HAY BAU!
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HAY BAU!
IM O P R Ê MI O O • D ÉC S CRIA N ND DA 10 ÇA S DO M U EL GLOBO • LE GLOBE • THE GLOBE • O GLOBO • • # 50 2008 •TOAN•CAU! • VOTE! RÖSTA! T ! TA ¡VOTA! HAY BAU ! JORDENS BARNS PRIS FÖR BARNETS RÄTTIGHETER Omslag50_spanska_port.indd 1 PRIX DES ENFANTS DU MONDE POUR LES DROITS DE L’ENFANT PREMIO DE LOS NIÑOS DEL MUNDO POR LOS DERECHOS DEL NIÑO PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO PELOS DIREITOS DA CRIANÇA THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD # 50 • 2009 • 09-03-30 08.56.11 Os Direitos da Criança O Que é o Prêmio das Crianças do Mundo? .........................................................4 Celebre os direitos da criança! ......................8 Como estão as crianças do mundo? ......... 10 Cerimônia de Premiação 2008................... 12 Homenageados com o prêmio de honra.....14 Candidatos ao Herói dos Direitos da Criança da Década .................................. 15 Nós o WCPRC e a Votação Mundial Consulte o Suplemento da Votação SUÉ CANADÁ REINO UNIDO O Júri do Prêmio das Crianças do Mundo EUA IS PA Pág. 84 e Suplemento da Votação pág. 36–41 MÉXICO Gandhi vota Suplemento da Votação pág. 2 Aqui estão os países e áreas onde moram as pessoas desta edição do Globo: NIGÉRIA COLÔMBIA PERU GUINÉ-BISSAU GANA SERRA LEOA BENIN CAMARÕES BRASIL R.D. CONGO BOLÍVIA ZIM Thanks! Tack! Merci ! ¡Gracias! Obrigado! Sua Majestade, a Rainha Silvia da Suécia, Sida (Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento), Loteria Sueca do Código Postal, Save The Children Suécia, Surve Family Foundation, Radiohjälpen, Axel & Sofia Alms Minne, Altor, AstraZeneca, Banco Fonder, eWork, Interoute, Kronprinsessan Margaretas Minnesfond, Folke Bernadotte Akademin, Helge Ax:son Johnsons Stiftelse, Svenska Naturskyddsföreningen, Dahlströmska Stiftelsen e PunaMusta Oy. King Baudouin Foundation US, The ForeSight Group, Boob Design, Communication Works (África do Sul), GiverSign & Linus Bille, Cordial, Markus Reklambyrå, Twitch Health Capital, Grenna Polkagriskokeri, Ågerups, Floristen i Mariefred, ICA Torghallen Mariefred, Centas, Euronics Strängnäs, Petter Ljunggren, Lilla Akademien, Gripsholms Värdshus, Gripsholms Slottsförvaltning, Gripsholmsvikens Hotell & Konferens, Grafikens Hus, Maria Printz & Printzens Matverk, Broccoli e Benninge Restaurangskola. 2-3_spa_port.indd 2 SU Júri do prêmio. Todas as crianças, jovens e professores das Escolas Amigas Mundiais. Todos os Amigos Adultos Honorários, Amigos Adultos e colaboradores. Diretoria e Conselho Consultivo da Fundação Prêmio das Crianças do Mundo, direção da organização Mundo das Crianças e IFES (Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais). Em Bangladesh: Svalorna/The Swallows, SASUS Benin: Juriste Echos Consult Brasil: Grupo Positivo (Portal Positivo, Portal Educacional, Portal Aprende Brasil) TV Cultura, SEMED-Santarém (PA), 5ª Unidade Regional de Educação/SEDUC-PA, SME-Monte Alegre (PA), SME-Juruti (PA), Projeto Rádio pela Educação/Rádio Rural de Santarém, SME-São José dos Campos (SP), SME-Balsa Nova (PR), SME-Rio Branco do Sul (PR), Comitê para a Democratização da Informática do Paraná, ONG Circo de Todo Mundo, Oficina de Imagens, Samuel Lago, Christiane Sampaio Burkina Faso: Art Consult et Développement Birmânia: BMWEC, Community Schools Program Burundi: Maison Shalom Camarões: SOS Villages d’Enfants Cameroun, Plan Cameroun Filipinas: Lowel Bisenio Congo Brazzaville: ASUDH/Gothia Cup Congo Kinshasa: Fordesk, APEC, APROJEDE Gambia: Child Protection Alliance (CPA) Gana: Ministério da Educação, ATWWAR – Ekua Ansah Eshon, Ghana NGO Coalition on the Rights of the Child (GNCRC), Unicef, VRA Schools Guiné: Ministério da Educação, CAMUE Guinée, Parlement des Enfants de Guinée Guiné Bissau: Ministério da Educação Nacional, AMIC Índia: City Montessori School Lucknow – Shishir Srivastava, Times of India’s Newspaper in Education, Peace Trust – Paul Baskar, Barefoot College, Tibetan Children’s Villages, CREATE, Hand in Hand Quênia: Ministério da Educação, Diretor Provincial de Educação 09-03-30 13.28.45 ÉRIA A IN ÕES NGO o de pos e rio t nd Global Vote! Obrigado à vaca! VOTE NO SEU HERÓI DA DÉCADA! Pág. Världsomröstning Votación Mundial Vote Mondial Votação Mundial 16–20 Pág. 67 21–25 BO PHIEU TOAN CAU 26–30 Vota Mundi ção al 20 15 abr 09: i 25 out l – ubro SUÉCIA TIBETE ISRAEL PAQUISTÃO PALESTINA NEPAL ÍNDIA BURMA BANGLADESH TAILÂNDIA VIETNÃ SUDÃO CAMBOJA ETIÓPIA 31–35 36–40 41–45 46–50 QUÊNIA RUANDA BURUNDI 51–55 ZIMBABWE MOÇAMBIQUE 56–63 Bola de folha de bananeira ÁFRICA DO SUL 64–68 Meu guarda-roupas Pág. 72 Bola de sacolas de plástico Suplemento da Votação pág. 5 Pág. 25 Bola de jornal Bola de meia www.worldschildrensprize.org 2-3_spa_port.indd 3 74–78 Pág. 78 79–83 Pág. 53 para as Províncias Western e Nyanza, CSO Network para as Províncias Western e Nyanza – Betty Okero Mauritânia: Association des Enfants et Jeunes Travailleurs de la Mauritanie México: Secretaria de Desenvolvimento Humano Governo de Jalisco – Gloria Lazcano Moçambique: Ministério da Educação e Cultura, SANTAC (Southern African Network Against Trafficking and Abuse of Children), Graça Machel Nepal: Maiti Nepal Nigéria: Ministério Federal da Educação, Ministérios da Educação em Kogi State, Lagos State, Ogun State, e Oyo State, Unicef, Royaltimi Talents Network – Rotimi Samuel Aladetu, CHRINET, Children’s Rights Network – Moses Adedeji Paquistão: BLLFS, BRIC, PCDP Ruanda: AOCM Senegal: Ministério da Educação, Ministério da Mulher, da Família e do Desenvolvimento Social, EDEN - Lamine Gaye, Save the Children Suécia, Unicef África do Sul: Ministério da Educação, Departamento Nacional de Educação, Departamentos de Educação do Leste, Oeste e Norte do Cabo, Departamento de Educação do Noroeste e Departamento de Desenvolvimento Social, Distrito Municipal de Bojanala Platinum e Departamento de Educação, Distrito de Educação de Qumbu, Marlene Winberg Tailândia: Ministério da Educação, Duang Prateep Foundation República Tcheca: Vzajemne Souziti Uganda: Associação dos Governos Locais de Uganda – Gertrude Rose Gamwera, Wakiso District, BODCO, GUSCO Reino Unido: Diretor dos Direitos da Criança da Inglaterra – Roger Morgan, Oasis School of Human Relations Vietnã: Comitê para População, Família e Crianças do Vietnã – CPFC, Voz do Vietnã – VOV Children’s Programme, Nguyen T.N. Ly, Save the Children Suécia Zimbabwe: Girl Child Network 69–73 PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO PELOS DIREITOS DA CRIANÇA PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUN PELOS DIREITOS DA CRIANÇA Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Iqbal Masih Paquistão Iqbal Masih Paquistão Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Asfaw Yemiru Etiópia Asfaw Yemir Etiópia Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Nkosi Johnson África do Sul Nkosi Johnso África do Sul Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Maiti Nepal Nepal Maiti Nepal Nepal Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Maggy Barankitse Burundi Maggy Barankitse Burundi Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 James Aguer Sudão James Aguer Sudão Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Prateep Ungsongtham Hata, Tailândia Prateep Ungsongtha Hata, Tailând Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Dunga Mothers, Quênia Dunga Mothers, Quênia Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Nelson Mandela Graça Machel África do Sul, Moçambique Nelson Mande Graça Machel África do Sul, Moçambique Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Craig Kielburger Canadá Craig Kielburger Canadá Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 A associação dos órfãos, AOCM, Ruanda A associação dos órfãos, AOCM, Ruanda Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Betty Makoni Zimbabwe Betty Makon Zimbabwe Década Votação Mundial 2009 Década Votaçã Mundial 2009 Somaly Mam Camboja Somaly Mam Camboja … e uma bola de futebol comum! ESTE É THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD O PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO PELOS DIREITOS DA CRIANÇA GLOBEN é distribuída com o apoio da Sida (Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento), Save the Children Suécia, entre outros. Box 150, 647 24 Mariefred, Suécia Tel. +46-159-12900 Fax +46-159-10860 e-mail: [email protected] www.worldschildrensprize.org Diretor responsável e editor chefe: Magnus Bergmar Colaboradores das edições 50-51: Andreas Lönn, Paul Blomgren, Johanna Hallin, Tora Mårtens, Ragna Jorming, Carmilla Floyd, Gunilla Hamne, Kim Naylor, Annika Forsberg Langa, Sofi a Klemming, Elin Berge, Mark Vuori, Louise Gubb, Bo Öhlén, Göte Winberg Ilustrações & mapas: Jan-Åke Winqvist, Lotta Mellgren, Karin Södergren Design:Fidelity Tradução: Tamarind (inglês, espanhol), Cinzia Gueniat (francês), Glenda Kölbrant (português), JaneVejjajiva (tailandês), Preeti Shankar (hindu), M.A Jeyaraju (tamil), Tran Thi Van Anh (vietnamita). A revista também está disponível em sueco, árabe e Farsi (persa). Foto da capa: Paul Blomgren Pré-impressão: Done Impressão: PunaMusta Oy ISSN 1102-8343 09-03-30 13.30.27 Votação Mundial na Nigéria. Seu prêmio pelos seus direitos Olá Amigo Mundial! O Prêmio das Crianças do Mundo pelos Direitos da Criança (WCPRC) pertence