Tema em destaque - Associação Portuguesa de Medicina Geral e
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Tema em destaque - Associação Portuguesa de Medicina Geral e
III Série - nº8 - Setembro 2000 Director: Maria do Carmo Cafede Sub-directores: José Falcão Tavares, Antónia Lavinha Editor: Miguel Múrias Mauritti Redacção: Vitor Frias, Nuno Bessone, Paulo Pereira Coutinho Propriedade e Administração: INFORSALUS Apartado 109 - 2302 Tomar Codex Redacção: Estrada de Benfica, 719 - 1º Esq. - 1500-088 Lisboa e-mail: [email protected] Publicação mensal de informação geral e médica Registo ICS: 112976; Depósito Legal: 84639/94 - ISSN 0871 - 763X Preço: 200$00 - 1€ (IVA incluído) Alfredo Pequito denuncia: O Presidente da República, três Ministros da Administração Interna, duas da Saúde, Secretários de Estado da Saúde e Deputados, o Procurador Geral da República, dois Directores da Polícia Judiciária, coadjuvados por Inspectores, Graduados, Cabos e simples Agentes, o SIS, Bastonários da Ordem dos Médicos e dos Farmacêuticos, os Presidentes do INFARMED, da ANF e o da Apifarma, grande número de Directores Gerais de companhias Farmacêuticas e de Delegados de Informação Médica, milhares de médicos, enfermeiros, maqueiros e outro pessoal auxiliar, entre muitas outras pessoas, nacionais e estrangeiras, estão envolvidos no caso Pequito. Em maior ou menor grau, todos intervieram ou intervêm activamente no processo do ex-Delegado de Informação Pág. 8 Médica da Bayer Portugal Crónica Mário Moura Isto é um escândalo! Pág. 38 Opinião António Branco A Regra é a excepção Pág. 15 Posição JP Santos Gonçalves Carta aberta à Ministra da Saúde Pág. 18 Actualidade Enfermeiros trocam hospitais por Centros de Saúde Pág. 22 Tema em destaque Proposta para uma nova definição de Medicina Geral e Familiar Pág. 23 5º Congresso MF Políticos exigem medidas de segurança idênticas às dispensadas a Bill Clinton PEQUITOGATE Centro de Saúde de S. João Pág. 39 Pág. 3 Tubo de Ensaio em risco de fechar: já há salários em atraso Número 8 2 Setembro 2000 Editorial A nova Formação à Distância Luís Pisco Presidente da APMCG No recente Congresso da Associação Mundial de Médicos de Família, em Viena, fui mais uma vez questionado por vários colegas, Alemães e Italianos, que procuravam saber o segredo da enorme representação Portuguesa, a contrastar com a reduzida participação de outros Países. A pergunta não era, obviamente, nem inocente nem desinteressada, pois como confessaram, nos seus Países, ao contrário das outras especialidades, os Médicos de Família não se podem deslocar a acções de formação ao estrangeiro financiados pela Industria Farmacêutica. O que queriam saber é como é que nós conseguimos. Lá vou explicando como posso a conjuntura favorável e o facto de em Portugal termos uma situação ímpar a nível europeu, pois temos o reconhecimento do Ministério da Saúde da importância da formação contínua, com a concessão de dispensa gratuita de serviço de 15 dias anuais para esse efeito, e termos a Industria Farmacêutica disposta a financiar essa formação. Temos, pois, algo muito importante que é tempo e dinheiro. Falta-nos a organização. Esta aposta levar-nos-á a que um dia destes uma qualquer Comissão Organizadora nacional ou internacional se recuse a compactuar com a situação e não emita os Certificados de Presença. A médio prazo, é de recear que um dia possamos vir a estar na mesma situação dos nossos colegas Italianos e Alemães. Não viajar a expensas da Indústria O Desenvolvimento Profissional Contínuo deve ser gerido e não pode ser deixado ao acaso ou a iniciativas individuais. Não estou a falar de desenvolver novas maneiras de aprender, mas sim da criação de um processo de gestão que suporte o Desenvolvimento Profissional Contínuo e que o torne evidente e relevante, não só para todos os profissionais de saúde, mas também para o Centro de Saúde como um todo. A Educação Contínua tem que ter reflexos no Centro de Saúde, influenciando a Qualidade dos Cuidados prestados aos doentes, assim como a própria organização da prestação desses cuidados. Devem ser avaliadas as necessidades formativas individuais e organizacionais de molde a poder preparar planos de formação individuais e institucionais, que devem ser geridos localmente. Estamos, pois, a desperdiçar uma oportunidade e uma conjuntura favoráveis para implantar no nosso País um sistema de desenvolvimento profissional contínuo credível, prestigiante e útil para todos os profissionais dos cuidados de saúde primários, com reflexos positi- vos nos cuidados prestados aos cidadãos. Tempo e dinheiro parecem não faltar. O caminho parece, contudo, não ser esse e receio que se continue a apostar numa nova forma de Educação à distância que se efectua o mais distante possível do País e o mais distante possível do local das sessões, tão em voga no nosso meio médico e não só na Medicina Geral e Familiar. Esta aposta levar-nos-á a que um dia destes uma qualquer Comissão Organizadora nacional ou internacional se recuse a compactuar com a situação e não emita os Certificados de Presença. A médio prazo, é de recear que um dia possamos vir a estar na mesma situação dos nossos colegas Italianos e Alemães. Não viajar a expensas da Indústria. partilhar alguns temas do Vol. 3, n.º 4 de Outubro de 1999: divisão familiar das tarefas domésticas; a minha mulher tem Alzheimer; as necessidades formativas podem ter origem nas emoções?; ética de bem morrer. Interessantes? O seu desenvolvimento não desapontou e, de um modo científico, são apresentados trabalhos que abordam a humanização das actividades diárias, sejam elas praticadas por médicos ou não. São quatro números por ano, a não perder. Por último, a questão da humanização durante a formação. O último n.º da publicação "Medical Education" (Agosto 2000), apresenta três artigos sobre o desenvolvimento de qualidades humanísticas nos estudantes de medicina. Ao considerar a medicina como 'a ciência mais humana e a mais científica das humanidades', os textos abordam as questões da comunicação com os pacientes e as qualidades humanistas da maioria dos tutores. Mas o artigo que cativou a minha atenção revela um estudo exploratório sobre os hábitos de leitura (não médica) dos estudantes de medicina, as suas atitudes perante a literatura e a introdução de humanidades no currículo formativo. Algumas das conclusões são interessantes: todos os estudantes liam mais antes de entrarem para a faculdade, e a falta de tempo não é o único fac- tor, a perda de um ambiente facilitador, a família, foi referido como importante; um dos efeitos da leitura era permitir um melhor conhe- Maria do Carmo Cafede Directora cimento da vida, para lá da do próprio estudante…; por outro lado estimulava a inspiração e a introspecção; os livros podiam evocar respostas emocionais, como o medo, humor e contentamento; o livro mais citado foi 'A Bíblia' e o segundo 'Os Cisnes Selvagens'; George Orwell e Jane Austen são dois dos autores referidos como importantes para os próprios e como sugestões para outros estudantes. Este estudo fez-me pensar se não estaremos presentes perante um caso de 'ovo ou galinha', ou seja, o que surge primeiro, a paixão pela leitura e logo o gosto pelas humanidades e uma capacidade diferente de olhar o mundo, ou a humanidade é uma qualidade intrínseca e a leitura é uma consequência? Se assim fosse não valeria a pena o investimento em novas formas de ensino e aprendizagem, porque tudo se aprende, treina e melhora. E fico cheia de inveja se as escolas médicas introduzirem nos currículos aulas de literatura! Crónica Humanização II Acalmem-se os mais atentos porque não me aconteceu nada e não visitei nenhum recanto perdido do nosso 'SNS'… Apenas voltei ao tema devido à coincidência de três razões. A primeira, porque ao recordar a frase (que celebrizou o meu professor de físico-química do 9º ano de escolaridade), "o calor não dilata os corpos", antes os diminui em densidade e concentração, apercebi-me que também a humanização se afastou dos locais onde era mais necessária. O calor, o número reduzido de profissionais por sector, a ansiedade perante as férias (por gozar ou já gozadas, tanto faz), a maior quantidade de trabalho, tudo contribui para o esquecimento de algumas regras básicas, de educação, ou como é politicamente correcto dizer, de cidadania. Os mais desprotegidos (os doentes, os socialmente excluídos, os idosos, etc.) são os que mais sofrem. Talvez não seja difícil, a nível local, tomar consciência do problema e passar a implementar algumas medidas práticas. E para slogan de campanha, Verão rima com humanização… A segunda razão chama-se "HUMANA" e é uma publicação periódica da Sociedade Espanhola de Medicina Familiar e Comunitária dedicada, como se pode deduzir, às questões da humanização. Já não me lembro de como a conheci, mas foi uma boa surpresa e passo a Número 8 3 Setembro 2000 Investigação Médicos com salários em atraso Tubo de Ensaio corre risco de encerrar O Centro de Saúde de S. João, no Porto, carinhosamente baptizado de Tubo de Ensaio pelos subscritores do projecto inovador que ali se desenvolve, corre o risco de encerrar. Tudo porque o Departamento de Clínica Geral (DCG) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) já esgotou os recursos próprios que até aqui têm permitido cobrir o déficit que se regista ao nível das receitas, cujo acumulado ascende já a cerca de trinta mil contos. A situação é de tal modo crítica que os médicos ali destacados gozaram férias sem terem posto olho no respectivo subsídio e no final do mês, tudo o indica, não haverá dinheiro para pagar, por inteiro, os salários a clínicos, enfermeiros e administrativos. Cumprindo o que já constitui imagem de marca do seu mandato, Manuela Arcanjo, a Ministra, logo que informada, despachou sinais de que este problema era mesmo para resolver. Só não disse quando, nem por quem. Conclusão: a promessa feita aos clínicos do Porto - como a maioria das que tem feito - ainda está por cumprir Número 8 4 Setembro 2000 Investigação E m Setembro de 1998, a ARS Norte e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto assinaram um acordo de cooperação - que Maria de Belém homologaria no mês seguinte - através do qual as duas instituições estabeleceram os termos em que se iria desenvolver o projecto "Tubo de Ensaio", cujo objectivo genérico era o da criação de uma Unidade de Saúde Familiar (USF) ligada funcionalmente ao Departamento de Clínica Geral da Faculdade de Medicina, englobada na rede de centros de saúde do SNS. Uma USF que, no compromisso assumido pela FMP se deveria constituir como centro de excelência e modelo de boa prática. De modo a garantir a realização do objectivo proposto, ficou assente que o Tubo de Ensaio teria de adoptar, como referência obrigatória, a Declaração de Alma-Ata, de 1976 - que define a área dos cuidados de saúde primários como alicerce fundamental de qualquer sistema de saúde. Ora, como os princípios e valores devem traduzir-se em realizações efectivas, a equipa coordenadora do projecto comprometeu-se, entre muitos outros objectivos, a promover a inovação, a criatividade e a experimentação no quotidiano das estruturas prestadoras de cuidados de saúde primários e dos profissionais que aí exercem actividade; a possibilitar o "ensaio" de novos modelos e novas práticas; a possibilitar a criação de um modelo tão eficaz que pudesse servir de referência e tão real que fosse comparável; a constituir um espaço de formação pré e pós-graduada, destinado aos profissionais dos CSP, que permitisse o desenvolvimento, não só dos conhecimentos e capacidades, como também das atitudes que devem possuir estes profissionais. Um negócio da China... Nos termos do protocolo, a ARS Norte disponibilizou as instalações necessárias à implementação do projecto, adaptadas e equipa- das de acordo com as necessidades descritas pelo grupo coordenador, ficando a administração, organização e funcionamento a cargo do Departamento de Clínica Geral da FMUP. Por outras palavras: o Ministério da Saúde passaria a pagar, por um pacote de serviços que incluía, entre outros, um atendimento mais eficaz dos utentes, consultoria científica e de gestão e formação médica especializada, menos de um terço do que paga pelo mais comum dos serviços que os centros de saúde prestam aos utentes do SNS A autonomia financeira do "Tubo de Ensaio" foi também fixada no acordo homologado por Maria de Belém: "pelo serviço prestado pagará a ARS à FMP a retribuição prevista (...) no n.º 2 do Despacho de S. Exa. A Ministra da Saúde n.º 3181/97", ou seja, 400 escudos por utente inscrito (380 escudos pelos serviços médicos e 20 pelos de enfermagem). Com esta verba, o Departamento de Clínica Geral asseguraria o pagamento de água, luz, telefone e... dos salários devidos a médicos, enfermeiros e pessoal administrativo e auxiliar. O negócio não poderia ser melhor para o Ministério. Isto porque o custo médio por utente nos demais centros de saúde da Região Norte ultrapassa os mil e trezentos escudos. Por outras palavras: o Ministério da Saúde passaria a pagar, por um pacote de serviços que incluía, entre outros, um atendimento mais eficaz dos utentes, consultoria científica e de gestão e formação médica especializada, menos de um terço do que paga pelo mais comum dos serviços que os centros de saúde prestam aos utentes do SNS. Maria de Belém não hesitou e a 7 de Julho de 1999 a nova unidade abriu as portas. No final desse mesmo ano, já tinha inscritos os 15 mil utentes previstos no acordo. Contar com o ovo... Diz o povo que quando a esmola é grande o Santo desconfia. No caso em apreço, não duvidou. E os problemas financeiros não tardaram a surgir. Contas feitas, a verba transferida pela ARS Norte não cobria as despesas com salários. Enquanto aguardavam resposta a uma exposição entregue na ARS e no Gabinete da Ministra, alertando para o problema, os responsáveis do projecto decidiram avançar com verbas provenientes do orçamento do DCG. Ao todo, a Universidade do Porto adiantou cerca de trinta mil contos, sem os quais não teria sido possível pagar, por inteiro, o salário a médicos, enfermeiros e administrativos. Na exposição enviada à tutela, a 20 de Fevereiro deste ano os responsáveis do Tubo fazem o relato dos altos e baixos financeiros vividos na instituição: "os déficites mensais vieram a diminuir à medida que as inscrições iam aumentando, com excepção do mês de Dezembro, devido ao 13º mês de salários. Porém, ao atingir os 1500 utentes por médico - um número que corresponde à carga de trabalho existente no SNS - o déficit estabiliza-se em cerca de 1.500 contos mensais a que é necessário acrescentar os 13º e 14º meses. O déficit acumulado nos primeiros 6 meses de actividade ultrapassa já os 17 mil contos, a que se junta o investimento inicial feito pelo Departamento, no montante de um pouco mais de 5 mil contos. O esforço financeiro do Departamento atinge já 22.116 contos e não será possíve l estendê-lo mais. A Universidade do Porto e a Faculdade de Medi- Número 8 5 Setembro 2000 Investigação A manterem-se as actuais circunstâncias, é de prever o encerramento deste Projecto antes de completado um ano do seu funcionamento". Sete meses após ter recebido a carta, Manuela Arcanjo ainda não encontrou tempo - ou vontade - para lhe dar uma qualquer resposta tros centros da Região". Já no que respeita ao montante a pagar em retroactivos, "o valor apurado é de 24 mil e seiscentos contos, quantia muito aquém dos cerca de 30 mil de déficit que o Departamento de Clínica Geral acumulou com despesas de administração do centro, pagas com receitas próprias provenientes dos mestrados que realiza, verbas essas que terão de ser repostas", explicou ao nosso jornal aquele responsável. cina não têm recursos passíveis de afectação a este efeito, ainda menos num ano em que o Governo obriga estas instituições a uma refracção das despesas orçamentadas. A manterem-se as actuais circunstâncias, é de prever o encerramento deste Projecto antes de completado um ano do seu funcionamento". Sete meses após ter recebido a carta, Manuela Arcanjo ainda não encontrou tempo - ou vontade - para lhe dar uma qualquer resposta. Contas mal feitas Para os críticos do projecto - que sempre suspeitaram da insuficiência do financiamento - o Ministério da Saúde não deveria ter fechado negócio: "a Ministra sabia que a importância paga por utente não era suficiente para fazer face às despesas previstas, pelo que deve- ria ter "chumbado" o acordo", explicou ao nosso jornal um responsável do Ministério. Por outro lado, acusa a mesma fonte, "o Professor Sousa Pinto (Presidente da Comissão Directiva do Centro de Saúde de S. João - Tubo de Ensaio e Director do DCG da A Ministra sabia que a importância paga não era suficiente para fazer face às despesas, pelo que deveria ter "chumbado" o acordo". Por outro lado "o Prof. Sousa Pinto também sabia que a verba era insuficiente. Assinou o acordo porque contava que a Ministra actualizaria o Despacho que fixa a retribuição a pagar por utente até ao final de 1999. Só que não contou com a hipótese de uma mudança ministerial e com a possibilidade da nova responsável não se mostrar interessada em resolver a situação. Agora, tem a criança nos braços e não sabe o que lhe há-de fazer" FMUP) também sabia que a verba era insuficiente. Assinou o acordo porque contava que a Ministra actualizaria o Despacho que fixa a retribuição a pagar por utente até ao final de 1999. Só que não contou com a hipótese de uma mudança ministerial - como veio a acontecer - e com a possibilidade da nova responsável não se mostrar interessada em resolver a situação. Agora, tem a criança nos braços e não sabe o que lhe há-de fazer". Contactado pelo Médico de Família, Sousa Pinto reconheceu ter assinado o acordo porque recebera da anterior inquilina da João Crisóstomo a promessa de uma actualização rápida do valor atribuído por utente. "Aliás - explicou-nos - essa promessa também tinha sido feita aos dois ou três centros de saúde que estão a funcionar em regime de convenção". Telefonei-lhe todos os dias Confrontado com as alterações na equipa ministerial, Alexandre Sousa Pinto decidiu informar o Gabinete de Manuela Arcanjo da precária situação financeira do "Tubo": "em Janeiro deste ano, o Departamento de Clínica Geral e a Comissão Directiva expuseram a situação à ARS e ao Ministério da Saúde, advertindo que não seria possível pagar o mês de férias, o que levaria ao seu encerramento em Julho. Nessa exposição, sugeriam-se diferentes soluções, chamando a atenção para as consequências que resultariam de cada uma delas para o normal funcionamento do Centro de Saúde". Paralelamente, Sousa Pinto tentou, em vão, encontrar-se com Manuela Arcanjo: "logo que a Ministra tomou posse, tentei marcar uma audiência. Telefonei todos os dias para o Gabinete, sem sucesso. Disseram-me que ligariam marcando a data. Não ligaram e a certa altura desisti de tentar!" Quanto é preciso? Para evitar o eminente fim do "Tubo de Ensaio", Sousa Pinto aponta a necessidade de se "alterar o quantitativo do Despacho para, pelo menos, 580 escudos pelos cuidados médicos mais 55 pelos de enfermagem, com efeitos retroactivos a partir de 1 de Janeiro deste ano". Segundo este responsável, a alteração proposta "obrigaria a um aumento da despesa da ARS de apenas 3.250 contos por mês, valor muito aquém do que teria de pagar se o centro de saúde funcionasse nos moldes em que funcionam todos os ou- Prognósticos Descrito o caso, uma das questões que de imediato se coloca é a de saber o que acontecerá se a situação não for resolvida. Recorde-se que o Centro de Saúde de S. João assiste uma população de cerca de 15 mil utentes, inseridos nas listas de 10 médicos. De acordo com responsáveis contactados pelo Médico de Família, é pouco provável, se não mesmo impossível, o encerramento da unidade, por t o d a s a s ra z õ e s p o l í t i c a s, assistenciais e económicas. N o m e m o r a n d u m e nv i a d o a Manuela Arcanjo, Sousa Pinto adianta algumas hipóteses de solução, que a seguir se transcrevem: Hipótese A Aguardar a actualização "A solução ideal é, obviamente, a de continuar a esperar a actualização anunciada do quantitativo do Despacho 3181 / 97, visto que um dos objectivos do Projecto Tubo de Ensaio é o de permitir analisar em pormenor o que se passa no regime da convenção e não há nenhum interesse em criar para este Projecto um ambiente de excepção. Porém, aguarda-se já há anos essa actualização e não parece que o actual ambiente de polémica em tormo deste assunto apresse a decisão. Se essa actualização não for despachada antes do fim do mês de Março, será necessário, antes dessa data, atribuir ao Projecto um subsídio extraordinário que lhe permita continuar à espera mais outro ano. Número 8 6 Setembro 2000 Investigação Uma redução das despesas correntes mesmo que fosse possível para metade, não atingiria mais de 400 contos mensais. A supressão dos serviços de enfermagem e dos serviços domiciliários atingiria 600 contos mensais, mas seria muito ressentida pelos utentes e reflectir-se-ia muito negativamente na qualidade dos serviços prestados. Seria, na verdade, uma outra forma de destruir este Projecto" Esse subsídio terá de ser suficiente para cobrir o déficit acumulado, isto é, cerca de 22 mil contos. Hipótese B Subsídios extraordinários "Mais barato e, certamente, tentador, seria atribuir subsídios extraordinários de cerca de 1.500 contos mensais, para cobrir o déficit futuro. Tal solução criará um ambiente de incerteza e ansiedade no pessoal e será seguramente uma forma de destruir o ambiente de trabalho e a motivação do pessoal que é indispensável para conseguir ganhos de eficiência e produtividade. Seria, seguramente, a forma de conseguir instalar no Centro de Saúde de S. João o ambiente prevalecente noutros centros de saúde e baixar a sua produtividade para os mesmos níveis, o que aumentaria os custos e, a curto prazo, o déficit. Não nos parece uma solução aceitável, e apenas a poderíamos aceitar por poucos meses, e apenas para que ficassem demonstradas, para quem não quiser ver, as suas nefastas consequências aqui previstas". Hipótese C Reduzir as despesas "Menos realista e menos conveniente nos parece a tentativa de reduzir as despesas. (...) As contas "mostram uma estrutura de despesas que não permite reduções significativas sem alterações importantes da quantidade e qualidade dos serviços, isto é, sem reduzir os serviços, e a sua disponibilidade. Das despesas, 90,96% são com pessoal e, destas, 90,9% são os vencimentos dos médicos e do pessoal administrativo, insusceptíveis de redução, visto serem tabelados e constituírem direitos adquiridos. Uma redução das despesas correntes mesmo que fosse possível para metade, não atingiria mais de 400 contos mensais. A supressão dos serviços de enfermagem e dos serviços domiciliários atingiria 600 contos mensais, mas seria muito ressentida pelos utentes e reflectir-se-ia muito ne- gativamente na qualidade dos serviços prestados. Seria, na verdade, uma outra forma de destruir este Projecto". Hipótese Alargar as listas de utentes "Igualmente irrealista e condenada ao fracasso seria a tentativa de esperar que o aumento das inscrições venha a cobrir o déficit. Seria necessário esperar mais 4.250 inscrições o que ao actual ritmo de crescimento de cerca de 500 mensais demorará 9 a 10 meses, acumulando-se, nesse espaço de tempo, mais 15 mil contos de prejuízo que o Departamento de Clínica Geral não está em condições de suportar. E, para isso, seria necessário impor aos médicos listas de 2.000 utentes sem qualquer compensação ou esperança dela, o que seria uma outra forma de destruir o ambiente de trabalho e de efectivamente destruir este Projecto. Recorda-se que os médicos têm o direito de regressar ao seu lugar de origem e não temos dúvidas de que o farão se as condições de re- muneração se tomarem inferiores às que tinham nesses seus lugares. A opinião dos analistas Na opinião de analistas contactados pelo Médico de Família, caso a situação não seja resolvida rapidamente e o Departamento de Clínica Geral da FMUP decida denunciar o acordo, a ARS Norte assumirá o controlo do Centro, evitando as consequências negativas que um encerramento certamente traria. Se assim acontecer, o Tubo não será mais de Ensaio passando a funcionar de acordo com o modelo adoptado para os restantes centros da Região. Os médicos seriam pagos pela ARS e o restante pessoal - com vínculo ao DCG - contratado ou dispensado de acordo com as necessidades detectadas. A ARS passaria a gastar, por utente, 1340 escudos, ascendendo a despesa mensal a cerca de vinte mil contos. Uma outra hipótese adiantada foi a do Ministério propor aos clínicos envolvidos a adesão ao Regime Remuneratório Experimental. Nesta hipótese, os médicos seriam pagos pela ARS, podendo o "Estamos a trabalhar para a saúde dos portugueses; sacrificamos muitas horas que deveriam ser de descanso, tentando encontrar modelos que permitam melhorar as condições de atendimento dos utentes. Não ganhamos mais um centavo por isso, pelo contrário. Um ano depois, com ordenados em atraso e o risco de chegar ao fim do mês e não receber nada, é natural que nos questionemos sobre se valeu mesmo a pena... DCG decidir pela manutenção do acordo (alterado) ou pelo abandono do projecto. Certo, certo, é o péssimo ambiente que se vive no Tubo, com médicos, enfermeiros e administrativos a deitarem contas à vida, confrontados com a iminente suspensão do pagamento dos salários... Que no caso dos médicos já estão em atraso. Certa, também, é a desilusão que nos confessaram: "estamos a trabalhar para a saúde dos portugueses; sacrificamos muitas horas que deveriam ser de descanso, tentando encontrar modelos que permitam melhorar a prática, as condições de atendimento dos utentes e trabalho dos profissionais; cumprimos todos os compromissos a que nos obrigámos quando assinámos o acordo. Não ganhamos mais um centavo por isso, pelo contrário. Um ano depois, com ordenados em atraso e o risco de chegar ao fim do mês e não receber nada, é natural que nos questionemos sobre se valeu mesmo a pena... Se vale a pena fazer alguma coisa quando o prémio por se fazer é o que recebemos". Miguel