Horizonte da favela

Transcrição

Horizonte da favela
Modelo
Produção criativa
e tecnologia
compartilhada
Herdeira
Conheça a
poderosa filha de
Silvio Berlusconi
Férias
As alternativas
que nasceram
da crise
www.comunitaitaliana.com
Rio de Janeiro, setembro de 2013
Ano XIX – Nº 182
Horizonte
da favela
ISSN 1676-3220
R 7,00 R$ 11,90
As melhores perspectivas nas comunidades
nos altos dos morros do Rio de Janeiro levam
mais cultura e turismo para localidades como
a Santa Marta e guias aprendem italiano para
atender melhor o crescente mercado
Pra onde caminha a sociedade de consumo e quem a controla?
NOS ÚLTIMOS 6 ANOS, O INVESTIMENTO EM SAÚDE NO ESTADO MAIS DO QUE DOBROU: PASSOU DE 1,8 BILHÃO
PARA 3,7 BILHÕES. SÃO 6 NOVOS HOSPITAIS DE REFERÊNCIA: HOSPITAL DA MÃE, EM MESQUITA;
HOSPITAL DA MULHER, EM SÃO JOÃO DE MERITI; HOSPITAL DE TRAUMA DONA LINDU, EM PARAÍBA DO SUL;
CENTRO DE TRAUMA DO IDOSO, EM SÃO GONÇALO; HOSPITAL DA CRIANÇA E INSTITUTO ESTADUAL DO CÉREBRO,
NA CAPITAL. TODO MUNDO SABE QUE AINDA HÁ O QUE MELHORAR, MAS NINGUÉM PODE ESQUECER
QUE JÁ AVANÇAMOS MUITO. E ESSE TRABALHO NÃO TERMINOU.
S e te m bro de 2013
A no X IX
N º182
Capa
36 | Favela global
Sociedade
14 | Coworking
Atualidade
16 | Não bate
Os morros do Rio de Janeiro
se revitalizam e ganham
maior número de turistas,
com isso a Embaixada cria
programa de cursos de
italiano para guias nas favelas
Profissionais freelancers e
pequenas empresas italianas
compartilham experiências
em espaços criativos e de
tecnologia de ponta
A sociedade de consumo
de massa, do marketing
agressivo e da corrupção nas
esferas públicas versus as
vozes das ruas que pedem
melhores serviços
Política
Economia
22 | A escolha Das
escolhas estratégicas do Ceo
da Fiat, Sergio Marchione,
depende o destino do grupo e
de milhares de trabalhadores
31 | Marina
Quem é a herdeira de
Silvio Berlusconi que
ganha destaque após a sua
inelegibilidade
34 | Pensioni d’oro
Le pensioni di manager
pubblici costano 13 miliardi
di euro all’anno allo Stato
Mercado
28 | Pelos ares
Italianas se destacam na
segunda maior feira de
aviação do mundo realizada
em São Paulo
Nossos colunistas
09 | Cose Nostre
Embaixador em Roma, Ricardo
Neiva Tavares recebe convidados
para o dia da Independência
com risoles, coxinhas,
empadinhas e pães de queijo
24 | Elétrico Empresa
italiana abre sede no Rio e
fala sobre os horizontes da
energia no Brasil
12 | Fabio Porta
26 | Import-Export
29 | Mostra do café
Exportações brasileiras devem
aumentar com a valorização
do euro e retomada dos
mercados europeus
A participação do Brasil
na Expo 2015 de Milão e a
mostra da torrefadora Illy
em Belo Horizonte
Il “golpe” cileno contro Il
governo di Salvador Allende
completa quarant’anni
13 | Ezio Maranesi
Nonostante tutto dobbiamo
crederci: l’Italia ce la farà!
54 | Giordano
Iapalucci La stagione
del buon vino non finisce e
quella del vin nuovo sta ora
cominciando
59 | Guilherme
Aquino Devido aos
altos custos em Milão,
técnicos e atletas se
transferem para a periferia
62 | Claudia
Monteiro De Castro
45
Gênova inaugura pavilhão de golfinhos projetado pelo arquiteto Renzo Piano.
Os cetáceos encantam todas as gerações que visitam o Aquário. A complexa
estrutura é preenchida com 4,8 milhões de litros de água do mar e equivale a
um prédio de sete andares afundado no porto.
6
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
A 20 minutos do Vaticano,
uma fazendinha com
burrinhos, ovelhas, porcos,
galos e cabras para as crianças
Cultura
48 | Museus de
ponta Competência
italiana em destaque durante
conferência internacional
realizada no Rio
Editorial
Expediente
A bordo
U
ma operação de 600 milhões de euros que envolve 500 pessoas, entre engenheiros, mergulhadores e biólogos de 26 países, mais 150 empresas italianas que contribuem com o fornecimento de materiais necessários para
a empreitada. O giro do navio Concordia, da Costa Cruzeiros, foi acompanhado ao vivo em todo o mundo como um grande reality da TV. Aos números impressionantes para mover um gigante de aço de mais de 114 mil toneladas, 20 metros
mais longo que o Titanic, se soma o ineditismo da ação cautelosa de se alinhar no mar
esta estrutura que causou tanto dissabor à Itália e às famílias das vítimas.
Pietro Petraglia
Editor
Se o acidente, que aconteceu em 13 de janeiro de
2012, na Isola del Giglio, Toscana, ficou para a história
pela imprudência do comandante Francesco Schettino,
esta recuperação chamada tecnicamente de “parbuckling”
é uma demonstração de capacidade técnica e organizacional que o país oferece à opinião pública mundial. Um significativo exemplo de que quando o público e o privado se
dispõem em prol de uma causa maior, os resultados são
positivos. O trabalho que começou às 9 da manhã do dia
16 de setembro se estendeu até as 4 da manhã seguinte e
usou técnicas de engenharia hidráulica jamais vistas com
o cuidado peculiar de não quebrar a estrutura e causar um
acidente ambiental pela liberação de materiais tóxicos do
interior do navio.
O esforço teve sucesso e, ao som das sirenes de navios, aplausos, abraços,
sorrisos e lágrimas mostravam o orgulho que havia naufragado e agora emergia
das águas. O Concordia ficará no lugar que está até a chegada da primavera italiana,
para depois fazer sua última viagem, em que será demolido.
A Itália está em plena ressaca política, aliás, parece que o país gosta mesmo
de navegar nesses mares agitados neste setor. No momento em que começa a se
recuperar de uma crise econômica, vem a fatídica decisão em torno da expulsão do
ex-premier Silvio Berlusconi do Senado. Pelas leis italianas um senador não pode
exercer o cargo caso seja condenado a mais de dois anos de prisão. Como ele é o
líder do PDL, principal aliado responsável pela formação do governo do primeiro-ministro Enrico Letta, corre-se o risco de um rompimento com o PD e a consequente queda do governo.
Esperamos que a Itália se espelhe no exemplo da operação de resgate do Concordia e tome as melhores decisões para o país assumir a melhor navegabilidade. Certamente muitos italianos gostariam de parafrasear e gritar aos governantes como o
capitão Gregorio Maria De Falco no dramático telefonema ao comandante Francesco
Schettino ao chocar o navio nas pedras da ilha de Giglio: “vada a bordo, cazzo!”.
Boa leitura!
Fundada
em
março
de
1994
Diretor-Presidente / Editor:
Pietro Domenico Petraglia
(RJ23820JP)
Diretor: Julio Cezar Vanni
Publicação Mensal e Produção:
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Esta edição foi concluída em:
17/09/2013 às 14h00
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Capa: João Carnavos e Editoria de arte
Colaboradores:
Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De
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Walter Fanganiello Maierovitch;
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CorrespondenteS:
Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma);
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e estrangeiros. Os artigos assinados são de
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assim, não refletem, necessariamente, as
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La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e
alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e
estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima
libertà, personali opinioni che non riflettono
necessariamente il pensiero della direzione.
ISSN 1676-3220
8
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
cosenostre
JulioVanni
Com
estilo
Dia da Independência do Brasil foi comemorado
O
com recepção em 6 de setembro, no Palácio Pamphilj, sede da embaixada brasileira em Roma. O embaixador Ricardo Neiva Tavares recebeu mais de 200
convidados. Sorridente, Neiva cumprimentou cada
um, impressionando a muitos com a sua capacidade
de falar bem diversas línguas. Uma das presenças de
destaque foi José Graziano da Silva, diretor geral da
FAO. O que marcou a elegância do recebimento foi a
simplicidade. Nenhum menu sofisticado, e sim risoles, coxinhas, empadinhas e pães de queijo. Não faltaram quindins nem brigadeiros. Para quem não conhecia os quitutes brasileiros, foi uma ótima ocasião.
Novos
ares de Brasil em Roma
rogramação dá ritmo brasileiro à capital italiana. O “Festival Bra-
P
sil”, nome do evento que reúne música, teatro, cinema, dança,
literatura e gastronomia, é o primeiro de gênero popular realizado
com a presença do recém empossado embaixador Ricardo Neiva Tavares. A alegria dos festejos entre os dois países dura uma semana,
do dia 15 ao 22 deste mês, e leva nomes como Toquinho e Adriana
Calcanhoto, que abrem as apresentações no Auditorium Parco della
Musica. Na rica agenda organizada entre a Fondazione Musica per
Roma e a Embaixada brasileira, destaca-se a participação de Jaques
Morelenbaum & Cello Samba, Yamandu Costa, Zeca Baleiro, além
de exibições de capoeira e discussões em torno de grandes autores
como Clarice Lispector, e ainda a mostra de arte contemporânea de
Odires Mlaszho e filmes nacionais em cena no Studio 3.
Vitalícios
Petrópolis
italiana
O
festa italiana da cidade imperial acontece entre 18
e 22 de setembro. A programação inclui solenidade com
autoridades, apresentação do
Coral Municipal da cidade, de
grupos folclóricos, músicos
como o Quarteto Itália Nostra,
Trio Extemporâneo e Daniel
Boaventura, além de um baile
com o grupo Finestra Del Cuore e de missa solene em memória dos imigrantes na Igreja
de Santo Antônio do Alto da
Serra. Os homenageados deste
ano são a professora Catarina
Ramundo, o pároco Francesco
Montemezzo, o caricaturista
Lan e o editor da Comunità
Pietro Petraglia. A realização
do evento é da Casa D’Italia
Anita Garibaldi di Petrópolis.
Rita Pavone
de volta
Q
uem não se lembra
dela? A cantora italiana que ficou mundialmente famosa com “Datemi
un martello” lança música
inédita após 19 anos. Chama-se “I want you with
me” e será inicialmente
tocada nas principais rádios da bota. Em outubro
a artista, de 68 anos, lança
seu novo trabalho “Master” em álbum duplo.
João Carnavos
A
P
róxima de completar 20 anos de jornalismo, a Comunità
Italiana recebe equipe da televisão italiana Rai para um
documentário que irá ao ar em outubro, com transmissão em
diversos países. Durante as gravações, o repórter italiano Luigi
Maria Perotti conheceu a redação e pode observar de perto como
nasce cada número, desde a reunião de pauta até a diagramação
e finalização gráfica. Uma das coisas que chamou atenção
foi o arquivo fotográfico com registros históricos de personalidades de diversos setores e a organização de nossa
equipe, que conta com profissionais brasileiros e italianos.
O especial dura 27 minutos e faz parte do programa “Voci d’Italia”.
Reality dos refugiados
A
inda não começou e já causa polêmicas o novo reality chamado “Mission”, que será transmitido pela Rai em dezembro. O programa levou oito celebridades a campos de refugiados
do Mali, Sudão e Congo. O novo gênero já foi batizado como reality show humanitário. Entre as organizações que protestam
está a ONG “Solidarietà e Cooperazione CIPSI” que acusa o programa de “pornografia humanitária”. Segundo o presidente da
ONG italiana, Guido Barbera, “esta dura realidade não pode ser
objeto de espetáculo”. Por outro lado, as ONGs que apoiam o
programa, enxergam uma oportunidade única pelo “potencial
de difusão que traz” e explicam que “a ideia é dar visibilidade
aos problemas através de rostos conhecidos”. Os direitos autorais já foram comprados pela britânica BBC e France TV.
presidente Giorgio Napolitano nomeou quatro
novos senadores vitalícios
fora do âmbito político. São
eles Claudio Abbado, Elena
Cattaneo, Renzo Piano e
Carlo Rubbia. “Eles contribuirão para as nossas instituições democráticas com
absoluta independência”,
disse o presidente da República. Rubbia recebeu o Nobel de Física em 1984 por
ajudar na descoberta dos
bósons W e Z. Abbado é um
dos mais renomados maestros do século XX e Renzo
Piano é destacado pela sua
arquitetura high-tech. A
mais jovem nomeada é Elena Cattaneo, terceira mulher que assume este cargo.
Welles inédito
N
a pequena cidade de Pordenone foi descoberto um filme inédito dirigido por Orson
Welles em 1938 titulado “Too
much Johnson”. O filme foi encontrado por um funcionário
do centro de arte Cinemazero.
Até hoje se acreditava que só
existisse uma cópia, que teria
sido perdida em um incêndio
que destruiu a casa de Welles,
em 1970. O Museu Internacional de Fotografia e Cinema
George Eastman House informou que a cópia foi restaurada
e será apresentada ao público
em outubro. O cineasta americano ficou famoso com o longa
“Cidadão Kane”, em 1941.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
9
Opinião
enquetes
frases
“Quando há tantos jovens
nas ruas, temos que
ouvir. A prioridade não é
o futebol. São escolas,
hospitais, trabalho... É
impossível jogar bem
num estádio de R$ 800
milhões que fica ao lado
de uma favela de 120 mil
pessoas, das quais 20%
não têm o que comer”,
Você acha que o
Brasil vai conseguir
conter a alta do dólar?
Sim - 41,7%
Não - 58,3%
No site www.comunitaitaliana.com
entre os dias 19/08/13 e 25/08/13.
Você concorda com
a intervenção militar
dos EUA na Síria?
Sim - 14,3%
Não - 85,7%
No site www.comunitaitaliana.com
entre os dias 26/08/13 e 05/09/13.
Ministro diz que
manifestações de 7
de setembro ficaram
violentas e esvaziadas
e perderam o foco.
Você concorda?
Sim - 60%
“Gostaria de agradecer a
escuderia por todas as vitórias
e todos os belos momentos
que passamos juntos”,
Cesare Prandelli, técnico
da seleção italiana, em
entrevista ao “La Gazzetta
dello Sport”
Felipe Massa, piloto de F1 que ganhou
11 Gps com a Ferrari e anunciou no
seu twitter a sua saída para 2014
“Achava que teriam me
matado, a Síria esta nas
mãos do demônio”,
“Abrimos muitas portas,
falamos muito sobre
sexo. E os jovens o
fazem muito cedo. Isso,
fatalmente, encurta a
vida. Se você começa a
fazê-lo aos treze anos,
com cinquenta anos não
aguenta mais”,
Domenico Quirico, jornalista italiano
que permaneceu sequestrado por
cinco meses na Síria
“É esta ou aquela guerra
sobre problemas reais
ou são guerras para
vender armas? Há guerras
comerciais para vender
estas armas de forma
ilegal. Estes são os inimigos
que devemos combater”,
Franca Valeri, atriz italiana
durante uma entrevista sobre
a traição e o amor
papa Francisco um dia depois de
levar cem mil pessoas à Praça São
Pedro numa vigília pela paz contra
a guerra na Síria
“Berlusconi teria
sido o melhor
senador vitalício.
É a pessoa com
mais títulos e mais
méritos. Ninguém é
comparável ao Silvio”,
Não - 40%
No site www.comunitaitaliana.com
entre os dias 06/09/13 e 09/09/13.
no celular
Acesse comunitaitaliana.
com no seu smartphone
com o código QR acima
“A Itália é um
paciente que está
doente da cabeça.
Do ponto de vista
psiquiátrico, eu diria
que é para internar,
mas não existem
mais manicômios”,
Daniela Santanché,
deputada do PdL ao
comentar condenação do
ex-premier
“O governo serve
se faz bem ao
país, não nasceu
para absolver
Berlusconi!”,
Vittorino Andreoli
renomado psiquiatra
italiano e membro da
New York Academy of
Sciences
Rosy Bindi, deputada do
Partido Democratico (PD)
cartas
“L
i sobre a mostra de obras do Vaticano na matéria A herança da JMJ
e fiquei com muita vontade de conferir as pinturas e esculturas dos
mestres italianos. Então, fui visitar a exposição no Museu de Belas Artes
e me encantei, especialmente com Michelangelo, Da Vinci e Caravaggio”.
Denise de Souza,
Niterói – RJ – por e-mail
10
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“G
ostei de ver assuntos tão atuais, como a
espionagem na internet, abordados pela
revista. Acho que precisamos saber o que fazem
com nossos dados e como nos protegermos”.
Alexandre Miranda,
Belo Horizonte – MG – por e-mail
Serviço
agenda
da Língua Italiana no Mundo,
que ocorre anualmente em diversos países. O tema deste ano
é “Pesquisa, descoberta, inovação: a Itália dos saberes”.
L’artigiano in Fiera
O evento permite conhecer as
tradições e as culturas de mais
de 100 países e entrar em contato direto com o mundo dos
artesãos. Para quem visita o
local, o clima é de beleza, entusiasmo e comunhão. A Câmara
Ítalo-brasileira de Comércio
do Rio apoia a participação de
empresas brasileiras no evento. De 30 de novembro a 8 de
dezembro, em Milão.
www.artigianoinfiera.it
Saie - Salão Internacional
da Construção
Desde 2010, o Salão Internacional da Construção se apresenta
como uma forma de oferecer
novos serviços aos expositores
e atender 170 mil profissionais
que todos os anos vão a Bologna para discutir e conhecer
soluções, projetos, tecnologias
para as construções. Em 2012,
a feira teve 1.044 expositores e
85 mil visitantes. De 16 a 19 de
outubro.
www.saie.bolognafiere.it
Cozinha italiana
Vinte restaurantes italianos da
capital paulista participam da
2ª Semana da Cozinha Regional
Italiana, de 13 a 20 de outubro. Os estabelecimentos vão
oferecer menus especiais homenageando as diferentes regiões
do país com preços fechados. O
grande diferencial deste ano é a
presença de chefs italianos, que
realizarão jantares exclusivos. A
programação integra a Semana
Eurochocolate
Um dos eventos mais importantes do setor, a Eurochocolate
chega à sua 20ª edição. No ano
anterior, a feira recebeu mais
de 100 mil visitantes. O logo
oficial de 2013 é dedicado à
sustentabilidade: uma planta
de hortelã, que combina muito
bem com o chocolate, exprimindo também o conceito de
frescor promovido pelo evento.
De 18 a 27 de outubro, na bela
cidade de Perúgia.
wwww.eurochocolate.com
naestante
2ª Rio Mech
A Feira Internacional de
Tecnologia da Indústria Metalmecânica entra em sua
segunda edição. O evento nasceu das necessidades do estado
do Rio de Janeiro nos segmen-
tos de infraestrutura, oil & gas,
transformação, petroquimíca,
naval, aço e energia. Simultaneamente, acontece a 3ª edição
da Rio Infraestrutura - Feira
de Produtos e Serviços para
obras de Infraestrutura. Estarão em evidência setores como
equipamentos para tratamento ambiental e refrigeração;
fornos, estufas e caldeiras; máquinas e equipamentos para
plástico, borracha e off shore;
motores, acoplamentos, redutores e engrenagens; e solda e
tratamento de superfície. De 7
a 9 de novembro, no Riocentro.
www.riomech.com.br
clickdoleitor
Arquivo pessoal
Guia as Melhores Viagens de Carro – Itália
Um roteiro para quem pretende explorar o país de carro
através de roteiros que passam pelas cidades italianas de
norte a sul. O diferencial são as sugestões de paradas para vistas panorâmicas e as informações úteis sobre como
dirigir, quais são as regras de trânsito na Itália, onde estacionar e quais documentos são necessários para alugar
um carro no país. Editora Publifolha, 208 páginas, R$ 50
“V
Otto settembre
O livro de Paolo Sorcinelli aborda o armistício de 1943
entre a Itália e os Aliados de forma inédita. Emergem
com força os destinos de homens e mulheres comuns,
entre aqueles que voltam da Rússia e da África; que
acabam indo para a Sibéria, Índia ou Texas; os enviados
a campos de concentração; os que entraram na clandestinidade; e os que cultivaram a esperança de que
tudo voltasse à normalidade. Editora Mondadori, 224
páginas, € 18
isitei o Rio de Janeiro no ano
passado e fiquei impressionada
com a natureza viçosa, a intensidade
do verde de cada folha e as tantas orquídeas que vi nas árvores. Tenho a
lembrança da alegria das pessoas, o
gosto refinado na cozinha, a feira de
Ipanema... Em muitos aspectos, achei
a cidade parecida com a minha Nápoles. Também lembro bem do metrô,
limpo e organizado”.
Lina Sorrento
Torre Del Greco (NA) — por e-mail
com unit àit aliana | s etem br o 2013
11
opinione
FabioPor ta
11 Settembre 1973
E
Quaranta anni fa il “golpe” cileno: una data da ricordare e sulla quale riflettere, anche oggi
ro un ragazzo quando un
colpo di stato militare pose
fine al governo di Salvador
Allende in Cile, il precursore dei governi progressisti e popolari
di un continente, che per lunghi secoli,
ha sofferto dominazioni e vessazioni
da parte di colonizzazioni violente e
di elite dominanti, interessate più allo
sfruttamento delle terre e delle risorse che alla crescita civile e sociale della
popolazione.
In Italia si guardava al governo di
“Unidad Popular”, la coalizione di sinistra guidata dal socialista Salvador
Allende, con grande interesse e speranza. Non solo per la convinzione
che il successo di quel governo avrebbe rappresentato un solido punto di
riferimento per tutto il continente,
da tempo alla ricerca di una strada
democratica per coniugare crescita
economica e giustizia sociale. Anche
l’Italia degli anni ’70 era alla ricerca del suo nuovo modello di governo
democratico e popolare: i movimenti studenteschi e sindacali della fine
degli anni ’70 avevano segnato un
punto di svolta nel cammino verso le
conquiste civili e i partiti di sinistra
(il PSI e il PCI) raccoglievano quasi il
cinquanta per cento dell’elettorato;
anche la Democrazia Cristiana, sotto la leadership di Aldo Moro, si
poneva il problema della necessaria
intesa con le forze della sinistra, a
partire dal Partito Comunista di Enrico Berlinguer, impegnato da anni in
un costante e progressivo cammino
di emancipazione dall’influenza del
vecchio regime sovietico e di consolidamento dei princìpi democratici.
A casa mia Allende era già un
simbolo; mio fratello maggiore era
il Presidente della Gioventù Socialista della mia città e ricordo i discorsi
(entusiastici prima e preoccupati dopo) che si facevano in casa e fuori tra
i giovani più politicizzati e gli adulti
più attenti a quanto succedeva fuori
dall’Italia.
Oggi sono in pochi a ricordare quell’episodio; eppure il governo
di “Unidad Popular” e la leadership
democratica di Allende possono
considerarsi a tutti gli effetti gli ‘apripista’ del risveglio democratico del
Sudamerica che nei decenni seguenti, dopo anni di dittature e colpi di
12
stato, porterà al governo il socialdemocratico Cardoso e il sindacalista Lula in
Brasile, il socialista Alfonsin e il peronista
Kirchner in Argentina, il contadino Mujica in Uruguay, l’indio Morales in Bolivia,
il rivoluzionario Chavez in Venezuela e
il vescovo-contadino Lugo in Paraguay…
Governi democraticamente eletti e tutti fortemente orientati alla ricerca di un
equilibrio tra la crescita economica del-
Il governo di Allende
può considerarsi
il precursore dei
più recenti governi
democratici
e popolari del
continente
sudamericano
le rispettive nazioni e la redistribuzione
delle ricchezze tra le varie classi della
popolazione; ciascuno con le proprie difficoltà o contraddizioni, con le proprie
specificità e criticità, ovviamente. Tutti,
però, con una forte legittimità democratica e con una chiara intenzione di voler
invertire la storica tendenza all’oppressione delle popolazioni latino-americane
da parte dei loro governi.
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Dietro al golpe cileno, come alle
successive e contemporanee dittature
sudamericane, ci fu chiaramente la mano degli Stati Uniti, come fu dimostrato
negli anni a venire dalla scoperta del
“Piano Condor”, che prevedeva un coordinamento tra i regimi di quei Paesi sotto
la copertura e il finanziamento di chi, gli
Stati Uniti, considerava il continente il
proprio “cortile di casa”.
Se oggi le cose sono cambiate è anche
grazie al sacrificio di uomini come Salvador Allende, un martire della democrazia
sudamericana ed un esempio da seguire
nella lotta permanente verso una democrazia compiuta ed una società più giusta
ed uguale. Voglio ricordarlo con una sua
bellissima e profetica frase: “Vale la pena
morire per le cose senza le quali non vale
la pena vivere”.
opinione
EzioMaranesi
L’inutilità della
materia grigia
I
Nonostante tutto dobbiamo crederci: l’Italia ce la farà!
giornali hanno recentemente divulgato i risultati di una ricerca
effettuata da una delle nostre università inutili: gli esseri umani
utilizzano soltanto il 10% del loro cervello. Poiché leggo le cronache italiane, ne
avevo già il sospetto. È infatti un mistero,
e credo non solo per me, capire come un
popolo che è stato culla delle civiltà occidentali abbia partorito e accettato una
classe dirigente tanto inetta quanto quella che l’ha governato negli ultimi decenni.
Incomprensibile. Ampia letteratura ci ha
spiegato le ragioni di tanti parti infelici,
cosí che oggi ogni italiano mediamente
informato conosce perfettamente i suoi
difetti e sa cosa dovrebbe fare per superarli. Ma non lo fa, e il restante 90% del
cervello rimane sontuosamente ozioso. Il
sospetto è ora certezza: chi ancora dubita legga le sceneggiate che la tragicomica
commedia dell’arte italica ci propone ogni
giorno, fiorite naturalmente dai nostri
fantasiosi e interessati giornalisti che ci
guazzano come anatre nel lago. Il fatto,
in fondo, è banale: il senatore SB, reo in
molti processi, è stato condannato in via
definitiva. Poteva capitare; è capitato, e
qualunque recriminazione è ora inutile.
Viso tirato, con tratti che ad ogni tirati-
Ogni italiano
mediamente informato
conosce perfettamente
i suoi difetti e sa cosa
dovrebbe fare per
superarli. Ma non lo fa
na ricordano sempre più Mao, SB ha ora
una sicura carriera di imputato, dovendo
affrontare altri pericolosi processi, e una
età senile che dovrebbe suggerirgli, con
saggezza, di ritirarsi dall’agone politico.
Poco dignitosamente invece si lamenta
— “nessuno vuole venirmi incontro” — e
tuona i “non mollo”, “il capo sono io” ecc.,
vivendo con piena convinzione la sua sindrome di Sansone... con tutti i Filistei! Ed
è allora che i suoi descepoli Pdl dovrebbero usare bene quel 10% di cervello che
l’inutile università ci concede. Tra loro i
falchi, guidati dalla cheerleader Santanchè, detta
“la pitonessa”, e dall’on.
