dar uma volta ao mundo. Nasci em Santos, de frente para
Expedição Kontiki e Abaixo da Convergência),
o mar, que amo desde pequeno. Meu pai foi velejador
assiste TV (filmes preferidos: todos os de Fellini, além
também, e acho que a inspiração também veio dele. Como
de Dersu Uzala e Fitzcarraldo), pesquisa na internet.
profissão, não imaginei que isso fosse possível, tanto que
Nos fins de semana, quase sempre vai para a Ilhabela.
estudei achando que ia para o lado administrativo de
Bem, aí tem a vela, paixão que move sua vida para
alguma empresa. Depois fui trabalhar em restaurante e no
lugares imprevisíveis.
final fui parar na noite paulistana, sendo sócio de diversas
Beto escreve bem – já lançou seis livros, como o mais
casas noturnas nas décadas de 1980 e 90 – AeroAnta,
recente Travessia do Pacífico (Terra Virgem Editora, com
Singapore Sling, Clube BASE, Lounge, Mr. Fish e Olivia.
Igor Bely) –, rodou três filmes – e fará mais um em sua
Passados alguns anos, veio a oportunidade de fazer uma
Yuny: O que motiva um homem a singrar os mares ao
próxima viagem pelo mar polar do Ártico, este para
longa viagem Miami-Ilhabela, em 1994. Larguei tudo e fui.
invés de sentar-se em frente ao computador e trabalhar
o cinema –, e organizou inúmeras exposições de suas
Mesmo durante a época do trabalho na noite eu velejava,
como executivo?
fotografias. E, como atividade principal, dá palestras
competia na Classe Hobiecat 16”. E aí perguntamos ao
Beto Pandiani: Foram seis viagens no total (até agora),
motivacionais para empresas sobre este seu trabalho
Betão, como é chamado pelos amigos!
mas engana-se quem pensa que deixei de trabalhar como
executivo. Só não ando de terno e gravata, mas o meu
trabalho continua sendo o de empreender, organizar,
liderar, cuidar do orçamento, motivar o time, tomar
decisões, administrar riscos, etc. A motivação é o novo,
o desconhecido, é a tentativa de realizar o impossível, a
superação física e organizacional.
Y: Quantos dias por ano dedica ao mar e quantos passa
em terra?
BP: Depende; se for ano de viagem, posso me afastar de
São Paulo por alguns meses; se não, só velejo nos fins
de semana. As minhas atividades giram em torno das
viagens. Já fiz seis livros, três filmes, inúmeras exposições
de fotografia e, como atividade principal, faço palestras
motivacionais para empresas.
Y: Como funcionou a tripulação desta viagem mais
recente, quantas pessoas, com que funções?
BP: Como o barco é pequeno, e não tem cabine, só velejo
com mais um companheiro. Temos sempre um fotógrafo e
um cinegrafista nos seguindo e, dependendo da viagem,
eles vão de avião, barco, carro ou mesmo, em determinados
trechos, no nosso barco. Sempre tem alguém em São Paulo
coordenando a viagem, além da assessoria de imprensa e
das empresas que patrocinam também.
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LIFESTYLE
Imagens e capa do livro em
parceria com Igor Bely.
Y: O que comiam e bebiam; enjoavam, passavam mal?
Y: Qual foi a maior viagem, o maior desafio?
BP: Maiores dificuldades, medos... Comemos um pouco de tudo.
BP: A mais longa viagem em distância foi a última, a Travessia do
Pratos principais quentes são as comidas liofilizadas; café da manhã
Pacífico: 9 mil milhas náuticas, quase 17 mil quilômetros. Mas a que
são cereais, leite, frutas secas, frutas, barras. Comemos também
mais tempo durou foi a Entre Trópicos, 289 dias de Miami à Ilhabela.
castanhas, nozes, queijos, salames, biscoitos, doces e barras
Sempre o maior desafio é ficar exposto por meses em situações de
energéticas. Enjoar faz parte, pode acontecer, mas é difícil. Adoecer
risco. Basta uma decisão errada, um descuido, e tudo pode estar
nunca aconteceu, felizmente. As maiores dificuldades são inerentes
perdido. Ficar muito tempo velejando nestas condições requer uma
ao fato do barco ser aberto e ficarmos expostos ao frio, calor e à água
cabeça em ordem, calma, confiança e determinação.
do mar. Tem os dias lindos no mar, como também os dias feios de
mau tempo, quando não conseguimos descansar à noite, e somos
Y: E as próximas, para onde e quando?
obrigados a resistir até passar a tempestade.
