Tratamento da mordida aberta anterior na dentadura
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149 18 CAPÍTULO Tratamento da mordida aberta anterior na dentadura permanente Guilherme Janson1 Fabrício Pinelli Valarelli2 Karina Maria Salvatore de Freitas3 Rodrigo Hermont Cançado4 Professor Titular da Disciplina de Ortodontia - FOB/USP, Pós-doutorado em Toronto/Canadá. Professor Adjunto do Programa de Mestrado em Ortodontia da Faculdade Ingá - Maringá/PR, Professor do Curso de Especialização em Ortodontia em Porto Velho, Joinville e Bauru. 3 Coordenadora do Programa de Mestrado em Ortodontia da Faculdade Ingá - Maringá/PR. 4 Professor Adjunto do programa de Mestrado em Ortodontia da Faculdade Ingá - Maringá/PR. 1 2 9° Congresso Internacional da ABOR - Ortodontia e Ortopedia Facial Tratamento da mordida aberta anterior na dentadura permanente Resumo Este trabalho tem o propósito de mostrar os detalhes da correção ortodôntica da mordida aberta anterior de natureza dentoalveolar, na dentadura permanente. A paciente relatada neste trabalho apresentava, ao início do tratamento, mordida aberta anterior com pouca exposição dos incisivos superiores no sorriso. Dessa forma, o tratamento foi realizado mediante a extrusão dos dentes anteriores, o que promoveu a giroversão do plano oclusal no sentido horário e o fechamento do trespasse negativo na região anterior. Ao final do tratamento, a paciente apresentava boa exposição dos incisivos superiores e maior estética do sorriso e harmonia da face. Concluiu-se que o tratamento ortodôntico da mordida aberta anterior na dentadura permanente pode ser realizado de forma simples e eficiente. Descritores: Má oclusão, mordida aberta, Ortodontia, Classe I de Angle. Abstract The aim of this study is to show the details of the orthodontic treatment of a predominant dentoalveolar anterior open bite in the permanent dentition. The patient presented at the beginning of the treatment, an anterior open bite with little exposure of the maxillary incisors in the smile. Thus, the treatment was carried out through the extrusion of the anterior teeth, which promoted the clockwise giroversion of the occlusal plane and closing of negative overbite in the anterior region. At the end of treatment, the patient had good exposure of the maxillary incisors and greater smile aesthetics and harmony of the face. It was concluded that orthodontic treatment of anterior open bite in the permanent dentition can be performed simply and efficiently. Descriptors: Malocclusion, open bite, Orthodontics, Angle Class I. Introdução A mordida aberta anterior caracteriza-se pelo trespasse vertical negativo na região anterior dos arcos dentários17. Apresenta-se como uma má oclusão fácil de ser reconhecida e que causa grandes problemas estéticos e funcionais ao indivíduo20. Basicamente, essa má oclusão pode apresentar natureza esquelética ou dentoalveolar e os diversos fatores etiológicos agindo conjuntamente determinam sua severidade21. Na dentadura permanente, o tratamento dessa má oclusão representa um grande desafio para o ortodontista, tanto para o fechamento da mordida aberta anterior 150 como para a estabilidade dos resultados10,14,19. Nesses pacientes, quanto maior a severidade da má oclusão e do comprometimento esquelético, maior é a dificuldade do seu tratamento e, consequentemente, maior é a tendência que o ortodontista opte pelo auxílio da cirurgia ortognática a fim de corrigir essa má oclusão4. A mordida aberta anterior, predominantemente de natureza dentoalveolar, tende a ser menos severa e restrita à região anterior dos arcos dentários, além do componente vertical ser equilibrado ou horizontal18,22. Dessa maneira, o tratamento pode ser realizado compensatoriamente e as extrações dentárias devem ser indicadas conforme o grau de apinhamento associado à avaliação da convexidade do perfil do indivíduo9. No tratamento sem extração da mordida aberta anterior, dois principais procedimentos podem ser considerados: a extrusão dos dentes anteriores e/ou a intrusão dos dentes posteriores2. A escolha da conduta dependerá basicamente da quantidade de exposição dos dentes anteriores no momento do sorriso do paciente1,16. Em casos que há pouca exposição dos incisivos superiores, a extrusão desses dentes por meio de elásticos intermaxilares e a consequente rotação do plano oclusal no sentido horário resulta em benefícios para a harmonia do sorriso e da face ao final do tratamento6,15. Portanto, o objetivo deste trabalho é demonstrar o tratamento, sem extrações, da mordida