Como se tornou possível o conhecimento do Universo?
Transcrição
Como se tornou possível o conhecimento do Universo?
Como se tornou possível o conhecimento do Universo? Uma estratégia de construção da Ciência para o 7º ano do Ensino Básico Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Partilha nos termos da mesma Licença 3.0 Unported. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ ou envie uma carta para Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, S an Francisco, California 94105, USA. GUIÃO DO ALUNO 1 Ao longo da história, filósofos, físicos e curiosos foram observando os céus e questionando-se sobre o movimento dos astros, e tentando encontrar através dessas observações respostas para algumas questões que se foram levantando, nomeadamente a posição que a Terra ocupa no Universo. Ao longo desta actividade vamos tentar perceber de que forma as observações dos astrónomos antigos condicionaram o que sabemos actualmente sobre o sol, os planetas e de alguns fenómenos que acontecem no planeta Terra. Nesta actividade vamos estudar estas questões, contemplando também o processo de construção da ciência que como temos vindo a aprender, compreende as dimensões filosófica, histórica, psicológica e sociológicas interna e externa. Figura 1 - Planeta Terra visto do espaço Fonte: NASA Ptolomeu, um estudioso em astronomia, no ano 150 d.C. compilou numa obra intitulada Almagesto a maioria dos saberes que se tinham construído até então (alguns deles provenientes de Aristóteles), apresentando uma descrição geométrica dos planetas segundo aquilo que se chama a hipótese geocêntrica. 1 - Com base no significado de geocentrismo (do gr. geo = Terra + centrismo) formula a hipótese (desenhando um modelo) que esteja de acordo com o mesmo. Figura 2 – Ptolomeu Fonte: Wikipédia 2 2 - Compara o modelo que desenhas-te com a figura seguinte e refere quais as semelhanças e diferenças encontradas. Figura 3 – Modelo Geocêntrico Fonte: Mesquita et al. (2007) As ideias de Ptolomeu dominaram a cultura ocidental, sem contestação até ao final do século XVI tendo sido apenas aperfeiçoadas em alguns aspectos. 3 - Por que razão se terá mantido esta teoria durante tantos séculos? Figura 4 – As observações de Ptolomeu Fonte: Portugal, 2007 3 Por volta de 1500, Nicolau Copérnico, apesar das pressões sociais da época nomeadamente por parte da igreja e por ter sentido algumas dificuldades na aplicação dos princípios de Ptolomeu, elaborou uma outra teoria, a teoria heliocêntrica. 4.1 - De acordo com o heliocentrismo (do gr. hélios = Sol + cêntrico) formula a hipótese explicativa/interpretativa sobre esta teoria (desenhando um modelo). Figura 5 – Nicolau Copérnico Fonte: Wikipédia a) 4.2 - Compara o modelo que desenhaste com a figura/modelo a seguir apresentado. Figura 6 – Modelo Heliocêntrico Fonte: Mesquita et al. (2007) 4 4.3 - Que semelhanças e diferenças encontras entre este novo modelo e o modelo da teoria geocêntrica. Copérnico trabalhou em cosmologia durante vinte anos aproximadamente e depois de ter escrito o seu livro De revolutionibus (o tratado que colocava de parte o sistema ptolemaico que desde Aristóteles era considerado válido, isto é, um tratado que refutava a teoria geocêntrica que prevaleciam há séculos) hesitou muito antes de decidir publicá-lo. Por fim cedeu às pressões de um dos seus discípulos. 5 - Porque razão terá Copérnico hesitado? Figura 7 – Obra de Nicolau Copérnico Fonte: University of Sydney Library, 2008 Copérnico morreu antes de ver publicada a sua obra., que foi apresentada por um dos seus discípulos, este, temendo a censura, apresentou a obra de Copérnico como uma hipótese para explicar algumas das lacunas do trabalho de Ptolomeu e não como uma realidade científica. Ao mesmo tempo que decorria a investigação coperniciana desenvolviam-se outros trabalhos de astronomia que iriam contribuir também para a ruptura das ideias astronómicas tradicionais. Esses trabalhos baseavam-se mais na observação. Em 1577, o astrónomo (e também físico) dinamarquês Tycho Brahe, estabeleceu-se na ilha de Hveen, onde o rei da Dinamarca tinha mandado construir um 5 observatório propositadamente para ele. Brahe chamou-lhe o “Uraniborg” e remeteu-se à observação ininterrupta dos astros durante vinte anos, tendo sido considerado o maior observador da idade pré-telescópica. Usava um sextante especial, por ele concebido e estava apto a comparar observações celestiais vindas