Horizonte da favela
Transcrição
Horizonte da favela
Modelo Produção criativa e tecnologia compartilhada Herdeira Conheça a poderosa filha de Silvio Berlusconi Férias As alternativas que nasceram da crise www.comunitaitaliana.com Rio de Janeiro, setembro de 2013 Ano XIX – Nº 182 Horizonte da favela ISSN 1676-3220 R 7,00 R$ 11,90 As melhores perspectivas nas comunidades nos altos dos morros do Rio de Janeiro levam mais cultura e turismo para localidades como a Santa Marta e guias aprendem italiano para atender melhor o crescente mercado Pra onde caminha a sociedade de consumo e quem a controla? NOS ÚLTIMOS 6 ANOS, O INVESTIMENTO EM SAÚDE NO ESTADO MAIS DO QUE DOBROU: PASSOU DE 1,8 BILHÃO PARA 3,7 BILHÕES. SÃO 6 NOVOS HOSPITAIS DE REFERÊNCIA: HOSPITAL DA MÃE, EM MESQUITA; HOSPITAL DA MULHER, EM SÃO JOÃO DE MERITI; HOSPITAL DE TRAUMA DONA LINDU, EM PARAÍBA DO SUL; CENTRO DE TRAUMA DO IDOSO, EM SÃO GONÇALO; HOSPITAL DA CRIANÇA E INSTITUTO ESTADUAL DO CÉREBRO, NA CAPITAL. TODO MUNDO SABE QUE AINDA HÁ O QUE MELHORAR, MAS NINGUÉM PODE ESQUECER QUE JÁ AVANÇAMOS MUITO. E ESSE TRABALHO NÃO TERMINOU. S e te m bro de 2013 A no X IX N º182 Capa 36 | Favela global Sociedade 14 | Coworking Atualidade 16 | Não bate Os morros do Rio de Janeiro se revitalizam e ganham maior número de turistas, com isso a Embaixada cria programa de cursos de italiano para guias nas favelas Profissionais freelancers e pequenas empresas italianas compartilham experiências em espaços criativos e de tecnologia de ponta A sociedade de consumo de massa, do marketing agressivo e da corrupção nas esferas públicas versus as vozes das ruas que pedem melhores serviços Política Economia 22 | A escolha Das escolhas estratégicas do Ceo da Fiat, Sergio Marchione, depende o destino do grupo e de milhares de trabalhadores 31 | Marina Quem é a herdeira de Silvio Berlusconi que ganha destaque após a sua inelegibilidade 34 | Pensioni d’oro Le pensioni di manager pubblici costano 13 miliardi di euro all’anno allo Stato Mercado 28 | Pelos ares Italianas se destacam na segunda maior feira de aviação do mundo realizada em São Paulo Nossos colunistas 09 | Cose Nostre Embaixador em Roma, Ricardo Neiva Tavares recebe convidados para o dia da Independência com risoles, coxinhas, empadinhas e pães de queijo 24 | Elétrico Empresa italiana abre sede no Rio e fala sobre os horizontes da energia no Brasil 12 | Fabio Porta 26 | Import-Export 29 | Mostra do café Exportações brasileiras devem aumentar com a valorização do euro e retomada dos mercados europeus A participação do Brasil na Expo 2015 de Milão e a mostra da torrefadora Illy em Belo Horizonte Il “golpe” cileno contro Il governo di Salvador Allende completa quarant’anni 13 | Ezio Maranesi Nonostante tutto dobbiamo crederci: l’Italia ce la farà! 54 | Giordano Iapalucci La stagione del buon vino non finisce e quella del vin nuovo sta ora cominciando 59 | Guilherme Aquino Devido aos altos custos em Milão, técnicos e atletas se transferem para a periferia 62 | Claudia Monteiro De Castro 45 Gênova inaugura pavilhão de golfinhos projetado pelo arquiteto Renzo Piano. Os cetáceos encantam todas as gerações que visitam o Aquário. A complexa estrutura é preenchida com 4,8 milhões de litros de água do mar e equivale a um prédio de sete andares afundado no porto. 6 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a A 20 minutos do Vaticano, uma fazendinha com burrinhos, ovelhas, porcos, galos e cabras para as crianças Cultura 48 | Museus de ponta Competência italiana em destaque durante conferência internacional realizada no Rio Editorial Expediente A bordo U ma operação de 600 milhões de euros que envolve 500 pessoas, entre engenheiros, mergulhadores e biólogos de 26 países, mais 150 empresas italianas que contribuem com o fornecimento de materiais necessários para a empreitada. O giro do navio Concordia, da Costa Cruzeiros, foi acompanhado ao vivo em todo o mundo como um grande reality da TV. Aos números impressionantes para mover um gigante de aço de mais de 114 mil toneladas, 20 metros mais longo que o Titanic, se soma o ineditismo da ação cautelosa de se alinhar no mar esta estrutura que causou tanto dissabor à Itália e às famílias das vítimas. Pietro Petraglia Editor Se o acidente, que aconteceu em 13 de janeiro de 2012, na Isola del Giglio, Toscana, ficou para a história pela imprudência do comandante Francesco Schettino, esta recuperação chamada tecnicamente de “parbuckling” é uma demonstração de capacidade técnica e organizacional que o país oferece à opinião pública mundial. Um significativo exemplo de que quando o público e o privado se dispõem em prol de uma causa maior, os resultados são positivos. O trabalho que começou às 9 da manhã do dia 16 de setembro se estendeu até as 4 da manhã seguinte e usou técnicas de engenharia hidráulica jamais vistas com o cuidado peculiar de não quebrar a estrutura e causar um acidente ambiental pela liberação de materiais tóxicos do interior do navio. O esforço teve sucesso e, ao som das sirenes de navios, aplausos, abraços, sorrisos e lágrimas mostravam o orgulho que havia naufragado e agora emergia das águas. O Concordia ficará no lugar que está até a chegada da primavera italiana, para depois fazer sua última viagem, em que será demolido. A Itália está em plena ressaca política, aliás, parece que o país gosta mesmo de navegar nesses mares agitados neste setor. No momento em que começa a se recuperar de uma crise econômica, vem a fatídica decisão em torno da expulsão do ex-premier Silvio Berlusconi do Senado. Pelas leis italianas um senador não pode exercer o cargo caso seja condenado a mais de dois anos de prisão. Como ele é o líder do PDL, principal aliado responsável pela formação do governo do primeiro-ministro Enrico Letta, corre-se o risco de um rompimento com o PD e a consequente queda do governo. Esperamos que a Itália se espelhe no exemplo da operação de resgate do Concordia e tome as melhores decisões para o país assumir a melhor navegabilidade. Certamente muitos italianos gostariam de parafrasear e gritar aos governantes como o capitão Gregorio Maria De Falco no dramático telefonema ao comandante Francesco Schettino ao chocar o navio nas pedras da ilha de Giglio: “vada a bordo, cazzo!”. Boa leitura! Fundada em março de 1994 Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 17/09/2013 às 14h00 Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: [email protected] Redação: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cintia Salomão Castro; Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi Subedição: Cintia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho [email protected] Capa: João Carnavos e Editoria de arte Colaboradores: Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Venceslao Soligo; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola; Lisomar Silva CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Quintino Di Vona (Salerno); Gianfranco Coppola (Nápoles); Stefania Pelusi (Brasília); Janaína Pereira (São Paulo); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Publicidade: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 [email protected] RepresentanteS: Central de Comunicação contato: Cláudia Carpes tel. 61.3323-4701 / Cel. 61.8218-5361 [email protected] SCS QD 02, Bloco D, Salas 1002/1003 Edifício Oscar Niemeyer - Brasília ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista. La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220 8 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a cosenostre JulioVanni Com estilo Dia da Independência do Brasil foi comemorado O com recepção em 6 de setembro, no Palácio Pamphilj, sede da embaixada brasileira em Roma. O embaixador Ricardo Neiva Tavares recebeu mais de 200 convidados. Sorridente, Neiva cumprimentou cada um, impressionando a muitos com a sua capacidade de falar bem diversas línguas. Uma das presenças de destaque foi José Graziano da Silva, diretor geral da FAO. O que marcou a elegância do recebimento foi a simplicidade. Nenhum menu sofisticado, e sim risoles, coxinhas, empadinhas e pães de queijo. Não faltaram quindins nem brigadeiros. Para quem não conhecia os quitutes brasileiros, foi uma ótima ocasião. Novos ares de Brasil em Roma rogramação dá ritmo brasileiro à capital italiana. O “Festival Bra- P sil”, nome do evento que reúne música, teatro, cinema, dança, literatura e gastronomia, é o primeiro de gênero popular realizado com a presença do recém empossado embaixador Ricardo Neiva Tavares. A alegria dos festejos entre os dois países dura uma semana, do dia 15 ao 22 deste mês, e leva nomes como Toquinho e Adriana Calcanhoto, que abrem as apresentações no Auditorium Parco della Musica. Na rica agenda organizada entre a Fondazione Musica per Roma e a Embaixada brasileira, destaca-se a participação de Jaques Morelenbaum & Cello Samba, Yamandu Costa, Zeca Baleiro, além de exibições de capoeira e discussões em torno de grandes autores como Clarice Lispector, e ainda a mostra de arte contemporânea de Odires Mlaszho e filmes nacionais em cena no Studio 3. Vitalícios Petrópolis italiana O festa italiana da cidade imperial acontece entre 18 e 22 de setembro. A programação inclui solenidade com autoridades, apresentação do Coral Municipal da cidade, de grupos folclóricos, músicos como o Quarteto Itália Nostra, Trio Extemporâneo e Daniel Boaventura, além de um baile com o grupo Finestra Del Cuore e de missa solene em memória dos imigrantes na Igreja de Santo Antônio do Alto da Serra. Os homenageados deste ano são a professora Catarina Ramundo, o pároco Francesco Montemezzo, o caricaturista Lan e o editor da Comunità Pietro Petraglia. A realização do evento é da Casa D’Italia Anita Garibaldi di Petrópolis. Rita Pavone de volta Q uem não se lembra dela? A cantora italiana que ficou mundialmente famosa com “Datemi un martello” lança música inédita após 19 anos. Chama-se “I want you with me” e será inicialmente tocada nas principais rádios da bota. Em outubro a artista, de 68 anos, lança seu novo trabalho “Master” em álbum duplo. João Carnavos A P róxima de completar 20 anos de jornalismo, a Comunità Italiana recebe equipe da televisão italiana Rai para um documentário que irá ao ar em outubro, com transmissão em diversos países. Durante as gravações, o repórter italiano Luigi Maria Perotti conheceu a redação e pode observar de perto como nasce cada número, desde a reunião de pauta até a diagramação e finalização gráfica. Uma das coisas que chamou atenção foi o arquivo fotográfico com registros históricos de personalidades de diversos setores e a organização de nossa equipe, que conta com profissionais brasileiros e italianos. O especial dura 27 minutos e faz parte do programa “Voci d’Italia”. Reality dos refugiados A inda não começou e já causa polêmicas o novo reality chamado “Mission”, que será transmitido pela Rai em dezembro. O programa levou oito celebridades a campos de refugiados do Mali, Sudão e Congo. O novo gênero já foi batizado como reality show humanitário. Entre as organizações que protestam está a ONG “Solidarietà e Cooperazione CIPSI” que acusa o programa de “pornografia humanitária”. Segundo o presidente da ONG italiana, Guido Barbera, “esta dura realidade não pode ser objeto de espetáculo”. Por outro lado, as ONGs que apoiam o programa, enxergam uma oportunidade única pelo “potencial de difusão que traz” e explicam que “a ideia é dar visibilidade aos problemas através de rostos conhecidos”. Os direitos autorais já foram comprados pela britânica BBC e France TV. presidente Giorgio Napolitano nomeou quatro novos senadores vitalícios fora do âmbito político. São eles Claudio Abbado, Elena Cattaneo, Renzo Piano e Carlo Rubbia. “Eles contribuirão para as nossas instituições democráticas com absoluta independência”, disse o presidente da República. Rubbia recebeu o Nobel de Física em 1984 por ajudar na descoberta dos bósons W e Z. Abbado é um dos mais renomados maestros do século XX e Renzo Piano é destacado pela sua arquitetura high-tech. A mais jovem nomeada é Elena Cattaneo, terceira mulher que assume este cargo. Welles inédito N a pequena cidade de Pordenone foi descoberto um filme inédito dirigido por Orson Welles em 1938 titulado “Too much Johnson”. O filme foi encontrado por um funcionário do centro de arte Cinemazero. Até hoje se acreditava que só existisse uma cópia, que teria sido perdida em um incêndio que destruiu a casa de Welles, em 1970. O Museu Internacional de Fotografia e Cinema George Eastman House informou que a cópia foi restaurada e será apresentada ao público em outubro. O cineasta americano ficou famoso com o longa “Cidadão Kane”, em 1941. com unit àit aliana | s etem br o 2013 9 Opinião enquetes frases “Quando há tantos jovens nas ruas, temos que ouvir. A prioridade não é o futebol. São escolas, hospitais, trabalho... É impossível jogar bem num estádio de R$ 800 milhões que fica ao lado de uma favela de 120 mil pessoas, das quais 20% não têm o que comer”, Você acha que o Brasil vai conseguir conter a alta do dólar? Sim - 41,7% Não - 58,3% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 19/08/13 e 25/08/13. Você concorda com a intervenção militar dos EUA na Síria? Sim - 14,3% Não - 85,7% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 26/08/13 e 05/09/13. Ministro diz que manifestações de 7 de setembro ficaram violentas e esvaziadas e perderam o foco. Você concorda? Sim - 60% “Gostaria de agradecer a escuderia por todas as vitórias e todos os belos momentos que passamos juntos”, Cesare Prandelli, técnico da seleção italiana, em entrevista ao “La Gazzetta dello Sport” Felipe Massa, piloto de F1 que ganhou 11 Gps com a Ferrari e anunciou no seu twitter a sua saída para 2014 “Achava que teriam me matado, a Síria esta nas mãos do demônio”, “Abrimos muitas portas, falamos muito sobre sexo. E os jovens o fazem muito cedo. Isso, fatalmente, encurta a vida. Se você começa a fazê-lo aos treze anos, com cinquenta anos não aguenta mais”, Domenico Quirico, jornalista italiano que permaneceu sequestrado por cinco meses na Síria “É esta ou aquela guerra sobre problemas reais ou são guerras para vender armas? Há guerras comerciais para vender estas armas de forma ilegal. Estes são os inimigos que devemos combater”, Franca Valeri, atriz italiana durante uma entrevista sobre a traição e o amor papa Francisco um dia depois de levar cem mil pessoas à Praça São Pedro numa vigília pela paz contra a guerra na Síria “Berlusconi teria sido o melhor senador vitalício. É a pessoa com mais títulos e mais méritos. Ninguém é comparável ao Silvio”, Não - 40% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 06/09/13 e 09/09/13. no celular Acesse comunitaitaliana. com no seu smartphone com o código QR acima “A Itália é um paciente que está doente da cabeça. Do ponto de vista psiquiátrico, eu diria que é para internar, mas não existem mais manicômios”, Daniela Santanché, deputada do PdL ao comentar condenação do ex-premier “O governo serve se faz bem ao país, não nasceu para absolver Berlusconi!”, Vittorino Andreoli renomado psiquiatra italiano e membro da New York Academy of Sciences Rosy Bindi, deputada do Partido Democratico (PD) cartas “L i sobre a mostra de obras do Vaticano na matéria A herança da JMJ e fiquei com muita vontade de conferir as pinturas e esculturas dos mestres italianos. Então, fui visitar a exposição no Museu de Belas Artes e me encantei, especialmente com Michelangelo, Da Vinci e Caravaggio”. Denise de Souza, Niterói – RJ – por e-mail 10 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a “G ostei de ver assuntos tão atuais, como a espionagem na internet, abordados pela revista. Acho que precisamos saber o que fazem com nossos dados e como nos protegermos”. Alexandre Miranda, Belo Horizonte – MG – por e-mail Serviço agenda da Língua Italiana no Mundo, que ocorre anualmente em diversos países. O tema deste ano é “Pesquisa, descoberta, inovação: a Itália dos saberes”. L’artigiano in Fiera O evento permite conhecer as tradições e as culturas de mais de 100 países e entrar em contato direto com o mundo dos artesãos. Para quem visita o local, o clima é de beleza, entusiasmo e comunhão. A Câmara Ítalo-brasileira de Comércio do Rio apoia a participação de empresas brasileiras no evento. De 30 de novembro a 8 de dezembro, em Milão. www.artigianoinfiera.it Saie - Salão Internacional da Construção Desde 2010, o Salão Internacional da Construção se apresenta como uma forma de oferecer novos serviços aos expositores e atender 170 mil profissionais que todos os anos vão a Bologna para discutir e conhecer soluções, projetos, tecnologias para as construções. Em 2012, a feira teve 1.044 expositores e 85 mil visitantes. De 16 a 19 de outubro. www.saie.bolognafiere.it Cozinha italiana Vinte restaurantes italianos da capital paulista participam da 2ª Semana da Cozinha Regional Italiana, de 13 a 20 de outubro. Os estabelecimentos vão oferecer menus especiais homenageando as diferentes regiões do país com preços fechados. O grande diferencial deste ano é a presença de chefs italianos, que realizarão jantares exclusivos. A programação integra a Semana Eurochocolate Um dos eventos mais importantes do setor, a Eurochocolate chega à sua 20ª edição. No ano anterior, a feira recebeu mais de 100 mil visitantes. O logo oficial de 2013 é dedicado à sustentabilidade: uma planta de hortelã, que combina muito bem com o chocolate, exprimindo também o conceito de frescor promovido pelo evento. De 18 a 27 de outubro, na bela cidade de Perúgia. wwww.eurochocolate.com naestante 2ª Rio Mech A Feira Internacional de Tecnologia da Indústria Metalmecânica entra em sua segunda edição. O evento nasceu das necessidades do estado do Rio de Janeiro nos segmen- tos de infraestrutura, oil & gas, transformação, petroquimíca, naval, aço e energia. Simultaneamente, acontece a 3ª edição da Rio Infraestrutura - Feira de Produtos e Serviços para obras de Infraestrutura. Estarão em evidência setores como equipamentos para tratamento ambiental e refrigeração; fornos, estufas e caldeiras; máquinas e equipamentos para plástico, borracha e off shore; motores, acoplamentos, redutores e engrenagens; e solda e tratamento de superfície. De 7 a 9 de novembro, no Riocentro. www.riomech.com.br clickdoleitor Arquivo pessoal Guia as Melhores Viagens de Carro – Itália Um roteiro para quem pretende explorar o país de carro através de roteiros que passam pelas cidades italianas de norte a sul. O diferencial são as sugestões de paradas para vistas panorâmicas e as informações úteis sobre como dirigir, quais são as regras de trânsito na Itália, onde estacionar e quais documentos são necessários para alugar um carro no país. Editora Publifolha, 208 páginas, R$ 50 “V Otto settembre O livro de Paolo Sorcinelli aborda o armistício de 1943 entre a Itália e os Aliados de forma inédita. Emergem com força os destinos de homens e mulheres comuns, entre aqueles que voltam da Rússia e da África; que acabam indo para a Sibéria, Índia ou Texas; os enviados a campos de concentração; os que entraram na clandestinidade; e os que cultivaram a esperança de que tudo voltasse à normalidade. Editora Mondadori, 224 páginas, € 18 isitei o Rio de Janeiro no ano passado e fiquei impressionada com a natureza viçosa, a intensidade do verde de cada folha e as tantas orquídeas que vi nas árvores. Tenho a lembrança da alegria das pessoas, o gosto refinado na cozinha, a feira de Ipanema... Em muitos aspectos, achei a cidade parecida com a minha Nápoles. Também lembro bem do metrô, limpo e organizado”. Lina Sorrento Torre Del Greco (NA) — por e-mail com unit àit aliana | s etem br o 2013 11 opinione FabioPor ta 11 Settembre 1973 E Quaranta anni fa il “golpe” cileno: una data da ricordare e sulla quale riflettere, anche oggi ro un ragazzo quando un colpo di stato militare pose fine al governo di Salvador Allende in Cile, il precursore dei governi progressisti e popolari di un continente, che per lunghi secoli, ha sofferto dominazioni e vessazioni da parte di colonizzazioni violente e di elite dominanti, interessate più allo sfruttamento delle terre e delle risorse che alla crescita civile e sociale della popolazione. In Italia si guardava al governo di “Unidad Popular”, la coalizione di sinistra guidata dal socialista Salvador Allende, con grande interesse e speranza. Non solo per la convinzione che il successo di quel governo avrebbe rappresentato un solido punto di riferimento per tutto il continente, da tempo alla ricerca di una strada democratica per coniugare crescita economica e giustizia sociale. Anche l’Italia degli anni ’70 era alla ricerca del suo nuovo modello di governo democratico e popolare: i movimenti studenteschi e sindacali della fine degli anni ’70 avevano segnato un punto di svolta nel cammino verso le conquiste civili e i partiti di sinistra (il PSI e il PCI) raccoglievano quasi il cinquanta per cento dell’elettorato; anche la Democrazia Cristiana, sotto la leadership di Aldo Moro, si poneva il problema della necessaria intesa con le forze della sinistra, a partire dal Partito Comunista di Enrico Berlinguer, impegnato da anni in un costante e progressivo cammino di emancipazione dall’influenza del vecchio regime sovietico e di consolidamento dei princìpi democratici. A casa mia Allende era già un simbolo; mio fratello maggiore era il Presidente della Gioventù Socialista della mia città e ricordo i discorsi (entusiastici prima e preoccupati dopo) che si facevano in casa e fuori tra i giovani più politicizzati e gli adulti più attenti a quanto succedeva fuori dall’Italia. Oggi sono in pochi a ricordare quell’episodio; eppure il governo di “Unidad Popular” e la leadership democratica di Allende possono considerarsi a tutti gli effetti gli ‘apripista’ del risveglio democratico del Sudamerica che nei decenni seguenti, dopo anni di dittature e colpi di 12 stato, porterà al governo il socialdemocratico Cardoso e il sindacalista Lula in Brasile, il socialista Alfonsin e il peronista Kirchner in Argentina, il contadino Mujica in Uruguay, l’indio Morales in Bolivia, il rivoluzionario Chavez in Venezuela e il vescovo-contadino Lugo in Paraguay… Governi democraticamente eletti e tutti fortemente orientati alla ricerca di un equilibrio tra la crescita economica del- Il governo di Allende può considerarsi il precursore dei più recenti governi democratici e popolari del continente sudamericano le rispettive nazioni e la redistribuzione delle ricchezze tra le varie classi della popolazione; ciascuno con le proprie difficoltà o contraddizioni, con le proprie specificità e criticità, ovviamente. Tutti, però, con una forte legittimità democratica e con una chiara intenzione di voler invertire la storica tendenza all’oppressione delle popolazioni latino-americane da parte dei loro governi. s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Dietro al golpe cileno, come alle successive e contemporanee dittature sudamericane, ci fu chiaramente la mano degli Stati Uniti, come fu dimostrato negli anni a venire dalla scoperta del “Piano Condor”, che prevedeva un coordinamento tra i regimi di quei Paesi sotto la copertura e il finanziamento di chi, gli Stati Uniti, considerava il continente il proprio “cortile di casa”. Se oggi le cose sono cambiate è anche grazie al sacrificio di uomini come Salvador Allende, un martire della democrazia sudamericana ed un esempio da seguire nella lotta permanente verso una democrazia compiuta ed una società più giusta ed uguale. Voglio ricordarlo con una sua bellissima e profetica frase: “Vale la pena morire per le cose senza le quali non vale la pena vivere”. opinione EzioMaranesi L’inutilità della materia grigia I Nonostante tutto dobbiamo crederci: l’Italia ce la farà! giornali hanno recentemente divulgato i risultati di una ricerca effettuata da una delle nostre università inutili: gli esseri umani utilizzano soltanto il 10% del loro cervello. Poiché leggo le cronache italiane, ne avevo già il sospetto. È infatti un mistero, e credo non solo per me, capire come un popolo che è stato culla delle civiltà occidentali abbia partorito e accettato una classe dirigente tanto inetta quanto quella che l’ha governato negli ultimi decenni. Incomprensibile. Ampia letteratura ci ha spiegato le ragioni di tanti parti infelici, cosí che oggi ogni italiano mediamente informato conosce perfettamente i suoi difetti e sa cosa dovrebbe fare per superarli. Ma non lo fa, e il restante 90% del cervello rimane sontuosamente ozioso. Il sospetto è ora certezza: chi ancora dubita legga le sceneggiate che la tragicomica commedia dell’arte italica ci propone ogni giorno, fiorite naturalmente dai nostri fantasiosi e interessati giornalisti che ci guazzano come anatre nel lago. Il fatto, in fondo, è banale: il senatore SB, reo in molti processi, è stato condannato in via definitiva. Poteva capitare; è capitato, e qualunque recriminazione è ora inutile. Viso tirato, con tratti che ad ogni tirati- Ogni italiano mediamente informato conosce perfettamente i suoi difetti e sa cosa dovrebbe fare per superarli. Ma non lo fa na ricordano sempre più Mao, SB ha ora una sicura carriera di imputato, dovendo affrontare altri pericolosi processi, e una età senile che dovrebbe suggerirgli, con saggezza, di ritirarsi dall’agone politico. Poco dignitosamente invece si lamenta — “nessuno vuole venirmi incontro” — e tuona i “non mollo”, “il capo sono io” ecc., vivendo con piena convinzione la sua sindrome di Sansone... con tutti i Filistei! Ed è allora che i suoi descepoli Pdl dovrebbero usare bene quel 10% di cervello che l’inutile università ci concede. Tra loro i falchi, guidati dalla cheerleader Santanchè, detta “la pitonessa”, e dall’on. Biancofiore che declama poeticamente rapita “con lui al tramonto come fu all’alba”, che minacciano marce sul Quirinale e cannoni puntati sul premier Enrico Letta, senza il minimo riguardo per i milioni di disoccupati che hanno disperatamente bisogno di un Governo. Li contrastano le colombe, attendiste e preoccupate di perdere le prebende che la fedeltà a SB loro garantisce. Incapaci di darsi un leader, anche perché nessuna di loro ne ha la personalità, valutano ansiose le alternative di sopravvivenza e tergiversano. Oltre ai falchi e alle colombe si agitano bassi altri volatili - ci si passi la scivolata di stile - che ondeggiano vivendo alla giornata, pregando che qualche santo induca SB a chiudere la sua partita a poker con gli italiani e volare ad Antigua, finché ha ancora il passaporto. Il quadro è desolante, ma ciò non impedisce al Pdl di credersi convinto che 10 milioni di italiani useranno ancora la parte utile del loro cervello per continuare a dargli il voto. Il Pd, che non è il Partito di Dio come credono molti dei suoi dirigenti, vale altri 10 milioni di voti. È sempre più simile a un pollaio in cui molti galli si contendono a suon di beccate sanguinose la leadership nella corsa verso il possibile trono di futuro premier. Mostrasse coesione, guadagnerebbe simpatie e voti a bizzeffe e vincerebbe facilmente le prossime elezioni vista la situazione del nemico, ma la porzione di cervello che spetta ai suoi notabili non è sfruttata con l’efficenza che sarebbe opportuna. Otto milioni di italiani, in rivolta contro l’insipienza italica, hanno dato il loro voto a Grillo. Qui il caso è ancor più serio: è difficile capire come possano tanti cervelli affidare il loro futuro ad un energumeno che sbraita scemenze con gli occhi fuori dalle orbite. Dato lo scenario dipinto dal voto degli italiani e dai mediocri attori cui abbiamo dato il potere, tutto potrà accadere. Insomma, la nostra università ha ragione. Ciò che la ricerca non ci dice è se possiamo sperare che i progressi della medicina possano aumentare l’area cerebrale utile o se, come minimo, la piccola attualmente disponibile possa essere meglio sfruttata. Confido nella scienza e sono propenso a pensare che stiamo vivendo un periodo di appannamento delle nostre doti mentali; rabbia e paura stimoleranno la saggezza degli italiani e la buona stagione tornerà ad rifiorire. Voglio pensare a cose belle. com unit àit aliana | s etem br o 2013 13 Sociedade Coworking à italiana De norte a sul do país, se alastra o modelo americano dos escritórios de trabalho compartilhados. Em Milão, projeto com babás para profissionais mães ganhou prêmio da União Europeia como melhor projeto de inovação social do continente Aline Buaes Especial para Comunità A moda dos escritórios compartilhados chega à Itália. De Milão a Roma, passando pela Sardenha, os coworking se apresentam como solução para profissionais freelancers e pequenas empresas, pois oferecem espaços aconchegantes e modernos, conexões adequadas de internet e a oportunidade de conhecer e confrontar outros profissionais. Nascidos no Vale do Silício em 2005, os espaços vêm, desde então, se espalhando pelo mundo todo, inclusive no Brasil, onde já existem dezenas deles. No Belpaese, os escritórios abrigam perfis diversos de profissionais, desde aqueles de áreas clássicas de coworkers como webdesigners, 14 publicitários e profissionais de TI, às profissionais que são mães e ali encontram facilidades como baby-sitters compartilhadas, em uma fórmula da cooperação e colaboração. São trabalhadores autônomos que buscam uma alternativa para os seus home offices que não sejam cafés e outros locais públicos. O modelo de trabalho é baseado no compartilhamento de espaço e recursos de escritório, como internet, telefones, recepcionistas e outros serviços. Reúne pessoas que trabalham não necessariamente para a s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a O Piano C, em Milão, criado e pensado para mulheres com filhos, oferece facilidades de escritório e serviços de baby-sitter. O Banco Europeu de Investimentos o elegeu como o melhor projeto de inovação social da Europa mesma empresa ou na mesma área de atuação. Normalmente, para utilizar o espaço, é cobrada uma taxa por hora ou por mês, segundo o acordo feito com os organizadores do espaço. — O coworking não é uma ideia anticrise, visto que nasceu no próspero Vale do Silício entre 2004 e 2005, e se desenvolveu como um modo de compartilhar espaços de trabalho e sinergias positivas entre profissionais que têm em comum recursos e valores — explica Massimo Carraro, um dos fundadores da Cowo, rede italiana que já conta com 81 sedes em 51 cidades italianas. Fundada em 2008 por Carraro e Laura Coppola, sua esposa e sócia na agência de publicidade Monkey Business, a rede cresceu rapidamente graças a um sistema de afiliação que permitiu que escritórios com espaços livres pudessem oferecer compartilhamento colaborativo dos espaços. Hoje, a rede é uma das principais referências na Itália quando se fala em trabalho colaborativo. Quatorze de suas sedes permaneceram abertas ao longo do mês de agosto, período tradicional de férias na Itália. Em Roma, um dos espaços afiliados à Cowo é o Work[in]Co, fundado há pouco menos de um ano por um grupo de amigos que buscava um espaço para trabalharem juntos e se confrontarem. — O nosso coworking é frequentado principalmente por profissionais autônomos ou pequenas empresas do mundo da arquitetura, design gráfico e fotografia, mas temos também analistas de sistemas, organizadores de eventos e consultores financeiros— explica a arquiteta e urbanista Giorgia Amoruso, uma das fundadoras do espaço, destacando que turistas e estrangeiros que necessitem de um espaço para trabalhar são bem-vindos, já que o coworking oferece posições de trabalho fixas e temporárias — estas últimas para profissionais apenas de passagem. — O coworking está se difundindo muito rápido na Itália nos últimos anos, mas é possível fazer mais e melhor — destaca a jovem arquiteta. A região da Sardenha, a bela ilha no sul do país, abriga uma importante referência quando se fala em coworking. Na capital Cagliari encontra-se o moderno Open Campus, que abriga empresas e startups inovadoras que operam nos setores digital, de internet e de comunicação. O espaço foi aberto há poucos meses por iniciativa da Tiscali, gigante italiana das telecomunicações, que decidiu abrir ali uma sede para compartilhar espaços, serviços e tecnologias para empresas jovens e inovadoras com projetos nas áreas de animação 3D, aplicativos para smartphones, conteúdos multimídias, entre outras. Desde então, a iniciativa vem obtendo grande sucesso, levando para a paradisíaca ilha jovens talentos de toda a península. Para participar é preciso se inscrever em um processo seletivo. O espaço é aberto 24 horas por dia e oferece serviços como salas de reunião, auditório para 200 pessoas, recepção, refeitório, bar e até mesmo estúdios de pós-produção de vídeo e som. Feito por mulheres para mulheres: escritórios com baby-sitters compartilhadas Em Milão, o coworking Piano C, criado e pensado para mulheres com filhos, oferece, além das facilidades do escritório, serviços de baby-sitter compartilhada. De tão inovador, conquistou um prêmio internacional antes mesmo de abrir. para facilitar a vida das trabalhadoras com filhos pequenos. Por trás do empreendimento, aberto em janeiro deste ano, há cinco mulheres, profissionais de áreas diversas como arquitetura, advocacia e comunicação social. Elas experimentaram na pele as dificuldades que governam o mundo do trabalho. — O Piano C é um novo modelo de organização, que tem como objetivo recolocar no mercado talentos marginalizados pela economia tradicional — explica o gerente do local, Raffaele Giaquinto. O espaço em Milão atende atualmente um público de ambos os sexos, mas com prevalência feminina e perfis diversos, desde profissionais freelancers, empresáFoi considerado pelo Banco Europeu de Investimentos o melhor Projeto de Inovação Social da Europa. — É possível e devemos buscar novos modos de trabalhar, para impedir a exclusão e discriminação das profissionais mães — afirma uma das fundadoras do espaço inaugurado em janeiro deste ano, Riccarda Zezza. Primeiro coworking na Itália, e um dos primeiros no mundo, o Piano C oferece, em uma área de 250 metros quadrados que abriga 20 coworkers, as clássicas facilidades de um espaço desse tipo, como internet, impressoras, cozinha, salas de reuniões e recepção. Mas as novidades ficam mesmo com as duas áreas para crianças de zero a três anos, com recreacionistas todos os dias das 9h às 19h, lavanderia e até um minimercado. Há ainda as atividades de formação profissional e também de desenvolvimento pessoal, como aulas de ioga, canto e desenho. Tudo Empresas e startups inovadoras que operam nos setores digital, de internet e de comunicação compartilham experiências no moderno Open Campus, referência em coworking na região da Sardenha Com vista para o lago C Profissionais autônomos de arquitetura, designer gráfico e fotografia encontram na Cowo, em Roma, o espaço ideal para a produção criativa. Turistas estrangeiros são bem vindos neste ambiente om o apoio das autoridades de Milão, o Piano C inaugurou outra iniciativa de sucesso neste ano. O Summer C foi um espaço piloto temporário de coworking, aberto nos meses de junho, julho e agosto, instalado na beira de um lago nos arredores da capital lombarda, oferecendo ainda mais facilidades para as crianças. O objetivo foi o de suprir o vácuo deixado pelas férias escolares do verão. — A iniciativa foi um sucesso e pensamos em repeti-la em 2014 — afirma Giaquinto. O sucesso da iniciativa se deve também à ideia inovadora de transferir o escritório para um espaço em meio à natureza, o que trouxe mais bem-estar para todos os coworkers. Todas as posições de trabalho na Summer C, por exemplo, ofereciam vista para o lago. rios e até funcionários de empresas que seguem o modelo do escritório em casa. Um dos objetivos é servir de base logística temporária para profissionais com crianças que estejam de passagem por Milão. — Nos primeiros meses de atividade, registramos muitos casos de mulheres com filhos de outras regiões da Itália, que se apoiaram temporariamente aqui. É um fenômeno muito jovem em nível mundial e em rápida evolução. Na Itália, chegou em 2008 e ainda há muito espaço para crescer — explica Giaquinto, que acredita no futuro dos coworking. com unit àit aliana | s etem br o 2013 15 Atualidade A conta não fecha. E agora? O especialista em Comportamento do Consumidor da FGV, José Nunes, explica quais são os grandes dilemas da sociedade de consumo, que promoveu nos últimos 50 anos a utopia do individualismo ao seu extremo e agora assiste perplexa às manifestações dos Black Blocs Giuseppe Bizzarri A humanidade reúne no planeta mais de sete bilhões de pessoas, porém apenas 606 indivíduos e 147 corporações controlam toda a economia. O mito de Sísifo (o homem da mitologia grega condenado a repetir a tarefa de empurrar uma pedra em cima da montanha, enquanto, inexoravelmente, uma força misteriosa joga a rocha ao infinito para baixo até o ponto de partida) é a metáfora preferida do doutor em psicologia pela PUC-RJ, José Mauro Gonçalves Nunes, especialista em Comportamento do Consumidor e Professor da MBA da Fundação Getúlio Vargas, para definir a tragédia do ser humano que tenta alcançar a liberdade. Uma busca realizada em meio a utopias, como a de hoje: uma sociedade dominada, segundo o professor, pela “mercantilização e comoditização das relações pessoais”. Para o vice-diretor do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias, as contas da utopia consumista oferecida pela publicidade do capitalismo individualista simplesmente não fecham. É como a tarefa de Sísifo, que empurra a pedra na montanha, mas sabe que vai rolar abaixo. 16 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a ComunitàItaliana- Com a queda da União Soviética, o capitalismo se saiu vitorioso. Os Estados pensaram que o consumo era o único modelo viável. Segundo um estudo da Universidade de Zurich, 606 indivíduos e 147 corporações controlam a economia mundial. Uma espantosa concentração de riqueza, que agora parece ser contestada pelas manifestações ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Isso mostra que o modelo está esgotado? José Mauro Gonçalves Nunes - A história se move em fluxo e não é contínua. Mostra momentos hegemônicos e contra-hegemônicos, com períodos de expansão do capital e outros de contestação da ordem constituída. O que está acontecendo na primavera árabe, com o fim do bem-estar na Europa, e também no Brasil, apesar de serem histórias diferentes, é um questionamento muito grande dessa ordem marcada pela mercantilização e “comoditização” das relações pessoais, onde tudo se dá em função do lucro, do custo e do capital. Qualquer acesso a um bem público tem um custo. No caso brasileiro, especificamente, na década de 1990, com Fernando Henrique Cardoso, foi dito que o Estado era ineficiente, enquanto a iniciativa privada proveria um serviço melhor nas funções públicas. Iniciou-se a privatização dos serviços, mas os resultados que vemos hoje são corrupção, denúncias e ineficiência. Um exemplo é o transporte público no Rio de Janeiro, ônibus, barcas: está tudo privatizado, mas com sérios problemas. CI- Se o Estado é ineficiente e a privatização também não brilha, então qual seria a solução para a sociedade? JMGN - Temos que voltar lá aos anos 1960, depois da Segunda Guerra Mundial, com a reconstrução da Europa por meio da ajuda do capital norte-americano. O objetivo era construir uma sociedade de consumo de massa, criar desejos e serviços que pudessem ser satisfeitos. Há em tudo isso uma promessa embutida, um acordo implícito na proposta do capital, das empresas para a sociedade. Criamos estas necessidades, que vão trazer felicidade e abundância. Então, a partir dos anos 1960, o que se vê é a criação de um estilo de vida baseado na abundância e no consumo. Esse processo de ocidentalização da sociedade, este contrato, neste momento, cai, e por que cai? Porque a conta não fecha. O Brasil é uma das sociedades mais desiguais do Giuseppe Bizzarri mundo, com uma enorme concentração de renda na mão de poucas pessoas. Surgiu a consciência de que não haverá uma sociedade estável, em paz, se não se incluírem os que moram nas favelas e periferias. Nos últimos 15 anos, as elites políticas e econômicas brasileiras fizeram esta atualização para melhorar as condições de vida destas pessoas, não importa se PSDB ou PT: foi-lhes dado o crédito. Deu-se uma melhoria dos serviços públicos, que foram privatizados com a promessa de que seriam atingidos. O que aconteceu foi que a população teve acesso a estes serviços que são muito ruins, pois fazer isso tem um custo muito elevado que precisa ser transferido para o bolso do contribuinte. E este é o colapso brasileiro neste momento. CI- Ou seja, se prometeu para as pessoas algo que elas mesmas teriam que pagar? JMGN - Prometeu-se que a felicidade se ganha com um carro, uma geladeira, uma televisão, um celular, um móvel, um eletrônico. Mas qual é o impacto de tudo isso? Na dimensão do indivíduo, observa-se a comoditização das relações interpessoais. Tudo tem um custo. A juventude de 30 anos não usa mais a palavra amizade, e sim “network”. A construção de laços sociais que pode aumentar o capital econômico, o capital financeiro e político destas pessoas. O capital fez esta promessa, que não foi mantida. Não foi cumprida, pois as pessoas, ao consumirem, perceberam que o consumo não traz a felicidade, e implica mais trabalho, mais ansiedade, falta de tempo, perda de indicadores de qualidade de vida, “O colapso brasileiro neste momento é que a população da periferia teve acesso a estes serviços privatizados, mas são muito ruins. Fazer isso tem um custo muito elevado que precisa ser transferido para o bolso do contribuinte” com unit àit aliana | s etem br o 2013 17 Atualidade como um almoço em família, com amigos. Com a onipresença dos telefones celulares, você passa o fim de semana absolutamente conectado ao trabalho. CI- Quem prometeu para a sociedade que o consumo traz a felicidade? JMGN - Isso é prometido pelo marketing: “trabalhe porque fazendo isso você consome e, ao consumir, você terá mais bens, mais qualidade de vida e mais felicidade”. É um projeto dos anos 1960. Existe um ícone atrás disso: o indivíduo. Trata-se de uma sociedade que tem como essência a ascensão do indivíduo. Um individualismo austero, hiperbólico, elevado à enésima potência e hedonista. A ascensão da filosofia individualista cria este conceito, rompendo com o antigo regime medieval marcado pela ligação com a família, a sociedade. A identidade mantém a família, mas a sociedade precisa agora da afirmação de si: eu sou aquilo que sou com o meu esforço pessoal e, como principal ícone do individualismo, temos a meritocracia. Foi uma ideologia construída na década de 1960. O problema é que o individualismo não é um bloco de pedra, é talhado em várias facetas e possui diversos aspectos. CI- Os movimentos hippie, reggae e punk tentaram quebrar o isolamento do indivíduo e o ego. Muitos foram para a Índia para quebrar a solidão, mas a vida é igual em qualquer lugar. Então qual seria a saída? JMGN - Existe uma estetização da vida quotidiana, como dizia Marx, um aburguesamento da vida. Os indivíduos constroem a própria vida com uma visão estética: comprar o melhor vinho, passar um final de semana na Toscana, na costa amalfitana, usar uma roupa de grife. É uma utopia individualista, uma exumação de um conceito de dandy. Uma segunda utopia possível seria aquela que se percebe hoje nas manifestações de rua. O fenômeno dos Black Bloc, para mim, significa o auge dessa contradição do fim de uma utopia do indivíduo. manifestações de Seattle e em Gênova, com a morte de um ativista. O movimento tinha uma função de proteger os manifestantes de verdade para que protestassem sem serem reprimidos pela polícia. Ou seja, se sacrificavam para a coletividade, o que é um conceito de utopia global de um grupo de vanguarda. Por outro lado, qual é o valor de articulação política deles? É frouxo, uma ideologia vaga contra o capital, anticonsumista, anticorporativista, sem agenda propositiva efetiva, coisa que os grupos dos anos 1960 tinham. Têm uma baixa organização, não fazem assembleia, não têm uma liderança. Mas isso é justamente o grande resultado desta ordem da felicidade de consumo mundial, baseado na criação de relações com laços fracos. As pessoas são cada vez mais indivíduos auto-organizados que se articulam em conexões de curto prazo e virtuais. Eu me conecto com você, pois estamos contra isso; mas, acabou e cada um vai para o seu canto. Não constroem realmente uma comunidade, “A propaganda dos anos 1960 é voltada para pessoas racionais. Isso mudou. Hoje é voltada para indivíduos hedônicos, cria desejos irracionais, fantasias, ou seja, eu serei aquilo que no quotidiano não sou” CI- Mas os Black Blocs brasileiros são diferentes. JMGN - Sim. Eles nascem na década de 1980, no auge do Partido Verde, na Alemanh,a e vivem o seu ápice nos anos 1990 nas 18 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a pois um grupo social deve ter ideias em comum e ser permanente. Até promovem uma certa ideia de comunidade, mas a presença é curta. CI- As novas gerações estão frente a celulares e computadores, se encontram no Facebook e no Twitter, mas onde está a tridimensionalidade da vida para elas? JMGN - Acho que temos novos sujeitos, novas formas de individualidades. Estamos ficando velhos. Estas gerações têm configurações de amizade totalmente diferentes das gerações velhas. A utopia deles é totalmente diferente. Este é o grande fenômeno do momento que não se consegue entender. Há as novas individualidades, com novas subjetividades. Como na nossa geração, usam cartas, enviam mensagens, posts, mas com a tecnologia dos social networks. Tudo isso tem um impacto, como a precariedade do trabalho, das relações interpessoais, do quotidiano, da família. Eles sabem que os pais podem se separar. A família deixa de ter laços consanguíneos. CI- Carpe diem, trata-se disso, de colher o momento? JMGN - Então voltamos à ideia do individualismo. É o resultado de um individualismo hedônico. Na realidade, é um individualismo que vem de Goethe. O carpe diem de um estilista, que faz da própria a vida uma obra de arte no presente da vida. CI- Mas é um presente de uma vida autodestrutiva. JMGN - Sim, mas o capitalismo acompanha isso, e rapidamente reajusta a sua oferta de bens. A propaganda dos anos 1960 é voltada para indivíduos racionais. Hoje mudou. É voltada para indivíduos hedônicos, cria desejos irracionais, fantasias, uma utopia individual. Eu serei aquilo que no quotidiano não sou. CI- Quem vende isso? JMGN - As grandes corporações. Elas sabem que o projeto está vinculado a uma função estética de prazer. Não é mais uma solução de um problema prático. Eu não compro só um instrumento, mas compro um que tem uma marca, um valor agregado que vai ser percebido pelo grupo social, o qual vai perceber também que sou um cara cool, um lançador de tendências, ou seja, sou um conjunto de benefícios psicológicos não tangíveis. Eles começaram a perceber a partir de 1968 que as pessoas não querem ser felizes apenas na esfera pública, mas na esfera individual e privada. Você nota a partir dos anos 1960 uma mudança na publicidade. Giuseppe Bizzarri CI- As pessoas estão sendo muito pressionadas no dia a dia, se endividam para comprar carros, casas, eletrodomésticos. Pagam as prestações não só com o dinheiro, mas com o tempo da própria vida. Mas a vida não é só pagar contas. JMGN - Se eu acumular dinheiro, estou abdicando dos juros de um empréstimo, mas ao ter logo um bem vou pagar isso no futuro. Então são duas visões de vida diferentes. A visão do futuro e do presente imediatista. Este mecanismo, esta precariedade do indivíduo pressionado para ter coisas, tudo leva a ter uma visão de curto prazo. O marketing não fala mais apenas em casa, eletrodomésticos. CI- É possível alcançar um êxtase com o consumo? JMGN - Claro. Existem fanáticos por marcas. As pessoas transformam a própria vida com isso. Nunca subestime o capitalismo, que tem uma capacidade fantástica de se regenerar. CI- Parece uma sociedade esquizofrênica, que fala de meio ambiente e depois nos incentiva a consumir como loucos. JMGN - A sociedade tem identidades múltiplas, móveis e transitórias. Novas subjetividades com novas formas de vida, novas formas de ser no mundo. Claro que isso tem implicações psicológicas, como a depressão. Hoje, os medicamentos mais vendidos são os antidepressivos e remédios para bulimia e anorexia. “Nunca subestime o capitalismo, que tem uma capacidade fantástica de se regenerar” CI- Estes seriam os sintomas na carne das pessoas de que as contas não fecham na sociedade? JMGN - As contas não fecham, claro que não fecham. CI- Ao mesmo tempo, Anne Mulcahy, ex CEO da Xerox, fica louca, larga tudo e pensa que errou, pois deixou de lado a vida pelo trabalho. Então, se não se pode mais ir à Índia, se matar de trabalho, para onde iremos ? JMGN - A melhor maneira para lutar contra o sistema é se apropriar das ferramentas do sistema e quebrá-lo por dentro, como dizia Foucault nos anos 1970, o qual afirmava que a melhor maneira de ser revolucionário, ao contrário de Sartre, que apoiava greves gerais, é se apropriar das ferramentas e agir dentro do sistema, usando o mesmo veneno deles. Nisso, as redes são ótimos exemplos. Na primavera árabe na Tunísia e na Líbia, no Brasil, na Itália com Beppe Grillo. Não foi a internet, e sim as ferramentas que, apesar de narcotizarem a sociedade e criarem ansiedade e depressão, permitem também organização e mobilização. Como aconteceu na Islândia, com unit àit aliana | s etem br o 2013 19 Atualidade onde usaram os social networks para demitir os políticos corruptos e depois um plebiscito e uma nova Constituição, e hoje o país está indo muito bem. CI- Você citou Beppe Grillo. Como analisa esse fenômeno ? JMGN - Para mim, Grillo é um fenômeno midiático, resultante da grave crise que a democracia representativa vem sofrendo no mundo ocidental contemporâneo, e que é um dos elementos unificadores das manifestações populares recentes nas cidades ocidentais. Porém, traz um elemento de denúncia pura sem uma pauta propositiva necessária para quem está interessado em reconstruir a democracia 20 e tornar a sociedade mais fraterna, solidária e igualitária. O denuncismo e o voto de protesto são fenômenos conjunturais, mas extremamente questionáveis por não oferecerem soluções de reforma e aperfeiçoamento das instituições democráticas. Tanto Berlusconi quanto Grillo são metáforas da disfuncionalidade do sistema político democrático ocidental por representarem uma cultura do cinismo (a de Berlusconi, do cinismo patrimonialista; a de Grillo, do cinismo radical) que envenena a adesão dos cidadãos ao regime democrático. A democracia é muito criticada, mas qual alternativa política se descortinaria? Totalitarismo? Autogoverno? Um novo s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Acima, dois momentos das manifestações de Maio de 68, na França. A insurreição popular superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe naquele momento. Abaixo, os protestos que acontecem com frequência em várias cidades brasileiras por melhorias sociais “condottiero”? Por isso Grillo é, para mim, um fenômeno midiático interessante, conjuntural, pontual, de curto prazo, mas cujo denuncismo cínico contribui muito pouco para a reforma estrutural das nossas instituições democráticas. CI- Como você vê a Itália neste momento histórico? JMGN - Para mim, a Itália é um país de tradições culturais riquíssimas, um dos berços da história ocidental, dentro do processo de ocidentalização do mundo, com uma tradição consolidada em design, luxo, moda e indústria automobilística. Porém, apesar de ser um país latino e mediterrâneo, o seu conservadorismo católico resulta em uma sociedade “A Itália é um dos berços do processo de ocidentalização do mundo, com uma tradição consolidada em design, luxo, moda e indústria automobilística. Apesar de ser um país latino e mediterrâneo, o seu conservadorismo católico resulta em uma sociedade paradoxal” O comediante e político italiano Beppe Grillo é um símbolo da mobilização através das redes sociais que culminou na criação do Partido Movimento 5 Stelle. Ao lado, o ex-premier Silvio Berlusconi desolado. Abaixo, o escritor e sociólogo americano David Riesman que previu uma sociedade massificada Bob Campbell CI- O que mata o indivíduo hoje? JMGN - É este projeto utópico de felicidade ligado ao consumo, ou seja, achar que a felicidade é consumir, ter um monte de bens. Um sociólogo americano, David Riesman, que escreveu a Multidão Solitária, imagina uma sociedade onde todos são iguais