Publicado na revista Símbolo (XXXIX): 35, jul. 86 Pág, 29, órgão
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Publicado na revista Símbolo (XXXIX): 35, jul. 86 Pág, 29, órgão oficial de La Gran Logia de Ia Argentina de Libres y Aceptados Masones. A VERDADE Janeiro e Fevereiro 1987 ARLS Guatimozin nº 66 - São Paulo FONTE: Compilado de Revistas Maçônicas do Chile e Revista – A VERDADE Ir∴ Osmar Cartes A Independência dos Países da América Latina foi idealizada e planejada dentro da Maçonaria. Nos países hispânicos sua ação foi dirigida pelo grande herói, Ir∴ Francisco Miranda, o qual, ao mesmo tempo em que ampliava as Lojas no continente, iniciava na Ordem as maiores figuras dos movimentos libertadores, tais como os IIr∴ Bolívar, Sucre e San Martin. Após vinte e sete anos de luta, com a batalha de Ayacucho em 1824, toda a América espanhola estava livre do jugo espanhol. O Ir∴ ∴ Francisco Miranda foi ofuscado pelos Grandes heróis O Irmão Francisco Miranda (175O - 1816) pertenceu à aristocrática família venezuelana. Completou seus estudos na Espanha, onde ingressou na carreira militar e recebeu a patente de Capitão. Em 1780, viajou para os Estados Unidos, engajando-se nas lutas pela independência daquele País, ocasião em que foi iniciado na Maçonaria. De volta à Europa, fez uma viagem à Rússia, onde obteve a franca simpatia da Czarina Catarina II e apoio para suas idéias libertárias, recebendo da mesma, cartas de recomendações que lhes abriram muitas portas. Na França, o Ir∴ Miranda participou da Revolução Francesa ao lado das tropas republicanas, recebendo o título de Marechal-de-Campo, e tendo, com isto, sua esfinge esculpida no Arco do Triunfo. Partiu para Londres, onde fixou residência. Através de sua Loja Maçônica, travou contato com vários patriotas, em especial com os IIr∴ O'Higgins, San Martin e Bolívar. Iniciou, então, efetivamente, o movimento de emancipação dos países latinoamericanos, que culminariam com a derrota dos exércitos espanhóis e a instalação de governos americanos livres. O Ir∴ Miranda teve oportunidade de ser aclamado ditador da Venezuela, mas permaneceu neste cargo por pouco tempo, por não condizer este com seus ideais maçônicos de liberdade e autêntica democracia. Por esta razão, começou a se desentender com Bolívar, que a cada vez mais, se afastava das propostas de fraternidade acalentadas pelas Lojas Maçônicas instaladas por estímulo do Ir∴ Miranda. Este fato culminou, finalmente, com a renúncia do Ir∴ Bolívar a elas, pois se tornaram entraves a seus propósitos pessoais de liderança e de disputas com forças adversárias. O Ir∴ Francisco Miranda acabou sendo preso pelos espanhóis e conduzido a Cádiz, onde foi morto. Os seus ideais, a sua luta, o seu nome têm sido, tantas e tantas vezes esquecido e ofuscado pelas imagens dos diversos patriotas que lideraram o movimento libertário e que encontraram nele o alicerce para as suas atividades. Mas é a Maçonaria que terá o dever e o privilégio de erguer o seu nome, da qual é um orgulho, pois foi o portador dos sublimes ideais da Ordem na efetivação de um movimento tão nobre como o da independência dos países da América Latina. A disciplina de San Martin "A Pátria não faz o soldado para que a desonre com seus crimes, nem lhe dá armas para que cometa a baixeza de abusar desta vantagem, ofendendo os cidadãos, com cujos sacrifícios se sustenta". A tropa deve ser tanto mais virtuosa e honesta, quanto é criada para conservar o bom nome do povo, afiançar o poder das (eis e dar força ao governo para executá-las e se fazer respeitar pelos maus, que seriam ainda mais insolentes se houvesse mau exemplo dos militares, As penas aqui estabelecidas e as que forem ditadas segundo a Lei, serão aplicadas irremissivelmente; seja honrado quem não quiser sofrê-las: a Pátria não é impositora de crimes. Quartel Geral de Mendoza, Argentina José de San Martin Publicado na revista Símbolo (XXXlX) 35, Jul. 86, Pág. 15, órgão oficial de La Gran Logra de ia Argentina de Libres y Aceptados Masones A Maçonaria de Bolivar ''A Franco Maçonaria é uma praia acolhedora. Felizes aqueles que podem a alcançar. Felizes aqueles que podem