BP: A próxima viagem deve ser a mais difícil e complicada. A ideia
Dois fatos mais curiosos: a primeira viagem, que foi de Miami a Ilhabela
é partir da Groenlândia, onde chegamos em 2005, e continuar
na sua primeira parte, velejamos pelo Caribe e, quando chegamos à
velejando para o norte, acima do Círculo Polar Ártico passando por
América do Sul, não contornamos as Guianas como seria normal para
cima do Canadá e chegando ao Alaska. Uma viagem pelo mar polar
atingir a costa brasileira. Ao invés disso, entramos no Rio Orinoco, na
do Ártico que descongela em parte no verão. Serão noventa dias pela
Venezuela, e subimos este gigante por 1.800 quilômetros até o encontro
região mais imprevisível do planeta. A viagem deve acontecer em
do Canal do Casiquiare. De lá, passamos a navegar em direção ao Rio
2012, e desta vez vamos produzir um filme para o cinema.
Negro. Mais um mês e chegamos ao Rio Amazonas e, por fim, Belém.
Sonhos futuros de outras viagens? Quais, para onde? Continuar a
Cortamos a Amazônia toda por rios durante 75 dias, navegamos mais
velejar por lugares inóspitos, pouco explorados, quase sem ninguém
de 5 mil quilômetros por uma rota praticamente desconhecida.
morando por perto.
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TURISMO
DE VOLTA ÀS
RAÍZES
Descendentes de imigrantes refazem o caminho de origem.
POR ANA MARIA SANTEIRO • CONTEÚDO CONCIERGE TURISMO
A
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REVISTA
Scaliger - Castelo do Sec. XII
localizado em Sirmione uma
comunidade na Brescia
prendemos na escola que os brasileiros são frutos de três povos: índios, africanos e europeus,
ingredientes básicos para a formação da brasilidade durante quatro séculos. No final do século
ITÁLIA: TUTTI BUONA GENTE
XIX e início do XX, entretanto, outros temperos foram salpicados a esse melting pot, dando-
Da Itália veio um total de 1.243.633 imigrantes, de todas as regiões. O Vêneto, no norte italiano, foi
lhe novos sabores. Portugueses e espanhóis da Europa deram lugar aos italianos. E, de outros
a que mais exportou: 365.710 pessoas! A origem do nome vem do povo que habitava a laguna de
continentes, vieram árabes e japoneses. Entre 1870 e 1929, grandes levas de imigrantes
Veneza, às margens do Mediterrâneo, na época romana. Na Idade Média, a República de Veneza
aportaram aqui através de processos migratórios organizados pelo Governo brasileiro e incentivados
estendeu sua influência às demais cidades-estado vizinhas, como Verona, Vicenza e Pádova. Da capital
pelos países de origem. De um lado, a procura de mão de obra para a lavoura ante a iminência
é fácil e rápido visitar estas lindas cidades históricas, que conservaram fabuloso patrimônio cultural e
do fim da escravatura. De outro, a busca por melhores condições de vida, fugindo da fome ou de
arquitetônico. Lugares repletos de monumentos romanos, medievais e renascentistas, villas, palácios,
perseguições religiosas. Cento e quarenta anos depois, rendidos à total miscigenação, que sempre
castelos, pontes e museus. O Vêneto também oferece excelentes vinhos e gastronomia, com pratos
fala mais alto, esses grupos são parte indelével da cultura brasileira. Afinal, quem não conhece (ou
à base de frutos do mar – incluindo risotos e massas. Veneza é uma cidade singular, tanto pela sua
gosta de) uma esfiha, uma pizza ou um sushi? Uma vez estabelecidas e ascendidas, muitas famílias
construção sobre o mar – as quadras são ilhas e as ruas, na maior parte, canais – e pela sua arquitetura
de imigrantes, e agora seus descendentes, fazem o caminho de volta, para rever ou conhecer suas
cheia de palácios e belos edifícios, tão diversos entre si e, ao mesmo tempo, tão homogêneos, como
origens, pois nele há muita história a se contar e coisas a se ver.
pela forte influência oriental, que dá à cidade uma aura de conto de fadas.