Múrias Mauritti Número 8 8 Setembro 2000 Pequitogate Primeira página a história de um atentado A rapidez com que o leitor veio Presidentes do INFARMED, da saber pormenores do título da ANF e o da Apifarma, um primeira página, dá-me a número ainda não apurado certeza de que a história é de Directores Gerais de importante e merece ser companhias Farmacêuticas e contada. O de Delegados de Informação Presidente da República, três Médica, alguns milhares de Ministros da Administração médicos (a fazer fé nas duas Interna (o anterior ao ex, o ex listas de alegados subornos, e o actual) duas da Saúde (a mais É verdade! de cinco mil), ex e a reconduzida), um número indeterminado enfermeiros, maqueiros e outro pessoal auxiliar, de Secretários de Estado da Saúde e de cidadãos anónimos de diferentes idades, sexos, Deputados à Assembleia da República, o filiações partidárias, graus académicos, credos Procurador Geral da República, os dois e preferências sexuais, entre muitas outras Directores que a Polícia Judiciária teve desde pessoas, nacionais e estrangeiras, estão 1997, coadjuvados por Inspectores, Graduados, envolvidas no caso Pequito. Em maior ou menor Cabos e simples Agentes, o SIS (o número de grau, colaboradores envolvido é secreto), alguns activamente, quase todas contra o ex-Delegado Bastonários da Ordem dos Advogados, da dos de Informação Médica, que processou e foi Médicos e o da Ordem dos Farmacêuticos, os processado pela Bayer Portugal todas intervieram ou intervêm Número 8 9 Setembro 2000 Primeira página A leg adamente, algumas delas levaram o desagra do pela denúncia de ligações perigosas entre médicos e indústria farmacêutica a extremos de coacção: perseguiram-no de carro - e a Garcia Pereira, o abnegado causídico que o aceitou defender; ameaçaram-no na via pública e na da PT. No limite, houve mesmo quem alegadamente o tivesse agredido, por duas vezes, com uma arma branca, causandolhe ferimentos na cara, na parede torácica, no braço e flanco direitos com extensões até 15 centímetros e uma profundidade máxima de três milímetros, garantem os médicos que o assistiram e a polícia que o acompanhou. Depois de ter resistido três anos à tentação de abordar em letra de imprensa o muito mediático Bayergate, decidi quebrar o jejum e levar ao prelo, preto no branco, toda a História do Delegado cujo relato, iniciado pelo Diário de Notícias e pela SIC, em 4 de Setembro de 1997, não mais deixou de marcar presença nas primeiras páginas dos jornais e na abertura dos noticiários das TV`s. Mas contá-la toda, sem omitir os pormenores com que o principal actor, Alfredo Pequito, a enriquece quando a conta aos jornalistas e que estes invariavelmente omitem. A versão integral de uma entrevista a Pequito é no mínimo bombástica e todos os meus queridos camaradas de profissão que tiveram a felicidade de o contactar o sabem. Só que, divulgados por grosso, os horrores que se denunciam, pela sua dimensão obscena, ou lançariam no descrédito toda estrutura social ou levariam as almas menos crentes à tentação de não acreditar: a julgarem o texto fruto da mente alucinada de um redactor. O respeito que me merecem os leitores e a fé que deposito na sua Algumas acusações e denúncias de Pequito "Há uma recompensa de 500 mil contos para quem me matar" Alfredo Pequito, 24 Horas , 29/02/00 "(Jor ge Sampaio) sabe que corr o risco de vida. Deve estar à espera de receber em audiência a viúva" Ibidem capacidade crítica, obrigam-me a nada sonegar. Neste primeiro fascículo que entendi apodar de Pequitogate, divulgo alguns dados recolhidos de fontes que conheceram de perto o nosso herói e uma entrevista telefónica que este amavelmente concedeu ao nosso jornal e que foi gravada em simultâneo, garantiunos, pelos serviços da Procuradoria Geral da República, Polícia Judiciária, SIS e muito possivelmente por muitas outras pessoas ao serviço de outras tantas sinistras instituições. O percurso de um DIM Antes de ingressar na Bayer, em 1992, Alfredo Pequito passou por outros laboratórios. Entre 1986 e 1989 foi DIM da Schering-Plough, de onde se trasladou para a já extinta Farmofer, para a área hospitalar. A selecção de Alfredo para a casa da Aspirina esteve a cargo de Teixeira da Cruz, à altura director de marketing e vendas, hoje trabalhador independente, que acompanharia todo o seu percurso na companhia. Com Pequito, entraram nessa leva cerca de 40 novos DIM, no que constituiu a maior contratação que a Bayer efectuara até então. Contactado pelo Médico de Família, um antigo chefe de Alfredo Pequito explicou os critérios que conduziram à contratação: "era muita gente ao mesmo tempo e a selecção foi feita com menos segurança do que era habitual. O Pequito foi beneficiado pelo facto de ser filho de uma médica do Hospital de Santa Maria, professora catedrática e parente próximo dois outros clínicos". Deram-lhe carro e depois de uma estadia em Lisboa, enviaram-no para Évora a visitar médicos. Com o tempo, viria a constatar-se que Alfredo era senhor de um feiDN (4/9/97) 1ª acusação Médicos prescrevem a troco de prendas da Bayer. Público (18/9/97) - Denúncia: destr uição de documentos por parte das m ultinacionais. Ministério Público não actua. Capital (16/10/97) - Denúncia: as far mácias também colaboram com a indústria, ao fornecerem aos DIM informações sobre venda de medicamentos prescritos pelos médicos. Independente (29/5/98) - tio especial: "era uma pessoa muito conflituosa, dada a provocar barulho. Quando se lhe metia uma ideia na cabeça ai de quem o contestasse". Os infractores, garante o ex-chefe, eram brindados com intenções de "porrada", que semp re procuravam evitar. Aleg adamente, ele mesmo terá sido vítima de um desses avanços emotivos que quase sempre se antecediam com característicos "o que é queres, hamm!? O que é que foi, hamm!?" acompanhados de movimentos coordenados dos membros superiores e agressões a gravatas e colarinhos. "Não respeitava os chefes"... desabafou ao nosso jornal este ex-responsável. Ao feitio belicoso, juntava-se uma fraca produtividade: "chegava a passar um mês sem enviar para a sede os relatórios semanais de visita. E depois, havia relatórios de visitas falsas... Houve mesmo um médico de Elvas, da lista do Pequito, que me veio pedir informações, dizendo que não era visitado por ele". Os chefes directos de Pequito queixaram-se a Teixeira da Cruz, pedindo uma intervenção que este sempre recusou. E porquê? O exchefe e um ex-colega explicam: "é preciso perceber como é que naquele tempo as coisas funcionavam na Bayer. Era o Dr. Teixeira da Cruz quem seleccionava os delegados e por isso era-lhe difícil reconhecer que se tinha enganado a respeito de um. Era corrente ouvir o Dr. Teixeira da cruz dizer que os delegado eram bestiais "porque fui eu que os escolhi". Era assim...! Nunca quis dar o braço a torcer. Quando nos queixávamos, a sua resposta era sempre a mesma: vocês é que o acompanham por isso ensinem-no, expliquemlhe como é que as coisas são...Ponham o gajo na ordem... E não saía disto. Houve mesmo o caso de um delegado, que toda a Ameaça de morte e car ro abalroado. Independente (21/8/98) - Denúncia: Inspecção Geral da Saúde não trabalha bem. Público (22/9/98) "despedimento da Bayer foi injusto". DN (4/9/98) - "Estou a ser perseguido". Púb lico (4/09/98) - Pequito acusa partidos políticos e de putados de silêncio ensurdecedor sobre o seu caso. "(Jorge Sampaio) sabe que corro risco de vida. Deve estar à espera de receber em audiência a viúva" Alfredo Pequito, ‘24 Horas’, 29/02/00 “Maria de Belém telefonava para conversar comigo (...) era uma pessoa muito afável. Sabia de tudo mas tinhas as mãos atadas” Alfredo Pequito, ‘Médico de Família’ Pequito acusa Manuela Arcanjo de nada fazer, António Guterres de não o receber e Cunha Rodrigues de omissão. Alfredo Pequito, ‘24 Horas’, 29/02/00 Pequito denuncia: Médicos prescrevem a troco de prendas da Bayer. ‘DN’, 4/9/97 Pressões e ameaças da Ordem dos Médicos. ‘CM’, 22/9/98 Pequito: "farmacêuticos ajudaram a Bayer a corromper médicos". ‘Euronotícias’, 5/11/99 CM (22/9/98) - Den uncia: pressões e ameaças da Ordem dos Médicos . Ca pital (25/11/98) - Denuncia pr essões do Gover no alemão sobre o Gover no português. E diz: "a minha cabeça vale meio milhão de contos"; "as autoridades sabem quanto vale darem-me um tiro". DN (26/11/98) - "Estado tem dívida mor al para comigo" 24H (1/2/99) - "Quem manda em Portugal? A Bayer ou o Estado por tuguês?" 24H (10/3/99 - Pequito acusa hospitais de Santa Maria, S. José, Santa Marta e Capuchos de realizarem ensaios clínicos com ciproxina, também em crianças. Euronotícias (16/6/99) "Pequito vai requerer a abolição do segredo de justiça. A partir de então, pode ser que se saibam algumas coisas incómodas para muitos intervenientes no processo, ameaça" Euronotícias (9/7/99) - "Pequito volta ao ataque" - "o ex-dele gado Número 8 10 Setembro 2000 Primeira página Nelson Baltazar, deputado do PS e coordenador da área da Saúde, não adiantou para já qualquer acção dizendo apenas que "iria estudar o dossier" Existem no mercado português "500 medicamentos que não têm eficácia terapêutica ou são perigosos, pelo devem ser descomparticipados" pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), afirmou Alfredo Pequito diz ter infor mação relativa à realização de ensaios ilegais por parte da Bayer em quatro centr os de saúde". DN (10/7/99) - Pequito acusa hospitais de Santa Maria, S. José, Santa Marta e Capuchos de realizarem ensaios clínicos com Ciproxina. Há crianças a servirem de cobaias. DN (28/10/99) - Pequito vai processar criminalmente Belil Creixel [Director da Bayer para a Península Ibérica] por difamação. Euronotícias (29/10/99) Pequito acusa médicos de cor rupção. Público (3/11/99) - Pequito acusa o Procurador Geral da Repúb lica (PGR), Cunha Rodrigues, de negligência. Euronotícias (5/11/99) - Pequito: "farmacêuticos ajudaram a Bayer a corromper médicos". 24H (29/2/00) - Pequito acusa Manuela Arcanjo de nada fazer; Jorge Sampaio de não o r eceber; António Guterres do mesmo; gente sabia que era problemático, que só foi corrido depois de quinze anos de serviço. Tudo porque tinha sido o primeiro DIM que o Dr. Teixeira da Cruz seleccionou. Costumava dizer, com orgulho: este foi o meu primeiro! O Dr. era um bom homem... Só que não tinha coragem para tomar uma atitude. E depois, a Bayer nunca despedia ninguém...Por isso deixámos as coisas andar... Até que aconteceu o que aconteceu". O que é que levou a que o despedissem? O ex-chefe e dois ex-colegas explicaram-nos: "as coisas já tinham ido longe de mais e a de 2 de Feve reiro de 1996 o Dr. Teixeira da Cruz mais o Dr. Pratas, que era o responsável pelos recursos humanos, encostaram-no à parede: você anda a fazer visitas falsas, não cumpre, não manda relatórios... O único protesto que Pequito formulou então foi o de que não era nenhum Zatopeck [campeão mundial dos 5 e 10 mil metros em 1952]. Reconheceu que tinha sido apanhado "numa situação de facto", pediu que lhe fizessem as contas e fez-se à vida. Levou consigo menos de mil e quinhentos contos. Não foi despedido, saiu de livre vontade. Toda a gente lá dentro sabe que esta é que é a verdade". A saída do delegado ocorreria 4 dias mais tarde, a 7 de Fevereiro de 1996. Na entrevista que concedeu ao nosso jornal, Alfredo desmentiu que as coisas se tenham passado assim: "chamaram-me ao gabinete do chefe de pessoal e disseramme que eu não servia, porque não entrava nos "esquemas"". Como é que Alfredo sobreviveu no laboratório alemão tanto tempo, sem compactuar com os tais "esquemas"? Como é que se manteve quatro anos sem "fazer o que lhe mandavam"? O ex-delegado explica: "eles visitavam os médicos [da sua lista] nas minhas costas e tratavam dos "esquemas" sem eu saber de nada". Quanto à sua saída "amigável", Alfredo afirma: "não foi nada pacífica". Mas não explica porque razão aceitou os mil e quinhentos contos de indemnização e, também, porque esperou mais de um ano e meio para divulgar os "esquemas" e processar a companhia... Já no que respeita aos documentos que alegadamente comprovam as visitas falsas, Pequito desmente a sua existência. No entanto, Médico de Família sabe que no julgamento que corre no Tribunal do Trabalho foi apresentado pela Bayer, como prova, um progr ama de visitas, alegadamente falsas, alegadamente escritas pelo punho de Pequito, que a empresa juntou como prova. Recorde-se que o processo que o e x-deleg ado mov eu contra a multinacional alemã foi adiado quando se encontrava já na recta final. Em causa, uma queixa que Alfredo enviou ao Tribunal da Relação, onde se acusam duas das Juízas do colectivo de parcialidade. De acordo com fontes próximas do processo, esta manobra de Garcia Pereira, o advogado, teve como objectivo adiar um caso cujo desfecho, tudo o fazia supor, seria desfavorável a Alfredo. A continuação do processo aguarda, pois, melhor decisão do tribunal superior. Cunha Rodrigues e Germano de Sousa de omissão. Tal e Qual (10/3/00) - Pequito denuncia: PGR agiu de for ma displicente, ao mesmo tempo que acusa Lobo Antunes de estar a ser utilizado pela Bayer e levanta suspeitas sobre a imparcialidade do Presidente da Repúb lica, Jorge Sampaio, o ex-Ministro da Justiça, Vera Jardim, o da Defesa, Castro Caldas e o da Justiça, António Costa. Em causa, a sociedade de advogados de que estes são sócios. 24H (3/5/00) - Pequito acusa indústria Far macêutica de estar por detrás do ataque de que foi alvo (golpe na face). Diário Digital (3/5/00) - "Julgamento adiado. O ex-dele gado de propaganda médica, que em 1997 denunciou alegados casos de corrupção praticados pela Bayer, terá sido atacado por um desconhecido às 20h30 de quinta-feira no jardim de casa dos seus pais, em Lisboa. Ferido no rosto por um objecto cor tante, Pequito foi Em busca de um novo emprego Depois de sair da multinacional alemã, Alfredo concorreu a vários laboratórios. "Um deles foi a Pfizer" - revelaram ao nosso jornal os ex-colegas - "só que mandou um currículo tão vasto e tão elaborado que os tipos acharam que era de mais e riram-se, dizen- do que aquilo era um currículo para Chefe.... Repare que quando um delegado sai de uma companhia, toda a gente da indústria sabe se foi a bem ou a mal. Foi o que aconteceu com o Pequito!" E como explicam os ex-colegas a denúncia feita aos jornais algum tempo após o despedimento? "É simples: como viu que não arranjava lugar em sítio nenhum, resolveu chantagear a Bayer. Escreveu umas cartas para a sede, na Alemanha e ameaçou dar aos jornais os papéis que tinha. É claro que na Alemanha não lhe ligaram nenhuma e mandaram as cartas de volta para Portugal". Fizeram mal! A 4 de Setembro de 1997, sete meses após a saída de Alfredo da Bayer, o Diário de Notícias dava à estampa a história dos delegados que subornavam médicos. Queixa à Alemanha Nas cartas que enviou para Alemanha, dirigidas ao Presidente da Bayer "Mundo", Pequito avisa que se não houver uma solução para o caso, ver-se-á obrigado a denunciar a situação à imprensa e a recorrer a "instâncias" nacionais e internacionais. Em declarações ao Médico de Família, o ex-delegado confirma o envio das missivas e a ameaça de recorrer às "instâncias internacionais" recusando, todavia, a acusação de chantagem: "pensava que a Bayer mundial não tinha conhecimento destes "esquemas". Vim a saber, depois, que afinal sabiam de tudo". Numa outra carta, Pequito pediria aos ex-patrões que não boicotassem a sua tentativa de arranjar trabalho. Mas nem só de instâncias e de trabalho se fala nas cartas: "também falei de financiamento de partidos, da Procuradoria Geral da República e de muitas outras coisas...". Pequito afirma possuir cópias das assistido nas urgências do hospital de São José. "Toma. Agor a vai-te limpar", foi o recado do agressor, se gundo Pequito. Curiosamente, a agressão teve lugar na véspera de uma audiência de julgamento do se gundo processo contra a Bayer, em que Alfredo Pequito é testemunha, o que leva alguns elementos ligados à investigação a admitir a hipótese de autoflagelação". Expresso (3/6/00) - a Direcção Nacional da PSP emitiu um comunicado a esclarecer que Número 8 11 Setembro 2000 Primeira página Do Hospital de Curry Cabral, em Lisboa, Pequito denuncia: puseram benzodiazepinas no soro para que fossem detectadas cartas enviadas para a Alemanha que a Bayer entregou à Polícia Judiciária, como prova. Quisemos vê-las. Recusou, explicando: "divulgá-las-ei quando muito bem entender. Tenho os meus timing`s... Percebe? Ainda assim, ofereceu apoio ao nosso jornal: "se quiser, dou-lhe o número de telefone do gabinete do Presidente da Bayer Mundo e você telefona-lhe a perguntar. Tenho os contactos todos" Alguns incidentes de percurso Durante o tempo que esteve na Bayer, Alfredo sofreu alguns sobressaltos, a que na altura os colegas não atribuíram grande importância. Um deles diz respeito à viatura de serviço que lhe tinha sido entregue. No Verão de 1995, ao regressar de casa de um colega, aonde se deslocara para recolher equipamento audiovisual destinado a ap resentações médicas, Pequito deu de caras com o seu Alfredo Pequito tem segur ança pessoal a cargo do Corpo de Segur ança Pessoal da PSP "que o tem acompanhado, e continuará a acompanhar em permanência, sempre que se encontre fora da sua residência". Avança que na passada quinta-feira, pelas 17h30, esta equipa deixou Pequito na sua residência, tendo o antigo dele gado de propaganda médica dispensado os seus serviços, "solicitando-lhes que a mesma fosse retomada na sexta-feira, pelas 8h45. Opel completamente carbonizado. Possível causa: uma faísca no depósito de combustível. Para os excolegas, que reconheceram não ter atribuído, então, grande importância ao caso, o incidente revestia-se de alguma singularidade. "Era a primeira vez, na história da companhia, que um Opel se incendiava. Toda a frota era Opel e só o carro daquele gajo é que pegou fogo? E depois o carro estava parado e eu nunca ouvi falar de carros que se incendiassem sozinhos, depois de estarem parados horas a fio", questiona o antigo chefe de Alfredo Pequito. Facadas em Évora Os alegados crimes de sangue de que Alfredo Pequito terá sido vítima nos últimos meses não constituem novidade para o ex-delegado da Bayer. De facto, não é de hoje que Alfredo Pequito é agredido por estranhos. Em Setembro de 1995, quando participava, em "Pequito afirma ter ‘provas’ de que a Bayer r ealizara ensaios clínicos ‘ilegais com crianças’ em, pelo menos, quatro hospitais públicos" "Garcia Pereir a, advogado de Alfredo Pequito, o ex-dele gado de infor mação da Bayer (...) que foi ontem esfaqueado, atribui responsabilidades ao Estado e às autoridades portuguesas pelo acto contra o seu cliente". TSF (2/6/00) - Garcia Pereira mostrou-se revoltado com os Évora, na reunião preparatória das II Jo rnadas de Diabetologia do Sul e Ilhas hoje Jornadas de Diabetologia do Sul e Regiões Autónomas, Alfredo Pequito deu entrada no Hospital de Elvas, cerca da uma hora da manhã, vítima de agressão por parte de desconhecidos. Afirmou, então, ter sido alvo de uma tentativa de assalto, numa zona er ma, desabitada, para lá do aqueduto da cidade. As agressões: duas "facadas" no baixo ventre, superficiais, pelo que receberia alta nesse mesmo dia. Contactado pelo nosso jornal, Alfredo confirmou ter sido vítima desta agressão. O pós escândalo Depois de ter entregue à comunicação social as listas que alegadamente comprovavam ligações perigosas entre médicos e companhias farmacêuticas, a que juntou dados de outras empresas, Pequito não mais deixou de ser tema de primeira página dos jornais, abrindo com pompa e circunstância os noticiários das TV`s. O seu caso serviu para tudo: denunciar alegadas práticas de corrupção, prescrição em função de prémios, erros políticos da tutela, crime organizado... Aos poucos, quase todos os responsáveis políticos portugueses foram sendo envolvidos na trama, do Presidente ao Deputado do líder ao militante. Os recortes de imprensa não deixam margens para dúvidas: a ser ve rdade tudo o que Alfredo afirma, estamos perante a maior conspiração de que há memória, em Portugal e além fronteiras. Nestas páginas, recordamos algumas (ver caixa). acontecimentos e avisou: "Eu exigo e xplicações da parte dos órgãos responsáveis do Estado e assaco, desde já, formalmente, ao Estado português, ao Gover no, ao senhor procurador-geral da República, ao director da Judiciária e ao director nacional da PSP as responsabilidades por este e por quaisquer outros actos que eventualmente se venham a verificar, não só contra o meu constituinte e os seus familiares como contra testemunhas" Comunicado do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado Sobre a selvagem agressão de que foi vítima Alfredo Pequito A respeito da selvagem e cobarde agressão de ontem à noite, cometida sobre Alfredo Pequito, constituinte do camarada Garcia Pereira, o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses tem a dizer o seguinte: 1.O ignóbil ataque que conduziu Alfredo Pequito ao hospital comprova inequivocamente que a mafia organizada constituída pelas grandes multinacionais da indústria farmacêutica, para além de estar disposta a tudo para cumprir as múltiplas ameaças de morte que há muito vem proferindo contra Alfredo Pequito e Garcia Pereira, bem como as suas respectivas famílias, se encontra também em total desespero de causa face ao processo judicial em curso que, muito claramente, põe a nú os seus processos de actuação tentaculares e criminosos, os quais até aqui têm contado com a complacência total do Estado burguês que temos. 2.Se vivemos, como incansavelmente propagandeiam os seus epígonos, num "Estado de direito democrático", o povo português tem agora que perguntar de novo que "direito democrático" é este que permite que um qualquer energúmeno a soldo daquelas multinacionais actue contra a integridade física daqueles que, corajosamente, ousam pôr a nú os seus métodos corruptos e criminosos... 3.O PCTP, em consonância, responsabiliza os diversos órgãos do aparelho de Estado pelo sucedido, exigindo uma completa mudança de atitude por parte dos mesmos, a qual passe efectivamente a garantir a integridade física de Alfredo Pequito, de Garcia Pereira, das suas respectivas famílias, bem como de todas as testemunhas envolvidas no processo em curso. 4.A não se verificar tal, o PCTP considera inteiramente justa a posição já expressa pelo camarada Garcia Pereira de se recusar a comparecer em tribunal nas actuais condições de intimidação que pesam sobre todos quantos estão firmemente dispostos a apurar a verdade dos factos, lembrando ademais que Garcia Pereira é candidato, publicamente assumido, à Presidência da República. 