de todos os pontos da Europa. Todas as medições que efectuou foram as melhores conseguidas até então. No Uraniborg, Tycho Brahe contava com a assistência da sua irmã, que foi instruída desde cedo para tal. O sistema planetário composto por Brahe - e que ele considerava estar de acordo com a sua experiência – era um misto dos sistemas ptolomaico e copernicano. O sol e a Lua rodavam em torno da Terra e todos os outros planetas, de Mercúrio a Saturno, em torno do Sol. As órbitas mantinham a referência platónica, ou seja, eram circulares e, por isso, perfeitas. Brahe foi, então, ao contrário de Copérnico que era essencialmente um teórico, um observador meticuloso e apoiado em instrumentação laboratorial reuniu uma grande quantidade de dados que foram usados por Johanes Kepler, o primeiro físico a considerar que o movimento dos planetas se faz segundo orbitas elípticas. O italiano Galileu Galilei, físico contemporâneo de Kepler, utilizou um telescópio para observar os astros. Embora a sua potência fosse limitada, aumentava o alcance da visão humana e, consequentemente, permitia abrir múltiplas possibilidades de ideias sobre ciência, levando-o a defender o modelo de Copérnico. Figura 8, 9 e 10 – Tycho de Brahe, Johannes Kepler e Galileu Galilei Fonte: Wikipédia b) Nesta transição de modelos, considera-se relevante realçar o importante contributo dado pela Tecnologia, neste caso o telescópio de Galileu. Construído a partir de conhecimentos estabelecidos na Física, dá um contributo fundamental no 6 desenvolvimento da Astronomia Moderna. Daqui podemos concluir a estreita relação e interdependência estabelecida entre a Ciência e a Tecnologia. 6 - Com base no que acabámos de discutir refere a importância da instrumentação para o desenvolvimento do conhecimento científico e a sua influência na tecnologia de que usufruímos. Após a morte de Copérnico, Galileu Galilei veio defender o modelo heliocêntrico. O tribunal da inquisição julgou-o por este facto, forçando-o a negar essa teoria e condenando-o à prisão domiciliária. Figura 11 – Galileu Galilei no Tribunal da Santa Inquisição Fonte: Sala de Física 7.1 – Discute com os teus colegas que influência pode a sociedade exercer sobre a Ciência. 7.2 – Comenta a frase: Antes de mais um cientista é um ser humano. Os conhecimentos que temos sobre o Universo evoluíram nos últimos séculos de forma marcante como resultado do desenvolvimento científico e tecnológico. Telescópios, foguetões, satélites artificiais, sondas espaciais, estações espaciais, vaivéns e muitos outros instrumentos entretanto inventados são alguns dos recursos que têm contribuído não só para conhecer o universo, mas também para compreender melhor as condições da Terra que permitem a existência de vida. 7 8 - De que forma a evolução do conhecimento científico e tecnológico nos permite conhecer mais sobre o nosso planeta e restante constituição do sistema solar? 9 - Analisa o seguinte extracto de uma notícia e, com base nela, discute algumas ideias sobre Ciência, sobre os cientistas e sobre o processo de construção da Ciência. “Plutão foi despromovido. Ontem, 2500 astrónomos de todo o mundo, reunidos em Praga, ma Republica Checa, na Assembleia Geral da União Astronómica Internacional (UAI), aprovaram a nova definição de planeta. Plutão passou a ser um anão do nosso sistema solar. O pequeno planeta, que demora 248 anos a percorrer o longo movimento de translação à volta do Sol, foi descoberto no laboratório Flagstaff, no Arizona, em 1930, pelo astrónomo Clyde Tombaugh, que aos 24 anos conseguiu fotografar o então novo planeta. A descoberta de vários corpos celestes de tamanho comparável a Plutão funcionou como força motriz, potenciando o debate na UAI em torno do título atribuído a este planeta do século XX e cujas dimensões são muito inferiores ao que se pensava quando foi descoberto. Trata-se do único planeta descoberto por um astrónomo norteamericano. Passados 76 anos, o nono planeta do sistema solar passa da categoria de planeta clássico à de planeta anão (…)”. Fonte: Peres, E. & Jesus, P., 2006 8 INDICAÇÕES PARA O PROFESSOR 9 Para os alunos: Ao longo da história, filósofos, físicos e curiosos foram observando os céus e questionando-se sobre o movimento dos astros, e tentando encontrar através dessas observações respostas para algumas questões que se foram levantando, nomeadamente a posição que a Terra ocupa no Universo. Ao longo desta actividade