e terão acesso a bens, todos massificados. O mercado promete que se você consumir, se ganhar bens, será feliz. Mas a conta não fecha. Trabalhei, acumulei bens, tenho um barco, mas quem vou levar no barco se não tenho amigos e passei a vida inteira trabalhando? Os meus amigos não podem vir porque não têm tempo. A existência contemporânea tem um aspeto trágico. É um drama e não uma comédie de l’art. Pode ter vários cenários: quadro de depressão, tristeza, melancolia, inclusive suicídio, atos extremos, mas que podem ser atos violentos, com destruição coletiva, manifestações de raiva, como uma pessoa que mata 50 num shopping ou 40 alunos em uma escola. Uma coisa é a destrutividade voltada para um indivíduo, outra coisa quando se volta para fora. Giuseppe Bizzarri paradoxal. Nesse sentido, Berlusconi representaria essa “face oculta” da Itália para o turista eventual, como é o meu caso, mas que vocaliza uma poderosa força política e de pensamento dessa Itália conservadora, representada pela Lega Nord, e repleta de episódios de discriminação racial, como o caso recente de uma senadora italiana (Cécile Kyeng), criticada por um colega de Parlamento por causa da cor de sua pele e de resistências à imigração africana. No entanto, o mesmo Berlusconi era um dos principais apoiadores do regime de Khadafi na Líbia, dado os interesses econômicos do empresariado italiano. CI- A sociedade também contribui para haver estes tipos de indivíduos violentos, como o caso de um garoto brasileiro de 13 anos acusado de matar toda a família sozinho? JMGN - É uma válvula de escape. Você tem um aspecto cínico e finge que está tudo bem. Por isso, tenho todo um mercado para reforçar o meu cinismo. Posso fazer terapia,yoga, posso tomar ansiolítico, ter uma alimentação natural balanceada, tomar energéticos, usar drogas. Tudo isso alimenta a economia. Por isso, digo que a luta da resistência não é acabar com o cardápio, mas criar o cardápio: inventar novas possibilidades que podem ser mais solidárias. CI- Você vê algo de novo nestes protestos de rua? JMGN - A gente vive uma ordem ocidental. Em 1529, quando os turcos batem na porta de Viena, há um refluxo religioso. O Ocidente ganhou. Tem um lado religioso nesta ordem capitalista. Nós não o vemos, mas existe. A pergunta é: e se criássemos uma nova ordem baseada em um Estado teocrático, seria uma configuração nova e uma nova utopia, não mais uma utopia do consumo, mas uma utopia voltada para uma vida buscando uma salvação? CI- No final, chegamos ao mistério da vida, onde tudo se repete. JMGN - Utopias que podem ser terrenas e individuais. Nós construímos utopias. O consumo é para consumir agora, porque no futuro nós seremos mortos; ou então, eu vivo esperando uma vida após a morte. São duas utopias possíveis. com unit àit aliana | s etem br o 2013 21 Economia A escolha de Marchionne Entre as ameaças de deslocalizar a produção e os embates com os sindicatos, o CEO da maior indústria automobilística da Itália divide as opiniões dos cidadãos Stefano Buda E De Roma ntre Sergio Marchionne e uma parte da sociedade italiana, existe um “chove não molha”. O administrador delegado do grupo Fiat é uma figura sóbria e pragmática, quase austera. Malha de lã azul-marinho no lugar do terno, pouca vida boêmia, expressão facial sempre séria e escassos sorrisos. É um daqueles dirigentes que, quando fala com um funcionário, desperta temores por ter uma postura de comando, de quem não tem medo de ser impopular e não tem papas na língua. Por trás de uma máscara impassível e aparentemente cínica, de gelo, escondem-se inseguranças e contradições, mas o homem que segura as rédeas e o destino da empresa-símbolo da indústria italiana não pode parecer fraco. Demonstra praticidade — característica dos nascidos na região do Abruzzo — e pragmatismo canadense toda vez que dá alguma declaração que divide e desorienta a opinião pública nacional, acostumada aos discursos cheios de rodeios ou pouco claros da classe dirigente do Belpaese. Não é por acaso que, quando assumiu o lugar mais importante da Fiat, Marchionne travou conflitos com alguns dos segmentos mais relevantes da sociedade italiana: 22 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a primeiro foram os sindicatos, depois a associação dos industriais, portanto também uma boa parte do mundo político e, finalmente, os operários de suas empresas. “Globalização”, “inovação”, “competitividade” e “flexibilidade” são as palavras-chave de sua filosofia. Mas são conceitos que tendem a chocar-se com a rigidez do sistema italiano, preso em uma burocracia asfixiante e minado nas bases por uma crise econômica sem precedentes. — Na Itália, as condições industriais continuam impossíveis. Dispomos das alternativas necessárias para colocar em prática os carros Alfa Romeo em qualquer lugar do mundo — afirmou, em pleno verão. A declaração deu uma forte sacudida em milhões de cidadãos, que só estavam preocupados com o lazer na praia, debaixo do guarda-sol. A mensagem direta e clara soou como uma advertência: se a Itália continuar deste jeito, “estamos prontos para ir embora”. Para alguns, o pretexto seria a decisão da Corte Constitucional, que julgou o processo da Fiom (o ramo metalúrgico da Cgil) contra a Fiat. O recurso, apresentado anteriormente à Corte Constitucional pelo sindicato, foi apenas o último ato de uma longa fase de disputas, começada na era Marchionne e que, depois, atravessou a saída da Fiat de Confindustria, devido a um controvertido acordo sindical que prometia novos investimentos para resguardar a ocupação, em troca de uma maior flexibilidade por parte dos trabalhadores das indústrias italianas. O acordo tinha sido votado em um referendo nas indústrias, e foi aprovado em um clima de grande tensão pela maioria dos trabalhadores. Após intensa resistência, acabou sancionado pelos principais sindicatos da categoria, menos a Fiom, a força mais à esquerda de todos, com o maior número de adesões entre os trabalhadores. A Fiat negou a representação sindical para a Fiom e aplicou o dispositivo do artigo 19 do Estatuto dos Trabalhadores, que a permite somente para os sindicatos que tenham assinado o contrato aplicado na unidade produtiva. A Fiom reagiu e dirigiu-se à Corte Constitucional. Alegou que, naquele caso específico, o artigo 19 entraria em conflito com alguns princípios fundamentais da Constituição e lesava o princípio de solidariedade, igualdade e liberdade sindical. Uma tese que foi aceita pela Corte, cujo pronunciamento sancionou a vitória da Fiom e causou a ira de Marchionne. — Após a sentença da Corte Constitucional, criou-se um vazio que causa incerteza. Deste jeito, é impossível trabalhar, e é impossível gerenciar as fábricas — ressaltou o administrador delegado do grupo automobilístico. Logo depois,veio a ofensiva contra o governo: — Tinham nos prometido que teriam feito alguma coisa, mas até agora nada foi feito. Estamos prontos a procurar outras soluções que possam garantir a operacionalidade das atividades. Em seguida chegou a ameaça, feita nas entrelinhas, de que a empresa de Turim já estaria pronta para deslocar parte da produção para o exterior. Uma declaração de intenções ou uma tentativa de pressionar a Cgil e o governo? Difícil saber. Mas o certo é que o premier Enrico Letta, durante o encontro da cúpula da Fiat, poucos dias depois, no Palácio Chigi, respondeu à altura. — Na Itália, é possível fazer indústria e o governo está trabalhando nisso — observou Letta, de forma gentil, embora com voz decidida, durante o encontro com Marchionne e o presidente da Fiat, John Elkann. Embates com os sindicatos dividem o país A postura da Fiat atrai suspeitas e levanta leituras. Uma das versões diz respeito ao verdadeiro objetivo da empresa de Turim, que seria obrigar o Executivo a promulgar uma lei ad hoc que preveja sanções contra os sindicatos que não respeitarem os acordos. Seria uma forma de neutralizar a frente mais intransigente, ligada à Fiom. Mas este é um caminho que seria difícil de seguir. O Partido Democrático, principal acionista do governo, não pode ser dar ao luxo de convergir a respeito de posições antissindicais para não irritar a sensibilidade de seus eleitores, já incomodados pelas recentes escolhas do partido, o que aconteceu por causa das fortes ligações entre o Pd e a Cgil. De fato, não é um acaso que Gugliel- Das escolhas estratégicas que o executivo fará nos próximos meses, depende o destino do grupo e de milhares de trabalhadores mo Epifaci, ex-secretário geral do sindicato, é agora o secretário nacional do Pd. Tem um fio lógico e coerente, que justifica as afirmações do dirigente mais bem pago da Itália. Já sofreu uma tentativa de deslegitimação do sindicato mais radical, a acusação de ser liberal demais, no que diz respeito às relações industriais, por ter chamado a atenção dos funcionários ausentes e por ter criticado os atrasos da política. Cada saída é um embate de frente, finalizado a desmantelar os verdadeiros tabus da sociedade italiana. Os embates travados dosam ameaças e promessas: por um lado, a ameaça de fechar tudo e começar a produzir no exterior; por outro, promete fazer mais investimentos para garantir um futuro para as fábricas italianas. Uma estratégia que pode ter uma dupla interpretação e já rachou o país em duas partes. Para a metade dos italianos, o número um do grupo Fiat é um genial inovador, que quer modernizar o universo da indústria nacional e está fazendo qualquer esforço para manter a empresa na Itália. Para a outra metade, trata-se de um cínico calculista que lidera uma empresa que, durante décadas, drenou as verbas públicas do país, e agora procura a forma mais elegante de sair de cena e abrir fábricas no exterior. As próximas iniciativas, já no outono, irão fornecer maiores indicações sobre as reais intenções da Fiat. Mas, como acontece com frequência, a verdade poderia estar no meio do caminho: deslocalizar a produção é fácil, mas a italianidade da marca representa um valor agregado, que faltaria se a escolha recaísse no fim da ligação com o país de origem. A jogada de apostas mais altas de Marchionne permanece visível diante de todos, mas poderia terminar de forma simples, com a tentativa de conseguir condições operacionais mais vantajosas para aumentar a competitividade industrial do grupo. O outro lado da moeda são os elevados custos sociais, que os trabalhadores correm o risco de pagar, especialmente o plano da perda de seus direitos. Além disso, os investimentos, neste momento, estão estagnados, apesar das contas do grupo indicarem, nos últimos tempos, uma tímida embora promissora inversão de tendência. Na Europa, no segundo trimestre deste ano, as perdas se reduziram até ficarem à metade do mesmo período de 2012: o lucro líquido do trimestre subiu de 239 para 435 milhões de euros, o lucro da gestão ordinária passou de 947 milhões a mais de 1 bilhão de euros, e as receitas aumentaram de 21 a 22 bilhões de euros. Porém, a controlada norte-americana Chrysler teve que reavaliar as previsões das vendas de fim de ano, reduzindo-as de 3,8 para 3,3 bilhões de dólares, o que causou, nas últimas semanas, a queda momentânea dos títulos da Fiat. Das escolhas estratégicas que Marchionne fará nos próximos meses irá depender o destino do grupo — e de milhares de trabalhadores. com unit àit aliana | s etem br o 2013 23 Economia Aposta no setor elétrico O diretor da Cesi no Brasil, Paulo Cesar Vaz Esmeraldo, explica por que a empresa italiana decidiu abrir uma sede no Rio de Janeiro e fala sobre o futuro da energia no Brasil em entrevista à Comunità Stefania Pelusi H á poucos meses, a empresa italiana Cesi, líder mundial em consultoria e testes de sistemas energéticos, abriu o seu primeiro escritório na América Latina, na capital fluminense, para criar uma nova expansão na região e demonstrar o seu meio século de experiência no setor. No escritório localizado no centro da cidade, com vista para o mar da janela do 23º andar, respira-se um ar novo. A empresa ainda está terminando o processo de contratação de funcionários, que deverão ser entre 30 a 40 pessoas nos próximos quatro anos. — Pretendemos ter uma equipe brasileira de pessoas jovens e experientes. A ideia é fazer um treinamento com as pessoas mais novas, baseado na experiência italiana, trazendo tudo aquilo que for necessário da Itália, como um engenheiro ou um especialista para completar a equipe — declara o novo diretor da empresa, o engenheiro Paulo Cesar Vaz Esmeraldo. Experiente técnico do setor elétrico, Esmeraldo começou sua carreira em 1973 e tem passagens por Furnas, Eletrosul e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Além disso, atuou 24 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a como professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e no Instituto Militar de Engenharia (IME), instituição em que lecionou de 1975 até 1990. O diretor no Brasil explica que a Cesi nasceu em 1956, em Milão, como um centro de excelência em tecnologias do setor elétrico. Já era conhecida no mercado brasileiro através dos serviços de consultoria para o projeto de transmissão de 2300 km do Rio Madeira e o sistema de monitoramento da Usina de Itaipu. — Da Itália, a empresa estava acompanhando o sucesso da energia elétrica. Resolvemos apostar no mercado brasileiro, instalando uma sede no Rio de Janeiro para poder atingir não só o Brasil, como também outros países importantes da América do Sul, a exemplo de Chile, Argentina, Colômbia e Peru — ressalta o engenheiro catarinense que se declara carioca de coração. A companhia espera alcançar um faturamento anual de €10 milhões no Brasil dentro de quatro anos e atualmente negocia contratos para prestar serviços para projetos de smart grid (redes inteligentes), linhas de transmissão de longas distâncias e energias renováveis — que constituem os três focos da empresa. — O mercado brasileiro está em franca efervescência de crescimento. Há um espaço muito grande para empresas como a nossa neste momento. Logicamente, a concorrência existe, mas não podemos deixar de lembrar que somos uma expressão mundial bastante importante — diz Esmeraldo, afirmando que “quando o setor elétrico soube da chegada da empresa, já existia uma procura dos serviços”. O diretor é muito otimista sobre o mercado elétrico brasileiro e defende os custos da energia. — Em termos de reimplantação, geração e sistemas de transmissão, o Brasil está indo muito bem. Lógico que existem alguns atrasos que são alvos das maiores críticas, mas são muito mais decorrentes de exigências ambientais. O Brasil está instalando de três a quatro mil linhas de transmissão por ano, e as usinas implantam cerca de três a quatro mil megawatts por ano. É um crescimento espantoso — afirma o engenheiro. Em relação aos custos elevados da energia elétrica no país verde-amarelo, ele os justifica com a motivação de que o Brasil é uma nação em expansão. — Se compararmos com outros países, a energia elétrica no Brasil não é considerada das mais caras. Aqui, houve incentivos do governo para diminuir o valor, mas isso só vai ser sentido a médio e longo prazo — aponta Paulo Cesar que, antes de ingressar na companhia, trabalhou por oito anos na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) como superintendente de transmissão de energia. Entre os serviços da consultoria de Milão, existe também o setor das energias renováveis, um campo em “franca expansão”. De acordo com o diretor, o próximo passo do governo brasileiro é investir e promover as energias fotovoltaica e solar. — A Itália está alguns anos à frente em relação ao uso da energia solar e eólica. Já estamos em contato com empresas daqui para fazermos estudos mais detalhados sobre a injeção de energia eólica no sistema elétrico brasileiro — revela Esmeraldo, que nunca teria imaginado se tornar o gerente no Brasil da empresa que foi objeto de pesquisa, há 30 anos, durante uma das suas visitas à Itália. O foco da Cesi são as usinas de energias solares a partir de 5 megawatts, área em que já possui uma grande experiência. No portfólio de clientes, aparecem nomes como Enel, a primeira empresa que substituiu os medidores eletromecânicos por outros elétricos, e a Endesa, a maior empresa de serviços públicos elétricos na Espanha. Executivo defende o uso da energia nuclear como fonte limpa O gerente do escritório no Brasil não descarta a possibilidade de oferecer serviços para a Enel Green Power brasileira, atuante no setor de energias renováveis. Segundo o engenheiro, o país deve pensar no futuro porque “num determinado momento, as nossas fontes de energias renováveis, como é o caso das hidroelétricas, vão se exaurir”. Na sua visão, a usina nuclear, em longo prazo, pode ser o tipo de geração que vem para facilitar a vida dos brasileiros, pois no país a quantidade de reserva de urânio é expressiva. — Então, por que não fazer uso da energia nuclear, ainda mais no momento que estão estabelecendo-se as usinas de nova geração intrinsecamente seguras, onde os acidentes são reduzidos praticamente a zero? O Brasil tem que investir em energia nuclear porque é a energia limpa do futuro. Um dos outros focos da empresa italiana são as smart grids. A empresa faz projetos e supervisiona os medidores digitais e espera levar o desenvolvimento dos sistemas de redes inteligentes no Brasil. — Já existem empresas que estão avançando neste setor, como a Light no Rio de Janeiro e a Ampla O engenheiro Paulo Cesar Vaz Esmeraldo, diretor da Cesi para América Latina, acredita no potencial do mercado brasileiro através da tecnologia italiana em sistemas energéticos em Niterói. Por isso, estamos avaliando também outras cidades que vão começar a testar as especificações desses produtos — adianta A empresa tem um mercado cativo na Itália, onde fica a sua sede principal. Movimenta um volume de negócios anual de mais de 120 milhões de euros, opera em mais de 40 países em todo o mundo e possui uma rede total com mil profissionais. — Para manter um mercado forte, investir no exterior é uma estratégia. Além do escritório principal em Milão, há dois laboratórios de testes na Alemanha e, há dois anos, abrimos um escritório em Dubai para captar os negócios na Arábia Saudita. Há poucos meses abrimos essa sede aqui no Rio para expandir o nosso mercado no continente — finaliza o diretor, entusiasmado com o desafio de consolidar de forma definitiva a empresa no país. Para Paulo Cesar, trabalhar com os italianos é um prazer, pois é uma cultura “muito parecida com a do Brasil”. Ele contou que frequenta um curso de italiano para conversar mais à vontade com os funcionários e diretores do Cesi, em vez de usar o habitual inglês. “Abrimos esta sede no Rio para poder atingir não apenas o Brasil, como também outros países importantes da América do Sul, a exemplo de Chile, Argentina, Colômbia e Peru” com unit àit aliana | s etem br o 2013 25 Economia Raio-X na balança Na primeira metade de 2013, saldo do comércio entre os dois países revela vantagem para o mercado italiano Caroline Pellegrino O De São Paulo s setores de tecnologia e inovação foram os principais responsáveis por manter o saldo comercial bilateral favorável à Itália em US$ 1,16 bilhões (cerca de R$ 2,7 bilhões) no primeiro semestre de 2013. Os principais produtos que caracterizaram as exportações para o Brasil foram maquinários, componentes automotivos, produtos químicos, farmacêuticos, motores e automóveis. No que se refere às exportações brasileiras para a Itália, podem ser citados os metais ferrosos, produtos agrícolas, papel, artigos de couro e carne. — Nessa primeira metade do ano, houve uma melhoria nas relações comerciais, depois da desvalorização cambial do real, entre outros fatores — afirma o secretário-geral da Itália: direção das exportações O secretário-geral da Italcam, Francesco Paternò, otimista com a relação comercial entre Brasil e Itália US$ bilhões País 2012 Porcentagem do total 2013 (jan-abr) Porcentagem do total Alemanha 62,3 12,4% 21,3 12,8% França 55,1 11,0% 18,9 11,3% Estados Unidos 34,2 6,8% 10,8 6,5% Suíça 29,5 5,9% 9,8 5,9% Reino Unido 24,1 4,8% 7,8 4,7% Espanha 23,3 4,7% 7,6 4,5% Turquia 13,5 2,7% 4,0 2,4% Bélgica 13,1 2,6% 5,2 3,1% Rússia 12,8 2,6% 4,3 2,6% Países Baixos 11,8 2,4% 3,9 2,3% Brasil 6,38 1,3% 2,08 1,2% Subtotal 286,1 57,1% 95,7 57,5% ... Outros países 215,1 42,9% 70,7 42,5% Total 501,2 100,0% 166,4 100,0% Elaborado pelo MRE/DPR/DIC - Divisão de Inteligência Comercial, com base em dados da UNCTAD/ITC/COMTRADE/Trademap, August 2013. As exportações italianas são destinadas, em grande parte, aos vizinhos da União Europeia, que absorveram 53,1% da pauta em 2012. A Alemanha foi o principal destino das vendas, com participação de 12,4%, seguida da França (11%), Estados Unidos (6,8%); e Suíça (5,9%). O Brasil foi o 17º destino das exportações italianas: 1,3% do total. 26 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura (Italcam), Francesco Paternò. O conselheiro econômico e comercial da Embaixada da Itália em Brasília, Cristiano Musillo, explica à Comunità que o aumento foi de 111% em relação ao mesmo período de 2012 (US$ 0,55 bilhões): — O resultado foi praticamente duplicado, de acordo com os dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro (MDIC) — completa. Segundo Musillo, esse cenário foi fruto de diferentes fatores, como “o efeito da crise econômica internacional, que ainda persiste em vários países europeus; algumas condições internas brasileiras, o fenômeno da desindustrialização e da menor competitividade, e a necessidade de aumento das importações brasileiras de produtos refinados do petróleo. — Além disso, ainda houve variações das commodities exportadas pelo Brasil, com os preços fixados pelos mercados internacionais — analisa. Entre 2003 e 2012, o intercâmbio comercial entre Itália e Brasil registrou um aumento de cerca 170%. As relações mercadológicas entre os dois países registram, portanto, um progressivo crescimento graças à complementaridade dos seus sistemas produtivos. Entre as regiões brasileiras que mais receberam produtos italianos, destaca-se o estado de São Paulo, com mais de 50% das filiais produtivas e comerciais de empresas italianas que operam no Brasil. Vale lembrar o papel de protagonista do Porto de Santos, responsável por uma cota substancial do intercâmbio bilateral neste estado. O restante foi articulado, sobretudo, nos estados das regiões Sul e Sudeste. Entretanto, a melhora na infraestrutura do Norte e do Nordeste também atraiu novos investimentos italianos, como a FIAT em Pernambuco. — Para os próximos meses do ano, é possível prever um incremento das exportações brasileiras, não apenas devido à recente tendência de valorização do euro frente ao real, mas principalmente pelos sinais de retomada que se registram nos mercados europeus e, mais especificamente, no italiano — espera Musillo. O representante da Italcam também destacou o interesse maior do empresariado italiano em relação ao Brasil. — Esse aspecto se manifesta na vontade de investimento, de criar joint venture e na parceria em outros mercados. Há potencial na criação de acordos bilaterais e de complementação de setores com tecnologia — afirma Paternò. Segundo os entrevistados, o Brasil está tentando importar cada vez mais tecnologia relacionada à sustentabilidade ambiental e já mostrou interesse em comprar da Europa. — Inicia-se, com perspectivas positivas, a exportação italiana no que se refere aos equipamentos e maquinários dos setores fotovoltaico, economia verde e náutico, áreas que foram objeto de recentes seminários organizados pela Embaixada junto a outros atores importantes do Sistema Itália no Brasil, como os Consulados, a Agência para Promoção e Internacionalização das Empresas Italianas no Exterior – ICE e as Câmaras de Comércio — reforça Musillo. Otimismo com o governo Letta O governo italiano também vem adotando numerosas medidas para favorecer a retomada do processo de crescimento da economia. A posse do novo primeiro-ministro italiano Enrico Letta, em abril, também agradou ao setor comercial e é outro indicador de estreitamento na relação bilateral. — O ex-deputado é jovem, é um técnico e bem menos político do que os seus antecessores. Letta se encontra em uma situação mais favorável, pois as medidas que o país adotar não serão uma questão de escolha e, sim, necessárias para manter a Itália entre as maiores economias do mundo. Não temos dúvida de que os laços de negócios vão aumentar ainda mais com o mercado brasileiro — comenta Paternò. Do ponto de vista do empresário italiano, o Brasil é considerado O conselheiro econômico e comercial da Embaixada da Itália em Brasília, Cristiano Musillo, ressalta a retomada do mercado italiano e alerta para a necessidade de reformas estruturais no Brasil “Para os próximos meses, podemos prever um incremento das exportações brasileiras devido à recente tendência de valorização do euro frente ao real e principalmente pelos sinais de retomada dos mercados europeus e italiano” Cristiano Musillo, conselheiro econômico e comercial da Embaixada da Itália em Brasília estratégico por sua localização e importância econômica, mas a instabilidade política enfrentada pelo país, nos primeiros meses do ano, representou um obstáculo para o comércio internacional. — O país registrou o pior primeiro semestre dos últimos 20 anos no balanço de pagamento, que é um instrumento referente à descrição das relações comerciais com o resto do mundo, isso sem falar nos custos da máquina pública que dificultam a entrada de investimento — relembra o secretário-geral da Câmara Ítalo-Brasileira de São Paulo. Dados do Banco Central do Brasil (Bacen) ratificam o resultado do balanço de pagamentos, que apresentou déficit de US$1,3 bilhão em junho. Essa perda foi agravada, principalmente, com a crise internacional que fez com que o Brasil vendesse menos commodities para o exterior, incluindo a Itália. O secretário da Italcam ainda reforçou a importância da estabilidade interna brasileira para o crescimento das relações externas. — A economia do Brasil, até o fim do ano, vai depender muito das decisões políticas, da redução de custos e da melhora na qualidade dos ministérios. Se o país não eliminar o inchaço da máquina pública, prevemos um fim de ano nada animador — alerta. com unit àit aliana | s etem br o 2013 27 Mercado Negócios nas alturas