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PARAMETRIZAÇÃO DA IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO VISANDO OTIMIZAR O MANEJO DE ÁGUA EM TOMATEIRO PARA PROCESSAMENTO WALDIR A. MAROUELLI1, WASHINGTON L. C. SILVA2, CELSO L. MORETTI2 Escrito para apresentação no WORKSHOP TOMATE NA UNICAMP: PERSPECTIVAS E PESQUISAS Campinas, 28 de maio de 2003 RESUMO: Experimentos foram conduzidos na Embrapa Hortaliças, entre 2000 e 2002, visando definir parâmetros para a racionalização do manejo da irrigação por gotejamento em tomateiro para processamento na Região do Cerrado. Com base nos resultados concluiu-se que o gotejamento aumentou a produtividade (média de 22%) e reduziu a taxa de frutos podres (média de 75%), quando comparado à aspersão. O plantio deve ser realizado em fileiras simples com espaçamento de gotejadores entre 10 e 30 cm; a tensão de irrigação que maximizou a produtividade foi 70 kPa no estádio vegetativo (turno de rega de 3 a 5 dias) e 15 kPa no de frutificação (turno de rega de 1 a 2 dias). A instalação das linhas de gotejadores deve ser superficial ou, no máximo, a 10 cm de profundidade. Profundidades de instalação a partir de 20 cm reduziu significativamente a taxa de frutos podres, mas prejudicou a produtividade; valores Kc: 0,45 para o estádio inicial; 0,40 para vegetativo; 0,95 para frutificação; 0,70 para maturação. PALAVRAS-CHAVE: Lycopersicon esculentum,, espaçamento, tensão, fertirrigação SETTING UP DRIP IRRIGATION PARAMETERS FOR PROCESSING TOMATOES ABSTRACT: Experiments were carried out at Embrapa Vegetables, Brazil, from 2000 to 2002, aiming to establish the major drip irrigation parameters for processing tomatoes. Based on the results it can be concluded that: drip irrigation increased tomato yield (mean of 22%) and decreases the rate of rotten fruit (mean of 75%), as compared to sprinkle irrigation. Planting should be done using single row and 10-cm emitter spacing. Drip lines can be placed either at soil surface or buried at the 20-cm depth. Maximum soil water tension should be 70 and 15 kPa, for the plant vegetative growth (3 to 5 days irrigation interval) and fructification (1 to 3 days irrigation interval) stages, respectively. Subsurface drip decreases significantly the rate of rotten fruit. Tomato crop coefficients of 0,45 for initial stage, 0,40 for vegetative, 0,95 for fructification, and 0,70 for ripening. KEYWORDS: Lycopersicon esculentum, spacing, water tension, fertigation INTRODUÇÃO: O tomateiro para processamento é a hortaliça de maior importância econômica cultivada na Região do Cerrado. Em 2002, a área nos Estados de Goiás e Minas Gerais totalizou 14.300 hectares, representando 78% do total plantado no Brasil. A cultura é quase que totalmente irrigada por aspersão, sendo o pivô central o sistema predominante na região (MAROUELLI & SILVA, 2000). O uso do pivô central, entretanto, tem sido questionado por problemas relacionados ao manejo inadequado da água, por favorecer doenças foliares e podridões de fruto, e pela falta de esquemas eficientes de rotação de culturas, que favorecem a infestação e o acúmulo de patógenos no solo (SILVA et al., 1997). Uma alternativa aos sistemas por aspersão é o gotejamento, que minimiza as perdas de água por evaporação, não molha a parte aérea das plantas e pode ser facilmente deslocado de área. A eficácia do gotejamento, entretanto, depende do manejo racional de todo o sistema, 1 2 Eng. Agríc., PhD, Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70.359-970, Brasília, DF, e-mail: [email protected]. Eng. Agr., PhD, Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70.359-970, Brasília, DF. inclusive da fertirrigação (MAROUELLI & SILVA, 2000). Segundo SILVA & MAROUELLI (1999), praticamente não existem, para as condições brasileiras, informações sobre os parâmetros básicos para a realização de um eficiente manejo da irrigação em tomateiro para processamento. O objetivo desse estudo foi, portanto, estabelecer parâmetros para o manejo de água em tomateiro para processamento via gotejamento, nas condições edafoclimáticas da Região do Cerrado. MATERIAL E MÉTODOS: Entre 2000 e 2002, seis experimentos foram conduzidos no campo experimental