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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
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CATALOGADO PELA BIBLIOTECA CENTRAL PROFESSOR ANTÔNIO JORGE - UNIMONTES
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Título - Anais do 2º Encontro Internacional de Pesquisadores: esporte, saúde, psicologia e bem-estar
Edição 1 - Ano Edição - 2014
Tipo de Suporte - INTERNET - Editor(a) EDITORA UNIMONTES
Participações Maria de Fatima de Matos Maia et al. (ORGANIZADOR)
421 p. : il. ; 14 x 21 cm.
Evento realizado no período de 27 a 31 de maio de 2014, organização de Maria de Fatima de Matos Maia, Maria Christina Soares Gomes, Berenilde Valéria
de Oliveira Sousa, Fernanda Maia Tolentino.
ISBN 978-85-7739-527-9
1. Ciências da saúde. 2. Psicologia do exercício e saúde. 3. Atividade física. 4. Bioética. 5. Bem-estar. 6. Esportes de rendimento humano. I. Maia, Maria de
Fatima de Matos. II. Gomes, Maria Christina Soares. III. Sousa , Berenilde Valéria de Oliveira. IV. Tolentino , Fernanda Maia. V. Universidade Estadual de Montes
Claros. Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia - GIPESOM. VI. Título. VII. Título: Esporte, saúde,
psicologia e bem-estar
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2014
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Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Anais 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte, Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores
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Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Sumário
EDITORIAL.......................................................................................................................................................................................................... 11
ÁREA - ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE....................................................................................................................... 13
PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E FATORES ASSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA CIDADE DE MONTES CLAROS-MG..............13
PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E FATORES ASSOCIADOS EM ADOLESCENTES DA CIDADE DE MONTES CLAROS-MG.......17
A GESTÃO DA CARREIRA ESPORTIVA: UMA HISTÓRIA A SER CONTADA NO FUTEBOL BRASILEIRO..................................21
A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO:
ESTUDOS COM PROFESSORES REGENTES DE TURMA.......................................................................................................................23
UTILIZAÇÃO DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO........................................................27
INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO COM OS SINTOMAS CLIMATÉRICOS............................................................31
O MARTELO COMO POSSIBILIDADE DE ABORDAGEM DESCONTRAÍDA DO ATLETISMO NA ESCOLA..............................35
ANÁLISE DE PREFERÊNCIA DE INCLUSÃO DE MODALIDADES ESPORTIVAS NO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA
ESCOLA NA CIDADE JANUÁRIA - MG........................................................................................................................................................39
ÁREA - PSICOLOGIA DO EXERCÍCIO E SAÚDE....................................................................................................... 41
NÍVEL MOTIVACIONAL DOS ADOLESCENTES DE 10 A 14 ANOS QUE FREQUENTAM O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO....41
TRANSTORNOS MENTAIS MENORES EM MULHERES DE UMA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA..........................................45
VERIFICAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS DE RISCO ACERCA DAS RELAÇÕES SEXUAIS DE ACADÊMICOS DOS
CURSOS DE FÍSICA E QUÍMICA ..................................................................................................................................................................49
DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA E A PSICOLOGIA: POSSÍVEIS INTERLOCUÇÕES.......................................................53
AFASIAS FLUENTES E NÃO FLUENTES: ABORDAGEM TERAPÊUTICA.............................................................................................57
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA O PARADESPORTO AQUÁTICO ....................................................................................61
ÁREA - BEM-ESTAR.................................................................................................................................................63
COMPORTAMENTO DE RISCO RELACIONADO AO USO DE TABACO EM CURSO DA ÁREA DE SAÚDE..............................63
A PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA ESPORTIVA NA SAÚDE MENTAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
FÍSICA PROVENIENTE DE LESÃO MEDULAR...........................................................................................................................................67
USO DE CANNABIS SATIVA POR UNIVERSITÁRIOS DE UM CURSO DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E
TECNOLÓGICAS...............................................................................................................................................................................................71
CULTURA DE PAZ: TRABALHANDO A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA........................................................75
ACURÁCIA DA ESTRUTURA FATORIAL DA ESCALA DAS ATIVIDADES DE HÁBITOS DE LAZER EM FUNÇÃO DE
VARIÁVEIS DESENVOLVIMENTISTAS..........................................................................................................................................................79
5
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores
QUALIDADE DE VIDA DOS DOCENTES DA ÁREA DA SAÚDE DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO NORTE
DE MINAS GERAIS............................................................................................................................................................................................83
PERCEPÇÃO DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS SOBRE A INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO NA QUALIDADE DE VIDA .......87
SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA...............................................91
ÁREA - ESPORTE E RENDIMENTO HUMANO.........................................................................................................95
AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE EM ESCOLARES DE JANUÁRIA-MG..............................................................................................95
ANÁLISE DO EQUÍLIBRIO DINÂMICO E ESTÁTICO DE PRÉ-ESCOLARES DA CIDADE DE JANUÁRIA-MG............................99
CULTURA DE GÊNERO DAS MODALIDADES DE ACADEMIA.......................................................................................................... 103
COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO OBTIDO NO DROP JUMP E NO SALTO SOBRE BARREIRA ........................................... 109
EFEITOS DO TREINAMENTO RESISTIDO COMBINADO COM TREINAMENTO FUNCIONAL NA QUALIDADE DE
VIDA DE IDOSOS............................................................................................................................................................................................113
FLEXIBILIDADE, FORÇA ABDOMINAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES SOBREVIVENTES DE
CÂNCER DE MAMA.......................................................................................................................................................................................117
ACADEMIAS DE GINÁSTICA: UM OLHAR ACERCA DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NO MERCADO FITNESS.....................121
ÁREA - BIOÉTICA...................................................................................................................................................125
A PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO QUANTO À DOAÇÃO DE ÓRGÃOS............................................................................................125
A BIOÉTICA NOS CUIDADOS PALIATIVOS DE PACIENTES PEDIÁTRICOS: REVISÃO DA LITERATURA................................129
A PRIVACIDADE E A ACONFIDENCIALIDADE DAS INFORMAÇÕES NA SAÚDE À LUZ DA BIOÉTICA.................................133
ATUAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DE MINAS GERAIS.........................137
INSERÇÃO DO CONTEÚDO PLANTAS MEDICINAIS EM CURSOS DA ÁREA DE SAÚDE DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE MONTES CLAROS, MINAS GERAIS, BRASIL..............................................................................................................141
PONDERAÇÕES DO ENSINO DE BIOLOGIA NA ESCOLA ESTADUAL MONSENHOR GUSTAVO.........................................145
DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS NA CONCEPÇÃO BIOÉTICA..........................................................................................149
ÁREA - CIÊNCIAS DA SAÚDE................................................................................................................................ 153
A IMPORTÂNCIA DO SONO NOTURNO NA SINCRONIZAÇÃO DOS RITMOS CIRCADIANO E DIA/NOITE.......................153
ACIDENTE OCUPACIONAL COM MATERIAL BIOLÓGICO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO..............................................157
O MANEJO DO PACIENTE COM DOR TORÁCICA NA SALA DE EMERGÊNCIA...........................................................................161
ALEITAMENTO MATERNO E PROFISSIONAIS DE SAÚDE: CONHECIMENTO E FORMA DE ABORDAGEM
DURANTE O PRÉ-NATAL............................................................................................................................................................................. 165
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL NO ÂMBITO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA.......... 169
ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO PLANEJAMENTO FAMILIAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.....................................173
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NA PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS........................177
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DAS MULHERES DE MONTES CLAROS ACERCA DO ALEITAMENTO MATERNO..............181
6
Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE: A PERSPECTIVA DO USUÁRIO.......................................... 185
AVALIAÇÃO DOS VINTE E DOIS PRIMEIROS TRANSPLANTADOS DE FÍGADO DE UM HOSPITAL DO NORTE DE MINAS.... 189
ANÁLISE DE PRÁTICAS E CONHECIMENTOS RELACIONADOS À SAÚDE BUCAL DOS PAIS/RESPONSÁVEIS
PELAS CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA INFANTIL DA UNIMONTES: RESULTADOS PARCIAIS......................................193
CONHECIMENTO DE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS EM RELAÇÃO À ABORDAGEM DA CRIANÇA VÍTIMA DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA..............................................................................................................................................................................197
EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO E DO CONSUMO CRÔNICO DO SUCO DE UVA EM RATOS WISTAR ADULTOS................... 201
EFEITOS FISIOLÓGICOS DA FARINHA DE BANANA VERDE (Musa canvendish)........................................................................ 205
EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL EM PIRAPORA............................................................................................................... 209
MÃES QUE CUIDAM DE FILHO(A) S COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA PERSPECTIVA DE GÊNERO..............................213
PERFIL CLÍNICOS SOCIAL E HÁBITOS DE HIGIENE BUCAL DE PUÉRPERAS ATENDIDAS EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO......217
PERFIL DE USUÁRIOS HIPERTENSOS CADASTRADOS EM UMA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA.................................. 221
PERFIL E PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS PESQUISADORES BRASILEIROS DO CNPq EM PERIODONTIA........................... 225
RESVERATROL AUMENTA A TERMOGÊNESE NO TECIDO ADIPOSO MARROM, AUMENTANDO SIRT1, GASTO
DE ENERGIA E DIMINUINDO O ACÚMULO DE GORDURA NO TECIDO ADIPOSO DE CAMUNDONGOS
ALIMENTADOS COM DIETA PADRÃO..................................................................................................................................................... 229
VIOLÊNCIA URBANA: UMA ANÁLISE DOS CASOS OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS, MINAS
GERAIS – BRASIL........................................................................................................................................................................................... 233
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO E CLÍNICO ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA EM
MULHERES NO CLIMATÉRIO..................................................................................................................................................................... 237
A ESTRATEGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E SEU IMPACTO SOBRE AS MORBIDADES HOSPITALARES NO
NORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS..................................................................................................................................................241
PROTÓTIPO DE UM SOFTWARE PARA APOIO À SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM....................... 245
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇAS COM ANEMIA FALCIFORME INTERNADAS NA PEDIATRIA DE
UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ................................................................................................................................................................ 249
PERFIL ANTROPOMÉTRICO E CAPACIDADE FUNCIONAL DE MULHERES INSTITUCIONALIZADAS NO
MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS, MG.................................................................................................................................................. 253
PREVENÇÃO E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA.............................. 257
PERFIL DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM UMA CIDADE DO NORTE DE MINAS GERAIS-BRASIL.........................261
PERCEPÇÃO MATERNA SOBRE A CRIANÇA INTERNADA EM UTI COM DIAGNÓSTICO DE MALFORMAÇÃO
CONGÊNITA.................................................................................................................................................................................................... 265
INTENSIDADE DE COLONIZAÇÃO DO TRATOGASTROINTESTINAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS POR
LACTOBACILOS E ENTEROBACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS............................................................................................................. 269
O PET- SAÚDE E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE E ACADÊMICOS................................................................. 273
INFLUÊNCIA DA RENDA NO CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS DE JOÃO PESSOA.......... 277
AVALIAÇÃO DO ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE EM UM MUNICÍPIO NO NORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS..... 281
CUIDADOS BUCAIS: HIGIENIZAÇÃO DE LÍNGUA NA PRÁTICA DA ENFERMAGEM................................................................. 285
7
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO ENDOTELIAL E MARCADORES LABORATORIAIS DE ESTRESSE OXIDATIVO NO DIABETES.........289
ANÁLISE DA PROPORÇÃO 2D:4D EM PACIENTES COM FISSURA LABIAL E/OU PALATINA NÃO SINDRÔMICA........... 293
A EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA.................................................................................................................................................................................................. 297
EFEITOS METABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE ABACATE, COCO E PEQUI NA RAÇÃO DE RATOS
WISTAR­­.............................................................................................................................................................................................................. 301
EFEITOS METABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇÃO COM BANHA DE PORCO, GORDURA VEGETAL HIDROGENADA
E ÓLEO DE LINHAÇA NA RAÇÃO DE RATOS WISTAR....................................................................................................................... 305
A IMPORTÂNCIA DA DETECÇÃO PRECOCE FRENTE AO DESAFIO DO CÂNCER DE MAMA................................................. 309
A INFLUÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE E DA RELIGIOSIDADE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO: A PERCEPÇÃO DA
PESSOA COM CÂNCER.................................................................................................................................................................................313
DETERMINAÇÃO DA PRESENÇA DE HELICOBACTER PYLORI EM CÂNCER GÁSTRICO.............................................................317
CONHECIMENTO DOS FATORES DE RISCO E DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE MAMA ENTRE USUÁRIAS DA
ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA.............................................................................................................................................................321
DIVERSIDADE DE ENTEROBACTERIACEAE E LACTOBACILLUS SP EM TRATO GASTROINTESTINAL DE ANIMAIS
SUBMETIDOS À INGESTÃO ALCOÓLICA E TERAPÊUTICA COM BACTÉRIA PRESUNTIVAMENTE PROBIÓTICA............. 325
INCIDÊNCIA DE INFECÇÕES HOSPITALARES EM UM SERVIÇO DE NEFROLOGIA EM MONTES CLAROS-MG................ 329
AVALIAÇÃO DO RISCO DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS ..................................................... 333
DESEQUILÍBRIO E INCOORDENAÇÃO MOTORA: A ATAXIA............................................................................................................ 337
O ENFRENTAMENTO DO (A) IDOSO (A) EM PROCESSO DE LUTO SOB O ENFOQUE DE GÊNERO..................................... 341
PREVALÊNCIA DA ESQUISTOSMOSE MANSÔNICA EM UMA COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO
NORTE DE MINAS, MG, BRASIL................................................................................................................................................................ 345
PREVALÊNCIA E COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE ENTRE IDOSOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA............................... 349
GERENCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UM SERVIÇO DE PRONTO ATENDIMENTO....................................... 353
CARACTERIZAÇÃO DE MULHERES QUE SOFRERAM ABORTO, ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA........ 357
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO E CLÍNICO ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES
NO CLIMATÉRIO............................................................................................................................................................................................ 361
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE AUTOCUIDADO DAS MULHERES CLIMATÉRICAS PORTADORAS DE
DIABETES MELLITUS TIPO 2 ..................................................................................................................................................................... 365
OBESIDADE NO CLIMATÉRIO: FATOR DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS
CARDIOVASCULARES.................................................................................................................................................................369
SOBREPESO E OBESIDADE EM MULHERES CLIMATÉRICAS PORTADORAS DE DM2 ASSISTIDAS NAS ESFS DA
CIDADE DE MONTES CLAROS................................................................................................................................................................... 373
INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM COMUNIDADE QUILOMBOLA NO NORTE DE MINAS GERAIS........ 377
EFEITO DO ENVELHECIMENTO FISIOLÓGICO NA FUNÇÃO PULMONAR: ANÁLISE COMPARATIVA DA MEDIDA DO
PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO ENTRE ADULTOS E IDOSOS .......................................................................................................... 381
PROPOSTA DA UTILIZAÇÃO DE UMA NOVA TECNOLOGIA PARA O APRENDIZADO EM MORFOLOGIA
MICROSCÓPICA............................................................................................................................................................................................. 387
8
Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
PERCEPÇÃO DOS PACIENTES SOBRE SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS PRESTADOS POR ACADÊMICOS........................... 391
DOENÇA COMO PUNIÇÃO OU SAÚDE COMO DIREITO: O DISCURSO DA PESSOA PRIVADA DE LIBERDADE SOBRE
O CUIDADO À SAÚDE NO CÁRCERE EM MONTES CLAROS/ MG E AS RECOMENDAÇÕES DO PLANO NACIONAL DE
SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO.................................................................................................................................................... 395
AVALIAÇÃO DA POSIÇÃO CONDILAR EM PACIENTES COM DTM ANTES E APÓS TERAPIA COM PLACA
INTEROCLUSAL ESTABILIZADORA POR MEIO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA..................................................... 399
LEPTINA NA GÊNESE E MANUTENÇÃO DA OBESIDADE................................................................................................................. 403
PÉ TORTO CONGÊNITO: OS SENTIMENTOS DAS MÃES DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE UM FILHO................................. 407
A VIGILÃNCIA EM SAÚDE COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA................................................ 409
IMPLANTE INSTALADO APÓS EXODONTIA E SUBMETIDO A ESTÉTICA IMEDIATA................................................................413
AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO AUTOCUIDADO DE PACIENTES DIABÉTICOS ..............................................................................417
9
Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
E D ITO R IAL
A ciência ao serviço da causa humanitária
José Vasconcelos-Raposo e Jaime Tolentino Miranda Neto
Na sequência do que foi o I Encontro de Pesquisadores em Esporte,Saúde, Psicologia e Bem-Estar,
por várias razões, tornou-se natural a organização da segunda Edição deste evento Científico.
Antes de mais, importa realçar o compromisso das instituições e das personalidades envolvidas
para com a ciência, tal como esta, nos tempos modernos tende a tipificar-se: prática multidisciplinar. É
uma evidência incontornável que a pesquisa de carácter monodisciplinar tem maiores resistências quer
a nível dos grandes financiamentos quer na divulgação dos resultados obtidos em fóruns de referência.
Este motivo, por si só, quase justificaria a organização deste evento. Porém a experiência acumulada e a
praxis de gestão de projetos científicos leva a que os organizadores reconheçam a necessidade de criar
caminhos para o que se deseja ser a construção de uma nova cultura científica para uma comunidade
profissional em que um dos seus pilares fundamentais seja a partilha, construída num diálogo aberto e
intelectualmente íntegro.
A realidade do mundo atual dita que o tempo para uma visão romântica da Educação e, consequentemente, da Investigação científica se esgota, rapidamente, e que é da maior importância repensar
os paradigmas que estiveram na base do todo que nos trouxe ao que de bom e de mau se instalou na
sociedade moderna e em particular nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil e Portugal.
A nova geração de Educadores deverá continuar a procurar os saberes a transmitir na pesquisa científica. No entanto, mais do que nunca está instalada nas massas populares o sentimento do direito à indignação
e que nos tempos que correm assume forma no protesto, na reivindicação por soluções para os problemas
mais prementes que como membros da sociedade vivenciam. A ciência, não poderá continuar a estar ao serviço exclusivo dos interesses económicos concentrados numa pequena parcela da população. A ciência é,
na sua vasta maioria, financiada por fundos públicos e por esse motivo tem alguma razão aqueles que argumentam que esta deve priorizar a resolução dos problemas básicos do Povo. Pretende-se que em substituição de uma ciência instrumentalizada por quem deseja controlar ou minimizar os direitos humanos, ao abrigo de uma ideologia subjetiva, traduzida na defesa da objetividade científica, o desenvolvimento de uma
ciência comprometida e íntegra no processo e na forma.
A defesa de uma dita prática de ciência objectiva desfaz-se face às evidências. Ao nível metodológico requerem-se novas formas de relatar dados. Antes, perante os valores de p obtidos nos estudos avançavam-se
argumentos e teorizações. Hoje, esse critério é claramente insuficiente. As decisões com base nos testes estatísticos devem estar alicerçados em outros parâmetros complementares, nomeadamente a dimensão dos
efeitos e os intervalos de confiança. O trabalho multidisciplinar, ao promover o diálogo entre paradigmas e
perspetivas filosóficas, contribuiu para o processo ativo de repensar a forma como as estatísticas têm sido
usadas na construção do conhecimento. Tornou-se evidente que os critérios absolutos da matemática são
incompatíveis com a noção de erro que consolida o pensamento científico. Estas constatações resultam, em
parte, do processo de democratização do pensamento científico.
Deixou de ser possível defender a existência de uma só realidade: esgotou-se um dos elementos
centrais do positivismo lógico. Agora, a experiência de se ser mulher permitiu avanços expressivos na
forma de entender fenómenos e de resolver problemas. Os fatos são vistos pelos olhos de quem já viveu a pobreza e outro tipo de experiências marcantes. A ciência deixou de ser propriedade de uma classe social privilegiada. Hoje espera-se de cada cada homem e de cada mulher que procurem fazer no
imediato aquilo que lhes permita serem melhores amanhã do que hoje e que estejam conscientes que
devem ser tolerantes face à diferença na virtude e na opinião dos outros, desde que não sejam ofensivas para com os valores maiores, em torno dos quais se constrói uma sociedade que se quer mais conhecedora, mais humanista e mais justa.
Resultante dos debates académicos e políticos nasce a necessidade de “apaziguar” as revoltas sociais e os homens e mulheres que se dedicam à pesquisa científica deverão procurar formas para inten11
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores
sificar a utilidade prática do seu trabalho. É desta necessidade que emerge a da construção de “pontes”
multidisciplinares e de construção de projetos que contribuam ativamente para a construção de uma
sociedade mais justa, mais solidária e fraterna entre indivíduos, sociedades e povos.
Com a organização deste evento, procuramos estabelecer condições para que num contexto fraterno e despido de rivalidades “Banais” seja possível a aproximação afetiva e intelectual entre os seus
participantes que assim, mais facilmente, se encontrarão em torno de valores e causas comuns que se
espera sejam transformados em projetos de pesquisa científica, mas também em relações humanas
saudáveis e duradouras e fundamentalmente ao serviço do bem-estar da Humanidade.
12
Área - Atividade Física e Saúde
ÁREA - ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
PR ÁTIC A DE ATIVIDADE FÍSIC A E FATORES
ASSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA CIDADE DE
MONTES CL AROS - MG
Marcela Oliveira Nepomuceno
Rafael Silveira Freire
Fernanda Iully de Oliveira Lélis
José Alair da Fonseca Filho
Andrea Maria Eleutério de Barros Lima Martins
Marise Fagundes Silveira
[email protected]
Introdução
A atividade física é qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que
resulte em gastos energéticos maiores que os níveis
de repouso (CASPERSEN, 1985). A prática de atividade física, adequada às condições individuais e com
a devida instrução, traz benefícios físicos, psicológicos e sociais na idade adulta, contribuindo para
manutenção das funções físicas e cognitivas, e consequentemente promovendo uma maior independência na velhice (SANTOS,2006).
A atividade física tem sido um meio de preservar e melhorar a saúde e a qualidade de vida do ser
humano (BAPTISTA, 2000). As principais melhorias
à saúde advinda da prática de atividade física referem-se aos aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Na dimensão
psicológica, a atividade física atua na melhoria da
autoestima, do autoconceito da imagem corporal,
das funções cognitivas e de socialização, na diminuição do stress e da ansiedade e na diminuição do
uso de medicamentos (MATSUDO, 2000). No entanto, como resultados da mudança de vida e de trabalho, o número de praticantes de atividades físicas na
idade adulta é pequeno e a maioria das ocupações
requer baixo gasto energético (SÁVIO et al., 2008).
Sendo assim, o sedentarismo está associado às mudanças no estilo de vida das pessoas, advindas da
revolução tecnológica, como a utilização maciça
de automóveis, escadas rolantes e elevadores, bem
como assistir à televisão e usar computadores (JESUS, 2012).
Estudos têm apontado prevalências importantes de obesidade, diabetes e hipertensão arterial na
população adulta brasileira (MOREIRA et al., 2013).
Sabe-se que esses agravos estão significantemente
associados ao sedentarismo; além disso, recentemente tem-se demonstrado uma importante relação entre a intensidade de exercícios físicos e a
resposta imunológica, pois estudos evidenciaram
menor prevalência de alguns tipos de câncer em
grupos de pessoas mais ativas.
Nesse contexto, o objetivo da presente investigação foi estimar a prevalência da prática regular de
atividade física e fatores associados entre adultos
residentes no município de Montes Claros-MG.
Material e métodos
Estudo transversal de base populacional no qual
foram utilizados dados coletados durante o levantamento epidemiológico das condições de saúde bucal
da população de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil
(Projeto SBMOC) (MARTINS et al., 2012), conduzido nos
anos de 2008 e 2009 e aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Parecer 318/06). A amostra foi constituída por 841
indivíduos com idade entre 35 e 44 anos.
Adotou-se a amostragem probabilística por conglomerado em dois estágios. No primeiro estágio,
foram sorteados, por amostragem aleatória simples
13
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
(AAS), 52 setores censitários; e, no segundo, também
por AAS selecionaram-se, em média, seis quadras em
cada um dos 52 setores previamente selecionados. Todos os domicílios das quadras foram visitados e seus
residentes com idade entre 35 e 44 anos, foram convidados a participar desse inquérito. Foram realizadas
entrevistas com profissionais treinados que utilizaram
um computador de mão (palmtop) para o registro das
informações coletadas. As entrevistas foram realizadas
mediante a autorização dos participantes, através de
termos de consentimento livre e esclarecido.
Para a presente investigação, consideraram-se
as seguintes variáveis: prática de atividade física (ativo e não ativo); cor de pele autodeclarada (branca,
parda, negra e outras); sexo (masculino e feminino);
idade (abaixo de 40 anos e 40 anos ou mais); estado
civil (casado/união estável, solteiro, viúvo/divorciado);
escolaridade (acima de oito anos de estudo e até oito
anos de estudo); trabalha (sim e não); presença de alguma doença crônica (sim e não); uso de medicamentos
(sim e não); hábitos tabagistas e etilistas (sim e não) e
qualidade de vida (satisfatória e insatisfatória). A classificação dos indivíduos como ativo ou não ativo foi avaliada através da pergunta “Com que frequência você
pratica atividade física?” Aqueles que responderam
“sempre” ou “frequentemente” foram considerados ativos, e aqueles que responderam “às vezes”, “raramente” ou “nunca” foram classificados como não ativos. A
qualidade de vida foi avaliada por meio do instrumento 12-Item Short-Form Health Survey (SF12) (SILVEIRA et
al., 2013), no qual foram calculados os escores de dois
domínios, o físico (Physical Component Summary ou
PCS) e o mental (Mental Component Summary ou MCS),
que podem assumir valores em uma escala que varia
de zero a cem. Os indivíduos com escores superiores à
mediana da distribuição foram considerados com qualidade de vida satisfatória, caso contrário, insatisfatória.
Todas as variáveis foram descritas pelas frequências simples e relativas, e a associação entre o desfecho
“prática regular de atividade física com as demais variáveis” foi estimada pela razão de prevalência (RP), através do modelo de regressão múltipla de Poisson, com
variância robusta. Inicialmente foram realizadas análises bivariadas por meio do teste do Qui-quadrado, e
as variáveis que apresentaram nível descritivo (valor-p)
até 0,20 foram selecionadas para o modelo múltiplo.
Na análise múltipla foi adotado nível de significância
de 0,05 e o teste da Deviance para avaliar a qualidade
de ajuste do modelo.Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa PASW 17.0.
Resultados e Discussão
A amostra foi constituída por 841 indivíduos com
média de idade de 39,5 anos, dos quais 461 (54,8%)
eram mulheres e 407 (48,4%) encontravam-se na faixa
etária entre 40 e 44 anos. Apenas 20,7% declararam
praticar atividade física regularmente. A distribuição
dos adultos segundo as demais variáveis investigadas
estão apresentada na Tabela 1.
Tabela 1: Distribuição dos adultos segundo características sociodemográficas, comportamentais e de saúde geral.
Montes Claros, MG- 2008/2009.
Variáveis
n*
%
Variáveis
Atividade
física
Idade
Não ativo
Ativo
< 40 anos
≥ 40 anos
Sexo
Feminino
Masculino
Cor de pele
Branco
autodeclarada Pardo
Negro
Outro
666
174
434
407
461
380
236
433
132
40
79,3
20,7
51,6
48,4
54,8
45,2
28,1
51,5
15,7
4,8
Trabalha
Estado civil
149
615
77
472
369
17,7
73,1
9,2
56,1
43,9
Escolaridade
Solteiro
Casado
Viúvo/divorciado
> 8 anos
≤ 8 anos
*Os totais variam devido às perdas de informações.
14
n*
%
Sim
Não
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
612
225
433
404
628
213
635
206
73,1
26,9
51,7
48,3
74,7
25,3
75,5
24,5
Consome bebida
alcoólica
Não
Sim
486
355
57,8
42,2
QV
Domínio físico
QV
domínio mental
Satisfatório
Insatisfatório
Satisfatório
Insatisfatório
413
411
423
415
50,1
49,9
50,5
49,5
Doença crônica
Uso de
medicamentos
Fuma
Área - Atividade Física e Saúde
Através da regressão de Poisson, verificaram-se
as seguintes variáveis associadas à prática regular de
atividade física entre adultos: ser do sexo masculino
(RP=1,77), ter maior escolaridade (RP=1,40) e apresentar
maiores níveis de qualidade de vida relacionada aos aspectos mentais (RP=1,43) (Tabela 2).
Tabela 2: Modelo de regressão múltipla de Poisson: fatores associados à prática regular de atividade física entre
adultos. Montes Claros, MG- 2008/2009.
Variáveis
Sexo
Escolaridade
QV
domínio mental
Masculino
Feminino
> 8 anos
≤ 8 anos
Satisfatório
Insatisfatório
Ativo
n
105
69
110
64
104
68
%
27,6
15,0
23,4
17,3
24,6
16,4
RP (IC95%))
Valor-p
1,77(1,33-2,35)
1,00
1,40(1,07-1,84)
1,00
1,43(1,09-1,87)
1,00
0,000
0,016
0,011
RPa(IC95%): Razão de prevalência ajustada (intervalo de 95% de confiança); QV: qualidade de vida;Teste de Deviance: valor-p=0,610.
A prevalência de inatividade física encontrada
(79,3%) foi maior que as observadas em vários estudos entre adultos em outros municípios brasileiros,
no entanto, as metodologias empregadas nesses estudos adotaram o instrumento IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física) para avaliar o nível de
atividade física dos indivíduos. Em um estudo realizado em Ribeirão Preto (SP), também foi observada
baixa prevalência de prática de atividade física entre
adultos de ambos os sexos; destacou-se ainda que
trabalho, renda per capita, escolaridade, uso de medicamentos foram os principais fatores associados
à inatividade física (SUZUKI, 2011). Em outro estudo,
realizado na cidade de Joaçaba (SC), foi observado
que a inatividade física apresentou-se associada positivamente aos indivíduos com oito anos ou mais de
estudos, àqueles que não trabalhavam ou não eram
aposentados, indivíduos com renda mensal superior
a mil reais, e ainda se verificou uma proporção maior
de indivíduos inativos entre aqueles com o IMC
maior do que 29,9 kg/m² e menor do que 18,5 kg/m²
(BARETTA, 2007).
No presente estudo, foram identificadas maiores
prevalências de prática regular de atividade física entre
adultos do sexo masculino em comparação ao feminino, esse resultado pode ser explicado por diferenças
biológicas, socioculturais, de percepção de corpo e
atributos de gênero, pois, desde a infância, são atribuídos papéis sociais segundo gênero que influenciam as
escolhas de prática de atividade física (JUNIOR et al.,
2012)
Um resultado importante observado na presente
investigação refere-se à maior prevalência de atividade
física entre adultos com maior escolaridade, revelando
desigualdade social no acesso a espaços físicos e na
disponibilidade de tempo para a prática de atividade
física. A percepção positiva do estado mental da saúde
também se apresentou associada à prática regular de
atividade física, confirmando a hipótese de que a atividade física tem impacto positivo sobre a autopercepção da saúde dos indivíduos.
Conclusões
Diante da constatação da baixa prevalência de
prática regular de atividade física (20,8%) no grupo
etário estudado, é fundamental que sejam desenvolvidas ações entre a população adulta de Montes Claros,
especialmente entre as mulheres, visando a estimular
a prática de atividade física e a conscientizar essa população sobre os seus benefícios físicos, psicológicos
e sociais, que poderão contribuir para maior independência na velhice.
Referências
BAPTISTA, P. B. Epidemiologia da atividade física. Revista SOCERJ, v. 8, p. 173-174, 2000.
BARETTA, E.; BARETTA, M.; PERES, K. G. Nível de atividade física e fatores associados em adultos do município de
Joaçaba, Santa Catarina, Brasil. Cad Saúde Pública, v.23, n.7, p.1595-1602, 2007.
CASPERSEN, C. J. MATHHEW, M. Z. Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions and distinction for
15
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
health- relates research. Public health Reports. Rockville, v. 100, n. 2, p. 172-179, 1985.
JESUS, G. M.; JESUS, E. F. A. Nível de atividade física e barreiras percebidas para a prática de atividades físicas entre
policiais militares. Rev Bras Ciênc Esporte, v. 34, p. 433-448, 2012.
JUNIOR, C. F. J.; LOPES, A. S.; MOTA, J.; HALLAL, P. C. Prática de atividade física e fatores associados em adolescentes no Nordeste do Brasil. Rev Saúde Pública, v. 46, p. 505-15, 2013.
MARTINS, A. M. E. B. L.; GUIMARÃES, A. L. S.; DE PAULA, A. M. B.; HAIKAL, D. S.; SILVEIRA, M. F. Levantamento epidemiológico das condições de saúde bucal da população de Montes Claros - MG -Projeto SBMOC. Revista Unimontes Científica, v. 14, n.1, p. 3-14, 2012.
MATSUDO, S. M. M.; MATSUDO, V. K. R.; BARROS NETO, T. L. Efeitos Benéficos da Atividade Física na Aptidão Física e
Saúde Mental Durante o Processo de Envelhecimento. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, p. 60-76,
2000.
MOREIRA, J. P. L.; MORAES, J. R.; LUIZ, R. R. Prevalence of self-reported systemic arterial hypertension in urban and
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SANTOS, S. C.; KNIJNIK, J. D. Motivos de adesão à prática de atividade física na vida adulta. Revista Mackenzie de
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SÁVIO, K. E. O.; COSTA, T. H. M.; SCHMITZ, B. A. S.; SILVA, E. S. Sexo, renda e escolaridade associados ao nível de atividade física de trabalhadores. Revista Saúde Pública, v.42, n.3, p.457-463, 2008.
SILVEIRA, M. F.; ALMEIDA, J. C.; FREIRE, R. S.; HAIKAL, D. S.; MARTINS, A. M. E. B. L. Propriedades psicométricas do
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SUZUKI C. S.; MORAES, A. S.; FREITAS, I. C. M. Atividade física e fatores associados em adultos residentes em Ribeirão Preto,SP. Rev Saúde Pública, v. 45, n. 2, p. 311-320, 2011.
16
Área - Atividade Física e Saúde
PR ÁTIC A DE ATIVIDADE FÍSIC A E FATORES
ASSOCIADOS EM ADOLESCENTES DA CIDADE DE
MONTES CL AROS - MG
Marise Fagundes Silveira
Rafael Silveira Freires
Marcela Oliveira Nepomuceno
Fernanda Iully de Oliveira Lélis
José Alair da Fonseca Filho
Andrea Maria Eleutério de Barros Lima Martins
[email protected]
Introdução
A atividade física (AF) pode ser definida como
qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requer gasto de energia (MOUTÃO, 2005). A prática de AF é fundamental em qualquer
idade, e na adolescência ela se faz muito importante
porque é neste período que ocorrem diversas mudanças corporais, emocionais e comportamentais (GASPAI,
2001).
São inúmeros os benefícios, descritos na literatura,
da prática regular de AF para a saúde dos adolescentes.
Ela aumenta a autoestima, diminui o excesso de peso,
promove o relacionamento social, melhora a postura e
a disciplina, além de auxiliar na composição corporal. A
prática de AF também está associada ao aumento da
força, da agilidade, da flexibilidade, da resistência muscular e da condição cardiorrespiratória e à redução do
estresse, do risco de acidente vascular cerebral, da ansiedade, da depressão, além de melhorias na qualidade
do sono (FERMINO, 2002).
O crescimento da inatividade física está relacionado com as mudanças no estilo de vida das pessoas,
associadas às facilidades advindas da revolução tecnológica, como a utilização de automóveis, escadas rolan-
tes e elevadores e pelo lazer hipocinético, como assistir
televisão, usar computadores e vídeo games (JESUS,
2012). O baixo nível AF tem sido considerado importante fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis. A carga de doenças crônicas não-transmissíveis
atingiu um patamar preocupante para a saúde pública
e com isso, doenças como a obesidade e a hipertensão
arterial, que há poucas décadas figuravam apenas entre grupos restritos da população adulta, agora atingem também crianças e adolescentes de forma semelhante (FERREIRA, 2010).
Embora seja considerado o grupo populacional fisicamente mais ativo, a adolescência é um período em
que a proporção de indivíduos inativos é elevada (ROMAM et al.,2008). Além dos efeitos diretos sobre a saúde, a AF na adolescência está relacionada com maior
probabilidade de prática de AF na idade seguinte, pois
os hábitos de AF adquiridos na adolescência podem
predizer o nível de prática de AF na idade adulta (HALLAL et al., 2006).
O presente estudo objetivou estimar a prevalência de prática regular de AF e seus determinantes entre
adolescentes da cidade de Montes Claros-MG.
Material e métodos
Estudo transversal de base populacional que utilizou os dados coletados no Levantamento Epidemiológico das Condições de Saúde Bucal da População de
Montes Claros ou Projeto SBMOC (MARTINS et al., 2012),
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claro (Parecer 318/06). O tamanho amostral para a faixa etária de 15 a 19 anos, de
761 indivíduos, foi definido considerando a prevalência
estimada em 0,50 do evento estudado, nível de confiança (95%) e erro amostral (5,5%). As unidades amos-
trais foram selecionadas por amostragem probabilística por conglomerados em dois estágios. Profissionais
treinados conduziram as entrevistas, cujas informações
foram registradas por anotadores instruídos, utilizando
um computador de mão. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
As características sociodemográficas,comportamentais e de saúde geral investigadas foram: idade,
sexo, cor de pele autodeclarada, estado civil, escolaridade, estuda atualmente, trabalha atualmente, con17
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
sumo de bebida alcoólica, consumo de tabaco, uso
de medicamento, relato de alguma doença crônica e
prática de atividade física. A classificação dos indivíduos como ativo ou não ativo foi avaliada através da
pergunta “Com que frequência você praticou atividade
física nas últimas quatro semanas?” Aqueles que responderam “sempre” ou “frequentemente” foram considerados ativos, e aqueles que responderam “às vezes”,
“raramente” ou “nunca” foram classificados como não
ativos. A qualidade de vida (QV) foi avaliada pelo instrumento 12-Item Short-Form Health Survey (SF-12) sendo calculados dois domínios: o físico (Physical Component Summary ou PCS) e o mental (Mental Component
Summary ou MCS) (GUEDES, 2001). Os indivíduos com
escores superiores à mediana da distribuição (igual a
54,8 para o domínio físico e 55,5 para o domínio mental) foram considerados com QV satisfatória, caso con-
trário, insatisfatória.
Para descrever os adolescentes quanto às suas
características foram utilizadas frequências simples e
relativas. A associação da variável desfecho “prática regular de atividade física” com as demais características
investigadas foi verificada por meio da razão de prevalência (RP), estimada através do modelo de regressão
de Poisson, com variância robusta. Inicialmente foram
realizadas análises bivariadas por meio do teste do
Qui-quadrado e as variáveis que apresentaram nível
descritivo (valor-p) até 0,20 foram selecionadas para o
modelo múltiplo, cujo nível de significância adotado
foi de 0,05. Utilizou-se o teste da Deviance para avaliar
a qualidade de ajuste do modelo final. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se Predictive Analytics Software (PASW)® versão 17.0 para Windows®.
Resultados e discussão
Foram entrevistados 759 adolescentes com média
de idade de 17,1 anos, sendo que 48,2% eram do sexo
masculino e 45,2% declararam praticar regularmente
atividade física. A distribuição dos adolescentes segundo as demais variáveis investigadas estão apresentadas
na Tabela 1.
Tabela 1: Distribuição dos adolescentes segundo características sociodemográficas, comportamentais e de saúde
geral. Montes Claros, MG 2008/2009.
Variáveis
Atividade
física
Idade
Sexo
Cor de pele
Estado civil
Escolaridade
n
%
Variáveis
Ativo
Não ativo
15 anos
16 anos
17 anos
18 anos
19 anos
Feminino
Masculino
Branco
Pardo
Negro
Outros
342
415
157
124
132
162
184
393
363
207
400
106
45
45,2
54,8
20,7
16,3
17,4
21,3
24,2
51,8
48,2
27,3
52,8
14
5,9
Estudante
n
%
Sim
Não
Não
Sim
575
184
561
196
75,8
24,2
74,1
25,9
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
718
40
718
40
612
146
94,7
5,3
94,7
5,3
80,7
19,3
QV:domínio físico
Satisfatório
379
Insatisfatório 375
50,3
49,7
Solteiro
Casado
39
720
5,1
94,9
QV:domínio mental
Satisfatório
371
Insatisfatório 384
40,1
50,9
> 8 anos
≤ 8 anos
Total
594
165
759
78,3
21,7
100,0
Doença crônica
Uso medicamento
Tabagismo
Bebida alcoólica
*Os totais variam devido às perdas de informações
A prática regular de atividade física entre adolescentes apresentou associação estatisticamente significativa com: idade, sexo, ser estudante e qualidade
de vida/domínio mental. Observaram-se maiores prevalências de adolescentes ativos entre aqueles com
18
menor idade (RP=0,94), do sexo masculino (RP=2,22),
que estavam estudando (RP=1,30), que não fumavam
(RP=1,76) e com maiores níveis de qualidade de vida/
domínio mental (RP=1,17) (Tabela 2).
Área - Atividade Física e Saúde
Tabela 2: Modelo de regressão múltipla de Poisson: Fatores associados à prática de atividade física entre
adolescentes. Montes Claros, MG,2008/2009.
Variáveis
Idade
Sexo
Estudante
Fuma
QV:domínio mental
em anos
Masculino
Feminino
Sim
Não
Não
Sim
Satisfatório
Insatisfatório
Ativo
n
236
106
289
53
331
11
198
141
%
64,7
27,0
50,3
29,0
23,4
17,3
53,4
36,9
RPa (IC95%))
Valor-p
0,94(0,89-0,93)
2,22(1,85-2,66)
1,00
1,30(1,01-1,67)
1,00
1,76(1,08-2,86)
1,00
1,17(1,01-1,30)
1,00
0,030
0,000
0,047
0,023
0,049
Teste de Deviance: valor-p=0,617. RPa(IC95%): razão de prevalência ajustada (Intervalo de 95% de confiança).
A prevalência de prática regular de AF (45,2%) observada entre os adolescentes do presente estudo foi
superior ao relatado por adolescentes dos Estados Unidos (34,7%) (EATON et al., 2008), similar aos jovens das
capitais brasileira (43,1%) (HALLAL et al., 2011) e inferior
aos do Nordeste brasileiro (50,2%) (JÚNIOR et al., 2012).
Com relação aos fatores associados à prática regular de AF nesse grupo etário, foi identificada maior
prevalência de adolescentes ativos entre aqueles do
sexo masculino em comparação ao feminino, conforme previamente descrito em outro estudo realizado
em São Paulo (SP) (MARTINS et al.,2012). Com relação
à idade, os adolescentes mostraram uma tendência a
apresentar maior sedentarismo à medida que a idade
aumenta, associação também observada em estudo
realizado em Pelotas (RS)(OEHLSCHLAEGER et al., 2004).
Observou-se maior prevalência de jovens ativos
entre aqueles que não fumavam (RP=1,76), quando
comparados com os que fumavam. Essa associação já
era esperada, pois o tabagismo é descrito como mais
prevalente em indivíduos sedentários e o exercício
físico é considerado fator protetor contra seu início.
Outro resultado importante foi a maior proporção
de jovens fisicamente ativos entre aqueles que estavam estudando. Esse resultado pode ser atribuído à
atuação da educação física escolar, provavelmente os
jovens que estudam estejam também participando
das aulas de educação física. Por outro lado, pode ser
atribuído à relação da escolaridade com a classe social, uma vez que o estado de pobreza representa um
complicador na luta contra o sedentarismo (OEHLSCHLAEGER et al., 2004).
Outro importante resultado desse estudo foi a
associação positiva observada entre a percepção do
aspecto mental da QV e prática regular de AF nesse
grupo etário. Os adolescentes fisicamente ativos se
mostraram mais propensos a perceber sua qualidade
de vida de forma satisfatória. Esse resultado confirma a
hipótese de que praticar AF pode trazer benefícios psicológicos nessa fase da vida.
Conclusão
A prática regular de atividade física foi observada em 45,2% dos adolescentes de Montes Claros e se
apresentou associada a fatores como idade, sexo, ser
estudante, tabagismo e qualidade de vida (aspecto
mental). Observaram-se maiores prevalências de adolescentes ativos entre aqueles com menor idade, do
sexo masculino, que estavam estudando, que não fu-
mavam (RP=1,76) e com maiores níveis de qualidade
de vida/domínio mental. Sendo assim, recomenda-se a
implantação de políticas públicas que estimulem a prática regular de AF nos subgrupos populacionais mais
afetados pelo sedentarismo, especialmente as mulheres e aqueles adolescentes que não estudam.
Referências:
EATON, D. K.; KANN, L.; KINCHEN, S.; SHANKLIN, S.; ROSS, J.; HAWKINS, J. Youth risk behavior surveillance - United States, 2007. MMWR Surveill Summ., v. 4, p. 1-131, 2008.
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Saúde Coletiva, v. 11, p. 97-104, 2010.
19
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
FERMINO, R. C. Desenvolvimento de um instrumento para avaliar barreiras para a prática de atividade física em adolescentes. Paraná, p. 81, 2002.
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20
Área - Atividade Física e Saúde
A GESTÃO DA C ARREIR A ESPOR TIVA: UMA HISTÓRIA
A SER CONTADA NO FUTEBOL BR ASILEIRO
Luciana Ferreira Angelo
Kátia Rúbio
[email protected] ou [email protected]
O Brasil tem, como um dos principais “produtos
de exportação”, os jogadores de futebol - em torno de
oitocentos jogadores profissionais deixam o país ao
ano – e, mesmo assim, mantém uma gama de dezenas
de times com capacidade de competir não só em campeonatos nacionais como internacionais. Atualmente,
esta situação tem sua lógica minimamente invertida
quando da valorização da moeda nacional (real) frente
a outras divisas.
Este fato poderia ser interpretado como um sinal
de superioridade em relação aos centros de formação
de futebolistas, mas, na realidade, a nem sempre conhecida trajetória destes jogadores que se tornaram
profissionais evidencia uma preparação qualitativa dos
jovens para os desafios da profissão e, muito menos,
para os prováveis insucessos.
Segundo Damo (2007), no Brasil, são gastas em
torno de 5.000 horas de treinamento em um período
de 10 anos, focando o aprendizado corporal e quase
nada no aprendizado intelectual. Ao avaliar o mercado de trabalho existente para os atletas profissionais
da modalidade, não é possível encontrar inúmeras opções, já que o mercado não se expande.
Avaliando o mercado de trabalho formal, alterações paulatinas da estrutura etária brasileira possibilitam oportunidades para a economia nacional nos
próximos anos, tendo em vista que o país começa a
atravessar um período de maximização da sua população em idade ativa (dos 15 aos 64 anos) – embora a consequência natural seja a reversão desse
mesmo fenômeno a partir do momento seguinte,
transformando em riscos as oportunidades que ora
se abrem. Este fato ocorre dado que o sistema educacional brasileiro ainda forma menos jovens do que
poderia em seu nível básico e que, possivelmente,
até por isso, permaneça matriculando-os em baixa
proporção no ensino superior. Estes dados podem
sofrer alteração nas próximas décadas, mas não altera consideravelmente o quadro de desemprego no
país onde a população em idade ativa ainda apresenta baixa qualificação.
Assim, os atletas que optaram pela atividade profissional futebolística buscam o reconhecimento social,
pois a brevidade da carreira atlética pode acarretar dificuldades na inserção posterior no mercado de trabalho
formal.
Se, no início da carreira esportiva, a criança ou jovem carrega não apenas o desejo de uma prática que
envolve prazer e esforço, mas também o referencial de
outros que, antes deles, criaram uma imagem gloriosa
de si mesmos por meio do êxito, em competições espera-se que a carreira deixe registrada no imaginário
marcas que servirão de exemplo para muita outras
gerações. Se a prática esportiva promove o desenvolvimento da identidade do atleta, o final de sua carreira
representará a necessidade de mudança de um papel
social, construído desde a infância, para o desenvolvimento de uma nova identidade. Da mesma forma que
a identidade de atleta necessitou de alguns anos para
se consolidar, a transição para um novo papel social
também se dá como processo, o que demanda do sujeito tempo e recursos emocionais e materiais para sua
concretização (RUBIO, 2012).
Diante disso, entende-se que a construção da
identidade atlética passa pela construção do próprio
eu e da autoafirmação que dá ao sujeito consciência de
si e um lugar no mundo. A identificação faz com que o
indivíduo não só se aproprie, mas se torne parte daquilo com o qual está identificado. Em contrapartida, deixar de ser atleta representaria o que Hall (2001) entende como um momento de ruptura ou de descentração do
sujeito. Modificam-se as primeiras concepções acerca
de si mesmo, de crenças, valores e conceitos, configurando o que o autor vai entender por crise de identidade, ou seja, quando aquilo que acreditamos ser fixo
e inflexível passa a se fragmentar e perder sua preponderância central.
Considerando que o futebol surge como caminho para ascensão social, este estudo propõe discutir
a profissão e suas fases de transição como fatores a serem considerados no decorrer da carreira atlética, bem
como na finalização da mesma, considerando como
agravante que o próprio trabalhador pode ser produzido como uma mercadoria que nem sempre tem um
valor reconhecido pelo mercado, podendo ser descartado a qualquer momento no meio do percurso.
Este trabalho analisou a gestão da carreira esportiva de quatro atletas olímpicos brasileiros, do sexo
masculino, da modalidade futebol. Estes atletas fazem
parte da amostra do projeto “Memórias olímpicas por
atletas olímpicos brasileiros”, pesquisa qualitativa elaborada a partir das histórias de vida de atletas olímpi21
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
cos de diferentes modalidades.
Nesta pesquisa, foi utilizada a metodologia de
histórias de vida, que, de acordo com Meihy e Holanda
(2007), se constitui dos procedimentos de registro de
narrativas colhidas em entrevistas mediante intrumentos eletrônicos - que no caso desta pesquisa se valerá
da câmera de vídeo e uso de tecnologias virtuais como
skype - com fins a dar corpo ao processo histórico ou
sociocultural a ser analisado. A(s) experiência(s) de aposentadoria do esporte de um grupo que obteve certo
sucesso em dada modalidade, ao mesmo tempo em
que viveu sob o regime de amadorismo da prática esportiva, constituem a rede comunitária à qual o estudo
destinará análise.
As narrativas dos sujeitos contribuíram na concepção das formas de gestão da carreira esportiva,
apontando características da história da modalidade,
história do país e mutações do sentido da carreira atlética. As conclusões sugerem que a gestão da carreira
esportiva é tema pouco desenvolvido nas instituições
ligadas ao âmbito esportivo, tendo importância relativa nas discussões dos grupos de atletas profissionais.
Discussões sobre projetos de lei ou programas oficiais
são raros nas instituições esportivas, por isso o tema
suscita estudos e colaborações das diversas instâncias
participantes do contexto esportivo.
Se a carreira atlética é composta por, no mínimo,
três fases: iniciação, competição e aposentadoria, e, até
pouco tempo, era considerada pelas ciências da gestão
como não-carreira (MARTINI, 2012), é por ser assunto
de tão pouco interesse a necessidade de desenvolver
o tema nas instituições ligadas ao âmbito esportivo,
criando a importância do mesmo nas discussões dos
grupos de atletas profissionais.
Referências
DAMO, A. S. Do dom à profissão. A formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Ed.; Anpocs, 2007.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
MARTINI, L. Transições de carreira e suas implicações no esporte. In: RUBIO, K. (org). Destreinamento e transição de carreira no esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012, p. 15-46.
MEIHY, J. C. S. B; HOLANDA, F. História Oral: Como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007.
RUBIO, K. Destreinamento e transição de carreira no esporte. (org.) RUBIO, K. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2012.
22
Área - Atividade Física e Saúde
A IMPOR TÂNCIA DO PROFISSIONAL DE EDUC AÇ ÃO
FÍSIC A NOS ANOS INICIAIS DA REDE PÚBLIC A DE
ENSINO: ES TUDOS COM PROFESSORES REGENTES DE
TURMA
Josimar Cardoso da silva2
Josisney Pereira de Castro2
Rafaela Costa Leite2
Onelia Rodrigues Mota2
Cristiane Martins Lisboa2
Ana Cláudia Mendes de Matos2
Adelson Fernandes da Silva1
jocardoso36@hotmailcom
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em
Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM
2
Universidade Estadual de Montes Claros – Acadêmico/a
1
Introdução
A educação física tem um papel importante na
construção da cidadania, pois, de forma indireta ou direta, ela cria possibilidades para que os cidadãos vivenciem a sua cultura social (Sorbara, 2002).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(1997), o trabalho de educação física nas séries iniciais
do ensino fundamental é importante, pois possibilita
aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de ativi-
dades culturais como jogos, esportes, lutas, ginásticas
e dança com a finalidade de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções. A LDB (1996) denomina a
Educação Física como obrigatória na educação básica,
não delimitando o profissional responsável.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a importância da atuação do profissional de educação física
nos anos iniciais da rede pública de ensino de Januária - MG.
Materiais e Métodos
O presente estudo foi estruturado sobre os pilares
de uma pesquisa qualitativa e descritiva, fundamentada na análise documental e em entrevistas com questionários semiestruturados.
Os participantes da pesquisa foram 36 professores
regentes de turma, atuantes nos anos iniciais da rede
pública de ensino da cidade de Januária - MG. Após a
apresentação dos objetivos da pesquisa e das informações de como seria o procedimento utilizado para
a investigação e execução da mesma, os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando com a realização da pesquisa.
Os dados coletados foram analisados através de
modo esquemático, que consiste em uma explicação
da realidade que se encontra hoje nas escolas da rede
pública de ensino onde o profissional de educação física não atua nos anos iniciais. Esses dados serviram
como fonte de discussão para análise da importância
do profissional de educação física nos anos iniciais.
23
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e Discussão
Análise das opiniões dos professores regentes de turma em relação a ministrar aulas de educação física nos
anos iniciais
QUESTÕES
Você se sente segura para ministrar as aulas de educação física a partir dos conteúdos da educação física abordados em sua formação acadêmica?
Você considera sua prática pedagógica eficaz, atingindo os objetivos do conteúdo
de educação física em suas aulas?
Os regentes de turma, em sua opinião, têm didática correta, conhecimento pedagógico, para atuarem nas aulas de educação física?
Em sua opinião, o profissional de educação física deve voltar para os anos iniciais?
Questão 1 Pode-se perceber que grande parte
dos professores regentes responderam “não” ao quesito “sentir-se seguro para ministrar aulas de educação
física a partir dos conteúdos abordados em sua formação”. De outro modo, 22% dos entrevistados responderam que “sim”.
Como visto a maioria dos entrevistados tiveram
apenas uma disciplina relacionada à educação física na
formação superior; vivenciaram mais conteúdos específicos durante sua formação. Assim, torna-se imprescindível o levantamento da reflexão: de que forma tais
profissionais, formados somente em curso superior de
pedagogia, irão oportunizar um ensino integrador, se
não se sentem seguros para ministrar as aulas de educação física?
Freire (1997) destaca que o mais importante é que
a criança não seja privada da educação física a que tem
direito, que se entenda o aluno como um ser integral,
sem uma separação entre corpo e mente. Por este motivo, o que se deve defender é um ensino competente, que dê conta de preparar essas crianças a partir de
uma vivência plural.
Questão 2 Foi perguntado aos professores regentes se sua prática é eficaz em relação à educação física.
Vinte e oito por cento afirmam considerar sua prática
pedagógica eficaz, enquanto 72% dos entrevistados
não consideram sua prática pedagógica eficaz.
Através da resposta dos professores, podemos
constatar que a maioria dos professores regentes se
sente insegura na sua prática pedagógica em relação
às aulas de educação física, não sendo eficaz para que
haja um maior resultado.
Reconhecendo a importância, o valor e as devidas contribuições da educação física para o desenvol-
24
SIM %
NÃO %
22
78
28
72
11
89
89
11
vimento social, afetivo, cognitivo e motor dos alunos,
não haverá mais lacunas sobre o profissional mais adequado para ministrar as aulas de educação física (FRAGA, 2005).
Questão 3 Para os professores regentes que ministram as aulas de educação física, foi questionado se
eles têm didática correta para ministrar aula de educação física. Oitenta e nove por cento afirmam que não
possuem didática correta e conhecimento pedagógico
para atuar nas aulas de educação física, enquanto 11%
dos entrevistados consideram seu conhecimento pedagógico eficaz para atuar na área.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, as aulas
de educação física, com algumas exceções, são ministradas por docentes formados em curso de Magistério
e Pedagogia. Novamente afastando-se de uma concepção valorativa, que julgue posições e, muito menos,
profissionais, estudos têm demonstrado que estes professores não se sentem preparados e motivados para
trabalhar com Educação Física no processo escolar (DARIDO, 2008).
Questão 4 Quando foi perguntado sobre quem
deve ministrar as aulas de educação física, constatamos que 89% dos entrevistados responderam que o
profissional de educação física deve voltar a ministrar
as aulas, ao passo que 11% responderam que não precisam. A maioria dos entrevistados da pesquisa nos
afirma que é de suma importância a presença do profissional de educação física nos anos iniciais.
Para Freire (2001, p. 79) “Se a pessoa mais competente para cumprir a tarefa for o profissional de Educação Física, então deve ser ele o indicado pelo poder
público para realizar essa tarefa”.
Área - Atividade Física e Saúde
Análise da importância do profissional de educação física nos anos iniciais
Os resultados do gráfico apontam que 3% dos
professores regentes de turma acham que devem sim
ministrar as aulas de educação física e se sentem preparados para atuar, enquanto 97% consideram importante a presença de um profissional especializado em
educação física.
Observamos que o professor regente reconhece
que o mais capacitado é o profissional de educação física para ministrar as aulas de educação física.
A educação física nas séries iniciais há muito tempo vem ocorrendo debates acerca do papel desse
componente curricular. De um lado, um setor corporativista da Educação Física Brasileira defende a inclusão de um especialista na área, e, do outro, há os que
defendem a permanência da atual estrutura com os
professores de sala de aula, alegando ser melhor para o
aluno o contato com um único professor (FREIRE, 1997).
Conclusões
Perante a análise e discussão acerca do trabalho,
há a necessidade de uma melhora no processo de ensino aprendizagem no sentido de repensar a importância do professor de educação física nos anos iniciais do
ensino fundamental.
O professor com formação em educação física
poderá conduzir as atividades atendendo às particularidades dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, proporcionando uma prática condizente com
as necessidades das séries iniciais, o que contribuirá de
maneira significativa para o desenvolvimento integral
dos escolares.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira, nº 9394, de 20 de dezembro de 1996.
DARIDO, S. C. Educação Física: questões e reflexões na escola. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
FRAGA, A. B. Educação física nos primeiros anos do ensino fundamental brasileiro. Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs). Educação Física. v. 7 Brasília: 1997 Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 90 - Noviembre de
2005.
FREIRE, P. Políticas e educação. 5. ed. v. 23. São Paulo: Cortez, 2001.
SILVA, J. B. F. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997.
SORBARA, L. C. A importância e a necessidade da obrigatoriedade do profissional de educação física para alunos de escolas municipais da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental do município de Cascavel.
Monografia. Graduação Educação Física, Faculdade Dom Bosco, Cascavel. 2002. Disponível em <http://boletimef.
org/biblioteca/63/Sorbara-Monografia>. Acesso em 05 out. 2011.
25
Área - Atividade Física e Saúde
UTILIZ AÇ ÃO DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES POR
PR ATIC ANTES DE MUSCUL AÇ ÃO
Ronaldo Angelo Dias da Silva
João Luiz Fernandes Lopes
Bruno Pena Couto
Leszek Antoni Szmuc
Marcos Daniel Motta Drummond.
[email protected]
Introdução
Os suplementos alimentares podem ser utilizados nas atividades físicas, em especial na musculação, com objetivo de melhoria do desempenho e
alcance de objetivos específicos (JESUS et al., 2008).
O consumo de suplementos alimentares vem se tornando cada vez mais constante, uma vez que os praticantes de musculação, geralmente, querem resultados em curto prazo (MOYA et al., 2009; FUJITA et al.,
2010). Entretanto, Domingues et al. (2007) apontam
que praticantes de atividade física em academias geralmente fazem uso indiscriminado de suplementos
alimentares, pois constantemente a prescrição ou
seleção dos produtos não é realizada por nutricionistas. Ainda, profissionais ligados à nutrição e atividade física geralmente possuem conhecimentos
restritos sobre o tema (MIARKA et al., 2007). Frente
ao exposto, torna-se imprescindível a avaliação do
perfil de consumo de suplementos alimentares por
praticantes de musculação, para direcionar ações de
conscientização e orientação sobre o tema. Portanto, o presente estudo objetivou analisar o consumo
de suplementos alimentares em jovens e adultos
praticantes de musculação.
Métodos
Neste estudo foi aplicado um questionário,
adaptado de Cantori et al. (2009), com questões de
múltiplas escolhas, na região metropolitana de Belo
Horizonte - MG. A amostra foi composta por 150 praticantes de musculação de ambos os gêneros, sendo
105 do gênero masculino e 45 do gênero feminino. A
média de idade da amostra foi de 23,1±2,8 anos. De-
pois de serem fornecidos devidos esclarecimentos,
os voluntários assinaram um termo de consentimento livre esclarecido. Todos os procedimentos adotados no presente estudo estão de acordo com os padrões éticos da investigação científica do esporte e
do exercício, sugeridos por Harris e Atkinson (2011).
Resultados
Em relação aos objetivos dos entrevistados na
prática da musculação, 66,7% objetivam o ganho de
massa muscular, enquanto que 33,3% relataram o
objetivo de melhoria e/ou manutenção da saúde. Do
total de entrevistados, 49,33% consomem suplementos, sendo que 81,08% destes, o fazem com a finalidade de ganho de massa muscular (Figura 1).
27
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Figura 1. Objetivo dos entrevistados ao consumir suplementos
Os suplementos mais consumidos foram: proteína
do soro do leite (51,35%), maltodextrina (35,18%), BCAA
e creatina (32,35%, ambos). Em relação à orientação e
o que levou ao consumo dos suplementos, 64,87% dos
consumidores de suplementos não fazem acompanhamento com nutricionista e 50% afirmam ter iniciativa
própria para consumo (Figura 2).
Figura 2. Motivo pelo qual os entrevistados iniciaram o uso do suplemento.
Discussão
Semelhantemente aos resultados do presente estudo, Hallak et al. (2007) e Cantori et al. (2009) identificaram que 72% e 75% respectivamente de sua amostra praticam musculação com objetivo de ganho de
massa muscular. Cantori et al. (2009) encontraram que
a maior parcela dos consumidores de suplementos o
fazem com objetivo de ganho de massa muscular, o
que é semelhante ao resultado do presente estudo.
Assim, o objetivo de aumento da massa muscular
pode direcionar os indivíduos ao consumo de suplementos.
Fujita et al. (2010) encontraram que 54,4% da
28
sua amostra consumiam algum tipo de suplemento,
sendo semelhante aos resultados do presente estudo. Também semelhantemente aos resultados do
presente estudo, Cantori et al. (2007) encontraram
que os suplementos mais consumidos foram proteína do soro do leite (80,6%), maltodextrina e creatina
(28%). No estudo de Hallak et al. (2007) os mais consumidos foram os concentrados proteicos (61,3%).
Em relação à orientação e o que levou ao consumo dos suplementos, os resultados do presente
estudo foram semelhantes aos de Moya et al. (2009),
Cantori et al. (2007), Fujita et al. (2010) e Domingues
Área - Atividade Física e Saúde
et al. (2007), que encontraram um elevado índice de
iniciativa própria para o consumo, sem a orientação
de nutricionistas. Tais resultados sugerem que o uso
de suplementos ocorre possivelmente de forma indiscriminada, devido à falta de orientação especializada.
Conclusão
Os resultados do presente estudo permitem concluir que aproximadamente metade dos praticantes
de musculação utiliza algum tipo de suplemento. Os
produtos mais consumidos foram: proteína do soro do
leite, maltodextrina, BCAA e creatina. Ainda, metade
dos voluntários consumidores de suplementos alimentares deu início a tal prática por vontade própria, sen-
do que mais de dois terços destes não fazem acompanhamento com um nutricionista. Tal comportamento
pode contribuir para o consumo inadequado de suplementos. Novos estudos são necessários para analisar o
consumo de suplementos em diferentes regiões, para
determinar o perfil dos consumidores e assim permitir
a prescrição e o consumo seguro destes produtos.
Referências
CANTORI, A. M. SORDI, M. F. NAVARRO, A. C. Conhecimentos sobre ingestão de suplementos por frequentadores
de academias em duas cidades diferentes no sul do Brasil. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 3, n. 15,
p.172-181, 2009.
DOMINGUES, S. F. MARINS, J. C. B. Utilização de recursos ergogênicos e suplementos alimentares por praticantes
de musculação em Belo Horizontes – MG. Fitness & Performance Journal. RJ, v. 6, n. 4, p. 218-226, 2007.
FUJITA, A. G. SILVA, U. S. G.; NAVARRO, A. C. Consumo de suplementos alimentares entre educadores físicos da cidade de São Paulo. Revista brasileira de nutrição esportiva, v. 4, n. 20, p. 130-138, 2010.
HALLAK, A. FABRINI, S. PELUZIO, M. C. G. Avaliação do consumo de suplementos nutricionais em academias da
zona sul de Belo Horizonte, MG, Brasil. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo v. 1, n. 2, p. 55-60,
2007.
HARRISS, D.J., ATKINSON, G. Update - ethical standards in sport and exercise science research. International Journal of Sports Medicine, v. 32, p. 819-821, 2011.
JESUS, E. V.; SILVA, M. D. B. Suplementos alimentares como recurso ergogênico por praticantes de musculação em
academias. ANAIS. 3º Encontro de Educação Física e Áreas Afins, Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação Física
(NEPEF) / Departamento de Educação Física / UFPI, Outubro de 2008.
MIARKA, B.; JUNIOR, C. C. L.; INTERDONATO, G. C.; VECCHIO, F. B. D. Características da suplementação alimentar
por amostra representativa de acadêmicos da área de educação física. Movimento e Percepção. v. 8, n. 11, 2007.
MOYA, R.N.; SERAPHIM, R. V.; CALVANO, J. C.; ALONSO, D. O. Utilização de suplementos alimentares por adultos jovens, praticantes de musculação. Revista brasileira de ciências da saúde, ano VII, n. 19, 2009.
29
Área - Atividade Física e Saúde
INFLUÊNCIA DA PR ÁTIC A DE E XERCÍCIO FÍSICO COM
OS SINTOMAS CLIMATÉRICOS
Jaqueline Teixeira Teles
Lúcia Helena Rodrigues Costa
Marise Fagundes Silveira
Maria Cecília Costa Campos
Maria Clara Lélis Ramos Cardoso
Laura Havilland de Sousa Ruas
[email protected]
Introdução
Ao longo do século XX houve um crescimento da
expectativa de vida no mundo, o que tem sido uma
realidade também no Brasil (ZANOTELLI, 2012).
A Organização Mundial da Saúde (2005) define o
climatério como sendo uma fase biológica da vida da
mulher, que ocorre por volta dos 35 e 65 anos, caracterizada pela transição do período reprodutivo para o
não reprodutivo.
Nessa fase ocorre a diminuição da atividade ovariana e consequente redução na produção de estrogênios com o aparecimento de sintomas vasomotores,
psicológicos e urogenitais necessitando muitas vezes
de intervenções (SILVA, 2008).
Para além da sintomatologia característica da
transição climatérica, podem surgir outras mudanças
decorrentes de condicionantes sociodemográficos,
econômicos e culturais podendo agravar mais ainda
o estado geral das mulheres que vivenciam essa fase
(VALENÇA, 2010).
Exercício físico quando realizado três vezes por semana com duração de 30 min./dia beneficia mulheres
na meia idade proporcionando melhora dos sintomas,
sociabilidade com consequente melhora na qualidade
de vida (GUIMARÃES, 2011).
Sabe-se que existe possibilidade de melhora de
sintomas com a prática de atividade física regular e que
existem poucos estudos registrando estratégias de formação para esse público. O presente estudo objetivou
avaliar a influência da prática regular de atividade física
na sintomatologia climatérica de um grupo de mulheres na meia idade.
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo exploratório, transversal de
base populacional e natureza quantitativa. A seleção
da amostra foi intencional, formada por 67 mulheres,
com idade entre 40 e 60 anos, participantes de um
evento de agendamento de mamografia promovido
pela Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros MG, Brasil, no mês de agosto de 2013.
A identificação da amostra baseou-se nas definições de climatério propostas pelo Ministério da Saúde
(MS) (BRASIL, 2013). Os aspectos éticos foram respeitados sendo que a presente pesquisa foi submetida à
apreciação do Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes,
sendo aprovada sob o nº CAAE 17846513.0.0000.5146.
Previamente à coleta de dados, houve treinamento
das pesquisadoras visando padronização. Foi utilizado
um questionário semiestruturado para avaliar variáveis
sóciodemográficas, e história de atividade física (sedentária ou não sedentária), no qual as mulheres reportaram
frequência e duração da realização de atividades físicas
(caminhada e atividades físicas moderadas e vigorosas).
Foram classificadas como sedentárias aquelas que não
praticavam atividade física regular ou quando esta foi
realizada com uma frequência inferior a três vezes por
semana e/ou uma duração inferior a 30 minutos, independentemente da modalidade do exercício realizado
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007).
Para avaliação dos sintomas climatéricos, foi utilizada a versão brasileira da Menopause Rating Scale
(MRS), um instrumento validado internacionalmente,
composto por onze questões que referem sintomas
que são divididos em domínios somatovegetativos,
psicológicos e urogenitais. A pessoa dá o seu parecer
relativo a cada sintoma podendo ser este classificado
como ausente, leve, moderado, severo e muito severo. A resposta de cada questão é classificada em uma
escala de severidade que varia de zero a quatro, sendo
0=ausente; 1= leve; 2= moderado; 3= severo; 4= mui31
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
to severo. Para cada mulher o escore total de cada domínio resulta da soma da pontuação de cada item da
mesma (HEINEMANN, 2004).
A análise estatística dos dados foi feita com o SPSS
versão 18.0 for Windows. As variáveis foram descritas em
frequências, médias e desvios-padrão. Para a comparação dos níveis de sintomas climatéricos (três domínios)
com relação às características sociodemográficas e antropométricas foram usados os testes de Mann-Whitney e
Kruskall-wallis, ao nível de significância de 0,05.
Resultados e Discussão
Os resultados mostraram uma média de idade de
49,30 anos ± 5.8 anos; 62,7% das mulheres possuíam
renda familiar superior a 678 reais. A distribuição, de
acordo com a faixa etária, demonstrou que a maioria
dos indivíduos (59.8%) se encontrava na faixa etária entre 45 a 54 anos. Quanto ao grau de instrução, a maior
parte da amostra (47,8%) possuía ensino fundamental
incompleto, a grande maioria relatou habitar em casa
própria (83,6%). Existe nesta amostra um maior número de mulheres que não tem companheiro fixo (67,2%).
Em relação à cor, a maioria declarou-se parda/morena
(62,7%). Na amostra, 68,7% foram classificadas como
sedentária. Ao correlacionar as variáveis descritas acima e os domínios da Menopause Rating Scale (MRS),
verificou-se relevância apenas da atividade física.
Com relação à intensidade dos sintomas climatéricos conforme a escala de MRS, a maioria das mulheres,
correspondendo a um percentual de 52.2%, considerou
os sintomas severos a muito severos, no entanto conforme mostra o gráfico 1, ao correlacionar os mesmos
parâmetros à prática de exercício físico, percebe-se claramente que os sintomas climatéricos são menores ou
menos perceptíveis nas mulheres que praticam algum
tipo de exercício físico. Tairova e De Lorenzi (2011) realizaram um estudo de caso controle, observando a diferença entre os domínios do MRS, em dois grupos distintos, sedentárias e não sedentárias. Constatou que 63,6%
das mulheres sedentárias apresentavam sintomas climatéricos de intensidade moderada a severa, comparado
com 33,4% do grupo fisicamente ativo.
Outro estudo com o mesmo objetivo, realizado
com 1011 mulheres na pré e pós-menopausa, utilizando o Índice de Kupperman e o Questionário Internacional de Atividade Física, constatou que as mulheres com
mais sintomas eram aquelas que relataram menor atividade física total (GUIMARAES, 2011). Um artigo de revisão relata que a inatividade física é classificada como
uma das principais causas de problemas de saúde perdendo apenas para o tabagismo (STOJANOVSKA, 2014).
Gráfico 1: Frequência dos sintomas de acordo com intensidade a partir da classificação da MRS e prática de
exercício físico
32
Área - Atividade Física e Saúde
Conclusões
Pode-se concluir que, em relação às mulheres que
estão na fase do climatério, é alta a proporção de sintomas verificadas pela MRS. Tal resultado demonstra
que a sintomatologia climatérica pode impactar negativamente na qualidade de vida. Atividade física regular está associada a uma redução dos sintomas. Assim,
ainda que esses resultados não possam servir de base
para a totalidade da população feminina do Brasil, uma
intervenção visando à prática de atividade física poderá resultar em benefícios con­sideráveis ao bem estar
das mulheres que vivenciam o climatério.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Climatério. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=33924&janela=1.
HEINEMANN, K.; RUEBIG, A.; POTTHOFF, P.; SCHNEIDER, H. P.; STRELOW, F.; HEINEMANN, L. The Menopause Rating Scale (MRS) scale: a methodological review. Health Qual Life Outcomes. v. 2, n. 45, 2004.
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-escola na cidade do Recife, Brasil. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v. 30, n. 3, mar. 2008.
STOJANOVSKA, L.; APOSTOLOPOULOS, V.; POLMANB, R.; BORKOLESB, E. To exercise, or, not to exercise, during
menopause and beyond. Maturitas, v. 77, n. 4, 2014.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretrizes Brasileiras Sobre Disciplina e Prevenção da Aterosclerose. Rev. Arq. Bras. Cardiol., v. 88, 2007.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0066782x2007000700002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.
TAIROVA, O. S, DE LORENZI, D. R. S. Influência do exercício físico na qualidade de vida de mulheres na pós-menopausa: um estudo caso-controle. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, mar., 2011.
VALENCA, C. N.; NASCIMENTO FILHO, J. M.; GERMANO, R. M. Mulher no climatério: reflexões sobre desejo sexual,
beleza e feminilidade. Saude soc. São Paulo, v. 19, n. 2, Jun., 2010.
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO. Envelhecimento ativo: Uma política de saúde. 2005. Disponível em:
http://www.prosaude.org/publicacoes/diversos/envelhecimento_ativo.pdf.
ZANOTELLI, S. S.; RESSEL, L. B.; BORGES, Z. N. Vivências das mulheres a cerca do climatério em uma unidade de
saúde da família. Revista de Pesquisa: cuidado é fundamental (online), Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, jan./mar., 2012.
33
Área - Atividade Física e Saúde
O MAR TELO COMO POSSIBILIDADE DE ABORDAGEM
DESCONTR AÍDA DO ATLE TISMO NA ESCOL A
Tulio Cesar Martins da Silva
Clara Carvalho de Oliveira
Flávia Braz de Souza
Gounnersomn Luiz Fernandes
Hully Nunes de Oliveira
Marcos Antônio da Silva Mendes
Samuel Ferreira de Matos
[email protected]
Introdução
O ensino do atletismo, muitas vezes, é negado aos
alunos da educação básica, e os (as) professores (as) de
educação física têm grande responsabilidade neste processo ao considerarem que, para abordagem de tal conteúdo da cultura corporal de movimento, são necessários
equipamentos, materiais e espaços convencionais/regulamentares. Uma possibilidade de se promover uma mudança nesta forma e entender o trabalho com o atletismo
na educação física escolar é a problematização desta situação na formação inicial para a docência. Há muito já se
tem proposto a adaptação/alternativa de materiais, equipamentos e espaços regulamentares/convencionais das
diferentes modalidades do atletismo, mas ainda com o
foco no aprendizado das técnicas, e o aspecto competitivo individual – melhoria de minutos, segundos e centímetros, também veio se mantendo. Mais recentemente, tem
sido possível se deparar com trabalhos de pesquisa com
expressões: atletismo jogado, atletismo jogado, atletismo
lúdico, que apresentam uma nova forma de se trabalhar
o atletismo, especialmente, no âmbito escolar. O objetivo
deste trabalho é socializar o processo de construção de
um martelo alternativo ao regulamentar um brinquedo,
feito por licenciandos(as) de um curso de educação física, para ser utilizado de diferentes maneiras em aulas de
educação física escolar, para abordagem de conteúdos referentes a uma das provas do atletismo.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma pesquisa descritiva, na qual se
faz um relato das etapas ou fases de construção de um
martelo – implemento vinculado a uma das provas de
lançamento do atletismo, bem como os materiais utilizados e também as formas de uso deste “brinquedo”
para se aprender conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais relacionados à prova convencional,
mas de maneira descontraída e divertida. Com relação
aos meios, lançou-se mão de material bibliográfico, de
registro de imagens e documentos.
Resultados e Discussão
De acordo com Rolim, Colaço e Garcia (2004), são
cinco os motivos geradores do que se convencionou
como uma fuga do atletismo na escola. Aqui, vale destacar a concepção de ensino do atletismo, por parte
dos (as) professores (as) de educação física e a complexidade das diferentes técnicas ou estilos de se correr,
saltar e arremessar/lançar somados às demandas de
materiais, equipamentos e espaços do atletismo regulamentar/convencional. O reflexo disso, pensando
no Brasil, é a pouca difusão do atletismo no país. Um
exemplo disso é que
[...] dos 56 alunos [universitários] matriculados na disciplina “Fundamentos do Atletismo [na
UNESP – Rio Claro / SP] em 2002 (27 do curso de Bacharelado e 29 do curso de Licenciatura em
Educação Física), apenas 15 (27%) tiveram contato com o atletismo no período escolar que antecedeu a Universidade, enquanto os 41 restantes (73%) não tiveram contato com essa modalidade
esportiva no mesmo período (MATTHIESEN, 2007, p.1).
35
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Para Matthiesen (2007, p.17), “a situação é tão alarmante que [...] é comum identificarmos um grande
números de universitários tendo seu primeiro contato
com o atletismo no Ensino Superior”. Ainda conforme
esta autora, o atletismo, quando trabalhado na escola,
dá ênfase apenas às corridas – modalidades de velocidade, e aos saltos em altura e em distância. Os lançamentos, mesmo dentro da escassa presença do atletismo na escola, são ainda mais negligenciados “e para
exagerar bem: é na Universidade que [...] [o universitário] aprenderá que o martelo é um implemento totalmente diferente da ferramenta em si e que o disco não
toca” (MATTHIESEN, 2007, p.17).
Trazendo para a realidade deste trabalho de pesquisa – Licenciandos(as) do curso de educação física do
Centro Universitário de Sete Lagoas – UNIFEMM, diante
da tarefa: Construção de jogo ou brinquedo, destina-
FIGURA 1 – Orientando a confecção do martelo de jornal.
Fonte: Arquivo pessoal.
FIGURA 2 – O martelo de jornal.
Fonte: Arquivo pessoal.
36
do ao ensino de modalidade(s) do atletismo no campo
escolar – Ensino Fundamental, sem um dispêndio financeiro, optou-se por desenvolver algo que pudesse
favorecer o ensino de uma das provas de lançamento,
no caso o martelo. Para tanto, lançou-se mão de: três
folhas de jornal; dois pedaços de barbante, com aproximadamente um metro e cinquenta cada; um rolo
de fita adesiva; uma garrafa pet e uma tesoura. Com
as três folhas de jornais enroladas e amassadas, faz-se
uma bola – a cabeça do martelo, e, em seguida, passa-se a fita adesiva para manter o formato, a estrutura
esférica (FIG. 1). Em seguida, amarra-se uma das pontas
junta dos dois pedaços de barbante na bola feita com
jornal e as outras pontas em um círculo, que funcionará
como empunhadura ou alça, retirado do corpo da garrafa pet (FIG. 2).
Área - Atividade Física e Saúde
Pensou-se na possibilidade de utilização do martelo ora apresentado incorporando-se duas ações
mobilizadoras da participação de alunos da educação
básica: envolvendo-os em todas as fases ou etapas de
construção do martelo de jornal, inclusive no levantamento dos materiais necessários; a utilização do martelo construído em atividades envolvendo pequenos
grupos e de forma divertida, lúdica. Além disso, acredita-se que “a Educação Física [...], ao longo de sua história, priorizou os conteúdos numa dimensão quase
que exclusivamente procedimental, o saber fazer e não
o saber sobre a cultura corporal ou como se deve ser,
embora esta última categoria aparecesse na forma de
currículo oculto” (DARIDO, 2005, p. 67).
Conclusões
A construção do martelo de jornal possibilitou
a articulação do ensino com a pesquisa na formação
inicial para a docência em educação física perante um
problema concreto, vinculado ao ensino do atletismo,
sua pouca difusão ou presença na escola de educação
básica. A um só tempo pôde-se refletir sobre uma concepção de ensino que coloca os alunos no centro do
processo de ensino e também sobre a necessidade de
uma ação docente intencional focada em outros saberes/conteúdos que extrapolam as técnicas das modalidades do atletismo, que tanto dificultam a presença do
mesmo na educação física escolar, pela complexidade
dessas técnicas e também pelas correspondentes demandas de instalações e materiais indisponíveis no sistema escolar.
Referências
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http://www.efdeportes.com/efd187/atletismo-como-esporte-base.htm. Acesso em: 14 mai. 2014.
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DARIDO, S. C. Os conteúdos da Educação Física na escola. In: DARIDO, Suraya C.; RANGEL, Irene C. A. (Coord).
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KAMIMURA, M. K. et al. Jogos de mesa para o ensino do atletismo na escola: sobre o jogo “Micotismo”. In: XXII
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MEZZAROBA, C.; ROMANSINI, L. A.; MOREIRA, E. L.; PEREIRA, H.; SOUZA, E. R. A visão dos acadêmicos de Educação Física quanto ao ensino do atletismo na escola. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd93/atlet.
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37
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
ROLIM, R.; COLAÇO, P.; GARCIA, R. Considerações e perspectivas de abordagem do atletismo na escola. Disponível em: <www.atletismos.net/Paginas/artigos/horizonte.html>. Acesso em: 15 jun. 2004.
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TSUNETA, P.; NASCIMENTO JUNIOR, J. R. A.; WATANABE, M. M. Análise do interesse e prática do esporte atletismo
no âmbito escolar em acadêmicos do curso de Educação Física. Coleção Pesquisa em Educação Física. v. 9, n. 1,
p. 65-70, 2010.
38
Área - Atividade Física e Saúde
ANÁLISE DE PREFERÊNCIA DE INCLUSÃO
DE MODALIDADES ESPOR TIVAS NO ENSINO
FUNDAMENTAL DE UMA ESCOL A NA CIDADE
JANUÁRIA - MG
Débora Ferreira dos Santos
Hellen Cristina Alves Ferreira
Jessica Daniele Ferreira Dias
Lórem Tayná Viana Malta
Raquel Amaral de Paula
Adelson Fernandes da Silva
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em
Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM
Universidade Estadual de Montes Claros – Acadêmico/a
Introdução
A prática de esportes é fundamental para a saúde e bem-estar do ser humano. Ela ensina valores fundamentais, como a autoconfiança, a inclusão social, o
trabalho em equipe e o respeito pelas outras pessoas.
Na infância e na adolescência, essas atividades ganham
uma importância maior para o desenvolvimento de
meninos e meninas.
O futsal é uma das modalidades esportivas e vem
sendo muito usado atualmente nas aulas de educação
física em escolas de todo Brasil. Trata-se de uma modalidade que ajuda no desenvolvimento de escolares,
porém, para um melhor desenvolvimento motor dos
alunos, e até mesmo para ser uma aula diferenciada,
devem ser praticadas outras modalidades com mais
frequência nessas aulas. Segundo Baseggio (2011),
as atividades realizadas em aulas, principalmente os
jogos desportivos, são instrumentos facilitadores do
desenvolvimento global da criança e do adolescente. As atividades físico-desportivas, entendidas como
atividades naturais de movimento, jogo e confraternização, são elementos básicos para a educação das
pessoas e possuem funções altamente pedagógicas,
que podem incidir no desenvolvimento equilibrado e
harmônico do ser humano (BASEGGIO, 2011, p.10 apud
VARGAS NETO, 1995). Segundo Matveev (1997, p.63), “A
aula de Educação Física é a forma básica e obrigatória
de desenvolvimento físico, a nível escolar. Durante a
aula, os alunos adquirem conhecimentos, habilidades
e experiências [...], aumentando o nível de seu conhecimento físico”. Para Santin (1989 apud SOLER, 2003, p.
14), falar de educação física como uma atividade educativa implica defender a ideia da totalidade do ser
humano. Não apenas como uma totalidade individual,
mas como uma totalidade social. Não se trata de somar
partes, até hoje antropologicamente separadas, nem
perseguir modelos a priori definidos, mas embrenharse no desconhecido para viver, e, vivendo, fazer emergir a imagem de cada ser humano. Assim, é de suma
importância trabalhar a maior gama possível de modalidades esportivas dentro das aulas de educação física.
Esta pesquisa tem como propósito analisar a preferência dos escolares da Escola Estadual Princesa Januária
do ensino fundamental de Januária - MG com relação à
inclusão de novas modalidades esportivas.
Materiais e métodos
Este estudo teve característica descritiva, quantitativa e transversal. O questionário foi aplicado a cem
alunos do 9º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Princesa Januária, sendo que uma turma é do
turno matutino e outro do vespertino. Foi entregue à
diretoria da escola uma carta de solicitação para a per-
missão da pesquisa, o questionário foi semiestruturado, sendo direto para a obtenção dos resultados.
39
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e Discussão
Os resultados coletados na tabela 01 mostram que
o esporte mais realizado na escola durante as aulas de
educação física é o futsal, com uma porcentagem de
90%. Com relação à preferência dos alunos, dentre os
esportes realizados dentro da escola, o handebol ficou
com a maior porcentagem, 41% da preferência.
Tabela 01- Resultado dos esportes mais realizados e de preferência dos alunos
Questões
Q1
Q2
Futsal
Handebol
Vôlei
Basquete
Outros
90%
7%
1%
0%
2%
25%
41%
18%
6%
10%
Com relação ao objetivo proposto neste trabalho,
apesar de o futsal ser a modalidade esportiva mais praticada nas aulas de educação física, os alunos escolheram modalidades diferenciadas daquelas típicas das
aulas. Analisando a tabela 02, podemos observar que a
dança, seguida das lutas, são as modalidades que apresentam uma maior porcentagem para serem incluídas
nas aulas de educação física.
Tabela 02- Resultado da preferência de inclusão das modalidades esportivas nas aulas de Educação Física
Questões
Q3
Ginástica
10%
Dança
50%
Lutas
27%
Natação
10%
Outras
3%
Conclusão
De acordo com a pesquisa realizada e com os resultados coletados e analisados, foi possível observar
que o futsal é a modalidade esportiva mais realizada
na Escola Estadual Princesa Januária, e, dentre as várias
modalidades apresentadas no questionário, os alunos
gostariam que fossem incluídas nas aulas de educação
física danças e lutas. Sem dúvidas, os esportes trazem
muitos benefícios para a criança e o adolescente, assim, é interessante usar a diversidade e flexibilidade
que a educação física oferece aos professores para inserir novas modalidades nas aulas, fazendo assim com
que sejam mais proveitosas e interessantes.
Referências
BASEGGIO, T. S. Oficinas sócio-educativas de futsal como ações complementares no processo educacional.
Ebookbrowse, 2011.
MATVEEVV, A. P. Educação Física Escolar: teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1997. 139p.
SOLER, R. Educação Física Escolar. Rio de Janeiro: Editora Sprint,2003. 188p.
40
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
ÁREA - PSICOLOGIA DO EXERCÍCIO E SAÚDE
NÍVEL MOTIVACIONAL DOS ADOLESCENTES DE 10 A
14 ANOS QUE FREQUENTAM O PROGR AMA SEGUNDO
TEMPO
Ana Flavia Muniz Vieira
Berenilde Valéria de Oliveira Sousa
Maria de Fatima de Matos Maia
Maria Christina Soares Gomes
Celina Aparecida Gonçalves Lima
Jaime Tolentino Miranda Neto
Fernanda Maia Tolentino
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil.
Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde
Ocupacional e Mídia – GIPESOM.
Resumo
Motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional, dirigido a uma meta, que depende da interação
de fatores pessoais (intensivos) e ambientais (extrínsecos). Os motivos são fundamentais para a prática desportiva.
O estudo tem como objetivo comparar a motivação dos adolescentes integrantes de dois núcleos do Programa
Segundo Tempo. A população alvo desta pesquisa foi adolescentes de 10 a 14 anos participantes de dois núcleos
do Programa Segundo Tempo da cidade de Montes Claros, sendo a amostra composta por 100 adolescentes de
ambos os sexos. Foram adotadas, como variáveis independentes, o sexo e núcleo do Programa Segundo Tempo; e,
como variáveis dependentes, as motivações geral, intrínseca e extrínseca. Os resultados quanto à motivação geral
entre os dois núcleos apresentaram diferença significativa, com p= .05, o que significa que os alunos do núcleo 2
se mostraram mais motivados. Quando comparadas as motivações extrínseca e intrínseca entre os dois núcleos,
foi encontrada diferença significativa na motivação intrínseca, com p= .01, em que o núcleo 2 teve níveis mais
elevados. Não foram encontradas diferenças significativas ao nível de p quando comparadas a variável sexo. O
sexo feminino mostrou-se com níveis médios mais elevados tanto na motivação geral quanto na motivação extrínseca e intrínseca.
Palavras-chave: Motivação, Adolescentes, Atividade Física.
Introdução
A motivação é caracterizada como um processo
ativo, intencional e dirigido a uma meta, a qual depende da interação de fatores pessoais (intensivos) e
ambientais (extrínsecos) (SAMULSKI, 2002). De acordo com Sage (1977), a motivação pode ser definida
como a direção e intensidade de nossos esforços, na
qual a direção do esforço se refere à capacidade de
um indivíduo de procurar aproximar-se ou ser atraído
a certas situações, já a intensidade do esforço referese a quanto uma pessoa coloca em uma determinada
situação. Segundo Ryan e Deci (2000), os motivos caracterizam-se como ponto de partida para que se en41
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
tenda a motivação dos indivíduos para a prática desportiva, entendida como fundamental na busca de
seus objetivos. Berganimi (1997) cita que, em relação
ao estudo da motivação, criou-se uma enormidade de
teorias e hipóteses que foram se acumulando no decorrer dessas últimas décadas. O caráter motivacional
do psiquismo humano abrange, portanto, os diferentes aspectos que são inerentes ao processo, por meio
dos quais os comportamentos das pessoas podem ser
ativados. Samulski (2002) ressalta ainda que a motivação intrínseca e extrínseca tem uma determinada
orientação para a tarefa ou para o resultado. Além
disso, o nível de ansiedade exerce uma grande influência nas sensações de autoestima, competência e
autocontrole.Vários são os caminhos seguidos no aspecto motivacional, mas que neste estudo serão direcionados a uma base teórica dividida em: motivações
intrínsecas (fatores pessoais) e extrínsecas (fatores
ambientais), que foram expostas por Deci e vem so-
frendo muitas variações com o passar dos anos.O projeto social cumpre a função de retirada das crianças e
jovens da rua, uma das consequências das desigualdades sociais brasileiras, cotidianamente sendo vivenciadas devido a muitas limitações nos espaços de ir e
vir de lazer e aos perigos e riscos a eles associados.
Nesse sentido, o Segundo Tempo é um programa
do Ministério do Esporte, destinado a democratizar o
acesso à prática e à cultura do esporte, de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens como fator de formação da cidadania
e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em
áreas de vulnerabilidade social.
Portanto, o presente estudo tem como objetivo
comparar a motivação dos adolescentes integrantes de
dois núcleos do Programa Segundo Tempo inseridos
em diferentes contextos, assim como também as diferenças de motivação entre meninos e meninas.
Material e métodos
O presente estudo é descritivo do tipo comparativo e de corte transversal, com abordagem quantitativa. Gil (1999) descreve que a pesquisa descritiva
tem como principal objetivo descrever características
de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis. A população alvo desta pesquisa foi em adolescentes de 10
a 14 anos participantes de dois núcleos do Programa
Segundo Tempo da cidade de Montes Claros, sendo
a amostra composta por 100 adolescentes de ambos os sexos. Destes, 50 eram do núcleo do Clube do
Ferroviário (núcleo 1) e 50 do Jardim Primavera (núcleo 2).Neste estudo, foram adotadas as seguintes
variáveis independentes: sexo e núcleo do Programa
Segundo Tempo. As variáveis dependentes foram
as motivações geral, intrínseca e extrínseca.O instrumento utilizado foi o questionário adaptado de Kobal (1996). Este é composto por 32 questões, sendo
16 referentes à motivação intrínseca e 16 referentes
à motivação extrínseca em uma escala de Likert, com
cinco opções de resposta. Na análise dos dados, foi
utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the
Social Sciences) na versão 13.0, recorrendo-se ao uso
do teste t para amostras independentes. Todos os responsáveis pelos sujeitos do estudo assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual continha
os objetivos desta investigação, conforme prevê a resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados e Discussão
Tabela 1 - Teste t da Motivação e variável independente núcleo do Programa Segundo Tempo.
Tipo Motivação
M
Dp
p
Motivação geral
Núcleo 1
Núcleo 2
90.68
93.20
4.00
8.03
.05
Motivação extrínseca
Núcleo 1
Núcleo 2
42.34
42.68
2.95
6.26
.73
Motivação intrínseca
Núcleo 1
Núcleo 2
48.34
50.52
2.82
3.82
.01
*P≤ .05
Ao observar os dados apresentados na tabela 1,
constatou-se que, quando comparada a motivação
geral entre os dois núcleos, foi encontrada diferença
significativa com p = 0.05, mostrando que os alunos do
42
núcleo 2 apresentaram-se mais motivados.
Quando comparadas as motivações extrínsecas e intrínsecas entre os dois núcleos, foi encontrada
diferença significativa na motivação intrínseca, com
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
p=0.01, em que o núcleo 2 apresentou-se com níveis
mais elevados.
Para Deci e Ryan (2000), a motivação intrínseca
parece diminuir à medida que um indivíduo envelhece, corroborando os dados encontrados nesta pesquisa, já que o núcleo 2 apresentou maior motivação
intrínseca e são mais novos que o núcleo 1. Menoncim (2003) acredita ser mais importante que adultos
e crianças estejam mais motivados intrinsecamente
do que dependentes de gratificações externas, pois
assim tornam-se persistentes e executam tarefas de
maior complexidade.
Deci e Ryan (2000) relatam que os comportamentos internamente motivados (intrínsecos) são comportamentos nos quais as pessoas se empenham em
sentir-se competentes e autodeterminada. Esse comportamento foi apresentado pelo núcleo 2, em que os
envolvidos sentiam-se com maior desejo de aprender
novas habilidades esportivas, podendo se justificar em
função do núcleo 2 estar inserido em uma comunidade
carente com poucas possibilidades de acesso à prática
esportiva ou de lazer.
No que diz respeito à motivação extrínseca, não
foi encontrada diferença significativa, apenas uma média mais elevada para o núcleo 2. Em pesquisa realizada por Martinelli et al. (2009) sobre desempenho escolar relacionado à motivação, foi constatado também
uma motivação intrínseca mais elevada em alunos com
melhores escores na avaliação escolar.
Segundo Guimarães (2003), um indivíduo que se
apresenta intrinsecamente motivado determina metas pessoais, manifesta seus acertos e dificuldades,
programa suas ações necessárias para viabilizar seus
objetivos e avalia adequadamente seu progresso. Esse
mesmo autor ressalta que um indivíduo que se sentecomandado por fatores externos e assim apresentando
fatores extrínsecos, promove sentimentos de fraqueza
e ineficácia, promovendo seu afastamento do desempenho da atividade. Porém, Araújo (2008) faz uma ressalva a respeito da motivação extrínseca, chegando à
conclusão de que as recompensas extrínsecas podem
influenciar negativamente na motivação interna, exceto quando ela está elevada.
Tabela 2 - Test t da motivação e variável independente sexo
Tipo Motivação
Sexo
M
Dp
p
Motivação
M
F
91.71
92.38
6.24
6.37
0.62
Motivação extrínseca
M
F
42.48
42.56
4.90
4.89
0.60
Motivação intrínseca
M
F
49.23
49.82
3.29
3.94
0.40
*P≤ .05
Na tabela 2 são apresentados os resultados obtidos na comparação entre as motivações geral, a intrínseca e a extrínseca de acordo com o sexo. Não foram
encontradas diferenças significativas ao nível de p
quando comparada as motivações de meninos e meninas. De acordo com os valores apresentados, o sexo
feminino mostrou-se com níveis médios mais elevados
tanto na motivação geral quanto nas motivações extrínseca e intrínseca.
Alves et al. (2010) constataram em sua pesquisa
realizada no âmbito escolar que o sexo feminino também se encontrava mais motivado que o masculino,
embora acreditassem que o gênero masculino se encontrava mais motivado para a prática de atividade físi-
ca. Marzinek (2004) relata no seu estudo, também realizado no ambiente escolar, resultados contrários aos de
Alves et al. (2010), em que o sexo masculino se encontrou mais motivado. Marzinek (2004) encontrou ainda
níveis mais elevados de motivação extrínseca para os
meninos.
Faz-se necessário ressaltar que a pesquisa foi
feita em um ambiente totalmente diferente do contexto escolar, com objetivos, metodologias e forma
de avaliações totalmente diferentes. O programa
trabalha normalmente com adolescentes e crianças
que vivem em áreas de risco social, com modelos de
vida e convivência muitas vezes diferentes do âmbito escolar.
Conclusão
Conclui-se que ao comparar a motivação entre os dois núcleos, foi constatado que o núcleo 2 é
mais motivado de forma geral e também na motivação intrínseca. Quando comparada a motivação
de meninos e meninas não foram encontradas dife-
renças significativas. A motivação mais elevada no
núcleo 2 dá sustentação à filosofia do programa, no
sentido de atender crianças em condições de vulnerabilidade social, característica mais evidente na comunidade em que esse núcleo está inserido.
43
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
ALVES, P. I. B. Satisfação, insatisfação no trabalho dos professores do 1º. Ciclo do ensino básico. Estudo do Concelho de Caldas da Rainha. Dissertação. Mestrado em Supervisão Pedagógica. Universidade Aberta. Lisboa, Portugal, 2010.
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DECI, E. L.; RYAN, R. M. The “what” and “why” of Goal Pursuits: human needs and self-determination of behavior. PsychologicalInquiry. v. 11, n. 4, p. 227-268, 2000. Disponível em: http://www.esporte.gov.br/snelis/segundotempo/default.jsp. Acesso em 09 set 2013.
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WEINBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2 ed. Porto Alegre: Artmed,
2001.
44
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
TR ANSTORNOS MENTAIS MENORES EM MULHERES DE
UMA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Gabriela Crusoé Lopes Leite de Souza
Kênia Souto Moreira
Jéssica Amorim Silva
Samira de Alkimim Bastos
Gabriela Patrus Ananias de Assis Pires
Michele Pimenta Oliveira
Maísa Tavares de Souza Leite
[email protected]
Introdução
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) visa desenvolver a prevenção e a promoção da saúde na comunidade,
caracterizando-se como a porta de entrada prioritária de
um sistema hierarquizado, regionalizado de saúde e vem
provocando um importante movimento de reorientação
do modelo de atenção à saúde no SUS, constituindo-se
em uma proposta com dimensões técnica, política e administrativas inovadoras (BRASIL, 2012).
Os transtornos mentais em geral, atingem cerca
de 450 milhões de pessoas no mundo, sendo resultante de múltiplas associações, tanto de fatores genéticos
quanto de fatores comportamentais (VOLCAN et al.,
2003). Os serviços de atenção primária à saúde têm um
papel importante a desempenhar na mudança desse
panorama, a ser ainda melhor explorado, uma vez que
a estratégia de Saúde da Família (ESF) visa desenvolver
a prevenção e a promoção da saúde na comunidade
(FIOROTTI; TOMAZELLI; MALAGRIS, 2009).
Os transtornos mentais menores (TMM) se referem
aos estados de saúde envolvendo sintomas psiquiátricos
não psicóticos, e incluem sintomas como: insônia, fadiga,
irritabilidade, distúrbios (depressão, ansiedade e transtornos somatoformes), esquecimento, dificuldade de
concentração e problemas somáticos (COSTA et al., 2010).
Heterogêneos quanto à diversidade de queixas, têm em
comum a característica de não envolverem comprometimento de senso-percepção e de pensamento (FIOROTTI;
TOMAZELLI; MALAGRIS, 2009). Para Pinho e Araújo (2012)
esses transtornos alteram o funcionamento normal dos
indivíduos, prejudicando seu desempenho na vida familiar, social, pessoal e no trabalho.
Com o propósito de detectar esses sintomas, Goldberg propôs um instrumento denominado Questionário de Saúde Geral (QSG). Este é um dos principais
instrumentos para avaliar diferentes dimensões da
saúde e é utilizado em diversas populações, nos mais
variados contextos, sejam eles clínicos ou não clínicos
(GOUVEIA, 2012).
Os quadros depressivos têm representado o terceiro problema de saúde em mulheres nos países desenvolvidos e o quinto em países subdesenvolvidos,
depois de causas maternas e de algumas doenças
transmissíveis. Essas têm apresentado consideravelmente mais sintomas de angústia psicológica e desordens depressivas do que os homens (SENICATO; BARROS, 2012).
A monotonia da rotina doméstica, associada à
pouca possibilidade de mudança, traz frustrações para
as mulheres que almejam realização profissional e não
buscam formas de realizar o que desejam, seja por ter
filhos ou por pressão de seus maridos, podendo ser um
determinante para a ocorrência de distúrbios mentais.
Assim, estando ou não inseridas no mercado de trabalho, em geral as mulheres são donas de casa e realizam
tarefas que, mesmo sendo indispensáveis para a sobrevivência e o bem-estar de todos os indivíduos, são
socialmente desvalorizadas e desconsideradas (LUDEMIR; MELO FILHO, 2002). Dessa forma, o presente estudo objetiva avaliar a ocorrência de transtornos mentais
menores em mulheres usuárias de uma estratégia de
Saúde da Família.
Material e métodos
Este trabalho refere-se aos resultados parciais da
presente pesquisa, tratando-se de um estudo descri-
tivo e transversal com abordagem quantitativa; aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade
45
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Estadual de Montes Claros (CEP/UNIMONTES) com o
parecer consubstanciado nº 203.080/2012.
Foi obtida da ESF uma lista com os nomes e endereços das 414 mulheres de 20 a 39 anos cadastradas
na área de abrangência da ESF do Bairro Vila Telma do
Munícipio de Montes Claros-MG. Os acadêmicos envolvidos neste estudo percorreram os domicílios das mulheres cadastradas para aplicação dos questionários.
Até então foram entrevistadas 111 mulheres.
O QSG é composto por 12 itens que investigam
se o indivíduo experimentou recentemente um sinto-
ma ou comportamento específico. Cada item possui
quatro opções de respostas. As opções um e dois são
interpretadas como pontuação zero, e as opções três e
quatro como um ponto, indicando ausência e presença
do sintoma, respectivamente. Procede-se o somatório
de pontos e define-se TMM quando apresentar escores
maiores ou iguais a quatro pontos em uma escala de
até 12 pontos possíveis (GOUVEIA, 2012).
Os dados foram analisados no programa Statistical
Package for the Social Science (SPSS) versão 18.0.
Resultados
As características sociodemográficas da população em estudo encontram-se descritas na tabela 1. . A
tabela 2 apresenta dados sobre a distribuição de frequência para cada uma das doze perguntas que com-
põem o QSG-12. Após a análise dos escores, observouse que, entre as 111 mulheres, 44 (39,6%) obtiveram
índices maiores ou iguais a quatro pontos, ou seja,
apresentaram algum nível de TMM.
Tabela 1. Características sociodemográficas das mulheres estudadas. Montes Claros, MG, 2013.
Variável
Cor da pele
Branca
Amarela
Negra
Parda
Anos de estudo
Nunca estudou
1–6
7 – 11
≥ 12
Trabalho atual
Empregada
Autônoma
Estagiária remunerada
Desempregada
Renda per capta*
0,00 – 300,00
301,00 – 600,00
601,00 – 900,00
>901,00
* Uma participante não respondeu a esta questão.
46
n (111)
%
14
4
15
78
12,6
3,6
13,5
70,3
3
10
22
76
2,7
9,0
19,8
68,5
36
21
2
52
32,4
18,9
1,8
46,8
76
22
7
5
69,1
20,0
6,4
4,5
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
Tabela 2. Distribuição de frequência das perguntas do Questionário de Saúde Geral-12. Montes claros, MG, 2013.
Questões
Opções de resposta
%
Muito menos
Não mais do
do que de
que de costume
costume
n
%
n
%
45,9
10
9,0
9
8,1
41
36,9
30,6
22
19,8
10
9,0
45
40,5
59,5
9
8,1
7
6,3
29
26,1
76
68,5
10
9,0
5
4,5
20
18,0
92
82,9
5
4,5
4
3,6
10
9,0
60
54,1
8
7,2
4
3,6
39
35,1
De jeito
nenhum
n
Você tem perdido o sono frequente51
mente por preocupação?
Você tem notado que está difícil superar
34
as dificuldades?
Você tem se sentido infeliz e deprimida? 66
Você tem perdido a confiança em si
mesma?
Você tem se sentido inútil?
Você tem se sentido esgotada e sob
pressão?
Você tem conseguido se concentrar
bem naquilo que faz?
Você tem sentido que está desempenhando um papel útil na vida?
Você tem sentido capaz de tomar decisões?
Você tem realizado com satisfação suas
atividades normais do dia a dia?
Você tem sido capaz de enfrentar seus
problemas adequadamente?
Você se sente razoavelmente feliz, considerando todas as circunstâncias?
Um pouco
mais do que de
costume
n
%
Melhor do que
de costume
n
%
O mesmo de
sempre
n
%
Menos do que
de costume
n
%
Muito menos do
que de costume
n
%
14
12,6
58
52,3
29
26,1
10
9,0
42
37,8
48
43,2
17
15,3
4
3,6
49
44,1
45
40,5
12
10,8
5
4,5
35
31,5
49
44,1
21
18,9
6
5,4
41
36,9
44
39,6
19
17,1
7
6,3
51
45,9
40
36,0
11
9,9
9
8,1
Discussão
No Brasil, ainda é pequeno o número de investigações epidemiológicas de base populacional, na área de
saúde mental, entretanto isto vem se modificando. Para
Bandeira, Freitas e Carvalho Filho (2007), os transtornos
mentais ou sintomas psicológicos são frequentes na população geral, porém tendem a ser subestimados por
profissionais de saúde, resultando em que apenas os casos de natureza psicótica, mais graves, já cronificados ou
com múltiplas complicações, passem a receber alguma
atenção em âmbito de atenção especializada em saúde
mental (FIOROTTI; TOMAZELLI; MALAGRIS, 2009).
Ludemir e Melo Filho (2002) realizaram um estudo transversal em Olinda, PE, envolvendo 621 adultos
de 15 ou mais anos; a população estudada apresentou
prevalência global de 35% de TMM para adultos de
ambos os sexos.
Outra pesquisa, realizada em dois distritos do município de São Paulo, mostrou a prevalência de 24,95%
de pessoas com indicativos de TMM, avaliando populações que se situavam dentro e fora da área de cobertura da ESF (MARAGNO et al., 2006). Estudos conduzi-
dos por Lopes, Faerstein e Chor (2003) em populações
ocidentais têm mostrado que as prevalências de TMM
são mais elevadas no sexo feminino (20,0%) do que no
masculino (12,5%).
Para Menil et al., (2012) os homens são mais propensos a ser levados para o hospital psiquiátrico para
tratamento, porque são percebidos como uma ameaça, enquanto as mulheres com problemas de saúde
mental procuram tratamento mais comumente em
santuários, igrejas ou com os prestadores de cuidados
de saúde primários para queixas somáticas.
Na presente pesquisa, 70,3% das mulheres se autodeclararam pardas, semelhantemente ao estudo de
Araújo et al., (2006) (63,2%). Porém, na variável anos de
estudo, os trabalhos revelaram resultados bastante diferentes, 68,5% estudaram 12 anos ou mais em contrapartida a 24,3%, respectivamente.
Quanto ao trabalho atual, 46,8% se encontravam
desempregadas, enquanto 53,2% tinham algum tipo
de trabalho remunerado, concordando como o estudo
de Senicato e Barros (2005), em que mais da metade
47
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
das Mulheres, 60,8%, também tinha algum tipo de remuneração e 39,2% eram desempregadas.
Em concordância com a pesquisa realizada em
Feira de Santana, Bahia, na qual foram entrevistadas
2055 mulheres e dessas 39,4% apresentaram o TMM
(ARAÚJO et al.,2006), o presente trabalho teve também
uma predominância de 39,6%. A prevalência de TMM
entre mulheres reflete-se no alto consumo de ações
em saúde. Alguns fatores relacionados às condições
existenciais da mulher e a seu papel de gênero têm
sido descritos como agravantes, tais como o número
de filhos, o papel de cuidadora de crianças, contar ou
não com rede de apoio social, e estrutura ocupacional,
em que a sobrecarga de trabalhar dentro e fora de casa
e o trabalho doméstico aparecem como propiciadores
à produção dos sintomas de TMM.
Frequentemente encontrados na comunidade,
esses transtornos representam um alto custo social e
econômico, pois são incapacitantes e constituem causa importante de dias perdidos de trabalho, além de
elevarem a demanda nos serviços de saúde (LUDEMIR;
MELO FILHO, 2002). Dessa forma, é de grande importância detectar esse problema precocemente, sendo a
atenção primária a melhor opção para desempenhar
esse papel, contribuindo assim para melhora da qualidade de vida dessas mulheres.
Conclusão
Conclui-se que a ocorrência de transtorno mental
menor nas mulheres estudadas foi semelhante à média
encontrada em outros estudos. É importante ressaltar
que este trabalho apresenta resultados parciais, que
podem modificar-se ao final do estudo.
Referências
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48
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
VERIFIC AÇ ÃO DOS COMPOR TAMENTOS DE RISCO
ACERC A DAS REL AÇÕES SE XUAIS DE AC ADÊMICOS
DOS CURSOS DE FÍSIC A E QUÍMIC A
Hugo Barbosa da Silva Montalvão
Maria de Fatima de Matos Maia
Celina Aparecida Gonçalves Lima
Jaime Tolentino Miranda Neto
Berenilde Valéria de Oliveira Sousa
Thatiana Maia Tolentino
Maria Christina Soares Gomes
Graduação em Educação Física, Bolsista BIC/UNI; Universidade Estadual de Montes Claros
- UNIMONTES; Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde,
Saúde Ocupacional e Mídia - GIPESOM
[email protected]
Introdução
A adolescência é uma fase da vida caracterizada por mudanças biológicas, cognitivas, emocionais
e sociais, compondo um importante momento para a
iniciação de novas práticas, vivências e ganho de autonomia (SAITO, 2000). Os adolescentes estão iniciando
sua vida sexual cada vez mais cedo e parece que sem
o devido conhecimento para que possam se proteger
adequadamente. Esse comportamento pode causar
certos transtornos como uma gravidez indesejável ou
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Tais acontecimentos ocorrem com uma maior frequência dos 14
anos para o sexo masculino e de 15 anos para o sexo
feminino (BORGES, 2005). Segundo Pinho (2002), muitos jovens não têm acesso a informações e serviços
adequados que atendam as suas necessidades em relação à saúde sexual e que os estimulem a tomar as decisões certas.
Pessoas com idades acima dos 20 anos, de acordo
com Papalia (2000), fazem parte dos jovens adultos, e
os comportamentos relativos aos comportamentos sexuais vão sendo melhorados em decorrência de diversos fatores, entre os quais preocupação com gravidez
indesejada.
A idade adulta é constituída por uma série de alterações tanto fisiológicas quanto físicas que afetam nos-
so comportamento (GALLAHUE; OZMUN, 2005).
A relação sexual é considerada segura quando
são tomadas medidas de precaução, tais como o uso
de anticoncepcional e preservativo (SHRIER, 1996). Os
indivíduos não estão se preocupando em fazer sexo
com segurança. Apesar de haver muitas campanhas
de prevenção, ainda há jovens desinformados (PINHO,
2002). O conhecimento impróprio sobre qualquer método-anticonceptivo pode ser um fator de resistência
à aceitabilidade e uso desse método, assim como alto
nível de informação não influencia em seu comportamento (MARTINS, 2006). Os preservativos se apresentam como um dos métodos anticonceptivos mais adequados para adolescentes, levando em consideração o
envolvimento do companheiro na iniciativa da anticoncepção, a prevenção de gravidez indesejada, a prevenção de DSTs, por não ter, praticamente, efeitos colaterais, facilidade de adquirir e de ter baixo custo (SCHOR,
1990).