aberta anterior na dentadura permanente, onde havia um grande comprometimento dentoalveolar da região anterior dos arcos dentários e a paciente mostrava pouca exposição dos incisivos no momento do sorriso. Descrição do caso clínico Diagnóstico A jovem R.T.J., 12 anos, procurou atendimento na clínica ortodôntica queixando-se da má oclusão de mordida aberta anterior, dificuldades na fonação e falta de exposição dos incisivos superiores no sorriso. Em exame clínico extrabucal, observou-se uma face equilibrada e um perfil facial suavemente convexo. A jovem apresentava ligeira falta de selamento labial em repouso (Figura 1). Ao exame intrabucal, foi constatada a presença de uma mordida aberta anterior com grande comprometimento dentoalveolar que era restrita aos dentes anteriores. Observou-se uma boa relação anteroposterior entre os arcos dentários, demonstrada pela Classe I bilateral (Figura 2). Na vista oclusal, verificou-se o alinhamento dos incisivos inferiores e a atresia do arco superior (Figura 3). Na análise radiográfica, observou-se a presença dos Tratamento da mordida aberta anterior na dentadura permanente germes dos terceiros molares e o aspecto normal dos dentes e estruturas adjacentes. Nenhum detalhe que A pudesse dificultar ou interferir no tratamento foi encontrado (Figura 4). B C Figura 1 (A-C) - Fotografias extrabucais ao início do tratamento. A B C Figura 2 (A-C) - Fotografias intrabucais frontal e laterais ao início do tratamento. A B Figura 3 (A-B) - Fotografias intrabucais oclusais ao início do tratamento. A B Figura 4 (A-B) - Radiografia panorâmica e telerradiografia em norma lateral ao início do tratamento. 151 9° Congresso Internacional da ABOR - Ortodontia e Ortopedia Facial Desenvolvimento clínico Primeiramente, foram colados bráquetes da prescrição Roth .022” no arco superior e inserido o fio .012” de níquel-titânio (Figura 5). Simultaneamente, foi instalada uma grade palatina fixa suavemente maior que a largura inicial do arco superior com a finalidade de melhorar a forma do arco já nos momentos iniciais do tratamento, além de evitar a interposição da língua entre os dentes anteriores, aumentando a eficiência da mecânica ortodôntica (Figura 6). O alinhamento e o nivelamento foram efetuados por uma sequência de fios NiTi superelásticos, partindo do fio .012” até o .020”. Nessa fase, houve melhora expressiva do trespasse vertical negativo da região anterior. A Após a fase de alinhamento e nivelamento, foi removida a grade palatina fixa e inserido o fio .019” x .025” de aço inoxidável. Nessa etapa, foram utilizados elásticos de Classe II, 3/16” de força média para a correção da suave discrepância anteroposterior entre os dentes superiores e inferiores, além do propósito de sobrecorrigir o trespasse vertical positivo da região anterior (Figuras 7 e 8). O aparelho foi removido após um período de dois anos e dois meses do início do tratamento. Ao final do tratamento, houve a correção do trespasse vertical negativo e o objetivo anteriormente estabelecido foi alcançado com a maior exposição dos incisivos no momento do sorriso (Figuras 9, 10, 11 e 12). B C Figura 5 (A-C) - Aparelho fixo prescrição Roth .022” e fio .012” NiTi. A B Figura 6 (A-B) - Grade palatina fixa no arco superior. A B Figura 7 (A-C) - Inserção de elástico 3/16” no fio .019” x .025” de aço. 152 C Tratamento da mordida aberta anterior na dentadura permanente A B Figura 8 (A-B) - Remoção da grade palatina fixa. A B C D Figura 9 (A-D) - Fotografias extrabucais após a remoção do aparelho. A B C Figura 10 (A-C) - Fotografias intrabucais ao final do tratamento. A B Figura 11 (A-B) - Fotografias intrabucais oclusais imediatamente ao final do tratamento. 153 9° Congresso Internacional da ABOR - Ortodontia e Ortopedia Facial A B Figura 12 - Radiografias panorâmica e telerradiografia ao final do tratamento. Resultados Os componentes esqueléticos, maxilar e mandibular, não sofreram alterações, assim como a relação entre a maxila e mandíbula e o componente vertical (Figura 13 e Tabela 1). Em relação aos componentes dentoalveolares, os incisivos superiores sofreram grande lingualização e extrusão evidenciadas pelas variáveis IS.NA e IS-PP, respectivamente. Os incisivos inferiores apresentaram extrusão significante observada pela variável II-GoMe, enquanto os molares inferiores mostraram suave mesialização durante o tratamento Figura 13 - Sobreposição (em base do crânio S–N centrado em Sela) do início (preto) e final do tratamento (verde). 