Layout 2 - Figlie di Santa Maria della Provvidenza

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Layout 2 - Figlie di Santa Maria della Provvidenza
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LUÍS GUANELLA
PADRE MONTANHÊS
PAI DOS POBRES
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Textos
Vendramin Franca
Venerito Pino
Colaboradores
Cantaluppi Gabriele
Carrera Mario
Perego Cesare
Rutigliano Nico
Valentini Antonio
Obrigado por sugestões
Aguado J. Bautista
Antonelli Adelio
Blanchoud Carlos
Brugnoni Umberto
Cecchinato Mauro
Crippa Alfonso
De Bonis Gustavo
Dieguez Alejandro
Fasana Silvia
Foto na capa: Pizzo Stella (mt 3163)
Tradução: Pe. Ciro Attanasio, sdc
© 2011 Editrice Nuove Frontiere
della Provincia italiana della
Congregazione dei Servi della Carità
Opera Don Guanella S.a.s.
Vicolo Clementi, 41 - 00148 Roma
Tel. 06. 6575311 - Fax 06 65753126
ISBN 978-88-7501-084-3
Folonaro Adriano
Frigerio Giancarlo
García Andrés
Gregga Marco
Gottardi Angelo
Lain Franco
Lorenzetti Fabio
Maisano Santino
Mariani Vittore
Martinez Alfonso
Oggioni Paolo
Omodei Battista
Oprandi Remigio
Pasquali Pietro
Pedagna Cosimo
Rinaldo Giuseppe
Saginario Domenico
Stella Dino
Fotografias
Vendramin Flavio
Vismara Calimero, Archivo Servi
della Carità, Como
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LUÍS GUANELLA
PADRE MONTANHÊS
PAI DOS POBRES
Retrato de um santo
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Nós lembramos o humilde padre, o padre montanhês, como alguém ainda
hoje gosta chamá-lo, não se saberia se para caracterizar a sua evangélica
simplicidade ou melhor a sua tempera adamantina [...]. Olhava para o
Céu e sorria para a terra, tipo singular de asceta e de apóstolo...
O pobre padre montanhês, como gostava chamar a si mesmo, obstinadamente contrariado quando era jovem, cheio de ardor para o sonhado
apostolado a fim de ganhar muitas almas para Deus, aliviando as misérias
humanas, apenas a sua obra começou a dar seus primeiros frutos, foi
amado,Superiores, Párocos, Bispos e até dos Sumos Pontífices.1
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APRESENTAÇÃO
“Em Cristo foi nos dada a novidade revolucionária do Evangelho: ou seja o amor que nos salva e nos faz viver uma antecipação de eternidade”. Estas palavras do Papa Bento XVI
indicam que a pessoa santa oferece aos nossos olhos, às vezes
cansados e desanimados, o luminoso testemunho de um fragmento do céu.
Esta publicação à vigília da canonização do Beato Luís Guanella quer ser uma tentativa de leitura dos passos que ele conseguiu trilhar nos atalhos da santidade evangélica e uma
proposta de reflexões para estimular a nossa sensibilidade moderna a fim de cultivar sementes de serenidade para o nosso
tempo.
Num encontro de estudo e de projetação (Roma, 6 de setembro de 2010), o Comitê para a Canonização, no qual participava também o Bispo de Como, Dom Diego Coletti,
percebeu, entre tantos que enriquecem a poliédrica figura do
santo da região da Lombardia , aqueles aspectos que fazem
resplandecer de atualidade e de profecia o seu carisma e a sua
espiritualidade no mundo contemporâneo.
Os temas escolhidos, elaborados no presente subsídio, estão
numa sintonia contínua e se apresentam como desenvolvimento das coordenadas de pensamento que o Papa Paulo VI
apresentou no discurso da beatificação no dia 25 de outubro
de 1964.
O Papa perguntava-se qual pudesse ser a linha mestra da
santidade do padre montanhês; descobria que as suas realizações caritativas eram fruto de uma energia vital que o sustentava no seu incansável peregrinar entre os marginalizados. A
alma de sua santidade tecia “uma maravilhosa história da cari9
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dade operante na misericórdia”; o seu dinamismo era sustentado por “uma grande piedade, por uma oração assídua, num esforço de contínua comunhão com Deus”.
È este o princípio unificante de toda a atividade benéfica do
Pe. Luís Guanella e o repetia ele mesmo como síntese do cântico do Magnificat: “É Deus quem age”. É Ele que enche de
ideais a vida, é Ele que na incompreensão doa a coragem da
perseverança, é Ele que no deserto da pobreza material “enche
de bens os famintos” , é Ele que na incompreensão dos homens
se mantém fiel à aliança do amor.
Esta publicação entende colocar-se a serviço daqueles que a
receberão; apresenta uma urgência: recuperar a unidade da
pessoa, porque só no mandamento evangélico do amor a vida
encontra a sua plenitude. Amar a Deus e amar ao próximo são
os trilhos da comunhão. A nossa sociedade parece que descarrilou. Em muitas partes do mundo se falou e se cantou a
“morte de Deus” e, em muitos lugares da nossa sociedade se
vive como se “Deus não existe”.
Com a morte de Deus está morrendo também o próximo e
é próprio neste deserto que o santo percebe a necessidade de
dar de novo a Deus a possibilidade de manifestar seu sonho
de misericórdia para com os novos pobres no corpo e na alma.
Pe. Guanella esperou longamente que aparecesse no seu caminho uma estrela orientadora, que ele chamava “a hora da misericórdia”. Esta hora era o sinal de partida, o convite a cortar
as amarras para iniciar a grande aventura da caridade. E “a
hora da misericórdia” soou quando tinha 40 anos. Naqueles
anos, Deus mesmo, através de múltiplas experiências, alegres
e sofridas, tinha plasmado a alma deste homem corajoso, tinha
conquistado o seu coração, a sua alma, todas as suas forças e
toda a sua mente e daquela riqueza divina, em modo mais radical, floresceu a paixão pelos pobres e pelos necessitados,
que não são outra coisa que o mesmo rosto de Deus, escondido no sofrimento e no mau estar.
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A sua expressão: “Parar não se pode até quando há pobres
para socorrer” era fogo nas suas veias que o aproximava aos pobres e o tornava destemido e corajoso diante das dificuldades
que encontrava. Não conhecia tibiez e mediocridade: “O que
importa ser encarcerado pelos pobres, pela causa dos pobres? Tornar-nos-íamos mártires!”
Percorrer com paixão os caminhos dos pobres marginalizados o colocava entre aqueles que agiam sem critérios, entrando
em aventuras arriscadas. A amizade com o Beato André Ferrari e o apoio paterno de São Pio X iluminaram os horizontes
da sua ação caritativa e o fortificaram no caminho árduo da
santidade.
O Beato João Paulo II no limiar do Terceiro Milênio convidou a Igreja a desencalhar o barco e a lançar as redes para
águas mais profundas assim que se sentisse o respiro do
mundo, sempre prontos “para dar as razões da esperança que
está em nós” ( 1ª Pd 3,15).
A nossa época vive com os olhos olhando para a terra, com
horizontes restritos; quando no coração das pessoas se apaga
a saudade de Deus, definha também a fonte do amor e então
se torna urgente o desejo da beleza e da espiritualidade.
Aos Sacerdotes, aos Irmãos, às Irmãs e aos Cooperadores
Guanellianos que elaboraram esta “crônica das maravilhas de
Deus, como profecia para o nosso tempo, a gratidão de toda a
Família Guanelliana.
Eles quiseram descrever as coordenadas da santidade vivida
por Pe. Guanella com a convicção que não pode ser traída colocando o seu carisma e a sua missão na prateleira de uma biblioteca, mas é necessário que elas sejam encarnadas no nosso
tempo, se tornem um prolongamento dele em nós: nós, santos
como ele!
A sua indagação toca pontos sensíveis do carisma guanelliano nos dias de hoje.
Como resposta à ausência e ao empobrecimento da espiri11
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tualidade do nosso tempo é apresentada a figura de Pe. Guanella como “homem de Deus”.
A extensão da pobreza do mundo atual recebe uma consolação e uma esperança porque Pe. Guanella, “pai dos pobres”,
nos impele a “deitar no nosso coração as misérias humanas a fim
de socorrê-las”.
O fenômeno da globalização pode descobrir Pe. Guanella,
“cidadão do mundo”, um modelo ao qual inspirar-se para chegar ao verdadeiro bem comum, ao bem de todos.
A emergência educativa que caracteriza o nosso tempo pode
aprender do testemunho de Pe. Guanella, “educador apaixonado”, energia e vigor para redescobrir que a educação é antes
de tudo obra do coração.
São valores de ontem que valem para a complexidade de
hoje, mas a milenária história da Igreja é marcada pela continuidade do testemunho e da cultura cristã transmitida pelos
santos.
O padre da região da Lombardia propunha “iluminar as
mentes e robustecer os corações” e ajudar a recuperar a primazia de Deus e assim a pessoa pudesse retomar o centro do cenário na vida da comunidade, sentisse de ser aceita, amada,
sustentada, compreendida e também perdoada. Cada seu gesto
de caridade tinha o selo da atenção à dignidade da pessoa, sobretudo quando ferida nos seus direitos. Não foi um teórico
dos direitos da pessoa, mas agiu concretamente em benefício
do povo, usando eficazes percursos pedagógicos que criaram
bem-estar e alegria de viver também nas pessoas mais sofredoras e marcadas pela doença, pela idade avançada, pela deficiência física ou psíquica.
Enxergava o pobre com uma clara visão de fé: cada criatura
tem impressa nela a imagem e a semelhança do Criador: “
Como acreditar que na fronte do pobre está impressa a imagem
de Deus e não correr para ajudá-lo e servi-lo?”
Pe. Luís Guanella não é certamente um santo para ser co12
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locado num nicho, mas um padre de rua que nos provoca e interpela para estarmos atentos também aos fragmentos de bondade presentes naqueles que encontramos, porque aqueles
fragmentos, reforçados pela graça divina e curados com paciente e amorosa solicitude, podem revelar-se úteis para transformar as pessoas numa “catedral de Deus”
Entrando no terceiro milênio o Beato João Paulo II se perguntava: “Se pode programar a santidade?” A santidade é necessária como o respiro para viver; para o cristão receber o
batismo significa encaminhar-se para a santidade, pôr no próprio caminho “ o radicalismo do discurso da montanha: Sejais
perfeitos como é perfeito o vosso Pai celestial”. (NMI, nº 31).
Ainda hoje Pe. Luís com o título de um de seu escrito ascético nos repete: “ Vamos ao Pai”; percorrei sem medo e com
muito amor a estrada das Bem-aventuranças evangélicas.
O título deste escrito, “Luís Guanella – padre montanhês, pai
dos pobres”, quis retomar as sugestões presentes no cartão ilustrado que foi divulgado na ocasião dos ritos fúnebres dele e
publicado nas páginas do boletim La Divina Provvidenza ( novembro 1915).
È entregue a todas as pessoas “de boa vontade” com o desejo que possa despertar neles o desejo de caminhar com maior
fervor nos atalhos da santidade, nas pegadas de Pe. Luís Guanella e possa favorecer sentimentos generosos para um crescimento civil e moral do povo de Deus, em modo que o futuro
possa ser cheio de esperança e a as esperas dos pobres se tornem compreensíveis e realizáveis.
O Postulador geral
Pe. Mario Carrera- SdC
Roma, 21 de fevereiro de 2011
Consistório Ordinário Público
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PREFÁCIO
PE. GUANELLA, FILHO DA IGREJA DE COMO
Um após o outro acompanhamos com sincera atenção os
passos do caminho que levou à canonização do Bem-aventurado Luís Guanella, filha de Igreja de Como, primeiro santo da
época moderna da nossa diocese.
A autorização concedida pelo Santo Padre Bento XVI chegou como conclusão do Ano Sacerdotal e não me cansarei de
lembrar o quanto seja importante, para nós todos (sacerdotes,
religiosos, leigos), olhar para a figura luminosa do Pe. Luís
Guanella. É um exemplo a ser seguido, testemunha de uma
caridade autêntica, de uma transparência do Evangelho vivido
no amor e na atenção gratuita nos confrontos dos próprios irmãos, especialmente os mais frágeis.
Na sua vida o santo foi capaz de fazer escolhas que fossem
“para sempre” e neste período, em que viva é a atenção para
o “desafio educativo”, me agrada evidenciar a sua capacidade
de estar ao lado das pessoas, apoiando-as, ajudando-as no próprio caminho de busca rumo a alguma coisa que valesse a pena
empenhar-se. Mesmo esta me parece uma feliz coincidência: a
canonização do Pe. Luís propriamente no início do decênio
em que a Igreja italiana dedica ao tema educativo, escolhendo
um caminho bem preciso: “Educar para a vida segundo o
Evangelho”. Uma obra na qual o Pe. Guanella tem muito a
nos dizer. Lemos isto no número 34 das Orientações pastorais
do Episcopado italiano 2010-2020: “Na obra educativa da Igreja
emerge com evidência o papel primário do testemunho, porque
o homem contemporâneo escuta de bom grado mais as testemu15
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nhas do que os mestres, e se escuta os mestres o faz porque são
também testemunhas críveis e coerentes da Palavra que anunciam e vivem” (Evangelii nuntiandi, n. 41).
Eis o traço característico e a grandeza do Guanella: ser uma testemunha crível e coerente de uma Palavra que anunciou vivendoa. Uma testemunha que escutamos e seguimos de bom grado. Com
superabundante generosidade investiu tempo, capacidades e recursos para dar esperança aos irmãos e às irmãos que encontrava
contemporaneamente e em qualquer situação. Com a sua própria
vida ajudou os outros a mudar, ou melhorar a sua vida.
Para a Igreja de Como esta canonização é um momento de
grande alegria e de grande satisfação. Pe. Luís viveu plenamente o sentido da vida diocesana, em um território como o
nosso que ainda hoje – numa época em que mover-se, comunicar, encontrar-se é fácil e ao alcance de todos – não esconde
a sua riquíssima e ampla heterogeneidade. Mas para ele não
existiam distâncias, não havia diferença entre as pastagens eriçadas do Valchiavenna, as áreas paludosas do Pian di Spagna,
as zonas rurais da montanha e do outro lago ou a senhoril cidade de Como... Para ele contava o homem. Contava a pessoa,
com a sua dignidade, o seu coração, a sua fé, as suas fragilidades. Aos seus olhos todos eram iguais: o pobre e o rico, o
doente e o sadio... Antes, como já dissemos, e como bem sabemos, perfeitamente encarnou o ensinamento de Jesus: aqueles que para os outros eram os últimos, para ele eram os
primeiros a serem privilegiados. Uma sensibilidade que o levou
a elaborar respostas agudas e brilhantes às situações de dificuldades e de desconforto: métodos formativos, caminhos reabilitativos, atividades e ocupações válidas ainda hoje e que
representam uma contribuição preciosa e insubstituível ao
bem da sociedade.
Um homem de inteligência refinada e com muitíssimos interesses como nos dizem o seu envolvimento em favor da construção do farol, sobre a colina de Brunate, em honra de
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Alexandre Volta; a amizade com o Pe. Gemelli; a capacidade
de acender com o seu entusiasmo centenas de colaboradores
e cooperadores; a paixão pela descoberta e pelo conhecimento:
a sensibilidade para com as peregrinações (com um amor especial pela Terra Santa, onde as Casas que levam o seu nome
são oásis de paz, diálogo, convivência, formação).
Um homem humilde, que sabia escutar quem estivesse ao
seu lado (pensemos na Bem-aventurada Clara Bosatta e na
Irmã Marcelina Bosatta).
Um homem moderníssimo que não conhece os limites do
mundo: significativo o fato de que o milagre que levou para a
sua canonização tenha acontecido nos Estados Unidos.
Olhemos para ele; para o seu exemplo; para a sua capacidade de oração, de escuta, de contemplação; para o seu confiar-se completamente a Deus na centralidade da Eucaristia;
na sua devoção mariana.
Para a Igreja diocesana cabe a feliz e empenhativa responsabilidade de conservar, fazer crescer e conhecer a beleza e a
profundidade da mensagem guanelliana, feita de atos concretos de amor, antes ainda que de palavras.
+ Diego Colletti, bispo da Diocese de Como
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1ª PARTE
PANO DE FUNDO
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Como, 18 de janeiro de 2011.
Pe. Luís Guanella viveu a maior parte de sua vida na segunda metade de 1800, tempo marcado por profundas transformações sociais que influíram no seu crescimento humano,
sobre sue caminho de fé, sobre a vocação de servir os pobres.
É difícil delinear a personalidade e os aspectos originais do
itinerário de sua santidade se não damos antes um olhar,
mesmo que rápido e sintético, ao contexto histórico, social e
eclesial no qual ele realizou o seu esplendido testemunho de
homem de Deus, pai dos pobres, cidadão do mundo e educador apaixonado.
1. Contexto histórico
Luís nasceu no dia 19 de dezembro de 1842 em Fracíscio,
uma pequena aldeia que tinha mais ou menos 240 habitantes
situada no Vale Splügen, no Reino Lombardo-Vêneto, dependente do Império Austríaco. Hoje é um vilarejo da Prefeitura
de Campodolcino, na Província de Sôndrio, na região da Lombardia (Itália).
Na tomada da Bastilha (Paris, 14 de julho de 1789), marcou
o fim do poder absoluto dos reis e o início da “Revolução francesa”, daquele fenômeno histórico que exercerá uma influência muito grande sobre a história futura, não somente na
França, mas em toda a Europa. Os históricos são do parecer
que este evento mudou o curso da história porque marcou a
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afirmação dos direitos do homem, resumidos nas famosas palavras “liberdade, fraternidade, igualdade” (Declaração dos direitos do homem e do cidadão 1789), e obrigou os governantes
a transformar a organização dos estados, até aquele tempo
substancialmente de cunho monárquico, dando início ao “estado constitucional”, um estado fundado numa “Constituição”, uma carta dos direitos e dos deveres dos cidadãos, e
sobre a distinção entre os poderes legislativo, judiciário e executivo para melhor organizar a vida social.
Olhando as coisas com mais atenção, deve-se reconhecer
que as ideias introduzidas e transmitidas pela Revolução Francesa estavam já presentes na famosa “Declaração dos direitos”,
firmada alguns anos antes em Filadélfia, nos Estados Unidos;
todavia, ao contrário dos americanos que tinha tirados aqueles
valores do húmus do Evangelho de Jesus Cristo, na França
aqueles mesmos valores foram apoiados sobre a razão humana.
As novas ideias de liberdade causaram relevantes mudanças
nas estruturas da ordem geopolítica da Europa porque originaram sangrentas guerras civis em quase todos os estados e fomentaram uma aversão sempre mais crescente para com a
Igreja, o Papa, a religião, em nome da razão positiva (a “deusa”
Razão). Deriva daqui o secularismo, isto é, o afastamento dos
valores cristãos, fenômeno que caracteriza a civilização ocidental europeia de hoje.
Passa assim o astro fulgente de Napoleão Bonaparte, o
grande protagonista da Revolução; os reis dos estados europeus se reuniram em Viena (Áustria) num histórico Congresso
(outubro 1814 - junho 1815) para tentar “restaurar”, isto é, reportar a situação geopolítica ao passado, e para suprimir as novidades revolucionárias, que eram uma ameaça à estabilidade
social.
Criou-se, na realidade, um clima de equilíbrio entre as novas
e as velhas ideias políticas e sociais. Em particular, a relação
entre o Estado e Igreja de tornou ambivalente. O Estado con22
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trolava as nomeações dos Bispos, dando cada vez o Exequatur
(nada obsta); considerava os párocos como próprios “funcionários”; classificava as Ordens religiosas como “úteis” e “não
úteis” ao progresso social; defendia os privilégios do clero; assumia a organização da escola, embora que, de fato, esta permanecia ainda nas mãos do clero2.