Portanto, foi objetivo deste estudo verificar os
comportamentos de risco relativos às relações sexuais
de indivíduos na faixa etária dos 19 aos 24 anos de idade, acadêmicos do curso de física e química de uma
universidade pública.
49
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Metodologia
Estudo descritivo de corte transversal. A amostra foi
composta por acadêmicos de curso superior em Física
(27,0%) e do curso de Química (73,0%). Foram entrevistados 37 indivíduos, dos quais de 19 a 24 anos (83,8%),
de 25 a 34 anos (13,5%) e de 35 a 44 anos (2,7%). Desses,
(83,8%) eram do do sexo feminino e (16,2%) do sexo masculino. Quanto à etnia, (48,6%) se consideram-se brancos,
(32,4%) negros, (18,9%) se consideram-se de outra etnia.
Em relação ao estado civil, solteiro(a) (78,4%), casado(a) ou
vivendo com companheiro(a) (18,9%) e viúvos (2,7%).
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Parecer N° 306/79, datado de 22 de junho de 2012. Antes
da aplicação dos instrumentos, foram repassadas todas as informações sobre o estudo, e os indivíduos que
concordaram em participar do mesmo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta de dados foi realizada pelo Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício
e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia (GIPESOM), entre
os meses de março e junho do ano de 2013, mediante
a aplicação de um questionário de forma individual e
anônima em sala de aula.
As informações associadas aos comportamentos
de risco para a saúde foram obtidas mediante a aplicação do questionário Youth Risk Behavior Survey – College
(YRBS-C), traduzido para o idioma português.
Foi realizada uma estatística descritiva observando a frequência e porcentagem das respostas. Foi
utilizado o software Statistical Package for the Sciences
(SPSS) versão 20.0 para o Windows na tabulação dos
dados.
Resultados
Tabela 1
Variável
Categoria
N
%
Idade da primeira relação sexual
Nunca teve
13 a 14 anos
15 a 16 anos
17 a 18 anos
19 a 20 anos
21 a 24 anos
Nenhuma vez
Uma vez
2 a 3 vezes
4 a 9 vezes
10 a 19 vezes
20 ou mais vezes
Não teve
Nunca
Raramente
Algumas vezes
Na maioria das vezes
Sempre
Sim
Não
17
1
9
5
3
2
21
2
6
4
3
1
21
6
3
2
1
4
2
35
45,9
2,7
24,3
13,5
8,1
5,4
56,8
5,4
16,2
10,8
8,1
2,7
56,8
16,2
8,1
5,4
2,7
10,8
5,4
94,6
Relação sexual nos últimos 30 dias
Uso de preservativo nos últimos 30 dias
Relação contra sua vontade
A tabela 1 nos mostra questões ligadas à atividade sexual. Quanto à idade da primeira relação sexual,
45,9%, nunca tiveram relação sexual; 2,7% tiveram sua
primeira relação sexual de 13 a 14 anos; 24,3% deram
início à vida sexual de 15 a 16 anos; 13,5% afirmaram ter
sua primeira relação de 17 a 18 anos; 8,1% deram início
à vida sexual de 19 a 20 anos; 5,4% tiveram sua primeira
relação sexual de 21 a 24 anos. No que diz respeito à relação sexual nos últimos trinta dias, 56,8% não tiveram
50
relação nos últimos 30 dias; 5,4% uma relação sexual;
16,2% tiveram de 2 a 3 relações sexuais, 10,8% tiveram
de 4 a 9 relações sexuais; 8,1% de 10 a 19 relações sexuais e 2,7% 20 ou mais vezes.
Quanto ao uso de preservativo nos últimos 30
dias, 56,8% não tiveram relação sexual nos últimos 30
dias; 16,2% nunca tiveram relação sexual; 8,1% disseram usar preservativo raramente; 5,4% usaram preservativo algumas vezes; 2,7% fizeram uso de preser-
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
vativo na maioria das relações; 10,8% afirmaram usar
preservativo em todas as relações. Das pessoas entrevistadas, 5,4% afirmaram já ter feito relação sexual
contra a vontade e 94,6% disseram que nunca foi ter
sido forçada a fazer relação sexual.
O presente estudo verificou que a maioria dos entrevistados nunca teve relação sexual 45,9%; 24,3%) deram início à vida sexual de 15 a 16 anos. Uma pesquisa
realizada na cidade de São Paulo, entre jovens de 15 a
19 anos mostrou que 46,1% já tinham iniciação sexual
(BORGES, 2005).
A maioria dos adolescentes que já teve relação
sexual não usa preservativo ou usa raramente. Quanto mais tardio for o início da vida sexual do indivíduo,
mais ele terá chance de se prevenir melhor. Segundo
Béria (1998), em um estudo com jovens, descobriu que
o risco de não usar preservativo na última relação se
reduzia em 18% para cada ano a mais de idade na primeira relação sexual.
Da amostra total, 5,4% já tiveram relação sexual
contra a própria vontade.
Tabela 2
Variável
Categoria
N
%
Uso de álcool ou drogas em relação
sexual
Nunca teve relação sexual
Não
Nunca teve relação sexual
Nenhum método foi usado
Pílula anticoncepcional
Preservativo
Anticoncepcional injetável
Coito interrompido
Nenhuma vez
1 vez
2 ou mais vezes
Sexo masculino
Sim
Não
15
20
16
4
9
6
1
1
28
3
1
5
5
32
40,5
59,5
43,2
10,8
24,3
16,2
2,7
2,7
75,7
8,1
2,7
13,5
13,5
86,5
Método anticonceptivo usado
Interrupção de gravidez
Exame de HIV
A tabela acima nos mostra que 40,5% nunca tiveram relação sexual acompanhada do uso de álcool ou
drogas; 59,5% nunca tiveram relação sexual.
Em relação ao método anticonceptivo usado
43,2% nunca tiveram relação sexual; 10,8% não usam
nenhum método; 24,3% usam pílula; 16,2% usam preservativo; 2,7% usam anticoncepcional injetável; 2,7%
usam coito interrompido.
Sobre interrupção de gravidez 75,7% nunca interromperam; 8,1% interromperam uma vez; 2,7% interromperam duas ou mais vezes; 13,5% são do sexo
masculino.
Exame de HIV 13,5% já fizeram e 86,5% nunca fizeram.
Dentre os entrevistados ninguém diz ter feito relação sexual com uso de álcool ou drogas.
Segundo Vieira (2002) é muito importante conhecer os métodos anticoncepcionais, pois cada um
tem sua peculiaridade, e o mesmo deve ser escolhido visando ao melhor atendimento das suas necessidades. Ainda que os métodos mais usados sejam o
anticoncepcional oral, preservativo masculino, esterilização feminina, dispositivo intra-uterino (DIU) e
abstinência periódica, a contracepção se reduz ao uso
do anticoncepcional oral e da esterilização feminina (Schor, 2000).
Das jovens entrevistadas todas que já tiveram relação sexual já fizeram aborto alguma vez. Segundo
Diniz (2010) uma em cada cinco mulheres de até 40
anos de idade fazem um ou mais abortos durante a
vida.
Conclusão
A vida sexual está começando muito cedo e sem
o conhecimento necessário para tal, o que implica que
em não se prevenirem adequadamente podendo causar futuros transtornos como gravidez indesejável ou
alguma DST.
Foi observado que o número de pessoas que nunca tiveram relação sexual não se manteve durante a
pesquisa variando de 15 a 17 pessoas.
51
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
BÉRIA, J. Ficar, transar. A sexualidade do adolescente em tempos de AIDS. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1998.
BORGES, A. L. V.; SCHOR, N. Início da vida sexual na adolescência e relações de gênero: um estudo transversal em
São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública, 2005.
DINIZ, D.; MEDEIROS, M. Aborto no Brasil. Uma pesquisa domiciliar com a técnica de urna. Cien. Saude Colet. 2010.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. L. Compreendendo o desenvolvimento motor bebês, crianças e adolescentes.
3.ed. São Paulo: Phorte editora, 2005.
MARTINS, L. B. M.; COSTA-PAIVA, L.; OSIS, M. J. D.; SOUSA, M. H.; NETO, A. M. P.; TADINI, V. Conhecimento sobre métodos anticoncepcionais por estudantes adolescentes. Rev Saúde Pública, 2006.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano. 7 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
PINHO, M. D. G.; BERQUÓ, E.; LOPES, F.; OLIVEIRA, K. A.; LIMA, L. C. A.; PEREIRA, N. Juventudes, raça e vulnerabilidades. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, 2002.
REZENDE, M. Obstetrícia Fundamental. 11 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
SAITO, M. I. Adolescência, cultura, vulnerabilidade e risco. Pediatria. São Paulo. 2000.
SCHOR, N.; LOPEZ, F. A. Adolescência e anticoncepção. Estudo de conhecimento e uso em puérperas internadas
por parto ou aborto. Rev. Saúde Pública, 1990.
SCHOR, N.; FERREIRA, A. F.; MACHADO, V. L.; FRANÇA, A. P.; PIROTTA, K. C.; ALVARENGA, A. T. et al. Mulher e anticoncepção: conhecimento e uso de métodos anticoncepcionais. Cad. Saúde Pública, 2000.
VIEIRA, E. M.; BADIANI, R.; DAL FABBRO, A. L.; RODRIGUES JR., A. L. Características do uso de métodos anticoncepcionais no Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública, 2002.
52
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
DIÁLOGOS ENTRE A EDUC AÇ ÃO FÍSIC A E A
PSICOLOGIA: POSSÍVEIS INTERLOCUÇÕES
Telma Sara Q. Matos
Vilma Leni Nista-Piccolo
[email protected]
Introdução
A formação de professores em Educação Física
(EF) reflete uma orientação profissional, que constitui
em saberes docentes geralmente identificados com
as disciplinas do curso. Pertencente à área da Saúde,
a Educação Física mantém uma ínfima relação com a
Educação, que pode sinalizar a formação em licenciatura, cujo foco é habilitar profissionais para atuação profissional em ambiente escolar.
Esse estudo propõe analisar as disciplinas de Psicologia, presentes nos cursos de licenciatura em EF, as
quais estão contempladas na Formação Ampliada, na
dimensão Relação Ser Humano e Sociedade, na intenção de observar quais as questões psicológicas poderão suscitar como interface entre as duas áreas de saberes: Educação Física e Psicologia.
No estudo de Moreira (2011), a EF, pode usufruir
dos constructos das disciplinas de Psicologia, quando
a dinâmica dos processos subjetivos entre docentes de
Ensino Superior e graduandos, favorecem uma interlocução entre os mesmos, ocorrendo um maior entendimento sobre as questões da singularidade. Para isso, é
necessário então entender o conceito de subjetividade,
o qual configura-se como um conjunto de condições
que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território
existencial autorreferencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade. Em consonância a esse raciocínio, seguem as palavras de Bock
(2007):
[...] como subjetividade, concebida como algo que se constituiu na relação com o mundo material
e social, mundo este que só existe pela atividade humana. Subjetividade e objetividade se constituem uma à outra sem se confundirem. A linguagem é mediação para a internalização da objetividade, permitindo a construção de sentidos pessoais que constituem a subjetividade (BOCK, 2007,
pag 67).
As disciplinas de Psicologia não oferecem apenas
contributos em torno de processos da subjetividade
humana, como também podem fornecer um conjunto
de informações a ser empregado pelo educador em
sua prática pedagógica na escola. O que acontece na
realidade com relação ao conhecimento adquirido por
meio das disciplinas de Psicologia, são alguns pressupostos específicos que subsidiam reflexões sobre princípios primordiais, tanto do ponto de vista biológico,
como linguagem, pensamento, inteligência, afetividade, socialização, moralidade, comportamentos, dentre
outras que podem ser incluídas como essência de uma
disciplina desse conteúdo (MOREIRA, 2011).
Na busca da compreensão sobre as bases psicológicas que a área da Educação Física tem formado seus
futuros professores, procura-se, por meio das matrizes
curriculares (ementas e bibliografias) se nos cursos de
Licenciatura em EF nas Instituições Ensino Superior
(IES) públicas do estado de Minas Gerias (MG), se há
disciplinas de Psicologia, quais são elas e por quem são
ministradas.
Partindo dessa premissa inicial, o objetivo geral
deste estudo é compreender quais e como as discipli-
nas da área da Psicologia podem contribuir com a formação do professor de Educação Física nas Instituições
de Ensino Superior públicas do estado de MG.
O estudo corresponde a um recorte de uma pesquisa que compreende todas as IES do estado de MG
que oferecem cursos de Graduação em EF, presencial
e em atividade. Segundo dados do Portal do MEC (Brasil, 2014), atualmente MG, conta com 97 IES ofertando
cursos de EF. Dessas, 92 IES oferecem o curso na modalidade Licenciatura, sendo que, desse total, treze IES
são públicas. Nas IES públicas de MG, encontraram-se
quatorze cursos, em andamento. Especificamente, a
pesquisa deu-se em torno das disciplinas pertencentes
à área da Psicologia ministradas nesses cursos.
Este estudo obteve previamente a aprovação
do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro – UFTM – processo Nº
2565/2013, o qual permitiu o início à coleta dos dados
da pesquisa. Foram enviados e-mails aos coordenadores dos cursos com a explicação minuciosa sobre a
pesquisa, bem como dos contatos dos pesquisadores
envolvidos, para esclarecimentos de possíveis dúvidas
a respeito do estudo.
53
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Como procedimento metodológico, o estudo corresponde a uma pesquisa qualitativa descritiva. O primeiro procedimento adotado uma análise documental
de todos os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) dos 14
cursos de Licenciatura da Educação Física no estado de
MG, investigando-se as Matrizes Curriculares (ementas
e bibliografias) dos respectivos cursos, para identificar
quais são as disciplina de Psicologia que compõem as
estruturas curriculares desses cursos.
Para análise documental das estruturas curriculares, foi realizado um levantamento acerca de todas
as disciplinas de Psicologia ministradas nesses cursos.
Diante dos primeiros resultados encontrados, no intuito de compreender como se dão esses amálgamas dos
saberes, procedemos, então com a análise das Matrizes
Curriculares dos PPP dos cursos de licenciatura em EF,
identificando quais são as disciplinas de Psicologia que
compões a estrutura curricular de cada IES. Conforme
o Quadro 1, pode-se verificar quais são as disciplinas
de Psicologia ministradas nas IES públicas de MG, nos
cursos de licenciatura em EF.
Quadro 1: Nomes das Disciplinas nas IES Investigadas
Disciplinas
Curso
Psicologia da Educação
Psicologia do Esporte
Psicologia da EF e Esporte
01
02
X
03
04
05
X
X*
06
07
X
X
X
X
X
Psicologia da Educação,
Aprendizagem e Ensino
08
09
I0
11
12
13
X
X
X
14
X
X
X
X
X
Psicologia
Psicologia do Desenvolvimento e da Apren.
X
X
X
Psicologia Aplicada a EF
Escolar
Psicologia da Aprendizagem
X
X
X
X
X* Disciplina Eletiva
Partindo da leitura das ementas e bibliografias de
todas as disciplinas de Psicologia encontradas, levantamos os pontos comuns entre essas disciplinas ministradas relacionados ao ementário e ao referencial
bibliográfico encontrado. Desse material, conseguimos
elencar quatro dimensões ou eixos (Quadro 2) do que
foi apontado como comum, nas disciplinas de Psicologia ministrados nos cursos de EF, citadas no quadro
anterior.
Quadro 2: Disciplinas de Psicologia: Quatro Eixos
DISCIPLINA (EIXOS)
IES
Psicologia da Educação
01, 03, 04, 05, 06, 07, 09, 14
Psicologia da Aprendizagem
Psicologia do Desenvolvimento Humano
08, 13, 12
11, 12
Psicologia do Esporte
02, 03, 04, 05, 07, 09, 11, 12, 10,14
Na segunda fase do estudo, serão realizadas entrevistas presenciais com professores que ministram
todas as disciplinas de Psicologia desses respectivos
cursos, (licenciatura em EF), entrevistas essas que serão
semi dirigidas, compostas por perguntas norteadoras,
em que também aproveitaremos o momento para solicitar os Planos de Ensino das disciplinas de Psicologia.
No momento posterior, para não concluir: verificaremos as possíveis convergências e divergências entre as análises das informações obtidas por meio das
entrevistas dos professores de Psicologia, confrontan54
do as mesmas com as análises dos Planos de Ensino,
Ementas e Bibliografias dos cursos de licenciatura em
EF.
Toda pesquisa passa por três grandes momentos
em sua análise, que são: a descrição dos dados, a redução dos mesmos e a interpretação do que foi selecionado. Dessa forma, também ao findar desta pesquisa,
pretendemos desenvolver a análise de todos os dados
coletados.
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
Referências
BOCK, A. M. B. Adolescence as a social construction: a research on the concept on books applied to parents and
educators. Psicología Escolar e Educacional. v. 11, n. 1, p. 63-76, 2007.
MOREIRA, C. R. P. Educação Física e Psicologia: em busca de novos diálogos. Tese. Doutorado, Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2011.
55
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
AFASIAS FLUENTES E NÃO FLUENTES: ABORDAGEM
TER APÊUTIC A
Manuela Pierotte Luz Gondim
João Pedro Paulino Ruas
Molyana Kelly Pereira Dias
Lucas Mendes Nobre
Olivia Abreu Versiani
Fernando Fernandes Gonçalves da Silva
Ana Carine Gomes dos Santos
[email protected]
Introdução
Segundo Kunst (2013), afasia é descrita como um
distúrbio adquirido da linguagem, podendo estar associado ou não a outras alterações cognitivas, caracterizado por perda da compreensão ou da capacidade de
expressão da linguagem. As diferentes formas de afasia
relacionam-se com a área lesionada.
Normalmente, descrevem-se três aréas cerebrais
relacionadas à linguagem: área de Wernick (parte posterior do sulco lateral (Sylvius), área de Heschl (giro
temporal transverso anterior) e área de Broca (giro
frontal inferior). A área de Broca é uma região de associação, importante no componente motor da fala, e as
áreas de Heschl e de Wernick estão interligadas não só
anatomicamente, como funcionalmente também, possuindo importância na composição da audição e compreensão da linguagem falada (Brandão, 2011).
No entanto, de acordo com Vieira (2011), ainda
existem muitas controvérsias quanto à localização das
lesões e as consequências nas alterações na linguagem;
alguns autores destacam a importância da região cortical Sylviana para a função da linguagem. Atualmente,
a classificação mais utilizada é a de Boston, que divide
os principais quadros afásicos em dois grupos: afasias
fluentes e afasias não fluentes. São consideradas afasias
não fluentes: a afasia de Broca, a afasia transcortical motora e a afasia global. Enquanto a afasia de Wernicke, a
afasia de condução, a afasia transcortical sensorial e a
afasia anômica pertencem ao grupo das afasias fluentes.
Essa clasifficação foi realizada avaliando-se, principalmente, a fluência e a repetição de palavras dos pacientes.
As afasias são consideradas uma das disfunções
neurológicas mais comuns após lesão focal adquirida
no sistema nervoso central em áreas relacionadas à
linguagem (KNUST, 2013). São mais comumente causadas por traumas cranioencefálicos (TCE) em crianças e
acidente vascular encefálico (AVE) em adultos. Em 20%
dos casos, não há explicação do ponto de vista anatomoclínico (DUARTE, 2011).
Devido à complexidade e importância da compreensão das afasias e suas particularidades, o presente estudo tem por objetivo realizar uma revisão na
literatura sobre afasias fluentes e não fluentes, destacando sua abordagem terapêutica.
Materiais e Métodos
Para a realização da presente revisão de literatura,
foram feitas pesquisas sobre o tema “afasias fluentes e
não fluentes: abordagens terapêuticas” na base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library
Online) e PubMed (U. S. National Library of Medicine), uti-
lizando os descritores “afasia”,”afasia de Wernick”, “afasia
de Broca”, “tratamentos afasia”, “afasia de expressão” e
“afasia de compreensão”. A busca resultou em 7 artigos
elegíveis, entre os anos de 2006 e 2014, para compor
este estudo.
Resultados e Discussão
A literatura descreve as diferentes formas de afa-
sia, sendo assim: a afasia de Broca é caracterizada por
57
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
fala espontânea não fluente, variando entre ausência
total de emissão oral até dificuldades de verbalizar
frases gramaticalmente corretas. Geralmente está associada à disartria ou apraxia da fala, e também à hemiplegia ou hemiparesia direita. A compreensão oral
encontra-se preservada para materiais simples e prejudicada para contruções mais complexas. A escrita geralmente apresenta deficiência similar à da fala. A afasia transcortical motora assemelha-se com a afasia de
Broca, mas sem prejuízo na capacidade de repetição
(FONTOURA, 2011).
Na afasia de Wernicke, a fluência não está prejudicada, mas há perturbação na compreensão e na repetição de palavras (DUARTE, 2011). Segundo Spezzano
(2010), nesse tipo de afasia, parafasias verbais e neologismos são frequentes, tanto na fala espontânea quanto em testes formais de nomeação oral.
Tabela 1: demonstra didaticamente essas diferenças.
Fonte: DUARTE, 2012
Tendo em vista as questões relacionadas à afasia, destaca-se primeiramente o tratamento fonodialógico, que objetiva a recuperação da comunicação
do paciente afásico, levando-se em consideração
seus limites e sua condição física e mental. O tratamento fonodialógico deve ser humano, sistemático e plástico, compreendendo o paciente como um
todo.
Na afasia não fluente, há um grau de recuperação espontânea - mais rápida nos primeiros três meses, tornando-se mais lenta a partir dos seis meses.
Porém, as melhoras são mínimas sem o tratamento
adequado. A melhora inicial é, em sua maioria, devida aos processos neurofisiológicos, principalmente
com a atuação do hemisfério direito. As estratégias
de exposição à linguagem e as práticas desenvolvidas pelo paciente são responsáveis por grande parte
da recuperação tardia.
O tratamento fonoaudiológico nesta situação
consiste de avaliações e terapia. A avaliação busca
identificar os sintomas linguísticos presentes no paciente, enquanto a terapia busca auxílio na superação das dificul­dades de comunicação, tornando-a
funcional e tendo como metas manter o paciente
verbalmente ativo, orientar a familia a comunicar-se
com o paciente e admnistrar estratégias para melhorar a linguagem.
As variáveis clínicas e psicossociais devem ser
levadas em consideração durante o tratamento, sendo a localização da lesão o fator que mais influi no
58
prognóstico de recuperação da afasia. A etiologia da
afasia também é um importante fator na determinação do prognóstico, sendo que afasias decorrentes
de AVE ou de tumores intracranianos possuem pior
prognóstico (KUNST, 2013).
Segundo Campos (2006), as afasias requerem
uma abordagem multidisciplinar especializada, com
um plano de tratamento holístico, integrado e personalizado, formado por especialistas em neurologia, neuropsicologia, fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia e demais especialistas de que o
paciente necessite. Há também a terapia de linguagem, que exerce um efeito positivo sobre a recuperação. Quanto mais cedo é iniciada e mais jovem é o
paciente, melhores são os resultados. Os resultados
obtidos sempre dependem da etiologia da afasia, e
podem-se esperar resultados melhores se o paciente não possuir complicações associadas. É importante ainda ressaltar a importância dos fatores sociais,
emocionais e familiares. O progresso do tratamento
sofre influência das atitudes, valores e relações sociais do paciente.
Cabe ressaltar que, em alguns casos, as terapias
fonoaudiológas não produzem efeitos, mas a terapia da linguagem é a considerada a mais efetiva na
maiora dos casos.
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
Conclusões
Após devida revisão na literatura, conclui-se que
são diversos os tipos de afasias e suas classificações,
sendo a mais comumente utilizada a de Boston, que
as classifica de acordo com a manifestação clínica: presença de fluência na linguagem ou não. Nas afasias
fluentes, o paciente consegue formular palavras, no
entanto, sua capacidade de compreensão da linguagem falada está comprometida, não havendo, portanto, uma comunicação adequada; enquandram-se nessa
classificação a afasia de Wernicke, a afasia de condução, a afasia transcortical sensorial e a afasia anômica.
As afasias não fluentes são caracterizadas pela dificuldade em formular palavras, ainda que haja compreensão da linguagem falada; são consideradas afasias não
fluentes a afasia de Broca, a afasia transcortical motora
e a afasia global.
As afasias possuem etiologias diversas, relacionadas a lesões no encéfalo (tumores, traumas, acidentes
vaculares encefálicos) e vão se caracterizar de acordo
com a localização destas lesões, sendo a área de Broca
relacionada com afasias não fluentes e a área de Wer-
nicke com afasias fluentes. Após um diagnóstico bem
elucidado, é importante a realização de um tratamento adequado para cada paciente. As terapias para esse
tipo de deficiência devem ser do tipo multidisciplinares, sempre visando ao bem-estar biopsicossocial do
paciente.
A abordagem terapêutica inclui tratamentos fonoaudiológicos que visam à recuperação da fala ou de
parte dela, de modo a ressocializar o paciente, instruir
a família e criar novas formas de comunicação. Podem
ser solicitados psicólogos, linguistas, neurologistas e
outros especialistas a depender das necessidades do
paciente.
Tanto na afasia fluente como na não fluente, o tratamento precoce e bem realizado é de fundamental
importância para um bom prognóstico na recuperação
do paciente. Outros fatores como tipo e extensão da
lesão, etiologia da afasia, idade do paciente e adesão
ao tratamento também determinam um melhor prognóstico.
Referências
BRANDÃO, M. V. T.; MENDES, P. D.; MACIEL, M. S.; RIBEIRO, C. P. S.; ANTONIO, V. E. Distúrbios da fala: conceitos atuais. Revista Ciências & Ideias. v. 3, n. 1, 2011.
CAMPOS, R. V.; GIMENO, A. M. Intervención multidisciplinar en afasias. Actas del Primer. Congreso Nacional de
Lingüística Clínica. v. 1, 2011.
DUARTE, N.; VASCONCELOS, M. A.; BATALHA, I. Alterações adquiridas da linguagem na infância. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação. v. 20, n. 1, 2011.
FONTOURA, D. R. D. et al. Rehabilitation of language in expressive aphasias - A literature review; reabilitação da
linguagem nas afasias expressivas - uma revisão da literatura. Dement. neuropsychol. v. 6, n. 4, 2012.
FONTOURA, D. R. et al. Adaptação do Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve NEUPSILIN para avaliar
pacientes com afasia expressiva: NEUPSILIN-Af. Ciências & Cognição. v. 16, n. 3, p. 78-94, 2011.
KUNST, L. R.; OLVEIRA, L. D.; COSTA, V. P.; WIETHAN, F. M.; MOTA, H. B. Eficácia da fonoterapia em um caso de afasia
expressiva decorrente de acidente vascular encefálico. Rev. CEFAC. v. 15, n. 6, p. 1712-1717, 2013.
SPEZZANO, L. C.; RADANOVIC, M. Habilidade de nomeação: diferenciação entre objetos e verbos na afasia; Naming abilities: differentiation between objects and verbs in aphasia. Dement. neuropsychol. v. 4, n. 4, 2010.
VIEIRA, A. C. C.; ROAZZI, A.; QUEIROGA, B. M.; ASFORA, R.; VALENÇA, M. M. Afasias e áreas cerebrais: argumentos
prós e contras à perspectiva localizacionista. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 24, n. 3, p. 588-596, 2011.
59
Área - Psicologia do Exercício e Saúde
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PAR A O
PAR ADESPOR TO AQUÁTICO
Yghor Queiroz Gomes
Claudia Furtado Borges
[email protected]
Introdução
A Psicologia do Esporte busca, em sua ciência,
a investigação dos processos psíquicos do ser humano frente à prática esportiva, seja ela por lazer ou não
(MACHADO, 2006). É papel do psicólogo do esporte
entender todo o funcionamento do ser humano, que
possui uma relação com a atividade física, o efeito que
essa prática apresenta sobre cada um. Dessa forma,
quando houver a necessidade de intervir sobre aspectos emocionais e psicopatológicos, o psicólogo, por
meio da participação no esporte, poderá desenvolver
não só uma boa performance, mas a personalidade, a
satisfação pessoal, a qualidade de vida e o desenvolvimento socioeducativo do indivíduo.
Dentro deste contexto, temos o esporte adaptado, que pode ser definido como esporte modificado
ou especialmente criado para ir ao encontro das necessidades únicas de indivíduos com algum tipo de deficiência (GORGATTI; GORGATTI, 2005). Dados fornecidos
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2000) contabilizam um percentual em média de 14,5%
da população brasileira com necessidades especiais, ou
seja, 24,5 bilhões de pessoas, aproximadamente.
Diante desse aporte populacional que se destaca
na sociedade, o desempenho dos atletas paraolímpicos, ou seja, pessoas com deficiência (PCD), que inicialmente buscaram no esporte uma possibilidade de
recuperação e integração social e que recentemente
passaram a dar outra conotação ao esporte adaptado,
buscando o profissionalismo e o alto rendimento esportivo, é um tema que vem ocupando grande espaço
na mídia atualmente. Essa profissionalização dentro
do esporte tem permitido a estes atletas com deficiência alcançar níveis expressivos de resultados tanto na
sociedade nacional, quanto internacional (SAMULSKI,
2004).
Dentre esses esportes, a natação adaptada é um
dos esportes aquáticos mais praticados por PCD, sendo
este ambiente um dos locais mais importantes onde
são realizados os primeiros movimentos estimuladores
para a reabilitação motora no uso da psicomotricidade
(YATSUDA, 2010). Com o aprendizado do nado e a melhora na deficiência, é possível despertar o interesse
em participar de eventos esportivos competitivos, até
mesmo para conhecer os resultados dessa incansável
busca pela melhora.
Frente a isso, a importância do psicólogo na área
esportiva delimita-se ao enfoque em que se relaciona
a atividade esportiva adaptada - natação - a indivíduos
portadores de deficiências.
O objetivo deste projeto de intervenção foi trabalhar a ansiedade e a motivação, buscando um melhor
rendimento e desempenho dos paratletas.
Materiais e Métodos
Após os primeiros contatos com a comissão técnica e com o grupo de atletas do CDDU, foi possível
identificar as principais demandas, a ansiedade précompetição e a baixa motivação, sendo a ansiedade
uma preocupação constante da equipe técnica, por se
apresentar como um desafio enfrentado por todos.
Foram marcados 11 encontros sequenciais, um
por semana, com duração de 1h e 20min cada, nos
quais foram aplicadas técnicas vivenciais, dessensibilizadoras e otimizadoras de habilidades cognitivas e
comportamentais que pudessem ser contingenciadas
no rendimento ou na significação frente à atuação
durante o comportamento de nadar, trabalhando as
questões motivacionais e de controle da ansiedade.
A amostra foi composta por 13 atletas portadores de diferentes deficiências, com idade entre 12 e 42
anos, filiados ao Clube Desportivo para Deficientes de
Uberlândia (CDDU).
A metodologia utilizada foi planejada pensando
na qualidade das atividades e na participação de todos
os integrantes. Utilizaram-se dinâmicas de grupos e
grupos operativos e intervenções individuais. O objetivo do grupo operativo foi ensinar e instruir os participantes sobre um determinado tema, mais do que trazer
61
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
as respostas prontas, mas privilegiando a construção no
coletivo. A automotivação foi trabalhada em três tipos
de técnicas: motora, cognitiva e emocional. E essas três
técnicas englobaram trabalho de determinação de metas, imaginação das próprias capacidades, autorreforço
verbal, exercícios motores e controle da respiração.
Resultados e Discussão
Cabe ao psicólogo do esporte entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico, a saúde
psicológica e o controle da ansiedade, trabalhando a comunicação e a organização de planejamentos pré-competição, treinando atenção e sentimentos relacionados a
vitórias e derrotas entre os atletas. Diante disso, o trabalho
desenvolvido buscou melhorar a qualidade dos rendimentos e o desempenho dos atletas, analisando e modificando processos psíquicos e ações esportivas, como o planejamento, o relaxamento e a concentração.
O trabalho de concentração procurou ensinar ao
atleta focalizar a atenção no que é relevante, para isso
o atleta é treinado a identificar o que é relevante no
seu esporte. Como fatores mais relevantes, a maioria
destacou a ansiedade, o nervosismo excessivo e os medos de cometer erros, de se expor, dos resultados, de
decepcionar pessoas (técnico e torcida).
As questões envolvendo pensamentos, sentimentos e comportamentos, como cada fator é interligado
com o outro e influencia de maneira significativa no
resultado foram trabalhadas, tendo em vista que o que
realmente importa não é o fato (ganhar ou perder),
mas a interpretação que cada indivíduo faz dele.
Para redução de ansiedade, utilizaram-se o con-
trole da respiração e a técnica de relaxamento progressivo de Jacobson, que consistem em tencionar e relaxar seguidamente determinados grupos musculares
por um determinado tempo, possibilitando o aperfeiçoamento da percepção sensória e consequente controle consciente sobre eles.
Um resultado significante foi a avaliação positiva
feita de forma subjetiva por parte dos participantes do
projeto, tanto treinadores quanto atletas. A cada encontro, buscávamos, junto com os integrantes do grupo, novas possibilidades de trabalho, e, a cada novo encontro
que passava, a mudança na interação e exposição de
cada um era notável. O modo como falavam e expunham suas ideias em relação ao grupo, às adversidades,
ao técnico e ao próprio programa de intervenção foi
evoluindo a cada sessão. Os atletas demonstraram, ao final do trabalho, vontade de continuar trabalhando com
o grupo e de forma individual, ressaltando que o trabalho havia lhes proporcionado aprendizagem e apoio nas
questões que permeiam suas vidas.
A intervenção descrita teve a duração de apenas
quatro meses, sendo difícil, neste curto período, falar
em termos de resultados obtidos em função do trabalho, mas os que existiram foram positivos.
Conclusões
Verificou-se que as intervenções utilizadas no presente estudo influenciaram, de maneira positiva, no
desempenho dos paratletas, melhorando suas habilidades funcionais, cognitivas, sociais e, principalmente,
suas condições de treinamento enquanto esportistas.
Diante disso, consideramos que a psicologia do
esporte pode atuar como instrumento de socialização
e manutenção da saúde física e psicológica de paratletas e deve ser desenvolvida, de maneira interdisciplinar, com profissionais como assistente social, nutricionista, médico fisiologista, técnico, preparador físico,
dentre outros, a fim de desenvolver um programa de
treinamento de habilidades psicológicas que auxilie o
atleta.
Referências
GORGATTI, M. G.; GORGATTI, T. O esporte para pessoas com necessidades especiais. In: GORGATTI, M. G. (org.), DA
COSTA, R. F. Atividade Física Adaptada: Qualidade de Vida para Pessoas com Necessidades Especiais. Barueri, SP: Manole, 2005.
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Guanabara Koogan, 2006.
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aptidão dos atletas paraolímpicos brasileiros: conceitos, métodos e resultados. São Paulo: Atheneu, 2004.
YATSUDA, A. G. A natação adaptada como esporte de inclusão em um ambiente excludente. Rio de Janeiro:
Universidade Castelo Branco - UCB, 2010.
62
Área - Bem-Estar
ÁREA - BEM-ESTAR
COMPOR TAMENTO DE RISCO REL ACIONADO AO USO
DE TABACO EM CURSO DA ÁRE A DE SAÚDE
Norberto Gorayéb Prates,
Maria de Fátima de Matos Maia,
Celina Aparecida Gonçalves Lima,
Jeilson Antunes de Freitas,
Thatiana Maia Tolentino
Hugo Barbosa da Silva Montalvão
Jaime Tolentino Miranda Neto
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil.
Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde
Ocupacional e Mídia – GIPESOM
Introdução
O tabagismo é considerado uma pandemia, responsável pelo maior problema de saúde pública e a
principal causa evitável de morte. Causa a morte de
um em cada 10 adultos no mundo, 5 (cinco) milhões de
pessoas por ano (INCA, 2011).
O hábito de fumar é considerado o principal fator
de risco para o desenvolvimento de doenças tais como
câncer de pulmão, de coração, de todo o tubo digestivo, doenças coronárias e respiratórias, impotência sexual, entre outras.
Além disso, está relacionado também a transtornos psiquiátricos, como depressão e esquizofrenia,
transtornos do desenvolvimento neurocomportamental, como déficit de atenção e hiperatividade (GRANVILE-GARCIA; SARMENTO; SANTOS et al., 2012).
Assim como os baixos índices de participação em
atividades físicas e desportivas e os hábitos alimentares inadequados, o consumo de tabaco é um motivo
de preocupação permanente na sociedade em que vivemos (LEAL; CALVO; MIGUEL, 2013).
A substância contida no tabaco responsável pelo
grande índice de dependência é, entre outras, a nicotina (INCA, 2011). Essa dependência tem três aspectos
básicos: dependência física, responsável pelos sintomas da síndrome de abstinência; dependência psicológica, responsável pela sensação de suporte em
momentos de estresse, solidão; e a dependência condicionada, devido às associações habituais (fumar e
beber café, fumar juntamente com bebidas alcoólicas,
fumar após as refeições, entre outras condições).
O tabagismo várias vezes inicia-se nos Ensinos
Fundamental e médio, período em que está sendo formada a personalidade e o indivíduo é bastante suscetível à influência do meio. No ensino superior, a tendência é aumentar o número de pessoas que fazem uso
do tabaco, uma vez que os indivíduos já se tornaram
maiores de idade e podem adquirir cigarros com maior
facilidade. Essa facilidade aliada ao consumo de álcool,
ao sedentarismo, ao stresses da rotina de estudos e trabalho, coloca grande parte dos universitários em um
grupo bastante propenso a desenvolver doenças.
Portanto o objetivo do presente estudo é verificar
os acadêmicos do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros que fazem uso regular de
tabaco, a idade em que começaram a fumar e se já tentaram parar de fumar.
Materiais e métodos
Esta é uma pesquisa descritiva e quantitativa com
abordagem qualitativa, de natureza exploratória.
A amostra foi composta de 32 estudantes universi-
tários da Universidade Estadual de Montes Claros, que
cursam o ensino superior na área de saúde, mais especificamente no curso de odontologia.
63
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Parecer Nº 306/79, datado de 22 de junho de 2012. Antes
da aplicação dos instrumentos, foram repassadas todas as informações sobre o estudo, e os indivíduos que
concordaram em participar do mesmo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta de dados foi realizada pelo Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício
e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia (GIPESOM), entre
os meses de março e junho do ano de 2013, mediante
a aplicação de um questionário de forma individual e
anônima em sala de aula. O referido questionário foi
estruturado contendo perguntas relacionadas ao hábito de fumar e fatores associados ao referido hábito:
o uso de tabaco, a idade em que começou a fumar, a
quantidade de cigarros fumados por dia, o curso em
que estão matriculados, o sexo e a idade.
Foi realizada uma estatística descritiva observando-se a frequência e a porcentagem das respostas.
Foi utilizado o software StatisticalPackage for theSciences (SPSS) versão 20.0 para Windows na tabulação dos
dados.
Resultados e Discussões
Tabela 1 - Frequência de respostas às variáveis do questionário estruturado
Variáveis
Categoria
N
Percentual
Sexo
Masc.
Fem.
18 a 20 anos
21 a 24 anos
25 a 34 anos
Sim
Não
Nunca fumou
13-14 anos
15-16 anos
17-18 anos
19-20 anos
21-24 anos
Nenhum dia
1 ou 2 dias
10 a 19 dias
Não fumou
1 cigarro por dia
2 a 5 cigarros por dia
Sim
Não
Nunca fumou
15-16 anos
Sim
Não
23
09
17
13
02
6
26
26
01
02
01
01
01
30
01
01
30
01
01
01
31
31
01
01
31
71.9%
28.1%
53.0%
40.7%
6.3%
18.8%
81.2%
81.2%
3.1%
6.3%
3.1%
3.1%
3.1%
93.8%
3.1%
3.1%
93.8%
3.1%
3.1%
3.1%
96.9%
96.9%
3.1%
3.1%
96.9%
Idade
Tentou fumar cigarro?
Idade em que fumou pela primeira vez
Fumou nos últimos 30 dias
Nos últimos 30 dias, quantos cigarros fumou por dia?
Fuma diariamente, pelo menos 1 cigarro por dia
Idade em que começou a fumar regularmente
Tentou parar de fumar cigarros?
No processo de coleta de dados, trinta e dois acadêmicos do curso de odontologia da Universidade
Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), com idade
entre dezoito e trinta e quatro anos participaram desta pesquisa. Destes trinta e dois universitários, vinte e
três são do sexo masculino e apenas nove são do sexo
feminino.
Essa tabela mostra que 18% dos indivíduos pesquisados já tentaram fumar pelo menos uma vez na
vida, sendo que 3.1% deles experimentaram o cigarro
pela primeira vez entre 13 e 14 anos, 6.3% tiveram contato com o tabaco pela primeira vez entre 15 e 16 anos,
3.1% entre 17 e 18 anos, 3.1% entre 19 e 20 anos e 3.1%
entre 21 e 24 anos.
Apenas 6.3% das pessoas fumaram nos últimos
64
trinta dias. Somente uma pessoa fuma regularmente,
tendo iniciado tal hábito entre 15 e 16 anos, e já tentou
parar de fumar, sem obter, contudo, sucesso.
A Organização Mundial da Saúde - OMS (2008)
considera que os profissionais da área de saúde devem
ser o principal alvo de ações antitabagismo, pois estes
profissionais são agentes cuidadores e multiplicadores
da saúde, capazes de exercer grande poder de persuasão em seus pacientes.
O tabaco é o maior fator de risco na prevalência,
extensão e gravidade das doenças periodontais. O
abandono deste vício por meio de estratégias empregadas por profissionais da área da saúde é considerado
uma ação extremamente efetiva. Geralmente, são utilizadas três abordagens: o aconselhamento, a terapia de
Área - Bem-Estar
reposição de nicotina e a terapia medicamentosa, por
serem práticas, seguras e possuírem um bom grau de
eficiência (ROSA et. al, 2009).
Além disso, conhecer os fatores comportamentais
e sóciodemográficos de hábitos do tabagismo possibilita fornecer subsídios para orientar o desenvolvimento
da pesquisa, bem como as medidas educativas e preventivas sobre o assunto.
No presente estudo, dentre os trinta e dois acadêmicos analisados, a prevalência de indivíduos que
já tentaram fumar pelo menos uma vez na vida foi de
18%. No entanto, a quantidade de fumantes regulares
no presente estudo foi de apenas 3.1%, estatística menor que a apresentada em estudos semelhantes (COLARES; FRANCA; GONZÁLES, 2000; PEDROSA, 2009),
sendo que a parcela que consome tabaco com regularidade já tentou parar de fumar, sem obter, contudo,
êxito em tal tentativa.
Os dentistas que são fumantes regulares são menos predispostos a indagar os hábitos de risco de seus
pacientes. O papel do dentista na manutenção da saú-
de bucal é vital e não está limitado ao tratamento dentário, uma vez que os pacientes costumam visitar com
mais frequência seus dentistas que seus médicos, o
que dá aos dentistas a oportunidade de fornecer aconselhamento em relação à saúde como um todo com
maior frequência.
Portanto, torna-se extremamente necessária a
conscientização e a preparação dos acadêmicos de
odontologia acerca dos malefícios causados pelo tabagismo, assim como a possibilidade de tratamento dos
indivíduos que já são fumantes, visto que os profissionais da área da saúde, inclusive os dentistas, ainda passam pela graduação sem receber informações sobre as
reais implicações causadas pelo cigarro.
Os odontólogos ainda têm que ser convencidos
da necessidade vital para a saúde que a prevenção do
uso do tabaco e o abandono do tabagismo representam. Os dentistas que são fumantes necessitam de ajuda para abandonar o vício, além de terem o dever cívico e moral de dar um bom exemplo aos seus pacientes.
Conclusões
O conhecimento dos fatores relacionados ao tabagismo é necessário para a realização de programas institucionais adequados que visam reduzir o número de
fumantes. O ingresso no ensino superior tem um papel
fundamental nas ações preventivas do tabagismo, pois
os universitários têm condições de influenciar a comunidade onde atuam.
Pode-se concluir que dos 32 estudantes universitários analisados, a maioria é do sexo masculino, jovem adulta e nunca experimentou um cigarro na vida.
Aproximadamente 1/5 dos indivíduos já experimentou
cigarros. Uma parcela mínima de pessoas faz uso regular de tabaco, começou a fumar regularmente entre os
15 e 16 anos e já tentou parar de fumar.
Com base nos resultados apresentados, pretendese realizar uma pesquisa mais aprofundada a respeito
do presente assunto, incluindo um paralelo da odontologia e dos outros cursos de graduação na área da
saúde da Universidade Estadual de Montes Claros, com
relação ao tabagismo.
Referências
COLARES, V.; DA FRANCA, C.; GONZALES, E. Condutas de saúde entre universitários: diferenças entre gêneros. Rio de Janeiro, RJ: XXV, 03, 2009.
GRANVILLE-GARCIA, A. F. et al. Tabagismo entre acadêmicos da área de saúde. Ciênc. saúde coletiva. Online. v.17,
n. 2, p. 389-396. ISSN 1413-8123, 2012.
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LEAL, J. M. Composição corporal, o VO2 máx. e o estilo de vida de jovens estudantes do ensino superior. Revista
Motricidade. v. 4, n. 4, p. 261, 2013. doi: 10.6063/motricidade.4 (4).261.
PEDROSA, A. A. S. Perfil epidemiológico do consumo de álcool e fatores relacionados em estudantes universitários das ciências da saúde de Maceió/Alagoas. v. XIII, p. 75, 2009.
RODRIGUES, G.; GALVÃO, V.; VIEGAS, C. Prevalência do tabagismo entre dentistas do Distrito Federal. São
Paulo/SP: XXXIV, 05, 2008.
ROSA, E. F. et al. O Papel do Cirurgião-dentista no Abandono do Hábito do Fumo. R. Periodontia. v. XXIX, p. 4,
2009.
65
Área - Bem-Estar
A PERCEPÇ ÃO DA IMPOR TÂNCIA DA PR ÁTIC A
ESPOR TIVA NA SAÚDE MENTAL DE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA FÍSIC A PROVENIENTE DE LESÃO
MEDUL AR
Bianca Dantas Anacleto
Paula Ângela de Figueiredo e Paula
[email protected]
Introdução
A deficiência tem sido um tema de bastante relevância em nossa sociedade, devido a sua íntima relação com o aumento da violência e acidentes automobilísticos. De acordo com os resultados do Censo 2000,
“aproximadamente, 24,6 milhões de pessoas, ou 14,5%
da população total, apresentam algum tipo de incapacidade ou deficiência” seja ela de ordem física ou mental, demonstrando a importância da discussão desse
tema pela sociedade e pelos órgãos públicos.
Segundo o Ministério da Saúde, é considerada
deficiente toda pessoa que apresente “em caráter
permanente, perdas ou reduções de sua estrutura, ou função anatômica, fisiológica, psicológica ou
mental, que gerem incapacidade para certas atividades, dentro do padrão considerado normal para o
ser humano” (BRASIL, 2011). A lesão medular congênita ou adquirida, deficiência abordada nesse trabalho, pode ser entendida como o comprometimento
da “vértebra e/ou dos nervos da coluna vertebral”
por decorrência de traumatismo ou tumores, hemorragias e infecções viróticas, que podem levar a perda
ou a redução das funções do sistema motor, senso-
rial (sensações) e autônomo, responsável pelo batimento cardíaco, pressão arterial, regulação da temperatura, circulação, digestão, funções intestinais,
urinárias e sexuais. Após sofrer uma lesão, a medula espinhal não se regenera, e as funções motoras e
sensitivas permanecem comprometidas (GORGATTI;
BÖHME, 2008). Apesar de ser um comprometimento
de ordem física, suas consequências interferem no
aparato psicológico, podendo levar a depressão.
O presente trabalho visa verificar como a prática
esportiva regular contribui para a reabilitação e manutenção da saúde mental de pessoas com deficiência física congênita ou adquirida, proveniente de lesão
medular, a partir de relatos a respeito do benefício da
prática esportiva. O teste psicológico “Inventário Beck
de Depressão” foi utilizado com o objetivo de mensurar o nível de depressão dos sujeitos envolvidos na
pesquisa, uma vez que, de acordo com a Rede Sarah, o
transtorno de humor, principalmente a depressão acometem as pessoas com lesão medular (REDE SARAH DE
HOSPITAL DE REABILITAÇÃO, 2011 s/p).
Materiais e Métodos
Esta pesquisa tem caráter exploratório com o objetivo de aprofundar os conhecimentos acerca da importância da prática esportiva regular na reabilitação
e manutenção da saúde mental de pessoas com deficiência, assim como a importância da prática para o
bem estar.
Foram entrevistadas dez pessoas de ambos os
sexos com comprometimento motor devido a lesão
medular, com idade entre 27 a 46 anos, em dois centros esportivos que se dedicam ao fomento da prática
esportiva adaptada, sendo estas: Centro de Referência
Esportiva para Pessoa Portadora de Deficiência da Prefeitura de Belo Horizonte – CRE-PPD e Esgrima do Barroca Tênis Clube – Esgrima BTC.
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, obedecendo aos seguintes critérios: (a) ser
maior de 18 anos; (b) exercer atividade regular; (c) ter
adquirido de maneira traumática ou congênita a lesão.
A proposta de trabalho foi apresentada para o grupo,
que se dispôs livremente a participar da pesquisa.
As entrevistas seguiram o formato semiestruturado sobre os temas referentes à interferência da lesão
medular na rotina e nos laços sociais estabelecidos
com a família e amigos após a reabilitação, a influência
do humor ao lidar com as dificuldades causadas pelos
acometimentos proporcionados pela lesão, e os aspectos relacionados à prática esportiva regular, assim
como os seus benefícios. 67
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
O procedimento para entrevista incluiu a explicação
dos objetivos da pesquisa, o destaque da importância
da participação, o comprometimento ao sigilo da identidade e a leitura e assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. As entrevistas foram realizadas individualmente, gravadas e transcritas, servindo como material para análise qualitativa. Os dados nos permitiram
ter uma visão ampla do significado que as pessoas dão
à prática esportiva regular como meio de reabilitação e
manutenção da saúde mental. Pudemos também saber
sobre qual o papel que essas práticas têm na construção da realidade subjetiva, afastando os sintomas da depressão. Esse método busca visualizar o contexto, além
de proporcionar uma interação empática com o sujeito
através de uma melhor compreensão do fenômeno.
Para avaliar se nossos sujeitos da pesquisa sofriam de
algum nível de depressão, utilizamos o “Inventário Beck
de Depressão” com nove dos dez participantes. Um dos
entrevistados não se submeteu ao teste, pois não dispu-
nha de tempo hábil para a realização do mesmo. O Inventário é um instrumento destinado a mensurar a gravidade da doença avaliada a partir da soma de 21 afirmações
referentes aos seguintes aspectos: tristeza, pessimismo,
sentimento de fracasso, insatisfação, culpa, punição, autoaversão, autoacusações, ideias suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social, indecisão, mudança autoimagem, dificuldade de trabalhar, insônia, fatigabilidade,
perda de apetite, perda de peso, preocupação somática e
perda da libido. Para identificação do nível da doença são
utilizados pontos de corte tais como: depressão mínima
(0 – 9), depressão leve (12 – 19), depressão moderada (20 –
35) e depressão grave (36 – 63).
A aplicação do Inventário foi realizada individualmente, após contato com a psicóloga responsável pela
pesquisa que explicou os objetivos da mesma, coletou
a assinatura do termo de consentimento esclarecido do
participante e agendou a entrevista para dar inicio à coleta de dados.
Resultados e Discussão
De acordo com a pesquisa, é possível observar
que a prática esportiva ocupa um importante espaço na vida destas pessoas. Ela proporciona uma maior
qualidade de vida ao desenvolver habilidades motoras
que foram comprometidas pela lesão, além de garantir
um ambiente favorável para as trocas sociais. O fortalecimento muscular influencia diretamente
na saúde psicológica, uma vez que seu desenvolvimento contribui para a autonomia do sujeito, que muitas
vezes se encontra impossibilitado de exercer as funções mais básicas de sua vida. É possível observar em alguns entrevistados, a resistência em falar das dificuldades geradas pela lesão.
Isso pode ser um mecanismo de defesa utilizado para
resguardar a pessoa que sofreu ou nasceu com a lesão,
uma vez que admitir as dificuldades pode representar
uma negativa no enfrentamento do problema.
Esperávamos encontrar mais indícios de depressão, já que a doença é considerada na literatura como
um dos mais importantes acometimentos da pessoa
com essa deficiência. De acordo com a Rede Sarah, a
prática esportiva regular melhora a saúde psíquica e
física das pessoas com deficiência, além de permitir a
interação social, aspectos que foram confirmados em
nossa pesquisa. Não encontramos interferência direta
da depressão entre os entrevistados, talvez pelo fato
de se encontrarem bem resolvidos perante a realidade imposta pela lesão. O fato de procurar uma prática
esportiva, ou até mesmo outra atividade que vá proporcionar ganhos na amplitude de sua esfera, já representa um movimento de maior aceitação da realidade
e enfrentamento das dificuldades, não caracterizando
o comportamento de entrega ao sofrimento ou a insatisfação.
É possível que os indícios depressivos sejam mais
constantemente encontrados em pessoas que estão
ainda na fase de reabilitação, o que não é o caso da
nossa pesquisa.
Com o desenvolvimento desta pesquisa, foi possível observar a interferência que os obstáculos arquitetônicos proporcionam na vida das pessoas com deficiência, que necessitam de cadeira de rodas para se
locomover. Os obstáculos, assim como as limitações
geradas pela lesão, os fazem lembrar-se, a todo o momento, da condição imposta pela deficiência, que é
entendida, mas não intimamente aceita, uma vez que
a maioria das pessoas entrevistadas já compartilhou de
uma vida antes da lesão. O cadeirante sempre se encontra na situação de
espera quando se vê obrigado a funcionar no tempo
da outra pessoa, que nem sempre está disposta a atender as suas necessidades no ritmo de seu desejo. Estar
sempre na posição de espera, na posição submissa da
realização de seus desejos, pode gerar ansiedade e instabilidade emocional, o que é mais observado neste
trabalho, em detrimento da depressão. Conclusão
A prática esportiva beneficia a saúde psicológica
das pessoas com deficiência física, uma vez que elas
68
desenvolvem a confiança necessária para a aquisição
de uma vida mais saudável e autônoma. Investir em
Área - Bem-Estar
novos desafios é fundamental e a prática esportiva ajuda nesse aspecto ao inserir dificuldades que serão superadas ao longo do tempo com o desenvolvimento
das habilidades específicas relacionadas à modalidade
e com o fortalecimento da musculatura residual comprometida pela lesão.
Não foi identificado entre os entrevistados o comportamento de entrega ao sofrimento ou à insatisfa-
ção, característicos da depressão. Foi possível constatar relatos que remetem à ansiedade e à instabilidade
emocional, na medida em que os entrevistados se
veem obrigados a funcionar no tempo do outro, principalmente quando os mesmos estão entre aqueles que
fazem uso de cadeira de rodas. Os obstáculos e a situação de espera podem ser as causas dessa variação do
humor.
Referências
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BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portal da saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_
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69
Área - Bem-Estar
USO DE C ANNABIS SATIVA POR UNIVERSITÁRIOS
DE UM CURSO DO CENTRO DE CIÊNCIAS E X ATAS E
TECNOLÓGIC AS
Charles Eduardo Sena da Silva
Maria de Fatima de Matos Maia
Celina Aparecida Gonçalves Lima
Ana Flavia Muniz Vieira
Hugo Barbosa da Silva Montalvão
Berenilde Valéria de Oliveira Sousa
Maria Christina Soares Gomes
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil.
Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde
Ocupacional e Mídia – GIPESOM
Introdução
A maconha são flores e folhas secas da planta
Cannabis Sativa também conhecida como Cânhamo
Verdadeiro; evidências atestam que ela teria sido inalada pela primeira vez no terceiro milênio a.C., e seus
efeitos no cérebro são causados pelo delta-9-tetraidrocanabinol. A maconha, assim como o álcool e o tabaco,
é considerada uma das primeiras drogas a serem experimentadas, e após certo tempo, os usuários passam a
consumir drogas mais pesadas como o craque. O estudo do OBID (Observatório Brasileiro de informações sobre Drogas-2005) mostra que a droga ilícita mais consumida no Brasil é a maconha e, de todas as pessoas
que já usaram drogas ilícitas 8,8% usam maconha, o
estudo mostra ainda que a prevalência do consumo da
maconha por parte de indivíduos do sexo masculino é
superior em todas as faixas etárias da pesquisa sendo
em média três vezes maior que em indivíduos do sexo
feminino. O uso de drogas lícitas e ilícitas é comum entre universitários. No estudo de Fiorini e Alves (1999),
dentre os universitários pesquisados 17% usavam maconha, sendo que estes além de usarem maconha usavam ou álcool, ou tabaco, ou os três.
Ferreira e Sousa Filho (2007) consideram o uso da
maconha como um fator psicossocial marcante, em
que os jovens que são considerados o maior público
consumidor da droga vivem em um conflito entre influências dos amigos e parceiros, que muitas vezes se
opõem a influência dos familiares, sendo que os pares
possuem maior influência sobre o uso da maconha.
Outro fator que contribui é a questão de que muitos jovens vivem em uma busca pela independência
e pela personalidade própria, na busca por essa independência os jovens descobrem o poder da liberdade
que antes era controlada pelos pais e ou familiares, e
assim usam-na da forma como acreditam ser correta,
eles querem ser livres para usar sua liberdade (FERREIRA; SOUSA FILHO, 2007)
De acordo com Rodrigues (2008) os jovens tentam
fugir daquilo que a sociedade já tem pré-estabelecido,
eles não se identificam com o que é padrão, sendo assim acabam buscando viver sensações e emoções novas. Como a droga é algo novo, a curiosidade e a ânsia
por novas experiências levam o jovem a se drogar. Os
jovens do sexo masculino muitas das vezes usam a maconha pela primeira vez para obter prazer físico e os do
sexo feminino para se libertar das pressões sociais.
O consumo da maconha vem aumentando principalmente entre os jovens, que usam a droga de forma
inconsequente, sem saber que ela pode causar taquicardia, tontura, retardo psicomotor, letargia, depressão,
dificuldade de memória de curto prazo, alterações no
raciocínio e concentração (ALMEIDA, 2008). De acordo
com Almeida (2008) estudos recentes comprovam que
as consequências do uso da maconha sobre o cognitivo são reversíveis, de modo que o uso da maconha não
traz malefícios que pioram proporcionalmente com o
tempo de consumo (MARQUES; RIBEIRO, 2006).
Rodrigues (2008) em sua pesquisa, analisou a
opinião dos universitários sobre o uso da maconha,
baseando-se em um questionário no qual dentre as alternativas sobre a atitude de prometer o não uso aos
pais e usar, a maioria dos acadêmicos consideraram a
71
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
atitude errada ou compreensível e classificaram a atitude dos pais como correta, mas, apesar disso ,acham
que os pais não devem proibir, e sim aconselhar. Muitos acreditam que o indivíduo usou a droga porque
gostava ou por influência dos amigos.
O objetivo do estudo foi descrever as prevalências
de comportamentos de risco para a saúde relacionado
ao uso de maconha em uma amostra representativa de
estudantes universitários da Universidade Estadual de
Montes Claros – Unimontes de um curso de graduação
no Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas.
Materiais e Métodos
O presente estudo é descritivo e de corte transversal. A amostra foi composta por 32 acadêmicos de curso superior matemática, sendo que dentre estes, doze
universitários tinham idade de 18 a 20 anos (37,5%),
quinze tinham de 21 a 24 anos (41,9%); um acadêmico de 25 a 34 anos (3%), dois tinham de 35 a 44 (6,3%)
e dois tinham 45 anos ou mais (6,3%) . Desses, dezoito (56,3%) são do sexo feminino e quatorze (43,8%) do
sexo masculino. A pesquisa foi feita baseada em três
perguntas: “Durante sua vida, quantas vezes você usou
maconha?”, “Que idade tinha que usou maconha pela
primeira vez?” e “Durante os últimos trinta dias, quantas vezes você usou maconha?”. (100%) dos pesquisados responderam que nunca consumiram maconha.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Parecer N° 306/79, datado de 22 de junho de 2012. Antes
da aplicação dos instrumentos, foram repassadas todas
as informações sobre o estudo, e os indivíduos que e
os indivíduos que concordaram em participar do mesmo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta de dados foi realizada pelo Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício
e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia (GIPECOM), entre
os meses de março e junho do ano de 2013, mediante
a aplicação de um questionário de forma individual e
anônima em sala de aula.
As informações associadas aos comportamentos
de risco para a saúde foram obtidas mediante a aplicação do questionário Youth Risk Behavior Survey – College
(YRBS-C), traduzido para o indioma português.
Foi realizada uma estatística descritiva observando a freqüência e porcentagem das respostas. Foi
utilizado o software Statistical Package for the Sciences
(SPSS) versão 20.0para o Windows na tabulação dos
dados.
Tabela 1 - Descrição dos resultados da análise descritiva
Variável
Idade
Sexo
Durante sua vida, quantas vezes você usou maconha?
Que idade você tinha quando usou maconha pela primeira vez?
Durante os últimos 30 dias, quantas vezes você usou maconha?
18 a 20 anos
21 a 24 anos
25 a 34 anos
35 a 44 anos
45 anos ou mais
Feminino
Masculino
Nenhum dia
Eu nunca fumei maconha
Nenhuma vez
N
12
15
1
2
2
18
14
32
32
32
%
37,5
41,9
3
6,3
6,3
56,3
43,8
100
100
100
Discussão
Percebeu-se, que com os resultados obtidos neste estudo que os universitários possuem conhecimento sobre a maconha em seu contexto e que a mesma é
prejudicial à saúde. Embora não tenha sido questionado na presente pesquisa, a cannabis sativa vem sendo
investigada pelos seus atributos medicinais. De acordo
com os números expressos na Tabela 1, compreendese que eles não demonstraram sequer curiosidade em
experimentar a droga, sabendo que a maioria dos pes72
quisados tinham idade de 21 a 24 anos, sendo que, de
acordo com o estudo de Fiorini e Alves (1999) a menor
porcentagem do uso de drogas ilícitas se deu acima
dos 18 anos. Sendo assim fica a hipótese de que a possibilidade de inserção de pessoas no mundo das drogas, após a maioridade, é menor. Esse comportamento
pode ocorrer devido à maioridade trazer maior responsabilidade e por uma questão de maturidade. Segundo a pesquisa de Coutinho, Araújo e Gontiés (2004),
Área - Bem-Estar
os acadêmicos da área de ciências tecnológicas dizem
ser favoráveis aos usuários de maconha, pois acreditam
que estes são vítimas da realidade social em que estão
inseridos, idealizando que os usuários de maconha experimentam a droga, influenciados por fatores psicossociais ou buscando fugir dos problemas ou por curiosidade e por busca do prazer
Devido à Universidade de Montes Claros possuir
os cursos das áreas tecnológicas e exatas em conjunto supõe-se que estes últimos possuam uma ideologia
embasada na mesma dos acadêmicos das áreas tecnológicas da pesquisa de Coutinho, Araújo e Gontiés
(2004). Subtende-se que os universitários pesquisados
possuem uma boa estrutura social e psicológica, possivelmente fatores culturais dos acadêmicos desse curso
não influenciam na fundamentação da escolha por não
usar drogas e isso independe da faixa etária. A maioria
dos investigados se encontra entre os 18 e 24 anos e
embora sejam jovens, nunca fizeram uso da maconha.
Tendo o conhecimento de que, nesta pesquisa, a
área de abrangência no contexto faixa etária é extensa, e que a maioria dos pesquisados têm de 18 a 24
anos, o OBID (Observatório Brasileiro de informações
sobre Drogas-2005) discorre que a população nessa
faixa etária é a que possui maior índice de consumo da
maconha, em que do sexo masculino 21,8% e feminino
12,6% da população que consome essa droga no Brasil
tem de 18 a 24 anos.
A Universidade Estadual de Montes Claros se situa
no estado de Minas Gerais, região sudeste, e os números do OBID (Observatório Brasileiro de informações
sobre Drogas-2005) apontam que a região sudeste é a
que possui maior número de dependentes da maconha, sendo que esses correspondem a 1,5% da população da região, resultado esse que supera a média nacional que é de 1,2%.
Conclusões
A pesquisa revelou que os estudantes de um determinado curso da área de Ciências Exatas e Tecnológicas,
nunca usaram maconha e que, independentemente da
idade estes aparentam nunca terem se interessado em
experimentar a droga. Tendo como base outras pesquisas que dizem que a maconha é uma droga de fácil acesso, acredita-se que os universitários pesquisados possuem uma posição resistente ao consumo da maconha.
De acordo com o referencial teórico a posição dos
pais é importante na prevenção do uso de drogas, mas
foi atestado que, entre a formas de repressão à atitude
do filho o diálogo baseado em conselhos é mais eficaz.
Percebeu-se que, dentro das literaturas pesquisadas não foram encontradas pesquisas que teorizam
especificamente sobre o uso da maconha por universitários das áreas tecnológicas e exatas.
Referências
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entre universitários. Psicol. estud. Maringá, v. 9, n. 3, Sept./Dec., 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
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2013.
BRASIL. Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas - OBID. 2005. Disponível em:
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73
Área - Bem-Estar
CULTUR A DE PA Z: TR ABALHANDO A EDUC AÇ ÃO EM
SAÚDE NA ATENÇ ÃO PRIMÁRIA
Débora Cristina da Silva Andrade
Maísa Tavares de Souza Leite
Bruna Rodrigues de Jesus
Vanessa da Silva Andrade
Laura Lanusa Santos Nascimento
Orlene Veloso Dias
[email protected]
Introdução
Com o auge do paradigma cartesiano e da medicina científica no início do século XX, as ações de educação em saúde eram de responsabilidade dos trabalhadores da saúde e da educação. Aos primeiros, competia
a responsabilidade de desenvolver os conhecimentos
científicos para intervir nas patologias e tratá-las. Quanto ao educador, incumbia desenvolver ações capazes
de transformar comportamentos. No entanto, essa forma de trabalho não incluía os problemas cotidianos da
população. Sendo assim, em 1996, o tema da X Conferência Nacional de Saúde incluiu a formulação de propostas que ressaltassem a importância de atender as
necessidades sociais em saúde e mudar o vínculo entre
profissionais e usuários, de maneira que houvesse um
diálogo permanente incluindo todas as formas de conhecimento, em especial com a cultura popular (ALVES;
AERTS, 2011).
A educação popular está inserida nas teorias sociais, pois se acredita que a educação pode contribuir
para o processo de mudança social, desempenhando
importante tarefa na reconstrução da sociedade (BERTRAND, 2001).
Na atenção primária no Brasil, a educação em saúde é uma das principais ações capazes de promover a
promoção da saúde da comunidade. É uma prática
social que deve ser centrada na problematização do
cotidiano, na valorização da experiência de indivíduos
e grupos sociais e na leitura das diferentes realidades.
Sendo assim, as ações educativas precisam estar voltadas para a melhoria dos determinantes da saúde. Dessa
forma, essas práticas vêm sendo consideradas como um
processo que visa prover aos indivíduos conhecimentos e experiências culturais que os tornem capazes de
atuar no meio social e transformá-lo. Nessa perspectiva,
a educação em saúde na atenção primária é vista como
uma estratégia que tem como objetivo trabalhar o enfretamento dos problemas sociais vivenciado pela população (ALVES; AERTS, 2011).
Por meio das práticas educativas, o indivíduo pode
fortalecer e/ou adquirir autonomia tornando-se capaz
de conduzir a sua própria vida (PEREIRA, 2003). Além
disso, o diálogo durante as ações educativas é uma forma de exercício de autonomia, pois há um incentivo
mútuo entre o profissional e o usuário. Tal exercício é
capaz de promover invenções e reinvenções diárias que
possibilitam um leque de decisões que vão permeando
ao longo da vida. Assim, é de suma importância que,
na atenção primária à saúde, haja um vínculo entre os
mesmo,s considerando o usuário em toda a sua singularidade, complexidade e contexto sociocultural. Dessa
maneira, poderá haver um processo deliberativo entre
profissional e usuário (STARFIELD, 2002).
Como facilitadora do processo de educação em
saúde, por intermédio da articulação entre a Universidade e a comunidade como um todo, a extensão universitária objetiva alinhar as atividades de ensino e
pesquisa desenvolvidas no âmbito acadêmico às reais
demandas da sociedade, contribuindo, sobretudo, no
desenvolvimento de hábitos que promovam a mudança da realidade. Este estudo objetiva relatar uma experiência vivenciada por acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Odontologia e Serviço Social da Universidade
Estadual de Montes Claros-UNIMONTES durante o cumprimento de oficinas educativas de um projeto de pesquisa-extensão em uma unidade de saúde de Montes
Claros/MG.
Material e Métodos
Trata-se de pesquisa-ação que consiste em um
tipo de pesquisa social concebida e realizada em es-
treita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os
75
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
participantes representativos da situação ou problema
estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2008).
A metodologia utilizada tem como eixo a educação popular que parte do pressuposto que os educandos são sujeitos construtores de seus conhecimentos
e que essas construções partem, necessariamente, de
suas vidas e da realidade em que estão inseridos (FREIRE, 1994). Este estudo consiste em um relato de experiência acerca da execução de estratégias de educação
em Saúde, focadas na realização de Oficinas Educativas
sobre o tema Violência contra a Mulher e a instalação de
uma Cultura da Paz.
O planejamento e a execução da estratégia de
educação em saúde se deram através de dez oficinas
educativas acerca do tema “violência contra a mulher
e cultura de paz”. Os sujeitos do estudo foram dez mulheres cadastradas na Estratégia de Saúde da Família
(ESF) de um bairro de Montes Claros/MG que foram
previamente convidadas a participar das atividades. As
atividades aconteceram no período de abril a junho de
2013.
A autorização para divulgação dos dados por parte dos sujeitos está formalizada atendendo ao preconizado pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde que trata da pesquisa que envolve seres humanos. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética
da Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes
com o número do parecer 2008/2010.
Resultados e Discussão
Optou-se pelo bairro Cintra a partir da pesquisa
documental na qual se identificaram a incidência, prevalência e principais áreas de risco no município de
Montes Claros nos anos de 2009-2010. A região onde
está localizada a referida ESF possui elevados índices
de violência contra a mulher. Um dos grandes desafios
nas ações de prevenção e combate à violência contra
as mulheres é a visibilidade do fenômeno, dessa forma, é essencial disseminar a informação para prevenir
e publicizar a violência, alicerçada em profundas desigualdades de gênero na sociedade (CÔRTES; LUCIANO;
DIAS, 2012).
Nas oficinas foram trabalhados temas relacionados à violência em diferentes contextos. Nas discussões, as mesmas referiam-se à violência doméstica
cometida principalmente pelos parceiros e filhos. As
mulheres corroboraram com a existência de diversas
situações de maus-tratos e desigualdade de gênero na
comunidade. Relacionaram a questão do gênero como
um processo sócio-histórico. Na realidade, comumente sofremos influências de instituições como a família,
a escola e a igreja durante a nossa vida. Somos ensinados sobre normas e valores culturais, de modo que
meninos e meninas são educados a diferenciar o que
é próprio do sexo feminino daquilo que é peculiar do
masculino, distinguindo assim os papéis de cada sexo.
Aprendemos desde cedo a representar os papéis atribuídos aos gêneros, influenciando assim diretamente
na construção da identidade de gênero (GOMES; FREIRE, 2005).
Para iniciar os encontros com as mulheres, aqui
denominadas como “As Marias”, foi dramatizada a
história de Maria da Penha e o surgimento da Lei n°
11.340, de 7 de agosto de 2006. A lei recebeu esse
nome em uma homenagem a Maria da Penha Maia, vítima de violência doméstica durante seis anos pelo esposo. No ano de 1983, o mesmo tentou assassiná-la por
duas vezes, sendo que a primeira foi por meio de arma
de fogo, na qual a deixou paraplégica e, na segunda
76
por eletrocução e afogamento. Ele foi punido depois
de 19 anos de julgamento (WILLIAMS et al; 2008). Debatemos se existem situações semelhantes em nossa
cidade e como tratar esse assunto junto à família e à
comunidade. As mulheres identificaram situações similares em suas famílias e/ou de conhecidos. Por meio
das discussões e informações disseminadas ao longo
da oficina, elas se dispuseram a propagar o conhecimento adquirido sobre os direitos da mulher vítima de
violência doméstica, além de se comprometerem a trazer mais mulheres nas próximas oficinas.
A violência doméstica e os tipos de violência foram abordados por meio de dinâmicas. Elas relataram
episódios ocorridos na comunidade e apontaram o
déficit de informações relacionadas à resolutividade e
aos direitos da mulher. De acordo com Pedrosa (2009),
quando as mulheres desconhecem os seus direitos, os
companheiros, muitas vezes, fazem uso dessa deficiência para mantê-las vinculadas à relação, mesmo com
sofrimento intenso, caracterizando-se uma violência
psicológica. As participantes relataram que, devido à
falta de suporte familiar e econômico, as mulheres vitimizadas se submetem a essa modalidade de violência. A permanência das mulheres nos relacionamentos
com violência comumente é atribuída ao temor, tremor
e receio de perder a guarda dos filhos e de não conseguir sobreviver financeiramente.
Para aprimorar as discussões, a promotora da vara
de famílias do município foi convidada para esclarecer
as dúvidas das participantes. Discutiu-se como o conhecimento acerca da atuação dos serviços de enfrentamento da violência pode estimular a postura ativa da
mulher na quebra do ciclo da violência e quais são as
formas que os serviços de enfrentamento da violência
poderiam atuar no estímulo ao combate dos atos violentos contra a mulher. Enfatizou-se que a delegacia
da mulher é uma instituição apropriada para resolver
as principais políticas de enfrentamento em situações
de violência, pois a mesma é a porta de entrada para
Área - Bem-Estar
se ter acesso aos demais órgãos de auxílio às vítimas,
como assistências médicas, psicológicas e judiciais. Algumas participantes desconheciam a existência da delegacia da mulher no município.
Nas oficinas também foi discutido o tema Bullying,
algumas mulheres desconheciam essa nomenclatura,
no entanto, ao assistirem a um vídeo explicativo demonstrando o que é e os seus tipos, todas conseguiram compreender e associá-lo nas suas próprias vidas
ou de alguém próximo. As adolescentes presentes na
roda descreveram situações vivenciadas na escola e
como isso influi negativamente nos estudos, pois relataram falta de interesse de frequentar as aulas devido
ao constrangimento e baixa autoestima provocada pelos colegas. Afirmaram que hoje conseguiram superar
isso, mas, infelizmente, conhecem vários colegas vivenciando situações semelhantes ou piores que as suas.
O bullying é descrito como atos de intimidação,
ameaças, violência física e psicológica impostos frequentemente a indivíduos mais vulneráveis e incapazes de se defenderem, levando-os a um estado de
sujeição, isolamento, marginalização e sofrimento psicológico (CONSTANTINI, 2004).
Na perspectiva de englobar os diversos tipos de
violência nas nossas oficinas, levamos para “as Marias”
um estudo de caso verídico sobre violência virtual
ocorrido na cidade que teve repercussão nacional. Procurando esclarecer para as mulheres, principalmente
para asadolescentes que utilizam com maior frequência esse meio de comunicação, abordamos estratégias
de prevenção e identificação da mesma, pois ultimamente vem crescendo esse número de casos devido à
maior acessibilidade a internet.
Em continuidade ao leque de informações relacionado à violência, levamos o nosso olhar para os idosos,
crianças e adolescentes, que mesmo assegurados por
direitos conforme as políticas públicas preconizados
pelo Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e Adolescente sofrem continuamente algum tipo de violência. Discutimos esses temas por meio de vídeos ilustrativos que demonstravam diversos idosos, crianças e
adolescentes vitimizados pelos próprios familiares ou
cuidadores. Discutiu-se como a família pode agir diante da situação tendo em vista o Estatuto do Idoso e o
Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que tais
documentos promovem a garantia dos direitos e estrutura a atenção a sua saúde. Enfatizamos às mulheres,
os seus deveres como cidadãs e o poder que lhes cabe
de denunciar os agressores.
Na última oficina trabalhada com o grupo de
mulheres trouxemos o tema “Cultura de Paz”, na qualrealizamos dinâmicas com a finalidade de empoderar
as participantes, além disso, realizou-se uma reflexão
acerca das ações que visam prevenir a violência. Foram apresentados vídeos que reforçavam a temática
abordada. As mulheres fizeram uma retrospectiva de
tudo que aprenderam durante esses dez encontros
demonstrando satisfação pelo conhecimento adquirido e se comprometendo a se tornarem disseminadoras da cultura de paz.
Conclusão
O empoderamento comunitário almeja a formação crítica-cidadã das pessoas, de modo que estas se tornem aptas a intervir de forma autônoma
na realidade social. Para tanto, a constante reflexão
crítica do profissional acerca de sua prática educativa cotidiana, a fim de torná-la aplicável ao contexto dinâmico no qual está inserido, faz-se necessária.
O profissional pode levar seus clientes a intervirem
nos ambientes que o cercam de forma crítico-reflexiva e transformadora, além de considerar que
a informações transmitidas sempre se apresentam
como peças de elaboração do conhecimento, e
não o conhecimento propriamente acabado (SILVA;
DIAS; RODRIGUES, 2009). As oficinas realizadas tiveram o intuito de promover o conhecimento e de torná-las multiplicadoras do mesmo, a fim de provocar
uma mudança da realidade na qual estão inseridas,
pois a prática de educação em saúde direcionada ao
cuidado integral constitui um espaço de reflexão-ação, alicerçada nos saberes técnicocientíficos e populares capazes de levar a mudanças individuais e
destreza para agir na família e comunidade, contribuindo dessa maneira para uma transformação social (CATRIB, 2003).
Durante as atividades educativas houve comunicação interpessoal e intercâmbio de experiências, despertando motivação das mulheres, sendo este aspecto
observado diante das narrativas das mesmas. Elas puderam expressar os seus sentimentos com relação ao
tema violência e paz. Os professores, os estudantes e
as usuárias participantes concluíram as oficinas fomentando a consciência da necessidade de viver e disseminar a cultura de paz. Por isso, é imprescindível que haja
conhecimento para que as mulheres possam prevenir
ou buscar ajuda, bem como entender seus direitos em
relação à violência.
77
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
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78
Área - Bem-Estar
ACUR ÁCIA DA ES TRUTUR A FATORIAL DA ESC AL A DAS
ATIVIDADES DE HÁBITOS DE L A ZER EM FUNÇ ÃO DE
VARIÁVEIS DESENVOLVIMENTISTAS
Nilton Soares Formiga
Gislane Ferreira de Melo
[email protected]
Introdução
Pesquisadores e a sociedade em geral tem se
preocupado com dinâmica juvenil em relação aos
motivos e consequências das condutas socialmente
desejáveis destes na construção e organização de fatores psicológicos, sociais e interpessoais no entorno
da diversão. Com isso, muito tem chamado à atenção
são as formas e tipos de diversão que os jovens vêm
aderindo atualmente, as quais, associadas aos traços
de personalidade da busca de sensação, valores individualistas e a conduta desviante (FORMIGA, 2010;
FORMIGA, 2011; MELO, 2013).
A literatura em geral, apresentam reflexões em relação ao que, como e onde fazer com o espaço, tempo e as
pessoas que querem se divertir, porém, pouco se encontra
um instrumento de medida que facilite o reconhecimento
e avaliação de um construto, especificamente, que mensure os hábitos de lazer entre os jovens. Tal condição é
importante quanto observação antecedente, pois, o lazer
além de necessário, exige um investimento e dedicação
pessoal, que inclua objetivos comuns de grupalidade, soluções de conflitos, maturidade etc.; isto é, cada pessoa,
mesmo com diferentes maneiras de passar o seu tempo
livre, principalmente, quando já se cumpriu os afazeres
e compromissos cotidianos, deverá ter a forma do lazer
como uma meta, atendendo as suas necessidades básicas
fomentadoras da saúde e organização psicossocial (FORMIGA; AYROZA; DIAS, 2005; FORMIGA, BONATO SARRIERA,
2011).
Sendo assim, Formiga, Ayroza e Dias (2005), desenvolveram uma escala, composta por vinte quatro itens
que avaliavam as atividades de lazer assumidas pelos jovens quando estes haviam cumprido todas as atividades
consideradas importantes e obrigatórias exigidas pela
família, escola, etc. (por exemplo, estudar, visitar familiares, etc.). Através de uma análise fatorial exploratória
observaram a existência de três fatores: o primeiro deles
descrito como Hábito de Lazer Hedonista (este fator, diz
respeito aos hábitos de consumo que enfatizam o prazer
individual e imediato como único bem possível do indi-
víduo; por exemplo, Ir a shows, teatro, etc; Ir ao cinema;
Navegar na internet, etc.); o segundo fator, Hábito Lúdico (Refere-se a utilização de jogos, brinquedos, passeio
e divertimentos em geral, apresentando um caráter instrumental do lazer e de envolvimento emocional positivo; por exemplo, Praticar esportes; Assistir programas de
televisão; Jogar vídeo games, jogos de ação ou aventura
etc.); o terceiro, Hábito Instrutivo (Enfatizando a experiência de aperfeiçoamento e crescimento desenvolvido
pelos sujeitos tornando-os capaz de certas escolhas de
lazer diferenciadas e exclusivas para eles, como também, pode assumir uma atividade quanto a transmissão,
habilitação e ensino de conhecimentos; por exemplo,
Ler livros; Ler revistas; Visitar familiares etc.).
Partindo dessa organização fatorial, Formiga, Bonato e Sarriera (2011) e Formiga (2012), comprovaram tanto a perspectiva conceitual apresentada pelos autores
supracitados, quanto a dimensão estrutural dessa medida, pois, em seus estudos observaram-se que a escala
foi consistente e fidedigna em amostras de diferentes
estados brasileiros; buscando corroborar a estrutura psicométrica salientada acima, Formiga, Melo e Lima (2013)
realizaram um estudo com jovens atletas (esportes de
competição nas modalidades de basquetebol, voleibol, handebol e futsal) e não atletas, respectivamente,
na cidade de Teresina-PI e João Pessoa-PB, com mesmo
instrumento de hábitos de lazer e observaram estrutura
fatorial semelhante a encontra em outros estudos.
Apesar dos resultados acima serem consistentes,
observou-se um limite avaliativo neles: mesmo que em
todos os estudos a escala revele indicadores psicométricos que garantiram a estrutura dessa medida em jovens,
não se encontra uma análise, em relação ao segurança
desse instrumento, em amostras seccionadas de variáveis que contemplem o desenvolvimento psicológico do
respondente [por exemplo, idade, sexo, tipo de escola].
Neste estudo, pretende-se comprovar a organização e a
estrutura fatorial do construto hábitos de lazer em relação as variáveis idade, sexo e tipo de escola.
79
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Método
Participantes
O estudo foi composto por 609 estudantes, homens
(49%) e mulheres (51%), de 12 a 18 anos de idade, de escola pública (62%) e particular (38%) da cidade de João
Pessoa-PB. Esta amostra foi intencional, pois, considerouse a pessoa, quando consultada, dispusera-se a colaborar
em responder o questionário a ela apresentado.
Instrumento
Os participantes responderam um instrumento
que constava:
• Escala das Atividades de Hábitos de Lazer - EAHL.
Elaborado originalmente em português por Formiga, Ayroza e Dias (2005), o instrumento é composto
por 24 itens que avaliam as atividades de lazer assumido por cada sujeito a respeito da sua ocupação
quando não se está fazendo nada (por exemplo, Ler
livros, Ler revistas, Ir a igreja, Navegar na internet,
Comprar roupas, etc.), eles deveriam ler cada item e
indicar com que freqüência ocupa seu tempo quando está sem fazer nada, depois de todas suas obrigações cumpridas, para isso, utilizou uma escala de seis
pontos (0 = Nunca a 5 = Sempre). Três fatores foram
observados: Instrutivo, Lúdico e Hedonismo. Formiga, Bonato e Sarriera (2011), através de uma análise
de modelagem estrutural observaram uma consistência estrutural desta escala em diferentes Estados
brasileiros (João Pessoa-PB, Porto Alegre-RS, PalmasTO) com indicadores psicométricos aceitáveis pela
literatura sobre o tema (HAIR; ANDERSON; TATHAM;
BLACK, 2005; VAN DE VIJVER; LEUNG, 1997).
Uma folha separada foi anexada ao instrumento
onde eram solicitadas informações de caráter sóciodemográfico (por exemplo, idade, sexo, estado civil e
classe social).
Procedimentos e administração
Todos os procedimentos adotados nesta pesquisa
seguiram as orientações previstas na Resolução 196/96
do CNS e na Resolução 016/2000 do Conselho Federal
de Psicologia para as pesquisas com seres humanos
(CNS, 1996; ANPEPP, 2000). Definiu-se um procedimento padrão científico e ético para aplicação do instrumento em sala de aula.
Quanto à análise dos dados, efetuou-se uma análise de modelagem estrutural, pretendendo testar a
adequação do modelo multidimensional já encontrada
em outras amostras, mas, objetivando avaliar semelhante estrutura com amostra de sujeitos esportistas e
não esportistas.
Resultados e Discussão
Ao avaliar a consistência interna do instrumento
considerou-se a relação entre item-fator e item-pontuação total tanto para a amostra total, sexo, idade e
tipo de escola, bem como os alfas de Crombach (a).
Em relação às correlações itens-fator-pontuação total,
os escores variaram de 0.37 a 0.72, todos significativos.
Quanto aos alfas, estes estiveram de 0.62 a 0.77. Todos
os escores estatísticos (correlação e alfa) não somente
estiveram no intervalo esperado, mas, convergente ao
que esperava, com todas relações significativas e acima
do limite de moderação.
Na análise de modelagem estrutural comparou-se
o modelo alternativo (unifatorial) com modelo esperado
(trifatorial); no AMOS GRAFICS, versão 21.0, efetuou-se
o cálculo e os resultados revelaram que o modelo trifatorial é o mais adequado para mensurar os hábitos de
lazer em jovens na amostra total e nas respectivas secções amostrais, pois, os resultados estavam dentro do
intervalo exigido na literatura (BYRNE, 1989; HAIR; ANDERSON; TATHAM; BLACK, 2005; VAN DE VIJVER; LEUNG,
1997). De forma geral, as associações entre as dimensões
dos hábitos de lazer foram positivas, o que significa dizer que na existência de uma dessas formas de lazer,
possivelmente, as demais influenciarão as outras formas.
Tabela 2: Indicadores psicométricos da estrutura fatorial da escala das atividades de hábitos.
Modelos
Fatoriais
c²/gl RMR GFI AGFI CFI
TLI
RMSEACAIC ECVI
(intervalo)
(intervalo)
Unifatorial*
Amostra 6.12 0.14 0.92 0.84 0.78 0.63
0.09
811.94 0.80
Total
(0.08-0.11) (0.71-0.97)
Amostra
12 a 14 anos
3.30 0.19 0.88 0.76 0.74 0.56
0.11
577.67 1.54
(0.07-0.09) (0.75-0.98)
Idade
Amostra
80
Área - Bem-Estar
15 a 18 anos
Amostra
Homens
Sexo
Amostra Mulheres
Escola
Publica
Escola
Escola
Privada
3.72 0.13 0.92 0.86 0.82 0.69
0.08
643.05 0.86
(0.09-0.12) (1.35-1.76)
4.42 0.18 0.87 0.79 0.70 0.59
0.11
626.98 1.40
(0.10-0.12) (1.22-1.61)
2.73 0.15 0.90 0.85 0.79 0.71
0.08
494.71 0.98
(0.06-0.09) (0.85-1.14)
2.16 0.15 0.92 0.90 0.91 0.85
0.06
517.00 0.67
(0.04-0.04) (0.58-0.77)
3.78 0.20 0.88 0.78 0.72 0.55
0.11
590.74 1.52
(0.09-0.12) (1.32-1.74)
Trifatorial**
Amostra 2.27 0.05 0.98 0.97 0.99 0.95
0.02
545.80 0.33
Total
(0.01-0.04) (0.30-0.37)
Amostra
12 a 14 anos
1.50 0.06 0.96 0.94 0.99 0.96
Idade Amostra
15 a 18 anos
1.21 0.07 0.98 0.95 0.99 0.97
Amostra
Homens
1.33 0.09 0.97 0.94 0.98 0.96
Sexo
Amostra
Mulheres
1.07 0.08 0.97 0.95 0.99 0.99
Escola
Privada
1.10 0.07 0.98 0.94 0.99 0.99
Escola
Escola
Publica
1.30 0.09 0.97 0.95 0.98 0.96
0.01
349.72 0.79
(0.01-0.03) (0.78-0.91)
0.02 509.78 0.49
(0.01-0.04) (0.46-0.55)
0.03 494.23 0.66
(0.01-0.05) (0.60-0.75)
0.01 385.50 0.57
(0.01-0.04) (0.55-0.64)
0.02
379.50 0.62
(0.01-0.05) (0.58-0.71)
0.03 477.18 0.52
(0.01-0.04) (0.47-0.60)
Notas. * p > 0,05.
A partir destes resultados, esse construto, poderá
ser assumido como representação das atividades de
hábitos de lazer em jovens, pois, as atividades avaliadas no instrumento referem-se à disposição que o jovem tem ao repetir uma atitude com fins de distração
ou entretenimento, quando já se cumpriu com todas as
suas responsabilidades familiares ou escolares, disposições estas, influenciadas seja por ordem de alguém
- pais ou responsáveis - ou por sua própria iniciativa,
representada por três fatores, de acordo com o que
teoricamente se esperava, a saber: Hedonismo, Lúdico
e Instrutivo.
Conclusão
Os achados no presente estudo não apenas
garante a organização estrutural da escala de hábi-
tos de lazer na associação específica entre item-fator,
mas, também, que ao insistir na qualidade e testagem
81
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
do modelo previamente observado, na sua trifatorialidade, em outros estudos no Brasil com distintas perspectivas metodológicas, estatísticas, demográficas e
de grupos sociais, busca-se com isso, apresentar rele-
vância na mensuração dos hábitos de lazer, já que, não
são muito os instrumentos sobre a mensuração desse
construto.
Referências
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WEB (página da WEB): http://www.anpepp.org.br/XIISimposio/Rel_ComissaoEticasobre_Res_CNS_e_CFP.pdf.
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CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE – CNS. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo
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VAN DE VIJVER, F.; LEUNG, K. Methods and data analysis for cross-cultural research. Thousand Oaks, CA: Sage
Publications, 1997.
82
Área - Bem-Estar
QUALIDADE DE VIDA DOS DOCENTES DA ÁRE A DA
SAÚDE DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLIC A NO NOR TE
DE MINAS GER AIS
Lyssa Esteves Souza Souto
Sarah Martins Souza
Cássio de Almeida Lima
Maria Aparecida Vieira
Fernanda Marques da Costa
Antônio Prates Caldeira
[email protected]
Introdução
Qualidade de Vida é descrita como uma noção eminentemente humana, vinculada ao grau de satisfação
encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental
e à própria estética existencial (MINAYO, 2000). O assunto
tem sido estudado, ao longo do tempo, pela necessidade de se ter uma boa qualidade de vida no cotidiano
por pessoas, grupos de determinada sociedade e entre
diversas áreas de desempenho profissional. Assim, tornou-se um conceito largamente difundido na sociedade, expressando algo muito relevante que a população
identifica como uma de suas aspirações legítimas (XAVIER; MORAIS, 2007). Tal compreensão também abrange
diversos cenários, entre os quais a universidade, a qual
possui um papel determinante no desenvolvimento dos
seus futuros profissionais, não só por demonstrar resolubilidade em comparação com instituições de outra
natureza, mas também por seu papel singular na definição da ética de desenvolvimento nacional e por ser um
lócus especial para crítica e transformação social (KOIFMAN, 2011).
Nesse panorama, o docente assume função de
destaque como agente de saúde, considerando que
coloca em prática não apenas a comunicação do seu
saber, mas é um agente de transformações que possui
singularidades nos seus conhecimentos. A sua prática
produz efeitos na formação dos novos profissionais,
pois este passa a ser um vetor importante nos processos de subjetivação do sujeito para formação profissio-
nal e pessoal, tornando essa profissão uma atividade
enriquecedora, que proporciona diversas habilidades
ligadas ao campo da saúde. Para satisfazer às necessidades da população, é fundamental que tanto o docente quanto os acadêmicos compreendam o significado de qualidade de vida e o valor que tem para os
sujeitos, com os quais interagem no cotidiano, pois é a
forma e a quantidade de processamento das suas atividades que irão proporcionar ou não a qualidade de
vida desses educadores (GARCIA; OLIVEIRA; BARROS,
2008). Sabe-se que a má qualidade de vida interfere no
desempenho da saúde física e mental do trabalhador,
influencia no desenvolvimento do planejamento e de
realização das atividades, e pode estar associada ao
estresse, à tensão nervosa, à fadiga muscular, às lesões
por esforço repetitivo, ou atualmente, aos distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (DÁVILA;
CASAGRANDE; PEREIRA, 2010).
Diante do exposto, torna-se necessário investigar a
temática, em prol do fomento de novos conhecimentos
e para subsidiar mais efetivas de promoção da saúde e
da qualidade de vida dos educadores. Assim, o estudo
objetivou descrever a qualidade de vida dos docentes
dos cursos de graduação da área da saúde de uma universidade pública do Estado de Minas Gerais - Brasil, e
as associações com suas características sociodemográficas.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de
abordagem quantitativa. Teve como cenário o Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde do campus universitário sede, de uma universidade pública, situada em
uma cidade de porte médio no Estado de Minas Ge-
rais – Brasil, que oferece os seguintes cursos: Ciências
Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Medicina e
Odontologia.
Havia, no cenário do estudo: 43 docentes do curso de graduação em Ciências Biológicas, 43 de Educa83
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
ção Física, 65 de Enfermagem, 165 de Medicina e 63 de
Odontologia, um total de 379 docentes. Utilizou-se a
amostragem probabilística estratificada para definição
da amostra e a seleção dos participantes ocorreu de
forma aleatória.
A estratégia utilizada para a coleta foi a aplicação
de um questionário sociodemográfico e o Whoqol
-bref, instrumento criado pelo Grupo de Qualidade de
Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS), abreviado a partir do Whoqol – 100 (W-100). É constituído por
26 questões fechadas, sendo duas perguntas gerais de
qualidade de vida e outras 24 representantes de cada
uma das 24 facetas que constituem o instrumento original. Essas 24 questões são agrupadas em 4 domínios:
físico - 7 itens, psicológico - 6 itens, relações sociais - 3
itens e meio ambiente - 8 itens (FRANÇA; AGUIAR et al.,
2011).
A coleta ocorreu de junho a setembro de 2013 em
salas de aulas, campos de estágios e consultórios particulares dos professores. Os dados foram organizados
e analisados com a utilização do programa estatístico
Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 17.0. Para a
análise de dados, utilizou-se a estatística descritiva. A
fim de investigar associações entre variáveis sociodemográficas e acadêmicas e os domínios da qualidade
de vida procedeu-se a checagem da normalidade dos
dados por meio do teste de Klomogorov-Smirnov. Em
seguida, realizou-se a analise bivariada empregando a
comparação de médicas pelo teste t de students para
amostras independentes. Em todas as análises foi utilizado o nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). De acordo com as normas da Resolução nº 466/2012, o Comitê
de Ética em Pesquisa analisou, aprovou e expediu o parecer favorável por meio do Parecer Consubstanciado
n.º173.395/2012. Todos os participantes assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados e Discussão
Quanto às características sociodemográficas dos
221 docentes, pode-se observar que maioria é do sexo
feminino (62%); faixa etária até os 43 anos (58,8%); casados (71,9%); afirmaram ser da raça branca (56,6%); residem na cidade de Montes Claros (98,2%); moram com
a família (85,1%); possuem outro vínculo empregatício
(63,8%); tempo de atuação na docência até 12 anos
(60,6%); possuem renda bruta mensal até 11 salários
mínimos (58,8%). Em sua maioria, possuem nível máximo de formação universitária com mestrado (58,8%);
lêem acima de 2 livros, excetuando os acadêmicos
(58,4%); não são fumantes (92,8%); possuem outras
fontes de informações, exceto a internet (63,3%) e têm
como lazer, atividades culturais (59,7%).
De acordo com a classificação proposta pela OMS,
pode-se verificar que para o domínio físico – dor, ener-
gia, sono, mobilidade, atividades diárias, dependência
de medicação e capacidade de trabalho, os docentes
apresentaram qualidade de vida regular. Já para os domínios meio ambiente – que engloba segurança, moradia, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais,
lazer, transporte e ambiente físico; relações sociais –
relações pessoais, suporte social e atividade sexual; e
psicológico – sentimentos positivos e negativos, aprendizagem, memória, autoestima, imagem corporal e espiritualidade; os docentes apresentaram qualidade de
vida boa. Para o domínio físico apresentou-se o menor
escore 57,9 (DP=9,6), ou seja, qualidade de vida abaixo
dos demais domínios, enquanto que para o domínio
relações sociais houve o maior escore 73,7 (DP=17,2), o
que equivale a melhor qualidade de vida nesse aspecto (TABELA 1).
Tabela 1: Média e desvio-padrão dos escores dos domínios de qualidade de vida (WHOQOL/breve) de docentes, 2014
Domínio
N
Físico
Psicológico
Relações Sociais
Ambiental
Houve associação estatisticamente significativa
(p=0,037) entre o domínio físico e a idade, com menores escores 56,8 (DP=9,8) para os docentes com até 43
anos e maiores escores 59,5 (DP=9,1) para os que tem
44 anos ou mais, ou seja, nesse domínio, os mais velhos
possuem qualidade de vida melhor que os mais novos.
Também houve associação significativa do estado civil
com os domínios psicológico (p=0,009), relações sociais (p=0,041) e meio ambiente (p=0,034); e dentre os
84
Média + dp
221
57,9 + 9,6
66,6 + 11,1
73,7 + 17,2
70,4 + 13,9
domínios e escore, o que obteve melhore escore médio de qualidade de vida 75,1 (DP=16,4) foi o domínio
relações sociais em que os docentes têm companheiro e o escore inferior 63,3 (DP=13,4) o domínio meio
ambiente com os docentes sem companheiro. Entre o
domínio relações sociais e com quem mora ocorreu associação estatisticamente significativa (p=0,046), com
maiores escores 74,6 (DP=16,4) para os professores que
moram com a própria família e menores 68,2 (DP=20,6)
Área - Bem-Estar
para os que estão em outra situação, o que corresponde a melhor qualidade de vida no aspecto relações sociais para os que moram com a própria família.
Houve também associação quanto ao tempo de
atuação na docência nos domínios físico (p=0,033), psicológico (p=0,023) e ambiente (p=0,044), com maior
escore no domínio meio ambiente 72,8 (DP=12,9) para
os professores com até 12 anos de atuação na docência, e menor escore no domínio físico 56,8 (DP=10,1)
para os professores acima de 12 anos de atuação, assim professores com menos tempo de docência apresentam maior qualidade de vida. A maior renda esteve
associada a maiores escores de qualidade de vida 72,9
(DP 13,2) no domínio ambiente. Também houve associação estatisticamente significativa com a quantidade de livros lidos anualmente, excetuados os acadêmicos, com os domínios físico (p=0,002) e psicológico
(p=0,013), com maiores escores 59,6 (DP=9,3) no físico
e 68,2 (DP=11,1) no psicológico para os que lêem até
2 livros anualmente. Em relação ao lazer houve associação estatisticamente significativa com os domínios
relações sociais (p=0,039) e meio ambiente (p=0,045),
com maiores escores, respectivamente, 76,6 (DP=16,2);
72,7 (DP=13,4) para aqueles que dedicam mais tempo às atividades sociais, indicando melhor qualidade
de vida para esses indivíduos se comparados aos que
dedicam mais tempo a atividades culturais. Quanto às
demais características - sexo, raça, onde reside, outro
vínculo empregatício, renda bruta, nível máximo de
formação universitária, fumante, fonte de informação não foram encontradas associações significativas.
Em relação à qualidade de vida, esta investigação
mostrou qualidade de vida boa no domínio psicológico, relações socias e meio ambiente. Porém, o domínio
físico apresentou qualidade de vida regular. Estudo similar, realizado em Instituição de Ensino Superior no
Sul do Brasil, utilizando o WHOQOL-Bref, também verificou que houve o maior escore para o domínio das
relações sociais, psicológico e meio ambiente, apresentando escores semelhantes ao encontrado no presente
estudo (FILHO; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2012). Estudo similar a este, realizado com 242 docentes em Natal (RN),
verificou que o maior escore médio foi para o domínio
relações sociais, dados semelhantes aos achados desta investigação. Entretanto, há um estudo realizado na
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), em Santa Catarina, com 15 professores, o qual avaliou a qualidade
de vida desses docentes, mostrou que o domínio meio
ambiente obteve o segundo menor escore (COGO et
al., 2011), diferente dos dados encontrados nesta investigação. Neste estudo, na correlação dos domínios
com as variáveis sociodemográficas, a idade obteve
maior escore médio no domínio físico para os docentes com idade superior a 40 anos. Dados semelhantes
foram encontrados em pesquisa realizada com 203
professores de universidades do Rio Grande do Sul (FILHO; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2012). A variável estado civil,
na presente pesquisa, obteve dados significativos nos
domínios psicológicos, relações sociais e ambiente,
com maiores escores para os docentes que possuem
companheiro. O estudo feito em Natal (RN) corrobora
os dados desta pesquisa, em que os docentes casados
possuem melhor qualidade de vida (FERNANDES et
al., 2011). Na presente pesquisa, a renda bruta mensal
acima de 11 salários mínimos obteve o maior escore
no domínio meio ambiente, o que confirma as semelhanças entre os achados. Nessa perspectiva, a questão
salarial e a valorização profissional são fatores que proporcionam melhores condições a uma melhor qualidade de vida (DÁVILA; CASAGRANDE; PEREIRA, 2011).
Os educadores que exercem a carreira docente até
12 anos alcançaram menores escores no domínio físico, psicológico e meio ambiente. Entretanto, na avaliação da qualidade de vida de 73 discentes, por meio
do WHOQOL-Bref, em Maceió (AL), com o objetivo de
analisar a qualidade vocal, autoavaliação e a qualidade de vida em voz em professores, verificou-se que a
carreira docente tivera menor escore no domínio físico, semelhante ao encontrado na presente pesquisa
(MORAIS; AZEVEDO; CHIARI, 2012). Identificou-se que
quem mora com a própria família apresenta menor escore médio de qualidade de vida no domínio relações
sociais. Dados semelhantes foram encontrados em investigação realizada com 349 docentes em Florianópolis (SC), por meio do WHOQOL-Bref (PEREIRA; TEIXEIRA;
LOPES, 2013).
Conclusão
A boa qualidade de vida encontrada na maioria
dos domínios pode oportunizar momentos positivos
aos docentes da área da saúde. Todavia, como os professores que participaram deste estudo obtiveram qualidade de vida regular no domínio físico, esse aspecto
demanda atenção, uma vez que, a associação boa de
todos os domínios influencia para uma melhor qualidade de vida. As associações das características sociodemográficas com a qualidade de vida mostram a
necessidade de maior cuidado aos docentes que estão
no início da carreira e com quem mora com a própria
família, evidenciando maior intervenção.
85
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
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2007.
86
Área - Bem-Estar
PERCEPÇ ÃO DE INDIVÍDUOS HIPER TENSOS SOBRE
A INFLUÊNCIA DO TR ATAMENTO NA QUALIDADE DE
VIDA
AURELINA GOMES E MARTINS
Daniele Cristina Moreira
Fernanda Marques de Souza
Juliana de Cássia Aguiar
Mônica Antar Gamba
Daniela Fagundes Souto
[email protected]
Introdução
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA), em que a
pressão sistólica se encontra acima de 140mmHg e a
diastólica acima de 90mmHg (SMELTZER; BARE, 2010).
Configura-se como um dos principais problemas
de saúde pública por se tratar de uma doença crônica,
multifatorial e com alto potencial de risco para doenças
cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. O número de portadores vem crescendo cada vez mais, tendo
o Brasil cerca de 17 milhões de pessoas com HAS, 35%
dos quais acima de 40 anos (BRASIL, 2006).
As elevadas estatísticas de morbidade e mortalidade, incapacidade física e interferência na qualidade
de vida dos indivíduos acometidos por agravos da HAS
são uma das preocupações dos trabalhadores em saúde (BORGES; PINHEIRO; SOUZA, 2012).
Um dos grandes obstáculos no atendimento da
HAS baseia-se em avaliar o impacto da doença e da
terapêutica na vida do indivíduo, especialmente suas
consequências na qualidade de vida (QV). Em virtude
da dificuldade em conceituar a saúde, que não se limita apenas à ausência de sintomatologia, a avaliação
da QV se torna preponderante à medida que facilita
uma avaliação do cuidado e do tratamento empregado
(SOUTELLO, 2010).
Este estudo teve como objetivos: identificar o perfil da população hipertensa segundo as variáveis sociodemográficas e discutir a percepção dos indivíduos
hipertensos atendidos pela equipe da Estratégia de
Saúde da Família (ESF) do bairro Morrinhos II na cidade
de Montes Claros – MG sobre a influência da doença e
do tratamento sobre a sua qualidade de vida.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo, do
tipo transversal e exploratório. A presente pesquisa foi
desenvolvida com adultos e idosos hipertensos cadastrados no programa HIPERDIA da ESF do bairro Morrinhos II na cidade de Montes Claros – MG. Trata-se de
uma pesquisa censitária, ou seja, trabalhou com o universo de sujeitos, no total de 256 participantes, sendo
excluídos apenas aqueles não encontrados após três
tentativas para a realização da coleta dos dados ou
aqueles que se recusaram a participar do estudo.
O instrumento de coleta de dados foi o Mini-Questionário de Qualidade de Vida em Hipertensão Arterial
(MINICHAl), que consiste em um questionário fechado,
anônimo, validado e adaptado, integrado por 17 questões e dois domínios. As respostas dos domínios estão
distribuídas em uma escala de frequência do tipo Likert
e têm quatro opções de respostas. Nessa escala, quanto
mais próximo a 0 estiver o resultado, melhor a qualidade
de vida. O domínio Estado Mental compreende as questões de 1 a 9, sendo a pontuação máxima de 27 pontos. O domínio Manifestações Somáticas compreende
as questões de 10 a 16 e tem pontuação máxima de 21
pontos. A questão 17 avalia a percepção geral de saúde
do cliente e se o seu tratamento tem influenciado na sua
qualidade de vida, sendo pontuada na mesma escala.
Também foram utilizados um questionário sóciodemográfico e um questionário de dados clínicos
elaborados pela pesquisadora, que apresentaram
aspectos relevantes para a pesquisa e que foram prétestados antes de iniciar a coleta definitiva dos dados.
Este estudo encontra-se conforme a Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde em Pesquisa. Foi en87
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
caminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES,
através do sistema da Plataforma Brasil, previamente à
sua execução, para processo de apreciação, sendo que
o mesmo foi aprovado pelo Parecer Consubstanciado
– Processo nº 311.654. Neste estudo optou-se por uma
análise de correlação empregando o teste qui quadrado. As questões do questionário MINICHAL foram
subdivididas em 2 domínios: estado mental e manifestações somáticas, avaliando também a última questão
referente a QV, apresentadas como média, desvio padrão e mediana.
Resultados e Discussão
Foram estudados 253 hipertensos que se encontravam cadastrados no programa HIPERDIA na ESF
Morrinhos II, no período compreendido entre julho a
setembro de 2013, principalmente em visitas domiciliares. Dos hipertensos pesquisados, a maior parte (71,1%)
pertence ao sexo feminino, (50,2%), com idade igual ou
superior a 66 anos; (71,1 %) declararam ser de cor parda ou negra; (43,5%) com estado civil casado e (32,4%)
viúvos; (53,8%) relataram ser de outras cidades que não
Montes Claros. Quanto à escolaridade, (47,8%) estudaram até o ensino fundamental e (39,2%) até o ensino
médio. Em relação à profissão, (70%), a maioria, declarou-se como não economicamente ativa. A maior parte (81,4%) reside em casa própria, (85%) com a própria
família e (77,9%) têm renda familiar de até dois salários
mínimos.
Tabela 2 - Distribuição dos hipertensos conforme as características clínicas. Montes Claros, 2013.
Variáveis
Classificação PA
Ótima
Normal
Limítrofe
Estágio 1
Estágio 2
Estágio 3
Hipertensão Sistólica Isolada
Pressão arterial
Ótima e Limítrofe
Alterado
RCQ
Adequado
Não adequado
IMC
Peso adequado
Sobrepeso e Obesidade
n
%
71
62
33
41
6
1
39
28.1
24,5
13
16,2
2,4
0,4
15,4
106
147
41,9
58,1
43
210
17
83
86
167
34
66
Fonte - Coleta de dados, 2013.
Quando feita a aferição da pressão arterial, observou-se que (65,6%) dos hipertensos apresentam
valores classificados como ótimo, normal ou limítrofe;
(16,2%) no estágio 1; (2,4%) no estágio 2; (0,4 %) no estágio 3 e (15,4%) hipertensão sistólica isolada. Em relação à classificação da pressão arterial dicotomizada, a
88
maior parte dos hipertensos (65,6%) apresentam pressão arterial controlada, enquanto que (34,4%) deles
apresentam pressão controlada. A maioria dos sujeitos
(83%) apresenta valores de relação cintura quadril alterada. Quanto ao índice de massa corporal, a maior proporção (66%) apresenta pré-obesidade e obesidade.
Área - Bem-Estar
Tabela 5- Percepção da influência da HAS e de seu tratamento na QV: ‘Você diria que sua hipertensão e o
tratamento da mesma têm afetado sua qualidade de vida?’
Resposta
n
%
Não, absolutamente
Sim, um pouco
Sim, bastante
Sim, muito
164
58
15
16
64,8
22,9
5,9
6,3
Fonte - Coleta de dados, 2013.
Em relação à QV, para o instrumento MINICHAL, a
média da pontuação no domínio mental (pontuação
máxima = 27 pontos) foi de 4,6 e a mediana 4,0, com
valores variando entre 0 a 10 pontos. Com relação a
manifestações somáticas (pontuação máxima =21 pontos), a média da pontuação foi 3,5, com mediana de 3,3.
A média global de QV (pontuação máxima = 48 pon-
tos), considerando as duas dimensões, foi de 26,1, com
valores da mediana de 24 pontos. A avaliação da última pergunta, ‘Você diria que sua hipertensão e o tratamento da mesma têm afetado sua qualidade de vida?’
indicou que 164 participantes (64,8%) consideram que
a HAS e o tratamento da mesma não afetam a sua QV,
enquanto 35,2% responderam afetar de alguma forma.
Conclusões
A melhor qualidade de vida nos indivíduos hipertensos pode estar associada à postura frente à doença
e aos cuidados tomados para o controle da PA, mas
isso não significou que a condição crônica afetou de
alguma forma a QV. Este estudo demonstrou que a
percepção da QV não está condicionada à doença. Nos
domínios do instrumento MINICHAL, o estado mental
obteve impacto maior na QV do que as manifestações
somáticas. Isso pode demonstrar que a qualidade de
vida decorre de ações que causam conforto e segurança tanto psíquicas como físicas.
Referências
BORGES, J. W. P; PINHEIRO, N. M. G; SOUZA, A. C. C. Hipertensão comunicada e hipertensão compreendida: saberes e práticas de enfermagem em um Programa de Saúde da Família de Fortaleza, Ceará. Rev. Ciênc. Saúde
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SOUTELLO, A. L. S. Qualidade de vida e hipertensão: avaliação ampliada do desempenho psicométrico da versão
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Acesso em: 20 out. 2012.
89
Área - Bem-Estar
SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA
ÁRE A DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Olívia Abreu Versiani
Lucas Mendes Nobre
Manuela Pierotte Luz Gondim
Ana Carine Gomes dos Santos
Fernando Fernandes Gonçalves da Silva
Theresa Cristina Abreu Versiani
Molyana Kelly Pereira Dias
[email protected]
Introdução
Burnout é uma síndrome que acomete profissionais e estudantes de diversas áreas e é causada pela
exposição frequente ao estresse, trazendo desesperança, desilusão e cargas emocionais negativas na vida social, familiar ou profissional da pessoa.