5.O referido "Estado de direito democrático" não tem, a este respeito, que fazer mais nem menos do que fez com o chefe-de-fila do imperialismo norte-americano, Bill Clinton, ao facultar-lhe uma segurança de centenas e centenas de policiais no decurso da sua visita provocatória a Portugal (devidamente enquadrados, aliás, por centenas de agentes da CIA... ) e que custou milhares e milhares de contos ao erário público. Lisboa, 2 de Junho de 2000. Púb lico (3/6/00) - Pequito acusa indústria Far macêutica de tentativa de assassinato. Visão (6/7/00) - Pequito faz queixa de 2 juízas do tribunal do trabalho, acusando-as de parcialidade. Capital (4/9/00) - Pequito apresenta nova lista de médicos, alegadamente aliciados pela Bayer. DN (4/9/00) - Pequito acusa o PGR de actuação negligente. Lusa (12/9/00) - Pequito "foi ferido nas costas, no peito e no braço direito, infor mou o próprio à Lusa. Pequito foi assitido no local por uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e foi posteriormente transpor tado para o Hospital Cur ry Ca bral, em Lisboa, encontrando-se fora de perigo." Púb lico (13/9/00 - Pequito revela: - Recebeu ameaças telefónicas de morte - Apontaram-lhe uma ar ma à cabeça, que disparou 4 vezes em seco 12 Número 8 Setembro 2000 Primeira página Alfredo Pequito acusa em entrevista ao nosso jornal Conspiração hospitalar "Puseram benzodiazepinas no soro" Aqui há dias, Pequito foi vítima de um novo atentado, amplamente divulgado pela comunicação social. Logo depois surgiram rumores, também na imprensa, de que tudo não teria passado, afinal, de um caso de automutilação, hipótese avançada pela Polícia Judiciária e pelos médicos que o assistiram. Os golpes: ferida incisa no tórax, com 15 cm; ferida incisa no flanco direito, com aproximadamente 7 cm e ferida incisa no braço direito, com 15 cm. Em aditamento, a nota: "superficiais". De acordo com fontes do hospital, a profundidade máxima das lesões não ultrapassaria os 3 milímetros - A sua mulher foi perse guida de car ro - Ele também foi perseguido de car ro - te ve ameaça de bomba no automóv el - Carro da mãe foi incendiado na vésper a do seu julgamento 24H (13/9/00) - Garcia Per eira an uncia que vai pôr em tribunal o Presidente da R epública, o Primeir o Ministro, o Ministro da Administr ação Inter na e o PGR por que o Estado não assegurou pr otecção a Pequito. Púb lico (15/9/00) - Pequito acusa PJ de "manobras de diversão" Diário Digital (15/9/00) "Alfredo Pequito, o ex-dele gado de infor mação médica (DIM) da Bayer , recusa liminar mente a tese de que se automutilou na segunda-f eira nas costas, toráx e braço direito. A hipótese, avançada pela PJ à TVI, não é porém afastada pelo relatório dos peritos do Instituto de Medicina Le gal, que anteontem examinaram os ferimentos provocados por uma ar ma branca (...) Pequito considera, mais uma vez, que a tese de autom utilação é "manobra de di ver são" da PJ para desviar as atenções das in vestigações aos casos de cor rupção entre médicos e la boratórios, que denunciou em 1997". TVI (15/9/00) - "A PJ não terá encontrado na camisa que Alfredo Pequito v estia na altura do alegado ataque vestígios de uma segunda pessoa. "Não houve confronto físico, eu apenas me defendi", alega Pequito. Púb lico (15/9/00) - "um portavoz do gabinete do secretário de Estado da Administração Interna, Luis Patrão, declarou que "Alfredo Pequito tem medidas de segurança em tudo semelhantes à dos quatro ministros que têm segurança. Só o Primeiro-Ministro e o Presidente da Re pública possuem mais se gurança do que Alfredo Pequito" "O PÚBLICO sabe que os A reforçar a suspeita da po lícia de que se terá trata do de uma "manobra de diversão", destinada a imprimir novo fôlego à imagem de vítima que tem sido difundida pela comunicação social, alguns dados, curiosos. Primeiro, não há registo, nos anais da Judiciária, de um caso semelhante. Atacado, Pequito não apresenta mais do que uma incisão nos membros superiores, como seria de esperar num indivíduo que é atacado e que, por instinto, tentaria defender a cara e o tronco. Depois, o tipo de golpe de que alegadamente foi vítima: não tentaram perfurar o corpo, como seria de esperar. Por fim, o inusitado movimento de jornalistas que rodeou toda a operação: quando a ambulância chegou ao hospital, já havia câmaras de televisão à espera. Quisemos saber da boca de Pequito as peripécias que, segundo ele, marcaram a agressão de que alegadamente terá sido ví- peritos do Instituto de Medicina Legal f izeram uma análise aos ferimentos que não pôe de parte a possibilidade de ter ocorrido uma autof lagelação. Os ferimentos são superficiais e em nenhum terá ocorrido uma perfuração com objecto cor tante". "Os dois ataques contêm vários elementos de perplexidade: ocorrer am no mesmo local [junto ao muro exterior e no interior do 13 Número 8 Setembro 2000 Primeira página tima. Em entrevista ao nosso jornal, Alfredo conta a sua versão dos acontecimentos. Falou de conspirações no hospital de Curry Cabral envolvendo médicos e Polícia Judiciária e de como lhe puseram benzodia-zepinas no soro para que fossem detectadas nas análises. Falou, também de quem suspeita... Foi ferido, pela segunda vez, no espaço de dois meses. Agora, surge a informação de que se terá tratado de automutilação; de que as feridas eram superficiais... É também isso que vem no seu relatório médico... Essa informação foi dada pela TVI. Só que a palavra "superficiais" foi acrescentada. Porquê, não sei! A Polícia Judiciária apareceu com essa tese à velocidade da luz. É preciso ver o que é que vai sair daqui. No relatório médico diz-se que o Pequito entrou sonolento, desorientado... Foi assim? É uma perfeita mentira! Senti-me apenas maldisposto e por insistência dos senhores do INEM sentei-me numa maca. Mais nada! O relatório diz que lhe foram detectadas benzodiazepinas no sangue... A tontura terá vindo daí? Não consumo benzodiazepinas. Eles detectaram o que quiseram detectar. Se você está a soro e lhe puserem outro medicamento qualquer - que eu não sei qual foi detecta-se o que se quiser... E o que é que isso quer dizer? Quer dizer que eu não sei se me puseram alguma coisa no soro. Coloca, então, a hipótese de lhe terem colocado as benzodiazepinas no soro? Claro que sim! Tudo isto é estranhíssimo. O que é que o leva a pensar desse modo? Porque é que a Polícia Judiciária quintal], ao final da tarde e sem testemunhas, apesar do jardim ser visível do exterior e da mãe de Pequito se encontrar no interior da residência, e deixaram ferimentos pouco pr ofundos, embora extensos". "fonte g overnamental declarou ao PÚBLICO que a segurança pessoal concedida "nunca registou qualquer mo vimento ou incidente suspeito de pessoas ou viaturas ao long o dos anos que esteve reunida com o chefe de equipa durante uma hora? Porque é que entraram pela porta de trás e não pela da frente? Para não serem vistos. A agressão teve lugar na véspera de uma audiência de julgamento do segundo processo contra a Bayer, em que Alfredo Pequito é testemunha, o que leva alguns elementos ligados à investigação a admitir a hipótese de autoflagelação". Como é que soube que eles lá estavam? Foi um segurança do hospital que informou o Dr. Garcia Pereira de que eles lá estavam. E só depois dele regressar [o chefe de equipa] é que resolveram fazer a análise ao sangue. Não percebo a propósito de quê quiseram fazer-me uma análise. Se fosse o caso de um acidente de automóvel, ainda compreendia. Diz-se que recusou fazer a contra análise. É verdade? A minha mãe foi Directora do Serviço de Hematologia do HSM e tem vários laboratórios de análises. Portanto, se há uma coisa que ela percebe é de análises. Ora, um hemograma demora, no máximo, cinco minutos a fazer. Eu estive duas horas e meia à espera dos resultados. Percebe...? Porque é que andam à procura de opiácios e de barbitúricos? É que essa é a tese que foi espalhada pela indústria farmacêutica: que eu era toxicodependente. Percebe...? É por isso que eu não tenho grandes dúvidas de que a Polícia Judiciária aproveitou essa oportunidade para ver se me apanhava com alguma coisa. Está a ver...? Aliás, a indústria faz reuniões periódicas para delinear este tipo de ‘Diário Digital’, 3/5/00 estratégias. A última foi na Roche! Como é que explica estas tentativas de agressões? De quem é que suspeita? Indústria farmacêutica, empresas congéneres e outras entidades. E por outras entidades, entenda mesmo isso: outras entidades. Percebe...? Não. Olhe, este telefonema está a ser ouvido! Está a ser ouvido? Por quem? De certeza que o telefone está sob escuta! Mas não tenha problemas, que eu também não tenho. "Pequito afirma ter ‘provas’ de que a Bayer realizara ensaios clínicos ‘ilegais com crianças’ em, pelo menos, quatro hospitais públicos" Garcia Pereira acompanha Alfredo P equito que justificasse o ref orço do corpo de vigilância". "A se gurança de Alfredo Pequito acompanha-o em todas as deslocações pelo país e apenas não está presente quando ele se encontra na sua residência. Quando c hega a casa, Alfredo Pequito combina com os homens da sua segurança "as horas a que o apanham no dia seguinte", um procedimento habitual com todas as entidades do estado que possuem seguraça pessoal. "Tudo o que aconteceu a P equito foi sempre dentro da sua residência [da mãe], local onde nunca solicitou a pr esença dos agentes" Diz P equito: "Isto é muito cómodo par a a PJ. "Sabe o quão doente psiquicamente está uma pessoa par a se auto-mutilar? Há um g rupo musical cujo vocalista se auto-m utila em palco nos concer tos. Eu não sou o vocalista dos Marilyn Manson. Estou na Porque é pensa que o telefone está sob escuta? Não penso, sei que está! Isso foi pedido ao senhor Ministro da Justiça pelo Dr. Garcia Pereira. A meu pedido! Tanto o meu como o dele estão sob escuta. Voltando à autoria das agressões. Acha que é a gente da Bayer que está por detrás de tudo? Podem ser eles como podem ser outras entidades. E por outras entidades, entenda mesmo isso: outras entidades. Percebe...? Veja bem, a Bayer não é virgem nestas coisas. Se você ler a revista Fortune, vê que eles têm um corpo de operações. Está a compreender...? Ó Pequito, para uma companhia que tem uma força dessas não seria mais fácil "limpá-lo"? Eventualmente seria. Mas isso era assumir publicamente que eu tenho razão. Está a ver...? Quando se arranjam estes fait`divers é para desviar a atenção daquilo que devia acontecer e não acontece. posse das minhas faculdades mentais" Existem no mercado português "500 medicamentos que não têm eficácia terapêutica ou são perig osos, pelo de vem ser descomparticipados" pelo Ser viço Nacional de Saúde (SNS), afirmou Alfredo P equito Todos os de putados que receberam Alfredo Pequito mostraram-se "surpreendidos e pr ontos a Deixe-me fazer de "advogado do Diabo". A primeira agressão foi para o calarem, para lhe meterem medo numa lógica de "se falas...". Ora, você não se calou. Porque é que a Bayer não "resolveu" o problema, já que tem a tal força de operações? Para você ter uma noção do que é a Bayer, posso-lhe dizer que o presidente da companhia ameaçou o Chanceler Alemão de que se não aceitasse algumas das suas imposições, ele retiraria todas as fábricas da Bayer da Alemanha. Se ele faz isto em relação ao Estado Alemão, imagine o que faz ao Estado Português. Percebe...? Deixe-me explicar-lhe o seguinte: a Bayer tem dois processos complicadíssimos, um com a Eva Kor - que há-de cá vir a Portugal dar umas conferências para explicar o que é que é exactamente a Bayer. Lembre-se [não me lembro de nada] que só para que ela não colocasse um processo, a Bayer ofereceu-lhe quatrocentos milhões de contos. O outro caso sou eu! Percebe...? estudar" o documento, revelou o ex-dele gado de informação médica. De pois de ter estudado atentamente o grosso volume, Alfredo Pequito consider ou que devia revelar o caso e alega que, se nada for discutido no Orçamento de Estado, vai voltar "à carga par a que não esqueçam esta matéria". Nelson Baltazar, deputado do PS e coor denador da área da Saúde, não adiantou para já qualquer acção dizendo apenas que "iria estudar o dossier". 14 Número 8 Setembro 2000 Primeira página Pensa que a Bayer pressionou o Estado Português no sentido de "abafar" o caso? Não tenho qualquer dúvida, com certeza que sim! Repare uma coisa: o Estado Português está refém da Bayer e da indústria farmacêutica. Qual é a dívida do Ministério da Saúde às farmacêuticas? 72 milhões de contos. Não se esqueça das ameaças que a Apifarma fez, ainda no tempo da Maria de Belém, de que podia vender a dívida do Ministério a um banco europeu e no dia seguinte o banco poderia exigir o pagamento. Ora, a dívida aumentou cerca de 40 milhões de contos... Acha que a indústria não faz pressão tendo esse dinheiro a haver? Pequito levanta suspeitas sobre a imparcialidade do Presidente da República, Jorge Sampaio, o ex-Ministro da Justiça, Vera Jardim, o da Defesa, Castro Caldas e o da Justiça, António Costa. Em causa, a sociedade de advogados de que estes são sócios. ‘Tal & Qual’, 10/3/00 Se eles têm esse poder todo, porque é que não dão cabo de si? Não era mais fácil? Afinal, você é incómodo, um estorvo... Sou um estorvo, sou! E sou uma pessoa determinada. Não são estas coisas que me vão fazer desistir. Se pensam que me vou calar, estão muito enganados. Sinceramente, você acha que a Bayer seria capaz de mandar alguém com um canivete atrás de si para o cortar? Claro que sim! Se ler o artigo da Fortune, vê lá escrito que a máfia tem um dedinho lá dentro. Mais uma razão para darem cabo de si. Se, como diz, o presidente da Bayer é um mafioso que vive com o receio do que irá surgir amanhã nos jornais... Até era fácil, já que pela teoria que tem sido apresentada, você tem problemas de dívidas de jogo e muitos inimigos... Eu não digo que é só a Bayer que tem interesse em calar-me... Há outras entidades interessadas. E por outras entidades, entenda mesmo isso... Outras entidades. Percebe...? Não percebo, não. Mas também não cabe ao jornalista perceber estas coisas. Porque é que se publicam... Ainda assim, sem perceber bem porquê, enquanto escrevia este fascículo e meditava no próximo: nas revelações bombásticas que se adiantam, veio-me à memória um excerto do texto do tradutor de Tizangara, do romance "O último Voo do Flamingo", de Mia Couto. "Agora, pergunto: explodiram na intei- ra realidade? Diz-se, em falta de verbo. Porque de uma explosão sempre resta alguma sobra de substância. No caso, nem resto, nem fatia. Em feito e desfeito, nunca restou nada do seu original formato". E como ele, pergunto: O nosso herói morreu? Foi morto? Encontrarão a resposta no próximo fascículo de Pequitogate. Por lá, Alfredo fala dos telefonemas que Maria de Belém lhe fazia a buscar conselho, do mau feitio de Manuela Arcanjo, do papel do Presidente da República e do Primeiro Ministro em toda esta história e de muitos outros personagens, que têm contribuído de forma decisiva para o estrondoso sucesso da novela. É preciso investigar, doa a quem doer... Separar o trigo do joio. Mas será que esta é a melhor forma de o fazer? Não estarão Pequito e o seu tutor, mesmo sem o saberem, a contribuir para que a verdade nunca venha a ser apurada? Será que Pequito pode ser responsabilizado pelo que diz? Será que é Alfredo quem mais beneficia com a cobertura mediática que se dá ao caso? Beneficia mesmo? Do quê? Miguel Múrias Mauritti Reflexos "A Trajectória do Amor" Comentado por um leigo em medicina O livro de Mário Moura, testemunho de coragem ao apresentar a visão bio-psico-social ainda no auge da medicina tecnológica, e quando se começa a tentar retroceder nos conceitos e perfis da medicina de família, tem despertado alguma curiosidade mesmo nos meios não médicos, em pessoas com uma visão holística do homem. Transcrevemos hoje, com a devida vénia, uma critica publicada no "Sem Mais Jornal", semanário publicado no distrito de Setúbal, feita pelo professor da Universidade de Lisboa, doutor Viriato Soromenho Marques, que já foi presidente da "Quercus". O Princípio do Amor Nova obra de Moura Mário da Silva Moura é um médico e um cidadão que provavelmente não necessita de uma longa apresentação perante os leitores deste jornal, que, aliás, honra com a sua assídua e informada colaboração. No seu vasto percurso sobressaem as suas múltiplas facetas de médicos, jornalista, membro de numerosas associações cívicas, científicas e culturais, cristão empenhado, e cidadão sempre envolvido nas causas onde se jogue a dignidade das pessoas, e a possibilidade de minorar sofrimentos ou combater injustiças. Contudo, embora a vida de Mário da Silva Moura seja plural como são os seus interesses e a generosidade do seu carácter, a verdade é que uma faceta existe onde todas as características do seu labor e da sua "visão do mundo" se concentram, permitindo uma leitura do sentido global do seu trabalho, e de seu entendimento da vida como uma missão permanente. Estou a referenciar-me à sua faceta de escritor, que ficou mais uma vez confirmada com a recente publicação de uma obra com o título de: A Trajectória do Amor, Ensaio Sobre a Medicina Familiar. Sendo embora um livro onde se reflecte em cada página a vasta e competente experiência de uma vida dedicada à Medicina Geral e Familiar, o livro de Mário da Silva Moura não é uma obra que afaste os leitores por se fechar numa linguagem tecnicamente hermética. Como é próprio do seu estilo de escrita, também neste livro Mário da Silva Moura conjuga rigor com clareza. A medicina que se revela neste livro é uma medicina envolvida no tempo, na história e na cultura. Sobr etudo, uma medicina inseparável dos grandes desafios e contradições da condição humana. Com uma notável coragem intelectual, Mário da Silva Moura apresenta-nos uma medicina entretecida nas forças, pulsões e relações fundamentais da pessoa humana, de onde sobressai o amor como princípio vital e ontológico, isto é, estruturante do ser de cada um e da própria humanidade. Com uma confiança desarmante no destino da aventura humana, o autor fala-nos de uma medicina que, embora sem desprezar os enormes avanços da tecnologia, não esquece que a diferença entre a saúde e a doença diz sobretudo respeito a estilos de vida, a valores e comportamentos. Numa cultura, como a ocidental, onde sempre nos faltaram as palavras para expressar a importância do amor, este livro de Mário da Silva Moura merece ser saudado pelo refrescante e estimulante suplemento de inteligência e bondade que constitui. Viriato Soromenho Marques 15 Número 8 Setembro 2000 Opinião A regra é a excepção Quando se pretende resolver um problema, procuram-se soluções; quando não se quer É notável que se tenda a atribuir a culpa ao "cliente" por um pretenso "hiperconsumo" de tudo o que o SNS lhe oferece: consultas, medicamentos, MCDT, urgências. Numa lógica de mercado o SNS é de sangue, diabéticos, grávidas, crianças, etc.. Por tal motivo estes foram isentados de taxas. Instalou-se, ao longo dos anos, uma colecção enorme de circunstâncias em que o cidadão é dispensado da taxa dita moderadora: a médio pra- blemas da área social. São, entretanto, cada vez mais as excepções nos descontos concedidos nos medicamentos comparticipados pela doença do paciente e, mais recentemente, até pela especialidade do médico que prescreve. verdadeiramente uma história de sucesso: oferece muitos serviços de urgência e eles estão sempre cheios, contempla milhares de medicamentos e eles são fortemente consumidos. Vigora, entretanto, um instrumento cujo nome de baptismo pressupõe que visaria moderar o uso dos serviços públicos de saúde, ou não fossem chamadas TAXAS MODERADORAS. O valor irrisório de algumas destas taxas e a panóplia das isenções das mesmas talvez expliquem a aparente inutilidade total na sua finalidade: nunca houve qualquer evidência de que o tal consumo de cuidados fosse por elas "moderado". É notório que todos os cidadãos são culpados pelo "hiperconsumo", mas foram encontradas "atenuantes" para alguns: dadores zo o número de cidadãos isentos tenderá a constituir a totalidade da população. A capacidade reivindicativa das diversas associações de doentes e amigos dos doentes (entre estes amigos assume particular importância a generosidade de algumas companhias farmacêuticas) tem sido o factor mais decisivo para a criação de cada vez mais excepções aos preceitos da taxa e até ao preço dos medicamentos. Por outro lado, o SNS entrou, há muitos anos, em competição directa com o sistema de segurança social. O rendimento das famílias é considerado quer para as isenções de taxas moderadoras quer para a criação de tabelas especiais nos descontos concedidos no preço dos medicamentos, funcionando o SNS como uma enorme almofada para pro- Há necessidade de reflectir de forma aprofundada sobre a natureza, finalidades e justeza dos vários mecanismos de regulação em taxas e comparticipações: a coerência do próprio sistema de saúde a isso deveria obrigar. Com mecanismos reguladores que têm gerado tantas excepções, é de colocar a dúvida legítima sobre a utilidade da regra. resolver coisa alguma, procura-se um culpado. Um dos problemas mais comuns que afecta os médicos de família (aliás, todo o sistema de saúde) é um pretenso "hiperconsumismo" de cuidados. Aqui já se descobriu há um culpado: o cidadão. As medidas para resolver este problema, se é que ele existe mesmo, constituem uma curiosa colecção de regras e um labirinto de excepções cuja coerência é cada vez mais obscura Subsídio de fixação O subsídio de fixação dos médicos de clínica geral foi apresentado como um mecanismo que incentivaria a fixação na periferia. O país foi dividido, por concelhos, em 4 categorias: A, B, C e D, por pretensa ordem decrescente de inospitalidade. No entanto, o grupo D inclui Lisboa, Porto e Coimbra, o que parece não "casar" muito bem com um subsídio de fixação na periferia. As condições concretas de vida em cada local de colocação (que devia ser a freguesia e não o concelho, já que esta dimensão cria injustiças relativas enormes) deveriam inspirar os critérios para valoração dos subsídios se se pretende que eles incentivem, realmente, a colocação à periferia e compensem, de algum modo, a "inospitalidade". Mais do que uma classificação estática, publicada em 1982, sem indicação explícita dos critérios utilizados, os vários escalões do referido subsídio deveriam depender de indicadores objectivos e, como tal, com a possibilidade de evoluir no tempo: as acessibilidades, os serviços disponíveis no local, o custo relativo da habitação, a existência de escolas para os filhos, etc, não são realidades imutáveis no tempo. António Branco Médico de Família Número 8 18 Setembro 2000 Posição Carta Aberta a Sua Ex.a a Ministra da Saúde H á cerca de um ano, iniciámos em Samora Correia o RRE, que no fundo constituiu uma evolução do Projecto Alfa que teve início em 01/10/1996. Este projecto englobava apenas cerca de 60% da população de Samora Correia mas devido aos bons resultados alcançados foi decidido alargá-lo a toda a freguesia, passando a abranger uma extensão - o Porto Alto. Como, entretanto, surgiu o Decreto-Lei que criou o RRE, procurámos integrar estes novos aspectos no projecto inicial de forma a podermos candidatar-nos. Surgiu, assim, o 1º RRE a nível Nacional. Um ano volvido e muitas dificuldades ultrapassadas, surge agora uma fase de, digamos, estagnação!... Queremos avançar, sabemos o que queremos mas, faltam "Orientações Superiores" que indiquem claramente o caminho que pretendem seguir e os respectivos "meios" para podermos realizar no terreno as tarefas pretendidas. Reflectindo sobre este ano que passou e tentando encontrar soluções para o futuro, surgiu-me subitamente este Provérbio esquecido há algum tempo: " O Homem que não pode cometer um erro, não pode fazer nada". De facto, se analisarmos todo este processo encontramos duas fases distintas: 1. O lançamento do Projecto Alfa 2. O Regime Remuneratório Experimental Qualquer destes projectos fazem parte de um mais vasto e que se "reclama" há vários anos - A Reforma do Sistema de Saúde e, em particular dos Cuidados de Saúde Primários. No caso do projecto Alfa foi lançada uma ideia e, procurou-se dar a palavra aos profissionais de saúde integrando-os no processo de reforma. Verificar, com experiências no terreno, qual o melhor caminho a seguir e, tirar as respectivas conclusões para o futuro dos CSP. Foi necessário decidir e arriscar um possível fracasso ou sucesso. Mas, quem o fez não teve medo de errar. Penso que, se a ideia não tivesse resultado, seria capaz de tirar as conclusões necessárias e, procurar outro caminho. No fundo é assumir que, em todas as decisões existe uma margem de erro, maior ou menor, mas que na realidade existe. E, assumindo que se pode errar, penso que se deu um passo muito importante no caminho da reforma dos CSP. Foram poucos os grupos aderentes mas, foram em número suficiente para que se fizesse uma avaliação e se pudessem tirar algu- Queremos avançar, sabemos o que queremos mas, faltam "Orientações Superiores" que indiquem claramente o caminho que pretendem seguir e os respectivos "meios" para podermos realizar no terreno as tarefas pretendidas mas conclusões sobre o caminho a seguir. Também foi ultrapassada a desconfiança dos profissionais e, nomeadamente dos médicos, sobre as possíveis mudanças criando-se mesmo a sensação de que alguma coisa estava realmente a mudar! Esta mudança consubstanciou-se com o surgimento de 2 diplomas : 1. A criação do RRE; 2. A criação dos Centros de Saúde com Personalidade Jurídica (3ª Geração). Nesta fase, já com um suporte legal mais claro e atractivo, surgiram diversas candidaturas (muito mais do que se estaria à espera!). Penso que a fase do projecto Alfa foi importante, pois conseguiu mobilizar não só a vontade de mudança dos médicos que integraram os grupos (talvez os mais irrequietos e inconformados) mas também despertou noutros coleg as essa mesma vontade, talvez mais ador mecida ou receosa se seria mais uma pedrada no charco, sem consequências práticas! Talvez por isso, terão optado por esperar mais um pouco, para ver os resultados e, para tentar perceber se a Administração seria capaz de mudar! Os receios de que nada mudaria esbateram-se com a saída dos referidos DecretoLei. Sentiu-se essa mudança no ar! E, naturalmente as candidaturas foram aparecendo. Os profissionais responderam positivamente a mais um desafio para a melhoria da qualidade do seu trabalho e do serviço que prestam aos utentes que os procuram. É evidente que existe aqui um componente remuneratório mas, quantos grupos estão a receber correctamente? Há grupos a trabalhar há mais de 6 meses, fazendo mais horas do que anteriormente e a receber o mesmo vencimento!!! Quando se fala com colegas destes grupos ninguém pensa em desistir !!!!!!!! Porém, se repararmos na distribuição nacional dos grupos é estranho que eles surjam só na ARS Norte e na ARS Lisboa e Vale do Tejo (sem esquecer o caso isolado de Beja). Penso que isto se deve a um facto importante: nestas Regiões os dirigentes não tiveram medo de errar. Deram suporte aos grupos, dialogaram, procuraram resolver os problemas surgidos com as mudanças que o RRE implicava, etc. Numa palavra: arriscaram cumprir a Lei embora não tivessem, eles próprios, muitas vezes, o suporte do Ministério da Saúde para a execução das tarefas que lhes competiriam naquele âmbito (do RRE). Nas outras Regiões, nomeadamente na ARS do Centro e na do Algarve, o espírito que transparece é o de não fazer nada pois, isto pode correr mal e... Não foi por falta de profissionais que não surgiram grupos nestas Regiões! Têm surgido candidaturas ou tentativas de as efectuar que são bloqueadas de imediato com os mais diversos e disparatados argumentos!!! No fundo é melhor não fazer nada! Há uma Lei? Será que existe mesmo? E... É para cumprir? E, se resulta mal? É o que diz o Provérbio : "Quem não pode errar, nunca fará grandes coisas" Mas o mais grave, é que não deixa os outros fazerem o que quer que seja! E se estas pessoas estão em lugares de responsabilidade o seu "medo de errar" bloqueia tudo e todos. Sr.