Esta mudança política, definida pelos históricos “Ressurgimento”, perdeu consistência e vigor com o passar dos anos e
em toda a Europa refloresceram os ideais da Revolução Francesa.
Na Itália começou o “Renascimento”, quer dizer aquele fenômeno histórico que levou à unificação política de muitos Estados em que era dividida e ao nascimento do Estado Italiano
(1848-1870). Combateram-se muitas guerras e sangrentas de
independência para libertar as regiões do norte da ocupação
austríaca e para unir o norte ao sul, até aquela época, separadas geograficamente pelo Estado Pontifício. A primeira guerra
de independência ocorreu em 1848 e a segunda (1859 – 1860)
que levou ao nascimento do Estado Italiano. A terceira guerra
de independência aconteceu no ano de 1870 e culminou com
a tomada de Porta Pia3 e o fim do Estado Pontifício; marcou,
isto é, o fim do poder temporal do Papa e o redimensionamento do Estado Pontifício às proporções do atual Estado do
Vaticano.
Ao longo destas guerras foram ceifadas muitas vidas humanas; se registraram violências, misérias, sofrimentos de todo o
tipo e graves problemas sociais.
Foi também um período de desorientação e confusão. Entre
os católicos nasceram movimentos opostos em nível de pensamento e de ação: os “intransigentes”, que lutavam pelo poder
temporal do Papa, e os “liberais”, que defendiam a autonomia
do Estado em relação à Igreja4.
Nesta mudança rápida do cenário político italiano é paradigmática a própria família Guanella. O avô Tomaso nasceu
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na Suíça sob a dominação dos Grisões; o filho Lorenzo, pai do
Pe. Guanella nasceu na República Cisalpina do francês Napoleão; os netos e também Luís Guanella, nasceram sob o Governo Austríaco, feita exceção de irmão Gaudêncio nascido
no ano de 1849 numa pausa tumultuada da liberdade italiana;
os bisnetos nasceram todos como cidadãos italianos. É raro
que numa família aconteça que quatro gerações sucessivas nasçam sob o sinal de bandeiras de diferentes países.
2. Contexto social
O surgimento do Estado Italiano foi proclamado no dia 17
de março de 1861. Graves problemas os novos governantes tiveram que enfrentar: unir as intenções de todos os italianos
(“Unida a Itália, precisa unir os Italianos”) e dar desenvolvimento econômico, industrial e infra-estrutural em todo o território do novo estado. Precisava combater a ignorância e o
analfabetismo; elevar as condições sociais dos cidadãos; cuidar da saúde, que se tornou precária por causa de uma alimentação muitas vezes insuficiente e pelas carentes condições
higiênico-sanitárias. Precisava eliminar a bandidagem presentes em vastas regiões da Itália; equilibrar o balanço do estado.
Sobretudo precisava resolver a complexa “questão meridional” do sul da Itália (como resolver a desastrosa situação econômica que se criou nas regiões do sul após a unificação) e a
“questão romana” (o poder temporal do Papa), que tinha fortíssimas repercussões sobre a população italiana, muito ligada
à Igreja Católica.
A situação econômica se apresentava muito problemática
por causa da grave crise agrária; fortíssimo era o fenômeno da
emigração para as Américas (do ano 1861 até 1905 emigrou
para a Inglaterra, os Estados Unidos e para a América do Sul
cerca 20% da população italiana).
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A segunda metade dos anos 1800 foi caracterizada também
da uma “grande” revolução industrial; nas fábricas e nos estabelecimentos se instalaram máquinas a vapor que facilitaram e
multiplicaram a produção dos bens. Este fenomenal progresso
técnico, se de um lado acelerou o processo de industrialização,
do outro, infelizmente, alimentou o desemprego porque o uso
das máquinas diminuía progressivamente o trabalho braçal.
Junto a outros fatores a revolução industrial provocou como
consequência um profundo mal-estar nas massas dos trabalhadores, que se organizaram para defender os próprios direitos. Começaram neste contexto os sindicados e os organismos
de tutela dos direitos trabalhistas.
O progresso tecnológico e científico fez passos gigantescos
determinando contínuas mudanças na vida diária dos italianos. Foram introduzidos novos meios de transportes: trens,
navios, automóveis, aviões, bondes, trólebus (ônibus elétrico);
com a descoberta da energia elétrica se mudou o sistema de
iluminação das casas e das cidades (invenção da lâmpada).
Apareceram os gramofones, o rádio, o aço, que revolucionou
o sistema de construção dos edifícios e das pontes. Em relação aos meios de transporte e das vias de comunicação registraram-se novidades relevantes: a abertura de canais, de
galerias, de estradas tornou mais velozes o deslocamento de
pessoas e de mercadorias e, por consequência, também a troca
de bens culturais. A comunicação tornou-se mais rápida com
a invenção da máquina datilográfica, as impressoras gráficas, o
telefone, o cinema.
Os governos dotaram as cidades com esgotos, de água potável, de rede elétrica, de serviços higiênicos, de coleta de lixo.
As grandes cidades mudaram os seus planos urbanos: junto
aos grandes bairros burgueses se contrapuseram periferias
muitas vezes miseráveis, pobres e de má fama.
Grandes invenções que transformaram a vida dos cidadãos
e alimentaram uma nova consciência da grandeza do homem,
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mas criaram também profundos desequilíbrios entre as classes sociais. Não por acaso que próprio na segunda metade dos
anos 1800 nascem, sobretudo na Itália, muitas congregações
religiosas masculinas e femininas que se dedicam ao serviço
dos pobres, dos marginalizados, nos diferentes campos de missão: a educação, a saúde, a instrução, o trabalho profissional,
a família.
3. Contexto eclesial
Antes da unificação da Itália e ao longo do Renascimento, a
política dos Sabóia5 para com a Igreja foi marcada por uma
forte posição anticlerical, apoiada pelos liberais e pelos republicanos. A política anticlerical, na verdade, foi o único ponto
comum entre os grupos heterogêneos (liberais, mazzinianos,
maçons, garibaldinos...). Foi lançado o slogan: “Igreja livre em
Estado livre”; livres, porém, eram somente os indivíduos liberais, não a Igreja como comunidade, como “corpo”: foram
proibidas todas as procissões religiosas públicas e toda forma
de propriedade de bens materiais por parte das entidades religiosas às quais foi tirada a personalidade jurídica (lei do confisco dos bens eclesiásticos (1866-1867); lei da supressão dos
Institutos religiosos (1866).
Logo após a tomada da Porta Pia (1870) as relações entre a
Igreja e o Estado italiano se tornaram muito difíceis e as consciências dos católicos foram provadas duramente por leis impopulares, como por exemplo a abolição da isenção dos
seminaristas do serviço militar (1875), a abolição do juramento
religioso nos tribunais (1876), a supressão do ensino religioso
nas escolas estatais (1877).
O Estado concedeu a liberdade de culto a todos os cidadãos, introduziu o matrimônio civil (1866), suprimiu as imunidades eclesiásticas, ativou o registro civil da população e a
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obrigação escolar (1864). Impôs à Igreja a necessidade de receber o Nada Obsta para a nomeação dos bispos e dos párocos. Estas escolhas levaram gradativamente à separação das
massas católicas do governo liberal.
Por sua parte a Igreja proibiu aos católicos a participação
ativa à política e às eleições (non expedit, isto é, não convém),
mostrando assim um certo mal-estar frente às novidades que
nos sucessivos anos seriam acolhidas também pelo mundo católico. O Papa Pio IX repudiou a Lei das (Guarentigie, isto é,
Garantias)6 com a qual o Estado Italiano queria remendar o
rasgo com a Igreja após a tomada de Porta Pia, considerando
o fato unilateral; assim fez também o seu sucessor Leão XIII.
Assim mesmo, o mundo católico soube organizar-se e no
ano 1874 em Veneza deu início à Obra dos Congressos, isto é,
a assembleia de todas as associações católicas que operavam
no campo social, econômico e religioso, com a finalidade de tutelar os direito da Igreja, promover as obras caritativas católicas, coordenar as atividades promovidas pelas mesmas
associações, solicitar a criação de sociedades operárias católicas de mútua ajuda de bancos rurais. Ideias que foram legitimadas pelo Papa Leão XIII na encíclica Rerum Novarum
(Coisas Novas - 1891).
4. Pe. Guanella e o seu tempo
Querendo resumir as influências que o Pe. Luís Guanella
recebeu do contexto histórico, social, cultural no qual ele cresceu e no qual realizou não somente as suas obras caritativas,
mas a sua pessoal caminhada de santificação, se poderia dizer
que:
- à tentativa de afastar Deus e a fé do coração humano (secularismo), ele contrapôs a firme certeza que Deus é para nós
um Pai, que vigia os nossos passos e nos circunda de amor com
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a sua Providência;
- ao anticlericalismo e ao clima de aversão à Igreja, reagiu
mostrando com uma caridade concreta que a Igreja é mãe solícita, perita em humanidade e sabe solidarizar-se com as alegrias e as esperanças do homem;
- à confiança no progresso científico e tecnológico soube
unir uma sábia ação de sensibilização e de mente, com o intuito de mostrar que a dignidade humana do home reside antes
de tudo no seu ser filho de Deus.
Destas luminosas certezas de fé surgiu a sua paixão pelos
pobres e a sua incansável ação em favor deles para promover
suas condições de vida, para garantir a todos Pão e Senhor, arregaçando as mangas e atuando “ante lítteram”, isto é, antecipando, assim, aquilo que em termos modernos chamamos de
princípio de subsidiariedade e de solidariedade.
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«O cume do teu monte é sublime, porque de lá contempla-se mais de perto o
belo paraíso. O profundo dos teus vales é sagrado, porque no retiro da solidão
aprende-se a melhor amar ao Senhor, a melhor querer ao próximo dos irmãos...».
(L. Guanella, Il Montanaro, p. 987)
«Eis o suspiro do montanhês: “o meu povoado me é mais querido”. Custa-lhe
suores de fadiga o seu povoado e por isso lhe é querido sobretudo».
(L. Guanella, Il Montanaro, p. 988)
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«O Pe. Luís quando zanga-se um pouco, diz logo com humildade e sorrindo:
“Lembrai-vos que nasci perto da Rabbiosa”».
(L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, 16)
«Lembra-te de quando pastorzinho assistias ao rebanho; então o teu pensamento corria rápido ao pai e à casa doméstica... a mente apressava-se no encalço do pai, o coração acumulava os seus afetos e as lágrimas irrompiam como
duas fontes dos olhos. Para estagná-las tu gritavas: “O pai está em casa... logo
reverei eu mesmo o pai dileto”».
(L. Guanella, Andiamo al Padre, p. 113)
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«A Providência escolheu-nos e guiou-nos. Ela deu-me pais virtuosos que me
infundiram espírito de trabalho e de sacrifício: deles aprendi a sempre trabalhar».
(L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, 38, de 26 de maio de 1915)
«O Pe. Luís considerou no próprio
entendimento que sua irmã fosse a
inspiradora e a cooperadora nas suas
obras de beneficência e estando em
dificuldades contínuas e graves, pensava pelo menos confusamente na
irmã e tinha com isto conforto especial para prosseguir o caminho iniciado».
(Luigi Guanella, Dichiarazione inedita, Roma 08-02-1909)
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«Meus concidadãos bem amados de Fraciscio... a nós São Roque recorda-nos
a nossa igreja e o nosso sacerdote. São Roque representa o nosso povoado, o
grupo dos nossos montes, o nosso pequeno mundo e o afeto mais querido da
piedade, da fé, da paz doméstica. Rezai por mim que sou vosso irmão afeiçoado sacerdote Luís Guanella»
(L. Guanella, Quarto Centenario dalla traslazione
del corpo di San Rocco, p. 429)
Fraciscio Casa Natal
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Visão do velhinho em Campodolcino. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque de
Fraciscio.
Sobre a altura do Gualdera. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque de Fraciscio.
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Segunda Parte
Em primeiro plano
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1. Sob as asas da Providência
Luís Guanella nasceu no dia 19 de dezembro de 1842 na aldeia de Fracíscio perto da cidade de Campodolcino, entre
montanhas bonitas e ásperas, que o educarão desde pequeno
a enfrentar as dureza da vida. Seus pais, Lourenço Guanella e
Maria Bianchi, família camponesa da qual Luís é o nono de
treze filhos. Entre os companheiros da infância um lugar à
parte tem a torrente Rabbiosa (Raivosa) que corre na parte
mais baixa da aldeia; com Catarina, a irmã preferida, muitas
vezes se afasta da casa e, mesclando barro nas tigelinhas, brinca
de “fazer sopa para os pobres”.7
Aos sete anos Luís tem uma visão que é quase uma predição
do caminho que seguirá por toda a vida; ao Aldo da igreja paroquial de Campodolcino, lhe aparece um velhinho que lhe
pede uns docinhos que tem na mão e em seguida desaparece.
Esta visão cria nele pânico e amargura e o manterá como segredo que revelará somente muitos anos depois, perto da conclusão de sua vida terrena.
Na primavera do ano de 1852, 8 de abril, dia de sua primeira
Comunhão, na solidão da colina de Gualdera, ele tem uma
outra visão; esta vez é a bela Senhora, Maria, que lhe fala e lhe
recomenda de dedicar a sua vida aos necessitados.
Quando tinha 12 anos (1854) deixa Fracíscio e entra no Colégio Gállio da cidade de Como aonde estuda por seis anos.
Também se ao longo dos anos dirá palavras de agradecimento
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aos seus educadores e professores, os primeiros tempos do colégio foram vividos com muita saudade pelas suas montanhas
e a casa paterna. Concluídos os estudos do liceu, entra no seminário de Santo Abôndio para cursar a filosofia, em seguida
estudará teologia no Seminário Maior.
No dia 26 de maio de 1866 Dom Bernardino Maria Frascolla, bispo de Fóggia, condenado pelo governo italiano ao cárcere domiciliar na cidade de Como, o ordena sacerdote e o
exorta “com palavras de fogo” à coragem e ao espírito empreendedor. Alguns anos mais tarde, falando de si mesmo, no
opúsculo “O montanhês” escreverá que o seu propósito daquele dia solene foi “de ser uma espada de fogo no ministério
santo”.8
Alguns dias depois celebra a primeira Missa na Igreja de
Nossa Senhora da Assunção na cidade de Prosto; estavam presentes os pais, irmãos e irmãs; no ano seguinte (1867) foi enviado a desenvolver seu ministério sacerdotal no vilarejo de
Savogno, a cerca de mil metros de altura, entre as montanhas
do vale Bregalha. Neste lugar, ajudado pela sua irmã Catarina,
permaneceu oito anos. Gastando suas melhores energias nos
cuidados do seu povo, doando-se sem medida.
Em 1875 pede ao Bispo, e consegue, a permissão de ir junto
a Dom Bosco em Turim, para fazer “uma experiência relacionada com os seus projetos”.9 Dom Bosco lhe confia vários cargos de responsabilidade e quis enviá-lo em missão na América
Latina, mas Pe. Luís tem em si o forte desejo de trabalhar em
benefício do povo do seu vale, fundar um instituto, e com
pesar não aceita o convite do santo de Turim.
Deixados os Salesianos, em 1878 voltou para a sua Diocese
e foi enviado à Traona, um povoado da baixa Valtelina; lá trabalha três anos como vigário paroquial e inicia (1880) a um colégio para meninos pobres do vale. Infelizmente o seu projeto
não foi do agrado do pároco e do prefeito da cidade de Sôndrio e assim teve que fechar o colégio (fevereiro de 1881).
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Em seguida a esta experiência, certamente traumática, no
mês de agosto de 1881 Pe. Luís foi enviado pelo Bispo à paróquia de Olmo, um pequeno povoado do vale de São Tiago.
Lá o Pe. Luís passa meses de solidão, de sofrimento,10 de purificação interior e de oração na espera que a Providência apresentasse o caminho a ser percorrido para realizar alguma
instituição,11 às quais se sente chamado por Deus “como fundamento”.12
E, de fato, no outono o bispo o nomeia administrador da
paróquia do vilarejo de Pianello Lário, onde permanece por
nove anos e inicia suas obras de caridade. Os primeiros tempos, porém, não foram os melhores; encontra-se diante de um
muro de desconfiança: “Um pensamento me martelava: estás
no caminho certo ou não? […] Não acreditam nele”.13
Um grupo de jovens consagradas tinha começado na cidade,
com a ajuda de pároco Pe. Carlos Coppini, falecido nos primeiros dias de julho daquele mesmo ano, um asilo para idosos
e crianças abandonadas. Pe. Guanella gostaria de tomar conta
deles, mas as consagradas eram tomadas por preconceitos: “É
uma cabeça quente! Cuidado!”. “Fiquem atentas!” Com o
passar do tempo, a inicial desconfiança se transforma numa
sempre mais decisiva e profunda colaboração. Naquele grupo
estão duas irmãs Clara e Marcelina Bosatta, pedras fundamentais das instituições caritativas. Com elas, Pe. Luís iniciará
a sua missão em benefício dos pobres, dos anciãos doentes,
das crianças pobres. Tinha soado, enfim, “a hora da misericórdia”.14
De Pianello Lário no ano de 1886 um pequeno grupo de
Irmãs e assistidas parte para ir a viver na cidade de Como e
iniciar, na rua Tomaso Grossi, a casa da Providência, que é
ainda hoje o coração da Obra Guanelliana. E de Como a Obra
se ramifica em muitas instituições: Em Milão, na região do Vêneto, na região da Romagna, na Suíça, em Nova Olônio, na extremidade setentrional do lago de Como. Lá, num centro
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chamado Olônio São Salvador, instala no ano 1900 uma casa
de acolhida e de trabalho agrícola para os “bons filhos”, como
ele chamava as pessoas com deficiência mental.
No ano 1902 participa de uma peregrinação à Terra Santa e,
viajando entre o Líbano e a Galileia, reza a fim de que um dia
a sua Obra possa colocar raízes também lá, nas terras que foi
palco da vida de Nosso Senhor.
Retornando à Itália, trabalha para obter o reconhecimento
por parte da Santa Sé das suas instituições. É seu vivo desejo
alcançar Roma e graças a coincidências favoráveis predispostas pela Providência Divina, à qual se abandona com confiança, o sonho se realiza. No ano 1903 entra na colônia
agrícola de Monte Mário; de lá após alguns anos (1907), compra uma parte do ex-convento anexo à Igreja de São Pancrácio na colina do Janículo e organiza uma casa por idosas e para
as “boas filhas” que dedica ao seu grande amigo e protetor, o
papa São Pio X. Por este amparado, também economicamente,
no ano 1909 chega ao Bairro Trionfale, aonde constrói uma
Igreja em honra a São José e organiza obras educativas.
O ano 1908 é muito importante porque emite com outros
coirmãos a primeira profissão religiosa e dá início à Congregação dos Servos da Caridade, ainda que a aprovação oficial da
Santa Sé chegará alguns anos mais tarde, no ano 1912.15 No
mesmo ano (1908) obtém do Vaticano a desejado reconhecimento da Congregação feminina das Filhas de Santa Maria da
Providência.
Acolhendo o chamado da Providência Divina, abre outras
Instituições no sul da Itália, na cidade de Ferentino, de Laureana di Borrello na região da Calábria e na Valtelina, no norte
da Itália.
No inverno de 1912 enfrenta uma difícil viagem de navio
para os Estados Unidos para preparar uma instituição em benefício dos emigrantes italianos e no ano seguinte envia um
primeiro grupo de Irmãs. Três anos depois vai ajudar as po40
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pulações afetadas por um terremoto na Mársica, região do
Abruzzo, no sul da Itália. Na Igreja-Santuário São José no
Bairro Trionfale institui, com a aprovação do Papa Pio X, a
Pia União de Orações a São José pelos agonizantes, uma associação de fiéis que assume a tarefa de rezar pelos moribundos
a fim de que possam encontrar-se serenamente com a Irmã
morte. É “o coroamento das suas Obras”.16
No mês de setembro de 1915 foi improvisamente afetado por
uma paralisia que o levará à morte; são os seus últimos dias, mas
o seu espírito montanhês lhe dá força para encorajar ao trabalho
os padres e as suas irmãs sem poupar energias: “Caridade em
tudo... parar não se pode enquanto houver pobres para socorrer e
necessidades para prover... todo o mundo é vossa pátria”.