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TURISMO
Noite em Verona
Praça São Marcos, em Veneza
Na Piazza San Marco fica a Basílica em estilo venezianobizantino e o Palazzo Ducale (ou Palácio do Doge), em
estilo gótico-veneziano, construído a partir do século XII. À
esquerda de quem olha para a basílica, a linda Torre dell
Orologio. Pela Ponte dos Suspiros, do século XVI, chegase ao Palácio do Doge. E durante o inverno acontece o
Carnaval de Veneza: a população sai às ruas com as
tradicionais máscaras inspiradas nos personagens da
Commedia dell’arte: Arlequim, Colombina, Polichinelo e
Balanzone. Bem perto dali está a eterna cidade de Romeu
e Julieta, Verona. Seu patrimônio histórico inclui a Arena
construída no século I d.C., um castelo medieval com altas
muralhas, o Castelvecchio, residência da família Scaligeri,
as igrejas de Santa Maria Antica e a Basílica di San Zeno
Maggiore (1120). E, para não sair do conto de fadas que
a cidade também inspira, a “Casa de Julieta”, do século
XIII. Uma das mais antigas cidades de Vêneto, Pádova foi
importante centro comercial e agrícola, e do século XI ao
XII tornou-se comuna livre, até sua anexação à República
de Veneza, no século XV. São desta época a Universidade
de Pádova e a Basílica de Santo Antonio, que era
português e ali viveu e morreu. Giotto, autor dos afrescos
da Cappella degli Scrovegni, também viveu em Pádova
entre 1305 e 1310. De lá, pelo Canale di Brenta – ladeado
por dezenas de magníficos palácios – chega-se à Laguna
de Veneza. Vicenza, fundada antes da era Cristã, viveu
grandes disputas com Verona e Pádova, até ser anexada
a Veneza em 1404. As villas e os palácios projetados pelo
arquiteto renascentista Andrea Palladio e seus discípulos
constituem importante patrimônio arquitetônico. O Palácio
Chiericati – atual Museo Cívico – construído em 1549, é
todo ornamentado por estátuas, com arcos e colunas
jônicas. Obras de Tintoretto, Mantegna, Carpaccio e
Veronese fazem parte do acervo. O Teatro Olímpico, na
Piazze Matteotti é o mais antigo teatro coberto da Europa.
Em Cortina d’Ampezzo, uma das principais estações de
esqui italiana, desfruta-se de belas paisagens no inverno,
e no verão os morros floridos convidam ao trekking, ao
mountain bike, às escaladas.
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TURISMO
Uma das belas
vistas de Beirute
LÍBANO: JOIA DO ORIENTE MÉDIO
Do Oriente Médio, também banhando pelo Mediterrâneo, vieram os árabes da Síria e do Líbano.
Do ponto de vista étnico, sírios e libaneses têm a mesma origem, embora política e culturalmente
haja diferenças marcantes entre eles. Seus passaportes eram da Turquia, pois o Líbano e a Síria
não existiam como países independentes. Faziam parte do Império Otomano (1299-1922), regido
pela Turquia. Esse detalhe fez com que, aqui no Brasil, todo árabe fosse referido como turco. Como
Nassib, o personagem de Jorge Amado, em Gabriela, Cravo e Canela. O Líbano é um pequeno país
montanhoso, de rica cultura. Protetorado da França até 1926, tem o francês como segunda língua,
além do árabe. Faz fronteira ao sul com Israel, a norte e leste com a Síria. Na estreita costa banhada
pelo Mediterrâneo estão Beirute, Trípoli, Byblos, Sidon e Tyro, cidades com muita história. Outras
grandes e pequenas cidades ou aldeias formam o resto da costa do norte ao sul na sombra do Monte
Líbano, que parece levantar-se do Mediterrâneo de maneira súbita.
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Sua capital Beirute é conhecida pelas belezas naturais e
se apreciar a Mesquita Al Omari, sobretudo iluminada, à
modernidade. Durante muitos anos foi conhecida como a
noite. Durante o dia, Ras Beirut, onde fica o campus da
Paris do Oriente. Normalmente, o turista que vai ao Líbano
Universidade Americana do Líbano, fundada em 1866,
se hospeda em Beirute, onde há uma infinidade de hotéis
e Hamra são bairros onde se pode conferir o dia a dia
de todas as categorias, e de lá visita às outras partes do
alegre e contagiante dos beirutianos. E à noite, Beirute não
país e retorno no mesmo dia, pois fica tudo muito próximo
para. Na rua Manot, no bairro Achrafiyé, estão as baladas
(em geral, menos de duas horas de viagem). Por toda
do momento. Junto a Beirute, estão Jounieh, balneário
cidade, construções modernas convivem com construções
elegante; Harissa, na montanha, acima de Jounieh, sítio
em estilo arabesco-otomano e francês, que lhe conferem
da Basílica e Santuário de Nossa Senhora do Líbano e da
um charme próprio. Às margens do Mediterrâneo, seu
Basílica de São Paulo, umas das mais fantásticas atrações
clima é perfeito para viagens o ano inteiro. Deve-se fazer
do Líbano, onde se chega de carro ou por teleférico, e de
compras nas boutiques mais fashion nos diversos souqs,
onde se tem uma vista espetacular: o o mar até a ilha de
explorar os tesouros do país no Museu Nacional, visitar
Chipre; a Gruta de Jeita, localizada no vale do rio Nahr Al-
galerias de arte, dançar nos clubs super trendy, jogar no
Kalb, uma das maravilhas do mundo, descoberta em 1836,
cassino, ver o pôr do sol, relaxar nos spa na La Corniche:
formada for cavernas em dois níveis – na de cima se vai
com certeza Beirute tem muitas coisa a oferecer para
de barco (é uma rota de escape do rio Nahr Al-Kalb) e na
todos. A Torre do relógio, na Place d’Etoile, é o ponto
de baixo vai-se a pé –; e Faqra, estação de esqui, cheia
central da cidade, de onde saem vários calçadões cheios
de ruínas de templos, túmulos, colunas e altares, onde se
de lojas chiques, cafés e restaurantes. Mais à frente, pode-
pode continuar a honrar deuses e antepassados.
