um americano com alma brasileira

Transcrição

um americano com alma brasileira
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UM
AMERICANO
COM ALMA
BRASILEIRA
T
alvez você nunca tenha ouvido
f a l a r e m E r i c S i l v e r. M a s d e v e r i a , p o r q u e
provavelmente você já ouviu ao menos
uma música produzida ou/e de autoria
dele. Ou até algum CD do qual ele tenha
participado
como
instrumentalista.
Explico: por aqui Silver produziu, além
do extinto Rouge, o grupo NX Zero, e os
c a n t o r e s Tu l i o D e k e N a t h a l i a S i q u e i r a .
Nascido na Carolina do Norte, mas
r a d i c a d o e m N a s h v i l l e , n o Te n n e s s e e ,
este apaixonado pelo Brasil e pelo
jiu-jitsu é considerado, desde 2007, o
compositor americano mais gravado
em terras brasileiras, com mais de 60
canções gravadas por vários artistas.
Recentemente Eric participou do
programa “Country Star”, exibido pela
TV Bandeirantes, onde também foi o
co-produtor do CD do campeão, nesse
caso campeã, já que a
agraciada com tal produção
foi Nathalia Siqueira.
Navegando
pelo
p o p , c o u n t r y, r o c k , r a p e o
que mais vier pela frente,
pelo mundo Silver já andou
ancorando sua embarcação
em vários países e têm
muitas histórias no currículo.
Como
bom
multiinstrumentalista
que
se
preze
(violão,
guitarra,
mandolim, violino, banjo e
baixo são algumas de suas
especialidades), ele já saiu
em turnê e/ou gravou com
a r t i s t a s c o m o C i n d y L a u p e r,
Donna Summer e as Dixie Chicks. Se não
for suficiente e a dúvida do trabalho dele
c o m o i n s t r u m e n t a l i s t a p e r m a n e c e r, n ã o
deixe de ouvir os acordes eternizados na
gravação do álbum de estréia de Keith
Urban e no álbum ‘Come On Over ’, da
d i v a c o u n t r y S h a n i a Tw a i n .
Não, não para por aí. As canções
escritas por ele já foram gravadas em
nada mais, nada menos, que 15 milhões
de álbuns, dentre artistas como Diamond
Rio e as Dixie Chicks – estas levaram
u m a m ú s i c a d e E r i c , “ W i t h o u t Yo u ” , e m
2001, a ser número um das paradas
norte americanas.
Vo l t a n d o a s m a r c a s
deixadas
por
S i l v e r,
enquanto navegava por
aqui, podemos citar o
álbum de estréia do rapper
Tu l i o D e k . A m ú s i c a ‘ O
Sol’, além de ter sido
escrita por ele, em parceria
com o próprio Dek e com
o
renomado
produtor
brasileiro Rick Bonadio,
também foi produzida pela
dobradinha Silver-Bonadio.
Não
bastasse
escrever
e p r o d u z i r, e l e c a n t a n o
refrão da música.
Para
quem
pensa
que a dupla Eric e Rick,
parou por aí, pode ficar
sossegado. Em recente
p o s t e m s e u t w i t t e r, o
americano comentou que
estava trabalhando em um
nova música com o parceiro
– sinal que ainda há muitas
surpresas e novidades,
p o d e m o s e s p e r a r.
F a l a n d o e m t w i t t e r,
há alguns meses atrás ele
postou uma foto e citou o
nome de uma artista da
qual estava produzindo as
músicas, em Nashville. A
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a r t i s t a e m q u e s t ã o e r a L e s l i e C a r t e r,
c a n t o r a am e r i c a n a , ir m ã de A a r o n e Ni c k
Carter (Backstreet Boys). Mais vestígios
d a o b r a d e E r i c q u e a i n d a e s t á p o r v i r.
Agora que você sabe quem ele
é, o que ele fez (e o que pode fazer),
uma pergunta paira no ar: “qual das
produções/canções/participações
de
Eric Silver você já ouviu?”
Para saber mais acesse:
w w w. m y s p a c e . c o m / e r i c s i l v e r m u s i c
w w w. t w i t t e r. c o m / e r i c s i l v e r 2
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ENTREVISTA:
Olhar Alternativo: Qual é sua relação com o
Brasil?
esses sentimentos e ter os ouvintes sentindo isso
verdadeiramente, fiz bem o meu trabalho.
