Leiria-Fatima_ed_46 - Diocese Leiria

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Leiria-Fatima_ed_46 - Diocese Leiria
ANO XVI • NÚMERO 46 • julho / dezembro • 2008
• Destaque • Assembleia diocesana • pág. 83
“O melhor
investimento
que a Igreja
pode fazer é
na formação”
• Documentos • Carta Pastoral • pág. 25
Ir ao Coração da Fé - Formar para uma fé adulta
• Destaque 2 • Tomadas de posse no Santuário de Fátima • pág. 87
No “coração mariano de Portugal”
o apelo a “ir ao coração da fé”
• Especial • Visita Pastoral do Bispo à Diocese • pág. 90
“Sinal visível da presença de Cristo”
• História • Saul António Gomes • pág. 177
O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa de Lencastre no Mosteiro da Batalha
DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO
Leiria-Fátima
Órgão Oficial da Diocese
ANO XVI • NÚMERO 46 • JULHO / DEZEMBRO • 2008
Ficha Técnica|
Director | Luís Inácio João
Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz
Administrador | Henrique Dias da Silva
Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,
Manuel Melquíades, Saul Gomes
Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz
Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais
Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria
Tel.: 244832760 • Fax: 244821102
Correio Elec.: [email protected]
Periodicidade | Semestral
Tiragem | 330 exemplares
Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)
Impressão | Tipografia de Fátima
Depósito Legal | 64587/93
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Índice
. editorial .
O elogio da diferença
6
Documentos•••
. decretos .
Nomeação • Serviço Diocesano para o Diaconado Permanente
Nomeação • Administrador do Santuário de Fátima
Nomeação • Pároco da Barreira
Decreto • Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus
Nomeação • Reitor do Santuário de Fátima
Decreto • Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus
Nomeação • Capelão da Comunidade Ucraniana
Nomeações • Paróquias e Serviços diversos
Nomeação • Associação Fraternitas Movimento
Nomeação • Escola de Formação Social Rural de Leiria
Nomeação • Defensor do Vínculo e Promotor da Justiça do Tribunal Eclesiástico
Nomeação • Notário do Tribunal Eclesiástico
Nota Pastoral • Despertar o espírito de missão e reacender um novo ardor missionário
Carta Pastoral • Ir ao Coração da Fé - Formar para uma fé adulta
16º Gala da Central FM - “Pensar Globalmente e agir localmente” • O lugar e a globalização
Nota aos fiéis de Leiria-Fátima • Convocatória da Assembleia Diocesana
Homilia do Jubileu Sacerdotal e tomada de posse do Reitor do Santuário de Fátima
O nosso cântico de júbilo: eu Te bendigo, ó Pai...
Tomada de Posse • Novo Reitor do Santuário de Fátima
Homilia na celebração de S. Francisco de Assis para a Família Franciscana
“Vai, Francisco, repara a minha casa, que está em ruínas”
Bênção do Centro de Interpretação de S. Jorge • Revisitar a Figura de Nun’Álvares
Nota Episcopal • O nosso Seminário precisa de ajuda!
Mensagem de Natal • “Desperta, ó homem; por ti, Deus fez-Se homem”
Dia da Sagrada Família • Mensagem às famílias
Homilia de fim de ano • Gratos a Deus pelos seus dons
Comunicado do Conselho Presbiteral • Professar, celebrar e viver a fé
Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano • Ano Pastoral dedicado à formação
Comunicado do Conselho Presbiteral • Reorganização pastoral da Diocese
Ano Pastoral 2008-2009 • “Ir ao Coração da Fé”
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. documentos pastorais .
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. escritos episcopais .
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. diversos .
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Índice
Vida Eclesial•••
. destaque .
Assembleia diocesana • “O melhor investimento que a Igreja pode fazer é na formação”
Tomadas de posse no Santuário de Fátima
No “coração mariano de Portugal”, o apelo a “ir ao coração da fé”
Visita Pastoral à Diocese • “Sinal visível da presença de Cristo”
83
87
. especial .
90
. notícias .
CFC – Formação para a vida religiosa / Formação sobre “acompanhamento espiritual”
Leiria-Fátima nas Jornadas Mundiais da Juventude
Jovens diocesanos decidem vocação / Associação Mãos Unidas P. Damião em Leiria
Acampamento de Verão do MCE / Celebração do padroeiro Santo Agostinho
Bênção da primeira pedra da igreja da Martingança
Jubileus sacerdotais / Assembleia do Clero para revisão do RABI
Capelão dos imigrantes Ucranianos / Dia da Diocese: serviço à Igreja e ao mundo
Canção Nova obtém aprovação pontifícia
Padre Jorge Guarda publica No Silêncio do Santuário / Sacerdotes diocesanos em retiro em Singeverga Padre José Reis: 40 anos de sacerdócio / Pré-seminário…
D. Anacleto apresentou “Um ano a caminhar com São Paulo”
4º aniversário da Comunidade Pastoral de S. Romão e Guimarota / Nova Junta Diocesana dos Escuteiros
Instituição de Leitor, na festa de Natal no Seminário
Estipêndios na Província Eclesiástica de Lisboa
Faleceu o padre Boaventura Vieira • Um homem de paz e de obras
Presidente da Ucrânia peregrino de Fátima
Curso de música litúrgica / “Um dia em peregrinação”
Exposição “Fátima no mundo”
Perfil do visitante de Fátima / Dia Mundial das Missões Sistema de videovigilância no Santuário de Fátima
Delegação do Iraque visita Fátima / Ciclo de conferências sobre São Paulo
Site do Santuário de Fátima em polaco
Seminário Diocesano de Leiria
Serviço de Animação Vocacional
Pré-Seminário
Serviço Diocesano de Catequese
Serviço Diocesano da Juventude
Comissão Diocesana Justiça e Paz
Serviço de Animação Missionária
Cáritas Diocesana
Escola Razões da Esperança
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. Santuário de Fátima .
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. serviços e movimentos .
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Índice
. entrevistas .
Centro de Acolhimento de Leiria • “Sem-abrigo” não são apenas os que não têm casa!
Cónego José de Oliveira Rosa • Uma vida ao serviço da Fé
Padre Tony Neves - X Fórum Ecuménico Jovem • Percursos de Unidade
Luís Sousa, chefe de campo do JAMBOREE 2008 – XIX Acampamento Regional de Leiria
“O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem”
Ana Sousa, missionária (Brasil) • “Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras”
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154
157
161
Reflexões•••
. teologia/pastoral .
Monsenhor Joaquim Carreira • Apóstolo do bem, na guerra e na paz 167
1.º ano do Hospital da Misericórdia da Batalha
Diversidade de contributos numa mesma missão de CUIDAR 173
Saul António Gomes
O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa de Lencastre no Mosteiro da Batalha 177
. história .
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Editorial
O elogio da diferença
Maior ou menor, a dificuldade não desaparece. Mesmo pela positiva, haverá sempre caminho entre o simples reconhecimento e a efectiva valorização das diferenças. A diferenciação é, na humanidade, um dado constitutivo,
tal como a igualdade, esta reservada para o fundamental, não propriamente
excepcional ou remoto, mas constante, como o direito a ser diferente. Únicos,
necessários e necessitados, temos pela frente o desafio da harmonização dos
nossos interesses com os dos outros. A despeito de resistências, talvez obstinadas, a apelos mais profundos, a experiência demonstra que a convivência é
estruturante e exige o fiel da balança do lado do acolhimento e da vitória do
confronto sobre a afronta.
Nas sociedades de funcionamento prevalentemente mecânico, com forte
consciência colectiva e altos níveis de conformidade, a integração social
impunha-se a todos de uma forma que hoje achamos chocante. Não é assim
na nossa contemporaneidade que, prezando as diferenças e apostando numa
participação social orgânica, deixou para trás esse corpo social inflexível e
inibidor de opções e iniciativas.
A mudança foi rápida e abrupta, mas sem total descontinuidade porque a
interacção é sempre indispensável. Mesmo assim, a exaltação exacerbada da individualidade, desenfreando a liberdade e a igualdade dos seus limites naturais,
e comprometendo dessa forma a fraternidade igualmente proclamada, deixou as
sociedades de participação orgânica sob a denúncia de um deficit que tenderia a
agravar-se. Obrigadas cada vez mais a impor mínimos de conformidade, contra
os excessos de anomia, as democracias poderão cada vez menos justificar essa
repressão. À falta de valores comuns de referência, insuficientes ou inexistentes,
o Estado de direito grita aos lobos e agita o espectro da insegurança.
Mal iria a humanidade se o lugar, autonomia e participação de cada um
fossem irremediavelmente fatais a uma coesão social suficiente e necessária.
A recessão das capacidades de resposta às exigências de uma participação
orgânica, desde o adeus à solidariedade mecânica, só pode indiciar anomalias
graves nos pressupostos da organicidade ou na sua gestão.
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Editorial
Dignos de apreço, muitos, desejando o épanouissement das consciências
individuais e temendo o definhar da consciência colectiva, preocuparam-se
com a salvaguarda de um lastro axiológico comum. Firmes rumo à participação cidadã, titubeavam, não obstante, quanto às fontes de coesão. Não
abdicando de uma referência comum, necessariamente transcendente, mas
obstinando-se na demarcação das crenças instituídas, muitos congeminaram
deísmos de substituição; outros acreditaram poder manter a sociedade no
pedestal, propondo-a à veneração comum; outros, ainda, legitimaram que a
ordem e o progresso, por força da sua bondade intrínseca, fossem propostos
aos razoáveis e impostos aos demais. Com os anos a democracia foi-se balizando de ilusões e voluntarismos, avisos à navegação, sucessos sectoriais
e tragédias inigualadas, mas não pôde camuflar a necessidade de laços mais
profundos que unam todos aqueles a quem assistem, em simultâneo, o direito
da individualidade e o direito/dever da participação activa na construção do
bem comum.
Há quase dois mil anos, Paulo de Tarso descortinou o caminho da coabitação da diferenciação de cada um com a igualdade comum na referência,
necessária e suficiente, a Jesus Cristo, explicada numa metáfora (1Cor 12,131). Ele é a cabeça e os demais são membros inseparáveis, com funções diferenciadas, complementares e imprescindíveis a todo o corpo. A harmonia
orgânica é garantida pela especificidade da cabeça, Jesus Cristo, e não por
simples operacionalidade funcional.
Os interlocutores da proposta cristã são hoje diferentes dos tempos de Paulo e dos séculos que mediaram até à modernidade. O primado iluminista da
razão, que viria a pôr em causa a referência humana ao transcendente, decidiuse, desde logo pelo distanciamento dos referentes instituídos e investigou os
fundamentos e formas da vida social no âmbito restrito do humanismo ateu.
Hoje, basta a onda generalizada de individualismo que ameaça gravemente a sociedade, para se justificarem algumas questões pertinentes. Que
terá escapado, de essencial, às medidas premonitórias de uma coesão social
sólida? Por que resultaram inglórios tantos esforços?
Os apelos a uma verdadeira avaliação dos paradigmas culturais vigentes
vão surgindo, de diversos quadrantes, contrariando, unânimes, o recurso sistemático à fuga para a frente que vai permitindo continuar a passar de crise
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Editorial
em crise sem nada mudar. Os próprios princípios de uma participação orgânica vão apontando uma laicidade positiva, ainda imprecisa, mas prometedora de efectiva convivência sócio-cultural, também religiosa, entre todos os
membros da sociedade civil, particulares e colectivos. Há um ponto assente
e uma adenda a fazer: toda a discriminação, excepto em caso de prejuízo ao
bem comum, atenta contra os direitos inalienáveis da liberdade de pensamento, de expressão e de reunião, e assiste aos parceiros sociais o direito a não
serem privados da cooperação do parceiro discriminado.
A metáfora paulina aplica-se ao corpo eclesial cujos membros devem
identificar-se pelo acolhimento ao mesmo e único Espírito de Cristo, que
concede os seus dons a cada um, em ordem à edificação comum. Mas, não
será plausível falar das outras sociedades humanas a essa mesma luz?
É nesta condição de corpo vivo que a Igreja deve surgir, em atitude testemunhal, e tem direito a estar presente, na plenitude dos seus direitos de
membro da sociedade civil. Sendo-lhe reconhecido que esteja, e estando com
toda a sua identidade, a convivência social diferenciada não será privada deste caso típico de participação orgânica, afirmação clara da possibilidade de a
humanidade se estruturar sob a base da máxima coesão e máximo reconhecimento da autonomia e participação de cada um.
Portadora de esperança, a presença da Igreja será também interpelação e
denúncia, se não mesmo sinal de contradição. Os cristãos não serão únicos
a poderem encontrar num referencial transcendente a dignidade humana e
a verdade da pessoa como ser em relação. O próprio pressuposto de que o
homem só poderá encontrar-se fechando-se a outro, fora de si mesmo, é contestado pela prática da complementaridade subsidiária de funções e partilha
do mesmo sentir comum. Mesmo assim, fica ainda espaço para o equívoco
da supressão de toda a expressão religiosa, pública, em nome de uma autonomia humana absoluta, entendida como bem comum. Nisso, o mundo
torna-se desafio claro à Igreja, que não regateará assumir-se, dialogante, no
discernimento e correcção das anomalias históricas na concepção e gestão da
cooperação orgânica. Esta será sempre a sua forma exclusiva de se entender
no seu ser e na sua missão.
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Documentos
. decretos . documentos pastorais .
. escritos episcopais . diversos .
. decretos .
Nomeação
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários, havemos por bem nomear Responsável do Serviço Diocesano para
o Diaconado Permanente o Revº P. Dr. Adelino Filipe Guarda, que entrará em
funções no início do próximo mês de Setembro.
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo
diocesano.
Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.
Leiria, 15 de Julho de 2008
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Nomeação
Administrador do Santuário de Fátima
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Tendo terminado o mandato do actual Administrador do Santuário de Fátima, de acordo com os Estatutos do Santuário de Fátima havemos por bem
nomear Administrador e Capelão do Santuário de Fátima o Revº P. Cristiano
João Rodrigues Saraiva, que entrará em funções durante o próximo mês de
Setembro.
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo
diocesano.
Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.
Leiria, 15 de Julho de 2008
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
Serviço Diocesano para o Diaconado Permanente
. decretos .
Nomeação
Pároco da Barreira
António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber
quanto segue:
Sendo necessário prover ao cuidado pastoral da Paróquia da Barreira, havemos por bem confiá-la aos cuidados do Presbítero Leonel Vieira Baptista,
que nomeamos Pároco da mesma, com os direitos e obrigações inerentes a
este múnus, segundo a Lei da Igreja.
Por mais este título, o consideramos Nosso especial colaborador e asseguramos-lhe a confiança e auxílio indispensáveis ao bom desempenho da sua
missão, assim como a estabilidade no ofício, que o bem dos fiéis requeira.
Exerça ele de tal modo o seu ministério de ensinar, santificar e governar,
que os fiéis e toda a comunidade paroquial se sintam, de facto, membros
vivos da Igreja diocesana e universal. Seja a sua actividade pastoral sempre
penetrada de espírito missionário, para abranger, como deve, quantos vivem
na paróquia.
No desempenho do múnus de ensinar, pregue a Palavra de Deus a todos os
fiéis, para que estes, fundados na fé, na esperança e na caridade, cresçam em
Cristo e, reunidos na comunhão da Igreja, ofereçam ao mundo o testemunho
de amor que o Divino Mestre recomendou (cfr. Jo. 13, 35). Seja diligente em
garantir a todos uma adequada formação catequética e apostólica e não descure a evangelização dos que ainda não conhecem Cristo.
No trabalho de santificação das pessoas, procure que a celebração do
Sacrifício Eucarístico seja o centro e o ponto culminante de toda a vida da
comunidade cristã.
Esforce-se ainda por que os fiéis se alimentem no espírito, pela graça de
Deus, recebendo com devoção e frequência os sacramentos e participando, de
modo consciente e activo, na liturgia.
No cumprimento do dever pastoral, procure conhecer bem o próprio rebanho e, sabendo-se ao serviço da Igreja, promova o progresso da vida cristã
quer nos indivíduos, quer nas famílias, quer nas associações, sobretudo de
apostolado, quer ainda em toda a comunidade paroquial. Visite as famílias
e as escolas, como exigência do seu múnus pastoral; atenda diligentemente
os adolescentes e os jovens, manifeste especial predilecção pelos pobres e
pelos doentes e seja sinal do amor de Cristo para com os mais desprotegidos
e necessitados.
12 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Mantenha-se unido aos outros sacerdotes e sinta-se corresponsável pelo
bem de toda a Diocese. Lembre-se que os bens materiais, adquiridos no exercício da sua missão, andam intimamente ligados ao múnus sagrado. Socorra
pois generosamente as necessidades materiais da Igreja, segundo as próprias
disponibilidades e as indicações superiores.
Finalmente, esperamos que os paroquianos o recebam, como legítimo
pastor e o auxiliem no bom desempenho da sua missão. Todos se lhe devem
unir pela oração e pela actividade apostólica. Concorram para a sua côngrua
sustentação, de modo que, liberto de preocupações económicas, possa dedicar-se inteiramente ao serviço evangélico da comunidade paroquial.
Esta nomeação é válida por seis anos.
Dado em Leiria, a 15 de Julho de 2008
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Decreto
Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Sendo necessário providenciar ao bem da Diocese e das suas instituições,
e tendo em consideração que:
- A Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, Pessoa Colectiva
Religiosa com o nº 501232222, com sede no lugar de Aljustrel, freguesia de
Fátima, concelho de Ourém, desta Diocese, erecta canonicamente pelo Bispo
de Leiria-Fátima com decreto de 2 de Março de 1959, está sujeita à nossa
autoridade, conforme determinam as leis canónicas, por ser uma Associação
de Fiéis (cf Código de Direito Canónico, cân. 305);
- A mesma PIA UNIÃO criou, com finalidade social, a Fundação Divino
Coração de Jesus, com escritura pública de 22 de Junho de 2006, mas sem
existência canónica, e para ela transferiu os seus bens, o que acarreta sério
prejuízo no património daquela pessoa colectiva;
- Os Estatutos da Fundação criada não asseguram de modo algum os fins
religiosos da Pia União, nem na forma nem no espírito nem na substância,
o que traduz inobservância dos Estatutos desta pessoa Colectiva Religiosa e
das normas canónicas;
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Documentos
. decretos .
. decretos .
- Terminou, em 11 de Junho último, o mandato de três anos estabelecido
nos Estatutos, da Superiora Geral, Irmã Maria Madalena de Jesus, com o
nome civil de Gabriela Soares de Melo e Simas Prieto Ferreira;
Exercendo o dever de vigiar sobre a administração das pessoas jurídicas
sujeitas ao Ordinário diocesano, conforme os cânones 305, 1276 e outros
aplicáveis do Código de Direito Canónico, e o artigo 7º das Normas Gerais
das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa,
Decreta o seguinte:
Designar, nos termos do cân. 318 § 1 e do artigo 23º das Normas Gerais
das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, o ecónomo
diocesano, Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva, portador do Bilhete de
Identidade n.º 8466661 emitido em 05.03.2004 pelos S.I.C. de Leiria e residente em Rua Joaquim Ribeiro Carvalho, nº 2, Leiria, como comissário,
e o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo, casado, portador do Cartão
de Cidadão n.º 5074584, residente na Rua Dr. João Bernardo de Oliveira
Rodrigues, n.º 5, em Ponta Delgada, como comissário adjunto, a fim de representarem a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, ficando
desde já o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo mandatado singular e
especificamente para a prática dos seguintes actos em Juízo e fora dele:
- intentar, no Tribunal ou Tribunais competentes, acção judicial destinada
à declaração de nulidade da Escritura Pública da Constituição da Fundação
do Divino Coração de Jesus, outorgada aos 22 dias do mês de Junho de 2006
exarada de fls 104 e seguintes do Livro 33 do Cartório Notarial de Fátima
Ramada, bem como, Providências Cautelares destinadas a evitar a prática de
actos de transmissão dos Bens Imóveis afectos à mencionada Fundação no
acto da sua constituição pela instituidora Pia União das Escravas do Divino
Coração de Jesus e que actualmente se acham inscritos a favor daquela Fundação ou em nome ainda da entidade instituidora, e ou, revogar essa Escritura
e outorgar no respectivo acto e praticar todos os actos necessários aos indicados fins da sua extinção e subsequente liquidação;
- intentar no Tribunal competente acção judicial destinada à declaração
de nulidade ou de anulação da Escritura Pública de Doação do imóvel sito
na Ilha do Faial, outorgada pela Pia União das Escravas do Divino Coração
de Jesus a favor de Pedro Manuel Ferreira de Seixas Antão, bem como Providência Cautelar destinada a evitar a prática de ulterior acto de transmissão
daquele imóvel;
- desistir do pedido e confessar o pedido reconvencional na Acção Ordinária n.º 2153/06.5TBCBR, que corre termos na 2ª Secção das Varas de Com14 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
petência Mistas e Juízos Criminais de Coimbra, em que é Autora a Pia União
das Escravas do Divino Coração de Jesus e Réu o Seminário Pio XII;
- confessar, desistir e transigir na Acção Ordinária n.º 635/07.0TBPDL,
que corre termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Ponta Delgada, em que é Autor o Seminário Pio XII e Ré a Pia União das Escravas do
Divino Coração de Jesus;
- revogação de todos e quaisquer mandatos forenses constituídos e que
venham a ser constituídos e notariais que tenham sido conferidos, ou que
venham a ser conferidos, pela Pia União das Escravas do Divino Coração de
Jesus, designadamente a procuração outorgada em 19/10/2005 no Cartório
Notarial de Ourém, em que foi mandatado o Dr Pedro Manuel Ferreira de
Seixas Antão, divorciado, natural da freguesia de São Sebastião da Pedreira,
concelho de Lisboa, residente em Farrobito, Caminho dos Moinhos, nº 86,
Penedo, freguesia de Colares, concelho de Sintra;
- revogação do mandato judicial conferido ao mandatário da Autora, o
Dr Manuel José Motaco Piteira, com escritório no Bairro Horizonte, lote 76,
Apartado 44, 7500-999 Vila Nova de Santo André, na Acção Ordinária n.º
2153/06.5TBCBR, que corre termos na 2ª Secção das Varas de Competência
Mistas e Juízos Criminais de Coimbra, em que é Autora a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus e Réu o Seminário Pio XII;
- revogação do mandato judicial conferido ao mandatário da Ré, Dr Manuel José Motaco Piteira, com escritório no Bairro Horizonte, lote 76, Apartado 44, 7500-999 Vila Nova de Santo André, na Acção Ordinária n.º 635/
07.0TBPDL, que corre termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca
de Ponta Delgada, em que é Autor o Seminário Pio XII e Ré a Pia União das
Escravas do Divino Coração de Jesus;
- para conferir mandatos forenses a favor de Advogado ou Advogados, a
fim de representar a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus em
Juízo.