A Síndrome de Burnout (SB) é definida em três
dimensões: exaustão emocional, explicitada pelo cansaço físico e carência de energia; despersonalização,
representando a insensibilidade emocional; e baixa
realização profissional, que se caracteriza pela autoavaliação negativa do profissional.
Alguns estudos mostram que os profissionais da
área da saúde precisam ter um maior controle emocional em relação ao trabalho, visto que compartilham
com o enfermo e seus familiares os sentimentos angustiantes da morte, além de estarem sempre em contato
com pacientes em estado terminal. Por esse motivo,
aqueles que não atingem esse controle têm uma maior
predisposição a apresentarem essa síndrome. Associado a isso, a qualidade de vida no trabalho é um fator de
extrema importância, pois é capaz de aliviar as tensões
geradas ali e garantir um clima mais agradável entre os
colegas de profissão.
O tratamento para tal síndrome é baseado no individual, levando em consideração as particularidades
de cada enfermo, além do incentivo à prática de exercício físico com essa finalidade.
A presente revisão tem por objetivo fazer uma
abordagem teórica sobre o efeito positivo da qualidade de vida dos profissionais da área da saúde sobre a
Síndrome de Burnout.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma revisão de literatura, com pesquisa bibliográfica cujas publicações estão entre os anos
de 2010 e 2014 nas bases de dados do Scielo e Lilacs,
utilizando os descritores ‘‘Síndrome de Burnout”, ‘’Qua-
lidade de Vida’’ e ‘’Profissionais da Área da Saúde’’, resultando em cinco artigos elegíveis para compor a revisão.
Resultados e Discussão
O estresse é considerado uma causa de inúmeros problemas que afetam o cotidiano humano. Quando relacionado ao ambiente de trabalho, é
causa determinante do processo saúde-doença que
acomete os trabalhadores. As preocupações com o
estresse têm sido cada vez maiores com os profissionais da área da saúde, devido às cobranças e às responsabilidades com o próximo, como a falha e o óbito dos pacientes.
Em Burnout, o termo “burn” significa queima e
“out” significa exterior, indicando que a pessoa com
essa síndrome se esgota e se consome física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento
agressivo. A SB tem etiologias multifatoriais, e seu diagnóstico pode ser muitas vezes confundido com depressão e estresse. As três dimensões definidas no Burnout
são exaustão emocional, despersonalização e baixa
realização profissional.
91
A exaustão emocional é marcada pela ausência de entusiasmo, a qual pode agregar-se ao sentimento de frustração pelo sentimento da falta de
disposição em realizar as mesmas tarefas que realizavam antes. A despersonalização caracteriza-se
pela insensibilidade emocional, que faz com que o
profissional trate os demais de maneira impiedosa.
A baixa realização profissional é caracterizada pela
avaliação de si mesmo ser negativa, tornando-se
descontente com seu desenvolvimento profissional.
O ápice do esgotamento é atingido quando,
não suportando mais, os profissionais optam pelo
abandono do trabalho. Mesmo que às vezes seja necessária, essa é uma decisão difícil, pois significa a
desistência de um trabalho que um dia já foi fonte
de orgulho, prestígio e identidade pessoal.
Com relação ao ambiente de trabalho do médico em particular, estudos destacam alguns agentes
estressores que elevariam a possibilidade da ocorrência da Síndrome de Burnout: demandas exacerbadas que diminuem a qualidade do atendimento,
grandes jornadas de trabalho, numerosos plantões,
baixa remuneração, necessidade de lidar com sofrimento e morte e exposição constante ao risco. Além
disso, a maioria dos médicos é perfeccionista, aumentando a cobrança de si mesmos, somando com
a pressão por parte da sociedade de um profissional
infalível.
O portador da SB mede a autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional; o que
tem início com satisfação e prazer, termina quando
esse desempenho não é reconhecido.
A SB pode ser influenciada nos profissionais da
área da saúde por variáveis como idade, carga horária, quantidade de pacientes, tempo de experiência
profissional, satisfação e desistência da profissão.
Estudos mostram que, quanto menor a idade, menor a carga horária dos sujeitos e, quanto maior o
número de pessoas atendidas, maior é a exaustão
emocional. Também se verifica que, quanto maior
a frequência em considerar a possibilidade de desistir da profissão, maior é a exaustão emocional. Já
à medida que aumenta o índice de satisfação com
o trabalho, diminui o sentimento de desgaste emo-
cional. Com relação à despersonalização, foi identificado distanciamento com relação aos pacientes.
A realização profissional demonstrou elevar-se à
medida que aumenta a carga horária e a satisfação
com relação ao trabalho.
Considera-se que a SB não é só um problema
individual, mas principalmente dos lugares onde
eles atuam. Desta maneira, a qualidade de vida no
trabalho tem um efeito muito importante sobre esses profissionais.
Qualidade de vida representa bem-estar e eficácia no ambiente de trabalho e garante um clima
agradável entre os colegas de profissão. A atividade física é um dos principais fatores que podem
influenciar na qualidade de vida no trabalho, prevenindo a saúde e as doenças oportunas do estresse,
como a SB.
Existem três tipos de classificação quanto à síndrome de Burnout. O Burnout frenético é aquele em
que o indivíduo sacrifica a saúde e a vida pessoal
pelo trabalho; geralmente associado a trabalho com
mais de 40 horas semanais e menos que 35 anos.
O Burnout subdesafiado é aquele em que o indivíduo se torna indiferente no trabalho, sem chance
de ascensão no trabalho; geralmente associado ao
trabalho no setor administrativo ou de serviços. E
o Burnout desgastado, aquele em que o indivíduo
tem pouco controle do seu sucesso ou seus esforços
passam despercebidos; geralmente, o enfermo está
na empresa há mais de quatro anos e não tem uma
boa vida social.
As estratégias para o tratamento da SB variam
em intervenções focadas no indivíduo, baseadas em
habilidades comportamentais e cognitivas e atividade física. Essas propostas de enfrentamento devem
ser individuais e relacionadas com cada portador
individualmente, levando em conta os fatores biopsicossociais.
Por apresentar um alto grau de incidência e sérias consequências para o indivíduo e para a empresa, a Síndrome de Burnout tem sido bastante estudada, entretanto ainda necessita de mais pesquisas
para que os profissionais de saúde estejam qualificados para o melhor tratamento.
Conclusões
Na análise bibliográfica, pode-se concluir que a
Síndrome de Burnout é uma patologia nova, que é
causada devido aos altos níveis de estresse no ambiente de trabalho. Os profissionais da área da saúde
são os mais acometidos por essa síndrome, visto que
estão continuamente expostos a problemas alheios
e a cenas angustiantes e de sofrimento. Dentro dessa síndrome, existem três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional.
O estresse e a síndrome de Burnout vêm sendo
considerados as principais problemáticas atuais no âmbito ocupacional.
Pode-se inferir também que a qualidade de vida
é um ótimo método para aliviar esse estresse gerado
no serviço, pois, além de aproximar os colegas, torna o
ambiente mais agradável.
Área - Bem-Estar
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93
Área - Esporte e Rendimento Humano
ÁREA - ESPORTE E RENDIMENTO HUMANO
AVALIAÇ ÃO DA FLE XIBILIDADE EM ESCOL ARES DE
JANUÁRIA- MG
Hendrick Mendes Vieira2
Chrysthian Jhosep Antônio Dias Ferreira2
Emerson Wellens Moreira Gomes2
Samuel Mendes Rodrigues2
Farley Oliveira Gomes2
Adelson Fernandes da Silva1
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em
Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM
2
Universidade Estadual de Montes Claros – Acadêmico/a
1
Introdução
O termo flexibilidade, conhecido como mobilidade
articular, compreende as propriedades morfofuncionais do aparato locomotor, que determinam a amplitude de distintos movimentos do educando (PLATONOV,
2003). Sua magnitude é de suma importância tanto
para a promoção quanto parara a manutenção da saúde (GHEDIN et al., 2007). Esta, por sua vez, comporta-se
de formas diferentes emcrianças, adolescentes e adultos e tende a diminuir com o aumento da idade (GRAHAME R,2001), A flexibilidade, especificamente, até a puberdade diminui e tende a aumentar posteriormente e
na idade adulta tende diminuir (CONTE MET al., 2000).
Difere ainda em função do sexo, sendo que as mulheres possuem maior flexibilidade se comparada com os
homens (FELDMAN DET al., 2009).
A flexibilidade é reconhecida como uns dos mais
importantes componentes da aptidão física e alguns
testes de flexibilidade estão inseridos nas principais
baterias de avaliação da aptidão física. O método de
avaliação da flexibilidade por meio do banco de Wells
é comumente utilizado por professores de educação
física nas escolas, buscando identificar características
mecânicas e funcionais da flexibilidade (WELLS; DILLON, 1952). Sendo assim, torna-se importante a identificação dos índices em escolares, no sentido de melhor
compreender os fatores intervenientes na flexibilidade,
principalmente, durante o estirão de crescimento. Este
presente estudotem como objetivo avaliar a flexibilidade de adolescentes de ambos os sexos.
Materiais e Métodos
Este estudo é caracterizado por uma pesquisa
descritiva, e de caráter quantitativo segundo Thomas e
Nelson (2007).
A população foi composta de120 alunos matriculados nas escolas da rede públicade Januária-MG, sendo 60 meninas e 60 meninos, com idade entre 11 e 14
anos. A participação foi voluntária.
Para mensurar o peso corporal foi utilizada uma
balança portátil Dig. Bld-560 até 180Kg escala 100g.
Para a mensuração da altura foi utilizada uma fita
métrica da marca ADC, fita em fibra de vidro de 200
cm. Para a flexibilidade foi utilizado o Banco de Wells
(WELLS; DILLON, 1952).
O peso corporal foi medido com o sujeito em
pé, de costas para o painel de resultados. A altura foi
mensurada com fita métrica com o avaliado em pé, de
costas para a fita fixada na parede e descalço a altura
foi coletada depois da respiração máxima. O sujeito
95
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
vestia o mínimo de roupa possível e seus pés estavam
descalços. O banco de Wells é utilizado para medir a
flexibilidade da parte posterior do tronco e pernas.
O indivíduo senta-se de frente para o banco, colocando os pés no apoio com os joelhos estendidos. Ergue
os braços com as mãos sobrepostas, levando ambas
para frente e empurrando o marcador para o mais distante possível na régua.
Foi feita uma análise descritiva da amostragem da
média e do desvio padrão dos participantes. Para elaboração das tabelas, foi utilizado o pacote do Windows
Microsoft Excel 2007.
Critérios de inclusão:
• Ter idade entre 11 a 14 anos;
• Estar matriculado na rede publica;
Resultados e Discussão
Tabela 1. Média e desvio-padrão (DP), de todas as variáveis estudadas, nos dois grupos.
VARIÁVEIS
MASCULINO
FEMININO
MÉDIA
DP ±
MÉDIA
DP±
IDADE
12,73
1,08
12,53
0,96
ALTURA
1,48
0,08
1,47
0,08
PESO
47,21
6,4
46,91
7
FLEXIBILIDADE
20,51
7
23,21
6
Os sujeitos foram classificados da seguinte forma
5% dos meninos e 3,33% das meninas foram classificados como fraco; 13,33% dos meninos e 6,66% das
meninas foram classificados como regular; 30% dos
meninos e 16,66%das meninas foram classificados
como médio; 16,66% dos meninos e 6,66% das meninas foram classificados como bom; 35% dos meninos e
66,66% das meninas foram classificados como excelentes, conforme na tabela 2.
Os índices de flexibilidade dos indivíduos do sexo
feminino são melhores quando comparados ao masculino. Silva e Rodrigues dos Santos (2002), ao estudarem
a influência de algumas medidas antropométricas no
resultado do teste de «sentar e alcançar» em adolescentes de ambos os sexos, concluíram que existe independência do resultado em face de eventuais desproporções anatômicas. Os dados obtidos pela pesquisa
vão de encontro com os autores citados abaixo, mostrando que as mulheres possuem melhor flexibilidade
se comparadas aos homens.
Kravitz L, Heyward VH (95) referiram que os dados disponíveis na literatura levam a concluir que
fatores como o comprimento dos membros superiores e inferiores, a envergadura, o peso e a estatura não afetam significativamente a amplitude dos movimentos. Ainda que os elementos do
sexo feminino sejam mais flexíveis do que os do
sexo masculino em todas as idades, pela maior capacidade de estiramento e elasticidade da musculatura e dos tecidos conectivos do sexo feminino.
Segundo Achour (2006) para desenvolver a flexibilidade e conquistar ótimas amplitudes de movimento,
96
existem vários métodos. Para isso é preciso analisar
vários aspectos que atendam aos objetivos do praticante, e não escolher somente o método mais rápido
para desenvolver essa variável. Tendo como análise as
condições de adaptação a um dos métodos, a facilidade em realizar o alongamento ea sua idade, só depois
disso é que se faz a escolha do método e do programa
de flexibilidade.
Apesar de haver muitas informações sobre ser
possível a perda dos níveis de flexibilidade com o decorrer da idade, Neves (2002) constatou que ocorre
aumento significativo nos níveis de rendimento, da
flexibilidade dos 12 aos 15 anos; para as meninas o aumento é dos 12 aos 15 anos, existindo uma curva crescente e nos meninos é dos 12 aos 16 anos no que se
refere à amplitude de movimento na flexão do quadril.
Segundo Marins (1998), o trabalho de flexibilidade
está relacionado com o de força, pois, quanto mais fortalecido estiver um grupo muscular, mais alongado ele
precisa estar após esse fortalecimento.
Weineck (1991) considera que essas diferenças são
provenientes de uma maior capacidade de estiramento
e elasticidade da musculatura e dos tecidos conectivos
no sexo feminino.
Vários fatores, incluindo diferenças anatômicas e
fisiológicas, podem ser responsáveis pela diferença na
flexibilidade entre os sexos, dentre eles o formato da
região pélvica das mulheres e também a curva superior
do processo do olécrano do cotovelo, que é menor nas
mulheres, possibilitando maior amplitude de extensão
nessa articulação (ALTER, 1999).
Área - Esporte e Rendimento Humano
Tabela 2 –Classificação dos escolares na avaliação da Flexibilidade
CLASSIFICAÇÃO DA FLEXIBILIDADE
FRACO
REGULAR
MÉDIO
BOM
EXCELENTE
MASCULINO%
5
13,33
30
16,66
35
FEMININO%
3,33
6,66
16,66
6,66
66,66
Conclusões
Neste presente estudo, conclui-se que os resultados obtidos vão de encontro com o dito pela literatura, mostrando que as meninas se encontram com
melhor flexibilidade na classificação de excelente. Verifica-se neste estudo que muitos adolescentes estão
nazona de fraco e regular da flexibilidade, sendo que
5% dos meninos e 3,33% das meninas foram fracos;
13,33% dos meninos e das 6,66% meninas foram regular, o que mostra que estão abaixo da classificação
normativa.
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WEINECK, J. Treinamento ideal. 9. ed. São Paulo: Manole, 1999.
97
Área - Esporte e Rendimento Humano
ANÁLISE DO EQUÍLIBRIO DINÂMICO E ESTÁTICO DE
PRÉ- ESCOL ARES DA CIDADE DE JANUÁRIA- MG
Dayane Luana da Silva Caldeira2
Karine Gomes Rodrigues2
Kellen Fatiany Mota Santos2
Maria Izabel Souza Silva2
Adelson Fernandes da Silva1
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em
Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM
2
Universidade Estadual de Montes Claros – Acadêmico/a
1
Introdução
O desenvolvimento motor (DM) é considerado
como um processo sequencial, contínuo e relacionado
à idade cronológica, pelo qual o ser humano adquire
uma enorme quantidade de habilidades motoras, as
quais progridem de movimentos simples e desorganizados para a execução de habilidades motoras altamente organizadas e complexas (WILLRICH et al., 2008).
Na infância, o desenvolvimento motor se caracteriza
por ampla aquisição de habilidades motoras, que possibilita à criança ter um domínio do seu corpo em diferentes posturas, se locomover-se no ambiente de várias formas e também interagir com objetos de várias
formas (SANTOS et al., 2004). A idade pré-escolar é uma
fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades
motoras, formas de movimento e primeiras combinações de movimento, que possibilitam à criança dominar seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas) e locomover-se pelo meio ambiente de variadas
formas (andar, correr, saltar, etc.). Segundo Gallahue et
al., (2003), tais habilidades podem ser classificadas de
acordo com sua intenção, nas quais todas as tarefas
motoras envolvam o elemento equilíbrio. “Equilíbrio” é
a habilidade de um indivíduo manter a postura de seu
corpo inalterada, mesmo quando este é colocado em
várias posições. O equilíbrio é básico para todo movimento e é influenciado por estímulos visuais, táteis,
cinéticos e vestibulares. Para Rosa Neto (2002), o equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada
dos segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o
movimento, mais energia consome; tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares. A importância do presente estudo justifica-se pelo fato de que o equilíbrio está incluso nos
fatores psicomotores do desenvolvimento da criança,
sendo de fundamental relevância a avaliação do mesmo para identificação de possíveis atrasos no DM de
cada criança. O objetivo do presente trabalho é analisar o equilíbrio dinâmico e estático das crianças entre
quatro e cinco anos de idade da cidade de Januária
(MG) diagnosticando possíveis atrasos no desenvolvimento por meio da aplicação da escala de Berg.
Materiais e Métodos
Esta pesquisa caracteriza-se como quantitativa
descritiva e de corte transversal. A amostra foi composta por 50 crianças de ambos os sexos com idade entre
4 e 5 anos matriculadas na Pré Escola Municipal Dona
Judith Jacques da cidade de Januária-MG. Os critérios
de inclusão foram: estar matriculado na escola, apresentar frequência regular e estar presente no dia do
teste. Os de exclusão foram: apresentar idade inferior
ou superior 4 e 5 anos e não estar regularmente matriculado na escola. Foi utilizada a escala de Berg para
avaliação do equilíbrio estático e dinâmico. A escala
de Berg é constituída de 14 tarefas bem como: sentado para em pé, em pé sem apoio, sentado sem apoio,
em pé para sentado; transferências; em pé com olhos
fechados; em pé com os pés juntos; reclinar à frente
com os braços estendidos; apanhar objeto do chão;
99
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
virando-se para olhar para trás; girando 360 graus; colocar os pés alternadamente sobre um banco; em pé
com um pé em frente ao outro; e em pé apoiado em
um dos pés. A pontuação de cada teste varia de 0 a 4
pontos, tendo um valor total de 56 pontos. De acordo
com Shumway- Cook e Woollacott (2003), na amplitude
de 56 a 54, cada ponto a menos é associado a um aumento de 3 a 4% abaixo no risco de quedas, de 54 a 46
a alteração de um ponto é associada a um aumento de
6 a 8% de chances, sendo que abaixo de 36 pontos o
risco de quedas é quase de 100%. A coleta de dados foi
realizada em uma das salas de aula da escola por 3 acadêmicas do curso de Educação Física da Universidade
Estadual de Montes Claros (Unimontes), de modo que a
primeira demonstrava a tarefa para a criança, a segunda avaliava a execução e a terceira anotava os respectivos dados.
Resultados e Discussão
Os resultados mostraram que 50% da amostra
com quatro anos de idade totalizaram uma média de
acertos no teste entre 43 a 52 pontos e 50% com cinco
anos de idade totalizaram média de acertos entre 51 a
52 pontos. Pode-se observar que o desenvolvimento
biomecânico em relação ao equilíbrio não apresentou
índices muito inferiores ao padrão estabelecido por
Berg em sua escala, pois houve uma variação de 43 a
55 pontos nas crianças avaliadas e Berg aponta como
fator de risco um somatório abaixo de 36 pontos, o que
não aconteceu com nenhum dos indivíduos testados.
O item idade parece não ter sido o fator que influenciou no resultado do teste, pois apenas 20% da amos-
tra que tinham quatro anos obtiveram pontuação abaixo de 50. A idade pré-escolar é uma fase de aquisição
e aperfeiçoamento das habilidades motoras, primeiras
formas e combinações do movimento que possibilitam
à criança dominar seu corpo em diferentes posturas
(estáticas e dinâmicas) e locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc.).
Diante disso, vale ressaltar que de acordo com Bessa e
Pereira (2002), o atraso no desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora pode afetar toda a vida
da criança e causar consequências irreversíveis na vida
adulta.
Gráfico 1- Desempenho dos pré-escolares no equilíbrio estático e dinâmico, utilizando a escala de Berg.
60
50
40
43 à 52
30
52
20
10
0
Feminino 4
100
Feminino 5
Masculino 4
Masculino 5
Área - Esporte e Rendimento Humano
Conclusão
De acordo com os resultados a aplicação da escala de Berg possibilitou avaliar o desenvolvimento do
equilíbrio do grupo amostra, evidenciando resultados
satisfatórios. É muito importante considerar o desenvolvimento do equilíbrio estático e dinâmico infantil,
pois atrasos nesta área acarretam prejuízos que podem
se estender até a fase adulta. Fica aberta a possibilidade de explorar futuramente, de maneira minuciosa, o
assunto, enriquecendo o campo fisioterapêutico. Com
a identificação precoce de distúrbios no desenvolvimento motor, realizada através de uma avaliação criteriosa nos primeiros anos de vida, é possível determinar
uma intervenção adequada, a fim de que as crianças
com diagnóstico de atraso possam seguir a mesma sequência que as crianças com desenvolvimento normal.
Referências
BESSA, M. F. S.; PEREIRA, J. S.. Equilíbrio e coordenação motora em pré-escolares: um estudo comparativo. Revista
Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 10, n. 4, p. 57-62, 2002.
GALLAHUE, D. L. et al. Compreendendo o desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos.
São Paulo: Phorte Editora, 2003.
SANTOS, S.; DANTAS, L. E. P. B. T.; OLIVEIRA, J. A. Desenvolvimento motor de crianças, de idosos e de pessoas com
transtornos de coordenação. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, v. 18, p. 33-44, ago. 2004.
SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. Controle motor: teoria e aplicações práticas. 2 ed. São Paulo: Manole;
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101
Área - Esporte e Rendimento Humano
CULTUR A DE GÊNERO DAS MODALIDADES DE
AC ADEMIA
Amanda Alves da Silva
Gislane Ferreira de Melo
Universidade Católica de Brasília - UCB
Introdução
No início do século XX, os conceitos de masculinidade e feminilidade foram concebidos a partir
de um plano unidimensional que difere homens de
mulheres, ou seja, ser homem é não ser mulher e
vice-versa (GIAVONI, 2000). Ainda segundo a autora, foi em 1974, que Sandra Bem (1974) propõe uma
nova visão destes conceitos, concebendo-os como
bidimensionais e, portanto, independentes entre si.
Para Barberá (1998), esta nova concepção rompe com a relação entre “os componentes biológicos
do sexo e os componentes psicológicos da identidade
de gênero” (p.56-57), ou seja, os traços de masculinidade e feminilidade, enquanto manifestações de
gênero, não ficam limitados ao fato de ser homem
ou mulher.
Por serem conceitos universais e estarem presentes nas mais diversas culturas, Giavoni (2000)
afirma que todos os indivíduos possuem, em maior
ou menor proporção, traços da masculinidade e da
feminilidade em sua psique. Isso acontece ao nível
do autoconceito, tornando-se traços de personalidade que geram um sentido de identidade nos indivíduos. Estas estruturas são concebidas como lentes
que filtram as percepções influenciando na forma
de pensar, sentir e agir (GIAVONI; TAMAYO, 2010).
A influência que os construtos de masculinidade e feminilidade exercem sobre diferentes componentes psicológicos e sociais, permite inferir que os
mesmos encontram-se diretamente relacionados
com diversas dimensões, inclusive na área esportiva. Apesar de amplamente estudadas as diferenças
fisiológicas entre atletas do sexo masculino e feminino, poucos são os estudos brasileiros que investigaram traços de personalidade de atletas e praticantes de atividade física, relacionando-os aos seus
perfis psicológicos de gênero (LEITE, 2009; GOMESSOTERO; GIAVONI; MELO, 2011; LUZ, 2011; VASCONCELOS, 2011; CUSTÓDIO; GIAVONI; MELO, 2012).
Em um estudo desenvolvido para avaliar a cultura de gênero de brincadeiras infantis, Marques,
Silva e Melo (2012, no prelo) observaram que ama-
relinha, casinha, pular corda, foram avaliadas como
culturalmente femininas e que bolinha de gude, carrinho, aviãozinho foram concebidas por masculinas.
Melo (2012, no prelo) avaliaram os esportes de rendimento e descrevem que esportes como surf, halterofilismo, boxe, karatê, arremesso de peso, arremesso de martelo, automobilismo, remo, skate, tiro,
vela, futsal e futebol de campo, apesar de praticados por homens e mulheres, apresentam cultura de
gênero masculina. Esportes como ginástica artística,
ginástica rítmica, nado sincronizado, patinação, são
percebidos como culturalmente femininos e, voleibol, marcha atlética, natação, handebol, basquetebol, judô, karatê, windsurfe, atletismo (corridas), são
tidos como neutros, não carregando nenhuma característica predominante.
De acordo com Koivula (2001), essa divisão entre atividades tipicamente masculinas ou femininas
é fruto de uma construção histórica, baseada em
representações culturais e em relações sociais estabelecidas entre os gêneros. A partir desta caracterização cultural dos esportes, pode-se perceber
que indivíduos do sexo feminino que se interessam
por atividades culturalmente masculinas tendem a
ser estereotipadas pela população em geral, já que
seu sexo não condiz com a cultura daquele esporte (GIAVONI, 2000; KOIVULA, 2001; MELO; GIAVONI;
TROCCOLI, 2004; TSUKAMOTO; KNIJNIK, 2008).
Assim, percebe-se que mulheres que praticam
futsal, futebol ou halterofilismo são estereotipadas
como masculinas trazendo para si imagens geralmente ligadas a este perfil. Da mesma forma, homens que praticam esporte com cultura de gênero
feminino são estereotipados como sendo delicados,
sensíveis, frágeis, características estas culturalmente
femininas (MELO; GIAVONI; TROCCOLI, 2004).
Assim sendo, este estudo tem como objetivo
investigar qual a cultura de gênero das modalidades de academia com o intuito de, no futuro, indicar
modalidades mais adequadas ao perfil psicológico
de gênero de cada participante.
103
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e métodos
a) Amostra
Participaram da amostra 201 estudantes dos cursos de Licenciatura (44,8%), Bacharelado (15,4%) de
Educação Física e 38,3% estavam cursando os dois conjuntamente. Estes possuíam média de idade de 23,78
± 5,39 anos, sendo 64,2% do sexo masculino. A maioria
(52,8%) encontravam-se entre o quarto e o quinto períodos. Para participar da amostra deste deveriam estar
regularmente matriculados no segundo semestre de
2012, ter idade igual ou superior a dezoito anos e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
b) Instrumento
Foi construído um instrumento com quarenta nomes em ordem alfabética das modalidades de academia para avaliar a cultura de gênero de cada uma. Para
tanto, utilizou-se uma escala de Likert de cinco pontos
(Muito Feminina, Feminina, Neutra, Masculina e Muito
masculina).
c) Procedimento
Inicialmente foi explicado aos alunos o objetivo da
pesquisa. Aqueles que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Apósa assinatura do termo, o instrumento foi distribuído em sala
de aula, onde foi solicitado que não houvesse conversa
durante o preenchimento do mesmo.
As instruções verbais dadas pelas aplicadoras
aos respondentes informavam que se tratava de um
estudo sobre a Cultura de Gênero das modalidades de
academia, para isso seria necessário marcar um X na
resposta correspondente à cultura de gênero de cada
modalidade e não em relação a quem (homens ou mulheres) poderia praticar a modalidade. O instrumento
foi aplicado pelas próprias pesquisadoras, com duração média de 10 minutos.
d) Análises Estatísticas
Para a análise dos dados foram utilizadas medidas
descritivas como médias, desvios-padrão e frequência.
Todos os testes foram realizados por meio do software
SPSS versão 19.0 for Windows (com licença da Universidade).
Resultados e discussão
A partir das análises das frequências, pôde-se observar que das quarenta modalidades investigadas, treze foram definidas como predominantemente femini-
nas (Tabela 1), cinco como masculinas (Tabela 2) e vinte
e duas como neutras (Tabela 3).
Tabela 1. Modalidades de academia culturalmente femininas.
Modalidades
%
Dança do Ventre
GinásticaRítmica
Ballet Clássico
GinásticaLocalizada
Aero Dance
Pilates
Yoga
GinásticaArtística
Step
Ritmos
Aero Jump/Jump
Axé- Bahia
Jazz
96,5
92,0
88,1
78,6
78,1
64,7
63,7
64,2
64,2
58,7
60,2
52,7
51,2
Pode-se observar que as atividades avaliadas como
culturalmente femininas, são aquelas relacionadas aos
gestos e movimentos da dança e apresentam variáveis de
feminilidade, como, coordenação, agilidade, suavidade,
flexibilidade e sensualidade. Estes resultados condizem
com resultados encontrados no estudo de Melo (2012, no
prelo), no qual a autora avalia a cultura de gênero de es104
portes de rendimento e observaram que esportes como
Ginástica Artística, Saltos Ornamentais, Marcha atlética,
são avaliados como femininos por envolver característica
de gênero relacionada à feminilidade.
Estas características são percebidas desde os anos
70 e 80 quando, em sua maioria, as academias estavam
relacionadas a danças e ginásticas, com o maior pú-
Área - Esporte e Rendimento Humano
blico de mulheres. Os locais de treinamento de força
eram conhecidos como “Institutos de Modelação Física”, “Centros de Fisiculturismo”, “Clubes de Calistenia”
com a participação do público masculino que visava
trabalhar o aumento da massa magra (FURTADO, 2009).
Assim, eram divididas atividades específicas para mulheres e outras para homens o que desencadeou a aplicação da cultura de cada modalidade.
A tabela 2 traz os dados das modalidades tidas
como masculinas.
Tabela 2. Modalidades de academia culturalmente masculinas
Modalidades
%
Boxe
Jiu-Jitsu
MMA
MuayThai
Judô
70,1
74,6
83,1
68,7
52,7
Apesar do número pequeno de modalidades avaliadas como culturalmente masculinas, observa-se que
estas modalidades apresentam-se relacionadas com
variáveis como força, potência, agressividade e contato físico, o que caracteriza o ser masculino. Segundo
Ferretti e Knijnik (2007), as lutas ainda são identificadas
como um esporte violento, capaz de aumentar a virilidade, assim como desprezar a dor, tornando seu praticante mais capaz e masculino. Ainda, segundo os mesmos autores, as mulheres que praticam lutas se sentem
discriminadas tanto pelo público como pela mídia.
Giavoni (2002) e Melo, Giavoni e Troccoli (2004)
corroboram este pensamento quando descrevem que
esportes com predomínio de características instrumentais (força, agressividade, violência) quando praticados
por mulheres, desencadeiam a aplicação de estereótipos sexuais. Isto porque as características do desporto
versus o sexo do praticante contrariam a desejabilidade social, a qual se coaduna com as construções sociais
de masculinidade e feminilidade (p. 28).
A seguir são apresentadas as modalidades avaliadas como neutras (Tabela 3).
Tabela 3. Modalidades de academia culturalmente neutras
Modalidades
%
Natação
TreinamentoFuncional
AcquaTreino
CondicionamentoFísico
ABS – Abdominais
Running-Class
Rubber Ball
Circuito
Musculação
Ciclismo Indoor
Flex-Ball
Alongamento
Dança de Salão
Hip-Hop
Tae-Fight
Kangoo Jump
Hidroginástica
Taekwondo
Capoeira
Aero-boxe
Ginástica Natural
Karatê
92.5
88.6
86.1
85.6
85.1
82.6
82.1
81.6
80.1
79.1
78.6
75.6
72.1
61,7
66.7
65.2
63.7
62.7
61.2
53.7
51,2
51,2
105
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Pelos resultados encontrados, infere-se que a
maioria das atividades de academia são atualmente
percebidas como não apresentando uma característica específica de gênero. Modalidades como a natação,
a hidroginástica, o ciclismo indoor, a ginástica natural,
a dança de salão, axé-bahia, o circuito já foram atividades concebidas como neutras, não tendenciando para
nenhum público específico, já que não apresentavam
características específicas da masculinidade ou da feminilidade.
Porém, esperava-se que modalidades como flex-ball e alongamento fossem avaliadas como femininas, já que apresentam características da feminilidade.
E ainda, modalidades como aero-boxe, tae-fight, eram
esperadas como masculinas, o que não aconteceu também.
Possivelmente isto se dê pelo fato de que estas
modalidades de luta estejam sendo utilizadas como
meio de defesa pessoal, para o aumento do condicionamento físico, diminuição do estresse, de modo que,
dentro das academias, não são realizadas como forma
de competição ou mesmo de contato físico.
Para os profissionais de educação física, este resultado é importante, já que estas atividades, em nenhum
momento, acarretaram o estereótipo de gênero aos
seus praticantes.
Considerações finais
Assim, pôde-se concluir que as modalidades de
academia, em sua maioria, caracterizam-se por neutras, porém há aquelas que são julgadas como femininas e masculinas, seguindo o mesmo padrão de percepção das modalidades esportivas e das brincadeiras
infantis.
Talvez, as alterações atuais nos conceitos da cultura de gênero das atividades físicas e desportivas,
estejam sendo mais influenciadas pelos traços de personalidade dos indivíduos ao fazerem a sua escolha,
do que pela cultura de gênero desta. Ou seja, algumas
atividades começaram a se descaracterizar do que é
ser masculina e feminina, já que homens e mulheres
participam daquelas condizentes com seus esquemas
de gênero, mesmo que isso venha acarretar um estereótipo, principalmente por indivíduos não associados
ao meio da atividade físico e do desporto.
Outro fator que pode ter interferido no julgamento mais neutro das modalidades é a aproximação do
público investigado com estas modalidades, pois sabe-se que, quanto maior a distância do grupo (modalidade) praticado, maior o estereótipo aplicada àquele. Será que se a amostra for de pessoas não ligadas a
esportes e atividades físicas, essa avaliação seria diferente? Sugere-se que outra investigação seja realizada
com um público sem contato com atividade de academias e esportes.
Cabe ressaltar que os profissionais de Educação Física necessitam levar em conta o perfil psicológico de
gênero de seus alunos, já que este indivíduo tenderá
a buscar atividades coerentes com seus esquemas de
gênero, ou seja, indivíduos esquemáticos masculinos
tenderão a buscar atividades condizentes com seus
esquemas, aderindo a esta. O mesmo acontecerá com
indivíduos esquemáticos femininos, os quais vão aderir
melhor a atividades condizentes com seus esquemas.
Isso porque os traços (masculinos e femininos) das
modalidades praticadas tendem a desencadear estereótipos, consequentemente provocando desistência
da modalidade em questão. Isso pode ser real, uma
vez que quase sempre a escolha das modalidades de
academia é sugerida pela recepcionista, a qual orienta o aluno a se matricular na modalidade que está na
moda ou naquela condizente com a sua percepção.
Esta nem sempre é a mesma do futuro aluno, o que o
levará a não aderência à atividade física. Deve-se então
levar sempre em consideração os traços de personalidade do futuro aluno e conhecer a cultura de gênero
de cada modalidade indicada.
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Área - Esporte e Rendimento Humano
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VASCONCELOS, A. C. Relação entre os perfis psicológicos de gênero e os fatores de manutenção da prática da atividade física. Dissertação. Mestrado. Brasília, DF: Universidade Católica de Brasília, 2011.
107
Área - Esporte e Rendimento Humano
COMPAR AÇ ÃO DO DESEMPENHO OBTIDO NO DROP
JUMP E NO SALTO SOBRE BARREIR A
Ronaldo Rodrigues Borges
Marcelino Silva Duarte
Ytalo Mota Soares
Bruno Pena Couto
Leszek Antoni Szmuchrowski
[email protected]
Introdução
O treinamento pliométrico (TP) é um dos métodos mais utilizados para o desenvolvimento das capacidades físicas que requerem ações de alta velocidade
e curta duração, como a força explosiva e a velocidade
(THOMAS; FRENCH; HAYES, 2009; MARKOVIC; MIKULIC,
2010). Um exercício muito utilizado no TP é a transposição de barreiras, similares àquelas utilizadas nas provas
de atletismo (SANTOS; JANEIRA, 2008; POTACH; CHU,
2008). Apesar de ser um tipo de exercício muito utilizado, são escassas as recomendações que possam avaliar o desempenho específico nesse tipo de atividade.
Por sua vez, o Drop Jump (DJ) é um teste desenvolvido
para avaliar o desempenho nos saltos em profundidade, mas também é largamente utilizado como meio de
treinamento. Em ambas as situações, a altura de 40 cm
vem sendo bastante utilizada (KELLIS et al., 1999; SANTOS; JANEIRA, 2011; CHEN et al., 2013).
O objetivo do presente estudo é comparar o desempenho obtido no DJ, com o desempenho obtido
no salto sobre barreira.
Palavras-Chave: Força muscular; salto; desempenho.
Materiais e Métodos
Sujeitos
Participaram 20 sujeitos, homens, adultos e universitários, com idade de 22.5 ±3.0 anos; estatura 178 ±10
cm e massa corporal de 72.3 ±9.3 quilogramas. Foram
estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: ser considerado sadio com base no questionário PAR-Q, não
apresentar ocorrência ou antecedentes de lesão articular
em membros inferiores e ter experiência sistemática em
pliometria (mínimo de seis semanas), com experiência
em saltos verticais. O estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética da Universidade Federal da Paraíba, protocolo
CEP 812/10.
Instrumentos e Variáveis
• Antropômetro CESCORF® (estadiômetro vertical)
para mensurar a estatura dos voluntários, com
precisão de 0,05 cm;
• Balança digital FILIZOLA® MF Standard para mensurar a massa corporal, com precisão de 0,02 kg;
• Plataforma de força - PLA3-1D-7KN/JBA Zb, Sta-
niak®, (Polônia) para mensurar os saltos (altura de
voo e tempo de contato com o solo); a plataforma
é composta por duas superfícies de 40cmx40cm
que possuem células de força compostas por sensores strain gauge, sensíveis à pressão, conectadas
a um conversor analógico-digital e um amplificador de sinal;
• Amplificador - WTM 005-2T/2P JD Jaroslaw®, (Polônia): fornecer ao software (MVJ versão 3.4 - Zb.Staniak® – Polônia) para valores de força e tempo;
• Steps de madeira (dois de 20 cm, permitindo
uma altura total de 40cm) para realização do Drop
Jump;
• Barreira de PVC (uma barreira de 40 cm) para o
salto sobre barreira.
Delineamento Experimental
Este estudo foi executado em cinco dias não consecutivos (ver figura 1).
109
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Figura 1- Representação esquemática do delineamento experimental.
Procedimentos
Inicialmente, os voluntários compareceram ao
Laboratório de Avaliação da Carga (LAC/UFMG), onde
foram explicados os procedimentos da pesquisa. Após
a explicação, assinaram o TCLE e preencheram o questionário PAR-Q. No mesmo dia, para caracterização antropométrica da amostra, a estatura e a massa corporal
foram mensuradas. No segundo e terceiro dias, sessões
de familiarização com duas técnicas de saltos verticais
foram realizadas, de forma aleatória, em ambos os dias,
sendo precedidas de aquecimento padrão para cada
situação. No quarto e quinto dias (de forma aleatória),
ocorreu a aferição do desempenho obtido no DP e no
SB, sempre precedida do aquecimento padrão correspondente.
Aquecimento: Os voluntários realizaram 6 DJ ou 6
SB, sobre a plataforma de força, para cada uma das seguintes alturas: 20, 40 e 60 centímetros (steps ou barreiras). Um intervalo de 30 segundos entre cada salto foi
respeitado.
Familiarização: Iniciava-se logo após o aquecimento e consistia na execução aleatória das duas técnicas
de saltos verticais (DJ ou SB), sendo que a metade da
amostra iniciou com o DJ e a outra com o SB. Os voluntários realizaram, aproximadamente, 16 saltos
Drop Jump (DJ): Foram realizados três saltos com o
maior valor registrado. O salto que ultrapassou o tempo de contato de 250 milissegundos foi descartado.
Inicialmente, o indivíduo posicionava-se sobre o step,
na extremidade mais próxima da plataforma de força. O voluntário ficava em posição ortostática, com as
mãos fixas próximas ao quadril, na região supra-ilíaca.
O pé direito do voluntário ficou suspenso e projetado
à frente, a partir de uma pequena flexão de quadril. O
pé esquerdo era mantido em contato com a borda do
step e na posição anatômica. No entanto, apenas a metade posterior da planta do pé mantinha contato com o
step. A metade anterior do pé esquerdo ficou suspensa,
em direção à plataforma de força. Os voluntários não
podiam realizar um salto vertical para sair do caixote.
Como o pé direito já se encontrava em suspensão e
apenas a metade posterior do pé esquerdo era mantida em contato com o step, o voluntário realizava uma
flexão plantar com o pé esquerdo para permitir que o
mesmo deslizasse sobre o caixote, permitindo que o voluntário caísse em direção à plataforma de força.
110
Depois de perder o contato com o step, o indivíduo se encontrava em fase de queda, durante a qual
mantinha os pés paralelos, com um afastamento semelhante ao dos quadris, assim como os joelhos, os quais
permaneceriam estendidos. O contato com a plataforma de força era iniciado com o terço anterior dos pés.
Durante o primeiro contato com a plataforma, o voluntário realizou um contra-movimento, ou seja, uma
ação excêntrica seguida por uma concêntrica. Para tal,
foi realizada uma flexão de quadris e joelhos até a angulação em que o voluntário julgasse mais eficiente e,
logo após, ocorria a extensão de quadris e joelhos. Assim, o voluntário encontrar-se-ia na fase de voo. Como
na fase de queda, os joelhos e os quadris permaneciam
em extensão até o novo contato com a plataforma de
força. O contato com a plataforma era realizado novamente com o terço anterior dos pés e, após esse contato, os quadris e os joelhos eram flexionados com o
intuito de amortecer o impacto. O tronco era mantido
ereto, na vertical e sem um adiantamento excessivo
durante todo o DJ. Os voluntários foram orientados a,
após a fase de queda, manter o menor tempo de contato possível com a plataforma de força e atingir o maior
desempenho, ou seja, a maior altura de voo possível.
Salto sobre Barreira (SB)
O voluntário posicionava-se à frente da barreira, em posição ortostática, com as mãos fixas próximas ao quadril, na região supra-ilíaca. Os pés ficavam paralelos e com um afastamento semelhante ao
afastamento dos quadris. O salto era iniciado com um
contra-movimento, ou seja, uma ação excêntrica seguida por uma concêntrica. Para tal, ele deveria realizar
uma flexão de quadris e joelhos até a angulação em
que julgasse mais eficiente e, em seguida, realizaria a
extensão de quadris e joelhos. Assim, o voluntário encontrar-se-ia na fase de voo. Após superar a barreira, o
voluntário começava a fase de queda, até o primeiro
contato com a plataforma.
O contato com a plataforma de força deveria se
iniciar com a ponta dos pés e, durante esse primeiro
contato, o voluntário realizava um contra-movimento.
Para tal, ele fazia uma flexão de quadris e joelhos até a
angulação em que julgasse mais eficiente e, em seguida, ocorria a extensão de quadris e joelhos. Assim, o indivíduo encontrava-se na segunda fase de voo, em que
Área - Esporte e Rendimento Humano
os joelhos e os quadris permaneciam em extensão até
o novo contato com a plataforma de força. Este contato ocorria novamente com a ponta dos pés e, logo
após, os quadris e os joelhos seriam flexionados com
o intuito de amortecer o impacto. O tronco era mantido ereto, na vertical e sem um adiantamento excessivo
durante todo o protocolo.
Os voluntários foram orientados a manter o me-
Figura 2.1 – Salto sobre barreira
Análise Estatística
A normalidade dos dados foi verificada por meio
do teste Kolmogorov-Smirnov, com nível de significância p<0,05. O Teste Z com Intervalo de Confiança de
nor tempo de contato possível com a plataforma de
força, para que atingissem o maior desempenho (altura
de voo possível) após a primeira fase de queda. Igualmente ao DJ, os saltos que atingissem até 250 milissegundos de tempo de contato (obtidos após a transposição da barreira) foram considerados válidos, e o
melhor desempenho (entre as três tentativas) na altura
do voo foi registrado.
Figura 2.2 - Drop Jump
95% foi utilizado para verificar o nível de estabilização
do desempenho em cada técnica, nas sessões de familiarização. Para a análise estatística dos dados, foi utilizado software SPSS for Windows versão 17.
Resultados e Discussão
Com relação à comparação do desempenho obtido nas diferentes modalidades de salto, foi encontrada
diferença significativa (p= 0,005); quando comparados
os tempos de contato, não foram constatadas diferenças com significado estatístico (p= 0, 552).
Tabela 1 – Valores de desempenho dos protocolos e tempo de contato
Variável
Desempenho DJ (cm)
Desempenho SB (cm)
Tempo de Contato DJ (ms)
Tempo de Contato SB (ms)
Os valores encontrados na comparação entre os
desempenhos evidenciam uma resposta diferenciada
do organismo para diferentes estímulos e indicam a
importância de investigar o exercício de transposição
sobre barreiras de forma específica. O deslocamento diferenciado do centro de massa nesses exercícios
pode ter influenciado a diferença encontrada. A altura
de queda do centro de massa é diferente, pois, no DJ, o
indivíduo iniciou o movimento com o joelho estendido
Valores
31,76 ±5,92
35,28 ± 3,51
0,172 ±0,281
0,168 ±0,033
Valor de p
0,005
0,552
e na fase aérea até aterrissar manteve o joelho em extensão, o que não acontece no SB, em que, geralmente,
há uma flexão dos joelhos no ato de transpor a barreira. Vale destacar que, mesmo com tempo de contato
semelhante, o desempenho foi diferente, o que leva a
inferir que outras variáveis podem ter influenciado no
resultado, a exemplo do melhor aproveitamento da
energia potencial elástica na execução do SB.
Conclusão
Conforme o objetivo proposto foi possível perceber, no grupo estudado, uma vantagem no desem-
penho para o SB na altura de obstáculo estudada. O
tempo de contato permaneceu inalterado nas duas si111
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
tuações, ou seja, não se pode atribuir, ao mesmo, um
elemento diferenciador no resultado proposto.
Indicam-se estudos que possam esclarecer a caracterização do SB, tendo em vista sua vasta utiliza-
ção na prática do treinamento esportivo, favorecendo
o monitoramento e a regulação do treinamento pliométrico.
Referências
CHEN, Z. R.; WANG, Y. H.; PENG, H. T.; YU, C. F.; WANG, M. H. The Acute Effect of Drop Protocols with different volumes and recovey time on countermovement jump performance. Journal of Strength and Conditioning Research. v. 27, n. 1, p. 154-158, 2013.
KELLIS, S. E.; TSITSKARIS, G. K.; NIKOPOULOU, M. D; MOUSIKOU, K. C. The evaluation of jumping ability of male
and female Basketball Players According to their Chronological age and Major Leagues. Journal of Strength and
Conditioning Research, v. 13, n. 1, p. 40-46, 1999.
MARKOVIC, G.; MIKULIC, P. Neuro-musculoskeletal and performance adaptations to lower-extremity plyometric
training. Sports Med. v. 40, p. 859-95, 2010.
POTACH, D. H.; CHU, D. Plyometric Training. In: BAECHLE, T.R.; EARLE, R.W. (eds) Essentials of strength training
and conditioning. 3. ed. Champaign: Human Kinetics, 2008, p. 427-470.
SANTOS, E.; JANEIRA, M. A. A. S. Effects of complex training on explosive strength in adolescent male basketball
playeres. Journal of Strength and Conditioning Research. v. 22, n. 3, p. 903-909, 2008.
SANTOS, E.; JANEIRA, M. A. A. S. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 25, n. 2, p. 441-452, 2011.
THOMAS, K.; FRENCH, D.; HAYES, P. R. The effect of two plyometric training techniques on muscular power and
agility in youth soccer players. Journal of Strength and Conditioning Research. v. 23, n. 1, p. 332-335, 2009.
WU, Y. K.; LIEN, Y. H.; LIN, K. H; SHIH, T. T., WANG, T. G., WANG, H. K. Relationships between three potentiation effects of plyometric training and performance. Scand J Med Sci Sports. v. 20, p. 80-86, 2010
112
Área - Esporte e Rendimento Humano
EFEITOS DO TREINAMENTO RESISTIDO COMBINADO
COM TREINAMENTO FUNCIONAL NA QUALIDADE DE
VIDA DE IDOSOS
Rafael Ribeiro Valério Dos Santos
Mariana Anunciação Gabriel
[email protected]
Introdução
O envelhecimento é um processo inexorável e
multifatorial, que inclui fatores genéticos e ambientais influenciados por doenças e hábitos deletérios à
saúde. Este é um processo progressivo e inevitável,
caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas
e de todas as capacidades físicas (MORAES et al., 2012;
SILVA, 2005; MURRAY,1997). Uma das formas de intervenção que tem demonstrado grande eficiência na
manutenção e aumento da massa muscular e, consequentemente, na melhoria da aptidão física e independência de idosos, é a prática de Treinamento Resistido
(TR), também chamado de treinamento com pesos. Sua
prática sistemática em idosos pode promover aumento
da força, da massa muscular e da flexibilidade (ACSM,
2002; CASTRO et al., 2003). Com o avanço dos benefí-
cios do TR, foram surgindo algumas variações para tentar atender à demanda de determinados grupos e especificidades. Uma atividade oriunda do TR que vem
atendendo a essa demanda, chamado de Treinamento
Funcional (TF), além de estimular agilidade, coordenação motora, força muscular e flexibilidade, possibilita,
ainda, a aplicação de padrões de movimentos mais
elaborados, quando comparado com o treinamento TR
convencional (TEXEIRA, 2008; D’ELIA et al., 2005), além
de atender às necessidades da vida diária. O objetivo
desta pesquisa foi verificar os benefícios na hemodinâmica e na qualidade de vida do treinamento resistido
combinado com treinamento funcional, principalmente relacionada a atividades da vida diária de idosos.
Materiais e Métodos
A amostra foi composta de dois grupos, divididos
por meio de sorteio aleatório: Grupo Treinamento Resistido (GTR) (n=7) e Grupo Treinamento Resistido Funcional (GTRF) (n=7). Ambos realizavam atividade duas
vezes na semana, com aulas de 60 minutos. Foi aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 e uma
ficha de anamnese, a fim de verificar o efeito do treinamento resistido combinado com treinamento resistido
funcional. Todos os procedimentos éticos que envolvem pesquisa com seres humanos foram adotados, e
as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Trata-se de estudo experimental realizado no Laboratório de Estudos de Forças (LABEF) da Universidade Católica de Brasília, submetido ao
comitê de ética CEP- UCB (Protocolo nª 1056/ CEP/UCB).
Os critérios de exclusão adotados foram: falta de capacidade para responder à ficha avaliativa e ao questionário de qualidade de vida e frequência inferior a 85%
no programa, além de alguma restrição osteomuscular.
Resultados e Discussão
O O presente estudo centrou-se em identificar os
efeitos de treinamento resistido combinado ao treinamento funcional na qualidade de vida dos idosos com
relação à melhora da qualidade de vida dos idosos
submetidos ao treinamento resistido e ao treinamento
resistido funcional por 6 semanas. Os resultados mostram que houve uma pequena melhora das categorias: Saúde Geral de Saúde, Vitalidade, Saúde Mental
no GTR, e no GTRF uma melhora no Estado Geral de
Saúde no pós-intervenção do treinamento. E, quando
comparado um grupo com outro, não houve diferença significativa intragrupos. Tais resultados podem ser
pelo pouco tempo de intervenção do treinamento com
estes idosos, e também a quantidade de dias (apenas 2
vezes na semana) de prática do treinamento resistido e
treinamento resistido funcional.
113
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
A amostra da pesquisa foi dividida em dois grupos:
GTR (n=7), mulheres (85,71%) e homens (14,28%) com
idade média 69,14 ± 4,4; e GTRF (n=7), mulheres (85,71%)
e homens (14,28%) com idade média 68,14 ± 7,33.
Não houve diferença significativa intergrupos; porém, existiu uma diferença significativa comparando o
pré e pós-intervenção do treino em relação a algumas
categorias do questionário de qualidade de vida SF-36.
Outra hipótese levantada durante a coleta de dados do presente estudo, é que através de uma entrevista informal realizada durante os treinamentos dos
grupos. O GTRF era questionado quanto à melhora de
propriocepção, equilíbrio, melhora da funcionalidade no
cotidiano, e todos relataram melhora deste quesito em
relação a suas AVD’s. Já o GTR foi questionado quanto à
melhora da qualidade de vida, e todos foram favoráveis.
Portanto, faz-se importante a elaboração de questionário padrão para avaliação e aplicação de outros testes
para avaliar equilíbrio, flexibilização, quesitos psicológicos, postura, autonomia funcional, entre outros.
Durante a aplicação do treinamento resistido e do
treinamento resistido funcional, foi utilizada a escala
BORG e escala de OMNI-RES para avaliar a intensidade
do treinamento. No GTR, os resultados apresentados
foram: Muito fácil 14,28%; Moderado 57,14 e pouco difícil 28,57. Já no GTRF, 71,43% avaliaram a intensidade
como Moderada e 28,57% Pouco Difícil.
Corroborando o estudo que avaliou a existência
de diferenças na aptidão cardiorrespiratória entre idosas praticantes e não praticantes das atividades físicas
oferecidas pelo Centro de Convivência dos Idosos, por
meio da aplicação do teste de caminhada de 6 minutos, utilizou como instrumento de avaliação, além dos
sinais vitais a escala de BORG, a conclusão do estudo
foi que atividade física oferecida no centro de convivência dos idosos pode ter melhorado ou ajudado a
manter a resistência cardiorrespiratória das idosas investigadas (NASCIMENTO, et al., 2011). Devido à praticidade da aplicação de fácil entendimento, essas escalas
se tornam tão usuais e são de fundamental importância para uma padronização da intensidade a ser aplicada no treinamento resistido e treinamento resistido
funcional.
Com relação aos sinais vitais pré e pós-treinamento, houve uma diminuição da PAS e PAD e FC no GTR e
aumento da SpO pós exercício. No GTRF houve um aumento da PAS e PAD, FC e SpO. A literatura ainda é escassa em relação ao comportamento da PA após uma
sessão de treinamento resistido e resistido funcional.
O estudo de Mutti et al. 2010 demonstrou reduções da
PAS e PAD após uma sessão de treinamento resistido
por idosos treinado. Estes achados demonstram que
existe uma resposta hipotensiva ao treinamento resisto
por pelo menos 60 minutos em idosos treinados..
Conclusões
Os resultados do presente estudo evidenciam
que os idosos do CCI da Universidade Católica de Brasília são todos ativos, não fumantes, parte da amostra
possui HAS, e, devido ao tempo curto de coleta dos
dados, os resultados em relação à questão de qualidade de vida não apresentaram tanta significância.
O treinamento funcional não obteve diferença significativa na qualidade de vida dos idosos em relação
ao treinamento resistido, mas, de modo informal, foi
possível observar uma melhora das questões psicos-
sociais, equilíbrio, propriocepção, estabilização postural, coordenação motora no grupo em que foi aplicado o treinamento resistido funcional, em relação ao
grupo que apenas realizou o treinamento resistido.
Vale ressaltar que a melhora no grupo do treinamento resistido foi significativa. Com relação à PA, foi observada a presença da hipotensão pós-exercício, mas
há a necessidade de haver um monitoramento no mínimo por 60 minutos, para observar a duração deste
efeito em idosos.
Referências
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE POSITION STAND. Exercise and physic activity for older adults. Med Sci
Sports Exerc, v. 30, n. 6, p. 992-1008, 2002.
CASTRO, J. F.; MACHALA, C. C.; DIAS, R. C. et.al. Importância do treinamento de força na reabilitação da função
muscular, equilíbrio e mobilidade de idosos. Acta Fisiátrica, v. 10, n. 3, p. 133-137, 2003.
D’ELIA, R.; D’ELIA, L. Treinamento Funcional. SESC- Serviço Social do Comércio. Apostila, 2005.
MORAES, K.; CORREA, C.; PINTO R. et.al. Efeitos de três programas de treinamento de força na qualidade de vida
de idosas. Rev. Bras. Ativ. Fis. e Saúde. Pelotas-RS, v. 17, n. 3, p. 181-187, 2012.
MURRAY, C. J; LOPEZ,A. D. Mortality by cause for eight regions of the world: global burden of disease study.
Lancet, v. 349 , n. 9061, p. 1269 – 1279, 1997.
114
Área - Esporte e Rendimento Humano
NASCIMENTO, R.; RAMIRES, J. et.al. Aptidão cardiorrespiratória em idosas participantes de centro de convivência
na cidade de Coari, Estado do Amazonas, Brasil. Rev. Pan-Amaz Saúde, Amazonas, v. 2, n. 2, p. 19-26, 2011.
SILVA, R. P.; NOVAES, J. S.; AQUINO, M. S. Protocolos de treinamento resistido de alta velocidade de contração muscular em idosas: Efeitos na percepção de Esforço. Rev. da Educação Física. UEM Maringá, v. 20, n. 1,p. 77-84, 2009.
TEIXEIRA, D. Prescrição do Exercício Físico e Envelhecimento. São Paulo, 2008.
115
Área - Esporte e Rendimento Humano
FLE XIBILIDADE, FORÇ A ABDOMINAL E COMPOSIÇ ÃO
CORPOR AL DE MULHERES SOBRE VIVENTES DE
C ÂNCER DE MAMA
Claudiana Donato Bauman
Juliane R. dos Santos
Vinicius D. Rodrigues
Alisson G. da Silva
Marilene Gesiane Mendes Paula
Liliane Lacerda Silva
Adélia Dayane Guimarães Fonseca
[email protected]
Introdução
O câncer representa no mundo 12% das causas de
morte, sendo que, dos casos registrados a cada ano,
22% estão relacionados com a mama (Instituto Nacional do Câncer [INCA], 2012). Esse tipo de câncer representa, nos países ocidentais, uma das principais causas
de morte em mulheres (TAVASSOLI; DEVILEE, 2003). As
estatísticas indicam o aumento de sua frequência tanto
nos países desenvolvidos quanto nos emergentes (DANAEI; VANDER HOORN; LOPEZ; MURRAY; EZZATI, 2005).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS,
2008), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por
idade nos Registros de Câncer de Base Populacional
de diversos continentes. No Brasil, a incidência de casos de câncer de mama em 2010 foi de 49.240 mil, com
um risco estimado de 49 casos a cada 100 mil mulheres
(INCA, 2012).
As altas taxas de mortalidade se devem a um
conjunto de fatores, entre eles a realização de diagnósticos tardios da lesão maligna primária, problemas
de comportamento do indivíduo com câncer, além de
questões relacionadas com dificuldades de acesso ao
serviço de saúde e à qualidade do tratamento multiprofissional na área (DANAEI et al., 2005). Um importante fator prognóstico do câncer de mama é o diagnóstico precoce, uma vez que apresenta altos índices
de cura quando o tumor é detectado em estágio inicial
(DA ROSA; RADÜNZ, 2012).
A cirurgia, conhecida como mastectomia – redução completa da mama - somada à quimioterapia
e radioterapia, pode determinar complicações físicas
imediatas ou tardiamente à cirurgia, tais como limitação e diminuição de movimentos de ombro e braço,
linfedema e variados graus de fibrose da articulação
escápulo-umeral (PRADO; MAMEDE; ALMEIDA; CLAPIS,
2004). A prática de exercícios físicos relacionados com
a reabilitação pós-mastectomia, bem como a orientação destes, são intervenções importantes na assistência pós-operatória à mulher, pois têm como finalidade
prevenir ou minimizar o linfedema ou a perda de mobilidade da articulação do ombro (PRADO et al., 2004).
Um programa de atividade física regular pode influenciar na melhora da capacidade cardiovascular, na
diminuição da gordura corporal, no aumento da resistência muscular, da força e da flexibilidade (PEDROSO;
ARAÚJO; STEVANATO, 2005). Todos esses fatores associados diminuem as alterações deletérias causadas
no metabolismo, melhorando a saúde e qualidade de
vida dos pacientes, e criam uma melhor expectativa no
combate à doença (BATTAGLINI; BOTTARO; CAMPBELL;
NOVAES; SIMÃO, 2004).
Uma vez que a aptidão física expressa a capacidade funcional direcionada à realização de esforços
físicos associados às atividades de vida diária e níveis
satisfatórios estão associados com um baixo risco do
desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas, é importante estudar e verificar os níveis de componentes da aptidão física relacionada à saúde em
pacientes diagnosticadas com câncer de mama que
participam de um programa de exercício físico regular
(CARDOSO; FERREIRA, 2010).
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo verificar o nível de flexibilidade, força abdominal e
percentual de gordura corporal (%G) de mulheres acometidas por câncer de mama participantes do Projeto
de Extensão Vida Presente (PEVIP) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES).
117
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e Métodos
A presente pesquisa caracteriza-se como exploratória, de corte transversal e abordagem quantitativa,
sendo a amostra composta por 42 mulheres (55,11 ±
8,51 anos) diagnosticadas com câncer de mama, participantes do PEVIP da UNIMONTES.
Foram incluídas na amostra mulheres voluntárias,
autorizadas pelo médico oncologista responsável, sem
limitação física que pudesse prejudicar a realização dos
testes, e com participação efetiva acima de seis meses
nas atividades propostas pelo PEVIP.
Os protocolos de intervenção no estudo foram
aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes sob RESOLUÇÃO Nº 009 - CEPEX/2010 e Parecer Nº 136/2009 da Câmara de Pesquisa, e acompanham normas da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres
humanos, sendo o anonimato preservado e todos os
participantes informados previamente sobre os procedimentos empregados no estudo.
Os instrumentos utilizados foram uma balança da
marca Filizola com estadiômetro, para mensuração da
estatura e massa corporal; Banco de Wells da marca
Sanny no teste de flexibilidade; e adipômetro da marca
Sanny para a mensuração das pregas cutâneas. Ainda,
foi realizada uma entrevista estruturada, a fim de conhecer as características de hábitos de vida da amostra
(apêndice).
No tratamento dos dados, utilizou-se o programa
SPSS versão 18.0 para análise descritiva e frequência
dos dados.
Resultados e Discussão
Para caracterização da amostra, foram coletados
dados de hábitos de vida. A tabela 1 apresenta as ca-
racterísticas antropométricas e variáveis dependentes
do estudo.
Tabela 1: Caracterização da amostra quanto às variáveis antropométricas e variáveis dependentes.
Idade (anos)
n
42
Mínima
41,00
Máxima
82,00
Média
55,11
DP
8,51
Peso (kg)
Estatura (m)
IMC (kg/m²)
%G
Flexibilidade (cm)
Abdominal (rep)
42
42
42
42
42
42
36
1,44
14,40
21,38
0,00
0,00
105,0
1,68
41,20
44,08
39,00
55,00
65,34
1,56
26,61
31,91
23,92
15,59
16,37
0,05
5,91
5,14
9,61
15,75
Rep: repetições
O IMC encontrado (tabela 2) é classificado como
sobrepeso (EVELETH et al., 1998). É importante ressaltar que 71,43% das mulheres do presente estudo fazem
uso do tamoxifeno - modulador seletivo do receptor
de estrógeno oral , o qual propicia um acúmulo de gordura corporal (KUSAMA et al., 2004; THANGARAJU; KUMAR; GANDHIRAJAN; SACHDANANDAM, 1994). Outro
fator que pode ter contribuído para os valores de IMC
encontrados foi a baixa frequência semanal do programa de exercícios, que ocorreram apenas 2 vezes por
semana.
O mesmo pode ter ocorrido para os valores do
percentual de gordura, cuja média foi de 31,91 ± 5,14
%. Um estudo (BATTAGLINI et al., 2004) avaliou a aptidão física de pessoas com câncer, incluindo 22 mulheres com câncer de mama, e encontrou média de
28,69 ± 7,85 %. Um valor semelhante, 28,04 ± 4,17 %,
foi encontrado em outro trabalho (OKADA; AQUINO
118
JUNIOR; BARRETO; DUARTE; SILVA, 2008), quando os
autores avaliaram a composição corporal em mulheres pré-menopausais entre 30 a 50 anos. Os resultados
apontaram valores de percentual de gordura inferiores
ao presente estudo. Embora a diminuição da massa
muscular seja característica da caquexia no câncer, a
proximidade dos valores encontrados pode acarretar
ainda uma piora na qualidade de vida, principalmente
na diminuição da força muscular, o que contribui para
a diminuição da autonomia da pessoa acometida por
tal situação (PRADO et al., 2007).
Na tabela 2 é apresentada a frequência e percentual de acordo com os pontos de corte para classificação da composição corporal (%G). A classificação foi de
acordo Jackson, Pollock, e Ward (1980).
Área - Esporte e Rendimento Humano
Tabela 2: Frequência (F) e Percentual (%) da composição corporal (%G)
Normal
Moderadamente obesa
Excessivamente obesa
Total
F
15
18
9
42
As mulheres desta amostra apresentam alguns fatores que se relacionam com os níveis de massa gorda
elevados, relacionados ao estágios pré-menopáusicos
e menopáusicos, tipo de tratamento, idade e uso do tamoxifeno. Vários problemas estão associados aos efeitos da referida medicação, dentre os quais incluem as
alterações no metabolismo das lipoproteínas. Apesar
de vários estudos descreverem pequenas mudanças
na concentração de lipoproteínas plasmáticas, alguns
relatos têm demonstrado que o tamoxifeno é capaz de
induz hipertrigliceridemia em portadoras de câncer de
mama (KUSAMA et al., 2004).
Com relação à flexibilidade, alguns autores (OLIVEIRA; MATSUDO; ANDRADE; MATSUDO, 2001) avaliaram a aptidão física de mulheres sedentárias e encontraram o escore de 29,0 ± 8,5 cm, valor superior ao do
presente trabalho. Em outro estudo (SILVA; RABELO,
2006), o nível de flexibilidade foi de 22,71 ± 8,29 cm
em mulheres que não praticavam atividade física, e 30
± 6,46 cm em mulheres praticantes. Assim, a literatura
apontou mulheres sedentárias com melhor desempenho no teste de sentar e alcançar, além de mulheres
praticantes de atividade física com desempenho superior às mulheres ativas da presente amostra. De acordo
com Cardoso e Ferreira (2010), o planejamento do exercício físico contribui para melhora da aptidão física relacionada à saúde da mulher. No entanto, em relação à
flexibilidade, parece que a baixa frequência semanal e
%
35,71
42,86
21,43
100
a quantidade de exercícios de alongamento realizados
não foram suficientes para garantir um bom desempenho no teste.
Quando somamos os valores equivalentes aos
escores bom e excelente, obtemos o equivalente a
54,8%, o que se revela extremamente satisfatório, levando em consideração a presença da patologia. Em
um estudo (BATTAGLINI et al., 2006), um grupo de mulheres (57,5 ± 23,0 anos) acometidas com câncer de
mama, que realizavam treinamento de força, foi comparado com mulheres (56,6 ± 16,0 anos) que não treinavam, mas possuíam a patologia. O grupo experimental exercitou-se após a cirurgia, durante 60 minutos,
de forma moderada, duas vezes por semana, durante
21semanas, e teve a força muscular total avaliada antes e após o tratamento. Foram encontradas diferenças
significativas na força muscular total entre os grupos
após o treinamento. Isso sugere que o treinamento resistido pode colaborar positivamente para o desenvolvimento de força, assim contribuindo para uma melhor
qualidade de vida da paciente com câncer de mama.
Não foi possível obter os dados de flexibilidade,
força muscular e %G previamente ao início do programa de exercícios, o que proporcionaria uma interessante comparação com os valores encontrados após seis
meses de prática. Outro fator limitante foi a ausência
de controle sobre importantes variáveis intervenientes,
como a dieta.
Conclusões
Os resultados não se mostraram satisfatórios com
relação aos componentes da aptidão física relacionados à saúde (flexibilidade, força abdominal e %G) em
mulheres sobreviventes ao câncer de mama que participavam de um programa de exercício físico. Tal fato
pode estar relacionado à baixa frequência semanal do
programa e o tipo de exercícios realizados.
Não se pretende afirmar que programas de exercícios promovem ou não a melhora dessa situação patológica específica, mas as alterações advindas desse
quadro da doença podem ser subsídios para entender
melhor o comportamento da aptidão física e sua relação com o câncer de mama. Portanto, evidencia-se a
necessidade de novos estudos que abordem a inserção de programas de atividades físicas com protocolos
específicos para elucidar a influência na aptidão física
dessa população, com acompanhamento das variáveis
intervenientes, como condição nutricional, uso de medicamentos, estado de sono/vigília e frequência.
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120
Área - Esporte e Rendimento Humano
AC ADEMIAS DE GINÁSTIC A: UM OLHAR ACERC A DA
ATUAÇ ÃO PROFISSIONAL NO MERC ADO FITNESS
Keila Michelly Canhina Sachimbombo
Roberto Tadeu Iaochite
[email protected]
Introdução
A educação física estabeleceu-se enquanto profissão para suprir demandas sociais e atuar junto à população por meio de conhecimentos acerca das diferentes dimensões que compõem o campo da motricidade
humana. Neste sentido, a instrução na prática de exercícios, a educação corporal, o conhecimento acerca
dos benefícios da atividade física e suas implicações
para a saúde vêm sendo ressaltadas como responsabilidade profissional tanto pelo código de ética quanto nas resoluções para atuação e formação acadêmica
nesta área (BARROS, 2006; BRASIL, 2002, 2004; CONFEF,
2002, 2003; OLIVEIRA, 2000, 2006).
Ao pensarmos no profissional responsável pela
atividade física nos diversos espaços de atuação desse
profissional, deparamo-nos com uma série de investigações acerca das exigências, competências, condições
e conhecimentos profissionais necessários à boa atuação nesses diferentes cenários (COELHO FILHO, 2000/1;
COELHO FILHO; VÔTRE, 2010; FONSECA et al., 2009;
ROSSI; HUGER, 2008; SORIANO, 2003, 2010; SORIANO;
WINTERSTEIN, 2004; VERENGUER, 2003, 2008).
Temos visto um crescente número de academias
de ginásticas em solo nacional. O Instituto IHRSA Latin
America afirma que, em dez anos, o Brasil passou de
16.952 academias de ginástica para 23.400 estabelecimentos. Logo, as demandas sociais corroboraram o
aumento no número destas instalações, porém, apesar de o país ser o segundo no mundo em número de
academias de ginástica, é apenas o quinto em número
de praticantes regulares de atividades físicas nestes espaços, revelando uma provável lacuna, evidência que
nos permite problematizar acerca do papel da atuação profissional nesses espaços (IHRSA, 2012). É, pois, a
partir da intervenção profissional de qualidade, dentre
outros fatores, que poderá refletir numa prática segura, dotada de objetivos, com melhora no desempenho
e condicionamento físico, podendo aprimorar o bem
-estar e a qualidade de vida daqueles que se envolvem
com a prática regular de atividade física, e o fazem com
a orientação de profissionais competentes para tal
(CONFEF, 2002).
Diante do exposto, os objetivos deste estudo são
identificar e analisar quais são as exigências do mercado de trabalho para uma atuação profissional de qualidade no mercado fitness, em especial, nas academias
de ginástica, tendo os próprios profissionais que atuam
nesse campo como protagonistas.
Materiais e métodos
Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo descritiva, com abordagem qualitativa de análise, que
adotou como técnica de coleta de dados a entrevista
semiestruturada (THOMAS; NELSON, 2002).
Este estudo contou com a participação de 12 profissionais de educação física, atuantes na área de ginástica em academias, sendo classificados da seguinte
maneira: a) Profissional expert (FREIDSON, 1998) - aquele que possui notório reconhecimento nacional e internacional por sua contribuição histórica e de formação
na área da ginástica de academia no Brasil. Contribuíram com vídeos, livros e material didático para ascensão das diferentes modalidades como: aeróbica, step,
cycle, jump e suas vertentes. A denominação expert se
dá uma vez que é um especialista com conhecimento
e competência acerca deste mercado profissional. Neste estudo, cada profissional pertencente a essa classe
recebeu a codificação de PR1, PR2, PR3; b) Profissional
experiente – possui mais de cinco anos de experiência,
segundo o “ciclo de vida profissional” proposto por
Huberman (2000). Nessa classificação estão: PE1, PE2
e PE3; c) Profissional iniciante – aquele com menos de
cinco anos de atuação profissional (HUBERMAN, 2000,
p.39), ora classificados como PI1, PI2 e PI3. Finalmente,
o Professor formador – profissional que atua na formação universitária para o trabalho nas academias de ginástica, classificados como PF1, PF2 e PF3.
Os PR foram selecionados mediante contato prévio e disponibilidade. Os PE e PI, em sua maioria, são
profissionais atuantes em academias do interior pau121
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
lista, e os PF são docentes de graduação que lecionam
matérias relacionadas à atuação nas academias de ginástica.
Utilizamos um roteiro de entrevista semiestruturado, que, num primeiro momento, aferiu questões relacionadas às informações pessoais e, posteriormente,
sobre as questões específicas ligadas aos objetivos do
estudo, entre elas: “O que é necessário/essencial, que
o mercado de trabalho exige, para que você atue com
qualidade nesse mercado, mais especificamente, com
o ensino da ginástica?”. Todos os participantes assina-
ram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados foram gravados, transcritos e analisados por
meio de técnicas de análise ligadas às abordagens qualitativas de investigação.
A amostra foi do tipo não probabilístico, sendo a
escolha e o número de participantes adequados mediante as características de uma pesquisa com abordagem qualitativa de análise.
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade de Taubaté (CEP Nº353/10).
Resultados e Discussão
Diante destes resultados, identificamos algumas características exigidas em uma atuação profissional de qualidade:
Quadro 1- Exigências para uma atuação de qualidade
ASPECTOS CITADOS
PROFISSIONAIS QUE CITARAM
Experiência
PI2; PF2; PF3; PR1; PR2
Conhecimento específico
PI2; PF2; PF3; PR1; PR2
Atualização
PE1; PI1; PI3; PR3
Saber sobre o comportamento humano
PI2; PF1; PF3; PR1
Ter uma boa postura
PF1; PR1; PR3
Prazer pelo que faz
PF2; PR1
Criatividade, inovação e comunicação
PE3; PR3
Qualidade da formação (graduação)
PE1
Conhecimento geral
PR2
Organização e planejamento
PR3
Quanto à experiência prática e ao conhecimento
específico, citados mais nas respostas dos PR e PF, inferimos que pode haver na voz destes profissionais uma
crítica à formação inicial, percebendo uma dissociação entre conhecimento teórico e prática profissional.
Tais falas corroboram os estudos de Verenguer (2003,
2008) e Soriano (2003, 2010), que percebem as academias de ginástica como espaços de intervenção profissional, entendendo que a universidade tem falhado
no que diz respeito ao conhecimento para atuação no
mercado de trabalho. As autoras ainda afirmam que as
propostas das diretrizes curriculares quanto à prática
como componente curricular e os estágios supervisionados não têm promovido associação entre conhecimento formal e mundo de trabalho, o que tem apontado tanto para consequências na organização deste
mercado profissional, quanto na qualidade dos serviços prestados, podendo refletir também na aderência
às atividades físicas nas academias de ginástica.
Nos apontamentos supracitados, o interessante é
perceber que esta indicação só poderia aparecer dos
122
profissionais formadores e experts, pois os mesmos lidam diretamente com a formação, seja ela inicial ou
continuada, para atuação nestes espaços. Há que se entender, neste caso, que a especificidade da função dos
profissionais entrevistados apontou para aspectos da
intervenção que estão intimamente ligados à formação.
No que diz respeito à atualização, Soriano (2003)
afirma que, após a formação inicial, os profissionais
tendem a ir atrás destes recursos. Embora isto se deva,
em partes, a dificuldades na relação teoria e prática
descritas acima, esta busca também marca um ajustamento à rotina da prática profissional, característico
dos PI (HUBERMAN, 2000).
Face às respostas sobre o conhecimento humano,
os PI reconhecem que a experiência profissional vai
além do domínio da técnica, pois existem vários fatores
comportamentais, emocionais e sociais que permeiam
as ações humanas, sendo manifestas nas aulas das modalidades de fitness. Uma atuação profissional de qualidade deve levar em consideração todas estas vertentes
que atuam na prática profissional (IAOCHITE, 2006).
Área - Esporte e Rendimento Humano
Com relação à postura profissional descrita por
um PF e um PR, alguns estudos têm questionado a
imagem de profissionais que atuam nas academias
de ginástica, mas que agem contrariamente às recomendações do código de ética. Tais perfis reforçam
um descrédito social acerca da capacidade dos profissionais que atuam nestes espaços (FREITAS et al., 2011;
HANSEN; VAZ, 2004, 2006). Oliveira (2000) afirma que a
sociedade ainda não tem clara a profundidade da responsabilidade da profissão Educação Física, e que o
tipo de profissional supracitado só corrobora para uma
visão errônea da prática profissional.
Quanto ao prazer por atuar nestes espaços, a criatividade, inovação e comunicação, cremos não ser somente exigências de uma atuação de qualidade, mas
características de um bom profissional. Feitosa e Nascimento (2003), ao descreverem os conhecimentos,
habilidades e atitudes desta área, apontaram para a
habilidade de comunicação, já que, além de motivar,
instruir e corrigir movimentos, o profissional tem que
ser entendido não só pelo movimento que faz, mas por
como orienta esta ação.
Em relação à qualidade da formação, citada por
PE1, ao verificarmos as diretrizes curriculares nacionais,
entendemos que as mesmas assumem uma função
generalista, propondo uma formação multidisciplinar,
com aspectos éticos, biológicos, comportamentais,
apontando para a fala do PR2 acerca do conhecimento
geral. Embora aparentemente isso beneficie os profissionais frente às novas demandas sociais, em contrapartida interfere na especificidade da prática profissional, o que pode comprometer a atuação nas diversas
áreas de atuação que o profissional de educação física poderá atuar, incluindo o mercado fitness (BRASIL,
2002, 2004).
Por fim, ao apontar para a organização e planejamento, PR3 corrobora os escritos de Feitosa e Nascimento (2003) sobre as habilidades de planejamento,
indicando que, em uma atuação profissional de qualidade, o “professor/instrutor/orientador” antecipa as
ações, planejando as aulas, lidando melhor com as respostas dos “alunos/clientes”, resultando em uma prática profissional competente, com consequências que
atuam também sobre os alunos.
Conclusões
Por meio desta pesquisa, identificamos que os
profissionais que atuam na área de fitness como um
dos vários espaços de atuação profissional no campo
da educação física entendem que a qualidade da atuação está mais relacionada com a experiência pessoal
e com o conhecimento específico nessa área, dentre
outros aspectos mencionados, por diferentes profissionais. Entretanto, a literatura nos indica que a formação
na área é de natureza generalista, o que, de alguma
forma, pode ocasionar o aparecimento de uma lacuna
que necessita de outras investigações acerca das relações entre a formação e a atuação em áreas específicas, como a investigada nesse estudo. É necessário
investigar, ainda, as consequências dessa lacuna tanto
para o processo de formação inicial, como também
para a própria atuação profissional, uma vez que o
mercado de trabalho ligado a essa área se expande exponencialmente ao longo dos anos. Considerando que
esse mercado está diretamente ligado à promoção e
manutenção da saúde da população, há que se buscar
caminhos que promovam a aproximação entre formação e atuação profissional. Necessária atenção deve ser
dada ao considerar os resultados desta investigação,
uma vez que o número de participantes é reduzido e a
coleta foi restrita a uma determinada região do interior
paulista.
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124
Área - Bioética
ÁREA - BIOÉTICA
A PERCEPÇ ÃO DA POPUL AÇ ÃO QUANTO À DOAÇ ÃO
DE ÓRGÃOS
Fernanda Amaral Soares
Francinne Possidônio Leão
Laís Pereira Viana
Helder Leone Alves de Carvalho
Amanda Lopes Abreu
Pauleanne Oliveira Martins
Ana Augusta Maciel de Souza
[email protected]
Introdução
Existe hoje na sociedade um número crescente de
pessoas na lista de espera para a realização de transplantes de órgãos, sendo que essa lista é significativamente maior que a captação de órgãos e tecidos para
transplantes (DALBEM; CAREGNATO, 2010). Nos últimos
vinte anos, os avanços da medicina e o aumento no
número de transplantes bem sucedidos que refletem
em melhoras significativas na qualidade de vida de pacientes transplantados, fez com que a busca por essa
terapia crescesse e fosse vista como uma esperança de
vida para pacientes com patologias crônicas, mas as dificuldades para se efetivar um doador interferem diretamente no processo de captação de órgãos (AGNOLO
et al., 2009).
O processo de doação de órgãos envolve as seguintes etapas: a detecção; avaliação e manutenção de
um potencial doador; diagnóstico de morte encefálica, consentimento familiar, documentação, remoção e
distribuição de órgãos e tecidos, transplante e acompanhamento (CICOLO et al., 2009). No Brasil, para se efetivar a doação de órgãos, é necessária a autorização da
família, conforme prevê o artigo 4° da lei n° 10.211 de
vinte e três de março de 2001, que diz somente poder
ser realizada a retirada de órgãos para transplante ou
qualquer outra atividade terapêutica mediante a autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, sendo
respeitada a linha sucessória. A autorização deve ser
assinada por duas testemunhas que estiveram presen-
tes durante a verificação de morte encefálica (DALBEM;
CAREGNATO, 2010).
Para o consentimento da família quanto a captação de órgãos é importante que ela entenda sobre a
morte encefálica, fator de extrema importância e determinante para que aceite ou não que seja realizada
a doação de órgãos (BITTENCOURT et al., 2011). A apresentação de uma postura cordial e adequada do entrevistador para com a família é essencial para que a família se sinta segura ao tomar essa decisão (RECH; FILHO,
2007).
A falta de esclarecimento, o noticiário sensacionalista sobre tráfico de órgãos, a ausência de programas
voltados à conscientização e incentivo à captação de
órgãos contribuem para alimentar mitos e preconceitos (MORAES et al., 2006).
A opinião e o conhecimento da população acerca do assunto são de suma importância e têm grande
influência para a realização do processo de captação
de órgãos. A realização de programas educativos frequentemente é importante para aumentar o interesse
e o conhecimento da população sobre os assuntos que
envolvem a doação de órgão (COELHO et al., 2007).
A carência de órgãos e tecidos tem motivado muitos estudos sobre doação de órgãos, mas, destes, poucos trazem a opinião da população sobre o tema. O objetivo do estudo foi identificar o significado da doação
de órgãos para a população.
Materiais e Métodos
Para atingir o objetivo do estudo realizou-se
uma pesquisa de cunho qualitativo e de caráter des-
critivo e exploratório. Este tipo de estudo permite
uma análise do tema através da compreensão dos
125
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
significados, crenças e valores propostos pelos sujeitos do tema de estudo (MONTEIRO et al., 2011).
O público alvo desta pesquisa foi a população
da cidade de Montes Claros, MG, que atendesse aos
seguintes critérios de inclusão: ter mais de 18 anos,
residir na cidade de Montes Claros, estar presente no
Shopping Popular Mário Ribeiro da Silveira na data
e horário da coleta de dados e concordar em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Por se tratar então de
um local frequentado por um grande número de
pessoas, com idade, grau de escolaridade e níveis
socioeconômicos variados, além de apresentarem
fluxo de pessoas provenientes de todas as áreas da
cidade, este cenário permitiu uma maior abrangência da pesquisa à população.
Foi realizada uma pesquisa de campo e utilizada
uma entrevista semiestruturada, composta de perguntas pré-elaboradas de forma simples e objetiva como
instrumento de pesquisa. A coleta de dados desta pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2013, após
a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Funorte, parecer n °278.826/2013. Os entrevistados concordaram em participar da pesquisa por meio da assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após
leitura conjunta do mesmo com as entrevistadoras.
Resultados e Discussão
Após as idas e vindas da leitura, por meio da análise de conteúdo quatro categorias temáticas submergiram: O significado da doação de órgãos, O desejo de
ser um doador, Doação de órgãos dos familiares, Fatores que interferem no processo de doação.
O significado da doação de órgãos:
Para muitas pessoas, a doação de órgão representa a continuidade da vida de alguém, ainda que em
outro corpo (ALENCAR, 2006). Podemos perceber essa
abstração no seguinte depoimento: “(...) Quando a gente morre o corpo deixa de existir, mas ai quando a gente doa pode viver em outra pessoa” (E-14).
O findar de uma vida que por vez se ata à esperança de continuidade de outra, é uma construção imaginária que se relaciona à doação de órgãos, já que o
indivíduo entende que mesmo com a morte de uma
pessoa, existe a perspectiva de que seu órgão continue
vivo, possibilitando a ideia de que a vida do mesmo
continue, em outro alguém (QUINTANA; ARPINI, 2009).
Para outros, a doação de órgãos representa um
gesto solidário, que suscita um sentimento de recompensa por poder ajudar outra pessoa. “(...) Eu acho que
é fraternidade” (E-18).
Essa concepção sobre o que representa a doação
de órgãos foi expressa pela maioria dos entrevistados.
Porém, mesmo cientes dos benefícios que a doação traria para outras pessoas e conhecendo a importância da
mesma, alguns entrevistados relataram que não doariam os seus órgãos, como podemos observar na seguinte fala: “(...) Para mim é importante, né. Mas só que
eu não tenho coragem de doar (risos) eu não doaria!”
(E-13).
Desejo de ser um doador:
Em geral, existe uma atitude positiva da população acerca da doação de órgãos, podendo variar entre
52% a 82%, dependendo do estudo (TRAIBER; LOPES,
2006). Essa teoria se confirma no discurso do entrevistado: “(...) Eu falo que sim. Eu deixo claro pra minha
família que quero doar sim” (E-18). Familiares afirmam
que quando a pessoa manifesta em vida o seu desejo
de ser doador, a decisão, quando tem que ser tomada
126
por eles, se torna mais fácil (ALENCAR, 2006).
Muitas pessoas enfrentam um dilema quando surge a necessidade de optar ou não por ser doador de
órgãos, como ocorre nas emissões de documentos. Essas situações, muitas vezes, geram conflitos de crenças,
de valores e de princípios religiosos, além de esbarrar
com desinformação, mitos e crendices populares sobre
o assunto (MORAES et al., 2006). “(...) Aham! Eu sou doadora. Eu tenho na carteira de identidade” (E-23).
Com a atualização da lei que dispõe sobre doação de órgãos e tecidos, ocorrida em 2001, a doação
presumida pelo consentimento informado em carteira
de identidade ou de habilitação perdeu sua validade,
passando a ser necessária a autorização da família para
efetivar a doação (TRAIBER; LOPES, 2006).
A maioria dos entrevistados demonstrou pouco
conhecimento acerca do processo de doação de órgãos. “(...) Não sei muito (risos)... só sei que tem q ser
morte cerebral, mas aprofundar mesmo eu não sei. (E14).
Diante desses depoimentos, percebe-se que há
a necessidade da melhoria das informações prestadas
para as pessoas, visando so aumento da captação e
dos transplantes, garantindo o bem-estar do familiar
que passa por um momento difícil antes de tomar a
importante decisão, fazendo-o lidar com esta situação
com o máximo de informações, menos sofrimento e
menores chances de arrependimentos. (AGNOLO et al.,
2009).
Concepção frente à doação de órgãos de um familiar:
O desconhecimento da condição de doador de
seu familiar é alegado pelas famílias como sendo um
dos principais determinantes da não doação (AGNOLO
et al., 2009). “(...) A não ser que eles queiram né? Mas
pra mim tomar a decisão, eu não doaria também” (E-3).
A recusa das famílias representa um problema
grave que impede o crescimento no número de transplantes realizados (DALBEM; CAREGNATO, 2010). Os pacientes e as famílias têm o livre arbítrio de escolha sobre doar ou não seus órgãos, mas infelizmente, a maior
Área - Bioética
parte das pessoas não realiza esta escolha em vida ou,
se a faz, não comunica sua decisão a seus familiares
(AGNOLO, 2009).
De acordo com estudos realizados, percebeu-se
que diversos fatores intervêm no processo de doação
de órgão e, destes, a decisão da família é a principal
etapa para dar continuidade ao processo, por isso é
necessário que todos os pontos referentes ao processo sejam explicados à família (SANTOS; MASSAROLO,
2011).
Fatores que dificultam o processo de doação:
São muitos os fatores apontados como causas
da não efetivação da doação (SANTOS; MASSAROLO,
2011). Entre os fatores que impedem a doação podemos citar o conhecimento limitado do conceito de
morte encefálica e doação de órgãos (DALBEM; CAREGNATO, 2010).
A religião é outro fator considerado como motivacional para a recusa da doação. Por vezes a família
apresenta dificuldade para aceitar a manipulação do
corpo de seu parente em razão da doação de órgãos,
por acreditar que o corpo é o templo do espírito de
Deus e que por isso é intocável (MORAES et al., 2006).
Devido às polêmicas que envolvem o tema, a doação de órgãos é por vezes prejudicada pela falta de conhecimento, pelos programas de conscientização que
não atingem seus objetivos e pelo medo da venda ilegal dos órgãos. Esses fatores favorecem o surgimento
de preconceito e ideias errôneas quanto ao processo
de doação (MORAES et al., 2006).
Conclusões
A análise nos permitiu compreender que para grande parte das pessoas, a doação de órgãos e tecidos está
ligada diretamente ao desejo altruísta de salvar vidas,
sendo compreendida como um ato solidário, bonito
e de grande relevância. Encontrar na recuperação do
outro um significado nobre para uma perda, pensar na
possibilidade de fazer o bem a alguém, mesmo que desconhecido, sentir que alguém a quem tanto se estima
continua a viver, ainda que em outro corpo, amenizar
uma dor oferecendo alegria a outros, tudo isso faz parte da compreensão das pessoas quanto à doação de órgãos, embora não tenham muito conhecimento no que
se diz respeito ao assunto e formem opiniões baseadas
em informações superficiais transmitidas pelos meios de
comunicação ou em crenças existentes em seu meio de
convívio.
Mesmo aqueles que se declaram contrários à doa-
ção reconhecem-na como um ato importante, mas
as incertezas, a insegurança e os tabus que rondam o
tema contribuem para que as pessoas sintam-se amedrontadas, além disso, o sensacionalismo com o qual
alguns assuntos são tratados, o receio da morte propositada e a desconfiança das pessoas para com as equipes médicas, o medo de pensar em sua própria morte
e mais ainda na daqueles a quem se ama são fatores
que prejudicam a obtenção de doadores.
Nesse sentido, percebe-se que o conhecimento é
deficiente e que há uma grande carência de informações precisas, que além de comover, possam explicar
como se dá e o que é preciso para que se efetive uma
doação e a partir disso permita que a vontade de ajudar ao próximo se torne real e que as longas filas de espera por órgãos possam diminuir. Isso traria para muitos a esperança da continuidade de suas vidas.
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128
Área - Bioética
A BIOÉ TIC A NOS CUIDADOS PALIATIVOS DE
PACIENTES PEDIÁTRICOS: RE VISÃO DA LITER ATUR A
João Pedro Paulino Ruas
Fernando Fernandes Gonçalves da Silva
Manuela Pierotte Luz Gondim
Molyana Kelly Pereira Dias
Lucas Mendes Nobre
Lorenna Rabelo Oliveira Leal
José Geraldo de Freitas Drumond
[email protected]
Introdução
A relação familiar e as necessidades psicológicas
e espirituais das crianças são diferentes dos adultos, o
que interfere nos procedimentos terapêuticos de uma
criança moribunda. As condutas dos profissionais da
saúde visam suprir os desejos da criança e de sua família, porém muitas vezes o paciente não consegue participar das decisões, levando o médico a atuar como
comunicador, protagonizar decisões compartilhadas
e promover suporte à família, que enfrenta múltiplas
mudanças nos aspectos físicos, sociais e financeiros,
respeitando os princípios bioéticos. O binômio paciente-família precisa receber uma assistência humanizada proveniente dos cuidados paliativos, baseados na
filosofia de melhorar a qualidade de vida, aliviando o
sofrimento do paciente, principalmente pelo controle
dos sintomas, que comumente são anorexia, perda de
peso, xerostomia, dificuldade respiratória, deterioração do comportamento, diminuição da continência,
higiene e mobilidade. A Bioética surgiu da necessidade
ética em defesa do homem, acompanhando o avanço
da ciência e tecnologia, que abriu espaço para métodos que prologam a vida e a entronização dos cuidados paliativos. A bioética principialista envolve quatro
princípios: beneficência, não-maleficência, justiça e autonomia, que, no paciente pediátrico, suscita a questão
do desenvolvimento cognitivo e psicossocial da criança
e as decisões dos progenitores e do pediatra. Os pais,
muitas vezes compreendendo a vulnerabilidade da
criança, protegem-na minimizando ao máximo o efeito
da doença, enquanto o médico se responsabiliza pelo
seu bem-estar geral, utilizando diversos meios disponíveis. Havendo conflito de interesses na relação médicofamília e visando garantir um bom cuidado à saúde baseado no princípio da beneficência médica, esta deve
prevalecer independentemente das vontades dos pais
e, se for necessário, deve-se recorrer à orientação das
comissões de ética e até a decisões judiciais. Devem ser
evitadas situações conflituosas, já que nestes casos a
autonomia da criança não é valorizada, pois os cuidados finais buscam aliviar dores e propiciar uma morte
digna, respeitando efetivamente as necessidades do
paciente nesse momento delicado. Além da família e
do médico, os cuidados paliativos envolvem enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, assistentes
sociais, psicólogos, consultores espirituais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, estendendo-se até
o momento do luto e tornando-se uma prática multidisciplinar, muitas vezes exigindo atenção integral para
ser efetiva e menos dolorosa possível para aqueles que
dele necessitam. De acordo com Chaves (2011) o cuidado paliativo deve abranger toda população com o
princípio de equidade e de forma igualitária, porém é
negligenciado em muitos países, tornando necessária
ação social e política com intenção de promover até o
fim bem estar e vida digna. As categorias de doenças
que colocam a criança em estado final da vida são as
malignas e crônicas, com ênfase para o câncer, pois o
seu diagnóstico tardio afeta diretamente a taxa de sobrevida, que pode estar ainda mais prejudicada pelo
atraso da procura por assistência à saúde e a precariedade dos serviços prestados. Conforme Piva (2011) o
local onde ocorre o maior número de óbitos hospitalares em pediatria é na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal, seguido pelo centro cirúrgico, sala
de emergência, unidade de oncologia e enfermarias
pediátricas. É grande a importância do sofrimento enfrentado pelas crianças em situações de prognósticos
incertos, negação da proximidade da morte, esgotamento das possibilidades de cura e a rapidez da evolução entre os sinais de incurabilidade e a morte. Este
estudo se destina a revisar na literatura a importância
da bioética nos cuidados paliativos de pacientes pediátricos.
129
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e Métodos
Para identificar as publicações que compuseram
este estudo, realizou-se pesquisa on-line no período
de fevereiro a abril de 2014 por meio das bases de dados Bireme, Pubmed e Scielo, utilizando os descritores
“bioética nos cuidados paliativos”, “bioethics in palliative care”, “cuidados paliativos na pediatria” e “palliative care in pediatrics”. Foram utilizadas 19 publicações
datadas de 2007 a 2014, sendo a maioria revisões de
literatura. Na base de dados Bireme foram encontradas
157 publicações, na Pubmed 385 trabalhos e na Scielo
obtivemos o número de 18 artigos. Os critérios de inclusão definidos para selecionar os estudos consistem
em, ser artigos datados do período de 2007 à 2014,
disponíveis na íntegra e portadores dos descritores supracitados. Os critérios de exclusão foram artigos em
duplicidade, e aqueles que, apesar de apresentarem os
descritores selecionados, não abordavam diretamente
a temática proposta.
Resultados e Discussão
O vocábulo paliativo deriva do termo em latim
pallium, que significa coberta ou manta, traduzindo
sua função de proteção, que Cecily Saunders inspirou
quando criou os cuidados paliativos no movimento
dos hospices em plena década de 1960. Esses cuidados
ganharam espaço com o avanço da ciência juntamente
com a bioética que lhe deu contornos, até sobressair o
conceito instituído pela Organização Mundial da Saúde
em 2002, como uma abordagem que age na melhoria da qualidade de vida dos pacientes que enfrentam
doenças incuráveis, aliviando o sofrimento não apenas
físico, mas psicossocial e espiritual também. Segundo
Chaves et.al., (2011) a bioética por sua vez pode ser definida como estudo sistemático das dimensões morais
que inclui decisões, normas da ciência da vida e dos
cuidados da saúde. Essa nova interdisciplina do conhecimento humano definiu cinco princípios relevantes
para a medicina paliativa Da veracidade, da proporcionalidade terapêutica, do duplo efeito, da prevenção e do não abandono, que trazem consigo uma característica importante: a violação de um só princípio
não significa apenas transgressão da norma, mas sim,
ofensa a todo sistema de comandos. Em 1998, a Organização Mundial de Saúde elaborou um conceito específico para cuidados paliativos pediátricos, baseado no
cuidar ativo, total e em amplas dimensões, inserindo
a família e os recursos da comunidade na assistência
infantil. Porém, a dimensão biopsicossocial progride
com o avanço da patologia, direcionando o cuidado ao
processo de morte, enfatiza os obstáculos enfrentados
pela família e criança, mostrando a necessidade de serem executadas práticas que amenizam essa dor e sofrimento. Os campos de cuidados paliativos pediátricos
e de ética médica pediátrica se sobrepõem substancialmente. Devido a fatores históricos e culturais, essa
relação próxima oferece oportunidades para alavancar
a comunicação de ambos os campos, compartilhamento de recursos e colaboração de pesquisas. A realidade
brasileira dessa temática é pouco conhecida. Mesmo
com o crescimento do interesse nessa área a partir dos
anos 1990, acredita-se que fatores como heterogeneidade da população, o prognóstico incerto, projetos
130
de pesquisa inadequados, carência de conhecimento,
vulnerabilidade da criança, falta de suporte institucional e financeiro sejam um desafio para pesquisas científicas. Em contrapartida, o volume populacional que
necessita desse tipo de atendimento é enormemente
relevante, não só para os casos de câncer, mas, ainda,
nas diversas situações clínicas em que ele é imprescindível. Os cuidados devem ser humanizados e são distribuídos em físicos, gerais, psicossociais e espirituais.
Além do imperativo moral, o médico assume responsabilidade legal pelo seu paciente, o que lhe faz refletir diretamente os dilemas bioéticos envolvidos com o
bem-estar do pequeno enfermo. Dos cuidados citados,
a criança usualmente requer intervenção psicológica
em situações que envolvem lembranças dos hábitos
diários perdidos e situações prazerosas. O brincar aparece como recurso terapêutico, pois ultrapassa as barreiras criadas pela doença, possibilita a expressão de
sentimentos e deixa a situação atual mais próxima da
rotina anterior ao tratamento. Já o aspecto espiritual,
ainda que relacionado à melhor qualidade de vida,
maior adesão ao tratamento, melhor resposta imunológica, maior praticidade para lidar com problemas,
menor depressão e estresse não é aprofundado, por
ser complicada sua abordagem no final da vida, além
do desconhecimento do pediatra. Contudo são observados erros como entender que a criança não possui
necessidades especiais por estar iniciando a vida. Isso
afeta diretamente a autonomia, a dignidade e o tempo
de sobrevida infantil, além de tornar a morte um processo doloroso. O não apoio à família é outro equívoco cometido, gerando sobrecarga material, emocional
e física, culminando em comorbidades relacionadas à
perturbação do sono, depressão e ansiedade, além dos
sentimentos negativos perante a impotência humana.
A equipe deve possuir conhecimento, atitudes e habilidades para que não ocorra desgaste físico e emocional.
Tais fatores podem levar ao estresse profissional ou até
à síndrome de Burnout, demonstrando que a capacitação e cursos de cuidados paliativos são boas alternativas. Esse preparo, confirmado pela Academia Americana de Pediatria, engloba o atendimento em equipe
Área - Bioética
e individual que abrange todos cenários da atenção.
A classificação das necessidades paliativas na infância
foi elaborada pela “Association for children with life
threatening conditions and their families” e pode ser
resumida em uma tabela baseada nos tipos de enfermidades. As classificações das necessidades paliativas
acrescentam muito ao tratamento e evitam que o paciente não tenha uma morte digna, que em muitos países é um direito constitucional, além do cumprimento
dos princípios éticos profissionais. As escalas como
a de Mentem, direcionada ao diagnóstico de agonia
nos momentos finais, devem ser utilizadas com cautela para não se criarem pacientes padrões em vez de
tratar cada um de forma única e subjetiva, pois apesar
de apresentar uma doença parecida com outrem, cada
criança possui um histórico de relações, traumas e experiências vividas. Os cuidados paliativos foram eleitos
pela Organização Mundial da Saúde como prioridade
há mais de 10 anos e, mesmo sendo enfatizada a sua
importância em diversos estudos juntamente com
fundamentos bioéticos, habilidades de comunicação
e estratégias assistenciais, na grande maioria das universidades e residências médicas não são temas apresentados aos futuros profissionais da saúde. Dessa for-
ma, situações como tomadas de decisões unilaterais
pelo médico, falta de informações precisas acerca da
doença, ambientes com excesso de tecnologia e falta
de solidariedade humana, além do absolutismo de
rotinas rigorosas, são recorrentes em estudos ao redor
do mundo. Destaca-se Meyer et. al. (2006), que descreveram situações encontradas em 56 Unidades de
Tratamento Intensivo Pediátricas (UTPIs) nos Estados
Unidos, citaram a falta de informação honesta e precisa, o acesso fácil e regular aos médicos, o envolvimento
emocional e solidário da equipe, a coordenação na comunicação, o suporte espiritual e a preservação da relação pais-filhos. Os cuidados simples do contato físico,
quando for viável, possibilitar aos pais terem seus filhos
no colo, o cuidado pelo conforto da posição do paciente, ambiente com a temperatura agradável, o uso de
linguagem e tom de voz adequados, a permissão para
a expressão de sentimentos pela criança e a manutenção da analgesia, são considerados como procedimentos solidários, emocionais e de grande magnitude para
a vida de quem necessita. Hilmelstein (2011) sintetiza,
então, os princípios dos cuidados paliativos infantis em
ações focadas na criança, orientadas para toda a família e baseadas numa boa relação equipe-família.
Conclusões
A bagagem teórica dos profissionais é essencial
para aplicação da bioética em cuidados paliativos pediátricos que, quando bem executada, evita padecimento e flagelos para a criança e seus familiares, além
de garantir conforto para a equipe. Porém, o curso de
graduação dos profissionais da saúde não traz em seu
currículo matérias relacionadas a esse tema, deixando deficitária a qualidade do atendimento. Em consequência, de um lado pacientes vivenciam os seus últimos momentos ansiando por mais compaixão e ,de
outro, médicos olvidam os princípios éticos e legais de
sua profissão. É um tema com enfoque crescente nas
últimas décadas, que tem obtido atenção da Organização Mundial da Saúde e de organizações pediátricas ao redor do mundo. No Brasil, pesquisas científicas
enfrentam desafios como falta de suporte e vulnerabilidade da amostra; mesmo com algum aumento no
número de trabalhos, a bibliografia não tem acompanhado os avanços dessa área, como ocorre no resto
do mundo. Diferentemente dos adultos, as crianças
requerem um atendimento diferenciado, não podendo
ser entendidas como um “adulto pequeno”. Há diversas circunstâncias encontradas somente na infância e
que envolvem princípios legais, como a autonomia do
paciente, os seus aspectos emocionais, psicossociais e
o espectro da dor e as complicações enfrentados pela
criança. Equívocos como entender que a criança não
tem necessidades especiais, por não ter vivido o suficiente, a falta de auxílio à família e a falta de preparo
físico e emocional para amparar o necessitado geram
consequências que atingem todos os envolvidos e
são problemas derivados principalmente do estresse
como síndromes e comorbidades. Os médicos desempenham grande papel para garantir os direitos dos pacientes e respondem legalmente por eles; entretanto, é
necessário estabelecer um consenso com os familiares
a fim de não existirem conflitos que afetem a saúde
da criança num momento crítico. Além dos médicos,
atuam neste tipo de atenção desde terapeutas ocupacionais até enfermeiros, ou seja, uma equipe multiprofissional e multidisciplinar, com intuito de prover uma
assistência humanizada que deverá se estender do
diagnóstico até a fase do luto. Abrir espaço para decisões compartilhadas entre profissionais e familiares,
valorizando a comunicação, é uma característica decisiva para evitar conflitos que podem chegar até disputas
judiciais, que prejudicam a saúde da criança e causam
transtornos psicológicos para o binômio família-equipe. A abordagem correta desses profissionais é dinâmica, no sentido de atender às necessidades com subjetividade e equidade, e garantir qualidade e valorização
da vida, controle e alívio da dor e outros sintomas,
culminando com a morte digna do paciente. Portanto,
atuar bioeticamente na área paliativa pediátrica exige
conhecimentos essenciais e práticas muitas vezes simples, como adequar a temperatura do ar condicionado, acarretando impactos positivos à criança, além das
orientações para toda família, complementando uma
relação harmoniosa entres os que cuidam e os que recebem os cuidados.
131
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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132
Área - Bioética
A PRIVACIDADE E A ACONFIDENCIALIDADE DAS
INFORMAÇÕES NA SAÚDE À LUZ DA BIOÉTICA
Luiz Eduardo Silveira Leite
Patrícia Alves Paiva
Fabrícia Ramos Magalhães
Virgínia Ruas Santos
Patrick Leonardo Nogueira da Silva
Bruno Pereira de Paula
Priscilla Karoline Rodrigues Cruz
[email protected]
Introdução
A bioética surgiu em 1971, tornando-se ciência inigualável na reflexão ética no campo das ciências humanas e concretizando-se como ética aplicada às situações
que envolvam tomar decisões a respeito de conflitos morais em que seja preciso compreender os acontecimentos
para se fazer escolhas corretas (PINHEIRO et al. 2005).
A informação é um direito do cidadão, pois é o
meio de que ele dispõe para tomar conhecimento de
sua situação de saúde. Sem o acesso à informação, o
paciente não é capaz de reivindicar ou lutar pelos seus
direitos nem tem argumentos para questionar, dificultando assim o exercício de sua autonomia. A ausência
de informação imprime sentimento de ignorância ao
paciente, permitindo ações abusivas, de exploração,
subjugação e dominação.
Constantemente exige-se dos profissionais de
saúde habilidades e competências para trabalharem
com as dificuldades que envolvem as necessidades
individuais e coletivas dos sujeitos e as crescentes demandas de cuidados e da defesa de seus direitos.
É neste palco que o profissional de saúde desenvolve suas atividades tendo como objeto de cuidado
o ser humano e como desafio a capacidade de articular de forma sábia seus valores éticos, morais e sociais
e conflitos que possam vir a surgir em seu contexto de
trabalho (SANTOS et al., 2011).
A privacidade requer proteção da intimidade dos
sujeitos, respeito à dignidade, limitação de acesso ao
corpo, aos relacionamentos familiares e sociais, e a objetos íntimos. Já a confidencialidade se deve à responsabilidade e ao dever dos profissionais de saúde em
resguardar as informações de seus pacientes em todos
os ambientes do cuidado (SANTOS et al., 2011).
O vínculo produzido pela comunicação eficaz entre usuários e profissionais é um dos eixos que norteia
a Bioética. Assim, essa revisão teve por objetivo proporcionar reflexões acerca da importância das informações transmitidas aos pacientes e da aplicabilidade dos
conceitos de privacidade e confidencialidade na saúde.
Metodologia
No tocante à metodologia, optou-se pela revisão
de literatura como norteamento desta pesquisa, visto
que a mesma para Galvão, Sawada e Trevizan (2004), é
uma síntese rigorosa de pesquisas relacionadas a um
determinado assunto em que a pergunta pode ser sobre
causa, diagnóstico ou prognóstico de um problema de
saúde e, frequentemente, exige eficácia em seus resultados de modo a favorecer uma intervenção satisfatória.
O estudo bibliográfico foi realizado na base de
dados da Biblioteca Virtual da Saúde – BVS nas fontes:
Scientific Eletronic Library Online (ScIELO), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) e a Base de Dados da Enfermagem (BDENF),
utilizando descritores: bioética no cuidado ao paciente,
confidencialidade na saúde e respeito aos direitos do
paciente. Para seleção das publicações foram utilizados
como critérios de inclusão e exclusão os seguintes aspectos, inclusão: artigos publicados a partir de 2002, disponibilizados na íntegra, e como critérios de exclusão:
artigos publicados somente em formato de resumo. Dos
encontrados foram selecionados aqueles relacionados
ao tema proposto, três artigos relacionados à bioética
no cuidado ao paciente, quatro artigos sobre a confidencialidade na saúde e cinco relacionados ao respeito
aos direitos do paciente.
133
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados
Todo paciente tem direito a ser atendido de forma atenciosa e respeitosa, tem direito à sua dignidade
preservada, ao sigilo ou segredo profissional, direito
de conhecer a identidade dos profissionais envolvidos
em seu tratamento, à informação de maneira concisa e
clara, numa linguagem acessível. Possui também o direito de recusar tratamento e de ser informado sobre
as consequências de sua escolha, sem que seus desejos alterem a qualidade dos serviços que lhe devam ser
prestados (CHAVES; COSTA; LUNARDI, 2005).
O código de ética da saúde reúne em seu conteúdo normas, princípios, direitos e deveres, condizentes
ao comportamento ético do profissional que deve ser
assumido por todos os trabalhadores da área da saúde, considerando os interesses do profissional e de
sua instituição, bem como o objetivo de fornecer uma
assistência de qualidade, sem discriminação, acessível
a todos. A assistência prestada deve ser dotada de humanização, respeito e justiça beneficiando a comunicação e a integração entre os profissionais e os pacientes
de modo que seus direitos como cidadãos sejam assegurados.
Os conflitos advindos da divergência de expectativa de resultados entre paciente e equipe de saúde
ocorrem por diferenças em seus objetivos individuais.
A possibilidade de união desses objetivos poderá resultar numa experiência conciliadora que faz surgir algo
interessante e mais complexo à consciência da necessidade de respeito mútuo dos direitos e deveres de ambos (SANTOS et al., 2011).
O Código de Ética da Saúde alerta para a responsabilidade e o dever do profissional no sentido de
oferecer informações completas a fim de assegurar a
continuidade da assistência prestada. Neste sentido espera-se que o profissional de saúde se sinta capacitado
a prestar informações aos usuários de saúde como um
todo (SANTOS et al., 2011).
O princípio ético da confidencialidade está incluso
na formação dos profissionais de saúde, princípio este
que provém da autonomia, que respeita a intimidade
e a vida privada dos pacientes, dando-lhes o direito de
controlar suas informações pessoais. Várias vezes há a
necessidade de rompimento desta confidencialidade
entre os elementos da equipe de saúde envolvida no
cuidado ao paciente, a fim de utilizar destas informações em benefício do próprio paciente. Esta troca de
informações entre os elementos da equipe de saúde
é entendida como necessária, mas deve ser limitada
àquelas informações que cada profissional precisa para
desempenhar suas atividades em benefício do paciente (FERREIRA et al., 2009).
Os problemas éticos vivenciados na atenção
básica são, em geral, preocupações do cotidiano da
atenção à saúde, uma vez que os encontros com os
usuários da atenção básica se caracterizam como
134
episódios rotineiros, comuns, aparentemente simples, diferentes daquelas situações estressantes observadas na atenção terciária. Desta forma, o modo
como esses problemas surgem pode dificultar o seu
entendimento. A falha em compreender tais conflitos, pode trazer consequências desastrosas tanto
para o usuário quanto para o serviço, pois problemas simples podem se transformar em problemas
de difíceis soluções se não manejados de forma correta (SILVA; ZOBOLI; BORGES, 2006).
Para que os clientes possam cuidar de si mesmos,
administrar seus próprios corpos é necessário mantê-los informados para que os mesmos saibam lutar
pelos seus ideais e crenças. A informação é um critério
essencial para que o cliente possa consentir ou recusar-se aos procedimentos de saúde propostos. Sendo
assim todos os procedimentos desde o mais simples
até o mais complexo necessitam ser realizados com o
consentimento livre e esclarecido do paciente, a partir
da informação e esclarecimento do mesmo.
A ética requer escolha de comportamentos por
parte do profissional além de exigir senso crítico, adoção de valores, princípios e normas. A ética é ligada à
noção de autonomia individual, pois representa também a interioridade do ser humano. Uma vez que a
mesma não pode ser imposta por outros indivíduos,
cada ser humano necessita entender os percalços desta ciência para definição e exercício de sua própria ética (CHAVES; COSTA; LUNARDI, 2005).
