Glauber Rocha: Uma Revolução Baiana

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Glauber Rocha: Uma Revolução Baiana
Apresentam
Glauber Rocha: Uma Revolução Baiana
Salvador, março de 2008
AFX_Revolução Baiana 2.pdf
1
9/3/14
9:32 PM
e
Apresentam
Glauber Rocha:
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Uma Revolução Baiana
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Realização
Apresentam
Glauber Rocha: Uma Revolução Baiana
Salvador, março de 2008
Lateral da casa
de Antônio Vicente,
avô materno
de Glauber Rocha,
1980-1989.
1939
FatOs
pEssoAis
Nasce no dia 14 de março, às 3h40, em Vitória
da Conquista, Bahia, Glauber de Andrade Rocha,
primeiro filho de Adamastor Bráulio Silva Rocha
e Lúcia Mendes de Andrade Rocha. O nome Glauber, dado pela mãe, é inspirado no do cientista
alemão Johann Rudolf Glauber (1603-68), que
descobriu o sulfato de sódio ou “sal de Glauber”. É batizado na Igreja presbiteriana, tendo como padrinhos a própria mãe e o pastor.
O pai, Adamastor, vinha de família católica.
Lúcia e Glauber Rocha,
1939.
Torna-se obrigatória a exibição de um
longa-metragem brasileiro por ano em cada
sala de cinema. Cria-se o DIP (Departamento
de Imprensa e Propaganda), órgão
governamental encarregado da censura.
A Cinédia produz comédias musicais; Carmem
Miranda lança o compositor Dorival Caymmi
no filme “O Que é que a Baiana Tem?”.
Com o crescimento da colônia nipônica,
filmes japoneses são exibidos regularmente
em São Paulo. Getúlio Vargas é o presidente
da República desde 1934, tendo assegurado
sua permanência no governo com o golpe
que instaurou o Estado Novo em 1937.
1
1940/1944
1940. Em 27 de agosto, nasce
Ana Marcelina de Andrade
Rocha, irmã de Glauber.
1942. Em 26 de outubro, nasce
a segunda irmã de Glauber,
Anecyr de Andrade Rocha.
O INCE (Instituto Nacional de Cinema Educativo), produz
“Bandeirantes” de Humberto Mauro com Carmem Santos.
Paulo Emilio Salles Gomes coordena o primeiro Clube
de Cinema de São Paulo, na Faculdade de Filosofia.
A guerra impede a importação de filme virgem.
É fundada, no Rio, a Atlântida Cinematográfica.
A Cinédia leva vedetes do Teatro Dulcina e Odilon
para o cinema, em “24 horas de Sonho”.
Orson Welles filma ”It’s all True” (“É Tudo Verdade”)
no Brasil. Fim da revista Cinearte, publicada desde 1916.
Vinícius de Moraes, crítico de cinema, inicia a polêmica
cinema mudo x falado. O Brasil declara guerra aos
países do Eixo durante a II Guerra Mundial.
A Atlântida produz seu primeiro longa-metragem,
“Moleque Tião”, de José Carlos Burle, sucesso
com Grande Otelo. A Cinédia lança “Samba
em Berlim”, de Luís de Barros, sátira
musical de Hitler e do nazismo.
A Cinédia produz “Berlim na Batucada”, de
Luís de Barros, com Procópio Ferreira, sátira das
relações de amizade entre o Brasil e os EUA.
2
Anecyr e Ana Marcelina,
irmãs de Glauber.
Glauber com suas irmãs
na Praça da Piedade.
1945/1946
1945. Glauber, aos seis anos, viaja
para o Rio de Janeiro com os pais.
19 4 6 . Alfabetizado
pela
mãe,
Glauber entra para a escola, aos
sete anos. Cursa o primário em
um colégio católico em Vitória
da Conquista. Morre a avó de
Glauber, Dona Marcelina.
A Cinédia produz “O Cortiço”, de Luís de Barros,
adaptado de Aluísio de Azevedo, e investe em novas
adaptações literárias. A dupla Oscarito e Grande
Otelo estréia em “Não adianta Chorar”, de
Watson Macedo (Atlântida). Humberto Mauro
inicia a série Brasilianas no INCE com “ChuáChuá” e “Casinha Pequenina”. Getúlio Vargas
é deposto pelo exército. O Gal. Eurico Gaspar
Dutra assume a presidência da República.
Torna-se obrigatória a exibição de três
longas-metragens brasileiros por ano em cada
sala. Jorge Amado, deputado em São Paulo, pelo
Partido Comunista, propõe uma nova legislação
cinematográfica. “O Ébrio”, de Gilda de Abreu,
com Vicente Celestino, é o grande sucesso
da Cinédia. É criado o Clube de Cinema da
Glauber com sua mãe Lúcia
e irmãs, Anecyr e Ana Marcelina.
Glauber aos quatro anos com o pai
Adamastor Rocha, no Rio de Janeiro.
Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro.
3
1947/1948
Pai de Glauber, Adamastor Rocha,
em frente sua loja “O Adamastor”.
1947. Glauber acompanha o pai nas
viagens pelo sertão da Bahia.
1948. A família de Glauber muda-se
para Salvador. O pai abre na
rua Chile, a loja O Adamastor.
Engenheiro
de
estradas
de
rodagem, o pai sofre um acidente
que deixa graves seqüelas. A
mãe, aos 29 anos, assume os
negócios e a chefia da família.
A chanchada domina o cinema brasileiro com
filmes populares e distribuição garantida.
Carmem Santos realiza “Inconfidência Mineira”
e a Atlântida realiza “Terra Violenta”, adaptação
de Jorge Amado. No Rio é criado o Círculo de
Estudos Cinematográficos. Surgem os cineclubes
de Porto Alegre, Santos e Fortaleza.
4
1949/1950
Glauber na peça “El Hijito de Oro”.
1949. Glauber vai para o internato do
Glauber aos oito anos.
colégio presbiteriano 2 de julho, em
Salvador, conhecido pela disciplina
e rigor. Recebe educação religiosa
e participa das festas e do coro do
colégio. Escreve a peça de teatro “El
Hilito de Oro”, encenada pelo professor
Josué de Castro e protagonizada pelo
próprio Glauber que faz o papel de
um príncipe espanhol.
1950. Glauber pede para ser transferido
do internato para o externato do
Colégio 2 de Julho.
Comemorações do IV centenário da
de Adolfo Celi. Em Salvador, Walter da
fundação da cidade de Salvador. Fundação
Silveira cria o Clube de Cinema da Bahia.
da Companhia Vera Cruz em São Paulo.
Getúlio Vargas é eleito para um novo
A Atlântida produz “Carnaval no Fogo”,
mandato como presidente da República.
de Watson Macedo e “Também Somos
Irmãos” de José Carlos Burle. Carmem
1951. Torna-se obrigatória a exibição
Santos produz “Inocência”, adaptação
de um filme brasileiro a cada oito filmes
de Taunay. O Clube de Cinema se
estrangeiros distribuídos. A Vera Cruz
transforma na Cinemateca do Museu
produz “Terra é sempre Terra” e “Ângela”.
de Arte Moderna de São Paulo.
A Cinédia lança “Lucíola”, baseado em
Inaugurada a televisão no Brasil com a
José de Alencar, e “Anjo do Lodo”, com
primeira emissão pública, da TV Tupi, em
Virgínia Lane. Funda-se o Círculo de Estudos
São Paulo. A Vera Cruz produz “Caiçara”,
Cinematográficos de Minas Gerais.
5
Ana Lúcia Rocha, 1976.
1952/1953
1952. Aos treze anos, Glauber participa como crítico de
cinema, do programa “Cinema em Close-Up”, na Rádio
Sociedade da Bahia. A irmã de Glauber, Ana Marcelina,
morre precocemente de leucemia. A mãe, Lúcia Rocha,
monta um pensionato na rua General Labatut, 14. Nasce
Ana Lúcia Mendes Rocha, irmã mais nova de Glauber.
1953. Glauber escreve ao tio, Wilson Mendes de Andrade,
revelando o seu desejo de ser escritor. Lê Jorge Amado,
Érico Veríssimo, clássicos da literatura juvenil e filosofia
(Nietzsche e Schopenhauer). Freqüenta as matinês e lê
histórias em quadrinhos.
A Multifilmes é fundada em São Paulo. A Vera Cruz produz
“Tico-Tico no Fubá” e “Sai da Frente”, estréia do cômico
Mazzaropi. Alberto Cavalcanti dirige “Simão, o Caolho”,
seu primeiro filme no Brasil. A Atlântida produz “Carnaval
Atlântida” e “Barnabé tu és Meu”, de José Carlos Burle.
Humberto Mauro filma “O Canto da Saudade”.
Circula a revista Cinelândia.
Grande seca no Nordeste. Em Salvador, o pioneiro do cinema
baiano, Alexandre Robatto Filho, lança o curta-metragem
“Entre o mar e o Tendal” documentário sobre a pesca do xaréu.
A Vera Cruz produz “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, “Sinhá
Moça”, filme de época, e a comédia “Uma Pulga na Balança”.
A Atlântida lança “Uma Dupla do Barulho”, de Carlos Manga,
e “Amei um Bicheiro” de Jorge Ileli e Paulo Wanderley.
A Multifilmes produz o primeiro longa-metragem
em cores, “Destino em Apuros”. Alex Viany dirige
“Agulha no Palheiro” e Alberto Cavalcanti propõe
a criação do Instituto Nacional do Cinema (INC).
6
1954
No Colégio Central da Bahia, Glauber
cursa o Clássico. Ingressa no Círculo de
Estudo, Pensamento e Ação (CEPA), dirigido pelo professor Germano Machado. Escreve o balé “Sefanu” e freqüenta
ativamente o Clube de Cinema, animado
pelo crítico Walter da Silveira.
Suicídio do Presidente Getúlio Vargas.
Falência da Vera Cruz, após a produção de
“Floradas na Serra”, com Cacilda Becker e Jardel
Filho. Alberto Cavalcanti filma “O Canto do Mar”
e “Mulher de Verdade”. Alex Viany dirige “Rua
sem Sol” e Carlos Manga faz “Nem Sansão nem
Dalila” e “Matar ou Correr”. Watson Macedo
lança “O Petróleo é Nosso”. A Revista de Cinema
de Belo Horizonte vira referência nacional.
7
1955
1955. Idealizado pelo poeta Fernando Rocha Peres, é criado
Nelson Pereira dos Santos realiza
no Colégio Estadual da Bahia o grupo “Jogralescas
“Rio, 40 Graus”. A baiana Marta
Teatralizações Poéticas”, combinando poesia e teatro.
Rocha é recebida com festa
Glauber dirige as encenações. Participam do grupo,
em Salvador depois de ficar em
Anecyr Rocha, Ângelo Roberto, Paulo Gil Soares, Calazans
segundo lugar no concurso de Miss
Neto, Anysius Melhor, Guerrinha, entre outros.
Universo. Morre Carmem Miranda.
Encenam poetas modernistas como
Vinicius
de
Moraes,
Manuel
Bandeira e Carlos Drummond
de Andrade.
Aqui e na página ao lado equipe de “A Jogralesca”.
8
1956
1956. Glauber, Calazans Neto, Sante Scaldaferri,
Luis Paulino, Zé Telles, Fernando da Rocha Peres,
Fred Castro entre outros, fundam a Cooperativa
Cinematográfica Yemanjá. Como Palavra de
Ordem, pixam nos muros da cidade: “Você
acredita em Cinema na Bahia?”.
A estréia do grupo “Jogralescas” acontece
em setembro, no aniversário do Colégio
Central da Bahia. Conhece Milze Maria
Soares. Colabora no filme “Um dia na Rampa”,
curta-metragem de Luiz Paulino dos Santos rodado
no Mercado Modelo de Salvador.
Juscelino Kubitschek é eleito
Presidente da República,
tendo como vice João Goulart.
A cultura na Bahia ganha
novo impulso com a criação
da Escola de Teatro
da Universidade da Bahia,
dirigida por Martim Gonçalves,
do Curso de Música dirigido
pelo maestro Hans Koellreuter,
e da Escola de Dança, dirigida
por Yanka Rudzka. É criada
a Cinemateca Brasileira
em São Paulo.
9
1957
Helena Ignez e
Solon Barreto
em “O Pátio”.
Glauber viaja para Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em Belo Horizonte encontra Adolfo Celli, Paulo Autran e Tonia
Carrero. Visita o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) e
entra em contato com Frederico de Moraes, Maurício Gomes
Leite, Flávio Pinto Vieira, Fritz Teixeira de Salles e Geraldo
Fonseca, responsáveis pelas edições da Revista de Cinema e
Revista Complemento. Em Minas tenta implantar sem sucesso o seu projeto de “Cinema Novo”.