chegar até ela vencendo as tempestades do pensamento! No seio da Maçonaria adquirem-se grandes virtudes e descobrem-se grandes gênios da ação e d o pensamento Na Maçonaria o homem aprende a se elevar, não hesitando em se esquecer, quando necessário, de si próprio contanto que possa oferecera seus irmãos um pouco de doçura na existência. E uma Instituição Sublime. Irmão Simon Bolívar Publicado na revista Símbolo (XXXIX): 35, jul. 86 Pág, 29, órgão oficial de La Gran Logia de Ia Argentina de Libres y Aceptados Masones. As Lojas Lautarinas Muito se tem discutido se as Lojas Lautarinas foram ou não Maçônicas, ficando, finalmente, o consenso de que elas não foram Lojas Maçônicas regulares. Formadas com a finalidade de lutar pela liberdade dos povos americanos, eram autônomas, não sendo submetidas ao Poder Maçônico, regular estabelecido. Possuíam um ritual muito similar ao atual, prestavam um juramento e tinham 5 Graus, a saber. - no 1º Grau, o Neófito comprometia-se, com a vida e seus bens, a trabalhar pela Independência Americana; - no 2º Grau, fazia confissão de fé democrática; - no 3º Grau, pedia-se ao filiado trabalhos de propaganda, em prol dos novos ideais; - no 4º Grau, o filiado era comissionado para influir sobre os funcionários públicos que, no momento supremo, poderiam favorecer a causa e; - no 5º Grau, de caráter secreto e reservado aos grandes chefes, discutia-se a ação militar e a futura administração e governo político dos países a serem liberados. Este Grau tinha o nome de "Comissão de Reservado". A lenda mística das Lojas estava simbolizada por três letras: U. F. V. que significavam UNIÃO, FÉ, VITÓRIA. O Irmão O'Higgins preparou o Regulamento e as Obrigações dos Irmãos, os quais eram rígidos, especialmente os referentes ao segredo e a obediência às disposições da Loja, contemplando para os infratores até a pena de morte. Este fato, que tem criado muita polêmica por parte dos eternos inimigos da Ordem, tem apresentado as Lojas Lautarianas como sociedades que mantiveram a coesão de seus membros somente por temor e não por convicção de princípios. Autores maçônicos de prestígio, como o Irmão Bartolomé Mitre (argentino), indicaram que estas penas eram somente de caráter moral, não tendo conhecimento de alguma eliminação física de pessoas, devido à divulgação de segredos. De qualquer maneira, devemos levar em consideração que os costumes da época eram diferentes dos atuais, mostrando os homens um desapego à vida que atualmente chama a atenção. Estando em jogo interesses tão elevados, poderia ter sido normal a implantação de disciplinas rigorosas. Dando prosseguimento à tarefa de formação de uma base de apoio à causa revolucionária, o Irmão San Martin mudou? Se para Mendoza, a cidade argentina que fica mais perto de Santiago, capital chilena, onde instalou mais uma Loja Lautariana. Incorporou? Se nela o Irmão Bernardo O 'Higgins, que tinha sido parcialmente derrotado pelo exército espanhol na batalha da cidade, chilena de Rancagua. O Chile é liberto Unidos os patriotas chilenos e argentinos, fundou-se mais uma Loja Lautariana em Tucumán. O Irmão José de San Martin preparou o seu plano para organizar um Exército Libertador com chilenos e argentinos, que iria expulsar as forças espanholas definitivamente do Chile e Peru, como a única forma para que o processo de Independência da Argentina, Chile e Peru fosse irreversivel. O Chile foi libertado e o Irmão O'Higgins tomou posse como Diretor Supremo da nova República. Começou administrar um país pobre saído da guerra e que estava com sua produção, administração, educação e estrutura social e jurídica, atrasada ou nula. O Irmão O'Higgins tomou diversas medidas que afetaram seriamente as classes endinheiradas e as que pertenciam à nobreza e em boa parte, à Igreja Católica, orientado pelo trabalho dos livres pensadores laicos agrupados nas Lojas Lautariana. O sentimento contra o Irmão O'Higgins ganhou força na crença que existia um poder superior, que às sombras, tomava determinações e fazia aplicar políticas, ficando as autoridades legitimas como simples "testas-de-ferro". Temos que reconhecer que houve alguns erros, tais