guia de boas práticas

Transcrição

guia de boas práticas
GUIA DE
BOAS PRÁTICAS
PARA INFORMAR, EDUCAR E COMUNICAR COM EFICÁCIA E DE FORMA
ADEQUADA PARA A PREVENÇÃO E CONTROLO DAS IST/VIH/SIDA
MARIA TERESA SILVA SANTOS
GUIA DE
BOAS PRÁTICAS
PARA INFORMAR, EDUCAR E COMUNICAR COM EFICÁCIA E DE FORMA
ADEQUADA PARA A PREVENÇÃO E CONTROLO DAS IST/VIH/SIDA
MARIA TERESA SILVA SANTOS
Título
Guia de Boas Prácticas
Para Informar, Educar e Comunicar com Eficácia e
de Forma Adequada para a Prevenção e Controlo das
IST/VIH/Sida
Autor
Maria Teresa Silva Santos
[email protected]
Projecto gráfico original e paginação
Ana Moreira
[email protected]
© 2011 Maria Teresa Silva Santos
Este Guia foi elaborado por Maria Teresa Santos.
Contou com as contribuições de
Ana Filgueiras, Ethel Feldman e Renata Cortizo.
Índice
Abreviaturas
11
A pandemia do VIH/SIDA/ introdução
13
1. O que significa informar, educar e comunicar?
Informar
Educar
Comunicar
15
15
16
16
2. A importância da comunicação no domínio da promoção da saúde
e da prevenção e controlo do VIH/Sida em particular
19
3. O que impede que pessoas informadas se protejam?
21
4. Grupos particularmente vulneráveis à infecção VIH/sida
O caso das mulheres
O caso das jovens raparigas
O caso dos jovens rapazes
O caso dos refugiados/deslocados
O caso dos imigrantes
O caso dos militares
O caso dos utilizadores de drogas
O caso dos homens que fazem sexo com homens
O caso dos reclusos
O caso das crianças órfãs
O caso dos trabalhadores do sexo
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25
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28
29
29
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5. Em que circunstâncias é que uma estratégia de I.E.C. pode ser eficaz,
junto de grupos mais vulneráveis?
Informar e sensibilizar
Da informação para a alteração de comportamentos
Modelo de crenças em saúde
Teoria da acção planeada
O modelo transteórico de Prochaska
Teoria da difusão de inovações de E. Rogers
Teoria social cognitiva
Teoria da auto-eficácia
Limitações das teorias da comunicação para a saúde
Aliar prevenção, tratamento e apoio
Complementar estratégias de I.E.C. com a existência
de serviços de saúde
Ir às causas
Que papel para a comunicação?
6. Princípios orientadores e técnicas para a produção
de material de I.E.C. eficaz
Metodologia
Procurar integrar pessoas que vivem com VIH
Participação
Grupos de pares e grupos focais
Grupos de pares e a questão do género: um olhar cuidado
33
33
34
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49
50
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52
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55
55
55
58
58
Técnicas
Mapas sociais
Diagrama de Venn
Mapas do corpo
Ordenar
Pontuar a classificação
Elaboração de matrizes
Fluxos Causais
Estudos de caso
Role-play
Calendário sazonal
61
62
63
65
66
67
67
68
69
70
71
O Facilitador
72
7. Por onde começar?
Análise do contexto
Qual o perfil da comunidade com que vai trabalhar?
Serviços de saúde disponíveis
Serviços de apoio social disponíveis
Identificar outras ONGs, associações ou organismos a desenvolver
o mesmo tipo de trabalho
75
75
75
76
77
Criar um ambiente facilitador
O papel dos líderes
Análise dos actores afectados pelo seu projecto
Árvore de problemas para criação de um ambiente facilitador
Os líderes religiosos
77
77
78
80
82
Diagnóstico de necessidades de informação e de adopção de atitudes
e comportamentos seguros
83
8. Sobre a mensagem
Qual o ponto de partida para a construção de uma mensagem?
Diferença entre conteúdos e mensagem
A importância de uma mensagem principal
KISS — Keep It Short and Simple
Objectividade
Use um tipo e tamanho de letra legível
Procure limitar a quantidade de informação por material
O envolvimento de figuras públicas
O envolvimento de pessoas com características semelhantes
aos beneficiários do seu material
A Mensagem é adequada à realidade das pessoas a que se destina
O receptor da mensagem é esclarecido sobre o seu papel
Procure apresentar razões para a solução proposta
Percepção do risco
Até que ponto o apelo ao medo em campanhas para promoção
de atitudes e comportamentos seguros é eficaz?
Teoria de condução do medo
O Modelo da resposta paralela
Teoria da motivação para a protecção
Outros argumentos a favor do apelo ao medo
Crítica às teorias apresentadas
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87
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90
91
91
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93
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98
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100
100
101
101
102
103
Uma abordagem pela positiva
Ser capaz de atrair a atenção
107
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9. A utilização de ilustrações
Vantagens no uso da ilustração
Não sobrecarregue o seu material com imagens.
Apresente as ilustrações na sequência mais lógica
Use imagens familiares
Use imagens simples
Preste atenção ao significado dos símbolos junto dos beneficiários
do seu material
Uso o estilo mais apropriado para ilustrar: fotografias ou desenhos?
111
111
113
114
114
115
10. A quem cabe produzir as mensagens e ilustrações?
Técnicos do projecto de produção de material de I.E.C.
Profissionais especializados
As próprias pessoas que constituem o grupo focal com quem trabalha
119
119
120
121
11. Sobre o meio
Que meios?
Meios de comunicação interpessoal
Meios de comunicação gráficos e audiovisuais
Meios de comunicação tradicionais
Meios de comunicação de massa
123
123
123
123
123
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116
117
Qual o meio mais apropriado?
O que pretende, sensibilizar, informar, ou promover atitudes
e comportamentos seguros?
Breve resumo das vantagens e desvantagens dos meios identificados
Na perspectiva da associação, ONG ou instituto empenhado
na elaboração de material de I.E.C.
Tendo em conta o contexto em que vivem os beneficiários
do material de I.E.C.
124
Os meios passo a passo
Testemunhos
Banda desenhada
Anúncios em televisão
Programas de televisão
Anúncios em rádio
129
129
130
130
132
132
124
126
127
127
Programas de rádio
Educadores de pares
Clubes
Caixa das perguntas
Internet
Jornais, revistas
Panfletos
Autocolantes
Teatro
Concursos
Jogos
Concertos
Música
Mural
T-shirts
Cartazes de rua
Carrinhas
Educadores de Rua
Outros
Um combinado de vários meios?
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135
136
136
137
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139
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140
140
141
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143
12. Sobre a testagem
Porquê testar?
Com quem testar?
Como testar?
Um exemplo concreto de testagem
145
145
145
146
147
13. Quanto tempo leva a produzir material de I.E.C. adequado e eficaz?
Quanto tempo para produzir material de I.E.C. adequado?
Quanto tempo para produzir material capaz de promover a adopção
de atitudes e comportamentos seguros?
151
151
14. Onde aplicar ou distribuir o material I.E.C.?
155
15. Referências bibliográficas
157
153
Abreviaturas
ISTs
OMS
ONGs
ONUSIDA
Sida
UNICEF
VIH
Infecções Sexualmente Transmissíveis
Organização Mundial de Saúde
Organizações Não Governamentais
Programa Conjunto das Nações Unidas para o VIH/sida
Síndroma da Imunodeficiência Adquirida
Fundo das Nações Unidas para a Infância
Vírus da Imunodeficiência Humana
Introdução
A pandemia do VIH/SIDA
O relatório da ONUSIDA sobre o ponto de situação do VIH/Sida em 2009, estima em
33,3 milhões pessoas, o número de pessoas a viver com o VIH/Sida. Destes 2,6 milhões
correspondem a novas infecções1.
“Falar, falar sobre o assunto e falar sobre o assunto de forma aberta” foi para muitos
o segredo por detrás do caso de sucesso que se verificou no Uganda, na década de 90
(até que os fundos internacionais começaram a diminuir comprometendo projectos
e programas em curso na área do VIH/SIDA)2.
Informar, Educar e Comunicar – I.E.C.
é essencial para a prevenção e controlo
da pandemia. Mas quais os limites desta
estratégia? O que é que uma estratégia de
I.E.C. pode realmente contribuir para o
controlo e prevenção do VIH/Sida junto
de grupos particularmente vulneráveis se
as causas mais profundas da sua vulnerabilidade não são atendidas? E o que
determina uma boa estratégia de I.E.C.?
Com este Guia pretende-se responder a estas perguntas, estabelecendo uma ponte entre
investigação e prática. Procura-se levar a quem está no terreno, investigações e estudos que
possam contribuir para aumentar a eficácia das intervenções de I.E.C. e ao mesmo tempo
alertar para as limitações desta estratégia.
16
guia de boas práticas
Com este objectivo em mente, o guia começa por esclarecer:
1. o que se entende por I.E.C.;
2. a importância de estratégias de I.E.C. na promoção da saúde;
3. as limitações das estratégias de I.E.C. na promoção de atitudes e comportamentos
seguros;
4. quais os grupos mais vulneráveis à infecção por VIH/sida;
5. quais as circunstâncias capazes de potencializar uma estratégia de I.E.C.;
6. que metodologia e técnicas podem ser utilizadas na produção de uma estratégia
de I.E.C. eficaz;
7. a importância de realizar uma radiografia do contexto onde vai trabalhar;
8. quais os princípios a observar na produção de uma mensagem;
9. quais os princípios a observar na produção de uma ilustração;
10. quem deve produzir mensagens e ilustrações;
11. como escolher o meio mais adequado;
12. porquê realizar a testagem do material e como deve ser realizada a testagem;
13. quanto tempo para produzir material de I.E.C. eficaz;
14. onde aplicar ou distribuir o seu material.
Neste trabalho irá entrar em contacto com um número considerável de materiais de I.E.C.
produzidos em outros países que não Portugal. Pretende-se com esta opção, dar a conhecer aos profissionais que estão no terreno, o maior número possível de experiências levadas
a cabo noutras partes do globo.
Por fim, importa referir que a bibliografia está organizada de acordo com o sistema de
citação numérica em conformidade com a Norma Portuguesa.
1.
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Informar
A palavra “informar” carrega um sentido unilateral, diz respeito à transmissão de informação
por parte de alguém. Aquele que transmite informação tem voz, aquele que é informado
escuta sem possibilidade de responder ou reagir à informação que lhe foi transmitida3. Há pois
quem diga que a informação é pouco democrática4.
Quando se pensa em informação pensa-se em televisão, rádio, jornais, cartazes e outdoors,
folhetos e brochuras, por serem meios que transmitem informação de forma unilateral.
No entanto, também nas relações interpessoais é possível recordar-se de situações em que
só informou ou só escutou.
É frequente por exemplo, em palestras, conferências e seminários mas também em aulas e
acções de formação assistir-se a situações em que o conferencista, professor ou formador,
transmite informação, e a audiência, alunos e formandos se limitam a escutar.
Informar traz consigo vantagens e desvantagens. Permite a transmissão de uma grande
quantidade de informação em curto espaço de tempo, e socorrendo-se dos meios de
comunicação adequados, permite alcançar uma audiência bastante grande. Como desvantagem pode apontar-se o seu lado menos democrático, no sentido em que um informa
enquanto que outro ouve. Em termos de eficácia, este pode ser um obstáculo considerável,
na medida em que sem feedback é mais difícil adaptar a informação às necessidades reais
do ouvinte5.
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guia de boas práticas
Educar
Educar pode ser entendido como o processo que ocorre através da interiorização de valores,
conhecimento e competências6, por exemplo, respeitar os mais velhos, conhecer a história
do país ou respeitar os sinais de trânsito. É um processo especialmente concebido pelos
indivíduos para influenciar outros indivíduos, em particular quando são jovens e é mais
fácil influenciá-los. No entanto, a educação acompanha o indivíduo desde que nasce até à
morte7. Todo este processo de educação ocorre de forma mais ou menos linear, através de
um dos três modos de educação identificados em baixo.
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›
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A educação informal — ocorre ao longo do seu dia a dia, no contacto com outros,
lendo, assistindo à televisão, indo ao cinema, até mesmo reflectindo. Enfim, tudo o que
ocorre num dia normal e que contribui para que aja de certa e determinada maneira.
A educação formal — ocorre no espaço tradicionalmente destinado à educação,
diz respeito ao sistema de ensino, organizado por temas, por horários e seguindo
uma metodologia específica.
A educação não formal — diz respeito às actividades organizadas, que decorrem
fora do sistema de educação, como por exemplo aulas de pintura ou de natação
extra-escolares.
A educação ocorre nas relações interpessoais, entre pais e filhos, entre professores e
alunos, entre alunos, entre amigos, entre colegas… Este contacto pode ser feito presencialmente ou através da internet ou telefone, rádio e televisão. A publicidade por exemplo,
tem vindo a ser apontada como um meio de socialização particularmente eficaz.
A aposta na educação é feita, especialmente, antes da entrada na vida adulta, quando
a capacidade de aprendizagem é maior. É por isso mais difícil alterar comportamentos
e conhecimentos já interiorizados pelos adultos, não se querendo com isto colocar de
parte a importância da educação de adultos, que deve ser contínua.
Comunicar
Comunicar envolve a existência de um emissor que é também receptor e um receptor que
é também emissor, isto é a mensagem não é transmitida apenas a partir de um indivíduo,
mas sustentada num diálogo. Possibilita o feedback, valoriza a reacção para a transmissão
da mensagem ou do sentido8. Idealmente, a comunicação deveria assentar num processo
de reciprocidade, no entanto, no dia a dia, terá já verificado que muitas vezes quando
dialoga com alguém, terá mais ou menos capacidade para se fazer ouvir9.
maria teresa silva santos
A comunicação está mais associada aos relacionamentos interpessoais, quer tradicionais
quer os estabelecidos através das novas tecnologias da informação. No contacto do seu dia
a dia, estabelece com frequência conversas com os seus amigos, familiares e colegas de trabalho, entre outros. O mesmo se passa quando usa o telefone ou a internet, para enviar ou
receber e-mails, quando recorre ao skype… Reconhecendo a importância da comunicação,
a própria televisão e a rádio têm vindo a adoptar estratégias capazes de envolver de forma
mais participada as suas audiências. É por exemplo o que acontece nos concursos em que
o júri é a própria audiência que telefona e decide, ou nos programas em que o espectador
coloca questões ou esclarece dúvidas, em directo, através do telefone ou presencialmente.
Comunicar envolve bastante mais tempo do que apenas informar. Comunicar pode envolver discussão, troca de opiniões, e até mesmo a reformulação da mensagem. No acto
de comunicar, não existe o ouvinte e aquele que informa. Ambos ouvem e informam.
Comunicar implica por isso uma adaptação constante ao outro. A vantagem deste processo
é que permite verificar, até que ponto, determinada mensagem vai ser eficaz na alteração de
comportamento do outro indivíduo.
No caso em que um educador de rua procura convencer os meninos de rua a lavarem-se
para evitar o aparecimento de algumas doenças, ele ficará a saber que adoptar hábitos
de limpeza pode ser prejudicial para as estratégias de sobrevivência dos meninos de rua,
que mendigam nos espaços públicos. Ouvindo os meninos de rua, o educador terá oportunidade de aprender que as pessoas tendem a não dar dinheiro a meninos limpos, porque
não os avaliam como sendo pobres. Para ser eficaz, e convencer os meninos e rua a seguirem
hábitos de higiene, o educador terá de, em conjunto com os meninos de rua, pensar em
estratégias que tenham em conta a sua “voz” e necessidades.
19
2.
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É frequente ouvir-se que as pessoas tomam decisões erradas porque estão pouco informadas e que é preciso informá-las para que tomem decisões correctas. E é assim frequente
ouvir-se que as pessoas não usam o preservativo porque ignoram as vantagens da sua
utilização.
No domínio da saúde, informar, educar e comunicar, passa pela transmissão de informações que podem ser tomadas e seguidas pelo indivíduo, na promoção do seu próprio
estado de saúde.
É uma forma de dar ao indivíduo ferramentas que lhe permitam zelar pelo seu próprio
estado de saúde, e é nesse sentido uma forma de o empoderar e de o responsabilizar pela
sua saúde e bem estar*.
Acredita-se que desde que informadas, as pessoas substituem comportamentos prejudiciais à saúde por comportamentos saudáveis10. Promover o acesso à informação figura
pois, entre os principais objectivos de muitos projectos de desenvolvimento.
No caso do VIH/Sida por exemplo, é preciso informar acerca dos benefícios do uso
do preservativo, ou sobre os benefícios do adiamento da relação sexual, entre outros.
Já no caso da malária, por exemplo, é importante informar acerca das vantagens do uso
da rede mosquiteira.
* A Carta para a Promoção da Saúde, aprovada em Ottawa em 1986, diz exactamente que a promoção para a saúde engloba o processo de capacitação do indivíduo por forma a aumentar o seu controlo e promover a sua saúde e bem-estar.
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guia de boas práticas
Informado sobre todos estes benefícios e vantagens, espera-se que o indivíduo passe:
›
›
a usar preservativo durante as relações sexuais;
a colocar uma rede mosquiteira para se proteger dos mosquitos, durante a noite;
Em suma, no caso de um indivíduo informado, espera-se assistir a uma diminuição do
aparecimento de doenças e à promoção da saúde.
No entanto, o que acontece quando um indivíduo está informado, mas não altera o seu
comportamento?
3.
O que impede que pessoas
')-./0,2,&"&%"5/.6%C,03
“As pessoas sabiam que tinham de usar rede mosquiteira e evitar as
águas paradas para evitar o paludismo, mas não o faziam.”
Testemunho recolhido junto de um voluntário
que trabalhou na área da saúde, num país em vias de desenvolvimento
No caso sob análise podem retirar-se duas conclusões possíveis: é possível que a estratégia
de I.E.C. não tenha sido bem realizada, ou que um conjunto de factores do desconhecimento do voluntário, influenciavam de forma determinante, a opção de usar ou não
rede mosquiteira. De facto, haverá um manancial de perguntas que poderiam ser colocadas a este respeito: como afastar-se das águas paradas, se não existir saneamento básico e as
águas paradas conviverem paredes meias com a zona de habitação? A rede mosquiteira era de
distribuição gratuita? Haveria muitos casos de bronquite asmática entre a população, o que
explicaria que algumas pessoas sentissem dificuldade em respirar dentro da rede mosquiteira?
O que este caso põe em evidência, é que para além dos factores pessoais, existe uma
série de factores que gravitam e influenciam de forma, mais ou menos directa, a eficácia
da comunicação.
É por isso importante fazer-se para já uma distinção entre factores de risco pessoal e factores societais11.
Os factores pessoais, dizem respeito ao indivíduo, aos seus conhecimentos sobre VIH/sida,
à sua experiência sexual, às suas capacidades para se proteger, às suas atitudes e comportamentos. Assim, por exemplo, a falta de informação sobre como se proteger do VIH/sida
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guia de boas práticas
pode levar o individuo a colocar-se em situações de risco apenas por desconhecimento.
Os factores de risco pessoal relacionados com atitudes, tanto podem dizer respeito a reacções
discriminatórias para com as pessoas que vivem com VIH/sida, como estar relacionados com
a questão do género ou outras. A atitude da mulher para com a virgindade, por exemplo,
pode colocá-la em situação de risco acrescido. Atente-se aos estudos que mostram que na
América Latina, como forma de proteger a virgindade, o sexo anal é bastante frequente
entre namorados12.
Entre os factores societais distinguimos ainda entre os bloqueios de primeira linha e os
bloqueios estruturais.
Entre os bloqueios de primeira linha, pode incluir-se a ausência de um conjunto de serviços de saúde13. Por exemplo, no caso das doenças IST/VIH a ausência de:
›
›
›
›
›
›
Serviços de tratamento e diagnóstico das IST;
Ausência de acesso ao tratamento;
Impossibilidade de acesso a preservativos;
Ausência de um serviço de aconselhamento e testagem voluntária;
Ausência de um serviço de apoio psicossocial às pessoas que vivem com VIH/Sida
ou que são afectadas pelo mesmo.
Cuidados domiciliários para as crianças que vivem com o VIH/Sida, ou que são
afectadas pelo vírus.
Entre os factores estruturais, incluímos, um conjunto de factores bastante mais difíceis
de alterar:
›
›
›
›
›
Factores económicos: incluindo a falta de emprego crónica, baixos salários crónicos, ou a falta de recursos, como a terra.
Baixos níveis de educação (que dificultam o acesso a informação e a integração
no mercado de trabalho).
Factores sociais, incluindo as divisões entre classes, etnias, castas ou outras que,
numa sociedade, ditam diferentes normas para diferentes grupos de pessoas.
Factores culturais: conjunto de significados, imbuídos em símbolos, historicamente transmitidos, através dos quais o homem comunica, perpetua e desenvolve
o seu conhecimento e as suas atitudes em relação à vida.
Relações baseadas no género a partir de um conjunto de papéis sociais, que são
determinantes na aprendizagem do ser-se mulher e homem.
maria teresa silva santos
Exemplo de uma situação influenciada pela cultura
A ONG Cidadãos do Mundo, decidiu com os jovens da Província da Beira, em Moçambique,
desenvolver um jogo para promover a adopção de comportamentos saudáveis. A proposta inicial
prendia-se com a imagem de uma cobra ao longo da qual o jogo se ia desenrolando. Esta ideia foi
posteriormente abandonada, porque para aqueles jovens a cobra estava associada à ideia de morte.
Esta distinção entre factores de risco pessoal e factores societais, observada ao nível formal,
não corresponde à dinâmica das relações humanas na medida em que existe uma interligação e na verdade, factores de riscos individual e factores de vulnerabilidade influenciam-se
de forma recíproca14.
No entanto, o que a prática tem mostrado, é que a redução de riscos individuais tem sido
o mote de muitos programas e projectos desenvolvidos e menos a redução das condições
de vulnerabilidade15.
Exemplo de uma situação influenciada por condicionalismos económicos, sociais e de
género
Ruth Evans, descreve a situação de um grupo de meninas órfãs da Tanzânia, às quais um dos
pais ou ambos, morreram de sida. A falta de apoio do governo e da família para quem mais um
elemento representa custos adicionais leva a que muitas destas meninas vão viver para a rua.
Na rua, o sexo é das poucas estratégias de sobrevivência ao alcance destas meninas. No entanto,
a sua situação de pobreza e vulnerabilidade é tão elevada, que não estão em condições de exigir dos
seus clientes o uso do preservativo. A pobreza fala mais alto.
A tomada de consciência dos constrangimentos assinalados tem como implicação a consciência de que a eficácia da comunicação está directamente associada não só ao próprio
indivíduo, mas também aos condicionalismos económicos, sociais, culturais e de género
(e depende largamente da sua redução).
De facto, existe todo um conjunto de estratégias orientadas para a resolução ou redução dos
factores de vulnerabilidade válidas para o controlo das IST/VIH/sida, para além da comunicação para a disseminação de informação ou alteração de atitudes e comportamento16.
25
4.
D/$5.&"5,/6'+$=,/0%)6%"<$=)%/E<%'&"F"
')-%+89.">?@A&'2,
Alguns grupos são particularmente vulneráveis à infecção, o que leva a ONUSIDA
a reconhecer que
› mulheres;
› jovens raparigas;
› jovens rapazes;
› refugiados/deslocados;
› imigrantes;
› militares;
› utilizadores de drogas;
› homens que fazem sexo com homens;
› reclusos;
› crianças órfãs;
constituem, por razões diversas, grupos mais expostos ao risco de serem infectados por
VIH/sida.
Importa chamar a atenção para o facto de que, apesar destes grupos serem mais vulneráveis, também dentro destes grupos, determinados indivíduos serão mais vulneráveis
do que outros.
O caso das mulheres
Em 1997, 59% das pessoas a viverem com VIH eram homens e 41% mulheres. Em 2000,
a percentagem de mulheres tinha já aumentado para 47%. Na África Subsariana, por
exemplo, 55% das pessoas que vivem com VIH são mulheres17.
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guia de boas práticas
O género pode ser definido como o conjunto de expectativas e normas partilhadas por
uma sociedade, sobre o comportamento, papel e características esperados de um homem
e de uma mulher. Esta divisão vai determinar o acesso diferenciado ao poder, incluindo
recursos e processo de decisão. Importa notar que os papéis de género variam de acordo
com a casta, religião, grupo étnico e idade18.
O facto é que esta divisão de papéis coloca geralmente a mulher numa situação de maior
vulnerabilidade ao VIH/Sida associada a factores económicos, sociais, culturais, e até
mesmo biológicos.
Na Índia, por exemplo, é à mulher que cabe
deixar a escola mais cedo para arranjar trabalho,
por forma a contribuir para o agregado familiar,
ou para apoiar no trabalho doméstico. A educação
que é mais uma ferramenta para tirar as pessoas
da pobreza, é tantas vezes negada às mulheres.
Adicionalmente, a lei sobre herança e direitos de
propriedade não reconhece os mesmos direitos
às mulheres, que aos homens. Acontece com
frequência que mulheres que vivem com VIH,
ou são suspeitas de viver com VIH, enfrentam
sérias dificuldades para assegurar a herança depois
da morte do seu marido. Elas são com frequência
postas fora de casa, discriminadas pela família
e comunidade, o que as deixa numa enorme
situação de fragilidade19.
Note-se que nem todas as mulheres experienciam a vulnerabilidade da mesma forma.
As mulheres com menos qualificações por exemplo, serão mais vulneráveis do que as que
têm mais qualificações académicas, e as que trabalham serão menos vulneráveis do que as
que não têm trabalho. É bastante difícil para uma mulher numa sociedade fechada aprender a prevenir-se das ISTs. Nestes casos, a escola é muitas das vezes um local privilegiado
para aprender e falar sobre sexualidade. Quanto às mulheres que estão financeiramente dependentes do seu marido, como vão conseguir negociar o uso do preservativo,
se receiam que o marido as abandone?
De facto pobreza e desigualdade do género parecem andar lado a lado, e as mulheres
que vivem em situação de pobreza estão em situação de maior vulnerabilidade. Os estudos mostram que as mulheres financeiramente independentes, mostram estar em melhor
posição para negociar o uso do preservativo20.
maria teresa silva santos
A ideologia da fidelidade, amor e casamento por seu lado tem levado a que muitos casais
prescindam do uso do preservativo. No entanto, o casamento e relações duradoiras têm
provado ser terrenos pouco seguros para as mulheres21.
Do ponto de vista biológico, importa sublinhar que a mulher possui uma área genital superior à do homem, o que faz com que durante as relações sexuais tenham uma maior área
de mucosa exposta às secreções dos seus parceiros22. Por outro lado, o tracto genital feminino mantém o sémen por um período considerável de tempo23 o que é particularmente
sensível ao facto do sémen infectado com VIH conter normalmente uma concentração de
vírus mais alta do que as secreções sexuais da mulheres. O resultado é que a transmissão
de homem para mulher é, por princípio, mais eficaz do que a transmissão de mulher para
homem24. Por último, importa também referir que as membranas da vagina são particularmente frágeis25.
Este conjunto de situações coloca em evidência, a maior vulnerabilidade da mulher,
em relação ao homem.
O caso das jovens raparigas
O caso das jovens raparigas, do ponto de vista biológico, mostra-se agravado, dado que
o seu tracto reprodutivo contém ainda menos camadas de células epiteliais do que as
encontradas em mulheres adultas26, ou seja as suas membranas são mais frágeis.
Adicionalmente, a juventude, é na maior parte dos casos, uma fase de experiência em
que a tomada de riscos é maior27. É a altura em que se iniciam os primeiros contactos
sexuais. As estatísticas mostram que, apesar de uma grande percentagem de jovens ser
sexualmente activo, não têm um só parceiro e não usam preservativos com regularidade28.
Adicionalmente, revelam beber e usar drogas, o que potencia os comportamentos de risco.
Como se não bastasse, revelam saber pouco sobre as formas de transmissão e prevenção
do VIH/sida29.
É este conjunto de razões que explica que, em muitas regiões do mundo, os novos casos
de infecção estejam particularmente concentrados na população jovem, entre os quinze
e vinte e quatro anos de idade30. De facto, 40% dos novos casos diagnosticados em 2006,
em indivíduos com idade superior a quinze anos, correspondem a jovens.
Também aqui importa alertar para o facto das jovens não serem um grupo homogéneo. Na verdade, diferenças económicas, sociais, de cultura colocam-nas em posições
29
30
guia de boas práticas
diferentes de vulnerabilidade. No Zimbabué, por exemplo, têm sido reportados casos
de jovens raparigas de famílias com baixos recursos económicos, que são particularmente
vulneráveis às ofertas de homens mais velhos, chamados de sugar daddies, que assumem
a responsabilidade pelo pagamento de livros ou propinas escolares31.
O caso dos jovens rapazes
A questão do género, ou seja da divisão de diferentes tarefas e papéis a desempenhar
por rapazes e raparigas, é susceptível de contribuir também para a vulnerabilidade dos
jovens rapazes. Por exemplo, em muitas partes do mundo a exaltação da masculinidade
associada a um conhecimento do sexo, tem promovido a informação de jovens rapazes nas fontes menos credíveis: revistas e portais de pornografia32. Porque a ignorância
é muitas vezes sinónimo de fraqueza, as normas impostas ao homem são um obstáculo
à procura de informações correctas, no local mais apropriado33.
À semelhança do observado no caso das mulheres e das jovens raparigas, importa também
lembrar que os jovens rapazes, não são um grupo homogéneo e importa ter em conta as
diferenças económicas, culturais, sociais, culturais ou geográficas. Por exemplo, um jovem
a viver numa grande cidade mais facilmente procurará adquirir um preservativo do que
um jovem numa pequena aldeia ou vila, receando a exposição. Da mesma forma, um
jovem que não tenha dinheiro para comprar um preservativo poderá estar mais exposto,
do que aquele que tenha. Ou, numa cultura em que a virgindade é um ideal, alguns
jovens casais optarão pelo sexo anal, o que os colocará numa situação de risco acrescido34.