Vai então ao Rio, buscar financiamento para uma série de
filmes da Sociedade Cooperativa Yemanjá. Entre os projetos, um de sua autoria: “Senhor dos Navegantes”. Visita as
filmagens de “Rio, Zona Norte”, de Nelson Pereira dos Santos onde conhece Alex Viany. Em São Paulo, inteira-se do
movimento concretista.
Retorna à Salvador e cursa Direito da Universidade Federal da
Bahia, até o terceiro ano. Chamado por Ariovaldo Matos, participa do jornal de esquerda “O Momento”. Colabora nas revistas culturais Mapa e Ângulos e no semanário “Sete Dias”.
Filma “Pátio”, com Solon Barreto e Helena Ignez, um filme formalista e influenciado pelo concretismo, utilizando as sobras
de negativos do longa-metragem “Redenção”, de Roberto Pires.
10
1958
Glauber inicia sua carreira jornalística como
repórter de polícia do Jornal da Bahia, onde
trabalha ao lado de Inácio de Alencar, Ariovaldo Matos, Paulo Gil Soares, Fernando da
Rocha Peres e Calazans Neto. Em seguida,
publica artigos sobre cinema e assume a direção do Suplemento Literário. Escreve ainda na página “Artes e Letras”, do suplemento
dominical do Diário de Notícias, de Salvador,
e para o Suplemento Dominical do Jornal do
Brasil (SDJB). Nessa época também se emprega como funcionário público da Prefeitura de Salvador.
Glauber acompanha o diretor italiano Roberto Rossellini em pesquisa de locações em
Salvador com uma câmera 16 mm (experiência narrada no filme “Di”).
Criação da Cinemateca do Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Nelson
Pereira dos Santos filma “Rio, Zona Norte”.
Aparece a Revista de Cultura Cinematográfica.
Em São Paulo, Roberto Santos filma
“O Grande Momento”; Walter Hugo Khoury
dirige “Estranho Encontro”. No Rio de Janeiro
estrutura-se a Federação dos Cineclubes.
11
Glauber e
Helena Ignez em
seu casamento.
1959
Glauber viaja à São Paulo e participa com Walter da Silveira do
Congresso dos Cineclubes e da Bienal de São Paulo (Exposição “Bahia no Ibirapuera” organizada por Lina Bo Bardi).
Mostra o copião de “Pátio” a Walter Hugo Khoury e conhece
pessoalmente Paulo Emílio Salles Gomes, Almeida Salles,
Rudá de Andrade, Jean-Claude Bernardet e Gustavo Dahl.
Lança “Pátio” em Salvador e promove sessões no Rio. Em
30 de junho, Glauber casa-se em Salvador com Helena Ignez, colega de universidade e atriz de “Pátio”. Ao invés de
um carro, presente dos pais pela aprovação no vestibular,
Glauber compra uma câmera Arryflex 35 mm “por sessenta
contos com tripé e sem zoom”.
Após o casamento, começa em Salvador a filmagem de seu
segundo curta-metragem, o inacabado, “Cruz na Praça”,
baseado num conto de sua autoria, “A Retreta na Praça”,
publicado no Panorama do conto baiano.
Glauber Rocha
com sua primeira
filmadora.
Fica obrigatória a exibição de filmes brasileiros 42 dias por ano.
“Aruanda”, de Linduarte Noronha, é filmado na Paraíba e “Arraial do Cabo”,
de Paulo César Saraceni e Mário Carneiro, no litoral do Rio. “Redenção”,
de Roberto Pires, o primeiro longa-metragem baiano é lançado em Salvador.
(o diretor inventa e usa uma lente cinemascope). Iniciam-se as filmagens
de “Bahia de Todos os Santos” de Trigueirinho Neto, incentivadas
por artigos de Glauber Rocha.“Orfeu Negro”, dirigido pelo francês
Marcel Camus, filmado no Rio e adaptado de uma peça de Vinícius
de Moraes, ganha a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor
filme estrangeiro. Criado o Museu de Arte Moderna da Bahia, sob direção
de Lina Bo Bardi. Na América Latina, vitória da Revolução Cubana.
12
Luiz Carlos Maciel e
Anatólio de Oliveira
em “A Cruz na Praça”.
Glauber filmando
“Barravento”.
1960
Nasce a primeira filha de Glauber, Paloma de Melo e Silva Rocha, em 12 de junho.
Glauber trabalha como produtor executivo de “A Grande Feira”, longa-metragem
de Roberto Pires, produzido por Rex Schindler através da Iglu Filmes, (produtora de
Cinejornais) que reúne ainda Braga Neto, Oscar Santana, Helio Moreno e Waldemar
Lima Lima (fotógrafo de “Deus e o Diabo”).
Depois de organizar a produção, Glauber refaz o roteiro e assume a direção de
“Barravento”, aproveitando alguns diálogos e copiões filmados por Luiz Paulino
dos Santos, autor do enredo original. Em carta à Paulo Emílio, Glauber conta como
virou diretor inesperadamente de seu primeiro longa-metragem. Começa a corresponder-se com Alfredo Guevara, diretor do Instituto Cubano de Cinema.
Joaquim Pedro de Andrade realiza o curta-metragem “Couro de Gato”. Carlos Coimbra lança
“A Morte comanda o Cangaço”, investindo no filão dos filmes de cangaceiros. Nelson Pereira dos
Santos vai para a Bahia rodar “Vidas Secas”, mas, com as chuvas filma “Mandacaru Vermelho”.
A equipe hospeda-se na pensão “Bandeira Branca” de Lúcia Rocha. Inauguração de Brasília.
Paloma Rocha
aos quatro anos.
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir visitam a Bahia e dão conferências em Salvador.
13
1961
Glauber finaliza “Barravento”
no Rio de Janeiro, com montagem de Nelson Pereira dos
Santos. Recebe a visita na
moviola da Líder, do cineasta
François Truffaut, interessado
em conhecer o cinema novo
brasileiro.
O ciclo de cinema
baiano é uma realidade
com “Bahia de Todos os
Santos”, de Trigueirinho
Neto, “A Grande
Feira”, de Roberto
Pires, e “Barravento”,
de Glauber. É criado
o Geicine (Grupo
Executivo da Indústria
Cinematográfica).
Jânio Quadros deixa
a presidência da
República e João Goulart
assume em meio
à crise política.
14
1962
Glauber Rocha. Itália, 1962.
Configura-se o movimento denominado Cinema Novo com a explosão da produção
cinematográfica a partir do Rio de Janeiro.
“Cinco Vezes Favela” é produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, reunindo cinco curtas de Leon Hirszman, Joaquim
Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Miguel
Borges e Marcos Farias. Influenciado pela
Nouvelle Vague, Ruy Guerra lança “Os Cafajestes” que é censurado.
Primeira viagem de Glauber à Europa.
“Barravento” recebe o Prêmio Opera Prima
no Festival de Cinema de Karlovy Vary, na
então Tchecoslováquia. No mesmo ano, o
filme é apresentado no Festival de Sestri
Levanti, Itália. Glauber participa também do
Festival de Santa Margherita, na Itália. Produz o curta-metragem “Imagens da Terra e
do Povo”, de Orlando Senna.
Em carta para Alfredo Guevara, fala pela primeira vez em realizar “América Nuestra”, um
Orlando Senna e Glauber Rocha.
épico sobre a América Latina.
“O Pagador de Promessas”,
de Anselmo Duarte, ganha
a Palma de Ouro em Cannes.
Organiza-se o Conselho
Nacional dos Cineclubes.
15
16
1963
Glauber inicia as filmagens de “Deus e o Diabo
na Terra do Sol” no sertão da Bahia, concluídas
em quatro meses.
Publica “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro”
pela Editora Civilização Brasileira e começa a
colaborar com a revista Cine Cubano.
O escritor italiano Alberto Moravia escreve, no
L’Espresso, crítica elogiosa de “Barravento”. (...)
“um dos mais belos filmes que temos visto atualmente”(...). “Barravento” é selecionado para
o Festival de Cinema de Londres e incluído entre os dez filmes escolhidos para o Festival de
Cinema de Nova York, que inaugura o Lincoln
Center for the Performing Arts.
O Cinema Novo ganha visibilidade com três futuros clássicos sobre o Nordeste: “Vidas Secas”,
de Nelson Pereira dos Santos, “Deus e o Diabo
na Terra do Sol”, de Glauber (lançado em 1964),
e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra.
Cerca de trezentos cineclubes participam
da reunião nacional em Porto Alegre.
No Rio, Carlos Lacerda cria a Comissão
de Ajuda à Indústria Cinematográfica
(CAIC). Crise na política, com greves,
manifestações públicas e comícios
reivindicando reformas de base.
17
Projeto de
Rogerio Duarte
para o cartaz de
“Deus e o Diabo na
Terra do Sol” com
arte final de Luis
Carlos Maciel.
Capa do livreto
de divulgação feito
por Calazans Neto.
Nelson Pereira dos
Santos, Ruy Guerra,
Joaquim Pedro de
Andrade, Walter
Lima Jr., Zelito Viana,
Luiz Carlos Barreto,
Glauber Rocha e
Leon Hirszman no
bar Zeppelin em
Ipanema.
1964
“Deus e o Diabo na Terra do Sol” concorre à Palma de Ouro
no Festival de Cannes. No Brasil, o Golpe de Estado instala a Ditadura Militar. Glauber vai à Europa. Exibe seu filme
no México, viaja pelos Estados Unidos, vai à Nova York, Los
Angeles e conhece Hollywood. Recebe o Prêmio da Crítica
mexicana no Festival Internacional de Acapulco, o Grande
Prêmio do Festival de Cinema Livre, na Itália, e o Náiade de
Ouro do Festival Internacional de Porreta Terme.
Maurício do Valle, como Antônio das Mortes, recebe o Prêmio Saci de Melhor Ator Coadjuvante dado pelo jornal O
Estado de S. Paulo. “Deus e o Diabo” estréia em junho no
circuito carioca.
Devido ao sucesso de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Barravento” é lançado também no mesmo mês no Rio, sendo
anunciado como um filme de “violência, sexo, suspense e
fetichismo”, apresentando “a beleza satânica de uma mulher (Luiza Maranhão), no mais excitante nu do cinema!”.
João Goulart é deposto pelo golpe militar. O Marechal Castelo
Branco é nomeado presidente da República. É criado o SNI
(Serviço Nacional de Informação). O Brasil rompe relações com
Cuba. O Golpe interrompe a produção de “Cabra Marcado para
Morrer”, de Eduardo Coutinho. São feitos os documentários
“Maioria Absoluta”, de Leon Hirszman, “Integração Racial”, de
Paulo César Saraceni, “Meninos do Tietê”, de Maurício Capovilla
Glauber Rocha
dirigindo “Deus
e o Diabo na
Terra do Sol”.
e os filmes de ficção, “Noite Vazia”, de Walter Hugo Khoury,
e “Selva Trágica”, de Roberto Farias.
19
1965
Desenho de
Glauber Rocha
feito na prisão.
Glauber lança em janeiro o texto-manifesto “A Estética da Fome”, durante
a Resenha do Cinema Latino Americano,
em Gênova. O texto, escrito no avião entre
Los Angeles e Milão, traz as bases estéticas
e políticas do Cinema Novo e critica o paternalismo europeu em relação ao Terceiro Mundo.
Glauber, Zelito Viana, Walter Lima Jr., Paulo
César Saraceni e Raymundo Wanderley Reis
criam a Mapa Filmes.
Glauber co-produz “Menino de Engenho”,
de Walter Lima Jr., protagonizado por Anecyr Rocha.
Em novembro, é preso num protesto contra o regime
militar em frente ao Hotel Glória, no Rio de Janeiro, durante reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos). São presos com Glauber: Joaquim Pedro de
Andrade, Mário Carneiro, Flávio Rangel, Antonio Callado, Carlos Heitor Cony, Jaime Rodrigues e Márcio Moreira Alves. A prisão tem repercussão internacional e
um telegrama de protesto assinado por Alain Resnais,
Truffaut, Godard, Joris Ivens e Abel Gance é enviado
ao presidente Castelo Branco.
A política, o cenário urbano
e o mundo rural marcam as
produções do Cinema Novo. Os
autores do Cinema Novo fundam
a Difilm, uma cooperativa de
20
No final do ano, Glauber viaja para o Amazonas, onde
distribuição de filmes. É criado o
passa o Natal de 1965 e realiza, em Manaus e Pa-
curso de cinema da Universidade
rintins, o curta “Amazonas Amazonas”, seu primeiro
de Brasília. Acontece o 1° Festival
filme colorido.
do Filme, no Rio, e o Festival do
A Editora Civilização Brasileira publica “Deus e o Diabo
Curta-Metragem do Jornal do
na Terra do Sol”, com textos e entrevistas da equipe e
Brasil. Nos EUA, formam-se as
de diferentes autores sobre o filme.
primeiras comunidades hippies.