a você e a todas as outras crianças e jovens menores de 18 anos do mundo! Sua escola (ou grupo) é uma das quase 50.000 Escolas Amigas Mundiais, com 22 milhões de alunos, em 94 países. E esse número cresce rapidamente. Esse ano é a décima edição do WCPRC. Iremos celebrar essa data votando no Herói dos Direitos da Criança da Década, nos dez anos da Votação Mundial. Em 2009, o WCPRC ocorre de 15 de Abril a 25 de Outubro. No dia 20 de Novembro, no 20° aniversário da Convenção dos Direitos da Criança da ONU, você e as crianças de todo o mundo irão revelar qual dos 13 candidatos é o seu Herói da Década! o ano 2000, a escola Montessori Droppen, da cidade sueca Haparanda, tornou-se a primeira Escola Amiga Mundial. Ela é também a Escola Amiga Mundial sediada mais ao norte do planeta. O pátio da escola é coberto por uma densa camada de neve durante seis meses no ano. Nos N 4 4-7_om wcprc_spa,port.indd 4 intervalos, as crianças fazem bolas de neve e atiram umas nas outras. A segunda Escola Amiga Mundial que se registrou no ano 2000 tem tanta areia quanto a primeira tem em neve. A luta que as crianças da escola Gacomo Dheer, da Somália, África, experimentaram não lembra em nada as disputas com bolas de neve das crianças em Haparanda. É uma guerra de verdade, com granadas e minas terrestres. Prêmio das Crianças do Mundo em todas as disciplinas Os 13 candidatos à Herói da Década das Crianças são pessoas e organizações homenageadas com o prêmio da votação das crianças, o Prêmio dos Amigos Mundiais, e o do júri infantil, o Prêmio das Crianças do Mundo, durante CRIANÇAS POR UMA MUDANÇA os primeiros nove anos do WCPRC, de 2000 a 2008. Há mais informações sobre os nomeados e as crianças pelas quais eles lutam no www.worldschildrensprize.org. Esse ano, o período do WCPRC é diferente do usual. Ele ocorre de 15 de Abril a 25 de Outubro. Você pode decidir quando irá promover o seu Dia da Votação Mundial, porém aqui apresentamos algumas datas particularmente adequadas: – 15 Setembro: Dia Internacional da Democracia da ONU – 21 Setembro: Dia Internacional da Paz da ONU – 5 Outubro: Dia Internacional da Criança da ONU – 24 Outubro: Dia Internacional da ONU As crianças que participam do WCPRC são agentes de mudanças. Elas atuam de forma ativa para assegurar um notável respeito pelos direitos da criança. No suplemento da Votação Mundial, muitas crianças explicam como elas gostariam que as coisas 09-03-26 08.16.33 Muitas escolas trabalham com o Prêmio das Crianças do Mundo durante várias semanas ou meses, em diferentes disciplinas, até mesmo matemática! Uma boa proposta para estudar os direitos da criança e o prêmio segue nesta ordem: 1. Os Direitos da Criança no seu país Você pode começar aprendendo mais sobre os direitos da criança com a ajuda da revista do prêmio (pp. 8–11) e no www.worldschildrensprize.org. Se você mora em um país onde há muitas escolas Amigas Mundiais, você receberá junto com as revistas, um folheto informativo sobre a situação dos direitos da criança no seu país. – Graças à revista O Globo, aprendi sobre meus direitos. Eu gostaria que todas as crianças do mundo participassem todos os anos da Votação Mundial. Sei que muitos adultos em meu país não sabem que os Direitos da Criança existem, diz Massala, de Brazzaville, capital do Congo. – Devemos ensinar aos adultos quais são nossos direitos, diz Adou, da Costa do Marfim. Koffi, da Costa do Marfim, não confia nos adultos: – Nós, crianças, devemos lutar por nossos direitos. Eles não serão conquistados facilmente. Eu não entendo porque os adultos não respeitam os direitos da criança. – Eu gostaria que existisse um ministro para as crianças. Uma criança ministro se certificaria que nossos direitos fossem respeitados, pensa Coumba, do Senegal. – Muitos adultos não acreditam que as crianças tenham opiniões sobre temas como escola e sociedade, diz Carine, do Brasil. Aishwarya, da Índia, concorda: – Os adultos nos subestimam. Deveríamos ter a chance de expressar nossas opiniões sempre, como fazemos no WCPRC. As crianças são a maior possibilidade de desenvolvimento para o mundo. Como estão os direitos da criança em sua vida? Em casa? Na escola? No lugar onde você mora e no seu país? Os políticos escutam as crianças? O que deveria mudar? Os adultos tratam bem as crianças, ou alguma coisa deveria ser diferente? Como você e seus amigos podem falar para seus pais, professores, políticos, jornalistas e outros adultos que os direitos da criança não estão sendo respeitados e como as coisas deveriam ser? A escola Montessori Droppen, em Haparanda, Suécia, foi a primeira Escola Amiga Mundial no ano 2000. Hoje, há cerca de 50.000 Escolas Amigas Mundiais. fossem. Na página 42, James de Gana diz: “O chicote é rei na nossa escola”. O castigo físico é proibido em 23 países. Como é no seu país? Escreva para o WCPRC através do [email protected] e conte qual é a situação na sua casa, na sua escola, e o que você pensa sobre isso. Os participantes têm a chance de ganhar uma camiseta do WCPRC e um CD da Gabatshwane. 4-7_om wcprc_spa,port.indd 5 Ayanda da África do Sul sabe o que dizer: – Vocês, adultos, devem me tratar da mesma forma como queriam ser tratados quando eram crianças! 2. Os Direitos da Criança no mundo No suplemento da Votação Mundial, você pode ler mais sobre o que crianças e adolescentes de diferentes países pensam sobre os direitos da criança, o Prêmio das Crianças do Mundo e a Votação Mundial. Você também pode aprender sobre os direitos da criança no mundo, a partir da leitura das experiências de vida das crianças do júri (veja a história de Bwami nas páginas 36–41, do suplemento e as histórias de todas as crianças do júri no www.worldschildrensprize.org). 3. Conheça os candidatos Depois de descobrir e discutir os direitos da criança, é hora de conhecer os candidatos ao prêmio desse ano e as crianças por quem lutam. Nas páginas 16–83 da revista do Votação Mundial na R.D. do Congo. A escola Gacomo Dheer, na Somália, foi a segunda Escola Amiga Mundial. prêmio, você irá conhecer os candidatos e as crianças pelas quais eles lutam por uma vida melhor. Como você certamente irá perceber, todos os nomeados ao prêmio promovem ações fantásticas pelas crianças. E os sentimentos e pensamentos das crianças são exatamente como seriam os seus, se você tivesse vivido as mes- 5 09-03-26 08.20.37 Votação Mundial para as crianças da Índia, órfãs devido ao Tsunami. ATENÇÃO! Não é uma disputa! TEXTO: MAGNUS BERGMAR FOTO: PAUL BLOMGREN, LOUISE GUBB, ELIN BERGE ILLUSTR ATION: LOT TA MELLGREN O WCPRC e a Votação Mundial não são uma competição. Todos os candidatos realizaram ações fantásticas pelos Direitos da Criança e, por isso, serão homenageados na cerimônia do prêmio. mas experiências que elas. Elas são como você. Você pode ler a revista do prêmio como dever de casa. Pode fazer uma exposição ou peça teatral sobre os candidatos ao prêmio e os direitos da criança. Quem sabe uma ”viagem” como repórter, aos países dos candidatos. Seu professor pode encontrar mais idéias sobre como trabalhar com o WCPRC no Manual do Professor e na seção do site do prêmio dedicada a eles. Para fazer uma escolha justa, você precisa conhecer bem e igualmente todos os candidatos ao prêmio e as crianças pelas quais eles lutam. Normalmente, são concedidos três prêmios: Global Friends’ Award (Prêmio dos Amigos Mundiais), que é o seu prêmio e o de todas as outras crianças votantes. Na primeira Votação Mundial, em 2001, votaram 19.000 crianças. Em 2008, 6,6 Meena vota na Votação Mundial, no deserto de Thar, no Paquistão. 6 4-7_om wcprc_spa,port.indd 6 milhões de crianças votaram. World’s Children’s Prize (Prêmio das Crianças do Mundo) é o prêmio do Júri Infantil. World’s Children’s Honorary Award (Prêmio de Honra das Crianças do Mundo) que é entregue ao(s) candidato(s) que não receber nenhum dos outros dois prêmios. Em 2009, ao invés dos prêmios usuais, haverá um prêmio ao Herói dos Direitos da Criança da Década. 