Vida cotidiana nos tempos bíblicos

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Vida cotidiana nos tempos bíblicos
Digitalizado por dumane
www.semeadoresdapalavra.net
Vida Cotidiana
nos
Tempos Bíblicos
Redatores:
JAMES I. PACKER, AM., D. PHIL.
Regent College
MERRILL C. TENNEY, A.M., Ph.D.
Wheaton Graduate School
WILLIAM WHITE, JR. Th.M., Ph.D.
Traduzido por
Luiz Aparecido Caruso
Editora Vida
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ISBN 0-7297-0985-1
Categoria: Comentários Bíblicos
Traduzido do original em inglês:
Daily Life in Bible Times
Copyright ® 1982 by Thomas Nelson Inc. Publishers
Copyright ® 1980 by Editora Vida
1.a impressão, 1982
2.a impressão, 1986
3.a impressão, 1988
Todos os direitos reservados na língua portuguesa por
Editora Vida, Miami, Florida 33167― E.U.A
As citações bíblicas são extraídas da Versão de Almeida,
Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil,
salvo onde outra fonte for indicada.
ERC ― Versão de Almeida, Edição Revista e Corrigida
ÍNDICE
Introdução ......................................................................................8
1. Relacionamentos da família .....................................................10
2. Mulheres e condições da mulher ..............................................29
3. Casamento e divórcio ...............................................................53
4. Nascimento e primeira infância ...............................................73
5. Infância e adolescência ............................................................95
6. Enfermidades e cura ............................................................... 113
7. Alimento e hábitos alimentares ..............................................126
8. Vestuário e cosméticos ...........................................................149
9. Arquitetura e mobiliário .........................................................175
10. Música..................................................................................190
11. Rituais de culto.....................................................................203
Reconhecimentos .......................................................................236
INTRODUÇÃO
Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos apresenta os resultados
da mais recente pesquisa bíblica arqueológica relacionada com a
vida e praticai do dia-a-dia do povo da Bíblia. As leis, os costumes
e os hábitos dos tempos bíblicos são muito diferentes dos de nosso
tempo; e quando pudermos entender essas diferenças, tiremos um
quadro muito mais claro de muitos dos acontecimentos registrados
na Bíblia.
A vida da família descrita nas Escrituras difere muito da
nossa. Mulheres e crianças ocupavam na sociedade posições
diferentes do que ocupam em nossa época. Além do mais, nos
tempos bíblicos as mulheres de Israel possuíam um status muito
mais favorável do que o desfrutado pelas mulheres das culturas
circunvizinhas. O alto conceito em que os hebreus tinham o
casamento era ímpar naquele tempo, muito embora houvesse
constante tensão entre os ideais de Israel e as práticas corruptas
dos povos entre os quais eles viviam. Os filhos eram bem-vindos
ao seio da família, e em muitos casos o amor que a família bíblica
votava aos filhos está refletido nas Escrituras. Outro elemento da
vida familiar bem diferente do nosso é o alto grau de respeito
dispensado às pessoas idosas.
Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos abrange muito mais do
que a vida em família. Enfermidade e cura, alimento e hábitos
alimentares, vestuário e adorno também são examinados de um
modo que ajude o leitor da Bíblia a retratar as práticas da era
bíblica.
Comparada com a dos romanos e a dos gregos, a arquitetura
hebraica era simples. Nos primeiros tempos as pessoas viviam em
tendas grandes, e somente quando Israel se fixou na terra é que se
construíram casas e se fizeram óbvias as diferenças entre os
abastados e os pobres. A música de Israel era simples também,
embora, afinal, se introduzissem instrumentos procedentes dos
povos que rodeavam a nação. Além disso, atribui-se a Davi a
invenção de diversos instrumentos musicais. Muitos desses
instrumentos eram usados no culto.
O culto de Israel era marcado por temor e ações de graça,
esperança e gratidão. Ainda que esse culto nem sempre tenha sido
fiel, Israel experimentou as bênçãos das promessas de Deus. Foi
esta esperança trouxe alegria tão exuberante às suas celebrações.
Vida cotidiana nos Tempos Bíblicos é um guia das leis,
costumes e princípios morais do período bíblico. O estudante da
Bíblia é incentivado a ler o livro e a descobrir o significado desses
fatores na vida de Israel, bem como o seu significado para os
nossos dias.
1. RELACIONAMENTOS DA FAMÍLIA
Dois fatos se destacam no que a Bíblia diz acerca da família e
seus relacionamentos. Primeiro, os papéis dos membros da família
permaneceram quase os mesmos durante o período bíblico. A
mudança de cultura e de leis não afetou em grande medida os
costumes familiares. É verdade que os povos que viveram nos
primeiros tempos do período do Antigo Testamento eram
seminômades ― freqüentemente se mudavam de uma região para
outra ― de modo que seus hábitos diferiam, de certa forma,
daqueles dos povos de residência fixa. A lei mosaica aboliu
algumas da práticas nômades, tais como o casamento de um
homem com sua irmã. Todavia, permaneceu a maior parte do
estilo de vida familiar original, mesmo na era neotestamentária.
Segundo, a vida da família nos tempos bíblicos refletia uma
cultura muito diferente da nossa. É preciso que reconheçamos esta
diferença quando nos voltamos para as Escrituras em busca de
diretriz na criação de nossas famílias. Devemos buscar os
princípios bíblicos em vez de copiar diretamente os estilos de vida
específicos que a Bíblia retrata. Esses estilos de vida foram
projetados para pequenas comunidades agrícolas, e em muitos
casos não eram do agrado de Deus. Por exemplo: a cultura daquela
época permitia a um homem ter mais de uma esposa, e alguns
homens de Deus as tiveram; não obstante, em parte alguma a
Bíblia declara que Deus aprovou esta prática. Classificamo-la
como um costume cultural tolerado, mas não um costume
receitado biblicamente.
Outro exemplo: Quando Abraão viveu no Egito com Sara, ele
lhe recomendou dizer que era sua irmã, temendo que os egípcios o
matassem por causa da grande beleza de Sara. Ela era, de fato, sua
meia-irmã, um grau de parentesco que Deus mais tarde
especificou como próximo demais para casamento (cf. Gênesis
20:12; Levítico 18:9). Como resultado, Faraó levou Sara para sua
casa e Deus afligiu―lhe a família com pragas a fim de resgatá-la.
O ensino bíblico sobre a vida familiar inclui instruções para
os filhos, para as mães e para os pais. Veremos exemplos de
famílias que observaram a vontade de Deus e foram grandemente
abençoadas; veremos também as que desobedeceram a Deus e
colheram as conseqüências. Ao longo do caminho notaremos
como a vida da família mudou durante o curso da história de
Israel.
A UNIDADE FAMILIAR
A família foi a primeira estrutura social que Deus criou. Ele
formou a primeira família juntando Adão e Eva como marido e
esposa (Gênesis 2:18-24). O homem e a mulher tornaram-se o
núcleo de uma unidade familiar.
Por que Deus criou a estrutura da família? Gênesis 2:18 diz
que Deus criou a mulher como auxiliadora de Adão, o que indica
que o homem e a mulher foram reunidos primeiramente para
companheirismo; a esposa devia ajudar o marido, e o marido devia
cuidar da esposa. Então os dois juntos deviam atender às
necessidades dos filhos, fruto de seu relacionamento.
A. Marido. A palavra hebraica que traduzimos por marido
significa, em parte, "dominar, governar". Também pode ser
traduzida como "senhor, amo". Como cabeça da família, o esposo
era responsável pelo seu bem-estar. Por exemplo, quando Abraão e
Sara enganaram Faraó a respeito de seu casamento, o governante
inquiriu a Abraão em vez de Sara, que realmente havia mentido
(Gênesis 12:17-20). Isto não quer dizer que o marido hebreu era
um tirano que gostava de mandar na família. Pelo contrário, ele
assumia amorosamente a responsabilidade pela família e buscava
atender às necessidades dos que estavam debaixo de sua
autoridade.
Todo casal judeu unia-se com a idéia de ter filhos. Estavam
especialmente ansiosos por ter um filho varão. O homem
orgulhava-se de verdade pela sorte de ser pai de um filho.
Jeremias observou: "...o homem que deu as novas a meu pai,
dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente"
(Jeremias 20:15).
O pai judeu assumia a liderança espiritual da família; ele
funcionava como seu sacerdote (cf. Gênesis 12:8; Jó 1:5).
Esperava-se que ele conduzisse a família na observância dos
vários ritos religiosos, tais como a Páscoa (Êxodo 12:3).
Juntamente com a esposa, o pai devia ensinar "a criança no
caminho em que deve andar..." (Provérbios 22:6). O pai tinha,
também, de transmitir aos filhos toda a lei escrita. Ele era
admoestado nestes termos: "tu as inculcarás a teus filhos, e delas
falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão
e te serão por frontal entre os teus olhos. E as escreverás nos
umbrais de tua casa, e nas tuas portas" (Deuteronômio 6:7-9).
Casa do Antigo Testamento reconstruída. Interior reconstruído
de uma casa típica dos tempos bíblicos mostra o fogão (à esquerda
do centro) e uma talha com a concha de tirar água (primeiro
plano). Um tear horizontal pende de um poste no lado esquerdo da
área onde a família toma as refeições ― uma esteira circular posta
com tigelas. Jarras de guardar mantimento, cestas e tigelas estão
nas prateleiras, nos bancos e no chão.
Na porta da cidade. As portas tas da cidade eram centros de
conversações e de comércio. Muitas vezes as portas recebiam o
nome de acordo com os artigos aí negociados (p. ex., Porta das
Ovelhas, Porta do Peixe)- Visto como os anciãos muitas vezes
faziam negócio junto à porta, "assentar-se à porta" significava
atingir certa eminência social.
O pai tinha de infligir castigo físico quando necessário. Isto
devia ser feito de tal modo que não provocasse "vossos filhos à
ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor"
(Efésios 6:4).
Nos tempos bíblicos, o homem que não sustentasse
adequadamente a família era culpado de ofensa grave. O homem
que falhava neste ponto era evitado e escarnecido pela sociedade
(cf. Provérbios 6:6-11; 19:7). Paulo escreveu: "Ora, se alguém não
tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem
negado a fé, e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8).
Como esposo e pai, o homem defendia os direitos da família
perante os juizes quando se fizesse necessário (veja Deuteronômio
22:13-19). "O órfão e a viúva" não tinham um homem que
defendesse seus direitos, por isso com freqüência lhes era negada
a justiça (cf. Deuteronômio 10:18).
O povo judeu era governado por várias tradições judaicas. O
Talmude diz que o pai tinha quatro responsabilidades para com o
filho, além de ensinar-lhe a Lei. Ele devia circuncidar o filho (cf.
Gênesis 17:12-13), redimi-lo de Deus se ele fosse o primogênito
(cf. Números 18:15-16), achar-lhe uma esposa (cf. Gênesis
24:4), e ensinar-lhe uma profissão.
Um bom pai pensava nos filhos como seres humanos
completos, e respeitava seus sentimentos e capacidades. Disse um
erudito judeu daquele tempo que um bom pai devia "afastá-los
com a mão esquerda e puxá-los para junto de si com a mão
direita". Este delicado equilíbrio entre firmeza e afeição tipificava
o pai judeu ideal.
B. Esposa. No casamento, espontaneamente a mulher
assumia um lugar de submissão ao companheiro. A
responsabilidade da esposa era a de "auxiliadora" do marido
(Gênesis 2:18), aquela que "lhe faz bem, e não mal, todos os dias
de sua vida" (Provérbios 31:12). Sua principal responsabilidade
girava em torno do lar e dos filhos, mas às vezes se estendia ao
mercado e a outras áreas que afetavam o bem-estar da família (cf.
Provérbios 31:16, 25).
O alvo primário da esposa era dar filhos ao marido. O portavoz da família de Rebeca disse-lhe: "És nossa irmã: sê tu a mãe de
milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos
seus inimigos" (Gênesis 24:60). A família judia esperava que a
esposa se tornasse como uma videira frutífera, enchendo n casa de
filhos (Salmo 128:3). Assim, a mãe saudava o primeiro filho com
muita felicidade e
alívio.
À medida que os filhos iam chegando, a mãe ia ficando mais
presa ao lar. Ela amamentava cada criança até à idade de dois ou
três anos, além de vestir e alimentar O restante da família.
Diariamente gastava horas preparando refeições e fazendo roupas
de lã. Quando necessário, a esposa ajudava o marido nos campos,
plantando ou colhendo.
A mãe participava da responsabilidade de educar os filhos.
Estes passavam os primeiros anos formativos da vida junto à mãe.
Finalmente, os filhos varões tinham idade suficiente para
acompanhar os pais aos campos ou a outro lugar de emprego (cf.
Provérbios 31:1-9). A mãe voltava, então, suas atenções mais
plenamente para as filhas, ensinando-lhes como ser esposas e
mães bem-sucedidas.
O desempenho das tarefas de uma mulher determinava o
fracasso ou o êxito da família. Os sábios diziam: "A mulher
virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede
vergonhosamente é como podridão nos seus ossos" (Provérbios
12:4). Se a esposa trabalhava com afinco na tarefa que tinha pela
frente, o marido era grandemente beneficiado. Os judeus
acreditavam que um homem poderia galgar posição, entre os
líderes de Israel, somente no caso de sua esposa ser sábia e
talentosa (cf. Provérbios 31:23).
C. Filhos varões. Nos tempos bíblicos, os filhos varões
tinham de sustentar os pais quando estes envelhecessem, e darlhes sepultamento digno. Por este motivo, o casal geralmente
esperava ter muitos filhos, "Como flechas na mão do guerreiro,
assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua
aljava: não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à
porta" (Salmo 127:4-5).
O primogênito mantinha um lugar de honra muito especial no
seio da família. Esperava-se que ele fosse o próximo cabeça da
casa. No decurso de sua vida, esperava-se que ele assumisse maior
responsabilidade por seus atos e pelos atos de seus irmãos. Foi por
isto que Rúben, como irmão mais velho, mostrou maior
preocupação pela vida de José, quando os irmãos concordaram em
matá-lo (Gênesis 37:21, 29).
Ao morrer o pai, o primogênito recebia uma porção dobrada
da herança da família (Deuteronômio 21:17; 2 Crônicas 21:2-3).
O quinto mandamento admoestava: "Honra a teu pai e a tua
mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor
teu Deus te dá" (Êxodo 20:12). Tanto o pai quanto a mãe deviam
receber a mesma soma de respeito. Contudo, os rabinos do
Talmude raciocinavam que se alguma vez um filho tivesse de
escolher entre os dois, a preferência devia ser dada ao pai. Por
exemplo, se ambos os pais pedissem um copo de água
simultaneamente, o Talmude ensinava que tanto o filho quanto a
mãe deviam atender à necessidade do pai.
Jesus foi o exemplo perfeito de filho obediente. Lucas
observou que aos 12 anos de idade, Jesus "desceu com eles para
Nazaré; e era-lhes submisso" (Lucas 2:51). Mesmo enquanto
suportava as agonias da cruz, Jesus pensou em sua mãe e em sua
responsabilidade para com ela como primogênito. Pediu a João
que cuidasse dela após a sua morte, cumprindo desse modo seu
dever de amor (João 19:27).
D. Filhas. Nos tempos antigos, as filhas não eram prezadas
como os filhos varões. Alguns pais realmente as consideravam
como um fardo. Por exemplo, um pai escreveu: "O pai vela pela
filha, quando nenhum homem sabe; e o cuidado dela tira o sono:
quando ela é jovem, para que não deixe passar a flor da idade [não
deixe de casar-se]; e sendo casada, para que não seja odiada; em
sua virgindade, para que não seja violada e se engravide na casa
do pai; ou tendo marido, para que ela não se comporte mal; e
quando casada, para que não seja estéril" (Eclesiástico 42:9-10).
Contudo, os hebreus tratavam as filhas com mais humanidade
do que algumas das culturas vizinhas. Os romanos realmente
expunham as filhas recém-nascidas aos elementos, na esperança
de que morressem. Os hebreus criam que a vida ― do homem e
da mulher ―vinha de Deus. Por esta razão, nunca considerariam
matar um de seus filhinhos. Em realidade, quando o profeta Nata
procurou descrever o relacionamento íntimo de um pai com o
filho, ele retratou uma filha nos braços do pai com a cabeça
reclinada no seu regaço (2 Samuel 12:3).
Moendo farinha, assando pão. Os hebreus usavam pedras para
moer o trigo e a cevada a fim de fazer farinha. Misturavam a
farinha, o fermento, o azeite de oliveira e água ou leite para fazer
uma massa que depois era adelgaçada para ir ao forno.
As filhas primogênitas tinham um especial lugar de honra e
de deveres na família. Por exemplo, a primogênita de Ló tentou
persuadir a irmã mais moça a ter um filho do pai, para preservar a
família (Gênesis 19:31-38). Na história de Labão e Jacó, a filha
primogênita, Lia, teve prioridade sobre a irmã mais moça (Gênesis
29:26).
Se a família não tinha filhos varões, as filhas podiam herdar
as possessões do pai (Números 27:5-8); mas só poderiam
conservar a herança se se casassem dentro de sua própria tribo
(Números 36:5-12).
A filha estava sob o domínio legal do pai até que se casasse.
O pai tomava por ela todas as decisões importantes, tais como
com quem ela devia casar-se. Mas a filha era solicitada a dar seu
consentimento na escolha de um noivo, e às vezes até lhe era
permitido declarar preferência (Gênesis 24:58; 1 Samuel 18:20). O
pai aprovava todos os votos da filha antes de se tornarem
obrigatórios (Números 30:1-5).
Uma "Mesa" Judaica. Uma família israelita dos tempos do
Antigo Testamento comia em volta de uma esteira no chão, como
esta, onde eram postos os pratos de barro simples. Esta
reconstrução encontra-se no Museu Ha-Aretz, em Tel-Avive.
Esperava-se que a filha ajudasse a mãe no lar. Bem cedo na
vida ela começava a aprender as várias habilidades de que
necessitava para tornar-se uma boa esposa e mãe. Aos 12 anos de
idade, a filha tornava-se dona-de-casa com seus direitos próprios e
lhe era permitido casar.
Em algumas culturas do Oriente Próximo, as famílias não
permitiam que as filhas saíssem de casa. Se apareciam em público,
deviam usar um véu para cobrir o rosto e não lhes era permitido
falar com pessoas do sexo masculino. Os israelitas não impunham
tais restrições às suas filhas. As moças eram relativamente livres
para ir e vir, contanto que dessem conta do seu trabalho. Vemos
exemplos desta liberdade no caso de Rebeca, que conversou com
um estranho junto ao poço (Gênesis 24:15-21), e as sete filhas do
sacerdote de Midiã, que conversaram com Moisés enquanto
davam de beber ao rebanho do pai (Êxodo 2:16-22).
As moças dos tempos bíblicos preocupavam-se muito com
sua aparência. Acreditavam que a pele clara era bonita. Se uma
jovem ficava bronzeada pelo sol, ela se escondia da vista pública
(Cantares 1:6). Por este motivo, as mulheres procuravam fazer o
trabalho externo nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer.
Às vezes, porém, a mulher era obrigada a expor-se ao sol do meiodia, como no caso da jovem de Cantares de Salomão. Ela acusou
os irmãos de a colocarem "por guarda das vinhas", o que significa
que era obrigada a estar fora de casa a maior parte do dia
(Cantares 1:6).
A família esperava que a filha permanecesse virgem até ao
casamento. Infelizmente, nem sempre isto acontecia. Algumas
moças eram seduzidas ou violadas. Quando isto acontecia, a lei
mosaica estabelecia distinções cuidadosas entre o castigo pela
violação de uma moça que estava noiva e pelo da que não estava.
Freqüentemente as filhas casavam-se em idade prematura. Tais
casamentos não criavam os problemas que criam hoje. Embora a
recém-casada deixasse o domínio do pai, ela entrava no novo
domínio do marido e sua família. A sogra entrava em cena para
continuar a orientação e o treinamento que a jovem havia recebido
de sua própria mãe. A esposa e a sogra muitas vezes criavam um
laço de amizade forte e duradouro. Isto se acha perfeitamente
exemplificado no livro de Rute, quando Noemi repetidamente se
refere a Rute como "minha filha". Miquéias descreveu a família
rixenta como aquela em que "a filha se levanta contra a mãe, a
nora contra a sogra" (Miquéias 7:6).
Quando uma jovem ia viver com a família do marido, ela não
abria mão de todos os direitos que tinha em sua própria família. Se
o marido morria e não havia cunhados com quem se casar, ela
podia voltar à casa paterna. Foi exatamente isso que Noemi
recomendou às suas noras, e Orfa aceitou a sugestão (Rute 1:818).
E. Irmãos e Irmãs. O amor desenvolvia-se entre os irmãos
enquanto cresciam juntos, compartilhando as responsabilidades,
os problemas e as vitórias. Um dos Provérbios declara: "O homem
que tem muitos amigos pode congratular-se; mas há amigo mais
chegado do que um irmão" (Provérbios 18:24, ERC).
José revelou verdadeiro amor a seus irmãos. Mas enquanto
ele era jovem, os irmãos o venderam à escravidão porque odiavam
a predileção do pai para com ele. Mais tarde, quando José adquiriu
poder e posição, podia ter acertado as contas com eles. Em vez de
fazê-lo, ele lhes mostrou amor e misericórdia. Disse ele: "Agora,
pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por
me haverdes vendido para aqui; porque para conservação da vida,
Deus me enviou adiante de vós" (Gênesis 45:5).
A Bíblia descreve muitos irmãos que mantiveram um
profundo e permanente amor entre si. O Salmista descreveu o
amor dos irmãos, dizendo: "É como o óleo precioso sobre a
cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a
gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce
sobre os montes de Sião" (Salmo 133:2-3).
Irmãos e irmãs também compartilhavam um laço especial. Os
filhos de Jó nunca davam banquetes sem convidar suas três irmãs
(Jó 1:4). Quando Diná foi violada, seus irmãos vingaram o crime
(Gênesis 34).
Nos tempos antigos, às vezes os jovens se casavam com sua
meia―irmã. Abraão e Sara tinham o mesmo pai, mas diferentes
mães (Gênesis 20:12). Como já observamos, a lei mosaica proibiu
esta prática (Levítico 18:9; 20:17; Deuteronômio 27:22).
O laço de amor entre irmãs e irmãos era tão forte que a lei
mosaica permitia que o sacerdote tocasse o corpo de um irmão,
irmã, pai, mãe ou filho falecido (Levítico 21:1-3). Esta era a única
vez que o sacerdote podia tocar um defunto e tornar-se
cerimonialmente contaminado.
A FAMÍLIA AMPLIADA
No sentido mais fundamental, a família hebraica constituía-se
do esposo, esposa e filhos. Quando o marido tinha mais de uma
esposa, a "família" incluía todas as esposas e todos os filhos em
seus vários relacionamentos (cf. Gênesis 30). Às vezes a família
incluía todos os que compartilhavam um teto comum sob a
proteção do cabeça da família. Podiam ser avós, criados e
visitantes, bem como filhas viúvas e seus filhos. A família
ampliada geralmente incluía os filhos e suas esposas e filhos
(Levítico 18:6-18). Deus contou os escravos de Abraão como
parte do grupo familiar, pois ele exigiu que Abraão os
circuncidasse (Gênesis 17:12-14, 22-27). Na primitiva história de
Israel até quatro gerações viviam juntas. Isto era parte normal do
modo de vida seminômade e mais tarde do modo de vida agrícola.
No Oriente Médio, ainda hoje os povos seminômades
perambulam juntos como famílias numerosas em busca de
sobrevivência. Cada família ampliada tem seu próprio "pai" ou
xeque, cuja palavra é lei.
Nos dias do Antigo Testamento, a família ampliada era
governada pelo homem mais velho da casa, que também era
chamado "pai". Muitas vezes esta pessoa é o avô ou bisavô. Por
exemplo, quando a família de Jacó se mudou para o Egito, Jacó
foi considerado o "pai" ― muito embora seus filhos tivessem
esposas e filhos (cf. Gênesis 46:8-27). Jacó continuou no governo
da "família" até à morte.
O "pai" de uma família ampliada tinha o poder de vida e
morte sobre todos os seus membros. Vemos isto quando Abraão
quase sacrificou seu filho Isaque (Gênesis 22:9-12), e quando Judá
sentenciou sua nora à morte porque ela havia cometido adultério
(Gênesis 38:24-26).
Mais tarde, a lei mosaica restringiu a autoridade do pai. Não
lhe permitia sacrificar o filho sobre o altar (Levítico 18:21).
Permitia-lhe vender a filha, desde que não fosse a um estrangeiro,
ou para prostituição (Êxodo 21:7; Levítico 19:29). De acordo com
a lei, o pai não podia negar o direito de primogenitura de seu
primogênito, mesmo que ele tivesse filhos de duas mulheres
diferentes (Deuteronômio 21:15-17).
Alguns pais hebreus quebraram essas leis, como no caso de
Jefté, que votou sacrificar quem quer que lhe saísse ao encontro
após seu retorno vitorioso da batalha. Sua filha foi a primeira
pessoa. Crendo que ele tinha de cumprir o voto, Jefté sacrificou-a
(Juizes 11:31, 34-40). Da mesma forma o rei Manasses queimou o
filho para aplacar um deus pagão (2 Reis 21:6).
Não sabemos quando a família ampliada dos tempos do
Antigo Testamento abriu caminho para a estrutura familiar que
conhecemos hoje. Alguns eruditos acham que ela se extinguiu
durante a monarquia de Davi e de Salomão. Outros crêem que ela
continuou por mais tempo ainda. Mas, nos tempos do Novo
Testamento, a família ampliada havia quase desaparecido. Os
escritos de Paulo o confirmam; quando ele escreveu sobre os
papéis e atitudes de cada membro da família, falou apenas dos
pais, filhos e escravos (cf. Efésios 5:22― 6:9).
O Novo Testamento diz que José e Maria viajaram como um
casal para alistar-se em Belém (Lucas 2:4-5). Foram ao templo
sozinhos quando Maria ofereceu sacrifícios (Lucas 2:22). Também
viajaram sozinhos quando levaram Jesus para o Egito (Mateus
2:14). Esses relatos tendem a confirmar que a "família" do Novo
Testamento constituía-se somente do marido, da esposa e dos
filhos.
O CLÃ
A família ampliada fazia parte de um grupo maior a que
chamamos clã. O clã podia ser tão grande que registrava centenas
de homens em suas fileiras (cf. Gênesis 46:8-27; Esdras 8:1-14).
Os membros de um clã descendiam de um ancestral comum, e
assim se consideravam uns aos outros como parentes. Sentiam-se
obrigados a ajudar e a proteger uns aos outros.
Muitas vezes o clã designava um homem, chamado goel, para
oferecer ajuda aos membros necessitados. Em português, esta
pessoa é mencionada como resgatador. Sua ajuda cobria muitas
áreas de necessidade.
Se um membro do clã tinha de vender parte de sua
propriedade para pagar dívidas, ele dava ao resgatador a primeira
opção de compra. O resgatador tinha, então, de comprar a
propriedade, se pudesse, para conservá-la na posse do clã
(Levítico 25:25; cf. Rute 4:1-6). Vemos esta situação quando o
primo de Jeremias veio a este, dizendo: "Compra o meu campo
que está em Anatote... porque teu é o direito de posse e de resgate;
compra-o" (Jeremias 32:6-8). Jeremias comprou o campo e usou o
acontecimento para proclamar que os judeus finalmente voltariam
a Israel (Jeremias 32:15).
De quando em quando um exército capturava reféns e os
vendia pela melhor oferta. Também, um homem podia vender-se à
escravidão para resgatar uma dívida. Em ambos os casos, o
parente do escravo tinha de encontrar o resgatador do clã, que
tentaria comprar a liberdade do seu parente (Levítico 25:47-49).
Se um homem casado morria sem ter deixado filho, o goel
tinha de casar-se com a viúva (Deuteronômio 25:5-10). A isto se
dava o nome de casamento de levirato ("cunhado"). Quaisquer
filhos nascidos deste arranjo eram considerados descendência do
irmão falecido.
A história de Rute e Noemi exemplifica bem a
responsabilidade do resgatador. A viúva Noemi tinha de vender
sua propriedade próxima de Belém, e queria que sua nora sem
filhos se casasse de novo. O parente mais próximo concordou em
adquirir o campo mas não estava disposto a casar-se com Rute.
Assim, ele desistiu de ambas as obrigações numa cerimônia
realizada perante os anciãos da cidade. Então Boaz, o parente
seguinte, comprou o campo e casou-se com Rute (Rute 4:9-10).
O goel tinha de vingar a morte de um parente. Nesse caso, ele
era chamado "vingador do sangue" (cf. Deuteronômio 19:12). A
lei de Moisés limitava esta prática estabelecendo cidades de
refúgio para onde os homicidas podiam fugir, porém mesmo esta
providência não garantia a segurança do assassino. Se o homicídio
foi praticado por maldade ou premeditação, o vingador do sangue
seguiria o homicida até à cidade de refúgio e exigiria sua
extradição. Em tal caso, o homicida seria entregue ao goel è este o
mataria (cf. Deuteronômio 19:1-13). Foi assim que Joabe matou a
Abner (2 Samuel 3:22-30).
EROSÃO DA FAMÍLIA
A família que vive em harmonia e em verdadeiro amor é um
deleite para todos quantos se associam com ela. Por certo foi isto
que Deus tinha em mente quando estabeleceu a família.
Infelizmente, a Bíblia mostra-nos poucas famílias que alcançaram
este ideal. No decurso da história bíblica, as famílias foram-se
desgastando por pressões sociais, econômicas e religiosas.
Podemos identificar alguns desses fatores.
A. Inexistência de filhos. A falta de filhos era uma grande
ameaça a um casamento nos tempos bíblicos. Se o casal não podia
conceber um filho, marido e mulher consideravam o problema
como castigo de Deus.
A despeito de seu constante amor à esposa, um homem sem
filhos às vezes se casava com uma segunda mulher ou usava os
serviços de uma escrava para conceber filhos (Gênesis 16:2; 30:3;
Deuteronômio 21:10-14). Alguns homens divorciavam-se da
esposa para fazer isto. Embora esta prática solucionasse o
problema da falta de filhos, ela criava muitos outros problemas.
B. Poligamia. Havia contínua rixa doméstica quando duas
mulheres compartilhavam o mesmo marido nos tempos do Antigo
Testamento. A palavra hebraica para a segunda esposa significa,
literalmente, "esposa rival" (cf. 1 Samuel 1:6); isto sugere
que geralmente havia amargura e hostilidade entre esposas
polígamas. Não obstante, a poligamia era habitual, especialmente
no tempo dos patriarcas. Se um homem não podia levantar o
dinheiro de casamento para uma segunda esposa, ele considerava a
compra de uma escrava para esse fim ou o uso de uma que ele já
tinha em casa (cf. Gênesis 16:2; 30:3-8).
Num casamento polígamo, invariavelmente o marido
favorecia uma esposa em detrimento da outra. Isto causava
complicações como, por exemplo, decidir qual o filho a honrar
como primogênito. Às vezes um homem desejava deixar a herança
para o filho da esposa favorecida, embora, em realidade, devesse
deixá-la ao filho da esposa "aborrecida" (Deuteronômio 21:15:17).
Moisés declarou que o primogênito tinha de ser devidamente
honrado, e o marido não podia reduzir a parte da mãe do
primogênito diminuindo "o mantimento da primeira, nem os seus
vestidos, nem os seus direitos conjugais" (Êxodo 21:10).
A política era, também, motivo para a poligamia. Muitas
vezes um rei selava uma aliança com outro, casando-se com a
filha do seu aliado. Quando a Bíblia fala do grande harém de
Salomão, ela acentua que ele "Tinha setecentas mulheres,
princesas" (1 Reis 11:3). Isto mostra que a maioria de seus
casamentos foram de natureza política. Provavelmente as
mulheres vinham de pequenas cidades-estados e de tribos dos
arredores de Israel.
Depois do Êxodo, a maioria dos casamentos hebreus foram
monogâmicos; cada marido tinha somente uma esposa (Marcos
10:2-9). O livro dos Provérbios nunca menciona a poligamia,
muito embora toque em muitos aspectos da cultura hebraica. Os
profetas sempre usaram o casamento monogâmico para descrever
o relacionamento do Senhor com Israel. Tal casamento era o ideal
da vida familiar.
C. Morte do marido. A morte do marido sempre tinha
conseqüências de longo alcance para a família. O povo dos tempos
bíblicos não constituía exceção. Após um período de lamentações,
a esposa enviuvada podia adotar vários cursos de ação.
Se ela não tivesse filhos, esperava-se que continuasse a viver
com a família do marido, de acordo com a lei do levirato
(Deuteronômio 25:5-10). Ela devia casar-se com um dos irmãos
do marido ou com um parente próximo. Se esses homens não
estivessem disponíveis, estava ela livre para casar-se fora do clã
(Rute 1:9).
As viúvas com filhos dispunham de outras opções. Do livro
deuterocanônico de Tobias aprendemos que algumas voltavam
para a família do pai ou do irmão (Tobias 1:8). Se a viúva era
idosa, um de seus filhos varões podia cuidar dela. Se ela adquirira
segurança financeira, podia viver sozinha. Por exemplo, Judite não
se casou nem se mudou para a casa de um parente, pois "seu
marido Manasses lhe havia deixado ouro, e prata, e criados e
criadas, e gado e terras; e ela permaneceu neste estado" (Judite
8:7).
De quando em quando a viúva não tinha sequer um centavo,
nem tinha parente homem do qual depender. Tais mulheres
enfrentavam grandes dificuldades (cf. 1 Reis 17:8-15; 2 Reis 4:1-
7).
A viúva sem filhos, dos tempos do Novo Testamento, achavase numa posição muito mais segura. Se ela não dispunha de
nenhum dos costumeiros meios de sustento, podia recorrer à igreja
em busca de ajuda. Paulo sugeriu que as viúvas jovens casassem
de novo e que as viúvas idosas fossem sustentadas pelos filhos;
mas se a viúva não tinha a quem recorrer, a igreja devia cuidar
dela (1 Timóteo 5:16).
Aldeia de Kafr Kenna. Uma aldeia na Galiléia rural, Kafr
Kenna, ainda se parece muito com as aldeias dos tempos bíblicos.
Observe o estilo simples das casas.
D. Filhos rebeldes. Era pecado grave desonrar o pai ou a
mãe. Moisés ordenou que a pessoa que ferisse ou amaldiçoasse o
pai ou a mãe fosse morta (cf. Êxodo 21:15, 17; Levítico 20:9).
Não temos registro de que este castigo tenha sido aplicado, mas a
Bíblia descreve muitos casos em que os filhos desonraram os pais.
Quando Ezequiel enumerou os pecados de Jerusalém, escreveu:
"No meio de ti desprezam o pai e a mãe, praticam extorsões contra
o estrangeiro e são injustos para com o órfão e a viúva" (Ezequiel
22:7). Quadro semelhante é apresentado em Provérbios 19:26.
Jesus condenou muitos judeus de seu tempo por não honrarem os
pais (Mateus 15:4-9)
Às vezes o pai ou a mãe causava mais atrito no seio da
família do que o filho ou a filha. O profeta Nata anunciou a Davi
que "não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me
desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua
mulher" (2 Samuel 12:10). Desse tempo em diante, Davi teve
problema com os filhos.
Amnon apaixonou-se de Tamar, sua meia-irmã, e a violentou.
Não obstante, Davi não castigou o filho, e Absalão, irmão de
Tamar, matou a Amnom por vingança. Então Absalão fugiu para a
terra de sua mãe, retornando mais tarde para chefiar uma revolta
contra o pai (2 Samuel 13). Davi insistiu em que seus homens não
matassem Absalão, mas o jovem morreu num acidente de Batalha.
Davi chorou a morte do filho (2 Samuel 18).
Ao aproximar-se Davi da morte, seu filho Adonias desejou
sucedê-lo no trono. Davi não tentou restringir-lhe as pretensões,
nesta ou em nenhuma outra ocasião. A Bíblia diz que o rei jamais
"o contrariou [Adonias], dizendo: Por que procedes assim?" (1
Reis 1:6).
E. Rivalidade entre os filhos. O escritor de Provérbios
expõe graficamente o problema dos filhos que discutem entre si:
"O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas
são ferrolhos dum castelo" (Provérbios 18:19). A Bíblia descreve
irmãos que discutem por vários motivos. Jacó procurou furtar a
bênção de Esaú (Gênesis 27). Absalão odiou a Amnom porque
Davi se recusou a puni-lo (2 Samuel 13). Salomão destruiu a seu
irmão Adonias por suspeitar que este desejava o trono (1 Reis
2:19-25). Quando Jeorão subiu ao trono, matou todos os irmãos,
de sorte que nunca fossem uma ameaça para ele (2 Crônicas 21:4).
Às vezes os pais provocavam a rivalidade entre os filhos,
como no caso da família de Isaque. A Bíblia diz que "Isaque
amava a Esaú...; Rebeca, porém, amava a Jacó" (Gênesis 25:28).
Quando Isaque desejou abençoar a Esaú, Rebeca ajudou Jacó a
obter a bênção para si. Esaú enfureceu-se e ameaçou matar a Jacó
que fugiu para um país longínquo (Gênesis 27:41-43). A
reunificação da família demandou uma geração inteira.
Infelizmente, Jacó não tirou proveito da lição dos erros de seu
pai. Ele também favoreceu a um dos filhos, dando a José honra
perante os outros. Isto enfureceu de tal modo os restantes que
tramaram matar o predileto do pai. A Bíblia registra que "Vendo,
pois, seus irmãos, que o pai o amava mais do que a todos os outros
filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente"
(Gênesis 37:4).
F. Adultério. Os judeus consideravam o adultério uma grave
ameaça à família, por isso puniam os adúlteros imediatamente e
com severidade.
RESUMO
A família era um fio unificador na história bíblica. Quando
ameaçada ou desafiada, a unidade familiar lutava pela
sobrevivência. Deus usou as famílias para transmitir sua
mensagem a cada nova geração.
Deus sempre se expressara como Pai de sua família redimida
(Oséias 11:1-3). Ele espera receber honra da parte de seus filhos
(Malaquias 1:6). Jesus ensinou seus discípulos a orar, dizendo "Pai
nosso." Mesmo hoje, as orações das crianças preparam-nas para
honrar a Deus como o Pai perfeito, capaz de atender a todas as
suas necessidades.
Deus ordenou a unidade da família como parte vital da
sociedade. Pela amorosa experiência da família humana,
começamos a entender o tremendo privilégio que temos de fazer
parte da "família de Deus".
2. MULHERES E CONDIÇÕES DA MULHER
É justo dizer que o Israel bíblico achava que os homens eram
mais importantes do que as mulheres. O pai ou o homem mais
idoso da família tomava as decisões que afetavam todo o grupo
familiar, ao passo que as mulheres tinham muito pouco que dizer
sobre elas. Esta forma patriarcal (centrada no pai) de vida em
família determinava como as mulheres eram tratadas em Israel.
Por exemplo, uma menina era educada para obedecer ao pai
sem questionar. Depois, quando se casava, devia obedecer ao
marido da mesma forma. Se ela se divorciava, ou enviuvava,
quase sempre voltava a viver na casa do pai.
Em verdade, Levítico 27:1-8 sugere que uma mulher valia
apenas a metade de um homem. Assim, uma filha era menos bem
recebida do que um filho. Os meninos eram ensinados a tomar
decisões e a governar suas famílias. As meninas eram criadas para
casar e ter filhos.
A jovem nem mesmo pensava numa carreira fora do lar. A
mãe lhe ensinava a cuidar da casa e criar filhos. Esperava-se que
ela fosse uma auxiliadora do marido e lhe desse muitos filhos
(Gênesis 3:16). Se a mulher não tinha filhos, era tida como
amaldiçoada (Gênesis 30:1-2, 22; 1 Samuel 1:1-8).
Não obstante, a mulher era mais do que um objeto que podia
ser comprado e vendido. Cabia-lhe um papel importante.
Provérbios 12:4 diz: "A mulher virtuosa é a coroa do seu marido,
mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus
ossos." Em outras palavras, uma boa esposa era boa para o
marido; ela o ajudava, cuidava dele e fazia-o sentir-se honrado.
Mas uma esposa má era pior do que um câncer; ela podia destruílo dolorosamente e fazê-lo objeto de zombaria. A esposa podia
fazer ou desfazer o marido.
Ainda que a maioria das mulheres passasse os dias como
donas-de-casa e mães, havia algumas exceções. Por exemplo,
Miriã, Débora, Hulda e Ester foram mais do que boas esposas ―
foram líderes políticas e religiosas que comprovaram ser capazes
de conduzir a nação tão bem quanto qualquer homem.
OPINIÃO DE DEUS SOBRE AS MULHERES
No final do primeiro capítulo do Gênesis, lemos: "Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, e sobre todo
animal que rasteja pela terra" (Gênesis 1:27, 28). Esta passagem
mostra duas coisas a respeito das mulheres. Primeira, a mulher
bem como o homem foi criada à imagem de Deus. Deus não criou
a mulher para ser inferior ao homem; ambos são igualmente
importantes. Segunda, também se esperava que a mulher tivesse
autoridade sobre a criação de Deus. Homem e mulher devem
compartilhar esta autoridade ― ela não pertence apenas ao
homem.
Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei
uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2:18). Assim,
"Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu:
tomou uma de suas costelas" (Gênesis 2:21), Deus empregou essa
costela na criação de Eva. Este relato mostra como a mulher é
importante para o homem: Ela é parte de seu próprio ser, e sem ela
o homem é incompleto.
Mas Adão e Eva pecaram, e Deus disse a Eva: "O teu desejo
será para o teu marido, e ele te governará" (Gênesis 3:16). Foi,
portanto, dito às mulheres que obedecessem a seus maridos. E
assim permaneceu, mesmo nos tempos do Novo Testamento,
quando o apóstolo Paulo disse às esposas cristãs, "sejam
submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor" (Efésios
5:22). Mas, embora a mulher devesse obedecer ao marido, ela não
era inferior a ele. Significa, simplesmente, que ela deve estar
disposta a deixar que ele dirija. Na verdade, Paulo exigiu
submissão tanto da parte do marido como da esposa, "sujeitando-
vos uns aos outros no temor de Cristo" (Efésios 5:21). Em outra
carta, Paulo declarou claramente que não há diferença de status
em Cristo entre homem e mulher. "Não pode haver judeu nem
grego", escreve ele, "nem escravo nem liberto; nem homem nem
mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).
Retrato de uma cabeça. As linhas de cobre negro feitas nas
pálpebras desta escultura de marfim (século quatorze a.C.) dão
uma aparência de vida a esta representação de uma importante
mulher de Ugarite. Ao longo da testa, na linha do cabelo
encontram-se laçadas de prata misturada com ouro. O alto toucado
e o cabelo eram outrora cobertos de ouro fino.
A POSIÇÃO LEGAL DAS MULHERES
A posição legal da mulher, em Israel, era inferior à do
homem. Por exemplo, o homem podia divorciar-se da esposa "por
ter ele achado coisa indecente nela", mas à esposa não era
permitido divorciar-se do marido por nenhuma razão
(Deuteronômio 24:1-4). A Lei declarava que a esposa suspeita de
ter relações sexuais com outro homem devia fazer prova de
ciúmes (Números 5:11-31). Contudo, não havia prova alguma para
o homem suspeito de infidelidade com outra mulher. A Lei dizia,
também, que o homem podia fazer um voto religioso, e esse voto
era válido (Números 30:1-15); mas o voto feito por uma mulher
podia ser anulado por seu pai ou (se ela fosse casada) pelo marido.
O pai de uma mulher podia vendê-la para pagar uma dívida
(Êxodo 21:7), e ela não podia ser libertada depois de 6 anos, como
podia o homem (Levítico 25:40). Num caso, pelo menos, um
homem deu sua filha para ser usada sexualmente por uma turba
(Juizes 19:24).
Algumas leis, porém, sugeriam que homens e mulheres
deviam ser tratados como iguais. Por exemplo, os filhos deviam
tratar o pai e a mãe com igual respeito e reverência (Êxodo 20:12).
O filho que desobedecesse ou amaldiçoasse ao pai ou à mãe devia
ser castigado (Deuteronômio 21:18-21). O homem e a mulher
apanhados no ato de adultério deviam ambos morrer apedrejados
(Deuteronômio 22:22). (É interessante notar neste ponto que
quando os fariseus arrastaram uma adúltera à presença de Jesus
com a intenção de apedrejá-la, eles próprios já haviam quebrado a
lei deixando que o homem escapasse -João 8:3-11).
Outras leis hebraicas ofereciam proteção às mulheres. Se o
homem tomasse uma segunda esposa, ele ainda era obrigado, pela
lei, a alimentar e vestir a primeira esposa, e continuar a ter
relações sexuais com ela (Êxodo 21:10). Mesmo a mulher
estrangeira, tomada como noiva, na guerra, tinha alguns direitos;
se o marido se cansasse dela, devia dar-lhe liberdade
(Deuteronômio 21:14). Qualquer homem culpado do crime de
estupro devia ser morto por apedrejamento
(Deuteronômio 22:23-27).
Em geral, só os homens possuíam propriedade. Mas quando
os pais não tinham filhos varões, as filhas podiam receber a
herança. Deviam casar-se dentro do clã para conservá-la
(Números 27:8-11).
Uma vez que Israel era uma sociedade dominada por homens,
algumas vezes os direitos da mulher eram menosprezados. Jesus
contou a história de uma viúva que teve de importunar um juiz
que não queria tomar tempo para ouvir o seu lado da questão. Não
querendo que ela continuasse a aborrecê-lo, finalmente o juiz
concordou em ouvi-la (Lucas 18:1-8). Como acontecia com
muitas das histórias de Jesus, isto era algo que podia realmente
acontecer, e talvez tenha acontecido.
Não obstante, as viúvas recebiam também alguns privilégios
especiais. Por exemplo, era-lhes permitido respigar os campos
após a colheita (Deuteronômio 24:19-22) e receber uma porção
dos dízimos no terceiro ano, juntamente com os levitas
(Deuteronômio 26:12). Assim, a despeito de seu status legal
inferior, as mulheres gozavam de alguns direitos especiais na
sociedade judaica.
MULHERES NO CULTO
As mulheres eram consideradas membros da "família da fé".
Como tais, podiam entrar na maioria das áreas de culto.
A Lei determinava que todos os homens se apresentassem
perante o Senhor três vezes por ano. Evidentemente, em algumas
ocasiões as mulheres iam com eles (Deuteronômio 29:11;
Neemias 8:2; Joel 2:16), mas não se exigia que fossem. Talvez não
se exigia que fossem por causa de seus importantes deveres como
esposas e mães. Por exemplo, Ana foi a Silo com o marido e pediu
um filho ao Senhor (1 Samuel 1:3-5). Mais tarde, quando a criança
nasceu, ela disse ao marido: "Quando for o menino desmamado,
levá-lo-ei para ser apresentado perante o Senhor, e para lá ficar
para sempre" (vv. 21-22).
Mulher de Mari. Estatueta de barro da cidade de Mari, localizada
ao longo do rio Eufrates na Mesopotâmia (hoje Síria); retrata uma
mulher cantando. A estatueta foi feita antes de 2500 a. C.
Como cabeça da casa, o marido ou pai apresentava os
sacrifícios e ofertas em nome da família toda (Levítico 1:2). Mas a
esposa podia também estar presente. As mulheres compareciam à
Festa dos Tabernáculos (Deuteronômio 16:14), à festa anual do
Senhor (Juizes 21:19-21), e à festa da Lua Nova (2 Reis 4:23).
Um sacrifício que só as mulheres faziam ao Senhor era
oferecido após o nascimento de uma criança: "E, cumpridos os
dias da sua purificação por filho ou filha, trará ao sacerdote um
cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola
por oferta pelo pecado à porta da tenda da congregação" (Levítico
12:6).
À época do Novo Testamento, as mulheres judias já não
participavam ativamente no culto do templo ou da sinagoga.
Embora houvesse uma área especial no templo conhecida como
"Pátio das mulheres", não lhes era permitido entrar no pátio
interior. Fontes extrabíblicas dizem-nos que não se permitia às
mulheres ler ou falar na sinagoga; mas podiam sentar-se e ouvir na
seção especial a elas destinada. As mulheres podem ter tido
permissão para entrar somente nas sinagogas que funcionavam
com base em princípios helenísticos.
Na igreja cristã primitiva revela-se um quadro diferente.
Lucas 8:1-3 mostra que Jesus recebeu algumas mulheres como
companheiras de viagem. Ele incentivou a Marta e Maria a sentarse a seus pés como discípulas (Lucas 10:38-42). O respeito de
Jesus pelas mulheres era algo surpreendentemente novo.
Depois que Jesus ascendeu ao céu, diversas mulheres
reuniram-se com os demais discípulos no cenáculo para orar.
Conquanto a Escritura não o diga tão especificamente, com toda a
probabilidade essas mulheres oravam em público, em voz audível.
Tanto homens como mulheres congregaram-se no lar da mãe de
João Marcos a fim de orar pelo livramento de Pedro (Atos 12:117), e do mesmo modo, homens e mulheres oravam regularmente
na igreja de Corinto (1 Coríntios 11:2-16). Por isso o apóstolo
Paulo deu instruções a homens e mulheres sobre a maneira de orar
em público.
Esta liberdade concedida às mulheres era tão nova que
causou alguns problemas na igreja, de modo que Paulo deu às
primeiras organizações algumas diretrizes limitando o papel das
mulheres. Escreveu ele: "Conservem-se as mulheres caladas nas
igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas
como também a lei o determina. Se, porém, querem aprender
alguma coisa, interroguem, em casa, a seus próprios maridos;
porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja" (1 Coríntios
14:34-35).
Poço de água e degraus. Construída cerca de 1100 a.C, esta
escadaria de setenta e nove degraus desce em espiral ao tanque de
Gibeom. A escadaria e o poço, que exigiram a remoção de quase
3000 toneladas de pedra calcária, dava acesso à água fresca dentro
dos muros da cidade. Mulheres de Gibeom faziam o longa descida
e subida todos os dias a fim de prover água para suas casas.
Em outra carta, Paulo escreveu: "A mulher aprenda em
silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher
ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém,
em silêncio" (1 Timóteo 2:11-12). As opiniões diferem quanto ao
que, exatamente, levou Paulo a escrever essas coisas, e até que
ponto constituem normas para os cristãos de nosso tempo.
Contudo, por certo ele estava corrigindo comportamento que
parecia desregrado para a época.
Diversas mulheres da Bíblia foram famosas por sua fé.
Incluídas na lista dos fiéis em Hebreus 11 estão duas mulheres:
Sara e Raabe (Josué 2; 6:22-25). Ana foi um exemplo piedoso da
mãe israelita: Ela orou a Deus; creu que ele ouviu suas orações; e
cumpriu a promessa que fez a Deus. Sua história encontra-se em 1
Samuel 1. Maria, mãe de Jesus, também foi uma boa e piedosa
mulher. Maria deve ter-se lembrado do exemplo de Ana, pois seu
cântico de louvor a Deus (Lucas 1:46-55) é muito parecido com o
de Ana (1 Samuel 2:1-10). O apóstolo Paulo lembra a Timóteo a
bondade de sua mãe e avó (2 Timóteo 1:5).
Todavia, nem todas as mulheres judias dos tempos bíblicos
foram leais a Deus. Segundo o livro dos escritos judeus conhecido
como Talmude, algumas mulheres "dedicavam-se à feitiçaria"
(Joma 83b) e ao ocultismo. O Talmude alegava também que "a
maioria das mulheres inclina-se para a feitiçaria" (Sinédrio 67a).