Biancofiore che declama
poeticamente rapita “con
lui al tramonto come fu
all’alba”, che minacciano marce sul Quirinale
e cannoni puntati sul
premier Enrico Letta,
senza il minimo riguardo per i milioni
di disoccupati che
hanno disperatamente bisogno
di un Governo.
Li contrastano
le colombe, attendiste e preoccupate
di perdere le prebende che la fedeltà a SB
loro garantisce. Incapaci
di darsi un leader, anche perché nessuna di
loro ne ha la personalità,
valutano ansiose le alternative di sopravvivenza e tergiversano.
Oltre ai falchi e alle colombe si agitano
bassi altri volatili - ci si passi la scivolata di stile - che ondeggiano vivendo alla
giornata, pregando che qualche santo induca SB a chiudere la sua partita a poker
con gli italiani e volare ad Antigua, finché
ha ancora il passaporto. Il quadro è desolante, ma ciò non impedisce al Pdl di
credersi convinto che 10 milioni di italiani useranno ancora la parte utile del loro
cervello per continuare a dargli il voto. Il
Pd, che non è il Partito di Dio come credono molti dei suoi dirigenti, vale altri 10
milioni di voti. È sempre più simile a un
pollaio in cui molti galli si contendono a
suon di beccate sanguinose la leadership nella corsa verso il possibile trono
di futuro premier. Mostrasse coesione,
guadagnerebbe simpatie e voti a bizzeffe
e vincerebbe facilmente le prossime elezioni vista la situazione del nemico, ma
la porzione di cervello che spetta ai suoi
notabili non è sfruttata con l’efficenza
che sarebbe opportuna. Otto milioni di
italiani, in rivolta contro l’insipienza italica, hanno dato il loro voto a Grillo. Qui
il caso è ancor più serio: è difficile capire come possano tanti cervelli affidare
il loro futuro ad un energumeno che
sbraita scemenze con gli occhi fuori
dalle orbite. Dato lo scenario dipinto
dal voto degli italiani e dai mediocri attori cui abbiamo dato il potere,
tutto potrà accadere. Insomma, la
nostra università ha ragione. Ciò
che la ricerca non ci dice è se possiamo sperare che i progressi della
medicina possano aumentare l’area
cerebrale utile o se, come minimo, la
piccola attualmente disponibile possa essere meglio sfruttata. Confido
nella scienza e sono propenso a pensare che stiamo vivendo un periodo
di appannamento delle nostre doti
mentali; rabbia e paura stimoleranno
la saggezza degli italiani e la buona
stagione tornerà ad rifiorire. Voglio
pensare a cose belle.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
13
Sociedade
Coworking
à italiana
De norte a sul do país, se alastra o modelo americano dos
escritórios de trabalho compartilhados. Em Milão, projeto
com babás para profissionais mães ganhou prêmio da União
Europeia como melhor projeto de inovação social do continente
Aline Buaes
Especial para Comunità
A
moda dos escritórios
compartilhados chega à Itália. De Milão
a Roma, passando
pela Sardenha, os coworking se
apresentam como solução para profissionais freelancers e
pequenas empresas, pois oferecem espaços aconchegantes e
modernos, conexões adequadas
de internet e a oportunidade de
conhecer e confrontar outros profissionais. Nascidos no Vale do
Silício em 2005, os espaços vêm,
desde então, se espalhando pelo
mundo todo, inclusive no Brasil,
onde já existem dezenas deles. No
Belpaese, os escritórios abrigam
perfis diversos de profissionais,
desde aqueles de áreas clássicas
de coworkers como webdesigners,
14
publicitários e profissionais de TI,
às profissionais que são mães e ali
encontram facilidades como baby-sitters compartilhadas, em uma
fórmula da cooperação e colaboração. São trabalhadores autônomos
que buscam uma alternativa para os
seus home offices que não sejam cafés e outros locais públicos.
O modelo de trabalho é baseado
no compartilhamento de espaço e recursos de escritório, como internet,
telefones, recepcionistas e outros
serviços. Reúne pessoas que trabalham não necessariamente para a
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
O Piano C, em
Milão, criado e
pensado para
mulheres com
filhos, oferece
facilidades de
escritório e serviços
de baby-sitter. O
Banco Europeu
de Investimentos
o elegeu como o
melhor projeto de
inovação social
da Europa
mesma empresa ou na mesma área
de atuação. Normalmente, para
utilizar o espaço, é cobrada uma taxa por hora ou por mês, segundo o
acordo feito com os organizadores
do espaço.
— O coworking não é uma ideia
anticrise, visto que nasceu no próspero Vale do Silício entre 2004 e
2005, e se desenvolveu como um
modo de compartilhar espaços de
trabalho e sinergias positivas entre
profissionais que têm em comum recursos e valores — explica Massimo
Carraro, um dos fundadores da Cowo, rede italiana que já conta com 81
sedes em 51 cidades italianas.
Fundada em 2008 por Carraro
e Laura Coppola, sua esposa e sócia
na agência de publicidade Monkey
Business, a rede cresceu rapidamente graças a um sistema de
afiliação que permitiu que escritórios com espaços livres pudessem
oferecer compartilhamento colaborativo dos espaços. Hoje, a rede
é uma das principais referências
na Itália quando se fala em trabalho colaborativo. Quatorze de suas
sedes permaneceram abertas ao
longo do mês de agosto, período
tradicional de férias na Itália.
Em Roma, um dos espaços afiliados à Cowo é o Work[in]Co,
fundado há pouco menos de um
ano por um grupo de amigos que
buscava um espaço para trabalharem juntos e se confrontarem.
— O nosso coworking é frequentado principalmente por
profissionais autônomos ou pequenas empresas do mundo da
arquitetura, design gráfico e
fotografia, mas temos também analistas de sistemas, organizadores de
eventos e consultores financeiros—
explica a arquiteta e urbanista
Giorgia Amoruso, uma das fundadoras do espaço, destacando que
turistas e estrangeiros que necessitem de um espaço para trabalhar
são bem-vindos, já que o coworking
oferece posições de trabalho fixas e
temporárias — estas últimas para
profissionais apenas de passagem.
— O coworking está se difundindo muito rápido na Itália nos últimos
anos, mas é possível fazer mais e melhor — destaca a jovem arquiteta.
A região da Sardenha, a bela
ilha no sul do país, abriga uma importante referência quando se fala
em coworking. Na capital Cagliari encontra-se o moderno Open
Campus, que abriga empresas e
startups inovadoras que operam
nos setores digital, de internet e
de comunicação. O espaço foi aberto há poucos meses por iniciativa
da Tiscali, gigante italiana das telecomunicações, que decidiu abrir
ali uma sede para compartilhar espaços, serviços e tecnologias para
empresas jovens e inovadoras com
projetos nas áreas de animação 3D,
aplicativos para smartphones, conteúdos multimídias, entre outras.
Desde então, a iniciativa vem obtendo grande sucesso, levando para
a paradisíaca ilha jovens talentos de
toda a península. Para participar é
preciso se inscrever em um processo
seletivo. O espaço é aberto 24 horas
por dia e oferece serviços como salas de reunião, auditório para 200
pessoas, recepção, refeitório, bar e
até mesmo estúdios de pós-produção de vídeo e som.
Feito por mulheres para
mulheres: escritórios
com baby-sitters
compartilhadas
Em Milão, o coworking Piano C,
criado e pensado para mulheres
com filhos, oferece, além das facilidades do escritório, serviços de
baby-sitter compartilhada. De tão
inovador, conquistou um prêmio
internacional antes mesmo de abrir.
para facilitar a vida das trabalhadoras com filhos pequenos.
Por trás do empreendimento,
aberto em janeiro deste ano, há cinco
mulheres, profissionais de áreas diversas como arquitetura, advocacia e
comunicação social. Elas experimentaram na pele as dificuldades que
governam o mundo do trabalho.
— O Piano C é um novo modelo
de organização, que tem como objetivo recolocar no mercado talentos
marginalizados pela economia tradicional — explica o gerente do
local, Raffaele Giaquinto.
O espaço em Milão atende atualmente um público de ambos os
sexos, mas com prevalência feminina e perfis diversos, desde
profissionais freelancers, empresáFoi considerado pelo Banco Europeu
de Investimentos o melhor Projeto
de Inovação Social da Europa.
— É possível e devemos buscar
novos modos de trabalhar, para impedir a exclusão e discriminação das
profissionais mães — afirma uma das
fundadoras do espaço inaugurado em
janeiro deste ano, Riccarda Zezza.
Primeiro coworking na Itália, e
um dos primeiros no mundo, o Piano C oferece, em uma área de 250
metros quadrados que abriga 20 coworkers, as clássicas facilidades de
um espaço desse tipo, como internet,
impressoras, cozinha, salas de reuniões e recepção. Mas as novidades
ficam mesmo com as duas áreas para crianças de zero a três anos, com
recreacionistas todos os dias das 9h
às 19h, lavanderia e até um minimercado. Há ainda as atividades de
formação profissional e também de
desenvolvimento pessoal, como aulas de ioga, canto e desenho. Tudo
Empresas e
startups inovadoras
que operam nos
setores digital,
de internet e de
comunicação
compartilham
experiências no
moderno Open
Campus, referência
em coworking na
região da Sardenha
Com vista
para o lago
C
Profissionais
autônomos de
arquitetura,
designer gráfico
e fotografia
encontram na
Cowo, em Roma,
o espaço ideal
para a produção
criativa. Turistas
estrangeiros são
bem vindos neste
ambiente
om o apoio das autoridades de Milão,
o Piano C inaugurou outra iniciativa
de sucesso neste ano. O Summer C foi um
espaço piloto temporário de coworking,
aberto nos meses de junho, julho e agosto,
instalado na beira de um lago nos arredores da capital lombarda, oferecendo ainda
mais facilidades para as crianças. O objetivo foi o de suprir o vácuo deixado pelas
férias escolares do verão.
— A iniciativa foi um sucesso e pensamos em repeti-la em 2014 — afirma
Giaquinto.
O sucesso da iniciativa se deve também
à ideia inovadora de transferir o escritório para
um espaço em meio à natureza, o que trouxe
mais bem-estar para todos os coworkers.
Todas as posições de trabalho na Summer C,
por exemplo, ofereciam vista para o lago.
rios e até funcionários de empresas
que seguem o modelo do escritório
em casa. Um dos objetivos é servir
de base logística temporária para
profissionais com crianças que estejam de passagem por Milão.
— Nos primeiros meses de atividade, registramos muitos casos
de mulheres com filhos de outras
regiões da Itália, que se apoiaram
temporariamente aqui. É um fenômeno muito jovem em nível
mundial e em rápida evolução. Na
Itália, chegou em 2008 e ainda há
muito espaço para crescer — explica Giaquinto, que acredita no
futuro dos coworking.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
15
Atualidade
A conta
não fecha.
E agora?
O especialista em Comportamento
do Consumidor da FGV, José
Nunes, explica quais são os
grandes dilemas da sociedade
de consumo, que promoveu
nos últimos 50 anos a utopia do
individualismo ao seu extremo
e agora assiste perplexa às
manifestações dos Black Blocs
Giuseppe Bizzarri
A
humanidade reúne no planeta mais de sete bilhões de pessoas, porém apenas 606
indivíduos e 147 corporações controlam
toda a economia. O mito de Sísifo (o homem da mitologia grega condenado a repetir a tarefa
de empurrar uma pedra em cima da montanha, enquanto, inexoravelmente, uma força misteriosa joga
a rocha ao infinito para baixo até o ponto de partida)
é a metáfora preferida do doutor em psicologia pela
PUC-RJ, José Mauro Gonçalves Nunes, especialista em
Comportamento do Consumidor e Professor da MBA
da Fundação Getúlio Vargas, para definir a tragédia do
ser humano que tenta alcançar a liberdade. Uma busca realizada em meio a utopias, como a de hoje: uma
sociedade dominada, segundo o professor, pela “mercantilização e comoditização das relações pessoais”.
Para o vice-diretor do Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias, as contas da utopia
consumista oferecida pela publicidade do capitalismo
individualista simplesmente não fecham. É como a tarefa de Sísifo, que empurra a pedra na montanha, mas
sabe que vai rolar abaixo.
16
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
ComunitàItaliana- Com a
queda da União Soviética, o
capitalismo se saiu vitorioso.
Os Estados pensaram que o
consumo era o único modelo
viável. Segundo um estudo
da Universidade de Zurich,
606 indivíduos e 147 corporações controlam a economia
mundial. Uma espantosa
concentração de riqueza, que
agora parece ser contestada
pelas manifestações ao redor do mundo, inclusive no
Brasil. Isso mostra que o modelo está esgotado?
José Mauro Gonçalves Nunes - A história se move em fluxo e
não é contínua. Mostra momentos
hegemônicos e contra-hegemônicos, com períodos de expansão
do capital e outros de contestação
da ordem constituída. O que está
acontecendo na primavera árabe,
com o fim do bem-estar na Europa, e também no Brasil, apesar de
serem histórias diferentes, é um
questionamento muito grande
dessa ordem marcada pela mercantilização e “comoditização” das
relações pessoais, onde tudo se dá
em função do lucro, do custo e do
capital. Qualquer acesso a um bem
público tem um custo. No caso brasileiro, especificamente, na década
de 1990, com Fernando Henrique
Cardoso, foi dito que o Estado era
ineficiente, enquanto a iniciativa privada proveria um serviço
melhor nas funções públicas. Iniciou-se a privatização dos serviços,
mas os resultados que vemos hoje
são corrupção, denúncias e ineficiência. Um exemplo é o transporte
público no Rio de Janeiro, ônibus,
barcas: está tudo privatizado, mas
com sérios problemas.
CI- Se o Estado é ineficiente e a privatização também
não brilha, então qual seria
a solução para a sociedade?
JMGN - Temos que voltar lá aos
anos 1960, depois da Segunda
Guerra Mundial, com a reconstrução da Europa por meio da ajuda do
capital norte-americano. O objetivo era construir uma sociedade de
consumo de massa, criar desejos e
serviços que pudessem ser satisfeitos. Há em tudo isso uma promessa
embutida, um acordo implícito na
proposta do capital, das empresas
para a sociedade. Criamos estas
necessidades, que vão trazer felicidade e abundância. Então, a partir
dos anos 1960, o que se vê é a criação de um estilo de vida baseado
na abundância e no consumo. Esse processo de ocidentalização da
sociedade, este contrato, neste momento, cai, e por que cai? Porque
a conta não fecha. O Brasil é uma
das sociedades mais desiguais do
Giuseppe Bizzarri
mundo, com uma enorme concentração de renda na mão de poucas
pessoas. Surgiu a consciência de
que não haverá uma sociedade estável, em paz, se não se incluírem
os que moram nas favelas e periferias. Nos últimos 15 anos, as elites
políticas e econômicas brasileiras
fizeram esta atualização para melhorar as condições de vida destas
pessoas, não importa se PSDB ou
PT: foi-lhes dado o crédito. Deu-se
uma melhoria dos serviços públicos, que foram privatizados com a
promessa de que seriam atingidos.
O que aconteceu foi que a população teve acesso a estes serviços que
são muito ruins, pois fazer isso tem
um custo muito elevado que precisa ser transferido para o bolso do
contribuinte. E este é o colapso brasileiro neste momento.
CI- Ou seja, se prometeu para as pessoas algo que elas
mesmas teriam que pagar?
JMGN - Prometeu-se que a felicidade se ganha com um carro, uma
geladeira, uma televisão, um celular, um móvel, um eletrônico. Mas
qual é o impacto de tudo isso? Na
dimensão do indivíduo, observa-se
a comoditização das relações interpessoais. Tudo tem um custo. A
juventude de 30 anos não usa mais
a palavra amizade, e sim “network”.
A construção de laços sociais que
pode aumentar o capital econômico, o capital financeiro e político
destas pessoas. O capital fez esta
promessa, que não foi mantida.
Não foi cumprida, pois as pessoas,
ao consumirem, perceberam que
o consumo não traz a felicidade,
e implica mais trabalho, mais ansiedade, falta de tempo, perda de
indicadores de qualidade de vida,
“O colapso brasileiro
neste momento é
que a população da
periferia teve acesso
a estes serviços
privatizados, mas
são muito ruins.
Fazer isso tem um
custo muito elevado
que precisa ser
transferido para o
bolso do contribuinte”
com unit àit aliana | s etem br o 2013
17
Atualidade
como um almoço em família, com
amigos. Com a onipresença dos telefones celulares, você passa o fim
de semana absolutamente conectado ao trabalho.
CI- Quem prometeu para a
sociedade que o consumo
traz a felicidade?
JMGN - Isso é prometido pelo marketing: “trabalhe porque fazendo
isso você consome e, ao consumir,
você terá mais bens, mais qualidade de vida e mais felicidade”. É
um projeto dos anos 1960. Existe
um ícone atrás disso: o indivíduo.
Trata-se de uma sociedade que tem
como essência a ascensão do indivíduo. Um individualismo austero,
hiperbólico, elevado à enésima potência e hedonista. A ascensão da
filosofia individualista cria este
conceito, rompendo com o antigo
regime medieval marcado pela ligação com a família, a sociedade. A
identidade mantém a família, mas
a sociedade precisa agora da afirmação de si: eu sou aquilo que sou
com o meu esforço pessoal e, como
principal ícone do individualismo, temos a meritocracia. Foi uma
ideologia construída na década de
1960. O problema é que o individualismo não é um bloco de pedra, é
talhado em várias facetas e possui
diversos aspectos.
CI- Os movimentos hippie,
reggae e punk tentaram
quebrar o isolamento do indivíduo e o ego. Muitos foram
para a Índia para quebrar a
solidão, mas a vida é igual
em qualquer lugar. Então
qual seria a saída?
JMGN - Existe uma estetização da
vida quotidiana, como dizia Marx,
um aburguesamento da vida. Os
indivíduos constroem a própria
vida com uma visão estética: comprar o melhor vinho, passar um
final de semana na Toscana, na costa amalfitana, usar uma roupa de
grife. É uma utopia individualista,
uma exumação de um conceito de
dandy. Uma segunda utopia possível seria aquela que se percebe hoje
nas manifestações de rua. O fenômeno dos Black Bloc, para mim,
significa o auge dessa contradição
do fim de uma utopia do indivíduo.
manifestações de Seattle e em Gênova, com a morte de um ativista.
O movimento tinha uma função de
proteger os manifestantes de verdade para que protestassem sem
serem reprimidos pela polícia. Ou
seja, se sacrificavam para a coletividade, o que é um conceito de utopia
global de um grupo de vanguarda.
Por outro lado, qual é o valor de articulação política deles? É frouxo,
uma ideologia vaga contra o capital,
anticonsumista, anticorporativista, sem agenda propositiva efetiva,
coisa que os grupos dos anos 1960
tinham. Têm uma baixa organização, não fazem assembleia, não
têm uma liderança. Mas isso é justamente o grande resultado desta
ordem da felicidade de consumo
mundial, baseado na criação de relações com laços fracos. As pessoas
são cada vez mais indivíduos auto-organizados que se articulam em
conexões de curto prazo e virtuais.
Eu me conecto com você, pois estamos contra isso; mas, acabou e cada
um vai para o seu canto. Não constroem realmente uma comunidade,
“A propaganda
dos anos 1960 é
voltada para pessoas
racionais. Isso
mudou. Hoje é voltada
para indivíduos
hedônicos, cria
desejos irracionais,
fantasias, ou seja, eu
serei aquilo que no
quotidiano não sou”
CI- Mas os Black Blocs brasileiros são diferentes.
JMGN - Sim. Eles nascem na
década de 1980, no auge do Partido Verde, na Alemanh,a e vivem
o seu ápice nos anos 1990 nas
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s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
pois um grupo social deve ter ideias
em comum e ser permanente. Até
promovem uma certa ideia de comunidade, mas a presença é curta.
CI- As novas gerações estão
frente a celulares e computadores, se encontram no
Facebook e no Twitter, mas
onde está a tridimensionalidade da vida para elas?
JMGN - Acho que temos novos
sujeitos, novas formas de individualidades. Estamos ficando velhos.
Estas gerações têm configurações
de amizade totalmente diferentes das gerações velhas. A utopia
deles é totalmente diferente. Este
é o grande fenômeno do momento que não se consegue entender.
Há as novas individualidades, com
novas subjetividades. Como na
nossa geração, usam cartas, enviam mensagens, posts, mas com
a tecnologia dos social networks.
Tudo isso tem um impacto, como a
precariedade do trabalho, das relações interpessoais, do quotidiano,
da família. Eles sabem que os pais
podem se separar. A família deixa
de ter laços consanguíneos.
CI- Carpe diem, trata-se disso, de colher o momento?
JMGN - Então voltamos à ideia do
individualismo. É o resultado de um
individualismo hedônico. Na realidade, é um individualismo que vem
de Goethe. O carpe diem de um estilista, que faz da própria a vida uma
obra de arte no presente da vida.
CI- Mas é um presente de
uma vida autodestrutiva.
JMGN - Sim, mas o capitalismo
acompanha isso, e rapidamente
reajusta a sua oferta de bens. A propaganda dos anos 1960 é voltada
para indivíduos racionais. Hoje mudou. É voltada para indivíduos
hedônicos, cria desejos irracionais,
fantasias, uma utopia individual.
Eu serei aquilo que no quotidiano
não sou.
CI- Quem vende isso?
JMGN - As grandes corporações.
Elas sabem que o projeto está vinculado a uma função estética de
prazer. Não é mais uma solução
de um problema prático. Eu não
compro só um instrumento, mas
compro um que tem uma marca,
um valor agregado que vai ser percebido pelo grupo social, o qual
vai perceber também que sou
um cara cool, um lançador
de tendências, ou seja, sou
um conjunto de benefícios
psicológicos não tangíveis.
Eles começaram a perceber
a partir de 1968 que as
pessoas não querem ser
felizes apenas na esfera pública, mas na
esfera individual e
privada. Você nota
a partir dos anos
1960 uma mudança na publicidade.
Giuseppe Bizzarri
CI- As pessoas estão sendo
muito pressionadas no dia
a dia, se endividam para
comprar carros, casas, eletrodomésticos. Pagam as
prestações não só com o dinheiro, mas com o tempo da
própria vida. Mas a vida não
é só pagar contas.
JMGN - Se eu acumular dinheiro,
estou abdicando dos juros de um
empréstimo, mas ao ter logo um
bem vou pagar isso no futuro. Então
são duas visões de vida diferentes.
A visão do futuro e do presente
imediatista. Este mecanismo, esta
precariedade do indivíduo pressionado para ter coisas, tudo leva a ter
uma visão de curto prazo.
O marketing não fala mais apenas
em casa, eletrodomésticos.
CI- É possível alcançar um
êxtase com o consumo?
JMGN - Claro. Existem fanáticos por marcas. As pessoas
transformam a própria vida com
isso. Nunca subestime o capitalismo, que tem uma capacidade
fantástica de se regenerar.
CI- Parece uma sociedade
esquizofrênica, que fala de
meio ambiente e depois nos
incentiva a consumir como
loucos.
JMGN - A sociedade tem identidades múltiplas, móveis e
transitórias. Novas subjetividades
com novas formas de vida, novas
formas de ser no mundo. Claro que
isso tem implicações psicológicas,
como a depressão. Hoje, os medicamentos mais vendidos são os
antidepressivos e remédios
para bulimia e anorexia.
“Nunca subestime
o capitalismo, que
tem uma capacidade
fantástica de se
regenerar”
CI- Estes seriam os sintomas
na carne das pessoas de que
as contas não fecham na sociedade?
JMGN - As contas não fecham,
claro que não fecham.
CI- Ao mesmo tempo, Anne
Mulcahy, ex CEO da Xerox,
fica louca, larga tudo e pensa que errou, pois deixou de
lado a vida pelo trabalho.
Então, se não se pode mais
ir à Índia, se matar de trabalho, para onde iremos ?
JMGN - A melhor maneira para
lutar contra o sistema é se apropriar das ferramentas do sistema
e quebrá-lo por dentro, como dizia Foucault nos anos 1970, o qual
afirmava que a melhor maneira de
ser revolucionário, ao contrário de
Sartre, que apoiava greves gerais,
é se apropriar das ferramentas
e agir dentro do sistema, usando o mesmo veneno deles. Nisso,
as redes são ótimos exemplos. Na
primavera árabe na Tunísia e na Líbia, no Brasil, na Itália com Beppe
Grillo. Não foi a internet, e sim as
ferramentas que, apesar de narcotizarem a sociedade e criarem
ansiedade e depressão, permitem
também organização e mobilização. Como aconteceu na Islândia,
com unit àit aliana | s etem br o 2013
19
Atualidade
onde usaram os social networks
para demitir os políticos corruptos
e depois um plebiscito e uma nova
Constituição, e hoje o país está indo muito bem.
CI- Você citou Beppe Grillo.
Como analisa esse fenômeno ?
JMGN - Para mim, Grillo é um fenômeno midiático, resultante da
grave crise que a democracia representativa vem sofrendo no mundo
ocidental contemporâneo, e que é
um dos elementos unificadores das
manifestações populares recentes nas cidades ocidentais. Porém,
traz um elemento de denúncia
pura sem uma pauta propositiva
necessária para quem está interessado em reconstruir a democracia
20
e tornar a sociedade mais fraterna,
solidária e igualitária. O denuncismo e o voto de protesto são
fenômenos conjunturais, mas extremamente questionáveis por não
oferecerem soluções de reforma e
aperfeiçoamento das instituições
democráticas. Tanto Berlusconi
quanto Grillo são metáforas da
disfuncionalidade do sistema político democrático ocidental por
representarem uma cultura do
cinismo (a de Berlusconi, do cinismo patrimonialista; a de Grillo,
do cinismo radical) que envenena
a adesão dos cidadãos ao regime
democrático. A democracia é muito criticada, mas qual alternativa
política se descortinaria? Totalitarismo? Autogoverno? Um novo
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Acima, dois
momentos das
manifestações de
Maio de 68, na
França. A insurreição
popular superou
barreiras étnicas,
culturais, de idade
e de classe naquele
momento. Abaixo,
os protestos que
acontecem com
frequência em várias
cidades brasileiras
por melhorias sociais
“condottiero”? Por isso Grillo é,
para mim, um fenômeno midiático
interessante, conjuntural, pontual,
de curto prazo, mas cujo denuncismo cínico contribui muito pouco
para a reforma estrutural das nossas instituições democráticas.
CI- Como você vê a Itália
neste momento histórico?
JMGN - Para mim, a Itália é um país
de tradições culturais riquíssimas,
um dos berços da história ocidental,
dentro do processo de ocidentalização do mundo, com uma tradição
consolidada em design, luxo, moda
e indústria automobilística. Porém,
apesar de ser um país latino e mediterrâneo, o seu conservadorismo
católico resulta em uma sociedade
“A Itália é um dos
berços do processo
de ocidentalização
do mundo, com uma
tradição consolidada
em design, luxo,
moda e indústria
automobilística.
Apesar de ser um país
latino e mediterrâneo,
o seu conservadorismo
católico resulta
em uma sociedade
paradoxal”
O comediante e
político italiano
Beppe Grillo é
um símbolo da
mobilização através
das redes sociais
que culminou na
criação do Partido
Movimento 5 Stelle.
Ao lado, o ex-premier
Silvio Berlusconi
desolado. Abaixo, o
escritor e sociólogo
americano David
Riesman que previu
uma sociedade
massificada
Bob Campbell
CI- O que mata o indivíduo
hoje?