4. Organize e seja responsável pelo seu Dia da Votação Mundial Depois de conhecer todos os candidatos, algumas escolas confeccionam cartazes eleitorais e promovem discursos. Por se tratar da sua votação, é importante que vocês, crianças e adolescentes, ajudem a organizá-la. No suplemento da Votação Mundial, você pode ler sobre como a votação é promovida em todo o mundo. Para realizar uma Votação Mundial democrática, você precisa: • Registro Eleitoral. Uma lista com o nome de todos os votantes que têm direito a voto na sua Votação Mundial. • Cédulas eleitorais. Você pode cortar as cédulas das publicações que recebeu. Ou, se não forem suficientes, pode copiar o modelo que está na última página do suplemento da Votação Mundial ou criar sua própria cédula. Se você não tem papel suficiente, cada eleitor escreve um número de 1 a 13 para a sua ou seu candidato(a) num papel de rascunho. • Cabine eleitoral. Para que ninguém veja em quem você vota. • Urna eleitoral. Todas as cédulas eleitorais devem ser colocadas dentro da mesma urna. Você não deve ter uma urna para cada um dos candidatos, pois assim as pessoas saberão quem vota em quem. • Tinta contra fraude. Anote na lista de eleitores quem já votou, ou então pinte um dedo depois que o eleitor depositar seu voto na urna. • Mesário. Marca na lista o nome das crianças votantes e entrega as cédulas eleitorais. • Fiscal eleitoral. Fiscaliza a votação, a marcação com tinta e a apuração dos votos. • Apuradores. Contam os votos e enviam o resultado da votação. O Dia da Votação Mundial Decida a data da sua Votação Mundial com antecedência. Na África do Sul, no México e no Brasil, por exemplo, todas as escolas de um mesmo município escolheram um único dia para a promoção da Votação Mundial, em todas as escolas. Alguns países, estão pensando em introduzir um Dia da Votação Mundial nacional. Agora que você é especialista em direitos da criança, já sabe como exigir respeito por estes direitos. Você sabe tudo sobre os candidatos ao prêmio e as crianças que eles ajudam. Também já conhece seus prêmios e sabe como uma Votação Mundial democrática funciona. Boa sorte com seu Dia da Votação Mundial! Compartilhe com o WCPRC e diga como foi e o que você pensa sobre os direitos da criança, o WCPRC e a Votação Mundial. Convide a imprensa Não se esqueça de convidar a imprensa, rádio e TV para participar do seu Dia da Votação Mundial! Conte aos jornalistas sobre os direitos da criança e como eles poderiam ser mais respeitados. Explique a eles sobre o WCPRC e o trabalho dos nomeados. Envie cópias de reportagens publicadas para o WCPRC e nos conte o que você fez. Hora para celebrar! O seu Dia da Votação Mundial é uma data importante. Não se esqueça de celebrar! No Deserto de Thar, no Paquistão, os alunos celebram a Votação Mundial dançando e tomando chá com biscoitos ao pôr do sol. Em Santarém, no Brasil, há uma apresentação de dança e são servidas frutas da Amazônia. Na Suécia, são servidos bolos decorados com o arco-íris do WCPRC. Informe o resultado da sua votação para todos os candidatos Não se esqueça de informar o resultado da votação na sua 09-03-26 08.23.41 Convide mais pessoas para se tornarem Amigos Mundiais! 7 Muitas escolas e estudantes no mundo não sabem que são bem vindos a se tornarem Escolas Amigas Mundiais. Você e sua escola podem convidar outras escolas da vizinhança! Tornar-se uma Escola Amiga Mundial é gratuito. Para registrar uma escola, precisamos do nome da escola, endereço postal, uma pessoa da escola como nosso contato (professor ou diretor) e o número total de alunos matriculados. Enviaremos à escola o diploma de Amiga Mundial. O diploma concede à escola o direito de trabalhar com o Prêmio das Crianças do Mundo e o direito de voto para todos os alunos menores de 18 anos na Votação Mundial. escola, com o número de votos que cada um dos 13 candidatos recebeu, até o dia 25 de outubro. Os votos do mundo inteiro serão contados em conjunto. O resultado pode ser informado através da urna disponível no site www.worldschildrensprize. org, por e-mail para prize@ worldschildrensprize.org, pelo fax +46 159 108 60 ou pelo correio para WCPRC, Box 150, 647 24 Mariefred, Suécia. Em alguns países, as escolas enviam o resultado da Votação Mundial para os coordenadores do WCPRC em seu país de origem. Cerimônia do prêmio 2010 No dia 20 de Novembro, crianças de todo o mundo irão revelar quem é o seu Herói dos Direitos da Criança da Década. Se você quiser saber o resultado, confira www.worldschildrensprize.org. A cerimônia de premiação sempre se realiza no meio do mês de Abril, em memória à Iqbal Masih, do Paquistão, o primeiro agraciado com o WCPRC, que foi assassinado no dia 16 de Abril de 1995. O Herói da Década irá receber seu prêmio em Abril de 2010. 5. Exija respeito! Quando o seu país ratificou a Convenção dos Direitos da Criança da ONU – todos os países do mundo o fizeram, com exceção dos Estados Unidos e da Somália – seu país se comprometeu a fazer todo o possível para que os direitos da criança sejam respeitados. Seu país deve informar às pessoas, adultos e crianças, o que são os direitos da criança, numa linguagem acessível a todos. O WCPRC ajuda o seu país a fazer isto. Agora que você é especialista em direitos da criança, você pode lembrar e ensinar aos adultos o que são os direitos da criança em casa, na escola, para jornalistas e políticos. Você também pode expressar suas reivindicações, para que os direitos da criança sejam respeitados! Deixe que seus pais leiam essa revista. AMIGOS ADULTOS DE HONRA Há adultos especiais que são patronos do Prêmio das Crianças do Mundo. Eles são chamados de Amigos Adultos de Honra. Alguns são patronos em todo o mundo, outros em seus países. A Rainha Silvia foi a primeira Amiga Adulta de Honra. Entre eles estão Nelson Mandela, Graça Machel, o primeiro ministro Xanana Gusmão, do Timor Leste, o presidente e ganhador do prêmio Nobel da Paz José Ramos Horta, do Timor Leste, o ganhador do prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, a ex-chefe do Unicef Carol Bellamy, dos EUA, o ex-presidente do Conselho de Segurança da ONU e ex-assistente do secretário geral da ONU para crianças em situação de conflito armado, Olara Otunnu, Uganda, o chefe indígena Oren Lyons, da Nação Onondaga (EUA), o filósofo Ken Wilber, dos EUA e a top model e ex-refugiada Alek Wek, do Sudão e Reino Unido. Envie sugestões de pessoas que você gostaria de ver como um Amigo Adulto de Honra e apresente suas razões! O júri escolhe os candidatos ao prêmio As crianças do júri, que vêm de cerca de 15 países, são especialistas em Direitos da Criança a partir de sua própria experiência de vida. Elas foram, por exemplo, soldados-mirins, escravas, refugiadas ou crianças de rua. O júri infantil internacional de 2008 com a Rainha Silvia da Suécia, após a cerimônia do prêmio. Elas lutam pelos Direitos da Criança. Cada criança do júri representa todas as crianças do mundo que vivenciaram semelhantes violações aos Direitos da Criança, ou lutam por eles. Você pode aprender sobre diferentes aspectos dos Direitos da Criança lendo sobre as crianças do júri no suplemento da Votação Mundial e no www.worldschildrensprize.org. É difícil ser membro do júri. Milhões de crianças em todo o mundo vão ter uma amostra e aprender com a vida de cada uma das crianças do júri. Por isso, são as violações aos Direitos da Criança pelas quais você passou, ou a sua luta pelo respeito aos Direitos da Criança e sua história de vida, que decidem se você pode fazer parte do júri. As crianças do júri devem, se possível, representar todos os continentes e todas as principais religiões. A Rainha Silvia da Suécia. O Amigo Adulto de Honra Nelson Mandela sorri ao ler os quadrinhos sobre sua vida na revista O Globo. 7 4-7_om wcprc_spa,port.indd 7 09-03-26 08.25.10 Celebre os Direitos da C A Convenção dos Direitos da Criança da ONU consiste em 54 artigos. Abaixo apresentamos uma versão resumida. Nem todos os artigos são apresentados aqui. A Convenção na íntegra está disponível em: www.worldschildrensprize.org. Princípios Básicos da Convenção • Toda criança tem os mesmos direitos e o mesmo valor. • Toda criança tem direito a ter suas necessidades básicas satisfeitas. • Toda criança tem direito a proteção contra a violência e a exploração. • Toda criança tem direito a exprimir suas idéias e a ser respeitada. Artigo 1 Todos os menores de 18 anos, no mundo inteiro, têm esses direitos acima mencionados. illustr ation: lot ta mellgren/ester Artigo 2 Toda criança tem o mesmo valor. Toda criança tem os mesmos direitos. Nenhuma pode ser discriminada. Você não pode ser tratado/a de forma diferente por sua aparência, cor de pele, sexo, língua, religião e opinião. Artigo 3 Aqueles que tomam decisões que afetam as crianças devem, antes de tudo, pensar no que é melhor para elas. Artigo 6 Você tem o direito à vida e a um desenvolvimento saudável. Artigo 7 Você tem direito a um nome e a uma nacionalidade. Artigo 9 Você tem direito a viver com seus pais, desde que isso não seja prejudicial à você. Você tem direito de crescer, se possível, na companhia dos seus pais. Artigos 12–15 Toda criança tem direito de dizer o que pensa. As crianças devem ser consultadas e sua opinião deve ser respeitada em todas as decisões que lhe dizem respeito: no lar, na escola, junto às autoridades e nos tribunais. Artigo 18 Seus pais têm a responsabilidade conjunta pela sua educação e desenvolvimento. Eles devem sempre pensar no que é melhor para você. Artigo 19 Você tem direito à proteção contra toda forma de violência, contra os maus tratos e os abusos. Você não pode ser explorado por seus pais ou outros responsáveis pela sua tutela. Artigos 20–21 Você, que foi privado/a do convívio familiar, tem direito a receber proteção especial. 