E para constar emite o presente decreto que assina e autentica com o selo
branco que usa.
Leiria, 15 de Julho de 2008
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
. decretos .
. decretos .
Nomeação
Reitor do Santuário de Fátima
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Tendo terminado o mandato do actual Reitor do Santuário de Fátima e
tendo obtido o “nada obsta” da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, de acordo com o Artigo 10º dos Estatutos do Santuário de
Fátima, havemos por bem nomear Reitor do Santuário de Fátima o Revº P.
Dr. Virgílio do Nascimento Antunes, que tomará posse durante o próximo
mês de Setembro.
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo
diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.
Leiria, 15 de Julho de 2008
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Decreto
Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Sendo dever do Ordinário do lugar cuidar que nas associações de fiéis
diocesanas, públicas e privadas, “se mantenha a integridade da fé e dos costumes”, “não se introduzam abusos na disciplina eclesiástica” e “os bens sejam
utilizados para os fins da associação” (cf cân. 305 e 325);
Tendo em consideração que:
- a associação de fiéis denominada Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, Pessoa Colectiva Religiosa com o nº 501232222, com sede no
lugar de Aljustrel, freguesia de Fátima, concelho de Ourém, desta Diocese,
foi erecta canonicamente pelo Bispo de Leiria-Fátima, com decreto de 2 de
Março de 1959, estando por isso sujeita à sua autoridade, conforme os cânones 305 e 325 do Código de Direito Canónico;
- se verificam procedimentos administrativos que lesam gravemente os
bens da referida Pia União;
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- terminou, em 11 de Junho último, o mandato de três anos, definido pelos
Estatutos, da Superiora Geral, Irmã Maria Madalena de Jesus, com o nome
civil de Gabriela Soares de Melo e Simas Prieto Ferreira;
Exercendo o dever de vigilância sobre as associações de fiéis sujeitas à
autoridade do Ordinário diocesano, conforme os cânones 305, 323, 325, 1276
e outros aplicáveis do Código de Direito Canónico, e o artigo 7º das Normas
Gerais das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa,
Decreta o seguinte:
1. Designar, nos termos do cân. 318 § 1 e do artigo 23º das Normas Gerais
das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, o ecónomo
diocesano, Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva, portador do Bilhete de
Identidade n.º 8466661, emitido em 05.03.2004 pelos S.I.C. de Leiria, residente em Rua Joaquim Ribeiro Carvalho, nº 2, Leiria, como comissário,
e o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo, casado, portador do Cartão
de Cidadão n.º 5074584, residente na Rua Dr. João Bernardo de Oliveira
Rodrigues, n.º 5, em Ponta Delgada, como comissário adjunto, para em meu
nome, e além dos poderes de representação já conferidos por força do nosso
Decreto de 15 de Julho, também administrarem temporariamente os bens da
Pia União, procurando pelos meios legais anular os procedimentos administrativos anteriores que lesaram o património da mesma Pia União e assegurar
aos membros da Pia União os meios adequados à sua digna subsistência e
apostolado.
2. Confirmar o mandato conferido ao Dr. Luís Manuel Tavares da Silva
Anselmo, para a prática dos actos em Juízo e fora dele mencionados no nosso
Decreto de 15 de Julho e outros que se revelem necessários para o bem da
Pia União.
3. Revogar todas as credenciais emitidas até ao presente à mencionada
Superiora da Pia União e especialmente as de 29 de Setembro, 18 e 28 de
Outubro 2005.
Enquanto não for feita nova eleição, nos termos do direito, a actual Superiora Geral dirige os assuntos correntes da Pia União, nomeadamente no que
se refere à sua vida religiosa e apostólica, sem prejuízo do mandato conferido
aos Comissários acima designados.
O presente decreto entra em vigor na data de hoje. E para constar emite o
presente decreto que assina e autentica com o selo branco que usa.
Leiria, 29 de Julho de 2008
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
. decretos .
. decretos .
Nomeação
Capelão da Comunidade Ucraniana
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Sabendo que “na Igreja todos devem, de facto, encontrar a sua Pátria”,
que é o mistério do amor de Deus entre os homens, e que os cristãos devem
ser promotores de uma verdadeira cultura do acolhimento (cf. EMCC), e
atendendo às necessidades pastorais dos fiéis católicos de origem ucraniana,
de acordo com os cân. 564-566 e 568 do Código de Direito Canónico e com
as orientações da Instrução Erga migrantes caritas Christi, havemos por bem
nomear Capelão da Comunidade Ucraniana residente nesta Diocese, o Rev.
P. Sílvio Litvinczuk, OSBM, que tomará posse no dia 14 de Setembro de
2008.
Exercerá o seu ministério em comunhão com o Bispo diocesano e de
acordo com as orientações eclesiásticas. Terá os deveres e direitos que o
Código de Direito Canónico atribui aos párocos, nomeadamente as faculdades consignadas no cânone 1109. Deverá organizar a comunidade dos fiéis à
semelhança de uma paróquia católica, nomeadamente no que diz respeito ao
registo dos sacramentos e à constituição do Fundo Económico, com a ajuda
de um Conselho Económico.
Esta nomeação é válida pelo período de seis anos.
Leiria, 1 de Setembro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
18 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. decretos .
Nomeações
O Senhor D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, procedeu às seguintes nomeações:
1. O P. Dr. Virgílio Antunes é nomeado Reitor do Santuário de Fátima.
Toma posse no dia 25 de Setembro. Continua como docente do Instituto Superior de Estudos Teológicos em Coimbra e deixa as funções de Delegado
Episcopal para o Diaconado Permanente.
2. O P. Cristiano Saraiva é nomeado Administrador do Santuário de Fátima, continuando a ser Ecónomo Diocesano. Deixa as funções de Pároco da
Barreira.
3. O P. Doutor Carlos Cabecinhas é enviado para o Seminário Maior de
Coimbra para integrar a equipa formadora do Seminário. Assumirá as funções de docente do Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra e
do Centro de Formação e Cultura de Leiria, e continuará como Director do
Departamento de Liturgia desta Diocese, bem como membro do Secretariado
Nacional de Liturgia.
4. O P. Dr. Adelino Guarda é nomeado Responsável do Serviço Diocesano
para o Diaconado Permanente. Entra em funções no início do mês de Setembro. Acumula com as funções que já exerce: Director do Centro de Formação
e Cultura, Responsável do Serviço Diocesano de Pastoral da Saúde e Director
do Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais.
5. O P. Leonel Baptista é nomeado Pároco da Barreira, continuando como
Vigário Paroquial de Leiria. Tomará posse durante o mês de Setembro.
6. Mons. Cón. Dr. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima desde
1973, tendo terminado o mandato para o qual foi nomeado, cessa as suas
funções no Santuário de Fátima.
7. O P. António Lopes de Sousa, até ao momento Administrador do Santuário de Fátima, deixa estas funções, continuando como Capelão do mesmo
Santuário.
Leiria, 10 de Setembro de 2008
Vítor Coutinho,
Chefe de Gabinete Episcopal
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Documentos
Paróquias e Serviços diversos
. decretos .
Nomeação
Associação Fraternitas Movimento
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Por proposta da Direcção da “Associação Fraternitas Movimento”, associação privada de fiéis, com sede em Fátima, na Rua Francisco Marto,
nº 128, havemos por bem nomear, com a anuência do seu Bispo, o Revº
P. Guilhermino Teixeira Saldanha, da Diocese de Vila Real, para Assistente
Espiritual da Associação Fraternitas Movimento, conforme o artº 35º dos
seus Estatutos.
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo
diocesano.
Esta nomeação é válida pelo período de três anos.
Leiria, 12 de Setembro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Nomeação
Escola de Formação Social Rural de Leiria
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Tendo em conta a identidade católica da Escola de Formação Social Rural
de Leiria, e atendendo ao pedido que nos foi apresentado pela Direcção desta
entidade, bem como ao “Regulamento interno” e à história da mesma instituição, havemos por bem nomear Assistente religioso da Escola de Formação
Social Rural de Leiria o Revº P. Adelino Filipe Guarda, que entra imediatamente em funções.
Desempenhará este serviço em comunhão com o Bispo diocesano e de
acordo com os órgãos directivos da Escola.
Esta nomeação é válida pelo período de seis anos.
Leiria, 13 de Setembro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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. decretos .
Nomeação
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários, havemos por bem nomear, de acordo com o cân. 1435 do Código
de Direito Canónico, o Exmo Senhor Dr. Ilídio Gonçalves de Vasconcelos
Defensor do Vínculo e Promotor da Justiça do Tribunal Eclesiástico da Diocese de Leiria-Fátima.
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo
diocesano.
Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.
Leiria, 14 de Novembro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Nomeação
Notário do Tribunal Eclesiástico
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários, havemos por bem nomear, de acordo com o cân.1437 do Código
de Direito Canónico, o Exmo Senhor Engº Sérgio Pinto Macias Marques
Notário do Tribunal Eclesiástico da Diocese de Leiria-Fátima.
Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo
diocesano.
Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.
Leiria, 24 de Novembro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
Defensor do Vínculo e
Promotor da Justiça do Tribunal Eclesiástico
. documentos pastorais .
Despertar o espírito de missão e
reacender um novo ardor missionário
De a 3 a 7 de Setembro próximos realiza-se, em Fátima, o Congresso
Missionário Nacional. Com este congresso pretende a Igreja em Portugal
despertar nas comunidades cristãs o espírito de missão, reacender um novo
ardor missionário, descobrir novos caminhos da missão, na esteira da nossa
melhor tradição como um povo de missionários. Este acontecimento proporciona-me a feliz ocasião de fazer um apelo à dimensão missionária da nossa
diocese e a uma participação significativa no Congresso, que acontece no ano
dedicado a São Paulo, o Apóstolo missionário por excelência.
1. A urgência da missão
O Papa Bento XVI na mensagem de 2007 para a Jornada Missionária
Mundial, com o título “Todas as Igrejas para o mundo inteiro”, sublinhou que
é “urgente a acção missionária perante o avanço da cultura secularizada...
De outro modo, as Igrejas correm o risco de se fecharem em si mesmas, de
olharem com reduzida esperança para o futuro... Mas é precisamente este o
momento de se abrir com confiança à providência de Deus que nunca abandona o seu povo.”
O mandamento do Senhor ressuscitado “Ide por todo o mundo e anunciai
o Evangelho” (Mc 16,15,) é sempre actual e urgente. É interessante notar que
o Ressuscitado não pede aos Apóstolos para embelezarem o sepulcro, colocarem lápides, lhe dedicarem ruas, nem lhe construirem monumentos, nem,
muito menos, lhe organizarem festas. Pede-lhes para anunciarem o Evangelho a todo o homem, encorajados pela ternura de Deus e pelo seu intenso
amor gratuito por toda a criatura humana.
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Documentos
Nota Pastoral
. documentos pastorais .
2. Toda a Igreja é missionária, a exemplo de S. Paulo
S. Paulo compreende e vive, de modo extraordinário, esta dimensão missionária da Igreja. Ele mesmo nos confia o segredo da sua actividade de missionário incansável ao exclamar: “O amor de Cristo possui-nos e impele-nos
”. Foi o amor de Cristo que o levou a percorrer as estradas do império romano
e a enfrentar todos os riscos como arauto e missionário do Evangelho.
A missão é uma irradiação da luz e do amor de Deus que em Cristo entra na história dos homens. Nenhum cristão é estranho a esta tarefa. Toda a
Igreja é missionária. A missão não é obra de navegadores solitários. Deve ser
vivida na barca de Pedro, a Igreja, conforme os dons que cada um recebe do
Espírito.
Bento XVI, numa das catequeses semanais, ao apresentar as figuras dos
colaboradores mais íntimos de S. Paulo – Barnabé, Silvano e Apolo – explicou que na evangelização não há solistas, porque todos têm uma tarefa decisiva no campo do Senhor. Paulo não age como solista, como puro indivíduo,
mas juntamente com outros colaboradores dentro do “nós” da Igreja: “Cada
um tem uma tarefa determinada no campo do Senhor: Eu plantei, Apolo regou, mas é Deus quem faz crescer... Somos de facto colaboradores de Deus e
vós sois o campo de Deus e o edifício de Deus.”
“Assim, nesta missão de evangelização eles encontraram o sentido da sua
vida e, enquanto tais, estão diante de nós como modelos luminosos de desinteresse e de generosidade”, conclui o Santo Padre.
Também hoje o Evangelho deve ser anunciado por nós como o pão para
que o mundo não morra de fome; como a água para que ninguém morra de
sede; como o ar que se respira ou como o sol que aquece e retempera. Basta
que levemos o nosso testemunho humilde e generoso mas indispensável e
precioso. E há tantos modos de levar este testemunho!... Felizmente encontramos hoje o ressurgir de novos tipos de vocação missionária entre jovens e
menos jovens que se dispõem a oferecer, em forma de voluntariado, alguns
meses ou anos da sua vida ao serviço dos irmãos em terras de missão.
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. documentos pastorais .
Entre nós, é de salientar, neste contexto, a geminação entre a nossa diocese e a diocese do Sumbe, em Angola. Esta iniciativa é uma concretização
do método missionário evocado pela mensagem do Santo Padre: “Todas as
Igrejas para o mundo inteiro” e expressão da comunhão das Igrejas na missão
evangelizadora. Tem servido para manter viva a dimensão missionária da (e
na) nossa Diocese. Temos a trabalhar no Sumbe uma equipa constituída por
um padre e alguns jovens leigos voluntários. Faço um apelo para que esta
realidade seja dada a conhecer em cada uma das nossas comunidades, de
modo a tornar-se interpeladora e suscitadora de vocações missionárias entre
os jovens.
Por fim, peço aos reverendos párocos que dêem a conhecer nas suas comunidades a realização do Congresso Missionário Nacional e envidem esforços para que cada comunidade se faça representar por alguns membros.
O grande apóstolo São Paulo nos ajude, com a sua intercessão e exemplo,
a reavivar o ardor missionário na nossa querida Diocese!
13 de Julho de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
3. A geminação entre a diocese de Leiria-Fátima
e a diocese do Sumbe
. documentos pastorais .
Carta Pastoral
Ir ao Coração da Fé
Formar para uma fé adulta
Caríssimos Diocesanos,
Irmãs e Irmãos no Senhor,
“Graça e Paz
da parte de Deus Pai
e de Cristo Jesus, nosso Salvador!”(Tito 1,4)
Desejo saudar-vos, afectuosamente, com estas palavras do Apóstolo Paulo a Tito, seu “verdadeiro filho na fé comum”.
Peço ao Senhor que me conceda poder partilhar como bispo, sucessor dos
Apóstolos, a missão e a paixão de Paulo “servo de Deus, apóstolo de Jesus
Cristo, para chamar à fé os eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade,
que conduz à piedade, na esperança da vida eterna” (Tito 1,1-2).
Sim, ó Senhor Jesus, guarda sempre viva e forte em mim a consciência
da missão que me confiaste: “chamar à fé os eleitos de Deus”, ou seja, todos
os homens por Ele amados; chamá-los “ao conhecimento da verdade” que
resplandece nas palavras da Revelação divina e que encontra a plenitude de
luz em Ti, Palavra incarnada.
Esta palavra “conduz à piedade”, a uma vida filial, boa e bela; que está
fundada “na esperança da vida eterna”, e, assim, abre os nossos olhos e o
nosso coração à alegria e à plenitude da vida em Deus.
É com esta consciência da missão e com esta invocação ao Senhor que
vos escrevo a presente carta pastoral, para vos apresentar o percurso da nossa
Igreja diocesana para o ano pastoral 2008/09. Esta carta é fruto não só da
minha reflexão, mas também do contributo dos vários órgãos pastorais diocesanos cuja dedicada colaboração agradeço.
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Como sabeis, estamos a seguir o percurso já traçado pelo Sínodo Diocesano nas suas linhas gerais. A primeira etapa foi dedicada a descobrir a beleza
e a alegria da vocação cristã e do acolhimento, como resposta e expressão da
infinita ternura de Deus.
Não posso concentrar-me aqui sobre todas as iniciativas que se realizaram. Mas, se há uma imagem que me ficou mais gravada que outras no
olhar, no coração e na memória, foi a participação impressionante de tantos
adolescentes e jovens nas vigílias vocacionais em cada vigararia. A esta
imagem associo também a do entusiasmo, que senti de perto, nos jovens que
participaram no grupo vocacional de Santo Agostinho e nos adolescentes do
Pré-Seminário. Tudo isto é um sinal de esperança a desmentir uma tendência
para o pessimismo, relativa ao trabalho pastoral com os jovens. Poderemos
nós deixar perder este “capital” de esperança?
Admirável foi também a adesão de muitas pessoas (à volta de 5.000) e
grupos à proposta de “retiro popular” durante a Quaresma. Quem ousa dizer
que não vale a pena fazer propostas porque não há disponibilidade das pessoas para as agarrar?
Caminho em sintonia com a Igreja universal
Este ano pastoral será dedicado à formação cristã em ordem à revitalização e crescimento da fé, da sua vivência espiritual e do seu testemunho.
Vem na sequência lógica do tema da vocação cristã, assume-o e prepara
para o percurso futuro. Com efeito, “a formação dos fiéis leigos tem como
objectivo fundamental a descoberta cada vez mais clara da própria vocação
e a disponibilidade cada vez maior para vivê-la no cumprimento da própria
missão”. (João Paulo II, Vocação e missão dos fiéis leigos, nº 58).
A formação na fé é hoje mais necessária que nunca. Trata-se de “ir ao
coração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto,
a sua alegria e a sua força irradiante. Uso aqui o termo “coração” num
tríplice significado: enquanto núcleo central da fé, que é Jesus Cristo; como
centro propulsor que leva o “sangue”, a vitalidade, o dinamismo, a todos os
membros do corpo que é a Igreja; e como o lugar–símbolo do afecto com que
se acolhe no íntimo de cada um, cheio de confiança, o anúncio de Cristo Salvador: “Se confessares com a tua boca que «Jesus é o Senhor» e acreditares
no teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rom
10,9).
Providencialmente, este ano pastoral coincide com dois grandes acontecimentos da Igreja universal, que de modo algum podemos ignorar e que
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Documentos
. documentos pastorais .
. documentos pastorais .
vamos integrar no nosso percurso pastoral. Aliás, vêm enriquecê-lo muito.
O primeiro é o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja. Um sínodo dedicado a redescobrir a infinita bondade e ternura de Deus que, na sua Palavra, se revela ao homem como amigo, conversa
com ele, convida-o à comunhão consigo e a colaborar com Ele na transformação da história, segundo o seu desígnio de salvação. Chama-nos, assim, a
atenção para a primazia da Palavra de Deus na formação dos cristãos.
O segundo acontecimento é o Ano Paulino para comemorar os dois mil
anos do nascimento do grande Apóstolo Paulo. “Ele brilha como uma estrela
de primeira grandeza na história da fé e do cristianismo”. (Bento XVI). Neste
sentido, o Santo Padre proclamou um “Ano Paulino”, que – à semelhança do
Ano Jubilar da redenção – possa ajudar a Igreja a redescobrir a rica e bela
mensagem de Paulo, para se enamorar cada vez mais de Cristo e reavivar a
fé.
São Paulo será, pois, o mestre e guia no nosso caminho pastoral. Por isso,
escolhemos como lema bíblico para este ano a exortação do Apóstolo: “Permanecei firmes e sólidos na fé” (Col 1,23). E, como símbolo, escolhemos um
ícone de São Paulo a evocar o rosto da sua fé viva, do seu amor apaixonado
por Jesus Cristo, do seu ardor missionário.
Esta carta pastoral é uma reflexão sobre a formação para uma fé adulta. A
primeira parte apresenta o panorama cultural em que nós somos chamados a
viver a fé e o desafio que isso representa para a formação. Na segunda parte,
procuramos “ir ao coração da fé”, à luz de São Paulo e na terceira apresentamos os diversos itinerários da formação cristã. Na última, oferecemos indicações e propostas pastorais concretas para as comunidades e para a Diocese.
1. “SENTINELA, QUE VÊS NA NOITE?” (Is 21,11):
A NOITE DA FÉ NO NOSSO TEMPO
Para indicar o espírito com que pretendo analisar a situação da fé hoje, escolhi uma palavra do profeta Isaías, algo enigmática. Parece imitar um canto
que as sentinelas cantavam na noite para não cair no sono:
“Chamam por mim desde Seir:
Sentinela, que vês na noite?
Sentinela, que vês na noite?
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. documentos pastorais .
A imagem da sentinela é sugestiva. Evoca a noite, a solidão, o estado de
vigia, a advertência do perigo a assinalar, o temor do inimigo, uma situação
em geral incómoda, mas também a esperança da aurora do novo dia. Por isso,
estes versículos, misteriosos e provocadores, são usados como imagem para
indicar a fadiga de perscrutar o tempo presente e o seu significado para a fé.
Uma fadiga semelhante à da sentinela que perscruta na noite; e uma vez despontado o dia, volta de novo a fadiga, porque volta também a noite. E, contudo, há momentos em que se torna imperativo e inevitável a responsabilidade
de perscrutar na noite, como é o momento em que vivemos.