da Embrapa Hortaliças, Brasília/DF, em Latossolo Vermelho Amarelo, fase cerrado e textura argilosa. Os experimentos foram: 1) espaçamentos entre gotejadores (10; 30 cm) e sistemas de plantio (fileiras simples e fileiras duplas; cada caso com uma lateral de gotejadores); 2) profundidades de instalação das linhas de gotejadores (0; 20; 40 cm); 3) tensões criticas de água no solo (15; 30; 70 kPa) nos estádios vegetativo e de frutificação da cultura; 4) freqüências de irrigação (0,5; 1; 2; 4; 8; 6 dias) no estádio vegetativo; 5) freqüências de irrigação (0,25; 0,5; 1; 2; 4; 8 dias.) no estádio de frutificação; 6) balanço de água no solo para ajuste dos coeficientes de cultura (Kc). Em todos os experimentos existiu um tratamento controle irrigado por aspersão. Nos três primeiros experimentos utilizou-se o híbrido Heinz 9498, no 4o o AP533, e nos dois últimos o Heinz 9992. As mudas foram tansplantadas no espaçamento de 30 x 120 cm, em fileiras simples de 6 m, com quatro fileiras por parcela, durante os meses de maio a junho, dependendo do experimento. No caso de fileiras duplas, o espaçamento foi de 140 x 40 x 40 cm. As irrigações foram realizada por gotejadores com vazão de 1,15 L.h-1, espaçados de 30 cm. Para a maioria dos tratamentos, a umidade do solo foi avaliada por tensiômetros, sendo que para aqueles mais secos utilizou-se o método gravimétrico. As adubações, em kg.ha-1, foram na base de 160 de N, 250 de K2O, 600 de P2O5, 130 de Ca, 35 de Mg, 5 de Zn e 2 de B. Em pré-plantio foi aplicado 15% do N e do K, 50% do Ca e 100% dos demais nutrientes. O N, K e Ca restantes foram aplicados via fertirrigação. Foi realizada uma única colheita quando a taxa de maturação atingia cerca de 95% de frutos vermelhos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: No caso do espaçamento entre gotejadores, a produtividade para 10 cm foi 10% maior que para 30 cm. O plantio em fileiras simples produziu 9% mais frutos que em fileiras duplas. O tratamento por aspersão não diferiu do tratamento com gotejadores a 30 cm e fileiras duplas, mas foi pelo menos 15% menor do que nos demais tratamentos. A taxa de frutos podres não foi influenciada pelo fator espaçamento entre gotejadores, mas foi maior nos plantios em fileiras duplas. Na aspersão, a percentagem de frutos podres foi pelo menos 68% maior que nos tratamentos por gotejamento (Tabela 1). Maior retorno econômico foi obtido no tratamento com espaçamento de 10 cm e plantio em fileiras simples, para o qual a produtividade atingiu 137 t ha-1. Em unidades de observação, verificou-se que para Latossolos com maior formação de bulbo molhado, espaçamento até 30 cm podem ser utilizado sem prejuízo ä produção. TABELA 1. Produtividade de tomate e taxa de frutos podres para os tratamentos (sistema de plantio e espaçamento entre gotejadores) irrigados por gotejamento e por aspersão. Espaçamento entre Sistema de plantio Média gotejadores Fileiras simples Fileiras duplas Produtividade (t ha-1) 10 cm 137,2 123,5 130,4 A 30 cm 122,4 114,5 118,5 B Média 129,8 a 119,0 b Aspersão = 106,8 t ha-1 Fruto podre (% nun.) 10 cm 7,3 10,8 9,1 A 30 cm 6,6 9,2 7,9 A Média 7,0 b 10,0 a Aspersão = 18,1% Obs.: As médias seguidas por letras diferentes diferiram entre si pelo teste F (p <0,01). Dentre às profundidades de instalação dos gotejadores, a superficial produziu 32% (124 t ha-1) a mais que o gotejamento a 40 cm, 15% a mais que a aspersão, mas não diferiu (p>0,05) do gotejamento a 20 cm. A incidência de frutos podres na aspersão foi 112% e 453% maior que no gotejamento superficial e subterrâneo, respectivamente. Maior eficiência no uso de água pelo tomateiro ocorreu para o gotejamento superficial e a menor para a aspersão (Tabela 2). Todavia, além de interferir no preparo do solo, gotejamento a 20 cm requer o uso da aspersão para estabelecimento inicial das mudas. TABELA 2. Produtividade (PC), porcentagem, em número, de frutos podres (FP) e eficiência de uso de água (EUA) do tomateiro para os tratamentos de irrigação. EUA (kg m-3) FP (%) Tratamento PC (t ha-1) Gotejo superficial 124 a 33,5 a 7,3 b Gotejo 20 cm 116 ab 31,4 a 2,7 c Gotejo 40 cm 94 c 25,4 b 2,8 c Aspersão 108 b 25,1 b 15,5 a Obs.: Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si (p > 0,05), pelo teste de Duncan. Nenhuma das variáveis de produção e de qualidade foi afetada (p>0,05) pelas tensões de água avaliadas durante o estádio vegetativo. Por outro lado, a produtividade foi reduzida linearmente com o aumento da tensão no estádio de frutificação. No tratamento por aspersão, a produtividade (103 t ha-1) foi 28% menor que a do tratamento por gotejamento mais produtivo (70 kPa no estádio vegetativo e 15 kPa no reprodutivo). A taxa de frutos podres na aspersão foi de 25% (Figura 1). 