No dia 24 de outubro de 1915 na cidade de Como, Pe. Luís
Guanella termina seus dias terrenos e volta à casa do Pai, sob
cujas asas de Providência tinha, com docilidade e firmeza de
propósitos, caminhado passo a passo, como verdadeiro filho
da montanha.
O papa Paulo VI declarou bem-aventurado o Pe. Luís Guanella no dia 25 de outubro de 1964 e o papa Bento XVI o declarou santo no dia 23 de outubro de 2011.
2. O ambiente em que nasceu e cresceu
Luís Guanella passou a sua infância e os primeiros anos do
seu ministério sacerdotal, exceto o tempo que passou com
Dom Bosco, em pequenas aldeias de montanha. O ambiente típico da montanha influenciou sua personalidade e por consequência o seu caminho rumo à santidade. Um montanhês
autêntico, pelas origens, pelo temperamento, pela sensibilidade, linguajar, inquietações; apaixonado pela montanha, ficou
sempre apegado, com todo o coração, feliz de ter nascido e de
ter passado os primeiros anos de sua vida.
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Do ambiente montanhês Luís Guanella recebeu um magnífico patrimônio cultural de pensamento e de valores, que teve
o seu centro numa forte religiosidade e as suas características
dominantes num grande espírito de sacrifício e de sobriedade,
de treino à fadiga e ao trabalho, na constância do caminho,
passo a passo, no apego às próprias tradições, num profundo
espírito de família e um autêntico sentido de pertença à comunidade.
Traços caracteristícos da santitade do Pe. Guanella
“Dizem que é muito difícil tornar-se santo. Mas não é verdade.
Cada qual que queira pode tornar-se santo. Não se pedem coisas
impossíveis para que alguém fique santo. Basta somente que ele
faça com santíssima intenção todas as obras do seu estado de
vida”.17
“Tu que desde muito tempo pede conselho para tornar-te
santo, reza para poder seguir em tudo a divina vontade, porque
isto basta para tornar-te santo”.18
Eram estas as sugestões que Pe. Guanella dava àqueles que
desejavam caminhar rumo à santidade, e pediam a ele um conselho iluminado. Não há dúvida que eles reflitam uma experiência vivida pessoalmente. Cresceu em santidade até ser
proposto para ser cultuado em toda a Igreja, tendo unicamente
em vista o cumprimento da vontade de Deus em cada sua atividade de cristão, de sacerdote e de religioso.
a) Introdução
Os Santos são páginas vivas do Evangelho de Jesus que se
encarna de novo em cada época; são testemunhas críveis que
sabem unir o anúncio da Palavra à concretude dos fatos. A raiz
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de sua santidade está na consciência de serem conhecido e
amado por Deus no íntimo mais profundo do ser e em deixarse dilatar o coração e a mente pela graça do Espírito que transparece da paixão dos ideais que movem seus passos.
No firmamento da santidade, cada astro brilha de uma sua
luz refletida. Bento XVI na homilia da solenidade de Todos os
Santos no ano de 2008 falou da Igreja como se fosse um “jardim botânico”, aonde o Criador colocou uma variedade de
cores da santidade no rosto luminoso dos santos. Com os olhos
iluminados pela fé “o mundo se apresenta como um jardim onde
o Espírito de Deus – disse o Papa – suscitou com admirável criatividade uma multidão de santos e de santas, de toda idade e condição social, de toda língua, povos e culturas. Cada um é
diferente do outro, com a singularidade da própria personalidade
humana e do próprio carisma espiritual”.
b) Um homem, um Santo
Diante da personalidade criativa e rica de Pe. Guanella, captar o carisma espiritual e específico não é simples; mas podemos perceber as pegadas que levam ao coração da sua
santidade. O ponto focal da sua santidade se encontra no seu
modo de relacionar-se com a vida. Nele, como em todos modelos de santidade, se cruzam duas dimensões: uma vertical e
uma horizontal.
A dimensão vertical é representada pela sua relação com
Deus: uma relação vivida no reconhecimento de sua paternidade e numa atitude filial, na convicção que “É Deus quem
age”. Afirmava muito bem Paulo VI no dia de sua beatificação: “Tudo é de Deus: a ideia, a vocação, a capacidade de agir, o
sucesso, o merecimento, são de Deus e não do homem”.
A dimensão horizontal, social, que entrelaça a trama da santidade guanelliana derivava do fato do que se sentia “colabo43
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rador de Deus” que o impeliu a relacionar-se com o próximo
necessitado, praticada ao estilo do Bom Samaritano à luz e no
espírito das bem-aventuranças evangélicas. Nenhuma condição de fragilidade e de pobreza dos homens e das mulheres do
seu tempo era estranha para ele, porque em cada um reconhecia a dignidade de filhos de Deus e de irmãos seus.
Paulo VI, no seu profundo e magistral discurso no dia da
beatificação, na filigrana da vida de Pe. Guanella destacou
duas linhas mestras: um percurso íntimo, guardado com
pudor, e uma estrada mais visível enriquecida com o florescimento de suas obras de caridade. A linha religiosa o impeliu à
luz da visão de Deus “a interpretar, a realizar e a honrar a vontade de Deus”. Assídua foi a oração, a ascese constante, uma
comunhão com Deus Pai sempre mais íntima, com profundo
espírito de humildade até afirmar com verdade: “É Deus quem
age. A Ele somente a honra e a glória”.
Desta procura de comunhão Paulo VI indicava os pulmões
do seu respiro espiritual: “tensão” e “distensão”. A tensão era
a ânsia da difusão do Reino do Pai, que Paulo VI definiu como:
“perseverança, tenacidade, energia, coragem, espírito de heroísmo, de sacrifício”. A distensão era o respiro amplo e profundo que abria as velas da alma ao vento do Espírito e se
deixava guiar com confiança por Deus; quando Deus é o timoneiro, então, afirmava Paulo VI: “nada impõe medo”,
pode=se começar toda grande obra com “a certeza – até o risco
– que a Providência não faltará”. No Pe. Guanella “a confiança
forte, positiva, amorosa” na Providência de Deus foi a fonte de
sua santidade e da sua extraordinária e fecunda operosidade.
Após estas reflexões introdutórias, chegou o momento de
apresentar mais especificamente as características principais
do caminho de santificação percorrido pelo Pe. Luís Guanella.
Queremos fazer isso colocando-nos numa perspectiva particular: narrar como se santificou; contar como realizou a santidade; pondo em destaque os aspectos que podem envolver
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também nós, que vivemos num contexto histórico um tanto
diverso do seu, mas não totalmente diferente.
Antes, vamos propor exatamente aqueles aspectos que nos
ajudem a senti-los mais perto de nós, atual; aqueles aspectos
que nos podem encorajar a percorrer suas pegadas, confortados pelo seu testemunho, o nosso pessoal e comunitário caminho de santidade, no mundo e na Igreja de hoje.
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«Entrevistes um menino que tendo vindo diante do pai falou: “Eu quero ser
padre... Sinto que Deus me chama...”. Anos depois aquele jovem entrou neosacerdote no seio da família e pastor de um povo... Olhai-o, na testa tem
escrito: “Santo para o Senhor”. O Senhor chamou-o e quer que seja todo seu
e de vós. Rezai pelo sacerdote de Deus».
(L. Guanella, Cinquanta ricordini delle sante missioni, p. 1119)
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Pe. Guanella nas margens do lago. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque de Fraciscio.
«O Guanella, não sei se nas viagens como clérigo ou como neo-sacerdote, lembra muito bem que, passando sobre o barco de Dervio a Olciasca, olhou a
igreja de Pianello que ele não distinguia e pareceu-lhe advertir não sei qual luz
de mente e aquele movimento de coração que lhe parecia dissessem: “Olha lá,
porque naquele lugar terás trabalho e satisfação suave”».
(L. Guanella, Le vie della Provvidenza, p. 58)
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HOMEM DE DEUS
Pe. Guanella teve uma espiritualidade própria? É uma pergunta que pressupõe uma clarificação: o que entendemos por
espiritualidade? Tecnicamente se poderia dizer que espiritual
é a pessoa que sabe realizar uma interação da natureza com o
sobrenatural, do humano com o divino. Em outras palavras: a
espiritualidade é o modo concreto de como uma pessoa vive
em relação a si mesmo, aos outros, ao mundo e a Deus.
Pe. Guanella foi um homem de Deus, teve uma sua espiritualidade, porque conformou o seu pensamento, o seu agir à
vontade de Deus, cultivando uma profunda amizade com os
santos, e se sentia encorajado19 pelos exemplos deles. Foi sua
convicção que o homem é desde sempre objeto do amor por
parte de Deus; por um dom especial dado por Deus (Rm 5,5),
o amor divino (Ágape) está no coração do homem e se manifesta na própria história pessoal. O centro de sua espiritualidade é: a certeza de ser amados por Deus com o amor de um
tenro paizinho (paternidade de Deus).
Deus foi por Pe. Guanella, desde os anos da infância, o
ponto constante de referência, o horizonte dos seus gestos, das
palavras e das ações. A fé constituía a rocha sobre a qual baseava sua vida diária, nos momentos alegres ou de provação.
Uma fé com fortes características afetivas: “O Senhor te observa
como um pai que se alegra em fixar o olhar no rosto do seu único
filho. Das feições do rosto o pai distingue os fatos passados e recentes do filho. Algumas vezes prevê também as obras que fará
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no futuro. Deus Pai distingue em ti tudo isso perfeitamente,
como num espelho limpo tu mesmo vês as feições do teu rosto”.20
A sua atenção era aquela de deixar-se educar por DeusPapai, de conformar as suas ações à sua vontade: “Deus se relaciona contigo com a ternura de um pai, que em toda
circunstância educa o seu filho. Deus te educa através da Sagrada
Escritura. Deus te educa na santa oração... Coloca na tua alma
pensamentos saudáveis, no teu coração firmes propósitos de
bem... O Senhor te educa nas coisas mais úteis da vida”.21
Deixou-se educar tendo uma atitude de grande abertura e
disponibilidade, a docilidade própria de quem se sente filho
ternamente amado. A sua espiritualidade foi tipicamente uma
espiritualidade filial; ele viveu “coração a coração” com Deus
Pai, se sentia envolvido pelo seu olhar: “O Senhor te observa
com suspiros de amor, melhor que um pai que conta as batidas da
criança que dorme”.22 No discernimento diário a sua referência era Deus: “Olha continuamente para o teu pai, espera que te
dê pão para viver, enquanto isso sorri para ele com suave afeição”.23
Na Bíblia Pe. Guanella descobriu o verdadeiro rosto de
Deus-Papai e à luz da Palavra de Deus formou a sua visão de
mundo, do homem e da história: “Quem estuda “os santos livros acontece como àqueles que escavam uma mina de um
monte. À superfície encontram veias de ouro; aos poucos quando
escavam mais encontram filões de ouro puríssimo”.24“Tinha uma
tão grande estima da palavra de Deus que nunca deixava de
anunciá-la”, testemunhou o Venerável Dom Aurélio Bacciarini
nos processos canônicos para o reconhecimento das virtude
heróicas25 de Pe. Guanella. Aos seus religiosos e às suas religiosas recomendava de serem “sedentas o mais que podeis da
Palavra de Deus. Não vos canseis nunca porque a Palavra de
Deus faz muito bem, instrui a mente, fortifica o coração, impele
à ação. [...] Porque procurar riachos, quando tendes as fontes
inesgotáveis da Sagrada Escritura?”.26
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Na Bíblia encontrava o alimento necessário para a sua contemplação: “Com mão respeitosa me aproximo dos livros da Escritura. Dentro dela está a Palavra de Deus. Como somos
afortunados! O Senhor nos seus livros sagrados nos envia suas
cartas e nos fala coração a coração como pai ao filho”.27 Contemplar, na Bíblia, é capacidade de ligar, unir e compor em
unidade a complexidade dos fatos da vida; é capacidade de recompor os eventos da história, pessoal e comunitária, num
plano providencial de salvação que Deus tem solidamente em
suas mãos. Como Maria, a Virgem que escutava, também Pe.
Guanella esforçava-se de viver em plena sintonia com a vontade divina; guardava no seu coração as palavras que vinham
de Deus e, compondo-as como um mosaico, as compreendia
mais a fundo.28
Como conclusão de seus longos dias de trabalho gostava de
passar algum tempo diante do Santíssimo Sacramento para
avaliar a sua vida à luz do projeto de Deus e tomar fôlego para
o caminho do dia seguinte; na oração que considerava indispensável como o respiro que nos faz viver,29 aprendia a compreender Deus para conseguir depois compreender os
homens.30 Repetia: “É com o sopro dos lábios que se acende e
reaviva o fogo material e é com o sopro espiritual da oração que
se reaviva o fogo do zelo e da caridade”.31
Assim como jovem sacerdote na cidade de Traona, assim
como Fundador na cidade de Como, aonde mandou abrir uma
janelinha no seu quarto em modo que podia fixar o olhar diretamente no sacrário. Esta sua dimensão contemplativa aparece em todo o seu esplendor sobretudo se nos aproximamos
da figura da Beata Clara Bosatta,32 que ele guiou à perfeição
evangélica pelo caminho da oração e da mortificação, pelo caminho da cruz e pelo caminho do serviço da caridade. Enche
o coração de admiração ao constatar que como fundamento
das instituições de caridade Deus colocou pessoas místicas.33
Pe. Guanella sabia tirar alimento e vigor da contemplação
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de Deus e de seu desígnio de salvação para testemunhar com
coragem sua fé, para defender os valores da mesma, para combater os erros, para desmascarar as hipocrisias de um “mundo
mentiroso”.34 Foi um “servo fiel” da Igreja, destemido defensor da missão do Papa; difundiu também através da imprensa
escrita (livrinhos ascético-morais como aquelas, mais conhecidas, de Dom Bosco),35 a cultura católica, a visão cristã da vida,
os valores do Evangelho de Jesus Cristo. Tinha muitíssima coragem; mas alguém pensava que sua coragem fosse teimosia,
obtusidade, fechamento às novidades da história. Desde os
tempos de Savogno, nos primeiros tempos do seu ministério
sacerdotal, foi tachado como “obscurantista”, pessoa que se
opunha à difusão do progresso e a toda forma de inovação social e cultural; quem não o conhecia, pensava, inclusive alguns
membros da Igreja, que fosse até um homem “de cabeça
quente”, somente porque tinha a ideia fixa de fazer o bem a
todos e também não podia aceitar que se atingisse a Igreja e o
Papa. O seu corajoso testemunho ilumina as mentes e aquece
os nossos corações, homens e mulheres do XXI século, que vivemos mergulhados num clima de desconfiança em relação à
mensagem cristã, à hostilidade mais ou menos camuflada em
relação à Igreja e ao Papa, de relativismo ético, de aversão em
relação a tudo o que o indivíduo não pode autonomamente
decidir.
Acontece assim a todos os homens de Deus, aos profetas,
que no meio das adversidades da vida, sabem permanecer até
o fim fiéis a Ele, não traem o seu amor. Os profetas, pelo fato
que são iluminados pela palavra de Deus, são capazes de reconhecer os sinais de sua presença também entre o barulho e
a confusão, a dor e o sofrimento. Diante do mal que se alastra
não se deixam tomar pela desorientação, mas sabem apelar à
fidelidade de Deus, que nunca abandona o homem em poder
do próprio pecado. Sabem sempre suscitar esperança. Semeador de esperança foi Pe. Guanella com a sua vida que nunca
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pactuou com a banalidade, a superficialidade, a tibieza; com a
sua ação criativa envolvente, com o ministério da palavra.
Transparecia no seu rosto uma encantadora serenidade, sinal
da paz do seu coração. Procurava de infundir também nos outros aquela espiritual alegria, dizendo aos seus colaboradores,
às suas Irmãs e aos seus sacerdotes, muitíssimas vezes: “Alegrai-vos sempre no Senhor”.36
Era seu desejo estar em sintonia com a Providência Divina.
O mundo está continuamente sob o olhar de Deus que não somente o sustenta na criação, mas o guia à realização do seu
projeto de amor.37 Esta benevolência “contínua” do Pai é a
Providência. Disso surge o convite dele para aprender a viver
considerando que “Deus está presente como a criança continuamente fixa seus olhos para o pai”, quer dizer, “Deus me vê.
Deus providencia aos seus filhos”.38 Embalado nos braços paternos de Deus Pai se abandonava neles com grande confiança.
Este abandono em Deus Pai era para Pe. Guanella fazer experiência da Providência. Nos seus escritos compara a ternura
de Deus, o seu amor providente, ao sol “que está no céu e, enquanto isso, envia sua luz e seu calor tanto aos montes como às
planícies, ao recife como ao mar, e olha a todos e ao mesmo
tempo envia seus raios para ti, como se tivesse que providenciar
somente a ti. Por isso em cada canto da terra o sol ilumina, assim
deves lembrar que em toda parte o Senhor do alto te vê e te socorre”.39
Sentiu-se levado pela Providência de Deus ao longo de toda
sua existência terrena; não dava um passo a não ser que tivesse
profunda convicção de que fosse “chamado” por Deus. Pe.
Leonardo Mazzucchi, primeiro biógrafo, lembra: “Em abrir
Obras sempre dizia de obedecer a um chamado divino, e tenho
ainda vivo na minha mente que no mês de dezembro de 1912
em que quis nos explicar os motivos de sua viagem à América do
Norte terminou acrescentando: “E depois há o chamado!. E recolheu-se em si mesmo sem dar outras explicações”.40 O cha53
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mado da Providência era o critério que o guiava em realizar
suas obras; não procurava o interesse pessoal nem queria realizar seus sonhos. Declarava sem hesitação: “Se eu soubesse que
a minha Obra não é querida por Deus, eu seria o primeiro a destruí-la!”.41 Ao término da vida, volvendo o olhar aos anos de
sua infância, da sua juventude, dos seus primeiros anos de sacerdócio, dos fracassos de Traona, aos difíceis inícios de Pianello Lário, aos anos repletos de satisfações, reconhecia com
humildade que tinha sido guiado em tudo pela Providência.
Quis intitular exatamente assim suas memórias autobiográficas: “Os caminhos da Providência”.
O seu abandono confiante nas mãos de Deus não era um
tipo de “quietismo”, mas exigia uma fé robusta porque – dizia:
“A ajuda que Deus nos dá é proporcionada à fé com qual se reza,
assim que, se tu elevas súplicas humildes e fervorosas logo obterás que Deus Pai venha logo em tua ajuda”.42 Uma fé profunda;
estamos, então, bem longe de afetações e de sentimentalismos.