Na noite do cenário da história, a nós cristãos é-nos pedido procurar penetrar a obscuridade, estar prontos à escuta das questões e dificuldades para a
vivência e testemunho da nossa fé, mas também a discernir os apelos de Deus
nesta situação e as possíveis aberturas à fé.
1.1. Onde estamos?
Todos experimentamos que o mundo atravessa uma crise de fim de uma
época. Sucedem-se mutações culturais profundas, a um ritmo vertiginoso,
impossíveis de controlar e orientar. Assemelham-se a uma série de abalos
sísmicos com repercussões em todos os âmbitos da vida: familiar, social, cultural, político, económico e religioso. Afectam até os valores fundamentais
e perenes.
Está a nascer, de forma confusa e algo caótica, um mundo novo, um modo
novo de viver no mundo. E todos sofremos as dores deste parto difícil.
Mudou também o contexto em que se vivia e transmitia a fé. Salta aos
olhos de todos que já não vivemos mais numa “sociedade cristã” (a cristandade), em que a fé se transmitia em família como uma herança e era protegida
pelo ambiente social e cultural, ainda com referências aos princípios cristãos.
A fé deixou de ter este suporte ambiental.
Hoje vivemos numa situação de pluralismo social e cultural. São-nos
apresentados e oferecidos, como num mercado, os mais diversos projectos
e modelos de vida. Muitos deles são estranhos ou contrários ao Evangelho e
geram confusão nos cristãos que não têm a preparação sólida da fé.
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E a sentinela responde:
Chega a manhã e a noite também.
Se quereis voltar a perguntar, vinde de novo.” (Is 21,11-12).
. documentos pastorais .
Confrontamo-nos ainda com o pluralismo religioso. Surge, inevitavelmente, a questão da identidade cristã: porque sou cristão? O cristianismo
é apenas mais uma religião entre as outras? Onde está o específico da fé
cristã?
Assistimos também a uma perda progressiva da memória cristã tanto a
nível colectivo como individual. Há tentativas de fazer aparecer a fé cristã
como estranha à cultura ou à moda dominantes, como relíquia ou vestígio
do passado, do tempo dos nossos avós. Vai-se tornando moda ser agnóstico.
Instala-se um clima de indiferença religiosa em que não há “ouvido interior”
para Deus, nem “apetite” espiritual. Neste clima, muitos cristãos deixaram-se
atingir por um complexo de inferioridade, pelo temor de ser diferentes.
Mais impressionante é o analfabetismo e a iliteracia religiosos. Uma
constatação que não podemos iludir é a grande ignorância de muitos católicos sobre os conteúdos, as noções e os conceitos mais elementares da fé.
Há cristãos de idade adulta que, em relação ao conhecimento da fé, permanecem ao nível infantil. Permanecem numa religiosidade vaga e superficial;
são incapazes de dialogar com a cultura e de enfrentar, à luz da fé, as novas
questões que hoje se põem. E não raramente trazem consigo representações
deturpadas da fé. Reduzem-na a um conjunto de práticas, de preceitos, obrigações e proibições como se fosse um fardo. Assim não descobrem a riqueza,
a beleza e o encanto da fé em Jesus Cristo. De facto, a ignorância religiosa é
hoje uma das “chagas” da Igreja e o maior inimigo da fé.
Mesmo ao nível da catequese de crianças e adolescentes, apesar de todos os esforços louváveis para a sua renovação, os resultados não são muito
satisfatórios. Fico triste quando vou crismar a algumas paróquias e o pároco,
antecipadamente, me diz: “Senhor Bispo, destes crismandos ficam apenas
uns 10% de fiéis praticantes”. Ouço calado e interrogo-me interiormente: será
que estou destinado a ser bispo crismador de ateus práticos que vivem como
se Deus não existisse? Mas, apesar disso, é mais forte em mim a esperança de
que a semente lançada à terra dará frutos a seu tempo!...
Em síntese, verifica-se entre nós o diagnóstico que João Paulo II traçou
a respeito da situação europeia: “Muitos europeus pensam que sabem o que
é o cristianismo, mas realmente não o conhecem. Frequentemente, ignoram
os rudimentos da fé. Muitos baptizados vivem como se Cristo não existisse:
repetem-se gestos e sinais da fé por ocasião das práticas de culto, mas sem a
correlativa e efectiva aceitação do conteúdo da fé e adesão à pessoa de Jesus.
Em muita gente, as grandes certezas da fé foram substituídas por um sentimento vago e pouco empenhativo; difundem-se várias formas de agnosticis30 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
mo e ateísmo prático que concorrem para agravar a divergência entre a fé e
a vida; muitos há que se deixaram contagiar pelo espírito de um humanismo
imanentista que enfraqueceu a sua fé, levando-os, com frequência, a abandoná-la completamente” (Igreja na Europa, nº 47).
Na noite da fé há também “estrelas da manhã” que anunciam o despertar
da aurora. Notam-se sinais de uma busca espiritual, de procura da bondade
e da beleza da vida, que abrem caminhos ao anúncio do Evangelho. Têm
surgido na Igreja novos dons do Espírito e múltiplas iniciativas que reacendem a chama da fé e a fortalecem. Despontam propostas de formação e tem
crescido o interesse e a adesão de muitos fiéis. Há adultos que redescobrem
a fé como uma música nova que dá esperança e alegria à vida. Sinto isto nas
visitas pastorais.
1.2. Para onde vamos?
Esta é a situação nova em que somos chamados a viver a fé, em tempos
difíceis. Devemos encará-la com realismo e esperança. Não podemos ficar
junto ao muro das lamentações. Aliás, não é uma situação inédita. É muito
semelhante àquela em que nasceu e se desenvolveu o cristianismo e viveram
os primeiros cristãos. Também não é só negativa. É uma crise acrisoladora,
purificadora da nossa fé. É um tempo providencial para reencontrar a autenticidade da fé.
Mostra-nos que estamos a passar de um cristianismo transmitido como
herança, de geração em geração, por uma espécie de pertença passiva, a uma
fé de opção livre, vivida como um percurso deliberado de adesão consciente,
convicta e alegre. É uma provação e provocação, um desafio a crer mais (em
profundidade) e a crer melhor (em qualidade). “Supõe que haja o cuidado de
promover a passagem de uma fé apoiada na tradição social, e que tem o seu
valor, a uma fé mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta” (Igreja na Europa, nº 50). Vale para nós hoje o que Tertuliano dizia para o seu tempo (séc.
III): “Não se nasce cristão; faz-se cristão”!
O desafio, hoje, não é só baptizar os novos convertidos, mas também levar
os baptizados a converterem-se a Cristo e ao Seu Evangelho. Antes da questão: como anunciar a fé aos outros?, precisamos de enfrentar ainda esta: como
podemos nós, enquanto cristãos e comunidade cristã, descobrir a riqueza da
fé e vivê-la, tornarmo-nos adultos na fé? Eis a razão da nossa preocupação
pastoral, que é uma aposta decisiva para o século XXI: formar para uma fé
adulta, deixando-nos iluminar por esse gigante da fé que é São Paulo.
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Documentos
. documentos pastorais .
. documentos pastorais .
1.3. “Passa e ajuda-nos” (Act 16,9)
É neste contexto que queremos viver o Ano Paulino na nossa Diocese. No
livro dos Actos dos Apóstolos há uma passagem muito sugestiva. Mostra-nos
o itinerário da actividade missionária de São Paulo – o itinerário da Palavra
de Deus – que o faz aportar à Europa. É a conhecida “visão do macedónio”.
Estando em Tróade, na Ásia, “durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé, diante dele, e fazia-lhe este pedido: “Passa à Macedónia
e vem ajudar-nos”. Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para
a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa
Nova” (16,9-10).
Na Macedónia podemos ver a figura dum povo, da própria Europa. A
súplica a Paulo é um convite a fazer-se ao mar e a atravessar o estreito; é um
grito de quem está em perigo de perder-se e tem necessidade da ajuda e da
luz do Evangelho.
A evangelização de Paulo aparece, assim, como resposta ao grito da
Europa, à urgência da gente que pede a Palavra; e faz parte do desígnio de
salvação, porque é Deus a guiar os acontecimentos.
“Passa e ajuda-nos” é também a nossa súplica hoje, a São Paulo, neste
início do segundo milénio em que a Europa corre o perigo de esquecer e renegar a memória e as raízes da fé cristã.
“Paulo não é para nós uma figura do passado que recordamos com veneração. É também o nosso mestre, apóstolo e arauto de Jesus Cristo também
para nós. Paulo quer falar connosco hoje. Por isso, quis proclamar este especial Ano Paulino: para escutá-lo e para aprender dele, agora, a fé e a verdade,
em que ele é o nosso mestre” – diz o Papa Bento XVI.
Com a sua mestria, São Paulo conduzir-nos-á ao coração da fé e a nela
crescer. Façamos uma pausa, em oração silenciosa, pedindo:
Senhor, tu que guiaste São Paulo por caminhos misteriosos e o fizeste
aportar à Europa, até junto de nós, para nos trazer a Tua Palavra, faz com
que nós o acolhamos hoje e acolhamos o Teu admirável desígnio de salvação
que ele proclamou com desassombro.
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. documentos pastorais .
2. IR AO CORAÇÃO DA FÉ, COM SÃO PAULO
Se perguntássemos a São Paulo qual o acontecimento fulcral e determinante de toda a sua vida, certamente não hesitaria em responder-nos: o
encontro com Cristo Ressuscitado no caminho para Damasco – assim afirma
o cardeal Martini.
O que aconteceu a Paulo num dia incerto, entre 33 e 35 do séc. I, a caminho de Damasco, ficou impresso na memória colectiva através da imaginação
criadora de Caravaggio na famosa tela que se encontra na igreja de Santa
Maria del Popolo, em Roma: um enorme cavalo olha de soslaio para um Paulo que perdeu as estribeiras, caído por terra, inundado por um clarão de luz
repentina que desce do céu como um raio que o cega.
Mas a descrição desta singular manifestação de Cristo a Paulo, narrada
por São Lucas nos Actos dos Apóstolos, em três textos (9,1-18; 22,3-21;
26,9-18), não inclui aquele cenário equestre.
Detenhamo-nos, então demoradamente, na primeira narração (Act 9,118). Procuraremos descobrir em primeiro lugar a riqueza e beleza do conteúdo numa leitura meditada (lectio divina), para, num segundo momento,
actualizar a sua mensagem para nós.
O texto descreve Saulo – que tinha também o nome romano de Paulo
– como um judeu praticante e zeloso das tradições religiosas e, por isso,
adversário e perseguidor dos cristãos. Foi durante uma viagem em que se
dispunha a prender cristãos, já perto de Damasco, que este homem, natural de
Tarso, na actual Turquia, teve esse encontro decisivo com Cristo.
O acontecimento é descrito através de uma linguagem simbólica, com o
objectivo de expressar em palavras algo que excede a linguagem humana.
Interessa-nos pois, compreender a experiência sobrenatural de grande densidade que as palavras e os símbolos deixam entrever.
Como na sequência de um filme, o episódio desenrola-se em três cenas de
extraordinário efeito.
1. Tudo começa, sendo Paulo “envolvido subitamente por uma luz intensa
vinda do céu”. O facto de tudo suceder subitamente acentua o carácter ines-
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2.1. Um terramoto de luz no caminho de Damasco: a revelação de
Cristo a Paulo
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perado do acontecimento: trata-se de uma graça divina completamente gratuita, imprevisível, extraordinária. Deus é sempre surpresa e surpreendente!
A luz intensa vinda do céu faz referência a uma experiência divina. Como
sucedera tantas vezes ao longo do Antigo Testamento, Deus manifesta a sua
presença grande e maravilhosa, através de uma luz intensa, que deslumbra a
pessoa e a eleva a uma realidade nova fascinante.
Paulo não só vê essa luz, mas é envolvido totalmente por ela: não é algo
exterior que ele contempla, mas toca toda a sua pessoa, abarca todo o seu ser
e deixa-o cego. É o esplendor do Ressuscitado que o cega. De facto, Cristo
“é um abismo de luz que cega e desassossega” (Kierkgaard).
O fulgor no qual é envolvido faz com que caia por terra, expressão do
assombro e atitude de adoração. Cai por terra, sim, mas não cai no vazio. Na
realidade, cai nos braços do amor de Cristo, como mais tarde virá a descobrir.
Paulo está fora de si, rendido ao que acaba de experimentar, incapaz de dizer
ou fazer o que quer que seja.
2. Uma voz irrompe e interroga-o: Saulo, Saulo, porque me persegues? A
resposta de Paulo mostra, uma vez mais, o assombro e o mistério no qual se
sente envolvido: ainda não percebeu o que está a suceder e, menos ainda, de
quem é a voz que o interroga. Por isso, responde com uma pergunta: Quem
és tu, Senhor? A resposta que recebe é a chave, a explicação de toda a experiência: é Jesus! Mas a frase tem um peso enorme: “Eu sou Jesus, a quem tu
persegues”.
O texto original grego é muito expressivo: ao utilizar literalmente o pronome pessoal “eu” (só se utiliza nos casos em que se quer sublinhar, num
modo particular, o sujeito) acompanhado pelo verbo ser (eu sou), tem uma
referência clara ao nome de Deus como foi revelado a Moisés. Jesus ressuscitado revela-se assim a Paulo como sendo Deus. Quem lhe veio ao encontro,
era o Deus que ele servia e a quem queria ser fiel. Mas agora descobre que
esse Deus se identifica com a Pessoa de Jesus, a quem ele estava a perseguir
na pessoa dos cristãos.
3. Segue-se uma ordem. “Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens
a fazer”. É a continuação lógica do anterior. O “erguer-se”, alude à ressurreição. Significa a nova etapa que começa e é a única resposta que a pergunta
de Jesus pode ter: dispor-se a uma vida nova, a um novo começo. A partir de
agora, já não será ele a decidir o que deve fazer; será a comunidade, a Igreja
que lhe transmitirá o que Deus dele pretende.
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O facto de Paulo, ainda cego, ter de ser levado pela mão e estar sem comer
nem beber durante três dias até que lhe imponham as mãos e seja baptizado,
acentua a profundidade do sucedido: a necessidade de interiorizar o acontecimento e a necessidade de purificação e preparação para entrar plenamente na
Igreja. Só então, Paulo recupera a luz que a “visão” tinha cegado.
É curioso que Ananias, a quem Deus ordena ir ter com Paulo, ainda sem
saber da sua conversão, mostre medo de o encontrar pela fama que tinha.
A resposta consoladora que recebe de Deus é um resumo daquela que será
a vida de Paulo a partir daquele momento: “Vai, pois esse homem é instrumento da minha escolha, para levar o meu nome entre os pagãos, os reis e os
filhos de Israel. Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo
meu nome!”
No futuro, devido a este encontro com Jesus, Paulo intitula-se e é reconhecido por todos como Apóstolo, equiparado aos doze que conviveram com
Jesus durante os três anos da sua vida pública.
O caminho de Damasco tornou-se um símbolo universal para indicar
não só uma mudança existencial, mas também uma verdadeira fulguração
que transforma e transfigura todo o ser de uma pessoa. Além disso, tornouse um paradigma do caminho espiritual de todo o cristão, um itinerário de
conversão, de fé e de amor a Cristo, que começa pela experiência pessoal do
encontro com ele.
Que nos diz a nós hoje? Como ilumina o nosso crescimento e a nossa
formação na fé e na vida cristã?
2.2. “Fui agarrado por Cristo” (Fil 3,12): a fé como encontro com
Cristo
Enquanto São Lucas narra o facto com uma grande riqueza de pormenores, Paulo nas suas cartas vai directo ao essencial. Para recordar a mudança
radical da sua vida, várias vezes se refere a essa experiência extraordinária
em termos autobiográficos. Ele fala de visão (Cristo fez-se ver a mim: 1Cor
15,8; 9,1), de iluminação (2Cor 4,6) e sobretudo de revelação e vocação
(aprouve a Deus revelar o Seu Filho em mim: Gal 1,15-16), de corrida ou
luta (fui agarrado por Cristo: Fil 3,12), no encontro com o Ressuscitado.
A expressão mais forte a que Paulo recorre talvez seja a da carta aos
Filipenses (cf. Fil 3,2-16), onde diz que foi agarrado, apanhado, tomado,
conquistado, alcançado, cativado por Cristo. Esta expressão está inserida no
contexto de uma imagem proveniente do campo desportivo: Paulo corre para
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agarrar Cristo, tendo sido já agarrado por Ele. É esta experiência de ter sido
“apanhado” por Cristo, que dá impulso à sua “corrida”; e, ao mesmo tempo,
proporciona-lhe o maior tesouro: “a maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”. Sim, Jesus Cristo é o seu tesouro!
Foi uma revelação que provocou nele uma “revolução”: desde então, tudo
o que antes considerava “um ganho” tornou-se paradoxalmente, em palavras
suas, “perda e lixo”.
“Daqui deriva para nós uma lição muito importante: o que conta é pôr
Jesus Cristo no centro da própria vida, de tal modo que a nossa identidade
seja caracterizada, essencialmente, pelo encontro com Cristo e com a Sua Palavra. À sua luz, qualquer outro valor é recuperado e purificado de eventuais
imperfeições” (Bento XVI).
Eis a originalidade da fé cristã: ela encontra e exprime a sua originalidade na relação com Jesus Cristo. Ele é o “coração” da própria fé, “o autor e
aperfeiçoador da nossa fé” (Heb 12,2). É o fundamento seguro, o conteúdo
essencial e a meta viva e pessoal do acto de fé.
Só com os olhos postos em Cristo, o cristão aprende a reconhecer a presença e a acção de Deus que o busca, que vem ao seu encontro e o chama a
uma comunhão nova. Jesus Cristo é o tesouro único que o cristianismo tem
para oferecer.
2.3. “Vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim”
(Gal 2,20): a fé como história de amor
Num passo ulterior, Paulo guia-nos à contemplação do rosto de Cristo,
redentor do homem e Senhor da história. Aqui deixa-nos ver a razão do seu
encanto por Jesus, como tão bem o exprime Bento XVI:
“Na carta aos Gálatas, ele dá-nos uma profissão de fé muito pessoal em
que abre o seu coração diante dos leitores de todos os tempos e mostra qual é
a mola mais íntima da sua vida: “Vivo a vida presente na fé do Filho de Deus
que me amou e se entregou por mim” (2,20). Tudo o que Paulo faz, parte
deste centro.
A sua fé é a experiência do ser amado por Jesus Cristo de modo completamente pessoal: é a consciência de que Cristo enfrentou a morte não por qualquer coisa anónima, mas por amor dele, Paulo; e de que, como Ressuscitado,
o continua a amar agora, isto é, que Cristo se entregou por ele.
A sua fé é o ser alcançado pelo amor de Jesus Cristo, um amor que o toca
no mais íntimo e o transforma. A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre
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Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus no seu coração.
E assim esta fé é amor por Jesus Cristo.”
Vemos portanto que a fé não nos coloca frente a coisas ou a um elenco de
verdades abstractas e portanto frias ou ainda perante um conjunto de obrigações e proibições. Crer é aceitar alegremente, como válido para mim tal qual
sou, esse inigualável acto pessoal de Jesus “Filho de Deus que me amou e
se entregou por mim”. Só o Amor é digno de fé! Só daqui, o cristão tira luz
e força para a sua vida presente que se torna vida nova. Não é uma teoria ou
uma lei que nos salva; é a pessoa viva de Cristo acolhido como Filho de Deus
e Salvador nosso. Ele é tudo para nós como foi para Paulo: Ele é “a nossa
paz” (Ef 2,14) “a nossa vida” (Col 3,4) nossa “sabedoria, justiça, santificação
e redenção” (1Cor 1,30), nosso “único fundamento” (1Cor 3,11), “nossa esperança” (Col 1,27)!
“Se não nos enamorarmos de Cristo, não teremos interesse algum como
cristãos” (J. Ratzinger).
2.4. “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo...” (Ef 1,3):
a fé, um sim ao Deus-Amor
Por amor de Cristo, Paulo foi feito prisioneiro. Na prisão sente que a ameaça de morte pende sobre ele como uma espada de Dámocles. Na sua solidão,
pensando porventura no fim próximo, procura, de algum modo, “compreender qual a amplidão, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de
Cristo, que excede todo o conhecimento” (Ef 3,18-19).
E no amor de Cristo contempla, deslumbrado, a beleza e a riqueza da
ternura de Deus que se revela no “Filho do Seu Amor”, como um projecto a
realizar na história dos homens.
Do coração de Paulo comovido, até às entranhas, brota um hino de júbilo,
um Magnificat de acção de graças (cf. Ef 1,3-14). Aí desenvolve, como num
grande fresco, o grandioso projecto de Deus e convida a associarmo-nos à
sua contemplação maravilhada: não à contemplação estética de um objecto
ou coisa bela, mas antes à contemplação cristã de um Deus que nos surpreende com a sua iniciativa, o seu sonho de amor para connosco e nos agracia
com toda a espécie de dons espirituais, em Cristo. Contemplemos, pois, estes
dons, ainda que brevemente:
– o amor de eleição e predilecção que nos envolve e precede desde toda
a eternidade, tal como o amor dos nossos pais nos precede antes de nos gerarem para a vida. Eis porque, de maneira tão estupenda, São Tomás de Aquino,
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afirma: “Deus ama-me não porque sou bom; mas faz-me bom ao amar-me”;
– o dom da filiação pelo qual nos introduz no mistério da sua intimidade
e nos faz participantes da sua vida divina, da sua santidade;
– o dom da redenção pelo qual nos recria e regenera através da sua misericórdia e do perdão;
– o dom da reconciliação pelo qual nos une a todos em comunhão para
formar um só povo e um só corpo de que Cristo é a cabeça;
– o dom do Espírito Santo no baptismo como início da vida nova e garantia da vida eterna como nossa herança;
– e, como vértice, o dom da recapitulação final, ou seja, da plenitude de
vida que nos espera na ressurreição.