O caso dos refugiados/deslocados
Violência generalizada, perseguição política, guerra e conflito armado, mas também catástrofes naturais estão na origem dos 8,4 milhões de indivíduos, 30% dos quais na África
subsariana, 29% no Sudoeste asiático e na Ásia Central, 23% na Europa, que em 2005
abandonaram as suas casas35.
Privados dos seus meios de subsistência, são confrontados com a total ausência de rendimentos e as suas redes de entreajuda, familiares ou ao nível da própria comunidade
são desmembradas. Mulheres e crianças em particular, são particularmente vulneráveis,
e muitas vezes, vítimas de violação, rapto e em situação de pobreza extrema, forçadas a
trocar favores sexuais por comida, água e abrigo36.
maria teresa silva santos
O caso dos imigrantes
O relatório da situação da epidemia em 2006, publicado pela ONUSIDA dava conta que,
três quartos dos novos casos de infecção via heterossexual, diagnosticados na Europa,
ocorriam entre imigrantes.
A situação de pobreza em que são colocados muitos dos indivíduos que imigram, a falta de
protecção legal, exploração, discriminação, xenofobia, ausência de poder e falta de acesso
a prevenção, tratamento e apoio37 figuram entes os factores que contribuem para aumentar
o risco de infecção por VIH/sida. Veja-se o exemplo de países em que a saúde é gratuita
e universal, mas que confrontado com dificuldades económicas, o imigrante não pode aceder ao serviço de saúde, porque não pode despender dinheiro nos transportes ou deixar
de trabalhar, um dia ou uma tarde, correndo o risco de ser demitido, ou deixar de ganhar
uma soma que é fundamental para pagar a renda, ou os transportes escolares dos filhos.
A questão linguística é igualmente importante, em especial no que concerne a transmissão de informação. Se a língua de origem difere da língua de chegada, o imigrante sentirá
mais ainda o custo da integração e também do acesso a informação sobre prevenção,
tratamento e apoio.
Factores que se agravam no caso de imigrantes ilegais, visto que a ida a um serviço de saúde
é encarada com o medo de ser descoberto ilegal, como retrata o caso de um imigrante do
Bangladesh, a viver ilegalmente na Suécia que se descoberto é repatriado ou obrigado a pagar
como se de um serviço de saúde privado se tratasse38.
Também a separação da família ou parceiros, comunidades e respectivas normas sociais,
solidão, falta de poder, alienação, desespero são factores que contribuem para que o imigrante se torne um tomador de risco39.
Conclui-se daqui que sendo um grupo mais vulnerável, uns serão mais vulneráveis do que
outros, dependendo da língua, se já alguns familiares estão já no país de chegada, se estão
legalizados, se são qualificados, se possuem reservas económicas, entre tantos outros factores.
O caso dos militares
Em situações de conflito armado ou de guerra, observa-se uma enriquecimento geral
das forças armadas relativamente à generalidade da população, para quem a situação de
31
32
guia de boas práticas
conflito contribui para uma maior erosão das condições de vida40. A ONUSIDA refere por
exemplo, que é frequente verificar-se o crescimento da indústria de sexo à volta das bases
militares. Um estudo levado a cabo junto dos indivíduos com mais posses dos catorze
exércitos e facções rebeldes envolvidos no conflito da República Democrática do Congo,
dava conta que, cerca de metade dos soldados era seropositivo41.
À semelhança do que sucede com a população migrante, também os militares são muitas
vezes afastados das suas famílias, normas sociais e postos debaixo de situações de stress,
o que contribui para aumentar a sua exposição ao VIH/Sida.
O caso dos utilizadores de drogas
A ONUSIDA, estimava, em 2006, que a droga injectável fosse responsável por cerca de um
terço dos novos casos de infecção, África subsariana excluída42. No entanto, segundo a mesma
fonte, os serviços de prevenção não atingem mais de 20% dos utilizadores de droga. A partilha
de seringas está entre os principais factores de risco, embora as relações sexuais não seguras sejam também frequentes entre utilizadores de drogas injectáveis. O estigma com que
são confrontados muitos utilizadores de drogas injectáveis que contactam técnicos de saúde,
é um factor adicional de marginalização.
À semelhança do que já foi analisado em outros grupos, é preciso ter em conta a circunstância individual em que se encontra cada pessoa. Um estudo conduzido junto de um
grupo de utilizadores de droga mostrou que, no caso de casais que partilham seringas,
parecem ser os homens quem se injectam primeiro, fazendo com que a mulher corra
o risco de ser infectada, mas não o contrário43.
O caso dos homens que fazem sexo com homens
A expressão “homens que fazem sexo com homens” inclui homens que se consideram gays,
bissexuais, transexuais e heterossexuais44. O que torna este grupo particularmente vulnerável, é o facto da relação sexual ser concretizada a partir do sexo anal, que quando não
protegido, é um comportamento de risco acrescido. Adicionalmente, a evidência mostra
que, menos de um em vinte dos homens que têm relações sexuais com outros homens,
têm acesso a prevenção e tratamento que precisam45. O estigma e discriminação associados aos homens que fazem sexo com homens, está na origem deste facto.
maria teresa silva santos
O caso dos reclusos
Em muitos países, a taxa de infecção por VIH/Sida, entre reclusos é significativamente
superior à verificada na população em geral46. Em Portugal, por exemplo, enquanto que
a prevalência na população portuguesa, em geral, é inferior a 1%, nos reclusos este valor
ascende até aos 5%47.
Na base destas estatísticas estão comportamentos de risco associados à partilha de seringas, a relações sexuais não protegidas, violação, tatuagens feitas a partir de material não
esterilizado devidamente.
O caso das crianças órfãs
Cerca de 80% dos órfãos, cujos pais faleceram em consequência de SIDA vivem na África
subsariana48.
Em países como a Tanzânia, com elevado índice
de pobreza e onde o acesso à saúde e à educação
não são gratuitos, as famílias mais pobres e afectadas
pelo VIH/Sida são postas sob grandes pressões económicas. Esta situação é particularmente evidente
no caso das crianças órfãs, cujos pais faleceram em
consequência da sida. Deixadas muitas vezes ao cuidado de familiares, são alvo de abuso e violência
provocados por uma forte erosão económica das
famílias. A face mais visível deste quadro, são os
meninos e meninas que nas ruas de cidades ou vilas
asseguram a sua sobrevivência49.
Embora se encontrem mais rapazes do que raparigas na rua, dado que muitas meninas
são muitas vezes aproveitadas para o trabalho doméstico, a situação de vulnerabilidade,
para quem vive na rua, parece ser maior para a menina do que para o menino. Aos rapazes parece ser mais fácil encontrar emprego, embora de forma casual, no sector informal.
As poucas opções deixadas às raparigas levam-nas para situações de sexo comercial. A sua
vulnerabilidade no entanto, deixa pouca margem para negociar com os seus clientes o uso
do preservativo50.
33
34
guia de boas práticas
O caso dos trabalhadores do sexo
Um ambiente de relações sexuais não protegidas com múltiplos parceiros é especialmente
propício à infecção pelo VIH/sida51.
Esta situação deixa os trabalhadores de sexo, seus clientes e respectivas famílias em situações
de vulnerabilidade ao VIH/sida. A situação é de vulnerabilidade acrescida relativamente
aos trabalhadores sexuais, para quem nem sempre é fácil negociar o uso do preservativo,
em especial para o número alargado de trabalhadores do sexo, para quem esta actividade
representa uma estratégia de sobrevivência.
O trabalhador do sexo tem sido um grupo historicamente marginalizado52, e com um
poder bastante enfraquecido53 situação que é potencializada pelo facto de em muitos
casos, se tratar de uma actividade ilegal, para a qual não é possível pedir-se protecção54.
Facto que condiciona também o acesso aos cuidados de saúde.
5.
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C$)6."2%"(/$5.&"0,'&"<$=)%/E<%'&3"
Para a mudança de comportamentos conflui uma série de factores, para além da existência
de estratégias de I.E.C. Uma estratégia de I.E.C. tem tanto mais garantias de ser eficaz se
um conjunto de outros factores estiver assegurado. Nesta secção iremos analisar a diferença entre aquisição de conhecimentos e alteração de comportamentos e que factores
influenciam o sucesso de uma estratégia de I.E.C. para a mudança de comportamento.
Informar e sensibilizar
Informar e sensibilizar, são duas estratégias que passam pela transmissão de conhecimentos e pela necessidade de alertar para a existência de determinado assunto que pode dizer
respeito ao indivíduo. No âmbito do VIH/sida estas estratégias são particularmente úteis
quando o indivíduo, comunidade ou população estão pouco familiarizados com o tema.
Segundo alguns estudos, levados a cabo em mais de quarenta países, mais de metade da
população jovem, entre os quinze e vinte e quatro anos de idade tem informações erradas
acerca da forma como o vírus é transmitido55. Um estudo conduzido nos Estados Unidos
por seu lado, mostrava que 40% dos inquiridos, julgavam que podiam ser infectados por
VIH/Sida por partilharem um copo56. Em vinte e um países africanos, mais de 60% das
raparigas jovens inquiridas, nunca tinha ouvido falar do vírus.
Estes estudos põem em evidência a importância e utilidade da informação e da sensibilização.
Na Tanzânia, por exemplo, coube à rádio novela Twende na Wakati que tem estado no ar
desde 1993, parte da responsabilidade da sensibilização da população para o VIH/sida.
36
guia de boas práticas
Da informação para a alteração de comportamentos
Como passar da informação para a mudança de comportamentos? O Programa Kitovu
Mobile, no Uganda, que consistia na existência de uma carrinha que disponibilizava informação sobre VIH/sida, concluiu que possuir conhecimento sobre determinado assunto,
nem sempre correspondia à alteração de comportamentos na prática. Seria preciso mais
do que disponibilizar informação através da carrinha móvel57. Como passar da aquisição
de conhecimentos para a alteração de comportamentos?
Modelo de crenças em saúde
O modelo desenvolvido por vários autores58 defende que dois tipos de variáveis determinam o comportamento de um indivíduo para tomar acções preventivas59:
1. o estado psicológico de prontidão de um indivíduo para agir;
2. até que ponto determinado indivíduo acredita que tomar determinada acção, será
eficaz na redução da possibilidade de ser infectado ou ficar doente60.
O modelo acrescenta ainda que duas importantes dimensões definem a prontidão de um
indivíduo para agir:
›
A percepção do risco feita pelo indivíduo
A percepção do risco que por seu lado resulta da avaliação que o indivíduo faz
da sua vulnerabilidade a determinada situação (problema de saúde), ou seja,
o indivíduo terá mais motivação para agir se perceber que determinada situação
é passível de acontecer consigo61;
›
Percepção da gravidade
A percepção que faz do nível de gravidade de determinada situação que possa
vir a acontecer-lhe, é julgada não só pela ansiedade individual que a situação lhe
provoca, mas também pelas dificuldades que antevê, caso determinado problema
de saúde venha a ocorrer. A percepção de gravidade pode estar relacionada apenas
com o indivíduo, ou incluir consequências mais vastas e complexas relacionadas
com o seu emprego, família e relações sociais62.
O reconhecimento por parte de um indivíduo que é susceptível a determinada infecção ou
doença, que acredita ser grave, determina a motivação para agir, mas não o curso que tomará
essa decisão. O curso da decisão é influenciado pela avaliação que o indivíduo faz da eficácia
das alternativas existentes para reduzir a ameaça da doença63. Adicionalmente, um indivíduo pode considerar que determinada acção pode ser eficaz na redução da possibilidade
maria teresa silva santos
de ficar doente ou infectado, mas a sua decisão final dependerá dos custos envolvidos,
do tempo necessário e da sua disponibilidade para tomar determinada acção64.
Por último, este modelo defende ser necessária a existência de um incentivo capaz de despoletar a acção. Ou seja, enquanto que o nível de prontidão (susceptibilidade e gravidade)
oferece a energia para agir e a percepção das vantagens oferece um caminho possível,
um incentivo é capaz de despoletar a acção65.
Esta teoria vem acentuar a importância do indivíduo percepcionar que determinada situação, neste caso ser infectado pelo VIH, é “passível de acontecer consigo”. Esta perspectiva
tem vindo a ser desenvolvida em materiais de prevenção com o objectivo de desenvolver
a percepção do risco pelos indivíduos (ver pp. 99-100). A percepção do risco no entanto,
não pode ser confundida com a instrumentalização do medo (ver pp. 100-107)66.
Teoria da acção planeada
A teoria da acção racional avançada por Ajzen estabelece que existe um conjunto de
acções e comportamentos que dependem apenas da vontade de um indivíduo (volitional
control). Nestas situações, as intenções de um indivíduo são o principal indicador dos
comportamentos ou acções que serão executados67.
Para este autor, as intenções compreendem a motivação, o esforço e a vontade de um
indivíduo em seguir determinado comportamento ou executar determinada acção. Assim,
para saber se determinado indivíduo vai mudar de comportamento, e se essa mudança
depender apenas da sua vontade, bastará auscultar as suas intenções.
Mas o que determina as intenções de um indivíduo para executar determinada acção?
Para Ajzen e Fishbein na origem da formulação das intenções reside:
›
Uma determinante pessoal;
O factor pessoal refere-se à atitude de um indivíduo em relação ao comportamento, ou seja a avaliação positiva ou negativa que o indivíduo faz da acção.
Esta avaliação constitui-se como uma crença nos resultados que prevê advirem do
comportamento visado e da associação entre os resultados e o comportamento
(behavorial beliefs)68.
›
A influência do meio social.
A influência do meio social faz-se sentir através da percepção que o indivíduo
faz da pressão social para realizar determinado comportamento, ou seja a crença
de um indivíduo acerca da aprovação ou desaprovação por parte de indivíduos
37
38
guia de boas práticas
ou grupos de referência (referents)69. Dependendo do comportamento que se pretende alterar, os indivíduos ou grupos de referência, podem ser amigos, o marido
ou mulher, os colegas de trabalho, jogadores de futebol, actrizes ou actores, líderes
religiosos, membros de um partido ou sindicato, entre outros. Imagine que decide
começar a comer pão integral. A sua crença de que aquela actriz por quem tem
especial admiração iria aprovar esta medida, contribuirá para que venha realmente
a comer pão integral. O autor chama a este factor de normas subjectivas70.
O esquema apresentado em baixo, esquematiza o que já foi referido71:
Atitude em relação
ao comportamento
a executar
Intenção
Comportamento
Normas subjectivas
Fonte: AJZEN, I. – Attitudes, personality and behavior: Milton-Keynes, England; Open University Press & Chicago, IL: Dorsey Press;
1988, p. 118
Mas a verdade é que nem todos os comportamentos estão dependentes da vontade, já que
muitas vezes existem obstáculos, umas vezes relacionados com o próprio indivíduo, outras
vezes de ordem externa72. Imagine uma situação em que planeia ir viajar no Verão, para
um arquipélago no Equador. A concretização deste desejo vai depender de ter dinheiro
para pagar a viagem, de ainda haver voos disponíveis no avião, e da não ocorrência de um
conjunto de imprevistos que podem impedir a sua ida, como por exemplo um acidente
que o impossibilite de viajar de avião durante algum tempo.
Em reconhecimento destas situações Ajzen vem a desenvolver a teoria da Acção Racional.
O autor reconhece que o comportamento é fruto da intenção do indivíduo para executar
o comportamento do seu interesse. No entanto, no caso da Teoria da Razão Planeada o
autor identifica três determinantes da intenção:
maria teresa silva santos
›
›
›
atitude em relação ao comportamento;
normas subjectivas;
o nível de controlo que o indivíduo percepciona ter em relação ao comportamento.
Ou seja, quanto mais o indivíduo percepcionar que consegue executar determinado comportamento, maior a probabilidade de vir a executá-lo. A percepção
do indivíduo é influenciada por experiências passadas e pela antecipação que faz
dos obstáculos que possam surgir à sua execução.
Assim, no caso em que o comportamento não depende exclusivamente da vontade do
indivíduo temos73:
Atitude em relação
ao comportamento
a executar
Normas subjectivas
Comportamento
Intenção
Percepção do nível
de controlo sobre
o comportamento
Fonte: AJZEN, I. – Attitudes, personality and behavior: Milton-Keynes, England; Open University Press & Chicago, IL: Dorsey
Press; 1988, p. 133
As implicações desta teoria para o domínio da prevenção e controlo do VIH/sida reforçam a importância de determinados indivíduos ou grupos, na decisões tomadas por
outros indivíduos, constituindo-se como mais um argumento a favor da educação por
pares ou do uso de figuras que suscitem a admiração pública em campanhas de prevenção e controlo.
O modelo transteórico de Prochaska
Para Prochaska um indivíduo passa por várias fases antes de mudar definitivamente
o seu comportamento74. Para este autor, não basta informar uma pessoa para ela mudar
39
40
guia de boas práticas
de comportamento. A sua investigação levou-o a concluir que existe um conjunto de estádios de mudança por que passa o indivíduo, antes de adoptar um novo comportamento75:
1. Pré-contemplação
A pessoa não identifica que tem um problema e não apresenta intenção de mudar o seu comportamento nos próximos seis meses. Nesta fase, o indivíduo não tem quaisquer intenções de alterar
o seu comportamento, ou por falta de informação, ou por falta de confiança em si próprio.
O indivíduo não está motivado e irá resistir a discutir ou reflectir sobre o assunto. As pessoas
que se encontram nesta fase não estarão preparadas para serem alvo de uma campanha de educação
na área da saúde.
2. Contemplação
A pessoa expressa a sua intenção de mudar o seu comportamento. As pessoas que se encontram
nesta fase estão alertadas para os benefícios e custos relacionados com a adopção do novo comportamento. Este balanço entre custos e benefícios pode estender-se no tempo, deixando o indivíduo
num estado de “contemplação crónica ou procrastinação”.
3. Preparação
O indivíduo começa a ter alguma consciência do problema e começa a considerar a possibilidade de
mudar o seu comportamento nos próximos seis meses. As pessoas que se encontram nesta fase têm
um plano de acção e já iniciaram algumas acções preparatórias.
4. Acção
Estas pessoas já introduziram mudanças no seu comportamento, ao longo de um período de
seis meses.
5. Manutenção
Neste estádio, a pessoa trabalha para evitar reincidir. É também durante esta fase que aumenta
a confiança de que é capaz de prosseguir com o novo comportamento.
Adaptado de VELICER Wayne F. (et al) — An empirical Typology of subjects within stages of change. Addictive Behaviors. Elsevier Science
Ltd. ISSN 0306-4603(94)00069-7. 20: 3 (1995) p.300
maria teresa silva santos
Prochaska prossegue identificando os processos capazes de promover passagem de um
estádio para o outro. Assim temos:
Processo
Descrição
Tomada de consciência
Passa pela tomada de consciência por parte
do indivíduo que segue um comportamento
de risco. Ao mesmo tempo toma consciência:
› das causas que estiveram na origem
de determinado comportamento,
› das consequências associadas à manutenção
do comportamento,
› e dos tratamentos e estratégias possíveis
para substituir o comportamento de risco.
A tomada de consciência pode ser suscitada pela
reacção dos outros, pela confrontação, e mesmo
através dos meios de comunicação social.
Alívio dramático
Com este processo, a pessoa sente os efeitos
negativos resultantes do comportamento
e ao mesmo tempo, consegue experimentar
a sensação de alívio proporcionada pela alteração de comportamento. As pessoas podem ser
motivadas através de testemunhos de pessoas
que passaram pelo processo de mudança,
ou através do psico-drama.
Auto-reavaliação
Ser capaz de perceber quem é antes da mudança
e quem será depois da mudança.
Reavaliação do meio
A pessoa reconhece como o seu comportamento
afecta quem a rodeia.
Auto-libertação
A pessoa acredita que é capaz de mudar
e de assumir um compromisso firme e público
com a mudança.
Relações de ajuda
A pessoa procura apoio para a mudança: através
da confiança e aceitação por parte dos outros,
que podem ser os amigos, um terapeuta,
ou grupos de ajuda.
Contracondicionamento
Passa pela adopção de alternativas mais saudáveis,
ou substitutos mais seguros para ultrapassar
o problema. Exemplo da terapia de substituição
da nicotina.
41
42
guia de boas práticas
Processo
Descrição
Gestão do Reforço
Envolve a existência de reforços positivos
à mudança de comportamento, incluindo
reconhecimento do grupo de amigos,
da família. O autor considera que o reforço
positivo mostra sinais de ser mais eficaz do
que a punição.
Controlo de estímulos
Dar sugestões e lembretes que estimulem
o comportamento desejado e evitar situações
que promovam o comportamento que se
quer ver substituído. No caso de uma pessoa
que pretende emagrecer, evitar colocá-la
em situações em que é estimulada para comer,
por exemplo.
Libertação social
Políticas e activismo social são necessários para
criar ambientes em que os comportamentos
saudáveis apareçam como a norma. A libertação
social passa pela aprovação e aceitação de
normas sociais que promovam comportamentos
seguros, em detrimento de comportamentos
de risco. Advocacia e lobbying são vias possíveis
para promover a libertação social.
Adaptado de PROCHASKA, James O. ; REDDING, Colleen A. ; EVERS, Kerry E. — The Transtheoretical Model and Stages of Change.
In GLANZ, Karen; RIMER, Barbara K.; Lewis, Francês Marcus — Health Behavior and Health Education — Theory, Research and
Practice. San Francisco: Jossey-Bass, 2002. ISBN 0-7879-5715-1. P. 103
Com este modelo Prochaska pretende mostrar:
›
›
›
Que existe um processo complexo até à mudança de comportamento ou à adopção
de um novo comportamento;
Que diferentes estádios de motivação vão requerer diferentes intervenções e diferentes campanhas para a saúde76;
Que o comportamento pode ser influenciado por um conjunto de estímulos do
exterior.
Teoria da difusão de inovações de E. Rogers
Rogers vem mostrar de que forma é difundida uma ideia, uma prática ou um objecto
que é percepcionado pelo indivíduo como novo: ou seja de que forma é difundida uma
inovação77.
maria teresa silva santos
Para o autor, o percurso que vai da aquisição de conhecimento à adopção de uma inovação
não é um processo imediato, mas um processo que pode levar tempo, desenvolvendo-se
ao longo de um conjunto de acções e decisões tomadas pelo indivíduo78. Para o autor o
processo decisão-inovação desenvolve-se ao longo de um conjunto de fases sequenciais:
1. Fase do conhecimento
O indivíduo é exposto à inovação, ou por acidente, ou porque sente necessidade de uma
solução para um determinado problema. Para Hassinger a exposição só será eficaz se for
relevante para o indivíduo, ou seja resultar de uma necessidade79. A inovação (a solução)
deve estar de acordo com as atitudes e crenças de um indivíduo, já que, para este autor, os
indivíduos têm tendência para evitar serem expostos a mensagens que entrem em conflito
com o seu sistema de atitudes e crenças (o que Hassinger chamou de exposição selectiva)80.
Rogers considera no entanto, que é também possível que um indivíduo seja exposto à
inovação por acidente, e neste caso a inovação cria a necessidade. É este o caso da moda,
exemplifica81.
2. Fase da persuasão
O indivíduo desenvolve uma atitude favorável ou desfavorável à inovação. É de esperar
que, depois de uma atitude favorável em relação a uma inovação, um indivíduo adopte um
comportamento de acordo com a sua atitude. No entanto, a prática vem mostrar que nem
sempre assim acontece. Rogers avança com o exemplo de um estudo levado a cabo em alguns
países em vias de desenvolvimento, junto de um grupo de pais em idade reprodutiva. O estudo
veio mostrar que, apesar de muitos pais revelarem uma atitude positiva face ao planeamento
familiar, o seu comportamento e as suas práticas não eram conformes à atitude expressa82.
3. Fase da decisão
O indivíduo decide adoptar ou rejeitar a adopção da inovação. Para a tomada de decisão
a possibilidade de existir um período experimental pode ser determinante para a tomada
de decisão, já que permite esclarecer quaisquer dúvidas que um indivíduo tenha em relação
ao grau de utilidade da inovação proposta83. Quando o indivíduo não tem a possibilidade
de passar por um período experimental, a existência de pares que tenham já passado pela
experiência de adopção da inovação, pode constituir-se como uma experiência passível de
ser sentida pelo próprio indivíduo e nesse sentido funcionar como substituto do período
experimental84.
4. Fase da implementação
O indivíduo faz uso da inovação. Até esta fase o indivíduo passou por um processo
exclusivamente mental, mas neste estádio, o indivíduo assume um novo comportamento.
O autor mostra que, nesta fase, a inovação pode ser adoptada pelo indivíduo tal como lhe
foi apresentada, ou pode ser reinventada. A possibilidade de reinvenção foi durante muito
tempo vista pelos investigadores como sinal de ruído na comunicação, já que os indivíduos
eram vistos como sujeitos passivos que adoptavam as inovações. Para Rogers os indivíduos
são sujeitos activos que modificam e adaptam a nova ideia85.
43
44
guia de boas práticas
5. Fase da confirmação.
A fase final pode não ser a última fase do processo de adopção de uma inovação. Nesta fase
o indivíduo pode sentir necessidade de reforçar a decisão tomada, ou decidir não continuar
com a nova prática, ou mesmo rejeitá-la. A dissonância ocorre na fase da confirmação
quando o indivíduo tem acesso a informação que contraria a decisão tomada, ou se tendo
rejeitado adoptar a inovação tem acesso a informação promovendo a sua adopção. Se o
indivíduo opta por rejeitar a inovação que tinha adoptado, então estamos perante um
caso de descontinuidade. Dois factores podem levar à descontinuidade de determinado
comportamento: a substituição por outra inovação, ou o desencantamento em resultado
da insatisfação causada pela adopção da inovação86.
Para Rogers, as fases que identifica no seu processo de decisão-inovação, não são mais do
que as fases já antes identificadas por Prochaska.87 No entanto, chama a atenção para o
facto de haver ainda pouca investigação capaz de demonstrar que um indivíduo passa,
sempre, por todos estes estádios no seu processo de adopção de uma inovação.
No processo de difusão de uma inovação os indivíduos não adoptam uma prática, comportamento ou objecto ao mesmo tempo. Alguns, poucos (quando comparados com a fase
seguinte) os que adoptam numa primeira fase, são os chamados adoptantes iniciais. Esta primeira fase é seguida por uma segunda fase em que muitos indivíduos no sistema social adoptam a inovação, fase que é continuada por um período em que menos indivíduos adoptam
a inovação — aqueles que, num sistema social são pressionados pela maioria que já adoptou a inovação88. Neste processo, meios de comunicação de massa e meios de comunicação
interpessoal desempenham um papel determinante, embora Rogers considere que os meios
de comunicação de massa sejam mais adequados para a fase de tomada de conhecimento,
e os meios de comunicação interpessoal na fase de persuasão89. Rogers clarifica, “se um primeiro adoptante, discute a inovação com outro dois membros do sistema, e estes dois passam
a nova ideia a outros pares e assim adiante90” espera-se que a inovação se vá difundindo.
Daqui resulta que a adopção de uma inovação surge como uma reacção à expectativa de
outros, e em especial dos grupos de pares, mais uma vez enfatizando o valor que as normas
sociais exercem na decisão dos indivíduos91.
Quer Prochaska quer E. Rogers mostram, à semelhança de outros autores (ver McGuire92)
que, tal como um indivíduo passa por as diversas fases até alterar um comportamento,
não se pode esperar que todos os indivíduos se encontrem na mesma fase, ou seja uns
precisam ainda de tomar consciência da necessidade de alterar o seu comportamento,
outros já estarão conscientizados mas ainda assim não alteram o seu comportamento.
Significa pois, que num mesmo contexto podem coexistir materiais de prevenção mais
direccionados para a sensibilização, ao mesmo tempo em que são disseminados ou
maria teresa silva santos
desenvolvidos materiais ou actividades mais orientados para a alteração de comportamentos
e atitudes. O que fica também claro, é que entre a aquisição de conhecimentos e a
mudança de comportamentos, existe um percurso complexo e não imediato. Ao referir
a “descontinuidade” por exemplo, o autor avança com argumentos para a importância
de uma estratégia de educação para a saúde continuada no tempo.
Teoria social cognitiva
Albert Bandura procura compreender os comportamentos, as motivações e o pensamento
a partir da perspectiva da teoria social cognitiva. Com esta teoria o autor procura mostrar que ambiente, processos cognitivos e comportamentos interagem e influenciam-se
mutuamente. Ou seja, existe uma causalidade recíproca entre estes três elementos, aquilo
a que Bandura chama da reciprocidade triádica93. Com esta assumpção, Bandura reage às
teorias behavioristas que explicam que o homem é essencialmente um sujeito passivo que
reage aos estímulos do ambiente. Bandura vem acrescentar que:
›
›
›
para além do ambiente influenciar a acção do homem, a acção é passível de influenciar o ambiente;
Lembra-se com certeza de situações em que determinados estímulos provocaram uma acção da sua parte, e que a sua reacção veio a ter repercussões sobre
o ambiente;
o ambiente é passível de influenciar o processo cognitivo e o processo cognitivo
e outros factores pessoais são passíveis de influenciar o ambiente;
Pense por exemplo, nas situações em que pensamentos e sentimentos são influenciados
através do ensino, ou da sociabilização94. Ou em situações em que um cheiro ou som
desencadeiam um pensamento95. O contrário também acontece. O autor lembra
que as pessoas desenvolvem juízos e afectos, sem necessariamente dizerem ou falarem, por reacção ao meio social. Recorde os casos em que sem falar ou agir, reage
cognitivamente a determinadas características do meio social como a idade, sexo,
raça e atracção física do seu interlocutor96;
o processo cognitivo e outros factores pessoais são passíveis de influenciar a acção,
e a acção é passível de influenciar o processo cognitivo. Ou seja, o que as pessoas
pensam, acreditam e sentem é passível de influenciar a sua acção97. O contrário
também é verdade. Pense-se nos casos em que uma acção deu origem a uma reflexão, ou a uma reacção afectiva.
O gráfico da página seguinte sistematiza a reciprocidade triádica de Bandura.