TURISMO
01
Na pág. anterior,
rochas em Beirute, à beira do
Mediterâneo
Ao lado,
01. Noite agitada no
verão libanês.
02. Universidade Americana
do Líbano.
03. Centro de Beirute.
02
Nas cidades históricas, chega-se ao berço da
Humanidade e se maravilha com o maior conjunto
Kasato Maru, navio que trouxe mais
de 800 japoneses ao Brasil.
arquitetônico romano existente no mundo, os templos
dedicados a Júpiter, Vênus e Baco, datados dos séculos I
03
74
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e III, em Baalbek, no vale de Beka; as ruínas de palácios,
NO JAPÃO, A PORTA DE SAÍDA É A MESMA DE ENTRADA
souqs, thermas, ruas com colunas e muros, recintos com
Com o fim do reinado dos Xoguns, o Japão iniciou um processo de
centro econômico e um dos maiores portos do Japão e do mundo, de
impressos dos primeiros muçulmanos, em Anjar; o Palácio
transformação – a Restauração Meiji (1868) – inserindo o país no mundo
onde saiu o primeiro navio – o Kasato Maru – com 802 imigrantes, com
Beit Ed-Dine, pérola da arquitetura oriental, em Beit Ed-
moderno. As mudanças econômicas e políticas ocasionaram tensões
destino ao Brasil, em 1908. Localizada na região de Kinki, é parte da
Dine; os vestígios de um castelo dos Cruzados, num dos
sociais internas por conta da escassez de terras e do endividamento dos
área metropolitana de Keihanshin, também muito conhecida por seu
sítios arqueológicos mais ricos do Oriente Médio e uma
trabalhadores rurais. Assim, o projeto de emigração de trabalhadores
próspero entorno, cuja paisagem é realçada pelo Monte Rokko, e está
das cidades mais antigas do mundo, Biblos ou Jbeil. Ao sul,
japoneses para outros países teve como objetivo aliviar tais tensões e
aproximadamente a três horas de Tóquio, pelo “trem-bala”. Kobe foi
Sidon e Tiro mantêm não só os vestígios dos povos que
foi altamente promovido pelo governo.
uma das primeiras cidades a abrir o comércio com o Ocidente, no final
por ali passaram como mantêm a tradição de importantes
A opção pelo Brasil começou quando os Estados Unidos e a Europa
do século XIX, e desde então é conhecida como uma cidade portuária
portos e entrepostos comerciais que são desde os tempos
limitaram a entrada dos japoneses. O fluxo migratório se concentra
associada ao cosmopolitismo e à moda, com atmosfera exótica para os
imemoriais do Rei Salomão, como nos conta Z. Rodrix em
entre 1904-1940, quando cerca de 150.000 japoneses iniciam sua
padrões japoneses, sintetizada na frase “se você não pode ir a Paris, vá
seu livro Joabel, a Reconstrução do Templo (Ed. Record).
aventura brasileira. Na década de 1950, o Brasil recebe ainda outros
a Kobe”. Ali, a cada dois anos acontece o Kobe Fashion Week – a Kobe
Ao norte, Trípoli, a segunda maior cidade libanesa, encarou
35.000 japoneses. O estado de São Paulo foi o destino de quase 80%
Collection – importante evento de moda não só para os japoneses como
sua parte no drama através das eras desde o século XIV
deste contingente de trabalhadores, que contribuíram muito para a sua
para os países da Ásia oriental. O estilo de Kobe é caracterizado pelas
a.C.; foi dominada por persas, romanos, o muslim de
riqueza e prosperidade.
roupas do dia a dia muito refinadas, nas cores neutras: azul marinho,
Manluke, turcos, otomanos, resultando numa cidade cheia
Kobe, a porta de saída para os nikkies, pode ser a porta de entrada
preto, branco e cinza, em contraste, por exemplo, com estilo popular
de história, mesquitas, banhos turcos, castelos medievais
para os nisseis – seus descendentes – iniciarem o caminho de origem
das meninas de Osaka. Outro evento importante da cidade é o Kobe
e mercados (souqs) tradicionais.
em terras japonesas. Capital da província de Hyogo, é importante
Jazz Festival. A história da cidade está intimamente ligada ao Templo de
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TURISMO
Pôr do sol na baía de Kobe.