Alguns rabinos criam que foi por isto que Deus disse a Moisés: "A
feiticeira não deixarás viver."
Faça-se justiça, porém: as Escrituras não dizem que as
mulheres estavam mais interessadas no ocultismo do que os
homens. Diversas referências bíblicas a mulheres que
participavam do ocultismo (p. ex., 2 Reis 23:7; Ezequiel 8:14;
Oséias 4:13-14) mostram claramente que os homens também se
envolviam. E das quatro vezes que a bruxaria é mencionada no
livro de Atos, só uma delas se relaciona com uma mulher (Atos
8:9-24; 13:4-12; 16:16-18; 19:13-16).
AS MULHERES NA CULTURA DE ISRAEL
A sociedade israelita determinava que o lugar da mulher era
no lar. Esperava-se que ela achasse a vida de esposa e mãe muito
agradável. Evidentemente, as mulheres judias aceitavam esse
papel com boa disposição.
A. A esposa ideal. Todo homem desejava encontrar uma
esposa perfeita, uma esposa que lhe fizesse "bem, e não mal, todos
os dias de sua vida" (Provérbios 31:12). Poucos homens, então
como agora, desejavam uma mulher mandona ou que gostasse de
brigar! Provérbios 19:13 comparava uma esposa rixenta a um
contínuo gotejar sobre a cabeça de alguém. Em realidade, "Melhor
é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e
iracunda" (Provérbios 21:19).
Cena de mercado romano. Este relevo funerário romano mostra
o balcão de um negociante de aves e vegetais. Atrás do balcão está
uma vendedora. A sorte das mulheres romanas era melhor do que a
da maioria das mulheres do mundo antigo.
Que qualidades entravam na composição da "esposa perfeita"
no antigo Israel? Que qualidades a família procurava numa noiva
para o filho? Que qualidades a mãe tentava instilar na filha,
preparando-a para ser uma boa esposa e mãe?
A maioria dessas qualidades acham-se descritas num
interessante poema em Provérbios 31. O poema é um acróstico ―
ou seja, cada verso começa com uma letra hebraica diferente em
ordem alfabética. Podíamos chamar esses versos de "ABC da
Esposa Perfeita".
Segundo este poema, a esposa ideal tem muitos talentos. Ela
sabe cozinhar e costurar (vv. 13, 15, 19, 22). Nunca desperdiça o
tempo com fuxicos, mas passa o tempo em tarefas mais
importantes (v. 27). Ela tem queda para ver o que precisa ser feito
e o faz. Entende bem de negócios, sabe comprar e vender com
sabedoria (vv. 16, 24). Contudo, ela não é egoísta. Ajuda os
necessitados e dá conselho aos que são menos sábios (v. 26).
Possui, também, profunda reverência por Deus (v. 30). Tenta, por
todos os modos, ser uma "auxiliadora idônea" para o marido. O
poema termina dizendo que se ela fizer todas essas coisas, seu
marido será elevado a uma posição de destaque aos olhos da
comunidade (v. 23).
Um esboço mais breve do que constitui uma esposa perfeita
pode ser encontrado em Eclesiástico 26:13-16: "A graça de uma
esposa deleita o marido, e sua discrição lha engordará os ossos.
Uma mulher calada e amorosa é um dom do Senhor; e nada vale
tanto quanto uma mente bem instruída. Uma mulher modesta e fiel
é uma graça dobrada, e sua mente casta não pode ser avaliada.
Como o sol quando se ergue no alto céu, assim é a beleza de uma
boa esposa na ordenação de sua casa."
B. A beleza da mulher. Cada sociedade tem seus próprios
padrões de beleza. Algumas culturas acentuam que a mulher bela
deve ser gorda, enquanto para outras ela deve ser delgada. É difícil
saber exatamente o que os antigos hebreus consideravam belo.
A maioria das mulheres atraentes que a Bíblia menciona não
são descritas em detalhe. Geralmente o escritor nota que uma
mulher era "bela"', e isso é tudo. O conceito bíblico de beleza está
aberto a diferentes interpretações.
Tome-se, por exemplo, a declaração de que "Lia tinha os
olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante"
(Gênesis 29:17). Alguns eruditos pensam que a palavra hebraica
traduzida por "baços" poderia ser mais bem traduzida por "ternos
e encantadores". Nesse caso, podia significar que ambas as irmãs
eram belas a seu próprio modo. Lia podia ter tido belos olhos,
enquanto Raquel possuía corpo bonito.
As mais claras descrições de uma mulher bonita vêm de
Cantares de Salomão; mas ainda aqui há alguma dúvida de que a
moça esteja sendo descrita com precisão. O poeta usa uma longa
série de símiles e metáforas para pintar um quadro mental de seu
amor, e às vezes a técnica poética entra na forma da descrição. Os
dentes dela são brancos como o rebanho de ovelhas, sem faltar
nenhum. Seus lábios são como um fio de escarlate (Cantares 4:23).
Algumas das mais importantes mulheres do Antigo
Testamento são mencionadas como tipos de beleza. Sara (Gênesis
12:11), Rebeca (Gênesis 26:7) e Raquel (Gênesis 29:17) são todas
descritas assim. Davi foi tentado a cometer adultério com BateSeba porque ela era mui formosa (2 Samuel 11:2). Tamar, filha de
Davi, foi violentada por seu meio-irmão Amnom por causa de sua
beleza (2 Samuel 13:1). Tanto Absalão como Jó tinham filhas
formosas (2 Samuel 14:27; Jó 42:15). A luta entre Salomão e
Adonias para suceder a Davi como rei terminou quando Adonias
quis casar com a formosa Abisague (1 Reis 1:3-4). Não somente
seu pedido foi negado, como lhe custou a vida (1Reis 2:19-25). Os
judeus que viviam durante o período persa foram salvos por uma
bela judia de nome Ester (cf. o livro de Ester).
Penteado. Um painel do sarcófago da princesa Kawit do Egito
(cerca de 2100 a.C.) retrata o esmerado processo de pentear
cabelos. Uma criada trança os cabelos de sua senhora, enquanto a
princesa tem na mão uma tigela de leite e um espelho.
Nem todas as mulheres eram naturalmente formosas, mas as
ricas podiam melhorar a aparência com roupas, perfumes e
cosméticos caros. O profeta Ezequiel disse que a nação de Israel
era como uma jovem que se banhou e ungiu. Ela usava roupas
bordadas e calçados de couro. Deus disse à nação: "Também te
adornei com enfeites, e te pus braceletes nas mãos e colar à roda
do teu pescoço. Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas nas
orelhas, e linda coroa na cabeça. Assim foste ornada de ouro e
prata; o teu vestido era de linho fino, de seda, e de bordados"
(Ezequiel 16:11-13). O profeta Isaías mencionou mais destes
adornos em 3:18-23, tais como anéis dos artelhos, turbantes e
amuletos, sinetes e as jóias pendentes do nariz. Os arqueólogos
têm encontrado alguns desses objetos.
Jeremias falou de outra prática comum do seu tempo. As
mulheres pintavam linhas no rosto para darem maior realce aos
olhos (Jeremias 4:30). Outras mulheres usavam pentes adornados
de jóias para tornarem o cabelo mais bonito. Muitos desses pentes
e centenas de espelhos também têm sido encontrados, dando uma
retrospectiva dos tempos bíblicos.
Há, porém, dois tipos de beleza ― a exterior e a interior de
uma personalidade agradável. As Escrituras advertem homens e
mulheres a não darem demasiada importância aos aspectos físicos
e às roupas dispendiosas.
Um sábio admoestou: "Como jóia de ouro em focinho de
porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição"
(Provérbios 11:22). Outro sábio escreveu: "Enganosa é a graça e
vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será
louvada" (Provérbios 31:30). Pedro e Paulo disseram às mulheres
de sua época que se preocupassem mais com a beleza interior do
que com a boa aparência (1 Timóteo 2:9-10; 1 Pedro 3:3-4).
C. A mulher como parceira sexual. Era contrário à Lei que
uma mulher não casada tivesse relações sexuais. Devia
permanecer virgem até após a cerimônia de casamento. Se alguém
pudesse provar que ela não era virgem quando se casou, era
trazida à porta da casa de seu pai e os homens da cidade
apedrejavam-na até morrer (Deuteronômio 22:20-21).
O sexo, porém, era parte muito importante da vida
matrimonial. Deus havia ordenado que o relacionamento sexual
fosse realizado em lugar próprio e entre as pessoas certas ―
parceiros conjugais. Os judeus levavam isto tão a sério que o
homem recém-casado estava livre de seus deveres militares ou de
negócios durante um ano inteiro, de sorte que ele promovesse
"felicidade à mulher que tomou" (Deuteronômio 24:5). A única
restrição era que o marido e a esposa não tivessem relações
sexuais durante o período de menstruação da mulher (Levítico
18:19).
O sexo devia ser desfrutado pela esposa bem como pelo
marido. Deus disse a Eva: "o teu desejo será para o teu marido"
(Gênesis 3:16). Nos Cantares de Salomão, a mulher era muito
agressiva, beijando o marido e conduzindo-o à recâmara. Ela lhe
expressava amor vez após vez, e insistia com ele para que
desfrutasse o relacionamento físico de ambos (Cantares 1:2; 2:3-6,
8-10; 8:1-4).
Nos tempos do Novo Testamento houve desacordo na igreja
de Corinto com relação ao papel do sexo. Parece que algumas
pessoas achavam que a vida devia ser gozada na sua totalidade de
modo que, fosse o que fosse que alguém desejasse fazer
sexualmente, devia estar certo ― incluindo o adultério, a
prostituição e atos homossexuais. Outros pensavam que o sexo era
de certo modo mau e não se devia ter nenhuma relação física, nem
mesmo com o esposo ou com a esposa. Paulo lembrou aos
coríntios que o adultério e a homossexualidade eram pecados e
deviam ser evitados (1 Coríntios 6:9-11), mas disse que maridos e
esposas deviam desfrutar juntos o dom divino do sexo. Paulo
instruiu: "O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e
também semelhantemente a esposa ao seu marido....Não vos
priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por
algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos
ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da
incontinência" (1 Coríntios 7:3, 5).
D. A mulher como mãe. Sem os remédios e os analgésicos
modernos, o nascimento de uma criança era experiência muito
dolorosa. Em realidade, muitas mães morriam ao dar à luz (cf.
Gênesis 35:18-20; 1 Samuel 4:20). A despeito desses perigos, a
maior parte das mulheres ainda desejavam ter filhos.
Para as mulheres hebréias era extremamente importante ser
boa esposa e mãe. A maior honra que uma mulher poderia receber
seria dar à luz o Messias. Mal podemos imaginar a emoção de
Maria quando o anjo Gabriel a saudou com as palavras, "Salve!
agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres!"
(Lucas 1:28). Então ele prosseguiu, dizendo-lhe que ela seria a
mãe do Messias. A saudação que Maria recebeu de Isabel foi do
mesmo teor (cf. Lucas 1:42).
E. O trabalho da mulher. Pelos padrões hodiernos, não
consideraríamos muito estimulante a vida diária marcada por
trabalho duro e longas horas da mãe israelita média.
Levantava-se de manhã antes de todos, e acendia o fogo na
lareira ou no fogão. O principal alimento da dieta judaica era o
pão. Com efeito, a palavra hebraica para alimento (ohel) era
sinônimo de pão. Um dos deveres da esposa e mãe, portanto, era
moer o grão para fazer farinha. Isto requeria vários passos e ela
não dispunha de nenhuma das bugigangas elétricas que as esposas
modernas possuem, de modo que todo o seu trabalho era feito a
mão.
Ela usava espinhos, restolho, ou mesmo estéreo como
combustível. Geralmente cabia aos filhos o trabalho de encontrar
lenha; se, porém, eles não tivessem idade suficiente para sair de
casa, então essa tarefa cabia à mulher.
Todas as famílias necessitavam de água. Às vezes elas
construíam sua própria cisterna para armazenar a água da chuva;
mas, na maioria das vezes, a água vinha de uma fonte ou de um
poço no meio da aldeia.
Preparando a massa. Esta figura humana, rudemente modelada
de el-Jib, na Palestina (cerca do sexto século a.C.) curva-se sobre a
gamela para preparar a massa. O pão era o alimento básico do
antigo Oriente Próximo. Os padeiro9 misturavam farinha com
água e temperavam-na com sal; depois amassavam-na em gamela
especial. A seguir adicionavam uma pequena quantidade de massa
fermentada até que toda a massa fosse levedada. Os judeus não
usavam fermento nas ofertas de manjares (Levítico 2:11), e seu
emprego era proibido durante a semana da Páscoa.
Algumas cidades do Antigo Testamento foram edificadas
sobre fontes subterrâneas; Megido e Hazor foram duas dessas
cidades. Em Hazor a mulher ia até um poço profundo. Então ela
descia duas rampas feitas por mão humana, de nove metros e
cinco lances de escada até ao túnel de água, onde ela seguia por
mais escadas até ao nível de água para encher o grande cântaro.
Era preciso que ela tivesse considerável força para subir e sair do
poço com um pesado vasilhame de água. Mas isso não era de todo
mau. A caminhada em busca de água dava-lhe oportunidade de
conversar com outras mulheres da aldeia. As senhoras muitas
vezes se reuniam em torno da fonte de água ao entardecer ou bem
cedo de manhã para trocar novidades e boatos (cf. Gênesis 24:11).
A mulher junto ao poço de Sicar veio ao meio-dia, sem dúvida,
porque as outras mulheres, por causa de sua vida frouxa, não
queriam saber de nada com ela e menosprezavam-na (cf. João 4:530).
Também se esperava que a esposa fizesse as roupas da
família. As crianças pequenas tinham de ser amamentadas,
vigiadas e mantidas limpas. A medida que as crianças cresciam, a
mãe lhes ensinava boas maneiras. Também ensinava às filhas mais
velhas a cozinhar, costurar e fazer as demais coisas que uma boa
esposa israelita devia saber.
Além disso, era de esperar que a esposa ajudasse a recolher a
colheita (cf. Rute 2:23). Ela preparava algumas colheitas como
azeitonas e uvas para armazenamento. Assim, sua rotina diária
tinha de ser flexível bastante para incluir estes outros misteres.
MULHERES LÍDERES EM ISRAEL
Em sua grande maioria, as mulheres israelitas nunca se
tornavam dirigentes públicas, mas houve algumas exceções. A
Bíblia registra os nomes e atos de diversas mulheres que se
destacaram em assuntos políticos, militares ou religiosos.
A. Heroínas militares. As duas mais famosas heroínas
militares do Antigo Testamento foram Débora e Jael; ambas
participaram da mesma vitória. Por meio de Débora, Deus falou ao
general Baraque como os cananeus podiam ser batidos. Baraque
concordou em atacar os cananeus, porém desejava que Débora
fosse com ele à batalha. Ela foi, e os cananeus foram devidamente
derrotados. Contudo, Sísera, general cananeu, escapou a pé. Jael
viu-o, saiu a saudá-lo e convidou―o a entrar em sua tenda. Ali ele
caiu no sono. Enquanto ele dormia, Jael entrou e encravou-lhe na
cabeça uma estaca da tenda, matando-o (Juizes 4-5).
Noutra ocasião diversas mulheres ajudaram a defender a
cidade de Tebes contra os atacantes. O chefe do ataque,
Abimeleque, aproximou-se da porta da torre para a incendiar. Uma
das mulheres viu-o junto à porta e lançou-lhe sobre a cabeça uma
pedra de moinho. A pesada pedra partiu o crânio de Abimeleque.
Enquanto jazia moribundo, ordenou ao seu escudeiro:
"Desembainha a tua espada, e mata-me; para que não se diga de
mim: Mulher o matou" (Juizes 9:54). O ataque foi abandonado.
Gerações posteriores deram à mulher desconhecida o crédito pela
vitória (cf. 2 Samuel 11:21).
Mulher fiando lã. Este relevo de pedra, procedente de Susa,
retrata uma mulher segurando um fuso na mão esquerda e um
material fibroso, talvez lã, na direita. Atrás dela está uma criada
com um grande abano. Entre os hebreus, fiar era principalmente
ocupação de mulheres (Êxodo 35:25-26).
Os judeus contemporâneos de Jesus contavam uma história
popular a respeito de uma mulher rica, chamada Judite, devota e
formosa. A história começou com a invasão de Israel por um
exército assírio, conduzido pelo general Holofernes. Ele sitiou
uma das cidades de Israel, cortou-lhe o alimento e os suprimentos,
e lhe deu cinco dias para render-se. Judite incentivou seus
concidadões a confiar em Deus pela vitória. Então ela vestiu-se
com roupas bonitas e fez uma visita a Holofernes. O general achou
que ela era muito amável e pediu-lhe que o visitasse todos os dias.
Na última noite, véspera da rendição dos judeus, Judite ficou
sozinha com Holofernes. Quando ele caiu embriagado, Judite
tirou-lhe a espada, cortou-lhe a cabeça e colocou-a num cesto.
Depois ela voltou à cidade. Na manhã seguinte, vendo os assírios
que seu chefe estava morto, a vitória foi fácil para os judeus.
B. Rainhas. Nem todas as mulheres da Bíblia foram
conhecidas por suas boas ações. A rainha Jezabel é a mulher má
mais bem conhecida do Antigo Testamento. Era filha de Etbaal, rei
dos sidônios. Casou-se com Acabe, príncipe de Israel, e mudou-se
para Samaria. Tornando―se rainha, impôs seus desejos ao povo.
Quis que os israelitas se curvassem diante de Baal, por isso trouxe
centenas de seus profetas para o país e os incluiu na folha de
pagamento do governo. Também matou todos os profetas do
Senhor que pôde encontrar (1 Reis 18:13). Mesmo homens
piedosos como Nabote foram mortos. O profeta Elias fugiu e
escondeu-se de Jezabel para salvar a vida. Ele achava que era o
único verdadeiro profeta que restara em todo o país. Na realidade,
no reino todo havia apenas 7.000 pessoas que se recusaram a
adorar a Baal, mas somente Deus sabia quem eram. Sete mil,
naturalmente, era muito pouco. Anos após a derrota e morte de
Jezabel, o culto de Baal continuava (1 Reis 18-21).
Herodias foi outra mulher que usou o poder e a beleza para
conseguir o que desejava. Quando João Batista denunciou o
casamento dela com o rei Herodes, ela conseguiu que o rei
prendesse João e o encarcerasse. No aniversário de Herodes, a
filha de Herodias dançou para os convidados. Isto agradou muito
ao rei, de modo que ele prometeu dar-lhe o que ela pedisse.
Herodias disse à filha que pedisse a cabeça de João Batista. Deste
modo, ela causou a morte de João.
Nem todas as rainhas da Bíblia foram más. A rainha Ester
usou seu poder sobre o império persa para ajudar os judeus. Um
relato completo de sua história encontra-se no livro de Ester.
C. Rainhas-mães. Os escritores de 1 e 2 Reis e de 2 Crônicas
contam muita coisa acerca das rainhas-mães de Judá. Referindo-se
aos vinte diferentes reis que reinaram em Judá desde Salomão até
ao tempo do exílio, somente uma vez esses livros deixaram de
mencionar uma rainha-mãe. O exemplo típico do que se disse
acerca da rainha-mãe encontra-se nesta passagem: "No segundo
ano de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, começou a reinar
Amazias, filho de Joás, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos
quando começou a reinar, e vinte e nove anos reinou em
Jerusalém. Era o nome de sua mãe Jeoadã, de Jerusalém. Fez ele o
que era reto perante o Senhor" (2 Reis 14:1-3).
Supomos que a mãe do rei deve ter sido uma pessoa
importante em Judá. Infelizmente, muito pouco se sabe acerca de
seu papel no governo ou na sociedade.
Encontramos, porém, a influência decisiva de uma rainhamãe no caso de Adonias. Visto ser ele o filho mais velho
sobrevivente de Davi, achava que devia ser o próximo rei depois
de Davi. Diversos altos oficiais concordavam com ele ―
incluindo Joabe, general do exército, e Abiatar, o sacerdote. Por
outro lado, o profeta Nata e outro sacerdote de nome Zadoque
achavam que Salomão, outro dos filhos de Davi, seria um rei
melhor. Bate-Seba, mãe de Salomão, persuadiu Davi a jurar que
Salomão seria rei (1 Reis 1:30). Salomão tratou sua mãe com
respeito pelo que ela havia feito (1 Reis 2:19).
Todavia, nem todas as rainhas-mães foram tratadas tão
respeitosamente. Quando o rei Asa introduziu reformas religiosas
no país, ele depôs sua mãe da dignidade de rainha-mãe. Ela havia
feito uma imagem da deusa Aserá (poste-ídolo). Visto que o rei
Asa achava que essas coisas eram pecaminosas, ele tirou as
prostitutas e destruiu todos os ídolos, incluindo o poste-ídolo.
Embora o rei Asa não tenha matado a mãe, ele retirou-lhe o poder
(1 Reis 15:9-15).
Cabeça de mulher de marfim. Esta cabeça de marfim de uma
mulher assíria (cerca do século oitavo a.C.) foi esculpida de um
grande dente de elefante. Um filete de cordão duplo ou espécie de
turbante segura o cabelo, o qual cai em cachos sobre o pescoço.
Uma rainha-mãe que teve tremendo poder foi Atalia, mãe de
Acazias. Quando seu filho foi morto em combate, Atalia
apoderou-se de trono e procurou matar todos os herdeiros
legítimos. Durante seis anos Atalia reinou em Judá com mão de
ferro; tão-logo, porém, o jovem príncipe teve idade suficiente para
tornar-se rei, Atalia foi destituída e morta (2 Reis 11:1-16).
D. Conselheiros. A maior parte das aldeias tinha pessoas
sábias a quem outras pessoas freqüentemente pediam conselho. A
corte do rei tinha, do mesmo modo, muitos conselheiros sábios.
Embora não haja referências bíblicas a mulheres conselheiras na
corte, há diversos exemplos de mulheres sábias nas aldeias.
Quando Joabe, comandante-chefe do exército de Davi,
desejou reconciliar Davi com seu filho Absalão, ele recorreu a
uma mulher sábia de Tecoa para ajudá-lo. A mulher fingiu ser
viúva com dois filhos. Ela disse que um dos filhos havia matado o
outro num acesso de raiva, e agora o restante de sua família queria
matar o filho remanescente. Davi ouviu a história da mulher e
disse que ela estava certa em perdoar o segundo filho. Então a
mulher mostrou ao rei que ele não estava praticando o que
pregava, pois não havia perdoado a Absalão por um crime
semelhante. Davi percebeu que ele estivera errado e permitiu que
Absalão regressasse a Jerusalém (2 Samuel 14:1-20).
Outra mulher sábia salvou da destruição a sua cidade. Um
homem por nome Seba chefiou uma revolta contra o rei Davi.
Fracassada a revolta, Seba fugiu e escondeu-se na cidade de Abel.
Joabe, general de Davi, cercou a cidade e preparava-se para atacála quando uma mulher sábia da cidade apareceu no muro e pediu
para falar a Joabe. Ela lembrou-lhe quão importante sua cidade
havia sido para Israel; disse-lhe que destruir esta cidade era como
matar "uma mãe em Israel". Assim, juntos combinaram um plano.
Se Seba fosse morto, a cidade não seria atacada. A sábia mulher
voltou e contou o plano traçado aos moradores. Mataram Seba e
Joabe e seu exército retiraram-se.
E. Dirigentes religiosas. Em Israel, Deus não ordenou
sacerdotisas, e uma mulher não poderia, em hipótese alguma,
tornar-se sacerdotisa porque seu ciclo mensal a fazia impura. O
ministério sacerdotal restringia-se aos varões descendentes de
Arão. Contudo, as mulheres podiam desempenhar muitas outras
tarefas rituais. Não é de surpreender encontrar mulheres
participando do culto público a Deus em vários níveis.
A Mezuzá
Quando o anjo da morte passou sobre o Egito, matando todos
os primogênitos, as famílias judias foram protegidas pelo sangue
do cordeiro pascoal espargido nas ombreiras das portas de suas
casas (Êxodo 12:23). Hoje muitos judeus prendem uma mezuzá
nas ombreiras das portas como lembrete da presença de Deus e da
redenção do povo judeu do Egito.
A mezuzá (hebraico, "ombreira de porta") é um pequeno estojo
que contém um pergaminho no qual está escrita a seguinte oração:
"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás,
pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma,
e de toda a rua força. Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no
teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado
em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantarte. Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal
entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas
tuas portas" (Deuteronômio 6:4-9).
O pergaminho continua com Deuteronômio 11:13-21, que
acentua a obediência aos mandamentos e as recompensas de uma
vida reta.
Mesmo hoje cada pergaminho da mezuzá é cuidadosamente
escrito por escribas qualificados, usando os mesmos estritos
procedimentos que usam ao escrever as leis. Depois é enrolado
firmemente e colocado no estojo de sorte que a palavra shaddai
("Todo-poderoso") aparece através de uma pequena abertura perto
do topo. Lê-se uma oração especial quando a mezuzá é presa
quase ao topo da ombreira direita da porta. Embora a popularidade
da mezuzá tenha diminuído em anos recentes, muitos judeus ainda
a beijam tocando os lábios com os dedos e a seguir levantando-os
até ela quando entram numa casa e ao saírem dela. Ao mesmo
tempo, recitam o Salmo 121:8: "O Senhor guardará a tua saída e a
tua entrada, desde agora e para sempre."
A mezuzá é um lembrete diário para a família judaica de sua
responsabilidade para com Deus e a comunidade. Para a
comunidade, é um sinal de que este é um lar onde as leis de Deus
imperam supremas. Dentro deste santuário, longe das influências
mundanas, a família judaica estuda as Escrituras, observa os
feriados religiosos, e instrui os filhos na fé dos seus pais.
Um antigo erudito hebreu explicou a finalidade da mezuzá
comparando-a aos guardas de um rei terreno. Do mesmo modo
que um rei tem guardas à porta para garantir-lhe a segurança,
assim o povo de Israel está seguro dentro de seus lares porque a
palavra de Deus está à porta para guardá-lo.
As mulheres serviam como profetisas ― isto é, porta-vozes
femininos de Deus. A mais famosa profetisa hebréia foi Hulda,
esposa de Salum. Ela exerceu este ministério nos dias do rei
Josias. Quando foi encontrado no templo o livro da Lei, os guias
religiosos vieram a ela e lhe perguntaram o que Deus desejava que
a nação fizesse. A nação inteira, incluindo o rei Josias, tentou levar
a cabo suas instruções nos mínimos detalhes, pois estavam certos
de que Deus havia falado por intermédio dela (2 Reis 22:1123:14).
Houve muitas outras profetisas no Antigo Testamento,
incluindo-se Miriã (Êxodo 15:20), Débora (Juizes 4:4) e a mulher
de Isaías (Isaías 8:3). O Novo Testamento menciona que Ana e as
filhas de Filipe eram profetisas, mas não sabemos muita coisa a
respeito de suas vidas ou de suas mensagens (Lucas 2:36; Atos
21:9).
Algumas mulheres usaram os talentos musicais que Deus lhes
deu. Miriã e outras mulheres cantaram um hino de louvor a Deus
depois que ele livrou os israelitas da mão dos egípcios (Êxodo
15:2). Quando Deus ajudou Débora e Baraque a derrotar os
cananeus, eles escreveram um cântico de vitória e o cantaram em
dueto (Juizes 5:1-31). Três filhas de Hemã eram também
musicistas; de acordo com 1 Crônicas 25:5, 6 elas tocavam no
templo.
Na igreja de Cencréia havia uma diaconisa por nome Febe,
que Paulo disse ter "sido protetora de muitos, e de mim inclusive"
(Romanos 16:2). Numa carta a Timóteo, Paulo escreveu que as
esposas de diáconos devem ser "respeitáveis, não maldizentes,
temperantes e fiéis em tudo" (1 Timóteo 3:11). Porém ele deixou
claro que não queria nenhuma mulher ensinando ou exercendo
autoridade sobre os homens (2:12).
Outras líderes da igreja primitiva incluíam Priscila, que com
mais exatidão, expôs a Apoio o caminho de Deus (cf. Atos 18:2428). Evódia e Síntique eram duas das líderes espirituais de Filipos.
Paulo disse: "juntas se esforçaram comigo no evangelho, também
com Clemente e com os demais cooperadores meus" (Filipenses
4:3). Parece, pois, que elas realizavam trabalho semelhante ao
dele.
RESUMO
Uma antiga história judaica demonstra quão importante era a
mulher em Israel. Diz a história que certo homem piedoso casouse com uma piedosa mulher. Não tiveram filhos, por isso
concordaram em divorciar-se. Então o marido se casou com uma
mulher ímpia e ela o fez ímpio. A mulher piedosa casou-se com
um homem ímpio e fez dele um homem reto. A moral da história é
que a mulher determina o ambiente do lar.
A mãe israelita tinha um lugar importante na vida da família.
Em grande parte, era ela o segredo de uma família bem-sucedida
ou a causa de seu fracasso. Ela podia exercer incalculável
influência sobre o marido e os filhos.
A história de Israel e sua cultura devem muito a essas
mulheres
que
trabalharam
arduamente.
3. CASAMENTO E DIVÓRCIO
A Bíblia expressa com clareza as intenções de Deus para o
casamento. Deus quer que o homem e a mulher se realizem tanto
espiritual como sexualmente. Este relacionamento foi desfigurado
pela queda da humanidade no pecado. A história de Israel fala das
mudanças que afetaram o casamento porque os israelitas
preferiram aceitar as práticas degradantes de seus vizinhos ímpios.
Jesus reafirmou o significado do casamento. Ele censurou a
atitude dos judeus para com o divórcio, e desafiou os parceiros
conjugais a viverem em harmonia.
CASAMENTO
Convém observar as passagens bíblicas que descrevem o
propósito do casamento. A Bíblia dá uma visão geral dos
privilégios e deveres do vínculo matrimonial.
A. Divinamente estabelecido. No princípio Deus criou um
casal de seres humanos, um homem e uma mulher. Sua primeira
ordem a eles foi: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra"
(Gênesis 1:28). Ao reunir este casal, Deus instituiu o casamento, a
mais fundamental de todas as relações sociais. O casamento
capacitava a raça humana a cumprir a ordem de Deus de encher a
terra e sujeitá-la (Gênesis 1:28).
Deus fez a ambos, o homem e a mulher, à sua imagem, cada
qual com um papel especial e cada qual complementado pelo
outro. O capítulo 2 de Gênesis diz que Deus criou primeiro o
homem. Depois, usando uma costela do homem, Deus fez-lhe
"uma auxiliadora" (Gênesis 2:18). Quando Deus trouxe Eva a
Adão, ele os uniu e disse: "Por isso deixa o homem pai e mãe, e se
une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" (Gênesis
2:24).
Deus tencionava que o casamento fosse uma relação
permanente. Devia ser uma entrega pactuai única de duas pessoas
que excluíam todas as demais de sua intimidade. Deus proibiu
expressamente a quebra dessa união quando ordenou: "Não
adulterarás" (Êxodo 20:14). O Novo Testamento reafirma a
singularidade do vínculo matrimonial. Jesus disse que O homem e
sua mulher "já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o
que Deus ajuntou não o separe o homem" (Mateus 19:6). Paulo
comparou lindamente o amor de um homem à sua esposa ao amor
de Cristo à sua Igreja (Efésios 5:25). Ele disse que o amor de
Cristo era tão profundo ao ponto de ele morrer pela igreja, e do
mesmo modo o amor do homem à sua esposa deve superar
quaisquer imperfeições que ela possa ter.
O casamento é mais do que um contrato que duas pessoas
fazem para seu mútuo benefício. Visto que fazem seus votos
matrimoniais na presença de Deus e em seu nome, podem buscar
poder de Deus para cumprir tais votos. Deus torna-se uma parte
sustentadora do casamento. O livro dos Provérbios lembra-nos
disto quando diz que Deus dá sabedoria,
discrição e
entendimento, de modo que os parceiros matrimoniais possam
evitar que sejam induzidos à infidelidade (cf. Provérbios 2:6-16).
Os escritores do Novo Testamento entenderam que o casamento
cristão é criado e mantido por Cristo.
B. Marcado pelo amor. Acima de tudo mais, o amor é o
sinal da união. Note-se a simplicidade com que a Bíblia descreve o
casamento de Isaque e Rebeca: "[ele] tomou a Rebeca, e esta lhe
foi por mulher. Ele a amou" (Gênesis 24:67). O amor, baseado em
verdadeira amizade e respeito, sela e sustenta o laço matrimonial.
Pedro conclama os maridos a viverem "a vida comum do lar, com
discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher
como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, por isso que sois
juntamente herdeiros da mesma graça de vida" (1 Pedro 3:7). Este
tipo de amor entre marido e mulher purifica a relação matrimonial
de ambos.
A Bíblia diz que marido e mulher são iguais como pessoas
diante de Deus, visto que ambos foram feitos à imagem de Deus.
Ambos podem ser salvos de seus pecados, mediante Jesus
(Gênesis 1:27; Gálatas 3:28; Colossenses 3:10-11). Juntos
recebem os dons e as bênçãos de Deus para seu casamento
(Romanos 4:18-21; Hebreus 11:11; 1 Pedro 3:5-7). Quando se
unem em casamento, ambos têm obrigações, embora possam ter
graus variáveis de capacidade para executar as responsabilidades
que partilham.
Procissão matrimonial. Esta concepção artística de uma
procissão matrimonial típica nos tempos bíblicos, mostra o noivo
acompanhando o grupo do casamento de volta à sua casa para uma
festa. Música e dança eram partes essenciais da celebração, que
durava de uma a duas semanas.
C. Realização sexual. Outro fator no relacionamento
matrimonial é a união sexual dos parceiros. A união sexual
consuma o casamento na base de uma entrega matrimonial mútua.
A expressão "coabitou o homem com Eva" ou "conheceu Adão a
Eva" (Gênesis 4:1, 25 e outros lugares), é o modo direto de a
Bíblia referir-se ao intercurso sexual. Mas a Bíblia trata este ato
com dignidade, chamando-o digno de honra e sem mácula
(Hebreus 13:4). As Escrituras exigem do povo de Deus que
conserve puras as suas relações sexuais. Não devem usar o sexo
para dar vazão a paixões lascivas, como o fazem os ímpios (1
Tessalonicenses 4:3-7). A Bíblia recomenda ao homem casado
deleitar-se na esposa de sua mocidade todos os dias de sua vida
(Eclesiastes 9:9). Ele deve embriagar-se "sempre com as suas
carícias" (Provérbios 5:15-19).
1. Um dever a cumprir. Quando um israelita comprometiase a casar, ele não devia permitir que nada o impedisse de cumprir
seu propósito. Não devia ir à guerra, para não dar-se o caso de ele
morrer e outro homem casar-se com a noiva prometida
(Deuteronômio 20:7). Durante o primeiro ano de casamento ele
não devia retomar nenhuma tarefa que interferisse em sua
presença no lar para promover "felicidade à mulher que tomou"
(Deuteronômio 24:5). Paulo disse aos maridos e às esposas que
estivessem sexualmente disponíveis um ao outro, sem privar-se
um ao outro, de modo que Satanás não pudesse tentá-los a tolerar
afeições errantes por lhes faltar domínio―próprio (1 Coríntios
7:3-5).
2. Promiscuidade e perversão. Paulo diz que o homem que
se une "à prostituta, forma um só corpo com ela, porque, como se
diz [o homem e a prostituta], serão os dois uma só carne" (1
Coríntios 6:16). O corpo, diz Paulo, é o templo de Cristo. Uma
vez que a união sexual promíscua une a carne de dois indivíduos,
ela é uma profanação do templo de Cristo.
Aqui o termo carne significa mais do que órgãos sexuais ou
mesmo o corpo todo. Ele se refere à pessoa integral. A união
sexual inevitavelmente envolve a pessoa toda, quer dentro, quer
fora do casamento. Quando Deus exige que seu povo viva vidas
santas (1 Pedro 1:15-16), isto inclui a conduta sexual com relação
ao casamento (1 Tessalonicenses 4:3-6). Deus exigiu santidade
correspondente dos israelitas (Levítico 18; 20:10-21). A pessoa na
sua totalidade ― corpo não menos do que alma ― é separada para
Deus.
Com o tempo a prostituição religiosa das nações pagas entrou
em Israel. A própria presença desta prática profanou o culto do
Senhor (1 Samuel 2:22).
A Bíblia proíbe o incesto (Levítico 18:6-18; 20:11-12).
Denuncia, também, as relações homossexuais como depravadas e
reprováveis aos olhos de Deus. Na verdade, tais relações
acarretavam pena de morte em Israel (cf. Levítico 18:22; 20:13;
Deuteronômio 23:18; Romanos 1:26-27; 1 Coríntios 6:9; 1
Timóteo 1:10).
Cenas de casamento. Cenas de um casamento romano típico são
vistas nos lados deste altar. Na cena à esquerda, o casal junta as
mãos ao término da cerimônia matrimonial. À direita, crianças
tomam parte na procissão à casa do noivo, carregando uma oferta
para o sacrifício pagão.
3. Papéis sexuais próprios. Nos tempos bíblicos, pensava-se
no casamento como um estado em que as pessoas naturalmente
cumpririam seus respectivos papéis sexuais. Dessa maneira, o
homem era o cabeça da família e a esposa devia submeter-se à sua
autoridade (Salmo 45:11; 1 Pedro 3:4-6). Este relacionamento de
papéis esteve presente desde o começo; a mulher foi feita para ser
auxiliadora do homem, adaptada para ele nesse sentido. Por todo o
tempo do Antigo Testamento a mulher encontrou seu lugar na
sociedade por intermédio do pai, depois mediante o marido, e
então por meio do irmão mais velho ou parente resgatador. Deus
usou este relacionamento de papéis para estabelecer harmonia na
família e na sociedade toda. A submissão da mulher judia ao
marido não lhe depreciava as capacidades nem a reduzia a um
lugar secundário na sociedade. A esposa "excelente" do Antigo
Testamento (Provérbios 31) gozava da confiança do marido e do
respeito dos filhos e vizinhos. Ela desfrutava de muita liberdade
para usar suas habilidades econômicas a fim de prover para a
família. Era reconhecida como pessoa de sabedoria e graciosa
mestra. Estava tão longe quanto possível de ser uma escravautensílio, que é como a mulher era considerada em outras culturas
do Oriente Próximo.
D. Símbolo espiritual. O casamento simbolizava a união
entre Deus e seu povo. Israel era chamada de esposa do Senhor, e
o próprio Senhor disse: "não obstante eu os haver desposado"
(Jeremias 31:32; cf. Isaías 54:5). Os profetas declararam que a
nação havia cometido "prostituição" e "adultério" quando ela se
voltou de Deus para os ídolos (Números 25:1-2; Juizes 2:17;
Jeremias 3:20; Ezequiel 16:17; Oséias 1:2). Disseram que Deus
havia repudiado sua esposa infiel (Isaías 50:1; Jeremias 3:8) ao
enviar ele os israelitas para o cativeiro. Não obstante, Deus teve
compaixão de sua "esposa", Israel, e chamou-a de volta para ser
fiel (Isaías 54). Como o noivo se alegra na sua noiva (Isaías 62:45), assim o Senhor se delicia em fazer de Israel o "povo santo",
seus remidos (Isaías 62:12).
O Novo Testamento descreve a igreja como a noiva de Cristo,
preparando-se para a vida no reino eterno (Efésios 5:23). Esta
imagem sublinha a verdade de que o casamento deve ser uma
união de amor e fidelidade, exclusiva e permanente. Os maridos
devem amar as esposas como Cristo ama à sua noiva resgatada, e
as esposas devem submeter-se a seus maridos, como se submetem
a Cristo.
COSTUMES MATRIMONIAIS BÍBLICOS
Nos tempos bíblicos, o primeiro passo no casamento era dado
pelo homem ou por sua família (Gênesis 4:19; 6:2; 12:19; 24:67;
Êxodo 2:1). Geralmente, as famílias do casal faziam o arranjo do
casamento. Assim Hagar, como chefe da família "o casou [Ismael]
com uma mulher da terra do Egito" (Gênesis 21:21). Estando
Isaque com quarenta anos de idade, era perfeitamente capaz de
escolher sua própria esposa (Gênesis 25:20); no entanto, Abraão
mandou seu servo a Harã a fim de buscar uma esposa para Isaque
(Gênesis 24).
Abraão deu ao servo duas ordens estritas: A noiva não podia
ser cananéia, e devia deixar o lar paterno para viver com Isaque na
Terra Prometida. Em circunstância alguma devia Isaque voltar a
Harã para viver de acordo com o antigo modo de vida da família.
O servo de Abraão encontrou a orientação do Senhor em sua
escolha (Gênesis 24:12-32). Então, segundo o costume da
Mesopotâmia, ele fez os arranjos com o irmão e a mãe da moça
(Gênesis 24:28-29, 33). Ele selou o acordo dando-lhes presentes
(um dote) a eles e a Rebeca (Gênesis 24:53). Finalmente,
buscaram o consentimento da própria Rebeca (Gênesis 24:57).
Este procedimento era muito semelhante às práticas matrimoniais
humanas descritas em antigos textos de Nuzi.1
Em circunstâncias diferentes, ambos os filhos de Isaque ―
Jacó e Esaú ― escolheram suas próprias esposas. A escolha de
Esaú causou muita amargura de espírito a seus pais (Gênesis
26:34-35; 27:46; 28:8-9); mas a escolha de Jacó encontrou
aprovação.
Jacó foi enviado à casa de Labão, seu tio, em Harã, onde agiu
com a autoridade de seu pai no arranjo para casar-se com Raquel.
Em vez de dar um dote a Labão, ele trabalhou durante sete anos.
Mas não se costumava permitir que a filha mais moça casasse
primeiro, e assim Labão enganou Jacó casando-o com Lia, irmã
mais velha de Raquel. Jacó aceitou, pois, a oferta de Labão de
1
Veja E. A. Speiser, The Anchor Bible: Gênesis (Nova Iorque: Doubleday and Company, 1964), pp. 182-185.
trabalhar mais sete anos para obter Raquel.
Naquela região, o homem que não tinha filho muitas vezes
adotava um herdeiro, dando-lhe a filha como esposai Exigia-se
que o filho adotivo trabalhasse na família. Se mais tarde nascesse
um filho, o adotivo perdia a herança em favor do herdeiro natural.
Talvez Labão tenha tencionado adotar a Jacó; mas então lhe
nasceram filhos (Gênesis 31:1). Talvez os filhos de Labão tenham
sentido ciúmes de Jacó por temerem que ele pudesse reivindicar a
herança. De qualquer maneira, Jacó deixou Harã secretamente
para voltar à casa paterna em Canaã.
Raquel levou consigo os deuses do lar que pertenciam ao pai.
Visto como a posse desses deuses era uma reivindicação à
herança, Labão saiu no encalço dos fugitivos; mas Raquel ocultou
os ídolos de modo que Labão não os encontrasse. Para pacificar o
tio, Jacó comprometeu-se a não maltratar as filhas de Labão nem
tomar outras esposas (Gênesis 31:50).
Deveríamos notar, especialmente, a tradição do Antigo
Testamento do "preço da noiva". Conforme vimos, o marido ou
sua família pagava ao pai da noiva um preço por ela para selar o
acordo de casamento (cf. Êxodo 22:16-17; Deuteronômio 22:2829).
O preço da noiva nem sempre era pago em dinheiro. Podia
ser pago na forma de roupas (Juizes 14:8-20) ou de algum outro
artigo valioso. Um preço muitíssimo horrendo foi exigido por
Saul, que pediu a Davi prova física de que ele havia matado 100
filisteus (1Samuel 18:25).
O pagamento do preço da noiva não significava que a esposa
tinha sido vendida ao marido e agora era sua propriedade. Era
reconhecimento do valor econômico da filha. Mais tarde a lei
sancionou a prática de comprar uma criada para tornar-se esposa
de um homem. Tais leis protegiam as mulheres contra abuso ou
maus tratos (Êxodo 21:7-11).
Às vezes, o noivo ou sua família dava presentes à noiva
também (Gênesis 24:53). Doutras vezes o pai da noiva também
lhe dava um presente de casamento, como fez Calebe (Josué
15:15-19). É interessante notar que Faraó deu a cidade de Gezer
como presente de casamento à sua filha, esposa de Salomão (1
Reis 9:16).
A festa fazia parte importante da cerimônia de casamento.
Geralmente era dada pela família da noiva (Gênesis 29:22), mas a
família do noivo podia oferecê-la também (Juizes 14:10).
Tanto a noiva como o noivo tinham criados para servi-los
(Juizes 14:11; Salmo 45:14; Marcos 2:19). Se fosse um casamento
real, a noiva dava suas criadas ao esposo para aumentar a glória da
corte dele (Salmo 45:14).
Muito embora a noiva se adornasse com jóias e vestimentas
bonitas (Salmo 45:13-15; Isaías 49:18), o noivo era o centro de
atenção. O Salmista apresenta, não a noiva (como fazem os
modernos ocidentais), mas o noivo como feliz e radiante no dia do
casamento (Salmo 19:5).
Em outras nações do Oriente Próximo, o noivo
costumeiramente passava a morar com a família da noiva. Mas em
Israel, em geral era a noiva que ia para o lar do marido e se
tornava parte de sua família. O direito de herança pertencia ao
varão. Se um israelita tinha somente filhas e desejava preservar a
herança da família, suas filhas tinham de casar-se dentro da
própria tribo porque a herança não podia ser transferida para outra
tribo (Números 36:5-9).
Um dos mais importantes aspectos da celebração do
casamento era o pronunciamento da bênção de Deus sobre a
união. Foi por isto que Isaque abençoou a Jacó antes de enviá-lo a
Harã para buscar uma esposa (Gênesis 24:60; 28:1-4).
Embora a Bíblia não descreva uma cerimônia matrimonial,
supomos que fosse um acontecimento muito público. Jesus
compareceu a, pelo menos, uma cerimônia de casamento e
abençoou-a. Em suas lições, ele referiu-se a vários aspectos das
festividades de casamento, mostrando assim que a pessoa comum
tinha familiaridade com tais cerimônias (Mateus 22:1-10; 25:1-3;
Marcos 2:19-20; Lucas 14:8).
O LEVIRATO
Os israelitas achavam muito importante que o homem tivesse
herdeiro. A preservação da herança da propriedade que Deus lhes
havia dado, era feita através dos descendentes (cf. Êxodo 15:1718; Salmo 127; 128).
A mulher incapaz de ter filhos muitas vezes era alvo do
opróbrio dos vizinhos (Gênesis 30:1-2, 23; 1 Samuel 1:6-10;
Lucas 1:25). Ela e a família se recolhiam, então, em ardente
oração (Gênesis 25:21; 1 Samuel 1:10-12, 26-28).
Surgia situação mais grave se o marido morresse antes de ela
ter-lhe dado herdeiro. Para resolver este problema, deu-se início à
prática do levirato. Mencionado pela primeira vez em conexão
com a família de Judá (Gênesis 38:8), o levirato mais tarde veio a
fazer parte da lei de Moisés (Deuteronômio 25:5-10). Quando uma
mulher enviuvava, o irmão do marido morto, de acordo com a lei
do levirato, tinha de casar-se com ela. Os filhos deste casamento
tornavam-se herdeiros do irmão falecido, a fim de que "o nome
deste não se apague em Israel" (Deuteronômio 25:6). Se um
homem recusava casar-se com a cunhada viúva, ele sofria a
ignomínia pública (Deuteronômio 25:7-10; cf. Rute 4:1-7).
O exemplo mais conhecido deste tipo de casamento foi o de
Boaz com Rute. Neste caso, o parente mais próximo não quis
casar-se com ela; então Boaz, como o parente mais próximo logo a
seguir, agiu como parente resgatador. Havendo ele pago a dívida
da herança de Elimeleque, tomou Rute por sua esposa "para
suscitar o nome deste [Malom] sobre a sua herança, para que este
nome não seja exterminado dentre seus irmãos, e da porta da sua
cidade" (Rute 4:10). Davi foi a terceira geração deste casamento, e
desta linha veio, mais tarde, Jesus Cristo (Rute 4:17; Romanos
1:3).
VIOLAÇÕES DO CASAMENTO
Embora Deus tenha ordenado o casamento como uma relação
sagrada entre um homem e uma mulher, logo ele foi corrompido
quando alguns homens tomaram duas esposas (cf. Gênesis 4:19).
O casamento misto com pessoas estrangeiras e a adoção de formas
pagas complicaram o problema.
A Bíblia registra que Abraão seguiu o costume pagão de gerar
filho que lhe fosse herdeiro por via de uma escrava, porque sua
esposa era estéril. "Toma, pois, a minha serva", rogou Sara ao
marido, "e assim me edificarei com filhos por meio dela" (Gênesis
16:2). A escrava, Hagar, logo deu um filho a Abraão. Mais tarde,
Sara também deu à luz um filho. A arrogância de Hagar afrontou
Sara e levou-a a tratar Hagar com severidade. Quando Sara viu
Ismael caçoando de seu próprio filho, achou que ela já havia
suportado o suficiente. Exigiu que Abraão mandasse Hagar
embora. Visto como Hagar lhe havia dado um filho, Abraão não
podia vendê-la como escrava. Deu liberdade a Hagar e despediu-a
com um presente (Gênesis 21:14; 25:6).
Jacó foi outro patriarca hebreu que seguiu costumes
matrimoniais pagãos. Jacó tomou duas esposas porque seu tio o
ludibriou, casando-o com a mulher errada (Gênesis 29:21-30).
Quando Raquel percebeu que era estéril, deu a Jacó sua serva
"para que eu traga filhos ao meu colo" (Gênesis 30:3-6). Lia ficou
enciumada e deu a Jacó sua própria serva para ter mais filhos em
nome dela (Gênesis 30:9-13). Desse modo Jacó teve duas esposas
e duas concubinas, mas ele deu status igual a todos os seus filhos
como herdeiros da aliança (Gênesis 46:8-27; 49).
A começar com Davi, os reis de Israel deram-se ao luxo de
ter muitas esposas e concubinas, muito embora Deus lhes tivesse
ordenado, especificamente, que não fizessem tal coisa
(Deuteronômio 17:17). Esta prática conferia-lhes status social e os
capacitava a fazer várias alianças políticas (2 Samuel 3:2-5; 5:1316; 12:7-10; 1 Reis 3:1; 11:1-4).
Davi caiu em adultério com Bate-Seba e finalmente
cometeu homicídio a fim de casar-se com ela. A morte era o
castigo de rotina para este pecado (Levítico 20:10; Deuteronômio
22:22). Mas em vez de tirar a vida de Davi, Deus decretou que o
filho de Davi e Bate-Seba deveria morrer, e que haveria luta
contra Davi em sua própria casa (2 Samuel 12:1-23).
Salomão também foi castigado por desobedecer às ordens de
Deus concernentes ao casamento. Suas muitas esposas
estrangeiras levaram-no à idolatria (1 Reis 11:4-5).
A lei mosaica protegia as concubinas e as esposas múltiplas,
mas não com o fito de sancionar a prática. A lei dava status
secundário às concubinas e a seus filhos a fim de proteger estas
vítimas inocentes da sensualidade descontrolada (Êxodo 21:7-11;
Deuteronômio 21:10-17). Deveríamos observar a concessão da lei
no que tange a essas práticas à luz do comentário de Jesus sobre o
divórcio: "Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos
permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde
o princípio" (Mateus 19:8).
Malaquias denunciou o abuso e a negligência que uma esposa
sofria quando o marido se voltava para uma mulher paga e
repudiava a primeira. O pacto do casamento chamava-a a produzir
"semente piedosa"; mas a infidelidade do homem levou-o a
ignorar suas responsabilidades para com ela (Malaquias 2:11, 1416).
