Projeto de Preservação da MataAtlântica
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Projeto de Preservação da MataAtlântica
Projeto de Preservação da Mata Atlântica cade a onca Governo do Estado de São Paulo Diretoria Geral do Instituto Florestal Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Divisão de reservas e parques estaduais Coordenação Geral do PPMA Diretoria Executiva da Fundação Florestal Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e de Diretoria de Operações João Batista Baitelo Cláudio Lembo José Goldemberg José Luiz de Carvalho Maria Cecília Wey de Brito Maria Cecília Wey de Brito Proteção de Recursos Naturais José Arnaldo Gomes Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais Renata Inês Ramos Beltrão Divisão Regional do Litoral e Vale do Ribeira – DPRN-3 Luiz Roberto Camargo Numa de Oliveira Consultoria Independente – GOPA Consultants Norbert Wende Publicação Projeto de Preservação da Mata Atlântica 1997-2006 Domingos Ricardo de Oliveira Barbosa Conselho Editorial Maria Cecília Wey de Brito, Ne- Divisão Regional do Vale do Paraíba - DPRN-7 Wende Marco Antonio Moreira Landrino Comando da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo Coordenação Executiva Maria Isabel Amando de Barros / Instituto Ekos Brasil Edição e Textos Marcelo Delduque Projeto Gráfico Luciana Sion / art urb Mapas Giorgia Limnios / Instituto Ekos Brasil, Cel. PM José Guerra Júnior Comando do Terceiro Batalhão de Policia Ambiental Ten. Cel. PM Amélio Franch Leme Filho rea Massini, Marco Antonio de Almeida e Norbert Douglas da Silva Menezes e Giordano Bruno Altomari / Instituto Florestal Fotolito e Impressão Burti Gráfica e Editora Tiragem 3.000 exemplares Ficha catalográfca ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos Projeto de Preservação da Mata Atlântica 1995 a 2006 11 anos N orem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sad diam nommumy elusmod tempor incidunt ut labore et dolore magna aliquam erat volupat. Ut enim ad minim veniam, Et duis autem vel eum irere dolor in reprehenderit in volupate velit esse molestale, vel illum dolore eu fugiat nulla pariatur. At vero eos et justo odio dignissim que vlandit pre praesant luptatum delenit aigue dous dolor et molesiias exceptur sint occaecat cupidiat non provident. simil tempor sunt in culpa que officia deserunt mollit anim id est laborum et dolor fuga. 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Nam liber tempor cum soluta novis eligend optio congue nihil impedit doming id quod maxim placeat facer possim omnis voluptas assumenda est, omnis dolor repellend. Temporibud autum Nononono Nononono Nononono Lorem ipsum dolor sit amet, índice 1 2 3 4 5 6 Mata Atlântica: patrimônio que inspira cuidados 08 Um plano para proteger a floresta paulista 12 Impactos positivos na natureza 18 Ferramentas do Projeto 32 Uma nova forma de interação com a Mata Atlântica 46 Perspectivas de sustentabilidade 66 1 Entre os mais importantes e ameaçados refúgios da biodiversidade do planeta, a floresta tropical brasileira está há mais de quinhentos anos submetida a fortes pressões. Conservar e recuperar seus remanescentes é uma urgência, pela riqueza que ainda guarda e pelo bem da vida de milhões de pessoas. Todo brasileiro se orgulha da Mata Atlântica. As imagens de nossa floresta tropical correm o planeta representando as maiores riquezas do País. Para se falar em algumas de suas paisagens mais belas, há mata atlântica patrimônio que inspira cuidados Domínio original os extensos estuários do litoral paranaense, os cam- da Mata Atlântica pos de altitude da Serra da Mantiqueira, as flores- Remanescentes da Mata Atlântica tas de araucária do Sul e as belas matas da Bahia. Ou ainda a monumental Baía de Guanabara, cartão postal do Brasil. Por fim, há as escarpas magistrais da Serra do Mar e a costa inteiramente recortada Fonte: Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica - 1995 a 2000. Fundação SOS Mata Atlântica e INPE. entre São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda no aspecto diversidade, salta aos olhos a enorme variedade de vida que pode ser encontrada ao se mudar a perspectiva do olhar, abandonando as visões panorâmicas grandiosas e aproximandose do interior da floresta. Vide, por exemplo, o sub- bosque de uma mata primária, cujo dossel das árvores, a 30, 40 metros de altura, nos dá a sensação de estarmos abrigados sob um enorme santuário. Nessa catedral natural, ornada por bromélias, orquídeas, palmeiras, samambaias, cipós e guaimbês, desfilam aos olhos mais atentos e afortunados desde grandes mamíferos, como a onça-pintada, a fundo tentar watermark do logotipo do PPMA em todas estas paginas de abertura capivara e a anta até os mais coloridos e delicados papagaios, tucanos, araçaris e saíras, entre centenas e centenas de espécies. Houve uma época em que essa extraordinária floresta, ou melhor dizendo, esse complexo de flores- tas, cobria quase a totalidade da costa leste do Brasil, entre os atuais estados do Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. Em alguns trechos, esparramava-se muito além da faixa litorânea, avançando mais de 500 quilômetros interior adentro, a exemplo de terras do hoje Mato Grosso do Sul. 1 mata atlântica: patrimônio que inspira cuidados Acontece que a Mata Atlântica, assim como as florestas tropicais de forma geral, muito diferente da visão do paraíso que sugerem, não são propriamente ambientes adequados à vida humana. Quem já andou no meio da mata sabe da dificuldade que é vencer os emaranhados de cipós e espinhos, do incômodo dos mosquitos e outros insetos, do calor úmido e da falta de luminosidade (afora, é claro, as delícias de um banho de rio ou de cachoeira!). As- Rolo compressor Os conquistadores passaram por cima da mata da mesma forma que desdenharam dos indígenas e de seus conhecimentos sobre a natureza. A destruição foi imperiosa. Em cinco séculos, a outrora cobertura vegetal que se espalhava por 1,3 milhão de quilômetros quadrados do território quase sucumbiu, chegando ao século XXI reduzida a menos de 8% da cobertura original. A primeira vítima da cobiça européia foi a ma- sim, as muitas gerações que habitaram a floresta deira conhecida pelos índios tupi por ibirapitanga – tiveram que aprender a conviver com ela. Os tupis extraíam um corante carmim, já estava em vias de – dos primeiros povos pré-colombianos aos tupis - que aí se encontravam na ocasião da invasão portuguesa, no ano de 1500, viviam em clareiras e planta- vam em pequenas áreas desmatadas, deixadas em descanso após um ciclo de colheitas para recuperar a fertilidade (agricultura de coivara). Incursionavam ao interior da mata a fim de caçar e coletar plantas úteis, sempre retornando às suas aldeias. Apesar de não morarem dentro da floresta, os ín- dios dela dependiam e tiveram a sensatez de deixá-la em pé – ou como acreditam alguns, numa visão bem menos romântica, viviam numa densidade demográ- fica muito baixa para alterá-la substancialmente. cor ??O mais o pau-brasil. Em 1605, a árvore da qual os europeus extinção. Não demorou para que as clareiras abertas na selva fossem ocupadas por canaviais. Ao mesmo tempo, e durante três longos séculos, as indústrias naval e moveleira da Europa se alimentaram da madeira de lei extraída dali. No século XIX, vieram as locomotivas e as indústrias, a consumirem carvão vegetal, bem como as plantações de café e as pastagens, cujo manejo equivocado transformou vastas extensões de terra em voçorocas, resultados extremados da erosão dos solos. E, na história mais re- cente, pressões urbanas e industriais deram o golpe de misericórdia a matas primárias remanescentes. fato é que, quando os portugueses chegaram,neutral, encon-posicao Mesmo esfacelada, a Mata Atlântica continua melhor mais traram a Mata Atlântica praticamente intacta. admirável e ímpar. Ali já foram identificadas 276 esencima sangrando pécies de mamíferos, 1023 de aves, e outras 567 de Uma das mais ameaçadas áreas naturais do planeta Um estudo reconhecido internacionalmente posiciona a Mata Atlântica entre os cinco primeiros colocados na lista dos hotspots – áreas de alta biodiversidade mais ameaçadas do planeta, onde ações de conservação são urgentes. É considerada hotspot uma área com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 75% de sua vegetação original. Há 34 regiões dessas no planeta e, embora ocupem apenas 2,3% da superfície terrestre, abrigam 50% das plantas e 42% dos vertebrados conhecidos. 10 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos répteis e anfíbios Só no grupo dos mamíferos, 88 es- pécies não são encontradas em nenhum outro lugar da Terra. Entre os anfíbios, a quantidade surpreende ainda mais: das 350 espécies catalogadas, cerca de 86% são exclusivas do bioma. No que se refere aos Tesouro no quintal paulista No estado de São a preocupação com a conservação dos recursos nat- Atlântica preservadas de todo o Brasil. As escarpas sociedade brasileira, mas os números alarmantes da Paulo estão as maiores áreas contínuas de Mata da Serra do Mar não deram chances ao ímpeto exploratório dos colonizadores, aos avanços da agricultura e da industrialização. Esse corredor remanescente, somado a grandes urais ainda não constava da agenda de prioridades na degradação da floresta que passaram a ser monitorados e divulgados ganharam holofotes, colaborando para o nascimento do movimento ambientalista. Hoje, o desafio é fazer do conhecimento acerca da vegetais, há pelo menos 20 mil espécies de plantas, extensões de terras florestadas do Vale do Ribeira e importância de se conservar a Mata Atlântica uma versidade de vida, a Mata Atlântica guarda um rico de mata do Paraná ao Rio de Janeiro. Não ficou, fim. Conservar o que resta da floresta e manter viva das quais cerca de 8 mil são endêmicas. Afora, a dipatrimônio histórico e cultural. Para os quase 120 milhões de pessoas que vi- vem na região de domínio da floresta, a proteção do pouco que resta é uma necessidade vital, admite-se hoje, num mea-culpa histórico que dá razão à sabedoria dos antigos tupis. Vale do Paraíba, praticamente une as grandes áreas porém, a salvo das pressões, sendo lento e gradativa- mente corroído pelas bordas, especialmente a partir da construção de uma série de rodovias cortando a região na segunda metade do século 20. Tais transformações, ao mesmo tempo, chama- ram a atenção para a exuberância e a fragilidade dessa porção de paraíso natural. Na década de 1980, Pressão à Mata Atlântica: avanço urbano ameaça manguezal na Ilha da Santo Amaro (município de Guarujá). bandeira e uma força propulsora que impeça seu a esperança de que ainda pode ser recuperado muito do que foi perdido ao longo do tempo é um impor- tante alento à continuidade da vida no planeta. E, muito além, tem uma profunda significação: tornar- se símbolo de um novo acordo de convívio entre a atividade humana e a natureza – no qual ambos serão beneficiados. o passaro um poco maior otra flor, orquídea 1 mata atlântica: patrimônio que inspira cuidados 11 A partir de um acordo de cooperação bilateral Brasil-Alemanha, nasceu no Governo de São Paulo um grande projeto para conservar os remanescentes da Mata Atlântica do estado, o PPMA. Foram onze anos de atividades (19952006), período no qual, graças ao vigor e às inovações dos programas adotados, os esforços para a proteção da floresta ganharam um novo sopro de esperança. O Projeto de Preservação da Mata Atlântica (PPMA) começou a ser concebido em 1989, com a crescente preocupação do Governo de São Paulo em um plano para proteger a floresta paulista proteger e recuperar os recursos naturais do estado. 2 Aqui, há que se abrir um pequeno parêntese. Viveu-se, no final dos anos de 1980 e começo da década seguinte, um despertar global para a causa ambiental. De modo que, desde quando o Projeto foi idealizado até o início das atividades, o ambientalismo muito se transformou. Em 1992, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), no Rio de Janeiro, tornou-se o marco de uma notável tomada de consciência sobre a urgência de se conservar o patrimônio natural do planeta. Após o encontro, popularizaram-se conceitos como desenvolvimento sustentável e processos participativos de gestão do meio ambiente. Na época, iniciaram-se gestões com o Banco Alemão de Desenvolvimento, KfW Entwicklungsbank, agente estatal financeiro encarregado dos proje- tos da Cooperação Financeira Oficial da Alemanha. Uma longa tradição do Governo Federal Alemão em acordos de cooperação financeira com o Brasil, con- siderado país-chave para o desenvolvimento dessas parcerias, e o foco de investir na conservação da bio- O PPMA ampliou, integrou e planejou as ações de proteção à floresta, atuando em pleno acordo com os princípios de sustentabilidade preconizados pela Agenda 21. diversidade, balizaram as negociações (veja box na página 17). Em São Paulo, o momento era propício e urgente Assim, numa evolução natural, foi incorporada às para o surgimento de um grande projeto como o que bases conceituais do PPMA a estratégia de propagar Secretaria do Meio Ambiente do Estado e as ações de com o desenvolvimento socioeconômico humano. se desenhava. Há quatro anos ocorrera a criação da proteção ambiental ainda engatinhavam. Embora já houvesse os órgãos de fiscalização e licenciamento, e muitas das áreas protegidas estaduais fossem antigas (o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, por exemplo, foi criado em 1962), os esforços para se conservar os remanescentes florestais eram pontuais e desarticulados. Em 1993, as discussões bilaterais iniciais entre Brasil e Alemanha resultaram na assinatura do con- a idéia de conservação da natureza andando junto O Projeto, então, alinhou-se plenamente à visão preconizada nos princípios da Agenda 21 (espécie de “cartilha de sobrevivência” para o futuro do planeta elaborada na Conferência de 1992), estabelecendo seu grande objetivo nas seguintes linhas: “conser- vação e manejo sustentável da biodiversidade dos remanescentes da Mata Atlântica e seus ecossistemas associados”. trato do Projeto, chamado em seu princípio de Projeto de Preservação da Floresta Tropical no Estado de São Paulo. A iniciativa visava ampliar, planejar e integrar as ações de proteção à mata. Em sua fase embrionária, foi calcado pela estratégia de fortalecer a fiscalização e consolidar as Unidades de Conservação. 2 um plano para proteger a floresta paulista 13 Estrutura Lógica do PPMA &ERRAMENTASDO 00-! PROMOVER 5MANOVAGESTjO DA-ATA!TLhNTICA INFRAESTRUTURA EEQUIPAMENTOS FISCALIZAljO ECONTROLE PLANEJAMENTO INTERAljO SOCIOAMBIENTAL AlzESINTEGRADAS EDUCAljO AMBIENTAL INFORMAljOE MONITORAMENTO /BJETIVOSDO 00-! ATINGIR ESTABILIZAljODA COBERTURAVEGETAL DEFESADA BIODIVERSIDADE PROTEljODE MANANCIAIS TURISMO SUSTENTfVEL integrar flecha, integrar ovalo, nao repetir PPMA Fiscalização, planejamento e integração: palavras-chave Em 1995, o PPMA finalmente saiu quilômetros quadrados, entre Picinguaba, na divisa do Mar, Vale do Paraíba e Vale do Ribeira, ou seja, As primeiras ações, de caráter emergencial, do papel, com as ações concentradas no litoral, Serra ao Paraná. cerca de 17 mil quilômetros quadrados de floresta. A foram investimentos maciços no aparelhamento as mais extensas áreas contínuas florestadas ainda dos recursos naturais dessas áreas: Polícia Ambien- razão da escolha dessas regiões foi porque ali estão razoavelmente preservadas em São Paulo. Em 1999, a cooperação internacional seria ampliada, contemplando novas Unidades de Conservação e perfazendo, então, um contínuo de florestas de 22 mil Criação da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 14 com o Rio de Janeiro, e o Vale do Ribeira, próximo Início das negociações entre o Governo do Estado de São Paulo e o KfW Entwicklungsbank. Uma missão do banco alemão vem ao Brasil conhecer a floresta atlântica. A partir daí, inicia-se a formulação de um projeto. ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos 1985 1989 Assinatura do contrato entre o Governo Estadual e o KfW. 1993 das quatro instituições responsáveis pela gestão tal, órgão fiscalizador; Departamento Estadual de istram as Unidades de Conservação estaduais. No dependente, mesmo que para fins comuns. Assim, Estação Ecológica nados a duas Estações Ecológicas e quatro Parques ser estabelecidas nos chamados Planos Operativos Unidade de mento do PPMA, no qual os investimentos e cus- integrante do caso do Instituto Florestal, os recursos foram destiEstaduais; dentre estes, o Parque Estadual da Serra do Mar participava com cinco núcleos. Nesta primeira fase do PPMA, o Instituto Florestal recebeu recursos para elaborar Planos de Gestão Ambiental destas Unidades de Conservação. Afora a prioridade em adquirir equipamentos e Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), responsável intensificar a fiscalização, o Projeto teve um foco em Florestal (IF) e a Fundação Florestal (FF), que admin- tuições envolvidas, que trabalhavam de forma in- por licenciar supressões da mata nativa; e o Instituto Apresentação e aprovação do Projeto Piloto, contemplando o Parque Estadual Ilhabela e a região do Vale do Ribeira. 1994 Aprovação do projeto técnico. Execução do Projeto Piloto. 1995 planejar e integrar as atividades das quatro insti- Implantação do Projeto em todas as outras áreas previstas, contemplando 17 mil quilômetros quadrados de domínio da Mata Atlântica e dez Unidades de Conservação. 