A preservação de segredos está associada tanto
com a questão da privacidade quanto da confidencialidade. A privacidade, mesmo quando não há vínculo direto, impõe ao profissional os deveres de resguardar as informações com que teve contato e de preservar a própria
pessoa do paciente, pode ser considerada como sendo
um dever institucional e necessitam ser reservados adequadamente. A exceção de confidencialidade pode ser
eticamente aceitável desde que o paciente dê a sua permissão; que a lei obrigue a revelação; que haja risco de
vida ou possibilidade de dano físico ou psicológico para
uma ou mais pessoas identificadas (PUGINA, 2009).
A confidencialidade apresenta várias vertentes,
enquanto característica principal da relação entre profissional de saúde e paciente. Objetiva evitar discriminação, preservar a intimidade do cliente, o direito do
paciente de saber e conhecer quem são os profissionais envolvidos em seus cuidados e o direito do cliente
de consentir ou recusar procedimentos. Dentro dessas
vertentes, deve-se levar em conta a preservação da
individualidade, o respeito à autonomia do paciente,
identificação pessoal e a informação sobre as decisões
tomadas (ALVES et al., 2008).
A partir do instante em que os profissionais de
saúde percebem a importância da manutenção da
confidencialidade dos pacientes, eles se tornam capa-
Área - Bioética
zes de fornecer adequadamente as informações, e se
mobilizam de modo a contribuir para a compreensão
do que está sendo revelado aos pacientes sobre o seu
corpo, sobre seu cuidado e sobre si próprios (CHAVES;
COSTA; LUNARDI, 2005).
O princípio da autonomia confere o direito à autodeterminação. O indivíduo tem a autoridade moral
para determinar o que deverá ser feito consigo. A relação profissional de saúde-paciente deve estar baseada
na comunicação, nos processos de informar e comunicar o paciente, procurando-se chegar a um entendimento. A qualidade da comunicação entre profissional
de saúde e paciente, a preservação da privacidade, do
caráter sigiloso, é fundamental para que ambos estejam comprometidos com um conjunto de objetivos comuns, especialmente “na defesa contra as forças cegas
da doença” (FABRI, 2003).
Os valores de privacidade, confidencialidade e comunicação privilegiada estão vinculados a uma obrigação de discrição profissional e aos direitos individuais e
de autodeterminação do indivíduo, incluindo a liberdade de escolher o que considera privado. O respeito à
confidencialidade está fundamento num direito natural
de intimidade, sendo este derivado do princípio fundamental de respeito pela pessoa em si mesma, tendo
como finalidade proporcionar o desenvolvimento pessoal para a criação e manutenção de relações sociais
íntimas e para expressão da liberdade de uma pessoa
(LOCH, 2003).
Nas sociedades modernas os indivíduos conhecem os seus direitos porque possuem acesso à informação, portanto acredita-se que, quanto maior o
acesso à informação maior é o exercício da cidadania.
Assim, a informação, constitui-se como um direito básico na construção de uma sociedade mais democrática.
Para que as ações de saúde tenham o sentido que merecem, é preciso que o atual modelo de saúde inclua
uma equipe multiprofissional capacitada e competente
para prestar um cuidado de boa qualidade (SANTOS et
al., 2011).
Para os profissionais de saúde, o respeito ao direito dos pacientes de serem informados acerca do
processo de saúde-doença, tratamento e cuidados, é
essencial para que os pacientes possam participar dos
processos de decisão sobre si próprios. Isso se faz necessário para o profissional contribuir ativamente para
o esclarecimento do direito dos pacientes sobre as informações, quanto à aceitação informada e livre, prévia
à concretização de qualquer procedimento diagnóstico, terapêutico e de cuidado em si (CHAVES; COSTA;
LUNARDI).
Os profissionais perceberam os direitos dos
clientes sob a ótica de quatro grupos: Preservação
da individualidade, Respeito à autonomia do cliente,
Identificação pessoal como parte da preservação da
individualidade e a Informação para o cliente como
pré-condição para a sua tomada de decisão (ALVES et
al., 2008).
O direito do usuário à privacidade deriva do dever
da manutenção do segredo por todos os elementos da
equipe, lembrando que são sigilosas não somente as
informações divulgadas confidencialmente, mas todas
aquelas que a equipe de saúde se torna a par no exercício de sua atividade, mesmo havendo desconhecimento do usuário. Assim, o dever de manter o segredo
das informações constitui-se em obrigação ética dos
profissionais, dos técnicos, dos auxiliares e de corpo
técnico e administrativo (FORTES; SPINETTI, 2004).
Enfim, qualquer pessoa, independentemente de
seu agravo de saúde, diagnóstico ou prognóstico, tendo condições intelectuais e psicológicas para considerar, analisar e sustentar as consequências de uma atitude ou proposta de assistência à sua saúde, deve ter
a oportunidade de tomar decisões a ela relacionadas.
Isto prescinde, entretanto, que as informações sobre
as diversas possibilidades, riscos e consequências das
ações em saúde sejam dadas pelos profissionais, para
que a escolha do paciente seja efetivamente autônoma
e consciente (FABRI, 2003).
Considerações finais
Este estudo demonstrou a importância de se
avançar quanto ao papel dos profissionais de saúde no oferecimento de informações e orientações a
seus pacientes, bem como de seus direitos, objetivando alcançar a humanização do cuidado. Os serviços de saúde no Brasil precisam ir além de prevenir,
curar e reabilitar; devem contribuir para o aumento
da capacidade reflexiva dos usuários, tornando-os
sujeito social, conscientes de seus direitos e do “direito a ter direitos”.
Desta forma, evidenciam-se a importância e a
responsabilidade dos profissionais de saúde, na incorporação de uma postura que seja reflexiva e ética,
que vislumbre adotar novos conhecimentos e novas
habilidades necessárias para uma comunicação de boa
qualidade com os usuários dos serviços de saúde. Diante dessas reflexões, faz-se imprescindível a inclusão da
ética no cotidiano, guiando as atividades, seja realizando ações, seja no ensino ou nas pesquisas, pois a consciência ética na sociedade torna as pessoas e os trabalhadores melhores profissionais.
135
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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136
Área - Bioética
ATUAÇ ÃO DO COMITÊ DE É TIC A EM PESQUISA DE
UMA UNIVERSIDADE PÚBLIC A DE MINAS GER AIS
Patrícia Alves Paiva
Dardânia Glayce Barbosa Souto
Vânia Silva Vilas Bôas Vieira Lopes
Orlene Veloso Dias
Simone de Melo Costa
Daniele Lopes da Silva
[email protected]
Introdução
Os comitês de ética em pesquisa evidenciam o
avanço ético da humanidade no que se refere às pesquisas em seres humanos. Eles representam o fruto
dos interesses das sociedades em estabelecer critérios
éticos para a pesquisa, ao regulamentar internacionalmente a ética em pesquisa a fim de combater abusos à
integridade física, psíquica e moral das pessoas.
A proteção dos sujeitos pesquisados é uma das
grandes preocupações dos Comitês de Ética. Nesse
sentido, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) e Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), cria subsídios
para fortalecer os comitês de ética locais. A CONEP foi
criada por meio da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, com a função de implantar as normas
e diretrizes regulamentadoras de pesquisa em seres
humanos. A CONEP tem função consultiva, deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente
com uma rede de Comitês de Ética em Pesquisa, organizados nas instituições em que as pesquisas se realizam (BRASIL, 1996).
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) é uma
instância colegiada, constituída pela instituição em
respeito às normas da Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,
1996). Ele foi registrado pela CONEP em 14 de setembro de 1999, possui autonomia e é independente no
exercício de suas funções, multidisciplinar e investido
de múnus público.
A aprovação de comitês locais nas instituições
trata-se da melhor forma de se obter proteção aos
sujeitos de pesquisa, que podem acessar esclarecimentos sobre os estudos de que participam ou
até mesmo levar queixas (EDGAR; ROTHMAN, 1995;
GRAF; COLE, 1995).
O CEP tem caráter multi e transdisciplinar. Ele conta com a participação de profissionais da área da saúde, das ciências sociais e humanas, e representantes da
comunidade. O CEP foi constituído como instância independente, manifestando-se em nome da sociedade
para dar o aval de que a participação na pesquisa não
acarreta prejuízo ou dano ao sujeito. Neste sentido, o
CEP assegura o respeito às pessoas, e considera suas
necessidades e direitos. Trata-se de uma forma organizada de controle social sobre as práticas da ciência. Os
Comitês foram criados não para isentar o pesquisador
de responsabilidade, mas para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Contudo, ao aprovar o projeto de pesquisa, o Comitê passa a
ser co-responsável pelos aspectos éticos sem, contudo,
eximir o pesquisador de sua responsabilidade ética, a
qual é “indelegável e intransferível” (FREITAS; HOSSNE,
2002).
Assim, este trabalho tem como objetivo descrever
a experiência do CEP da Unimontes no período compreendido entre 2000 a 2009.
Material e métodos
Este estudo foi conduzido no Comitê de ética em
pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros
-Unimontes, situada em Montes Claros, cidade polo do
norte de Minas Gerais, Brasil.
O desenho do estudo é o transversal e documental, na modalidade estudo de caso. O estudo foi desen-
volvido por meio da avaliação de documentos arquivados no CEP da Unimontes, pareceres consubstanciados
e folhas de rosto dos protocolos de projetos de pesquisa submetidos à apreciação do CEP de janeiro de
2000 a dezembro de 2009. Os pareceres dos projetos
de pesquisa foram avaliados para identificar o percen137
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
tual de projetos aprovados e de reprovados, além de
conhecer os motivos da reprovação da pesquisa. Pelas
folhas de rosto foi possível identificar a área e a subárea de conhecimento dos estudos. A avaliação dos dois
documentos permitiu identificar o local proposto para
realização do estudo (cenário de prática) e o tempo
demandado, em dias, entre a submissão da proposta
ao CEP e a avaliação ética concluída. Para a coleta dos
dados, foi desenvolvido um formulário próprio previamente testado em estudo piloto com dez documentos
de pesquisa. O estudo foi conduzido de acordo com a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes
Claros, parecer nº 1661/2009.
Resultados e discussão
Foram analisados 1757 documentos do Comitê de
Ética em Pesquisa da Unimontes, arquivados no período de 2000 a 2009.
O tempo decorrido entre a submissão e apreciação ética foi em média 11,07 (±5,413) dias, a mediana e
moda igual a 11 dias, o percentil 25% igual a 9 dias e o
percentil 75% igual a 14 dias. O período máximo constatado foi de 26 dias.
A grande maioria dos pareceres consubstanciados
(95,8%) informava a aprovação ética para a condução
do estudo. Isso porque o método científico não feria os
preceitos éticos da pesquisa em seres humanos. Desse
modo apenas uma pequena parcela de projetos (4,2%)
foi reprovada pelo CEP da Unimontes.
Os motivos de reprovação estavam relacionados
a diferentes problemas. Entre eles destacam-se os problemas na elaboração do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) (1,4%), problemas nas informações do cronograma da pesquisa (1,7%), no TCLE
e cronograma simultaneamente (0,3%), no TCLE e na
metodologia simultaneamente (0,2%), na folha de ros-
to (0,3%), e na metodologia (0,2%) dos projetos de pesquisa.
Os projetos avaliados no CEP correspondiam a
diversificadas áreas do conhecimento: ciências exatas
e da terra, ciências biológicas, engenharias, ciências
da saúde, ciências sociais aplicadas, ciências humanas
e linguística, letras e artes. A área mais destacada foi
ciências da saúde (60,8%). A condição de aprovação
dos projetos não foi associada às áreas de conhecimento agrupadas em três categorias: ciências exatas, ciências da saúde e ciências humanas (p=0,415).
Quando as três categorias das áreas de conhecimento foram associadas ao tempo demandado entre submissão e avaliação do projeto verificou-se que
a média de tempo para ciências exatas foi de 13,00(±
4,83) dias, das ciências da saúde foi igual a 10,91(±5,18)
dias e a média de tempo das ciências humanas foi igual
a 11,69(±5,99) dias, com diferença significativa no tempo decorrido para análise dos projetos conforme a área
de conhecimento (p=0,001) (TABELA 1).
Tabela 1: Média, desvio padrão e intervalo de confiança de 95% (IC95%) do tempo entre submissão e avaliação
conforme área de conhecimento do estudo. CEP, 2000-2009. Unimontes.
Tempo entre submissão e avaliação ética
Área de conhecimento
Média
Exatas
13,00
Saúde
10,91
Humanas
11,68
Desvio padrão
4,83
5,18
5,99
IC95%
5,31-20,69
10,61-11,21
11,14-12,25
p*
0,001
...
...
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2013. *Teste Kruskal-Wallis
Entre as 40 subáreas destacadas na documentação avaliada, as mais frequentes foram a enfermagem
(25,4%), o serviço social (13,1%), a odontologia (9%), a
saúde coletiva (6,5%), a educação física (8,0%) e a medicina (3,6%).
Quanto ao local de realização do estudo o hospital
foi o mais relatado, representando 414(23,6%) pesquisas científicas, a Estratégia Saúde da Família-ESF foi o
cenário de prática para 187(10,6%) projetos, as instituições de ensino foram contempladas em 139(7,9%) estudos e a Instituição de Ensino Superior- Unimontes foi o
local de coleta de dados para 139 (7,9%) estudos. Não
houve diferença significativa (p=0,089) entre as médias
de dias equivalentes ao período de submissão e avalia138
ção ética dos projetos conforme o local proposto para
a realização do estudo (cenário de pesquisa).
A condição de aprovação dos projetos de pesquisa junto ao CEP foi associada com o cenário proposto para a pesquisa assim como associada à área
de conhecimento do estudo. Foi constatado que a
aprovação dos estudos não esteve associada ao local
nem a área de conhecimento (p>0,05) conforme demonstrado na Tabela 2.
Área - Bioética
Tabela 2: Associação bivariada entre condição de aprovação do projeto de pesquisa e cenário de prática e área de
conhecimento. CEP, 2000-2009. Unimontes.
Aprovação
Variáveis
Cenário
Hospital
Outros
Total
Sim
N(%)
401(97,3%)
1261(95,2%)
1662(95,7%)
Área
Exatas
Saúde
Humanas
Total
4(100%)
1081(96,1%)
428(94,8%)
1513(95,8%)
Não
N(%)
11(2,7%)
63(4,8%)
74(4,3%)
Teste
Total
N(%)
412(100%)
1324(100%)
1736(100%)
0(0%)
44(3,9%)
23(5,1%)
67(4,2%)
4(100%)
1125(100%)
451(100%)
1580(100%)
p
0,067*
...
0,490**
...
...
*Teste de Pearson ** Likelihood Ratio
O número substancial de projetos analisados pelo
CEP da Unimontes retrata a importância do Comitê local no sentido de preservar os princípios éticos e referenciais fundamentais para a pesquisa em seres humanos.
O pequeno prazo decorrido da submissão do projeto de pesquisa à apreciação demonstra o compromisso do comitê local em avaliar todos os documentos
recebidos nessa instância. As reuniões do CEP estudado são mensais e agendadas previamente a cada ano.
As datas são divulgadas no site da Unimontes. Também são disponibilizados para os pesquisadores os
prazos limites para a entrega dos documentos necessários à submissão de um projeto de pesquisa para a
avaliação do comitê local. Desse modo, os pesquisadores podem se organizar para a entrega de todo o material necessário em tempo hábil para a análise ética
na reunião subseqüente do comitê. Quanto ao fato de
a maior média de tempo ser dos projetos vinculados à
área das ciências exatas, tem-se como hipótese que é
devido à menor representatividade dessa área junto ao
comitê local, o que demanda um maior tempo de análise do projeto por parte de profissionais com formação em outras áreas do conhecimento.
A maioria dos projetos de pesquisa apresentou
parecer favorável à execução da proposta, o que significa que eles respeitavam os princípios éticos da pesquisa envolvendo seres humanos. Esse é um resultado
correspondente ao encontrado no estudo do CEP/SES/
DF, que apresentou um percentual de aprovação igual
a 90,4% dos projetos avaliados (NOVAES; GUILHEM; LOLAS, 2009). Neste estudo, a reprovação dos projetos foi
por diferentes motivos, entre eles, as falhas na elaboração do TCLE. Observou-se também que a reprovação
ocorreu, em alguns projetos, por mais de um problema
detectado no mesmo projeto, como falhas no TCLE e
no cronograma ou falhas no TCLE e na metodologia.
No geral, a falha mais destacada foi a relacionada com
o TCLE.
Então, os problemas relacionados ao TCLE foram
uma das razões para reprovação de projetos de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes.
O número de projetos da área de conhecimento das
ciências da saúde foi o maior, sendo os oriundos da
enfermagem os mais frequentes, o que talvez explique
o maior número de pesquisas realizadas em hospitais.
Pode-se afirmar que a avaliação ética de um projeto
de pesquisa na área da saúde, e em outras áreas, baseia-se, pelo menos, em quatro pontos fundamentais:
na qualificação da equipe de pesquisadores e do próprio projeto; na avaliação da relação risco-benefício;
no consentimento informado e na avaliação prévia por
um comitê de ética (CLOTET, 1995). A avaliação prévia
dos projetos de pesquisa realizada por um comitê visa
assegurar a adequação dos aspectos éticos e metodológicos do estudo. O Comitê, devido a sua independência e representatividade acadêmica e social, garantirá que os estudos tenham um aval institucional, além
da responsabilidade assegurada pelos pesquisadores
(GOLDIM; FRANCISCONI, 1995).
Considerações finais
Concluiu-se com este estudo que o Comitê local
da Unimontes, ao reprovar projetos de pesquisa por
falhas no TCLE, metodologia e cronograma, fundamentou -se na resolução 196/96. A avaliação ética foi
respaldada nos princípios fundamentais da Bioética:
autonomia, beneficência, não maleficência e justiça.
Portanto, o comitê local cumpriu, com competência, o
seu papel de resguardar a ética e o sujeito da pesquisa.
Ademais os resultados deste estudo demonstram que
o CEP da Unimontes foi resolutivo na avaliação de projetos de pesquisa, uma vez que demandou pouco tempo entre a submissão e o parecer final da proposta de
estudo.
139
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 196/96 Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. 24p.
CLOTET, J. O consentimento informado nos Comitês de Ética em pesquisa e na prática médica: conceituação, origens e atualidade. Bioética. v. 3, n. 1, p. 51-59, 1995.
EDGAR, H.; ROTHMAN, D. J. The institutional review board and beyond: future challenges to the ethics of human
experimentation. Milbank Quarterly, v. 73, n. 4, p. 489-506, 1995.
FREITAS, C. B. D.; HOSSNE, W. S. O papel dos Comitês de Ética em Pesquisa na proteção do ser humano. Rev Bioetica, v. 10, n. 2, p. 129-146, 2002.
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GOLDIM, J. R.; FRANCISCONI, C. F. Os comitês de ética hospitalar. Rev Med ATM, v. 15, n. 1, p. 327-334, 1995.
NOVAES, M. R. G.; GUILHEM, D.; LOLAS, F. Ethical Conduct in Research Involving Human Beings In Brazil Diagnosis
of Research Ethics Committee. Arq Med. v. 23, n. 4, p. 145–150, 2009.
140
Área - Bioética
INSERÇ ÃO DO CONTEÚDO PL ANTAS MEDICINAIS
EM CURSOS DA ÁRE A DE SAÚDE DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE MONTES CL AROS, MINAS GER AIS,
BR ASIL
Maria Helena Alves Feitosa
Letícia Lopes Soares
Guilherme Almeida Borges
Isabelle Ramalho Ferreira
Simone de Melo Costa
[email protected]
Introdução
O uso terapêutico das plantas medicinais na saúde
constitui-se prática milenar, baseada na sabedoria do
senso comum que articula cultura e saúde. As plantas
como medicamentos caracterizam, muitas vezes, o único recurso de terapia para as comunidades. Ademais,
todas as classes socioeconômicas brasileiras utilizam
plantas medicinais devido a fatores como preferência
cultural, baixo custo e ação das plantas no organismo
humano (LÓPEZ, 2006).
Contudo, no início do século XX, com a Revolução
Científica e a Revolução Industrial, práticas terapêuticas
que não detinham evidências científicas, a partir de métodos experimentais e fenômenos matemáticos quantificáveis, passaram a ser marginalizadas. Outro fator que
colaborou para o abandono das práticas terapêuticas alternativas como um todo foi a estruturação das graduações em saúde na perspectiva do modelo biomédico.
Tal modelo tem como base o método reducionista cartesiano, que desconsidera as implicações socioeconômicas, culturais e psicológicas do processo saúde-doença.
O modelo foca o fator biológico, que financia a medicalização e negligencia o saber popular (ALVIM et al., 2006).
Na década de 80, após a vasta experiência com os
medicamentos alopáticos, a população se mostrou insatisfeita face aos efeitos adversos desses. Além disso,
o alto custo dificultava o acesso aos mesmos (BATISTA
et al., 2012). Assim, o uso de medicamentos fitoterápicos foi resgatado, no meio científico, para se juntar aos
convencionais, tendo como propósito ampliar o acesso
a opções de tratamento com produtos seguros, eficazes
e de qualidade de forma integrativa. Entretanto, não ti-
nha o objetivo de substituir o modelo convencional, mas
atuar como uma prática complementar, principalmente no âmbito da atenção básica à saúde (BATISTA et al.,
2012).
Em 2006, o Ministério da Saúde, através da Portaria 971, aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de
Saúde (SUS), com o objetivo de promover e recuperar
a saúde com qualidade e eficiência. Essa política incorpora práticas alternativas que já vêm sendo desenvolvidas em algumas áreas, entre elas a fitoterapia. Além
disso, tal política legitima o uso de plantas medicinais
na atenção primária em saúde, enfatizando a necessidade de uma medicina humanizada e holística. Além
do mais, estabelece um crescimento no uso das práticas terapêuticas, contribuindo para validação científica
das espécies de fitoterápicos (BRASIL, 2006).
Diante dos avanços percorridos e concretizados
através de decretos e portarias, o Ministério da Saúde
estimula e incentiva a pesquisa na área dos fitoterápicos e inclui o tema como prioridade na rede de pesquisas em atenção primária à saúde. Medida importante
quanto ao aspecto ético, uma vez que proporciona aos
usuários, dos serviços de saúde, a possibilidade de escolha diante das diferentes práticas terapêuticas, preservando o princípio da autonomia.
O objetivo do estudo foi conhecer a opinião dos
acadêmicos da área de saúde da Universidade Estadual
de Montes Claros acerca da inserção do conteúdo plantas medicinais na graduação.
141
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo transversal, quantitativo e
analítico realizado com estudantes de enfermagem,
medicina e odontologia, em 2011. Participaram acadêmicos do primeiro ano e último ano dos cursos de enfermagem (1º, 2º, 6º e 7º períodos), medicina (1º, 2º, 10º
e 11º períodos) e odontologia (1º, 2º, 8º e 9º períodos).
A escolha dos períodos deu-se devido a corresponder ao início e ao final da graduação. Todos os alunos
matriculados nos períodos acima citados foram convidados a participar do estudo, assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Participaram 248
estudantes. Utilizou-se um questionário semiestruturado e autoaplicado, após estudo piloto. O tratamento
estatístico foi no Programa Statistical Package for the So-
cial Sciences, versão 18.0.
Para a análise descritiva das variáveis, utilizaranse medidas de tendência central e de dispersão como:
média aritmética, desvio padrão, valores mínimo e
máximo e quartis, bem como o cálculo de proporções.
Para a associação entre as variáveis categóricas, adotou-se o teste do Qui-quadrado de Pearson, e para a
comparação de médias, o teste t Student, com nível de
significância de p<0,05 (HOSMER; LEMESHOW, 2000). O
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes, parecer 2906/2011, de acordo com a
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde,
Ministério da Saúde (BRASIL, 2012).
Resultados e Discussão
O presente estudo aborda aspectos sobre o interesse e aceitação dos estudantes da área da saúde na
introdução do conteúdo Plantas Medicinais e Fitoterapia no currículo de graduação. A maioria dos estudantes é do sexo feminino (69.8%), com idade entre 17 a 45
anos, média igual a 22.2 anos. A feminilização nas universidades no Brasil, na década de setenta, representa
um marco das mudanças na sociedade, que considerava essas instituições como um espaço masculino. Costa
et al. (2010), observaram que no curso de odontologia
da Unimontes há uma superação do contingente feminino, desde a implantação do curso, na década de
noventa.
Os estudantes (70.8%) se mostraram favoráveis
à inserção do conteúdo planta medicinais na graduação, sem diferença estatística entre os sexos (p=
.757). O maior interesse foi detectado na enfermagem (83.1%), com diferença significativa entre os outros cursos (p= .019). Gráfico 1.
Gráfico 1: Distribuição dos estudantes quanto ao interesse na inclusão do conteúdo plantas medicinais na
graduação.
Outros estudos demonstraram o interesse de acadêmicos da saúde pelo tema práticas não convencionais em saúde, como o de Kulkamp et al. (2007), que
entrevistou estudantes de medicina, e o de Trovo et al.
(2003) com estudantes de enfermagem.
Os principais motivos para introdução do conteúdo na grade curricular foram: ampliar o campo de co142
nhecimento (35.6%), conhecer a evidência científica
das plantas medicinais (16.5%) e saber sobre a eficácia
no tratamento e na cura (11.4%).
A introdução da fitoterapia no currículo acadêmico
pode oferecer maior segurança ao profissional, uma vez
que o mesmo, a partir desta medida, terá conhecimento específico sobre o assunto, com base em evidências
Área - Bioética
científicas. Sendo assim, haverá uma maior qualificação
profissional para atuar com fitoterápicos junto ao Sistema Único de Saúde, preservando o direito de escolha dos
usuários que preferem a fitoterapia como opção de tratamento.
Isso vai ao encontro da política nacional que contempla o SUS como cenário de prática para instituição
de fitoterápicos por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (BRASIL, 2006).
Conclusão
Conclui-se que os estudantes são favoráveis à inserção do conteúdo fitoterápico no currículo da graduação. Constatou-se um maior interesse pelo tema
junto aos estudantes de enfermagem, sendo a ampliação do conhecimento o motivo mais destacado.
Considera-se que a capacitação profissional sobre
plantas medicinais possa contribuir na garantia do direito de escolha dos usuários ao tratamento fitoterápico, resguardando, assim, o princípio da autonomia
e contrapondo o paternalismo profissional ao adotar
medicamentos alopáticos como o único recurso terapêutico.
Referências
ALVIM, N. A. T.; FERREIRA, M. A.; CABRAL, I. E.; ALMEIDA FILHO, A. J. O uso de plantas medicinais como recurso terapêutico: das influências da formação profissional às implicações éticas e legais de sua aplicabilidade como extensão da prática de cuidar realizada pela enfermeira. Revista Latino-americana de Enfermagem. Rio de Janeiro,
v.14, n. 3, p. 316-323, 2006.
BATISTA, L. M.; VALENÇA, A. M. G. A fitoterapia no âmbito da atenção básica do SUS: realidade e perspectivas.
Pesq Bras Odontoped Clin Integr. João Pessoa, v. 12, n. 2, p. 293-296, 2012.
BRANDÃO, M. G. L.; MOREIRA, R. A.; ACÚRCIO, F. A. Interesse dos estudantes de Farmácia e Biologia por plantas
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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 971. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2006.
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de Montes Claros. Ciênc. saúde coletiva. Online. v. 15, suppl. 1, 2010.
HOSMER, W.; LEMESHOW, S. Applied Logistic Regression. 2.ed. New York: Wiley-Interscience Publication, 2000.
280p.
KÜLKAMP, I. C.; BURIN, G. D.; SOUZA, M. H. M.; SILVA, P.; PIOVEZAN, A. P. Aceitação de Práticas Não-Convencionais
em Saude por Estudantes de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Revista Brasileira de Educação
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LÓPEZ, C. A. A. Considerações gerais sobre plantas medicinais. Ambiente: Gestão e Desenvolvimento. v. 1, n. 1,
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TROVO, M. M.; SILVA, M. J. P.; LEÃO, E. R. Terapias alternativas/complementares no ensino público e privado: análise
do conhecimento dos acadêmicos de enfermagem. Rev. Lat. Am. Enfermagem. v. 11, n. 4, p. 483-489, 2003.
143
Área - Bioética
PONDER AÇÕES DO ENSINO DE BIOLOGIA NA
ESCOL A ES TADUAL MONSENHOR GUSTAVO
Ricardo Rodrigues Bacchi
Renata Lafetá Rabelo
Bruna Dias Alves e Silva
Ludiane Cordeiro Ribeiro
Léia Adriane Araújo Santos
Isabela Lorrany Oliveira Melo
Anna Caroline Pimenta Ferreira
[email protected]
Introdução
A escola atual contém uma série de conhecimentos constituídos e formulados a partir do desenvolvimento de muitas ciências acadêmicas que se
estruturam em disciplinas escolares que compõem os
currículos do ensino fundamental e do ensino médio. Dentre essas disciplinas encontra-se a biologia
que nas duas últimas décadas tem fundamental importância para a preparação de indivíduos com uma
postura mais crítica tanto na forma de pensar quanto
na forma de agir em relação aos problemas éticos da
medicina e das ciências biológicas, tais como a clonagem e a utilização de células tronco.
Um bom plano de ensino da disciplina biologia
dentro dos projetos politicopedagógicos do ensino fundamental e médio é o instrumento necessário para se iniciar o estudo sistemático na área das
ciências da vida e cuidados da saúde, sendo de fun-
damental importância para contribuir para o exercício e a consolidação da cidadania, contribuindo para
auxiliar um padrão moral comum para a solução das
controvérsias provenientes das ciências biomédicas e
das altas tecnologias aplicadas à saúde.
A ciência da biologia foi influenciada por diversas correntes de pensamento, que influenciaram a
nossa formação profissional causando uma inquietude presente em discussões que se refere a sua importância e/ou relevância para a sociedade. Sendo assim
a comunidade acadêmica da Universidade Estadual
de Montes Claros - UNIMONTES e professores supervisores da Escola Estadual Monsenhor Gustavo
através do sub projeto do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) do curso de
biologia licenciatura/2014, avaliou aspectos da prática
pedagógica do ensino em biologia.
Materiais e métodos
Em um primeiro momento analisamos o projeto
político pedagógico da escola e os Conteúdos Básicos
Comuns de Ciências (ensino fundamental) e Biologia
(ensino médio) (CBCs), formamos os grupos focais e
organizamos entrevistas. Foram coletadas informações dos alunos e professores da escola a respeito de
sua concepção do ensino de biologia e o que poderia
ser feito para melhorá-lo.
Durante as entrevistas, surgiram vários questionamentos, como a real necessidade de se planejar
bem as aulas e como as questões bioéticas presentes
nos livros didáticos são trabalhadas, bem como foram
abordadas as principais causas de interesse e/ou desinteresse pela disciplina.
Os relatos das entrevistas se tornaram objeto de
investigação e melhoria para ensinar a biologia. Após
o período de realização do diagnóstico, foram observadas muitas inquietações em relação ao livro didático e sua explicação, sendo relatado pelos alunos que
as aulas expositivas não agradavam e não envolviam
os estudantes, acreditando-se que a falta de estímulo da turma não era devido à incompetência dos professores, e sim pela falta de aulas práticas e Modelos
Anatômicos que ilustrariam melhor as aulas.
145
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e discussão
Percebemos que o cotidiano do estudante é muito pouco explorado, e os alunos quando questionados
em situações comuns que envolvem a bioética, ficam
truncados e sem linearidade com o que estava sendo
trabalhado nas aulas. Com esta pouca ou deficitária
exploração do cotidiano durante as aulas, o estudante
não consegue correlacionar os conteúdos que são estudados com a sua vida e como esse conteúdo poderá
ser importante para o exercício da sua cidadania.
Apesar de sua relevância para o estudante, uma
vez que o estudo da biologia tenta explicar os fenômenos ligados à vida e à sua origem, o que se observou, durante este primeiro momento, foi o pouco
interesse e envolvimento dos alunos com a matéria e
cuidados com a saúde.
Amaral (1997) e Bachelar (1996) enfatizam que nos
modelos mais atuais, discute-se serem necessários os
conhecimentos prévios dos alunos, para poder trabalhar e vivenciar conjuntamente a eles a construção do
saber. Porém, percebeu-se que a maioria dos alunos
não possuíam uma boa base na alfabetização gerando
dificuldades na aprendizagem.
Coube-nos então realizar alguns questionamentos pensando na função social da escola. Perguntamos
para os alunos o motivo pelo qual eles interessavamse e/ou desinteressavam-se pela biologia e se o interesse/desinteresse dos estudantes estaria relacionado
com as práticas pedagógicas dos professores ou se-
riam os conteúdos ministrados.
Devido aos questionamentos, notou-se a necessidade de investigarem-se as causas do interesse e/ou
desinteresse dos estudantes pela disciplina biologia
e questionarmos o estudante com perguntas simples
como se ele gosta ou não de Biologia e o porquê, o
que mais gostou e menos gostou de estudar e qual é
a importância de estudar a Biologia. Essas perguntas
serviram para fomentar a discussão entre os acadêmicos para as limitações pedagógicas encontradas nas
aulas.
Um ponto importante discutido após a observação dos acadêmicos analisando as entrevistas com os
estudantes foi a necessidade de se planejar a aula que
será ministrada para melhor estimular os alunos. Muitas vezes o professor planeja muito bem a sua aula escolhendo filmes e técnicas pedagógicas diversas para
serem trabalhadas com diferentes conteúdos, que
não são realmente efetivados por uma série de razões
como o desinteresse do estudante pelos estudos e a
obrigatoriedade de “frequentar” a escola e deixar um
mundo mais estimulante lá fora. Além disso ministrar
aulas diferenciadas, nem sempre seria ou é fácil, pois
há um conteúdo a ser cumprido e terminado, além de
um tempo muito curto para realizá-las. Outro fator que
merece ser mais bem discutido seria a falta de uma sólida educação do ensino fundamental, o que gera problemas futuros em anos posteriores.
Conclusões
O que se constatou na escola através dos grupos
focais com os estudantes foi a dificuldade em compreender o que foi questionado e em responder às
perguntas que se referiam ao ensino de biologia em relação à deficitária compreensão do que é lido, ou seja,
o problema que está relacionado à leitura e interpretação textual são bem comuns na escola.
Assim, constatamos que um dos aspectos que
leva ao desinteresse pela disciplina Biologia foi a falta
de uma boa base na alfabetização, sendo que o processo de alfabetização, ou a falta dele, irá repercutir
em anos posteriores do ensino médio levando a um
desinteresse pelos estudos.
Obtivemos respostas muitas vezes vagas e percebeu-se que os estudantes não conseguem internalizar
a importância da Biologia para a sua atuação enquanto cidadãos, devido ao pouco esclarecimento a este
fato. Contudo, quando observamos as respostas das
146
entrevistas verificamos que a maioria dos estudantes
gosta da disciplina e também do professor, mas não
compreendem a importância da disciplina para a sua
vida.
Eles também não conseguiram relacionar este fato
com a prática pedagógica do professor, ou seja, ao trabalho didático do professor, apresentando dificuldades em entender formas de comunicação textuais, de
imagens e debates. Essas práticas pedagógicas apesar
de possuírem como objetivo tornar as aulas mais agradáveis, não conseguem chegar ao objetivo final que é
promover um conhecimento sólido e reflexivo sobre
assuntos relacionados à ciência da vida. Acreditamos que esta é uma pesquisa importante para o processo de formação do profissional que irá
atuar em sala de aula ministrando a disciplina biologia,
para que cotidianamente reveja a sua prática e postura,
e reavalie a sua posição perante seus alunos.
Área - Bioética
Referências
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dez. 1997.
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ciências. Porto Alegre: Sagra, 1991.
BACHELAR, G. A Formação do Espírito Científico: Contribuição para um Psicanálise do Conhecimento. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1996.
BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil. São Paulo: Ática, 1998.
BORGES, A. T. Novos rumos para o laboratório escolar de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 19,
n. 1, Florianópolis: UFSC, 2002.
CACHAPUZ, A. et al. A Necessária Renovação do Ensino das Ciências. São Paulo: Cortez, 2005.
KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4 ed. São Paulo: Ed. USP, 2004.
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MATTHEWS, M. R. História, Filosofia e Ensino de Ciências: A Tendência Atual de Reaproximação. Cad. Cat. Ens.
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PESSOA, O. F. et al. Como ensinar ciências. 5 ed. São Paulo: Nacional, 1985.
TAPIA, J. A. FITA, E. C. A motivação em sala de aula: o que é, como se faz. 5 ed. São Paulo: Loyola, 2003.
147
Área - Bioética
DOAÇ ÃO E TR ANSPL ANTE DE ÓRGÃOS NA
CONCEPÇ ÃO BIOÉ TIC A
Patrick Leonardo Nogueira da Silva
Isabelle Ramalho Ferreira
Sarah Martins Souza
Luciana Leite Pinheiro Gomes
Mariany Santos Cardoso
Simone de Melo Costa
Orlene Veloso Dias
[email protected]
Introdução
Desde tempos antigos, a possibilidade de substituir órgãos doentes por outros sadios sempre deslumbrou a humanidade. Depois de uma longa história de
fracassos, o transplante de órgãos e tecidos passou
a ser aceito como método terapêutico lídimo graças
aos avanços das técnicas cirúrgicas e da introdução
de fármacos imunomoduladores (ROCHA, 2010). O
transplante permitiu manter com vida um grande número de pessoas vítimas de doenças que outrora não
tinham possibilidade de sobreviver aos episódios de
agudização (SANTOS, 1998). Para o desenvolvimento
técnico-científico dos transplantes e o consequente
sucesso dessa modalidade terapêutica, é necessária
a obtenção de órgãos. O incremento da realização de
transplantes acarretou, além da cura de pacientes anteriormente desenganados, a valorização do ser humano como reserva de órgãos e tecidos, suscitando
objeções bioéticas e jurídicas em razão da inviolabilidade e inalienabilidade do corpo, as quais moldaram
a normatização de condutas capazes de equilibrar um
caráter aceitável de rompimento da integridade do
corpo humano com a possibilidade de remoção se estruturas para fins terapêuticos. Embora o número de
transplantes tenha aumentado, a escassez de órgãos
continua sendo um dos maiores obstáculos às equipes transplantadoras em todos os países, pois a demanda por transplantes vem aumentando em escala
maior que a efetivação de doações, fazendo com que
as listas de espera se ampliem (CAMPOS, 2001).
As transformações da década de sessenta, especialmente nos contextos sociopolítico e tecnológico, impulsionaram o nascimento da bioética, que
se origina para relacionar os avanços tecnológicos e
a qualidade/ condição da vida. Desta forma, a bioética seria uma forma de trazer “limite” aos avanços
técnico-científicos para preservar a vida no planeta.
Em 1971, Potter propõe a constituição de uma ética
aplicada à situação de vida, compreendendo que
este seria o caminho à sobrevivência da espécie humana. Considera que, para garantir a sobrevivência
da espécie, seria preciso respeito aos valores humanos, pressupondo prudência na relação entre o conhecimento biológico e os valores humanos (DINIZ,
2002). As novas práticas de atenção à saúde são cada
vez mais exercidas por equipes de profissionais,
pressupondo a integração dos mesmos em um fazer comum. Os avanços biotécnicos modificaram o
paradigma do conhecido de morte, enquanto acontecimento pontual decorrente da parada simultânea
da consciência, respiração, batimentos cardíacos, circulação e falência de outros órgãos, para o de morte encefálica, quando há constatação de coma não
reativo, apneia, abolição de reflexos do tronco encefálico e os espinhais (SANTOS, 1998; CAMPOS, 2001;
DINIZ; GUILHEM, 2002).
Os profissionais que lidam com famílias que demostrem interesse em doar os órgãos têm uma ação
relevante na obtenção de órgãos, e isso se confirma
na atuação da Organização Nacional de Transplantes da Espanha, que apresenta o maior número de
doadores por milhão de habitantes do mundo Tão
grande êxito foi possível apoiando-se na função dos
coordenadores de transplantes, que são profissionais
treinados para a detecção dos doadores e com habilidades para manejar o complexo processo de doação
de órgãos (LIMA, 2012). Diante do exposto, o estudo
objetiva identificar os principais indicadores de resultado do processo de doação e transplantes de órgãos
no Brasil por meio de uma revisão integrativa da literatura.
149
Métodos
Trata-se de um estudo com análise descritiva do
tipo revisão integrativa da literatura, que, segundo
Mendes, Silveira e Galvão (2008), é um método de pesquisa que permite a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis do tema estudado, de
forma a ter como produto final o estado atual do conhecimento investigado e a identificação de lacunas
que direcionam para o desenvolvimento de pesquisas
futuras. O levantamento bibliográfico foi realizado na
rede de acesso da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)
na qual o período da coleta dos artigos compreendeu
os meses de setembro a outubro de 2013. Os mesmos
foram selecionados nas seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de
Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Foram utilizados os seguintes descritores: bioética;
transplante de órgãos; família; e obtenção de tecidos e
órgãos. Para a captação dos artigos, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos na íntegra, no idioma português, no período de 2005 a 2013 e
que respondessem a questão norteadora da pesquisa.
Excluíram-se os artigos encontrados em mais de uma
fonte de informação ou duplicados, período de publicação anterior a 2005 e aqueles não relacionados ao
tema. Na busca inicial foram encontradas 30 publicações nas bases de dados SCIELO, LILACS e BDENF. Desses, 22 foram excluídos e oito foram selecionados por
atenderem aos critérios de inclusão propostos, constituindo-se na amostra deste estudo.
Resultados e discussões
Todos os oitos artigos selecionadas atenderam
aos critérios de inclusão e estão assim distribuídos: cinco na base SCIELO; uma na LILACS e duas na BDENF.
No ano de 2010, 2011 e 2012 houve o maior número de
publicações, seguido dos anos de 2009 e 2005. Quanto ao objetivo das publicações, os autores buscaram,
em sua maioria, descrever o ato de doação de órgãos
relacionados ao estado emocional familiar; os aspectos geradores de sofrimento e prazer no processo da
aceitação do ente querido ter falecido e a possibilidade
da doação dos seus órgãos; os conflitos de interesses
profissionais e a abordagem aos familiares; os fatores
facilitadores e os impeditivos para doação de órgãos.
Verificou-se que o município de São Paulo foi o cenário de maioria das publicações, seguido de Recife e São
Carlos. Em relação aos tipos de estudos, as publicações
referem-se a Artigo Original e de Pesquisa. Quanto à
abordagem encontrou-se: estudos descritivos, e estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa,
estudo descritivo, exploratório, de abordagem quantitativa, estudo qualitativo-fenomenológica e estudo
descritivo-exploratório. Revelou-se que as internações
ocorrem de forma inesperada e decorrem, principalmente, de causas traumáticas, podendo ser, também,
devido a doenças congênitas ou adquiridas. Com a internação, a família é informada sobre a ocorrência do
fato, a gravidade do quadro clínico e o risco de morte
do paciente. Antes mesmo da informação médica, a
família, muitas vezes, percebe a gravidade da situação
e a proximidade da morte do paciente. A família considera a assistência prestada durante a internação do paciente satisfatória, quando observa que o atendimento
é adequado e que os profissionais estão empenhados
no tratamento do paciente.
Imediatamente após a informação da morte do
paciente, um profissional coloca a possibilidade da doa-
ção de órgãos, averigua o conhecimento e o preparo da
família sobre a questão, explica o processo de doação
e aconselha que os familiares sejam consultados para
a tomada de decisão. Um dos motivos que contribuem
para a dificuldade na compreensão e/ou não aceitação
do diagnóstico de morte encefálica advém do fato do
paciente apresentar batimentos cardíacos, movimentos respiratórios e temperatura corpórea. A família não
percebe o paciente como morto e crê na possibilidade
de reversão do quadro, evidenciando a necessidade
de esclarecimentos à população sobre o conceito de
morte encefálica e sua irreversibilidade, antes da realização de campanhas publicitárias em prol da doação
de órgãos. A assistência dispensada ao paciente e à
família também influi na decisão quanto à doação de
órgãos. Quanto à liberação do corpo, a família é informada sobre a possibilidade de atrasos e intercorrências
na realização dos exames para o diagnóstico de morte
encefálica, sobre o tempo de cirurgia necessário para a
extração dos órgãos e sobre o encaminhamento do corpo ao Instituto Médico Legal (IML), nos casos de morte
traumática.
Há famílias que não consideram a liberação do
corpo complicada, entendendo a demora como normal e decorrente da burocracia existente. O processo
de doação é burocrático, desorganizado, demorado,
desgastante e cansativo. Embora a situação vivenciada seja sofrida e estressante, não há arrependimento quanto à doação dos órgãos, havendo, inclusive,
a crença de que, se ocorrer novamente à situação, à
família concordará com a doação. São mencionados
como fatores dificultadores do processo de doação a
não compreensão do conceito de morte encefálica, o
aspecto religioso envolvido e a demora na liberação
do corpo pelo IML (SANTOS, 2005). Um estudo apontou
como fatores determinantes para a doação de órgãos,
Área - Bioética
pela família, questões socioculturais tais como: etnia,
crenças religiosas, níveis socioeconômico e de informação sobre a doação e transplantes, conhecimento
do status de doador do morto, experiência prévia da
família com doação ou transplante, credibilidade no
sistema de transplante e distribuição de órgãos, grau
de satisfação com o atendimento médico e de entendimento sobre morte encefálica, condições e o momento de abordagem da família, grau de treinamento
do entrevistador, explicações sobre custos e o funeral,
legislação de consentimento presumido e campanhas
educacionais.
Segundo as Diretrizes básicas para a captação e
retirada de múltiplos órgãos e tecidos da Associação
Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o sucesso
da entrevista familiar depende basicamente de três
fatores: predisposição à doação, qualidade do atendimento hospitalar recebido, habilidade e conhecimento
do entrevistador (BRASIL, 2009). Além disso, destaca-se
ainda que as condições para a entrevista familiar envolvam vasta compreensão, por parte do entrevistador,
da situação ao qual a família vivencia em período difícil
como o luto, terá que decidir pela doação dos órgãos
de seu ente ciente de que a mesma poderá repercutir
em nova vida para outro indivíduo. Outras condições
importantes da entrevista envolvem a conversa com o
médico que assistiu ao paciente, a identificação da melhor pessoa para oferecer a opção de doação e, também, um ambiente tranquilo e confortável. A família
deve também saber que a responsabilidade não precisa ser dada no exato momento da entrevista, que pode
se reunir e discutir o assunto a fim de obter a melhor
decisão. Essa decisão deve ser respeitada, seja qual for.
Não é recomendável tentar convencer os familiares sobre o bem da doação ou tentar influenciá-los com argumentos religiosos ou morais. Expor estatísticas não
apresenta qualquer validade neste momento. O entrevistador deve, sim, explicar que alguns órgãos podem
não ser doados e orientar que a decisão de doação
pode ser revogada a qualquer momento, mesmo após
a assinatura do termo de consentimento. A literatura
registra que explicar pontos específicos pode estar associado a maior taxa de consentimento,aspecto também relacionado ao tempo que o entrevistador passa
com a família.
A morte é um consentimento biológico que encerra uma vida, sendo capaz de suscitar nos indivíduos
que a vivenciam e naqueles que estão à sua volta intensas reações emocionais. Morrer é um processo inexorável, que expõe a nossa condição humana de vulnerabilidade e caracteriza tanto o que temos de universal
quanto o que nos é singular. Atualmente, encara-se o
morrer como um processo construído socialmente,
que não se distingue das outras dimensões do universo das relações sociais. Sendo assim, está presente em
nosso cotidiano e, independente de suas causas ou
formas, seu grande palco continua sendo os hospitais
e instituições de saúde. Por isso, a morte ainda pode
ser considerada como algo institucionalizado e medicalizado, principalmente hoje,quando os hospitais
possuem aparelhos com alta tecnologia que permitem
a manutenção do corpo do paciente em funcionamento,independentemente da condição de qualidade de
vida. No Brasil, o termo morte encefálica foi oficialmente aceito a partir da publicação da Resolução 1.346/91
do Conselho Federal de Medicina (CFM), atualizada
pela Resolução 1.480/97, que propõe uma mescla de
protocolos, destacando-se como critérios clínicos o
coma profundo não reativo e imperceptível, apneia,
midríase paralítica bilateral e o reflexo óculo motor
ausente. Esses parâmetros devem ser mantidos inalterados por período superior a seis horas, além da obrigatoriedade da realização de testes de confirmação. Só
então poderá considerar o indivíduo como potencial
doador.
Segundo preconiza esta resolução, o potencial
doador deverá ser submetido a uma avaliação clínica
e a um exame complementar por dois médicos não
participantes das equipes de transplante, e pelo menos um deles deverá ser neurologista, neurocirurgião
ou neuropediatra com título de especialista devidamente registrado. Portanto, a morte encefálica pode
ser caracterizada pela perda definitiva e irreversível
das funções do encéfalo (hemisférios cerebral e tronco
cerebral), de causa conhecida e determinada de forma
inequívoca, sendo que a especificidade do diagnóstico
deve ser de 100%. Um aspecto importante a ser considerado na definição de morte são as várias nuances
que envolvem todo o processo de morrer. É fato que
familiares e pessoas leigas questionam os critérios de
definição de morte encefálica. Embora a mesma seja
caracterizada como morte clínica, para os familiares ela
só é evidenciada pela parada cardiopulmonar. A morte
individual do cérebro não faz com que os indivíduos a
encarem como morte, pois o coração continua batendo e dá a impressão de que o indivíduo está apenas
dormindo. Infelizmente, essa situação dificulta a distinção entre a vida e a morte e provoca intensa emoção e
ansiedade para a família (PESSALACIA, 2011).
A possibilidade de alegrar pessoas que esperam
por um transplante, através da doação de órgãos, consola e recompensa a família, embora a dor não termine. Há a manifestação do desejo da família de ajudar a
incentivar a doação para possibilitar que aqueles que
necessitam de um transplante continuem a viver (SANTOS, 2005). Adicionalmente, percebemos que o aumento da taxa de doadores depende de um olhar que
extrapole as questões técnicas do processo de doação
de órgãos e tecidos. Vários países trabalham sistematicamente nesse processo, há longo tempo, incorporando a abordagem social e a perspectiva ética, baseadas
no voluntarismo das famílias e no respeito ao direito de
autonomia dos potenciais doadores. Esta visão precisa
ser parte integrante de quem sonha ter neste processo
a certeza de desenvolver um trabalho justo e benéfico
à comunidade. Além da priorização no contexto sani151
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
tário brasileiro, um dos compromissos que se deve esperar do Estado é o estabelecimento de uma legislação
adequada, acompanhada de infraestrutura sanitária
pertinente que estimule e facilite o controle de todo o
conjunto de um novo Sistema Nacional de Transplante
(ROZA, 2010).
Considerações finais
A alocação dos órgãos para transplante deve ser
feita em dois estágios, o primeiro deve ser realizado
pela própria equipe de saúde, contemplando os critérios de elegibilidade, de probabilidade de sucesso e
de progresso à ciência, visando à beneficência ampla.
O segundo estágio, a ser realizada por um Comitê de
Bioética, pode utilizar os critérios de igualdade de acesso, das probabilidades estatísticas envolvidas no caso,
da necessidade de tratamento futuro, do valor social
do indivíduo receptor, da dependência de outras pessoas, entre outros critérios. Para a Equipe de Saúde
trabalhar com o transplante de órgãos deve ser, e é
considerado gratificante, além de poder ajudar a salvar
vidas o mesmo proporciona maiores oportunidades no
campo de trabalho e desenvolvimento profissional aumentando seu conhecimento e tendo uma melhor in-
teração com a família do potencial doador.
Portanto, é primordial ressaltar a responsabilidade
de fortalecer a compreensão de que eticamente, doar
é uma opção generosa, um gesto de amor para com o
próximo, e uma expressão de solidariedade humana.
Perante o exposto, a Bioética torna-se indispensável
ao ser humano nos dias atuais, devido aos constantes e
acelerados avanços da Biociência, necessitando contar
com uma presença maior da sociedade, para a promoção da reflexão em torno do transplante de órgãos e
tecidos, através da qual cada pessoa poderá estabelecer uma postura frente a esta problemática contribuindo para mais estudos e discussões entre a população
científica, e sociedade para um conhecimento mais
aprofundado sobre esses aspectos.
Referências
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Saúde, Ética & Justiça. São Paulo, v. 17, n. 1, p. 3-11, 2012.
CAMPOS, H. H. Aumento do número de transplantes e da doação de órgãos e tecidos: processo de construção coletiva. São Paulo: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos; 2001.
DINIZ, D.; GUILHEM, D. O que é bioética? São Paulo: Brasiliense; 2002.
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de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto de Enfermagem. Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 758764, 2008.
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152
Área - Ciências da Saúde
ÁREA - CIÊNCIAS DA SAÚDE
A IMPOR TÂNCIA DO SONO NOTURNO NA
SINCRONIZ AÇ ÃO DOS RITMOS CIRC ADIANO E DIA /
NOITE
Molyana Kelly Pereira Dias
Olivia Abreu Versiani
Manuela Pierotte Luz Gondimw
Fernando Fernandes Gonçalves da Silva
João Pedro Paulino Ruas
Lucas Mendes Nobre
Ana Carine Gomes dos Santos
[email protected]
Introdução
O nosso organismo é adaptado a sofrer diversas oscilações nos parâmetros metabólicos, fisiológicos ou mesmo comportamentais que se repetem
no período de 24 horas. A esses processos, damos
o nome de ritmos circadianos, donde o termo circadiano, do latim circa (=cerca) e dies (=dia), ou seja,
aproximadamente cerca de um dia. Isso é observado na temperatura corporal, no nível circulante de
eosinófilos, de vários hormônios, glicose e várias
outras substâncias, ou mesmo nos padrões de atividade motora e de sono e vigília (MACHADO, 2009).
O sono noturno possui um papel fundamental
na sincronização dos ritmos circadianos biológicos
com o ritmo externo dia/noite, pois durante a noite,
e orientado pela ausência de luminosidade, ocorre
a liberação do hormônio do crescimento e da prolactina, substâncias fundamentais às funções vitais,
e duas horas antes de acordar, ocorre a queda da
temperatura central das pessoas aos seus valores
mais baixos, aumentando, gradativamente, devido
à concentração de cortisol no sangue, perto do momento em que elas despertam (XAVIER; VAGHETTI,
2012). Sendo assim, entende-se por sincronia desses
ritmos quando, durante a noite, o sono proporciona o funcionamento que é ideal para o organismo
naquele momento, da mesma forma que, durante
o dia, a vigília proporcione o funcionamento que é
ideal para o organismo naquele momento.
Para que ocorra essa sincronia, diversas estruturas e sistemas estão envolvidos. A começar pela
visão, a qual é responsável por captar a luminosidade ou ausência desta. A falta de luminosidade,
proporcionada durante o sono noturno, ativa um
núcleo hipotalâmico, chamado supraquiasmático,
através do tracto retino-hipotalâmico (feixe de fibras). Essa ativação proporciona a excitação de fibras simpáticas que saem deste núcleo para a glândula pineal, a qual também se torna ativada. Esta,
por sua vez, inicia a produção da indolamina melatonina, que tem função na regulação dos ritmos circadianos durante o ciclo dia/noite e inibição sobre
as gônadas. A melatonina, portanto, é estimulada
pela ausência de luz, o que representa que, durante
o dia, as quantidades dessa substância são mínimas
na pineal e na circulação, tendo, então, nessa fase,
pouco efeito na sincronização dos ciclos biológicos
com o claro/escuro (MACHADO, 2009).
O sono tem se tornado um tema de relevância
no meio científico e social, não só pelo maior surgimento de transtornos do sono, mas também porque
aumentaram as investigações sobre o assunto, além
das perturbações da saúde mental provocadas pela
falta dele (PINTO et al., 2012).
Em tempos de primitivismo, o ser humano já
possuía uma organização das funções em ciclos que
obedeciam ao sol, à lua e aos movimentos das estrelas. Em tempos de idade média, as tarefas deveriam ser feitas durante o dia, pois os equipamentos
luminosos não garantiam luz suficiente durante a
noite. Com a invenção da lâmpada incandescente,
muitas atividades começaram a ser feitas no período noturno, para aumento de produtividade e lucro.
Em tempos atuais de capitalismo, já não se diferencia dia e noite para o trabalho. Essa perda de organização do trabalho obedecendo ao ciclo dia/noite
faz com que o organismo perca a sincronização dos
153
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
ritmos circadianos com o claro/escuro, pois ao trabalhar em turnos, principalmente no noturno e secundariamente no matutino, os indivíduos podem
ter algumas de suas funções orgânicas alteradas devido à modificação da ritmicidade dos eventos bioquímicos, fisiológicos e comportamentais (XAVIER;
VAGHETTI, 2012).
As pessoas, atualmente, iludidas pelos valores
da sociedade industrial, acreditam que, ao reduzir
as horas dormidas durante a noite, produzam um
corpo “treinado” para dormir menos e, assim, ampliar o número de horas úteis do dia, mantendo o
mesmo desempenho.
Quando os trabalhadores apresentam os ritmos
circadianos não sincronizados com o turno de trabalho, podem apresentar um desequilíbrio em seu
ritmo biológico, obrigando o organismo a esforços
de adaptação que conduzirão a situações de desgaste, com repercussões orgânicas e perturbações
na dinâmica social e familiar (XAVIER; VAGHETTI,
2012). Isso ocorre uma vez que o sono diurno não
possui as mesmas características e qualidade do
sono noturno justamente devido à necessidade da
falta de luminosidade para a realização de diversos
processos fisiológicos do organismo. (MARTINO; SILVA, 2009) A cronobiologia é uma ciência que estuda
as oscilações das variáveis biológicas decorrentes
dessas alterações dos ciclos circadianos.
Outra causa para a falta de sincronização dos
ritmos relacionada ao sono noturno seria a fase da
adolescência, pois, nesta, parece existir uma tendência para a privação de sono crônica, o que gera uma
enorme dívida de sono. Socialmente, aumentam as
exigências nos diferentes contextos de vida dos adolescentes (escola, família, grupos de pares, etc.), o que
permite compreender a sobrevalorização de outras
atividades que não o sono. Pessoalmente, o jovem
experimenta uma maior autonomia e domínio dos
hábitos cotidianos, e por falta de interesse ou de conhecimento sobre o assunto, os jovens não valorizam
muito os comportamentos relacionados com o sono.
Dessa forma, nos adolescentes, evidenciam-se grandes alterações do ciclo sono/vigília (PINTO et al., 2012).
Ainda segundo Pinto et al. (2012), um outro fator
que contribui para a diminuição das horas de sono à
noite é uma vida excessivamente potenciadora de estresse e ansiedade, que, ao perturbar o ciclo circadiano vigília-sono, perturba também a sincronia deste
com o ciclo claro/escuro. Em uma relação recíproca, a
ansiedade provoca insônia, e a insônia provoca ansiedade (RAMSHAWH et al., 2009). Existem evidências da
influência dos transtornos de sono também em distúrbios emocionais, no desempenho acadêmico e nos
comportamentos violentos (MANHAES, 2009).
Ao referirem-se a dificuldades de sono, os programas educacionais de prevenção (primária ou
secundária) possuem um papel mais importante e
eficiente do que as intervenções a longo prazo e os
tratamentos farmacológicos, pois a educação psíquica tem como finalidade auxiliar os participantes a
incorporar a nova informação sobre o sono nas suas
rotinas, enfatizar a responsabilidade individual nos
comportamentos que promovam a saúde e promover
os benefícios de um sono de qualidade (BUBOLTZ et
al., 2009). Isso significa conscientizar um adolescente
sobre as ocorrências naturais de sua fase e como vivenciá-las sem prejuízo do sono, informar ao adulto
que o trabalho é importante, porém deve-se sempre
procurar uma conciliação deste com o ritmo biológico
e o ritmo dia/noite, e explicitar a todos os indivíduos
o quão o estresse e a ansiedade fazem mal ao funcionamento normal do corpo, por prejudicar um momento tão especial pra vida: o sono noturno.
Ainda que limitadas, as literaturas evidenciam
que na universidade devem ser trabalhados conhecimentos sobre o sono, para uma prevenção efetiva
de futuros problemas relacionados com esta temática (BUBOLTZ et al., 2009). Dessa forma, o objetivo
deste estudo é salientar a importância do sono noturno na sincronização entre os ritmos biológico e
dia/noite para um melhor funcionamento do organismo e qualidade de vida.
Metodologia
Para alcançar o objetivo proposto, realizou-se uma
revisão integrativa sobre a influência do sono noturno na sincronização dos ciclos circadianos e dia/noite
com o intuito de reunir e sintetizar o conhecimento pré
-existente sobre a temática proposta.
A seleção das publicações se deu a partir da base
de dados de literatura escrita, o livro de Neuroanatomia de 2009 do Ângelo Machado, e literatura virtual, o
Google Acadêmico, utilizando como descritores: “sono
noturno”, “ritmos circadianos” e “ritmo dia/noite”.
Os critérios de inclusão dos estudos foram: artigos,
publicados em língua portuguesa e no período entre
2009 e 2014, disponíveis na íntegra, realizados com hu154
manos e que possuíssem temática condizente com o
objetivo. O material obtido foi, então, submetido à nova
seleção, identificando-se os títulos e os resumos e elegendo aqueles que se enquadravam ao objetivo da pesquisa.
Para a análise dos dados, utilizou-se a sistematização das informações, estruturada a partir de dois momentos: no primeiro momento, identificação os dados
relacionados ao perfil das publicações. No segundo momento, o processo de análise se fundamentou em leitura interpretativa dos artigos, destacando as similaridades e diferenças dos conteúdos e relacionando o que os
autores apresentam sobre o assunto considerado.
Área - Ciências da Saúde
Resultados
Constatou-se que há um variado número de
publicações referentes ao sono, a ciclo circadiano
e ciclo dia/noite, porém de uma forma mais isolada
ou relacionada com outra atividade/função do que
ambos inter-relacionados. Após o cruzamento dos
descritores e a utilização dos filtros, obteve-se o
total de 14 referências, das quais 6 foram descartadas por não se enquadrarem ao objetivo proposto.
Dessa forma, a amostra de estudo foi composta por
8 referências. Entre os objetivos, os estudos correlacionam sono noturno e trabalho em turnos; hábitos
de sono e depressão/estresse/ansiedade; adolescência e período de sono; funções orgânicas e ritmo
dia/noite.
No estudo realizado por Xavier e Vaghetti
(2012) com enfermeiros, verificou-se que muitos
possuíam um turno em desacordo com o ciclo biológico. Neste estudo, os autores utilizaram o Questionário de Identificação de Indivíduos Matutinos e
Vespertinos de Horne e Ostberg, o qual identifica o
cronotipo dos indivíduos, classificando-os em defi-
nitivamente vespertinos, moderadamente vespertinos, indiferentes, moderadamente matutinos ou
definitivamente matutinos. Por conseguinte, pessoas com hábitos vespertinos acentuados são indicadas para o trabalho noturno, enquanto aquelas
com cronotipos matutinos possuem dificuldade em
ficarem acordadas durante a noite. Ainda no estudo
realizado por Xavier e Vaghetti, 2012, verificou-se
que o trabalho em turnos causa prejuízos à qualidade e duração do sono dos enfermeiros dos períodos
matutino e noturno e que o cansaço e o sono estão
presentes já no início da jornada de trabalho destes
profissionais.
No estudo realizado por Pinto et al. (2012) com
adolescentes estudantes, verificou-se que os mais
ansiosos apresentaram maiores dificuldades no
sono, através de despertares precoces, além de corroborar que a experiência de um sono perturbado
aumenta a probabilidade de desenvolver excessivamente a agressividade.
Discussão
Constatou-se que os próprios trabalhadores aceitam turnos de trabalhos em desacordo com o ritmo
biológico, pois necessitam do emprego para proporcionar uma boa condição de vida para si e para seus familiares, ou porque desenvolvem outras atividades no
restante do dia, como tarefas domésticas, maternais,
entre outras. Os classificados como matutinos apresentam períodos de ritmos circadianos mais curtos, e
os vespertinos períodos mais longos, o que pode constituir uma explicação para o fato da tendência para os
primeiros adormecerem e acordarem mais cedo, o que
é chamado como avanço da fase por Vieira (2012) e a
disposição contrária nos segundos (atraso da fase).
Com os adolescentes estudantes também ocorre
o mesmo, pois dormem menos por substituir o sono
noturno por outra atividade ou por apresentaram
maiores sintomas de ansiedade e estresse.
Dessa forma, todos esses fatores constituem agravos prejudiciais à saúde, por refletir na qualidade de
vida, no desempenho das atividades assistenciais e,
principalmente, na falta de sincronia entre os ritmos,
o que altera os horários de liberações de hormônios e
outras substâncias no organismo.
Conclusão
A limitação do sono, assim como corroboram todas as referências, em qualquer fase da vida e por qualquer que seja o motivo como, no casso em estudo, a
adolescência e sua complicação natural, os períodos e
turnos de trabalhos e os sentimentos frequentes nos
dias atuais – estresse e ansiedade – gera prejuízos na
qualidade de vida, na saúde, no desempenho das ativi-
dades cotidianas e, especialmente, na falta de sincronia
entre os ritmos, o que altera os horários de liberações
de hormônios e outras substâncias no organismo, sendo necessário para as dificuldades no sono, além da
medicação e procedimentos a longo prazo, a participação em programas educacionais preventivos.
Referências
BUBOLTZ, W. et al. Sleep habits and patterns of college students: an expanded study. Journal of College Counseling, n. 12, p. 113-124, 2009.
155
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. 2.ed. São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro: Ed Atheneu, 2009.
MANHAES, V. M. S. Cronotipo e privação do sono nos trabalhadores do serviço noturno hospitalar de enfermagem. Rio de Janeiro. Dissertação. Mestrado em Enfermagem. Faculdade de Enfermagem. Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, 2009.
MARTINO, M. M. F.; SILVA, C. A. R. Aspectos do ciclo vigília-sono e estados emocionais em enfermeiros dos diferentes turnos de trabalho. Rev. Ciênc. Méd. Campinas, v. 18, n. 1, p. 21-33, jan./fev., 2009.
PINTO, T. R. et al. Hábitos de sono e ansiedade, depressão e stresse: Que relação? ISPA - Instituto Universitário.
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RAMSAWH, H. et al. Relationship of anxiety disorders, sleep quality, and functional impairment in a community
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VIEIRA, A. F. R. Implementação de um Programa de Educação do Sono em Universitários. Dissertação. Mestrado
em Psicologia. Universidade de Aveiro: Departamento de Educação, 2012.
XAVIER, K. G. S.; VAGHETTI, H. H. Aspectos Cronobiológicos do sono de enfermeiros de um hospital universitário.
Rev. bras. enferm. Brasília, v. 65, n. 1, Jan./Feb., 2012.
156
Área - Ciências da Saúde
ACIDENTE OCUPACIONAL COM MATERIAL BIOLÓGICO
EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Edna de Freitas Gomes Ruas
Francilene Santos Nunes
Fernanda Danielly Alves Pereira
Carla Alaide Machado Ruas
Bruna Parrela Pinto
Ariadna Lilian Silva
Renata Patrícia Fonseca Gonçalves
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil,
Introdução
Os profissionais da área da saúde convivem sob
risco eminente de acidentes biológicos em seu ambiente de trabalho. Vários são os fatores que contribuem para isso sendo seus atos os principais res-
ponsáveis por tal exposição. Este trabalho teve como
objetivo identificar o número de acidentes com materiais biológicos ocorridos em um Hospital Universitário.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e
transversal. A amostra foi constituída por 50 profissionais da equipe de enfermagem. Para identificar os acidentes biológicos, utilizou-se um questionário semies-
truturadoaplicado nos meses de outubro e novembro
de 2012. Os dados foram tabulados no Microsoft Office
Excel 2007.
Resultados e Discussão
A maior parte dos acidentes notificados (77%)
ocorreu entre o sexo feminino com formação técnica.
A maioria de origem percutânea (53,8%), envolvendo sangue e com pacientes fontes sorologicamente
conhecidos, ocorrendo frequentemente em punções
venosas e coletas de sangue, sendo que 69% não utilizavam o equipamento de proteção individual (EPI). A
topografia da lesão predominante foram os dedos das
mãos, parte do corpo onde comumente ocorre, devido aos inúmeros procedimentos realizados; 85% dos
trabalhadores apresentaram esquema vacinal completo para Hepatite B; 69% realizaram exames para HIV,
com sorologia negativa. Metade dos profissionais não
notificaram os acidentes ocorridos, sendo uma prática
usual entre os trabalhadores brasileiros.
Conclusão
Evidenciou-se que os profissionais se deparam
com diversos fatores que os levam à imperícia na utilização dos equipamentos adequados nos procedimentos. É importante a participação dos profissionais
em capacitações sobre as normas de Biossegurança e o
uso dos EPI’s, para a prevenção desses acidentes.
157
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
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159
Área - Ciências da Saúde
O MANE JO DO PACIENTE COM DOR TOR ÁCIC A NA
SAL A DE EMERGÊNCIA
Cássio de Almeida Lima
Mayara Karoline Silva Lacerda
Cecília Santos de Alencar
Renata Patrícia Fonseca Gonçalves
[email protected]
Introdução
A dor torácica é uma das causas mais comuns
de procura por assistência médica nas salas de emergência, e sua abordagem diagnóstica permanece um
grande desafio. Tal dor sugere, muitas vezes, que a sua
origem possa ser uma isquemia miocárdica, e dados
epidemiológicos mostram que, anualmente, nos Estados Unidos da América (EUA), parcelas significativas
dos atendimentos realizados em uma sala de emergência são de pacientes com esse distúrbio (ARAÚJO; MARQUES, 2007). No Brasil, estima-se que a prevalência da
dor torácica seja equivalente às estatísticas americanas,
porém não existem dados precisos que comprovem
essa informação. Supõe-se que, anualmente, sejam
realizados cerca de 4 milhões de atendimentos por
dor torácica. Nos EUA, dos 8 milhões de atendimentos
anuais, 1,2 milhões recebem o diagnóstico de Infarto
Agudo do Miocárdio (IAM), e o mesmo número recebe
o diagnóstico de angina instável. Ademais, em 2/3 dos
pacientes o diagnóstico não é confirmado (ARAÚJO;
MARQUES, 2007).
A variedade e a provável gravidade das condições
clínicas que se manifestam com dor torácica faz com
que seja essencial um diagnóstico rápido e preciso das
suas causas. Dessa forma, o estabelecimento de um
manejo sistematizado no atendimento a esses pacientes contribuirá positivamente na tomada de decisão,
como também na redução da morbimortalidade por
doenças manifestadas através de dor torácica. Nesse
sentido, a problemática do presente estudo decorre
da análise das lacunas existentes na literatura latino-americana e entre os conhecimentos teórico-práticos
vivenciados pelos profissionais de saúde, o que torna
esse tema de suma relevância, pois, através do conhecimento das dificuldades presentes no ambiente de
trabalho, é possível abrir uma perspectiva de mudanças. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo
analisar o manejo da dor torácica na sala de emergência em publicações latino-americanas.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura
sobre o manejo de pacientes com dor torácica na sala
de emergência. Percorreram-se as seguintes etapas
propostas por Ganong (1987): elaboração da pergunta norteadora: “Qual a situação do manejo da dor torácica na sala de emergência?”; investigação e seleção
dos descritores por meio da consulta aos Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS) na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS); estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos artigos científicos;
seleção dos artigos; análise e leitura crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e divulgação
da revisão integrativa. Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: pertinência à questão norteadora,
estudos envolvendo somente adultos, publicações no
período de 2000 a 2012, disponibilidade nos idiomas
português ou espanhol e acesso na íntegra. Foram
excluídos os materiais que não atenderam aos citados
critérios de inclusão e os que não eram artigos científicos. Após a delimitação dos descritores, fez-se a busca nas bases de dados Base de Dados de Enfermagem
(BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Foram utilizados os descritores
dor no peito, serviços médicos de emergência e infarto
do miocárdio. O Quadro 1 descreve o caminho percorrido no levantamento de artigos.
Foi realizada a análise criteriosa do material selecionado por meio da leitura exaustiva de cada artigo
científico. A partir da discussão dos resultados alcançados, foram extraídas e sintetizadas as informações
sobre o assunto em questão, culminando na presente
revisão integrativa.
161
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e Discussão
Foram selecionados 13 artigos que atenderam aos
critérios de inclusão descritos na metodologia, sendo
estabelecido um panorama geral da literatura analisada. Dos artigos avaliados, 3 foram desenvolvidos em
hospitais gerais, 6 em hospitais especializados em cardiologia e, em 4 artigos de revisão, não houve identificação do local de busca da literatura. Ao analisar o delineamento das pesquisas, constataram-se na amostra
4 estudos de coorte prospectivo, 2 estudos clínicos, 3
estudos descritivos e 4 revisões. Em relação ao tipo de
revista em que foram publicados os artigos incluídos
na revisão, todos foram publicados em revistas médicas, sendo 8 em revistas de cardiologia.
A dor torácica é um sintoma comum, sendo necessária a diferenciação daquela de origem coronariana
das demais. A apresentação clínica mais frequente desse tipo de dor é um desconforto difuso, retroesternal,
em região de hemitórax esquerdo, podendo irradiar
para pescoço, membros superiores, ombros e mandíbula. Frequentemente pode ser acompanhada por
náuseas, vômitos, sudorese ou dispneia (GRANEL, 2008).
Além da avaliação do quadro clínico e da estabilização
da dor, é necessária a realização de eletrocardiograma e
exames laboratoriais como troponina, mioglobina, CPK
Total e CPK – MB tendo como referência padrão os marcadores de necrose miocárdica. A análise desses marcadores oferece estratégias relevantes para a avaliação
dos pacientes com dor torácica, pois medidas seriadas
de CK total e CKMB têm demonstrado uma sensibilidade e especificidade em torno de 95%, porém seus resultados são tardios quando comparados a outros métodos diagnósticos (SANTOS et al., 2006; GRANEL, 2008;
SANTOS; PELLANDA; CASTO, 2005). Em algumas situações, é preciso o uso de testes provocativos de isquemias – teste ergométrico, ecocardiografia de estresse,
entre outros (ESPORCATTE et al., 2007).
Estudos realizados utilizam as diretrizes de classificação em rotas na conduta dos pacientes com dor
torácica nas salas de emergência. Os pacientes são
avaliados e classificados quanto à característica da dor
torácica e a interpretação do eletrocardiograma, sendo posteriormente categorizados em quatro rotas, ou
seja, estratégias diagnósticas para estratificação dos
pacientes admitidos com dor no peito (BASSAN et al.,
2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN, 2002; OLIVEIRA;
SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006).
A rota 1 corresponde aos pacientes com dor torácica e eletrocardiograma fortemente indicativos de
IAM, com elevação do segmento ST ou bloqueio de
ramo esquerdo recente. Esses pacientes são encaminhados para a realização de Intervenção Coronariana
Percutânea (ICP) ou são submetidos à terapia de fibrinolíticos (BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b;
BASSAN, 2002; OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006). Na rota 2 encontram-se os pacientes com clí162
nica sugestiva de Síndrome Coronariana Aguda (SCA)
e com alterações eletrocardiográficas, infradesnivelamento de ST ou inversão de onda T, sendo necessária
a avaliação de marcadores de necrose miocárdica e
eletrocardiograma com repetição periódica nas próximas 9 horas. Os pacientes alocados nessa rota necessitam de um exame complementar, sendo indicado o
ecocardiograma ou um teste de esforço, caso o cliente
permaneça assintomático e sem evidência de isquemia
(BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN,
2002). Pacientes com dor torácica atípica, com eletrocardiograma sem alterações e clínica compatível de
SCA, são incluídos na rota 3. Esses são acompanhados
durante 6 horas para realização de exames de marcadores de necrose miocárdica e eletrocardiograma.
Reforça-se a necessidade de que sejam feitos testes
provocativos de isquemia durante o período de observação (BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN, 2002; OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO,
2006). Na rota 4 consideram-se os pacientes com possível doença vascular torácica, dissecção de aorta e embolia pulmonar e que deverão ser submetidos a exames de imagens. Em tal rota estão os pacientes com
dor torácica, definitivamente não compatíveis com
SCA (OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006).
Atualmente, estudos revelam novos exames laboratoriais que podem auxiliar no diagnóstico diferencial
de dor torácica. Pesquisas realizadas sobre a importância da dosagem da Proteína C-Reativa no diagnóstico
e prognóstico demonstraram que o nível de PCR apresentava-se notadamente aumentado nos pacientes
com diagnóstico confirmado de IAM quando comparados aos que não tiveram a referida patologia. Apesar de a PCR não ser utilizada como padrão-ouro para
o diagnóstico de IAM, seu valor representa um dado
seguro no momento da alta hospitalar, pois seu parâmetro normal praticamente exclui eventos cardiovasculares (POTSCH et al., 2006). Pesquisas referem ainda
a utilização da enzima mieloperoxidase (MPO) na identificação de pacientes de alto risco admitidos por dor
torácica aguda, visto que essa enzima é densamente
expressa em situações de ativação leucocitária, como,
por exemplo, no processo de instabilização da placa
aterosclerótica em cardiopatias isquêmicas. A MPO
pode ser considerada como novo marcador para avaliação de pacientes com dor torácica, já que possibilita
a presença de necrose ou isquemia, como também a
existência de placas em estágios iniciais de vulnerabilidade (ESPORCATTE et al., 2007).
Outro método descrito na literatura também utilizado para a tomada de decisão nos setores de emergência cardiológica é a cintilografia de perfusão miocárdica (CPM). Esse procedimento é um dos métodos
diagnósticos não invasivos considerados importantes
na investigação e manejo de pacientes com dor toráci-
Área - Ciências da Saúde
ca, além de ser utilizado na estratificação de risco cardiovascular. Destaca-se que, atualmente, a CPM vem
sendo utilizada para acelerar a avaliação de clientes
com dor torácica típica ou atípica e ECG de admissão
sem alterações (BARBIRATO et al., 2009; MERLANO et
al., 2000; MERLANO, 2004). Investigações realizadas
com o objetivo de avaliar o uso da CPM em repouso
durante dor torácica para descartar IAM evidenciaram
que esse exame sugere afastar com segurança o diagnóstico de IAM, reduzindo hospitalizações desnecessárias e melhorando a efetividade do processo de triagem na sala de emergência (POTSCH et al., 2010).
Quando se avaliaram pacientes com cintilografia
miocárdica de repouso positiva, foram detectados ca-
sos de doença arterial coronária significativa confirmada por angiografia. A implementação do uso da cintilografia miocárdica demonstrou uma alta sensibilidade
e especificidade no diagnóstico e prognóstico, uma
vez que nenhum dos pacientes com resultados negativos teve um evento cardíaco durante os seis meses de
acompanhamento ambulatorial (MERLANO, 2000; BARBIRATO, 2009). Evidenciou-se que cerca de metade dos
clientes que são internados não evoluem com diagnóstico de SCA. A CPM parece ser um teste confiável para
descartar IAM e angina, além de contribuir para a redução do uso de recursos financeiros com internações
desnecessárias e reforçar a tomada de decisão para o
acompanhamento ambulatorial (MERLANO, 2004).
Conclusões
O diagnóstico de eventos isquêmicos em pacientes com dor torácica e eletrocardiograma inconclusivo
na sala de emergência é problemático. Estabelecer um
diagnóstico etiológico correto tem sido um desafio aos
profissionais que atuam em serviços de emergências,
já que uma diversidade de condições clínicas se manifesta através da dor no peito. Nesse contexto, este estudo evidenciou a necessidade de publicações sobre a
assistência de enfermagem aos pacientes com dor no
peito nos serviços de emergência, uma vez que a maioria das pesquisas se restringe à assistência médica. Adicionalmente, a geração de maior conhecimento acerca
da temática pode fomentar melhorias para tais pacientes, assim como para o trabalho da equipe multiprofissional e a instituição.
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164
Área - Ciências da Saúde
ALEITAMENTO MATERNO E PROFISSIONAIS DE
SAÚDE: CONHECIMENTO E FORMA DE ABORDAGEM
DUR ANTE O PRÉ- NATAL
Laís Pereira Viana
Thiago Santos Silva
João Gabriel Silva Souza
Fernanda Amaral Soares
Francinne Possidônio Leão
Daniela Araújo Veloso Popoff
Laí[email protected]
Introdução
O aleitamento materno é uma forma natural de
vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e
constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Promove também um impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/filho e beneficia toda a sociedade
(BRASIL, 2009).
A despeito de todas as evidências científicas provarem a superioridade da amamentação sobre outras
formas de alimentar o recém-nascido, e apesar dos esforços de vários organismos nacionais e internacionais,
as taxas de aleitamento materno no Brasil, em especial
as de amamentação exclusiva, estão bastante aquém
do preconizado (BRASIL, 2009). Entretanto, estudos
realizados em mulheres no alojamento conjunto mostram que 78% delas apesar de terem recebido orientações sobre aleitamento materno exclusivo durante
o pré-natal, não tinham conhecimento correto sobre
higiene das mamas, complementação alimentar e ingurgitamento mamário e seus cuidados (FONSECA et
al., 2011).
Nos últimos 30 anos, as políticas nacionais de
apoio ao aleitamento materno se basearam eminentemente na perspectiva hospitalar ou no apoio legal,
mas houve pouco e incipiente estímulo para estabelecer essas ações no âmbito da Atenção Básica (BRASIL,
2009). Dessa forma a Iniciativa Unidade Básica Amiga
da Amamentação sugere treinamento das equipes de
Saúde da Família, o que parece ser uma tática efetiva
e de baixo custo para sensibilizar esses profissionais,
padronizando as informações e proporcionado o apoio
necessário para as mães com problemas para amamentarem seus filhos (CALDEIRA et al., 2008).
Bonilha et al (2010) afirmam que profissionais bem
especializados e orientados promovem melhor a prática do aleitamento materno como rotina no cotidiano
de cada pré-natalista. Além disso, por conduzir bem
esta prática, acolhem psicologicamente essas gestantes, estabelecendo um vínculo e facilitando a aproximação destas as suas unidades de referência bem
como sua adesão às ações dos profissionais.
A técnica da amamentação precisa de suporte
apropriado e continuado para algumas mães. Se esse
suporte não é disponível nas unidades básicas de saúde, inicia-se um processo de sofrimento materno baseado no ingurgitamento, nas fissuras e na percepção
de fome através do desempenho do recém-nascido
(CALDEIRA et al., 2007).
Nota-se que a amamentação precisa ser um comportamento aprendido e exercitado e que mulheres e
profissionais de saúde precisam ser estimulados, encorajados e apoiados a fim de manter os indicadores
de amamentação em níveis ótimos (BONILHA et al.,
2010). Assim, o objetivo desse trabalho é avaliar o conhecimento e a abordagem do aleitamento materno
durante o pré-natal pelos profissionais inseridos nas
equipes de saúde da família do município de Montes
Claros-MG.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa,
transversal e analítica. A população dessa pesquisa consiste em profissionais atuantes nas equipes da estratégia
de Saúde da Família do município de Montes Claros-MG.
O município de Montes Claros possui hoje 76 equipes de saúde da família, o que corresponde a 68% da
cobertura total da cidade. O cálculo do tamanho da
amostra levou em consideração o número total de
165
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
equipes e, consequentemente, de profissionais médicos e enfermeiros que as compõem: 76 equipes (76
médicos + 76 enfermeiros = 152 profissionais).
Considerando um erro amostral de 5%, uma significância estatística de 95% e um acréscimo de 10% para
prevenir a falta de adesão dos profissionais à pesquisa,
um total de 120 profissionais (60 médicos + 60 enfermeiros) foram entrevistados. Os critérios de inclusão
foram: estar vinculado, como médico ou enfermeiro,
nas equipes de saúde da família, atender gestantes durante o pré-natal, ser encontrado em sua unidade de
saúde até a segunda tentativa e concordar em parti-
cipar da pesquisa por meio de assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido.
A coleta de dados foi realizada após aprovação
pelo Comitê de Ética e Pesquisa através do parecer nº
407.478, e autorização dos pesquisados quanto à realização deste estudo nos serviços de saúde por meio do
Termo de Consentimento e Compromisso.
Os instrumentos de coleta foram aplicados pelo
pesquisador e seu colaborador após visitas aos profissionais nas unidades. Foi utilizado um questionário validado por Becker (2001).
Resultados e Discussão
Para caracterização dos profissionais entrevistados, utilizaram-se 4 (quatro) variáveis: sexo, idade, profissão e número de pacientes atendidos por turno de
trabalho.
Dos profissionais entrevistados, 37 (33,6%) foram do sexo masculino e 73 (66,4%) do sexo feminino.
A média de idade entre estes profissionais foi de 31,5
anos. Foram entrevistados 50 (45,5%) médicos, compreendidos entre, clínicos gerais e generalistas de família; enquanto 60 (54,5%) foram enfermeiros. A média
de atendimentos por turno de trabalho foi de 10,7.
Quando os profissionais foram questionados se
realizaram algum curso ou treinamento sobre amamentação, 38 (34,5%) responderam nunca ter participado, 29 (26,4%) participaram 1 vez, 20 (18,2%) participaram 2 vezes, 23 (20,9%) já participaram 3 vezes ou
mais de cursos desse tipo.
Para verificar se os profissionais entrevistados
orientam as gestantes durante o pré-natal em relação
ao aleitamento materno, foram feitas perguntas específicas, descritas na tabela 1. O conhecimento dos entrevistados em relação ao aleitamento materno foi avaliado por meio de questionário validado e encontra-se
representado na tabela 2.
Tabela 1: Orientação dos profissionais em relação ao aleitamento materno.
Perguntas
Nas consultas e pré-natal você fala em vantagens ou importância da amamentação?
Você orienta gestantes prestes a dar à luz sobre amamentação?
Em quase todos Em alguns
os encontros
encontros
85 (77,3%)
24 (21,4%)
Muito
raramente
1 (0,9%)
87 (79,1%)
2 (1,8%)
21 (19,1%)
Tabela 2: Conhecimento dos profissionais acerca do aleitamento materno.
Perguntas
Erraram
Acertaram
1.Cuidado com os seios após cada mamada
2.Tempo de troca de seio após cada mamada
3.Uso de chupetas na amamentação
4.Atitude em caso de ingurgitamento
5. Atitude em caso de não haver apojadura
6. Cuidado diário do seio
7. Tempo de amamentação
8. Em caso de mostras de diminuição da produção de leite
9. Em relação a composição do leite ao longo da mamada
10. Fatores que influenciam a amamentação
30(27,3%)
30(27.3%)
4(3,6%)
46(41,8%)
50(45,5%)
0
60(54,5%)
22(20%)
4(3,6%)
10(9,1%)
80(72,7%)
80(72,7%)
106(96,4%)
64(58,2%)
60(54,5)
110(100%)
50(45,5%)
88(80%)
106(96,45)
100(90,9%)
De acordo com Azeredo et al. (2008), a participação em capaci­tação sobre aleitamento materno por
parte dos integrantes da equipe de saúde é relativamente baixa, o que pode ter um impacto negativo no
166
cuidado materno-infantil. Entretanto, nesse estudo, a
maior parte dos profissionais participantes da pesquisa, 65,5%, relatou ter realizado curso de aperfeiçoamento nesta área. Apesar disso, a proporção dos que
Área - Ciências da Saúde
não receberam nenhum tipo de capacitação ainda é
grande. Caldeira et al (2007), em um estudo realizado
em Montes Claros, revelaram que a maioria dos entrevistados referiu nunca ter realizado capacitação específica sobre amamentação. Estes dados podem indicar uma melhora nesse aspecto, já que a necessidade
constante de atualização e de melhora do conhecimento é fundamental para um bom incentivo ao aleitamento.
Quanto ao conhecimento, os profissionais entrevistados tiveram desenvolvimento superior a 70% em
todos as perguntas relacionadas ao cuidado com o
seio, tempo de amamentação em cada seio, questões
que influenciam no aleitamento materno, queixas sobre diminuição do leite e composição do mesmo. Entretanto, tiveram desenvolvimento menor que 60% no
que diz respeito ao tempo de cada mamada, falta de
apojadura e em relação ao ingurgitamento. O bom desempenho dos profissionais no que diz respeito ao conhecimento acerca do aleitamento materno pode ser
comprovado por Caldeira et al (2007), que ressalta que,
muitas vezes, os profissionais de saúde têm o conhecimento teórico das vantagens do aleitamento materno.
Entretanto, o desempenho abaixo de 50% em relação
à técnica da amamentação e ao manejo dos principais
problemas da amamentação (ingurgitamento e fissura) mostra que esses profissionais não têm sustentação
científica para abordar questões mais complexas.
Frota et al (2009) afirma que, apesar do conhecimento materno em relação aos benefícios do leite mater­
no e da importância de amamentação exclusiva durante
os seis meses de vida, as mães vivenciam algumas dificuldades, nas quais se percebem contradições entre posicionamentos favoráveis e desfavoráveis, dúvidas e dificuldades à prática do aleitamento materno. Isso pode ser visto
nesta pesquisa ao observarmos que, apesar de muitos
profissionais incentivarem o aleitamento materno durante o pré-natal, o conhecimento deles e a transmissão deste
conhecimento não são uniformes para todos os profissionais.
Conclusões
O aleitamento materno é fundamental no desenvolvimento da criança e no binômio mãe e filho. O conhecimento acerca desse assunto deve
ser renovado e exercitado a todo momento pelas
mães para que as dúvidas sejam esclarecidas e não
interfiram no bom andamento dessa prática. Para
isso, é preciso informação desde o pré-natal, para
que, quando chegar o momento da amamentação,
ela seja feita de forma adequada. Os profissionais
da saúde devem caminhar junto com as mães para
esse objetivo.
Nesta pesquisa, notaram-se entre
os profissionais de saúde uma melhoria da capacitação dos profissionais em relação às pesquisas anteriores sobre o tema, e uma pequena melhora no
conhecimento dos profissionais sobre as práticas
de aleitamento materno. A carência de um conhecimento mais amplo das questões que envolvem o
aleitamento materno ainda existe, e devem ser elaboradas maneiras eficazes para saná-las. Apesar de
os profissionais informarem sobre a importância do
aleitamento materno e conhecerem bem sobre cuidados e técnicas com as mamas para as gestantes
durante o pré-natal, é necessário que tenham mais
firmeza e compreensão em relação a questões mais
complexas que surgem com o decorrer da prática
da amamentação, para que as mães sintam-se mais
seguras em cumprir com o objetivo da amamentação. Por isso, esta pesquisa contribui para mostrar
que os esforços, tanto pelos profissionais como pelo
governo, estão melhorando o quadro sobre o conhecimento dos profissionais de saúde em relação
à prática da amamentação embora ainda existam
algumas falhas que precisam ser mais trabalhadas e
expandidas.
Referências:
AZEREDO, C. M. et al. Percepção de mães e profissionais de saúde sobre o aleitamento materno: encontros e desencontros. Rev. Paul. Pediatr. Viçosa, v. 26, n. 4, p. 336-344, 2008.
BECKER, D. No seio da família: amamentação e promoção da saúde no progra­ma de saúde da família [tese
de mestrado]. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2001,
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pré-natalistas para a promoção do aleitamento materno. Revista Brasileira de Enfermagem, Porto Alegre, v. 63,
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CALDEIRA, A. P.; AGUIAR, G. N.; MAGALHÂES, W. A. C.; FAGUNDES, G. C. Conhecimentos e práticas de promoção do
167
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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CALDEIRA, A. P.; FAGUNDES, G. C.; AGUIAR, G. N. Intervenção educacional em equipes do Programa de Saúde da
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FONSECA, M. O. et al. Aleitamento materno: conhecimento de mães admitidas no alojamento conjunto de um
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FROTA, M. A. et al. Fatores que interferem no aleitamento materno. Rev. Rene. Fortaleza, v. 10, n. 3, p. 61-67, jul./
set., 2009.
168
Área - Ciências da Saúde
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA PRÉ- NATAL
NO ÂMBITO DA ES TR ATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Cristiano Leonardo de Oliveira Dias
Sônia Maria de Oliveira Barros
[email protected]
[email protected]
Introdução
A mortalidade materna é um bom indicador para
avaliar as condições de saúde de uma população.
Quando se analisam as condições em que e como morreram as mulheres, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento de uma sociedade. Razões de mortalidade
elevadas são indicativas de precárias condições socioeconômicas, escolaridade, dinâmicas familiares onde
impera a violência, sobretudo, na dificuldade de acesso
a serviços de saúde de boa qualidade, principalmente,
durante o ciclo gravídico-puerperal.
A importância da avaliação dos serviços de saúde é notória, assim como a discussão das políticas de
saúde e a praticabilidade dos serviços (COSTA; COTTA;
SIQUEIRA-BATISTA, 2006, p. 121-125). Nesse contexto, a
avaliação da assistência pré-natal ocupa importante espaço na atenção à saúde da população. As ações programáticas inerentes ao pré-natal permitem o acompanhamento durante o ciclo gravídico, o que torna
possível identificar situações de risco para o binômio
mãe-feto e permitem agir de forma precoce para que
se façam intervenções necessárias (MENDOZA-SASSI et
al., 2011, p. 787).
A assistência pré-natal norteada pela qualidade
tem como um dos seus objetivos primordiais minimizar a ocorrência de desfechos negativos, como crescimento uterino retardado, prematuridade, baixo peso
ao nascer, que impactam diretamente na mortalidade
infantil, indicador da condição de vida e saúde de uma
população (MENDOZA-SASSI et al., 2011, p. 787-796;
NASCIMENTO; PAIVA; RODRIGUES, 2007, p. 191.; BRASIL,
2006.; LANSKY;FRANÇA; LEAL, 2002, p. 759).
No contexto da Estratégia de Saúde da Família
(ESF), são atribuídos à equipe interdisciplinar a receptividade e o acolhimento aos usuários da atenção
primária, especialmente à mulher grávida. A atenção
direcionada à gravidez inclui a prevenção de doenças
e agravos, a promoção da saúde e o tratamento dos
problemas ocorridos durante o ciclo gravídico-puerperal, tanto na mulher quanto no recém-nascido (DUARTE; OLIVIERIA DE ANDRADE, 2006, p. 121; GONÇALVES
et al., 2008, p. 349). Norteada por estes pressupostos,
a ESF objetiva orientar e esclarecer sobre pré-natal,
parto e cuidados com o recém-nascido, visando à redução das taxas de morbimortalidade materno-infantil, visto que as causas são evitáveis e dependentes da
qualidade da assistência prestada durante a gestação
(BRASIL, 2000; SERRUYA; CECATTI; LAGO, 2004, p. 1281).
Objetivou-se analisar a assistência prestada no período gravídico pelos enfermeiros (as) e médicos (as) da
Estratégia de Saúde da Família de Montes Claros utilizando informações registradas nos cartões de pré-natal em consoante com o Programa de Humanização no
Pré-natal e Nascimento (PHPN).
Materiais e Métodos
Foi realizado um estudo observacional, transversal descritivo. Em um estudo transversal, todas as medições são feitas em único momento, sem período de
acompanhamento.
A coleta de dados ocorreu no Serviço de Obstetrícia do Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF),
hospital-escola da Universidade Estadual de Montes
Claros - Unimontes, localizado no município de Montes
Claros (MG), por ocasião da resolução da gravidez, no
período de janeiro de 2010 a junho de 2010.
A população do estudo foi constituída por 200
gestantes (cartões das gestantes) atendidas no serviço
de obstetrícia do referido hospital, por ocasião da resolução da gravidez. O critério de inclusão para análise
considerou as gestantes atendidas no serviço de obstetrícia do HUCF que tenham realizado a assistência prénatal exclusivamente na Estratégia de Saúde da Família
do município de Montes Claros (MG), cujo pré-natal tenha sido classificado como de risco habitual, segundo
classificação do Ministério da Saúde. As gestantes que
realizaram o pré-natal em Centros de Saúde ou consultórios particulares e cujo pré-natal tenha sido clas169
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
sificado como de alto risco segundo classificação do
Ministério da Saúde foram excluídas da coleta e análise
dos dados.
Elaborou-se um formulário baseado no Índice de
Kessner modificado, contemplando as variáveis do índice e associando às variáveis extraídas do PHPN. A
coleta de dados foi efetuada em forma de check-list a
partir das informações registradas no cartão da gestante, uma vez que este é o último meio de comunicação
entre as gestantes atendidas pelas equipes da Estratégia de Saúde da Família e profissionais da maternidade.
A partir dele, foi elaborada uma planilha do programa
Excel com base nas variáveis, posteriormente transferida para o programa Statistical Package for Social Science
(SPSS) 18.0.
Ressaltamos que todos os aspectos éticos e legais
preconizados pela Resolução nº 196/1996 do Conselho
Nacional de Saúde, a qual trata das diretrizes e normas
que regulamentam a realização de pesquisa envolvendo seres humanos, foram totalmente respeitados
durante a realização deste estudo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes (Parecer
consubstanciado nº 1075).
Resultados e Discussão
Na adequação do pré-natal, considerando os três
índices adotados, observa-se que 67,6% e 68,5% dos
pré-natais acompanhados por médicos (as) e enfermeiros (as), respectivamente, são classificados como adequados, sem o critério de inadequação para ambos os
grupos. Quando se aplica o teste Qui-quadrado com
nível de significância de 5%, não se constata diferença
estatisticamente significante entre os índices avaliados
para cada grupo, pois o teste não apresenta p-valor
menor que 0,05, conforme mostrado na Tabela 1.
Tabela 1: Classificação do Pré-Natal realizado por enfermeiros(as) e médicos(as) aplicando o Índice Kessner
modificado por Takeda, realizados na Estratégia de Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais,
Brasil, 2011.
adequado
Intermediário
Índice Kessner mais adequado
exames** laboratoIntermediário
riais
Inadequado
adequado
Índice Kessner mais
procedimentos*** rea- Intermediário
lizados no pré-natal Inadequado
Índice Kessner
Profissionais que registram os dados no cartão pré-natal
Médico (a)
Enfermeiro (a)
n
%
n
%
75
67,6%
61
68,5%
36
32,4%
28
31,5%
74
66,7%
60
67,4%
36
32,4%
27
30,3%
1
0,9%
2
2,2%
74
66,7%
60
67,4%
36
32,4%
28
31,5%
1
0,9%
1
1,1%
p-valor*
0,884
0,715
0,979
* Valor de p estatisticamente significante: p<0,05
**Exames laboratoriais de rotina segundo os indicadores do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do Ministério da Saúde
***Procedimentos de rotina realizados durante o pré-natal no município de Montes Claros (MG)
A Tabela 2 apresenta resultados obtidos pela avaliação do Índice de Kessner modificado, separadamente para cada pré-natalistas. Desta forma, o pré-natal
realizado pelo (a) médico(a) apresentou-se adequado
em 67,6% para o Índice Kessner, 66,7% para o mesmo
índice, adicionados exames laboratoriais e procedimentos realizados durante o pré-natal; para os outros
critérios, os valores apresentam-se semelhantes, nos
quais não se constatou diferença estatisticamente significante entre os critérios de adequação estabeleci-
170
dos de acordo com p-valor menor que 0,05. O mesmo
acontece com os resultados apresentados para os critérios de adequação do pré-natal assistido pelo(a) enfermeiro(a), com 67,4 % classificados como adequados
para o Índice Kessner, adicionados os exames laboratoriais e procedimentos realizados durante o pré-natal; e
68,5% classificados como adequados para o Índice Kessner com mesmo resultado de significância estatística
adotada.
Área - Ciências da Saúde
Tabela 2: Classificação do Pré-Natal realizado por enfermeiros(as) e médicos(as) aplicando o Índice Kessner
modificado por Takeda, por grupos específicos na Estratégia de Saúde da Família no município de Montes Claros,
Minas Gerais, Brasil, 2011.
Médico(a)
Índice Kessner
Índice Kessner mais
exames** laboratoriais
adequado
Intermediário
Inadequado
n
75
36
0
n
74
36
1
%
67,6%
32,4%
0%
%
66,7%
32,4%
,9%
Índice Kessner mais
procedimentos***
p-valor*
realizados no pré-natal
n
%
74
66,7%
36
32,4%
0,368
1
0,9%
Enfermeiro (a)
Índice Kessner
n
adequado
61
Intermediário 28
Inadequado
0
%
68,5%
31,5%
0%
Índice Kessner mais
exames laboratoriais
n
60
27
2
%
67,4%
30,3%
2,2%
Índice Kessner mais
procedimentos
p-valor
realizados no pré-natal
n
%
60
67,4%
28
31,5%
0,223
1
1,1%
* Valor de p estatisticamente significante: p<0,05
**Exames laboratoriais de rotina segundo os indicadores do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do Ministério da Saúde
***Procedimentos de rotina realizados durante o pré-natal no município de Montes Claros (MG)
Conclusões
Quanto à adequacão do pré-natal realizado por
enfermeiros(as) e médicos(as), tendo em vista identificar a semelhança entre os grupos estudados estatisticamente significantes, constatou-se que não houve
diferenças de adequação do pré-natal entre os grupos
estudados. Ressalte-se que, dentre os resultados obtidos pela avaliacão dos três Índices de Kessner (Kessner
Modificado) (TAKEDA, 1993), a inadequacão não está
presente nos dois grupos, considerando-se apenas o
Índice Kessner; ficou evidente que a classificacão foi semelhante não importando o índice.
Foi possível, ainda, por meio deste estudo, verificar
a existência de uma homogeneidade entre assistência
realizada por enfermeiros(as) e médicos(as), na qual se
constata que as gestantes iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre de gestação e realizaram número de
consultas superiores ao preconizado pelo Ministério da
Saúde, tendo acesso aos exames laboratoriais preconizados pelo PHPN; além disso, os procedimentos técnicos estão presentes durante a assistência prestada.
Salienta-se que, ao avaliar o serviço de assistência
ao pré-natal, o estudo não teve como objetivo avaliar a
estrutura, mas, sim, o processo e o resultado como propõe Donabedian (DONABEDIAN, 1988). Dessa forma,
não se pode negar a necessidade de avaliar a inter-relação e interdependência entre todos os componentes
como estrutura, processo e resultado, por meio de estudos específicos.
Referências
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Pré-Natal e Puerpério Atenção Qualificada e Humanizada. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
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COSTA, G. D.; COTTA, R. M. M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Avaliação do cuidado da gestante no contexto do Programa
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DUARTE, S. J. H.; OLIVEIRA DE ANDRADE, S. M. Assistência Pré-Natal no Programa de Saúde da Família. Escola
Anna Nery. Revista de Enfermagem. v. 10, n. 1, p. 121-125, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em
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LANSKY, S.; FRANCA, E.; LEAL, M. C. Mortalidade perinatal e evitabilidade: revisão da literatura. Rev. Saúde Pública. v. 6, n. 36, p. 759-772, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br Acesso em 11 jun 2009.
MENDOZA-SASSI, R. A.; CESAR, J. A.; TEIXEIRA, T. P.; RAVACHE, C.; ARAÚJO, G. D.; SILVA, T. C. Diferenças no processo
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SERRUYA, S. J.; CECATTI, J. G.; LAGO, T. G. O Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) do Ministério da Saúde no Brasil: resultados iniciais. Cad Saúde Pública. v. 20, n. 5, p. 1281-1289, 2004.
TAKEDA, S. Avaliação de unidade de atenção primária: modificação dos indicadores de saúde e qualidade da atenção. Dissertação. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas; 1993.
172
Área - Ciências da Saúde
ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO PL ANE JAMENTO
FAMILIAR: UM REL ATO DE E XPERIÊNCIA
Mariany Santos Cardoso
Sarah Martins Souza
Luciana Leite Pinheiro Gomes
Lyssa Esteves Souza Souto
Bruna Mariane Nogueira Ruas
Fabíola Afonso Fagundes Pereira
[email protected]
Introdução
O planejamento familiar consiste em um conjunto de ações que visa expandir o acesso das mulheres,
homens e casais às informações sobre os métodos anticonceptivos e a técnica de utilização dos mesmos,
além de prevenir a gravidez indesejada e os abortamentos que levam muitas mulheres ao processo de
adoecimento, resultando em tratamentos de alto custo, causando com isto um impacto na economia do
país (BRASIL, 2002).
A assistência em planejamento familiar é proporcionada atualmente no Brasil pelas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), um modelo de política
pública de saúde que oferece proposta de trabalho em
equipe, e corresponde a uma das sete áreas prioritárias
de intervenção na atenção básica (MOURA et al., 2007).
Essa assistência procura levar de forma educativa, interativa e dinâmica, conhecimentos e informações, que
possibilitem um processo contínuo de descobertas,
visando à melhoria na qualidade de vida das famílias
contempladas. Prevê também a liberdade de escolha,
a utilização voluntária e responsável de métodos anticonceptivos por parte do casal, conforme orientações
do Ministério da Saúde. Inclui também a estratégia de
acolhimento, educação em saúde, acompanhamento
dos usuários e o relacionamento interpessoal, consultas médicas e de enfermagem e a prescrição do método anticonceptivo (BRASIL, 1996).
Ao visualizar o papel do enfermeiro, observa-se a
importância de suas ações na implantação e manutenção das políticas nas ESF’s. O enfermeiro é considerado
um agente provedor das políticas e programas voltados para a saúde da população, é articulador das informações de enfermagem, em geral possui facilidade de
comunicação e interação com cliente, família e a comunidade, desenvolvendo práticas alicerçadas na proposta da ESF. Assim, verifica-se que o exercício profissional
da Enfermagem, regulamentado na lei nº 7.498/86,
confere atribuições privativas ao enfermeiro como, planejamento e a programação das instituições e serviços
de saúde incluem planejamento e programação de enfermagem; prescrição da assistência de enfermagem;
cuidados de enfermagem; planejamento, organização,
coordenação, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem. E como integrante da equipe
de saúde, dentre as ações desenvolvidas, é permitida a
prescrição de medicamentos, desde que estabelecidos
em programas de saúde pública e em rotina aprovada
pela instituição de saúde (CONFEN, 1986; MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2007).
Em Montes Claros, existe um protocolo de assistência à saúde na Atenção Básica do município
que normatiza as ações a serem desenvolvidas pelo
profissional enfermeiro, enquanto profissional inserido nas unidades de saúde, possibilitando maior
autonomia durante as consultas de enfermagem na
assistência à população em geral, incluindo assim as
ações no planejamento familiar.
Essa assistência ao planejamento familiar foi vivenciada durante as atividades práticas da disciplina do 4º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES), que previa a integração da comunidade universitária com as famílias atendidas pela ESF,
na prestação de assistência de enfermagem, realizando a consulta e aplicando a Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) à mulher em relação à saúde sexual e reprodutiva e prestando assistência de enfermagem ao Planejamento Familiar.
Este estudo teve como objetivo relatar as experiências acadêmicas sobre a assistência de enfermagem no planejamento familiar aplicada à comunidade
assistida por uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) em Montes Claros - MG.
173
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e Métodos
Estudo descritivo, tipo relato de experiência, realizado durante o estágio curricular de Atividades Práticas em Atenção Primária à Saúde, pelas acadêmicas do
4º período do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Estadual de Montes Claros, sobre a assistência de enfermagem no Planejamento Familiar aplicada à comunidade assistida por uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) em Montes Claros - MG. O
estágio ocorreu no período de 10/09/2013 a 13/11/2013
e dentre as atividades propostas, foi prevista a realização de uma educação em saúde sobre planejamento
familiar, bem como a realização da consulta de enfer-
magem individual para os participantes do grupo da
educação em saúde. Para o desenvolvimento da educação em saúde, inicialmente buscaram-se na literatura
informações sobre o tema a fim de um melhor aprendizado e, em seguida, planejou-se como seria realizada, considerando a realidade e demanda local. Foram
divulgados na comunidade a data e horário da reunião
através de um cartaz na unidade de saúde e distribuídos vários convites individuais. Foi realizada no dia 31
de outubro de 2013 na parte da tarde, utilizando datashow, vídeo, caixa de perguntas e houve a participação de 5 mulheres da comunidade.
Resultados e Discussão
A reunião educativa sobre o planejamento familiar teve início com a apresentação dos acadêmicos do
4º período do curso de graduação em Enfermagem da
UNIMONTES, juntamente com a preceptora de campo,
e em seguida pelo grupo das participantes, composto
por cinco mulheres, dentre as quais 4 (quatro) casadas
e 1 (uma) solteira. A idade das casadas era de 22 a 35
anos e a solteira, 17 anos, as casadas duas tinham dois
filhos, uma tinha 4 filhos e a outra não tinha filhos; a
solteira também não tinha filhos. A reunião teve uma
duração de 50 minutos e o atendimento individual das
participantes durou em média 30 minutos.
Segundo o protocolo da assistência de Montes
Claros, a prática educativa do planejamento familiar
deveria ser realizada em duas etapas, com datas diferentes, sendo a primeira etapa seria realizada por um
profissional da equipe multiprofissional formada por:
psicólogo, médico ou enfermeiro e deveria abordar os
temas como: anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e masculino, sexualidade e reprodução humana. Já a segunda etapa deveria ser realizada
pelo médico ou enfermeiro quando seria feita a apresentação dos métodos contraceptivos e discussão dos
mesmos. Ao final do planejamento familiar, há entrega
de um certificado que tem validade de um ano. Após
o vencimento deste, o usuário deve renovar o planejamento familiar, participando apenas da segunda reunião sobre os métodos contraceptivos quando receberá outro certificado atualizado (DIONÍSIO et al., 2006).
No entanto, devido à baixa ou a não adesão da população em comparecer às duas reuniões, as duas etapas
são realizadas em um único dia.
As mulheres foram orientadas quanto ao modo
de uso e a eficácia de cada método, à assistência especializada e acesso aos recursos que permitam a
elas optarem livre e conscientemente por ter ou não
filhos, o número, o espaçamento entre eles e a escolha do método anticoncepcional mais adequado, sem
coação.
174
Em se tratando de planejamento familiar, as atividades de informação são extremamente relevantes,
diríamos indispensáveis, ao alcance dos objetivos de
serviços e usuários, exigindo da equipe de enfermagem atitude de empenharem-se em bem informar
para que a clientela conheça as alternativas de concepção e anticoncepção disponíveis e, assim, possam
participar ativamente da definição e do alcance de
suas metas reprodutivas. (MOURA e SILVA, 2004). Coube salientar que não há um método de contracepção
ideal, que todos têm vantagens e desvantagens e por
isso é preciso, através desta orientação profissional,
conhecer bem todos os métodos, a fim de saber qual
o mais conveniente, de modo que o mais aconselhável será aquele que não tenha tantas contraindicações ao seu uso.Para tratar do assunto, procurou-se
desenvolvê-lo com maior naturalidade possível, levando em conta que para falar em Planejamento Familiar, a questão da sexualidade vem à tona, sendo
este um assunto considerado ainda muito constrangedor dentro de muitas famílias.
Findando as explanações, através de uma dinâmica, as participantes puderam expor suas dificuldades sobre o tema, onde foi aplicada uma caixa de
sugestões, a fim de relatarem suas principais dúvidas.
Porém, foi observado que a utilização da mesma não
seria necessária, uma vez que as dúvidas foram surgindo de forma oral, sendo estas sanadas com sucesso. A partir dessa técnica, foi possível identificar os
conhecimentos que as integrantes do grupo tinham
sobre os métodos apresentados.
Durante a reunião, observou-se que as mulheres
estavam atentas e interessadas em esclarecer dúvidas
sobre informações que as mesmas tinham sobre a veracidade da eficácia dos métodos e prejuízos causados
pelos mesmos, mitos em relação ao uso de alguns métodos contraceptivos, entre eles o Dispositivo Intra Uterino
(DIU) sendo o vilão da história. Elas mostraram interesse
e se envolveram com a exposição de alguns dos méto-
Área - Ciências da Saúde
dos contraceptivos como o uso do DIU, anel vaginal e o
diafragma. Nessa experiência acadêmica, foi de muita
valia a atenção das mesmas, uma vez que se criou um
sentimento de valorização em poder contribuir para o
conhecimento das mulheres que participaram do planejamento.
Foi perceptível a curiosidade e interesse das integrantes, porém ainda existe uma grande barreira
por parte delas para a abordagem do tema, seja por
timidez, medo, preconceito, dentre outras questões.
Ao término da atividade educativa, foi entregue uma
cartilha a cada participante a qual continha informações sobre os diversos tipos de métodos contraceptivos e ressaltando a disponibilidade dos métodos e
de profissionais da saúde dispostos a atendê-las na
Estratégia Saúde da Família do bairro, encorajando-as a procurar o serviço sempre que necessário.