8 8-9_barnensrattigheter_spa,port.indd 8 09-03-26 08.33.57 20 de Novembro é um dia de comemoração para todas as crianças do mundo. Em 1989, nesta data, a ONU aprovou a CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA, que celebra seu 20° aniversário este ano! Ela também é chamada de CONVENÇÃO DA CRIANÇA e se destina a você e a todas as crianças menores de 18 anos. Todos os países, com exceção da Somália e dos EUA, ratificaram (se comprometeram a seguir) a Convenção da Criança. Isso significa que eles são obrigados a levar em consideração os direitos da criança e escutar o que as crianças têm a dizer. Eu exijo respeito aos direitos da criança! a Criança Artigo 22 Se você for obrigado/a a fugir do seu país natal, terá os mesmos direitos que as crianças do país que o/a receber. Se tiver fugido sozinho/a, terá direito à ajuda especial. Se possível, você será reunido/a à sua família. Artigo 23 Toda criança tem direito a uma vida digna. Se você é portador de uma deficiência, tem direito a cuidados especiais. Artigo 24 Caso fique doente, tem direito a receber a ajuda e o tratamento médico necessários. Artigos 28–29 Você tem direito a ir à escola e aprender conhecimentos importantes, como por exemplo, o respeito pelos direitos humanos e por outras culturas. Artigo 30 As idéias e crenças de todas as crianças devem ser respeitadas. Você, que faz parte de algum grupo minoritário, tem direito à sua língua, cultura e religião. Artigo 31 Você tem direito a brincar, a descansar, ao tempo livre e a um meio ambiente saudável. Artigo 32 Você não pode ser forçado/a a realizar trabalhos perigosos e prejudiciais à saúde, ou que prejudiquem seu desempenho escolar. Artigo 34 Você não pode ser explorado/a ou obrigado/a a se prostituir. Se for maltratado/a, terá direito à ajuda e proteção. Tribuna infantil Artigo 35 Ninguém tem direito a raptálo/a ou vendê-lo/a. Artigo 37 Você não pode ser castigado de forma cruel e humilhante. Artigo 38 Você não pode ser recrutado/a como soldado e participar de conflito armado. Artigo 42 Toda criança e adulto devem conhecer a Convenção dos Direitos da Criança. Você tem direito a receber informação e a conhecer os seus direitos. Pelos direitos da criança 9 8-9_barnensrattigheter_spa,port.indd 9 09-03-26 08.36.03 Como estão as crian Sobrevivência e desenvolvimento 2,2 BILHÕES DE CRIANÇAS MENORES DE 18 ANOS 80 milhões destas crianças vivem na Somália e nos Estados Unidos, países que não se comprometeram a respeitar os direitos da criança. Todos os demais assumiram o pacto de defender esses direitos. Nome e nacionalidade Ao nascer, você tem o direito de receber um nome e ser registrado como cidadão do seu país natal. Todos os anos, 136 milhões de crianças nascem no mundo. Porém, cerca de 48 milhões nunca são registradas. Isso significa que não há nenhum documento que prove sua existência! Toda criança tem direito à vida. Os países que ratificaram a Convenção dos Direitos da Criança devem se esforçar ao máximo para que as crianças sobrevivam e se desenvolvam. 1 em cada 14 crianças (1 em cada 7 nos países mais pobres) do mundo morre antes de completar cinco anos, na maioria das vezes, devido a doenças que poderiam ser evitadas. Saúde e atendimento médico Você tem direito a uma alimentação saudável, à ter acesso à água potável e receber atendimento médico. Todos os dias, 25.000 crianças menores de cinco anos morrem (9,2 milhões anualmente) de doenças causadas pela fome, falta de água potável, assistência médica e condições inadequadas de higiene. A vacinação contra as doenças infantis mais comuns salva 3 milhões de vidas todo ano. Entretanto, 1 em cada 5 crianças nunca é vacinada. Todos os anos, 1,4 milhões de crianças morrem de doenças que poderiam ser prevenidas através de vacinas. 6 para cada 10 crianças dos 50 países mais pobres não têm acesso à água limpa. Todos os anos, 1 milhão de pessoas morrem de malária, a maioria são crianças. Somente 1 para cada 3 crianças recebe tratamento para malária e apenas 1 para cada 4 crianças nos países com malária dorme protegida por mosquiteiro. Casa, roupa, comida e segurança Você tem direito à moradia, alimentação, roupas, educação, atendimento médico e segurança. Mais da metade das crianças do mundo vivem na pobreza. Cerca de 700 milhões de crianças contam com menos de 1,25 dólar por dia para viver. Outras 500 milhões de crianças vivem com menos de 2 dólares por dia Crianças com necessidades especiais As crianças portadoras de deficiências têm os mesmos direitos que qualquer outra criança. Elas têm o direito de receber apoio e desfrutar de uma vida plena, que possibilite sua participação ativa na comunidade. As crianças portadoras de necessidades especiais estão entre as mais vulneráveis do mundo. Em muitos países, elas não podem frequentar a escola. Muitas são tratadas como se tivessem menos valor e são escondidas. Há 110 milhões de crianças com necessidades especiais no mundo. 10 10-11_jordensbarn_spa,port.indd 10 09-03-26 08.44.14 anças no mundo? Você tem o direito de viver em um ambiente seguro. Todas as crianças têm direito à educação, à assistência médica e a um padrão de vida decente. 60 milhões de crianças usam a rua como seu local de moradia. Outras 90 milhões trabalham e passam os seus dias nas ruas, retornando à casa de suas famílias ao final do dia. Trabalho infantil nocivo Você tem direito de receber proteção contra a exploração econômica e contra o trabalho prejudicial à sua saúde e/ou que o impeça de frequentar a escola. O trabalho é proibido para todas as crianças menores de 12 anos. Cerca de 240 milhões de crianças com idade entre 5 e 14 anos trabalham. Para 3 entre cada 4 delas, o trabalho é nocivo à sua segurança e saúde. Cerca de 8 milhões estão sujeitas às piores formas de trabalho infantil, como por exemplo, a escravidão por dívidas, a prostituição infantil ou as atividades militares. Todo ano, pelo menos 1,2 milhão de crianças são expostas ao ‘tráfico’, que é o comércio de escravos da atualidade. Proteção contra a violência Você tem direito à proteção contra qualquer forma de violência, negligência, maus-tratos e abusos. A cada ano, 40 milhões de crianças são agredidas tão brutalmente que precisam de tratamento médico. 23 países no mundo proibiram qualquer forma de punição física às crianças. Assim, apenas 3 para cada 100 crianças estão protegidas contra a violência pela lei. Muitos países ainda permitem castigos físicos na escola. Crime e punição A prisão de crianças deve ser sempre o último recurso e pelo menor tempo possível. Nenhuma criança deve ser submetida à tortura ou qualquer outra forma de tratamento cruel. Crianças que cometem crimes devem receber assistência e ajuda. Crianças não devem ser punidas com prisão perpétua ou pena capital. Pelo menos 1 milhão de crianças estão em prisões. Crianças presas são frequentemente maltratadas. Você tem direito à proteção e assistência humanitária em casos de guerra ou refúgio. Crianças vítimas de conflito e refugiadas têm os mesmos direitos que qualquer outra criança. Nos últimos 15 anos, pelo menos 2 milhões de crianças morreram em guerras. 6 milhões sofreram lesões físicas graves. 10 milhões de crianças sofreram danos psicológicos graves. Um milhão perderam os pais ou foram separadas deles. 300.000 crianças foram usadas como soldados, carregadores ou cavadores de minas (Todos os anos, 2.500 crianças morrem ou são feridas por minas.) Pelo menos 25 milhões de crianças tiveram que fugir de suas casas e países. Crianças de povos autóctones e minorias Crianças de grupos minoritários ou de povos autóctones têm direito a ter uma língua, cultura e religião próprias. Povos autóctones são, por exemplo, os índios das Américas, os aborígines da Austrália e os lapões do norte da Europa. Os direitos das crianças pertencentes aos povos autóctones e às minorias são frequentemente violados. Seus idiomas não são respeitados, elas são humilhadas e discriminadas. Muitas dessas crianças não têm acesso à assistência médica. Escola e educação Você tem o direito de frequentar a escola. O ensino básico deve ser gratuito para todos. Mais de 8 entre cada 10 crianças no mundo frequentam a escola. Porém, 101 milhões de crianças nunca puderam iniciar sua vida escolar. 150 milhões de crianças interrompem os estudos antes da quinta série. A SUA VOZ DEVE SER OUVIDA! Você tem o direito de dizer o que pensa sobre todas as questões que lhe dizem respeito. Os adultos devem ouvir as opiniões das crianças antes de tomar decisões e sempre considerar o que é melhor para elas. É esta a situação no seu país e no mundo hoje? Você e as demais crianças do mundo é que podem responder! TEXTO: SOFIA KLEMMING ILUSTR ACIÓN: LOT TA MELLGREN/ESTER Crianças que vivem nas ruas Proteção na guerra e na fuga 11 10-11_jordensbarn_spa,port.indd 11 09-03-26 08.45.26 THE WCPRC AWARD CER WELCOME! VÄLKOMMEN! ¡BIENVENIDOS! BEM VINDOS! BIENVENUE! CHAO A MUNG ! AO A rainha Silvia e os membros do júri infantil assistem à performance da Hanói College of Art, do Vietnã, que apresenta a dança do leão, na cerimônia do prêmio, no Castelo de Gripsholm, em Mariefred, Suécia. O prêmio das 6,6 milhões de crianças votantes THE GLOBAL FRIENDS’ AWARD e o prêmio do júri infantil O PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE SOMALY MAM A rainha Silvia entregou o Prêmio dos Amigos Mundiais e o Prêmio das Crianças do Mundo à Somaly Mam, que foi ao palco acompanhada de Sina Van e Sry Pov Chan. O PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO 6.593.335 crianças menores de 18 anos participaram da Votação Mundial 2008 e escolheram Somaly Man, do Camboja, para receber seu prêmio. Depois de ter sido ela própria escrava sexual quando criança, Somaly dedicou os últimos 13 anos a libertar meninas da escravidão sexual, oferecendo-as reabilitação e educação. O júri infantil internacional também apontou Somaly para receber seu prêmio. THE WORLD’S CHILDREN’S HONORARY AWARD O PRÊMIO DE HONRA DAS CRIANÇAS DO MUNDO JOSEFINA CONDORI A rainha Silvia aplaude Josefina, que recebeu o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo acompanhada de Luz Garda e Sayda Teran. Josefina é homenageada por sua luta de 15 anos em defesa das meninas que trabalham como empregadas domésticas no Peru, muitas vezes em condições semelhantes à escravidão. 