O amor a Deus estava bem enraizado e baseado na consciência que devia fazer a própria parte.: “Eu penso até meia noite,
após a meia noite é Deus quem pensa”.43 Muitos são os seus ensinamentos nesta linha: “O limite da força do cristão é marcado
pela força e pela graça do Onipotente. Esta força e esta graça
Deus a concede em proporção à nossa cooperação”.44
Pe. Guanella foi um homem de visão ampla, aberto à realidade e aos valores “terrenos”. Em relação à criação foi otimista, porque a criação é fruto da paternidade de Deus. Mas
ao mesmo tempo não foi ingênuo, conhecendo bem o coração
humano e sabendo que viciou a relação entre os outros seres e
as coisas: “Tu nasceste frágil, porque és filho de pais feridos pelo
pecado. Todas as vezes que pecaste tu carregaste o teu espírito de
aflição, o corpo o carregaste de chagas”.45 Em relação ao homem
teve uma visão realista, mas sem cair no pessimismo, ficando
sempre aberto à dimensão sobrenatural: o homem é pecador,
mas foi redimido “recriado” pela Graça; pode cair no abismo
54
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do mal, mas pode elevar-se aos cimos excelsos das virtudes, é
sempre capaz de fazer um bem extraordinário. Gostava repetir: “Pensa que o Senhor te tirou do nada. A tua bela alma assemelha a Deus, como o querido rosto do filho se assemelha ao
rosto do seu pai”;46 “somente o Senhor é isento de pecado e sem
nenhum defeito. Para fazer um pouco de bem a si e aos outros é
conveniente servir-se do homem com o ele é, isto é, pequeno, frágil, mortal”.47
Parece ser muito atual o seu pensamento relacionado com as
causas do decaimento da sociedade: “Lúcifer e os seus companheiros nos céu eram sábios, lhes faltava porém o poder, por isso
disseram: “Façamos guerra contra Deus e tornemo-nos semelhantes ao Altíssimo”.48 E é o orgulho do homem que se rebela
contra o seu Criador que torna o mundo “um fogo incessante
de concupiscência..., trevas de interesses..., ar fedorento de soberba e de vaidade; eis que o mundo se torna para o homem uma
terra de iniquidade, um vale de lágrimas, por isso deve prestar
atenção e temer continuamente os inimigos que o cercam”.49
Pe. Guanella tinha grande confiança nas capacidades do
homem, mas também clareza de ideias a respeito da necessidade da ascese. Para renovar o mundo a sociedade é preciso
renovar a si mesmos, é preciso renascer a uma vida nova cada
dia segundo Jesus Cristo: “No homem velho está o orgulho da
mente e a perversidade do coração. Ver as coisas como Deus as vê,
fonte de luz e de caridade e imitar a semelhança, neste está o
grande e intenso trabalho dos dias, dos meses, dos anos, de toda
a vida do cristão. É preciso não nunca cansar”.50 Desde jovem
sacerdote exercitou-se na mortificação, nos sacrifício, também
em formas severas de penitência (cilício); fazia parte do seu
viver espiritual a convicção de que: “A primeira e mais importante mortificação é a exata obediência à própria Regra e o tolerar com paciência as cruzes da jornada, humilhar-se dos defeitos
próprios e ter compaixão pelos outros”.51
Por este caminho guiou rumo à santidade muitas pessoas.
55
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Ele mesmo fez questão de escrever biografias destas pessoas
para a edificação do povo de Deus e para “impelir” a abertura
de processos canônicos para a beatificação (Ir. Clara Bosatta,
Ana Sucetti, Catarina Guanella, irmã dele, Alessandrino Mazzucchi...). Uma página das memórias autobiográficas, escritas
de próprio punho,52 nos permite colher a intensidade do empenho ascético em que se exercitava e ao qual exortava: “Fundamento das casas da divina Providência é para nós a letra F
quatro vezes repetida: fome, frio, fumaça, fastio. Esta letra, repetida quatro vezes com a alma decidida a praticá-las segundo a
fé e a razão, constitui a base piramidal ao avesso que relembra a
letra V, e esta letra V significa Vítima. É necessário vítimas em
tudo e precisam especialmente vítimas conformes à grande vítima do Calvário, para construir torres de salvação pelas almas.
56
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PAI DOS POBRES
Consciente que Deus é honrado quando é devolvida a dignidade do homem. Pe. Luís Guanella, como “homem de
Deus” tornou-se “pai dos pobres”, quer dizer, traduziu a espiritualidade em ação, transformou a relação filial que tinha
com Deus em fraternidade solidária com os pobres. “Os tempos são difíceis e é preciso que surjam nas paróquias muitas instituições para homens, para mulheres, para todo tipo de
necessidade. São fermento; nelas está o espírito de Deus: produzem pequenas santidades que santificam e salvam”.53
O seu século encontrava novos caminhos para socorrer as
misérias humanas; na segunda metade do anos 1800 surgiram
famílias religiosas que se dedicaram ao apostolado da caridade.
Também a sua resposta ao chamado de Deus tornou-se operativa, multiforme e criativa: soube unir a paixão para com
Deus à paixão para com os pobres. No ano 1892 editou o primeiro número do informativo da casa Mãe de Como: a “Divina Providenza”,54 em que ele afirma que “na casa há todo tipo
de pobres”. Deste momento em diante sua tarefa prioritária foi
aquela de “mostrar com os fatos ao mundo que Deus é aquele
que providencia com solícito cuidado de pai aos seus filhos”.55
Cumpriu um longo caminho de discernimento da vontade
de Deus e dos apelos do Espírito Santo, empenhando-se em
“decifrar” os múltiplos sinais do chamado recebidos, de purificar os propósitos de bem que levava no seu coração, de manter-se disponível em deixar-se guiar pela Graça. Foi muita
ampla esta responsabilidade: com humildade, mas com sofri57
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mento, aceitou os fracassos, os passos errados quando “pensava de ter a Providência no bolso”;56 a espera, muito longa, até
os 40 anos, que “soasse a hora da Providência”. Através deste
intenso trabalho interior, conseguiu clarear a si mesmo que servir os pobres era um desejo do coração de Deus, antes que um
próprio projeto de vida, e que cumprindo o desejo do coração
do Pai teria satisfeito a sede de felicidade do próprio coração.
Pe. Guanella tirou da fé uma visão clara do homem (antropologia). O homem é obra de Deus.57 Criando o homem a própria imagem e semelhança, Deus o quis colocar no cume da
criação. O homem não é fruto do acaso, mas uma obra maravilhosa da inteligência e da bondade de Deus:58 “O homem é
“inteligência encarnada”,59 afirma num seu escrito. Por causa
di pecado original o homem é ferido e continua a levar consigo
as cicatrizes deste pecado. Toda a vida e a história da humanidade estão sob a força rebelde e a ferida daquele primeiro pecado.60 À desobediência do homem, Deus responde com a
misericórdia: envia seu Filho, Jesus Cristo, para salvá-lo da
morte do pecado.61 A tendência para o mal permanece no
homem sob a forma de tentação, de paixões, de instintos, mas,
ajudado pela Graça, ele pode escolher de estar ao lado de
Deus.
Jesus Cristo veio à terra para levar de novo a imagem e semelhança divina ao esplendor originário; revela ao homem o
desígnio do Pai: um projeto de salvação.62 O homem é assim
chamado a acolher este projeto-vocação e empenhar-se com as
melhores forças para vivenciá-lo.63 Coração da revelação trazida por Jesus Cristo é a filiação divina: Deus é Pai de uma ternura infinita, o homem pode recorrer a Ele como se recorre a
um Paizinho. Antes, à semelhança de Jesus Cristo, o Filho predileto do Pai, cada homem é chamado a encaminhar-se rumo
ao Pai, percorrendo o caminho da santidade, as Bem-aventuranças evangélicas. Este caminho em subida, cansativo e arriscado, conduz à meta; se realizado, de mãos dadas com Cristo,
58
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que sempre nos encoraja: “Vamos ao Pai”.64 Neste guia o
homem deve confiar, como a um irmão e a um pai, sobretudo
quando a subida se torna o caminho da cruz e comporta morrer a si mesmo para acolher a vida nova, a vida do espírito.
À luz da revelação cristã Pe. Luís amadureceu o seu apostolado em defesa da vida, de sua inviolabilidade, da concepção
até sua natural conclusão; teve um olhar capaz de ver a vida na
sua profundidade e – parafraseando a Encíclica Evangelium
Vitae ( Evangelho da Vida) – poderíamos dizer que não se rendeu desanimado diante a quem estava na doença, no sofrimento,
na marginalização e à beira da morte.65 Estava convicto que a
vida humana participa da mesma vida de Deus: “Eu vim para
que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,19). A
sua missão entre os pobres foi aquela de agir a fim de que ninguém ficasse para trás no caminho da vida;66 que a vida na sua
manifestação mais pobre, fosse preservada de qualquer agressão, seja ela material ou ideológica. Àqueles que o seguiam, sacerdotes, irmãs e cooperadores leigos, indicava com firmeza:
“Pão e Senhor não pode ser pouco, mas suficiente nas nossas
casas”,67 querendo dizer que a pessoa humana precisa de um pão
material, de uma casa, de uma roupa, mas também de Deus.
Sem Deus a vida da pessoa, mesmo que estivesse cheia de bens
material, ficaria vazia e sem sentido. A pessoa de fato, tem inato
dentro de si o desejo de relacionar-se com Deus,68 segundo a expressão de São Agostinho: “Senhor, tu nos fizeste para ti e o nosso
coração não terá paz até que não repousar em ti”.69
Um dos pilares sobre os quais se apoiou a sua missão de caridade é a consciência de que a ajuda que se dá ao pobre é feita
ao próprio Deus, segundo o ensinamento de Jesus: “Todas as
vezes que fizeram isto a um dos menores dos irmãos, o fizeram a
mim! (Mt, 25,40). Os seus olhos eram capazes de ver a Jesus
nos pobres: “O mais abandonado entre todos, recolhei-o vós e
colocai-o à mesa com vocês e fazei-o vosso, porque este é Jesus”.70
Era “atraído” pelos sofredores, doentes, abandonados, indi59
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gentes e pelos que eram marcados pela não-beleza porque eles
carregam as estigmas de Jesus Crucificado. Os chamava “tesouros”,71 os comparava à figura bíblica do Salmo 22 ao “eu seu
um verme e não um homem”,72 quer dizer ao “Servo sofredor”
de Isaías. ( Is 42; 49; 50; 52-52); e por consequência a Jesus na
sua condição de vítima oferecida para a redenção do mundo.
Os pobres maiormente marcados pelo sofrimento redimem o
mundo: uma intuição que lhes infunde uma dignidade verdadeiramente extraordinária. Por este motivo, o serviço da caridade que Pe. Guanella exercitava “em modo especial em
benefício dos filhos pobres do povo, dos idosos pobres do povo”,73
foi o caminho privilegiado para sua santificação. O seu serviço aos pobres, manifestado em níveis sempre mais perto ao
estilo de Deus, o santificou tornando-o imagem, frágil e fraca,
mas sempre imagem d’Aquele que é Santo. O serviço da caridade foi por Pe. Guanella não só o lugar aonde a santidade se
manifesta, mas também o lugar em que a santidade amadurece; a santidade cresce na e com a caridade.
O coração grande de Pe. Guanella não fazia classificações,
não elaborava definições, mas “acolhia” o pobre assim como
ele se apresentava; “percebia” a necessidade seja em nível material como em nível espiritual, com a sensibilidade e a intuição que somente um coração que ama pode ter. Visitando as
pessoas com deficiência na Casa São José na Rua Aurélia Antiga em Roma, no dia 28 de março de 1982, papa João Paulo
II pronunciou para os guanellianos estas comoventes palavras:
“É necessária uma caridade especial, uma caridade heróica para
enamorar-se por estes necessitados, daqueles que sofrem atraso
mental, dos paraplégicos, muitos destes estão nesta casa. É fácil
se apaixonar pela beleza visível; é difícil enamorar-se na falta de
beleza. Para descobrir a beleza quando falta, quando se vê a não
beleza é necessária uma caridade particularmente aguda, penetrante, especialmente grande e única. Esta é o caminho que percorreu Pe. Guanella, este é o vosso caminho.
60
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Não colocava limites em acolher, tanto que alguns não cessavam de sugerir-lhe de “colocar ordem” naquela espécie de
arca de Noé que era sua primeira fundação, a Casa da Providência de Como. A ordem a fará do jeito dele, não limitando
a acolhida, mas organizando os pobres em grupos de “famílias”, a imitação do que tinha visto na bem conhecida “Pequena Casa da Providência” instituída em Turim por São José
Bento Cottolengo.
Além dos “tesouros”, ele gostava repetir que os pobres eram
seus “patrões”, “sacramentos”, isto é, sinais da presença de
Jesus Cristo. No seu pensamento os pobres não são somente
imagem de Cristo sofredor mas também profecia em relação
ao homem porque revelam a verdadeira grandeza e os valores
sobre os quais se fundamenta a autêntica dignidade da pessoa
humana. Um ser carente de riquezas - e muitas vezes carente
de saúde, estima, beleza, inteligência, cultura – é todavia caro
e precioso diante de Deus e lembra uma verdade fundamental:
as pessoas valem pelo que são e não pelo que produzem.
Era sua profunda convicção que os pobres nos educam: o
serviço feito a eles é, para todos, uma escola de humanidade
uma evangelização, no sentido que nos colocam na situação de
melhor compreender a mensagem de Deus, que escolheu de
estar ao lado dos fracos, dos pequenos. A consciência de sua
dignidade é determinante para construir uma sociedade realmente à medida do homem e garante do acesso de todos e de
cada um à vida, à saúde, à família, ao trabalho, ao bem-estar, à
felicidade. De fato, reconhecendo e promovendo os pobres,
os últimos, se reconhece e se promove a dignidade de todos e
se tornam presentes em todos o amor e a justiça.74
No exercício do ministério sacerdotal, não se contentou de
acolher o pobre que batia à porta de suas casas, mas foi procurá-los75 lá aonde viviam em situações de miséria;76 se preocupava com cada um, se solidarizava, o ajudava material e
espiritualmente. Assim aprendeu a ver os problemas dos po61
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bres a partir de dentro e não do alto. O que ampliou os confins de sua mente e de seu coração foi o encontro com os “bons
filhos”, como ele chamava as pessoas com deficiência mental.
São criaturas que precisam de tudo e ele assumiu a responsabilidade de assisti-los, curá-los, ajudá-los também nas necessidades mais elementares. Entendeu que na mente deles um raio
de inteligência, solicitada com amabilidade, é capaz de iluminar as trevas deles.
Estamos em frente a um santo, Pe. Guanella, que foi um
apaixonado pelo homem; um santo que soube levar a altos
níveis a sensibilidade de estar perto do homem: não só foi
grande no amor para com Deus, mas foi grande no amor para
com o homem, um perito em humanidade. Interessado, por
vocação, para estar perto do homem, ao longo de toda a sua
vida estou a grandeza e a humildade, os cumes a as profundidade do homem. Viveu uma caridade heróica, luminosa,
esplendida para com o homem.77 A sua foi uma caridade
vasta, criativa, que sabia encontrar soluções para cada tipo
de necessidade: pessoas com deficiência, idosos, crianças,
emergências humanitárias (terremoto na Região da Mársica
nos Abruzos), emigrantes...; provam tudo isso as suas numerosas iniciativas em benefício do homem, as tantas Obras
que iniciou e que os seus discípulos continuam e “criam” em
muitas partes do mundo.
A caridade, tirada da fornalha da intimidade com Deus, o
impelia a dar uma resposta autêntica às necessidades do pobre,
uma resposta de amor especial tanto que aquele que a recebia
sentia-se reconhecido na própria dignidade, se sentia renovado, colocado em condição de levantar-se: quando uma pessoa de sente amada, de fato, refloresce nela o sentido da vida.
Antes de ver o pobre como uma pessoa que precisava de ajuda,
a caridade lhe fazia ver um irmão que devia ser amado. No seu
coração “recolhia” as misérias humanas a fim de providenciar
a elas.78
62
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Em Jesus Bom Pastor (Jo 10,11-18) e piedoso Samaritano
(Lc 10,25-37), que com a vida e a palavra anunciou ao mundo
que Deus é Pai e cuida de todos os seus filhos, encontrou o
modelo para caracterizar o seu ministério sacerdotal, tendo
como finalidade antes de tudo de restituir dignidade ao pobre,
reconhecendo-o como sujeito capaz de relações de reciprocidade. Um aspecto que qualificou a sua santidade foi aquele
que o levou a criar família, proximidade, reciprocidade com
os pobres; garantiu-lhes, em modo especial aos mais abandonados, não só alguma ajuda decente de suporte físico ou psicológico, mas um ambiente afetuoso e acolhedor de uma
família.
O espírito de família caracterizava as suas instituições; o
pobre era integrado na vida da casa porque considerado, também os mais maltrapilho, um dom enviado pela Providência
e, então, também uma “ajuda”, uma preciosa contribuição
para a realização da missão. Intuiu que era oportuno criar entorno ao pobre um ambiente de família, sobretudo a partir das
pessoas. Desde o início da sua experiência de fundador quis
circundar-se de “uma família” de colaboradores, que unidos
entre si “com o vínculo da caridade”79 vivessem juntos aos pobres, como uma “pequena comunhão dos santos”,80 como uma
família que junto crê, ama, espera e age, sob os olhares paternos de Deus Pai. No interior da família as relações são muito
importantes; as relações que se concretizam através do serviço
da caridade podem não somente falar da ternura de Deus, mas
também sarar as pessoas, curá-las nas suas feridas, dar dignidade à sua vida humana, “redimi-las”.
Pe. Guanella é uma carta que Deus enviou aos pobres, seus
prediletos. O endereço desta carta tem como remetente Deus
e como destinatários os pobres. O conteúdo desta carta circunda os pobres de afeto, os chama a fazer parte de sua família e os acompanha com coração de pai. Convicto de que “os
pobres mais de perto representam Jesus Cristo”,81 lembra tam63
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bém a nós que “quem dá alimento a um pobre receberá abundante recompensa, que qualquer tipo de bem se faça também ao
último, ou seja ao mais miserável dos próprios irmãos, é como se
fosse feito a Jesus”.82 Anime também a nós, cidadãos do XXI século, o seu firme propósito: “Quero amar, a necessidade de amar
é, para mim, indispensável como o respiro”.83
64
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«O Pe. Guanella tinha uma
verdadeira veneração pela
Madre Superiora Ir. Marcelina
Bosatta, que ele considerava
quase a fundadora das suas
Obras; e acho que nem a fundação dos Servos da Caridade
ele tenha feito sem o conselho
e o beneplácito da Ir. Marcelina».
(Summarium super virtutibus,
p. 206)
«Pedra preciosa da Casa divina
Providência em Como e vítima
preciosa foi a Irmã Clara Bosatta».
(L. Guanella, Le vie della Provvidenza, p. 70)
65
Impag_por:Layout 2 10/06/11 14.14 Pagina 66
«O Pe. Guanella pensava em transferir-se definitivamente para Como. Precisava procurar um ponto de apoio... Por último, alugou-se a casa e o terreno do
senhor Biffi. Pe. Guanella, estudante no Colégio Gallio, parecia pressentir mais
de uma vez, subindo lá em passeio, que aquele terreno teria sido campo de
particulares obras suas. Explique quem pode e como pode! Eu não ousaria
pronunciar-me!».
(L. Guanella, Le vie della Provvidenza, p. 66-67)
Pe. Guanella entre as vítimas do terremoto da Marsica. Afresco de Conconi.
Igreja de S. Roque de Fraciscio.
«O mundo, como terra vulcânica tem tremores e sacudidas que ameaçam transtorná-lo, mas será salvo, todavia, pelo espírito de caridade».
(L. Guanella, La Divina Provvidenza, junho de 1910, p. 92)
66
Impag_por:Layout 2 10/06/11 14.14 Pagina 67
: «A Providência guiou-me em todas as partes. Não temi nem pelas dívidas,
nem pela vida; a Providência é aquela que faz por nós, e não há, portanto, nada
para temer.
Também agora, nas atuais vicissitudes dolorosas e trepidantes, não temo: existe a Providência que vigia sobre nós: tudo depende de mantê-la amiga confiando nela e tendo longe o pecado. É assim que são fortes as fundações da
Providência.
No entanto, para progredir, ocorre, repito, espírito de confiança na Providência do Senhor, espírito de trabalho e de sacrifício, espírito de oração. Assim fezse aquele pouco que se fez, e chegou-se a esta velha idade, e o Senhor
compadecerá os muitos defeitos e terá em conta o bem que se fez. Se se conserva, se se aprende, se se difunde este espírito, a obra crescerá, prosperará».