JMGN - É este projeto utópico
de felicidade ligado ao consumo,
ou seja, achar que a felicidade é
consumir, ter um monte de bens.
Um sociólogo americano, David
Riesman, que escreveu a Multidão
Solitária, imagina uma sociedade
onde todos são iguais e terão acesso a bens, todos massificados. O
mercado promete que se você consumir, se ganhar bens, será feliz.
Mas a conta não fecha. Trabalhei,
acumulei bens, tenho um barco,
mas quem vou levar no barco se
não tenho amigos e passei a vida
inteira trabalhando? Os meus amigos não podem vir porque não têm
tempo. A existência contemporânea tem um aspeto trágico. É um
drama e não uma comédie de l’art.
Pode ter vários cenários: quadro
de depressão, tristeza, melancolia,
inclusive suicídio, atos extremos,
mas que podem ser atos violentos,
com destruição coletiva, manifestações de raiva, como uma pessoa
que mata 50 num shopping ou 40
alunos em uma escola. Uma coisa
é a destrutividade voltada para um
indivíduo, outra coisa quando se
volta para fora.
Giuseppe Bizzarri
paradoxal. Nesse sentido, Berlusconi representaria essa “face oculta”
da Itália para o turista eventual,
como é o meu caso, mas que vocaliza uma poderosa força política e de
pensamento dessa Itália conservadora, representada pela Lega Nord,
e repleta de episódios de discriminação racial, como o caso recente
de uma senadora italiana (Cécile
Kyeng), criticada por um colega de
Parlamento por causa da cor de sua
pele e de resistências à imigração
africana. No entanto, o mesmo
Berlusconi era um dos principais
apoiadores do regime de Khadafi na
Líbia, dado os interesses econômicos do empresariado italiano.
CI- A sociedade também contribui para haver estes tipos
de indivíduos violentos, como
o caso de um garoto brasileiro de 13 anos acusado de
matar toda a família sozinho?
JMGN - É uma válvula de escape. Você tem um aspecto cínico e
finge que está tudo bem. Por isso,
tenho todo um mercado para reforçar o meu cinismo. Posso fazer
terapia,yoga, posso tomar ansiolítico, ter uma alimentação natural
balanceada, tomar energéticos, usar
drogas. Tudo isso alimenta a economia. Por isso, digo que a luta
da resistência não é acabar com o
cardápio, mas criar o cardápio: inventar novas possibilidades que
podem ser mais solidárias.
CI- Você vê algo de novo
nestes protestos de rua?
JMGN - A gente vive uma ordem
ocidental. Em 1529, quando os
turcos batem na porta de Viena,
há um refluxo religioso. O Ocidente ganhou. Tem um lado religioso
nesta ordem capitalista. Nós não
o vemos, mas existe. A pergunta é: e se criássemos uma nova
ordem baseada em um Estado teocrático, seria uma configuração
nova e uma nova utopia, não mais
uma utopia do consumo, mas uma
utopia voltada para uma vida buscando uma salvação?
CI- No final, chegamos ao
mistério da vida, onde tudo
se repete.
JMGN - Utopias que podem ser
terrenas e individuais. Nós construímos utopias. O consumo é
para consumir agora, porque no
futuro nós seremos mortos; ou
então, eu vivo esperando uma vida após a morte. São duas utopias
possíveis.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
21
Economia
A escolha de
Marchionne
Entre as ameaças de deslocalizar
a produção e os embates com
os sindicatos, o CEO da maior
indústria automobilística da Itália
divide as opiniões dos cidadãos
Stefano Buda
E
De Roma
ntre Sergio Marchionne e
uma parte da sociedade italiana, existe um “chove não
molha”. O administrador
delegado do grupo Fiat é uma figura sóbria e pragmática, quase austera.
Malha de lã azul-marinho no lugar do
terno, pouca vida boêmia, expressão facial sempre séria e escassos sorrisos. É
um daqueles dirigentes que, quando fala
com um funcionário, desperta temores por
ter uma postura de comando, de quem não
tem medo de ser impopular e não tem papas
na língua. Por trás de uma máscara impassível
e aparentemente cínica, de gelo, escondem-se inseguranças e contradições, mas o
homem que segura as rédeas e o destino
da empresa-símbolo da indústria italiana não pode parecer fraco.
Demonstra praticidade — característica
dos nascidos na região do Abruzzo — e pragmatismo canadense toda vez que dá alguma
declaração que divide e desorienta a opinião pública nacional, acostumada aos discursos cheios de
rodeios ou pouco claros da classe dirigente do Belpaese. Não é por acaso que, quando assumiu o
lugar mais importante da Fiat, Marchionne travou conflitos com alguns
dos segmentos mais relevantes da sociedade italiana:
22
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
primeiro foram os sindicatos, depois a associação dos industriais,
portanto também uma boa parte
do mundo político e, finalmente,
os operários de suas empresas.
“Globalização”, “inovação”, “competitividade” e “flexibilidade” são
as palavras-chave de sua filosofia.
Mas são conceitos que tendem a
chocar-se com a rigidez do sistema
italiano, preso em uma burocracia
asfixiante e minado nas bases por
uma crise econômica sem precedentes.
— Na Itália, as condições industriais continuam impossíveis.
Dispomos das alternativas necessárias para colocar em prática os carros
Alfa Romeo em qualquer lugar do
mundo — afirmou, em pleno verão.
A declaração deu uma forte sacudida em milhões de cidadãos, que
só estavam preocupados com o lazer
na praia, debaixo do guarda-sol. A
mensagem direta e clara soou como
uma advertência: se a Itália continuar deste jeito, “estamos prontos para
ir embora”. Para alguns, o pretexto
seria a decisão da Corte Constitucional, que julgou o processo da Fiom
(o ramo metalúrgico da Cgil) contra
a Fiat. O recurso, apresentado anteriormente à Corte Constitucional
pelo sindicato, foi apenas o último
ato de uma longa fase de disputas,
começada na era Marchionne e que,
depois, atravessou a saída da Fiat de
Confindustria, devido a um controvertido acordo sindical que prometia
novos investimentos para resguardar a ocupação, em troca de uma
maior flexibilidade por parte dos trabalhadores das indústrias italianas.
O acordo tinha sido votado em
um referendo nas indústrias, e foi
aprovado em um clima de grande
tensão pela maioria dos trabalhadores. Após intensa resistência,
acabou sancionado pelos principais sindicatos da categoria, menos
a Fiom, a força mais à esquerda de
todos, com o maior número de adesões entre os trabalhadores.
A Fiat negou a representação
sindical para a Fiom e aplicou o dispositivo do artigo 19 do Estatuto
dos Trabalhadores, que a permite somente para os sindicatos que
tenham assinado o contrato aplicado na unidade produtiva. A Fiom
reagiu e dirigiu-se à Corte Constitucional. Alegou que, naquele caso
específico, o artigo 19 entraria em
conflito com alguns princípios fundamentais da Constituição e lesava
o princípio de solidariedade, igualdade e liberdade sindical. Uma
tese que foi aceita pela Corte, cujo
pronunciamento sancionou a vitória da Fiom e causou
a ira de Marchionne.
— Após a sentença da Corte Constitucional, criou-se
um vazio que causa incerteza. Deste jeito, é impossível
trabalhar, e é impossível gerenciar as fábricas — ressaltou o administrador delegado do grupo automobilístico.
Logo depois,veio a ofensiva contra o governo:
— Tinham nos prometido que teriam feito alguma
coisa, mas até agora nada foi feito. Estamos prontos a
procurar outras soluções que possam garantir a operacionalidade das atividades.
Em seguida chegou a ameaça, feita nas entrelinhas,
de que a empresa de Turim já estaria pronta para deslocar parte da produção para o exterior. Uma declaração
de intenções ou uma tentativa de pressionar a Cgil e o
governo? Difícil saber. Mas o certo é que o premier Enrico Letta, durante o encontro da cúpula da Fiat, poucos
dias depois, no Palácio Chigi, respondeu à altura.
— Na Itália, é possível fazer indústria e o governo está trabalhando nisso — observou Letta, de forma
gentil, embora com voz decidida, durante o encontro
com Marchionne e o presidente da Fiat, John Elkann.
Embates com os
sindicatos dividem o país
A postura da Fiat atrai suspeitas e levanta leituras.
Uma das versões diz respeito ao verdadeiro objetivo da
empresa de Turim, que seria obrigar o Executivo a promulgar uma lei ad hoc que preveja sanções contra os
sindicatos que não respeitarem os acordos. Seria uma
forma de neutralizar a frente mais intransigente, ligada à Fiom. Mas este é um caminho que seria difícil de
seguir. O Partido Democrático, principal acionista do governo, não pode ser dar ao luxo de convergir a respeito
de posições antissindicais para não irritar a sensibilidade
de seus eleitores, já incomodados pelas recentes escolhas
do partido, o que aconteceu por causa das fortes ligações
entre o Pd e a Cgil. De fato, não é um acaso que Gugliel-
Das escolhas estratégicas que
o executivo fará nos próximos
meses, depende o destino
do grupo e de milhares de
trabalhadores
mo Epifaci, ex-secretário geral do sindicato, é agora o
secretário nacional do Pd. Tem um fio lógico e coerente,
que justifica as afirmações do dirigente mais bem pago
da Itália. Já sofreu uma tentativa de deslegitimação do
sindicato mais radical, a acusação de ser liberal demais,
no que diz respeito às relações industriais, por ter chamado a atenção dos funcionários ausentes e por ter
criticado os atrasos da política. Cada saída é um embate
de frente, finalizado a desmantelar os verdadeiros tabus
da sociedade italiana. Os embates travados dosam ameaças e promessas: por um lado, a ameaça de fechar tudo e
começar a produzir no exterior; por outro, promete fazer
mais investimentos para garantir um futuro para as fábricas italianas. Uma estratégia que pode ter uma dupla
interpretação e já rachou o país em duas partes.
Para a metade dos italianos, o número um do grupo Fiat é um genial inovador, que quer modernizar o
universo da indústria nacional e está fazendo qualquer
esforço para manter a empresa na Itália. Para a outra
metade, trata-se de um cínico calculista que lidera uma
empresa que, durante décadas, drenou as verbas públicas do país, e
agora procura a forma mais elegante de sair de cena e abrir fábricas no
exterior. As próximas iniciativas, já
no outono, irão fornecer maiores
indicações sobre as reais intenções
da Fiat. Mas, como acontece com
frequência, a verdade poderia estar
no meio do caminho: deslocalizar
a produção é fácil, mas a italianidade da marca representa um valor
agregado, que faltaria se a escolha
recaísse no fim da ligação com o país de origem. A jogada de apostas
mais altas de Marchionne permanece visível diante de todos, mas
poderia terminar de forma simples,
com a tentativa de conseguir condições operacionais mais vantajosas
para aumentar a competitividade
industrial do grupo. O outro lado
da moeda são os elevados custos sociais, que os trabalhadores correm o
risco de pagar, especialmente o plano da perda de seus direitos.
Além disso, os investimentos,
neste momento, estão estagnados,
apesar das contas do grupo indicarem, nos últimos tempos, uma
tímida embora promissora inversão
de tendência. Na Europa, no segundo trimestre deste ano, as perdas se
reduziram até ficarem à metade do
mesmo período de 2012: o lucro líquido do trimestre subiu de 239
para 435 milhões de euros, o lucro
da gestão ordinária passou de 947
milhões a mais de 1 bilhão de euros,
e as receitas aumentaram de 21 a 22
bilhões de euros. Porém, a controlada norte-americana Chrysler teve
que reavaliar as previsões das vendas de fim de ano, reduzindo-as de
3,8 para 3,3 bilhões de dólares, o que
causou, nas últimas semanas, a queda momentânea dos títulos da Fiat.
Das escolhas estratégicas que Marchionne fará nos próximos meses irá
depender o destino do grupo — e de
milhares de trabalhadores.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
23
Economia
Aposta no
setor elétrico
O diretor da Cesi no Brasil, Paulo Cesar Vaz Esmeraldo, explica por
que a empresa italiana decidiu abrir uma sede no Rio de Janeiro e
fala sobre o futuro da energia no Brasil em entrevista à Comunità
Stefania Pelusi
H
á poucos meses, a empresa italiana Cesi, líder
mundial em consultoria e testes de sistemas
energéticos, abriu o seu primeiro escritório
na América Latina, na capital fluminense,
para criar uma nova expansão na região e demonstrar o seu meio século de experiência no setor.
No escritório localizado no centro da cidade, com
vista para o mar da janela do 23º andar, respira-se um
ar novo. A empresa ainda está terminando o processo
de contratação de funcionários, que deverão ser entre 30 a 40 pessoas nos próximos quatro anos.
— Pretendemos ter uma equipe brasileira de pessoas jovens e experientes. A ideia
é fazer um treinamento com as pessoas
mais novas, baseado na experiência
italiana, trazendo tudo aquilo que
for necessário da Itália, como um
engenheiro ou um especialista para
completar a equipe — declara o novo
diretor da empresa, o engenheiro
Paulo Cesar Vaz Esmeraldo.
Experiente técnico do setor
elétrico, Esmeraldo começou
sua carreira em 1973 e tem
passagens por Furnas, Eletrosul
e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Além disso, atuou
24
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
como professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de
Janeiro e no Instituto Militar de
Engenharia (IME), instituição em
que lecionou de 1975 até 1990.
O diretor no Brasil explica que
a Cesi nasceu em 1956, em Milão,
como um centro de excelência em
tecnologias do setor elétrico. Já era
conhecida no mercado brasileiro através dos serviços de consultoria para o
projeto de transmissão de 2300 km
do Rio Madeira e o sistema de monitoramento da Usina de Itaipu.
— Da Itália, a empresa estava
acompanhando o sucesso da energia elétrica. Resolvemos apostar no
mercado brasileiro, instalando uma
sede no Rio de Janeiro para poder
atingir não só o Brasil, como também outros países importantes da
América do Sul, a exemplo de Chile,
Argentina, Colômbia e Peru — ressalta o engenheiro catarinense que
se declara carioca de coração.
A companhia espera alcançar
um faturamento anual de €10 milhões no Brasil dentro de quatro
anos e atualmente negocia contratos para prestar serviços para
projetos de smart grid (redes inteligentes), linhas de transmissão
de longas distâncias e energias renováveis — que constituem os três
focos da empresa.
— O mercado brasileiro está
em franca efervescência de crescimento. Há um espaço muito grande
para empresas como a nossa neste
momento. Logicamente, a concorrência existe, mas não podemos
deixar de lembrar que somos uma
expressão mundial bastante importante — diz Esmeraldo, afirmando
que “quando o setor elétrico soube
da chegada da empresa, já existia
uma procura dos serviços”.
O diretor é muito otimista sobre o mercado elétrico brasileiro e
defende os custos da energia.
— Em termos de reimplantação,
geração e sistemas de transmissão,
o Brasil está indo muito bem. Lógico que existem alguns atrasos que
são alvos das maiores críticas, mas
são muito mais decorrentes de exigências ambientais. O Brasil está
instalando de três a quatro mil linhas
de transmissão por ano, e as usinas
implantam cerca de três a quatro mil
megawatts por ano. É um crescimento espantoso — afirma o engenheiro.
Em relação aos custos elevados
da energia elétrica no país verde-amarelo, ele os justifica com a
motivação de que o Brasil é uma
nação em expansão.
— Se compararmos com outros
países, a energia elétrica no Brasil
não é considerada das mais caras.
Aqui, houve incentivos do governo para diminuir o valor, mas isso
só vai ser sentido a médio e longo
prazo — aponta Paulo Cesar que,
antes de ingressar na companhia,
trabalhou por oito anos na Empresa de Pesquisa Energética (EPE)
como superintendente de transmissão de energia.
Entre os serviços da consultoria de Milão, existe também o setor
das energias renováveis, um campo
em “franca expansão”.
De acordo com o diretor, o próximo passo do governo brasileiro é
investir e promover as energias fotovoltaica e solar.
— A Itália está alguns anos à
frente em relação ao uso da energia solar e eólica. Já estamos em
contato com empresas daqui para
fazermos estudos mais detalhados
sobre a injeção de energia eólica
no sistema elétrico brasileiro —
revela Esmeraldo, que nunca teria
imaginado se tornar o gerente no
Brasil da empresa que foi objeto de
pesquisa, há 30 anos, durante uma
das suas visitas à Itália.
O foco da Cesi são as usinas de
energias solares a partir de 5 megawatts, área em que já possui uma
grande experiência.
No portfólio de clientes, aparecem nomes como Enel, a primeira
empresa que substituiu os medidores eletromecânicos por outros
elétricos, e a Endesa, a maior empresa de serviços públicos elétricos
na Espanha.
Executivo defende
o uso da energia nuclear
como fonte limpa
O gerente do escritório no Brasil não descarta a possibilidade de
oferecer serviços para a Enel Green
Power brasileira, atuante no setor
de energias renováveis. Segundo o
engenheiro, o país deve pensar no
futuro porque “num determinado momento, as nossas fontes de
energias renováveis, como é o caso
das hidroelétricas, vão se exaurir”.
Na sua visão, a usina nuclear, em
longo prazo, pode ser o tipo de geração que vem para facilitar a vida dos
brasileiros, pois no país a quantidade de reserva de urânio é expressiva.
— Então, por que não fazer uso
da energia nuclear, ainda mais no
momento que estão estabelecendo-se as usinas de nova geração
intrinsecamente seguras, onde
os acidentes são reduzidos praticamente a zero? O Brasil tem que
investir em energia nuclear porque
é a energia limpa do futuro.
Um dos outros focos da empresa italiana são as smart grids. A
empresa faz projetos e supervisiona os medidores digitais e espera
levar o desenvolvimento dos sistemas de redes inteligentes no Brasil.
— Já existem empresas que estão avançando neste setor, como a
Light no Rio de Janeiro e a Ampla
O engenheiro Paulo
Cesar Vaz Esmeraldo,
diretor da Cesi para
América Latina,
acredita no potencial
do mercado brasileiro
através da tecnologia
italiana em sistemas
energéticos
em Niterói. Por isso, estamos avaliando também outras cidades que
vão começar a testar as especificações desses produtos — adianta
A empresa tem um mercado cativo na Itália, onde fica a sua sede
principal. Movimenta um volume
de negócios anual de mais de 120
milhões de euros, opera em mais de
40 países em todo o mundo e possui
uma rede total com mil profissionais.
— Para manter um mercado
forte, investir no exterior é uma
estratégia. Além do escritório principal em Milão, há dois laboratórios
de testes na Alemanha e, há dois
anos, abrimos um escritório em Dubai para captar os negócios na Arábia
Saudita. Há poucos meses abrimos
essa sede aqui no Rio para expandir
o nosso mercado no continente —
finaliza o diretor, entusiasmado com
o desafio de consolidar de forma definitiva a empresa no país.
Para Paulo Cesar, trabalhar com
os italianos é um prazer, pois é uma
cultura “muito parecida com a do
Brasil”. Ele contou que frequenta
um curso de italiano para conversar
mais à vontade com os funcionários
e diretores do Cesi, em vez de usar o
habitual inglês.
“Abrimos esta sede no Rio para
poder atingir não apenas o
Brasil, como também outros
países importantes da América
do Sul, a exemplo de Chile,
Argentina, Colômbia e Peru”
com unit àit aliana | s etem br o 2013
25
Economia
Raio-X
na balança
Na primeira metade de 2013, saldo do comércio entre
os dois países revela vantagem para o mercado italiano
Caroline Pellegrino
O
De São Paulo
s setores de tecnologia
e inovação foram os
principais responsáveis
por manter o saldo comercial bilateral favorável à Itália
em US$ 1,16 bilhões (cerca de R$
2,7 bilhões) no primeiro semestre
de 2013. Os principais produtos
que caracterizaram as exportações
para o Brasil foram maquinários,
componentes automotivos, produtos químicos, farmacêuticos,
motores e automóveis.
No que se refere às exportações
brasileiras para a Itália, podem ser
citados os metais ferrosos, produtos agrícolas, papel, artigos de
couro e carne.
— Nessa primeira metade do ano,
houve uma melhoria nas relações
comerciais, depois da desvalorização
cambial do real, entre outros fatores — afirma o secretário-geral da
Itália: direção das exportações
O secretário-geral da
Italcam, Francesco
Paternò, otimista
com a relação
comercial entre
Brasil e Itália
US$ bilhões
País
2012
Porcentagem
do total
2013 (jan-abr)
Porcentagem
do total
Alemanha
62,3
12,4%
21,3
12,8%
França
55,1
11,0%
18,9
11,3%
Estados Unidos
34,2
6,8%
10,8
6,5%
Suíça
29,5
5,9%
9,8
5,9%
Reino Unido
24,1
4,8%
7,8
4,7%
Espanha
23,3
4,7%
7,6
4,5%
Turquia
13,5
2,7%
4,0
2,4%
Bélgica
13,1
2,6%
5,2
3,1%
Rússia
12,8
2,6%
4,3
2,6%
Países Baixos
11,8
2,4%
3,9
2,3%
Brasil
6,38
1,3%
2,08
1,2%
Subtotal
286,1
57,1%
95,7
57,5%
...
Outros países
215,1
42,9%
70,7
42,5%
Total
501,2
100,0%
166,4
100,0%
Elaborado pelo MRE/DPR/DIC - Divisão de Inteligência Comercial, com base em dados da UNCTAD/ITC/COMTRADE/Trademap, August 2013.
As exportações italianas são destinadas, em grande parte, aos vizinhos da União Europeia,
que absorveram 53,1% da pauta em 2012. A Alemanha foi o principal destino das vendas, com
participação de 12,4%, seguida da França (11%), Estados Unidos (6,8%); e Suíça (5,9%).
O Brasil foi o 17º destino das exportações italianas: 1,3% do total.
26
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio,
Indústria e Agricultura (Italcam),
Francesco Paternò.
O conselheiro econômico e comercial da Embaixada da Itália
em Brasília, Cristiano Musillo, explica à Comunità que o aumento
foi de 111% em relação ao mesmo
período de 2012 (US$ 0,55 bilhões):
— O resultado foi praticamente
duplicado, de acordo com os dados
do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
brasileiro (MDIC) — completa.
Segundo Musillo, esse cenário foi fruto de diferentes fatores,
como “o efeito da crise econômica
internacional, que ainda persiste
em vários países europeus; algumas condições internas brasileiras,
o fenômeno da desindustrialização
e da menor competitividade, e a
necessidade de aumento das importações brasileiras de produtos
refinados do petróleo.
— Além disso, ainda houve variações das commodities
exportadas pelo Brasil, com os
preços fixados pelos mercados internacionais — analisa.
Entre 2003 e 2012, o intercâmbio comercial entre Itália e Brasil
registrou um aumento de cerca
170%. As relações mercadológicas
entre os dois países registram, portanto, um progressivo crescimento
graças à complementaridade dos
seus sistemas produtivos.
Entre as regiões brasileiras que
mais receberam produtos italianos,
destaca-se o estado de São Paulo,
com mais de 50% das filiais produtivas e comerciais de empresas
italianas que operam no Brasil. Vale lembrar o papel de protagonista
do Porto de Santos, responsável por
uma cota substancial do intercâmbio
bilateral neste estado. O restante foi
articulado, sobretudo, nos estados
das regiões Sul e Sudeste. Entretanto, a melhora na infraestrutura do
Norte e do Nordeste também atraiu
novos investimentos italianos, como a FIAT em Pernambuco.
— Para os próximos meses do
ano, é possível prever um incremento das exportações brasileiras,
não apenas devido à recente tendência de valorização do euro
frente ao real, mas principalmente
pelos sinais de retomada que se registram nos mercados europeus e,
mais especificamente, no italiano
— espera Musillo.
O representante da Italcam
também destacou o interesse
maior do empresariado italiano em
relação ao Brasil.
— Esse aspecto se manifesta
na vontade de investimento, de
criar joint venture e na parceria em
outros mercados. Há potencial na
criação de acordos bilaterais e de
complementação de setores com
tecnologia — afirma Paternò.
Segundo os entrevistados, o Brasil está tentando importar cada vez
mais tecnologia relacionada à sustentabilidade ambiental e já mostrou
interesse em comprar da Europa.
— Inicia-se, com perspectivas
positivas, a exportação italiana no
que se refere aos equipamentos e
maquinários dos setores fotovoltaico, economia verde e náutico, áreas
que foram objeto de recentes seminários organizados pela Embaixada
junto a outros atores importantes
do Sistema Itália no Brasil, como
os Consulados, a Agência para Promoção e Internacionalização das
Empresas Italianas no Exterior
– ICE e as Câmaras de Comércio —
reforça Musillo.
Otimismo com
o governo Letta
O governo italiano também vem
adotando numerosas medidas para
favorecer a retomada do processo de crescimento da economia.
A posse do novo primeiro-ministro italiano Enrico Letta, em
abril, também agradou ao setor
comercial e é outro indicador de
estreitamento na relação bilateral.
— O ex-deputado é jovem, é um
técnico e bem menos político do que
os seus antecessores. Letta se encontra em uma situação mais favorável,
pois as medidas que o país adotar
não serão uma questão de escolha e,
sim, necessárias para manter a Itália entre as maiores economias do
mundo. Não temos dúvida de que
os laços de negócios vão aumentar
ainda mais com o mercado brasileiro
— comenta Paternò.
Do ponto de vista do empresário italiano, o Brasil é considerado
O conselheiro
econômico e
comercial da
Embaixada da
Itália em Brasília,
Cristiano Musillo,
ressalta a retomada
do mercado italiano
e alerta para a
necessidade de
reformas estruturais
no Brasil
“Para os próximos meses,
podemos prever um
incremento das exportações
brasileiras devido à recente
tendência de valorização
do euro frente ao real e
principalmente pelos sinais
de retomada dos mercados
europeus e italiano”
Cristiano Musillo, conselheiro econômico e
comercial da Embaixada da Itália em Brasília
estratégico por sua localização e
importância econômica, mas a instabilidade política enfrentada pelo
país, nos primeiros meses do ano,
representou um obstáculo para o
comércio internacional.
— O país registrou o pior primeiro semestre dos últimos 20 anos
no balanço de pagamento, que é um
instrumento referente à descrição
das relações comerciais com o resto
do mundo, isso sem falar nos custos
da máquina pública que dificultam a
entrada de investimento — relembra o secretário-geral da Câmara
Ítalo-Brasileira de São Paulo.
Dados do Banco Central do Brasil (Bacen) ratificam o resultado do
balanço de pagamentos, que apresentou déficit de US$1,3 bilhão
em junho. Essa perda foi agravada,
principalmente, com a crise internacional que fez com que o Brasil
vendesse menos commodities para o
exterior, incluindo a Itália.
O secretário da Italcam ainda
reforçou a importância da estabilidade interna brasileira para o
crescimento das relações externas. — A economia do Brasil, até o
fim do ano, vai depender muito das
decisões políticas, da redução de
custos e da melhora na qualidade dos ministérios. Se o país não
eliminar o inchaço da máquina
pública, prevemos um fim de ano
nada animador — alerta.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
27
Mercado
Negócios
nas alturas
Segunda maior feira de aviação do mundo reúne 14 mil pessoas
em São Paulo e empresas italianas mostram suas novidades
Caroline Pellegrino
S
essenta e oito aeronaves
pousaram no Aeroporto
de Congonhas, na zona
sul da capital paulista, entre os dias 14 e 16 de agosto, para
o maior encontro brasileiro da aviação e o segundo maior do planeta.