vamos tentar perceber de que forma as observações dos astrónomos antigos condicionaram o que sabemos actualmente sobre o sol, os planetas e de alguns fenómenos que acontecem no planeta Terra. Nesta actividade vamos estudar estas questões, contemplando também o processo de construção da ciência que como temos vindo a aprender, compreende as dimensões filosófica, histórica, psicológica e sociológicas interna e externa. Figura 1 - Planeta Terra visto do espaço Fonte: NASA Para o Professor: Trata-se de uma estratégia no âmbito da resolução de problemas de carácter investigativo, que visa a construção de novos conhecimentos, em que o aluno não possui os conceitos necessários à resolução dos problemas apresentados, e onde o professor tem papel fundamental de mediador dessa aquisição. Pretende-se que através da introdução anterior os alunos compreendam que a actividade a desenvolver contempla conteúdos científicos e metacientificos. 10 Para os alunos: Ptolomeu, um estudioso em astronomia, no ano 150 d.C. compilou numa obra intitulada Almagesto a maioria dos saberes que se tinham construído até então (alguns deles provenientes de Aristóteles), apresentando uma descrição geométrica dos planetas segundo aquilo que se chama a hipótese geocêntrica. 1 - Com base no significado de geocentrismo (do gr. geo = Terra + centrismo) formula a hipótese (desenhando um modelo) que esteja de acordo com o mesmo. Figura 2 – Ptolomeu Fonte: Wikipédia Para o Professor: Pretende-se que os alunos se apoiem no significado da palavra Geocentrismo (do gr. geo = Terra + centrismo) e que percebam que a Terra era considerada o centro do universo. Os alunos devem formular a hipótese de que a Terra estava no centro do universo, era fixa, e que os outros planetas circulavam em redor dela. Nesta questão são requeridas competências complexas e pretende-se que os alunos reconheçam que a formulação de hipóteses está relacionada com a dimensão filosófica. Os alunos deverão, ainda reconhecer que o que sabemos hoje é resultado de um processo gradual de acumulação de conhecimentos (dimensão histórica), e que o acto de Ptlomeu de compilar e publicar os conhecimentos que existiam relaciona-se 11 com a dimensão sociológica interna, e também com com a dimensão psicológica porque demonstra o espírito empreendedor do cientista. No caso de um grupo ter apresentado um modelo de orbita elíptica o professor deve fazer referência a esse facto, evidenciando no texto correcto a produzir que as órbitas consideradas por Ptolomeu eram esféricas e só mais tarde se constatou que eram elípticas. Para os alunos: 2 - Compara o modelo que desenhas-te com a figura seguinte e refere quais as semelhanças e diferenças encontradas. Figura 3 – Modelo Geocêntrico Fonte: Mesquita et al. (2007) 12 Para o Professor: Pretende-se que os alunos reforcem a ideia de que a Terra ocupava uma posição central relativamente aos planetas e também que os alunos assinalem que o número de planetas considerados no sistema de Ptolomeu era apenas sete. Pretende-se com esta imagem que os alunos compreendam melhor a teoria proposta por Ptolomeu. É importante realçar que professor deverá, conjuntamente com os alunos, distinguir o que são hipóteses e o que são teorias. Para os alunos: As ideias de Ptolomeu dominaram a cultura ocidental, sem contestação até ao final do século XVI tendo sido apenas aperfeiçoadas em alguns aspectos. 3 - Por que razão se terá mantido esta teoria durante tantos séculos? Figura 4 – As observações de Ptolomeu Fonte: Portugal, 2007 Para o Professor: Pretende-se que os alunos formulem hipóteses explicativas diversas para o facto de uma teoria se ter mantido durante tanto tempo (desde 150 d.C. até quase ao final do século XVI): 13 O modelo ajustava-se ao senso comum, ou seja ao que era possível todos verem da terra a olho nu: - A lua e o sol a moverem-se em torno da Terra (e aqui os alunos podem trazer a sua própria experiência pessoal) Por outro lado, este modelo era apoiado pela Igreja da época, que considerava: - O Homem o ser mais perfeito, tendo de ocupar um lugar privilegiado no Universo – o centro; - O movimento circular dos astros, o único movimento perfeito para ser obra de Deus (não se pretende que os alunos cheguem a todas estas conclusões mas a algumas delas) Para os alunos: Por volta de 1500, Nicolau Copérnico, apesar das pressões sociais da época nomeadamente por parte da igreja e por ter sentido algumas dificuldades na aplicação dos princípios de Ptolomeu, elaborou uma outra teoria, a teoria heliocêntrica. 