Ikuta, e seu nome deriva de “kanbe”, o nome arcaico das famílias que
épocas conhecida como Ancoradouro Owada ou Porto Hyogo, Hyogo-ku
mantinham o santuário que, curiosamente, está plantado no meio da
é coração histórico da cidade; o centro comercial e de entretenimento de
área comercial do distrito de Sannomiya. Talvez por essa proximidade,
Kobe fica em Chuo-ku, que significa literalmente centro. Suas principais
os jovens japoneses o elegeram como um templo para os pedidos e
zonas de entretenimento são: Sannomiya – eixo de transporte –,
promessas amorosas. Os noves bairros ou regiões administrativas que
Motomachi, antigo downtown, adjacente à Nankinmachi ou Chinatown,
compõem a cidade oferecem o que se ver e visitar. Em Nishi-ku está a
e a Kyu-kyoryuchi, com restaurantes e cafés em construções do século
Universidade Kobe Gakuin e de lá se vê a cidade de Akashi; na área mais
XIX; e Harborland, uma área de shopping construída na antiga praça
extensa, Kita-ku, os escarpados montes Rokko e Maya são conhecidos
de frente à estação de Minatogawa Kamotsu, com grandes lojas,
pelas trilhas de caminhadas e pelas águas termais quentes do resort
excelentes restaurantes, muitos hotéis, de fácil acesso por trem, metrô,
de Arima; no subúrbio, Tarumi-ku é uma elegante e tranquila área
ou barco, o paraíso dos pedestres. Na zona portuária está o Meriken
residencial, onde começa a maior ponte suspensa do mundo, Akashi
Park com sua Torre do Porto, que oferece uma vista espetacular da
Kaikyo, que liga esta zona à ilha de Awaji, ao sul; no verão tem a praia
baía e dos arredores, o Museu Marítimo e o memorial aos mortos do
de Suma, em Suma-ku; o Templo de Nagata, em Nagata-ku. Em várias
grande terremoto de Hanshin (1995); o monumento dedicado aos
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Noite em Kobe
emigrantes – Kibou No Funade –, e o Museu Municipal de
pelo seu porto. Para completar o roteiro de memórias, a
Hyogo, um moderníssimo museu, aberto em 2004, com
10 minutos de táxi do parque Meriken, em uma colina, fica
coleções de esculturas e gravuras de artistas estrangeiros
a antiga Hospedaria Nacional dos Emigrantes Ultramarinos
e japoneses, que pretende ser um amuseum, onde não só
de Kobe, fundada em 1928, que alojava os emigrantes,
se aprecia as artes plásticas, mas também se encoraja as
dias antes de embarcarem para o Brasil, e onde recebiam
trocas com as outras expressões artísticas como a música,
seus passaportes, aulas sobre a cultura brasileira, além de
o teatro, o cinemas, e realiza uma variedade enorme de
aprenderem um pouco de português. Tendo resistido ao
eventos culturais. Conhecida pelo seu sakê, Nada-ku abriga
grande terremoto de 1995 que arruinou Kobe, a antiga
o Oji Zoo e a Universidade de Kobe. Rokko, a segunda maior
Hospedaria foi alvo de um movimento dos nikkeis e nisseis
ilha artificial de Higashinada-ku, hospeda hotéis, espaços
do Brasil para a preservação da construção. Rebatizado de
para esporte e convenções, mercados, parques aquáticos,
Museu da Emigração e Centro de Intercâmbio Cultural Kobe,
edifícios de apartamentos com vista para o mar e o Museu
a antiga hospedaria é um museu com exposições de fotos
da Moda. Kobo ainda tem o atrativo de ser uma cidade que,
e objetos relacionados ao Brasil – e abriga ainda a sede da
por pressão de seus cidadãos, conseguiu, em 1975, impedir
Comunidade Brasileira Kansai (CBK), que ensina português
que barcos carregados com armas nucleares circulassem
aos filhos dos sanseis.
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TURISMO
Rio Douro em Portugal
DE VOLTA À TERRINHA
Eugénia Melo e Castro dá uma receita de Lisboa
Recém-condecorada pela Academie de Arts Sciences et Lettres da
Gourmet, ao restaurante Tavares Rico (com o chef português mais
França, a cantora portuguesa Eugénia Melo e Castro comemora, em
premiado, José Avillez), à Galeria Luis Serpa, à Happy Days, loja de
2010, três décadas vividas (e trabalhadas) entre Brasil e Portugal,
sapatos irreverentes, com decoração rétro, no Bairro Alto. E não deixar
em constante viagem musical e pessoal recheada de parcerias com
de ir ao lugar mais cool e trendy da cidade, o Silk Club: a melhor vista
muitos brasileiros. Atualmente morando em Lisboa, em dezembro
e noite de Lisboa na zona histórica Alfacinha, é sofisticado, moderno
virá ao Brasil homenagear Dorival Caymmi em uma série de shows.
e exclusivo. Aberto há dois anos, no último andar de um antigo centro
Para ela, antes de mais nada, é uma boa ideia navegar no www.
comercial do Chiado, tem paredes de vidro, uma zona chill out e pista
avidaebela.com (um site para encontrar todos os tipos de aventuras
de dança. No repertório, jazz&blues ao vivo às quartas. Entre quinta
em Portugal, desde passeios de balão, escaladas, presentes-surpresa,
a sábado, house vocal com incursões pelos anos 1980 e sucessos
turismo original, spas, cruzeiros no Rio Douro ou no Alqueva). Outras
recentes. Fora de Lisboa, “visite a loja e o museu Bordallo Pinheiro,
sugestões práticas de Eugênia: para se hospedar, o Hotel Hermitage
nas Caldas da Rainha, é imperdível! E também a Aldeia da Luz e o
Liberdade e o Hotel do Bairro Alto; ir à La Vie en Rose Flores / Loja
Museu da Luz no Alqueva (Alentejo)”.