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46
guia de boas práticas
C
F
A
C = comportamento (behavior)
A = ambiente (environment)
F = factores pessoais e cognitivos (personal and cognitive factors)
In BANDURA, Albert — Social Foundations of Thought and Action: A social cognitive theory. New Jersey: Prentice Hall, Inc.,;
1986. p. 24
Bandura identificou um conjunto de elementos que explicam a forma como ambiente,
processos cognitivos e comportamento interagem, determinando o que o autor chama das
origens sociais do pensamento e da acção:
›
Capacidade para simbolizar
Através da capacidade para produzir símbolos, a pessoa transforma as suas experiências, em modelos internos que funcionam como guias para acções futuras98.
A capacidade para produzir símbolos, é também visível nos casos em que se criam
ideias que estão para lá das experiências vividas pelo indivíduo.
›
Capacidade para antecipar
Esta característica refere-se à capacidade do homem para antecipar situações
futuras, através da representação cognitiva (mental) dos eventos que ainda não
se concretizaram. Ou seja, a pessoa constrói cenários mentais que a ajudam
a prever/ visualizar acontecimentos futuros (com maior ou menor precisão).
Estes cenários visualizados mentalmente têm impacto na situação presente em
que determinada pessoa se encontra, influenciando a sua reacção afectiva, a sua
atitude e acção99.
›
Capacidade vicária
Esta capacidade sugere que o homem, para além de aprender a partir das suas experiências, aprende também com as experiências dos outros, observando as consequências
de determinados comportamentos. A abordagem enfatiza a existência de pessoas que
maria teresa silva santos
funcionam como modelos para a aquisição de competências. Pense no caso das crianças que aprendem a falar, através da observação de adultos que funcionam como
modelos de linguagem. Bandura vem também reforçar o papel dos meios de comunicação de massa, e da televisão em especial, na formação de experiências vicárias100.
›
Capacidade auto-reguladora
O comportamento é regulado por padrões internos e processos auto-avaliadores
das reacções possíveis a determinadas acções101. O autor clarifica que, depois
de executar determinada acção, o indivíduo compara-a com a acção que tinha
idealizado. Esta comparação dá origem a uma avaliação que influenciará comportamentos futuros102.
›
Capacidade auto-reflexiva
Esta capacidade refere-se à auto-consciência do indivíduo. Através da consciência
os indivíduos desenvolvem as suas ideias, actuam sobre elas, prevêem acontecimentos a partir das ideias, e avaliam da adequação das suas ideias aos resultados
obtidos. Para o autor, a capacidade para avaliar as suas capacidades é um importante tributo da consciência, esclarecendo que é a percepção que o indivíduo tem
das suas capacidades, que determina parte da sua acção103.
As implicações desta teoria para as estratégias de prevenção e controlo do VIH/sida são
essencialmente três:
›
›
›
A importância de agir sobre o ambiente para através dele influenciar o indivíduo,
já que muita da aprendizagem do indivíduo tem por fundo o ambiente social.
Significa que alguma normas são aprendidas pelo indivíduo e que a mudança dessas
mesmas normas ao nível do ambiente social, irá promover diferentes atitudes e comportamentos por parte do indivíduo;
A importância dos modelos na aquisição e desenvolvimento de competências,
em conjunto com a importância das experiências vicárias, constitui-se como um
argumento a favor, por exemplo da educação por pares;
A importância da televisão no desenvolvimento de competências, quando associada a modelos que permitam a experiência vicária104. É frequente os anúncios de
televisão recorrerem a actores ou actrizes que bem podiam ser você, e que o ensinam a usar determinado produto e que mostram a sua satisfação com a aquisição
de um serviço ou produto, de tal forma que você sente que podia ser aquela mesma
pessoa, e usufruir do mesmo grau de satisfação se comprar o mesmo produto
ou serviço. Este é o valor da experiência vicária passada através da televisão.
47
48
guia de boas práticas
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Um indivíduo tem capacidade para exercer controlo sobre o que pensa, sobre a sua motivação e sobre a sua acção. Para Bandura, entre os mecanismos centrais da agência do indivíduo
para se influenciar a si próprio, consta a sua capacidade para acreditar, ou não em si.
Ou seja, a crença na sua capacidade (ou incapacidade) para ser eficaz (self-efficacy) funciona
como uma importante determinante de motivação de um indivíduo, dos seus afectos
e da acção105. Por exemplo, um indivíduo que tenha um sentido elevado da sua eficácia,
terá a capacidade de imaginar cenários de sucesso que lhe fornecerão pistas para alcançar
o resultado desejado106. Assim, quanto mais uma pessoa acreditar em si mesma, maior a
possibilidade de sucesso.
No processo de geração de eficácia influem três importantes factores: a resiliência de
cada um, a capacidade de antecipação e a capacidade para gerir situações adversas. Quanto
mais acreditar nas suas capacidades, maior é esforço e persistência que o indivíduo deposita na concretização de um objectivo. Bandura exemplifica: um indivíduo que acredite
pouco em si próprio, confrontado com o primeiro obstáculo desiste, aquele que acredita
nas suas capacidades, continuará a insistir107. A resiliência resulta da capacidade do indivíduo para ultrapassar obstáculos, através da perseverança. Quanto mais esforço depositar
e mais obstáculos ultrapassar, maior é a probabilidade de alcançar o objectivo desejado.
Outro factor importante está relacionado com a capacidade para antever situações futuras,
que são transportadas para o presente através de representações cognitivas, e convertidas
em motivações servindo como reguladores de comportamento. Ou seja, se um indivíduo
visualiza uma situação futura em que se vê a ter sucesso, a sua motivação aumenta e bem
assim o seu nível de auto-eficácia. Relativamente ao último factor, se um indivíduo fica
ansioso perante uma situação adversa, revela que o indivíduo tem dificuldade em lidar
com essa situação, logo o seu nível de auto-eficácia diminui 108.
É possível ao indivíduo desenvolver a sua crença na sua capacidade de auto-eficácia?
Para Bandura, existem quatro formas possíveis a partir das quais o indivíduo pode desenvolver a sua crença na sua capacidade auto-eficácia109:
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›
›
›
Experiências mestres;
Experiência vicária;
Persuasão social;
Estados psicológicos e sociais.
As experiências mestres são aquelas que são vividas e experimentadas pelo próprio
indivíduo e fornecem a fonte mais autêntica de aprendizagem, acerca dos limites e potencialidades da cada um.
maria teresa silva santos
As experiências vicárias são aquelas que permitem ao indivíduo aprender a partir das
experiências dos outros. Esses outros são modelos sociais. A observação do comportamentos de pessoas semelhantes a si, obtendo sucesso em determinada situação, leva-nos
a acreditar que também nós seremos capazes. Quantas mais forem as semelhanças entre
estes modelos sociais e o indivíduo, maior será a capacidade de persuasão do modelo social
sobre o comportamento do indivíduo.
Segundo Bandura, a persuasão social é desenvolvida através das relações sociais.
Quando alguém lhe diz que é capaz, estará a contribuir para a sua crença de que
é realmente capaz. O mesmo se passa ao contrário. Quando alguém lhe diz que não será
capaz, estará a contribuir para que você acredite ser menos capaz. A persuasão social
que contribua para aumentar a crença em si próprio, pode ser mais do que o reforço
positivo que é transmitido verbalmente. Pode passar por colocá-lo em situações que sabe
ser capaz de dominar, e evitar aquelas que de forma prematura podem levá-lo a falhar.
O indivíduo é motivado pelos progressos individuais, mais do que pelo triunfo sobre
os outros.
Outra fonte passa pelo estado emocional e psicológico em que o indivíduo se encontra,
quando faz juízos sobre as suas capacidades. Enquanto que o humor mais positivo leva
o indivíduo a acreditar mais em si próprio, quando se encontra de mau humor terá mais
dificuldade em acreditar nas suas capacidades.
Se passarmos esta informação para a prática facilmente concluímos que o treino de competências pessoais e sociais, em especial quando recorre ao role-play, pode trazer vantagens
evidentes para o controlo de cada um sobre a sua própria sexualidade. É por isso frequente assistir-se a role-play em que o problema central se foca na negociação do uso
do preservativo. Os indivíduos, muitas vezes mulheres, colocam-se numa situação em
que são confrontados com a recusa do uso de preservativos. Através do role-play são trabalhadas, discutidas e treinadas competências sociais e pessoais que ajudam a mulher
a acreditar que pode alterar a negociação a seu favor, ou seja convencendo o seu parceiro a
usar preservativo. Um estudo levado a cabo na África do Sul mostrou que o desenvolvimento de competências comunicacionais de mulheres e homens, através do role-play,
e outros métodos inter-activos foram determinantes para aumentar a confiança e segurança
entre as mulheres e para melhorar a sua comunicação sobre a sexualidade com o parceiro.
Ao mesmo tempo, os homens mostraram estar mais à vontade para usarem o preservativo
do que antes do Programa ter tido início110. O conseguir alterar a negociação do uso do
preservativo, numa situação presente e imaginária que lhe é proporcionada pelo role-play,
fá-la-á acreditar que será possível consegui-lo numa situação futura.
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guia de boas práticas
Limitações das teorias da comunicação para a saúde
Não obstante o importante contributo das teorias apresentadas, é possível enumerar um
conjunto de críticas ou limitações. Eis algumas:
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›
Tendência para verem o comportamento como fruto de decisões exclusivamente
racionais, como o Modelo de Crenças em Saúde que entende os indivíduos como
seres racionais que reagem à informação recebida, esquecendo o contexto socio-económico e cultural em que as decisões são tomadas.
E nesse sentido, pouco valor dado aos constrangimentos impostos pelo contexto
de vida dos decisores;
A atenção tem sido quase exclusivamente centrada no indivíduo e nas decisões
tomadas individualmente, ignorando a existência do grupo, ou comunidade como
unidade de análise com capacidade decisória (exemplo das redes de solidariedade,
ou de grupos de auto-ajuda);
Adicionalmente pouca atenção tem sido prestada aos constrangimentos sociais
estruturais, em que as decisões de um indivíduo são fruto das relações e negociações estabelecidas com outros indivíduos, em níveis de poder, muitas vezes
diferenciadas.
A indústria do sexo em Calcutá, na Índia, envolve cerca de 18 000 mulheres profissionais do sexo. A maior parte destas mulheres são imigrantes de zonas rurais empobrecidas,
com poucas qualificações académicas e com poucas oportunidades de emprego, para além
da indústria do sexo.
Algumas mulheres possuem o seu próprio quarto e trabalham de forma independente,
outras alugam um quarto a mulher a quem devem pagar metade dos seus rendimentos
diários. Outras mulheres ainda, trabalham como profissionais de primeira classe. Nestas
situações cabe a um proxeneta levar-lhes os clientes, o que as retira da exposição da rua.
Existem também os casos em que uma “senhora” paga uma soma à família ou ao traficante
por uma jovem rapariga. A rapariga fica então com uma dívida para com esta mulher. Todos
os rendimentos da rapariga são entregues à mulher até que a dívida esteja saldada111.
Nas zonas de prostituição confluem um série de interesses relacionados com a indústria
do sexo: as mulheres que alugam os quartos, os proxenetas, prestamistas, homens locais de
negócio, polícia e clientes.
Na decisão de usar preservativo, as mulheres profissionais do sexo deixavam perceber
o quanto constrangimentos de ordem económica influenciavam a sua decisão, não obstante estarem informadas e terem a intenção de usar preservativo. Como dizia uma mulher:
“Ontem tive quatro clientes. Eu tive sexo com três deles e o último mandei embora.
maria teresa silva santos
Com o primeiro eu não usei preservativo. Eu tinha estado todo o dia à porta, à espera
que alguém aparecesse e ele chegou e fixou em trinta Rupias o preço. Ele não disse nada e foi
já no quarto que eu lhe falei em usar preservativo. O homem disse que não, porque não
ia ter prazer nenhum, e eu expliquei durante meia hora mas, mesmo assim ele recusou.
Eu fiquei mesmo chateada e ia mandá-lo embora, mas ele era o meu primeiro cliente.
Eu não tinha dinheiro nenhum em casa. E eu pensei que não sabia se outros homens
iam aparecer e se eles não aparecessem como é que eu ia alimentar os meus filhos? Então
eu fiz com ele sem preservativo. Depois disso apareceram mais dois clientes e não houve
problema nenhum. Entretanto, muito mais tarde apareceu um outro cliente que também
não queria usar camisinha. Eu fiquei com metade do dinheiro que ele tinha avançado e
mandei-o embora. Este eu já podia mandar embora porque já tinha tido três clientes
e algum dinheiro na mão”112.
Noutras situações faz-se sentir o peso das relações sociais e das diferenças de poder que
são estabelecidas entre as pessoas. “Ontem tive cinco clientes. Três vieram para o quarto
e eu usei (preservativos) com todos eles. Dois deles não levantaram qualquer problema,
o outro não queria usar. Dizia que não ia ser capaz de “se vir”. Eu estava com receio que
a minha senhora (pessoa que aluga o quarto) o ouvisse protestar, por isso eu fui falando
com ele muito baixinho e fui-lhe colocando o preservativo, e mostrei para ele como ele ia
definitivamente “vir-se”. Eu pensei que ia haver problemas. Normalmente, se um homem
levar muito tempo, a senhora começa a culpar-me e a dizer que eu devo ter feito duas vezes
(devendo pagar o dobro pelo quarto), por isso quando demoram muito tempo, eu tiro o
preservativo. Este cliente eu consegui convencer e ele “veio-se” rápido e por isso não houve
problemas. À noite, eu fui chamada para outra casa, mas os clientes que lá estavam não
queriam usar. Eram dois homens e havia uma outra rapariga. Eles estavam bastante bêbados
e nós não queríamos problemas e por isso fizemos sem. Eu fiquei com medo de ir para casa
sem nenhum dinheiro para a minha senhora113.
Aliar prevenção, tratamento e apoio
A prevenção não deve ser vista de forma isolada. Pelo contrário, o controlo da epidemia
passa por uma abordagem integrada, em que o tratamento e apoio às pessoas que vivem
com VIH/sida e respectivas famílias, são entendidos como complementares à prevenção,
se é para o controlo da epidemia ser bem sucedido.
Quando se opta pelo desenvolvimento de estratégias de prevenção que não tenham em
conta a importância do apoio e acesso a tratamento a pessoas infectadas com VIH/sida,
a prática mostra um aumento do estigma e redução das pessoas que realizam o teste.
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52
guia de boas práticas
No Uganda, por exemplo o acento tónico inicial foi na
prevenção. O mote generalizado da campanha era marcado por mensagens: “tem cuidado com a SIDA. A Sida
mata”114. A campanha que foi eficaz em alertar a população, contribuiu igualmente para o aumento do estigma
em relação aos indivíduos infectados e afectados pelo
VIH/Sida115. Este medo contribuiu para que muitas pessoas tivessem receio de fazer o teste e que outras sentissem
medo de revelar se viviam ou não com VIH, contribuindo
para que estas pessoas não tomassem também elas, medidas preventivas com o receio de serem estigmatizadas.
Quando Sulaiman descobriu que tinha VIH, em 1994
(…) ele não foi capaz de contar à sua mulher. “Eu não
consegui contar logo à minha mulher, porque tinha medo
que ela me abandonasse. Passou um ano, até ter tido coragem para lhe contar. (…) Quando
ela soube, não quis ir logo fazer o teste, porque ficou muito assustada. Foi apenas quando ela
adoeceu e finalmente fez o teste, que soube que também ela era seropositiva”116.
Em resposta, muitas ONGs optaram por uma estratégia capaz de aliar prevenção, tratamento e apoio aos indivíduos infectados, e famílias afectadas pelo VIH/sida. Para o efeito
foram formados números massivos de voluntários ao nível da comunidade com o objectivo
de prestarem apoio e desenvolverem acções de prevenção117. Adicionalmente, as mensagens
de medo foram substituídas por mensagens de solidariedade e esperança, como por exemplo: “Se tem SIDA não desespere” ou “As pessoas com SIDA precisam da sua compaixão
e apoio”118.
Complementar estratégias de I.E.C. com a existência
de serviços de saúde
A mudança de comportamento tem normalmente, por consequência o aumento da procura dos serviços de saúde para tratamento e diagnóstico das ISTs:
›
›
›
para assegurar uma maternidade segura;
para realizar o teste;
para procurar tratamento.
Pode implicar também uma maior procura dos serviços sociais de apoio ou simplesmente
a aquisição de preservativos119.
maria teresa silva santos
Assim, estratégias de I.E.C. deverão ter em conta a existência dos serviços de saúde existentes e associar as mensagens de I.E.C. à:
›
›
existência de serviços de saúde de apoio, que sejam capazes de responder às necessidades
dos indivíduos que melhor informados procurarão o apoio dos serviços de saúde;
disponibilização de preservativos.
Na zona rural de Qixian, na Província chinesa Hunan, a falta de informação e o medo,
associados aos primeiros casos de morte por VIH, levaram ao aparecimento de mitos sobre
a transmissão do VIH120. Era comum achar-se que uma pessoa podia ser infectada apenas
por falar com outra e evitavam passar pelas casas e aldeias em que sabiam que alguém tinha
morrido por sida. 75% das pessoas acreditavam que logo que uma pessoa fosse infectada,
deixaria de parecer normal.
Em resposta, entre 2002 e início de 2003, a Associação Chinesa para o Planeamento Familiar
iniciou a capacitação de cem mil técnicos e voluntários que participaram num conjunto de
iniciativas. Foram dinamizados debates com o objectivo de esclarecer as comunidades sobre
a prevenção do VIH. Foram organizados concursos com o objectivo de premiar conhecimentos sobre VIH/sida. Foram desenvolvidas canções, histórias e apoiadas peças de teatro
que iam sendo representadas, de forma itinerante, pelas aldeias.
Mais de quatrocentos mil pessoas em idade reprodutiva, duzentas mil das quais mulheres
beneficiaram destas actividades. Segundo os promotores do Projecto, a população rural de
Qixian estava melhor equipada com conhecimentos sobre VIH/sida.
Adicionalmente, foi criada uma rede de distribuição de preservativos, o que permitiu responder a uma maior procura, depois do projecto ter sido iniciado. Se em 2001, o número
de preservativos distribuídos se situava em trezentos e noventa mil, em 2002, este número já
tinha ascendido para quinhentos e oitenta mil. Antes do Projecto ter início, 70% dos casais
reportavam nunca ter usada preservativos, número que decresceu para 40%.
Ir às causas
Como já foi referido (ver capítulos 3, p. 21, e 4, p. 25), nem sempre a alteração de comportamento é possível, porque os factores de vulnerabilidade estruturais persistem.
O Director da UNFPA por exemplo, e a propósito da situação da mulher em muitos
países em vias de desenvolvimento, reforça a importância de programas de I.E.C. serem
53
54
guia de boas práticas
complementados com programas que contribuam para reforçar a posição económica
e social da mulher. A Global Coalition on Women and Aids por seu lado, propõe a implementação de projectos de microfinanças, educação profissional, e outras actividades geradoras
de rendimentos associados ou integrados em programas de prevenção e controlo do
VIH/sida121. Também a Associação de Desenvolvimento de Agricultores no Cambodja,
trabalha directamente com a comunidade, colocando a problemática do VIH/sida no contexto mais alargado em que vive a comunidade. Assim, para além das sessões sobre saúde
sexual e reprodutiva com homens e mulheres, a Associação promove igualmente um projecto de geração de rendimentos junto de um grupo de mulheres122. Apenas quando o factor
de vulnerabilidade é reconhecido e trabalhado, se pode pensar em estratégias para a
mudança de comportamentos realmente eficazes123.
Um episódio passado no Zimbabué
ilustra bem a importância dos factores estruturais. A realização de um
seminário sobre VIH/SIDA começou mais tarde do que o previsto,
porque os participantes passaram
parte do tempo, a afugentar o elefantes que lhes estragavam as colheitas,
tendo então sido referido pelo líder
do grupo: “Vocês vêm ter connosco
com o vosso programa da Sida,
enquanto nós temos um problema
muito maior com os elefantes que nos destroem os campos”124. Significa isto, que os programas para promoção de comportamentos saudáveis não devem ser autistas em relação a outro
tipo de problemas sentidos pelo grupo ou comunidade, na medida em que eles acabam por
se inter-relacionar. A saúde sexual e reprodutiva é mais do que um assunto exclusivamente
da saúde125 e os programas de saúde sexual e reprodutiva devem ser integrados e multissectoriais126 se para serem efectivos.
Que papel para a comunicação?
Não obstante a observação de todas estas condições ser essencial para uma estratégia de
I.E.C. eficaz, é surpreendente constatar que muitas vezes, estas condições não são desenvolvidas e ainda assim a comunicação revela desempenhar um papel determinante na
alteração de comportamento.
maria teresa silva santos
Em 1995, as Telecomunicações de Moçambique encomendaram um estudo de mercado a uma empresa
conceituada, que estimou que a sua cliente necessitaria de dez anos para alcançar seis mil e quinhentos
clientes. No entanto, ao fim de sete anos, em 2004,
a mCell possuía já quinhentos e cinquenta mil
clientes. São palavras do director da campanha
publicitária “Nós estamos preocupados em medir a
opinião pública, que nos esquecemos que podemos
moldá-la”127.
A este resultado, não é com certeza estranho o
facto de ter sido introduzida uma modalidade
mais flexível do ponto de vista económico e
que outros factores terão de ser considerados
na explicação desta cifra de 550 mil clientes.
No entanto, deixa também adivinhar os efeitos
de uma estratégia de comunicação adequada.
55
6.
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Metodologia
Procurar integrar pessoas que vivem com VIH
Em 1994, na Conferência de Paris foi aprovada a declaração que reconhece a importância
de envolver pessoas que vivam com VIH/sida, na formulação de políticas e na prestação
de serviços128.
No que à produção de material de I.E.C. diz respeito, o envolvimento de pessoas que
vivam com VIH/sida pode trazer a vantagem de evitar efeitos colaterais não desejados
do material desenvolvido. Por exemplo, se retomarmos novamente o que sucedeu com
as primeiras campanhas de informação e sensibilização no Uganda, concluímos que o
envolvimento de pessoas que na altura viviam com VIH ou fossem afectadas pelo vírus,
poderia ter sido uma enorme mais valia. Mensagens como “tem cuidado com a SIDA.
A Sida mata”129 que contribuíram para o aumento do estigma e discriminação face às pessoas que viviam com VIH/sida, poderiam eventualmente ter sido evitadas.
Participação
Ao nível da produção de material de I.E.C., o processo participativo pode ocorrer em dois
momentos diferentes. O primeiro momento, dá-se ao nível do diagnóstico.
Muito do material de I.E.C. produzido é normalmente produto das percepções do técnico relativamente ao que as pessoas precisam de saber. Acontece porém que, o material
de I.E.C. assim produzido, terá menos hipóteses de ser eficaz e adequado.
58
guia de boas práticas
Imagine-se por exemplo, que determinada agência encomendava a produção de um spot
televisivo sensibilizando a população para a importância do uso do preservativo. Um diagnóstico participativo revelaria no entanto, que as pessoas estavam alertadas e que de facto
recorriam ao uso do preservativo nas relações sexuais. O mesmo estudo mostrava contudo,
que as pessoas tinham uma atitude estigmatizante em relação aos indivíduos que viviam
com VIH/Sida. Neste caso qual era a mais valia do spot televisivo?
A abordagem participativa permite evitar este tipo de desfasamento entre o material de
I.E.C. e as reais necessidades dos beneficiários das mensagens. Através desta abordagem
os próprios beneficiários são motivados para partilhar, e analisar o conhecimento que
possuem sobre a sua própria vida e constrangimentos, para planear e agir sobre ela130.
Ao mesmo tempo, também o técnico aprende com as pessoas o que elas sabem e o que
precisam de saber, e porque razão não alteram os seus comportamentos131.
Os resultados destes diagnósticos determinarão o conteúdo das mensagens, o meio mais apropriado para comunicar com as pessoas, etc. Pegando no caso anterior, os produtores do spot
televisivo, realizado o diagnóstico, optariam antes por abordarem a questão do estigma.
Outro momento em que o processo participativo pode ter lugar é quando a produção
do material de I.E.C. é realizada de forma participativa, ou seja o material de I.E.C.
incluindo as mensagens e a escolha do meio, são produto de discussões de base comunitária, cursos de pares, teatro do oprimido, jogos, ou outros132. A vantagem deste processo
consiste em permitir que as pessoas reflictam mais profundamente nas suas relações, nas
suas decisões, nos riscos que tomam, e nas razões que as levam a perpetuar comportamentos de risco.
A diferença entre uma abordagem participativa e uma abordagem do tipo top-down, pode
ser facilmente apreendida no já referido caso da rede mosquiteira. O cuidador/ activista
referido limitava-se a informar sem ouvir os constrangimentos das pessoas relativamente
à razão porque optavam ou não por usar mosquiteiro. Se as ouvisse podia por exemplo
saber que o elevado número de casos de infecção respiratórias agudas, associadas a um
clima adverso, dificulta uma respiração livre e possível por baixo de uma rede mosquiteira.
Se em vez de transmitir informação, o activista tivesse proporcionado a discussão sobre
as desvantagens e vantagens sobre o uso da rede mosquiteira teria, muito possivelmente
conseguido melhores resultados.
No quadro ao lado, vai encontrar algumas diferenças entre a abordagem top down, ou abordagem baseada na transmissão de informação e a abordagem participativa, baseada na partilha
de informação:
maria teresa silva santos
Abordagem da transmissão
de informação
›
Ensino formal.
›
De cima para baixo.
›
›
Abordagem da partilha
de informação
›
Aprendizagem é realizada
de forma participativa.
Dizer aos indivíduos o que fazer.
›
Promove o diálogo.
Os profissionais sabem o que é
melhor para os outros.
›
Torna uma ideia atractiva.
›
Assenta em parcerias.
›
Assenta em discursos unilaterais.
›
›
O professor toma as decisões.
Recorre a métodos capazes
de promover a participação.
›
Mais dependente de posters.
›
›
Há um tempo limitado para o
ensino.
As próprias pessoas participam
na tomada de decisões sobre
o que é necessário.
›
Recorre com frequência a meios
de comunicação visual.
›
O tempo destinado ao ensino
é mais flexível.
In LAVER, Sue; DRUCE, Nel — Starting the Discussion: making steps to making safer sex. London: HealthLink; 1996. P. 10
Ao nível do material I.E.C., o processo participativo oferece um conjunto de vantagens:
Garantias de maior adequação
O envolvimento das pessoas no processo de identificação e produção do material I.E.C.
é uma forma de garantir que o material vai efectivamente ao encontro da realidade das
pessoas: das suas necessidades de informação e de adopção de comportamento saudável,
usa a linguagem certa, reconhece os constrangimentos e problemas da comunidade, sendo
sensível à realidade social, cultural e económica e de género das pessoas.
Por exemplo, na situação em que um técnico opta por informar sobre as IST/VIH/Sida
através de um panfleto com bastante texto, é capaz de se sentir frustrado quando perceber
que ninguém na comunidade leu o texto. Possivelmente, porque a maior parte da comunidade era analfabeta. Este é um exemplo típico de uma material de I.E.C. desadequado.
59
60
guia de boas práticas
Sentido de propriedade
A experiência tem mostrado também que, quando envolvidas, as pessoas desenvolvem
um sentido de propriedade sobre o processo, o que as leva a assumir um maior compromisso com acções e projectos.
Efectividade
Esse maior compromisso vai, em princípio, contribuir para uma maior efectividade dos
desafios e conclusões que saíram das análises em grupo.
Grupos de pares e grupos focais
Garantir um ambiente em que todos os indivíduos possam sentir-se confortáveis e tenham
segurança para falar, passa por juntar pessoas que são semelhantes entre si. É necessário
um clima de confiança, privacidade e atenção capaz de permitir a discussão, a partilha
e a construção colectiva.
A experiência vem mostrando que as pessoas se sentem mais à vontade para falar com aquelas que consideram semelhantes. O “ser semelhante” pode significar pertencer ao mesmo
género, ao mesmo grupo etário, ao mesmo grupo socioeconómico, ao mesmo grupo
cultural e/ou étnico, ao mesmo estatuto civil (casado, solteiro, etc.), à mesma religião,
estar fora ou inserido no sistema de ensino, entre outros critérios possíveis133. Indivíduos
dentro do mesmo grupo etário, com um percurso de vida idêntico, partilhando preocupações semelhantes estão mais disponíveis para escutar e responder às necessidades dos
seus pares134. O poder que alguns indivíduos exercem sobre outros pode revelar-se na falta
de confiança dos que têm menos poder, traduzindo-se na “incapacidade” destes últimos
para falar. Este poder pode fazer-se exercer ao longo de um eixo etário, social, económico,
religioso, do género, cultural, que o trabalho entre pares procura evitar.
Como levar uma mulher a falar da sua sexualidade diante de homens, ou como levar os
mais jovens a falar da sua sexualidade, diante de pessoas mais velhas da sua comunidade?
Grupos focais organizados por grupos de pares permitem contribuir para a redução deste
tipo de obstáculos e são uma base de trabalho para discutir com as próprias pessoas a produção de material de I.E.C.
Grupos de pares e a questão do género: um olhar cuidado
Responder às diferentes necessidades de género
Integrar a questão do género na produção de material de I.E.C. implica o reconhecimento de que mulheres e homens têm diferentes necessidades, não só biológicas, mas em
maria teresa silva santos
resultado do contexto económico, social e cultural que determina os diferentes papéis
esperados da mulher e do homem na sociedade135. O material de I.E.C. tem de reconhecer
estas diferenças de género, de tal forma que perante necessidades diferentes se produza
material de I.E.C. diferenciado para homens e mulheres136.
Deve-se no entanto ter também em conta aquelas necessidades que são comuns à mulher
e ao homem. A propósito da transmissão vertical por exemplo, é comum assistir-se à existência de informação estritamente dirigida à mulher, como se apenas a mulher e a futura
mãe pudessem estar interessadas neste tipo de informação. Esta estratégia contribui também para fragilizar os esforços desenvolvidos para uma melhor paternidade.
Ouvir as mulheres para responder às suas necessidades
Para que o material de I.E.C. responda às reais necessidades das mulheres, é necessário
ouvi-las. A formação de um grupo de pares de mulheres pode proporcionar a criação de
uma ambiente de confiança e de auto-ajuda capaz de promover a participação, a partilha
e a troca de experiências necessárias para apreender os reais factores de vulnerabilidade.