Segunda maior feira de aviação do mundo reúne 14 mil pessoas em São Paulo e empresas italianas mostram suas novidades Caroline Pellegrino S essenta e oito aeronaves pousaram no Aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, entre os dias 14 e 16 de agosto, para o maior encontro brasileiro da aviação e o segundo maior do planeta. A décima edição da Labace (Latin American Business Aviation Conference & Exhibition) reuniu modelos de até US$ 65 milhões, além de promover negócios, relacionamento e lançamento de tendências. Em uma área de aproximadamente 15 mil m², a feira perde apenas para a americana, organizada pela NBAA (National Business Aviation Association). A Labace contou com 180 expositores, representados pelos principais fabricantes do mundo. Entre os dez maiores mercados do mundo, o Brasil representa uma fatia expressiva de vendas para o setor e a Labace consolida-se como uma oportunidade para concretizar negociações, pois muitos compradores fecham a compra de helicópteros e aviões na própria feira. — Prova do sucesso da Labace, em termos de vendas, está no fato de termos os principais fabricantes do mundo aqui e eles terem trazido mais aeronaves este ano, ocupando espaços de exposição cada vez 28 maiores — disse o diretor executivo da ABAG (Associação Brasileira de aviação Geral), organizadora da feira, Ricardo Nogueira. A chuva e o frio, nos dois primeiros dias, dispersaram parte do público, mas a ensolarada sexta-feira de encerramento atraiu mais pessoas do que o esperado. Entre os modelos expostos, estava mais em conta o Cirrus – SR22, que custava em torno de US$ 795 mil, com capacidade para cinco pessoas e mais de 65 kg de bagagem. Já a opção mais cara foi o G650 da Gulfstream, por US$ 65 milhões. AgustaWestland vai abrir novo estabelecimento em São Paulo em 2014 A AgustaWestland, empresa anglo-italiana de helicópteros, participou pela primeira vez da Labace e esteve presente no estande 6106 , com três helicópteros: o AW119 de um motor e espaço para oito passageiros; o GrandNew, bimotor com a mesma capacidade de assentos; e o AW169, um novo modelo que será produzido a partir de 2014. A companhia anunciou expansão de suas instalações no Brasil e a construção de uma nova unidade em São Paulo, s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Acima, o pavilhão da Agusta Westland, no aeroporto de Congonhas. Abaixo, o modelo P180 Avanti II da italiana Piaggio Aero que inclui hangares para manutenção, com espaço que poderá acomodar uma linha de montagem final de helicópteros, centro de treinamento, entreposto aduaneiro, oficinas e serviços de apoio, incluindo um heliporto. O estabelecimento deve ficar pronto até o fim de 2014. A AgustaWestland possui mais de 180 helicópteros comerciais que operam no Brasil, realizando funções como o transporte corporativo e transporte offshore. Cerca de 30 helicópteros AW139 já estão sendo operados, principalmente junto à indústria brasileira de petróleo e gás. Além disso, mais de 140 AW109 e GrandNew estão operando no mercado corporativo e de transporte VIP. O CEO da AW, Daniele Romiti, explica à Comunità o plano, enquanto esteve em São Paulo: — O Brasil é um mercado muito importante e crescente para a AgustaWestland, por isso dá um grande prazer poder anunciar este plano, à medida que continuamos crescendo o nosso negócio, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Esta nova e maior instalação permitirá aumentar a nossa presença industrial para montar helicópteros no país, o que demonstra o nosso compromisso de longo prazo para a região e nossos clientes. Já no estande 6105, a italiana Piaggio Aero estava representada pela Algar Aviation e contou com a presença de Enrico Sgarbi, executivo de relações públicas da Piaggio, além de membros da Piaggio América. Este foi o terceiro ano que a Piaggio participa da feira. A companhia trouxe um modelo para o público brasileiro, o P180 Avanti II. — A Labace 2013 superou a edição do ano passado em qualidade de contatos, porém, em número de, se mostrou mais fraca nos primeiros dias devido ao frio e à chuva, mas foi válido como um todo para as negociações — comentou Andressa Mundim, responsável pelo marketing da Algar Aviation, representante da Piaggio Aero no Brasil. Para o próximo ano, o evento vai acontecer entre os dias 12 e 14 de agosto, com uma mudança: será de terça a quinta-feira, e não mais de quarta a sexta. A expectativa é seguir cada vez mais as tendências do segmento, com alta qualidade de visitantes e elevado volume de negócios. Mercado Silva, conversou com os jornalistas através de uma videoconferência de Belo Horizonte, Minas Gerais. — Recebemos uma carta com os cumprimentos do primeiro ministro italiano Enrico Letta pelo aniversário da OIC. Acredito que a Expo 2015 e a Mostra Cultural do Café sejam grandes oportunidades para se contar a história do café no mundo — ressaltou Robério. Sebastião Salgado e o cultivador José Carlos Grossi serão os dois embaixadores do Brasil para o tour que terminará em Milão, em janeiro de 2015. A iniciativa envolve também, em cada país por onde passa, um personagem local que interpreta os valores que caracterizam o mundo Illy. O tour do café Illy organiza um tour que vai passar por nove cidades em três continentes como uma prévia da Expo 2015 Gina Marques O De Roma s preparativos para a Expo 2015 em Milão estão a todo vapor. Com o tema Nutrir o planeta – Energia para a vida, a Exposição Universal promete despertar a consciência humana através da educação e da criatividade sensível aos valores ambientais. Participarão do evento 132 países. O Brasil, segundo os organizadores, está definindo os últimos detalhes do seu pavilhão. Como se trata de nutrição e energia, não poderá faltar o café. A torrefadora Illy abraçou o projeto da Expo 2015 e prepara o seu Estande do Café. Mas, antes da exposição, a gigante italiana conhecida pelo expresso perfeito já começou a divulgar em diversos países a Mostra Cultural Global do Café. O tour parte de Belo Horizonte, na ocasião da comemoração dos 50 anos da fundação da Organização Internacional do Café (OIC), a principal organização inter governativa que une países exportadores e importadores. A mostra tem uma série de fotos de Sebastião Salgado, realizadas especialmente para a Illycaffè a partir Pavilhões da Expo 2015 estarão localizados de acordo com a cadeia de produtos O delegado do governo da Itália para a Expo 2015, Giuseppe Sala, explicou alguns detalhes da exposição em Milão: — Em Shangai 2010, onde aconteceu a última Exposição Universal, os pavilhões estavam localizados de acordo com a geografia. Agora passamos da geografia à cadeia de produtos — contou. Para organizar a Expo 2015, o custo estimado é de 1.746 milhões de euros, um investimento que inclui a construção dos espaços expositivos, vias de acesso ao território circunstante, tecnologia, segurança e infraestrutura. — Em compensação, o benefício é estimado em 5 bilhões de euros — disse Giuseppe Sala. As etapas da Mostra Cultural Global do Café de 2002, contando a realidade rural dos cultivadores em diversos lugares do mundo. Trata-se de uma longa reportagem que Salgado fez em homenagem a pessoas com diferentes histórias, paisagens e tradições ligadas aos países produtores. — O tour começa pelo Brasil como reconhecimento do importante trabalho da OIC, um ponto de referência do mercado. Além disso, eu me sinto afetivamente ligado ao Brasil como uma segunda casa — contou o presidente da Illycaffè, Andrea Illy, à Comunità. Em Roma, durante uma apresentação sobre a participação da Illy na Expo 2015 e da Mostra Cultural Global do Café, o diretor executivo da OIC, Robério Oliveira O tour do café começou em 9 de setembro na capital mineira. A previsão é que dure 20 meses e passe por nove cidades em três continentes, antes da inauguração da Expo Milão 2015, que acontece de 1º de maio a 31 de outubro. Além da exposição, o evento conta com palestras educativas e análises sensoriais. Com um diferente tema para cada etapa, o evento vai passar pelas seguintes cidades: 2014 Nova York (fevereiro) Seul (abril) Shanghai (junho) Bogotá (setembro) Dubai (outubro/novembro) 2015 Londres (fevereiro) Berlim (março) Paris (abril) com unit àit aliana | s etem br o 2013 29 Notícias A volta dos cérebros emigrantes A região Emilia-Romagna aprovou um decreto para trazer de volta os “cérebros” que foram em busca de oportunidades no exterior. A região fornece os recursos econômicos para ajudar os alunos que se formaram fora da Itália e que querem fazer um máster na universidade de Bologna, Ferrara, Modena-Reggio, Parma, Piacenza ou na Católica del Sacro Cuore, em Milão. Os beneficiários das bolsas são principalmente os emigrantes e os descendentes de emigrantes da Emilia Romagna residentes no exterior, porém são admitidos também os jovens de outras regiões, desde que sejam “expressão da comunidade de compatriotas no exterior, ou ligado a eles”. A iniciativa prevê cinco mil euros aos que estiverem na Europa e seis mil aos residentes em outros continentes. Torre de Pisa no lugar A Torre de Pisa continua seu lento e constante caminho de “realinhamento”. Segundo o relatório anual do Grupo para o Acompanhamento da Torre de Pisa, entre 2001 e 2013 o monumento recuperou cerca de 2,5 centímetros de sua inclinação. As ações mais importantes para os avanços foram realizadas a partir de 1992, com a intervenção do professor Michele Jamiolkowski, que posicionou no primeiro andar da Torre 18 cabos de aço de 2 centímetros de diâmetro, como medida temporária de reforço estrutural. Além disso, as intervenções no solo abaixo da Torre permitiram a extração de blocos de pedras de 150 anos, a substituição foi feita com uma trave de concreto armado e a ancoragem com cabos de aço a uma profundidade de 52 metros. Em janeiro de 1999 foi realizada a obra definitiva para a estabilização, criando um “berço” de baixo da base da Torre do lado oposto da inclinação, conseguindo, dessa forma, reduzi-la. A Torre foi reaberta ao público em 2001 e, segundo os peritos, agora está em segurança para os futuros dois ou três séculos. Termina a era Bertone P apa Francisco confirmou a substituição do poderoso cardeal Tarcisio Bertone, o histórico secretario de Estado do Vaticano, pelo veterano diplomata da Cúria, o cardeal Pietro Parolin. A era Bertone, o “numero 2” da cúpula da Igreja, oficialmente terminará no dia 15 de outubro. O novo nomeado tem 58 anos e é considerado relativamente jovem para o posto. Segundo os especialistas ele pode dar maior visibilidade à Igreja no cenário mundial. Antes deste cargo Parolin era enviado do Vaticano à Venezuela e também trabalhava para reforçar os laços com a China. Ele já havia sido enviado no México e na Nigéria e trabalhou com questões sensíveis da Igreja, incluindo as relações diplomáticas com Israel. Bertone, de 78 anos, manterá outras atribuições, como liderar uma comissão de cardeais que monitora as operações do Banco do Vaticano. 30 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Despedida de Massa será em Interlagos O brasileiro Felipe Massa vai deixar a equipe Ferrari. O anúncio foi feito pelo próprio através da rede social Twitter. Não disse se vai para outra equipe, confirmou apenas que disputará as sete provas que faltam. Massa foi contratado como piloto de testes e em 2001 foi emprestado à Sauber. Em 2006 retornou e disputou 132 Grandes Prêmios na escuderia, oito temporadas. Só Michael Schumacher, o heptacampeão, correu mais vezes pela Ferrari. Foram quinze pole-positions e 11 vitórias. Nunca ganhou um campeonato, o mais próximo foi em 2008 quando perdeu o título para Lewis Hamilton por apenas um ponto. Em 2009, sofreu um grave acidente na Hungria e nunca mais venceu. Massa se despede da Ferrari, após 12 anos, na pista onde foi pole-position e venceu pela última vez. Em Interlagos, diante da torcida brasileira, no dia 24 de novembro. Brasil mais feliz que a Itália N o Relatório Mundial de Felicidade das Nações Unidas (ONU), o Brasil avançou uma posição neste ano e figura em 24º lugar, à frente de potências como França e Alemanha. Entre os cinco países mais felizes, a Dinamarca manteve a liderança no ranking de 156 países, seguida por Noruega, Suíça, Holanda e Suécia. O Belpaese caiu para a 45ª posição na classificação geral, entre a Eslovênia e a Eslováquia. Os economistas, psicólogos e estatísticos da ONU levaram em consideração itens como generosidade, expectativa de vida, Pib per capita, liberdade para fazer escolhas na vida pessoal, apoio social e percepção da corrupção. De volta pra casa A pós cinco meses, o enviado especial do diário italiano La Stampa, Domenico Quirico, foi libertado no dia 8 de setembro. O jornalista de 62 anos foi sequestrado em abril na Síria. “Foi uma experiência terrível, cinco meses são longos, porém consegui. Me sinto como se tivesse estado em Marte, agora estou de volta na Terra e fiquei sabendo de algumas notícias de como o mundo evoluiu. Peço desculpa, mas a minha idéia de jornalismo é de ir aonde as pessoas sofrem e às vezes tem que sofrer com eles”, disse Quirico. Ele foi sequestrado e libertado junto com o professor e escritor belga Pierre Piccinin. Eles tentaram a fuga duas vezes, mas foram capturados novamente. Adeus Bevilacqua M orreu aos 79 anos, o escritor e cineasta italiano Alberto Bevilacqua na capital italiana. Ele completaria 80 anos no dia 27 de junho do próximo ano. Ele estava hospitalizado na clínica Villa Mafalda desde outubro de 2012 por problemas cardíacos. Bevilacqua era um autor muito popular na Itália e entre os seus livros mais famosos, La Califfa (traduzido como A Rebelde em português) foi adaptado para o cinema em 1970. O próprio autor dirigiu o longa-metragem. Adepto do realismo fantástico, o escritor focou sua obra em questões como o inconsciente. Nascido em Parma, recebeu vários prêmios literários italianos, incluindo o Strega, em 1968, por “L’occhio del gatto”. Política A herdeira a abandonar a cena, seu sucessor poderá ser, única e exclusivamente, outra Berlusconi: a filha Marina. A filha mais velha, cujas Analistas apontam a poderosa mãos concentram um presidente da Fininvest como a provável grande volume de capitais e mais fiel sucessora de Silvio Berlusconi e poder empresarial Stefano Buda A De Roma condenação de Silvio Berlusconi, a provável perda do seu mandato parlamentar e sua inelegibilidade para as próximas eleições devem provocar em breve um vazio na centro-direita e abrir caminho para a sucessão. Muitos no Pdl articulam para tornarem-se protagonistas da cena do atual cenário político italiano. Ou seja, por debaixo dos panos, tentam se tornar protagonistas. Como o secretário Angelino Alfano, várias vezes indicado como hipotético candidato a primeiro-ministro por Berlusconi e, a mesma quantidade de vezes, ainda que colocado à sombra mais uma vez, ao ponto de ganhar a adesão da defensora por excelência, Daniela Santanchè, um exemplo da ala mais intransigente do seu partido, aos muitos ex-coronéis de Força Itália e Aliança Nacional, como Brunetta e Quagliariello. São poucas, porém, as personalidades à altura desta tarefa. Fundamentar a principal força política da centro-direita sobre a fidelidade ao chefe e afastar, ao longo dos anos, qualquer figura que tentasse diminuir a sua importância, foi uma escolha estratégica do próprio Berlusconi. E não só isso: o ex-premier confia somente nele mesmo e sabe perfeitamente que, na política, a fidelidade ao chefe nunca é eterna. Portanto, se, como é provável, for obrigado Ambos são muito ligados, tanto por causa dos óbvios sentimentos entre pai e filha, quanto pelos comuns e enormes interesses de família. Dos cinco filhos dos dois casamentos, Marina é a que mais se parece com o pai. Filha mais velha, nascida em 1966 da união entre Silvio Berlusconi e membro dos conselhos de administração de Mediolanum, Medusa Film, Mediaset e Mediobanca. É praticamente o braço direito do pai. Até agora, em todas as ocasiões em que foi questionada pela imprensa italiana, Marina Berlusconi negou categoricamente que estivesse disponível para um compromisso direto na política. Poderia até parecer a recusa de um papel que implica uma superexposição midiática, quase sempre portadora de grandes problemas, como mostra a história do pai. Porém, provavelmente, estamos diante de uma manobra estratégica e somente interlocutória: a eventual indicação de Marina poderia enfraquecer a figura do pai, exatamente no momento em que ele luta com todas as suas forças na batalha política posterior à sua condenação. No entanto, quando ficar claro que o ex-premier está fora do páreo, haverá espaço para o elemento surpresa. Afinal, Marina Berlusconi é a única figura em condições de lutar com a mesma obstinação interesseira do pai em defesa dos interesses da família. Como ele, quase 20 anos atrás, que decidiu chefiar um partido para defender — e até aumentar — o império econômico da família. O poder midiático e as disponibilidades econômicas para dramatizar o voto e encenar uma imponente retórica berlusconiana, certamente, não lhe faltariam. Porém, é quase certo que estamos diante de uma jogada estratégica somente interlocutória. Marina representaria um poderosíssimo estereótipo italiano: a boa filha que, até contra a sua vontade, é obrigada a sacrificar-se pelo pai, aceitando lutar em defesa dele. Silvio Berlusconi, talvez no exílio dourado de sua residência, em Arcore, onde, daqui a alguns meses, poderia aceitar ficar para cumprir a Aos 47 anos, Marina Berlusconi até agora nega que pretenda entrar na política, mas há quem avalie sua posição como estratégia para não enfraquecer a figura do pai em um momento em que o ex-premier ainda luta com todas as suas forças após a condenação por fraude fiscal e Carla Elvira Lucia Dall’Oglio, foi batizada com o nome de Maria Elvira, mas escolheu ser chamada de Marina. Aos 47 anos, tem em suas mãos uma enorme concentração de capitais e poder empresarial: é presidente da Fininvest, do grupo Mondadori, sua pena de prisão domiciliar, teria como acrescentar mais pathos, aparecendo no debate eleitoral como perseguido e exilado. Uma mistura dramatúrgica e irresistível, que poderia criar situações tais para uma nova epopeia berlusconiana. com unit àit aliana | s etem br o 2013 31 Política Por um fio Se o Pd votar pela perda do mandato de Berlusconi, o Pdl irá se retirar do governo, o que deixa o destino de Letta intimamente ligado ao do ex-premier Stefano Buda A De Roma sobrevida do governo Letta está pendurada por um fio. O corte do Imu (o imposto municipal sobre a primeira casa) deu oxigênio ao Poder Executivo, mas o desenvolvimento do caso Berlusconi poderia levar à saída definitiva da centro-direita do governo. Mas, neste momento, não haveria perigo de uma crise. O premier Enrico Letta aceitou os insistentes pedidos da centro-direita, que tinha usado o corte do Imu como bandeira da coligação durante a campanha eleitoral. Uma manobra que desarticulou a ação de francos atiradores que, principalmente na centro-direita, mas também na centro-esquerda, estavam trabalhando para deflagrar uma crise de governo. Os problemas, porém, logo irão aparecer. Com efeito, a Junta para as eleições no Senado foi chamada para decidir a respeito da perda do mandato parlamentar de Silvio Berlusconi. É um dos efeitos da sentença definitiva, que condenou o número um do grupo Mediaset a quatro anos de reclusão por fraude fiscal. Berlusconi, como todos sabem, não irá para a prisão: favorecido pela lei da comutação de pena, deverá cumprir somente um ano e poderá escolher entre a prisão domiciliar, ou ficar sob a tutela dos serviços sociais. Todavia, irá perder o direito a participar das próximas eleições e sofrerá a perda do mandato parlamentar. A Junta para as eleições, em teoria, é chamada para aplicar um simples mecanismo jurídico, que não deixa espaço para alternativas: a lei Severino prescreve claramente que os cidadãos condenados a mais de dois anos perdem o direito a ter uma cadeira no Parlamento. Porém, Berlusconi e seus acólitos estão tentando politizar a decisão da Junta e pedem uma solução em defesa do líder. Afirmam que, em caso contrário, estariam prontos 32 para retirar o apoio ao governo. O bolo está mais enrolado do que parece e chama em causa os interesses da família do Cavaliere. É suficiente saber que, no final de agosto, no momento em que o Pdl parecia estar deflagrando a crise, os títulos do grupo Mediaset perderam 150 milhões de euros em quatro horas. Exatamente naquele momento, Berlusconi mandou seus seguidores baixarem o tom, ajudado nesta tarefa pela decisão de Letta de abolir o Imu. A linha de conduta do ex-premier, no entanto, continua a mesma: — Não iremos à frente neste governo junto com uma esquerda que pode intervir para impedir que o líder do centro-direita faça política. Portanto, se o Pd votar na perda do mandato, o Pdl irá se retirar do governo. Uma posição que se baseia sobre uma equação lógica, que os parlamentares do centro-direita repetem como se fosse um mantra: “Berlusconi é vítima de uma perseguição judiciária, milhões de italianos votaram nele, conscientes do conflito em ato com a magistratura, e não poderão ser uns juízes, sem legitimidade popular, a excluí-lo da vida política”. Trata-se, evidentemente, de uma objetiva interpretação apressada das normas constitucionais. Presidente Napolitano também defende a permanência de Berlusconi no Senado para evitar a queda do governo O Partido Democrático, por enquanto, segue em frente e, pelas declarações de seu secretário nacional, Guglielmo Epifani, torna público que irá votar a favor da cassação do mandato de Berlusconi, como previsto pela lei. Porém, nos bastidores, trabalha-se para uma solução que deixe Berlusconi quieto, para garantir a sobrevivência do governo. Nesta frente, um dos mais ativos é o presidente da República, Giorgio Napolitano, que apoiaria um expediente técnico para afastar s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Olho nos olhos entre o ex-premier Silvio Berlusconi e o atual Enrico Letta o perigo da saída de Berlusconi do Senado: é o assim chamado ‘laudo Violante’, do nome do expoente democrático que elaborou a possível saída deste impasse. Trata-se de uma manobra judiciária que, em teoria, adiaria por um ano a decisão da Junta a respeito da cassação. — Berlusconi precisa explicar para a Junta por que, em sua opinião, a lei Severino não se aplicaria. E os membros da Junta têm a obrigação de ouvir e avaliar sua defesa — explicou Luciano Violante, acrescentando que a Corte Constitucional considerou que o procedimento diante da Junta é de caráter jurisdicional. — Portanto, a Junta, se considerar que não há os pressupostos cabíveis, poderia levantar a exceção diante da Corte. Este não seria um adiamento, mas a aplicação da Constituição — finalizou. Um percurso tecnicamente viável, mas que não agrada à maior parte dos expoentes democráticos, já em situação bastante desconfortável com seus eleitores. Uma hipótese que agrada menos ainda a Mattero Renzi, que almeja a liderança do Pd e quer que se chegue logo a novas eleições, para entrar na disputa para a presidência do Conselho. — Em um país civilizado, um líder condenado com sentença definitiva teria se demitido e não teria esperado ter seu mandato cassado — ressaltou Renzi, sem meias palavras. Os advogados de Berlusconi, neste ínterim, estão trabalhando também em outras duas direções: a primeira passa pelo recurso contra a Lei Severino, que será apresentado à Corte dos Direitos Humanos de Estrasburgo. Uma contestação baseada na presumida violação de alguns artigos da Convenção, ligados à retroatividade e ao justo processo; a segunda passa pela tentativa de conseguir uma comutação da pena, que eles queriam transformar de pena de detenção, para pena pecuniária. Porém, até nesta direção, a decisão está nas mãos de Napolitano que, neste momento parece se manter neutro. A comutação da pena resolveria todos os problemas, pois, segundo as interpretações prevalentes, nesse caso, a lei sobre a cassação não seria mais aplicável. E o objetivo principal de Berlusconi é exatamente este: para além do fracasso político, causado pelo seu afastamento do Parlamento, o empresário de Arcore teme que, uma vez perdida a imunidade parlamentar ligada ao seu cargo de senador, possa ter início uma avalanche judiciária que poderia arrastá-lo, através da abertura de novos processos. Ainda se fala das hipóteses da graça e da anistia, mas, mesmo com toda a boa vontade de Napolitano, são duas soluções difíceis de serem postas em prática, porque seriam medidas ad personam (feitas propositalmente para uma pessoa específica), que dividiriam mais ainda o país, ainda mais neste momento tão delicado no plano social devido à crise econômica. Agora é difícil prever o que irá acontecer. Certeza é que o destino do governo está intimamente ligado ao de Berlusconi. A situação, porém, ainda pode melhorar. Se, neste meio tempo, Letta conseguisse uma maioria alternativa, as ameaças de crise perderiam força. Na Câmara, a quantidade de votos seria suficiente, mas não no Senado. Grillo conseguiu frear a hemorragia de parlamentares que demonstravam simpatia pela centro-esquerda, mesmo que o debate no interior do Movimento 5 Stelle esteja ainda em ato. A posição oficial dos grillini é um ataque de frente contra o Pd e Napolitano, de quem é pedida até a demissão por causa da presumida tentativa de salvar o condenado Berlusconi. Segundo algumas indiscrições, vários parlamentares do Pdl, se fosse prevalecer a linha dura, estariam prontos para desobedecer às ordens do partido e a votar para a sobrevivência do governo. Aparentemente, seria um pequeno grupo de moderados que não gostariam de ver o partido se afundando cada vez mais, e correndo o risco de acabar nas mãos dos francos atiradores, chefiados pela radical berlusconiana Daniela Santanchè. Neste momento, os parlamentares anti-crise seriam uma minoria, mas se a avalanche avançar, chegando ao envolvimento de pelo menos uns vinte senadores, o governo poderia ficar definitivamente salvo da tempestade. Pelas declarações do secretário nacional, Guglielmo Epifani, o Pd irá votar a favor da cassação do mandato de Berlusconi, como previsto pela lei. Porém, nos bastidores, trabalha-se para uma solução que deixe o ex-premier quieto para garantir a sobrevivência do governo com unit àit aliana | s etem br o 2013 33 Attualità Le pensioni d’oro Il Paese è tornato a interrogarsi: sono state divulgate le pensioni di circa 100 mila manager pubblici, che costano allo Stato 13 miliardi di euro l’anno Stefano Buda L’ De Roma Italia, si sa, è un Paese dalle mille contraddizioni. Il governo Monti, prima dell’avvento dell’esecutivo guidato da Enrico Letta, ha predicato rigore e attuato politiche di austerity, dimostrandosi implacabile nel chiedere sacrifici alle fasce meno abbienti, ma timido e titubante nel toccare i lauti privilegi dei potenti. Monti, qualche tempo fa, non ha gridato allo scandalo quando la Corte Costituzionale ha bocciato il provvedimento del governo, che tagliava le pensioni più elevate dei manager pubblici, introducendo un contributo di solidarietà. Secondo molti osservatori, anzi, è stata una precisa strategia dell’esecutivo. L’ex premier, pur essendo consapevole dell’incostituzionalità della misura, avrebbe spinto per l’approvazione del provvedimento al fine di ottenere un duplice 1. Mauro Sentinelli I top manager italiani più pagati I n seguito ad un’interrogazione parlamentare della deputata Deborah Bergamini, alla quale ha risposto il sottosegretario al Welfare, Carlo Dell’Aringa, che ha fornito i dati, è stato possibile elaborare la graduatoria dei superpensionati: una classifica piuttosto fedele, anche se contenente alcune lacune e suscettibile di qualche imprecisione. € 91.337 In cima alla top ten troviamo Mauro Sentinelli, che percepisce ogni mese dallo Stato 91.337 euro. Ingegnere elettronico ed ex manager di Telecom, negli ultimi anni di attività è arrivato a guadagnare 9 milioni di euro l’anno. Versando contributi in un fondo riservato ai dipendenti telefonici, che garantiva condizioni straordinariamente vantaggiose, e grazie alle leggi in vigore fino a qualche anno fa, è andato in pensione con l’80% dello stipendio medio, calcolato sugli ultimi dieci anni di lavoro. Un’altra legge pro-casta ha fatto lievitare ulteriormente la sua pensione, moltiplicando esponenzialmente benefit e stock option percepiti nel corso della carriera. Sentinelli, naturalmente, non si accontenta della pensione da nababbo e continua ad intascare ricchi gettoni di presenza, in virtù del suo ruolo di membro del consiglio di amministrazione di Telecom e di presidente del consiglio di amministrazione di Enertel Servizi. 