Disponibilizou-se o certificado de participação do
planejamento familiar às participantes que optaram pela inserção do DIU. A consulta individual de
enfermagem ocorreu logo após a finalização da reunião educativa, por opção das próprias participantes. Essa avaliação clínica, seguida da orientação de
todos os métodos, é de grande importância, pois a
oferta de anticoncepcionais deve ser livre, porém,
esclarecida e aconselhada. Desse modo, os clientes devem saber quais os métodos que podem usar
e quais não podem; a escolha pelos mesmos deve
ocorrer de acordo com características, necessidades
e condições de vida de cada mulher (MOURA, 2003).
O Ministério da Saúde também determina dentro
das funções do enfermeiro na prestação da assistência em planejamento familiar fornecer o método
anticoncepcional de acordo com a rotina do serviço
(BRASIL, 2002).
Conforme a Lei do Exercício Profissional (Lei nº.
7.498), de 25 de junho de 1986, regulamentada pelo
Decreto nº. 94.406, de 8 de junho de 1987, compete
ao enfermeiro realizar a “prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública
e em rotina aprovada pela instituição de saúde”. No
planejamento familiar, a enfermeira faz orientação
individual, consulta de enfermagem com prescrição
de métodos, prevenção de câncer de colo e mamas, atende retornos e revisões de DIU, laqueadura
e de outros métodos. O Ministério de Saúde ainda
salienta que, ao realizar o atendimento individual
de mulheres, a enfermeira fornece-lhes o método
escolhido (pílula ou preservativo); faz a revisão de
DIU; coleta material para prevenção de câncer do
colo de útero, orienta sobre a importância do controle (BRASIL, 1986). Em Montes Claros, no entanto,
a essa assistência no Planejamento Familiar compete
ao enfermeiro, além da consulta de enfermagem, a
prescrição dos métodos anticoncepcionais hormonais orais, como a pílulas combinadas, monofásicas e
trifásicas, a minipílula, a contracepção de emergência, o condom, geleia espermicida e o diafragma. E
no caso de anticoncepção na adolescência apenas a
prescrição do condom. Já a prescrição de métodos
anticoncepcionais hormonais injetáveis e o DIU não
são permitidos (DIONÍSIO et al., 2006).
Durante a consulta individual, foi prescrito para
as mulheres, de acordo com cada caso, uso de anticoncepcional oral e de barreira usando como apoio
o Instrumento “Critérios Médicos de elegibilidade”
do Manual Global para Profissional de saúde, o que
permite definir com segurança o uso do método
através de critérios clínicos que contraindicam indicam o uso (OMS, 2007). Houve ainda mulheres que
optaram pela inserção do DIU e o hormônio injetável, sendo encaminhadas para a avaliação médica
na ESF, em outro momento. Todas foram orientadas
quanto à dupla proteção, pois teriam direito e acesso ao condom, se assim o desejassem, para prevenir contra as doenças sexualmente transmissíveis. À
prescrição do método levou-se em conta a escolha
da cliente, os critérios clínicos de elegibilidade do
método e as normatizações protocoladas na instituição. Aproveitou-se o momento ainda para orientar e
encaminhar para a prevenção de câncer de colo uterino e mama.
Conclusões
A cada pessoa atendida, principalmente a cada
mulher, percebemos a relevância e a importância
de levar a informação e contribuir, de alguma forma,
com sua autonomia. Mesmo sendo um lento processo, essa foi a forma que encontramos, de buscar a
igualdade nas relações através do empoderamento
feminino; e o aprendizado para trabalhar as particularidades dos indivíduos, uma vez que valoriza, anima e
motiva a comunidade assistida, embora não se pôde
obter a participação de toda a população, mas os que
participaram demonstraram ter apreciado cada co-
nhecimento compartilhado. Enquanto acadêmicas e
palestrantes, nos sentimo-nos muito motivadas com
a atividade, devido à necessidade de transmitirmos
um conhecimento útil e obtermos o reconhecimento
compartilhado sobre a temática com os envolvidos
que nos acompanharam.
Logo, essa junção colabora para fortalecer e estabelecer o vínculo entre instituição e usuários, favorecendo a organização da assistência prestada ao paciente, melhorando a qualidade dos serviços.
175
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
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176
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DA QUALIDADE DA ATENÇ ÃO PRIMÁRIA
À SAÚDE NA PERSPEC TIVA DOS ENFERMEIROS
Patrycya Yhanny de Souza Assis
Cássio de Almeida Lima
Laura Mota Marinho
Luana Castro Caetite
Claudia Danyella Alves Leão
[email protected]
Introdução
Desde a Conferência Internacional de cuidados
primários em saúde, na cidade de Alma Ata (1978), a
Atenção Primária à Saúde (APS) se consolidou como
uma das formas mais eficientes e equitativas de se organizar os serviços de saúde e se fortalece, no Brasil,
como eixo estruturante dos sistemas de saúde municipais, se apresentando-se nas mais diferentes formas e concepções, segundo as diversidades culturais,
ambientais e territoriais do país (CHOMATAS, 2008).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as
experiências desenvolvidas desde Alma-Ata modificaram a perspectiva dos movimentos em prol da APS.
O papel dos prestadores de Atenção Primária como
coordenadora do acesso aos demais níveis envolve responsabilização pela saúde da população e reconhece a
essencialidade das funções exercidas pelas equipes de
saúde (COHEN et al., 2004).Em 1992, em uma releitura
da Carta de Alma Ata, Starfield define atributos que
vão caracterizar um serviço quanto à orientação para a
APS. Dessa forma, a APS possui como atributos a acessibilidade, a longitudinalidade, a integralidade da atenção e a coordenação da assistência centrada na família
e na comunidade (STARFIELD; XU; SHI, 2001).
Para alguns autores, é o grau de comprometimento do sistema e dos serviços de saúde com os
princípios da APS que asseguram maior efetividade da
atenção oferecida (MACINKO; HARZHEIM, 2007). Um
sistema de saúde com forte referencial na APS é mais
efetivo, mais satisfatório para a população, tem menores custos e é mais equitativo, mesmo em contextos
de grande iniquidade social (HARZHEIM; STEIN; ÁLVAREZ-DARDET, 2004). Os atributos, conforme Chomatas
(2008), estão relacionados com pesquisas internacionais quanto à equidade e efetividade da atenção à saúde. Essa operacionalização do conceito permite identificar o grau de orientação da APS, comparar os tipos de
serviços e a associação entre a presença dos atributos
e a efetividade da atenção tanto em nível individual
como populacional. Dessa forma, a avaliação da APS
oferece resultados que podem ser aplicados na melhoria da qualidade dos cuidados de saúde. Nesse contexto, este estudo teve como objetivos avaliar a qualidade
da atenção à saúde por meio dos atributos essenciais
da APS e caracterizar os enfermeiros da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Montes Claros – MG, Brasil.
Materiais e Métodos
O presente estudo seguiu um delineamento transversal, quantitativo, exploratório e descritivo. Foi realizado no município de Montes Claros, localizado na região Norte do Estado de Minas Gerais, com população
local de 361.915 habitantes. No período da coleta de
dados, foi identificada na cidade uma rede de serviços
de Atenção Primária dotada de 15 Centros de Saúde
(Zona Urbana), 08 equipes de Estratégia de Agentes
Comunitários de Saúde (EACS), 23 equipes daESF e 42
equipes de Estratégia Saúde da Família com Saúde Bucal (ESFSB).Foram incluídas apenas as equipes de saúde
localizadas na zona urbana, por limitações logísticas, e
as que estavam em funcionamento por no mínimo há
um ano do início da coleta de dados. Foram utilizados
como critérios de inclusão os profissionais de saúde
presentes no Cadastro Nacional de Estabelecimento de
Saúde (CNES) e que aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido; e como critério de exclusão os profissionais que não estavam cadastrados no
CNES e que não aceitaram, por livre arbítrio, participar
do estudo.
A amostra deste estudo foi composta pelos profissionais enfermeiros que compunham as equipes da
ESF de Montes Claros. Foi realizada uma pesquisa censitária, ou seja, com o universo de sujeitos, totalizando
56 enfermeiros, uma vez que houve a perda de entre177
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
vistas devido à recusa de profissionais em participar da
pesquisa e à falta de enfermeiros contratados que formavam uma equipe completa.
A coleta de dados ocorreu do mês de novembro
de 2011 a maio de 2012 por pesquisadores previamente treinados. Como instrumentos de coleta de dados,
foram utilizados um questionário para descrever o
perfil do enfermeiro e o PCATool, criado por Starfield e
validado no Brasil por Haezheim et al. (2006). Esse instrumento afere a presença e a extensão dos 4 atributos
essenciais e dos 2 atributos derivados da APS e se baseia na mensuração de aspectos de estrutura, processo
e resultados dos serviços de saúde. É composto por 77
itens divididos em 8 componentes da seguinte maneira em relação aos atributos da APS: 9 para a acessibilidade, 13 para longitudinalidade, 6 para coordenação
– integração de cuidados, 3 para coordenação – sistema de informações, 22 para integralidade – serviços
disponíveis, 15 para integralidade – serviços prestados,
3 para orientação familiar e 6 para orientação comunitária. As respostas são do tipo Likert, com intervalo de
um a quatro para cada atributo. No entanto, foi aplicada somente uma parte do questionário, referente aos
atributos essenciais da APS: acessibilidade, longitudina-
lidade, coordenação e integralidade.
Os dados foram processados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 16.0
for Windows, que viabilizou a análise descritiva. Para
aferição da qualidade da APS foram calculados os escores de cada atributo e o escore essencial - obtido pela
média dos atributos essenciais e do grau de afiliação.
Após a consolidação dos dados relativos a cada atributo, os valores foram transformados em uma escala contínua. Valores maior ou igual 6,6 foram considerados
altos escores e equivalem a um ajustamento dos escores apontados na escala de Likert original a uma escala
entre zero e 10, para cada um dos atributos avaliados.
Valores menores ou iguais a 6,6 foram considerados
baixos.
O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de
Montes Claros (UNIMONTES), que emitiu o Parecer
Consubstanciado n° 2968/2011. À Gerência da Secretaria Municipal de Saúde também foi solicitada e obtida
autorização para a realização desta pesquisa. Antecedendo a aplicação dos questionários, os participantes
do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
Resultados e Discussão
Verificou-se que a maioria dos entrevistados era
do sexo feminino (80,4%; 45), com idade média de
28,79 anos e desvio padrão de 3,93. Com relação à
equipe de saúde da família, 50% (n=28) dos enfermeiros responderam que trabalhavam em equipe completa e os outros 50% (n=28) afirmaram fazer parte de
uma equipe incompleta. Quanto à variável qualificação
do profissional, 62,5% (n=35) dos enfermeiros afirmaram possuir especialização em Saúde da Família, seguidos de 14,3% (n=8) com Residência Multiprofissional
em Saúde da Família e 14,3% (n=8) com outra especialização. Somente 5,4% (n=3) dos entrevistados relataram não possuir nenhuma especialização. No que se
refere ao treinamento para atuar na ESF, 64,3% (n=36)
dos profissionais não receberam o treinamento introdutório que deve ser disponibilizado pela Secretaria
Municipal de Saúde. Somente 35,7% (n=20) receberam
esse treinamento. Verificou-se também que a maioria
dos enfermeiros não trabalha em outros locais, representando 64,3% (n=36) da amostra. O tempo médio de
serviço na mesma equipe foi de 3 anos.
No tocante ao perfil dos participantes deste estudo, em relação ao sexo, é perceptível a predominância do sexo feminino, não se diferenciando do que se
verificou em algumas pesquisas (SANTOS; SOARES;
CAMPOS, 2007; GONÇALVES et al., 2014). Os resultados
desses estudos revelam a feminização das profissões
como uma tendência do trabalho em saúde e dos profissionais da ESF. No entanto, embora a enfermagem
figure como predominante­mente feminina, a quan178
tidade de homens parece estar aumentando nessa
profissão (GONÇALVES et al., 2014). A maioria dos enfermeiros possui Especialização em Saúde da Família,
seguida da Residência em Saúde da Família, diferentemente do estudo realizado por Escorell et al. (2007),
no qual constataram que a formação específica dos
profissionais de nível superior das equipes para atuação na APS foi baixa. Em seis municípios pesquisados,
o percentual de profissionais de nível superior com especialização nas áreas de saúde pública e coletiva ou
com formação voltada para a saúde da família foi inferior a 30%.
Em estudo realizado na cidade de Teixeiras, com
relação ao treinamento introdutório oferecido pela
Secretaria Municipal de Saúde, os profissionais de nível superior relataram não receber qualquer tipo de
treinamento ou capacitação, discordando da presente
pesquisa, na qual 35,7% dos entrevistados receberam
tal treinamento (COTTA et al., 2006). Embora o treinamento introdutório seja apontado como um fator facilitador para o trabalho, uma vez que a capacitação
dos profissionais é de relevância para o aprendizado e
aperfeiçoamento das relações sociais no cotidiano do
serviço de saúde, em decorrência do contato com o
usuário no atendimento e da necessidade de trabalhar
em grupo (COTTA et al., 2006), grande parte dos profissionais deste estudo não recebeu tal capacitação.
Quanto ao tempo médio de serviço, foi identificado um tempo de 3 anos na mesma equipe de ESF,
concordando com pesquisa realizada por Rocha et al.
Área - Ciências da Saúde
(2009) na cidade de Goiânia - GO, no ano de 2007, cujo
objetivo foi caracterizar o perfil profissional dos enfermeiros da ESF que atuaram na coordenação da equipe,
verificando-se que 46,8% (n=44) dos 10 enfermeiros
atuaram na área entre 5 - 7 anos. Porém, a maioria, 55
(58,5%), estava entre 2 e 4 anos na equipe atual. Estudo semelhante, realizado em João Pessoa - PB, mostrou
que 7 anos era o tempo máximo de trabalho dos enfer-
meiros na ESF (TAVARES; SANTOS, 2006) discordando
da realidade aqui detectada.
Na TAB. 1 observa-se que as médias dos escores
dos atributos da APS expressam valores satisfatórios
(≥6,6) para os atributos da longitudinalidade, coordenação, integralidade e integralidade. Os atributos
primeiro contato e coordenação não atingiram os valores desejados.
Tabela 1 – Média dos escores dos atributos da APS, segundo os enfermeiros. Montes Claros(MG), 2012.
Atributos da APS
ESF - Média (DP)
Primeiro Contato
6,30
Longitudinalidade
7,15
Coordenação - Integração de Cuidados
6,41
Coordenação – Sistemas de Informações
8,49
Integralidade – Serviços Disponíveis
7,56
Integralidade – Serviços Prestados
8,5
Essencial
7,08
Fonte: Elaboração Própria.
No que tange aos escores de cada atributo da
APS na ESF em estudo, na análise da acessibilidade,
os resultados apontaram para as dificuldades e barreiras de acesso rápido aos serviços de APS. Embora
as unidades de APS devessem ser acessíveis aos pacientes em horários fora do atendimento normal das
Unidades de Saúde, com períodos noturnos e finais
de semana, e facilitar, assim, o acesso aos serviços de
saúde como porta de entrada preferencial, os resultados ainda revelam dificuldades consideráveis. Tal
realidade pode ter como consequência o redirecionamento da demanda para unidades que trabalham
com pronto-atendimento. Em um estudo realizado
com o objetivo de investigar a presença e a extensão dos atributos da APS no município de Curitiba,
foi encontrado também um baixo escore médio para
a acessibilidade (CHOMATAS, 2008).Quanto à integralidade das ações, que implica que as unidades de
ESF devem promover arranjos para que o usuário receba todos os tipos de serviços de atenção à saúde,
mesmo que alguns não possam ser oferecidos dentro dela (STARFIELD, 2004), são necessárias mudanças efetivas no modelo assistencial de saúde no país,
uma vez que a dimensão das ações de promoção e
prevenção recebidas deve estar realmente sendo
executada pelos serviços de saúde (CAMPOS, 2003).
Conclusões
O presente estudo permitiu avaliar a atenção
prestada pela ESF na perspectiva dos enfermeiros,
evidenciando o seu perfil e uma avaliação satisfatória. Por outro lado, ocorre ainda uma dificuldade de
acesso ao atendimento da unidade. Dessa forma, devem ser tomadas medidas de melhorias em relação à
acessibilidade, tanto por parte das equipes de saúde
da família quanto pelos gestores. Verifica-se, assim,
a importância de estudos consistentes para a construção de subsídios para o fortalecimento e avanço
da APS. Ademais, a investigação identificou o contexto laboral e a perspectiva dos enfermeiros, profissionais que vêm demonstrando relevante imersão
na busca da concretização dos atributos da APS e
princípios da ESF, contribuindo para a melhoria da
qualidade dos cuidados prestados no panorama do
SUS. Nesse contexto, os resultados obtidos podem
colaborar para a atuação dos gestores da saúde e
oportunizar subsídios para avanços na qualidade da
atenção à saúde.
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179
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180
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DO CONHECIMENTO DAS MULHERES
DE MONTES CL AROS ACERC A DO ALEITAMENTO
MATERNO
Nicole Georges Lambrakos
Alana Gonçalves Brandão Venturini
Kamilla Silva Bispo
Renato Martins Tolentino
[email protected]
Resumo
A amamentação representa algo natural e constitui a melhor forma de alimentar, proteger e amar o lactente.
O uso do leite materno para recém-nascidos e lactentes leva a maiores índices de inteligência, acuidade visual
além do valor nutricional e imunológico do leite materno. O objetivo geral é verificar o nível de conhecimento das
mulheres de Montes Claros-MG sobre o aleitamento materno.Trata-se de um estudo descritivo com abordagem
quantitativa de caráter exploratório. Foi por amostra de conveniência, sendo entrevistadas 159 mulheres frequentadoras do NASPP e ESF’s de Montes Claros- MG. Os resultados da pesquisa sobre o tempo de amamentação se
mostraram satisfatórios, visto que 57,23% realizaram a amamentação exclusiva por mais de seis meses. 91,19%
declararam ter conhecimento sobre os benefícios do aleitamento materno para o bebê; 8,81% responderam que
não possuíam este conhecimento. Conclui-se que o aleitamento materno depende de fatores que podem influir
positiva ou negativamente no seu sucesso e relacionam-se à mãe, como escolaridade, renda, personalidade e sua
atitude frente à situação de amamentar; outros se referem à criança, ao ambiente e a fatores circunstanciais. O
desmame precoce tem sido um fato comum detectado em nossa realidade e confirmado por esta pesquisa.
Palavras-chaves: amamentação materna, Montes Claros, mulheres, aleitamento.
Introdução
O ato de amamentar representa algo natural e
constitui a melhor forma de alimentar, proteger e amar
o lactente. As vantagens da amamentação são hoje reconhecidas, comprovadas e justificadas cientificamente. O uso do leite materno para recém-nascidos e lactentes leva a maiores índices de inteligência, acuidade
visual, além do valor nutricional e imunológico do leite
materno. São inúmeras as consequências do não aleitamento materno, consequências fisiológicas, anatômicas e emocionais que levam à maior morbimortalidade
de bebês.
O objetivo geral foiavaliar o nível de conhecimento das mulheres de Montes Claros-MG sobre o
aleitamento materno, bem como verificar o perfil das
mulheres que já praticaram o aleitamento materno;
identificar o tempo de duração do aleitamento materno; determinar os fatores que levaram ao desmame
precoce ou a não prática do aleitamento materno; analisar o nível de instrução e a motivação das mulheres
quanto ao aleitamento materno.
Método
É um estudo descritivo com abordagem quantitativa de caráter exploratório.
Amostra
O presente estudo teve como universo de pesquisa mulheres frequentadoras do NASPP (Núcleo de
Atenção à Saúde e Práticas Profissionalizantes) e das
ESFs (Estratégia de Saúde da Família), locais de atuação
181
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
dos estudantes das FIP-Moc.Este estudo foi por amostra de conveniência, sendo entrevistadas 159 mulheres.
As entrevistas foram realizadas pelos pesquisadores.
Informações sobre a proposta da pesquisa foram da-
das às entrevistadas para que tivessem condições de
optar ou não pela participação na pesquisa e assinar o
termo de consentimento livre e esclarecido.
Instrumentos
Para obtenção dos dados, foi utilizado um formulário estruturado com 34questões norteadoras. Os da-
dos foram obtidos a partir de uma entrevista.
Procedimentos
Inicialmente o projeto de pesquisa foi submetido e posteriormente aprovado pelo CEP FIP-Moc (Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas
Pitágoras). Após a coleta, os dados foram analisados
e interpretados, estabelecendo-se uma análise entre
os dados obtidos e a literatura. Posteriormente foram
apresentados graficamente.
Resultados
Foram entrevistadas através deste estudo 159 mulheres, e constatou-se, na distribuição por faixa etária,
que o grupo abaixo de 20 anos representou 3,77% (n
= 6 mulheres) das entrevistadas; o grupo entre 20 e 25
anos representou 8,18% (n = 13 mulheres); o grupo entre 25 e 30 anos representou 19,50% (n = 31mulheres);
e que a maioria encontrou-se no grupo de acima de 30
anos com 68,55% (n = 109 mulheres).
Em relação ao período de amamentação exclusiva
do último filho, 22,6% (n=36 mulheres) das entrevistadas amamentaram menos que 3 meses; 20,1% (n=32
mulheres) entre 3 e 5 meses; 33,9% (n=54 mulheres)
entre 5 e 7 meses; e 23,2% (n=37 mulheres) acima de 7
meses.
No estudo, das 159 mulheres entrevistadas, 91,19%
(145) declararam ter conhecimento sobre os benefícios
do aleitamento materno para o bebê; 8,81% (14) responderam que não possuíam este conhecimento.
Discussão
Clonclui-se que a grande maioria das mulheres
tem conhecimento sobre a importância do aleitamento materno assim como demonstrado nos trabalhos de
Volpato et al. (2009), em que 66,2% das entrevistadas
relataram saber pelo menos uma função.
Em nosso estudo, os resultados sobre o tempo de
amamentação se mostraram satisfatórios, visto que
mais da metade das entrevistadas (57,23%) realizaram
a amamentação exclusiva por mais de seis meses. Esta
porcentagem foi acima da média das capitais brasi-
leiras e DF, cujos dados do Ministério da Saúde (2009)
desmonstram que a prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de 6 meses foi de 41,0% nestas localidades.
O universo de nossa pesquisa foram o NASPP e
ESFs frequentados pelos alunos das FIP-Moc, apenas
um tipo de ambiente (saúde primária). Posteriores pesquisas poderiam ser realizadas em hospitais, e ambientes de saúde mais especializados para realização de estudos comparativos.
Conclusões
O aleitamento materno depende de fatores que
podem influir positiva ou negativamente no seu
sucesso. Alguns se relacionam à mãe, como sua escolaridade, renda, aspectos da personalidade e sua
atitude frente à situação de amamentar; outros se
referem à criança e ao ambiente, como, por exemplo, as suas condições de nascimento e o período
182
pós-parto. O desmame precoce tem sido um fato
comum detectado em nossa realidade e confirmado
por esta pesquisa. Embora muitos dos fatores citados pareçam explicar as causas do desmame precoce, é possível sugerir que os principais fatores são os
relacionados à personalidade. Foi demonstrado que
uma minoria realizou o desmame devido a altera-
Área - Ciências da Saúde
ções do leite nas mamas ou insegurança.
Cabe, principalmente, aos profissionais de saúde a tarefa de orientar a mãe desde o pré-natal até
nas consultas de acompanhamento da criança. Deve
garantir seu entendimento não só da parte técnica,
mas também seu esclarecimento sobre suas crenças
e tabus, de modo a tornar a amamentação uma experiência duradoura e prazerosa.
Referências
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. II
Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal. Brasília; 2009.
VOLPATO, S. E. et al. Avaliação do conhecimento da mãe em relação ao aleitamento materno durante o período
pré-natal em gestantes atendidas no Ambulatório Materno Infantil em Tubarão, (SC). Arquivos Catarinenses de
Medicina, Santa Catarina, v. 38, n. 1, p. 49-55, jan./mar. 2009.
183
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DOS SERVIÇOS DA UNIDADE BÁSIC A DE
SAÚDE: A PERSPEC TIVA DO USUÁRIO
Cássio de Almeida Lima
Amanda Fonseca Moura Lafetá
Aline Grace Oliveira
Cynthia Antunes Barbosa
Fernanda Marques da Costa
Renata Patrícia Fonseca Gonçalves
Orlene Veloso Dias
[email protected]
Introdução
A qualidade da atenção à saúde tem sido preocupação dos vários níveis de assistência, pois sinaliza a
necessidade de adequação dos serviços na implementação de ações efetivas de promoção, prevenção e recuperação da saúde que visem a privilegiar e garantir
a integralidade. Entretanto, a diversidade de serviços
prestados na Atenção Primária à Saúde (APS) varia conforme as demandas de cada comunidade (STARFIELD,
2002). Sendo assim, um aspecto relevante é a perspectiva do usuário e a forma como avalia a atenção que
recebe e se esta se direciona à satisfação das suas necessidades e expectativas (BORGES; CARVALHO; SILVA,
2010). A participação do usuário, conforme Pinheiro e
Silva Junior (2009), auxilia nas transformações das prá-
ticas dos gestores, trabalhadores e avaliadores, contribuindo no processo de produção do cuidado à saúde e
de melhoria do desempenho do Sistema Único de Saúde (SUS) e da APS. Nesse contexto, a busca da qualidade nos serviços de saúde vem crescendo, ancorada nos
usuários como protagonistas (DIAS et al., 2011). Tornase necessária para que se possa também articular um
processo colaborativo nas tomadas de decisões e aplicação dos resultados das investigações (CAMARGO JÚNIOR et al., 2008). É preciso organizar a APS através de
informações epidemiológicas da população e da avaliação dos serviços pelos usuários. Assim, objetivou-se
avaliar os serviços oferecidos por uma Unidade Básica
de Saúde através da percepção dos usuários.
Materiais e Métodos
Trata-se de pesquisa quantitativa, de cunho transversal. O cenário foi uma UBS do município de Fruta
de Leite, situado ao Norte do Estado de Minas Gerais
– Brasil, cuja população em 2010 era de 5940 habitantes conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BRASIL, 2010). Neste trabalho foi avaliada a UBS
onde atua a Equipe de Saúde da Família denominada
“Sede”, responsável por 583 famílias cadastradas, representando 2101 usuários. A seleção dos usuários foi
feita através da amostragem probabilística, resultando
em 208 sujeitos. Os critérios de inclusão foram: estar
cadastrado na Equipe de Saúde da Família da UBS de
Fruta de Leite; aceitar participar da pesquisa; estar apto
a responder o questionário; preencher o questionário na UBS; ter recebido atendimento da equipe e ser
maior de 18 anos. O critério de exclusão foi a condição
de ser funcionário da equipe pesquisada.
O instrumento de coleta de dados se baseou no
modelo SERVQUAL. Consistiu num questionário de 22
declarações afirmativas, as quais se referem à percepção da qualidade do serviço prestado. As afirmativas
são definidas numa escala Lickert de cinco pontos,
variando de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”. A coleta de dados foi realizada aleatoriamente com os usuários que a frequentavam entre março e
maio de 2010. Os dados foram analisados no Statistical
Package for Social Sciences (SPSS) versão Windows 15.0.
Realizou-se o teste do qui-quadrado (x2), adotando-se
o nível de significância de 5%. Atendendo à Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, o Projeto de
Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIMONTES através do Parecer Consubstanciado
nº 1782/2009.
185
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e Discussão
Na população estudada, houve predominância
significativa do sexo feminino, sendo 75% (155) mulheres e 25 % (53) homens. Os usuários são predominantemente jovens, estando 46% (96) compreendidos
na faixa etária de 18 a 30 anos. Em relação à escolaridade, nota-se uma concentração na categoria ensino
médio, 32,2% (67). Ao analisar a renda familiar dos en-
trevistados, verificou-se que a maioria deles, 54% (112),
possuem renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos. A
maioria, 71% (147), mora no território da UBS há mais
de 10 anos.
A percepção dos entrevistados quanto aos serviços oferecidos pela Equipe de Saúde da Família é exibida na Tabela 1.
Tabela 1. Percepção dos usuários quanto à qualidade dos serviços prestados pela UBS. Fruta de Leite – MG, 2010.
Percepção
Serviço Prestado
Discorda
Integral.
Discorda
Parcial.
nº
nº
%
nº
%
nº
%
nº
%
Ambiente físico
Promete/cumpre
Interesse
Acerta na 1ª vez
Tarefa sem erro
Presteza
Boa Vontade
Disponibilidade
Confiança
Segurança
Cortesia
Conhecimento
Atenção
Melhor serviço
Entendimento
8
17
24
15
17
1
1
13
19
1
14
9
14
9
12
18
30
25
26
28
16
13
23
15
20
14
21
17
26
23
9
14
12
13
13
8
6
11
7
10
7
10
8
13
11
60
61
56
62
69
51
49
54
64
58
46
63
62
59
63
29
30
27
30
33
25
24
26
31
28
22
31
30
28
30
67
54
45
52
54
62
55
58
46
52
65
57
51
58
56
32
26
22
25
26
30
26
28
22
25
31
27
25
28
27
55
46
58
53
41
69
75
60
64
65
69
58
64
56
54
26
22
27
25
20
32
36
29
31
31
33
28
30
27
26
%
4
8
12
7
8
5
8
6
9
6
7
4
7
4
6
Nem concorda, Concorda
nem discorda
Parcial.
Quanto maior o grau de escolaridade, menos favorável é a percepção dos usuários quanto à afirmativa: os servidores da ESF possuem os conhecimentos necessários para responder às suas necessidades
(p=0,047). Não houve mais associações estatísticas.
As características sociodemográficas dos usuários
estão em consonância com as observadas em outras
pesquisas (DIAS et al., 2011; DIAS et al., 2011; SANTIAGO
et al., 2013). Entretanto, neste estudo, a maioria dos sujeitos possuía ensino médio completo, diferentemente
de pesquisas realizadas em Recife (PE) (SANTIAGO et
al., 2013) e em Montes Claros (MG) (DIAS et al., 2011),
nas quais os usuários, em sua maioria, tinham baixo
nível de escolaridade. A predominância de mulheres
encontrada nesta investigação, demonstra a importância delas como usuárias da UBS e cuidadoras da saúde
de sua família (SANTIAGO et al., 2013; STARFIELD, 2002).
Por outro lado, a menor participação dos homens deve
ser decorrente por um lado, de um maior vínculo com
o trabalho nesta faixa etária produtiva, buscando, assim, outras alternativas para a assistência, ou pela não
priorização desses usuários (SANTIAGO et al., 2013).
Para Campos (2007), o tempo de moradia há mais de
186
Concorda
Total.
Total
nº
%
208
208
208
208
208
208
208
208
208
208
208
208
208
208
%
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
208
100
dez anos no território é fator essencial para a criação
de vínculo entre o usuário e os funcionários da Estratégia Saúde da Família (ESF). Após ser estabelecido, esse
vínculo aumenta a eficácia das ações de saúde e favorece a participação do usuário durante a prestação do
serviço
Quanto ao ambiente físico, a maior parte o avaliou bem, assim como em outro estudo sobre o assunto
(DIAS et al., 2011). Porém, 29% afirmaram nem concordar nem discordar e, em outras pesquisas, verificou-se
alta insatisfação, evidenciando condições inadequadas
(SANTIAGO et al., 2013). As condições físicas são fundamentais para a implementação das ações. Apesar de a
ESF demonstrar melhora na eficiência e qualidade dos
serviços prestados na APS, constata-se um número significativo de unidades com estrutura física inapropriada (BRASIL, 2009; SANTIAGO et al., 2013).
Quanto à afirmação de que quando a equipe da
ESF promete fazer algo em certo tempo, ela cumpre, os
sujeitos, majoritariamente, nem discordam nem concordam. Entretanto, foram observadas respostas nos
dois extremos: 28,8% dos participantes discordaram
integralmente e 31,3% concordaram integralmente
Área - Ciências da Saúde
em pesquisa sobre a confiabilidade e empatia na ESF,
discordando do achado do presente estudo (DIAS et
al., 2011). A responsabilização do profissional para com
o estado de saúde do usuário constitui-se um dos elementos essenciais de uma efetiva assistência, assim
como desperta a confiança no paciente (LIMA et al.,
2007). A satisfação dos pacientes está ligada à qualidade e ao planejamento do atendimento. O atendimento deve ter um sistema de retorno eficiente, simples e
prático, com intervalos regulares. Além disso, a qualidade técnica significa satisfazer exigências e expectativas concretas, respeitando o tempo, a qualidade, a
segurança e a garantia (MENDES et al., 2010).
Constatou-se que os usuários da UBS se sentem
integralmente satisfeitos com o interesse dos profissionais. Ressalta-se que, nesse aspecto, inserem-se a satisfação com o trabalho dos profissionais e a escuta atentiva, relevante para a criação de laços e resolutividade
(DAMASCENO et al., 2012; MEDEIROS et al., 2010; SANTIAGO et al., 2013). A ESF tem no trabalho da equipe e
na sua relação com a população o elemento nuclear de
sua legitimação na organização do SUS (SANTIAGO et
al., 2013; COTA et al., 2005).
Os usuários nem concordam nem discordam
com o fato de que o comportamento da equipe inspira confiança e com a afirmativa de que os servidores possuem os conhecimentos necessários para
responder às suas questões. Esses achados divergem
dos encontrados em outro estudo, no qual a maioria dos sujeitos concordava integralmente com essas
questões (DIAS et al., 2011). Por outro lado, os participantes de ambas as pesquisas concordaram integralmente que os profissionais da ESF oferecem atenção
individual, um aspecto positivo para o relacionamento entre profissional e usuário, e responderam
que nem concordam nem discordam que os profis-
sionais estão centrados no melhor serviço (DIAS et
al., 2011).
Quanto ao entendimento das necessidades específicas, nesta investigação, os sujeitos, predominantemente, nem concordam nem discordam que a
equipe entende as suas necessidades. Contrastando
com esse resultado, em outra pesquisa a maioria dos
usuários concordou integralmente com tal afirmativa
e outra parcela significativa discordou integralmente (DIAS et al., 2011). Segundo Santiago et al. (2013), a
satisfação com a assistência, a confiança e o direito
a informações, atributos relacionados à relação profissional-usuário, são determinantes na qualidade da
assistência. Tais dimensões fortalecem a humanização
e a corresponsabilidade, premissas determinantes da
qualidade da ESF (JORGE et al., 2007). Adicionalmente,
se expandem para a relação da equipe com a díade
família-comunidade.
Quanto maior o grau de escolaridade, menos favorável é a percepção dos usuários quanto à afirmativa: os servidores da ESF possuem os conhecimentos
necessários para responder as suas questões. Corroborando esse resultado, observou-se a mesma associação em outras investigações (COTA et al., 2005;
DIAS et al., 2011; SANTIAGO et al., 2013). As pessoas
com menor grau de escolaridade tendem a emitir
menos juízos de valor e a serem mais condescendentes com os serviços de saúde que lhes são prestados (COTA et al., 2005; SANTIAGO et al., 2013). Porém,
quanto mais jovem e com mais escolaridade, maior a
exigência e insatisfação (SANTIAGO et al., 2013). Dessa forma, os trabalhadores da APS devem considerar
o grau de satisfação da clientela de todos os ciclos vitais, a fim de avaliar a sua atuação e os serviços prestados.
Conclusões
A avaliação dos serviços da UBS na perspectiva do usuário,evidenciou que tais serviços são adequados e atendem às suas necessidades. Os resultados revelam informações valiosas para os gestores
e equipes de saúde, permitem o conhecimento da
percepção dos usuários quanto à atenção à saúde
ofertada e possibilitam o aperfeiçoamento da gestão e do cotidiano da Estratégia Saúde da Família
para melhor atender às demandas do cidadão e do
SUS.
Referências
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CAMARGO JÚNIOR, K. R.; CAMPOS, S. E. M.; BUSTAMANTE-TEIXEIRA, M. T.; MASCARENHAS, M. T. M.; MAUAD, N. M.;
FRANCO, T. B; RIBEIRO, L. C.; ALVES, M. J. M. Avaliação da atenção básica pela ótica político-institucional e da organização da atenção com ênfase na integralidade. Cad Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, supl. 1, p. 58-68, 2008.
187
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
CAMPOS, G. W. S. Há pedras no meio do caminho do SUS. Ciênc Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 298,
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COTTA, R. M. M.; MARQUES, E. S.; MAIA, T. M.; AZEREDO, C. M.; SCHOTT, M.; FRANCESCHINI, S. C. C.; PRIORE, S. E. A satisfação dos usuários do Programa de Saúde da Família: avaliando o cuidado em saúde. Sci Med, v. 15, n. 4, p. 227-234, 2005.
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DIAS, O. V.; LOPES, J. A. S.; VIEIRA, M. A.; RAMOS, L. H. Tangibilidade no Programa Saúde da Família: percepção dos
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DIAS, O. V.; VIEIRA, M. A.; DIAS, J. P.; RAMOS, L. H. As dimensões da satisfação dos usuários do Programa Saúde da
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SANTIAGO, R. F.; MENDES, A. C. G.; MIRANDA, G. M. D.; DUARTE, P. O.; FURTADO, B. M. A. S. M.; SOUZA, W. V. Qualidade do atendimento nas Unidades de Saúde da Família no município de Recife: a percepção do usuários. Ciênc.
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STARFIELD, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília:
UNESCO, Ministério da Saúde; 2002.
188
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DOS VINTE E DOIS PRIMEIROS
TR ANSPL ANTADOS DE FÍGADO DE UM HOSPITAL DO
NOR TE DE MINAS
Lucinéia de Pinho
Fabiana Soares Rocha
Sauélia Souza Costa
Wanessa Casteluber Lopes
Carla Silvana de Oliveira e Silva
[email protected]
Introdução
O Brasil possui hoje o maior sistema público de
transplantes de órgãos do mundo, sendo 95% dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde,
SUS, de forma totalmente gratuita à população, e com
assistência integral ao paciente transplantado, incluídos desde exames preparatórios para cirurgia até o pagamento dos medicamentos pós-transplante (MINAS
GERAIS, 2012).
O transplante hepático é um procedimento indicado na presença de hepatopatia aguda ou crônica
com sério comprometimento do paciente cuja solução
não seja possível com tratamento clínico, desde que
não haja contraindicação (MASSAROLLO; KURCGANT,
2000).
O transplante de fígado é o procedimento mais
complexo da cirurgia moderna. Seu sucesso depende
de uma completa infraestrutura hospitalar e de uma
equipe multiprofissional altamente treinada no procedimento e no acompanhamento de pacientes gravemente debilitados e já imunodeprimidos pela doença
causa do transplante (MIES, 2011).
Os conflitos e dramas vividos na área dos trans-
plantes são ao mesmo tempo tristes e desafiadores;
podem demonstrar os aspectos mais diversos e distantes da alma e do comportamento humano. Buscar mitigar o sofrimento de todos os envolvidos nesse processo deve ser objetivo dos profissionais que atuam nessa
área (PAULINO; TEIXEIRA, 2009).
Este estudo se justifica pela alta carga da doença
hepática, pelo sofrimento do indivíduo e seus familiares, pela dor física, pelos anos de vida perdidos, pelos
anos de vida com incapacidade, pelo desconforto do
tratamento e seu custo, pelo impacto gerado na sociedade, observado pela mortalidade e morbidade
em idade produtiva, pelos gastos em aposentadorias
e pensões, o uso de tecnologia, recursos humanos especializados e equipamentos de alto custo nos serviços
de saúde (MASSAROLLO; KURCGANT, 2000).
O objetivo do estudo foi avaliar os pacientes submetidos ao transplante hepático em um hospital referência do norte de Minas Gerais, e identificar as principais patologias e agravos de base que levaram esses
pacientes a passar por este procedimento.
Materiais e Métodos
O estudo foi do tipo epidemiológico, retrospectivo, transversal e descritivo, com a população representada por pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico de transplante hepático em um hospital referência
no município de Montes Claros – MG. Foram pesquisados a todos os pacientes submetidos ao procedimento
cirúrgico de transplante hepático no período de fevereiro de 2011, quando foi inaugurado o serviço, a outubro de 2012, quando foi feita a coleta dos dados. O
critério de inclusão utilizado foi paciente submetido ao
transplante hepático no referido hospital independentemente do gênero, e que tivesse o prontuário comple-
to.
Os dados foram coletados nas dependências do
Serviço de Arquivo Médico (SAME) da instituição sob a
supervisão do funcionário responsável, para evitar danos ou extravio dos prontuários. Para coleta de dados,
utilizou-se a técnica de observação direta intensiva,
realizada em duas etapas: 1) levantamento e seleção
de prontuários; 2) coleta de dados propriamente dita.
Foi feita análise documental, a partir dos prontuários
dos pacientes submetidos a transplante hepático, por
meio de um questionário estruturado que contemplou
as seguintes variáveis para fins de análise: sexo, idade
189
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
(anos),cor, escolaridade, religião, estado conjugal, procedência, escore MELD e etiologia da injúria hepática.
Os dados foram compilados e estruturados em
gráficos e tabelas utilizando o software Excel 2003 da
Microsoft Office®. Em seguida procedeu-se à análise dos
mesmos, realizada por meio da estatística descritiva. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE)
no qual foi feita a apreciação e a aprovação do mesmo,
segundo o protocolo de número 134.628/2012.
Resultados e Discussão
No período de fevereiro de 2011 a outubro de
2012, 22 pacientes foram submetidos a transplante
hepático na unidade pesquisada, constituindo a população em estudo. Destes, 81,8% eram do sexo masculino, a idade variou entre 14 e 69 anos e a raça autoreferida predominante foi parda (50%). Trata-se de
uma população com baixo nível de escolaridade, uma
vez que aproximadamente 60% possuíam até oito
anos de estudo. Com relação à religião, grande parte
dos transplantados eram católicos (86,3%), casados
(59%) e 81,8% procedentes da zona urbana (Tabela 1).
Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos pacientes submetidos a transplante hepático em um hospital do Norte de Minas
Variáveis Sociodemográficas
Sexo
Masculino
Feminino
Cor
Branco
Pardo
Negro
Escolaridade
Menor que 8 anos de estudo
8 ou mais anos de estudo
Religião
Católica
Evangélica
Estado Conjugal
Casado
Solteiro
Divorciado
Viúvo
Procedência
Zona urbana
Zona rural
N
%
18
04
81,8
18,2
08
11
03
36,3
50
13,6
13
09
59,1
40,9
19
03
86,3
13,6
13
05
03
01
59,0
22,7
13,6
4,5
18
04
81,8
18,1
Fonte: SAME.Pesquisa realizada em outubro de 2012.
Quanto à origem dos pacientes, 40,9% (n=9) foram encaminhados aos ambulatórios via rede pública e
59,1% (n=13) foram encaminhados ao serviço por consultórios particulares.
A predominância etiológica da injúria hepática
foi cirrose etanólica presente em 50% (n=11) dos pacientes, seguida de cirrose criptogênica apresentada
190
por 22,7% (n=5). Quanto às demais patologias, a saber, amiloidose portuguesa, hepatocarcinoma, cirrose
descompensada por hepatite B, cirrose por hepatite C
e cirrose autoimune, estas estavam presentes em um
paciente cada (Tabela 2).
Área - Ciências da Saúde
Tabela 2 - Distribuição por grupo diagnóstico de pacientes submetidos a transplante hepático em um hospital do
Norte de Minas.
Etiologia
N
%
Carcinoma hepato celular
Cirrose auto imune
Cirrose criptogênica + hepatocarcinoma
Cirrose etanólica
Cirrose amiloidose familiar portuguesa
Cirrose criptogênica
Cirrose descompensada por hepatite B
Cirrose por hepatite C
01
01
01
11
01
05
01
01
4,5
4,5
4,5
50
4,5
22,7
4,5
4,5
Fonte: SAME.Pesquisa realizada em outubro de 2012.
A causa mais prevalente de indicação para transplante hepático em um estudo realizado por Nogara
(2006) foi cirrose, representando 66,2% das causas.
Um dado que chamou atenção foi o número de
esquistossomose relacionado a cirrose alcoólica e cirrose criptogênica; dos 22 pacientes estudados, 6 eram
portadores de esquistossomose, o que representa
27,27% da população estudada, sendo um fator relevante e que demonstra a necessidade de investigação
e controle da verminose nos pacientes acometidos,
pela rede de atenção primaria à saúde.
A esquistossomose no Brasil tem perdido nos últimos anos seu caráter eminentemente rural, passando
a ocorrer também em centros urbanos. Isso demonstra que a falta de infraestrutura, a migração e o deslocamento de pessoas de áreas endêmicas para não
endêmicas, são fatores determinantes do surgimento
de novos focos da doença. Particularmente em Minas
Gerais, um dos fatores que influencia nesse fenômeno
é o crescimento da prática do turismo de aventura ou
turismo ecológico direcionado ao ambiente rural, onde
a falta de saneamento adequado favorece a proliferação dos moluscos transmissores da doença em lagoas,
rios e cachoeiras, ocasionando o surgimento de casos
agudos de esquistossomose (POURDES et al.; 2008).
O escore MELD pré-transplante é avaliado pelo
valor <18 ou ≥18, pois estudos comprovam que, com
pontuação acima de 18, o paciente possui hepatopatia grave e o transplante trará ganho na sobrevida (NOGARA, 2006). Observou-se que, por essa avaliação, 13 pacientes (59,1%) foram classificados com
MELD menor que 18 e 9 pacientes (40,9%) com MELD
maior ou igual a 18.
A porcentagem de óbito pós-transplante foi de
18,18%, quatro dos 22 pacientes estudados, sendo que
3 se deram por infecção pós-operatória e um caso não
há registro da causa do óbito no prontuário, apenas relata óbito domiciliar; a paciente apresentava problema
de ordem genética.
A infecção permanece como a principal causa de
morte após transplante hepático, sendo que a maioria dos casos ocorre no primeiro mês após a operação.
Entretanto, morte devido à infecção pode ocorrer em
qualquer período após o transplante. A infecção após o
6º mês de transplante hepático ocorre geralmente em
pacientes com rejeição celular ou ductopênica e que,
portanto, necessitam de doses elevadas de imunossupressores (COELHO; PAROLIN; REA, 2001).
Conclusões
O transplante hepático constitui-se um serviço
inovador no norte de Minas Gerais. Desde a inauguração do serviço, em fevereiro de 2011, a metade dos pacientes submetidos ao procedimento eram portadora
de cirrose etanólica, o que demonstra a necessidade de
políticas públicas de saúde voltadas à prevenção e ao
tratamento do alcoolismo.
Além disso, observou-se alto índice de associação
das hepatopatias com verminoses, a saber a esquistossomose, o que por sua vez reforça a necessidade de se
intensificar as campanhas de conscientização da população sobre as medidas preventivas da doença, bem
como melhorias das condições sanitárias tanto em área
urbana quanto rural, devido ao fato de a região ser
uma área endêmica para este agravo.
Observou-se que os pacientes são em sua maioria
encaminhados pelos consultórios particulares, levando
a concluir que os usuários do Sistema Único de Saúde
ainda encontram barreiras para o acesso ao transplante, no sentido de ser referenciado adequadamente e
em tempo hábil, o que permite inferir ainda sobre a falta de profissionais habilitados para promover este referenciamento na atenção primária à saúde.
Por tratar-se de um serviço recente, os pacientes
submetidos ao transplante de fígado em Montes Claros
necessitam ser acompanhados em longo prazo para
que seja avaliada a sobrevida e a qualidade de vida
pós-transplante.
191
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
COELHO, J. C. U.; PAROLIN, M. B.; RÉA NETO, A. Complicações pós-operatórias no transplante hepático. Cl Bras
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192
Área - Ciências da Saúde
ANÁLISE DE PR ÁTIC AS E CONHECIMENTOS
REL ACIONADOS À SAÚDE BUC AL DOS PAIS/
RESPONSÁVEIS PEL AS CRIANÇ AS ATENDIDAS NA
CLÍNIC A INFANTIL DA UNIMONTES: RESULTADOS
PARCIAIS
Paula Giovanna Roque Caires
Vivianny Carvalho Mendes de Macedo
Maria José Lages de Oliveira
Carolina de Castro Oliveira
Lorenna Fonseca Braga de Oliveira
Naiara Gonçalves Fonseca Maia
Verônica Oliveira Dias
[email protected]
Introdução
Apesar de a educação em saúde ter sido considerada como parte do trabalho de profissionais de saúde,
muitas vezes o processo de educação limita-se a dizer
ao paciente o que ele deve fazer, em lugar de conferir-lhe autoridade para tomar suas próprias decisões
(COSTA et al., 2005). Para se alcançar essa educação, é
necessário que haja meios que operem mudanças comportamentais, de práticas e de atitudes (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004). Quando envolvem criança, as ações de
promoção de saúde requerem uma participação mais
ativa, não só dos indivíduos, mas também de seus familiares. É preciso que ações educativopreventivas sejam
construídas em bases sólidas, a fim de que o conhecimento repassado aos responsáveis e seus filhos possibilite o estabelecimento de práticas de forma constante e
segura para a manutenção e/ou aquisição de saúde bucal (SANTOS et al., 2011).
No entanto, antes de qualquer implantação de
programas de promoção da saúde, é necessário ter noções prévias do conhecimento da família com relação
aos cuidados com a saúde bucal de seus filhos, a fim de
se formular propostas viáveis e adequar os programas
preventivo-educativos (NADANOVSKY, 2000). Mastrantônio e Garcia (2002), afirmam que antes da elaboração de
qualquer programa educativo preventivo, é recomendável a aplicação de questionários ou entrevistas a fim de
identificar o nível de conhecimento odontológico dos indivíduos, adaptar o programa às reais necessidades educacionais dos pacientes e estabelecer estratégia de ação
em função das deficiências observadas na população
alvo. Baseado no exposto, e considerando que é usual um
prolongado tempo de permanência do usuário na sala
de espera dos serviços de saúde, vem sendo levantada a
possibilidade de realizações de atividades de acolhimento
em prol da educação em saúde e de atividades com o cuidado à saúde neste espaço (FRANCO et al.,1999).
Sabendo da importância dessas atividades educativas nas salas de espera foi elaborado o Projeto de
Extensão “Sala de espera: Educação complementar em
saúde bucal dos pais/responsáveis pelas crianças atendidas na disciplina de Clínica Infantil do curso de Odontologia da UNIMONTES”, com objetivo de desenvolver
ações educativas complementares em saúde bucal para
os responsáveis pelas crianças da Clínica Infantil da UNIMONTES, através de atividades na sala de espera. O presente trabalho trata-se da análise dos resultados parciais
coletados a partir dos questionários aplicados a esses
pais/responsáveis como parte integrante da pesquisa
em questão, para avaliar as práticas e conhecimentos
prévios dos pais/responsáveis quanto à saúde bucal, de
modo a direcionar as atividades que posteriormente serão realizadas.
Materiais e Métodos
A pesquisa foi aprovada através do parecer n º
025/2012 da Câmara de Extensão, da UNIMONTES. A
população consiste dos responsáveis pelas crianças
em atendimento odontológico na Clínica Infantil do
193
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
curso de Odontologia da UNIMONTES.
Após esclarecimento do motivo da pesquisa e distribuição do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram aplicados questionários a 20 pais/responsáveis, escolhidos de forma aleatória. O questionário
contém 27 questões sobre condições socioeconômicas
da família, informações relacionadas à saúde bucal (cárie
dentária, dentições decídua e permanente, práticas de
higiene, etc.) e quais informações os participantes gostariam que fossem abordadas nas ações educativas.
As questões objetivas do questionário foram analisadas pela estatística descritiva, através do Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS 18.0), e a questão
subjetiva, onde o participante expressou o tema que
gostaria que fosse abordado foi interpretada de forma a
compreender o significado da percepção do indivíduo.
A aplicação dos questionários foi realizada pelos
alunos envolvidos no projeto nos horários de atendimento clínico da disciplina de Clínica Infantil. Para
evidenciar possíveis dificuldades na compreensão do
questionário, foi realizado um estudo-piloto com cinco
pais/responsáveis, e as questões de difícil compreensão foram reestruturadas. Foi feito também contato
com a Instituição privada Colgate do Brasil, solicitando
e conseguindo a doação de materiais educativos como:
Kit macro modelo, folders, cartazes, creme dental, escova dental e outros.
Após análise dos dados coletados e de acordo
com o resultado da aplicação do questionário quanto
às práticas e conhecimentos dos pais/responsáveis relacionados à saúde bucal, foram realizados encontros
(professores e alunos envolvidos) para traçar o perfil
dos pais/responsáveis e escolher dos temas educativos
mais adequados para desenvolver no projeto.
Resultados e Discussão
Verificou-se que 75,0% dos responsáveis entrevistados pertenciam ao sexo feminino, 60% tinham o
ensino médio e 95% possuíam renda familiar entre um
a três salários mínimos. Quanto ao grau de parentesco, 65,0 % relataram ser mãe das crianças. Sugerindo
ser a mãe a principal cuidadora das crianças, a mesma
possui grande influência nos hábitos adquiridos pelas
crianças em relação aos cuidados com a saúde bucal
(CASTILHO et al., 2013).
Quando questionados a respeito da higiene bucal
dos filhos, 95% relataram que os filhos sempre realizam
sozinhos a sua escovação dentária. Demonstrando a
importância de abordar esse assunto, uma vez que a
supervisão dos pais é essencial para uma boa escovação, já que a criança pode não ter domínio da técnica e
nem coordenação motora suficiente para realizar uma
escovação ideal sozinha (FERREIRA et al., 2011).
Os resultados indicaram que o acesso às informações sobre saúde bucal foi principalmente através do
cirurgião-dentista (25%) Porém, 40% relataram não
ter recebido nenhum tipo de informação, ficando,
portanto evidente neste estudo uma limitação dos
responsáveis com relação ao acesso a informações
sobre saúde bucal. Este resultado corrobora a afirmativa de ALVES et al. (2004).
A maioria dos entrevistados, 90%, considerou falsa a informação de que os dentes decíduos não precisam ser tratados porque seriam substituídos pelos permanentes. Silva e Forte (2009) verificaram que muitas
mães não consideram os dentes decíduos importantes
e que não precisam ser tratados, pois serão substituídos. Conhecimento esse fundamental, uma vez que
esses dentes, apesar de serem temporários, devem ser
194
tratados com os mesmos cuidados que os permanentes (OLIVEIRA et al., 1999).
A maioria dos responsáveis (80%) acredita que
para cada dente definitivo erupcionado um dente
decíduo deve cair. Essa informação tem grande relevância principalmente no que se refere aos primeiros
molares permanentes. O fato de irromper muito cedo
faz com que, muitas vezes, esses dentes sejam confundidos com os dentes decíduos vistos que ainda não
houve nenhuma esfoliação e erroneamente recebem
menor atenção em relação à escovação dentária e cuidados odontológicos. A displicência em relação ao tratamento adequado desses dentes por considerá-los
como decíduos pode resultar até mesmo na sua perda
(OLIVEIRA et al., 1999).
Com relação à informação sobre o flúor, 55% dos
pesquisados responderam ter este conhecimento e
apenas 35% souberam informar que a sua função é relacionada com a prevenção contra a cárie. Isto constitui um fator preocupante, pois 45% dos entrevistados
desconhecem a função do flúor e, daqueles que responderam que já receberam alguma informação sobre
o mesmo, (20%) responderam que era para deixar os
dentes mais brancos ou que não sabiam a sua função.
A grande maioria (95%) considerou a cárie uma
doença. Porém, 60% dos entrevistados mostraram não
ter conhecimento se a cárie dentária é uma doença
que pode ser transmitida pelos pais. Mãe é elementochave na transmissibilidade da cárie, sendo as principais fontes de transmissão dos estreptococos mutans
para seus filhos através do contato direto da saliva da
mãe com a saliva do filho (RODRIGUES et al., 2008).
Área - Ciências da Saúde
Conclusões
Os pais/responsáveis pelas crianças atendidas nas
Clínica de Infantil da UNIMONTES possuem conhecimentos parciais acerca de informações sobre saúde bucal.
É necessária a introdução de atividades
educativas mais abrangentes, principalmente nas
áreas de maiores desconhecimentos por parte
dos responsáveis, que proporcionem uma maior
promoção e prevenção de saúde bucal a esse públicoalvo em questão, tendo em vista que são agentes
multiplicadores de conhecimento e que possuem
participação ativa nos cuidados bucais dos seus filhos.
As questões em que os resultados foram mais
preocupantes foram em relação à escovação, já que a
grande maioria das crianças escova os dentes sozinha;
ao flúor, em que a maioria desconhecia a sua função
e importância; à falta de informação sobre a troca de
dentição, uma das possíveis causas da grande presença de cáries/restaurações nos primeiros molares; ao
desconhecimento da importância dos dentes decíduos
e à falta de conhecimento sobre a doença cárie e sua
transmissibilidade.
Referências
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Atendidas na Clínica Integrada de Duas Universidades Privadas. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, v. 4, n. 1, p.4751, 2004.
CASTILHO, A. R. F.; MIALHE, F. L.; BARBOSA, T. S.; PUPPIN-RONTANI, R. M. Influência do ambiente familiar sobre a
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195
Área - Ciências da Saúde
CONHECIMENTO DE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS EM
REL AÇ ÃO À ABORDAGEM DA CRIANÇ A VÍTIMA DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTIC A
Lanuza Borges Oliveira
Fernanda Amaral Soares
Maísa Tavares de Souza Leite
Antônio Prates Caldeira
Lucinéia de Pinho
Frederico Marques Andrade
[email protected]
Introdução
A violência familiar é um dos eventos da vida que
pode mudar definitivamente o comportamento de
uma criança a longo prazo. O estresse e a ansiedade
subsequentes podem criar traumas psicológicos, desenvolvendo nos jovens traços de personalidade ou
atitudes de hostilidade, desconfiança e medo (MARLE,
2010). O conceito de violência abrange violência física,
negligência, violência psicológica e violência sexual
(MAGALHÃES et al., 2009).
A violência doméstica é um fenômeno multicausal, constituído por muitas variáveis que afetam todos
os níveis da sociedade e que exige intervenções de
uma equipe multidisciplinar para possibilitar um atendimento integral à vítima. Constitui ainda uma realidade dolorosa e traz prejuízos de ordem física e psicossocial, pois as experiências vividas na infância refletem na
vida adulta (RAMOS; SILVA, 2011).
Normalmente, os profissionais de saúde são os
primeiros a detectar a situação de violência e, considerando esse fato, devem notificá-la imediatamente.
Quando o profissional de saúde não se reconhece nesse papel, isso se torna um fator impeditivo para o encaminhamento e tratamento oportuno das vítimas de
violência doméstica (ANDRADE et al., 2011).
Entende-se que as discussões relacionadas à violência doméstica contra a criança nas instituições de
ensino superior ainda são escassas, e a maioria dos
profissionais de saúde não tiveram em sua formação
conteúdos relacionados ao tema. Essa falta de conhecimento pode comprometer a identificação e notificação de casos de violência.
Compreender o processo que envolve a abordagem dos profissionais de saúde em relação à violência
doméstica contra a criança é de suma relevância para
os dias atuais devido à proporção de problemas físicos e psicossociais que são gerados a partir de atitudes
violentas. É importante que professores universitários
desenvolvam atividades que ampliem o conhecimento
sobre o tema da violência doméstica para oferecer subsídios, de forma que os futuros profissionais possuam
maior percepção desse fenômeno no seu cotidiano
(ALGERI, 2005).
O professor do ensino superior talvez deva ter
uma visão ampliada da sociedade em que vive e atua.
Conhecendo metodologias e formas de abordagem
da violência doméstica contra criança, espera-se que
o professor auxilie o aluno do ensino superior, a construir conhecimentos para definir violência, entendê-la
e minimizá-la, pois, tendo consciência deste problema,
poderá atuar na prevenção de sua ocorrência (ALGERI,
2005).
Este estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento da abordagem da violência doméstica contra a
criança dos professores que ministram conteúdos relacionados à saúde da criança em instituições de educação superior no norte de Minas Gerais.
Materiais e Métodos
Tipo de pesquisa
Este trabalho constitui-se em um estudo exploratório, descritivo e de abordagem quantitativa.
Participantes
Participaram deste estudo professores de gradua-
ção e pós graduação da área da saúde de instituições
de educação superior da cidade de Montes Claros –
MG que ministram disciplinas relacionadas à saúde da
criança, totalizando 27 profissionais. O município de
Montes Claros atualmente é considerado polo univer197
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
sitário na região do norte de Minas Gerais, contando
com a presença de duas universidades públicas e seis
faculdades privadas que oferecem cursos nas diversas
áreas do conhecimento, em níveis técnico, de graduação, pós graduação Lato Sensu (especialização) e Stricto Sensu (mestrado e doutorado). O levantamento dos
sujeitos do estudo ocorreu por meio de consulta aos
coordenadores de instituições de ensino na cidade. Os
critérios de inclusão dos professores foram: Ser professor das instituições de ensino, ministrar disciplina
relacionada à saúde da criança, ser encontrado na instituição de ensino até a segunda tentativa, aceitar participar da pesquisa mediante consentimento.
Instrumento de coleta de dados
Elaborou-se um questionário com abordagem aos
principais tópicos envolvendo a temática estudada, a
partir de revisão da literatura. Para a busca, foram utilizados os descritores saúde da criança, violência doméstica, pessoal de saúde e saúde da família. Os artigos
foram selecionados por meio de busca realizada de
março a maio de 2013, na Biblioteca Virtual de Saúde,
nas bases de dados: Literatura Latino-Americana em
Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis
and Retrieval Sistem Online (MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), para textos publicados
nos últimos cinco anos.
Utilizou-se ainda a linha Guia de Saúde da Criança
da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais.
Coleta de Dados
Foi realizado um contato prévio aos profissionais
professores com objetivo de divulgação e convite para
participação na pesquisa. A coleta de dados foi realizada mediante visitas aos profissionais professores
em horário previamente agendado. Foram garantidos
a privacidade e o livre arbítrio dos entrevistados, bem
como respeitadas as suas rotinas de trabalho.
Além do questionário, foram coletados dados demográficos de gênero, idade, escolaridade e tempo de
formação, por meio de um cabeçalho de identificação.
Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada por meio do Software Statistical Package for Social Sciences 18.0 (SPSS).
Aspectos éticos
A coleta de dados foi realizada após aprovação
deste projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes), sob o parecer Nº 401.241.
Foram asseguradaS aos entrevistados a autonomia individual, o direito à informação, a privacidade, a
confidencialidade das informações, sendo estas utilizadas exclusivamente para fins científicos, e foi garantido o direito de revogar a decisão de participação da
pesquisa a qualquer momento, pelo termo de consentimento livre e esclarecido.
Resultados e Discussão
Dos docentes entrevistados, 22 (81,5%) eram do
sexo feminino. Quanto à graduação,13 (48,2%) eram
médicos, 9 (33,3%) enfermeiros, 3 (1,1%) dentistas e 2
(7,4%) psicólogos. Onze (40,7%) dos entrevistados possuíam de 5 a 10 anos de atuação profissional, 10 (37,1%)
possuíam de 10 a 20 anos e 6 (22,2%) mais de vinte
anos. Questionados acerca da maior titulação que possuíam, 18 (66,7%) dos profissionais afirmaram ter curso
de especialização, 8 (29,6%) mestrado e 1 (3,7%) doutorado. Treze professores (48,2%) relataram que durante
sua formação acadêmica foram ministrados conteúdos
sobre a abordagem do atendimento à criança vítima
de violência, enquanto 14 (51,8%) deram uma resposta
negativa a esta questão.
O questionário era constituído por 85 assertivas
direcionadas a cada um dos 27 profissionais. Dentre as
assertivas contempladas no questionário foram selecionadas 11, as quais estão descritas Tabela 1. Para um
total de 2.295 assertivas, 376 (23%) os professores não
souberam responder, 1398 (61%) foram assinaladas de
198
forma correta e 521 (23%) foram assinaladas de forma
incorreta.
O acolhimento da criança e da família em situação
de violência deve permear todos os locais e momentos
do processo de produção de saúde, como uma ação
contínua em todo o percurso da atenção na rede de
cuidado e de proteção social. Todos os membros da
equipe devem receber as crianças e suas famílias de
forma empática e respeitosa. Devem acolher a criança e a família em lugar específico, acompanhar o caso
e proceder aos encaminhamentos desde a entrada da
criança e de sua família no setor de saúde até o seguimento deles para a rede de cuidado e de proteção social (BRASIL, 2012).
Devido a esses fatores, a violência na infância não
deve continuar sendo vista como uma responsabilidade policial e é necessária a participação das instituições
de saúde no enfrentamento desse problema, criando
um elo fundamental para desencadear os mecanismos
de proteção e tratamento (MAGALHÃES et al., 2009).
Área - Ciências da Saúde
Tabela 1 – Análise do conhecimento dos docentes universitários na abordagem da criança vítima de violência.
Montes Claros, 2014.
Status da
Assertiva
Descrição das Assertivas
Corretas Não Sabe
s
O profissional de saúde deverá fazer a identificação das vítimas de
violência somente em um serviço de saúde.
Falsa
22
1
4
Não é necessário dar atenção aos dados aparentemente sem importância, a menos que tenham relação com as lesões encontradas.
Falsa
21
3
3
O profissional deve focar o atendimento somente no que estiver
diretamente relacionado com violência.
Falsa
24
2
1
Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança
deverão ser obrigatoriamente comunicados a Polícia Civil.
Falsa
10
5
12
Notificar maus-tratos às autoridades é obrigação, após confirmação
da violência.
Falsa
2
1
24
Identificada a violência pelo enfermeiro, ele deve encaminhar ao
médico, para notificação.
Falsa
8
8
11
A intervenção do Conselho Tutelar exige a interrupção do atendimento iniciado pelo profissional de saúde que encaminhou o caso.
Falsa
22
5
0
Os profissionais de saúde devem notificar os casos de violência no
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Verdadeira
12
14
1
Notificações sobre violência infantil deverão ser feitas somente nas
localidades onde existir o Conselho Tutelar.
Falsa
25
2
0
O trabalho do profissional de saúde deve ser continuado, e a intervenção deve ser planejada e avaliada em conjunto pelos profissionais envolvidos.
Verdadeira
27
0
0
O Estatuto da Criança e do Adolescente contém determinações que
protegem contra a violência doméstica.
Verdadeira
26
0
1
Os profissionais não têm certeza de como lidar
frente a um caso concreto de violência, e talvez isso
se deva à falta de discussões em instituições de ensino
superior sobre o tema e ao fato de muitos não terem
em sua formação acadêmica conteúdos relacionados à
violência (ALGERI, 2005). Gabatz et al. (2013), recomenda um investimento na formação do profissional para
atuar, buscando identificar os casos de violência precocemente.
É atribuição dos profissionais de saúde, segundo o
Estatuto da Criança e do Adolescente, atuar nos diagnósticos de maus tratos e nos procedimentos de notificação (MAGALHÃES et al., 2009).
A notificação da violência contra a criança e o
adolescente não é apenas um ato pessoal, mas uma
obrigação legal. O não cumprimento desse papel ocorre por falta de conhecimento da legislação ou pelo fato
de os profissionais não estarem convictos de que devem exercer essa responsabilidade (MAGALHÃES et al.,
2009).
De acordo com os resultados, observa-se que parte dos profissionais ainda desconhecem a obrigação
da notificação nos casos suspeitos, e que os mesmos
só serão notificados após confirmação e concretização
dos atos, contrariando as medidas de prevenção à violência, como citado por Garbin et al., (2011): a notificação é considerada uma importante estratégia de prevenção de violência, pois, além de identificar, permite
o levantamento de novos casos de violência que muitas vezes acontecem na mesma família.
Também há dificuldade em identificar os casos
com exatidão, e existe falta de preparo dos profissionais para lidar com a questão da violência doméstica,
o que acaba atrapalhando o ato de notificação (SILVA;
FERRIANI, 2007).
Neste sentido, o aluno do ensino superior deve estar preparado, habilitado e ter conhecimentos para definir violência, entender como ocorre, saber ouvir antes
de intervir, e o seu professor talvez tenha uma visão
mais real e ampliada da sociedade e que conhece novas metodologias e formas de abordagem. Ao verificar
o conhecimento dos professores, neste estudo observou-se um número considerável de respostas onde a
alternativa escolhida foi “não sei”, o que nas quais evidenciar um possível desconhecimento dos professores
acerca de parte dos conteúdos importantes na formação do profissional sobre a abordagem da violência
doméstica contra a criança (ALGERI, 2005).
199
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Conclusões
A partir da avaliação do objetivo proposto, observou-se que a abordagem de conteúdos relacionados
ao atendimento à criança vítima de violência doméstica ainda é insuficiente no ensino superior, de forma
que os professores necessitam de uma formação mais
abrangente em relação a este conteúdo.
Este fato impossibilita a transmissão de novas in-
formações e de novos conhecimentos aos futuros profissionais em formação. Tal despreparo dos professores
talvez se justifica na não abordagem durante a sua formação em relação ao assunto e ainda do número reduzido de cursos de especialização, capacitação e extensão sobre a violência doméstica contra a criança.
Referências
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p. 117-131, 2005.
ANDRADE, E. M. et al. A Visão dos Profissionais de Saúde em Relação à Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes: um estudo qualitativo. Rev. Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.1, p.147-155, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de
Atenção Básica. Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento. Brasília: Editora MS, 2012.
GABATZ, R. I. B. A violência intrafamiliar contra a criança e o mito do amor materno: contribuições da enfermagem.
Rev Enferm UFSM. v. 3, p. 563-572, 2013.
GARBIN, C. A. S. et al. Notificação de violência contra criança: conhecimento e comportamento dos profissionais
de saúde. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde. v. 13, n. 2, p. 17-23, 2011.
MAGALHÃES, M. L. C. et al. O profissional de saúde e a violência na infância e adolescência. Rev. Femina. v. 37,
n.10, p. 547-51, 2009.
MARLE, H. J. C. V. Violence in the family: an integrative approach to its control. Int J Offender Ther Comp Criminol. v. 54, n. 4, p. 475-77, 2010.
RAMOS, M. L. C. O.; SILVA, A. L. Estudo Sobre a Violência Doméstica Contra a Criança em Unidades Básicas de Saúde do Município de São Paulo – Brasil. Rev. Saúde Soc. São Paulo, v. 20, n. 1, p. 136-146, 2011.
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n. 2, p. 275-281, 2007.
200
Área - Ciências da Saúde
EFEITOS DA DESNUTRIÇ ÃO E DO CONSUMO CRÔNICO
DO SUCO DE UVA EM R ATOS WISTAR ADULTOS
Jennifer de Freitas Lopes
Lauryane Lívia Costa
Ricardo Cézare Araújo
Nísia Andrade Villela Dessimoni Pinto
Alexandre Alves da Silva
Tânia Regina Riul
[email protected]
Introdução
Constituinte da dieta do mediterrâneo, o suco
de uva encontra-se popularmente associado à sinonímia de saúde e bem estar. Esta correlação tem atraído
a atenção da mídia e do público consumidor, uma vez
que se trata de informações relevantes as posturas tomadas aos males que historicamente afetam a humanidade, já que a ingestão de uva demonstrou efetiva em
atividade anti-inflamatória e como protetora do sistema
cardiovascular (TERRA et al., 2010; XUO et al., 2010).
A composição química do suco de uva é caracteristicamente marcada pela presença de compostos fenólicos, sendo os principais: flavonoides (antocianinas,
flavonóis e flavanóis), estilbenos (resveratrol), ácidos
fenólicos (derivados dos ácidos cinâmicos e benzoicos)
e taninos, muitos dos quais com propriedades antioxidantes (FRANCIS, 2000).
As atividades antioxidantes da uva, suco de uva
e vinho tinto mostraram ações efetivas na prevenção,
intervenção e tratamento das lesões ateroscleróticas;
que o consumo diário do suco de uva atenuou a hipercolesterolemia, reduzindo a iniciação da aterosclerose
(SHANMUGANAYAGAM et al., 2007).
Segundo Stein et al. (1999), o consumo de suco de
uva tinto melhora a função endotelial, aumentando a
vasodilatação da artéria braquial e o fluxo médio de
vasodilatação (FMD), reduz a suscetibilidade de oxida-
ção do colesterol LDL.
A desnutrição pode interferir em processos de
absorção, distribuição, biotransformação e excreção
de alimentos e medicamentos, acarretando prejuízos
terapêuticos e tornando-se um problema de grande
relevância na prática clínica. Além disso, a absorção
dos nutrientes e de alguns fármacos ocorre por mecanismos semelhantes, frequentemente competitivos, e
apresentam como principal sítio de interação o trato
digestório, uma vez que a principal via de administração de nutrientes é a oral (MOURA; REYES, 2002).
As alterações biológicas produzidas sobre os
distintos órgãos normalmente não são consideradas na
escolha da farmacoterapia, aumentando a probabilidade da interação fármaco-nutriente (HERNANDEZ; VILÁ,
2008) e nutriente-nutriente.
Apesar de amplamente utilizado pela população
e recomendado por profissionais de saúde, existem
poucos estudos com uso crônico do suco de uva em
sujeitos em estado de carência nutricional e ainda apresentamos índices elevados de desnutrição no Brasil
(BRASIL, 2003).
Desta forma, os objetivos do presente estudo foram avaliar os efeitos da desnutrição e do consumo
crônico do suco de uva em ratos Wistar adultos.
Materiais e Métodos
Foram utilizados 24 ratos Wistar, machos, com 70
dias de idade, provenientes do biotério do Laboratório
de Nutrição Experimental da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Os ratos foram distribuídos aleatoriamente em 4
grupos: Nutrido (N) - receberam ração e água ad libitum (n=6); Nutrido Uva (NU) - receberam ração e suco
de uva a 10% ad libitum (n=6); Desnutridos (D) - receberam 50% da ração ingerida pelos animais N e água ad
libitum (n=6); Desnutrido Uva (DU) - receberam 50% da
ração ingerida pelos animais NU e suco de uva a 10%
ad libitum (n=6).
O peso dos animais foi aferido semanalmente,
a ração e os líquidos foram pesados/medidos diariamente. Do 88° ao 91º dias de tratamento, os animais
ficaram na gaiola metabólica para coleta das fezes das
últimas 24 horas para análise do peso fecal. No 91° dia
de tratamento, os animais foram colocados em jejum
201
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
de 12 horas, quando foram anestesiados e retirada uma
amostra de sangue por pulsão cardíaca (2mL) para a
realização dos testes bioquímicos (glicose, colesterol
total e frações e triglicérides).
Os animais foram eutanasiados e tiveram seus órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos
(fêmur e tíbia) retirados, limpos e pesados. Foi avaliado
o comprimento e teor de minerais totais dos ossos.
Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do
teste de Newman Keuls, quando apropriado (p<0,05).
A manipulação e eutanásia foram realizadas de
acordo com os princípios éticos para uso de animais
de laboratório (BRASIL, 2008), e o projeto foi aprovado
pela CEUA/UFVJM (protocolo 019/13).
Resultados e Discussão
No início do tratamento (dia 0), não houve diferença no peso corporal dos animais, entretanto, no final, a
ANOVA apontou efeito de dieta (F(1, 166267) = 122,22, p <
0,0001), os animais desnutridos pesaram menos do que
os nutridos (Tabela 1).
Tabela 1: Peso corporal, gorduras (abdominal, epididimal e visceral), ingestão de ração, Coeficiente de Eficácia
Alimentar (CEA), comprimento corporal e dos ossos (fêmur e tíbia), peso dos órgãos (baço, coração, fígado, rins,
suprarrenais e testículos) e análise das fezes (frescas, secas e umidade). Diamantina, 2014.
N
NU
D
DU
Peso inicial
335,72±19,60
333,48±21,95
362,70±32,84
347,63±21,90
Peso final
460,32±51,12
493,53±39,21
303,23±26,82
317,68±23,92
Ganho de peso
124,60±35,08
160,05±28,43
-59,47±32,51
-29,95±20,77
Gordura
25,73±5,84
35,57±8,51
7,19±1,71
10,42±1,76
Ração Total
2.284,46±189,50
2.415,12±119,86
1.156,42±82,51
1.217,23±53,80
CEA
5,39±1,19
6,59±0,88
-5,31±3,30
-2,50±1,76
Naso-anal
26,92±0,66
27,58±0,74
25,25±0,42
25,08±0,86
Fêmur
3,99±0,07
3,99±0,10
3,72±0,03
3,74±0,09
Tíbia
4,34±0,08
4,35±0,13
4,18±0,05
4,21±0,07
Baço
0,89±0,19
0,91±0,04
0,57±0,15
0,59±0,22
Coração
0,99±0,12
1,11±0,08
0,74±0,07
0,73±0,07
Fígado
10,12±1,51
12,22±1,11
7,16±0,87
8,24±1,21
Rins
1,33±0,14
1,37±0,10
1,03±0,12
1,02±0,06
Suprarrenais
0,026±0,008
0,036±0,006
0,028±0,007
0,031±0,01
Testículos
1,62±0,18
1,73±0,20
1,38±0,31
1,54±0,17
Frescas
4,99±2,40
9,12±3,57
5,25±3,67
7,32±5,47
Secas
3,45±1,36
5,62±1,87
3,71±2,67
4,28±3,38
Umidade
1,54±1,12
3,50±1,77
1,54±1,01
3,03±2,18
Comprimento
Órgãos
Fezes
Comparando o peso corporal nos dias 0 e 91, a
ANOVA apontou efeito de dieta (F(1, 63860) = 41,86, p <
0,0001), com os animais desnutridos pesando menos
que os nutridos; de dia (F(1, 28587) = 0,0001), os animais
pesaram mais no final do que no início do tratamento; de interação entre dieta e dia (F(1, 104944) = 237,99, p <
0,0001), os nutridos pesaram mais no final, os desnutridos no início e os desnutridos pesaram menos que os
nutridos no dia 91, e de interação entre tratamento dia
(F(1,3166) = 7,18, p < 0,05, tanto os animais que receberam
202
água como os que receberam suco de uva, o peso foi
maior no dia 91 que 0 (Tabela 1).
Houve efeito de dieta (F(1, 209889) = 237,99, p <
0,0001), e de tratamento (F(1, 6331) = 7,18, p < 0,05) no ganho de peso. Os ratos desnutridos ganharam menos
peso que os nutridos, e os que receberam uva mais do
que os que receberam água (Tabela 1). Uma possível
justificativa consiste na hipótese da capacidade dos
poliferóis da uva inibirem a ação de enzimas envolvidas no metabolismo de gorduras. Segundo Moreno et
Área - Ciências da Saúde
al. (2003), o extrato de semente de uva inibe a atividade das enzimas lipase pancreática e lipase lipoproteica,
reduzindo a absorção de gordura e o acúmulo no tecido adiposo.
A ANOVA apontou efeito de tratamento (F(1, 1337) =
26,06, p < 0,0005) e de interação entre tratamento e
dieta (F(1, 883) = 17,20, p < 0,001) nas gorduras (abdominal
epididimal e visceral). Os animais que receberam uva
(NU e DU) ganharam mais gordura do que os que receberam água (N e D) (Tabela 1).
Houve efeito de dieta no consumo de ração (F(1,
)
= 541,18, p < 0,0001 e CEA (F(1, 587,84) = 145,50, p <
8115012
0,0001), os nutridos comeram mais e apresentaram CEA
maior do que os desnutridos e efeito de tratamento (F(1,
= 5,98, p < 0,05) no CEA, os que receberam suco de
24,17)
uva apresentaram maiores valores do que os que receberam água (Tabela 1).
Os comprimentos naso-anal (F(1, 26,04) = 54,82, p
< 0,0001), do fêmur (F(1, 0,41) = 65,51, p < 0,0001) e da tíbia (F(1, 0,14) = 17,56, p < 0,0005) e peso do baço (F(1, 0,62) =
22,57, p < 0,0005), coração (F(1, 0,59) = 76,15, p < 0,0001),
fígado (F(1, 72,34) = 50,53, p < 0,0001), rins (F(1, 1,28) = 108,47,
p < 0,0001) e testículos (F(1, 0,53) = 10,88, p < 0,0005) dos
animais desnutridos foram menores do que os nutridos. Nas suprarrenais (F(1, 0) = 7,94, p < 0,01) e testículos
(F(1, 0,21) = 4,31, p < 0,05) houve efeito de tratamento, os
ratos que tomaram suco apresentaram maiores pesos
do que os que tomaram água (Tabela 1).
O menor comprimento dos animais desnutridos
pode ter ocorrido devido à desnutrição reduzir o crescimento corporal, diminuindo também o peso dos órgãos.
Os animais desnutridos apresentaram menores
valores de triglicérides do que os nutridos (F(1, 4235) =
5,53, p < 0,05) e os que receberam uva maior teor de
umidade do que os que receberam água (F(1, 17,93) = 7,08,
p < 0,05) (Tabela 2). Tal diferença deve-se ao fato de
que um dos fatores que contribuem para elevação do
teor de triglicérides sanguíneo é a quantidade de carboidratos na dieta, notadamente superior no grupo
nutrido.
Segundo Martin-Carron et al. (1997), a presença
de alguns polifenóis na uva favorece a excreção de lipídios por mecanismos de adsorção, consequentemente,
há uma melhora do perfil lipídico e da função intestinal.
Tabela 2: Bioquímica do soro (colesterol total, HDL, glicemia e triglicérides) de ratos desnutridos e eutróficos após
91 dias de tratamento com suco de uva. Diamantina, 2014.
Colesterol Total
HDL
Glicemia
Triglicérides
N
24,54±2,68
10,15±0,89
144,17±16,89
75,15±16,39
NU
28,84±8,98
9,35±0,74
157,20±19,19
97,94±43,77
D
31,76±5,38
10,70±1,43
147,19±30,71
57,51±24,44
DU
30,78±5,45
10,08±0,34
135,55±13,29
62,44±16,81
Conclusões
A ingestão crônica de suco de uva a 10% por ratos
adultos e saudáveis não apresentou efeito benéfico,
uma vez que aumentou o ganho de peso e de gordu-
ras (abdominal, epididimal e visceral) e não melhorou o
perfil lipídico nem a função intestinal.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional
de Alimentação e Nutrição. 2. ed. rev. Brasília. Ministério da Saúde, 2003.
Brasil. Lei nº 11.794, de 08.10.2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras
providências. Brasília, DF, 2008.
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and SHP expression in healthy rats. FASEB J., v. 19, n. 3, p. 479-481, 2005.
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determinadas: como abordar el tratameinto farmacológico y nutricional. Barcelona: Glosa, 2008.
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Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
MARTÍN-CARRÓN, N. et al. Reduction in serum total and LDL colesterol concentrations by a dietary fiber and polyphenol-rich grape product in hypercholesterolemic rats. Nutr. Res. v. 19, p. 1371-1381, 1999.
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MOURA, M. R. L; REYES F. G. R. Interação fármaco nutriente: uma revisão. Rev. Nutr., v. 15, n. 2, p. 223-238, 2002.
SHANMUGANAYAGAM, D. et al. Concord grape juice attenuates platelet aggregation serum cholesterol and development of atheroma in hypercholesterolemic rabbits. Atherosclerosis, v. 190, p. 135-142, 2007.
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TERRA, X. et al. Grape-seed procyanidins act as anti-inflamatory agents in endotoxin-stimulated RAW-246,7 macrophages by inhibinting NFkβ signaling partway. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.55, p. 43574365, 2007.
XUO, C. et al. Phenolic compounds and antioxidant properties of different grape cultivars grown in China. Food
Chemistry, v. 119, p. 1557-1565, 2010.
204
Área - Ciências da Saúde
EFEITOS FISIOLÓGICOS DA FARINHA DE BANANA
VERDE ( Musa canvendish )
Clarisse Giovana Maciel dos Reis
Kiara Núbia Silva Herrera
Luiz Otávio Campos de Oliveir
Ítala Kariny Barroso Lopes
Nísia Andrade Villela Dessimoni Pinto
Alexandre Alves da Silva
Tania Regina Riul
[email protected]
Introdução
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais
de banana, encontrando-se na 5ª colocação entre os
produtores da fruta; produziu cerca de 7,3 milhões
de toneladas em 2011 (FAO, 2013). Em seu estádio
verde de maturação, a banana é altamente rica em
fibras, especialmente hemicelulose. Contém grandes quantidades de minerais essenciais, sendo diferenciada pelo alto teor de amido resistente à ação
das enzimas α-amilase e glucoamilase devido a seu
grau de estrutura intrínseca cristalina (ZHANG et al.,
2005).
O amido resistente promove efeitos na saúde humana semelhantes aos causados pelas fibras
solúveis e insolúveis. Em cada 100g de farinha de
banana verde é encontrado 4,54±0,20g de proteína; 1,89±0,11g de lipídios; 73,28±0,95g de amido;
2,62±0,06g de cinzas e 7,55±0,13g de umidade. Os
minerais mais abundantes na farinha de banana
verde são o fósforo (190,00 mg.100g -1), o potássio
(185,90 mg.100g -1), o cálcio (157,67 mg.100g -1) e o
ferro (3,08mg.100g -1) (FASOLIN et al., 2007).
O consumo de banana verde e, consequentemente, seus subprodutos ajuda no funcionamento
adequado do intestino e na prevenção de doenças
crônicas como câncer, doenças do cólon, diabetes
tipo 2, dislipidemias e obesidade, sendo um importante alimento funcional (IZIDORO, 2007).
A farinha de banana pode ser obtida por secagem natural ou artificial, através de bananas verdes
ou semiverdes das variedades Prata, Terra, Cavendish, Nanica ou Nanicão. Sua qualidade depende de
vários fatores, incluindo matéria-prima, método de
secagem e forma de armazenamento (SBRT, 2005).
O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos
do tratamento subcrônico com farinha da banana
verde em ratos Wistar.
Material e Métodos
Foram utilizados 18 ratos machos Wistar distribuídos em 3 grupos: Controle (C) - receberam ração
e água ad libitum (n=6); Farinha de Banana Verde
10% (B10) - ração com 10% de farinha de banana
verde e água ad libitum (n=6); Farinha de Banana
Verde 20% (B20) - receberam ração com de 20% de
farinha de banana verde e água ad libitum (n=6).
Para obtenção da farinha de banana verde foi utilizada a variedade caturra (Musa canvendish) em seu
estádio verde de maturação. As bananas foram lavadas com água corrente, imersas em solução clorada a
1,5% por 15 minutos, fatiadas, imersas em solução de
metabissulfito de sódio a 2% por 15 minutos e desidratadas em estufa a 70°C por 72 horas. Após a secagem, foram trituradas e adicionada à ração.
A manipulação e eutanásia foram realizadas de
acordo com os princípios éticos para uso de animais
de laboratório (BRASIL, 2008) e o projeto foi aprovado pela CEUA/UFVJM (protocolo 019/13).
Os animais foram pesados semanalmente e a
ração e líquidos diariamente durante os 49 dias de
tratamento. Na última semana, os animais ficaram
na gaiola metabólica para coleta de fezes e urina
das últimas 24 horas para análise do peso/volume,
teores de gordura e umidade das fezes.
No 49º dia, os animais foram colocados em jejum de 12 horas e no 50 o dia foram anestesiados e
retirou-se uma amostra de 2mL de sangue que foi
centrifugada para obtenção do soro e posterior avaliação bioquímica (colesterol total e frações, triglicé205
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
rides e glicemia). Após a eutanásia, os órgãos (baço,
coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) foram retirados, limpos e mensurados.
Foi avaliado o teor de gordura do fígado e fezes, o
comprimento e teor de minerais totais dos ossos.
Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida
do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤
0,05).
Resultados e Discussão
A ANOVA apontou efeito de tratamento (F(2,267)
= 71,621, p ≤ 0,0001), com relação aos triglicérides
(Figura 1). Os animais que receberam ração com
20% de farinha de banana verde apresentaram
maior índice de triglicérides do que o grupo farinha
de banana verde a 10%, que por sua vez foi maior
do que o grupo controle.
Figura 1: Análise bioquímica dos animais, ao final de
sete semanas de tratamento. Diamantina, 2014.
Segundo a ANOVA, não houve diferença estatisticamente significativa quanto aos valores de glicemia, HDL e colesterol total.
No que se refere ao peso corporal, houve efeito
de dias (F(7, 19252) = 82,31, p ≤ 0,0001), com aumento
crescente de peso até o dia 35. Houve efeito de se-
manas (F(6, 735,6) = 10,2191, p ≤ 0,0001), em relação ao
consumo de ração, sendo que na semana 1 todos os
grupos consumiram menor quantidade de ração do
que nas semanas 2, 3, 4, 5, 6 e 7; na semana 2 tiveram menor consumo do que nas semanas 4, 5 e 7;
na semana 4 consumiram menor quantidade de ração que na 6. Houve efeito de semana no consumo
de líquidos (F(6, 76) = 7,27, p ≤ 0,0001), nas semanas 1
e 3 o consumo foi maior do que nas semanas 2, 4, 5,
6 e 7.
Não houve diferença estatisticamente significativa no peso dos órgãos, comprimento ósseo e corporal, bem como volume urinário, peso e umidade
das fezes, percentual de cinzas e peso das gorduras
(tabela 1) quanto ao tratamento.
Tabela 1- Peso de órgãos (fígado, coração, baço, rins, suprarrenais e testículos), medidas de comprimento ósseo (cm) e
corporal (cm), peso e umidade das fezes e volume urinário, após sete semanas de tratamento. Diamantina, 2014.
Órgãos
C
B10
B20
Comprimento
C
B10
B20
Fezes/urina
C
B10
B20
Baço (g)
0,82 ± 0,37
0,96 ± 0,10
0,98 ± 0,5
Cauda (cm)
19,47 ± 0,46
19,27 ± 0,43
19,50 ± 0,91
Coração (g)
Fígado (g)
1,01 ± 0,07
13,96±1,33
1,05 ± 0,04
15,15±2,67
1,09 ± 0,14
13,71±0,63
Total (cm) Ano-anal (cm)
45,47 ± 0,95
26,00 ± 0,55
45,10 ± 0,57
25,83 ± 0,41
45,50 ± 1,05
26,00 ± 0,32
1,54±0,18
1,55±0,10
1,55±0,13
Fêmur (cm)
3,81±0,11
3,82±0,06
3,81±0,09
Suprarrenais (g)
0,003±0,001
0,004±0,001
0,004±0,001
Tíbia (cm)
4,18 ± 0,12
4,11 ± 0,10
4,11 ± 0,11
Testículos (g)
1,79 ± 0,10
1,71 ± 0,11
1,78 ± 0,10
Frescas(g)
secas (g)
Umidade (%) Urina (ml)
7,64 ± 6,27
4,93 ± 3,23
2,72 ± 3,25
3,48 ± 3,85
6,41 ± 4,65
4,10 ± 2,87
2,32 ± 1,83
7,74 ± 5,24
5,28 ± 5,21
3,28 ± 2,50
1,99 ± 2,78
4,88 ± 5,89
O acréscimo de farinha de banana verde não
apresentou diferenças de tratamento no consumo em
ratos Wistar adultos quanto ao colesterol total e HDL,
porém elevou os valores de triglicérides. Uma justificativa para estes resultados foi o tempo reduzido de
tratamento (49 dias), seguido da presença de amido
resistente na farinha que reduz o índice glicêmico,
pois, por ser uma fibra insolúvel, esse carreia moléculas de gordura e de açúcar que serão absorvidas pelo
organismo mais lentamente (PEREIRA, 2007).
O aumento gradual do peso dos ratos Wistar
adultos pode estar relacionado ao consumo de ração diferente ao longo das semanas.
O tratamento com farinha de banana verde não
206
Rins (g)
produziu efeito no peso dos órgãos, o que pode ser
explicado pelo uso de animais adultos e saudáveis.
O mesmo ocorreu em relação às medidas de comprimento dos animais e teor de cinzas dos ossos,
apesar de a farinha de banana verde possuir alto
teor de matéria mineral (2,62±0,06g) (FASOLIN et al.,
2007).
Não houve efeito de tratamento no volume de
urina, peso e umidade das fezes. O volume de urina condiz com o consumo de líquidos, entretanto,
no que se refere às fezes, seu volume deveria estar
aumentado, uma vez que o amido resistente da farinha de banana verde age como fibra alimentar, aumentando o bolo fecal.
Área - Ciências da Saúde
Não houve diferença quanto à quantidade de
gorduras (abdominal, epididimal e visceral), gorduras nas fezes e fígado dos animais, o que pode ser
explicado pelo baixo teor de lipídeos (1,89±0,11g)
encontrado na banana (FASOLIN, 2007).
Conclusão
A farinha de banana verde não trouxe benefícios
quando testada sub cronicamente em ratos adultos e
saudáveis, ao contrário, observou-se um aumento da
taxa de triglicérides. Contudo, é necessário que mais
estudos sejam realizados, inclusive testando o tratamento crônico e outras concentrações de farinha, vi-
sando elucidar os mecanismos pelos quais esta pode
interferir no metabolismo de seres vivos. A intensificação desses estudos está embasada em uma maior aceitação e indicação para a introdução deste produto na
alimentação de seres humanos.
Referência
BRASIL. Lei nº 11.794, de 08.10.2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras
providências. Brasília, DF, 2008.
FAO - Food and Agriculture Organization. Faostat, 2013. Disponível em: <http://faostat.fao.org/site/339/default.
aspx>. Acesso em: 21 jul. 2013.
FASOLIN, L. H. et al. Biscoitos produzidos com farinha de banana: avaliações química, física e sensorial. Rev. Ciênc.
Tecnol. Aliment. Campinas, v. 27, n. 3, p. 524-529, 2007.
IZIDORO, D. R. Influência da polpa de banana (Musa cavendishi) verde no comportamento reológico, sensorial e
físico-químico de emulsão. Dissertação. Mestrado em Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. 167f. Disponível em: <http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/8456/disserta%c3%a7%c3%a3o%20final.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 jul. 2013.
PEREIRA, K. D. Amido resistente, a última geração no controle de energia e digestão saudável. Rev. Ciênc. Tecnol.
Aliment., Campinas, v. 27, p. 88-92, 2007.
SBRT - Sistema Brasileiro de Respostas Técnicas - SBRT. Rio de Janeiro: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2005.
Disponível em: <http://sbrt.ibict.br/upload/sbrt 424.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2013.
ZHANG, R. L. et al. Banana starch: production, physicochemical properties, and digestibility: a review. Carbohydrate Polymers, [online], v. 59, n. 4, p. 443-458, 2005. Disponível em: <www. sciencedirect.com/science/article/pii/S0144861704004023>. Acesso em: 21 jul. 2013.
207
Área - Ciências da Saúde
E VOLUÇ ÃO DA MOR TALIDADE INFANTIL EM
PIR APOR A
Beatriz Rezende Marinho da Silveira
Eunice Francisca Martins
Ecila Campos Mota
Sabrina Leite Gitirana
[email protected]
Introdução
O perfil de morbimortalidade pode ser considerado um indicador relativamente sensível das condições
de vida e do modelo de desenvolvimento de uma população, sendo o resultado da interação de diversos fatores interdependentes, não sendo possível, portanto,
separar o nível de mortalidade de sua estrutura e de
sua relação com fatores históricos, sócioeconômicos,
demográficos e ambientais (PRATA, 1992).
Durante o século XX, o Brasil e o mundo passaram
por profundas alterações em seus perfis epidemiológico e demográfico. A mortalidade no Brasil apresentou,
nas últimas décadas, mudanças importantes, tanto no
perfil etário quanto na distribuição dos grupos de causas (BOING, 2007).
Mortalidade infantil é a terminologia utilizada
para designar todos os óbitos de crianças menores de
1 ano ocorridos em determinada área em dado período de tempo. Seu instrumento de medida, utilizado
como indicador de saúde, é o coeficiente de mortalidade infantil (ROUQUAYROL, 2003).
O coeficiente de mortalidade infantil é o indicador mais empregado para medir o nível de saúde e de
desenvolvimento social de uma região. Refere-se aos
óbitos de crianças nascidas vivas e falecidas antes de
completarem um ano de idade. A mortalidade infantil
mede o risco de um nascido vivo morrer no seu primeiro ano de vida. A mortalidade infantil deveria ser nula,
em termos ideais, pois todo óbito, na infância, é uma
morte prematura (PEREIRA, 2000).
Para melhor compreensão da sua ocorrência, de-
sagrega-se a taxa de mortalidade infantil em dois componentes, diferenciados segundo seus determinantes:
a mortalidade neonatal (óbitos ocorridos até 27 dias de
vida) e a pós-neonatal (de 28 dias a um ano). A mortalidade neonatal, por sua vez, é subdividida nos componentes neonatal precoce (de 1 a 6 dias) e neonatal tardio (de 7 a 27 dias).
O componente pós-neonatal predominou no Brasil
até 1990; a partir de então prevalece o componente neonatal, que corresponde a cerca de 70% da mortalidade
infantil atual. Uma tendência importante é o aumento relativo da mortalidade neonatal precoce (0-6 dias de vida),
que em 2003-2005 correspondeu a cerca de 50% dos óbitos infantis, em todas as regiões do país (RIPSA, 2009).
Os coeficientes de mortalidade infantil são classificados em baixos, médios ou altos, em função da proximidade ou distância de valores já alcançados em sociedades mais desenvolvidas.
Para o século XXI, os coeficientes de mortalidade
infantil abaixo de 20 por 1.000 nascidos vivos são considerados baixos, constituindo-se meta a ser alcançada
pelos países europeus. Quando os coeficientes são de
50 óbitos ou mais por 1.000 nascidos vivos, a mortalidade infantil deve ser considerada elevada: ficar abaixo
deste patamar é meta para os povos da América Latina,
a ser alcançada neste final de século (PEREIRA, 2000).
Compreender como se dá a evolução de mortalidade infantil no município de Pirapora/MG representa
um passo importante na análise da saúde infantil com
vistas à definição de políticas públicas prioritárias.
Métodos
Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório,
descritivo e documental. O cenário da pesquisa foi o
município de Pirapora, sendo incluídos no estudo os
óbitos de crianças residentes em Pirapora, menores de
1 ano e ocorridos no período de 2000 a 2010. Os dados
foram obtidos por meio do Sistema de Mortalidade
Infantil (SIM) e de Nascidos Vivos (SINASC), acessados
junto ao banco de dados do Sistema Único de Saúde
do Ministério da Saúde. Foram analisadas as variáveis:
ano do óbito, idade, sexo, peso ao nascer, tipo de óbito, idade gestacional, número de consultas de pré-natal, escolaridade da mãe, estado civil, idade da mãe,
tipo de gravidez e tipo de parto. Para a organização e
apresentação dos resultados parciais, foram utilizados
209
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
gráficos e tabelas sendo analisada a mortalidade infantil geral e desdobrada nos períodos neonatal precoce
(menores de 7 dias), neonatal tardio (7 a 27 dias) e pós-
neonatal (28 dias a menos de 12 meses).
O Projeto de Pesquisa foi submetido ao Comitê de
Ética em Pesquisa da Unimontes, aprovado segundo o
Parecer consubstanciado nº 2779.
Resultados E Discussão
Durante o período de 2000 a 2010 a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) no município de Pirapora foi de
15,8/1000 nascidos vivos. Observam-se taxas elevadas
no período de 2003 a 2005, com declínio nos anos subsequentes, conforme demonstrado na Tabela 1.
Tabela 1: Taxa de mortalidade infantil, Pirapora, 2000-2010
Ano do nascimento
Nascimento por residência da mãe
Nº de óbitos TMI/1000
2000
2001
2002
2003
1341
1156
1261
1186
22
13
10
30
16,4
11,2
7,9
25,3
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
TOTAL
1139
1176
1099
1151
1105
1010
1043
12667
26
28
16
13
16
16
10
200
22,8
23,8
14,6
11,3
14,5
15,8
9,6
15,8
Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC
Apesar do declínio da mortalidade infantil, o nível atual é ainda elevado se comparado com taxas de
países desenvolvidos como o Japão, que vem man-
tendo índices de mortalidade entre quatro e cinco por
mil nascidos vivos, há mais de 20 anos (MINAS GERAIS,
2004).
Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC
210
Área - Ciências da Saúde
Analisando a mortalidade infantil no período pesquisado, segundo seus componentes neonatal precoce, tardio e pós-neonatal, o estudo revelou um coeficiente de mortalidade neonatal precoce de 9,0/1000
nascidos vivos. O componente neonatal tardio apre-
sentou uma taxa de 2,2/1000 nascidos vivos, e o pósneonatal foi de 4,6/1000 nascidos vivos. Observa-se
preponderância dos óbitos no período neonatal precoce, indicando um risco de um nascido vivo morrer durante a primeira semana de vida.
Conclusão
O conhecimento do perfil epidemiológico da população é base fundamental para os processos de planejamento e de gestão no âmbito do município. Os indicadores devem ser utilizados e analisados com suas
limitações e agregados a outras fontes de informações
para indicar tendências e diferenciais nas condições de
saúde da população. O estudo da mortalidade de menores de um ano de idade constitui um importante sinalizador das condições de saúde, ambientais e socioeconômicas da população.
Referências
BOING, A. F.; VARGAS, S. A.; LÓPEZ, A. C. A carga das neoplasias no Brasil: mortalidade e morbidade hospitalar entre 2002-2004. Rev. Assoc. Med. Bras. Online. 2007, v. 53, n. 4, p. 317-322. ISSN 0104-4230.
MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Saúde. Análise da Mortalidade Materna e Infantil no Estado de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 2004,47p.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2000.
PRATA, P. R. A transição epidemiológica no Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, Junho, 1992.
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÃO PARA SAÚDE. RIPSA. Informe de Situação e Tendências: demografia e saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2009.
ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia & Saúde. 7 ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2013. 211
Área - Ciências da Saúde
MÃES QUE CUIDAM DE FILHO(A) S COM
NECESSIDADES ESPECIAIS NA PERSPEC TIVA DE
GÊNERO
Juliana Pereira Alves
Lúcia Helena Rodrigues Costa
[email protected]
Introdução
Grandes desafios surgem para os pais, sobretudo
para as mães, quando recebem o diagnóstico de um
filho (a) com necessidades especiais, o que vai demandar o envolvimento de indivíduos além da família, uma
equipe multidisciplinar de profissionais para acompanhamento e apoio, a fim de que haja um melhor desenvolvimento físico, social e intelectual dessa criança. Há um discurso dominante de que a sensibilidade
materna no cuidar é um aspecto central do processo
interativo entre mãe-filho (a) em etapas do desenvolvimento humano, que favorece a formação do vínculo
entre eles e é indissociável do contexto sociocultural.
No contexto familiar, sociedade e cultura se entrelaçam,
sustentando a ideologia dominante em nosso meio de
que a mulher é a provedora dos cuidados às crianças,
sobretudo quando o(a) filho(a) possui uma necessidade especial, levando-a a se dedicar, na maioria das
vezes, integral­mente ao cuidado do(a) filho(a) (NEVES;
CABRAL, 2008; SILVEIRA, 2010).
Na manutenção dos estereótipos de gênero determinados pelas construções sociais de masculinidades e
feminilidades, o cuidado é historicamente um atributo
de feminilidade, visto que inúmeras regras sociais foram calcadas numa suposta determinação biológica
diferencial dos sexos usadas nos exemplos mais corriqueiros, como mulher não pode levantar peso ou homem
não tem jeito para cuidar de criança (GROSSI, 2010).Nesse
sentido, a divisão sexual do trabalho levou a uma construção social das diferenças, em que tarefas que envolvem sensibilidade, carinho, afetuosidade são historicamente consideradas femininas. Observa-se assim a
predominância feminina no cuidado até nos dias atuais,
sustentado por um discurso hegemônico em relação ao
sexo e aos papéis de gênero, reforçando que o cuidar é
parte integrante do universo feminino (AMORIM, 2009).
Essa realidade feminina despertou interesse e indagações ao conceber a mãe como a figura central nos cuidados da criança com necessidade especial no contexto
social e familiar, estimulando aprofundar nessa temática, surgindo a seguinte questão norteadora: Em que
medida as diferenças de gênero influenciam a vivência das
mães em relação ao cuidado com filhos (a) que apresentam necessidades especiais? A partir dessa perspectiva, o
presente estudo objetivou compreender como as diferenças de gênero influenciam a vivência das mães em
relação ao cuidado de filhos (as) com necessidades especiais, identificando as principais dificuldades diárias
encontradas por elas nas vivências do(a) filho (a).
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem
qualitativa. Foi realizado na cidade de Montes Claros
no norte de Minas Gerais, no período de agosto a setembro de 2013, sendo as participantes da pesquisa
quinze mães de filho (as) com necessidades especiais
matriculados regularmente em uma escola especial.
Os dados foram obtidos por meio da técnica de grupo focal, a qual é um método em grupo que valoriza
a comunicação entre os participantes da pesquisa a
fim de gerar dados. As pessoas são estimuladas a falar,
perguntar, trocar histórias e a comentar sobre experiências e os pontos de vista umas das outras através
de perguntas abertas que estimulem os participantes
a explorar aspectos importantes com o próprio voca-
bulário, gerando perguntas e estabelecendo suas próprias prioridades (POPE, 2009). Foram realizados dois
grupos focais em horários alternados, matutino e vespertino, com duração de aproximadamente 60 minutos, sendo conduzidos por três questões norteadoras.
Os resultados foram analisados por meio da análise de
conversação, fundamentada na premissa de que a interação social é construída com alternância, por meio
de sucessivas ações verbais e não-verbais, indo desde
uma saudação inicial até gestos corporais. Foram registradas por meio de notas de campo efetuadas por
uma observadora e gravações consentidas pelas participantes para seguir os passos de análise e identificação de aspectos dignos de nota, como intensidade do
213
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
som, ritmo, intervalos marcados na conversa e detalhes
na postura do olhar. Assim havia a familiarização com
os dados para elaboração da transcrição do estudo e,
em seguida, organização deles em categorias. Em observância aos aspectos éticos, o projeto de pesquisa
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros-MG (Unimontes),
com o parecer nº 226.758. Às participantes da pesqui-
sa foi apresentado um Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, informando sobre os objetivos do estudo, o caráter voluntário da participação e o direito de
desistir da pesquisa a qualquer etapa do estudo. Para
manter o anonimato, foram sugeridos nomes fictícios
de flores em suas enunciações. Antes de iniciar os grupos focais, foi realizada a “dinâmica dos palitos” para
uma reflexão da importância do trabalho em grupo.
Resultados e Discussão
A faixa etária das mães participantes variou de 24
a 71 anos de idade; nove delas eram casadas, duas solteiras, duas divorciadas e duas viúvas. A renda familiar
variou de dois a cinco salários mínimos com maior concentração na faixa de até dois salários mínimos. Cinco
das mães se declararam brancas; nove, pardas e uma
manifestou-se negra. Da religião, dez responderam
ser católicas e cinco evangélicas. Sobre a escolaridade,
apenas duas possuíam ensino superior completo; uma
cursou o superior incompleto; uma havia cursado o ensino médio completo; três, o ensino médio incompleto;
uma cursou o fundamental completo; seis, o fundamental incompleto e uma mãe não possuía nenhuma
escolaridade. Sobre a profissão, uma respondeu ser
professora; uma, funcionária pública; uma, autônoma;
duas, salgadeiras; uma, cozinheira; outra trabalhava
com reciclagem; sete responderam ser do lar e uma,
aposentada. Em relação ao desenvolvimento do (a) filho (a), nove mães responderam estar satisfeitas uma
insatisfeita e cinco preocupadas. Sobre quem é mais
responsável nos cuidados diários, todas as quinze res-
ponderam que eram elas. Seus (suas) filho (as) deficientes tinham de 2 a 29 anos de idade; sendo cinco
portadores de deficiência mental; dois, síndrome de
Down; um, paralisia cerebral; um, hemiparesia cerebral;
um, autismo; um, portador de síndrome de Lennox e
um, de Disritmia cerebral. Definiram-se três categorias
de análise: Mães como figura central no cuidar do(a) filho(a); as mudanças das relações sociais e interpessoais
causadas pela situação do(a) filho (a) e falta de informações sobre o diagnóstico do(a) filho/ filha pelo profissional, que gerou a sub categoria dificuldade de lidar
com uma situação nova. Pode-se observar na principal categoria do estudo: Mães como figura central no
cuidar do(a) filho (a) que a prática do cuidar, historicamente, tem sido reconhecida como inerente à natureza
feminina. Nessa perspectiva, atividades derivadas do
ato de cuidar tendem a ser atribuídas às mulheres e naturalizadas de forma a aparecerem como exclusivas e
constitutivas da condição feminina (GUEDES,2009). Os
resultados deste estudo corroboram com essa premissa conforme as seguintes falas:
[... ]No geral, quem cuida é a mãe, ainda mais quando a criança é especial [...] (DÁLIA VERMELHA, 47
anos).
Toda criança especial precisa de mais carinho, mais atenção: isso só a mãe para dar, sabe! (CAMÉLIA, 50anos).
Toda mãe de criança especial tem medo de morrer, porque se morrer quem vai cuidar da criança?
( DÁLIA VERMELHA, 47anos).
Pra mim o meu amor passou tudo pra ela, eu não fiquei preocupada não, sabe, tinha que aceitar
aquilo...É diferente o cuidado, é dobrado [...] (AZÁLEA BRANCA, 71 anos).
Esses relatos reforçam o papel da mulher/ mãe como a principal responsável dos cuidados ao (à)filho (a) com
necessidade especial.
Conclusão
O estudo oportunizou observar que existe uma
grande representatividade da mulher/mãe como a
principal cuidadora familiar, de filho(a) com necessidades especiais. Possibilitou, ainda, conhecer as vivências,
experiências e dificuldades nas representações maternas sobre as deficiências a partir do diagnóstico. Em
relação às questões de gênero, é nítida a manutenção
dos papéis tradicionais de mães cuidadoras, figuras
centrais no cuidado do(as) filho(as) com necessidades
214
especiais, aumentando a carga de compromisso e atividades destinadas, ao cuidado. Percebe-se a permanência do contexto socio-histórico, que deposita na
condição materna toda a responsabilidade do cuidado
no âmbito familiar, quando verdadeiramente podemse dividir papéis/funções dos pais, já que cuidado pode
ser realizado por qualquer indivíduo social. Nesse sentido, o empoderamento individual e coletivo das mães
cuidadoras deve ser reforçado não somente na condi-
Área - Ciências da Saúde
ção materna, mas também na condição feminina. Outro aspecto destacado no estudo trata da conduta dos
profissionais da área da saúde ao transmitir as informações e orientações do diagnóstico à família, especialmente para as mães. Podemos dizer, pelos resultados
obtidos neste estudo, que há uma necessidade de formação dos profissionais no sentido de que sejam mais
sensíveis aos dilemas da família e das mães, quando
o que está posto é a insegurança gerada pelo fato de
que terão que cuidar de uma criança com necessidades
especiais. Por conseguinte, a enfermagem, como uma
profissão do cuidado, tem uma grande responsabilidade no repasse das informações, orientações e acompanhamento, não somente nas instituições de saúde, mas
especialmente nas escolas e domicílios.
Referências
AMORIM, R. C. A. Questão do gênero no ensinar em Enfermagem. Revista enfermagem. UERJ, Rio de Janeiro.
v.17, n. 1, p. 64-8, 2009.
GUEDES, O. S.; DAROS, M. A. O cuidado como atribuição feminina: contribuições para um debate ético. Rev. Londrina, v. 12, n. 1, p. 122‐134, 2009. 122p.
GROSSI, M. P. Identidade de Gênero e Sexualidade. Antropologia em Primeira Mão. Florianópolis, p. 1-18,
1998. Versão revisada, 2010.
NEVES, E. T.; CABRAL, I. E. Empoderamento da mulher cuidadora de crianças com necessidades especiais de saúde. Revista Texto contexto Enfermagem. Florianópolis, v. 17, n. 3, July/Sept., 2008.
POPE, C. Pesquisa qualitativa na atenção a saúde. Nicholas Mays. Tradução Anany Porto farjado.3ª ed. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
SILVEIRA, J. O. Família e educação: um olhar sobre as relações entre o especialista e a mãe/cuidadora especial.
Dissertação. Mestrado. Santa Maria. RS, 2010.
215
Área - Ciências da Saúde
PERFIL CLÍNICOS SOCIAL E HÁBITOS DE HIGIENE
BUC AL DE PUÉRPER AS ATENDIDAS EM HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
Verônica Oliveira Dias
Soraya Mameluque
Edwaldo de Souza Barbosa-Júnior
Eduardo Brandão Lima
Jéssica Bianca Rodrigues
Caio Cesar Borges de Oliveira
Edson Jose Carpintero
[email protected]
Introdução
A gestação é um período em que ocorrem várias
modificações metabólicas e psíquicas na mulher, a fim
de responder à demanda de um novo ser presente no
organismo e da própria gestante, podendo repercutir na
cavidade bucal e, por isso, o atendimento odontológico
deve ser cauteloso e diferenciado (MAMELUQUE et al.,
2005). Mendonça Júnior (2010) relata que nesse período
deve-se valorizar o trabalho de educação e promoção
de saúde, para esclarecer e desmistificar todos os medos
existentes por parte da mãe e explicar-lhe que os problemas bucais, se não tratados, poderão gerar alterações em
sua gestação. Segundo Alves et al. (2007), o aumento da
vascularização e da permeabilidade vascular dos tecidos
gengivais são as principais alterações bucais da gravidez.
