Transição para o CNS/ATM

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Transição para o CNS/ATM
Transição para o CNS/ATM
por Daniel Torelli
Em nosso dia-a-dia é cada vez mais comum falarmos de CNS/ATM mesmo muitas vezes
não sabendo o significado e como pode influenciar no cotidiano da aviação. A sigla CNS/ATM,
que significa Communication Navigation Surveillance / Air Traffic Management (Comunicação
Navegação Vigilância / Gerenciamento de Tráfego Aéreo), resume todas as transformações
nestes segmentos de aviação.
O tráfego aéreo mundial vem crescendo muito desde a introdução das aeronaves a jato.
Com um número de passageiros transportados cada vez maior, este crescimento tem sido
proporcionalmente maior que o crescimento da economia mundial, este quadro se torna
perturbador se projetarmos isso para os próximos anos. Vislumbrando isso e com problemas
localizados a ICAO em 1983 criou o Comitê FANS (Future Air Navigation Sistems) com o objetivo
de estudar soluções com as novas tecnologias que estavam sendo desenvolvidas, para em um
primeiro momento resolver os problemas das congestionadas rotas do Pacífico Sul. Estas rotas,
inchadas devido ao crescimento da economia japonesa e dos tigres asiáticos, apresentavam um
volume de tráfego muito grande que com os antigos sistemas de navegação que não suportavam
a demanda, tiveram os gabaritos de segurança diminuídos e, além disso, tornando os vôos mais
longos e caros. Com o desenvolvimento dos trabalhos deste comitê várias soluções foram sendo
encontradas para os sistemas de navegação e gerenciamento de tráfego aéreo. O primeiro
grande passo para a implantação foi o lançamento do Boeing 747-400, seguido do MD-11. Estas
aeronaves tinham a capacidade de navegar sem depender de sistemas de terra com um erro
máximo de 5 milhas náuticas, além da capacidade de se comunicar com os órgãos de controle por
um canal de dados, computador se comunicando com computador, e assim foram criadas as rotas
FANS em que só estas aeronaves poderiam voar. Posteriormente parte dessa experiência foi
aplicada em algumas rotas do Atlântico Norte. Assim estão prontos os alicerces para o surgimento
do CNS/ATM.
Em 1986, foi definido como seria estruturada a transição para os novos sistemas de
aviação, que foi dividido em Segmento Espacial, composto pela constelação de satélites de
navegação (chamado então de Global Navigation Satellite System – GNSS) e comunicação;
Segmento de Controle, composto pelos órgãos de controle de tráfego aéreo; e Segmento Usuário,
que seriam todos que utilizassem o serviço dos Segmentos Espaciais e de Controle. Em 1991
houve um fórum entre as indústrias de equipamentos aeronáuticos e os representantes de
governo para averiguar as capacidades técnicas das indústrias e as normas e especificações dos
futuros sistemas, determinando prazos para que a transição e finalização da implantação, prazo
esse que termina em 2010.
Os sistemas hoje utilizados usam tecnologia de 1946 baseada na interação do Homem e
sistemas de apoio em terra, com as limitações de custo para implantação e manutenção da
imensa rede de facilitação aeronáutica, o erro humano na interação e interpretação dos sistemas
e a linha de desenvolvimento tecnológico que limita grandes mudanças. Para o CNS/ATM não há
fronteiras, pois a tecnologia hoje utilizada permite a mudança de conceitos.
Vamos agora analisar cada um dos pontos que farão a transição comparando o sistema
atual com o novo:
Comunicação
Os sistemas atuais de comunicação hoje são fundamentados em canais de voz, utilizando
as freqüências VHF e HF, dependendo de uma rede de retransmissores para garantir a linha de
visada das transmissões. Além disso, essas transmissões são suscetíveis a interferências de
outras freqüências comerciais próximas, como por exemplo, as rádios AM pirata que vez por outra
ouvimos falar de interferirem nas freqüências de controle em São Paulo. Para transmissões de
longo alcance utilizamos o HF onde a qualidade de transmissão e recepção deixa muito a desejar
em relação ao VHF, além de restrições de utilização em horários próximos ao nascer e pôr do Sol,
devido à interferência na onda de rádio. Na era da informação, a faixa de freqüência aeronáutica
tem sido alvo da cobiça de outros setores da sociedade que se utilizam rádio-freqüência, e essas
freqüências são taxadas de sub-utilizadas. Por esse motivo a Organização Internacional de
Comunicações já informou que se não forem melhor utilizadas, a aviação começará a perder parte
de sua faixa de freqüência, e isso força a tecnologia de transmissores e receptores aeronáuticos
melhorarem em curto prazo.