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VERNISSAGE
UM
POR LÉA MARIA AARÃO REIS
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NO PARQU
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: Ensaios fotográficos
e Cássio Vasconcellos
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Renato Elkis, Daniel Kla
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uise Ibirapuera.
grifados lançam Marq
ma super mostra de fotografias e o lançamento de um livro, com os trabalhos de quatro profissionais brasileiros da área, está
festejando o lançamento do Marquise, no bairro do Ibirapuera, empreendimento da Yuny e R. Yazbek. O edifício resgata as
linhas arquitetônicas e os espaços internos criados para as habitações na glamorosa década dos anos 60, em São Paulo, e agora
adaptados às necessidades e à estética da vida moderna. As redondezas do Marquise – o Parque do Ibirapuera, a Rua Curitiba,
os Jardins e até a Av. Paulista –, foram captadas pelas lentes sensíveis de Cássio Vasconcellos, Daniel Klajmic, Kadu Niemeyer e
Renato Elkis. Através dos ensaios fotográficos, onde se misturam a arquitetura paulistana da época e os cortes de imagens valorizando as linhas
rétro, o público revisita os recantos e as perspectivas das imediações do Marquise, batizado assim em homenagem à famosa marquise do
próprio parque, uma das joias esculturais do arquiteto no Ibirapuera. E ainda: será publicado um livro com textos poéticos e os ensaios desses
fotógrafos, relatando e relembrando a História e as histórias curiosas da cidade.
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OS FOTÓGRAFOS E SUAS LENTES
Cássio Vasconcellos, nascido e criado no bairro do Brooklin,
em São Paulo, um dos integrantes do famoso grupo Blink,
já expôs em 20 países, ganhando o prêmio de melhor
exposição, em 2002 com a série de trabalhos Noturnos
SP. Neste ensaio ele foi percorrendo, a pé, o parque, as
ruas, praças e avenidas ao entorno do Marquise, clicando
as grandes e copadas árvores que quebram a “dureza
da paisagem”, como observa. Cássio gosta de fotografar
paisagens urbanas e procura sempre transformar a
realidade através da foto. “O meu caminho é onírico”,
diz ele, “e por isso o resultado é o do fantástico”. Andar
pela cidade de São Paulo e tentar conhecê-la melhor para
compreendê-la é o objetivo habitual de Cássio, como
método de trabalho.
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VERNISSAGE
Já o fotógrafo Daniel Klajmic, no seu ensaio, utilizou uma modelo para recriar a atmosfera sessentista. “Usei lentes,
figurinos da roupa e ângulos das imagens, tudo bem característico daquele período,” diz Daniel que, nesse trabalho para
o Marquise, seguiu o grafismo da arquitetura com o movimento também gráfico, “porém mais orgânico” da modelo.
Carioca, Klajmic foi assistente do célebre fotógrafo Luis Garrido, no Rio de Janeiro. Viveu e trabalhou em Nova York e Paris
e, bem jovem ainda, participou da Coleção Pirelli do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Daniel foi o único brasileiro
a expor suas fotos na mostra New Photographers 2006, da Getty Images, no Festival de Cannes. Hoje publica fotos nas
principais revistas europeias e americanas – I.D., Sunday Times, Visionaire, Vogue, Elle e Tattler, entre outras, e fotografa
para inúmeras campanhas de publicidade.
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Assim como Klajmic, o fotógrafo Kadu Niemeyer, neto do arquiteto Oscar Niemeyer, com quem
se destaca”, diz ele. “Mas fotografar o Ibirapuera tem gosto especial. Representa
aprendeu a fotografar ainda menino, também é nascido no Rio. Viveu em Brasília em 1970 e 71, na
um retorno aos anos 60. E lá encontramos paz na natureza. As pessoas passeando
companhia da mãe e do avô, com quem mantém uma relação afetiva forte. Apaixonado pela Capital
mudam a imagem a cada momento e é onde relembramos a arquitetura que tanto
Federal, ele costuma dizer, com orgulho, que é “quase um candango”. Em São Paulo, Kadu gosta de
projetou o parque no mundo”. Para Kadu, “é uma emoção renovada fotografar
fotografar o Ibirapuera e o Memorial da América Latina – não se cansa de registrar os trabalhos de
projetos do meu avô nos quais surge sempre uma novidade: um ângulo ou uma luz
Oscar. “Atualmente, estou realizando um trabalho batizado de Fachadas, no qual o edifício Copan
diferente; e é como se os visse pela primeira vez”.