A maior parte dos programas tem-se concentrado na redução de riscos individuais137
através da promoção do acesso a:
›
›
informação, educação e treino de competências sociais para a prevenção;
serviços de saúde sensíveis às necessidades da mulher138.
Programas assentes na redução de riscos individuais podem assumir várias formas:
conhecimento que a mulher detém relativamente ao seu corpo, ao corpo do homem,
aos meios de prevenção face às IST/VIH/sida e outras questões relacionadas com saúde
sexual e reprodutiva139.
A redução de riscos individuais pode passar também pelo desenvolvimento de competências sociais que apoiem a mulher a reduzir os seus riscos face às IST/VIH/sida. A melhoria
das relações interpessoais tem-se revelado particularmente importante:
›
Na melhoria da capacidade de comunicação com o parceiro sexual.
Em Buwenda no Uganda, onde o Stepping Stones* foi implementado, as mulheres
revelaram que quando se comportavam de maneira diferente na relação sexual,
os parceiros suspeitavam que tivessem estado com outro homem, o que dava lugar
a violência doméstica140. No entanto, o grupo dos homens queixava-se que
* O Stpepping Stones é um manual da autoria de Alice Welborn, que trata questões relacionadas com a vida sexual e reprodutiva e que
tem sido utilizado desde 1995 em mais de 80 países.
61
62
guia de boas práticas
desejava relações sexuais mais excitantes. Era urgente melhorar a comunicação sexual
entre casais.
›
No fortalecimento da capacidade para
tomar decisões em relação ao sexo141.
Um estudo conduzido na Tailândia,
mostrou que a formação de homens
e mulheres com recurso a role-plays e
outros métodos interactivos contribuíram para:
· aumentar a segurança da mulher,
agora capaz de discutir a sexualidade do casal e;
· deixar os os homens mais à vontade
para pedir o uso do preservativo142.
›
Apoiando homens e mulheres a compreenderem e a reivindicarem as suas
necessidades específicas143.
Ainda no Buwenda, as mulheres revelaram haver uma elevada prevalência de ISTs.
Em resultado, as mulheres organizaram-se e solicitaram ao representante local do
Ministério da Saúde que providenciasse a formação extra dos técnicos locais de
saúde, em diagnóstico e tratamento de ISTs144.
É também imprescindível ouvir as mulheres para com elas identificar e contribuir para a
diminuição dos factores de vulnerabilidade:
› menor independência económica;
› o menor nível de literacia;
› normas sociais que confinem a um papel marginal na sociedade.
E não esquecer que trabalhar o empoderamento das mulheres, passa também por trabalhar
com os homens, já que a mulher é um ser relacional. Assim por exemplo, se as mulheres
afirmarem que a colocação do preservativo se torna particularmente difícil, já que é recusada
pelos homens, tentar perceber porque razão os homens se recusam usar preservativo e produzir
material de I.E.C. que vá ao encontro das razões expressas pelo homens, junto das mulheres,
para não colocarem preservativo.
De facto, da mesma forma que o género pode ser uma força de bloqueio em relação
à mulher, pode também ser em relação ao homem. Como já foi referido, da mesma forma
que existem normas sociais e culturais que remetem a mulher para a ignorância no que
concerne o “sexo” (como forma de manter a sua pureza e virgindade) existem também
maria teresa silva santos
normas sociais e culturais que concebem o ideal de homem, que não admite não saber
tudo o que importa relativamente ao sexo, e que enfatizam o papel do homem como
o tomador de riscos145.
Técnicas
Existe um conjunto de técnicas que o facilitador deverá dominar. Estas técnicas que nasceram associadas à Avaliação Rural Participativa-PRA (Participatory Rural Appraisal),
com o objectivo de ouvir e aprender com comunidades de agricultores, são hoje utilizadas
em muitos outros sectores. O objectivo mantém-se o mesmo: promover a participação das
pessoas, ouvi-las, aprender com elas, promover a partilha e análise pelas próprias pessoas.
Trata-se nesse sentido de um conjunto de técnicas ao serviço da participação.
A primeira destas técnicas está relacionada com a capacidade para ouvir e aprender com a
comunidade ou grupo com quem está a trabalhar.
As técnicas de facilitação têm como objectivo promover a participação do grupo focal
nas várias etapas de produção de material de I.E.C.: diagnóstico, elaboração do material
e testagem.
Existe um conjunto de manuais onde encontrará de forma mais exaustiva técnicas de
facilitação que poderá utilizar no decurso do seu trabalho. Lembre-se sempre que, a sua
criatividade pode levá-lo a outras ferramentas, que possam mostrar-se mais eficazes no contexto onde trabalha. Neste guia iremos focar apenas algumas das técnicas mais utilizadas.
Ao longo do seu trabalho vai perceber que algumas técnicas servem melhor determinados
objectivos do que outras. Assim, pode começar por elaborar uma listagem dos assuntos
que pretende abordar com o grupo ou comunidade e procurar identificar as técnicas que
melhor se ajustam à concretização desse objectivo.
As técnicas de facilitação podem ser muito exigentes para o facilitador ao nível da gestão de
conflitos, e ao nível da competência técnica, já que a participação promove muitas vezes o
à vontade nas pessoas para colocarem dúvidas para as quais o facilitador tem de ter uma boa
preparação técnica. Não quer dizer que o facilitador tenha de responder a todas as perguntas
colocadas. Assumir que não sabe e que vai procurar informar-se é o mais correcto.
As técnicas são ao mesmo tempo pouco exigentes, já que não exigem níveis de qualificação
técnica ou teórica por parte dos indivíduos que constituem o grupo focal para participar.
É pois possível que venha a observar a participação crítica e consciente de pessoas que não
63
64
guia de boas práticas
sabem ler ou escrever. Este aspecto permite adivinhar que as técnicas de facilitação não são
marginalizadores e pelo contrário, permitem desenvolver trabalho com pessoas com características bastante diferentes.
Mapas sociais
Os mapas sociais constituem uma representação visual da área geográfica do grupo ou
comunidade com quem está a trabalhar. Os mapas sociais permitem ter a perspectiva
do grupo ou comunidade relativamente às infra-estruturas disponíveis: centros de saúde,
escolas, estradas, postos de polícia, hospital, associações locais, igreja, e relativamente aos
tipos de habitações146.
Esta é uma técnica que pode ser desenhada tanto numa folha de papel, como no chão,
usando para o efeito giz, sementes, marcadores ou qualquer outro tipo de meio escolhido
pelo grupo, que sirva para descrever visualmente a comunidade.
A vantagem é que permite ao grupo ter consciência dos serviços disponíveis, da dificuldade ou facilidade no acesso aos diferentes serviços, e ao facilitador ter consciência das
infra-estruturas existentes e efectivamente usadas pela comunidade e das infra-estruturas
em falta. Permite igualmente, ter uma noção das condições em que vivem muitas famílias: existência de crianças mal nutridas por agregado familiar, vacinações, viúvas, etc147.
O mapa social apresentado de seguida,
foi elaborado por um grupo de jovens raparigas em Lusaka, Zâmbia148. Para além de
identificarem as infra-estruturas existentes,
as jovens procederam também à classificação dos agregados familiares por nível de
rendimento (o que terá permitido identificar as famílias mais carenciadas, etc.). A este
tipo de mapa, chama-se de classificação dos
agregados familiares segundo o rendimento.
maria teresa silva santos
Mapa social preparado por um grupo
de jovens raparigas
Água da torneira
Casas em que a Mulher é a chefe de família
Curandeiro tradicional
O número colocado sobre cada casa, indica a categoria de bem estar
Figura 1 Mapa social elaborado por um grupo de jovens raparigas — In SHAH, Meera Kaul; KAMBOU, Sarah Degnan; MONAHAN,
Barbara — Embracing Participation in Development: Worldwide experience from CARE’s Reproductive Health Programs with a step-by-step filed guide to participatory tools and techniques. Atlanta: CARE; 1999. p.3.34
Diagrama de Venn
Também chamados de Chapatis no sul da Ásia ou de Tortilha na América do sul, os diagramas de
Venn têm como objectivo a visualização das relações estabelecidas entre as instituições e a comunidade149 e nesse sentido o impacto das diferentes instituições na vida da comunidade.
Um grande círculo representa a comunidade. Cada instituição que de alguma forma interage com a comunidade é também colocada dentro de um círculo. Quanto maior for
65
66
guia de boas práticas
o impacto da instituição na vida da comunidade, maior deve ser o círculo. As instituições que são colocadas dentro do círculo, dizem respeito às instituições que mantêm
uma relação próxima com a comunidade (não significa necessariamente, que estejam
fisicamente presentes na comunidade). A maior ou menor proximidade dos círculos
em que estão inscritas as instituições, representa a maior ou menor proximidade das
instituições entre si150.
Na Zâmbia151, esta técnica teve como finalidade identificar onde é que os jovens japazes
recolhiam informação sobre sexualidade e saúde reprodutiva. O resultado foi o seguinte:
Igreja
Vídeos e revistas
pornográficos
Clubes anti-AIDS
Avós
Observando
os outros
Amigos
Velhos
tontos
Escola
Figura 2 Diagrama de Venn elaborado por um grupo de jovens rapazes sobre fontes de informação sobre sexo in SHAH, Meera Kaul;
KAMBOU, Sarah Degnan; MONAHAN, Barbara — Embracing Participation in Development: Worldwide experience from CARE’s
Reproductive Health Programs with a step-by-step filed guide to participatory tools and techniques. Atlanta: CARE; 1999. p. 3.37
maria teresa silva santos
Este diagrama permitiu concluir que é em material pornográfico (vídeo e magazines) que os
rapazes mais obtêm informação sobre sexualidade. A segunda maior fonte de recolha de informação são os “avós”, seguidos depois pelos “amigos”, e por último “observando os outros”,
“velhos tontos”. As fontes menos utilizadas são o “clube anti-sida” e escola e por último a igreja.
Mapas do corpo
Esta é uma ferramenta muito útil para compreender o que a comunidade ou grupo sabe
efectivamente sobre saúde reprodutiva. Através desta técnica, é pedido aos participantes
que desenhem o sistema reprodutivo da mulher e do homem, e a forma como funciona.
Um grupo de jovens raparigas de Chawama, na Zâmbia, por exemplo, desenhou o aparelho
reprodutivo da mulher da seguinte forma:
esperma
óvulo
sangue
chibbelekelo
Figura 3 Mapa do Corpo elaborado por um grupo de jovens raparigas — In SHAH, Meera Kaul; KAMBOU, Sarah Degnan;
MONAHAN, Barbara — Embracing Participation in Development: Worldwide experience from CARE’s Reproductive Health
Programs with a step-by-step filed guide to participatory tools and techniques. Atlanta: CARE; 1999. p. 3.35
As Jovens explicaram que o esperma flui da parte de cima do corpo da mulher para um
e outro óvulo152.
Esta técnica pode também ser utilizada para que os participantes identifiquem as zonas do
corpo do homem e da mulher que causam excitação sexual. Foi pedido aos participantes
dos workshops na área do VIH/sida, realizados no Dallas e no Novo México, que desenhassem um mapa do corpo. Aos homens foi pedido especificamente o desenho do corpo de
uma mulher ideal e às mulheres foi pedido que desenhassem um homem ideal. Em ambos
os workshops, os homens desenharam a mulher ideal como tendo peito grande e lábios
carnudos, enquanto que as mulheres desenharam o homem ideal como tendo os ombros
largos e um pénis grande. A partilha destes desenhos gerou uma discussão acesa no grupo,
permitindo que se discutisse o papel dos estereótipos na sexualidade153.
67
68
guia de boas práticas
Ordenar
Esta técnica é particularmente útil quando sentir necessidade de analisar preferências,
prevalência e decisões. Por exemplo, quando estão em jogo várias opções relativamente aos
métodos anti-contraceptivos, perceber qual o que acolhe mais adesão por parte do grupo,
ou qual o meio anti-contraceptivo em relação ao qual o grupo gostaria de ter mais acesso.
Esta é uma técnica muito utilizada num conjunto de situações154:
›
›
›
›
›
›
Preferências sobre parceiro sexual;
Diferenças de género na relação sexual;
Diferenças ao nível do comportamento sexual de acordo com a idade;
Nível de actividade sexual entre rapazes e raparigas;
Análise de problemas;
Fontes de informação.
No Zimbabué, existem quatro tipos de escolas do ensino superior: Universidades, Escolas
Superiores de Educação, Politécnicos e Escolas Agrícolas155. Estas últimas, ao contrário das
três primeiras estão fora da tutela do Ministro da Educação, o que as deixa muitas vezes fora de
programas de educação para a saúde. Em 2006, duas organizações locais envidaram esforços
para envolver a comunidade escolar de quatro escolas agrícolas no Zimbabué em questões de
saúde sexual e reprodutiva. Na escola agrícola Chibero Agricultural, à semelhança das restantes escolas, participaram um grupo de estudantes, outro de professores e outro constituído
por membros da comunidade. Quando lhes foi pedido que identificassem os desafios que
se colocavam à saúde sexual e reprodutiva, os alunos identificaram:
›
›
›
›
›
›
›
Influência do álcool;
Pressão do par;
Não saber usar preservativos;
Ninfomaníaco versus sexomaníaco (prestígio);
Crise financeira;
Falta de entretenimento;
Receio de insucesso escolar.
Quando lhes foi pedido para ordenarem por ordem de importância, a listagem adquiriu
a seguinte apresentação:
1.
2.
3.
4.
5.
Falta de entretenimento;
Pressão do par;
Ninfomaníaco versus sexomaníaco;
Receio de insucesso escolar;
Influência do álcool;
maria teresa silva santos
6. Não saber usar preservativos;
7. Crise financeira.
/#0*)&$'&'-1&22%,-&34#
Outra técnica, passa por classificar com um valor, determinada categoria de análise. Com esta
técnica ganha-se em profundidade em relação à técnica anterior, e permite o estabelecimento
de relações e probabilidades.
Em Ndola, a segunda maior cidade da Zâmbia, um grupo misto de jovens rapazes e jovens
raparigas procurou identificar a prevalência de relações sexuais, por relacionamento.
O grupo decidiu pontuar tendo como tecto máximo o valor 100. O resultado final foi
o seguinte:
Tipo de Relacionamento
Frequência de Relacionamento Sexual tendo
100 como valor máximo
Irmão e irmã
5
Entre primos
50
Avô e neta
0
Avó e neto
0
Tio e sobrinha
25
Tia e sobrinho
0
Pai e filha
15
Cunhado e irmã da mãe
60
Cunhado e irmã do marido
30
Entre vizinhos
100
Elaboração de matrizes
Se está perante múltiplos critérios, opções que carecem de ser analisadas e comparadas
pelo grupo, então opte pela elaboração de uma matriz.
Comece por elaborar uma lista de opções, por exemplo tipos de parceiro sexual.
De seguida liste características capazes de qualificar os critérios identificados. No caso
69
guia de boas práticas
dos parceiros sexuais: se casados, se possuem dinheiro, se são responsáveis, etc.156 Coloque
os critérios na primeira coluna, e as características na horizontal e de seguida peça ao
grupo para que pontue cada critério de acordo com as características dadas.
pressão económica
entretenimento
família
cultura
natureza
religião
Numa escola do Zimbabué157, um grupo de jovens raparigas começou por listar os comportamentos mais comuns entre as jovens, relacionados com saúde sexual e reprodutiva.
De seguida, foi pedido que listassem os factores que influenciavam os comportamentos
identificados. Daqui surgiu a seguinte matriz:
pares
70
sexo
8
7
8
2
4
8
2
aborto
7
7
0
4
2
0
1
casamento
6
7
2
7
5
3
7
namorados
8
8
7
6
4
6
4
masturbação
10
0
3
5
0
5
0
“sugar daddy”
9
7
0
5
4
2
3
álcool
6
3
7
2
5
0
1
total
54
39
37
31
24
24
18
classificação
1
2
3
4
5
5
6
Fluxos Causais
Esta é uma técnica que ajuda a compreender um problema em concreto. A exploração
tanto pode ser feita ao nível dos problemas, como ao nível do impacto, como ao nível dos
dois em simultâneo. Ao ter como ponto de partida um problema, ou actividade que quer
compreender melhor, irá também ser capaz de percepcionar as relações possíveis que se
estabelecem entre as causas ou impacto.
O exemplo apresentado pretende compreender as causas que estão na origem do risco
de infecção por VIH158:
maria teresa silva santos
Risco de infecção pelo VIH
Níveis de infecção
pelo VIH entre
parceiros sexuais
Acesso e existência
de preservativos
Situação
relativamente
a outras ISTs
Acesso a serviços
de apoio para
prevenção e
controlo das ISTs
Comportamento
sexual
Normas
socioculturais
Figura 4 Fluxo causal para identificação dos factores que condicionam a infecção pelo VIH/sida In EDSTRÖM, Jerker; CRISTOBAL,
Arthur; DE SOYSA Chulani; SELLERS Tilly — Ain’t misbehavin’: beyond individual behaviour change. S.l.: PLA Notes 37 (2000) p. 23
Estudos de caso
Histórias reais, testemunhos, a descrição de um episódio particular na vida de uma
pessoas, a descrição de uma situação em concreto podem ser especialmente úteis para a
discussão de um tema159. Os estudos casos podem ser uma técnica especialmente útil ao
nível do diagnóstico, ao nível de estratégias que devem ser apreendidas pelas mensagens,
ou ao nível da identificação do meio mais adequado, sugerindo novas possibilidades ou
explorando com mais exactidão o impacto de determinadas escolhas.
No conhecido Manual “Training for Transformation” o uso de estudos casos é sugerido
como forma de promover a partilha por parte das mulheres que passaram por situações
de abuso sexual e de encontrar estratégias possíveis para apoiar e proteger as mulheres, no
futuro. O conhecido Manual sugere, por exemplo, a selecção e recorte de artigos de jornais
e revistas que deverão ser discutidos em grupo160.
71
72
guia de boas práticas
Role-play
O role-play começa com uma situação previamente preparada, que corresponda a uma
situação da vida real e quotidiana da vida das pessoas com quem trabalha. Nessa situação
idealizada a partir de uma situação real, existem personagens que vão tomando decisões.
Essas personagens vão sendo vividas por diferentes pessoas, do grupo focal, ou comunidade que vão vestindo o papel da personagem. Apenas a situação é preparada, as pessoas
que vão vestindo o papel da personagem, vão-no fazendo de forma espontânea, com
base naquilo que são as suas experiências ou com base naquilo que viram ou ouviram161.
Pode acontecer que algumas pessoas não queiram participar por se sentirem demasiado
expostas. Esclareça os objectivos da actividade e se as pessoas insistirem em não participar,
respeite-as.
Esta técnica possibilita ao “outro”, experienciar o que é estar no papel de determinada pessoa.
O role-play pode surgir como uma oportunidade única para a aprendizagem, análise e
exploração da realidade162. A espontaneidade que envolve esta técnica, possibilita que
o que muitas vezes fica por dizer, se expresse, e que atitudes e comportamentos sejam mais
facilmente evidenciados. É uma técnica a explorar ao nível dos diagnóstico e ao nível da
construção de mensagens.
Sistematizando…
1. Comece por identificar um tópico com o grupo, que considera importante ver
discutido;
2. Em conjunto com o grupo, imagine uma situação real na qual é reflectida o tópico
da discussão:
›
›
›
O espaço: um quarto, rua, um tribunal…;
As personagens que existem nessa situação;
o problema real que dá o mote à história e que está relacionado com o tópico.
3. Discutam quem vai representar quem;
4. As pessoas que permaneceram no grupo, vão substituindo a personagens ou personagens da história real. A sua fala é espontânea e uma reacção à situação em que
é colocada.
A ONG CARE relata como na Zâmbia, durante uma avaliação participativa, o role-play
teve um contributo significativo para descrever a forma como os rapazes normalmente
abordavam as raparigas, e as consequências enfrentadas pelos jovens depois de terem
estado envolvidos numa relação sexual163.
maria teresa silva santos
5&1"0(.$%#'2&6#0&1
Este método é particularmente vantajoso para a compreensão e tomada de consciência
de que existem problemas e oportunidades, que tendem a surgir com mais ou menos
frequência, todos os anos na mesma altura: escassez de comida, ausência de dinheiro,
frequência de doenças, aumento das despesas etc. Ao analisar as diferentes variáveis,
fica mais fácil estabelecer relações entre problemas e entre oportunidades.
Por exemplo, enquanto no terreno no Vale da Amoreira, a equipa do CRIAS tomou
conhecimento que, para as mulheres que estão desempregadas a maior parte do ano,
o Verão surge como uma oportunidade de emprego. É durante o período de férias,
que as mulheres do Vale da Amoreira encontram uma oportunidade para trabalharem,
substituindo as auxiliares de limpeza que se encontram em gozo de férias. Esta constatação viria a reorientar o trabalhão com este grupo, para outra altura do ano, em que as
mulheres estivessem menos ocupadas.
Esta técnica começa com a definição de um tópico. De seguida, pergunte ao grupo como
gostaria de o analisar, ao longo de um ano, ao longo das estações do ano, por trimestre…
deixe ao grupo esta decisão. Por fim, tente compreender com o grupo, como este tópico
é desenvolvido ao longo do período de tempo escolhido.
Na vila de Basavapuram164, na Índia, esta técnica permitiu visualizar de que forma
o emprego, o rendimento, e as despesas se distribuíam ao longo do ano. A apresentação final
tomou o seguinte aspecto:
In MASCARENHAS, James — Participatory Rural Appraisal and Participatory Learning methods: recent experiences from Myrada and
South India. RRA Notes. London: IIED. 13 (1991) p. 9
73
74
guia de boas práticas
O Facilitador
Como assegurar a participação das pessoas que integram o grupo focal?
Ao técnico não cabe decidir o que é melhor para as pessoas, mas acima de tudo ouvir
e aprender com as próprias pessoas as dificuldades que encontram, facilitar a análise pelas
próprias pessoas, promover o desenvolvimento do sentido de consciência, de responsabilidade e de partilha165. É aliás esta a razão que explica que o técnico seja antes chamado
de facilitador.
A participação, porque assenta no diálogo, na partilha e promove a discussão, exige por
parte do facilitador uma muito boa preparação166. Antes demais, e se vai facilitar uma
sessão, um workshop, reflicta sobre as suas próprias atitudes167 Pondere e reflicta nas recomendações que apresentamos:
›
›
›
›
›
›
›
›
›
›
›
›
›
›
›
Não participe na discussão, mas promova a discussão pelo grupo através de perguntas, jogos e de outras actividades que suscitem a participação activa por parte
das pessoas168;
Procure não interromper ninguém169;
Evite dar a sua opinião, ou emitir juízos de valor antes da participação de todos170
correndo o risco de bloquear que outras pessoas falem abertamente sobre determinado assunto. Isto não impede no entanto, que não questione juízos ou opiniões
que sabe serem nocivas, como por exemplo o estigma. Neste caso esteja preparado
para falar a favor das pessoas com VIH/Sida, de forma assertiva, evitando em todos
os casos a agressividade171;
Não tire notas enquanto estiver a ouvir172;
Evite dizer às pessoas o que não devem ou não podem fazer;
Sorria e procure dirigir-se a todas as pessoas presentes173;
Use frases curtas e fale durante pouco tempo de seguida;
Evite o uso de linguagem complicada;
Fale com honestidade sobre comportamentos sexuais, opções e alternativas;
Repita a informação sem ser aborrecedor(a);
Certifique-se que as pessoas estão a compreender o que vai sendo dito;
Evite monopolizar a discussão;
Transmita informação apenas quando necessário;
Ouça com atenção;
Cumpra os horários definidos pelo grupo.
Este processo de facilitação, associado ao processo de participação, permite-lhe a si e ao
grupo identificar e compreender as causas e os factores determinantes de determinado
comportamento.
maria teresa silva santos
A facilitação ajuda a colocar a descoberto a importância de ouvir as pessoas, e procurar
com elas a melhor forma de contornar obstáculos. Sem as ouvir, o técnico nem conhecimento teria da existência destes obstáculos e todo o material de I.E.C. correrá o risco
de ser desadequado à realidade concreta em muitas pessoas vivem.
75
7.
L./".)2%"+.0%8,/3"
O primeiro pensamento que deverá ter em mente, é que a proposta que aqui lhe deixamos para
a produção de material de I.E.C. adequado e eficaz não é rápida. Muito pelo contrário, a abordagem participativa é frequentemente acusada de morosa, pelo tempo que envolve a discussão
e a participação de todos os membros da comunidade. De facto, “ser participativo” não é ser
rápido174. No entanto, mantenha também a certeza de que ser participativo lhe oferece maiores
garantias de adequabilidade do material de I.E.C. produzido.
70.1%2"'(#'-#0*"8*#
Antes de começar, procure tanto quanto possível, compreender o contexto no qual vai
trabalhar. Pode fazê-lo de forma exploratória, sendo também possível que alguma desta
informação venha a surgir já no trabalho com a comunidade ou grupo.
9)&1'#':"$,1'(&'-#;)0%(&("'-#;'<)";'=&%'*$&>&1?&$@
É importante conhecer o mais possível as características da comunidade ou grupo com
quem vai trabalhar. Este conhecimento prévio irá permitir-lhe adequar o seu material
pedagógico, o conteúdo das suas sessões, a linguagem, identificar as dinâmicas e técnicas
mais adequadas. Para promover uma participação efectiva procure tanto quanto possível
obter informações sobre os seguintes aspectos:
1. Faixa etária;
2. Sexo;
3. Taxa de incidência de IST;
78
guia de boas práticas
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Situação familiar;
Nível de escolaridade;
Espaços de lazer e opções mais procurados para ocupação de tempos livres;
Mitos e crenças relacionados com IST;
Filiação religiosa;
Emprego;
Índice de pobreza;
Situação legal;
Língua predominante;
Normas culturais predominantes175.
É possível que muitas destas informações venham a tornar-se mais claras e surjam durante
as sessões com a comunidade.
Serviços de saúde disponíveis
Procure identificar os serviços de saúde disponíveis na comunidade ou os serviços a que
o grupo com quem trabalha tem acesso. Apure se a comunidade ou o grupo tem acesso
a preservativos e a tratamento. Procure saber da relação entre os cuidadores de saúde
e a comunidade ou grupo com quem trabalha.
Estas informações são úteis para compreender os problemas actuais com que a comunidade se confronta, mas também para perceber se os serviços e estruturas existentes têm
capacidade para responder às mudanças de comportamentos do grupo após a colaboração
com o seu Projecto.
No Uganda, apesar dos esforços desenvolvidos na prevenção e controlo do VIH/sida,
a população mais rural e marginalizada continua a sentir dificuldades no acesso aos serviços
de saúde176.
Esta informação era de extrema importância para a Associação para o Planeamento Familiar
do Uganda, já que de pouco servia sensibilizar as pessoas se depois não existiam serviços de
apoio que dessem continuidade ao trabalho iniciado. Ao mesmo tempo que desenvolveu
iniciativas de educação para a saúde, a Associação apoiou a criação de serviços de aconselhamento e testagem voluntária capazes de chegar às pessoas. Sendo as igrejas o sítio que
mais gente reunia, a Associação para o Planeamento Familiar do Uganda acordou numa
parceria com os líderes religiosos locais que, em muitos casos disponibilizaram as próprias
instalações da igreja, para a realização de sessões.
maria teresa silva santos
Serviços de apoio social disponíveis
A mesma preocupação deve estar presente na análise dos serviços sociais disponíveis.
É importante perceber as dificuldades com que se defronta a comunidade ou grupo no
acesso a serviços de apoio social. Ao mesmo tempo, é importante perceber se as alterações
induzidas pelo seu Projecto vão provocar um aumento da procura de determinados serviços
que não estão disponíveis. Nesse caso, procure resolver primeiro estes problemas.
Em 2002, o Centro para a Juventude de Temeke em Dar-es-Salam (capital da Tanzânia) iniciou
um projecto com o objectivo de promover o aconselhamento e testagem voluntária177.
As actividades do Centro incluíram o desenvolvimento de serviços de aconselhamento
e testagem voluntária, com pessoal formado para lidar com a comunidade jovem. Incluiu
também actividades de sensibilização dos jovens, políticos locais e mesmo da comunidade.
O diagnóstico levado a cabo pelo Centro para Juventude de Temeke, veio no entanto a revelar que os jovens tinham receio de fazer o teste, argumentando que o acesso ao tratamento
era difícil e que não havia apoio para ajudar as pessoas que vivessem com VIH/sida178.
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tipo de trabalho
Promover a criação de parcerias ou evitar duplicações, é o objectivo deste levantamento.
De facto, se já houver uma instituição a desenvolver o mesmo tipo de trabalho junto de
uma comunidade ou grupo mais vulnerável às IST/VIH/Sida, procure estabelecer uma
relação de parceria, ou reoriente a actuação da sua ONG para zonas ou grupos vulneráveis
sem apoio.
Criar um ambiente facilitador
O papel dos líderes
Professores, líderes políticos, líderes religiosos, líderes de grupo ou da comunidade são
muitas vezes forças que ora bloqueiam, ora são uma fonte de apoio para o sucesso do seu
projecto. Um análise dos actores chave tem como objectivo identificar:
›
›
›
que actores exercem um ascendente considerável sobre a comunidade ou grupo;
que actores detêm o acesso a recursos e podem influenciar as opções da comunidade;
as expectativas e interesse dos actores chave relativamente às implicações do material de I.E.C. que propõe produzir.
79
80
guia de boas práticas
A identificação da importância que o material de I.E.C. representa para os actores chave
e o seu nível de influência sobre o projecto são fundamentais para:
›
›
ajudá-lo a identificar estratégias de negociação que possam potencializar os actores
que têm um papel positivo;
para procurar que os que têm uma ascendência negativa revejam as suas
posições179.
Uma análise dos actores intervenientes num projecto poderá ajudá-lo a compreender as
forças e interesses no seu projecto.