Eis aqui a síntese da fé cristã! Como não dizer “ámen” (sim) a um Deus
assim e ao seu desígnio de amor? Como não dobrar os joelhos diante do Pai
de quem toma nome toda a família no céu e na terra? (cf. Ef 3,14).
Eis aqui um espelho místico no qual cada cristão e cada comunidade
podem ler a infinita ternura de Deus e a sua maravilhosa vocação a serem
colaboradores de Deus neste seu projecto.
E que fantástica visão do mundo e da história nos oferece! Enquanto
tantos homens não sabem porque estão sobre a terra e para onde caminham;
enquanto alguns apregoam, com grande retórica, que tudo é absurdo, Deus
enche-nos da sua sabedoria e garante-nos que a história humana tem um
sentido, uma direcção, um significado, uma meta. A fé dá-nos, pois, uma
profunda confiança e uma imensa alegria para a vida! Como estamos longe
da religião do medo!
2.5. O que é que suscita e alimenta a fé?
São Paulo ensina-nos que é fundamental pôr Jesus Cristo no centro da
nossa vida para que marque todo o nosso ser. Mas, imediatamente, surge a
pergunta: Como se dá o encontro dum ser humano com Cristo? O que é que
desperta a fé, a alimenta e nos faz crescer na vida com Cristo?
2.5.1. “Esta palavra é a da fé que anunciamos” (Rom 10,8): a escuta da Palavra
Há uma passagem verdadeiramente iluminante na carta aos Romanos,
como resposta à questão: “É junto de ti que está a palavra: na tua boca e no
teu coração. Esta palavra é a da fé que anunciamos. Porque se confessares
com a tua boca: “Jesus é o Senhor” e acreditares que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo... E como hão-de acreditar naquele de quem
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não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar sem alguém que o anuncie?...
Portanto, a fé surge da pregação e a pregação surge pela palavra de Cristo”
(Rom 10,8-9.14-17).
Àqueles que julgam que a salvação é um processo difícil e complicado,
submetido a uma série de práticas extenuantes, Paulo diz que a Palavra da
Salvação espera somente ser acreditada e professada com o coração e a boca.
Mas, para se tornar próxima precisa de ser anunciada. Trata-se do primeiro
anúncio de Cristo, Senhor e Salvador.
A atitude fundamental da fé, é pois escutar e responder a Deus que na sua
Palavra nos fala como um amigo, coração a coração, e se comunica a nós. A
fé é resposta à comunicação que Deus faz de si e esta comunicação é o elemento fundador da experiência cristã.
Vemos assim como a Palavra de Deus tem um lugar primário, fundamental no início da vida cristã; mas também para alimentar a vida de fé dia
após dia e formar o cristão maduro e adulto. Assim entendemos a exortação
de Paulo a Timóteo: “Desde a tua tenra infância conheces as Sagradas Escrituras. Elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação
pela fé em Cristo Jesus. De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e útil
para ensinar, refutar, corrigir e formar para a justiça, a fim de que o homem de
Deus seja completo e preparado para toda a obra boa” (2Tim 3,15-17).
O verdadeiro discípulo deixa-se habitar pela Palavra do Verbo (Cristo):
escuta-a atentamente e rumina-a pacientemente, de tal modo que é ela que
vive nele, nas suas palavras e nos seus gestos. Como Paulo poderá exclamar:
“ Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20).
2.5.2. “Deus está no meio de vós” (1Cor 14,25): a celebração da presença do
Senhor
O coração que acolhe a Palavra do amor do Pai, é um coração que reza.
Ao rezar, o cristão escuta o seu Senhor, entra em diálogo com Ele, abre-lhe o
seu coração, adora, louva, agradece, suplica (cf. Col 3,16-17).
Que outra coisa é a oração cristã se não a expressão da nossa relação filial
com Deus? É o próprio Espírito Santo que inspira a nossa oração, pondo o
nosso coração em sintonia com o coração do Pai (cf. Rom 8,15.26-27).
Mas a pregação do Evangelho inclui também o anúncio da celebração
dos dons salvíficos de Deus nos sacramentos. Neste sentido, Paulo atribui
uma importância decisiva ao baptismo e à eucaristia. Oferece-nos uma passagem muito iluminante sobre o significado do baptismo como coroamento
do anúncio da Boa Nova da renovação em Cristo: “Quando se manifestou
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a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, Ele
salvou-nos pela sua misericórdia mediante o baptismo do novo nascimento e
da renovação pelo Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre
nós por Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tito 3,4-6).
Porém, no centro da vida da comunidade e dos cristãos está a celebração
da “ceia do Senhor” na qual Cristo dá continuamente o seu Corpo em comunhão e faz de nós o seu Corpo: “O pão que partimos, não é comunhão com o
Corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos,
somos um só corpo, porque todos participamos de um só pão” (1Cor 10,16).
Para Paulo, Cristo na Eucaristia é o centro da existência cristã em virtude
do qual todos e cada um podem experimentar de modo muito pessoal a entrega de Cristo no seu amor por nós: “Ele amou-me e entregou-se por mim”
(Gal 2,20).
Compreendemos assim que a celebração litúrgica (celebrar a presença
do Senhor) faz parte da identidade do cristão. Por isso, os mártires da Abitínia, no momento do martírio, proclamaram esta fé: “Nós não podemos viver
sem a celebração do dia do Senhor”! E como seria desejável que as nossas
assembleias litúrgicas testemunhassem esta fé de tal modo que se realizasse o
voto de S. Paulo aos Coríntios: que um não cristão que entre na nossa assembleia, no final possa dizer: “verdadeiramente, Deus está no meio de vós, está
convosco!” (1Cor 14,24-25).
2.5.3. “Revesti-vos do amor que é o laço da perfeição” (Col 3,14): a santidade
no amor
Para Paulo não basta dizer que os cristãos são baptizados ou crentes. Eles
vivem de Cristo e com Cristo: o que dá uma nova orientação, um novo estilo,
uma nova respiração espiritual à vida. É a vida nova em Cristo.
Os cristãos estão chamados por Deus a ser um “hino de louvor à sua
glória” (Ef 1,14), ou seja, a deixar aparecer através da santidade da vida, a
beleza de Deus e do seu infinito amor na vida pessoal, familiar e social. Este
é o verdadeiro “culto espiritual” agradável a Deus (cf. Rom 12,1).
O agir cristão encontra o seu centro e a sua expressão concreta no amor:
“Acima de tudo revesti-vos do amor que é o laço da perfeição” (Col 3,14), o
dom por excelência, a plenitude de toda a lei (cf. Rom 13,8-10).
“A fé que actua em obras de amor ” (Gal 5,6) é um dos princípios primordiais do cristianismo. Neste sentido, Paulo deixou-nos um dos textos
mais significativos, o Hino à Caridade (1Cor 13,1-13) que é um verdadeiro
monumento, inspirador de toda a fantasia da caridade em todos os tempos.
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Nele se diz, em quinze modos diversos, o que é a caridade no presente
(v.4-7). E acrescenta que só a caridade tem futuro: o único que permanece é o
amor com a fé e a esperança que o sustentam e o tornam possível.
A caridade é amar Deus com todo o coração e amar os outros com o coração de Deus. Este é o amor que abraça todas as vocações, se estende a todos
os âmbitos, a todos os tempos e lugares, penetra a terra e é eterno. É a mola
que tudo move; é o fogo primordial que anima o universo.
O próprio Paulo nos deixa um testemunho extraordinário naquela sua iniciativa genial de “fantasia da caridade” que foi a grande colecta, realizada
nas várias comunidades, a favor dos pobres de Jerusalém! A chamar-nos hoje
à globalização da caridade!
3. CRESCER NA FÉ: FORMAR PARA UMA FÉ ADULTA
Segundo a narração dos Actos dos Apóstolos, a conversão repentina e
fulgurante de Paulo, às portas de Damasco, foi continuada com uma iniciação por parte da comunidade cristã. Os três dias de cegueira e de jejum
configuram um tempo de iniciação, acompanhado pela instrução de Ananias
e concluída pela recepção do baptismo. Só então readquiriu a luz dos olhos, o
sentido da sua inserção na Igreja e da segurança no caminho de Cristo.
Embora tendo feito uma experiência formidável de Jesus em Damasco,
teve que percorrer um caminho, relativamente longo, da cegueira à luz, de
neo-convertido a cristão maduro. Passou mesmo através de provações de
todo o género para que resplandecesse nele a força de Cristo (cf. 2Cor 12,710).
A partir da sua própria experiência, Paulo fala de um crescimento ou
progresso na fé. Como tudo na vida, também a fé requer crescimento para
permanecer viva. De contrário regride e definha. O conhecimento da “riqueza” que está em Cristo não é algo adquirido ou estático. É antes um processo
permanente.
Todo o ministério de Paulo vai na linha da consolidação e formação da
vida cristã dos membros da comunidade (cf. 1Tess 2,7-12). A fé precisa de
alimento, de cuidado, de orientação, de formação atenta e dedicada. Deve
ser cuidada e cultivada para que lance raízes profundas em nós e produza
muitos e bons frutos.
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3.1. A formação cristã, mais necessária que nunca
A formação cristã sempre foi necessária. Mas hoje é-o mais que nunca
para não abortar a vida de fé. Ninguém, em qualquer âmbito, se pode contentar com os conhecimentos iniciais. Se é certo que a fé permanece sempre a
mesma, todavia nunca se acaba de “compreender o que se crê e de crer o que
se compreende” (Santo Agostinho).
Além disso, é preciso aprender a dizer a fé, a falar da fé e, deste modo, alimentá-la e testemunhá-la. Um amor que não se diz, morre à partida. De igual
modo, uma fé que não se exprime, sofre de anemia, perde a vitalidade.
Qual o objectivo da formação cristã?
Nunca nos cansaremos de repetir com São Paulo: que a razão de ser da
formação é chegar a “que Cristo seja formado em vós” (Gal 4,19) ou a “alcançar a estatura do homem adulto, à medida de Cristo na sua plenitude” (Ef
4,13).
Não se trata, simplesmente, de armazenar conhecimentos; mas de formar
o “ser cristão” em todas as dimensões para descobrir a riqueza e a beleza da
fé, da sua própria vocação, e realizar a sua missão no mundo.
A formação para uma fé adulta exige, pois, a educação para viver a fé
cristã na sua totalidade una e indivisível, como fé professada, celebrada e
vivida.
É também uma formação para todas as idades da vida. A fé não é uma
posse tranquila, uma segurança definitiva. Em cada fase ou situação da vida,
ela é sacudida, posta à prova e deve ser renovada e aprofundada.
Novas circunstâncias, novas experiências, novas questões e novos problemas fazem com que a significação da fé precise de ser descoberta de modo
novo. Eis porque é importante permanecer sempre iniciados na fé.
3.2. Percursos (itinerários) de acesso à fé e de crescimento na fé
Queremos apresentar agora, numa visão global e coerente, o itinerário
de formação dos cristãos e as suas várias etapas. Trata-se de responder às
questões: quais são os caminhos para um primeiro conhecimento da fé cristã?
Como é que a riqueza e a profundidade do Evangelho nos pode tocar? Como
podemos nós, enquanto cristãos, crescer na fé? Numa palavra, como tornar-se
adulto na fé?
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3.2.1. O primeiro anúncio
A fé autêntica, no seu núcleo, é uma adesão amorosa à pessoa viva de
Jesus Cristo. Acontece aqui algo de semelhante ao amor entre as pessoas. Primeiro, há algo (palavra, atitude, gesto, experiência) que “toca” e atrai; depois,
vem o namoro em que se conhecem. Às vezes, depois de uma vida matrimonial enriquecedora, evoca-se aquele primeiro encontro para testemunhar: “a
partir daquele momento, mudou toda a minha vida”.
Na origem da fé autêntica está uma Palavra ou experiência de graça que
nos toca. Para chegar à fé, há algo de muito pessoal que se passa. Algo que
toca o coração da pessoa e a decide a voltar-se para Jesus Cristo e converterse a Ele.
Paulo fez esta experiência única às portas de Damasco. Certamente não
se pode esperar que cada um experimente o que viveu Paulo de modo extraordinário. Todavia, cada vez mais, os cristãos acreditarão a partir de uma
descoberta e de um encontro com Cristo e de uma decisão pessoal.
Este ser tocado no íntimo é obra da graça de Deus. Mas passa, normalmente, pelas mediações humanas: através de um anúncio, do testemunho
ou de sinais humanos. Trata-se de um género muito particular de anúncio.
Quanto ao seu conteúdo, é muito breve e muito simples: “Jesus Cristo morreu
por ti e ressuscitou. Oferece-te uma vida nova. Qual é a tua resposta?”. É a
primeira descoberta de Cristo como Salvador, tal como Paulo ao exclamar:
“Ele amou-me e entregou-se por mim” (Gal 2,20) ou “O amor de Cristo
tomou conta de nós ao pensar que um só homem morreu por todos” (2Cor
5,14). Não se trata de uma mera informação neutra e abstracta. É um anúncio
que faz emergir todo o potencial de vida, de verdade e de bem que habita no
coração de cada ser humano.
É isto que se chama o Kerygma, o apelo que atinge directamente e trespassa o coração (cf. Act 2,37). É daí que nasce a conversão. Assemelha-se a
uma espécie de “big bang” que liberta uma enorme energia capaz de transformar toda a vida da pessoa, de torná-la vida bela, amada, feliz!
Chama-se também “primeiro anúncio” pela importância primordial
que reveste! E ainda porque está no princípio como os fundamentos estão
no princípio da casa. Está no início de tudo. É o coração e a alma de toda a
revelação e da fé. Dá cor e calor a tudo. É o primeiro e primordial para todos:
crianças, jovens e adultos. E deve estar sempre presente nas outras etapas de
crescimento.
Na prática pastoral precisamos de valorizar e apoiar as iniciativas (retiros,
encontros com testemunhas vivas da fé, leitura orante da Palavra, preparação
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do baptismo ou casamento...) e os vários movimentos que se dedicam a oferecer o primeiro anúncio ou a primeira descoberta da fé de modo que levem a
um encontro, de coração a coração, com Cristo vivo, ressuscitado.
3.2.2. Catequese de iniciação à vida cristã
O primeiro anúncio é o catalizador que desencadeia o processo da fé.
Mas, em seguida, deve ser aprofundado para encontrar solo firme no caminho da fé.
É esta a função do catecumenado: oferecer um itinerário próprio de
aprofundamento da fé, para os não baptizados enquanto crianças, que leva
a uma conversão inicial à profissão de fé e à celebração dos sacramentos de
iniciação cristã.
É esta também, para os baptizados, a função da catequese: apresentar e
propor o conteúdo da fé, de modo orgânico e sistemático, pedagogicamente
adaptado a cada idade. Trata-se de estruturar a fé na pessoa, de lhe dar uma
coluna vertebral, com o auxílio de um “catecismo” e de um grupo de catequistas como testemunhas da fé; e também com o apoio da comunidade cristã
que é o berço vivo da catequese.
Não se pode confundir a catequese com a mera transmissão de conhecimentos ou de doutrina; nem a relação de catequista-catequisando com a
relação de professor-aluno.
A catequese tem o carácter de iniciação, gradual e progressiva, a toda a
vida cristã, nas várias dimensões: iniciação ao conhecimento do mistério de
Jesus Cristo e dos grandes conteúdos da fé; à oração e celebração da fé; à vida
da comunidade cristã e ao estilo de vida próprio de um cristão.
A catequese visa, em última análise, ajudar a fazer discípulos de Jesus,
num encontro de amizade com Ele. Isto é algo que tem de estar presente em
todos os encontros de catequese. Por isso, é muito importante a figura do
catequista, enamorado por Cristo. O catequista é o “catecismo” vivo e torna
vivo o livro do catecismo. Porque um encontro pessoal com Cristo não se
ensina, nem se pode fabricar. Só se pode partilhar, testemunhar. É um facto de
que dispomos de muitos catequistas capazes de ensinar e explicar, mas nem
todos sabem tocar os corações. Devemos, pois, preparar os nossos catequistas de modo que se deixem também “agarrar” por Cristo e, na intimidade com
Ele, adquiram a arte de cativar os corações.
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3.2.3. Formação contínua ou permanente dos jovens e dos adultos
Cada idade é uma estação da vida que comporta os seus desafios e a sua
maturação adulta. Não basta ser adulto em idade, para ser adulto na fé! Uma
grande parte dos cristãos crescem em idade e em cultura, mas ao nível da fé
ficaram com os conhecimentos infantis. Na sociedade actual tão complexa,
não se permanece cristão só pelo facto de se ter aprendido a sê-lo, quando
criança ou adolescente. Tornar-se cristão e adulto na fé não é algo automático.
Também como adultos temos necessidade de um aprofundamento da fé
para que esta seja uma escolha pessoal e fundada, e para o diálogo entre a fé e
a cultura do nosso tempo. Para isso, não bastam as homilias ou assistir a uma
conferência avulsa. Torna-se indispensável uma formação sistemática.
Hoje a formação (ou catequese) dos jovens e dos adultos é mais necessária ainda do que a das crianças e dos adolescentes. Na situação actual
deveríamos dinamizar toda a formação recentrando-a nos adultos.
Uma das maiores lacunas de muitos cristãos é a falta de uma visão de
síntese da fé cristã. É como quem vê as árvores, mas não vê a harmonia e
a beleza da floresta. Para responder a esta necessidade confio à Comissão
de Catequese com Adultos e ao Centro de Formação e Cultura a elaboração
desta síntese, em vários encontros ao longo de um ano, e segundo um método
interactivo em que se possa partilhar a experiência da fé. Esta formação poderá, posteriormente, ser oferecida em cada paróquia ou a nível de vigararia.
Outra lacuna a preencher com urgência é a falta de conhecimento e de
gosto da Palavra de Deus contida na Bíblia. A Bíblia, porém, é o primeiro
livro da fé e da cultura cristãs. É uma vergonha que grande parte dos católicos
não tenham familiaridade com a Palavra de Deus por ignorância e incapacidade de ler e entender a Bíblia. Ora, como diz São Jerónimo, “a ignorância
das Escrituras é a ignorância acerca de Cristo.” Como se pode amar Aquele
que se não conhece? Neste sentido é necessário que, a nível de paróquias ou
vigararias, se realizem cursos de iniciação à Bíblia ou “serões bíblicos”.
Além disso, “um meio seguro para aprofundar e saborear a Palavra de
Deus é a lectio divina que constitui um verdadeiro itinerário espiritual. O
estudo e a meditação da Palavra de Deus devem levar à adesão a uma vida
conforme a Jesus Cristo e aos seus ensinamentos” (Bento XVI).
Já lançámos, no ano passado, este método de leitura orante e familiar da
Bíblia, com grande adesão popular. Continuaremos a incentivá-lo neste ano
pastoral.
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. documentos pastorais .
. documentos pastorais .
3.2.4. O Ano Litúrgico como itinerário de formação para todos
Outro lugar e meio fundamental de formação da vida cristã é a liturgia.
Como diz o Concílio Vaticano II, ela “é a fonte primeira e necessária onde
os fiéis hão-de ir beber o espírito verdadeiramente cristão” (SC 14), isto é,
alimentar a sua fé e a sua vida espiritual.
Ao longo do Ano Litúrgico, a Igreja celebra o mistério de Cristo – mistério da Salvação – nos seus distintos aspectos e momentos.
Na celebração é o Senhor que vem ao nosso encontro, que nos fala, que
nos faz participantes da infinita riqueza da sua vida e do seu amor, e nos
santifica. A espiritualidade do Ano Litúrgico educa-nos, pois, a vivermos e
a alimentarmo-nos da Palavra, das orações, dos símbolos da celebração e do
mistério celebrado. Assim, o Ano Litúrgico é, para todos, uma verdadeira
escola da fé. Como esta riqueza deveria suscitar em nós todo o cuidado a
pôr na preparação, na vivência interior, na dignidade e beleza das nossas
celebrações!
O Ano Litúrgico convida-nos a desenvolver uma outra vertente da formação dos fiéis que precisa de ser incrementada: a formação da vida espiritual
através de propostas de tempos fortes de oração, meditação e contemplação
(retiros, encontros…). Há um défice muito grande de espiritualidade nas nossas comunidades!
3.2.5. O contributo da piedade popular
Embora a liturgia ocupe o lugar central no caminho espiritual do cristão, não esgota porém toda a espiritualidade da vida cristã. Existe também
a piedade popular que engloba determinadas devoções, peregrinações e
procissões, festas em honra dos santos. Caracterizam-se por um clima mais
afectivo e espontâneo, ou então por dar mais espaço à interioridade e à oração
pessoal.
As expressões desta piedade popular são também meios para fomentar a
vida espiritual e até a santidade popular. Merecem que se lhes reserve uma
especial atenção em ordem a renová-las com um conteúdo mais bíblico e
evangélico, orientá-las para o coração da fé que é Jesus Cristo, e a purificá-las
de sentimentalismos exagerados e dos riscos de superstições. Fátima tem sido
exemplo no esforço de evangelização e renovação da piedade popular.
De modo particular, impõe-se restituir dignidade cristã às festas populares
em honra dos Padroeiros que, nalguns lugares, estão a resvalar para um consumismo imprudente e até escandaloso, roçando mesmo o paganismo.
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. documentos pastorais .
Já vimos como Paulo, após a revelação inesperada de Cristo, foi acolhido
na Igreja de Jesus, que já existia antes da sua conversão.
Foi a Igreja que o iniciou no conhecimento e aprofundamento da fé em
Jesus e da existência cristã. Ele próprio, no seu anúncio, refere: “ Transmitivos o que eu mesmo recebi” (1Cor 15,3). Isto já diz, por si só, como e quanto
a Igreja foi para ele Mãe e Mestra, que o ajudou a gerar para a fé. Disto sentese devedor.
Torna-se então claro que a fé professada por um cristão não é algo que
cada um inventa ou fabrica a seu bel-prazer. É verdade que a fé é dom de
Deus. Mas chega até nós através da mediação da Igreja. Só nesta é possível
encontrar as feições completas e originais do rosto de Cristo.