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Renato Elkis completa, com brilho, o quarteto de fotógrafos do Marquise Ibirapuera. Renato é graduado
pela Brooks Institute of Photographers, da Califórnia, e há 20 anos trabalha com agências de publicidade
e com os melhores arquitetos e decoradores brasileiros. “Gosto de captar fragmentos de luzes e sombras,
de formas e movimentos, contrastes e saturação das fotos”, diz Elkis que usa, em fine arts, o requinte
dos pigmentos minerais e do papel de algodão. Registrar o Ibirapuera, para Renato, é apreender uma
“linguagem simples e pura”, como costuma dizer Oscar Niemeyer. “Adoro captar os reflexos do parque nos
vidros das janelas do prédio da Bienal”, comenta, “e as suas formas geométricas e orgânicas bem definida”.
Mas Renato ressalta que gostou, especialmente, de registrar um contraste, no edifício do Marquise: “Sua
forma também orgânica em contraste com as colunas. É muito interessante!”.
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ESTILO YUNY II
Fotomontagem da perspectiva artística da Fachada
CONCEITO:
BOUTIQUE OFFICES
No “novo” bairro de Pinheiros, escritórios cult ganham espaço.
B
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airro que mais rapidamente se atualiza em São Paulo,
aqueles que já existiam na região, ao lado de pizzarias, grills e outras
sem perder suas características básicas de zona
regionalidades que só existem mesmo em Pinheiros, que assim se
residencial e comercial – por isso tão dinâmica em sua
globaliza. Vida noturna também tem – do pequeno e sofisticado Bar
(re)construção –, Pinheiros acaba de ganhar a estação
Secreto ao eclético Estúdio Emme, um complexo que abriga teatro,
de metrô Faria Lima, primeira entre as outras duas
loja, casa de shows e balada. Some a tudo isso a proximidade de dois
anunciadas para a região, a Fradique Coutinho e a Pinheiros, previstas
shopping centers, o Iguatemi e o Eldorado, também revitalizado em
para inauguração nos próximos anos. Quem circula por lá, hoje, vê
seu mix de lojas e inúmeros serviços, e eis o novo perfil de uma grande
os novos prédios crescerem ao mesmo tempo em que surgem
área bem localizada, tanto para a moradia quanto para o trabalho, em
incessantemente, a cada semana, ainda mais atrações culturais e
função de tudo o que oferece, e das facilidades de circulação e acesso
gastronômicas, entre outras, que vão dos shows e baladas roqueiras
aos demais bairros da cidade.
aos simpáticos botecos das esquinas, das antiguidades aos móveis
Neste clima, com sofisticação em cada detalhe, a Yuny oferece ao
contemporâneos, da moda básica ao luxo, do artesanal das feirinhas
mercado um empreendimento diferente, o Boutique Offices, “uma
aos carros importados.
união de referências de moda, design e cultura em um projeto
Se por um lado o início da última década viu ali nascer o imponente e
arquitetônico único”, como se anuncia em sua campanha de lançamento
moderno prédio que abriga o Instituto Tomie Ohtake, e a implantação
– “uma identidade contemporânea criada a partir do melhor espírito
da grande livraria de origem francesa FNAC, a contemporaneidade
cosmopolita, o de reunir o melhor para você e sua empresa em um
aportou agora em Pinheiros definitivamente (acompanhe, com
só lugar”. Bem no coração de Pinheiros, na esquina das ruas Artur de
atenção, a revitalização total do anteriormente degradado Largo da
Azevedo e Pedroso de Moraes, o Boutique Offices está próximo ao
Batata): é expressivo o número de galerias de arte recém-instaladas,
Largo da Batata, que em breve ganha um shopping center. Pensado
e de bistrôs e padarias que chegam com saboroso jeito francês, por
detalhe por detalhe para ser único, ele se destaca por sua sofisticação,
exemplo. Estes vêm se unir à grande oferta de bares e restaurantes com
com arquitetura contemporânea, design inovador, espaços do tamanho
especialidades dos mais diversos estados – vide o carioquíssimo Pirajá
ideal e elevadores panorâmicos. Por ter tudo o que é preciso à sua
e os lugares de comida típica baiana, nordestina e capixaba – e países,
volta, é um empreendimento sem igual na região, o que resulta em
como os bons japoneses, chineses, mexicanos e até sul americanos,
um alto potencial de valorização, e leva ao seu escritório um conceito
como um chileno e um peruano, além dos tradicionais portugueses,
e um prestígio nunca antes explorados neste segmento.
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N O TA S Y U N Y
LANÇAMENTOS
ESTRATÉGICOS
Boa localização dos imóveis e transporte fácil são itens fundamentais.