(L. Guanella, La Divina Provvidenza – 1915, p. 85)
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«Ora, eis o nosso sacerdote! Nós estamos comovidos com isto até o íntimo do
coração. Deixai-o fazer o sacerdote, porque ele trata os nossos interesses e da
humanidade com Deus. [...] E quando, curvo sob o peso dos anos, enfraquecido na pessoa e tremente nos membros, apresetar-se-á diante dos nossos sobrinhos, ele dirá: “Amei-vos na carreira do meu viver, amo-vos agora que
morro. Eu não tenho família e não tenho parentes, exceto vós. A vós diletos,
eu entrego o meu corpo e com o corpo todas as substâncias que Deus pôs nas
minhas mãos”. Enquanto ele dirá isto, tantos corações estarão trepidantes, e no
ato que abençoando descerá na tumba, elevar-se-á um grito de pranto e gemidos que dizem: “Ó pai e pastor pio, por que nos deixaste órfãos e desolados?”.
Mas ele não estará mais e olhar-vos-á desde o céu e ajudar-vos-á de luzes ainda
mais, e fará entender aquilo que ele é, ministro de paz, pais dos povos e sacerdote que salva as almas».
(L. Guanella, Il Montanaro, p. 1002)
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CIDADÃO DO MUNDO
Desde a infância Luís foi levado a sentir-se parte integrante
da comunidade social de Fracíscio, aldeia em que vivia junto
ao papai Lourenço, à mãe Maria e aos irmãos e irmãs.
Já pelo mesmo fato de viver numa família numerosa o predispôs a relações abertas, entrelaçadas de encontros e confrontos, de alianças, de afinidades, de ternura, de respeito pela
capacidade de cada um, de emulação, de estímulos. O sentido
de pertença se desenvolveu nele em modo quase natural, porque todos em família se sentiam responsáveis pelo bom andamento da casa, se colaborava praticando o ditado “comei e
trabalhai!”84 O pai para integrar os recursos econômicos, nos
meses frios descia no vale para trabalhar como destilador de
graspa; a mãe e as irmãs ajudavam nos trabalho da lavora; os
pequenos ajudavam nas tarefas da casa e nos trabalhos da estrebaria; os maiores durante o verão deixavam a própria cama
aos turistas que subiam à aldeia para respirar o ar das montanhas e a casa se transformava assim num pequeno pensionato.85 Bastava um cochicho e cada um se organizava para
preparar os ambientes em ordem e em silêncio quando papai
Lourenço, temperamento firme, “sacerdote e rei”86 da família,
voltava para casa.87 E na ocasião da festa da aldeia, São Roque,
era muito significativo aquele ritual quando se preparava a panela de arroz para os hóspedes, os amigos,88 os da casa e para
os pobres da aldeia. “Aonde tu não consegues fazer, eu consigo”, “todos por um e um por todos”: não há mais nada para
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dizer, o ambiente familiar constituiu para o pequeno Luís uma
bonita aprendizagem.
O ambiente típico da montanha o educou à solidariedade e
ao sentido do bem comum; numa pequena aldeia todos se ajudam para o bom andamento da vida familiar e social, todos
compartilham das alegrias e dos sofrimentos dos outros. Se for
preciso colocar no curral o feno recolhido, todos colaboram:
um corre à Igreja para tocar o sino para recordar o empenho
de invocar a bênção de Deus; um outro bate a neve no longo
do atalho a fim de que o feno possa descer com facilidade; um
outro ainda sobe ao morro e colabora; outro enfim cuida os
pontos críticos do atalho para comunicar imediatamente se há
algum perigo à vista.
Deste modo Luizinho recebeu ensinamentos que não esqueceu ao longo de toda a sua vida. Um dele, em especial, merece ser lembrado. Luís tinha sete ou oito anos. Tinha cuidado,
enquanto pastavam, as vacas de outros pastores da aldeia, que
no final do dia o recompensavam com uma gorjeta; imediatamente foi comprar alguns doces. O fato chegou aos ouvidos
do pai Lourenço que chamou a atenção dele na frente dos pastores por ter aceito uma gorjeta em troca do favor recebido e
o obrigou a restituir o que tinha sobrado, acrescentando pessoalmente o resto que foi gasto pela compra dos doces.89 O ensinamento não podia ser mais claro: é preciso ser generosos e
solidários com aqueles que precisam ser ajudados, e que é preciso renunciar também às legítimas satisfações. Somente sobre
esta rocha do dom de si generoso e gratuito, sem esperar nenhuma recompensa, é possível construir uma sociedade solidária, unida, pacífica, propositiva.90
Era “filho do prefeito” da cidade e também este aspecto
particular o ajudou a viver uma cidadania ativa. Papai Lourenço foi o administrador de Campodolcino por mais de vinte
anos, antes como prefeito, em seguida como vereador e, até a
morte, como vereador suplente. “Mais do que ninguém tinha
70
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uma visão ampla da realidade. Era sempre o último a falar e a última palavra era a sua também em relação às autoridades provinciais, porque sabia de estar seguro e justo nas suas
propostas”.91 Palavras profundas com as quais Pe. Luís refere
uma experiência que marcou sua vida. Muitas vezes terá assistido aos encontros entre o pai e a gente da cidade que reclamava por um ou outro motivo, ou porque apresentava uma
problemática de interesse privado, mas que estava relacionada
com o bem comum, como por exemplo cortar a lenha dos bosques que pertencia à prefeitura, o uso de uma fonte de água
para o uso dos animais, ou a recuperação de atalhos inutilizados pela chuva ou pela neve, ou também a construção de um
capitel...
Não era assistente passivo, mas cultivava o sentido de responsabilidade, isto é, se organizava para dar a sua pequena
contribuição a fim de que as coisas melhorassem. Certa vez,
indo da aldeia de Fracíscio à cidade de Madésimo, ao longo
do atalho Pe. Luís encontrou uma fonte. Estudou suas características e concluiu: “Esta água poderia ser canalizada e lavada
até à aldeia facilitando a vida dos aldeões”. Falou disso ao pai,
que usando de sua autoridade de prefeito, tornou a feliz ideia
uma realidade.92
Para realizar suas atividades de prefeito pai Lourenço apelava não só à sua inteligência, às suas capacidades, à experiência e ao fato que era “pessoa consciência reta”, como lhe tinha
ensinado o avô Tomaso,93 mas também á sua fé cristalina e
transparente. Era de fato uma pessoa que ia todos os dias à
missa, rezava o terço, lia a Bíblia e a estas fontes hauria luz e
força na procura do bem comum dos seus concidadãos.
Educado por estas experiências vivida em família e na aldeia, ao longo de sua infância, Pe. Luís amadureceu uma sempre mais profunda pertença ao povo e um forte empenho para
melhorar as condições de vida material e espiritual. E não
podia ser diferentemente porque, como já dissemos, era um
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homem de Deus, um homem que acreditava firmemente no
mistério de Deus que se fez carne, se fez homem e veio habitar entre nós. É preciso sublinhar este aspecto peculiar de sua
santidade, isto é a atenção à dimensão secular do homem, à dimensão social, que encontra sua razão de ser exatamente no
mistério da encarnação do Filho de Deus.
Pe. Luís se sentia fortemente interpelado da realidade humana; não só da condição dos pobres, mas também daquela
das pessoas ricas, que também frequentava que igualmente
sentia necessitadas de uma boa palavra, de apoio espiritual e
moral, de encorajamento para uma vida segundo a mensagem
cristã.94 Ia na casa deles não somente porque esperava de conseguir pela amizade para com eles algum proveito econômico,
o dinheiro necessário para levar à frente suas Obras, mas porque despertando as consciências deles aos valores evangélicos
tinha certeza de que estava dando uma válida contribuição
para construir uma nova humanidade, uma humanidade enraizada e fundada sobre a caridade; estava convencido, de fato,
que “o mundo será salvo pela caridade”.95
Diante das condições miseráveis da gente que encontrava
não se perdia em vazias ações de protesto e em estéreis lamentações, mas arregaçava as mangas para promover o bemestar, a qualidade de vida deles, deixando-se guiar por um
inato otimismo e um sadio realismo. Ousava. Tinha a coragem
de tomar iniciativas. Era animado pela vontade de fazer logo,
de fazer muito e de impelir a fazer porque eram muitas as necessidades. Dizia: “Eu fui feito para suscitar: os outros colocarão
em ordem e completarão”.96
De fato, o Espírito de Deus o guiou a suscitar na Igreja um
amplo movimento de pessoas – consagradas ou não – que ampliassem o seu apostolado de caridade temporal e geograficamente, até os confins do mundo. Hoje as duas Congregações
religiosas das Filhas de Santa Maria da Providência e os Servos
da Caridade continuam a sua missão de caridade me 21 na72
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ções, impelidos pelo desejo do Fundador: “Todo o mundo é
vossa pátria”.97
Particularmente significativo foi a relação que ligou a Irmã
Marcelina Bosatta,98 co-fundadora da família religiosa das Filhas de Santa Maria da Providência. Irmã Marcelina foi o seu
braço direito, sábia e “prática” conselheira, a fiel dispensadora
do tesouro e do espírito dele; esteve perto de Pe. Luís não somente para estar atenta e cuidar das necessidades materiais,
muitas vezes por ele relegados em segundo plano, mas também e, sobretudo, para encorajá-lo, apoiá-lo, sugerir perspectivas ou mostrar-lhes um diferente ponto de observação da
realidade. Graças a esta franqueza, filha da liberdade no Espírito Santo, as suas relações de colaboração nunca deram problemas.
Teve o cuidado em promover os leigos como preciosos colaboradores de suas iniciativas benéficas: “Os leigos podem ser
mais úteis do que os padres, porque podem entrar em qualquer
lugar e insinuar-se. […] É preciso ter o coração repleto de caridade. […] Se conseguirá com muitos frutos, quando perceberão
que tudo se realiza por amor a Deus e ao próximo. Pouco a pouco,
sem perceber, convertereis muitas pessoas. Pouco a pouco sensibilizareis a opinião pública”.99 Levados pelo seu exemplo, também hoje as religiosas e os religiosos da Obra se empenham,
nos diferentes contextos sociais em vivem e operam, na formação dos leigos, sustentando-os e acompanhando-os na missão caritativa. O Movimento Laical Guanelliano os reúne e os
coordena; ele é “a casa comum de todos os homens de boa vontade que, atraídos pela espiritualidade de Pe. Guanella, se preocupam com os pobres e desejam que cresçam no mundo a cultura
da solidariedade e do amor”.100 Entre os leigos, especial é a contribuição dos Cooperadores Guanellianos, Associação de fiéis
reconhecida pela Igreja.101
Desde os tempos em que como jovem sacerdote foi enviado
a Savogno teve como característica viver a responsabilidade pas73
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toral assumiu totalmente a pessoas. Naquela aldeia de montanha
fez um pouco de tudo, “ajudante de pedreiro, pintor, pedreiro”,102
a fim de dar àquela gente melhores condições de vida: ampliou
a praça e a igreja; construiu o telhado do lavadouro para que as
mulheres pudessem defender-se das intempéries do tempo; deu
aula para crianças e adultos, de manhã e de noite; construiu o cemitério fora da aldeia; construiu capelinhas votivas para as procissões que da aldeia sobem para os montes ou para outras
aldeias; defendeu seus paroquianos das prepotências de alguns
administradores.103 Escreveu também um livro para ajudar as
famílias a amadurecer uma consciência correta em relação às
mudanças políticas e sociais (“Ensaio de admoestações para todos,
mas em especial para o povo camponês”); cuidou da formação
cristã deles com pregações muito simples, sólidas, contínua até
o ponto que alguém afirmou: “Circundai Savogno de muros e
vocês terão um convento”.104 Nunca se sentiu um simples “distribuidor” de serviços, mas doou totalmente si mesmo, “enriquecido da máxima pobreza de seus paroquianos”.105
Quando estudava no seminário, passando pelo Pian di
Spagna, na região do alto lago de Como, tinha visto que havia
muitos terrenos não cultivados e perguntou a si mesmo: “Os
nossos camponeses sofrem para tirar dos nossos montes um fio de
grama e aqui há tanto terreno que se poderia bonificar, trazendo
tanta gente”.106 Levou consigo esta intuição juvenil até que,
após alguns anos, chamando a colaborar agrônomos famosos,
camponeses do lugar e empenhando os seus “bons filhos” da
casa de Como, levou a termo as obras de bonificação daqueles
pântanos. Construiu uma igreja, umas casas, procurou trabalho, melhorou as condições sanitárias daqueles camponeses.
Recebeu assim uma medalha do Governo italiano.
É preciso também lembrar a sua grande atenção para com
os migrantes. Quando era pequeno tinha sofrido muita pela
partida para a América da tia Maria Úrsula; quando era jovem
seminarista, junto ao tio Pe. Gaudêncio Bianchi, nas de férias
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de verão muitas vezes ia visitar os moradores dos vales que por
motivos de trabalho tinham idos na Suíça. Nos anos da maturidade fundou “capitéis” para a assistência espiritual dos católicos em Vicosoprano e Promontogno, no vale Bregalha, em
Splügen, Dorf e Andéer, no vale do Reno; nos últimos anos de
sua vida enviou as suas Irmãs entre os imigrantes italianos dos
USA, enfrentando, cansados pelos anos, as fadigas de uma
longa viagem em navio para preparar o ambiente.
Pe.Guanella viveu como cidadão ativo e solidário, inspirando-se nas palavras de Jesus: “Vocês estão no mundo, mas
não são do mundo” (Jo 17,1-26). Sensível às situações sociais
do povo, particularmente atento às condições de vida dos pobres, mas capaz também de ler a realidade com os olhos da fé:
“Eis aqui a nossa política: Pai nosso...!107 Quando Deus reina
no coração do homem, quando a sua palavra é aceita como
base de pensar e do agir, quando a caridade se torna regra de
vida e das relações humanas assim que nos leva a nos respeitar
todos como filhos do mesmo Pai e irmãos entre nós, quando
“a partilha dos bens e dos recursos não é procurada somente através do progresso técnico ou relações de conveniência, mas é fundamentada sobre o amor que sabe vencer o mal com o bem e
sabe-se abrir à reciprocidade das consciências e das liberdades”,108
então, e somente então, pode acontecer um autêntico desenvolvimento da humanidade. Pe. Guanella estava firmemente
convencido de que sem a abertura a Deus nem o homem pode
conseguir seu desenvolvimento nem a sociedade pode ser fraterna e autenticamente solidária. Pensamentos que recentemente papa Bento XVI lembrou com firmeza ao homem
contemporâneo como caminho que é preciso percorrer para
promover o desenvolvimento dos povos.109
Pe. Luís soube tecer, mesmo que nasceu numa remota aldeia de montanha, relações fecundas com o mundo da cultura
e das Associações católicas, (foi um convicto sustentador da
Obra dos Congressos),110 com mundo da ciência, da tecnolo75
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gia, da arquitetura, da medicina, particularmente daquela que
se ocupava para melhorar as condições da assistência e a cura
das pessoas com deficiência.
Desde jovem tinha se apaixonado pela botânica e pelos estudos da história, convicto que “quem quiser conhecer o futuro
deve estudar o passado das pessoas e das coisas”.111 Ao longo do
tempo que viveu em Savogno “explicava nas palestras e na escola durante o inverno aos paroquianos a História do Contado de
Chiavenna do escritor Crollalanza”112 Entre os livrinhos ascéticos e morais que escreveu no tempo que estava em Pianello,
um dele tem caráter histórico: “De Adão a Pio IX”.113
Por ocasião das celebrações do centenário da invenção da
pilha elétrica (1899), organizou um comitê para a realização
de um monumento a Alessandro Volta; com o qual ele queria
por em destaque não somente a grandeza do cientista, mas
também o seu belo testemunho de fé.114
Confiou à nobre escritora Madalena Albini Crosta115 a direção do informativo “A Divina Providência” por ele muito desejado a fim de fazer conhecer as suas obras de caridade, ter
contatos com seus benfeitores, educar aos valores da fé.116
Para as obras de bonificação dos terrenos pantanosos de
Pian di Spagna117 se assessorou com ilustres engenheiros: Giovanni Batista Cerletti e Giovanni Sartirana; com este ficou sempre em contato para manter-se atualizado a respeito do
desenvolvimento da agricultura a fim de dar sugestões aos colaboradores das várias colônias agrícolas118 que tinha organizado. Ligou-se com uma sincera amizade com Aristides
Leonori, estimado arquiteto e católico fervoroso,119 a ele pediu
de projetar a igreja de São José no bairro Trionfale em Roma.
Encontrou-se, apesar do parecer negativo de alguém da Diocese de Como, com Josué Carducci, maçom e anticlerical,
poeta e escritor ao ápice da glória, “que lhe foi muito cordial”.120
E como não mencionar a sua amizade com o grande médico,
Pe. Agostino Gemelli que o confirmou na própria vocação?121
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A sua capacidade de universalidade está numa visão cultural ampla, mas também e, sobretudo, porque sabia individuar
os valores universais do homem, tendo atenção para cada pessoa em particular e à pequena aldeia porque era a expressão da
vida do mundo. Seria bonito ver nas suas cartas o interesse que
mostra para com as pessoas dos padres e irmãos da Congregação, para os amigos: também nos anos em que é responsável
de uma grande organização ele não perde nunca de vista a pessoa em si e dá sugestões e pede conselhos.
Hoje percebemos o quanto seja urgente que nós católicos
saibamos com paixão e inteligência, como fez Pe. Guanella,
viver uma cidadania ativa e responsável, capazes de dar a própria contribuição para que a dignidade da pessoa humana seja
sempre salvaguardada de qualquer tentativa de instrumentalização; e também quanto seja importante “fazer cultura” testemunhando com coragem e promovendo os valores da fé.
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EDUCADOR APAIXONADO
Pe. Guanella foi educador solícito e apaixonado. Impelido
pelo vento do Espírito que agia nele, esta paixão para o crescimento e a melhora das pessoas mais fracas, frágeis e sofredoras, não lhe faltou. Paixão nascida no seu ânimo desde a
mais terna idade (brincadeira da sopa para os pobres junto com
a irmã Catarina...) e que, na idade adulta, se caracterizou em
amor especial para com as pessoas marginalizadas. Como era
um homem muito prático, transformou tal paixão e com-paixão, isto na arte de caminhar com aqueles que sofrem, procurar entendê-los, consolá-los, mas sobretudo amá-los e ficar
com eles como Maria ficou com Jesus de pé junto à cruz. Esta
paixão se traduziu então em amor concreto, como capacidade
de assumir os outros, de todo o seu mundo, de criar laços que
aquecem o coração e dão esperança.