Pelo baptismo tornamo-nos a família de Deus, “membros da casa de
Deus” (Ef 2,19), filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos e irmãs de Cristo e
em Cristo, reunidos todos pelo mesmo Espírito de amor. Isto é a essência da
Igreja, a nossa família espiritual, a nossa casa espiritual. Tal como na casa
de família somos iniciados à vida, assim na casa da nossa família espiritual
somos iniciados à vida cristã.
4.1. A paróquia, comunidade formativa
Uma comunidade cristã é, pois, o lugar natural onde somos acolhidos
e iniciados no mistério de Cristo e da existência cristã; onde a fé é vivida e
partilhada, onde ela pode crescer, amadurecer e dar frutos. Lugar onde nos
reunimos para escutar a Palavra de Deus; onde se celebra a Aliança de Deus
connosco; onde se vive o amor fraterno; onde os cristãos se ajudam mutuamente a viver o Evangelho pela riqueza da fé, do testemunho e do serviço de
cada um em relação aos outros. Assim se torna uma comunidade de fé viva e
irradiante. Eis como e porque a comunidade cristã é uma casa e escola da fé.
A fé precisa de um ambiente comunitário para sobreviver e crescer!
Toda a comunidade é responsável na iniciação e formação dos seus
membros. A paróquia é, pois, uma comunidade educativa, comunidade de
formação antes de ser um centro de organização de actividades e serviços.
Isto deve ser uma das suas prioridades.
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4. A IGREJA, CASA E ESCOLA DA FÉ
. documentos pastorais .
Também neste aspecto, São Paulo é exemplo. Através das cartas, sobressai a sua preocupação por arranjar muitos e bons colaboradores, formando
uma rede de trabalho e em equipa. E cuidava, muito seriamente, da sua formação (formação de formadores!) para o anúncio da Palavra e o crescimento
da comunidade.
Só em Rom 16,1-24 recorda 36 pessoas e cada uma é caracterizada com
atributos que evocam a intensidade de relações. É surpreendente o afecto e
a alegria de Paulo por esta rede de relações, pela equipa de colaboradores
que considerava preciosa para o evangelho de Jesus Cristo. Chama-os “meus
colaboradores em Cristo”. E deixa ver como se respirava uma atmosfera de
comunhão na fé e na alegria, de corresponsabilidade na formação da comunidade cristã.
Do que foi dito derivam três propostas concretas a implementar. Antes de
mais, a escolha e a “formação de formadores idóneos” é uma urgência primária para assegurar a formação geral e específica de todos os fiéis. O pároco
não pode fazer tudo.
Uma atenção particular merece a formação dos adultos. Em cada paróquia ou vigararia poderá criar-se uma escola da fé (ou de formação de adultos) para oferecer, em cada ano, a um grupo diferente de adultos, a visão de
síntese da fé, já antes mencionada.
A formação cristã não se esgota no âmbito da paróquia, porque esta, por
si só, não é capaz de responder a tudo. Os grupos, as associações e os movimentos também têm o seu lugar na formação dos fiéis. Seria bom “trabalhar
em rede” segundo as necessidades e oportunidades, em espírito de comunhão
eclesial.
Quero ainda recordar que a visita pastoral é uma boa oportunidade para
sensibilizar e dinamizar as paróquias em ordem à formação cristã.
4.2. Serviços diocesanos de apoio à formação cristã
A Diocese tem uma série de serviços centrais organizados para promover
e apoiar a formação cristã, em todas as suas dimensões, para as várias idades
e para os diferentes serviços na Igreja e nas comunidades.
Lembro o nosso Centro de Formação e Cultura, que, em colaboração com
os outros departamentos, oferece uma possibilidade de formação para jovens
e adultos, a diversos níveis: um curso fundamental da fé, intitulado “Razões
da Esperança”, de acessibilidade geral e frequentado, no ano transacto, por
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400 pessoas; o Curso Geral de Teologia, de nível mais profundo e sistemático; e ainda cursos especializados para os vários ministérios e serviços. Como
não entusiasmar nas paróquias os fiéis leigos mais empenhados nos serviços
da comunidade, a aproveitarem esta oportunidade?
Seja-me permitido lembrar ainda, a propósito, que é no nosso Seminário
que funcionam todos os serviços de apoio à formação cristã. O edifício vai
entrar em obras de remodelação para instalar adequadamente estes serviços
e destinar uma parte dele a uma casa de retiros. Será dada uma informação
pormenorizada à diocese, mas desde já recordo que é obra de todos e para
todos os diocesanos. Espero que todos possamos amar esta obra e contribuir
generosamente para ela.
4.3. Família, reacende o dom da fé que está em ti! Comunica a tua fé!
O ano pastoral coincide também com o Ano comemorativo do centenário
do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é
capaz de ir ao coração da fé. O programa já foi divulgado pelo Santuário de
Fátima. É uma ocasião para descobrir o lugar e o protagonismo das crianças
na história do mundo e da salvação. E, consequentemente, o papel importante
da família como lugar nativo da primeira iniciação à fé, o seu empenho na
formação cristã dos filhos, a sua colaboração indispensável com a catequese.
A cada família deixo um apelo vibrante: “Família, reacende o dom da fé que
está em ti! Família, comunica a tua fé!”.
Desde já, faço o convite e a proposta para que as crianças da catequese
com os seus pais participem na peregrinação das crianças a Fátima, no dia 10
de Junho. Peço aos catequistas que as entusiasmem e preparem com elas, bem
e antecipadamente, esta peregrinação.
4.4. Um ano a caminhar com São Paulo no crescimento da fé
Neste contexto, o ano dedicado a São Paulo é um verdadeiro “Kairós”,
quer dizer, um tempo especial de graça para a formação cristã na companhia
de Paulo como Mestre. Assim propomos uma série de iniciativas a levar a
cabo na nossa diocese:
1. “Um ano a caminhar com São Paulo” é a proposta da Conferência
Episcopal Portuguesa para a vivência do Ano Paulino. Para isso dispomos de
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um livro, com o mesmo título, da autoria de D. Anacleto, Bispo auxiliar de
Lisboa. É um autêntico itinerário de fé, com 52 temas, um para cada semana
do ano, que oferecem uma visão sintética da fé. Para isso seria bom e recomendável constituir os “grupos paulinos” nas paróquias, movimentos, associações, para que se faça a reflexão em grupo e se partilhe a fé e a oração.
2. O Retiro Quaresmal com São Paulo: à semelhança do que fizemos no
ano passado, vamos viver a Quaresma como um tempo de “retiro popular”,
em ordem ao aprofundamento da fé. Será feito nas paróquias, em pequenos
grupos, a partir de alguns textos de São Paulo, sob a forma de meditação
orante e familiar da Palavra de Deus (lectio divina).
3. Um encontro de formação e oração: “Ir ao coração da fé”, em cada
vigararia, presidido pelo bispo, particularmente destinado aos membros mais
empenhados nos serviços das comunidades e paróquias.
4. Um módulo de formação sobre São Paulo e a sua actualidade, da iniciativa do Centro de Formação e Cultura, com a duração de 8 horas, a propor
às comunidades.
5. A “lectio divina” da Carta aos Romanos, a mais importante das cartas
de São Paulo, que é a síntese de todo o seu anúncio e da sua fé. É também
uma iniciativa do Centro de Formação e Cultura e estará disponível no site
da Diocese.
6. O estudo das comunidades paulinas: será o tema da semana de formação permanente para o clero diocesano.
7. Início da fase de reflexão e sensibilização do presbitério e das comunidades em ordem à implementação do diaconado permanente como um
ministério, com configuração própria, para a edificação da comunidade e
ao serviço da sua formação, na linha da teologia de São Paulo acerca dos
ministérios.
8. Uma colecta a favor dos pobres a ser realizada no ofertório das celebrações eucarísticas no dia 25 de Janeiro de 2009, festa da conversão de
São Paulo, que coincide com o domingo. É um modo de actualizar a grande
colecta por ele realizada. Será entregue à Cáritas Diocesana.
9. Participação numa grande celebração nacional no mesmo dia 25 de
Janeiro, na igreja da Santíssima Trindade, em Fátima.
10. Encerramento solene do Ano Paulino, a 28 de Junho de 2009, domingo, na Sé de Leiria, sob a presidência do bispo.
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Dirigimo-nos a ti, ó grande apóstolo São Paulo,
Arauto de Cristo e nosso Mestre na fé.
Fazemos nossa a mesma súplica do macedónio:
“Passa e ajuda-nos” com o teu anúncio,
o teu exemplo e a tua intercessão.
Intercede ao Senhor por nós, cristãos do século XXI:
Que Ele nos abra os olhos da mente e do coração
Como abriu os teus, no caminho de Damasco,
Para alcançarmos o sublime conhecimento de Cristo,
E, assim, podermos ir ao coração da fé.
Contigo e com Maria, a Virgem fiel,
O Senhor nos conceda
Reacender a chama da nossa fé,
Crescendo numa fé adulta, esclarecida e convicta.
Ajuda-nos a permanecer firmes e sólidos na fé. Ámen!
Saúdo-vos, de todo o coração,
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
Leiria, 8 de Setembro de 2008
Festa da Natividade de Nossa Senhora
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Confiemos à intercessão de São Paulo e de Maria, a Virgem fiel, o êxito
do nosso caminho:
16º Gala da Central FM - Outubro de 2008
“Pensar Globalmente e agir localmente”
O lugar e a globalização
Uma das mudanças mais radicais e mais fascinantes do nosso mundo é
a globalização da comunicação, do conhecimento, do mercado, da cultura,
enfim, da vida. Todos vivemos nesta aldeia global. Na internet todos somos
vizinhos: podemos sentar-nos e conversar com pessoas do outro lado do
planeta; podemos viver em comunidades virtuais. A geografia, para muita
gente desapareceu. Os jovens autodefinem-se como “nativos digitais”, porque o ciberespaço é o seu “lar”. Isto é maravilhoso, e evoca a experiência
da universalidade. O homem de hoje é, de facto, cidadão do mundo. Pensar
globalmente vai-se tornando natural. E, além disso, é uma exigência para o
desenvolvimento da sociedade e a resolução dos seus problemas.
Mas, por outro lado, não é assim tão simples. Cada pessoa é um ser concreto. E, nesta aldeia global, precisamos de lugares concretos para lançar
raízes, para crescer, trabalhar e agir, para nos refrescarmos e renovarmos.
Somos corpos e, por isso, precisamos de espaços que tenham recordações,
“lares” nos quais nos refresquemos e renovemos. Não se pode viver todo o
dia na Web.
É maravilhoso e apaixonante viver e pensar à escala global, universal.
Mas precisamos de amar lugares concretos, determinados, onde possamos
descansar: oásis de paz, onde nos sintamos em casa...
Leiria, 1 de Julho de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
Nota aos fiéis de Leiria-Fátima
Convocatória da Assembleia Diocesana
Caríssimos Diocesanos, Irmãos e Irmãs no Senhor, “Graça e Paz da parte
de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador” (Tit 1,4).
Desejo saudar-vos, afectuosamente, com estas palavras do Apóstolo Paulo a Tito, seu “verdadeiro filho na fé comum”.
Como sabeis, estamos a seguir o percurso traçado pelo Sínodo Diocesano
e desenvolvido no projecto pastoral “Testemunhar Cristo, fonte de esperança”.
Ao longo do ano passado, tivemos a ocasião de saborear e testemunhar a ternura de Deus, na vida quotidiana pessoal e comunitária e em várias realizações
vicariais e diocesanas. Este ano pastoral será dedicado à formação cristã.
Nesta caminhada comum, seguindo as realizações dos anos passados, venho convocar uma Assembleia Diocesana, que terá lugar na tarde do Domingo, 5 de Outubro, no ginásio do Seminário Diocesano, em Leiria, com início
às 15h00 e termo com a missa, às 18h00.
São objectivos deste encontro: fazer experimentar que, como Igreja diocesana, somos muitos, mas um só corpo, em Cristo; apresentar a carta pastoral Ir ao Coração da Fé e o programa do ano; e celebrar o Dia da Igreja Diocesana. Os destinatários são os agentes pastorais da Diocese e demais fiéis
empenhados na sua vida e missão, nomeadamente: Bispo e padres, Conselho
Pastoral Diocesano, membros dos Serviços e organismos diocesanos, direcções dos Movimentos, Associações e Obras, superiores ou representantes
das comunidades religiosas masculinas e femininas, direcções dos Institutos
Seculares e Novas Comunidades, membros dos conselhos pastorais vicariais
e paroquiais, catequistas, ministros da comunhão e outros.
Na manhã desse dia e no mesmo local, realiza-se o encontro anual dos catequistas da Diocese, promovido pelo Departamento da Educação Cristã. Estes
eventos marcam o início do novo pastoral e promovem a comunhão eclesial,
imprimindo no coração dos colaboradores da Igreja diocesana maior sentido de
co-responsabilidade e de pertença a uma mesma e grande família espiritual.
Leiria, 18 de Setembro de 2008
† António Augusto dos Santos Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
O nosso cântico de júbilo:
eu Te bendigo, ó Pai...
É grande a alegria dos nossos corações hoje: uma alegria que contém e exprime gratidão e louvor ao Senhor pelos aniversários jubilares dos 25 e 50 anos
de ordenação sacerdotal, respectivamente, dos nossos caros P. Jorge Guarda,
Vigário Geral da Diocese, e P. Virgílio da Silva, pároco da Urqueira. Todo o
presbitério diocesano com o seu Bispo e os féis aqui presentes se unem, com
afecto, a eles – bem como ao novo reitor e ao novo administrador do Santuário
que hoje tomam posse – e saúdam-nos com vivos e jubilosos parabéns.
Este jubileu acontece no Ano Paulino, nas vésperas do Sínodo dos bispos
sobre a Palavra de Deus, no início do Ano Pastoral da Diocese que nos convida a ir ao coração da fé com São Paulo e no ano centenário do nascimento
do Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ir ao
coração da fé. São momentos significativos da vida eclesial que ajudam a
iluminar alguns aspectos da missão e da espiritualidade do padre.
Para exprimir a nossa alegria e o nosso louvor, deixemo-nos inspirar pela
Palavra de Deus que acaba de ser proclamada.
O cântico de júbilo de Jesus, nosso cântico
O texto evangélico (Mt 11, 25-30) é uma página extraordinária, considerada como uma das pérolas mais preciosas de todo o evangelho: é o hino
de júbilo, o Magnificat de Jesus, que constitui uma “síntese da revelação”.
Revela-nos o “segredo” vivo e palpitante de todo o projecto de salvação em
Jesus, o Filho do Pai. É uma página que lança uma luz calorosa e fascinante
sobre a nossa celebração jubilar.
Estamos diante do mais belo cântico de amor filial que jamais se entoou
sobre a terra. Aparece como um “intermezzo” de alegria no meio das dificuldades do ministério de Jesus, que encontra a recusa nas cidades de Cafarnaum, de Betsaida e Corozaim. Parece que Jesus, em tais circunstâncias,
sente a necessidade de se refontalizar, de ir à fonte profunda.
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Homilia do Jubileu Sacerdotal e tomada de posse
do Reitor do Santuário de Fátima
. escritos episcopais .
Este canto sai do coração humano de Jesus, em exultação, pelo mistério
de infinito amor, bondade e ternura de Deus que quer comunicar aos homens
e onde todos encontramos abrigo; pelas maravilhas de graça que este amor
realiza nos corações simples que o acolhem.
Contudo, Jesus não o entoou só para si. Entoou-o também para nós; quis envolver-nos nele. O seu cântico torna-se, hoje, o nosso cântico, porque o seu Espírito – o Espírito Santo –, quando toca as cordas do coração, torna-as sensíveis
às vibrações da graça e suscita nelas um cântico divino, a música do Amor.
No hino de júbilo de Jesus leio, pois, um convite a viver e exprimir, de
modo simples e profundo, três sentimentos fundamentais da vida sacerdotal:
o de um agradecimento alegre pelo dom do sacerdócio; o de um voltar de
novo ao coração da vida sacerdotal; e o de um renovado impulso na missão
evangélica que nos foi confiada.
Gratidão de alegria pelo dom do sacerdócio
O primeiro sentimento que deve encher o nosso coração é o de uma extraordinária gratidão ao Senhor pelo dom do sacerdócio: uma gratidão que se
torna louvor ao Pai, fonte de todos os dons.
O louvor de exultação ao Pai abre e faz vibrar todo o cântico de júbilo de
Jesus: “Eu Te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estas
coisas aos pequeninos”!
“Eu te bendigo” significa “ eu te agradeço, te louvo, te exalto, te confesso”.
A referência ao Pai (Abbá) proclama a sua infinita ternura de amor, a sua condescendência (o seu voltar-se para nós) cheia de afecto. E o objecto de louvor
alegre é o facto de que “estas coisas” – o plano divino da salvação, o reino de
Deus, o mistério de Cristo – são reveladas aos “pequenos”, aos humildes, aos
simples, àqueles que são transparentes a Deus. Este é o dom, por excelência,
que Deus manifesta e oferece à humanidade. E neste dom encontram lugar
todos os outros dons que vêm de Deus. Também o dom do sacerdócio.
Com Cristo damos graças e louvor ao Pai que no seu amor, absolutamente
livre e gratuito, sem qualquer mérito nosso, nos chamou, na nossa pequenez e
fragilidade, a colaborar no seu desígnio de salvação como dispensadores dos
seus dons aos irmãos.
Voltar de novo ao coração da vida sacerdotal
Um segundo sentimento que deve caracterizar os jubileus da nossa ordenação sacerdotal é a alegria de um voltar, sempre de novo, ao coração da vida
sacerdotal, enquanto vida consagrada a Deus e aos irmãos.
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Qual é este “coração”? Jesus responde: “Tudo me foi dado pelo meu Pai;
ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (v. 27).
Encontramo-nos perante o vértice da revelação do mistério de Deus: o
Pai que nos mostra o seu rosto e nos abre o seu coração no rosto e no coração
humanos do Filho, Jesus Cristo. Jesus, no seu cântico de júbilo, é a alegria do
Eterno Amor. Fala de um conhecimento recíproco, isto é, de uma relação profunda, de uma comunhão íntima de vida e amor. É o mistério da Trindade, da
vida íntima de conhecimento e amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
É este o “segredo” de Deus que o Filho quer comunicar aos simples.
No desígnio divino, o homem é chamado a participar, partilhar, experimentar em si mesmo a misteriosa riqueza e beleza do Amor Trinitário. Eis o dom
impensável e inimaginável que Deus quer oferecer a cada homem. “Ó admirável intercâmbio que faz com que Deus é graça e o homem acção de graças”!
Este é o coração da vida cristã: ser habitados por Deus, Trindade Santíssima. Não pode ser outro o coração da vida sacerdotal. Toda a sua dignidade e
beleza, todo o seu fascínio estão no ser uma existência humana que conhece
o “segredo” da vida divina e faz deste segredo o sentido, o valor, o destino, a
fonte e a alegria de todo o seu pensamento e sentimento, de toda a acção do
seu ministério. É este o significado exacto e profundo da conhecida expressão: “O padre é um homem de Deus”. A inabitação da Santíssima Trindade
em nós, Deus em nós, deve constituir o tesouro mais precioso que nos é dado
a guardar, amar, adorar, viver, testemunhar!
Renovado impulso na missão evangélica
Um outro sentimento que deve enriquecer os nossos jubileus é o de um
renovado impulso na missão evangélica que a ordenação sacerdotal nos
confiou. Revelando o mistério do Pai, Jesus revela o coração misericordioso
de Deus, o seu rosto de infinita misericórdia e “compaixão” pelo homem:
“Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu vos confortarei
(darei forças)!”
A nossa missão comporta dificuldades, provações, fadigas, cansaços, desilusões. Quem não sente a fadiga de viver, a fadiga do trabalho pastoral, da
sementeira dura e, por vezes, árida do semeador do evangelho, os limites da
idade ou da saúde, a incompreensão e os pesos a suportar? É então o momento no qual a nossa fé deve despertar e revigorar-se escutando a voz de Jesus
que nos chama e assegura: “Vinde a mim e eu vos darei força... O meu jugo é
suave e o meu peso é leve”. Sim, o peso do seu amor levanta quem o leva!
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
Contudo, isto que vale para nós, deve valer também para os outros aos
quais o Senhor nos envia. Se recebemos ajuda e consolação do Senhor, devemos também oferecê-las, com a nossa palavra e a nossa acção, a quantos se
dirigem a nós. É assim que realizamos a missão que o Senhor nos confia.
É Ele, o Senhor Jesus, que nos envolve na sua missão, que nos pede para
sermos instrumentos humildes, dóceis e generosos das suas mãos e do seu coração misericordioso para com os nossos e seus irmãos cansados e oprimidos,
necessitados de alívio, famintos e sedentos de consolação e força.
Ir ao coração da fé: entrar no sublime conhecimento de Cristo Jesus
Depois do que acabamos de meditar, compreendemos o testemunho apaixonado e vibrante que S. Paulo nos oferece da sua fé em Cristo. Paulo é um
mestre e modelo para todos os pastores. Dele devemos aprender um grande
amor por Jesus. Ele mesmo se define como “agarrado” por Cristo, “impelido”
pelo seu amor. “A sua fé é o ser alcançado pelo amor de Jesus Cristo, um
amor que o toca no mais íntimo e o transforma. A sua fé não é uma teoria,
uma opinião sobre Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de
Deus no seu coração. E assim esta fé é amor por Jesus Cristo” (Bento XVI).
Comove-nos, de facto, o amor de Paulo por Jesus precisamente pela sua
intensidade. Era tão forte e vivo que o levava a exclamar: “Considero tudo
uma perda frente ao sublime conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”.
Com este testemunho, Paulo convida-nos a ir ao coração da fé, a pôr Cristo
no centro da nossa vida, a construir sobre Ele a nossa existência apostólica.