é criar música e trabalhar com pessoas divertidas
e criativas.
OA: Qual foi sua primeira composição e há
quanto tempo?
OA: Desde 2007, você se tornou o Americano
mais gravado no Brasil. Ao carregar esse título,
como você se sente?
ES: Tenho escrito desde quando era criança,
não consigo lembrar. Acredito que a primeira
Eric Silver: Fui ao Brasil na década de 80 para
canção que gravei foi uma chamada “Now I Do”,
apresentar um festival de música com minha
por uma banda chamada McCarter Sisters, que
banda, como um convidado de Almir Sater. Eu
gravava na Warner Brothers, por volta de 1988.
o conheci em Nashville, quando ele veio gravar
aqui. Me apaixonei pelo Brasil logo de cara e
OA: Como foi sair em turnê e gravar com grandes
por ter estudado algo de espanhol e francês,
artistas, como Cindy Lauper, Donna Summer,
pude entender algo de seu idioma. Não tenho
The Dixie Chicks, Keith Urban e Shania Twain?
“sangue latino” em mim, mas disseram que sou
Brasileiro por dentro.
ES: Fui abençoado por ter trabalhado com alguns
dos maiores artistas de meu tempo. Tocar ao vivo
OA: Como se sente ao ouvir canções escritas
é uma enorme correria, com toda a excitação do
por você sendo gravadas por outros artistas?
público e da reação das pessoas à energia que
somente um show ao vivo tem. Por outro lado,
ES: É sempre uma honra ouvir suas músicas
pode ser muito cansativo enquanto você vai de
cantadas por outros artistas. Significa que
cidade a cidade, sempre dormindo e comendo
outros podem relatar esperançosamente suas
em lugares estranhos ou em um ônibus. Mas a
experiências. Quando se pensa sobre isso,
resposta de uma grande audiência ao vivo a um
há algumas emoções a se sentir: amor, ódio,
show é fantástica. É adrenalina para um artista.
desejo, gratidão, medo, felicidade, tristeza. Mas
acho que todos terminam em amor e medo. Se
OA: Falando sobre Keith Urban, como foi
eu puder encontrar uma forma de transmitir
participar de seu álbum de estreia?
ES: Keith Urban é um velho amigo e pessoa
muito legal. Eu me lembro de uma estória
engraçada, de quando eu estava gravando este
álbum e eles não me deixaram ouvir a música
primeiro. Tive que apenas tocar e gravar como
eu tinha ouvido a música pela primeira vez.
Fiquei frustrado, mas eles gostaram do que eu
toquei, eu acho. Naquela época, a banda dele se
chamava The Ranch.
OA: Você trabalha com gêneros musicais
variados, mas com qual você mais se identifica
e por quê?
Eric e o produtor e amigo Rick Bonadio.
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ES: É realmente difícil dizer, mas, geralmente,
me identifico com música que soe honesta. A
música deveria ser uma janela para sua alma
ou para a alma de alguém. Pode ser rock, pop,
Eric Silver e sua participação no programa
Country Star, da Rede Bandeirantes.
bluegrass, qualquer coisa, mas tem que ter
alma. Gosto de escrever e cantar música pop
porque adoro as batidas e acho que minha
voz é pop. Melodicamente, sou “a La” Phil
Collins; literalmente, sou “a La” James Taylor;
e ritmicamente, sou “a La” Peter Gabriel.
OA: Em 2001, “Without You” foi a canção
número um na América do Norte. Qual foi seu
sentimento ao receber a notícia e em que pensou
primeiro?
ES: ALÍVIO! É muito difícil alcançar a primeira
posição no "IBOPE" e muitas coisas podem
acontecer pra evitar que uma música pegue por
aqui. Minha música esteve fluindo em uma alta
posição por volta de quatorze semanas e fiquei
realmente estressado. É uma grande honra quando
você finalmente alcança a primeira posição,
como quando seu time conquista uma Copa do
Mundo após um jogo longo e estressante.