Os novos sistemas de comunicação são fundamentados em Datalink, comunicação de
dados, que consiste na ligação entre os computadores da aeronave diretamente com os sistemas
de controle de tráfego aéreo e ao centro operacional da empresa através de reportes automáticos.
Estes podem informar a posição da aeronave, velocidade, direção, horário estimado de passagem
nos vários pontos da rota, assim como o estimado de pouso e outros dados necessários ao
controle de tráfego ou à coordenação de vôos da empresa. O caminho pode ser inverso também,
com o controle mandando instruções à aeronave, informações meteorológicas atualizadas, etc. A
ferramenta para essa comunicação é o ACARS – Aircraft Communications Addressing and
Reporting System. O ACARS é o ambiente onde as informações são tratadas, transmitidas e
recebidas pela tripulação. Para a comunicação há vários canais que podem ser utilizados em VHF
para transmissão e recepção de dados e voz utilizando a banda aeronáutica, e uma rede de
estações retransmissoras. Para áreas remotas vale o mesmo princípio só que utilizando a banda
aeronáutica em HF. Mas a grande revolução está no SATCOM, comunicação via satélite, que
consiste em uma constelação de satélites geo-estacionários de cobertura global que permitirão
em qualquer lugar uma comunicação de dados e voz perfeita, além permitir a exploração de
outros serviços a bordo, como TV a cabo no sistema de Flight Entretaimment, telefonia, internet.
Alguns operadores já disponibilizam este serviço como o consórcio Immarsat , o sistema Iridiun
que foi desativado também estava preparado para este fim, entre outros. Quando a informação
passa pelos satélites é transmitida a centros que distribuem aos usuários, alguns exploradores
dessa rede de distribuição são a SITA e a Jepessen, esse conjunto todo de sistemas de
comunicação aeronáutica é chamado de ATN – Aeronautical Telecommunications Network.
Uma das ferramentas que mais caracteriza a aviação deve-se, praticamente, desaparecer.
A fonia, transmissão via rádio entre pilotos e controladores, deixará de ser fundamental para o
gerenciamento de fluxo. Com os sistemas da aeronave se comunicando diretamente com os
computadores do controle de tráfego aéreo o canal de transmissão de voz servirá somente como
sistema de contingência em caso de falha na transmissão de dados ou como numa emergência,
onde a aeronave merece um tratamento diferenciado dos órgãos de controle de tráfego. A ICAO
vêm acompanhando a evolução e estima que somente em trinta anos a transição completa do
sistema de controle de tráfego aéreo por transmissão de dados.
Outra grande barreira, ainda não totalmente solucionada, é como ficam as pequenas
aeronaves e o reequipamento da atual frota. As grandes aeronaves de hoje tem limitações para
receber novos sistemas, pois na maioria das vezes os novos equipamentos não são compatíveis
com os antigos, isso resulta num investimento bastante elevado considerando o valor destas
aeronaves. Para a aviação geral a solução é ainda mais problemática, pois além da
compatibilidade e do custo, os sistemas têm de se adaptar às dimensões e tipo de operação
destas aeronaves. As indústrias de avionics estão apresentando equipamentos que unem as
funções de Comunicação e Navegação, com teclados e telas de cristal líquido de multi-função,
que desenvolvidos podem cumprir os requisitos do CNS/ATM.
Navegação
Toda a rede de auxílios à navegação utilizados hoje tem uma concepção antiga e um custo
de manutenção muito alto.
Podemos dividir a navegação aérea em duas partes:
• Auxílios Convencionais - NDB, VOR e DME
• Sistemas RNAV – Ômega, Loran e INS
Para os auxílios convencionais os principais fatores que restringem sua operação são a
topografia nas proximidades do transmissor e o custo de manutenção destes auxílios, que exigem
equipes de manutenção em terra e a inspeção em vôo para checar a precisão e confiabilidade das
estações.