A graça que pedimos, nesta Eucaristia jubilar, é entrar cada vez mais no
“sublime conhecimento de Cristo”, segundo as palavras de Paulo, de conhecer o poder da sua ressurreição, participando nos sofrimentos do seu amor
pela humanidade. Não sabemos como serão os tempos novos que o Espírito
nos reserva; como serão os tempos novos que nós mesmos, com a nossa vida
e o nosso testemunho, preparamos para o futuro. Sabemos, sim, que o Senhor
nos chama a viver este nosso tempo – “de noite da fé”, de eclipse cultural de
Deus – como tempo providencial para ir ao essencial, ao coração da fé, para
reencontrar a autenticidade da fé, para crer mais e crer melhor.
Nossa Senhora nos acompanhe no caminho, ajudando-nos a viver na
escuta da Palavra, na adesão pronta e total à acção do Espírito e no canto
incessante de louvor: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito
exulta de alegria em Deus, meu Salvador”! Ámen! Aleluia!
Fátima, 25 de Setembro de 2008
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Tomada de Posse
1. Gratidão a Monsenhor Luciano Guerra
Em tão significativa circunstância, neste momento da “passagem de testemunho”, sinto o dever da justiça, a necessidade da virtude (da gratidão) e o
laço da comunhão como imperativo para exprimir ao Mons. Luciano Guerra
o mais vivo e sentido reconhecimento pela dedicação e pelo amor que colocou no desempenho da nobre, bela e árdua missão de Reitor do Santuário de
Nossa Senhora de Fátima ao longo de 35 anos, para o bem de todo o povo de
Deus peregrino.
Nestes dois anos de Bispo de Leiria-Fátima em que o Senhor nos chamou a trabalhar juntos, pude apreciar, pessoalmente, os dotes da sua alma
de pastor, inteiramente dedicado ao Santuário e à Mensagem que lhe dá a
razão de ser; a sua competência iluminada, a seriedade e ponderação das suas
decisões, a sua capacidade empreendedora de novos caminhos e estruturas
de evangelização, a sua lealdade de colaborador fiel, o seu grande sentido
eclesial, a sua profunda e esclarecida devoção mariana.
Com a sua reitoria, o Santuário conheceu uma nova etapa e um novo
impulso que culminaram na inauguração da Igreja da Santíssima Trindade
e que deixam marcas indeléveis na história de Fátima. O Santuário, a nível
material, espiritual e ambiental, tornou-se um verdadeiro oásis espiritual de
encanto, de recolhimento e contemplação, de frescura interior e de paz.
Por isso, para além de lhe exprimir os meus sentimentos de gratidão como
bispo da diocese de Leiria-Fátima, faço-me também intérprete da gratidão do
episcopado português e de todos aqueles que, no decurso destes 35 anos, o
conheceram como Reitor e admiraram a sabedoria prudente e o zelo incansável com que, sem poupar energias, realizou a sua missão, tendo em conta,
unicamente, o bem da Igreja.
Asseguro-lhe a minha sincera e constante estima, o meu afecto de pastor
e a comunhão fraterna, bem como ao Senhor P.e António Sousa pelo seu trabalho dedicado na administração competente, eficaz, honesta e transparente
do Santuário.
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Novo Reitor do Santuário de Fátima
. escritos episcopais .
O Senhor Deus, a quem confio todo o desejo da vossa alma sacerdotal,
vos conforte e apoie nos anos futuros, dando-vos saúde física e infundindo no
vosso ânimo serenidade, alegria e esperança.
A Virgem Mãe, Nossa Senhora de Fátima vele, de modo particular, sobre
vós concedendo-vos as melhores bênçãos pelo serviço filial que lhe prestastes
no nosso Santuário e através do mundo.
2. Votos de bênção e serviço fecundo para o novo Reitor
Caro Pe Dr. Virgílio Antunes:
Acaba, Vossa Reverência, de tomar posse como Reitor do Santuário de
Nossa Senhora de Fátima com estatuto de Santuário nacional e de projecção
mundial, onde afluem, como a um porto de mar acolhedor, cinco milhões de
peregrinos por ano.
É uma ocasião para lhe endereçar as mais vivas e sentidas felicitações
em nome pessoal e do episcopado português que, em assembleia plenária,
ratificou, unanimemente, a sua indigitação para este cargo. Estendo estas
felicitações ao novo Administrador, P.e Cristiano Saraiva.
É também um momento propício para sublinhar a relevância do lugar e
da missão do Santuário de Fátima na Igreja, no país e no mundo, e por conseguinte, a relevância da missão que agora lhe é confiada como Reitor.
A relevância nacional e mundial do Santuário de Fátima
A partir da minha experiência, ainda curta, de Bispo de Leiria-Fátima
creio poder afirmar, sem exagero, que o Santuário de Nossa Senhora de Fátima representa, de algum modo, o coração materno de Portugal, o coração
espiritual do país.
Além disso, possui uma particular importância para a Igreja universal e
para o mundo inteiro, como testemunham as declarações dos últimos Pontífices desde Pio XII a Bento XVI. Fátima tornou-se para Portugal e muito além
das suas fronteiras lugar-símbolo de paz, de reconciliação e de unidade de
corações, de povos e culturas.
É símbolo de uma abertura que supera não só as fronteiras geográficas e
nacionais mas, na pessoa de Maria, remete para uma dimensão essencial ao
homem: a busca de Deus, a capacidade de se abrir ao mistério de Deus e da
beleza do seu Amor, como o fundamento e advogado supremo da dignidade
humana e da causa da paz entre os povos.
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O Santuário de Fátima insere-se numa rede de santuários marianos espalhados pelo mundo, que constituem um recurso de amor, um oásis espiritual e
uma reserva de esperança face à força devastadora do mal e são fonte perene
de elevação espiritual da humanidade.
Como um oásis espiritual, um santuário indica ao mundo de hoje a coisa
mais importante e, por fim, a única decisiva: existe uma última razão pela
qual vale a pena viver, peregrinar na história, sofrer e esperar, a saber, Deus e
o seu Amor imperscrutável, que excede todo o nosso entendimento e o nosso
cálculo.
O Santuário na missão evangelizadora da Igreja
Como todos os santuários, também o nosso participa da missão evangelizadora da Igreja e dos desafios que hoje se lhe põem, enquanto lugar privilegiado de acolhimento, centro de unidade pessoal, fraterna e eclesial, caminho
para a santidade de povo (popular), sinal de esperança, lugar de anúncio e de
revitalização da fé.
Como não evocar aqui a tão bela síntese de Bento XVI em relação a Fátima? “Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria
por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e
depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”.
Nesta vertente, colocam-se, permanentemente, o desafio e a responsabilidade do santuário, de conservar sempre um rosto e um dinamismo missionários para não se reduzir a um mero “centro de serviços religiosos”.
Enquanto desafio, o santuário é provocado a interrogar-se sobre a qualidade, a modalidade e as circunstâncias da comunicação da fé em múltiplas
formas, linguagens, símbolos e sinais. É um desafio que requer competência
teológica e cultural, fina sensibilidade psicológica, prudente mas corajosa
inovação no estilo e no método da comunicação da fé.
Do mesmo modo, o Santuário é interpelado, sente-se chamado em causa
para responder às novas questões e buscas geradas pela cultura pós-moderna.
Isso exige verificar a qualidade e aptidão da pregação; considerar os conteúdos do anúncio segundo os ritmos do Ano Litúrgico ou de eventos próprios
do Santuário; avaliar o contributo específico nas modalidades de acolhimento
e escuta dos fiéis e nos tempos de diálogo espiritual, mesmo para além do
atendimento no sacramento da reconciliação; em síntese, cuidar da “excelência” da oferta, isto é, de tudo o que é oferecido no Santuário para o bem dos
peregrinos.
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
O carisma próprio do Santuário de Fátima
Não deve ser esquecido, por fim, que o rosto próprio do Santuário se manifesta e realiza no cumprimento do seu carisma atribuído pelo desígnio de
Deus para a salvação do homem, neste preciso lugar, através da Mensagem
de Nossa Senhora com o símbolo do seu Imaculado Coração de Mãe que
vela pela humanidade. Maria dá-nos olhos e coração para contemplar o Amor
Misericordioso “como força de Deus e limite divino contra o mal no mundo”
(Bento XVI).
A grande lição de Fátima é que a oração é sempre a arma mais forte,
mesmo no campo da história, para a conversão dos corações e a paz entre os
povos.
“Fátima é uma fonte que Deus abriu no mundo e que continua a brotar
para dessedentar corações e fecundar histórias” (João Paulo II).
O Santuário, de facto, dilata o coração do homem à medida do coração
de Cristo, a exemplo do coração de Maria, através de um olhar universal. A
universalidade caracteriza a autêntica espiritualidade católica e o santuário
educa a sair dos limites, das atitudes egoístas, das próprias estreitezas mentais
e esforça-se por promover uma corresponsabilidade global, um afecto universal típico dos cristãos maduros e da própria Mensagem da Senhora; esforçase por abrir os corações às dimensões do mundo. Como foi dito pelo profeta:
“ O meu templo chamar-se-á casa de oração para todos os povos” (Is 56,7).
Confiança e esperança
Oxalá estas breves reflexões possam iluminar e ajudar o reitor e o administrador do Santuário no desempenho dos seus cargos. Desde já, assegurolhes a minha confiança, a minha comunhão e o meu apoio.
O Senhor Reitor, Pe Dr. Virgílio, alia uma sólida formação doutrinal e
teológica a uma sábia experiência pastoral, já testada aqui no Santuário. O
Senhor Administrador, Pe Cristiano, já deu provas, como ecónomo diocesano, das suas qualidades e aptidões para gerir um grande Santuário, segundo
os critérios evangélicos e as normas canónicas. Tudo isto é, para nós, motivo
de fundada esperança!
Por intercessão de Maria, Nossa Senhora de Fátima, imploro a luz e a
força do Espírito para a vossa nobre, bela e árdua missão!
Fátima, 25 de Setembro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
“Vai, Francisco, repara a minha casa,
que está em ruínas”
É com grande alegria e fraterno afecto que acolho e saúdo toda a família
franciscana nesta igreja da SS. Trindade, em celebração eucarística, fazendo
memória litúrgica do nosso querido Pai e Irmão S. Francisco. Saúdo-vos a
todos, à boa maneira franciscana: “Paz e Bem” a todos e cada um de vós!
Para exprimir a nossa alegria e o nosso louvor ao Senhor pelo dom de
Francisco, deixemo-nos inspirar pela Palavra de Deus que acaba de ser proclamada.
O cântico de júbilo de Jesus, nosso cântico
O texto evangélico (Mt 11, 25-30) é uma página extraordinária, considerada como uma das pérolas mais preciosas de todo o evangelho: é o hino
de júbilo, o Magnificat de Jesus, que constitui, por sua vez, uma “síntese da
revelação”. Revela-nos o “segredo” vivo e palpitante de todo o projecto de
salvação em Jesus, o Filho do Pai.
É o mais belo cântico de amor filial que jamais se entoou sobre a terra.
Sai do coração humano de Jesus, em exultação pelo mistério de infinito amor,
bondade e ternura de Deus que quer comunicar aos homens e onde todos
encontramos abrigo; pelas maravilhas de graça que este amor realiza nos
corações simples que o acolhem.
Contudo, Jesus não o entoou só para si. Entoou-o também para nós; quis
envolver-nos nele. O seu cântico torna-se, hoje, o nosso cântico, porque o
seu Espírito – o Espírito Santo –, quando toca as cordas do coração, torna-as
sensíveis às vibrações da graça e suscita nelas um cântico divino, uma música
nova – a música do Amor, como fez em Francisco de Assis, que entoou dois
dos mais belos cânticos da literatura mundial: “Os louvores de Deus Altíssimo” e “O Cântico das criaturas”.
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Homilia na celebração de S. Francisco de Assis
para a Família Franciscana
. escritos episcopais .
No hino de júbilo de Jesus leio, pois, um convite a viver e exprimir, de
modo simples e profundo, três sentimentos fundamentais da vida cristã: o
de um agradecimento alegre pelo dom da revelação aos pequeninos; o de
um voltar de novo ao coração da vida cristã; e o de um renovado impulso na
missão evangélica que nos foi confiada.
Gratidão de alegria pelo dom da Revelação aos pequeninos
O primeiro sentimento que deve encher o nosso coração é o de uma extraordinária alegria e gratidão ao Senhor pelo dom da revelação aos pequeninos:
uma gratidão que se torna louvor ao Pai, fonte de todos os dons.
O louvor de exultação ao Pai abre e faz vibrar todo o cântico de júbilo de
Jesus: “Eu Te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estas
coisas aos pequeninos”!
“Eu te bendigo” significa “ eu te agradeço, te louvo, te exalto, te confesso”. A referência ao Pai (Abbá) proclama a sua infinita ternura de amor, a
sua condescendência (o seu voltar-se para nós) cheia de afecto. E o objecto
de louvor alegre é o facto de que “estas coisas” – o plano divino da salvação,
o reino de Deus, o mistério de Cristo, o Evangelho – são reveladas aos “pequenos”, aos humildes, aos simples, àqueles que são transparentes a Deus.
Este é o dom, por excelência, que Deus manifesta e oferece à humanidade. E
neste dom encontram lugar todos os outros dons que vêm de Deus: os dons
da criação, da vida, da bondade e beleza da vida, da graça do Seu amor que
salva…
Com Cristo damos graças e louvor ao Pai que no seu amor, absolutamente
livre e gratuito, sem qualquer mérito nosso, nos chamou, na nossa pequenez e
fragilidade, a colaborar no seu desígnio de salvação.
Francisco respondeu a este chamamento: abandonou os sonhos da glória
e dos sucessos mundanos, tornou-se pequeno, irmão menor, humilde e pobre,
satisfeito só com Deus e a sua ternura. Descobriu que o Evangelho vivido
na santa simplicidade e sem descontos, nos torna criaturas novas e felizes.
Tornou-se um cantor apaixonado da ternura e da beleza de Deus, verdadeiro
jogral (trovador) de Deus com os “Louvores de Deus Altíssimo” e “O cântico
das criaturas”. São o cântico novo da “perfeita alegria” em Deus, da bondade e da beleza da vida e da criação, do louvor e da gratidão como estilo de
vida.
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Voltar de novo ao coração da vida cristã
Um segundo sentimento é a alegria de um voltar, sempre de novo, ao
coração da vida cristã, enquanto vida baptismal consagrada a Deus e aos
irmãos.
Qual é este “coração”? Jesus responde: “Tudo me foi dado pelo meu Pai;
ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (v. 27).
Encontramo-nos perante o vértice da revelação do mistério de Deus: o
Pai que nos mostra o seu rosto e nos abre o seu coração no rosto e no coração
humanos do Filho, Jesus Cristo. Jesus, no seu cântico de júbilo, é a alegria
do Eterno Amor. Fala de um conhecimento recíproco, isto é, de uma relação
profunda, de uma comunhão íntima de vida e amor. É o mistério da Trindade,
da vida íntima de conhecimento e amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
É este o “segredo” de Deus que o Filho quer comunicar aos simples.
No desígnio divino, o homem é chamado a participar, partilhar, experimentar em si mesmo a misteriosa riqueza e beleza do Amor Trinitário. Eis o
dom impensável, inimaginável, inigualável, que Deus quer oferecer a cada
homem. “Ó admirável intercâmbio que faz com que Deus é graça e o homem
acção de graças”!
Este é o coração da vida cristã: ser habitados por Deus, Trindade Santíssima. A inabitação da Santíssima Trindade em nós, Deus em nós, deve
constituir o tesouro mais precioso que nos é dado a guardar, amar, adorar,
viver, testemunhar!
Também neste aspecto, Francisco é um grande educador da nossa fé.
Quem como ele era um verdadeiro enamorado de Cristo que ele “levava
sempre no coração, nos lábios, nos ouvidos, nos olhos, nas mãos…”, como
diz o biógrafo? E “Os louvores de Deus Altíssimo” revelam uma alma constantemente arrebatada no diálogo com a Trindade! Em Francisco, tudo parte
de Deus e a Deus volta!
Renovado impulso na missão evangélica
Um outro sentimento que nos deve enriquecer é o de um renovado impulso na missão evangélica. Revelando o mistério do Pai, Jesus revela o coração
misericordioso de Deus, o seu rosto de infinita misericórdia e “compaixão”
pelo homem: “Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu
vos confortarei (darei forças)!”
A nossa vida e a nossa missão comportam dificuldades, provações, fadigas, cansaços, desilusões. Quem não sente a fadiga de viver, a fadiga do
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
trabalho pastoral, da sementeira dura e, por vezes, árida do semeador do
evangelho, os limites da idade ou da saúde, a incompreensão e os pesos a
suportar? É então o momento no qual a nossa fé deve despertar e revigorar-se
escutando a voz de Jesus que nos chama e assegura: “Vinde a mim e eu vos
darei força... O meu jugo é suave e o meu peso é leve”. Sim, o peso do seu
amor levanta quem o leva!
Foi o amor de Cristo, contemplado no crucifixo da igreja de S. Damião e
gravado no seu corpo através dos sinais dos estigmas, que constituiu a mola
da missão de Francisco: reparar a casa do Senhor, o amor aos leprosos e comunicar a paz de Deus (“O Senhor te dê a paz”).
Queria chamar a vossa atenção, muito brevemente, para a actualidade da
missão de reparar a casa do Senhor. É uma responsabilidade atribuída a cada
baptizado. Também hoje o Senhor diz a cada um como a Francisco: “Vai,
Francisco, repara a minha casa que, como vês, está em ruínas”. Trata-se de
renovar a Igreja a partir de dentro, a partir de nós mesmos, indo ao coração
da fé, vivendo a medida alta da santidade, descobrindo e realizando, com generosidade, a vocação a que o Senhor chama cada um. A lei do crescimento e
da renovação da Igreja é de dentro para fora…
Que S. Francisco e Maria, a Virgem Mãe, que ele tão ternamente amou e
cantou, vos acompanhem e iluminem na vossa missão e no vosso testemunho
da simplicidade, da alegria e beleza do Evangelho que irradia a paz nos corações, nas famílias e nos povos.
Igreja da Santíssima Trindade, 4 de Outubro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Bênção do Centro de Interpretação de S. Jorge
Saúdo com toda a deferência e cordialidade Sua Excelência, o Senhor
Presidente da República e sua Ex.ma esposa, e estendo esta saudação a todos
os ilustres convidados.
Saúdo e agradeço, de modo particular, ao Senhor Presidente da “Fundação Batalha de Aljubarrota” o amável convite para proceder à bênção
deste Centro de Interpretação. A seu insistente pedido, aceitei fazer, neste
momento, uma breve evocação da exemplaridade cristã do Patrono espiritual
da Fundação e herói da batalha, D. Nuno Álvares Pereira. Interpretei o pedido como um convite a revisitar a antiga e nobre figura de Nun’Álvares, por
vezes tão maltratada.
Como todas as grandes figuras da história, também esta está sujeita ao
conflito de interpretações.
O que está em causa é a interpretação da figura do Condestável do Reino,
militar distinto na campanha da consolidação da independência nacional depois da crise de 1383-85, considerado fundador da Real Casa de Bragança,
proprietário de boa parte do território nacional que, a certa altura da vida,
pensa abandonar a pátria e, na impossibilidade disso, resolve – à semelhança
de Francisco de Assis – doar grande parte da fortuna aos pobres e a mosteiros
e ingressar na Ordem dos Carmelitas, como simples irmão leigo. A sua caridade e generosidade sem limites para com os pobres, criando casas de abrigo
para doentes, órfãos e viúvas, a sua benevolência, misericórdia e protecção
para com os vencidos nas batalhas, granjearam-lhe já em vida o epíteto de “O
Santo Condestável”. O seu amor ao próximo não conhecia distinção de raças
ou crenças, acolhendo nas suas terras mouros ou judeus que o chamavam de
“pai” por lhes ter construído mesquitas e sinagogas.
Neste conflito de interpretações há, segundo um interessante estudo de
D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, duas versões inaceitáveis, uma
antiga e uma moderna.
A primeira delas é de Luís de Camões que o vê como um militar violento (“A mão na espada, irado e não facundo/ Ameaçando a terra, o mar e
mundo”), à imagem do Orlando Furioso (“D. Nuno Álvares digo, verdadeiro
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Revisitar a Figura de Nun’Álvares
. escritos episcopais .
açoute dos soberbos castelhanos, como já o fero Huno o foi primeiro…”).
Esta é uma interpretação belicista, própria de um espírito medieval de cruzada, completamente inexacta e desactualizada.
A segunda é a de Júlio Dantas (1907 e 1913). Trata-se de uma interpretação que oscila entre o jacobinismo republicano, a medicina e a psicologia
positivista. Faz de Nun’Álvares uma espécie de D. Sebastião, avant la lettre,
um homem movido pela neurose da violência, um doente psíquico, possuído
por estranhas ideias sobre a virgindade, portador de uma hereditariedade patológica (com um bispo de Braga de permeio!) que o autor vai rebuscar, por
duvidosos métodos historiográficos, até à 5ª geração! Esta interpretação é
proposta precisamente no momento em que acontecia o processo de beatificação do Condestável, para a ridicularizar. O texto de Júlio Dantas chama-se
significativamente “Libelo do Cardeal Diabo”.
Ambas as interpretações são completamente erróneas e inaceitáveis para
o Bispo Ferreira Gomes. Ele propõe a sua própria interpretação, no contexto
da reflexão sobre a tradição portuguesa antiga a respeito dos “direitos humanos”.
Começa por revisitar a “Crónica de D. João I” de Fernão Lopes que mostra Nun’Álvares como um homem mesurado, sensato na palavra e na presença, inteligente, militar eficaz, mas nunca gratuitamente violento. Como homem do seu tempo, era muito interessado por romances de cavalaria (“Távola
Redonda”), de origem britânica. Mas não leria somente isso; eventualmente
terá lido também as teorias de João de Salisbúria sobre o regime do príncipe e
a consolidação das liberdades contidas na “Magna Charta” de 1215, sobre os
direitos dos cidadãos. Esta índole e esta formação são decisivas para explicar
a sua história posterior e engrandecem a sua figura humana e cristã.