Intuiu que a educação é, sobretudo e especialmente, obra
do coração e que cada relação interpessoal, em modo especial
aquela educativa, nasce do coração e deve percorrer os caminhos do coração. “Baseia-se e se desenvolve sobre as faculdades afetivas e volitivas mais do que sobre as outras capacidades
da pessoa e se expressa mediante atitudes internas e comportamentos externos que transmitem toda a riqueza de sentimentos de quem por amor quer o bem do próximo”.122
Lembrava nas suas memórias autobiográficas que “havia naqueles tempos em todas as casas educativas um sistema demasiado rígido que educava os corações mais ao temos que ao
amor”.123 Era ao invés sua convicção que seguir os caminhos do
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coração fosse o modo mais delicado e ao mesmo tempo mais
eficaz para alcançar as profundidades da alma e estimulá-lo ao
bem e ao crescimento. Este era para ele o fundamento e o prérequisito para qualquer caminho que se queira chamar educativo, porque torna possível a educação também aonde não
parece realístico esperar resultados ou até parece um trabalho
impossível e inútil. De fato ele disse: “As necessidades dos pobres é preciso mais entendê-las pelo afeto do coração do que pelo
estudo especulativo da mente”.124
Por isso podemos afirmar que “a visão guanelliana da relação
educativa tem alguns princípios firmes: a) a educação é uma relação amigável, querida e desejada: o amor é a alma do seu sistema educativo; b) o primeiro princípio fundamental é “circundar
de afeto”, porque a relação educativa se desenvolve pelos “caminhos do coração” e a atitude interior que a expressa é a benevolência; c) o critério operativo é “a primazia do coração sobre a
técnica”; d) educar tem como fim a capacidade de amar, de ser solidários, de comunicar-se”.125
Colocar em primeiro plano estes elementos tornou constantemente presente nele como educador a confiança e o otimismo. A confiança que gera confiança e que coloca em
movimento as melhores energias; dizia, de fato: “Os inválidos
devem ser encorajados a fazer algum trabalho útil...”.126 Confiança não somente nas pessoas, em suas energias e recursos,
mas também e sobretudo confiança na força do amor e na
força misteriosa da graça de Deus, com a consciência que esta
força e potência operavam com ele, eram suas aliadas. O otimismo não nascia nele do sentimentalismo, mas da convicção
que o bem é maior do que o mal. Este otimismo o ajudou a
vencer os medos, a ver e valorizar os recursos dos outros, a
manter viva a esperança. Estas convicções lhe permitiram atrair
muitos a si; dizia: “Pessoas boas e alegres atraem muita gente a
si”.127
A vida e as diferentes circunstâncias não lhe permitiram de
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refugiar-se em denguices ou devaneios; de fato experimentou
na própria pele o peso do sofrimento e do limite, amadurecendo a consciência do valor do trabalho, do empenho e do esforço. Esta sensibilidade caracteriza também a visão do
caminho educativo dele que não visa construir pessoas “frouxas e desmioladas”, mas visa chegar a metas altas tendo em
conta o empenho, a fadiga e a constância. Dizia: “Nada se faz
sem esforço”; e ainda: “Nas obras do Senhor é preciso confiar
tanto em Deus como Ele fizesse tudo e nós nada, mas, no mesmo
tempo, trabalhar tanto como se tudo dependesse de nós e nada
de Deus”.128
Em relação à aprendizagem intelectual destacava a necessidade de “encontrar caminhos para tirar deles o melhor possível”,
“encontrar meios para aliviar continuamente os enfermos”129.
Convidava os seus colaboradores a este empenho: “Não se deve
nunca desistir em promover o aperfeiçoamento próprio e
alheio”.130 Não desistia nem diante de situações muito complicadas, como, por exemplo, aquelas de pessoas em deficiências
graves. Dizia: “São pessoas com deficiência, mas muitas vezes
são capazes de alguma melhora”.131
À base destas solicitações está a sua firme convicção da educabilidade do ser humano sempre e em qualquer maneira, em
qualquer condição e momento da vida. Esta convicção abre à
esperança e impele à ação e ao empenho.
A experiência e a reflexão a respeito deste conceito de educabilidade, impeliu Pe. Guanella bem longe, até afirmar que há
no homem um potencial que Deus lhe colocou dentro: uma
“semente de toda bela virtude”,132 um vislumbre de capacidade
ou também de conhecimento. E não somente um potencial de
talentos, de dons (muitos ou poucos), de qualidades, mas um
potencial como força que lhe permite de desenvolver o que
tem. “O Senhor que deu ao ramo da videira a força de produzir
frutos saborosos, Ele mesmo colocou no teu coração a força de
produzir boas ações. Esta força é de tipo diferente. Uma te dá a
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prosperidade para esta terra, e a outra te dá as bênçãos para o
céu”.133
Assim é conformado e sublinhado um dos elementos fundamentais do processo educativo, que quer dizer, o mesmo sujeito é co-autor do próprio caminho de crescimento. “Educar
significa construir a pessoa a partir de dentro dela e não plasmála a partir de fora; [...] o crescimento das pessoas não é um fato
externo, mas acontece sempre através da apropriação pessoal dos
conhecimentos e dos valores”.134 Com uma imagem significativa, Pe. Guanella diz que “o coração da pessoa é como terra de
horta e de jardim que, cultivada, produz flores e frutos”,135 significando assim que educar é empenhar-se a tornar os indivíduos artífices do próprio crescimento.
Neste caminho de promoção das pessoas, solicitado também pela influência do pensamento de Dom Bosco e da experiência vivida junto a ele, Pe. Guanella considerava como
pressuposto necessário o método preventivo.136 Tal atitude, se
por uma parte se concretiza em ajudar as pessoas a não cair
em situações e experiências negativas e em não sofrer involuções, doutra parte significa reforçar e manter os recursos psicológicos, físicos e morais que impedem de aderir ao mal.
Prevenir é então a capacidade de dar atenção, de prever, de
acompanhar intensamente com confiança nas pessoas e no
poder da graça de Deus.
Determinante foi a sua infância tendo vivido numa família
numerosa com pais presentes e atentos. A profundidade e a
sensibilidade desta experiência o impeliu a afirmar que cada
caminho educativo deve realizar-se num contexto que seja caracterizado por um clima de família. Entendia com isso referir-se àqueles valores, àquela intencionalidade e àqueles
comportamentos universalmente válidos que caracterizam uma
boa família, ou seja, o cuidado e a defesa da vida, o afeto recíproco que une os vários membros, a participação corresponsável de cada um para o bem comum, saber amavelmente
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perdoar-se e cuidar uns aos outros.
À luz destes elementos é claro que Pe. Guanella, como educador, propondo seu modelo pedagógico, tem presente os
grandes horizontes que abraçam o homem como um todo, na
sua integridade: a sua alma, a sua mente e o seu corpo. Escrevia: “Está no alfabeto uma letra inicial, que, repetida três vezes,
dá o que de melhor se pode desejar na vida terrena: esta letra é
o S, que é a inicial da palavra santidade, da palavra saber, da palavra saúde. A santidade é importante para aperfeiçoar o ser cristão do homem religioso. O saber é importante para aperfeiçoar
as capacidades intelectuais do homem. A saúde é importante para
o desenvolvimento do corpo. O que um pai pode desejar de melhor aos seus filhos? Um filho alegra quando é sadio, satisfaz
quando é sábio, consola quando é santo. Feliz aquele pai que,
cuidando ao máximo, obtém que o filho cresça enriquecido de
todos estes dons”.137 Em síntese expressava este conceito com
a fórmula: dar a todos “Pão e Senhor”.
Meta final de toda e verdadeira educação é, segundo Pe.
Guanella, a santidade. “Uma só coisa é necessária: salvar a alma.
Quanto ao resto: vida longa, vida breve, o que importa? O que
importa ser rico ou pobre? Sadio ou doente, muito estimado ou
pouco estimado junto aos homens? Quem nos deve julgar é Deus
somente”.138
Pe. Guanella colocou as bases para uma verdadeira pedagogia guanelliana, com intuições que podem ser desenvolvidas
como projeto, que se podem realizar e concretizar. Os continuadores da sua Obra (religiosas, religiosos, cooperadores, leigos guanellianos) elaboraram esta pedagogia no “Documento
Base para Projetos Educativos Guanellianos”,139 proposto e divulgado em todos os continentes e aplicado com inteligência e
empenho nos vários campos de educação. Elaboraram também um livrinho para os funcionários e professores que atuam
nas casas guanellianas: “Com Fé, amor e competência. Perfil
do operador guanelliano”.140
83
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Há uma circunstância providencial: o Pe. Guanella vem canonizado no início de um decênio (2010-2020) que a Igreja italiana dedica ao educar. A Conferência Episcopal Italiana,
reconhecendo na arte delicada e sublime da educação um desafio cultural e um sinal dos tempos e, antes ainda, uma dimensão constitutiva e permanente da missão da Igreja, pede
principalmente às comunidades cristãs, mas também a todos os
homens de boa vontade de “reapoderarem-se” do importante
papel de “Educar para a vida boa do Evangelho”.141
«Alma da educação, como da vida inteira, pode ser só uma esperança confiável»142 e a fonte desta esperança é uma só: Jesus
Cristo, ressuscitado dos mortos. Para formar pessoas sólidas,
capazes de colaborarem com os outros e de darem um sentido
à própria vida, ocorre partir daqui, do encontro com Jesus
Cristo e o seu Evangelho. Anunciar Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, significa levar à plenitude a humanidade e,
portanto, semear cultura e civilização. A tarefa do educador
cristão é difundir a boa notícia que o Evangelho pode transformar o coração do homem, restituindo-lhe razões de vida e
de esperança; é testemunhar a consciência de que «sem Deus
o homem não sabe aonde ir e não consegue nem sequer compreender quem ele seja».143
É precisamente percorrendo estes caminhos que a sociedade
poderá resolver positivamente a situação de “emergência educativa” na qual se debate, porque estes percursos contrastam
eficazmente a falsa idéia de autonomia que está atrás do fenômeno da emergência, a idéia «que induz o homem a conceberse como “eu” completo em si mesmo, lá onde, ao invés, ele se
torna “eu” na relação com o “tu” de Deus e com o “nós” dos irmãos».144
Entre as prioridades sobre as quais os Bispos italianos consideram urgente apostar no curso do decênio, a fim de dar impulso e força à tarefa educativa da Igreja, está «o dar novo
impulso à vocação educativa dos institutos de vida consagrada,
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das associações e dos movimentos eclesiais. Trata-se de repropor
a tradição educativa de realidades que deram muito à formação
de sacerdotes, religiosos e leigos. É preciso, por isso, que as paróquias e os outros sujeitos eclesiais desenvolvam uma pastoral
integrada e missionária, em particular nos âmbitos de fronteira
da educação».145
Na mensagem enviada por ocasião da 15ª Jornada mundial
da vida consagrada, os Bispos reconhecem «o compromisso específico de tantos institutos de vida consagrada no campo da educação, segundo o carisma próprio, cuja fecundidade é
testemunhada pela presença de numerosos educadores santos» e
afirmam que: «a vida consagrada recorda-nos que a educação é
verdadeiramente “coisa do coração”: não um amontoado de emoções, mas síntese pessoal, a partir da qual se orientam as escolhas e as decisões de cada um. Todo o povo de Deus espera que
esta riqueza, que deixou marca de si em tantas instituições escolares e no cuidado de itinerários de vida espiritual, reforce-se e renove-se».146
Conclusão...
Tomando emprestadas as palavras do papa Bento XVI, podemos dizer, para concluir estas reflexões, que “a santidade é
o objetivo do cristão. Na vida dos santos é óbvio que quem se dirige para Deus não se distancia dos homens, mas se aproxima
verdadeiramente a eles”. (Homilia na solenidade de Todos os
Santos, 2010).
Na carta apostólica “Novo millennio ineunte”, o Beato João
Paulo II, escreveu: “Os caminhos da santidade são múltiplos, e
aptas à vocação de cada um... Os caminhos da santidade são pessoais, e exigem um verdadeira e própria pedagogia da santidade, que seja capaz de adaptar-se aos ritmos de cada pessoa. Ela
deverá integrar as riquezas da proposta dada a todos com as for85
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mas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo... (n 31).
Procuramos descrever a bonito testemunho de santidade de
Pe. Luís Guanella para oferecer um ulterior estímulo; entre
tantos aspectos que caracterizaram a sua experiência, talvez
haja alguém que posse nos ajudar, pode nos sustentar no nosso
caminho pessoal de santidade: como ele também nós!
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Pe. Guanella sobre o leito de morte. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque de
Fraciscio.
«Creio que esta minha doença tenha-a mandado para mim a Providência de
Deus, para fazer chover sobre a Casa graças extraordinárias: padecimentos extraordinários, graças extraordinárias. ... Ó, entendo-me com o Senhor pelo Instituto, por vós: não desisto de dizer a Deus palavras de fogo! ... Deus pensará
em vós. Ninguém aqui embaixo é necessário. Existe a Providência que vos ajudará! Morrer! Paraíso! Eu estou “in manu Domini” ... Querei todos seguirme cumprindo este programa: Rezar e padecer!».
(L. Guanella, La Divina Provvidenza – outubro de 1915, p. 150)
«A oração de tantos abandonados – acompanhe para o seio de Deus – a alma
mansa e forte – do Pe. Luís Guanella – apóstolo de cristã beneficência – aqui
falecido santamente aos 73 anos de idade – e a imagem doce e pia – reviva-se
e perpetue-se nos Servos da Caridade – e nas Filhas da Providência – aos quais
legava os seus exemplos – o seu coração».
(Inscrição sobre a porta do Santuário do S. Coração – Como, in La Divina Provvidenza – novembro de 1915, p. 195)
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Um testemunho
Para uma lembrança do Pe. Guanella
«O jornal “L’Ordine” de Como e depois “Italia” de Milão publicaram, nos
primeiros dias depois dos funerais, um artigo “Para uma lembrança do Pe. Guanella”, que com ânimo de esperança aqui transcrevemos.
O comendador Leonori, íntimo amigo do saudoso fundador das Obras da Providência, escreve: “O Pe. Guanella não é uma figura de homem que deve ser recordado às gerações futuras com vazios e inúteis monumentos: o seu monumento
falante está nas multíplices obras de caridade por ele fundadas, e que estou seguro
que se desenvolverão sempre mais agora que têm um especial santo Protetor a
mais no Céu. Por isto eu proporia abrir logo uma pública subscrição para a construção de um pavilhão novo para o asilo dos pobres velhos abandonados – porção predileta do grande coração do Pe. Luís Guanella – para erigir-se na casa
onde aconteceu a sua santa morte, da qual será o mais prático e o mais querido
monumento”. O comendador Leonori inicia a subscrição com a quantia de mil
liras. Outras ofertas menores já chegaram à Casa de Como. E é justo: a proposta não é daquelas destinadas a ficar sem resposta. É justo... é de dever que
o Pe. Guanella seja lembrado com um monumento que transmita o seu espírito de caridade, a sua paixão ardente de socorrer aqueles que sofrem. À proposta, portanto, todo aplauso e aplaudimos com todo o coração».
(La Divina Provvidenza – novembro de 1915, p. 199-200)
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«Sufrágios e honras ao Cônego Luis Guanella – gema do Clero de Como – Pai
dos miseráveis e abandonados – Apóstolo de evangélica caridade – rezemos –
para que tanta chama aqui na terra não se apague – mas vivifique-se e perpetue-se – em obras santas e fecundas – como as almejava – uma mente eleita, um
coração generoso».
(Inscrição sobre a porta da Catedral de Como no dia dos funerais do Pe. Guanella, em La Divina Provvidenza – novembro de 1915, p. 196)
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Parte III
Como Moldura
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O caminho para a canonização
Pe. Luís Guanella estava profundamente convencido de que
o leme da história seja nas mãos de Deus que age normalmente
nos caminhos ordinários do cotidiano. Algumas vezes age com
algumas exceções, mas o Pe. Guanella gostava mais da chuvinha fecunda do que das chuvaradas. Era um homem concreto
e sabia que Deus se encontra com os sentidos, sustentados e
acompanhados pelos sentimentos do coração.
Nos seus numerosos escritos de ordem pastoral a palavra “milagre” está presente pelo menos duzentos e cinquenta vezes, mas
é sempre relacionada com Jesus, a algum fato do Antigo Testamento ou a um santo. Mesmo que os seus escritos conservem
uma alma apologética, quando escreve sobre os milagres é sempre no sentido de elevar o sentido da fé para ser encarnada na
vida diária.
Deve-se afirmar que o sobrenatural nunca é algo externo
como se fosse “um chapéu colocado na cabeça”, mas vive no interior da natureza humana sempre em tensão superando os limites da condição humana. Blaise Pascal escrevia que “o homem
ultrapassa infinitamente o homem”, porque “Deus nos criou à sua
imagem e semelhança”, a fim de que pudéssemos compartilhar
a sua natureza, apropriando-nos daqueles fragmentos divinos
que cada criatura traz no coração.
Entre o ordinário e o sobrenatural existe “uma afinidade eletiva” que o homem não consegue destruir. Na sociedade atual
aumentou esta ruptura e também a pessoa de fé percebe o mal
estar. Ontem a formação religiosa era alimentada pelo fascínio
do “extraordinário”, que não era um mundo de fáceis milagres,
mas tinha a consciência que a existência é acompanhada por Alguém que pensa e que ama. O exasperado rigor científico de
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hoje, que aceita só o que é codificado pelas leis presentes na natureza, escondeu a dimensão do “mistério” que envolve a vida
de toda a criatura humana. Hoje está acontecendo este fenômeno: junto com o rigor científico muitas vezes acompanhado
da negação de Deus, aparece um florescente interesse pelo “extraordinário” procurado na astrologia, nos horóscopos, nos
magos; “a arte da adivinhação” parece atrair muitos seguidores.
Devemos admitir que também no mundo cristão o “extraordinário” desperta uma grande atenção tanto que suscita alguma
preocupação: de fato “santarrões” e “ curandeiros”, aparições
e mensagens divinas fora do mundo da bíblia têm uma grande
capacidade de atração.
Desde sempre, sobretudo em Jesus, o milagre é oferecido
como suporte à fé que se transforma num “florescimento celestial” que frutifica nas virtudes evangélicas. É este “florescimento
celestial” que origina um processo de canonização. O desejo de
ver glorificado pela Igreja uma pessoa nasce precisamente das
qualidades extraordinárias que iluminaram sua vida.
Um dos requisitos indispensáveis para iniciar um “processo
de canonização” é a fama de santidade que circunda a vida e a
morte de uma pessoa. Esta fama de santidade consiste em constatar a abundância de frutos evangélicos amadurecidos da semente divina enxertada no dia do batismo. Quando o cristão sai
da fonte batismal é já santo tem todas as características para
viver na terra as virtudes evangélicas trazidas por Jesus. O santo
é aquele que vive estas virtudes em modo heróico.
Os processos canônicos
Nas semanas precedentes à morte de Pe. Guanella toda a
igreja peregrina em Como por desejo do bispo rezava a Deus
pelo Pe. Guanella. O dia dos funerais de Pe. Guanella, personalidades religiosas e civis quiseram render homenagem ao profeta da caridade evangélica participando numerosos às exéquias
presididas pelo cardeal Carlo Andréa Ferrari, arcebispo de
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Milão e amigo cordial deste “Servo da Caridade”.147 Naquele dia
de “adeus” estavam lá os pobres que choravam o “pai dos órfãos”.
A persistente fama de santidade impeliu as Congregações dos
Servos da Caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência,
fundados pelo Pe. Guanella, a pedir ao bispo para abrir uma
enquete informativa seja a respeito da fama de santidade como
do poder de intercessão do candidato à glorificação.
A fama de santidade não foi um fogo fátuo, mas permaneceu
viva. Floresceu a devoção e muitos necessitados encontraram na
intercessão de Pe. Guanella um auxílio de suas necessidades.
A pouco menos de oito anos da morte, as Congregações dos
Servos da Caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência,
fundadas pelo Pe. Guanella, fizeram um pedido ao bispo de
Como, Dom Alfonso Archi, para iniciar o processo informativo
sobre a sua fama de santidade como sobre o seu poder de intercessão.
O processo iniciou em 1923 e foi encerrado em 1929. Apresentaram-se para dar seu testemunho quarenta e quatro pessoas,
das quais quarenta e duas testemunharam a respeito de fatos vistos diretamente (de visu) e duas por ter ouvido falar dele (ex auditu).
O mesmo pedido foi feito também ao arcebispo de Milão,
cardeal Eugênio Tosi. O processo iniciou sempre no ano 1923 e
encerrou no ano 1930.