154 (MI – centroide - GoMe) (Figura 14 e Tabela 1). No componente de relação dentária, a variável que sofreu maior alteração foi a sobremordida que variou de -6,7 mm para 1,8 mm. O perfil tegumentar sofreu variação pela suave retrusão dos lábios superiores (Ls-plano E), além do discreto aumento do ângulo nasolabial (ANL) (Figura 13). De uma forma geral, o tratamento ortodôntico promoveu aumento da função mastigatória com melhora da estética facial pelo bom posicionamento dos dentes no arco e harmonia do sorriso (Tabela 1). Figura 14 - Sobreposição em plano palatino (ENA-ENP) centrado em ENA e sobreposição em plano mandibular (GoMe) centrado em Me. Tratamento da mordida aberta anterior na dentadura permanente Tabela 1 - Variáveis cefalométricas ao início e final do tratamento ortodôntico. Variáveis Inicial Componente maxilar SNA (º) 87,6 Co-A (mm) 79,4 Componente mandibular SNB (º) 83,8 Co-Gn (mm) 109,9 Relação maxilomandibular ANB (°) 3,7 Wits (mm) 0,0 Componente vertical FMA (°) 26,8 SNGoGn (°) 32,1 SN,PlOcl (°) 9,3 AFAI (mm) 65,9 Componente dentoalveolar superior IS.NA (°) 36,9 IS-NA (mm) 7,9 IS-PP (mm) 23,6 MS (centroide)-PP (mm) 19,4 MS (centroide).SN (°) 74,3 Componente dentoalveolar inferior II.NB (°) 35,2 II-NB (mm) 7,8 II-GoMe (mm) 34,8 MI(centroide)-GoMe 24,0 (mm) MI-Sínfise (mm) 21,7 Relação dentária Relação molar (mm) -1,1 Sobressaliência (mm) 4,3 Sobremordida (mm) -6,7 Perfil tegumentar Ls-plano E (mm) -0,5 Li-plano E (mm) 0,6 ANL (°) 97,5 Final 87,5 79,7 83,7 110,3 3,9 -0,4 27,3 31,5 14,9 66,1 25,0 6,0 29,1 19,8 76,6 34,7 8,7 37,4 24,3 20,7 -1,3 2,6 1,8 -1,2 0,9 101,7 Discussão Na dentadura permanente é de grande importância estabelecer se a mordida aberta é predominantemente dentoalveolar ou se apresenta um comprometimento esquelético severo. Esse diagnóstico diferencial resulta na elaboração de um plano de tratamento específico e com melhor prognóstico em relação à correção do problema e sua estabilidade. A mordida aberta dentoalveolar tem a tendência de ser menos severa e restrita aos dentes anteriores18,22. Essa má oclusão pode ser tratada ortodonticamente, sem o auxílio da cirurgia ortognática, com grandes chances de sucesso5. Entretanto, na elaboração do plano de tratamento é fundamental decidir como a mordida aberta será corrigida: por meio da intrusão dos dentes posteriores ou da extrusão dos dentes anteriores2. Essa decisão deve ser baseada na quantidade de exposição dos incisivos superiores no momento do sorriso por parte do paciente1,16. No caso relatado neste trabalho, a paciente apresentava a mordida aberta anterior com um comprometimento predominantemente dentoalveolar, restrita aos dentes anteriores e falta de exposição dos incisivos superiores durante o sorriso. Além disso, não apresentava apinhamentos nos arcos dentários e o perfil suavemente convexo não causava desconforto estético para a paciente. Dessa forma, o tratamento foi realizado somente pela mecânica extrusiva dos dentes anteriores, sem extrações dentárias. Desde o início do tratamento, uma grade palatina fixa foi utilizada com o propósito de impedir a interposição da língua em relação aos dentes anteriores, corrigindo a postura da mesma e possibilitando um aumento da eficiência da mecânica ortodôntica7,8,11,12. A utilização dos elásticos verticais no tratamento sem extrações da mordida aberta anterior é de suma importância, pois além de promoverem a extrusão dos incisivos, também corrigem a giroversão do plano oclusal e sobrecorrigem o trespasse vertical positivo ao final do tratamento3,13,14. Os elásticos de Classe II têm função semelhante. Além de corrigirem a discrepância anteroposterior, promovem efeitos extrusivos na região anterior do arco dentário superior, pois o vetor vertical da mecânica ortodôntica com elásticos de Classe II promoverá efeitos semelhantes aos elásticos verticais. No caso apresentado, os incisivos superiores demonstraram grande extrusão e verticalização, sendo o principal fator atuante no fechamento da mordida aberta anterior. Conclusão O diagnóstico do comprometimento esquelético da mordida aberta anterior ao início do tratamento ortodôntico é um fator importante para o prognóstico mais preciso da estabilidade após a correção. A mordida aberta anterior dentoalveolar na dentadura permanente pode ser tratada ortodonticamente de forma simples e eficiente. Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. Baek M.S., Choi Y.J., Yu H.S., Lee K.J., Kwak J., Park Y.C. Long-term stability of anterior open-bite treatment by intrusion of maxillary posterior teeth. 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