135 8 2 (r = 0,95) 2 Fp = 7,769 – 0,048TF (r = 0,83) 130 7 125 6 120 5 115 Fruto podre (%) -1 Produtividade (t ha ) Pr = 135,990 - 0,234TF 4 10 20 30 40 50 60 70 Tensão de água no solo (kPa) FIGURA 1. Produtividade (Pr) e taxa de frutos podres (Fp) em tomateiro para processamento para tensões de água no solo, entre 15 e 70 kPa, no estádio de frutificação (TF). Pelo modelo ajustado, maior produtividade esteve associada à adoção de um turno de rega de 2,2 dias (média de 15 kPa) ao longo do estádio vegetativo. Comportamento semelhante também ocorreu com o estande (Figura 2). Para 95% de intervalo de confiança, a produtividade não diferiu para turnos entre 1,4 e 5,4 dias (10 a 60 kPa). Durante o estádio de frutificação, a produtividade foi maximizada para um turno de rega de 0,8 dia, que correspondeu, em média, a uma tensão de 10 kPa (Figura 3). Para 95% de intervalo de confiança, o turno de rega foi de 0,35 a 3 dias (7 a 25 kPa). Os valores de teor de sólidos solúveis totais não foram afetados pelos tratamentos dos diferentes experimentos (média de 4,2%). As produtividades na aspersão foram, respectivamente, 81 e 110 t ha-1 no 4o e 5o experimento. Ajustou-se os seguintes valores de Kc (ETc/ETo), para tanque classe A: 0,45 para o estádio inicial; 0,40 para o vegetativo; 0,95 para o de frutificação; 0,70 para o de maturação. CONCLUSÕES: 1) O gotejamento aumentou a produtividade e reduziu a fração de frutos podres de forma significativa, quando comparado com a irrigação por aspersão; 2) O plantio deve ser feito em 2,8 80 2,7 75 2,6 2,5 2,4 Ef =2,89 + 0,181Ln(TR) - 0,127[Ln(TR)]2 2 Pc =85,5 + 6,994Ln(TR) - 4,532[Ln(TR)] 70 (R2 = 0,77) -1 85 2,9 Produtividade (t.ha ) 3,0 -2 Estande final (planta.m ) fileiras simples com espaçamento de gotejadores entre 10 e 30 cm; 3) A instalação das linhas de gotejadores deve ser superficial ou enterrada à 20 cm de profundidade; 4) O gotejamento subterrâneo reduziu significativamente a taxa de frutos podres comparativamente ao gotejamento superficial e, principalmente, à aspersão; 5) No gotejamento superficial, as irrigações devem ser realizadas de modo que a tensão máxima de água no solo, medida à 10 e 20 cm de profundidade, seja no máximo 70 kPa no estádio vegetativo (turno de rega de 3 a 5 dias) e 15 kPa no estádio de frutificação (turno de rega de 1 a 2 dias), respectivamente; 6) Valores de Kc: 0,45 para o estádio inicial; 0,40 para o vegetativo; 0,95 para o de frutificação; 0,70 para o de maturação. 2 (R = 0,96) 2,3 65 0,5 1 2 4 8 16 Turno de rega (dias) FIGURA 2. Estande final (Ef) e produtividade (Pc) de tomate sob diferentes turnos de rega (TR) no estádio vegetativo. 4,0 Fruto podre (%) -1 130 3,0 2,5 120 2,0 1,5 Produtividade (t.ha ) 140 3,5 Fp =3,0 - 0,674Ln(TR) 110 (r2 = 0,80) Pc =137,3 - 2,308Ln(TR) - 5,263[Ln(TR)]2 (R2 = 0,90) 1,0 100 0,25 0,5 1 2 Turno de rega (dias) 4 8 FIGURA 3. Estande final (Ef) e produtividade (Pc) de tomate sob diferentes turnos de rega (TR) no estádio de frutificação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAROUELLI, W. A., SILVA, W. L. C. 2000. Irrigação. In: J. B. C. Silva & L. B. Giordano (Eds.). Tomate para processamento industrial. Embrapa, p. 60-71. SILVA, W.L.C., LOPES, C.A., PEREIRA, W., FONTES, R.R. Crop rotation systems for irrigated processing tomatoes in Central Brazil. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE PROCESSING TOMATO, 1, 1996, Recife. Proceedings...Recife: IPA/AHS. 1997. p.80. SILVA, W.L.C., MAROUELLI, W.A. State of the art of irrigation research on processing tomatoes in Brazil. Acta Horticulturae, n. 487, p. 487-491, 1999.
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