12 12-13_priscermonin_spa,port.indd 12 09-03-26 08.54.51 EREMONY 2008 CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO WCPRC 2008 FOTO: ELIN BERGE Umbono, da África do Sul, se apresentou durante a cerimônia de premiação. Os membros do júri Nga Thai Thi, do Vietnã, Laury Petano, da Colômbia, Maïmouna Diouf, do Senegal, e Rebeka Aktar, de Bangladesh, ao lado do representante das 6,6 milhões de crianças votantes, Tommy Rutten, dos EUA, durante a cerimônia. OS Depois que o júri infantil exigiu respeito aos direitos da criança durante a cerimônia, a rainha Silvia disse: – Eu também exijo respeito aos direitos da criança! – Esta é uma cerimônia muito importante, quase uma cerimônia do Prêmio Nobel das crianças, continuou a rainha. Performance do Hanoi College of Art. Omar Bandak, da Palestina e Ofek Rafeli, de Israel são membros do júri infantil internacional. The World’s Children’s Honorary Award Agnes Stevens O PRÊMIO DE HONRA DAS CRIANÇAS DO MUNDO Agnes Stevens foi ao palco acompanhada de Ed Korpie e Brianna Audinett para receber o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo, entregue pela rainha Silvia. Agnes foi laureada porque, através de sua organização School on Wheels, luta há mais de 20 anos pelos direitos de mais de um milhão de crianças sem teto nos EUA. 13 12-13_priscermonin_spa,port.indd 13 09-03-26 08.56.53 8 0 0 2 – 0 200 Homenageados – Prêmio de Honradas Crianças do Mundo Desde o início do Prêmio das Crianças do Mundo pelos Direitos da Criança no ano 2000, 14 homenageados com o prêmio foram agraciados com o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo, pelos esforços extraordinários que empreenderam na defesa dos direitos das crianças. Essas pessoas não estão incluidas na votação do Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009. Você pode ler mais a respeito dos homenageados com o prêmio de honra e suas ações em defesa das crianças no www.worldschildrensprize.org. Anne Frank Hector Pieterson Barefoot College Movimento das Crianças pela Paz 2000 2004 No primeiro ano, três crianças, entre bilhões que tiveram seus direitos violados durante o século 20, foram homenageadas postumamente (após a morte). As duas crianças agraciadas com o prêmio de honra foram Anne Frank, Holanda, e Hector Pieterson, África do Sul. Anne Frank morreu em um campo de concentração na Alemanha em Março de 1945. Hector Pieterson foi assassinado aos 12 anos, em Soweto, na África do Sul, no dia 16 de Junho de 1976. Liz Gaynes e Emani Davis, EUA, que há 25 anos atuam em defesa dos direitos dos filhos de presidiários. 2001 Casa Allianza Pastoral da Criança Paul e Mercy Baskar Liz Gaynes e Emani Davis Ana María Marañon de Bohorquez Jetsun Pema Cynthia Maung Inderjit Khurana Josefina Condori Agnes Stevens Barefoot College, Índia, pelos seus esforços pioneiros em 35 anos, que incluem a criação do Parlamento das Crianças e das escolas noturnas no Rajastão. Movimento das Crianças pela Paz, Colômbia, que mobiliza crianças para protestar contra a guerra e coordena atividades para trazer alegria à elas. 2005 Ana María Marañon de Bohorquez, Bolívia, que há quase 25 anos luta pelas crianças que vivem nas ruas de Cochabamba. 2006 Jetsun Pema, Tibete. A irmã do Dalai Lama trabalha há quase 45 anos pelos direitos das crianças refugiadas. 2007 Cynthia Maung, Birmânia, que luta há 20 anos pela saúde e educação de centenas de milhares de crianças refugiadas; tanto aquelas que vivem sob uma ditadura militar em Birmânia, quanto aquelas em campos de refugiados na Tailândia. Casa Allianza, América Central, que trabalha em favor das crianças de rua. Inderjit Khurana, Índia, que há 23 anos dirige mais de cem escolas e duas linhas telefônicas de auxílio para algumas das crianças mais pobres da Índia, que vivem e trabalham nas plataformas das estações de trem. 2002 2003 2008 Os 155.000 voluntários da Pastoral da Criança, Brasil, que trabalha para reduzir a mortalidade infantil e a desnutrição entre as crianças pobres. Josefina Condori, Peru, que há 15 anos luta pelas meninas que trabalham como domésticas, muitas vezes em condições semelhantes à escravidão. 2004 Agnes Stevens, EUA, que junto com sua organização, School on Wheels, luta há 20 anos pelos direitos das crianças sem-teto nos EUA. Paul e Mercy Baskar, Índia, que durante 25 anos lutaram contra o trabalho infantil de risco. 14 14-15_pristagarna_spa,port.indd 14 09-03-26 09.11.46 Há 13 candidatos à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009, que serão homenageados na Década da Votação Mundial, do dia 15 de Abril até 25 de Outubro de 2009. No dia 20 de Novembro, no aniversário de 20 anos da Convenção dos Direitos da Criança da ONU, crianças em todo o mundo irão revelar o nome do Herói da Década. As histórias dos nomeados e das crianças pelas quais eles lutam foram extraídas dos anos anteriores, quando os candidatos receberam o Prêmio dos Amigos Mundiais, das crianças votantes, ou o Prêmio das Crianças do Mundo, dos membros do júri. Isso significa, que hoje essas crianças são mais velhas do que eram nas histórias. Você pode ler mais sobre os nomeados e as crianças pelas quais eles lutam no www.worldschildrensprize.org. Nomeados à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 2000 2003 Iqbal Masih, Paquistão (póstumo). Iqbal foi uma criança escrava por dívida de uma fábrica de tapetes. Ele foi reverenciado por sua luta em prol dos direitos das crianças escravas por dívida. Iqbal foi assassinado no dia 16 de Abril de 1995. Páginas 16–20 Maggy Barankitse, Burundi. Maggy salvou dezenas de milhares de crianças órfãs da guerra que devastou o Burundi, e ofereceu a elas um lar, amor e acesso à escola, nos últimos 15 anos. Páginas 36–40 2001 Asfaw Yemiru, Etiópia. Asfaw era uma criança de rua aos 09 anos. Aos 14 anos, abriu sua primeira escola para crianças de rua debaixo de uma árvore de carvalho. Desde então, ele devota sua vida há quase 50 anos para oferecer às crianças mais vulneráveis da Etiópia uma chance de ir à escola. Páginas 21–25 2002 Nkosi Johnson, África do Sul (póstumo). Nkosi lutou pelos direitos das crianças que sofrem com o HIV/AIDS até sua morte aos 12 anos de idade. Páginas 26–30 Maiti Nepal Maiti luta contra o tráfico de meninas pobres do Nepal para a Índia, onde elas são forçadas a trabalhar como escravas sexuais em bordéis, e que reabilita meninas vítimas deste tráfico. Páginas 31–35 14-15_pristagarna_spa,port.indd 15 James Aguer, Sudão James libertou milhares de crianças sequestradas e vítimas do trabalho escravo no Sudão nos últimos 20 anos. James já foi preso 33 vezes e dois de seus colegas foram assassinados. Páginas 41–45 2004 Prateep Ungsongtham Hata, Tailândia. Prateep foi uma criança trabalhadora aos 10 anos. Desde que abriu sua primeira escola aos 16 anos, ela se dedica há quase 40 anos à luta para oferecer às crianças mais necessitadas a chance de ir à escola. Páginas 46–50 2005 Dunga Mothers, Quênia. 20 mães no Quênia lutam há 12 anos pelos direitos das crianças órfãs da AIDS de frequentarem a escola, terem uma casa, alimentação, amor e seus próprios direitos respeitados. Páginas 51–55 Nelson Mandela, África do Sul, Graça Machel, Moçambique. Mandela pela sua vida de luta pelos direitos iguais para todas as crianças da África do Sul e seu trabalho em defesa dos direitos das crianças. Machel pelos seus 25 anos de luta pelos direitos das crianças vulneráveis de Moçambique, em especial pelos direitos das meninas. Páginas 56–63 Iqbal Masih Asfaw Yemiru Nkosi Johnson Maiti Nepal Maggy Barankitse James Aguer Prateep Ungsongtham Hata Dunga Mothers Nelson Mandela e Graça Machel Craig Kielburger AOCM Betty Makoni 2006 Craig Kielburger, Canadá. Craig fundou a organização “Free the Children” aos 12 anos. Ele luta pelo direito das crianças e adolescentes de serem ouvidos e para libertar crianças da pobreza e de violações aos seus direitos. Páginas 64–68 AOCM, Ruanda. AOCM reúne 6000 pessoas órfãs vítimas do genocídio em Ruanda, que ajudam umas as outras a sobreviver, compartilhando comida, roupas, educação, um lar, cuidados com a saúde e amor. Páginas 69–73 2007 Betty Makoni, Zimbabwe. Através da Girl Child Network, Betty encoraja meninas à reinvidicarem seus direitos, apóia aquelas expostas ao abuso e protege outras do casamento forçado, do tráfico e da exploração sexual. Páginas 74–78 Somaly Mam 2008 Somaly Mam, Camboja. Somaly, que após ter sido uma escrava sexual quando criança, se dedica há 13 anos a libertar meninas da escravidão sexual, e oferece à elas reabilitação e educação. Ela foi punida pelo trabalho que realiza quando sua filha de 14 anos foi sequestrada, drogada, estuprada e vendida para um bordel. Páginas 79–83 15 09-03-26 09.13.16 NOMEADO • Páginas 16–20 Iqbal Masih Por que Iqbal é nomeado? Iqbal Masih, do Paquistão, é nomeado postumamente (após sua morte) como Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta pelos direitos das crianças escravas por dívida. Muito cedo, Iqbal se tornou escravo por dívida de um dono de uma fábrica de tapetes, que o vendeu. Iqbal provavelmente tinha 5-6 anos quando começou a trabalhar na fábrica de tapetes. Ele trabalhava desde o início da manhã até à noite e geralmente era maltratado. Cinco anos depois, ele foi libertado da escravidão por dívida. Ele começou a estudar na escola da Bonded Labour Liberation Front (BLLF, organização para libertação dos escravos por