“U
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Perspectivas artísticas das fachadas
m dos principais diferenciais da Atua Construtora é
Para Louro, que é pós-graduado em Negócios
a localização dos seus empreendimentos”, diz Hugo
Imobiliários pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é difícil
Louro, arquiteto, urbanista e gerente responsável pelo
destacar, especificamente, uma região de São Paulo na
Departamento de Incorporações da jovem empresa
qual a efervescência imobiliária, verificada atualmente,
com mais de três mil unidades comercializadas
seja mais significativa. “Toda a cidade se encontra
na região metropolitana em São Paulo, além de outros
no ápice de sua produtividade se considerarmos a
empreendimentos localizados nas proximidades de
história e a vocação de cada bairro”, diz ele,” mas no
estações de metrô e de vias arteriais importantes da
nosso segmento, em função de áreas disponíveis e
cidade – o que facilita a locomoção dos clientes. Outro
da demanda reprimida de clientes, podemos assinalar
objetivo da Atua o braço econômico da Yuny Incorporadora,
a Zona Leste da cidade como aquela que se encontra
observa Hugo Louro, é proporcionar facilidade de acesso
em grande movimentação”. Para ele, o que a mídia
aos aparelhos urbanos, como shoppings centers e edifícios
chamou de “crise”, ano passado, não passou de uma
institucionais. Deste modo, segundo ele, estão garantidas
acomodação de mercado. Segundo ele, isso é natural
a qualidade de vida para os compradores dos imóveis e
nos setores em franca expansão. “E não julgamos que
a valorização para os investidores. “Isto demonstra”, ele
todo esse sucesso, na nossa atividade, seja apenas
lembra, “a preocupação da Atua em relação a todos os
uma ‘bolha’, mas uma valorização importante do bem
detalhes dos produtos comercializados. Sem dúvida, a
imóvel e do lastro garantidor que ele representa. Assim,
localização de um imóvel, atualmente, é item fundamental
acreditamos que a atual movimentação seja sustentável,
no processo de concepção do negócio”.
sólida, real e crescente”.
OUTUBRO 2010
Desde o primeiro lançamento da Atua, em 2007, considerada
sucesso. E, como se costuma dizer: em time que está ganhando não
um exemplo positivo no seu mercado, um novo empreendimento é
se mexe”. A previsão de Louro para vencer o déficit de habitação,
anunciado a cada sessenta dias. Mas a meta da empresa, a partir do
no Brasil, é impossível mensurar. “Mas garantimos que a Atua está
próximo semestre, é a de colocar na rua um lançamento de trinta
fazendo a sua parte”. Já a sua ação no Minha Casa Minha Vida significa
em trinta dias. Para o seu gerente de Incorporações, a Atua e a Yuny,
800 unidades comercializadas nos últimos meses, e enquadradas
juntas, são empresas que acreditam e, principalmente, constroem uma
nesse programa 450 delas estão localizadas no centro expandido de
nova São Paulo. “E um dos pilares do nosso processo – a inteligência
São Paulo. “E mais: estamos prospectando outras 5.000 unidades
construtiva – é utilizar uma técnica construtiva para atingir seu melhor
também enquadradas nesse programa para os próximos doze meses.
aproveitamento estrutural, usufruir de suas vantagens arquitetônicas,
E mais de 600 unidades com previsão para serem lançadas ainda
criar economia na obra para repassá-la aos clientes e desenvolver a
neste semestre”. Como exemplo de lançamentos de grande sucesso,
sua gestão de modo a gerar menor quantidade de resíduos, o que
Hugo Louro destaca o Atua Mooca II. “São 232 unidades incluídas no
motiva uma economia ainda maior e contribui para diminuir o impacto
programa Minha Casa Minha Vida, localizadas a 120 metros da rua da
da ação do homem no planeta”.
Mooca. Vendemos todas as unidades em pouco menos de 8 horas! O
Em sua opinião, e dentro desse quadro, a forte e importante
nosso histórico de sucessos recorrentes existe graças à competência
parceria da Atua Construtora com a Caixa Econômica Federal
de uma excelente equipe – do pessoal do departamento de Novos
perdurará. “Trata-se de um trabalho conjunto que vem rendendo
Negócios, passando pelas áreas de Produtos, Aprovações, Jurídico,
bons frutos. Somos agentes complementares de uma história de
Financeiro, Engenharia e, enfim, Incorporações”.
93
REVISTA
OUTUBRO 2010
ESTILO DE VIDA
QUANDO ESSAS MARCAS
SE ENCONTRAM, É CERTEZA
DE 100% DE SUCESSO.
Lopes e Yuny.
Parceria 100% de sucesso.
Sinergia é a palavra que resume o relacionamento entre as duas empresas.
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REVISTA
OUTUBRO 2010
Lopes. O shopping de imóveis do Brasil.

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