O NDB sofre interferência principalmente no mau tempo e além deste existem efeitos de
propagação que causam oscilações nas informações de bordo. Tem como vantagem perante os
outros equipamentos de ser bem mais barato e de fácil instalação e manutenção, mas por ter um
conceito tão ultrapassado (anterior a Segunda Guerra Mundial), pelos planos da ICAO não é
recomendada à instalação de novos NDBs e nos planos da FAA, que devem ser seguidos pelo
resto do mundo a partir de 2002 começam a ser desativados os NDBs e em 2005 não terão mais
NDBs operacionais.
Comparando o VOR com o NDB, temos que não há interferência de energia estática
produzida em mau tempo, o que pode chegar a bloquear as transmissões do NDB, mas o alcance
do VOR depende de obstáculos próximos ao transmissor, pois a onda que ele transmite não
acompanha os obstáculos como as do NDB.
O DME (Distance Measuring Equipament) é um equipamento que mede a distância entre o
receptor e o avião; assim, se sabemos qual é nossa radial e nossa distância para o VOR, temos a
determinação de posição relativa à estação com relativa precisão. Assim como o NDB, a ICAO
pretende desativar as estações VOR até 2010. A FAA parou de instalar VORs em 1995, que é
muito mais caro que um NDB e ainda apresenta as limitações, mesmo assim é uma grande
evolução em relação ao NDB.
Os sistemas RNAV permitem a aeronave voar em regiões desprovidas de auxílios
convencionais a navegação, como, por exemplo, sobre oceanos ou rotas diretas de longo curso.
Destes sistemas o mais utilizado hoje é a navegação inercial que não depende de sinais externos.
No final de 1998 foi desativado o sistema Ômega, pois a manutenção das estações de terra era
muito cara e o GPS já estava sendo mais difundido, além do um custo de manutenção bem menor
aliado a uma precisão na determinação da posição muito maior. Os fatores que mais dificultam o
uso destes sistemas é o investimento de instalação e manutenção, que é muito alto para uma
precisão que só permite seu uso em rota.
O conceito aplicado aos novos sistemas de navegação são fundamentados no GNSS –
Global Navigation Satellite System. O GNSS é o padrão encontrado pela ICAO para os novos
sistemas de navegação, baseando-os em constelações de satélites dedicados.
Este sistema deve garantir:
•
Integridade - Que é a imunidade a interferências externas, diminuindo a possibilidade de
interferências aleatórias de outros equipamentos que podem atingir o padrão de
transmissão dos dados para cálculo de posição;
•
Precisão - O GNSS deve garantir um erro máximo que permita sua utilização nas fases de
procedimento de subida (SID – Standard Instrument Departure), rota (navegação em
cruzeiro), procedimentos de terminal (STAR – Standard Terminal Area Procedure) e
aproximação (IAL – Instrument Approach and Landing);
•
Disponibilidade - Para que cumpra as especificações da ICAO, o GNSS deve ter cobertura
mundial e os sinais disponíveis em tempo integral; assim, a constelação deve ser projetada
de tal maneira a não deixar uma determinada região sem sinais para navegação;
•
Continuidade – Devido ao grande investimento dos órgãos de governo, indústria e
usuários, necessário à implantação e utilização desse sistema, deve ser garantida sua
continuidade para que após algum tempo de utilização seu uso não seja inviabilizado e
não seja comprometida toda a estrutura de tráfego aéreo, comprometendo assim a
segurança e a qualidade do serviço de aviação civil;
Alguns conceitos de navegação hoje utilizados tendem a desaparecer e as formas de
navegação mudarão gradualmente. Se com o GNSS saberemos com uma excelente precisão
nossa posição sem a possibilidade de interferência (somente as provocadas propositadamente) e
ainda disponível em todo o globo terrestre, deixará de ser necessário manter a rede de auxílios
convencionais a navegação. Assim a aviação acostumada a voar de forma angular, com radiais
de aproximação e afastamento e cursos magnéticos passará a navegar linearmente, isto é,
quando em uma rota, poderemos manter trajetórias paralelas à planejada, já que estas rotas
consideram a navegação ponto a ponto e não a interceptação de radiais e magnéticas. Mas a
bússola, o instrumento que os pioneiros da aviação utilizaram, não perde sua função, pois os
sistemas trabalham baseados no norte magnético mantendo, pelo menos por enquanto, rumos
magnéticos para a navegação direta.