O número das testemunhas foi de quarenta e quatro também
em Milão. Quarenta de visu, três ex auditu e um pela cura obtida. A maioria dos testemunhos confluiu no processo apostólico
a respeito das virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e a
respeito das virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza, temperança) que foram relatadas por pessoas que estiveram em contato o Pe. Luís Guanella, por pelo menos 30 anos: um
conhecimento consolidado pelo tempo e pela experiência. Junto
aos dois processos ordinários aconteceram também três processos rogatoriais: o primeiro na diocese de Arezzo, um outro na
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diocese de Adria e o terceiro na diocese de Pisa. Numerosos cardeais, arcebispos e bispos enviaram a Roma ao papa Pio XI “cartas postulatórias” a fim de que avançasse felizmente o curso do
processo. Pela crônica: foram dez cardeais, cinquenta e oito os
arcebispos e cento e vinte e quatro bispos.
A 12 de junho de 1932 foi emitido o Decreto sobre os Escritos. A 15 de março de 1939 Pio XII assinou o decreto para a Introdução da Causa, à qual seguiu a celebração do Processo
Apostólico.
A 6 de abril de 1959 foi publicado o Decreto sobre as virtudes heróicas. A 15 de junho de 1964 foi anunciado o Decreto
com o qual se aprovaram dois milagres atribuídos à intercessão
do venerável Servo de Deus. A 25 de outubro do mesmo ano, o
Papa Paulo VI o elevou às honras dos altares.
OS MILAGRES
Para a beatificação
Dois foram os milagres decisivos para a beatificação: a cura de
Maria Uri e da cura de Teresa Pighin.
O primeiro milagre: a cura de Maria Uri
Maria Uri, nascida em Gravedona (Itália) no dia 10 de outubro de 1921, entrou com a idade de nove anos no Instituto Don
Guanella em Como-Lora, foi curada pela intercessão do Pe.
Guanella no mês de maio de 1932. O processo apostólico aconteceu no Tribunal da diocese de Como. Após ter sofrido por alguns dias por causa de dores abdominais, no dia 27 de maio de
1932 não passando as dores foi chamado o médico que encontrou a menina em gravíssimas condições. Na mesma noite do
dia 28, estando à beira da morte, foram iniciadas orações pela intercessão do Servo de Deus Pe. Luís Guanella e foi colocada
uma relíquia no peito da menina. A doente permaneceu gravís96
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sima até meia noite, depois adormeceu num sono tranquilo e se
acordou às 6 da manhã completamente curada.
A consulta médica manifestou por unanimidade o seguinte
diagnóstico: “Peritonite aguda hipertóxica e etiopatogênese não
determinável”. A cura foi “instantânea, perfeita e duradoura”.
O segundo milagre: a cura de Teresa Pighin
O segundo milagre aconteceu em benefício de Tereza Pighin,
nascida no dia 22 de julho de 1898 em Zóppola (Údine) Itália,
Diocese de Concórdia. O processo aconteceu na diocese de Vittório Vêneto.
A mulher, casada e mãe de quatro filhos, trabalhava no campo
e sempre gozou de ótima saúde até fevereiro de 1929, quando se
manifestaram os primeiros sintomas da doença. Internada num
hospital, o progresso da tuberculose ficou, de certa forma parado, mas surgiram graves atrofias musculares. Tratava-se do
mal de Pott que é um tipo de tuberculose localizada nas vértebras. A doença começa a se desenvolver numa vértebra específica para difundir-se nas outras, enquanto se desenvolve a
distância das vértebras se reduz sempre mais até colapsar, por
isso é necessária uma rápida intervenção.
Imobilizada na cama por mais de dois anos, a 30 de novembro de 1943 as irmãs da casa “Pio X” de Cordignano, onde ela
era atendida, deram para a Teresa uma relíquia do Pe. Guanella
e iniciaram uma segunda novena para a sua cura.
Na manhã de 2 de dezembro a doença despertou improvisamente por todo o corpo, acompanhada por uma sensação de
bem-estar geral. Teresa sentiu lhe retornarem as forças, desapareceram as dificuldades respiratórias e se deu conta que as pernas não lhe eram pesadas. Levantou-se e caminhou pelo quarto
da enfermaria sem dificuldade e sem ajuda.
O processo apostólico foi instituído somente oito anos depois 9 de novembro de 1942 a março de 1943) e certificou que
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se tratou de cura “instantânea, perfeita, duradoura, absolutamente
inexplicável pelas leis da natureza”.
Para a canonização
A cura de William Glisson.
O milagre relacionado com a canonização aconteceu em
março de 2002 na diocese de Philadelphia. Na tarde de 15 de
março de 2002, William Glisson estava patinando com o seu
amigo na avenida Baltimore Pike de Springfield em alta velocidade e sem capacete. Por causa de um pequeno buraco caiu para
atrás com um pulo de cerca 2 metro e meio de altura e distante
quatro metros, tendo como consequência um forte traumatismo
na região occipital. Foi levado imediatamente com a ambulância inconsciente ao hospital “Crozer-Chester Medical Center”,
aonde foi diagnosticado um estado de coma classificado GCS 78-9. Tendo aparecida uma agitação psicomotora foi sedado e entubado para ajudar na respiração. Um diagnóstico exato com
um linguajar médico-científico permite entender a importância
do milagre.
Logo foi feito um exame de TAC do encéfalo (tomografia
computadorizada) constatou uma grave contusão frontal esquerda com hematoma epidural, um hematoma subdural parietal esquerdo, uma contusão fronte-temporal direita, uma
hemorragia sub aracnóide pós-traumática, um efeito massa com
deslocamento das estruturas medianas e uma fratura da base
craniana estendida ao occipital direito.
Submetido à intervenção neurocirúrgica, foi realizada uma
craniotomia frontal direita com extração de um hematoma epidural e subdural direito, ressecção da contusão frontal direita,
implante de sistema para a sua avaliação da pressão intracraniana (PIC). A 16 de março a PIC se mantém elevada com valores de 43, para descer a 17 depois da infusão de manitol e sobe
de novo a 36.
98
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Um exame de TAC releva a presença de hematoma epidural
e subdural frontal direito, de um fungo cerebral edemígeno
frontal esquerdo e sinais radiológicos de hérnia cerebral transtentorial. Os médicos, pela gravidade do caso, decidem efetuar
uma segunda intervenção neurocirúrgica por meio de craniotomia fronte-temporal direita e cranioectomia sub-temporal, com
extração do hematoma fronte-temporal subdural direito. No dia
seguinte o valor da PIC é de 18 e a avaliação GCS (Glasgow
Coma Scale) é de 6.
Um exame de TAC do dia 18 de março revela a persistência
de hematomas frontais com hemorragia intraventricular e subaracnóide.
A 19 de março, festa de São José, a doutora Noreen M. Yoder,
amiga da família, entrega para a mãe de William duas relíquias
do Beato, que ela própria coloca sobre o corpo do filho. No
mesmo dia é posicionado um filtro cavale de Greenfield e uma
TAC cerebral realizada a 20 de março que evidencia uma hemorragia sub-aracnóide difusa com massiva encefalomalacia bilateral. No dia 22 se faz uma traqueostomia e pelo aparecimento
de um grave quadro de hidrocefalia se efetua uma ventriculostomia externa urgente.
Nos dias sucessivos a hidrocefalia não se compensa e se procede a 28 para a implantação de um sistema de derivação ventrículo-peritoneal direita. Até a alta de 9 de março de 2002 o
restabelecimento neurológico e clínico global foi lento e progressivo, com a indicação de um programa de re-educação funcional neuromotora.
A 23 de setembro de 2002, a última intervenção de cranioplastia bilateral para a substituição dos retalhos ósseos retirados, e durante a convalescência se manifestaram crises epiléticas
tônico-clônicas. No EEG (eletroencefalografia) apareceram anomalias difusas na ausência de focos epileptogênicos e taxa de
avanço no nível da craniotomia. Um exame TAC mostrou a hipodensidade frontal direita com pequena retenção epidural, sem
sinais de sangramento.
99
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Oitos meses depois do acidente voltou a trabalhar na empresa
do pai. Um exame RMN (Ressonância Magnética Neuráxis) de
14 de janeiro de 2003 evidenciou uma hiperdensidade frontal
direita de um provável pequeno infarto venoso, e uma normalidade na parte lombar cervical.
Uma relação clínica de 21 de dezembro de 2004 atesta que a
última crise epilética foi de outubro de 2002 e a necessidade de
continuar a terapia anti-convulsionante. O exame neurológico é
negativo; não há déficit cognitivos e/ou neuropsíquicos. Perfeita
a reinserção sócio-relacional.
Tal quadro clínico foi confirmado pelos dois peritos neurologistas “ab inspectione” que em 2006 visitaram o Sr. William
Glisson.
William não somente voltou a trabalhar, mas em 2008 se
casou muito felizmente.
Depois do processo canônico conduzido na diocese norteamericana, da relativa documentação, foi levada à Congregação para a Causa dos Santos em Roma e depois dos pareceres
favoráveis da comissão médica (12 de novembro de 2009), da
consulta dos teólogos (30 de janeiro de 2010) e da Congregação ordinária dos Cardeais e dos Bispos (20 de abril de 2010),
no dia primeiro de julho de 2010 o Papa autorizou a Congregação da Causa dos Santos a promulgar o relativo Decreto.
No Consistório Ordinário Publico do dia 21 de fevereiro do
corrente ano o Papa Bento XVI estabeleceu a data da canonização: domingo, dia 23 de outubro de 2011, na Praça de São
Pedro em Roma.
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O Bispo de Como durante o reconhecimento canônico
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Procissão com os restos mortais do “Servo de Deus”.
Filhas de S. Maria da Providência e Servos da Caridade no dia do reconhecimento canônico.
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Paulo VI e Madre Angela Cettini, Superiora Geral das FSMP no dia da Beatificação.
... com Pe. Ezio Cova, Servo da Caridade, Postulador geral.
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... com S.E.R. Dom Felice Bonomini, Bispo de Como.
... com o sobrinho Ir. Lorenzo Guanella, jesuíta.
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«É Deus quem faz!... Tudo é de Deus: a idéia, a vocação, a capacidade de agir, o
sucesso, o mérito, são de Deus e não do homem». (Paulo VI, Discurso da Beatificação)
105
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Instantânea
e perfeita cura
de Maria Uri
de peritonite
aguda difusa
Teresa Pighin
milagrosamente curada
de espondilite
tubercular e
morbo de Pott
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No centro da foto – William Glisson, o jovem curado em virtude do milagre
107
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«Saúdo-te, ó bom montanhês. Escuta! O Espírito do Senhor tirou da solidão
do monte e dos vales, em todos os tempos, alguns dos seus filhos mais diletos
e os fez beatos. Tu és filho dos santos, alegra-te. Torna-te sempre mais merecedor! Eu abraço-te em espírito e acompanho-te para a maior felicidade que
está no céu beato».
(L. Guanella, Il Montanaro, p. 987)
108
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Notas
1
A. Mondelli De Marzi, l’Ordine della domenica di Como, 5 giugno 1910 in L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere didon Luigi
Guanella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 55;
Maddalena Albini Crosta in La Divina Provvidenza – novembre
1915, p. 192.
2
A este respeito é Sintomática a experiência do Pe. Guanela. No
período em que foi a ficou em Savogno (1867-75), não obstante a
Lei Casati sobre a instrução escolar obrigatória tivesse entrado em
vigor em 1864, todavia o serviço público não tinha sido ainda ativado e o Pe. Guanella teve que enfrentar com a própria iniciativa.
3
Porta Pia era um importante acesso à cidade de Roma, que se situava no começo da Via Consular Nomentana. Se a tinha juntado
por Michelangelo Buonarroti aos muros Aurelianos, que corriam ao
redor da cidade para defendê-la dos assaltos dos inimigos. O exército do Reino da Itália a 20 de setembro de 1870 abriu uma passagem e entrou na cidade.O Pe. Guanella se colocou do lado do grupo
dos “Intransigentes”, apegados ao Papa; defendeu a autoridade dele
com os escritos ascéticos e morais.
4
O Pe. Guanella se colocou do lado do grupo dos “Intransigentes”, apegados ao Papa; defendeu a autoridade dele com os escritos
ascéticos e morais.
5
Um papel primordial no projeto de unificação das várias regiões
da Itália num único Estado tiveram os soberanos do Reino do Piemonte-Sardegna, os Sabóia; os vários descendentes tiveram o título
de “Rei da Itália” (monarquia constitucional) até o dia 2 de junho de
1946, quando com um referendum os italianos escolheram a forma
política da “República”.
109
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6
Guarentigie significa Garantias; o Estado Italiano garantia ao
Pontífice a inviolabilidade da pessoa, as honras soberanas, o direito
de ter a serviço próprio guardas armados para defesa dos palácios
Vaticanos, do Latrão, da Chancelaria e da casa de Castel Gandolfo.
Tais imóveis eram submetidos a regime de extra-territorialidade que
os isentava das leis italianas e assegurava liberdade de comunicações postais e telegráficas e o direito de representações diplomáticas.
Enfim garantia uma ajuda anual para a manutenção do Pontífice,
do Sagrado Colégio e dos palácios apostólicos. A lei regulamentava
também as relações entre o Estado e a Igreja Católica, garantindo a
ambos a máxima pacífica independência. Além do clero era reconhecida ilimitada a liberdade de reuniões e os bispos eram isentos
de juramento ao Rei. A Lei conservava, porém, o placet governativo
para a nomeação dos bispos e dos párocos.
7
Cfr. L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove
Frontiere, Roma 2003, p. 14.
8
L. Guanella, Il montanaro, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi
Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1992, p. 1002. O Pe.
Guanella escreveu este livrino em 1886 para homenagear e confortar a população de Tartano e Talamona, vilarejos da Valtellina, atingidos por uma inundação no mês de setembro de 1885, que tinha
deixado vítimas fatais e grandes danos.
No livrinho ele exalta os valores humanos, morais e religiosos do
povo montanhês; na verdade aparecem as lembranças da sua infância, as experiências vividas em família, os seus sentimentos... O livrinho é, a partir deste ponto de vista, muito preciosos para
conhecer o ambiente no qual ele nasceu e cresceu.
9
A expressão não é do Pe. Guanella, mas do historiador salesiano
Pedro Stella, citado por M. CARROZZINO, Dom Guanella e Dom
Bosco. História de um encontro e de um confronto, Saggi storici – 1,
II, Ed., Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma
2010, p. 131. Nas memórias autobiográficas, o Pe. Guanella afirma:
“Sinto em mim que a Divina Providência me chama a Turim e será o
que Deus quiser”. In L. GUANELLA, Os caminhos da Providência,
Editora Nuove Frontiere, Roma, 2003, p. 46; mais adiante, quando
justifica a decisão de deixar Dom Bosco, afirma: “Considero sorte
110
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grandíssima ter vindo de junto de Dom Bosco, mas o meu coração sentiria um vazio por toda a vida porque, não parecerá verdadeiro, mas
continua em mim o pensamento de fabricar algum ‘ciabotto’ na minha
pátria (ciabotti Dom Bosco chamava as suas fundações”, p. 49.
10
O Pe. Luís se resignou facilmente à ideia de não poder reabrir
o colégio de Traona; buscou apoio por todo lugar para vencer a hostilidade do Prefeito. O Bispo era de um parecer bem diferente; estava convicto de que o Pe. Guanella não teria conseguido a
despontá-la e portanto encontrando-o nos locais paroquiais de Campodolcino, num momento de impaciência, dirigiu ao Pe. Guanella
palavras de fogo: “Não posso lhe suspender porque não tenho argumentos, mas o faria, se pudesse”. Se sentiu amargurado... E tudo logo
terminou ali”. In L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora
Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 56.
11
Carta do Pe. Guanella a Dom P. Carsana, escrita de Olmo, outubro de 1881, Arquivo Guanelliano Como.
12
Carta do Pe. Guanella a Dom P. Carsana de 20 de maio de 1878,
Arquivo Guanelliano Como.
13
L. Guanella, Non ritornerà più dunque Suor Chiara fra noi?,
Nuove Frontiere Editora, Roma 1982, p. 26-27.
14
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere,
Roma 2003, p. 58.
15
Cfr. Decretum laudis “Humanis miseriis sublevandis”.
16
Cfr. La Divina Provvidenza – dezembro de 1926, p. 244. O Decreto de ereção é de 23 de fevereiro de 1913; com o Decreto do
Santo Ofício de 23 de abril sucessivo a Associação foi enriquecida
de indulgências; a 1 de junho, foi elevada a Associação Primária. Finalmente, com carta apostólica de 14 de fevereiro do ano seguinte,
o Papa Pio X, recomenda a difusão dela em todo o mundo católico.
Cfr. La Divina Provvidenza – maio de 1913, p. 69-72.
17
L. Guanella, Il pane dell’anima – Primo corso, Opera Omnia,
Vol. I, Centro Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora,
Roma 1992, p. 367.
18
L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, Centro
Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 140.
111
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19
Com os santos o Pe. Guanella teve uma “relação” especial e, em
particular, com os “santos da caridade”; entre aqueles que exerceram sobre ele um grande fascínio citamos: Santa Teresa de Ávila,
São Francisco de Assis, (tornou-se Terciário Franciscano), São José
Bento Cottolengo e São João Bosco, São Jerônimo Emiliani, São
Caetano de Thiene, São Camilo de Lélis...
20
L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 453.
21
L. Guanella, In tempo sacro, Opera Omnia, Vol. I, Centro Studi
Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1992, p. 835.
22
L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 447.
23
Cfr. Ibidem, p. 462 s.
24
L. Guanella, Il pane dell’anima – Secondo corso, Opera Omnia,
Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma
1992, p. 409.
25
A. Bacciarini, Positio super virtutibus, I, Roma 1937, Archivio
Guanelliano Como, p. 259.
26
L. Guanella, Regolamento FsMP – 1911, Opera Omnia, Vol.
IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988,
p. 614.
27
La Divina Provvidenza – ottobre 1914, p. 159.
28
Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 33.
29
L. Guanella, Il fondamento, Opera Omnia, Vol. III, Centro
Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 877: “O
coração é a vida do corpo, a oração é vida da alma cristã”.
30
L. Guanella, Regolamento SdC – 1905, Opera Omnia, Vol. IV,
Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.
1159: “Para se entender justamente com os homens, é preciso antes de
tudo saber se entender com o Senhor, que é caminho, verdade e vida”.
31
L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,
Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.
1339.
32
112
Dina Bosatta (1858-1887) como religiosa assumiu o nome de
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Clara; juntamente com a irmã Marcelina e outras jovens de Pianello
Lário constituiu o núcleo fundamental da nascente Congregação
das Filhas de Santa Maria da Providência. Foi dotada pela Graça
de uma alma mística que a levou a buscar a união esponsal do amor
com Deus, entre muitas provações e sofrimentos físicos. Com somente 29 anos levou termo, sob a orientação sábia do Pe. Guanella,
o seu caminho pessoal de santificação. João Paulo II a elevou à
honra dos altares a 21 de abril de 1991. Para aprofundar o conhecimento: L. Guanella, Dono di giovinezza – Vita di Chiara Bosatta,
Editora Nuove Frontiere, Roma 2009; P. Pellegrini – M. L. Oliva, La
storia di Chiara, Nuove Frontiere Editora, Roma 1991; Chiara Bosatta – Scritti e documenti, a cura di E. Soscia e F. Bucci, Centro
Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 2002.
33
“Ficamos maravilhados: nos encontramos diante de uma santidade de caráter contemplativo colocada por Deus como pedra fundamental de uma instituição que se baseia simplesmente na insígnia da
misericórdia”. In A. Beria, Vita di suor Chiara scritta da don Guanella, Nuove Frontiere Editora, Roma 1983, p. 5. “Podemos deduzir
como a Ir. Clara, correspondendo com fidelidade, generosidade e perseverança à graça e aos dons de Deus, soube harmonizar muito bem a
dimensão contemplativa com a ativa. E é surpreendente como Deus
tenha querido conceder a um instituto nascente limitas especificamente caritativos e apostólicos uma alma mística” In Sacra Congregatio pro Causis Sanctorum, Comensis Canonizationis Servae Dei
Clarae Bosatta sororis professae Instituti SS. Maria a Providentia,
Relatio et Vota Congressus Peculiaris, Roma 1988, Arquivo Guanelliano Como, p. 93.
