Adital - Financiando a aparência da felicidade

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Quarta, 02 de outubro de 2013
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[ Mundo ]
01.10.2013
Financiando a aparência da felicidade
Marcus Eduardo de Oliveira
Adital
Muito interessante e oportuno o discurso proferido por Jose Alberto "Pepe” Mujica,
presidente do Uruguai, na 68° Assembleia Geral da ONU (em 24/09/13): "A humanidade sacrificou os
deuses imateriais e ocupou o templo com o deus mercado, que organiza a economia, a vida e financia
a aparência da felicidade. Parece que nascemos só para consumir e consumir. E quando não
podemos, carregamos a frustração, a pobreza, a autoexclusão”.
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Pepe Mujica ainda mencionou ter "angústia pelo futuro” e contextualizou que a nossa "primeira tarefa
é salvar a vida humana”. Além disso, o governante uruguaio ressaltou a necessidade em defender as
riquezas naturais: "Carrego a dívida social e a necessidade de defender a Amazônia, nossos rios (...).
O discurso de Mujica, além de ser pontualmente interessante, é também oportuno para se discutir a
busca pela felicidade que, pretensamente, estaria repousada no ato de consumir, característica típica
da sociedade de consumo capitalista.
Em outras palavras, o presidente do Uruguai reafirmou a crítica disparada especialmente pela
economia ecológica (ciência e gestão da sustentabilidade, na definição empregada por Martínez-Alier)
apontando dedo em riste para a sociedade de mercado que se empanturra de futilidades, e se
regozija na superficialidade estabelecida no consumo de massa, como se os elevados níveis de
consumo fossem, per si, os determinantes máximos para se alcançar a felicidade.
Por trás desse deus mercado que, como bem disse Mujica, "financia a aparência da felicidade” há que
se observar a existência de milhões de seres humanos vagando por aí, completamente alijados do
consumo básico e indispensável para a manutenção da vida.
Esses, os excluídos da economia mundial, para usarmos a expressão empregada por Amartya Sen
(Nobel em economia), se atormentam diariamente com a fome, com a miséria, com a ausência de
condições básicas de higiene, sem acesso à água potável, a saneamento básico, sem moradia, sem
esperanças num amanhã mais calmo e próspero.
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Ao todo, são quase 1 bilhão de estômagos vazios e bocas esfaimadas que conformam os excluídos da
economia mundial apenas em relação aos que passam fome, "perambulando” pelas grandes cidades
do mundo. Esses são os desesperançados que se contrapõem aos 20% da humanidade (1,4 bilhão
de pessoas) que se chafurdam na prática do consumo fácil, abocanhando 80% de toda a produção
mundial.
Contudo, cabe indagar: será que esses "privilegiados” do consumo, por deterem essa "facilidade” são
mais felizes (possuem mais bem-estar) que os 5,6 bilhões de pessoas (80% da população mundial)
que estão "do lado oposto do balcão de consumo”?
Felicidade estaria nessa facilidade em consumir? Dirigido por Helio Mattar, o Instituto Akatu, a maior
referência brasileira quando o assunto é "consumo consciente”, em recente pesquisa intitulada Rumo
à Sociedade do Bem-Estar mostrou que o brasileiro relaciona o bem-estar muito mais ao convívio
social do que ao consumo.
Ser feliz é: estar com a família; ter amigos e relacionar-se bem com eles; e ter saúde. Segundo a
pesquisa, para 6 em cada 10 brasileiros, conviver bem com a família e os amigos é parte considerável
da concepção de felicidade. A tranquilidade financeira é entendida como atendimento às necessidades
básicas para uma vida decente: boa alimentação, educação, saúde, lazer. Acima disso, o dinheiro e as
posses materiais, para o brasileiro, não trazem felicidade – apenas 3 em cada 10 brasileiros
"escolheram” a posse de tranquilidade financeira como elemento responsável pela felicidade.
