a mamografia no algorítmo diagnóstico da calcifilaxia

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a mamografia no algorítmo diagnóstico da calcifilaxia
Abstract Nº PO-SE-82
A MAMOGRAFIA NO ALGORÍTMO DIAGNÓSTICO DA CALCIFILAXIA
David Fiel ( 1 ); Filipa Alves ( 1 ); Joana Santos ( 1 ); Rute Aguiar ( 1 ); Beatriz Malvar ( 1 ); Cristina Silva ( 1 ); Pedro Pessegueiro ( 1 ); Ricardo
Santos ( 1 ); Rui Silva ( 1 ); Vítor Ramalho ( 1 ); Vítor Ramalho ( 1 ); Manuel Amoedo ( 1 ); Carlos Pires ( 1 );
( 1 ) - Hospital do Espírito Santo E.P.E., Serviço de Nefrologia, Évora, Portugal;
INTRODUÇÃO. A Arteriolopatia Urémica Calcificante (AUC) ou Calcifilaxia é uma doença rara, mas de incidência
crescente, caracterizada pela calcificação sistémica da camada média das artérias, maioritariamente em doentes
renais crónicos. De fisiopatologia pouco compreendida, são vários os fatores de risco para a sua ocorrência: género
feminino, obesidade, Diabetes mellitus, distúrbios do metabolismo fósfo-cálcico, estados de hipercoagulabilidade,
hipoalbuminémia e fármacos como varfarina ou sais de cálcio. O diagnóstico é essencialmente clínico, caracterizado
por livedo reticularis e nódulos subcutâneos violáceos dolorosos com progressão para úlceras, em áreas densas em
tecido adiposo. Biópsia das lesões, imagiologia óssea ou mamária poderão auxiliar no diagnóstico. CASO. Mulher de
76 anos, leucodérmica, DRC estadio 5 incidente em programa de hemodiálise (HD) em Novembro de 2015 por
PNC/NIC obstrutiva. Tinha como antecedentes litíase renal obstrutiva, Diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial,
insuficiência cardíaca e episódio de tromboembolismo pulmonar em 2013, encontrando-se hipocoagulada com
varfarina. Recorre ao nosso hospital em Novembro de 2015 por úlceras nos membros inferiores dolorosas e com
exsudação purulenta, sem febre, já com 2 meses de evolução, em agravamento progressivo apesar de antibiótico oral
(flucloxacilina). À observação, as ulceras apresentavam fundo necrótico e exsudação purulenta, localizando-se na
região glútea e membros inferiores, tendo-se colhido amostra para exame bacteriológico. Analiticamente apresentava
calcémia e fosfatémia normais (8,8mg/dL e 4,2mg/dL), PTHi baixa (128 pg/mL), LDH 346U/L e PCR 8,6mg/dL, sem
leucocitose. Cinco meses antes foi detetado hiperparatiroidismo secundário em consulta de rotina de Nefrologia, com
PTHi 1100 pg/mL, e hiperfosfatemia de 6,9mg/dL, tendo iniciado paricalcitol e carbonato de cálcio. Neste contexto,
foi internada com a hipótese diagnóstica de AUC, fez biopsia cutânea e iniciou Piperacilina/Tazobactam empírico para
sobre-infecção, com posterior escalamento para Vancomicina após isolamento de MRSA no exsudado da ferida. A
biopsia de pele mostrou apenas tecido necrótico, mas realizou mamografia que revelou exuberantes calcificações
bilaterais vasculares, altamente sugestivas de AUC. Foi medicada com Tiossulfato de Sódio, iniciou oxigenoterapia,
foram programados desbridamentos químicos e cirurgicos com a Cirurgia Plástica e foi ainda referenciada para
consulta de Medicina Hiperbárica. CONCLUSÃO. Em doentes DRC5d com lesões ulceradas da pele, dever-se-á
considerar sempre a hipótese diagnóstica de UAC, mesmo na ausência de histologia sugestiva. Uma vez que a
apresentação clínica e factores de risco frequentemente insinuam o diagnóstico, os autores propõem a realização de
mamografia como exame complementar de diagnóstico não invasivo, como alternativa à biópsia cutânea, que tem
alta taxa de falsos negativos. Apesar de crescentes casos a serem descritos na literatura, não existe ainda consenso
numa abordagem terapêutica óptima e mesmo com intervenções multidisciplinares -farmacológicas, cirúrgicas e
outras- mantém-se uma patologia de mau prognóstico, com altas taxas de morbilidade e mortalidade.