4.1 - De acordo com o heliocentrismo (do gr. hélios = Sol + cêntrico) formula a hipótese explicativa/interpretativa sobre esta teoria (desenhando um modelo). Figura 5 – Nicolau Copérnico Fonte: Wikipédia a) 14 Para o Professor: Pretende-se que os alunos se apoiem no significado da palavra heliocentrismo (do gr. hélios = Sol + cêntrico) e que admitam que o sol ocupa uma posição central relativamente aos outros planetas. Os alunos deverão, também, adquirir como conteúdos e competências metacientíficos: Da dimensão filosófica da ciência, entre outros, que a controvérsia em ciência potencia o desenvolvimento do conhecimento; Da dimensão histórica, entre outros, que o desenvolvimento cientifico traduz-se na existência de uma sucessão de teorias (convergentes ou divergentes) em resposta a um mesmo problema; Da dimensão sociológica interna, entre outros, que por vezes surgem divergências no interior da comunidade cientifica devido a pressões sociais; Da dimensão sociológica externa, entre outros, que a aceitação social de novas teorias esta dependente do contexto e ideologias de cada época – relação C-S. Para os Alunos: 4.2 - Compara o modelo que desenhaste com a figura/modelo a seguir apresentado. Figura 6 – Modelo Heliocêntrico Fonte: Mesquita et al. (2007) 15 4.3 - Que semelhanças e diferenças encontras entre este novo modelo e o modelo da teoria geocêntrica. Para o Professor: No que se refere aos conhecimentos científicos a adquirir, pretende-se que os alunos reforcem a ideia de que o Sol ocupa uma posição central relativamente aos outros planetas, e que assinalem que o número de planetas considerados no sistema de Copérnico se mantinha idêntico ao de Ptolomeu (continuavam a ser sete). Pretende-se que os alunos debatam não apenas a relação entre o modelo que desenharam e o modelo de Copérnico mas também as semelhanças e diferenças entre os dois modelos (o de Ptolomeu e o de Copérnico), desenvolvendo, assim, o pensamento reflexivo: com a ponderação sobre modelos teóricos elaborados em épocas diferentes a nível social, económico e/ou político. Até à questão anterior, os alunos devem ter adquirido regras de reconhecimento e realização ao nível dos conhecimentos. Espera-se, com a questão 4.1, que os alunos adquiram essas mesmas regras mas ao nível das capacidades de aplicação. Continua-se a abordar as dimensões filosófica, histórica e sociológica interna e externa. Para os alunos: Copérnico trabalhou em cosmologia durante vinte anos aproximadamente e depois de ter escrito o seu livro De revolutionibus (o tratado que colocava de parte o sistema ptolemaico que desde Aristóteles era considerado válido, isto é, um tratado que refutava a teoria geocêntrica que prevaleciam há séculos) hesitou muito antes de decidir publicá-lo. Por fim cedeu às pressões de um dos seus discípulos. 5 - Porque razão terá Copérnico hesitado? Figura 7 – Obra de Nicolau Copérnico Fonte: University of Sydney Library, 2008 16 Para o Professor: Pretende-se que os alunos reflictam sobre a forte influência que a sociedade pode ter sobre a ciência e sobre os comportamentos e atitudes dos cientistas, desenvolvendo, assim, competências de pensamento crítico e capacidades de comunicação. Esta questão deverá, também, servir para que os alunos adquiram conhecimentos metacientíficos de ordem complexa relativos à dimensão psicológica, ou seja, as características da personalidade dos cientistas. Pretende-se, ainda, que os alunos compreendam que as novas descobertas cientificas podem desenvolver nos cientistas, dilemas de vária ordem ética/religiosa, científica/social, confrontando-os, por vezes, com formas de poder para as quais não estão moral nem psicologicamente preparados. Para os alunos: Copérnico morreu antes de ver publicada a sua obra., que foi apresentada por um dos seus discípulos, este, temendo a censura, apresentou a obra de Copérnico como uma hipótese para explicar algumas das lacunas do trabalho de Ptolomeu e não como uma realidade científica. Ao mesmo tempo que decorria a investigação coperniciana desenvolviam-se outros trabalhos de astronomia que iriam contribuir também para a ruptura das ideias astronómicas tradicionais. Esses trabalhos baseavam-se mais na observação. Em 1577, o astrónomo (e também físico) dinamarquês Tycho Brahe, estabeleceu-se na ilha de Hveen, onde o rei da Dinamarca