1996 de imediato, as rotinas das instituições passaram a da Juréia, Anuais (POAs), principal instrumento de planeja- Conservação teios são decididos e discriminados. Em 1998, foi Projeto implantado o Plano Operacional de Controle (POC), que se concretizou em ações conjuntas de fiscalização, visando uma efetiva integração entre DEPRN, Polícia Ambiental, FF e IF. A partir do POC, as medidas de proteção à floresta passaram a ser arquitetadas conjuntamente. Oficina de planejamento Publicação da em Paraibuna com todos Resolução Conjunta os participantes do PPMA. estabelecendo No encontro foi ajustada cooperação mútua a matriz de planejamento entre as Secretarias do Projeto, ou seja: da Segurança objetivo superior, objetivos Pública e Meio específicos, métodos, Ambiente, visando resultados, indicadores e coibir infrações pressupostos. ambientais. 1997 Foram criados Comitês de Apoio a Gestão em dez Unidades de Conservação envolvidas na primeira fase do PPMA. Publicação dos Planos de Gestão Ambiental de dez Unidades de Conservação. Publicação interna do Plano Operacional de Controle (POC), visando integrar e articular as ações das instituições envolvidas no PPMA. 2 um plano para proteger a floresta paulista 1998 15 “Está cada vez mais compreendido e comprovado o papel da Mata Atlântica para a vida do cidadão. Hoje, o logotipo da cooperacao encims, logotipo de KfW ao final do texto embaixo Investimentos do KfW e Governo do Estado de São Paulo (em milhões de Euros) conhecimento existente sobre seus atributos ecológicos, paisagísticos e outros, reforça os argumentos que indicam ser mais importante manter áreas com remanes- foto Ciça centes de florestas que simplesmente derruba-las sob o argumento de que isso servirá para desenvolver atividades econômicas. O desafio ainda é traduzir melhor este Governo do Estado de São Paulo papel aos tomadores de decisão, empresários e mesmo para aqueles que pensam não ter relação direta com a natureza.” Maria Cecília Wey de Britto KfW: empréstimo KfW: contribuição financeira A cooperação bilateral Brasil-Alemanha A política de cooperações internacionais O Projeto também investiu fortemente na área Conservação e uma modernização dos mecanismos ticipantes de radiocomunicadores e computadores vas formas de interação contribuíram para o cum- de informação e monitoramento, dotando os par- Em onze anos de atividades, o PPMA com Internet. Foram colocadas à disposição dos téc- contribuiu com a diminuição no ritmo do nicos cartas topográficas vetorizadas e fotos aéreas, desmatamento e construiu os alicerces para estas produzidas especialmente para uso no PPMA. novas formas de interação do ser humano Um sistema de georreferenciamento foi criado para com a floresta. ajudar na sistematização dos dados. Resultados O PPMA gerou os resultados mais viNas Unidades de Conservação, o instrumento de planejamento adotado foram os Planos de Manejo, documentos que sistematizam o conhecimento sobre as áreas protegidas, propondo diretrizes e estratégias de ação. É importante enfatizar que a elaboração dos mesmos contou com as opiniões e sugestões das comunidades locais e de várias esferas da sociedade, num procedimento inédito no âmbito da Mata Atlântica, culminando com a criação de Conselhos Consultivos, fóruns onde propostas de deliberações passam por consultas públicas. síveis entre os projetos de proteção à Mata Atlântica, que podem ser medidos pela diminuição real no rit- mo do desmatamento no estado de São Paulo. Com sua efetiva atuação na intensificação da fiscalização, no incremento da infra-estrutura e da rede de informações, assim como na profissionalização dos instru- mentos de gestão (planejamento e cooperação), deu a base necessária para que fossem estabelecidas novas formas de interação do ser humano com a floresta. Assim, a partir do Projeto, derivaram programas de fiscalização e controle, entre outros. Essas noprimento do principal objetivo do Projeto de prote- ger a floresta, compreendido a partir de três grandes questões: estabilização da cobertura vegetal, defesa da biodiversidade e proteção de mananciais. O ano de 2006 marca o encerramento do con- trato de cooperação internacional. Inquietações co- muns a momentos como este não poderiam deixar de aflorar. Os agentes envolvidos já se mobilizam em busca de meios de manter e aprofundar as conquis- da Alemanha é definida e conduzida pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento, o BMZ, que formula as linhas de atuação e conduz o diálogo inter- governamental com os países parceiros. O KfW Entwicklungsbank (Banco de Desenvolvimento Alemão) é o agente financeiro oficial dessas cooperações. Avalia as propostas de projetos, formata contratos, operacionaliza os financiamentos e empréstimos e apóia e monitora a implementação dos projetos pelas instituições executoras. Os primeiros projetos de cooperação fi- tas do Projeto. A expectativa é que, ante a finalização nanceira bilateral Brasil-Alemanha remon- como a sociedade, mirem-se nesse onze anos de óti- do Governo Alemão sendo voltada para in- do aporte de recursos, o Governo de São Paulo, bem mas experiências, municiem-se dos instrumentos de gerenciamento criados no período e façam do PPMA o mesmo que se busca para a natureza, ou seja, sua conservação e sustentabilidade. tam a 1963. A partir da Rio 92, com a política vestimentos no desenvolvimento sustenta- do, na redução da pobreza e na conservação da biodiversidade, o Brasil tornou-se foco prioritário de investimentos. Até hoje, o banco concedeu cerca de 624 milhões de euros para projetos no Brasil, de educação ambiental, turismo sustentável, di- sendo que aproximadamente 545 milhões de versas parcerias de comunidades com Unidades de euros já foram desembolsados. Atualmente essa cooperação financeira conta com 28 projetos em curso no território brasileiro, a um valor de 300 milhões de euros, sendo que Após a vistoria de uma missão do KfW, foi proposta a inclusão de onze novas Unidades de Conservação. 16 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos 1999 Inicia-se o desenvolvimento do SIGMA – Sistema de Gerenciamento da Mata Atlântica. 2000 Foram criados Conselhos Consultivos em Unidades de Conservação envolvidas na segunda fase do PPMA e readequados os Comitês de Apoio a Gestão da primeira fase. Assinatura do Contrato de Aumento, ampliando a área de abrangência do Projeto para 22 mil quilômetros quadrados. Publicação do Plano de Manejo do Parque Estadual Ilha do Cardoso e aprovação no CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente. 2001 70% desses projetos são na área de conservaInício da parceria entre os Governos de São Paulo e Paraná para estabelecer e implementar Plano de Operações de Fiscalização Conjunta no Vale do Ribeira e Litoral. 2004 ção dos recursos naturais. O PPMA inclui-se Aprovação do Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar pelo CONSEMA - Conselho Estadual do Meio Ambiente. 2006 aí. No mundo todo o KfW Entwicklungsbank está fomentando 1300 projetos divididos em 105 países. 2 um plano para proteger a floresta paulista 17 impactos positivosna nanatureza natureza O PPMA, em todas as suas ações e programas, foi pautado pelo objetivo maior de conservação dos remanescentes da Mata Atlântica e manejo sustentável da biodiversidade. Para que se compreenda a profundidade dos problemas atacados pelo Projeto, separamos esse objetivo em três grandes temas, tratados neste capítulo. Os temas são ilustrados com estudos de caso exemplares da abrangência do tema em questão, em uma perspectiva histórica, apresentando cada caso em seus diversos aspectos, incluindo o que se refere aos impactos positivos causados pelo Projeto. Em primeiro lugar, o PPMA desenvolveu seus programas com a preocupação de contribuir para a estabilização da cobertura vegetal, ou seja, cuidar para estancar o ritmo do desmatamento na Mata Atlântica, que transforma áreas de floresta em ci- 3 Estabilização da cobertura vegetal Defesa da biodiversidade dades, condomínios e lavouras. Mas nem sempre manter a cobertura vegetal sig- nifica assegurar a proteção à floresta, já que a predação pode ser feita sem prejuízo da cobertura, como é o caso da ação de caçadores e palmiteiros, que empobrece a mata, porém não a derruba. Este é o segundo tema tratado: a defesa da biodiversidade. Por fim, o Projeto procurou, a partir da proteção Proteção aos mananciais da floresta, manter a integridade dos mananciais que abastecem de água milhões de pessoas. A flo- resta, muito além de todos os interesses que se encerram em si, presta serviços ao ser humano, entre eles, provavelmente o mais importante, que é regular o fluxo hídrico e proteger nascentes de água. Essas nascentes se transformam em rios, que, próximo às cidades, têm seus cursos desviados para sistemas de abastecimentos urbanos. Da conservação da floresta, depende a manutenção desses preciosos mananciais e, conseqüentemente, a qualidade da vida humana. 3 impactos positivos na natureza 19 Cobertura vegetal natural no Estado de São Paulo [1962 – 2001] Em uma situação dessas, a presença efetiva do bro da década de 1970. pressões à cobertura vegetal passaram a ser de out- Estado, planejando as ocupações humanas, fiscali- Ainda são muitas as ameaças que recaem sobre as Unidades de Conservação, faz-se fundamental ra ordem. Mas não por isso menos preocupantes. a floresta, especialmente no estado de São Paulo, o mais populoso do Brasil. Para se ter uma idéia, calcula-se que a população atual dos municípios abrangidos ou adjacentes ao trecho paulista da Serra do Mar, onde se concentram algumas das mais significativas áreas contínuas da floresta, é de -24,2% zando as áreas de proteção ambiental e manejando +3.7% para manter a integridade da cobertura florestal remanescente. É o que tem acontecido em São Paulo, cicrulo menor contribuindo para a expressiva diminuição no ritmo do desmatamento observada, uma tendência que parece ter vindo para ficar. 1962 (1) 1971-73 (2) 1990-92 (3) 2000-01 7.257.300 ha 4.393.880 ha 3.330.740 ha 3.457.301 ha Evolução da cobertura vegetal na região do litoral de São Paulo [1991 – 2004] 1.200.206 ha 1.176.566 ha (1) Borgononi & Chiarini (1965) e Borgonovi et al (1967) (2) Zoneamento econômico Florestal do Estado de São Paulo (1975) (3) Kronka et al (1993) 695.360 ha A floresta ganha espaço Na região da Serra do Mar, há muitos casos em que o limite das cidades é a floresta, de forma que o 294.148 ha crescimento urbano sem planejamento fatalmente abre caminho em meio à mata. Vale lembrar: em geral as pessoas que procuram se fixar nas periferias são desprovidas de bens e encontram-se à mar- gem do processo social; simplesmente se apossam de terras abandonadas e abrem clareiras em locais de pouco movimento e longe dos olhos da fiscalização. São também alvos fáceis de grileiros. Estes vendem terrenos que não lhes pertencem, muitas vezes inseridos dentro de Unidades de Conservação. Exemplos claros dessa situação são as cidades de Caraguatatuba e Ubatuba, cujas taxas de crescimento são engrossadas pelos imigrantes que che- gam atraídos pela disponibilidade de mão de obra na 2000 2004 total floresta ombrófila densa e mista vegetação secundária formações arbóreo/arbustiva-herbácea A Rio-Santos foi planejada durante o regime A especulação imobiliária, resultado do cresci- de Janeiro e Santos, como o porto de São Sebastião. mento do turismo, também ameaça a Mata Atlân- tica. O litoral norte de São Paulo foi um dos mais afetados em tempos recentes, pela mudança radical rodovia BR-101, a Rio-Santos, em meados da década de 1970. Ali, a planície entre a costa e a serra tem sido um dos locais mais expostos à ocupação turística e os males ao ambiente decorrentes, como aterramento de mangues e destruição de restingas. ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos 1991 -1% militar, para facilitar os acessos a equipamentos de suas feições que se deu a partir da construção da 20 +2% construção civil. Em ambas, os limites do Parque Estadual da Serra do Mar avizinham-se à zona urbana. sangra embaixo 1.197.889 ha 210.189 ha pela derrubada extensiva da Mata Atlântica, as -39,5% 694.394 ha quase 14 milhões de habitantes, praticamente o do- 210.648 ha Passados os ciclos econômicos da cana-de-açúcar, do café e do extrativismo madeireiro, responsáveis eliminar barra esquera e fazer um box com 2 pizzas diferenciando os tipos de vegetacao, sem o circulo de porjentual 293.306 ha Estabilização da cobertura vegetal de infra-estrutura de base implantados entre o Rio Era época do chamado milagre econômico, ápice da política econômica desenvolvimentista, e como era regra, nada ou pouco se considerou os impactos sociais e ambientais de uma obra de tamanha magnitude. Como bem observou Warren Dean, em “A Ferro e Fogo”: “A idéia de desenvolvimento econômico penetrava a consciência da cidadania, justificando cada ato do governo, e até de ditadura, e de extinção da natureza”. 3 impactos positivos na natureza 21 esta foto muito maior, sangrando na esquedra encima Aos imigrantes que chegaram, como já se viu, Efeitos da especulação imobiliária em Bertioga: floresta dá lugar a loteamentos (foto à direita). atraídos pela mão de obra disponível na construção menor e dentro dum box FAVOR tirar o numero 1 de ambos graficos civil, somou-se a população caiçara que vendeu suas terras costeiras, deslocando-se para habitações precárias nas encostas. Em locais como a costa sul de São Sebastião, essas ocupações, quase sempre clandestinas, com máximo parcelamento do solo e sem condições mínimas de saneamento básico, Foto aérea da já estão adentrando terras do Parque Estadual da região da praia da Serra do Mar. Indústrias Puruba, município Caso semelhante aconteceu em Cu- batão, onde, após a construção da Via Anchieta, em exercem pressão menor, a agricultura e a pecuária 1972 (esquerda) e da estrada, resultando nos núcleos urbanos conheci- em regiões pobres, como o Vale do Ribeira. Lá, os local realizada em recursos para manejar a terra, abrem caminho em revelam incremento 1976, alguns trabalhadores se fixaram às margens dos como bairros cota, que em muitos pontos avançam sobre o Parque. No início dos anos de 1990, por iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, foram criados grupos de trabalho com o objetivo de minimizar conflitos resultantes desta ocupação, mas a expansão urbana continua na região. Cubatão é, provavelmente, o local onde as pressões sobre a Mata Atlântica são mais evidentes. continuam abrindo frentes na floresta, sobretudo ortofoto do mesmo pequenos agricultores, em vista de terem poucos 2000/2001 (direita) áreas de floresta, cuja fertilidade é alta imediata- de vegetação nativa mente após os desmatamentos, não se fazendo necessário o uso de insumos. Até hoje vigora a men- talidade de que mato é sinônimo de sujeira e terra imprestável e que deve, portanto, ser eliminado. O pólo industrial instalado ali na década de 1950 interferiu de forma absolutamente negativa sobre a cobertura vegetal. Primeiramente, o descontrole na emissão de poluentes (hoje minimizado com a obrigatoriedade do uso de filtros) resultou em chuvas ácidas que fragilizaram a mata e provocaram uma série de desabamentos das encostas. Linhas de alta tensão, torres, dutos e ferrovias abriram os acessos em meio à floresta, aumentando sua vulnerabilidade. E todo esse processo não é exclusivo da faixa cos- Diversos fatores contribuíram para frear o pro- cesso de desmatamento. Junto com a conscientiza- desmatamento foi a atuação dos Ministérios Públi- (o que pode ser dimensionado pelas diversas Ongs e quando passaram a ter entre suas atribuições a def- da sociedade e o aperfeiçoamento das leis dos órgãos do Governo, assim como diversas Uni- estão entre as principais razões Mudança de tendência grandes e contínuos trechos florestados. Loteamen- pressão atuando, a cobertura vegetal em São Paulo tos e condomínios que vieram a substituir antigas pastagens e zonas agrícolas decadentes, em geral não respeitam o meio ambiente, e trazem conseqüências semelhantes àquelas do litoral. ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos mesmo pessoas físicas que atuam em projetos que visam o desenvolvimento sustentável), melhoraram os instrumentos de controle e fiscalização por parte dades de Conservação se consolidaram. Além disso, os esforços entre as várias instâncias relacionadas ao Houve ainda o implemento de políticas públi- geração de energia como para abastecimento de água para as grandes cidades, resulta em perdas de ção da sociedade, mais atenta à questão ambiental meio ambiente passaram a se articular melhor. direção ao interior, ainda em zonas de domínio da Mata Atlântica, o represamento de rios, tanto para Outro fator importante para a diminuição do Mesmo com os vetores de pressão atuando, o ritmo do desmatamento está diminuindo. Políticas públicas voltadas à conservação ambiental, a conscientização teira. No planalto, transpondo-se a Serra do Mar em 22 de Ubatuba, em Onde a urbanização e o parcelamento do solo A partir de meados do século 20, mesmo com todos esses vetores de começou a se estabilizar, como revelam os monitoramentos sistemáticos que estão sendo feitos por meio de interpretações de imagens de satélite (veja os gráficos apresentados neste capítulo). cas com vistas à conservação dos recursos naturais, a exemplo do PPMA. A legislação ambiental tam- cos Federal e Estadual após a Constituição de 1988, esa do meio ambiente. Os Procuradores da Repúbli- ca e os Promotores Públicos passaram a exercer um papel de fiscais do cumprimento da lei, tanto por parte da sociedade quanto dos órgãos públicos. Também tem sido importante a participação ativa da imprensa, que tem se engajado de forma cres- cente na questão ambiental, divulgando cada vez mais notícias sobre crimes ambientais e mostrando alternativas de desenvolvimento sustentável. bém foi aperfeiçoada. Um bom exemplo é o Decreto 750/93, que proíbe o desmatamento em áreas de floresta primária e nos estágios médio e avançado de regeneração. Embora haja um descaso histórico em relação às leis ambientais, sem dúvida pode-se observar avanços. 