130122 - Medalhões de Wall Street e da blogosfera assumem pela primeira vez que a crise nos EUA está no fim
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130122 - Medalhões de Wall Street e da blogosfera assumem pela primeira vez que a crise nos EUA está no fim
Medalhões de Wall Street e da blogosfera assumem pela primeira vez que a crise nos EUA está no fim Uma profusão de dados sustenta o otimismo no início do novo governo Obama. Prevê-se expansão acima dos 2%/2,5% dos últimos anos. A expectativa é de 3% 22/1/2013 - 03:04 - Antonio Machado Um cenário de esperança antecedeu o início do segundo mandato do presidente Barack Obama nesta segunda-feira, com nomes destacados do mercado financeiro e da blogosfera assumindo sem rodeios, pela primeira vez, que a longa crise iniciada nos EUA em meados de 2007 caminha para o fim. Uma profusão de dados sustenta o prognóstico. O desabrochar do otimismo prenuncia tempo melhor em escala global, sobretudo para a China, ainda muito dependente da economia dos EUA; o Japão, que mergulhou na recessão em 2012 e tende a não sair dela antes de 2015; e a Europa do Euro, cuja crise se arrasta e ameaça, agora, arruinar a Itália. Para o Brasil, pode ser o alento para a expansão econômica ganhar impulso e tirar a economia do marasmo. Os que anteveem o fim da crise vão do economista-chefe do Goldman Sachs, um dos ícones de Wall Street, Jan Hatzius, ao seu contrário entre os formadores de opinião, Bill McBride, o criador do blog de informações financeiras Calculated Risk, celebrizado por avisar com antecedência o crash das hipotecas subprime e ajudar os devedores a responsabilizar os bancos nos processos de despejo movidos no curso da desalavancagem, ou desendividamento, das famílias que vem desde então, retardando o ritmo da recuperação econômica nos EUA. Eles fazem companhia a Joe LaVorgna, diretor-gerente e economista-chefe do Deutsche Bank Securities, nos EUA, e a Mohamed El-Erian, o executivo principal do PIMCO, maior gestor de fundos de títulos de dívida do mundo. El-Erian chamava de “nova normalidade” a economia regida pelo crescimento pífio, desemprego alto e juros ultrabaixos. É o tal da “new normal” que deve estar no fim, como El-Erian disse na semana passada ao canal de TV CNBC, conforme relatos da revista digital Business Insider. Esse cenário acena para um crescimento econômico maior nos EUA e, por tabela, no mundo, dada a abertura da economia americana às importações, sobretudo de bens manufaturados. A saída dos EUA da crise implica maior atividade de negócios, isto é, maior crescimento e mais emprego em geral, mas também aumento de juros antes que a inflação inexistente mostre a cara, ambos gerando impactos diversos no Brasil. O primeiro ajuda a destravar o PIB. O segundo afeta a conexão entre redução da Selic e câmbio depreciado num momento em que a inflação engraça com taxas ao redor de 6%. PIB acima da tendência A economista Aneta Markowska, do Banco Société Générale, acha que a virada prevista por El-Erian pode acontecer este semestre. Talvez já esteja acontecendo. Em nota enviada aos clientes na sexta-feira, intitulada “Preparando-se para o fim da ‘nova normalidade’”, Aneta diz, com base nos índices recentes, que, depois do resultado “muito fraco” no último trimestre de 2012, o PIB do primeiro trimestre de 2013 tende a vir “acima da tendência”. E isso apesar do aumento de impostos e do corte de gastos negociados por Obama com o Congresso para evitar o tal “abismo fiscal”, alternativa ao ajuste automático e muito mais doloroso previsto pela legislação atual. Construção volta à vida A mudança de rota do déficit fiscal e do endividamento público dos EUA deve subtrair 1,5 ponto de percentagem da taxa de crescimento do PIB em 2013, segundo McBride, do Calculated Risk, ou 2 pontos de percentagem, nas simulações da Merrill Lynch. Mas os ajustes em curso, diz McBride, foram suficientemente amplos para frustrar a recuperação mais forte da economia. Um total de 780 mil imóveis residenciais, por exemplo, começou a ser construído em 2012. É um nível 28,1% acima do de 2011, mas, ainda, o quarto menor desde que o Censo dos EUA passou a monitorar o setor em 1959. A média anual de novas construções foi de 1,5 milhão entre 1959 a 2000, período anterior à especulação desregrada da área imobiliária e, assim, considerado o patamar normal. Esse é o viés diz McBride. No ritmo de bons ventos Com a regularização do setor imobiliário, o fim do desemprego nos governos regionais (que passou do pico de 262 mil em 2010 para 26 mil em 2012), a redução do déficit fiscal (que chegou a 10% do PIB em 2008 e tende a 3% até 2015), o desemprego atual de 7,8% (depois de roçar 10% da população ativa) e o serviço da dívida em relação à renda disponível tendo retornado aos níveis do início dos anos 1980 graças aos juros baixos, McBride diz que não faltam “bons ventos”. E os ventos ruins são, “em sua maioria”, diz ele, residuais. Aonde tal tendência levará os EUA, associada ao ajuste fiscal? Não a uma recuperação rápida como nos ciclos passados, diz Hatzius, do Goldman Sachs, mas “claramente melhor”, afirma, que os 2% a 2,5% de crescimento dos últimos anos. A expectativa é de 3%. Para os EUA, é muito, equivalendo a algo como o nosso PIB crescer de 6% a 7%. Desafios para o Brasil Os EUA voltando ao padrão das quatro décadas anteriores à fase da bonança movida a dívida, além de renda estagnada, que durou de 2000 a 2007, podem tirar o mundo da crise, se outras grandes economias, sobretudo a China, voltarem a crescer sem gerar novos desajustes. Um deles virá em consequência: a alta dos juros. Não foi por menos o aviso do Federal Reserve de que o laxismo monetário, chamado de quantitativa easing, poderá não chegar a 2014. Isso deverá implicar ao Banco Central do Brasil também menor frouxidão monetária, além de maior disciplina fiscal – ambas relaxadas com vistas a inflar o crescimento. E consolidar um regime de juros não tão oneroso do que sempre foi historicamente. A gestão cambial será o grande desafio. O fluxo de entrada de divisas no país já sugere redução, que tende a diminuir quanto maior a percepção das oportunidades nos EUA. E em emergentes do segundo time, como Indonésia e México, todos eles com desempenho melhor que o dos BRIC.