ª Ministra, precisamos urgentemente de sair deste impasse! O entusiasmo esvai-se e dentro em pouco não será possível cumprir os objectivos estabelecidos. Com o maior respeito que tenho pelo trabalho de cada pessoa e em particular por quem tem de tomar decisões de fundo que implicam mudanças fundamentais nos CSP, atrevo-me a alertar V.Ex.a para a urgente necessidade de reformular o RRE. Dar-lhe um suporte informático Número 8 19 Setembro 2000 Posição que permita aos profissionais e à Administração cumprir os objectivos traçados nos seus planos de trabalho, nomeadamente, no aspecto da avaliação, que é fundamental em qualquer processo deste género, para que o mesmo possa progredir saudavelmente. Existe um relatório da Comissão de Acompanhamento, criada por V.Ex.a, que analisa os 2 anos de RRE, as dificuldades detectadas e propõe algumas soluções possíveis. Existe um relatório do Grupo REMO da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral (APMCG) onde se apontam algumas das dificuldades encontradas e se fazem sugestões para o melhoramento do RRE. Este relatório baseia-se em reuniões que o grupo REMO manteve com os grupos que se candidataram e respectivas Regiões e Sub-Regiões (ou com aquelas que nos quiseram (...) É evidente que existe aqui um componente remuneratório mas, quantos grupos estão a receber correctamente? Há grupos a trabalhar há mais de 6 meses, fazendo mais horas do que anteriormente e a receber o mesmo vencimento!!! Quando se fala com colegas destes grupos ninguém pensa em desistir !!!!!!!! receber para uma conversa franca e aberta). V.Ex.a conhece as potencialidades e limitações actuais do SINUS II, que lhe foi formalmente apresentado em Samora Correia. Uma das limitações importantes era a impressão do receituário que está programada para o novo modelo de receitas criado pelo Ministério da Saúde e que, nós não temos autorização de utilizar (e aqueles que têm autorização não as usam preferindo mantê-las nos "seus" armazéns). Mostrámos disponibilidade para, mais uma vez, contribuirmos para o desenvolvimento deste processo e, não entendemos o porquê de não nos ser dada a respectiva autorização. Parece-nos que temos todas as condições para o implementarmos para além de considerarmos este um aspecto importante para a avaliação qualitativa do trabalho desenvolvido pelo grupo. Concordará certamente V.Ex.a, que este ou qualquer outro suporte informático será da mai- or importância para o futuro, não só do RRE como, também, para os Centros de Saúde de 3ª Geração e sua articulação com a Rede Hospitalar. Penso que será preciso, na reformulação do diploma do RRE, introduzir as alterações necessárias à sua boa articulação com o Decreto-Lei sobre os Centros de Saúde com Autonomia Jurídica (3ª Geração). Mas é importante e Urgente avançar! Estamos bloqueados por aqueles que nada fazem e que têm medo de errar (ou decidir). Não pertencendo V.Ex.a a este grupo, espero que compreenda a Urgência das decisões a tomar a fim de relançar todo este processo que acompanha desde inicio e que já fez saber que é prioridade do seu Ministério. Sentimos que este é um projecto válido, com boas perspectivas de evolução e com muitos profissionais seriamente empenhados em contribuir para uma melhoria global dos CSP. Será pena perder-se esta oportunidade e entusiasmo!... Estarei disponível para ajudar, positivamente e dentro das minhas limitações, no desenvolvimento do RRE e dos Centros de Saúde com Personalidade Jurídica, caso V.Ex.a assim o entenda. José Paulo Santos Gonçalves Chef e de Serviço de Clínica Geral Centr o de Saúde de Benavente (USSC) Número 8 20 Setembro 2000 Opinião À atenção de António Guterres V ai sendo prática corrente ninguém se satisfazer com explicações dos Ministros da tutela e pedir respostas e explicações ao Primeiro Ministro, como se só ele fosse o Governo inteiro e não a cabeça duma equipa. Todos os dias as oposições exigem que o Eng. Guterres vá à Assembleia da República por causa de problemas surgidos no país, seja com os transportes, com a segurança, com a educação, com a saúde, como se os repectivos Ministros fossem uns irresponsáveis. Embora me pareça um autêntico atestado de incompetência, passado aos vários governantes, com o que não estou de acordo, vou na onda, e perante a gravidade do estado da saúde em Portugal, resolvi também apelar ao nosso Primeiro - não se declarou ele apaixonado pela Saúde?? E o apelo que lhe dirijo é que leia o último número do jornal "Médico de Família", pois ficará com uma noção completa dos antecedentes, da situação actual, dos problemas e até das soluções para remediar o descalabro no nosso serviço nacional de saúde, em alerta vermelho como dissemos no último número. António Branco, na luta pela clínica geral e pelos cuidados de saúde primários desde a primeira hora, e vivendo "por dentro" muitos dos sintomas da "esclerose" diagnosticada, põe genialmente e sinteticamente em confronto uma atitude positiva de Blair e tudo o que é negativo na equipa (melhor nas equipas) dos nossos governos, igualmente socialistas e igualmente defensores da tal "terceira via". Lemos nos jornais que Tony Blair estava a perder popularidade, bem como o seu governo trabalhista, tal como está a acontecer em Portugal com António Guterres. E o que faz Blair? Investe em Saúde! Reforma o National Health Service Os professores Sakellarides e Cipriano Justo fazem de maneira magistral o exame da situação, indo buscar os seus antecedentes e apontando razões de fundo da inoperacionalidade, do fracasso e até da saída de Maria de Belém. O valor teórico do edifício que construiu com a sua equipa, encaminhava a reforma do sistema para Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral CONVOCATÓRIA Nos termos dos artigos 26º, 27º, 28º e 29º dos Estatutos da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, convoco a Assembleia Geral a reunir em sessão ordinária no dia 11 de Novembro de 2000, pelas 15 horas, na Sede da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, sita na Estrada de Benfica, 719 - 1º Esq., em Lisboa, com a seguinte Ordem de Trabalhos: 1 - Informações. 2 - Apresentação, discussão e aprovação do Plano de Actividades e do Orçamento para 2001. Se na hora marcada não estiverem presentes metade dos sócios, a Assembleia reúne em segunda convocatória uma hora depois. Lisboa, 8 de Setembro de 2000 Pelo Presidente da Assembleia Geral Drª Ana Maria Pisco (Secretária da Mesa da Assembleia Geral) o reforço do serviço de saúde, para a descentralização, para a contratualização, para a responsabilização dos agentes do processo, afrontava determinados Lobbys, e fugia, declaradamente, aos neoliberalismos encobertos por rótulos como "terceiras vias" - sem dúvida, a chamada esquerda perdeu a batalha! Se, como disse Sakellarides, não foi possível transformar o sistema de saúde português em algo mais do que "uma burocracia como outra qualquer", e isso nos ameaça de que ele se transforme num "negócio como outro qualquer", então a chamada esquerda perdeu mesmo uma batalha! O Prof. Daniel Serrão, para além de diagnosticar com o rigor dum patologista a escloreose do serviço de saúde, põe a tónica na necessidade urgente de dar a primazia de toda a mudança aos médicos de família, (o que todos nós que nos preocupamos com este problema andamos dizendo há quase uma década) e adianta dez medidas donde destaco a declaração fundamental: decidir que a refundação dos hospitais deve ser secundária à refundação da clínica geral. Alguns outros artigos e opiniões expressas no mesmo número do "Médico de Família", mostram o seu desconforto com a tendência internacional para desvirtuar a medicina de família, mas António Branco, comentando recentes decisões de Tony Blair, é quem lança o verdadeiro apelo a António Guterres, ao pôr em relevo todo o enorme investimento do Governo britânico no seu serviço nacional de saúde de "referência" - o NHS. António Branco, na luta pela clínica geral e pelos cuidados de saúde primários desde a primeira hora, e vivendo "por dentro" muitos dos sintomas da "esclerose" diagnosticada, põe genialmente e sinteticamente em confronto uma atitude positiva de Blair e tudo o que é negativo na equipa (melhor nas equipas) dos nossos governos, igualmente socialistas e igualmente defensores da tal "terceira via". Lemos nos jornais que Tony Blair estava a perder popularidade, bem como o seu governo trabalhista, tal como está a acontecer em Portugal com António Guterres. E o que faz Blair? Investe em Saúde! Ref o rma o National Health Service. E o que levou Clinton à sua primeira vitória? Promessas de investimento em Saúde! E o que pode salvar um qualquer Governo em crise, como o nosso, que se diz de esquerda? Investir em Saúde de maneira decidida e em força, investir em criatividade, em competência, em qualidade, inv estir em responsabilização por contratualização, investir em cuidados primários em vez de hospitais, investir em clinica geral e não em muitas outras especialidades que são superabundantes, investir em remunerações capazes que premeiem a excelência, resolver a acessibilidade, etc.,etc. e não apenas no rendimento mínimo nacional como símbolo das preocupações sociais. Daqui o nosso apelo a António Guterres, sem exageros, se quer ganhar as próximas eleições, ponha os olhos no nosso Serviço Nacional de Saúde e...reforme-o com vontade política verdadeira e sem olhar a compadrios e Lobbys! Mário da Silva Moura Médico de Família Número 8 20 Setembro 2000 Apontamentos hostratamentos desumanos" (Sournia, 1995, p. 277). Também entre nós, com o triunfo das ideias liberais, surgem as primeiras denúncias da condição infra-humana em que viviam os doentes mentais ("doidos, lunáticos, alienados", como eram então rotulados). De entre os médicos que se debruçam e se preocupam com esse problema, destaca-se o nome de Clemente Bizarro (18051860) que, em 1836, em sessão da Sociedade das Ciências Médicas, chama a atenção para "os insalubres, os pavorosos, e os acanhados recintos onde confusamente estão misturados e em contacto mais de duzentos alienados de manias tão opostas e que por isso exigem cuidados tão diversos" (cit. por Mira, 1947, p. 420). Bizarro referia-se mais concretamente à Enfermaria de S. João de Deus do Hospital de S. José onde se amontoavam sobretudo doentes do sexo feminino: "Doidas nuas e desgrenhadas, entregues a todos os seus desvarios, gritando e gesticulando, encerradas às vezes num cubículo escuro e infecto onde mal podem obter um feixe de palha em que possam revolver-se; um local de todo apertadíssimo, com escassa luz, imprópria ventilação, e nele jazendo perto de 150 infelizes alienados com o diminuto número de três empregadas, que tantas são as destinadas ao seus serviço" (citado por Costa, 1986). Em 1837, Bizarro pedia a criação de um hospício orientado especificamente para o acolhimento e tratamento de doentes mentais. O que veio a acontecer, dez anos mais tarde: De facto, graças ao legado de um benemérito, é criada em 14 de Novembro de 1848, o primeiro estabelecimento para alienados. Alguns anos depois, o manicómio de Rilhafolhes alberga já mais de meio milhar de doentes. Mais tarde, será seu director o médico Miguel Bombarda (1851-1910), o qual além de ampliar e modernizar o estabelecimento, lutou vigorosamente contra os métodos repressivos então ainda em uso (o "babeiro de cola", a "coleira", o "berço-prisão", o "colete de forças", etc.). Em 1948, passou a chamar-se Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda. Em 1883, entra em funcionamen- to o Hospital de Conde de Ferreira, pertencente à Misericórdia do Porto, e que foi construído com o remanescente da herança de J.F. Ferreira (1782-1866). Este último, depois de enriquecer no Brasil e em África, iria tornar-se um dos grandes filantropos do reinado de D.Maria II. O Conde de Ferreira, para o qual transitaram os doentes mentais, até então encerrados como animais nos porões do Hospital de Santo António - igualmente sob adminis- começam a ser largamente objecto de investigação por homens como os franceses G. Duchenne (1806-1875), J.M. Charcot (18251893), J. Déjerine (1849-1917) e sua mulher, P. Marie (1853-1940) (uma das primeiras mulheres médicas), J. Babinsky (1857-1922), e o inglês J. H.Jackson (1835-1911) (Rosen, 1990; Sournia, 1995). A fundação da neuropsiquiatria é atribuída ao francês J. M. Charcot, com a publicação em 1873 do seu Curso sobre as doenças do siste- 5. Contestação da Iatrogénese, da Medicina tração da Misericórdia -, irá tornar-se a escola dos grandes alienistas do nosso Séc. XIX: A. M. Sena, Urbano Peixoto, Magalhães de Lemos e Júlio de Matos, entre outros (Mira, 1947). É a época do desenvolvimento da neurologia e psiquiatria (ou melhor, da neuropsiquiatria), o qual decorre, em grande parte, dos progressos realizados em disciplinas fundamentais como a anatomia, a fisiologia e a patologia. As funções do cérebro e do sistema nervoso e o seu papel na saúde/doença ma nervoso. Posteriormente, o alemão E. Kraeppelin (1856-1926) vai classificar as doenças mentais. Voltando à França e ao fim do Ancien Régime, não admira a grande desconfiança (se não mesmo a suspeição e o repúdio) com que a instituição hospitalar será tratada no período revolucionário, já que ela é sinónimo da caridade mais abjecta. Como dirá Barère, no relatório feito em nome do Comité de Salut Publique: "Quanto mais esmolas, mais hospitais. Tal é o objectivo para o qual Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico No pós-25 de Abril, numa leitura algo imediatista e datada, recusava-se a ideia de que a grande maioria destes provérbios fosse de origem popular, dada a sua "função de ocultação ideológica" (Gomes, 1974). Na melhor tradição jacobina e anticlerical, via-se aí a língua viperina da padralhada, dos frades e dos jesuítas, já que o povo não podia ser intrinsecamente "reaccionário". Populares ou não, os provérbios e a Convenção deve caminhar sem cessar, porque estas duas palavras devem ser riscadas do vocabulário republicano " (cit. por Rochaix, 1995, p. 59). Em contrapartida, em Portugal será o Estado Novo, em pleno Séc. XX, a recuperar a ideologia do acto misericordioso e a sobrepor a caridade individual à solidariedade social (Caixa 1). outros lugares comuns da língua portuguesa não deixam de reflectir uma experiência amarga da população, vítima não só de um ciclo infernal de epidemias que durou mais de 400 anos ("Da peste, da fome, da guerra - e do bispo da nossa terra, Libera nos, Domine!") como do uso e abuso, por parte dos praticantes de artes médicas até meados do Séc. XIX, de técnicas terapêuticas ag ressivas, invasivas e de duvidosa eficácia como era o caso da purga e da sangria. Nesta perspectiva, alguns provérbios podem ser vistos como formas de contestação avant la lettre do encarniçamento terapêutico de que é hoje acusada a medicina defensiva: "Se não morre do mal, morre da cura". Em meados do Séc. XVII, o uso da sangria, praticada por cirurgiões e barbeiros-sangradores (uma profissão só extinta entre nós em 1875) tal como a purga ou o clister (administrada pelos cristaleiros e cristaleiras), generalizara-se de tal modo que dera motivo ao adágio popular: "Em Lisboa não há sangria má nem purga boa". De facto, "havia médicos que numa mesma doença sangravam trinta e quarenta vezes" (Lemos, 1991,Vol. II, p. 37). Outros provérbios terão uma origem semelhante (Quadro XII): • "Arrenego da tijelinha de ouro em que hei-de cuspir sangue" • "Como é o braço assim é a sangria" • "Dia de purga, dia de amargura"; • "O que faz mal ao corpo é o sangue" • "Sangrai-o e purgai-o e, se morrer, enterrai-o"; • "Sangrar de saúde". Além da prática da sangria, o barbeiro também era chamado para tratar dos dentes: "A quem dói o dente vai à casa do barbeiro". E em quase todas as vilas e aldeias deste país, até aos anos 60, ele era para todos os efeitos um verdadeiro praticante da arte médica a quem se recorria para tratar de um abcesso, dar uma injecção ou fazer um penso. Luís Graça Sociólogo (ENSP/UNL) E -mail: [email protected] http://www.terravista.pt/meco/5531 (a) Conjunto de cinco artigos que começou a ser publicado pelo Número 8 22 Setembro 2000 Actualidade Sub-Região de Saúde de Lisboa Enfermeiros trocam hospitais por centros de saúde A crise está instalada nas unidades de saúde da região de Lisboa. O número de enfermeiros formados pelas escolas é insuficiente e os que já estão no mercado de trabalho trocam os hospitais pelos centros de saúde. Apesar de haver vagas para estes profissionais não existe quem as ocupe São Francisco Xa vier, um dos hospitais em crise H á falta de enfermeiros nos hospitais e centros de saúde portugueses. Na base desta situação, está a escassez de novos licenciados em virtude de a formação ter passado para quatro anos e as escolas superiores de Enfermagem não fornecerem o número suficiente para as necessidades. Para tentar minorar o problema, só nos últimos quatro anos foram contratados cerca de 250 novos profissionais para o preenchimento de vagas na área de Lisboa, número que ficou muito aquém das necessidades. Contactada pelo jornal Médico de Família, Margaret Bensusan, da Direcção de Enfermagem da SubRegião de Saúde de Lisboa, falou sobre este problema: "até 1994 houve uma estagnação no que respeita à entrada de novos enfermeiros na área dos Cuidados de Saúde Primários ao nível do distrito de Lisboa, dada a não abertura de concursos - por esta altura a média de idades dos enfer- meiros era de cerca de 55 anos. a mobilidade dos profissionais do a baixar, situando-se, em 1999, Com as profundas alterações es- entre as diferentes instituições". em 46.6 anos". tratégicas organizacionais inicia- "Todavia - acrescenta - é evidendas com a regionalização dos ser- te que, desde 1994, muitos enfer- As "queixas" dos Hospitais viços de saúde foi nomeada uma meiros têm saído dos nossos ser- Os hospitais queixam-se, não só nova Direcção de do número de pessoal formaEnfermagem que, O cansaço do trabalho por turnos é a no seu plano de do ser insuficiprincipal razão apresentada pelos ente - este ano acção, definiu como objectivos a enfermeiros que justifica a troca de local não saíram enfermeiros para médio prazo renotrabalho. Para estes profissionais o var e aumentar o o mercado de trabalho nos centros de saúde não é tão trabalho devinúmero de enferexigente em termos de carga horária. A meiros a prestado à passagem do curso a lifalta de enfermeiros nas unidades de rem serviço nos Centros de Saúde. cenciatura saúde tem sido vantajosa para os mas também Segundo esta resenfermeiros espanhóis, que têm vindo a ponsável, "outra de que os enocupar as vagas deixadas pelos fermeiros esdas grandes preoportugueses nos hospitais cupações desta tão a trocar de local de traban ov a Direcção tem sido a de não lho: os hospidesperdiçar a entrada de novos viços para a situação de aposen- tais pelos centros de saúde. profissionais através da utilização tados. No entanto, o saldo é posi- O cansaço do trabalho por turnos das vagas de descongelamento tivo visto que muitos têm entra- é a principal razão apresentada (concurso externo) anualmente do pelos concursos atrás referi- pelos enfermeiros que justifica a atribuídas e ainda a abertura de dos. Por esta razão, a média de troca de local trabalho. Para estes concursos internos que facilitam idades dos enfermeiros tem vin- profissionais o trabalho nos cen- tros de saúde não é tão exigente em termos de carga horária. A falta de enfermeiros nas unidades de saúde tem sido vantajosa para os enfermeiros espanhóis, que têm vindo a ocupar as vagas deixadas pelos portugueses nos hospitais. Os Hospitais em crise Alguns hospitais da Região de Lisboa atravessam já uma verdadeira crise, derivada da escassez de enfermeiros, agravada pela sangria causada pelos concursos para centros de saúde. É o caso do Hospital de Santa Maria, S. Francisco Xavier, Hospital de Cascais, Vila Franca de Xira e o Hospital de Torres Vedras. Pelo contrário, de alguns hospitais os enfermeiros não mostram vontade de sair. É o caso da Maternidade Alfredo da Costa, do Hospital de D. Estefânia e do Hospital de São José, onde as baixas são significativamente menores. O ambiente de trabalho que se regista nestas unidades estará na origem da debandada. Número 8 23 Setembro 2000 Tema em destaque Proposta para uma nova definição de Medicina Geral e Familiar Sugestão para uma definição de Medicina Geral e Familiar O médico de família é um especialista preparado para trabalhar na primeira linha do sistema de saúde e dar os passos iniciais na prestação de cuidados para qualquer problema de saúde que os pacientes possam ter. O médico de família presta cuidados a indivíduos inseridos numa sociedade, independentemente do tipo de doença ou outras características pessoais ou sociais, e organiza os recursos Nesta nova coluna do Médico de Família, procuraremos levar a debate temas disponíveis no que se revelem importantes para os leitores, introduzindo opiniões de sistema de saúde no especialistas. Neste número, continuaremos a explorar o tema iniciado na melhor interesse dos última edição, a proposta de definição de MGF, apresentada para discussão pacientes. O médico de família por Frede Olesen, Jim Dickinson e Per Hjortdahl no Congresso da WONCA compromete-se com que teve lugar em Viena. indivíduos autónomos através dos campos A tradução é da responsabilidade de André Rosa Biscaia, e o conteúdo não da prevenção, reflecte uma posição oficial da APMCG. Tem apenas como objectivo abrir a diagnóstico, cura, discussão sobre os novos enquadramentos e desafios da Medicina Geral e cuidados e tratamentos Familiar enquanto especialidade médica, disciplina académica, campo de paliativos, através da ensino e de investigação utilização e integração das ciências biomédicas, psicologia e sociologia clínicas Suggested new definition of general practice "The general practitioner is a specialist trained to work in the front line of a healthcare system and to take the initial steps to provide care for any health problem(s) that patients may have. The general practitioner takes care of individuals in a society, irrespective of the patient's type of disease or other personal and social characteristics, and organises the resources available in the healthcare system to the best advantage of the patients. The general practitioner engages with autonomous individuals across the fields of prevention, diagnosis, cure, care, and palliation, using and integrating the sciences of biomedicine, medical psychology, and medical sociology." Número 8 24 Setembro 2000 Tema em destaque Clínica Geral: uma actividade complexa e uma definição insuficiente O s autores desta definição e do artigo do BMJ (British Medical Journal) de Fevereiro de 2000 "General Pratice - time for a new defenition", são professores universitários de Clínica Geral e pretendem reflectir sobre a necessidade de reabrir o debate em torno do conteúdo do ensino da Clínica Geral, e da agenda de investigação necessária para tornar esse currículo baseado em evidência científica. A definição proposta é decididamente inovadora quando fala da necessidade de incluir as áreas da psicologia, sociologia, antropologia e ética no ensino do futuro clínico geral e na necessidade da investigação qualitativa em cuidados primários, bem como quando chama a atenção para a necessidade de formação do futuro clínico geral nas áreas de prevenção, diagnósticos, cura, cuidar e cuidados paliativos. As áreas do cuidar e cuidados paliativos são deficientemente ensinadas e o ensino na área da prevenção pode e deve ser baseado na evidência científica já existente. Outras áreas na definição merecem alguns reparos pelo que vou tentar discuti-las mais detalhadamente: 1- O clínico geral é um especialista preparado para trabalhar na 1ª linha. Esta afirmação embora verdadeira é incompleta. O médico de família pode e deve ser muitas vezes o primeiro contacto mas também pode ser o último por exemplo quando presta cuidados terminais a doentes com doença oncológica (ou outra) que pode ter sido tratado durante mais ou menos longos períodos de tempo em serviços hospitalares. Quando referencia ao especialista hospitalar deve continuar a acompanhar o doente pelo que comunidade de forma a usá-los o melhor possível para a resolução dos problemas do paciente. Isto também implica, na minha opinião, que o clínico geral aprenda a trabalhar em equipa com outros profissionais de saúde a nível dos cuidados primários - administrativos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais etc. e tenha uma atitude de diálogo com os especialistas hospitalares e com os profissionais que trabalham na comunidade. pode prestar cuidados iniciais, simultâneos ou terminais. Ser médico de família é prestar um serviço próximo do cidadão, em ambientes pouco complexos, familiares em certos contextos, mas organizados. O médico de família não deve ser somente a porta de entrada no Sistema de Saúde deve ser antes o Centro do Sistema, organizando e acompanhando o percurso do seu doente nas restantes componentes do sistema. Um dos problemas que persiste no nosso sistema é a má articulação entre os vários níveis de cuidados e falta de comunicação. Tal depende das atitudes individuais dos profissionais e de aspectos estruturais de org anização do próprio sistema. As atitudes dependem também do treino. Qual de nós foi ensinado na faculdade sobre a importância da comunicação entre os profissionais e a forma correcta de o fazer? Este aspecto é importante, entre outras razões, pelo facto de que acompanhar o utente no seu percurso no sistema de saúde exige frequentemente discutir com ele os diagnósticos e as opções terapêuticas propostas pelos especialistas hospitalares, informando o doente e apoiando-o na tomada de decisões. 2 - O clínico geral deve dar os passos iniciais na prestação de cuidados para qualquer problema de saúde que os pacientes possam ter. Penso que também aqui a definição é redutora. O clínico geral na maioria das situações ( 70 a 80%, já que referencia apenas cerca de 20% das situações ou menos) não só presta os cuidados iniciais como resolve integ ralmente o problema. Poderá resolver mais problemas se tiver mais recursos e mais treino e penso que essa deve ser a tendência. O que é ou não solucionado a nível dos cuidados primários é uma á rea em mudança. Citando Michael Boland " cuidados que pertenciam aos médicos hospitalares são hoje realizados por rotina nos cuidados primários e algumas tarefas dos médicos de família são actualmente delegadas nas enfermeiras, nas famílias e nos próprios doentes. " 3 - O clínico geral presta cuidados a indivíduos inseridos numa sociedade, independentemente do tipo de doença ou de outras características pessoais e sociais. Penso que ficaria mais correcto reformular: O médico de família presta cuidados a indivíduos inseridos numa família e numa sociedade, independentemente do tipo de doença, idade ou outras características pessoais e sociais. A compreensão e avaliação da família pode ser muito importante para a compreensão daquela doença naquele doente e da sua possível evolução. O clínico geral não é certamente um terapeuta familiar mas deveria ter conhecimentos que lhe permitissem usar a família como recurso e evitar que ela seja fonte de doença ou obstáculo à cura. O clínico geral também deve estar preparado e ter treino para tratar crianças e grávidas, embora em alguns países tal não seja prática corrente. Mesmo no nosso país há diferenças entre médicos de família e centros de saúde nesta matéria. 