O RNP (Required Navigation Performance) promete ser a referência para dividir os
equipamentos de navegação e os espaços aéreos. O RNP define qual é o erro máximo que o
equipamento pode ter para voar naquela determinada fase do vôo. Devemos levar em
consideração que quando estamos cumprindo o perfil de um procedimento de subida, o erro
máximo deve ser menor do que quando estamos voando em cruzeiro, pois a proximidade de
obstáculos e do terreno é maior, além da necessidade de manter a trajetória para evitar a
interferência com outros tráfegos que estiverem aproximando ou decolando. O RNP vai definir se
uma aeronave poderá entrar em determinado espaço aéreo ou voar em determinada rota, pois se
o controlador sabe que as aeronaves irão cumprir com precisão suas instruções, estes poderão
aproximá-las mais do que no padrão de separação atualmente utilizado, assim aumentando a
capacidade de aeronaves no espaço aéreo sem comprometer os parâmetros de segurança de
vôo. A precisão dos sistemas de navegação levarão a uma situação em que não será mais
necessária a separação de setecentos e sessenta metros entre cabeceiras para a realização de
uma aproximação simultânea. A restrição passa a ser a categoria da esteira de turbulência da
aeronave que vier na frente, tudo isso resultando num ganho de produtividade dos aeroportos e
uma redução de custos considerável aos operadores.
Dentre os sistemas de navegação que se encaixam na filosofia do GNSS, o GPS se apresenta
como a solução ideal. Tecnicamente o GPS se mostra perfeito aos fins da aviação civil
internacional, mas politicamente há barreiras enormes a serem transpostas, pois a constelação
GPS é militar de propriedade americana, o que pode ir a desacordo com dois pontos importantes
do GNSS, que são a Disponibilidade e a Continuidade. A dificuldade em relação à Disponibilidade
é que o GPS, por ser de propriedade de uma nação, pode ser indisponibilizado a qualquer
momento que interessar aos Estados Unidos da América, por razões estratégicas ou econômicas.
É bom lembrar que a indústria aeroespacial americana é muito poderosa financeiramente e
emprega um grande número de pessoas, e no caso de uma atitude mais drástica acabaria o
mercado mundial para os equipamentos que se utilizam os sinais GPS. Além disso, existem
aeronaves comerciais e militares que voam por todo mundo utilizando este sistema, o que geraria
uma forte pressão interna sobre o governo americano para rever suas posições. Uma ferramenta
de proteção é o Selected Availability (S/A ou Disponibilidade Seletiva); esta lógica permite ao
Departamento de Defesa americano inserir um erro proposital na determinação da posição. Por
um acordo firmado entre o Departamento de Defesa americano e a ICAO este erro varia entre
trinta e trezentos metros e deve ter uma média de cem metros. Quanto a Continuidade, não há
garantias seguras de que o governo americano mantenha essa constelação e suas estações de
controle operacionais, impedindo a ICAO de utilizar o GPS como a ferramenta definitiva de
navegação do CNS/ATM. Algumas soluções podem permitir que isso aconteça, por exemplo, a
internacionalização do controle da constelação GPS, com isso os custos de manutenção seriam
divididos entre a comunidade aeronáutica mundial. Alguns sinais positivos são a divisão dos
custos de manutenção do sistema entre os Departamentos de Defesa e Transporte americanos, o
que indica uma possível passagem do controle desta constelação a órgãos civis, e possivelmente
os militares se utilizarão um sistema com uma tecnologia nova. Outra solução é a sugerida por
alguns países europeus que defendem o lançamento de uma nova constelação internacional para
ser utilizada pela aviação civil. A ICAO tem até 2010 para tentar equacionar esse problema.
As normas que determinarão as configurações mínimas para equipar as aeronaves bem como
os requisitos para a nova classificação dos espaços aéreos vêm sendo discutidos pelo mundo,
mas em função das necessidades regionais algumas medidas já vem sendo adotadas como o
FANS no Pacífico e o BRNAV na Europa. Estes sistemas já aplicam vários conceitos
desenvolvidos para o CNS/ATM e restringem a operação de quem não se adequar às normas.