5. Germano Fanelli 4. Alberto De Petris € 51.781 34 Solo pochi euro lo separano da Gambaro. L’ex manager di Telecom e Infostrada, Alberto De Petris, tallona il terzetto dei pensionati d’oro con una rendita mensile da 50.885 euro. E’ stato anche amministratore di Stet Netherlands e consigliere della società francese di servizi per la comunicazione Jet Multimedia. s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a L’ex manager, specializzato nella componentistica elettronica e dei semiconduttori, può contare su un vitalizio da 47.934 euro al mese. La ricca pensione percepita non gli ha impedito di ricoprire, tra il 2008 e il 2010, l’incarico di presidente o consigliere d’amministrazione di ben dieci diverse società: dalla Banca Galileo alla MetaSystem, passando per la Octo e la Phen Solar. € 47.93 4 risultato: mostrarsi sensibile alle pressanti richieste di equità, provenienti dall’opinione pubblica e, al contempo, lasciare le cose inalterate, evitando di urtare la sensibilità di alcuni dei più influenti burocrati di Stato. In sostanza, come recita un vecchio adagio, ha individuato la soluzione ottimale per avere “la botte piena e la moglie ubriaca”. In tempi di crisi economica, però, con milioni di italiani che fanno fatica ad arrivare alla fine del mese, a causa di stipendi da fame e pensioni irrisorie, le mega rendite di pochi privilegiati a riposo rappresentano un’ingiustizia troppo marchiana. Il Paese, nelle ultime settimane, è tornato a interrogarsi. Sotto la lente dell’opinione pubblica sono finite le pensioni di circa 100 mila manager pubblici, che costano allo Stato 13 miliardi di euro l’anno e, nei casi più estremi, arrivano a percepire rendite mensili da 91 mila euro (circa 3 mila euro al giorno). Un tesoretto che, nell’insieme, non appare affatto disprezzabile, soprattutto considerando che, per racimolare poche centinaia di milioni di euro, i governi che si sono succeduti alla guida del Paese hanno operato pesanti tagli al sociale, alla sanità e allo sviluppo, alimentando un vortice recessivo apparentemente senza via d’uscita. Una decisa sforbiciata alle pensioni d’oro, dunque, oltre a rappresentare una boccata d’ossigeno per i conti pubblici, ristabilirebbe un principio di equità, che renderebbe giustizia a milioni di cittadini in difficoltà. Le pensioni non sono illegali, ma in questo caso si pone un problema etico e morale Occorre sottolineare che i pensionati d’oro non commettono nulla d’illegale o di illegittimo. Si pone, invece, un problema etico e morale, che chiama in causa la sproporzione tra il trattamento riservato alle rendite milionarie dei top manager, finora al riparo dai tagli e i grandi sacrifici richiesti alla maggior parte degli italiani. La strada imboccata dal governo Monti, per calcolo o per superficialità, risultava impercorribile: in basi ai dettami costituzionali, infatti, non è possibile aumentare il carico fiscale, a parità di reddito, per una sola categoria. Il procedimento corretto, a giudizio di molti esperti, passa per un’operazione di redistribuzione delle risorse all’interno del sistema pensionistico: in sostanza, per tagliare le pensioni più elevate bisognerebbe aumentare quelle più basse. Il governo Letta ci sta pensando e il sottosegretario al Lavoro, Carlo Dell’Aringa, ha dichiarato pubblicamente che l’esecutivo intende riproporre un contributo di solidarietà a carico delle pensioni d’oro. — Affinché la Corte Costituzionale non bocci la misura — ha spiegato Dell’Aringa — è necessario che il contributo di solidarietà non assuma i connotati di una tassa, ma si basi su un meccanismo di carattere perequativo, per togliere a chi ha di più e dare a chi ha di meno. Stiamo lavorando per verificare la differenza, nelle pensioni più elevate, tra quanto viene percepito sulla base del più favorevole sistema retributivo e quanto verrebbe percepito se fosse applicato il sistema contributivo. Secondo il sottosegretario “è possibile ridurre la pensione per una quota equivalente alla differenza individuata e utilizzare il gettito per alimentare le pensioni più basse”. Esisterebbe anche un’altra strada. — Rendere strutturale il blocco delle perequazioni delle pensioni più alte, che già ora, anche se solo a carattere temporaneo, non vengono indicizzate al costo della vita. E’ una misura d’emergenza, che potrebbe riguardare le pensioni più alte, arrivando a toccare, progressivamente, le pensioni altissime, magari arrestandole in termini nominali e dunque bloccando definitivamente gli aumenti — ha aggiunto Dell’Aringa. 3. Mauro Gambaro Sul podio anche Mauro Gambaro, ex direttore generale di Interbanca e di Inter Footbal Club, che gode di una pensione di 51.781 euro. Neanche Gambaro accetta di restare a riposo: attualmente è presidente del consiglio d’amministrazione di Mittel Management e opera come advisor specializzato nel corporate finance. 2. Mister X Sul secondo gradino della lista dei “paperoni” in pensione si piazza un personaggio misterioso, del quale non si conosce l’identità. L’unico dato certo è che riceve ogni mese 66.436 euro. € 66.436 6. Vito Gamberale Ha ricoperto posizioni di vertice all’interno di aziende controllate dal gruppo Eni, attivo nel settore degli idrocarburi, è stato amministratore delegato di Sip e nel 1995 ha creato Telecom Italia Mobile. Negli anni novanta è stato arrestato per abuso d’ufficio e concussione, ma dopo l’assoluzione con formula piena ha ricevuto uno dei più alti risarcimenti erogati dallo Stato in seguito ad errori giudiziari. Percepisce una pensione da 46.811 euro. 11 .8 € 46 € 51.781 7. Alberto Giordano Cresciuto professionalmente nella Cassa di Roma, ha percorso tutte le tappe della carriera fino a diventare vicedirettore generale. Quando è stata fondata Capitalia ha assunto il ruolo di condirettore generale dell’istituto. Incassa una pensione da 46.773 euro ed è al contempo presidente di Aspra Finance, società d’intermediazione finanziaria e consigliere di Fineco. € 46.811 € 43.2 53 € 44.258 8. Federico Imbert Ex responsabile per l’Italia di JP Morgan, è diventato una sorta di celebrità ai tempi dell’opa su Telecom. In seguito è stato il banchiere di riferimento della filiera bresciana di Emilio Gnutti. Oggi percepisce una pensione da 44.258 euro ed è il legale rappresentante di Credit Suisse in Italia. Nelle ultime due posizioni si registra un notevole affollamento, che rende particolarmente complicata l’identificazione dei super pensionati. Si conoscono, invece, le cifre delle pensioni erogate: 9. Ex Aequo da 43.253 euro al mese 10. Ex Aequo da 41.707 euro al mese € 41.707 com unit àit aliana | s etem br o 2013 35 Atualidade www.cidadedorio.com Capa 36 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Cultura em alta na comunidade Cultura valorizzata nella comunità Parceria entre Consulado da Itália e Secretaria de Segurança do Rio brinda moradoras da Favela Santa Marta que trabalham como guias de turismo com bolsa para estudar italiano Partnership tra Consolato d’Italia e Segreteria di Sicurezza di Rio offre a cittadine della Favela Santa Marta che lavorano come guide turistiche borse per studiare l’italiano Cintia Salomão Castro D esde que a primeira Unidade de Polícia Pacificadora foi instalada no Rio de Janeiro, mais precisamente na Favela Santa Marta, em 2008, as perspectivas econômicas e sociais dos moradores começaram a mudar. A guia de turismo Veronica Moura, de 29 anos, nascida na comunidade, vivenciou essa mudança na pele nos últimos cinco anos. Com o fim dos conflitos entre os traficantes, que faziam com que os moradores vivessem sobressaltados por medo de levarem balas perdidas, a carioca filha de nordestinos começou a atuar como monitora de turismo para os visitantes estrangeiros que perdiam o receio de subir os morros cariocas para matar a curiosidade de ver de perto uma D a quando, nel 2008, è stata installata la prima Unità di Polizia Pacificatrice a Rio de Janeiro, nella Favela Santa Marta, le prospettive economiche e sociali degli abitanti sono cominciate a cambiare. La guida turistica Veronica Moura, 29enne, nata nella comunità ha vissuto questi cambiamenti in prima persona negli ultimi cinque anni. Con il termine degli scontri tra gli spacciatori, dovuto ai quali gli abitanti vivevano sempre in tensione per via dei proiettili vaganti, questa carioca figlia di nordestini ha cominciato a lavorare come guida turistica con visitatori stranieri che, persa la paura di salire sui ‘morros’ carioca, volevano saziare la loro curiosità di vedere da vicino una favela brasiliana. La com unit àit aliana | s etem br o 2013 37 Atualidade Fotos: João Carnavos Capa favela brasileira. O mesmo aconteceu com Salete Martins, hoje com 44 anos. Vinda do Ceará ainda menina para o Rio, ela vendia churrasco e cachorro-quente em um trailer na parte baixa da comunidade, comércio que ainda mantém. Ambas abraçaram a oportunidade oferecida pelo projeto Rio Top Tour, do governo do estado, e concluíram um curso de formação para guias de turismo. Em breve serão empreendedoras: estão abrindo uma empresa própria de turismo. Junto com Salete, Veronica atende por dia cerca de 40 turistas, sendo 70% estrangeiros. Por mês, cerca de 30 visitas chegam diretamente da Itália para conhecer o local, que conta com mirantes, de onde é possível admirar a bela paisagem do Rio. — Os italianos, assim como os estrangeiros em geral, querem ver como vivemos, querem conhecer nossa casa. O tour inclui uma visita a lajes. Fazemos oficina de pipa, de percussão, e conduzimos trilhas pela mata — conta Veronica. A palavra favela exerce um inegável fascínio entre os estrangeiros que visitam o país, incluindo os italianos. — Os italianos têm muita curiosidade em relação às favelas. Na Itália não se conhece bem a realidade. Quando se pensa em Rio, imediatamente vêm à mente as palavras Copacabana e favelas — comenta à Comunità o diretor do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, Andrea Baldi. O embaixador Raffaele Trombetta conheceu as duas guias de turismo durante uma visita à comunidade, “Os italianos têm muita curiosidade em relação às favelas. Quando se pensa em Rio de Janeiro, imediatamente vêm à mente as palavras Copacabana e favelas” Andrea Baldi, diretor do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro 38 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Verônica Moura e Salete Martins exibem para a comunidade Santa Marta suas credenciais para imersão na língua e na cultura italiana Verônica Moura e Salete Martins esibiscono alla comunità le loro pass per un’immersione nella lingua e nella cultura italiana “Gli italiani sono molto curiosi riguardo alle favelas. Quando si pensa a Rio de Janeiro, immediatamente vengono in mente le parole Copacabana e favelas” Andrea Baldi, direttore dell’Istituto Italiano di Cultura di Rio de Janeiro stessa cosa è accaduta a Salete Martins, oggi 44enne. Ancora bambina, è partita dal Ceará verso Rio, dove vendeva hot-dog e barbecue in un trailer ai piedi del centro urbano, e ancora continua nella sua attività. Entrambe hanno sfruttato l’opportunità offerta dal progetto Rio Top Tour, del governo dello stato di Rio, e hanno concluso un corso di formazione per guide turistiche. In breve saranno imprenditrici: stanno aprendo un’impresa di turismo in proprio. Insieme a Salete, Veronica lavora con circa 40 turisti al giorno, di cui il 70% stranieri. E sono circa 30 al mese i visitatori italiani che vogliono conoscere il posto, che offre vari belvederi, da cui si può ammirare il bel paesaggio di Rio. — Gli italiani, cosí come gli altri stranieri, vogliono vedere come viviamo, vogliono conoscere le acompanhado do secretário de Segurança Pública, o ítalo-brasileiro José Beltrame, quando percebeu que aprender a se comunicar em italiano poderia ajudá-las no trabalho. — Conheci ambas em visita organizada pelo secretário Beltrame, então perguntei se havia muitos turistas italianos. Pensamos, então, em dar-lhes esta oportunidade de estudar italiano. Realizamos esse pequeno projeto, que para nós é muito importante, pois a aprendizagem da língua é uma ponte que aproxima a cultura italiana. Espero que ao final do curso eles possam conhecer a Itália. Durante a visita, me comoveu, em primeiro lugar, a serenidade que vi nelas e no ambiente em geral, o empenho de fazer o melhor. Vi ali muito do Brasil de hoje, mas também a esperança do Brasil de amanhã — afirmou o embaixador Trombetta, durante a entrega dos certificados na sede do consulado, com a presença do cônsul Mario Panaro e da major Priscilla de Oliveira Azevedo, coordenadora do Programa Estratégico da Secretaria estadual de Segurança, representando o secretário Beltrame, que intermediou a parceria com o consulado da Itália. — Dezenas de favelas estão em processo de pacificação. Temos problemas, mas estamos mostrando as pessoas honradas que vivem nas comunidades, e ficamos felizes com o fato de essas mulheres guerreiras terem a oportunidade de estudar italiano — comemorou a major Priscilla. Para o diretor do Instituto Italiano de Cultura, Andrea Baldi, a possibilidade dada às duas guias mostra que o aprendizado do italiano pode ter como finalidade o trabalho. O embaixador Raffaele Trombetta veio especialmente ao Rio para a entrega dos diplomas às guias turísticas da comunidade Santa Marta ao lado do diretor do Instituto Italiano de Cultura, Andrea Baldi, e do cônsul-geral Mario Panaro L’ambsciatore Raffaele Trombetta è venuto specialmente a Rio per la consegna dei diplomi alle guide turistiche della favela Santa Marta al lato dei direttore dell’Istituto Italiano di Cultura, Andrea Baldi, e del console generale Mario Panaro nostre case. Il tour include una visita alle terrazze. Organizziamo laboratori di aquiloni, di percussione e li portiamo in sentieri in mezzo alla foresta — racconta Veronica. La parola ‘favela’ esercita un innegabile fascino sugli stranieri, tra cui gli italiani che visitano il Paese. — Gli italiani sono molto curiosi rispetto alle favelas. In Italia non si sa bene come sia la realtà. Quando si pensa a Rio, immediatamente vengono in mente le parole Copacabana e favelas — commenta il direttore dell’Istituto Italiano di Cultura di Rio de Janeiro, Andrea Baldi, parlando con Comunità. L’ambasciatore Raffaele Trombetta ha conosciuto le due guide turistiche durante una visita alla comunità, seguito dal segretario di Sicurezza Pubblica, l’italo-brasiliano José Beltrame, quando ha capito che imparare a parlare l’italiano avrebbe potuto aiutarle nel loro lavoro. — Le ho conosciute in una visita organizzata dal segretario Beltrame, allora ho domandato se c’erano molti turisti italiani. Quindi abbiamo pensato di dargli l’opportunità di studiare l’italiano. Abbiamo messo in pratica questo piccolo progetto, che per noi è molto importante, visto che l’apprendimento della lingua è un ponte che avvicina alla cultura italiana. Spero che alla fine del corso possano conoscere l’Italia. Durante la visita mi ha commosso specialmente la serenità che ho sentito sia in loro, sia nell’ambiente circostante, e l’impegno di fare il meglio. Ci ho visto molte cose del Brasile odierno, ma anche la speranza del Brasile del domani — ha affermato l’ambasciatore Trombetta durante la consegna del certificato presso la sede del consolato, alla presenza del console Mario Panaro, del maggiore Priscilla de Oliveira Azevedo, coordinatrice del Programma Strategico della Segreteria di stato di Sicurezza, in rappresentanza del segretario Beltrame, che ha fatto da intermediatore nella partnership con il consolato d’Italia. — Decine di favelas sono in processo di pacificazione. Abbiamo problemi, ma stiamo mostrando le persone rispettabili che vivono nelle comunità, e siamo felici che queste donne guerriere abbiano l’opportunità di studiare l’italiano — ha festeggiato il maggiore Priscilla. Secondo il direttore dell’Istituto Italiano di Cultura, Andrea Baldi, la possibilità offerta alle due guide dimostra che l’apprendimento dell’italiano può avere uno scopo lavorativo. — Di solito, gli italiani non parlano altre lingue, e loro ne avevano bisogno, visto che lavorano con turisti. L’apprendimento offre una possibilità lavorativa in più. E questo è importante per tutti noi, vedere com unit àit aliana | s etem br o 2013 39 Capa Atualidade che la lingua italiana può essere usate per lavorare — ha commentato. Le due guide usano il Facebook per fare contatto con turisti interessati a conoscere la comunità. Nella rete sociale pubblicano foto di incontri ed eventi, oltre alle lezioni di percussione e i laboratori di aquiloni che offrono. Abitanti stanno pagando un alto prezzo per la pacificazione Felici di poter imparare la lingua di Dante e di conoscere altre culture, Salete e Veronica, che studiano già francese e inglese, ringraziano le istituzioni italiane e il governo di stato, riconoscendo che il lavoro di guidare turisti liberamente nei vari luoghi della comunità è possibile solo grazie alla sicurezza garantita dalla presenza della polizia. Mentre Salete doveva passare davanti ad un punto vendita di stupefacenti per arrivare a casa, Veronica, che abita nella parte più alta del ‘morro’, era obbligata a passare davanti a vari punti vendita, e dormiva addirittura in casa di amici dovuto alle sparatorie notturne. — Loro (gli spacciatori) ci rispettavano perché siamo abitanti locali. Ma soffrevamo con gli scontri. Mio figlio di quattro anni non appartiene più a questa generazione che non poteva giocare per la strada, come me. Posso fare il mio lavoro grazie alla pacificazione — dice a Comunità Veronica, davanti a Praça do Cantão, dove i bambini che giocano e corrono liberi fanno da testimoni della nuova aria che si respira. — Normalmente os italianos não falam outros idiomas, e há essa necessidade para elas, que atendem turistas. O aprendizado oferece uma possibilidade a mais de trabalho. E é importante para todos nós, ver que a língua italiana pode ser usada para trabalhar — comentou. Ambas usam o Facebook para fazer contato com turistas interessados em conhecer a comunidade. Na rede social, elas publicam fotos de encontros e eventos, além das aulas de percussão e oficinas de pipa que oferecem. Longa história começou com ausência de política habitacional Lunga storia è cominciata dall’assenza di una politica abitativa A fama da Favela Santa Marta, localizada no Morro Dona Marta, atingiu seu ápice durante a visita de Michael Jackson, em 1996. O cantor subiu o morro para gravar o videoclipe da música They Don’t Care About Us (Eles não se importam conosco). Na época, o diretor Spike Lee teve que negociar com o chefe local do tráfico de drogas Marcinho VP (1970-2003) para garantir a segurança do astro. Hoje, os turistas podem visitar tranquilamente o local, que conta com nove câmeras monitoradas pela UPP, e ver a estátua erguida em 2010 em homenagem ao cantor. A origem da comunidade data da década de 1920. O terreno pertencia ao vizinho Colégio Santo Inácio, que passou a permitir que alguns de seus funcionários morassem na encosta do morro. Em 1942, uma nova corrente migratória de pessoas em busca de moradia, incluindo muitos trabalhadores nordestinos, ampliou o número de barracos no terreno, até então tomado por mata densa. O nome Santa Marta faz referência à padroeira da comunidade. No alto do morro, é possível visitar a igreja que guarda a imagem da santa. A comunidade, uma das menores da cidade, com cerca de quatro mil habitantes, foi a primeira a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora, em dezembro de 2008. Hoje, existem instaladas 33 unidades na cidade. O clima tranquilo vivido no Dona Marta, porém, não é o mesmo registrado nos últimos meses em favelas mais distantes, como o Complexo do Alemão, onde aconteceram tiroteios. Já os policiais da Unidade Pacificadora da Rocinha estão enfrentando denúncias por conta do desaparecimento do pedreiro Amarildo. O Ministério Público já pediu a expulsão de cinco policiais da UPP, incluindo o comandante da equipe, além da suspensão do porte de arma e do recolhimento de seus distintivos. 