3 impactos positivos na natureza 23 Defesa da biodiversidade As florestas tropicais, de maneira geral, caracter- izam-se pela alta taxa de variedade de vida. Plantas e animais estabelecem delicadas e complexas teias de relações e dependências, de modo que, quando certas espécies desaparecem, toda a dinâmica florestal se altera. É o vem acontecendo com a Mata Atlântica. Além sangrar encima e maior da diminuição da cobertura, ela é empobrecida. Ou seja, mesmo em áreas onde aparentemente a floresta permanece, perde-se em biodiversidade, pela ação de caçadores e pela extração predatória de plantas. A perda é irreparável. Além de ser decisiva para a manutenção dos ambientes naturais, a biodivers- idade tem um valor ainda não totalmente conhecido, como alimentos ou para a fabricação de remédios, entre outros usos. Quando uma espécie se extingue, todo o material genético dela, fruto de milhões de anos de evolução, vai-se para sempre. O tráfico de animais silvestres é uma das mais O caso do palmito no Vale do Ribeira O Vale do Ribeira é considerado a região mais po- sérias ameaças à biodiversidade. Trata-se do terceiro bre do estado de São Paulo. As opções econômicas ali menta cerca de 2,5 bilhões de reais por ano. Afora os cional cultura agrícola, passa por constantes crises. maior negócio ilegal do mundo e só no Brasil moviprejuízos evidentes à floresta, a atividade é extremamente cruel. Para se ter uma idéia, aves ornamentais são transportadas sedadas, dentro de tubos de PVC escondidos dentro de malas, entre as roupas. De dez bichos traficados, apenas um chega vivo ao comprador final. Quanto às plantas, dentre as espécies da Mata Atlântica, a palmeira juçara (nome científico Euterpe Edulis) é provavelmente a mais explorada de forma predatória, devido ao valor alimentar do palmito que dela é retirado. Um levantamento de todas as ocorrên- são poucas; como exemplo a bananicultura, tradiMuitas pessoas vão buscar na floresta o sustento. A pressão é grande, em especial sobre a população de juçaras, uma palmeira que nasce no sub-bosque da Mata Atlântica, ou seja, em sua parte sombreada. Em condições naturais, a espécie se apresenta numa densidade de até 360 indivíduos adultos por hectare, segundo dados do pesquisador Wagner Gomes A exploração acontece há várias décadas de for- palmito, flagrado o palmito, é necessário derrubar a palmeira. Hoje, o de Conservação de da flora nativa só é permitida em manejos sustenta- Vale do Ribeira estoques da planta em estado natural. Para se obter dentro de Unidade assunto tornou-se caso de polícia já que a extração área de floresta no dos, com permissão dos órgãos de licenciamento e fiscalização. Nos últimos quinze anos, os extratores clandestinos (chamados, assim como a própria planta, de palmiteiros) passaram a invadir as Uni- dades de Conservação da região, em face à escassez em outras áreas. No caso do Parque Estadual Intervales, por ex- caminhar cerca de dez horas dentro da mata, a par- A juçara é considerada pelos naturalistas uma sementes e garante assim os intercâmbios gené- fauna atraída por ela circula pela floresta, espalha ticos entre as espécies. Sabe-se há muito tempo que a parte de cima do de Sete Barras, Eldorado e Iporanga, chega-se a tir dos limites da Unidade, para encontrar juçaras em condições de corte. Conflitos de policiais e vigias dos Parques da região com palmiteiros já causaram mortes de ambos os lados. Alguns palmiteiros se organizam em bandos, andam armados e chegam a montar fabriquetas de beneficiamento de palmito No Vale do Ribeira, onde o problema do palmito é caule da juçara, envolta por uma bainha verde, é mento comunitário e projetos de manejo sustentado osa iguaria, consumida em saladas e outros pratos: uma questão de sobrevivência, criou-se uma rede o da juçara é um dos mais apreciados pela textura, destino, esquemas de transporte e emissão de no- mais agudo, uma série de experiências de desenvolviestão contribuindo para aliviar a pressão sobre as áreas protegidas, que ali se somam cerca de 60% de todo o território paulista da região. ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos tenra e, quando cozida, transforma-se numa delicio palmito. Todas as palmeiras têm o palmito, mas pelo sabor leve e por ser pouco fibroso. O palmito é Extrator ilegal de ma predatória, levando à diminuição drástica dos principalmente aves e mamíferos. dão em cachos, são muito apreciados por animais, que os principais casos se referem à extração de palrepresentativa. nidades rurais do Vale do Ribeira. emplo, em sua parte sul, onde integra os municípios espécie chave para o sucesso da biodiversidade. A mito. A caça a animais silvestres também é bastante um tradicional alimento e fonte de renda das comu- Portilho, da Fundação Florestal. Os frutos roxos, que cias de ameaças ao Núcleo Santa Virgínia, do Parque Estadual da Serra do Mar, entre 1991 e 2005, revelou 24 orquidea escondidas nos quintais de suas residências. Afora as pessoas que exploram o palmito por de tráfico que inclui, além do beneficiamento clantas frias para “legalizar” o produto. Apesar de tudo 3 impactos positivos na natureza 25 isso, a extração da juçara conta com uma certa complacência de diferentes segmentos da sociedade, cor da foto ?? no Vale do Ribeira. Visto a pobreza na região e a tradição de se explorar palmitos – há famílias que vivem há duas, três gerações da extração de palmi- A extração predatória rarefez as populações nativas da palmeira juçara. Parcerias com comunidades locais, visando o manejo sustentado, aliviam as pressões sobre a biodiversidade to -, a atividade é de certa forma perdoada. Aqueles meira cujo palmito pode ser extraído num tempo geral não têm outras opções e são os que menos se número de pessoas do bairro que viviam da extra- que entram na floresta para cortar palmitos em inferior ao da juçara. “Hoje, já diminuiu em 40% o beneficiam dentro dessa estrutura criminosa. ção de palmito”, acredita Geraldo Xavier de Oliveira, Há, por um lado, a biodiversidade da Mata Atlân- coordenador de vendas da cooperativa do Guapiru- tica ameaçada e, por outro, comunidades rurais que vu (a Cooperagua), ele próprio atualmente colhendo precisam de uma alternativa de renda, vivendo cada sementes de juçara de sua própria plantação agro- vez mais acuadas. “Hoje a fiscalização melhorou florestal. muito”, confirma Lídia Jorge, estagiária da Funda- Paralelamente, iniciou-se uma aproximação ção Florestal junto ao programa de proteção de In- com o Parque Estadual Intervales, vizinho à co- “Antigamente os palmiteiros até riam dos vigias”. “Além do apoio aos projetos de manejo sustentável, tervales e filha de um vigia aposentado do Parque. munidade, cuja relação era até então conflituosa. contratamos, estrategicamente, dez moradores do À melhoria da fiscalização e ao escasseamento Guapiruvu para trabalharem nas bases de fiscaliza- da planta no campo, somou-se o nascimento da consciência ambiental global, que acabou revermelhor uma segunda foto e o palmito no fundo detras do texto berando no Vale do Ribeira, uma região sempre no Encontra-se em curso o projeto de implantação dem começou a ser construída por ali. de um assentamento que envolve 75 famílias de Desenvolvimento sustentável mil hectares vizinha ao Parque, buscando o desen- posseiros da região dentro de uma fazenda com 3 No município Parques Estaduais Intervales e Carlos Botelho, orga- a remanescentes de Mata Atlântica, o Guapiruvu de renda que incluem o uso econômico da juçara de realizados, Ongs trouxeram projetos de desenvolvim- nizadas em associações, estão buscando alternativas forma não predatória. Além do bairro Rio Preto, experiência que há oito atraiu muitas atenções. Cursos de capacitação foram ento. E novas alternativas não tardaram a aparecer. exemplos. Lá, alguns moradores já possuem um histórico de ativismo ambiental, que remonta aos anos de 1980, quando da luta pela conservação do monocarvoeiro (maior primata das Américas). A Associação de Moradores local, a AGUA, nasceu em 1997 e, um ano depois, realizou a Agenda 21 local, em parceria com uma organização não governamental. popular nas grandes cidades. Hoje são cerca de 300 mil pés de palmito juçara plantados por 32 pequenos agricultores do bairro, que aprenderam os princípios da agrofloresta e passaram a cultivar em consórcios nos bananais velhos, de forma a aproveitar a sombra necessária ao desenvolvimento das juçaras. Além da polpa, os produtores do Guapiruvu es- dentro do Parque, tendo moradores do Guapiruvu de bóia-cross e trilhas de acesso a cachoeiras”, conta o ex-palmiteiro e atual coordenador do grupo de monitores Ivan Pereira da Silva. A expectativa ago- ra é de se concretizar uma parceria com o Parque, na qual uma das bases de fiscalização poderá ser usada como ponto de apoio ao turismo, gerenciado por moradores da comunidade e o Parque. A expectativa é que, com novas fontes de renda tão comercializando sementes para plantios. No à disposição, diminua a pressão sobre a biodivers- lidades e potencialidades da comunidade. Baseados nanais voltaram a produzir. Alguns produtores es- palmeiras, assim como de outras espécies, volte a nos resultados, projetos de desenvolvimento foram propostos, sempre se levantando a bandeira da sustentabilidade. Por estar numa área pobre e próxima caso das bananas, inseridos em agroflorestas, os batão cultivando banana orgânica e já se encontram em vias de obter o selo de qualidade. Há também algumas experiências de plantio de pupunha, pal- esquerda). Estreitando a parceria, o potencial ecoturístico A elaboração do documento foi um importante passo pois, com ele, pôde-se identificar as fragi- a Intervales (foto à contando com apoio da Fundação Florestal. como monitores ambientais. “Já temos um circuito polpa, cujo sabor é semelhante à do açaí, hoje muito Guapiruvu, próxima cional de Colonização e Reforma Agrária) e a AGUA, visando a exploração sustentada, especialmente da com cerca de 500 habitantes, é um dos melhores comunidade do Este projeto tem coordenação do Incra (Instituto Na- do lugar começa a ser aproveitado, no entorno e começaram a repovoar suas terras com juçara, de juçara na volvimento de atividades e práticas sustentáveis. Antigos bananicultores, praticamente falidos, anos vem sendo implantada no entorno do Parque Estadual Carlos Botelho, o Guapiruvu, bairro rural ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos Maurício Marinho, diretor do Parque. foco do movimento ambientalista. E uma nova or- de Sete Barras, algumas comunidades vizinhas aos 26 ção da região, entre outras ações em parceria”, conta Plantio agroflorestal idade do Parque e seu entorno, e a população de aumentar. Afinal como aprendeu nesses anos o agricultor Geraldo Xavier: “é impossível manter a biodiversidade se não cuidar das pessoas”. 3 impactos positivos na natureza 27 Proteção aos mananciais maior na esquina embaixo sangrando A água é para todos maior na esquina encima, sangrando Rio Grande: água pura para a população de Ubatuba Riacho na Mata Atlântica: a vazão e a qualidade da água dependem da floresta Nas encostas da Serra do Mar, a Mata Atlântica protege uma rede hídrica admirável, não só pela beleza das cachoeiras e riachos, o que por si só já deveria ser uma razão para conservá-la, mas sobretudo freático, impedindo a enxurrada. Onde a mata é suprimida, minguam as nascentes. Assim como na região da Serra do Mar, em todo por dia, que no município encontram uma quali- pé da serra, consideravelmente caudaloso depois tendência é que esse crescimento ocorra nas áreas de drenar riachos e córregos de todo o vale, tem parte de seu leito desviado pela Sabesp, que utiliza essas águas para abastecer mais de 88% da cidade de Ubatuba (cerca de 53 mil pessoas, número que se multiplica por seis durante as férias de verão). A água chega muito pura à captação – quase potável -, tanto que o tratamento consiste basicamente em essencial para a manutenção das populações huma- o domínio da Mata Atlântica acontece dessa forma. Em municípios como Bertioga, São Sebastião, abastecimento de água a milhões de pessoas. É um bitantes de Ubatuba depende do manancial. E a prestando, gratuitamente, um serviço ambiental ao decisiva para a qualidade da água, determinando a nas que vivem nas baixadas. Caraguatatuba e Ubatuba, praticamente toda a água consumida vem das nascentes que brotam na serra. E o que a mata tem a ver com essa água? Tudo. Os olhos d’água que alimentam os córregos formadores dos rios dependem da cobertura vegetal para manterem a regularidade e a qualidade da vazão. As árvores protegem o solo da insolação e também 28 permitem a infiltração da água da chuva no lençol O rio Grande nasce dentro do núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar. Ao chegar ao ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos O pouco que sobrou dela continua garantindo o caso dos mais importantes em que a floresta está homem. E trata-se de um ótimo argumento para que os remanescentes da mata sejam mantidos de pé. A filtragem direta e simples cloração. periféricas, ou seja, exatamente nos locais onde a floresta se limita com a cidade. Desde a criação do Parque Estadual, ele sofre com invasões, principal- mente às margens da rodovia Oswaldo Cruz, que corta o núcleo Picinguaba na subida para o planalto. A carência de fiscalização fez, historicamente, da mata uma terra de ninguém. Em 1998, o Instituto Florestal, responsável pela Pode-se dizer sem exagero que a vida dos ha- administração da Unidade de Conservação, bem floresta que envolve os tributários do rio Grande é melhoria em infra-estrutura e equipamentos e pas- pureza e a constância de sua vazão. Ubatuba, a exemplo de quase todos os aglomera- bem sucedida luta pela conservação da região da ba- dos urbanos em área de Mata Atlântica, não pára de essa questão. construção civil atrai uma média de oito imigrantes cia hidrográfica do rio Grande, em Ubatuba, ilustra dade de vida muito superior a das metrópoles. A crescer. A mão de obra disponível no turismo e na como a Polícia Ambiental, receberam uma grande saram a enfrentar a situação. Mesmo bem aparelhados, tratava-se de uma luta inglória. Remoções de pessoas de baixa renda de suas residências são sempre ações impopulares. “A explicação sobre a importância de se proteger a floresta não era con- vincente por si só”, confirma Viviane Buchianeri, co- 3 impactos positivos na natureza 29 Ocupações na Bacia do Rio Grande [1998 a 2005] tirar os pontos fora do PESM e mudar o titulo Os pontos se referem ao total de habitações em 1998, na região da Bacia inserida no Parque Estadual da Serra do Mar. A cor de cada ponto indica a situação da habitação referente no ano de 2005. Parque Estadual da Serra do Mar Articulação da sociedade deu legitimidade ao processo de desapropriações dentro do Parque Estadual da Serra do Mar. Caso o manancial fosse poluído, toda a população de Ubatuba sofreria as conseqüências estancar a ocupação e a partir da cooperação com à vida em Ubatuba. O depoimento do responsável se autorização para remover invasores e demolir ca- Alencar Alves de Toledo demonstra empiricamente as várias esferas da administração pública obteve- abandonada/em regeneração sas clandestinas dentro do Parque. O próprio efeito demolida psicológico das investidas de fiscalização colaborou com morador para evitar novas invasões. sem morador Em 2000, eram 48 casas na área do Parque. E as moradia eventual demolições continuam acontecendo. Apesar de as divisa Parque Estadual da Serra do Mar áreas irregulares serem zonas de conflito, o apoio da opinião pública legitima o processo, que afinal de contas está protegendo um bem comum e essencial ordenadora dos Parques Estaduais do Litoral Norte. a vazão diminuída ou as águas poluídas, toda a pop- vam: qual o problema se eu derrubar uma árvore e nossa”, diz Buchianeri. Esse novo paradigma aproxi- “As pessoas viam aquela extensão de mata e falafizer minha casa aqui?”