Os níveis elevados de estrógeno e progesterona presentes nesse período causam um aumento da mobilidade
dentária, do fluido gengival, da profundidade do sulco
gengival e da resposta inflamatória à ação de irritantes
locais, podendo instalar um quadro de doença periodontal que, segundo Louro et al. (2001), pela sua magnitude e
prevalência na gestação, é considerado como um problema de saúde pública. Alguns estudos têm sido realizados
correlacionando essa enfermidade com o período gestacional, encontrando uma direta relação com o parto
prematuro e bebês de baixo peso ao nascer (ALVES et al.,
2007). Diante disso, conhecer o perfil clínicossocial, condição periodontal e hábitos de higiene bucal de puérperas atendidas no Hospital Universitário Clemente de
Faria no município de Montes Claros – MG proporciona
melhorias na atenção, através da identificação das reais
necessidades e da possibilidade de se programar ações
baseadas nessas necessidades locais, uma vez que, para
Pimentel et al., (2011), estudar o perfil de uma população
é a forma mais pontual de se promover saúde.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo descritivo, observacional e
transversal realizado com puérperas do Hospital Universitário Clemente de Faria (HU), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) entre o período
de setembro/2011 a maio/2012. Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado
com informações sobre condições sócioeconômicas,
nível de escolaridade do parceiro, saúde geral e hábitos de higiene bucal durante a gestação, seguido de
exame clínico. Após a entrevista, três pesquisadores
previamente calibrados realizaram o exame periodontal (Teste de concordância Kappa 0, 82 intra e 0,63
inter-examinadores). O poder de compra das pessoas
e famílias urbanas foi estimado de acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil, proposto pela
ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).
A doença periodontal foi diagnosticada quando 4 ou
mais dentes mostraram um ou mais locais com profundidade de sondagem de 4 mm ou mais, e com perda de inserção clínica de 3 mm ou mais no mesmo sítio (GOMES-FILHO, 2009). As variáveis relacionadas ao
bebê foram o peso e a idade gestacional. O estudo foi
executado de acordo com a Resolução nº 466/12, do
Ministério da Saúde, sobre pesquisa envolvendo seres
humanos e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros,
número 1978/2010. O banco de dados e as análises foram realizados no programa Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS) versão 18.0.
217
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e Discussão
Foram analisados os dados de 71 puérperas e seus
recém-nascidos. Em relação às características sóciodemográficas das puérperas, prevaleceram as feodermas (54,1%), com renda de um salário mínimo (43,3%),
união consensual (44,3%), pertencentes à classe econômica C (71%); 55,2% com apenas um filho ( média
de 2,01 filhos). A média de idade foi 26,7 anos, sendo
que a maioria (74,7 %) encontrava-se na faixa etária de
20 a 40 anos; 60% eram naturais de Montes Claros e as
demais de cidades da região. Em relação à escolaridade, destaca-se que 42,2% das puérperas possuíam o
ensino médio completo. Quanto ao histórico gestacional, as condições mais relatadas foram: infecção urinária (25,7%), hipertensão (24,3%), pré-eclâmpsia (11,1%),
eclâmpsia e diabetes, ambas com 4,3%. De acordo com
Simões e Soarde (2006), dentre as enfermidades crônicas na fase adulta, destaca-se a hipertensão arterial
como a complicação clínica mais freqüente na gravidez, ocorrendo em torno de 12% a 22% das gestações,
o que condiz com os achados deste estudo. Segundo
o tipo de parto na última gestação, 57,8% tiveram partos cesarianos e 42,2%, partos normais. O uso de álcool
foi relatado por 17,5% das mães, e o tabaco teve frequência de 10,2%, com média de 4,17 cigarros por dia.
Já o uso de drogas ilícitas não foi citado por nenhuma
participante. Em um estudo realizado por Silva et al.
(2010) com 260 gestantes, encontrou-se prevalência
de 24,6% de consumo de álcool durante a gestação.
Segundo esses autores, a quantidade segura de álcool
que uma gestante pode consumir não está definida na
literatura, por isso se recomenda abstinência total durante toda a gravidez. Estudos citam que o abuso do
álcool está associado, de maneira dose-dependente,
à restrição do crescimento fetal, às deficiências cognitivas e ao aumento da morbimortalidade (HALMESMAKI, 1988; LUNDSBERG et al., 1997; KAUP et al., 2001).
Já o tabagismo materno, também encontrado nesta
pesquisa, pode afetar o crescimento intrauterino de
pelo menos três maneiras diferentes: hipóxia fetal decorrente do aumento dos níveis de carboxihemoglobina, vasoconstrição uterina e interferência no metabolismo fetal (ZAMBONATO et al., 2004). Neste trabalho,
99,6% das mulheres realizaram o pré-natal, com média
de início de 7,7 semanas, sendo que 14,7 % relataram
gravidez de risco, sendo o motivo mais comum a hipertensão (10%). Desde 2000, a recomendação do Ministério da Saúde é de que a mãe realize, no mínimo,
seis consultas de pré-natal e as inicie tão logo comece
a gravidez (IBGE, 2009). A média de peso dos recémnascidos foi 2,73Kg (± 0,73kg) com 32,3% apresentando baixo peso ao nascer. A média da idade gestacional
foi 36,78 semanas (± 3,81), sendo 43,6% prematuros e
46,4% com idade gestacional normal. A proporção de
recém-nascidos com peso inferior a 2,5 Kg foi de 50%,
em mulheres com renda inferior a um salário mínimo
e, nas mães que possuíam uma renda superior a um salário mínimo, a frequência caiu para 26,9%. Dessa maneira, os resultados demonstraram que, quanto menor
a renda entre as participantes, maior a frequência de
bebês com baixo peso ao nascer, corroborando os estudos de Almeida (2002) e Nascimento (1997). Nos dados referentes à saúde bucal, mais da metade das entrevistadas responderam que escovavam os dentes três
vezes ao dia e que, pelo menos uma vez ao dia, faziam
uso do fio dental. Moimaz et al. (2011) relataram que,
durante a gravidez, com muita frequência, têm ocorrido mudanças no aspecto gengival das pacientes, com
uma tendência ao agravamento da gengivite. Dentre
as gestantes por eles examinadas, 40,03% relataram
ter observado alterações na sua gengiva durante a gravidez, como edema e vermelhidão, e 40,75% apresentaram bolsas periodontais. De acordo com os critérios
de diagnóstico utilizados no presente estudo, 9,8% das
puérperas apresentaram doença periodontal. Apesar
de esse percentual ser relativamente baixo, segundo
Offenbacher et al. (1998), a doença periodontal implicaria risco na proporção de 4 a 7 vezes maior de parto
prematuro em relação a outros fatores, como idade da
gestante e fumo. Portanto, concordando com Sartório
e Machado (2004), é importante tratar prontamente as
alterações periodontais de mulheres em idade de procriação com vistas à redução da incidência de bebês
prematuros e de baixo peso.
Conclusões
Conhecer o perfil clínicossocial das puérperas
proporciona melhorias na atenção à saúde, através da
identificação das reais necessidades e da possibilidade
de se instituir ações visando à promoção de saúde das
mesmas. Apesar de a maioria das participantes deste
estudo relatarem bons hábitos de higiene bucal, observou-se a presença de doença periodontal, fator re-
218
levante em decorrência da associação encontrada na
literatura com o parto prematuro e baixo peso ao nascer. Percebe-se que a implementação e manutenção
de orientações sobre os cuidados com a saúde bucal
são indispensáveis no período gestacional, refletindo
em melhores condições de saúde para ambos, mãe e
bebê.
Área - Ciências da Saúde
Referências
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peso: um estudo de revisão. HU Rev., Juiz de Fora, v.33, n.1, p.29-36, jan./mar., 2007.
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Gestão Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/indic_sociosaude/2009/indicsaude.pdf. Acesso em: 24.03.14
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among infants in Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 1, p. 24-29, 2004.
219
Área - Ciências da Saúde
PERFIL DE USUÁRIOS HIPER TENSOS C ADASTR ADOS
EM UMA ES TR ATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Carla Silvana de Oliveira e Silva
Luís Paulo Souza e Souza
Igor Oliveira Sidônio
Lucineia de Pinho
Antônia Gonçalves de Souza
Iara Marina da Cruz
Leila das Graças Siqueira Santos
[email protected]
Introdução
Tanto nos países desenvolvidos quanto nos países
em desenvolvimento predomina a mortalidade por
doenças cardiovasculares. E, como causa isolada, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a mais importante
morbidade do adulto (MANO; PIERIN, 2005).
Nesse sentido, a Estratégia Saúde da Família (ESF)
pode ser útil, pois pode ajudar os hipertensos a obterem o controle da doença no contexto da família. A
garantia de acesso dos profissionais de saúde às famílias dos hipertensos cadastrados resulta na garantia
de esforços na prevenção. Ressalta-se que uma das
técnicas utilizadas pelas equipes da ESF para controle
da PA é a prática educativa dos grupos de hipertensos,
que tem como característica principal a centralização
em uma tarefa, constituindo-se como um instrumento
de trabalho e um método de investigação (MANO; PIERIN, 2005). Brasil (2006) afirma que o grupo pode, assim, cumprir uma função terapêutica, uma vez que está
centrado em uma tarefa que pode ser o aprendizado, a
cura, o diagnóstico de dificuldades, caracterizando-se
como educativos, terapêuticos, dentre outras finalidades.
Assim, este artigo objetivou descrever o perfil de
hipertensos participantes dos grupos educativos cadastrados em uma ESF de Montes Claros – MG.
Materiais e Métodos
Realizou-se um estudo de corte transversal do
tipo descritivo. A pesquisa foi realizada junto a 92 hipertensos cadastrados na ESF do bairro Novo Delfino,
em Montes Claros, Brasil. Para coleta na pesquisa de
campo ,utilizou-se entrevista estruturada contendo
perguntas objetivas sobre as características dos hipertensos, frequência e participação ao grupo educativo,
além de conhecimento de fatores relacionados ao controle da PA. Como critérios de inclusão dos participantes do grupo tiveram-se: ter os seus registros de cadastro de acompanhamento referente a setembro de 2008
disponíveis; ter idade maior ou igual a dezoito anos de
idade no mês de setembro de 2008; e ter registro de no
mínimo uma frequência ao grupo educativo conforme
livro de ata da ESF, no período de setembro de 2007 a
setembro de 2008.
A análise dos dados prosseguiu após a aplicação
do instrumento de coleta de dados e se deu pela organização destes em um banco de dados, o que favoreceu a construção das tabelas, através do programa do
Microsoft Word for Windows XP.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros,
por meio do parecer 1273/08. Além disso, utilizou-se
para cada entrevistado, por envolver seres humanos,
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em
duas vias.
Resultados e Discussão
Ressalta-se que, para alcançar os objetivos deste estudo, faz-se necessário conhecer o perfil desses hipertensos, conforme mostra a Tabela 1.
221
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Tabela 1 - Perfil dos Hipertensos que frequentam o grupo educativo da ESF em Montes Claros no período de set2007 a set- 2008.
Variáveis
N
%
SEXO
Masculino
Feminino
24
68
26,1
73,9
05
42
45
5,4
45,7
48,9
05
51
03
33
5,4
55,4
3,3
35,9
35
39
12
06
38
42,3
13,04
6,5
IDADE
18-40
40-60
> 60
ESTADO CIVIL
Solteiro
Casado/União Consensual
Separado/Divorciado
Viúvo
ESCOLARIDADE
Analfabeto
Primário completo/Incompleto
Fundamental/Completo/Incompleto
Médio Completo/Incompleto
Fonte: Coleta de dados no período de set.2007 a set.2008.
Percebe-se que, dos 92 hipertensos participantes,
73,9% são do sexo feminino; o que, segundo Araújo
e Garcia (2006), deve-se ao fato de as mulheres aderirem mais ao seguimento anti-hipertensivo do que os
homens, podendo ser comprovado já que estão em
maior número nos grupos educativos em relação aos
homens.
Em relação à faixa etária, constataram-se mais
pessoas com idade acima de 60 anos (48,9%). Nosso
estudo corrobora Araújo e Garcia (2006), que afirmam
que os indivíduos de idade mais avançada são mais frequentes em práticas educativas de saúde e mais propensos a ter uma melhor adesão às orientações propostas do que os adultos jovens.
Quanto ao estado civil dos hipertensos, encontrou-se que indivíduos casados são os que mais frequentam os grupos educativos, totalizando 55,4%, seguido por viúvos (35,9%), solteiros e separados (5,4%).
Tratando-se da escolaridade dos entrevistados, 62%
são classificados como alfabetizados e 38% são analfabetos. Recorre-se ao Sistema de Informação da Atenção Básica (2003), do Ministério da Saúde, para des-
222
crever que foram considerados alfabetizados todos os
indivíduos que sabiam ler e escrever pelo menos um
bilhete, mesmo que tenham tido pouco contato com o
ensino escolar.
Araújo e Garcia (2006) afirmam que quanto maior
o nível de instrução da pessoa, melhores são suas condições de vida e mais apta ela se encontra para cuidar
de sua saúde, possibilitando modificação em seus hábitos de vida, como a implementação de dietas, atividades e físicas e redução do tabagismo.
De acordo com definições da Sociedade Brasileira
de Cardiologia (2006), a HAS é considerada uma síndrome, isto é, uma entidade clínica multifatorial, caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados,
associados às alterações metabólicas e hormonais, e a
fenômenos tróficos. Assim, para se tratar e controlar a
hipertensão, é necessário adotar medidas diversas para
alcançar um objetivo único, que é manter os níveis tensionais em padrão adequado.
A Tabela 2 retrata os fatores diretamente ligados
ao controle e tratamento da hipertensão.
Área - Ciências da Saúde
Tabela 2 - Distribuição dos fatores presentes para o controle da pressão entre os hipertensos que frequentam o
grupo educativo da ESF de Montes Claros, no período de setembro 2007 - 2008.
Variáveis
USO DE MEDICAMENTO
Sim
Não
FUMA
Sim
Não
FAZ DIETA
Sim
Não
PRÁTICA DE EXERCICIO FÍSICO
Sim
Não
Total
N
%
85
07
92,3
7,7
05
87
5,4
94,6
66
26
71,7
28,3
42
50
92
45,7
54,3
100
Fonte: Coleta de dados no período de set.2007 a set.2008.
Quando questionados sobre o uso correto da medicação anti-hipertensiva, uma parcela expressiva dos
entrevistados (92,3%) disse fazer uso da medicação, enquanto que uma minoria (7,7%) informou que não usava. Tal achado corrobora Mion Junior et al. (1995), que
verificaram, em seu estudos, que 56% dos hipertensos
usavam medicamentos e tinham preferência por este
tipo de tratamento.
Quanto ao tabagismo, encontrou-se que, dos entrevistados, a parte fumante é mínima (5,4%). Riella
(1996) descreve que a redução do fumo é um tratamento não farmacológico comprovadamente eficaz
para reduzir a PA de indivíduo tabagista.
A distribuição dos hipertensos que seguem uma
dieta neste estudo foi de 66 hipertensos (71,7%), enquanto que 26 disseram não fazer nenhuma dieta
(28,3%). Araújo e Garcia (2006) relatam que seguir uma
dieta controlada é um fator essencial, pois o controle
da HAS requer alterações alimentares, destacando a redução de ingestão calórica, sal e gorduras saturadas e
aumentar a ingesta de alimentos ricos em fibras.
Quanto à prática de exercício físico, encontrou-se
que os hipertensos adeptos a tais atividades correspondem a 45,7% dos entrevistados, contra 54,3% que
disseram não realizar nenhuma atividade física. De
acordo com Brasil (2006), o exercício físico, além de
reduzir a PA, proporciona uma considerável baixa nos
riscos de surgimento de doença arterial coronária, acidentes vasculares cerebrais e mortalidade geral. Deve
ser instituído de forma gradativa e constante, respeitando os limites do individuo e após avaliação clínica.
Conclusões
Pôde-se constatar que o perfil dos usuários pesquisados assemelha-se ao encontrado na literatura.
Maior parte era mulheres, tinha idade acima de 60
anos, era casada, alfabetizada, fazia uso da medicação
anti-hipertensiva, fazia dieta recomendada nos grupos
e não fazia atividade física.
Esta pesquisa permite destacar, também, que os
grupos educativos de hipertensos na atenção primária
à saúde são uma proposta bastante relevante no âmbito da saúde coletiva, pois são importantes ferramen-
tas no controle da hipertensão arterial sistêmica. E, ao
analisar os fatores presentes para o controle da pressão entre os hipertensos que frequentavam os grupos
educativos (fumo, medicação, atividade física e dieta),
nota-se que a maior parte dos hipertensos seguiam as
recomendações. No entanto, faz-se necessário desenvolver maiores estudos sobre o tema para que se obtenham resultados mais específicos diante das propostas
educativas do grupo de hipertensos
Referências
ARAÚJO, G. B. S.; GARCIA, T. R. Adesão ao tratamento anti-hipertensivo: uma análise conceitual. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 8, n. 2, p. 259-272, 2006.
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Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde 2006. 58 p.
223
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
MANO, G. M. P.; PIERIN, A. M. G. Avaliação de pacientes hipertensos acompanhados pelo Programa Saúde da Família de um Centro de Saúde Escola. Rev. Acta Paul. Enferm. São Paulo, 2005.
MION JUNIOR, D. et al. Conhecimento, preferências e perfil dos hipertensos quanto ao tratamento farmacológico
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. In. Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, 2006.
224
Área - Ciências da Saúde
PERFIL E PRODUÇ ÃO CIENTÍFIC A DOS
PESQUISADORES BR ASILEIROS DO CNPq EM
PERIODONTIA
Ana Luíza Baêta de Miranda
Daniela Araújo Veloso Popoff
João Gabriel Silva Souza
Silvério de Almeida Souza Torres
Hercílio Martelli Junior
Allyson Nogueira Moreira
Andréa Maria Eleutério De Barros Lima Martins
[email protected]
Introdução
Ciência, tecnologia e educação qualificada são
reconhecidas, cada vez mais, como componentes fundamentais para o desenvolvimento econômico, tecnológico e industrial das nações (GUIMARÃES, 2004).
Indicadores bibliométricos apontam para mudanças no
panorama da pesquisa científica, evidenciando a expansão da produção internacional e brasileira (GUIMARÃES,
2004; VOLPATO; FREITAS, 2003; SANTOS et al., 2009).
A expansão na produção científica internacional
e brasileira desencadeia um aumento considerável na
disputa por recursos para pesquisa. Uma parcela representativa da produção científica brasileira é oriunda dos pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além
de outros órgãos de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) (SANTOS et al., 2009).
O aumento quantitativo da produtividade de pesquisadores brasileiros, possivelmente, reflete os vários
mecanismos de incentivo implementados por órgãos
de pesquisa nacionais. Entre estes mecanismos destaca-se o desenvolvimento da pós-graduação nacional
e a concessão de bolsas de produtividade em pesquisa concedidas pelo CNPq, como forma de motivar
os pesquisadores com grau de doutor (SOUZA, 2002;
SANTOS et al., 2012).
No âmbito da produção científica brasileira, no
que diz respeito à área da saúde, destaca-se o crescimento da produção científica odontológica (NADA-
NOVSKY, 2006; CAVALCANTE, 2008). Estudos prévios
objetivaram avaliar a produção científica em Odontologia entre pesquisadores brasileiros (CAVALCANTE
et al., 2008; CAVALCANTI; PEREIRA, 2008; DIAS; NARVAI; REGO, 2008), além da avaliação de suas subáreas
(SANTOS et al., 2012; POPOFF et al., 2012; MOROSSONI
et al., 2012). No entanto, não foram encontrados estudos avaliando a produção científica nacional na área de
Periodontia. Em comum com todas as demais áreas da
saúde, a investigação científica em Periodontia está aumentando exponencialmente. Um número expressivo
de trabalhos abordando aspectos relevantes à Periodontia é publicado a cada ano, objetivando melhorar a
compreensão sobre a doença periodontal – uma doença inflamatória de impacto significativo na qualidade
de vida, além de outros aspectos relacionados a esta
especialidade da Odontologia (PRESHAW, 2000). Portanto, é cada vez mais relevante entender as características relacionadas à produção científica e aos sistemas
de regulação e incentivo à pesquisa em diferentes partes do mundo (COOLEY; CASTELLION, 1997).
Nesse contexto, a presente investigação propõe
avaliar o perfil e a produção científica de pesquisadores brasileiros na área de Periodontia do CNPq. Devido
à contribuição notável dos pesquisadores da área de
Odontologia na produção científica nacional, acreditase que dentre estes, os pesquisadores da Periodontia
representem uma das principais áreas de atuação dentro da Odontologia e, portanto, um importante contingente científico a ser analisado.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo de caráter transversal, observacional e descritivo que utilizou dados secundários.
Para obtenção da amostra em estudo, ou seja, pesquisadores da área de Periodontia, primeiramente foram
225
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
identificados os pesquisadores bolsistas de produtividade do CNPq, na área de Odontologia, com bolsas
ativas em fevereiro de 2013 (CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, 2013).
A partir da identificação dos pesquisadores bolsistas, foram analisadas as informações quanto à área de atuação
dos mesmos em consonância com seus currículos Lattes,
acessados na plataforma Lattes do CNPq (CONSELHO
NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, 2013). Foram consideradas as informações
constantes do item “Área de atuação” e/ou a área de experiência informada no texto de descrição do perfil do
pesquisador. Para aqueles que relataram atuar em mais
de uma área, foi considerada a de maior produção nos
anos em avaliação. A amostra de trabalho foi constituída
por pesquisadores que, a partir dos critérios estabelecidos anteriormente, foram considerados da área de Periodontia.
As informações coletadas foram referentes a: sexo,
categoria da bolsa, localização geográfica, instituição
de afiliação, instituição de graduação, tempo de conclusão de doutorado, conclusão de pós-doutorado
e especialização, local de realização do doutorado e
pós-doutorado, membro de corpo editorial, revisor de
periódico, artigos publicados em periódicos internacionais (Qualis – A, B e C) e nacionais (Qualis – A, B e C),
autoria de livro ou capítulo de livro, orientação de iniciação científica, mestrado e doutorado, supervisão de
pós-doutorado e participação em grupo de pesquisa.
Para avaliação do Qualis dos periódicos, foi utilizado como parâmetro o portal da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
o WebQualis (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR, 2013). O Qualis é
o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes
para estratificação da qualidade da produção intelectual, realizando a classificação dos periódicos em áreas
de avaliação, sendo atualizado anualmente (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL
SUPERIOR, 2013). Para consulta do Qualis, foi utilizado
o nome ou ISSN dos periódicos. Adotou-se como critério de avaliação o estrato na área de Odontologia; em
caso de não existência deste estrato levou-se em consideração o estrato, em Interdisciplinar, sendo excluídos
aqueles que não possuíam estrato nestas áreas de avaliação e que não obtiveram resultados a partir da busca.
As informações investigadas corresponderam aos
anos de 2011 e 2012, sendo estas coletadas entre fevereiro e abril de 2013.
As análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se o programa estatístico Statiscal Package Social
Sciences (SPSS) versão 17.0. A análise descritiva incluiu a
frequência absoluta (n), a frequência relativa (%), além
de medidas de média (M) e desvio padrão (DP).
Resultados e Discussão
Dentre os 209 pesquisadores bolsistas de produtividade na área de Odontologia, 32 (15,3%) foram considerados da área de Periodontia e avaliados na presente
investigação. A maioria dos pesquisadores era do sexo
masculino (65,6%), sendo a proporção entre homens e
mulheres de 1,9:1. Os pesquisadores investigados estão
distribuídos em seis estados brasileiros, sendo a maioria pertencente à categoria 2 de bolsa (75%), especialista (56,3%), membro de corpo editorial (84,4%) e revisor
de periódico (93,8%).
Quanto ao tempo de conclusão de doutorado dos
pesquisadores, este foi realizado, pela maioria, entre
11 e 20 anos atrás (71,9%). Metade dos pesquisadores
analisados possui o título de pós-doutorado (50,0%).
Com relação ao local de realização da pós-graduação,
constatou-se que a maioria concluiu o doutorado em
instituições brasileiras (84,4%), contrariamente ao local
de realização do pós-doutorado, sendo realizado no
226
exterior pela maioria dos investigados (81,3%).
Quanto à distribuição dos pesquisadores entre as
instituições de ensino, destaca-se a Universidade de
São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) como as principais instituições de afiliação e graduação dos pesquisadores
investigados.
No que diz respeito à produção científica dos pesquisadores em Periodontia, foram publicados 675 artigos científicos em periódicos nos anos de 2011 e 2012.
Identificou-se maior média de artigos publicados em
periódicos de Qualis A internacional (M:10,31/DP:5,28).
Observou-se maior média de publicação de capítulo de livro (M:2,31/DP:3,02) do que livros completos
(M:0,12/DP:0,42). Na formação de recursos humanos,
houve maior participação dos pesquisadores na orientação de mestrado (M:3,50/DP:3,24) (Tabela 4).
Área - Ciências da Saúde
Tabela 4 – Média e caracterização da produção científica e formação de recursos humanos dos pesquisadores nos
anos de 2011 e 2012.
Variáveis
Média
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
Produção Científica
Artigo A internacional
Artigo B internacional
Artigo C internacional
Artigo A nacional
Artigo B nacional
Artigo C nacional
Capitulo de livro
Livro publicado
10,31
3,65
0,03
0,00
6,53
0,00
2,31
0,12
5,28
2,67
0,17
0,00
5,64
0,00
3,02
0,42
4
0
0
0
0
0
0
0
23
9
1
0
25
0
16
2
2,62
3,50
2,31
0,62
2,53
3,24
2,03
1,03
0
0
0
0
10
13
9
4
Formação de recursos humanos
Iniciação científica
Mestrado
Doutorado
Supervisão pós-doutorado
Os indicadores de produção científica vêm ganhando importância crescente como instrumentos
para análise da atividade científica. Os achados da presente investigação indicam a relevante contribuição
dos pesquisadores de Periodontia para ciência odontológica brasileira, favorecendo a expansão da produção nacional. Ressalta-se que 15,3% dos bolsistas de
produtividade em Odontologia do CNPq pertencem à
área de Periodontia, constituindo-se um grupo repre-
sentativo na Odontologia nacional. Tal grupo destacase quanto à relevante contribuição na publicação de
artigos em periódicos internacionais, principalmente
aqueles de Qualis A, além da formação de novos pesquisadores, tendo a maioria deles contribuído na orientação de mestrado. Porém, ressalta-se o fato de estes
estarem distribuídos em apenas seis estados brasileiros.
Conclusões
Os resultados encontrados indicam a relevante
contribuição dos pesquisadores bolsistas de produtividade em Periodontia na produção odontológica
nacional. Os resultados podem indicar a qualidade da
produção destes, devido a um maior número de publicações em periódicos Qualis A internacional, além da
contribuição deles na formação de recursos humanos,
com destaque para orientações de mestrado.
Os achados da presente investigação permitem
melhor compreensão da dinâmica relacionada à ciência odontológica nacional, a fim de propiciar a implementação de políticas científicas e avaliar seus resultados.
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228
Área - Ciências da Saúde
RESVER ATROL AUMENTA A TERMOGÊNESE NO
TECIDO ADIPOSO MARROM , AUMENTANDO SIR T1,
GASTO DE ENERGIA E DIMINUINDO O ACÚMULO DE
GORDUR A NO TECIDO ADIPOSO DE C AMUNDONGOS
ALIMENTADOS COM DIE TA PADR ÃO
Carlos Rafael Affonso
Jaciara Neves Sousa
Pablo Vinicyus Ferreira Chagas
João Marcus Oliveira Andrade
Miriam Teresa Paz Lopes
Cândido Celso Coimbra
Sérgio Henrique Sousa Santos
[email protected]
Introdução
O tecido adiposo é um órgão fundamental na regulação do equilíbrio energético. Dois tipos diferentes
de tecido adiposo estão presentes nos mamíferos: o
tecido adiposo branco (WAT), responsável pelo armazenamento energético de triglicerídeos, e o tecido adiposo marrom (BAT), especializado em gasto energético
e termogênese (GESTA et al., 2007).
A termogênese adaptativa, para a manutenção
de equilíbrio energético de temperatura corporal
básica e calor, é uma função importante do BAT. Essa
função é mediada por proteínas de desacoplamento
(UCPs), localizadas na membrana interna das mitocôndrias. Essas proteínas atuam como desacopladores de fosforilação oxidativa, dissipando o gradiente
de prótons através da membrana e produzindo calor, em vez de produzir ATP, evitando, dessa maneira,
balanço energético positivo e obesidade (ALBERDI et
al. 2013).
Baur e Sinclair (2006) caracterizam o Resveratrol
(3,5,4’-trihidroxiestilbeno) como um composto polifenólico, natural, encontrado na uva e no vinho tinto,
que tem demonstrado efeito prolongador da expectativa de vida em muitos organismos. É um ativador da
família das sirtuínas (SIRT), família altamente conserva-
da de proteínas, presentes em praticamente todas as
espécies de bactérias a mamíferos, segundo (CARAFA
et al., 2012).
Em relatórios recentes de Qiang et al. (2012) e
Canto et al. (2009), foi demonstrado que a remodelação
marrom de WAT e a termogênese são dependentes de
SIRT1. A ativação da desacetilase dependente de NAD+,
SIRT1, seja por meio de um composto natural, restrição
calórica ou exercício, promove a atividade e biogênese mitocondrial, aumentando a possibilidade de que a
SIRT1 regule o funcionamento de BAT.
Alberdi et al. (2013) demonstraram que o resveratrol aumenta os níveis de UCPs em dois tecidos importantes para a termogênese, o BAT e o músculo esquelético, sugerindo que o resveratrol pode contribuir para
a dissipação energética e, consequentemente, gasto
energético.
Com base nesses dados, temos a hipótese de que
a administração de resveratrol via oral em camundongos alimentados com uma dieta padrão pode modular
a termogênese, aumentando expressão genética relacionada. Esse mecanismo poderia contribuir para alteração na eficiência energética, lipídica e perfil glicêmico, bem como perda de massa adiposa.
Materiais e Métodos
Animais, dietas e coleta de tecidos.
O experimento foi realizado com dezesseis camundongos machos (quatro semanas de idade), divididos
aleatoriamente em dois grupos (n = oito em cada) e
alimentados com as respectivas dietas experimentais
durante oito semanas: dieta padrão (ST) e dieta padrão
com resveratrol (ST+RSV, concentração de 4 g/kg de
dieta). O peso corporal e a ingestão alimentar foram
229
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
mensuradas duas vezes por semana. Após uma noite de
jejum, os camundongos foram decapitados. Amostras
de tecido adiposo branco epididimal, mesentérico e retroperitoneal; tecido adiposo marrom interescapular e
músculo gastrocnêmico foram coletadas, pesadas, congeladas imediatamente em nitrogênio e armazenadas a
-80º C, para análise subsequente de adiposidade e marcadores de termogênese. Todos os procedimentos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Minas Gerais número 023/2012
e em conformidade com os regulamentos descritos no
Manual do Comitê de Princípios Orientadores.
Medição do consumo de oxigênio.
Após quatro semanas de tratamento, os animais
foram submetidos à medição de consumo de oxigênio (VO²) para avaliar os efeitos termogênicos. O VO² foi
medido por um calorímetro indireto de fluxo aberto
(PANLAB, Apparatus LE405, Gas Analyzer). Os animais
descansaram por pelo menos uma hora, após o estresse da movimentação, registrando-se continuamente o
VO2. Apenas os últimos vinte minutos de leitura, quando os animais já haviam retornado ao descanso, foram
utilizados para análise.
Determinação de parâmetros bioquímicos na circulação.
O soro foi obtido após centrifugação (3200 Rpm,
durante 10 min, a 4 º C). Colesterol total, triglicérides,
HDL e glicose foram analisados utilizando-se kits enzimáticos específicos. As medições foram realizadas em
Wiener BT-3000 plus Chemistry Analyzer (Wiener, Argentina).
Reação em cadeia da polimerase via transcriptase
reversa quantitativa. (qRT-PCR)
O RNA total do BAT foi preparado usando reagente Trizol, tratado com Dnase e transcrito reversamente
com M-MLV (Invitrogen Corp.) utilizando primers específicos. Os níveis de expressão dos genes UCP1, UCP3,
Cidea, adiponectina, PTEN, BMP -7, PRDM16 e mRNA de
SIRT1 foram determinadas por qRT-PCR.
Análise estatística.
Todos os dados foram transferidos para o software GraphPad Prism e analisados com 95% de confiança (
P<0,05). A significância estatística de diferenças foi avaliada por teste t.
Resultados e Discussão
Observou-se redução significativa no tecido adiposo epididimal (ST 0.0075 ± 0.0051 vs. ST+RSV 0.0022
± 0.0019 g/peso corporal) e adiposo retroperitoneal (ST
0.0012 ± 0.0006 vs. ST+RSV 0.0006 ± 0.0003 g/peso corporal) no grupo tratado com resveratrol. Camundongos alimentados com ST+RSV mostraram diminuição
no colesterol total (ST 139.6 ± 9.39 vs. ST+RSV 110.8 ±
11.52 mg/dL) e glicose (ST 133.4 ± 22.19 vs. ST+RSV 96.4
± 15.13 mg/dL) (Figura 1).
O consumo de O² foi aumentado em camundon-
230
gos com alimentação ST+RSV (ST 36.59 ± 2.77 mLO²/
Kg/min vs. ST+RSV 42.33 ± 1.35 mLO²/Kg/min). A análise
da expressão de mRNA de genes relacionados à termogênese mostrou aumento significativo para UCP1 (ST
0.448 ± 0.15 vs. ST+RSV 0.85 ± 0.22). Ainda observouse um aumento significativo na expressão de SIRT1
(ST 0.65 ± 0.19 vs. ST+RSV 1.07 ± 0.19), PTEN (ST 0.30 ±
0.12 vs. ST+RSV 0.51 ± 0.08) e BMP-7 (ST 0.32 ± 0.08 vs.
ST+RSV 0.51 ± 0.074). (Figura 2)
Área - Ciências da Saúde
Sugerimos que a alta expressão dos marcadores
SIRT1, PTEN e BMP7 pode estar associada com a alta
expressão de UCP1. Recentemente, um novo processo
foi descrito e nomeado como escurecimento de WAT.
Esses adipócitos marrons podem aparecer após estímulos termogênicos em pontos anatômicos correspondentes a WAT. Giralt e Villarroya (2013) inferem que
as UCPs estão diretamente relacionadas a esse processo de escurecimento do WAT. Estudos anteriores de Liu
et al. (2003) descobriram que os níveis de UCP1 estão
associados com mudanças no índice de adiposidade e
contribuem de forma significativa para a termogênese
e gasto energético.
Além disso, a UCP1 induz um aumento no consumo de oxigênio e gasto de energia, levando à perda
de peso. Na verdade, o nosso estudo demonstrou que
o resveratrol produziu uma diminuição da adiposidade
corporal, possivelmente, aumentando os níveis UCP1
em BAT. Um relatório recente de Ortega-Molina et al.
(2012) indica que a superexpressão de PTEN em camundongos está associada com altos níveis de UCP1,
acompanhados pela redução do tamanho corporal, redução dos níveis de IGF1 e melhora da sensibilidade à
insulina, bem como aumento do gasto energético.
Um novo estudo, segundo Tseng et al. (2008),
mostrarou que o BMP7 promove a diferenciação de
pré-adipócitos marrons e é responsável pela ativação
de um programa completo de adipogênese de BAT.
Lagouge et al. (2006) mostraram que os camundongos
tratados com resveratrol associado à dieta com alto
teor de gordura aumentaram o gasto energético e consumo de oxigênio, mediado pela atividade de PGC-1α
a SIRT1. Juntos, estes resultados confirmam nossos dados mostrando que o resveratrol, através da ativação
da SIRT1, pode induzir a termorregulação e melhora na
homeostase metabólica.
Conclusões
As principais conclusões deste estudo são que o
tratamento de camundongos alimentados com dieta
padrão acrescidas de resveratrol aumenta a termogênese e melhora o perfil lipídico e glicêmico. Essas alte-
rações foram associadas com o aumento da expressão
de UCP1 no BAT. Sugerimos que a alta expressão dos
marcadores SIRT1, PTEN e BMP-7 pode ser associada
com a alta expressão de UCP1.
231
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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232
Área - Ciências da Saúde
VIOLÊNCIA URBANA: UMA ANÁLISE DOS C ASOS
OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE MONTES CL AROS,
MINAS GER AIS – BR ASIL
Daniella Fagundes Souto
Carla Silvana de Oliveira e Silva
Luís Paulo Souza e Souza
Orlene Veloso Dias
Antônia Gonçalves de Souza
Kéury Guimarães Pereira
Tamara Figueiredo
[email protected]
Introdução
Define-se violência como “uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência
de desenvolvimento ou privação”. Destaca a intencionalidade do ato violento, excluindo os incidentes não
intencionais; inclui o uso do poder, exemplificado por
ameaças de agressões ou intimidações e por negligências e omissões (SCHRAIBER et al., 2006). A Organização
Mundial da Saúde considera que a ocorrência da violência doméstica acontece em todos os países e não
se restringe a classes sociais e, por sua magnitude, tornou-se uma questão de saúde pública. Pode ocasionar
consequências graves, constituindo um problema que
compete tanto à esfera jurídica, pois resulta de ações
criminosas, quanto aos setores de saúde, pelos agravos que acometem suas vítimas (DOSSI et al., 2008). A
maior prevalência de comportamentos violentos em
algumas comunidades não pode ser explicada por um
fator isoladamente. Sendo assim, compreender a maneira como esses determinantes estão vinculados à
violência é um dos passos importantes no enfoque da
Saúde Pública para que este fenômeno seja prevenido.
Considerando esse contexto, o objetivo geral deste estudo foi identificar o perfil epidemiológico dos casos de violência doméstica notificados no ano de 2010,
na cidade de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo documental, descritivo, transversal e de cunho quantitativo. A coleta de dados foi
realizada no site do DATASUS, no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), em março de
2011. Este banco de dados é de livre acesso ao público,
sendo assim, este estudo encontra-se em conformidade com as normas da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com
seres humanos, desta forma não requerendo parecer
do Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados se referem
a todos os casos de violência doméstica e sexual notificados de janeiro a dezembro do ano de 2010 pelos
profissionais dos hospitais e equipes da Atenção Primária à Saúde do município de Montes Claros. As características analisadas foram: sexo, faixa etária, tipos de
violência, raça, ocupação, local de ocorrência, situação
conjugal e zona urbana ou rural de ocorrência. Os dados foram digitados e tabulados em planilha eletrônica Excel 2003 para análise e posteriormente confronto
com a literatura vigente.
Resultados e Discussão
Ao analisar o número de casos de violência notificados no SINAN, em Montes Claros, no ano de 2010,
encontraram-se 131 casos. Do total de casos notifica-
dos, notou-se que 82% das vítimas foram mulheres e
18% foram homens, o que reafirma a desigualdade de
gênero. A desigualdade tem como uma de suas extre233
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
mas formas de manifestação a violência contra as mulheres, a qual é resultado de uma diferença de poder
que se traduz em relações dominação e força.
Assim, a violência baseada no gênero tem se constituído em um fenômeno social que influencia sobremaneira o modo de viver, adoecer e morrer das mulheres (GUEDES et al., 2009). Os maus tratos infligidos à
mulher repercutem em perdas significativas na saúde
física, sexual, psicológica e nos componentes sociais,
este último como rede de apoio para a qualidade de
vida (MONTEIRO; SOUZA, 2007).
Quanto à idade, observou-se que a maioria das vítimas possuía idade entre 20 a 39 anos, seguida da faixa etária entre 10-19 anos. Encontraram-se, ainda, notificações de casos de violência contra crianças e idosos.
Schraiber et. al, (2006), ao analisar o Relatório Mundial,
descreve que a violência juvenil (10 a 29 anos) possui
uma grande representatividade social, sendo a mais visível das violências, que também é peculiar, pois os jovens são os principais agressores e vítimas.
Em se tratando dos tipos de violência, Minayo e
Souza (2010) definem violência física como uso da força física para ferir, provocar dor, incapacidade ou morte ou para compelir o idoso a fazer o que não deseja;
violência psicológica como agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir
a liberdade ou isolar o idoso do convívio social; violência sexual como atos ou jogos sexuais de caráter homo
ou heterorrelacional que utilizam pessoas idosas visando obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas
por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.
Houve constatação de que as marcas físicas são as mais
relatadas neste estudo, tendo predomínio de violência
física (74%), psicológica e moral (43,5%) e sexual (29%).
Lembrando que, em muitas vezes, uma vítima pode sofrer mais de um tipo de violência. Os casos das violências domésticas e intrafamiliares, com agressões físicas,
sexuais e psicológicas, além da privação e negligência,
geralmente acometem, sobretudo, mulheres, crianças
e idosos. Uma grande superposição das violências física, sexual e psicológica tem sido encontrada, o que
também se deve esperar das violências contra crianças
e idosos. (SCHRAIBER et. al, 2006).
Outra característica encontrada foram casos de
violência por raça, encontrando que 53% dos agredidos eram pardos, 21% diziam ser brancos, 16% ignorado-branco, 8% pretos e 2% relataram ser amarelos. Os
negros (pretos e pardos) predominaram em todos os
tipos de eventos violentos, confirmando as estatísticas
encontradas no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Quanto à ocupação das vítimas, foi predominante o
número que se declarou “estudante” (19); “dona de
casa” (13); “aposentado ou pensionista” (3); manicure
(2); desempregado crônico ou cuja ocupação habitual não foi possível obter (1); secretário/executivo (1);
comerciante atacadista (1); comerciante varejista (1);
fisioterapeuta (1); supervisor de ensino (1); jornalista
(1); professor de nível médio no ensino fundamental
234
(1); inspetor de alunos de escola privada (1); consultor
contábil (técnico) (1); auxiliar de escritório em geral (1);
caixa de banco (1); empregado doméstico diarista (1);
cozinheiro geral (1); babá (1); auxiliar de lavadeira (1);
vendedor em comércio atacadista (1); atendente de
farmácia – balconista (1). Tais achados estão em consonância com a pesquisa realizada por Dossi et al., (2008),
quanto à ocupação dos agredidos, na qual encontrou
predominância do número que se declarou “do lar”,
“estudante”, “aposentada ou pensionista”, e “economia informal”. Em se tratando do local de residência,
obtiveram-se 82 casos ocorridos na residência, 22 em
via pública, 04 na escola, 04 em outros locais não determinados, 02 em habitação coletiva, 01 em comércioserviço e 01 caso em indústrias-construção. Costa et al.
(2007) relatam que o domicílio, espaço onde os eventos violentos tomaram lugar, favorece a ocorrência de
agressões e abusos contra crianças, adolescentes e mulheres. Ao permanecer mais tempo em seus lares, essas
pessoas acabam sendo violentadas, mais frequentemente, nesse ambiente privado.
Deslandes et al. (2000) apontam que a família é
uma instituição social que organiza as relações sexuais entre gêneros, exercendo de forma direta um
controle social sobre a identidade e sobre o corpo da
mulher. Tal controle pode legitimar direitos dos maridos sobre suas esposas, dando-lhes prerrogativa de
exercerem até mesmo a força física contra elas. Nesse
cenário, destacam-se os casos de mães que colaboram
ativamente no “endurecimento” de seus filhos, transformando-os em “machos agressivos”.
Os espaços públicos (ruas, bares e outros locais)
são os principais cenários para a ocorrência de eventos
violentos, especialmente quando envolvem agressores
e vítimas do sexo masculino (SOUZA, 2005). No espaço
privado do lar, ocorre a maioria das violências contra o
sexo feminino. Encontrou-se, ainda, que a maior parte
dos agredidos eram solteiros (37%), seguidos por opção
“não se aplica” (24%), casado/ união consensual (19%),
ignorado (15%), separados (4%) e viúvos (1%). Nota-se
que houve porcentagem considerável da opção “não se
aplica” e ignorado, mostrando que, durante o preenchimento, tais campos não são tratados com devida atenção. Tais achados tornam-se diferentes do estudo de
Jong e Tavares, o qual apresentou a maioria de vítimas
casadas. Comparando-se esse dado à realidade de que o
companheiro é na maior parte dos casos o agressor, pode-se concluir que muitas ditas “solteiras”, na realidade
vivem em união informal. Este tipo de relação tende a
ser mais conflituosa e instável (TAVARES, 2000).
A zona de ocorrência dos casos de violência predominante no presente estudo foi a zona urbana
(84%), seguida por ignorado (11%), zona rural (4%) e
periurbana (1%). Minayo e Souza (2003) informam que
a violência apresenta-se de forma mais dramática nas
áreas metropolitanas, atingindo especialmente as populações com piores condições de vida e jovens das
periferias urbanas.
Área - Ciências da Saúde
Conclusões
Conclui-se que a violência origina sentimentos adversos à liberdade e atinge a integridade física, moral
e social das famílias, dificultando da busca de soluções
para os problemas. Pelo fato de a violência constituir
um conjugado de complexos agravos e se manter entre as principais causas de morbimortalidade mundial,
faz diferença ter uma comunidade organizada e parti-
cipativa com vistas à redução de tal da violência. Desvelar esse contexto, na trajetória do cuidado de pessoas vitimadas pela violência, possibilita debates nos
espaços de participação social do Sistema Único de
Saúde (SUS), movimentando as pessoas, no alcance da
promoção da saúde e no exercício de uma cidadania
responsável.
Referências
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235
Área - Ciências da Saúde
C AR AC TERIZ AÇ ÃO DO PERFIL ANTROPOMÉ TRICO
E CLÍNICO ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA EM
MULHERES NO CLIMATÉRIO
Rafael Dourado Borges
Frederico Raelmi Lopes Nobre
Carolina Ruas Freire Santos
Jéssica Oliveira Aguiar
Karina Rocha Henriques Magela
Pedro Guido Soares Andrade
Diogo Oliveira Morais
[email protected]
Resumo
Trata-se de um resumo expandido enquadrado na modalidade Ciências da Saúde, que caracteriza o estudo do perfil
antropométrico e clínico associado à qualidade de vida em mulheres no climatério, realizado nas ESF’s do município de
Montes Claros no ano de 2013, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes, nº 311.628/2012.
Dentre os fatores estudados, destacam-se ansiedade, depressão e obesidade em mulheres na fase pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa, bem como sua relação com a qualidade de vida das mesmas. A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas estruturadas a partir de formulários sociodemográficos e clínicos, e, para a avaliação da
qualidade de vida, foi utilizado o Menopause Rating Scale (MRS), que é um instrumento validado para o português brasileiro composto por questões que relatam sintomas derivados em domínios somatovegetativos. Dentre as mulheres
avaliadas, 14,4% se encontravam na faixa de idade entre 40 a 44 anos; 22,6% entre 45 a 49 anos; 22,9% entre 50 a 54
anos; 16,8% entre 55 a 59 anos; e 23,2% entre 59 a 65 anos. A relação observada entre ansiedade e qualidade de vida,
tendo como referência os estudos paramétricos comparativos entre as variáveis, foi significativa. De acordo com o MRS,
a ansiedade apresentou uma média de 2,05 ±1,55, sendo estas mulheres enquadradas em escala de pouco severo a
moderado. De acordo com o MRS, a depressão apresentou média de 1,44 ±1,42, em que estas mulheres demonstraram
estado de ânimo depressivo em escala de pouco severo a moderado. Quanto ao IMC, 36,2% estavam com sobrepeso e
29,4% eram obesas. A qualidade de vida mostrou-se comprometida neste estudo, sendo influenciada por fatores psicossociais e antropométricos. Ao avaliar as associações encontradas, observamos que, quanto maior o IMC, os estados
de ansiedade e depressão, menor a qualidade de vida das mesmas.
Palavras-chave: Menopausa, Ansiedade, Depressão, IMC.
Introdução
O aumento na sobrevida da população feminina é uma realidade tanto em países desenvolvidos
quanto nos países em desenvolvimento, alterando assim a pirâmide populacional no mundo (CARVALHO;
RODRIGUES-WONG, 2008). De acordo com o IBGE, as
mulheres já representam a maior porcentagem da população idosa no Brasil, com vida média de oito anos
a mais que os homens (IBGE, 2007). A longevidade da
sociedade moderna revela uma nova situação, em que
as mulheres vivem um tempo suficiente para vivenciar
enfermidades ou afecções ao longo da vida, que gerações anteriores não experimentaram (CARVALHO; RODRIGUES-WONG, 2008).
O climatério representa uma fase de transição entre o estado reprodutivo e o não reprodutivo, sendo que
este se inicia segundo a literatura aos 35 anos e tem o
seu término aos 65 (PAIXÃO et al., 2009) . Devido à diminuição da função ovariana, presencia-se nessa etapa
uma deficiência hormonal, caracterizada principalmente pela baixa na produção do estrógeno e também da
progesterona, resultando em sintomas e alterações do
sistema nervoso central, trato geniturinário, sistema cardiovascular, pele e ossos (LOVEJOY, 2001).
Dentre os sintomas que permeiam este período, a
ansiedade é uma constante e manifesta-se pela presença de irritabilidade, taquicardia, sudorese, fadiga e preo237
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
cupação excessiva com pequenos problemas. Desse
modo, a presença da ansiedade é considerada um fator
que altera a qualidade de vida da mulher climatérica,
sendo influenciada tanto por fatores biológicos, quanto
por fatores culturais e psicossociais (PAIXÃO et al., 2009).
Uma leva de autores acredita que a perimenopausa esteja fortemente associada ao aparecimento de sintomas
de ansiedade e depressão em mulheres sem história
prévia de doença mental, quando estão também presentes outros fatores de risco, como elevado índice de
massa corpórea, antecedentes de síndrome de tensão
pré-menstrual (TPM), ondas de calor (FREEMAN et al.,
2005).
Segundo Nievas et al. (2006) a depressão pode ser
tida também como uma constante do climatério, manifestando-se pela presença de sentimentos de inutilidade, medo de envelhecer e até carência afetiva. Essa
associação pode ser feita em decorrência das flutuações
hormonais que ocorrem nessa fase de vida como sendo responsáveis pelas alterações do humor, sendo que
a perimenopausa é o período de maior vulnerabilidade
para os transtornos psíquicos (POLISSENI et al., 2009).
Outro fator que compromete a qualidade de vida
dessas mulheres é o ganho de peso, medido pelo IMC
(Índice de Massa Corporal), que parece não estar linear-
mente relacionado ao envelhecimento, mas aumenta
especificamente nos anos pós-menopausa. Por conseguinte, este estudo mostra-se importante, pois a maioria
das mulheres climatéricas apresenta grande propensão
a ser obesa, e consequentemente, a apresentar sintomas
relacionados a essa comorbidade, como a dispneia e
também a desenvolver doenças cardiovasculares. Entretanto, não está claro na literatura, se o ganho ponderal
está relacionado ao envelhecimento, às variações hormonais inerentes ao climatério ou a uma combinação
de ambos os fatos (LOVEJOY, 2001). O IMC elevado está
associado à diminuição do bem-estar psíquico, com dificuldade de integração social, baixa autoestima e estigmatização social (RODRIGUES et al., 2009).
A associação entre o climatério e a instalação de
ansiedade, depressão e obesidade continua sendo foco
de controvérsias. Essa divergência reflete o aparecimento de diversas teorias que têm estimulado uma série de
pesquisas nesse campo. Uma delas enfatiza as flutuações hormonais que ocorrem nessa fase de vida como
sendo responsáveis por tais alterações (LOVEJOY, 2001).
Neste contexto, o objetivo do estudo foi destacar a incidência de ansiedade, depressão e obesidade em mulheres climatéricas bem como relacionar possível comprometimento da qualidade de vida das mesmas.
Metodologia
O estudo realizado é quantitativo, do tipo transversal e descritivo, realizado no período de 1° de abril
a 31 de maio de 2013. A amostra foi selecionada aleatoriamente, baseada na história menstrual no último
ano e nas definições de menopausa proposta pela Sociedade Internacional de Menopausa (SOBRAC, 2003).
Constitui-se por 340 mulheres climatéricas de idade
entre 40 e 65 anos, cadastradas e acompanhadas em
Estratégias de Saúde da Família (ESFs) do Município
de Montes Claros - MG. Foram excluídas mulheres que
apresentavam transtorno mental ou algum comprometimento que as dificultava de responder às avaliações propostas.
Após a amostra assinar o termo de consentimento, foi realizada a avaliação das condições antropométricas. Utilizou-se o índice de massa corporal (IMC) de
posse do peso (em Kg) e da altura (em m) da entrevistada. O IMC foi calculado de acordo com a seguinte
fórmula IMC = peso (kg) / altura² (m). Os pontos de corte de IMC adotados foram os preconizados pela WHO
(1997), ou seja, baixo peso (IMC < 18,5); eutrofia (IMC
18,5-24,99); sobrepeso (IMC 25-29,99) e obesidade (IMC
≥ 30,00). O peso foi aferido em balança digital com capacidade máxima de 150 kg e divisão de 100 g, segundo as normas preconizadas. A estatura foi aferida com
238
fita métrica aderida a uma parede sem rodapé, com
extensão de 2,00 m, dividida em centímetro e subdividida em milímetros, com visor de plástico e esquadro
acoplado a uma das extremidades, segundo as normas
preconizadas.
A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas
estruturadas a partir de formulários sociodemográficos e
clínicos, e, para a avaliação da qualidade de vida, foi utilizado o Menopause Rating Scale (MRS), que é um instrumento validado para o português brasileiro composto
por questões que relatam sintomas derivados em domínios somatovegetativos. A paciente dá um parecer relativo
a cada sintoma, podendo este ser classificado como ausente, leve, moderado, severo ou muito severo.
Para análise estatística dos dados, utilizou-se
Programa SPSS, na versão 20.0 para o Windows. Realizou-se análise descritiva das variáveis, e as mesmas
foram expressas em valores médios e porcentagem.
Os estudos estatísticos não paramétricos aplicados
para comparação entre duas variáveis foram a Análise
Mann-Whitney e, para comparação entre mais de dois
grupos de variáveis em análise, foi utilizado o teste não
paramétrico de Kruskal-Wallis. Adotou-se como nível
de significância estatística o valor de p<0,05.
Área - Ciências da Saúde
Resultados e Discussão
Dentre as mulheres avaliadas, 14,4% se encontravam na faixa de idade entre 40 a 44 anos; 22,6% entre
45 a 49 anos; 22,9% entre 50 a 54 anos; 16,8% entre 55
a 59 anos; e 23,2% entre 59 a 65 anos.
A relação observada entre ansiedade e qualidade
de vida, tendo como referência os estudos paramétricos comparativos entre as variáveis, foi significativa. De
acordo com o MRS, a ansiedade apresentou uma média de 2,05 ±1,55, sendo estas mulheres enquadradas
em escala de pouco severo a moderado.
Relacionando o fator ansiedade com o IMC calculado, mulheres normais com N=105, sobrepeso com
N=123 e obesas com N=100 apresentaram o “Mean
Rank” com valor de 159,61, 172,64 e 180,39, respectivamente para tais classificações, evidenciando que
mulheres obesas são mais acometidas por quadros de
ansiedade do que o restante das mulheres. Pode- se
inferir, ainda, que o fator ansiedade decresce à medida
que o IMC também diminui, sugerindo uma certa relação diretamente proporcional entre esses dois fatores.
Ao relacionar ansiedade com atividade remunerada dessas mulheres, foi revelado que 189 das 340 mulheres não exerciam nenhuma atividade e colocação
no “Mean Rank” 176,15, enquanto que 151 mulheres
exerciam, com “Mean Rank” 163,43 e p=0,224.
O tipo de menopausa também teve influência na
variável ansiedade, sendo que a natural teve N=232 e,
assim, a mais significativa em número, porém a induzida foi o tipo mais significativo no “Mean Rank”, com
valor 224,40. Na comparação entre mais de 2 grupos
de variáveis em análise, pode-se sugerir que a relação
entre o tipo de menopausa e a ansiedade apresentou
grau de significância com p=0,002, indicando, inclu-
sive, que mulheres com menopausa induzida tendem
a ser mais ansiosas do que a menopausa de evolução
normal.
De acordo com o MRS, a depressão apresentou
uma média de 1,44 ±1,42, em que estas mulheres demonstraram estado de ânimo depressivo em escala de
pouco severo a moderado. Aproximadamente 55,6%
das mulheres não exerciam nenhuma atividade remunerada, e este fator evidenciou forte influência no estado de ânimo depressivo das pesquisadas (p=0,01). A
atividade remunerada exerceu uma influência direta
no determinismo da depressão, sendo que mulheres
desempregadas mostraram-se com estado de ânimo
depressivo presente, sinalizando que o emprego e a
renda, nos dias atuais, representam importantes fatores de proteção contra esta patologia.
Quanto ao IMC, 36,2% estavam com sobrepeso e
29,4% eram obesas. Ao compararmos a variável falta de
ar com o IMC, não foram obtidos dados com expressiva significância (p<0,05). Entretanto, ao se comparar a
falta de ar com classificação de risco da mulher de desenvolver doenças cardiovasculares, observou-se que
as mulheres que apresentavam risco muito alto mostraram maior tendência a apresentar falta de ar. Os resultados das classificações de IMC são preocupantes,
uma vez que a maioria das mulheres caracteriza-se por
serem obesas, percebendo-se uma associação significativa entre essa variável e a falta de ar das pacientes,
visto que indivíduos que apresentam sobrepeso equivalem a um risco elevado para doenças cardiovasculares, estas apresentando a dispneia com um dos seus
principais sintomas.
Conclusões
A qualidade de vida mostrou-se comprometida
neste estudo, sendo influenciada por fatores psicossociais e antropométricos visto que, ao avaliar as associações encontradas, observamos que, quanto maiores
o IMC, os estados de ansiedade e depressão, menor a
de qualidade de vida das mesmas. Ademais, a análise
que estimou a prevalência de ansiedade em mulheres
climatéricas, destacou-se como fator protetor à ansiedade o IMC normal (PEREIRA et al., 2009).
Além disso, verifica-se que a ausência de uma atividade remunerada pode afetar a mulher em sua identidade e relações, também influenciando na existência
de quadros de ansiedade e depressão. Esse achado
concorda com os constatados por Melby, Lock e Caufert (2005) em estudos realizados em serviços públicos
de saúde ,ressaltando ainda que a condição de gênero e o nível socioeconômico exerçam influência direta
no determinismo de estados ansiolíticos e depressivos,
sinalizando que o emprego e a renda, nos dias atuais,
representam importantes fatores de proteção para tais
fatores. A prática regular da atividade física resulta em
menor prevalência de sintomas apresentados em decorrência do aumento na secreção de beta endorfinas
hipotalâmicas, que ainda melhoram o humor (BOSSEMEYER, 2003). Dessa forma, a ocorrência de depressão
e ansiedade no estágio climatérico demonstra que a
mulher apresenta-se mais sensível aos estados depressivos e ansiolíticos em decorrência da redução progressiva dos estrogênios, mas também em relação à sua
condição sociodemográfica e clínica, afetando diretamente sua qualidade de vida.
Em relação ao IMC, o aumento de peso das pacientes está associado à falta de ar. Desse modo, uma
intervenção que vise corrigir ou melhorar o padrão antropométrico das mulheres por meio de ações de proteção e promoção à saúde pela Atenção Básica, poderá
239
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
resultar na prevenção da obesidade e, consequentemente, de doenças cardiovasculares em mulheres cli-
matéricas ao oferecer a elas uma melhoria na qualidade de vida (SOBRAC, 2003).
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240
Área - Ciências da Saúde
A ESTR ATEGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E SEU
IMPAC TO SOBRE AS MORBIDADES HOSPITAL ARES NO
NOR TE DO ES TADO DE MINAS GER AIS
Mariângela Aparecida Pereira Gonçalves
Maria Ivanilde Pereira
Antônio Gonçalves Maciel
Tatiana Froes Nascimento
mariâ[email protected]
Resumo
A estruturação da atenção básica por meio da Estratégia de Saúde da Família trouxe consigo uma nova forma de
enxergar e de trabalhar a saúde, contemplando as diretrizes do SUS. A presente pesquisa foi desenvolvida com
o objetivo de avaliar a potencialidade da Estratégia Saúde da Família em reduzir as morbidades hospitalares por
condições sensíveis á atenção primária na macrorregião norte do estado de Minas Gerais. Trata-se de um estudo
ecológico espacial, de análise longitudinal, retrospectivo, em uma serie histórica entre 2000 e 2012, em que foi
aplicado o modelo de regressão e,a partir do estimador encontrado, observou o percentual de cobertura capaz
de impactar a redução das taxas de morbidades hospitalares. Ficou demonstrada a redução de -38,53 pontos nas
taxas de internações sensíveis ao cuidado primário, contra um aumento de 4,58 nas taxas de hospitalizações por
causas não sensíveis. Os resultados inferem que o estudo tem implicações para a gestão da saúde na macrorregião norte do estado de Minas Gerais.
Descritores: Avaliação em Saúde; Indicadores de morbimortalidade; Nível de saúde; Morbidade hospitalar; Gestão
de serviços de saúde.
Introdução
No Brasil, o Sistema Único de Saúde tem a Atenção Básica em Saúde como eixo prioritário para a mudança do modelo assistencial e a consolidação da
Estratégia Saúde da família (ESF), visando à implementação de ações básicas custo-efetivas (CARDOSO et al.,
2013). A ESF é operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas
de saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção
integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes
de saúde das coletividades (BRASIL, 2011).
Para avaliar a efetividade da rede de assistência,
são utilizados indicadores de saúde a fim de identificar carac­terísticas de difícil investigação direta, que
possibilitam descrever, por exemplo, o perfil epi­
demiológico de uma região, de modo a promover melhor adequação entre ges­tão, uso de recursos e qualidade do aten­dimento (COSTA; KALE; VERMELHO et al.,
2009). Desta forma, foi proposto um indicador indireto
da qualidade da atenção primária, conhecido no Brasil
como Internações por Condições Sensí­veis à Atenção
Primária (ICSAP) publicado por meio da PORTARIA Nº
221, DE 17 DE ABRIL DE 2008, o qual representa um
conjunto de problemas de saúde para os quais a efetiva ação da atenção primária diminuiria o risco de internações ( ALFRADIQUE, 2009).
Por meio deste indicador, o presente trabalho tem
o propósito de buscar a avaliação do impacto da atenção primária na macrorregião norte do estado de Minas Gerais frente às morbidades hospitalares.
Metodologia
Trata-se de um estudo espacial, de análise longitudinal retrospectiva, que usa dados documentais de
fontes oficiais. O universo do estudo compreende o
norte de Minas Gerais no período entre 2000 e 2012.
As fontes de informações estão disponibilizados pelo
Departamento de Informática do Ministério da Saúde
241
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
(DATASUS), Departamento de Atenção Básica (DAB),
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para tratamento preliminar, utilizou-se o programa Tab
para Windows (tabwin 3.5) e Microsoft Excel,versão 972003 e, para análise estatística, utilizou o modelo de
regressão linear executando procedimentos do Progra-
ma Statistical Package Social Science (SPSS), versão 18.0.
Para comparar a magnitude dos efeitos da cobertura
sobre as ICSAP, apresentamos os seus efeitos marginais. O SPSS dispõe de uma rotina que permite o ajustamento de vários modelos pré-definidos de regressão
a uma amostra de valores bivariados (x, y).
Discussões e Resultados
Na Tabela 1 estão representadas as taxas de internações das ICSAP’s por 10 mil habitantes e os percentuais da cobertura de ESF na macrorregião norte do
estado de Minas Gerais, entre 2000 e 2012. Quanto à
cobertura, observa-se uma tendência de aumento gradual ao longo dos anos, passando de 35,05 em 2000
para 86,86 em 2012, um crescimento de 51,81 na serie
histórica, em média 3,98% ao ano. As taxas de ICSAP
sofreram redução; em 2000, apresentava a taxa de internação de 166,62 por 10 mil habitantes passando
para 128,09 por 10 mil habitantes em 2012. Porém, mas
taxas de não-ICSAP, observa-se aumento, de (310,44)
em 2000 para (315,01) em 2012.
Tabela 1. Porcentagem de cobertura de ESF e taxa de internação por 10 mil habitantes – Norte de Minas Gerais,
2000 a 2012
*ESF – Estratégia Saúde da Família / **ICSAP – Internações por Condições sensíveis a Atenção Primária
Fonte: Ministério da Saúde/Sistema de informação Hospitalar (SIH/SUS) e Departamento de Atenção Básica (DAB)
Os resultados encontrados pela análise estatística
mostram uma existência de relação de dependência
entre a cobertura de ESF com a morbidade hospitalar,
sendo o valor de (F) 45,3 (significativo) para (P. valor =
0,003) medidas pelas taxas de ICSAP. A estatística (F)
traduz um valor mais alto do que o desvio padrão da
variável dependente (23,86). A média da soma dos quadrados dos resíduos fornecida pela análise de variância
mostrou uma equação bem ajustada aos dados pela
242
distância do erro padrão da estimativa de cobertura
de ESF (11,01), comparativamente com o desvio padrão
(24,34) da taxa de ICSAP. O resultado apontou um perfeito ajustamento da reta, Y=325,15 + (-2,919x) em que
x é a cobertura percentual do ESF e Y é a Taxa de ICSAP.
O valor do coeficiente de determinação R2 (80,5%) indica uma forte relação linear das ICSAP’s com a cobertura
de ESF, e o restante da variação (19,5%) não é explicado
por essa relação (Tabela 2).
Área - Ciências da Saúde
Tabela 2. Modelo de Regressão Linear: Cobertura e ICSAP - Norte de Minas Gerais, 2000 a 2012
ICSAP – Internações por Condições sensíveis a Atenção Primária / COB - Cobertura
Assim, pode-se observar que houve redução
(-38,53) das taxas de ICSAP na macrorregião norte do estado de Minas Gerais no período estudado,
passando de 166,62 por 10 mil habitantes em 2000
para 128,09 por 10 mil habitantes em 2012. Percebese também aumento da cobertura de ESF; a população coberta em 2000 era de 35%, atingindo, em 2012,
86,9% da população.
A análise estatística nos possibilitou inferir que há
uma relação inversamente proporcional entre as variáveis: quanto maior a cobertura de ESF, menor é a taxa
de ICSAP. O coeficiente estimado para cada variável
indica variações da morbidade hospitalar, medida pela
taxa de ICSAP. O coeficiente da cobertura de ESF para
a macrorregião norte do estado de Minas Gerais (-1,10)
indica que a variação positiva na cobertura de ESF de
1 ponto percentual representa uma redução de 1,10 na
taxa de ICSAP (tabela 2).
A redução de 38,53 nas taxas de internações por
ICSAP em 13 anos, no período entre 2000 e 2012, em
média 3,98 pontos ao ano, representou um grande
avanço para as ações de promoção e prevenção de
saúde na macrorregião norte do estado de Minas Gerais.
Considerações Finais
Os resultados desta pesquisa mostram que o modelo do cuidado primário implantado por meio da Estratégia Saúde da Família na macrorregião norte é de
boa resolutividade e demonstraram, por análise dos últimos 13 anos, a redução das hospitalizações por condições sensíveis à atenção primária. Isso significa que
o ICSAP como indicador indireto de avaliação, com algumas resalvas, pode ser usado como uma ferramenta
de gestão para monitorar e identificar possíveis problemas na cobertura, acesso e qualidade dos cuidados de
saúde na macrorregião norte do estado de Minas Gerais.
Este tem implicações importantes para o norte de
Minas Gerais e para o país que orientam que o seu modelo de saúde na atenção básica. Para pesquisadores
e gestores, estas informações podem funcionar como
indicador da qualidade do sistema estadual de saúde,
e podem contribuir para avaliação da gestão, reorientação e implantação de políticas de saúde.
Referências
ALFRADIQUE, M. E. et al . Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira
como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP - Brasil). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, jun., 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Publica em forma do anexo a Lista Brasileira de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária. Portaria n. 221, 17 abril 2008. Diário Oficial da União nº 183, de 21 de setembro, p. 50,
2008.
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Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia
243
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CARDOSO, C. S. et al. Contri­buição das internações por condições sensíveis à atenção primária no perfil das admissões pelo sistema público de saúde. Rev Panam Salud Publica, n. 34, v. 4, 2013.
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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Series estatísticas e serie históricas. Disponível em < http://
tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/popmg.def>. Acesso em: 21 Jan. 2014
244
Área - Ciências da Saúde
PROTÓTIPO DE UM SOF T WARE PAR A APOIO À
SIS TEMATIZ AÇ ÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
Cleiane Gonçalves Oliveira
Kátia Adriana Alves Leite
Ariane Gonçalves de Oliveira
[email protected]
Introdução
Todas as áreas de estudos possuem a tecnologia
de informação como importante aliada no desenvolvimento de suas atividades. A enfermagem, tendo como
principal papel o cuidado com o paciente, não pode
colocar em segundo plano a importância que os recursos tecnológicos podem lhe conferir: auxiliando seu
desempenho, colaborando nas tarefas, incrementando
a qualidade de assistência aos pacientes. Armazenamento, processamento e recuperação de informações,
atividades básicas da informática servem de auxilio
para o enfermeiro em toda a sua rotina de trabalho e
cuidado com o paciente (MARIN, 1995).
A falta de informação correta para o profissional
da saúde implica fracasso do atendimento ao paciente.
A tecnologia da informação adequa-se, então, perfeitamente à realidade presente da enfermagem, buscando
um aprimoramento da qualidade dos cuidados de saúde, uma vez que pode facilitar o planejamento, a tomada de decisão, a comunicação, o controle gerencial, as
mudanças na estrutura organizacional. Permite, ainda,
que seja coletada uma maior quantidade de informações, sem o risco de perda de informações (esquecimento); a continuação da assistência seja mais eficaz
através de uma comunicação padronizada dentro da
equipe de saúde; e a avaliação da qualidade da assistência seja verificada (EVORA, 1995).
A sistematização da assistência de enfermagem,
que é a metodologia utilizada para prestação da assistência de enfermagem, permite que seus processos sejam informatizados por apresentar fases definidas e o
uso de uma linguagem padronizada.
Para o desenvolvimento de um software de qualidade, conta-se com a Engenharia de Software que
busca gerar valores através de recursos de processamento de informação, utilizando de técnicas específicas para que o produto final atenda às necessidades dos usuários; e a Engenharia de Usabilidade que
estuda como a interação com o software pode trazer
mais benefícios tanto para o usuário como para o
desenvolvedor (FILHO, 2001). O uso destas engenharias permite o desenvolvimento de softwares que seguem um padrão de qualidade, facilitando a aceitação do software pelo usuário, sua efetiva utilização,
além de ser uma vantagem competitiva.
O presente trabalho tem, portanto, como objetivo desenvolver um protótipo de software para apoio
à sistematização da assistência de enfermagem a ser
testado em um hospital universitário, a fim de avaliar
as vantagens da utilização da informática na área da
saúde, e da aplicação de técnicas de engenharia de
software e de usabilidade.
Materiais e Métodos
O processo de desenvolvimento de software utilizado foi o Praxis, com fluxo de atividades específicas,
visando à usabilidade. O processo foi composto por
quatro fases, sendo que cada fase foi subdividida em
várias iterações. Essas iterações passaram por todos os
fluxos de trabalhos do processo: análise de requisitos,
análise, projeto, implementação e teste.
1ª Fase - Concepção: Fase na qual foi definido o
escopo do software, que é a prestação de apoio informatizado à realização da SAE no Hospital Universitário
Clemente de Faria, provendo recursos para todas as
suas etapas. Além disso, foram identificadas as funções
mínimas e iniciais que o software deveria atender.
2ª Fase - Elaboração: Nessa etapa, os requisitos do
software foram minuciosamente detalhados, através da
geração do Modelo de Caso de Usos, o Modelo de Classes e Diagramas de sequência. Além disso, para traçar
o perfil dos usuários, foram aplicados questionários a
27 (vinte e sete) enfermeiros.
3ª Fase - Construção: Tendo informações sobre o
usuário final e os requisitos de software, deu-se início
efetivamente à construção do protótipo. Como foi verificado que os enfermeiros possuíam uma familiaridade
com a Internet, optou-se por desenvolver o protótipo
245
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
em ambiente web, utilizando as tecnologias: Html, JavaScript, Css e o editor web Adobe Dreamweaver 8. Foi
acrescentado aos fluxos de trabalho das fases e o fluxo
de usabilidade.
Após a primeira versão do protótipo, foi realizada
uma avaliação de usabilidade desta versão. O método
usado foi o Percurso Cognitivo. O Percurso Cognitivo,
segundo Rocha e Baranauskas (2000), é um método
preditivo, que visa avaliar, principalmente, a facilidade
de aprendizagem do software. Os problemas identificados foram corrigidos e elaborou-se uma nova versão do protótipo. Nessa nova versão, foi realizada uma
avaliação utilizando usuários reais, através do teste de
usabilidade.
4ª Fase - Teste de usabilidade: O teste contou com
cinco enfermeiros do hospital universitário. As tarefas
escolhidas foram: incluir um usuário, incluir um diagnóstico, incluir um novo paciente e realizar SAE. Foi
cronometrado o tempo gasto para realização de cada
tarefa, além da observação das dificuldades encontradas. Após a realização das tarefas, os enfermeiros responderam a um questionário de satisfação em relação
ao protótipo e a outro sobre o seu perfil.
Resultados e Discussão
O primeiro questionário aplicado aos enfermeiros
do hospital universitário Clemente de Faria obteve os
seguintes resultados:
• Média de idade: 27 anos;
• 44% exercem a profissão há menos de 2 anos, e
33% há mais de 5 anos;
• 70% já fizeram algum curso de informática;
• 67% nunca fizeram um curso de digitação;
• Na habilidade de digitação, 48% se consideraram
bons e 44% se consideraram razoáveis;
• 89% necessitam do computador para trabalhar;
• Entre as funções em que o computador poderia
ser aplicado, em destaque estão: pesquisa (100%),
SAE (96%), controle de materiais (96%) e escala de
trabalho (96%);
• O que poderia prejudicar a realização da SAE seria
principalmente: falta de padronização (85%), falta
de conhecimento (70%);
• O tempo ideal para a realização de uma sistematização seria entre 10 até 30 minutos;
• E entre quais das fases seria a mais difícil, a fase do
diagnóstico, com 59%, é a primeira, seguida do
exame físico, com 44%.
Pelos resultados, pode-se perceber que os entrevistados são usuários de conhecimento básico em informática, que possuem um constante contato com o
computador, principalmente para acesso à internet e
pela necessidade do computador para o trabalho. Além
do conhecimento em informática, a idade e a escolaridade média dos entrevistados favorecem a redução da
resistência à informatização, além de a grande maioria
concordar que o computador pode ser utilizado na SAE.
Outro interessante resultado é a percepção de que a falta de padronização pode prejudicar a SAE, favorecendo
a informatização do processo, que traz como uma das
vantagens a padronização da informação.
Évora (1995) afirma que o computador aplicado na
administração da assistência em enfermagem vem aliviar o enfermeiro das tarefas manuais e evita possíveis
erros de transcrição ou processamento. Estes sistemas
246
oferecem subsídios à tomada de decisão do enfermeiro.
O profissional de enfermagem já conta com uma
importante ferramenta de trabalho: a sistematização
da assistência de enfermagem. A implementação da
SAE permite a melhoria da assistência, a melhora da
comunicação dentro da equipe de trabalho, entre outros benefícios (ALVARO-LEVRERE, 2000; COFEN, 2010).
O uso de um software para auxilio à sistematização da assistência de enfermagem (SAE) permite, além
de outros benefícios, que o processo seja feito de forma padronizada, coleta de uma maior quantidade de
informações, padronização da informação dentro da
instituição, valorização do conhecimento gerado dentro da mesma, facilitação da comunicação entre a equipe de saúde, melhoria da continuidade da assistência,
apoio à tomada de decisão e disseminação de novos
conhecimentos (MARIN, 1995; EVORA, 1995).
Marin (1995) ressalta, ainda, que o uso de computadores pode ser visto de duas maneiras: o computador como instrumento e como fim de ensino, de modo
que o responsável pela formação deve oferecer indicações básicas para que saibam manipular e, com isso,
tirar melhor proveito dos aplicativos desenvolvidos. O
ensino do uso do computador evita a resistência futura
ao seu uso, muitas vezes provocada pelo desconhecimento da ferramenta.
A Tabela 1 apresenta o resultado do teste de usabilidade realizado.
Área - Ciências da Saúde
O resultado do questionário de satisfação foi
muito positivo. Dos itens avaliados, os que receberam
maior pontuação:
• Satisfação em relação ao uso do sistema;
• Satisfação em relação à expectativa ao que o sistema propôs fazer;
• Facilidade de utilização;
• Tempo para aprender a usar o sistema;
• Layout das telas.
Pádua (2007) ressalta que a prototipação promove a participação e o comprometimento do usuário e
permite que os desenvolvedores observem o comportamento dos usuários e suas reações de forma semelhante ao que seria com o produto final, assim como
observado no acompanhamento do teste de usabilidade do protótipo desenvolvido.
A figura 1 apresenta uma tela do protótipo testado.
Figura 1 – Tela de gestão da informação
Conclusões
Percebeu-se, com o desenvolvimento deste trabalho que o uso das técnicas de Engenharia de Software
auxilia na identificação dos requisitos e em uma maior
análise sobre cada um deles. O detalhamento exigido
na fase de elaboração permite a identificação de requisitos ainda não percebidos, o que diminui o custo de
alterações.
Outro ponto importante é a personalização do
software. Mesmo que o processo seja o mesmo para
qualquer enfermeiro, cada instituição apresenta peculiaridades que, talvez, não fossem atendidas por um
software genérico. A personalização do software traz
outro benefício: o usuário é um co-autor do software. A
participação do usuário é essencial para que o produto
final seja de qualidade, ou seja, atenda aos requisitos
do cliente. Esta participação colabora também para a
aceitação do produto e menor resistência pelos usuários finais.
O uso de protótipos para a construção do software
traz algumas vantagens como a identificação de novos
requisitos, o que diminui o custo das alterações no produto final. O protótipo permite, também, que o usuário
avalie a qualidade da interface desenvolvida, uma vez
que o comportamento humano é muito variável e algumas características precisem ser alteradas. Assim, o
produto final é construído através de um processo interativo com os usuários.
Avaliações da interface também são importantes
para verificar a sua usabilidade. O percurso cognitivo
permitiu identificar problemas na interface que poderiam dificultar o aprendizado do usuário. Através do
teste de usabilidade, foi possível identificar outros itens
da interface que podem ser melhorados. Além disso,
ele mostrou a boa aceitação do produto por parte de
seus usuários, que declararam estar satisfeitos. Um dos
benefícios que o protótipo tenta buscar é a padronização da informação dentro da instituição, facilitando a
comunicação dentro da equipe de enfermagem. A maneira que foi sugerida tenta valorizar o conhecimento
gerado na instituição, uma vez que toda a informação
contida no sistema é produzida pelos enfermeiros.
A implantação de um software de apoio à sistematização da assistência de enfermagem auxiliaria a
implantação da SAE na instituição, trazendo vários benefícios já citados tanto pela implementação da SAE,
quanto pela utilização da informática na área da saúde.
247
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
ALFARO-LEFEVRE, R. Aplicação do processo de enfermagem: um guia passo a passo. Tradução Ana Maria Vasconcellos Thorell. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
COFEN. Resolução nº 358/2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação
do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Disponivel em < http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html >. Acesso em: 23 de
novembro de 2010.
EVORA, Y. D. M. Processo de informatização em enfermagem: Orientações básicas. São Paulo: EPU, 1995.
FILHO, W. P. P. Engenharia de software : fundamentos, métodos e padrões. Rio de Janeiro: LTC, 2001.
MARIN, H. F. Informática em enfermagem. São Paulo: EPU, 1995.
PADUA, C. I. P. S. Engenharia de Usabilidade material suplementar. Disponível em http://homepages.dcc.
ufmg.br/~clarindo/disciplinas/eu/material/index.htm. Acesso em: 23 de novembro de 2007.
ROCHA, H. V.; BARANAUSKAS, M. C. C. Design e Avaliação de interfaces humano-computador. São Paulo: Escola de Computação, 2000.
248
Área - Ciências da Saúde
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇ AS COM ANEMIA
FALCIFORME INTERNADAS NA PEDIATRIA DE UM
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Francinne Possidônio Leão
Viviane de Souza Mendes
Patrícia Fernandes do Prado
Helder Leone Alves de Carvalho
Ernestina Dourado Sobrinha Corrêa Machado
Lays Viana Freitas
Ana Augusta Maciel de Souza
[email protected]
Introdução
Doença hereditária, autossômica recessiva, a anemia falciforme (AF), também conhecida por depranocitose ou hemogloninopatia S, é um tipo de anemia
hemolítica secundária a uma mutação estrutural da
hemoglobina, com alterações morfológicas dos eritrócitos, sendo a doença genética (hereditária) mais
comum na nossa população (GARCÍA; YOLANDA, 2006;
BRASIL, 2009).
Em Minas Gerais, a incidência do traço falciforme
é de 3,3%, e a da AF é de, aproximadamente, 1:1.400
recém-nascidos triados, tendo como base o Programa
Estadual de Triagem Neonatal (PETN-MG), que implantou a triagem para hemoglobinopatias em março de
1998 (FERNANDES et al., 2010). Para a CEHMOB (2005), a
incidência para a AF é significativa nas regiões Norte e
Nordeste de Minas Gerais, cuja relação está associada à
migração da população negra oriunda do tráfico de escravos, evidenciando que a mesma é um dos principais
problemas de saúde pública do estado.
Segundo o estudo de Martins, Moraes-Souza e
Silveira (2010), o perfil epidemiológico mostra predomínio de crianças e adultos jovens, sexo feminino e
genótipo SS e as taxas de internação no HC-U, de atendimento no HR e a baixa média de idade ao óbito confirmam a alta morbidade e mortalidade da AF.
A detecção precoce da anemia falciforme, feita
pela triagem neonatal (Teste do Pezinho), é primordial
para se iniciar a linha de cuidado da pessoa com essa
doença (SILVA; MARQUES, 2007).
Quanto ao tratamento, pode-se dizer que embora
a AF não tenha cura, suas manifestações e complicações são passíveis de tratamento e de prevenção, ga-
rantindo às pessoas com DF melhor qualidade de vida
e maior longevidade (BRAGA, 2007).
Guimarães e Coelho (2010) ressaltam que a
maioria das políticas de saúde tem um caráter preventivo, pois direciona suas ações educativas às pessoas portadoras do traço falciforme mais do que aos
doentes da anemia falciforme. Essa preferência pela
prevenção vai ao encontro do reconhecimento das
limitações das terapias gênicas, pois ainda não há
cura para a AF.
Apesar do crescente envolvimento e investimento
do MS, poucos estudos sobre crianças portadoras de
AF foram identificados em nosso meio, especialmente
em Minas Gerais, onde a implantação do programa de
diagnóstico neonatal se iniciou há mais de dez anos.
Considerando-se que o Brasil apresenta grupos populacionais com grande quantidade de portadores do
traço falciforme e com alta incidência de AF, é de suma
importância avaliar o perfil epidemiológico de crianças
internadas em um hospital escola do Norte de Minas
para que estes dados repassem informações importantes para a estruturação de sistemas de saúde capacitados, a fim de melhorar a qualidade de vida e aumentar
a longevidade das pessoas com esse tipo de herança.
Portanto, o presente estudo se propõe a caracterizar o perfil epidemiológico das crianças com anemia
falciforme internadas em um Hospital Universitário,
no Norte de Minas Gerais; analisar as causas dos atendimentos e/ou internações e as causas dos óbitos, no
período de 2001 a 2011; e favorecer o planejamento de
políticas públicas e outras ações que possam contribuir
para reduzir a morbimortalidade das pessoas com AF.
249
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e Métodos
Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se
por uma abordagem quantitativa, descritiva, exploratória, além de retrospectiva e documental, uma
vez que utilizará prontuários de todos os pacientes
com diagnóstico de AF internados na pediatria do
Hospital Universitário Clemente de Farias (HUCF) no
período de janeiro de 2001 a dezembro de 2011.
Essa escolha permitiu à pesquisadora determinar o perfil das crianças com anemia falciforme internadas na Pediatria do HUCF por meio da quantificação dos dados e da análise estatística.
O cenário onde se coletaram os dados foi o
Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME) do
Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF), localizado no município de Montes Claros, região norte
de Minas Gerais. Trata-se de uma instituição pública,
sendo administrada exclusivamente com recursos
do Estado de Minas Gerais e do SUS, embora conte também com a colaboração de projetos sociais,
doações e subvenções sociais.
O público deste estudo foi constituído pelos
prontuários das crianças de 0 a 12 anos atendidas na
Pediatria do HUCF, com o diagnóstico de anemia falciforme, no período de janeiro de 2001 a dezembro
de 2011. Os critérios de inclusão foram: Prontuários
de pacientes com diagnóstico de anemia falciforme,
pelo Código Internacional de Doenças- CID (D-57.0 e
D-57.1); Prontuários de crianças com idade de 0 a 12
anos atendidas de janeiro de 2001 a dezembro de
2011.
O instrumento de coleta de dados utilizado foi
uma planilha pré-estabelecida, na qual foram catalogadas informações sobre idade, gênero, cor da
pele, cidade de origem (zona rural/urbana), sintomas/sinais clínicos na admissão, causa e tempo de
internação no HUCF, número de internações anteriores e a causa e a idade, em caso de óbito.
Após autorização concedida, o projeto foi enviado à Comissão de Ética em Pesquisa – CEP, através da Plataforma Brasil, para apreciação. Com a
aprovação, através do parecer consubstanciado-n°
110.417 de 28 de setembro de 2012, iniciou-se a coleta de dados no SAME.
A técnica de coleta de dados constitui-se em
coleta manual realizada pela pesquisadora, durante 15 dias, com período médio de 4 horas diárias no
SAME. A princípio, o responsável pelo setor catalogou em uma lista todos os pacientes internados no
hospital, no período de janeiro de 2001 a dezembro
de 2011, com o diagnóstico de anemia falciforme,
por meio do CID 10. D-57.0 (anemia falciforme com
crise) e D-57.1 (anemia falciforme sem crise).
Resultados e Discussão
De acordo com as características das crianças
com AF internadas na pediatria do Hospital Universitário Clemente de Faria, representados na TAB. 1, verifica-se que a média de idade foi de 6 anos, com idade
mínima dos pesquisados de 7 meses e máxima de 12
anos. Esses resultados divergem do estudo de Araújo
(2010) desenvolvido em um Hospital Público de Teresina-Piauí, em que o perfil de crianças portadoras de AF
hospitalizadas, em sua maioria, estavam na faixa de 2 a
5 anos.
Quanto ao gênero, 55,7% (34) são do sexo masculino e 44,3% (27) do sexo feminino; tais resultados não
corroboram alguns achados na literatura como no estudo de Martins et al. (2010), que avaliaram o perfil epidemiológico e respectivas intercorrências clínicas dos
pacientes atendidos no Hemocentro Regional (HR) e
Hospital de Clínicas da Universidade (HC-U), sendo que
neste estudo houve uma ligeira prevalência do sexo feminino (52,4%).
No que se refere à distribuição dos pacientes por
cor da pele, pode-se observar que 24,6% são pardos,
seguidos de 4,9% brancos, 3,3% amarelos e 1% negro.
Percebe-se ainda que há um grande descaso na coleta
de informação da mesma, já que em 65,6% (40) não havia informação/ registro no prontuário. Para Backes et
250
al. (2005), há uma grande deficiência nos critérios usados para a avaliação das etnias nos serviços de saúde,
uma vez, que em seu estudo, das 359 crianças portadoras de hemoglobina S, 92% eram brancas, 7% negras e
1% amarela, resultado que contradiz a literatura, a qual
relata que a maior prevalência da HbS ocorre em pessoas de cor negra.
O maior contingente de crianças mora na zona
urbana (72%). Mas, segundo Kikuchi (2007), não podemos deixar de enfatizar que a dificuldade de acesso e
adesão ao tratamento muitas vezes está relacionada à
dificuldade de acesso aos locais de assistência à criança
com AF. Verificou-se que 46% permaneceram no hospital de 1 a 5 dias e 37,8% de 6 a 10 dias. O tempo médio
de internação foi de 8,1 dias (TAB.4), sendo o mínimo 1
dia e o máximo 54 dias, dados próximos aos do estudo
de Martins et al. (2010), em que o tempo de internação
variou de um a 51 dias, com média de 6,2 dias.
Observa-se que o ano com maior prevalência de
internação de crianças com anemia falciforme foi o de
2011, com 16,3%, seguido por 2008 com 12,5% e 2006
com 12%; e o ano com menor número de internações
foi o de 2003, com 5%.
No presente estudo, a crise dolorosa foi responsável por mais da metade das internações (56%), lem-
Área - Ciências da Saúde
brando que, em alguns pacientes, além da crise dolorosa, houve algum outro motivo de internação como,
por exemplo, pneumonia. Verificou-se que 98,4% das
crianças obtiveram alta por ter “melhorado”, e apenas
1,6% abandonou o tratamento. Em um estudo realizado em Uberaba, observou-se que a causa mais frequente de atendimento e/ou internação foi a crise dolorosa afebril (25,3%) (MARTINS et al., 2010).
Número de internações de crianças com AF por ano, no período de 2001 a 2011,
Montes Claros- dezembro/2012
Fonte: Coleta de dados, Hospital Universitário Clemente de Faria, 2012.
251
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Conclusões
Os resultados deste estudo poderão subsidiar reflexões por parte dos profissionais de saúde da pediatria do HUCF, bem como das localidades onde as crianças são oriundas quanto à compreensão dos diversos
determinantes da internação de crianças homozigotas
para a hemoglobina S; proporcionando, assim, ações
de promoção e prevenção da saúde, com o objetivo de
propiciar a essas crianças um atendimento humanizado e integral, de acordo com suas necessidades físicas,
psíquicas e sociais.
Além disso, o presente estudo pode favorecer o
planejamento de políticas públicas e outras ações que
possam contribuir para reduzir a morbimortalidade e
melhorar a qualidade de vida das pessoas com AF.
Referências
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http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v29n3/v29n3a03.pdf. Acesso em: 05 de julho de 2012.
252
Área - Ciências da Saúde
PERFIL ANTROPOMÉ TRICO E C APACIDADE
FUNCIONAL DE MULHERES INSTITUCIONALIZ ADAS
NO MUNICÍPIO DE MONTES CL AROS, MG
Víctor Mendes Ferreira
Larissa Maria Oliveira Gonzaga
Isabelle Gomes Soares
Vanessa Lopes Pinto
Ana Isabel Nobre Maia
Paula Maria Silveira Soares Moura
[email protected]
Introdução
O envelhecimento é conceituado como um processo sistêmico, dinâmico e progressivo, no qual há
modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e
psicológicas que determinam a redução da capacidade
de manutenção da homeostasia (MENEZES et al., 2011).
É considerada idosa a população na faixa etária igual
ou superior a sessenta anos (Lei n° 10741 de 1° de outubro de 2003).
Segundo a ONU, a transição do processo demográfico é única e irreversível e resultará no envelhecimento da população em geral. À medida que as taxas
de fertilidade diminuem, a proporção de pessoas com
60 anos ou mais deve duplicar entre 2007 e 2050, e seu
número atual deve mais que triplicar, alcançando dois
bilhões em 2050. Na maioria dos países, o número de
pessoas acima dos 80 anos deve quadruplicar para
quase 400 milhões até lá.
Segundo Silva et al. (2008), o Brasil também passa
por essa transição demográfica. Isso é confirmado a nível local pelo trabalho de Oliveira-Campos, Cerqueira e
Rodrigues Netto (2011), e a nível nacional pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística a partir do censo
2010 e dos Indicadores e Dados Básicos, nos quais se
pode observar um crescimento da população com 65
anos ou mais, que, em Minas Gerais, equivale a 10,1%
e, em Montes Claros (em que no ano 2000 era de 6,6%),
9,3% em 2011. Porém, a expectativa de vida das mulheres ultrapassa a dos homens, sendo a população feminina idosa maior que a do homem (IBGE, 2009).
O aumento da longevidade tem sido acompanhado de um declínio do estado de saúde físico e mental
consequente do aumento dos problemas de saúde
crônicos e degenerativos, o que reflete em uma maior
procura de idosos aos serviços públicos de saúde. Além
de perda da independência e autonomia, limitações
socioeconômicas e ambientais transformam o envelhecimento populacional em problema de saúde pública
que deve ser priorizado pelo Brasil, tanto nos serviços
de promoção à saúde, quanto nos de tratamento (SILVA et al., 2010; ARAÚJO, 2011; ALENCAR et al., 2012; VALCARENGHI et al., 2011).
Para Oliveira e Mattos (2010), a condição funcional
de um indivíduo refere-se à capacidade que ele tem
para realizar atividades habituais. Ou seja, a capacidade funcional (CF) é definida como a habilidade física e
mental para manter uma vida de forma independente
e autônoma, com plena realização de uma tarefa pelo
indivíduo, bem como da necessidade de instituir medidas preventivas e de intervenções terapêuticas, que
visam reduzir os mecanismos que afetam o declínio da
habilidade do sujeito exercer diversas funções físicas e
mentais cotidianas (MARCHON; CORDEIRO; NAKANO,
2010; DEL DUCA; SILVA; HALLAL, 2009).
Giacomin et al. (2008) esclarecem que a incapacidade funcional pode ser mensurada de acordo as dificuldades para realizar atividades cotidianas, que são
subdivididas em atividades de vida diária (AVD), grupo
que compreende atividades do autocuidado; e atividades instrumentais de vida diária (AIVD), grupo que
compreende atividades de interação comunitária.
Um instrumento utilizado para avaliar o desempenho nas atividades da vida diária do idoso é a Escala de
Independência em Atividades da Vida Diária (EIAVD), ou
Escala de Katz, embora tenha sido publicado pela primeira vez em 1963. Essa escala é composta por seis itens que
mensuram o desempenho do indivíduo nas atividades
de autocuidado, as quais obedecem a uma hierarquia de
complexidade, da seguinte forma: alimentação, controle
de esfíncteres, transferência, higiene pessoal, capacidade
para se vestir e tomar banho (LINO et al., 2008).
Aires, Paz e Perosa (2009) descrevem as instituições de longa permanência para idosos como sendo
instituições residenciais, destinadas ao domicílio coletivo de idosos com ou sem suporte familiar ou governa253
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
mental, de modo a preservar a liberdade e a cidadania
dos usuários. Watanabe e Di Giovannill (2009) explicam
que os problemas da assistência familiar se baseiam
nas mudanças da estrutura familiar e na saída da mulher, que, culturalmente, se responsabilizava pelos
cuidados com os mais velhos, para o mercado de trabalho. Somado a isso, para Mello, Haddad e Dellarosa
(2012), são as alterações do estado cognitivo os principais motivos da institucionalização dos idosos.
Na visão de Vellozo e Banhato (2011), a finalidade
dessas ILPIs não seria somente a assistência, mas também o cuidado integral do idoso que não possui condições familiares ou domiciliares para sua permanência na comunidade, de modo a garantir-lhe qualidade
de vida e um envelhecimento dotado de dignidade e
cidadania. Porém, segundo Gonçalves et al. (2010), a
institucionalização não constitui ainda uma prática comum em nossa sociedade, já que, conforme o Censo
Demográfico de 2000, havia 103 mil idosos residentes
em ILPIs, representando em torno de 0,8% da população idosa.
Faz-se necessária uma ação integrada em se tratando da mudança de comportamentos e atitudes
da população em geral e da formação dos profissionais de saúde e de outros campos de intervenção
social, uma adequação dos serviços de saúde e de
apoio social às novas realidades sociais e familiares
que acompanham o envelhecimento individual e
demográfico e um ajustamento do ambiente às fragilidades que, mais frequentemente, acompanham
a idade avançada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). O
objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil antropométrico e o grau de capacidade funcional em
idosas institucionalizadas no município de Montes
Claros, MG.
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo do tipo descritivo transversal e
de caráter quantitativo e explorativo. Foram entrevistados e clinicamente avaliados 32 indivíduos do sexo
feminino que, no momento da coleta, residiam no Lar
das Velhinhas, através de questionário sociodemográfico e de questionário validado que engloba as variáveis
abordadas na escala de Katz, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
preconizado na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A avaliação baseou-se na obtenção de
valores antropométricos (altura, peso, IMC, circunferência abdominal e RCQ), sendo os resultados do IMC clas-
sificados em magreza (menor que 18,5), normal (18,5
a 24,9), sobrepeso (25 a 29,9), obesidade (30 a 39,9) e
obesidade grave (maior que 40), e na aplicação da escala de Katz, direcionada à capacidade funcional. O
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros
sob o código 30821014.0.0000.5109, e os dados coletados foram digitados em planilha do Statistical Package
for Social Sciences (SPSS), versão 16.0, com procedimento de dupla digitação para avaliação da consistência do
banco de dados.
Resultados e Discussão
A amostra era composta principalmente por mulheres com conhecimento da linguagem escrita (59,3%)
e média de idade de 71,8, sem escolaridade (50%), viúvas ou que nunca se casaram (75%). De acordo com
dados do IBGE, em 1991, 55,8% dos idosos declararam
saber ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Em
2000, esse percentual passou para 64,8%, representando um crescimento de 16,1% nesse período. Os dados
estão, porém, em concordância com os achados de
Oliveira (2012) e Santos et al. (2012), segundo os quais,
respectivamente, 46,6% e 32,5% dos idosos institucionalizados eram analfabetos.
A maioria, dentre as mulheres que puderam responder, considerava ter bom estado de saúde (46,8%),
sendo este melhor em relação ao período que precedeu a institucionalização (43,7%) e em relação ao de
outras pessoas da mesma idade (46,8%). Além disso,
dentre as que relataram usufruir dos serviços médicos
prestados na instituição, 75% se consideravam satisfei254
tas. Isso sugere boa qualidade do serviço prestado na
instituição em questão. Setenta e cinco por cento apresentavam problemas de saúde, sendo os principais a
hipertensão arterial e o diabetes mellitus tipo 2 (ambos
em 18,35%), seguidos pela labirintite (12,5%). Os valores obtidos pelas medidas de circunferência abdominal
(CA) e relação cintura-quadril (RCQ) evidenciaram, em
maioria (82,65% e 84,2%, respectivamente), risco metabólico muito alto, sendo a média da CA igual a 98,4.
Isso reflete situação ainda mais grave que aquela encontrada por Silva Júnior e Miranda (2008), em que as
médias foram de 90,3 e 90,4, respectivamente, em dois
grupos de idosas.
Em 52,24% daquelas em que se mediu o IMC, foi
demonstrado sobrepeso, enquanto, em 15,8%, demonstrou-se baixo peso. Esses dados discordam daqueles relatados por Colembergue (2011), que revelam
uma maior tendência à desnutrição nos idosos institucionalizados do Brasil decorrente de alterações do pró-
Área - Ciências da Saúde
prio envelhecimento, doenças sistêmicas e/ou situação socioeconômica, que condicionam o seu estado
nutricional. Ainda segundo o referido autor, 12,5% das
mulheres se enquadram como desnutridas e 18,75% se
encontram em risco de desnutrição.
Por fim, no tocante à capacidade funcional, em
todas as atividades de vida diária pesquisadas, a independência foi encontrada na maioria das mulheres: alimentação (90,62%), continência (59,37%), transferência
(71,87%), ir ao banheiro (62,5%), vestir-se (59,37%) e banhar-se (59,37%). A maior parte foi classificada, segundo o índice de Katz, como independente (56,3%), en-
quanto 15,6% e 28,1% mostraram-se moderadamente
dependentes e dependentes, respectivamente. Os resultados discordam daqueles encontrados por Marinho
et al. (2013) em três instituições de Montes Claros, em
que quase 60% dos idosos demonstravam algum grau
de dependência. Isso pode estar associado à qualidade
do serviço prestado na instituição de longa permanência em questão, bem como ao fato de a amostra ser
composta exclusivamente por mulheres, visto que o
estudo realizado anteriormente abrangia todas as instituições de longa permanência do município, sem discriminação de sexo.
Conclusões
O aumento da longevidade, advindo da transição
demográfica pela qual passa o Brasil, é acompanhado
do declínio do estado de saúde físico e mental, do aumento de problemas crônicos e degenerativos, tornando crescente a procura pelos serviços de saúde. Porém,
envelhecer não é um problema, é parte natural do ciclo
de vida, sendo desejável que constitua uma oportunidade para viver de forma saudável e autônoma pelo
maior tempo possível. Dessa forma, justifica-se que o
sistema de saúde pública priorize o cuidado da população idosa, garantindo um envelhecimento digno.
De acordo com o perfil das idosas institucionalizadas no Lar das Velhinhas, revelou-se grande prevalência
de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus, o
que se relaciona ao perfil antropométrico indesejável
observado (CA, RCQ e IMC), que evidenciou alto risco
de desenvolvimento de síndrome metabólica e outros
agravos. Isso pode estar fortemente associado ao baixo
grau de escolaridade encontrado. Em relação à capacidade funcional, avaliada pelo índice de Katz, conclui-se
que a maioria das idosas é considerada independente,
achado mais favorável que aqueles obtidos por estudo
anterior realizado também em Montes Claros.
Levando em consideração o envelhecimento da
população e a consequente necessidade de dar um suporte maior à mesma, observa-se a demanda por uma
maior geração de conhecimento sobre o assunto e realização de projetos que possam aumentar a qualidade de vida proporcionada pelas instituições de longa
permanência para idosos (ILPIs), cada vez mais procuradas. A finalidade dessas ILPIs não se restringe à assistência, mas visa também ao cuidado integral do idoso,
de modo a garantir qualidade de vida e um envelhecimento dotado de dignidade e cidadania.
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256
Área - Ciências da Saúde
PRE VENÇ ÃO E CONTROLE DAS INFECÇÕES
HOSPITAL ARES EM UNIDADE DE TER APIA INTENSIVA
Luiz Eduardo Silveira Leite
Patrícia Alves Paiva
Fabrícia Ramos Magalhães
Priscila Karolline Rodrigues Cruz
Ricardo Soares de Oliveira
Patrick Leonardo Nogueira da Silva
Bruno Pereira de Paula
[email protected]
Introdução
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é o setor que
concentra os principais recursos humanos e materias
fundamentais para a manutenção das funções vitais
dos pacientes. Ela é composta por equipes especializadas de médicos, enfermeiros e outras categorias profissionais de saúde. Leite e Vila (2005) afirmam que os
serviços de terapia intensiva ficam situados em áreas
hospitalares destinadas ao atendimento de pacientes
críticos que necessitem de cuidados complexos e especializados. Esses serviços têm como objetivos concentrar recursos humanos e materiais para o atendimento
de pacientes graves que exigem assistência permanente, além da utilização de recursos tecnológicos apropriados para a observação e monitorização contínua
das condições vitais do paciente e para a intervenção
em situações de descompensações.
Para Pereira et al. (2000), a tecnologia aplicada à
assistência hospitalar em unidade de terapia intensiva
viabiliza o prolongamento da sobrevida do enfermo
em situações muito adversas. Conforme Mussi-Pinhata
e Nascimento (2001), a tendência à infecção em pacientes internados em UTI é devido à combinação de vários
fatores de risco em consequência da redução das defesas imunes e do sistema de suporte de vida, que promove ruptura de suas barreiras de defesa.
A ocorrência das infecções hospitalares (IH) varia
com as características do doente, consideradas como
determinantes na suscetibilidade às infecções. Contribuem também para este fato as características do hospital, os serviços oferecidos, o tipo de paciente atendido, ou seja, a gravidade e complexidade dos pacientes,
e o sistema de vigilância epidemiológica e o serviço de
controle de infecções hospitalares adotados pela instituição (TURRINI, 2000). Na maioria das vezes, pouco
pode se fazer em relação ao agente infeccioso ou a um
hospedeiro susceptível, mas podemos interromper a
cadeia de transmissão e prevenir as infecções, baseado nas medidas de controle das infecções hospitalares
(GONÇALVES; FONSECA, 2004).
Sendo assim, este estudo objetivou identificar,
através da literatura, a importância das medidas de
prevenção e controle das infecções hospitalares na unidade de terapia intensiva (UTI).
Materiais e métodos
Para o desenvolvimento deste estudo e alcance
dos objetivos desejados, optou-se por um estudo descritivo do tipo revisão da literatura que, segundo Traldi e Dias (2011), busca mostrar a evolução do conhecimento sobre um determinado tema, aponta falhas e
acertos dos diversos estudos com a finalidade de encontrar pontos convergentes e divergentes, destacando o que é importante para o objetivo da pesquisa em
questão. Foi realizado o levantamento das informações
por meio de artigos científicos disponíveis nas bases
de dados: SCIELO (Scientific Electronic Library Online),
LILACS (Literatura Latino-Americana de Ciências da
Saúde), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando
os descritores do assunto: Unidade de Terapia Intensiva, Infecção Hospitalar, Prevenção. Foram selecionados
20 artigos, nas bases de dados e em revistas, porém
apenas 10 foram utilizados, pois os mesmos se aproximaram do tema proposto. Também foram realizadas
consultas literárias em livros. Após a seleção, todos os
textos e artigos foram lidos e analisados. Em seguida,
foi iniciada a discussão entre os autores.
257
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e discussão
Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
Até a década passada, existiam poucas UTIs no
Brasil, situadas apenas nas capitais dos estados e nas
cidades onde ficavam as faculdades de medicina.
Atualmente, grande número dos municípios com mais
de 150 mil habitantes já possuem esses importantes
serviços de saúde (TELAROLLI JUNIOR, 1997). As primeiras UTI ssurgiram a partir da necessidade de atendimento do paciente cujo estado grave exigia assistência e observação contínua de médicos e da equipe de
enfermagem. Esta preocupação começou com Florence Nightingale, durante a Guerra da Criméia no século
XIX, que procurou selecionar soldados atingidos mais
graves, acomodando-os de forma a favorecer o cuidado imediato (LINO; SILVA, 2011).
Infecções Hospitalares em UTI
A definição de infecção hospitalar segundo o
Centers for Disease Control (1996) – Atlanta – EUA, refere-se a todas as infecções contraídas durante a hospitalização e que se manifeste no período da internação
ou posteriormente à alta (BRASIL, 2008). Para Basso e
Abreu (2004), a IH é conceituada como aquela infecção adquirida após a admissão do paciente e que se
manifeste durante a internação ou após a alta, quando
puder ser relacionada com hospitalização ou aos procedimentos hospitalares. Quando for desconhecido o
período de incubação do microorganismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção
no momento da admissão, também se considera infecção hospitalar toda manifestação clínica de infecção
que se apresentar a partir de 72 horas após a admissão.
Para Fernandes et al. (2000), a maioria das IH ocorrem por um desequilíbrio da relação existente entre a
microbiota humana normal e os mecanismos de defesa
do paciente. Isto pode ser devido a patologia de base
do paciente, procedimentos invasivos e alterações microbianas, geralmente induzidas pelo uso dos antibióticos. O paciente poderá ser infectado após sua chegada a UTI por várias vias, incluído a equpipe de saúde, o
contato direto e indireto, as gotículas e os materiais e
equipamentos infectados.
A infecção hospitalar acontecerá através do contato direto (transmissão física direta de micro-organismo de uma pessoa colonizada ou infectada para
o hospedeiro, por meio das mãos ou secreções), ou
pelo contato indireto (transmissão por objetos inanimados) e também através da transmissão aérea por
gotículas. (FERNANDES et al., 2000). Segundo estatísticas do Governo Federal, atualmente 15% dos pacientes hospitalizados no país contraem algum tipo de
infecção hospitalar, mas existem casos em que 30%
das infecções hospitalares podem ser prevenidas.
Pneumonia, infecções cirúrgicas, sepses e infecções
urinárias são as principais infecções mais presentes
(RODRIGUES et al., 1997).
258
Medidas de prevenção e controle das infecções
hospitalares em UTI
Ações e medidas de prevenção às infecções hospitalares devem ser rotina em todas as instituições que
se preocupam com a satisfação da sua clientela e que
têm responsabilidade com a saúde. E no ambiente de
terapia intensiva, é indicado que essas ações de prevenção ao controle de infecções sejam mais rigorosas,
em decorrência do tipo de paciente, do ambiente e da
intensidade dos procedimentos invasivos. São inúmeras as medidas de prevenção às infecções hospitalares,
porém as mesmas devem ser conhecidas e praticadas
por todos aqueles que irão lidar direta ou indiretamente com o paciente.
Martins (2001) afirma que as medidas de prevenção às infecções a serem adotadas pelos serviços hospitalares são as de precauções padrão e precauções
baseadas na transmissão. As precauções padrão são
constituídas pela lavagem das mãos; uso correto das
luvas, máscaras, protetor facial e de olhos, utilização de
roupas de proteção, manuseio adequado dos materias
perfurocortantes e cuidado com os equipamentos e
demais matérias.
Mercedes (2002) relata que o objetivo das precauções padronizadas é buscar a redução da transmissão
de patógenos a partir de fontes de infecção conhecidas ou desconhecidas. As precauções padrão enfatizam condutas como higienização das mãos, uso de
luvas, máscaras, protetor facial e de olhos, roupas de
proteção, manuseio cuidadoso dos instrumentos perfurocortantes e cuidado com materias e equipamentos.
Os antimicrobianos também possuem importante papel no contexto das infecções hospitalares. Com
a evolução da tecnologia, os antimicrobianos foram
aperfeiçoados, técnicas de assistência foram se desenvolvendo e o tratamento das patologias assumiu um
grau de alta complexidade. Por outro lado, a invasão
das bactérias multirresistentes, a inserção de novas formas de micro-organismo e a luta contra a resistência
bacteriana surgiram nesse contexto, fragilizando o ambiente do cuidado das pessoas e desafiando as ações
do cotidiano dos profissionais de saúde, no que se refere à prevenção das infecções hospitalares (BRASIL,
2000).
A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e o
Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH-SCIH)
Desde 1983 o controle das IH é regido por ações
governamentais, porém, somente em 1997 a existência
de um Programa de Controle das Infecções Hospitalares (PCIH), em todas as instituições hospitalares do país,
passou a ser obrigatória pela Lei nº 9.431/97. Em 1998
foi editada a portaria nº 2.616, que recomenda o processo de trabalho a ser realizado pelo PCIH, devendo a
instituição constituir a CCIH como um órgão deliberativo de ações de controle e prevenção de IH e o Serviço
Área - Ciências da Saúde
de Controle de Infecção Hospitalar, denominado SCIH,
órgão executivo, que encarrega de realizar as ações deliberadas pela CCIH (BRASIL, 2000).
A Comissão de Controle das Infecções Hospitalares
é responsável por realizar a vigilância epidemiológica
de todos os pacientes, principalmente daqueles que
apresentam um risco maior para infecção. A vigilância é
um processo que ocorre por meio de métodos prospectivos, como a busca ativa, sistemática e contínua das infecções, bem como sua propagação (BRASIL, 2000). As
instituições hospitalares, através das CCIH e dos SCIH,
devem criar, implantar e supervisionar normas e rotinas
técnicas operacionais com o objetivo de reduzir e minimizar a disseminação dos agentes infecciosos (COUTO,
2003).
Mesmo com a legislação vigente, os dados sobre a IH são pouco divulgados, já que nem sempre são consolidados por muitas instituições hospitalares, o que tem dificultado a aquisição de um
diagnóstico que retrate a dimensão desse agravo
(TURRINI, 2000). Além disso, considera-se mais um
agravante o fato de as instituições publicas possuírem a maior taxa de prevalência de infecção hospitalar, de 18,4% (LACERDA, 2002).
Portanto, é imprescindível a vigilância epidemiológica das infecções hospitalares através da observação ativa, sistemática e contínua de sua frequência e
distribuição entre os pacientes e dos eventos e condições que afetam o risco de seu surgimento, com vistas
à execução oportuna das ações de prevenção e controle. Trata-se de um processo que compreende a coleta,
consolidação, análise e interpretação dos dados observados, gerando informações essenciais para planejamento, implementação de ações e avaliação de medidas de intervenção através da supervisão da assistência
dos profissionais de saúde (MARTINS, 2005). É pertinente enfatizar a importância da educação continuada,
pois a organização e execução de atividades educativas contribuirão para a melhoria e controle da qualidade da assistência, pois, no processo da prevenção da
IH, os recursos humanos são a base para o sucesso.