tinha mandado construir um observatório propositadamente para ele. Brahe chamou-lhe o “Uraniborg” e remeteu-se à observação ininterrupta dos astros durante vinte anos, tendo sido considerado o maior observador da idade pré-telescópica. Usava um sextante especial, por ele concebido e estava apto a comparar observações celestiais vindas de todos os pontos da Europa. Todas as medições que efectuou foram as melhores conseguidas até então. No Uraniborg, Tycho Brahe contava com a assistência da sua irmã, que foi instruída desde cedo para tal. O sistema planetário composto por Brahe - e que ele considerava estar de acordo com a sua experiência – era um misto dos sistemas ptolomaico e copernicano. O sol e a Lua rodavam em torno da Terra e todos os outros planetas, de Mercúrio a 17 Saturno, em torno do Sol. As órbitas mantinham a referência platónica, ou seja, eram circulares e, por isso, perfeitas. Brahe foi, então, ao contrário de Copérnico que era essencialmente um teórico, um observador meticuloso e apoiado em instrumentação laboratorial reuniu uma grande quantidade de dados que foram usados por Johanes Kepler, o primeiro físico a considerar que o movimento dos planetas se faz segundo orbitas elípticas. O italiano Galileu Galilei, físico contemporâneo de Kepler, utilizou um telescópio para observar os astros. Embora a sua potência fosse limitada, aumentava o alcance da visão humana e, consequentemente, permitia abrir múltiplas possibilidades de ideias sobre ciência, levando-o a defender o modelo de Copérnico. Figura 8, 9 e 10 – Tycho de Brahe, Johannes Kepler e Galileu Galilei Fonte: Wikipédia b) Nesta transição de modelos, considera-se relevante realçar o importante contributo dado pela Tecnologia, neste caso o telescópio de Galileu. Construído a partir de conhecimentos estabelecidos na Física, dá um contributo fundamental no desenvolvimento da Astronomia Moderna. Daqui podemos concluir a estreita relação e interdependência estabelecida entre a Ciência e a Tecnologia. 6 - Com base no que acabámos de discutir refere a importância da instrumentação para o desenvolvimento do conhecimento científico e a sua influência na tecnologia de que usufruímos. Para o Professor: Pretende-se, nesta questão, que os alunos se apercebam que as relações entre a Ciência e a Sociedade não são exclusivas da idade Média, mas que ainda hoje existem relações profundas entre estas duas áreas. A 18 questão requer ainda que os alunos relacionem os conhecimentos que possuem com toda a actividade desenvolvida até ao momento, e que reconheçam que a teoria heliocêntrica é a que se aproxima mais da configuração do sistema solar. Pretende-se que os alunos refiram, essencialmente, alguns conteúdos da dimensão sociológica externa, nomeadamente as relações entre Ciência-Tecnologia, bem como a dimensão histórica referente à actividade dinâmica da Ciência a qual evolui ao longo do tempo e consiste em conhecimentos organizados em esquemas teóricos coerentes que vêem sendo acumulados no tempo. Para os alunos: Após a morte de Copérnico, Galileu Galilei veio defender o modelo heliocêntrico. O tribunal da inquisição julgou-o por este facto, forçando-o a negar essa teoria e condenando-o à prisão domiciliária. Figura 11 – Galileu Galilei no Tribunal da Santa Inquisição Fonte: Sala de Física 7.1 – Discute com os teus colegas que influência pode a sociedade exercer sobre a Ciência. Para o Professor: Pretende-se que os alunos compreendam que durante muito tempo os cientistas acabavam por eventualmente nem se atrever a publicar os seus trabalhos porque a sociedade não o permitia. Os cientistas nem sempre se comportam como homens livres, abertos e críticos, porque as influências da sociedade e as consequências que as suas descobertas poderão ter levam-nos, por vezes, a retardar a sua divulgação, ou mesmo, a não divulgar. A aceitação social de novas teorias está, assim, dependente do contexto e ideologias de cada época. 