1966
Filma o documentário “Maranhão 66”, sobre a
posse do governador do Maranhão, José Sarney.
“Deus e o Diabo na Terra do Sol” recebe o Grande Prêmio Latino-Americano no Festival Internacional de Mar del Plata. O roteiro do filme é
publicado na coleção italiana Cineforum.
“Deus e o Diabo na Terra do Sol” é capa da revista francesa Positif n° 73, que inclui o manifesto “A Estética da Violência”. Glauber co-produz
“A Grande Cidade”, de Cacá Diegues.
Glauber,
José Sarney
e equipe
filmando
“Maranhão 66”.
O Cinema Novo produz “O Padre e a Moça”, de Joaquim
Pedro de Andrade, “A Grande Cidade”, de Cacá Diegues, “A
Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos, “Os
Subterrâneos do Futebol”, de Maurício Capovilla. Leila Diniz
brilha em “Todas as Mulheres do Mundo”, de Domingos de
Oliveira. É criado o Instituto Nacional do Cinema, presidido
por Flávio Tambellini. Paulo Emilio Salles Gomes e Adhemar
Gonzaga publicam “70 anos de Cinema Brasileiro”.
21
1967
Paulo Autran
em “Terra
em Transe”.
“Terra em Transe” é proibido em todo o território nacional, por
ser considerado subversivo e ofensivo à Igreja.
O filme é liberado em maio e sua exibição causa polêmica no
Rio. Um histórico debate promovido no MIS (Museu de Imagem e do Som) mobiliza a classe artística e intelectuais como
Helio Pellegrino que defende o filme e Fernando Gabeira que
faz restrições ao personagem “super-homem” Paulo Martins.
Exibido no Festival de Cannes, “Terra em Transe” ganha os
Prêmios Luis Buñuel da crítica espanhola, e da FIPRESCI (Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica). No Rio,
o filme fica em cartaz durante quatro semanas em dez cinemas. Em sessão para estudantes organizada pelo Teatro
Universitário de São Paulo (TUSP) o filme é interrompido por
aplausos em sua exibição. De Cannes, Glauber viaja para Paris.
Luiz Buñuel
e Glauber
em Cannes,
1967.
Participa do Festival de Veneza, onde encontra Luis Buñuel.
Apresenta “Terra em Transe” em Montreal, no Canadá, onde
entrevista Jean Renoir. No Festival Internacional do Filme de
Locarno, “Terra em Transe” recebe o Grande Prêmio e o Prêmio da Crítica. Em Havana, é considerado pela crítica cubana
o melhor filme do ano. No Rio, recebe do Museu da Imagem e
do Som o Prêmio Golfinho de Ouro de Melhor Filme. No Festival de Cinema de Juiz de Fora ganha quatro prêmios: Melhor
Filme, Menção Honrosa de Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante para Modesto de Sousa, Prêmio Especial para Luís
Carlos Barreto, pela fotografia e produção do filme. No mesmo ano, Glauber participa como co-roteirista de “Garota de
Ipanema”, de Leon Hirszman. Escreve os textos-manifestos: “A
Revolução é uma Eztetyka”; “Teoria e prática do cinema latino-americano”; “Revolução Cinematográfica e Tricontinental”
(inspirado na Conferência Tricontinental em Havana).
22
Jean Renoir
e Glauber,
Montreal,
1967.
O Marechal Artur da Costa e Silva é
nomeado presidente da República. Carlos
Marighela vai para Cuba como representante
da OLAS (Organização Latino-Americana
de Solidariedade) e cria a ALN (Aliança
Libertadora Nacional), organização
clandestina de extrema esquerda. Morre
Che Guevara, isolado na Bolívia. Régis
Debray lança sua Teoria do Foco. “O Rei
da Vela”, peça de Oswald de Andrade
encenada por José Celso Martinez Corrêa
e “Alegria, Alegria”, música de Caetano
Veloso, marcam o início do Tropicalismo.
Zé Celso dedica seu espetáculo à Glauber.
Antonio Callado publica “Quarup”, romance
que Glauber pretendia recriar nas telas. São
lançados: “Opinião Pública”, documentário
de Arnaldo Jabor, “Garota de Ipanema”, de
Leon Hirszman e “O Caso dos Irmãos Naves”,
de Luiz Sérgio Person. O moderno cinema
brasileiro experimenta novos caminhos
com “A margem”, de Ozualdo Candeias,
“Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”, de
José Mojica Marins e “Cara a Cara”, de Júlio
Bressane. Jean-Claude Bernardet publica
“Brasil Em Tempo de Cinema”, análise sobre
o Cinema Novo. Joaquim Pedro de Andrade
realiza o documentário “Cinema Novo”
para a televisão alemã, com “making-off”
de “Terra em Transe”.
23
1968
O roteiro de “Terra em Transe” é publicado na revista “L’Avant-scène du Cinema” e na revista alemã Film. Em março, Glauber prepara-se para filmar “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”
(“Antônio das Mortes”), “um sangrento western político (...) “em
que retomo o personagem de Antônio das Mortes, dez anos mais
tarde, num sertão modernizado e ainda bárbaro”. Problemas de
produção atrasam as filmagens em Milagres, na Bahia. Glauber
desiste de ir à Paris encontrar o produtor, Claude-Antoine, devido
as manifestações de maio de 68. Enquanto aguarda as filmagens
na Bahia, roda em agosto, no Rio, com uma câmera Éclair 16 mm,
“Câncer”, um filme experimental, com situações improvisadas em
torno de violência, racismo e sexualidade. Documenta com Affonso
Beato, as passeatas estudantis contra a ditadura, no curta-metragem inacabado “1968”. Glauber interrompe a montagem de “O
Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” para participar da
Semana do Cinema Novo em Nova York, onde encontra Elia Kazan. Assiste as filmagens de “The Arrangement” e tenta obter
com Kazan os direitos para o cinema de “Wild Palms”, romance
de William Faulkner. No Brasil, participa de um seminário sobre
cinema e televisão na América Latina, organizado pela UNESCO,
na Universidade de São Paulo. O encontro traz novamente ao Brasil, Roberto Rosselini, Edgar Morin e o cubano Alfredo Guevara.
Co-produz “Brasil Ano 2000”, longa-metragem de Walter Lima Jr.
estrelado por Anecyr Rocha, irmã de Glauber e mulher do diretor. Nas cartas, começa a falar em sair definitivamente do Brasil.
Propõe a Claude-Antoine produzir uma série de televisão tendo
o personagem Antônio das Mortes como protagonista. Escreve o
argumento de treze episódios e a apresentação da série. Glauber
concebe nesse período os mais diferentes projetos, ainda pensando em filmar alguns deles no Brasil:
24
FatOs
pEssoAis
Glauber e Roberto Rosselini.
a) um musical chamado “O Rei do Bicho”, uma adaptação bem
Anecyr Rocha em fotocartaz de “Brasil Ano 2000”.
A Passeata dos 100 Mil no Rio, mobiliza
livre de uma comédia musical de Brecht, “A ópera dos 3
estudantes e intelectuais em protesto
vinténs”, sobre a vida de um gângster. “Conheço as Escolas
contra a ditadura militar. O Ato
de Samba e todos os grandes sambistas e dançarinos. Aqui,
Institucional n° 5 fecha o Congresso
para esse gênero de filme não é preciso as coreografias de
Nacional. Explodem as guerrilhas urbanas.
Hollywood. Nós temos tudo”.
Gilberto Gil lança o disco “Tropicália”
b) “Um roteiro de aventuras de espionagem no meio exótico
e Caetano Veloso a música “É proibido
da Amazônia. Estive na Amazônia e tenho um material fa-
proibir”. Cria-se o Conselho Superior de
buloso que poderia, REALMENTE, ser mais fascinante que
Censura. O cinema underground produz o
James Bond (...) Não quero a direção, não quero nem assi-
clássico, “O Bandido da Luz Vermelha”, de
nar o roteiro. Quero vender porque tenho necessidade de
Rogério Sganzerla, e “Jardim de Guerra”,
dinheiro”.
de Neville d’Almeida. O Cinema Novo
c) “Temas tirados dos romances de Miguel Angel Asturias”.
lança “Fome de Amor”, de Nelson Pereira
dos Santos e “O Bravo Guerreiro”, de
d) “O projeto de Calígula, de Camus, para ser rodado nas ruínas de Pompéia”, com o ator Jean-Pierre Léaud.
e) Projeto de “adaptação da peça Galileu Galilei, de Brecht, para
Gustavo Dahl. Irrompe o cinema da “Boca
do Lixo” paulista, com Ozualdo Candeias,
Carlos Reichenbach e João Callegaro e
uma época futura de polêmica sobre a conquista do espa-
outros autores. Manifestações estudantis
ço, um projeto que pode também interessar Orson Welles”.
resultam no Maio de 68 na França.
25
26
Ao lado,
Zelito Viana,
Odete Lara,
Glauber Rocha,
Neville d’Almeida,
Cannes 1969.
Abaixo à esquerda
a revista
“L’Avant-Scéne”
1969
Glauber propõe ao produtor americano Daniel Talbot adaptar, o romance “Amor de Perdição”, do escritor português
Camilo Castelo Branco, transformando-o numa “tragédia
de amor no mundo subdesenvolvido”, com João Gilberto
ou Baden Powell no papel principal
e música de Tom Jobim.
Viagem à Europa para exibir “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” no Festival de Cannes de 1969,
que concede-lhe o Prêmio de Melhor
Direção, além do prêmio da FIPRESCI,
o Luis Buñuel, e o Prêmio da Confederação Internacional de Cinema de
Arte e Ensaio. Glauber atribui a premiação ao empenho de Luchino Visconti, presidente do júri, encantado
pelo filme. Na Bélgica, o filme ganha
o Primeiro Prêmio do Festival de Cinema de Plovaine. No Brasil, recebe
o Troféu Coruja de Ouro e o Prêmio
Adicional de Qualidade do Instituto
Nacional de Cinema. A revista peruana Hablemos de Cine publica entrevista de Glauber em abril, sob o
título “Glauber: o Transe da América
Latina”. A revista francesa Cahiers du Cinéma publica entrevista de Glauber com matéria (e foto) de capa. Em Cannes,
antes da premiação de “O Dragão”, Glauber recebe a proposta de um produtor de Barcelona, para realizar um filme de
100 mil dólares na Espanha, com total liberdade criativa.
27
1969
O filme é “Cabezas Cortadas”, e
Glauber propõe Orson Welles no papel do ditador latino-americano que é
feito por Francisco Rabal. Viaja à Paris, onde o produtor Claude-Antoine o
convida para fazer um filme na África: “O Leão de 7 cabeças”. Embarca
para Roma e depois vai ao Festival de
Veneza. Ainda na Itália, é convidado
para participar de “Vent d’Est”, filme
de Jean-Luc Godard e J.P Gorin. Glauber faz o papel de um cineasta revolucionário que aponta o caminho do
cinema do Terceiro Mundo.
Viaja para Brazzaville, no Congo,
para filmar “O Leão de 7 Cabeças”. De lá escreve para a mãe
dizendo: “estou na África. Aqui
não tem tanto bicho assim.
Tem muito calor, é igual à
Bahia, o pessoal é ótimo, o trabalho é difícil”. Roda o filme em
4 semanas. No meio das filmagens o ator francês Jean-Pierre
Léaud tem um ataque histérico e
os congoleses acham que faz parte do filme. Em carta para o cubano
Alfredo Guevara, do ICAIC, pede que
mostre “O Dragão” a Fidel Castro.
28
O General Médici assume a presidência.
É criada a Embrafilme. A repressão
leva ao fechamento dos cineclubes.
“Macunaíma”, de Joaquim Pedro de
Andrade, é o grande sucesso do Cinema
Novo. São lançados “Os Herdeiros”,
de Cacá Diegues, “Brasil Ano 2000”, de
Walter Lima Jr., “Memória de Helena”, de
David Neves e “Copacabana me Engana”
de Antônio Carlos Fontoura. O chamado
Cinema Marginal marca presença com
“O Anjo Nasceu” e “Matou a família
e foi ao Cinema” de Júlio Bressane,
“Meteorango Kid”, de André Luís
Oliveira, e “Meu Nome é Tonho”, de
Ozualdo Candeias. Reginaldo Farias
roda “Os Paqueras”. O Cinema Novo
se recusa a participar do Festival de
Cinema do Rio de 1969, como protesto
político. Durante o festival, o cineasta
Joaquim Pedro de Andrade é preso
e logo depois solto por pressão das
personalidades internacionais presentes
Jean-Luc Godard e Glauber Rocha
nas filmagens de “Vento do Leste”, 1969.
ao evento. A ALN e o MR-8 seqüestram
o embaixador americano em troca da
libertação de quinze presos políticos.