como o assassinato do herói popular, Manuel Rodriguez, de posição política radical, o fuzilamento dos Irmãos Carrera, dirigentes um grupo político antagônico e outros, próprios da inexperiência dos novos governantes. Humanismo Maçônico de San Martín Da sua parte, o Irmão San Martin desenvolveu a campanha do Peru, apoiado, desde o mar, por Lord Coclhrane. Nesta etapa teve a oportunidade de mostrar o seu humanismo maçônico, quando se negou a abrir fogo contra a cidade de Lima, ganhando a inimizade de Coclirane e o risco de ter um motim na esquadra e no exército, obtendo, entretanto, a rendição de Lima sem derramar uma gota de sangue. Voltemos nossa atenção à Venezuela, onde, em 19-04-1810 foi proclamada a sua Autonomia com o pretexto do exílio de Fernando VII: foi enviada uma comissão a Londres formada pelos Irmãos Simón Bolívar, Luis López Mendez e Andrés Bello, que foi apresentada pelo Irmão Miranda ao governo inglês, mas sem resultados positivos. Os quatro voltaram a Caracas, onde o Irmão Miranda em 05-07-1811, assinou a Independência da Venezuela, numa reunião da Sociedade Patriótica (uma loja maçônica que funcionava na clandestinidade com a presença de Simón Bolívar, Peña, Iznardi, Espejo, Roscio, Yáfiez, Penalver e outras importantes figuras patrióticas, todos convictos de pertencer à Maçonaria. Na mesma data, outra sociedade secreta funcionava numa fazenda do Irmão Bolívar, que contava com a participação dos Irmãos Vicente Malias, Mariano Montilla, Francisco Iznardi, todos iniciados na Europa, e o Irmão Roscio, iniciado nos EEUU. Em 1811, fundou- se em Cumaná a Loj a "Perfeita Amizade" no 74 sob os auspícios da Grande Loja de Maryland, EEUU. No seu quadro figuravam os nomes dos Irmãos Antonio José de Sucre, Santiago Mariño, Manuel Rivas, Miguel Aristeiguieta, Andrés Caballero, Agustin Armário, Diego Montes e José Francisco Bermudez. Fala-se que os Irmãos Miranda, Bolívar, Rodriguez e outros Maçons fundaram, em Barcelona, a Loja "Protetora das Virtudes" nº 1, em 01-07-1812. A reação dos realistas frente à Independência dos venezuelanos foi forte. O Irmão Miranda, solicitado pelos patriotas a assumir o governo como ditador, o que não condizia com os seus princípios de liberdade, ocasionou clamoroso fracasso; capitulou em 25-07-1812 em San Mateo, acabando sua vida na prisão de La Carraca, Cádiz. Patente do Irmão Miranda como marechal-de-campo do exército francês, que lhe foi outorgada em 4 de setembro de 1792, em Paris. O Encontro dos heróis O Irmão Bolívar começou então a sua triunfal epopéia militar, que o levou à fama na posteridade. No comando das tropas venezuelanas e colombianas libertou e proclamou a República da Colômbia, constituída por Nova Granada e Venezuela, incorporando posteriormente o Equador. Olhou para o Sul, e como o Irmão San Martin percebeu que a liberdade da América não seria definitiva enquanto a Espanha ainda lutasse no Peru, onde o Irmão San Martín a governava por um ano, realizando grandes reformas, mas sem conseguir expulsar totalmente o exército espanhol, que reforçara consideravelmente suas forças no interior do país. A viagem do irmão Bolívar ao Peru foi um passeio triunfal. Sua entrada nas cidades parecia o regresso, de um Imperador vencedor. Em Lima, o Irmão 0'Higgins (1778-1842), filho de irlandês, entregou-se à luta pela liberdade do Chile, tornando-se dirigente dessa República. Aconteceu a famosa reunião com o Irmão San Martin, sem testemunhas, no fim de julho de 1822, na qual, para evitar lutas fratricidas, o Irmão San Martin cedeu ao Irmão Bolívar a honra e a glória da eliminação das tropas espanholas do Peru e a libertação da Bolívia. O messiânico venezuelano, de Libertador, vai mudando para uma ambição sem limites. O contraste entre os Irmãos Bolívar e San Martín, do ponto de vista maçônico, é grande. O Irmão Bolívar desprendeu-se de seus juramentos maçônicos quando eles significaram um entrave aos seus projetos. O Irmão San Martin respeitou suas promessas e o segredo maçônico, negandose a revelar os detalhes de suas brigas com a Maçonaria, tendo regressado a Buenos Aires e posteriormente partido para o exílio. Em Ayacucho