. Em ações conjuntas da Polícia Ambiental com o Instituto Florestal, foram realizados mutirões de levantamentos das áreas invadidas dentro do Parque, com o cadastramento de todos os moradores, iniciando-se um processo que visava inicialmente estancar as ocupações irregulares, para, num segundo momento, retirar os moradores de dentro do Parque. Quando o ônus recaiu sobre a instituição, deparouse com uma situação paradoxal: o Instituto Florestal mou a sociedade da questão ambiental, pois se co- portância da manutenção da floresta para o abastecimento de água. Afinal, caso o manancial tivesse ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos limpar as grades e dutos que fazem a primeira filtragem da água, antes do tratamento. “Antigamente vinha cachorro morto, gato, sacos de lixo. Hoje, essa situação melhorou 90%”, garante. Demolição de ocupação irregular na Bacia do Rio Grande. várias esferas da sociedade no que viria a ser uma gestão compartilhada da bacia do Rio Grande. Entravam na briga Sabesp, Cetesb, Prefeitura, Ministério Público, DEPRN e Organizações Não Governamentais. O levantamento das áreas invadidas revelou ocupações que pareciam ser de agricultores de sub- A idéia dos gestores do Parque foi trolam a quantidade de água desviada para cidade e criou-se um grupo de trabalho a fim de articular as ficar”, impregnada na política agrária brasileira. mudar o discurso, levantando a bandeira da im- ele tem a tarefa de operar as comportas que con- afetava diretamente a qualidade de vida. Assim, que a maior parte das casas eram sítios de final de Articulação que o trabalho tem dado resultado. Há três décadas, locava a conservação da natureza como algo que se tornava “culpado” por querer proteger. Era, clara- mente, um choque à mentalidade do “chegou, deixa 30 ulação sofreria. “E isso não era só responsabilidade pela estação de captação da Sabesp no rio Grande semana e barracos de caçadores. “Mesmo aquelas sistência, descobrimos que a maior parte delas não passava de fachadas de terrenos de especuladores e grileiros”, explica Viviane. Na época, 1998, foram contadas 80 casas, quase o dobro de uma avaliação feita dez anos antes. A força-tarefa teve como efeito 3 impactos positivos na natureza 31 foto Caraguatatuba ??? 4 A melhoria nas condições de trabalho dos responsáveis pela conservação da floresta foi uma premissa básica para se atingir os objetivos do Projeto. Por essa lógica, decidiu-se concentrar os esforços em quatro frentes, distintas, porém conectadas entre si. Na parte operacional, houve um aporte substan- cial de recursos em equipamentos e na infra-estrutura das instituições. Veículos e computadores, entre outros, permitiram agilidade nas operações. Obras, como sedes de Parques e centros de visitantes, deram condições de funcionamento às Unidades de Conservação. ferramentas as do projeto Em outra frente, oficializou-se a aproximação Infra-estrutura e equipamentos entre as instituições, visando melhorar a eficiência das ações de proteção à floresta, por meio do Plano Operacional de Controle, um espaço mensal de encontro e discussões entre DEPRN, Polícia Ambiental, Instituto Florestal e Fundação Florestal. O PPMA também ajudou a institucionalizar o Ações integradas conceito de planejamento. Nas Unidades de Conservação, iniciaram-se esforços para a elaboração de Planos de Manejo, documentos que dão diretrizes para o futuro dos Parques e Estações Ecológicas, em substituição a iniciativas isoladas e de curto horizonte. E no âmbito geral do Projeto, os Planos Operativos Anuais, exigência do KfW para a liberação Planejamento dos recursos de cada ano, fizeram do planejamento uma rotina obrigatória às instituições executoras. Por fim, houve um grande esforço para se melho- rar a comunicação e implementar o monitoramento das áreas de abrangência do Projeto. Para tanto, investiu-se em rádio-comunicação, na produção de fotos aéreas e as bases cartográficas disponíveis foram digitalizadas. Com isso, instrumentalizaram- se os gestores e técnicos de meio ambiente. Os da- Informação e monitoramento dos produzidos e sistematizados abasteceram um complexo sistema de informações georreferenciadas, o SIGMA, ferramenta que disponibiliza dados via rede, integra e facilita a comunicação. 4 ferramentas do projeto 33 Infra-estrutura e equipamentos Investimento do PPMA em OBRAS bases de fiscalizscao e visitacao bases de fiscalização reforçou a proteção de áreas cessárias à fluidez e ao bom desenvolvimento dos palmiteiros e caçadores. Isso se somou aos bem eq- programas propostos. Em primeiro lugar, profissionais que trabalham com a missão de proteger uma floresta, devem ter agilidade para cobrir longas distâncias em estradas precárias e terrenos muitas vezes acidentados. Ou seja, é preciso dispor de bons veículos, como é o caso da frota de carros off-road adquiridos pelo PPMA. Lanchas foram compradas para apoiar atividades costeiras e em mangues. Vôos de helicópeteros regu- críticas, sujeitas a invasões e ações criminosas de uipados centros de visitantes sedes administrativas e garagens, também construídos no âmbito do Proje- to. Placas de energia solar foram destinadas a locais uiparam todas as instituições participantes. Além de terem uma função estratégica, facilitaram o dia-adia dessas instituições. 0%)LHABELA 2MIL M %%C*URmIA)TATINS 2MIL M de ecoturismo, educação ambiental e pesquisa, entre outros. Ainda em relação ao reaparelhamento, as in- apresentações, uniformes, coletes, materiais para de telefonia e computadores conectados à rede eq- 0%4!2 2MIL M os gestores puderam colocar em prática programas Para se obter sucesso em um projeto com muitas estrutura de comunicação seja competente. Sistemas 0%*URUPARf 2MIL M 0%)NTERVALES 2MIL M ram para a consolidação das Unidades. Graças a elas, stituições executoras do Projeto receberam kits de pessoas envolvidas, é fundamental também que a 0%3ERRADO-AR 2MIL M afastados da rede elétrica. As novas obras colabora- lares ajudaram a monitorar a mata, especialmente em áreas de difícil acesso por terra. 0%#ARLOS"OTELHO 2MIL M Nas Unidades de Conservação, a construção de O aprimoramento dos recursos materiais foi um dos alicerces do Projeto, oferecendo as condições ne- %%C"ANANAL 2MIL M 0%#AMPINADO%NCANTADO 2MIL M educação ambiental e aparelhos multimídia para combate de incêndios e equipamentos de acampamento. “Hoje em dia saímos para fiscalizar com uma estrutura completa para dormir no meio do mato, se for necessário. Antigamente chegávamos a passar 0% 0ARQUE%STADUAL 0%*ACUPIRANGA 2MIL M Arquitetura ecológica Outros Equipamentos Unidades de Conservação R$ 4.866.729 R$ 2.781.373 R$ 667.946 R$ 1.942.460 DEPRN R$ 658.842 R$ 657.448 R$ Polícia Ambiental R$ 4.210.048 R$ 1.357.832 R$ 243.021 R$ 1.263.101 70.283 R$ 254.412 Construções no meio da natureza devem se integrar ao servação de várias maneiras. Além da melhoria do visual pela arquiteta do PPMA Eloá de Castro Cruzeiro, serve para o paisagismo, implantamos uma série de equipamentos, ambiente, ou seja, pouco se destacar. O princípio, defendido explicar, em linhas gerais, a arquitetura das obras realizadas pelo Projeto nas Unidades de Conservação. “As pessoas têm que olhar para a paisagem e não para as casas”, justifica. R$ 4.796.653 R$ 981.250 R$ 3.459.973 e das qualidades funcionais dos edifícios, revitalizamos como quiosques, bancos, mesas e lixeiras e melhoramos a programação visual”. Quanto à energia elétrica, tem-se investido cada vez mais Ao invés de pilares e vigas de concreto, peças de eucalipto em redes subterrâneas, que não interferem na paisagem, toda a parte estrutural das construções. As paredes, quando Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, cuja distribuição tratado (madeira proveniente de reflorestamentos) fazem não são construídas de tábuas, são de tijolo aparente, cuja como é o caso dos Núcleos Cunha, Caraguatatuba e Santa interna da eletricidade atualmente não depende de postes. Em relação ao esgoto, observam-se todos os cuidados para praticidade e o baixo custo, já que tijolo aparente dispensa que seja devidamente filtrado antes de entrar em contato dos em várias águas - “que conferem movimento”, explica Ilha do Cardoso, construído sobre uma restinga, por exemplo, pinturas de manutenção. Os telhados, em geral são projeta- Eloá -, quebram a dureza das simetrias. Costuma-se deixar Mobilidade: veículos, motocicletas, embarcações e motores vãos entre as águas (lanternins) e utilizar algumas telhas de Escritório: móveis, materiais e utensílios madeira de lei, sempre com certificação, ou seja, oriundas Comunicação: equipamentos de radiocomunicação, informática, cine-foto-som vidro para a entrada de luz natural. Nas janelas, emprega-se Outros Equipamentos: geradores, ferramentas, telefonia, material de campo, etc. de manejo sustentado da floresta. E as inovações não se resumiram às construções, como conta Eloá: “Modificamos a realidade das Unidades de Conppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos ,OCALIZAljODASBASES %%C %STAljO%COLvGICA 0%)LHADO#ARDOSO 2MIL M cor de terra tem um aspecto orgânico. Aí pesa também a 34 ambiental que atua na Baixada Santista. Mobilidade Comunicação Escritório R$ 9.735.619 3UPERFqCIETOTAL CONSTRUqDA fome numa situação dessas”, compara um policial Investimento do PPMA em Equipamentos Total )NVESTIMENTO TOTALEMBASES com o lençol freático. No Núcleo Perequê do Parque Estadual o esgoto passa por uma seqüência de fossas sépticas, filtros anaeróbios e valas de infiltração, antes de ir para o ambiente, já tratado. Esse método utiliza a força da gravidade e precisa manutenção apenas a cada cinco anos. Substituiu um antigo e precário sistema em que eram necessárias bombas elétricas movidas a geradores e o esgoto era tratado apenas parcialmente 4 ferramentas do projeto 35 0%#ARLOS"OTELHO lineas mais finas Ações integradas Nosso tempo é marcado pela crescente preocu- pação com o meio ambiente, que se reflete em um %%C8ITUo grande número de ações, projetos e programas sendo 0%)NTERVALES desenvolvidas em prol da natureza, por iniciativas Novas bases de fiscalização no Vale do Ribeira de Fiscalização Conjuntas no Vale do Ribeira e Lito- fREASMAISVULNERfVEIS mente, os resultados dos programas propostos. responsáveis pela atividade. O mapa nesta página múltiplos, como suporte às atividades de ecotur- ismo e de pesquisa científica, além de abrigarem os próprios gestores dos Parques, quando eles se deslocam em missões distantes das sedes. 36 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos Desde o início da parceria, foram realizadas dez operações de fiscalização de grande porte. Ainda no âmbito dos programas financiados pelo Desde o começo, o PPMA tinha embutido em seus KfW, tem-se procurado integrar as ações do PPMA que se fazia necessário unir todas as instituições par- capacitações sobre o uso racional dos recursos nat- ticipantes para amplificar a eficiência e, conseqüenteO Plano Operacional de Controle, mais conhecido como POC, é a principal estratégia de integração dentro do Projeto, agregando o DEPRN, Polícia Ambien- aos Projetos Demonstrativos (PDAs), que promovem urais. Em Picinguaba, por exemplo, comunidades in- seridas dentro do Parque Estadual da Serra do Mar aprendem a manejar a floresta com vistas à sua ext- ração sustentável em projetos PDA que contam com a chancela do Parque, por meio do Plano de Manejo. mando conceitos sobre a operacionalização de ro- ta, sala de estar e escritório com rádio-comunicador, As bases também são adequadas para usos (PPMA, em São Paulo e Pró-Atlântica, no Paraná). conhecer de perto a rotina umas das outras, reafir- Estruturadas com alojamentos, cozinha comple- ção socioambiental do Parque Estadual Intervales. dos Programas de Cooperação Financeira com o KfW tuições envolvidas na execução do Projeto puderam da região, em especial nas áreas mais vulneráveis. coordenadora do programa de uso público e intera- dos Governos paranaense e paulista, por intermédio mento de amadurecimento do PPMA, pois as insti- praticamente todo o contínuo de áreas protegidas iam nessas tarefas”, conta Jeannette Viera Geenen, ral, colocado em prática em 2004, entre instituições A implantação do POC, em 1998, foi um mo- mostra que o uso dessas bases garante a proteção a destacamentos da Polícia Ambiental que nos auxil- São Paulo-Paraná. É o chamado Plano de Operações O plano operacional de controle ção na região, ampliando o raio de ação das equipes palmiteiros. “Hoje temos condições de hospedar os do que se supõe caso as ações fossem realizada con- propósitos essa problemática, isto é, a consciência de apoio logístico necessário às atividades de fiscaliza- Unidades, freqüentemente ameaçadas pela ação de benefícios à natureza resultantes são muito aquém fREADEABRANGoNCIA DASBASESDEFISCALIZAljO Parques Estaduais do Vale do Ribeira conferiram o boas condições às operações realizadas dentro das muitas vezes dizendo respeito às mesma regiões. Os juntamente. As novas bases de vigilância construídas nos as obras foram feitas para dar conforto aos vigias e vidualmente e projetos que não se inter-relacionam, BASESANTIGAS box + as fotos um pouco maior Há também um programa de operações in- global de degradação ambiental nos leva a uma problema de desarticulação, gente trabalhando indi- 0%4!2 a seguir. terestaduais conjuntas, em locais críticos da divisa interminável discussão, mas é fato que existe um SEDE0%)NTERVALES parte do cerne do PPMA, como se verá na reportagem pública ou privada. Analisar se isso é suficiente para reverter o quadro BASESFINANCIADASPELO00-! tal, Instituto Florestal e Fundação Florestal. O POC faz tinas de trabalho que, ao menos em tese, deveriam Novo Centro de Visitantes do Núcleo Itutinga-Pilões do Parque Estadual da Serra do Mar, antes (acima) e depois (abaixo) da reforma. Vigias do Instituto Florestal e policiais ambientais em ação conjunta (foto à esquerda) ser integradas. É bom lembrar que, constitucionalmente, há atribuições legais em que as instituições têm por obrigação se ajudarem mutuamente, o que nem sempre acontecia na prática. Com o POC isso começou a mudar. “Trata-se de um compromisso dos participantes do Projeto de trabalharem con- juntamente, articuladamente e amigavelmente”, define Nerea Massini, assessora técnica do Grupo Executivo de Coordenação do PPMA. Por exemplo, muitas vezes, a Polícia Ambien- tal necessita de um laudo do DEPRN para definir qual o ecossistema atingido em uma determinada 4 ferramentas do projeto 37 Planejamento ocorrência de infração ambiental. Ou, ao contrário, Cooperação no dia-a-dia Nas reuniões também ciamento ambiental, recorre à Polícia para verificar ta, de pequeno porte (incorporadas à rotina das in- quando o DEPRN recebe uma solicitação de license a área em questão já recebeu algum tipo de au- tuação. Por sua vez, nas Unidades de Conservação, cujos vigias andam desarmados, freqüentemente é preciso auxílio policial para desbaratar quadrilhas de palmiteiros ou caçadores, que agem dentro dos são programadas operações de fiscalização conjunstituições), médio porte, grande porte (quando envolve mais de um setor e grande número de efetivo e meios) e fontes de consumo (em estabelecimentos que comercializam palmito). Em determinadas ocasiões, outras instituições Parques Estaduais. públicas relacionadas ao meio ambiente que atuam em que se reúnem representantes do DEPRN, Polícia para participar das reuniões do POC. As operações A ponta de lança do POC são encontros mensais Ambiental, Instituto Florestal e Fundação Florestal para discutir problemas comuns e planos de ação conjuntos e trocar informações. O relato do Capitão PM Marco Aurélio dos Santos Pinho, chefe da seção de operações do 3º Batalhão da Polícia Ambiental, ajuda a compreender o funcionamento e a im- portância do Plano: “Cada um leva seus problemas para discutir como se pode atacá-los. Todos nós somos ligados às questões ambientais, de modo que o problema de um é o problema de todos. E juntos ficamos mais fortes”. em fontes de consumo, por exemplo, envolvem a Vigilância Sanitária. Em outros casos, já participaram Ministério Público, Ibama, Cetesb, Instituto Ad- a execução grandes ações conjuntas, cria-se uma real sensação de presença do Estado, inibindo ocorrências de infrações ambientais. divididas por setores dentro da área de abrangência do Projeto, de maneira a atender as especificidades de cada região e suas diferentes demandas e expec- tativas diante dos problemas ambientais. Utilizouse a divisão entre as Companhias do 3º Batalhão da Polícia Ambiental para estabelecer os setores. São eles: Vale do Ribeira e Litoral Sul, Litoral Centro, Litoral Norte e Vale do Paraíba. planejamento. cria-se uma real sensação de presença do Estado, Legenda foto inibindo ocorrências de infrações ambientais. Foi o Oficina de caso dos mutirões de fiscalização realizados na Bacia planejamento. do rio Grande, em Ubatuba, estopim do processo de congelamento das áreas ocupadas irregularmente, como se mostrou no terceiro capítulo da presente dos cursos de capacitação, com a finalidade de aprimoramento das ações de licenciamento e fiscalização, tais como: Identificação, contenção e transporte de animais; Animais peçonhentos da Mata Atlântica; Tipificação da vegetação; Formação de brigadas; Combate e prevenção de incêndios florestais e Uso e aplicação do GPS. No começo do Projeto era uma obrigação abrir É importante ressaltar que as reuniões do POC são Oficina de Com a execução das grandes ações conjuntas, publicação. das Legenda foto olfo Lutz e Secretaria da Agricultura, entre outros. Dentro do âmbito do POC, também são promovi- Com foto Oficina de Planejamento (a ser produzido Marcelo) na área de abrangência do PPMA são convidadas canais de diálogo e se conhecer. Hoje isso virou uma rotina. “Não tem como deixar de ser assim” acredita o diretor regional da DPRN-3 Domingos Ricardo de Oliveira Barbosa. “Ficou claro que se um órgão está perto do outro, principalmente em termos de trocas de informações, as coisas funcionam melhor, ficam mais tranqüilas e mais ágeis”. Ou seja, independente- mente dos rumos que tomem as políticas públicas de proteção ambiental, o POC consolidou a cultura e a disposição das quatro instituições para o trabalho conjunto, algo que dificilmente se perderá. Durante o período de vigência do PPMA, alguns interação socioambiental etc), discriminando-se a fi- do dia-a-dia, de modo que iniciativas pontuais e es- todos esses programas, mas agora passamos a ter exercícios de planejamento passaram a fazer parte porádicas, de curto horizonte e fora de um contexto maior, passaram a ter um vislumbre de longo prazo. Os instrumentos de planejamento e gestão adot- do Parque Estadual Carlos Botelho José Luiz Maia. Já os Planos de Manejo foram implementados exclusivamente nas Unidades de Conservação. Con- partiram do Plano Operativo Anual, ou POA. Trata-se sobre a geografia e as características sociais, ambien- e os Planos de Manejo. Todas as atividades do PPMA de uma nova ferramenta que foi utilizada por todas as instituições participantes. O POA surgiu no início do Projeto por exigência do KfW. Para que os recursos fossem liberados, era necessário demonstrar o que estava por trás de cada solicitação. E acabou se incorporando na rotina dos gestores. “O POA é um exercício para se pensar: o que vamos fazer o ano que vem? O que é preciso para realizar tais coisas? Com os recursos que temos, qual o nosso poder de ação?”, explica Marco Antônio de ceitualmente, são sistematizações de informações tais e econômicas de uma Unidade. O conhecimento gerado subsidia o zoneamento e as propostas para o uso da área protegida, organizadas em programas de manejo. Os Planos de Manejo se iniciaram em 1997 com uma chamada “primeira fase”, que foram os Planos de Gestão Ambiental (PGAs), compilados de informações disponíveis a respeito de cada Unidade participante do PPMA, somadas a algumas linhas de ações emergenciais. Os PGAs deram subsídios aos Planos de Manejo Almeida, supervisor técnico do Grupo Executivo de propriamente ditos. Dentre os Planos realizados, o No caso, por exemplo, das Unidades de Conser- pelas dimensões da Unidade de Conservação e pelos Coordenação do PPMA. por programa de manejo (fiscalização, uso público, ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos uma organização melhor e um norte”, diz o diretor ados no Projeto foram os Planos Operativos Anuais vação esse planejamento é feito separadamente 38 nalidade do uso de cada recurso. “Antes, já tínhamos do Parque Estadual da Serra do Mar é emblemático, seus elementos inovadores. 