Carlos Marighela lança o Mini-manual
do guerrilheiro urbano. O capitão
Lamarca adere à luta armada.
29
1970
Glauber viaja para a Catalunha, onde filma
“Cabezas Cortadas”. Vai à Nova York acompanhar a estréia de “O Dragão da Maldade
contra o Santo Guerreiro”. Volta para a Espanha, onde conclui com Eduardo Escorel, a
montagem de “Cabezas Cortadas”. No Brasil,
a censura exige que o filme, falado em espanhol e catalão, seja dublado em português
para receber certificado de filme brasileiro.
“O Leão de 7 Cabeças” é recusado pelo Festival de Cannes. Em julho, “Cabezas Cortadas” é exibido pela primeira vez no Festival
de San Sebastian e em agosto é lançado no
Festival de Veneza. Glauber não comparece
aos festivais. Os dois filmes entram em cartaz
na França, provocando polêmica e dividindo a
crítica. Glauber volta ao Brasil em novembro,
quando passa a escrever para o semanário O
Pasquim. Rompe seu longo relacionamento
como Rosa Maria Penna, atriz dos filmes O
Dragão da Maldade Contra O Santo Guerreiro
e Cabezas Cortadas. O cerco da repressão e a
prisão de Walter Lima Jr. levam-no a desistir de
trabalhar no Brasil. Entre os projetos abandonados estão as adaptações do romance “Terras
do Sem-fim”, de Jorge Amado para a RAI, e do
romance “Menina Morta”, de Cornélio Penna.
Numa carta datada de agosto de 1970, propõe
à Mapa um filme baseado em “Quincas Berro
d’Água”, de Jorge Amado, sob sua direção com
orçamento de 150 mil dólares.
30
Francisco Rabal e
Pierre Clementi em
“Cabezas Cortadas”,
Barcelona, 1970.
1970
Torna-se obrigatória a exibição
de filmes brasileiros 112 dias por
ano, depois 98 dias. Guerrilheiros
seqüestram os embaixadores da
Alemanha Federal, Suíça e Japão
em troca da libertação de presos
políticos. O Brasil ganha a Copa de
70, cuja conquista é capitalizada
pela ditadura. Os filmes do
Cinema Novo são marcadamente
alegóricos: “Azyllo Muito Louco”,
de Nelson Pereira dos Santos,
“Os Deuses e os Mortos”, de
Ruy Guerra, “Pindorama”, de
Arnaldo Jabor. Os cineastas Júlio
Bressane e Rogério Sganzerla
criam a produtora Bel-Air, são
perseguidos pela ditadura e se
exilam em Londres. Sob forte
censura, o “Cinema Marginal”
consegue produzir “O Pornógrafo”,
de Callegaro, “Orgia ou O homem
que deu Cria”, de Silvério Trevisan,
“Jardim de Espumas”, de Luiz
Rosemberg Filho. Walter Lima Jr.
faz “Na boca da Noite”, que, mal
lançado no Rio, é pouco visto.
A censura proíbe “Prata Palomares”,
de André Faria e “O país de São
Saruê” de Vladimir Carvalho.
31
1971
Glauber viaja para Nova York e inicia um
exílio de cinco anos, enquanto a repressão
política recrudesce no país. Instala-se no
apartamento de Fabiano Canosa, no Village
e logo é convidado para uma conferência na
Columbia University. Neste período, sai publicada a edição espanhola de “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro”.
Em maio, Glauber vai para Santiago onde
inicia com Norma Benguel e Zózimo Bubul,
um documentário produzido por Renzo Rossellini e TV Nacional do Chile com o título
provisório de “Definição ou Estrela do Sol”,
sobre os exilados brasileiros. O filme não é
concluído e o material é dado como perdido.
Depois de se reencontrar com Caetano Veloso e outros exilados em Londres, Glauber
segue para Paris e Munique, onde conhece
o cineasta alemão Peter Fleischmann. Atua
no filme “O Rei dos Milagres ou Tatu Bola”,
longa-metragem de Joel Barcelos produzido
por Gianni Barcelloni em Roma. Glauber faz
o papel de um governador.
32
1971
Glauber e sua mulher,
Maria Tereza Sopeña
em Roma, 1972.
Viaja pelo Marrocos com Letícia Moreira de
O ex-capitão e guerrilheiro Carlos
Souza e Mossa (Flora Bildner). Filma a via-
Lamarca é morto na Bahia. São lançados
gem em super-8 que é editada como “Letícia
“Como era Gostoso o Meu Francês”,
em Marrocos”. Volta à Roma e segue para
de Nelson Pereira dos Santos e “A Casa
Cuba em novembro, propondo filmar “Amé-
Assassinada” de Paulo César Saraceni.
rica Nuestra” com o apoio do ICAIC.
O cinema underground ou marginal
Casa-se em Cuba com a jornalista Maria Tereza Sopeña. No mesmo ano, sai publicado
em Madri, pela Editorial Fundamentos a “Revisión Critica del Cine Brasileño”, versão em
espanhol do livro de Glauber.
ganha uma retrospectiva na Cinemateca
do MAM (RJ). A disputa Cinema Novo x
Cinema Marginal se acirra. Entram em
cartaz “O Capitão Bandeira contra
o Dr. Moura Brasil”, de Antonio Calmon,
e “Bang Bang”, de Andrea Tonacci.
33
1972
Com a impossibilidade de filmar “América Nuestra”, Glauber se
dedica com Marcos Medeiros ao projeto “História do Brasil”, uma
montagem com trechos de 47 filmes brasileiros arquivados no
ICAIC em Cuba. Consegue autorização para viajar a Roma e Paris
para comprar cerca de 2 mil livros para a pesquisa e texto do filme,
que é parcialmente concluído dois anos mais tarde, em Roma. Em
Havana, entrevista e acompanha o treinamento de guerrilheiros,
mantendo contato com os líderes da esquerda, Vladimir Palmeira,
Lizt Vieira, José Dirceu, Fernando Gabeira e Onofre Pinto. Encontrase com Régis Debray e Miguel Arraes, que visitam a Ilha. Escreve o
prólogo de “Grande Sertão Veredas” para a edição cubana. Permanece em Cuba até dezembro de 1972.
Viaja pela América Latina: Buenos Aires e Punta del Este, no Uruguai, onde encontra-se com o ex-presidente João Goulart e com a
família (a mãe Lúcia Rocha, a irmã Anecyr, o cunhado, Walter Lima
Jr., e a filha Paloma). Vai à Lima e Machu Picchu, no Peru. Atravessa
a Colômbia e vai ao Panamá. Na viagem, Glauber conhece, em Bogotá, Paula Gaitán, ainda adolescente, com quem iria se reencontrar
no Brasil em 1976 e vive até o final da vida.
Glauber vive em Paris com a cubana Maria Tereza. Em carta para
Zelito Viana de 1974, retraça o roteiro dessa época: “curti os melhores momentos de minha vida exilada, reencontrando a minha família
e Jango em Punta del Este. Andei pelo Peru, Argentina, sobrevoei o
belorrizonte chileno que já tinha sacado em 71, aprendi um pouco de
política latino-americana com Darcy e outros conhecimentos, entrei
pela Colômbia, saí em Cartagena ‘criajando’ na Semana Santa pra ir
ver o túmulo de Bolívar em Barranquilla, terra onde Gabo escreveu
“Macondo”. Passei dois dias no Panamá, cheguei a New Yorque onde
tive um concerto privado com João Gilberto, revi Francis, cheguei a
Paris, montei um quarto studio com Tereza no estilo último tango
34
1972
e escrevi o roteiro de “A Idade da Terra”
A ditadura organiza as comemorações do
sob pagamento de um prêmio de dez mil
150° aniversário da Independência do Brasil.
dos produtores árabes (Rassan), sionistas
O poeta Torquato Neto, um dos porta-vozes
(Braunsberg), debaixo do maior esporro de
do tropicalismo, se suicida. Morre Leila Diniz.
minha vida”(...)
A obrigatoriedade de exibição dos filmes
brasileiros cai para 84 dias por ano. Acontece
Em carta de julho para Cacá Diegues comu-
o I Congresso da Indústria Cinematográfica
nica que montou “Câncer”, filmado em 68:
Brasileira, no Rio de Janeiro. São lançados:
“imagina que terminei o “Câncer” que está
“Independência ou Morte”, de Carlos Coimbra,
excepcional, mas a alfândega francesa pegou
filme histórico-ufanista; “A Viúva Virgem” de
a cópia do negativo, tá dando um bolo filho
Pedro Rovai; “Os Inconfidentes”, de Joaquim
da puta pra liberar. Depois de quatro anos só
Pedro de Andrade, “São Bernardo”, de Leon
me faltava esta, ou este filme vai estourar ou
Hirszman; e o documentário “Migrantes”,
nunca deve ser visto. Que urucubaca!”.
de João Batista de Andrade. Acontece a
1°Jornada do Curta-Metragem em Salvador.
Material iconográfico do filme “História do Brasil”.
35
1973
Glauber vive entre Paris e Roma. Em fevereiro, a produtora Mapa é informada que “Cabeças Cortadas”,
submetido à censura, teve negada a autorização para
ser exibido, por despacho do Diretor da DCDP (Divisão
de Censura de Diversões Públicas) “(...) por provocar
incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, suas autoridades e seus agentes”. Recebe em abril
carta do presidente do Chile, Salvador Allende, cumprimentando-o pelo apoio público ao seu governo. Os
negativos de “O Dragão da Maldade contra o Santo
Guerreiro” e “Terra em Transe” são destruídos em
incêndio nos laboratórios G.T.C na França, na noite
de 25 junho. Em setembro, escreve a Alfredo Guevara,
explicando sua separação da “revolucionária” Tereza:
“Não houve nenhuma ruptura política entre eu e ela. As
crises de inadaptação de temperamentos se agravam e a
separação nestes casos é melhor solução”. Na Itália, participa do Festival de Pesaro e se estabelece em Roma, na
casa do produtor Gianni Barcelloni, para finalizar “História
do Brasil”, com ajuda do produtor Renzo Rosselini e participação da Radiotelevisione Italiana (RAI).
Em carta de agosto, para João Carlos Rodrigues, Glauber escreve sobre os bastidores da política brasileira e
explica seu apoio à política de abertura do presidente
Geisel em 74. Encontra-se com a pesquisadora Raquel
Gerber em Roma e sugere uma coletânea sobre sua obra
a partir de textos publicados na Europa e EUA. Escreve
para a RAI o roteiro de “O Nascimento dos Deuses” (“La
nascita degli dei”), “um filme de seis horas sobre as ci-
36
1973
vilizações oriento-ocidentais”, dividido em duas
partes: “Ciro, lua do Oriente” e “Alexandre, sol
do Ocidente”. Narra em carta para Paulo Emilio,
os desafios do período: “O ano de 73 na Europa
foi a luta contra a fome e acabar o filme “História do Brasil”, interrompido várias vezes para
escrever roteiros pré-pagos por produtores
(esta de escrever roteiro pago é o que tem me
mantido embora os projetos sejam infilmáveis
porque eu mesmo desisto: isto se passou umas
quatro vezes etc.)”. Em Paris, revê o ex-presidente João Goulart em novembro. É publicado
na França o livro Le Cinéma Novo n° 2/Glauber
Rocha, coletânea de ensaios sobre Glauber lançado na coleção Études Cinématographiques,
da editora Minard.
Acontece o primeiro Festival de Cinema de
Gramado, no Rio Grande do Sul. Paulo Emilio Salles
Gomes publica o “Ensaio Cinema: Trajetória no
Subdesenvolvimento”. Os cineclubes brasileiros
voltam a se organizar. Forma-se a ABD (Associação
Brasileira de Documentaristas). São lançados:
“Uirá, um Índio em Busca de Deus”, de Gustavo
Dahl; “Toda Nudez será Castigada”, de Arnaldo
Jabor; “Joana Francesa”, de Cacá Diegues
e “Os Condenados”, de Zelito Viana. No Chile,
o presidente Salvador Allende é morto
durante o golpe militar de setembro.
Glauber e sua filha Paloma Rocha em Roma, 1973.