70.1%2"'(#2'&-*#$"2'&H"-*&(#2':"1#'2")':$#I"-*#
O primeiro passo consiste em listar todos os actores, directa ou indirectamente afectados
pelo projecto, de forma desejada, ou de forma não desejada. O passo seguinte passa por
classificá-los em “actores primários” ou “actores secundários”. Os actores primários são
todos aqueles que são directamente, desejada ou indesejadamente afectados por um projecto. Os actores secundários são todos os que são indirectamente, afectados, de forma
desejada ou indesejada pelo projecto180.
De seguida procure identificar os interesses dos actores chave, qual a sua capacidade para
influenciar o projecto e por fim qual a importância destes actores para o seu projecto.
Com o objectivo de clarificar este apontamento, foi concebida uma situação não baseada
em factos reais, fictícia!
Imagine que a sua instituição tinha como principal objectivo aumentar o número de
jovens rapazes e de jovens raparigas informados relativamente à saúde sexual e reprodutiva. Este objectivo seria conseguido através de sessões de educação para a saúde,
em que o activista da sua instituição iria para as entradas das escolas, promover sessões
e actividades de rua.
Neste exemplo, são actores directamente implicados pelo seu projectos os jovens
rapazes e as jovens raparigas, que têm interesse em aumentar os seus conhecimentos
sobre sexualidade. A sua capacidade para influenciar o sucesso ou fracasso do projecto
é relativa, ficando dependente da sua presença às sessões.
O projecto ia contudo contra os interesses dos pais, que pretendiam preservar a inocência dos seus filhos. Contrariamente aos alunos, eles têm bastante capacidade para
maria teresa silva santos
influenciar o projecto, proibindo os seus filhos de se envolverem nas actividades e
fazendo pressão sobre os órgãos competentes para proibir a realização das sessões à entrada
das escolas.
Relativamente aos professores, este projecto em nada satisfaria o seu interesse de monopolizar a educação para a saúde, pela qual eram remunerados extraordinariamente.
No entanto, os professores tinham relativa capacidade para influenciar o progresso do
projecto, já que a sua ascendência sobre os alunos era nula.
Traduzindo esta informação para uma tabela que o ajudaria a organizar estratégias de
negociação e de influência junto dos actores chave da comunidade, teria:
Interesse
Capacidade para
influenciar
o seu projecto
Em que medida
os interesses do actor
são satisfeitos pelo
seu projecto
Actores primários
1
Jovens raparigas
Mais informação
sobre sexualidade
-+
++
2
Jovens Rapazes
Mais informação
sobre sexualidade
-+
++
Actores secundários
3
Pais
Manter os filhos afastados da discussão sobre
sexualidade
++
-
4
Professores
Domínio do papel
de educador
-+
-
81
82
guia de boas práticas
Se traduzir esta informação para um gráfico iria obter a seguinte visualização:
Interesses são satisfeitos
pelo Projecto
Interesses não são satisfeitos
pelo Projecto
2, 1
4
Pouca capacidade de influência
3
Muita capacidade de influência
Árvore de problemas para criação de um ambiente facilitador
Identificados o interesse e a capacidade para influenciar o projecto, por parte dos diferentes actores envolvidos, torna-se necessário procurar soluções para obter o consentimento
dos actores chave que possam bloquear o sucesso da acção. A utilização da árvore dos
problemas é uma possibilidade, colocando:
›
›
nas raízes os actores cujos interesses são opostos ao projecto e os “porquê”;
na cúpula da árvore, as soluções possíveis para obter o seu consentimento181.
Seguindo o nosso exemplo teríamos: (ver esquema da página seguinte).
Um diagnóstico participativo levado a cabo numa aldeia rural, mostrou que havia muita
gente doente a ser apoiada em casa, o que era um fardo pesado, pois o cuidador não
ficava livre para a sua actividade remuneratória fora de casa. No entanto, os mais velhos
recusavam-se a substituir a opção de cuidar em casa, pela opção do hospital. Era necessário negociar com os mais velhos e/ ou encontrar uma solução alternativa. Os gestores
do projecto acabariam por desenvolver um programa de apoio domiciliário gerido pela
própria organização, libertando assim os cuidadores para o exercício de uma actividade
geradora de rendimentos182.
maria teresa silva santos
Convidar os professores a serem
parceiros do projecto dentro
da escola. Analisar com os
professores as actividades de rua
desenvolvidas pelo promotores
do seu projecto.
Realizar actividades de rua
e recreativas para informar e promover
comportamentos
e atitudes seguras junto
dos jovens.
Jovens raparigas e jovens
rapazes querem aumentar
os seus conhecimento sobre
sexualidade.
Professores querem preservar o domínio do papel de
educador.
Realização de sessões
de sensibilização junto dos
pais para a importância
de comportamentos e
atitudes de risco.
Pais querem manter os
filhos afastados das questões
relacionados com sexualidade com receio que com
essa discussão se esteja a
promover o início da vida
sexual dos jovens.
Em outras circunstâncias, no entanto, poderá concluir que a negociação com os actores
chave não é possível. Poderá defrontar-se por exemplo, com professores ou líderes religiosos que considerem que é seu o papel de ensinar sobre sexualidade, e não pretendam abrir
mão desta prerrogativa183.
83
84
guia de boas práticas
Alice Welbourn184 sugere que se procure o consentimento e até mesmo o apoio dos líderes
comunitários, explicando-lhes em primeira mão de que trata o trabalho que pretende
desenvolver. Desta forma obtém o consentimento do líder, para além de um eventual
mobilizador da comunidade.
Relativamente à possibilidade dos líderes comunitários participarem nas discussões com
os grupos focais com quem pretende desenvolver o seu trabalho, não se esqueça que com
essa estratégia corre o risco de ter o debate monopolizado ou condicionado pela presença
de um líder. Isto é, as pessoas poderão experienciar mais dificuldade em expressarem uma
opinião que não seja idêntica, ou que não vá ao encontro do interesse do líder.
Os líderes religiosos
O papel de líderes religiosos de diferentes profissões de fé continua a ter um ascendente
de relevo junto de muitos grupos, comunidades ou países. Em Portugal por exemplo,
estima-se que 89,8% da população seja católica185.
A influência que Igrejas e outras organizações de fé têm desempenhado no que respeita
o VIH/sida, tem sido, no entanto, controversa.
Na África subsariana, por exemplo, as igrejas têm sido pouco efectivas no que respeita
os esforços desenvolvidos na prevenção, estigma e discriminação associadas ao VIH186.
Na verdade, na medida em que as
Igrejas estão presentes e exercem
um forte ascendente sobre atitudes e
comportamentos, existe um imenso
potencial para o papel das Igrejas ao
nível da prevenção, controlo, e apoio
às pessoas que vivem com VIH/sida
ou que são afectadas pelo vírus.
Torna-se por isso necessário envolver
mais os líderes religiosos.
Mamman Musa Punta, é um muçulmano que em 1993, soube que vivia
com VIH, tendo-o assumido publicamente em 2001. A razão porque decidiu
assumir publicamente que vivia com
VIH, ficou a dever-se à constatação do
maria teresa silva santos
enorme estigma e discriminação que observava nas mesquitas e igrejas. Em resposta, começou
a usar a rádio e a televisão para falar sobre VIH/sida. Na rádio ActionAid Nigeria International
realiza um programa de trinta minutos com o principal objectivo de contribuir para a redução
do estigma. Em Julho de 2004, promoveu, em conjunto com a Society for Family Planning
Health e a Reproductive Health Initiative, uma conferência que se prolongou por três dias,
com igual número de cristãos e muçulmanos. No final da Conferência todos os líderes
religiosos assumiram que precisavam de mais informação sobre VIH/sida e treino em
aconselhamento. Entretanto, criou a Hope Initiative, uma organização não governamental
que para além de apoiar a comunidade, desenvolve acções de educação e advocacia em
relação ao VIH/sida.
Diagnóstico de necessidades de informação e de adopção
de atitudes e comportamentos seguros
Um diagnóstico das necessidades de informação de determinado grupo ou comunidade,
tem como objectivo identificar as lacunas de informação que precisam de ser abraçadas
pelo material de I.E.C.
Entretanto, como já foi referido, nem sempre estar informado, significa que a atitude
ou o comportamento agem de acordo. E de facto, é muito mais difícil induzir à alteração
de comportamentos e de atitudes, do que disseminar informação187.
Um diagnóstico de atitudes e comportamentos de risco mais frequentes tem como
objectivo identificar as alterações de comportamentos necessárias e procurar, no grupo ou
comunidade, as razões que levam à perpetuação de comportamentos de risco, ou seja identificar os factores de vulnerabilidade.
Estudos recentes levados a cabo na Índia revelam que existe uma correlação entre violência doméstica e a ocorrência de relações extra-conjugais fora do casamento e que estes
homens apresentam mais sintomas de IST188. Neste caso, o que o diagnóstico permite
constatar é que apesar da mulher ser um grupo mais vulnerável, contribuir para a redução
do risco desta mulher poderá passar por elaborar material de I.E.C. dirigido ao seu parceiro também.
Um diagnóstico de necessidades de informação e de adopção de comportamentos seguros
pode ser levado a cabo através de pelo menos três formas diferentes, que podem ser utilizadas individualmente ou em conjunto, com o objectivo de fazer uma triangulação da
informação recolhida189:
85
86
guia de boas práticas
›
Questionário sobre conhecimento, atitudes e práticas
Como método quantitativo, os questionários são importantes quando é relevante
determinar-se o número de indivíduos que entram em determinada categoria.
Podem ser constituídos por perguntas abertas ou fechadas. No caso das perguntas fechadas, as respostas possíveis são avançadas no questionário, deixando ao
inquirido apenas a possibilidade de marcar a resposta com que mais se identifica.
Nas perguntas abertas, a pergunta é feita e é deixado um espaço em branco para
o inquirido dar a resposta.
Os questionários para além de serem pouco apropriados para audiências com
baixo nível de literacia, são também muito dispendiosos, porque exigem uma
amostra considerável que permita extrapolar percentagens190. Nos questionários
com perguntas fechadas, o problema aumenta, dado que pode não prever respostas que se adequem à realidade do inquirido. Existe também a possibilidade do
responsável pelo inquérito não compreender a pergunta tal como é compreendida pelo inquirido. A não ser que realize uma testagem do questionário a priori,
esta situação pode vir a deixar muitos resultados por serem compreendidos.
›
Entrevistas
As entrevistas ao contrário dos questionários, podem consumir muito tempo191.
À semelhança dos questionários, as entrevistas podem produzir resultados quantitativos, e permitem controlar melhor que as perguntas são entendidas pelo
inquirido da mesma forma que são entendidas pelo responsável pela elaboração
do inquérito. No entanto, dificuldades associadas à importância da representatividade da amostra, o tempo envolvido e as dificuldades levantadas com a análise
das respostas, fazem deste método, um meio pouco eficiente192.
›
Grupos focais
Os grupos focais são essencialmente grupos onde a discussão sobre determinado
tema é facilitada por uma facilitador experiente. Aqui, os resultados são qualitativos, explorando o conhecimento, crenças e atitudes dos integrantes dos grupos
focais. Este constitui o método mais utilizado por profissionais ligados à produção
de material de I.E.C.193 Tem como desvantagem, o elemento inibidor que pode
surgir por se falar perante um grupo e não individualmente. A prática, sugere no
entanto que os medos, crenças e dúvidas são pouco comuns em grupos com características homogéneas, e que o facto de se falar em grupo, pode até ser motivante e
encorajador, em vez do contrário194. É pois importante que se percebam quais os
critérios que determinam um grupo de confiança.
maria teresa silva santos
O grupo deve oscilar entre oito e vinte indivíduos, permitindo que todos possam
ser ouvidos e participar na discussão de forma efectiva195.
Atenção que para além de se constituir um importante ponto de partida, a realização de
um diagnóstico tem também a vantagem de permitir a comparação de conhecimentos,
atitudes e comportamentos do grupo exposto ao material de I.E.C. produzido. Neste caso
constituem-se como baseline surveys196.
87
8.
B.M/%","0%)&,(%0
Uma mensagem pode ser verbal ou não verbal. Quando não verbal, uma mensagem
é construída por desenhos ou ilustrações capazes de comunicar. Para efeitos de simplificação, vamos analisar em separado a mensagem verbal que será discutida nesta secção,
enquanto que a mensagem não verbal será discutida na secção ilustrações.
Qual o ponto de partida para a construção de uma mensagem?
Depois de realizados os diagnósticos das necessidades de informação e dos comportamentos de risco mais frequentes, você saberá quais as lacunas ao nível de informação197
e quais os comportamentos que precisam de ser substituídos por comportamentos mais
seguros. A construção da mensagem deve pois ser a resposta capaz de preencher as lacunas
verificadas ao nível de informação e/ou induzir a substituição de comportamentos de
risco, por comportamentos mais seguros. Veja o seguinte exemplo:
No âmbito do projecto CRIAS, implementado pela Cidadãos do Mundo entre Março
e Dezembro de 2007, o principal objectivo
da equipa consistiu na produção de material de I.E.C. adequado e eficaz junto dos
grupos mais vulneráveis da comunidade
imigrante com origem nos PALOP, residente em Portugal. O grupo focal de jovens
raparigas no Vale da Amoreira, foi um
dos grupos com quem se trabalhou para
guia de boas práticas
Necessidades de
Informação
a produção de material eficaz e adequado para jovens raparigas com origem nos PALOP,
residentes em Portugal. O processo teve início com a realização de um diagnóstico de
necessidades de informação seguido de um diagnóstico de comportamentos de risco mais
frequentes. Os resultados destes diagnósticos determinariam que mensagens seriam necessárias construir198.
Comportamentos de
risco mais frequentes
90
Via de Transmissão/
Comportamento
Mensagem
O grupo acreditava que o VIH/Sida se
transmitia através de:
› espirro;
› partilha de talheres.
“Espirra, constipa
que a Sida não alinha!”
“Talheres e saliva,
não passa a sida!”
“Garfada a garfada,
colherada a colherada,
não transmite VIH/ sida!”
Sexo sem preservativo
Razões:
› confiança no parceiro;
› não saber dizer “Não”;
› acreditar que se tem mais prazer
ter relações sexuais sem preservativo
do que com preservativo.
“Ama e confia,
sem preservativo não enfia!”
“Sexo é bom,
prazer é tipo bombom.
Usa preservativo,
para seres sempre activo!”
Diferença entre conteúdos e mensagem
Uma mensagem compreende uma frase ou conjunto de frases, capazes de resumir a informação que quer passar, de uma forma que seja facilmente compreendida pelos beneficiários
para quem o material é destinado199. Uma boa mensagem é normalmente curta, directa ao
assunto, objectiva e relevante200.
A mensagem surge pois como a frase essencial, facilmente retida pela memória. É o que
fica no ouvido. E é neste ponto que difere dos conteúdos, que podem ser mais extensos,
dependendo do meio que escolheu para passar a mensagem. Por exemplo, se optar pela
produção de um peça de teatro terá necessariamente que desenvolver um argumento que
é pela sua própria natureza mais ou menos extenso. No entanto, este argumento terá de
carregar de forma explícita a mensagem que o grupo terá construído em resposta aos diagnósticos realizados. É o que na língua inglesa se chama to be on message201.
maria teresa silva santos
Figura 5 Anúncio de utilidade pública “Kunan Kumar” — Staying Alive
Os excertos do vídeo aqui apresentado foram produzidos pela MTV Índia para a campanha “Staying Alive”202. O anúncio de utilidade pública de sessenta segundos desenvolve-se
a partir da história de vida de uma pessoa que gosta de correr riscos na vida, mas que
no amor não corre riscos e usa preservativo. O anúncio fala-nos de um homem que em
cada queda aprende uma lição e mesmo se “os ossos se partem, os mesmo ossos podem
ser consertados”. A partir do segundo quarenta todos estes argumentos são associados
à questão do uso do preservativo. Em conclusão, o anúncio desenvolve-se ao longo de
uma curta narrativa que não começa logo com a questão do uso do preservativo, mas que
tem essa questão em mente desde os primeiros segundos, ao comparar o estilo de vida
de um tomador de riscos, com a sua posição no que ao sexo seguro diz respeito.
91
92
guia de boas práticas
A importância de uma mensagem principal
A mensagem é pois o garante de que os conteúdos não se desviam do seu objectivo principal: seja
responder às necessidades de informação ou contribuir para influenciar atitudes e comportamentos
de risco por atitudes e comportamentos seguros.
Isto será mais fácil se tiver em mente a produção
da mensagem principal. Esta mensagem principal
deve ser explícita, e não competir com informações
de menor relevância, passíveis de desviar a atenção
do objectivo principal para que foi criada203.
maria teresa silva santos
No filme de trinta e quatro segundos que foi lançado no Brasil no âmbito do Dia Mundial
de Luta contra a SIDA, em 2007204, são claros os apelos à não discriminação dos homens
que fazem sexo com homens, assim como ao maior envolvimento dos pais na prevenção
e controlo do VIH/sida. O enfoque principal da mensagem, todavia, está centrado no
uso do preservativo que deve ser uma iniciativa e uma responsabilidade da própria pessoa
(ver imagens da página anterior).
KISS — Keep It Short and Simple
Como já foi referido uma boa mensagem de I.E.C. é em princípio curta e simples, e fácil
de memorizar.
“Sexo sem grilo, só com camisinha!” é um exemplo de uma
mensagem simples e curta. Esta foi uma campanha lançada no
Carnaval pelo Conselho Empresarial Nacional de Prevenção ao
HIV/AIDS, em 2003205.
Objectividade
A mensagem não deve deixar espaço para dúvidas, ou contribuirá para que o receptor
da mensagem seja também ele deixado em incerteza. É importante que a mensagem seja
clara e directa ao assunto a abordar, reduzindo-se o risco de dúvidas, interpretações várias
e até mesmo erróneas206.
A mensagem apresentada no poster, é clara: “Sem?
(e o indivíduo da imagem mostra um preservativo) Não contem comigo!” A mensagem não
deixa margem para dúvidas: sem preservativo,
não há relações sexuais. O poster distribuído
na Suíça, foi uma produção conjunta da AIDS-HIlfe e Bundesamt für Gesundheitwesen207.
93
94
guia de boas práticas
Use um tipo e tamanho de letra legível
Este aspecto diz respeito ao texto e é particularmente importante no caso da panfletos,
desdobráveis ou cartazes. Procure escolher um tipo de letra de fácil leitura e que seja claro.
Certifique-se também que o texto tem um tamanho suficiente para ser lido208. Tenha em
mente que se escrever um texto usando apenas maiúsculas, ele é mais difícil de ler209.
O cartaz aqui apresentado apresenta a seguinte mensagem : “Podemos escolher com quem
ter sexo. Podemos protegermo-nos usando preservativo”. O cartaz foi colocado em espaços
públicos, e assegura a comunicação através de um tamanho e tipo de letras legíveis. O material de prevenção foi produzido no âmbito do Projecto “Actividades de apoio para prevenir
e controlar o VIH/sida na Argentina”210.
Procure limitar a quantidade de informação por material211
Tendo em conta o último ponto, é fácil concluir que, um material de I.E.C. para ser
eficaz, deve procurar limitar a quantidade de informação por material. Se não o fizer,
maria teresa silva santos
corre o risco dos beneficiários do material o acharem muito maçador, e de difícil leitura,
exigindo muita concentração, e difícil de ser memorizado212.
O panfleto apresentado foi distribuído pelo Ministério da Saúde do Brasil, no âmbito da
campanha lançada no dia Mundial de Luta contra a Sida em 2007: “Sua atitude tem muita
força na luta contra a SIDA”213. A quantidade de texto, como se pode verificar, é a menor
possível e a que existe é apresentada de forma bastante simples.
B'"0=#1=%;"0*#'("',G)$&2':J>1%-&2
Artistas, actores e actrizes jogadores de futebol, líderes comunitários e líderes religiosos
podem exercer uma influência considerável nas atitudes e comportamentos. De uma forma
geral quando uma pessoa com quem nos sentimos motivados para “imitar”, toma determinado comportamento, é possível que sinta uma forma de pressão social para agir de igual
modo214. Esta é uma perspectiva que vai aliás ao encontro da Teoria da Acção Racional
desenvolvida por Ajzen e a sua referência à importância de grupos ou pessoas de referências
(ver pp. 35-37)215.
95
96
guia de boas práticas
O poster apresentado foi criado em 2004, por uma ONG local do Camboja216, e contou
com a colaboração de uma atleta famosa no país, para promover a redução do estigma em
relação às pessoas que vivem com VIH/sida. No poster é possível ler-se “Qualquer pessoa com VIH pode nadar comigo… Se quiseres saber mais sobre VIH e sida, por favor,
liga para o 012 999 009/12 999 009” Inthanou, a linha de telefone que significa arco-íris
em português. A linha conta com nove conselheiros que disponibilizam informação
sobre VIH, saúde reprodutiva e sempre que necessário, referenciam para serviços de aconselhamento, centros de testagem, e outros serviços de saúde, como acesso a clínicas para ISTs.
Prestam também informações sobre tratamento, apoio e redes de pessoas que vivem com
VIH para apoio psicológico.
O envolvimento de pessoas com características semelhantes
&#2'>"0",-%.$%#2'(#'2")';&*"$%&1
Alguns autores consideram no entanto que o envolvimento de pessoas com características
mais próximas das características dos beneficiários do seu material, será mais eficaz na
mudança de comportamento. É possível que o beneficiário do material sinta uma maior
identificação e que essa identificação o faça supor ser capaz. Bandura (como McGuire217)
refere aliás que quanto mais próximo o seu interlocutor estiver das condições do beneficiário, mais persuasiva será a comunicação (ver pp. 46-47). Comum ao uso do envolvimento
de figuras públicas ou ao envolvimento de pessoas com características semelhantes às dos
beneficiários do seu material, está o facto de ambos os modelos fornecerem pistas acerca de
como pensar sobre um problema e como contorná-lo218.
maria teresa silva santos
Este é um cartaz produzido pela UNESCO com o
objectivo de combater o estigma dirigido às pessoas que
vivem com VIH/sida219. A mensagem traduz o contexto
de organização familiar seguido na Índia, em que as
mulheres vão viver para casa das mães dos maridos.
Ou seja nora e sogra coabitam. A mensagem desta
sogra pode ser traduzida pelo seguinte: “O que tem de
errado a minha nora viver com VIH? Ainda assim ela
é minha nora!
Na Índia apesar do aumento generalizado de pessoas que vivem com VIH/sida, a infecção continua
a ser vista como o resultado de um comportamento
imoral. É frequente que uma pessoa que viva com
VIH/sida seja muitas vezes rejeitada pela família, pela comunidade e lhe seja recusada
assistência médica.
O cartaz socorre-se de uma mulher comum, com as mesmas características de tantas
mulheres indianas, com o objectivo de promover a identificação e por via da identificação
promover a redução de atitudes e comportamentos estigmatizantes.
A Mensagem é adequada à realidade das pessoas a que se destina
É importante que a mensagem faça referência à circunstância de vida dos beneficiários
a quem se destina. Para isso, a mensagem deve fazer sugerir o contexto social, económico,
de idade, de género e cultural dos destinatários da mensagens. O resultado são mensagens que fazem parte do quotidiano das pessoas, e por isso proporcionam a identificação,
esperando-se com isto que influenciem atitudes e comportamentos220.
Toda a mensagem que utilizar a linguagem, o vocabulário, as expressões, e mesmo a língua materna dos beneficiários a quem se destina, oferece maiores garantias de ser eficaz221.
Por exemplo, de que serve escrever em português se os beneficiários do material não
sabem ler português?* Uma jovem prestará mais atenção a uma mensagem escrita de uma
maneira pouca familiar ou mais familiar para ela, usando palavras e símbolos que domina
e compreende? De que serve escrever “pénis” ou “vagina” em material destinado a meninos
* Esta afirmação no entanto não é contrária ao princípio de, no caso de imigrantes, a mensagem ser escrita na língua materna do
imigrante e na língua do pais de destino, como forma de promover a integração e reduzir a exclusão.
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guia de boas práticas
de rua no Brasil, se estão pouco familiarizados com o vocabulário, e em vez disso utilizam
“pica” ou “xoxota”?222
O conjunto de cartazes preparados pelo Ministério da Saúde do
Brasil223, no âmbito da Campanha
“Sua atitude tem muita força na
luta contra a AIDS” que coincidiu com o Dia Mundial de Luta
contra a SIDA, espelham bem as
preocupações referidas.
As mensagens estão escritas na
linguagem coloquial usada entre
jovens e imbuídas de referências às vivências próprias do jovem brasileiro: “festa”, “axé”,
“barulho”, “forró”, “rock” são alguns exemplos.
A carga familiar da linguagem utilizada é reforçada pelas ilustrações utilizadas: roupa,
maquilhagem expressões corporais, acessórios e outros elementos da imagem. Mas sobre
isso falaremos adiante.
maria teresa silva santos
O receptor da mensagem é esclarecido sobre o seu papel
De nada serve passar uma mensagem, se ao receptor nada cabe fazer. Por isso, é bastante
importante que quando produzir uma mensagem, se certifique que o receptor é esclarecido sobre o seu papel, seja uma atitude ou comportamento224.
Ilhas Tiwi
Austrália
Nas ilhas Tiwi, no norte da Austrália,
a comunidade transgénera e transexual,
mais conhecida por “Sistergirls” responde por cerca de 4% da população
local das ilhas.
O material apresentado foi produzido pela Federação Australiana das
Organizações que desenvolvem trabalho na área do VIH/sida225 e tem como
objectivo promover a auto-estima e
combater o estigma da população em geral, relativamente à comunidade de transgéneros,
ao mesmo tempo que promove o uso do preservativo. O preservativo é apresentado como
a solução para prevenir o VIH e de outras ISTs, através da mensagem: “As Sistergirls dizem:
mantém-te protegida. Os preservativos protegem-nos do VIH e da maior parte das Infecções
Sexualmente Transmissíveis.”
Procure apresentar razões para a solução proposta
Não basta dizer o que fazer. É necessário, que exponha as razões porque é necessário
optar-se por determinada solução. Um indivíduo tem de sentir-se seguro, de que a
solução proposta é a que mostra ser mais adequada e mais eficaz. Desta forma fortalece
99
100
guia de boas práticas
a solução proposta e tem mais garantias de conduzir a uma mudança de atitudes e de
comportamentos226.
know your
HIV status
- get tested
Knowing your HIV status can save your life, and the lives of others!
If you are HIV negative, you can make the choice to stay that way.
If you are HIV positive, you can find ways to stay healthy.
You can go onto anti-retroviral treatment (ART) at the right time.
You can find ways to protect yourself and those around you from infection.
Speak to your health worker about free confidential counselling and HIV
testing for you and your partner.
ENGLISH
Red Ribbon Resource Centre (011) 880 0405
AIDS Helpline 0800 012 322
www.aidsinfo.co.za
Figura 6 Poster para a promoção do teste do VIH — Khomanani Campaign Consortium
Neste material, é avançado um conjunto de razões para fazer o teste do VIH: “Ao saberes
o teu estado viral podes salvar a tua vida e a vida dos outros:
›
›
›
›
Se fores VIH negativo, podes tomar a decisão certa para continuares negativo;
Se o resultado for positivo, podes encontrar maneiras de te manteres saudável;
Podes iniciar o tratamento anti-retroviral na altura certa;
Podes encontrar maneiras de te protegeres a ti e aos outros.
Fala com o teu profissional de saúde sobre aconselhamento e testagem para ti e para o teu
parceiro.”
maria teresa silva santos
O cartaz é um produto da campanha Khomanani desenvolvido pelo Governo da África
do Sul227 que tem como objectivo contribuir para a redução de novos casos de infecção
por VIH/sida, aumentar a adesão ao tratamento e promover o apoio existente para pessoas
que vivam com VIH/sida.
Percepção do risco
É importante não confundir percepção do risco com a ideia de fatalidade ou mesmo
morte, como são frequentemente associadas.
Sendo verdade que muitas pessoas não têm atitudes e comportamentos seguros porque não se percepcionam a si próprias em
situação de risco (ver Modelo de Crenças em Saúde), então significa que, o que é necessário é promover a percepção do risco
por parte das pessoas.
A associação da ideia de risco à ideia de morte, pode ter efeito o
perverso de contribuir para o adiamento da testagem, por medo,
por exemplo, ao mesmo tempo que contribui para o aumento da
ideia de estigma. Este tem sido o caso mostrado pela experiência de alguns países, como
veremos adiante.
No cartaz produzido pelo Serviço Nacional de
Saúde do Reino Unido228, é desenvolvida a ideia
de risco, associada ao facto de muitas das ISTs não
apresentarem sintomas visíveis, pelo que a partir
do momento que não se use preservativo, está-se
em risco de contrair uma IST. A mensagem diz
“Eu vou transmitir-te uma”. Nesta mensagem a
ideia de risco foi explorada, sem que fosse necessário recorrer à ideia de morte ou de fatalidade.
Figura 7 Cartaz para a promoção do uso do preservativo
— Department of Health
101
102
guia de boas práticas
Até que ponto o apelo ao medo em campanhas para promoção
("'&*%*)("2'"'-#;:#$*&;"0*#2'2"G)$#2'K'",-&6@
O apelo ao medo em campanhas de promoção de comportamentos seguros divide investigadores e profissionais.
Teoria de condução do medo
Para um conjunto de investigadores, o medo quando usado de modo moderado ou reduzido em mensagens de saúde, é mais eficaz na promoção de comportamentos seguros do
que o medo elevado.
Segundo esta teoria os indivíduos experimentam alguma forma de ansiedade, tensão ou
medo quando confrontados com informação sobre saúde que os coloque em possível
situação de perigo229. A ansiedade, tensão ou medo experienciados pelo indivíduo podem
surtir dois tipos de reacção:
›
›
seguir as recomendações sugeridas pela mensagem para reduzir o perigo;
evitar confrontar-se com mensagens que lhe provoquem ansiedade, reduzir a possibilidade de determinada situação ocorrer consigo ou ainda descredibilizar a fonte
da mensagem230.
Para os defensores deste modelo, um indivíduo é tanto mais susceptível de se deixar
persuadir pelas recomendações sugeridas pela mensagem, quando está ao seu alcance
a possibilidade de reduzir o perigo. Para estes autores, quanto maior o nível de medo
transmitido pelas mensagens, e quanto maior a sensação de redução do medo devido
às medidas oferecidas passíveis de proteger o indivíduo, mais eficaz será a mensagem.