A décima edição da Labace (Latin
American Business Aviation Conference & Exhibition) reuniu modelos
de até US$ 65 milhões, além de promover negócios, relacionamento e
lançamento de tendências.
Em uma área de aproximadamente 15 mil m², a feira perde
apenas para a americana, organizada
pela NBAA (National Business Aviation Association). A Labace contou
com 180 expositores, representados
pelos principais fabricantes do mundo. Entre os dez maiores mercados
do mundo, o Brasil representa uma
fatia expressiva de vendas para o
setor e a Labace consolida-se como
uma oportunidade para concretizar
negociações, pois muitos compradores fecham a compra de helicópteros
e aviões na própria feira.
— Prova do sucesso da Labace,
em termos de vendas, está no fato
de termos os principais fabricantes
do mundo aqui e eles terem trazido
mais aeronaves este ano, ocupando espaços de exposição cada vez
28
maiores — disse o diretor executivo da ABAG (Associação Brasileira
de aviação Geral), organizadora da
feira, Ricardo Nogueira.
A chuva e o frio, nos dois primeiros dias, dispersaram parte do
público, mas a ensolarada sexta-feira de encerramento atraiu mais
pessoas do que o esperado. Entre
os modelos expostos, estava mais
em conta o Cirrus – SR22, que
custava em torno de US$ 795 mil,
com capacidade para cinco pessoas
e mais de 65 kg de bagagem. Já a
opção mais cara foi o G650 da Gulfstream, por US$ 65 milhões.
AgustaWestland vai
abrir novo estabelecimento
em São Paulo em 2014
A AgustaWestland, empresa anglo-italiana de helicópteros, participou
pela primeira vez da Labace e esteve presente no estande 6106 , com
três helicópteros: o AW119 de um
motor e espaço para oito passageiros; o GrandNew, bimotor com
a mesma capacidade de
assentos; e o AW169,
um novo modelo que
será produzido a partir
de 2014.
A companhia anunciou expansão de suas
instalações no Brasil e a
construção de uma nova
unidade em São Paulo,
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Acima, o pavilhão
da Agusta Westland,
no aeroporto de
Congonhas. Abaixo,
o modelo P180
Avanti II da italiana
Piaggio Aero
que inclui hangares para manutenção, com espaço que poderá
acomodar uma linha de montagem
final de helicópteros, centro de
treinamento, entreposto aduaneiro, oficinas e serviços de apoio,
incluindo um heliporto. O estabelecimento deve ficar pronto até o
fim de 2014.
A AgustaWestland possui mais
de 180 helicópteros comerciais
que operam no Brasil, realizando
funções como o transporte corporativo e transporte offshore. Cerca
de 30 helicópteros AW139 já estão
sendo operados, principalmente junto à indústria brasileira de
petróleo e gás. Além disso, mais
de 140 AW109 e GrandNew estão
operando no mercado corporativo
e de transporte VIP.
O CEO da AW, Daniele Romiti,
explica à Comunità o plano, enquanto esteve em São Paulo:
— O Brasil é um mercado muito
importante e crescente para a AgustaWestland, por isso dá um grande
prazer poder anunciar este plano, à
medida que continuamos crescendo
o nosso negócio, não só no Brasil, mas em toda a América Latina.
Esta nova e maior instalação permitirá aumentar a nossa presença
industrial para montar helicópteros
no país, o que demonstra o nosso
compromisso de longo prazo para a
região e nossos clientes.
Já no estande 6105, a italiana
Piaggio Aero estava representada
pela Algar Aviation e contou com a
presença de Enrico Sgarbi, executivo
de relações públicas da Piaggio, além
de membros da Piaggio América.
Este foi o terceiro ano que a
Piaggio participa da feira. A companhia trouxe um modelo para o
público brasileiro, o P180 Avanti II.
— A Labace 2013 superou a
edição do ano passado em qualidade de contatos, porém, em
número de, se mostrou mais fraca
nos primeiros dias devido ao frio e
à chuva, mas foi válido como um todo para as negociações — comentou
Andressa Mundim, responsável pelo
marketing da Algar Aviation, representante da Piaggio Aero no Brasil.
Para o próximo ano, o evento vai
acontecer entre os dias 12
e 14 de agosto, com uma
mudança: será de terça a
quinta-feira, e não mais de
quarta a sexta. A expectativa é seguir cada vez mais
as tendências do segmento, com alta qualidade de
visitantes e elevado volume de negócios.
Mercado
Silva, conversou com os jornalistas
através de uma videoconferência
de Belo Horizonte, Minas Gerais.
— Recebemos uma carta com
os cumprimentos do primeiro ministro italiano Enrico Letta pelo
aniversário da OIC. Acredito que a
Expo 2015 e a Mostra Cultural do
Café sejam grandes oportunidades
para se contar a história do café no
mundo — ressaltou Robério.
Sebastião Salgado e o cultivador José Carlos Grossi serão os
dois embaixadores do Brasil para o
tour que terminará em Milão, em
janeiro de 2015. A iniciativa envolve também, em cada país por onde
passa, um personagem local que
interpreta os valores que caracterizam o mundo Illy.
O tour do café
Illy organiza um tour que vai passar por nove cidades
em três continentes como uma prévia da Expo 2015
Gina Marques
O
De Roma
s preparativos para a
Expo 2015 em Milão
estão a todo vapor.
Com o tema Nutrir o
planeta – Energia para a vida, a Exposição Universal promete despertar a
consciência humana através da educação e da criatividade sensível aos
valores ambientais. Participarão do
evento 132 países. O Brasil, segundo os organizadores, está definindo
os últimos detalhes do seu pavilhão.
Como se trata de nutrição e
energia, não poderá faltar o café. A
torrefadora Illy abraçou o projeto da
Expo 2015 e prepara o seu Estande
do Café. Mas, antes da exposição,
a gigante italiana conhecida pelo
expresso perfeito já começou a divulgar em diversos países a Mostra
Cultural Global do Café. O tour parte de Belo Horizonte, na ocasião da
comemoração dos 50 anos da fundação da Organização Internacional
do Café (OIC), a principal organização inter governativa que une países
exportadores e importadores. A
mostra tem uma série de fotos de
Sebastião Salgado, realizadas especialmente para a Illycaffè a partir
Pavilhões da Expo 2015
estarão localizados de acordo
com a cadeia de produtos
O delegado do governo da Itália
para a Expo 2015, Giuseppe Sala,
explicou alguns detalhes da exposição em Milão:
— Em Shangai 2010, onde aconteceu a última Exposição
Universal, os pavilhões estavam
localizados de acordo com a geografia. Agora passamos da geografia à
cadeia de produtos — contou.
Para organizar a Expo 2015,
o custo estimado é de 1.746 milhões de euros, um investimento
que inclui a construção dos espaços expositivos, vias de acesso ao
território circunstante, tecnologia,
segurança e infraestrutura.
— Em compensação, o benefício é estimado em 5 bilhões de
euros — disse Giuseppe Sala.
As etapas da Mostra
Cultural Global do Café
de 2002, contando a realidade rural
dos cultivadores em diversos lugares
do mundo. Trata-se de uma longa
reportagem que Salgado fez em homenagem a pessoas com diferentes
histórias, paisagens e tradições ligadas aos países produtores.
— O tour começa pelo Brasil
como reconhecimento do importante trabalho da OIC, um ponto
de referência do mercado. Além
disso, eu me sinto afetivamente ligado ao Brasil como uma segunda
casa — contou o presidente da Illycaffè, Andrea Illy, à Comunità.
Em Roma, durante uma apresentação sobre a participação da
Illy na Expo 2015 e da Mostra
Cultural Global do Café, o diretor
executivo da OIC, Robério Oliveira
O tour do café começou em 9 de
setembro na capital mineira. A
previsão é que dure 20 meses e
passe por nove cidades em três
continentes, antes da inauguração
da Expo Milão 2015, que acontece
de 1º de maio a 31 de outubro. Além
da exposição, o evento conta com
palestras educativas e análises
sensoriais. Com um diferente
tema para cada etapa, o evento vai
passar pelas seguintes cidades:
2014
Nova York (fevereiro)
Seul (abril)
Shanghai (junho)
Bogotá (setembro)
Dubai (outubro/novembro)
2015
Londres (fevereiro)
Berlim (março)
Paris (abril)
com unit àit aliana | s etem br o 2013
29
Notícias
A volta dos
cérebros emigrantes
A
região Emilia-Romagna aprovou um decreto para trazer
de volta os “cérebros” que foram em busca de oportunidades no exterior. A região fornece os recursos econômicos
para ajudar os alunos que se formaram fora da Itália e que
querem fazer um máster na universidade de Bologna, Ferrara, Modena-Reggio, Parma, Piacenza ou na Católica del Sacro
Cuore, em Milão. Os beneficiários das bolsas são principalmente os emigrantes e os descendentes de emigrantes da
Emilia Romagna residentes no exterior, porém são admitidos
também os jovens de outras regiões, desde que sejam “expressão da comunidade de compatriotas no exterior, ou ligado a
eles”. A iniciativa prevê cinco mil euros aos que estiverem na
Europa e seis mil aos residentes em outros continentes.
Torre de Pisa no lugar
A
Torre de Pisa continua seu lento e constante caminho de “realinhamento”. Segundo o relatório anual
do Grupo para o Acompanhamento da Torre de Pisa, entre
2001 e 2013 o monumento recuperou cerca de 2,5 centímetros de sua inclinação. As ações mais importantes para
os avanços foram realizadas a partir de 1992, com a intervenção do
professor Michele Jamiolkowski,
que posicionou no primeiro andar
da Torre 18 cabos de aço de 2 centímetros de diâmetro, como medida
temporária de reforço estrutural.
Além disso, as intervenções no solo
abaixo da Torre permitiram a extração de blocos de pedras de 150
anos, a substituição foi feita com
uma trave de concreto armado e
a ancoragem com cabos de aço a
uma profundidade de 52 metros.
Em janeiro de 1999 foi realizada a
obra definitiva para a estabilização, criando um “berço” de
baixo da base da Torre do lado oposto da inclinação, conseguindo, dessa forma, reduzi-la. A Torre foi reaberta ao
público em 2001 e, segundo os peritos, agora está em segurança para os futuros dois ou três séculos.
Termina a era Bertone
P
apa Francisco confirmou a substituição do poderoso cardeal Tarcisio Bertone, o histórico secretario de Estado do
Vaticano, pelo veterano diplomata da Cúria, o cardeal Pietro
Parolin. A era Bertone, o “numero 2” da cúpula da Igreja, oficialmente terminará no dia 15 de outubro. O novo nomeado
tem 58 anos e é considerado relativamente jovem para o posto. Segundo os especialistas ele pode dar maior visibilidade à
Igreja no cenário mundial. Antes deste cargo Parolin era enviado do Vaticano à Venezuela e também trabalhava para reforçar
os laços com a China. Ele já havia sido enviado no México e na
Nigéria e trabalhou com questões sensíveis da Igreja, incluindo as relações diplomáticas com Israel. Bertone, de 78 anos,
manterá outras atribuições, como liderar uma comissão de
cardeais que monitora as operações do Banco do Vaticano.
30
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Despedida de Massa
será em Interlagos
O
brasileiro Felipe Massa vai deixar a equipe Ferrari. O
anúncio foi feito pelo próprio através da rede social Twitter. Não disse se vai para outra equipe, confirmou apenas que
disputará as sete provas que faltam. Massa foi contratado como
piloto de testes e em 2001 foi emprestado à Sauber. Em 2006
retornou e disputou 132 Grandes Prêmios na escuderia, oito
temporadas. Só Michael Schumacher, o heptacampeão, correu
mais vezes pela Ferrari. Foram quinze pole-positions e 11 vitórias. Nunca ganhou um campeonato, o mais próximo foi em
2008 quando perdeu o título para Lewis Hamilton por apenas
um ponto. Em 2009, sofreu um grave acidente na Hungria e
nunca mais venceu. Massa se despede da Ferrari, após 12 anos,
na pista onde foi pole-position e venceu pela última vez. Em
Interlagos, diante da torcida brasileira, no dia 24 de novembro.
Brasil mais feliz que a Itália
N
o Relatório Mundial de Felicidade das Nações Unidas
(ONU), o Brasil avançou uma posição neste ano e figura
em 24º lugar, à frente de potências como França e Alemanha. Entre os cinco países mais felizes, a Dinamarca manteve
a liderança no ranking de 156 países, seguida por Noruega,
Suíça, Holanda e Suécia. O Belpaese caiu para a 45ª posição
na classificação geral, entre a Eslovênia e a Eslováquia. Os
economistas, psicólogos e estatísticos da ONU levaram em
consideração itens como generosidade, expectativa de vida,
Pib per capita, liberdade para fazer escolhas na vida pessoal,
apoio social e percepção da corrupção.
De volta pra casa
A
pós cinco meses, o enviado especial do diário italiano La
Stampa, Domenico Quirico, foi libertado no dia 8 de setembro. O jornalista de 62 anos foi sequestrado em abril na
Síria. “Foi uma experiência terrível, cinco meses são longos, porém consegui. Me sinto como se tivesse estado em Marte, agora
estou de volta na Terra e fiquei sabendo de algumas notícias
de como o mundo evoluiu. Peço desculpa, mas a minha idéia
de jornalismo é de ir aonde as pessoas sofrem e às vezes tem
que sofrer com eles”, disse Quirico. Ele foi sequestrado e libertado junto com o professor e escritor belga Pierre Piccinin. Eles
tentaram a fuga duas vezes, mas foram capturados novamente.
Adeus Bevilacqua
M
orreu aos 79 anos, o escritor e cineasta italiano Alberto
Bevilacqua na capital italiana. Ele completaria 80 anos
no dia 27 de junho do próximo ano. Ele estava hospitalizado
na clínica Villa Mafalda desde outubro de 2012 por problemas
cardíacos. Bevilacqua era um autor muito popular na Itália e
entre os seus livros mais famosos, La Califfa (traduzido como
A Rebelde em português) foi adaptado para o cinema em 1970.
O próprio autor dirigiu o longa-metragem. Adepto do realismo
fantástico, o escritor focou sua obra em questões como o inconsciente. Nascido em Parma, recebeu vários prêmios literários
italianos, incluindo o Strega, em 1968, por “L’occhio del gatto”.
Política
A herdeira
a abandonar a cena, seu sucessor
poderá ser, única e exclusivamente,
outra Berlusconi: a filha Marina.
A filha mais velha, cujas
Analistas apontam a poderosa
mãos concentram um
presidente da Fininvest como a provável grande volume de capitais
e mais fiel sucessora de Silvio Berlusconi e poder empresarial
Stefano Buda
A
De Roma
condenação de Silvio Berlusconi, a provável
perda do seu mandato parlamentar e sua inelegibilidade para as próximas eleições devem
provocar em breve um vazio na centro-direita
e abrir caminho para a sucessão. Muitos no Pdl articulam
para tornarem-se protagonistas da cena do atual cenário
político italiano. Ou seja, por debaixo dos panos, tentam
se tornar protagonistas. Como o secretário Angelino Alfano, várias vezes indicado como hipotético candidato a
primeiro-ministro por Berlusconi e, a mesma quantidade de vezes, ainda que colocado à sombra mais uma vez,
ao ponto de ganhar a adesão da defensora por excelência,
Daniela Santanchè, um exemplo da ala mais intransigente do seu partido, aos muitos ex-coronéis de Força Itália
e Aliança Nacional, como Brunetta e Quagliariello. São
poucas, porém, as personalidades à altura desta tarefa.
Fundamentar a principal força política da centro-direita
sobre a fidelidade ao chefe e afastar, ao longo dos anos,
qualquer figura que tentasse diminuir a sua importância,
foi uma escolha estratégica do próprio Berlusconi. E não
só isso: o ex-premier confia somente nele mesmo e sabe
perfeitamente que, na política, a fidelidade ao chefe nunca é eterna. Portanto, se, como é provável, for obrigado
Ambos são muito ligados, tanto por
causa dos óbvios sentimentos entre
pai e filha, quanto pelos comuns e
enormes interesses de família. Dos
cinco filhos dos dois casamentos,
Marina é a que mais se parece com
o pai. Filha mais velha, nascida em
1966 da união entre Silvio Berlusconi
e membro dos conselhos de administração de Mediolanum, Medusa
Film, Mediaset e Mediobanca. É praticamente o braço direito do pai.
Até agora, em todas as ocasiões
em que foi questionada pela imprensa italiana, Marina Berlusconi negou
categoricamente que estivesse disponível para um compromisso direto
na política. Poderia até parecer a recusa de um papel que implica uma
superexposição midiática, quase
sempre portadora de grandes problemas, como mostra a história do
pai. Porém, provavelmente, estamos
diante de uma manobra estratégica
e somente interlocutória: a eventual
indicação de Marina poderia enfraquecer a figura do pai, exatamente
no momento em que ele luta com
todas as suas forças na batalha política posterior à sua condenação. No
entanto, quando ficar claro que o ex-premier está fora do páreo, haverá
espaço para o elemento surpresa.
Afinal, Marina Berlusconi é a única
figura em condições de lutar com
a mesma obstinação interesseira
do pai em defesa dos interesses da
família. Como ele, quase 20 anos
atrás, que decidiu chefiar um partido para defender — e até aumentar
— o império econômico da família.
O poder midiático e as disponibilidades econômicas para dramatizar
o voto e encenar uma imponente
retórica berlusconiana, certamente,
não lhe faltariam. Porém, é quase
certo que estamos diante de uma
jogada estratégica somente interlocutória. Marina representaria um
poderosíssimo estereótipo italiano:
a boa filha que, até contra a sua vontade, é obrigada a sacrificar-se pelo
pai, aceitando lutar em defesa dele.
Silvio Berlusconi, talvez no exílio
dourado de sua residência, em Arcore, onde, daqui a alguns meses,
poderia aceitar ficar para cumprir a
Aos 47 anos, Marina Berlusconi até agora nega
que pretenda entrar na política, mas há quem
avalie sua posição como estratégia para não
enfraquecer a figura do pai em um momento
em que o ex-premier ainda luta com todas as
suas forças após a condenação por fraude fiscal
e Carla Elvira Lucia Dall’Oglio, foi batizada com o nome de Maria Elvira,
mas escolheu ser chamada de Marina. Aos 47 anos, tem em suas mãos
uma enorme concentração de capitais e poder empresarial: é presidente
da Fininvest, do grupo Mondadori,
sua pena de prisão domiciliar, teria
como acrescentar mais pathos, aparecendo no debate eleitoral como
perseguido e exilado. Uma mistura
dramatúrgica e irresistível, que poderia criar situações tais para uma
nova epopeia berlusconiana.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
31
Política
Por um fio
Se o Pd votar pela perda do mandato de Berlusconi, o Pdl irá se retirar do
governo, o que deixa o destino de Letta intimamente ligado ao do ex-premier
Stefano Buda
A
De Roma
sobrevida do governo
Letta está pendurada
por um fio. O corte do
Imu (o imposto municipal sobre a primeira casa) deu
oxigênio ao Poder Executivo, mas
o desenvolvimento do caso Berlusconi poderia levar à saída definitiva
da centro-direita do governo. Mas,
neste momento, não haveria perigo de uma crise. O premier
Enrico Letta aceitou os insistentes pedidos da centro-direita, que
tinha usado o corte do Imu como
bandeira da coligação durante a
campanha eleitoral. Uma manobra
que desarticulou a ação de francos
atiradores que, principalmente na
centro-direita, mas também na
centro-esquerda, estavam trabalhando para deflagrar uma crise
de governo. Os problemas, porém,
logo irão aparecer. Com efeito, a
Junta para as eleições no Senado
foi chamada para decidir a respeito
da perda do mandato parlamentar de Silvio Berlusconi. É um dos
efeitos da sentença definitiva, que
condenou o número um do grupo
Mediaset a quatro anos de reclusão
por fraude fiscal. Berlusconi, como
todos sabem, não irá para a prisão:
favorecido pela lei da comutação
de pena, deverá cumprir somente
um ano e poderá escolher entre a
prisão domiciliar, ou ficar sob a tutela dos serviços sociais. Todavia,
irá perder o direito a participar das
próximas eleições e sofrerá a perda
do mandato parlamentar.
A Junta para as eleições, em
teoria, é chamada para aplicar um
simples mecanismo jurídico, que
não deixa espaço para alternativas:
a lei Severino prescreve claramente que os cidadãos condenados a
mais de dois anos perdem o direito
a ter uma cadeira no Parlamento.
Porém, Berlusconi e seus acólitos
estão tentando politizar a decisão
da Junta e pedem uma solução em
defesa do líder. Afirmam que, em
caso contrário, estariam prontos
32
para retirar o apoio ao governo.
O bolo está mais enrolado do que
parece e chama em causa os interesses da família do Cavaliere. É
suficiente saber que, no final de
agosto, no momento em que o Pdl
parecia estar deflagrando a crise,
os títulos do grupo Mediaset perderam 150 milhões de euros em
quatro horas. Exatamente naquele momento, Berlusconi mandou
seus seguidores baixarem o tom,
ajudado nesta tarefa pela decisão
de Letta de abolir o Imu.
A linha de conduta do ex-premier, no entanto, continua a mesma:
— Não iremos à frente neste governo junto com uma esquerda que
pode intervir para impedir que o líder do centro-direita faça política.
Portanto, se o Pd votar na perda do mandato, o Pdl irá se retirar
do governo. Uma posição que se
baseia sobre uma equação lógica,
que os parlamentares do centro-direita repetem como se fosse
um mantra: “Berlusconi é vítima
de uma perseguição judiciária, milhões de italianos votaram nele,
conscientes do conflito em ato com
a magistratura, e não poderão ser
uns juízes, sem legitimidade popular, a excluí-lo da vida política”.
Trata-se, evidentemente, de uma
objetiva interpretação apressada
das normas constitucionais.
Presidente Napolitano
também defende a
permanência de Berlusconi
no Senado para evitar a
queda do governo
O Partido Democrático, por enquanto, segue em frente e, pelas
declarações de seu secretário nacional, Guglielmo Epifani, torna
público que irá votar a favor da cassação do mandato de Berlusconi,
como previsto pela lei. Porém, nos
bastidores, trabalha-se para uma
solução que deixe Berlusconi quieto, para garantir a sobrevivência do
governo. Nesta frente, um dos mais
ativos é o presidente da República,
Giorgio Napolitano, que apoiaria
um expediente técnico para afastar
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Olho nos olhos entre
o ex-premier Silvio
Berlusconi e o atual
Enrico Letta
o perigo da saída de Berlusconi do
Senado: é o assim chamado ‘laudo
Violante’, do nome do expoente
democrático que elaborou a possível saída deste impasse. Trata-se
de uma manobra judiciária que, em
teoria, adiaria por um ano a decisão da Junta a respeito da cassação.
— Berlusconi precisa explicar para a Junta por que, em sua
opinião, a lei Severino não se aplicaria. E os membros da Junta têm
a obrigação de ouvir e avaliar sua
defesa — explicou Luciano Violante, acrescentando que a Corte
Constitucional considerou que o
procedimento diante da Junta é de
caráter jurisdicional.
— Portanto, a Junta, se considerar que não há os pressupostos
cabíveis, poderia levantar a exceção diante da Corte. Este não seria
um adiamento, mas a aplicação da
Constituição — finalizou.
Um percurso tecnicamente viável, mas que não agrada à maior
parte dos expoentes democráticos,
já em situação bastante desconfortável com seus eleitores. Uma hipótese
que agrada menos ainda a Mattero
Renzi, que almeja a liderança do Pd
e quer que se chegue logo a novas
eleições, para entrar na disputa para
a presidência do Conselho.
— Em um país civilizado, um
líder condenado com sentença
definitiva teria se demitido e não
teria esperado ter seu mandato
cassado — ressaltou Renzi, sem
meias palavras.
Os advogados de Berlusconi, neste ínterim, estão trabalhando também em outras duas direções: a primeira passa pelo
recurso contra a Lei Severino, que será apresentado à Corte dos
Direitos Humanos de Estrasburgo. Uma contestação baseada
na presumida violação de alguns artigos da Convenção, ligados
à retroatividade e ao justo processo; a segunda passa pela tentativa de conseguir uma comutação da pena, que eles queriam
transformar de pena de detenção, para pena pecuniária. Porém, até nesta direção, a decisão está nas mãos de Napolitano
que, neste momento parece se manter neutro. A comutação
da pena resolveria todos os problemas, pois, segundo as interpretações prevalentes, nesse caso, a lei sobre a cassação não
seria mais aplicável. E o objetivo principal de Berlusconi é exatamente este: para além do fracasso político, causado pelo seu
afastamento do Parlamento, o empresário de Arcore teme que,
uma vez perdida a imunidade parlamentar ligada ao seu cargo
de senador, possa ter início uma avalanche judiciária que poderia arrastá-lo, através da abertura de novos processos.
Ainda se fala das hipóteses da graça e da anistia, mas, mesmo
com toda a boa vontade de Napolitano, são duas soluções difíceis
de serem postas em prática, porque seriam medidas ad personam
(feitas propositalmente para uma pessoa específica), que dividiriam mais ainda o país, ainda mais neste momento tão delicado
no plano social devido à crise econômica. Agora é difícil prever
o que irá acontecer. Certeza é que o destino do governo está intimamente ligado ao de Berlusconi. A situação, porém, ainda
pode melhorar. Se, neste meio tempo, Letta conseguisse uma
maioria alternativa, as ameaças de crise perderiam força. Na
Câmara, a quantidade de votos seria suficiente, mas não no
Senado. Grillo conseguiu frear a hemorragia de parlamentares que demonstravam simpatia pela centro-esquerda,
mesmo que o debate no interior do Movimento 5 Stelle esteja ainda em ato. A posição oficial dos grillini
é um ataque de frente contra o Pd e Napolitano,
de quem é pedida até a demissão por causa da
presumida tentativa de salvar o condenado Berlusconi. Segundo algumas indiscrições, vários
parlamentares do Pdl, se fosse prevalecer a
linha dura, estariam prontos para desobedecer às ordens do partido e a votar para
a sobrevivência do governo. Aparentemente, seria um pequeno grupo de
moderados que não gostariam de
ver o partido se afundando cada
vez mais, e correndo o risco de
acabar nas mãos dos francos
atiradores, chefiados pela radical berlusconiana Daniela
Santanchè. Neste momento,
os parlamentares anti-crise seriam uma minoria, mas se a
avalanche avançar, chegando
ao envolvimento de pelo menos uns vinte senadores, o
governo poderia ficar definitivamente salvo da tempestade.
Pelas declarações do secretário
nacional, Guglielmo Epifani, o Pd irá
votar a favor da cassação do mandato
de Berlusconi, como previsto pela lei.