A utilidade
Um ponto importante em torno dessa discussão está no fato da economia ser construída em cima da
estrutura da utilidade. Utilidade (utilitarismo econômico) para os economistas só faz sentido se for
pensada em forma de benefício, de bem-estar.
A base da Teoria do Consumidor passa pelo conceito de utilitarismo. Esse pode ser definido como o
bem que se identifica com o útil. Os utilitaristas mais proeminentes - Jeremy Bentham (1748 – 1832)
e John Stuart Mill (1806 – 1873) - foram claros a esse respeito: "a felicidade está na aquisição daquilo
que nos é útil". O útil, grosso modo, leva à satisfação, leva ao prazer, leva ao bem-estar.
Em essência, esse é o objetivo da economia: proporcionar oportunidades e escolhas disponíveis a
todos no dia a dia, auxiliando o maior número de pessoas na busca de algo fundamental: de algo útil,
de bem-estar.
Bem-estar, então, se relaciona à busca pela própria felicidade. Pelo menos é isso o que diz a ciência
econômica quando recomenda a seus "fiéis consumidores” que maximizem a utilidade esperada, ou
seja, que no ato de tomada de decisões (não somente no ato de consumir) cada indivíduo alcance o
maior nível possível de utilidade.
Conquanto, nem sempre essa utilidade está relacionada apenas (e tão somente) ao ato de consumir,
como insistentemente parece recomendar a lógica mercadológica. Posso perfeitamente obter utilidade
(ser feliz, ter bem-estar) ao encontrar alguém, ao falar com alguém, ao pensar em algo prazeroso, ao
ler um poema agradável, ao respirar ar puro, ao contemplar uma obra de arte ou um monumento
público.
Estou assim consumindo algo? Sem dúvida; no entanto, não estou tendo nenhum dispêndio para
esse consumo. Para desespero do capitalismo do moderno e de seus asseclas, nem sempre um
"consumo” vem seguido de gastos. O resultado obtido aqui é de ordem social, e não econômica.
Resultados sociais
Ora, se a economia é uma ciência social, nada mais justo que seus resultados apresentem significados
sociais - e não apenas econômicos, como reiteradamente expressa a ordem econômico-consumistamercadológica.
No entanto, esse lado social imerso nessa lógica econômica tem ficado à margem das decisões que
priorizam, apenas e, tão somente, o lado econômico. O lado social, lamentavelmente, sempre foi -e
continua a ser- relegado a quinto plano.
Pelo lado econômico, o que tem validade são os ganhos financeiros, não os prazeres-utilitários, ou
seja, as felicidades que não passam pela disponibilidade financeira.
O que interessa para o lado econômico é o predomínio econômico-financeiro, não a abrangência
social. Essa é a razão da existência de algumas discrepâncias que beiram, em nosso entendimento, a
patologia.
O que precisa ficar claro é que definitivamente o mundo não é uma mercadoria e, "nem tudo está à
venda" (everything for sale) para outra situação que "causa” profundo desespero nas bases do
sistema capitalista/consumista. Logo, a felicidade, nesse sentido, não pode (e nem deve) repousar
suavemente sobre o "nobre" ato do consumo exagerado que exige, por consequência, elevados
dispêndios. Há algo muito mais interessante que leva à felicidade, ainda que a publicidade,
diuturnamente, nos bombardeie recomendando o consumo a qualquer custo.
E a economia tem tudo a ver com isso. Basta atentarmos para o seguinte: onde a economia estará
no futuro depende daquilo que milhões de nós faremos nesse meio tempo até lá. Cabe a nós
decidirmos o futuro. O futuro nos pertence e a felicidade, certamente, há de nos esperar na próxima
esquina abraçada à maximização da utilidade esperada, ainda que o deus mercado esteja "financiando
a aparência da felicidade”, como bem ponderou o presidente Mujica.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em
São Paulo. [email protected]
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