A lei mosaica não permitia aos israelitas casar-se com
mulheres estrangeiras (Deuteronômio 7:3) porque elas adoravam
outros deuses. Quando os israelitas voltaram do cativeiro, foram
avisados de que o casamento com mulheres estrangeiras era
contrário à lei de Deus. Esdras e Neemias falaram sobre o assunto
muitas vezes (Esdras 10; Neemias 10:30; 13:23-28). Neemias
censurou sua geração, dizendo: "Não pecou nisto Salomão, rei de
Israel? ...Não obstante isso as mulheres estrangeiras o fizeram cair
no pecado" (Neemias 13:26; cf. 1 Reis 11:4-5). Esdras exigiu que
todo homem pusesse fim ao seu relacionamento com esposa
estrangeira. Os que recusaram, foram expulsos da congregação e
seus bens destruídos (Esdras 10:8). A relação sexual que Deus
tinha em mente era a monogamia ― um homem e uma mulher.
Mas devido às paixões humanas degradadas, a lei de Deus
precisou proibir pecados sexuais específicos (Levítico 18:1-30;
20:10-24; Deuteronômio 27:20-23).
Mesmo assim, alguns homens, desavergonhadamente,
buscaram prostitutas (Gênesis 38:15-23; Juizes 16:1). O livro de
Provérbios adverte com detalhes contra mulheres lascivas e vis
que instigam os jovens nas ruas (Provérbios 2:16-19; 5:1-23; 6:2035). A prostituição do culto cananeu era um grave abuso, que de
quando em quando era praticada em Israel (1 Samuel 2:22-25; 1
Reis 15:12; 2 Reis 23:7; Oséias 4:13-14; cf. Deuteronômio 23:17).
A imoralidade sexual encabeça diversas listas de pecados
citadas na Bíblia (Marcos 7:21; Romanos 1:24-27; 1 Coríntios 6:9;
Gálatas 5:19; Efésios 5:5). Todo pecado sexual desfigura a
imagem de Deus' no homem. Deus advertiu que destruiria toda
sociedade que permitisse a continuação de tal pecado (Levítico
18:24-29).
A PESSOA SOLTEIRA
Por suas palavras e por sua própria vida de solteiro, Jesus
mostrou que o casamento não era um fim em si mesmo, nem
essencial à integridade da pessoa. Como servo de Deus, a pessoa
podia não ser chamada para ter um companheiro e filhos. O
discípulo cristão podia ter de esquecer pais e possessões por amor
do reino de Deus (Lucas 18:29; cf. Mateus 19:29; Marcos 10:2930).
Paulo desejava que todos os homens estivessem contentes por
viver sem casar-se, como ele (1 Coríntios 7:7-8). Ele encontrava
plena liberdade e inteireza em consagrar-se "desimpedidamente,
ao Senhor" (1 Coríntios 7:35). Mas reconhecia que a pessoa que
não tem o dom do autocontrole nesta área deve casar-se, para que
não peque (1 Coríntios 7:9, 36).
Casal real. Este relevo pintado em pedra calcária, de cerca de
1370 a. C, retrata uma rainha egípcia oferecendo flores ao rei, que
despreocupadamente se apoia em seu bastão. Esta e outras
inscrições mostram que a rainha desempenhava papel secundário
na família real.
DIVÓRCIO
Os biblicistas discordam quanto ao modo de Jesus e Paulo
interpretarem a lei mosaica concernente ao divórcio. Não obstante,
as provisões do Antigo Testamento são perfeitamente claras.
A. Lei mosaica. A lei de Moisés permitia que um homem
repudiasse sua mulher quando "ela não for agradável aos seus
olhos, por ter ele achado coisa indecente nela" (Deuteronômio
24:1). O objetivo primário desta legislação era impedi-lo de tomála de novo depois que ela se houvesse casado com outro homem;
isto teria sido "abominação perante o Senhor" (Deuteronômio
24:4).
Supunha-se que a lei desestimularia o divórcio em vez de
incentivá―lo. Ela exigia um "termo de divórcio" ― um
documento público garantindo à mulher o direito de casar-se de
novo sem sanção civil ou religiosa. O divórcio não podia ser feito
no âmbito privado.
O motivo aceitável para garantir o divórcio era que houvesse
alguma "coisa indecente". Os tipos específicos de "indecência"
tinham suas próprias penalidades. Por exemplo, o adultério
acarretava a morte por apedrejamento.
Se o homem acreditava que sua esposa não era virgem por
ocasião do casamento, ele podia levá-la aos anciãos da cidade. Se
a julgassem culpada, a punição seria a morte (Deuteronômio
22:13-21). Contudo, se o homem houvesse acusado falsamente a
esposa, ele seria castigado e devia pagar ao pai dela o dobro do
preço usual da noiva.
Quando o marido suspeitava que a esposa havia adulterado,
ele a levava ao sacerdote, que lhe aplicava a "lei de ciúmes".
Tratava-se de um julgamento por "provação", típico das antigas
culturas do Oriente Próximo. A mulher devia tomar a água
amargosa. Se ela fosse inocente, então a água não lhe faria mal. Se
fosse culpada, ficaria doente. Nesse caso ela era apedrejada até
morrer como adúltera (Números 5:11-31).
Embora a lei de Moisés permitisse ao homem divorciar-se da
esposa, esta não tinha permissão para divorciar-se do marido por
motivo algum. Muitas mulheres provavelmente escaparam de
circunstâncias desagradáveis sem o termo de divórcio (cf. Juizes
19:2). Legalmente a esposa estava sujeita ao marido enquanto
ambos vivessem ou até que ele a repudiasse. Se fosse dado à
mulher um certificado de divórcio, ela podia casar-se de novo com
qualquer homem, exceto com um sacerdote (Levítico 21:7, 14;
Ezequiel 44:22).
Contudo, o novo casamento impedia-a com respeito ao
primeiro marido ― isto é, ele não poderia casar-se de novo com
ela, porque ela havia, de fato, cometido adultério contra ele (cf.
Mateus 5:32).
A despeito das provisões que permitiam o divórcio, Deus não
o aprovava. "O Senhor Deus de Israel diz que odeia o repúdio";
ele chamou-o de "violência" e de "infidelidade" (Malaquias 2:16).
Divórcio na Babilônia
O casamento é um ritual antigo; também o é o divórcio.
Talvez nada haja tão fundamental numa cultura como suas normas
concernentes ao relacionamento entre um homem e uma mulher.
Hamurabi, rei babilônio que reinou de 1728 a 1686 a.C.
redigiu intricadas leis conhecidas como o Código de Hamurabi.
Essas leis lidam com todos os aspectos da vida babilônica,
incluindo o divórcio. As leis de divórcio de Hamurabi eram quase
tão complicadas quanto as de nosso tempo.
Um marido babilônio podia simplesmente dizer à esposa: "Tu
não és minha esposa" (ul assati atti), ou que ele a "havia deixado"
ou a "havia repudiado". Ele lhe dava "dinheiro de despedia" ou
"dinheiro de divórcio". Às vezes se dizia que ele havia "cortado a
orla de seu vestido". Uma vez que o vestido muitas vezes
simbolizava a pessoa que o usava, isto queria dizer que o marido
havia cortado o vínculo matrimonial com a esposa. Suas palavras
eram um decreto legal de divórcio.
A esposa babilônia podia dizer que "odiava" o marido ou que
ela o "deixou", o que significa que ela se recusava a ter relações
sexuais com ele. Contudo, nada do que a mulher dissesse podia
dissolver o casamento. Ela não tinha o poder de divorciar-se do
marido sem consentimento de um tribunal.
O divórcio não era problema a não ser que o casamento
tivesse sido formalizado. "Se um homem adquire uma esposa, mas
não redigiu os contratos para ela, essa mulher não é esposa",
segundo o Código de Hamurabi. Contudo, uma vez que as pessoas
fossem legalmente casadas, as condições e conseqüências do
divórcio estavam claramente traçadas no Código. Havia leis de
divórcio concernentes a casamentos não consumados, casamentos
sem filhos, casamento com uma sacerdotisa, casamento em que o
marido era levado cativo durante a guerra, casamento em que a
esposa ficava gravemente enferma; e sempre havia provisões
específica acerca de quem devia receber a soma de dinheiro.
Um marido podia divorciar-se da esposa quase a seu belprazer. Contudo, se ela não era achada em falta, o mando tinha de
dar-lhe o dote, muitas vezes uma grande parte de sua propriedade.
Isto protegia a esposa de divórcio caprichoso ou casual. Se
houvesse mau procedimento por parte do marido ou da esposa,
esperava-se que os tribunais avaliassem o castigo. Uma mulher
nunca podia iniciar o processo de divórcio; ela devia esperar que o
marido recorresse ao tribunal. Se a mulher não podia provar sua
própria inocência e a culpa do marido, ela era afogada.
Desnecessário é dizer que só em casos extremos uma mulher
buscava o divórcio. Se o marido fosse achado em falta, a esposa
"não incorre em castigo" por sua recusa a direitos conjugais e
podia retornar à casa paterna.
Uma mulher podia até ser repudiada se ela fosse "uma
borboleta, negligenciando assim sua casa e trazendo humilhação
ao esposo". Se achada culpada deste crime, "eles lançavam essa
mulher à água".
Nada era sagrado ou perpétuo no casamento na Babilônia.
Ele parece ter sido um acordo secular antes que um compromisso
religioso ou moral.
B. Ensinos de Jesus. No tempo de Jesus havia muita
confusão acerca das bases para o divórcio. Os rabinos não estavam
de acordo sobre o que constituía o "indecente" de Deuteronômio
24:1. Havia duas opiniões. Os que seguiam o rabino Shammai
achavam que o adultério era a única base para o divórcio. Os
seguidores do rabino Hillel aceitavam diversas razões para o
divórcio, incluindo coisas tais como cozinhar mal.
Os Evangelhos registram quatro declarações de Jesus
concernentes ao divórcio. Em duas delas, ele permitiu o divórcio
no caso de adultério.
Em Mateus 5:32, Jesus comentou a posição tanto da mulher
quanto a do seu marido: "Qualquer que repudiar sua mulher,
exceto em caso de adultério, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele
que casar com a repudiada, comete adultério." Em outra
declaração, Jesus falou da posição do homem que repudiava sua
mulher: "Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de
adultério, e caiar com outra, comete adultério" (Mateus 19:9).
Essas duas afirmativas parecem permitir o divórcio na base
da infidelidade. Contudo, em dois outros contextos, Jesus não
parece dar aprovação nenhuma ao divórcio. Em Marcos 10:11-12
ele disse: "Quem repudiar sua mulher e casar com outra, comete
adultério contra aquela. E se ela repudiar seu marido e casar com
outro, comete adultério." Em Lucas 16:18, Jesus faz uma
declaração semelhante: "Quem repudiar sua mulher e casar com
outra, comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada
pelo marido, também comete adúltero."
Como é que as declarações de Jesus permitindo o divórcio
por infidelidade se harmonizam com as declarações que parecem
proibi-lo inteiramente?
A primeira pista encontra-se nas conversações de Jesus com
os fariseus (Marcos 10:5-9; Lucas 16:18), nas quais ele insiste em
que o divórcio é contrário ao plano de Deus para o casamento.
Embora a lei de Moisés permitisse o divórcio, era. apenas uma
concessão provisória e relutante. Jesus contraditou a lei ao
declarar que, mesmo se o casal divorciado não tivesse sido
sexualmente infiel um ao outro, aos olhos de Deus cometeriam
adultério se agora se casassem com outros parceiros.
Note-se que as declarações de Jesus fazem parte das
conversações com os fariseus acerca da lei mosaica, a qual eles
acreditavam sancionava o divórcio por outros motivos além do
adultério (Deuteronômio 24:1-4). O ponto central de Jesus era que
o divórcio nunca deveria ser considerado bom, nem deveria ser
tomado levianamente. Assim, em sua declaração citada em Lucas
16:18, ele nem mesmo menciona o assunto do adultério.
(Evidentemente, Marcos 10:5-9 registra apenas as palavras de
Jesus que se relacionam com o ponto central da conversação.)
Nas duas passagens de Mateus (uma delas é um relato
completo do que está registrado em Marcos 10), Jesus permite o
divórcio por um motivo somente ― "imoralidade", ou intercurso
sexual ilícito. O pensamento de Jesus é claro: ao criar uma união
sexual com alguém que não seja o parceiro matrimonial, a pessoa
dissolve seu casamento. Neste caso, o decreto de divórcio
simplesmente reflete o fato de que o casamento já foi rompido. O
homem que se divorcia de sua esposa por esta causa "não a faz
adúltera", pois ela já o é. O divórcio por imoralidade geralmente
liberta o parceiro inocente para casar de novo sem incorrer na
culpa de adultério (Mateus 19:9), mas às vezes este ponto é
questionado.
Embora Jesus permitisse o divórcio por adultério, ele não o
exigiu. Muito ao contrário: Insistindo em que o divórcio rompe o
plano de Deus para o casamento, ele abriu a porta ao
arrependimento, ao perdão e à cura num casamento infiel, como
fez no caso de outras relações desfeitas pelo pecado. A
reconciliação era o método de Jesus para solucionar os problemas
matrimoniais.
Deus havia demonstrado esta forma de reconciliação e perdão
quando mandou Oséias casar-se com uma prostituta, depois lhe
disse que a resgatasse após ela ter-se vendido a outro homem.
Deus perdoou a Israel exatamente assim. Quando o povo de Israel
continuou a adorar ídolos, Deus o enviou para o cativeiro; mas ele
o redimiu e o trouxe de volta para si (Jeremias 3:1-14; cf. Isaías
54).
C. Ensinos de Paulo. Em 1 Coríntios 7:15, Paulo diz que um
cristão cujo consorte retirou-se do casamento devia estar livre para
formalizar o divórcio: "... se o descrente quiser apartar-se, que se
aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem
a irmã." 2 Não obstante, Paulo incentiva o crente a manter o
casamento, na esperança de que o parceiro incrédulo venha a ser
salvo e os filhos não sofram.
Evidentemente, Paulo está pensando em pessoas que se
casaram antes da conversão, porque ele diz aos crentes que nunca
se casem com incrédulos (1 Coríntios 7:39; 2 Coríntios 6:14-18).
Observe-se que esta situação é bem diferente daquela que Jesus
mencionou no episódio narrado em Mateus 19 e Marcos 10. Jesus
estava falando aos mestres da Lei ― em realidade, aos maus
2
Alguns sustentam que esta frase ― "não fica sujeito à servidão" ― significa que o cônjuge cristão abandonado pode
legalmente passar do divórcio para novo casamento. Mas outros eruditos questionam esta interpretação.
intérpretes da Lei ― ao passo que Paulo falava aos cristãos,
muitos deles gentios que nunca tinham vivido sob a Lei de
Moisés. Os leitores de Paulo haviam mudado seu modo de vida
após o casamento, e tentavam influenciar seus cônjuges a fazerem
o mesmo. Eles eram obrigados a pensar não^ somente em seu
próprio bem-estar, mas também no bem-estar dos cônjuges e
filhos. Por essas razões, e pelo fato de que a monogamia é o plano
de Deus, os casamentos devem ser mantidos sem separação.
Paulo procurava desestimular o divórcio, a despeito de ser
prática-indubitavelmente comum na cultura greco-romana da
Corinto paga. Em assim fazendo, ele se revelava como verdadeiro
e leal porta-voz da Lei.
4. NASCIMENTO E PRIMEIRA INFÂNCIA
Hoje, como nos tempos bíblicos, o nascimento de uma
criança é uma ocasião momentosa. Mas questões que os pais
hodiernos bem podem debater teriam sido estranhas e assustadoras
para as pessoas que viveram no antigo Israel. Por exemplo, as
seguintes perguntas nunca teriam passado pela mente dos
israelitas: "Devemos ter filhos?" "Nesse caso, devemos limitar o
número a um ou dois?" Ou, "Se vamos ter filhos, quando devemos
começar?"
A atitude dos antigos israelitas poderia resumir-se nisto:
"Desejamos filhos. Desejamo-los agora. Teremos tantos filhos
quantos nos for possível, porque os filhos nos são muito
importantes. Em realidade, preferiríamos ser 'ricos' de filhos a
ricos de dinheiro."
O DESEJO DE TER FILHOS
O primeiro mandamento de Deus foi: "Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:28). Os
casais dos tempos bíblicos levavam muito a sério esta ordem.
Como declarou um dos sábios judeus: "Se alguém não se empenha
em aumentar, é como se derramasse sangue ou diminuísse a
imagem de Deus."
A ordem de Deus em Gênesis 1:28 era considerada grande
privilégio e bênção. O desejo de cumprir esta ordem é o tema de
muitas histórias da Bíblia. Quem pode esquecer-se do filho
prometido a Abraão em sua velhice (Gênesis 15:4; 18:14), ou da
profecia que Isaías entregou ao rei Acaz: "Eis que a virgem
conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel" (Isaías
7:14)? E depois veio o mais milagroso de todos os anúncios,
dirigido à Virgem Maria: "Eis que conceberás e darás à luz um
filho a quem chamarás pelo nome de Jesus" (Lucas 1:31).
Todo casal judeu desejava ter filhos. Em realidade, era esse o
alvo do casamento. O casal desejava ser lembrado; só através de
descendentes isto era assegurado. Morrer sem deixar descendentes
podia levar a família toda a ser destruída, esquecida para sempre.
Em 2 Samuel 14:4-7 lemos a respeito de uma viúva que tinha dois
filhos. Estes entraram numa terrível briga e um matou o outro.
Para fazer o filho culpado pagar por seu crime, os demais parentes
insistiram em que ele fosse executado. A mãe, porém, implorou ao
rei que a vida do seu filho fosse poupada: "Assim apagarão a
última brasa que me ficou, de sorte que não deixam a meu marido
nome, nem sobrevivente na terra" (2 Samuel 14:7).
Mesmo hoje os árabes palestinos consideram anormal a vida
sem filhos. Quando nasce o primeiro filho de um casal, o nome do
pai é ampliado de sorte que o nome do bebê se torna parte do
nome do pai. Por exemplo, um pai cujo nome do filho é "Daniel",
passa a ser conhecido como "Abu Daniel", que quer dizer "Pai de
Daniel". E se um homem está casado há dois anos e sua esposa
ainda não se engravidou, ele pode muito bem ser apelidado de
"Pai de Ninguém".
O planejamento dos filhos era uma alta prioridade na vida do
casal israelita. Já antes do casamento, os parentes falavam sobre os
filhos que viriam. A família da noiva reunia-se para pronunciar
uma bênção sobre ela, declarando seu desejo de que ela tivesse
muitos filhos. Basta olharmos para Gênesis 24:60 para obter um
retrato desta cena. Aqui vemos Rebeca preparando-se para a longa
viagem a Canaã a fim de casar-se com Isaque. Antes de sua
partida, a família se reúne para pronunciar uma bênção sobre ela.
O porta-voz da família diz: "És nossa irmã: sê tu a mãe de
milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta dos
seus inimigos." Bênção semelhante foi dada a Rute antes de seu
casamento com Boaz (Rute 4:11-12).
O casal judeu esperava que cada novo filho fosse varão, mas
aceitavam alegremente um menino ou uma menina. Não era assim
em algumas das culturas das redondezas. Muitas vezes as meninas
recém-nascidas eram deixadas ao ar livre para morrer. Alguns pais
gentios até vendiam as filhinhas como escravas.
Os judeus adultos sabiam como uma criança era concebida,
mas raramente discutiam o ato sexual em si. Em vez disso,
acentuavam que os filhos eram uma dádiva de Deus ao casal,
"herança do Senhor" (Salmo 127:3). Conforme declarou o
Salmista, é Deus o Senhor "cujo trono está nas alturas; que se
inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra? ...Faz que a
mulher estéril viva em família, e seja alegre mãe de filhos" (Salmo
113:5-6, 9).
A Bíblia usa muitas interessantes figuras de retórica para
descrever a família. A mãe é como "videira frutífera" (Salmo
128:3), Os filhos são como rebentos de oliveira em torno da
árvore paterna (Salmo 128:3). Os filhos varões são como flechas
na mão do guerreiro (Salmo 127:4).
O CASAL SEM FILHOS
A história de Raquel e Lia (esposas de Jacó) mostra quão
importante era para uma mulher dar filhos ao marido (Gênesis
30:1-24).
Muitos casais israelitas não podiam ter filhos. Hoje sabemos
que os casais podem não ter filhos por causa da esterilidade do
marido ou da esposa; mas o mundo dos tempos bíblicos lançava a
culpa somente sobre a esposa pelo problema. (Para uma exceção,
veja Deuteronômio 7:14.)
O clamor de Raquel: "Dá-me filhos, senão morrerei"
(Gênesis 30:1), expressava os sentimentos de toda mulher casada.
E, não há dúvida, muitos maridos preocupados concordariam com
a resposta de Jacó: "Acaso estou eu em lugar de Deus que ao teu
ventre impediu frutificar?" (Gênesis 30:2).
Os concidadãos ridicularizavam a mulher estéril, atribuindolhe "opróbrio" (Lucas 1:25). Mesmo as pessoas que a amavam
tratavam-na com compaixão, e a colocavam na mesma categoria
duma viúva.
A esterilidade, porém, era mais do que uma questão física ou
social. Profundos significados religiosos prendiam-se ao problema
também. Moisés prometeu ao povo que se obedecessem ao
Senhor, seguir-se-ia bênção: "Bendito serás mais do que todos os
povos; não haverá entre ti nem homem nem mulher estéril, nem
entre os teus animais" (Deuteronômio 7:14). Assim, julgava-se
que a esterilidade fosse resultado de desobediência a Deus. Este
princípio se vê através de toda a história de Israel. Por exemplo,
Abraão declarou abertamente a Abimeleque, rei de Gerar, que Sara
era sua irmã. Mas Deus revelou a Abimeleque, num sonho, que
Sara era casada com Abraão. Quando o rei devolveu Sara ao
marido, Abraão pediu a Deus que o recompensasse com filhos.
"Porque o Senhor havia tornado estéreis todas as mulheres da casa
de Abimeleque, por causa de Sara, mulher de Abraão" (Gênesis
20:18). Esta passagem da Escritura descreve uma esterilidade que
durou apenas por um breve período de tempo. Contudo, a
condição poderia ser permanente (cf. Levítico 20:20-21). Mas,
fosse a esterilidade temporária ou permanente, ela era tida como
maldição de Deus.
É-nos difícil imaginar quão devastadores esses
acontecimentos teriam sido para a esposa sem filhos. Ela estava
espiritualmente arruinada, socialmente desfavorecida, e
psicologicamente deprimida.
Estava casada com um marido que desejava um filho para
assegurar a continuação de sua linhagem familiar. O marido podia
continuar a amá-la, porém ela achava que o seu amor não era
consolação suficiente (cf. 1 Samuel 1:6-8). Por outro lado, um
esposo ressentido poderia tornar insuportável a vida da mulher .
Um casal estéril passava uma boa parte do tempo
examinando suas falhas passadas para ver se havia algum pecado
não confessado. Com lágrimas, a esposa arrependia-se de todo
pecado conhecido. Então o marido oferecia um sacrifício
satisfatório para cobrir algum pecado "desconhecido" (cf. Levítico
4:2). A falta de filhos passava a ser o assunto principal das orações
do casal. Note como Isaque rogou ao Senhor que concedesse um
filho à sua esposa (Gênesis 25:21). Ana chorou perante o Senhor e
fez um voto de que se Deus lhe desse um filho, ela o consagraria
ao serviço do Senhor (1 Samuel 1:11).
Quando o pecado era eliminado como a causa do problema,
esposa estava livre para procurar diferentes soluções. Seus
parentes amigos e vizinhos podiam sugerir que ela tentasse vários
alimentos ou poções afrodisíacos que foram bons para eles.
Estatueta micênica. Uma mulher idosa, uma jovem, e um menino
são retratados nesta escultura de marfim (décimo-terceiro século
a.C.)- Era importante, na antiga estrutura da família, um estreito
relacionamento entre as mulheres mais idosas e as mais jovens,
especialmente na área da educação dos filhos.
Um desse alimentos é mencionado na Bíblia: Raquel pediu
"mandrágoras" de Lia, sua irmã (Gênesis 30:14-16). Acreditava-se
que as mandrágoras produziam fertilidade; muitas vezes eram
usadas como encantamentos de amor. Raquel acreditava que se
comesse este alimente conceberia. Nos tempos rabínicos as
mulheres procuravam vencer! esterilidade mudando a dieta
alimentar. Acreditava-se que maçãs e peixes tornavam a pessoa
sexualmente forte para a procriação.
Modernas escavações em Israel têm descoberto muitas
figuras de fertilidade feitas de barro. Supunha-se que elas
ajudassem a mulher a ficar grávida por "mágica de simpatia".
Cada figurinha era moldada para parecer uma mulher grávida. À
medida que a mulher estéril manejava e conservava junto de si a
figurinha, ela esperava assumir a semelhança da figura grávida.
As mulheres também usavam amuletos para assegurar a
fertilidade. O profeta Jeremias notou outra prática paga comum:
As mulheres de Judá faziam bolos, ofereciam bebidas e
queimavam incenso à "rainha dos céus" para garantir fertilidade
(Jeremias 44:17-19; cf. Jeremias 7:18). A "rainha" mencionada
nesta passagem era, provavelmente, Astarote, a deusa cananéia do
amor sexual, da maternidade e da fertilidade. Naturalmente, todas
estas práticas supersticiosas eram más aos olhos de Deus.
Se esses remédios não dessem resultado, a mulher era
considerada permanentemente estéril. A esta altura, o marido
podia tomar medidas drásticas. Podia casar-se com outra esposa
ou (pelo menos nos tempos dos patriarcas) usar uma escrava para
ter filhos com o seu nome. Foi por isto que Sara deu sua serva
Hagar a Abraão (Gênesis 16:2) e Raquel pediu a Jacó, seu marido,
que engravidasse sua serva Bila (Gênesis 30:3).
A adoção era também um método de superar a infertilidade
da esposa. O casal sem filhos podia adotar uma criança ou mesmo
um adulto como filho. Eliézer de Damasco era homem crescido,
mas Abraão pediu a Deus que ele fosse seu herdeiro (Gênesis
15:2). As plaquetas do décimo-quinto século a. C, descobertas em
Nuzi, mostram que Abraão estava seguindo uma praxe comum
das culturas semíticas, embora tenhamos poucas referências a ela.
A adoção resolvia muitos problemas: O filho adotado cuidaria do
casal na velhice, provendo-lhes um sepultamento apropriado, e
herdaria a propriedade da família. Contudo, se o Casal tivesse um
filho natural após a adoção, este se tornaria o herdeiro legítimo.
Note-se que ao nascer, o filho de Bila foi colocado no colo de
Raquel. Este ato era a parte central da cerimônia de adoção. A
criança foi então adotada por Raquel como sua própria (cf.
Gênesis 30:3). As outras referências bíblicas à adoção acham-se
num ambiente estrangeiro: A filha de Faraó adotou Moisés (Êxodo
2:10 ― Egito) e Mordecai adotou Ester (Ester 2:7, 15 ― Pérsia).
Mesmo com a ênfase sobre a obtenção de filhos, uns poucos
casais preferiram morrer sem filhos a recorrer à adoção ou à
poligamia. Este era o plano de Zacarias e Isabel (Lucas 1:7).
Se uma mulher engravidava após longos anos de espera, era
provável que ela fosse a mais feliz mulher da aldeia. Haveria
grande regozijo ao nascer-lhe o filho. Vemos isto, dramaticamente,
no relato de Isabel, a mãe de João Batista. Lucas escreve:
"Ouviram os seus vizinhos e parentes que o Senhor usara de
grande misericórdia para com ela, e participaram do seu regozijo"
(Lucas 1:58). Quando Raquel finalmente concebeu e teve um
filho, ela exclamou: "Deus me tirou o meu vexame" (Gênesis
30:23). Na esperança de que este não seria oi único filho, ela lhe
deu o nome de José, que significa "Ele (Deus)' acrescenta",
dizendo: "Dê-me o Senhor ainda outro filho" (Gênesis; 30:24).
Mãe e filho. Esta figurinha de barro cru, representando mãe e
filho, data cerca de 3000 a. C; provém de Bete-Yerá, norte de
Israel. A família era assunto comum da primitiva arte cananéia.
ABORTO ACIDENTAL
Assim como em nossos dias, nem todas as mulheres dos
tempos bíblicos podiam carregar o feto o tempo suficiente para
darem à luz Não obstante, as referências que a Bíblia faz ao aborto
são de natureza geral. Embora a tragédia do aborto provavelmente
fosse objeto de cochichos nos círculos femininos, o sentido de
bom gosto do povo talvez as impedisse de discuti-lo abertamente.
Percebendo que estava prestes a perder a família, a saúde e os
bens! Jó desejou ter sido como "aborto oculto... como crianças que
nunca viram a luz" (Jó 3:16). O profeta Jeremias declarou
amargamente que teria sido melhor se ele tivesse morrido no
ventre materno e nunca ter nascido (Jeremias 20:17-18). As
mulheres dos tempos bíblicos não teriam usado a moderna
terminologia médica para descrever o aborto. Elas teriam tentado
explicá-lo em outros termos. Podiam buscar a origem do problema
num alimento que tivessem ingerido, ou em algo que fora bebido.
Por exemplo, nos dias do profeta Eliseu, as mulheres de Jericó
estavam convencidas de que a água dali lhes estava causando
aborto (2 Reis 2:19-20).
Às vezes o aborto era causado por acidente. Uma mulher
grávida podia ser empurrada ou escoiceada por um animal. Ela
podia encontrar-se entre dois homens em briga. De acordo com a
lei mosaica, a pessoa que infligia o golpe era multada se a mãe
abortasse. Se o aborto causasse complicações e como resultado a
mulher morresse, a Lei impunha a pena de morte (Êxodo 21:2223).
O "BEM-AVENTURADO ACONTECIMENTO"
Os hebreus, mesmo sem contarem com os correntes dados da
medicina, sabiam algo a respeito do processo de crescimento. O
Salmista descreveu em termos poéticos o papel de Deus no
processo, quando escreveu: "Pois tu formaste o meu interior, tu me
teceste no Seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo
assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são
admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não
te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e entretecido
como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a
substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os
meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um
deles havia ainda" (Salmo 139:13-16).
Mulher dando à luz. A estatueta de barro, do século oitavo, de
Chipre, retrata uma mulher dando à luz. A figura do centro, em
trabalho de parto, senta-se ereta sobre os joelhos da companheira
enquanto a parteira á atende. Alguns eruditos acham que Gênesis
30:3 refere-se a este modo de dar à luz.
A. Dor de parto. Faraó interrogou duas parteiras para saber
por que desobedeceram à ordem de matar os meninos hebreus.
Elas responderam: "...É que as mulheres hebréias não são como as
egípcias; são vigorosas, e antes que lhes chegue a parteira já
deram à luz os seus filhos" (Êxodo 1:19).
Como deveríamos interpretar o que as parteiras disseram?
Estavam simplesmente inventando a história porque temiam ao
Senhor (Êxodo 1:17)? Se estavam dizendo a verdade, que é que
pretendiam dizer? Não podemos admitir que todas as mães
hebréias tivessem parto sem dor; outros textos bíblicos não
apóiam esta teoria.
Quando, no jardim do Éden, Adão e Eva pecaram contra
Deus, a maldição divina sobre a humanidade foi que as mulheres
experimentariam dor ao darem à luz (Gênesis 3:16). As agonias do
nascimento e os gritos de uma mulher em trabalho de parto eram
comuns numa aldeia judia.
Quando os profetas procuravam descrever o juízo de Deus,
freqüentemente usavam a imagem de uma mulher em trabalho de
parto. Por exemplo, Isaías disse: "Como a mulher grávida, quando
se lhe aproxima a hora de dar à luz, se contorce e dá gritos nas
suas dores, assim fomos nós na tua presença, ó Senhor!
Concebemos nós, e nos contorcemos em dores de parto, mas o que
demos à luz foi vento" (Isaías 26:17-18). Semelhantemente, disse
Jeremias: "Pois ouço uma voz, como de parturiente, uma angústia
como da primípara em suas dores; a voz da filha de Sião, ofegante,
que estende as mãos,! dizendo: Ai de mim agora!" (Jeremias
4:31).
As dores de parto eram, às vezes, acompanhadas por
complicações. O Antigo Testamento registra várias ocasiões em
que a vida da mãe corria perigo. Por exemplo, a criança que
nasceu a Tamar foi chamada Perez, que significa "ruptura" ou
brecha. A parteira notou que a criança havia feito na mãe uma
ruptura ou rasgo desusadamente grande (Gênesis 38:29). Raquel, a
esposa amada de Jacó, morreu, enquanto dava à luz Benjamim,
seu segundo filho (Gênesis 35:18-20)| Igualmente, a esposa de
Finéias perdeu a vida nó parto, embora a criança tenha sido salva
(1 Samuel 4:20). O nascimento de uma criança era doloroso e
muitas vezes difícil. A mãe sofria sem oi benefícios dos modernos
tira-dores ou da sofisticada assistência médica.
B. parto. Em algumas culturas antigas, a mãe deitava-se para
dar à luz um filho; em outras, a mãe ficava de cócoras, numa
posição abaixada. Embora a Bíblia pouco se refira a esta fase do
nascimento, há uma referência a "assentos" (Êxodo 1:16, ERC), o
que indica que a mãe não ficava deitada. Infelizmente, não há
descrição do assento ou tamborete. Mas esses assentos eram bem
conhecidos em outras culturas do Oriente Médio.
Geralmente a mãe era assistida por uma parteira, mulher
especialmente experimentada em ajudar na hora do parto. Às
vezes, essas mulheres também eram mães; elas haviam aprendido
por experiência qual o tipo de assistência que era necessário.
Algumas parteiras eram profissionais que executavam este serviço
como ocupação de tempo integral.
A parteira desempenhava várias funções. Além de receber a
criança, ela aconselhava e incentivava a parturiente. Em diversas
ocasiões, a Bíblia registra as palavras das parteiras à medida que
davam tranqüilidade e consolo (cf. Gênesis 35:17; 1 Samuel 4:20).
Se nasciam gêmeos, a parteira tinha a responsabilidade de fazer
distinção entre o primeiro a nascer e o segundo. Quando Tamar
deu à luz os gêmeos, a parteira pegou um fio encarnado e o
amarrou à mão do primogênito, dizendo à mãe: "Este saiu
primeiro" (Gênesis 38:28).
Nem sempre a mãe tinha o benefício de uma parteira. Se ela
tivesse um filho prematuro ou estivesse fora de seu ambiente
normal, podia ler de enfrentar a provação sozinha. A Bíblia sugere
que Maria, mãe de Jesus, estava sozinha com o marido quando
deu à luz Jesus (Lucas 2:7).
Nos tempos bíblicos, a criança não começava a vida num
ambiente hospitalar esterilizado. Geralmente ela nascia em casa,
onde as Condições não eram higiênicas. Provavelmente nasceria
num chão sujo. Os animais domésticos às vezes partilhavam as
mesmas habitações. Muitas vezes a água usada para lavar a
criança estava poluída; as vestes usadas para envolvê-la tinham
sido lavadas na mesma água impura. As moscas portadoras de
doenças e outros insetos logo encontravam a criança. O estábulo
onde Jesus nasceu pode não ter sido nada pior do que alguns dos
lares de Belém.
O recém-nascido dormia na mesma cama com a mãe, de sorte
que este pudesse amamentá-lo durante a noite. Contudo, isto podia
resultar em tragédia. Certa vez, Salomão foi solicitado a julgar um
caso que envolvia duas meretrizes que moravam na mesma casa.
Uma das mulheres tinha sono pesado, e durante a noite,
acidentalmente, rolou sobre o filho e este morreu. Ao descobrir
que a criança estava morta, secretamente trocou-a pela da outra
mulher. Salomão pôde determinar qual das mulheres era a mãe do
menino vivo (1 Reis 3:16-28).
Considerando as deficientes condições de vida, a mortalidade
infantil deve ter sido muito alta. Estudos demográficos realizados
no Egito e em outras culturas antigas mostram que o índice de
mortalidade infantil chegava a 90%. Os muitos sítios de
sepultamento infantil descobertos em várias escavações
arqueológicas tendem a apoiar esta hipótese. É importante
lembrar, também, que a cerimônia de redenção do primogênito
varão não se realizava antes que o menino tivesse 30 dias. Se ele
passasse do primeiro mês, eram boas as suas chances de chegar à
vida adulta.
Imediatamente após o parto, era preciso executar várias
tarefas. Até data recente, prevalecia entre os árabes palestinos um
costume que pode refletir o procedimento dos tempos bíblicos.
Primeiro, o cordão umbilical era cortado e amarrado. Depois a
parteira segurava o bebê e esfregava sal, água e óleo por todo o
seu corpo. A criança era envolvida apertadamente em tecidos ou
trapos limpos durante sete dias, e então se repetia o processo. Isto
continuava até a criança chegar aos 40 dias. O profeta Ezequiel
mencionou sal, lavamento e faixas com referência ao nascimento
de uma criança (Ezequiel 16:4). Lucas observou que Maria "deu à
luz o seu filho primogênito, enfaixou-o..." (Lucas 2:7).
Os deveres da parteira terminavam quando entregava a
criança à mãe para amamentá-la. A mãe judia considerava
privilégio e dever amamentar a criança ao seio. Na realidade, as
crianças eram amamentadas ao seio durante o primeiro ano de
vida, ou mais. Algumas vezes, porém, a mãe não era fisicamente
apta para alimentar o filho. Quando isto acontecia, arranjava-se
uma ama-de-leite. Esta ama-de-leite era outra mãe que
amamentava (geralmente não aparentada.) com a criança), que
agora amamentava a criança com leite de seu
próprio peito.
A Bíblia relata algo sobre três dessas amas. A filha de Faraó
encontrou o menino Moisés entre os juncos à beira do rio Nilo.
Uma de suas primeiras ordens foi que se conseguisse uma ama
dentre as mulheres hebréias para amamentar a criança. A ama-deleite de Moisés foi sua própria mãe (Êxodo 2:7-8). A Bíblia
descreve uma cena; comovente que mostra a alta estima
dispensada às amas: "Morreu Débora, a ama de Rebeca, e foi
sepultada ao pé de Betel, debaixo do carvalho que se chama AlomBacute" [ou "Carvalho de Lágrimas"] (Gênesis 35:8). Outra amade-leite trabalhava com a família real em Jerusalém. Ela arriscou a
vida ocultando a criança que devia herdar o trono quando tivesse
idade suficiente para tornar-se rei (2 Reis 11:1-3).
A parteira comunicava à mãe que a criança havia nascido,
estava viva e passava bem. Se o pai estava trabalhando no campo,
ou no mercado, ela mandava avisá-lo. Jeremias referiu-se a esta
praxe quando disse: "Maldito o homem que deu as novas a meu
pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso
grandemente" (Jeremias 20:15).
Os vizinhos da família perguntariam se a criança recémnascida era menino. O anúncio do nascimento era simples. Dizia:
"Foi concebido um homem!" (Jó 3:3), ou "Nasceu-te um filho"
(Jeremias 20:15). Isto nos lembra o anúncio do Messias: "Um
menino nos nasceu, um filho se nos deu" (Isaías 9:6).
DAR NOME À CRIANÇA
Os nomes eram muito importantes no mundo do Antigo
Testamento. Cada nome hebreu tinha um significado, e ele se
tornava parte importante da vida da criança. Os judeus
acreditavam que primeiro deviam conhecer o nome de uma pessoa
antes que pudessem conhecer a própria pessoa. Basta que olhemos
para o nome de Jacó, que quer dizer "agarrador de calcanhar", ou
"suplantador", para vermos a importância de um nome. Conhecer
o nome de Jacó era conhecer-lhe o caráter! Portanto, o ato de
escolher um nome para a criança era grave responsabilidade.
Após o exílio, o significado do nome perdeu a importância
que tinha. Uma criança podia receber o nome Daniel, não por seu
significado, mas para honrar o famoso servo de Deus. Porém,
houve exceções, mesmo durante este período. Por exemplo, o
nome Jesus é uma forma grega do nome hebreu Josué, que
significa "salvação do Senhor".
O nome da criança geralmente era escolhido por um dos pais, ou
por ambos. A Bíblia indica que geralmente a mãe dava nome à
criança. Como hoje, outras pessoas se incumbiam de ajudar nesta
importante tarefa. Se os vizinhos e parentes de Isabel tivessem
feito como queriam, seu filho teria sido chamado "Zacarias". Mas
Isabel protestou, insistindo em que o menino se chamasse "João"
(Lucas 1:60-61).
Em parte alguma a Bíblia diz especificamente quando a
criança devia receber o nome. Em alguns casos, a mãe deu nome à
criança no dia de seu nascimento (p. ex., 1 Samuel 4:21). Nos
tempos do Novo Testamento, o menino geralmente recebia o nome
no oitavo dia, no momento da circuncisão (cf. Lucas 1:59; 2:21).
Em sua maioria, os nomes da Bíblia são teofóricos. Isto é, um
nome divino foi juntado a um substantivo ou a um verbo,
produzindo uma sentença. Por exemplo, Jônatas significa "O
Senhor deu". O nome Elias refere-se à lealdade do profeta: "Meu
Deus [é] o Senhor." Isto é verdade, também, com relação a muitos
nomes pagãos. Muitos nomes do Antigo Testamento contêm a
palavra Baal. O neto do rei Saul chamava-se Meribe-Baal (1
Crônicas 8:34).
As circunstâncias que cercavam o nascimento da criança
algumas vezes influíam na escolha do seu nome. Por exemplo, se
uma mulher ia ao poço em busca de água e tinha seu filho ali, ela
podia chamá-lo Beera, "[nascido junto ao] poço." Uma criança
nascida durante uma tempestade de inverno podia chamar-se
Baraque, "relâmpago". Quando os filisteus capturaram a arca do
concerto, uma mãe estava dando à luz um filho. O menino recebeu
o nome de Icabode; nas palavras da mãe, "Foi-se a glória
[cabode] de Israel" (1 Samuel 4:21).
Os nomes de animais eram comumente usados para crianças.
Raquel significa "ovelha". Débora é a palavra hebraica para
"abelha". Calebe quer dizer "cão", e Acbor refere-se a
"camundongo". Só podemos fazer conjecturas por que se usavam
nomes de animais. Talvez expressassem algum tipo de desejo dos
pais. Uma mãe podia ter chamado a filha de Débora por desejar
que ela, ao tornar-se madura, fosse uma "abelha" industriosa e
ocupada.
Freqüentemente o nome se referia a um traço de
personalidade que os pais esperavam descrevesse a criança quando
ela chegasse à vida adulta. Nomes como Shobek (Preeminente) e
Azzan (Forte) podem ser melhor compreendidos sob esta luz. Mas,
em outros casos, o nome parecia ser exatamente o contrário do que
os pais esperavam que o filho fosse. Gareb sugere uma condição
"escabiosa" e Nabal faz referência a um "tolo". Algumas culturas
primitivos acreditavam que os demônios desejavam possuir as
crianças, por isso davam a elas nomes com sons repugnantes.
Talvez nomes como ''Escabioso" e "Tolo" fossem dados, portanto,
nos tempos bíblicos para afastar espíritos maus.
Akhnaton, Nefertiti, e filhos. Esta placa de pedra calcária pintada
é um retrato da família do Faraó Akhnaton (décimo-quarto século
a.C), sua rainha e as três filhas. A rainha está sentada, com duas
filhas ao colo, enquanto o rei entrega um objeto à mais velha.
É comum hoje dar ao primogênito o mesmo nome do pai,
mas esse não era o caso nos tempos bíblicos. Basta que se dê uma
olhada às várias árvores genealógicas descritas nas Escrituras para
comprová-lo. Por exemplo, de Boaz até ao último rei de Judá,
estão arrolados 24 nomes de reis. E não há dois deles iguais!
Alguns nomes eram mais populares do que outros. Por
exemplo, pelo menos doze homens mencionados no Antigo
Testamento foram chamados de Obadias ("servo do Senhor"). A
fim de distinguir entre muitas crianças com o mesmo nome, podia
acrescentar-se o nome do pai ao do filho. O nome completo do
profeta Micaías era "Micaías ben Inlá", ou "Micaías, filho de
Inlá". O nome do apóstolo Pedro, antes de Jesus mudá-lo, era
"Simão Barjonas", ou "Simão, filho de Jonas". Este costume
também servia para lembrar ao filho seus ancestrais.
Outro modo de distinguir entre pessoas com o mesmo nome
era identificar cada pessoa pela sua cidade natal. O pai de Davi era
chamado "Jessé, o belemita" (1 Samuel 16:1). O gigante que Davi
matou era "Golias, de Gate" (1 Samuel 17:4). Entre os principais
sustentadores de Jesus encontrava-se Maria Madalena ou "Maria
de Magdala" (Mateus 28:1). Judas Iscariotes, o discípulo que traiu
a Jesus vinha da cidade de Queriote.
Às vezes o nome da pessoa era mudado depois que ela atingia
a idade adulta. O próprio indivíduo podia pedir a mudança de
nome. Noemi, sogra de Rute, procurou trocar de nome para Mara,
porque, disse ela, "grande amargura [mara] me tem dado o Todopoderoso" (Rute 1:20). A Bíblia não diz se os seus vizinhos a
levaram a sério. O jovem fariseu chamado Saulo tinha sido cristão
durante anos antes de mudar o nome para Paulo, depois que levou
um importante oficial, Sérgio Paulo à conversão na ilha de Chipre
(Atos 13:1-13).
Em outras ocasiões, a pessoa recebia um novo nome. Um
anjo do Senhor trocou o nome de Jacó para Israel (Gênesis 32:28).
Jesus mudou o nome de Simão para Pedro (Mateus 16:17-18).
Não se sabe quantas vezes as pessoas mudavam de nome nos
tempos bíblicos.
RITUAIS DO PARTO
A antiga cultura judaica observava rituais de parto. A criança
nascia 11 uma comunidade profundamente religiosa. Os seguintes
ritos tinham significados religiosos especiais no desenvolvimento
da criança.
A. Circuncisão dos meninos. Muitas culturas do mundo
moderno praticam a circuncisão por motivos de higiene. Algumas
tribos primitivas executam o rito em infantes e em rapazinhos,
enquanto outras esperam até que os meninos cheguem à
puberdade ou estejam prontos para o casamento. Essas tradições
têm permanecido em grande parte inalteradas durante séculos.
Práticas semelhantes eram comuns no Oriente Próximo nos
tempos bíblicos. Visto como os filisteus não praticavam a
circuncisão, Os judeus os ridicularizavam (cf. 1 Samuel 17:26).
Em alguns casos, OS israelitas foram circuncidados quando
adultos (Josué 5:2-5).
A circuncisão significava que o menino era admitido na
comunidade do pacto. O Senhor disse a Abraão: "O que tem oito
dias será circuncidado entre vós... a minha aliança estará na vossa
carne e será aliança perpétua" (Gênesis 17:12-13). Portanto, esta
prática era cuidadosamente observada. O incircunciso era
considerado pagão. Quando a cultura grega chegou à Palestina,
dois séculos antes de Cristo, muitos judeus abandonaram seus
costumes. Alguns homens submetiam-se a uma operação que os
fazia parecer "incircuncisos" de novo. Isto era equivalente a
apostasia.
A parteira hebréia
A parteira é a mulher que assiste uma mãe ao dar à luz. Nos
tempos antigos, os deveres da parteira consistiam em cortar o
cordão umbilical, lavar o bebê, esfregá-lo com sal, envolvê-lo em
faixas, e depois apresenta- lo ao pai. Em certa ocasião a parteira
sugeriu o nome para a criança (Rute 4:17). A perícia e dedicação
dessas mulheres no parto deram honra à sua profissão.
Freqüentemente a parteira era amiga e vizinha da família, e às
vezes membro da casa.
A obstetrícia é uma prática antiga, mencionada pela primeira
vez na Bíblia durante o tempo de Jacó (Gênesis 35:17). A parteira
era experiente em lidar com as dificuldades associadas com
nascimentos múltiplos, conforme sugerido quando Tamar deu à
luz Perez e Zerá (Gênesis 38:27-30).
A Bíblia menciona duas mulheres que morreram durante o
parto: Raquel, quando deu à luz Benjamim (Gênesis 35:17), e a
nora de Eli' quando nasceu Icabode (1 Samuel 4:20-21). Em >
cada caso, o diligente aviso da parteira tornou possível à mãe dar
nome ao filho.
As duas mais famosas parteiras mencionadas na Bíblia são
Sifrá e Puá. Acredita-se que elas foram as principais parteiras que
assistiam as mulheres hebréias durante o cativeiro no Egito. Josefo
e outros crêem que essas duas eram mulheres egípcias a quem
Faraó incumbiu de executar suas ordens de matar os menino"
hebreus. Mas as parteiras desobedeceram Faraó com a desculpa de
que as hebréias eram mais saudáveis e vigorosas do que as egípcia
durante o parto. (Isto implicava que seria difícil as parteiras
alegarem que os bebês tinham morrido durante o parto.)
A Lei de Moisés não estipulava quem devia fazer a operação
menino. Supõe-se, comumente, que era feita por um varão adulto
Pelo menos numa ocasião a Bíblia registra que ela foi realizada
por uma mulher; mas as circunstâncias que cercavam este
acontecimento
especial não eram comuns, pois o marido parecia estar moribundo
(cf. Êxodo 4:25). A palavra hebraica para "circuncisor" e "sogro" é
a mesma. Isto, provavelmente, remonta aos dias pré-aliança
quando o futuro sogro preparava o jovem para o casamento.
A circuncisão é uma operação extremamente delicada. Em
nossa sociedade ela é executada por um médico especialista. É
provável que nos tempos do Novo Testamento, o rito fosse
executado por um especialista que não pertencia ao grupo familiar
(1 Macabeus 1:61).
A princípio, usavam-se para esta operação instrumentos
rudimentares como facas de pedra. Mesmo depois de
desenvolvidas as facas de metal, usavam-se facas de pedra (Êxodo
4:25 e Josué 5:2). Lentamente esta tradição foi abandonada, e nos
tempos do Novo Testamento as facas de pedra haviam sido
substituídas por facas de metal.
O menino judeu, conforme vimos, devia ser circuncidado ao
oitavo dia. Deus deu primeiro este mandamento a Abraão (Gênesis
17:12) e o repetiu a Moisés no deserto (Levítico 12:3). Em
períodos anteriores, os israelitas nem sempre obedeceram a esta
ordem. Mas depois do exílio, a lei era cuidadosamente observada.
Esta prática continuou através dos tempos do Novo Testamento
(cf. Lucas 2:21) e permanece como traço característico do
Judaísmo hoje. Quando o oitavo dia caía no sábado, o rito da
circuncisão ainda era executado ― a despeito das muitas regras e
regulamentos sobre suspender as atividades cotidianas que se
desenvolveram para manter santo o sábado.
Estudos recentes têm confirmado que o tempo mais seguro
para executar a circuncisão é no oitavo dia de vida. A vitamina K,
que causa a coagulação do sangue, não é produzida em doses
suficientes até ao sétimo dia. No oitavo dia o organismo contém
10% mais de protrombina do que o normal; a protrombina
também é importante tia coagulação do sangue.