dívida). Iqbal conversava com seus amigos que trabalhavam em fábricas de tapetes e discursava em reuniões. Ele encorajou muitas crianças que trabalhavam em tapeçarias a deixarem seus donos. Os donos ameaçaram Iqbal que, após receber um prêmio nos EUA, foi assassinado em 16 de abril de 1995. Em todo o mundo, ele é um símbolo da luta contra o trabalho infantil prejudicial. Iqbal Masih, ainda criança, quando se tornou escravo por dívida em uma fábrica de tapetes no Paquistão. Depois de cinco anos, ele foi libertado. Ele encorajou outras crianças para que também deixassem seus donos. Iqbal foi ameaçado pelos fabricantes de tapetes e assassinado em 16 de abril de 1995. Ele é um símbolo da luta contra o trabalho infantil e, em 2000, recebeu postumamente (após sua morte) o primeiro Prêmio das Crianças do Mundo, que também tem outro nome em memória de Iqbal: Prêmio Iqbal Masih. I qbal tem cerca de cinco anos no seu primeiro dia de trabalho na fábrica de tapetes. Mais tarde, quando sua mãe, Anayat, precisa de dinheiro para uma cirurgia, ela pega um empréstimo com Ghullah, fabricante de tapetes. O empréstimo, chamado “peshgi”, é feito no nome de Iqbal. Isso significa que Iqbal deve 5.000 rúpias à Ghullah, o preço da cirurgia de sua mãe. Agora Iqbal é escravo por dívida e Ghullah toma as decisões sobre sua vida. Quando Iqbal chega em casa de volta da fábrica de tapetes, ele cai na cama e adormece. Às vezes, Ghullah o acorda por volta de meianoite. – Temos uma entrega de tapete que precisa ficar pronta. Levante-se logo. Por causa da dívida peshgi Iqbal tem que ir, e Ghullah o arrasta, ainda meio dormindo, pelas ruas estreitas até a fábrica de tapetes. Se Iqbal adormece durante o trabalho, ele é acordado com um golpe de um garfo do tear. Iqbal foge Um dia, um garotinho da fábrica de tapetes está com febre alta. O dono, Ghullah, amarra os pés do garoto e o pendura de cabeça para baixo no ventilador de teto. – Aqui sou eu que decido quando vocês trabalham, grita Ghullah. Naquele momento, Iqbal decide que basta. Sempre que consegue, ele foge do trabalho. Iqbal e seus amigos costumam fugir quando Ghullah não está. Eles brincam o dia todo, sem se preocupar com o que os aguarda. Na manhã seguinte, Ghullah vai às suas casas buscá-los. Ele está muito bravo e bate nos meninos com o garfo do tear ou com o que tiver à mão. Depois ele – As crianças devem segurar lápis nas mãos, não ferramentas, Iqbal costumava dizer. No ano 2000, Iqbal recebeu o primeiro Prêmio das Crianças do Mundo, que também terá sempre outro nome em sua memória: Prêmio Iqbal Masih. Com frequência, Iqbal discursava em reuniões para crianças e adultos. 16 16-20_Iqbal_pakistan_spa,port.indd 16 09-03-31 09.36.47 Iqbal queria ser advogado e libertar as crianças das fábricas de tapetes. os acorrenta. Pode demorar até dois dias para que ele os solte. Finalmente livre! Numa manhã de outubro de 1992, Iqbal foge do trabalho. Ele sobe na plataforma de um trator onde já há muitos adultos e crianças sentados. Uma hora depois, eles chegam para a reunião da BLLF (Organização para libertação dos escravos por dívida). É a primeira vez que Iqbal vê o líder da BLLF, Ehsan Ullah Khan. Ele ouve atentamente quando Eshan conta sobre a lei contra a escravidão por dívida. Ehsan pede à Iqbal para contar às outras crianças sobre suas experiências. No início, Iqbal se envergonha, mas depois ele vai até o microfone. Iqbal com um de seus muitos amigos na Suécia. Iqbal recebe uma “Carta de libertação” de Ehsan. Na carta está a lei que proíbe a escravidão por dívida e as penas previstas para os exploradores de escravos por dívidas. O problema no Paquistão é que a lei não é cumprida e a polícia e o tribunal geralmente não ajudam os pobres, mas sim os donos das tapeçarias. Ghullah se recusa a permitir que Iqbal deixe a fábrica de tapetes. Mas Ehsan não se esquece do menino, e pede a alguns de seus colegas de trabalho que descubram mais sobre Iqbal e ajudem a libertá-lo. Iqbal está radiante por poder frequentar a “Nossa própria escola”, como são chamadas as escolas da BLLF para crianças que foram escravas. Ele conta ao seus amigos e às crianças de outras fábricas de tapetes que eles não precisam ficar com seus donos. Na região de Muridke, primeiro centenas e depois milhares de Iqbal é ameaçado Agora Iqbal mora na BLLF em Lahore. A primeira vez que ele vem para casa visitar, o dono da fábrica de tapetes, Ghullah, diz: - Você tem que voltar a trabalhar. Assim, as outras crianças também voltarão. Mas Iqbal se recusa. Um outro fabricante de tapetes ameaça a mãe de Iqbal, dizendo que vai raptála e a Iqbal, se o menino não voltar a trabalhar ou não pagar a dívida que o tornou escravo. Um terceiro fabricante de tapetes diz a Sobia, a irmã mais nova de Iqbal: – Seu irmão anda pelas redondezas como um juiz, quando vem para casa. Mas um dia nós o pegamos. – Cale a boca, velho, diz Sobia, que nunca antes havia ousado dizer algo assim a um adulto. – Cuidado, senão mataremos você também, responde o fabricante de tapetes. TEXTO: MAGNUS BERGMAR FOTO: ANDERS KRISTENSSON & MATS ÖHMAN os, al crianças deixam as fábricas de tapetes. Iqbal discursa nas reuniões. Ele sempre termina os discursos dizendo: – Nós somos... E todas as crianças completam: – LIVRES! Iqbal é assassinado Em outubro de 1994, Iqbal visita a Suécia. Ele conta para as crianças nas escolas como é a situação dos escravos por dívidas no Paquistão. Muitos jornais escrevem sobre ele, que também participa de vários programas de TV. Em dezembro de 1994, Iqbal viaja para os EUA, onde recebe um prêmio da Reebok por sua bela Iqbal apanhava com um garfo de tear e era acorrentado quando fugia, mas ele continuava tentando. 17 16-20_Iqbal_pakistan_spa,port.indd 17 09-03-26 09.42.36 Este é um trecho da história em quadrinhos “Iqbal, o garotinho dos tapetes”, por Magnus Bergmar e Jan-Ake Winqvist. (ANN, please write Jan names correct can’t find the signs here) A história em quadrinhos na íntegra, você pode ler no www.worldschildrensprize.org Que isso sirva de lição para vocês também! O médico disse que tenho que fazer uma cirurgia, mas não tenho dinheiro. Iqbal se aquece com um cachecol na escola, no inverno. luta pelos direitos das crianças escravas por dívidas. Iqbal também é “Person of the week” (Pessoa da semana), em uma das maiores emissoras de TV dos EUA. Iqbal volta ao Paquistão. Na manhã da Páscoa, 16 de abril de 1995, ele toma o ônibus para casa, em Muridke. À noite, ele vai junto com seus parentes Lyaqat e Faryad Masih, levar comida para o pai de Lyaqat, que está irrigando o campo. Os três vão na mesma bicicleta. São oito da noite e está escuro. Quando os meninos estão na metade do caminho, ouvem-se dois tiros que matam Iqbal. Faryad não sabe escrever e, por isso, na noite do crime, ele deixa sua impressão digital na parte inferior de um papel em branco. Depois a polícia escreve o que quer e afirma que Faryad assinou que é a verdade. Na manhã seguinte, o pobre agricultor Ashraf Hero é preso pelo assassina- Anda logo, Shafiq, o jogo já vai começar! Chega a noite… O primeiro dia de trabalho terminou… Aqui sou eu quem decide! Mas eu trabalho, mamãe. Meu dinheiro não é suficiente? Não, preciso pedir peshgi à Ghullah. Ghullah, preciso fazer uma cirurgia e comprar remédios. Posso contrair um peshgi por Iqbal? É sexta-feira, o único dia de folga dos meninos. Dois times se reuniram no espaço aberto entre o canal e as casas. Iqbal esperou ansioso uma semana inteira por esse jogo de cricket… Nos próximos anos, Iqbal trabalhará no mínimo 12 horas por dia, 6 dias por semana… Peshgi é a dívida que faz de Iqbal um escravo de Ghullah… Aqui estão 6000 rúpias! Cada time coleta junto o dinheiro… Os vencedores ficam com tudo! Iqbal, Shafiq e Rafiq, venham trabalhar! Temos que terminar um tapete! No meio da noite, Ghullah vai à casa de Iqbal e o tira da cama… Mesmo sendo o dia de folga, os meninos não podem recusar. Eles são escravos por dívida, e quem manda é Ghullah… Ele precisa dormir! Isso pode esperar! Temos que terminar o trabalho! Irmão, vamos brincar? …mas hoje não vai haver jogo para Iqbal… Não Sobia, não tenho energia… Iqbal, por causa do peshgi tenho que deixá-lo levar você! 18 16-20_Iqbal_pakistan_spa,port.indd 18 09-03-26 09.44.28 s Iqbal está tão cansado que adormece durante o trabalho… Na manhã seguinte, Ghullah busca Iqbal em casa… to de Iqbal. A polícia o tortura. Eles o penduram de cabeça para baixo e o espancam com varas e cintos de couro. – Você vai dizer que matou o garoto Iqbal e contar o que nós vamos lhe dizer. Senão, mataremos você e toda sua família. Você é pobre e não vale nada. Ninguém se importa com o que fazemos com você, ameaça a polícia. Como punição pela fuga, os meninos são acorrentados ao tear… Iqbal pensa constantemente sobre como sua vida é dura, mas não encontra nenhuma forma de se libertar… Todos os meninos na fábrica são escravos por dívidas. Ninguém tem um peshgi, como se chama a dívida, menor do que quando começou a trabalhar para Ghullah. Após cinco anos na fábrica, as coisas ficarão ainda piores para Iqbal... Um dia, um homem passa por lá e conversa com os escravos da tapeçaria… Meu nome é Yousuf! O peshgi, a dívida que os tornam escravos, é ilegal. Venham a uma reunião da Frente de Libertação dos Escravos por Dívida, BLLF, amanhã e saberão mais! Cuidado! O dono está chegando! Vocês