4 ferramentas do projeto 39 foto maior sangrando Vista do Parque Estadual da Serra do Mar na região da Boracéia (município de Bertioga) melhor parte do mapa de zoneamento como legenda propia O Parque Estadual da Serra do Mar ganha um Plano de Manejo Foram quase oito anos de discussões envolven- do técnicos, ONGs e toda a sociedade, milhares de A partir do Plano de Manejo foram definidos me- quilômetros rodados por pesquisadores, entrevistas, canismos modernos de gestão e estratégias seguras seguiu unir, dar forma, conteúdo e sentido ao enorme pal deles foi sua orientação estratégica. Ou seja, ao fóruns de discussões e uma coordenação que convolume de informações geradas, resultando no Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar. para se intervir positivamente no Parque. O princiinvés de se pensar unicamente em um conjunto de Além da concepção estratégica, implantada de pesquisadores externos, imprimindo dinamismo e Plano contou com outros elementos e mecanismos plano de muitos autores”, diz Isabel Barros, do In- ações, passou-se a mirar nos resultados desejados. forma inovadora no âmbito da Mata Atlântica, o uma grande vitória para a Mata Atlântica, pois o membrados em temas que, ao terem suas linhas originais para torná-lo prático e viável. A avalia- protegida do bioma no Brasil. Desde que foi criado, tivos do Parque sejam alcançados. Por exemplo, o Sua conclusão, no início de 2006, representou Parque, com seus 315.390 hectares, é a maior área em 1977, não havia um conhecimento profundo e sistematizado sobre ele e, conseqüentemente, um planejamento para o futuro. E mais: com o processo de elaboração do documento, a Unidade de Conservação, antes gerenciada de forma fragmentada com seus oito núcleos espalhados por uma área extensa, passou a ser visto como uma Unidade só e terá, inclusive, uma administração centralizada. “O Plano praticamente representa a criação do Parque”, diz Luiz Roberto Numa de Oliveira, um dos 40 coordenadores do trabalho. ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos Assim, os objetivos gerais do Parque foram des- de ação desenvolvidas, possibilitarão que os objeSub-programa de Visitação e Turismo Sustentável, incluído dentro do Programa de Uso Público tem como objetivos gerais ordenar a visitação, criar uma consciência ambientalista e proporcionar oportunidades para empreendedores locais. Para esses objetivos são propostos algumas diretrizes, tais como infra-estrutura, capacitação e manejo da visitação, que vão nortear o planejamento de ações concre- tas, a serem colocadas em prática gradativamente a partir de um cronograma de prioridades. ção ecológica rápida é uma delas. Trata-se de um método simples e rápido de se avaliar como está a uma visão mais holística à concepção geral “É um stituto Ekos Brasil, que coordenou uma equipe de pesquisadores independentes. situação ecológica de uma região e com base nisso Gestão participativa O Plano também rompeu como foi tratada a sustentabilidade financeira do vivem no entorno e em seu interior, iniciando uma propor seu zoneamento. Outra novidade é a forma Parque. A partir de um planejamento orçamentário, prevêem-se mecanismos de terceirizações, parcerias e co-gestões visando resolver um problema crônico de orçamento insuficiente. O próprio método de elaboração do Plano de Manejo foi uma experiência inédita para o Instituto Florestal. Participaram do processo consultores e o isolamento do Parque com as comunidades que experiência de planejamento participativo, com participação efetiva das lideranças sociais nos pro- cessos de decisão. Isso foi um longo caminho que se iniciou com os Planos de Gestão Ambiental. Em seu escopo incluíam consultas à sociedade, realizadas nos chamados Conselhos de Apoio à Gestão. Este processo culminou com a criação de Con- 4 ferramentas do projeto 41 esquina sangrando Informação e monitoramento posiciao da foto antes era melhor, tipo box Atividade de levantamento de fauna, durante a elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar O Plano elementos Uso de radioco- conta com uma série de inovadores, que municadores: coordenação de trarão operações agilidade à gestão e a chance de solução para os conflitos históricos das zonas habitadas no interior do Parque Algumas das maiores dificuldades enfrentadas corro não só para o pessoal das bases, mas também grandes dimensões de sua área de domínio. A com- Estadual Carlos Botelho José Luiz Maia. Neste Parque, para se proteger a Mata Atlântica decorrem das preensão global dos problemas e a comunicação selhos Consultivos em cada núcleo do Parque e a a situação fundiária dessas zonas. “Foi um grande toda a Unidade de Conservação. O Conselho Consul- comemora o diretor do Núcleo Santa Virgínia do previsão da instauração de um único Conselho para tivo é um fórum com representantes da sociedade, no qual se discutem os caminhos de cada Parque, bem como questões relativas à sua interação com avanço pois vai ajudar a resolver questões críticas”, Parque. “Há lugares onde só podemos ir escoltados. Isso irá mudar”. Espera-se que, com a publicação do Plano de a comunidade. Manejo, uma porção considerável da Mata Atlân- histórico das zonas habitadas dentro da Unidade. vivência, mas um modelo de gestão eficiente, ágil e E não só: o Plano procurou apaziguar um conflito No zoneamento, estabeleceram-se critérios para categorizar essas ocupações e procedimentos para que os habitantes se integrem de forma harmoniosa aos fins de conservação até que seja definida tica ganhe não só uma poderosa garantia de sobreadequado à realidade do nosso tempo. tornam-se enormes desafios. Quando se tem um sistema de informação e monitoramento eficaz, é pos- sível, mesmo à distância, articular esforços e otimizar municadores móveis quando conduzem turistas em trilhas longas. No aspecto monitoramento, o PPMA difundiu entre técnicos e gestores a prática de trabalho com rápida comunicação, um dos focos de investimentos referenciamento. Para tanto, foi criada uma base de Nessa corrida contra o tempo, a maior arma é a do Projeto. Para as atividades de campo, o advento de radiocomunicadores mostrou que se tratam de ferramentas imprescindíveis. No caso da Polícia Ambiental, permitem coordenar operações que envolvem várias frentes separadas. Nas Unidades de Conservação, a radiocomunicação integra bases de fiscalização localizadas, muitas vezes, em locais remotos e afastados das sedes. Assim, a administração fica em gurança é fundamental, permitindo dar apoio e so- ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos assim como em outros, os monitores levam radioco- operações. contato direto com seu pessoal. “Em questão de se- 42 a quem está em campo”, explica o diretor do Parque imagens espaciais, por meio de programas de geor- dados digitalizada com mais de duas mil fotos aéreas (produzidas pelo PPMA), cobrindo toda área do Proje- to, 56 cartas topográficas, 72 ortofotos e 156 mosaicos. Esse material está sendo usado rotineiramente para formular estratégias e políticas de intervenções em áreas de floresta, elaborar zoneamentos e para se ter uma noção da cobertura vegetal de um determinado local, entre outros. E, principalmente, compõe a base de dados do SIGMA, Sistema de Gerenciamento da Mata Atlântica, que se conhecerá em seguida. 4 ferramentas do projeto 43 antes como box era melhor, juntar com o box sistema premiado na direita incluir aqui foto do uso da radio com policial Todos os olhos do SIGMA dos mapas digitalizados, o SIGMA deveria conter Estadual). Para entender como isso se dá na prática, restal, Polícia Ambiental e DEPRN, dados esses que deve-se incorporar o GPS nas rotinas das instituições, dados relativos ao Instituto Florestal, Fundação Flopudessem ser compartilhados via rede. O pontapé inicial veio com a criação de um grupo geográfica da ocorrência com o aparelho e depois oficinas e apoio de consultores especializados, uma proposta foi formalizada, com as bases de referência gráfica (mosaico de fotografias aéreas atualizadas e bases cartográficas e temáticas), a estrutura (modular), os softwares auxiliares, máquinas e, especialmente as interfaces para cada instituição. do Sigma: disponível na rede informações de relevo, ocupação do solo, altitudes, declividade do terreno, rios, estradas, cidades e áreas de preservação, entre outras. Parece um tanto quanto confuso? Não se essas informações forem apresentadas na tela de um computador isoladamente ou combinadas de acordo com a necessidade de transferir a informação ao módulo SIGMA da Polícia Ambiental. Este módulo, quando estiver bem munido, conterá os pontos onde foram registradas ocor- rências. Ao clicar em um ponto específico, aparecerá uma janela com a descrição da ocorrência. Da mesma forma, quando o DEPRN tem uma so- licitação de licenciamento, após a vistoria, transfere os dados coletados com o GPS (polígono da proprie- dade e da área a ser licenciada) para o módulo do O SIGMA promete uma pequena revolução na gestão dos recursos naturais ao disponibilizar em rede dados antes dispersos No caso do Instituto Florestal e a Fundação Flo- restal, o módulo pode ser alimentado com os limi- pesquisas, entre outras. A idéia é que a ferramenta auxilie no zoneamento e na elaboração de Planos na gestão dos recursos naturais ao disponibilizar e ArcINFO / VIEW, adaptando-o às necessidades em Agilidade nos procedimentos geoprocessamento é trabalhar com as informações “Rotinas que são realizadas hoje de forma manual, funcionamento, depende agora de ser abastecido de informações e de uma maior velocidade da rede do Governo (Intragov), o que está em processo. O programa começou a ser concebido em 1998 a partir de duas necessidades das instituições responsáveis pela proteção ambiental. A primeira, bastante antiga, de se dispor de um bom sistema de geoprocessamento. “Todos que trabalham na área ambien- tal precisam da informação espacializada”, explica a geógrafa Sandra Leite, que coordenou a elaboração questão. A característica principal dos softwares de gráficas em sistema de layers ou camadas. Assim, por exemplo, a partir de uma foto aérea e de um mapa de estradas, ambos de uma mesma área e digitalizados, é possível criar uma terceira imagem que sobreponha as informações das duas primeiras. Isto é possível pois todas as informações inseridas no software são georreferenciadas, ou seja, contém a localização em coordenadas geográficas, de modo de Manejo. pesquisando nos arquivos, com o SIGMA poderão ser feitas eletronicamente”, responde o Capitão PM Marco Aurélio dos Santos Pinho, chefe da seção de operações do 3º Batalhão da Polícia Ambiental. O caso da fiscalização dos processos de licenciamento do DEPRN é um bom exemplo de como o SIGMA pode agilizar o trabalho. Hoje o DEPRN manda para a Polícia uma cópia as instituições ambientais. Na época, dentro do âm- cada instituição participante foi criado um módulo SIGMA, os processos de licenciamento aparecem uma necessidade premente para que as ações de pendente e diretamente a partir do computador dos bito do PPMA, tornava-se um consenso que esta era proteção à floresta fossem eficientes. Assim, além ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos próprio, que pode ser alimentado de forma indeusuários conectados à Intragov (rede do Governo muitas vezes é demorada e burocrática. marca um local com GPS para suprir o SIGMA de informações. Vale dizer que o SIGMA foi concebido de forma a apenas as bases cartográficas estão disponíveis na dulo, é preciso fazer uma ordem de serviço pelo próprio sistema. Ao público em geral, as informações cartográficas estarão disponíveis na Internet. “A idéia é que desde um técnico que precisa executar um laudo até um estudante que deseja fazer um trabalho de escola possa usar o SIGMA”, diz Marco Nalon, atual coordenador do programa. tudo pode facilitar as ações de proteção ambiental? do processo, que é encaminhada ao Pelotão para Além das chamadas bases cartográficas, para desrespeitou a lei. Essa integração já acontece, mas Policial ambiental Mas como isso que a sobreposição é exata. do SIGMA. A segunda tratava da integração entre brir, pelas bases da polícia no sistema, que ali já se rede. Para se ter acesso às informações de cada mó- Camadas de informação compartilhar dados anteriormente dispersos. Já em de licenciamento junto ao DEPRN, será fácil desco- área em questão. uma imagem que pode ajudar na compreensão da tes, edificações, informações relativas à visitação e foi customizar o software de geoprocessamento autuado e posteriormente entre com um processo respeitar as hierarquias e o sigilo das informações: tes das Unidades de Conservação, trilhas existen- A solução escolhida rida”. Da mesma forma, caso um proprietário seja essas informações a foto aérea do local, obtendo-se Gerenciamento da Mata Atlântica (SIGMA) é mais ou menos assim e promete uma pequena revolução 44 de infração ambiental, devem marcar a coordenada SIGMA referente à instituição. Aí, basta sobrepor a quem o opera, bastando um clique para que determinados dados sumam ou apareçam. O Sistema de Assim, por exemplo, quando policiais ambien- ma, com vistas a garantir que ele fosse dimensionacionais. Após dois anos de trabalho, várias reuniões, Imagine um grande e único mapa que contenha o que já é um hábito entre os integrantes do PPMA. tais lavram um boletim de ocorrência ou um auto do para atender as necessidades e anseios institu- Interface é importante saber que para a utilização do SIGMA, de trabalho com representantes das instituições, que coordenou o processo de desenvolvimento do siste- tirar fotol que ele fiscalize o cumprimento ou não. “Com o Sistema premiado Em 2000, durante a conferência anual da ESRI, empresa norte-americana que desenvolve os programas de geoprocessamento Arc, o Sigma ganhou um prestigioso reconhecimento. Entre 60 mil inscritos, o sistema desenvolvido pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, foi premiado como um dos um dos mais originais criados a partir dos softwares Arc. na tela”, explica Pinho. “Aí quando os policiais saem numa rotina de fiscalização, basta checar no SIGMA se há propriedades licenciadas na área a ser percor- 4 ferramentas do projeto 45 Foto de Fleury com canoa uma nova forma de interação com a mata atlântica O respeito à natureza é uma necessidade vital, não há quem discuta. O princípio, óbvio e evidente, de tanto que foi repetido tornou-se um clichê, um discurso em vão, e acaba muitas vezes conduzindo à imobilidade. Sendo assim, como fazer dessa urgência para a humanidade mudança efetivas? O PPMA respondeu a essa complexa questão com estratégias e ações que, adotadas pelas instituições participantes, proporcionaram a realização de uma série de interações positivas entre as pessoas e a floresta. Os benefícios recaem sobre ambos, de forma a cumprir os objetivos propostos para o Projeto. 5 Fiscalização e controle Interação socioambiental Alguns programas foram apoiados diretamente pelo PPMA, como foi o caso da reestruturação material da Polícia Ambiental e do Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN). Tam- bém é fruto do Projeto a nova maneira de se lidar com as questões relativas às comunidades tradicio- Turismo sustentável nais que vivem em áreas protegidas. Essa visão está claramente impressa nos Planos de Gestão Ambien- tal e nos Planos de Manejo executados no âmbito da cooperação internacional. Outras iniciativas surgidas nesses onze anos de Projeto foram decorrências diretas dos investimentos em equipamentos e infra-estrutura e, principal- Educação ambiental mente, da nova mentalidade instituída na gestão da floresta. São os casos dos diversos programas de educação ambiental e turismo sustentável implementados. Neste capítulo, você vai conhecer alguns exem- plos bem sucedidos nessas áreas. Vale dizer que nada disso aconteceria se não fossem as boas idéias e estratégias acertadas dos gestores e de todos os envolvidos na proteção à Mata Atlântica. Afinal, o Projeto deu as condições. Coube às pessoas fazerem dessa grande oportunidade transformações reais. 