B. Purificação da mãe. Supunha-se que o parto tornava a
mulher cerimonialmente impura. Isso significava que não lhe era
permitido participar de nenhuma das observâncias religiosas ou
tocar objetos sagrados. Os biblicistas de há muito têm especulado
sobre os motivos deste procedimento. Acentuava que a criança era
nascida em pecado? Demonstrava que o ato sexual e o nascimento
de uma criança eram Um tanto pecaminosos? Ou se destinava
simplesmente a proteger a mãe, impedindo-a de sentir-se obrigada
a sair para fora de casa logo após o nascimento de um filho? A
Bíblia não nos dá o motivo. Contudo, é importante lembrar que
qualquer pessoa ― homem ou mulher ― era considerado
cerimonialmente impuro se tivesse uma descarga de sangue,
sêmen ou pus (cf. Levítico 12; 15). Outras culturas dos tempos
bíblicos tinham tabus semelhantes.
De acordo com Levítico 12, a mãe era impura durante 40 dias
após o nascimento de um filho; ficava impura o dobro desse
tempo se fosse uma filha. Aqui, também, não se dá o motivo do
procedimento.
Escolas gregas e romanas
Os gregos e os romanos antigos tinham um sofisticado
sistema escolar. As escolas não eram obrigatórias, nem eram
dirigidas pelo governo. Contudo, o sistema escolar era popular.
No sistema grego, os meninos eram mandados para a escola
aos seis anos de idade. O dono e dirigente da escola era o
professor. Parece que os gregos não tinham escolas com internato.
Os gregos não ensinavam línguas estrangeiras. (Eles
consideravam sua língua como suprema!) A educação constava de
três divisões principais: música, ginástica, escrita. Todas as
crianças gregas aprendiam a tocar lira. As mães ensinavam as
filhas a ler e a escrever, e também lhes ensinavam a tecer, dançar e
tocar um instrumento musical. Estranhamente, as poucas mulheres
gregas bem instruídas geralmente eram prostitutas para os ricos.
Os preletores gregos ganhavam a vida ensinando em escolas
e mesmo nas ruas. Alguns desses professores ambulantes ―
Sócrates, por exemplo ― tornaram-se famosos. Os meninos
gregos podiam freqüentar a escola até à idade de 16 anos. Depois
disso, esperava-se que treinassem nos esportes.
Diferentemente dos gregos, os romanos usavam outras
nacionalidades para ensinar seus filhos, Amiúde uma ama grega
começava 1 O treinamento da criança. Meninos e meninas
entravam para a escola formal aos sete anos. Aos 13, se tivessem
saído bem, as crianças entravam para a escola secundária; havia
20 dessas escolas em Roma no ano 30 d.C. Mesmo; a educação
secundária romana era ministrada em grego, e os professores
geralmente eram escravos gregos ou libertos. Como os gregos, os,
romanos tinham professores mais adiantados que iam de escola
em escola.
No fim deste período, depois que a mãe apresentava oferta
pelo pecado e o holocausto no lugar central de culto, ela era
declarada cerimonialmente pura. Esta tradição é incomum, porque
os sacrifícios normalmente eram apresentados pelos varões.
Também, a Lei permitia à mulher considerável liberdade na
escolha do tipo de| animal que ela sacrificaria, dependendo de seu
status social. Esperava-se que uma mulher rica trouxesse um
cordeiro para o holocausto mas se a família era extremamente
pobre, mesmo duas rolas erai permitidas. É interessante notar que
Maria, mãe de Jesus, tinha condições de oferecer somente o par de
rolas no tempo de sua purificação (Lucas 2:22-24).
C. Redenção do primogênito. Visto que todo primogênito
era possessão do Senhor, era necessário que a família redimisse,
ou readquirisse de Deus esse infante primogênito. O preço da
redenção era cinco siclos de prata, dados aos sacerdotes quando o
filho tinha um mês de idade (Números 18:15-16).
A Bíblia não nos fala acerca da cerimônia de redenção, mas
nos tempos rabínicos estabelecera-se o seguinte procedimento. A
ocasião festiva era celebrada no trigésimo-primeiro dia de vida da
criança. ( acontecia de o trigésimo-primeiro dia cair num sábado, a
cerimônia i atrasava de um dia.) A celebração ocorria na casa da
criança, com um sacerdote e outros convidados presentes. O rito
começava quando o pai apresentava a criança ao sacerdote. Este
perguntava ao pai: "Desejas redimir o filho ou desejas deixá-lo
comigo?" Então o pai respondia que redimiria o filho, e entregava
ao sacerdote cinco moedas de prata. Quando a criança era
devolvida, o pai dava graças a Deus. O sacerdote respondia
declarando ao pai: "Teu filho está redimido! Teu filho está
redimido!" A seguir o sacerdote pronunciava uma bênção sobre a
criança, e então se juntava aos convidados numa mesa de
banquete.
Se o menino era órfão por ocasião do nascimento, o dever de
redimi-lo recaía sobre um dos parentes varões da criança.
A criança havia sobrevivido as primeiras semanas decisivas. Seus
pais lhe haviam dado nome e executado os ritos fundamentais. A
mãe continuaria a amamentar o menino até que ele tivesse dois ou
três anos. Nesse tempo, ele seria desmamado e cruzaria a linha
que separava a primeira infância da segunda.
Estatueta de mulher grávida. As mulheres que não podiam
conceber, amiúde guardavam figuras que pareciam mulheres
grávidas. Supunha-se que essas figuras ajudavam a produzir a
gravidez por "mágica de simpatia". Esta estatueta de marfim
retrata uma mulher grávida com um umbigo exagerado (cerca de
3500 a.C).
5. INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
A gente dos tempos bíblicos respeitava os anciãos como fonte
de sabedoria e orientação. Dispensavam atenção à ordem divina de
"Diante das cãs te levantarás, e honrarás a presença do ancião..."
(Levítico 19:32). A maioria das decisões que afetavam o clã era
tomada pelos anciãos da aldeia (cf. Êxodo 3:16-18). O título
ancião (que significa "barbado") indicava a idade da pessoa. Os
israelitas criam que a pessoa adquiria sabedoria à medida que
envelhecia e era, portanto, um patrimônio valioso da família
(Deuteronômio 32:7; Eclesiástico 25:6).
Deveríamos ter em mente esta opinião sobre as pessoas
idosas ao começarmos a estudar as crianças dos dias bíblicos. Em
nossa sociedade, freqüentemente as crianças são o centro de
atenção e atividade. Nos tempos antigos, as crianças também eram
importantes ― porém elas não podiam contestar os pais ou os
anciãos, nem podiam expressar livremente suas opiniões. Os pais
estavam decididos a ensinar a "criança no caminho em que deve
andar" (Provérbios 22:6) e parte desse "caminho" era o respeito
aos pais e anciãos. Mesmo os adultos jovens não contestavam as
declarações feitas por seus anciãos. Por exemplo, Eliú principiou
seu discurso a Jó e seus amigos em tom apologético, dizendo: "Eu
sou de menos idade, e vós sois idosos; arreceei-me e temi de vos
declarar a minha opinião" (Jó 32:6). Nesta luz, podemos entender
melhor por que Jeremias hesitou em tornar-se profeta. Ele disse:
"Ah! Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque não passo de uma
criança" (Jeremias 1:6). Os discípulos de Jesus refletiram esta
atitude quando tentaram proteger Jesus das crianças. Mas Jesus
lhes disse: "Não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus"
(Lucas 18:16).
Crianças e atividade escolar. Um relevo de um sarcófago
romano mostra o progresso de uma criança desde a amamentação
no selo materno (esquerda) até um menino preparado para sua
primeira atividade escolar (direita).
APARÊNCIA FÍSICA E CRESCIMENTO
Os Evangelhos dão poucas informações acerca da aparência
física de Jesus, quer como adulto, quer como criança. Mas a Bíblia
apresenta descrições resumidas de alguns indivíduos. Por
exemplo, Davi foi descrito como tendo cabelos avermelhados ou
"...ruivo, de belos olhos e boa aparência" (1 Samuel 16:12).
Todavia, não sabemos qual o tipo de pessoa que os israelitas
consideravam simpática, bonita.
Alguns murais e baixos-relevos que remontam aos tempos do
Antigo Testamento mostram qual poderia ter sido a aparência dos
israelitas. O problema aqui é que não podemos determinar os
aspectos reais e os imaginários. Contudo, eles adicionam uma ou
mais peças ao quebra-cabeças.
As escavações arqueológicas dão algumas evidências mais dos
característicos físicos dos israelitas. Examinemos abaixo algumas
dessas pistas.
A. Fases de crescimento. Os hebreus empregavam diversas
palavras para descrever as fases de crescimento da criança. Esta,
quando muito pequena, era chamada "sugadora", o que significa
que ela ainda era amamentada. Depois era mencionada como
"desmamada"; esta mudança era um marco importante na vida da
criança. Quando amadurecia um bocadinho mais, os hebreus
diziam que ela era "alguém que dá passos um pouco mais
rápidos".
Outro patamar era atingido com a puberdade. O jovem nesta
fase era chamado elem ou almah, que significa "estar sexualmente
maduro".
Cinco fases da vida humana estão esboçadas em Levítico
27:1-8; três delas caem na infância ou na adolescência. A primeira
fase ia do nascimento até 30 dias; a segunda, de um mês a cinco
anos; e a terceira, dos cinco anos até aos 20. As últimas duas fases
eram a vida adulta e a velhice.
B. Tamanho. Os israelitas se consideravam menores do que
os cananeus, que habitavam a Terra Prometida antes deles.
Quando os espias regressaram de sondar a Terra Prometida,
relataram que a terra estava cheia de gigantes. Disseram: "Maior e
mais alto do que nós é este povo; as cidades são grandes e
fortificadas até aos céus. Também vimos ali os filhos dos
enaquins" (Deuteronômio 1:28). A gente mencionada como
"enaquins" eram descendentes legendários de uma tribo de
gigantes. Mas os arqueólogos encontraram provas de que os
cananeus eram de porte e constituição médios. Parece que o
relatório dos espias se baseou no medo antes que nos fatos
(Deuteronômio 1:28; Números 13:28).
Pelo estudo dos esqueletos de israelitas adultos, os cientistas
acharam que o porte médio deles era de 160 a 170 cm. Seu porte
pequeno se devia, em parte, à deficiente fonte de alimentação de
que dispunham. A seca e as pragas de gafanhotos reduziam-lhes
drasticamente a produção agrícola. Isto gerava fome generalizada
entre o povo (Amós 4:6-10).
A despeito de todas essas severidades, havia umas poucas
pessoas obesas. Eglom, rei de Moabe, é descrito como "homem
gordo" (Juizes 3:17). Mas o alimento era freqüentemente escasso,
de sorte que, enquanto o rico podia comprar mais do que
necessitava, o pobre quase morria de fome. A Bíblia condena o
egoísmo insensível dos ricos (cf. Lucas 12:13-21), como condena
a gula. Por exemplo, Deus julgou Eli e seus filhos porque se
engordavam comendo as melhores partes das ofertas (1 Samuel
2:29).
Embora os israelitas possam ter sido mais baixos e mais
magros do que seus contemporâneos, não eram mais fracos. Todos
trabalhavam com afinco, inclusive as meninas. Todos os dias as
mulheres jovens enchiam seus cântaros no poço local e os
levavam para casa sobre a cabeça. Quando cheio de água, cada
cântaro pesava nada menos que 22 kg. O preparo do grão para
alimento era outra tarefa estrênua e cansativa para a coluna
vertebral. Uma esposa ideal desse tempo era a que tinha braços
fortes (Provérbios 31:17).
A vida exigia trabalho duro por parte dos homens; tal
trabalho era parte, também, do crescimento de um rapaz (1 Samuel
16:11). Tanto homens como meninos empenhavam-se em toda
sorte de trabalho físico. Por exemplo, carregavam ovelhas ou
bodes doentes de volta para a aldeia de campos distantes. Quando
se ia construir uma casa, eles carregavam as pedras a mão. A
maior parte de suas viagens era feita a pé. Tudo isto contribuía
para fazer dos israelitas um povo forte e flexível.
Às vezes o jovem demonstrava sua força e coragem atacando
e matando um animal selvagem. Davi contou a Saul: "Teu servo
apascentava as ovelhas de seu pai; quando veio um leão, ou um
urso, e tomou um cordeiro do rebanho, eu saí após ele, e o feri, e
livrei O cordeiro da sua boca; levantando-se ele contra mim,
agarrei-o pela barba, e o feri, e o matei. O teu servo matou, assim
o leão como o urso" (1 Samuel 17:34-36). Acontecimentos
semelhantes estão registrados por toda a Bíblia (p. ex., 2 Samuel
23:20).
Em toda cultura há exceções à regra. A Bíblia diz de Saul:
"Entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele;
desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo" (1 Samuel
9:2). Golias era, também, um homem excepcionalmente grande.
Em 1 Samuel 17:4, lemos que sua altura era de seis côvados e um
palmo. Um côvado era a distância que vai do cotovelo à ponta do
dedo médio, ou aproximadamente 45 cm. Isso daria a Golias uma
altura superior a 270 cm. No outro extremo da escala estava
Zaqueu, que subira a um sicômoro para ver sobre as cabeças da
multidão (Lucas 19:3-4).
Amenotepe III e família. Este colossal grupo de família de 7 m
de altura rebata o Faraó Amenotepe III (cerca de 1450 a. C.) com
barba e toucado cerimoniais. A rainha Tiy usa uma pesada peruca
encimada por uma coroa. As três filhas estão representadas pelas
três pequenas figuras ao longo da frente do trono. Isto indica o
papel significativo dos filhos na sociedade egípcia.
C. Cor da pele e do cabelo. O nome Esaú significa
"marrom-avermelhado". Os descendentes de Esaú eram os povos
marrom-avermelhados conhecidos por edomitas. Em contraste, a
pele dos israelitas era mais clara e de cor mais amarelada. Em
nosso tempo, os israelitas parecem ter pele escura por causa de sua
constante exposição ao sol.
As moças israelitas consideravam bela a pele clara e
evitavam os raios do sol tanto quanto possível. Lemos nos
Cantares de Salomão que a futura esposa pediu às suas servas:
"Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou"
(Cantares 1:6). Ela estava constrangida porque sua pele não era
tão clara como a das outras moças.
A jovem israelita antiga tinha cabelos escuros ou pretos.
Cantares de Salomão 5:11 descreve-os como "pretos como o
corvo". Várias vezes no Bíblia o cabelo da jovem era assemelhado
a um rebanho de cabras que descem de uma colina (Cantares 4:1;
6:5); a cabra nativa era preta.
Os arqueólogos têm encontrado turbantes em vários sítios de
Israel que datam dos tempos do Antigo Testamento. Essas
relíquias indicam que os homens, bem como as mulheres, usavam
cabelos compridos. Absalão (2 Samuel 14:26) e Sansão (Juizes
16:16-19) tinham ambos cabelos compridos.
Os pais cananeus amiúde rapavam a cabeça dos filhos,
deixando um anel de cabelo no topo (Levítico 19:27). Este era um
costume egípcio vedado aos israelitas. O apóstolo Paulo insistiu
com as mulheres a que não rapassem a cabeça e com os homens a
que não usassem cabelos compridos (1 Coríntios 11:14-15); o
cabelo curto significava que a mulher era prostituta. Os penteados
freqüentemente eram uma questão cultural; o que uma geração
aceitava, outra não.
D. Filhos com problemas físicos. Os defeitos de nascença
eram predominantes nos tempos bíblicos assim como o são hoje.
No Pentateuco encontramos uma lista de alguns dos defeitos mais
comuns (Levítico 21:18-21). Aparentemente, a pessoa com defeito
de nascença estava proibida de desempenhar quaisquer deveres
sacerdotais. Tal pessoa facilmente se tornava objeto de caçoada e
importunação cruéis. Isto era estritamente proibido por Deus, que
disse: "Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do
cego; mas temerás o teu Deus: Eu sou o Senhor" (Levítico 19:14;
cf. Deuteronômio 27:18).
EDUCAÇÃO
Os israelitas proporcionavam educação esmerada para os
filhos. Incluía instrução religiosa bem como treinamento em
habilidades! práticas de que necessitariam no mundo das
atividades diárias. Eram um povo agrícola, por isso só aos guias
religiosos se ensinava a ler e escrever.
"E crescia Jesus em sabedoria... e graça, diante de Deus e dos
homens" (Lucas 2:52). Este versículo capta o alvo do sistema
educacional judaico. Ele se esforça por comunicar não somente
conhecimento, mas sabedoria, que gira em torno do
relacionamento do indivíduo com Deus.
No Israel antigo a educação era um processo informal, Os
pais executavam a maior parte do treinamento, ou todo ele. Não
havia salas de aula ou currículo estruturado. Nos tempos do Novo
Testamento os judeus haviam adotado um método mais formal de
educação. Criaram salas de aula e havia professores qualificados
para instruir todas as crianças da aldeia.
A. Modelo de ensino. Para que possamos entender a função
do professor judeu, devemos primeiro considerar o Mestre divino
que aquele tomava por modelo. A Bíblia refere-se a Deus como o
Mestre que ensina seus alunos: "Este é o caminho, andai por ele"
(Isaías 30:20-21). Deus conhece e entende ás necessidades de seus
alunos; ele é plenamente versado no assunto; ele é o exemplo
perfeito e infalível para seus alunos. O professor judeu tinha
perante si o padrão quando ia para o trabalho.
Sabemos que Deus usou homens para ensinar a Lei à nação
de Israel. Esses homens não eram somente mestres, mas exemplos
de piedade ― homens como Moisés, como os sacerdotes, e
profetas como Elias. Seus alunos eram as pessoas adultas da nação
de Israel, que eram depois responsáveis por transmitir o
conhecimento aos seus filhos.
B. Responsabilidade paterna. A educação religiosa dos
filhos era responsabilidade dos pais (Deuteronômio 11:19;
32:46). Não se abriam exceções para os pais que julgavam estar
ocupados demais para ensinar.
Mesmo quando os filhos chegavam à maioridade e casavam,
a responsabilidade dos pais não terminava; ainda tinham parte
importante na educação dos netos (Deuteronômio 4:9). Na
verdade, freqüentemente eles moravam na mesma casa.
Meninas brincando. As meninas dançam e jogam neste relevo
(cerca de 2200 a. C.) procedente de uma tumba egípcia em Sacará.
Quatro das meninas seguram espelhos.
O pai israelita era, em última instância, responsável pela
educação dos filhos; mas as mães também desempenhavam papel
decisivo, especialmente até a criança atingir cinco anos de idade.
Durante esses anos formativos, esperava-se que ela moldasse o
futuro dos filhos e das filhas.
Quando o menino tinha idade bastante para trabalhar com o
pai, este se tornava seu principal professor, muito embora a mãe
continuasse a partilhar na responsabilidade de ensino (cf.
Provérbios 1:8-9; 6:20). A mãe arcava com a principal
responsabilidade pelas filhas, ensinando-lhes habilidades que lhes
seriam necessárias para tornar-se, com o tempo, boas esposas e
mães.
Se alguém que não o pai tinha de assumir a responsabilidade
de ensinar um menino, então essa pessoa era considerada seu
"pai". Em gerações posteriores, chamava-se "pai" à pessoa a quem
se atribuía! especificamente a tarefa de ensinar, e ela se dirigia aos
alunos como "meus filhos".
Jogo procedente de Tell Beit Mirsim. Crianças cananéias
jogavam um jogo sobre uma tábua com dez peças ― cinco na
forma de cone e cinco tetraedros, todas de cerâmica azul. Uma
piorra de marfim, com buracos nos quatro lados, completa o
conjunto.
A principal preocupação dos pais judeus era que os filhos
viessem a conhecer o Deus vivo. Em hebraico, o verbo "conhecer"
significa estar intimamente envolvido com uma pessoa; a Bíblia
afirmou que a reverência ou "O temor do Senhor é o princípio da
sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência" (Provérbios
9:10). Os pais piedosos ajudavam os filhos a desenvolver este tipo
de conhecimento de Deus.
Desde tenra infância os jovens aprendiam a história de Israel.
Na primeira fase da infância, provavelmente a criança
memorizava uma declaração de crença e a recitava uma vez por
ano, pelo menos, na oferta das primícias. O credo reduzia o relato
da história de Israel a uma forma simples, fácil de memorizar:
Arameu, prestes a perecer, foi meu pai, e desceu para o
Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca gente; e ali veio a
ser nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios nos
maltrataram e afligiram, e nos impuseram dura servidão.
Clamamos ao Senhor, Deus de nossos pais; e ele ouviu a nossa
voz, e atentou para a nossa angústia, para o nosso trabalho e
para a nossa opressão; e nos tirou do Egito com poderosa mão, e
com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com
milagres; e nos trouxe a este lugar, e nos deu esta terra, que mana
leite e mel. Eis que agora trago as primícias dos frutos da terra
que tu, ó Senhor, me deste (Deuteronômio 26:5-10).
Deste modo os filhos aprendiam que a nação de Israel havia
feito aliança com Deus. Esta aliança impunha-lhes certas
restrições. Não eram livres para buscar seus próprios desejos, mas
tinham responsabilidade perante Deus porque ele os havia
redimido. Diligentemente lhes eram ensinadas as diretrizes que
Deus lhes dera.
Jesus resumiu a essência e intenção dessas leis ao declarar:
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem
toda a lei e os profetas" (Mateus 22:37-40).
Provavelmente não havia escolas formais nos tempos do
Antigo Testamento. A maior parte do aprendizado ocorria em meio
à vida cotidiana. A medida que surgiam as oportunidades no
decorrer do dia, os pais instruíam os filhos.
Uma criança podia perguntar: "Por que essas pedras estão
empilhadas ali? Que significam?" (cf. Josué 4:21). Então o pai
tomaria tempo para explicar-lhes o pano de fundo religioso e o
significado do monumento.
A educação do filho tomava a vida toda para completar-se. A
família judaica levava a sério as instruções do Senhor: "Estas
palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as
inculcarás a teus filhos" (Deuteronômio 6:6-7). A frase "tu as
inculcarás" vem de uma palavra hebraica que geralmente se referia
a afiar uma ferramenta ou amolar uma faca. O que a pedra de
amolar é para a lâmina da faca, assim o é o treinamento para a
criança. A educação preparava os filhos para tornar-se membros
úteis e produtivos da sociedade.
C. Escolas da sinagoga. Não sabemos quando se
estabeleceram pela primeira vez as escolas da sinagoga, Alguns
crêem que a prática remonta ao tempo do exílio na Babilônia. Não
importa o tempo em que tenha começado, o fato é que na época do
Novo Testamento a escola da sinagoga era parte vital da vida
judaica.
Todos os sábados os judeus se reuniam fielmente na sinagoga
para ouvir o rabino ler as Escrituras e explicar a Lei, Esta
atividade levou os muçulmanos a apelidar os judeus de "o povo do
Livro". A sinagoga patrocinava classes especiais à parte das horas
regulares de adoração. Durante a semana, os meninos iam a essas
classes para estudar as Escrituras com professores qualificados.
Essas classes suplementavam a educação religiosa que os meninos
recebiam dos pais.
O pai judeu preocupava-se muito mais com o caráter do
professor do que com sua capacidade de ensinar. Naturalmente,
exigiam dele que fosse competente em sua profissão, mas estavam
muito mais interessados em que ele fosse um bom exemplo para
os filhos. Os escritos judaicos da época do Novo Testamento dãonos uma relação parcial das características ideais de um professor:
Não devia ser preguiçoso. Devia ter um temperamento uniforme.
Jamais devia revelar parcialidade. Nunca devia impacientar-se.
Jamais devia comprometer sua dignidade dizendo gracejos. Nunca
devia desestimular a criança. Devia mostrar que o pecado é
repulsivo. Devia punir todos os malfeitos. Devia cumprir todas as
suas promessas.
Além da leitura das Escrituras, os meninos judeus também
aprendiam regras de etiqueta, música, guerra, e outros
conhecimentos práticos. Lemos como se disse de Davi "que sabe
tocar [isto é, músico], e é forte e valente, homem de guerra, sisudo
em palavras, e de boa aparência; e o Senhor é com ele" (1 Samuel
16:18). Podemos deduzir deste relato que Davi tinha uma
educação refinada, como o tinha a maioria dos meninos judeus.
Nos tempos do Novo Testamento, as escolas judaicas exigiam
que todo estudante dominasse diversas passagens-chave da
Escritura. De primária importância era o Shema, outra declaração
de credo dos judeus (Deuteronômio 6:4-5). A seguir, em
importância, vinham; Deuteronômio 11:13-21 e Números 15:3741. Também se exigia que o;| aluno aprendesse os salmos de hallel
("louvor") (Salmos 113-118), i bem como o relato da criação
(Gênesis 1-5) e as leis dos sacrifícios (Levítico 1-8). Se a criança
tivesse inteligência fora do comum, podia examinar mais do livro
de Levítico.
Somente os meninos recebiam instrução formal fora do lar.
Começavam reunindo-se na casa do professor, onde liam os rolos
que continham porções das Escrituras, tais como o Shema. Esta
era a escola primária da época.
Quando os meninos atingiam idade suficiente para aprender
as lições sabáticas, eles se reuniam na "casa do Livro" ― a
sinagoga. Aqui eles entravam na sala onde eram guardados os
rolos da Tora e preparavam as lições sob a supervisão do Hazzan,
o guardador dos rolos.
Mais tarde lhes era permitido discutir questões da Lei com os
mestres fariseus. Essas discussões constituíam o nível
"Secundário" da educação judaica.
Nos tempos do Novo Testamento a escola funcionava o ano
todo. Durante os meses quentes do verão os meninos passavam na
escola não mais que 4 horas por dia. Se o dia estava quente
demais, os alunos podiam ser dispensados. As aulas eram antes
das 10 e depois das 15 horas. Ocorria uma interrupção de 5 horas
durante a parte mais quente do dia.
A sala de aula continha uma pequena plataforma elevada
onde o professor se assentava de pernas cruzadas. Diante dele,
numa fila inferior, estavam os rolos contendo passagens escolhidas
do Antigo Testamento. Não havia livros de texto. Os alunos
assentavam-se no chão aos pés do professor (Atos 22:3).
As classes não eram classificadas por idade; todos os alunos
estudavam na mesma sala. Por este motivo, a instrução deles tinha
de ser muito individualizada. O professor copiava um versículo
para os alunos menores e estes o recitavam em voz alta até que o
tivessem aprendido. Entrementes, o professor ajudava os meninos
maiores a ler um trecho de Levítico. Para nós, provavelmente o
barulho causaria muita distração, mas os meninos israelitas logo
se acostumavam com ele. Os sábios acreditavam que se o
versículo não fosse repetido em voz alta, logo seria esquecido.
D. Preparo vocacional. Os meninos deviam ficar
alvoroçados por acompanhar os pais aos campos para trabalhar ou
ao mercado para comprar e vender. Observavam cuidadosamente
os pais plantando, podando e colhendo. Às vezes lhes era
permitido tentar uma tarefa difícil, o que aumentava a emoção.
Um novo mundo se abria ao menino quando tinha idade suficiente
para acompanhar o pai.
Mas o trabalho era monótono e cansativo. À medida que o
menino troada, também cresciam suas responsabilidades. Não
demorava muito, esperava-se que o menino fizesse o trabalho de
um dia todo sem parar, exceto para um breve descanso.
Os homens incentivavam os filhos a trabalhar duro,
admoestando-os com a Escritura. Provérbios 6:9-11 dizia: "ó
preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do
teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para toscanejar, um
pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua
pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem
armado." Para sobreviver, a família tinha de trabalhar com afinco.
Os israelitas criam que uma vida indisciplinada não
prepararia o jovem para enfrentar com êxito o que lhe sobreviesse.
Bem cedo na vida ensinavam aos filhos o significado da
responsabilidade, de modo que, ao chegarem à vida adulta,
pudessem satisfazer suas exigências com confiança. Se um filho
crescia sem responsabilidade, ele não só criava constrangimentos
para si próprio mas trazia vergonha para a família. Um dos sábios
observou: "A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança
entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Provérbios
29:15).
Visto que Israel era uma sociedade agrícola, muito da
sabedoria prática passada de pai para filho girava em torno da
lavoura. Isto; incluía lições sobre o tamanho do solo para o plantio
e cultivo dei várias colheitas, bem como a ceifa e armazenamento
dos produtos. Os filhos aprendiam essas habilidades trabalhando
ao lado dos pais durante a juventude. Mesmo quando os judeus
começaram a procurar emprego fora da lavoura, ainda eram "gente
da terra".
Circuncisão. Este relevo de Sacará retrata o rito egípcio da
circuncisão. À esquerda, um assistente segura as mãos do menino
enquanto o circuncisor executa a operação com um objeto
arredondado, talvez uma faca de pedra (cf. Êxodo 4:25). À direita,
o paciente se apóia colocando a mão na cabeça do circuncisor.
Diferentemente dos egípcios, os hebreus circuncidavam os
meninos com a idade de oito dias, para significar a aceitação da
criança na comunidade do pacto.
Também era responsabilidade do pai ensinar a seus filhos
uma carreira ou profissão. Por exemplo, se o pai era oleiro, ele
ensinava essa habilidade aos filhos. Um dos sábios judeus afirmou
que "aquele que não ensina a seu filho uma profissão útil faz dele
um ladrão".
Enquanto os meninos aprendiam essas habilidades, as
meninas aprendiam a fazer pão, fiar e tecer, sob os olhos vigilantes
das mães (Êxodo 35:25-26; 2 Samuel 13:18). Se não houvesse
filhos varões na família, podia-se exigir que as filhas aprendessem
o trabalho do pai (Gênesis 29:6; Êxodo 2:16).
ATIVIDADES DE LAZER
Os jovens nos tempos bíblicos não tinham "tempo de sobra"
como o têm os jovens hoje. Mas ainda tinham muito tempo para
recreação e lazer.
A. Brinquedos. As crianças tinham poucos brinquedos.
Geralmente se divertiam brincando com uma vara, um osso, ou
um pedaço de cerâmica quebrada. Brinquedos de terracota têm
sido encontrados em muitas escavações.
No Egito, os arqueólogos têm encontrado brinquedos
mecânicos simples como carrinhos e vagões nos túmulos reais. As
meninas israelitas brincavam com bonecas simples de barro
vestidas de trapos.
Em certa ocasião, o profeta Isaías assemelhou Deus a uma
pessoa que faz rolar uma bola (Isaías 22:18). Esta é a única
referência bíblica a um brinquedo dessa natureza. Infelizmente, o
profeta não descreveu nem a bola nem o jogo que se fazia com ela.
B. Jogos. O profeta Zacarias predisse tempos de paz para
Israel, dizendo: "As praças da cidade se encherão de meninos e
meninas, que nelas brincarão" (Zacarias 8:5). A Bíblia não
descreve os jogos que as crianças podiam ter jogado, porém ela os
menciona dançando e cantando (cf. Jó 21:11-12). Jesus disse que
as pessoas de sua geração eram como meninos que, sentados nas
praças, gritam aos companheiros: "Nós vos tocamos flauta, e não
dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes" (Mateus
11:16-17).
Desenhos nas paredes dos túmulos egípcios antigos mostram
crianças lutando e jogando jogos como cabo-de-guerra. Embora
haja pouca evidência de que os meninos hebreus praticassem esses
esportes, é muitíssimo provável que o fizessem. Corridas a pé e
amarelinha eram também jogos de que as crianças gostavam.
Os meninos dos tempos bíblicos gostavam de explorar as
cavernas e aberturas que cercavam o seu mundo. Os meninos
pastores amiúde davam umas escapadelas para explorar ou
apanhar animais selvagens. Os meninos também praticavam o uso
da funda ou o arremesso da lança. Mesmo enquanto brincavam,
eles se preparavam para a varonilidade.
VIAGEM A JERUSALÉM
O Senhor ordenou que todos os varões hebreus adultos se
congregassem regularmente no lugar central de cultos (Êxodo
23:14-17; Deuteronômio 16:16-17). O propósito era, antes de
tudo, religioso, mas as crianças consideravam a viagem uma
espécie de férias, repleta de aventura e emoção. Contavam como
privilégio poderem ir. Jerusalém era uma cidade cheia de novas
vistas e sons que eles estavam ansiosos por experimentar,
Freqüentemente as crianças ficavam tão ansiosas por chegarem a
Jerusalém que corriam adiante dos adultos mais vagarosos.
O CÍRCULO VESPERTINO
A refeição da tarde, numa aldeia judaica, era tomada cerca de
duas horas antes do pôr-do-sol. Depois da janta os homens iam
para um local de reunião ao ar livre, onde se assentavam ou
deitavam num grande círculo com os homens mais velhos ou mais
respeitados no centro. Os meninos maiores podiam ficar nas
bordas exteriores e ouvir enquanto os homens relatavam os
acontecimentos daquele dia ou de tempos atrás.
Tábua de jogo. Descoberta numa sepultura em Ur, esta tábua de
jogo (cerca do vigésimo-quinto século a.C.) era oca para conter as
quatorze peças redondas de jogar. A tábua é incrustada com
conchas, ossos, pedra calcária vermelha, e riscas de lápis-lazúli
fixadas em betume.
O círculo era como um "jornal" vespertino. Sabemos que tipo
de coisas ocorriam. Os homens discutiam assuntos tais como o
nascimento de um filho, a doença de um aldeão, o aparecimento
de um leão ou de um urso na vizinhança, ou acontecimentos
nacionais. Então seus pensamentos provavelmente se voltavam
para os planos do futuro. Podiam discutir a perspectiva de uma
colheita abundante, os primeiros indícios de uma praga de
gafanhotos, ou a quantidade de chuva que havia caído.
O silêncio reinaria por uns poucos momentos, após o que um
velho podia começar a recitar um poema de atos heróicos do
passado, como a história de Davi. Isto podia levar a um cântico,
com muito dos homens participando. Então uma voz podia
declarar em tom proverbial: "Sob três coisas estremece a terra."
Outro homem, do outro lado do círculo, podia responder: "Sim,
sob quatro não pode subsistir." Então diferentes homens citariam
quatro coisas que a terra não poderia suportar, como "Sob o servo,
quando se torna rei". Após um período de risadas e reflexão, um e
depois outro fariam comentários animados sobre a vida, tal como:
"Como vaso de barro coberto de escórias de prata..." seguido de:
"assim são os lábios amorosos e o coração maligno" (Provérbios
26:23). Era um tipo estranho e assombroso de conversação ―
sutil, engenhoso, grave e muitíssimo instrutivo. Este tipo de
diálogo podia ter continuado por diversas rodadas antes que o
tópico mudasse e a reunião se encerrasse.
Podemos imaginar que quando os jovens se encaminhavam
para casa, cada um deles refletia sobre o que tinha ouvido. Alguns
guardavam informações importantes que desejavam recordar.
Outros achavam seus corações estranhamente comovidos pelos
contos de homens ousados de outrora. Outros simplesmente se
divertiam com os boatos e com os provérbios que tinham ouvido.
Mas, coletivamente, seu estoque de sabedoria e de discernimento
havia aumentado, e desse modo suas vidas se haviam enriquecido.
6. ENFERMIDADES E CURA
Doença e enfermidade têm infestado o homem desde que
Deus expulsou Adão e Eva do jardim do Éden (cf. Gênesis 3:19).
Os hebreus criam que a doença era causada pelo pecado individual
que Deus tinha de castigar (Gênesis 12:17; Provérbios 23:29-32),
pelo pecado dos pais (2 Samuel 12:15), ou por sedução de Satanás
(Mateus 9:34; Lucas 13:16). Contudo, alguns trechos bíblicos
mostram que nem sempre há uma explicação tão simples para a
enfermidade (cf. Jó 34:19-20).
Mesmo nos tempos do Antigo Testamento, os hebreus
associavam a cura com Deus. Por exemplo, Malaquias falou do
sol da justiça trazendo salvação [cura] nas suas asas (Malaquias
4:2), e Davi louvou a Deus como aquele que "sara todas as tuas
enfermidades" (Salmo 103:3).
CURAS RITUAIS E CURAS MILAGROSAS
Aqui vamos passar em revista algumas das enfermidades e
respectivos problemas dos tempos bíblicos. A compreensão desses
problemas é importante para todo estudante da Bíblia, porque
amiúde eles determinavam o curso da história de Israel, e o
ministério de Jesus encareceu a cura dos enfermos.
A. Afasia. É a perda temporária da fala, geralmente causada
por' uma lesão cerebral, mas às vezes atribuída a um transtorno
emocional. Isto aconteceu ao profeta Ezequiel (Ezequiel 33:22).
Quando o? anjo disse a Zacarias que ele ia ser pai de João Batista,
o velho saiu do templo e não podia falar (Lucas 1:22).
B. Apoplexia. Este termo refere-se a uma ruptura ou
obstrução de uma artéria do cérebro, causando derrame. Quando
Abigail falou a Nabal de seu insulto a Davi e de suas horrendas
conseqüências, "...se amorteceu nele o coração, e ficou ele como
pedra"; dez dias mais tarde ele morreu (1 Samuel 25:37-38). Esses
sintomas sugerem que ele sofreu um ataque de apoplexia. O
mesmo pode ter acontecido a Uzá, que tocou a arca da aliança (2
Samuel 6:7), bem como a Ananias e Safira (Atos 5:5, 9-10).
C. Câncer. Ezequias estava muito doente e o Senhor lhe
disse que se preparasse para morrer (2 Reis 20:1). O Senhor
infligiu uma doença incurável a Jeorão, e após dois anos saíramlhe as entranhas (2 Crônicas 21:18-19). Os biblicistas crêem que
esses homens podem ter sofrido algum tipo de câncer, embora a
disenteria crônica também pudesse ter produzido os sintomas de
Jeorão. Contudo, a Bíblia não se refere ao câncer pelo nome
porque esta enfermidade não tinha sido identificada nos tempos
bíblicos.
D. Cegueira e perda da audição. Três tipos de cegueira
são mencionados na Bíblia: a repentina, causada por moscas e
agravada por sujeira, pó e resplendor; a gradual, causada por
velhice; e a crônica. Paulo sofreu cegueira temporária no caminho
de Damasco (Atos 9:8). A Bíblia se refere com freqüência a
pessoas idosas cujos olhos se "enfraqueceram" (cf. Gênesis 27:1;
48:10; 1 Samuel 4:15). Mas, na maioria das vezes, ela se refere à
cegueira crônica.
Cristo curando um cego. Neste detalhe da frente de um
sarcófago romano (cerca de 330 A. D.) Cristo toca os olhos de um
cego com uma pasta de saliva antes de enviá-lo ao tanque de Siloé
(João 9). Os hebreus criam que Deus amaldiçoaria aos que
fizessem o cego errar o caminho (Deuteronômio 27:18).
Os israelitas sentiam compaixão pelos cegos. Na verdade,
Deus impôs maldição ao que fizesse o cego errar o caminho
(Deuteronômio 27:18). Jesus assistiu muitos cegos. Ele disse: "O
Espírito do Senhor... me ungiu para evangelizar aos pobres;
enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos" (Lucas 4:18),
Jesus curou um cego de nascença (João 9:1-41); um cego cuja
cura foi gradual (Marcos 8:24); dois cegos assentados à beira da
estrada (Mateus 20:30-34); e muitos outros (Marcos 10:46-52;
Lucas 7:21).
Muitas vezes se interpretava a cegueira como castigo por
fazer o mal. Encontramos exemplos disto em Sodoma (Gênesis
19:11); o exército sírio (2 Reis 6:18); e no caso de Elimas, em
Pafos (Atos 13:6-11).
De quando em quando o Novo Testamento se refere a pessoas
que perderam a capacidade da fala (cf. Mateus 9:32; 15:30; Lucas
11:14). Freqüentemente tal fato era resultado da perda da audição.
E. Coxeadura. A Bíblia descreve muitas pessoas que eram
coxas, sendo o caso mais memorável registrado em Atos 3:2-11,
onde lemos a respeito de um homem (coxo de nascença) que
diariamente era carregado à Porta Formosa de Jerusalém para
mendigar. Um dia o mendigo viu Pedro e João que entravam no
templo e pediu-lhes dinheiro. Em vez de dar-lhe dinheiro, os
apóstolos invocaram o nome de Jesus para curar o homem. Pedro
ergueu o mendigo, que começou a andar. Jesus curou muitas
pessoas que eram coxas (cf. Mateus 15:30-31).
F. Defeitos. Este termo geral refere-se a qualquer defeito do
corpo como cegueira, coxeadura, osso quebrado, dedos ou artelhos
extras (polidactilia), corcunda e assim por diante. A pessoa
portadora de defeitos não podia oferecer sacrifícios a Deus
(Levítico 21:16-24), nem lhe era permitido ir além do véu do
templo ou aproximar-se do altar, pois isto profanaria o santuário.
Animais imperfeitos não poderiam ser usados para sacrifícios
(Êxodo 12:5).
G. Desarranjos femininos. De acordo com a Lei de Moisés,
a mulher que sofria de desarranjos menstruais devia ser
considerada i impura (Levítico 15:25). Uma dessas mulheres, que
sofria havia doze-anos (Lucas 8:43-48) tocou na orla da veste de
Jesus e, por causa de j sua grande fé, foi imediatamente curada.
H. Disenteria. Esta é uma enfermidade que em fase
adiantada putrefaz os intestinos (2 Crônicas 21:15-19). A fibrina
separa-se do revestimento interior dos intestinos e é expelida.
O Novo Testamento refere-se a uma forma grave de disenteria
como "fluxo sangüíneo". O pai de um cristão chamado Públio
jazia enfermo com fluxo sangüíneo (Atos 28:8). Paulo chegou,
orou por ele e o homem foi curado.
I. Distúrbios endócrinos. A Lei de Moisés não permitia a um
anão entrar na congregação do povo de Deus (Levítico 21.20). A
ciência moderna tem demonstrado que o nanismo é causado por
distúrbio das glândulas endócrinas.
A Bíblia menciona também alguns gigantes, como Golias
(1Samuel 17:4). O verdadeiro gigantismo é causado por secreções
excessivas da glândula pituitária. Contudo, muitas pessoas altas
herdam esse traço de seus antepassados.
J. Distúrbios da pele. A Bíblia refere-se a muitos tipos de
distúrbios da pele, tais como "tinha" ou sarna (Levítico 13:30;
21:20). Levítico 13:39 provavelmente se refira à vitiligem, que
amiúde era confundida com lepra.
L. Distúrbios mentais e nervosos. O rei Saul parece ter tido
sintomas de maníaco depressivo (cf. 1 Samuel 16:14-23), e a
Bíblia menciona outros que podem ter sofrido de distúrbios
mentais ou nervosos. O rei Nabucodonosor é um exemplo (Daniel
4:33).
M. Doenças venéreas. Há alguma evidência de que as
doenças venéreas eram comuns nos tempos bíblicos. Por exemplo,
Zacarias 11:17 adverte ao pastor que abandona o rebanho, dizendo
que seu braço completamente se lhe secará, e o olho direito de
todo se escurecerá. Lia tinha um problema de vista que
provavelmente poderia ter sido resultado de sífilis hereditária
(Gênesis 29:17).
N. Edema ("Hidropisia"). Esta palavra descreve um
acúmulo anormal de fluido seroso no tecido conectivo do corpo ou
numa cavidade serosa e é um sintoma. O acúmulo causa inchação.
Jesus encontrou-se, pelo menos, com uma vítima de edema na
casa de certo fariseu. Indagado por Jesus se era lícito curar no
sábado, ele não lhe respondeu. Portanto, Jesus curou o sofredor
(Lucas 14:1-4).
O. Epilepsia. Este é um desarranjo marcado por descargas
elétricas erráticas do sistema nervoso central e manifestado por
ataques convulsivos. Certo homem trouxe seu filho epiléptico a
Jesus em busca de socorro (Marcos 9:17-29). A Versão de Almeida
diz que o rapaz tinha um espírito "mudo e surdo". Jesus curou-o.
P. Febres. Moisés advertiu aos israelitas rebeldes de que
"porei sobre vós o terror, a tísica e a febre ardente que fazem
desaparecer o lustre dos olhos" (Levítico 26:16). Deuteronômio
28:22 também se refere à febre.
Quando Jesus viu a sogra de Simão Pedro doente com este
sintoma, ele repreendeu a febre e ela levantou-se da cama e serviu
os discípulos (Lucas 4:38). Noutra ocasião, Jesus curou o filho
febril de um oficial do governo (João 4:46-54).
Muitas enfermidades na Palestina antiga teriam sido
caracterizadas por febres altas, sendo as mais comuns a malária e a
tifóide. Irrompeu uma praga quando os filisteus colocaram a arca
de Deus no templo dum ídolo (1 Samuel 5:2, 9, 12). O surto foi
associado com ratos.
Q. Furúnculos. Este termo refere-se a quaisquer úlceras
inflamadas na pele, tais como as causadas por uma infecção
estafilocócica. Eles podem ter sido confundidos com "tumores"
OU antraz. Os furúnculos ("shechin" em hebraico) são
mencionados pela primeira vez em Êxodo 9:9, quando Faraó
recusou permitir que OS israelitas deixassem o Egito, e
irromperam furúnculos no povo. Satanás teve permissão para
afligir a Jó com furúnculos (Jó 2:7). O rei Ezequias também foi
afligido com furúnculos (2 Reis 20:7), os quais Isaías curou
aplicando uma pasta de figos. A pasta de figos frescos tinha efeito
de puxar. Antes do advento dos antibióticos, era comum este tipo
de tratamento para furúnculos.
R. Gangrena. Esta enfermidade é mencionada somente uma
vez na Bíblia e a versão de Almeida a traduz por "câncer": "Além
disso a linguagem deles corrói como câncer" (2 Timóteo 2:17).
Nesta passagem a palavra grega usada é gaggraina como
gangrena. Refere-se à deterioração circulatória que comumente
chamamos gangrena, que se espalha rapidamente e consome o
tecido.
S. Gota. O excesso de ácido úrico no sangue causa este mal
dos rins que se manifesta por inflamação dolorida das juntas. O
segundo livro das Crônicas 16:12-13 diz que o Rei Asa sofria de
uma doença dos pés, que evidentemente era a gota.
T. Insolação. Isaías pode ter-se referido à insolação ou
prostração pelo calor quando disse: "A calma nem o sol os
afligirá" (Isaías 49:10). Em 2 Reis encontramos um jovem que
trabalhava entre os segadores, quando disse ao seu pai: "Ai! a
minha cabeça!" Foi levado para casa, onde morreu (2 Reis 4:1820). É possível que a insolação fosse uma moléstia comum nos
verões quentes do Oriente Próximo.
U. Lepra. Uma das mais horríveis doenças do mundo, a lepra
é causada por um bacilo e se caracteriza pela formação de nódulos
que se espalham, causando perda de sensação e deformidade. Hoje
tratada com drogas à base de sulfona, a lepra é, talvez, a menos
infecciosa de todas as moléstias contagiosas conhecidas. O mal de
Hansen, como é mais propriamente conhecido, era freqüentemente
mal diagnosticado nos tempos bíblicos. As pessoas acreditavam
então que era altamente contagiosa e hereditária. Levítico 13:1-17
condena a lepra como "praga".
Na base de um pêlo numa chaga, uma pústula ou uma
mancha na pele que se tornou branca, o sacerdote declararia a
pessoa leprosa e a isolaria durante sete dias. Se nesse tempo não
ocorresse mudança na mancha, o isolamento se estenderia por
mais uma semana. Nesse tempo, se a mancha tivesse começado a
desaparecer, o "leproso" seria declarado são e voltava à sua vida
normal. Contudo se a mancha permanecesse ou se espalhasse, ele
era declarado impuro e seria expulso.
A lepra era muito comum no Oriente Próximo. Se um hebreu
fosse curado da lepra, ele devia oferecer determinados sacrifícios e
participar dos ritos de purificação (Levítico 14:1-32). Jesus curou
leprosos em muitas ocasiões (cf. Lucas 5:12-13; 17:12-17).
O leproso
Através da história, a lepra tem sido uma das mais temidas
moléstias. Até ao presente século, os homens têm dependido de
várias formas de ostracismo social num esforço por controlar a
doença. Os havaianos baniram os leprosos da ilha de Molokai. Os
nobres medievais construíram vastos leprosários. E os judeus
antigos punham o leproso "fora do arraial" (Levítico 13:46).
Pouco sabemos da vida real dos leprosos nos tempos bíblicos
depois de haverem sido segregados da comunidade. Levítico 1315 contêm os dados mais pertinentes sobre o tratamento ― ou de
sua falta ― da lepra no Antigo Testamento. Esses capítulos dão
pormenores dos sintomas da moléstia, dos procedimentos pelos
quais o sacerdote determinava a cura de um caso, e das ofertas a
serem feitas antes que o leproso pudesse reentrar na comunidade.
A condição de vida do leproso foi descrita muito simplesmente em
Levítico: "As vestes do leproso, em quem está a praga, serão
rasgadas, e os seus cabelos serão desgrenhados; cobrirá o bigode e
clamará: Imundo, imundo! Será imundo durante os dias em que a
praga estiver nele; é imundo, habitará só: a sua habitação será fora
do arraial" (Levítico 13:45-46).
Era horrível ser condenado à vida de leproso. Nos tempos
medievais, muitas vezes o sacerdote lia o ritual de sepultamento
do leproso antes de ele ser expulso da cidade. Os milagres de cura
da lepra realizados por Cristo são testemunho de sua compaixão
bem como de seu poder (cf. Mateus 8:1-4; Marcos 1:40-45; Lucas
5:12-14).
Lucas é o único evangelista que fala da cura de dez leprosos
operada por Jesus durante sua ultima viagem a Jerusalém. Os dez
se acharam curados quando iam apresentar-se ao sacerdote, mas
somente um voltou para agradecer a Cristo. Este relato é a única
evidência do Novo Testamento de que os leprosos viviam em
grupos, sugerindo que a lei de Levítico tinha sido relaxada. 2 Reis
7:3-10 menciona quatro leprosos agrupando-se fora das portas de
uma cidade. Mas evidentemente os leprosos viviam separados da
população saudável das cidades. Nos tempos do Antigo
Testamento, a lepra era considerada fonte de contaminação física
antes que de corrupção moral (um mito popular no tempo de
Jesus).
A lepra era sempre um desastre, mas levou séculos para a
sociedade aprender a enfrentar com êxito a moléstia.
V. Malária. Esta moléstia infecciosa é causada por
protozoário do gênero plasmodium. Esses animais unicelulares
podem viver no sangue de seres humanos e de animais ou na
fêmea do mosquito anófeles. Uma vez que a malária se instala no
sistema, ela tende à recidiva. Paulo pode estar falando da malária
quando se refere ao "espinho na carne" (2 Coríntios 12:7).
X. Paralisia. Os Evangelhos registram um incidente bem
conhecido em que Jesus curou um paralítico em Cafarnaum
(Marcos 2:1-12). O livro de Atos descreve como os apóstolos
curaram pessoas com "paralisia" (Atos 8:7; 9:33-34).
Z. Poliomielite. Este é o nome comum da paralisia infantil,
que geralmente afetava as crianças. Em 1 Reis 17:17 encontramos
uma mulher que trouxe o filho ao profeta Elias. O menino estava
tão doente que já não havia fôlego nele; este sintoma sugere que
ele podia ter tido poliomielite, embora também possa ter sido uma
forma de meningite. Elias fez o menino reviver mediante a
intervenção do Senhor em resposta à sua oração. Contudo, a
Bíblia não nos diz se o menino ficou completamente curado. Os
homens descritos em Mateus 12:9-13 e João 5:3 podem ter tido
poliomielite.
AA. Praga. Nossas traduções podem empregar esta palavra
para designar qualquer doença epidêmica. Também é empregada
em sentido geral em Êxodo 7-10, onde ela se refere aos castigos
que Deus infligiu aos egípcios.