4 - O clínico geral organiza os recursos disponíveis no sistema de saúde no melhor interesse dos pacientes. Interpreto esta afirmação como a necessidade que o clínico geral tem de conhecer bem os recursos disponíveis no sistema de saúde e na 5 - O clínico geral compromete-se com indivíduos autónomos através dos campos de prevenção, diagnóstico, cura, cuidados e tratamentos paliativos, através da utilização e integração das ciências biomédicas, psicologia e sociologia clínicas. Esta é a parte da definição mais inovadora e que merece todo o meu apoio. Como os autores dizem no texto é necessário definir o que é importante ensinar nestas áreas que seja útil para a prática de clínica geral, assim como é fundamental ensinar e fazer investigação qualitativa (e não só quantitativa) que permita aumentar o conhecimento e a evidência pertinente para a clínica geral nesta área. A discussão desta questão pretende ser um meio para definir o que é importante ensinar na fase pré e pós-graduada para formar um clínico geral competente e fazer avançar a especialidade. Pretende ser uma definição universal que se aplique qualquer que seja o contexto. Embora essa ambição de universalidade seja desmedida, no entanto penso que num país como Portugal será de reflectir a este propósito sobre o ensino pré-graduado da Clínica Geral e perguntar se existe consenso sobre o que e como ensinar? Número 8 25 Setembro 2000 Tema em destaque Um dos problemas que persiste no nosso sistema é a má articulação entre os vários níveis de cuidados e falta de comunicação. Tal depende das atitudes individuais dos profissionais e de aspectos estruturais de organização do próprio sistema. As atitudes dependem também do treino. Qual de nós foi ensinado na faculdade sobre a importância da comunicação entre os profissionais e a forma correcta de o fazer? Penso que seria importante alargar este debate, sobretudo com interesse académico, como os próprios autores afirmam, à área do ensino da Clínica Geral em Portugal. O conteúdo e a metodologia do ensino da Clínica Geral em Portugal é semelhante ou muito diferente nas várias universidades portuguesas? É evidente que é a formação pós -graduada (o internato complementar) que vai formar os especialistas de Clínica Geral e aí os conteúdos e metodologias são comuns e explícitos e a articulação entre as várias coordenações é uma realidade, apesar de dificuldades conjunturais. Continuidade de cuidados Outro ponto interessante para debate é a afirmação de que a continuidade de cuidados "o modelo do médico que presta cuidados a tempo inteiro, todo ano a uma comunidade estável "é um papel difícil com custos pessoais e sociais altos para o médico na sociedade actual. De facto este foi um dos temas debatido no último congresso da Wonca em Viena com o conferencista convidado (Douglas Flemming) a posicionar-se abertamente contra este modelo de continuidade de cuidados e propondo a continuidade não baseada num médico individual mas num grupo de médicos que seriam responsáveis por um grupo de utentes, sendo indispensável neste novo contexto bons registos clínicos e boa comunicação entre os profissionais. Penso que a continuidade de cuidados personalizada (um médico responsável por uma lista de utentes) continua a ter vantagens e é valorizada pelo doente, no entanto tal não pode continuar a significar que um utente só é atendido pelo seu médico de família e se ele não está por qualquer motivo tanto pior para o doente. O Centro de Saúde deve organizar-se, e em muitos casos isso já acontece, para prestar os cuidados necessários a todos os utentes nele inscritos independentemente do médico de família do doente, tentando no entanto manter o atendimento preferencial do utente pelo seu médico de família. Esta problemática depende do contexto dos cuidados, da população e dos profissionais envolvidos e deve-se encontrar as respostas mais adequadas a cada situação, sem fundamentalismos, pensando no utente como centro do sistema e tendo em conta os recursos locais. Em conclusão... Esta definição é pois em meu entender uma definição que pode e deve ser melhorada mas é uma boa base de discussão e em alguns aspectos como já referi no texto é inovadora e pode estimular na prática mudanças necessárias no ensino e na prática da Clínica Geral / Medicina Familiar. Berta Nunes Médica de Família Dir ectora do Centro de Saúde de Alfândega da Fé Número 8 28 Setembro 2000 Tema em destaque Será necessário redefinir a medicina geral e familiar? O s artigos de Olesen, Dickinson e Hjortdahl 1 e de Heath, Evans e van Weel 2 no British Medical Journal sobre a redefinição da clínica geral suscitam-me reacções contraditórias. Uma imediata de discordância e outra, mais racional, de achar útil revisitar, de tempos a tempos, este tema para actualizar ideias e conceitos. A polémica levantada parece-me pobre quando comparada com outras definições e debates anteriores. Admito que os citados au- conceptualizações, que ficam aquém do que entretanto já foi produzido. Em Portugal, relembro o editorial de Luís Rebelo na Revista Portuguesa de Clínica Geral de Julho de 1989 3. Aí estão sumarizados, de modo sucinto, "os doze atributos" da especialidade de medicina geral e familiar. É das definições mais sistemáticas e completas que conheço. Talvez a APMCG e o autor pudessem rever esse texto, aperfeiçoar e actualizar a sua redacção e divulgá-lo amplamente É verdade que não temos que pensar da mesma maneira nem dizer todos a mesma coisa. No entanto, afirmar a identidade de uma disciplina implica definir um núcleo consensual de características. Esse núcleo foi razoavelmente bem definido na década de 70. Desde então, tem vindo a ser enriquecido por diversos autores, instituições e organizações internacionais. Hoje, qualquer redefinição deve analisar cuidadosamente as várias definições já existentes e a riquíssima experiência entretanto acumulada. nos melhores médicos de família da Europa e do Mundo. Já foi dito e redito que a medicina geral e familiar se caracteriza por alguns aspectos essenciais que, no seu conjunto, a distinguem de outras disciplinas e especialidades médicas, nomeadamente: • O seu enfoque primordial - a medicina da pessoa; • O contexto do seu exercício medicina de proximidade, na comunidade e no domicílio; • O domínio de intervenção ou cuidados, coordenação, cooperação intersectorial; • Os métodos clínicos que aplica para lidar com graus elevados de incerteza e com situações complexas, em interligação com outros competências e recursos ; • A integ ração prog ressiva em equipas de saúde familiar, com redução da prática individual isolada, que infelizmente ainda ocorre em Portugal em muitos centros de saúde, mesmo que neles se amontoem dezenas ou centenas de profissionais. A definição histórica difundida na Europa pelo "Leeuwenhors t Group" data de 1977 4. As iniciativas redefinidoras da WONCA e os debates na Internet são factos presentes. Pelo meio passaram infindáveis documentos e debates como, por exemplo, os "Essentials in general practice" que animaram durante anos as reuniões do "The New Leeuwenhorst Group" em várias cidades da Europa. No essencial abordam-se os mesmos aspectos. Expande-se ou comprime-se o número de ideias e de palavras. Usam-se frases e construções mais ou menos elegantes, simples ou elaboradas, para frisar o que já está bem enraizado "carteira de cuidados" - actividades de promoção, educação, prevenção, cura, reabilitação, cuidados paliativos; • Os modelos teóricos e paradigmas a que recorre actualmente - modelo bio-psico-social e paradigma salutogénico; • Os principais instrumentos relacionais - comunicação médico-doente; co-responsabilização e parceria com os doentes e familiares na co-produção dos cuidados; técnicas de abordagem pessoal e familiar, etc.; • Os objectivos e papel na assistência aos cidadãos - acessibilidade, integ ração, custoefectividade, continuidade de Do meu ponto de vista, uma coisa inovadora seria definir a medicina geral e familiar na perspectiva dos doentes e dos cidadãos. O que é que os cidadãos e a sociedade esperam da medicina geral e familiar? O que é que pode levar os cidadãos - doentes ou não - a valorizar este ramo da medicina e a desejar escolher para si próprios um bom especialista em medicina geral e familiar? Para responder a estas perguntas teremos de colocar-nos na posição do cidadão-utente e, melhor ainda, estudar regularmente as suas expectativas e preferências. É bem provável que, para o cidadão, a medicina geral O sucesso da medicina geral e familiar não reside na qualidade e elegância das suas definições mas no valor que a sociedade atribuir á sua prática. E esse valor há-de ser traduzido na livre escolha e preferência dos cidadãos em relação aos médicos de família. A via dos modelos e esquemas técnico-normativos, por mais lógicos que sejam, e das imposições burocráticas, conduz a breve prazo ao fracasso e à insatisfação tanto dos médicos como dos utentes, nas sociedades desenvolvidas actuais tores, de prestígio internacional inquestionável, procurem responder a necessidades actuais de carácter político. Se assim for, o "basismo" e o "simplismo" que predominam nos referidos textos podem querer ter em conta audiências-alvo "externas", pouco sensíveis a conceptualizações teóricas e a descrições epistemológicas mais elaboradas. As formulações simplistas que apresentam, podem eventualmente conseguir uma melhor comunicação mediática para defesa e afirmação da disciplina/especialidade nos meios de decisão político-social da Europa e do Mundo. Caso contrário, não vislumbro mais-valia nas referidas tanto a nível nacional como internacional. Seria um contributo para o presente debate. Nenhuma outra disciplina médica tem tido tanto empenhamento dos seus cultores para produzir definições e textos conceptuais. Um dos sinais deste processo é a sucessão e diversidade de designações - clínica geral, aliás, medicina de família, aliás clínica geral /medicina familiar, aliás medicina geral, aliás medicina geral e familiar. Na maior parte das especialidades médicas a simples designação torna óbvia a definição? Por que não acontece o mesmo com a medicina geral e familiar? Trata-se de uma artificialidade teórica ? 29 Número 8 Tema em destaque Setembro 2000 Tema em destaque A relação médico-paciente e familiar que verdadeiramente lhe interessa seja a que: • se focalisa em primeiro lugar na totalidade da sua pessoa independentemente da sua idade/ fase da vida, sexo ou tipo de doença, integrando os diversos factores de saúde e episódios de doença nos seus contextos biográfico, pessoal e sócio-familiar; • está próxima de si, é de fácil acesso, incluindo no seu próprio domicílio; • o ajuda a obter informação e conhecimentos relev antes para a sua situação pessoal, para promover e a proteger a sua saúde e a dos seus familiares, incluindo aconselhamento e "advocacia" para obter do sistema de saúde as respostas mais adequadas para os seus problemas de saúde; • o orienta e ajuda a aceder, quando necessário, a outras especialidades e níveis de cuidados de saúde e assegura a continuidade e a coordenação dos cuidados; · tende, cada vez mais, a colocar ao seu dispor equipas de saúde familiar, permitindo-lhe usufruir de mais e melhores serviços, mais acessibilidade e segurança - mesmo nas ausências ou impedimentos do seu médico assistente pessoal ou médico de família. As equipas de saúde familiar permitem dispor de um leque mais alargado de competências e de canais de informação, podem estabelecer vias de acesso privilegiado a outros níveis de cuidados e, por isso, ampliam consideravelmente a rede de recursos de saúde com que cada cidadão pode contar. O sucesso da medicina geral e familiar não reside na qualidade e elegância das suas definições mas no valor que a sociedade atribuir á sua prática. E esse valor há-de ser traduzido na livre escolha e preferência dos cidadãos em relação aos médicos de família. A via dos modelos e esquemas técniconormativos, por mais lógicos que sejam, e das imposições burocráticas, conduz a breve prazo ao fracasso e à insatisfação tanto dos médicos como dos utentes, nas sociedades desenvolvidas actuais. A investigação, a formação e os processos de qualidade em medicina geral e familiar ou contribuem para a sua eficácia técnico-científica, incluindo a adequada satisfação das necessidades e expectativas dos cidadãos ou se tornam rituais irrelevantes. Talvez por isso, mais do que novas definições, é preciso uma nova orientação para o desenvolvimento da especialidade. E aqui os doentes e os cidadãos têm uma palavra decisiva a dizer. Creio que é nesta linha de desenvolvimento que podem surgir as novidades mais interessantes. Referências 1. Olesen F, Dickinson J, Hjortdahl. General practice time for a new definition. BMJ 2000; 320: 354-357. 2. Heath I, Evans P, van Weel C. The specialist of the discipline of general practice. BMJ 2000; 320: 326-327. 3. Rebelo L. Doze atributos do especialista de clínica geral/ medicina familiar. Rev Port Clin Geral 1989; 6(7): 193-194. 4. The Leeuwenhorst Working Party. The General Practitioner in Europe. Leeuwenhorst, 1977. Vítor Ramos Médico de família D esde que a medicina é digna desse nome que, consciente ou inconscientemente, a relação médico-paciente é uma realidade usada com êxito na prática clínica. Depois de Balint, ficou consagrada a designação "Medicamento Médico", que valoriza a relação médico-paciente como uma verdadeira acção terapêutica. Os esforços internacionais para encontrar uma definição do perfil do moderno clínico geral e do médico de família, também incluíram médicos e, eu sei lá, quantos pormenores mais devem ser levados em consideração, para que o doente se sinta acolhido, protegido, pelo médico. Tudo isto se aproxima do conceito psicanalítico de transferência, a partir do qual a relação médico-paciente começa a ter, verdadeiramente, a possibilidade de exercer uma acção terapêutica. Se muitas estatísticas nos vão informando de que, mais de 70% dos nossos pacientes têm problemas em que os factores emocio- nizada, será sempre um retrocesso e uma ameaça à eficácia dos médicos de família na sua actividade clínica. Temos consciência da dificuldade de criar condições práticas de trabalho para este tipo de exercício médico, mas consideramos que não podemos fazer cedências neste domínio. Teremos sim de pugnar para que tais condições tempo, formação, remuneração, ambiente físico, motivação- sejam criadas e todos lucrarão com isso: os doentes que serão mais nessa definição a importância essencial da relação empática entre o clínico e o seu paciente. Na literatura médica foram crescendo em número os livros e os trabalhos que, além de darem força a esta arma terapêutica , a vão desenvolvendo e estruturando de modo a ser usada e aplicada com o devido conhecimento e método (e estudo). A postura do médico na sua secretária, o seu semblante, o seu acolhimento, o seu maior ou menor interesse pela narração do paciente, a sua capacidade de saber ouvir afectuosamente, o próprio ambiente da sala de espera, os problemas íntimos dos próprios nais, afectivos e relacionais são preponderantes, é portanto absolutamente necessário, para além de fazer uma completa história biográfica, estabelecer a tal relação empática positiva para termos alguma possibilidade de ser úteis e eficazes sob o ponto de vista terapêutico. Como poderemos começar a considerar de "valor relativo", a relação "amorosa" com os nossos pacientes, falando da passagem desta relação individual para uma relação com uma equipa? É por isso evidente, para mim, que uma redefinição do perfil do clínico geral, em que esta relação "pessoa a pessoa" seja subalter- apoiados, os médicos que se sentirão mais realizados, as instituições que serão mais prestigiadas, os cuidados de saúde primários que completarão a sua missão, os cuidados secundários que se verão aliviados de muitas "referências" desnecessárias e o erário público que será aliviado de excessos de exames complementares e de medicamentos. Eis a minha posição em relação ao debate aberto sobre a tentativa duma nova definição do perfil do clínico geral, que nos aparece vindo das instâncias internacionais. Mário da Silva Moura Médico de Família Número 8 30 Setembro 2000 Tema em destaque Um passo atrás, um passo à frente MGF - a especialidade da pessoa O Jornal o "Médico de Família" pede-me um comentário à proposta dos Drs. Frede Olesen, Jim Dickinson e Per Hjortdahl sobre uma hipotética nova definição de Medicina Geral e Familiar. A proposta foi apresentada no recente Congresso da WONCA, em Viena de Áustria. A minha primeira reacção é ler a tradução do André Biscaia, ler o original em inglês, ler os comentários dos Colegas portugueses inseridos no Jornal e... ficar espantado! Olho à minha volta e agarro-me aos "Sinais do Tempo". Só por acaso, ou não será por acaso, tenho na minha secretária o último número da Revista da Sociedade Espanhola de Medicina de Família e Comunitária "Dimension HUMANA" - que nome sugestivo e perspicaz ! Leio o sumário e confirmo que o seu dossier principal - tratado por médicos de família, filósofos, sociólogos e humoristas é a "relação do médico com os pacientes". Na contracapa leio os Cursos à Distância da SemFYC e da Semergen para o 2º trimestre de 2000 - Cuidados à Criança, Cuidados à Mulher, Cuidados ao Idoso e Saúde Mental. Estes cursos de 300 horas lectivas são obrigatórios para a obtenção do título de especialista. Igualmente, chegou-me pelo correio o último exemplar do Boletim "FAMILIARMENTE", boletim do Grupo de Estudos da Família (GEF) que, idealizado e escrito maioritariamente por médicos de família portugueses vai no seu 2º ano de publicação quadrimestral e tem pontuado na área da Saúde das Famílias. Por acaso, ou talvez não, no mesmo Médico de Família (Julho 2000) divulgam-se dois Congressos de interesse - o I Encontro Luso-Brasileiro de Medicina Geral, Familiar e Comunitária que entre os seus objectivos gerais tem "Centrar a Medicina Familiar - a Medicina do Séc. XXI...", "Aprofundar conhecimentos em promoção da saúde, prevenção da doença e cuidados curativos". Também é divulgada a próxima Conferência da Sociedade Europeia da Medicina Geral e Familiar em Tampere, Finlândia em Junho de 2001 cujo lema é "General Practitioner - The Front-Line Clinician" e em que a imagem da divulgação diz mais que mil palavras - um consultório com plantas, um computador com o ecran aberto na retaguarda, e um trio, um bebé com uma otalgia? no colo da mãe a ser observado por um médico - todos no mesmo plano. Estou a organizar a vinda da Professora Janet Christie-Seely à Figueira ao 5º Congresso Nacional As pessoas primeiro, é o nosso lema distintivo. Como sabem é mesmo bom quando alguém nos apresenta a um amigo com um sorriso confiante este é o meu médico de Medicina Familiar. A sua sessão inaugural vai debruçar-se sobre "A importância da Família para o Médico de Família no início do Século XXI". A Professora, médica de família e terapêuta familiar escreveu no resumo da comunicação - "a segunda metade do século XX caracteriza-se não só por uma explosão tecnológica mas também por mudanças sociais e resultados de investigações dramáticos que apontam para o papel crucial da Família em tudo o que tem a ver com a saúde e doença". Na Faculdade e na ARS estou a apoiar a organização do Estágio Clínico para alunos de Medicina do 6º ano - é um ano profissionalizante, de prática tutelada, de sínteses e reflexão da maior importância. A Faculdade pretende cumprir o seu dever de preparar alunos com uma fo rmação pluripotencial capacitados e conhecedores do mundo que os espera. Pela primeira vez, vão estar seis semanas em centros de saúde! E... vão ter que adquirir um conjunto de procedimentos e conhecimentos considerados fundamentais. A lista é vasta e complexa. Resulta da proposta dos docentes das cinco áreas obrigatórias de estágio - Medicina, Cirurgia, Pediatria, Obstetrícia - Ginecologia e Clínica Geral/Saúde Mental. Mas, dos cerca de 200 procedimentos propostos para treino, 150 podem ser treinados no Centro de Saúde e dos restantes a maioria corresponde à obstectricia que em Portugal é uma área tipicamente hospitalar. Que especialidade está em melhor situação para ser local de treino de "Comunicação médico-doente, médico - família e interpares", "Gestão da Consulta e da prática", "Diagnóstico (considerando os factos físicos, psicólogos e sociais)", "Colheita, registo e tratamento de informação clínica (R MOP)", " Prescrição medicamentosa e avaliação dos seus efeitos", "Avaliação familiar relacionada com a saúde e a doença", "Aconselhamento em sáude", "Prescrição de dieta apropriada", "Injecção intramuscular", "Avaliação de incapacidades funcionais", "Otoscopia", "Exame do recém-nascido", "Instruções para autoexame da mama", "Atendimento da Grávida, colheita de história obstétrica", "Dor precordial" ou "Crise hipertensiva"? Enfim, será muito interessante avaliar o que os estudantes vão conseguir treinar por área de estágio ... Por fim, recebo uma carta do grupo gestor do "Manual MGF" fazendo o ponto de situação deste projecto, inovador e da maior relevância para a sólida construção da idoneidade da especialidade e da disciplina. Um MANUAL escrito por portugueses, para portugueses já com 200 (?) entradas e a colaboração de 400 autores! Vou buscar o artigo do BMJ e alguns comentários internacionais que entretanto chegaram. Os autores, de reconhecido mérito e de reconhecida influência britânica, lançam a discussão por aparentemente (já) não se reverem na histórica definição de LeeuwenHorest (1974), da American Academy of Family Phisicions (1997) ou da WONCA (1991) ou da OMS/WONCA (1994). Mas será que mudou algo de essencial nestes últimos trinta anos? Sim, mudou. Se há trinta anos a existência da disciplina e da especialidade eram sobretudo um sonho intelectual, hoje, tal como escreve John W. Saultz no seu compêndio de Medicina Familiar (saído em 1999, com 800 páginas !) no 2º capítulo "a Medicina Familiar pode ser estudada por quem o quiser, os temas que aborda são importantes, únicos e independentes de outras disciplinas médicas". Para mim, tal como o escrevi na minha tese (passe a pretensão) a nossa especificidade passa por três conceitos que em conjunto a tornam diferente e única - O genera- lismo, a continuidade de cuidados e a abordagem familiar. Neste quadro de referências a definição agora proposta é um claro passo atrás. Por outro lado, a confirmação que o CECIL não chega para livro de estudo do aluno de medicina e do de MGF é um dado irrefutável. Entende-se como muito positivo o ênfase que é feito na necessidade de acrescentar aos saberes biomédicos, os das ciências psicológicas e sociológicas quando exercemos o nosso metier de médicos de família. É um passo à frente. Portugal pode orgulhar-se do caminho percorrido nos últimos vinte e cinco anos. Um caminho rápido, cheio de marcos, original e que pode ombrear com os movimentos internacionais de Medicina Familiar mais modernos e evoluídos que existem. As pessoas primeiro, é o nosso lema distintivo. Como sabem é mesmo bom quando alguém nos apresenta a um amigo com um sorriso confiante - este é o meu médico. Quanto à definição, estamos bem muito obrigado. Prof. Dr. Luís Rebelo Médico de Família 31 Número 8 Setembro 2000 Reportagem - RRE USF Horizonte querer fazer melhor Manuel Luciano Ana Sardinha Helena Sá Per eira Jesus Perez Sanchez Jaime Cor reia Sousa Maria José Ribas O sonho de poder organizar uma Unidade de Saúde de raiz, constituída por profissionais com visões convergentes sobre o exercício da Medicina Geral e Familiar, levou um grupo de médicos, enfermeiros e administrativos a decidirem-se pelo desafio que carrega o trabalhar com autonomia, em equipa, num modelo organizacional construído interpares visando uma prática dirigida pela qualidade. Candidataram-se ao Regime remuneratório experimental, viram o seu projecto aprovado e em Novembro de 99 começaram a trabalhar. A quase um ano de distância, é possível contabilizar resultados... Muitos... Pesem os meses... Também muitos... que aguardaram a compensação que acompanha o RRE... Pese o facto de os administrativos ainda não terem data para a receber. É a equipa da USF Horizonte, de Matosinhos. Fomos visitá-la! O sonho de poder organizar uma Unidade de Saúde de raiz, constituída por profissionais com visões convergentes sobre o exercício da Medicina Geral e Familiar, já é antigo. Todavia, a possibilidade de se escolher a equipa com que se trabalha nem sempre é possível. Para que o fosse, um grupo de médicos, enfermeiros e administrativos reuniram-se em torno do projecto de implementação de uma Unidade de Saúde Familiar no âmbito do RRE. Projecto aprovado, a USF Horizonte, de Matosinhos, iniciou a sua marcha rumo ao futuro, que na Medicina Familiar se quer de Qualidade. Médico de Família visitou a equipa, viu as instalações, constatou dados de produtividade... Sondou expectativas e desilusões. Autonomia e remuneração qual a prioridade? O que leva médicos, enfermeiros e administrativos a trocarem um modelo convencional de org anização do trabalho, marcado pela rotina imutável imposta pela hierarquia, por um outro em que o sucesso ou insucesso do desempenho e a retribuição mensal dependem, quase exclusivamente, da vontade dos profissionais? Dinheiro ou satisfação profissional? A equipa da USF de Matosinhos explicou-nos: "acima de tudo, a vontade de trabalhar num grupo onde todos comungam do mesmo ideal do deve ser a prática da Medicina Familiar". Ainda que reconheçam o interesse pelo novo modelo de remuneração, que premeia o esforço quantitativ o e qualitativo, sem contudo fomentar a produção de actos desnecessários, para o grupo de Matosinhos o vencimento não foi, de modo algum, o principal motivo da adesão, como o prova o número de meses que resistiu, sempre motivado, sem a correspondente retribuição. De igual modo, o núcleo de enfermagem afirma-se satisfeito com a mudança. E também garante que o incentivo monetário, embora importante, não primou na decisão de aderir - "apenas duas enfermeiras não tinham 42 horas e até há bem pouco tempo aguardavam o horário acrescido. Sem desmobilizarem!" testemunharam ao nosso jornal responsáveis da unidade. As razões que motivam médicos e enfermeiros são - ao menos no que respeita à autonomia organizacional - partilhadas pelos elementos que integram o sector administrativo. E é neste grupo que o peso dos argumentos assume especial significado: satisfação profissional ou dinheiro? Em Matosinhos, como aliás acontece em quase todas as unidades RRE, o pessoal administrativo