40 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a L a fama della Favela Santa Marta, nel Morro Dona Marta, ha attinto l’apice durante la visita di Michael Jackson nel 1996. Il cantante scelse il ‘morro’ per girare il videoclip della canzone They Don’t Care About Us. Allora, il regista Spike Lee dovette entrare in accordi con il narcotrafficante locale Marcinho VC (1970-2003) per garantire la sicurezza della star. Oggigiorno i turisti possono visitare tranquillamente il posto, che conta su nove telecamere monitorate dalla UPP e vedere la statua eretta nel 2010 in omaggio al cantante. L’origine della comunità rimonta al 1920. Il terreno apparteneva al vicino Colégio Santo Inácio, che permise a qualche dipendente di vivere sulle pendici del ‘morro’. Nel 1942, una nuova onda di immigranti in cerca di abitazioni, tra cui vari lavoratori nordestini, allargò il numero di baracche nel terreno, che fino ad allora era occupato solo dalla foresta. Il nome Santa Marta fa riferimento alla patrona della comunità. Sul vertice del ‘morro’ si può visitare la chiesa dov’è tenuta l’immagine della santa. La comunità, una delle più piccole della città, con circa quattromila abitanti, è stata la prima a ricevere un’Unità di Polizia Pacificatrice nel dicembre 2008. Oggigiorno ci sono, nella città, 33 unità. Ma il clima tranquillo vissuto nel Dona Marta non è lo stesso registrato negli ultimi mesi nelle favelas più distanti, come il Complexo do Alemão, dove ci sono state sparatorie. Inoltre, i poliziotti della Unità Pacificatrice della Rocinha stanno affrontando denunce dovuto alla sparizione del manovale Amarildo. Il Ministero Pubblico ha già chiesto l’espulsione di cinque agenti dell’ordine della UPP, incluso il suo comandante, oltre alla sospensione del porto d’armi e alla ritirata dei loro distintivi. “Graças à pacificação, posso trabalhar como guia e tudo ficou valorizado. Mas qualquer casa de um quarto está valendo R$ 70 mil. Onde que um pobre da comunidade vai ter esse dinheiro?” Veronica Moura, guia de turismo Antonia Rodrigues, dona de um bar situado em frente à quadra da Mocidade Unida do Santa Marta, e moradora do local há 30 anos, concorda: — Antes vivíamos preocupados com os tiroteios, hoje não. Por outro lado, está tudo muito caro. Manter o estabelecimento está difícil, com as contas de luz e água muito altas — reclama, denunciando que, se antes a ansiedade dos moradores vinha do medo de levar uma bala perdida, hoje decorre do pesadelo de não conseguir pagar as contas e garantir o sustento da família. João Carnavos Divulgação Divulgação Moradores estão pagando um alto preço pela pacificação Felizes com a chance de aprender a falar a língua de Dante e conhecer outras culturas, Salete e Veronica, que já estudam francês e inglês, agradeceram às instituições italianas e ao próprio governo estadual, reconhecendo que o trabalho de guiar turistas livremente por pontos da comunidade só é possível de ser exercido graças à segurança garantida pela presença policial. Enquanto Salete tinha que passar por uma boca de fumo para chegar em casa, Veronica, por morar na parte alta do morro era obrigada a passar por várias e chegou a dormir em casa de amigas por conta de tiroteios que varavam a madrugada. — Eles (os traficantes) nos respeitavam por sermos moradores. Mas sofríamos com os conflitos. Meu filho de quatro anos não é mais dessa geração que não podia brincar do lado de fora, como eu. Posso realizar o meu trabalho graças à pacificação — afirma à Comunità Veronica, diante da Praça do Cantão, onde crianças que brincam e correm livremente testemunham o novo ar que se respira. Porém, nem tudo são flores na nova vida da comunidade. Os moradores se queixam de vários problemas, como existência de valões de lixo e esgoto em vários pontos, e, sobretudo, da disparada do custo de vida protagonizada pela especulação imobiliária que não encontra freios e está obrigando antigos moradores a procurarem um novo lugar para viver. Segundo o Sindicato da Habitação (Secovi), o valor de um imóvel na zona sul cresceu em média 45% nos últimos dois anos, e um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que o preço do aluguel nas comunidades do Rio de Janeiro aumentou 6,8% a mais do que nos bairros nobres da cidade. Mas há casos específicos em que a valorização passou de 100%. — Tudo ficou valorizado. Em compensação, hoje eu, que nasci aqui, não consigo mais comprar uma casa. Qualquer casa de um quarto está valendo R$ 70 mil. Onde que um pobre da comunidade vai ter esse dinheiro? Meu medo é que o Santa Marta vire o Vidigal (comunidade situada em São Conrado), onde muitos estrangeiros estão comprando tudo, ocupando os espaços, e o morador não consegue mais — comenta Veronica. Antonia Rodrigues, dona de um bar da localidade comemora o fim da violência. Abaixo, a guia Salete Martins toca percussão na quadra da escola de samba, e, ao lado, a tradicional feijoada do Santa Marta Antonia Rodrigues, proprietaria di un bar nella zona sottolinea il fine della violenza. Sotto, la guida Salete Martins suona percussione nella scuola di samba, e, al lato, la tradizionale “feijoada” del Santa Marta “Grazie alla pacificazione, posso lavorare come guida e si è valorizzato tutto. Però una qualsiasi casetta di una camera vale ora R$ 70 mila. Quando mai un povero della comunità potrà avere questi soldi?” Veronica Moura, guida turistica Ma non tutto è rose e fiori nella nuova vita della comunità. Gli abitanti si lamentano di vari problemi, come le varie fogne a cielo aperto e, soprattutto, dell’aumento del costo della vita, specialmente dovuto alla speculazione immobiliaria che non ha freni e obbliga vecchi abitanti locali a cercare un nuovo posto per vivere. Secondo il Sindacato dell’Abitazione (Secovi), il valore di un immobile nella zona sud è aumentato in media del 45% negli ultimi due anni, e uno studio della Fondazione Getúlio Vargas dimostra che il prezzo degli affitti nelle comunità di Rio de Janeiro ha subíto un rincaro del 6,8% in più rispetto ad altri quartieri nobili della città. Ma in certi casi la valorizzazione è stata del 100%. — Si è valorizzato tutto. In compenso, oggigiorno io, che sono nata qui, non riesco più a comprare una casa. Qualsiasi casetta di una camera vale R$ 70 mila. Quando mai un povero della comunità avrà questi soldi? La mia paura è che il Santa Marta diventi il Vidigal (comunità a São Conrado), in cui molti stranieri stanno comprando tutto, occupano gli spazi, e gli abitanti non ci riescono più — commenta Veronica. Antonia Rodrigues, proprietaria di un bar davanti agli spazi della Mocidade Unida do Santa Marta, e abitante locale da 30 anni, è d’accordo con lei: — Prima vivevamo preoccupati delle sparatorie, oggi non più. Ma è tutto molto caro. Mantenere un negozio è difficile, con le bollette della luce e dell’acqua altissime — protesta, denunciando che, se prima l’ansia degli abitanti era dovuta alla paura dei proiettili vaganti, oggigiorno è causata dall’incubo di non riuscire a pagare i conti e garantire il sostegno della famiglia. com unit àit aliana | s etem br o 2013 41 Turismo Baixo custo e alta diversão Guarda-sol compartilhado e viagem de trailer são os métodos dos italianos para passar as férias gastando menos e curtindo mais Stefania Pelusi C ompartilhar e economizar para prolongar as férias. Na costa da Emilia Romagna, a resposta à crise começa pela praia, onde o guarda-sol abriga mais famílias e a espreguiçadeira é compartilhada com outras pessoas, o que resulta em uma economia de 50%. A ideia é simples: compartilhar objetos com outras pessoas para dividir os custos. Segundo os donos dos postos, trata-se de uma solução popular, que vem sendo eleita cada vez por famílias e amigos para não renunciar às férias de verão, sem pesar muito no bolso. — A espreguiçadeira maior compartilhada custa cinco euros por dia. Isso quer dizer que o gasto por pessoa é de 2,50. Accessível a todos — comenta Simona Gattei, uma das sócias do estabelecimento Marinagrande, em Viserba. O sócio Giorgio Morolli conta que muitas pessoas querem alugar guarda-sol e cadeiras com outros turistas para gastar menos e aproveitar uns dias a mais de praia: — Não é um serviço que colocamos no cardápio este ano, porém, com a crise, é muito procurado. Às 42 vezes, alugo espreguiçadeira maior até para três pessoas que fazem o turno entre eles para tomarem sol. Em Viserba, nove postos decidiram juntar-se para otimizar os custos e oferecer mais serviços aos veranistas. Ao longo de 650 metros de costa, o turista é recebido com cuidados particulares, como na outra localidade turística chamada Cesenatico, onde Simone Battistoni, titular do Bagno Milano, oferece muitos serviços grátis que antes eram pagos. — Para quem escolhe o nosso posto, oferecemos uma biblioteca com mais de 600 livros para emprestar, babá para as crianças, academia e cursos de zumba de manhã e de tarde, além de bicicletas elétricas para alugar. Quando chove, os clientes que não querem renunciar ao bronzeado têm direito a usar até a lâmpada ultravioleta. Temos que fazer isso porque, infelizmente, não é apenas um problema de quantidade de turistas, mas também de gasto. Os guarda-sóis compartilhados não existem apenas no nordeste italiano. Na costa do sul, perto de Pescar, também existe a oportunidade de escolher a faixa horária e reduzir os gastos. Em resumo: duas famílias ou turmas de amigos, escolhem o s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Cursos de dança animam o verão italiano e muitas famílias preferem viajar de trailer para curtir mais o meio ambiente e economizar com os altos gastos de estadia mesmo lugar na praia e combinam os horários de chegada. Mãe com filhos pequenos de manhã até a hora do almoço, e jovens após as 14h até o jantar. Desta forma, um guarda-sol custa 285 euros, ao invés de 570 euros, durante todos os meses do verão (de maio a setembro) Com menos dinheiro para gastar, cai o consumo dos veranistas e diminuem os preços. Na costa romagnola, terra do renomado diretor de cinema Federico Fellini, a criatividade não falta para contrastar a época das vacas magras. Para curtir a praia há promoções que permitem alugar o guarda-sol e a espreguiçadeira por horas ou apenas para a hora de almoço. Hotéis de quatro estrelas oferecem quartos por 50 euros por noite ou pacote praia com café da manhã, chamado “bbc”: brandina, brioche e cappuccino (espreguiçadeira, croissant e cappuccino). Para não perder os turistas que tinham reservado hotéis por causa do mau tempo que atingiu a Romanha em maio e junho, alguns estabelecimentos devolveram o dinheiro para que o turista possa voltar em outra ocasião. — As iniciativas são muitas e ajudam as empresas em crise a compensar, pelo menos em parte, a diminuição do número de turistas. Claro que, além disso, há uma diminuição nos preços, em torno de 20% menos ano passado — comenta o vice-presidente do Sindicato italiano balneari, Giancarlo Cappelli, que apontou uma perda entre 20 e 30% só no mês de julho. Apesar de tudo, Morolli continua otimista. — Os turistas gostam daqui e voltam, e esta é a nossa esperança para superar um momento difícil economicamente. Na praia, o clima é sereno. Às vezes, tenho vontade de fechar, mas não é a hora de desistir — ressalta o romagnolo, que herdou o estabelecimento do pai dele, que herdou do seu avô. Trailer funciona como uma casa sobre quatro rodas Outra opção ecológica e a baixo custo para não renunciar às férias é a viagem de trailer. A Itália, apesar da crise, continua a ser o terceiro maior produtor europeu desse tipo de veículo, atrás apenas da Alemanha e da França. Entre as vantagens de ter uma casa sobre quatro rodas, está a possibilidade de decidir no último momento o destino, sem ter que planejar com muita antecedência e dormir em um camping perto de praias e lugares onde a natureza é intocada. De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (Istat), divulgados no início deste ano, em 2012, o uso do trailer para as férias aumentou em 38,6%, especialmente nas férias mais longas (54,9%). — Normalmente, quem tem um trailer não sai de férias apenas uma vez por ano, e viaja mais vezes porque quer aproveitar o investimento que fez — explica o presidente da Associação dos Produtores (Apc), Paolo Bicci. Os destinos preferidos, segundo a Apc, são o Vêneto, a Sardenha e Marche, que é a verdadeira região especializada no acolhimento deste turismo itinerante, a qual oferece o maior número de serviços. Além disso, Puglia, Abruzzo, Toscana e Valle d’Aosta aparecem entre as mais visitadas. Normalmente os italianos que usam trailers são casais aposentados e famílias com crianças pequenas, que economizam muito em comparação a uma estadia em um hotel. Na Itália é possível alugar um trailer e emprestar entre os membros da mesma família ou, no caso de veículos grandes, dividir os custos entre os vários ocupantes. Segundo o Automobile Club Italia, o boom do momento os veículos usados, vendem três vezes mais do que os novos. Muitos dos compradores são jovens que viajam juntos aos amigos. — Desde o início da crise, percebi que cada vez mais amigos escolhem a viagem de trailer durante as férias. Talvez os jovens não tenham a oportunidade de comprá-los; então alugam por períodos limitados ou compram um muito antigo, mas suficiente para dar-lhes a oportunidade de fazer pequenas viagens a cada semana — declara Samuele Zamuner, escritor de 28 anos formado na Universidade de Bolonha que viaja de Apartamento estruturado para temporadas de férias no norte da Itália trailer desde criança e acredita que é a “melhor maneira de se mover de forma autônoma e econômica”. Segundo ele, os voos de baixo custo na Europa ainda são mais baratos e mais rápidos, mas obrigam o passageiro a voar de cidade em cidade. Já com o trailer, se preserva o senso de aventura e a exploração acessível para todos os bolsos. Os italianos do norte preferem alugar casa a pagar por quartos de hotel De acordo com uma pesquisa do portal soloaffittivacanze.it, realizada com sete mil pessoas, três a cada dez italianos alugam uma casa durante as férias para economizar, enquanto 31% optam por um hotel e 18,6% preferem um resort e 19,2% um bed&breakfast. O costume de alugar uma casa é predominantemente um hábito de quem vive nas regiões do norte da Itália (33%), enquanto as pessoas que vivem no sul optam por um resort. Entre as metas mais populares, aparece a Puglia (19,9%) — seguida pelas duas ilhas Sardenha (18,4%) e Sicília (16,4%). A costa adriática (Vêneto, Emilia-Romanha e Marche) tem 11,6% das preferências que vêm quase exclusivamente daqueles que vivem no norte do país. — Quem escolhe alugar uma casa durante as férias o faz também por uma questão econômica: 64,4%, como confirma a nossa pesquisa. Os outros motivos são o compartilhamento com um grande número de amigos (17,2%) ou o fato de possuir uma família grande (8,2%). Mais de uma pessoa a cada dez escolhe alugar um imóvel porque as outras instalações, muitas vezes, não aceitam animais — acrescenta Silvia Spronelli, presidente do portal italiano. Terminado este mês de setembro, fecham-se os guarda-sóis. Os trailers voltam para as garagens e os hotéis já começam a pensar nos meses de inverno, esperando que Papai Noel traga mais turistas. com unit àit aliana | s etem br o 2013 43 Vinho Degustando Salerno Amalfitana. Dentre suas atrações, estão as verdes colinas cultivadas, o parque nacional do Cilento e Vale do Diano — Patrimônios da Humanidade — e os Monti Picentini. E não só: seu patrimônio histórico reúne monumentos da Magna Grécia, como os templos gregos de Paestum. A paisagem da capital é dominada pelo antigo castelo medieval, construído no século VIII a mando do príncipe longobardo Arechi. Trata-se de um monumen- Nova missão de vinícolas visita o Brasil em novembro com encontros que servirão como follow up das rodadas de degustação realizadas com compradores em abril Cintia Salomão Castro D epois das visitas e rodadas de degustação realizadas no mês de abril em três cidades brasileiras, uma nova missão proveniente de uma das mais ricas regiões italianas no setor agroalimentar vai percorrer o país. O anúncio foi feito pela Província de Salerno à Comunità. A comitiva fará uma espécie de follow up dos encontros ocorridos no primeiro semestre, quando os vinicultores se apresentaram a potenciais compradores e importadores durante a feira Expovinis, em São Paulo; no Automóvel Clube de Belo Horizonte; e durante o lançamento do Grico, guia de restaurantes italianos da Editora Comunità, no Jockey Club do Rio de Janeiro. Uma das ações previstas é a realização de uma pesquisa para avaliar o impacto das atividades e encontros de abril. Entre os objetivos está a identificação dos compradores que mostraram um maior interesse em relação aos vinhos da região. — Um questionário de avaliação será aplicado agora em setembro, através das Câmaras Ítalo-brasileiras de Comércio em Minas e no Rio, junto aos participantes das atividades realizadas em abril. A meta é medir o grau de satisfação em relação aos eventos, o interesse pelos vinhos de Salerno e a disponibilidade para novos encontros em novembro — explica um dos organizadores da missão, Enrico D’Alessio. O presidente da província de Salerno, Antonio Iannone, ressalta a importância de se abrir as portas do mercado brasileiro para a economia da região. — A província de Salerno, apesar do atual período de enormes dificuldades vivido pela economia italiana, continua a dar suporte ao nosso tecido econômico, favorecendo a participação de nossas excelências vitivinícolas em eventos de alcance internacional, como o que foi realizado no Brasil em abril. Acredito que o mercado brasileiro represente uma importante saída comercial para as produções de qualidade do nosso território, e que a difusão do conhecimento dos recursos naturais e paisagísticos, ligados de forma indissolúvel aos nossos produtos, possa estimular muitos brasileiros a visitarem a província e desfrutarem do clima moderado e dos frutos da terra — afirma à Comunità o presidente da província de Salerno, Antonio Iannone. As vinícolas que vão trazer suas garrafas para a degustação no final do ano serão quatro: Viticoltori De Conciliis, Massimo Cobellis, Mila Vuolo e Verrone Viticoltori. Os rótulos serão os mesmos dos vinhos que já se apresentaram por aqui na última visita, o que inclui o encorpado aglianico Igp Colli di Salerno, ideal para acompanhar frituras, queijos e pratos mais temperados. Alguns rótulos são fruto da agricultura orgânica, com uvas cultivadas sem nenhum uso de pesticida. Além do setor agroalimentar, Antonio Iannone também quer divulgar as belezas do território como meta turística, “coração da cultura grega e romana”. Ainda pouco explorada pela maioria dos brasileiros que visitam a Itália, Salerno, localizada entre o Cilento e o mar Tirreno, possui uma das regiões litorâneas mais belas do mundo, conhecida principalmente pela Costa Acima, o presidente da província de Salerno Antonio Iannone. Abaixo, panorama de Salerno visto do Castello Arechi to em ótimo estado de conservação, que domina toda a cidade e o porto, permitindo um panorama perfeito da cidade ao visitante. O projeto da Enoteca Provinciale, uma das promotoras da missão no Brasil, possui uma página na internet, onde é possível saber mais detalhes sobre as três grandes áreas de produção vinícola da região: Costa Amalfitana, Cilento-Paestum e Monti Picentini. O site conta com versão em português: www.vinidisalerno.it Campagna finanziata ai sensi del Regolamento CE n. 1234/07 Campaing financed by EU Regulation n. 1234/07 44 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a provinciadisalerno provinciadisalerno Turismo Contatos aquáticos Recém-inaugurado pavilhão de golfinhos faz do Aquário de Gênova atração irresistível para quem visita a Ligúria Guilherme Aquino L De Gênova inda, Teide, Naù, Betty, Robin e Mia dão as boas-vindas aos visitantes do Aquário de Gênova dentro dos tanques projetados pelo escritório do “arquistar” genovês Renzo Piano. O novo pavilhão dos cetáceos foi criado entre a instalação principal e a zona do porto antigo. O percurso tem pouco impacto visual na paisagem, pois está localizado a apenas três metros acima do nível do mar. A ampla vidraça dá aos admiradores dos golfinhos uma chance maior de se aproximar de uma das quatro piscinas a céu aberto – que servem de maternidade, enfermaria, médica-veterinária e exposição – preenchidas com 4,8 milhões de litros de água do mar e com capacidade para abrigar até dez mamíferos marinhos, entre eles a família completa de papai Robin, mamãe Betti e da recém-nascida Mia. Apoiada no fundo do porto, a nova estrutura é complexa e pode ser comparada a um prédio de sete andares. Na verdade, o pavilhão foi “afundado” quando os tanques-balsas que serviram para transportá-lo do estaleiro naval, em La Spezia, Golfinhos são alimentados no novo pavilhão Cetacei até Gênova, foram preenchidos com 3.500 metros cúbicos de água e, sucessivamente, de cimento, sobre um platô preparado durante um longo processo de dragagem. Quatro anos de projeto e 30 meses de construção depois, os cetáceos e os seus admiradores ganharam uma nova estrutura para compartilhar emoções. Hoje, o pavilhão permite aos visitantes observar os golfinhos do alto e também de uma prospectiva submarina. A grande novidade é uma gigantesca parede móvel de vidro, com 30 metros de comprimento, que pode ser aberta para proporcionar uma interação maior entre o público e os golfinhos, principalmente, no campo da comunicação. Os sons emitidos pelos golfinhos podem ser ouvidos ao vivo, graças a um especial dispositivo de gravação e reprodução. Além disso, a plataforma de trabalho dos adestradores foi montada sobre esta parede de vidro. Desta forma, o ponto de observação dos animais torna-se central sob a ótica do espectador, que tem diante de si 94 metros de comprimento e 28 de largura para esquadrinhar. Uma verdadeira mansão, que custou aos cofres da cidade, do Porto Antigo e do gestor Costa Edutainment uma cifra em torno dos trinta milhões de euros. Além de um privilegiado observador, o espectador pode se sentir um oceonógrafo ou um biólogo marinho. Cada exemplar de golfinho possui uma verdadeira carteira de identidade e, de posse dela, os visitantes podem participar das pesquisas realizadas em tempo real e proporcionar a si próprio a mesma sensação que um pesquisador da flora e da fauna marinhas experimenta em mar aberto. Assim, logo na chegada, o visitante recebe informações sobre o Santuário Pelagos, um parque marinho protegido com 90.000 quilômetros de extensão, numa área que engloba os mares territoriais da Itália, França e Mônaco, abrigando oito espécies de cetáceos, e onde se realizam diversos projetos de preservação e de estudos. Um túnel envidraçado e curvilíneo, com 15 metros de extensão, penetra parcialmente o principal tanque de exposição. O visitante tem a sensação de mergulhar sem os equipamentos e pode ver os movimentos dos animais como se nadasse junto com eles. Esta grande “gota” de acrílico transparente, com espessuras entre 14 e 30 centímetros, foi criada pelos arquitetos Michael Oleksak e Ginette Castro. Ali, os visitantes entram em contato com o resultado de diferentes pesquisas sobre a história, o comportamento e os fluxos migratórios de cada um dos exemplares. Uma vez que o espectador se tornou um grande conhecedor de cetáceos e em tempo de “social net”, de compartilhar, ele pode “adotar” um dos golfinhos, através do aplicativo Happy Fin adotta il tuo delfino. Desta maneira, o frequentador, mesmo à distância, pode monitorar o “seu” animal e participar, ativamente, com jogos educativos e interativos que abordam aspectos biológicos e ambientais dos cetáceos. O setor proporciona ainda explicações científicas criadas e narradas para ilustrar ao que o visitante está assistindo, ou melhor, participando. Os seis astros do Aquário, os golfinhos, “apenas” uma ponta do iceberg , agradecem. Atrás e ao redor deles, circulam outros 15 mil animais de 400 espécies, entre pinguins, caravelas, focas e tubarões. Juntos e espalhados em 70 piscinas, dão vida a um complexo de biodiversidade marinha. com unit àit aliana | s etem br o 2013 45 Esporte A última Copa de Pirlo Ficha Andrea Pirlo Nasceu em Brescia, a 19 de maio de 1979 Altura: 1,77 m Peso: 68 kg Casado com Debora, tem dois filhos, Niccolò e Angela Clubes nas categorias de base Flero, Voluntas, Brescia Clubes como profissional Brescia, Inter, Reggina, Inter, Brescia, Milan, Juventus Títulos como profissional 1 Campeonato Italiano Série B (Brescia 1996-1997) 1 Copa Itália (Milan 2002-2003) 4 Campeonatos Italianos Série A (Milan 2003-2004 e 2010-2011; Juventus 2011-2012 e 2012-2013) 3 Supercopas Italianas (Milan 2004, Juventus 2012 e 2013) 2 Ligas dos Campões Europeus (Milan 2002-2003 e 2006-2007) 2 Supercopas Europeias (Milan 2003 e 2007) 1 Mundial de Clubes ( Milan 2007) 1 Mundial de Seleções (Itália 2006) 1 Europeu sub-21 (Itália 2000) 1 bronze olímpico (Itália 2004) 46 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Mundial do Brasil deve ser o último a ser disputado pelo meio-campo italiano, que pretende se despedir da azzurra em 2014 Maurício Cannone E le é fã de Juninho Pernambucano, tem 34 anos e pretende se despedir da seleção italiana após a Copa de 2014. Muito versátil e capaz de executar diversas funções, o meio-campo foi um dos jogadores mais festejados da squadra azurra na Copa das Confederações pela torcida brasileira em junho passado. Chegou a marcar um gol de falta, uma de suas especialidades, no Maracanã, na vitória italiana por 2 a 1 sobre o México: foi a centésima partida pela seleção italiana, quando teve seu nome cantado em coro. Campeão do mundo em 2006, Andrea Pirlo ficou em segundo lugar na Copa Europeia das Nações, em 2012, pela equipe de seu país. Nascido em Brescia, no norte do país, além do vasto currículo na seleção, pode se orgulhar de ter jogado nos três maiores clubes do Belpaese: Inter, Milan e Juventus — com este último, tem contrato até 2014. Ainda garoto, chamava atenção pela técnica bem superior a seus companheiros de clube, nas categorias de base do Brescia, onde se tornou profissional. Sua classe até provocava inveja em garotos que jogavam com ele nos tempos da adolescência. “Me passem a bola, me passem a bola”, muitas vezes teve de gritar e até chorar: os companheiros o consideravam uma ameaçava, como o próprio Pirlo conta no livro Penso, quindi gioco (Penso, logo jogo), no qual narra várias passagens de sua vida em depoimento ao jornalista Alessandro Alciato. “Tinha de jogar contra 11 adversários e 10 do meu time”. Às vezes, na tribuna, seu pai precisava mudar de lugar quando alguém fazia comentários sobre o filho do tipo: “Quem esse pensa que é? Maradona?” No entanto, Pirlo acabou por vencer o ciúme de seus companheiros e tornou-se um dos maiores jogadores da Itália e até do mundo. O boicote dos companheiros nos tempos de garoto não foi a única dificuldade da carreira de Pirlo. Em 2011, quando o técnico do Milan, Massimiliano Allegri, deu sinais de que não o considerava mais um dos principais jogadores do time, decidiu mudar de ares e foi para a Juventus, onde sagrou-se campeão italiano nas duas temporadas passadas. Allegri pretendia colocá-lo no lado esquerdo do meio-de-campo, enquanto Pirlo preferiu continuar jogando na frente da defesa, posição em que se consagrou na seleção italiana. Prilo só pretende renovar seu contrato com a Juventus se continuar a ser importante para o time: “Nunca vou ser um peso para a Juve”, ressaltou. “Jogarei até quanto estiver bem e tiver vontade. Temos mais um ano inteiro para avaliar tudo. Não vou ficar só porque me chamo Pirlo”. Mesmo sem saber se vai continuar na temporada 2014-2015, o craque pretende terminar a carreira em um grande clube, seja da Itália, seja de outro país. Ele chegou a recusar uma milionária proposta do Qatar. Em 2011, o Al Sadd lhe ofereceu inicialmente 40 milhões de euros em quatro anos, 10 milhões por temporada. Diante da recusa, aumentaram a proposta para 11 e depois 12 milhões. O procurador de Pirlo arregalou os olhos, mas antes que os milionários do Qatar oferecessem mais, o jogador puxou seu agente pelo braço e saiu do hotel onde eles se encontraram. Ele não queria atuar em um país onde o nível do futebol é muito inferior ao da Itália. Para o craque, apenas um motivo pode antecipar sua despedida da seleção ano que vem após o Mundial: “Uma escolha técnica de Cesare Prandelli”. Por sinal, uma escolha muito difícil de acontecer, pois o treinador da Itália o considera um de seus principais jogadores. Em 2006, foi importantíssimo na conquista do Mundial disputado na Alemanha: ele bateu um dos pênaltis que garantiram a vitória italiana sobre a França depois do resultado de 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação. Naquela partida, bateu o escanteio que originou o gol de Materazzi quando a Itália estava perdendo. Acabou escolhido como o melhor jogador da final e o terceiro daquela Copa. Um admirador do estilo de bater faltas de Juninho Pernambucano O jogador italiano estudou durante muito tempo o modo como Juninho Pernambucano batia faltas. O atual meio-campo do Vasco atuava no Lyon, da França, mas Pirlo demorou um pouco a desvendar o segredo. Em um belo dia, a inspiração lhe veio quando estava no banheiro. Com a luminosa ideia, rumou mais cedo para o centro de treinamento do Milan e bateu uma falta que entrou no ângulo superior. Repetiu a dose várias vezes. O italiano descobriu que o brasileiro tocava embaixo da bola e a fazia descair com uma velocidade incrível, que deixava os goleiros adversários desesperados. Nas categorias de base, jogou pelo Flero e pelo Venturas, uma espécie de sucursal do Brescia. Aos 15 anos, já treinava com a equipe profissional e com 16 e dois dias, estreou na Série A, a divisão principal italiana, em 1995, no jogo contra a Reggiana. Marcello Lippi, técnico da seleção italiana campeã de 2006, definiu assim Pirlo: “É um líder silencioso que fala com os pés”. Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico da seleção brasileira e treinador campeão mundial de 1994, compara o craque italiano com o canarinho camisa 10 nos anos 1980: “Pirlo é um Zico na frente da defesa. É o jogador italiano mais brasileiro que eu conheço”. Do Brescia, Pirlo transferiu-se para o Inter, em 1998, aos 19 anos, mas jogou pouco. Lippi foi um de seus seus técnicos e o aconselhou a jogar em outro lugar por uma temporada para amadurecer. Em 1999, foi emprestado à Reggina. Em 2000, voltou ao Inter. Pouco depois, Lippi era demitido. Sem ter espaço no time titular — já que Marco Tardelli, que havia sido seu técnico na seleção italiana sub-21 no título europeu, disse que não o colocaria como titular para preservá-lo — foi emprestado em 2001 ao Brescia. No retorno ao clube que o lançou no futebol profissional, houve a mudança decisiva para sua carreira: o técnico Carlo Mazzone recuou a posição de Pirlo no meio-de-campo. Em vez de jogar avançado, função na qual o Brescia mantinha Roberto Baggio, passou a atuar na frente da defesa. Após a temporada 2000-2001, passou para o Milan, onde se consagrou. “Se Lippi tivesse ficado no Inter, eu poderia ter sido uma bandeira do clube”, revelou Pirlo, que na infância era torcedor interista. Depois, acabou jogando justamente por Milan e Juventus — os dois maiores rivais do seu clube de coração nos tempos de menino. Juventus x Lazio P irlo já conquistou o primeiro título oficial da temporada 2013-14 pela Juventus: a Supercopa. O torneio, decidido em apenas um jogo, é disputado entre os ganhadores do campeonato italiano da temporada anterior, no caso a Juventus, e o da Copa Itália, a Lazio. Apesar de a partida ter sido no Estádio Olímpico de Roma, a Juve não tomou conhecimento do adversário nem de sua torcida: venceu fora de casa por 4 a 0. Alguns torcedores do Lazio vaiaram jogadores negros da Juventus — como Pogba, Asamoah e Ogbonna — quando eles tocavam na bola. A atitude racista resultou em uma punição ao clube branco-celeste da capital: a curva nord, setor das arquibancadas do Olímpico, reduto tradicional de adeptos do Lazio, foi fechada na primeira rodada do campeonato italiano, quando o time enfrentou o Udinese. Pogba é francês; Asamoah nasceu em Gana e Ogbonna é jogador da própria seleção italiana. “São ignorantes. Eu estava sozinho contra 30 torcedores”, desabafou depois do jogo Pogba, autor do primeiro gol juventino. com unit àit aliana | s etem br o 2013 47 Cultura A memória na vitrine Competência italiana no mercado de museus se destaca durante conferência internacional realizada no Rio Cintia Salomão Castro P rofissionais e empresas do setor de museus de dezenas de países estiveram reunidos no Rio de Janeiro em agosto durante a 23ª Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus (ICOM). O comitê da Itália teve uma presença de peso no evento, não apenas por ser um país conhecido pelo seu know-how no setor e detentor de um dos maiores patrimônios históricos do mundo, mas também por ser a sede da próxima conferência. O Centro Congressi da Vecchia Fiera di Milano será o palco do ICOM 2016, de 2 a 9 de julho. — A partir do início do ano que vem, vamos começar a trabalhar em relação ao conteúdo, enquanto a parte da organização deverá ser preparada pela empresa K.I.T. Group, que vai colaborar com a Câmara de Comércio de Milão e a InterFiera. Fazem parte do comitê organizativo a Província, a Região, o Ministério, a Unesco, a Banca Intesa, e o consórcio de 12 universidades lombardas, que fornirão voluntários para dar assistência aos visitantes. Estamos tentando firmar um acordo com as universidades para que o campus possa servir de alternativa de hospedagem. Também estamos organizando encontros na Itália para discutir o evento, e ainda estamos identificando possíveis patrocinadores e expositores — informou à Comunità Cristina Vannini, da Secretaria do ICOM Itália. Conhecido por seu acervo artístico e histórico sem comparação no mundo, o Belpaese ainda oferece tecnologia e modernidade para o setor de conservação, engenharia e arquitetura de museus. Um exemplo disso é a Goppion, uma das líderes mundiais de produção de vitrines para objetos arqueológicos, sediada em Trezzano sul Naviglio, no norte do país, e fornecedora do Museu O professor de Estudos Italianos da Brown University (EUA), Massimo Riva mostra as inovações aos participantes na 23ª Conferência Icom, realizada no Rio de Janeiro 48 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a do Louvre, Art Institute de Chicago, do Rijksmuseum de Amsterdã e do Museu de Tecidos Queen Sirikit, em Bangcoc, na Tailândia. O diretor comercial da Goppion, Andrea Sartori, esteve no Rio, no estande italiano, e contou à Comunità que, apesar de a empresa ainda não ter clientes no Brasil, já tem feito bons contatos, sobretudo com instituições públicas. — Fazemos vitrines para museus em todo o mundo. Na América Latina, estamos avaliando a melhor maneira de oferecer nossos produtos. Em 2016, somos parceiros institucionais do comitê ICOM Italia, e estamos definindo quais serão os modos de colaborar. Estamos entre as primeiras quatro empresas do setor, mas ainda não temos clientes no Brasil. Já atuamos fortemente na América do Norte, e agora estamos em contato com instituições do Brasil, México e Chile — comentou. Arquimedes é destaque em estande moderno Um dos estandes mais interessantes na Cidade das Artes, espaço na Barra da Tijuca onde foi realizado o evento, era o da empresa Syremont, sediada em Roma. Como uma espécie de mostra de uma exposição científica interativa, o espaço era dedicado a Arquimedes — cientista nascido em Siracusa, cidade da Sicília que fazia parte da Magna Grécia, por volta de 287 a.C.. Considerado o maior matemático da Antiguidade, ele provou que a esfera tem dois terços do volume e da área da superfície do cilindro a ela circunscrito. No espaço, havia máquinas em miniaturas e reproduções de invenções do cientista. — São máquinas que estimulam as pessoas em questões matemáticas, físicas... Trouxemos o cone que compõe famílias de cones e jogos antigos que antecederam a combinatória matemática, inventados por Arquimedes. As crianças se divertem e jogam, com objetos tridimensionais — explica Elena Giangiulio, administradora delegada da Syremont. O estande italiano contou com cinco empresas no total, incluindo Occambee e Contemporanea Progetti, e teve o apoio da Promos Milão. — Essa iniciativa tem a missão de trazer empresas do ramo de museologia, e entra no nosso objetivo de internacionalizar as empresas italianas. O ICOM é um congresso internacional que reúne representantes de diversos países. As empresas italianas tiveram contato com instituições não só brasileiras, como de todo o mundo, para as quais apresentaram suas soluções e produtos em diversos campos, como vitrines, realidades virtuais para museus, engenharia e arquitetura. Apesar de o mercado italiano estar um pouco parado, por causa da crise econômica, as empresas italianas querem expandir a sua atuação pelo mundo — avaliou o representante da Câmara de Comércio de Milão no Brasil, Bruno Aloi. A programação não se limitou ao pavilhão de exposições: expedições foram realizadas no Museu de Favelas (MUF), no Museu da Maré e do Museu de Arte do Rio (MAR). Um dos palestrantes que se destacaram foi o professor colombiano Jorge Melguizo, que contou sua experiência em Medellín, considerada até pouco tempo uma das cidades mais violentas do mundo. O especialista, que atualmente trabalha em Barcelona, questionou a estrutura dos museus de hoje e colocou em debate os novos conceitos e modelos de museus, que atualmente vivem uma “ditadura estética” em que apenas as belas artes predominam e gêneros como o grafite são excluídos das grandes instituições museológicas. — Cultura não é o que mostramos ou o que produzimos, mas o que geramos, as reflexões que somos capazes de suscitar nas pessoas. Os curadores precisam matar a arte, tornarem-se comunicadores e se apropriarem da cultura. Eles precisam conhecer melhor o entorno do museu, com quem estão falando, pois hoje conhecem mais as coleções do que as pessoas — afirmou. Zoom nas cenas com Garibaldi A tela do computador com a reprodução da bela pintura de John James Story, de 1860, chamava a atenção no estande italiano. Nela, estavam representadas cenas da vida do herói de dois mundos, Giuseppe Garibaldi. O professor de Estudos Italianos da Brown University (EUA), Massimo Riva, explicava aos visitantes que se tratava de um software totalmente gratuito e disponível para download na internet. A novidade foi colocada na web há apenas um mês. Mas a história do aplicativo, que permite fazer um zoom em cenas de batalha de Garibaldi e Anita no Rio Grande do Sul, é longa. Em 2005, um colecionador privado doou à biblioteca da universidade americana a rara pintura, que oferecia um verdadeiro panorama móvel antes que fosse inventado o cinema. Uma grande plateia atenta se reuniu na Cidade das Artes, no bairro da Barra da Tijuca, para conferir de perto todas as novidades para o mercado de museus. Ao lado, um dispositivo de segurança apresentado na feira Alguns stands de empresas italianas que se apresentaram no evento Com mais de 80 metros de comprimento, a obra era usada na Inglaterra do século XIX em espetáculos, com direito a narrador, iluminação e música. O colecionador, um cirurgião de Nova York de origem britânica, havia herdado de uma tia da Pensilvânia a pintura, realizada em 1860 quando Garibaldi era muito famoso até em solo britânico. — Em 2007, um grupo de informáticos e bibliotecários da universidade fotografou a pintura inteira em alta definição, operação que custou 20 mil dólares. Foi recomposto todo o panorama em um único e longo scroll digital. Dali nasceu o projeto de estudar a pintura cena após cena. O projeto foi desenvolvido por mim e por um grupo de estudantes e outros docentes, estudiosos e interessados na história de Garibaldi. Disponível em português, inglês e italiano, o aplicativo traz uma descrição de cada cena. A tecnologia é da Microsoft, que patrocinou o projeto. O aplicativo permite adicionar documentos, recurso útil a curadores de mostras, por exemplo. Apesar de totalmente gratuito, funciona somente no Windows 8, mas está entre os planos desenvolver uma nova versão aplicável em multiplataforma, incluindo tablets e iphones, adianta o professor Massimo Riva, formado em Florença, que vive há 28 anos nos Estados Unidos. Para fazer o download, basta entrar no endereço http://cs.brown.edu/research/ptc/tag/ com unit àit aliana | s etem br o 2013 49 Cinema A volta de Bertolucci Consagrado diretor de O Último Imperador foi o escolhido para presidir o júri do festival de cinema mais antigo do mundo dia seguinte, mas pode passar décadas sem ver ou falar com as pessoas. “Para vencer um festival, o filme tem que surpreender” Bertolucci acredita que, para vencer um festival de cinema, um filme antes de tudo deve surpreender. — Estou aberto a coisas novas. Quero ser surpreendido pelas histórias, pelas interpretações, pela direção. O filme que surpreende o Janaína Pereira O De Veneza Festival de Cinema de Veneza escolheu um ilustre cineasta italiano para ser o presidente de sua edição de número 70: Bernardo Bertolucci. Diretor do clássico O Último Tango em Paris (1972) e vencedor do Oscar com O Último Imperador (1987), Bertolucci recusou, em um primeiro momento, o convite de Alberto Barbera, diretor artístico do Festival, para presidir o júri de Veneza. — Tinha dito não, pois eu sei o quanto é cansativo. Fui presidente de júri em Cannes, em 1990, e aqui mesmo em Veneza, em 1993. Temos que assistir a pelo menos dois filmes por dia. Porém, depois que Barbera me enviou uma carta também em nome dos selecionadores, me colocando diante de responsabilidades que eu tenho com o cinema e com quem começa nesta profissão, cedi e aqui estou — contou o cineasta durante entrevista a jornalistas. Bertolucci sabe da responsabilidade que tem com o cinema. Durante a coletiva de imprensa realizada antes do Festival de Veneza começar, um jornalista chinês comentou que decidiu estudar italiano depois de assistir ao filme O Último Imperador. — Fiquei surpreso com a declaração. Saber que uma pessoa aprendeu outro idioma por influência direta de um filme meu realmente é algo importante. Eu me senti profundamente honrado — confessou. Em Veneza, além de presidente do júri, Bertolucci apareceu na telona. Junto com cineastas de diversas partes do mundo, ele realizou um curta-metragem em homenagem aos 70 anos do festival, projetado durante a mostra. O diretor também foi a estrela do documentário Bertolucci em Bertolucci, de Luca Guadagnino, que apresenta as principais fases de sua carreira. Aos 72 anos, nascido em Parma e filho do poeta e crítico literário 50 “Eu amo 3D. Queria fazer o meu último longa, Eu e Você, nessa versão, mas foi impossível porque o processo ainda é muito lento e eu precisava fazer o filme rapidamente” Bernardo Bertolucci, diretor italiano Attilio Bertolucci, ele demonstrou um carinho especial por alguns membros de seu júri que não foram escolhidos por ele, e sim pelo diretor Alberto Barbera. — Barbera escolheu muito bem o júri, com pessoas que eu respeito muito. Andrea Arnold (cineasta inglesa) fez um belo filme, Fish Tank, em que pela primeira vez eu vi o ator Michael Fassbender. (A atriz) Carrie Fisher eu não via fazia muitos anos. Todo mundo só lembra dela como a princesa de Star Wars, mas depois Carrie se tornou uma escritora talentosa. E é muito bom encontrar Ryuichi Sakamoto, que escreveu a música para três dos meus filmes. O cinema é assim: terminou o trabalho e cada um segue seu caminho. Você até gostaria de ver um ao outro no s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a júri, que o provoca, que o faz refletir, é o que merece vencer — revelou. Vencedor de nove Oscars, seu filme O Último Imperador — que fez dele o único italiano a receber a estatueta dourada de melhor diretor e voltará aos cinemas em 3D — deve ser exibido em diversos países ainda este ano. O cineasta se mostra antenado com as mudanças cinematográficas e revela o motivo dessa ‘reestreia’. — Há um novo público que gosta de filmes em 3D, e cresceu vendo esse tipo de filme. Ele poderá conhecer um dos meus principais trabalhos dessa forma. Como já disse antes, sou uma pessoa aberta a coisas novas. Além disso, eu amo 3D. Já queria fazer meu último longa, Eu e Você, nessa versão, mas foi impossível porque o processo ainda é muito lento e eu precisava fazer o filme rapidamente — revela. Sobre continuar trabalhando no cinema, Bertolucci, que se locomove em cadeira de rodas por causa de complicações com cirurgias de hérnia que o impediram de ficar de pé, diz que não pretende se aposentar. Seu último filme, Eu e Você (Io e Te), foi exibido ano passado em Cannes. — Eu nunca pensei em me aposentar. Ainda tenho muito que fazer pelo cinema e por isso estou aqui em Veneza — conclui. Cinema Setentenário Edição de 70 anos do Festival de Veneza reuniu filmes que abordam a figura feminina e levou ao Lido George Clooney e Sandra Bullock Janaína Pereira A De Veneza mostra de cinema mais antiga do mundo completou 70 anos. De 28 de agosto a 7 de setembro, o Festival Internacional de Cinema de Veneza recebeu turistas, jornalistas e celebridades para a exibição de mais de 400 filmes em suas diversas sessões. Na mostra competitiva, 20 produções concorreram ao Leão de Ouro, prêmio máximo do Festival. Para presidir o júri deste ano, foi escolhido o cineasta italiano Bernardo Bertolucci. As produções escolhidas pelo diretor Alberto Barbera — em seu segundo ano à frente da mostra — colocaram luz na figura feminina, com mulheres abordadas como personagens corajosas, e também submissas. A violência doméstica e os conflitos familiares foram temas recorrentes no Lido. — O cinema faz uma reflexão sobre a crise que atravessamos: econômica, social, familiar. É o espelho da realidade, muitas vezes trágica. Os filmes deste ano apresentam histórias de abuso sexual, violência contra as mulheres, dissolução de laços familiares, crise de valores. Acho que os cineastas não dão sinais de otimismo nem oferecem saídas — disse Barbera aos jornalistas. Entre os filmes selecionados para a competição oficial, destacam-se o britânico Stephen Frears, com Philomena, a história real de uma mulher que foi obrigada a vender o filho; seu compatriota Terry Gilliam, com The Zero Theorem; a animação Kaze Tachinu, de Hayao Miyazaki (que anunciou em Veneza sua aposentadoria do cinema); e o diretor e ator James Franco, com Child of God, adaptação do best-seller americano de Cormac McCarthy. Se na telona os filmes abordavam diversos conflitos, fora dela a situação pareceu melhorar. Depois de muitas reclamações sobre a falta de estrutura do festival, Barbera investiu em uma nova sala para entrevistas coletivas, colocou diversas tomadas para os jornalistas usarem seus portáteis, e ofereceu pequenos ‘mimos’, como café e água. O diretor fez questão de dizer que vêm mais novidades por aí. — Nossa intenção é trazer cada vez mais jornalistas para Veneza. Por isso pensamos em uma nova sala de imprensa, e a atual poderá virar uma sala de exibição No sentido horário, cenas dos filmes: The Zero Theorem, de Terry Gilliam, Kaze Tachinu, de Hayao Miyazaki e Philomena, de Stephen Frears de filmes. Esperem para o ano que vem mais mudanças — revelou. Mesmo com as melhorias, o festival estava visivelmente esvaziado em 2013, tanto em público quanto em jornalistas. Até o ano passado, a média era de quatro mil repórteres e fotógrafos (80% da imprensa italiana). Os números oficiais garantem que este ano havia três mil jornalistas (sendo um terço de estrangeiros), mas a imprensa local apostava em menos de dois mil. — É só você olhar as sessões de imprensa dos filmes. Nenhuma sessão lotou. Sobraram lugares, coisa que nunca vi antes. A crise econômica mundial afetou, mas o festival perdeu prestígio para Toronto, que acontece quase simultaneamente. Se a data de Veneza não for mudada, a cada ano teremos menos mídia. Além disso, faltam estrelas de peso, gente que arrasta multidões. O tapete vermelho deste ano foi muito sóbrio — analisa o jornalista Michelle Marone, que cobre o evento desde 1990. A volta do americano mais querido da Itália Na ausência de grandes estrelas, Veneza apostou na ‘prata da casa’: o ator americano mais querido dos italianos, George Clooney. O ator foi a principal atração da abertura e representou seu mais recente longa, a ficção científica Gravidade, do mexicano Alfonso Cuarón, o primeiro 3D da história de Veneza, levando também ao Lido a atriz Sandra Bullock. Mais uma vez, os filmes latino-americanos ficaram de fora, embora a coprodução franco-brasileira Amazônia, dirigida por Thierry Ragobert e com roteiro do brasileiro Luiz Bolognesi (também em 3D) tenha sido o filme de encerramento. Os filmes made in Italy também foram prestigiados. A diretora de teatro italiana Emma Dante fez sua estreia no cinema com Via Castellana Bandiera. Gianni Ameli, vencedor do Leão de Ouro em 1998, concorreu com El intrépido, enquanto Gianfranco Rosi apresentou o documentário Santo GRA, rodado na estrada circular de Roma. Para o ano que vem, o presidente da Bienal de Veneza, Paolo Baratta, espera contar com a participação de diretores consagrados e jovens talentos. — Mesclar filmes de quem já está no mercado há anos, com aqueles que começam agora, é a nossa intenção. E esse caminho será ainda mais forte em 2014 — concluiu. com unit àit aliana | s etem br o 2013 51 Arte Casa nova Violinos raros de Cremona recebem um novo museu, projetado com um design que remete às formas sinuosas do instrumento e um palco que funciona como caixa de ressonância Guilherme Aquino O De Milão s instrumentos em arco e corda, realizados por mestres como Antonio Stradivari, Amato e Guarnieri da Gesù, continuam a ecoar pelas ruas e vielas da cidade de Cremona. Os exemplares raros — entre eles, o Stradivari Il Cremonesi, de 1715 — avaliados em mais de um milhão de dólares e conservados no Palazzo Comunale desde 1961, ganham casa nova. O Museu do Violino abre as portas para acolher esses fascinantes objetos que atravessam os séculos sem perder a potência de suas qualidades. Em tempos de crise, a obra foi financiada por um mecenas: o industrial cremonese Giovanni Arvedi. O local escolhido foi o Palazzo Dell’Arte, construído na década de 1940 e quartel militar durante a Segunda Guerra . O antigo prédio volta ao seu esplendor e agora abriga uma arquitetura de imensa grandeza, tendo em órbita uma constelação de 150 oficinas de lutiers, pequenos satélites da arte de criar os instrumentos mais desejados pelos músicos de todo o mundo. Todos tentam se aproximar ao máximo dos violinos criados por Stradivari e que chegaram aos nossos dias intactos, graças ao lutier Giuseppe Fiorini que, em 1930, cedeu à administração pública da cidade o acervo pessoal do mais famoso dos mestres. 52 Ao contrário do antigo local de exposição, este museu “toca”, é vivo e propaga os sons dos instrumentos. A interação é um dos pontos altos do percurso expositivo. Cada uma das nove seções propõe um mergulho nas culturas musical e artesanal que giram em torno de um violino. Ali cabem todas as parábolas que ajudam a compreender a importância desta caixa de madeira, nascida das raízes de árvores de lei. Das origens dos arquétipos dos instrumentos aos segredos das técnicas usadas pelos lutiers, passando pelos processos de difusão (existe uma sala para a projeção de filmes de grandes concertos) e chegando aos dias de hoje, tudo foi concentrado em um único espaço. Museu é obra-prima do engenheiro japonês Ysuhisa Toyota O acervo foi inaugurado com quase mil peças, que incluem as ferramentas usadas pelos construtores de s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Os violinos não são a única atração do museu, um auditório foi criado à imagem e semelhança do instrumento, com a participação do renomado engenheiro de acústica Ysuhisa Toyota instrumentos, pioneiros e modernos, que deram fama internacional e prestígio aos violinos de Cremona, além de uma coleção com os instrumentos vencedores das 13 edições do concurso trienal, que premia os melhores lutiers do mundo. A última edição contou com a presença de 355 especialistas, vindos de 34 países e a comissão teve trabalho para eleger os melhores instrumentos de um total de 462 inscritos, segundo os quesitos de “voz”, desenho e técnica. A transferência dos objetos foi realizada sob um rigoroso esquema de segurança armado nas ruas da pequena cidade. O circuito passa por Cremona como um atestado de qualidade e os instrumentos são usados em concertos públicos ou exclusivos. Engana-se, porém, quem pensa que os violinos constituem a única atração do museu. O auditório criado para ouvi-los é uma obra de arte em si. Os arquitetos Palù e Bianchi criaram um espaço à imagem e semelhança de um violino, com um toque japonês. O mago mundial da acústica, o engenheiro Ysuhisa Toyota, se superou e criou uma “caixa de ressonância e reverberação” que deturpa ao mínimo possível as notas emitidas pelos violinos a tal ponto de permitir que a sala seja usada como estúdio de gravação. A excelência da propagação do som alia-se ao design das 450 poltronas e, principalmente, à geometria e ao material usado na construção. As formas sinuosas do auditório remetem àquelas do instrumento. Estudos preliminares apontaram para a necessidade de localizar o palco abaixo do nível do solo para criar uma área livre maior para a emissão das notas. O próprio palco central foi montado sobre um fundo falso que funciona como caixa de ressonância. Está localizado no meio e as cadeiras o “abraçam”, envolvendo a orquestra e/ou o solista numa atmosfera única de proximidade e de diálogo. E, ao diminuir a distância entre a plateia e os músicos, o projeto prioriza a relação entre o espectador e a música. Serviço O Museu del Violino fica no Palazzo dell’Arte, na Pizza Marconi, 5, em Cremona. Está aberto de terça a domingo, de 10h às 18h. Aos sábados, de 10h às 15h. www.museodelviolino.org Fotografia Duas décadas de parceria Mostra com 100 trabalhos de 35 fotógrafos de diversos países marca os 22 anos da parceria da Pirelli com o Masp Janaína Pereira E De São Paulo stá aberta à visitação em São Paulo a primeira edição da FotoBienalMASP — evento que marca uma nova fase da parceria de mais de 20 anos entre o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp e a Pirelli. Este é o novo nome da Coleção Pirelli/Masp, que está completando 22 anos. Nesse período, a parceria com a empresa italiana, iniciada em 1990, foi responsável pela formação de uma coleção de fotografia brasileira com mais de 1.100 obras. Concebida pelo curador do Masp, Teixeira Coelho, e organizada por Ricardo Resende, mestre em História da Arte pela USP e curador convidado, a edição reúne mais de 100 trabalhos, realizados por 35 fotógrafos de diferentes origens e vertentes. O tema escolhido para esta edição é a relação entre a fotografia e outras linguagens próximas. Entre os artistas que participam estão Caio Reisewitz, Rodrigo Braga, Grupo Garapa, Grupo Motoboys, Berna Reale, Dora Longo Bahia, Odires Mlászho, a sérvia Marina Abramovic e o colombiano Oscar Muñoz. Segundo o curador do museu, Teixeira Coelho, a exposição foi pensada com um enfoque atual sobre a fotografia, que já não é mais aquela obtida por um aparato especificamente construído para esse fim. — A fotografia atual tem o seu formato de campo ampliado, o que a qualifica como uma das formas mais ricas da arte nos dias de hoje — comenta o curador, acrescendo A primeira edição da Fotobienal Masp apresenta trabalhos realizados por 35 fotógrafos. Entre eles, Rodrigo Braga, Berna Reale, Marina Abramovic e Odires Mlászho que a fotografia e a exposição estão de acordo com os parâmetros que o museu oferece ao seu público. Coelho explica que o Masp oferece algo além de um centro de exposições em si mesmo, com uma coleção própria que “acolhe diferentes modos da arte do passado e do presente oferecidos ao visitante como outros tantos pontos de comparação e apoio para uma experiência aumentada da arte nele mostrada”. Na mostra, a linguagem da fotografia tradicional é confrontada com os demais meios artísticos que com ela hoje dialogam — a exemplo da pintura, vídeo e da instalação. Esse diálogo entre as diferentes linguagens marca o propósito renovador que pontua esta nova fase da coleção Pirelli. O público poderá ver de perto