Os israelitas foram atingidos por epidemias três vezes durante
sua peregrinação no deserto. A primeira vez foi quando estavam
comendo as codornizes que Deus enviou para satisfazer-lhes o
desejo de comer carne (Números 11:33). A segunda vez, uma
"praga" ceifou a vida dos que desestimularam os israelitas de
entrar na Terra Prometida (Números 14:37). A terceira epidemia
veio como castigo de Deus sobre os israelitas. Arão deteve a
"praga" oferecendo incenso a Deus (Números 16:46-47). Em outra
ocasião, Finéias salvou os israelitas de uma epidemia matando um
homem que trouxe uma midianita para o seu meio. Não obstante,
24.000 pessoas morreram (Números 25:8-9).
O Antigo Testamento descreve muitos casos em que Deus
enviou "pragas" para castigar seu povo. Um exemplo disso
encontra-se em 2 Samuel, onde Davi diz: "... a fim de edificar nela
um altar ao Senhor, para que cesse a praga de sobre o povo" (2
Samuel 24:21).
Não temos prova de que a Bíblia se refira à peste bubônica,
que viria a ceifar milhões de vidas na Europa medieval.
BB. Síncope. A parada cardíaca ou a repentina queda de
pressão sangüínea geralmente se denomina síncope. Quando Jacó
ficou sabendo que seu filho José ainda vivia, seu coração "ficou
como sem palpitar" (Gênesis 45:26) ― provavelmente uma
referência à síncope. Quando Eli ouviu dizer que a arca da aliança
tinha sido capturada, caiu da cadeira para trás, quebrou o pescoço,
e morreu (1 Samuel 4:18). Este pode ter sido outro caso de falha
cardíaca ou síncope.
CC. Tísica ou tuberculose. Moisés advertiu aos israelitas
rebeldes: "O Senhor te ferirá com a tísica, a febre, e a inflamação,
com o calor ardente ..."
DD. Tumores. Este termo provavelmente se refere à antraz,
doença que pode ser transmitida ao homem por gado, ovelhas,
cabras e cavalos.
Trepanação. Cirurgiões da Judéia durante o sexto século a.C.
praticavam a trepanação, que é a remoção cirúrgica do osso do
crânio para aliviar a pressão cerebral. Os cirurgiões rapavam a
cabeça do paciente, faziam uma incisão na pele, e a recuavam para
expor o osso. Depois usavam uma pequena serra para remover
uma seção do crânio, que era recolocada quando havia sido
drenado o excesso de fluido. Os arqueólogos têm encontrado
crânios com buracos parcialmente abertos ou com furos de dreno
abertos, o que sugere que a operação freqüentemente não tivera
êxito.
A doença é causada por uma bactéria em forma de bastonete,
que forma esporos. Esses esporos, por sua vez, podem infeccionar
os seres humanos, que desenvolvem uma lesão em forma de bolha
com pústula (vesícula). Na fase infecciosa, o tumor é denominado
pústula maligna. Os tumores são mencionados somente uma vez
na Bíblia (Êxodo 9:9-10). Deus infligiu-os aos egípcios quando
Faraó recusou deixar que os hebreus fossem para a Terra
Prometida.
EE. Varíola. Alguns biblicistas crêem que a palavra hebraica
maqaq (literalmente "definhar-se") refere-se à varíola. Almeida
geralmente traduz esta palavra como "consumir-se", o que sugere
desespero emocional: "Aqueles que dentre vós ficarem serão
consumidos" (Levítico 26:39). "Não lamentareis, nem chorareis,
mas definhar-vos-eis nas vossas iniqüidades" (Ezequiel 24:23).
FF. Vermes. Isaías avisou que os rebeldes de Israel seriam
afligidos com vermes (Isaías 51:8). Também ele predisse este
destino para a Babilônia (Isaías 14:11). Esta doença parasítica
podia ser fatal porque não havia remédio para ela.
A Bíblia diz que "um anjo do Senhor" feriu a Herodes, o
Grande. Comido de vermes, ele morreu (Atos 12:23).
O USO DE REMÉDIOS
Quando o organismo de uma pessoa começava a deteriorar-se
e a sofrer dores, a vítima naturalmente procurava remédio. Desse
modo as pessoas dos tempos antigos desenvolveram um extenso
conhecimento de remédios naturais.
Provavelmente os primeiros remédios chegaram aos israelitas
por meio dos egípcios, especialmente dos sacerdotes. Os egípcios
também embalsamavam seus mortos com especiarias e perfumes
costume que os israelitas logo vieram a adotar.
Nos tempos bíblicos, os remédios eram feitos de substâncias
minerais e animais, de ervas, vinhos, frutas e outras partes das
plantas. A Bíblia refere-se com freqüência ao emprego medicinal
dessas substâncias.
Por exemplo, o "bálsamo de Gileade" é mencionado como
substância curativa (Jeremias 8:22). Pensa-se que o "bálsamo" era
uma excreção aromática de uma árvore sempre verde ou uma
forma de incenso. Sabia-se que o vinho misturado com mirra
aliviava a dor entorpecendo os sentidos. Este remédio foi
oferecido a Jesus enquanto ele pendia da cruz, porém ele se
recusou a tomá-lo (Marcos 15:23) À Os israelitas ungiam os
enfermos com loções suavizantes de óleo de oliva e ervas. Na
história do Bom Samaritano, óleo e vinho foram derramados nas
feridas da vítima de assalto (Lucas 10:34). Os primitivos cristãos
continuaram esta prática, ungindo os enfermos enquanto oravam
por eles (Tiago 5:14).
Mateus 23:23 menciona certas especiarias como antiácidos.
As | mandrágoras eram usadas para excitar o apetite sexual
(Gênesis: 30:14). Outras plantas eram usadas como remédios ou
estimulantes.
OS MÉDICOS E SEU TRABALHO
Os médicos profissionais exerciam suas habilidades nos
tempos bíblicos, mas o seu trabalho era grandemente considerado
como magia. O Antigo Testamento não menciona o nome de
nenhum médico, embora se refira ao trabalho deles (cf. Gênesis
50:2; 2 J Crônicas 16:12; Jeremias 8:22). O livro deuterocanônico
de Eclesiástico (segundo século a.C.) celebra a sabedoria e perícia
dos médicos (38:1-15). No Novo Testamento, Lucas é mencionado
pelo nome como o "médico amado" (Colossenses 4:14).
A circuncisão é o único tipo de cirurgia mencionado na
Bíblia. Tratava-se da remoção cerimonial do prepúcio do menino
hebreu oito dias após o seu nascimento. A prática começou por
ordem de Deus a Abraão (Gênesis 17:10-14), e Deus irou-se
contra Moisés por ter deixado de observá-la (Êxodo 4:24-26). O
próprio Jesus foi circuncidado ao oitavo dia (Lucas 2:21).
TRATAMENTOS RITUAIS E CURAS MILAGROSAS
A Bíblia refere-se a alguns casos em que o enfermo
executava uma lavagem ritual a fim de receber a cura. Quando
Naamã ficou leproso por exemplo, o profeta Eliseu instruiu-o a
mergulhar sete vezes no rio Jordão. Naamã o fez e foi curado (2
Reis 5:10). Jesus aplicou lodo aos olhos de um cego e lhe disse
que fosse lavar-se no tanque Siloé. O cego obedeceu e recebeu a
vista (João 9:7).
Em muitas outras ocasiões Deus operou milagres pelo
ministério de seus servos. Elias e Eliseu viram numerosas curas
deste tipo (cf. 1 Rs 17:17-22; 2 Reis 4:32-37). Quando Jesus
curava pessoas de toda sorte de enfermidades, confirmava-se que
ele era o Messias (Lucas 7:20-22),
Os sacerdotes do templo exerciam diversas funções médicas.
O livro de Levítico descreve sete formas de purificação ritual que
tinham significado médico. Elas tratavam de: pós-parto (Levítico
12), lepra (Levítico 13), doença venérea (Levítico 15:12-15),
função sexual masculina (Levítico 15:16-18), intercurso sexual
(Levítico 15:18), menstruação (Levítico 15:19-30), e cadáveres
(Levítico 21:1-3).
Instrumentos cirúrgicos. Facas, escalpelos, pinças, grampos
estão entre estes instrumentos cirúrgicos encontrados em Pompéia.
Eles indicam que as artes cirúrgicas eram bastante sofisticadas no
primeiro século A. D.
7. ALIMENTO E HÁBITOS ALIMENTARES
Desde Gênesis 1:29 (quando Deus disse: "Eis que vos tenho
dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de
toda a terra, ...isso vos será para mantimento") até Apocalipse
22:22 (quando João fala da "árvore da vida, que produz doze
frutos"), a Bíblia está repleta de referências a alimento.
Os produtos vegetais constituíam uma grande parcela da dieta
no clima quente da Palestina. Quando se comia carne, com
freqüência era com o propósito de servir a estranhos ou hóspedes
ilustres.
Os cereais eram parte importante da dieta. O pão era comido
só ou com algo para aumentar-lhe o sabor, como sal, vinagre,
caldo ou mel. Frutas e peixe eram pratos favoritos da dieta.
Lembre-se dos discípulos que foram chamados por Jesus quando
exerciam o ofício da pesca.
A serpente tentou Eva a comer uma fruta, e o pecado entrou
no mundo. Esaú vendeu seu direito de primogenitura por um prato
de sopa. Jesus foi tentado a transformar pedras em pão, e ele usou
alimento ― pão e vinho ― como símbolo de nossa participação
em seu sofrimento. O alimento ― necessidade terrena, humana ―
é um fio fascinante entretecido na história da revelação de Deus à
raça humana.
COSTUMES ALIMENTARES
A Bíblia está repleta de referências a banquetes e festas;
muito pouco se diz a respeito das refeições cotidianas da família.
Contudo, toda evidência aponta para o costume de duas refeições
regulares por dia ― desjejum, uma leve refeição matinal, e ceia,
uma refeição mais reforçada à tarde, quando o ar era mais fresco.
A princípio os judeus sentavam-se em tapetes para comer.
Mais tarde, porém, adotaram o hábito de usar mesa com divãs
sobre os quais se reclinavam (João 21:20). Fazia-se uma breve
oração ou pronunciava-se uma bênção antes de comer, como
quando Jesus abençoou o pão ao alimentar a multidão (Mateus
14:19). O lavar as mãos era considerado essencial e observado
como dever religioso, especialmente pelos fariseus (Marcos 7:3).
Partir o pão juntos, mesmo hoje, parece dizer: Somos amigos;
partilhamos de um laço comum. Tais sentimentos são evidentes
por toda a Bíblia. É como se o comer fosse mais do que mera
ingestão de alimento; é participar em tudo quanto significa
pertencer à raça humana e partilhar essa mutualidade com os que
nos cercam,
A. Desjejum. A refeição matinal (em alguns escritos referida
como jantar) geralmente era tomada entre as nove horas e meiodia, era uma refeição leve e consistia em pão, frutas e queijo.
B. Ceia. A principal refeição do dia era tomada ao entardecer.
As temperaturas quentes durante o dia na Palestina eram algo
abrandadas ao entardecer e prevalecia uma atmosfera mais
descontraída. Na refeição vespertina consumia-se carne, vegetais,
manteiga e vinho.
C. Festas. O povo judeu gostava de celebrações e, segundo
as Escrituras, uma festa parecia ser um bom modo de comemorar
um acontecimento alegre. A música era parte importante de suas
festas (Isaías 5:12) e a dança fazia, às vezes, parte da recepção
(como quando a filha de Herodias dançou para Herodes e seus
convivas, Marcos 6:32).
A festa era planejada e presidida pelo "mordomo" ou "mestresala" da festa (João 2:8), que comandava os criados e provava o
alimento e o vinho.
Os festivais religiosos, dos quais a celebração festiva era
parte muito importante, podem ser agrupados assim: (1) O sábado,
a festa das luas novas, o ano sabático, e o ano do jubileu; (2) a
páscoa, o pentecoste, e a festa dos tabernáculos; (3) as festas de
Purim e da dedicação. Todo o trabalho cessava nos dias de festa
principal; a celebração de sete dias da páscoa proibia o trabalho no
primeiro e no sétimo dias (Levítico 23).
Realizavam-se festas por ocasião de casamento (João 2:1-11),
aniversário (Gênesis 40:20), sepultamentos (Jeremias 16:7-8),
tosquia das ovelhas (1 Samuel 25:2, 36), e em muitas outras
épocas. Talvez a mais freqüentemente lembrada seja a festa
preparada pelo pai do filho pródigo (Lucas 15:11-32).
É interessante notar que as mulheres nunca estavam
presentes, como hóspedes, nas refeições judaicas.
D. Hospitalidade. Abraão "estava assentado à entrada da
tenda, no maior calor do dia... e eis três homens de pé em frente
dele" (Gênesis 18:1-2). Abraão deu-lhes água para beber e para
lavar o pó de seus pés. Assentaram-se à sombra da árvore e ele e
Sara prepararam-lhes alimento para comerem. Seus hóspedes eram
anjos! Hebreus 13:2 diz: "Não negligencieis a hospitalidade, pois
alguns praticando-a, sem o saber acolheram anjos." A
hospitalidade, a bondade para com os estranhos, e "principalmente
aos da família da fé" (Gálatas 6:10), tinha raízes no Antigo
Testamento e veio a ser parte integrante dos ensinos do Novo.
E. Mesa. Na antiga Palestina, a mesa era uma pele ou pedaço
de couro circular, colocada sobre o tapete do chão. Nas beiradas
desta mesa em forma de bandeja havia laçadas através das quais
passava-se um cordão. Terminada a refeição, o cordão era esticado
e a "mesa" ficava pendurada, deixando o caminho livre.
Em tempos posteriores introduziu-se a mesa com divas para
reclinar. Os convidados encostavam-se na mesa com o cotovelo
esquerdo e comiam com a mão direita.
F. Utensílios. É provável que diversos vasos sejam
representados por esta palavra. Os vasos sagrados referidos em
Êxodo 25:29 incluem pratos, bilhas e bacias. Um prato comum
usado numa casa vem-nos à mente quando lemos 2 Reis 21:13:
"Eliminarei Jerusalém, como quem elimina a sujeira de um prato,
elimina-a e o emborca."
G. O bocado. Os hebreus não usavam talheres. O bocado era
um pedaço de pão usado para mergulhar na sopa ou caldo que
ficava no centro da mesa. O dono da festa podia mergulhar um
bocado e dá-lo a um convidado. Jesus deu um bocado a Judas
(João 13:26), indicando que era ele quem o ia trair.
JEJUNS
O festejar era parte importante da vida judaica, mas o jejum
(passar sem alimento por um período de tempo) era igualmente
essencial. Os jejuns foram prescritos para o dia de Expiação pelo
código de Moisés ("afligireis as vossas almas", Levítico 16:29),
para comemorar a quebra das tábuas da Lei, e para outros eventos
tais na história dos judeus.
O jejum era praticado para mostrar humildade, pesar e
dependência de Deus. Vestes de pano de saco, cinzas borrifadas
sobre a cabeça, mãos sem lavar, e cabeça não ungida eram sinais
de que a pessoa estava jejuando.
Embora o jejum se tornasse ato de hipocrisia para alguns
(Mateus 6:16-18), temos o relato que Jesus jejuou durante 40 dias
e 40 noites, quando se encontrava no deserto (Mateus 4:2). Parece
que se trata dei uma questão deixada inteiramente a critério do
indivíduo.
VINHO
A lei de Moisés admitia o uso do vinho; contudo, proibia-se a
embriaguez. O vinho era usado como oferta de libação do
sacrifício diário (Êxodo 29:40). Os nazireus estavam proibidos de
beber (Números 6:3), como estavam também os sacerdotes
quando executavam os serviços do templo (Levítico 10:9). Paulo
sugere a Timóteo que os diáconos não devem ser "inclinados a
muito vinho" (1 Timóteo 3:8). Parece não haver dúvida de que o
beber em excesso era problema naquele tempo como continua a
ser hoje.
Lagar. Valas como esta em Jerusalém continham uvas das quais se
fazia vinho. Segurando em cordas sobre as cabeças, os homens
pisavam as uvas para extrair o suco, que escorria de um furo no
fundo da vala para um tonei (cf. Neemias 13:15).
Incluída numa lista de leis e ordenanças está a admoestação
de não tardar em "trazer ofertas... das tuas vinhas" (Êxodo 22:29).
A palavra hebraica traduzida como "vinhas" parece referir-se ao
suco de olivas e de uvas. A "beberagem de uvas" mencionada em
Números 6:3 era uma bebida feita pela saturação das uvas.
A borra do vinho era usada para melhorar o sabor, a cor e a
força do vinho novo. "Vinhos velhos bem clarificados" (Isaías
25:6) referia-se a um vinho rico de considerável qualidade ― um
símbolo das bênçãos da festa do Senhor.
Ofereceram a Jesus uma esponja embebida em vinagre
quando ele pendia na cruz. Este era provavelmente o vinho azedo
que os soldados romanos bebiam (Mateus 27:48). Embora não
fosse uma bebida agradável, o vinagre era usado para molhar o
pão (Rute 2:14). Quando despejado sobre o salitre, o vinagre
produz um efeito efervescente. Assim: "O que entoa canções junto
ao coração aflito é... como vinagre sobre salitre" (Provérbios
25:20, Almeida, ERC).
CEREAIS
Um generoso suprimento de cereais parece indicar um povo
bem nutrido. Pense na importância atribuída à tarefa de José de
armazenar o cereal extra durante os sete anos de abundância no
Egito (Gênesis 41:47-57). "Todas as terras vinham ao Egito, para
comprar de José" (v. 57). Do grão se faz pão, e o pão pode
sustentar nações.
A. Cevada. A cevada era cultivada na Palestina e no Egito, e
destinava-se a alimentar o gado e os cavalos. Embora os egípcios
usassem a cevada para alimentar animais, os hebreus a usavam
para fazer pão, pelo menos para os pobres.
B. Milho. "Espigas" em referências tais como Deuteronômio
23:25 e Mateus 12:1, significam várias espécies de grão,
incluindo-se cevada, milho e trigo. O milho, como o
conhecemos, não era cultivado no hemisfério Oriental. Boaz deu
a Rute "grãos tostados" (Rute 2:14); "Trigo tostado" (Almeida,
ERC).
C. Centeio. Embora o centeio seja mencionado em Êxodo
9:32, realmente ele nunca foi cultivado na Palestina. As
autoridades no assunto crêem que a referência significa outro
cereal como painço ou espelta.
Moinho de farinha. Os moinhos manuais para transformar o grão
em farinha consistiam em duas pedras circulares, tendo a inferior
uma superfície ligeiramente convexa para guiar os grãos
quebrados para a margem externa, de onde caiam. As mós tinham
sulcos curvados que multiplicavam seu efeito de corte e moagem
enquanto a mó superior girava sobre a inferior. Os moinhos
maiores eram operados por burros ou por escravos. Estes moinhos
romanos, procedentes de Pompéia, são do tipo maior. Note-se
atrás deles o forno de assar pão.
D. Trigo. "Se o grão de trigo... morrer, produz muito fruto"
(João 12:24). Aqui Jesus fala de um dos mais largamente usados
de todos os cereais entre os hebreus. Mencionado em toda a Bíblia
como um elemento básico da dieta hebraica, o trigo é uma das
plantas que Moisés disse que poderia ser cultivada em Canaã, a
Terra Prometida (Deuteronômio 8:8).
E. Moinho. O mais simples tipo de moinho usado para moer
o grão era chamado gral ― uma pedra com uma cavidade côncava
que retinha o grão a ser moído por outra pedra. Um moinho mais
eficiente constituía-se de duas pedras, de 60 cm de diâmetro por
15 cm de espessura. A mó inferior era elevada no centro. A mó
superior era côncava e tinha um furo no meio. O grão era
despejado no furo, e a mó superior era rodada por meio de uma
manivela. O grão era esmagado ao cair entre as duas mós. Para se
obter uma farinha bem fina, o grão tinha de ser moído mais de
uma vez.
A mó era tão importante para os hebreus que a Lei estatuía:
"Não se tomarão em penhor as mós ambas...", pois se penhoraria
assim a vida (Deuteronômio 24:6).
F. Peneira. O produto do moinho era peneirado; o que não
passasse na peneira era moído de novo. As peneiras antigas eram
feitas de junco e papiro. Isaías fala das nações sendo peneiradas
com a peneira da destruição (Isaías 30:28).
PÃO
"O pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (Mateus 6:11). Jesus
orou pelo pão, significando o alimento em geral. Mas o pão em si
era um ingrediente da dieta hebréia. O grão ― geralmente o trigo,
mas também a cevada ― era moído, peneirado, transformado em
massa, amassado, feito em forma de bolos, depois assado.
Expressões como "pão que penosamente granjeastes" (Salmo
127:2) e "pão da impiedade" (Provérbios 4:17) podem indicar que
essas experiências se tornam parte habitual da vida assim como o
pão de cada dia é parte da vida.
A. Pão da proposição. Todos os sábados eram feitos 12 pães
não fermentados (representando as 12 tribos de Israel). Eram
colocados em duas pilhas ou fileiras sobre a mesa de ouro do
santuário como oferta ao Senhor. Quando o pão velho era retirado,
ele podia ser comido apenas pelos sacerdotes no átrio do santuário
(Levítico 24:5-9).
B. Levedura. Jesus emprega o termo levedura (fermento
usado no pão para fazê-lo crescer) num sentido figurativo, como
ele faz com muitos termos bem conhecidos do dia-a-dia. Em
Mateus 13:33 ele assemelha o reino ao fermento, com seu poder
de alterar o todo.
Talvez estejamos mais familiarizados com o uso deste termo
em relação com o pão não levedado. O pão sem fermento era
usado às vezes nas ofertas pacíficas e também durante a semana
da páscoa para lembrar aos israelitas seu livramento da servidão
egípcia.
C. Obréia ou bolos de mel. Este bolo fino, não levedado,
feito de flor de farinha e untado com azeite era usado nas ofertas
(Êxodo 16:31; Números 6:15).
D. Bolos. Estes biscoitos duros ou bolos em pedaços são
mencionados em 1 Reis 14:3.
FABRICO DO PÁO
O fabrico do pão geralmente competia às mulheres. Com
freqüência se usava o forno; mas às vezes se preparava uma massa
fina num jarro de pedra aquecido que depois era assada.
Tipicamente, a massa feita de trigo ou cevada era batida numa
gamela; faziam-se, então, bolos circulares, furados com algum
objeto pontiagudo e assados em| um cântaro ou numa tigela. O pão
fresco era fabricado todos os dias. Oséias 7:4, 6 refere-se aos
padeiros públicos.
A. O forno. Os fornos dos hebreus eram, provavelmente, de
três tipos: (1) O forno de areia, no qual se fazia o fogo sobre areia
limpa e quando a areia estava quente removia-se o fogo. A massa
era espalhada sobre a areia quente em camadas finas para assar.
(2) O forno de terra, o "fogareiro de barro" (Levítico 11:35), era
um buraco na terra no qual se aqueciam pedras. A massa era
espalhada em camadas finas sobre as pedras depois que o fogo
havia sido retirado. (3) Fornos portáteis, mencionados em "cozida
no forno" (Levítico 2:4), provavelmente eram feitos de barro.
Dentro deles se fazia o fogo.
Quando estavam quentes, espalhavam-se camadas finas de
massa sobre as pedras alinhadas no fundo do forno depois de
removidas as cinzas.
Assadeira de pão. Este prato grande, procedente de Laquis (cerca
do século quinze a.C) pode ter sido usado para dar forma a bolos
ou pão, ou para cozê-los (cf. Levítico 2:5).
B. Borralho. Abraão disse a Sara que fizesse "pão assado ao
borralho" (Gênesis 18:6). Ele se referia a pedras quentes usadas
para assar pão. O borralho podia também significar o combustível
nele queimado (Salmo 102:3) ou um forno portátil (Jeremias
36:22-23).
CARNE E ALIMENTOS AFINS
O consumo de carne é mencionado no concerto que Deus fez
com Noé: "Tudo o que se move, e vive, ser-vos-á para alimento"
(Gênesis 9:3). Embora a dieta normal dos hebreus consistisse em
vegetais e frutas, eles comiam carne, especialmente nos banquetes
e festas. Surgiu na igreja primitiva um problema quanto ao comer
carne oferecida aos ídolos. Paulo, porém, deixou claro que nada é
impuro para os puros (Tito 1:15; cf. 1 Timóteo 4:4).
A. Novilho. Quando o filho pródigo voltou ao lar, o pai
matou um novilho cevado para festejar (Lucas 15:23). Na vida dos
hebreus, o novilho era considerado a melhor de todas as carnes e
era reservada para as ocasiões mais festivas.
B. Cabrito ou bode. O irmão mais velho do filho pródigo
ficou indignado e disse ao pai: "Nunca me deste um cabrito sequer
para alegrar-me com os meus amigos" (Lucas 15:29). O cabrito
era a carne mais comum, mais barata, e comida pelos pobres. Era
usada nas ofertas sacrificiais (Números 7:11-87).
C. Aves. Algumas aves eram consideradas impuras para
alimento (Deuteronômio 14:20). Mas a perdiz, a codorniz, o ganso
e o pombo podiam ser comidos.
D. Peixes. Um alimento predileto na Palestina era o peixe,
apanhado em grandes quantidades no mar da Galiléia e no rio
Jordão.
Depois de sua ressurreição, Jesus preparou uma refeição
matinal de peixe e pão num braseiro junto à praia para alguns dos
discípulos (João 21:9-13). De outra feita, quando apareceu aos
discípulos após a ressurreição, ele pediu-lhes algo que comer.
Lucas diz: "Então lhe apresentaram um pedaço de peixe assado...
E ele comeu na presença deles" (Lucas 24:42-43).
A Lei declarava que todo peixe com barbatanas e escamas era
limpo e portanto podia ser comido (Deuteronômio 14:9-10).
E. Ovelha (Cordeiro). Além de seus muitos usos que não o
alimento, a ovelha era importante por sua carne, leite e a gordura
da cauda, que às vezes chegava a pesar quase sete quilos. Na
celebração da Páscoa matava-se um cordeiro que era comido para
rememorar o livramento da escravidão do Egito.
F. Gordura. A gordura pura de um animal era sacrificada a
Deus, visto que era considerada a mais rica ou a melhor parte
(Levítico 3:16). Não podia ser comida em tempos primitivos, mas
parece que se ignorava esta lei quando os animais eram mortos
para serem usados apenas como alimento (Deuteronômio 12:15).
CAÇA
Leões, ursos, chacais, raposas, veado, corços e gazelas são
mencionados no Antigo Testamento. Alguns desses animais eram
caçados para alimento, sendo apanhados em covas, armadilhas ou
redes. Isaque instruiu a Esaú a tomar seu arco e aljava e apanhar
alguma caça para que pudesse comer o alimento apreciado
(Gênesis 27:3-4). O sangue desses animais selvagens não era
comido.
Embora não fossem usadas como utensílios para comer,
segundo as conhecemos, as facas eram necessárias para matar
animais e prepará-los para refeição ou para o sacrifício (Levítico
8:20; Esdras 1:9).
COZINHAR
Cozinhar era serviço da mulher, especialmente nos anos
anteriores à conquista de Canaã. Para assar, acendia-se um fogo de
lenha ou usava-se um forno. Para cozer, a carne do animal era
cortada em pedaços, colocada numa panela (tacho) com água, e
amaciada (Ezequiel 24:4-5). A carne e o caldo eram servidos
separadamente. Os vegetais também eram fervidos.
O tacho era um vasilhame grande de metal usado para ferver
a carne (1 Samuel 2:14). Usava-se um garfo de três dentes para
retirar a carne do tacho.
LACTICÍNIOS
"Terra que mana leite e mel" foi prometida aos israelitas
(Josué 5:6), e nessa promessa eles divisaram abundância e
prosperidade. Os hebreus bebiam o leite de camelas, ovelhas e
cabras. O leite de camela era especialmente rico e forte, mas não
era doce. Por todo o Antigo Testamento encontram-se referências
ao leite (cf. Provérbios 27:27; Deuteronômio 32:14).
A. Manteiga. O termo hebreu chemcth traduzido como
creme, coalhada, queijo e manteiga Gênesis 18:8, Abraão serviu
coalhada (chemah) visitaram sua tenda. Provérbios 30:33 diz que
"o bater do leite produz manteiga". Seja qual for o significado
exato da palavra hebraica, há certo acordo de que os hebreus
usavam um tipo manteiga. Provavelmente fosse feita da mesma
forma que os árabes a preparam hoje. Leite aquecido, ao qual se
adiciona uma pequena quantia de leite talhado (leben), é despejado
num saco de pele de cabra e agitado até que a manteiga se separe.
É escorrido e três dias depois é novamente aquecido. A manteiga
assim preparada conserva-se bem no clima quente da Palestina.
B. Queijo. Com o queijo temos, mais ou menos, o
mesmo problema que temos com a manteiga; é difícil saber com
certeza o que os escritores queriam dizer. Veja-se: "Porventura...
não me coalhas-te como queijo?" (Jó 20:10); "Porém estes dez
queijos leva-os ao comandante" (1 Samuel 17:18); "também mel,
coalhada, ovelhas e queijos de gado... para comerem" (2 Samuel
17:29). Em cada uma dessas citações, a palavra queijo no original
é diferente. É provável que o queijo, nesses três casos, seja leite
coalhado.
FRUTAS
Um alimento predileto dos hebreus eram as frutas que
cresciam em abundância no clima quente daquela parte do mundo.
Os espias que Moisés enviou a Canaã trouxeram um ramo de
videira com um cacho de uvas, tão grande que o transportaram
numa vara. Também trouxeram romãs e figos (Números 13:23).
Esses e uma variedade de outros frutos eram apreciados como
parte da dieta regular.
A. Uvas. Veja acima a seção sobre "Vinho".
B. Passas. "Cachos de passas" foram trazidos a Davi,
"porque havia regozijo em Israel" (1 Crônicas 12:40). As passas
eram uvas secadas nos cachos. Também são mencionadas em 1
Samuel 25:18 e 2 Samuel 16:1.
C. Bolo de passas. Embora garrafas em Isaías 22:24
certamente signifique um tipo de vasilhame, no hebraico é a
palavra usada em 2 Samuel 6:19 com o sentido de "um bolo de
passas". Essa palavra provém de ashisha ("prensado"). Os bolos
de passas parecem ser uvas secas ou passas que são prensadas para
formar um bolo. Eram usados como sacrifícios aos ídolos (Oséias
3:1) e apreciados como guloseima.
D. Romã. Esta bela fruta de vermelho-rosado, com suas
muitas sementes, cuja abundância era símbolo de fertilidade,
predileta entre os israelitas, cultivada tanto por seu fruto saboroso
como por sua beleza. O suco da romã era muitíssimo apreciado
(Cantares 8:2). Era uma das frutas que cresciam na Terra
Prometida (Números 13:23).
A orla da sobrepeliz do sumo sacerdote era ornamentada com
"romãs de estofo azul, púrpura e carmesim" (Êxodo 28:33).
Duzentas romãs ornamentais decoravam cada uma das colunas
(Jaquim e Boaz) no templo de Salomão (2 Crônicas 3:16).
E. Melão. Os israelitas estavam acampados no quente deserto
da Arábia tendo somente maná para comer. Queixaram-se aos
ouvidos do Senhor: "Lembramo-nos... dos melões" do Egito
(Números 11:5). Esta é a única referência bíblica a melões. É
impossível determinar se se referiam ao melão perfumado ou à
melancia, ou a ambos, visto como é possível que ambos
crescessem no Egito naquele tempo. Seja qual for o caso, o melão
era refrescante nos dias quentes.
F. Maçã. A maçã ou macieira mencionada na Bíblia é,
provavelmente, a cidreira e o seu fruto, embora sejam sugeridos
também o damasco e o marmelo. A Bíblia diz que o fruto desta
"macieira" é doce (Cantares 2:3); seu fruto é da cor do ouro
(Provérbios 25:11); e era aromático (Cantares 7:8).
"Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra
dita a seu tempo" (Provérbios 25:11). Literalmente, "Uma palavra
dita com propriedade é como cidras douradas em cestos de prata".
G. Figo. Desde as folhas de figueira que Adão e Eva usaram
para cobrir sua nudez (Gênesis 3:7) até à figueira que Jesus
amaldiçoou (Marcos 11:4), os figos são mencionados por toda a
Bíblia. Eram um fruto comum na Palestina. As figueiras crescem
isoladas ou em pequenos grupos e suas grandes folhas
proporcionam uma deliciosa sombra, (cf. João 1:48). Os figos são
comidos frescos colhidos da árvore, secos, ou prensados em bolos
(1 Samuel 25:18).
H. Oliva. "À tarde ela [pomba] voltou a ele; trazia no bico
uma folha de oliveira" (Gênesis 8:11). Noé recebeu o símbolo de
paz e abundância e ficou sabendo que as águas tinham minguado.
A azeitona, fruto comum na Palestina, parece-se com a ameixa e
1 primeiro é verde, depois fica amarelada, e finalmente preta
quando J completamente madura. A árvore assemelha-se a uma
macieira e produz fruto mesmo quando bem velha. Os cachos de
flores lembram o lilás.
As azeitonas são derribadas com varas ou sacudidas da árvore
e alguns frutos são deixados para os pobres (Deuteronômio
24:20). O fruto era comido ― verde ou maduro ― mas a maior
porção da colheita da azeitona era destinada à extração de azeite.
O melhor azeite vem do fruto verde. Em Êxodo 27:20
menciona-se o "azeite puro de oliveira, batido". A primeira
extração, feita mediante agitação em panelas ou cestos, produz o
mais fino azeite; a segunda e a terceira extrações são inferiores. O
azeite era usado para a unção, empregado como alimento e na
cozinha, e para iluminação. Uma boa árvore produz 60 litros de
azeite por ano.
O azeite era extraído em pesadas prensas de pedra chamadas
gath-shemen (Getsêmani vem desta palavra; Mateus 26:36).
Miquéias 6:15 fala de pisar a azeitona para extrair o azeite, como
se pisa a uva. Outras referências sugerem que se deitava uma
grande mó sobre sua superfície lisa que era premida sobre a
superfície superior. Outra pedra era colocada reta sobre esta e
passava-se uma viga através de seu centro. Um cavalo, um boi, ou
um homem girava a pedra de cima extraindo-se o azeite pelo peso.
A "oliveira" mencionada em Isaías 41:19 é, certamente, a que
produz azeitona. Uma autoridade no assunto sugere que esta se
refere a uma planta oleaginosa, um arbusto que produz azeite de
qualidade inferior. Mas a opinião geral é que se trata da oliveira.
VEGETAIS
"Que se nos dêem legumes [vegetais] a comer e água a
beber" (Daniel 1:12). Daniel solicitou o alimento simples de seu
povo em vez da dieta rica do rei. "No fim dos dez dias, as suas
aparências eram melhores; estavam eles mais robustos do que
todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei" (v. 15).
Os vegetais eram o cardápio diário dos israelitas.
Mencionam-se hortas em Deuteronômio 11:10 e 1 Reis 21:2.
A. Fava. Favas e outros alimentos foram trazidos a Davi
quando ele fugia de Absalão (2 Samuel 17:28). De novo, em
Ezequiel 4:9 se descreve um pão feito de trigo, cevada, favas e
lentilhas. Fazia-se um caldo adicionando-se favas batidas ao trigo
ou ao trigo triturado. As favas eram temperadas com azeite e alho,
fervidas e saboreadas.
B. Lentilha. Esaú vendeu seu direito de primogenitura por
um prato de cozinhado de lentilhas (Gênesis 25:29-34). As
lentilhas são semelhantes às ervilhas de horta e as lentilhas
vermelhas são consideradas como as melhores. Como no caso das
favas, os pobres às vezes usa lentilhas para fazer pão.
C. Pepino. Quase todos concordam em que pepino é uma
tradução das palavras hebraicas shakaph e miqshah (Números
11:5; Isaías 1:8). Duas espécies de pepino eram cultivadas nos
tempos bíblicos ― o pepino longo, que se colhia em julho, e o
maxixe, que entra no mercado em setembro.
Os hebreus lembraram-se dos pepinos e dos melões do Egito
quando nada tinham que comer no deserto senão maná (Números
11:5). Um costume interessante entre os hebreus era construir
locais de vigia, com folhas, chamados palhoças onde um guarda
podia sentar-se e impedir a entrada de ladrões. Terminada a
temporada da colheita, esses locais eram abandonados. Em Isaías
1:8 lemos que "Sião é deixada como... palhoça no pepinal" ―
desolada.
D. Cebola e alho. Esses dois vegetais aromáticos em forma
de bulbos, crescem bem nas regiões quentes. Cebolas e alhos eram
parte da lembrança das boas coisas do Egito quando os israelitas
se irritaram no deserto. A referência a essas raízes em Números
11:5 sem dúvida significa a cebola e o alho com os quais estavam
familiarizados. Sabe-se que ovelhas e camelos dão bem com esses
vegetais.
E. Alho porro. O nome "alhos silvestres" aparece somente
uma vez em Números 11:5. A mesma palavra original aparece
diversas vezes, mas em todos os outros casos é traduzida de modo
diferente. Várias opiniões as identificam como qualquer alimento
vegetal verde, tal como o que os pobres comiam com pão e os
ricos usavam para fazer molho de carne, como o alho porro atual.
Provavelmente seja uma espécie de loto, cuja raiz era fervida e
comida com condimento.
F. Cozinhado. O cozinhado ou guisado de Jacó é famoso
(Gênesis 25:29-34). O cozinhado era uma sopa feita de lentilhas e
temperado com azeite e alho.
Outra história interessante sobre cozinhado encontra-se em 2 Reis
4:38-41. Neste tipo de cozinhado foram usados outros
ingredientes.
G. Ervas amargas. Este prato parecido com salada fazia
parte da festa da páscoa. Era usado para lembrar aos hebreus a
tristeza por que haviam passado no Egito (Êxodo 12:8; Números
9:11). Os vegetais incluídos nas ervas poderiam ter sido rábanorústico, alface, escarola, salsa, e agrião.
NOZES
Jacó enviou nozes como presente a José no Egito (Gênesis
43:11). É provável que as nozes não crescessem naquele país. Em
Cantares 6.11 fala-se de um pomar de nogueiras.
A. Amêndoa. Esta árvore que floresce cedo é chamada
shaked na língua hebraica, que significa "vigiar, vigilante".
Devido à sua florada cedo, o símbolo da amendoeira é usado em
Eclesiastes 12:5 para representar o rápido envelhecimento da
humanidade. Jeremias também emprega a amendoeira para
expressar a ação rápida da palavra de Deus (Jeremias 1:11-12).
A vara de Arão brotou, floresceu, e produziu amêndoas no
tabernáculo. Por meio deste milagre o povo entendeu que a casa
de Levi, representada por Arão, foi declarada a tribo sacerdotal
(Números 17:1-9).
Há dois tipos de amêndoas. A amarga é conhecida por seu
óleo; a doce é usada para sobremesas.
B. Pistácia. A Bíblia diz que Jacó também enviou nozes de
pistácia a José no Egito (Gênesis 43:11). Esta é a única vez que
são mencionadas na Bíblia. São usadas em confeitaria.
Banquete assírio. Servido por criados e músicos, o rei
Assurbanípal e a rainha festejam no jardim neste relevo de seu
palácio (cerca do século sexto a.C). Como os assírios, os antigos
hebreus freqüentemente celebravam acontecimentos religiosos e
sociais com festas, acompanhados por música e dança.
Árabes comendo. O partir do pão juntos era a expressão básica da
hospitalidade no antigo Oriente Próximo, como o é ainda hoje.
Alguns eruditos crêem que os hebreus comiam duas vezes por dia
― uma refeição leve pela manhã e uma mais pesada no frescor da
tarde. Nos tempos antigos, as refeições eram servidas em tapetes
no chão, como se vê aqui. Usavam-se divas na época dos
romanos.
MEL
A lei do Senhor é "mais doce do que o mel e o destilar dos
favos" (Salmo 19:10). As referências a esta delícia correm através
da Bíblia desde Gênesis até Apocalipse. Os israelitas foram
conduzidos a uma terra que mana leite e mel (Êxodo 3:8); pelo
menos 20 referências na Bíblia têm quase a mesma descrição. O
mel não podia ser oferecido sobre o altar do Senhor (Levítico
2:11), talvez porque certas nações pagas praticavam tal costume.
Jeroboão, quando seu filho caiu enfermo, mandou a esposa ao
profeta Aías com "uma botija de mel" (1 Reis 14:3). João Batista
alimentava-se de "gafanhotos e mel silvestre" (Mateus 3:4).
A palavra mel, em algumas referências, pode significar o
xarope de tâmaras ou de uvas (hebraico, dibs). A frase "chupar mel
da rocha" (Deuteronômio 32:13) provém do fato que as abelhas, às
vezes, depositam o mel nas rochas e o cobrem com cera.
MANÁ
Os filhos de Israel, depois que deixaram o Egito, chegaram
ao deserto de Sim, que fica entre Elim e o Sinai. Começaram a
queixar-se de Moisés e Arão: "Quem nos dera tivéssemos
morrido... na terra do Egito... pois nos trouxestes... para ma tardes
de fome a toda esta multidão." O Senhor ouviu a queixa do povo e
disse: "Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá, e
colherá diariamente a porção para cada dia." No sexto dia deviam
colher uma porção extra para o sábado. O maná não caía no
sábado. O Senhor continuou a prover o pão milagroso todas as
manhãs, exceto no sábado, durante quarenta anos, até que os
israelitas entraram na terra de Canaã (Êxodo 16).
Algumas autoridades tentam dar explicações naturais para o
maná, a mais comum das quais tem que ver com a tamarga. Esta
árvore presentemente é encontrada na península do Sinai. Uma
seiva semelhante à sacarina e que parece com a descrição do maná
fornecido aos israelitas goteja dela em certas estações do ano.
Êxodo 16:14 diz que restava "uma coisa fina e semelhante a
escamas, fina como a geada sobre a terra" (v. 14). "Era como
semente de coentro, branco, e de sabor como bolos de mel"
(Êxodo 16:31).
A páscoa tradicional
O ritual da páscoa situa-se no centro do culto judaico. Cada
elemento da Pesach (Hebraico, "passagem") destinava-se a
comemorar a histórica passagem dos judeus da escravidão para
uma nação governada por Deus.
A páscoa é uma celebração de sete dias na qual a festa
principal ocorre na primeira noite. A refeição seder (hebraico,
"serviço") com seu ritual acompanhante relembra a última refeição
que os judeus tomaram no Egito antes de iniciarem a viagem para
a Terra Prometida. Ordena-se aos judeus que se lembrem da
história de seu cativeiro e do livramento na noite do Seder:
"Naquele mesmo dia contarás a teu filho, dizendo: É isto pelo que
o Senhor me fez, quando saí do Egito" (Êxodo 13:8).
Dos muitos ingredientes tradicionais do Seder, os mais
importantes são aqueles que Deus especificou para a última
refeição no Egito: "O cordeiro será sem defeito, macho de um
ano" (Êxodo 12:5). Os cordeiros deviam ser assados, não cozidos.
Lembra-se aos participantes do Seder que o sangue do cordeiro
devia ser passado nas ombreiras da porta das casas para proteger
os judeus da praga que feriu os incrédulos na noite da primeira
páscoa.
O cordeiro pascoal devia ser comido com ervas amargas,
conforme ordenado em Êxodo. Nos tempos do Antigo Testamento,
usava-se a alface amarga, a chicória, ou a escarola; hoje as
famílias judias mais provavelmente usem rábano-rústico ou cebola
ralados. Essas ervas simbolizam a amargura do cativeiro egípcio.
Visto como o primeiro Seder foi comido enquanto os judeus
se preparavam para a fuga, o tema da pressa está entretecido na
festa. O pão não levedado de uma textura semelhante à bolacha,
tal como matzos, era mais conveniente para um povo em fuga do
que os pães levedados, que precisavam de amassar e crescer.
Cada participante do Seder toma um copo de vinho. O
anfitrião reclina-se sobre almofadas, lembrando o antigo modo de
comer. Na frente dele é colocado o prato do Seder com os
tradicionais alimentos simbólicos: Três obréias de pão matzo
embrulhadas num guardanapo, as ervas amargas, o haroset ou
polpa de fruta, o cordeiro assado, o ovo cozido, os vegetais doces,
e um prato de água salgada para lavar as mãos.
A parte mais bem conhecida do ritual do Seder são,
provavelmente, as "Quatro perguntas". O filho mais novo da
família faz perguntas sobre o Seder, começando com as palavras:
"Por que esta noite de Páscoa é diferente de todas as outras noites
do ano?" Pergunta sobre o uso do pão não levedado, das ervas
amargas, da imersão dos vegetais, e das almofadas na cadeira do
anfitrião. Ele responde recitando a história da passagem de Israel
do cativeiro para a liberdade.
Embora a preparação para o Seder demande muita paciência,
nenhum dos alimentos tradicionais apresenta quaisquer
dificuldades. O haroset é o único que requer uma receita especial,
e há muitas versões disponíveis. Na realidade, o fato importante
acerca do haroset é sua textura (que se assemelha à argamassa)
mais do que seus ingredientes. Um haroset simples podia incluir
maçãs raladas, nozes em fatias, açúcar, cinamomo e vinho
vermelho doce. Esses ingredientes são amassados juntos até que
alcancem certa consistência. Pode-se adicionar matzo, substituir
outros frutos ou nozes, e o açúcar e a canela são adicionados ao
sabor individual.
Algumas autoridades no assunto acreditam que a seiva da
tamarga é a mesma que o maná original. Outros contestam esta
conclusão pelos seguintes motivos: (1) O maná original durou 40
anos continuamente; o maná da tamarga é imprevisível e sasonal.
(2) A quantidade produzida pelo maná da tamarga não daria para
alimentar de três a quatro milhões de pessoas diariamente. (3) O
maná original caía do céu; o maná da tamarga caía dos rebentos da
árvore. (4) O maná original não podia ser guardado por mais de
um dia; o maná da tamarga dura meses. (5) O maná original podia
ser cozido, moído, pisado e transformado em bolos; o maná da
tamarga não pode ser usado assim. (6) Os nutrientes diferiam ― o
original sustentou uma nação durante 40 anos; a tamarga é apenas
uma substância sacarina.
Hospitalidade. Deus disse aos israelitas que fossem hospitaleiros
(Levítico 19:34). Isto significava que deviam oferecer alimento,
abrigo e vestimenta aos viajantes que passassem por suas terras.
Um importante costume hebreu era a lavagem dos pés dos
hóspedes, gesto de boas-vindas numa região poeirenta, em que as
estradas muitas vezes tornavam a viagem a pé uma experiência
dolorosa.
8. VESTUÁRIO E COSMÉTICOS
O modo de vestir-se dos israelitas mudou aos poucos no
decorrer dos séculos. Notemos a evolução de cinco artigos
básicos de vestuário.
Deus fez vestimentas para Adão e Eva. "Fez o Senhor Deus
vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu" (Gênesis
3:21). Esta vestimenta (Hebraico, kethon) era uma camisa simples
feita de pele de animal. Mais tarde, os hebreus começaram a fazer
camisas de linho ou de seda (para pessoas importantes). Assim,
lemos que José usava "uma túnica talar de mangas compridas"
(Gênesis 37:3), que a ERC traduz como "túnica de várias cores".
Embora o kethon tenha permanecido como costume do povo
comum, outra forma de vestido chamada simlah entrou em moda.
Sem e Jafé tomaram esta vestimenta para cobrir a nudez de seu pai
(Gênesis 9:23). A princípio, os israelitas faziam a simlah de lã,
porém mais tarde usava-se pêlo de camelo. Tratava-se de uma
vestimenta exterior semelhante a um lençol grande com um capuz,
e os judeus a usavam como roupa de frio. Os pobres a usavam
como vestido básico de dia e como capa de noite (Êxodo 22:2627).
Em casa, em ocasiões especiais, os israelitas usavam o beged.
Isaque e Rebeca vestiram seu filho Jacó com esta roupa, que eles
consideravam a melhor (Gênesis 27:15). Os israelitas
consideravam o beged um distintivo de dignidade do usuário, e era
usado por membros distintos de famílias importantes. Depois de
instituídos os rituais do templo, os sacerdotes passaram a usar o
beged.
O quarto artigo de vestuário, o lebhosh (que significa
"vestir"), era de uso geral. Contudo, com o tempo tornou-se uma
vestimenta exterior tanto para os ricos como para os pobres.
Assim, diz a Bíblia que Mordecai usava um lebhosh de pano de
saco (Ester 4:2), enquanto um lebhosh mais requintado podia
servir de "veste real" (Ester 8:15). O Salmista referiu-se a esta
vestimenta quando escreveu: "Repartem entre si as minhas vestes,
e sobre a minha túnica deitam sortes" (Salmo 22:18).
Finalmente, a addereth era usada para indicar que o usuário
era uma pessoa de importância (Josué 7:21). Esta vestimenta era
também um tipo de capa ou abrigo exterior. Tal capa ainda é usada
hoje por muitos na Palestina, sem levar em conta sua posição
social.
Esses exemplos demonstram como mudou o uso de certas
vestimentas à medida que mudou a sociedade judaica. E a
manufatura dessas vestes mostra a disponibilidade de diferentes
materiais têxteis em cada época da história.
Este artigo analisará quatro diferentes aspectos do vestuário
dos tempos bíblicos ― o tecido, o vestuário masculino, o
vestuário feminino, e o vestuário dos sacerdotes. Notaremos
também o uso que a gente do Oriente Próximo fazia de jóias e
cosméticos.
TIPOS DE TECIDOS
Gênesis 3:7 diz que Adão e Eva perceberam que estavam nus
e coseram folhas de figueira e fizeram "cintas" ou "aventais"
(hebraico, hagor). Então o Criador fez para Adão e Eva vestes de
peles, antes de expulsá-los do jardim do Éden (Gênesis 3:21).
Mais tarde, entraram em uso vários tecidos para roupas.
A. Linho. O linho, feito da planta do mesmo nome, e
cultivada especialmente para esse fim, era um dos mais
importantes tecidos para os israelitas. Antes de os israelitas
conquistarem o país, os cananeus já o usavam (Josué 2:6).
O linho era um tecido versátil, podendo ser grosseiro e
espesso, ou muito fino e delicado. O linho fino e quase
transparente dos egípcios gozava de alta reputação. Também
faziam eles linho grosseiro, tão pesado que podia ser usado para
tapetes ou para cobrir o chão.
Os tecidos de linho fino eram usados pelos que desfrutavam
de posições sociais elevadas ou de riqueza (cf. Lucas 16:19), e os
tecidos grosseiros eram usados pela gente comum. Os egípcios
vestiram José com linho fino quando o fizeram seu governador
(Gênesis 41:42).
As cortinas, o véu e os reposteiros do tabernáculo hebreu
eram feitos de linho fino (Êxodo 26:1, 31, 36), como o eram as
cortinas e reposteiros da porta do átrio e do próprio átrio (Êxodo
27:9; 16, 18). A estola e o peitoral do sumo sacerdote continham
linho fino (Êxodo 28:6, 15). A túnica, o cinto e os calções que
todos os sacerdotes usavam também eram feitos de linho branco
de fina qualidade (Êxodo 28:39; 39:27-28).
O material mais usado para as vestes interiores, ou roupa de
baixo, dos judeus era o linho. As vestes sepulcrais de Jesus eram
feitas deste tecido. Diz a Bíblia que José de Arimatéia "baixando o
corpo da cruz envolveu-o em um lençol [de linho fino] que
comprara (Mc 15:46). O linho branco fino também era símbolo de
pureza moral (Apocalipse 15:6).