Considerações finais
A partir da literatura, científica, foi possível conhecer historicamente o início dos primeiros atendimentos intensivos que surgiram desde a época da
pioneira Florence Nightingale durante a Guerra da Criméia no século XIX. Pode-se constatar que o grande
avanço da tecnologia voltada para a assistência hospitalar em unidade de terapia intensiva tem proporcionado o prolongamento da sobrevida dos pacientes
em estado grave e crítico.
A infecção hospitalar é compreendida como toda
infecção adquirida após o ato da admissão do paciente
e que se manifeste durante o período de hospitalização ou após a alta (e que esteja relacionada com hospitalização ou com os procedimentos). Também só será
considerada infecção hospitalar se as manifestações
clínicas se apresentarem a partir das 72 horas da internação.
Portanto, ações de prevenção e de controle das
infecções hospitalares são requisitos indispensáveis na
assistência ao paciente de unidades de terapia intensiva. Essas ações devem buscar a redução da transmissão
de micro-organismos a partir de fontes de infecção conhecidas ou desconhecidas. Além da realização efetiva das medidas de controle de prevenção da infecção
hospitalar, deve ser realizada a vigilância epidemiológica de todos os pacientes, principalmente daqueles que
apresentam um risco maior para infecção.
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260
Área - Ciências da Saúde
PERFIL DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SE XUAL EM UMA
CIDADE DO NOR TE DE MINAS GER AIS - BR ASIL
Edna de Freitas Gomes Ruas
Lúcia Helena Rodrigues Costa
Cristiano Oliveira Dias
Cláudia de Jesus Maia
Manuel Lisboa
Cynara Rodrigues Soares Silva
Carlos Fernando Xavier Soares
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.
Introdução
Nos últimos anos a violência contra mulheres saiu
da ordem do privado, do silêncio e da invisibilidade,
tornando-se de fato um problema público e social de
grande repercussão. Num primeiro momento, a preocupação de pesquisadore(a)s de diversas áreas do conhecimento foi dar visibilidade e criminalizar este tipo
de violência, entender seus motivos, suas raízes históricas e culturais, as formas em que ela ocorre, traçar perfis de vítimas e agressores, avaliar programas e políticas públicas e, especialmente, conceituar esta violência
tendo em vista sua especificidade no que concerne às
construções de gênero (CHAUÍ, 1985; BRANDÃO, 1998;
IZUMINO, 2004; SUAREZ; BANDEIRA, 1999; SAFFIOTI, 2002; SANTOS; ISUMINO, 2005; NADER; LIMA, 2007;
etc.).
Entendemos que agora se torna urgente entender
e analisar as implicações dessa violência sob os diversos aspectos da vida social e individual das mulheres
vítimas e para a sociedade como um todo. Assim, estudos têm sido direcionados para evidenciar que a
violência contra mulheres não é apenas um problema
pessoal e privado que traz “custos” (sociais, psicológicos e econômicos) somente às vítimas e sua família,
mas também a toda a sociedade; pois, conforme argumenta Lisboa, (2006, p.13) a violência contra as mulheres “é um fenómeno de género com uma dimensão
histórica, multifacetado do ponto de vista económico,
político, social e cultural, e, por isso, irredutível a uma
mera intervenção jurídica ou policial.”
Na tentativa de somar aos esforços de entender
este fenômeno diverso e multifacetado, a partir de
2007, alguns estudos procuraram discutir a violência de
gênero no norte de Minas. Estes estudos consistiram
em um amplo levantamento de dados, referente ao
período de 1970 a 2007, em jornais, processos criminais
das comarcas de Montes Claros e Janaúba no norte de
Minas, em que as mulheres figuraram como vítimas ou
como rés em crimes considerados como violência de
gênero; e análises de depoimentos de história oral e de
vida com mulheres vítimas de violência conjugal e com
agentes de segurança pública que atuaram nas Delegacias Especializadas de Repressão aos Crimes Contra
a Mulher destas duas comarcas (MAIA; CALEIRO, 2012).
Em um nível mais micro, procurou-se entender as vivências e permanências de mulheres em relações conjugais violentas através de narrativas de histórias de
vidas (MAIA, 2012). Ao narrar suas experiências de violência sobre suas vidas e seus corpos, as mulheres entrevistadas apontaram para efeitos visíveis destas sobre a saúde física, como lesões corporais, hematomas,
membros quebrados, abortos espontâneos, dentes arrancados, deficiências físicas, mas, também, deixaram
entrever outros problemas relacionados à sua saúde
física e psicológica. Isso chamou nossa atenção para a
necessidade de problematizar a relação entre a violência de gênero e a saúde das mulheres.
Quando interpretamos as consequências da violência contra a mulher, observamos uma lacuna na
aplicabilidade das políticas públicas voltadas para
essas vítimas, pois são pouco notórias as iniciativas
de acolhimento e atenção a esse grupo social que sofre algum tipo de violência, especialmente na área da
saúde. O atendimento é mecânico e protocolar, caso a
vítima não apresente uma alteração anatomopatológica como base de sua queixa, e o sofrimento da mulher
em situação de violência ainda não é percebido como
elemento que mereça intervenção dos profissionais
da saúde. Neste contexto, sua queixa é desqualificada como social ou psicológica, e não é acolhida pelo
serviço de saúde, pois onde não há alterações anato261
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
mopatológicas não há violência, seguindo uma lógica
protocolar e biomédica de intervenção, o que não gera
registros nos prontuários.
O presente estudo teve como objetivo construir o
perfil das vítimas de violência sexual atendidas em um
hospital universitário.
Materiais e Métodos
A pesquisa envolveu uma dimensão descritiva de
abordagem quantitativa, que consistiu no levantamento das fichas de notificação de violência doméstica, sexual e/ou violências interpessoais. Esta ficha considera
violência o uso intencional de força física ou do poder
real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento
ou privação. A ficha atende ao Decreto-Lei nº 5.099 de
03/06/2004, que regulamenta a Lei nº 10.741/2003, que
institui o serviço de notificação compulsória de violência contra a mulher. Todas as mulheres vítimas de violência são atendidas no Hospital Universitário Clemente de Faria – HUCF, localizado no município de Montes
Claros, norte de Minas Gerais, sendo que as vítimas de
violência sexual são conduzidas à Maternidade Maria
Barbosa do mesmo hospital para o primeiro atendimento e toda a propedêutica necessária.
A população estudada constituiu-se por mulheres
que foram atendidas na referida maternidade, no período de janeiro de 2008 a julho de 2013.
O número total de fichas de notificação, que corresponde a todas as vítimas de violência sexual levantadas neste período, foi de 600 (seiscentas). Para organização e análise estatísticas dos dados, foi utilizado
o programa Statistical Package for Social Science (SPSS)
18.0, que, em primeiro momento, foi realizada apenas
uma análise descritiva dos dados. As variáveis analisadas permitiram a construção do perfil das vítimas de
violência sexual.
Como se trata de pesquisa que envolve seres humanos atendidos em instituições de saúde, o projeto
passou pelos trâmites legais para as pesquisas na área
de saúde adotados pela resolução 466/2012. Sendo
assim, o projeto foi submetido à Plataforma Brasil para
analise pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES, sendo
aprovado pelo parecer de número 249.973.
Resultados e Discussão
Foram analisadas as fichas de notificação de vítimas de violência sexual atendidas na maternidade Maria Babosa do HUCF, sendo possível construir o perfil
dessas vítimas.
O perfil das vítimas de violência foi construído
com dados preliminares a partir das variáveis: idade,
sexo, raça/cor, escolaridade, situação conjugal/estado
civil.
Em relação à idade (gráfico 1), podemos constatar maior prevalência dos casos de violência sexual na
faixa etária de 0 a 11 anos e de 12 a 19 anos de idade,
sendo que, no ano de 2012, 44,4% dos casos foram registrados na faixa etária de 0 a 11 anos de idade.
As vítimas mais prevalentes nos casos de violência
sexual, presentes neste estudo e nas pesquisas sobre
violência de gêneros, foi o sexo feminino, com 89, 3%
dos casos no ano de 2013, enquanto 10,7 % foram do
gênero masculino no mesmo ano (gráfico 2).
A raça/cor mais prevalente são as vítimas da cor
parda, totalizando 45,8% das vítimas de violência sexual no ano de 2008. Em estudo realizado em Salvador
2007, no que diz respeito à variável cor, a considerem
262
relevantes a este assunto, porque, apesar de distinção
entre a cor da pele, critérios de classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) afirmam
que o termo “negros” abrange tanto populações negras e marrons como um todo, de acordo com os termos adotados para nomear as raças/grupos étnicos
que compõem a população brasileira. Com base nestes critérios, verificou-se que 77,3% (39,5% de negros,
37,8% das mulheres marrom) violados pertenciam à
raça negra. (DINIZ et al., 2007).
Em relação à escolaridade, pode-se observar uma
limitação na coleta de dados, pois este campo na ficha
de notificação não era preenchido no momento do
atendimento, o que se confirma no período de 2010 ,
em que 50,6% da escolaridade das vítimas de violência
é ignorada. No período de 2008, a escolaridade de 5ª a
8ª séries incompleta está presente em 21,7% dos casos
das vítimas de violência sexual.
A situação conjugal/estado civil é compatível com
a faixa etária das vítimas apresentado anteriormente,
76,8%, 57,5%, 51,9% são solteiras nos períodos de 2011,
2012 e 2013 respectivamente.
Área - Ciências da Saúde
GRÁFICO1: Percentual da população estudada de acordo com a idade nos anos de ocorrência do estudo.
MontesClaros/MG,2014.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da Pesquisa.
GRÁFICO2: Percentual da população estudada de acordo com o sexo nos anos de ocorrência do estudo. Montes
Claros/MG, 2014.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da Pesquisa.
Conclusão
O presente estudo, ainda com dados parciais, é
parte do projeto em andamento intitulado “ Violência de gênero e saúde das mulheres”, desenvolvido
por um grupo de pesquisadora(e)s de Montes Claros e
Uberlândia com a participação de pesquisadores/as
da Universidade Nova de Lisboa/ Portugal. Os dados
preliminares demonstram a gravidade do problema
apontado pela faixa etária das vítimas, majoritaria263
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
mente menores de 19 anos, o que indica que a violência doméstica tem implicações profundas com a violência de gênero perpetrada sob a forma de violência
sexual. A continuidade do estudo permitirá construir
associações entre a ocorrência da violência e o perfil
sociodemográfico e de saúde das mulheres. Os dados
apresentados, mesmo que preliminares, apresentam a
dimensão do problema e a necessidade de continuar e
aprofundar o conhecimento para criar, apoiar melhores
estratégias de prevenção e assistência imediata e a longo prazo e amenizar problemas futuros.
Referências
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264
Área - Ciências da Saúde
PERCEPÇ ÃO MATERNA SOBRE A CRIANÇ A INTERNADA
EM UTI COM DIAGNÓS TICO DE MALFORMAÇ ÃO
CONGÊNITA
Tadeu Nunes Ferreira
Vanessa Maia da Silva Nunes Aguiar
Adriana Barbosa Ayres
Isabela Mary Alves Miranda
Renê Ferreira da Silva Júnior
Juliana Andrade Pereira
Carla Jeane Marinho de Caires Nunes
[email protected]
Introdução
A mortalidade infantil é um importante indicador
de saúde, diretamente relacionado às condições de
vida de um país. As malformações congênitas se encontram entre as principais causas de óbitos infantis
nos países desenvolvidos, responsáveis por 20% dos
óbitos neonatais e 30 a 50% dos óbitos perinatais. No
Brasil, os óbitos por malformação congênita aumentaram de 4 em 1980 para 6,7 por mil NV em 1990, chegando a 11,4 por mil nascidos vivos em 2000. Em 2004,
já representavam a segunda causa de óbito infantil no
país, sendo considerada uma questão prioritária para a
saúde pública (GOMES; COSTA, 2012).
As anomalias congênitas, ou defeitos de nascença, podem surgir em qualquer estágio do desenvolvimento pré-natal e mostram uma ampla variedade
de fatores etiológicos bem como tipo, extensão e
frequência dos defeitos. Cerca de 2 a 3% de todos os
nascimentos estão associados com uma anomalia importante, retardo mental ou doença genética. Um
número ainda maior de crianças irá começar a demonstrar manifestações de um distúrbio genético em
estágios posteriores do desenvolvimento. Contudo,
muitos dos defeitos mais comuns (por ex., estenose
pilórica, mal formação do sistema nervoso central e
doença cardíaca congênita) parecem ser relacionados
com herança multifatorial. Portanto, é importante reconhecer que, enquanto alguns defeitos são estritamente hereditários, em muitos casos eventos específicos da gravidez são os responsáveis (WHALEY; WONG,
1999).
Durante os nove meses de gestação, a mãe alimenta dúvidas, receios e ambivalências a respeito do
filho, assim como também a fantasia de uma criança
perfeita. A gestação de um filho envolve diversos sentimentos, entre os quais a alegria e idealização de um
filho perfeito, surgindo assim, expectativas e ansieda-
des. Nesse sentido, são formadas imagens, sonhos e
esperanças ao redor do “ser” que se imagina; porém,
o fantasma da malformação assombra o casal durante
esse período gestacional (CARVALHO et. al., 2006)
Quando nasce um bebê saudável, o vínculo, que
foi se estabelecendo na medida em que o feto se desenvolvia ainda no útero da mãe, se fortalece a cada
dia. Já quando ocorre alguma intercorrência, seja por
prematuridade, como por algum tipo de malformação
congênita ou uma doença grave, e este bebê tem que
ficar sob os cuidados de uma Unidade de Tratamento
Intensivo Neonatal (UTI Neo), é como se, para a mãe, se
confirmassem todos os temores presentes no período
de gestação. Neste momento, é preciso que a mãe trabalhe o luto pela perda do filho idealizado (BALDISSARELLA; DELL’AGLIO, 2009).
O diagnóstico de anomalia congênita no bebê tem
um impacto significativo na saúde pública, pelo seu
efeito negativo na qualidade de vida das crianças afetadas e dos seus familiares, e pelos serviços médicos,
sociais e educacionais requeridos para melhorar o seu
bem-estar. O impacto do diagnóstico de anomalia congênita no bebê é também visível em vários domínios familiares (financeiro, social, profissional); o confronto com
esta notícia é, para os pais, um período particularmente
desafiante e exigente, com possíveis implicações emocionais (FONSECA; CANAVARRO, 2010).
Assim, a notícia de um filho com malformação
repercute em muitos sentidos da vida de um casal,podendo prejudicar o vínculo destes pais com seu filho e,
consequentemente,os primeiros cuidados básicos para
com este (BALDISSARELLA; DELL’AGLIO, 2009).
O reconhecimento deste impacto coloca em aberto a necessidade de os profissionais de saúde considerarem como foco da sua intervenção, quer a criança
com anomalia congênita, quer o bem-estar e as ne265
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
cessidades individuais dos seus pais, adequando, para
isso, diferentes aspectos da prestação de cuidados a
estas famílias. Para isso, necessitam de reconhecer a
diversidade de reações parentais à notícia de um diagnóstico de anomalia congênita do bebê, bem como a
sua variabilidade em função, por exemplo, do momento em que o diagnóstico é conhecido (FONSECA; CANAVARRO, 2010).
As principais reações emocionais referenciadas
nos diversos estudos realizados incluem tristeza, depressão, raiva, culpa, vergonha e sensação de fracasso
(SOUSA; PEREIRA, 2010).
O presente estudo tem por objetivo conhecer a
percepção materna frente ao diagnóstico de malformação congênita do recém nascido nas UTI’S neonatais de Montes Claros.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo qualitativo com abordagem
fenomenológica, realizado na UTI neonatal do Hospital Universitário Clemente Faria do município de Montes Claros, Norte do Estado de Minas Gerais. O Hospital
Universitário Clemente Faria possui 171 leitos e dispõe
de outros 10 leitos do Serviço de Internação Domiciliar.
Conta com UTI Neonatal e Pediátrica, uma Unidade de
Cuidados Intensivos para Adulto e Pronto-Socorro 24
horas. Único genuinamente público em Montes Claros
e em vasta região geográfica do Estado, que atende exclusivamente através do Sistema Único de Saúde (SUS).
A pesquisa está sendo realizada com as mães
de recém nascidos com diagnóstico de malformação
congênita que estejam retidos na UTI neonatal e que
aceitarem sua inserção na pesquisa, formalizando sua
concordância através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados ocorre
por gravação das entrevistas e, posteriormente, transcrição das falas, que permite avaliar a percepção materna
diante do diagnóstico de malformação congênita do
recém-nascido. As entrevistas são norteadas por duas
perguntas: a primeira, que investiga a reação materna
ao receber o diagnóstico de malformação congênita, e a
segunda, que averigua a percepção materna em ter seu
filho retido na UTI neonatal com esse diagnóstico. As
mães entrevistadas são nominadas com o título de flores com o intuito de preservar o sigilo das participantes.
Os aspectos éticos da pesquisa serão considerados
de acordo com a Resolução nº 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde, que estipula normas éticas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
Todas as informações são coletadas preservando o sigilo para os participantes, e os benefícios estão relacionados aos resultados obtidos. Vale ressaltar que o projeto
deste estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com parecer consubstanciado do CEP/SOEBRAS:
418.188/2013.
Resultados e Discussão
Os resultados foram parcialmente obtidos através
de revisão da literatura, bem como realização de sete
entrevistas e posterior transcrição das falas com mães
de recém nascidos retidos em UTI na cidade de Montes
Claros, no período de novembro de 2013 a abril de2014.
Os sujeitos da pesquisa estão na faixa etária entre
17 e 37 anos, sendo a maioria primíparas e vivem com o
pai do recém nascido. Realizaram as consultas de prénatal e residem em cidades da região do norte de Minas,
sendo referenciadas para a cidade de Montes Claros devido à necessidade de UTI Neonatal.
De acordo com a análise dos dados coletados, podemos perceber que as principais reações relatadas são
medo, tristeza e impotência, considerando que a maioria das mães conta com o apoio da família e/ou do companheiro. Como expresso na fala de uma das entrevistadas:
Foi difícil né. Porque eu esperava uma bebê saudável que não tivesse nada né, quando você engravida, igual você falou, você espera né, então você fica ansiosa pra ver na hora que ela nasce né,
pra levar pra casa né. Igual ele nasceu com problema, eu já sabia, nos últimos meses eu já sabia
o que ela tinha, só que eu não achava que era esse processo todo né, cirurgia, que ela precisava
ficar entubada esse tempo todo aqui, e depois apareceu mais outros problemas né (Margarida).
Muito triste, é uma coisa assim que eu nunca pensava passar por isso sabe, eu tive dois filhos, e
sempre eu ganhava meus filhos e ia embora (Margarida)
O sentimento percebido através da falas é de intensa angústia em relação à vida futura do filho, medo
do preconceito e das dificuldades no desenvolvimento
da criança.
Eu fiquei assim assustada porque eu pensei logo nos ultrassons que eu fiz, porque eles falaram
que tava perfeitinho, a mãozinha dele tava perfeitinha, os dedinhos tava tudo perfeito, então na
hora que ela me deu a notícia, eu tomei um susto, ahh eu preocupei. Porque a hora que ela me
266
Área - Ciências da Saúde
falou ela não tinha falado que era do dedim não, e ela tinha falado que era do primeiro dedo, o
dedão, só que eu não sabia que era dos dois não, tanto que eu fui saber no outro dia, hora que eu
fui visitar ele depois que eu ganhei ele (Hortênsia).
Em contrapartida, a preocupação demonstrada
pelas mães acaba por se transformar em esperança ao
longo da entrevista, devido ao grande amor e positivi-
dade adquirida pelo fato de o filho estar vivo e sendo
cuidado.
Aí quando foi na terça feira que o pai veio viu ele certinho, mas tá tudo bem, mas a sensação de ir
embora sem o filho é horrível, eu não desejo isso pra ninguém, principalmente porque é o primeiro filho, nunca imaginei que ele ía nascer com esse probleminha, mas só dele ser saudável, forte
eu dou graças a Deus. Nossa quando eu cheguei aqui que a moça falou que ele já foi pro berçário
nossa mas eu fiquei tão feliz, só de ver meu neném lá na UTI e só um poquinho de gente lá, nossa
é horrível(Hortênsia).
Conclusões
Para uma mãe, a expectativa de ter um filho costuma gerar felicidade e a expectativa de que o mesmo nasça saudável. Após o nascimento, o desejo é
levar seu filho para casa, entretanto, nem sempre isso
é possível, como no caso dos recém-nascidos diagnosticados com malformação congênita. Através das entrevistas, temos percebido a dificuldade que as mães
possuem de aceitarem o diagnóstico, bem como o sofrimento em acompanhar o recém-nascido na UTI neonatal. Assim, no momento da coleta de dados, percebe-se a oportunidade que essas mães têm de relatar a
experiência de estar vivendo essa situação.
Os temores e angústias são expressos pelas mães
através de diversas formas, incluindo a linguagem
verbal e não-verbal. Notou-se na execução das entrevistas, que as mães têm receio de falar sobre a malformação congênita, e o discurso mostra-se muitas vezes
repleto de eufemismos típicos. A ideia do projeto da
gestação e de seu resultado com um concepto perfeito
são anulados com a recepção do diagnóstico, colocando para a mãe uma nova realidade de vida que pode
atingir toda a família.
É notória a relação do fenômeno vivenciado com
a concepção da fé e o apego à prática religiosa quando
da recepção do diagnóstico, muitas falas são permeadas de elementos religiosos e de expressões tipicamente ligadas ao místico ou ao divino.
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267
Área - Ciências da Saúde
INTENSIDADE DE COLONIZ AÇ ÃO DO
TR ATOGASTROINTESTINAL DE IDOSOS
INSTITUCIONALIZ ADOS POR L AC TOBACILOS E
ENTEROBAC TÉRIAS GR AM NEGATIVAS
Maria Thereza Gomes Caldeira
Túllio Novaes Silva
Jaqueline D’Paula Ribeiro Vieira Torres
Ronize Viviane Jorge de Faria
Mariléia Chaves Andrade
Sérgio Avelino Mota Nobre
[email protected]
Introdução
O intestino humano do adulto é o lar de um número quase inconcebível de micro-organismos. O tamanho da população – chegando até a 100 trilhões
(CAMP, 2009), com cerca de 1000 espécies (CANI, 2007),
é superior ao de todas as outras comunidades microbianas associadas à superfície corporal, sendo também
dez vezes maior do que o número total de nossas células somáticas e germinativas (BACKHED, 2005).
Com mais ou menos 100 vezes mais genes como
o nosso, 2,85 bilhões de pares de bases do genoma
humano, o genoma coletivo de nossos micro-organismos intestinais simbióticos (microbioma) nos dota com
características fisiológicas importantes que não evoluíram por conta própria (CANDELA, 2010).
Estima-se que as células microbianas que residem
no corpo humano adulto superam em quantidade as
células somáticas e germinativas desse corpo. Desde
a primeira observação documentada por Antonie van
Leeuwenhoek no final de 1600 sobre bactérias associadas ao corpo humano, pesquisas sobre microbiota têm
sido centradas nos organismos capazes de serem cultivados no meio não-vivo (CAMP, 2009).
A microbiota intestinal é importantíssima para o
nosso corpo, desempenhando papel na defesa contra
patógenos, participando da estimulação do sistema
imune, da síntese de vitaminas e nutrientes, e tem um
papel importante para o desenvolvimento e manutenção das funções do intestino sensorial e motor (DEFILIPPI, 2010).
No envelhecimento, mudanças no trato gastrointestinal, bem como a modificação da dieta e do
sistema imunológico do hospedeiro, afetam, inevitavelmente, a microbiota do cólon, permitindo assim
que ocorram mudanças em populações bacterianas
(WOODMANSEY, 2007).
A diminuição da motilidade intestinal resulta em
um trânsito lento, o que afeta a defecação e leva à
constipação. A subsequente redução da excreção bacteriana altera o processo de fermentação intestinal de
forma desfavorável. Inevitavelmente, isso afeta a homeostase do ecossistema bacteriano no trato intestinal
(BIAGI, 2010).
O objetivo deste trabalho foi mensurar populações de Lactobacillus sp., enterobactérias mesófilas aeróbias gram negativas (EMAGN) fermentadoras ou não
da lactose na microbiota intestinal de indivíduos idosos na faixa etária de 60 a 102 anos, institucionalizados
em asilo.
Metodologia
Utilizou-se uma metodologia de contagem direta
de células viáveis de bactérias presuntivamente pertencentes à família Enterobacteriaceae e de Lactobacillus presuntivos. Os procedimentos referidos foram
desenvolvidos no laboratório de Epidemiologia e Biocontrole de Microrganismos da UNIMONTES, Montes
Claros-MG. O trabalho teve apoio financeiro da FAPE-
MIG (Processo CBB-APQ 01398-12) e foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual
de Montes Claros/Unimontes, Nº 3037/11.
O trabalho foi realizado no período de julho de
2012 a março de 2013, sendo que os sujeitos do estudo
foram idosos institucionalizados, residentes no Asilo
São Vicente de Paulo, na cidade de Montes Claros-MG.
269
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
O trabalho foi conduzido com a participação voluntária
dos sujeitos, respeitando o código de ética na pesquisa
envolvendo seres humanos, ou cuidadores, bem como
previa autorização da ILPI. Foram feitos todos os esclarecimentos que se fizeram necessários, e a autonomia
dos participantes foi respeitada.
Foi realizado um estudo de caráter transversal, no
qual foi realizada uma coleta de amostras de fezes (250
mg de cada participante) que foram suspendidas em
250 mL de solução salina (0,9%) e resfriadas para transporte e análise. As amostras foram coletadas conforme
prescrito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
considerando os rigores da esterilidade dos utensílios e
viabilidade das células amostradas (WINN JR., 2010).
Foram efetuados procedimentos quantitativos a
partir das colônias evidenciadas durante as análises
microbiológicas. As quantificações foram feitas a partir
de diluições seriadas decimais (10 -1 a 10 -5) em placas de
petri contendo o meio nutritivo específico para cada
grupo de microrganismos em análise.
Os procedimentos para quantificação das populações de Enterobacteriaceae foram feitos em Agar
MacConkey (AMc), sob aerobiose a 37ºC após 24 horas
de incubação. Para a mensuração de Lactobacillus foi
usado Agar Rogosa (Difco ou Merck). O cultivo das alíquotas de amostras para prospecção destas bactérias
foi feito em jarras de anaerobiose (Anaerogen®- gerador de anaerobiose - Oxoid) e incubação por 72 horas
a 37ºC.
Os dados de contagem direta foram expressos em
ufc por grama de amostra e, posteriormente, foram
convertidos em log10 para análise estatística.
Resultados e Discussão
O envelhecimento é definido como ‘’a regressão
das funções fisiológicas acompanhada pelo desenvolvimento de idade’’. Considerado um impacto sobre a
fisiologia do trato intestinal, o processo de envelhecimento pode afetar seriamente a composição da microbiota intestinal humana (BIAGI, 2010).
No ser humano, a concentração bacteriana varia
ao longo do trato gastrointestinal. Devido à presença
de ácido, há uma quantidade limitada de bactérias ao
nível gástrico; já no intestino delgado, a quantidade
aumenta gradualmente, atingindo valores próximos
de 10³ unidades formadoras de colónias (UFC) por ml.
Quando a válvula ileocecal é ultrapassada, esse valor
aumenta significativamente, atingindo valores de 1014
UFC / ml no cólon (DEFILIPPI, 2010).
O trabalho realizado proporcionou quantificar
significativa expressão de populações gram-negativas
anaeróbias estritas, correspondentes ao gênero Lactobacillus sp e de bactérias do Enterobacteriaceae.
Os sujeitos do estudo foram divididos de acordo
com a idade. Foram criados dois grupos para maior didaticidade da apresentação dos resultados. No primeiro grupo, concentra-se a faixa etária de 60 a 80 anos;
no segundo grupo, a faixa etária acima de 80 anos.
A análise estatística de Lactobacillus presuntivos revelou que, entre os indivíduos de 60 a 80 anos,
a média de células foi igual a 7,02 (Log10), com desvio
padrão equivalente a 0,10. O Intervalo de Confiança
270
(α= 0,05) teve como LI 6,99 e como LS 7,06. No segundo grupo, composto de idosos com mais de 80 anos, a
média do logaritmo foi 7,28, apresentando média logarítmica de desvio padrão igual a 0,0895. O Intervalo de
Confiança (α= 0,05) teve como LI 7,24 e como LS7,32.
A análise estatística de enterobactérias totais dos
pacientes na faixa etária de 60 a 80 anos evidenciou
uma média logarítmica de 6,00 na contagem de colônias de enterobactérias totais, com média logarítmica de desvio padrão equivalente a 0,1269. O Intervalo
de Confiança (α= 0,05) teve como Limite Superior (LS)
6,03 e como Limite Inferior (LI) 5,96. Os pacientes com
mais de 80 anos apresentaram uma média logarítmica
de 6,26 na contagem de enterobactérias totais, apresentando média logarítmica de desvio padrão igual a
0,1116. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como LS
6,30 e como LI 6,22.
Observou-se que, para enterobactérias fermentadoras de lactose em idosos de 60 a 80 anos de idade, a
média do logaritmo da contagem de colônias foi 5,89,
ao passo que a média do desvio padrão foi 0,1330. O
Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como LS 5,92 e
como LI 5,85. No grupo dos idosos acima de 80 anos,
a média logarítmica da contagem de colônias de enterobactérias fermentadoras de lactose foi 6,24, enquanto a média do logaritmo do desvio padrão para o grupo foi 0,1486. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve
como LS 6,30 e como LI 6,19.
Área - Ciências da Saúde
Figura 1: Contagem média representada em logaritmo de Lactobacillussp. (logLP), enterobactérias totais (Log ET),
enterobactérias fermentadoras de lactose (Log EPL) no TGI de indivíduos idosos institucionalizados. Montes Claros 2014.
Mudanças de acordo com a idade em gêneros e
espécies de bactérias específicas foram identificadas,
sendo que há ocorrência de extensas variações interindividuais. As médias das contagens do número total de
anaeróbios a partir de material fecal têm relatado uma
permanência relativamente estável em populações
idosas (WOODMANSEY, 2007).
Numerosos estudos têm demonstrado um declínio na contagem viável de bacteroides com o aumento
da idade. Além disso, a diversidade de espécies dentro
do gênero Bacteroides teria sido reduzida em idosos,
quando comparada aos voluntários jovens e saudáveis
(WOODMANSEY, 2007).
Em relação aos Lactobacillus presuntivos, em estudos anteriores, entre as mudanças do perfil microbiológico do TGI de idosos, houve o aumento do número
de anaeróbias facultativas, substituições em espécies
dominantes nos grupos bacterianos e não foram relatadas significativas mudanças no número total de bactérias anaeróbias (BIAGI, 2010).
Conclusões
A avaliação da coprocultura demonstrou um aumento quantitativo de colônias de enterobactérias
totais, enterobactérias fermentadoras da lactose e
Lactobacillus presuntivos, ao se comparar a microbiota dos idosos de 60 a 80 anos com os idosos de 80
anos ou mais. O aumento de Lactobacillus presuntivos
não foi evidenciado pela literatura revisada. Acreditase que outros fatores estejam envolvidos com esse
resultado, desde os fatores orgânicos e ambientais dos
idosos envolvidos até as diversidades de métodos de
realização das pesquisas.
Referências
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271
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
BACKHED, F.; LEY, R. E.; SONNENBURG, J. L.; PETERSON, D. A.; GORDON, J. I. Host-bacterial mutualism in the human
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CANDELA, M.; MACCAFERRI, S.; TURRONI, S.; CARNAVALI, P.; BRIGIDI, P. Functional intestinal microbiome, new frontiers in prebiotic design. International journal of food microbiology. v. 140, n. 2-3, p. 93-101, Jun 15, 2010.
DEFILIPPI, C. G. Sobrecrecimientobacteriano intestinal. Gastroenterologia Latino americana, v.2, n. 21, abr., 2010
WOODMANSEY, E. J. Intestinal bacteria and ageing. Journal of applied microbiology. v. 102, n. 5, p. 1178-86,
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BIAGI, E.; NYLUND, L.; CANDELA, M.; OSTAN, R.; BUCCI, L.; PINI, E. et al. Through ageing, and beyond: gut microbiota and inflammatory status in seniors and centenarians. PloS one. v. 5, n. 5, p. e10667, 2010.
WINN JR., W. et al. Koneman, Diagnostico microbiológico: texto e atlas colorido. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010. 1565p.
272
Área - Ciências da Saúde
O PE T- SAÚDE E SUAS CONTRIBUIÇÕES PAR A A
COMUNIDADE E AC ADÊMICOS
Gabriela Crusoé Lopes Leite de Souza
Ariadna Janice Drumond Morais
Michelle Pimenta Oliveira
Kênia Souto Moreira
Carlos Alberto Quintão Rodrigues
Maria Rita Lima Lopes
Maisa Tavares de Souza Leite
[email protected]
Introdução
O Programa de Educação pelo Trabalho para a
Saúde (PET-Saúde) foi instituído pela Portaria Interministerial MS/MEC nº 421, de 03 de março de 2010,
sendo destinado a fomentar grupos de aprendizagem tutorial em áreas estratégicas para o Sistema
Único de Saúde (SUS) (Brasil, 2010).
Oferece aos acadêmicos da graduação a inserção nos serviços públicos de saúde, por meio de estágios e vivências proporcionados pelas instituições
de ensino superior em parceria com as Secretarias
Municipais de Saúde (Brasil, 2008).
A articulação entre ensino-serviço-comunidade proporciona simultaneamente oportunidade de
uma aprendizagem significativa aos graduandos, inclusão de profissionais da rede de atenção à saúde
no processo de ensino-aprendizagem e produção
de conhecimento científico, e melhoria nos determinantes do processo saúde-doença nas comunidades
assistidas (ASSEGA et al., 2010). Nessa perspectiva, a
interação ensino e serviço traz possibilidades e desafios aos sujeitos envolvidos, contribuindo para
re-significação do papel dos profissionais, co-protagonistas na construção do sistema de saúde (RODRIGUES, 2011).
Essa articulação favorece que a academia integre,
durante todo o processo de ensino-aprendizagem, a
orientação teórica com as práticas de atenção nos serviços públicos de saúde, em sintonia com as reais necessidades dos usuários do SUS (BRASIL, 2007).
Assim, o PET-Saúde visa à formação de profissionais de saúde de elevada qualificação técnica,
científica e acadêmica, pautada pelo espírito crítico, pela cidadania e pela função social da educação
superior, orientada pelo princípio de que não se é
possível separar ensino, pesquisa e extensão, levando o acadêmico a experiências extramuros, aprimorando seu olhar, fazendo-o entender o processo
de trabalho em equipe, reconhecendo a realidade
social, além de desenvolver e participar de estudos
científicos e outras formas de produção de conhecimento que possam qualificar a prática profissional
(BRASIL, 2008; RODRIGUES, 2011; GONÇALVES, 2011).
No município de Montes Claros/MG é desenvolvido o Pró-Saúde/PET-Saúde – Redes de Atenção à
Saúde, uma parceria entre a Universidade Estadual
de Montes Claros – Unimontes – e a Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros. Esse programa
conta com a participação de alunos dos cursos de
odontologia, medicina, enfermagem, ciências biológicas, educação física e serviço social.
Diante do amplo cenário ofertado pela Rede de
Atenção à Saúde, os acadêmicos são incentivados a
realizar diversas ações não só no campo clínico, mas
também no campo comunitário. Portanto, o objetivo deste trabalho é descrever as contribuições do
PET-Saúde para os acadêmicos e a comunidade assistida.
Materiais e Métodos
O trabalho em questão é um relato de experiência de caráter descritivo de acadêmicos do curso
de odontologia Unimontes inseridos no Pró-Saúde/
PET-Saúde – Redes de Atenção à Saúde. As ativida-
des descritas foram desenvolvidas em dois cenários da Atenção Primária à Saúde, envolvendo duas
equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) da
Rede de Atenção à Saúde do município de Montes
273
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Claros – MG no período de agosto de 2012 a agosto
de 2013. As atividades acadêmicas desenvolvidas no
Programa compreenderam estratégias e metodologias ativas de ensino-aprendizagem.
Resultados
Os Centros Municipais de Educação Infantil foram
locais escolhidos para o desenvolvimento de atividades educativas, locais esses que se mostraram excelentes multiplicadores de conhecimento. Ações educativas por meio de palestras, teatros, vídeos foram
realizadas com sucesso, sendo abordados temas como
alimentação saudável, higiene oral, cuidados com a
dengue, entre outros.
Foi desenvolvido na semana da criança o “Cinema
Divertido”, na sala de eventos da paróquia do bairro. O
cinema foi feito com a escolha de filmes interativos, e
aproveitou-se o momento para o acompanhamento
infantil, fizeram pesagens, mediu-se o comprimento e
promoveu saúde geral, através de diversas ações dinâmicas.
Um dos principais objetivos do PET- Saúde Unimontes foi possibilitar uma atenção integral às crianças
da área de abrangência e influência da ESF. Assim, diversas ações foram desenvolvidas nesse contexto nas
sedes das ESF’s e na comunidade.
Um exemplo disso são as Consultas de Crescimento e Desenvolvimento Infantil (CD). São consultas
multiprofissionais com a inserção inédita do profissional cirurgião-dentista. Essas foram agendadas pelos
agentes comunitários, através da visita domiciliar e/ou
puerperal e pela livre demanda da unidade. As consultas multiprofissionais ocorreram sob a preceptoria de
profissional enfermeiro, médico e cirurgião-dentista e
acompanhados de acadêmicos de cursos de graduação em enfermagem, medicina, odontologia e serviço
social, integrantes do PET-Saúde. A consulta de Crescimento e Desenvolvimento das crianças, realizada de
forma multiprofissional, favoreceu de modo geral a
troca de experiências dentro da equipe de saúde, melhorou a qualidade de vida das crianças adscritas, promoveu a saúde, possibilitou o fortalecimento do trabalho multiprofissional, garantiu uma adesão precoce e
atraumática das crianças ao tratamento odontológico,
além de atingir os princípios básicos do Sistema Único
de Saúde.
Outro exemplo da interdisciplinaridade proposta
pelo PET-Saúde foi uma atividade que marcou a comunidade, os profissionais e os acadêmicos, momento único
e de grande contribuição para a formação profissional.
A ação foi realizada na Unidade Básica de Saúde,
sendo que cada microárea foi atendida em um sábado
do mês. O público alvo foram as crianças de 2 a 5 anos
acompanhadas pelos pais. Primeiramente foi feito um
teatro intitulado “A Estrelinha Azul”, que falava sobre
os cuidados com a higiene; em seguida, foi realizada
uma palestra sobre alimentação saudável, hábitos de
higiene corporal e saúde bucal. Após esse momento de
educação em saúde, na sala de espera foi exibido um
vídeo educativo, enquanto se aguardava o atendimento multiprofissional, e os pais receberam informações
sobre o que era o Centro de Referência de Assistência
Social - CRAS e os seus benefícios para a comunidade.
As crianças foram pesadas e medidas, em seguida
passaram por uma consulta médica, odontológica e de
enfermagem, em que esses profissionais atenderam
juntos, um contribuindo para a construção do conhecimento do outro. Foi feito o levantamento de necessidades bucais, e as crianças que tinham mais demanda
foram atendidas imediatamente após a consulta multiprofissional e as demais agendadas para outra data. Ao
final da atividade, foi servida uma deliciosa salada de
fruta para todos.
Um exemplo de atividades realizadas na comunidade foi um evento de Natal em que a ESF, em parceria
com o PET, levou as crianças de alguns Centros Municipais de Educação para o evento “Natal no aeroporto”.
Nessa oportunidade, as crianças foram levadas ao aeroclube da cidade de Montes Claros para presenciarem
a descida do Papai Noel Saudável no seu avião. Foram
distribuídos presentes e desenvolvidas ações saudáveis
para as crianças (teatro, brincadeiras, lanches) com o
objetivo de fazer a alegria da criançada e levar conhecimento aos pequeninos, além de possibilitar um dinamismo de atividades e aguçar a fantasia das crianças
pela presença do Papai Noel.
O PET-Saúde tem se mostrado um ótimo meio
para a disseminação dos princípios do modelo de Produção Social da Saúde, de forma que os acadêmicos
são incentivados a todo momento a desenvolverem
ações preventivas, promocionais e curativas direcionadas a todos os ciclos de vida. Grupos operativos, com
hipertensos, diabéticos, idosos, gestantes e grupo de
planejamento familiar foram também meios de disseminar conhecimento e aperfeiçoar a prática dos acadêmicos na ESF.
Discussão
O PET-Saúde tem se mostrado um excelente meio
de aplicar essa nova visão que se tem dado aos cursos
274
de graduação, sendo um programa que leva o acadêmico a vivências extramuros, propiciando um maior
Área - Ciências da Saúde
conhecimento, por parte dos alunos das estruturas dos
serviços públicos de saúde (MOIMAZ et al., 2008; ASSEGA et al., 2010)
Um dos eixos que norteia o PET-Saúde é a interdisciplinaridade, isso talvez seja um dos maiores ganhos
desse programa, poder compartilhar experiências,
conhecimentos e realmente aplicar a visão holística e
integrada do ser humano. Para Sales et al. (2011), a interdisciplinaridade implica uma consciência dos limites
e das potencialidades de cada campo de saber para
que possa haver uma abertura em direção de um fazer
coletivo. Sendo o objetivo das ações interdisciplinares
no âmbito da atenção básica contemplar o tênue equilíbrio entre as demandas de saúde da população e as
possibilidades do Sistema de Saúde de atendê-las (RO-
DRIGUES, 2012).
O processo ensino-pesquisa-extensão, vivenciado
pelos acadêmicos do PET-Saúde, amplia a inserção destes no contexto social. Para Rodrigues et al. (2011), isso
é importante, uma vez que a reforma do setor saúde
torna a capacitação de recursos humanos um desafio
mediante a transitoriedade do saber e das mudanças
no mundo do trabalho.
Rodrigues et al. (2012) afirmam que o PET-Saúde
prenuncia ser uma grande promessa para o aprimoramento da Atenção Básica, visto que traz propostas
inovadoras para a ESF, fundamentadas nos princípios
e diretrizes do SUS, além de possibilitar a construção
de uma nova alternativa de educação e extensão, quebrando o modelo tradicional de ensino.
Conclusão
O PET- Saúde, em toda a sua essência, é uma projeto que tem marcado a vida de várias pessoas; ele proporciona a troca mútua entre profissionais do serviço,
professores, acadêmicos e comunidade. As atividades
de ensino, pesquisa e extensão contribuem para um
crescimento integrado dos acadêmicos, que aprendem
fundamentos essenciais para sua vida profissional, sendo preparados para atuar na comunidade, sobretudo
em serviços de saúde. O programa tem contribuído
para a disseminação do conhecimento, prevenção de
doenças e promoção da saúde para a comunidade.
A interdisciplinaridade eleva o PET a um estado
de excelência, criando a oportunidade de construção
do conhecimento sob diversas visões não só humanas,
mas também profissionais.
Referências
ASSEGA, M.L.; LOPES JUNIOR, L.C.; SANTOS, E. V.; ANTONIASS, R. S.; PADULA, M. G. C.; PIROLO, S. M. A interdisciplinaridade vivenciada no PET-Saúde. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 29-33, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde. Brasília; 2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Portaria Interministerial nº 1.802, de 26 de agosto de 2008.
Institui o Programa de Educação pelo Trabalhador para a Saúde – PET-Saúde. Diário Oficial da União. Brasília, 27
ago. 2008; Seção 1, p.27.
BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Portaria Interministerial nº 422, de 3 de março de 2010. Institui o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde) e dá outras providências. Diário Oficial da
União. Brasília, 5 de março de 2010. Seção 1, p. 53.
GONÇALVES, C. M.; SANTOS, K. T.; CARVALHO, R. B. O PET-Saúde como instrumento de reorientação do ensino em
Odontologia: a experiência da Universidade Federal do Espírito Santo. Revista da ABENO, v. 11, n. 2, p. 27-33, 2011.
MOIMAZ, S. A. S.; SALIBA, N. A.; GARBIN, C. A. S.; ZINA, L. G. Atividades extramuros na ótica de egressos do Curso
de Graduação em Odontologia. Revista da ABENO, v. 8, n. 1, p. 23-9, 2008.
RODRIGUES, C. A. Q.; COSTA, S. M.; LEITE, M. T. S.; MENDES, D. C.; RODRIGUES NETO, J. F. A vivência dos estudantes de
odontologia nas atividades de ensinopesquisa- extensão do PET-Saúde. Revista da ABENO, v. 11, n. 2, p. 45-50, 2011.
RODRIGUES, A. A. A. O.; JULIANO, I. A.; MELO, M. L. C.; BECK, C. L. C.; PRESTES, F. C. Processo de Interação Ensino, Serviço e
Comunidade: a Experiência de um PET-Saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 36, n. 1, p. 84-192, 2012.
SALES, K. N. A.; PAULA, F. A.; RIBEIRO, M.; RIBEIRO, L. C. C.; CANUTO, S.M. PET-Saúde: formando discentes multiplicadores - relato de experiência. Revista da ABENO, v. 11, n. 2, p. 51-6, 2011.
275
Área - Ciências da Saúde
INFLUÊNCIA DA RENDA NO CONTROLE DA PRESSÃO
AR TERIAL DE INDIVÍDUOS HIPER TENSOS DE JOÃO
PESSOA
James Silva Moura Buchmeier
Dyego Anderson Alves de Farias
Clarice César Marinho Silva
Larissa Almeida Bakke
Neir Antunes Paes
Katia Suely Queiroz Silva Ribeiro
[email protected]
Introdução
As doenças cardiovasculares são a maior causa de
morte no planeta. A Organização Mundial Saúde relata
que, em 2008, 31% das mortes estavam relacionadas às
doenças cardiovasculares, representando 17,3 milhões
de pessoas atingidas. Uma projeção para 2030 sugere
que 23,6 milhões de pessoas morrerão por doenças
cardiovasculares (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2011). Estimaram gastos diretos e indiretos em torno
de US$ 297,7 bilhões com doenças cardiovasculares
no ano 2008 nos Estados Unidos, sendo o maior gasto
com saúde naquele país (ROGER et al., 2012).
O principal fator das doenças cardiovasculares é
a hipertensão arterial sistêmica (HAS). A HAS é conceituada como uma enfermidade que se caracteriza pelos
níveis elevados e sustentados da pressão arterial (PA),
que em geral estão associadas a alterações funcionais
e estruturais dos órgãos-alvo, somado a modificações
metabólicas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2010).
Os fatores de risco relacionados à hipertensão
podem ser classificados em fatores não modificáveis
(sexo, idade, cor da pele, antecedentes familiares) e
modificáveis (diabetes mellitus, tabagismo, etilismo,
sedentarismo, obesidade/sobrepeso, consumo de sal,
hipercolesterolemia, escolaridade, estado civil e renda
familiar) (HARTMANN et al., 2007; LESSA et al., 2004).
A literatura atual já mostra vários estudos que procuraram associar a relação entre o menor nível socioeconômico e a maior prevalência de doenças crônicas,
em especial a hipertensão arterial (BRAVEMAN et al.,
2010; DANAEI et al., 2011). Contudo, trabalhos realizados
no Brasil que exploraram a renda como um componente diferenciador no controle da PA são escassos, particularmente para o Nordeste brasileiro (OLIVEIRA, 2010).
Segundo Fonseca e Viana (2007), o Brasil efetivou um
dos maiores programas assistenciais de transferência
de renda da América Latina e Caribe, o Programa Bolsa
Família (PBF). Desta forma, o objetivo deste trabalho foi
analisar a influência da renda e do PBF no controle da
PA.
Materiais e Métodos
Neste trabalho foi feito um estudo observacional, de corte, transversal, baseado nos dados primários do projeto de Paes (2009) intitulado “Desempenho do Programa de Saúde da Família comparado
com o das Unidades Básicas de Saúde no controle
da Hipertensão Arterial Sistêmica e fatores associados em Municípios do Estado da Paraíba: Um estudo de coorte longitudinal”.
A amostra foi constituída de usuários cadastrados no Programa HIPERDIA entre os anos 2006 e 2007,
maiores de 19 anos, de ambos os sexos da cidade de
João Pessoa. A amostragem foi por conglomerado em
dois estágios. No primeiro estágio foram selecionadas
36 Unidades de Saúde da Família (USF) em João Pessoa, com probabilidade proporcional ao tamanho de
cada Distrito Sanitário e de forma sistemática. No segundo estágio, foi realizada a seleção de hipertensos
de forma aleatória e ponderada.
Foi calculado um tamanho amostral representativo do município de João Pessoa, com base no processo de amostragem casual simples, considerando uma
população de hipertensos cadastrados N=43.953. O
parâmetro de sucesso foi com prevalência p=0,119, nível de confiança de 95% e margem de erro amostral
277
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
máximo ε = 0,035 (3,5%), resultando em uma amostra
de 327 usuários. Por questão de ajuste na divisão das
USF selecionadas, foram acrescentados na amostra total 33 (9,17%) indivíduos. A amostra final foi de 360 hipertensos, sendo divididos 10 hipertensos para cada
USF. Contudo, houve desistências, resultando em uma
amostra final de 343 hipertensos.
A amostra foi estratificada por renda per capita em
quatro grupos: os indivíduos que receberam o bolsa família foram agrupados no grupo G1, os indivíduos com
renda ≤R$140,00 no grupo G2, os que tiveram renda
entre R$140,01 a R$519,29 no grupo G3 e os que tiveram renda ≥ R$519,30 no grupo G4.
Para coleta da renda, número de moradores
na residência e idade, foi utilizado um questionário
sociodemográfico. Para medida da PA, foi utilizado
esfigmomanômetro aneroide da marca Missouri®
(Embu-SP, Brasil), e foi seguido rigorosamente o procedimento descrito pela VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO;
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2010).
Para medida da massa corporal, foi utilizada uma
balança portátil da marca Plenna®, modelo HON00823. Na medição da altura, da circunferência de
cintura e de quadril foi utilizada uma trena flexível
da marca Cescorf®. Todos os instrumentos foram
previamente calibrados.
O estudo atendeu às exigências do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96) para pesquisas envolvendo seres humanos, sendo aprovado pelo Comitê
de Ética de Pesquisa com Seres Humanos do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba
sob Protocolo nº 0101/2009. Os usuários do programa
HIPERDIA foram informados quanto aos objetivos da
pesquisa e que a mesma não envolveria risco à saúde
e, para aderir ao estudo, foi solicitada a assinatura do
termo livre esclarecido.
Foram utilizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e de Levene para análise de normalidade e homocedasticidade dos dados, respectivamente. Também
foi utilizado para analisar a normalidade dos dados o
gráfico quantil-quantil (Q-Q plot). Para as variáveis que
apresentaram valores normais e homocedásticos, foi
utilizado teste de ANOVA one-way. Havendo diferenças
estatísticas, era realizado o teste post hoc de Tukey HSD.
Para as variáveis não normais e/ou heterocedásticas foi
utilizado o teste de Kruskal-Wallis. Ocorrendo diferenças
estatísticas, foi usado o teste post hoc de Mann-Whitney. Todos os testes foram analisados no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS®) versão 20.0
(SPSS Inc., Chicago, IL, USA).
Resultados e Discussão
Para testar a qualidade das informações coletadas foi realizado o confrontamento das bases de dados digitalizadas por dois digitadores, pois é frequente
a adulteração dos dados durante a sua digitalização.
Também foi realizada a análise de consistência dos dados pelo gráfico de Boxplot, para descartar qualquer
valor outlier.
As únicas variáveis que assumiram a hipótese nula
para os testes de normalidade e homocedasticidade
foram: idade, massa corporal e relação cintura/quadril.
Portanto, somente estas variáveis foram analisadas pelos testes paramétricos.
O grupo G1 apresentou a menor média de idade,
porém IMC, circunferência de cintura, circunferência de
quadril, PAS, PAD foram os maiores, conforme Tabela
1. Isto representa a relação inversa entre renda e medidas antropométricas e PA.
No teste da ANOVA resultou que a massa corporal
e a relação cintura/quadril não apresentou diferença
estatística entre os grupos, com p-valor 0,521 e 0,173,
respectivamente. A idade apresentou diferença estatística com p-valor de 0,015. No teste post hoc de Tukey
278
HSD para idade, foi demonstrado que há diferença estatística entre o grupo que recebe bolsa família (G1) e
os grupos G3 e G4, pois o p-valor foi < 0,05.
No teste de Kruskal-Wallis foi observado que IMC,
a circunferência de cintura, circunferência de quadril e
o PAD não apresentaram diferenças estatísticas, com
p-valor de 0,200, 0,581, 0,384 e, 0,184 respectivamente.
Apenas a variável PAS apresentou diferença estatística
com p-valor 0,027. O teste post hoc de Mann-Whitney,
para a variável PAS não foi capaz de observar as diferenças estatísticas, com p-valor de 0,256, 0,645 e 0,152
para a diferença entre o G1 e os grupos G2, G3 e G4,
respectivamente.
De acordo com os resultados deste estudo, a renda disponibilizada pela bolsa família não foi suficiente
para controlar a PA e diferenciar as médias de PAS e
PAD entre os grupos. Nota-se que o grupo que recebe
bolsa família apresenta média de PAS de 159,37, enquanto que o grupo com maior renda (G4) apresenta
média de 136,74, passando pelo grupo G3 com média
de 142,37.
Área - Ciências da Saúde
Tabela 1- Média e desvio-padrão de indivíduos hipertensos segundo variáveis demográficas, antropométricas,
pressão arterial e renda familiar, João Pessoa, 2009.
Variáveis
G1
Média±DP
G2
G3
G4
Média±DP
Média±DP
Média±DP
Idade
54,34±13,69#†
59,03±13,57#†
60,22±13,80#†
63±12,00#†
Massa Corporal
71,77±17,24
69,35±15,07
70,41±13,49
67,76±13,41#†
Estatura
153,24±8,30
155,16±7,69#
154,11±10,64#
154,56±7,17
IMC
30,47±6,65
28,69±5,77
30,26±11,54
28,35±5,31
Circ. Cintura
100,59±14,17
Circ. Quadril
106,58±15,42
RCQ
#†
#†
#†
96,86±13,80
#
99,19±11,28
98,79±11,33
103,58±11,48
102,84±10,44
104,45±11,98†
0,946±0,81#†
0,9456±0,12#†
0,9713±0,11#†
0,9502±0,09#†
PAS
145,91±26,45
150,15±25,14#
142,37±23,66#
136,74±17,52
PAD
89,19±15,97
87,01±15,86
85,17±13,59
83,04±11,13
Bolsa Família
83,40±39,57
†
†
†
#
#
-
-
-
Renda Total
715,04±433,47
†
438,61±188,49
1124,61±585,99
3024,85±1719,59†
Renda per capita
177,33±118,45†
199,23±34,64#†
317,46±114,77#†
913,5±441,38#†
#†
#†
Fonte dos dados básicos: Paes (2009)
#
Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov com p-valor >0,05
†
Teste de Homocedasticidade de Levene com p-valor >0,05
Nota: G1 – grupo de indivíduos que recebem bolsa família; G2 – grupo com renda ≤R$140,00; G3 – grupo com renda entre R$140,01 a
R$519,29; G4 – grupo com renda ≥R$519,30. IMC- índice de massa corporal; Circ.– Circunferência; RCQ- elação cintura/quadril. PAS- pressão
arterial sistólica; PAD- pressão arterial diastólica.
O trabalho de Kaplan et al. (2010) mostrou que as
pessoas socialmente menos favorecidas eram aquelas
que possuíam os maiores valores de média da PA. Nosso estudo, apesar de não ter obtido diferenças estatísticas entre os grupos de diferentes rendas, mostrou
que os indivíduos socioeconomicamente menos favorecidos eram aqueles que estavam inseridos no grupo
com a maior média de PA (Tabela 1). Esta situação já foi
observada por Danaei et al. (2011) que concluíram que
a pressão arterial sistólica é maior nos países classifica-
dos como de baixa e média renda.
O aumento da PA pode ser justificado pela modificação nos hábitos alimentares disponibilizado pela
renda do PBF. Lignani et al. (2011) mostraram que indivíduos beneficiados pelo PBF tiveram um aumento no
consumo de açúcar, café, gorduras, feijão e bebidas
doces, como refrigerantes. Isto resultou em um perfil
antropométrico desfavorável, favorecendo um maior
surgimento de doenças crônicas nesta população
(BRAVEMAN et al., 2010).
Conclusões
Apesar do grande benefício à saúde das crianças
e lactente dedicadas ao auxílio do PBF, ele não foi suficiente para controlar a PA no grupo G1. Isso representa uma limitação do valor do recurso, pois o resultado
deste estudo e da literatura mostra a relação inversa
entre renda familiar e PA, com fatores de risco elevados
na população que recebe o auxílio do PBF.
Uma medida que poderia ser tomada seria o aumento no valor do benefício do PBF. Desta forma, a fa-
mília atendida pelo Programa teria maiores opções de
aquisição de bens e serviços, além de melhores medidas de autocuidado de saúde.
Outra forma de atenuar valores da PA seria por
meio de campanhas educativas promovidas pela equipe de saúde da família, com foco no uso racional do recurso do PBF para um direcionamento de gastos com
hábitos saudáveis.
Referências
BRAVEMAN, P. A.; CUBBIN, C.; EGERTER, S.; WILLIAMS, D. R.; PAMUK, E. Socioeconomic disparities in health in the
United States: what the patterns tell us. Am. J. Public Health, v. 100, p. 186-96, 2010.
279
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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280
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DO ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE
EM UM MUNICÍPIO NO NOR TE DO ESTADO DE MINAS
GER AIS
Orlene Veloso Dias
Patrícia Alves Paiva
Rosângela Barbosa Chagas
Lais Helena Ramos
Ludmila Pereira Macedo
Rogério Gonçalves da Rocha
Tatiana Carvalho Reis
[email protected]
Introdução
O sistema institucional de saúde avançou muito
com a promulgação da Constituição Federal, garantindo a saúde como direito de todos e dever do Estado;
porém; na prática, apresenta obstáculos no atendimento das necessidades de saúde da população.
Acesso é um conceito complexo, muitas vezes empregado de forma imprecisa e pouco claro na sua relação com o uso de serviços de saúde. Enquanto Donabedian (1973) utiliza o substantivo acessibilidade como
caráter ou qualidade do que é acessível, outros autores
preferem o substantivo acesso como ato de ingressar,
de dar entrada, ou ambos os termos para indicar o grau
de facilidade com que as pessoas obtêm cuidados de
saúde (MINAS GERAIS, 2008). A Organização Mundial
de Saúde (OMS) (1981) recomenda que a definição do
que seja “acessível” deva ser adaptada a cada realidade
e a cada região.
O primeiro ponto de contato do indivíduo com o
sistema de saúde, a atenção primária, deve ser de fácil
acesso para a população, sendo a porta de entrada ao
sistema de saúde (STARFIELD, 2002). No Brasil, foi instituído o Sistema Único de Saúde (SUS) que assegura a
todos os cidadãos o acesso aos serviços de saúde organizados por meio de redes de atenção, coordenado
pela atenção primária (MENDES, 2007).
A incorporação da prática de avaliação dos serviços de saúde busca cumprir os objetivos básicos de
subsidiar o planejamento e instrumentalizar a gerência dos serviços de saúde. A epidemiologia fornece
informações essenciais para a tomada de decisões na
gestão em saúde e formulação de políticas públicas.
Os inquéritos de base populacional possibilitam compreender melhor o modelo de utilização dos serviços e
a caracterização dos seus usuários, permitindo conhecer e aplicar, de forma efetiva, os seus resultados na
prática de saúde.
O presente estudo objetivou analisar o acesso aos
serviços de saúde na população de Montes Claros, Minas Gerais.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, exploratório,
de base populacional, desenvolvido na cidade de Montes Claros, ao Norte do Estado de Minas Gerais. A população alvo foi definida pelos indivíduos com idade
igual ou superior a 18 anos no momento da pesquisa.
Foram considerados elegíveis para o estudo os indivíduos residentes nos domicílios selecionados, que
aceitaram participar da pesquisa. Para a definição do
tamanho da amostra, considerou-se uma população
de 360.000 habitantes (IBGE, 2010). O nível de confiança utilizado foi de 95% e a margem de erro amostral de
3%. Assim, o tamanho da amostra final foi de 2.150 indivíduos.
No processo de alocação da amostra, primeiramente houve a seleção dos setores censitários, de forma proporcional entre setores rurais e urbanos, com sorteio de
43 setores censitários. Em seguida, definiu-se aleatoriamente um ponto inicial para coleta dos dados, a partir
do qual foram visitados 50 domicílios, em sentido horário. Em cada domicílio visitado sorteava-se o nome de
um dos moradores para a coleta dos dados. Caso a pessoa sorteada não estivesse presente no momento, duas
281
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
novas visitas eram conduzidas. As entrevistas foram realizadas entre agosto de 2010 e julho de 2011.
O instrumento de coleta de dados foi o questionário de monitoramento de fatores de risco para doenças
crônicas proposto pelo Ministério da Saúde, já validado
e aplicado em 15 diferentes capitais brasileiras (BRASIL,
2008). O questionário foi adaptado, mantendo a maioria das variáveis utilizadas em outros inquéritos. A variável resposta foi acesso. As variáveis independentes
foram: sexo (dicotômica), idade (em anos completos),
cor, estado civil (casado, solteiro, divorciado e viúvo) e
escolaridade. Os dados foram processados em arquivos
digitalizados por meio do software SPSS® for Windows
versão 19.0.
Os aspectos éticos da pesquisa foram considerados conforme a Resolução nº 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. A pesquisa foi autorizada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, sob o nº1728/2009.
Resultados
Participaram do estudo 2150 indivíduos. Foram registradas 380 recusas. Dos indivíduos estudados, 1367
(63,3%) eram mulheres. A média de idade foi de 43,58
anos (desvio padrão = 16,85). A amostra foi composta
por 1251 (58,2%) pessoas que se autoreferiram pardas
e 1250 (55,8%) que tinham mais de oito anos de estudo. Houve predomínio de indivíduos solteiros (1811;
84,2%) (Tabela 1).
Tabela 1: Distribuição das características da população adulta, de acordo com as variáveis de estudo. Montes
Claros, Minas Gerais, Brasil, 2010/2011(n= 2150).
Variável
N
%
1367
783
36,4
Sexo
Feminino
Masculino
Idade
18-29
30-39
40-49
50-59
Igual ou > 60
Raça/Cor
Branco (a)
Preto (a)
Amarelo (a)
Pardo (a)
Indígena
Situação Conjugal
Sem companheiro
Com companheiro
Escolaridade
< de 8 anos
>de 8 anos
547
434
394
334
441
63,6
25,5
20,2
18,3
15,5
20,5
562
277
54
1251
6
26,1
12,9
2,5
58,2
0,3
1811
339
15,8
900
1250
55,8
84,2
44,2
Fonte: Dados primários.
Pode-se observar, na Tabela 2, que 779 (36,2 %)
dos entrevistados responderam que possuem plano de
saúde. Quando questionados “Você procurou algum
282
profissional de saúde ou serviço público de saúde para
atendimento nas últimas 02 semanas?”, 1730 (80,5%)
dos entrevistados disseram que não.
Área - Ciências da Saúde
Tabela 2. Distribuição dos entrevistados em relação ao acesso e uso dos serviços de saúde (n= 2150). Montes
Claros, Minas Gerais, Brasil, 2010/2011(n= 2150).
Variáveis
Categorias
n
(%)
Plano de Saúde
Sim
Não
Sim
Não
779
1371
420
1730
36,2
63,8
Procurou profissional de saúde/serviço público de saúde nas últimas duas semanas
19,5
80,5
Fonte: Dados primários
Discussão
Observou-se que 779 participantes têm plano
de saúde, perfazendo um percentual de 36,2%. Em
2008, o VIGITEL apontou 41,8% de cobertura nas capitais (BRASIL, 2008), enquanto a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) evidenciou 25,9% de cobertura de planos no Brasil, o que cobre cerca de 49,1
milhões de usuários (IBGE, 2010).
Em estudo realizado no Brasil, foi observado que
38% dos residentes na Região metropolitana de São
Paulo procuraram atendimento; no país este valor foi
de 29% (estimativa com base na informação para os últimos 15 dias) (BARATA, 2008). Neste estudo observouse um percentual menor de procura do serviço público
de 19,5%. Tal fato pode estar associado à prevalência
de jovens e adultos jovens na amostra da pesquisa.
Destaca-se que a prevenção tem sido negligenciada, considerando que a maior procura pelos serviços
de saúde relatada pelos entrevistados foi o tratamento
ou reabilitação de doenças. Considerando este resultado, cabe aos profissionais intensificar as ações de educação em saúde, a fim de promover hábitos saudáveis
e prevenção de doenças.
A Atenção Primária a Saúde (APS) tem sido a porta de entrada da população de Montes Claros ao SUS,
como preconizado pela pesquisadora Starfield, que
afirma que a Atenção Primária à Saúde deve ser orientada pelos seguintes princípios: primeiro contato; longitudinalidade; integralidade; coordenação; abordagem familiar; enfoque comunitário (STARFIELD, 2002).
Em pesquisa realizada na cidade de São Paulo,
os autores observaram que 46% dos usuários consideraram fácil conseguir uma consulta na unidade. Na
mesma pesquisa, foi identificado que, quando foram
questionados se recomendariam a unidade para um
conhecido ou amigo, 77% referiram que sempre recomendariam a unidade que utilizam (SALA et al., 2011).
Estes achados assemelham-se com os resultados do
presente estudo, evidenciando satisfação dos usuários
com os serviços utilizados.
Foi identificado que as mulheres usam mais do
que os homens os serviços de saúde, independentemente de este ser público ou privado. Segundo
Schraiber (2005), na Estratégia Saúde da Família de Recife, Pernambuco, é atribuída à mulher a condição de
usuária privilegiada; pelo fato de usar mais os serviços,
como por ser alvo preferencial de intervenções.
Em relação aos anos de estudo, a distribuição observada para os usuários de planos de saúde foi a esperada, ou seja, menor proporção nas faixas de escolaridade mais baixa e concentração dos indivíduos nas
mais altas. Em estudo realizado em São Paulo, a proporção de usuários de serviços pagos com 08 a 10 anos
de escolaridade foi semelhante à deste estudo (BARATA, 2008).
Comparando-se as taxas de utilização dos serviços
de saúde entre usuários do SUS e clientes de planos de
saúde, com a distribuição da população segundo anos
de estudo, observa-se que, entre os usuários do SUS,
há maior proporção de indivíduos nas faixas de menor
escolaridade do que os do plano de saúde. Resultado
semelhante foi encontrado em estudo realizado na região metropolitana de São Paulo (BARATA, 2008).
Desigualdades no acesso à atenção em saúde
relacionam-se a fatores socioculturais, como classe
ou estrato social (SILVA; PAIM; COSTA, 1999), gênero
(SCHRAIBER, 2005) e cor, que interferem na organização dos sistemas e serviço de saúde e na forma como
são travadas relações entre usuários e trabalhadores
nas unidades de saúde (SCHRAIBER, 2005).
A universalidade da atenção, prevista na Lei 8080
(1990), presume a formulação de um modelo social ético e equânime balizado pela inclusão da participação
social. O impasse vivenciado com a concretização do
acesso universal aos serviços de saúde exige um esforço permanente na defesa da saúde como um bem público, tendo a saúde como direito individual e coletivo
(ASSIS; VILLA; NASCIMENTO, 2003).
Conclusão
Os resultados deste estudo reforçam a ideia de
que a operacionalização de políticas de acesso uni283
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
versal a cuidados de saúde demanda monitoramento que busque identificar diferenças no acesso e na
continuidade do uso de serviço de saúde; adequar o
atendimento às especificidades dos cidadãos e plane-
jar ações voltadas à promoção da saúde e prevenção
de doenças, por meio da diminuição das condições de
vulnerabilidade de pessoas ao adoecimento e morte.
Referências
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284
Área - Ciências da Saúde
CUIDADOS BUC AIS: HIGIENIZ AÇ ÃO DE LÍNGUA NA
PR ÁTIC A DA ENFERMAGEM
Ana Liz Pereira de Matos
Elaine de Oliveira Souza Fonseca
Mayra de Castro Oliveira
Daniela Socorro Mendonça Sousa
Marlúcia De Souza Carvalho
Joice Mara Amorim Messias
[email protected]
Introdução
A enfermagem se caracteriza como profissão
com diversas vertentes dentro do âmbito da assistência. Apresentar uma visão holística do paciente, para o
desenvolvimento das ações de enfermagem, é fundamental para promover uma boa recuperação do cliente. Uma atividade realizada no cotidiano da assistência
de enfermagem é o cuidado com a higiene corporal. A
principal responsabilidade do enfermeiro é ajudar as
pessoas em suas atividades habituais, e a higiene corporal se encaixa nessa definição (FONSECA, 2013).
A fragilidade manifestada pelo paciente no ambiente hospitalar torna prejudicada a capacidade do autocuidado, e nesta etapa se insere a enfermagem, que
atua considerando o tripé “bem-estar, conforto e equilíbrio” para o cliente e auxilia no processo de reabilitação
(KAHLOW; OLIVEIRA, 2012). O corpo exige uma rotina de
cuidados que integra cada membro como único e como
parte de um conjunto. Observa-se que um tema bastante destacado na enfermagem é a higiene corporal e
quando discutido, esta é uma profissão sempre lembrada, pois realiza essa atividade rotineiramente na prática
assistencial. A higiene e, de modo especial, a higiene
corporal têm apresentado conceitos valorizados pela
enfermagem ao longo do tempo e têm se apoiado em
fundamentos científicos para desenvolver sua prática
profissional.
Em relação à higiene, destaca-se a limpeza da cavidade oral na assistência de enfermagem. Caldeira e
Cobucci (2011) dizem que, no momento da internação,
é importante a avaliação da cavidade oral dos pacientes para que a equipe de enfermagem planejar a assistência, estabelecendo metas. Porém, percebe-se que,
na prática, a assistência de higiene do corpo através do
banho é bastante observada com muitas discussões e
trabalhos, mas, em alguns momentos, não se destaca a
higiene oral, incluindo a higiene dos dentes e da língua.
Jerónimo (2013) afirma que a cavidade oral humana é composta por diversas bactérias que se encontram nos dentes, língua, gengivas, sulcos gengivais e
mucosa bucal. Estes microrganismos podem se formar
pelos restos alimentares que podem ser depositados
no dorso da língua, onde se associam com células descamadas e micro-organismos formando a saburra lingual. Num período de 24 horas sem higienização da
cavidade bucal pode-se observar a formação de placa
bacteriana. Manter a cavidade bucal saudável, ou seja,
limpa, é um cuidado imprescindível da equipe de enfermagem (ARAÚJO et al., 2009). A higiene oral é importante para que essa colonização seja controlada.
Não somente a escovação, mas também a correta higienização com limpador de língua.
O paciente que está acamado é vulnerável a problemas bucais, incluindo qualidade de vida afetada
pela higienização ineficaz da língua. Em alguns momentos durante a internação, os cuidadores/acompanhantes participam do processo de ajuda aos cuidados
pessoais do paciente. Zagabria et al. (2008) acrescenta
que acompanhantes auxiliam na execução dos cuidados que vão dos mais simples aos mais complexos, dos
esporádicos aos mais frequentes. Sem dúvida, a higiene
bucal está inserida nesse processo de cuidados. A equipe de enfermagem é parte integrante deste processo,
oferecendo a promoção de melhorias na saúde e prevenção de doenças através de orientações quanto à
prática de higiene bucal para pacientes internados, divulgando o uso correto de limpadores de língua, e principalmente proporcionando qualidade de vida para os
pacientes acamados.
Para tanto, ressalta-se a importância de discussões
na prática profissional de enfermagem e no âmbito
acadêmico referente à higiene bucal. Esta pesquisa foi
produzida a partir da realização de um projeto de extensão universitária que foi realizado por discentes do
curso de enfermagem da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB), no qual desenvolviam atividades voltadas para a prática educativa de higiene bucal. Portanto,
este trabalho apresenta como objetivo principal realizar
discussões para facilitação da prática de higiene bucal
285
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
e reflexões referentes a essa técnica, e apresentar os
resultados da pesquisa realizada com o limpador de língua de baixo custo, enfatizando a sua eficácia na prática
diária para remoção da saburra lingual, bem como seu
impacto na melhora da saúde bucal dos indivíduos e
consequente qualidade de vida.
Material e Método
Este é um estudo do tipo experimental de caráter
quantitativo. Apresentou como população pacientes
internados em um hospital público do município de
Guanambi, do estado da Bahia. A amostra foi composta de pacientes que estavam internados no setor
de clínica médica e cirúrgica e seus acompanhantes/
cuidadores no período de agosto a dezembro de 2013.
Utilizou como critérios de inclusão pacientes maiores
de 18 anos, que apresentavam o dorso da língua íntegro e que assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido (TCLE). Quanto aos pacientes que não poderiam assinar o TCLE foi realizado assinatura e liberação para o trabalho pelo seu acompanhante/cuidador
e foram incluídos na pesquisa os que apresentavam
mais de 18 anos.
Para a realização deste trabalho, foi proposta a
criação de limpadores de língua que foram confeccionados a partir de tampas de galões de água de 20
litros. A tampa de galão de água é de plástico pouco
rígido, mas maleável, que possibilita o recorte com tesouras manuais simples de cerca de 0,7 cm de largura.
É liso (no recorte não há rebarbas) não possibilitan-
do ferimentos, e o formato já é redondo, permitindo,
quando recortados em forma ovalada, ideal para limpeza da língua. Posteriormente este limpador foi esterilizado no Centro de Material Esterilizado (CME) do
referido hospital e foi utilizado um equipamento de
esterilização de termossensíveis. Como instrumento
para coleta de dados foram utilizados questionários
semiestruturados, antes e após as intervenções do uso
do limpador de língua, sendo o primeiro para analisar
o nível de conhecimento que o público-alvo possui
sobre o assunto, utilizando-se de perguntas acerca do
material utilizado para realização da higiene bucal, forma de realização da higiene de língua e conhecimento
sobre o limpador de língua; e o segundo, para avaliar a
eficácia do limpador de língua.
Todo o trabalho foi avaliado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB) conforme parecer de número CAAE
23032613.4.0000.0057. Para avaliação dos dados foi utilizado o programa estatístico StatisticalPackage for Social Science for Windows (SPSS ®).
Resultados e Discussão
Para a higienização bucal, os participantes informaram que utilizavam principalmente o uso de escova
dental (96,8%). Destaca-se que houve também a referência do uso de gaze e espátula (3,2%) para a realização da higiene oral, em pacientes que estavam acamados e inconscientes. Esse resultado demonstra que o
uso do dispositivo limpador de língua não é utilizado
rotineiramente na prática da higiene bucal. Ressaltamos
que esta higienização pode ser realizada com o uso da
escova dental, porém, quando afirmado o uso apenas
da gaze com espátula, é um dado negativo, pois esse
dispositivo não é ideal para limpeza de língua. Corroborando Santos et al. (2011), a utilização de recursos providos de espuma ou de espátulas envoltas em gaze para
higiene bucal, caracterizada por intervenção mecânica,
não é efetiva na remoção de placa dentária já desenvolvida.
Em relação à higienização de língua, apenas 61,3
% realizam a limpeza nesse local e utilizam como dispositivo a escova dental. Nenhum participante referiu
a utilização do limpador de língua. Santos et al (2013),
realizaram um estudo com grupo experimental (usando limpador lingual) e grupo controle (sem higienização da língua), em pacientes sob ventilação mecânica.
286
Foi realizada cultura de secreção oral e traqueal do
grupo experimental (inicialmente e após 5 dias) e do
grupo controle (em momento único) para avaliar as
modificações na flora bacteriana. Eles concluíram que
o uso do limpador de língua é um mecanismo efetivo
na redução do biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica, além de facilitar a ação dos cuidadores
para ações de higiene bucal. Essa efetividade se aplica
também à pacientes de outros setores hospitalares,
que não seja a UTI, evidenciado pela vivência dos pesquisadores deste estudo.
Outro dado relevante é a informação que a maioria dos indivíduos (77,4%) não conhecia um limpador
de língua e também não sabia a maneira correta de
utilizá-lo (83,9%). Segundo Navas et al. (2009), pode-se
relacionar essa falta de informação à questão cultural,
pois a prática de higienização da língua com o limpador não constitui hábito da população em geral.
Após o uso por três dias do limpador de língua
confeccionado pelas autoras, foi realizada a etapa de
avaliação do limpador de língua com impacto na saúde
bucal. Conforme abaixo:
Área - Ciências da Saúde
Tabela 1. Avaliação do limpador de língua pelos participantes da pesquisa realizada em um Hospital Público no
período de agosto a dezembro de 2013.
Variável
N
%
OPINIÃO SOBRE O LIMPADOR
Excelente
Bom
Ruim
Total
19
10
29
65,5
34,5
100
O LIMPADOR FUNCIONA?
Sim
Parcialmente
Não
Total
29
29
100
100
A SAÚDE BUCAL MELHOROU?
Sim
Parcialmente
Não
Total
26
03
29
89,7
10,3
100
PRETENDE USAR O LIMPADOR EM CASA?
Sim
Talvez
Não
Total
29
29
100
100
O limpador de língua foi bem aceito pela população, pois foi classificado como excelente para a retirada da saburra. Este dispositivo tem essa característica
e funcionalidade, permitir a retirada da saburra lingual.
Na língua, o biofilme é também conhecido como saburra. Santos et al. (2013, p. 45) definem a língua saburrosa como “(...) alteração relativamente comum, é
formada basicamente por restos alimentares, células
descamadas, fungos, bactérias e enzimas ativas que
participam do processo da digestão”. Se o indivíduo
fica um longo período sem realizar a limpeza da língua,
essa saburra começa a se formar e se agrava quanto à
sua consistência, localização e coloração, refletindo na
saúde bucal.
Os benefícios de uma boca saudável foram outro
dado positivo para o limpador de língua confeccionado, promovendo a melhoria da saúde bucal, pois, segundo os participantes, a boca tornou-se mais saudável. Em relação à manutenção do uso do limpador de
língua oferecido, todos os participantes declararam
que pretendem utilizar o limpador de língua em seu
domicílio. Este é um bom reflexo, pois possibilitará o
acréscimo deste dispositivo na prática da higiene de
língua, consequentemente melhoria na qualidade de
vida. Uma boa ou má higiene bucal também interfere
diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Pereira (2010) pronuncia em sua dissertação que a saúde
bucal está integrada à saúde geral, que é considerada
essencial para a qualidade de vida.
Conclusões
As considerações finais apontam que esta pesquisa é de relevância social, científica e ambiental. No âmbito social, configurou como uma iniciativa de grande
valor, pois promoveu melhorias no que se refere à saúde com as discussões da higiene bucal, permitindo a
criação de um dispositivo para a limpeza da língua que
melhora a saúde bucal dos clientes e que seja de fácil
aquisição e baixo custo. No aspecto científico, permitiu
a criação de trabalhos nessa área, pois foi observada
dificuldade de disponibilidade de materiais científicos
no contexto da enfermagem no cuidado à saúde bucal.
De cunho ambiental, sobressai a viabilização de criação
de um limpador de língua a partir de tampas de galão
de água mineral, material este que seria descartado,
proporcionando um novo uso.
287
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
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NAVAS, E. A. F. et al. Avaliação da utilização de limpador de língua na redução dos níveis de leveduras na cavidade
bucal. Revista de Odontologia da UNESP. 2009; 38(2): 99-103.
PEREIRA. A. L. Influência da condição de saúde bucal na qualidade de vida dos indivíduos. Universidade Federal
de Minas Gerais. Campos Gerais. 2010.
FONSECA, E. F. Cuidados de higiene - banho: significados nos cuidados de enfermagem. Perspectiva dos enfermeiros. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Porto, 2013.
KAHLOW, A. OLIVEIRA, L. C. A estética como instrumento do enfermeiro na promoção do conforto e bem estar.
Universidade do Vale do Itajaí. Vale do Itajaí, 2012.
JERÓNIMO, A. R. G. Patogénese de infecções causadas por bactérias da flora endógena. Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias Escola de Ciências e Tecnologias da Saúde. Lisboa, 2013.
ARAÚJO, R. J. G. et al. Análise de percepções e ações de cuidados bucais realizados por equipes de enfermagem
em unidades de tratamento intensivo. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2009.
ZAGABRIA, D. B. et al. Funções do acompanhante de idosos com dependência física e psicológica em tratamento
no hospital escola de alta complexidade: vivências e revelações. Universidade Estadual de Londrina. Paraná,
2008.
CALDEIRA, P. M.; COBUCCI, R. A. S. Higiene Oral de Pacientes em Intubação Orotraqueal Internados em uma Unidade de Terapia Intensiva. Revista Enfermagem Integrada, v.4, n. 1, p. 713-741, 2011.
288
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DA FUNÇ ÃO ENDOTELIAL E
MARC ADORES L ABOR ATORIAIS DE ESTRESSE
OXIDATIVO NO DIABE TES
Fernando Gonçalves Brasil Filho
Ana Carine Gomes dos Santos
Marcello Costa Barros
Manuela Pierotte Luz Gondim
Guilherme Brasileiro Vaz
Molyana Kelly Pereira Dias
Rafael Nobre Efraim
[email protected]
Introdução
A patogênese das complicações macro e microvasculares, sobretudo quando em associação entre
diabetes, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e dislipidemia, tem no estresse oxidativo e na disfunção
endotelial estágios iniciais que favorecem o seu estabelecimento e conformação patológicas. O estresse
oxidativo é resultado de um desbalanço entre compostos de oxigênio que foram metabolizados e que se encontram instáveis em relação às defesas antioxidantes
celulares. A função endotelial, por sua vez, avalia a integridade vascular, a fim de rastrear possíveis injúrias,
que no paciente diabético são típicas (FORGIARINI et al.
2009)
Segundo Barbosa et al. (2010), a produção de radicais livres constitui um processo contínuo e fisiológico,
cumprindo funções biológicas relevantes quando em
proporções adequadas; porém, a produção excessiva
destes pode conduzir a danos oxidativos. O problema
no paciente diabético, portanto, seria exatamente uma
hiperprodução de tais compostos. Assim, para se evitar
esta produção excessiva de radicais livres e os danos
decorrentes do aumento destes, o organismo biológico
desenvolveu mecanismos de defesa antioxidantes que
objetivam limitar os níveis intracelulares de tais espécies reativas produzidas continuamente para cumprir
suas principais funções biológicas, que são: possibilitar a
geração de ATP (energia) por meio da cadeia transportadora de elétrons e atuar como mediador para a transferência de elétrons nas várias reações bioquímicas que
ocorrem durante os processos metabólicos (HALLIWELL,
2004).
Ainda para Barbosa et al. (2010), quando ocorre um
desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes instala-se um processo de estresse oxidativo que
conduz à oxidação de biomoléculas, com consequente
perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio ho-
meostático, gerando dano oxidativo potencial em células e tecidos. Esse desequilíbrio ocorre como resultado
da geração excessiva de radicais livres ou em detrimento da ineficácia da velocidade de remoção desses (VELLOSA, 2013). A cronicidade do estresse oxidativo implica
processo etiológico de numerosas enfermidades crônicas não transmissíveis, entre elas o diabetes (HALLIWELL,
2004).
Com este desbalanço, temos alterações conformacionais em proteínas, carboidratos, lipídios e sobretudo
no DNA celular. No diabetes, os compostos instáveis de
oxigênio estão aumentados desde as fases mais iniciais da doença, havendo ainda agravamento dos seus
efeitos deletérios e aumento dos seus níveis séricos
com a progressão clínica da patologia. O aumento do
desbalanço de glicose intracelular é um fator determinante ao dano tecidual gerado pelo diabetes, tendo o
estresse oxidativo uma importância significativa neste
processo. A glicose, ainda, sofre uma auto-oxidação,
sendo este fato um agente também responsável pela
formação de radicais livres (FORGIARINI et al., 2009).
Assim, tem sido apontado que o ânion superóxido mitocondrial tenha por função iniciar uma série
de eventos em sequência que tem como mediador
final uma maior produção de compostos reativos de
oxigênio, além de espécies reativas de nitrogênio sob
a ativação do NFKB, com a produção, ainda, de citocinas inflamatórias, além da ativação do PKC (proteinoquinase C) e do nicotinamida adenina dinucleotídeo
NADPH oxidase. A PKC ativada tem por função desempenhar papéis de regulação vascular, tais como permeabilidade vascular, proliferação celular, contratilidade, produção de matriz extracelular e transdução de
sinais para a produção de citocinas. De modo análogo,
os principais mediadores das complicações crônicas
do diabetes podem gerar um estado de desequilíbrio
289
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
entre os mecanismos epigenéticos, o que acaba por
afetar a estrutura da cromatina e a expressão gênica.
Sob persistência desta desregulação, poder-se-ia explicar o mecanismo de memória metabólica (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004).
O ânion superóxido tende ainda a inativar o NO
(óxido nítrico) que é derivado do endotélio. Consequentemente, gera-se um estado de disfunção endotelial; alteração esta a mais precocemente detectável
dentre as doenças vasculares. Complementarmente,
no endotélio de pacientes com diabetes, o óxido nítrico sintase, enzima responsável pela formação do NO,
pode direcionar a produção de superóxido em detrimento à produção de NO sob condições de deficiênia
de arginina ou tetraidropterina. Quando ambos os
compostos estão sintetizados, ocorre formação de peroxinitrito, um elemento formador de dano a estruturas
celulares (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004).
Os compostos instáveis de oxigênio são estabilizados através de um sistema antioxidante que inclui
uma série de enzimas reguladoras, a saber: superóxido
dismutase, glutationa peroxidade e catalase. De modo
quantitativo, a albumina e o ácido úrico são os principais compostos antioxidantes (BARBOSA, 2010).
Atualmente, uma série de fatores plasmáticos e
urinários são tidos como marcadores de disfunção endotelial, podendo ser aplicados à rotina clínica como
preditores de doença cardiovascular. Tem-se FVW
(Fator de Von Willebrand), PAI-1 (Inibidor do ativador
do plasminogênio), albimunúria, endotelina 1, PCR,
homocisteína e outros compostos relacionados à coagulação: fibrinólise, inflamação e regulação do tônus
vascular. Assim sendo, uma predição do aumento de
compostos reativos de oxigênio seria um indício molecular bastante interessante para se estimar precocemente um dano celular antes mesmo que se instalem
clinicamente nos pacientes diabéticos em questão
(HALLIWELL; WHITEMAN, 2004).
Para Comenetti (2010), atualmente não há consenso sobre qual o método mais útil, mais confiável, mais
acurado ou específico para os diferentes tipos de dano
oxidativo. Segundo o autor, enquanto os trabalhos de
sistematização prosseguem, é útil conhecer os principais marcadores e os métodos mais utilizados para sua
quantificação. Sabemos que esta quantificação e utilização como critérios clínicos diretos ainda têm uma
perspectiva futura de aplicabilidade. No entanto, faz-se
necessário conhecer tais recursos por se tratar de critérios preditivos de alto valor avaliativo.
Considerado um marcador com grande potencial, o malondialdeido (MDA) é usado na reação com o
ácido iobarbitúrico (TBA); apesar de sua simplicidade
e facilidade de execução, o teste do TBA não é específico para o MDA, já que o TBA reage com uma ampla
variedade de compostos como açúcares, aminoácidos,
proteína, aminas e bilirrubina, e, devido a essa ampla
variabilidade, o teste com o MDA é denominado teste
das substâncias que reagem com o ácido tiobarbitúrico
290
(Thiobarbituric Acid- Reactive Substances –TBARS), como
foi explanado por Grotto et al (2007).
Pode-se utilizar também a detecção dos isoprostanos (8-epi-prostaglandina 2alfa,8-epi-PGF2alfa). Para
Labaer (2005), os isoprostanos pertencem à família dos
eicosanoides, de origem não enzimática, e são resultados da oxidação do ácido araquidônico; formados nos
fosfolipídios da membrana celular e pela fosfolipase
são liberados no sangue. Conforme Labaer J (2005), os
isoprostanos são estáveis na corrente sanguínea e, por
esse motivo, são também bons candidatos na avaliação do dano oxidativo, dosados no soro, plasma e urina; este último é o meio mais usado nos testes. Entre as
técnicas empregadas para detecção de isoprostanos,
destacam-se os radioimunoensaios (radioimmunoeassays - RIA), os imunoensaios enzimáticos (Enzyme Linked
Immuno Sorbent Assay --- ELISA).
A razão GSH/GSSG é um modo também avaliativo. Para Karen et al. (2007) a glutationa, um tripeptídeo
contendo cisteína, desempenha importantes funções
em células humanas, especialmente como agente antioxidante. A forma reduzida da glutationa (GSH) mantém
os grupos tióis (-SH) das proteínas, reduz ligações dissulfetos (-S-S-) induzidas pelo estresse oxidativo, neutraliza radical livre e detoxifica eletrófilos. Na presença de
peróxidos, a GSH intracelular é convertida a glutationa
oxidada (GSSG) pela glutationa peroxidase, a qual catalisa a redução destes peróxidos. Por isso, a concentração
intracelular da GSH é um indicador da capacidade da
célula em manter sua homeostase. Porém, é importante destacar que interferentes analíticos na quantificação
de GSH também têm influência em medidas de GSSG
e, consequentemente, na determinação da razão GSH/
GSSG como índice de estresse oxidativo (LABAER, 2005).
A disfunção endotelial aparece como um denominador comum na fisiopatologia das complicações
crônicas no diabetes. Além disso, ainda carece de uma
definição precisa pelo fato de a célula endotelial apresentar múltiplas funções. A integridade na produção
de NO, que evidencia a vasodilatação dependente do
endotélio, pode ser avaliada, principalmente, por estímulos fisiológicos, tais como a hiperemia reativa pós
-oclusíva e a hiperemia térmica e, ainda, por estímulos
farmacológicos, tais como a resposta vasodilatora após
a administração transcutânea de acetilcolina. Por sua
vez, a vasodilatação produzida pela admínistração de
nitroprussiato de sódio (NPS) ou derivados (doador de
NO) reflete a integridade estrutural do vaso, ou seja, a
resposta independendo endotélio (LABAER, 2005).
O método padrão-ouro e com maior acurácia
diagnóstica para a avaliação do fluxo sanguíneo é a
mensuração através de cateter intravascular do fluxo
coronariano por angiografia por Doppler (TURNER et
al., 2008). De uma maneira geral, o custo, a subjetividade, a alta variabilidade e a ausência de validação têm
reduzido a confiabilidade de outros métodos funcionais como o ultrassom, a pletismografia e a tomografia
com emissão de pósitrons (LABAER, 2005).
Área - Ciências da Saúde
Em razão da crescente relevância da predição do
risco cardiovascular a longo prazo nos pacientes avaliados, vem aumentando o interesse nas técnicas não
invasivas de avaliação da função endotelial, uma tentativa de não expor o paciente a efeitos deletérios. Uma
série de técnicas podem ser aplicadas, dentre as quais
se pode citar a fluxometria por Laser Doppler, a tonometria da artéria periférica (Endo--PAT) e o laser speckle
além da imagem de contraste (LSCI), que despontam
como técnicas não invasivas promissoras que possuem
elevada acurácia diagnóstica e elevado efeito presunti-
vo de lesão vascular (TURNER et al., 2008).
Hoje, as técnicas de imagens mais desenvolvidas
para o estudo da função endotelial, tais como a tomografia com emissão de pósitrons em três dimensões, a
ressonância magnética e a ecografia contrastada, apresentam, como principal limitação à sua aplicabilidade,
os elevados custos envolvidos. No entanto, tem-se que
estas técnicas de imagem possam ser usadas no futuro
como critérios presuntivos de avaliação mais presentes
à prática clínica (TURNER et al., 2008).
Referências
BARBOSA, K.; B. F. et al. Estresse oxidativo: conceito, implicações e fatores modulatórios. Rev. Nutr: Campinas,
v.23, n. 4, Aug., 2010 . COMENETTI C. Efeitos da suplementação com castanha do Brasil (Bertholletia excelsa H.B.K) sobre o estresse oxidativo em mulheres obesas e sua relação com o polimorfismo Pro198. Universidade de São Paulo;
2010.
FORGIARINI JUNIOR, L. A. et al. Estresse oxidativo e alterações estruturais pulmonares no diabetes mellitus experimental. J. bras. pneumol., São Paulo , v. 35, n. 8, Aug., 2009 GROTTO, D. et al. Rapid quantification of malondialdehyde in plasma by high performance liquid chromatography-visible detection. J Pharm Biomed Anal. n. 4, v. 6, p. 619-624, 2007.
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farm. básica apl. v. 34, n. 3, set., 2013.
291
Área - Ciências da Saúde
ANÁLISE DA PROPORÇ ÃO 2D:4D EM PACIENTES COM
FISSUR A L ABIAL E /OU PAL ATINA NÃO SINDRÔMIC A
Patrícia Helena Costa Mendes
Camila Reis Barbosa
Myriam Thatyana Miranda Esteves
Clayton Paraíso Macedo
Marise Fagundes Silveira
Lívia Máris Ribeiro Paranaíba
Hercílio Martelli Júnior
[email protected]
Introdução
A proporção entre os dedos indicador e anelar,
também chamada 2D:4D ou comprimento digital tem
sido considerada como um marcador relacionado a
características comportamentais e psicológicas e até
mesmo a suscetibilidade de indivíduos a uma série
de doenças (HOPP; JORGE, 2011). A diferença entre o
segundo e o quarto dedo das mãos é estabelecida na
vida intrauterina e sofre pouca ou nenhuma alteração
pós-natal. Tal diferença reflete um fator importante –
a exposição intrauterina a hormônios sexuais, ao estrógeno, à progesterona e à testosterona (MANNING
et al., 2002).
Indivíduos que apresentam baixa relação 2D:4D,
ou seja, que possuem o dedo indicador menor do que
o dedo anelar, apresentam alta exposição à testosterona no útero. Em homens, o segundo dedo tende a ser
menor que o quarto. Já em mulheres, o segundo dedo
tende a ser do mesmo comprimento ou levemente
maior que o quarto, indicando uma exposição intrauterina mais baixa de testosterona e mais alta a estrógenos. Desta forma, a proporção 2D:4D é negativamente
correlacionada aos níveis pré-natais de testosterona e
positivamente correlacionada aos níveis pré-natais de
estrógenos (MANNING et al., 2003).
Acredita-se que o comprimento digital seja influenciado pelos genes da família Homeobox ou Hox,
que são responsáveis pelo desenvolvimento e diferenciação dos dedos, além do controle do crescimento celular de vários sistemas (MANNING et al., 2003).
Além disso, genes HOX são importantes na embriologia do crânio e da face (GARIB et al., 2010). Destacase que a presença de mutações em genes da família
HOX tem sido associada ao aparecimento de deformidades craniofaciais, incluindo as fissuras labiais e/ou
palatinas (VAN DEN BOOGAARD et al., 2000). Fissuras
labiais e/ou palatinas (FL/P) representam as anomalias congênitas mais comuns da face, correspondendo
a aproximadamente 65% de todas as malformações
da região craniofacial (MITCHELL et al., 2003). As FL/P
ocorrem em aproximadamente 70% dos indivíduos
na forma não-sindrômica (FL/PNS), ou seja, sem associação com outras malformações e sem alterações
comportamentais e/ou cognitivas (LIDRAL et al.,
2008).
Diante da influência concomitante de genes da
família HOX na diferenciação dos dedos como no aparecimento de FL/PNS, surge uma hipótese: haveria um
padrão de proporção 2D:4D em indivíduos afetados
pelas FL/PNS? O objetivo deste estudo foi investigar a
relação entre a proporção 2D:4D em pacientes com FL/
PNS e em indivíduos clinicamente normais.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo de delineamento epidemiológico transversal e descritivo. Participaram deste
estudo um grupo formado por 74 indivíduos de ambos
os gêneros afetados pelas FL/PNS assistidos pelo Centro de Reabilitação Pró-Sorriso (Centrinho) da Universidade de Alfenas, Minas Gerais, Brasil, que atendiam
aos seguintes critérios de inclusão: possuir qualquer
tipo de fissura labial e/ou palatina não relacionada à
síndrome e ter recebido suplementação vitamínica no
primeiro trimestre de gestação. Os critérios de exclusão
deste grupo envolveram possuir alterações hormonais
(dados obtidos através de relato do paciente e de prontuários), assim como histórico de fraturas nos dedos
anelar e indicador da mão direita e esquerda. Partici293
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
pou, adicionalmente, um grupo controle, formado por
74 indivíduos não afetados por FL/P ou outra deformidade congênita e que apresentavam características demográficas e socioeconômicas semelhantes ao grupo
com FL/PNS. Esses indivíduos foram pareados com o
grupo caso por idade e gênero.
A coleta de dados para ambos os grupos envolveu
a realização de medições dos comprimentos dos dedos
indicadores e anelares da mão direita e esquerda com
a utilização de um paquímetro digital em dois momentos. Posteriormente, foi calculada a razão 2D:4D, ou
seja, dividindo-se o comprimento do dedo indicador
(2D) pelo comprimento do dedo anelar (4D). A segunda
medição ocorreu 30 minutos após a primeira, e depois
de concluídas, foi utilizada a média dos dois valores
obtidos, com finalidade estatística. As medições foram
realizadas por três examinadores, obtendo-se concordância intra e inter-examinadores com valor de Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) significante. Foi
realizada análise descritiva e analítica a partir do teste t
de Student utilizando-se o Programa SPSS® versão 18.0.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade José Rosário Vellano - UNIFENAS
- Protocolo CEP-UNIFENAS 163.293/2012.
Resultados e Discussão
A amostra foi composta por 148 indivíduos divididos em dois grupos pareados por sexo e idade. Assim,
dos 74 indivíduos de ambos os grupos, 40 (54%) eram
do sexo feminino e 34 (46%) do sexo masculino. A idade dos participantes em cada grupo variou de 3 a 54
anos, com idade média de 20 anos (± 12,72). Em relação à distribuição dos pacientes com FL/PNS por tipo
de fissura orofacial, este estudo apresentou 27 (36%)
pacientes com fissura labial (FL), 33 (45%) com fissura
labiopalatina (FLP) e 14 (19%) apresentavam fissura palatina (FP).
A Tabela 1 apresenta a média das proporções
2D:4D das mãos direita e esquerda dos grupos com FL/
PNS e controle, bem como a distribuição por tipo de
fissura orofacial e gênero. Observou-se que não houve
diferença estatisticamente significante entre os grupos
com FL/PNS e controle em nenhuma das análises realizadas.
Tabela 1 - Média e desvio padrão das proporções 2D:4D das mãos direita e esquerda dos grupos FL/PNS e
controle, bem como a distribuição por tipo de fissura e gênero.
Todos os participantes (n:74)
Mão direita
Mão esquerda
Distribuição por tipo de fissura
Fissura labial (n:27)
Mão direita
Mão esquerda
Fissura labiopalatina (n:33)
Mão direita
Mão esquerda
Fissura palatina (n:14)
Mão direita
Mão esquerda
Distribuição por gênero
Feminino (n:40)
Mão direita
Mão esquerda
Masculino (n:34)
Mão direita
Mão esquerda
*Teste t de Student para amostras pareadas
294
Grupo FL/PNS
Média (desvio-padrão)
Grupo Controle
Média (desvio-padrão)
valor p*
0,9760 (±0,0389)
0,9756 (±0,0377)
0,9799 (±0,0394)
0,9740 (±0,0317)
0,334
0,947
0,9903 (±0,0402)
0,9800 (±0,0370)
0,9713 (±0,0373)
0,9759 (±0,0388)
0,092
0,658
0,9710 (±0,0391)
0,9700 (±0,0422)
0,9737 (±0,0274)
0,9710 (±0,0376)
0,758
0,925
0,9811 (±0,0362)
0,9825 (±0,0352)
0,9802 (±0,0433)
0,9856 (±0,0377)
0,942
0,816
0,9815 (±0,0374)
0,9818 (±0,0381)
0,9735 (±0,0362)
0,9750 (±0,0355)
0,363
0,449
0,9781 (±0,0421)
0,9692 (±0,0396)
0,9747 (±0,0321)
0,9763 (±0,0408)
0,690
0,451
Área - Ciências da Saúde
A Figura 1 mostra os intervalos de confiança das
médias das proporções 2D:4D das mãos direita e es-
querda entre os grupos FL/PNS e controle, ressaltando
a proximidade entre as mesmas.
A hipótese de trabalho foi que a influência concomitante de genes, especialmente da família Homeobox, que atuam tanto na diferenciação dos dedos, bem
como na ocorrência de fissuras orofaciais, poderia resultar num padrão específico de 2D:4D em indivíduos
afetados por esta desordem. No entanto, os resultados
obtidos neste estudo não confirmaram essa hipótese, uma vez que a diferença entre as médias 2D:4D de
ambos os grupos não foi estatisticamente significativa.
Assim, parece que os níveis de andrógenos perinatais
em pacientes com fissuras orofaciais não diferem de indivíduos clinicamente normais. Ambos os grupos com
FL/PNS e controle tiveram 2D:4D baixos, com valores
inferiores a um, indicando que, em geral, estes indiví-
duos possuem o dedo anelar maior do que o dedo indicador. Segundo Manning et al. (2002), esta proporção
está associada à exposição a altas concentrações de
testosterona pré-natal em relação ao estradiol.
A falta de correlação observada neste estudo enfatiza a etiologia multifatorial das fissuras orofaciais
não-sindrômicas. Estas derivam da interação entre fatores genéticos e ambientais, tais como o fumo, álcool,
deficiência de vitaminas, uso de drogas, ingestão de
ácido fólico, idade dos pais, consanguinidade (STUPPIA
et al., 2011). Além disso, não está totalmente elucidado
como os riscos ambientais interagem com fatores genéticos (DIXON et al., 2011).
Conclusões
Este estudo não observou diferenças entre as
proporções 2D:4D entre pacientes com fissuras labiais
e/ou palatinas e indivíduos clinicamente normais, o
que sugere que a exposição intrauterina a hormônios
sexuais sejam semelhantes entre os grupos. Uma vez
que a prevalência de fissuras orofaciais possui varia-
bilidade geográfica, de grupos raciais e étnicos, bem
como a exposições ambientais e status socioeconômico, sugere-se a realização de novos estudos em diferentes populações para que outros resultados sejam
comparados aos deste estudo.
Referências
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295
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
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296
Área - Ciências da Saúde
A EDUC AÇ ÃO EM SAÚDE COMO ESTR ATÉGIA DE
PRE VENÇ ÃO À VIOLÊNCIA CONTR A A MULHER: UM
REL ATO DE E XPERIÊNCIA
Patrícia Alves Paiva
Danilo Cangussu Mendes
Maisa Tavares de Souza Leite
Weslley Ribeiro Carvalho Pimenta
Maria Rita Lima Lopes
Lara Lanusa Santos Nascimento
Kátia Tatiane de Oliveira Brito
[email protected]
Introdução
A abordagem da violência nos serviços de saúde
necessita de que o profissional se estabeleça como
colaborador do processo terapêutico elaborando estratégias com as usuárias do serviço, estratégias estas
que considerem e respeitem seu contexto social e suas
peculiaridades. Para tanto, é necessário alcançar essas
realidades e visualizar os conflitos que estão subentendidos nas queixas (PEDROSA; SPINK, 2011).
A violência vivenciada pela mulher deixa marcas não apenas físicas, mas também psicológicas e
sociais. Desta forma, o atendimento a essas mulheres
requer uma abordagem multiprofissional que possa
contemplar todos os aspectos de sua vida (MOREIRA
et al., 2008). No campo da saúde, o profissional tem
importante papel no combate à violência por meio do
desenvolvimento de pesquisas, notificação de casos e
organização de serviços de referência para as mulheres vítimas ,com propostas de intervenção (AUDI et al.,
2008).
O exercício da prática educativa crítica compõe
uma intervenção comprometida com a democracia
que rejeita qualquer forma de discriminação e dominação, buscando integrar uma atitude de inovação a fim
de potencializar a mudança esperada (MACHADO et al.,
2007).
Ao buscar a criação de um espaço de reflexão-ação ,a educação em saúde apresenta-se como uma
estratégia pautada no processo de transformação de
comportamentos através de ações educativas que
exaltem a autonomia dos sujeitos envolvidos no processo na condução de suas vidas. Desta forma, este
relato torna-se relevante, considerando que as ações
educativas podem contribuir tanto para formação dos
acadêmicos, quanto para o fortalecimento da cidadania das mulheres, capacitando-as para serem agentes
de difusão de uma cultura de paz.
Assim, este estudo objetiva descrever a experiência de acadêmicos dos cursos de graduação em enfermagem, odontologia e serviço social do Programa de
Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) da
Universidade Estadual de Montes Claros, como mediadores em oficinas educativas de grupos de mulheres,
com abordagem do tema Violência contra a Mulher,
desenvolvidas em uma equipe de Estratégia Saúde da
Família, em Montes Claros – Minas Gerais – Brasil, em
2013.
Metodologia
Trata-se de um relato de experiência a partir da
realização de oficinas com mulheres com vistas à promoção de saúde-cidadania em uma Unidade Estratégia Saúde da Família. Os acadêmicos do Programa de
Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde) contribuíram como mediadores nas oficinas, bem como
elaboraram material educativo, abordando formas de
promoção e proteção à saúde e à vida, instituindo a
cultura da paz e prevenção da violência. Foi utilizado
como método o desenvolvimento de oficinas, ancoradas na metodologia participativa.
A população foi constituída por mulheres líderes
e influentes na comunidade, cadastradas na Estratégia
Saúde da Família, previamente convidadas a participar das oficinas pelos Agentes Comunitários de Saúde
(ACS) e pelos acadêmicos da graduação. Realizarm-se
10 oficinas educativas em uma Unidade de Estratégia
Saúde da Família no município de Montes Claros - MG
297
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
- Brasil, no período de agosto à outubro de 2013. As oficinas aconteciam semanalmente, com a participação
de uma média de 10 mulheres de todas as idades. Nesse sentido, foram realizados dez encontros que aborda-
ram o assunto de forma dramática por meio de dinâmicas grupais. Em cada um dos encontros discutiu-se um
tipo de violência.
Resultados e discussão
Ao se trabalhar com a população, não há outro
trajeto senão a “travessia entre a subjetividade e a objetividade”. O conhecimento envolve uma correlação
direta entre a ação e a reflexão da realidade. Os seres
humanos são entendidos como corpos conscientes, e
desta maneira, têm a possibilidade de analisar criticamente, ultrapassando desta forma uma compreensão
puramente ingênua da realidade (FREIRE, 1982).
A experiência com oficinas educativas de educação popular foi de grande relevância para os acadêmicos envolvidos. Foi um importante desafio abordar a
violência contra a mulher em uma Estratégia de Saúde
da Família, situada em uma localidade onde os índices
de violência contra a mulher são expressivos. As oficinas educativas possibilitam aproximar profissionais da
saúde, discentes, docentes e usuárias, favorecendo a
concretização de práticas baseadas na humanização e
na integralidade do cuidado (VIEIRA et al., 2013). Neste
trabalho é apresentada uma reflexão acerca dos pontos positivos e negativos desta experiência, evidenciando o aprendizado adquirido nesta vivência.
No percurso das oficinas educativas foi possível
construir um espaço de diálogo e respeito mútuo com
as mulheres, sendo que as mesmas tiveram oportunidade de colocar os seus posicionamentos sobre os temas discutidos no cotidiano das oficinas. Este espaço
de diálogo propiciou uma relação dialética de troca de
conhecimento entre os profissionais e acadêmicos com
as mulheres participantes, potencializando ainda as
ações desenvolvidas. A metodologia utilizada propiciou
a construção de um caminho de ações muito mais dinâmico e democrático. Colocar os profissionais e acadêmicos numa posição de facilitadores das discussões foi um
grande acerto, na medida em que as próprias mulheres
dialogaram e conduziram as situações-problemas apresentadas. As mulheres envolvidas foram construtoras do
seu próprio saber, tendo como referência o seu próprio
cotidiano. Desta maneira, a metodologia alcançou as
diretrizes da educação popular disseminada por Freire
(1994), que pontua justamente esta necessidade de os
sujeitos construírem o seu saber a partir da realidade vivida.
O grupo educativo se configurou como um importante espaço de expressão da diversidade social e
cultural das mulheres participantes e também dos facilitadores envolvidos. O vínculo estabelecido propiciou
que cada participante expressasse os seus valores culturais e sociais, os seus conhecimentos de vida, as suas
limitações, os seus preconceitos e as suas dúvidas. Desta forma, o presente grupo educativo tornou-se um re298
levante espaço democrático, em que o caráter popular
das oficinas educativas foi contemplado. As situações
apresentadas durante os encontros propiciaram que
diferentes saberes e experiências de vida dialogassem,
excluindo assim as diferenças econômicas, sociais e
culturais, encontrando-se, portanto, numa unidade, a
de ser mulher.
Outro ponto significante a ser destacado é a interação da equipe de facilitadores envolvidos. O compromisso firmado em equipe foi fundamental para a
efetivação e plenitude dos resultados alcançados pelo
grupo educativo. A construção dos encontros e a própria execução dos mesmos se deram de forma coletiva
e integrada, o que potencializou ainda mais cada ação
desenvolvida. A organicidade e a unidade vivenciada
pela equipe subsidiaram os trabalhos desenvolvidos
e contribuíram diretamente para que o fim planejado
fosse atingido.
Desenvolvendo o trabalho com grupos, o profissional tem como princípio estimular os participantes
a buscarem estratégias de enfrentamento dos entraves vividos pela comunidade. Cada indivíduo tem a
possibilidade de se expressar, imprimindo seu ponto de vista. O trabalho em grupo é visto como forma
de libertação do homem, que, sozinho, encontra-se
alienado. Enquanto profissionais, temos a possibilidade de promover a conscientização dos indivíduos
sobre os aspectos da realidade vivida por eles para
que, desta maneira os mesmos possam fazer suas escolhas em prol da transformação social e da melhoria de sua qualidade de vida (SOUZA et al., 2005).
Alguns desafios foram evidenciados no decorrer
das oficinas, e um desses se remete à dificuldade de
adesão de mais mulheres nos grupos montados na
unidade de Estratégia de Saúde da Família, e não só
isso, mas também a permanência delas nos dez encontros.
Os docentes e acadêmicos envolvidos puderam contar com o apoio irrestrito de todos os profissionais da unidade, para que os convites pudessem ser feitos às mulheres do território de abrangência da unidade, uma vez que
já havia um vínculo maior da comunidade com esses profissionais referidos. Além disso, teve que haver um esforço da equipe envolvida no projeto de buscar estratégias
que possibilitassem uma maior dinamização das oficinas
em um menor tempo de duração, a fim de não tornar os
encontros cansativos, nem ser motivo de justificativas de
ausências. A apropriação de uma linguagem mais simples
também foi atribuída como uma necessidade, tendo, com
isso, o intuito de tornar o corpo técnico o mais próximo
Área - Ciências da Saúde
possível das mulheres, mas, ao mesmo tempo, não deixando recair no reducionismo do senso comum.
É importante salientar o cuidado que os profissionais envolvidos com esse tipo de trabalho devem
tomar quanto ao seu posicionamento frente às discussões travadas durante o processo de construção
de “um novo saber”, não fazendo da sua opinião uma
imposição, uma verdade absoluta, nem desmerecendo
o vivido e as subjetividades apresentadas pelos participantes, mas sim possibilitando a cada cidadão comum, em especifico o público neste trabalho referido,
as mulheres, denominadas no grupo de “Marias”, uma
autoanálise e autogestão de suas próprias vidas, sendo
sujeitos de suas trajetórias.
Desta forma, buscou-se possibilitar aos participantes uma análise das condições nas quais estão in-
seridos, fazendo com que repensassem os seus valores
e seus reais desejos, sem a figura de uma centralidade
dominante de um saber; mas, conforme afirma Baremblitt (1996), foi preciso que os técnicos dispusessem
de instrumentos que favorecessem a organização dos
saberes desses sujeitos, permitindo que eles próprios
buscassem soluções para seus problemas, e não o contrário.
Compreendemos a educação em saúde sob a luz
dos pensamentos de Freire (2000) como competente
e coerente, pois atesta sua capacidade de luta e deve
expressar seu respeito às diferenças, a maneira concisa
com que expressa e legitima sua presença no mundo
real. Portanto, para educar em saúde, é preciso estar
aberto às especificidades geográficas, sociais, políticas
e culturais dos usuários e das comunidades.