ainda não conseguiu ver aprovado o pacote de horas extras contemplado na Norma da Direcção Geral da Saúde. Há 11 meses que recebem menos do que recebiam quando trabalhavam (menos) no CS "convencional". O trabalho em grupo com colegas que escolheram é, pois, a sua motivação, como também o é o brio profissional de não abandonar uma tarefa começada. Todos participam Em Matosinhos, todos os elementos da equipa, sem excepção, participam na definição das regras de funcionamento da unidade, compiladas no Regulamento do Grupo, que se constitui como um contrato interno entre todos os profissionais, médicos, enfermeiros e pessoal administrativo. Um contrato dinâmico, que pode progredir no tempo de acordo com a experiência e a aprendizagem colectiva. Em Matosinhos, é também por consenso que se fixam os objectivos gerais do trabalho a desenvolver, que em termos gerais são: • a melhoria da prática da Medicina Geral e Familiar, individual e colectiva; • o privilégio dos padrões éticos e deontológicos na prática clínica; Número 8 32 Setembro 2000 Reportagem - RRE • a melhoria da acessibilidade, da continuidade e da equidade dos cuidados a uma população definida e, portanto, do estado de saúde dessa população; • a promoção da saúde; • a visão da pessoa global, num todo bio-psico-socio-cultural • o aumento da satisfação dos utentes; • o aumento da satisfação dos profissionais; • a orientação da Unidade de Saúde Familiar para a comunidade e para a sua participação nos cuidados de saúde; • o princípio da liberdade de escolha; • a cooperação intersectorial. A satisfação dos utentes Conhecida a motivação dos profissionais e a satisfação que manifestam por poderem trabalhar como e com quem gostam, quisemos saber se o sentimento se estendia aos utentes; se há hoje razões para afi rmar que em Matosinhos os cidadãos estão satisfeitos com os serviços que lhes são prestados no Centro de Saúde. Os responsáveis pelo projecto, esclareceram-nos: "o ambiente de descontracção e boa camaradagem que se regista entre todos os profissionais, associado à nova forma de trabalhar agrada aos utentes. Depois, cerca de 50% dos nossos utentes aguardavam em lista, há já vários anos, por um médico de família. O início de actividade da USF veio resolver a situação". Para breve, está agendada uma avaliação da satisfação de utentes e profissionais. Maior acessibilidade Em termos de acessibilidade, o modelo de org anização que o RRE introduz permite, disseram-nos em Matosinhos, a prestação de cuidados personalizados a um grupo restrito da população, que conhece a equipa e que é conhecido por esta. Procura-se que os utentes sejam atendidos com hora marcada, de preferência pelo seu médico, perdendo o menos tempo possível com os serviços. Dados de Agosto de 2000 Comentário A USF Horizonte oferece cuidados após as 20h nos dias úteis e entre as 8 e as 20h ao fim-de semana, permitindo aos seus utentes evitar ter de recorrer ao Serviço de Atendimento Permanente do Concelho de Matosinhos, que serve, para além do CS de Matosinhos, mais 3 Centros de Saúde. Isto, em nosso parecer, constitui uma melhoria na oferta de cuidados, com maior rapidez e personalização do atendimento. Qualquer utente que se dirija à Unidade, será atendido ape nas por um dos oito médicos, que têm acesso à sua informação clínica e ao seu próprio médico se necessário e podem assim atendê-lo melhor. O número de utentes inscritos é superior ao programado inicialmente e é fruto, em parte, da manutenção da procura por parte dos utentes e suas famílias. Todos os utentes inscritos têm cartão de utente requisitado e em via de ser entregue. Esta situação corresponde a um esforço enorme dos assistentes administrativos que tiveram de efectuar a ins crição, em alguns casos, de toda a lista do médico. Calcula-se que tenham sido efectuadas mais de 10 000 inscrições em Cartão de Utente entre Novembro de 1999 e Junho de 2000. O grupo de enfermagem * Os profissionais de enfermagem têm a seu cargo a sala de pensos, injectáveis e tratamentos; a vacinação (na qual efectuaram formação no CS já após o início da actividade da USF); a gestão da agenda de Saúde Infantil e da Mulher; o aconselhamento e fornecimento de meios de contracepção, bem como o apoio integral a estas consultas e o apoio domiciliário aos utentes da USF; a vigilância de hipertensos e diabéticos de acordo com os protocolos estabelecidos e a triagem de situações agudas sempre que indicado. A actividade destes profissionais desenvolve-se em articulação com os médicos em todas as áreas identificadas. Divide-se, grosso modo, em: consultas de enfermagem e de equipa, actividades de promoção e prevenção, intervenções de enfermagem, vacinação, visita domiciliária, educação para a saúde e reuniões. Nas actividades de prevenção e promoção da saúde incluem-se as consultas de Planeamento Familiar, Saúde Materna e Saúde Infantil, bem como o aconselhamento e acompanhamento de diabéticos e hipertensos. Na USF Horizonte, as primeiras são efectuadas em equipa. Para além do trabalho em equipa, cabe ainda aos profissionais de enfermagem, a gestão do ficheiro de PF e o fornecimento de meios de contracepção, o aconselhamento para a saúde dos grupos vulneráveis, a vigilância dos parâmetros antropométricos dos lactentes, o aconselhamento e promoção de estilos de vida saudáveis a hipertensos e diabéticos. Destas actividades, muitas não são concretizáveis por números. A vacinação dos utentes da USF Horizonte iniciou-se em Janeiro uma vez que, até essa data, houve necessidade de formação no Centro de Saúde. Esta foi efectuada pelos seis enfermeiros, de forma rotativa, nos primeiros dois meses de actividade. No conjunto, entre atendimentos programados e não programados, bem como actos de enfermagem e visitas domiciliárias, contamse mais de 24 mil utentes atendidos em seis meses, isto é, 277 utentes por dia útil. Dito de outra maneira, os enfermeiros da USF Horizonte atenderam, em média, 35 utentes por dia. *Dados de Junho de 2000 Número 8 33 Setembro 2000 Reportagem - RRE Quadro 1 - Freguesias abrangidas pela USF Horizonte (Junho 2000) Quadro 2 - Distribuição dos utentes inscritos em cada médico (Fonte: SINUS I) Quadro 3 - Distribuição da consultas (totais) Quadro 4 - Caracterização dos utentes no domicílio Todos os utentes com situações de doença aguda são atendidos no próprio dia, existindo para tal um sistema de atendimento médico contínuo entre as 8.00h e as 23.00h nos dias úteis e entre as 8.00h e as 20.00h ao fim-de-semana. A USF Horizonte também oferece cuidados de enfermagem todos os dias úteis da semana (no mesmo horário que o médico) e entre as 14.00h e as 20.00h ao fim-de-semana. As consultas médicas são preferencialmente programadas, com hora marcada. A Consulta Aberta diária tem um horário pré-definido, que é conhecido pelos utentes, ainda que se procure satisfazer qualquer pessoa que necessite de consulta por doença aguda que venha fora de horas buscar o auxílio do seu Médico de Família. Entre Dezembro de 1999 e Junho de 2000, realizaram-se 23688 consultas/contactos, num total de 145 dias úteis, correspondendo a uma média diária de 163,36 consultas/ contactos (Quadro 3). Nos primeiros seis meses do ano 2000, foram efectuadas 8274 primeiras consultas (66% dos utentes inscritos). Consulta de grupos vulneráveis As consultas de Saúde Infantil e Saúde da Mulher são programadas em dia e horário próprios. O espaço destinado à consulta foi especialmente pensado para esse fim, permitindo uma maior rentabilização do tempo de consulta a par de uma melhoria da qualidade do atendimento. Nestas consultas privilegia-se o trabalho em equipas fixas (o mesmo médico e o mesmo elemento de enfermagem) de modo a alcançar-se uma melhor articulação e conhecimento dos utentes, sobretudo crianças e grávidas. Consulta de Permanência Semanalmente, cada médico efectua 6 horas de permanência, atendendo todos os pacientes que apresentem doença aguda e não possam aguardar para serem observados pelo seu médico. Nos dias úteis, são atendidos todos os utentes cujo médico não se encontra presente ou não está disponível para atender. Esta consulta de intersubstituição tem como objectivo principal permitir que qualquer utente possa ser atendido em tempo útil em situação de doença aguda. Apoio domiciliário A USF Horizonte dispõe de um sistema de acompanhamento médico e de enfermagem no domicílio, definido no Regulamento Interno e no Plano de Actividades, que funciona em articulação interprofissional, com a troca frequente de impressões sobre cada um dos utentes em domicílio. As características dos utentes da USF Horizonte estão de acordo com o número de doentes acamados ou dependentes identificados. Entre Dezembro de 1999 e Junho de 2000 foram realizadas 317 consultas médicas no domicílio, numa média de 45,3 domicílios/mês (Quadro 4). Constituição das listas Na USF Horizonte, a constituição das listas de utentes de cada médico realizou-se de diferentes formas. Dois dos médicos que aderiram ao projecto pertenciam ao CS de Matosinhos, pelo que mantiveram as suas listas (ainda assim, todos os utentes destes clínicos foram informados sobre as alterações que iriam ser introduzidas no modelo organizacional e instados a declarar a sua anuência, ou recusa, em A actividade administrativa* O atendimento dos utentes é a tarefa nobre dos assistentes administrativos e tem sido privilegiada dentro da USF Horizonte pelo que estes profissionais realizaram, nos últimos meses, formação nesta área realizada em colaboração com a ULS de Matosinhos. Também têm vindo a obter formação na área de informática, quer antes do início de actividade do grupo, em acção de formação coordenada pela equipa responsável pelo projecto, quer durante o tempo de actividade, com a colaboração dos técnicos da SRS do Porto (programa SINUS I). Os assistentes administrativos foram os profissionais que mais se ressentiram com a afluência de novos utentes à Unidade, pois houve necessidade de proceder à inscrição de cerca de 10 000 novos utentes em SINUS I - com respectiva requisição do Cartão de Utente e emissão de cartão de marcação de consulta. Para além da pressão exercida pelos utentes para um atendimento rápido, estes profissionais viram-se confrontados, frequentemente, com pedidos de inscrição simultânea da totalidade dos membros de um agregado familiar, facto que causou alguns "congestionamentos" na recepção. Em tempo de "normalidade", se considerarmos que cada consulta médica com RAC efectuado implica, em média, dois contactos com o assistente administrativo (antes e após a consulta), contabilizam-se, entre Dezembro de 1999 e Junho de 2000, 47 376 atendimentos (média de 326/dia útil). Este grupo profissional tem ainda a seu cargo, no processo de atendimento de cada utente, para além da realização do RAC e emissão do respectivo recibo, a recepção de taxas moderadoras, o levantamento do processo familiar do ficheiro centralizado e o envio deste ao consultório do médico (envio que frequentemente se transforma em entrega pessoal). Está também a seu cargo a gestão do processo de renovação de medicação prolongada e o atendimento e orientação telefónicos, meio que foi privilegiado na USF Horizonte para contacto dos utentes com o Serviço. Serviço de Retaguarda Todo o serviço inerente ao funcionamento da Secretaria é efectuado pelos assistentes administrativos da USF, incluindo: a contabilidade das taxas moderadoras e subsistemas; autorizações e registo de credenciais para alguns exames de diagnóstico, tratamentos e transportes; encaminhamento das referenciações aos cuidados hospitalares e a elaboração dos mapas estatísticos mensais (têm colaborado em todos os levantamentos estatísticos efectuados na USF). Para breve, está prevista a monitorização - que contará com o apoio dos pessoal administrativo - do tempo de espera de marcação de consulta e do tempo de espera na sala após hora marcada. Constituem ainda tarefas deste grupo a gestão corrente do edifício, nomeadamente no que respeita a avarias e a articulação com os serviços de limpeza. *Dados de Junho de 2000 Número 8 34 Setembro 2000 Reportagem - RRE permanecerem na lista). Estes clínicos aceitaram, ainda, novas inscrições. Outros dois elementos da equipa médica vieram de Leça da Palmeira. Os seus doentes afirmaram expressamente que desejavam manter o médico, pelo que lhes foi permitido transitar para Matosinhos. Também estes clínicos aceitaram novas inscrições. Os restantes quatro médicos iniciaram as suas listas do zero. Hoje, contam com mais de 1600 utentes cada e já se pressentem dificuldades em inscrever todos os interessados (Quadro 1). População abrangida A área de influência da USF Horizonte abrange as freguesias de Matosinhos, Leça da Palmeira, Guifões e Senhora da Hora, ocupando a orla marítima a Norte da cidade do Porto. Inclui ainda utentes de freguesias de fora do Concelho. Em Junho de 2000, encontravam-se inscritos na base SINUS I 12 527 utentes. A maioria da população abrangida (71%) reside na freguesia de Matosinhos, seguindo-se Leça da Palmeira (20%), Guifões e Senhora da Hora (ambas com 2,7%). Nas restantes freguesias - fora de área - residem cerca de 3% dos utentes inscritos (Quadro 2). Apoios e obstáculos Para alcançar o sucesso que hoje se lhe reconhece, a USF Horizonte contou com todo o apoio da ARS Norte e da Sub-região de Saúde. Uma ajuda que, não obstante o peso, não foi suficiente para resolver algumas falhas importantes que ainda hoje se registam ao nível das obras e dos equipamentos. Por outro lado, o início de actividade da ULS de Matosinhos introduzir algumas dificuldades na articulação entre as diversas entidades, que se reflectem, negativamente, no funcionamento do grupo. O pagamento dos salários de acordo com o modelo estabelecido Opinião "o ambiente de descontracção e boa camaradagem que se regista entre todos os profissionais, associado à nova forma de trabalhar agrada aos utentes. Depois, cerca de 50% dos nossos utentes aguardavam em lista, há já vários anos, por um médico de família. O início de actividade da USF veio resolver a situação" Os médicos e a Senhora Ministra! para os grupos RRE é outro dos problemas cuja total resolução ainda se aguarda. Para além dos administrativos, que como se disse atrás, ainda não viram recompensado o seu desempenho, a remuneração por orientação de internos de CG devida aos médicos e algumas outras retribuições previstas no RRE não têm sido liquidadas. Também em sede de prioridades para a resolução de problemas, não é o dinheiro que lidera. A mais importante, e talvez aquela que interessava mais aos profissionais, é a conquista de autonomia funcional, que ainda se aguarda. O grupo não dispõe de fundo de maneio; não houve delegação de competências; as enfermeiras continuam a ter que apresentar relatórios mensais ao CS e têm-se detectado diversas tentativas externas de "orientar" algumas actividades. A Senhora Ministra da saúde disse algures, numa intervenção pública, que "os médicos deviam ser a solução e não o problema" para os defeitos e as carências do nosso serviço nacional de saúde. Referia-se a nossa Ministra às frequentes críticas que, seja individualmente ou institucionalmente, os médicos fazem constantemente às deficientes condições de trabalho, aos atrasos das soluções dos problemas, à insatisfatória remuneração, ao não cumprimento de projectos, de promessas e até de legislação já aprovada, à excessiva burocracia e à complacência com conhecidas incompetências de alguns. É evidente que, alguns médicos se acomodaram a situações defeituosas, que alguns médicos não mostram um empenhamento suficiente no seu desempenho, que alguns médicos cometeram até alguns actos condenáveis. Mas a realidade é que para se fazer um diagnóstico, para utilizar nomenclatura médica, se torna necessário procurar - com uma história clínica bem feita e com um exame objectivo aprofundado - o conjunto de sintomas que permitam equacionar as várias hipóteses possíveis de diagnósticos - o que quer dizer que, para se encontrar a doença de que sofre o nosso sistema de saúde era (e é) necessário listar esses sintomas que permitam o diagnóstico, daí que os médicos não se calem na denúncia do que está mal! Mas a realidade, seguindo o mesmo raciocínio, depois das várias hipóteses de diagnóstico se torna necessário fazer uma relação por probabilidades e fazer depois a eliminação do que é falso, colocando à cabeça o que cresce em possibilidades de caminhar para o diagnóstico - quer dizer que para a doença crónica e arrastada do nosso sistema de saúde se tem de usar a mesma metodolo- gia, daí que os médicos discutam e tentem fazer esse jog o de probabilidades falando, escrevendo e discutindo sobre a importância e a gravidade dos vários defeitos do nosso sistema, mesmo correndo o risco de incomodar a nossa tutela! E uma vez na pista do diagnóstico mais provável, começa a pensar-se na medicação mais apropriada, o que para a "Esclerose" (no diagnóstico do Sr. Prof. Daniel Serrão) do nosso sistema de saúde levará os médicos também a não ficarem calados e a porem várias hipóteses terapêuticas numa doença de tão difícil tratamento - e temolo feito à sociedade apontando o uso de medicamentos fortes, a necessidade de certas exactidões de tecidos, mas sempre necessitando do parecer dos "conselhos de ética", que é como quem diz dos superiores hierárquicos. Todos nós sabemos que as soluções não se concretizam sem os médicos (e não só!), que teremos de ser solução para os problemas, ou pelo menos elas passam por nós. Mas a nossa Ministra tem de compreender que os médicos estão "fartinhos" de denunciar, de encontrar sintomas importantes, têm apontado várias soluções, e as coisas - por causa da Esclerose não mexem de modo a dar sinais de melhoria . E até os médicos (não devia acontecer) desesperam perante a ineficácia de algumas terapêuticas, a falta dos necessários "medicamentos", a demora dos pareceres do "conselho de ética", que é como quem diz, das regiões e das sub-regiões e de outras estruturas do ministério. Mas temos a certeza de que com vontade política do Governo, já que vários ministérios "mexem" neste "cozinhado", não serão os médicos o âmag o do problema! Mário da Silva Moura Médico de Família 36 Número 8 Setembro 2000 MoniQuOr - os melhores perfis Centro de Saúde de Ponte de Sôr de, na área do atendimento, é precisamente a existência das equipas de saúde. O médico, enfermeiro e administrativo adaptam-se mutuamente e conhecem as características da sua lista de utentes, o que leva à optimização do trabalho. • Ainda sem resposta a "Análise e discussão periódica do perfil de prescrição de fármacos". Cada médico é independente e autónomo na sua forma de prescrição. O Concelho de Ponte de Sôr, contrariando o que habitualmente acontece no Alentejo, encontra-se em franco crescimento, quer demográfico, quer industrial D e fo rma um tanto aberrante, o concelho dispõe de dois Centros de Saúde, o Centro de Saúde de Ponte de Sôr e o Centro de Saúde de Montargil. Segundo os dados do Censo de 1991, a área de influência do Centro de Saúde de Ponte de Sôr abrangeria uma população de 13390 habitantes. Hoje, estão inscritos no Novo Cartão de Utente 14477 indivíduos e sabemos que há ainda uma parte significativa da população por inscrever. O edifício actual do Centro de Saúde é de construção recente, mas muito deficitária. Primeiro porque foi construído para uma população bastante menor do que a actual, segundo porque a construção enferma de erros graves (má qualidade, gabinetes muito pequenos, sem climatização). Das cinco extensões existentes, só uma, a de Galveias, possui boas condições para as funções que desempenha. Se analisarmos o quadro de funcionários, verificamos que se encontra dimensionado para uma população bastante inferior à que é servida actualmente, e que mesmo assim, não está totalmente preenchido. Apesar de tudo, a classificação que obtivemos nas avaliações cruzadas do MoniQuOr, deixa-nos satisfeitos, mas ao mesmo tempo conscientes de que temos ainda muito para fazer. Analisando sumariamente os resultados do MoniQuOr, verificamos: 1. Organização e Gestão Embora globalmente seja um capítulo positivo, há alguns pontos que precisam de ser melhorados: • Prover todos os lugares vagos no Quadro e lutar pela adequação deste às necessidades da comunidade actual. • Envolver todos os profissionais nas questões da qualidade dos serviços. 2. Direitos dos Cidadãos Neste capítulo, todas as alíneas foram consideradas como pontos fortes. O livro de Reclamações está disponível e acessível aos utentes, existe um gabinete do utente a funcionar adequadamente e todas as queixas ou sugestões apresentadas são analisa- das e têm uma resposta. 3. Promoção da Saúde Apesar de alguns pontos fortes, há ainda aspectos importantes a melhorar: • Activar a Comissão Concelhia de Saúde. É importante promover a participação dos cidadãos na vida do Centro de Saúde. • É necessária uma maior intervenção nas escolas promovendo a Saúde e comportamentos saudáveis. 4. Prestação de Cuidados de Saúde Este foi um dos pontos em que o MoniQuOr identificou alguns défices, que corrigimos já, na sua maioria: • Hoje, a obtenção de consulta no próprio dia é uma realidade em todas as equipas de saúde. • Cabe à equipa a definição de critérios para a visitação domiciliária. Nesta área, muito à custa do sector de enfermag em, tem-se procura d o optimizar a prestação de cuidados continuados. • Um dos pontos fortes no funcionamento do Centro de Saú- 5. Educação Contínua e Desenvolvimento da Qualidade Também aqui há aspectos importantes a corrigir: • Avaliação da satisfação dos utentes. Foi aplicado um inquérito de satisfação aos utentes em toda a Sub-Região de Portalegre, no entanto, não tivemos conhecimento nem da sua aplicação, nem dos seus resultados. É im- portante que seja o Centro de Saúde a aplicar um inquérito deste tipo. • A avaliação do grau de satisfação dos profissionais é também importante. • A existência de reuniões periódicas para discussão de casos clínicos é para nós uma meta a atingir, no entanto o escasso número de médicos e a grande quantidade de actividades, têm dificultado as reuniões tão frequentemente como desejaríamos. 6. Instalações e Equipamentos Apesar de globalmente positivo, pensamos que este capítulo necessita de ser melhorado. • Melhorar o equipamento do SAP • Melhorar as condições de climatização do Centro de Saúde • Informatizar todos os gabinetes • Elaborar o Plano de Emergên- Número 8 37 Setembro 2000 MoniQuOr - os melhores perfis CS de Santa Marta de Penaguião cia em caso de catástrofe Estes são alguns pontos importantes que gostaríamos de concretizar em breve, mas para tal temos necessidade de mais verbas por parte Sub-Região. De salientar que muito se tem feito com vista a melhorar e humanizar as condições de acolhimento. Merece um destaque especial o projecto de "Parque Infantil", apresentado e concretizado pela Comissão de Humanização. Hoje dispomos de um espaço maravilhoso, para acolhimento e entretenimento das crianças. Em nosso entender, a grande vantagem desta iniciativa, MoniQuOr, é a identificação de problemas, que, porque parte interveniente, nem sempre conseguimos ver. Permitiu-nos verificar que, na grande maioria dos aspectos, estamos a desenvolver um bom trabalho, por isso, continuaremos a privilegiar o trabalho em equipas multidisciplinares. Como estratégia para o funcionamento do Centro de Saúde, valorizaremos cada vez mais a Medicina Familiar, em todas as suas vertentes, continuaremos a promover a formação de parcerias, quer com a comunidade, quer com outras Instituições de Saúde. Mas também foram identificadas algumas limitações. Assim, é importante para o Centro de Saúde: envolver todos os grupos profissionais nas questões da qualidade, prover todos os lugares vagos no quadro e procurar a sua adaptação às reais necessidades da comunidade, activar a Comissão Concelhia de Saúde, intensificar as acções de educação para a saúde, dinamizar mais os cuidados domiciliários. Finalmente, importa dizer que só pela boa vontade, dedicação e competência de todos os profissionais, foi possível obter este grau de desempenho no MoniQuOr, apesar das grandes carências que temos. Na realidade, o bem maior do Centro de Saúde é o conjunto dos seus funcionários, não pela quantidade, que é escassa, mas pela qualidade, porque são todos óptimos profissionais. Fer nando Oliveira Rodrigues Director do Centro de Saúde O Centro de Saúde de Santa Marta de Penaguião assumiu, desde sempre, privilegiar a melhoria das relações de trabalho entre os diversos grupos de profissionais em exercício. A gestão de tipo participativo que se adoptou, por se sentir ser necessário envolver e responsabilizar todos os profissionais, tem-se mostrado como a ferramenta ideal para incentivar todo o árdua trabalho que carece ser desempenhado por toda a estrutura de Saúde para a obtenção de resultados visíveis com a aprovação da população que servimos. Conscientes que a conquista de uma "Saúde para Todos" no concelho de Santa Marta de Penaguião, não depende apenas das estruturas do Ministério da Saúde, desde sempre, o Centro de Saúde juntou esforços com as diversas instituições existentes no terreno obtendo, com esta multidisciplinaridade, parcerias que se revelaram de extrema importância para a resolução dos problemas de saúde da população. Desde 1996 e para dar resposta a anseios legítimos da população, o Centro de Saúde implementou o seu funcionamento em horário contínuo. A criação de Equipas de Saúde, revelou-se como uma peça fundamental para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade fornecendo satisfação profissional e uma melhor solução dos problemas sentidos pelos utentes. Devido às características geográficas, terreno muito montanhoso e características demo g ráficas com grande número de idosos com baixo nível de rendimento, o Centro de Saúde desenvolveu um "Projecto de Apoio Domiciliário" que é realizado por cada Equipa de Saúde, semanalmente, em períodos de quatro horas. Este Projecto, apoiado pela ARS Norte, no âmbito dos projectos inovadores tem como objectivos: garantir apoio domiciliário(AD) a 100 por cento do universo da população acamada; garantir o AD a 100 por cento das famílias