B. Lã. Os judeus usavam a lã de ovelha como o principal
material para roupas. Os mercadores da cidade de Damasco, na
Síria, encontraram na cidade portuária de Tiro um mercado pronto
para sua fina lã (Ezequiel 27:15). A lã é um dos mais antigos
materiais usados para roupa tecida.
A lei de Deus não permitia que os israelitas fizessem
vestimentas de uma mistura de lã e linho (Deuteronômio 22:11).
Esta lei tinha diversos outros preceitos correspondentes ― tais
como não semear semente de duas espécies num mesmo campo,
ou não arar com junta de boi e jumento (Levítico 19:19). Talvez
essas leis expressassem simbolicamente a idéia de separação e
simplicidade que caracterizavam o antigo povo de Deus. Por outro
lado, as vestes do sumo sacerdote eram feitas de tal mistura.
Portanto, a mistura pode ter sido considerada santa e imprópria
para a vestimenta comum.
A lã continuou sendo um dos principais materiais têxteis. Na
verdade, a economia das terras bíblicas dependia grandemente
dela.
C. Seda. Ezequiel 16:10, 13 descreve a seda como um tecido
de grande valor. As palavras hebraicas para este pano eram sheshí
e meshí. Alguns eruditos pensam que o termo encontrado em
Provérbios 31:22 (sheshí) refira-se ao linho fino. Não sabemos se
os egípcios usavam seda, mas os chineses e outros asiáticos a
usavam nos tempos do Antigo Testamento. Certamente a seda
chegou às terras bíblicas após a conquista de Alexandre, o Grande
(cerca de 325 a. C). Mas pode ter chegado à Palestina mais cedo,
visto que Salomão comerciava com os países vizinhos, possíveis
produtores deste tecido.
A fina qualidade e a cor viva dos tecidos aumentavam-lhes o
valor, de modo que a seda mantinha uma importante posição no
mundo antigo. Os amantes do luxo da "Babilônia" (Roma?) do
Novo Testamento prezavam muito a seda (Apocalipse 18:12). Em
data tardia como o ano 275 de nossa era, os artigos de seda pura
valiam o seu peso em ouro.
D. Pano de saco. Os israelitas usavam pano de saco como
ritual de arrependimento, ou como sinal de luto. A cor escura e o
tecido grosseiro deste material de pêlo de cabra tornava-o ideal
para esse uso. Quando os irmãos de José o venderam aos
ismaelitas, Jacó vestiu-se de pano de saco para chorar a perda do
filho (Gênesis 37:34). Em tempos de extrema tristeza, os israelitas
usavam este material rústico pegado à pele, como o fez Jó (Jó
16:15).
O Novo Testamento também associava o pano de saco com o
arrependimento, conforme encontramos em Mateus 11:21:
"Porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres
que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido
com pano de saco e cinza." O israelita entristecido vestia-se com
pano de saco e colocava cinzas sobre a cabeça, e depois se
assentava nas cinzas. Nosso moderno costume ocidental de usar
cores escuras nos funerais corresponde ao uso do pano de saco dos
israelitas.
O pano de saco também era usado para fazer sacos para
cereais (Gênesis 42:25; Josué 9:4)
E. Algodão. Não sabemos se os israelitas faziam roupas de
algodão. A palavra hebraica pishtah significava um tipo de
material de origem vegetal, em contraposição ao material de
origem animal como a lã. O termo pode referir-se à planta do
linho, ou ao algodoeiro.
Embora a palavra hebraica karpas geralmente fosse traduzida
por cor (Ester 1:6; 8:15), é possível que se refira ao algodão. Tanto
a Síria como a Palestina cultivam algodão hoje; mas não se sabe
se os hebreus, antes de entrarem em contato com a Pérsia, o
conheciam.
Vestuário e clima
O clima é um fator principal na determinação do vestuário de
um povo. Pode-se ver isto comparando-se a roupa dos antigos
hebreus com a dos povos que viviam em diferentes zonas
climáticas.
Os egípcios do vale do Nilo rapavam a cabeça e o corpo para
mantê-los frescos e limpos, e desenvolveram o tecido de linho ―
praticamente o mais leve dos materiais de vestuário ― para
compensar os efeitos do sol escaldante de sua região. Os
trabalhadores egípcios usavam um simples pano nos lombos; em
tempos primitivos, esta veste era também aceita para os homens
em geral. No tempo do rei Tutankâmen (décimo-quarto século
a.C), o pano de lombo passou a ser uma veste mais comprida,
muito semelhante a um avental. As túnicas ou capas leves eram
usadas sobre os ombros. As mulheres usavam uma vestimenta
comprida, solta, que ia de baixo dos braços até ao tornozelo, e era
presa nos ombros por uma ou duas tiras. A única vestimenta
egípcia com mangas era o kalasiris, um retângulo de linho com
mangas separadas.
Os egípcios preferiam o linho mais puro. Para calçado eles
usavam couro ou sandálias de junco. A proteção da cabeça
consistia em chapéus cênicos para os homens e turbantes para as
mulheres. Muitos egípcios usavam leques, muito úteis na região
quente em que viviam, além de serem decorativos.
Contraste-se a vestimenta dos antigos egípcios com a dos celtas,
povo bárbaro que viveu no norte dos Alpes, no mínimo, por volta
do sexto século a.C. Os celtas eram altos, musculosos, gente de
pele dará que vivia e trabalhava num clima severo o frio. Sua
economia básica era a lavoura. Criavam gado, cultivavam cereais,
e engajavam-se em outras atividades agrícolas ― em climas
consideravelmente mais frios do que o dei Egito.
Dependendo do clima da região, os celtas usavam roupa de
baixo grossa e um tipo de meia ou perneira. Os homens das tribos
cisalpinas por volta do terceiro século a.C. já usavam calças.
Nesse tempo, os celtas também usavam túnicas cinturadas ou
camisas com uma capa. Eles enrolavam pano nos pés. As
mulheres celtas usavam uma única vestimenta comprida com uma
capa.
Os celtas preferiam linhos grosseiros e lã para proteger-se do frio.
Suas vestimentas eram coloridas, num variegado espectro que ia
desde os tons mais escuros até os matizes do sol e brancos. Os
egípcios, por outro lado, preferiam o branco; suas únicas cores
alternativas eram azul, amarelo e verde claros.
Esses extremos nos estilos de vestir-se ― desde panos para
os lombos, feitos de linho, no Egito, até às vestes grosseiras no
norte da Europa ― ressaltam o papel que o clima desempenha na
determinação do tipo de vestimentas de diferentes povos.
MANUFATURA DE TECIDOS
As mulheres judias faziam roupas por necessidade. A
preparação dos tecidos e a fabricação de roupas eram considerados
deveres femininos. Havia diversos processos de manufatura de
tecidos.
A. Fiação de roca. As mulheres judias usavam a fiação da
roca para fazer pano, visto como a roda de fiar era desconhecida
naquele tempo. Elas colocavam a lã ou o linho na roca (uma vi
semelhante), e então usavam um fuso para torcer as fibras em fios.
A Bíblia menciona esta arte em Êxodo 35:25-26 e Provérbios
31:19
B. Tecelagem. Depois que as mulheres transformavam as
matérias-primas em fio, usavam-no para tecer o pano. Chamamos
de urdidum aos fios no sentido de seu comprimento, e de trama
aos fios em sentido transversal do tear. As mulheres fixavam a
trama numa lançadeira, instrumento que segurava o fio de sorte
que ele pudesse passar por cima e por baixo dos fios da urdidura.
A Bíblia não descreve especificamente o uso da lançadeira, mas
está implícito em Jó 7:6. A urdidura era fixada a um pino de
madeira no topo ou parte de baixo do tear, e o tecelão ficava de pé
enquanto trabalhava. (A Bíblia não menciona o tear propriamente
dito, apenas o pino ao qual se prendia a urdidura ― Juizes 16:14).
Por este método podia-se produzir tecido de várias texturas.
Provavelmente os israelitas estavam familiarizados com a
tecelagem bem antes do tempo de sua escravidão no Egito. Mas
aqui eles aperfeiçoaram a arte a tal ponto que puderam fabricar as
cortinas do templo mencionadas em Êxodo 35:35.
Os israelitas fabricaram vários tipos de tecidos nos anos de
sua peregrinação pelo deserto. Tais tecidos incluíam vestimentas
de lã (Levítico 13:48), linho retorcido (Êxodo 26:1), e as vestes
bordadas dos sacerdotes (Êxodo 28:4, 39).
C. Curtimento. O curtimento era um processo de que
dispunham os povos dos tempos bíblicos para secar peles de
animais, preparando-as para uso. Empregavam cal, sumo de
algumas plantas, e folhas ou casca de determinadas árvores para
curtir as peles.
Os judeus consideravam desonroso o ofício de curtidor.
Pedro desafiou este preconceito hospedando-se em casa de Simão,
um curtidor, em Jope (Atos 9:43). Os curtidores judeus geralmente
eram obrigados a exercer seu ofício fora da cidade.
D. Bordado. Os hebreus faziam lindos trabalhos de agulha.
O termo bordador (hebraico shâbâts e râqam) aparece em Êxodo
28:39; 35:35; 38:23. A "obra de artista" (hebraico, châshab)
mencionada em Êxodo 26:1 pode ter sido mais semelhante à
decoração do que trabalho de agulha. Contudo, nenhuma dessas
duas atividades se encaixaria à nossa moderna noção de
decoração.
O bordador ou decorador tecia o pano com uma variedade de
cores e depois aplicava sobre ele um desenho. Assim, a parte
decorada do pano ficava de um lado do tecido. Em contraste, a
"obra de artista" era feita tecendo-se fio de ouro ou figuras
diretamente no tecido. Os judeus faziam este tipo sofisticado de
decoração somente nas vestes usadas pelos sacerdotes.
E. Tintura. Os israelitas estavam familiarizados com a
tintura na época de sua saída do Egito (cf. Êxodo 26:1,14; 35:25).
O processo de tingir está descrito em pormenores nos
monumentos egípcios; contudo, a Bíblia não apresenta relato
preciso de como os hebreus tingiam seus tecidos.
Com algumas exceções, o algodão e o linho eram usados sem
tingir. O algodão podia ser tinto de azul anil, mas o linho era mais
difícil de tingir. De quando em quando fios azuis decoravam o
que fora pano simples. Quando a Bíblia menciona a cor de um
tecido que não o azul, isso quer dizer que se tratava de lã.
As cores naturais que os judeus usavam para tingir eram
branco, preto, vermelho, amarelo e verde. O vermelho era uma cor
muito popular do vestuário hebreu.
A púrpura, tão famosa no antigo Oriente Próximo, vinha de
uma espécie de marisco do mar Mediterrâneo. Os hebreus tinham
em alta conta os artigos de púrpura, mas empregavam o termo
livremente para referir-se a toda cor de tom avermelhado. O Novo
Testamento diz-nos que Lídia, da cidade de Tiatira, era "vendedora
de púrpura" (Atos 16:14). Tiatira era famosa por seus tintureiros,
daí supormos que Lídia negociava com tecido de púrpura e talvez
fizesse seu próprio tingimento.
O CUIDADO DOS TECIDOS
Os tecidos eram lavados por lavandeiros nos tempos bíblicos.
O lavandeiro profissional limpava as vestimentas pisando nelas ou
batendo-as com um pedaço de pau numa tina de potassa usados j
como agentes de limpeza. Usavam-se também outras substâncias
para limpar, tais como álcali e greda. Para branquear as
vestimentas, os lavandeiros empregavam a "terra de lavandeiro".
O trabalho do lavandeiro criava um cheiro desagradável, por
isso era feito fora da cidade. Os lavandeiros lavavam e secavam as
roupas num lugar chamado "campo do lavandeiro", no lado norte
da cidade de Jerusalém. Seu abastecimento de água vinha do
açude superior de Giom, na parte norte da cidade. A Bíblia diz que
o rei da Assíria enviou soldados contra Jerusalém, partindo desta
direção (2 Reis ; 18:17). É interessante notar que o campo do
lavandeiro estava tão próximo dos muros da cidade que os
embaixadores assírios no campo podiam ser ouvidos das
muralhas.
VESTUÁRIO MASCULINO
Os israelitas quase não receberam influências das vestes dos
países vizinhos, visto que suas viagens eram limitadas. As modas
dos homens israelitas permaneceram quase inalteradas, geração
após geração.
A. Roupa de uso geral. Comumente, os homens judeus
usavam uma veste interior, uma exterior, um cinto e sandálias. Os
árabes atuais usam as mesmas vestes flutuantes e fazem a mesma
distinção entre vestimentas "interiores" e "exteriores" ― sendo as
vestimentas interiores de material leve e as exteriores de material
pesado e quente. Os árabes modernos fazem uma visível distinção
entre a roupa dos ricos e a dos pobres, sendo que os ricos usam
materiais mais finos.
1. Vestimenta interior. A "vestimenta interior" do homem
israelita assemelhava-se a uma camisa justa, apertada. A palavra
hebraica mais comum para esta vestimenta (kethoneth) é traduzida
variadamente como capa, manto, túnica e vestimenta. Era feita de
lã, de linho ou de algodão. As mais primitivas dessas vestes eram
feitas sem mangas e chegavam apenas até aos joelhos. Mais tarde,
a vestimenta interior estendeu-se até aos pulsos e os tornozelos.
Dizia-se estar nu o homem que usava apenas esta vestimenta
interior (1 Samuel 19:24; Isaías 20:2-4). O Novo Testamento
provavelmente se refere a esta vestimenta quando diz que Pedro
"cingiu-se com sua veste porque se havia despido, e lançou-se ao
mar" (João 21:7).
2. Cinto. O cinto do homem era uma cinta ou faixa de pano,
de corda, ou de couro, com 10 cm de largura, ou mais. Um
prendedor permitia-lhe ser afrouxado ou apertado. Os judeus
usavam o cinto de duas maneiras: como um laço em torno da
cintura da vestimenta interior ou ao redor da vestimenta exterior.
Quando usado em torno da vestimenta interior, muitas vezes era
chamado de pano do lombo ou pano da cintura. O uso do cinto
realçava a aparência da pessoa e impedia que os mantos longos e
flutuantes interferissem no trabalho diário e nos movimentos. A
expressão bíblica "cingir os lombos" significava colocar o cinto;
queria dizer que a pessoa estava pronta para o serviço (1 Pedro
1:13). Por outro lado, "desatar o cinto" significava que a pessoa
era preguiçosa ou estava descansando (Isaías 5:27).
3. Vestimenta exterior. Os homens hebreus usavam uma
"vestimenta exterior" que consistia numa faixa de pano quadrada
ou oblonga, de 2 a 3 metros de largura. Esta vestimenta (me'yil)
era chamada de capa, manto, túnica e vestimenta. Era enrolada no
corpo como uma coberta protetora, com dois cantos do material na
frente. A vestimenta exterior unia-se ao corpo com um cinto. Às
vezes os israelitas decoravam o cinto desta vestimenta exterior
com ricos e belos ornamentos de metal, pedras preciosas, ou
bordados. O pobre usava esta vestimenta exterior como roupa de
cama (Êxodo 22:26-27), O rico muitas vezes tinha uma vestimenta
exterior de linho finamente tecido, e o pobre uma vestimenta
grosseiramente tecida de pêlo de cabra.
Os homens judeus usavam franjas com fitas azuis na "borda"
(orla) desta vestimenta exterior (Números 15:38). As franjas
lembravam-lhes a constante presença dos mandamentos do
Senhor. Jesus referiu-se a essas franjas em Mateus 23:5;
evidentemente, os escribas e fariseus alargavam muito estas
franjas para que as pessoas pudessem ver quão fiéis eles eram em
cumprir os mandamentos do Senhor.
Muitas vezes os hebreus rasgavam a veste exterior em tempos
de pesar (Esdras 9:3, 5; Jó 1:20; 2:12).
O número de mantos de uma pessoa era medida da riqueza no
Oriente Próximo (cf. Tiago 5:2). Conseqüentemente, um grande
guarda-roupa indicava uma pessoa rica e poderosa, e a falta de
vestuário mostrava pobreza. Nesta conexão, observe Isaías 3:6-7.
4. Bolsa. A bolsa do homem era realmente formada pelo
cinto, com dupla costura e presa com uma fivela. A outra
extremidade do cinto era enrolada no corpo e depois enfiada na
primeira seção, que abria e fechava com uma correia de couro. O
conteúdo da bolsa era colocado debaixo da correia. O cinto de
Mateus 10:9 e o alforje de Marcos 6:8 referem-se a este tipo de
bolsa. Parece que os judeus também usavam um tipo de bolsa
separada do cinto (Lucas 10:4).
Os homens judeus usavam também uma sacola, que pode ter
sido semelhante à nossa bolsa moderna. Os pastores levavam o
alimento e outras utilidades neste tipo de saco. Parece que a sacola
era usada sobre o ombro. Foi numa sacola dessas que Davi levou
as cinco pedras para matar o gigante Golias (1 Samuel 17:40). É
provável que o alforje mencionado no Novo Testamento, levado
por pastores e viajantes, fosse feito de peles (Marcos 6:8).
5. Sandálias. O termo sandálias é usado apenas duas vezes
na Bíblia. Em sua mais simples forma, a sandália era um solado de
madeira preso com correias ou tiras de couro. Os discípulos de
Jesus usavam este tipo de sandálias (Marcos 6:9). Quando um anjo
apareceu a Pedro na prisão, ordenou-lhe que calçasse as sandálias
(Atos 12:8). Todas as classes de pessoas na Palestina usavam
sandálias ― mesmo os mais pobres. Na Assíria, as sandálias
cobriam também o calcanhar e o lado do pé. A sandália e a correia
eram tão comuns que simbolizavam a coisa mais insignificante,
como em Gênesis 14:23.
Sandálias. A maioria das pessoas nas terras antigas andavam
descalças ou usavam sandálias. Os pobres não podiam dar-se o
luxo de usar sapatos, visto que estes eram feitos de couro macio,
que era escasso. As sandálias eram de couro duro. Alguns pensam
que os israelitas faziam as solas de madeira, de cana ou junco, ou
de casca de palmeira, pregando-lhes correias de couro. Os
arqueólogos têm encontrado grande variedade de sandálias. As
desta foto são da Bretanha durante o tempo da ocupação romana;
observe os cravos na segunda sandália a partir da esquerda.
Os judeus não usavam as sandálias dentro de casa (Lucas
7:38); retiravam-nas ao entrar na casa, e lavar os pés. A retirada
das sandálias era também sinal de reverência; quando Deus falou
com Moisés da sarça ardente, disse-lhe que tirasse as sandálias dos
pés (Êxodo 3:5).
Os judeus consideravam carregar ou desatar as sandálias de
outra pessoa como uma tarefa muito humilde. Quando João
Batista falou da vinda de Cristo, disse: "O qual vem após mim, do
qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias" (João
1:27).
Andar sem sandálias era indício de pobreza (Lucas 15:22) ou
sinal de luto (2 Samuel 15:30; Isaías 20:2-4; Ezequiel 24:17, 23).
B. Vestes para ocasiões especiais. Os judeus ricos possuíam
diversos conjuntos de vestuário; cada conjunto compunha-se de
uma vestimenta interior e uma exterior. Alguns desses conjuntos
de vestuário eram feitos de tecido muito fino e eram usados sobre
vestimentas de várias cores (Isaías 3:22).
1. Mantos de honra. Amiúde, um homem ao ser empossado
numa posição de honra ou de importância recebia um manto
especial. José recebeu um manto assim quando foi colocado em
posição de liderança no Egito (Gênesis 41:42). Por outro lado, a
retirada de um manto indicava que o homem estava sendo
demitido de seu ofício. Um manto de fina qualidade era sinal de
honra especial na família (Lucas 15:22).
2. Vestes núpciais. Nas grandes ocasiões, o hospedeiro dava
vestes especiais a seus convidados. Nos casamentos judeus, por
exemplo, o hospedeiro fornecia vestes núciais a todos 08
convidados (Mateus 22:11). Às vezes, os nubentes usavam coroas
(Ezequiel 16:12).
3. Vestimentas de luto. Veja acima a seção sobre "pano de
saco".
4. Roupas de inverno. No inverno, os povos das terras
bíblicas usavam peles ou couro para fazer vestidos. Este tipo de
vestuário de inverno pode estar indicado em 2 Reis 2:8 e Zacarias
13:4. As peles de gado comum eram usadas pelas pessoas
paupérrimas (Hebreus 11:37), mas alguns mantos de pele eram
muito caros e faziam parte do guarda-roupa real.
Vestir-se de ovelha (pele de ovelha) sugeria inocência e
brandura; porém Mateus 7:15 fala de tal veste como símbolo do
disfarce de falsos profetas, que levavam o povo para o caminho
errado.
C. Ornamentos. Os judeus varões usavam braceletes, anéis,
correntes e colares de vários tipos. No Oriente Próximo, ambos os
sexos usavam cadeias de ouro como ornamento e símbolo de
dignidade. Os oficiais do governo colocaram tais cadeias em José
e em Daniel como símbolo de soberania (Gênesis 41:42; Daniel
5:29). Os judeus homens tinham uma paixão por melhorar sua
aparência pessoal, e amiúde usavam jóias para este fim. É
provável que a arte de joalheria tenha-se desenvolvido num
período bem primitivo (Números 31:50; Oséias 2:13).
1. Anéis. O judeu usava o anel como selo e símbolo de sua
autoridade (Gênesis 41:42; Daniel 6:17). Com o sinete ele
estampava seu selo pessoal nos documentos oficiais. Podia ser
usado num cordão em torno do pescoço ou no dedo. Os homens
também usavam anéis ou faixas nos braços (cf. 2 Samuel 1:10).
Nada menos que dez anéis foram encontrados numa das mãos
de uma múmia egípcia, indicando que o mercado de jóias era
muito ativo. Nas batalhas, os soldados tiravam braceletes e argolas
usadas nos tornozelos dos inimigos e os levavam como despojos.
Depois de matar a Saul, o amalequita trouxe a Davi o bracelete de
Saul como prova de sua morte (2 Samuel 1:10).
2. Amuletos. Nas nações supersticiosas do Oriente Próximo
muitas pessoas temiam espíritos imaginários. Para proteger-se,
usavam encantamentos mágicos. Os amuletos mencionados na
Bíblia eram brincos usados pelas mulheres (Gênesis 35:4; Juizes
2:13; 8:24), ou pingentes nas cadeias usadas pelos homens. O
amuleto continha palavras sagradas ou a figura de um deus.
Noutra forma de amuleto, as palavras eram escritas num papiro ou
pergaminho fortemente apertado e costurado nele com linho.
3. Filactérios. Para contrapor-se à prática idólatra de usar
amuletos, os varões hebreus começaram a usar filactérios. Havia
dois tipos de filactérios: um usado entre as sobrancelhas, e outro
no braço esquerdo. O que se usava na testa chamava-se frontal.
Tinha quatro compartimentos, cada um dos quais continha um
pedaço de pergaminho. No primeiro estava escrito Êxodo 13:1-10;
no segundo, Êxodo 13:11-16; no terceiro, Deuteronômio 6:4-9, e
no quarto, Deuteronômio, 11:13-21. Esses quatro pedaços de papel
eram embrulhados em pele de animal, fazendo um pacote
quadrado. Este pacotinho era então atado à testa com uma correia
ou fita. Essas passagens bíblicas continham ordens de Deus para
que se lembrassem de sua Lei e obedecessem a ela (p. ex.,
Deuteronômio 6:8).
O filactério que o homem usava no braço era feito de dois
rolos de pergaminho, nos quais as leis eram escritas com tinta
especial. O pergaminho era parcialmente enrolado, encerrado num
estojo preto de pele de bezerro, e atado com uma correia na parte
superior do braço, junto ao cotovelo. A correia era então enrolada
em torno do braço em linhas cruzadas, terminando na ponta do
dedo médio. Alguns judeus usavam os filactérios de manhã e de
noite; outros os usavam somente na oração matutina. Nos sábados
e em outros dias sagrados não se usavam os filactérios; esses dias
eram em si mesmos sinais sagrados, de sorte que era desnecessário
usá-los.
Jesus condenou a prática de alargarem "seus filactérios"
(Mateus 23:5). Os fariseus faziam seus filactérios maiores do que
o comum, para que os observadores casuais pensassem que eram
muito santos.
D. Penteado. Os varões hebreus consideravam o cabelo um
ornamento pessoal importante, por isso lhe dispensavam muito
cuidado e atenção. Os monumentos egípcios e assírios mostram
exemplos de arranjos esmerados do cabelo nessas culturas. Os
egípcios também usavam vários tipos de perucas. Porém vemos
uma importante diferença entre os penteados dos hebreus e dos
egípcios em Gênesis 41:14, onde se diz que José "se barbeou"
antes de apresentar-se a Faraó. Um egípcio ter-se-ia contentado
em pentear o cabelo e aparar a barba; mas os homens hebreus
cortavam o cabelo quase como o cortam hoje os homens do
Ocidente, usando um tipo primitivo de tesoura (2 Samuel 14:26).
A palavra cortava, neste texto, significa "cortar o cabelo da
cabeça" (tosar). Os judeus também usavam navalhas, como vemos
em Números 6:5.
Quando um judeu fazia um voto religioso, ele não cortava o
cabelo (cf. Juizes 13:5). Os israelitas não deviam cortar o cabelo
tão rente que se assemelhassem a deuses pagãos que tinham a
cabeça raspada. Nem deviam parecer-se com os nazireus, que se
recusavam a cortar o cabelo (Ezequiel 44:20). Nos tempos do
Novo Testamento, o cabelo comprido nos homens era considerado
contrário à natureza (1 Coríntios 11:14).
Amiúde os homens aplicavam óleo perfumado ao cabelo
antes de festivais ou de outras ocasiões jubilosas (Salmo 23:5).
Jesus menciona este costume em Lucas 7:46, quando diz: "Não me
ungiste a cabeça com óleo..."
O homem judeu também dispensava muita atenção ao
cuidado da barba. Era insulto tentar tocar a barba de um homem,
exceto ao beijá-la respeitosa e afetuosamente como sinal de
amizade (2 Samuel 20:9). Arrancar a barba, cortá-la inteiramente,
ou descurar de apará-la eram expressões de profundo lamento (cf.
Esdras 9:3; Isaías 15:2; Jeremias 41:5). Os homens egípcios e
romanos preferiam rostos barbeados, embora os governantes
egípcios usassem barbas artificiais.
E. Ornato para a cabeça. Evidentemente, os varões judeus
usavam ornato para a cabeça em ocasiões especiais (Isaías 61:3),
nos dias de festa, ou em tempos de lamentação (2 Samuel 15:30).
Pela primeira vez vemos mencionado o ornato para a cabeça em
Êxodo 28:40, como parte das vestes sacerdotais.
Os varões hebreus provavelmente usavam uma cobertura para
cabeça somente em raras ocasiões, embora os egípcios e os
assírios as usassem com freqüência. Alguns antigos ornatos para a
cabeça eram muito trabalhados, especialmente os usados pela
realeza. O egípcio comum usava um ornato simples que consistia
num pano quadrado, dobrado de modo que três cantos caíssem
sobre as costas e ombros. Este pode ter sido o tipo usado pelos
hebreus.
Os assírios usavam um ornato muito semelhante a um
turbante alto (Ezequiel 23:15). Os sírios em Damasco muito
provavelmente usava o turbante.
Túnica. A túnica, vestimenta interior semelhante ao quimono,
chegando até aos joelhos ou aos tornozelos, era usada junto à pele.
Tanto homens como mulheres usavam túnicas feitas de algodão,
de linho ou de lã. Presa ao corpo por um cinto (geralmente uma
cinta de couro), a túnica podia ser a única vestimenta usada pelos
pobres em clima quente. Contudo, os ricos nunca apareciam em
público sem as vestimentas exteriores.
VESTUÁRIO FEMININO
As mulheres usavam roupas muito semelhantes às dos
homens. Contudo, a lei proibia estritamente a uma mulher usar
qualquer coisa que se julgasse pertencer particularmente a um
homem, tal como o sinete e outros ornamentos. De acordo com
Josefo, historiador judeu, também se proibia às mulheres usar as
armas de um homem. Por semelhante modo, era proibido aos
homens usar o manto exterior de uma mulher (Deuteronômio
22:5).
A. Vestimenta interior. Esta vestimenta era usada por ambos
os sexos, e era feita de lã, de algodão ou de linho.
B. Vestimenta exterior. A vestimenta exterior da mulher
hebréia diferia da do homem. Era mais comprida, com borda e
franja suficientes para cobrir os pés (Isaías 47:22). Prendia-se à
cintura por um cinto. Como no caso dos homens, a vestimenta da
mulher podia ser feita de materiais diferentes, de acordo com a
condição social da pessoa.
A frente da vestimenta exterior da mulher era comprida
bastante para que pudesse colocá-la sobre o cinto e servir de
avental. A palavra avental (ERC) aparece pela primeira vez em
Gênesis 3:7, quando Adão e Eva coseram para si aventais de
folhas de figueira. Esta peça de vestuário pode, em certa medida,
parecer-se com nosso moderno avental. O avental podia ter sido
usado para proteger as vestes durante o trabalho, ou para
transportar alguma coisa (cf. Rute 3:15).
C. Véu. As hebréias não usavam véu todo o tempo, como
agora é costume em muitas das terras do Oriente Próximo. Usar
véu era um ato de modéstia, geralmente a indicar que a mulher
não era casada. Quando Rebeca viu a Isaque pela primeira vez,
não estava usando véu; porém ela se cobriu com um véu antes que
Isaque a visse (Gênesis 24:65). As mulheres dos tempos do Novo
Testamento cobriam a cabeça durante o culto, mas não
necessariamente o rosto (1 Coríntios 11:5).
D. Lenço. A palavra hebraica para lenço (mispachoth) podia
ser mais bem traduzida como guardanapo ou toalha. Esses panos
eram usados para envolver coisas que eram levadas (Lucas 19:20),
para enxugar o suor do rosto, ou para cobrir a face do morto.
Alguns comentaristas acham que o lenço era preso sob o
queixo e no topo da cabeça para impedir que a maxila do defunto
decaísse (João 11:44). João 20:7 diz que o lenço que cobria o rosto
do Senhor foi encontrado enrolado num lugar à parte dos lençóis.
Amiúde as mulheres das modernas nações do Oriente
Próximo levam lenços com belos trabalhos de agulha. Este pode
também ter lido o costume nos tempos antigos.
E. Sandálias. As mulheres judias usavam sandálias, como o
faziam os homens. Havia muitas variações da sandália comum. A
sola podia ser feita do couro duro do pescoço do camelo. Às vezes
diversas camadas de couro eram costuradas juntas.
Um tipo de sandália de mulher tinha duas correias: uma
passava entre o dedão e o segundo dedo, e a outra passava em
tomo do calcanhar e sobre o peito do pé. Este calçado podia ser
facilmente tirado quando se entrava em casa.
F. Ornamentos. A Bíblia menciona jóias pela primeira vez
quando o servo de Abraão presenteou a Rebeca com brincos e
pulseiras (Gênesis 24:22). Jeremias descreveu bem a atração que a
mulher judia tinha pelas jóias, quando disse: "Acaso se esquece a
virgem dos seus adornos?" As mulheres hebréias usavam
pulseiras, colares, brincos, anéis de nariz, e cadeias de ouro. Isaías
3:16, 18, 23 dá um quadro gráfico da mulher ornamentada de
acordo com a moda dos tempos do Antigo Testamento,
1. Braceletes. Tanto as mulheres como os homens hebreus
usavam braceletes ou pulseiras (Gênesis 24:30). Hoje, os povos do
Oriente Próximo consideram o bracelete de uma mulher como
emblema de elevado status ou realeza, como provavelmente era no
tempo de Davi (2 Samuel 1:10). O bracelete real por certo era
feito de metal precioso, como ouro, e era usado acima do cotovelo.
O bracelete da mulher comum podia ter sido usado no pulso,
como o é hoje (Ezequiel 16:11). Em sua maioria, os braceletes das
mulheres eram redondos para deslizar sobre a mão. Alguns
braceletes eram feitos de duas partes que se abriam numa
dobradiça e se fechavam com um laço ou alfinete. Os braceletes
variavam de tamanho, desde alguns centímetros de largura até
faixas estreitas.
2. Argolas de tornozelo. Era tão comum as mulheres usarem
argolas no tornozelo como usarem braceletes. Essas argolas eram
feitas quase dos mesmos materiais (Isaías 3:16, 18, 20). Algumas
argolas tilintavam um som musical quando as mulheres andavam.
As mulheres da classe alta usavam argolas ocas cheias de
pedrinhas, de modo que se podia ouvir o som de matraca quando
andavam.
3. Brincos. Não temos certeza quanto à forma dos brincos
hebreus, mas textos das Escrituras sugerem que eram redondos (p.
ex., Gênesis 24:22). Os brincos egípcios eram geralmente grandes
aros de ouro, de 3 a 5 cm de diâmetro. Vez por outra os aros eram
presos juntos ou se adicionavam pedras preciosas para causar
sensação.
As nações pagas às vezes usavam brincos como amuletos.
(Veja-se a seção sobre "Amuletos".) Vemo-lo quando a família de
Jacó se foi de Siquém para Betel (Gênesis 35:4), e abandonaram
seus brincos.
4. Jóias de nariz. O anel ou jóia de nariz da mulher era um
dos mais antigos ornamentos do Oriente. O anel era feito de
marfim ou de metais preciosos, amiúde incrustados de jóias. Às
vezes, essas jóias de nariz tinham diâmetro superior a 6 cm e
pendiam sobre os lábios da mulher. O costume de usar anéis de
nariz ainda existe em algumas partes do Oriente Próximo,
principalmente entre dançarinas e as mulheres de classes
inferiores. Contudo, não temos evidência de que as mulheres
hebréias usassem anéis de nariz.
5. Alfinetes de ondular. A palavra hebraica (charitim), que a
Edição Revista e Corrigida (Almeida) em Isaías 3:22 traduz como
"alfinetes", e em 2 Reis 5:23 é traduzida como "sacos", é
empregada somente essas duas vezes na Bíblia. Não se sabe que
tipo de jóia podia ter sido, nem mesmo que fosse um tipo de jóia.
6. Cosméticos e perfumes. As mulheres egípcias e assírias
usavam tinta como cosmético.
Coloriam as pestanas e as
beiradas das pálpebras com um pó fino preto umedecido com
azeite ou vinagre, para obter um efeito um tanto semelhante à
sombra moderna.
As mulheres hebréias também pintavam as pestanas. Mas esta
prática era geralmente vista com desdém, como no caso de Jezabel
(2 Reis 9:30). A pintura dos olhos é desdenhosamente mencionada
em Jeremias 4:30 e Ezequiel 23:40.
Algumas mulheres tingiam os dedos da mão e do pé com
hena. Isto era especialmente verdadeiro em se tratando das
egípcias, que também tatuavam as mãos, os pés e o rosto.
As mulheres antigas usavam perfume quase da mesma
maneira que as mulheres usam hoje. As fontes comuns de perfume
nos tempos bíblicos eram o incenso e a mirra da Arábia e da
África, o aloés e o nardo da índia, o cinamono de Ailom, o
gálbano da Pérsia, estoraque e açafrão da Palestina. O perfume era
um valioso artigo de comércio (cf. Gênesis 37:25).
Êxodo 30:34-38 diz que os hebreus fabricavam um perfume
usado nos rituais do tabernáculo. Mas a Lei proibia o uso pessoal
deste perfume.
7. Penteado. O apóstolo Paulo disse que o cabelo era um
véu natural, ou mantilha, para a mulher; ele dá a entender que no
seu tempo era vergonhoso uma cristã cortar o cabelo (1 Coríntios
11:15). As mulheres usavam o cabelo longo e trançado. O
Talmude menciona que as judias usavam pentes e grampos.
Entre as egípcias e assírias, os penteados eram muito mais
trabalhados do que os usados pelas hebréias, conforme mostram
os monumentos da época.
8. Ornato para a cabeça. As judias usavam algum tipo de
ornato para cabeça, mas o apóstolo Paulo insistiu em que as cristãs
se vestissem com modéstia (1 Timóteo 2:9). As mulheres podem
ter usado ouro ou jóias como ornamentos do cabelo (1 Pedro 3:3);
segundo era o costume das mulheres dos países vizinhos.
O véu que as judias às vezes usavam mal podia ser
considerado um ornato para a cabeça, embora realmente a
cobrisse. Em contraste, esse ornato para outras mulheres do
Oriente Próximo era esmerado e caro, dependendo da riqueza e da
posição social de quem o usava.
VESTES SACERDOTAIS
A veste sacerdotal era muito diferente da veste do judeu
comum. Além do mais, a vestimenta do sumo sacerdote diferia
daquela do sacerdote comum.
A. Calções. Entre os hebreus, só os sacerdotes usavam
calções. Em alguns países vizinhos, tanto os calções como as
calças eram usados pelos homens comuns.
Os judeus usavam linho fino para fazer esta vestimenta
sacerdotal. Evidentemente, servia como roupa de baixo de sorte
que o sacerdote não ficasse exposto quando subia os degraus do
templo para ministrar no altar (Êxodo 28:42-43). Esta vestimenta
de baixo cobria o corpo do sacerdote desde a cintura até aos
joelhos. Em vez de calças, os "calções" provavelmente eram um
avental duplo. Outras referências a calções encontram-se em
Êxodo 39:28; Levítico 6:10; 16:4; e! Ezequiel 44:18.
B. Sobrepeliz ou manto. Os sacerdotes usavam também
mantos de linho fino durante o serviço no templo. Essas
vestimentas vinham do tecelão que fazia a peça inteiriça. Eram
presas à cintura por um cinto decorado com trabalho de agulha
(Êxodo 38:31-34). A vestimenta de Jesus era também um manto
sem costura, simbolicamente mostrando seu sacerdócio universal
(João 19:23; Hebreus 4:14-15). O manto ou ] túnica do sacerdote
chegava quase a cobrir os pés e era tecido num] formato de
losango ou xadrez.
C. Tiara. O sacerdote comum usava uma tiara. Esta peça era
feita 3 de linho fino (Êxodo 39:28). A palavra hebraica
(migbaoth), da qual sei traduziu tiara, significa "ser sublime".
D. Calçado. Durante o culto, os sacerdotes ficavam
descalços. Antes de entrarem no tabernáculo, deviam lavar as
mãos e os pés "Pôs a bacia entre a tenda da congregação e o altar,
e a encheu água, para se lavar. Nela Moisés, Arão e seus filhos
lavavam as mãos e os pés" (Êxodo 40:30-31). A área na qual os
sacerdotes ficavam era considerada solo sagrado, como foi no caso
de Moisés e a sarça ardente (Êxodo 3:5).
E. Cuidado do cabelo. Vemos, em Levítico 21:5, que a
calvície desqualificava um homem para o exercício do sacerdócio.
Não permitido ao sacerdote rapar a cabeça ou rasgar as suas vestes
mesmo para chorar a morte do pai ou da mãe (Levítico 21:10-11).
VESTES DO SUMO SACERDOTE
Um dos característicos que separavam o sumo sacerdote do
sacerdote comum era o espargir de suas vestes com o óleo da
unção (Êxodo 28:41; 29:21). Quando o sumo sacerdote falecia
suas vestes passavam ao seu sucessor.
As vestimentas do sumo sacerdote compunham-se de sete
peças ― a estola, a sobrepeliz, o peitoral, a mitra, a túnica
bordada, o cinto e os calções (Êxodo 28:4, 42).
Fabricação de roupas. A roupa usada pelos hebreus servia como
símbolo externo dos sentimentos e desejos íntimos do indivíduo.
As ocasiões festivas e alegres pediam cores vivas, enquanto a
pessoa enlutada vestia pano de saco, o mais pobre tipo de
vestimenta. As famílias israelitas faziam a maior parte de sua
própria roupa. Nesta cena doméstica, o pai está fazendo sandálias
de couro enquanto a mãe costura uma túnica do material que ela
teceu.
A. Estola. As vestes do sumo sacerdote eram feitas de linho
simples (1 Samuel 2:18; 2 Samuel 6:14), como o eram as vestes de
todos os sacerdotes. A estola, porém, era feita de "ouro, estofo
azul, púrpura, carmesim e linho fino retorcido" (Êxodo 28:6). Isto
indica que ela era uma mistura de lã e linho, visto que o linho só
podia ser tingido de azul. A "obra esmerada" significa algum tipo
de bordado.
A estola dividia-se em duas partes. Uma parte cobria as
costas e a outra o peito do usuário. A vestimenta era presa nos
ombros por uma grande pedra de ônix.
O cinto da estola era feito de estofo azul, púrpura e carmesim
entretecido com fio de ouro (Êxodo 28:8).
B. Sobrepeliz da estola. A sobrepeliz da estola era de
material inferior ao da estola, tingida de azul (Êxodo 39:22). Era
usada sob a estola e mais comprida do que esta. A sobrepeliz não
tinha mangas, A penas aberturas nos lados para os braços.
A orla desta vestimenta tinha uma franja de romãs de estofo
azul, púrpura e carmesim, com uma campainha de outro entre uma
romã e outra. Essas campainhas eram presas à orla da sobrepeliz
do sumo sacerdote para que se pudesse ouvir quando ele entrava
no lugar santo ou de lá saía (Êxodo 28:32-35).
C. Peitoral. O peitoral do sumo sacerdote acha-se descrito
com pormenores em Êxodo 28:15-30. Era uma peça de material
bordado, com cerca de 25 cm de lado, quadrado e duplo formando
um saco ou bolsa.
Esta vestimenta sacerdotal era adornada com doze pedras
preciosas, cada uma delas trazendo o nome de uma das doze tribos
de Israel (Êxodo 28:17-21). Os dois cantos inferiores eram presos
ao cinto. Os anéis, as cadeias e outros prendedores eram de ouro
ou de cordão de fina qualidade.
O peitoral e a estola eram chamados de "memória" (Êxodo
28:12, 29), porque lembravam ao sacerdote seu relacionamento
com as doze tribos de Israel. Também era chamado "peitoral do
juízo" (Êxodo 28:15), talvez porque fosse usado pelo sacerdote,
que era porta-voz da justiça e juízo de Deus à nação judaica.
Também pode ter sido assim; chamado porque ele provia um
receptáculo para o urim e o tumim, os oráculos sagrados que
mostravam os juízos de Deus sobre os homens (cf. Números
26:55; Josué 7:14; 14:2; 1 Samuel 14:42).
D. Mitra. A mitra, ou turbante superior, era o ornato oficial
para a cabeça do sumo sacerdote (Êxodo 28:39). Era feita de linho
fino, tinha muitas dobras, e seu comprimento total era de cerca de
7,3 m.
Este pano comprido era enrolado em torno da cabeça na
forma turbante. Na frente da mitra estava uma lâmina de ouro com
as palavras hebraicas "Santidade ao Senhor" (Êxodo 28:36-43;
39:28, 30).
E. Túnica bordada, cinto e calções. Esta túnica especial era
de orla comprida, feita de linho, e bordada com um desenho como
se nela houvessem pedras (Êxodo 28:4). Os sacerdotes comuns
também usavam esta vestimenta.
O cinto das vestes do sumo sacerdote era enrolado em torno
corpo diversas vezes, desde o peito em sentido descendente,
pontas do cinto pendiam até aos tornozelos (Êxodo 29:5). Sob
vestes sacerdotais, o sumo sacerdote usava o mesmo tipo de
calções que o sacerdote comum.
Túnica. A túnica era um manto exterior com mangas. O cinto ―
às vezes ornamentado com metais preciosos, pedras ou bordado
― prendia esta vestimenta ao corpo
9. ARQUITETURA E MOBILIÁRIO
Os povos modernos admiram a arquitetura clássica grega e
romana, com suas altas colunas de mármore e arcos
esmeradamente decorados. Mas Israel produziu muito pouca
arquitetura que pudéssemos chamar de inovadora ou que causasse
admiração. Os israelitas projetavam seus edifícios e móveis para
servir às suas necessidades diárias, pouco se importando com os
aspectos estéticos. Não obstante, seus edifícios e móveis dizemnos algo do estilo de vida das pessoas.
As mais comuns habitações do mundo antigo eram tendas,
formadas por postes fincados no chão e tendo uma cobertura de
pano ou de pele. O morador de tenda usava cordas para prender
esta cobertura nas estacas enterradas no solo (cf. Isaías 54:2). Às
vezes usavam-se cortinas para dividir as tendas em quartos e
cobria-se o chão com esteiras ou tapetes. A porta era uma dobra de
pano que podia ser retirada ou levantada. O tendeiro acendia o
fogo num buraco no chão no meio da tenda. Seus utensílios de
cozinha eram poucos e simples, e facilmente transportáveis.
Quando as pessoas começaram a fixar-se nas cidades,
construíram lares mais permanentes. Evidentemente, bem cedo
desenvolveram habilidades arquitetônicas. Mesmo depois que os
cananeus e assírios deram início à construção de cidades, os
hebreus ainda viviam em tendas. Só foram abandonar seus hábitos
simples depois da conquista da Terra Prometida. Nessa época
ocuparam as casas deixadas pelos cananeus.
Diz a Bíblia que os israelitas construíram casas grandes e
caras na Judéia (cf. Jeremias 22:14; Amós 3:15; Ageu 1:4). Essas
casas, porém, pertenciam a pessoas abastadas; muitos ainda
viviam em tendas ou em abrigos rudimentares.
Os ricos construíam suas casas em forma de claustro, isto é,
em torno de um pátio aberto. A pessoa entrava na casa por uma
porta que geralmente se mantinha fechada, sob os cuidados de
alguém que atuava como porteiro (cf. Atos 12:13). Esta porta dava
para um alpendre mobiliado com cadeiras ou bancos. Caminhavase pelo alpendre até um pequeno lance de escadas que conduzia às
câmaras e ao pátio quadrangular aberto.
O PÁTIO CENTRAL
O pátio era o centro da casa judaica. Provavelmente era aqui
que Jesus se encontrava quando um grupo de homens baixou um
paralítico "para o meio", ao alcance do Senhor (Lucas 5:19). O
pátio era projetado para permitir a entrada de luz e ar nos quartos
ao redor. O piso do pátio era pavimentado com ladrilho ou pedra
para escoar a água da chuva que podia entrar pela clarabóia. Às
vezes o dono da casa construía o pátio ao redor de uma fonte ou
poço (cf. 2 Samuel 17:18).
Multidões se congregavam no pátio do hospedeiro em
ocasiões festivas (cf. Ester 1:5). Geralmente o hospedeiro fornecia
tapetes, esteiras e cadeiras para seus convidados, e podia até
estender um toldo sobre a clarabóia.
Os quartos circundantes abriam somente para o pátio, por
isso a pessoa tinha de cruzá-lo quando entrava na casa ou dela
saía. Em séculos posteriores, os construtores começaram a
construir sacadas ou galerias fora dos quartos que davam frente
para o pátio central.
Uma escada simples de pedra ou de madeira levava do pátio para
os quartos de cima, e para o terraço. As casas maiores podiam ter
mais de um lance de escadas.
A. Os aposentos do dono. No lado do pátio que dava frente
para a entrada estava a sala de recepção do dono da casa. Era
belamente mobiliada com uma plataforma elevada e um diva nos
três lados, que servia de cama de noite e de assento durante o dia.
Os hóspedes que entravam retiravam as sandálias antes de pisar a
parte elevada da sala.
Os cômodos destinados à esposa e às filhas geralmente
ficavam na parte de cima, mas às vezes estavam no mesmo nível
do pátio central. Ninguém, exceto o dono da casa, podia entrar
nestas dependias. Visto como o proprietário efetuava a maior
despesa nessas dependências, elas eram às vezes chamadas
"castelos da casa" (1 Reis 1 Reis 15:25), ou "casa das mulheres"
(Ester 2:3; cf, 1 Reis 7:8-12)
B. Dependências domésticas. Supomos que na Judéia
antiga, como na Palestina hoje, as pessoas usavam o pavimento
térreo para fins domésticos ― guardar mantimentos, alojar os
criados, e assim por diante. Esses cômodos do andar térreo eram
pequenos e mal mobiliados.
OS QUARTOS SUPERIORES
Subindo-se a escada até ao segundo pavimento, verificava-se
que os cômodos eram grandes e arejados, e amiúde mobiliados
com muito maior elegância do que os quartos de baixo. Esses
cômodos superiores também eram mais altos e maiores do que os
inferiores, projetando-se sobre a parte de baixo do edifício de sorte
que suas janelas davam para a rua. Eram separados, espaçosos e
muito confortáveis.
Paulo pregou seu sermão de despedida numa sala assim.
Podemos! imaginar que as pessoas tinham de formar dois círculos
ou fileiras, ficando o círculo exterior junto à parede. As pessoas
deste círculo deitavam-se sobre almofadas ao lado do batente da
janela. Nessa posição dormiu Êutico e caiu na rua (Atos 20:7-12).
A. A alliyah. Às vezes os judeus construíam outra estrutura
chamada alliyah sobre o alpendre ou sobre o portão de entrada da
casa. Consistia em apenas um ou dois quartos, e sua altura era de
um pavimento acima da casa principal. O dono da casa usava-a
para receber estranhos, para guardar roupas, ou para descanso e
meditação. Provavelmente Jesus se referia à alliyah quando falou
de entrar no "quarto" para orar (Mateus 6:6). Degraus conduziam
diretamente da rua à alliyah, mas outro lance de escada ligava a
alliyah com o pátio central da casa. A alliyah providenciava um
lugar muito mais privado para adoração do que o eirado principal
da casa, que podia ser ocupado por toda a família.
A Bíblia pode referir-se à alliyah quando menciona o
"pequeno quarto" de Eliseu (2 Reis 4:10), a "sala de verão" de
Eglom (Juizes 3:20-23), a "sala que estava por cima da porta" (2
Samuel 18:33), a "sala" de Acaz, sobre o terraço (2 Reis 23:12), e
a "câmara" onde Ben-Hadade se escondeu (1 Reis 20:30).
Esboço de uma casa. Este desenho retrata uma residência grande
numa antiga aldeia israelita. , casa do israelita médio, segundo os
padrões modernos, era pequena e desconfortável. Um ponto
favorito para descontração era o eirado, ao qual se chegava por
uma escada de pedra ou por uma escada simples de madeira.
B. O terraço ou eirado. O terraço era uma parte importante
da casa nos tempos bíblicos. Podia-se subir até lá por um lance de
escada junto à parede exterior. Na maioria dos casos o terraço era
plano; mas às vezes os construtores faziam abóbadas sobre os
quartos mais importantes. A lei judaica exigia que cada casa
tivesse um parapeito ou gradil ao redor do terraço para evitar que
alguém caísse (Deuteronômio 22:8). As casas adjacentes muitas
vezes usavam o mesmo terraço, e pequenos muros sobre o terraço
assinalavam os limites de cada casa.
Os construtores cobriam os terraços com um tipo de
argamassa que se endurecia ao sol. Caso rachasse, o dono da casa
tinha de espalhar uma camada de capim sobre o eirado para evitar
goteiras de chuva (cf. 2 Reis 19:26; Salmo 129:6). Alguns terraços
eram cobertos por telhas ou ladrilhos lisos.
Os israelitas usavam os terraços como local de retiro e
meditação (Neemias 8:16; 2 Samuel 11:2; Isaías 15:3; 22:1;
Jeremias 48:38). Nos terraços eles secavam linho, cana de Unho,
grão, figos e outras frutas (Josué 2:6). Às vezes armavam tendas
nos terraços e aí dormiam de noite (2 Samuel 16:22).
As pessoas usavam os eirados para tratar de assuntos
privados (1 Samuel 9:25). Também iam ali para adoração privada
(Jeremias 19:13; 2 Reis 23:12; Sofonias 1:5; Atos 10:9) e para
fazer proclamações públicas ou para chorar a perda de entes
queridos (Jeremias 48:38; Lucas 12:3).