19 Para os alunos: 7.2 – Comenta a frase: Antes de mais um cientista é um ser humano. Para o Professor: Os cientistas tinham muitas vezes de lidar com os seus medos, frustrações, ou seja, por vezes a aplicação da ciência pode desenvolver, nos cientistas, dilemas de vária ordem, ética/religiosa, científica/social. Os alunos devem aperceber-se que um cientista pode não conseguir separar-se das suas emoções, mesmo em controvérsias científicas, uma vez que tem de expressar opiniões relacionadas com as suas inclinações pessoais. Nas questões 7.1 e 7..2, pretende-se desenvolver capacidades de comunicação: defesa e argumentação das ideias, confronto de ideias divergentes e produção de textos orais. Pretende-se, também, desenvolver o pensamento crítico através da: ponderação de argumentos sobre assuntos controversos no âmbito do conhecimento científico, do confronto de diferentes perspectivas de interpretação, do estabelecimento de relação entre evidências e explicações divulgadas em publicações e da avaliação da validade e consistência das teorias em função das características psicológicas dos cientistas que as construíram. Para os alunos: Os conhecimentos que temos sobre o Universo evoluíram nos últimos séculos de forma marcante como resultado do desenvolvimento científico e tecnológico. Telescópios, foguetões, satélites artificiais, sondas espaciais, estações espaciais, vaivéns e muitos outros instrumentos entretanto inventados são alguns dos recursos que têm contribuído não só para conhecer o universo, mas também para compreender melhor as condições da Terra que permitem a existência de vida. 8 - De que forma a evolução do conhecimento científico e tecnológico nos permite conhecer mais sobre o nosso planeta e restante constituição do sistema solar? Para o Professor: Pretende-se que os alunos reflictam um pouco sobre o que tem vindo a acontecer com a exploração espacial e com as múltiplas possibilidades que todo o conhecimento científico e tecnológico tem trazido e 20 que este tem possibilitado grandes avanços na ciência. Imagens detalhadas obtidas nas missões espaciais têm por exemplo contribuído para desvendar características que diferenciam a Terra dos outros planetas. Mais uma vez, estão presentes nesta questão as dimensões filosófica, histórica e sociológica externa, assim como, o desenvolvimentos de várias competências realçando-se o desenvolvimento da capacidade de comunicação, do pensamento critico e da visão integradora da interacção entre conhecimento científico, tecnologia e sociedade. Para os alunos: 9 - Analisa o seguinte extracto de uma notícia e, com base nela, discute algumas ideias sobre Ciência, sobre os cientistas e sobre o processo de construção da Ciência. “Plutão foi despromovido. Ontem, 2500 astrónomos de todo o mundo, reunidos em Praga, ma Republica Checa, na Assembleia Geral da União Astronómica Internacional (UAI), aprovaram a nova definição de planeta. Plutão passou a ser um anão do nosso sistema solar. O pequeno planeta, que demora 248 anos a percorrer o longo movimento de translação à volta do Sol, foi descoberto no laboratório Flagstaff, no Arizona, em 1930, pelo astrónomo Clyde Tombaugh, que aos 24 anos conseguiu fotografar o então novo planeta. A descoberta de vários corpos celestes de tamanho comparável a Plutão funcionou como força motriz, potenciando o debate na UAI em torno do título atribuído a este planeta do século XX e cujas dimensões são muito inferiores ao que se pensava quando foi descoberto. Trata-se do único planeta descoberto por um astrónomo norteamericano. Passados 76 anos, o nono planeta do sistema solar passa da categoria de planeta clássico à de planeta anão (…)”. Fonte: Peres, E. & Jesus, P., 2006 21 Para o Professor: Pretende-se aqui que os alunos discutam a recente classificação de Plutão como uma consequência do processo dinâmico que é a Ciência e que resulta em parte das relações Ciência-Tecnologia-Sociedade, nas quais se progride com novos instrumentos de exploração espacial e conhecimento científico (dimensão sociológica externa da construção da Ciência), bem como a dimensão sociológica interna na qual a descoberta de outros corpos celestes de tamanho semelhante ao de Plutão fez com que a União Astronómica Internacional, em Assembleia Geral (a 24 de Agosto de 2006) reflectisse sobre a questão (nomeadamente sobre o conceito de planeta o qual deverá também ser discutido com os alunos e constituir o conceito científico a adquirir) e estabelecesse como definição de planeta do Sistema Solar todo o corpo celeste que, orbite em torno do sol, tenha massa suficiente para ter gravidade própria e forma arredondada e cujas imediações da sua órbita estejam livres de outros corpos celestes. Tendo sido esta última condição que “excluiu” Plutão do conjunto dos planetas principais do Sistema Solar, passando a fazer parte do conjunto de planetas menores. Pretende-se que os alunos compreendam