Mitral Blood Cyst versus Mitral Valve Ruptured Abcess: Differential

Transcrição

Mitral Blood Cyst versus Mitral Valve Ruptured Abcess: Differential
Relato de Caso
Cisto Sanguíneo Mitral versus Abscesso Roto da Valva Mitral: Diagnóstico
Diferencial pelo Ecocardiograma Transesofágico
Mitral Blood Cyst versus Mitral Valve Ruptured Abcess: Differential Diagnosis
by Transesophageal Echocardiography
João Carlos Rodrigues Pena1, Carlos Eduardo Suaide Silva2, Manuel Adán Gil2, Luiz Darcy Cortez
Ferreira2, Claudia Gianini Monaco2, Paulo Gomes Leal1, Marcílio Moreira Gonçalves Jr1, Caio Rosendo
Costa1, Juarez Ortiz2
RESUMO
Relatamos duas lesões pouco habituais e de difícil diagnóstico, nas quais o ecocardiograma transesofágico foi fundamental na avaliação
mais detalhada da anatomia da valva mitral, permitindo o diagnóstico diferencial entre cisto sanguíneo e aneurisma roto da valva
mitral, os quais, no exame inicial transtorácico, assumiam aspecto muito semelhante.
Descritores: Cistos/sangue, Valva Mitral, Abscesso, Ecocardiografia Transesofagiana/utilização
SUMMARY
The authors report two rare mitral valve lesions where transesophageal echo was fundamental in detail valve anatomy and determinant
to establish the right diagnosis between blood cyst and ruptured abscess of mitral valve. Both lesions were very similar at the former
transtoracic study.
Descriptors: Cysts/blood; Mitral Valve; Abscess; Echocardiography, Transesophageal/utilization
Introdução
Cistos sanguíneos são estruturas reconhecidas,
há mais de um século, como tumores benignos do
coração. Normalmente encontrados nas valvas ou
no seu aparelho de sustentação, tem sido descritos
em neonatos e crianças menores de seis meses e
raramente em adultos¹. Na maioria das vezes, não
causam sintomas, porém podem associar-se à embolia ou disfunção valvar.
Este relato de dois casos tem por objetivo mostrar aspectos semelhantes de duas patologias distinInstituição
OMNI-CCNI Medicina Diagnóstica. São Paulo-SP
tas: cisto sanguíneo na valva mitral e abscesso de
valva mitral, que tiveram seu diagnóstico diferencial facilitado com o uso do ecocardiograma transesofágico.
Relataremos um caso de cisto sanguíneo na cúspide anterior da valva mitral, descoberto durante
avaliação de massa cardíaca, previamente identificado em exame ecocardiográfico transtorácico, em
uma jovem de 17 anos e um caso de um homem de
45 anos, com história de troca de valva aórtica, em
1979, por endocardite e que evoluiu com massa de
aspecto cístico, na cúspide anterior da valva mitral.
1- Médicos Estagiários do Serviço de Ecocardiografia da OMNI-CCNI. São Paulo-SP
2- Médicos do Setor de Ecocardiografia da OMNI-CCNI. São Paulo-SP
Correspondência
Carlos Eduardo Suaide Silva
Rua Cubatão nº 726
04013-002 São Paulo - SP
Fax: (11) 5576-3883
[email protected]
Recebido em: 05/07/2011 - Aceito em: 25/11/2011
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ISSN 1984 - 3038
Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2012;25(1):55-57
Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2012;25(1):55-57
Relato de caso 1
1979, devido à endocardite valvar aórtica. Foi realizado eco transtorácico que mostrou prótese normofuncionante e valva mitral levemente espessada, com
C.M.D., feminina, 17 anos, procurou nosso sermassa cística móvel na cúspide anterior. Para melhor
viço para realizar ecocardiograma bidimensional para
avaliação dessa massa, foi solicitado eco transesofáavaliação de massa cardíaca. Durante a realização do
gico, o qual mostrou imagem
Figura 1: A- Eco transesofágico (corte a 0°) mostrando estrutura cística, multilobulada, em face
sugestiva de abscesso roto na
atrial da cúspide anterior da valva mitral sugestiva de cisto sanguíneo mitral. B- A mesma imagem
em corte a 120°. AE = átrio esquerdo; VD = ventrículo direito; VE = ventrículo esquerdo.
cúspide anterior da valva mitral
e que se enchia durante a sístole
ventricular, e esvaziava-se durante a diástole, sem trazer obstrução da via de saída do ventrículo
esquerdo. Observou-se discreto
refluxo mitral (Figura 2: A e B).