Por exemplo, se a mensagem referir a possibilidade de morte, e se a mensagem assegurar
que o indivíduo não morrerá, desde que siga determinado comportamento, a possibilidade do indivíduo passar a seguir o comportamento recomendado é bastante elevada231.
No entanto, quando o medo que uma mensagem gera é tão intenso que as acções recomendadas pela mensagem não são suficientes para gerar a confiança entre os indivíduos,
então a resposta passará por evitar confrontar-se com a mensagem, reduzir a possibilidade de determinada ocorrência acontecer consigo, entre outras defesas possíveis232.
Por exemplo, se a mensagem referir que determinado problema de saúde pode conduzi-lo à morte, mas se lhe propuser uma solução que apenas reduza a probabilidade de vir
a morrer, a sua reacção pode passar por sempre que vir determinada mensagem, “desviar
o olhar”. Sente que não vale a pena seguir as recomendações da mensagem, porque a
solução proposta não elimina por completo a possibilidade de vir a morrer.
maria teresa silva santos
Em conclusão, reduzidos ou moderados níveis de apelo ao medo são vistos como passíveis
de serem mais eficazes na mudança de comportamento, do que elevados níveis de apelo
ao medo233.
O Modelo da resposta paralela
Outra corrente defende que o apelo ao medo induz à mudança de comportamento.
É o caso do “modelo da resposta paralela” proposto por Leventhal.
Segundo este modelo, o apelo ao medo gera duas respostas distintas:
›
›
o controlo do perigo;
o controlo do medo.
Estas duas respostas ocorrem em paralelo e em simultâneo234, ou seja quando exposto ao
apelo do medo, o indivíduo reage para controlar o perigo e reage para controlar o medo.
O controlo do perigo diz respeito às acções ou estratégias desenvolvidas pelo indivíduo
para controlar o perigo. Esta é uma resposta cognitiva ao medo que a pessoa experiencia.
A partir desta resposta o indivíduo desenvolve acções capazes de o proteger do perigo235.
Quando a resposta passa pelo controlo do medo, o indivíduo experiencia formas de o
controlar (como por exemplo a negação). Neste caso estamos perante uma reposta emotiva ao medo.
Em resumo, para o autor deste modelo, o apelo ao medo gera comportamentos protectores por parte do indivíduo. O medo que provoca é mais importante pela resposta
cognitiva que gera, ou seja, a estratégia que o indivíduo gera para controlar o perigo,
do que pela ansiedade que provoca.
Teoria da motivação para a protecção
Para R. Rogers, como para Leventhal, o medo é mais importante para ajudar o indivíduo
a compreender a dimensão do perigo, do que pela ansiedade que provoca236.
A avaliação que o indivíduo faz de determinada situação vai depender de três factores:
›
›
›
a percepção da gravidade do perigo ou ameaça;
a probabilidade de determinada situação de perigo ocorrer com o indivíduo, caso
não sejam tomadas medidas preventivas;
a eficácia da resposta para prevenir a ocorrência da situação de perigo237.
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guia de boas práticas
De acordo com este modelo, um indivíduo seguirá as recomendações de uma mensagem,
quanto mais convencido estiver da gravidade da ameaça e da sua susceptibilidade à ameaça
(o risco que corre de vir a passar pela situação de perigo).
É possível que, enquanto estiver a analisar este modelo, se recorde do Modelo de Crenças
em Saúde (apresentado nas pp. 37-40). R. Rogers reconhece que as variáveis apresentadas na Teoria da Motivação para a Protecção são as mesmas que as variáveis identificadas
pelo Modelo de Crenças em Saúde238. No entanto, adianta que a mais valia desta teoria
assenta no facto das variáveis identificadas terem sido manipuladas experimentalmente,
com o objectivo de estudar os resultados gerados. O que os resultados permitiram verificar,
é que da leitura das variáveis, o indivíduo retira o seu nível de motivação para se proteger,
que por sua vez determinará o nível de mudança do seu comportamento239.
Outros argumentos a favor do apelo ao medo
Os defensores do uso do medo em campanhas de prevenção do VIH/sida, argumentam
que o uso do medo é efectivo, porque é capaz de prender a atenção do espectador, beneficiando a memorização da mensagem.
Numa pesquisa conduzida entre jovens universitários foram utilizados cartazes que faziam
uso de diferentes estratégias. O primeiro cartaz usou o factor “choque”* para passar a mensagem “Don’t be a F--idiot”, enquanto que o segundo o factor medo, “If you get the AIDS
virus now, you and your driver’s license could expire at the same time”** e o terceiro informava, “Acquired Immunodeficiency Syndrome”***240. Nos três cartazes foi acrescentada
a frase “usa preservativos”.
A primeira fase do estudo revelou que o cartaz que utilizou o factor choque, revelou maiores
índices de atenção, recordação e reconhecimento quando comparado com os restantes posters.
Na segunda fase da pesquisa, os alunos que tinham estado envolvidos na primeira fase,
foram confrontados com um conjunto de material de prevenção, não só relacionado com
VIH/sida mas com outras situações. A ideia deste estudo consistiu em perceber que grupo
de indivíduos (se os que tinham nomeado o factor choque, se os que tinha nomeado o factor medo, ou se os que tinham nomeado o factor informação) se sentiam mais impelidos
a recolher informação sobre VIH/sida.
* Para o autor a palavra choque em publicidade implica uma associação entre o factor surpresa e o factor violação da norma social
instituída. A título de exemplo refere o caso de uma campanha da marca F.C.U.K. que numa anúncio publicitário desafia “F.C.U.K.
all night long”, numa atitude desafiadora da norma social que coloca o sexo num espaço privado.
** “Se tiveres o vírus da sida, tu e a tua carta de condução têm o mesmo prazo de validade”.
*** Síndroma da Imunodeficiência Adquirida.
maria teresa silva santos
Os alunos que mais material relacionado com VIH/sida recolheram foram aqueles que na
primeira fase da pesquisa tinham nomeado o poster com o uso do medo, na sua atenção,
recordação e reconhecimento241. A pesquisa conclui por isso que o medo induz à alteração
de comportamento, mais do que o choque ou a informação.
Embora esta pesquisa venha demonstrar que o uso do medo mostre ser mais eficaz na
mudança de comportamento do que o uso do factor choque, o estudo oferece sérias
limitações, como por exemplo o facto do comportamento que é medido estar relacionado
com a procura de informações (a quantidade de material relacionado com VIH/sida que
é recolhida pelos estudantes) e não com o uso consistente do preservativo. Como estes
estudo, muitos outros estudos que defendem que o apelo ao medo é eficaz na promoção
do uso consistente do preservativo, apresentam um conjunto de fragilidades que iremos
analisar com maior cuidado de seguida.
Crítica às teorias apresentadas
Muitas das investigações que conduziram aos resultados avançados pelas teorias apresentadas
foram conduzidas em laboratório, e por isso falham ao excluir um conjunto de variáveis que
influenciam o processo de decisão de um indivíduo242. Assim, excluem por exemplo de que
forma as relações do indivíduo influenciam as suas decisões e de que forma constrangimentos
económicos, culturais, sociais e de género impactam sobre o indivíduo.
Por isso mesmo, entendem o indivíduo como tomando todas as suas decisões com base na
informação recebida. Ou seja, todas as decisões são função da informação, que lhe chega,
o que não acontece na vida real.
Por outro lado, mesmo que se considere que o apelo ao medo possa ser eficaz na promoção
do uso consistente do preservativo, este ganho não pode ser dissociado de outras eventuais
perdas, como por exemplo, o aumento da estigmatização em relação às pessoas que vivem
com VIH/sida ou os efeitos sobre a testagem, com o número de pessoas que procuram
fazer o teste do VIH/sida a diminuir.
Efeitos adversos em resultado do apelo ao medo
Para um conjunto de autores, o apelo ao medo pode gerar respostas contrárias ao esperado
pelos criadores das mensagens. Estas podem incluir243:
›
›
›
evitar visualizar a mensagem e desligar;
evitar processar a componente de ameaça da mensagem;
o indivíduo não se revê na mensagem e considera que “isso” acontece apenas
aos outros;
105
106
guia de boas práticas
›
o indivíduo procura identificar argumentos que contradigam a veracidade da
mensagem.
Para alguns autores estas respostas, são importantes, na medida em que elas contribuem
para diminuir a percepção do risco que é feita pelo indivíduo, quando na verdade não
contribui para diminuir a sua situação real de risco.
O indivíduo situado em relações de poder diferenciadas
Um estudo levado acabo nos Estados Unidos no Estado da Geórgia mostrou que mulheres a
viverem em situação de pobreza, e em especial mulheres de minorias urbanas, estavam em situação
de maior risco de contraírem VIH/sida244.
Entre os factores que mais contribuíam para colocar estas mulheres em situação de risco acrescido,
encontravam-se as relações sexuais mantidas com homens com um historial de comportamentos
de risco. As mulheres sem poder que estavam nestas relações eram submetidas a múltiplas formas de abuso, incluindo relações sexuais forçadas. O estudo revelava também que havia maior
probabilidade destas mulheres terem histórias de consumo de marijuana e álcool. As mulheres
que eram forçadas a manter relações sexuais mostravam também maiores probabilidades de
maria teresa silva santos
terem sido vítimas de abuso sexual por parte do seu parceiro e acreditavam que pedir-lhes para
usar preservativo, podia levar a uma situação potencialmente violenta245.
Muitas mulheres que estão em situação de risco de serem infectadas com VIH e que solicitam
o uso do preservativo esbarram com a resistência e até mesmo violência dos seus companheiros246. O diferencial de poder, determina que, numa variedade de situações, alguns indivíduos detenham poder sobre outros, e por isso a negociação do uso do preservativo não se faz
em relações de igualdade, mas de desigualdade. Quais os resultados para esta mulher depois
de confrontada com uma mensagem que faz apelo ao medo? Quais as consequências para
todos os indivíduos que estão em relações sexuais de exercício desigual do poder?
Limitações do contexto onde se situa o indivíduo
Um estudo de 1996, realizado nos Estados Unidos, dava conta que se podia adivinhar
a elevada percentagem de jovens que tinham iniciado a actividade sexual, pelo número de
ISTs diagnosticadas e gravidezes não planeadas, neste grupo etário247. O mesmo estudo
dava conta das inúmeras barreiras enfrentadas pelos jovens no que toca o acesso e uso consistente do preservativo: confidencialidade, custo, o acesso, vergonha, objecção por parte
do parceiro. As jovens raparigas, em particular, revelaram experienciar mais resistência
quando pediam ajuda numa loja para encontrar os preservativos, do que os rapazes.
Um estudo conduzido na República Democrática do Congo em Kinshasa e Bukavu,
entre Abril e Maio de 2004, mostrou que barreiras socioculturais e a rígida obediência
ao Vaticano, estava a impedir muitos jovens de receberem informações correctas no que
dizia respeito à educação sexual248. Mostrava também que muitos educadores de pares,
técnicos de projectos, bloqueavam o acesso destes jovens a preservativos.
E o que dizer do casos em que crianças órfãos se prostituem na rua como estratégia de
sobrevivência? (ver p. 32)
Quais os efeitos para estas pessoas de uma campanha que se socorra do apelo ao medo?
Será que a falta de acesso a preservativos vai conduzi-los para uma estratégia de abstinência?
O uso do medo em campanhas de prevenção, implicações para as pessoas que vivem
com VIH
Na Austrália, o aumento da incidência do VIH/sida entre homossexuais conduziu à produção
de campanhas que usaram o medo para promover a prevenção. Para compreender o impacto
deste tipo de campanhas foi realizada uma pesquisa junto de quatro grupos focais, diferenciados
por idade e seropositividade249. Nos grupos foram analisados cinco posters, três dos quais utilizaram o efeitos secundários do tratamento para desencadear o medo, e dois usaram a morte para o
mesmo fim.
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guia de boas práticas
“Tomar tratamento para o VIH pode ser um problema bem gordo. Evitar o VIH é simples: Usa
preservativo. Não há nada de positivo em ter VIH.*”
“Os tratamentos para o VIH fizeram-me perder
a face — literalmente. Evitar o VIH é simples:
Usa preservativo. Não há nada de positivo em ter
VIH.**”
“Gerir o tratamento para o VIH pode ser um problema bem “merdoso”. Evitar o VIH é simples:
Usa preservativo. Não há nada de positivo em ter
VIH.***”
Um conjunto de temas saiu da discussão com os grupos focais, como a estigmatização das
pessoas que vivem com VIH/sida, a vergonha, e o cepticismo relativamente ao valor do
tratamento. Daqui resultou claro que o uso do medo associado aos efeitos secundários dos
tratamentos anti-retrovirais tem resultados pobres a vários níveis250.
* “Taking HIV treatments can be one big fat problem. Avoiding HIV is simple-Use condoms. There’s nothing positive about HIV.”
** “Treatments for HIV made me loose face — literally. Avoiding HIV is simple — Use condoms. There’s nothing positive about
HIV.”
*** “Managing HIV treatments can be really shitty. Avoiding HIV is simple — Use condoms. There’s nothing positive about HIV.”
maria teresa silva santos
A experiência do Uganda, por outro lado, chama-nos a atenção para as implicações de uma
mensagem pela negativa, através do medo. “Beware of AIDS. AIIDS kills” traduz o mote
de muitas das campanhas levadas a cabo, no início das campanhas de prevenção desenvolvidas no país. As implicações foram o aumento do estigma relativamente às pessoas que
viviam com VIH/AIDS. A constatação deste facto viria a determinar uma abordagem pela
positiva, capaz de promover a prevenção, o controlo e a redução do estigma251.
O medo e o impacto na promoção do teste do VIH
Estima-se que na União Europeia, 30% das infecções possam estar subdiagnosticadas,
o que levou Coordenadores Nacionais dos Programas do VIH/sida a identificar a promoção da testagem como uma medida prioritária252. Uma revisão da literatura existente
sobre a realização do teste do VIH/sida foi realizada com o objectivo de identificar que
factores promovem o teste e que factores contribuem para que o indivíduo não faça
o teste253. Foram seleccionados artigos publicados apenas depois de 1996 (data em que
foi introduzida a medicação anti-retroviral) redigidos em inglês, e com dados recolhidos
nos chamados países ocidentais. Foram analisados cinquenta estudos. Da revisão destes
estudos concluiu-se que:
›
›
os indivíduos não sentem necessidade de realizar o teste porque não se percepcionam em situação de risco;
os indivíduos não realizam o teste porque têm medo das consequências de estarem
infectados. Segundo o mesmo estudo, as consequências que mais receiam, estão relacionados com o custo social da doença e nomeadamente a estigmatização. Esta segunda
razão, foi apontada como tendo menos peso do que a primeira razão254.
Daqui se retiram duas importantes notas. Primeiro, se o medo é já apontado como uma
razão para não realizar o teste, o uso do medo em campanhas de prevenção pode vir
a agravar o medo que impede a realização do teste. Esta é uma assumpção que carece de
verificação. Segundo, os estudos apontam para um aumento da estigmatização das pessoas
que vivem com VIH quando campanhas de prevenção recorrem ao medo. Se o medo de
fazer o teste do VIH está relacionado com o custo social da doença, nomeadamente com
a estigmatização, é de supor que numa ambiente de maior estigmatização, mais medo
os indivíduos terão de realizar o teste.
Uma abordagem pela positiva
Mesmo quando alguns autores consideram que o apelo ao medo pode ser eficaz, consideram também que uma abordagem pela positiva tem produzido melhores resultados255. Uma
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guia de boas práticas
abordagem pela positiva é aquela que é capaz de desenvolver competências que ajudem
o indivíduo a negociar o uso do preservativo, seja na colocação do uso do preservativo,
seja “premiando” um comportamento que já é seguro. Uma mensagem pela positiva atinge
três objectivos: a prevenção, o controlo e a redução do estigma.
Você pode saber como se proteger, mas se o medo estiver instalado dentro de si, você irá
fazer o teste? Uma mensagem pela positiva, é capaz de promover a prevenção, ao mesmo
tempo que não o inibe de fazer o teste.
Isto não significa que uma mensagem dirigida para a prevenção tenha de incluir uma
mensagem para redução do estigma. Significa sim, que uma mensagem que promova
a prevenção deve seguir uma abordagem pela positiva, sob pena de trazer implicações
negativas, nomeadamente o aumento do estigma.
A mensagem pode ser traduzida da seguinte
forma: “O amor não protege do VIH. Faz o
teste. Claro que tu o amas e de certeza que
ele te ama a ti. É por essa razão que te
deves proteger a ti e a ele. Fala sobre o VIH.
Usa preservativos”.
Neste produto a Planned Parenthood256,
optou por colocar no mesmo material um
apelo ao uso de preservativo e ao mesmo
tempo, um apelo à realização do teste,
juntando amor e o uso do preservativo.
Por outro lado, usa o tema do amor, para promover o uso do
preservativo e do teste. Ou seja, o uso do preservativo e a realização do teste aparecem como uma expressão e um acto de
amor, e de protecção por si próprio e daquele que se ama. Neste
sentido introduz um novo argumento na negociação do uso do
preservativo, para além do tema da confiança ou da ausência
dela, que a investigação tem mostrado trazer piores resultados257.
No material da direita, da autoria do Programa Municipal de
DST/Aids de Cubatão258, no Brasil, a mensagem para o uso do
preservativo, não é feita através do receio, do medo, do terror,
mas sim, através de uma ideia de tranquilidade que o uso de
preservativo pode proporcionar.
maria teresa silva santos
O material ao contrário de promover a ansiedade, transmite a ideia de segurança que o uso
do preservativo traz.
Ser capaz de atrair a atenção
Com a quantidade diária de informação com que todos somos confrontados diariamente,
é preciso que uma mensagem seja muito atractiva para pararmos e reflectirmos sobre ela.
Um desafio para uma boa mensagem é por isso que seja bastante apelativa, capaz de prender
a sua atenção259. Isto pode ser conseguido através do texto, da ilustração ou do suporte.
A mensagem da esquerda por exemplo,
chama a atenção pelo trocadilho e pelo
facto desse trocadilho ter sentido de
humor e ser atrevido ao mesmo tempo.
Este material é da autoria da empresa
promocional Guerra Chapéus260.
Já a mensagem da direita, uma proposta da marca de preservativos brasileiros Jontex, chama
a atenção pelo tom utilizado, que se evidencia particularmente na palavra “porra” e pelo trocadilho com a palavra porra, que no Brasil é usada coloquialmente para designar “esperma”.
Aqui, é evidente o tom provocador capaz de atrair a atenção.
111
9.
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Vantagens no uso da ilustração
A ilustração de um texto pode fazer-se através de desenhos, banda desenhada, vídeo,
ou fotografia. A ilustração tem a grande vantagem de clarificar, reforçar ou até mesmo
de complementar o texto261. A ilustração é um excelente apoio para a memorização da
mensagem e para a sua compreensão262. Para comunidades com baixos níveis de literacia,
as vantagens no uso da ilustração aumentam consideravelmente. Neste caso, as exigências
ao nível da produção de ilustrações são acrescidas, pois nelas se deve depositar toda a eficácia da comunicação. Eis alguns exemplos da função que a ilustração pode desempenhar:
›
a ilustração clarifica o sentido da mensagem;
Nestes dois cartazes desenvolvidos pelo Ministério da Saúde do Chile, o texto escrito é
clarificado com o apoio da imagem263. Ou seja, o preservativo deve ser usado sempre,
e não se devem correr
riscos, o que, no caso
da primeira mensagem
é reforçado pelo atravessamento da rua e no caso
da segunda mensagem
pelo uso do capacete.
114
guia de boas práticas
›
a ilustração reforça a mensagem escrita;
Este material foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde do Brasil, durante o Carnaval
de 2004264. Socorrendo-se de uma situação extrema, um peixe dentro do preservativo,
a mensagem tinha como objectivo reforçar a ideia de que o VIH/sida não é
transmitido quando se usa o preservativo.
O texto, é reforçado com uma ilustração
que através do humor reforça a mensagem
escrita, ou seja preservativo é tão resistente que mesmo servindo de aquário,
não rebenta.
›
a ilustração complementa o texto:
O texto do lado direito é um poster da autoria do AIDS Institute, NYS Health Department265.
Neste exemplo, é visível a complementaridade entre imagens e o texto: “A sida não se transmite
por nenhuma destas situações”.
Se o texto aparecesse sozinho,
ou se as imagens aparecessem
sem texto, a mensagem era ininteligível. Juntos tornam possível
a comunicação.
Figura 8 Cartaz para esclarecimento das formas de transmissão do VIH-NYS Department of Health AIDS Institute
maria teresa silva santos
›
a ilustração substitui o texto:
A importância de uma ilustração é tanto maior quanto menor é o grau de literacia dos
beneficiários do material de I.E.C. Caso os beneficiários não dominem uma língua escrita,
o uso exclusivo de ilustrações pode ser uma alternativa viável. Neste caso, a capacidade
de comunicar através de desenhos é ainda mais exigente,
mas possível! Em 2004, o Ministério da Saúde do
Brasil e o Instituto do Memorial das Artes Gráficas
organizaram o primeiro Festival Internacional
de Humor para prevenção e controlo das DST
e AIDS. A ilustração da direita, da autoria do
cartoonista Arraya, foi um dos trabalhos seleccionados na categoria prevenção266. A sua leitura,
como se pode verificar, dispensa palavras.
Existem um conjunto de dicas que podem contribuir para uma boa ilustração.
Não sobrecarregue o seu material com imagens267.
Esta recomendação é particularmente válida para os materiais que se destinam a circular
em comunidades com baixos níveis de literacia. Ao certificar-se que as ilustrações não são
sobrecarregadas com imagens, está também a garantir que o material é mais fácil de ser
lido, compreendido e seguido268. Se o olhar do beneficiário for directo aos objectos que
são cruciais para compreender a mensagem,
significa que não se perde em pormenores
capazes de o desviar do objectivo do seu
material
Este é um trabalho do artista plástico norte-americano, Keith Harring, datado de 1988.
O autor mostra que a masturbação é sexo
seguro269. A eficácia da mensagem é conseguida através de um desenho simples, que não
se perde em adornos excessivos, garantindo
que o receptor se focalize na mensagem que
é passada.
Figura 9 Material sobre sexo seguro — Keith Haring artwork Ó Estate of Keith Haring
115
116
guia de boas práticas
Apresente as ilustrações na sequência mais lógica
Se o material incluir uma sequência de mensagens ou várias etapas, certifique-se que
a ordem é feita da maneira que é mais lógica para a sua audiência270. Um caso extremo
por exemplo, pode ser ilustrado pelo facto da cultura ocidental ler da direita para a
esquerda, mas já a cultura chinesa ler de cima para baixo, da direita para a esquerda,
e a cultura árabe da direita para a esquerda. Estas notas são particularmente importantes
se estiver a produzir material para comunidades imigrantes ou se estiver envolvido num
projecto que tenha como objectivo a produção de material para uma cultura diferente
da sua.
O material271 descreve as várias etapas para colocar o preservativo feminino, através de
uma leitura que se faz da direita para a esquerda, porque este é o modo mais disseminado
dentro da cultura ocidental, mas como o leria um árabe ou um chinês?
Use imagens familiares
O uso de imagens familiares vai permitir uma identificação entre a mensagem e os seus
beneficiários. Isto não significa apenas que tenham de ser culturalmente apropriadas,
o que é fundamental, mas adequadas também às referências de género, idade, e circunstâncias sociais e económicas. A familiaridade das imagens pode ser conseguida através da
roupa, acessórios, edifícios, utensílios, objectos ou actividades que são comuns no grupo
para o qual o seu material é produzido272. A referência a objectos do quotidiano que
integram a realidade em que se movem as pessoas, são bastante mais fáceis de memorizar
do que diagramas, mapas ou gráficos273.
maria teresa silva santos
Este material foi produzido pela ONG Arco-íris274
e integra a campanha da ONG para a promoção do
uso do preservativo junto da comunidade homossexual, bissexual e de transgéneros. A maquilhagem
e expressão facial pretendem suscitar a identificação
entre a pessoa utilizada na campanha com outros
Drags e por essa via, promover o uso do preservativo
entre a comunidade Drag.
O material produzido no âmbito do Serviço
Nacional de saúde do Reino Unido275, pretende
alertar para o risco que se corre sempre que não
se usa preservativo. A imagem reproduz todo
um conjunto de referências vivenciais de um
jovem comum no Reino Unido. Estas referencias são visíveis na roupa usada pela jovem da
imagem: relógio de pulso, o cinto e a roupa,
a postura da jovem e até mesmo pelo fundo de
um vermelho vivo.
Figura 10 Cartaz para a promoção do uso do preservativo — Department of Health
Use imagens simples
O uso de imagens pouco complexas tem como objectivo facilitar a compreensão rápida
da ilustração e da mensagem que lhe é associada. Tem ainda o objectivo de não dispersar
o beneficiário do seu material do que é fundamental na mensagem, evitando distracções
do objectivo principal276. Se em vez de uma ilustração simples, tentar comunicar a sua
mensagem através de uma imagem cheia de detalhes e pormenores pode correr o risco do
beneficiário do seu material se distrair, inclusivamente do objectivo da mensagem.
117
118
guia de boas práticas
Este material foi produzido pelo Ministério da Saúde do Brasil,
no âmbito de uma Campanha Nacional de Prevenção,
lançada em 2002277, que tinha como objectivos principais
a consciencialização dos direitos das profissionais do sexo
feminino, a negociação com clientes pelo uso da camisinha, o esclarecimento do uso correcto do preservativo
e a promoção do preservativo feminino. Este material em
específico tinha como principais destinatários os clientes
de profissionais do sexo. A imagem é bastante simples.
Nela estão incluídos os elementos principais da mensagem:
uma profissional do sexo e um preservativo como pano de fundo.
/$"2*"'&*"034#'&#'2%G0%,-&(#'(#2'2L;>#1#2'I)0*#'(#2'
>"0",-%.$%#2'(#'2")';&*"$%&1
Enquanto que em algumas comunidades transmitirá a ideia de dia e noite com recurso a um
relógio, em outras comunidades, onde o relógio ainda não é um bem comum, fará referência
ao dia através do desenho do sol e à noite através do desenho da lua, por exemplo. O mesmo
cuidado deverá ter quando usar um animal, objectos, ou roupa, já que alguns destes elementos podem variar de significado de cultura para
cultura. Certifique-se pois que o significado que
você atribui ao material, é o mesmo significado
que os beneficiários do seu material atribuem278.
Este material é resultado de uma iniciativa
do Amamkay Instituto de Estudos e Pesquisa
em parceria com a Associação para Prevenção e
Tratamento da AIDS, Centro de Promoção da
Saúde e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
com o apoio do Banco Mundial e da Cooperação
Portuguesa (através do Centro de Novas tecnologias)279. O material promove o uso do preservativo através da linguagem brasileira de sinais
junto de pessoas com necessidades especiais.
Esta linguagem carrega um conjunto de símbolos
que são apropriados para a comunidade de pessoas com necessidades auditivas especiais.
maria teresa silva santos
Uso o estilo mais apropriado para ilustrar:
H#*#G$&,&2'#)'("2"0?#2@
Junto de alguns grupos será mais adequado o uso de fotografias, junto de outros grupos
será mais adequado o uso de desenhos. Em alguns grupos o uso de uma linha de contorno será mais adequada do que o uso de um desenho colorido. Em outros grupos, o uso
de cartoons será mais adequado. Descobrir qual o estilo ilustrativo mais adequado à sua
audiência é fundamental280.
Este material é uma produção dos preservativos Kamasutra281 e promove o uso de
preservativos como parte integrante de um
desejo sexual. O criativo aqui optou pelo uso
da fotografia.
O material, resultado de um campanha alemã para prevenção do VIH/sida, passa a mensagem de que perverso é não usar preservativo282. Neste caso optou-se pelo desenho.
Figura 11 Poster para a promoção do uso do preservativo “Sex Toys”-Michael Stich Stiftung
119
10.
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0%)&,(%)&"%"'=$&6/,8N%&3
Existe um conjunto de, pelo menos três possibilidades, que poderá considerar em resposta
à pergunta: “A quem cabe produzir as mensagens e ilustrações?”. Estas possibilidades
incluem:
›
›
›
Técnicos do projecto de produção de material de I.E.C.;
Técnicos especializados na produção de mensagens e ilustrações;
As próprias pessoas que constituem o grupo focal com quem trabalha.
Técnicos do projecto de produção de material de I.E.C.
Com esta opção correm-se muitas vezes alguns riscos, que é necessário evitarem-se.
Acontece não raras vezes que os técnicos adivinham as dúvidas da comunidade com quem
trabalham, ou que determinem o que é importante para as pessoas saberem e o que não é.
Acontece também com frequência, assistir-se à produção de material não adequado,
em especial nas zonas rurais de muitos países em vias de desenvolvimento, onde parte da
população não sabe ler nem escrever. A mesma situação é observada em muito material
de I.E.C. distribuído junto de comunidades imigrantes, para quem a língua do material,
é diferente da língua na qual comunicam.
Se está encarregue de produzir material de I.E.C. procure realizar primeiro um diagnóstico das necessidades de informação da comunidade. A partir daqui, terá mais dados sobre
que informação é necessário trabalhar no seu material. Não se esqueça de adequar o seu
122
guia de boas práticas
material às circunstâncias sociais, económicas e culturais da comunidade com quem trabalha e acima de tudo, certifique-se que falam a mesma língua, seja ela verbal ou não
verbal.
/$#,22%#0&%2'"2:"-%&1%6&(#2
Pode também requerer o apoio de profissionais especializados, sejam eles redactores,
ilustradores, designers, argumentistas, técnicos de som e imagem, realizadores ou até
técnicos de marketing e publicidade. Em alguns casos, o seu apoio é imprescindível,
noutros, no entanto é uma opção.
Se optar pelo produção de um vídeo, é possível que venha a sentir necessidade de recorrer
a ajuda especializada ao nível do tratamento de imagem, som entre outros.