37
1974
Em março, a revista Visão publica carta em que Glauber define o General Golbery como “gênio da raça”, e afirma sua
crença no processo de abertura política conduzido pelo novo
presidente Ernesto Geisel. A carta provoca polêmica e acusações. Em carta anterior, do mesmo período, de Roma, para
Zuenir Ventura, diz: “eu pobre me viro muito ligado aí na pátria: se tiver eleições me arranje um partido que me candidato
a Presidente”. René Gardies publica na França, pelas Éditions
Serghers, o livro “Glauber Rocha”, a partir da sua tese de doutorado defendida em Paris.
Glauber se apaixona pela atriz francesa Juliet Berto e, em junho, escreve de Roma: “Casei com “La Chinoise” Juliet Berto.
Desta vez é para sempre”.
Concluído em Roma, “História do Brasil”, O ICAIC (Instituto Cubano de Arte e Indústria) retira seu apoio e nome dos créditos
O general Ernesto Geisel é o novo presidente da República.
O cineasta Roberto Farias assume a direção da Embrafilme.
São lançados: “O amuleto de Ogum”, de Nelson Pereira dos
Santos; “Guerra Conjugal”, de Joaquim Pedro de Andrade e
“Rainha Diaba”, de Antônio Carlos Fontoura. O filme “Iracema”,
de Jorge Bodansky e Orlando Senna, é proibido. O Cinema
Experimental ressurge com “Triste Trópico”, de Arthur Omar,
e “O Rei do Baralho”, de Júlio Bressane. Paulo Emilio Salles
Gomes publica “Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte”.
38
1974
do filme, por discordâncias estéticas e políticas. Começa a
preparar a produção de “O Nascimento dos Deuses”, com locações previstas para o Egito e Grécia.
Em agosto de 74, escreve: “Vou para o Egito com Juliet fazer
as locações e orçamento e em setembro preparo aqui tudo
pra filmar em outubro. Se, por imprevistos, o filme não sair
vou logo pra N. Yorque com o outro roteiro, “A Idade da Terra”, e com dinheiro pra viver aí até montar a produção”. Viaja
para a Grécia e o Egito, de onde manda um cartão postal
para a família: “Estou aqui com Juju (Juliet Berto) fazendo locações. O Egito é um Nordeste. Tudo bem. Agora vou pegar
o avião para Babilônia. Voltarei no final de 75”. Sob o impacGlauber e
Juliet Berto,
Grécia, 1974.
to do assassinato do cineasta Pier Paolo Pasolini, no dia 2
de novembro, escreve de Roma para O Pasquim o artigo
“Amor de Macho”.
Outros projetos: filmar “O Capital”, com Orson Welles no papel de Karl (Marx) e Dirk Bogarde no papel de Frederico (Engels) na “velha
Londres proletária monárquica colonialista
do século passado”.
39
1975
Viaja para o México para levantar produção para “A Idade da
Terra”. Negocia também uma co-produção com Equador e
Venezuela. Em julho recebe a visita da filha Paloma Rocha
em Paris. Glauber deseja rodar “A Idade da Terra”, “metade
no México ou no Equador ou na Venezuela e metade nos
Estados Unidos: San Francisco e Nova York”. Não consegue
o financiamento pretendido. Retorna a Roma, aonde filma
“Claro”, com Juliet Berto, Carmelo Bene e intervenções do
próprio Glauber. “Claro” estréia em outubro, e causa polêmica no Festival de Taormina. Exibido no Festival de Paris, em
novembro, o filme recebe críticas violentas. O crítico francês Jacques Scliar, do Le Monde, escreve: “Infelizmente
o desprezo do autor pela linguagem ‘burguesa’ e seu
gosto pela imprecação o conduzem dessa vez para
além do suportável”. Jean-Louis Bory, do Nouvel
Observateur, fala em “narcisismo confuso e, sobretudo insuportável”. Em carta para Alfredo Guevara
de novembro, escreve: “Realizei um filme em Roma,
“Claro”, que obteve ótimas e péssimas críticas. Um
filme novo. Quero que você veja. Filmei em 11 dias,
por 50 mil dólares, 9 mil metros de filme”.
É obrigada a exibição de filmes brasileiros 112 dias por ano.
O Brasil chega a 3276 salas de cinema. São lançados “O Rei
da Noite”, de Hector Babenco, “Lição de Amor”, de Eduardo
Escorel,. O Festival de Brasília retorna após três anos interditado.
O Festival de Pesaro dedica uma mostra ao cinema brasileiro.
O jornalista Wladimir Herzog é assassinado. Crescem as
publicações da imprensa alternativa. O livro, “Crônica
do Cinema Paulistano”, de Maria Rita Galvão é publicado.
40
Glauber e
Juliet Berto
em “Claro”.
1975
Na coleção “Il Castoro Cinema”, da editora La Nuova Italia,
de Florença, o número 13 é dedicado a um estudo da obra
de Glauber Rocha, de autoria de Cinzia Bellumori.
Em novembro recebe um bilhete de Orson Welles disposto a
encontrá-lo em Paris. Projetos: em carta para Cacá Diegues,
revela: “Volto à Roma para filmar “Revolução”. Queria fazer
em Paris, mas não dá”. Não há outras referências ao projeto.
Escritos: de acordo com carta do editor Ênio da Silveira, de
novembro, Glauber preparava um romance de 750 páginas
chamado “História do Brasil” (provavelmente fruto das pesquisas para o filme de mesmo nome); e um volume intitulado “Filmes de Glauber Rocha”, livro com os roteiros de seus
filmes; e mais “Alexandre, o Grande”, livro de quatrocentas
páginas (provavelmente parte da pesquisa ou do roteiro
de “O Nascimento dos Deuses”, escrito para a TV italiana).
Glauber começa a articular sua volta ao Brasil. Nas cartas
aos amigos menciona sempre as dificuldades financeiras.
Escreve a João Carlos Teixeira Gomes, em novembro, sobre
a possibilidade de tornar-se correspondente internacional
do jornal da Bahia e anuncia: “Se voltar ao Brasil, voltaria à Bahia, onde quero ser Governador, conforme
disse no Pasquim”. Em dezembro consulta o jornalista
Peter B. Schumann sobre a possibilidade de trabalhar na
Alemanha. Prepara seu ensaio crítico intitulado “Revolução do Cinema Novo”.
Separa-se da atriz Juliet Berto, no final de 1975. Vai para o
Convento Saint-Jacques, da ordem dos dominicanos, em
Paris - por sugestão de Itoby Alves Correa - temeroso que
as perseguições ao terrorista Chacal levassem a polícia
aos militantes latino-americanos exilados na França. Propõe a Juliet Berto, uma temporada nos EUA.
41
1976
Glauber viaja para Moscou onde permanece por duas
semanas. De lá escreve para Paulo Emílio contando sua
visita ao acervo de Eisenstein e um encontro com Luís
Carlos Prestes: “O Cavaleiro da Esperança é muito inteligente, bem humorado, forte, ativo e cultíssimo apesar de seus 78 anos. Causou-me excelente impressão,
foi uma entrevista informal que algum dia publicarei”.
Em Moscou tenta financiamento para o filme “O Nascimento da Terra” (com elementos de projetos anteriores: “América Nuestra”, “O Nascimento dos Deuses” e
“A Idade da Terra”). Escreve: “Estou disposto a voltar
ao Brasil mesmo que seja para enfrentar um processo”.
Recebe convite do produtor Daniel Talbot para ir para a
Califórnia apresentar seus filmes em universidades. Na
carta de Talbot, de 15 de janeiro, há um bilhete manuscrito de Francis Ford Coppola para Glauber lamentando
não poder produzir “A Idade da Terra”, pois iria filmar
nas Filipinas (“Apocalipse Now”). Projeto: em carta a
Peter B. Schumann, de janeiro de 1976, diz: “Tenho um
tema para Paris: um documentário sobre os desempregados do terceiro mundo em Paris: eu, os negros, os
árabes, os sul-americanos... é um filme-verdade, improvisado. Eu, cineasta desempregado, faço entrevistas com outros terceiromundistas desempregados”.
42
João Goulart morre no exílio
e Juscelino Kubitschek morre
Pedro Paulo Rocha, filho de Glauber Rocha
e Maria Aparecida Braga, no colo da mãe.
num acidente de carro. O
bispo de Nova Iguaçu, no Rio,
é seqüestrado. A Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB),
no Rio e o Cebrap, em São
Paulo, sofrem atentados. É
criado o Conselho Nacional
do Cinema (Concine). “Dona
Flor e seus Dois Maridos”,
de Bruno Barreto, faz
10 milhões de espectadores,
“Xica da Silva”, de Cacá
Diegues, chega aos 3
milhões de espectadores.
São lançados: “A Queda”, de
Ruy Guerra e Nelson Xavier
e os documentários “Iaô”,
Glauber vai para a Califórnia, onde apresenta seus fil-
de Geraldo Sarno e “A Pedra
mes nas Universidades de Berkeley, Stanford e Fres-
da Riqueza”, de Vladimir
no. Nos EUA, busca financiamento para os projetos:
de Carvalho. É publicado
“A Idade da Terra”, “O Nascimento dos Deuses”, e para
“A Bela Época do Cinema
a adaptação de “The Wild Palms”, de Wíllíam Faulkner.
Brasileiro”, de Vicente
Em Los Angeles, Glauber tem o passaporte liberado
de Paula Araújo.
Glauber com a filha Paloma Rocha.
1976
pelo Itamaraty para voltar ao Brasil, por intervenção do
general Golbery do Couto e Silva. De Los Angeles escreve para Jorge Amado: “Estou terminando meu livro
escrito nestes cinco anos de exílio: chama ‘Universo’,
deve ficar com quatrocentas páginas e acho que está
muito bom... foi uma transação literária com você, com
Rosa, Zé Lins, Graciliano”. Volta ao Brasil em 23 de junho, depois de cinco anos de exílio.
Em setembro, do Rio, escreve para Raquel Gerber: “saiba que tenho ao todo treze livros pra publicar, entre o
de cinema (500 páginas), um romance (Universo), um
Romanceiro do sertão (300 páginas), um Fantástico
Folhetim (1968) e o diário do exílio, além dos poemas e
do Mapa da Bahia, que são todos meus poemas e contos e peças que não publiquei. (...) vou filmar um Globo
Repórter chamado “Introdução à Villa-Lobos”, pra ser
lançado no dia quinze de novembro. pedi 5 mil dólares
por meia hora e liberdade total. Pagaram sem pedir roteiro. (...) montarei as óperas “O Guarani” e a “Yerma”
de Villa-Lobos-Lorca e ficarei morando na Bahia”.
Conhece, no Rio, Maria Aparecida Braga (Cuca). Filma
o velório do pintor Di Cavalcanti, em 27 de outubro,
no Museu de Arte Moderna. As filmagens do enterro
levam mais tarde à interdição do filme pela justiça por
pedido da filha adotiva do pintor, Elizabeth CavalcantiA sentença está em vigor até hoje.
43
1977
Glauber e
Anecyr
Morre Anecyr Rocha, em 27 de março, no Rio de Janeiro, ao cair no
poço de um elevador. A morte da irmã deixa Glauber profundamente
abalado. Interrompe o romance “Riverão Sussuarana” e incorpora
a tragédia ao texto do livro. O curta-metragem “Di” ganha o prêmio especial do júri no Festival de Cannes, presidido por Roberto
Cresce a campanha pela Anistia
Rossellini. Glauber escreve: “É o filme mais moderno e revolucio-
Política. São lançados: “A Dama do
nário dos anos 70 no mundo. É novo em enquadramento, em som,
Lotação”, de Neville d’Almeida (6,5
interpretação, montagem - uma novidade Barroca-épica”. Realiza o
milhões de espectadores), “Lúcio
média-metragem “Jorjamado no Cinema”, produzido pela Embrafil-
Flávio, o Passageiro da Agonia”,
me para ser exibido na TV. Nasce, no dia 4 de agosto, Pedro Paulo de
de Hector Babenco (5 milhões de
Araújo Rocha, filho de Glauber e Maria Aparecida de Araújo Braga.
espectadores) e “Os Trapalhões nas
Minas do Rei Salomão” (5,7 milhões
Glauber reencontra a colombiana Paula Gaitán em férias no Brasil e
44
os dois passam a viver juntos. Viaja para Brasília e colabora com o
de pagantes). Uma safra significativa de filmes nacionais ocupa
jornal Correio Braziliense a convite dos jornalistas Fernando Lemos e
o circuito: “Tudo Bem”, de Arnaldo Jabor, “Chuvas de Verão”,
Oliveira Bastos que ajudam Glauber a re-articular o projeto de “A Ida-
de Cacá Diegues, “Mar de Rosas”, de Ana Carolina, “Ladrões
de da Terra”. Glauber adota uma ortografia própria nos seus textos,
de Cinema”, de Fernando Cony Campos, “Tenda dos Milagres”,
substituindo as letras “c”, “i” e “s” por K, Y e Z É lançada a coletânea
de Nelson Pereira dos Santos, “Coronel Delmiro Gouveia”, de
“Glauber Rocha”, organizada por Raquel Gerber para a Editora Paz
Geraldo Sarno, “Gordos e Magros”, de Mário Carneiro, “Vereda
e Terra, com ensaios de autores brasileiros e estrangeiros. Cinzia
Tropical”, de Joaquim Pedro de Andrade e “Vida Severina”, de
Bellumori lança na Itália “Glauber Rocha” (Florença, La Nuova Italia).