Discussão
Cistos sanguíneos são lesões
tipicamente congênitas do coração. Em uma série de autópsias
realizadas por Begg, em 122 fetos e crianças menores de um ano, esses cistos estavam presentes em 56% dos casos².
Podem também ser de origem adquirida, iatrogênica durante cirurgias cardíacas, após endocardite
etc. São estruturas arredondadas, globulares que variam de tamanho e localização, indo desde o aparelho valvar à parede muscular do coração, onde são
menos frequentes.
Várias teorias tentam explicar a origem desses cis-
ecocardiograma bidimensional (2D), foi observada
valva mitral espessada (aspecto de degeneração mixomatosa), apresentando prolapso de sua cúspide anterior, associado a incompetência leve. Foi, também,
observada a presença de massa cística, multilobulada,
em face atrial da cúspide anterior, sem fluxo em seu
interior e sem causar obstrução ao fluxo intracavitário. A função miocárdica estava preservada. Por
conta desse achado, foi solicitado ecocardiograma
transesofágico (ETE) para melhor avaliação da valva mitral, Figura 2: A- Eco transesofágico (corte a 0°) mostrando imagem cística, unilobulada, na cúspide
posterior mitral, sugestiva de aneurisma. B- Eco transesofágico (corte a 86°) mostrando a mesma
o qual confirmou a presença imagem cística preenchida por fluxo colorido. AE = átrio esquerdo; VD = ventrículo direito; VE
de massa cística aderida à face = ventrículo esquerdo
atrial da cúspide anterior da
valva mitral, lobulada, de conteúdo anecoico, provavelmente
líquido, muito sugestivo de cisto sanguíneo (Figura 1: A e B).
Relato de caso 2
L.H.O., masculino, 52 anos,
procurou nosso serviço para avaliação de prótese metálica em
posição aórtica, implantada em
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Pena JCR, et al. Cisto sanguíneo mitral versus cbscesso roto da valva mitral:
diagnóstico diferencial pelo ecocardiograma transesofágico
tos, desde como consequência de processos infecciosos e hipóxia até distúrbios da coagulação, os quais
podem causar oclusão de microvasos formando um
hematoma local1,3,4. O diagnóstico diferencial deve
ser feito com hamartomas, pseudoaneurisma da valva mitral, trombos, mixomas, abscessos etc.5.
O ecocardiograma transtorácico é um bom método para investigação de estruturas cardíacas, porém,
em algumas situações, nas quais pairam dúvidas
para o diagnóstico seguro, deve ser complementado
com eco transesofágico, eco com contraste ou até
mesmo ressonância magnética e tomografia de múltiplos detectores6. Esses cistos podem causar alterações cardíacas como disfunção valvar, obstrução da
via de saída do ventrículo esquerdo, síncope, morte
súbita (menos frequente) e eventos embólicos.
Estes dois casos relatados apresentavam aspecto
muito semelhante ao ecocardiograma transtorácico.
Porém, ao exame transesofágico do primeiro caso,
evidenciamos tratar-se de cisto sanguíneo da valva
mitral. A história clínica de endocardite prévia e a
análise mais minuciosa realizada pela ecocardiografia transesofágica, mostrando um pequeno pertuito
de difícil vizibilização, por onde a estrutura cística
enchia-se e esvaziava-se, permitiu o diagnóstico de
abscesso roto no segundo caso (complicação da endocardite).
Nesses casos, por se tratar de pacientes assintomáticos e os refluxos da valva mitral serem discretos,
optou-se pelo acompanhamento clínico; porém, dependendo do grau de disfunção valvar; a conduta
cirúrgica não deve ser descartada.
Conclusão
Os dois casos relatados foram achados do
ecocardiograma transtorácico, a qual é uma ferramenta essencial para primeira avaliação de pacientes com alterações cardiovasculares. Porém,
por se tratar de lesões pouco habituais e de difícil diagnóstico, o ecocardiograma transesofágico
foi fundamental na avaliação mais detalhada da
anatomia das lesões da valva mitral, permitindo
o diagnóstico diferencial entre cisto sanguíneo e
aneurisma roto da valva mitral, que, no exame
inicial transtorácico, assumiam aspecto muito semelhante.
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