Isto aumenta de forma considerável o custo das empresas que operam em regiões com regras
diferentes; o custo de upgrade pode ser inviável quando a frota da empresa é de aeronaves
clássicas como o 747-200/300 e o DC-10, equipada com sistemas analógicos. Com a
modernização das aeronaves o percentual da aviônica no preço final do equipamento aumenta a
cada dia, isto aliada à limitação na capacidade de fabricação e conseqüente aumento no prazo de
entrega deixa as companhias em uma situação muito difícil, pois estas necessitam manter suas
rotas e tentar manter seu planejamento financeiro para a aquisição de novas aeronaves.
Aproximações
As aproximações são um capítulo à parte no segmento de navegação do CNS/ATM. Com
o conceito RNP a divisão entre sistemas de aproximação de precisão e não-precisão dependerá
do erro máximo projetado do equipamento de bordo. Hoje nós temos as aproximações de
precisão ILS e MLS (o MLS está sendo desativado nas poucas localidades em que havia sido
instalado devido seu alto custo e o desenvolvimento do GPS Diferencial). Estes sistemas
apresentam restrições técnicas e financeiras que inviabilizam sua instalação na maioria dos
aeroportos. Somente pistas de grande movimento e com predisposição meteorológica para
operações ILS justificam sua instalação. Os procedimentos de aproximação de não-precisão
baseados em Localizador, VOR/DME, VOR e NDB têm um custo menor, porém os gabaritos de
construção dos perfis de procedimento exigem uma separação de obstáculos maior. Isto faz com
que as aeronaves se restrinjam a alturas mais elevadas e muitas vezes, com o curso da
aproximação final deslocado do eixo da pista, causando mais facilmente a desestabilização da
aproximação, já que muitas vezes o piloto avista a pista, mas não pode pousar, pois está muito
alto e perto da cabeceira e não tem condições de descer da altitude mínima do procedimento para
a pista mantendo uma aproximação estabilizada e comprometendo assim o nível de segurança da
aeronave.
O programa GPS foi construído de forma a permitir que sem nenhum auxílio externo, além
dos sinais da constelação, as aeronaves pudessem executar procedimentos de não-precisão, com
a vantagem de poder construir as trajetórias com maior liberdade, afinal não há a necessidade
cumprir os perfis com afastamentos e cursos de aproximações referenciados no auxílio básico.
Geralmente os procedimentos GPS têm o segmento de aproximação alinhado com o eixo da pista
e o ponto de arremetida é sobre a cabeceira; isso permite que a MDA seja mais baixa que os
procedimentos de não-precisão convencionais. Normalmente é possível construir aproximações
para todas as cabeceiras do aeroporto a um custo muito baixo de implantação e manutenção.
O passo seguinte é o D-GPS (GPS Diferencial) que é uma estação instalada nas
proximidades do aeroporto. Este equipamento permite que o erro provocado (Disponibilidade
Seletiva) e os erros de sistema sejam identificados e transmitidos à aeronave, que os corrigirá em
seu equipamento, chegando a uma precisão quase absoluta. Sabemos que o sistema erraria
menos de 10 cm, mas seria aceitável pouco mais de um metro para aproximações sem teto e
visibilidade. As ditas aproximações zero-zero hoje só são possíveis em poucas cabeceiras no
mundo equipadas com ILS CAT III C. A grande vantagem é que uma única estação DGPS pode
servir a todos aeroportos num raio de trinta milhas náuticas. Por exemplo, uma estação em São
Paulo atenderia as quatro cabeceiras de Guarulhos, as quatro cabeceiras de Congonhas e as
duas do Campo de Marte, e dependendo de sua instalação pode também atender a Viracopos –
Campinas, Jundiaí, São José dos Campos e demais pistas da Terminal São Paulo. Estes
aeroportos poderiam ter aproximações de precisão por um custo muito baixo, este mesmo
exemplo vale para a terminal do Rio de Janeiro com o Santos Dumont, Galeão, Jacarepagua,
Base Aérea de Santa Cruz, Campo dos Afonsos, Maricá, etc.