Caso opte por este possibilidade a produção de um creative brief é prioritária. Um creative
brief, é um documento onde deverá incluir toda a informação necessária para orientar na
produção de material de I.E.C.283:
›
Tipo de audiência
a quem quer dirigir o seu material?
›
Objectivo da comunicação
O que pretende com o material? Transmitir informações, sensibilizar a sua audiência, alterar atitudes ou comportamentos?
›
Obstáculos
Que obstáculos impedem a sua audiência de mudar de comportamentos ou de
atitudes?
›
Benefícios
Quais as vantagens para audiência de estar mais sensibilizada, melhor informada,
ou de ter mudado de atitudes e comportamentos?
›
Razões
Que razões sustentam que uma mudança de atitudes ou comportamentos conduzem ao conjunto de vantagens identificadas?
maria teresa silva santos
›
Tom
Qual o tom mais apropriado para comunicar com a audiência seleccionada?
O tom de uma mensagem pode ser humorístico, didáctico, autoritário, coloquial,
amigável, carinhoso, agressivo ou outro.
›
Meio de comunicação
Que canal é o mais apropriado para chegar à audiência seleccionada?
De resto, importa acrescentar que a maior parte do material de I.E.C. produzido é resultado da primeira ou segunda opção e mais raramente da terceira.
As próprias pessoas que constituem o grupo focal com quem
trabalha
Se optar por esta possibilidade caberá às pessoas com quem trabalhou no diagnóstico
de necessidades de informação e no diagnóstico dos comportamentos de risco mais
frequentes, prosseguir o trabalho e iniciar a construção das mensagens e produção das
ilustrações.
Esta possibilidade oferece um conjunto de vantagens e desvantagens em relação às situações anteriores.
›
Mais garantias de adequabilidade
Se o material for produzido pelas próprias pessoas que integram o grupo focal terá
mais garantias de adequabilidade do material. Esta adequabilidade pode ser visível
ao nível da língua e linguagem utilizadas, referências culturais, sociais, económicas e de idade. Quem para além das próprias pessoas, conhece melhor as palavras
e expressões mais utilizadas pelas pessoas no seu dia a dia, as referências sociais,
culturais, os constrangimentos económicos e de idade entre outros?;
›
Empoderamento dos elementos que integram o grupo focal e da comunidade
Se já realizou os diagnósticos de necessidades de informação e de comportamentos de risco mais frequentes através de grupos focais, terá com certeza aprendido
bastante com as pessoas que integraram o grupo focal, sobre o que o grupo ou
comunidade a que pertencem, sabem, efectivamente, sobre VIH/sida e que
comportamentos de risco são mais frequentes. As pessoas que integraram o grupo
focal, estarão com certeza mais confiantes, pois terão tomado consciência do
facto de que também elas podem ensinar, quando muitas destas pessoas estão
123
124
guia de boas práticas
habituadas a aprender apenas com os técnicos que vêm de fora. Imagine agora,
se estas pessoas tomarem consciência da sua capacidade para criar, apenas porque
estão mais organizadas, porque você depositou confiança nas suas capacidades e
porque foram estimuladas?;
›
Mais tempo
É provável que se optar por esta via, venha a necessitar de mais tempo, do que
se entregar a tarefa de construção de mensagens e de ilustrações a profissionais.
Primeiro, porque estas pessoas não são profissionais, e precisarão de mais tempo até
ter construído uma frase ou produzido uma ilustração. Em segundo lugar, porque
para estas pessoas, esta não é a sua actividade principal e muito menos aquela onde
vão buscar os seus rendimentos. Este aspecto é particularmente relevante no caso
dos mais pobres, para quem o custo oportunidade de participação nas sessões é calculado com maior rigor do que os não pobres. Nestes casos, acontece também que a
escala de prioridades destas pessoas, o VIH/Sida pode aparecer como um problema
remoto perante problemas mais prementes como encontrar emprego, habitação
adequada, matrícula dos filhos, entre outros;
›
Mais eficiente
Mais eficiente do que a segunda opção porque não envolve o pagamento de honorários a profissionais. Comparativamente com a primeira opção é com certeza mais
cara para as pessoas que participam nas sessões (lembrar custo oportunidade). Para o
projecto, esta solução será mais ou menos eficiente dependendo, se envolve despesas
de deslocação do técnico até à comunidade.
11.
B.M/%"."0%'.
Que meios?
Através de que meios se informa, educa e comunica?
O material através do qual se informa, educa e comunica pode envolver tanto os “meios
de comunicação de massa” como os meios de comunicação interpessoal, meios tradicionais ou gráficos e audiovisuais284.
Meios de comunicação interpessoal
Os meios de comunicação interpessoal promovem a comunicação e não só a transmissão
de informação. Os meios de comunicação interpessoal incluem a educação por pares,
aconselhamento e debates em pequenos grupos, o teatro do oprimido, visitas domiciliárias.
M"%#2'("'-#;)0%-&34#'G$.,-#2'"'&)(%#=%2)&%2
Os meios de comunicação gráficos e audiovisuais referem-se aos meios que utilizam
a imagem e o som para comunicar. Referem-se a panfletos, concertos, música, vídeos,
e PowerPoint entre outros285.
Meios de comunicação tradicionais
Os meios de comunicação tradicionais dizem respeito aos meios que têm sido historicamente desenvolvidos e utilizados por determinado grupo, comunidade ou população.
Têm a vantagem de serem familiares para a comunidade ou grupo. Os meios de comunicação tradicionais podem incluir músicas, danças, jogos e festividades286.
126
guia de boas práticas
Meios de comunicação de massa
Quando pensa em meios de comunicação de massa, pensa espontaneamente em rádio,
televisão, jornais, revistas e cinema, e brochuras e panfletos. Sempre que um meio de
comunicação:
1. for dirigido a uma audiência grande, heterogénea e anónima;
2. for público, rápido e efémero;
3. implicar um comunicador que esteja integrado numa complexa organização
envolvendo muitas despesas; estamos a referirmo-nos a meios de comunicação de
massa287.
Qual o meio mais apropriado?
O que pretende, sensibilizar, informar, ou promover atitudes
e comportamentos seguros?
Nas décadas de quarenta e cinquenta pensava-se que os meios de comunicação de massa
tinham um impacto directo, imediato e determinante nas audiências. Esta capacidade
dos meios de comunicação de massa para influenciar atitudes e comportamentos foi
teorizada no modelo da “agulha hipodérmica”288.
Em 1940, num estudo que viria a revolucionar a crença nos meios de comunicação
de massa na formação de atitudes e comportamentos, Lazarsfeld mostrou que entre
seiscentos eleitores inquiridos, apenas alguns davam conta que as decisões tinham sido
influenciadas pelos meios de comunicação de massa. As conclusões deste estudo mostraram
que os conteúdos dos meios de comunicação de massa tinham de obter o consentimento de
opinion makers, antes de se serem tomados pelo indivíduo. Este estudo voltou a colocar
a ênfase nas relações interpessoais e o seu carácter complementar aos meios de comunicação de massa na interiorização de mensagens, seja contrariando, seja reforçando.
Era o modelo “two step flow hypothesis”.
Investigação mais recente vem demonstrar que o modelo, na verdade, não é constituído
apenas por duas fases. Em alguns casos, os meios de comunicação de massa podem ter
um efeito directo, coexistindo com uma pluralidade de fases289.
A investigação e a prática de terreno têm vindo a mostrar que os meios de comunicação de massa parecem ser mais eficazes para alertar e sensibilizar, enquanto que os meios
de comunicação interpessoal se mostram mais eficazes na promoção de comportamentos
e atitudes290. De facto, os meios de comunicação de massa oferecem a possibilidade de
maria teresa silva santos
comunicar com um número elevado de pessoas, em simultâneo. A televisão em particular,
é particularmente atractiva, ao aliar som e imagem, exigindo pouco esforço de compreensão por parte das audiências291 e em particular, dos grupos não capacitados para ler:
analfabetos, crianças e cegos. Por outro lado, os meios de comunicação de massa têm dificuldade em adequar e diferenciar a sua mensagem, exactamente porque falam para um
grande público que encerra muitas diferenças de atitude, e com diferentes posições
económicas, sociais, de culturas diferentes, etc.292
Por exemplo, foi notado, por um conjunto de investigadores, que a novela de rádio
Twende na Wakati que passou na Tanzânia, partir de 1993 contribuiu de forma determinante para colocar o VIH/sida na agenda, tendo-se notado que as pessoas começaram
a mostrar abertura para falar no assunto293. O que confirma a capacidade dos meios de
comunicação de massa para informar e sensibilizar, ao mesmo tempo que se os conteúdos ao serem falados e discutidos, são potenciados pelos meios de comunicação
interpessoais.
Não se pode ignorar também que a maior ou menor eficácia dos meios pode estar relacionada com os conteúdos. Imagine-se que os conteúdos de uma peça de teatro não foram
adequados à audiência, ao contrário dos conteúdos difundidos por um programa de televisão. É possível, que neste caso, o programa de televisão se venha a revelar mais eficaz do
que o meio de comunicação interpessoal294. A eficácia de um meio não pode ser avaliada,
sem que se tenha em conta o conteúdo das mensagens.
Mas a escolha do meio mais adequado vai depender também da sua disponibilidade
de tempo, dinheiro, e recursos humanos especializados. Vai depender ainda do contexto
dos beneficiários para os quais os materiais de I.E.C. estão a ser produzidos.
Significa que a eficácia dos meios de comunicação não depende apenas de uma avaliação
linear, outras variáveis têm de ser tidas em conta, embora haja indícios da maior adequabilidade dependendo do efeito que se pretende produzir, sensibilizar ou influenciar
atitudes e comportamentos.
127
guia de boas práticas
N$"="'$"2);#'(&2'=&0*&G"02'"'("2=&0*&G"02'(#2';"%#2'%("0*%,-&(#2295*
Desvantagens
Meios de
comunicação
interpessoal
Vantagens
128
Meios áudio-visuais
Meios tradicionais
› Atingem um
› Comparativamente › Podem não ser
número reduzido
eficientes.
consomem bastante
de beneficiários.
› Têm sido muitas
tempo.
› A sua produção
vezes utilizados
› Exigem formação
pode consumir
fora do contexto
especializada de
bastante tempo.
educativo e cultural.
quem está no
› Exigem muitas vezes
terreno.
recursos humanos
› Atingem um
especializados.
número reduzido
de beneficiários de
cada vez.
› Conferem mais
credibilidade à
mensagem.
› Permitem a
discussão detalhada
do assunto.
› Dão espaço para
a discussão de
assuntos pessoais e
sensíveis.
› Permitem analisar e
discutir crenças que
obstam a mudança
de atitudes e de
comportamentos.
› Criam espaço para
a participação;
› Criam espaço
para a reacção e
resposta, para a
discussão e debate.
› Fazem uso de
› Especialmente no
normas já aceites
caso dos panfletos
pelo grupo ou
e vídeos, permitem
comunidade.
que se revisite o
› Incutem um
produto mais do
carácter familiar
que uma vez.
ao material.
› São normalmente
› Promovem o
atractivos.
envolvimento da
› Capazes de promover
comunidade.
a transmissão
de informação
complexa.
› Especialmente
no caso dos
panfletos, podem
ser produzidos
localmente.
› No caso de vídeos
e panfletos,
são facilmente
transportados.
Meios de massa
› Inapropriados para
contextos onde a
televisão e rádio
não se encontram
implantados.
› Difíceis de
segmentar por
audiências.
› Impossibilidade de
reacção.
› Envolvem dispêndio
elevado de recursos.
› Atingem um
número elevado de
pessoas.
› Permitem a
repetição.
* Este quadro, que aqui é apresentado de forma rígida, nem sempre tem correspondente com a realidade. Hoje em dia são cada vez mais
ou programas de televisão que promovem a discussão através do telefone em directo para o programa. Ainda assim, quando comparado
com um debate a nível comunitário o espaço deixado para a discussão é relativamente reduzido. A necessidade de flexibilização aplica-se
a vários meios aqui apresentados. Não obstante, consideramos que este quadro pode ser útil para se obter uma ideia rápida e se compreenderem as diferenças gerais na utilização de um ou outro meio.
maria teresa silva santos
A decisão final vai depender de um conjunto de situações, umas relacionadas com a sua
Organização, outras relacionadas com o contexto onde vai ser desenvolvida a estratégia
de I.E.C..
Na perspectiva da associação, ONG ou instituto empenhado na elaboração
de material de I.E.C.
Existe um conjunto de constrangimentos de ordem organizacional (relacionados com
a sua instituição) que deverão ser pesados antes de decidir o meio de suporte à sua estratégia de I.E.C. São eles:
›
Disponibilidade de recursos
Terá de ter em consideração os recursos de que dispõe e os recursos necessários
para produção do material.
›
Exigência de Recursos Humanos
Já vimos que para a produção de alguns meios, torna-se necessária a contratação
de serviços especializados, para outros a formação de facilitadores ou promotores
de saúde comunitários. Para outros ainda, a produção pode fazer-se de modo mais
caseiro e sem contratação adicional recursos humanos.
›
Disponibilidade de Tempo
A disponibilidade de tempo refere-se ao tempo de vida do seu projecto. Imagine
que inicialmente tinha previsto realizar um vídeo, será que um ano é suficiente?
O seu projecto prevê apenas concepção, ou também produção e distribuição?
Quando conceber um projecto para a produção de material de I.E.C., ou com
uma componente de produção de material de I.E.C. tenha o aspecto do tempo
em conta.
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de I.E.C.
Para que a sua estratégia seja bem sucedida, ou seja para que seja capaz de responder aos
objectivos delimitados, é imprescindível que faça uma análise cuidada do contexto. Nessa
análise deverá ter em conta os seguintes aspectos:
›
Disponibilidade de Tempo
Diz respeito ao tempo que os beneficiários do seu material têm para participar na
produção do material ou para serem posteriormente imputados pelo seu material.
Imagine, por exemplo, que opta por realizar uma sessão de educação para a saúde
129
130
guia de boas práticas
dirigida a mães, pela manhã, em determinada comunidade. Será que as mães que
pretende envolver têm disponibilidade para participar ou assistir à sessão de educação para a saúde? Já numa situação de distribuição do material, imagine que optou
pela projecção de um vídeo comunitário, aos Sábados ao fim da tarde. Será que não
colide com o horário de jantar em família, enquanto ainda há uma réstia de luz?
Este é um conjunto de situações hipotéticas que o alertam para a importância de
conhecer bem a realidade das pessoas com quem trabalha.
›
Acessibilidade
Uma questão que terá de colocar é se os seus beneficiários têm acesso ao material
que seleccionou. A título de exemplo, de que serve ter produzido anúncios para
televisão se os seus beneficiários não têm aparelho, nem acesso a um.
›
Poder de compra
Quando estiver na fase de concepção do material de I.E.C. mais adequado para
a comunidade em causa, um importante elemento a considerar é se existe poder
de compra na comunidade:
› para aceder ao material produzido, no caso de implicar desembolso de dinheiro.
Imagine que considera a produção de crachás que alertam para o uso do preservativo e que para recuperar algum do dinheiro investido no projecto deseja
vendê-los a um preço simbólico. Será que na perspectiva dos seus beneficiários,
o valor proposto é simbólico?
› se a comunidade dispõe de poder de compra para adoptar os comportamentos
promovidos pelo seu material. Imagine neste caso, que o seu material propõe o
uso de preservativos, mas os preços dos preservativos que existem no mercado
são bastante elevados.
›
Adequabilidade
O material para ser eficaz, tem de ser compreendido pela audiência a que se
destina. Para garantir este nível de entendimento, tem de certificar-se que o
seu material está de acordo com o nível de literacia, com o contexto cultural,
social, de idade, género e económico. Imagine que tinha prevista a produção de
panfletos, mas a comunidade para os quais os panfletos são dirigidos não fala,
no seu dia-a-dia, a língua veiculada pelo panfleto. Qual o nível de eficácia esperado deste panfleto? Imagine por exemplo que se propõe fazer um concerto com
conhecidos artistas nacionais. Os artistas que vão actuar são ídolos da juventude
local. No entanto, os beneficiários que pretende atingir são homens e mulheres
acima dos quarenta, que desconhecem os artistas do cartaz. Que nível de eficácia
se pode esperar?
maria teresa silva santos
Os meios passo a passo
Nesta secção, iremos analisar um conjunto de meios possíveis a que pode recorrer para
passar a sua mensagem:
Testemunhos
Os testemunhos têm-se revelado como relevantes meios de I.E.C.. Facilitam a identificação
e tornam os assuntos mais reais e mais próximos da dia a dia das pessoas. Os testemunhos
têm sido particularmente utilizados na luta contra o estigma e discriminação de pessoas
que vivem com VIH/sida e são muitas vezes as pessoas que vivem com VIH/sida os protagonistas dos testemunhos. Veja-se o caso de Oom.
Oom, com 35 anos, é hoje mãe de duas filhas e está à frente de uma ONG que acompanha crianças filhas de pais que vivem com VIH/sida. Vive e trabalha em Banguecoque,
na Tailândia.
“Há quatro anos, tive o meu primeiro filho, agora estou grávida do segundo. Tenho ainda
outra criança que adoptei, quando ainda era um bebé, seis anos atrás. Pessoalmente, senti-me
bastante orgulhosa quando tive o meu primeiro filho, apesar de terem sido momentos difíceis
para mim sob todos os aspectos. Agora a minha filha já tem a sua própria vida, que ela será
capaz de conduzir da forma que achar mais adequada.
Como mulher vivendo com VIH/sida, eu espero que todas as pessoas aprendam a trabalhar de forma solidária, e a tratarem todos de forma igualitária e com respeito quer as
pessoas que vivem com VIH/sida, quer com pessoas que vivam sem VIH/sida. Todos nós
devíamos aprender a ultrapassar os nossos preconceitos, não obstante o que cada um é,
ou faz com as suas vidas”296.
Importa ainda acrescentar que, o impacto esperado de um testemunho parece aumentar quando é assumido por uma figura pública, que publicamente assume que vive com
VIH/sida. O Uganda, conta na sua história de luta contra o VIH/sida, com testemunhos
de figuras públicas, que segundo muitos foram determinantes para combater o estigma e
discriminação de pessoas que vivem com VIH/sida. A primeira figura pública a tomar este
passo, foi o músico Philly Lutaaya, quando regressou do exílio na Suécia, no início de 1989.
Nos meses seguintes, o conhecido músico fez uma tournée juntando a sua música a mensagens de controlo e prevenção. Escolas e igrejas contaram com testemunhos seus. A sua
vida viria a servir de inspiração para muitos que, no Uganda e em outros países africanos,
juntam esforços para o controlo do VIH/sida297.
131
132
guia de boas práticas
Banda desenhada
A banda desenhada é outro meio possível, aliando a linguagem verbal à não verbal, oferecendo, por essa razão, maiores possibilidades para quem tem dificuldades de leitura.
“A viagem” é uma revista de trinta e duas páginas, fruto da produção conjunta da Organização
Internacional para as Migrações — OIM, da Associação de Apoio às Populações Migratórias
da África Austral e da Agência de Cooperação Sueca para o Desenvolvimento298. Com esta
revista, pretende-se chamar a atenção para a realidade
que atravessa a vida de muitas mulheres imigrantes moçambicanas, que vão trabalhar para a África
do Sul. A revista levada a cabo junto de cento e
oitenta e três moçambicanas, que trabalhavam
em doze fazendas da África do Sul, relata situações
de trabalho servil e pouco rentável, a quem faltavam informações sobre VIH/sida. Relata também
situações em que foram abusadas sexualmente
pelos seus supervisores, não lhes tendo sido dada
qualquer margem de manobra para negociar as práticas sexuais, ficando ao critério dos homens o uso
do preservativo.
Figura 12 Capa da Banda Desenhada para sensibilização do VIH/sida — Organização Internacional para as Migrações — OIM
Anúncios em televisão
Anúncios de televisão têm por objectivo tratar directamente o assunto a que se propõem.
Por exemplo, no anúncio aqui apresentado, o Ministério da Saúde do Brasil299, optou por
tratar da negociação do uso do preservativo, que é desvalorizado pelo jovem rapaz, mas
que é um compromisso para a jovem rapariga.
maria teresa silva santos
133
134
guia de boas práticas
Programas de televisão
Os programas de televisão oferecem a possibilidade de cruzar ou encadear temas diversos
e inclusivamente de introduzir temáticas polémicas junto de um público, que tem por
hábito assistir a determinado programa.
Um exemplo de um programa de televisão com sucesso entre os jovens, que terá contribuído
para a discussão sobre VIH/sida foi a telenovela juvenil Malhação300. Na temporada de 1999,
foi decidido introduzir uma personagem, a Érica, que era uma jovem rapariga que vivia com
VIH/sida e era também amiga de infância da protagonista da história, a Tatiana. Aproveitaram-se as audiências elevadas que o programa suscitava junto do público jovem, para colocar esse
mesmo público a falar e a discutir sobre o VIH/sida.
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Especialmente em contextos onde a televisão ainda é um meio pouco acessível, a rádio
assume um papel de destaque. E não exige que se saiba ler ou escrever. Ao contrário do
que sucede com os programas, o anúncio não dedica tempo à discussão de um tema,
ou assunto. Em vez disso, recorre a spots, usando frases normalmente curtas, fáceis de
memorizar, cujo principal objectivo passa normalmente por sensibilizar. Os anúncios têm
a vantagem de poderem ser intercalados com outros programas, com garantias de audiência junto do grupo a que se pretende chegar, oferecendo por isso garantias de que o spot
vai ser ouvido por quem se deseja.
Na República Dominicana,
a Family Health International
com o apoio do Ministério da
Saúde e de um conjunto de ONGs
locais, produziu sete anúncios
de rádio que deverão ser também difundidos em salas de
espera de hospitais, gabinetes do
governo, nos tempos de espera
de chamadas de telefone, e até
mesmo na via pública, através
de altifalantes e em autocarros
301
públicos . A campanha tem por objectivo promover a não discriminação e estigma das pessoas que vivem com VIH/sida. Num dos anúncios, o gerente de uma empresa admite que
costumava canalizar parte da sua verba para despiste de VIH/sida entre os seus colaboradores,
tendo substituído esta estratégia pela educação para a prevenção no local de trabalho. Num
outro anúncio, um jovem rapaz fala da sua melhor amiga, uma mulher que vive com VIH e
maria teresa silva santos
que participa em todas as actividades no grupo de amigos que ambos frequentam, “porque não se apanha VIH
só por se sair connosco302. A fotografia acompanha um
dos anúncios que foi transmitido na televisão, panfletos
e cartaz. A campanha “Faz com que a tua vida tenha cor”
mostra um conjunto de crianças, sem que se saiba quem
vive com VIH e quem não vive. A campanha pretende
mostrar que as pessoas que vivem com VIH são iguais
e têm os mesmo direitos que todas as outras pessoas na
sociedade.
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O programa de rádio tem a vantagem de ser mais estendido no tempo, permitindo várias
possibilidades: desde a realização de entrevistas, à recepção de chamadas e colocação
de dúvidas por parte dos ouvintes, à discussão e análise mais detalhada dos temas.
O programa de rádio “Conversando com o meu melhor amigo” tem sido um sucesso entre
os jovens do Nepal que, aos Sábados, ouvem discussões francas e abertas sobre problemas
pessoais que afectam os jovens do país303. Desde temas como o casamento entre castas
até à sexualidade. O programa conta actualmente com cerca de 4,5 milhões de jovens
ouvintes.
Educadores de pares
A educação por pares é hoje tida como uma das estratégias mais eficazes ao nível da
comunicação para a alteração de comportamentos e de atitudes. Esta estratégia oferece
um conjunto de vantagens:
135
136
guia de boas práticas
›
›
›
›
›
!
garantia de que a linguagem é adequada ao público a quem se destinam as acções
de prevenção;
oferece mais garantias de ser procurada pelos seus pares, por comparação com
outras estratégias que envolvem a necessidade de comunicação com um não par;
tem um raid de influência alargado. No caso dos jovens por exemplo, é admissível que chegue aos que estão fora da escola e aos que frequentam o sistema
de ensino. No caso das mulheres, é admissível que a influência de uma educadora de pares, chegue às colegas de trabalho, ao grupo de mulheres da família,
à igreja, associações em que participam, e a outras mães com as quais conviva.
permite que a abordagem médica normalmente priorizada por profissionais de
saúde e professores, seja complementada pela linguagem da afectividade304.
mostra ser mais eficaz na promoção de atitudes e de comportamentos seguros,
pois permite o diálogo e a comunicação.
No Botswana, foi implementado um projecto de educação por pares, que decorreu
ao longo de cinco anos junto de um grupo
de trezentas mulheres a viverem e a trabalharem em zonas urbanas do país. Entretanto,
foi conduzido um estudo, cujos resultados
são fruto de um estudo comparativo com
um grupo de mulheres que não participou
no projecto. O conjunto de mulheres que
participou mostrou: possuir mais conhecimentos sobre a infecção pelo VIH, ISTs e
sobre comportamentos seguros; mostrou atitudes mais positivas relativamente ao uso do preservativo; mostrou também ter comportamentos sexuais mais seguros e mais atitudes positivas
relativamente às pessoas que vivem com VIH305.
Foi este princípio que conduziu ao Projecto de Educação por Pares promovido pela Farm
worker Justice Fund, Inc. e pelo National Council of La Raza nos Estados Unidos da América.
Os factos mostravam que, as campanhas de prevenção do VIH/SIDA não chegavam aos
imigrantes e trabalhadores sazonais. Partindo deste dado, as duas organizações promoveram
o treino de um conjunto de imigrantes e de trabalhadores sazonais, que falando a mesma
língua que os restantes imigrantes e trabalhadores sazonais, utilizando as mesmas referências e
símbolos, estavam em condições de oferecer mais garantias de que a mensagem seria efectivamente compreendida pelos beneficiários finais do projecto306.
maria teresa silva santos
Clubes
Os clubes em meio escolar podem ser uma forma de complementar o que é ensinado e
discutido por via do currículo. Vivem dos seus associados e são nesse sentido resultado da
mobilização de alunos ou professores, o que explica em certa medida que a discussão sobre
VIH/sida ultrapasse, em muitas casos, a abordagem biomédica, para abranger a vertente
afectiva, e tomar em conta o contexto social económico em que as relações têm lugar307.
Na Etiópia até 2004 pelo menos, o VIH/SIDA
não estava introduzido no currículo dos alunos,
pelo que para preencher esta lacuna, alunos e
professores do ensino secundário se juntaram-se para criar os clubes ANTI-Sida308. Na Escola
Secundária de Dilber, duzentos e cinquenta alunos, dos três mil e quatrocentos que frequentavam
a escola, estavam inscritos no clube Anti-SIDA.
Destes duzentos e cinquenta alunos inscritos,
cento e sessenta e cinco eram jovens raparigas.
Ao clube cabia promover um conjunto de actividades: um programa de rádio escolar difundido
ao longo de quinze minutos e debates em grupo,
que têm lugar todos os Sábados309.
Caixa das perguntas
A caixa de perguntas é um meio muito utilizado, especialmente em contextos onde
é importante a preservação do anonimato, sendo um meio privilegiado para o esclarecimento de dúvidas.
No interior rural do Quénia,
uma caixa foi colocada num
tronco de um damasqueiro310.
A caixa tem sido enchida com
perguntas das seiscentas crianças
que frequentam a escola primária de Diemo. A maioria das
perguntas são sobre sexo, parte
das quais sobre VIH. Muitas
destas perguntas são reveladoras dos dilemas enfrentados por
estas crianças e pelas raparigas
137
138
guia de boas práticas
em particular: “Existe um sugar-daddy que me prometeu oferecer tudo o que eu precisar. O que é
que eu posso fazer para ele me apoiar, sem que eu tenha de me tornar sua amante?”311
Internet
Portais, blogues, e-mails, sítios de conversação e outros figuram também como meios para
comunicar sobre IST/VIH/sida. Tendo em conta que o número de utilizadores de internet,
com idade superior a quinze anos, parece rondar os seiscentos e noventa e quatro milhões,
ou seja 14% da população mundial312, não é de estranhar que este seja um meio cada vez mais
utilizado para comunicar sobre IST/VIH/Sida.
Jornais, revistas
Jornais e revistas têm também estado na linha da frente na informação sobre IST/VIH/
sida. Podem assumir-se como revistas especializadas na área ou não sendo especializadas,
incluir artigos ou anúncios sobre prevenção e controlo. Podem ser dirigidas a grupos
específicos, ou à população em geral. Podem ter uma abrangência local, regional, nacional ou transfronteiriça.
A “Saber Viver” é uma revista criada no Brasil, em 1999
orientada para o bem estar das pessoas que vivem com
VIH/sida313. Conta actualmente com 90 mil exemplares, distribuídos gratuitamente em unidades de saúde
públicas, ONGs que trabalham na área. Estima-se que
a revista chegue a quatrocentos e cinquenta mil pessoas.
Os assuntos tratados pela revista incidem maioritariamente sobre saúde, valorização da auto-estima
e cidadania das pessoas que vivem com VIH/sida.
A revista é dinamizada pela Associação Saber Viver.
maria teresa silva santos
/&0O"*#2
Os panfletos, brochuras ou desdobráveis têm sido dos meios mais utilizados para difundir
informação sobre VIH/sida. Oferecem a vantagem de poderem ser levados pelos destinatários e revisitados sempre que necessário (ao contrário por exemplo da televisão, que por
enquanto não é possível fazer andar para trás!).
Este panfleto que tem por objectivo promover a conscientização da população gay, foi produzido no âmbito da aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de Aids e
das DST entre gays, homens que fazem sexo com homens (HSH) e travestis, pelo Ministério
da Saúde do Brasil314.
Autocolantes
Os autocolantes têm acompanhado inúmeros programas de informação e sensibilização do
VIH/sida. Têm a vantagem de permitir a partilha, conferir visibilidade, e de conterem algum grau
de inter-actividade (é uma escolha do utilizador o local onde vai colar o seu autocolante).
Criada em 1988 por profissionais ligados à Arte, a Visual AIDS funciona como uma galeria
que tem como objectivo contribuir para a sensibilização da opinião pública no que concerne o
139
140
guia de boas práticas
VIH/Sida através da promoção de exposições, produção
de publicações e trabalhando em parceria com artistas,
galerias, museus e organizações que desenvolvem trabalho na área do VIH/sida315.