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 47 Fiscalização e controle O trabalho de fiscalização da Polícia Ambiental e de controle de supressões florestais realizado pelo DEPRN (Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais) depende, em grande parte, do poder de mobilidade e de bons equipamentos. Aqui você vai conhecer o trabalho e as atribuições das duas instituições e saber como a rotina se alterou após a chegada dos recursos do Projeto, melhorando substancialmente a eficiência da ação de ambas. Seguindo o cronograma que estabelece as ro- tinas diárias da 1ª Companhia (divisão dentro do 3º Batalhão de Polícia Ambiental responsável por Bertioga), uma patrulha foi destacada para ir até o lo- cal. Quando os policiais lá chegaram, encontraram uma gleba de mata com tocos de árvores recém cortadas e, numa das extremidades do terreno, pequenos lotes já com casas habitadas. Aparentemente cursos naturais, representantes armados de nossa sociedade com poder legal de deter os agentes da destruição desautorizada da floresta. O trabalho de fiscalização realizado por eles está sempre no topo das prioridades de todo e qualquer grande plano de se conservar a natureza; mais ainda em locais que sofrem forte pressão predatória, como é o caso da Pinho, que ressalta a importância de uma Polícia bem equipada para fazer valer as leis ambientais. Por fim, lavrou-se um boletim de ocorrência em que A simples presença da Polícia Militar já produz o enviado às instâncias que podem tomar as decisões efeito de inibir a continuidade do delito. A primeira Os policiais ambientais são os guardiões dos re- Aurélio dos Santos tratava-se de uma ação de grileiro, contraventor que vende terras alheias a pessoas desavisadas. Polícia Ambiental em ação Capitão PM Marco atitude dos policiais foi de autuar os invasores. Depois, foi desenhado um croqui da área, com o uso de GPS e trena. Desta forma, a invasão pôde passar a ser monitorada; nas próximas fiscalizações, os poli- foram relatados os fatos apurados. Este é, de praxe, cíveis e penais cabíveis sobre a questão, com a determinação, se for o caso, da remoção das casas ou compensação ambiental pelos danos causados. Mas tudo isso delineou-se a partir da ação policial. ciais identificarão com precisão os pontos plotados Agilidade ocupação ou derrubada. auxiliam na proteção às Unidades de Conservação, anteriormente e saberão se houve alguma nova Algumas árvores tiveram seus diâmetros à altura do peito (DAP) medidos, num procedimento que avalia o estágio da floresta (primária ou secundária). Além de atender denúncias e reali- zar o trabalho preventivo, os policiais ambientais uma vez que nelas os vigias trabalham desarmados. Ações conjuntas acontecem constantemente. No caso do DEPRN (Departamento Estadual de Pro- Mata Atlântica. Os cerca de 600 policiais militares do 3º Batalhão de Polícia Ambiental, responsáveis por fiscalizar a área envolvida pelo PPMA, ou seja, Vale do Ribeira, Área de atuação do 3º Batalhão de Polícia Ambiental e investimentos do PPMA em cada Companhia Sede da 2ª Companhia Vale do Paraíba, Litoral Sul, Baixada Santista e Litoral Norte, têm a missão de estar sempre à procura de Sede da 1ª Companhia áreas onde a biodiversidade sofre ameaças, freando atos predatórios à floresta. São todos policiais militares, que passam por um treinamento específico, sendo destacados para a atuação na área ambiental. R$ 273 mil Sede da 2ª Companhia Quanto maior sua eficiência e agilidade, maior será Capitão PM Luiz Amaury Kruel: “Hoje, temos capacidade de atender a uma denúncia no e capacidade de cobrir toda região. E como a fiscalessa equação poderá definir a diminuição efetiva no ritmo do desmatamento. Para compreender como isso se dá na prática, mesmo dia em que ela reportemos uma pequena ação de fiscalização real- chegávamos a demorar nas encostas da Serra do Mar, corre o rio Itapanhaú, é feita. Antigamente, um, dois dias” R$ 1.478 mil ização está na linha de frente da proteção à mata, R$ 1.830 mil izada em Bertioga. Ali, no fundão da planície, quase terra a partir de variantes que saem da rodovia Rio- Sede do 3º Batalhão da Polícia Ambiental Sede da 3ª Companhia alimentado por inúmeros afluentes que cortam uma extensa área de restinga. A região tem acesso por Investimento feito pelo PPMA R$ 1.745 mil Santos. Numa área de expansão urbana, às margens de um desses tributários do Itapanhaú, a Polícia Ambiental recebeu uma denúncia de desmatamento. 48 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 49 teção de Recursos Naturais), a polícia verifica, con- O trabalho do DEPRN forme solicitada, se nas áreas em processo de licen- ciamento, os procedimentos de supressão florestal Baixada Santista. A mancha urbana na linha da e compensação estão sendo realizados conforme o estabelecido. Há casos também em que a atuação costa segue praticamente ininterrupta entre Guaru- fontes de consumo de produtos da floresta, como ilhas de Santo Amaro e São Vicente. As indústrias dos policiais ambientais acontece diretamente nas já e Praia Grande, ocupando quase a totalidade das restaurantes que servem palmito ou floriculturas foto com policia em acao que comercializam xaxim (oriundo da samambaia- çu). Tais estabelecimentos devem provar que os produtos foram adquiridos legalmente, de produtores autorizados. operações do 3º Batalhão. Quem não lembra? Só a uma certa antipatia a algumas pessoas, visto que em sou a ser obrigatório, a população em geral passou a É certo que a atuação da Polícia Ambiental causa muitos casos argumenta-se que a contravenção não é feita de má fé, mas por necessidade de sobrevivência ou por desconhecimento da legislação. Poder-se- ia pensar: será que as leis ambientais foram feitas partir de quando o uso do cinto de segurança pasutilizá-lo. Hoje, tornou-se um hábito. E não há quem pri-las. E uma polícia ambiental bem equipada faz em que novos equipamentos foram introduzidos”, dante da 1ª Companhia (veja gráfico ao lado). Hoje, os policiais dispõem de carros adequados a terrenos acidentados, lanchas para as ações em costões, ilhas e mangues e têm à disposição um helicóptero, que dá apoio nas fiscalizações mais complexas. um bom aparelhamento são os casos bastante rotineiros de ação de palmiteiros no meio da mata e de desmatamentos em áreas de difícil acesso. A fis- calização por terra dificilmente é eficiente nessas A A IST A São Paulo cuida dos licenciamentos ambientais, autorizando ou não alterações e derrubadas de vegetação nativa, conforme a legislação. A chamada DPRN-3 é a divisão regional do departamento que cuida da faixa entre Bertioga e o Vale do Ribeira, incluindo a Baixada Santista, uma área com cerca de 16,5 mil quilômetros quadrados. É uma região onde a mata últimos anos mentos de palmiteiros e derrubadas de árvores. O local da infração é plotado com um GPS e, em segui- da, aciona-se por rádio uma patrulha em terra que, Fala o comandante Kruel: “Hoje, temos capacidade de atender a uma denúncia no mesmo dia em que ela é feita. Antigamente, demorávamos um, dois da situação observada e, de acordo com a legislação viabilidade ou não do projeto. Geralmente é exigida uma compensação pelo impacto a ser causado, como a criação de uma reserva dentro da propriedade ou o plantio da mesma quantidade de árvores a ser cor- tada, com o objetivo de garantir a manutenção dos recursos naturais em face à ocupação humana. permanece vigorosa. O Vale do Ribeira, por exemplo, é coberto em mais 80% por matas nativas. “Por aqui, De acordo com a lei, qualquer supressão há floresta”, conta Luiz André Capitan, supervisor da de mata nativa deve ser autorizada pelo em quase todos os lugares onde se pretende ocupar equipe técnica de Santos (a DPRN-3 e mais a DPRN-7, esta com as suas equipes de Ubatuba e São Sebastião, integram o PPMA). De acordo com a lei, qualquer supressão de mata não param de chegar à DPRN-3. A pilha de processos a ser fiscalizado”. ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos tadual de Proteção de Recursos Naturais, o DEPRN. O helicóptero nos quais se pode identificar acampa- dias, dependendo das condições de acesso ao local 50 Trata-se de uma amostra exemplar da gravidade nativa deve ser autorizada pelo Departamento. E de posse das coordenadas, irá diretamente ao local. TEMPOMmDIODEATENDIMENTODO"ATALHjO DA0OLqCIA!MBIENTAL e eficiente nos ação humana são exacerbados. situações, tornando difícil as chances de se detectar o delito. Atualmente, há rotinas de sobrevôos com IST técnicos mais ágil ganizadas. Na região, os contrastes entre natureza e florestal, será emitido um documento que atesta Exemplos que ilustram bem a importância de EJBT tornou a ação dos para ocupações humanas, em muitos casos, desor- órgão da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de confirma o Capitão PM Luiz Amaury Kruel, coman- INqCIO DO00-! de tecnologia Mar, cuja densa floresta cada vez mais perde espaço Mas no caso ambiental, cujas leis são antigas, o toda a diferença. “Nossa rotina mudou na medida EJBT O implemento manguezais que se estendem até o pé da Serra do rio com a descrição do histórico do local, diagnóstico grafico ainda errado Marco Aurélio dos Santos Pinho, chefe da seção de ;= vegetação nativa. zadas em meio a uma rede de canais, com extensos dos problemas enfrentados pelo Departamento Es- segurança dos motoristas. problema sempre foi a dificuldade para fazer cum- Tempo de atendimento da Polícia Ambiental [1995-2005] 4EMPODEATENDIMENTODA0OLqCIA!MBIENTAL supressões de de Cubatão, afastadas da linha costeira, estão locali- levante a voz para questionar sua importância na pensando no bem comum da sociedade? “É como a lei do cinto de segurança”, compara o Capitão PM O DEPRN licencia Departamento. E num lugar de forte pressão urbana, as solicitações não param de chegar à DPRN-3. num lugar de forte pressão urbana, as solicitações de licenciamento é grande no escritório. Em Bertioga, Tecnologia O implemento de tecnologia agilizou e truir uma casa em área de restinga. Em Itanhaém, um anos (veja gráfico na página 53). “Cada sala tem um o proprietário de um terreno à beira-mar quer cons- assentamento está para ser estabelecido. Mais ao sul, em Iguape, um fazendeiro deseja explorar guanandis (espécie de árvore nativa) de forma sustentada para produzir tábuas. Casos como esses não são poucos. Após a abertura de um processo, a área em ques- tão deve ser vistoriada e a partir daí é feito um relató- tornou a ação dos técnicos mais eficiente nos últimos computador e os técnicos dispõem de bons equipamentos de apoio, o que torna a atuação mais dinâ- mica”, afirma Domingos Ricardo de Oliveira Barbosa, diretor regional da DPRN-3. “Agora conseguimos trabalhar melhor”. A aquisição de veículos apropriados para suportar adversidades em campo deu mobilida- 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 51 onde atuam e obtendo dados novos. “Um engenhei- da tecnologia e o treinamento do pessoal, o tempo aéreas para realizar seu trabalho de forma confiá- nal de Santos – algo fundamental ao bom funcio- ro de meio ambiente necessita de boas fotografias Uso de GPS em campo: trabalho vel”, diz Barbosa. Mais ainda, explica o diretor, com o facilitado uso de GPS (equipamento de localização geográfica), identifica-se com precisão os locais que estão sendo avaliados. Softwares que combinam as informações coletadas em campo pelo GPS e as fotos aéreas digide às equipes técnicas. Fotos aéreas digitalizadas for- neceram elementos para se emitir pareceres e laudos mais confiáveis. Sobrevôos de helicóptero (estes, em ações conjuntas com o Instituto Florestal e a Polícia Ambiental) são realizados regularmente para se observar novos focos de desmatamentos. Nestas opor- tunidades, os técnicos aproveitam para fotografar as áreas, atualizando desta forma o histórico das regiões Área de atuação da DPRN-3 e DPRN-7 (Divisões do DEPRN) e investimentos do PPMA nas Equipes técnicas talizadas facilitaram enormemente a elaboração de um diagnóstico sobre cada processo. E um modernís- simo GPS vai além: permite que se visualize as fotos em um display, de forma que, em campo, pode-se identificar pontos específicos diretamente a partir das imagens referentes a esses pontos. Avaliações realizadas com apoio da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP) revelaram que, com a modernização Sede DPRN 7 médio de resposta aos processos no escritório regio- namento da instituição - diminuiu de catorze para três meses. Os novos instrumentos de trabalho também ajudam muito em outras tarefas importantes do DEPRN. Quando a Polícia Ambiental precisa de informações para descobrir se um determinado local sofreu desmatamento recente ou quando o Mi- nistério Público, juízes e delegados solicitam laudos sobre casos específicos, o DEPRN é acionado. Em si- tuações como essas, o constante aperfeiçoamento dos conhecimentos técnicos associado a bons equi- pamentos podem prestar uma grande contribuição à conservação do meio ambiente. INqCIO DO00-! o que torna a atuação mais dinâmica. áreas licenciadas: locais nos quais o DEPRN permite atividades e obras que implicam na supressão de vegetação nativa ou no manejo da flora e da fauna silvestres. O licenciamento estabelece medidas que compensam o impacto ambiental. Equipe técnica Ubatuba 11.539 9.855 10.092 R$ 250 mil áreas averbadas: terras que os proprietários são obrigados a preservar como Reserva Legal (por lei, no âmbito da Mata Atlântica a Reserva Legal precisa ter R$ 95 mil 726 Equipe técnica São Sebastião Equipe técnica Santos Investimento feito pelo PPMA DPRN 3 DPRN 7 1.391 A R$ 89 mil Equipe técnica Iguape R$ 283 mil ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos dispõem de bons equipamentos de apoio, cade a foto do DPRN com cliente R$ 145 mil Equipe técnica Registro 52 sala tem um computador e os técnicos Área averbada ou recuperada e Área licenciada DPRN 3 [1991 a 2005] Sede Diretoria Regional DPRN 3 R$ 121 mil diretor regional da DPRN-3: “Cada Agora conseguimos trabalhar melhor” ÆREAAVERBADAOURECUPERADAE fREALICENCIADA$02.;= Equipe técnica Cananéia Domingos Ricardo de Oliveira Barbosa, 20% do tamanho da propriedade). Essas áreas devem 2.507 ser averbadas em cartório à margem da matrícula, A A após a aprovação pelo DEPRN. áreas recuperadas: lugares que sofreram processo de plantio obrigatório de espécies nativas ou exóticas para fREAAVERBADAOURECUPERADAHA fREALICENCIADAHA &ONTE2ELATvRIO#ONSOLIDADODO$%02. atender a dois tipos de exigências legais: manutenção de contínuo florestal em propriedades que exploram produtos da mata e reparação de danos causados ao ambiente ou compensação por processos de supressão florestal em áreas licenciadas 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 53 Interação socioambiental Vista panorâmica da Mata Atlântica na foto maior embaixo esquina sangrando região de Picinguaba Caiçaras no Litoral Norte de São Paulo em atividade de pesca Picinguaba: uma chance de acordo entre comunidade e floresta Picinguaba, no extremo norte do litoral paulis- ta, vive uma realidade rara no trecho da costa cor- tado pela rodovia Rio-Santos. Ali, a paisagem não é dominada por condomínios de luxo, casas de veUma grande transformação na mentalidade dos ambientalistas e gestores do meio ambiente passou a se operar a partir da década de 1990. Percebia-se cada vez mais claramente que a idéia de áreas protegidas como ambientes fechados e intocáveis produzia conflitos e acirrava ainda mais a crise socioambiental. Uma das contribuições do PPMA foi disseminar a postura conservacionista, que considera e admite a existência de atividade humana em áreas protegidas, desde que em harmonia com o meio ambiente. Essa nova forma de pensar se refletiu em todas as áreas de atuação do Projeto (como nos programas implantados em Picinguaba, na Ilha do Cardoso e em Ilhabela, que serão conhecidos a seguir) e tem contribuído para diminuir as pressões sobre a floresta. A estratégia é apaziguar conflitos antigos e estabelecer planos viáveis para conciliar a sobrevivência de comunidades tradicionais e a integridade da Mata Atlântica. 