Considerações finais
As oficinas educativas possibilitaram reflexões
acerca das relações intra e intergrupais estabelecidas,
proporcionando um processo transformador de visões
de mundo ao possibilitar uma releitura do mesmo por
meio de vivências compartilhadas pela ação dos próprios participantes do grupo. Dessa forma, a estratégia
grupal subsidiou a aproximação entre profissionais e
usuárias, propiciando a concretização de práticas baseadas na promoção da saúde, na humanização e na
integralidade do cuidado.
Considera-se que as ações realizadas nas oficinas
contribuíram tanto para formação dos acadêmicos
quanto para o fortalecimento da cidadania das mulheres, capacitando-as para serem agentes de difusão de
uma cultura de paz. Essa estratégia de cuidado possibilitou às mulheres a construção coletiva, o acesso à
informação libertadora que faz emergir a autoestima,
a capacidade de resiliência e o empoderamento, tornando-as pessoas mais seguras e decididas. No sentido
de contribuir para repensar o modo de cuidar das mulheres, é fundamental que os profissionais apropriemse das diversas áreas do conhecimento, sobretudo nas
ciências sociais, para que o princípio da integralidade
da assistência à saúde do SUS possa ser um produto a
ser alcançado também pelas mulheres que vivenciam
violência. Concluímos que este estudo contribui porque não se encerra no conhecimento puramente acadêmico, mas trata-se de uma perspectiva ética e política que pressupõe compreender a realidade a partir
de uma perspectiva emancipatória. Nesse sentido, promover atividades de educação em saúde direcionadas
a esse público é imprescindível para se compreender a
dinâmica da violência e fortalecer as políticas públicas
de prevenção e a garantia dos direitos humanos.
Referências
AUDI, C. A. F.; SEGALL-CORRÊA, A. M.; SANTIAGO, S. M.; ANDRADE, M. G. G.; PÈREZ-ESCAMILA, R. Violência doméstica na gravidez: prevalência e fatores associados. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 5, out., 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102008000500013&script=sci_arttext>. Acesso em:
24 Jan. 2014.
BAREMBLITT, G. Compêndio de Análise Institucional. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1996.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz Terra, 1982. 149 p.
FREIRE, P. Educação e mudança. 20. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1994.
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MACHADO, M. F. A. S.; MONTEIRO, E. M. L. M.; QUEIROZ, D. T.; VIEIRA, N. F. C.; BARROSO, M. G. T. Integralidade,
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299
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
MOREIRA, S. N. T.; GALVÃO, L. L. L. F.; MELO, C. O. M.; AZEVEDO, G. D. Violência física contra a mulher na perspectiva de profissionais de saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 6, dez. 2008. Disponível em: < http://
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PEDROSA, C. M.; SPINK, M. J. P. A violência contra mulher no cotidiano dos serviços de saúde: desafios para a formação médica. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 20, n. 1, jan./mar. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.
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SOUZA, A. C.; COLOMÉ, I. C. S.; COSTA, L. E. D.; OLIVEIRA, D. L. L. C. A educação em saúde com grupos na comunidade: uma estratégia facilitadora da promoção da saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 26, n.
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VIEIRA, M. A.; DIAS, O. V.; LEITE, M. T. S.; LIMA, C. A.; PAIVA, P. A. Oficinas de educação em saúde: uma experiência
de enfrentamento a violência contra a mulher. Intercâmbio (Montes Claros), v. IV, p. 260-265, 2013.
300
Área - Ciências da Saúde
EFEITOS ME TABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇ ÃO COM
ÓLEO DE ABAC ATE, COCO E PEQUI NA R AÇ ÃO DE
R ATOS WISTAR­­
Luiz Otávio Campos de Oliveira
Mariana Badaró Pianissolla
Ítala Kariny Barroso Lopes
Daniela Fernandes Souza
Alexandre Alves da Silva
Nísia Andrade Villela Dessimoni-Pinto
Tania Regina Riul
[email protected]
Introdução
Os óleos e gorduras têm um papel importante, usados com fins farmacológico, industrial e nutricional. Há
um crescente interesse nas características de lipídios de
óleos vegetais, pois eles são fonte de componentes bioativos e nutrientes funcionais, tais como vitaminas e ácidos
graxos insaturados essenciais, com propriedades químicas únicas e com benefícios para saúde (OLIVEIRA, 2013).
O pequi (Caryocar brasiliense) é uma árvore originária do Brasil de onde é extraído o óleo. Na composição
do óleo de pequi, verifica-se a presença da vitamina A e
de diversos ácidos graxos insaturados, como o palmítico,
oleico, mirístico, palmitoléico, esteárico, linoléico e linolênico (AZEVEDO; RODRIGUEZ, 2004; PIANOVSKI et al.,
2008).
O ácido oleico é um ácido graxo monoinsaturado
que é considerado fundamental pelas propriedades benéficas na redução da oxidação do LDL-c (Low Density
Lipoprotein – Colesterol), na forma aterogênica, contribuindo assim na prevenção do desenvolvimento de doenças
cardíacas. O óleo extraído do pequi tem várias aplicações
na indústria alimentícia e cosmética, além de aplicação terapêutica, sendo usado contra gripe e doenças pulmonares (ARAÚJO, 1995).
O abacate é um fruto que se destaca por sua qualidade nutricional. É rico em ácido oleico e b-sitosterol,
uma gordura insaturada (SOUZA et al., 2013, TANGO; CARVALHO; SOARES, 2004). Os frutos que apresentam altos
teores de lipídeos em sua polpa tornam-se importantes
para a extração do óleo. Esse se assemelha com o óleo de
oliva, o qual é muito consumido no país e gera altos custos de importação. Tal semelhança deve-se pelo processo
de extração da polpa dos frutos e por ter similaridade em
suas propriedades físico-químicas, destacando-se a composição de ácidos graxos, principalmente o ácido graxo
oleico (TANGO; CARVALHO; SOARES, 2004).
O beta-sitosterol participa do controle da glicemia e
dos níveis de insulina em pacientes diabéticos, sendo um
coadjuvante no controle da doença. Seu consumo pode
melhorar a imunidade, aumentando a atividade de células que agem matando micro-organismos invasores, sendo auxiliar no tratamento de infecções e doenças como
câncer e HIV, também devido ao beta-sitosterol (TANGO;
CARVALHO; LIMONTA, 2004).
O óleo de coco, obtido a partir da polpa do coco
fresco maduro (Cocos nucifera L.), é composto por ácidos
graxos saturados (mais de 80%) e ácidos graxos insaturados. Os ácidos graxos saturados presentes no óleo de
coco são: caproico, caprílico, cáprico, láurico, mirístico, palmítico e esteárico, e os insaturados são: oleico e linoleico.
As gorduras láuricas são resistentes à oxidação não
enzimática e, ao contrário de outros óleos e gorduras,
apresentam temperatura de fusão baixa e bem definida
(24,4 - 25,6 ºC). São usadas na indústria cosmética e alimentícia, nas quais em virtude de suas propriedades físicas e resistência à oxidação, são empregadas no preparo
de gorduras especiais para confeitaria, sorvetes, margarinas e substitutos de manteiga de cacau (MACHADO; CHAVES; ANTONIASSI, 2006).
O óleo de coco é frequentemente utilizado no tratamento da obesidade, em virtude do seu elevado teor de
ácidos graxos de cadeia média, uma vez que tais lipídeos
são facilmente oxidados e não são normalmente armazenados no tecido adiposo, diminuindo, assim, a taxa metabólica basal (TMB). No entanto, o uso de óleo de coco na
dieta permanece controverso devido aos possíveis efeitos
prejudiciais dos ácidos graxos saturados e sua associação
com dislipidemias e doenças cardiovasculares (ASSUNÇÃO et al., 2009).
O presente trabalho teve como objetivos avaliar os
efeitos do tratamento crônico com óleo de pequi, abacate e coco no peso corporal, dos órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gordura
301
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
visceral e abdominal, comprimento e teor de minerais
totais dos ossos (fêmur e tíbia), análise de urina 24 ho-
ras e teor de umidade das fezes em ratos I.
Materiais e Métodos
Foram utilizados 24 ratos Wistar, machos, com 70
dias de idade. Os animais foram distribuídos em 4 grupos: Controle (C) – receberam durante 91 dias ração e
água ad libitum (n=6); Óleo de Abacate (A) – receberam durante 91 dias ração acrescida de 10% de óleo
de abacate e água ad libitum (n=6); Óleo de Coco (CO)
– receberam durante 91 dias ração acrescida de 10% de
óleo de Coco e água ad libitum (n=6); Óleo de Pequi (P)
– receberam durante 91 dias ração acrescida de 10% de
óleo de Pequi e água ad libitum (n=6).
A ração foi triturada e, para realizar a mistura com
os óleos, armazenada sob refrigeração até o fornecimento aos animais.
Os animais foram pesados semanalmente, a ração
e líquidos diariamente e, através destas medidas, foi
calculado o ganho de peso (= peso final – peso inicial)
e o Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA = ganho de
peso/consumo total de ração). Na última semana, os
animais ficaram na gaiola metabólica para coleta de fezes e urina das últimas 24 horas para análise do peso/
volume, teores de gordura e umidade das fezes.
Após 91 dias de tratamento, os animais foram colocados em jejum de 12 horas, anestesiados e retirados
2mL de sangue para avaliação bioquímica (colesterol
total, HDL, glicemia e triglicérides). Após a eutanásia, os
órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e
ossos (fêmur e tíbia) foram retirados, limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura do fígado e fezes,
o comprimento e teor de minerais totais dos ossos.
Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do
teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05).
A manipulação e eutanásia foram realizadas de
acordo com os princípios éticos para uso de animais
de laboratório (BRASIL, 2008), e o projeto foi aprovado
pela CEUA/UFVJM (protocolo 020/13).
Resultados e discussão
No peso corporal a ANOVA apontou efeito de
dia (F(1, 273657) = 453,45, p < 0,0001); o peso final dos
animais de todos os grupos foi maior do que o peso
inicial. Em relação à ingestão de ração (F(3, 1112876) =
15,23, p < 0,0001) e CEA (F(3, 8,5562) = 3,18, p < 0,05),
houve efeito de tratamento, os animais CO comeram
mais ração do que os C, A e P e os A apresentaram
maior CEA do que os C (Tabela 1).
Tabela 1: Peso corporal, gorduras (abdominal, epididimal e visceral), ingestão de ração, Coeficiente de Eficácia
Alimentar (CEA), comprimento corporal e dos ossos (fêmur e tíbia) e peso dos órgãos (baço, coração, fígado, rins,
suprarrenais e testículos). Diamantina, 2014.
Peso inicial
Peso final
Ganho peso
Gordura
Ração total
CEA
Naso-anal
Fêmur
Tíbia
Minerais Totais
Cálcio
Baço
Coração
Fígado
Rins
Suprarrenais
Testículos
302
C
343,73±25,37
459,42±34,72
115,68±31,82
33,28±4,70
2.529,14±134,46
4,82±0,90
23,83±3,36
3,72±0,21
4,21±0,11
68,05±59,79
0,023±0,004
1,03±0,71
1,14±0,25
12,62±1,39
1,46±0,07
0,051±0,050
1,83±0,13
A
334,20±23,20
494,93±34,19
160,73±32,97
45,12±11,19
2.186,76±156,65
7,45±1,84
20,68±0,56
3,65±0,14
4,15±0,07
49,65±10,87
0,022±0,006
1,01±0,08
1,08±0,09
13,49±1,30
1,44±0,12
0,034±0,006
1,73±0,08
CO
347,82±12,95
519,27±45,37
171,45±37,84
49,89±16,55
3.129,73±482,87
5,69±2,01
20,57±0,75
3,68±0,08
4,19±0,07
44,84±2,42
0,020±0,005
1,00±0,10
1,15±0,08
13,76±1,34
1,42±0,10
0,031±0,005
1,76±0,08
P
317,37±14,30
473,55±41,17
156,18±36,01
40,01±5,75
2.248,74±128,76
6,95±1,58
20,08±0,74
3,60±0,04
4,15±0,12
44,97±2,79
0,021±0,006
1,02±0,11
1,12±0,08
13,25±0,96
1,67±0,44
0,032±0,003
1,86±0,13
Área - Ciências da Saúde
Os animais A, CO e P apresentaram menor comprimento corporal do que os C (F(3, 17,63) = 5,56, p < 0,01); os
ratos P apresentaram testículos (F(3, 0,0458) = 3,99, p <
0,05) mais pesados do que os A (Tabela 1).
A ANOVA apontou efeito de tratamento nos níveis
de triglicérides presentes nas fezes (F(3, 214,18) = 4,11, p <
0,05), os animais P apresentaram menores teores do
que os C, entretanto, nas demais análises bioquímicas
do soro e fígado, não houve diferença estatisticamente
significativa (Tabela 2).
Tabela 2: Bioquímica do soro, fezes e fígado de ratos tratados por 91 dias com óleo de abacate, coco ou pequi.
Diamantina, 2014.
Soro
Colesterol
HDL
Glicemia
Triglicérides
Fezes
Lipídios
Colesterol
Triglicérides
pH
Frescas
Secas
Umidade
Fígado
Lipídios
Colesterol
Triglicérides
C
A
CO
P
70,47±26,98
16,00±6,04
211,30±76,77
63,51±31,95
59,53±12,38
11,65±3,72
169,19±67,60
73,07±37,85
68,00±12,21
11,22±4,68
183,57±46,76
87,68±46,08
68,96±13,57
12,32±5,44
166,25±53,54
64,53±27,15
8,67±6,39
12,72±7,15
36,44±11,65
6,51±0,18
5,77±4,32
3,72±2,30
2,05±2,07
4,42±1,90
12,96±7,54
26,77±2,55
6,67±0,16
3,69±3,15
2,68±2,08
1,01±1,08
3,83±1,18
14,15±3,41
31,07±7,40
6,77±0,24
2,68±1,89
2,03±1,53
0,65±0,37
3,60±1,18
10,22±5,35
22,47±3,40
6,77±0,23
1,93±1,54
1,54±1,17
0,39±0,41
13,70±4,63
22,67±8,68
50,15±21,16
12,77±4,42
51,06±35,22
54,90±19,99
16,51±4,98
36,14±18,45
62,19±28,99
12,72±2,77
39,65±22,01
51,34±7,89
Discussão
O aumento no peso corporal com o passar do tempo está de acordo com o que a literatura preconizada
(LEVIN et al., 1999). Essa diferença pode ser explicada
devido aos óleos terem tornado a ração comercial mais
palatável (NASCIMENTO, 2006) e a ausência de efeito no
ganho de peso está de acordo com Almeida et al. (2011)
e Duarte et al. (2006).
O consumo de doses elevadas de óleo de pequi por
7, 15 ou 30 dias, não alterou o peso corporal e transaminases, porém com 30 dias aumentou as taxas de glicose,
causou esteatose hepática, diminuiu colesterol e triglicerídios e aumentou HDL. Este resultado se manteve mesmo quando os animais tiveram dislipidemia induzida
por medicamento (FIGUEIREDO, 2012).
Animais que receberam uma dieta rica em colesterol suplementada com óleo de pequi mantiveram o
peso corporal, ingestão de ração, glicose plasmática,
HDL e colesterol hepático e aumentaram o colesterol
plasmático, triglicérides e lipídios totais (AGUILAR et al.,
2012).
Uma dieta suplementada com farinha de abacate
foi capaz de reduzir o colesterol sanguíneo, hepático e
LDL, aumentar o colesterol excretado e manter HDL e
triglicérides (SALGADO et al., 2008).
Apesar de o estudo de Dittrich et al. (2000) demonstrar que potros tratados com ração acrescida de
10% de gordura de coco ou 5% de óleo de milho e 5%
de gordura de coco não tiveram alteração nos níveis
de glicose plasmática e HDL, a I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular (2013) não recomenda o uso de óleo de coco para o tratamento de
hipercolesterolinemia e sugere a necessidade de mais
estudos para orientar seu uso em demais alterações metabólicas.
Conclusões
As três fontes de lipídios aumentaram o peso corporal e reduziram o comprimento dos animais. O óleo
de coco aumentou o consumo de ração e o de abacate
o CEA, já o óleo de pequi aumentou o peso dos testículos e reduziu os níveis de triglicérides.
303
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
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DITTRICH, R. L. et al. Valores bioquímicos séricos em potros da raça puro sangue inglês suplementados com diferentes tipos de gordura. Ciência Rural, v. 30, n. 4, p. 631-4, 2000.
FIGUEIREDO, P. R. L. Influência da administração do óleo fixo da polpa de Caryocar coriaceum wittm. sobre
parâmetros bioquímicos e histopatológicos de ratos. Dissertação (Mestrado em Bioprospecção Molecular,
área de concentração: Bioprospecção de Produtos Naturais)-Universidade Regional do Cariri, Crato, 2012. 148p.
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na artrite induzida por zymosan em ratos. Dissertação. Mestrado em Farmacologia. Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013. 45p.
PIANOVSKI, A. R. et al. Uso do óleo de pequi (Caryocar brasiliense) em emulsões cosméticas: desenvolvimento e
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304
Área - Ciências da Saúde
EFEITOS ME TABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇ ÃO
COM BANHA DE PORCO, GORDUR A VEGE TAL
HIDROGENADA E ÓLEO DE LINHAÇ A NA R AÇ ÃO DE
R ATOS WISTAR
Alexandre Alves da Silva
Mariana Badaró Pianissolla
Daniela Fernandes de Souza
Luiz Otavio Campos de Oliveira
Itala Karina Barroso Lopes
Nísia Andrade Villela Dessimoni Pinto
Tania Regina Riul
[email protected]
Resumo
O aumento na ingestão de gorduras tem aumentado a prevalência de doenças crônico-degenerativas, que são a
principal causa de morte no mundo. Com o objetivo de avaliar os efeitos do consumo de banha de porco, gordura vegetal hidrogenada e óleo de linhaça, foram utilizados 24 ratos Wistar distribuídos em 4 grupos: Controle (C)
– receberam ração e água ad libitum (n=6); Banha de Porco (B) – receberam ração com 10% de banha e água ad
libitum (n=6). Gordura Vegetal Hidrogenada (G) - receberam ração com 10% de gordura e água ad libitum (n=6);
Óleo de Linhaça (L) - receberam ração com 10% de óleo de linhaça e água ad libitum (n=6). Os animais foram pesados semanalmente, a ração e os líquidos, diariamente. Foram analisadas as fezes e a urina de 24 horas. Após 91
dias de tratamento, os animais foram colocados em jejum de 12 horas, anestesiados e foram retirados 2mL de sangue para avaliação bioquímica (colesterol total, HDL, glicemia e triglicérides). Após a eutanásia, os órgãos (baço,
coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia)
foram retirados, limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura do fígado e fezes, o comprimento e teor de
minerais totais dos ossos. Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05). As diferentes fontes de lipídios alteraram de maneira diferente a fisiologia dos ratos; todas as
fontes aumentaram o ganho de peso, entretanto, a banha de porco e a gordura vegetal hidrogenada promoveram
aumento nos níveis de HDL, crescimento corporal e ósseo e menores níveis de glicose e peso renal. E o óleo de
linhaça apresentou aumento no acúmulo de gorduras (abdominal, epididimal e visceral).
Introdução
Os lipídios desempenham funções importantes no
organismo, como reserva de energia e combustível alternativo à glicose através da oxidação de ácidos graxos
(1g de gordura fornece 9 kcal); compõem a estrutura das
membranas biológicas e camada de mielina; oferecem
isolamento térmico e mecânico protegendo células, órgãos e o organismo como um todo; dão origem a moléculas mensageiras, como hormônios, prostaglandinas,
entre outras (ALMEIDA et al., 2011).
Hábitos de vida inadequados (com aumento na ingestão de gorduras saturadas) têm aumentado a prevalência de doenças crônico-degenerativas como as doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes. As doenças
cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, entretanto, podem ser prevenidas com a adoção de
uma alimentação balanceada (I DIRETRIZ SOBRE O CONSUMO DE GORDURAS E SAÚDE CARDIOVASCULAR, 2013).
As gorduras insaturadas, como o óleo de linhaça, têm
sido apontadas como benéficas à saúde (PRASAL, 2009).
Assim sendo, os objetivos deste trabalho foram avaliar fisiologicamente os efeitos do consumo crônico de
banha de porco, gordura vegetal hidrogenada e óleo de
linhaça por ratos Wistar adultos e saudáveis.
305
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Materiais e Métodos
Foram utilizados 24 ratos Wistar, machos, adultos,
distribuídos em 4 grupos: Controle (C) - receberam
ração e água ad libitum (n=6); Banha de Porco (B) – receberam ração com 10% de banha de porco e água ad
libitum (n=6); Gordura Vegetal Hidrogenada (G) - receberam ração com 10% de gordura vegetal hidrogenada e água ad libitum (n=6); Óleo de Linhaça (L) - receberam ração com 10% de óleo de linhaça e água ad
libitum (n=6).
A ração foi triturada e, para realizar a mistura com
os óleos, armazenada sob refrigeração até o fornecimento aos animais.
Os animais foram pesados semanalmente, a ração
e os líquidos, diariamente e, através destas medidas, foi
calculado o ganho de peso (= peso final – peso inicial)
e o Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA = ganho de
peso/consumo total de ração). Na última semana, os
animais ficaram na gaiola metabólica para coleta de fezes e urina das últimas 24 horas para análise do peso/
volume, teores de gordura e umidade das fezes.
Após 91 dias de tratamento, os animais foram colocados em jejum de 12 horas, anestesiados e foram
retirados 2mL de sangue para avaliação bioquímica
(colesterol total, HDL, glicemia e triacilglicerol). Após
a eutanásia, os órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) foram retirados,
limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura
do fígado e das fezes, o comprimento e teor de minerais totais dos ossos.
Os dados foram submetidos à ANOVA, seguido do
teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05).
A manipulação e a eutanásia foram realizadas de
acordo com os princípios éticos para uso de animais
de laboratório (BRASIL, 2008) e o projeto foi aprovado
pela CEUA/UFVJM (protocolo 020/13).
Resultados e Discussão
No primeiro dia, a ANOVA apontou efeito de
tratamento (F(3,1828) = 4,731, p < 0,05) no peso corporal,
os animais do grupo G apresentaram menor peso que
os do grupo C e os do grupo B e do grupo G menor
que os do grupo L.
Comparando a variação de peso corporal nos
dias 0 e 91, houve efeito de dia (F(1, 286768) = 539,21, p <
0,0001), os animais de todos os grupos pesaram mais
no dia 91 que no 0.
Houve também efeito de interação entre tratamento e dias (F(3, 2038) = 3,83, p < 0,05), todos os grupos
(C, B, G e L) pesaram mais no dia 91 que no 0, e no dia
91 os do grupo L pesaram mais que os do grupo C (Tabela 1).
Os animais dos grupos B,G e L apresentaram
maior ganho de peso que o grupo C (F(3, 4076,7) = 3,83,
306
p < 0,05) e os L maior acúmulo de gorduras (abdominal, epididimal e visceral) que os do grupo C (F(3, 278,87) =
3,33, p< 0,05) (Tabela 1).
Os ratos dos grupos B e G apresentaram maior
crescimento corporal (comprimento naso-anal) do que
os do grupo C, que sua vez foram maiores que os do
grupo L (F(3, 46,64) = 14,48, p < 0,0001).
Os animais dos grupos B e G apresentaram maiores comprimentos do fêmur do que os dos grupos C e L
(F(3, 0,1782) = 13,71, p < 0,0001) e os dos grupos B e G maiores comprimentos da tíbia que os do grupo L (F(3, 0,0528) =
5,56, p < 0,01) (Tabela 1).
A ANOVA apontou efeito de tratamento (F(3, 0,04959)
= 5,92, p < 0,005) no peso dos rins, os animais dos grupos B e G apresentaram menor peso do que os dos
grupos C e L (Tabela 1).
Área - Ciências da Saúde
Tabela 1- Peso corporal, gorduras (abdominal, epididimal e visceral), ingestão de ração, Coeficiente de Eficácia
Alimentar (CEA), comprimento corporal e dos ossos (fêmur e tíbia), peso dos órgãos (baço, coração, fígado, rins,
suprarrenais e testículos) e análise das fezes (frescas, secas e umidade). Diamantina, 2014.
C
343,73±25,37
459,42±34,72
115,68±31,82
33,28±4,70
2.529,14±134,46
4,82±0,90
23,83±3,36
3,72±0,21
4,21±0,11
68,05±59,79
0,023±0,004
1,03±0,71
1,14±0,25
12,62±1,39
1,46±0,07
0,051±0,050
1,83±0,13
B
G
L
Peso inicial
312,92±18,22
313,48±16,65
343,12±17,09
Peso final
483,72±37,78
477,92±26,28
510,55±29,36
Ganho peso
170,80±30,41
164,43±39,37
167,43±27,70
Gordura
43,68±6,72
40,93±12,97
49,71±9,97
Ração Total
2.509,35±704,08
5.486,33±2.896,64
2.378,87±395,09
CEA
7,24±2,05
3,97±2,59
7,07±0,90
Naso-anal
26,78±0,64
26,58±1,07
20,85±0,24
Fêmur
3,97±0,03
3,91±0,04
3,60±0,008
Tíbia
4,33±0,12
4,33±0,08
4,13±0,07
Minerais Totais
38,59±1,12
39,63±2,06
40,21±12,85
Cálcio
0,018±0,003
0,020±0,004
0,025±0,007
Baço
0,81±0,14
0,82±0,11
1,06±0,08
Coração
1,24±0,25
1,34±0,13
1,11±0,04
Fígado
12,46±1,53
13,57±1,86
13,68±1,31
Rins
1,35±0,11
1,37±0,09
1,48±0,09
Suprarrenais
0,027±0,012
0,025±0,007
0,032±0,004
Testículos
1,86±0,10
1,81±0,12
1,83±0,15
corporal e a ingestão de ração, já os que foram alimentados com óleo de linhaça diminuíram o colesterol séEm relação à análise bioquímica do soro sanguí- rico e HDL, e os que receberam óleo de linhaça, gergeneo (Tabela 2), as análises apresentaram efeito de tra- lim e banha de porco aumentaram os níveis de glicose.
tamento para a glicose (F(3, 9525) = 3,26, p < 0,05), os Estes dados sugerem que o óleo de linhaça possui
ratos do grupo L foram maiores do que os dos grupos propriedades cardioprotetoras e pode ser consumido
B e G e para o HDL (F(3, 139,18) = 6,51, p < 0,005), os do como um alimento funcional (GUIMARÃES et al., 2013).
O consumo de ácidos graxos insaturados reduz o
grupo L foram menores que os dos grupos B e G.
risco
de eventos cardiovasculares e mortalidade. EstuOs animais dos grupos B e G apresentaram maiodos
feitos
com óleo de linhaça em animais de experires teores de triacilglicerol no fígado do que os do
mentação
levaram a um efeito nulo a discreto da regrupo C (F(3, 5440,1) = 3,94, p < 0,05) e os do grupo L
dução
lipídica
ou até mesmo uma redução dos níveis
maiores teores de colesterol total do que os dos grude
triacilglicerol
quando consumido em grande escala.
pos C, B e G (F(3, 3745,94) = 9,59, p < 0,0005) (Tabela 2).
Discussões
atuais
questionam que a indicação de dimiNo que se refere às analises das fezes (Tabela 2),
nuição
de
gordura
saturada acarreta um aumento de
o grupo B apresentou maior teor de lipídios totais do
consumo
de
outros
nutrientes, tais como carboidratos
que o grupo L (F(3, 44,579) = 3,26, p < 0,05). O grupo L
refinados,
o
que
provoca
grande impacto no aumento
maior pH do que os grupos C, B e G (F(3, 0,217) = 11,59,
do
risco
de
doença
cardiovascular
e diabetes (I DIREp < 0,0005).
TRIZ
SOBRE
O
CONSUMO
DE
GORDURAS
E SAÚDE CARO grupo L apresentou menor peso de fezes fresDIOVASCULAR,
2013).
cas do que o grupo C (F(3, 25,5641) = 3,91, p < 0,05), o
A banha de porco não alterou o coeficiente de digrupo L menor peso de fezes secas que os grupos C e B
gestibilidade
nem o peso hepático de ratos (ALMEIDA
(F(3, 9,9352) = 3,77, p < 0,05) e o grupo L menor teor de
et
al.,
2009)
e
a linhaça não alterou o colesterol, HDL
umidade que o grupo C (F(3, 3,91535) = 3,31, p < 0,05)
e
triacilgliceróis
(ROSA et al., 2010). Entretanto, no es(Tabela 2).
tudo
de
Silva
(2013),
a banha aumentou a ingestão de
O tratamento com banha de porco não alterou
alimentos,
o
peso
corporal,
o depósito de gordura epiganho de peso, CEA, glicemia, triacilglicerol, colesterol
didimária,
a
leptina,
a
glicemia
e a insulina, sem modifie peso hepático, mas aumentou a lipase lipoproteica e
car
os
níveis
de
triacilgliceróis,
testosterona e peso dos
reduziu o HDL de ratos tratados por 28 dias (ALMEIDA
testículos
de
ratos.
et al., 2011).
Ratos Wistar recém-desmamados que receberam
óleo de linhaça e banha de porco aumentaram o peso
307
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Tabela 2: Bioquímica do soro, fezes e fígado de ratos tratados por 91 dias com banha de porco, gordura vegetal
hidrogenada e óleo de linhaça. Diamantina, 2014.
Soro
Colesterol
HDL
Glicemia
Triacilglicerol
Fezes
Lipídios
Colesterol
Triacilglicerol
pH
Frescas
Secas
Umidade
Fígado
Lipídios
Colesterol
Triacilglicerol
C
70,47±26,98
16,00±6,04
211,30±76,77
63,51±31,95
B
63,58±10,09
22,39±3,99
262,14±33,85
123,90±48,68
G
64,09±14,44
21,43±2,41
251,07±29,89
115,07±51,23
L
56,05±21,21
12,12±21,21
174,84±61,36
77,03±27,71
8,67±6,39
12,72±7,15
36,44±11,65
6,51±0,18
5,77±4,32
3,72±2,30
2,05±2,07
14,44±2,42
9,08±5,46
51,21±12,41
6,36±0,11
4,53±2,42
3,32±2,09
1,21±0,57
11,75±1,60
11,40±6,44
69,40±47,78
6,62±0,11
2,46±1,05
1,93±0,78
0,53±0,31
8,86±2,34
12,48±2,93
29,36±7,97
6,81±0,13
1,16±0,73
0,92±0,55
0,24±0,21
13,70±4,63
22,67±8,68
50,15±21,16
17,43±6,64
27,47±10,09
114,52±32,61
20,47±8,77
33,31±8,26
108,48±45,74
13,78±2,91
77,03±36,29
75,00±43,80
Conclusões
As diferentes fontes de lipídios alteraram de maneira diferente a fisiologia dos ratos; todas as fontes
aumentaram o ganho de peso, entretanto, a banha de
porco e a gordura vegetal hidrogenada promoveram
aumento nos níveis de HDL, crescimento corporal e ósseo e menores níveis de glicose e peso renal. E o óleo
de linhaça apresentou aumento no acúmulo de gorduras (abdominal, epididimal e visceral).
Faz-se necessário que se desenvolvam mais pesquisas a fim de melhor definir o nível médio de consumo de gorduras saturadas e insaturadas de acordo
com as funções que desempenham no organismo, pois
há divergências de opiniões baseadas em dados ainda
insuficientes para um maior respaldo sobre a ingestão
adequada desses tão importantes ácidos graxos.
Referências
ALMEIDA, M. E. F. et al. Lipídios séricos e morfologia hepática de ratos alimentados com diferentes fontes lipídicas
(óleo de soja, gordura de peixe e porco, margarina e manteiga). Rev. Nutr., v. 24, n. 1, p. 143-52, 2011.
ALMEIDA, M. E. F. et al. Perfil lipídico tecidual de ratos alimentados com diferentes fontes lipídicas. Rev. Nutr.,
v.22, n. 1, p. 51-60, 2009.
GUIMARÃES, R. C. A. et al. Sesame and flaxseed oil: nutritional quality effects on serum lipids and glucose in
rats. Food Sci. Technol., v. 33, n. 1, p. 209-17, 2013.
I DIRETRIZ SOBRE O CONSUME DE GORDURAS E SAÚDE CARDIOVASCULAR. Arq. Bras. Cardiol., v. 100, n. 1, supl. 3,
p. 1-40, 2013.
PRASAD K. Flaxseed and cardiovascular health. J Cardiovasc Pharmacol. v. 54, n. 5, p. 369-77, 2009.
ROSA, D. D. et al. Flaxseed, olive and fish oil influence plasmatic lipids, lymphocyte migration and morphometry
os the intestinal os Wistar rats. Acta Cirúrgica Brasileira, v. 25, n. 3, p. 275-80, 2010.
SILVA, P. C. Efeitos metabólicos e testicular da administração em longo prazo de diferentes dietas hiperlipídicas
em ratos adultos. 2013. 62 p. Dissertação. Mestrado em Fisiopatologia e Ciências Cirúrgicas. Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
308
Área - Ciências da Saúde
A IMPOR TÂNCIA DA DE TECÇ ÃO PRECOCE FRENTE AO
DESAFIO DO C ÂNCER DE MAMA
Lúcia Helena Rodrigues Costa
Renata Costa Miziara
Sílvia Aparecida Copati Loschi
Danúbya Cruz Carvalho
Isabela Rodrigues Costa
Edna de Freitas Gomes Ruas
[email protected]
Introdução
As doenças crônico-degenerativas como o câncer vêm se apresentando com altos índices de morbimortalidade na população brasileira. Atualmente, o
câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o mundo, tanto em países em
desenvolvimento quanto em países desenvolvidos
(INCA, 2014). No Brasil, a maior causa de morte entre
as mulheres é a neoplasia da mama e, mundialmente,
somente dá lugar ao câncer de pulmão. Desta maneira, tornou-se um problema de saúde pública, tendo em
vista que cada vez mais aumenta as taxas de mortalidade, diferentemente das medidas de controle e detecção precoce da doença, que não sofrem o mesmo
aumento (SILVA E RIUL, 2011)
As dificuldades encontradas na atenção primária
em orientar quanto aos fatores de risco e realização da
detecção precoce da doença contribuem significativamente para que as taxas de mortalidade por câncer
de mama no Brasil continuem altas e, consequentemente, seu diagnóstico e tratamento ocorram muitas
vezes em estágios avançados, fato este que comprova
o quão necessária é uma equipe da atenção primária
em saúde treinada e capacitada para melhor atender
as demandas populacionais acometidas pela doença,
especialmente nos programas de atenção primária à
saúde (MACHADO; PINHO; LEITE, 2009)
Diante desta perspectiva, estudos relatam que, no
Brasil, a estimativa para o ano de 2014, que também
será válida para o ano de 2015, aponta para 576 mil novos casos de câncer, e o câncer de mama será o terceiro
tipo mais incidente na população brasileira, dando lugar ao câncer de pele não melanoma e aos tumores de
próstata. Para o ano de 2014, são esperados no Brasil
57.120 casos novos de câncer de mama, com um risco
estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2014).
O Instituto Nacional do câncer (INCA) recomenda e propõe as seguintes estratégias para a detecção
precoce do CA de mama: Rastreamento por meio do
exame clínico de mama (ECM) para todas as mulheres
a partir dos 40 anos, anualmente; Mamografia (MMG)
para mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com no
máximo dois anos de intervalo; Exame clínico da mama
e mamografia anual, a partir dos 35 anos, para mulheres pertencentes ao grupo de risco (BRASIL,2009).
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2013), o controle dos fatores de risco seria uma forma
de prevenção. Uma maneira de controle do câncer de
mama é promover ações que orientem, de forma clara e consistente, quanto à importância de hábitos saudáveis, devendo esta ser uma iniciativa em especial na
atenção básica.
Nesse sentido, o estudo teve como objetivo delinear o perfil epidemiológico do câncer de mama em
mulheres atendidas em um serviço de referência. Os
objetivos específicos foram analisar o perfil sociodemográfico das mulheres acometidas pelo CA de mama
e correlacionar a detecção precoce da neoplasia da
mama com a remissão da doença ao final do primeiro
tratamento.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo epidemiológico, de caráter
descritivo, quantitativo e retrospectivo sobre a incidência do câncer de mama. Segundo Rodrigues e Ferreira
(2010, p.432), “Tais estudos avaliam a situação da população em um determinado momento, são de fácil rea-
lização e, em saúde pública, tornam-se linha de base
para planejamento em saúde”.
Os dados foram coletados em um hospital de médio porte, conhecido como referência macrorregional em tratamento oncológico, localizado na cidade
309
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
de Barbacena, no interior de Minas Gerais, a 170 km
da capital, com uma população de aproximadamente
130.000 habitantes.
O projeto foi aprovado pelos órgãos responsáveis pelo serviço no hospital de referência e passou
pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, através
da submissão na Plataforma Brasil, parecer número
453.797. A coleta de dados foi realizada no mês de janeiro de 2014, e o universo amostrado pela pesquisa
constitui-se de 247 fichas de registro de tumor de clientes cadastradas com CID: C50 – Câncer de Mama, no
período de 2008 a 2011.
A análise das fichas cadastrais faz-se importante,
pois fornece informações de extrema relevância sobre
a doença em determinadas populações, possibilitando
associar sua ocorrência com o perfil sociodemográfico,
além de informar sobre estadiamento da doença, tratamentos realizados, recidivas, etc. Das 54 variáveis encontradas nas fichas de registro de tumor, entraram no
critério de exclusão 43, pois não continham informação
suficiente ou não faziam parte do assunto tratado na
pesquisa, podendo interferir na análise dos dados.
Os dados foram analisados através do estudo de
variáveis que possibilitaram traçar o perfil epidemiológico dos casos de câncer de mama em mulheres registrados no período de 2008 a 2011. Após a coleta dos
dados necessários para o estudo, os resultados foram
lançados no programa planilhas de Excel® e tabulados.
Para a análise dos resultados, os dados coletados nesta
pesquisa foram confrontados com a literatura nacional
que trata do assunto e com os dados disponíveis sobre
o nível de ocorrência do CA de mama feminino em território nacional e estadual, disponíveis pelo Ministério
da Saúde.
As variáveis do estudo foram: procedência, origem
do encaminhamento, idade, raça/cor, escolaridade,
estado conjugal atual, lateralidade do tumor, estadiamento do tumor, diagnóstico e tratamento anteriores,
primeiro tratamento recebido no hospital e estado da
doença ao final do 1° tratamento no hospital.
Resultados e Discussão
Neste estudo foram analisadas 247 fichas de registro de tumor de clientes cadastradas com CID: C50 no
período de 2008 a 2011. Quanto ao perfil sociodemográfico das mulheres acometidas pelo CA de mama, foram explicitados idade, raça/ cor, escolaridade, procedência e estado civil (Tabela 1).
Em se tratando da idade, a faixa etária predominante dos casos foi entre 50 a 71 anos de idade (71
casos, 29%). Estudo coloca que idade avançada, história familiar (mulheres que apresentam mutação nos
genes BRCA1 e BRCA2), especialmente se um ou mais
parentes de primeiro grau foram acometidas antes dos
50 anos, características reprodutivas e hábitos de vida
podem ser considerados os principais fatores de risco
para adquirir esta patologia (SILVA E RIUL, 2011).
A raça branca foi a mais acometida, 184 (74,4%). A
maioria das mulheres procedeu do meio urbano, 153
(62%). Também pode ser relacionado com o câncer de
mama o processo de urbanização da sociedade, evi-
310
denciando maior risco da doença em mulheres com
um elevado nível socioeconômico, ao contrário do câncer do colo do útero (BRASIL, 2014). A maioria das mulheres eram casadas, 111 (45%), e 125 (51%) foram atendidas pelo SUS.
Grande parte dessas mulheres chegou ao serviço sem diagnóstico e sem tratamento anteriores, 139
(56%). A detecção precoce significa diagnosticar a
anormalidade clínica em primeira instância, pois identificar a doença precocemente é fundamental para minimizar os agravos relacionados à mama (BRASIL, 2011).
Quanto ao tratamento, a maior parte das mulheres, 56 (63,21%), recebeu tratamento combinado que
incluiu cirurgia, quimioterapia, dentre outros. Das 247
mulheres analisadas pelo estudo, 88 (36%) tiveram remissão completa da doença ao final do primeiro tratamento, enquanto 20 (8%) foram a óbito.
As variáveis sociodemográficas estão descritas na
tabela 1.
Área - Ciências da Saúde
TABELA 1 – Caracterização das participantes do estudo quanto aos dados sociodemográficos. Barbacena-MG, 2014.
Variáveis
Faixa etária
20 a 29 anos
30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 59 anos
60 a 69 anos
70 a 79 anos
80 a 89 anos
90 a 99 anos
Raça/cor
Branca
Preta
Parda
Amarela
Sem informação
Escolaridade
Nenhuma
Fundamental incompleto
Fundamental completo
Nível médio
Nível superior completo
Superior incompleto
Sem informação
Procedência
Barbacena
Demais regiões
Estado civil
Solteiro
Casado
Viúvo
Separado judicialmente
Sem informação
Frequência
Porcentagem(%)
02
19
57
71
52
28
15
03
0,8
7,7
23
29
21
11,3
6
1,2
184
19
31
01
12
74,4
7,7
12,5
0,4
5
21
65
37
25
17
01
81
8,5
26,3
15
10
6,8
0,4
33
153
94
62
38
54
111
65
16
01
21,9
45
26,3
6,4
0,4
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa
Conclusão
Salientamos que o presente estudo apresenta dados parciais de análise, embora seja possível fazer algumas inferências preliminares dos dados obtidos com
a importância da detecção precoce pelos serviços de
atenção primária em saúde. Países europeus têm apresentado resultados de diminuição da mortalidade por
câncer em mulheres depois de efetivo rastreamento a
partir dos 50 anos de idade. Neste estudo, observamos
que mais de 50% das mulheres chegaram ao serviço de
oncologia sem um diagnóstico prévio, e houve concentração do número dos casos ente 50 e 70 anos. Esses
resultados apontam na direção de que o rastreamento
do câncer de mama proposto pelo INCA para estados
e municípios não está sendo colocado em prática em
plenitude pelos serviços de atenção primária em saúde. Nesse sentido, os serviços de saúde precisam treinar profissionais da atenção primária para sensibilizá-los sobre a importância do controle dos fatores de
risco. E, fundamentalmente, é preciso criar estratégias
que facilitem o acesso aos serviços do SUS a todas as
mulheres, para garantir a efetividade do rastreamento
para a detecção precoce do CA de mama.
311
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Referências
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. INCA. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2014: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro:
INCA, 2014. 124 p. Disponível em:< http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24042014.pdf>. Acesso em:
10 maio 2014.
MACHADO, F. S.; PINHO, I. G.; LEITE, C. V. A Prevenção Do Câncer De Mama Pela Atenção Primária Sob A Ótica De
Mulheres Com Esta Patologia. Revista Enfermagem Integrada, Ipatinga, v. 2, n. 2, p. 271-283, nov./ dez. 2009.
Disponível em:< http://www.unilestemg.br/enfermagemintegrada/artigo/v2_2/Iani_Flavia_e_Celina.pdf> Acesso
em: 30 de maio 2013
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. 1. ed. 2. reimp. Brasília: Editora
do Ministério da Saúde, 2011. 48 p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_mulher_principios_diretrizes.pdf>. Acesso em: 03 set. 2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Controle dos cânceres
do colo do útero e da mama. 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 122 p. Disponível em: < http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/controle_canceres_colo_utero_2013.pdf>. Acesso em: 03 set. 2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional do Câncer. Parâmetros técnicos para rastreamento do Câncer de
Mama: recomendações para gestores estaduais e municipais. Rio de janeiro: 2009.
RODRIGUES, J. S. M.; FERREIRA, N. M. L. A. Caracterização do Perfil Epidemiológico do Câncer em uma Cidade do
Interior Paulista: conhecer para Intervir. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 56, n. 4, p. 431-441, 2010. Disponível em:< http://www.inca.gov.br/rbc/n_56/v04/pdf/05_artigo_caracterizacao_perfil_epidemiologico_cancer_cidade_interior_paulista_conhecer_para_intervir.pdf> Acesso em: 27 mar. 2013.
SILVA, P. A.; RIUL, S. S. Câncer de mama: fatores de risco e detecção precoce. Rev. Bras. Enferm, Brasília, v. 64, n. 6,
p. 1016-1021, nov. / dez. 2011. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n6/v64n6a05.pdf>. Acesso em:
27 ago. 2013.
312
Área - Ciências da Saúde
A INFLUÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE E DA
RELIGIOSIDADE NO TR ATAMENTO ONCOLÓGICO: A
PERCEPÇ ÃO DA PESSOA COM C ÂNCER
Pollyane Teixeira Rocha
Orlene Veloso Dias
[email protected]
Introdução
O termo câncer (neoplasias malignas) é empregado
para indicar um grupo de doenças que se caracterizam
pela perda do controle da divisão celular e pela habilidade de invadir outras estruturas orgânicas. O câncer pode
acometer pessoas de todas as idades, contudo há associação entre envelhecimento e pluralidade dos tipos de
câncer (BRASIL, 2010).
O diagnóstico de câncer e todo o processo de tratamento têm considerável impacto no funcionamento físico, na saúde mental e no bem-estar do paciente.
Acarreta ruptura na qualidade de vida, angústias, ansiedades, medos, frustrações e sensações de isolamento.
Nessas situações de dor e sofrimento, muitos clientes
procuram significados e explicações que vão muito
além das percepções do aqui e agora, da dimensão terrena de entender o que se passa. O envolvimento religioso e espiritual tem sido afiliado de forma positiva ao
enfrentamento do paciente à doença crônica, na medida em que possibilita menos sintomas depressivos,
maior adesão ao tratamento, diminuição do estresse
e maior qualidade de vida. Estudos apontam que é comum o uso das crenças religiosas por parte do paciente
para suportar as doenças (COSTA, 2010).
O fenômeno religioso cumpre papel de facilitador
para as pessoas sobre a compreensão do inexplicável
e a aceitação do que nunca fora imaginado, em caso
de situações-limite, como no caso do câncer. A doença leva o ser humano a deparar-se com seus valores e
com questões como a existência e a proximidade da
morte. De forma positiva, a religiosidade está associada a estratégias de enfrentamento ativo, planejamento,
reinterpretação positiva e suporte social instrumental e
emocional. Assim, constitui-se como uma estratégia de
enfrentamento importante diante de situações consi-
deradas difíceis, como é o caso do diagnóstico do câncer, que produz um forte impacto na vida do indivíduo
e cujo tratamento é permeado de eventos estressores
(FORNAZARI; FERREIRA, 2010).
Religiosidade e espiritualidade, apesar de se associarem, não coincidem. A religiosidade abrange um sistema de crenças e doutrinas que é compartilhado por
um grupo e tem atributos comportamentais, sociais e
morais próprios. A espiritualidade pauta com a construção do significado da vida pelo sujeito. É, portanto, individual e parte da concepção de que há mais na vida do
que aquilo que pode ser visto ou plenamente entendido
(COSTA, 2010).
A religiosidade e a espiritualidade têm sido identificadas como possíveis fatores de prevenção ao desenvolvimento do impacto negativo de doenças e eventual
redução de óbitos. Um estudo concluiu que a prática
regular de atividades religiosas pode reduzir o risco de
óbito em cerca de 30%. É necessário considerar a dimensão espiritual do paciente, para abordar a esperança e
o enfrentamento da doença no planejamento da assistência, e, para isso, é fundamental conhecer a visão de
mundo e a cultura à qual ele pertence (GUIMARÃES;
AVEZUM, 2007; GUERRERO; et al., 2011).
Nesse contexto, verifica-se a importância de se
analisar a temática apresentada, levando em questão a
seguinte questão norteadora: Qual a interface entre espiritualidade e religiosidade no processo de recuperação e
enfrentamento da neoplasia sob a ótica do portador?
Assim, o objetivo deste trabalho é descrever a influência que a religiosidade e a espiritualidade têm no
processo de enfretamento e recuperação, na percepção
dos pacientes oncológicos, de uma instituição hospitalar
situada em Montes Claros - MG.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo de campo de caráter
qualitativo descritivo, que foi desenvolvido com
seis indivíduos com neoplasia submetidos a alguma
modalidade de tratamento para o câncer. A meto-
dologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a
complexidade do comportamento humano. Fornece
análise mais detalhada sobre investigações, hábi313
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
tos, atitudes e tendências de comportamento. Essa
abordagem tem como fundamento teórico, além
de permitir desvelar processos sociais ainda pouco
conhecidos referentes a grupos particulares, propiciar a construção de novas abordagens, a revisão e
criação de novos conceitos e categorias durante a
investigação (MINAYO, 2008).
As pesquisas descritivas têm como objetivo a
descrição das características de determinada população, podendo ser elaboradas também com a
finalidade de identificar possíveis relações entre
variáveis. Algumas pesquisas descritivas vão além
da simples identificação da existência de relações
entre variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa relação. Nesse caso, tem-se uma pesquisa
descritiva que se aproxima da explicativa (GIL, 2010).
O estudo foi realizado em uma instituição de
atenção hospitalar localizada no município de Montes Claros – MG, referência no tratamento do câncer. Atualmente são 117 leitos instalados, sendo que
77,6% são destinados ao Sistema Único de Saúde.
Na instituição, são oferecidos serviços de oncologia
clínica, oncologia infantil, hematologia, equipe de
cirurgia oncológica, quimioterapia e radioterapia,
além de serviços de alta complexidade nas mais variadas especializações médicas, tais como: Unidade
de Assistência de Alta Complexidade em Nefrologia
e Unidade de Terapia Intensiva Adulto, credenciadas como tipo II pelo Ministério da Saúde; Unidade
de Assistência de Alta Complexidade em Cardiovascular, Vascular e Procedimentos da Cardiologia
Intervencionista; Unidade de Assistência de Alta
Complexidade em Terapia Nutricional e Oncologia
(UNACON I), composta dos serviços de Quimioterapia, Radioterapia, Cirurgia Oncológica e Hematologia. Mais recentemente, foi credenciada pelo Ministério da Saúde para realizar procedimentos de Alta
Complexidade em Implante Coclear.
O trabalho teve como instrumento entrevistas
semiestruturadas, que foram realizadas no período
de 01 a 08 de abril. A coleta de dados foi realizada
após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIMONTES, n°
435.899, e assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido para participação em pesquisa e
também do Termo de Concordância da Instituição
para participação em pesquisa. Os dados levantados através das entrevistas foram avaliados e discutidos de acordo com os procedimentos de Análise Categorial Temática de Conteúdo, proposta por
Bardin (1977). Já quanto à discussão dos resultados,
esta foi realizada com base na revisão da literatura
e dos critérios previamente determinados cientificamente.
Utilizou-se parte do trabalho, pois este está em
fase de construção, assim, aqui serão apresentados
resultados parciais da pesquisa, expondo uma categoria de análise.
Resultados e Discussão
A partir dos relatos obtidos pelas entrevistas, foi
observado o valor dado pelos entrevistados ao se referirem à esperança de possibilidade de cura frente
ao diagnóstico recebido, a nova luta que estão vivenciando baseados na força da religião e espiritualidade que possuem nesse enfrentamento.
Enfrentamento após o diagnóstico de câncer
Ao indagar os entrevistados a respeito do enfrentamento, como que cada um se preparou emocional
e psicologicamente para enfrentar, a partir do dia do
diagnóstico, aquela nova situação, todos eles tiveram
como ponto base de adaptação de vida a fé, Deus, a religião e o pensamento positivo:
E2- “Em Jesus, (hahaha- risos). Porque Jesus é força, para enfrentar com a fé muitos dias de minha vida”.
E3- “Baseio plenamente em Deus porque ele é os
médicos dos médicos, eu to aqui pela força dele, e isso
que to passando é uma provação para fortalecer ainda
mais, mais sei que ele vai me curar”.
E4-“ Baseio na fé, creio em Jesus em Nossa Senhora, eu vejo o programa Novena do Pepeto Socorro,
Novena do Pai Eterno, to rezando para isso, tomando
água benta e pedindo a Nossa Senhora e a Jesus Cristo
e ao Pai Eterno para mim ajudar.”
E5- “Ai eu tive fé sabe! Acreditei em Deus também,
314
porque quando a gente fica desse jeito todo mundo
fica preocupado. Além disso, eu tenho uma irmã que
mora lá em Brasília, e ela me disse para não ficar preocupada que ela também teve essa doença, se tratou e
está bem agora, que é só ter fé que tudo vai dar certo”.
Nessas situações de dor e sofrimento, muitos
clientes procuram significados e explicações que
vão muito além das percepções do aqui e agora, da
dimensão terrena de entender o que se passa. O envolvimento religioso e espiritual tem sido afiliado
de forma positiva ao enfrentamento do paciente à
doença crônica, na medida em que possibilita menos sintomas depressivos, maior adesão ao tratamento, diminuição do estresse e maior qualidade de
vida (COSTA, 2010).
O fenômeno religioso cumpre papel de facilitador para as pessoas sobre a compreensão do inexplicável e a aceitação do que nunca fora imaginado, em
caso de situações-limite, como no caso do câncer.
A doença leva o ser humano a deparar-se com seus
valores e com questões como a existência e a proximidade da morte. De forma positiva, a religiosidade
está associada a estratégias de enfrentamento ativo,
planejamento, reinterpretação positiva e suporte
social instrumental e emocional. Assim, constitui-se
Área - Ciências da Saúde
como uma estratégia de enfrentamento importante
diante de situações consideradas difíceis, como é o
caso do diagnóstico do câncer, que produz um forte impacto na vida do indivíduo e cujo tratamento é
permeado de eventos estressores (FORNAZARI; FERREIRA, 2010).
A religião e a espiritualidade constituem um importante apoio no enfrentamento da doença e na
manutenção e recuperação da saúde, uma vez que a
fé e a esperança podem ajudar a aliviar a dor e o sofrimento causados pela presença da doença em seu
cotidiano, além de representar esperança em relação
à cura (CORREIA, 2006).
As pessoas religiosas podem encontrar certo significado em situações ameaçadoras de vida e
até em situações com resultados fatais prováveis. A
religiosidade e a espiritualidade sempre foram consideradas importantes aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes. Os possíveis benefícios da
espiritualidade sobre a saúde podem estar associados desde as reações fisiológicas mais simples-redução da tensão muscular, da frequência cardíaca e
da pressão arterial - até o controle da dor e do sofrimento, com diminuição das reações ao estresse,
levando a um maior equilíbrio das respostas imunologicamente moduladas. Isso pode ser devido, em
parte, ao fato de que as atitudes de fé e esperança
implicam um acordo de controle interno e, na sequência, um caminho ético que envolve a realização,
cujo significado pode conduzir a uma melhoria de
autoestima e um senso de conexão com o próprio e
outros (FLECK, et al.,2003; FILHO, 2007).
Considerações Finais
Com este estudo, apesar de estar analisando resultados parciais de uma categoria, é possível compreender os significados de espiritualidade e religiosidade no enfrentamento do câncer, a visão do
indivíduo frente a uma temática tão subjetiva e ampla para o mesmo, considerando que esse se mostra
em um posicionamento afirmativo na possibilidade
de bons resultados acerca do tratamento.
Os resultados demonstraram que a espiritualidade pode ser uma forma de estratégia de enfrentamento do paciente perante o câncer, considerando
que o próprio paciente poderá atribuir significado
ao processo saúde-doença, em busca da sobrevivência e com apego à fé, para minimizar o seu sofrimento ou obter maior esperança de cura durante o tra-
tamento, enfrentamentos estes adquiridos na vida
social.
A importância do reconhecimento da espiritualidade como estratégia de enfrentamento e a identificação das carências espirituais do paciente fazem
com que os profissionais possam planejar e fornecer
uma assistência da forma mais integral possível.
O presente estudo envolve um número pequeno de pacientes oncológicos e, de maneira alguma,
esta é uma compreensão definitiva sobre a relação
espiritualidade e câncer, pois a realidade sociocultural é dinâmica e multidimensional, o que nos restringe a abordá-la sempre parcialmente e de modo
superável no espaço e no tempo.
Referências
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316
Área - Ciências da Saúde
DE TERMINAÇ ÃO DA PRESENÇ A DE HELICOBAC TER
PYLORI EM C ÂNCER GÁSTRICO
Thaisa Crespo
Lorenna Rabelo Oliveira Leal
Juliana Antunes Alves
João Marcus Oliveira Andrade
Alanna Fernandes Paraíso
Antônio Sérgio Barcala Jorge
Sérgio Henrique Sousa Santos
[email protected]
Introdução
O câncer de estômago refere-se a qualquer neoplasia maligna que surja entre a região que se estende
da junção gastroesofágica ao piloro, sendo que cerca
de 95% são de origem epitelial e designados de adenocarcinomas, enquanto os adenoescamosos, carcinomas
escamosos e não diferenciados são, raros (SARBIA; BECKER; HOFLER, 2004).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o sistema de classificação de Lauren descrevem dois tipos
histológicos de câncer gástrico, que são clínica e epidemiologicamente distintos: intestinal e difuso (NAGINI, 2012). O câncer de estômago do tipo intestinal revela a presença de metaplasia, que substitui o epitélio
gástrico por elementos histológicos que reproduzem
o epitélio duodenal, e é caracterizado pela presença
de células neoplásicas coesas que formam estruturas
tubulares e uma massa discreta, ao passo que, no tipo
difuso, as células cancerosas infiltram-se difusamente
na parede do estômago (HOWSON; HIYAMA; WYNDER,
1986). Assim, o tipo intestinal apresenta uma estrutura
globular definida, às vezes com papila ou componentes sólidos, enquanto o tipo difuso é composto por
células separadas ou pequenos agrupamentos de células com secreção mucinosa distribuída por todo o
citoplasma das células ou, se extracelular, dispersa no
estroma (AMOROSI et al., 1988).
O tipo intestinal é mais comum no sexo masculino, em negros em grupos etários mais velhos, enquanto o tipo difuso tem uma relação homem-mulher
semelhante e é mais frequente em indivíduos mais jovens (LAUREN, 1965). Seu pico de incidência ocorre em
homens, por volta dos 70 anos, porém, cerca de 65%
dos pacientes diagnosticados com câncer de estômago têm mais de 50 anos. No Brasil, esses tumores aparecem em terceiro lugar na incidência entre homens e
em quinto, entre as mulheres. Alta mortalidade é registrada atualmente na América Latina, principalmente na
Costa Rica, no Chile e na Colômbia. Porém, o maior nú-
mero de casos ocorre no Japão, onde são encontrados
780 doentes por 100.000 habitantes. A estimativa de
novos casos no ano de 2012 foi de 20.090, sendo 12.670
homens e 7.420 mulheres. O número de mortes no ano
de 2020 corresponderá a, aproximadamente, 22.035,
sendo 8.633 homens e 13.402 mulheres (INCA, 2011).
Apesar da etiologia multifatorial, mais de 80% dos casos são atribuídos a infecção por Helicobacter pylori
(HP), que infecta cerca de 50% da população mundial.
Outros fatores, como dieta, estilo de vida, genética, socioeconômicos e outros, podem contribuir para a carcinogênese gástrica (NAGINI, 2012).
O Helicobacter pylori é uma bactéria de forma espiral, Gram-negativa, microaerófila, que desempenha
um papel importante na patogênese da gastrite crônica, da úlcera péptica e, com evidências a partir de dados recentes, do câncer gástrico (BLASER; PARSONNET,
1994). Sua distribuição mundial, a alta prevalência e a
importância de patologias associadas fazem da eliminação do H. pylori uma maneira bastante útil para controlar e tratar estas doenças gastrointestinais, já que
sua erradicação resulta em redução comprovada no
índice de recorrência de úlceras duodenais e gástricas
(HENTSCHEL et al., 1993).
O desenvolvimento de carcinoma gástrico invasivo envolve uma evolução progressiva a partir de lesões
pré-cancerosas. A OMS classificou HP como agente carcinogênico do grupo I para a ocorrência de neoplasias
gástricas. Essa bactéria secreta vários produtos que
causam danos à mucosa gástrica, como urease, protease, fosfolipase, amônia e acetaldeído, desorganizando
a função de barreira gástrica via urease mediada pela
ativação da miosina II (WROBLEWSKI et al., 2009), o que
promove a progressão sequencial do epitélio gástrico
normal para gastrite atrófica, metaplasia intestinal e
displasia para carcinoma (KIM; RUIZ; CARROLL; MOSS,
2011). A sequência metaplasia / displasia / carcinoma é
mais relevante para o câncer gástrico do tipo intestinal,
317
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
que se desenvolve através de uma série de alterações
genéticas cumulativas semelhantes aos do câncer colorretal (CORREA; PIAZUELO, 2012).
A cirurgia ainda é o único procedimento capaz de
curar esse tipo de doença, sendo a gastrectomia total
reconhecida como padrão-ouro no tratamento da neoplasia gástrica localizada no terço proximal do estômago
(MACHI; TAKEDA; KAKEGAWA; COELHO, 2006) e a gastrectomia subtotal sendo utilizada para tratamento das lesões
localizadas nos terços médio e distal. Nesse procedimento, deve-se respeitar margem de segurança de cinco a
seis centímetros nos casos de neoplasia avançada e de
dois nos de neoplasia precoce (MACHI et al., 2006; BOZ-
ZETTI et al., 1999; FREITAS; DIAS; OKAWA; COELHO, 2008).
A demonstração direta de HP em amostras de
biópsia gástrica é possível através da utilização de cultura, exame histológico com várias colorações e ensaios para a atividade da urease. Recentemente, os ensaios com base em tecnologia de PCR foram utilizados
para detectar a presença de HP DNA usando vários genes alvos (LAGE et al., 1995).
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar,
em amostras histológicas a correlação de análise de HP
por meio da técnica de PCR e de histologia em pacientes portadores de câncer gástrico que se submeteram
a tratamento cirúrgico.
Materiais e Métodos
Estudo descritivo e transversal, realizado através
da análise de 39 casos de pacientes de ambos os sexos, na faixa etária de 40 a 81 anos, com câncer gástrico
diagnosticado, tratados cirurgicamente e cujas peças
anatomopatológicas foram enviadas ao Departamento
de Patologia da Fundação Dilson Godinho, no período
de 2003 a 2011. Posteriormente, cortes histológicos
do material fixado em formalina, incluído em parafina, foram acondicionados no Laboratório de Pesquisa
em Saúde do Hospital Universitário Clemente de Faria
da Universidade Estadual de Montes Claros – MG (Unimontes) para realização da PCR. As informações clínicas foram obtidas nos prontuários médicos destes pacientes.
Realizaram-se cortes histológicos de 10μm, corados por hematoxilina-eosina e posteriormente submetidos a exame histopatológico para caracterização de
tipo histológico e estadiamento das neoplasias, com
posterior extração do DNA genômico dos tumores e
respectivos tecidos normais de cada paciente.
A pesquisa de HP foi feita pelo exame histológico,
na mucosa gástrica adjacente à neoplasia, em cortes
corados pelo método de Giemsa, com caracterização
dos genótipos feita por PCR revelada no gel de acrilamida a 10%, com modelo do primer 342 pares de base.
Todas as informações coletadas foram codificadas,
digitadas e processadas no programa SPSS versão 19.0.
Em todas as etapas da coleta de dados, foram
assegurados o sigilo e a confidencialidade das informações por envolver pesquisa com seres humanos.
O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes): Parecer CONEP – BIOBANCO
nº. 008/2013 / Registro CONEP B-013 / Processo nº
25000.001815/2013-60, obtendo parecer favorável para
sua execução e respeitando os parâmetros contidos na
resolução nº196/096 do Conselho Nacional de Saúde/
Ministério da Saúde, que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos.
Resultados e Discussão
Este estudo descreve a análise da presença de DNA
do HP por PCR na mucosa gástrica de 39 pacientes com
câncer gástrico. A investigação foi retrospectiva, em
amostras de tecido fixado em formalina e incluído em
parafina. O exame patológico foi revisto em todos os casos, a fim de determinar a presença de infecção pelo HP,
a metaplasia intestinal e a confirmação do tipo histológico (classificação de Lauren) por hematoxilina-eosina.
Dos 39 pacientes elegíveis para o estudo, 28
(74,4%) eram do sexo masculino e 11 (25,6%) do sexo
feminino, com idade média de 61,4, variando de 40 a
84 anos. Quanto ao tipo histológico encontrado, 16
(41,0%) foram do tipo intestinal, 11 (28,2%) difuso e 12
(30,8%) misto. Em relação à abordagem cirúrgica, 26
(66,7%) foram submetidos à gastrectomia total e 13
(33,3%) à gastrectomia subtotal. Sete pacientes (17,9%)
318
tiveram seus tumores localizados no terço proximal; 9
(23%), no terço médio; 20 (51,3%), no terço distal do estômago; 3 (7,7%) não foi especificado local de acometimento.
A presença de infecção pelo HP foi determinada
por visualização direta da bactéria na mucosa normal
adjacente de câncer gástrico. A análise histológica permitiu a visualização direta da bactéria em 5,1% dos casos, e, pela PCR, para o gene urease C, demonstrou -se
a presença de DNA da bactéria em 69,2% dos casos. A
análise pelo método de PCR demonstrou a presença da
bactéria em 27 (69,2%) casos. Doze pacientes tiveram o
exame PCR negativo, dentre os quais apenas 01 (8,3%)
apresentou histologia positiva para HP.
Área - Ciências da Saúde
Tabela 1 - Características demográficas e patológicas dos 39 casos de câncer gástrico.
Variável
Gênero
Local
Tipo histológico
Categoria
Masculino
Feminino
Antro
Corpo
Piloro
Fundo
Não especificado
Intestinal
Misto
Difuso
Total
A proporção entre homens (29 – 74,4%) e mulheres (10 – 25,6%) foi condizente com a literatura, que
indica uma maior proporção de homens em relação às
mulheres, com variações de 1,8 a 2,56 (BANI-HANI et al.,
2004; WU et al., 1997). A média de idade encontrada,
61,4 anos, é corroborada por outros estudos, que mostram o aumento da incidência em idade mais avançada, com média de idade de 61,2 anos. Os pacientes
com menos de 40 anos representam 8,5% do total (BANI-HANI et al., 2004).
Considerando os tipos intestinal e difuso, o primeiro apresentou o número de 16 (59,3%) pacientes,
enquanto o segundo, 11 (40,7%) pacientes. Foram encontrados na literatura dados semelhantes: o intestinal
53,3%, enquanto o difuso representa 46,7% dos casos
(HUSCHER et al., 2005).
O método histológico adiciona dados sobre a mucosa gástrica, como grau de inflamação, atividade inflamatória, atrofia, identificação de metaplasia intestinal e outras informações úteis no cuidado ao paciente,
porém é um método no qual a acurácia na identificação da bactéria sofre influências devido à dependência
Nº casos (%)
29
10
16
09
04
07
03
16
12
11
39
74,4
25,6
41,0
23,1
10,3
17,9
7,7
41,0
30,8
28,2
100%
do número de fragmentos de biópsias (KHULUSI et al.,
1995). Apesar do baixo custo e da eficiência, a visualização direta ao microscópio apresenta menor sensibilidade quando comparada a outros métodos.
Já a PCR, apesar do custo, apresenta maior sensibilidade, visto que identificou a presença do HP em 26
(66,7%) amostras que haviam sido negativas ao exame
histológico. A molécula de DNA é quimicamente estável e pode sobreviver no ambiente por períodos longos (DATTA et al., 2005), de forma que PCR pode ser útil
em detectar a presença de HP, mesmo com quantidades muito pequenas de DNA ou quando o organismo
se encontra num estado não cultivável.
Já o teste da urease é empregado para se detectar,
indiretamente, a presença de HP no estômago de pacientes submetidos à endoscopia digestiva, porém pode advir
a incerteza do local mais adequado para se coletar material para o teste (TENÓRIO; MELO JUNIOR, 2010).
Esses resultados destacam a alta prevalência de
infecção por HP no estômago de pacientes com câncer
gástrico e confirmam a relevância da bactéria na patogênese do câncer gástrico.
Conclusões
O estudo mostrou dados epidemiológicos similares aos encontrados na literatura. Destaca-se a alta
prevalência de infecção por Helicobacter pylori no estômago de pacientes com câncer gástrico na região
norte de Minas Gerais, reforçando a participação dessa
bactéria na cadeia de eventos da oncogênese gástrica.
Mostrou-se que a presença da infecção por Heli-
cobacter pylori avaliada por PCR possui maior sensibilidade em comparação à análise histológica, e a PCR,
apesar dos custos, apresenta grande sensibilidade, especificidade e rapidez na obtenção de resultados. Espera-se, portanto, que a PCR seja incluída como método diagnóstico de doenças infecciosas e consequente
prevenção de neoplasias a elas associadas.
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320
Área - Ciências da Saúde
CONHECIMENTO DOS FATORES DE RISCO E
DE TECÇ ÃO PRECOCE DO C ÂNCER DE MAMA ENTRE
USUÁRIAS DA ES TR ATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Patrícia de Sousa Fernandes
Thatiane Lopes Oliveira
Ariane Gonçalves Oliveira
Karine Alencar Froes
Nágila Meneses Carvalho de Miranda
[email protected]
Introdução
O câncer de mama atualmente é um dos principais problemas de saúde pública por sua magnitude,
não só no Brasil, mas em todo o mundo (LINARD et al.,
2008). Batiston et al. (2011), em seus estudos, verificaram que os fatores de risco para o câncer de mama
são pouco conhecidos pelas mulheres, bem como
pouco estudados pelos pesquisadores. Dessa forma,
averiguar o conhecimento das mulheres sobre os fatores de risco, principalmente aqueles relacionados
ao estilo de vida, é importante para implementar políticas públicas voltadas para a prevenção primária e,
consequentemente, minimizar a incidência da doença
na população feminina.
Borges et al. (2010) revelam que as dificuldades
na prevenção primária contribuem para o aumento
da incidência e mortalidade por câncer de mama. De
acordo com Linard et al. (2008), esse tipo de neoplasia
denuncia a vulnerabilidade da atenção primária à saú-
de da mulher no que se refere ao controle dos fatores
de risco, assim como os procedimentos a serem implementados ante à instalação da referida doença.
Atualmente, existe consenso na literatura científica de que uma das medidas mais efetivas para reduzir
a mortalidade do câncer de mama é a prevenção secundária. A detecção precoce e o diagnóstico em estágios iniciais melhoram o prognóstico da enfermidade
(GONZÁLEZ-ROBLEDO et al., 2010). Portanto, é relevante detectar se as mulheres assistidas pela rede de atenção básica do SUS possuem informações relativas à
prevenção secundária do câncer de mama, bem como
acesso ao exame de mamografia.
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi averiguar o conhecimento das usuárias cadastradas em uma
equipe da Estratégia Saúde da Família de Januária –
MG sobre fatores de risco e medidas de detecção precoce do câncer de mama.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo transversal tipo descritivo,
com abordagem quantitativa. A amostra foi composta
por usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), devidamente cadastradas em uma unidade de ESF da zona
urbana do município de Januária. Como critério de inclusão na amostra, as usuárias deveriam possuir uma
faixa etária entre 40 e 69 anos de idade, uma vez que
compreende os intervalos de idade de maior incidência do câncer de mama na população feminina, conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Foi considerado nível de confiança de 95% e um erro amostral de
5%. Foram acrescidos 10% à amostra, para substituição
de possíveis perdas.
O instrumento utilizado foi um questionário estruturado utilizado na pesquisa de Batiston et al. (2011),
que objetivou avaliar o conhecimento e a prática sobre
os fatores de risco para o câncer de mama entre usuárias da Estratégia de Saúde da Família do município de
Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul.
Os dados foram tabulados e processados em banco de dados eletrônico no programa Microsoft® Excel
97 (Sistema Operacional Windows98, Microsoft Corporation, Inc.).
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE), sob o parecer nº 152.889.
321
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Resultados e Discussão
Em relação às características sociodemográficas, a
maioria das entrevistadas possuíam idade entre 50 a 69
anos de idade (64%), eram de cor parda (69%), casadas
(59%) e alfabetizadas (89%).
Sobre o conhecimento dos fatores de risco para
o câncer de mama, 71% (n=78) das mulheres disseram
não os conhecer (Gráfico 01).
A despeito da grande quantidade de pesquisas já
conduzidas sobre a doença, a etiologia do câncer de
mama ainda não está totalmente esclarecida, sendo
a mesma atribuída a uma interação de fatores que, de
certa forma, são considerados determinantes no desenvolvimento da doença (PINHO e COUTINHO, 2007).
Pinho e Coutinho (2005) afirmam ainda que, por
ser uma doença com uma base multifatorial, o conhecimento dos fatores de risco, especialmente os hábitos
que podem ser alterados, é importante na redução do
número de casos. É recomendado que alguns fatores
de risco, especialmente a obesidade e o tabagismo,
sejam alvo de ações visando à promoção à saúde e à
prevenção das doenças crônicas não transmissíveis,
em geral (INCA, 2004). Sobre isso, Matos et al. (2010)
afirmam que, em termos científicos, não há estratégias específicas que permitam a prevenção primária
do câncer de mama, embora sua incidência possa ser
diminuída através de ações voltadas para a promoção
da saúde, enfatizando a atenção aos fatores de risco,
incluindo obesidade e tabagismo.
Gráfico 1 – Conhecimento sobre os fatores de risco relacionados ao câncer de mama
Embora cerca de 49% (n=54) das entrevistadas
tenham dito que as suas mamas foram avaliadas de 01
até 03 vezes nos últimos 03 anos por um profissional
na ESF, um número significativo de mulheres (n=45)
afirmaram que, no mesmo período, as suas mamas não
foram examinadas por nenhum profissional (Gráfico
02). Borges et al. (2010) revelam que as dificuldades na
prevenção primária contribuem para o aumento da incidência e mortalidade por câncer de mama.
Em seus estudos, Jacome et al. (2011) observaram
uma valorização da prática do exame clínico das mamas por parte dos médicos e enfermeiros na abordagem de mulheres jovens assintomáticas e sintomáticas,
pertencentes ou não a grupo de risco para o câncer
de mama. Fato realmente importante, uma vez que alguns estudos científicos mostram que 5% dos cânceres
da mama são detectados através do exame clínico das
mamas em pacientes com mamografia negativa, benigna ou provavelmente benigna (BRASIL, 2006).
Gráfico 2 – Frequência de mulheres nas quais foi realizado exame das mamas por um profissional de saúde da
equipe da Estratégia Saúde da Família nos últimos 3 anos
322
Área - Ciências da Saúde
De acordo com Linard et al. (2008), esse tipo de
neoplasia denuncia a vulnerabilidade da atenção primária à saúde da mulher no que se refere ao controle
dos fatores de risco, assim como os procedimentos a
serem implementados ante à instalação da referida
doença. Portanto, a recomendação do INCA (2004)
para o rastreamento do câncer de mama inclui exame
das mamas anual para mulheres a partir dos 40 anos e
realização de mamografia pelo menos a cada dois anos
entre 50 e 69 anos; para mulheres pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver
câncer de mama, exame clínico e mamografia anuais a
partir dos 35 anos.
Para Bim et al. (2010), o bom prognóstico do câncer de mama, quando detectado precocemente, incentiva a elaboração de estudos que identifiquem ca-
racterísticas da população feminina e sua relação com
condutas positivas quanto a essas práticas preventivas.
Tal conhecimento pode fundamentar ações dos profissionais de saúde e contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade de saúde da mulher.
Ainda foi possível identificar com a pesquisa que
cerca de 69% (n=75) das participantes responderam
que já realizaram a mamografia pelo menos uma vez,
33 nunca realizaram e 1 não lembra. Vários estudos recomendam o desenvolvimento de programas de triagem mamográfica para reduzir significativamente a
morbidade e a mortalidade do câncer de mama, uma
vez que o exame viabiliza o diagnóstico em estágios
nos quais ainda não há manifestações de sinais e sintomas, melhorando significativamente o prognóstico da
doença (GONZÁLEZ-ROBLEDO et al., 2010).
Conclusões
O presente trabalho revelou que a maioria das
usuárias da equipe Saúde da Família estudada desconhecem os fatores de risco relacionados ao câncer de
mama. Observou-se, ainda, que aproximadamente metade das mulheres entrevistadas não realizam o exame
de mama através de um profissional de saúde, e pouco
mais da metade já realizou o exame de mamografia, o
que demonstra que as ações de detecção precoce do
câncer de mama da unidade básica de saúde ainda são
incipientes.
Tais resultados demonstram a importância de
ações educativas e também de políticas públicas de
saúde que busquem conscientizar a população de risco
sobre a prevenção do câncer de mama através do exame clínico das mamas e mamografias, e que melhorem
a oferta dos serviços e o acesso desse público a recursos que possibilitem diagnóstico precoce.
Ainda, tendo em vista o grande número de mulheres entrevistadas que desconhecem os fatores que
aumentam a chance de desenvolvimento desse tipo de
neoplasia, é imprescindível que ocorra a expansão do
conhecimento sobre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença na população feminina. Sugerem-se ações educativas enfáticas a respeito de fatores
modificáveis, como aqueles relacionados aos hábitos
de vida, uma vez que a adoção de hábitos saudáveis
contribui não só para a prevenção do câncer como melhora significativamente a qualidade de vida e previne
outras patologias.
Referências
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para o câncer de mama entre mulheres de 40 a 69 anos. Rev. Bras Saúde Matern. Infant. v.11, n.2, p.163-171, 2011.
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Revista Brasileira de Cancerologia. v. 57, n. 2, p. 189-198, 2011.
323
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
LINARDI, A. G.; SILVA, R. M.; MENDONÇA, F. A. C. Práticas de saúde decorrentes dos fatores de risco para o câncer
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MATOS, J. C.; PELLOSO, S. M.; CARVALHO, M. D. B. Prevalence of Risk Factors for Breast Neoplasm in the City of Maringá, Paraná State, Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem. v. 18, n. 3, p. 352-9, 2010.
PINHO, V. F. S.; COUTINHO, E. S. F. Risk factors for breast cancer: a systematic review of studies with female samples
among the general population in Brazil. Cad. Saúde Pública. v. 21, n. 2, p. 351-360, 2005.
324
Área - Ciências da Saúde
DIVERSIDADE DE ENTEROBAC TERIACE AE E
L AC TOBACILLUS SP EM TR ATO GASTROINTESTINAL
DE ANIMAIS SUBME TIDOS À INGESTÃO ALCOÓLIC A
E TER APÊUTIC A COM BAC TÉRIA PRESUNTIVAMENTE
PROBIÓTIC A
Marisa Soares dos Santos
Leticia Antunes Athayde
Ronize Viviane Jorge de Faria
Marileia Chaves Andrade
Sérgio Avelino Mota Nobre
[email protected]
Resumo
Este trabalho teve como objetivo avaliar os reflexos ecológicos, a partir da diversidade cultural de enterobactérias
mesófilas aeróbias Gram Negativas (EMAGN) e Lactobacillus (LB) isolados do trato gastrointestinal (TGI) de camundongos após ingestão injuriante de álcool etílico (EtOH), tendo como medida terapêutica a ingestão de bactérias
do acido lático (BAL). Utilizaram-se camundongos fêmeas, que foram aleatoriamente separados em 4 grupos, contendo 6 animais/grupo em cada gaiola. O grupo 1 foi representado por animais tratados com salina + meio de cultura Caldo BHI (SAL + BHI); o grupo 2 por animais tratados com salina + Bactéria Acido Láctica (SAL + BAL); o grupo 3 tratado com etanol + Caldo BHI (EtOH + BHI); e o grupo 4 tratado com etanol + Bactéria Acido Láctica (EtOH
+ BAL). Após um espaço de 7 dias pós tratamento, os animais foram submetidos à necropsia, sendo retirados os
seguintes órgãos: estômago, intestino delgado e intestino grosso. Estes foram lavados com salina fisiológica, e,
de cada órgão, foi retirada uma porção de tecidos que foi inserida em tubo contendo 900µL de salina + 100µL de
Tween, centrifugados e o sobrenadante foi utilizado para análise microbiológica. Os resultados apontam que o
álcool inibiu a presença de EMAGN no estômago, sendo que, no tratamento com a presença da BAL, sem a injúria
alcoólica, houve redução da diversidade de EMAGN. No intestino grosso, o tratamento com a BAL inibiu a presença das EMAGN. Quando analisadas as frequências de isolamento de Lactobacillus presuntivos, o álcool teve um
efeito estressante sobre as populações destas bactérias. Expressão mais acentuada foi observada no estômago,
tanto na amostragem do lavado, quanto na amostragem do tecido. Este fenômeno não foi evidente no intestino
delgado, e, no intestino grosso, houve um incremento da diversidade destas bactérias no tratamento em que se
induziu a injúria com álcool, sem, contudo, aplicar a BAL.
Introdução
O trato gastrointestinal (TGI) é um ecossistema
complexo gerado pela aliança do epitélio, pelas células do sistema imunológico e pela microbiota residente (COCHETIÈRE, 2007). A concentração bacteriana varia ao longo do trato gastrointestinal. Devido
à presença de ácido, há uma quantidade limitada
de bactérias ao nível gástrico; já ao nível do intestino delgado, a quantidade aumenta gradualmente,
atingindo valores próximos de 10³ ufc.ml -1. Quando a
válvula ileocecal é ultrapassada, esse valor aumenta
significativamente, atingindo valores de 1014ufc.ml -1
no cólon (DEFILIPPI, 2010).
A microbiota intestinal é constituída predominantemente por poucos gêneros bacterianos, altamente
diversos quanto às espécies. Os gêneros comumente
encontrados são: Bacteroides, Eubacterium, Bifidobacterium, Peptostreptococcus, Fusobacterium, Ruminococcus,
Clostridium, Streptococcus, Lactobacillus e Escherichia,
que podem viver em simbiose com o hospedeiro ou
possuir um comportamento comensal, que, ao alterar
o equilíbrio do meio em que vivem, se tornam patogênicas para o hospedeiro. Essa interação micróbio-hospedeiro traz diversas funções positivas para o equilíbro
intestinal, em que esses microrganismos agem impe325
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
dindo o estabelecimento de bactérias patogênicas, estimulam o sistema imunológico, contribuem para nutrição e metabolismo do hospedeiro (BRANDT, 2006).
As bactérias ácido-lácticas (BAL) são encontradas
na natureza e no trato gastrointestinal, possuem atributos probióticos, ou seja, produzem efeitos benéficos no hospedeiro, e são usadas para prevenir e tratar
doenças, como promotores de crescimento e como
imunoestimulantes (COPOLLA, et al., 2004). Dentre as
bactérias lácticas, as do gênero Lactobacillus spp são
bactérias que possuem ação antagonista contra uma
importante série de patógenos como Escherichia coli e
Salmonella thypimurium, que fazem parte da família Enterobacteriaceae, um grande grupo de bactérias gramnegativas o qual inclui bactérias patogênicas do trato
gastrointestinal (PUERTA-GARCIA, 2010).
O uso de bactérias ácido-lácticas como probióticos se deve à sua capacidade de inibir o crescimento
de bactérias patogênicas pela produção de compostos
antibacterianos, como: bacteriocinas, peróxido de hidrogênio, ácido láctico e reuterim (FULLER, 1989).
Os agentes antimicrobianos introduzidos pela
ação exógena são capazes de causar as mais rápidas
e drásticas mudanças na microbiota normal, podem
ocorrer quando os mecanismos de defesa da mucosa são quebrados por agentes infecciosos e irritantes,
doenças autoimunes, fumo, estresse, uso prolongado
de anti-inflamatórios não esteroidais (NSAIDs) e ingestão de álcool (NAITO, 2001; WU, 2004).
Uma alternativa inovadora de tratamento de
doenças que acometem o trato gastrointestinal, ainda
em fase experimental, é a administração oral de microrganismos produtores de imunomoduladores. Neste caso, microrganismos que fossem bons produtores
de proteínas heterólogas, capazes de resistir às intempéries do trato gastrointestinal, transientes, e pouco
imunogênicos, seriam candidatos ideais neste estudo.
Baseado nestes requisitos, as bactérias lácticas poderiam, perfeitamente, desempenhar tal função.
Este trabalho teve como objetivo avaliar os reflexos ecológicos, a partir da diversidade cultural de
Enterobactérias Mesófilas Aeróbias Gram Negativas
(EMAGN) e Lactobacillus (LB) isoladas do trato gastrointestinal (TGI) de camundongos após ingestão injuriante
de álcool etílico (EtOH), tendo como medida terapêutica a ingestão de bactérias do acido lático (BAL).
Material e Métodos
Camundongos fêmeas (entre 8-10 semanas de idade) da linhagem C57BL/6 selvagens, mantidos em gaiolas com água e ração (Labina) ad libitum, a uma temperatura aproximada de 25±2°C e em ciclo claro-escuro
de 12 horas foram aleatoriamente separados em 4 grupos, contendo 6 animais/grupo em cada gaiola.
O grupo 1 foi representado pelos animais tratados
com salina + meio de cultura Caldo BHI (SAL + BHI); o
grupo 2 foi representado pelos animais tratados com
salina + Bactéria Acido Láctica (SAL + BAL); o grupo 3
foi representado pelos animais tratados com etanol +
Caldo BHI (EtOH + BHI); e o grupo 4 foi representado
pelos animais tratados com etanol + Bactéria Acido
Láctica (EtOH + BAL).
Durante 4 dias consecutivos, foi realizada a administração intragástrica (i.g.) de 0,2 mL de etanol (EtOH)
50%/animal ou salina, e vinte e quatro horas após a
última administração i.g. (EtOH ou salina), os animais
foram tratados com 0,2 mL de Bactéria Acido Láctica
(BAL) em Caldo BHI ou somente o meio de cultura Caldo BHI, por via intragástrica, durante 4 dias consecutivos.
Após um intervalo de 7 dias, foram realizadas as
intervenções experimentais. Durante a necropsia, foram retirados os seguintes órgãos: estômago, intestino
delgado e intestino grosso.
Os órgãos foram lavados com auxílio de uma seringa com 5mL, 10mL e 5mL de salina fisiológica gelada,
respectivamente, e, após, foi retirada uma porção dos
tecidos do estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo) e intestino grosso. Estas porções foram inseri326
das em tubo de poliestireno contendo 900µL de salina
+ 100µL de Tween; os tubos foram centrifugados e o sobrenadante foi utilizado para análise microbiológica.
Para as análises microbiológicas, realizaram-se
diluições seriadas das amostras (10 -2 e 10 -4), tanto dos
lavados quanto dos tecidos. Alíquotas das diluições foram distribuídas superficialmente nos meios de cultura: Agar MacConkey e Agar Rogosa, utilizando alça calibrada de 10µL. As placas contendo Agar Rogosa foram
incubadas a 37ºC em microaerofilia, e as placas contendo Agar MacConkey foram incubadas a 37ºC, por 24
horas (overnight).
As colônias desenvolvidas a partir das amostras
foram selecionadas utilizando microscópio estereoscópico, conforme características morfológicas. Para
confirmar a distinção entre as colônias, procedeu-se a
bacterioscopia a partir da coloração de Gram. Colônias
distintas foram então multiplicadas e conservadas a -20
o
C, com aporte de crioprotetor.
O projeto foi submetido à Comissão de Ética em
Experimentação e Bem-estar Animal (CEEBEA) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES),
sob processo de nº 043/2013 para análise e apreciação.
Resultados parciais
Observou-se que, dentre as enterobactérias mesófilas aeróbias gram negativas (EMAGN) isoladas,
63,6% apresentaram metabolismo positivo para lactose (Lac+), sendo as demais incapazes de fermentar
este açúcar.
Não foram feitos isolamentos de EMAGN em nenhuma das amostras de tecido do trato gastrointestinal
Área - Ciências da Saúde
dos animais submetidos à injúria alcoólica, o mesmo
ocorrendo com aqueles tratados com a BAL, supostamente probiótica. A lavagem do TGI com solução salina propiciou maior recuperação dessas bactérias, fato
que foi mais expressivo no estômago e intestino grosso. O álcool inibiu a presença de EMAGN no estômago,
sendo que no tratamento envolvendo a presença da
BAL, sem a injúria alcoólica, houve uma aparente redução da diversidade de EMAGN, fenômeno este que se
manteve mesmo após a agressão gástrica com o álcool.
Contudo, no intestino grosso observou-se um efeito
contrário, onde houve um acréscimo da recuperação
de microrganismos distintos, sugerindo maior estresse
neste sítio, decorrente do uso do álcool. Neste sítio, o
tratamento com a BAL inibiu a presença das EMAGN
(Tabela 1).
Estes resultados apontam para um potencial efeito probiótico da BAL em estudo, sendo capaz de inibir
ou suprimir populações de bactérias potencialmente
patogênicas, em todo trato gastrointestinal.
Tabela 1. Frequência de isolamento de bactérias mesófilas aeróbias gram negativas em trato gastrointestinal (TGI)
de camundongos C57BL/6 submetidos à ingestão de álcool etílico (EtOH) e bactérias do acido lático (BAL).
Sítios Amostrados
Tecido
ND
Intestino delgado
Tecido
Lavado
Duodeno Jejuno
+ (4)
ND
ND
Íleo
ND
Lavado
+ (2)
ND + (2)
ND
ND
ND
ND
ND
+ (1)
ND EtOH - BHI
ND
ND
+ (1)
ND
ND
ND
+ (4)
ND EtOH - BAL
+ (3)
ND
ND
ND
ND
ND
ND
ND Tratamento
Estômago
Salina - BHI
Lavado
+ (5)
Salina - BAL
Intestino grosso
Tecido
ND: não detectado - BHI: Caldo Infuso Cérebro Coração
Quando analisadas as frequências de isolamento
de Lactobacillus presuntivos, observou-se que as populações destas bactérias estavam mais intimamente
ligadas ao trato gastrointestinal, considerando que se
encontravam adsorvidas às mucosas. O tecido estomacal foi o mais receptivo para o estabelecimento deste
grupo de bactérias, sendo que a colonização se deu
também na região do íleo e intestino grosso. Os maiores índices de recuperação se deram através do procedimento de lavagem com solução salina, sugerindo
que grande parte das populações encontrava-se em
associações transientes (Tabela 2). Contudo, não é per-
tinente afirmar a efetividade do envolvimento destes
microrganismos com os tecidos em estudo.
O álcool teve um efeito estressante sobre as populações destas bactérias de modo distinto em cada uma
das partes estudadas do TGI. Expressão mais acentuada foi observada no estômago, tanto na amostragem
do lavado, quanto na amostragem do tecido. Este fenômeno não foi evidente no intestino delgado, e, no
intestino grosso, houve um incremento da diversidade
destas bactérias no tratamento em que se induziu a injúria com álcool, sem, contudo, aplicar a BAL (Tabela 2).
Tabela 2. Frequência de isolamento de Lactobacilos presuntivos em trato gastrointestinal (TGI) de camundongos
C57BL/6 submetidos à ingestão de álcool etílico e bactérias do acido lático (BAL).
Sítios Amostrados
Tecido
+ (3)
Intestino delgado
Tecido
Lavado
Duodeno Jejuno
+ (3)
ND
ND
Íleo
+ (1)
Lavado
+ (6)
+ (2)
+ (1)
+ (4)
+ (1)
ND
ND
ND
+ (5)
+ (1)
ETOH - BHI
+ (3)
+ (1)
+ (3)
+(1)
ND
+ (3)
+ (12)
ND
ETOH - BAL
+ (2)
+ (1)
ND
+(2)
ND
ND
+ (3)
ND
Tratamento
Estômago
Salina - BHI
Lavado
+ (7)
Salina - BAL
Intestino grosso
Tecido
ND: não detectado - BHI: Caldo Infuso Cérebro Coração
327
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Conclusão
As populações bacterianas em estudo variaram
em diversidade para os sítios amostrados no trato gastro-intestinal dos animais experimentais, sugerindo
níveis de adaptação diferenciados. De modo complementar, estas informações iniciais sugerem que a BAL
introduzida como probiótico alterou expressivamente
a estrutura das comunidades microbianas presentes no
TGI destes animais. As informações, até então observadas, sugerem que a BAL em estudo possui um potencial efeito probiótico, sendo capaz de inibir ou suprimir
populações de bactérias potencialmente patogênicas,
em todo trato gastrointestinal. O mecanismo de ação
desta bactéria deverá ser melhor compreendida em estudos posteriores.
Referências
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2010.
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328
Área - Ciências da Saúde
INCIDÊNCIA DE INFECÇÕES HOSPITAL ARES EM UM
SERVIÇO DE NEFROLOGIA EM MONTES CL AROS - MG
Bruno Pereira fe Paula
Beatriz Rezende Marinho fa Silveira
[email protected]
Introdução
As doenças crônicas são representadas por um
grupo que, de modo geral, apresenta uma história natural prolongada. Caracterizam-se por período longo
de latência e curso assintomático demorado, envolvimento de múltiplos fatores de risco com participação
importante do ambiente. Entre estas, encontra-se a
Insuficiência Renal Crônica (IRC), que pode ser referida
como um diagnóstico sindrômico de perda progressiva
e irreversível da função renal de depuração (BARBOSA
et al., 2006). Devido ao seu caráter irreversível, a grande
maioria dos pacientes evolui para estágios mais avançados, nos quais se faz necessário o emprego de uma
terapia substitutiva dos rins (KIRCHNER; STUMM, 2011).
De acordo com o Censo Nacional da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o número de pacientes em tratamento dialítico no Brasil em 2011 era de 91.314, e, destes,
90,6% realizavam hemodiálise (SESSO et al., 2012).
As infecções da corrente sanguínea (ICS) constituem um dos mais sérios problemas de saúde pública,
são responsáveis pela alta morbidade e representam a
maior causa de internação entre os pacientes em tra-
tamento hemodialítico, elevando, dessa maneira, o
custo do tratamento (SOUZA et al., 2011). A infecção é
a segunda causa de mortalidade entre pacientes portadores de insuficiência renal crônica terminal (IRCT) e
representa aproximadamente 14% dos óbitos entre os
mesmos, precedida somente por distúrbios cardiovasculares. Esse fato pode estar relacionado às alterações
imunológicas que acometem os pacientes com insuficiência renal crônica como: deficiência na imunidade
celular devido à deficiência de aminoácidos, vitamina
B, C, D, E e zinco; aumento da atividade supressora celular; anorexia devido à retenção de produtos nitrogenados e anemia significativa, secundária à deficiência
de eritropoietina (FRAM et al., 2009). Perdas acidentais
de ferro durante as diálises, diminuição de sobrevida
de eritrócitos na uremia e também o aumento do risco
de processos infecciosos são fatores prognósticos de
mortalidade (GROTHE et al., 2010). Nesta perspectiva,
este estudo tem como questão norteadora: qual a incidência de infecções hospitalares em um serviço de nefrologia em Montes Claros-MG?
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório,
descritivo e documental. O cenário desta pesquisa foi
o serviço de nefrologia do Hospital Dílson de Quadros
Godinho, com uma média de 122 pacientes portadores
de insuficiência renal crônica, submetidos ao tratamento de hemodiálise e diálise peritoneal que desenvolveram infecção da corrente sanguínea no período de
agosto de 2011 a dezembro de 2013. Foram incluídos
todos os pacientes que realizaram hemocultura durante o período estudado. O instrumento de coletas
de dados utilizado para realização do presente estudo
foi uma planilha elaborada contendo registro da ficha
epidemiológica, resultados de exames laboratoriais
e dados do prontuário. Os dados coletados no levantamento documental foram lançados em um banco
de dados, utilizando Epi Info versão 7, que viabilizou a
construção de tabelas e gráficos, subsidiando a análise
de incidência de infecções hospitalares bem como os
fatores de risco para infecção da corrente sanguínea.
A coleta de dados realizou-se após a aprovação deste
projeto de pesquisa pela diretoria do hospital e pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade estadual
de Montes Claros, com parecer nº: 311.738, aprovado
em 21/06/2013.
Resultados e Discussão
Durante o período de agosto de 2011 a dezembro de 2013, obteve-se uma média de 122 pacientes
submetidos à hemodiálise e diálise peritoneal. Foram
analisadas 171 hemoculturas, sendo que 78 deram
329
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
positivas, que estão assim distribuídas: 2011- 10 casos,
2012- 38 casos e no ano de 2013 encontram-se registrados 30 casos de infecção da corrente sanguínea. A taxa
de infecção relacionada à corrente sanguínea foi de
63,7%, como mostra a tabela 1.
TABELA 1: Distribuição das infecções de corrente sanguínea de pacientes submetidos à hemodiálise no Hospital
Dílson Godinho no período de agosto de 2011 a dezembro de 2013
Ano
2011 agosto/dezembro
2012 janeiro/dezembro
2013 janeiro/dezembro
Total
Nº pacientes submetidos à
Hemodiálise e Diálise peritoneal
120
118
129
122
Pacientes com ICS
%
10
38
30
78
8,3
32,2
23,2
63,7
Fonte: coleta de dados no HDG e Laboratório Santa Clara, 2014.
A distribuição das frequências dos 78 micro-organismos identificados nas ICS durante o período de
estudo é listada na tabela 2 abaixo. A proporção de
bacilos Gram-negativos foi maior que a dos cocos
Gram-positivos (67,8% e 31,9%, respectivamente). Entretanto, isoladamente o Staphylococcus aureus foi o
micro-organismo mais encontrado na cultura de sangue (19 vezes; 24,3%).
TABELA 2: Micro-organismos isolados nas infecções da corrente sanguínea em pacientes submetidos à
hemodiálise e diálise peritoneal no Hospital Dílson Godinho de agosto de 2011 a dezembro de 2013
Micro-organismos isolados (N=78)
Bacilos Gram-negativos fermentadores
Bacilos Gram-negativos não fermentadores
Estafilococos coagulase negativa
Staphylococcus aureus
Enterococcus
Estreptococos
Total
Nº (%)
20 (25,6%)
23 (29,4%)
10 (12,8%)
19 (24,3%)
3 (3,8%)
3 (3,8%)
78
Fonte: Coleta de dados Laboratório Santa Clara, 2014.
As infecções da corrente sanguínea (ICS) podem
ser divididas naquelas com hemocultura positiva e
naquelas somente com critérios clínicos. As ICS com
hemocultura positiva têm critério diagnóstico mais objetivo e permitem comparações mais fidedignas entre
hospitais. Já as infecções diagnosticadas clinicamente
são de definição mais simples, mas apresentam grande teor de subjetividade, dificultando, de modo substancial, a comparação interinstitucional (BRASIL, 2009).
Por estas razões, o presente estudo objetivou analisar
a incidência de infecções hospitalares somente com
pacientes com ICS laboratorialmente confirmados que
preenchessem um dos seguintes critérios:
Critério 1: paciente com uma ou mais hemoculturas positivas, coletadas preferencialmente de sangue
periférico, e o patógeno não estar relacionado com infecção em outro sitio.
Critério 2: pelo menos um dos seguintes sinais ou
sintomas: febre (>38ºC), tremores, oligúria (volume
urinário < 20 ml/h), hipotensão (pressão sistólica <
90mmhg), e esses sintomas não estarem relacionados
com infecção em outro sitio; E duas ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de
48 h) com contaminantes comuns de pele (ex.: difteroi330
des, bacilos spp, propionibacterium spp, estafilococos
coagulase negativo, micrococos).
Critério 3: para crianças > 30 dias e < 1 ano: pelo
menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre
(>38ºC), hipotermia (<36ºC), bradicardia ou taquicardia
(não relacionados com infecções em outro sítio) e duas
ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de 48 h) com contaminantes comuns
de pele (ex.: difteroides, bacilos spp, propionibacterium
spp, estafilococos coagulase negativo, micrococos)
(BRASIL, 2009).
As precauções padrão consistem na estratégia
primária de prevenção da transmissão de infecções
relacionadas à assistência à saúde entre pacientes e
profissionais, e estas devem ser utilizadas nos cuidados prestados aos pacientes: higiene das mãos antes
e após o contato; utilização de luvas, máscaras, óculos
de proteção e aventais quando houver risco de contato
com material biológico; cuidados com perfurocortantes; limpeza ambiental; processamento adequado de
materiais e equipamentos ( FRAM, 2009).
Área - Ciências da Saúde
Conclusão
A redução das infecções da corrente sanguínea é
possível quando o conjunto de medidas de prevenção
é aplicado adequadamente, bem como a utilização de
novas tecnologias. Por se tratar de uma população com
alto risco de infecção, a emergência de micro-organismos na corrente sanguínea deve ser considerada, e a
ocorrência de algum caso deve desencadear medidas
adicionais de prevenção de transmissão, evitando, assim, a ocorrência de um surto entre esta população.
Dessa forma, toda equipe de saúde deve ser orientada e capacitada constantemente sobre a importância
da prevenção e do controle das infecções hospitalares,
de forma a prestar uma assistência de qualidade aos
seus usuários.
Referências
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Acesso em: 05/05/2014.
331
Área - Ciências da Saúde
AVALIAÇ ÃO DO RISCO DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL
POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Jéssica Benevides Mota de Oliveira
Lucianne Vanelle Sales Freitas
Paula Maria Silveira Soares Moura
[email protected]
Introdução
Segundo Nickfarjam (2014), o álcool é uma das
três maiores prioridades na área da saúde pública e,
de acordo com Alchiere et al. (2014), o consumo dessa
substância tem aumentado nas últimas décadas, com
predominância de avanço nos países em desenvolvimento, nos quais cerca de 15% das pessoas que ingerem o etanol desenvolvem o alcoolismo.
A Organização Mundial de Saúde (2011) descreve
os jovens universitários como um grupo da população
em que esse consumo é prevalente. Segundo De Oliveira et al. (2011), é provável que as condições de vida, o
desenvolvimento da autonomia e as demandas universitárias sejam situações ansiogênicas e estimuladoras
da prática, ou seja, os universitários buscam o consumo
de álcool como válvula de escape ou como forma de relaxar, geralmente devido à pressão a que são submetidos diante das muitas atividades acadêmicas.
Para Pedrosa et al. (2011), o consumo do álcool,
associado a fatores desejáveis como prazer, beleza, sucesso financeiro e sexual e poder, de forma explícita ou
implícita, configuram como um importante fator de risco para a sua ingestão abusiva, principalmente entre os
acadêmicos, suscetíveis a um consumo de álcool cada
vez mais frequente, associado ao desenvolvimento de
dependência a esta substância.
Segundo Rozin e Zagonel (2012), a dependência
é definida pela perda do controle de decisão sobre o
ato de beber e está associada ao sofrimento, com os
sintomas de abstinência da droga. Quanto mais precocemente a bebida alcoólica for consumida, maior a
probabilidade de dependência. Isso ocorre, uma vez
que seu uso contínuo gera tolerância ao organismo,
havendo a necessidade de aumentar cada vez mais as
doses.
A ingestão de bebidas alcoólicas, de acordo
com Almeida et al. (2011), tem sido recorrente em idades precoces, o que antecipa e agrava os riscos ao
organismo e a dependência do álcool. Dessa forma,
Chainey e Stephens (2014) avaliam que o consumo
excessivo de álcool na adolescência é um problema
significativo de saúde. Diante disso, estudos que avaliem esse consumo e seus fatores associados são importantes.
Em decorrência dos fatores apresentados, este estudo busca determinar a prevalência do consumo de álcool
entre estudantes das Faculdades Integradas Pitágoras
de Montes Claros, Minas Gerais, com o intuito de avaliar
o possível risco de dependência a esta droga psicoativa
diante da qual os jovens universitários estão expostos.
Material e Métodos
Trata-se de um estudo de caráter transversal, descritivo e quantitativo, ocorrido na cidade de Montes
Claros-MG no ano de 2014.
Utilizou-se uma amostra parcial de 311 acadêmicos, do quinto período, distribuídos nos cursos de
administração, arquitetura, enfermagem, engenharia
civil, engenharia de produção, direito, medicina e psicologia e quarto período de fisioterapia, matriculados
nas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros-MG. Os estudantes acima citados estavam presentes em sala de aula no momento da coleta de dados
e, após a explanação dos objetivos, procedimentos,
benefícios e confidencialidade das informações cole-
tadas, aceitaram participar da pesquisa sob a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Para o rastreamento de problemas relacionados
ao uso do álcool, assim como o padrão de consumo de bebidas alcoólicas, uso nocivo e risco de dependência do álcool, utilizou-se o questionário AUDIT, elaborado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) por Babor et al. (1992), traduzido e validado
no Brasil por Lima e colaboradores (2005), sendo que
o mesmo é composto por dez questões com alternativas de resposta em categorias fixas e pré-estabelecidas.
333
Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar
Para avaliação do perfil sociodemográfico, foram
avaliadas as seguintes variáveis: sexo, idade, estado civil, atividade remunerada e área do curso superior.
Para caracterizar o universo amostral pesquisado,
foi utilizada uma análise descritiva através de porcentagem. Para identificação do perfil sociodemográfico, foram utilizados frequência, porcentagem, média e des-
vio padrão, e, para comparação entre as variáveis do
estudo, foi empregada a ferramenta estatística Software Statistical Package for Social Sciences 18.0 (SPSS) por
meio de testes paramétricos e não paramétricos.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP), sob o nº576.795/2014.
Resultados e discussão
Dentre os acadêmicos avaliados, 59,2% (184) eram
do sexo feminino e 40,8% (127) do sexo masculino. A
maioria dos estudantes que relatou já ter consumido
bebidas alcoólicas não exerce atividade remunerada,
não vive com a família, está matriculada nos cursos da
área de ciências exatas e possui mais de trinta anos de
idade. Em relação à distribuição dos universitários de
acordo com o consumo de bebida alcoólica e gênero,
prevaleceram os homens com 76,4% (97) que alegaram
ter ingerido algum tipo de bebida alcoólica, enquanto
que, nas mulheres, esse número caiu para 60,9% (112).
O presente estudo revelou que 32,8% dos entrevistados nunca consumiram bebidas alcoólicas; 22,8%
consomem uma vez por mês ou menos; 26,4% de 2 a
4 vezes por mês; 16,1% de 2 a 3 vezes por semana; e
1,9% faz uso de bebidas alcoólicas 4 ou mais vezes por
semana (Tabela 1). A prevalência dos acadêmicos que
consomem bebidas alcoólicas é de 67,2%, número esse
que se apresenta elevado e que está de acordo com o
estudo realizado com estudantes universitários por Rocha et al. (2011), em que 63,6% dos acadêmicos consomem o etanol. Este consumo elevado é preocupante,
uma vez que, segundo Ferreira et al. (2013), essa droga
psicoativa está relacionada, direta ou indiretamente, a
acidentes de trânsito e de trabalho, envolvimento em
brigas, criminalidade, violência doméstica, violência sexual e diversas doenças, dentre elas distúrbios neurológicos desencadeados por lesão do Sistema Nervoso
Periférico (SNP) e do Sistema Nervoso Central (SNC). Estudos de Fein e Greenstein (2014) também mostraram
que o álcool provoca degeneração da sustância branca
e danos nas fibras do corpo caloso, o que acarretaria
em uma instabilidade postural e marcha atáxica. Percebe-se, então, que os danos causados pelo álcool são
graves, e que o controle do alcoolismo faz-se necessário em vista de diminuir suas consequências.
Em relação ao número de doses de bebida alcoólica consumidas por universitários em um dia normal,
observou-se que 72,0% dos entrevistados ingerem 0
ou 1 dose de bebida alcoólica; 9,6% ingerem 2 ou 3 do-
334
ses; 9,3% ingerem 4 ou 5 doses; 3,9% ingerem 6 ou 7
doses; e 5,1% ingerem 8 ou mais doses (Tabela 1). Arnauts e Oliveira (2012) afirmam que a quantidade de
bebida consumida é mensurada pela quantidade de
doses ingeridas. Uma dose corresponde à presença de
8 a 13 gramas de etanol, o que é equivalente a uma lata
de cerveja, um cálice de vinho ou 30 mililitros de bebida destilada. O consumo moderado é caracterizado
pela ingestão de até 15 doses semanais para homens e
10 doses semanais para mulheres. Sendo assim, o consumo, em relação ao número de doses ingeridas pela
maioria dos acadêmicos, apresenta-se regular.
Além disso, dos 311 entrevistados, 51,4% nunca
consumiram 5 ou mais doses de álcool de uma vez,
16,1% consumiram menos de uma dose uma vez ao
mês, 16,1% consumiram uma vez por mês, 15,8% consumiram uma vez por semana e apenas 0,6% consumiram álcool quase todos os dias (Tabela 1). Segundo
Swann, Sheran e Phelps (2014), o binge drinking é definido como o consumo de cinco ou mais doses por
homens e quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas
por mulheres em uma ocasião. Desta forma, o fenômeno denominado binge drinking não pode ser observado como um comportamento padrão dessa população; todavia, há uma expressiva taxa de ocorrência
na amostra estudada, e, como o consumidor de etanol
traz riscos não só para a sociedade, como também para
si mesmo, a taxa de álcool consumida de uma vez precisa ser diminuída.
Também foi verificado, quando questionados
sobre quantas vezes, ao longo dos 12 últimos meses,
acharam que não conseguiriam parar de beber uma
vez tendo começado, que 85,48% dos universitários
negaram qualquer perda de controle; 7,09% deles responderam ter tido a perda do controle menos de uma
vez ao mês; 3,87 relataram essa perda mensalmente;
2,58% semanalmente; e 0,96% todos os dias (Gráfico 1).
Segundo Rozin e Zagonel (2012), a perda de controle
ao beber trata-se de um agravante por estar associada
à dependência.
Área - Ciências da Saúde
Tabela 1. Consumo de álcool
Fatores
Variáveis
(n)
%
Frequência do consumo de bebida alcoólica
Nunca consumiu
Uma vez por mês ou menos
De duas a quatro vezes por mês
De duas a três vezes por semana
Quatro ou mais vezes por semana
102
71
82
50
6
32,8
22,8
26,4
16,1
1,9
Número de doses de bebidas alcoólicas consumidas
em um dia normal
0 ou 1 dose
2 ou 3 doses
4 ou 5 doses
6 ou 7 doses
8 ou mais doses
224
30
29
12
16
72
9,6
9,3
3,9
5,1
Frequência do consumo de cinco doses ou mais de
bebida alcoólica em uma única vez
Nunca
Menos de uma vez ao mês
Uma vez por mês
Uma vez por semana
Quase todos os dias
160
50
50
49
2
51,4
16,1
16,1
15,8
0,6
(n)- Amostra; %- Porcentagem observada. Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Gráfico 1: Perfil da perda de controle para bebida
90,00%
85,48%
80,00%
70,00%
Nunca
60,00%
50,00%
Menos que uma vez ao mês
40,00%
Mensalmente
30,00%
Semanalmente
20,00%
10,00%
Todos ou quase todos os dias
7,09%
0,00%
3,87%
2,58%
0,96%
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Conclusão
Os resultados encontrados indicam que a maior
parte dos estudantes foi classificada como grupo de
baixo risco, no entanto, eles apresentaram uma elevada frequência de ingestão do álcool. Dessa forma, infe-
re-se que programas educativos sejam incluídos nesse meio acadêmico, a fim de alertar e prevenir danos
ocorridos em virtude do consumo abusivo de bebidas
alcoólicas.
Referências
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336
Área - Ciências da Saúde
DESEQUILÍBRIO E INCOORDENAÇ ÃO MOTOR A: A
ATA XIA
Mayara Oliveira Freitas Gralha
Molyana Kelly Pereira Dias
Rafaela Brito Matos
[email protected]
Introdução
O equilíbrio é tido como a orientação da posição
do corpo e da cabeça no espaço. Através dele, o SNC
gera os padrões de atividade muscular necessários
para regular a relação entre centro de massa e base
de sustentação (LEONARDI et al., 2009). Dessa forma,
é caracterizado como a manutenção de uma postura
individual do corpo com o mínimo de oscilação (equilíbrio estático) ou a manutenção da postura durante o
desempenho de uma habilidade motora que venha a
perturbar a orientação do corpo (equilíbrio dinâmico)
(BORGES, 2013). A coordenação motora é a capacidade
do cérebro de equilibrar os movimentos do corpo, mais
especificamente dos músculos e das articulações, permitindo que haja monitoração da progressão de qualquer sequenciamento de movimento e possibilitando
movimentos posteriores (OLTRAMARI, 2011).
A conexão entre equilíbrio e coordenação motora
envolve vias aferentes (visual, vestibular e cerebelar) e
vias eferentes (força muscular e flexibilidade articular)
(LEONARDI et al., 2009). A manutenção do equilíbrio e
dos movimentos coordenados não requer um esforço
consciente, no entanto, o cont