JANELAS E PORTAS
Nas casas antigas, as janelas eram simplesmente aberturas
retangulares na parede que davam para o pátio central ou para a
rua. Às vezes os israelitas construíam uma sacada ou alpendre ao
longo da frente da casa, cuidadosamente fechada por treliças. Só
abriam a janela da sacada para as festas e outras ocasiões
especiais. Supomos que Jezabel contemplava de uma janela
exterior assim quando foi agarrada e morta por Jeú (2 Reis 9:3033). Provavelmente esta janela é o que se chama "grades"
(Provérbios 7:6, Cantares 2:9). Os israelitas não tinham janelas
com vidro, porque este artigo era muito caro.
As portas das casas antigas não tinham dobradiças. O fecho
da porta projetava-se como um eixo redondo na parte de cima e na
de baixo. A extremidade superior deste eixo ajustava-se num
encaixe na verga e a inferior entrava num encaixe no batente.
Almeida (versão Atualizada) emprega as palavras dobradiças e
gonzos para referir-se ao eixo da porta (1 Reis 7:50; Provérbios
26:14).
Muitas vezes os construtores colocavam fechadura com
chave na porta principal da casa. As chaves antigas eram feitas de
madeira ou metal, e algumas eram tão grandes que eram notórias
quando levadas em público (Isaías 22:22). Os tesoureiros e outros
oficiais públicos levavam essas enormes chaves como símbolo de
seu elevado ofício.
LAREIRAS
As casas antigas não tinham chaminés, muito embora
algumas versões da Bíblia usem esta palavra em Oséias 13:3. A
fumaça produzida escapava através de furos no teto e nas paredes.
A parte central da lareira, um pequeno forno ou braseiro de metal,
não era um acessório permanente (cf. Jeremias 36:22-23). Visto
que o braseiro era fácil de transportar de um lugar para outro, os
reis e generais amiúde usavam-no em campanhas militares.
Parapeito de janela. Encontrada em Ramate-Rael, no sul de
Israel, esta fileira de colunas de pedra calcária (cerca de 600 a.C.)
parece ter sido o parapeito de uma janela. Provavelmente era
pintada de vermelho, visto como se encontraram vestígios de tinta
vermelha nos pedaços dos quais se reconstruíram estas colunas
que enfeitavam o palácio do rei Jeoaquim.
Mesa de Jericó. Um túmulo em Jericó continha esta mesa
comprida com duas pernas numa ponta e uma na outra.
O Pártenon
O Pártenon de Atenas é um dos mais belos exemplos da
arquitetura grega clássica. Representa fisicamente o método
racional, harmonioso dos gregos antigos de considerar a vida.
Mais ainda, é uma maravilha de desenho arquitetônico.
Os gregos erigiram pelo menos uma estrutura prévia no local
do Pártenon em 488 a.C, quando planejaram uma estrutura maciça
como oferta de gratidão por sua vitória sobre os persas em
Maratona. O alicerce de pedra calcária deste edifício estendia-se
mais de 6 m na rocha da Acrópole. A maior parte da obra que fica
acima do solo neste sítio foi, porém, destruída quando os persas
saquearam a Acrópole em 480 a.C.
Os gregos começaram a trabalhar no Pártenon no ano 447 a.
C. e o terminaram em 438 a. C. Fizeram da estrutura o templo
principal na Acrópole por volta de 432 a. C, quando o dedicaram a
Atena Partenos, deusa padroeira de Atenas. A construção deste
edifício foi feita com fundos levantados pelo governo de Péricles.
O edifício foi projetado para criar uma ilusão de óptica. Os
topos das colunas dóricas do Pártenon inclinam-se para o centro
de cada colunata, os degraus se curvam para cima no centro, e as
colunas têm maior espaço no centro de cada fileira do que no
extremo. Isto faz as colunas parecerem uniformemente espaçadas.
(Se elas tivessem sido, de fato, uniformemente espaçadas, o
ângulo de perspectiva tê-las-ia feito parecer desiguais.)
Há oito colunas em cada extremo do Pártenon e dezessete em
cada lado. O Pártenon tem uma área central, ou cella, que por sua
vez é dividida em câmaras. Originariamente uma colunata interior
sustentava a grande estátua cultuai de Atena, uma obra-prima do
escultor Fídias. Esta estátua não sobreviveu, mas sabemos de sua
aparência geral mediante reproduções menores e através de muitas
representações em moedas antigas. A estátua foi vista e descrita
pelo viajante Pausânias no segundo século A. D.
Todo o Pártenon é feito de mármore, inclusive as telhas do
teto. Os gregos não usaram argamassa ou cimento na estrutura;
eles ajustaram blocos de mármore com a maior precisão e os
prenderam com grampos e pinos de metal.
Uma faixa ornamental de escultura de baixo-relevo (friso)
decora o Pártenon. Essas decorações representam combates entre
os deuses tais como Zeus, Atena e Posêidon. Também retratam
cavaleiros montados, grupos de carruagens, e cidadões de Atenas.
Os gregos usaram cor para realçar a beleza do Pártenon. O
teto da colunara era colorido de vermelho, azul e ouro ou amarelo.
Uma faixa que corria junto ao friso era colorida de vermelho, e a
cor acentuava a escultura e os acessórios de bronze no interior do
edifício.
O Pártenon teve uma história variada. Já em 298 a.C,
Lachares retirou as lâminas de ouro da estátua de Atena. No ano
426 A. D. o Pártenon foi transformado num templo cristão, e os
turcos o transformaram numa mesquita em 1460. Em 1687 08
venezianos, que combatiam os gregos, usaram o Pártenon como
paiol de pólvora, e acidentalmente provocaram uma explosão que
destruiu a parte central do edifício. Nenhum reparo importante se
fez até 1950, quando engenheiros repuseram as colunas no lugar e
consertaram a colunata do norte.
MÉTODOS DE CONSTRUÇÃO
Descrevemos uma casa típica de pessoas abastadas. As casas
não seguiam um modelo rígido; algumas eram mais trabalhadas do
que a que apresentamos, e outras mais simples. Os métodos de
construção de casas dos israelitas eram, porém, tradicionais.
Estábulos. Os arqueólogos descobriram em Megido estas ruínas
de um extenso complexo! estábulos, com capacidade para alojar
nada menos que 480 cavalos. Este é o estábulo que dá pai norte,
constituído de cinco unidades e com capacidade para cerca de
vinte e quatro cavalos! princípio, os escavadores atribuíram esses
estábulos a Salomão; mas investigação posterior mostrou que eles
datam do tempo de Acabe, diversas gerações depois.
A. Lares dos abastados. Os materiais de construção eram
abundantes na Palestina. Os proprietários endinheirados podiam
obter facilmente pedra, tijolo e a melhor madeira para o trabalho
ornamental de suas casas. Muitas vezes usavam pedra lavrada e
mármore polido (1Crônicas 29:2; Ester 1:6). Também
empregavam grandes quantidades de cedro para forrar paredes e
tetos, frequentemente adornados de ouro, prata e marfim (Jeremias
22:14; Ageu 1:4). Talvez sua paixão pelo marfim explique as
referências bíblicas a "casas de marfim" e "palácios de marfim" (p.
ex., 1 Reis 22:39; Salmo 45:8; Amós 3:15).
Os ricos proprietários de terras também construíam "casas de
inverno" e "casas de verão" para seu conforto nessas estações (cf.
Amós 3:15). Construíam as casas de verão parcialmente
subterrâneas e as pavimentavam com mármore. Essas casas
geralmente possuíam fontes no átrio central, e eram construídas de
modo a permitir a entrada de ar fresco. Isto as tornava muito
refrescantes nos dias tórridos do verão. Pouco sabemos acerca das
casas de inverno.
Temos uma rápida visão do método típico de construção dos
tempos do Antigo Testamento quando lemos como Sansão
destruiu um templo dos filisteus (Juízes 16:23-30). Os inimigos de
Sansão levaram-no para o átrio central do templo, que estava
cercado por uma série de sacadas, cada qual sustentada por uma
ou duas colunas. Aqui os oficiais do estado se reuniam para
realizar negócios públicos e proporcionar entretenimentos para o
povo. Se as colunas desmoronassem, o edifício tombava e as
pessoas que estavam nas sacadas cairiam ao pavimento inferior.
B. Lares dos pobres. As casas do povo comum eram choças
de apenas um cômodo com paredes de taipa. Os construtores
reforçavam essas paredes com hastes de junco, ou com estacas
recobertas de barro. Por isso as paredes eram muito inseguras, e
freqüentemente se tornavam ninhos de serpentes e de insetos
nocivos (cf. Amós 5:19). A família ocupava o mesmo cômodo
com os animais, embora às vezes dormissem numa plataforma
acima destes. As janelas eram pequenas aberturas no alto das
paredes, talvez trancadas.
A Bíblia adverte contra a "lepra na casa" (Levítico 14:34-53),
que provavelmente era uma reação química nas paredes de taipa
dessas casas mais pobres. Os israelitas entendiam que esta "lepra"
podia prejudicar-lhes a saúde, por isso os sacerdotes lhes
ordenaram que a removessem.
Os camponeses faziam as portas de suas casas muito baixas e
as pessoas tinham de curvar-se para entrar nelas. Isto impedia a
entrada de animais selvagens e de inimigos. Dizem alguns que era
um meio de prevenir que bandos de árabes nômades invadissem as
casas.
O CULTO DE CONSAGRAÇÃO
Os israelitas, antes de se mudarem para uma nova casa,
primeiro a agravam (Deuteronômio 20:5). Supomos que
celebravam este acontecimento com grande júbilo, e pediam a
bênção de Deus sobre a 6 as pessoas que viveriam nela.
MOBÍLIA
Aos nossos olhos, as casas mais bem mobiliadas da Palestina
pareceriam vazias. Sobre os pisos de mármore da casa de um rico
teríamos visto belos tapetes, e sobre os bancos, almofadas de rico
tecido. Mas os israelitas abastados não tinham a grande variedade
de móveis a que estamos acostumados, e os pobres tinham ainda
menos. Um homem endinheirado podia ter uma esteira ou uma
pele de animal para reclinar-se durante o dia, um colchão para
dormir de noite, uma banqueta, uma mesa baixa, e um braseiro.
Note-se que a rica sunamita mobiliou o quarto de Eliseu com
apenas uma cama (talvez meramente um colchão), uma mesa, uma
banqueta e um candeeiro (2 Reis 4:10-13).
O Herodium
O Herodium. Herodes, o Grande, construiu magníficas
estruturas para seu próprio conforto i proteção. Entre esses
projetos encontravam-se seu palácio-fortaleza em Masada e o
Herodium Nd| caso de insurreição ou de derrota militar, qualquer
um desses oferecia forte defesa. O Herodiun que também se
destinava a ser o local de sepultamento de Herodes, permanece
como um tributo ad exagerado medo de Herodes. Esta é uma das
maiores fortalezas já construídas para guardar un único homem.
O Herodium fica a cerca de 11 quilômetros ao sul de
Jerusalém e 5 quilômetros ao sudeste de Belém, numa altitude de
cerca de 700 metros. Foi construído no local onde Herodes
derrotou as forças dos hasmoneus e dos que os apoiavam no ano
40 a. C. ― local de gratas memórias para Herodes. Josefo,
historiador judeu do primeiro século, fala da construção do
Herodium no ano 20 a. C, e da procissão fúnebre de Herodes até
ao local. Era uma das últimas três fortalezas controladas pelos
judeus fora de Jerusalém quando os romanos destruíram a cidade
em 70 A. D. O Herodium também serviu como centro rebelde
durante a revolta de Bar-Kochba (132-135 A. D.).
V. Corbo dirigiu quatro temporadas de escavação no
Herodium (1962-1967). G. Foerster fez restauração e exploração
no sítio do Herodium em 1967 e 1970, e E. Netzer dirigiu uma
escavação no local em 1972. Eles descobriram uma surpreendente
estrutura que por certo fá o maior feito de engenharia dos tempos
inter-testamentários.
Visto de longe, o local parece um truncado. A estrutura
constitui-se de quati torres ― três semicirculares e uma redonda
― cercadas por um muro circular, cujo diâmetro exterior mede 55
metros. Este muro duplo tem uma ampla passagem de 3 metros
entre um muro e outro. Evidentemente, os entulhos de areia e
pedra do edifício se acumularam do lado de fora dos muros logo
após a construção deixando expostos apenas seus topos. Desse
modo, a montanha tomou a forma de um cone.
A metade oriental do espaço interno Herodium consistia num
pátio aberto circundado por colunas coríntias, com uma êxedra
(área externa com assentos para conversações informais) em cada
extremo. A metade ocidental incluía um complexo de casas de
banho esmeradamente decoradas, com um grupo de salas
incluindo um refeitório que ocupava o lado sul. O refeitório
converteu-se em sinagoga, evidentemente, quando alguns dos
adeptos de Bar-Kochba resistiram aos romanos ali no segundo
século. Em cima, os quartos ocidentais formavam um segundo
pavimento e, talvez, um terceiro, usados como salas de estar.
Uma rede de enormes cisternas abastecia de água o interior
da montanha. Essas cisternas abasteciam de água o interior da
montanha. Essas cisternas foram construídas em forma de favo de
mel. Um aqueduto trazia água para o local, dos tanques de
Salomão, próximos de Belém. A inscrição de uma das peças de
cerâmica encontradas pelos arqueólogos menciona Herodes.
Na base norte da montanha, Netzer descobriu um complexo
de estruturas. Havia um palácio medindo cerca de 53 m X 122 m,
do qual se estendia uma sacada de observação sobre o que parece
ter sido um hipódromo de mais ou menos 300 metros de
comprido, uma piscina, um prédio de serviço, e outras estruturas
não Identificadas. Obviamente, Herodes tencionava viver com
magnificência e ser sepultado em esplendor.
Visto como os pisos de uma casa mais elegante eram de
ladrilho ou de argamassa, muitas vezes precisavam de ser varridos
ou esfregados (cf. Mateus 12:44; Lucas 15:8). À noite os
residentes punham no chão colchões espessos, grosseiros, sobre os
quais dormiam. As pessoas mais pobres usavam peles de animais
para o mesmo fim. Em dois ou em três lados do quarto de um
homem rico havia um banco, geralmente de 30 cm de altura,
coberto com uma almofada. O dono usava este banco para
assentar-se durante o dia. Numa extremidade do cômodo ele era
mais elevado, e este era o lugar costumeiro de dormir (cf. 2 Reis
1:4; 4:10). Além do banco, as pessoas muito ricas tinham
armações de cama feitas de madeira, de marfim, ou de outros
materiais caros (Amós 6:4; Deuteronômio 3:11). Estas armações
eram mais comuns nos tempos do Novo Testamento (cf. Marcos
4:21).
Os israelitas usavam algumas de suas vestes exteriores
normais como roupa de cama (Êxodo 22:26-27; Deuteronômio
24:12-13). Antes de deitar-se à noite, eles simplesmente tiravam as
sandálias e o cinto. O travesseiro dos hebreus era, provavelmente,
uma pele de cabra estofada com lã, penas, ou algum outro material
macio. A gente mais pobre da Palestina usa essas peles de animais
como travesseiros ainda hoje.
Os reis e outros governantes exigiam uma banqueta para
apoiar os pés quando se assentavam no trono (2 Crônicas 9:18),
mas esta peça de mobiliário era rara nas casas particulares.
Por outro lado, as lamparinas eram muito comuns. Elas
consumiam azeite de oliva, piche, nafta ou cera, e tinham pavios
de algodão ou de linho. (Diz uma tradição judaica que os
sacerdotes faziam mechas para as candeias do templo de suas
velhas vestes de linho.) Os israelitas mais pobres faziam suas
lamparinas de barro, enquanto os ricos tinham candeias de bronze
e de outros metais.
Os israelitas deixavam que suas candeias ardessem toda a
noite, visto que a luz os fazia sentir-se mais seguros. Conta-se que
a família preferia passar sem alimento a deixar que suas lâmpadas
se apagassem, uma vez que isto indicava que eles haviam
abandonado a casa. Assim, quando Jó prediz a ruína dos
perversos, ele diz: "...a luz dos perversos se apagará... a luz se
escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se apagará"
(Jó 18:5-6). O escritor de Provérbios louva a mulher prudente,
dizendo: "a sua lâmpada não se apaga de noite" (Provérbios
31:18). Diversas outras passagens bíblicas mostram que a luz
simbolizava a vida e dignidade de uma família (cf. Jó 21:17;
Jeremias 25:10).
Embora seu mobiliário fosse simples, os israelitas viviam em
muito maior conforto do que seus antepassados, que
perambulavam com seus rebanhos. No tempo de Jesus o lar típico
era arrumado e limpo, com a beleza funcional comum aos lares de
outros países influenciados pela cultura helenista. Conquanto
Roma governasse a Palestina, poucas pessoas adotaram os gostos
ornamentais dos romanos.
Armações de bronze para cama. Esta cama de Tell el-Far'ah no
sul de Israel foi reconstruída de armações de bronze para as pernas
e as varas de ferro que as uniam. A maioria dos israelitas dormiam
em catres ou em esteiras no chão. Somente os ricos podiam
permitir-se o luxo de camas, que se tornaram mais comuns nos
tempos do Novo Testamento.
10. MÚSICA
A Bíblia dá muito pouca informação acerca das formas
musicais hebraicas e do seu desenvolvimento. Por este motivo,
devemos combinar o estudo da Bíblia com história e arqueologia
se desejarmos saber algo da música dos tempos bíblicos.
DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA HEBRAICA
A história da música hebraica remonta à primeira pessoa que
bateu com um pedaço de pau numa rocha, e estende-se à orquestra
do templo e ao "celebrai com júbilo" solicitado no Salmo 98. Esse
primeiro músico ouviu ritmo quando bateu seu primitivo
instrumento. Percebendo que podiam fazer música, as pessoas
criaram instrumentos mais complexos.
Por exemplo, atribui-se a Davi o invento de vários
instrumentos, muito embora não saibamos precisamente quais
foram (cf. Amós 6:5). Davi formou um coro de 4.000 cantores
para oferecer louvores ao Senhor "com os instrumentos que Davi
fez para esse mister" (1 Crônicas 23:5; cf. 2 Crônicas 7:6;
Neemias 12:8). Davi compôs também cânticos, tais como seu
lamento pela morte de Saul e Jônatas.
Embora Deus dirigisse o desenvolvimento social e religioso
de Israel, a nação absorveu idéias de culturas circunvizinhas.
Estava Israel numa encruzilhada geográfica e exposta a idéias e
costumes de outras partes do mundo (Gênesis 37:25), incluindo-se
o estilo musical.
Muitos homens de Israel casaram-se com mulheres
estrangeiras cujos costumes aos poucos se infiltraram no estilo de
vida hebreu. Segundo a coleção de escritos judeus pós-bíblicos,
chamada Midrash, o rei Salomão casou-se com uma egípcia cujo
dote incluía 1.000 instrumentos musicais. Se isto for verdadeiro,
não resta dúvida de que ela trouxe músicos consigo para tocar
esses instrumentos no estilo tradicional egípcio.
O fim a que a música servia e a reação dos ouvintes também
influíram no desenvolvimento da música hebraica. Em tempos de
guerra, amiúde era necessário fazer soar um alarme ou enviar
algum outro tipo de aviso urgente. Desse modo, os hebreus
criaram o shophar, um instrumento semelhante à trombeta, com
tons altos, penetrantes (Êxodo 32:17-18; Juizes 7:18-20). O
divertimento e a frivolidade exigiam os tons leves e alegres
produzidos pela flauta (Gênesis 31:27; Juizes 11:34-35; Mateus
9:23-24; Lucas 15:23-25).
A. Efeito distrativo. Os dirigentes hebreus que serviam no
templo tiveram muito cuidado em evitar o uso de música
associada com a adoração paga sensual. Nas culturas onde eram
comuns os ritos de fertilidade, mulheres cantoras e musicistas
incitavam a orgias sexuais em honra de seus deuses. Mesmo
instrumentos não associados com práticas pagas às vezes eram
proibidos. O profeta Amós condenou os que cantavam "à toa ao
som da lira" (Amós 6:5).
É claro, havia momentos em que as distrações da música
podiam ser úteis. O dedilhar suave da harpa de Davi acalmava a
um Saul atormentado (1 Samuel 16:23). Depois que Daniel foi
lançado na cova dos leões, o rei Dario retirou-se para seus
aposentos e não deixou que trouxessem à sua presença
"instrumentos de música" (Daniel 6:18).
A música era parte importante da vida cotidiana. Diversões,
casamentos e funerais não estavam completos sem ela. Até mesmo
a guerra dependia da música, visto como instrumentos especiais
soavam para chamar à batalha. A diversão e a descontração
aristocráticas patrocinavam os músicos e suas habilidades.
B. Função no culto. A música também fazia parte da vida
religiosa de Israel. O culto formal dos israelitas observava
diversos rituais prescritos por Deus. A música servia de
acompanhamento a esses rituais.
A música do templo constituía-se de cantores e orquestra.
Cantores e músicos só podiam proceder dos varões de
determinadas famílias. Do mesmo modo, os tipos de instrumentos
eram restritos. Instrumentos que estivessem associados com
mulheres, com diversão rouquenha ou estridente (tal como o
sistro egípcio), ou com culto pagão estavam banidos da orquestra
do templo.
O Antigo Testamento arrola diversos tipos de instrumentos na
orquestra do templo (cf. 1 Crônicas 15:28; 16:42; 25:1). Esses
instrumentos incluem a grande harpa (nevel), a lira (kinnor), o
chifre de carneiro (shophar), a trombeta (chatsotserah), o
tamborim (toph), e címbalos metsiltayim). Depois que os israelitas
voltaram do exílio e reconstruíram o templo, a orquestra foi
restabelecida (cf. Neemias 12:27). A gaita ou flauta (halil)
provavelmente agora foi incluída, e a música vocal passou a ser
mais proeminente.
Além do culto formal no interior do templo a música era
parte de outras atividades religiosas. Instrumentos não permitidos
no templo eram tocados em outras funções religiosas, tais como os
dias de festa. Muitas vezes a festa começava com uma
proclamação musical; então seguiam-se música, cântico e até
mesmo dança. Permitia-se a participação das mulheres cantoras e
musicistas (Esdras 2:65; Neemias 7:67; 1 Crônicas 35:25).
C. Limites de nosso conhecimento. O Antigo Testamento
raramente menciona as formas de música, as origens dos
instrumentos e assim por diante. O modo de executar ou de
fabricar instrumentos era transmitido por tradição oral em vez de o
ser por escrito. A maior parte dessa tradição oral perdeu-se,
deixando-nos apenas a breve informação encontrada na Bíblia.
Tocadores de buzina e tambor. Este relevo em basalto,
procedente de Carquêmis na Síria (oitavo ou nono século a. C.)
retrata quatro músicos, um soprando uma buzina curva, um
carregando um tambor grande e dois tocando o tambor com as
mãos abertas. A figura à direita parece usar uma correia passada ao
pescoço para ajudar a sustentar o tambor.
Muito poucos instrumentos musicais antigos existem
intactos, por isso devemos fazer conjecturas sobre como eram e
como soavam. Comparando as referências bíblicas com os
artefatos de outras culturas, os historiadores e arqueólogos têm
ajudado a preencher muitas das lacunas de nosso conhecimento da
música dos tempos bíblicos.
Este estudo é um processo contínuo como bem o demonstram
as traduções mais recentes da Bíblia. Se compararmos passagens
sobre a música de versões antigas da Bíblia com traduções mais
recentes, podemos notar algumas diferenças.
TIPOS DE INSTRUMENTOS
Os instrumentos musicais entram em três classes básicas,
segundo o modo de produzir-se o som: (1) instrumentos de corda,
que usam a vibração de cordas para produzir o som; (2)
instrumentos de percussão, nos quais o som é produzido por uma
membrana vibratória ou por uma concha de metal; e (3)
instrumentos de sopro, que produzem som pela passagem do ar
sobre uma palheta vibratória.
A. Instrumentos de percussão. O povo de Israel usava uma
variedade de instrumentos de percussão para destacar o ritmo de
sua música. O ritmo era elemento vital da poesia e canções.
1. Campainhas. Certo tipo de campainha recebia o nome
(metsilloth) derivado da palavra hebraica que significa "retinir" ou
"chocalhar". Este tipo é mencionado uma única vez na Bíblia
(Zacarias 14:20), onde se nos diz que os israelitas atavam essas
campainhas nos freios ou nos peitorais dos cavalos.
Outro tipo era uma campainha pequenina, do ouro puro
(paamonim). Era presa à orla da sobrepeliz do sumo sacerdote e
alternada com romãs ornamentais (Êxodo 28:33-34). Essas
campainhas produziam som apenas quando tocavam umas às
outras, pois elas não tinham badalos. Este som retininte
significava que o sumo sacerdote estava entrando na presença de
Deus; outros que se atrevessem a entrar no santo dos santos seriam
mortos (v. 35).
2. Castanholas. Veja "Címbalos" e "Sistro-chocalho".
Músicos egípcios. Esta pintura de um túmulo de Tebas (cerca do
décimo-quinto século a. C.) retrata mulheres egípcias tocando
instrumentos musicais e dançando. Da esquerda para a direita
vemos uma harpista, uma alaudista, uma dançarina, uma tocadora
de flauta dupla, e uma lirista com um instrumento de sete cordas.
Note-se a pele de leopardo decorando a parte inferior da armação
da, harpa.
3. Címbalos. Os címbalos (metziltayim ou tziltzal) eram
feitos cobre e os únicos instrumentos de percussão na orquestra do
templo.
Eram usados quando o povo celebrará e louvava a Deus.
Juntavam-se às trombetas e aos cantores para expressar alegria e
ações de graça ao Senhor (1 Crônicas 15:16; 16:5), Asafe, músicochefe de Davi (1 Crônicas 16:5), era tocador de címbalos. Quando
o povo voltou do cativeiro, os descendentes de Asafe foram
chamados para juntar-se aos cantores e às trombetas em louvor ao
Senhor (Esdras 3:10).
Em passagens como 1 Crônicas 16:5, algumas versões
traduzem o hebraico por castanholas. Hoje é geralmente aceito
que esta tradução é inexata e deve ser címbalos.
4. Sistro-chocalho. Esta é a tradução correta para 2 Samuel
6:5. O sistro era uma pequena armação em forma de U com um
cabo anexado ao fundo da curva. Pedaços de metal ou outros
objetos pequenos eram fixados em cordéis sobre pequenas barras
esticadas de um lado ao outro do sistro,
O uso do sistro remonta ao antigo Egito e tem contrapartes
em outras culturas antigas. Era meramente um fazedor de ruídos,
tocado por mulheres tanto nas ocasiões alegres como nas tristes.
5. Tamboril. Veja "Tamborim".
6. Tamborim. Os músicos modernos classificariam este
instrumento como um "membranofone" porque o som é produzido
por uma membrana vibratória. É corretamente traduzido por
tamboril ou tamborim. Era carregado e batido com a mão. Em
tempos muito primitivos pode ter sido feito com duas membranas,
com pedaços de bronze inseridos na borda.
7. Gongo. O "bronze" mencionado em 1 Coríntios 13:1
era, realmente, um gongo de metal. Era usado em casamentos e
em outras ocasiões festivas.
B. Instrumentos de corda. Os arqueólogos têm encontrado
fragmentos de harpas e de outros instrumentos do Egito e de
países circunvizinhos do Oriente Próximo. A Bíblia descreve
diversos instrumentos de corda usados em Israel.
Alaúde. Esta placa de terracota procedente do Iraque (cerca .de
2000 a. C.) retrata um músico tocando um alaúde triangular de três
cordas. Geralmente o alaúde era tocado por mulheres e pode ter
sido um dos "instrumentos de música" mencionados em 1 Samuel
18:6.
1. Harpa. A harpa era um instrumento predileto da classe
aristocrática e era prodigamente feito (1 Reis 10:12; 2 Crônicas
9:11). Era usada na orquestra do templo e foi indicada para
"levantar a voz com alegria" (1 Crônicas 15:16).
A partitura musical mais antiga do mundo?
Uma erudita recentemente trouxe a público uma evidência
controvertível ao sugerir que os antigos egípcios produziram
partituras musicais durante os mesmos séculos da construção da
poderosa Esfinge, há cerca de 4500 anos. Maureen M. Barwise
afirma ter decifrado hieróglifos musicais que remontam à quarta
3
dinastia do antigo reino, aproximadamente 2600 a. C.
De acordo com sua tradução, a música era escrita
basicamente numa só linha melódica. As mais antigas peças
3
Maureen W. Barwise, "Hearing the Music of Ancient Egypt", The Consort, Vol. 25 (1968-1969), pp. 345-361.
musicais sagradas apresentavam harpas e flautas acompanhadas
por tamborins e baquetas de percussão, a que mais tarde se
juntaram trombetas, alaúdes e liras.
A Srta. Barwise alega que os músicos egípcios usavam uma
escala incompleta produzindo bela música a despeito de
peculiaridades óbvias. Ela observa que essa música era similar às
antigas canções folclóricas gaélicas, galesas e escocesas, com sons
semelhantes da gaita de foles da Escócia.
A pesquisadora empreendeu a tarefa incomum de reproduzir
diversas melodias, trans-pondo-as para a clave de sol. De acordo
com Barwise, os egípcios entendiam de compasso, tom, ritmo e de
acordes harmônicos além da melodia básica. As músicas
adaptadas parecem cobrir uma variedade de tipos musicais, que
vai desde o um tanto jocoso "Beautíful Moon-Bird of the Nile" até
à um tanto imponente grande marcha "Honra ao forte braço de
Faraó".
A música egípcia era considerada sagrada. Portanto, sua
composição era estritamente governada por lei e não se
desenvolveu muito no decorrer dos séculos.
Os murais, os baixos-relevos e a literatura da antigüidade
mostram claramente que os egípcios eram hábeis musicistas.
Muitos especialistas crêem que esta música primitiva foi
preservada em forma escrita, mas a teoria arqueológica firmada
sustenta que as melodias eram uma tradição oral.
A tradução que a Srta. Barwise fez dos hieróglifos para a
notação musical contesta a antiga escola de pensamento e sua
erudição tem encontrado um misto de aceitação. Alguns críticos
concordam com a avaliação de David Wulston de que o trabalho
dela não passa de "uma extravagante fantasia [construída] do mais
inauspicioso material." 4
2. Alaúde. Este instrumento triangular de três cordas pode ter
sido um dos "instrumentos de música" mencionados em 1 Samuel
4
David Wulston, "The Earliest Music Notation", Music and Letters, Vol. 52, N? 4 (outubro de 1971), p. 365.
18:6. Geralmente era tocado por mulheres e estava excluído da
orquestra do templo.
3. Citara. Dois termos hebreus são traduzidos por citara. Um
é] mencionado em apenas um livro da Bíblia (Daniel 3:5,7,10,15).
Esta citara especial (nevel) era freqüentemente usada na música
secular, tal como na folia no banquete de Nabucodonosor. Era
executada] tangendo-se as cordas com os dedos.
Uma citara menor (kinnor) era considerada como o
instrumento] mais sofisticado. Sua forma e número de cordas
variavam, mas todos] os tipos de cítaras produziam um som
muitíssimo agradável. A citara era usada em ambientes seculares
(Isaías 23:16), mas era também-,j aceita no uso sacro. É o
instrumento que Davi usou para acalmar o rei Saul. Geralmente,
esta "pequena citara" era executada ferindo-se as] cordas com um
plectro assim como o violão pode ser tocado com uma palheta.
Contudo, parece que Davi preferia usar a mão, em vez do plectro
(1 Samuel 16:16, 23; 18:10; 19:9). Os artífices habilidosos faziam
cítaras de prata ou de marfim e as decoravam com pródiga
ornamentação.
Canções que contam histórias
Superficialmente, a música dos antigos gregos e hebreus
parecia ter pouco em comum. Os gregos cantavam de seus deuses
e de batalhas mitológicas; os hebreus, por outro lado, devotavam
suas canções ao louvor do único Deus. Mas há um elo importante
entre a música grega e a hebraica, elo que envolve poesia, cântico
e religião. Esse elo é a epopéia.
Os estudiosos de literatura conhecem n epopéia como um
poema narrativo longo que apresenta os feitos dos deuses ou dos
heróis tradicionais de uma maneira dignificada. O oitavo século a.
C. presenciou a criação de duas grandes epopéias gregas: a
"Ilíada" e a "Odisséia", atribuídas a Homero. A "Ilíada" descreve o
choque de armas entre gregos e troianos "nas planícies ressoantes
da Tróia ventosa". A "Odisséia" relata as andanças cheias de
aventura de Ulisses em seu retorno à Grécia após a queda de
Tróia.
Essas epopéias glorificam o valor heróico e as proezas
físicas. Também nos proporcionam muitos detalhes da vida
cotidiana da Grécia antiga.
Os gregos compuseram muitas de suas epopéias para música.
A música ajudava os narradores a recordar a letra das epopéias,
que em geral eram peças extremamente longas com dezenas de
estrofes e muitos nomes de pessoas e lugares. Rimando as linhas,
os narradores achavam que podiam lembrar-se mais facilmente da
intricada história que tinham de contar.
Os gregos não usaram essas "canções de história" como parte
de seu culto. (Os templos gregos eram usados para abrigar os
deuses e não uma assembléia religiosa.) O uso da canção épica no
culto começou com os hebreus, séculos antes do serem escritas as
epopéias gregas. Os mais antigos cânticos de culto hebreus
surgiram de um sentimento religioso para com Deus em
momentos importantes.
Por exemplo, o primeiro aparecimento de música de história
de que se tem registro foi quando Miriã, irmã de Moisés, cantou
com alegria depois que os judeus escaparam dos soldados de
Faraó (Êxodo 15:19-21). Muitos dos Salmos eram epopéias (p.
ex., Salmos 114, 136-137) e os profetas algumas vezes
irromperam em cânticos épicos (p. ex., Isaías 26; Habacuque 3).
Os hebreus não adaptaram suas epopéias a melodias
intricadas. A variação tonal de seus cânticos provavelmente não
era grande, e eles selecionavam instrumentos de ritmo em vez de
instrumentos melódicos. As melodias dos Salmos e de outros
cânticos históricos eram bem conhecidas nos seus dias, e
provavelmente eram cantadas em forma de versos pelos coros. É
evidente que os hebreus chegaram a considerar os cânticos de
história como parte essencial de seu culto. Sua música brotava da
alma de um povo cuja vida cotidiana era ordenada religiosamente.
4. Saltério. Veja "Harpa".
5. Sambuca. O livro de Daniel (ERC) refere-se com
freqüência à sambuca (Daniel 3:5,7, 10,15).
Não sabemos o formato e o tamanho exatos da sambuca. O
instrumento parece ter sido emprestado dos babilônios e assim não
era comum entre os instrumentos de Israel.
6. Viola. Veja "Harpa".
C. Instrumentos de sopro. A despeito de seu limitado
conhecimento de trabalho em metal, os israelitas modelaram uma
variedade de buzinas e de outros instrumentos de sopro.
Liristas cativos. Três liristas cativos (possivelmente judeus de
Laquis) são levados através de uma área montanhosa por um
soldado assírio armado com clava e arco. A lira produzia um som
doce, ressonante quando suas cordas eram tangidas com um
plectro (um pedaço fino de osso ou metal). Este relevo de
alabastro vem das ruínas do palácio de Senaqueribe (704-681 a.
C.) em Nínive.
1. Clarineta. A primitiva clarineta era um instrumento
popular nos j tempos bíblicos. È mencionada como flauta em
Isaías 5:12; 30:29; e Jeremias 48:36. As referências do Novo
Testamento incluem Mateus] 9:23; 11:17; Lucas 7:32; e 1
Coríntios 14:7. A clarineta provavelmente! não era usada no
templo, porém era um instrumento popular em] banquetes,
casamentos ou funerais.
2. Cometa. Veja "Trombeta", "Shophar", e "Sistro-chocalho".
3. Pífaro. O pífaro (mashrokitha) era realmente um tubo
grande. Pelai fato de ser um tubo grande e ter um bocal, ele
produzia um som agudo, penetrante, um tanto semelhante ao oboé.
O pífaro eral popular no uso secular e religioso, porém não é
mencionado como instrumento da orquestra do primeiro templo.
Às vezes seu uso foi] permitido no segundo templo. Devido ao seu
som penetrante, era] usado em procissão (Isaías 30:29 ERC).
4. Órgão. Veja "Flauta".
5. Flauta. De modo geral, flauta se refere a um instrumento
de sopro que expressa exuberante alegria ou lamento extático.
Geralmente se acredita ter sido um instrumento secular, embora o
Salmo 150:4 (ERC) mencione seu uso no templo para uma
celebração religiosa.
6. Shophar. O shophar é mais bem entendido como "chifre d
carneiro", como em Josué 6:4, 6, 8, 13. Destinava-se a fazer ruído,
não música; daí não poder executar melodias. Era usado para da|
avisos e anunciar ocasiões especiais, como no caso da
transferência da arca (2 Samuel 6). Também era usado para
afugentar espíritos maus e deuses do inimigo (Zacarias 9:14-15).
7. Trombeta. A trombeta, semelhante ao shophar, era usada
pelos sacerdotes. Muitas vezes as trombetas se apresentavam aos
parei (Números 10:1-10). Originalmente foram ordenadas duas
para templo; mas o número podia ser aumentado para 120,
dependendo da sua finalidade (2 Crônicas 5:12).
As trombetas eram feitas de osso, de concha ou de metais ―
bronze, cobre, prata, ouro ― todas produziam um som agudo e
estridente. Geralmente se crê que essas trombetas, como o
shophar, não podiam produzir sons em vários tons, de modo que
produzissem música (melodia). Contudo, podiam executar notas
de legato, staccato e trinados. Assim, elas podiam dar sinais
complicados para anunciar reuniões, batalhas, e emboscadas.
Gideão usou trombetas para aterrorizar o inimigo (Juizes
7:19-20). João ouviu o som de uma trombeta antes de receber a
visão do apocalipse (Apocalipse 1:10). Na verdade, as trombetas
estão entre os proeminentes símbolos do Juízo (1 Coríntios 15:52;
1 Tessalonicenses 4:16; Apocalipse 8:2).
11. RITUAIS DE CULTO
O povo de Israel adorava o Deus vivo de muitas formas e em
muitos lugares diferentes no decorrer do ano. É importante ver que
impacto os rituais de culto tinham sobre sua vida diária.
Primeiro, precisamos entender como o povo da Bíblia se
sentia em relação ao Deus que adoravam. Moisés disse ao povo de
Israel: "Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus: o Senhor teu
Deus te escolheu, para que fosses o seu povo próprio, de todos os
povos que há sobre a terra" (Deuteronômio 7:6). Deus os escolheu
não por alguma coisa especial que tivessem feito ou pelo que
fossem, mas porque o Senhor os amava (Deuteronômio 7:7-8).
Deus mostrou este amor de muitas maneiras. Ele foi fiel à sua
aliança (v. 9); destruiu os seus inimigos (v. 10); abençoou as suas
colheitas (v. 13); afastou deles as enfermidades (v. 15).
Em resposta aos atos de Deus, os Israelitas foram um povo
grato. O salmista disse: "Bom é render graças ao Senhor, e cantar
louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua
misericórdia, e, durante as noites, a tua fidelidade" (Salmo 92:12).
Eles viviam no temor de Deus. Conforme observou o sábio:
"O temor do Senhor é o princípio do saber" (Provérbios 1:7).
Essas respostas eram expressas em seu culto. Naturalmente, os
israelitas responderam a Deus com uma variedade de pensamento
e emoção; mas estes dois elementos ― gratidão e temor ―
parecem tipificar o relacionamento do povo com Deus.
Também precisamos entender como Deus e Israel interagiam.
Por exemplo, era fácil ver a Deus na vida dos patriarcas. Ele
capacitou Sara a ter filhos em idade avançada (Gênesis 18:9-10).
Provou a Abraão e poupou a Isaque da morte (Gênesis 22). Falava
com as pessoas e elas com ele (Gênesis 13:14-17; 15:2). Mas aos
israelitas nunca foi permitido ver a Deus; Moisés teve de esconder
seu rosto da presença divina "porque temeu olhar para Deus"
(Êxodo 3:6).
Veremos como os israelitas expressaram sua gratidão e temor
ao Pai celestial, como o cultuavam.
ANTES DO TEMPO DE MOISÉS
A primeira menção clara de um ato de culto encontra-se em
Gênesis 4:2-7: "Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador.
Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da
terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias
do seu rebanho, e da gordura deste." Os filhos de Adão e Eva
reconheceram que Deus lhes havia dado "todas as ervas" e "todos
os animais" (Gênesis 1:29-30), por isso lhe trouxeram ofertas
simples. Não sabemos precisamente onde e como foram feitas as
ofertas. Somos informados, porém, de que trouxeram dois tipos de
oferta, e que a de Caim foi rejeitada enquanto a de Abel foi aceita.
Este breve relato conta-nos duas coisas muito importantes
acerca do culto: Primeira, Deus confirma a adoração. Não
sabemos se ele havia falado aos irmãos neste lugar especial antes
deste dia. Mas neste dia Deus falou (Gênesis 4:6), e agiu (Gênesis
4:4-5) enquanto adoravam. Deus santificou esta hora para eles.
Segunda, Deus é o ponto focai do culto. A Bíblia não faz menção
alguma de qualquer altar ou de quaisquer palavras proferidas por
esses homens. Não sabemos que orações eles podem ter oferecido.
Mas sabemos o que Deus fez; sua ação foi a parte vital do culto.
A Bíblia não diz por que Caim e Abel fizeram ofertas a Deus;
simplesmente que assim fizeram "no fim de uns tempos".
Podemos supor que desejavam agradecer o que Deus lhes dera.
Sabiam que Deus os havia abençoado e continuaria a abençoá-los.
Por isso foram motivados não só pelos acontecimentos passados,
mas por suas esperanças futuras . Seus sacrifícios foram feitos
com duplo intento: gratidão pelo que Deus lhes havia dado e
confiança em que ele continuaria a dar. É importante lembrar
ambos os aspectos do culto e não negligenciar um ou o outro.
Altar de pedra. Encontrado fora da porta que dá para Berseba,
este altar de pedra é típico dos que eram usados no Oriente
Próximo para oferta de sacrifícios. Os israelitas deviam oferecer
sacrifício somente em Jerusalém, mas muitos desobedeciam a esta
lei.
Não sabemos por que a oferta de Abel foi aceita e a de Caim
rejeitada. Desconhecemos quaisquer regulamentos com referência
aos sacrifícios nessa época. A pista pode estar no versículo 7: "Se
procederes bem, não é certo que serás aceito?" Em outras
palavras, o caráter falho de Caim pode ter tornado sem sentido o
seu sacrifício. Este é o primeiro caso registrado de sacrifício de
animal. Com o passar do tempo, o povo aprendeu que Deus
honrava e aceitava suas ofertas sacrificiais.
Os patriarcas erigiam altares e faziam sacrifícios onde quer
que se estabelecessem (cf. Gênesis 8:20; 12:7-8). Erigiam,
também, monumentos de pedra. Jacó tomou a pedra que usou por
travesseiro e a "erigiu em coluna, sobre cujo topo entornou azeite"
(Gênesis 28:18-22). Chamou-a Betel, ou "casa de Deus".
Os patriarcas também designavam árvores sagradas (p. ex.,
Gênesis 12:6; 35:4; Deuteronômio 11:30; Josué 24:26), e poços
sagrados (Gênesis 16:14). Estes elementos lembravam-lhes o que
Deus havia feito em ocasiões especiais de suas vidas.
Os patriarcas construíram altares simples de terra e de pedra
("altares de monte de pedras") para a matança de animais para
ofertas. Em realidade, a palavra hebraica geralmente traduzida
como altar (misbeach), literalmente quer dizer "lugar de
matança".
Não parece ter havido sacerdócio formal no tempo dos
patriarcas, não obstante lemos de um notável encontro entre
Abraão e Melquisedeque, um misterioso "sacerdote do Deus
Altíssimo". Alguns eruditos especulam dizendo que
Melquisedeque era um rei cananeu procedente de Salém. Abraão
encontrou-o depois de livrar alguns de seus parentes cativos
(Gênesis 14:17-20). Visto que Deus propiciou a Abraão efetuar o
livramento, ele respondeu com gratidão e adoração. Em vez de
edificar um altar ou de oferecer um sacrifício de animal, Abraão
ofereceu o dízimo de tudo como sacrifício e recebeu a bênção de
Deus através do mediador, Melquisedeque. Esta misteriosa figura
é o primeiro sacerdote mencionado na Bíblia.
Havia outros sacerdotes nesta época? Se os havia, por que
não são citados? Talvez os patriarcas geralmente atuassem como
seus próprios sacerdotes. Eles eram 03 únicos que ofereciam
sacrifício a Deus. Se, porém, eles exerciam o ofício de clérigos
para outros, tal fato não está claramente afirmado.
Havia espontaneidade no culto dos patriarcas. No princípio
eles deixavam seus altares descobertos e expostos ao tempo; isto,
certamente, determinava a ocasião das cerimônias, visto como
queimar era uma parte essencial delas. Também, Deus agiu e falou
quando quis, e os patriarcas não podiam saber com antecedência
quando Deus os chamaria ao culto. Considerando que somente um
punhado de pessoas cultuavam de uma vez, não havia necessidade
de programar o tempo do culto.
NO TEMPO DE MOISÉS
Moisés inaugurou um novo período nas práticas de culto de
Israel ― período que se estendeu para muito além da vida do
grande legislador. Começou quando ele conduziu o povo de Israel
para fora do Egito (1446 a. C), porém a sua influência direta sobre
a prática do culto estendeu-se por toda a história dos judeus. Por
questões práticas, nesta seção vamos concentrar-nos sobre a
influência de Moisés até ao tempo dos juizes (que terminou em
1043 a. C. com a indicação de Saul como primeiro rei de Israel).
Durante o tempo dos juizes, o povo de Deus ainda adorava em
tendas ou tabernáculos. Mas quando Davi foi coroado rei, fizeramse os planos para a construção do templo; nossa próxima seção
trata desse assunto.
Modelo do tabernáculo. Este modelo construído pelo Dr. Conrad
Schick mostra o tabernáculo, um santuário de tenda móvel feito de
acordo com instruções que Deus deu a Moisés no Monte Sinai.
Um compartimento especial do tabernáculo, chamado "santo dos
santos", era reservado como o lugar onde Deus habitava. Somente
o sumo sacerdote podia entrar neste lugar, e ele o fazia somente
num dia do ano ― no dia da Expiação.
A. O local de culto. Já mencionamos que Deus sancionou o
uso de altares de terra e pedra (Êxodo 20:24-26). Nos dias de
Moisés, Deus também sancionou um novo tipo de local de culto.
Quando o grande legislador subiu ao topo do Monte Sinai, recebeu
muito mais do que os Dez Mandamentos. Dentre outras coisas, ele
recebeu uma planta para um local fechado de culto, com um altar
alojado numa tenda de pano. E difícil construir um quadro deste
novo local. Muitos artistas têm traçado suas impressões, baseadas
nas descrições da Bíblia; mas não há pleno acordo quanto ao plano
do tabernáculo.
Não obstante, sabemos que este local de culto era muitíssimo
diferente dos altares erigidos a céu aberto. Em primeiro lugar, era
muito mais esmerado. Uma descrição do altar em si encontra-se
em Êxodo 27:1-3: "Farás também o altar de madeira de acácia: de
cinco côvados será o seu comprimento, e de cinco a largura, será
quadrado o altar, e de três côvados a altura. Dos quatro cantos
farás levantar-se quatro chifres, os quais formarão uma só peça
com o altar; e o cobrirás de bronze. Far-lhe-ás também recipientes
para recolher a sua cinza; e pás, e bacias, e garfos, e braseiros;
todos esses utensílios farás de bronze."
Não somente os materiais eram diferentes dos materiais dos
primeiros altares, mas as ferramentas exigidas para fabricá-los e os
utensílios que o acompanhavam eram diferentes (cf. Êxodo
20:25). Há bom indício de que Israel usou ambos os tipos de
altares ― os externos e este no interior do tabernáculo ― nesta
época. Por fim, erigiu-se no tabernáculo um altar mais
permanente, central.
Modelo da arca da aliança. A arca era uma caixa retangular de
madeira de acácia que continha as tábuas dos Dez Mandamentos,
um vaso de maná, e a vara de Arão. A tampa ou "propiciatório" era
uma lâmina de ouro circundada por querubins dourados com asas
estendidas. A arca erá símbolo da presença de Deus entre seu
povo.
A Bíblia também descreve a tenda que agora cobria o altar:
"Ora Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem
longe do arraial; e lhe chamava a tenda da congregação. Todo
aquele que buscava ao Senhor saía à tenda da congregação, que
estava fora do arraial. Quando Moisés saía para a tenda, fora, todo
o povo se erguia, cada um em pé à porta da sua tenda, e olhavam
pelas costas, até entrar ele na tenda. Uma vez dentro Moisés na
tenda, descia a coluna de nuvem, e punha-se à porta da tenda; e o
Senhor falava com Moisés. Todo o povo via a coluna de nuvem
que se detinha à porta da tenda; todo o povo se levantava, e cada
um à porta da sua tenda adorava ao Senhor" (Êxodo 33:7-10). A
tenda é descrita de novo em Êxodo 26. Com uma descrição tão
pormenorizada, pode parecer fácil exemplificar como era a tenda.
Mas não é. Seria tão desafiante como reproduzir um motor de
automóvel se tivéssemos apenas uma descrição verbal do projeto e
realmente nunca tivéssemos visto um motor.
Moisés falava com Deus nesta tenda. Embora a Bíblia não
diga que Moisés oferecia sacrifícios na tenda (cf. Êxodo 33:7-10),
podemos supor que o fazia, visto que era ali que estava o altar.
Moisés buscava ao Senhor. O povo sabia que Deus se encontrava
com Moisés porque a "coluna de nuvem" se detinha à porta da
tenda. Este era um sinal conhecido da presença de Deus.
Moisés e seu servo Josué entravam na tenda sozinhos
enquanto as demais pessoas ficavam em pé e esperavam. Depois
que Moisés adorou na tenda pela primeira vez, ele voltou ao
monte para receber novas tábuas da lei. Depois ele desceu para
transmitir a mensagem de Deus ao seu povo.
Em certo sentido, Moisés era um "intermediário" entre Deus e os
israelitas. Ele não era um sacerdote formal, mas Deus o escolheu
como seu mensageiro-líder. Podemos ver aqui os começos do
sacerdócio; porém o próprio Moisés não foi realmente chamado de
sacerdote até séculos mais tarde (cf. Salmo 99:6).
B. O sacerdócio. A esta altura, na história de Israel, passou a
existir um sacerdócio ordenado. De acordo com a ordem de Deus
(Êxodo 28:1), Moisés consagrou seu irmão Arão e aos filhos deste
como sacerdotes. Estes homens vinham da tribo de Levi. Deste
ponto até aos tempos intertestamentários, o sacerdócio oficial
pertenceu aos levitas.
Moisés estabeleceu distinção entre Arão e seus filhos, pois
ele ungiu Arão como "sumo sacerdote entre seus irmãos" (Levítico
21:10). Ele distinguiu o ofício de Arão dando-lhe vestes especiais
(Êxodo 28:4, 6-39; Levítico 8:7-9). Com a morte de Arão, as
vestes e o ofício passaram para Eleazar, seu filho mais velho
(Números 20:25-28).