Porém, nos bastidores, trabalha-se
para uma solução que deixe o
ex-premier quieto para garantir a
sobrevivência do governo
com unit àit aliana | s etem br o 2013
33
Attualità
Le pensioni
d’oro
Il Paese è tornato a
interrogarsi: sono state
divulgate le pensioni di circa
100 mila manager pubblici,
che costano allo Stato 13
miliardi di euro l’anno
Stefano Buda
L’
De Roma
Italia, si sa, è un Paese dalle
mille contraddizioni. Il governo Monti, prima dell’avvento
dell’esecutivo guidato da Enrico Letta,
ha predicato rigore e attuato politiche
di austerity, dimostrandosi implacabile
nel chiedere sacrifici alle fasce meno abbienti, ma timido e titubante
nel toccare i lauti privilegi dei potenti. Monti, qualche tempo fa, non
ha gridato allo scandalo quando la
Corte Costituzionale ha bocciato
il provvedimento del governo, che
tagliava le pensioni più elevate dei
manager pubblici, introducendo
un contributo di solidarietà. Secondo molti osservatori, anzi, è
stata una precisa strategia dell’esecutivo. L’ex premier, pur essendo
consapevole dell’incostituzionalità
della misura, avrebbe spinto per
l’approvazione del provvedimento al fine di ottenere un duplice
1. Mauro Sentinelli
I top manager
italiani più pagati
I
n seguito ad un’interrogazione parlamentare
della deputata Deborah Bergamini, alla
quale ha risposto il sottosegretario al Welfare,
Carlo Dell’Aringa, che ha fornito i dati, è
stato possibile elaborare la graduatoria dei
superpensionati: una classifica piuttosto
fedele, anche se contenente alcune lacune e
suscettibile di qualche imprecisione.
€ 91.337
In cima alla top ten troviamo Mauro Sentinelli,
che percepisce ogni mese dallo Stato 91.337 euro.
Ingegnere elettronico ed ex manager di Telecom,
negli ultimi anni di attività è arrivato a guadagnare 9
milioni di euro l’anno. Versando contributi in un fondo
riservato ai dipendenti telefonici, che garantiva
condizioni straordinariamente vantaggiose, e
grazie alle leggi in vigore fino a qualche anno
fa, è andato in pensione con l’80% dello
stipendio medio, calcolato sugli ultimi dieci
anni di lavoro. Un’altra legge pro-casta ha
fatto lievitare ulteriormente la sua pensione,
moltiplicando esponenzialmente benefit e
stock option percepiti nel corso della carriera.
Sentinelli, naturalmente, non si accontenta della
pensione da nababbo e continua ad intascare ricchi
gettoni di presenza, in virtù del suo ruolo di membro del
consiglio di amministrazione di Telecom e di presidente
del consiglio di amministrazione di Enertel Servizi.
5. Germano Fanelli
4. Alberto De Petris
€ 51.781
34
Solo pochi euro lo separano da
Gambaro. L’ex manager di Telecom
e Infostrada, Alberto De Petris, tallona
il terzetto dei pensionati d’oro con
una rendita mensile da 50.885 euro.
E’ stato anche amministratore
di Stet Netherlands
e
consigliere della
società francese
di servizi per la
comunicazione
Jet Multimedia.
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
L’ex manager, specializzato nella
componentistica elettronica
e dei semiconduttori, può
contare su un vitalizio da
47.934 euro al mese. La ricca
pensione percepita non gli ha
impedito di ricoprire, tra il 2008 e il 2010,
l’incarico di presidente o consigliere
d’amministrazione di ben dieci diverse
società: dalla Banca Galileo alla
MetaSystem, passando per la Octo e
la Phen Solar.
€ 47.93
4
risultato: mostrarsi sensibile alle
pressanti richieste di equità, provenienti dall’opinione pubblica e, al
contempo, lasciare le cose inalterate, evitando di urtare la sensibilità
di alcuni dei più influenti burocrati
di Stato. In sostanza, come recita
un vecchio adagio, ha individuato
la soluzione ottimale per avere “la
botte piena e la moglie ubriaca”. In
tempi di crisi economica, però, con
milioni di italiani che fanno fatica
ad arrivare alla fine del mese, a causa di stipendi da fame e pensioni
irrisorie, le mega rendite di pochi
privilegiati a riposo rappresentano
un’ingiustizia troppo marchiana.
Il Paese, nelle ultime settimane, è tornato a interrogarsi. Sotto
la lente dell’opinione pubblica sono
finite le pensioni di circa 100 mila
manager pubblici, che costano allo Stato 13 miliardi di euro l’anno
e, nei casi più estremi, arrivano a
percepire rendite mensili da 91
mila euro (circa 3 mila euro al giorno). Un tesoretto che, nell’insieme,
non appare affatto disprezzabile, soprattutto considerando che,
per racimolare poche centinaia
di milioni di euro, i governi che si
sono succeduti alla guida del Paese hanno operato pesanti tagli al
sociale, alla sanità e allo sviluppo,
alimentando un vortice recessivo
apparentemente senza via d’uscita.
Una decisa sforbiciata alle
pensioni d’oro, dunque, oltre a rappresentare una boccata d’ossigeno
per i conti pubblici, ristabilirebbe
un principio di equità, che renderebbe giustizia a milioni di cittadini
in difficoltà.
Le pensioni non sono illegali,
ma in questo caso si pone un problema etico e morale
Occorre sottolineare che i pensionati d’oro non commettono nulla
d’illegale o di illegittimo. Si pone,
invece, un problema etico e morale,
che chiama in causa la sproporzione tra il trattamento riservato alle
rendite milionarie dei top manager,
finora al riparo dai tagli e i grandi
sacrifici richiesti alla maggior parte
degli italiani. La strada imboccata
dal governo Monti, per calcolo o per
superficialità, risultava impercorribile: in basi ai dettami costituzionali,
infatti, non è possibile aumentare il
carico fiscale, a parità di reddito, per una sola categoria.
Il procedimento corretto, a giudizio di molti esperti,
passa per un’operazione di redistribuzione delle risorse
all’interno del sistema pensionistico: in sostanza, per
tagliare le pensioni più elevate bisognerebbe aumentare quelle più basse. Il governo Letta ci sta pensando e il
sottosegretario al Lavoro, Carlo Dell’Aringa, ha dichiarato pubblicamente che l’esecutivo intende riproporre un
contributo di solidarietà a carico delle pensioni d’oro.
— Affinché la Corte Costituzionale non bocci la misura — ha spiegato Dell’Aringa — è necessario che il
contributo di solidarietà non assuma i connotati di una
tassa, ma si basi su un meccanismo di carattere perequativo, per togliere a chi ha di più e dare a chi ha di meno.
Stiamo lavorando per verificare la differenza, nelle pensioni più elevate, tra quanto viene percepito sulla base
del più favorevole sistema retributivo e quanto verrebbe
percepito se fosse applicato il sistema contributivo.
Secondo il sottosegretario “è possibile ridurre la
pensione per una quota equivalente alla differenza
individuata e utilizzare il gettito per alimentare le pensioni più basse”. Esisterebbe anche un’altra strada.
— Rendere strutturale il blocco delle perequazioni
delle pensioni più alte, che già ora, anche se solo a carattere temporaneo, non vengono indicizzate al costo della
vita. E’ una misura d’emergenza, che potrebbe riguardare
le pensioni più alte, arrivando a toccare, progressivamente, le pensioni altissime, magari arrestandole in termini
nominali e dunque bloccando definitivamente gli aumenti — ha aggiunto Dell’Aringa.
3. Mauro Gambaro
Sul podio anche Mauro
Gambaro, ex direttore
generale di Interbanca e di
Inter Footbal Club, che
gode di una pensione
di 51.781 euro. Neanche
Gambaro accetta di restare
a riposo: attualmente è
presidente del consiglio
d’amministrazione di
Mittel Management
e opera come advisor
specializzato nel
corporate finance.
2. Mister X
Sul secondo
gradino della lista
dei “paperoni” in
pensione si piazza
un personaggio misterioso, del
quale non si conosce l’identità.
L’unico dato certo è che riceve
ogni mese 66.436 euro.
€ 66.436
6. Vito Gamberale
Ha ricoperto posizioni di vertice
all’interno di aziende controllate
dal gruppo Eni, attivo nel
settore degli idrocarburi, è
stato amministratore delegato
di Sip e nel 1995 ha creato
Telecom Italia Mobile.
Negli anni novanta è
stato arrestato per abuso
d’ufficio e concussione,
ma dopo l’assoluzione con
formula piena ha ricevuto uno dei più alti
risarcimenti erogati dallo Stato
in
seguito ad errori giudiziari.
Percepisce una pensione
da 46.811 euro.
11
.8
€ 46
€ 51.781
7. Alberto Giordano
Cresciuto professionalmente nella
Cassa di Roma, ha
percorso tutte le
tappe della carriera
fino a diventare
vicedirettore
generale.
Quando è
stata fondata Capitalia ha
assunto il ruolo di condirettore generale
dell’istituto. Incassa una pensione da 46.773 euro ed
è al contempo presidente di Aspra Finance, società
d’intermediazione finanziaria e consigliere di Fineco.
€ 46.811
€ 43.2
53
€ 44.258
8. Federico Imbert
Ex responsabile per l’Italia di JP
Morgan, è diventato una sorta
di celebrità ai tempi dell’opa su
Telecom. In seguito è stato il
banchiere di riferimento
della filiera bresciana
di Emilio Gnutti.
Oggi percepisce una
pensione da 44.258
euro ed è il legale
rappresentante di Credit
Suisse in Italia.
Nelle ultime due posizioni si registra un notevole
affollamento, che rende particolarmente complicata
l’identificazione dei super pensionati. Si
conoscono, invece, le cifre delle pensioni erogate:
9. Ex Aequo da 43.253 euro al mese
10. Ex Aequo da 41.707 euro al mese
€ 41.707
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Atualidade
www.cidadedorio.com
Capa
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Cultura
em alta na
comunidade
Cultura valorizzata nella comunità
Parceria entre Consulado da Itália e
Secretaria de Segurança do Rio brinda
moradoras da Favela Santa Marta
que trabalham como guias de turismo
com bolsa para estudar italiano
Partnership tra Consolato d’Italia e
Segreteria di Sicurezza di Rio offre a
cittadine della Favela Santa Marta
che lavorano come guide turistiche
borse per studiare l’italiano
Cintia Salomão Castro
D
esde que a primeira Unidade de Polícia
Pacificadora foi instalada no Rio de Janeiro, mais precisamente na Favela Santa
Marta, em 2008, as perspectivas econômicas e sociais dos moradores começaram a mudar.
A guia de turismo Veronica Moura, de 29 anos, nascida na comunidade, vivenciou essa mudança na pele
nos últimos cinco anos. Com o fim dos conflitos entre os traficantes, que faziam com que os moradores
vivessem sobressaltados por medo de levarem balas
perdidas, a carioca filha de nordestinos começou a
atuar como monitora de turismo para os visitantes
estrangeiros que perdiam o receio de subir os morros
cariocas para matar a curiosidade de ver de perto uma
D
a quando, nel 2008, è stata installata la
prima Unità di Polizia Pacificatrice a Rio
de Janeiro, nella Favela Santa Marta, le
prospettive economiche e sociali degli abitanti sono cominciate a cambiare. La guida turistica
Veronica Moura, 29enne, nata nella comunità ha vissuto questi cambiamenti in prima persona negli ultimi
cinque anni. Con il termine degli scontri tra gli spacciatori, dovuto ai quali gli abitanti vivevano sempre in
tensione per via dei proiettili vaganti, questa carioca
figlia di nordestini ha cominciato a lavorare come guida turistica con visitatori stranieri che, persa la paura
di salire sui ‘morros’ carioca, volevano saziare la loro
curiosità di vedere da vicino una favela brasiliana. La
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Atualidade
Fotos: João Carnavos
Capa
favela brasileira. O mesmo aconteceu com Salete Martins, hoje com 44 anos. Vinda do Ceará ainda menina
para o Rio, ela vendia churrasco e cachorro-quente em
um trailer na parte baixa da comunidade, comércio
que ainda mantém. Ambas abraçaram a oportunidade oferecida pelo projeto Rio Top Tour, do governo do
estado, e concluíram um curso de formação para guias
de turismo. Em breve serão empreendedoras: estão
abrindo uma empresa própria de turismo.
Junto com Salete, Veronica atende por dia cerca de 40 turistas, sendo 70% estrangeiros. Por mês,
cerca de 30 visitas chegam diretamente da Itália para
conhecer o local, que conta com mirantes, de onde é
possível admirar a bela paisagem do Rio.
— Os italianos, assim como os estrangeiros em
geral, querem ver como vivemos, querem conhecer
nossa casa. O tour inclui uma visita a lajes. Fazemos
oficina de pipa, de percussão, e conduzimos trilhas
pela mata — conta Veronica.
A palavra favela exerce um inegável fascínio entre os
estrangeiros que visitam o país, incluindo os italianos.
— Os italianos têm muita curiosidade em relação
às favelas. Na Itália não se conhece bem a realidade. Quando se pensa em Rio, imediatamente vêm à
mente as palavras Copacabana e favelas — comenta à
Comunità o diretor do Instituto Italiano de Cultura
do Rio de Janeiro, Andrea Baldi.
O embaixador Raffaele Trombetta conheceu as duas guias de turismo durante uma visita à comunidade,
“Os italianos têm muita
curiosidade em relação às
favelas. Quando se pensa em
Rio de Janeiro, imediatamente
vêm à mente as palavras
Copacabana e favelas”
Andrea Baldi, diretor do Instituto
Italiano de Cultura do Rio de Janeiro
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Verônica Moura e Salete
Martins exibem para a
comunidade Santa Marta
suas credenciais para
imersão na língua e na
cultura italiana
Verônica Moura e Salete
Martins esibiscono alla
comunità le loro pass
per un’immersione
nella lingua e nella
cultura italiana
“Gli italiani sono
molto curiosi
riguardo alle
favelas. Quando
si pensa a Rio
de Janeiro,
immediatamente
vengono in
mente le parole
Copacabana e
favelas”
Andrea Baldi,
direttore dell’Istituto
Italiano di Cultura
di Rio de Janeiro
stessa cosa è accaduta a Salete Martins, oggi 44enne.
Ancora bambina, è partita dal Ceará verso Rio, dove
vendeva hot-dog e barbecue in un trailer ai piedi del
centro urbano, e ancora continua nella sua attività.
Entrambe hanno sfruttato l’opportunità offerta dal
progetto Rio Top Tour, del governo dello stato di Rio,
e hanno concluso un corso di formazione per guide
turistiche. In breve saranno imprenditrici: stanno aprendo un’impresa di turismo in proprio.
Insieme a Salete, Veronica lavora con circa 40 turisti al giorno, di cui il 70% stranieri. E sono circa 30
al mese i visitatori italiani che vogliono conoscere il
posto, che offre vari belvederi, da cui si può ammirare
il bel paesaggio di Rio.
— Gli italiani, cosí come gli altri stranieri, vogliono vedere come viviamo, vogliono conoscere le
acompanhado do secretário de Segurança Pública, o
ítalo-brasileiro José Beltrame, quando percebeu que
aprender a se comunicar em italiano poderia ajudá-las no trabalho.
— Conheci ambas em visita organizada pelo secretário Beltrame, então perguntei se havia muitos
turistas italianos. Pensamos, então, em dar-lhes esta
oportunidade de estudar italiano. Realizamos esse pequeno projeto, que para nós é muito importante, pois
a aprendizagem da língua é uma ponte que aproxima
a cultura italiana. Espero que ao final do curso eles
possam conhecer a Itália. Durante a visita, me comoveu, em primeiro lugar, a serenidade que vi nelas e no
ambiente em geral, o empenho de fazer o melhor. Vi
ali muito do Brasil de hoje, mas também a esperança
do Brasil de amanhã — afirmou o embaixador Trombetta, durante a entrega dos certificados na sede do
consulado, com a presença do cônsul Mario Panaro e
da major Priscilla de Oliveira Azevedo, coordenadora do Programa Estratégico da Secretaria estadual de
Segurança, representando o secretário Beltrame, que
intermediou a parceria com o consulado da Itália.
— Dezenas de favelas estão em processo de pacificação. Temos problemas, mas estamos mostrando as
pessoas honradas que vivem nas comunidades, e ficamos felizes com o fato de essas mulheres guerreiras
terem a oportunidade de estudar italiano — comemorou a major Priscilla.
Para o diretor do Instituto Italiano de Cultura, Andrea Baldi, a possibilidade dada às duas guias
mostra que o aprendizado do italiano pode ter como
finalidade o trabalho.
O embaixador
Raffaele Trombetta
veio especialmente
ao Rio para a entrega
dos diplomas às
guias turísticas da
comunidade Santa
Marta ao lado do diretor
do Instituto Italiano de
Cultura, Andrea Baldi, e
do cônsul-geral
Mario Panaro
L’ambsciatore Raffaele
Trombetta è venuto
specialmente a Rio per
la consegna dei diplomi
alle guide turistiche
della favela Santa Marta
al lato dei direttore
dell’Istituto Italiano di
Cultura, Andrea Baldi, e
del console generale
Mario Panaro
nostre case. Il tour include una visita alle terrazze.
Organizziamo laboratori di aquiloni, di percussione
e li portiamo in sentieri in mezzo alla foresta — racconta Veronica.
La parola ‘favela’ esercita un innegabile fascino
sugli stranieri, tra cui gli italiani che visitano il Paese.
— Gli italiani sono molto curiosi rispetto alle
favelas. In Italia non si sa bene come sia la realtà.
Quando si pensa a Rio, immediatamente vengono in
mente le parole Copacabana e favelas — commenta
il direttore dell’Istituto Italiano di Cultura di Rio de
Janeiro, Andrea Baldi, parlando con Comunità.
L’ambasciatore Raffaele Trombetta ha conosciuto le
due guide turistiche durante una visita alla comunità,
seguito dal segretario di Sicurezza Pubblica, l’italo-brasiliano José Beltrame, quando ha capito che imparare a
parlare l’italiano avrebbe potuto aiutarle nel loro lavoro.
— Le ho conosciute in una visita organizzata dal
segretario Beltrame, allora ho domandato se c’erano molti turisti italiani. Quindi abbiamo pensato di
dargli l’opportunità di studiare l’italiano. Abbiamo
messo in pratica questo piccolo progetto, che per noi
è molto importante, visto che l’apprendimento della
lingua è un ponte che avvicina alla cultura italiana.
Spero che alla fine del corso possano conoscere l’Italia. Durante la visita mi ha commosso specialmente
la serenità che ho sentito sia in loro, sia nell’ambiente
circostante, e l’impegno di fare il meglio. Ci ho visto
molte cose del Brasile odierno, ma anche la speranza
del Brasile del domani — ha affermato l’ambasciatore
Trombetta durante la consegna del certificato presso
la sede del consolato, alla presenza del console Mario
Panaro, del maggiore Priscilla de Oliveira Azevedo,
coordinatrice del Programma Strategico della Segreteria di stato di Sicurezza, in rappresentanza del
segretario Beltrame, che ha fatto da intermediatore
nella partnership con il consolato d’Italia.
— Decine di favelas sono in processo di pacificazione. Abbiamo problemi, ma stiamo mostrando
le persone rispettabili che vivono nelle comunità, e
siamo felici che queste donne guerriere abbiano l’opportunità di studiare l’italiano — ha festeggiato il
maggiore Priscilla.
Secondo il direttore dell’Istituto Italiano di Cultura, Andrea Baldi, la possibilità offerta alle due guide
dimostra che l’apprendimento dell’italiano può avere
uno scopo lavorativo.
— Di solito, gli italiani non parlano altre lingue, e
loro ne avevano bisogno, visto che lavorano con turisti. L’apprendimento offre una possibilità lavorativa
in più. E questo è importante per tutti noi, vedere
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Capa
Atualidade
che la lingua italiana può essere usate per lavorare
— ha commentato.
Le due guide usano il Facebook per fare contatto con
turisti interessati a conoscere la comunità. Nella rete
sociale pubblicano foto di incontri ed eventi, oltre alle lezioni di percussione e i laboratori di aquiloni che offrono.
Abitanti stanno pagando
un alto prezzo per la pacificazione
Felici di poter imparare la lingua di Dante e di conoscere altre culture, Salete e Veronica, che studiano già
francese e inglese, ringraziano le istituzioni italiane
e il governo di stato, riconoscendo che il lavoro di
guidare turisti liberamente nei vari luoghi della comunità è possibile solo grazie alla sicurezza garantita
dalla presenza della polizia. Mentre Salete doveva
passare davanti ad un punto vendita di stupefacenti
per arrivare a casa, Veronica, che abita nella parte più
alta del ‘morro’, era obbligata a passare davanti a vari
punti vendita, e dormiva addirittura in casa di amici
dovuto alle sparatorie notturne.
— Loro (gli spacciatori) ci rispettavano perché
siamo abitanti locali. Ma soffrevamo con gli scontri.
Mio figlio di quattro anni non appartiene più a questa generazione che non poteva giocare per la strada,
come me. Posso fare il mio lavoro grazie alla pacificazione — dice a Comunità Veronica, davanti a Praça
do Cantão, dove i bambini che giocano e corrono liberi fanno da testimoni della nuova aria che si respira.
— Normalmente os italianos não falam outros
idiomas, e há essa necessidade para elas, que atendem
turistas. O aprendizado oferece uma possibilidade a
mais de trabalho. E é importante para todos nós, ver
que a língua italiana pode ser usada para trabalhar —
comentou.
Ambas usam o Facebook para fazer contato com
turistas interessados em conhecer a comunidade. Na
rede social, elas publicam fotos de encontros e eventos, além das aulas de percussão e oficinas de pipa
que oferecem.
Longa história começou com ausência de política habitacional
Lunga storia è cominciata dall’assenza di una politica abitativa
A
fama da Favela Santa Marta, localizada no Morro Dona Marta, atingiu seu ápice
durante a visita de Michael Jackson, em 1996. O cantor subiu o morro para gravar
o videoclipe da música They Don’t Care About Us (Eles não se importam conosco). Na
época, o diretor Spike Lee teve que negociar com o chefe local do tráfico de drogas
Marcinho VP (1970-2003) para garantir a segurança do astro. Hoje, os turistas podem
visitar tranquilamente o local, que conta com nove câmeras monitoradas pela UPP, e ver
a estátua erguida em 2010 em homenagem ao cantor. A origem da comunidade data
da década de 1920. O terreno pertencia ao vizinho Colégio Santo Inácio, que passou a
permitir que alguns de seus funcionários morassem na encosta do morro. Em 1942,
uma nova corrente migratória de pessoas em busca de moradia, incluindo muitos trabalhadores nordestinos, ampliou o número de barracos no terreno, até então tomado
por mata densa. O nome Santa Marta faz referência à padroeira da comunidade. No alto
do morro, é possível visitar a igreja que guarda a imagem da santa. A comunidade, uma
das menores da cidade, com cerca de quatro mil habitantes, foi a primeira a receber
uma Unidade de Polícia Pacificadora, em dezembro de 2008. Hoje, existem instaladas
33 unidades na cidade. O clima tranquilo vivido no Dona Marta, porém, não é o mesmo
registrado nos últimos meses em favelas mais distantes, como o Complexo do Alemão,
onde aconteceram tiroteios. Já os policiais da Unidade Pacificadora da Rocinha estão
enfrentando denúncias por conta do desaparecimento do pedreiro Amarildo. O Ministério Público já pediu a expulsão de cinco policiais da UPP, incluindo o comandante da
equipe, além da suspensão do porte de arma e do recolhimento de seus distintivos.
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L
a fama della Favela Santa Marta, nel Morro Dona Marta, ha attinto l’apice durante
la visita di Michael Jackson nel 1996. Il cantante scelse il ‘morro’ per girare il
videoclip della canzone They Don’t Care About Us. Allora, il regista Spike Lee dovette
entrare in accordi con il narcotrafficante locale Marcinho VC (1970-2003) per garantire la sicurezza della star. Oggigiorno i turisti possono visitare tranquillamente il
posto, che conta su nove telecamere monitorate dalla UPP e vedere la statua eretta
nel 2010 in omaggio al cantante. L’origine della comunità rimonta al 1920. Il terreno apparteneva al vicino Colégio Santo Inácio, che permise a qualche dipendente di
vivere sulle pendici del ‘morro’. Nel 1942, una nuova onda di immigranti in cerca di
abitazioni, tra cui vari lavoratori nordestini, allargò il numero di baracche nel terreno,
che fino ad allora era occupato solo dalla foresta. Il nome Santa Marta fa riferimento
alla patrona della comunità. Sul vertice del ‘morro’ si può visitare la chiesa dov’è
tenuta l’immagine della santa. La comunità, una delle più piccole della città, con circa
quattromila abitanti, è stata la prima a ricevere un’Unità di Polizia Pacificatrice nel
dicembre 2008. Oggigiorno ci sono, nella città, 33 unità. Ma il clima tranquillo vissuto
nel Dona Marta non è lo stesso registrato negli ultimi mesi nelle favelas più distanti,
come il Complexo do Alemão, dove ci sono state sparatorie. Inoltre, i poliziotti della
Unità Pacificatrice della Rocinha stanno affrontando denunce dovuto alla sparizione
del manovale Amarildo. Il Ministero Pubblico ha già chiesto l’espulsione di cinque
agenti dell’ordine della UPP, incluso il suo comandante, oltre alla sospensione del
porto d’armi e alla ritirata dei loro distintivi.
“Graças à pacificação,
posso trabalhar como guia
e tudo ficou valorizado. Mas
qualquer casa de um quarto
está valendo R$ 70 mil. Onde
que um pobre da comunidade
vai ter esse dinheiro?”
Veronica Moura, guia de turismo
Antonia Rodrigues, dona de um bar situado em
frente à quadra da Mocidade Unida do Santa Marta,
e moradora do local há 30 anos, concorda:
— Antes vivíamos preocupados com os tiroteios,
hoje não. Por outro lado, está tudo muito caro. Manter o estabelecimento está difícil, com as contas de luz e
água muito altas — reclama, denunciando que, se antes
a ansiedade dos moradores vinha do medo de levar uma
bala perdida, hoje decorre do pesadelo de não conseguir
pagar as contas e garantir o sustento da família.
João Carnavos
Divulgação
Divulgação
Moradores estão pagando
um alto preço pela pacificação
Felizes com a chance de aprender a falar a língua de
Dante e conhecer outras culturas, Salete e Veronica, que já estudam francês e inglês, agradeceram às
instituições italianas e ao próprio governo estadual,
reconhecendo que o trabalho de guiar turistas livremente por pontos da comunidade só é possível de ser
exercido graças à segurança garantida pela presença
policial. Enquanto Salete tinha que passar por uma
boca de fumo para chegar em casa, Veronica, por morar na parte alta do morro era obrigada a passar por
várias e chegou a dormir em casa de amigas por conta de tiroteios que varavam a madrugada.
— Eles (os traficantes) nos respeitavam por sermos moradores. Mas sofríamos com os conflitos.
Meu filho de quatro anos não é mais dessa geração
que não podia brincar do lado de fora, como eu. Posso
realizar o meu trabalho graças à pacificação — afirma à Comunità Veronica, diante da Praça do Cantão,
onde crianças que brincam e correm livremente testemunham o novo ar que se respira.
Porém, nem tudo são flores na nova vida da comunidade. Os moradores se queixam de vários problemas,
como existência de valões de lixo e esgoto em vários
pontos, e, sobretudo, da disparada do custo de vida
protagonizada pela especulação imobiliária que não
encontra freios e está obrigando antigos moradores a
procurarem um novo lugar para viver. Segundo o Sindicato da Habitação (Secovi), o valor de um imóvel na zona
sul cresceu em média 45% nos últimos dois anos, e um
estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que o preço
do aluguel nas comunidades do Rio de Janeiro aumentou
6,8% a mais do que nos bairros nobres da cidade. Mas há
casos específicos em que a valorização passou de 100%.