o ideal Maçônico A libertação da América espanhola chegou à sua culminação com a batalha de Ayacucho no dia 09-12-1824, que teve fatos de fraternidade e generosidade de elevados limites e que não podem ser esquecidos pelos Maçons do mundo todo. Na noite anterior à batalha, as Lojas que funcionavam em ambos os exércitos, foram citadas na reunião para procurar uma solução que evitasse derramamento de sangue, mas não foi encontrada. Foi feita, em seguida, uma reunião em conjunto, mas também com o mesmo resultado negativo. No dia seguinte um Maçom espanhol solicitou a permissão para que familiares e Maçons que militavam em diferentes exércitos fossem autorizados a abraçar-se pela última vez. Quase uma centena de americanos e espanhóis avançou para se cumprimentar, no lado esquerdo ficaram os Maçons, que após abraçarem-se três vezes, participaram de uma fraternal entrevista que durou quase meia hora e foi emocionante. Encontraram-se, entre outros, os Irmãos Rodil, Espartero, Vergara, Virrey José de La Sema, Venerável Mestre General Canterac, Past Master Marechal Jerônimo Valdez, General Monet, Antonio Tur e General Ballesteros, no lado espanhol; e os Irmãos José Faustino Sanchez Carrión, General Antonio José de Sucre, General José Maria Córdova, Tenente Coronel Vicente Tur (espanhol, mas pertencente ao exército patriota e irmão carnal de Antonio Tur) e General Antonio Valero de Bernabé, no lado americano. Ficou o exemplo da fraternidade maçônica, que não reconhece raças, nem nacionalidades, ainda que nas circunstâncias mais dramáticas. Terminou a batalha com a vitória das armas americanas e quando o chefe espanhol, o Maçom Irmão La Serna, ferido seis vezes, entregou sua espada ao General Maçom, Irmão Sucre, este não a aceitou, solicitando que continuasse nas mãos do bravo militar. As atenções que os prisioneiros e, especialmente os feridos, receberam, foram mostras de fraternidade extrema, como igualmente, a Ata da Capitulação, em que a generosidade do vencedor ultrapassou as demandas do vencido. O Irmão Sucre foi nomeado Presidente Vitalício da nova República da Bolívia. mas ficou somente até 1828, quando pediu demissão e voltou para a Venezuela. Em 1830 foi chamado para presidir a República do Equador. Viajando para tomar posse, foi surpreendido pelos seus inimigos, na Colômbia, morrendo assassinado. Bolivar desentende-se com a Maçonaria O Irmão Bolívar, envaidecido pela sua glória, recorreu os países aos quais deu a Independência, tentando manter a Confederação sob suas mãos. Mas as ambições de seus próprios comandados vão contra ele, passando a ser a alvo de numerosos - complôs, em meio a profundas desavenças políticas. Até que aconteceu o atentado mais sério, em Bogotá, no dia 25 de setembro de 1828, perpetrado por uma sociedade secreta dirigida pelo frei Argartil. Bolívar salvou-se por milagre e reagiu violentamente, emitindo em 08/11/1828 o decreto que fechava todas as associações secretas, evidentemente incluindo a Maçonaria. Todo o ministério que acompanhava Bolívar era Maçom, com exceção de um; mas, contra a vontade de Bolívar não adiantava discutir e foram inúteis todas as argumentações dos Irmãos ministros. Começou assim o desentendimento definitivo de Bolívar com a Maçonaria. maçônica de Bolívar no Peru ou em outros países, fora da Venezuela, não existem provas tangíveis, somente existe uma confissão ao escritor Maçom, oficial francês, Irmão Luiz Peru de Ia Croix, na qual Bolivar reconhece que, por simples curiosidade, ingressou na Maçonaria, tendo recebido o Grau de Mestre em Paris, mas afastou-se, posteriormente. Glória e ocaso dos heróis A América estava liberada do domínio espanhol. O trabalho dos Maçons estava terminado. A América já não precisava de seus heróis. O Irmão Miranda morreu numa prisão em Cádiz; o Irmão San Martin, exilou-se na França; o Irmão O'Higgins, exilado no Peru; o Irmão Sucre foi atacado traiçoeiramente na Colômbia:, o Irmão Bolivar, doente, foi desterrado para a ilha de Santa Maria (Venezuela), protegido por um espanhol. Todos morreram pobres, abandonados por quem tanto lutaram.
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