sabem o que irá acontecer se deixarem o trabalho! Iqbal desafia a advertência do dono e participa da reunião… Olá, não nos vimos ontem? o … Sim... Quando Iqbal visita sua vila natal, ele conversa com as crianças em outras fábricas de tapetes. Agora muitos ousam largar seus donos… Arshad Ghullah vai à casa de Iqbal… Você tem que voltar a trabalhar, senão os outros também não trabalham! Não tenho tempo para você! Cuidado! Agora Arshad é seu inimigo! Não tenho mais medo dele. Ele deveria ter medo de mim! A mentira se espalha A Comissão de Direitos Humanos do Paquistão afirma que o relatório policial está correto e que o inocente Hero é o assassino. Como consequência, a mentira se espalha por todo o mundo através de embaixadores e jornalistas sem questionamentos. A Comissão de Direitos Humanos também alega, sem nenhuma evidência, que o assassinato não tem nada a ver com o fato de que Iqbal desafiou os fabricantes de tapetes. Hero é escondido. Ninguém tem permissão para se encontrar com ele. Mesmo assim, ele é absolvido no julgamento. A polícia escreve, entre outras coisas, que Hero, que nunca antes havia segurado uma espingarda, por acaso acertou apenas Iqbal ao disparar um tiro na direção dos meninos. Na verdade, Iqbal foi atingido por 120 estilhaços nas costas, enquanto os outros dois meninos juntos foram atingidos por apenas 2 estilhaços. Era Iqbal o alvo do assassino, e ele levou um tiro nas costas ao tentar fugir. – Iqbal me disse que queria ser um grande advogado, lembra Sobia, que tinha dez anos quando o irmão mais velho foi assassinado. Ele queria libertar as crianças das fábricas de tapetes e oferecer educação, para que os filhos dos pobres pudessem ter um futuro melhor.” 19 16-20_Iqbal_pakistan_spa,port.indd 19 09-03-26 09.47.47 Iqbal discursa nas reuniões da BLLF onde escravos libertados se encontram… Nós somos… …LIVRES!!! Escravos modernos Há cerca de 240 milhões de crianças trabalhadoras, com idade entre 5 e 14 anos no mundo de hoje. Para cada quatro crianças, três executam trabalho infantil prejudicial, que é um tipo de trabalho que impede a criança de frequentar a escola e atrapalha sua saúde e desenvolvimento. Mais de 8 milhões de crianças são obrigadas a trabalhar das piores formas, tornando-se escravas por dívida, soldados ou sendo prostituídas. Todos os anos, pelo menos 1,2 milhão de crianças são expostas ao « tráfico », que é a escravidão moderna. Iqbal foi uma “criança escrava moderna”. Há crianças escravas modernas em países como o Paquistão, Índia, Nepal, Camboja, Sudão e até mesmo na Europa. A maioria delas é escrava por dívida, porém há outros tipos de escravos como as meninas da África Ocidental, que são escravas domésticas. Você é um escravo moderno se o seu empregador tem tal poder sobre você que o obriga a trabalhar para ele ou ela. O Paquistão e a maioria dos outros países têm leis que proíbem a escravidão por dívidas e o trabalho infantil. Porém, as leis geralmente não são cumpridas. Todos os países onde há crianças escravas ratificaram a Convenção dos Direitos da Criança da ONU e, supostamente, deveriam proteger suas crianças de realizar trabalhos que lhes sejam prejudiciais. Mais tarde, no mesmo dia, Iqbal encontra seus parentes Faryad e Lyaqat… Vamos de bicicleta levar comida para Amanat no campo! IQBAL! De repente… Assim morreu Iqbal Masih, o menino que no mundo todo é símbolo da luta contra o trabalho infantil prejudicial… “O ex-escravo por dívidas, o menino Iqbal Masih, que lutava pelos direitos da criança no Paquistão está morto!” Na delegacia, na mesma noite do assassinato… Faryad tem que deixar suas impressões digitais em um papel em branco. Depois a polícia escreve o que afirma que ocorreu… A notícia se espalha por todo o mundo… 20 16-20_Iqbal_pakistan_spa,port.indd 20 09-03-26 09.49.33 NOMEADO • Páginas 21–25 Asfaw Yemiru Aos nove anos, Asfaw Yemiru vivia sozinho como um menino de rua na capital da Etiópia, Adis Abeba. Com 14 anos, ele abriu a sua primeira escola. Hoje, aos 66 anos, ajuda dezenas de milhares de crianças pobres a frequentar a escola e adquirir uma vida melhor. – Asfaw é um homem muito humilde. Sua única riqueza são seus alunos, comenta Behailu Eshete, que frequentou a primeira turma da escola de Asfaw, há 52 anos. A história de Asfaw tem início aos nove anos de idade, quando ele vigiava as cabras do seu pai. Seu pai tinha decidido que Asfaw iria começar a frequentar a escola do padre de sua aldeia daqui a alguns dias. Entretanto, Asfaw não estava interessado. Ele havia visitado a capital, Adis Abeba, com o seu pai e desejava voltar lá desde então. Acreditava poder ter uma vida muito melhor em Adis Abeba, do que se permanecesse na aldeia com os seus onze irmãos e vigiando as cabras. Mas, Adis Abeba é muito distante e Asfaw sabia que seu pai e sua mãe não concordariam nunca que ele se mudásse. – Costuma levar mais de dois dias para ir até a cidade montado no jumento, eu levarei muito mais tempo para ir andando, pensou. Na manhã seguinte bem cedo, ele partiu para Adis Abeba. Trabalho e escola Quando ele passou pela igreja St. George, em Adis Abeba, ele viu uma porção de crianças pobres e órfãs. Como ele não tinha nenhum dinheiro, também entrou na igreja. Asfaw passou a noite lá, e permaneceu a noite seguinte. Asfaw começou a trabalhar como carregador. Às vezes, não tinha o que comer por vários dias. Como muitas outras crianças, Asfaw começou a frequentar a escola do padre na igreja, quando não trabalhava. Ele aprendia com rapidez e os padres o ajudaram a se matricular numa escola católica. Um dia, uma mulher muito rica passou pela igreja, carregando uma cesta grande cheias queijo. Um dos As crianças também aprendem agricultura e outras atividades práticas que podem ajudá-las no seu próprio sustento. Melhores resultados nas provas finais A Etiópia é um dos países mais pobres do mundo. Seus habitantes são vítimas de guerras e secas frequentes, que já causaram a morte de milhões de pessoas por inanição. Mais da metade de sua população tem menos de 15 anos. Quase dois terços do povo etíope não sabe ler nem escrever. Os seis primeiros anos da escola são gratuitos e obrigatórios. Porém menos da metade das crianças de todo o país começa a escola. Somente uma em cada dez crianças continua o estudo até a sexta série. É comum as turmas terem até cem alunos. Há muitos anos, a escola Moya de Asfaw obtém os melhores resultados nas provas finais das oitavas séries de toda a Etiópia. Há muitas razões para isso. Nas escolas de Asfaw há somente 30 crianças por turma, as crianças pobres são muito motivadas a aprender, o castigo físico é banido e a atmosfera na escola é agradável. POR QUE ASFAW É NOMEADO? Asfaw Yemiru é nomeado à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 porque há mais de 45 anos, desde que ele tinha 14 anos, devota todo o seu tempo e energia para lutar pelos direitos das crianças mais vulneráveis. Asfaw acredita que a educação é o único caminho para ajudar crianças pobres a terem uma vida melhor. Ele abriu sua primeira escola para crianças moradoras de rua em 1957, quando tinha 14 anos, depois dele mesmo ter sido um morador de rua aos 9 anos, quando vivia como uma criança trabalhadora. Dezenas de milhares de crianças pobres tiveram acesso à educação nas escolas de Asfaw. Ele também ofereceu apoio às suas famílias, provendo leite e recursos financeiros. As escolas de Asfaw são gratuitas e ninguém tem que pagar pelos livros didáticos ou comprar uniformes escolares. O castigo físico sempre foi proibido nas escolas de Asfaw, onde as crianças também aprendem sobre agricultura e desenvolvem outras habilidades práticas. A luta de Asfaw pelas crianças pobres tem sido longa e muitas vezes difícil. Ele já foi preso várias vezes. 21 21-25_Asfaw_Etiopien_spa,port.indd 21 09-03-30 06.57.56 TEXTO: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN ILUSTR AÇÃO: K ARIN SÖDERGREN Asfaw visita alguns de seus alunos em casa. queijos de caiu da cesta. – Com licença, senhora! Um dos queijos caiu, gritou Asfaw, correndo em direção a ela. A mulher o olhou atentamente e convidou-o para trabalhar e morar em sua casa. Asfaw aceitou e por três anos trabalhou na casa da mulher e dos seus dois filhos. Todos os dias, ele levantava antes do sol nascer, cortava lenha e buscava água, antes de correr para a escola. Mesmo acelerando, ele quase sempre chegava atrasado e era agredido pelos professores. Quando Asfaw chegava em casa da escola, ele se sentia cansado, contudo ainda havia mais trabalho a ser feito. Ele sempre se deitava muito tarde da noite. Comam menos! Asfaw concluiu os oito anos de escolaridade em apenas alguns anos. Quando realizou os exames de conclusão da oitava série, sua nota foi tão boa que ganhou uma bolsa de estudos na escola internato Wingate. Com 14 anos, Asfaw começou a estudar no Wingate. Ele adorava a escola, porém uma coisa o chateava. Sua escola ficava perto da igreja Paulos Petros, onde muitas crianças pobres e órfãs moravam. Um dia, enquanto Asfaw comia no refeitório, ele teve uma idéia. – Imagine se nós déssemos a comida que sobra para as crianças pobres, ao invés de jogá-la fora! Asfaw foi até o diretor imediatamente, que logo apoiou sua sugestão. Todos os dias, depois do almoço, Asfaw e seus colegas distribuiam comida às crianças com fome. Asfaw pediu aos seus colegas da classe para comer menos, assim sobraria mais comida para as crianças pobres. Muitos acharam boa a idéia, mas o provocavam um pouco. – Olhem só, lá vem aquele que quer nos ver famintos! gritavam e ríam. Asfaw recolhia roupas dos seus colegas na escola e dava para as crianças. Algumas das crianças pobres perguntam à Asfaw, se não podíam frequentar a escola assim como ele. Asfaw conversou com alguns colegas de classe e, eles mesmos resolveram tentar ensinar as crianças. Às quatro e meia do dia seguinte, Asfaw deu sua primeira aula ao ar livre, embaixo de um grande carvalho. A fama da escola de Asfaw embaixo da árvore se espalhou rapidamente e, a cada tarde, mais crianças pobres chegavam. Pare o Imperador! Quando Asfaw completou 17 anos e iniciava o último ano na escola Wingate, cerca de duzentas crianças frequentavam sua escola embaixo do carvalho todas as tardes. Asfaw tinha planos de continuar seus estudos na universidade, porém sentia que não podia abandonar todas aquelas crianças órfãs embaixo da árvore. Decidiu tentar construir Pare o imperador! Me dê terra para uma escola! Asfaw descalço (à esquerda) mostra sua nova escola ao imperador. 