— Tudo ficou valorizado. Em compensação, hoje eu, que nasci aqui, não consigo mais comprar uma
casa. Qualquer casa de um quarto está valendo R$ 70
mil. Onde que um pobre da comunidade vai ter esse dinheiro? Meu medo é que o Santa Marta vire o Vidigal
(comunidade situada em São Conrado), onde muitos estrangeiros estão comprando tudo, ocupando os espaços,
e o morador não consegue mais — comenta Veronica.
Antonia Rodrigues, dona
de um bar da localidade
comemora o fim da
violência. Abaixo, a guia
Salete Martins toca
percussão na quadra
da escola de samba, e,
ao lado, a tradicional
feijoada do Santa Marta
Antonia Rodrigues,
proprietaria di un bar
nella zona sottolinea il
fine della violenza. Sotto,
la guida Salete Martins
suona percussione nella
scuola di samba, e, al lato,
la tradizionale “feijoada”
del Santa Marta
“Grazie alla
pacificazione,
posso lavorare
come guida e si è
valorizzato tutto.
Però una qualsiasi
casetta di una
camera vale ora
R$ 70 mila.
Quando mai
un povero della
comunità potrà
avere questi soldi?”
Veronica Moura,
guida turistica
Ma non tutto è rose e fiori nella nuova vita della
comunità. Gli abitanti si lamentano di vari problemi, come le varie fogne a cielo aperto e, soprattutto,
dell’aumento del costo della vita, specialmente dovuto alla speculazione immobiliaria che non ha freni e
obbliga vecchi abitanti locali a cercare un nuovo posto per vivere. Secondo il Sindacato dell’Abitazione
(Secovi), il valore di un immobile nella zona sud è
aumentato in media del 45% negli ultimi due anni,
e uno studio della Fondazione Getúlio Vargas dimostra che il prezzo degli affitti nelle comunità di Rio de
Janeiro ha subíto un rincaro del 6,8% in più rispetto
ad altri quartieri nobili della città. Ma in certi casi la
valorizzazione è stata del 100%.
— Si è valorizzato tutto. In compenso, oggigiorno io, che sono nata qui, non riesco più a comprare
una casa. Qualsiasi casetta di una camera vale R$
70 mila. Quando mai un povero della comunità avrà questi soldi? La mia paura è che il Santa Marta
diventi il Vidigal (comunità a São Conrado), in cui
molti stranieri stanno comprando tutto, occupano
gli spazi, e gli abitanti non ci riescono più — commenta Veronica.
Antonia Rodrigues, proprietaria di un bar davanti
agli spazi della Mocidade Unida do Santa Marta, e abitante locale da 30 anni, è d’accordo con lei:
— Prima vivevamo preoccupati delle sparatorie,
oggi non più. Ma è tutto molto caro. Mantenere un
negozio è difficile, con le bollette della luce e dell’acqua
altissime — protesta, denunciando che, se prima l’ansia
degli abitanti era dovuta alla paura dei proiettili vaganti, oggigiorno è causata dall’incubo di non riuscire a
pagare i conti e garantire il sostegno della famiglia.
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Turismo
Baixo custo
e alta diversão
Guarda-sol compartilhado e viagem de trailer
são os métodos dos italianos para passar as
férias gastando menos e curtindo mais
Stefania Pelusi
C
ompartilhar e economizar para prolongar as
férias. Na costa da Emilia Romagna, a resposta
à crise começa pela praia, onde o
guarda-sol abriga mais famílias e
a espreguiçadeira é compartilhada
com outras pessoas, o que resulta
em uma economia de 50%.
A ideia é simples: compartilhar
objetos com outras pessoas para dividir os custos. Segundo os donos
dos postos, trata-se de uma solução popular, que vem sendo eleita
cada vez por famílias e amigos para não renunciar às férias de verão,
sem pesar muito no bolso.
— A espreguiçadeira maior
compartilhada custa cinco euros
por dia. Isso quer dizer que o gasto
por pessoa é de 2,50. Accessível a
todos — comenta Simona Gattei,
uma das sócias do estabelecimento
Marinagrande, em Viserba.
O sócio Giorgio Morolli conta
que muitas pessoas querem alugar
guarda-sol e cadeiras com outros
turistas para gastar menos e aproveitar uns dias a mais de praia:
— Não é um serviço que colocamos no cardápio este ano, porém,
com a crise, é muito procurado. Às
42
vezes, alugo espreguiçadeira maior
até para três pessoas que fazem o
turno entre eles para tomarem sol.
Em Viserba, nove postos decidiram juntar-se para otimizar os
custos e oferecer mais serviços aos
veranistas. Ao longo de 650 metros de costa, o turista é recebido
com cuidados particulares, como
na outra localidade turística chamada Cesenatico, onde Simone
Battistoni, titular do Bagno Milano, oferece muitos serviços grátis
que antes eram pagos.
— Para quem escolhe o nosso
posto, oferecemos uma biblioteca
com mais de 600 livros para emprestar, babá para as crianças, academia
e cursos de zumba de manhã e de
tarde, além de bicicletas elétricas
para alugar. Quando chove, os clientes que não querem renunciar ao
bronzeado têm direito a usar até a
lâmpada ultravioleta. Temos que fazer isso porque, infelizmente, não é
apenas um problema de quantidade
de turistas, mas também de gasto.
Os guarda-sóis compartilhados
não existem apenas no nordeste
italiano. Na costa do sul, perto de
Pescar, também existe a oportunidade de escolher a faixa horária e
reduzir os gastos.
Em resumo: duas famílias ou
turmas de amigos, escolhem o
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Cursos de dança
animam o verão
italiano e muitas
famílias preferem
viajar de trailer
para curtir mais o
meio ambiente e
economizar com os
altos gastos
de estadia
mesmo lugar na praia e combinam
os horários de chegada. Mãe com filhos pequenos de manhã até a hora
do almoço, e jovens após as 14h até
o jantar. Desta forma, um guarda-sol custa 285 euros, ao invés de
570 euros, durante todos os meses
do verão (de maio a setembro)
Com menos dinheiro para gastar, cai o consumo dos veranistas
e diminuem os preços. Na costa romagnola, terra do renomado diretor
de cinema Federico Fellini, a criatividade não falta para contrastar a
época das vacas magras.
Para curtir a praia há promoções que permitem alugar o
guarda-sol e a espreguiçadeira por
horas ou apenas para a hora de almoço. Hotéis de quatro estrelas
oferecem quartos por 50 euros por
noite ou pacote praia com café da
manhã, chamado “bbc”: brandina,
brioche e cappuccino (espreguiçadeira, croissant e cappuccino).
Para não perder os turistas que
tinham reservado hotéis por causa
do mau tempo que atingiu a Romanha em maio e junho, alguns
estabelecimentos devolveram o
dinheiro para que o turista possa
voltar em outra ocasião.
— As iniciativas são muitas
e ajudam as empresas em crise a
compensar, pelo menos em parte, a
diminuição do número de turistas.
Claro que, além disso, há uma diminuição nos preços, em torno de 20%
menos ano passado — comenta o
vice-presidente do Sindicato italiano balneari, Giancarlo Cappelli, que
apontou uma perda entre 20 e 30%
só no mês de julho.
Apesar de tudo, Morolli continua otimista.
— Os turistas gostam daqui e
voltam, e esta é a nossa esperança
para superar um momento difícil
economicamente. Na praia, o clima
é sereno. Às vezes, tenho vontade
de fechar, mas não é a hora de desistir — ressalta o romagnolo, que
herdou o estabelecimento do pai
dele, que herdou do seu avô.
Trailer funciona como uma
casa sobre quatro rodas
Outra opção ecológica e a baixo custo para não renunciar às férias é a
viagem de trailer. A Itália, apesar
da crise, continua a ser o terceiro
maior produtor europeu desse tipo
de veículo, atrás apenas da Alemanha e da França.
Entre as vantagens de ter uma
casa sobre quatro rodas, está a possibilidade de decidir no último momento
o destino, sem ter que planejar com
muita antecedência e dormir em um
camping perto de praias e lugares onde a natureza é intocada.
De acordo com os últimos dados
do Instituto Nacional de Estatística (Istat), divulgados no início deste
ano, em 2012, o uso do trailer para as
férias aumentou em 38,6%, especialmente nas férias mais longas (54,9%).
— Normalmente, quem tem
um trailer não sai de férias apenas uma vez por ano, e viaja mais
vezes porque quer aproveitar o
investimento que fez — explica o
presidente da Associação dos Produtores (Apc), Paolo Bicci.
Os destinos preferidos, segundo a Apc, são o Vêneto, a Sardenha
e Marche, que é a verdadeira região
especializada no acolhimento deste
turismo itinerante, a qual oferece
o maior número de serviços. Além
disso, Puglia, Abruzzo, Toscana
e Valle d’Aosta aparecem entre as
mais visitadas.
Normalmente os italianos que
usam trailers são casais aposentados
e famílias com crianças pequenas,
que economizam muito em comparação a uma estadia em um hotel.
Na Itália é possível alugar um
trailer e emprestar entre os membros da mesma família ou, no caso
de veículos grandes, dividir os custos
entre os vários ocupantes. Segundo
o Automobile Club Italia, o boom do
momento os veículos usados, vendem
três vezes mais do que os novos. Muitos dos compradores são jovens que
viajam juntos aos amigos.
— Desde o início da crise, percebi
que cada vez mais amigos escolhem
a viagem de trailer durante as férias. Talvez os jovens não tenham a
oportunidade de comprá-los; então
alugam por períodos limitados ou
compram um muito antigo, mas suficiente para dar-lhes a oportunidade
de fazer pequenas viagens a cada semana — declara Samuele Zamuner,
escritor de 28 anos formado na Universidade de Bolonha que viaja de
Apartamento
estruturado para
temporadas de férias
no norte da Itália
trailer desde criança e acredita que
é a “melhor maneira de se mover de
forma autônoma e econômica”.
Segundo ele, os voos de baixo
custo na Europa ainda são mais baratos e mais rápidos, mas obrigam
o passageiro a voar de cidade em cidade. Já com o trailer, se preserva
o senso de aventura e a exploração
acessível para todos os bolsos.
Os italianos do norte
preferem alugar casa a
pagar por quartos de hotel
De acordo com uma pesquisa do
portal soloaffittivacanze.it, realizada com sete mil pessoas, três a
cada dez italianos alugam uma casa
durante as férias para economizar,
enquanto 31% optam por um hotel e 18,6% preferem um resort e
19,2% um bed&breakfast.
O costume de alugar uma casa é
predominantemente um hábito de
quem vive nas regiões do norte da
Itália (33%), enquanto as pessoas
que vivem no sul optam por um resort. Entre as metas mais populares,
aparece a Puglia (19,9%) — seguida
pelas duas ilhas Sardenha (18,4%)
e Sicília (16,4%). A costa adriática
(Vêneto, Emilia-Romanha e Marche) tem 11,6% das preferências
que vêm quase exclusivamente daqueles que vivem no norte do país.
— Quem escolhe alugar uma casa durante as férias o faz também
por uma questão econômica: 64,4%,
como confirma a nossa pesquisa. Os
outros motivos são o compartilhamento com um grande número de
amigos (17,2%) ou o fato de possuir
uma família grande (8,2%). Mais de
uma pessoa a cada dez escolhe alugar
um imóvel porque as outras instalações, muitas vezes, não aceitam
animais — acrescenta Silvia Spronelli, presidente do portal italiano.
Terminado este mês de setembro, fecham-se os guarda-sóis. Os
trailers voltam para as garagens e
os hotéis já começam a pensar nos
meses de inverno, esperando que
Papai Noel traga mais turistas.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
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Vinho
Degustando
Salerno
Amalfitana. Dentre suas atrações,
estão as verdes colinas cultivadas,
o parque nacional do Cilento e Vale
do Diano — Patrimônios da Humanidade — e os Monti Picentini.
E não só: seu patrimônio histórico reúne monumentos da Magna
Grécia, como os templos gregos de
Paestum. A paisagem da capital é
dominada pelo antigo castelo medieval, construído no século VIII
a mando do príncipe longobardo
Arechi. Trata-se de um monumen-
Nova missão de vinícolas visita o Brasil em novembro
com encontros que servirão como follow up das rodadas
de degustação realizadas com compradores em abril
Cintia Salomão Castro
D
epois das visitas e rodadas de degustação
realizadas no mês de
abril em três cidades
brasileiras, uma nova missão proveniente de uma das mais ricas
regiões italianas no setor agroalimentar vai percorrer o país. O
anúncio foi feito pela Província de
Salerno à Comunità. A comitiva
fará uma espécie de follow up dos
encontros ocorridos no primeiro
semestre, quando os vinicultores
se apresentaram a potenciais compradores e importadores durante
a feira Expovinis, em São Paulo;
no Automóvel Clube de Belo Horizonte; e durante o lançamento
do Grico, guia de restaurantes italianos da Editora Comunità, no
Jockey Club do Rio de Janeiro.
Uma das ações previstas é a realização de uma pesquisa para avaliar
o impacto das atividades e encontros de abril. Entre os objetivos está
a identificação dos compradores
que mostraram um maior interesse
em relação aos vinhos da região.
— Um questionário de avaliação será aplicado agora em setembro, através das Câmaras Ítalo-brasileiras
de Comércio em Minas e no Rio, junto aos participantes das atividades realizadas em abril. A meta é medir
o grau de satisfação em relação aos eventos, o interesse
pelos vinhos de Salerno e a disponibilidade para novos
encontros em novembro — explica um dos organizadores da missão, Enrico D’Alessio.
O presidente da província de Salerno, Antonio Iannone, ressalta a importância de se abrir as portas do
mercado brasileiro para a economia da região.
— A província de Salerno, apesar do atual período
de enormes dificuldades vivido pela economia italiana, continua a dar suporte ao nosso tecido econômico,
favorecendo a participação de nossas excelências vitivinícolas em eventos de alcance internacional, como
o que foi realizado no Brasil em abril. Acredito que o
mercado brasileiro represente uma importante saída
comercial para as produções de qualidade do nosso território, e que a difusão do conhecimento dos recursos
naturais e paisagísticos, ligados de forma indissolúvel
aos nossos produtos, possa estimular muitos brasileiros a visitarem a província e desfrutarem do clima
moderado e dos frutos da terra — afirma à Comunità
o presidente da província de Salerno, Antonio Iannone.
As vinícolas que vão trazer suas garrafas para a degustação no final do ano serão quatro: Viticoltori De
Conciliis, Massimo Cobellis, Mila Vuolo e Verrone Viticoltori. Os rótulos serão os mesmos dos vinhos que já
se apresentaram por aqui na última visita, o que inclui
o encorpado aglianico Igp Colli di Salerno, ideal para
acompanhar frituras, queijos e pratos mais temperados. Alguns rótulos são fruto da agricultura orgânica,
com uvas cultivadas sem nenhum uso de pesticida.
Além do setor agroalimentar, Antonio Iannone
também quer divulgar as belezas do território como
meta turística, “coração da cultura grega e romana”.
Ainda pouco explorada pela maioria dos brasileiros que
visitam a Itália, Salerno, localizada entre o Cilento e o
mar Tirreno, possui uma das regiões litorâneas mais
belas do mundo, conhecida principalmente pela Costa
Acima, o presidente da província de Salerno
Antonio Iannone. Abaixo, panorama de Salerno
visto do Castello Arechi
to em ótimo estado de conservação,
que domina toda a cidade e o porto,
permitindo um panorama perfeito
da cidade ao visitante.
O projeto da Enoteca Provinciale, uma das promotoras da missão no
Brasil, possui uma página na internet,
onde é possível saber mais detalhes sobre as três grandes áreas de produção
vinícola da região: Costa Amalfitana,
Cilento-Paestum e Monti Picentini. O
site conta com versão em português:
www.vinidisalerno.it
Campagna finanziata ai sensi
del Regolamento CE n. 1234/07
Campaing financed by EU
Regulation n. 1234/07
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s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
provinciadisalerno
provinciadisalerno
Turismo
Contatos
aquáticos
Recém-inaugurado pavilhão de golfinhos faz do Aquário
de Gênova atração irresistível para quem visita a Ligúria
Guilherme Aquino
L
De Gênova
inda, Teide, Naù, Betty,
Robin e Mia dão as boas-vindas aos visitantes do
Aquário de Gênova dentro
dos tanques projetados pelo escritório do “arquistar” genovês Renzo
Piano. O novo pavilhão dos cetáceos
foi criado entre a instalação principal e a zona do porto antigo.
O percurso tem pouco impacto
visual na paisagem, pois está localizado a apenas três metros acima
do nível do mar. A ampla vidraça
dá aos admiradores dos golfinhos
uma chance maior de se aproximar
de uma das quatro piscinas a céu
aberto – que servem de maternidade, enfermaria, médica-veterinária
e exposição – preenchidas com 4,8
milhões de litros de água do mar e
com capacidade para abrigar até dez
mamíferos marinhos, entre eles a
família completa de papai Robin,
mamãe Betti e da recém-nascida
Mia. Apoiada no fundo do porto, a
nova estrutura é complexa e pode
ser comparada a um prédio de sete
andares. Na verdade, o pavilhão foi
“afundado” quando os tanques-balsas que serviram para transportá-lo
do estaleiro naval, em La Spezia,
Golfinhos são
alimentados no novo
pavilhão Cetacei
até Gênova, foram preenchidos com 3.500 metros cúbicos de água e, sucessivamente, de cimento, sobre um
platô preparado durante um longo processo de dragagem. Quatro anos de projeto e 30 meses de construção
depois, os cetáceos e os seus admiradores ganharam
uma nova estrutura para compartilhar emoções.
Hoje, o pavilhão permite aos visitantes observar
os golfinhos do alto e também de uma prospectiva
submarina. A grande novidade é uma gigantesca parede móvel de vidro, com 30 metros de comprimento,
que pode ser aberta para proporcionar uma interação
maior entre o público e os golfinhos, principalmente,
no campo da comunicação. Os sons emitidos pelos golfinhos podem ser ouvidos ao vivo, graças a um especial
dispositivo de gravação e reprodução. Além disso, a
plataforma de trabalho dos adestradores foi montada sobre esta parede de vidro. Desta forma, o ponto
de observação dos animais torna-se central sob a ótica do espectador, que tem diante de si 94 metros de
comprimento e 28 de largura para esquadrinhar. Uma
verdadeira mansão, que custou aos cofres da cidade, do
Porto Antigo e do gestor Costa Edutainment uma cifra
em torno dos trinta milhões de euros. Além de um privilegiado observador, o espectador
pode se sentir um oceonógrafo ou um biólogo marinho. Cada exemplar de golfinho possui uma verdadeira
carteira de identidade e, de posse dela, os visitantes podem participar das pesquisas realizadas em tempo real
e proporcionar a si próprio a mesma sensação que um
pesquisador da flora e da fauna marinhas experimenta em mar aberto. Assim, logo na chegada, o visitante
recebe informações
sobre o Santuário
Pelagos, um parque marinho protegido com
90.000 quilômetros de
extensão, numa área que
engloba os mares territoriais
da Itália, França e Mônaco,
abrigando oito espécies de
cetáceos, e onde se realizam
diversos projetos de preservação e de estudos.
Um túnel envidraçado e
curvilíneo, com 15 metros de
extensão, penetra parcialmente o
principal tanque de exposição. O
visitante tem a sensação de mergulhar sem os equipamentos e pode
ver os movimentos dos animais como se nadasse junto com eles. Esta
grande “gota” de acrílico transparente, com espessuras entre 14 e
30 centímetros, foi criada pelos arquitetos Michael Oleksak e Ginette
Castro. Ali, os visitantes entram em
contato com o resultado de diferentes pesquisas sobre a história, o
comportamento e os fluxos migratórios de cada um dos exemplares.
Uma vez que o espectador se
tornou um grande conhecedor de
cetáceos e em tempo de “social net”,
de compartilhar, ele pode “adotar”
um dos golfinhos, através do aplicativo Happy Fin adotta il tuo delfino.
Desta maneira, o frequentador,
mesmo à distância, pode monitorar o “seu” animal e participar,
ativamente, com jogos educativos
e interativos que abordam aspectos biológicos e ambientais dos
cetáceos. O setor proporciona ainda explicações científicas criadas
e narradas para ilustrar ao que o
visitante está assistindo, ou melhor, participando. Os seis astros
do Aquário, os golfinhos, “apenas”
uma ponta do iceberg , agradecem.
Atrás e ao redor deles, circulam outros 15 mil animais de 400 espécies,
entre pinguins, caravelas, focas e
tubarões. Juntos e espalhados em
70 piscinas, dão vida a um complexo de biodiversidade marinha.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
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Esporte
A última
Copa de Pirlo
Ficha
Andrea Pirlo
Nasceu em Brescia, a 19 de maio de 1979
Altura: 1,77 m
Peso: 68 kg
Casado com Debora,
tem dois filhos, Niccolò e Angela
Clubes nas categorias de base
Flero, Voluntas, Brescia
Clubes como profissional
Brescia, Inter, Reggina, Inter,
Brescia, Milan, Juventus
Títulos como profissional
1 Campeonato Italiano Série B
(Brescia 1996-1997)
1 Copa Itália (Milan 2002-2003)
4 Campeonatos Italianos Série A
(Milan 2003-2004 e 2010-2011;
Juventus 2011-2012 e 2012-2013)
3 Supercopas Italianas
(Milan 2004, Juventus 2012 e 2013)
2 Ligas dos Campões Europeus
(Milan 2002-2003 e 2006-2007)
2 Supercopas Europeias
(Milan 2003 e 2007)
1 Mundial de Clubes ( Milan 2007)
1 Mundial de Seleções (Itália 2006)
1 Europeu sub-21 (Itália 2000)
1 bronze olímpico (Itália 2004)
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Mundial do Brasil deve ser o último a ser
disputado pelo meio-campo italiano, que
pretende se despedir da azzurra em 2014
Maurício Cannone
E
le é fã de Juninho Pernambucano, tem 34
anos e pretende se despedir da seleção italiana
após a Copa de 2014. Muito versátil e capaz de executar diversas
funções, o meio-campo foi um
dos jogadores mais festejados da
squadra azurra na Copa das Confederações pela torcida brasileira em
junho passado. Chegou a marcar
um gol de falta, uma de suas especialidades, no Maracanã, na vitória
italiana por 2 a 1 sobre o México:
foi a centésima partida pela seleção italiana, quando teve seu nome
cantado em coro.
Campeão do mundo em 2006,
Andrea Pirlo ficou em segundo lugar na Copa Europeia das Nações,
em 2012, pela equipe de seu país.
Nascido em Brescia, no norte do
país, além do vasto currículo na seleção, pode se orgulhar de ter jogado
nos três maiores clubes do Belpaese:
Inter, Milan e Juventus — com este
último, tem contrato até 2014.
Ainda garoto, chamava atenção
pela técnica bem superior a seus
companheiros de clube, nas categorias de base do Brescia, onde se
tornou profissional. Sua classe até
provocava inveja em garotos que
jogavam com ele nos tempos da
adolescência. “Me passem a bola,
me passem a bola”, muitas vezes
teve de gritar e até chorar: os companheiros o consideravam uma
ameaçava, como o próprio Pirlo
conta no livro Penso, quindi gioco
(Penso, logo jogo), no qual narra
várias passagens de sua vida em depoimento ao jornalista Alessandro
Alciato. “Tinha de jogar contra 11
adversários e 10 do meu time”. Às
vezes, na tribuna, seu pai precisava mudar de lugar quando alguém
fazia comentários sobre o filho do
tipo: “Quem esse pensa que é? Maradona?” No entanto, Pirlo acabou
por vencer o ciúme de seus companheiros e tornou-se um dos maiores
jogadores da Itália e até do mundo.
O boicote dos companheiros nos
tempos de garoto não foi a única
dificuldade da carreira de Pirlo. Em
2011, quando o técnico do Milan,
Massimiliano Allegri, deu sinais de
que não o considerava mais um dos
principais jogadores do time, decidiu
mudar de ares e foi para a Juventus,
onde sagrou-se campeão italiano nas
duas temporadas passadas. Allegri
pretendia colocá-lo no lado esquerdo
do meio-de-campo, enquanto Pirlo
preferiu continuar jogando na frente
da defesa, posição em que se consagrou na seleção italiana.
Prilo só pretende renovar seu contrato com a Juventus se continuar a
ser importante para o time: “Nunca
vou ser um peso para a Juve”, ressaltou. “Jogarei até quanto estiver bem e
tiver vontade. Temos mais um ano inteiro para avaliar tudo. Não vou ficar
só porque me chamo Pirlo”. Mesmo
sem saber se vai continuar na temporada 2014-2015, o craque pretende
terminar a carreira em um grande
clube, seja da Itália, seja de outro país.
Ele chegou a recusar uma milionária
proposta do Qatar. Em 2011, o Al
Sadd lhe ofereceu inicialmente 40
milhões de euros em quatro anos, 10
milhões por temporada. Diante da
recusa, aumentaram a proposta para
11 e depois 12 milhões. O procurador
de Pirlo arregalou os olhos, mas antes
que os milionários do Qatar oferecessem mais, o jogador puxou seu agente
pelo braço e saiu do hotel onde eles se
encontraram. Ele não queria atuar
em um país onde o nível do futebol é
muito inferior ao da Itália.
Para o craque, apenas um motivo
pode antecipar sua despedida da seleção ano que vem após o Mundial: “Uma
escolha técnica de Cesare Prandelli”.
Por sinal, uma escolha muito difícil de
acontecer, pois o treinador da Itália o
considera um de seus principais jogadores. Em 2006, foi importantíssimo
na conquista do Mundial disputado na
Alemanha: ele bateu um dos pênaltis
que garantiram a vitória italiana sobre
a França depois do resultado de 1 a 1
no tempo normal e na prorrogação.
Naquela partida, bateu o escanteio
que originou o gol de Materazzi quando a Itália estava perdendo. Acabou
escolhido como o melhor jogador da
final e o terceiro daquela Copa.
Um admirador do estilo de bater
faltas de Juninho Pernambucano
O jogador italiano estudou durante muito tempo o modo como Juninho Pernambucano batia faltas. O atual
meio-campo do Vasco atuava no Lyon, da França, mas
Pirlo demorou um pouco a desvendar o segredo. Em
um belo dia, a inspiração lhe veio quando estava no banheiro. Com a luminosa ideia, rumou mais cedo para o
centro de treinamento do Milan e bateu uma falta que
entrou no ângulo superior. Repetiu a dose várias vezes.
O italiano descobriu que o brasileiro tocava embaixo da
bola e a fazia descair com uma velocidade incrível, que
deixava os goleiros adversários desesperados.
Nas categorias de base, jogou pelo Flero e pelo Venturas, uma espécie de sucursal do Brescia. Aos 15 anos,
já treinava com a equipe profissional e com 16 e dois
dias, estreou na Série A, a divisão principal italiana,
em 1995, no jogo contra a Reggiana.
Marcello Lippi, técnico da seleção italiana campeã de
2006, definiu assim Pirlo: “É um líder silencioso que fala
com os pés”. Carlos Alberto Parreira, coordenador técnico da seleção brasileira e treinador campeão mundial de
1994, compara o craque italiano com o canarinho camisa
10 nos anos 1980: “Pirlo é um Zico na frente da defesa. É
o jogador italiano mais brasileiro que eu conheço”.