Zelito Viana. Morre, em setembro, em São Paulo o pensador
Textos antigos são “atualizados” pela nova ortografia.
Paulo Emilio Salles Gomes.
1978
Glauber filma “A Idade da Terra” em Salvador, Brasília e Rio de
Janeiro. Na Bahia, as filmagens despertam polêmica e sofrem
interdições. Durante as filmagens da procissão de Conceição
da Praia, um padre católico alega que Jece Valadão, ator de
Paula Gaitán
em “A Idade
da Terra”.
pornô-chanchadas, não podia fazer o papel de Cristo. O diretor da Fundação Cultural da Bahia, Valentim Calderón, proíbe a
entrada de Glauber com atores dentro do Museu de Arte Sacra.
Em 19 de janeiro, durante a filmagem em Brasília, nasce Eryk
Aruac Gaitán Rocha, filho de Glauber e Paula Gaitán. Glauber
lança-se candidato, conforme carta para Jorge Amado: “tenho
ambições políticas: ser Ministro das Relações Exteriores ou da
Educação e Cultura (acho que esse ministério deve ser dividido - quero ser ministro da Cultura) e/ou governador da Bahia,
suceder o próximo e, naturalmente, Presidente, mas com eleições diretas”. O romance “Riverão Sussuarana”, de Glauber, é
publicado pela Editora Record e “Cabezas Cortadas” é liberado sem cortes pela Censura Federal, em outubro.
Greve dos metalúrgicos do ABC de São Paulo.
Torna-se obrigatória a exibição de filmes brasileiros
133 dias por ano e a exibição de um curta-metragem
brasileiro como complemento dos filmes estrangeiros.
São lançados: “Anchieta, José do Brasil”, de Paulo César
Saraceni, “A Lira do Delírio”, de Walter Lima Jr. e “A Batalha dos
Glauber nas
filmagens
de “A Idade
da Terra”.
Guararapes”, de Paulo Thiago, O cineasta independente Luiz
Rosemberg Filho realiza “Crônica de um Industrial”.
A Embrafilme produz uma série de filmes para televisão,
entre eles “Joana Angélica”, de Walter Lima Jr.
Os filmes não são exibidos na TV.
45
46
Ao lado,
Francisco
Rabal em
“Cabezas
Cortadas”.
1979
Nasce, em 21 de março, Ava Pátrya Yndia Yrace-
É convidado por Fernando Barbosa Lima para
O general João Batista
ma Gaitán Rocha, filha de Glauber e Paula Gai-
participar do programa “Abertura”, na TV Tupi,
Figueiredo torna-se presidente
tán. Glauber edita um suplemento no Correio
em que entrevista intelectuais, políticos e artis-
da República. Fim do AI-5. mas
Braziliense, na sexta-feira da Paixão, chamado
tas, e conquista enorme popularidade.
a repressão às greves operárias
“Alvorada segundo Kryzto.
Em carta de agosto, o editor Ênio Silveira se dispóe
“Cabezas Cortadas” estréia em junho no Rio de
a publicar os livros inéditos de Glauber e mencio-
Janeiro, precedido pelo curta-metragem “Di”. A
na a entrega do romance “Jango”, com cerca de
filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, proíbe
quatrocentas páginas, ficcionando a vida e idéias
sua exibição no cinema e na televisão.
do presidente João Goulart. Em setembro, Glau-
Glauber colabora em diferentes jornais. Além
do Pasquim e do Correio Braziliense, escreve
regularmente para a Folha de S. Paulo e Jornal
do Brasil. Tenta obter uma bolsa de estudo na
Inglaterra para “uma Tese sobre a Dramaturgia
ber protesta por não ter sido convidado para o
Festival de Brasília. Discute no saguão do Hotel
Nacional, com o convidado francês Jean Rouch
(cineasta que admirava), acusando-o de “colonizador” e “agente de Quai d’Orsay”.
continua. Miguel Arraes, Leonel
Brizola e Luís Carlos Prestes,
entre outros, voltam do exílio.
Celso Amorim é nomeado
diretor da Embrafilme. Surge
a Cooperativa Brasileira de
Cinema, no Rio. São lançados:
“Bye Bye Brasil” , de Cacá
Diegues, “República dos
Assassinos”, de Miguel Faria Jr.
e “Muito Prazer”, de David Neves.
de Oscar Wilde e possivelmente a montagem de
Em dezembro escreve para Alfredo Guevara:
O cinema reflete o momento
uma de suas peças e conseqüente filmagem TV
“Estou com 40 anos, idade ótima. Vivo finalmen-
político com “Braços Cruzados”,
etc”. Escreve em julho para José Guilherme Mer-
te com o amor de minha vida, uma poeta colom-
“Máquinas Paradas”, de Roberto
quior: “Além do projeto sobre Oscar Wilde, há
biana, Paula Gaitán, e tenho dois filhos, além de
Gervitz e Sérgio Segall; “Greve!”,
um roteiro embrionário sobre Marx e Engels...
Paloma que tem 18 anos, e é atriz e diretora de
de João Batista de Andrade e
um filme sobre as relações da Economia com
teatro e cinema”. “Estarei em Cannes. Pretendo
“Greve de Março”, de Renato
a Filosofia e uma montagem do Fausto de Mar-
em seguida filmar na Espanha, CARMEN - por-
Tapajós, “Terra dos Índios”, de
lowe... além do mais, minhas macumbas me le-
que a ópera de Mozart Losey é uma mierda e
Zelito Viana e “Em nome da
varam do terreiro da Umbanda às feitiçarias de
quero viver unos tiempos em Sevilha”.
Razão”, de Helvécio Ratton.
(William) Blake”.
O clássico “Limite” (1930),
de Mário Peixoto, é recuperado
e lançado nas principais capitais
do país.O crítico Jean-Claude
Bernardet publica “Cinema
Brasileiro: Propostas
para uma História”.
47
1980
Morre em 6 de junho, Adamastor Bráulio Silva Rocha, pai de
ris, em dezembro para Celso Amorim, escreve: “decido-me
Glauber, que viaja meses depois para participar da competi-
com Claude-Antoine e outros produtores sobre o rotei-
ção do Festival de Veneza com “A Idade da Terra”. A obra-tes-
ro atual: “O Império de Napoleão”, cuja primeira versão
tamento do autor choca o público e divide a crítica. Entusias-
escrevi no Brasil e estou fazendo a segunda para se
mado, o cineasta Michelangelo Antonioni afirma que o filme
passar na Paris de hoje. Este é o filme que vou fazer
“é uma verdadeira lição de cinema moderno”. Contra a vio-
este ano, embora não saiba como (...) Se eu voltasse
lência da crítica italiana que ataca Glauber por seu apoio ao
ao Brasyl, filmaria também “O Império de Napoleão”
plano de abertura política do General Geisel, os intelectuais
com o título de “O Império de D. Pedro II”. Mas este
brasileiros enviam um abaixo-assinado à direção do Festival
painel que monta Flaubert-Stendhal-Picasso-Hitchcock
em defesa da liberdade de expressão do cineasta. Assinam:
é uma descoberta nova e especial para a França”. O
Jorge Amado, Joaquim Pedro, Leon Hirzman, Nelson Pereira,
filme, “O Império de Napoleão”, seria uma livre adapta-
entre outros.
ção de um livro de Stendhal. Livros: “Existem uns 5 a 6
O escritor italiano Alberto Moravia tece elogios na imprensa
ao caráter visionário do filme. Após a premiação, revoltado
com o lobby dos grandes estúdios, Glauber faz uma passeata
no Lido denunciando a corrupção e a decadência do Festival.
livros (romances, peças, poesias, entrevistas, críticas
de ‘artes’, ‘letras’ e ‘políticas’) para serem publicados,
quase todos mais ou menos prontos, cujos originais se
encontram com a minha mãe na Bahia. Além disto, cerca de 20 roteiros ‘esboçados’ para cinema e TV. Estive
48
O escândalo em Veneza leva à retirada de “A Idade da Terra”
aqui com Aluísio Magalhães, de quem sou velho amigo,
do Festival de Cinema Ibérico e Latino-Americano de Biarritz.
e dei-lhe 8 laudas relatando todos meus filmes, livros
Em entrevista ao jornalista Pedro del Picchia, Glauber desa-
e projetos. Manifestei-lhe o desejo de fundar uma Em-
bafa: “Saí de Veneza vomitando. Passei dois dias em Florença
presa de Comunicações em Paris (com ramal em Lis-
com uma febre alta. Estou doente em Roma. Roma está fe-
boa) e dar início à minha produção”. Ainda nesta carta,
dendo, a cidade está cheia de marginais, está suja. (...) Minha
Glauber escreve: “vivo pobremente e angustiado pela
relação com o cinema acabou em Veneza. Aproveito para dar
pobreza e por isto doente: passei 15 dias vomitando
um adeus definitivo à vida cultural brasileira. Vocês não me
com dores terríveis e Aluísio Magalhães encontrou-me
verão mais. Nunca”. Em dezembro, Glauber viaja para Paris
bastante abalado”. Passa o Ano-Novo em Vincennes
para acompanhar uma mostra dos seus filmes num festival de
com amigos parisienses, na casa da crítica de cinema e
cinema latino-americano. Projetos: Em carta enviada de Pa-
amiga francesa Sylvie Pierre.
1980
São produzidos 103
longas-metragens
brasileiros. Os filmes
“Eu te Amo”, de Arnaldo
Jabor; “Pixote”,
de Hector Babenco;
“Gaijin”, de Tizuka
Yamasaki, e “Os anos JK”,
de Sílvio Tendler, fazem
sucesso. Nova greve
dos metalúrgicos
do ABC paulista.
Glauber com sua filha
Ava Pátrya Gaitán Rocha
e Paula Gaitán.
49
1981
Em janeiro, Glauber organiza, em Paris,
uma exibição de “A Idade da Terra” para
cerca de cinqüenta pessoas na sala
Gaumont-Gare de Lyon. Em fevereiro,
viaja para Portugal, onde é recebido
pelo cineasta português Manuel Carvalheiro, diretor do documentário “Abecedário”, que inclui longo depoimento
de Glauber gravado em Paris. Vai para
Sintra, onde se encontra publicamente
com o presidente João Batista Figueiredo. Em abril, a Cinemateca Portuguesa
exibe uma mostra de seus filmes, interrompida por um incêndio que destrói
cópias dos filmes.
Em Sintra, Glauber recebe os amigos Jorge Amado e João Ubaldo, se isola com
a família e, em abril, escreve para Cacá
Diegues: “Paula e os meninos florescem... Paloma e minha mãe na Bahia...
(...) sinto-me mais ou menos em casa,
boa cama, boa mesa, bom clima, transromantismo...”. Nesta carta, refere-se
à peça sobre João Goulart: “escrevi a
peça “Jango”, deixei os originais com
Luiz Carlos Maciel, está ainda incompleta, mas é Teatro e não cinema”.
50
1981
Em abril, Glauber dá um longo depoimento em vídeo
ao ator Patrick Bauchau, que filmava com Wim Wenders em Portugal, identificado: “Sintra é um belo lugar
para morrer”. Encontra-se com Wim Wenders e Samuel
Fuller. Com a saúde abalada há alguns meses, Glauber
apresenta como diagnóstico uma pericardite viral. Em
carta para Celso Amorim, de abril, descreve: “Aqui tudo
mais ou menos. Estou me recuperando da pericardite e
escrevendo o roteiro ‘O Império de Napoleão’.
Em carta de 16 de junho para o produtor americano
Glauber com
seus filhos,
Pedro Paulo
Rocha e
Eryk Aruak
Gaitán Rocha.
Tom Luddy, Glauber afirma: “Estou escrevendo um novo
roteiro: “O Destino da Humanidade”. Vou acabar no dia
20 de agosto”.