Os autocolantes aqui apresentados foram desenvolvidos por Nayland Blake. A mensagem pode ser traduzida
para: “O amor aconteceu aqui em __/__/__. Pode voltar a acontecer. Traz o amor de volta. Mantém os teus
amantes seguros. As tuas palavras, pensamentos e acções
podem prevenir a sida”.
Figura 13 Material para a promoção do uso do presevativo — Nayland Blake for Visual AIDS, www.visualAIDS.org
Teatro
O teatro tem a vantagem de aproximar a linguagem, por vezes muito técnica, de uma
linguagem mais corrente. Oferece ainda a possibilidade de dar forma a questões que por
vezes parecem distantes. Esta faculdade está ainda mais presente no caso do Teatro do
Oprimido. Umas das técnicas mais utilizadas é a do Teatro Fórum. Aqui é discutido um
problema real, que não é resolvido pela personagem/actor. Cabe ao público substituir
o personagem/actor que é o elemento oprimido, por soluções alternativas, dentro do
mesmo enquadramento em que a personagem tomava decisões316.
Em Salvador da Baía, Brasil, um conjunto de jovens apoiados pela ONG “Grupo de Apoio à
Prevenção AIDS” levou à cena, uma peça para prevenção e controlo do VIH/sida317. A peça
que teve lugar na rua, no centro da cidade, apresentava um conjunto de personagens com vidas
próximas do real, cada uma com a sua própria história unindo-as um denominador comum:
a falta de informação e o preconceito. Na peça, surgem como temas prioritários o uso do preservativo, a homofobia e as discussões em torno destes conflitos.
Concursos
Os concursos promovem a participação efectiva das pessoas. Para além de permitir um
envolvimento real, são normalmente acompanhados de publicidade e portanto divulgação. Permitem também a partilha e a descoberta.
maria teresa silva santos
Em 2004, o Ministério da Saúde do Brasil e o Instituto
do Memorial das Artes Gráficas do Brasil promoveram
o “1º Festival Internacional de Humor para Prevenção
da AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis.318”
O objectivo principal da iniciativa consistiu em criar
mais um espaço capaz de promover o envolvimento
todos para travar o vírus e a valorização de todos os que
vivem com VIH/sida.
O exemplo apresentado foi uma das propostas seleccionadas na categoria tratamento319.
Jogos
Os jogos são outra importante ferramenta capaz de permitir o envolvimento, o engajamento e a discussão. Incluem os mais recentes jogos de internet, como a adaptação
de jogos mais tradicionais.
Os jogos podem ser um
importante meio para comunicar sobre IST/VIH/Sida
entre crianças e jovens, aliando
diversão e educação.
Em Moçambique, o Projecto
“CERJOVEM” promoveu a
elaboração de um jogo para
ser utilizado entre jovens, com
o objectivo de promover a prevenção e controlo do VIH/sida.
Concertos
O concerto, é em princípio um meio mais adequado para comunicar com os jovens.
Oferece a possibilidade de colocar na agenda a questão do VIH/sida, colando-a à imagem
de um estilo de estar na vida, ídolos da juventude, músicas que se cantam. O concerto é,
por norma, um grande acontecimento entre os jovens. Falar sobre sida num concerto
ou dedicar um concerto à prevenção e controlo do VIH/sida, é introduzir a questão do
VIH/sida num grande acontecimento.
141
142
guia de boas práticas
No dia Mundial de Luta contra a Sida, em 2006, coube ao artista de hip hop MAGZ realizar
um concerto na escola secundária Martin Luther King em Nova Iorque320. O concerto, que
contou com a total adesão dos jovens, incluiu duas
músicas sobre sida. A primeira foi escrita em colaboração com a UNICEF para marcar o lançamento da
campanha “Unite for Children. Unite against AIDS”
(em português “Unam-se pelas crianças. Unam-se
contra a sida.). A segunda, “Too much”, foi dedicada
a um guarda de uma escola de Brooklyn falecido em
consequência da sida.
Figura 14 Fotografia do artista de Hip Hop MAGZ — UNICEF
Música
Uma música que fale sobre VIH/sida, ou que simplesmente refira o VIH/sida, é, à semelhança do concerto, um meio de levar as pessoas que gostam de ouvir música a ouvirem
falar sobre VIH/sida. Pode, à semelhança do concerto, estar associada a um cantor ou
cantora famosa, e dessa forma potenciar a eficácia da mensagem.
Tiësto, de nacionalidade holandesa, por exemplo lançou uma música para o projecto
Dance4Life, que reúne artistas em prol do combate à AIDS321.
Mural
Os murais são outro tipo de meio utilizado na prevenção sobre VIH/sida. São um meio
relativamente barato e realizados em locais de acesso público.
Em 2007, na Namíbia, um grupo
de estudantes da escola primária de
Katura, em conjunto com um grupo
de estudantes do Centro de Arte John
Muafangejo e artistas locais, utilizaram as paredes da escola primária
para produzir uma série de murais322.
O projecto identificou três grandes
objectivos:
Figura 15 Mural para sensibilização do VIH-AVERT; www.avert.org
maria teresa silva santos
›
›
›
sensibilizar a população para a questão do VIH/sida;
permitir que os artistas expressassem os seus sentimentos em relação à epidemia;
valorizar as artes visuais.
T-shirts
As t-shirts oferecem a possibilidade da pessoa
manifestar de forma expressa a sua adesão
a determinada proposta, ou causa. Ao usar
uma t-shirt, “veste-se” e faz-se circular uma
mensagem.
No caso do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente, a mensagem que era passada entre crianças que viviam ou que estavam na rua,
era que estivessem atentos ao VIH/sida. A mensagem
reconhece a qualidade mais valorizada pelos meninos
de rua para sobreviverem na rua, o ser-se “malandro” e associa a prevenção a esta característica. Assim, “malandro mesmo é aquele que não dá mole para o VIH/sida!”.
Cartazes de rua
Os cartazes de rua são um meio amplamente utilizado. Chegam a um número elevado de
pessoas, e têm a vantagem de não possibilitarem a mudança de canal, de frequência, ou
o virar a página.
Na capital do Botswana,
Gabarone, foi colocado um
cartaz de rua com o objectivo de apoiar as pessoas
que vivem com VIH/sida323.
No cartaz era possível ler-se “Apoie quem vive com
VIH/sida. Também existe
um futuro para as pessoas
que vivem com VIH”.
Figura 16 Cartaz para a não discriminação das pessoas que vivem com VIH/sida — UNICEF/HQ01-0195/Giacomo Pirozzi
143
144
guia de boas práticas
Carrinhas
As carrinhas são um meio particularmente adequado para locais com poucas, ou nenhumas acessibilidades e com poucos recursos locais. Atenção no entanto, que esta solução
tem de se ter em conta os custos de manutenção da carrinha e a eventual necessidade
de recursos humanos especializados, capazes de zelar pela sua conservação.
Para Khumalo-Sakutukwa324 uma carrinha móvel que disponibilize aconselhamento e testagem voluntária é a solução ideal para ultrapassar as barreiras estruturais que impedem
a generalização da testagem. Segundo o investigador, a pesquisa vem mostrando que,
ao optar-se por esta resposta:
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›
›
reduzem-se os custos com a viagem para um centro urbano onde exista uma clínica
de testagem;
com a presença da carrinha em locais de públicas de concentração da população, como
mercados, contribui-se para a familiarização da população com o processo de testagem;
ao contribuir-se para a familiarização, estará a contribuir-se também para a redução
do estigma.
Educadores de Rua
Os educadores de rua, invertem a lógica de que os cidadãos precisam de se deslocar para
obter informações ou mesmo serviços. Com a educação de rua, é o educador quem vai ao
encontro das pessoas, onde quer que elas se encontrem. Permite um contacto individualizado e personalizado.
Esta estratégia é hoje amplamente utilizada pelo marketing e mesmo pelo marketing
social, em particular nos países mais desenvolvidos, sensibilizando a opinião pública para
determinada causa e suscitando o seu apoio. A quantidade de solicitações endereçada
à sociedade civil, terá talvez contribuído para reduzir a eficácia desta estratégia. Em muitos
contextos no entanto, a educação de rua continua a ser a resposta mais eficaz.
No âmbito do “Programa Prostituição Masculina e Feminina” o Projecto Axé tem desenvolvido um conjunto de projectos, virados para a prevenção das Doenças Sexualmente
Transmissíveis e VIH/sida. O “Projecto Programa” por exemplo, dirige-se a jovens rapazes,
profissionais do sexo na cidade do Rio de Janeiro. É através dos educadores de rua que
o projecto se desenvolve. O contacto é estabelecido, individualmente com os jovens,
que são alertados para a importância do uso do preservativo, e para a importância da saúde
e acesso à justiça325.
maria teresa silva santos
Outros
Os meios identificados até agora figuram entre os meios mais frequentemente utilizados
para a produção de material de I.E.C.. Mas existem outras possibilidades. Obeliscos vestidos com preservativo, sacos das compras, carteiras e postais são outras possibilidades,
que podem ser utilizadas com mais ou menos eficácia, muito dependendo do contexto,
como já foi analisado. No entanto, existe ainda uma série grande de possibilidades por
explorar. Use a sua criatividade e o seu ouvido. Esteja atento a si e às sugestões dos outros,
em especial aqueles para quem o material é dirigido!
Na República Democrática do Congo, os sacos de plástico foram
utilizados para publicitar o uso de preservativos masculinos da
marca Prudence326.
Figura 17 Saco para a promoção do uso do preservativo “Prudence” — Population Service International — PSI
A caixa de fósforos foi uma produção do Conselho Nacional
de Prevenção e Controlo do México327.
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E por vezes a solução mais adequada e que dá indícios de ser mais eficaz, passa pela
utilização de vários meios, ao mesmo tempo, ou de forma sequenciada. O importante
é que os meios se complementem, no sentido de reforçar a mensagem328.
145
146
guia de boas práticas
Por exemplo, se um anúncio no jornal é eficaz para alertar para a importância do uso do
preservativo, complementá-lo com um programa de rádio permitirá aprofundar e desenvolver a importância do uso do preservativo.
Um combinado de vários meios pode, na verdade, oferecer um conjunto de vantagens,
que se traduzem em maior eficácia. Eis algumas das situações que são possíveis pelo combinado de meios: efeito repetição, maximização da cobertura de audiências, aprofundamento e
discussão do tema/problema, validação de conceitos, motivação para agir, entre outros329.
12.
B.M/%","6%&6,(%0
Porquê testar?
A testagem consiste em analisar a versão final do material que produziu com grupos
de pares idênticos àquele com quem trabalhou, para a produção de material de I.E.C.
antes de dar o material por fechado e pronto a ser produzido em escala e distribuído330.
Para os materiais de I.E.C. que não foram produzidos de forma participativa com integrantes
dos grupos para quem o material é produzido, esta etapa é ainda mais importante. Nestes casos,
a testagem vai garantir que os conceitos, e as mensagens que foram produzidas por uma equipa
de criativos da área do marketing e publicidade, por exemplo, são efectivamente compreendidos
pela audiência a quem se destina o material. Se as pessoas não percebem a mensagem, então
estamos perante um material de I.E.C. não eficaz331.
Nos casos em que o material é produto de um processo participativo, a testagem tem como
finalidade confirmar que a mensagem é efectivamente compreendida pelo grupo mais alargado
que se pretende alcançar com o material. A testagem surge assim, como o processo pelo qual,
se pode medir e eventualmente aumentar, o nível de eficácia do material de I.E.C. produzido.
Com quem testar?
Idealmente a testagem deve ser realizada com dois tipos diferentes de grupos:
›
conjunto de pessoas com características idênticas àquelas com quem trabalhou na
produção de material de I.E.C. e que correspondem ao perfil da audiência que
148
guia de boas práticas
›
pretende atingir com o seu material. É importante que este grupo de pessoas não
conheçam de antemão, nem o material que está a ser analisado, nem os demais
participantes da sessão332.
os actores chaves da comunidade, ou seja o conjunto de pessoas que têm o papel
de facilitadores ou de bloqueadores, relativamente ao material, podendo aprová-lo
ou rejeitá-lo.
Imagine por exemplo uma situação em que são produzidos folhetos sobre a importância
do uso do preservativo, que deverão ser distribuídos em escolas, em que a média de idades
dos alunos se situa nos dezasseis anos. O material terá sido desenvolvido com a colaboração
de alunos e professores. No entanto, alguns pais quando tomam conhecimento dos panfletos
desaprovam a sua distribuição nas escolas e organizando-se em Associações de Pais, ditam a
retirada dos panfletos das escolas. Caso se tivesse ouvido de antemão a opinião dos pais sobre
o material, esta situação poderia ter sido evitada.
Como testar?
A metodologia que mais tem sido utilizada para realizar a testagem de materiais de I.E.C.,
é a do grupo focal333.
Idealmente, as versões a serem testadas, devem estar o mais próximo possível da versão
final, que vai ser distribuída. No entanto, porque esta versão implicará normalmente custos acrescidos, aconselha-se a produção de uma versão, que sem exigir grandes esforços
financeiros, seja capaz de reproduzir com alguma fidelidade o produto final334.
Os grupos focais permitirão avaliar os materiais em relação às características requeridas
para sua eficácia, a saber 335:
›
›
›
›
›
›
clareza, ou seja saber se o grupo compreendeu a mensagem que o material pretende
transmitir;
capacidade para chamar a atenção — confirmar se os materiais despertam a atenção do grupo, provocando nele uma vontade para ler, ouvir, assistir;
relevância — se a audiência compreendeu o problema, se revê este problema no seu
dia-a-dia, e se reconhece o valor da solução proposta;
nível de lembrança — se as mensagens são simples, claras;
se o grupo se sente motivado para agir;
credibilidade — se o grupo acredita nas informações transmitidas;
maria teresa silva santos
›
pontos fortes e fracos — que aspectos dos material mais agradam ao grupo e que
aspectos mais desagradam.
Da testagem poderão sair informações e recomendações relevantes, no sentido de alterar
alguns aspectos do material.
Um exemplo concreto de testagem
De seguida, vai encontrar um exemplo concreto de mudanças sugeridas num folheto
de prevenção ao VIH/sida dirigido a mulheres profissionais do sexo, produzido pela
Secretaria de Estado de Pernambuco336. O material foi analisado num grupo focal constituído por nove mulheres profissionais de sexo, do Rio de Janeiro:
Aspectos analisados
Enfoque
Problemas encontrados
Em desacordo com o título.
O folheto enfoca o sexo
feito pelas profissionais
do sexo pelo lado do prazer
e não, do trabalho (“Veja
aqui como não abrir mão
do seu prazer”; “Viva o
prazer. Faça sexo seguro”).
O folheto enfoca
em primeiro lugar as
informações sobre “Como
se pega Aids”.
Conceitos
O “Trabalhe com segurança”
é impróprio. O conceito
de segurança é bem mais
amplo: as DST/aids não
são os únicos riscos a que
as trabalhadoras sexuais estão
expostas.
O subtítulo “Facilite sua
vida” também é impróprio,
pois remete para a suposta
“vida fácil”.
Mudanças recomendadas
Tratar o sexo como
actividade profissional.
“Informe-se aqui como
trabalhar sem riscos”;
“Trabalhe com segurança.
Faça sexo seguro”.
Enfatizar formas
de prevenção, que só
aparecem no verso
do folheto e como usar
camisinha.
Substituir o título por
algo como “Trabalhe sem
correr riscos de saúde.”
ou “Trabalhe sem medo
da Aids”.
Substituir o subtítulo
por algo como: “Cuide-se:
use camisinha.” ou
“No trabalho ou no prazer,
sempre com camisinha”.
149
150
guia de boas práticas
Aspectos analisados
Estilo de redacção
Problemas encontrados
O trecho “Camisinha evita
filhos e doenças sexualmente
transmissíveis. Não abra
excepção para ninguém.
Só faça com camisinha.”
está esquisito, difícil de
entender.
Mudanças recomendadas
Usar o artigo no início
da frase: “A camisinha…”
Trocar filhos por
“a gravidez”.
Deixar claro que é para fazer
“sexo” só com camisinha.
A frase modificada seria:
“A camisinha evita a gravidez
e as doenças sexualmente
transmissíveis. Não abra
excepção para ninguém.
Só faça sexo com camisinha”.
Vocabulário
A palavra “prostituta”
é pejorativa e não deve ser
usada. A expressão
“secreções sexuais” não é
clara e confunde o leitor.
Num trecho fala-se
de doenças “sexualmente
transmissíveis, em outro
de “doenças venéreas”.
Usar sempre “profissionais
do sexo” ou “trabalhadoras
sexuais”. É melhor falar
em “esperma” e “líquidos
vaginais”. Uniformizar:
usar sempre “doenças
sexualmente transmissíveis”.
Formato
“O folheto é muito pequeno
e a gente perde com
facilidade. Ele é todo
dobradinho e, aí, a gente
não lê na ordem certa.”
Aumentar o tamanho
e a largura do folheto,
colocando um ou duas
dobras, apenas. Programar
as dobras de modo a facilitar
a leitura na ordem adequada.
Uso de cores
“A cor no geral não tem
nenhuma função especial:
o folheto podia ser preto
e branco”. “Camisinha
amarela?! Tomara eu usar
camisinha, ainda vou
comprar a colorida?!…”
Usar a cor para realçar
ou acentuar trechos mais
importantes. Ilustrar a
camisinha com o modelo
mais simples e acessível
possível.
maria teresa silva santos
Aspectos analisados
Problemas encontrados
Mudanças recomendadas
Tipo e forma de ilustrações
Quando se fala que a “mãe
infectada pode transmitir
o HIV para o filho durante
a gravidez, no parto, e na
amamentação”, a ilustração
que aparece é a da transfusão
sanguínea, que é repetida
depois, no lugar certo.
Não há nenhuma ilustração
retratando a colocação
e a retirada da camisinha.
“Na capa do folheto,
a camisinha aparece enorme
e a trabalhadora sexual
pequenininha, quando
o principal, ali, é a mulher”.
Adequar a ilustração
colocando uma mulher
grávida e/ou amamentando.
Neste momento, “não
se quer informar (nem é
preciso) sobre a transmissão
vertical. Assim, isso pode
sair do folheto”. Incluir
ilustrações que mostrem
a colocação e retirada da
camisinha. A colocação,
de preferência, deverá
ser feita pela própria
trabalhadora sexual,
aproveitando para excitar
mais o homem.
Dar personalidade
às ilustrações, valorizando
a mulher e impedindo
que ela se sinta diminuída
frente à camisinha.
Caracterização das personagens
A aparência da trabalhadora
sexual na capa, retrata
aquelas que fazem “trottoir”.
Existem muitas que não
fazem.
As trabalhadoras sexuais
nem sempre fazem “trottoir”.
A ilustração deve retratar
não uma, mas um conjunto
de diferentes trabalhadoras
sexuais (louras, morenas,
negras, mulatas) sem
usar estereótipo: de salto
alto, minissaia e rodando
bolsinha.
In SCHIAVO, Márcio Ruiz; MOREIRA, Eliesio — Guia de Produção e Uso de Materiais Educativos. Brasília: Ministério da Saúde,
Secretaria de Politicas de Saúde, Coordenação Nacional de DST e AIDS; 1998. p. 49, 50
151
13.
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Existem dois tipos de tempo que devem ser tidos em conta: o tempo da produção do material
e o tempo necessário para serem observadas mudanças ao nível de atitudes e comportamentos.
Quanto tempo para produzir material de I.E.C. adequado?
A bibliografia disponível refere serem necessários entre doze e dezoito meses, para completar um ciclo completo de produção de material de I.E.C.
Se optar por retirar a avaliação, e isolar o processo de produção do material propriamente
dito, alguns autores fazem descer o número de meses necessários para cinco meses, outros
para nove meses337.
De seguida, poderá encontrar um exemplo possível de um plano de trabalho (ver quadro
da página seguinte).
Um ponto a reter neste aspecto, é que a bibliografia revista prevê o recurso a profissionais da
área da publicidade e marketing bem como ilustradores profissionais. Se optar por construir
as mensagens ao nível dos grupos focais, e entregar a ilustração do material a um integrante
do grupo focal, existem razões para crer que o tempo necessário aumente bastante, já que
ficará dependente da disponibilidade das pessoas e da sua motivação. A experiência levada
a cabo no Projecto CRIAS ao nível da produção de material de I.E.C., demonstrou que o
tempo variava bastante de grupo para grupo, dependendo principalmente da existência ou não
de um ilustrador, no seio do próprio grupo. Quando havia, o tempo médio necessário para
a produção de material de I.E.C. situava-se em oito meses, avaliação não incluída.
154
guia de boas práticas
Actividade
Mês
1
I
Recrutamento de pessoal
x
II
Formação do pessoal
x
III
Recrutamento dos
participantes no grupo focal
x
IV
Trabalho com os grupos
focais
2
3
4
5
6
7
x
x
8
9
10
11
12
x
x
x
Rascunho dos materiais:
V
Análise dos dados gerados
pelos grupos focais, desenho
das mensagens;
x
Elaboração de um quadro
resumo com os dados;
x
Colaboração com
os ilustradores ;
x
Rascunho do texto
x
x
Testagem e revisão
dos materiais:
VI
Testagem, revisão e testagem
adicional até atingir um
ponto satisfatório;
x
Pré-apresentação às pessoas
e organizações interessadas;
x
Revisão e testagem até os
materiais terem atingido
um ponto satisfatório.
x
x
VII
Aprovação final pelos grupos
interessados em utilizar
o material
x
VIII
Impressão
x
x
IX
Formação de profissionais
de saúde
X
Distribuição
x
XI
Avaliação
x
In ZIMMERMAN, Margot (et al) — Developing Health and Family Planning Print Materials for Low-luterate audiences: a guide :
PATH, 1989. p. 15
maria teresa silva santos
Quanto tempo para produzir material capaz de promover
a adopção de atitudes e comportamentos seguros?
Alguns estudos mostram que os efeitos imediatos de estratégias de prevenção estão mais
ligados ao aumento de conhecimentos e fazem-se sentir mais ao nível da motivação para
agir, do que ao nível da mudança de comportamento propriamente dita. A longo prazo no
entanto, enquanto que a motivação para agir parece diminuir, a mudança de comportamento
parece aumentar338. Uma explicação avançada é que o uso do preservativo passa a ser automático339. Consensual é a necessidade das campanhas serem continuadas no tempo.
No final dos anos 80, o Programa para o Controlo da SIDA no Uganda, dava conta que
cerca de 6% da população vivia com VIH340. No início dos anos 90, o Uganda era tido
por muitos como o mais amplamente afectado pela epidemia. Campanhas de prevenção,
promoção de atitudes e comportamentos seguros, controlo, o apoio prestado a pessoas que
vivam com VIH/sida confluiu para ganhos sucessivos durante a década de 90. Em 2000,
o país pressentia já, que podia eventualmente, ser vítima do seu próprio sucesso. Com a
epidemia controlada, os fundos disponíveis para apoiar o Uganda foram diminuindo341.
De facto, já em 2006, o relatório de actualização do controlo da epidemia anualmente
divulgado pela ONUSIDA, dava conta que os possíveis ganhos durante a década de 90,
pareciam estar a ser alvo de erosão, com o número de pessoas a usar o preservativo de
forma consistente, a diminuir342.
Existe ainda um outro tipo de efeitos a longo prazo. Indicadores recolhidos após a exposição ao material podem ser fracos indícios dos efeitos que poderão ocorrer a longo prazo,
mesmo depois do material já não ser recordado. É possível que a mensagem tenha impacto
em assuntos mais remotos não explicitamente discutidos pela mensagem343.
155
14.
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A distribuição de material de I.E.C. está dependente do formato que tiver sido escolhido
para passar a mensagem. Assim, por exemplo se o formato tiver sido o panfleto, a questão
coloca-se em termos dos locais mais frequentados pelas pessoas que se pretende envolver
na campanha mas se o formato tiver sido a televisão, a questão da distribuição coloca-se
relativamente à questão do melhor horário, ou da relação possível com os programas que
recolhem mais audiências. Por outro lado, decisões relativas à distribuição terão de ter
em conta as características do grupo que pretende envolver. Se a sua intenção é chegar
a jovens, uma discoteca será em princípio mais adequada do que um super-mercado.
Diferentes formatos, colocarão desafios diferentes com soluções igualmente diferentes.
No entanto, lembre-se sempre de verificar quais as situações em que pode atingir o máximo
número de pessoas do grupo que pretende envolver344.
No caso do panfleto e em todos os casos que implicam uma distribuição física do material
verifique:
›
›
›
os locais de maior concentração do grupo que pretende envolver, que podem ser
bares, igrejas, centros de saúde, discotecas, escolas, empresas, ou outros;
os locais de fácil acesso, que não impliquem despesas de deslocação, nem envolvam gastos de tempo;
os locais que não levantem possibilidade de estigmatização. Por exemplo, se pretende distribuir material sobre tratamento do VIH/sida, e se a sua Associação tem
como objectivo apoiar pessoas que vivam com VIH/sida, e está localizada numa
comunidade em que as pessoas exercem algum controlo social, não opte por distribuir o material exclusivamente na sua Associação.
158
guia de boas práticas
No caso da televisão e de outros meios de comunicação de massa, como por exemplo
a rádio, verifique:
›
›
que a campanha de prevenção ou controlo é colocada no horário que corresponde
ao horário em que o grupo que pretende envolver, segue o programa;
que a campanha de prevenção é intercalada com os programas mais ouvidos ou
vistos pelo grupo que pretende envolver, conseguindo desta forma uma associação entre a campanha e o programa. Por exemplo, ao colocar uma campanha de
prevenção dirigida a jovens junto do programa de televisão mais visto pelos jovens
e que passa uma imagem cool, é de esperar que a mensagem seja associada a este
programa ao estilo de vida veiculado pelo programa.
Q"H"$R0-%&2'>%>1%#G$.,-&2
1
UNAIDS — 2010 Aids epidemic update. Geneva: UNAIDS, 2010. p. 20.
2
Kaleeba, Noerine; Kadowe, Joyce Namulondo; Kalinaki, Daniel; Williams, Glen — Open Secret:
People facing up to HIV/AIDS in Uganda. London: ActionAid, 2000, p. 3.
3
Hedebro, Gorän — Communication and Social Change in Developing Nations: A Critical View. Iowa:
The Iowa State University Press, 1982, p. 5.
4
Selaimen, Gabriela — Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação. Rio de Janeiro: RITS, 2004,
p. 21.
5
Fiske, John — Introduction to Communication Studies. London: Routledge, 1990, p. 21.
6
Epskamp, Kees; Boeren, Ad — Education and communication: a conceptual framework in Epskamp,
Kees; Boeren, Ad — The empowerment of culture: development and communication and popular media.
The Hague: Centre for he Study of Education in Developing Countries, 1992, p. 15.
7
Epskamp, Kees; Boeren, Ad — Education and communication: a conceptual framework in Epskamp,
Kees; Boeren, Ad — The empowerment of culture: development and communication and popular media.
The Hague: Centre for he Study of Education in Developing Countries, 1992, p. 14.
8
Fiske, John — Introduction to Communication Studies. London: Routledge, 1990, p. 2.
9
Epskamp, Kees; Boeren, Ad — Education and communication: a conceptual framework in Epskamp,
Kees; Boeren, Ad — The empowerment of culture: development and communication and popular media.
The Hague: Centre for he Study of Education in Developing Countries, 1992, p. 17.
10 Nwosu, Peter — Introduction in Communication and the transformation of society — A developing region’s
perspective. Nwosu, Peter; Onwenmechell, Chuka, M’Bayo, Richard, ed., London: University Press
of America, 1995, p. 13.
11 UNIFEM; APGEN; UNDP; UNAIDS; UNICEF; UNHCR — Women, Gender and HIV/AIDS in
East and Southeast Asia: UNIFEM, p. 1.
12 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS,
1999, p. 10.
160
guia de boas práticas
13 Middleton-Lee, Sarah — Uma Educação pelos pares eficaz: trabalhar sobre saúde sexual e reprodutiva
e o VIH/Sida com crianças e jovens. Maputo: Save The Children, 2004, pp. 15-16.
14 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS,
1999, p. 6.
15 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS,
1999, p. 25.
16 Edström, Jerker; Cristobal, Arthur; De Soysa Chulani; Sellers Tilly — Ain’t misbehavin’: beyond
individual behaviour change. S. l.: PLA Notes 37 (2000), p. 22.
17 Norwegian Group On Hiv/Aids And Gender — HIV/AIDS: an awareness raising folder. Oslo:
Working Group on HIV/AIDS and Gender, 2001, p. 5.
18 Whelan, Daniel — Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 5.
19 India HIV/ AIDS Alliance; ICRW; VMM; PWDS; MAMTA; LEPRA INDIA — Women & HIV/
AIDS: The Changing Force of the Epidemic in India. S. l.
20 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS,
1999, p. 16.
21 Norwegian Group On HIV/AIDS And Gender — HIV/AIDS: an awareness raising folder. Oslo:
Working Group on HIV/AIDS and Gender, 2001, p. 6.
22 ONUSIDA — Mulheres e o SIDA: Ponto de vista da ONUSIDA. S. l.: UNAIDS, 1997, p. 3.
23 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality
and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 6.
24 ONUSIDA — Mulheres e o SIDA: Ponto de vista da ONUSIDA. S. l.: UNAIDS, 1997, p. 3.
25 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality
and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 6.
26 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality
and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 6.
27 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality
and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 3.
28 UNAIDS
—
Young
people
‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/
YoungPeople›, visitado em 23 de Setembro de 2008
29 UNAIDS
—
Young
people
‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/
YoungPeople›, visitado em 23 de Setembro de 2008
30 UNAIDS — Aids epidemic update. Geneva: UNAIDS, 2006, p. 3.
31 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS,
1999, p 16.
32 India HIV/ AIDS Alliance; ICRW; VMM; PWDS; MAMTA; LEPRA INDIA — Women & HIV/
AIDS: The Changing Force of the Epidemic in India. S. l., p. 2.
33 Whelan, Daniel — Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 9.
34 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS,
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