ES: Bem, pra mim não é título, porque me
parece competitivo. Acho que há algo que eu
sinto e faço que traduz bem no mundo musical
brasileiro, então apenas aconteceu. Novamente,
tive muita sorte aí. Conheci Almir Sater e através
dele conheci Sergio Reis. De Sergio Reis e
minha editora, Aileen Schneider, conheci Rick
Bonadio. Através dessas conexões a de diversos
tipos de pessoas, fui capaz de encontrar um
nicho pra mim aí.
OA: Recentemente você não apenas escreveu
como produziu “O Sol”, com Rick Bonadio.
Como foi essa parceria?
ES: Isso foi interessante porque Rick e eu somos
amigos muito próximos e ele havia me dito
sobre Tulio Dek. Eu estava dirigindo meu carro
e estava chovendo, e de repente pensei no refrão
completo desta música. Estava tão animado,
liguei para Rick e cantei o refrão em meu carro,
no correio de voz dele. Ele adorou e me ligou de
volta, também animado. Nós produzimos essa
música juntos, para Tulio. Ele gostou de minha
voz, então cantei os refrões enquanto ele fazia
o rap.
OA: Como foi participar do programa “Country
Star”, da TV Bandeirantes, aqui no Brasil?
ES: Eu estava muito nervoso no começo,
porque sabia que iríamos gravar ao vivo e meu
português estava muito gasto naquela época. Mas
OA: Como é ter canções gravadas em mais de aproveitei bastante e acho que tanto Nathalia
quanto Marília são pessoas maravilhosas e
quinze milhões de álbuns?
ótimas cantoras.
ES: É difícil de acreditar, mas é relativo. Tenho
amigos com canções em mais de 100 milhões de OA: No programa, Nathalia veio a ser a
álbuns. Não sou um super rico ou chique, mas vencedora. Como foi co-produzir o CD dela?
sou, com certeza, sortudo e abençoado por ter
vivido fazendo algo pelo qual tenho paixão, que ES: Bem, nós precisamos produzir o CD muito
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rápido após o fim do programa. Eu gravei
a música com meus acompanhantes no meu
estúdio em Nashville e então Rick gravou os
vocais com Nathalia em Midas, São Paulo. Rick
e eu havíamos feito algumas boas co-produções
juntos, então tivemos nossa rotina pronta pra
qualquer momento.
OA: Qual a sua relação com a música country?
ES: Bem, sou do sul dos Estados Unidos, então
estive exposto à música country por toda a
minha vida. E como estive em Nashville por
quase três décadas, tive a chance de conhecer e
trabalhar com muitos artistas country incríveis.
Mas enquanto eu tenho um conhecimento muito
bom em música country, meu ouvido e estilo é
muito influenciado pelo pop, pelo rock e pelo
jazz, mesmo nas gravações country que produzo.
Liricamente, as grandes canções country têm
um jeito simples e direto de falar sobre as coisas
mais comuns da vida, de problemas amorosos.
Há um pouco de “poesia”. Fazer isso bem é uma
verdadeira arte.
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trabalhei das oito da manhã até por volta das dez
da noite, gravando e atualizando minhas partes!
preta americano do Rickson, em março de 2009,
depois de ter treinado com ele por quinze anos.
OA: Quais são seus novos projetos? O Brasil
está incluído em algum?
OA: De todas as músicas que você escreveu e/
ou produziu, qual é a sua favorita?
ES: Bem, isso é um segredo, mas vou dizer só
a vocês! Estou trabalhando em meu primeiro
projeto solo, que será lançado em 2010 pela
Universal (Rick Bonadio) e minha empresa.
Estou extremamente animado e pus tudo o
mais em espera agora pra me focar em minha
gravação. Haverão alguns convidados surpresa
especiais no meu álbum.
ES: Aquela que fiz ontem, sempre! Mas, sério,
há uma chamada “After You’re Gone”. É difícil
pra mim dizer que é minha “favorita” porque foi
inspirada em um momento onde duas pessoas de
minha família morreram ao mesmo tempo. Mas,
é provavelmente uma das mais melancólicas
músicas que já escrevi, por ser sobre uma parte
da condição humana, que é a perda. As canções
que escrevi, às quais as pessoas realmente
reagem, são aquelas que “tive que escrever” pra
ninguém ouvir além de mim, aquelas que tem
que sair. Espero que minhas gravações sejam de
músicas bem reais, pra te fazer rir, chorar e pra
mover seu corpo!