trabalhos de jovens profissionais, ao lado de consagrados autores brasileiros e do exterior, numa troca intensa de pontos de vista e soluções estéticas, indispensável no atual momento da comunidade global da arte. A área tem sido um campo privilegiado de experimentação conceitual nas últimas décadas, ressalta Teixeira. — A arte contemporânea tornou-se, em grande parte, fotográfica e o gesto de “bater” uma foto passou a fazer parte de um vasto e novo processo de criação da imagem, do qual participam não só a fotografia permitida por um aparato tradicional ou digital, como a imagem na condição de instrumento para um domínio artístico ampliado. O fim da fotografia analógica ou, em todo caso, a superação de seus limites, abriu ampla porta de comunicação da fotografia com o que a precedeu, o que existe ao redor e o que tem pela frente. As fronteiras foram abolidas e a fotografia deu um passo além de como era conhecida — finaliza o curador do Masp. Serviço Quando: De 16 de agosto a 3 de novembro de 2013 Onde: Masp - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand Av. Paulista, 1578 - São Paulo Tel: (11) 3251-5644 Horários: De terça a domingo, inclusive feriados, de 10h às 18h. Às quintas das 10h às 20h. Ingresso: R$ 15. Estudantes, professores e aposentados: R$ 7. Acesso gratuito a todos às terçasfeiras e para visitantes com até 10 anos e acima de 60 anos. com unit àit aliana | s etem br o 2013 53 firenze GiordanoIapalucci HalloWine a stagione del buon vino non finisce L mai e quella del vin nuovo sta ora cominciando. Quindi, come si suol dire: gambe in spalla fino alla Fattoria di Luiano, sulle colline del Chianti per la festa di Hallowine, la rassegna enogastronomica che vi guiderà in un percorso pieno di degustazioni e pregiati vini abbinati ad assaggi a base di zucca. Il produttore in prima persona si metterà a disposizione per una visita a 360° sulla produzione del vino: dall’analisi dei vitigni alla raccolta dell’uva fino al processo di produzione del vino e del suo invecchiamento. Le degustazioni partiranno mercoledì 31 ottobre per concludersi domenica 4 novembre con orario 11.30 -19.00 e ingresso a 5 euro. Destinazione Lucca I n occasione del 45° anniversario dell’Associazione Lucchesi nel Mondo, la città di Lucca è voluta andare controcorrente e rendere omaggio a tutti quegli artisti stranieri che l’hanno scelta come luogo di ispirazione e nuove tendenze artistiche. Per questo importante anniversario sono stati invitati alcuni artisti come Dariush (Iran) con la sua capacità di scritto- re e abilità nel ritrarre figure umane, Uri Negvi (Uruguay), dal tocco e sensibilità singolare nel saper dosare colori e tratti e Katerina Ring (California), la cui attenzione si rivolge principalmente a nature morte ad acquerello e paesaggi pastello. Presso il Palazzo delle Esposizioni della Fondazione Banca del Monte di Lucca al numero 7 di piazza San Martino, Lucca. Botanica er chi sarà nei pressi di Firenze, P nel mese di ottobre, non può perdersi la splendida mostra mercato di piante rare e da collezione, arricchita ancor di più dalla cornice nella quale viene presentata: Villa Caruso a Lastra a Signa. La villa porta il nome del famosissimo tenore napoletano che, nel 1906, la acquistò e che oggi viene valorizzata con concerti, spettacoli, esposizioni e visite. All’interno dell’esposizione sarà data particolare attenzione alle piante antiche e in parte quasi totalmente dimenticate. Seguirà una sezione totalmente dedicata alla preziosa pianta della famiglia delle Iridaceae, lo zafferano, ed esperti del mondo botanico saranno a disposizione per corsi sulla potatura e cura delle piante in generale. Ingresso 3 euro. 54 Cambiamento LaarteVersilia sognata di Marcello Polacci, nonostante Costante L’non abbia mai frequentato delle scuoopo il periodo di ferie estive, il Caffè D Letterario “Le Murate” riapre i battenti ospitando la XVI° edizione del Festival “New Transitions, Costante Cambiamento”, dedicato al Medio Oriente e Nord Africa con le loro specificità di territori di confine e di conflitto, da considerarsi tra i più difficili e intricati a livello internazionale. Il programma dell’evento prevede mostre, spettacoli, musica e arti visive, come anche dibattiti che richiamano l’attenzione su temi come la giustizia sociale, i venti di cambiamento in quei luoghi con l’unico obiettivo di incoraggiare e condividere lo scambio tra culture diverse. Ingresso gratuito. s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a le artistiche, non si può certo definire elementare, anzi, la sua grande passione per la pittura gli ha permesso di intraprendere un percorso che l’ha portato ad entrare in contatto con artisti di spiccata fama internazionale, fino a ricoprire il ruolo di direttore della Galleria di Arte Moderna di Forte dei Marmi. Polacci dipinge i luoghi a lui cari, appunto la Versilia, regione nordoccidentale della Toscana, con la quale intrattiene un dialogo lineare, riproducendo e riducendo i suoi componenti, come le montagne, i blocchi di marmo e i pini marittimi, alla loro essenzialitàe sintesi. La mostra rimarrà aperta dal 23 novembre al 15 dicembre, con ingresso gratuito. Educação Excelência reconhecida Fundação Torino, fundada em 1975, em Belo Horizonte, se destaca pela formação de excelência inspirada na cultura italiana, que já rendeu diversos prêmios internacionais U m pouco da Itália está presente em Belo Horizonte há 38 anos. Tudo começou com os filhos dos funcionários italianos que chegavam à capital mineira para trabalhar em uma indústria automobilística. Hoje, a Fundação Torino oferece a todos — e não apenas a descendentes de italianos — a oportunidade de buscar um conhecimento diferenciado e completo, proporcionado por uma respeitada escola internacional. A escola forma alunos da educação infantil ao ensino médio (Scuola Materna, Scuola Elementare, Scuola Media e a Scuola Superiore) com duas opções: Liceo Scienze Umane – técnico em administração) e o Liceo Scientifico. Desde cedo, eles aprendem durante a alfabetização o português, o italiano e o inglês, além do espanhol, a partir do primeiro ano da scuola media, e o latim, que pode ser aprendido na scuola superiore. A Fundação aplica o reconhecido e importante Exame de Estado aos estudantes da Scuola Superiore. Eles recebem diploma internacional e podem estudar em faculdades de 28 países. A diretoria ressalta que tem a preocupação principal de ensinar os alunos a pensarem. A leitura, a conscientização e a informação são especialidades desenvolvidas pelos projetos Atentado Poético, Ecoscienza e Rádio História. Há 10 anos, os moradores de Belo Horizonte são presenteados com obras literárias. Os alunos saem às ruas entregando o mundo dos livros a cada pessoa que encontram. Em cada livro há uma identificação e uma recomendação para que quem o encontre não o aprisione e, após a leitura, deixe-o novamente livre para que ele possa ser encontrado e lido por outra pessoa. O Atentado Poético é uma iniciativa inspirada no projeto www.bookcrossing.com, voltado para a troca de livros e experiências de leitura. Nos últimos cinco anos, a instituição conquistou mais de 15 prêmios nacionais e internacionais. O Prêmio Cidadãos do Mundo, iniciativa de apoio e incentivo aos melhores projetos em prol do desenvolvimento sustentável, organizado pelo jornal mineiro Hoje em Dia, foi entregue em 2010, pelo Via Turismo, na categoria responsabilidade social. O projeto Rádio História recebeu o prêmio Microsoft Educadores Inovadores, que reconhece os melhores projetos educacionais desenvolvidos por professores que utilizam a tecnologia em sala de aula. A Fundação Torino ficou em 1º lugar na categoria de escolas particulares. Os projetos Econscienza e Generocídio – Mapeando e denunciando a violência contra a mulher em BH, também foram premiados. Em 2011, durante o III Congresso Internacional de Gestão Educacional e XII Congresso Nacional do mesmo tema, o presidente da Fundação Torino, Raffaele Peano, foi eleito o Gestor Educacional do Ano, premiação entregue a quem valoriza práticas de sucesso e gestores de instituições de ensino. Alunos têm a oportunidade de viajar pelo mundo desde o 5º ano Já na 5ª série, os alunos da Scuola Elementare têm a oportunidade de fazer seu primeiro intercâmbio internacional, na Itália. Além de visitarem várias cidades, como o Vaticano, Pisa, Florença, Veneza e Urbino, onde permanecem alguns dias hospedados no Centro de Arte Corte della Miniera, dividindo espaço, informação e experiência com outros estudantes de vários países. Para a maioria dos alunos, é a primeira experiência de independência. No Liceo, os horizontes se ampliam e a viagem educativa é pela Europa. Durante 15 dias, os alunos se aprofundam na história, nos pontos turísticos, no idioma de quatro capitais: Lisboa, Londres, Paris e Roma. Eles são acompanhados pelos professores e estudam no próprio local os conteúdos aprendidos nos livros. Aos 18 anos, Luiza Raelli Marchi Penna, recém-formada pelo Liceo Scientifico, tem como plano inicial ingressar numa faculdade no Brasil e posteriormente numa faculdade da França ou no Politécnico de Torino, na Itália, que recebe um grade número de alunos formados pela Fundação Torino. Segundo Luiza, durante todo o ano, os professores foram atenciosos e dedicados às avaliações do Exame de Estado para que todos consigam conquistar o desejado diploma internacional. — No segundo semestre, os professores fizeram um plano de estudo dedicado às provas escritas e orais. Fiquei mais atenta com as disciplinas matemática e física. Por fim, conquistei o que sempre sonhei, desde quando entrei na Fundação: ter o meu diploma reconhecido internacionalmente — conta. com unit àit aliana | s etem br o 2013 55 ItalianStyle Das sandálias de plástico aos sapatos metalizados, passando pelas cores verde-esmeralda e laranja, diversas tendências dominaram o que foi moda neste verão italiano. E, como sempre acontece, muitas devem influenciar o verão brasileiro. Confira alguns acessórios que podem nos servir de inspiração. iaforam ca e ia a u c a-q ra-que- lianas. r delo toma praias ita uitas mna s o ,m m To o cia na o sempre da foto é ndên uínis m i e q 80 Os bi a grande t sentou, co ste biquín reço: € 2 r e E P t r . . as se ou soni ap visco nizad s A Mi pas padro forro de .com i m estam renda co ww.misson w m e feito Plástico Sapatos de plástico foram tendência deste verão. A Furla lançou toda uma coleção em PVC, com sapatilhas, sandálias de salto e plataformas. Esta da foto é uma sapatilha na cor laranja, outra marca forte da estação. O modelo também tem salto embutido de 1 cm. Preço: € 70 www.furla.com Animalier As estampas animais, ou tigresas, voltaram com tudo. A Versace propôs uma coleção inteira de beach wear em Barocco Animalier. Na foto, uma calça pantalona em tecido leve e fresco, ideal para o verão. O modelo tem cintura elástica e bolsos nas laterais, para ser usado tanto na praia quanto na cidade. Preço: € 375 www.versace.com Verde-esmeralda Fotos: Divulgação A coleção primavera-verão 2013 da Dolce & Gabbana foi inteiramente dedicada à Sicília e suas cores. E umas destas cores, o verdeesmeralda, foi eleita a cor da estação na Itália. O modelo da foto é uma bolsa de mão em tecido brocado com a estampa floral que marcou a coleção da grife. De algodão, seda e viscose, a bolsa tem alça removível. Preço: € 595 store.dolcegabbana.com Metalizados Sapatos metalizados estiveram por toda a parte. Diversas grifes investiram neles, como Roberto Cavalli, que lançou o seu modelo com salto de 14 cm com strass, glitter e tecido laminado. A ten Preço: € 760 bicolo dência de ar store.robertocavalli.com res t ig para o , com desta os q preto & bran ue foi um co, a d as desse verão estrelas A Crom na Itá lia. ia marca , tradiciona l couro, d lanç e bolsas d no mo ou a sua So e ho delo Preço: shopping. € 12 www.cr omiaba 6,45 gs.com P&B 58 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a milão GuilhermeAquino Migração esportiva s altos custos da vida esportiva em Mi- O lão favorecem a mudança dos técnicos e atletas para as cidadezinhas da periferia. O aluguel de uma quadra coberta de basquete na capital lombarda custa de 18 a 35 euros por hora. Em Pioltello, distante a poucos quilômetros, o preço cai para sete euros. Este triste exemplo se repete em outras modalidades, como a ginástica, o tênis e o futebol. Por isso, muitas associações e clubes se transferem. E quem paga é o futuro talento, que perderá horas preciosas no transporte urbano para treinar. Pode uma coisa destas? O grande Leonardo O homem de Vitruvio é imortal. A chance de vê-lo de perto, o original, não acontece a toda hora. Para quem estiver de visita em Veneza, vale a pena ir à Galleria della Accademia para encontrar toda a genialidade de Da Vinci. Uma exposição com 52 desenhos (sendo dez em ambas as faces de uma mesma folha) representa uma verda- deira lição artística e científica de um homem que viveu muito à frente do seu tempo. A mostra vai até dezembro e cobre o período entre 1478 e 1516 com documentos, desenhos e códigos que raramente podem ser vistos juntos, pois pertencem a diferentes coleções privadas, museus e bibliotecas italianas e estrangeiras. Prêmio literário concurso de O Imigração e asilo ntre os meses de julho e agosto, depois E das principais ondas de desembarque clandestino na ilha italiana de Lampedusa, Milão recebeu cem menores de idade, dos quais 40% egípcios. A estes, somam-se 500 crianças e adolescentes que vivem em diferentes comunidades milanesas, com lotações esgotadas. E, com a possibilidade de uma carestia na Síria, torna às mentes milanesas o episódio de emergência provocado pela guerra civil na Líbia, em 2011, quando 3.600 refugiados abandonaram o país, desembarcaram nas costas italianas e pediram asilo político. literatura e de poesia BrainGnu foi lançado para autores, italianos ou estrangeiros, que tenham obras inéditas. No estilo de narrativas, o escritor pode se aventurar com até 350 mil batidas, enquanto que, na poesia, o limite é de 70 páginas. No momento em que os festivais italianos de literatura estão em alta e se dando ao luxo de cobrar ingressos, os editores correm atrás de novidades. Num círculo virtuoso, a editora Prospettiva lançou o prêmio. O prazo para envio é 30 de novembro. O contato é o email [email protected] Eva sem adão va Riccobono, madrinha da 70ª E Mostra Cinematográfica de Veneza, é uma diva com os pés no chão, ou melhor, na areia. Palermitana de nascimento e milanesa de adoção, a moça, vestida de Armani, ofusca estrelas cinematográficas. Etérea e fascinante, do alto de seus 1.78 cm e 30 anos, ela empresta sua simpatia e seu talento de modelo, atriz e apresentadora ao festival ancião, dando um ar de frescor (de lavanda, se fosse em Cannes) do melhor do made in Italy: o culto à estética da beleza. com unit àit aliana | s etem br o 2013 59 IlLettoreRacconta os últimos integrantes dessa leva de imigração se mudaram para o país em meados da década de 1960. “Nenhum deles voltou para a Itália”, acrescentou. A maior parte da família se estabeleceu no Bexiga, bairro com forte presença de imigrantes italianos. “Meu tio-bisavô quis abrir um comércio que pudesse atender a população de imigrantes do lugar; então desde o início a Basilicata teve como foco a venda de pães tipicamente italianos e outros produtos do país e continua assim até hoje.” Apesar de trabalharem no mesmo local há quase cem anos, as famílias Laurenti e Lorenti não vivem mais no Bexiga, bairro que sofreu muitas transformações ao longo do último século. “O bairro era formado quase exclusivamente por imigrantes, mas começou a ter pensões e cortiços, ficar muito barulhento para as famílias”, explicou Vittorio, que se mudou com os pais e os dois irmãos para a Vila Olímpia, aos 12 anos de idade. A especialidade da padaria é o pão caseiro, em São Paulo também conhecido como pão italiano, que leva apenas farinha de trigo, água, sal e fermento natural. A receita é a mesma trazida por Filippo Ponzio da Itália em 1914 e a fabricação do pão de crosta crocante continua artesanal. P restes a completar cem anos, a padaria Basilicata foi fundada e administrada por três gerações de imigrantes italianos. Tudo começou com a chegada de Filippo Ponzio em 1914, que, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, deixou o sul da Itália em busca de uma vida melhor no Brasil. Como grande parte dos italianos que chegaram ao país naquela época, Ponzio se estabeleceu no bairro paulistano do Bexiga e ali abriu uma loja de pães e produtos italianos, batizada com o nome de sua região de origem na Itália. Nascia então a Basilicata, hoje uma das mais tradicionais padarias de São Paulo. Pertencente à quarta geração de proprietários, Vittorio Lorenti, de 60 anos, sobrinho-bisneto de Ponzio, que literalmente nasceu e cresceu na loja da família. “Nasci no quintal da padaria; naquele tempo minha família morava no imóvel ao lado. Desde pequeno vivenciei o cotidiano do negócio, com dez anos já ajudava meu pai a entregar os pães”. Os pais de Vittorio deixaram a Itália em 1948, em um navio que partiu do porto de Nápoles em direção ao Brasil. A mãe, Rafaella Laurenti, nasceu na cidade de Tramutola, na Basilicata, e o pai, Salvatore Lorenti, era de Guardavalle, na Calábria. Primos de segundo grau, os dois se conheceram através de suas famílias e se casaram na Itália. Já no Brasil, Salvatore começou a trabalhar em padarias, e, algum tempo depois, tornou-se sócio da Basilicata, onde boa parte da família já trabalhava. “Os primeiros familiares vieram e, à medida que o negócio foi dando certo, foram chamando os outros”, contou Vittorio. Pelos seus cálculos, mais de 20 membros das famílias Laurenti e Lorenti vieram para o Brasil, sendo que São Paulo 60 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a Giorgio Mortara em vários momentos com a família reunida no Brasil e na Itália A produção mensal do pão mais famoso da Basilicata consome por volta de 75 toneladas de farinha. Diariamente são vendidos cerca de cinco mil pães do tipo, boa parte para restaurantes e supermercados. Também são feitos na casa antepastos, patês, massas e doces e vende queijos, vinhos, azeites e outros produtos tipicamente italianos. Formado em engenharia química, Vittorio começou a trabalhar em tempo integral na padaria em 1987 e hoje administra o negócio da família com seus dois irmãos e dois primos. Os cinco se dividem entre a padaria do Bexiga e o Empório Basilicata, no bairro de Moema. A quinta geração da família ainda não se interessou pelo negócio, mas Vittorio espera que ao menos um dos sobrinhos, que estudou gastronomia, venha a trabalhar na padaria. Mande sua história com material fotográfico para: [email protected] Tramutola saporid’italia AlineBuaes A bota em Florianópolis Casa comandada pelo chef Gian Paolo Bonfiglioli oferece pratos que aliam a gastronomia italiana aos frutos do mar catarinense F lorianópolis – Inaugurado em 1996, o restaurante Lo Stivale, localizado em Florianópolis (SC), é comandado pelo chef italiano Gian Paolo Bonfiglioli e sua esposa brasileira, Helena Senhor. Com mais de 40 anos de experiência no ramo gastronômico, era proprietário de dois premiados restaurantes italianos na Dinamarca antes de decidir abrir novos caminhos no sul do Brasil. Natural de Bolonha, Bonfiglioli conheceu Helena em 1990 quando ela morava na cidade. Ele estava de passagem para visitar a família e, em pouco tempo, decidiu vender o restaurante de Copenhague e investir no Brasil junto com a esposa. A escolha por Florianópolis ocorreu após uma tentativa mal sucedida em Porto Alegre. — O Paolo não se adaptou à capital gaúcha — conta Helena, natural de Sarandi (RS) e neta de imigrantes italianos de Treviso. A casa onde hoje funciona o restaurante, na praia de Ponta das Canas, no norte da ilha de Florianópolis, inicialmente era para ser a residência do casal. — Nós compramos a casa para morar e aos poucos fomos iniciando o restaurante, servindo pratos simples como massas com molho matricciana e carbonara — explica Helena. Hoje, o Lo Stivale, que utiliza apenas ingredientes genuinamente italianos, todos importados, com exceção das carnes e dos peixes, é considerado o melhor estabelecimento italiano do estado de Santa Catarina pelo Guia Quatro Rodas, o melhor da cidade pela revista Veja e um dos quatro melhores italianos do sul do Brasil segundo a revista Viagem. Outro reconhecimento importante recebido recentemente é o selo Ospitalità Italiana, promovido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Turísticas da Itália (Isnart), que certifica a alta qualidade e autenticidade dos produtos e serviços italianos oferecidos. Buonfliglioli e Helena supervisionam rigorosamente todos os serviços da casa, desde a produção dos pratos, servidos à moda italiana, com opções de entrada, primeiro e segundo pratos, risotos e sobremesas, passando pela carta de vinhos, que lista 130 rótulos nacionais e estrangeiros, até o atendimento aos clientes, em um espaço tipicamente italiano: aconchegante, com jardim interno com fonte de água e mesas em um terraço com vista para o cinturão verde ao redor do restaurante. O casal também supervisiona a compra dos ingredientes, todos trazidos da Itália, desde massas até os azeites trufados e de oliva. Um prato que celebra a união entre a paixão italiana pela gastronomia e as belezas naturais do mar de Florianópolis é o Risotto al Profondo Mare. Risotto al Profondo Mare (para 4 pessoas) Ingredientes: 100g de lula em anéis; 200 g de camarão limpo; 100 g de berbigão; 100 g de vieira; 100 g de mariscos; 1 e ½ xícara de vinho branco seco; 2 colheres de sopa de cebola picada; 2 colheres de sopa com manteiga; 3 colheres de sopa de azeite de oliva; 2 colheres de sopa de molho de tomate; 380g de arroz Carnaroli; 1 e ½ litro de caldo de peixe; 1 colher de sopa de salsinha picada; sal e pimenta a gosto. Modo de fazer: Refogue a lula em metade do azeite por alguns minutos. Junte o camarão, as vieiras e os mariscos e refogue mais um pouco. Adicione a metade do vinho, coloque o molho de tomate, abafe, cozinhe por alguns minutos e reserve. Doure a cebola em metade da manteiga, junte o arroz e refogue por alguns minutos. Adicione o restante do vinho branco e deixe evaporar o vinho em fogo alto. Junte aos poucos o caldo de peixe, quase em ponto de fervura, mexendo de vez em quando (à medida que o arroz for secando, adicione mais caldo). Após 12 minutos, junte os frutos do mar. Cozinhe por mais cinco minutos e retire do fogo. Acrescente a salsinha picada, o restante da manteiga e do azeite, misture bem e sirva imediatamente. Observação do chef: Ao risoto com frutos do mar não deve ser adicionado o queijo parmesão, pois o queijo mata o sabor dos mesmos. Buon appetito! Serviço: Ristorante Lo Stivale Av. Luiz Boitex Piazza, 4838 - Ponta das Canas, Florianópolis (SC) Tel.: (48) 3284-2079 E-mail: [email protected] De quinta-feira a sábado, das 18h à meia-noite. Aos domingos, das 12h às 16h com unit àit aliana | s etem br o 2013 61 la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro La fattorietta Q uem pode imaginar que, a vinte minutos a pé do Vaticano, existe uma fazendinha, com porcos, burrinhos, galos, ovelhas e cabras? La Fattorietta (lafattorietta.org) é uma agradável surpresa na caótica Roma. O endereço já evoca um mundo bucólico: vicolo del gelsomino, ou seja, beco do jasmim. Um programa gostoso, principalmente para crianças, que podem correr no seu extenso gramado com vista para a Cúpula de São Pedro e visitar os animais e acariciá-los. Todos os bichos têm nome, alguns até nome de gente: os burrinhos Ernesto e Giulia; os pôneis Gelsomino, Bella e Ettore; a vaca Polly; as cabras Mina, Salina, Biancone, Pelo e Ponneso; as ovelhas Nina, Marcello e Gaetano; o coelho Vasco; a porquinha Isotta... E os bichinhos adoram receber um carinho da criançada. Meu “muso” inspirador N ãSobre o relógio biológico feminino já se escreveu de tudo. Todos sabem que, quando chega certa idade, para muitas mulheres, bate aquela vontade de ter filhos. E ninguém segura uma mulher que está louca para ter um bebê. Dizem que o tal relógio bate na casa dos 30 anos. Hoje, para muitas, bate um pouco atrasado, chegando aos 40. Mas não gosto muito do termo relógio biológico. Prefiro chamá-lo de “momento de inspiração”. Ou “momento de revelação”, quando se sente no mais profundo da alma que ser mãe é imprescindível. Ou então, quando se sente que não se quer ser mãe. Todas as opções são válidas. Até os 30 anos, eu estava muito preocupada em viver uma paixão, conhecer o mundo, descobrir minha vocação. Só depois de minha vinda a Itália, quando tinha 32 anos, o tal momento chegou. Meu “muso” inspirador foi o Adriano. Não falo do grande imperador romano, que inspirou Marguerite Yourcenar a escrever o belíssimo livro Memórias de Adriano, uma autobiografia imaginária do imperador. Meu Adriano era apenas um menino. Ele era o filho de meu namorado. Na realidade, me “apaixonei” primeiro pelo filho, depois pelo pai. Era um menino doce, inteligente, curioso, divertido. Nunca vou me esquecer quando eu estava com dor de garganta e ele veio com uma colherzinha de mel. Opa, pensei, também quero ser mãe!!! Deve ser tão bom. Fizemos vários programas juntos, fomos a piscinas, corremos no campo, viajamos. Ele foi a semente que se instalou no meu coração de futura mãe. Outra semente foi durante uma mostra de arte no Mercado de Traiano sobre esculturas realizadas com mármore colorido. Numa das salas, um menino de sete anos observava com máxima atenção um vaso de alabastro, e depois disse ao pai, categoricamente: “Pai, sabe de uma coisa? Eu não gosto de alabastro”. Só na Itália mesmo uma criança tem tanto acesso à arte que pode se dar ao luxo de gostar de um material e menos de outro. O tempo foi passando, eu fui adiando a maternidade por razões sentimentais (ora bolas, para ser mãe, é preciso também um homem que a gente ame e que queira ser pai!), mas o desejo era absoluto e intenso. Demorou, mas tive meu desejo realizado. E ter tido filhos aos 40 anos, gêmeos ainda por cima, matando dois coelhos com uma cajadada só, é uma bênção que devo agradecer todo dia a Deus, através do meu vizinho, o Papa. Felicidade é pegar o bonde andando e ainda sentar na janelinha. 62 s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a