de risco identificadas e garantir o apoio imediato médico e de en- fermagem a todos os recém-nascidos e grávidas. Ainda no âmbito dos "Projectos Inovadores", candidatou-se este Centro de Saúde a um "Projecto de Pequena Cirurgia", financiado pela ARS Norte, com o objectivo de dar resposta aos utentes deste Centro de Saúde bem como aos concelhos da Régua e Mesão Frio, contribuindo não só para a diminuição das listas de espera para pequena cirurgia, mas também para a implementação do diagnóstico e controle precoces de situações neoplásicas e sensibilização da população para os sinais e sintomas precoces de patologia neoplásica. Criou e implementou o uso do "Cartão de Medicação Crónica". A implementação do uso deste cartão logo apresentou vantagens significativas. Permitiu ao utente com doença crónica obter mais facilmente o receituário "habitual", que até aí era um processo moroso e burocratizado que por vezes interferia com a dinâmica da consulta; o médico de família passou a poder, de maneira simples e eficaz, controlar efectivamente o cumprimento da prescrição além de evitar a automedicação. A 13 de Janeiro de 1999, foi o Centro de Saúde agraciado com a Medalha de Ouro de Mérito Municipal, pela Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, por muitos e relevantes serviços prestados à comunidade. Joaquim Baptista da Fonseca Dir ector do Centro de Saúde Número 8 Crónica "Setembro negro" poderia ser outro título desta minha meditação. É que, por via das lutas pelas audiências, a SIC e a TVI entraram em concorrência renhida e resolveram, para além dos concursos de milhões e do "Big Brother", explorar um assunto de grande impacto nas pessoas: os problemas da saúde em Portugal! E assistimos durante vários dias a reportagens a "puxar" ao sensacionalismo, a explorar a sensibilidade das pessoas com fotos, lágrimas e imagens de doentes graves, ou a pôr a nu alguns elementos evidentes da desorganização e das carências do nosso sistema nacional de saúde. Não é que casos de acidentes em hospitais, ou casos de faltas de médicos, técnico e enfermeiros não devam ser denunciados, não é que o Ministério da Saúde não deva ser confrontado com as tais carências e desorganizações; não é que alguns médicos não possam ter "telhados de vidro"; não é que não deva ser "gritado" que certas zonas têm carência de médicos e que certos centros de saúde não têm as necessárias condições; não é que se não deva pugnar pela humanização dos nossos serviços médicos; longe de nós pensarmos que o silêncio e o conformismo é que deve ser cultivado pelos nossos meios de comunicação social. Não estariam a cumprir uma das suas missões. Mas pensamos que é um escândalo encher, em horário nobre, nos telejornais da noite, as populações deste país com casos que, a 38 Setembro 2000 Isto é um escândalo! maior parte deles, são pontuais; e apresentálos como se fossem a regra geral no nosso serviço de saúde. Quem viu a SIC no início deste mês ficou com a ideia de que os doentes andam a morrer por desleixo nos nossos hospitais, que os centros de saúde não dão qualquer assistência médica que se veja, que os médicos são uns energúmenos sem coração e ignorantes, que a maioria das crianças em Portugal nascem em ambulâncias, que só temos uma medicina sem qualidade e médicos que não cumprem e só pensam em dinheiro - nem faltou na TVI tempo de antena para o "Bayergate", para o pequeno Pequito declarar que mais uns milhares de médicos eram corruptos! É realmente um escândalo que se tente desacreditar uma classe que trabalha tantas vezes em condições deficientes, que ganha pouco em relação à responsabilidade no seu trabalho e em comparação com outros profissionais que não levam doze a quinze anos de estudo para a sua formação e que têm de manter-se em formação permanente. É realmente um escândalo o tom sensacionalista, "lamexas" e insinuando sempre que os técnicos de saúde intervenientes nas histórias foram os responsáveis pelas mortes ou pelas consequências trágicas de cada caso. Há muito que os problemas médicos andam nos jornais e nas televisões sempre com rótulos de desleixo e incompetência (a palavra da moda é "negligência"), tratados por pessoas que pouco ou nada sabem do ver- dadeiro sentido da doença, da medicina e seus conceitos, dos serviços e das condições de trabalho - ouvindo os relatos emocionais das famílias ou dos doentes sem se cuidar de ouvir as explicações dos técnicos competentes - mas esta primeira semana de Setembro tocou as raias da agressão e da maldicência. Não duvidamos da veracidade das histórias apresentadas e temos todo o respeito por quem sofre e por quem sente na carne defeitos e carências do nosso sistema de saúde, mas tudo poderia e deveria ser apresentado de maneira tranquila e séria, tentando esclarecer os porquês dos casos apresentados. Senhores jornalistas, sejam sérios! O facto de se ouvir por escassos minutos a Ministra da Saúde, o Bastonário da Ordem dos Médicos ou um ou outro director de hospital, em geral confrontados com um interrogatório inquisitorial dos locutores (estilo agressivo de Moura Guedes!), não destrói a maneira "verrinosa" das reportagens e dos grandes títulos sensacionalistas. É um mau serviço à medicina e ao povo português só explicável porque os orientadores das televisões sabem que to- dos somos sensíveis aos problemas da saúde - não fez Clinton, na sua primeira campanha, a saúde como bandeira? Não veio Blair com um programa de reformas do serviço de saúde britânico, com muitos milhões de libras, ao sentir-se a descer nas sondagens? Para além de um programa de TV que apresentou alguns casos de cirurgias arrojadas, nada mais as televisões fizeram para mostrar como se trabalha bem em certos hospitais e em muitos centros de saúde, nada se fez para mostrar que entre nós se faz absolutamente o mesmo que em outros países desenvolvidos e com bem menos recursos técnicos, humanos e financeiros. A população portuguesa deve ser informada seriamente do que está mal, do que deve ser modificado, mas deve igualmente saber que tem um corpo médico competente que muito luta e se sacrifica para trabalhar sempre melhor em prol da saúde dos portugueses. Mário da Silva Moura Presidente honorário da Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral Ficha Técnica Jornal Médico de FFamília amília Publicação mensal de informação geral e médica P residente Director Director-- Geral Luís Pisco Director Maria do Carmo Cafede Directores Adjuntos José Falcão Tavares, Antónia Lavinha Editor Miguel Múrias Mauritti Chefe de Redacção Vitor Frias António Branco, Constantino Sakelarides, Francisco Batel Marques, José Luis Biscaia, João Rodrigues, Luís Graça, Mário Cordeiro, Mário Moura, Paula Lobato Faria, Pedro Ferreira, Pedro Ribeiro da Silva, Pinto Hespanhol, Rui Nogueira, Santos Gonçalves, Vítor Ramos Fotografia Vitor Alfaia, VFBM - Comunicação, Lda. Ilustrações Eduardo Esteves Redacção Ana Oliveira, Carlos Alves, Grafismo Elisabete Ferreira, Vitor Frias, VFBM - Comunicação, Lda. VFBM- Comunicação Lda. Marketing e Publicidade Colaboradores Ana Duarte Rosa, Ana Margarida Levy, Maria de Lurdes Gaspar, André Biscaia, VFBM - Comunicação, Lda. Registo ICS 112976 Depósito LLegal egal 84639/94 - ISSN 0871763X Ano de FFundação undação 1988 Propriedade INFORSALUS, LDA. Apartado 109, 2302 Tomar Codex Redacção A.P.M.C.G. Estrada de Benfica, 719 - 1.º Esq. 1500-088 Lisboa Tel:217620650 Fax:217648210 Impressão MIRANDELA, Artes Gráficas Tiragem 7000 exemplares 39 Número 8 Setembro 2000 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar Bem-vindos ao Congresso Os Congressos Nacionais de Medicina Familiar, surgiram como uma resposta à necessidade sentida de um espaço com conteúdo técnico-científico mais explícito por contraponto aos Encontros Nacionais, mais "políticos". Pretendem, pois, ser um contributo para a actualização científica dos médicos de família e um espaço onde os trabalhos de investigação de internos e profissionais possam ser apresentados e debatidos, sendo os médicos de família os principais protagonistas. É de salientar o grande número de internos inscritos no congresso e nas comunicações livres, garantia de que a especialidade se manterá viva, pois a criatividade e entusiasmo dos mais novos são fundamentais para a renovação e desenvolvimento da Clínica Geral. A Conferência Inaugural é da responsabilidade da Prof. Christie Seely, que constitui uma referência da Medicina Familiar e, como tal, certamente virá enriquecer o conteúdo do Congresso, transmitindo a sua experiência. A adolescência, escolhida como "tema principal" do Congresso, foi-o porque pensamos ser necessário um maior investimento dos Centros de Saúde neste grupo etário. As polémicas, tema de sucesso nos Congressos anteriores, este ano apresentam, como novidade, uma maior participação dos médicos através do "Televoter". O programa social tem uma vertente cultural e de intervenção comunitária, contando com interpretações de música clássica, uma exposição de pintura e um serão animado por uma Tuna Académica. Por tudo isto e muito mais: Bem-vindos ao congresso! "A importância da Família para o Médico de Família no início do século XXI" O início do 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar ficará marcado pela intervenção da Prof. Janet Christie-Seely, Professora do Departamento de Medicina Familiar da Universidade de Ottawa, que falará das profundas mudanças ocorridas na segunda metade do século XX, período caracterizado, não só pelo advento de novas tec- nologias, mas também pela mudança social e pelo importante e crucial papel da família na saúde e na doença. Um período durante o qual os investigadores demonstraram que o factor família é muito importante para o diagnóstico de doenças, como a angina e a diabetes e em que se constatou que certas atitudes e comportamentos relaciona- dos com a saúde, certos medos e expectativas acerca das doenças eram apreendidas dentro de casa, no seio da família. Na sua apresentação, ChristieSeely fará referência às alterações que o Movimento Feminista provocou na sociedade, nomeadamente, na vida das mulheres, que alcançaram a possibilidade de evoluir na carreira profissional e simultaneamente intervir na educação e saúde da família. O sistema igualitário estendeu-se por mais áreas da sociedade, in- cluindo a da medicina familiar, onde o velho modelo de "sacerdócio" e secretismo da prática médica deu lugar a um modelo de interacção e comunicação entre o médico e o doente. Com o passar dos anos esta relação foi-se fortificando conduzindo ao surgimento de problemas até aí mantidos na reserva absoluta da intimidade da vida familiar, como os abusos sexuais nas mulheres e crianças, trau- mas, depressões e dependências, problemas que viriam a ter consequências gravíssimas em termos de saúde. A Prof. Janet Christie-Seely falará ainda sobre o papel dos médicos de família na terapia familiar e da importância destes profissionais na prevenção de abusos e dependências. Janet Christie-Seely Prof essora do Depar tamento de Medicina Familiar da Universidade de Ottawa Domingo - 24 Setembro, 16.00 horas Conferência Inaugural 40 Número 8 Setembro 2000 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar Com o patrocínio da Fundação Grünenthal Combater o fatalismo da dor… D esde o 1º Congresso Nacional de Medicina Familiar, em Junho de 1996, altura em que teve lugar a apresentação de um painel sobre Dor, o que terá mudado em Portugal? Naquela altura em que pouco se falava sobre dor na área da Medicina Geral e Familiar, e por vivermos numa sociedade em que ainda para muitos (incluindo alguns profissionais de saúde), a dor é uma fatalidade merecedora de pouco mais que resignação, julgámos importante sensibilizar os médicos desta especialidade sobre aspectos gerais relacionados com essa temática, incluindo a classificação sistemática, fisiopatologia, epidemiologia, aspectos psicológicos, clínica, terapêutica e ajudas ao doente com dor. A insuficiente formação pré-graduada e pós-graduada sobre esta matéria tem marcado diversas gerações de clínicos, sendo difícil delimitar as fronteiras exactas entre o conhecer, o saber e o saber fazer, entre os médicos de cuidados de saúde primários actualmente em exercício. No entanto, a dor é algo que nos surpreende quotidianamente em todos os tipos de episódios de cuidados... Para além da deficiente formação, a dificuldade na gestão do tempo de consulta, resultante em alguns casos do excesso de doentes e da falta de médicos e outros profissionais da equipa de saúde, contribui para que o médico banalize a individualidade da dor como um problema, atribuindo-lhe superficial interesse e optando apenas pela prescrição instintiva e rotineira, desenquadrada de um verdadeiro plano de actuação. Esta situação, sobretudo para os doentes que sofrem de dor crónica, leva-os a um enorme sentimento de insatisfação, facilitando comportamentos depressivos e a procura de soluções alternativas fora do controlo do médico de família, com enormes desperdícios de recursos de saúde. A criação em 1999 de um Dia Nacional de Luta Contra a Dor, também já comemorado em Junho deste ano, reflectindo o empenho da APED (Associação Portugue- sa para o Estudo da Dor) e uma preocupação política do Estado, polarizou a atenção da comunicação social para a importância do problema, o que foi positivo, mas ainda há muito a fazer. O painel sobre dor anunciado para o 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar, a realizar-se após a conferência inaugural do dia 24 de Setembro, na mesma sala, cerca das 17 horas, é o amadurecimento de preocupações anteriores, assumindo-se sob a forma de novas questões, essencialmente dirigidas para a realidade portuguesa. • Qual o estado de conhecimento sobre a realidade epidemiológica da dor em Portugal? Os números provenientes de fontes europeias e americanas são assustadores quanto à prevalência de dor crónica... Como será entre nós? Quais as suas implicações? O que há para fazer? Para responder a estas perguntas convidámos o Professor Dr. José Guilherme Jordão. • Entre nós a abordagem terapêutica da dor, parece longe do ideal... Se bem que existam consultas de dor, o clínico geral será sempre a figura mais importante num plano de luta contra a dor. Quais os erros mais comuns cometidos pelos clínicos na abordagem terapêutica da dor? Que con- sequências? O que fazer? A discussão deste tema caberá à Dra. Isabel Neto. • O tratamento da dor envolve uma vertente relacional importante. Como reforçar o envolvimento do doente no plano terapêutico da dor? O mito dos opióides tem marcado o comportamento de várias gerações médicas. Embora o uso dos opióides cada vez menos se confine à dor oncológica, há problemas de acessibilidade na prescrição. Que dificuldades enfrenta o médico no acesso ao receituário especial? Que soluções? A estes desafios responderá o Dr. Jorge Brandão. • Existe um Prémio Dor (Prémio Grünenthal Dor) para distinguir a investigação sobre dor em Portugal. Como irá a investigação sobre dor em Portugal? Quem faz e o que faz? O que poderia ser feito nos cuidados primários? Qual o papel dos Internatos complementares de Clínica Geral? Para nos actualizar sobre este tema falará a Professora Dra. Deolinda Lima, investigadora da Universidade do Porto, de renome internacional, envolvida em projectos sobre dor. • Finalmente, tendo em conside- ração que vivemos no tempo das chamadas novas tecnologias da informação, de que a Internet poderá ser paradigma... Queremos conhecer que ajuda a Internet nos poderá oferecer no campo da informação, formação e discussão sobre dor. O Dr. Telmo Baptista, psicólogo clínico colaborador de projectos sobre dor e experiente cibernauta falará sobre sites e portais interessantes. Esperamos com este painel, que conta com o patrocínio da Fundação Grünenthal, chegar a algumas conclusões que possam servir de base para projectos e acções que ajudem a mudar o comportamento nacional fatalista perante a dor. Domingo - 24 Setembro, 17.00 horas Painel sobre a Dor Roncopatia - abordagem cirúrgica O ressonar é um som característico, essencialmente, inspiratório que pode ser um sintoma de uma doença (síndrome obstrutiva de apneia do sono, síndrome de resistência das vias áreas superiores) ou apresentar-se isoladamente. O ressonar é um dos sintomas mais comuns com prevalência aumentada sobretudo a partir dos 40 anos, podendo ter consequências a nível individual ou social. A patogenia é complexa, multifactorial, não totalmente esclarecida, onde as alterações da estrutura e da função da faringe têm um papel importante. O ruído, que é gerado por vibração das paredes faringeas e do palato mole, é o aspecto fisiopatológico essencial. No estudo do doente que ressona há que avaliar as várias vertentes, nomeadamente a clínica onde o exame das vias aéreas superiores, apresenta aspectos particulares. O tratamento da roncopatia crónica implica um diagnóstico preciso e terá de atender às repercussões no/a companheiro/a e no doente, devendo ser ponderadas as várias alternativas de tratamento. O tratamento cirúrgico é dirigido à eliminação do ressonar crónico, quer pela remoção da obstrução, por cirurgia nasal ou da faringe, quer pela remoção dos tecidos ex cessivos vibratórios da velofaringe, mais frequentemente por uvulopalatofaring oplastia (UPPP), uvulopalaplastia (LAUP) e sonoplastia. O tipo de intervenção vai depender de vários factores, nomeadamente, da patologia subjacente (tipo de palato, presença de amígdalas volumosas, etc.), da atitude mais ou menos conservadora, da anestesia utilizada, do local de realização, da morbilidade associada, entre outros. São referidos aspectos particulares de cada técnica cirúrgica. Agostinho Per eira da Silva Médico especialista de Otor rinolaringologia Chefe de Serviço do Serviço de Otorrinolaringolo gia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia 2ª feira - 25 Setembro, 9.30 horas Patologia do Sono João Amoedo Médico de Família 41 Número 8 Setembro 2000 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar Actividade Física na Adolescência A maioria dos princípios que norteiam a prática de actividade física regular, ou seja: 1. Que definem os seus objectivos genéricos; 2. Que indicam os critérios de poder ser considerada adequada ou inadequada a cada indivíduo concreto; 3. Que apontam as suas vantagens, riscos e inconvenientes mantêm-se constantes ao longo das várias fases da vida. As especificidades bio-psico-sociais próprias de cada etapa da vida, no que à actividade física respeita, permitem concretizar os princípios gerais acima referidos, mas que se mantêm inalteráveis ao longo da vida. Assim temos a considerar 1. Os dois principais objectivos genéricos da actividade física regular são a promoção da saúde e a melhoria/manutenção da condição física. Na maioria dos adolescentes a promoção da saúde tem sobretudo a ver com medidas de prevenção primária, nomeadamente de situações que surgem na idade adulta, e cuja prevenção dev e começar desde jovem. Referimo-nos sobretudo aos factores de risco cardiovasculares, obesidade e osteoporose e situações com estas relaciona- das. Por exiguidade de tempo não abordaremos de início, a menos que solicitado pela assistência, o papel da actividade física na prevenção secundária e terciária de doenças típicas da adolescência, como a asma, a diabetes de tipo 1 a as cardiopatias congénitas. O outro grande objectivo da actividade física em qualquer idade é a manutenção ou a melhoria da condição física. Refere-se o conceito de condição física e as suas componentes. A adolescência é uma das fases da vida em que a condição física tem mais potencial de aumentar. A este propósito discute-se quais os níveis de condição física que são vantajosos para a saúde e dia a dia do indivíduo, e quais aqueles que apenas têm interesse para desportistas 2. Independentemente da idade, uma actividade física considerase adequada: a) quando promove a saúde com riscos mínimos ou quase ausentes; b) quando é agradável; c) quando é educativa; d) quando é fácil de integrar no esquema de vida, de modo a poder ser praticada com regularidade e, e) idealmente, quando promove a inserção social e o convívio com a Natureza, nos casos mais necessitados destas componentes. A adolescência oferece algumas particularidades a vários destes items: a)A promoção da saúde foi focada em 1 e abordaremos os riscos em 3; b)A idade é determinante naquilo que agrada ou desagrada. Habitualmente o adolescente escolhe a modalidade ou a actividade física que quer praticar, isto é, que mais lhe agrada, e o papel do médico é verificar se é adequada ou não. Os desportos radicais merecem um aconselhamento particular. Pelo contrário, os adultos são mais receptivos ao exercício prescrito pelo médico; c) A infância e a adolescência são as idades da vida em que é mais importante a componente educativa do desporto, encarado como escola de vida, de vir- tudes, de autodomínio, de esforço de melhoria e de auto-superação das próprias limitações; d)Cabe ao médico fazer ver ao jovem que não se deve limitar a ser um estudante, o que não significa retirar importância a esta actividade prínceps dos primeiros anos de vida. Há que saber articular o estudo e quiçá o trabalho com a vida familiar e com a prática desportiva. A escolha desta tem que ter este contexto presente; e)As modernas condições de vida, nomeadamente o acréscimo de horas passadas diante do computador ou da TV podem, para certos casos, fazer com que o convívio social e/ou com a Natureza seja das coisas mais importantes que se podem pedir à actividade física, para compensar estes estilos de vida de crescente prevalência e aí a proposta de actividades físi-cas deverá ser consentânea com estes objectivos. 3. Riscos decorrentes da prática de actividade física existem sempre, mas devem ser minimizados. A adolescência é uma das fases de vida em que a actividade física não apresenta riscos major, excepto em casos excepcionais. No entanto, existem situações clínicas minor, aparentemente sem importância, mas que o médico assistente deve ter em atenção quando procede a um aconselhamento médicodesportivo. Chamaremos a atenção para situações tão banais como as cáries dentárias, a desigualdade de comprimento dos membros inferiores e os déficits posturais. Se houver tempo, abordaremos a questão do sopro cardíaco inocente e da pseudo-doença cardí-aca e se vale a pena pedir por rotina ou não ECG aos jovens praticantes de actividade física. José Themudo Barata Especialista em Medicina Interna e em Medicina Despor tiva 2ª feira - 25 Setembro, 14.30 horas O adolescente do Século XXI Vitaminas: prescrever ou não? E em que situação? A prendemos no curso de Medicina e, posteriormente, na maior parte de bibliografia médica sobre o assunto, que uma alimentação equilibrada fornece as quantidades diárias necessárias ao organismo humano em vitaminas e sais minerais. Não existe portanto razão para prescrever vitaminas a não ser em situações especiais: - Mulheres grávidas, a amamentar, adolescentes, doentes em período de convalescença. Em que a alimentação é inadequada: - Pessoas debilitadas, com falta de apetite, a fazer dietas de emagrecimento ou outras dietas não equilibradas, grandes consumidores de bebidas alcoólicas, em que a absorção dos alimentos está diminuída; - Idosos, doentes com diarreia prolongada ou com doenças gastrointestinais; - Em situações especificas como a toma de contraceptivos orais ou antibióticos. Nos últimos anos, os órgãos de comunicação social, de um modo generalizado, nos suplementos sobre saúde ou nas revistas especializadas em problemas femininos ou masculinos, têm vindo a fazer a apologia do uso de vitaminas e complexos vitamínicos que podem ser comprados sem receita médica nas farmácias. O consumo destes complexos vitamínicos tem aumentado (para "manter o cabelo e/ou unhas saudáveis", por exemplo ) tornando-se esta autoprescrição um fenómeno interessante para reflexão. Se as pessoas tomarem de uma forma indiscriminada vitaminas não prescritas pelo médico e em situações de não carência, o que se deve fazer quando isto acontece? Ignorar, desaconselhar, incentivar ou adequar a autoprescrição? Baseado em que critérios? Estes e outros aspectos relacionados com a prescrição de vitaminas que se vai discutir no 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar da Figueira da Foz. Pedr o Ribeiro da Silva Médico de Família 2ª feira - 25 Setembro, 14.30 horas Polémicas em Medicina Geral e Familiar 42 Número 8 Setembro 2000 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar Hiperplasia Benigna da Próstata A abordagem deste tema tem como objectivo a exposição de alguns aspectos referentes à H.B.P.: - História natural, Etiologia, Manifestações Clínicas, Avaliação do doente. Diagnósticos diferenciais e importância do Médico de Família na abordagem desta patologia. A próstata é uma glândula localizada entre a bexiga e o recto, composta por tecido glandular fibroso e muscular, que atinge no adulto o volume aproximado de 20 c.c.; produz a secreção prostática que representa 15 a 30% do ejaculado. A frequência da H.B.P. é prog ressiva com idade. Numa população masculina com 40 anos de idade e perspectiva de vida até aos 70 anos, cerca de 60% apresentarão sintomas relacionados com a H.B.P., dos quais cerca de metade terão de ser submetidos a terapêutica agressiva, nomeadamente, cirurgia. A sua etiologia não é totalmente conhecida, sendo indiscutível que os factores hormonais nela desempenham um papel muito importante. É habitual classificar os seus sintomas em obstrutivos, irritativos e outros. De entre os sintomas obstrutivos são de referir: - Atraso no início da micção; - Esforço abdominal miccional; - Alterações do jacto (força e diâmetro); - Micção prolongada interrompida; - Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga; - Gotejo terminal; - Incontinência por regurgitação. Os sintomas irritativos são: - Polaquiúria diurna e noctúria; - Disúria; - Urgência miccional. Outros: - Hematúria; - Disfunção sexual; - Sintomas de infecção; - Sintomas de insuficiência renal; - Hemospermia. Estes sintomas, porém, não são patognomónicos da H.B.P., sendo hoje em dia designados por LUTS (Low Urinary Tract Sintoms), estando igualmente presentes noutras patologias (apertos da uretra, alterações da contractilidade vesical, neoplasia da próstata, litíase vesical, neoplasia da bexiga, etc.). A avaliação clínica da H.B.P. fundamenta-se em três aspectos: 1. história clínica 2. exame físico 3. exames complementares de diagnóstico No que se refere à história clínica, é importante a pesquisa de certos antecedentes familiares (neoplasia prostática e diabetes), antecedentes pessoais (diabetes, doenças neurológicas, uretrites, traumatismos do períneo, ingestão de medicamentos, etc.) e história pregressa (evolução dos sintomas e sua quantificação - "score" sintomático). O exame físico deve incidir sobretudo sobre os genitais externos, observação e apalpação da parede abdominal e toque rectal. O toque rectal é fundamental para o diagnóstico e acompanhamento da H.B.P. e deve-nos fornecer elementos importantes, tais como: - tónus do esfíncter anal; - existência de eventuais hemorróidas; - avaliação da próstata; - percepção de eventual resíduo pós-miccional. As características da próstata ao toque rectal devem ser avaliadas nos seguintes aspectos: volume, limites, superfície, mobilidade, sensibilidade e consistência. No referente aos exames complementares de diagnóstico são considerados obrigatórios: análises de sangue (creatinémia e PSA em indivíduos com idade inferior a 70 anos) e urina (sedimento, estudo bacteriológico) e av aliação ecográfica (pré e pós - miccional). Em certas situações poderá haver necessidade de recorrer a outros exames, tais como: urofluxometria, ecografia transrectal da próstata, biópsia, exames endoscópicos e uretrocistografia. Quais as situações em que deverá ser obrigatoriamente pedida a colaboração de um urologista? Tal pode acontecer por várias razões: 1. aspectos sintomáticos (sintomatologia g rave, retenção urinária, incontinência, hematúria, infecção); 2. antecedentes pessoais (diabetes, doença neurológica, traumatismo ou cirurgia perineal prévia, ingestão de certos fármacos); 3. idade (se inferior a 50 anos) 4. alterações do exame físico (existência de globo vesical, toque rectal suspeito, alterações neurológicas); 5. alterações dos exames complementares (infecção urinária, insuficiência renal, PSA>4 ng/ml, dilatação do aparelho urinário superior, existência de divertículo litíase ou resíduo vesical, nódulo prostático periférico). Relativamente à terapêutica H.B.P., ela assenta em quatro alternativas possíveis: 1. Abstenção medicamentosa e hábitos de higiene de vida; 2. Terapêutica medicamentosa que engloba três alternativas: 2.1.Fitoterapia 2.2. Inibidores da α-5-a-redutase 2.3. α-a-1-bloqueantes O mecanismo de acção destes medicamentos é diverso; enquanto que os inibidores da α-5-aredutase actuam pela redução do volume da próstata (componente mecânico) os α-a-1-bloqueantes actuam reduzindo o tónus muscular ao nível da uretra prostática (componente dinâmico). Relativamente à fitoterapia ainda não está perfeitamente esclarecido o seu mecanismo em acção. A acção destes medicamentos é lenta para os inibidores da α-5-aredutase (3 a 6 meses) e rápida para os α-1-a-bloqueantes (2 semanas). A disfunção sexual e ejaculatória é consequência possível desta medicação, não devendo esquecer que os inibidores da α-5-aredutase reduzem o PSA e os α1-bloquenates são hipotensores. 