Quando temos estas estações D-GPS instaladas chamamos de LAAS (Local Area
Augmentation System), pois esta estação está limitada a um máximo de trinta milhas de alcance
para a identificação e correção do erro de posição e permite aproximações de precisão CAT III. O
FAA está trabalhando com um conceito chamado WAAS (Wide Area Augmentation System); este
sistema trabalha com satélites Geo-Estacionários que recebem de estações em terra os erros de
determinação de posição e transmite as correções em grandes aéreas de alcance. O objetivo era
que em todo território americano fosse possível efetuar aproximação com os mesmos mínimos do
ILS CAT I, sem a necessidade de se instalar as estações corretoras em todas as regiões do país,
mas somente nos aeroportos de grande demanda e com necessidade de aproximações CAT II e
III, mas a primeira tentativa falhou. O sistema não conseguiu cumprir os requisitos de precisão
necessários aos procedimentos ILS CAT I, então agora está em desenvolvimento o LAAS II para
atingir os requisitos para aproximações de precisão CAT I. Atualmente no espaço aéreo
americano todos procedimentos de não-precisão vêm sendo adaptados para serem efetuados
usando também o GPS. A tendência das autoridades aeronáuticas brasileiras é que sejam criados
procedimentos somente GPS para todas as cabeceiras, devido à dificuldade de adaptação do tipo
de aproximação mais utilizado no Brasil, que é com curva base. Enquanto o sistema americano
usa a curva de reversão, a maioria das novas aproximações adotadas tem um Fixo de Espera,
que também é IAF (Initial Approach Fix – fixo de início de aproximação) um segmento de
aproximação final normalmente alinhado com a pista com um ponto para FAF (Final Approach Fix
– fixo de aproximação final) e com o MAP (Missed Approach Point – ponto de início de
aproximação perdida) sobre a cabeceira em uso, a MDA destes procedimentos giram em torno de
quatrocentos pés de altura, mas se não houverem obstáculos no solo interferindo os gabaritos de
proteção do procedimento esta MDA pode ficar em trezentos pés.
Vigilância
O Radar Primário e Secundário nos atuais métodos de controle de tráfego aéreo são
utilizados nas áreas continentais e costeiras, quando instalados, e em áreas remotas se aplica os
controles convencionais, baseado em estimados reportados pelos pilotos assim controlando a
separação por tempo entre as aeronaves. Como temos visto as dificuldades de manter este
sistema funcionando, de forma eficiente, com o aumento do tráfego aéreo, estão aumentando. As
freqüências de VHF sofrem interferências e ficam congestionadas, o HF utilizado em áreas
remotas tem sérias restrições técnicas para sua continuidade. O controle de tráfego em áreas
providas de serviço radar dependem da manutenção das antenas de radar. Quando não há o
auxílio do radar o controlador depende da comunicação com o piloto, que lhe reportará sua
posição, e também da precisão deste reporte para controlar ou prestar serviço de informação de
vôo. Em áreas terminais sem radar a precisão dos reportes de posição são as únicas referências
dos controladores, quando em aerovias há posições de reporte compulsório e a passagem destes
pontos e seus estimados informam o controlador para prover a separação de tráfegos nas
aerovias.
Como conseqüência do desenvolvimento dos novos sistemas de comunicação e
navegação, a maneira de controlar as aeronaves também vai mudar. A comunicação passará a
ser de dados entre a aeronave e o controle, ficando como sistema de contingência a fonia
convencional; para o controle de tráfego a aeronave, que conta com a capacidade de seus
sistemas de navegação em determinar com precisão sua posição, e aliada a seus sistemas de
comunicação em contato direto com o controle, transmitirá a posição, velocidade, altitude rota
programada e todos os outros dados necessários. O resultado de tudo isso é a mudança da
função do radar, que hoje é utilizado para controlar o tráfego aéreo e para garantir a soberania de
nosso espaço aéreo, e passa a ser um sistema reserva para controle de tráfego e mantém sua
função na defesa aérea, inclusive as atuais antenas poderiam ser realocadas em locais
estratégicos e ou fronteiras.
O primeiro passo em direção ao automatismo total no controle de tráfego aéreo é o ADS –
Automatic Dependent Surveillance, que funciona com o computador da aeronave enviando
reportes automáticos de posição a estações em terra sem a necessidade de o piloto comandar
estes reportes. Em um segundo estágio deste sistema, o ADS-B, os reportes automáticos de
posição são enviados a estações em terra e também a outras aeronaves, assim os sistemas das
aeronaves se coordenam para evitar o conflito de tráfego diretamente, sem a necessidade que o
sistema de controle em terra intervenha para evitar o conflito. Um exemplo de como isto ocorreria
quando uma aeronave estivesse em rota de colisão com outra, os sistemas projetam a trajetória
das aeronaves em criam uma zona de proteção em volta das mesmas e o sistema de navegação
cria uma trajetória que uma aeronave não entra na área de proteção da outra.