34
L. Guanella, Il pane dell’anima – Terzo corso, Opera Omnia,
Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma
1992, p. 633.
35
O Pe. Guanella escreveu entre 1872 e 1889, 45 livrinhos ascético-morais; foram recolhidos e publicados pelo Centro de Estudos
Guanellianos. O indicamos como Opera Omnia.
36
A. Bacciarini, Positio super virtutibus, I, Roma 1937, Archivio
Guanelliano Como, p. 305.
37
Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, Livraria Editora Vaticana, 2005, n. 55.
113
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38
L. Guanella, Il pane dell’anima – Primo corso, Opera Omnia,
Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, 1992, p.
312.
39
L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, Centro
Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 126.
40
L. Mazzucchi, Positio super virtitibus, I, Roma 1937, Archivio
Guanelliano Como, p. 303.
41
L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 443.
42
L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, Centro
Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 126.
43
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere,
Roma 2003, p. 78.
44
L. Guanella, Il pane dell’anima – Terzo corso, Opera Omnia,
Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma
1992, p. 655.
45
L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 470.
46
L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III,
Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999,
p. 446.
47
L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,
Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.
1261.
48
L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 470.
49
L. Guanella, Il pane dell’anima – Primo corso, Opera Omnia,
Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma
1992, p. 351s.
50
L. Guanella, Regolamento SdC -1910, Opera Omnia, Vol. IV,
Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.
1297.
51
114
L. Guanella, Breve Statuto delle Figlie del S. Cuore chiamate
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Crocine in Como – 1893, Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma, 1988, p. 90.
52
As memórias autobiográficas, Le vie della Provvidenza, foram
ditadas pelo Pe. Guanella a ser escritas por pessoas, por sorte durante o inverno do ano de 1913 ou 1914, exceto algumas passagens
“importantes” escritas de próprio punho. A página em questão é o
início do artigo XIII, intitulado “A constituição moral da Casa da Divina Providência em Como”, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003,
p. 69.
53
L. Guanella, Settimana con Dio, in L. Mazzucchi, La vita,lo spirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere,
Roma 1999, p. 480.
54
Do número de dezembro de 1895 a hoje o cabeçalho do boletim é La Divina Provvidenza.
55
L. Guanella, Regolamento SdC – 1905, Opera Omnia, Vol.
IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma
1988, p. 1148.
56
Iluminador foi a este respeito a experiência do falimento em
Traona. Quando Dom P. Carsana lhe comunica de ir a Traona, o Pe.
Guanella “acreditava ter finalmente a Providência no bolso”, pensava
que finalmente podia considerar fechada a fase da busca da sua vocação de fundador. In L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 52.
57
“Por fim Deus pensou de criar o homem. Reuniram-se então em
conselho as pessoas da Augustíssima Trindade e disseram: “Façamos o
homem à nossa imagem e semelhança”. Moisés depois concluiu expressamente: “ Deus criou o homem à sua semelhança, à semelhança
de Deus o criou”. L. Guanella, Da Adamo a Pio IX – I, Opera Omnia,
Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma
1995, p. 20.
58
“A obra por excelência de Deus aqui em baixo é o homem, criado
para que seja o filho vivo da Igreja santa”. L. Guanella, Le glorie del
pontificato, Opera Omnia, Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1995, p. 954.
115
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59
“Um médico pagão ao considerar a estrutura do corpo humano exclamou: “Não é um livro isto que eu fiz, mas um hino que cantei em
honra da divindade”. O homem é ereto em atitude de comando, é rei
do universo, todos os animais lhe obedecem, na estatura tem as proporções com as coisas criadas ao redor. “O homem – diz Santo Ambrósio – é uma imagem do universo”. L. Guanella, Da Adamo a Pio
IX – I, Opera Omnia, Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, Editora
Nuove Frontiere, Roma 1995, p. 20.
60
“Ora, esta de Adão foi culpa, mas de fragilidade”. Ibidem, p. 22.
61
O Pe. Guanella reporta uma frase de Santo Tomás: “O homem
depois do pecado necessita da graça divina para se curar”. Ibidem, p.
22.
62
“Deus não maldisse a Adão e Eva. Mas não deixou de castigá-los
permitindo que um flagelo do sentido, a concupiscência, o tormentasse continuamente. E mostrando-se em ato mais de patrão do que de
Pai,os expulsou de paraíso terrestre e lá, para vigiar a entrada, colocou
um querubim armado de espada chamejante. Todavia o Senhor, sempre bom, vendo-os miseráveis, confusos e trepidantes, colocou neles
uma veste de pele de animais e depois com bondade imensa continua
a dizer: “Uma mulher esmagará a cabeça da serpente. De tal mulher
nascerá alguém que será o salvador de todos. E vós e os outros se acreditais naquele que o enviou, sereis ainda salvos. L. Guanella, Da
Adamo a Pio IX – I, Opera Omnia, Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1995, p. 23-24.
63
“Oh, se também tu ao lado de Jesus sepultasses o homem velho
da concupiscência, acredite que tu mesmo sacudirias do teu redor o
mundo que te circunda!”. L. Guanella, Il fondamento, Opera Omnia,
Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Eidtora Nuove Frontiere, Roma
1999, p. 872-873.
64
L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, Centro
Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 143.
65
João Paulo II, Evangelium Vitae, 1995, n. 85.
66
Aa.vv, Documento Base para projetos educativos guanellianos,
Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 74.
67
116
L. Guanella, Lettera circolare ai Servi della Carità – 20 ottobre
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1913, Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora
Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 1411.
68
Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, Livraria Editora Vaticana, 2005, n. 2.
69
Cfr. Aa.vv, Documento Base para projetos educativos guanellianos, Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 19.
70
L. Guanella, Vieni meco – 1913, Opera Omnia, Vol. IV, Centro
Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 795.
71
L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Arquivo Guanelliano Como, art. XXVI n. 2.
72
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere,
Roma 2003, p. 92.
73
L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,
Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontier, Roma 1988, p.
1232.
74
Cfr. “Tornar a caridade o coração do mundo” – Documento Base do
Movimento Laical Guanelliano, Roma, 2010, n. 16. Vide também La
Divina Provvidenza – fevereiro de 1913, p. 27: “Obra eminente de redenção, de apostolado, de benemerência social, de cooperação santa à ação
de Jesus Salvador é aquela que se consagra a apagar a dupla ordem dos
males, a dar de novo a dupla felicidade do espírito e do corpo: o nosso ministério tem por finalidade a salvação, o bem, a santificação das almas;
tem também por finalidade, e é um bom meio como primeiro fim o alívio
das necessidades corporais, a reabilitação dos abandonados e necessitados,
por que o mundo não tem alegria e sequer um sorriso”. Vide também Aa.
VV, Documento Base para projetos educativos guanellianos, Editora
Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 14.
75
Aa.vv, Documento Base para projetos educativos guanellianos,
Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 13.
76
Um dia viu em Prosto um menino em condições lamentáveis.
O amou, o tratou como bom amigo, depois lhe deu uma grande
prova de fraternidade: se interessou por ele, procurou para ele um
lugar gratuito na Pequena Casa da Divina Providência em Turim e
ele mesmo o conduziu para lá. Cfr. L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 40.
117
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77
“A arte e a religião, a ciência e a fé, eis aí as boas irmãs que se dão
a mão para elevar o homem de uma baixeza terrena a uma grandeza
celestial”. L. Guanella, Quarto centenario di Andrea da Peschiera,
Opere, Vol. II/2, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1997, p. 504.
78
“Tu cumpres obra de misericórdia, o Filoteia, quando no teu coração vens acolhendo as humanas enfermidades a fim de aliviá-las”. L.
Guanella, Il fondamento, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 975.
79
L. Guanella, Massime di spirito e metodo d’azione 1888-1889,
Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove
Frontiere, Roma 1988, p. 22.
80
L. Guanella, Vieni meco – 1913, Opera Omnia, Vol. IV, Centro
Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 799.
81
L. Guanella, Regolamento interno FsC – 1899, Opera Omnia,
Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma
1988, p. 993.
82
L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,
Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p.
1233.
83
L. Guanella, Nel mese dei fi ori, Opera Omnia, Vol. I, Centro
Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1992, p. 950.
84
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 37.
85
P. Pellegrini, Don Guanella inedito, Editora Nuove Frontiere,
Roma 1993, p. 35.
86
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 12.
87
L. Sterlocchi, Vita di Caterina Guanella, Como, Scuola Tipografica Casa Divina Provvidenza, Como 1911, p. 10.
88
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 37.
89
L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanelliano Como, art. XXIV n. 1.
118
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90
Aa.vv., Documento Base per Progetti Educativi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 75-77.
91
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 11-12.
92
L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanelliano Como, art. XLVI n. 3.
93
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 38; cfr. anche L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et
dictorum, Archivio Guanellliano Como, art XXX n. 1: «In tutto e
anche in Consiglio diceva sempre: “Badiamo alla coscienza”».
94
Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanelliano
Como, art. II n. 11.
95
Cfr. La Divina Provvidenza – giugno 1910, p. 92-94.
96
L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanelliano Como, art. II n. 26.
97
L. Guanella, Vieni Meco – 1913, Opera Omnia vol. IV, Centro
Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 788.
98
Marcelina Bosatta (1847-1934), irmã mais velha da Bem-aventurada Clara, ficou ao lado do Pe. Guanella em toda a sua obra de caridade; foi conselheira sábia e confidente desde os inícios em Pianello
Lário, onde já era superiora da pequena comunidade de Ursulinas
suscitadas pelo Pe. Carlos Coppini. Foi a primeira Superiora Geral
das Filhas de Santa Maria da Providência. Depois da morte do Pe.
Guanella, a Ir. Marcelina ficou fiel guardiã do seu espírito e dos seus
ensinamentos, continuando a guiar a Congregação até 1925. Passou
os últimos anos em retiro e oração na casa mãe de Como-Lora.
99
L. Guanella, La settimana con Dio, in L. Mazzucchi, La vita, lo
spirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere,
1999, p. 481.
100
“Tornar a Caridade o Coração do Mundo”, Documento Base do
Movimento Laical Guanelliano, Roma 2010, n. 6.
101
A Associação foi reconhecida como “Obra própria da Família
religiosa guanelliana” pelo Pontifício Conselho para os Leigos com
Decreto de 22 de maio de 2003.
119
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102
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 41.
103
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 45; V. Lucarelli, Don Guanella. Un “contemporaneo”affascinante, Edizioni Paoline, 1991, p. 61.
104
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 43.
105
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 42.
106
Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanelliano
Como, art. XXVIII n. 2.
107
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma, 2003, p. 108-109.
108
Bento XVI, Caritas in Veritate, Libreria Editora Vaticana,
2009, n. 9.
109
Bento XVI, Caritas in Veritate, Libreria Editora Vaticana,
2009, n. 19.
110
Vedi G. Vecchio, Giovanni Acquaderni, Davide Albertario, Filippo Meda, Giuseppe Toniolo: cristiani per la Chiesa e per la società,
in Saggi Storici – 16, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove
Frontiere, Roma, 2000, p. 175s.
111
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 79.
112
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 41.
113
L. Guanella, Da Adamo a Pio IX, in Opera Omnia, Vol. II/1,
Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1995,
pp. 1s.
114
L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 78-79.
115
Descendente de uma antiga família lombarda, Madalena
Crosta casou o patrício urbano Francisco Albini Riccioli. Terciária
franciscana, foi autora de livrinhos formativos, devocionais e de testes teatrais para a infância; Papa Leão XIII a enriqueceu com di-
120
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versas honrarias pela sua obra de escritora crista. A colaboração com
o Pe. Guanella iniciou em Milão em 1896: dirigiu o boletim “La Divina Provvidenza” por um decênio, o ajudou na redação definitiva
do amplo Regulamento das Filhas de Santa Maria da Providência, impresso em 1911, e escreveu Flor de Céu, a primeira biografia completa sobre a Ir. Clara Bosatta, publicada em 1910.
116
O primeiro número do boletim “La Divina Providenzza” foi
iniciada no mês de dezembro de 1892. Desde então a publicação
continua até os nossos dias.
117
Era a zona do alto lago de Como; após a bonificação iniciada
por Dom Guanella, a zona foi completamente recuperada; surgiram
novos centros habitados (Nuova Olônio, Dubino...)
118
Cfr. G. Rossi, L’istruzione agraria in Italia tra Ottocento e Novecento: la colonia agricola di Monte Mario a Roma, in Saggi Storici
– 18, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma,
2000, p. 165-199; vedi anche A. Robbiati, Le colonie agricole: il caso
di San Salvatore in Piano di Spagna, in “L’Opera di don Luigi Guanella. Le origini e gli sviluppi nell’area lombarda”, Atti del Convegno di studi per il centenario della Casa della Divina Provvidenza,
Como 1988, p. 173-216; A. Folonaro-L. Trussoni, La “Nuova” Olonio SS. Salvatore, Meroni Editora , Cassano com Albese (CO) 2000.
119
Muitos ainda em vida, o indicavam com o apelativo de “engenheiro santo”. À sua morte foi aberto o processo canônico para o reconhecimento da sua santidade. Tem o título de “Servo de Deus” e
desde 1960 está a caminho a causa da sua beatificação; era inscrito,
como também o Pe. Guanella, entre os Terciários Franciscanos.
120
L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanelliano Como, art. XVI n. 5.
121
L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 560-561. Agostinho
Gemelli, na vida civil Eduardo (1878-1959), em 1907 estava atravessando uma profunda crise espiritual, provocada por fortes sugestões do “modernismo”. Foi aconselhado pelo Papa Pio X de se
confiar ao Pe. Guanella: “Abre-lhe a tua alma e faz o que ele te disser como se eu mesmo te comandasse”. À objeção de que o Pe. Guanella não era um teólogo e nem sequer estava a par dos problemas
121
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levantados pelo modernismo, o Papa lhe respondeu: “Já não te quebraste a cabeça com os teólogos? Tu precisas de um santo e o Pe. Guanella é um Santo”. O Gemelli encontrou o Pe. Guanella e superou a
crise. Testemunhou no processo canônico: “Parece-me de poder atestar
que se da grave crise eu saí ileso, isto se deve não somente à grande caridade do Pe. Guanella, mas à simplicidade do seu espírito”.
122
Aa.vv., Documento Base per Progetti Educativi Guanelliani,
Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 140.
123
L. Guanella Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere, Roma, 2003, p. 19.
124
L. Guanella, Regolamento Interno FsMP – 1899, Opera
Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere,
Roma 1988, p. 301. Reportamos o belo testemunho do Padre Agostinho Gemelli na comemoração do Pe. Guanella que ocorreu na
Igreja de São José ao Trionfale a 25 de novembro de 1915: “O Pe.
Guanella recolhe estas criatura que a própria ciência rejeita porque
não vê nelas a possibilidade de desenvolver atividades espirituais, e as
recolhe, antes, algumas vezes contra as pretensões de certa ciência que
considera semelhante obra estéril e vã. Mas, conduzido pelo amor ao
próximo, o Pe. Guanella, humilde e simplesmente, supera as preconceitos orgulhosos dos homens e, acolhendo, os “dejetos” não somente
cumpre uma missão de fé e de cidadania, mas consegue obter resultados que os próprios psiquiatras não teriam nem imaginado”. L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora
Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 560.
125
Aa.vv., Con fede amore e competenza. Perfil do operador guanelliano, Editora Nuove Frontiere, Roma 2000, n. 26-31.
126
L. Guanella, Regolamento Interno FsC – 1899, Opera Omnia,
Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma
1988, p. 1006.
127
L. Guanella, Massime di spirito e metodo d’azione – 1888/89,
Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove
Frontiere, Roma 1988, p. 43.
128
L. Guanella, Regolamento FsMP – 1911, Opera Omnia, Vol.
IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988,
p. 431.
122
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129
L. Guanella, Massime di spirito e metodo d’azione – 1888/89,
Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove
Frontiere, Roma 1988, p. 50.
130
Ibidem, p. 30.
131
L. Guanella, Regolamento Interno FsC – 1899, Opera Omnia,
Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora , Roma
1988, p. 1007.
132
L. Guanella, Il Fondamento, Opera Omnia, Vol. III, Centro
Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora , Roma 1999, p. 963.
133
M. Carrozzino, Visione dell’uomo ed educabilità in don Guanella, in aa.vv., Il rapporto educativo in stile guanelliano, Editora
Nuove Frontiere, Roma, 1989, p. 159.
134
AA.VV., Documento Base per Progetti Educativi Guanelliani,
Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 85.
135
Ibidem, p. 38.
136
L. Guanella, Regolamento interno FsC – 1899, Opera Omnia,
Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora , Roma
1988, p. 1029; Regolamento SdC – 1905, Ibidem, p. 1147: “Se chama
sistema preventivo de educação e de conveniência aquele método de caridade, de uso, de conveniência, graças ao qual os superiores circundam
de afeto paterno os próprios dependentes e os irmãos envolvem de solicitude os próprios irmãos, para que nos trabalhos da jornada ninguém seja surpreendido por qualquer tipo de mal e no caminho da vida
cheguem à meta feliz. Este é o sistema que mais se aproxima à exemplar vida da Sagrada Família de Jesus, Maria e José... No caso prático
o sistema preventivo precisa 1) possuí-lo no coração e na mente,2)
exercitá-lo com os iguais, 3) com os inferiores, 4) com os superiores, 5)
em cada circunstância e sempre”.
137
L. Guanella, O Padre! O Madre! – Secondo corso, Opera
Omnia, Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora
, Roma 1992, p. 90.
138
M. Carrozzino Visione dell’uomo ed educabilità in don Guanella in aa.vv., Il rapporto educativo in stile guanelliano Editora
Nuove Frontiere, Roma, 1989, p. 160.
139
Cfr. nota n. 66.
123
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140
Aa.Vv., Con fede, amore e competenza – Profi lo dell’operatore
guanelliano, Editora Nuove Frontiere, Roma 2000.
141
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA, Educare alla vita buona del
Vangelo. Orientamenti pastorali dell’episcopato italiano per il decennio 2010-2020, EDB, 2010.
142
BENEDETTO XVI, Lettera alla Diocesi e alla città di Roma sul
compito urgente dell’educazione, in EV 25/55.
143
BENEDETTO XVI, Caritas in Veritate, 78.
144
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA, Educare alla vita buona del
Vangelo, EDB, 2010, 9.
145
Ibidem, 55.
146
COMMISSIONE EPISCOPALE PER IL CLERO E LA VITA CONSACRATA,
Messaggio per la 15ª Giornata mondiale della vita consacrata, Roma
6 gennaio 2011.
147
L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 559.
124
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ÍNDICE
Apresentação. Postulador geral ........................... Pág.
Prefácio. Bispo de Como ...................................... »
9
15
PARTE I
PANO DE FUNDO
Contexto histórico................................................
Contexto social ....................................................
Contexto eclesial .................................................
Pe. Guanella e o seu tempo..................................
»
»
»
»
21
24
26
27
»
»
37
41
42
42
43
49
57
69
79
85
PARTE II
EM PRIMEIRO PLANO
Sob as asas da Providência...................................
O ambiente em que nasceu e cresceu .................
Traços caracteristícos da santitade do Pe. Guanella
a) Introdução ................................................
b) Um homem, um Santo..............................
Homem de Deus ..................................................
Pai dos pobres .....................................................
Cidadão do mundo .............................................
Educador apaixonado ........................................
Conclusão ...........................................................
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PARTE III
COMO MOLDURA
O caminho para a canonização ..........................
Os processos canônicos ......................................
Os milagres .........................................................
Para a beatificação .......................................
Para a canonização ......................................
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Note ....................................................................
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Impresso maio 2011 do GESP - Città di Castello (PG - Itália)

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