3.Terapêutica cirúrgica Pode ser realizada por cirurgia aberta ou por técnicas endoscópicas (RTU da próstata, incisão trans-uretral da próstata e vaporização). A mortalidade da cirurgia é inferior a um por cento e as suas complicações possíveis envolvem ejaculação retrógrada, apertos da uretra e loca, disfunção eréctil, etc., todas elas relativamente raras. 4.Te rapêuticas minimamente invasivas Envolvem várias opções de resultados discutíveis e a serem consideradas em situações muito especiais. Dentro destas é de referir: hipertermia e termoterapia, ablação trans-uretral por rádiofrequência (TUNA), terapêutica por laser, terapêutica por ultrasons, dilatação com balão, dispositivos intra-uretrais, algaliação permanente. Naturalmente que a opção terapêutica para determinado doente dependente sempre de variados factores a considerar: idade, estado geral, patologia, concomitante, intensidade da sintomatologia, volume da próstata, estado evolutivo da doença, complicações, etc.. Fer nando Girão Chefe do Ser viço de Urolo gia do Hospital Distrital de Leiria Sábado - 23 Setembro, 14.30 - 17.30 horas Domingo - 24 Setembro, 9.30 - 12.30 horas Curso 2 - O Doente Urológico 44 Número 8 Setembro 2000 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar Insulinoterapia na Diabetes Tipo 2 Quando e como iniciar? A diabetes é uma situação crónica que, por forma a responder às necessidades da população com este problema e às orientações técnicas da Direcção Geral da Saúde, exige uma organização de cuidados baseada nas suas características de tratamento e seguimento e fundamentada quer na identificação da população e sua caracterização, quer nos recursos disponíveis para a servir. A estrutura de cuidados de saúde a esta população, que pode servir de "modelo" a outras situações de doença crónica, encontra dificuldades particulares a nível dos Cuidados Primários que importam analisar, com o fim de encontrar soluções construtivas e dinâmicas tendo em vista assegurar a melhor qualidade de cuidados e a obtenção de resultados de saúde positivos. Se é prática o tratamento oral da diabetes em Clínica Geral, verifi- ca-se ser menos corrente o início da utilização de insulina nos diabéticos que eventualmente dela beneficiam. O tratamento com insulina necessário a uma percentagem deste tipo de doentes exige, para além do conhecimento científico sobre o fármaco, a aquisição e domínio de técnicas de auto-injecção, autovigilância e autocontrolo. O Grupo de Estudo da Diabetes da APMCG, formado em 1991, tem-se mantido activo na discussão de protocolos de actuação e orientações técnicas, em conjunto com as entidades oficiais e na formação em diabetes na Clínica Geral. Neste âmbito desenvolveu um curso sobre "Insulinoterapia na Diabetes tipo 2: quando e como iniciar" que se propõe demostrar num módulo de iniciação englobado no Congresso de Medicina Familiar. Este módulo colocará colegas interessados no tema, em contacto real com as necessidades de aprendizagem dos doentes e as várias técnicas e métodos de autovigilância, autocontrolo, e auto-injecção, propondo-se motivar ao início desta terapêutica sempre que dela beneficie o doente e à necessária organização dos cuidados por forma a manter um adequado controlo da situação. Maria Rosa Gallego Grupo de Estudo da Diabetes (GED) da APMCG Domingo - 24 Setembro, 9.30 - 12.30 e 16.30 - 19.30 horas Curso 3 - Insulinoterapia na Diabetes Tipo 2 Quando e como comparticipar As dependências nos doentes, médicos internos e em nós mesmos Um modelo de compreensão e tratamento Introdução As dependências (abuso de substâncias tóxicas, trabalho obsessivo, pedidos de ajuda, entre outros) existem em alta prevalên- cia - nos pacientes e médicos. Devido ao orgulho e à auto-estima o silêncio continua a imperar nestas situações. Um modelo de tratamento do medo, culpa ou vergonha usando "Satir's Change Process" e um modelo de comunicação e auto-estima serão apresentados no 5º Congresso de Medicina Familiar. Método Após a exibição de um vídeo dramático onde são apresentados comportamentos de dependência, os participantes irão contar as suas experiências (de doentes ou até pessoais) que depois serão discutidas. O modelo "Satir´s Iceberg", os conceitos de "Taming Your Gremlin" e o modelo de "Selfesteem Sculpt" serão aplicados num voluntário (que vestirá a pele de doente ou de interno), e que demostrará os seis níveis de tratamento visando aumentar a autoestima. Resultados No final desta Workshop os participantes serão capazes de: 1. Descrever o modelo de compreensão e tratamento de dependências, que poderá ser utilizado por médicos, internos e doentes. 2. Esclarecer o papel do medo (de falhar, de vulnerabilidade ou perda do controle), do sentimento de culpa (de criar expectativas em nós e nos outros), da vergonha (por exemplo: the imposter syndrome) e das experiências anteriores. 3. Identificar os seis níveis da auto-estima e saber aplicá-los. Conclusão O sentimento de protecção ou o paternalismo na medicina mantém o silêncio sobre as questões da vulnerabilidade dos profissionais e das pessoas e este sentimento supõe uma postura humanística . Esta Workshop fornece conheci- mentos para um auto-cuidado pessoal que depois pode ser usada para ajudar os doentes, tendo por base a teoria e a prática da terapia familiar. Luís Rebelo Médico de Família. Faculdade de Medicina de Lisboa Domingo - 24 Setembro, 9.00 - 13.00 horas Workshop - As dependências nos doentes, médicos internos e em nós mesmos Um modelo de compreensão e tratamento Número 8 45 Setembro 2000 Núcleo de Internos da APMCG Internato complementar de Clínica Geral Questionário sobre a opinião dos Internos Programa do Internato de Clínica Geral O programa do Internato de Clínica Geral é, actualmente, de 3 anos. Não se encontra promulgado pelo Ministério da Saúde, pelo que existem variações entre as 3 Coordenações do Internato Complementar, no respeitante aos estágios hospitalares e sua duração, formas de avaliação e duração dos estágios em Centro de Saúde. Orientadores do Internato Práticas entre orientador e interno Em Outubro de 1999, o Núcleo de Internos da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (APMCG) realizou um questionário aos internos da zona sul, com o objectivo de conhecer, de forma exploratória, as suas opiniões e atitudes, através de questões gerais e específicas de problemas concretos, de modo a identificar áreas importantes para discussão e estudo posterior. São divulgados e comentados os principais resultados das questões não específicas da zona sul. Parte destes resultados foram apresentados durante o 17º Encontro Nacional de Clínica Geral em Março de 2000, sob a forma de póster e ainda na reunião entre internos e orientadores. Devido à extensão do questionário, os resultados são apresentados em duas partes. A primeira parte incluí questões sobre: • programa do internato de Clínica Geral; • orientadores de internato; • Centros de Saúde de formação do interno. A segunda parte incluirá questões sobre: • estágios hospitalares; • comissão de representantes de curso; • satisfação e qualidade de vida do interno • conclusões Características do orientador Como o interno se sente com o seu orientador continua na página seguinte 46 Número 8 Setembro 2000 Núcleo de Internos da APMCG 5º Congresso Nacional de Medicina Familiar O Centro de Saúde de formação do interno Momentos importantes neste congresso Práticas no Centro de Saúde Apresentação das comunicações livres U m dos mais interessantes momentos a que o prog rama dos Congressos de Medicina Familiar nos vem habituando, é a activa intervenção de muitos dos seus participantes através da apresentação de comunicações livres, sob diversas formas: posters, comunicações orais, vídeo. Culminando e premiando as melhores, o final do Congresso fica indelevelmente marcado pelos aplausos públicos aos apresentadores galardoados. Neste 5º Congresso, também não faltará esse momento especial, a coroar a maratona de apresentações que os três dias de trabalhos vão proporcionar. Cento e cinquenta e cinco, foi o número total de comunicações apresentadas, sendo setenta e três sob a forma de poster, oitenta e uma destinadas a comunicação oral e uma como vídeo. Após o difícil e ingrato processo de selecção, vão ser apresentadas quarenta e quatro comunicações orais e serão expostos quarenta e nove posters. Sob os olhares atentos e críticos dos respectivos júris, os dezanove temas de revisão, os dez casos clínicos, os onze relatos de investigação e os quatro trabalhos sobre garantia de qualidade, irão proporcionar a todos os que assistam, óptimos e exemplares momentos de reflexão sobre práticas clínicas empenhadas, imaginativas e frutuosas. Por tudo isto, vos convidamos a atentarem nos momentos do programa em que serão feitas as apresentações, no domingo e na segunda-feira. Jorge Brandão Coordenador do Júri das Comunicações Orais Galeria do Casino da Figueira da Foz Características do Centro de Saúde Pintura ao vivo ao longo do congresso I nserida no 5º Congresso realizar-se-á, nos dias 24 e 25 de Setembro, uma exposição de pintura na Galeria do Casino que oferece aos visitantes uma proposta inovadora: a pintura de quadros ao vivo, pelos pintores com obra exposta no certame A ideia de uma exposição de pintura inserida num congresso médico não é de hoje. Todavia, a quinta edição do Congresso de Medicina Familiar conta com uma novidade: a pintura de quadros ao vivo. De facto, para além das obras que terão expostas na exposição, os pintores convidados assumirão a difícil tarefa de pintar, expostos aos olhares curiosos de quem os quiser ver, uma nova tela, a ser leiloada no dia 25, durante o jantar de encerramento do Congresso. Mário Silva, João Ricardo, José Luís Ribeiro, Tesha, Zé Penicheiro, Jorge Rodrigues, Filinto Viana, Parracho Alves e Marylena Guimarães são os artistas convidados. Ficha técnica do questionário Questionário realizado durante as VII Jornadas do Internato Complementar (IC) de Clínica Geral (CG) da Zona Sul, em Outubro de 1999. Estas jornadas geralmente contam com a participação de todos os internos da zona sul. Número de internos do IC CG da zona sul em Dezembro de 1999: 131 Número de respostas obtidas: 83 (63%) As associações entre variáveis foram calculadas pelo teste de qui-quadrado como sendo estatísticamente significativas se p<0,05. As respostas obtidas através de uma escala têm sugeridos, entre parêntesis, os valores intermédios. São apenas referidas as associações, bem como as não associações, consideradas pelos autores como importantes. Não se incluíram questões relativas à coordenação do internato complementar de clínica geral da zona sul, bem como cursos obrigatórios, por serem específicos da zona sul. O estudo completo pode ser solicitado a: Paulo Nicola - Núcleo de Internos da Associação Portuguesa de Médicos Clínica Geral - Tel: 21.7620650 - e -mail: [email protected] 1975 e em Agosto deste ano venceu o 1º Prémio de Pintura da C.M. de Vouzela. José Luís Ribeiro Começou a sua carreira em 1980 na área da pintura, escultura e cerâmica. Já participou em inúmeras exposições, entre elas a "Pintores residentes na Figueira" em 1994. Zé Penicheiro Iniciou a sua carreira artística como caricaturista e ilustrador, colaborando em várias publicações. Mais tarde rendeu-se à arte da decoração e desde o final da década de 70 que se dedica, a tempo inteiro à pintura. Mário Silva Este pintor, natural de Coimbra, expõe com regularidade desde 1957. É director do núcleo centro do ANAP e membro fundador do GALUART. Tesha Com apenas nove anos de idade ganhou o seu primeiro prémio de pintura, numa iniciativa promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian. Daí, partiu à descoberta das muitas potencialidades que em si mesmo adivinhava. A seda, o papel e a tela são os suportes mais usados pela artista que se encontra representada em colecções espalhadas pelos quatro cantos do mundo. João Ricardo Expõe individualmente desde Parracho Alves Natural da Figueira da Foz, este professor de Educação Física vê na pintura um escape. Em 1992 iniciou o seu ciclo de exposições na sua terra natal - e desde então nunca mais deixou de expor. Filinto Viana Nascido na Figueira da Foz, este pintor autodidacta é, como se diz na gíria das artes, um self made painter, que dedicado a sua vida à arte. A "reinvenção" do cubismo, o abstracionismo geométrico e muita poesia têm sido o cerne da pintura deste artista. Marylena Guimarães Neta do mestre Jorg e Garbaye que foi director da Escola de Belas Artes de Paris - Marylena Guimarães iniciou-se muito cedo na pintura. Em 1967 recebeu o 1º Prémio - no tema "Figura" numa exposição em Luanda. A primeiro de muitas distinções que tem recebido pela sua carreira. Jorge Rodrigues Este pintor, natural da Régua mas radicado na Figueira da Foz, expõe, com regularidade, desde 1993. A obra de Jorge Rodrigues é conhecida pela riqueza de cores e tonalidades e pela mistura entre estes dois elementos. Número 8 47 Setembro 2000 Apontamentos Coimbra Vale de Cambra XV Jornadas de 2º Encontro do Grupo Rural Medicina Geral e Familiar de Coimbra R ealizam-se em Coimbra, nos dias 18, 19 e 20 de Outubro, as XV Jornadas de Medicina Geral e Familiar, uma iniciativa da Delegação Distrital de Coimbra da APMCG, presidida por Maria da Luz Machado Martins. Em debate estarão, entre outros temas, a disfunção eréctil (dia 18 de Outubro), a qualidade de vida em saúde (dia 19) e a saúde ocupacional dos médicos de família (dia 20 de Outubro). As XV Jornadas de Medicina Geral e Familiar de Coimbra contarão ainda com algumas actividades, entre as quais um jog o de futebol e um rally-paper. As inscrições são gratuitas para sócios com quotas em dia. Para os não sócios (e para os sócios com quotas em atraso), o valor da inscrição é de 10.000 escudos. Para qualquer informação complementar, os interessados deverão contactar a Delegação Distrital de Coimbra da APMCG. O correio dos leitores A notícia "Burlões atacam Cartão de Utente" publicada no Médico de Família III série-nº7 Julho 2000 refere no seu penúltimo parágrafo "... contactada a Sub-Região de Saúde de Setúbal, na tentativa de obter esclarecimentos complementares, fomos informados de que todas as informações à imprensa só são permitidas quando autorizadas pelo Coordenador, que à hora de fecho deste jornal se encontrava ausente, em gozo de férias..." Publicamente e para que não haja quaisquer dúvidas, a informação dada ao autor da investigação/notícia não corresponde à verdade. A própria notícia é disso prova, isto é: o Dr.Francisco Gouveia, director do Centro de Saúde do Barreiro, fez as declarações que entendeu e não pediu (e bem) autorização ao Coordenador para dar "informações à imprensa". Rui Monteir o Coordenador da Sub-Região de saúde de Setúbal Nos próximos dias 24 e 25 de Novembro vai ter lugar em Vale da Cambra o 2º Encontro do Grupo Rural, uma iniciativa do centro de saúde local em colaboração com o grupo rural da APMCG. Este encontro pretende ser uma oportunidade de discussão de problemas como a Saúde e desigualdades sociais e económicas, saúde ocupacional em meio rural e ensino à distância em Medicina Geral e Familiar, de forma a produzir recomendações destinadas aos médicos que trabalham no contexto rural úteis de forma a melhorar a qualidade dos cuidados de saúde destas populações. Arraiolos I encontro de enfermagem comunitária N os próximos dias 27 e 28 de Outubro realiza-se, em Arraiolos, o I Encontro de Enfermagem Comunitária, uma iniciativa dos Centros de Saúde da Sub-Região de Saúde de Évora. Dinamizar a partilha de experiências profissionais, contribuir para a formação do espírito de rede nos cuidados de enfermagem prestados e melhorar a prestação dos cuidados de saúde são os objecti- vos previstos para este encontro. Ao longo dos dois dias estão agendados vários debates que abordam temas como a infância, a adolescência, o adulto, o idoso e a imagem transmitida pelas escolas superiores de enfermagem em relação aos centros de saúde. O programa está ainda incluído na Feira das Tasquinhas. Para mais informações contactar o Centro de Saúde de Arraiolos através do telefone 226499124. Espinho 4 Jornadas de saúde e desporto A s 4ª Jornadas de Saúde e Desporto vão decorrer nos dias 20 e 21 de Outubro, na Nave Polivalente da cidade de Espinho, com a organização do Centro de Saúde de Espinho, da Câmara Municipal de Espinho e do Sporting de Espinho. Para este evento e dentro do programa científico está aberto o concurso da melhor comunicação em poster, a qual pode abranger quatro áreas temáticas: avaliação e garantia de qualidade, investigação, relatos de casos e temas de revisão. Os trabalhos devem respeitar o âmbito das Jornadas referentes à Saúde e Desporto, bem como os temas relacionados com a Promoção e Prevenção da Saúde, alimentação saudável, exercício físico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, entre outros. A comunicação em poster deve apresentar título, nome dos autores, instituições onde trabalham e endereço postal para contacto. No programa desportivo, os participantes podem inscrever-se numa modalidade colectiva e em duas modalidades individuais, à escolha entre futebol de cinco, ténis de mesa, ténis, voleibol, xadrez e setas. Para mais informações contactar o Centro de Saúde de Espinho pelo telefone 227341167. Número 8 48 Setembro 2000 O Cromo do mês Agenda Isto é um escândalo!!! Numa intervenção no encerramento do Congresso Americano de Médicos de Família, o ano passado em Orlando, um conhecido jornalista da CNN reconhecia que os meios de comunicação social nos Estados Unidos tratavam os assuntos da saúde, alguns deles de natureza bastante complexa, de uma forma assustadoramente simplista, transformando tudo em preto ou branco, em bom ou mau, contribuindo assim para agravar a já de si complexa e difícil situação da saúde naquele País. As sumiu claramente que estavam, pois - palavras suas do lado do problema e não da solução. O que se passou na emissão da SIC nos passados dias 3 e 4 de Setembro foi, de facto, um escândalo. Mais uma vez a SIC se colocou, ela também, muito claramente, do lado do problema. Numa guerra de audiências e lutando por alguns pontos de share, perante um programa da concorrência que desceu abaixo daquilo que seria imaginável e que se julgava possível, a SIC optou pela solução mais fácil, menos trabalhosa, pegando nalguns velhos e requentados problemas da saúde duma forma sensacionalista, melodramática e pouco séria, sem respeito pela dignidade de pessoas doentes e sem respeito pelos seus telespectadores. Até ao estafado caso do falecido convocado para uma cirurgia a SIC recorreu. A montanha pariu um rato. Setembro 28-30 Setembro - Colóquio de Cefaleias 2000 Local: Casa do Médico Porto Informações: 222002479 e-mail: [email protected] 20-22 Setembro - Conferencia Internacional sobre Comunicação e Saúde Local: Barcelona Informações: (+34)933177129 e-mail: [email protected] 19 Setembro a 17 Outubro - Ciclo de Formação-Prevenção e Segurança na Actividade Laboratorial Local: Relacre Informações: 213139840 e-mail: relacre @mail.telepac.pt Setembro 2000-F evereiro 2001 2000-Fevereiro Inscrições para os Cursos de pósgraduação do IHMT Local: Instituto de Higiene e Medicina Tropical-Universidade Nova de Lisboa Informações: 213652608 Outubro 12 e 13 Outubro - IX Jornadas Medicina Interna de Braga Local: Auditório Associação Industrial do Minho Informações: 253613334 27 e 28 Outubro - I Curso de O. R.L . para Clínicos Gerais Local: Hospital do Barlavento Algarvio Informações: 082450300 Os tão propalados escândalos não passaram de algumas das já bem conhecidas e identificadas ineficiências e incapacidades do nosso SNS. Que existem problemas na saúde, todos o sabemos: a má acessibilidade, a falta de humanização, as falhas na comunicação, a má organização, a falta de recursos humanos e materiais que tardam em ser resolvidos, são de todos conhecidos. Os dramas humanos que se vivem diariamente nos nossos Serviços de Saúde merecem toda a nossa solidariedade. Todavia, a mortalidade humana parece ter desaparecido completamente do horizonte do Sistema de Saúde e cada vez mais qualquer morte é encarada como uma falha do Sistema... Como negligên- cia médica. Numa sociedade cada vez mais agressiva, onde a arrogância e a prepotência fazem parte do quotidiano, onde todos julgam ter razão, onde todos têm direitos e ninguém tem deveres, onde a infalibilidade é a regra, não é fácil o caminho para a compreensão, para a solidariedade. Não é criando e promovendo um ambiente de confronto, de desconfiança, de ressentimento e de acusações mútuas entre profissionais de saúde e cidadãos que se vai melhorar esta situação. Até porque nos Países onde isso acontece, são os advogados e não os doentes quem, por sistema, ganha com a situação. A saúde não deve ser palco de lutas políticas, de demagogias. Muito menos, deve ser utilizada para vencer guerras de audiências. Os problemas a enfrentar são tantos e tão complexos que será necessária a cooperação e contribuição de todos, dos profissionais de saúde aos cidadãos, sem dispensar políticos e gestores. Será necessária, também - e sobretudo - a contribuição dos Media, imprescindível ao esclarecimento isento da população. A SIC prestou, neste caso, um mau serviço aos espectadores e a si própria. Pode, tem capacidade para tal e deve, seguramente, fazer muito melhor, quando aborda a área da saúde. Espero que no futuro a SIC possa prestar um pouco de atenção, para além da que presta aos "escândalos" e aos "grandes sucessos da medicina", ao que de bom se faz diariamente nos nossos Centros de Saúde e Hospitais; à melhoria acentuada dos nossos indicadores de saúde; aos milhares de profissionais que trabalham de uma forma empenhada, muitas vezes em condições difíceis. Eu sei que é difícil, e que um Centro de Saúde a trabalhar bem não é notícia. O que interessa à notícia é, invariavelmente, o que trabalha pior. Passar por cima da dignidade das pessoas, ainda por cima doentes, fragilizadas, vulneráveis e carentes, utilizá-las por uns efémeros pontos de share e vir depois cantar vitória isso sim: é um escândalo! Luís PPisco isco Presidente da APMCG 28 Outubro - Journée Annuelle de Communications Local: Lyon Informações: 0141909820 e-mail: http://www.sfmg.org Outubro - Novembro - Inscrições para o Mestrado em Gerontologia Social Local: Universidade de Barcelona Informações: 934284585 (ext.243) e-mail: [email protected] 13-17 Maio 2001 – 16th Wonca Congress of Family Doctors Local: Durban, África do Sul Informações: +27315723771 13 de Outubro de 2000 a 11 de Novembro 2000 – 1º Curso “Promoção da adesão a rastreios oncológicos Local: Instituto Superior de Psicologia Aplicada Informações: 218863184/5/6 Abril de 2000 a Fevereiro de 2001 – PósGraduação em Sociologia da Saúde Local: Instituto Superior de Ciências da Saúde-Sul Informações: [email protected]