Gerenciamento de Tráfego Aéreo
Para haver gerenciamento de tráfego aéreo é necessários existir um Serviço de Tráfego
Aéreo baseado em comunicação bilateral, disponibilidade de Centros de Controle de Tráfego
Aéreo e a estruturação e divisão do espaço aéreo em FIR – Flight Information Region (Zonas de
Informação de Vôo). Hoje este gerenciamento está abaixo do necessário, devido à falta de
estrutura e sistemas que permitam o ordenamento do fluxo de tráfego aéreo. Normalmente
medidas paliativas são adotadas nas regiões de onde o congestionamento de tráfego é maior,
como São Paulo com Slot Time que determina o horário de decolagem ou pouso para tentar
manter um fluxo constante de tráfego, mas essas medidas não contam com a falta de capacidade
dos aeroportos em receber e organizar essas aeronaves em seus pátios. Nas rotas que se
destinam a São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, são comuns instruções do Centro
Brasília para reduzir a velocidade, ou tomar a proa de um auxílio fora de sua rota para ordenar o
fluxo e aumentar seu tempo de vôo. Em casos extremos as aeronaves têm sua autorização de
decolagem bloqueada em solo esperando determinada rota descongestionar; as modernas
aeronaves contam em seus sistemas de navegação os estimados em todos os pontos da rota e
caso solicitado pelo controlador podem programar sua aeronave a passar determinado ponto,
como uma entrada de terminal, no horário exato exigido para um melhor gerenciamento de fluxo.
Essa medida não resolve, mas pode ajudar os centros.
Para as grandes aeronaves a jato a escolha dos níveis ideais de vôo são muito
importantes, considerando o consumo específico de combustível e os ventos de rota, o aumento
de consumo pode ser significativo. Com o congestionamento os níveis ótimos normalmente já
estão ocupados e a separação não permite que se encaixe outras aeronaves. Mais uma vez quem
paga por tudo isso é o usuário que vê seus vôos atrasando no solo, o tempo de vôo aumentando
conseqüentemente o custo e com certeza este incremento no custo do vôo é repassado à tarifa.
O Gerenciamento de Tráfego Aéreo no futuro contará com todo desenvolvimento dos
sistemas de navegação e comunicação e será fundamentado no DATACOM (Comunicação de
Dados), ADS (Automatic Dependent Surveillance) e GNSS (Global Navigation Satellite System),
com o objetivo de assegurar aos operadores os horários programados com a utilização de rotas
econômicas e o mínimo de restrições e interferências do centros de controle sem o
comprometimento dos níveis de segurança. Assim caberá aos centros ATM gerenciar o fluxo e
solucionar conflitos. Uma mudança na estrutura do espaço aéreo auxiliará para que isso se torne
uma realidade o mais breve possível. Com o avanço da tecnologia aplicada nas aeronaves poderá
ser adotada a separação de mil pés entre os níveis de cruzeiro; até quarenta e um mil pés já
duplicaria a capacidade do espaço aéreo na faixa entre trinta e um mil pés e trinta e nove mil pés,
onde a maioria dos aviões a jato tem seus níveis ótimos.
Free Flight
O Final de toda esta revolução é utópico, assim como os índices de segurança de vôo que
buscamos sempre e sem parar para chegar à perfeição. O Free Flight é a capacitação segura e
eficiente, na qual os operadores exercem a liberdade de selecionar suas rotas e velocidades em
tempo real e as restrições de tráfego aéreo, quando presentes serão ocasionais e se aplicáveis
terão a finalidade de garantir a segurança do vôo. Seria o sonho de toda a comunidade
aeronáutica, que um dia isso pudesse se tornar realidade. Em todos os vôos as aeronaves
estariam voando em rotas diretas ponto-a-ponto no nível mais econômico e com níveis se
segurança de vôo absolutos.
(Daniel Torelli é Comandante de ERJ 145 na Rio Sul,
Consultor da GRIPS Consultoria Aeronáutica)
[email protected]

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