Do Brescia, Pirlo transferiu-se para o Inter, em 1998,
aos 19 anos, mas jogou pouco. Lippi foi um de seus seus
técnicos e o aconselhou a jogar em outro lugar por uma
temporada para amadurecer. Em 1999, foi emprestado
à Reggina. Em 2000, voltou ao Inter. Pouco depois, Lippi era demitido. Sem ter espaço no time titular — já
que Marco Tardelli, que havia sido seu técnico na seleção
italiana sub-21 no título europeu, disse que não o colocaria como titular para preservá-lo — foi emprestado em
2001 ao Brescia. No retorno ao clube que o lançou no
futebol profissional, houve a mudança decisiva para sua
carreira: o técnico Carlo Mazzone recuou a posição de
Pirlo no meio-de-campo. Em vez de jogar avançado, função na qual o Brescia mantinha Roberto Baggio, passou a
atuar na frente da defesa. Após a temporada 2000-2001,
passou para o Milan, onde se consagrou. “Se Lippi tivesse ficado no Inter, eu poderia ter sido uma bandeira do
clube”, revelou Pirlo, que na infância era torcedor interista. Depois, acabou jogando justamente por Milan e
Juventus — os dois maiores rivais do seu clube de coração nos tempos de menino.
Juventus x Lazio
P
irlo já conquistou o primeiro título oficial da temporada 2013-14
pela Juventus: a Supercopa. O torneio, decidido em apenas um
jogo, é disputado entre os ganhadores do campeonato italiano da temporada anterior, no caso a Juventus, e o da Copa Itália, a Lazio. Apesar de
a partida ter sido no Estádio Olímpico de Roma, a Juve não tomou conhecimento do adversário nem de sua torcida: venceu fora de casa por 4 a 0.
Alguns torcedores do Lazio vaiaram jogadores negros da Juventus — como Pogba, Asamoah e Ogbonna — quando eles tocavam na
bola. A atitude racista resultou em uma punição ao clube branco-celeste da capital: a curva nord, setor das arquibancadas do Olímpico,
reduto tradicional de adeptos do Lazio, foi fechada na primeira rodada do campeonato italiano, quando o time enfrentou o Udinese.
Pogba é francês; Asamoah nasceu em Gana e Ogbonna é jogador da
própria seleção italiana.
“São ignorantes. Eu estava sozinho contra 30 torcedores”, desabafou depois do jogo Pogba, autor do primeiro gol juventino.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
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Cultura
A memória
na vitrine
Competência italiana no mercado de
museus se destaca durante conferência
internacional realizada no Rio
Cintia Salomão Castro
P
rofissionais e empresas do setor de museus
de dezenas de países estiveram reunidos no
Rio de Janeiro em agosto durante a 23ª Conferência Geral do Conselho Internacional de
Museus (ICOM). O comitê da Itália teve uma presença
de peso no evento, não apenas por ser um país conhecido pelo seu know-how no setor e detentor de um dos
maiores patrimônios históricos do mundo, mas também por ser a sede da próxima conferência. O Centro
Congressi da Vecchia Fiera di Milano será o palco do
ICOM 2016, de 2 a 9 de julho.
— A partir do início do ano que vem, vamos começar a
trabalhar em relação ao conteúdo, enquanto a parte da organização deverá ser preparada pela empresa K.I.T. Group,
que vai colaborar com a Câmara de Comércio de Milão e
a InterFiera. Fazem parte do comitê organizativo a Província, a Região, o Ministério, a Unesco, a Banca Intesa, e
o consórcio de 12 universidades lombardas, que fornirão
voluntários para dar assistência aos visitantes. Estamos
tentando firmar um acordo com as universidades para
que o campus possa servir de alternativa de hospedagem.
Também estamos organizando encontros na Itália
para discutir o evento, e ainda estamos identificando possíveis patrocinadores e expositores
— informou à Comunità Cristina Vannini,
da Secretaria do ICOM Itália.
Conhecido por seu acervo artístico e
histórico sem comparação no mundo, o
Belpaese ainda oferece tecnologia e modernidade para o setor de conservação,
engenharia e arquitetura de museus.
Um exemplo disso é a Goppion,
uma das líderes mundiais de produção
de vitrines para objetos arqueológicos,
sediada em Trezzano sul Naviglio, no
norte do país, e fornecedora do Museu
O professor de Estudos
Italianos da Brown University
(EUA), Massimo Riva mostra
as inovações aos participantes
na 23ª Conferência Icom,
realizada no Rio de Janeiro
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do Louvre, Art Institute de Chicago, do Rijksmuseum de Amsterdã
e do Museu de Tecidos Queen Sirikit,
em Bangcoc, na Tailândia. O diretor comercial da Goppion, Andrea
Sartori, esteve no Rio, no estande
italiano, e contou à Comunità que,
apesar de a empresa ainda não ter
clientes no Brasil, já tem feito bons
contatos, sobretudo com instituições públicas.
— Fazemos vitrines para museus em todo o mundo. Na América
Latina, estamos avaliando a melhor maneira de oferecer nossos
produtos. Em 2016, somos parceiros institucionais do comitê ICOM
Italia, e estamos definindo quais
serão os modos de colaborar. Estamos entre as primeiras quatro
empresas do setor, mas ainda não
temos clientes no Brasil. Já atuamos fortemente na América do
Norte, e agora estamos em contato
com instituições do Brasil, México
e Chile — comentou.
Arquimedes é destaque
em estande moderno
Um dos estandes mais interessantes
na Cidade das Artes, espaço na Barra
da Tijuca onde foi realizado o evento,
era o da empresa Syremont, sediada em Roma. Como uma espécie de
mostra de uma exposição científica
interativa, o espaço era dedicado a
Arquimedes — cientista nascido em
Siracusa, cidade da Sicília que fazia
parte da Magna Grécia, por volta de
287 a.C.. Considerado o maior matemático da Antiguidade, ele provou
que a esfera tem dois terços do volume e da área da superfície do cilindro
a ela circunscrito. No espaço, havia
máquinas em miniaturas e reproduções de invenções do cientista.
— São máquinas que estimulam as pessoas em questões
matemáticas, físicas... Trouxemos
o cone que compõe famílias de
cones e jogos antigos que antecederam a combinatória matemática,
inventados por Arquimedes. As
crianças se divertem e jogam, com
objetos tridimensionais — explica
Elena Giangiulio, administradora
delegada da Syremont.
O estande italiano contou com
cinco empresas no total, incluindo
Occambee e Contemporanea Progetti, e teve o apoio da Promos Milão.
— Essa iniciativa tem a missão de trazer empresas do ramo
de museologia, e entra no nosso
objetivo de internacionalizar as
empresas italianas. O ICOM é um
congresso internacional que reúne representantes de diversos
países. As empresas italianas tiveram contato com instituições
não só brasileiras, como de todo o
mundo, para as quais apresentaram suas soluções e produtos em
diversos campos, como vitrines,
realidades virtuais para museus,
engenharia e arquitetura. Apesar
de o mercado italiano estar um
pouco parado, por causa da crise
econômica, as empresas italianas
querem expandir a sua atuação
pelo mundo — avaliou o representante da Câmara de Comércio de
Milão no Brasil, Bruno Aloi.
A programação não se limitou ao
pavilhão de exposições: expedições
foram realizadas no Museu de Favelas (MUF), no Museu da Maré e do
Museu de Arte do Rio (MAR). Um
dos palestrantes que se destacaram
foi o professor colombiano Jorge
Melguizo, que contou sua experiência em Medellín, considerada até
pouco tempo uma das cidades mais
violentas do mundo. O especialista,
que atualmente trabalha em Barcelona, questionou a estrutura dos
museus de hoje e colocou em debate os novos conceitos e modelos de
museus, que atualmente vivem uma
“ditadura estética” em que apenas
as belas artes predominam e gêneros como o grafite são excluídos das
grandes instituições museológicas.
— Cultura não é o que mostramos ou o que produzimos, mas o
que geramos, as reflexões que somos
capazes de suscitar nas pessoas. Os
curadores precisam matar a arte,
tornarem-se comunicadores e se
apropriarem da cultura. Eles precisam conhecer melhor o entorno do
museu, com quem estão falando,
pois hoje conhecem mais as coleções
do que as pessoas — afirmou. Zoom nas cenas
com Garibaldi
A tela do computador com a reprodução da bela pintura de John
James Story, de 1860, chamava a
atenção no estande italiano. Nela, estavam representadas cenas
da vida do herói de dois mundos,
Giuseppe Garibaldi. O professor
de Estudos Italianos da Brown
University (EUA), Massimo Riva, explicava aos visitantes que
se tratava de um software totalmente gratuito e disponível para
download na internet. A novidade
foi colocada na web há apenas um
mês. Mas a história do aplicativo,
que permite fazer um zoom em cenas de batalha de Garibaldi e Anita
no Rio Grande do Sul, é longa.
Em 2005, um colecionador privado doou à biblioteca da universidade
americana a rara pintura, que oferecia um verdadeiro panorama móvel
antes que fosse inventado o cinema.
Uma grande plateia
atenta se reuniu na
Cidade das Artes,
no bairro da Barra
da Tijuca, para
conferir de perto
todas as novidades
para o mercado de
museus. Ao lado,
um dispositivo
de segurança
apresentado na feira
Alguns stands de
empresas italianas
que se apresentaram
no evento
Com mais de 80 metros de comprimento, a obra era usada na Inglaterra
do século XIX em espetáculos, com
direito a narrador, iluminação e música. O colecionador, um cirurgião de
Nova York de origem britânica, havia
herdado de uma tia da Pensilvânia a
pintura, realizada em 1860 quando
Garibaldi era muito famoso até em
solo britânico.
— Em 2007, um grupo de informáticos e bibliotecários da
universidade fotografou a pintura
inteira em alta definição, operação que custou 20 mil dólares. Foi
recomposto todo o panorama em
um único e longo scroll digital. Dali
nasceu o projeto de estudar a pintura cena após cena. O projeto foi
desenvolvido por mim e por um
grupo de estudantes e outros docentes, estudiosos e interessados
na história de Garibaldi.
Disponível em português, inglês e italiano, o aplicativo traz uma
descrição de cada cena. A tecnologia é da Microsoft, que patrocinou
o projeto. O aplicativo permite adicionar documentos, recurso útil a
curadores de mostras, por exemplo.
Apesar de totalmente gratuito, funciona somente no Windows 8, mas
está entre os planos desenvolver
uma nova versão aplicável em multiplataforma, incluindo tablets e
iphones, adianta o professor Massimo Riva, formado em Florença, que
vive há 28 anos nos Estados Unidos.
Para fazer o download, basta entrar
no endereço http://cs.brown.edu/research/ptc/tag/
com unit àit aliana | s etem br o 2013
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Cinema
A volta de
Bertolucci
Consagrado diretor de O Último Imperador foi o escolhido para
presidir o júri do festival de cinema mais antigo do mundo
dia seguinte, mas pode passar décadas sem ver ou falar com as pessoas.
“Para vencer um festival, o
filme tem que surpreender”
Bertolucci acredita que, para vencer um festival de cinema, um filme
antes de tudo deve surpreender.
— Estou aberto a coisas novas.
Quero ser surpreendido pelas histórias, pelas interpretações, pela
direção. O filme que surpreende o
Janaína Pereira
O
De Veneza
Festival de Cinema de
Veneza escolheu um
ilustre cineasta italiano
para ser o presidente de
sua edição de número 70: Bernardo Bertolucci. Diretor do clássico
O Último Tango em Paris (1972) e
vencedor do Oscar com O Último
Imperador (1987), Bertolucci recusou, em um primeiro momento, o
convite de Alberto Barbera, diretor
artístico do Festival, para presidir o
júri de Veneza.
— Tinha dito não, pois eu sei o
quanto é cansativo. Fui presidente
de júri em Cannes, em 1990, e aqui
mesmo em Veneza, em 1993. Temos que assistir a pelo menos dois
filmes por dia. Porém, depois que
Barbera me enviou uma carta também em nome dos selecionadores,
me colocando diante de responsabilidades que eu tenho com o cinema
e com quem começa nesta profissão,
cedi e aqui estou — contou o cineasta durante entrevista a jornalistas.
Bertolucci sabe da responsabilidade que tem com o cinema. Durante
a coletiva de imprensa realizada antes do Festival de Veneza começar,
um jornalista chinês comentou que
decidiu estudar italiano depois de
assistir ao filme O Último Imperador.
— Fiquei surpreso com a declaração. Saber que uma pessoa aprendeu
outro idioma por influência direta
de um filme meu realmente é algo
importante. Eu me senti profundamente honrado — confessou.
Em Veneza, além de presidente
do júri, Bertolucci apareceu na telona. Junto com cineastas de diversas
partes do mundo, ele realizou um
curta-metragem em homenagem
aos 70 anos do festival, projetado
durante a mostra. O diretor também foi a estrela do documentário
Bertolucci em Bertolucci, de Luca
Guadagnino, que apresenta as principais fases de sua carreira.
Aos 72 anos, nascido em Parma
e filho do poeta e crítico literário
50
“Eu amo 3D. Queria fazer
o meu último longa, Eu e
Você, nessa versão, mas
foi impossível porque o
processo ainda é muito
lento e eu precisava fazer
o filme rapidamente”
Bernardo Bertolucci, diretor italiano
Attilio Bertolucci, ele demonstrou
um carinho especial por alguns
membros de seu júri que não foram
escolhidos por ele, e sim pelo diretor Alberto Barbera.
— Barbera escolheu muito bem
o júri, com pessoas que eu respeito
muito. Andrea Arnold (cineasta inglesa) fez um belo filme, Fish Tank,
em que pela primeira vez eu vi o ator
Michael Fassbender. (A atriz) Carrie
Fisher eu não via fazia muitos anos.
Todo mundo só lembra dela como a
princesa de Star Wars, mas depois
Carrie se tornou uma escritora talentosa. E é muito bom encontrar
Ryuichi Sakamoto, que escreveu a
música para três dos meus filmes. O
cinema é assim: terminou o trabalho
e cada um segue seu caminho. Você
até gostaria de ver um ao outro no
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
júri, que o provoca, que o faz refletir,
é o que merece vencer — revelou.
Vencedor de nove Oscars, seu
filme O Último Imperador — que
fez dele o único italiano a receber
a estatueta dourada de melhor diretor e voltará aos cinemas em 3D
— deve ser exibido em diversos países ainda este ano. O cineasta se
mostra antenado com as mudanças
cinematográficas e revela o motivo
dessa ‘reestreia’.
— Há um novo público que gosta de filmes em 3D, e cresceu vendo
esse tipo de filme. Ele poderá conhecer um dos meus principais
trabalhos dessa forma. Como já
disse antes, sou uma pessoa aberta
a coisas novas. Além disso, eu amo
3D. Já queria fazer meu último longa, Eu e Você, nessa versão, mas foi
impossível porque o processo ainda
é muito lento e eu precisava fazer o
filme rapidamente — revela.
Sobre continuar trabalhando no
cinema, Bertolucci, que se locomove em cadeira de rodas por causa de
complicações com cirurgias de hérnia que o impediram de ficar de pé,
diz que não pretende se aposentar.
Seu último filme, Eu e Você (Io e Te),
foi exibido ano passado em Cannes.
— Eu nunca pensei em me aposentar. Ainda tenho muito que
fazer pelo cinema e por isso estou
aqui em Veneza — conclui.
Cinema
Setentenário
Edição de 70 anos do Festival de Veneza reuniu filmes que abordam
a figura feminina e levou ao Lido George Clooney e Sandra Bullock
Janaína Pereira
A
De Veneza
mostra de cinema mais
antiga do mundo completou 70 anos. De 28
de agosto a 7 de setembro, o Festival Internacional de
Cinema de Veneza recebeu turistas, jornalistas e celebridades para
a exibição de mais de 400 filmes em
suas diversas sessões. Na mostra
competitiva, 20 produções concorreram ao Leão de Ouro, prêmio
máximo do Festival. Para presidir o
júri deste ano, foi escolhido o cineasta italiano Bernardo Bertolucci.
As produções escolhidas pelo
diretor Alberto Barbera — em seu
segundo ano à frente da mostra
— colocaram luz na figura feminina, com mulheres abordadas como
personagens corajosas, e também
submissas. A violência doméstica e
os conflitos familiares foram temas
recorrentes no Lido.
— O cinema faz uma reflexão
sobre a crise que atravessamos: econômica, social, familiar. É o espelho
da realidade, muitas vezes trágica.
Os filmes deste ano apresentam
histórias de abuso sexual, violência contra as mulheres, dissolução
de laços familiares, crise de valores.
Acho que os cineastas não dão sinais
de otimismo nem oferecem saídas
— disse Barbera aos jornalistas.
Entre os filmes selecionados para a competição oficial,
destacam-se o britânico Stephen Frears, com Philomena,
a história real de uma mulher que foi obrigada a vender
o filho; seu compatriota Terry Gilliam, com The Zero Theorem; a animação Kaze Tachinu, de Hayao Miyazaki (que
anunciou em Veneza sua aposentadoria do cinema); e o
diretor e ator James Franco, com Child of God, adaptação
do best-seller americano de Cormac McCarthy.
Se na telona os filmes abordavam diversos conflitos, fora dela a situação pareceu melhorar. Depois de
muitas reclamações sobre a falta de estrutura do festival, Barbera investiu em uma nova sala para entrevistas
coletivas, colocou diversas tomadas para os jornalistas
usarem seus portáteis, e ofereceu pequenos ‘mimos’,
como café e água. O diretor fez questão de dizer que
vêm mais novidades por aí.
— Nossa intenção é trazer cada vez mais jornalistas
para Veneza. Por isso pensamos em uma nova sala de
imprensa, e a atual poderá virar uma sala de exibição
No sentido horário,
cenas dos filmes:
The Zero Theorem,
de Terry Gilliam,
Kaze Tachinu, de
Hayao Miyazaki
e Philomena, de
Stephen Frears
de filmes. Esperem para o ano que
vem mais mudanças — revelou.
Mesmo com as melhorias, o festival estava visivelmente esvaziado
em 2013, tanto em público quanto
em jornalistas. Até o ano passado,
a média era de quatro mil repórteres e fotógrafos (80% da imprensa
italiana). Os números oficiais garantem que este ano havia três mil
jornalistas (sendo um terço de estrangeiros), mas a imprensa local
apostava em menos de dois mil.
— É só você olhar as sessões de
imprensa dos filmes. Nenhuma sessão lotou. Sobraram lugares, coisa
que nunca vi antes. A crise econômica mundial afetou, mas o festival
perdeu prestígio para Toronto, que
acontece quase simultaneamente.
Se a data de Veneza não for mudada, a cada ano teremos menos
mídia. Além disso, faltam estrelas
de peso, gente que arrasta multidões. O tapete vermelho deste ano
foi muito sóbrio — analisa o jornalista Michelle Marone, que cobre o
evento desde 1990.
A volta do americano
mais querido da Itália
Na ausência de grandes estrelas,
Veneza apostou na ‘prata da casa’:
o ator americano mais querido dos
italianos, George Clooney. O ator foi
a principal atração da abertura e representou seu mais recente longa, a
ficção científica Gravidade, do mexicano Alfonso Cuarón, o primeiro 3D
da história de Veneza, levando também ao Lido a atriz Sandra Bullock.
Mais uma vez, os filmes latino-americanos ficaram de fora,
embora a coprodução franco-brasileira Amazônia, dirigida por Thierry
Ragobert e com roteiro do brasileiro
Luiz Bolognesi (também em 3D) tenha sido o filme de encerramento.
Os filmes made in Italy também
foram prestigiados. A diretora de
teatro italiana Emma Dante fez sua
estreia no cinema com Via Castellana Bandiera. Gianni Ameli, vencedor
do Leão de Ouro em 1998, concorreu com El intrépido, enquanto
Gianfranco Rosi apresentou o documentário Santo GRA, rodado na
estrada circular de Roma.
Para o ano que vem, o presidente da Bienal de Veneza, Paolo
Baratta, espera contar com a participação de diretores consagrados e
jovens talentos.
— Mesclar filmes de quem já está no mercado há anos, com aqueles
que começam agora, é a nossa intenção. E esse caminho será ainda
mais forte em 2014 — concluiu.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
51
Arte
Casa nova
Violinos raros de Cremona recebem um novo museu, projetado
com um design que remete às formas sinuosas do instrumento
e um palco que funciona como caixa de ressonância
Guilherme Aquino
O
De Milão
s instrumentos em arco e corda, realizados
por mestres como Antonio Stradivari, Amato
e Guarnieri da Gesù, continuam a
ecoar pelas ruas e vielas da cidade
de Cremona. Os exemplares raros —
entre eles, o Stradivari Il Cremonesi,
de 1715 — avaliados em mais de
um milhão de dólares e conservados
no Palazzo Comunale desde 1961,
ganham casa nova. O Museu do Violino abre as portas para acolher esses
fascinantes objetos que atravessam
os séculos sem perder a potência
de suas qualidades. Em tempos de
crise, a obra foi financiada por um
mecenas: o industrial cremonese
Giovanni Arvedi. O local escolhido
foi o Palazzo Dell’Arte, construído
na década de 1940 e quartel militar
durante a Segunda Guerra . O antigo
prédio volta ao seu esplendor e agora abriga uma arquitetura de imensa
grandeza, tendo em órbita uma constelação de 150 oficinas de lutiers,
pequenos satélites da arte de criar
os instrumentos mais desejados pelos músicos de todo o mundo. Todos
tentam se aproximar ao máximo dos
violinos criados por Stradivari e que
chegaram aos nossos dias intactos,
graças ao lutier Giuseppe Fiorini
que, em 1930, cedeu à administração
pública da cidade o acervo pessoal do
mais famoso dos mestres.
52
Ao contrário do antigo local de
exposição, este museu “toca”, é vivo
e propaga os sons dos instrumentos. A interação é um dos pontos
altos do percurso expositivo. Cada
uma das nove seções propõe um
mergulho nas culturas musical e
artesanal que giram em torno de
um violino. Ali cabem todas as parábolas que ajudam a compreender
a importância desta caixa de madeira, nascida das raízes de árvores
de lei. Das origens dos arquétipos
dos instrumentos aos segredos das
técnicas usadas pelos lutiers, passando pelos processos de difusão
(existe uma sala para a projeção
de filmes de grandes concertos) e
chegando aos dias de hoje, tudo foi
concentrado em um único espaço.
Museu é obra-prima
do engenheiro japonês
Ysuhisa Toyota
O acervo foi inaugurado com quase
mil peças, que incluem as ferramentas usadas pelos construtores de
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
Os violinos não são
a única atração do
museu, um auditório
foi criado à imagem
e semelhança do
instrumento, com
a participação
do renomado
engenheiro de
acústica Ysuhisa
Toyota
instrumentos, pioneiros e modernos, que deram fama internacional
e prestígio aos violinos de Cremona, além de uma coleção com os
instrumentos vencedores das 13
edições do concurso trienal, que
premia os melhores lutiers do mundo. A última edição contou com a
presença de 355 especialistas, vindos de 34 países e a comissão teve
trabalho para eleger os melhores
instrumentos de um total de 462
inscritos, segundo os quesitos de
“voz”, desenho e técnica. A transferência dos objetos foi realizada sob
um rigoroso esquema de segurança
armado nas ruas da pequena cidade. O circuito passa por Cremona
como um atestado de qualidade e os
instrumentos são usados em concertos públicos ou exclusivos.
Engana-se, porém, quem pensa
que os violinos constituem a única
atração do museu. O auditório criado para ouvi-los é uma obra de arte
em si. Os arquitetos Palù e Bianchi
criaram um espaço à imagem e semelhança de um violino, com um toque
japonês. O mago mundial da acústica, o engenheiro Ysuhisa Toyota, se
superou e criou uma “caixa de ressonância e reverberação” que deturpa
ao mínimo possível as notas emitidas
pelos violinos a tal ponto de permitir
que a sala seja usada como estúdio de
gravação. A excelência da propagação
do som alia-se ao design das 450 poltronas e, principalmente, à geometria
e ao material usado na construção.
As formas sinuosas do auditório
remetem àquelas do
instrumento. Estudos
preliminares apontaram para a necessidade
de localizar o palco
abaixo do nível do solo para criar uma área
livre maior para a
emissão das notas. O
próprio palco central
foi montado sobre um
fundo falso que funciona como caixa de ressonância. Está localizado no
meio e as cadeiras o “abraçam”, envolvendo a orquestra e/ou o solista
numa atmosfera única de proximidade e de diálogo. E, ao diminuir a
distância entre a plateia e os músicos, o projeto prioriza a relação entre
o espectador e a música.
Serviço
O Museu del Violino
fica no Palazzo dell’Arte,
na Pizza Marconi, 5, em Cremona.
Está aberto de terça a domingo, de
10h às 18h. Aos sábados, de 10h às 15h.
www.museodelviolino.org
Fotografia
Duas décadas
de parceria
Mostra com 100 trabalhos de 35 fotógrafos de diversos
países marca os 22 anos da parceria da Pirelli com o Masp
Janaína Pereira
E
De São Paulo
stá aberta à visitação em
São Paulo a primeira edição da FotoBienalMASP
— evento que marca
uma nova fase da parceria de mais
de 20 anos entre o Museu de Arte
de São Paulo Assis Chateaubriand,
o Masp e a Pirelli. Este é o novo nome da Coleção Pirelli/Masp, que
está completando 22 anos. Nesse
período, a parceria com a empresa italiana, iniciada em 1990, foi
responsável pela formação de uma
coleção de fotografia brasileira com
mais de 1.100 obras.
Concebida pelo curador do
Masp, Teixeira Coelho, e organizada por Ricardo Resende, mestre
em História da Arte pela USP e
curador convidado, a edição reúne
mais de 100 trabalhos, realizados
por 35 fotógrafos de diferentes origens e vertentes. O tema escolhido
para esta edição é a relação entre
a fotografia e outras linguagens
próximas. Entre os artistas que
participam estão Caio Reisewitz,
Rodrigo Braga, Grupo Garapa,
Grupo Motoboys, Berna Reale, Dora Longo Bahia, Odires Mlászho,
a sérvia Marina Abramovic e o colombiano Oscar Muñoz. Segundo o curador do museu,
Teixeira Coelho, a exposição foi pensada com um enfoque atual sobre a
fotografia, que já não é mais aquela
obtida por um aparato especificamente construído para esse fim.
— A fotografia atual tem o seu
formato de campo ampliado, o que
a qualifica como uma das formas
mais ricas da arte nos dias de hoje
— comenta o curador, acrescendo
A primeira edição
da Fotobienal Masp
apresenta trabalhos
realizados por 35
fotógrafos. Entre
eles, Rodrigo Braga,
Berna Reale, Marina
Abramovic e Odires
Mlászho
que a fotografia e a exposição estão
de acordo com os parâmetros que o
museu oferece ao seu público.
Coelho explica que o Masp oferece algo além de um centro de
exposições em si mesmo, com uma
coleção própria que “acolhe diferentes modos da arte do passado e
do presente oferecidos ao visitante como outros tantos pontos de
comparação e apoio para uma experiência aumentada da arte nele
mostrada”.