Sua saúde piora e, em agosto é internado num hospital
próximo a Lisboa por complicações bronco-pulmonares. Em estado de extrema gravidade é trazido de volta
ao Brasil na noite do dia 20, sem acompanhamento médico. Chega ao Rio de Janeiro no dia 21 e recebe soro
ainda na enfermaria do Aeroporto do Galeão: É levado
para a Clínica Bambina, em Botafogo. Morre às 4 horas da manhã do dia 22 de agosto. Glauber é velado no
Parque Lage, cenário de “Terra em Transe”, em clima
de comoção e exaltação. Em 27 de agosto, a TV Globo
exibe “Glauber Rocha-Morto/Vivo”, programa dirigido
por Paulo Gil Soares. A TV Bandeirantes exibe, em 29
de agosto, “Glauber na TV”, com trechos do Programa
Abertura. Em 31 de agosto, “A Idade da Terra” é relançado no Rio de Janeiro no cinema Rian e em Salvador
no Cine Glauber Rocha (ex-Guarany). Em setembro, Luiz
Carlos Maciel monta um show no Canecão em homena-
Glauber com
seus filhos,
Ava Patrya
Gaitán Rocha
e Eryk Aruac
Gaitán Rocha.
51
52
1981
gem a Glauber, com a participação de atores e artistas. Mostras
e retrospectivas de sua obra acontecem no Brasil (Salvador, São
Glauber
em Sintra,
1981.
Paulo, Brasília) e, em vários países. Na Inglaterra, o National Film
Institute dá prosseguimento a uma retrospectiva de seus filmes.
Outras mostras acontecem na França (Institui National d’Études
Cinematographiques) e Estados Unidos (American Film Institute).
Em setembro, Glauber é homenageado no Festival Internacional
de Figueira da Foz, em Portugal, e no Encuentro de Intelectuales
por Ia Soberania de los Pueblos de Nuestra America, em Havana,
Cuba. “História do Brasil” é exibido pela primeira vez no Brasil,
em dezembro, no Cine Arte UFF, em Niterói.
A Embrafilme publica no Brasil, “Revolução do Cinema Novo”, coletânea de artigos e entrevistas de Glauber. Na Itália, a editora da
RAI publica o roteiro de “O Nascimento dos Deuses”, de Glauber,
com desenhos de Paula Gaitán.
Projetos: Em texto inédito (série Produção Intelectual, Acervo
Tempo Glauber) o roteiro intitulado “A conquista de Eldorado”
(provavelmente escrito em Sintra em 1981). Glauber passa em revista toda sua vida, numa espécie de balanço e roteiro de atividades e viagens realizadas, onde encontramos o seguinte registro:
Filmes a fazer: “O Destino da Humanidade”, “O Nascimento
dos Deuses”, “Os imortais”, “Infinito”, “Ilyada”, e “Odisseya”.
A explosão de uma bomba do Riocentro fere dois militares
envolvidos no atentado contra os participantes da festa do 1° de
Maio. “Eles não usam Black Tie”, de Leon Hirszman, é premiado
no Festival de Veneza, em Havana e outros festivais. São lançados
os documentários: “Terceiro Milênio”, de Jorge Bodansky e Wolf
Gauer; e “Jânio a 24 Quadros”, de Luiz Alberto Pereira (Gal).
53
diFusÃO Da oBra
Presente”. É lançado “O Século do Cinema”, coletânea de
artigos de Glauber sobre o cinema americano, o neo-realismo e a Nouvelle Vague, pela Editora Alhambra. Ismail Xavier
lança “Sertão Mar: Glauber Rocha e a Estética da Fome”,
1982. Raquel Gerber publica “O Mito da Civilização Atlântica:
pela Editora Brasiliense. Em 28 de agosto, a TV Bandeirantes
Glauber Rocha, Cinema, Política e a Estética do Inconscien-
exibe o filme “Di”. Em Recife acontece a mostra “Passem
te” pela Editora Vozes. Pedro del Picchia e Virgínia Murano
Glauber”, no Teatro do Parque. Em dezembro, o acervo da
publicam “Glauber, o Leão de Veneza”, pela editora Escrita,
obra de Glauber Rocha, reunido por sua mãe, Lúcia Rocha,
uma entrevista com Glauber sobre a polêmica participação
ganha uma sala no Museu da Imagem e do Som do Rio de
de “A Idade da Terra” no Festival de Veneza. Jean-Claude
Janeiro. O acervo recebe o nome de Tempo Glauber.
Bernardet e Teixeira Coelho lançam “Terra em Transe”, “Os
herdeiros”: Espaços e Poderes, pela Com-arte.
No primeiro ano da morte de Glauber, ocorrem várias homenagens: em fevereiro, “Barravento” e “A Idade da Terra”
são exibidos durante o Festival de Berlim. No Festival Internacional do Curta-Metragem e Documentário, em Lille,
no Rio de Janeiro, na Universidade Santa Úrsula, em sessão especial promovida pela Embrafilme e pelos amigos de
Glauber. Randal Johnson publica “Cinema Novo X 5”, estudo
sobre cinco diretores do Cinema Novo, incluindo Glauber.
França, são exibidos “Pátio”, “Amazonas, Amazonas”, “Ma-
1985. “Roteiros do Terceyro Mundo”, livro projetado por Glauber
ranhão 66”, “Di” e “História do Brasil”. Em março, acontece o
com os roteiros e diálogos de seus longas-metragens, é
Ciclo Glauber Rocha, em Florianópolis. Em agosto, a mostra
publicado pela Embrafilme/ Alhambra, organizado pelo ci-
Tempo Glauber acontece em Salvador. No Centro Cultural
neasta Orlando Senna. Em março acontece no Cine São
São Paulo ocorre uma retrospectiva de seus filmes. No Rio,
Luiz 1, no Rio de Janeiro, a Mostra “Glauber por Glauber”,
é feita a Mostra Glauber Presente, no Colégio Jacobina, organizada pelos alunos da Universidade Federal Fluminense
e RioArte. No dia 22 de agosto, a TV Bandeirantes exibe um
a primeira retrospectiva completa dos seus filmes, exibida
em onze estados brasileiros.
especial sobre Glauber dirigido por Paula Gaitán. É exibido,
1986. O Festival de Veneza faz uma homenagem especial a
no dia 23 de agosto, no Cinema Veneza, o curta-metragem
Glauber Rocha com uma retrospectiva completa de seus
“Abecedário”, sobre Glauber, dirigido pelo português Ma-
filmes. O crítico Lino Miccichè organiza, na Itália, os livros
nuel Carvalheiro. Também no dia 23, o programa Noites ca-
“Scritti sul cinema” e “Rocha: saggi & invective sul Nuovo
riocas, da TV Record, promove uma mesa-redonda sobre o
Cinema”. Em agosto, é inaugurada em São Paulo a Mostra
cineasta. Em setembro, uma retrospectiva de seus filmes
Tempo Glauber, promovida pelo SESC, que percorreria vinte
acontece no Centro de Estudos Cinematográficos de Belo
estados do país e pequenas cidades, inclusive Rio Branco,
Horizonte, e Glauber é homenageado pelo Tuca (Teatro da
no Acre, onde chegou em outubro de 1989. É publicado “O
Universidade Católica), em São Paulo.
54
1984. “Câncer” é exibido pela primeira vez, no dia 22 de agosto,
Ideário de Glauber Rocha”, de Sidney Rezende, pela Editora
1983. No Carnaval carioca, Glauber é homenageado pela Esco-
Philobiblion, com citações de entrevistas e artigos de Glau-
la de Samba Lins Imperial com o samba-enredo “Glauber
ber na imprensa. Roque Araújo, colaborador de Glauber,
realiza “No Tempo de Glauber”, uma montagem de seqü-
é lançado no Brasil pela Editora Papirus. José Carlos Avellar
ências (“sobras”) não incluídas em “A Idade da Terra”, com
publica “Deus e o Diabo na Terra do Sol: a Linha Reta, o
trechos das polêmicas filmagens de Glauber em Salvador.
Melaço de Cana e o Retrato do Artista Quando Jovem”, pela
1987. A crítica francesa Sylvie Pierre publica, na França, “Glauber Rocha”, na coleção Auteurs, da Cahiers du Cinéma. É
publicado “Barravento, a estréia de Glauber”, de José Gatti,
da Editora da Universidade de Santa Catarina.
Editora Rocco. É publicado o livro “Glauber, a Conquista de
um Sonho - Os Anos Verdes”, de Ayêska Paulafreitas e Júlio
César Lobo, Editora Dimensão. Geraldo Sarno publica “Glauber Rocha e o Cinema Latino-americano” (CIEC, e RioFilme).
São descobertas na PUC de Belo Horizonte, depositadas
1989. É organizado o livro “Poemas Eskolhydos” de Glauber Ro-
por Mário Murakami, 52 latas, contendo negativos e copi-
cha, seleção de 28 poemas de Glauber escritos entre 1965
ões com seqüências não utilizadas de “Terra em Transe”. É
e 1981, pela Editora Alhambra. O livro não é lançado co-
realizado “Glauber Rocha, Quando o Cinema virou Samba”,
mercialmente. É realizado “O Homem dos Cabelos Azuis”,
documentário em vídeo com depoimentos sobre o cineas-
documentário de Sylvie Pierre e Georges Ullman sobre a re-
ta, realizado por José Roberto Torero.
lação de Glauber com a crítica européia. No dia 22 de mar-
1996. Em julho, o Tempo Glauber inaugura sua página na Inter-
ço é inaugurado o Tempo Glauber, acervo com cerca de 60
net. No mesmo mês, a Universidade Federal do Sudoeste
mil documentos, entre filmes, correspondências, escritos,
da Bahia promove em Vitória da Conquista, cidade em que
publicações, poesias, desenhos e entrevistas de Glauber,
Glauber nasceu, o evento “Glauber Rocha e o Século do
dirigido por Lúcia Rocha, na Rua Sorocaba, em Botafogo.
Cinema”, e outorga a Glauber o título de Doutor Honoris
1991. Em outubro, em Los Angeles, é exibida pela primeira vez
a cópia nova de “Terra em Transe” feita por iniciativa do
cineasta americano Martin Scorcese. “Que viva Glauber”,
documentário de Aurélio Michiles, é exibido no dia 27 de
outubro, na TV Educativa.
Causa. No Rio, Lúcia Rocha lança a Associação dos Amigos
do Tempo Glauber. Luiz Carlos Maciel encena a peça “Jango”, de Glauber. É publicado o livro “Anabazys Glauber: da
Idade dos Homens à Idade dos Deuses”, de Martim Cezar
Feijó, Edição Anabazys e Fundação Álvares Penteado. O
acervo Tempo Glauber recebe convite do governo da Bahia
1994. Em março e abril, é realizada no Centro Cultural Banco
para transferir-se para Salvador. Depois de uma pesquisa
do Brasil, no Rio de Janeiro, a Mostra “Glauber Rocha, um
de três anos, a correspondência de Glauber é selecionada
Leão ao Meio-dia”, com palestras, filmes, vídeos e exposi-
e organizada para publicação em “Cartas ao Mundo”, edi-
ção de desenhos de Glauber, além de fotos e documentos
ção organizada por Ivana Bentes.
da época. Em 26 de setembro, é outorgado a Glauber Ro-
2002. O Tempo Glauber e a RioFilme lançam o DVD do filme
cha o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade
“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, restaurado digitalmente
Federal da Bahia.
pelos Estudos Mega.
1995. Em outubro, é relançado, com cópia nova da RioFilme, “Deus
É publicado em Cuba o livro “Um Sueño Compartido”, con-
e o Diabo na Terra do Sol”, no cineclube Estação Botafogo,
tendo as correspondências entre Glauber e Alfredo Gueva-
no Rio de Janeiro. O livro “Glauber Rocha”, de Sylvie Pierre,
ra.Editora Iberautor, Espanha.
55
diFusÃO Da oBra
arquivo privado que constitui Patrimônio de Interesse Público e Social no ano de 2006 e assim reconhecido por Decreto de Lei pela Casa Civil da Presidência da República
(através do Decreto de 07 de abril de 2006 do Excelentís-
2003. Início do Projeto Coleção Glauber Rocha, Restauração e
simo Senhor Presidente da República, publicado no Diário
Difusão digital em alta definição dos filmes de Glauber
Oficial da União n° 69, Seção 1, de 10 de abril de 2006). As-
Rocha, patrocinada pela PETROBRAS e co-patrocinada
sim sendo, o acervo de Glauber Rocha, reunido especial-
pela Eletrobrás.
mente por sua mãe Lúcia Rocha, dispõe de 80 mil docu-
Na sua primeira fase, o projeto restaura os filmes “Terra em
Transe”, “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”,
“Barravento” e “A Idade da Terra”, para matrizes 35mm e
DVDS. Todos os DVDs dos filmes são acompanhados de um
disco com Extras, apresentando documentários, trailers, fo-
mentos da produção intelectual do artista, que devem ser
preservados e disponibilizados ao público, devido à sua
importância para história cultural do País.). A entidade fica
situada à Rua Sorocaba, 190 em Botafogo, Rio de Janeiro
– RJ; CEP: 22271-110, (www.tempoglauber.com.br).
tos, entre outras raridades do acervo do Tempo Glauber. Os
2007. Projeto Tempo Glauber – Revitalizando a Cultura, conser-
documentário são dirigidos por Paloma Rocha e Joel Pizzini.
vação e difusão do acervo do Tempo Glauber; Simpósio
Festival de Berlim – Exibição e Debate de “Claro” e “Pro-
2004. Lançamento da cópia restaurada do “Terra em Transe” no
Festival de Cannes e no Festival de Berlim seguindo para
diversos países da Europa como França e Suíça.