OA: O que mudou desde o início de sua carreira?
ES: Artistas passaram a ser considerados
commodities por grandes companhias ao invés
de fornecedores de arte. Muitas gravações
tornaram-se projetos de ciência empresarial
ao invés de uma pura autoexpressão dos
compositores. Muitos artistas tornaram-se
modelos robóticos, fazendo aquilo que lhes foi
dito, enquanto os álbuns perderam qualquer
OA: No Brasil você também trabalhou com o sentimento de espontaneidade porque todos
grupo NX Zero e o extinto grupo Rouge. Como começaram a estudar demografia e tentar levar
foi essa experiência?
a melhor sobre o “mercado”. Ao mesmo tempo,
downloads na internet destruíram as vendas
ES: Com Rouge, elas foram tal como um
fenômeno, fui sortudo em ter canções no CD
delas. Venderam milhões de cópias. Gostaria
de ter podido vê-las ao vivo. Agora NX Zero
é o fenômeno. Rick me pediu pra tentar tocar
alguns violinos numa música chamada “Cedo ou
Tarde” e eu fiquei meio maluco e toquei quase
vinte participações em violino. Soou como uma
orquestra. Encaixou muito bem musicalmente e
trabalhamos bastante juntos desde então. Amo a
música deles e são rapazes muito legais. O novo
álbum tem dois de meus arranjos de corda e
alguns de meus vocais, incluindo o single atual,
“Espero a Minha Vez”. Foi engraçado. Acordei
cedo numa sexta-feira e não tinha começado
a tocar os violinos para aquela música, então
Rick me contatou e disse que precisava daquilo
naquele dia. Eu tinha dormido apenas algumas
Neal McCoy, Charlie Pride e Eric.
horas e imediatamente corri para meu estúdio e
Além de participar do programa, Eric
ajudou a produzir o disco da vencedora do
Country Star, Nathália.
físicas de CDs por consequência dificultando a
sobrevivência de companhias de música, artistas
e compositores. Muitas companhias e criativos
de música mal conseguem se segurar ou tem
que sair do mercado. Alguns empresários como
Rick (Bonadio) provaram que se pode basear
gravações em grandes canções e músicas e
ainda ter um sucesso tremendo. Mas os dias de
artistas como Alanis Morissette ou Shania Twain
vendendo dezenas de milhões de CDs parecem
ter terminado.
OA: Com qual artista você sonha trabalhar e
por quê?
ES: Sou fã de muitos, mas eu realmente
adoraria trabalhar com Carlinhos Brown. Eu
ficaria extasiado em tê-lo adicionando alguma
percussão às minhas músicas. Ele tem o ritmo
no sangue.
OA: Como você definiria o “artista” Eric Silver?
OA: Além da música, você tem outra paixão: JiuES: Ele é um cara inspirador e sensível, que
Jítsu. Como é essa relação? Qual a importância
vive um pouco no limite. É meticuloso, trabalha
dessa arte marcial em sua vida?
consigo mesmo até o fim, ama aprender sobre
as pessoas e contar estória através das letras
ES: Tudo na vida é um tipo de luta, algum tipo
das estórias simples e pungentes. Ele é tipo um
de batalha. As artes marciais me ensinaram a ter
amante/lutador que às vezes pode fazer mais
coração pra me manter numa luta e paciência
sentido sobre si mesmo através da poesia, mais
pra aprender como ter sucesso com menos
do que pelas “palavras”. Ele planeja como um
esforço. Tenho minha própria academia aqui em
soldado, mas não sabe que nada acontecerá até
Nashville desde 1992. Sem o caratê e o jiu-jítsu,
que aconteça, até que as primeiras palavras ou
eu provavelmente teria largado a música há
notas surjam. É sábio o suficiente pra saber
muito tempo atrás porque me traz estabilidade
que todas as pequenas coisas sempre importam,
e equilíbrio que o mercado da música não me
embora arrogante o bastante pra querer que as
provê. Ironicamente, meus dois professores,
pessoas acreditem em cada palavra que ele diz
Rickson Gracie e Koji Takamatsu, são do
e sintam cada nota que ele toca como se fossem
Brasil. Tive a honra de me tornar o quinto faixa
suas últimas.