que a ciência é dinâmica e é feita de avanços e recuos e que consequentemente não pode ser entendida como sendo uma realidade única e absoluta na medida em que o conhecimento científico evolui ao longo dos tempos. Devem ser aqui abordadas as várias dimensões da construção da ciência, nomeadamente no que diz respeito: À dimensão filosófica, os alunos devem compreender que todo o conhecimento científico é falível, isto é, só é válido enquanto não for refutado pela experiência e, por conseguinte, o conhecimento científico não se assume como absoluto, mas apenas como progressivo e que a ciência evolui em constante interrogação dos seus métodos; À dimensão histórica, os alunos devem compreender que o conhecimento científico resulta de um processo gradual de acumulação de conhecimentos e que a descoberta de novos dados científicos e a sua relação com teorias já existentes pode levar à consolidação dessas teorias, ou à sua contestação e consequente reestruturação. À dimensão sociológica interna, os alunos devem saber que existem instituições onde os cientistas trabalham em colaboração nos mesmos projectos de investigação; compreender que novos dados provocam o confronto entre cientistas, ideias e teorias, que o sistema de comunicação é uma componente estrutural essencial da comunidade científica e que a comunicação científica é um processo dinâmico, que envolve o confronto e a discussão dos resultados de várias investigações científicas; À dimensão sociológica externa, os alunos devem compreender que a invenção de instrumentos tecnológicos cada vez mais apurados é uma das principais componentes do trabalho científico – relação C-T, que a aceitação social de novas teorias está dependente do contexto e ideologias de cada época – relação S-C. , e que uma influência da ciência na sociedade é a produção de novas tecnologias – relação C-T-S. 22 No final desta actividade o aluno deverá ser capaz de compreender os seguintes conceitos: Conceitos Científicos: A constituição do Universo foi inicialmente explicada através da teoria Geocêntrica, que defendia que a terra constituía o centro do universo em torno da qual giravam os restantes astros, e mais tarde pela Teoria Heliocêntrica, que defendia o sol como o centro do sistema solar onde os restantes astros, nos quais se inclui a terra orbitam à sua volta. Conceitos Metacientíficos: A ciência é um empreendimento humano, onde o conhecimento científico se vai construindo mediante a interacção constante entre os pensamentos e observações rigorosas dos cientistas, influenciados pelas suas características psicológicas, pelo ambiente científico, tecnológico, social, cultural, político e religioso de cada época. É assim, desta forma dinâmica que a ciência vai construindo ao longo dos tempos explicações sobre o mundo natural. 23 Organização da estratégia A referida actividade é composta por duas partes (dois blocos de noventa minutos) e deverá ser implementada pelo professor da disciplina de Ciências Naturais. A proposta é iniciada com um texto, que encadeado noutros através de uma sequência lógica, levará os alunos a compreenderem melhor que, durante séculos, o movimento dos planetas, tal como hoje se conhece, não foi compreendido inteiramente. Este assunto levantou questões a pensadores, cientistas e curiosos, que procuraram encontrar teorias que os fizessem compreender melhor o Universo. Assim, ao longo desta actividade procura-se dar a conhecer aos alunos, de que forma as observações dos astrónomos antigos condicionaram o que se sabe actualmente sobre o Sol, a Terra e os outros planetas. No final o professor deverá auxiliar os alunos a construírem o texto correcto, realizando uma “sistematização” referente aos conteúdos abordados, de modo a que fiquem claras todas as aprendizagens a ser adquiridas. Os conteúdos a desenvolver nesta actividade, abordam o processo de construção de ciência, e são de âmbito científico e metacientífico. No decorrer das actividades considera-se, também, necessário que exista um esbatimento entre os espaços do professor e do aluno, dando-se particular relevância às relações de comunicação entre os sujeitos na sala de aula. Deve-se ainda salientar a importância de em cada actividade serem explícitos os critérios de avaliação, a ritmagem e o texto correcto a ser produzido por cada aluno. Sugestões metodológicas gerais A gestão dos tempos lectivos deve ser feita pelo professor, consoante o ano