Escadaria das portas de Hulda. Crêem os eruditos que os
peregrinos podem ter cantado os cânticos de romagem (ou dos .
degraus) (Salmos 120-134) quando faziam suas viagens ao locais
sagrados na tradição israelita. Esta escadaria, descoberta no sul do
monte do templo e que dava para as portas de Hulda em
Jerusalém, provavelmente é a escadaria que os peregrinos subiam
em seu caminho para os átrios interiores do templo.
A função mais importante do sumo sacerdote era presidir no
dia anual de Expiação. Nesse dia, ele podia entrar no santo dos
santos do tabernáculo e espargir o propiciatório com o sangue das
ofertas pelo pecado. Ao fazer isto, ele expiava seus erros, os de
sua família e os de todo o povo de Israel (Levítico 16:1-25). O
sumo sacerdote também devia espargir o sangue das ofertas pelo
pecado diante do véu do santuário e nos chifres do altar (Levítico
4:3-21).
Como chefe espiritual de Israel, o sumo sacerdote devia
atingir um grau mais elevado de pureza cerimonial do que os
sacerdotes comuns. Levítico 21:10-15 delineia as exigências de
pureza do sumo sacerdote. Qualquer pecado que ele viesse a
cometer era uma ruína para todo o povo de Israel. Ele tinha de
fazer expiação por tal pecado com uma oferta especialmente
prescrita (Levítico 4:3-12).
O sumo sacerdote oferecia também a oferta diária de
manjares (Levítico 6:19-22) e participava dos deveres gerais do
sacerdócio (Êxodo 27:21). Esses deveres eram muitos. Os
sacerdotes presidiam a todos os sacrifícios e festas. Serviam como
conselheiros médicos da comunidade (Levítico 13:15), e eram
administradores de justiça (Deuteronômio 17:8-9; 21:5; Números
5:11-13). Só eles podiam dar bênção em nome de Deus (Números
6:22-27) e tocar as trombetas a fim de convocar o povo para a
guerra ou para a festa (Números 10:1-10).
Os levitas serviam como sacerdotes desde a idade de 30 até
50 anos (Números 4:39) ou desde 25 até 50 anos (Números 8:2326). Depois dos 50 anos, só lhes era permitido assistir seus colegas
sacerdotes.
O dízimo do povo proporcionava alimento e vestuário para os
sacerdotes (Levítico 27:32-33); um décimo do dízimo era entregue
aos sacerdotes (Números 18:21, 24-32). Uma vez que a tribo de
Levi não possuía território, 48 cidades com suas pastagens
circunvizinhas foram dadas a eles (Números 35:1-8).
C. O Sistema sacrificial. A Bíblia contém muitos dos
regulamentos de Moisés para o sacrifício, mas os sete primeiros
capítulos de Levítico são totalmente dedicados ao ritual. Muitos
eruditos consideram esta seção como uma espécie de "manual do
sacrifício". Ela descreve cinco tipos de sacrifício: ofertas
queimadas (holocaustos), ofertas de cereais (manjares), ofertas
pacíficas, ofertas pelo pecado, e ofertas por transgressões.
1. Holocaustos. Este tipo de sacrifício era queimado
totalmente. Nada dele era comido por ninguém; o fogo o consumia
todo. Na verdade, o fogo nunca se extinguia: "O fogo arderá
continuamente sobre o altar; não se apagará" (Levítico 6:13).
O adorador trazia um animal macho ― um touro, um
cordeiro, um bode, um pombo, uma rola (dependendo em grande
parte das posses do adorador) ― à porta da tenda ou do templo. O
animal tinha de ser sem mácula. Então o adorador colocava as
mãos sobre a cabeça do animal e era "aceito a favor dele, para sua
expiação" (Levítico 1:4). A imposição de mãos era um ato
cerimonial mediante o qual o adorador abençoava ou preparava o
animal do sacrifício. A seguir o animal era morto junto à porta.
Imediatamente o sacerdote recolhia o sangue e o espargia sobre o
altar. (Os sacerdotes nunca bebiam o sangue.) Em seguida, o
sacerdote esquartejava o animal, oferecia a cabeça e a gordura
sobre o altar, depois lavava as pernas e as entranhas em água e as
oferecia. O que sobrasse podia ser atirado nas cinzas. (Por
exemplo, isto acontecia com as penas das aves.)
Além de colocar o animal sobre o altar, 09 sacerdotes eram
responsáveis por manter o fogo aceso. Não podiam deixar que as
cinzas se acumulassem no fundo do altar, mas de quando em
quando as colocavam de lado. Mais tarde, pegavam as cinzas e as
levavam para fora do arraial ou da cidade "a um lugar limpo".
Para fazer isto, trocavam de roupa.
Posteriormente, na história de Israel, o holocausto passou a
ser um sacrifício oferecido de contínuo: "Esta é a oferta queimada
que oferecereis ao Senhor, dia após dia: dois cordeiros de um ano,
sem defeito, em contínuo holocausto" (Números 28:3). Conforme
esta passagem indica, todos os dias eram sacrificados dois
animais. Um de manhã e outro ao cair da tarde. Isto se fazia para
expiar os pecados do povo contra o Senhor (Levítico 6:2). A
queima simbolizava o desejo da nação de livrar-se desses atos
pecaminosos contra Deus.
2. Ofertas de manjares. Além de animais, os israelitas
sacrificavam cereais ou produtos vegetais. Essas colheitas podiam
ser oferecidas independentemente dos holocaustos, ou juntamente
com eles. A palavra hebraica para "oblação" {minha) às vezes
refere-se a essas ofertas de manjares; outras vezes, minha refere-se
a outros tipos de sacrifício.
O capítulo 2 de Levítico menciona quatro espécies de ofertas
de manjares e dá instruções para cozinhar cada uma delas. O
adorador podia oferecer um bolo de flor de farinha assado num
forno, cozido numa assadeira, feito numa frigideira, ou torrado. (O
último método era usado para as ofertas dos primeiros frutos ou
primícias.) Todas as ofertas de manjares eram feitas com azeite e
sal; não se podia usar mel, e fermento. Além desses ingredientes
cozidos, o adorador devia, trazer uma porção de incenso. Também
podia trazer porções dos materiais não cozidos (grãos em seu
estado natural, sal e azeite) com a} oferta.
Os adoradores traziam ofertas de manjares a um de dois
sacerdotes, que as levava ao altar e atirava uma "porção
memorial" (do pão, do bolo, da obréia ou de ingredientes não
cozidos) ao fogo. Ele fazia a mesma coisa com o incenso. O
sacerdote comia o restante; mas se era o próprio sacerdote que
fazia a oferta de manjares, ele queimava todo o sacrifício.
A finalidade da oferta de manjares parece ter sido semelhante
à i oferta queimada ― exceto no caso da oferta de "grão", que
estava vinculada à oferta das primícias (Levítico 2:14). Parece que
o propósito da oferta das primícias era santificar a colheita inteira.
A oferta de "grão" substituía o restante da colheita ― acentuando
que toda colheita era santa ao Senhor.
Quando tiveram fim os sacrifícios
Judea Capta ― "A Judéia foi capturada" ― lia-se nas moedas
cunhadas pelos romanos em comemoração de sua vitória no ano
70 de nossa era. Milhares de judeus morreram na batalha; milhares
mais foram levados para o cativeiro; muitos outros preferiram
deixar o país. Seu centro de culto, o templo, foi destruído pelo
fogo e a capital do Judaísmo caiu.
Os imperadores romanos encaminharam o imposto do
templo, anteriormente coletado de todos os judeus, para o templo
de Júpiter Capitolino em Roma. Judeus tristes abstinham-se de
comer carne e beber vinho, outrora elementos do templo; achavam
errado desfrutar daquilo que já não podia ser oferecido a Deus.
Com o fim do culto no templo, o sacerdócio começou a
declinar. Embora os sacerdotes ainda pudessem receber ofertas
movidas e dízimos, suas receitas foram grandemente reduzidas.
Esta perda de renda, somada à perda de sua função no templo,
resultou numa perda de influência e de autoridade.
O Deuteronômio proibia altares e sacrifícios fora do lugar
escolhido, Jerusalém. Mas esta não era a primeira vez que os
judeus se viram privados de seu templo e do culto sacrificial;
durante o exílio, o povo se congregava regularmente para ler as
Escrituras e discutir seu significado. Essas sinagogas (em grego,
"assembléias") após a destruição do templo de novo se tornaram
vitais para o Judaísmo.
O povo judeu reunia-se na sinagoga para orar, cantar e
estudar a Tora. A principal função da sinagoga era promover
compreensão e a devida observância da lei judaica. Em realidade,
ela tornou-se a sede de um governo espiritual que ordenava e
disciplinava a vida das pessoas.
Após a destruição do templo, os sábios que interpretavam a
Lei chegaram a ser chamados de tannaim, e os que foram
autorizados como dirigentes receberam o título de rabi, ou "doutor
da lei". Os sábios interpretavam as leis encontradas no Pentateuco
bem como as leis tradicionais, orais, chamadas halakoth. A
principal preocupação deles era a forma como essas leis afetavam
a vida do povo. Os adeptos do grande sábio Shammai eram
conhecidos por suas interpretações conservadoras, enquanto os
seguidores do sábio Hillel aderiam a interpretações mais liberais.
Jabne (a moderna Jâmnia) nas planícies ocidentais da Judéia
logo se tornou o centro do conhecimento judaico. Durante a guerra
com Roma, o sábio Joana ben Zakkai foi levado clandestinamente
para fora de Jerusalém num caixão de defunto. Ele dirigiu-se ao
acampamento romano, onde pediu às autoridades que permitissem
a ele e a seus discípulos fixar-se na cidade costeira de Jabne e aí
estabelecer uma academia. Joana percebeu muito bem que a única
importante vitória a ser conseguida na guerra contra Roma era a
sobrevivência do Judaísmo. Se fosse necessário, uma tradição
vitalizada poderia tornar-se uma "pátria portátil" para os judeus.
Jabne veio a ser o novo centro dessa tradição.
Após a revolta de Bar-Kochba, em 135 A. D., o centro de
estudos judaicos mudou-se para Usha, na Galiléia, perto da
moderna Haifa. Aqui os sábios começaram a coligir e codificar o
que havia das halakoth num documento que veio a ser chamado
Mishna.
Os sábios discordavam quanto à forma como se deveria
organizar as halakoth. Um grupo achava que elas deviam seguir a
ordem dos versículos bíblicos aos quais se referiam. Outro grupo,
encabeçado pelo rabi Akiba ben Joseph, era favorável a arranjar os
ditos pelo assunto, forma que foi finalmente adotada.
A tarefa de reunir a Mishna só foi completada na primeira
parte do terceiro século. A Mishna e a Gemam (comentário sobre a
Mishna), compreendem as principais partes do livro sagrado dos
judeus, chamado Talmude. Esta abrangente compilação do
procedimento, dos costumes, das crenças e dos ensinos judaicos
ainda é reverenciada e estudada pelos eruditos judeus.
3. Ofertas pacíficas. Uma refeição ritual chamada "oferta
pacífica" era partilhada com Deus, com os sacerdotes e, às vezes,
com outros adoradores. Ela incluía machos e fêmeas do gado
bovino, ovino ou caprino. O procedimento era quase idêntico ao
da oferta queimada. Neste caso, o sangue do animal era recolhido
e espargido ao redor do altar. A gordura e as entranhas eram
queimadas. O restante era comido pelos sacerdotes e (se a oferta
fosse voluntária) pelos próprios adoradores. Este sacrifício
expressava o desejo do adorador de dar graças ou louvor a Deus.
Às vezes, exigia-se dele que fizesse isto; de outras vezes, podia
fazê-lo espontaneamente.
As ofertas exigidas incluíam bolos não levedados. Os
sacerdotes tinham de comer tudo no mesmo dia em que o
sacrifício era feito, exceto a porção memorial dos bolos e os restos
do animal.
Quando a oferta era voluntária, os regulamentos não eram tão
estritos. Os adoradores não precisavam trazer bolos e podiam
comê-los em dois dias, e não apenas um. A porção do sacerdote
limitava-se ao peito e à coxa direita do animal, enquanto qualquer
pessoa cerimonialmente limpa podia comer do restante.
Jacó e Labão ofereceram este tipo de sacrifício quando
fizeram um tratado (Gênesis 31:43ss.). Alguns eruditos chamam
este sacrifício de "oferta de voto". As "ofertas de gratidão" e as
"ofertas voluntárias" seguiam o mesmo padrão geral. O sacrifício
de Saul (1 Samuel 13:8ss.) enquadrava-se na última categoria;
embora "forçado pelas circunstâncias" a fazê-lo, por certo não se
exigia dele que o fizesse. (De fato, Samuel censurou-o, dizendo
que o ato era ilegal.) As ofertas de voto e de gratidão eram
exigidas, ao passo que as ofertas voluntárias não o eram.
4. Ofertas pelo pecado. Os sacrifícios pelo pecado
"pagavam" ou expiavam as culpas rituais do adorador contra o
Senhor. Essas culpas eram involuntárias. "Disse mais o Senhor a
Moisés: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando alguém pecar
por ignorância contra qualquer dos mandamentos do Senhor, por
fazer contra algum deles o que não se deve fazer" (Levítico 4:1-2,
itálicos acrescentados). Moisés instruiu várias pessoas a
oferecerem sacrifícios diferentes nestes casos.
Os pecados do sacerdote eram expiados com a oferta de um
novilho. O sangue não era derramado sobre o altar, mas espargido
pelo dedo do sacerdote sete vezes sobre o altar. A gordura das
entranhas era queimada em seguida. Os restos eram queimados,
não comidos, fora do arraial ou cidade "a um lugar limpo, onde se
lança a cinza".
Os pecados dos príncipes ou dirigentes da comunidade eram
expiados com a oferta de um bode. O sangue era espargido
somente uma vez, ei o restante derramado ao redor do altar como
na oferta queimada.
Os pecados de qualquer pessoa eram expiados com cabras,
cordeiras,! rolas ou pombas. Se alguém não tinha condições de
oferecer nenhum? desses animais, a oferta de grão era aceitável. O
procedimento para a oferta de cereal era o mesmo da oferta de
manjares.
Seria impossível citar todas as formas pelas quais uma pessoa
podia cometer um pecado por ignorância contra Deus. Alguns
tinha mi implicações morais. Outros, como no caso dos leprosos
(cf. Lucas] 5:12ss.), eram puramente cerimoniais. Outro exemplo
de sacrifício] por uma falta cerimonial seria a oferta que uma
mulher fazia após ter] dado à luz, a fim de recuperar sua pureza
cerimonial (Levítico 12). As ofertas pela nação e pelo sumo
sacerdote cobriam todos estes pecados de um modo coletivo. No
dia da Expiação (Yom Kippur), o sumo sacerdote espargia sangue
sobre a própria arca da aliança. Este era o supremo ritual da
expiação.
A idolatria de Jezabel
Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sldom, foi criada em Sidom, foi
criada em Sidom, cidade comercial na costa do Mar Mediterrâneo.
Sidom era tida como centro de vícios e impiedades. Quando
Jezabel se casou com Acabe, rei de Israel, mudou-se para Jezreel,
cidade que servia ao Senhor. Jezabel decidiu logo transformar
Jezreel num» Cidade semelhante à sua cidade natal.
Jezabel tentou convencer o marido a começar a servir ao
bezerro de ouro, sob o pretexto de que tal culto realmente seria
uma adoração no Senhor. Na verdade, o bezerro era um ídolo
central do culto a Baal, um deus-sol Importante para os antigos
fenícios. Visto como se acreditava que Baal tinha poder sobre as
colheitas, sobre os rebanhos e sobre a fertilidade da» famílias
agrícolas, o bezerro de ouro multas vezes era associado com Baal.
Como o culto a este deus se espalhou pelos países fronteiriços da
Fenícia, outros povos também adotaram os ritos lascivos da
religião, os quais incluíam sacrifícios humanos, autotortura, e
beijar a imagem. As práticas do culto de Baal escandalizavam os
judeus piedosos, mas pelo fato de Acabe ser facilmente
manipulado por Jezabel, logo se ergueram em todo o Israel os
belos templos em honra de Baal.
Os sacerdotes do Senhor opunham-se a Jezabel; muitos deles
foram assassinados. Mesmo o grande profeta Elias fugiu de sua ira
(1 Reis 18:4-19).
Em seu esforço por apagar o nome de Deus em todo o Israel,
Jezabel tornou-se a primeira perseguidora religiosa na história
bíblica. Com tanta eficácia ela injetou o veneno da idolatria nas
veias de Israel que a nação sofreu.
Elias disse: "Os cães comerão a Jezabel dentro dos muros de
Jezreel" (1 Reis 21:23). Esta profecia cumpriu-se; somente a
caveira, os pés c as palmas das mãos de Jezabel ficaram para ser
sepultadas (2 Reis 9:36-37).
O coração dos israelitas deve ter amadurecido para a
idolatria, do contrário Jezabel não teria podido perverter tanto a
religião deles. O rei Acabe cometeu grave pecado contra Deus ao
casar-se com ela, porque Jezabel adorava a Baal (1 Reis 21:2526).
5. Ofertas pela culpa. A oferta pela culpa era semelhante à
oferta pelo pecado, e muitos estudiosos do assunto incluem-na na
primeira categoria. Sua única diferença estava em que a oferta
pela culpa era feita em dinheiro. Este sacrifício era feito pelos
pecados cometidos por ignorância, relacionados com fraude. Por
exemplo, se o adorador, sem premeditação, defraudasse alguém,
em dinheiro ou propriedade, seu sacrifício devia ser igual ao valor
da quantia tomada, acrescentada de um quinto. Ele oferecia esta
soma ao sacerdote, depois fazia uma restituição semelhante ao exdono da propriedade. Portanto, ele restituía duas vezes o que havia
tomado, mais 40% (Levítico 6:5-6).
Todos esses sacrifícios relacionavam-se diretamente ou com a
expiação (remoção da culpa) ou com a propiciação (manter o
favor de Deus). Eles lembram-nos igualmente as duas fortes
emoções em todo culto: temor e gratidão.
D. O ano ritual. O povo de Israel adorava a Deus nas
ocasiões pelo Senhor determinadas ou sempre que "o buscavam".
Mas, sob a liderança de Moisés, o culto tornou-se obrigatório em
certas ocasiões do ano. O povo começou a observar o sábado e
outros dias indicados de adoração.
Os mais importantes eventos do calendário ritual eram as três
grandes festas dos peregrinos ― a Páscoa, a Festa das Semanas
(Pentecoste), e a Festa dos Tabernáculos (ou Tendas). Em cada
uma dessas ocasiões, os varões israelitas iam ao lugar central de
culto para oferecer sacrifícios a Deus.
1. O sábado. Não parece ter havido observância alguma de
um dia especial de descanso entre os hebreus até ao tempo de
Moisés. A primeira menção do sábado encontra-se em Êxodo
16:23, quando os hebreus se acamparam no deserto de Sim antes
de receberem os Dez Mandamentos. Ali Deus os instruiu a
observar o sábado de sete em sete dias, em honra da obra da
criação (Êxodo 20:8-11; cf. Gênesis 2:1-3) e do livramento de
Israel do cativeiro (Deuteronômio 5:12-15; cf. Êxodo 32:12). O
sábado apartava os israelitas do trabalho e de qualquer outra
atividade comum (Êxodo 35:2-3); assim, o dia lembrava-lhes a
separação de Israel das nações vizinhas, e sua relação com Deus
como um povo da aliança.
Grande parte da matéria legal dos primeiros cinco livros da
Bíblia relaciona-se com a guarda do sábado. Quebrar o sábado era
como quebrar a aliança de Israel com Deus; por isso, a quebra era
punível com a morte (Números 15:32-36). Dois cordeiros eram
sacrificados no sábado, ao contrário de um cordeiro nos outros
dias (Números 28:9). Doze pães da proposição (representando as
12 tribos de Israel) eram apresentados no tabernáculo no sábado
(Levítico 24:5-8).
2. A Páscoa e a festa dos pães asmos. Durante as grandes
festas de peregrinação de Israel, todos OS homens eram obrigados
a apresentar-se diante do santuário do Senhor (Deuteronômio
16:16). A primeira e mais importante destas comemorações era a
festa da Páscoa. Ela combinava duas observâncias que
originalmente eram separadas: a Páscoa, a noite celebrada em
memória da passagem do anjo da morte sobre as famílias dos
hebreus no Egito, e a festa dos Pães Asmos, que comemorava os
primeiros sete dias do Êxodo. As duas celebrações estavam
estreitamente entrelaçadas. Por exemplo, o fermento devia ser
removido da casa antes de ser morto o cordeiro pascal
(Deuteronômio 16:4). Portanto, a refeição da Páscoa era de pão
sem fermento (Êxodo 12:8). Finalmente, o povo de Israel fundiu
em uma as duas celebrações.
Este grande festival começava na noite do décimo-quarto dia
de abibe (que teria sido considerado o começo do décimo-quinto
dia). O cordeiro ou cabrito era morto ao crepúsculo (Êxodo 12:6;
Deuteronômio 16:6) e era assado inteiro e comido com pão sem
fermento e ervas amargas. A cerimônia era cheia de simbolismo:
O sangue do animal simbolizava a purificação de pecados. As
ervas amargas representavam a amargura da escravidão no Egito.
E o pão asmo era símbolo de pureza.
Famílias inteiras participavam da ceia da Páscoa. Se a família
era pequena, os vizinhos se juntavam a ela até que houvesse
número suficiente para comer todo o cordeiro (Êxodo 12:4). O
chefe da casa recitava a história de Israel durante a refeição.
O primeiro e o sétimo dias da celebração eram guardados
como sábados: não havia trabalho algum e o povo se congregava
para uma assembléia santa (Êxodo 12:16; Levítico 23:7; Números
28:18, 25). No segundo dia da festa, o sacerdote movia um feixe
da primeira cevada colhida, perante o Senhor, para consagrar o
começo da colheita. Além dos sacrifícios regulares no santuário,
os sacerdotes sacrificavam diariamente dois novilhos, um
carneiro, e sete cordeiros como oferta queimada e um bode como
oferta pelo pecado (Levítico 23:8; Números 28:19-23).
3. A Festa das Semanas (Pentecoste). Esta festa era
observada 50 dias após a oferta do feixe de cevada na festa dos
pães asmos. Ela assinalava o fim da colheita e o começo da oferta
sazonal das primícias (Êxodo 23:16; Levítico 23:15-21; Números
28:26-31; Deuteronômio 16:9-12). Este festival de um dia era
observado como sábado, com uma santa convocação no
tabernáculo. Eram oferecidos dois pães sem fermento, ao lado de
dez animais próprios para oferta queimada, um bode para oferta
pelo pecado, e dois cordeiros de um ano para oferta pacífica. Os
sacerdotes insistiam com o povo para que neste festival se
lembrasse de ter sido um povo necessitado (Deuteronômio 16:1112), como o deviam fazer em todas as festas de peregrinação.
A rocha sagrada. Atualmente no centro da mesquita de Ornar
(completada em 691 A. D.), esta rocha está situada no local dos
templos de Salomão e de Herodes. Muitos acreditam que a rocha
outrora formava a base do altar judaico. O local é sagrado também
para os muçulmanos, que crêem ter sido deste ponto que Moamé
ascendeu ao céu.
4. A Festa dos Tabernáculos (Tendas). Esta festa
comemorava a peregrinação de Israel no deserto. Ela recebe seu
nome do fato que os israelitas viviam em tendas ou sob ramos de
árvores durante a celebração (Levítico 23:40-42). A festa
começava no décimo-quinto dia do sétimo mês (tisri), e durava
sete dias. Ela caía no fim da época da colheita ― daí um terceiro
nome para a festividade, a "Festa da Colheita" (Êxodo 23:16;
34:22; Levítico 23:39; Deuteronômio 16:13-15). O sacerdote
oferecia uma oferta queimada especial de 70 novilhos durante a
semana. Dois carneiros e 14 cordeiros eram o holocausto diário, e
um bode a oferta diária pelo pecado (Números 29:12-34).
Todo sétimo ano, quando não havia colheita por causa do ano
sabático, a Lei de Moisés era lida publicamente durante a festa.
Tempos mais tarde, foi acrescentado outro dia à Festa das Tendas
para este fim. Era conhecido como Simhath Torah ("Alegria da
Lei"), em homenagem à Lei.
5. O Dia da Expiação. A lei de Moisés exigia somente um
jejum ― o Dia da Expiação (Êxodo 30:10; Levítico 16; 23:31-32;
25:9; Números 29:7-11). Este dia caía no décimo dia de tisri,
exatamente antes da Festa das Tendas.
O dia era separado para a purificação de pecados. Era
observado abstendo-se de trabalho, jejuando e comparecendo a
uma santa convocação. O sumo sacerdote trocava suas vestes
esmeradas por; uma vestimenta simples de linho branco e oferecia
uma oferta por si próprio, pela sua casa e por toda a nação de
Israel.
Um aspecto interessante da observância do dia era que o
sumo sacerdote simbolicamente transferia os pecados do povo
para um bode, ou bode emissário. O sacerdote punha as mãos
sobre a cabeça do bode e confessava os pecados do povo. Então o
bode era levado ao deserto, onde era abandonado para morrer. (Em
tempos posteriores, um assistente conduzia o bode para fora de
Jerusalém e o arrojava de um dos penhascos que havia ao redor da
cidade.) Este ato encerrava os ritos do Dia da Expiação, O povo,
livre do pecado, dançava e regozijava-se (cf. Salmo 103:12).
Bacia ritual. Os sacerdotes lavavam nesta bacia vários objetos de
culto para obter pureza cerimonial. Os antigos hebreus
consideravam a pureza um atributo tanto físico como moral.
Pessoas enfermas e os objetos que elas tocavam eram tidos como
impuros (Levítico 15:22).
DA MONARQUIA AO EXÍLIO
Os padrões de culto de Israel mudaram perceptivelmente
desde o tempo da monarquia (que começou quando Saul se tornou
rei, em 1043 a. C.) até ao tempo do Exílio (que começou quando
os babilônios capturaram Judá no ano 586 a. C).
Antes disto, o povo de Israel adorava a Deus em muitos
lugares diferentes; no governo dos reis, o culto concentrava-se
num lugar central de sacrifício. Antes, uma pessoa podia fazer
uma oferta sob o impulso do momento; agora, ela tinha de seguir
os procedimentos estabelecidos pela lei de Moisés.
A. O templo. O primeiro rei de Israel, Saul, parece ter ficado
confuso acerca do modo próprio de cultuar. Às voltas com a
derrota certa nas mãos dos filisteus, ele retrocedeu ao antigo
sistema. Edificou um altar ali mesmo no seu acampamento e pediu
a ajuda de Deus. Samuel chegou logo depois para adverti-lo do
mandamento do Senhor de não adorar "em todo lugar" (1
Samuel 13:8-14; cf. Deuteronômio 12:13).
Sob a liderança de Davi, Israel, como nação, se tornou mais
forte e mais rica. Depois de construir um grande palácio de cedro,
pareceu errado a Davi que ele morasse em casa de cedros, e a arca
de Deus se achasse numa tenda (2 Samuel 7:2). Portanto, com a
bênção do profeta Nata, Davi reuniu materiais e comprou o local
para um templo, uma casa de Deus (2 Samuel 24:18-25; 1
Crônicas 22:3). Contudo, ele não iria construir o templo (1
Crônicas 22:6-19), mas seu filho Salomão.
Os capítulos 6 e 7 do primeiro livro dos Reis e os capítulos 3
e 4 do segundo livro das Crônicas contêm descrições do templo.
Há urra notável semelhança entre o templo de Salomão e os
planos do tabernáculo (Êxodo 25-28). Por exemplo, cada um deles
tinha de câmaras ou pátios. Os altares do templo eram de bronze
com utensílios semelhantes aos do tabernáculo. A maioria das
representações gráficas do templo incluem degraus que levam a
um alpendre com duas colunas de cada lado de uma porta. Dentro
da menor estava a arca da aliança. Uma espécie de galeria para
armazenar o tesouro nacional circundava todo o edifício.
B. Sacerdotes, Profetas e Reis. No tempo de Moisés
desenvolveu-se um sacerdócio formal na tribo de Levi. Contudo,
sob a monarquia, houve exemplos de sacerdotes não levíticos (2
Samuel 8:17; 20:25; 1 Reis 4:4). Em 1 Reis 12:31 lemos que
Jeroboão, o primeiro rei do reino do norte, constituiu seu próprio
sacerdócio: "sacerdotes, que não eram dos filhos de Levi".
As atribuições sacerdotais foram muito especializadas
durante a monarquia. Por exemplo, um grupo incumbia-se do
altar, e outro estava encarregado do azeite das lâmpadas.
Mas o povo reconhecia que Deus tinha outros porta-vozes
além dos sacerdotes. Quando o povo quis um rei, dirigiram-se a
Samuel, o profeta. Que papel desempenharam os profetas no culto
de Israel?
Sabemos que os profetas davam conselho aos reis (1 Reis
22), mas também falavam ao povo nos santuários. Havia,
realmente, um "ofício de profeta" formal, como havia um
sacerdócio distinto; Amós no-lo diz, negando que pertencia ao
corpo de profetas (Amós 7:14).
Os dois grupos ― sacerdotes e profetas ― tinham diferentes
propósitos e funções. Por exemplo, a Bíblia não fala com
freqüência sobre profetas no culto; ela fala mais vezes das críticas
que faziam das
práticas de culto.
O rei também desempenhava importante papel no culto de
Israel; alguns dizem que seu papel era o mais importante de todos.
Quando ele se comunicava com Deus, a nação inteira sentia o
impacto (2 Samuel 21:1). O sumo sacerdote ungia o rei para
significar que Deus o escolhera para sua tarefa real (cf. 1 Samuel
10:1). Como representante ungido do povo, o rei tinha de fazer
sacrifícios (1 Reis 8; 2 Samuel 24:25). Ele reunia materiais para o
templo e ordenava a construção. No fim, ele tinha poder de afetar
tudo o que Israel fazia concernente ao culto. Alguns dos últimos
reis profanaram as atividades do templo com rituais e ídolos
estrangeiros. Mas outros forçaram uma volta aos modos próprios
de culto.
A compreensão que o povo tinha do sacrifício foi desafiada
neste período. Vejam-se estas palavras do profeta Miquéias: "Com
que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus
excelso? Virei perante ele com holocaustos? com bezerros de um
ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros? de dez mil
ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha
transgressão? fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma?"
(Miquéias 6:6-7). Os israelitas tinham de reconhecer que o motivo
é mais importante do que o próprio ato de sacrifício. Eles
precisavam ver que o Senhor não exige grandes sacrifícios por
amor aos sacrifícios, mas requer justiça, misericórdia e humildade
(Miquéias 6:8). Esta distinção tinha efeitos de longo alcance.
Nem toda a matança de animal agora era considerada como
sacrificial. O povo podia matar e comer quanto quisesse; mas não
podia comer o dízimo do grão, das primícias, ou de qualquer outro
sacrifício. Começaram a considerar alguns atos de matança como
sagrados, enquanto outros eram seculares.
Diagrama do templo em Araq-el-Emir. Esta reconstrução de um
templo judaico edificado pelos macabeus sob João Hircano baseiase nos achados de escavações no local. A fachada do edifício
erigido no começo do segundo século a, C, foi decorada com
enormes figuras de leões em relevo. O interior retangular exibia
quatro sala» de canto, uma das quais era uma torre com escada».
Em tempos posteriores, o templo de Salomão foi profanado de
várias formas por infiéis reis judaicos (cf. 1 Reis 14:26; 2 Reis
12:4-15; 16:8; 18:15-16; 21:4; 23:1-12). Finalmente,
Nabucodonosor o destruiu no ano 586 a. C.
C. Festas. As principais festas deste período ainda eram a das
Semanas, a dos Pães Asmos (Páscoa) e a das Tendas. O
comparecimento do povo ainda era obrigatório, mas todas elas
eram realizadas em Jerusalém. (Outrora, eram realizadas em
qualquer lugar onde se encontrasse a arca da aliança.)
Geralmente, o culto durante a monarquia era realizado numa
atmosfera de regozijo. Havia música, gritaria e danças. Mas o
culto também se caracterizava por orações, votos, vigílias,
promessas, refeições sagradas e lavagens rituais.
As influências estrangeiras começaram a infiltrar-se no culto
de Israel e os profetas as denunciaram em alta voz. Amós clamou
contra a quebra da lei ritual (Amós 2:8), contra a prostituição
ritual (Amós 2:4), e contra o culto que não era acompanhado de
arrependimento (Amós 4:4-6). Ele disse que Deus desprezava as
festas de Israel (Amós 5:21-24). Os profetas também denunciaram
a idolatria no culto de Israel (2 Reis 18:4; Isaías 2:8, 20; Oséias
8:4-6; 13:1-2). Mesmo o próprio templo ― seus móveis e
utensílios, simbolismos e padrões de culto ― mostravam
influências cananéias, fenícias e egípcias.
A reforma levada a efeito pelo rei Josias (639-608 a. C.)
aboliu os altares locais e acabou com as famílias sacerdotais
locais. Todos os sacrifícios eram novamente feitos em Jerusalém.
Josias suprimiu os cultos locais e todos os ritos idolatras (2 Reis
23:4-25). Após a sua morte, porém, Judá voltou a fazer o que era
mau perante o Senhor (2 Reis 23:32, 37).
O EXÍLIO E O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
No ano 586 a. C, Nabucodonosor saqueou Jerusalém e
destruiu o templo santo que Salomão havia edificado. Agora os
israelitas não poderiam cultuar como o faziam antes; foram
obrigados a mudar seu modo de culto. Este período de exílio
começou com o que podíamos chamar de "últimos anos" do culto
de Israel.
A Bíblia diz pouca coisa sobre o que aconteceu no local do
templo enquanto os judeus se encontravam no exílio. O "templo"
de Ezequiel foi, provavelmente, uma visão. Porém, Ciro da Pérsia
ordenou aos israelitas que construíssem "uma casa [a Deus] em
Jerusalém de Judá" (Esdras 1:2). Ciro também lhes restituiu os
vasos sagrados de ouro e de prata que Nabucodonosor havia
levado como despojo (Esdras 5:14).
De muitas maneiras, pois, o segundo templo seria como o de
Salomão. Mas a arca da aliança foi permanentemente perdida
durante a invasão babilônia. Somente um pequeno grupo de
israelitas restaurou o templo, por isso o capital e a mão-de-obra
foram mínimos. O novo edifício era menor e menos adornado do
que fora o de Salomão. Não obstante, seguia as linhas descritas
por Moisés em Êxodo 25-28.
Evidentemente, todo o culto judaico centralizava-se no novo
templo. A Mishna diz que os Salmos estavam em grande uso nessa
época. Os salmos de romagem (120-134) eram cantados na Festa
das Tendas, e os salmos de hallel (113-118; 136) eram usados em
todas as grandes festas.
Os judeus achavam estar sob o peso da ira e do juízo de
Deus. Para reparar a culpa, eles começaram novamente a fazer
ofertas e sacrifícios.
Os levitas encontravam-se entre os primeiros a regressar a
Judá: "Então se levantaram os cabeças de famílias de Judá e de
Benjamim, e os sacerdotes e os levitas, com todos aqueles cujo
espírito Deus despertou, para subirem a edificar a casa do Senhor,
a qual esta em Jerusalém" (Esdras 1:5). Note-se que as Escrituras
dizem sacerdotes e levitas", como se os dois não mais fossem
sinônimos. Nem todos os levitas eram agora considerados
sacerdotes - só o eram os descendentes de Arão. Durante a
monarquia outros ramos da tribo de Levi tinham sido aceitos
como sacerdotes. Mas após o exílio, todos os que alegavam ser
sacerdotes tinham de provar que descendiam de Arão antes de
serem admitidos no ofício (Esdras 2:61-63; Neemias 7:63-65).
Outros funcionários do templo que regressaram foram os
cantores os porteiros, os servidores do templo (Nethinitn), e os
filhos dos servos de Salomão (Esdras 2:41-58; cf. 7:24; Neemias
7:44-60). O livro das Crônicas refere-se aos cantores e porteiros
como levitas mas eles eram de origem estrangeira. Eram
descendentes de cativos de guerra que assistiam os levitas no
templo de Salomão. No tempo de Neemias essas pessoas juraram
que "andariam na lei de Deus e não se casariam com estrangeiros
(Neemias 10:28-30).
Neste período pós-exílio ocorreu uma mudança muito
importante Levítico 10:10-11 deu aos sacerdotes responsabilidade
tanto pela instrução moral como pelas questões cerimoniais, mas o
papei docente dos sacerdotes parece ter desaparecido. Ocorre
somente uma menção de ensino sacerdotal após o exílio (Ageu
2:10-l3). Na verdade, o profeta Malaquias queixou-se de que os
sacerdotes de seu tempo falharam neste importante aspecto
(Malaquias 2:7-8). Levitas que não os sacerdotes instruíam o povo
no tocante a Lei (Neemias 8:7). O sacerdote tornou-se uma
entidade semelhante ao rei, combinando funções tanto religiosas
como cívicas.
Sacrifício samaritano. Os samaritanos ainda oferecem sacrifícios
segundo a lei de Moisés, quase como os que fizeram seus
antepassados. Aqui são oferecidos cordeiros no monte Gerizim em
comemoração da Páscoa.
A jubilosa atmosfera dos antigos rituais cedeu lugar a uma
atmosfera de gravidade e remorso. As festas rituais tinham sido
principalmente refeições sociais; agora passaram a ser períodos de
introspecção inspiradores de temor. Após o exílio os israelitas
buscavam aprender como poderiam ser mais obedientes à aliança
de Deus.
Um novo e mais alegre festival ― a festa de Purim ― foi
acrescentado às observâncias cerimoniais neste período. Esta festa
realizava-se nos dias 14 e 15 do mês de adar para comemorar o
livramento dos judeus das mãos de Hamã enquanto viviam sob o
governo persa. Desde o tempo do exílio os judeus têm observado
esta festa em reconhecimento do contínuo livramento de Deus
para com o seu povo.
A observância do Purim seguia uma norma fixa. O dia 13 de
adar era dia de jejum. No crepúsculo daquele dia (que é o começo
do dia 14), os judeus congregavam-se para um culto nas suas
sinagogas. Após o culto, lia-se o livro de Ester.
Ao ser lido o nome de Hamã, o povo clamava. "Seja apagado
o seu nome", ou "O nome do perverso apodrecerá". Os nomes dos
filhos de Hamã eram todos lidos de um só fôlego, para acentuar o
fato de que todos foram enforcados ao mesmo tempo.
Na manhã seguinte o povo ia novamente à sinagoga a fim de
concluir a observância religiosa formal. O restante do dia era
dedicado ao folguedo. Como em outras observâncias festivas, os
ricos eram convocados a prover para os pobres.
No ano 333 a. C, Alexandre Magno começou a conquista da
Síria, do Oriente Médio e do Egito. Após sua morte em 323 a. C,
seus generais dividiram entre si as terras conquistadas. Após
muitos anos de discórdias políticas, assumiu o controle da
Palestina uma linha de reis sírios conhecidos como selêucidas. O
governante selêucida por nome Antíoco IV impôs sua vontade aos
judeus proibindo-os de participar dos sacrifícios, ritos, festas e
culto de qualquer natureza.
Em 167 a. C, um oficial sírio levou ao templo um judeu e
obrigou-o a oferecer sacrifício a Zeus. Um sacerdote por nome
Matatias presenciou o acontecimento. Ele matou a ambos, exigiu
que todos os judeus fiéis o seguissem e fugiu para as colinas fora
de Jerusalém. Aqui ele e seus filhos organizaram-se para a guerra
contra os selêucidas. Desceram contra Jerusalém, derrotaram o
exército sírio, e tomaram a cidade. Os dirigentes sírios foram
obrigados a revogar suas ordenanças contra o culto em Israel.
Agora o templo poderia ser purificado e o verdadeiro culto
restaurado. (O relato bíblico deste período pode ser encontrado
nos livros deuterocanônicos de 1 e 2 Macabeus.) Os judeus atuais
lembram-se deste grande evento na festa da Dedicação ou
Hannukkah. O próprio Jesus estava em Jerusalém por ocasião de
uma celebração de Hannukkah, perto do fim de seu ministério
terrena! (João 10:22). Esta festa que dura oito dias é celebrada no
vigésimo quinto dia do mês de quisleu, também conhecida como
Festa das Luzes; é marcada pelo acendimento de oito velas ―
uma em cada dia da festa. A celebração inclui o cântico dos
salmos de hallel e é um tanto semelhante à festa das Tendas.
Sob o governo dos macabeus, os judeus cultuavam de uma
maneira nacionalista. Suas esperanças de uma terra governada por
Deus trouxeram nova ênfase ao culto, tal como o uso de literatura
apocalíptica. A profecia ia diminuindo aos poucos à medida que a
literatura apocalíptica lhe tomava o lugar. Um escritor apocalíptico
expressou desta forma suas esperanças de um reino terrenal de
Deus: "E agora, ó Senhor, eis que estes pagãos, que têm sido
reputados por nada, começaram a ser senhores sobre nós, e a
devorar-nos. Nós, porém, teu povo, a quem tu chamaste de teu
primogênito, teu unigênito, e teu fervente amante, somos
entregues nas mãos deles. Se o mundo agora é feito por nossa
causa, por que não possuímos uma herança com o mundo? até
quando durará isto?" (2 Esdras 6:57-59). Todavia, durante este
período o vidente ou apocaliptista falava por Deus. Ele falava de
demônios e anjos, de trevas e luz, de mal e bem. Predizia o triunfo
final da nação de Israel. Esta esperança fluía como corrente
subterrânea do culto judaico.
Outro aspecto do culto que se destacou neste período foi o
estudo da Lei. Era, antes de tudo, um dever sacerdotal, em que se
concentravam os hasidim (fariseus). Eles produziram muitos
novos ensinos e doutrinas, notadamente a doutrina da ressurreição
dos mortos.
A ERA NEOTESTAMENTÁRIA
No ano 47 a. C, Júlio César escolheu a Herodes Antipatro,
judeu da Iduméia (região sul da Judéia), para governador da
Judéia. Seu filho, Herodes o Grande, herdou o cargo e chamou a si
mesmo de "rei dos judeus". Reconhecendo a história de
inquietação do povo, Herodes quis, de alguma forma, ganhar-lhes
o favor e a fé. Para tanto, ele anunciou a construção de um terceiro
templo em Jerusalém, Os sacerdotes especialmente treinados na
arte de construção contribuíram muito para a obra, para ter certeza
de que o novo edifício seguia a planta de Moisés. A maior parte do
edifício se completou em cerca de dez anos (cerca de 20-10 a. C),
mas nem tudo estava terminado até por volta do ano 60 A. D. (Na
verdade, alguns eruditos acham que o novo templo não tinha sido
acabado no tempo em que Jerusalém caiu sob Tito, geral romano,
em 70 A. D.). A maior parte das atividades de culto realizava-se
aqui.
Não obstante, durante as perseguições e exílios de Israel,
muitos judeus achavam-se distantes demais de Jerusalém para
cultuarem aqui. Significa isto que eles não podiam prestar culto a
Deus? De maneira nenhuma! Pelo contrário, eles instituíram o
costume do culto na sinagoga local. Certamente, muitos desses
lugares de culto informal existiram durante o exílio. O Novo
Testamento menciona as sinagogas muitas vezes (p. ex., Mateus
4:23; 23:6; Atos 6:9), mas nos dá pouca informação descritiva
sobre elas. De fontes rabínicas sabemos algo das primitivas
sinagogas. Também sabemos que a Lei era estudada e apresentada
aí: "Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os
que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados" (Atos
15:21). Recitavam-se muitas orações no culto da sinagoga
(Mateus 6:5). Fontes não bíblicas dizem que os cultos da sinagoga
consistiam numa oração invocativa, outras orações e bênçãos, a
leitura da Lei de Moisés, a leitura dos profetas, e uma oração
abençoadora (Megilá 4:3). Somente determinadas pessoas tinham
permissão de dirigir o culto, daí ser questionado o direito de Jesus
de fazê-lo (Marcos 6:2-4). Paulo ensinou nas sinagogas, mas ele
também teve alguma dificuldade (Atos 17:17; 26:11).
Gerizlm vs. Jerusalém
"Senhor, disse-lhe a mulher: Vejo que tu és profeta. Nossos
pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em
Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (João 4:19-20).
Essas palavras foram proferidas por uma mulher junto ao
poço no pé do monte Gerizim, em Samaria, onde Jesus parou para
beber água, e revelam um velho conflito entre judeus e
samaritanos.
O monte Gerizim é o membro sulista de um par de
montanhas, entre as quais se situa a antiga Siquém. A montanha
nortista, Ebal, é mais baixa. A localização é estratégica, visto que
as rotas de viagem se encontram na passagem formada pelas
montanhas. Por isso a cidade de Siquém é freqüentemente
mencionada em Gênesis. Foi em Ebal e Gerizim que as tribos se
reuniram sob Josué para ouvir a maldição e a bênção relacionadas
com a violação e observância da lei (Deuteronômio 11:29).
Os samaritanos sustentavam que Siquém, a primeira capital
de Israel, era o lugar escolhido por Deus para sua habitação. Os
judeus alegavam que o lugar escolhido por Deus era Jerusalém.
Qual era a cidade de Deus?
Capturada pelos assírios em 722 a. C, a cidade de Samaria
tornou-se uma colônia militar. Os recém-chegados ligaram-se por
casamento com os samaritanos e aceitaram sua religião.
O império persa caiu em 333 a. C, e os macedônios sob a
direção de Alexandre Magno desceram a costa da Síria em direção
do Egito. Jerusalém estava entre as cidades que se renderam aos
macedônios. Em 332 a. C. Samaria rebelou-se, e como castigo
Alexandre enviou colonizadores para lá.
Ao estabelecer-se uma colônia grega, as aldeias nativas sob o
controle grego muitas vezes formavam uma união em torno de um
santuário antepassado. Foi isto que aconteceu em Siquém. Os
"sidônios (cananeus) de Siquém" foram organizados neste estilo
grego para servirem ao Deus de Israel. Eles não aceitariam os
macedônios nem se tornariam dependentes de Jerusalém.
Disseram eles aos judeus: "...como vós, buscaremos a vosso
Deus..." (Esdras 4:2), mas não cederiam à exigência dos judeus de
adorarem em Jerusalém.
O povo de Siquém fundou um novo santuário. Consagrado ao
Deus tanto de Jerusalém | como de Siquém, ele estava situado no
cimo de Gerizim, dando vistas para Siquém.
A principal querela entre judeu e samaritanos era sobre qual
possuía o santo templo de Deus. Mais tarde, cada grupo inventou
suas próprias] histórias para explicar as origens da controvérsia do
templo samaritano. Os samaritanos alegavam que seu templo fora
fundado por Alexandre Magno. Os judeus diziam que ele :
fundado pelo filho de uma família sumo-sacerdotal, a quem
Neemias expulsou do templo por ser casado com mulher
samaritana. Reivindicações tais como essas obscureciam a
verdadeira origem do cisma e confundiam questão de data, a qual
ainda não se conhece com clareza.
Os judeus consideravam os seguidores de Jesus como uma
seita do Judaísmo. Foi-lhes, portanto, permitido cultuar no sábado
juntamente com seus companheiros nas sinagogas e no templo.
Jesus amava o templo e o respeitava. Ele o apoiava
incentivando seus seguidores a freqüentá-lo. Declarou-o sagrado
(Mateus 23:16ss.) e julgou-o digno de purificação (Mateus 21:12).
Não obstante, Jesus disse: "Aqui está quem é maior que o templo"
(Mateus 12:6), referindo-se a si mesmo. Ele acusou que o templo
havia sido transformado em "covil de salteadores" (Mateus 21:13).
A princípio os discípulos tinham emoções conflitantes acerca
do culto no templo e na sinagoga. Finalmente, porém, os judeus e
os cristãos se antagonizaram a tal ponto que pouca escolha restava
senão cultuar separadamente. Este conflito não girava em torno da
forma ou do local de culto, mas em torno da natureza do próprio
culto. Isto se reflete na conversa de Jesus com a samaritana junto
ao poço. Disse ela: "Nossos pais adoravam neste monte; vós,
entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve
adorar." Ela pensava claramente no culto em termos de aspectos
externos, tal como a localização. Jesus respondeu: "Mulher, podes
crer-me, que a hora vem, quando nem neste monte, nem em
Jerusalém adorareis o Pai... Mas vem a hora, e já chegou, quando
os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em
verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores"
(João 4:21, 23). Cristo e seus seguidores sabiam que a salvação e a
justiça não vinham de ofertas e sacrifícios, mas da obediência a
Deus em "espírito e em verdade". Quando Deus age e nós
reagimos em adoração, nossa reação visível não é tão importante
quanto nossa atitude invisível. (Talvez a oferta de Abel tivesse
sido aceitável porque ele não abrigava ódio no coração, ao passo
que a oferta de Caim foi inaceitável por causa do ódio que tinha
contra o irmão.
Não sabemos se Jesus e os apóstolos participavam de todas as
festas e rituais judaicos. O Novo Testamento não nos dá um relato
completo de suas atividades. Mas há algum indício de que os
cristãos primitivos se reuniam nas casas para culto, quase como os
judeus se reúnem nas sinagogas locais. Paulo refere-se à "igreja
que está em tua casa" (Filemom 2), "a igreja que se reúne na casa
deles" (Romanos 16:5), e à "igreja que ela hospeda em sua casa"
(Colossenses 4:15). Mais tarde, sob severa perseguição romana, os
lugares de reunião tornaram-se ainda mais humildes e até mesmo
secretos.
Muro ocidental, Jerusalém.
O mais santo dos lugares no
mundo judaico é o lado ocidental do muro que Herodes o Grande
construiu para fechar a área de seu templo. O muro é chamado
"Muro das Lamentações" por dois motivos: Primeiro, os judeus se
reúnem aqui. para lamentar a perda do templo. Em segundo lugar,
diz a lenda que as gotas de orvalho que se formam nas pedras são
lágrimas vertidas pelo muro com pena dos judeus exilados.
RECONHECIMENTOS
A Editora agradecidamente reconhece a cooperação destas
fontes, cujas ilustrações aparecem na presente obra:
Augsburg Publishing House, 126, 133; Bildarchiv Photo
Marburg, 52, 68; Museu Britânico, 52, 86, 110, 123, 147, 152;
Escola Britânica de Arqueologia, 139, 142; Gaalyah Cornfield,
138, 160; Departamento de Museus (Chipre), 63; Museu Nacional
Egípcio, 24; Fototeca Unione, 30; Instituto Arqueológico Alemão,
45; Giegel (Zurique), 19; Museu Ha-Aretz, 9, 14; Museu do
Iraque, 38; Levant Photo Service, 102; O Louvre, 36; Imprensa
Governamental de Israel, 170, 173; Departamento de Antigüidades
e Museus de Israel, 35, 61, 178, 144, 168; Matson Photo Service,
102, 157, 166; Museu Metropolitano de Arte, 148; R. H. Mount,
Jr., 158; Thomas Nelson, Inc., 178; Instituto Oriental, 79, 140,
149; Reader's Digest Association, 95; Claude Schaeffer-Forrer, 24;
Charles Scribner's Sons & B. T. Batsford, Ltd., 136; Standard
Publishing Co, 10, 13, 45, 114, 131; Museu da Universidade, 28;
Universidade de Tel-Avive, 155; A. A. M. Van der Heyden, 97;
Howard Vos, 101. A casa publicadora procurou observar as
exigências legais com respeito aos direitos dos fornecedores de
materiais fotográficos. Não obstante, os que tiverem
reivindicações queiram dirigir-se à Editora.

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