54 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos raneio, restaurantes e hotéis. Em meio à mata, que na região alcança a praia, resistem algumas vilas onde predominam caiçaras. Quase como se vives- sem em outros tempos, os moradores ainda têm na agricultura familiar e na pesca artesanal boa parte do seu sustento. Uma história de resistência, tanto dos caiçaras como do Governo, levou a tal situação, pouco afe- as portas a um mundo ainda pouco conhecido. A facilidade de acesso foi um apelo irresistível para que a estrada fosse de imediato muito bem vista. E não era para menos: “Antes levávamos doze horas para chegar em Ubatuba”, lembra Moisés Fermino Soares presidente da Associação de Moradores do Bairro do Cambury, um dos vilarejos. E quando se pensava que era a hora da chegada de um novo tempo, o Governo Estadual criou o Parque Estad- ual da Serra do Mar, decretando que toda a terra localizada a partir de 100 metros de altitude não podia mais ser modificada. Dois anos depois, com a justificativa de proteger os ecossistemas costeiros ainda bem conservados, o Parque foi estendido até a chamada cota zero, alcançando o mar e sobrepondo-se a zonas habitadas. tada pela selvagem especulação imobiliária que transformou as feições de boa parte do litoral brasileiro. Trata-se de uma situação cuja aparente harmonia esconde uma mágoa não cicatrizada en- tre caiçaras e os responsáveis pela gestão do meio ambiente. E que agora finalmente encontra uma grande oportunidade de se apaziguar. As comunidades da região de Picinguaba viv- Moisés Fermino Soares presidente da Associação de Moradores do Bairro do Cambury: conflitos com o Parque apaziguados iam em relativo isolamento até que no início da década de 1970 a rodovia Rio-Santos (BR-101) abriu 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 55 Plano de Uso Tradicional definiu diretrizes para o uso do solo pelos moradores tradicionais, incluindo Picinguaba: es- a agricultura sustentável, o perança para a extrativismo moderado e a infra- continuidade das atividades extra- estrutura tivistas de forma comum acordo entre todas as partes, incluindo o Ministério Publico Estadual e Federal, foi a elabo- ração de um Plano de Uso Tradicional, que definiu um micro zoneamento do território do Cambury, bem como diretrizes para o uso do solo pelos moradores tradicionais, incluindo a agricultura susten- tável, o extrativismo moderado, a infra-estrutura básica para os moradores e para o atendimento aos turistas. moravam passaram a sofrer uma série de restrições caiçaras, por estarem dentro do Parque, passaram tenciam. Não podiam mais derrubar a mata para torizar intervenções na área de proteção integral, para utilizarem áreas que historicamente lhes perplantar em terras de onde gerações e gerações tira- ram o sustento. “Criou-se uma situação de conflito, pois uma Unidade de Conservação de proteção in- o Plano de Gestão Ambiental do Núcleo Picingua- diretora atual do Núcleo Picinguaba do Parque. Mas o Parque também teve seus efeitos positi- vos para os caiçaras, mesmo com suas atividades restritas. A área protegida ficou relativamente à salvo dos loteadores e do crescimento desordenado que virou febre no litoral norte paulista, especialmente após o asfaltamento da BR-101. Pegue-se 56 Desde então, várias oficinas têm sido pro- comunidade do Cambury estava em vias de ser re- ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos seguraria direito comunitário à terra, segundo a Relação positiva com a comunidade Outra comunidade de Picinguaba, a do Sertão da Fazen- cal desde o começo da implantação do Núcleo. “De população local passou a viver clandestinamente de escorregamento ou de baixa qualidade de vida. meio ambiente e os moradores locais. conta Tasso Drummond, do IF, que trabalha no lo- to, aproximando as pessoas e a administração do Paulo, como remanescente de quilombo, o que as- entendimento e boa vontade entre os gestores do Farinha é usada até em materiais promocionais”, rídico para compatibilizar o uso da terra pela tos urbanos desordenados, em situações de risco luz elétrica, será instalada, num claro esforço de aumentar a produção de mandioca. Hoje, a Casa de habitadas. Era um primeiro sinal de avanço nas conhecida pelo ITESP – Instituto de Terras de São que uma antiga reivindicação dos moradores, a aba. “No começo, muitos eram contrários pois iria bastião. Hoje em dia, os terrenos próximos ao mar nas encostas, bem longe do mar, em agrupamen- nal de que tempos melhores vieram para ficar é que coordenou a implantação do Núcleo Picingu- tes zonas de uso, considerando inclusive aquelas comunidade e o Parque Estadual. Na ocasião, a pouco trazendo benefícios aos moradores. Um si- lizada de fato, segundo informa Adriana Mattoso, movidas na comunidade, como capacitação para foram tomados por casas de veraneio, enquanto a que hoje ainda ocorre de forma desorganizada e de servir a propósitos turísticos, objetivava ser uti- o manejo do Núcleo. O plano estabelecia diferen- Em 2004, foi encontrado um instrumento ju- camping, para atender as demandas do turismo, da agricultura em área de Parque, pois a obra, além idade de Conservação. como exemplo Barra do Sahy ou Juqueí, em São Se- todos sonham em ter uma pousada ou área de em 1986 já revelava a compreensão e a aceitação ba, documento que estabelecia as diretrizes para Florestal (IF), órgão responsável pela gestão da Un- surgem novos horizontes na comunidade. Quase Casa de Farinha recuperada pelo Instituto Florestal a tomar outro rumo em 1998, quando foi elaborado questões socioambientais por parte do Instituto lenta, burocratizando o dia a dia, mas claramente situação semelhante a Cambury. Porém ali, uma necessidade de sobrevivência. de acordo com a legislação”, explica Eliane Simões, em harmonia com o Plano de Uso Tradicional. da, tradicional produtora de mandioca, vive uma embora tivesse que reconhecer sua existência – e Plano de Uso Tradicional A situação começou compatível com a presença de ocupação humana, texto, alinhame nto da foto a viver sob pressão pois o Estado não poderia au- tegral – que é o caso dos Parques Estaduais – é in- forma de plantar e de construir para que estejam construções e da abertura de lavouras é muito Constituição Federal. A estratégia encontrada, em Mesmo com essa espécie de salvaguarda, os tas com a comunidade para discutir os ajustes na Alguns reclamam que a aprovação das novas sustentável De uma hora para a outra, as famílias que ali lemas e buscar soluções. Reuniões mensais são fei- certa forma, ela favoreceu o estabelecimento de uma relação positiva com a comunidade”. Os moradores do Sertão da Fazenda possuem monitores de ecoturismo e noções de saneamen- um Plano de Uso Tradicional equivalente ao do Parque. Também foram criadas Câmaras Técnicas bito do Conselho Consultivo do Parque. “Hoje são vinculadas ao Conselho Consultivo do Núcleo Picinguaba, que é uma espécie de fórum com a participação das instituições que atuam na gestão da área e as lideranças locais, a fim de discutir os prob- Cambury, elaborado em dezembro de 2005, no âm- quase todos desempregados. E nossos filhos vão morar na cidade. Isso é difícil para quem nasceu no mato”, diz a presidente da associação de morador- es local Laura de Jesus Braga, que deposita muitas 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 57 foto maior esquina, qualidade da foto Vida caiçara resiste em Ilhabela Um mapeamento das comunidades tradicionais esperanças no plano. A Associação está recebendo alizado em 2005, está ajudando a estreitar a aproxi- Atlântica, que realizou um levantamento do poten- que vivem dentro do Parque Estadual de Ilhabela, remação do Parque com essas comunidades. O trabal- ho, financiado pelo PPMA, deu subsídios à elaboração do Plano de Manejo do Parque, em curso, que procu- rará compatibilizar as necessidades de sobrevivência dos caiçaras com o objetivo de proteção integral da Unidade de Conservação. O enfoque é no fomento do turismo sustentável e do manejo sustentável dos re- assistência do Instituto de Permacultura da Mata cial da área e, num projeto já aprovado pelo PDA (programa do Ministério do Meio Ambiente, com recursos do KfW) irá capacitar os moradores para a produção de agroflorestas. O foco é a recuperação das populações de palmito juçara, nativo da Mata Atlântica e fortemente explorado de forma ilegal. Finalmente, a diretriz do Plano de Manejo do cursos pesqueiros. Parque da Serra do Mar para essas áreas, conside- inseridas no interior do Parque e tratam das condições Conservação de Proteção Integral, é que elas se- As informações foram obtidas em 16 vilas caiçaras socioeconômicas e ambientais, as pressões, os conflitos e as principais demandas dos moradores. Mapas do uso do mar chegaram a ser desenhados pelos próprios caiçaras, ajudando na compreensão das questões investigadas. Em relação a um levantamento feito em 1997, os problemas relativos ao uso da terra e dos recursos da mata permanecem não resolvidos. Em compensação, uma boa notícia: os nativos revelaram, de maneira geral, um aumento na preocupação com o ambiente marinho e os estoques pesqueiros. O trabalho também resultou em duas propostas de projetos que poderão colaborar ainda mais para o avanço da questão socioambiental: A primeira é sobre a implantação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável no entorno do Parque e a outra trataria da capacitação das comunidades caiçaras para o uso de um bambu exótico (introduzido na Mata Atlântica) como matéria prima de artesanato e sua rando-se as limitações legais das Unidades de jam requalificadas como unidades de manejo sustentado. Após tanta discussão em busca de maior harmonia entre o uso do solo e a conservação da natureza e das culturas locais, são maiores as pos- sibilidades de melhora da qualidade de vida das comunidades que tanto resistiram. Agora, o que se vislumbra a elas é que num futuro próximo pos- sam tirar seu sustento da terra, seja pelo manejo racional da floresta ou pela exploração do turismo ecológico, organizado e sem intermediários. A experiência de turismo comunitário na Ilha do Cardoso Uma experiência de turismo que beneficia os Todas as reformas e alterações nas residências, moradores locais e procura impactar minimam- pousadas e restaurantes devem ser aprovadas nas do Cardoso, extremo sul do estado de São Paulo. O conta com a participação de moradores locais) e de- ente o ambiente natural está tendo sucesso na Ilha segredo do êxito é a feliz combinação entre a forte organização comunitária da vila do Marujá, localizada dentro do Parque Estadual Ilha do Cardoso, e o Plano de Manejo do Parque, aprovado em 2001, que contou em sua elaboração com a participação dessa e de outras comunidades. O Plano estabelece uma série de regras em que se procura compatibilizar, de forma inédita na região, os anseios da vila com os interesses da conservação, buscando alternativas de desenvolvimento susten- tável, como explica o diretor do Parque Marcos Cam- reuniões do Conselho Consultivo do Parque (que pois ratificadas pela direção. Novos moradores não têm permissão para se instalarem na ilha. Evita-se, desta forma, a descaracterização da vila e o surgimento de construções que impactem o ambiente. Freqüentes cursos e oficinas têm capacitado os moradores e ajudado a comunidade a se planejar. Como apoio à recepção aos turistas, o Parque construiu um centro de visitantes que, durante as temporadas, funciona para agendar passeios com os monitores locais. Hoje, os moradores do Marujá, que antes viviam polim. Essas normas, por um lado, não permitem o cercados de proibições por morarem dentro de uma organizar a atividade: cada morador, por exemplo, tos na terra que historicamente lhe pertence e apre- crescimento do turismo, mas por outro ajudaram a tem direito a construir em sua casa um número limitado de quartos para pousada e a utilizar o quintal como camping para um número também limitado de barracas. “Além da melhor organização, isso teve o efeito positivo de socializar o turismo, já que os visitantes tiveram que ser divididos em várias casas”, conta o líder comunitário Ezequiel de Oliveira. Unidade de Conservação, passaram a ter voz e direinderam a explorá-la racionalmente (o Plano prevê até a possibilidade de cortes de árvores da floresta de forma controlada para a construção de canoas). Elevados a parceiros do Parque, estão se transformando em aliados na tarefa de conservar o ambiente natural. substituição pela vegetação nativa. 58 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 59 foto maior, colocar na pagina 60 embaixo sangrando Turismo sustentável A atividade turística, quando explorada de forma organizada, pode ser uma grande aliada da proteção ambiental. Trata-se de uma economia potencialmente sustentável, cuja matéria prima elementar é a natureza em sua plenitude. Além disso, o turismo pode fazer dos moradores das regiões onde é promov- ido defensores do meio ambiente, caso os benefícios trazidos pelos visitantes revertam às comunidades locais. Na Mata Atlântica paulista, entre outros casos, o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira tem obtido grande êxito em seu programa de turismo foto da sustentável, apoiado pelo PPMA. trilha na neblina colocar na pagina 61 Qualquer pessoa que deseja conhecer as cavernas do Petar deve contratar um monitor cadastrado e capacitado em um dos cursos que acontecem periodicamente Monitor conduz grupo de ecoturistas no Petar Os monitores do Petar Não existe ambiente natural mais frágil que uma cerca de 250 cavernas cadastradas na região). Como Aliados do Parque temas, podem ser destruídas com simples toques da era de mantê-lo intocado e intocável, o Parque ficou 1992, a visitação foi regulamentada e, três anos de- caverna. Suas formações características, os espeleomão. Wandir Dias sabe disso há muito tempo, desde a época em que, com doze anos de idade, entrava nas grutas do Vale do Ribeira, no extremo sul do estado de São Paulo, para retirar pedras. A extração de minérios, tanto feita artesanalmente como de forma industrial, foi por muito tempo uma das bases da economia da região. Explorava-se chumbo, calcáreo muito tempo aberto oficialmente apenas a pesquisa- dores e espeleólogos. Na prática, tratava-se de uma “terra de ninguém”, já que não havia fiscalização que controlasse o acesso e cuidasse da integridade das cavernas e, muito menos, da densa e rica floresta tropical que existia dentro de seus limites. A Unidade de Conservação só passou a ex- e ouro. Até os dias de hoje há mineradoras por ali. istir como um Parque de fato na década de 1980, nua sendo as grutas, mas agora o que interessa a Projeto Fronteiras, com a finalidade de delimitar o Atualmente, a fonte de renda de Wandir conti- ele é mostrar aos visitantes as galerias ricas em es- talactites, estalagmites, cujas formas curiosas, que a natureza levou milhões de anos para construir, lem- bram bichos, igrejas e o que mais se puder imaginar, atraindo muitos visitantes. O antigo mineiro é um dos 160 monitores de ecoturismo do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, o Petar. O Parque foi criado em 1958 para proteger a fan- tástica quantidade de grutas existentes ao longo do rio Betary, tributário do rio Ribeira de Iguape (há 60 na época a visão que se tinha do patrimônio natural ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos quando um dos primeiros programas se iniciou: o território da UC. Na mesma época, grupos de turistas comuns começaram a chegar para visitar as cavernas. No bairro da Serra, localidade próxima do nú- Eram novos tempos e o Parque aos poucos se abriu de vez ao turismo. Em pois, em vista da necessidade de se treinar os guias, promoveu-se o primeiro curso de capacitação de monitores de ecoturismo. “A partir de conversas e (que administra o Parque), uma nova mentalidade mantém em seu quadro de funcionários uma equi- para demarcar o Petar, dentro do Projeto Fronteiras, balham como autônomos, prestando serviço para grafo de formação que chegou à região há 20 anos e hoje é o diretor. Com a melhoria dos recursos para fiscalização, a partir de 2002, o programa de uso pú- há 22 anos. No curso, que é realizado por organizações não Hoje, qualquer visitante que deseja conhecer as primeiros socorros, espeleologia, legislação florestal, dade do programa de proteção”, acredita. “É uma forma de fazer com que o turista deixe algo logia”, lembra Joaquim Justino, funcionário do Petar agências de turismo, pousadas e hotéis. governamentais da região com apoio do Instituto moradores, que conheciam bem a região, passaram trilhas e acabava aprendendo um pouco de espeleo- pe de guias de ecoturismo. Há também os que tra- blico se consolidou. “A visitação depende da efetivi- cavernas, deve contratar um monitor cadastrado, a guiar os turistas informalmente. “Eu ensinava as Santana veio a campo”, conta Antonio Modesto Pereira, topó- cleo Santana do Petar, onde estão as grutas de mais fácil acesso, abriram pousadas e restaurantes. E os Interior da Caverna debates com novas pessoas do Instituto Florestal capacitado em cursos promovidos periodicamente. para a comunidade”, acredita Modesto. “Além disso, Florestal por meio do PPMA, aprende-se noções de liderança, ética profissional e condução de grupos. Os aspirantes a monitores têm também, é claro, que ficar por dentro das regras do Parque. Munidos dessa formação e com a experiência que a pessoa acompanhada de um guia não deixa lixo vão adquirindo, além de funcionarem como apoio se pode percorrer algumas trilhas curtas. O Parque ambientais e ainda colaboram na fiscalização do e não depreda as cavernas”. Sem um monitor, só ao ecoturismo, os monitores tornam-se educadores 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 61 Educação ambiental foto maior Parque. Como estão sempre percorrendo as trilhas e entrando nas cavernas, podem avisar à direção caso observem algum tipo de agressão à natureza. Os monitores são também vetores da política do Praia da Fazenda: a paz voltou a reinar norte de São Paulo, a praia da Fazenda, integrante desenvolveu o potencial turístico, estão as pessoas do Mar, está voltando a assumir as feições de paraí- mais conscientizadas. Na Serra, é um discurso recorrente que o meio de vida principal da localidade depende da conservação do Parque. Com os recursos que vieram para o programa de proteção, o Parque está, se não