lectivo (feriados, interrupções lectivas, visitas de estudo, etc.), e o respeito pelas orientações da escola e grupos disciplinares/departamentos curriculares. No entanto, e de acordo com o referido anteriormente, sugere-se o desenvolvimento da estratégia em 2 blocos de 90 minutos aos quais poderá ser acrescentado mais um, caso as discussões em sala de aula o exijam. Sem impor respostas, o professor deve orientar os alunos para o objectivo de cada questão e da actividade no seu conjunto. Caso os alunos tentem obter a resposta do professor a alguma questão, esta deverá ser devolvida para 24 discussão, evitando-se, assim, ceder à tentação fácil de “ajudar” o aluno a produzir o texto correcto. Inserindo-se a actividade proposta numa tarefa de discussão a mesma deverá ser apresentada utilizando o aplicativo Slide Show. A sala deverá estar organizada em forma de U, de modo a permitir a fácil circulação do professor, a qual é indispensável para a intervenção de todos os alunos na discussão. Durante o primeiro bloco, após a resolução da questão 1, deverão ser afixadas, numa parede ou no quadro, algumas das respostas dos alunos, escolhidas aleatoriamente, as quais serão utilizadas para gerar a discussão entre o professor e a turma. Seguidamente, serão apresentadas as questões números 2, 3 e 4.1, e respectivas imagens associadas (cada uma das questões será seguida de discussão geral). À semelhança da questão 1, a resposta à questão 4.1 deverá ser afixada, agora pelos alunos que não foram escolhidos anteriormente. Finalmente serão apresentadas as questões 4.2 e 4.3 que poderão, eventualmente, ficar para reflexão como trabalho de casa para posterior discussão no início do bloco seguinte. No segundo bloco, serão apresentadas as questões 5, 6, 7, 8, e 9 de modo semelhante ao anteriormente designado. No fim desta aula, o professor deverá fazer uma sistematização final dos conteúdos científicos e metacientíficos a adquirir. Sugerese, para tal, um quadro resumo que contemple duas colunas (Teoria Geocêntrica e teoria Heliocêntrica), distinguindo-se em cada uma, por ordem cronológica, os factos mais marcantes. Por exemplo, cientistas opositores/defensores de cada uma e características mais marcantes das suas personalidades, e dimensão sociológica (interna e externa) que de algum modo possa ter interferido na formulação de cada uma das teorias. 25 Referências das Imagens NASA. Consultado a Janeiro de 2008 em http://www.nasa.gov/ Peres, E. & Jesus, P. (2006). Astrónomos decidem encolher o sistema solar. Diário de Noticias de 25 de Agosto de 2006. Consultado a Janeiro de 2008 em http://dn.sapo.pt/2006/08/25/sociedade/astronomos_decidiram_encolher_o_sist.html Portugal, P.(2007) Centro de Competências entre Mar e Serra. Consultado a Janeiro de 2008 em http://profs.ccems.pt/PauloPortugal/CFQ/Geocentrismo_Heliocentrismo/Geocentrismo_Heliocentrismo.h tml Sala de Física. Consultado a Janeiro de 2008 em http://br.geocities.com/saladefisica9/biografias/galileu.htm University of Sydney Library. (2008) Consultado a Janeiro de 2008 em http://www.library.usyd.edu.au/libraries/rare/modernity/copernicus.html Wikipédia. Consultado a Janeiro de 2008 em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ptolomeu Wikipédia a). Consultado a Janeiro de 2008 em http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Copernicus.jpg Wikipédia b) Consultado a Janeiro de 2008 em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tycho_Brahe; http://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Kepler; http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu 26 AUTORES: Rui Charneca Sónia Gomes Teresa Costa Urânia Palermo Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Partilha nos termos da mesma Licença 3.0 Unported. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ ou envie uma carta para Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California 94105, USA. 27
Documentos relacionados
modelos planetários i 5
Aristarco concluiu que o Sol era muito maior que a Terra e, 1 Tanto a ideia de que a Terra não é imóvel, apresentando, seja uma rotação axial, seja uma translaa Lua, que estava bem mais distante qu...
Leia maisMODELOS PLANETÁRIOS4 Céu aparente, sistema solar e
por Tycho como o momento de definição pela carreira de astrônomo. Em 1572, ele observou uma supernova (morte explosiva de uma estrela de grande massa) na constelação Cassiopeia. Como o modelo arist...
Leia mais