22 21-25_Asfaw_Etiopien_spa,port.indd 22 09-03-30 06.59.28 A longa caminhada Asfaw lidera 1 000 quilômetros de caminhada para angariar dinheiro para suas escolas. uma escola, onde as crianças poderiam morar e continuar seus estudos. Entretanto, ele não tinha nem dinheiro e nem um terreno. Um dia, o imperador da Etiópia, Haile Selassie, visitou a escola Wingate. A razão da visita era verificar como estavam indo as coisas para os alunos na melhor escola do país. Quando o imperador estava prestes a ir embora, Asfaw viu uma chance. Ele se jogou no chão diante do carro do imperador e gritou: – Dê-nos terra! Todos ficaram aterrorizados, imaginando o que aconteceria. O imperador saiu do carro e se aproximou de Asfaw. – Por que você precisa de terra? perguntou. – Quero construir uma escola para crianças pobres – Asfaw respondeu. Mais tarde, Asfaw recebeu um terreno grande do imperador atrás da escola Wingate. Ele pediu dinheiro emprestado ao diretor da Wingate e junto com as crianças, começaram a Muitos dos alunos de Asfaw moram em simples barracos de lata. construir a escola, para onde se mudou em companhia de 280 crianças órfãs. Longo caminho Dez anos após a inauguração da escola, Asfaw tinha 2 500 alunos e era “pai” de 380 crianças órfãs. Mas Asfaw tinha duas preocupações. A escola estava muito cheia e muitos dos seus alunos não encontravam trabalho depois de concluirem seus estudos. Então, Asfaw decidiu construir mais uma escola. Nesta escola, além de aprender matemática, inglês entre outras disciplinas, as crianças iriam aprender também sobre agricultura. Se as crianças aprendessem a plantar e a criar aves, Asfaw tinha esperanças de que elas conseguiriam sobreviver, mesmo se não encontrassem um trabalho. Como sempre, Asfaw não tinha dinheiro, mas teve uma idéia... – Nós vamos caminhar até Harar e daí voltamos!, disse ele aos seus alunos mais velhos. Asfaw em visita Quando tem dinheiro, Asfaw ajuda as famílias mais pobres, para que seus filhos possam ir à escola ao invés de trabalhar. Todo mundo achou que ele estava brincando, já que todos sabiam que Harar ficava a 500 quilômetros, atravessando o deserto, metade do caminho até a Somália. Asfaw explicou que iria enviar informações sobre a caminhada para organizações internacionais, empresas e pessoas ricas, para que financiassem a iniciativa. Eles caminharam por regiões montanhosas e estepes quentes como o fogo. Dormiram ao ar livre. Todo dia, alguns dos alunos desistiam e, ao final, restou somente Asfaw. Ele foi o único que caminhou todo o percurso de 1000 quilômetros. Asfaw usou a lista telefônica para escrever para as 5 000 pessoas mais ricas e empresas da Etiópia. Ele recebeu uma resposta! Afinal, o dinheiro começou a chegar, grande parte de amigos no exterior. Asfaw comprou um pedaço de terra, onde junto com seus alunos construíram mais uma escola. A vida de Asfaw tem sido uma longa e exaustiva caminhada para ajudar as crianças pobres. Durante governos anteriores, ele foi inclusive preso pelo seu trabalho. Dezenas de milhares de crianças tiveram acesso à educação nas escolas de Asfaw, desde que começou a ensinar crianças órfãs debaixo da árvore há 52 anos. Entretanto, muitas vezes Asfaw se sente triste por não poder ajudar mais crianças. A escola Asere Hawairat, de Asfaw, para turmas de primeira à quinta série. 23 21-25_Asfaw_Etiopien_spa,port.indd 23 09-03-30 07.00.35 Yewbneh engraxa sapatos e frequenta a escola dos pobres Yewbneh, 12 anos, caminha durante uma hora no período da seca até a escola de Asfaw, Asere Hawariat. Ele adora ir para a escola e o seu sonho é um dia ser médico. Y ewbneh passou o dia todo na escola. Depois trabalha engraxando sapatos por três horas. Suas costas doem, quando ele levanta e conta o dinheiro. Há dinheiro suficiente para um pedaço de pão e talvez algo a mais. O melhor amigo de Yewbneh, Wondimageni, também já terminou o trabalho e os dois caminham juntos de volta para casa. Quando chega em casa, Yewbneh pendura o seu casaco velho de trabalho. Há muita fumaça no ar do fogão à lenha, mas na casa de Yewbneh não haverá uma refeição quente esta noite. Mais uma vez. Vai ter pão. – Somos pobres. A vida é dura e é por isso que eu dei- xo você trabalhar todas as noites. Eu não gosto, mas o que eu posso fazer? diz a avó Fikirte com um suspiro. Yewbneh sempre morou com sua avó materna e seus filhos, porque seus pais já não estão mais vivos. – É bom morar com a minha avó, mas eu sempre fico triste quando penso nos meus pais. Não me lembro de como eram. Sem uniforme Depois da janta, Yewbneh vai para a sua pequena casa de barro marrom. Yewub, que é sua tia, já o está esperando. Eles fazem a lição de casa juntos todas as noites, embaixo da única lâmpada da casa. Dez adultos e sete crianças dividem dois quartos pequenos na casa de Yewbneh. Yewbneh faz a lição sob a única lâmpada da casa. Yewbneh considera Yewub como sua irmã. Todos os filhos da sua avó – e são muitos – se tornaram seu “irmão ou irmã”. Em dois quartos pequenos, moram dez adultos e sete crianças. – Se eu não estudar, nunca vou conseguir um trabalho decente. Serei pobre a vida toda – diz ele. Sua avó concorda. – É muito importante estudar e nós tivemos sorte. Quase todos os meus filhos tiveram a oportunidade de estudar gratuitamente nas escolas de Asfaw. Além disso, recebi dinheiro da escola todo o mês, para pagar a conta de eletricidade e comprar comida e outras coisas para as crianças. Eu nunca poderia pagar para as crianças frequentarem uma outra escola. Yewbneh sabe que é verdade. – Nos primeiros anos, a escola me dava 20 birr todo o mês para que eu pudesse continuar os estudos. Agora, não recebo o dinheiro com a mesma frequência porque a escola está sem condições de financiar isso. Porém, eu Yewbneh chama sua tia, Kebebush, de irmã. Aqui, ela mói o trigo. 24 21-25_Asfaw_Etiopien_spa,port.indd 24 09-03-30 07.01.39 ! k c a Sm Estalo! Logo que Yewbneh passa com o seu kit de engraxar sapato, um dos meninos golpeia com rapidez a bola, que está amarrada por uma corda na trave. Os próprios meninos confeccionaram a bola com sacos pláticos. Os meninos brincam de Tezer-ball e quando um deles erra, entra um novo jogador. Eles acenam para Yewbneh participar do jogo, mas ele nunca tem tempo. – Acho que todas as crianças deveriam poder brincar depois da escola, ao invés de precisar trabalhar, diz Yewbneh. Yewbneh ganha o suficiente para comprar pão, após um dia de trabalho como engraxate. ainda não preciso de pagar para frequentar a escola e nem de vestir uniforme. Ninguém teria dinheiro para comprar uniformes, diz Yewbneh. Gosto de inglês – Não estou certo de que irei me casar e ter fi lhos. Preciso primeiro achar um trabalho para poder sustentá-los. Se não puder, não quero ter filhos. Não quero que meus filhos sofram como eu, que tenho que estudar e trabalhar ao mesmo tempo. As crianças deveriam apenas estudar, diz Yewbneh. – Gostaria de ser médico. Na Etiópia, há muita gente pobre que não tem acesso a um médico. Gostaria de ajudá-los, diz ele. Alguém toca o sino, pendurado na árvore do lado de fora da sala de aula, e o intervalo acaba. O professor escreve alguma coisa no quadro negro. Vê-se escrito “Ele engraxa sapatos de tarde”, em inglês. – Ei, escrevi corretamente? pergunta. – Sim, está certo! toda a classe responde em coro. É a última aula do dia e Yewbneh, que está na quinta série, estuda inglês. Ele mira o quadro negro por um instante e depois escreve a frase no caderno. “He cleans shoes in the afternoon”. Longo caminho até a escola Quando as aulas terminam, Yewbneh conversa um pouco com os seus colegas, mas não pode ficar muito tempo. O caminho é longo para chegar em casa. No período da seca, leva mais ou menos uma hora. Quando chove, ele tem que andar na lama e aí ele gasta quase o dobro do tempo para chegar em casa. – Olá Yewbneh! grita sua “irmã”, Kebebush, que está moendo trigo no quintal, quando ele chega. Ele a cumprimenta, põe no chão a mochila marrom da escola e come um pedaço de pão, antes de vestir seu casaco azul de trabalho. Ele vai até a torneira e enche o balde de engraxar sapato. Daí então chega seu amigo, Wondimageni, e juntos vão embora andando pelo caminho. 25 21-25_Asfaw_Etiopien_spa,port.indd 25 09-03-30 07.05.18