Americana del Festival Internacional de Cine del Norte de
Chile – Festival Internacional de Cine del Norte de Chile
2005. Lançamento nacional nos cinemas da cópia restaurada
- Exibição Institucional de “Deus e o Diabo na Terra do
em 35mm do filme “Terra em Transe”, chegando a 15 mil
Sol”.; Festival Internacional de Veneza – Lançamento de
espectadores. Retrospectiva INTEGRALE Glauber Rocha
“A Idade da Terra” restaurado e do documentário “Ana-
- Cine Magic, Bobigny, Paris, França.
bazys”.; Film Anthology Archieve – NY – Convite para re-
2006. Lançamento do DVD duplo “Terra em Transe”, com o filme
em versão restaurada em alta definição e mais de duas horas de extras, incluindo o documentário inédito “Depois do
Transe”. Ainda, é relançado pela Editora Cosac&Naify, o livro
“O Século do Cinema“, em nova edição revista e ampliada.
56
grama Abertura”; Muestra Cine Made In Integración Latino
trospectiva Glauber Rocha; British Film Institute – Out of
Shadows Season – Antônio das Mortes em 35mm – Cópia do Bristish Film Institute.Asociace Ceských Filmových
Klubu – Summer Film Festival - Retrospectiva completa da
obra de Glauber Rocha na República Tcheca. Associação
Cultural Festival Brasileiro Universitário – Homenagem a
Reconhecido internacionalmente pelo valor cultural de seu
Ismail Xavier – Exibição Institucional de “Deus e o Diabo na
acervo e pelas atividades desenvolvidas por sua equipe,
Terra do Sol” e “Terra em Transe”. I Mostra Itinerante Me-
o Tempo Glauber foi declarado pelo CONARQ (Conselho
mória da Censura no Cinema Brasileiro – Recordar Produ-
Nacional de Arquivos) e o IPHAN (Instituto do Patrimônio
ções Artísticas – Cessão os filmes “Deus e o Diabo”, “Terra
Histórico e Artístico Nacional) e Biblioteca Nacional como
em Transe”, “Barravento”, “O Dragão da Maldade Contra o
Santo Guerreiro”, “A Idade da Terra”, “Depois do Transe”,
“Milagres” e “Anabazys”. Mostra de cinema Combate à
Desertificação – Ministério do Meio Ambiente / Secretaria
de Recursos Hídricos e Ambientes Urbanos – Cessão Institucional “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”.
Américas Society – Exposição Emancipatory Action. Festival de Inverno de Vitória da Conquista – Tema Glauber
Rocha. Glauber Rocha series of films screenings at Tate
Modern Tate Modern,Inglaterra – Cessão Institucional dos
filmes “Câncer”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra
em Transe”, “Cabezas Cortadas”, “O Dragão da Maldade
As netas de Glauber Sara e Helene, filhas de Paloma Rocha e Kora, filha de Pedro Paulo Rocha.
Contra o Santo Guerreiro”, “Di”, “A Idade da Terra”. Fundação Casa de Jorge Amado – Cessão Institucional do filme
“Jorjamado no Cinema”.Princeton Univerity - New Jersey
- Estados Unidos – Glauber Rocha 4 Barravento, “Terra em
Transe”, “Câncer” e “Der Leone Have Sept Cabezas”. Casa
Civil da Presidência da República - Arquivo Nacional - Recine Belo Horizonte - Programa Abertura.Fundação Roberto
Marinho - Canal Futura - Programa Sala de Notícias Entrevista - Cartaz de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, 10°
Festival de Cinema Luso-Brasileiro - Cineclube da Feira -
cional de Cine del Norte de Chile – Exibição Institucional
de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” 1° Mostra de Cinema
Brasileiro em Madri - “Deus e o Diabo na Terra do Sol“
Festival de Cinema Iberoamericano de Huelva - “Deus e
o Diabo na Terra do Sol”.28° Bienal de São Paulo - Maranhão 66, 1968, Câncer, Cabeças Cortadas Leão de sete
cabeças, História do Brasil, Claro, Di Cavalcanti, Abertura
e Jorjamado no cinema. Mostra de Cinema Brasileiro em
Estolcomo - “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
Santa Maria da Feira Portugal. Festival Latino-Americano
de la Classe Obrera Cine y Vídeo - Retrospectiva Audiovisual do Militante Brasileiro - Programa Abertura. Festival
II Vento del Cinema – “O Leão de Sete Cabeças” e trechos
do “Programa Abertura”. Retrospective on Essay in Film
2008. Paloma Cinemtográfica - Conclusão do restauro de difusão
digital em Dvd dos filmes “O Dragão da Maldade Contra O
Santo Guerreiro”, “Terra em Transe” , “A Idade da Terra” e
“Barravento”, patrocinado pela Petrobras.
(in cooperation with the Vienna International Film Festival
Pratt Institute – School of Liberal Arts and Science - NY
– ”A Idade da Terra”. Exposição “Arte como questão-anos
- convite para mostra em Setembro de 2008.Fome du Film
70”- Instituto Tomie Ohtake - Fotografia digitalizada de
- A Retrospective of Brazilian Cinema at Florida Atlantic
Glauber recebendo o prêmio Luis Buñuel em Cannes/Fil-
University” - “Terra em Transe, “Deus e o Diabo na Terra do
mes 1968 e “Câncer”. Simpósio Festival de Berlim - Exibi-
Sol”, História do Brasil”.Tributo ao Cineasta Glauber Rocha
ção e Debate de “Claro” e “Programa Abertura”.Muestra
na Fundação Cultural da Bahia - Imagens para divulgação
Cine Made In Integración Latino americana del Festival In-
do filme “As armas e o povo”.
ternacional de Cine del Norte de Chile – Festival Interna-
57
“À minha filha Paloma
neste Natal distante
não ofereço presentes
apenas o simples instante
de amor.
Não desejo que uma lenda,
Paloma, guie teus passos, e nem
que sejas fiel a um nome
devastado demais; e a nada sigas
senão a teu sentimento
e razão”, Glauber Rocha.
Poema escrito para Paloma Rocha
durante as filmagens de
“Amazonas, Amazonas”, 1965.
58
Tempo Glauber
Revitalizando a Cultura
O TEMPO GLAUBER é constituído pelo acervo de
Terra do Sol”, “Terra em Transe”, “O Dragão da
Glauber Rocha (1939-1981), reunido e organiza-
Maldade Contra o Santo Guerreiro” e “A Idade
do por sua mãe, Lúcia Rocha, e tem sua sede no
da Terra” que já se encontram em DVD. Para o
Rio de Janeiro. Desde 1989, a instituição serve
relançamento digital dos filmes, produzimos do-
à comunidade através da difusão e da preser-
cumentários que através das “vozes” de Glau-
vação da memória artística brasileira, conser-
ber recriam o método utilizado pelo autor na
vando os originais da produção intelectual do
produção de seus filmes. Desta forma, o TEM-
cineasta, em sua maioria inédita. Seu espaço é
PO GLAUBER possibilita o acesso sistemático e
utilizado como centro de pesquisa e desenvol-
seguro à pesquisa e difusão digital no Brasil e
vimento de projetos culturais e educativos, liga-
no exterior, favorecendo sobretudo projetos de
dos ao pensamento e à atividade audiovisual.
caráter educativo e cultural.
Desenvolvido em parceria técnica com o Arqui-
Reconhecido internacionalmente pelo seu valor
vo Nacional e o patrocínio da Petrobras, atra-
histórico-cultural, o acervo de Glauber Rocha,
vés da Lei Rouanet, o projeto TEMPO GLAUBER
sob a guarda do TEMPO GLAUBER, foi declarado
– Revitalizando a Cultura, tem como prioridade
pelo CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos),
preservar e digitalizar toda a documentação
no ano de 2006, como Arquivo Privado de Inte-
relativa à obra de Glauber Rocha, como fotos,
resse Público e Social, e assim reconhecido por
desenhos, roteiros, prêmios, obras literárias,
Decreto de Lei pela Casa Civil da Presidência da
manuscritos, objetos pessoais, periódicos, e
República, “por conter documentos relevantes
outros. Com patrocínio também da Petrobrás,
para o estudo e pesquisa sobre as formas de
o projeto “Coleção Glauber Rocha – Restaura-
pensamento e e pressão artística, bem como
ção e Difusão Digital” já realizou até o momen-
sobre a elaboração de linguagem inovadora
to, os filmes “Barravento”, “Deus e o Diabo na
para o cinema brasileiro.”
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Petrobras e Tempo Glauber apresentam:
Glauber Rocha: Uma Revolução Baiana
Uma realização da Associação dos Amigos do Tempo Glauber
e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Direção Geral:
Paloma Rocha
Concepção e Seleção
de conteúdo:
Paloma Rocha, Sara Rocha,
Naia Alban, João Rocha, Ava Rocha,
Associação dos Amigos do Tempo Glauber
Joel Pizzini e colaboração de Pedro Paulo Rocha
Direção Executiva:
Paloma Rocha, Sara Rocha
Arquitetura e montagem: Sete 43 Arquitetura
Design Gráfico:
Adriana Ribeiro
Produção:
Marilú Saldanha
Coordenação de Produção: Sara Rocha, Eduardo Lopes
Pesquisa:
Joel Pizzini, Anna Karinne Ballalai,
Sara Rocha e Ruy Gardnier
Adaptação de Texto:
Joel Pizzini, baseado na pesquisa realizada
pela historiadora de cinema Ivana Bentes
Acervo:
Mônica Paixão e Arquivo Nacional
Curadora:
Lúcia Rocha
Presidente:
Paloma Rocha
Vice-Presidente:
Eryk Rocha
Diretora Executiva:
Sara Rocha
Diretor Institucional e Webdesigner:
João Rocha
Secretária Executiva:
Ana Lúcia Rocha
Coordenadora do Projeto/Conservação:
Mônica Paixão
Coordenador de Produção:
Eduardo Lopes
Assistente de Conservação:
Flávia Figueiredo
Assistente de Conservação:
Eliane Paz
Pesquisa em História do Cinema:
Ruy Gardnier
Arquivo e Pesquisa:
Anna Karinne Ballalai
Projeto Coleção Glauber Rocha
Estagiária de Arquivo:
Luciana Operti
Restauração e Difusão Digital dos filmes de Glauber Rocha
Estagiaria de Conservação:
Nauara Morales
Produção Executiva:
Paloma Cinematográfica - Paloma Rocha
Estagiário de Arquivo:
Patrick Dourado
Direção de Produção:
Tássia Milly
Estagiária de Conservação:
Roberta Cabral
Direção do Projeto
Estagiária de Arquivo:
Amanda Braga
Auxiliar de Arquivo:
Gabriela Alevato
Montagem dos Documentários: Ricardo Miranda e Alexandre Gwaz
Estagiário de Arquivo:
Leandro Pereira
Montagem do Ensaio Fotográfico:Pedro Paulo Rocha
e Documentários em DVD:
Paloma Rocha e Joel Pizzini
Webmaster:
Tiago Teixeira
Mixagem:
Carlos Cox
Assistente de Escritório:
Alexander Calheiros
Videografismo:
Gerald Kohler
Auxiliar de Serviços Gerais:
Luciano Alves
Direção do filme “Anabazys”:
Paloma Rocha e Joel Pizzini
Restauração Digital:
Estúdios Mega
Restauração de Som:
JLS Facilidades Sonoras
Supervisão da Restauração:
Cinemateca Brasileira
Restauração Digital “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”:
Distribuição:
Co-Distribuição:
Todas as fotografias do catálago
pertencem ao acervo do Tempo Glauber.
(Glauber e Paloma) ,
Prestech Film Laboratories
As fotografias das páginas 42
Riofilme e Versátil Home Video
45
Paloma Cinematográfica
são de autoria de Paula Gaitán.
(Glauber nas filmagens de “A Idade da Terra) ,
51 e 53
AFX_Revolução Baiana 65.pdf
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