Na mostra, a linguagem da fotografia tradicional é confrontada
com os demais meios artísticos
que com ela hoje dialogam — a
exemplo da pintura, vídeo e da instalação. Esse diálogo entre as
diferentes linguagens marca o propósito renovador que pontua esta
nova fase da coleção Pirelli. O público poderá ver de perto trabalhos
de jovens profissionais, ao lado de
consagrados autores brasileiros
e do exterior, numa troca intensa de pontos de vista e soluções
estéticas, indispensável no atual
momento da comunidade global
da arte. A área tem sido um campo privilegiado de experimentação
conceitual nas últimas décadas,
ressalta Teixeira.
— A arte contemporânea
tornou-se, em grande parte, fotográfica e o gesto de “bater” uma
foto passou a fazer parte de um
vasto e novo processo de criação
da imagem, do qual participam
não só a fotografia permitida por
um aparato tradicional ou digital, como a imagem na condição
de instrumento para um domínio
artístico ampliado. O fim da fotografia analógica ou, em todo caso,
a superação de seus limites, abriu
ampla porta de comunicação da
fotografia com o que a precedeu, o
que existe ao redor e o que tem pela
frente. As fronteiras foram abolidas e a fotografia deu um passo
além de como era conhecida — finaliza o curador do Masp.
Serviço
Quando: De 16 de agosto a 3 de
novembro de 2013
Onde: Masp - Museu de Arte de São
Paulo Assis Chateaubriand
Av. Paulista, 1578 - São Paulo
Tel: (11) 3251-5644
Horários: De terça a domingo,
inclusive feriados, de 10h às 18h.
Às quintas das 10h às 20h.
Ingresso: R$ 15. Estudantes,
professores e aposentados: R$ 7.
Acesso gratuito a todos às terçasfeiras e para visitantes com até 10
anos e acima de 60 anos.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
53
firenze
GiordanoIapalucci
HalloWine
a stagione del buon vino non finisce
L
mai e quella del vin nuovo sta ora cominciando. Quindi, come si suol dire:
gambe in spalla fino alla Fattoria di Luiano, sulle colline del Chianti per la festa
di Hallowine, la rassegna enogastronomica che vi guiderà in un percorso pieno di
degustazioni e pregiati vini abbinati ad
assaggi a base di zucca. Il produttore in
prima persona si metterà a disposizione
per una visita a 360° sulla produzione del
vino: dall’analisi dei vitigni alla raccolta
dell’uva fino al processo di produzione del
vino e del suo invecchiamento. Le degustazioni partiranno mercoledì 31 ottobre
per concludersi domenica 4 novembre con
orario 11.30 -19.00 e ingresso a 5 euro.
Destinazione Lucca
I
n occasione del 45° anniversario dell’Associazione Lucchesi nel Mondo, la città
di Lucca è voluta andare controcorrente
e rendere omaggio a tutti quegli artisti
stranieri che l’hanno scelta come luogo
di ispirazione e nuove tendenze artistiche. Per questo importante anniversario
sono stati invitati alcuni artisti come Dariush (Iran) con la sua capacità di scritto-
re e abilità nel ritrarre figure umane, Uri
Negvi (Uruguay), dal tocco e sensibilità
singolare nel saper dosare colori e tratti
e Katerina Ring (California), la cui attenzione si rivolge principalmente a nature
morte ad acquerello e paesaggi pastello.
Presso il Palazzo delle Esposizioni della
Fondazione Banca del Monte di Lucca al
numero 7 di piazza San Martino, Lucca.
Botanica
er chi sarà nei pressi di Firenze,
P
nel mese di ottobre, non può perdersi la splendida mostra mercato di
piante rare e da collezione, arricchita
ancor di più dalla cornice nella quale
viene presentata: Villa Caruso a Lastra a Signa. La villa porta il nome del
famosissimo tenore napoletano che,
nel 1906, la acquistò e che oggi viene valorizzata con concerti, spettacoli, esposizioni e visite. All’interno
dell’esposizione sarà data particolare
attenzione alle piante antiche e in
parte quasi totalmente dimenticate.
Seguirà una sezione totalmente dedicata alla preziosa pianta della famiglia delle Iridaceae, lo zafferano, ed
esperti del mondo botanico saranno
a disposizione per corsi sulla potatura e cura delle piante in generale.
Ingresso 3 euro.
54
Cambiamento
LaarteVersilia
sognata
di Marcello Polacci, nonostante
Costante
L’non abbia mai frequentato delle scuoopo il periodo di ferie estive, il Caffè
D
Letterario “Le Murate” riapre i battenti ospitando la XVI° edizione del Festival “New Transitions, Costante Cambiamento”, dedicato al Medio Oriente e Nord
Africa con le loro specificità di territori di
confine e di conflitto, da considerarsi tra i
più difficili e intricati a livello internazionale. Il programma dell’evento prevede
mostre, spettacoli, musica e arti visive,
come anche dibattiti che richiamano l’attenzione su temi come la giustizia sociale,
i venti di cambiamento in quei luoghi con
l’unico obiettivo di incoraggiare e condividere lo scambio tra culture diverse. Ingresso gratuito.
s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
le artistiche, non si può certo definire elementare, anzi, la sua grande passione per
la pittura gli ha permesso di intraprendere un percorso che l’ha portato ad entrare
in contatto con artisti di spiccata fama internazionale, fino a ricoprire il ruolo di direttore della Galleria di Arte Moderna di
Forte dei Marmi. Polacci dipinge i luoghi a
lui cari, appunto la Versilia, regione nordoccidentale della Toscana, con la quale intrattiene un dialogo lineare, riproducendo e riducendo i suoi componenti, come
le montagne, i blocchi di marmo e i pini
marittimi, alla loro essenzialità­e sintesi.
La mostra rimarrà aperta dal 23 novembre al 15 dicembre, con ingresso gratuito.
Educação
Excelência
reconhecida
Fundação Torino, fundada em 1975, em Belo Horizonte, se
destaca pela formação de excelência inspirada na cultura
italiana, que já rendeu diversos prêmios internacionais
U
m pouco da Itália está presente em Belo
Horizonte há 38 anos.
Tudo começou com os
filhos dos funcionários italianos
que chegavam à capital mineira
para trabalhar em uma indústria
automobilística. Hoje, a Fundação
Torino oferece a todos — e não
apenas a descendentes de italianos — a oportunidade de buscar
um conhecimento diferenciado e
completo, proporcionado por uma
respeitada escola internacional.
A escola forma alunos da educação infantil ao ensino médio (Scuola
Materna, Scuola Elementare, Scuola
Media e a Scuola Superiore) com duas
opções: Liceo Scienze Umane – técnico
em administração) e o Liceo Scientifico. Desde cedo, eles aprendem
durante a alfabetização o português,
o italiano e o inglês, além do espanhol, a partir do primeiro ano da
scuola media, e o latim, que pode ser
aprendido na scuola superiore.
A Fundação aplica o reconhecido
e importante Exame de Estado aos
estudantes da Scuola Superiore. Eles
recebem diploma internacional e
podem estudar em faculdades de 28
países. A diretoria ressalta que tem
a preocupação principal de ensinar
os alunos a pensarem. A leitura,
a conscientização e a informação
são especialidades desenvolvidas
pelos projetos Atentado Poético,
Ecoscienza e Rádio História. Há 10
anos, os moradores de Belo Horizonte são presenteados com obras
literárias. Os alunos saem às ruas
entregando o mundo dos livros a
cada pessoa que encontram. Em
cada livro há uma identificação e
uma recomendação para que quem
o encontre não o aprisione e, após
a leitura, deixe-o novamente livre
para que ele possa ser encontrado e
lido por outra pessoa. O Atentado
Poético é uma iniciativa inspirada
no projeto www.bookcrossing.com,
voltado para a troca de livros e experiências de leitura.
Nos últimos cinco anos, a instituição conquistou mais de 15
prêmios nacionais e internacionais. O Prêmio Cidadãos do Mundo,
iniciativa de apoio e incentivo
aos melhores projetos em prol do
desenvolvimento sustentável, organizado pelo jornal mineiro Hoje
em Dia, foi entregue em 2010, pelo
Via Turismo, na categoria responsabilidade social. O projeto Rádio
História recebeu o prêmio Microsoft Educadores Inovadores, que
reconhece os melhores projetos
educacionais desenvolvidos por professores que utilizam a tecnologia
em sala de aula. A Fundação Torino ficou em 1º lugar na categoria
de escolas particulares. Os projetos
Econscienza e Generocídio – Mapeando e denunciando a violência
contra a mulher em BH, também
foram premiados. Em 2011, durante o III Congresso Internacional de
Gestão Educacional e XII Congresso
Nacional do mesmo tema, o presidente da Fundação Torino, Raffaele
Peano, foi eleito o Gestor Educacional do Ano, premiação entregue a
quem valoriza práticas de sucesso e
gestores de instituições de ensino.
Alunos têm a
oportunidade de viajar
pelo mundo desde o 5º ano
Já na 5ª série, os alunos da Scuola Elementare têm a oportunidade
de fazer seu primeiro intercâmbio
internacional, na Itália. Além de
visitarem várias cidades, como o
Vaticano, Pisa, Florença, Veneza e
Urbino, onde permanecem alguns
dias hospedados no Centro de Arte Corte della Miniera, dividindo
espaço, informação e experiência
com outros estudantes de vários
países. Para a maioria dos alunos,
é a primeira experiência de independência. No Liceo, os horizontes
se ampliam e a viagem educativa
é pela Europa. Durante 15 dias, os
alunos se aprofundam na história,
nos pontos turísticos, no idioma
de quatro capitais: Lisboa, Londres,
Paris e Roma. Eles são acompanhados pelos professores e estudam no
próprio local os conteúdos aprendidos nos livros.
Aos 18 anos, Luiza Raelli Marchi Penna, recém-formada pelo
Liceo Scientifico, tem como plano
inicial ingressar numa faculdade
no Brasil e posteriormente numa
faculdade da França ou no Politécnico de Torino, na Itália, que recebe
um grade número de alunos formados pela Fundação Torino.
Segundo Luiza, durante todo o ano, os professores foram
atenciosos e dedicados às avaliações do Exame de Estado para
que todos consigam conquistar o
desejado diploma internacional.
— No segundo semestre, os professores fizeram um plano de estudo
dedicado às provas escritas e orais.
Fiquei mais atenta com as disciplinas matemática e física. Por fim,
conquistei o que sempre sonhei,
desde quando entrei na Fundação:
ter o meu diploma reconhecido internacionalmente — conta.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
55
ItalianStyle
Das sandálias de plástico aos sapatos metalizados, passando
pelas cores verde-esmeralda e laranja, diversas tendências
dominaram o que foi moda neste verão italiano. E, como
sempre acontece, muitas devem influenciar o verão brasileiro.
Confira alguns acessórios que podem nos servir de inspiração.
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Plástico
Sapatos de plástico foram tendência deste verão. A Furla lançou
toda uma coleção em PVC, com sapatilhas, sandálias de salto e
plataformas. Esta da foto é uma sapatilha na cor laranja, outra marca
forte da estação. O modelo também tem salto embutido de 1 cm.
Preço: € 70 www.furla.com
Animalier
As estampas animais, ou
tigresas, voltaram com
tudo. A Versace propôs uma
coleção inteira de beach wear
em Barocco Animalier. Na
foto, uma calça pantalona
em tecido leve e fresco, ideal
para o verão. O modelo
tem cintura elástica e
bolsos nas laterais, para
ser usado tanto na praia
quanto na cidade.
Preço: € 375
www.versace.com
Verde-esmeralda
Fotos: Divulgação
A coleção primavera-verão 2013 da Dolce &
Gabbana foi inteiramente dedicada à Sicília
e suas cores. E umas destas cores, o verdeesmeralda, foi eleita a cor da estação na
Itália. O modelo da foto é uma bolsa de mão
em tecido brocado com a estampa floral que
marcou a coleção da grife. De algodão, seda
e viscose, a bolsa tem alça removível.
Preço: € 595
store.dolcegabbana.com
Metalizados
Sapatos metalizados estiveram por
toda a parte. Diversas grifes investiram
neles, como Roberto Cavalli, que lançou
o seu modelo com salto de 14 cm com
strass, glitter e tecido laminado.
A ten
Preço: € 760
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s e t e m br o 2 0 1 3 | c o m u n it à it a lia n a
milão
GuilhermeAquino
Migração
esportiva
s altos custos da vida esportiva em Mi-
O
lão favorecem a mudança dos técnicos
e atletas para as cidadezinhas da periferia. O aluguel de uma quadra coberta de
basquete na capital lombarda custa de 18
a 35 euros por hora. Em Pioltello, distante a poucos quilômetros, o preço cai para
sete euros. Este triste exemplo se repete
em outras modalidades, como a ginástica,
o tênis e o futebol. Por isso, muitas associações e clubes se transferem. E quem
paga é o futuro talento, que perderá horas
preciosas no transporte urbano para treinar. Pode uma coisa destas?
O grande Leonardo
O
homem de Vitruvio é imortal. A
chance de vê-lo de perto, o original,
não acontece a toda hora. Para quem
estiver de visita em Veneza, vale a pena
ir à Galleria della Accademia para encontrar toda a genialidade de Da Vinci. Uma exposição com 52 desenhos
(sendo dez em ambas as faces de uma
mesma folha) representa uma verda-
deira lição artística e científica de um
homem que viveu muito à frente do
seu tempo. A mostra vai até dezembro
e cobre o período entre 1478 e 1516
com documentos, desenhos e códigos
que raramente podem ser vistos juntos,
pois pertencem a diferentes coleções
privadas, museus e bibliotecas italianas
e estrangeiras.
Prêmio
literário
concurso de
O
Imigração
e asilo
ntre os meses de julho e agosto, depois
E
das principais ondas de desembarque
clandestino na ilha italiana de Lampedusa, Milão recebeu cem menores de idade,
dos quais 40% egípcios. A estes, somam-se 500 crianças e adolescentes que vivem
em diferentes comunidades milanesas,
com lotações esgotadas. E, com a possibilidade de uma carestia na Síria, torna
às mentes milanesas o episódio de emergência provocado pela guerra civil na Líbia, em 2011, quando 3.600 refugiados
abandonaram o país, desembarcaram nas
costas italianas e pediram asilo político.
literatura
e de poesia
BrainGnu foi
lançado para
autores,
italianos ou estrangeiros, que
tenham obras
inéditas. No estilo de
narrativas, o escritor
pode se aventurar com
até 350 mil batidas, enquanto que, na poesia,
o limite é de 70 páginas. No momento
em que os festivais
italianos de literatura estão em alta e
se dando ao luxo de
cobrar ingressos, os
editores correm atrás de
novidades. Num círculo virtuoso, a editora Prospettiva lançou o prêmio. O prazo
para envio é 30 de novembro. O contato é
o email [email protected]
Eva
sem adão
va Riccobono, madrinha da 70ª
E
Mostra Cinematográfica de Veneza, é uma diva com os pés no chão,
ou melhor, na areia. Palermitana de
nascimento e milanesa de adoção, a
moça, vestida de Armani, ofusca estrelas cinematográficas. Etérea e fascinante, do alto de seus 1.78 cm e 30
anos, ela empresta sua simpatia e seu
talento de modelo, atriz e apresentadora ao festival ancião, dando um ar
de frescor (de lavanda, se fosse em
Cannes) do melhor do made in Italy:
o culto à estética da beleza.
com unit àit aliana | s etem br o 2013
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IlLettoreRacconta
os últimos integrantes dessa leva de imigração se mudaram para o país em meados da década de 1960. “Nenhum deles voltou para a Itália”, acrescentou.
A maior parte da família se estabeleceu no Bexiga, bairro com forte presença de imigrantes italianos. “Meu tio-bisavô quis abrir um comércio
que pudesse atender a população de imigrantes do lugar; então desde o
início a Basilicata teve como foco a venda de pães tipicamente italianos
e outros produtos do país e continua assim até hoje.”
Apesar de trabalharem no mesmo local há quase cem anos, as
famílias Laurenti e Lorenti não vivem mais no Bexiga, bairro que sofreu
muitas transformações ao longo do último século. “O bairro era formado
quase exclusivamente por imigrantes, mas começou a ter pensões e cortiços,
ficar muito barulhento para as famílias”, explicou Vittorio, que se mudou
com os pais e os dois irmãos para a Vila Olímpia, aos 12 anos de idade.
A especialidade da padaria é o pão caseiro, em São Paulo também
conhecido como pão italiano, que leva apenas farinha de trigo, água, sal e
fermento natural. A receita é a mesma trazida por Filippo Ponzio da Itália
em 1914 e a fabricação do pão de crosta crocante continua artesanal.
P
restes a completar cem anos, a padaria Basilicata foi fundada
e administrada por três gerações de imigrantes italianos. Tudo
começou com a chegada de Filippo Ponzio em 1914, que, às
vésperas da Primeira Guerra Mundial, deixou o sul da Itália em
busca de uma vida melhor no Brasil.
Como grande parte dos italianos que chegaram ao país naquela
época, Ponzio se estabeleceu no bairro paulistano do Bexiga e ali abriu
uma loja de pães e produtos italianos, batizada com o nome de sua região
de origem na Itália. Nascia então a Basilicata, hoje uma das mais tradicionais padarias de São Paulo.
Pertencente à quarta geração de proprietários, Vittorio Lorenti, de
60 anos, sobrinho-bisneto de Ponzio, que literalmente nasceu e cresceu
na loja da família. “Nasci no quintal da padaria; naquele tempo minha
família morava no imóvel ao lado. Desde pequeno vivenciei o cotidiano do
negócio, com dez anos já ajudava meu pai a entregar os pães”.
Os pais de Vittorio deixaram a Itália em 1948, em um navio que partiu
do porto de Nápoles em direção ao Brasil. A mãe, Rafaella Laurenti,
nasceu na cidade de Tramutola, na Basilicata, e o pai, Salvatore Lorenti,
era de Guardavalle, na Calábria. Primos de segundo grau, os dois se
conheceram através de suas famílias e se casaram na Itália. Já no Brasil,
Salvatore começou a trabalhar em padarias, e, algum tempo depois, tornou-se sócio da Basilicata, onde boa parte da família já trabalhava.
“Os primeiros familiares vieram e, à medida que o negócio
foi dando certo, foram chamando os outros”, contou Vittorio. Pelos seus cálculos, mais de 20 membros das famílias Laurenti e Lorenti vieram para o Brasil, sendo que
São Paulo
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Giorgio Mortara em vários momentos com a família reunida no Brasil e na Itália
A produção mensal do pão mais famoso da Basilicata consome
por volta de 75 toneladas de farinha. Diariamente são vendidos cerca
de cinco mil pães do tipo, boa parte para restaurantes e supermercados.
Também são feitos na casa antepastos, patês, massas e doces e vende
queijos, vinhos, azeites e outros produtos tipicamente italianos.
Formado em engenharia química, Vittorio começou a trabalhar em tempo integral na padaria em 1987 e hoje administra o negócio da família com
seus dois irmãos e dois primos. Os cinco se dividem entre a padaria do Bexiga
e o Empório Basilicata, no bairro de Moema. A quinta geração da família
ainda não se interessou pelo negócio, mas Vittorio espera que ao menos um
dos sobrinhos, que estudou gastronomia, venha a trabalhar na padaria.
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Tramutola
saporid’italia
AlineBuaes
A bota em
Florianópolis
Casa comandada pelo chef Gian Paolo Bonfiglioli
oferece pratos que aliam a gastronomia italiana
aos frutos do mar catarinense
F
lorianópolis – Inaugurado em 1996, o restaurante Lo
Stivale, localizado em Florianópolis (SC), é comandado
pelo chef italiano Gian Paolo Bonfiglioli e sua esposa
brasileira, Helena Senhor. Com mais de 40 anos de experiência no ramo gastronômico, era proprietário de dois premiados restaurantes italianos na Dinamarca antes de decidir
abrir novos caminhos no sul do Brasil.
Natural de Bolonha, Bonfiglioli conheceu Helena em 1990
quando ela morava na cidade. Ele estava de passagem para visitar a
família e, em pouco tempo, decidiu vender o restaurante de Copenhague e investir no Brasil junto com a esposa. A escolha por Florianópolis ocorreu após uma tentativa mal sucedida em Porto Alegre.
— O Paolo não se adaptou à capital gaúcha — conta Helena,
natural de Sarandi (RS) e neta de imigrantes italianos de Treviso.
A casa onde hoje funciona o restaurante, na praia de Ponta
das Canas, no norte da ilha de Florianópolis, inicialmente era
para ser a residência do casal.
— Nós compramos a casa para morar e aos poucos fomos
iniciando o restaurante, servindo pratos simples como massas
com molho matricciana e carbonara — explica Helena.
Hoje, o Lo Stivale, que utiliza apenas ingredientes genuinamente italianos, todos importados, com exceção das carnes e
dos peixes, é considerado o melhor estabelecimento italiano do
estado de Santa Catarina pelo Guia Quatro Rodas, o melhor da
cidade pela revista Veja e um dos quatro melhores italianos do
sul do Brasil segundo a revista Viagem. Outro reconhecimento
importante recebido recentemente é o selo Ospitalità Italiana,
promovido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Turísticas da
Itália (Isnart), que certifica a alta qualidade e autenticidade
dos produtos e serviços italianos oferecidos.
Buonfliglioli e Helena supervisionam rigorosamente todos
os serviços da casa, desde a produção dos pratos, servidos à
moda italiana, com opções de entrada, primeiro e segundo
pratos, risotos e sobremesas, passando pela carta de vinhos,
que lista 130 rótulos nacionais e
estrangeiros, até o
atendimento aos
clientes, em um espaço tipicamente
italiano: aconchegante, com jardim
interno com fonte
de água e mesas
em um terraço
com vista para o
cinturão verde ao
redor do restaurante. O casal também supervisiona a compra
dos ingredientes, todos trazidos da Itália, desde massas até os
azeites trufados e de oliva. Um prato que celebra a união entre
a paixão italiana pela gastronomia e as belezas naturais do mar
de Florianópolis é o Risotto al Profondo Mare.
Risotto al Profondo Mare (para 4 pessoas)
Ingredientes:
100g de lula em anéis; 200 g de camarão limpo; 100 g de
berbigão; 100 g de vieira; 100 g de mariscos; 1 e ½ xícara
de vinho branco seco; 2 colheres de sopa de cebola picada;
2 colheres de sopa com manteiga; 3 colheres de sopa de
azeite de oliva; 2 colheres de sopa de molho de tomate;
380g de arroz Carnaroli; 1 e ½ litro de caldo de peixe;
1 colher de sopa de salsinha picada; sal e pimenta a gosto.
Modo de fazer:
Refogue a lula em metade do azeite por alguns minutos.
Junte o camarão, as vieiras e os mariscos e refogue mais
um pouco. Adicione a metade do vinho, coloque o molho
de tomate, abafe, cozinhe por alguns minutos e reserve.
Doure a cebola em metade da manteiga, junte o arroz e
refogue por alguns minutos. Adicione o restante do vinho
branco e deixe evaporar o vinho em fogo alto. Junte aos
poucos o caldo de peixe, quase em ponto de fervura, mexendo de vez em quando (à medida que o arroz for secando, adicione mais caldo). Após 12 minutos, junte os frutos
do mar. Cozinhe por mais cinco minutos e retire do fogo.
Acrescente a salsinha picada, o restante da manteiga e do
azeite, misture bem e sirva imediatamente.
Observação do chef:
Ao risoto com frutos do mar não deve ser adicionado o
queijo parmesão, pois o queijo mata o sabor dos mesmos.
Buon appetito!
Serviço:
Ristorante Lo Stivale
Av. Luiz Boitex Piazza, 4838 - Ponta das Canas, Florianópolis (SC)
Tel.: (48) 3284-2079
E-mail: [email protected]
De quinta-feira a sábado, das 18h à meia-noite.
Aos domingos, das 12h às 16h
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la gente, il posto
ClaudiaMonteiroDeCastro
La fattorietta
Q
uem pode imaginar que,
a vinte minutos a pé do
Vaticano, existe uma fazendinha, com porcos, burrinhos,
galos, ovelhas e cabras? La Fattorietta (lafattorietta.org) é uma
agradável surpresa na caótica
Roma. O endereço já evoca um
mundo bucólico: vicolo del gelsomino, ou seja, beco do jasmim.
Um programa gostoso, principalmente para crianças, que podem
correr no seu extenso gramado
com vista para a Cúpula de São
Pedro e visitar os animais e acariciá-los. Todos os bichos têm
nome, alguns até nome de gente:
os burrinhos Ernesto e Giulia; os
pôneis Gelsomino, Bella e Ettore;
a vaca Polly; as cabras Mina, Salina, Biancone, Pelo e Ponneso; as
ovelhas Nina, Marcello e Gaetano; o coelho Vasco; a porquinha
Isotta... E os bichinhos adoram
receber um carinho da criançada.
Meu “muso” inspirador
N
ãSobre o relógio biológico feminino já se escreveu de tudo. Todos sabem que, quando chega certa idade, para muitas mulheres, bate aquela vontade de ter filhos. E ninguém segura uma mulher que está louca para ter um bebê. Dizem que o tal
relógio bate na casa dos 30 anos. Hoje, para muitas, bate um pouco atrasado, chegando aos 40. Mas não gosto muito do
termo relógio biológico. Prefiro chamá-lo de “momento de inspiração”. Ou “momento de revelação”, quando se sente no mais profundo da alma que ser mãe é imprescindível. Ou então, quando se sente que não se quer ser mãe. Todas as opções são válidas. Até
os 30 anos, eu estava muito preocupada em viver uma paixão, conhecer o mundo, descobrir minha vocação. Só depois de minha
vinda a Itália, quando tinha 32 anos, o tal momento chegou. Meu “muso” inspirador foi o Adriano. Não falo do grande imperador romano, que inspirou Marguerite Yourcenar a escrever o belíssimo livro Memórias de Adriano, uma autobiografia imaginária
do imperador. Meu Adriano era apenas um menino. Ele era o filho de meu namorado. Na realidade, me “apaixonei” primeiro pelo filho, depois pelo pai. Era um menino doce, inteligente,
curioso, divertido. Nunca vou me esquecer quando eu estava com dor de garganta e ele veio
com uma colherzinha de mel. Opa, pensei, também quero ser mãe!!! Deve ser tão bom.
Fizemos vários programas juntos, fomos a piscinas, corremos no campo, viajamos.
Ele foi a semente que se instalou no meu coração de futura mãe. Outra semente foi
durante uma mostra de arte no Mercado de Traiano sobre esculturas realizadas com
mármore colorido. Numa das salas, um menino de sete anos observava com máxima
atenção um vaso de alabastro, e depois disse ao pai, categoricamente: “Pai, sabe de
uma coisa? Eu não gosto de alabastro”. Só na Itália mesmo uma criança tem
tanto acesso à arte que pode se dar ao luxo de gostar de um material
e menos de outro.
O tempo foi passando, eu fui adiando a maternidade por
razões sentimentais (ora bolas, para ser mãe, é preciso também
um homem que a gente ame e que queira ser pai!), mas o desejo
era absoluto e intenso. Demorou, mas tive meu desejo realizado. E
ter tido filhos aos 40 anos, gêmeos ainda por cima, matando dois
coelhos com uma cajadada só, é uma bênção que devo agradecer
todo dia a Deus, através do meu vizinho, o Papa. Felicidade é
pegar o bonde andando e ainda sentar na janelinha.
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