a salvo de depredações, ao menos muito mais protegido do que já esteve anos atrás. Mas, mesmo assim, nada foi mais eficiente do que ter as comunidades vizinhas a favor da preservação. Afinal, como se aprende com a ex- periência, nada é pior do que brigar com um vizinho. “O mérito de termos o bioma preservado aqui é, antes de tudo, da população daqui”, conclui Modesto. Natural, no Núcleo Perequê Entre os últimos refúgios selvagens do litoral Petar de aproximação com as comunidades do en- torno. Não à toa, no bairro da Serra, que é o que mais Museu de História do Parque Estadual Ilha do do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra Cardoso so natural (foto abaixo), após uma fase em que o turismo desorganizado tomou conta de suas areias (foto acima). A visitação foi controlada com a instalação de uma guarita, que limita a entrada de veículos, e com a proibição de camping selvagem. Adotaram-se regras de uso e programas educativos, procurarando conscientizar os banhistas para a importância de se conservar o lugar. “Antes o pessoal estacionava na areia, ligava o som alto e fazia churrasco. Isso acabou”, diz Maria Fernanda Wadt, responsável pelo programa de educação ambiental do Parque. Um novo olhar para a natureza. É o que a educação ambiental pode trazer, rompendo barreiras e abrindo as portas para a percep- ção das conexões e interdependências que compõem a teia da vida. Contribui, deste modo, para um melhor entendimento do meio ambiente e para atitudes mais respeitosas das pessoas com a floresta. Um Projeto desenvolvido na Ilha do Cardoso por iniciativa da comunidade de Cananéia, com apoio do Instituto Florestal por meio do PPMA, demonstra como a educação ambiental pode operar transformações profundas em uma sociedade. Cananéia descobriu seu Parque No extremo sul do estado de São Paulo, em meio à monumental rede de canais e mangues do Complexo Estuarino Lagunar de Cananéia-Iguape- Paranaguá, um dos principais criadouros da vida marinha do planeta, encontra-se Cananéia, uma cidade cercada pelos mais extensos remanescentes de Mata Atlântica do Brasil. Separado da pequena man- cha urbana por uma baía, o Parque Estadual Ilha do Cardoso é uma das maiores preciosidades da região, com seus maciços totalmente cobertos pela floresta, restingas riquíssimas em biodiversidade, comunidades caiçaras tradicionais e praias selvagens. Uma situação curiosa, comum a muitos paraísos naturais, se repetia ali: até pouco mais que uma década atrás, a ilha era uma ilustre desconhecida da pop- ulação de Cananéia. “As pessoas de fora davam mais importância ao lugar que nossos próprios morador- es”, lembra Luzineti Nunes, monitora ambiental há 62 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos foto maior saindo um pouco da box pela izquierda 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 63 Atividade do Projeto “Cananéia tem Parque”: aproximação da comunidade com a natureza 12 anos. Em 1998, um louvável projeto de educação ambiental começou a mudar essa situação. Desde então, rigorosamente, toda semana uma escola local é levada para realizar vivências na ilha. Em oito anos de funcionamento, o Projeto, que recebeu o sugestivo nome de “Cananéia tem Parque”, já apresentou a ilha do Cardoso a praticamente todos os jovens da cidade. Alguns já foram duas ou até três vezes. A iniciativa partiu do policial ambiental Marcos Antonio Mendes, que coordena o Projeto até hoje. Ele explica como nasceu a idéia: “Aqui, nossa tarefa de fiscalização é um pouco ingrata pois as pessoas foto maior sangrando, colcoar embaixo (com um texto??) têm a cultura enraizada de caçar e desmatar. Então o trabalho deve ser um pouco de conscientização”. O pensamento de Mendes vai de encontro a uma das se começaram as ações conjuntas do Instituto Flo- são ações preventivas. Assim, toda quarta-feira, o diz o diretor do Parque Estadual Ilha do Cardoso Mar- missões mais importantes da Polícia Ambiental, que policial se transforma num educador e guia pesso- almente as crianças e adolescentes pelas trilhas da cos Campolim. A partir do Perequê, os alunos partem para tril- ilha juntamente com uma equipe de voluntários. has que cruzam os vários ecossistemas da ilha: rest- Infra-estrutura viabiliza o programa O pas- cada um deles, além dos conteúdos transmitidos seio tem como base o núcleo Perequê do Parque, composto por várias edificações da década de 1970, que na época do início do Projeto encontravam-se em parte abandonadas. Graças a uma série de reformas viabilizadas pela cooperação Brasil-Alemanha, o local hoje está equipado para receber grupos. Há salas de aula, auditório com equipamentos audiovisuais, refeitório, tirolesa, quadras esportivas, quatro laboratórios e um museu de história natural que tem no acervo animais da região empalhados, ossadas, maquete da ilha e uma série de informações sobre os ecossistemas locais e a cultura caiçara. “O Cananéia tem Parque é um fruto do PPMA. Além da infra-estrutura que possibilitou o desenvolvimento das atividades, o Projeto nasceu na ocasião em que 64 restal e da Polícia Ambiental. Isso nos aproximou”, ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos As atividades estão conseguindo estreitar a rela- A continuidade das atividades também conta inga, mata ombrófila densa, manguezal, costão. Em ção da comunidade de Cananéia com o Parque, an- com a compreensão e sensibilidade do Comando do didaticamente pelos monitores, são realizadas ativi- em parte porque o município não tem ascendência um de seus homens das tarefas de fiscalização toda dades de sensibilização, em uma série de dinâmicas. Em alguns momentos, por exemplo, os participantes são convidados a andar nas trilhas com os olhos ven- dados, procurando usar os sentidos para perceber de tes visto com certo distanciamento. “Isso acontecia sobre a gestão da Unidade de Conservação, que compete ao Estado”, acredita Campolim. “Mas isso é uma bobagem. A Ilha do Cardoso é de todos”. Uma prova de que o “Cananéia tem Parque” con- forma mais aguçada os sons e os cheiros. Estimula- segue produzir transformações é a própria existên- temperatura e de luminosidade entre os diferentes vontade para acontecer, já que ninguém recebe para se também que os alunos sintam as variações de ambientes e descubram as nuances da paisagem e da vegetação. Depois, no centro de recuperação de animais, pode-se ver tartarugas-marinhas e, eventualmente, leões-marinhos e pingüins. “Procuramos despertar para a valorização da realidade e para que surjam possibilidades de modificá-la e melhorá-la”, explica o soldado-monitor. cia do Projeto. Ele depende de muitos apoios e boa realizá-lo. Primeiramente, é preciso que as escolas liberem os alunos para os passeios e que os pais autor- 4º Pelotão da Polícia Ambiental de Cananéia, que tira quarta-feira. Mas isto não deve ser um problema, visto as decorrências positivas do trabalho do soldado Marcos, que, com muita sensibilidade e perseverança, quebra barreiras antes aparentemente intransponíveis: aproxima a Polícia da sociedade e traz as pessoas para perto da natureza. Prepara, assim, um futuro de menos desentendimentos e, quem sabe, no qual não precisará mais portar uma arma. izem. Por sua vez, os monitores ambientais e proprie- tários de escunas, que normalmente são contratados por agências da capital, reservam um dia da semana para levarem as crianças e adolescentes locais à ilha, sem receber pagamento por isso. 5 uma nova forma de interação com a mata atlântica 65 6 Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sad diam nommumy elusmod tempor incidunt ut labore et dolore magna aliquam erat volupat. Ut enim ad minim veniam, Et duis autem vel eum irere dolor in reprehenderit in volupate velit esse molestale, vel illum dolore eu fugiat nulla pariatur. No final de 2006 o PPMA acaba. Essa palavra – “acaba” - não é totalmente correta, pois muito do que o Projeto trouxe incorporou-se na mentalidade dos gestores envolvidos no dia-a-dia das institui- de sustentabilidade boração entre instituições, as pessoas naturalmente preferem isso ao invés de atuarem isoladamente. O trabalho com imagem, por meio do uso de ções e na política ambiental do Estado de forma equipamentos de sensoriamento remoto e carto- a novas fontes de financiamento que se abrem aos mento, também foi incorporado fortemente ao geral. Com a disposição pública despertada aliada perspectivas tida. Quando uma ação é potencializada com cola- programas de proteção à Mata Atlântica, acredita- se que os caminhos tomados a partir do início des- sa bem sucedida cooperação internacional sejam mantidos. Em primeiro lugar, a organização do pensamen- to sobre como fazer as coisas acontecerem foi uma grafia, baseado em programas de georreferenciadia-a-dia dos gestores e técnicos. Hoje não há quem não tenha adquirido um mínimo de conhecimento e compreendido que se trata de uma ferramenta muito útil para auxiliar e melhorar o desempenho dos trabalhos. Em relação às Unidades de Conservação, o ganho novidade que veio para ficar. Dentro das institui- em infra-estrutura foi fundamental para a consoli- mento administrativo para a gestão. Muitas vezes, apoiados pelo Projeto. As novas obras tiveram um ções participantes, muita gente não tinha treinao planejamento resumia-se a uma espécie de lista de compras apresentada ao chefe. E nunca se sabia se aquilo aquela lista ia ser atendidoa ou não. O Projeto foi fundamental para colocar no ra- ciocínio do gestor uma lógica que parece simples, dação dos Parques Estaduais e Estações Ecológicas papel não só na utilização diária, apoiando a fiscalização, a administração, a pesquisa e o uso públi- co, mas no sentido de ocupar o espaço, e de mostrar mostrando a presença do Estado. Por fim, houve um grande avanço quanto à pos- ou seja: em função do que se precisa ser feito e de tura em relação às áreas de conservação preserva- o trabalho de planejar, o que não era feito anterior- local significava tirar todas as pessoas de dentro. como devem ser realizadas essas ações, exercita-se mente. A gestão comum da fiscalização (Plano Opera- cional de Controle), também é algo que já faz parte definitivamente do dia-a-dia das instituições, independente de recursos financeiros. As reuniões mensais e operações conjuntas (não seria o caso de mencionar as instituições aqui?) não deixaram dúvidas quanto à importância de que essa rotina seja man- ção. Antes do PPMA, acreditava-se que proteger um Não só a atitude assumida pelo Projeto, mas também uma série de demandas surgidas na sociedade nesses anos geraram outras formas de ação, muito além da fiscalização estrita. Hoje, o pensamento é criar relações positivas das pessoas com a natureza, integrando desde as atividades de comunidades tradicionais até empreendimentos turísticos ao contexto da conservação. 6 perspectivas de sustentabilidade 67 Olhando para o futuro, o recurso mais importante que os esforços de conservação da floresta têm a receber é a compreensão geral de sua importância para a vida das pessoas Novos recursos A despeito de todos os inves- vimento ambiental, muito se avançou nesse campo aporte financeiro do KfW irá cessar. Muito se tem natureza está hoje na lista das principais preocupa- timentos realizados pelo Projeto, é um fato que o perguntado: como ficam a infra-estrutura e os equipamentos advindos dos recursos da cooperação internacional? É importante lembrar que contratualmente o custeio, isto é, os gastos do dia-a-dia durante esses onze anos, tais quais manutenção das benfeitorias construídas e abastecimento dos veículos, ções, seja na esfera pública ou privada, de modo que diversas fontes financeiras surgiram, a exemplo dos mecanismos de compensação ambiental, cujos recursos já estão sendo usados são em áreas protegidas no estado de São Paulo (veja box). Afora todos esses meios materiais, o recurso entre outras, sempre estiveram sob responsabilida- mais importante que os esforços de conservação da independe dos investimentos do KfW. importância para a vida das pessoas, até mesmo de do Governo de São Paulo. Assim, a continuidade Os recursos que o Estado cedeu como contrapar- tida obrigatória aos investimentos da Alemanha ano a ano foram quantificados pelas instituições participantes, de modo que cada instituição possa fazer a solicitação dentro dos seus orçamentos anuais. O Governo já se comprometeu em manter a destinação dos recursos da mesma forma que o fez durante o período do Projeto. Em relação aos investimentos que se fazem ne- cessários para continuar aperfeiçoando os progra- mas de proteção à Mata Atlântica, pode-se falar que diante da crescente preocupação com o meio ambiente e do profissionalismo adquirido pelo mo- 68 durante os onze anos do PPMA. A conservação da ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos floresta têm a receber é a compreensão geral de sua para aquelas que moram nas grandes aglomerações urbanas. Trata-se de uma consciência que vem crescendo cada vez mais em todas as esferas da sociedade e que o PPMA, sabiamente, incorporou em sua mais importante razão de ser. Esteve presente na linha filosófica de todas as ações e, a partir de agora, promete ser a maior promessa de futuro, não só para os programas desencadeados pelo Projeto, mas, sobretudo, para a Mata Atlântica. esta foto e duvidosa, alternativas: 1. Cananeia por de sol, 2. foto com agua calma (3.3_Wende no banco de fotos) o 3. foto aerea da Ilhacardos Agradecimentos Créditos Fotográficos Os editores expressam seus agradecimentos a todos que p.06 Interior da mata [local] forneceram informações e dados utilizados na elaboração desta publicação, incluindo: p.07 Caiçara [local] Adriana Queirós Mattoso Antonio Modesto Pereira Capitão PM Luiz Amaury Kruel Eliane Simões Eloa de Castro Cruzeiro Jeannete Geneen José Luiz Camargo Maia Luiz Roberto Camargo Numa de Oliveira Marcos Campolim Marília Moraes Maurício Marinho Carlos Botelho Pedro Bernardo 10 (centro-esquerda) Mono-carvoreiro (Brachyteles arachnoides) Fausto Pires de Campos 10 (centro-direita) anfíbio no Parque Estadual Carlos Botelho (Phyllomedusa burmestieri) Pedro Bernardo 10 (direita) Cogumelos no Parque Estadual Carlos Botelho Fabio Colombini 11 (esquerda) Mariposa no Parque Estadual Carlos Botelho Fabio Colombini 11 (centro-esquerda) Beija-flor-de-papo-branco (Leucochloris Marco Aurélio Nalon Natália Ivanauskas Paulo Nogara Pedro Barbieri Sandra Aparecida Leite Sueli de Fátima Lorejan Viviane Coelho Buchianeri E as demaispessoas que colaboraram para a realização desta Adriana Mattoso p.10 [esquerda] Cobra (Oxyrhopus clathratus) no Parque Estadual João Paulo Villani Joaquim do Marco ?? Fleury p.09 Ocupação humana [local] Capitão PM Marco Aurélio dos Santos Pinho Domingos Ricardo de Oliveira Barbosa Adriana Mattoso albicollis) no Parque Estadual Carlos Botelho Fabio Colombini 11 (centro-direita) flora Autor 11 (direita) Tamanduá (local) Adriana Mattoso 12 Visita da equipe do KfW (local) Autor 15 (alto, esq.) Maria Cecília Wey de Brito – Coordenadora do publicação.. PPMA Marcelo Delduque 15 (alto, dir.) Praia da xxxx na Estação ecológica Juréia-Itatins Fausto Pires de Campos 16 Cachoeira xxx no Parque xxx Fausto Pires de Campo 18 Interior da mata (local) Norbert Wende 21 (alto) (local) Adriana Mattoso 21 (centro-alto) Gavião-pomba-grande (Leucopternis polionota) no Parque Estadual Carlos Botelho Fabio Colombini 21 (centro) Detalhe da flora do Parque Estadual Carlos Botelho Eduardo Justiniano 21 (centro-baixo) Perereca em samambaia no Parque Estadual Carlos Botelho 70 ppma projeto de preservação da mata atlântica: 11 anos Fabio Colombini (baixo) Cambacicas (Coereba flaveola) no Parque Estadual 51 (alto, dir.) Isaías Soares (XX) Carlos Botelho Marcelo Delduque Fabio Colombini 55 Peixe secando na Ilhabela 22 Palmiteiro no xxxxx Paulo Nogara Adriana Mattoso 56 (alto) Praia da Fazenda (Núcleo Picinguaba do PESM) em 23 Bromélia no Parque Estadual Carlos Botelho Fabio Colombini Adriana Mattoso 25 Ribeirão das Pedras no Parque Estadual Carlos Botelho 56 (baixo) Praia da Fazenda (Núcleo Picinguaba do PESM) em Fabio Colombini 26 Crianças brincando no Parque Estadual Carlos Botelho Norbert Wende Rogério Zaglobinski 51 Por-do-sol na Ilha do Cardoso 27 Demolição de construções irregulares no xxx Marcelo Delduque Adriana Mattoso 58 Estudantes no Centro de Visitante do Parque Estadual Ilha 33 Ação conjunta entre Instituto Florestal e Polícia Ambiental 21 19xx 20xx do Cardoso no XXX Marcelo Delduque Adriana Mattoso 59 Estudantes em atividade de educação ambiental no Parque 21 Visual da mata atlântica em Boracéia Adriana Mattoso 37 Pesquisador em trabalho de campo durante a elaboração Estadual Ilha do Cardoso Marcelo Delduque do Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar Adriana Mattoso 39 Funcionário do IF em sobrevôo de helicóptero Adriana Mattoso 42 Caiçaras puxando barco em xxx Adriana Mattoso 44 Polícia Ambiental em ação em xxx Norbert Wende 46 Capitão PM Marco Aurélio dos Santos Pinho Marcelo Delduque 47 Capitão PM Luiz Amaury Kruel Marcelo Delduque 50 Técnico do DEPRN em ação Marcelo Delduque 51 Domingos Ricardo de Oliveira Barbosa(Diretor Regional do DPRN-3) Marcelo Delduque 52 Praia da xxx no xxx Adriana Mattoso 51 (alto) Praia da xx no Parque xxx Marcelo Delduque 51 (baixo) Moisés Firmino Soares (Presidente da sssoicação de Moradores do baiorro do Cambury) Norbert Wende 53 Caiçaras no trabalho em Ilhabela ?? Fleury 54 (alto, esq.) Caiçara no mar em xx Norbert Wende 1 mata atlântica: patrimônio que inspira cuidados 71 esta foto nao