Porque pensou o Condestável deixar o Reino (como fizeram os Príncipes
D. Fernando e D. Pedro, filhos de D. João I), uma vez consolidada a paz e a
independência? Na interpretação de D. António, é por duas razões. Primeiro,
porque estava em desacordo com a posição da velha nobreza (para reconstituir a velha ordem feudal), que não compreendeu o sentido cívico-burguês da
revolução de 1383/85. Em segundo lugar, porque a política D. João I se encaminhava no sentido de centralização do poder, anulando as liberdades municipais dos Burgos. D. António dá o exemplo do Porto, cidade cujo senhorio
foi, por essa altura, comprado pelo rei ao bispo. A tese é que as liberdades
das cidades medievais (liberdades de cidadania) e o seu desenvolvimento
burguês económico se processam mais facilmente sob a inspiração cristã da
Igreja do que sob a ordem do centralismo real.
68 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Uma vez que o rei se opôs à partida do Condestável do Reino, ele escolheu a forma de recusa mais radical (em vista dos desenvolvimentos da
história com que não estaria de acordo) e recolheu-se ao claustro carmelita,
despojando-se dos seus bens, numa entrega total a Deus.
É inegável a exemplaridade cristã da sua vida, a sua exemplar santidade de
vida reconhecida pela Igreja e que nos interpela, sobremaneira, na momento
actual: como apelo a uma cidadania exemplar animada pelas virtudes evangélicas; a um sentido nobre da política alicerçada nos valores transcendentes
do humanismo cristão para “mais e melhor democracia” não só como regime
formal mas sobretudo como virtude e cultura da dignidade da pessoa e dos
direitos humanos; e à escuta do clamor dos pobres e dos mais desfavorecidos,
as primeiras vítimas da actual crise do sistema financeiro e da sua avidez do
lucro imediato. Num país onde o fosso entre ricos e pobres é um dos maiores
da Europa é necessário lembrar a indiscutível frase de Kant e repetida pelo
cardeal Cardijn: “as coisas têm preço; os homens têm dignidade”!
Oxalá a canonização próxima de D. Nun’Álvares possa trazer uma nova
linfa vital para uma mais digna, justa e saudável vida cívica, social e política
à sua e nossa amada Pátria!
Campo de S. Jorge, 11 de Outubro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
Nota Episcopal
O nosso Seminário precisa de ajuda!
Dois desafios importantes marcam o início do presente ano pastoral: o
lançamento do segundo biénio do Projecto Pastoral Diocesano, dedicado
ao aprofundamento da dimensão comunitária da vida cristã, e o arranque da
primeira fase das obras de conservação e introdução de melhorias no interior
do edifício do Seminário. É uma feliz coincidência, porque se, com a nova
etapa do Projecto Pastoral, queremos cuidar do edifício espiritual da Diocese
– indo ao coração da fé – com estas obras vamos melhorar os espaços que
darão apoio aos seus dinamismos pastorais.
Para o futuro, nesta casa coexistirão duas dinâmicas essenciais à vida do
Povo de Deus: a formação dos candidatos ao sacerdócio e a formação dos
fiéis leigos. Olhando para o edifício, aberto em 2/11/1965, temos de reconhecer que o nosso antecessor (D. João Venâncio e quem o acompanhava) pensou em grande, ao dotar o Seminário dos meios necessários para que pudesse
cumprir a sua missão.
Agora é a nossa vez! Como então, também hoje somos convidados a responder aos novos desafios com ousadia e generosidade. Temos de ser dignos
da herança recebida e do tempo que nos é dado viver! Vamos todos dar o
nosso contributo.
Como? Que cada comunidade/centro de culto assuma as obras do Seminário como suas, pois o que está ao serviço de todos por todos deve ser
participado; que cada cristão se sinta co-responsável pelo seu bom êxito e
colabore nas iniciativas propostas. Proponho três formas de colaboração:
com a oração, promover o ambiente favorável às vocações; com a formação,
melhorar a participação na vida eclesial e social; com festas e outras iniciativas, participar na angariação de fundos para as obras do Seminário.
Neste sentido, faço um apelo à iniciativa dos reverendos párocos para
sensibilizarem e dinamizarem as comunidades e os centros de culto para esta
causa que é de todos nós.
Espero, pois, que todos possamos amar esta obra e contribuir generosamente para ela com a consciência de que o nosso Seminário é uma casa no
coração da Diocese e ao serviço de toda a Diocese!
Leiria 24 de Outubro de 2008
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Mensagem de Natal
O Natal de Cristo é de todos e para todos
1. O Natal, festa da fraternidade e da paz
O Natal é a festa mais alegre, mais familiar, mais calorosa do nosso calendário.
A ceia em família, a missa da meia noite, os cânticos tradicionais, a troca
de presentes, os votos de Boas Festas, o presépio, a árvore de Natal, a partilha
com os pobres... Tudo isto nos mostra que o Natal é uma festa diferente das
outras. É símbolo da alegria do reencontro, da fraternidade e da paz dos corações; é a festa de crentes e não crentes, de todos os que esperam um mundo
mais fraterno, mais acolhedor e mais justo!
Mas ao falar assim do Natal, não estaremos, porventura, a reduzi-lo à
fantasia de um sonho que, uma vez por ano, nos reconcilia com realidades
em que, de facto, não se acredita? Não será que corremos o risco de reduzir
o Natal a uma recordação nostálgica do passado, a uma fantasia poética, a
um mero jogo de sentimentos? Será que o Natal é apenas celebração poética
duma página convencional do calendário?
2. O Natal de Cristo, novidade e coração da fé cristã
De facto, o Natal cristão, para além das expressões culturais a que deu
origem, é sobretudo a celebração dum profundo mistério, que constitui a novidade e o coração da fé cristã: o mistério da Encarnação de Deus. Deus entrou
no mundo dos homens num sentido inaudito! Não só por via psicológica, no
ânimo de uma pessoa profundamente piedosa; não só em termos espirituais,
nos pensamentos de uma grande personalidade. Mas, em Jesus Cristo, o Filho
eterno do Pai, Deus entrou em pessoa na história dos homens: fez-se homem,
filho duma mãe humana, sem deixar de ser o que Ele é eternamente.
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“Desperta, ó homem;
por ti, Deus fez-Se homem”
. escritos episcopais .
É Deus connosco, Deus junto de nós, com rosto e coração humanos, para
contagiar os nossos corações e os nossos dias com o Seu Amor Eterno e
Santo, partilhá-lo connosco, criando uma família de irmãos, uma nova fraternidade.
“Desperta, ó homem; por ti, Deus fez-se homem” (Santo Agostinho)! É
deste acontecimento que fala o Natal. Tudo o resto tira sentido a partir daqui.
A nossa fé não é um pensamento, uma ideia, uma opinião. É o acolhimento
humilde e maravilhado deste dom incalculável e incrível: Jesus Cristo, Deus
connosco.
3. O Natal e os direitos humanos
De Deus feito homem, aprendemos a verdadeira humanidade. Por isso
“quem coloca a afirmação da sua fé na Encarnação do Filho de Deus, pode
ser protector dos homens, pode levar a felicidade às crianças, às famílias, aos
aflitos. A fé na Encarnação ajuda a salvar os homens e a realizar os direitos
humanos” (Th. Schniltzer). Eis o apelo forte do Natal deste ano de 2008 em
que comemoramos os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos humanos!
Vivemos este Natal num contexto de profunda crise económico-social
que se reflecte em várias formas de pobreza. Que o “Menino-Deus” desperte
em todos uma onda de ternura e caridade, de partilha e solidariedade a favor
de quantos fazem a experiência dura da fragilidade: os pobres, os doentes, os
idosos, os sós, os sem trabalho e sem casa, os marginais, os recusados e os
desesperados. O Natal de Cristo é de todos e para todos: é plural. Ou o fazemos juntos ou não é verdadeiro Natal!
A todos os diocesanos cheguem os meus melhores votos de Santo Natal
e Feliz 2009!
Leiria, 10 de Dezembro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
72 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. escritos episcopais .
Dia da Sagrada Família
1. Celebramos o Natal de Jesus, como a festa do “grande encontro” de
Deus com a humanidade. Um encontro que nos faz ver aquele grande “Sim”
que, em Jesus Cristo, Deus disse ao homem, à sua vida, ao amor humano, à
família, e que é fonte de alegria para o mundo.
Jesus, Filho de Deus, dignou-Se ser também filho de uma família humana
fundada pelo amor de dois esposos, Maria e José. Ele abraçou a vocação
humana primordial, que é a família, desde o seu nascimento, em Belém, até à
casa de Nazaré, amando e sendo amado, crescendo em sabedoria e em graça
diante de Deus e dos homens, e ganhando a vida com o suor do seu rosto.
Na alegria e na paz do Natal do Senhor, saúdo afectuosamente as vossas
famílias e cada um de vós. Que o Senhor Jesus Cristo seja por vós acolhido
para poderdes crescer no amor e reforçar sempre os laços familiares que vos
unem.
Quarenta dias após o nascimento do Menino, os seus pais levaram-no a
Jerusalém para o apresentarem ao Senhor (Cf: Lc 2,22-40). Era uma norma
que todos os casais, em Israel, observavam após o nascimento do primeiro filho. Mas Maria e José, procedendo do mesmo modo, acreditavam no que lhes
foi dado a conhecer da parte de Deus e guardavam tudo em seus corações.
Ninguém poderá sentir melhor que vós, pais e mães, a fé e a emoção
com que se apresenta a Deus um filho, esse tesouro que o Senhor colocou
nos vossos braços depois de abençoar e tornar fecundo o vosso amor. É um
gesto que condensa e celebra de maneira extraordinária toda a grandeza do
matrimónio e da família.
2. No início do Ano Pastoral escrevi uma Carta à Igreja diocesana, desejando que todos “vão ao coração da fé” para descobrirem a sua riqueza, a sua
beleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E, pensando em
vós, deixei um apelo que me saiu do coração: Família, reacende o dom da fé
que está em ti! Comunica a tua fé! Voltando a escrever-vos, renovo hoje o
mesmo apelo. É o chamamento a despertar e a reforçar a consciência do dom
da fé: não só para descobrir a sua preciosidade e beleza, mas também para
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Mensagem às famílias
. escritos episcopais .
superar o clima generalizado de desalento e de medo que pesa fortemente
sobre a família e sobre a sua missão educativa da transmissão dos valores e,
em particular, da fé.
O dom de Deus é fonte e garantia de confiança e coragem, torna-nos seguros, serenos e alegres: esta missão é possível e é bela, como diz o salmista:
“O que ouvimos e aprendemos e os nossos pais nos transmitiram não o ocultaremos aos seus filhos; contaremos às gerações futuras as glórias do Senhor,
o seu poder e as maravilhas que Ele fez” (Sl 78,3-4).
Os cristãos sabem que a comunidade familiar só brilhará com todo o seu
esplendor à luz do projecto e do desígnio do amor de Deus. Também ela foi
salva, juntamente com a nossa humanidade, pelo amor de Jesus Cristo que se
entregou para a vida e felicidade de todos. O amor humano lembra e assinala
este amor/doação de Jesus Cristo e é chamado a caminhar no exemplo do
Senhor.
Pensando nas pessoas e famílias que mais sofrem com as duras dificuldades que estão a atingir a nossa sociedade, peço ao Pai celeste que nos conceda
um coração generoso na partilha, atento, cooperante e solidário.
Confiando-vos à Sagrada Família de Nazaré, imploro sobre vós e vossas
famílias as bênçãos de Deus para que vos confirme na alegria da unidade e
do amor.
Com votos de Feliz Ano 2009, saúdo-vos com fraterno afecto.
28 de Dezembro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Homilia de fim de ano
No final de um ano civil encontramo-nos reunidos todos juntos, em vigília, para elevar um hino de acção de graças a Deus, Senhor do tempo e da
história; para dar graças pelos inúmeros dons e benefícios concedidos a cada
um, à Igreja e à humanidade.
É nosso dever – para além duma necessidade do coração – louvar e agradecer Àquele que nos acompanha no tempo, sem nunca nos abandonar, que
vela sobre a humanidade com o seu amor fiel e misericordioso (1ª leitura) e
que nos enche com todos os dons espirituais em Cristo (2ª leitura).
O canto do Te Deum, que hoje ressoa nas igrejas de todo o mundo, quer
ser um sinal da gratidão alegre que dirigimos a Deus por todos os dons que
nos ofereceu em Cristo.
Neste momento desejaria fazer memória de alguns acontecimentos da
Igreja universal e diocesana pelos quais sinto o dever e a alegria de agradecer
ao Senhor e com os quais Ele ilumina o nosso caminho rumo ao futuro.
1. Antes de mais, o Ano Paulino proclamado pelo Santo Padre, no bimilenário do nascimento do grande Apóstolo Paulo, para pôr toda a Igreja “um
ano a caminhar com S. Paulo”, a fim de redescobrir a sua rica e bela mensagem, de enamorar-se cada vez mais de Cristo, de reavivar a sua fé e o ardor
missionário. “O Ano Paulino é um ano de peregrinação não só no sentido de
um caminho exterior em direcção aos lugares paulinos, mas também e sobretudo no sentido de uma peregrinação interior, do coração, com S. Paulo, até
Jesus Cristo” (Bento XVI). Quem entra em diálogo com Paulo é levado por
ele ao coração da fé: ao encontro vivo com Cristo crucificado e ressuscitado,
até exclamar: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim”. Por isso,
também a Igreja em Portugal marca um grande encontro com São Paulo,
numa especial peregrinação a Fátima no dia 25 de Janeiro, festa litúrgica da
conversão do apóstolo a Cristo.
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Gratos a Deus pelos seus dons
. escritos episcopais .
2. Dentro do Ano Paulino, recordamos um outro acontecimento significativo: o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da
Igreja, que nos chama a atenção para a Primazia da Palavra de Deus na fé e
na formação dos cristãos, a tal ponto que, como diz São Jerónimo, “ignorar
as Escrituras é ignorar Cristo”.
Convida-nos a tomar consciência de que Deus, na sua Palavra, se dirige
pessoalmente a cada um de nós, fala ao coração de cada um. Se o nosso
coração desperta e se abre o ouvido interior, então cada um pode aprender a
ouvir a Palavra dirigida, propositadamente, a ele. Esta Palavra tem uma voz
que é a Revelação de Deus; tem um rosto que é Jesus Cristo; tem uma casa
que é a Igreja e o coração de cada um; e tem um caminho que é a missão que
a leva às várias estradas da vida e do mundo, onde se faz nossa companhia e
luz. De um verdadeiro amor à Palavra de Deus esperamos uma primavera de
renovação espiritual da Igreja!
3. Na linha do Ano Paulino e do Sínodo sobre a Palavra de Deus inserese o percurso pastoral da nossa Igreja Diocesana, dedicado à formação cristã
em ordem à revitalização e crescimento da fé, da sua vivência espiritual e do
seu testemunho, em tempos difíceis como os nossos. Para esse efeito, escrevi
uma carta pastoral: “Ir ao coração da fé: formar para uma fé adulta”.
Trata-se de “ir ao coração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E com a descoberta
da beleza da fé, descobrir também a bondade e a beleza da vida. Por isso, a
formação na fé é mais necessária que nunca em ordem a uma fé esclarecida,
convicta, adulta. A ignorância religiosa é hoje o maior inimigo da fé.
Também nesta perspectiva se insere a Visita Pastoral às paróquias que
este ano iniciámos e tem sido ocasião de um novo despertar da fé nas comunidades, do entusiasmo e da coragem de ser cristão e uma força criadora de
comunhão.
4. Voltando-nos agora para o nosso Santuário desejaria lembrar a comemoração do centenário do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo de
como uma criança é capaz de “ir ao coração da fé”.
Aqui queria fazer-vos uma confidência. Todos vós conheceis o meu particular afecto pelas crianças. Este meu afecto vem de Jesus no Evangelho, mas
aprofundou-se e alargou o seu horizonte no contacto com a Mensagem de
Nossa Senhora em Fátima confiada a três crianças. Foi o momento de tomar
consciência da importância do papel das crianças na história da salvação e
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. escritos episcopais .
5. Em Setembro passado assistimos à passagem de testemunho no cargo de Reitor do Santuário. Tivemos ocasião de dar graças pelos 35 anos de
serviço dedicado de Mons. Luciano Guerra ao Santuário de Fátima, que culminaram, simbolicamente, com a inauguração desta belíssima Igreja da Santíssima Trindade. E dirigimos ao novo Reitor, P.e Dr. Virgílio Antunes, votos
de bênção e de serviço fecundo para a nova missão. Exprimimos então o voto
de que o Santuário conserve sempre um rosto e um dinamismo missionários
para não se reduzir a um mero “centro de serviços religiosos”.
Hoje queria confidenciar-vos um sonho que trago comigo, a saber: que,
com o tempo e a seu tempo, o Santuário possa oferecer um serviço de acolhimento, aconselhamento e acompanhamento a pessoas com problemas ou perturbações de ordem psíquico-espiritual, com uma fragilidade interior a toda a
prova e que, cada vez em maior número, batem à nossa porta. E também um
outro serviço de acolhimento e acompanhamento ao grupo dos “buscadores
de Deus”, isto é, de pessoas que se afastaram da fé e da sua prática, que a
esqueceram, mas que, neste momento, andam à procura de encontrar-se com
um Deus vivo que lhes dê outro sentido à vida.
6. Sabemos bem que nunca acabaríamos de enumerar os dons do Senhor
e de captar o seu alcance de graça para a vida da Igreja e do mundo. Há tantos
dons escondidos que não têm conta, nem contabilidade, nem visibilidade. É
motivo para tornar mais profunda a nossa gratidão.
Muitas vezes, no escondimento querido pelas pessoas ou imposto pelo
silêncio dos meios de comunicação, quanto bem quotidiano, humilde, desinteressado, generoso que não se rende diante das dificuldades:
Quantos gestos de vida frente a factos e a fenómenos de morte;
Quantos gestos de caridade e de justiça frente a antigas e novas pobrezas;
Quantas formas de comunhão fraterna e de solidariedade frente a tantas
solidões;
Quantas intervenções de diálogo e de paz frente a tensões e conflitos
permanentes;
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do mundo. Relativamente ao Francisco é impressionante a capacidade da
experiência religiosa de Deus, o intenso amor e encanto pela beleza de Deus,
a dimensão mística da fé, a coragem da fé frente às provações, a capacidade
de evangelizar os outros. O centenário do seu nascimento não será um chamamento a dar a devida importância às crianças e ao serviço que elas podem
oferecer ao mundo e à Igreja?
. escritos episcopais .
Quantos gestos de consolação para com quem vive angustiado ou desesperado.
Estes gestos e tantos outros são obra do homem, fruto do seu amor para
com os outros. Mas, no fundo, são sinais de amor do próprio Deus para com
os homens. São dons de Deus pelos quais lhe dizemos a nossa alegre e eterna
gratidão: “Nós te louvamos, ó Deus; nós te bendizemos, Senhor”!
7. Enquanto se encerra 2008 e se antevê já a aurora de 2009, peçamos à
Mãe de Deus que nos obtenha o dom de uma fé adulta: uma fé semelhante à
sua, uma fé límpida, genuína, humilde mas também corajosa, feita de alegria
e entusiasmo por Deus, liberta de todo o fatalismo, e toda disponível a cooperar no projecto salvífico de Deus, com a certeza de que Deus não quer outra
coisa que Amor e Vida verdadeira, sempre e para todos.
Obtém-nos, ó Maria, com a tua intercessão, uma fé autêntica e pura.
Obtém-nos um novo ano de paz interior, de paz familiar e de paz social.
Pedimo-la sobretudo para a terra de Jesus ensanguentada pela guerra e pela
morte de tantos inocentes.
Faz com que olhemos para o novo ano com os olhos da fé, da esperança
e da caridade. Sê sempre louvada e bendita, ó Santa Maria, Mãe de Deus e
Mãe nossa. Ámen! Aleluia!
Abençoado Ano Novo para todos vós aqui presentes e para todos os que
vos são queridos!
Fátima, 31 de Dezembro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. diversos .
Comunicado do Conselho Presbiteral
O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência
do Sr. Bispo, D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 24 de Junho, no
Seminário Diocesano, para avaliar o Ano Pastoral e perspectivar o próximo,
integrando as grandes iniciativas da Igreja Católica, tanto a nível nacional
como internacional, nomeadamente o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos
sobre A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja, a realizar em Outubro.
Os Conselheiros passaram em revista os principais momentos deste Ano
dedicado à consolidação dos dinamismos criados no primeiro biénio do Projecto Pastoral sobre A Vocação Pessoal é Dom e Missão. Além de salientarem
a sua importância, referiram o bom acolhimento que as propostas lançadas
(Carta Pastoral, Retiro Popular, Vigílias, Campanhas da Catequese...) tiveram
junto das comunidades, suscitando novas oportunidades para acolher, saborear e testemunhar a ternura de Deus.
Num segundo momento e após breve introdução de D. António Marto,
os membros do Conselho, tendo em conta o previsto para o primeiro ano do
segundo biénio do Projecto Pastoral – Testemunhar Cristo, fonte de Esperança
– dedicado ao aprofundamento da dimensão comunitário da fé, reflectiram sobre os caminhos a percorrer no próximo Ano Pastoral que terá como objectivo
cuidar da formação dos cristãos. Este cuidar, nas palavras de D. António, concretizar-se-á em três dimensões: a fé professada, a fé celebrada e a fé vivida.
No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho acentuaram duas
linhas de acção: por um lado, a formação cristã deverá levar à renovação dos
dinamismos existentes; por outro, promover a coragem de inovar, na fidelidade à Palavra de Deus e ao tempo que nos foi dado viver, segundo o exemplo
de São Paulo.
Também se foi sentindo que as propostas da Igreja, vindas dos âmbitos
nacional e internacional, são uma ajuda preciosa para lançar e articular, com
os diversos níveis de acção pastoral da Diocese, um itinerário cristão de
formação que responda aos novos desafios expressos numa diversidade de
situações cada vez maior.
O Secretariado
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Documentos
Professar, celebrar e viver a fé
. diversos .
Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano
Ano Pastoral dedicado à formação
Sob a presidência do Senhor Bispo, D. António Marto, no dia 4 de Outubro, no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da Diocese de LeiriaFátima teve como ponto principal da sua ordem de trabalhos “Perspectivas
do Ano Pastoral”. Assim, tendo em conta a temática prevista para este ano
pastoral 2008/09, dedicado à formação dos cristãos para uma fé adulta, esclarecida e convicta, pedia-se aos conselheiros a apresentação e apreciação de
propostas concretas e mais necessárias para o efeito, a partir da Carta Pastoral
“Ir ao coração da Fé”.
No dia em que a Igreja invoca a memória de São Francisco de Assis, D.
António Marto, num momento de oração e meditação, deu início aos trabalhos reflectindo, a partir de um excerto da Epístola aos Efésios (Ef 4, 11-13),
sobre a actual necessidade e importância da formação dos membros da Igreja
e o apelo que Deus hoje nos lança: “Vai e reconstrói a minha Igreja”, o mesmo lançado ao santo fundador da Ordem Franciscana.
Seguidamente o Vigário Geral, padre Jorge Guarda, apresentou, de forma
sucinta, aos conselheiros presentes a Carta Pastoral “Ir ao coração da Fé” de
D. António Marto e salientou as acções locais e diocesanas nela propostas,
com o objectivo de formar os membros da Igreja Diocesana para uma fé
adulta.
Os conselheiros foram depois convidados a reflectir, em pequenos
grupos, sobre as formas de implementar e levar por diante as propostas da
referida Carta Pastoral. No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho
acentuaram a necessidade de sensibilizar as comunidades para a formação
sólida na Fé. Assim, considerando que o trabalho deverá ser feito em rede,
sugeriu-se a criação de equipas responsáveis pela formação nas diversas vigararias, que sejam o elo de ligação entre os organismos centrais da Diocese e
as comunidades, além de gerirem os recursos humanos das respectivas paróquias. Também se considerou imprescindível preparar formadores em todos
os campos, nomeadamente na liturgia, catequese e caridade. Porque a Igreja
precisa de pessoas bem formadas e o investimento nos recursos humanos é
o melhor que se pode fazer, nos orçamentos das comunidades deve constar
a formação. Concluindo, o senhor Bispo apelou aos membros do Conselho
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. diversos .
Documentos
Pastoral Diocesano para que sejam impulsionadores das propostas feitas nas
suas comunidades e advertiu que a sua Carta Pastoral não se esgotará ao
longo deste ano.
A terminar, houve um apelo à participação de todos os membros do Conselho na Assembleia Diocesana que se realizaria no dia seguinte, e marcaram-se as reuniões do próximo ano para 10 de Janeiro e 23 de Maio.
O Secretariado Permanente
Comunicado do Conselho Presbiteral
Reorganização pastoral da Diocese
O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência do
Sr. Bispo, D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 28 de Outubro, no
Seminário Diocesano, para iniciar a reflexão sobre a reorganização pastoral
da Diocese, tendo em conta as suas necessidades e os desafios da nova evangelização.
Depois do canto dos Salmos, os conselheiros, em quatro grupos, procuraram discernir a situação da Diocese, no que diz respeito aos meios humanos
de que dispõe (clero e laicado) e propor caminhos a seguir.
Já em plenário, os grupos fizeram-se eco da necessidade e delicadeza do
tema, reconheceram a sua importância e apresentaram algumas propostas.
No essencial, estas apontam para uma dupla forma de trabalhar: por um lado,
gerir melhor os recursos humanos para atender às situações mais urgentes,
e, por outro, pensar a Diocese a médio e longo prazo, começando por definir princípios e identificar critérios que hão-de presidir à sua reorganização
pastoral.
Na sua intervenção final, o Sr. Bispo agradeceu o trabalho do Conselho
e informou que nomeará uma Comissão para dar continuidade à reflexão
iniciada.
O Secretariado
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Ano Pastoral 2008–2009
Tema
«Ir ao coração da Fé»
Documento orientador: Carta Pastoral do Bispo Diocesano: “Ir ao Coração da Fé”
Subsídios para estudo da Carta Pastoral: Guião de leitura, para Catequistas
Motivo Condutor
Caminhar com S. Paulo
Acções “paulinas”: • Criação de grupos para reflexão sobre escritos paulinos
• Colecta para os pobres
• Encerramento diocesano do “Ano Paulino”, no dia 28 Junho
Objectivo Geral
Formar para uma fé adulta
Objectivo Específico 1
Intensificar a formação cristã de adultos
Instrumentos: Itinerário catequético para uma síntese da fé
Acções locais: • “Escolas da Fé” para adultos
• Cursos de iniciação à leitura da Bíblia ou “serões bíblicos”
Acções diocesanas: • Curso sobre São Paulo orientado pelo CFC
• Cursos de formação teológica no CFC
Objectivo Específico 2
Reacender a chama da fé e permanecer firmes nela
Instrumentos: • Guião para os grupos de “lectio divina”
• “Lectio divina” com a Carta aos Romanos
• Livro: “Um ano a caminhar com S. Paulo”
Acções locais: • “Retiro popular”: grupos de “lectio divina” na Quaresma
• Grupos de “lectio divina” na preparação das visitas pastorais
• Constituir “grupos paulinos” para reflexão, partilha e oração
Objectivo Específico 3
Cuidar da formação dos colaboradores
Instrumentos: (os mesmos dos objectivos anteriores)
Acções locais: Encontros vicariais de formação e oração, com o Bispo
Acções diocesanas: • Escola “Razões da Esperança”
• Curso para o clero sobre as comunidades paulinas
• Reflexão e sensibilização sobre o diaconado permanente
• Divulgação dos cursos de formação teológica do CFC
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Vida Eclesial
. destaque . notícias . Santuário de Fátima .
. serviços e movimentos . entrevistas .
. destaque .
Assembleia diocesana
“O melhor investimento que a Igreja
pode fazer é na formação”
LMFerraz
Mais de 500 diocesanos participaram na assembleia que marcou o início
das actividades do novo ano pastoral de 2008-2009. Leigos, padres e religiosos, em representação das comunidades e serviços da Diocese, sintonizaram
no mesmo tema e assumiram os mesmos objectivos, para que o projecto pastoral, em curso desde 2005, seja caminhada comum em todos os sectores da
acção pastoral e em todo o território desta Igreja particular.
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Vida Eclesial
Por Luís Miguel Ferraz
. destaque .
LMFerraz
Resumo do passado
A sessão começou por uma breve retrospectiva do último ano, em que
se aprofundaram as temáticas do acolhimento e da vocação, as mesmas que
marcaram o primeiro biénio do projecto pastoral. Em apresentação multimédia, foram passando em revista algumas das principais acções, tanto a nível
diocesano, como a nível do que algumas paróquias ou serviços sectoriais
programaram.
Sem se pretender uma análise exaustiva, recordaram-se a inauguração da
Igreja da Santíssima Trindade, a acção missionária do grupo Ondjoyetu, a
ordenação sacerdotal de Marcelo Cavalcante, várias iniciativas da pastoral
vocacional, os jubileus vocacionais, vigílias de oração vocacional e outros
momentos celebrativos, o Retiro Popular Quaresmal, sessões da lectio divina
que aconteceram um pouco por toda a Diocese, reuniões de programação pastoral, acções de formação do clero, conferências, colóquios, debates e outras
iniciativas de formação laical, sobretudo ao nível da Escola Razões da Esperança, acções culturais e de evangelização de várias instituições e serviços, a
peregrinação diocesana a Fátima, a acção social da Cáritas, o acampamento
regional de escuteiros, a participação nas jornadas mundiais da juventude, a
tomada de posse dos novos reitor e administrador do Santuário de Fátima…
O principal destaque foi para o início da visita pastoral à diocese, que D.
António Marto iniciou na vigararia da Batalha e já se afirmou como momento privilegiado de proximidade do Pastor com os fiéis e com a vida social e
eclesial das comunidades, levando a todos o testemunho vivo da “ternura do
amor de Deus”.
86 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
“Ir ao coração da fé”
“A vivência comunitária do Evangelho é o melhor anúncio”. Este lema
da segunda fase temática do projecto pastoral, que vai no seu quarto ano,
focaliza-se sobretudo na formação cristã, base da renovação das comunidades. E porque decorre o Ano de S. Paulo, escolheu-se a frase do Apóstolo,
“Permanecei firmes e sólidos na fé” (Col 1, 23) para explicitar o subtema do
ano, “Ir ao coração da Fé”.
Intensificar a formação cristã de adultos; reacender a chama da fé e permanecer firmes nela; cuidar da formação dos colaboradores. Para o cumprimento de cada uma destas vertentes do objectivo último de “Formar para uma
Fé adulta”, preparam-se instrumentos de trabalho e propostas de acção, que
foram apresentadas pelo vigário-geral da Diocese, padre Jorge Guarda.
O momento central do encontro foi a apresentação da Carta Pastoral “Ir
ao coração da fé”, em que o Bispo diocesano faz uma reflexão sobre a urgência da formação cristã no contexto da sociedade actual, indica como modelo
de caminhada o percurso de formação na fé do apóstolo S. Paulo, e aponta as
orientações gerais para este ano pastoral.
A formação no topo das prioridades
Apelando ao “entusiasmo e ousadia” dos agentes pastorais presentes na
assembleia, D. António Marto lembrou a “exigência do mundo moderno,
caracterizado pela ignorância e relativismo religiosos”, em que “a formação
é um caminho primordial
para que os cristãos saibam dar as razões da sua
fé adulta e esclarecida”.
E afirmou que “a falta
de familiaridade com a
Palavra de Deus, a incapacidade da maioria
dos cristãos de lerem e
compreenderem a Bíblia,
é uma das vergonhas da
nossa Igreja”, adiantando que esta sua maneira
de falar sem rodeios das
“situações negras” que
vivemos não é por pessi| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 87
Vida Eclesial
. destaque .
. destaque .
LMFerraz
mismo, mas sim uma forma de “chocar, de tocar um alarme que nos acorde
do marasmo”.
Na mesma linha, o Pastor defendeu a importância do tema deste ano,
considerando que “o melhor investimento da Igreja é na formação dos seus
membros, padres e leigos”. Desde as catequeses de infância e adolescência
até à educação permanente dos adultos, “temos de investir na qualidade da
oferta formativa, pois precisamos de gente espiritualmente e intelectualmente
bem preparada”.
Na celebração eucarística que encerrou esta jornada, o Bispo diocesano
voltou a frisar a importância de cada um dos agentes pastorais assumir o papel que lhe compete, na “autenticidade da resposta ao chamamento de Deus
que convida permanentemente cada um a trabalhar na Sua vinha”. E o segredo para essa resposta está em “conhecer verdadeiramente Jesus Cristo como
Salvador, dando primazia à Sua Palavra e colocando o Evangelho no centro
da vida, para descobrir a novidade, beleza e riqueza da Sua mensagem”, concluiu D. António Marto.
O último acto da celebração foi a entrega de um ícone de S. Paulo aos
representantes da vigararia de Ourém, uma imagem que irá percorrer todas
as paróquias durante o ano pastoral, como sinal da unidade em torno deste
objectivo comum, especialmente visível aquando da realização dos encontros
de formação que cada vigararia irá realizar sob a presidência do Bispo.
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. destaque .
Tomadas de posse no Santuário de Fátima
No “coração mariano de Portugal”
o apelo a “ir ao coração da fé”
A 25 de Setembro, o padre Virgílio do Nascimento Antunes assumiu a
reitoria do Santuário de Fátima.
A celebração decorreu na igreja da Santíssima Trindade, presidida por D.
António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, com a participação de três Bispos
eméritos, cerca de uma centena de sacerdotes e várias centenas de fiéis, na
presença das principais autoridades civis e militares da região. Na mesma
celebração, o padre Cristiano Saraiva assumiu o cargo de administrador do
Santuário, função que acumula com a de ecónomo da Diocese, e celebraram-se os jubileus sacerdotais dos padres Virgílio da Silva (50 anos) e Jorge
Manuel Faria Guarda (25 anos).
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Vida Eclesial
Por Luís Miguel Ferraz
. destaque .
“Este é um dia especial para a Diocese”, começou por referir D. António
Marto, centrando a sua homilia no “agradecimento alegre pelo dom do sacerdócio”, no apelo a “voltarmos de novo ao coração da vida sacerdotal, que é
ser-se habitado por Deus” e no estímulo a um “renovado impulso na missão
evangélica”, os três sentimentos que apresentou como fundamentais nesta
celebração jubilar. “O Senhor chama-nos a viver este tempo como «tempo
providencial», para encontrarmos de novo a autenticidade e o coração da fé”,
sintetizou.
Passagem de testemunho
O acto simbólico da tomada de posse dos novos reitor e administrador
do santuário, inserido nos ritos finais da celebração, deu-se com a leitura dos
decretos de nomeação, a assinatura dos respectivos textos de compromisso e
a entrega das chaves da reitoria por monsenhor Luciano Guerra, que ocupava
o cargo desde 1973, ao padre Virgílio Antunes.
D. António Marto manifestou gratidão e reconhecimento ao ex-reitor por
todos os serviços prestados ao longo dos últimos 35 anos, com “sabedoria
prudente, zelo incansável, inteira dedicação e seriedade, capacidade empreendedora, lealdade ao serviço eclesial e uma devoção mariana profunda e
esclarecida”.
Referindo-se depois ao novo estatuto de “Santuário Nacional” que este
espaço passa a deter, o Bispo diocesano salientou a sua projecção mundial,
com mais de 5 milhões de peregrinos anuais, classificando-o como “um verdadeiro oásis espiritual, de encanto, frescura interior e paz, o coração mariano
de Portugal, lugar privilegiado para o acolhimento da reconciliação e santificação do povo, lugar de esperança e de revitalização da fé”.
Dirigindo-se ao novo reitor, o prelado felicitou-o pela nomeação, que
mereceu a aprovação unânime da Conferência Episcopal, mas alertou para
a responsabilidade de não se reduzir o Santuário a “mero centro de serviços
religiosos”, antes um lugar de resposta às novas exigências de uma sociedade caracterizada pela “debilidade do pensamento, precariedade dos afectos
e relativismo moral”, de modo que “tudo o que é oferecido seja para bem
dos peregrinos”, não perdendo de vista que “a grande lição de Fátima é que
a oração é sempre a arma mais forte, mesmo no campo da história, para a
conversão dos corações e a paz entre os povos”.
Na sua primeira alocução oficial, o padre Virgílio Antunes começou por
agradecer aos familiares, amigos e a todos os que o ajudaram e confiaram
nele para esta missão, e desejou que “não faltem ao Santuário os meios huma90 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. destaque .
Consagração
Já na Capelinha das Aparições, o ex-reitor agradeceu à Virgem as graças
recebidas, que poeticamente resumiu no “dom das lágrimas, que tantas vezes
pude contemplar, no meio da multidão e no oásis desta Capelinha: lágrimas
de alegria, nas promessas cumpridas; muitas e muitas lágrimas de solidão,
clamando por sinais de fraternidade; lágrimas de arrependimento, que proclamam a alegria do perdão”. E deixou também uma palavra de gratidão às
entidades oficiais, comerciantes, funcionários, sacerdotes e peregrinos em
geral, que com ele colaboraram nesta missão de mais de três décadas.
Num último gesto, o novo reitor, dirigindo-se também à imagem de Nossa
Senhora de Fátima, fez a sua consagração:
“Neste dia tão especial, diante da vossa singela capela e da vossa branca
imagem, a vós nos consagramos.
Nas vossas mãos entregamos o
vosso santuário, a vós oferecemos todos os projectos e programas. A vós suplicamos auxílio e
protecção, para que seja difundida a vossa mensagem, para que
triunfe o vosso coração imaculado, para que encontrem salvação
os vossos peregrinos. A vós consagramos todos os colaboradores,
os sacerdotes, os assalariados, os
voluntários. Abençoai as nossas
pessoas e todas as nossas acções.
Ámen”.
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Vida Eclesial
nos, concretamente os sacerdotes, para o seu serviço”, de modo a responder
aos desafios que lhe são colocados. Referindo a sua ligação a Fátima desde
os tempos de criança, confessou admirar a força deste espaço como “algo que
nos comove e nos ultrapassa, algo que os homens não controlam”. E quanto
ao futuro, agradeceu o legado de monsenhor Luciano Guerra, cuja dedicação
afirmou admirar, e defendeu que terá “a marca da continuidade, para que tenha a marca da fidelidade à história e ao Deus que a conduz”. A palavra final
foi para os peregrinos: “Vós sois a razão de ser de tudo o que aqui se propõe,
se anuncia e se vive; queremos ser pequenos instrumentos que vos ajudem ao
encontro com Deus através da figura de Maria”.
. especial . visita pastoral .
Visita Pastoral à Diocese
D. António Marto iniciou a 15 de Outubro a segunda fase da Visita Pastoral à Diocese. Depois da abertura deste périplo, na vigaria da Batalha, no
início do ano, seguiu-se a vigararia de Porto de Mós. Sob o lema “O Bispo
faz-se sinal visível da presença de Cristo que visita o seu povo na paz”, o
Pastor percorreu as paróquias de Alqueidão da Serra (de 16 a 19 de Outubro),
Alvados, Mira de Aire, Serra de S. António e S. Bento (de 22 de Outubro a
2 de Novembro), Minde (de 6 a 9 de Novembro), Arrimal, Mendiga e Serro
Ventoso (de 20 a 30 de Novembro), Alcaria (de 5 a 7 de Dezembro) e Porto
de Mós (de 10 a 14 de Dezembro).
Prosseguindo o acompanhamento da visita, damos conta de uma primeira
leitura dos párocos acerca do modo como decorreu e do que dela resulta de
mais importante, continuando a trazer à revista Leiria-Fátima as entrevistas
publicadas na ocasião no jornal O Mensageiro. Manteremos as mesmas perguntas que voltarão a ser colocadas a cada um:
1. Que pensa desta iniciativa de o Bispo diocesano fazer uma visita pastoral a todas as paróquias?
2. Como se preparou a comunidade para receber o Bispo?
3. Qual foi o critério na elaboração do programa?
4. De forma geral, como decorreu a visita?
5. Houve algum momento especial que queira destacar?
6. Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto?
7. Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral?
8. Foi já definida alguma prioridade pastoral ou tomada alguma decisão
em ordem à renovação da dinâmica paroquial?
Padre José Frazão, pároco do Alqueidão da Serra
1. A vinda do Bispo diocesano à paróquia é uma excelente oportunidade
de contacto directo com o Povo de Deus, presente nesta comunidade, que é
uma simples parcela da realidade maior da Diocese, confiada aos seus cui| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 93
Vida Eclesial
“Sinal visível da presença de Cristo”
. especial . visita pastoral .
dados de Pastor, embora, por delegação, entregue a
quem o representa, o pároco.
2. Para além do simples anúncio público e da
entrega ao domicílio do desdobrável com o calendário vicarial da visita pastoral, houve uma primeira
reunião alargada a todos os organismos pastorais da
paróquia, com a presença das respectivas direcções.
A partir daí desencadeou-se um processo de constituição de grupos de Lectio Divina, que ajudaram a
criar uma sensibilização crescente e maior espírito
de Igreja. A expectativa e a receptividade iam aumentando.
Além disso, na regularidade dos encontros com os diversos grupos de
Catequese, ACR, Vicentinos, Apostolado da Oração, JOC, Movimento Esperança e Vida, Ministros Extraordinários da Comunhão, etc. o anúncio da
visita pastoral ia sendo feito, de maneira directa e indirecta, apurando e mobilizando sensibilidades.
Fez-se ainda um forte apelo à oração pessoal, familiar, em grupo e em
comunidade, pelo melhor proveito humano e espiritual deste momento único
de graça.
Em termos de sensibilização devo salientar não só a divulgação do
programa em diversos locais de maior afluência e referência pública, mas
também a possibilidade de cada pessoa poder ter consigo um exemplar do
programa largamente distribuído.
3. A partir das ideias colhidas numa primeira reunião aberta a todos, chegou-se a um esboço de programa que depois, num segundo encontro, voltou
a ser apreciado e reajustado de modo a dar melhor conta da realidade, não só
religiosa, mas também sócio-económica, geográfica e cultural da paróquia.
Posteriormente apresentado ao senhor Bispo, que o ratificou, procedeu-se à
sua divulgação à escala máxima.
4. A visita correu bastante bem, de forma agradável e leve. A aceitação e
participação foram as melhores. Convocadas por sectores, as pessoas correspondiam e mostravam a sua alegria. Do mesmo modo, foi clara a satisfação
manifestada pelas diferentes colectividades e organismos que D. António fez
questão de visitar.
5. É-me difícil destacar um momento sem me arriscar a desconsiderar o
que terá sido mais importante e digno de registo para outros. Ainda assim,
permito-me destacar o encontro com os cabouqueiros (cortadores de pedra), e
o diálogo com estes conhecedores da riqueza da pedra e da arte de a trabalhar.
94 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Puderam falar dos seus anseios no meio das imposições feitas ao seu sector
laboral, que sentem demasiado pesadas para quem dá o melhor de si, pelos
seus e pela arte que conhecem como ninguém.
Destacaria ainda a celebração dos doentes e idosos, com a administração
da Santa Unção a 48 pessoas, e, na mesma linha, a visita aos dois lares de
idosos da paróquia, sem esquecer a visita ao Centro de Dia onde o Senhor
Bispo almoçou com os utentes e demais pessoas.
Também não posso esquecer a visita às escolas do pré-escolar e do 1º ciclo, aos “amiguitos e amiguitas” que guardam a melhor recordação e amizade
ao Bispo amigo que acolheram com as suas músicas e presentearam com os
seus desenhos.
D. António Marto também não esquecerá a descoberta dos principais
pontos turísticos e culturais da freguesia, com a ajuda dos apontamentos
históricos do professor Carlos Vieira.
Entretanto, a apoteose deu-se na Eucaristia final, com a administração do
Crisma a 19 jovens e as bodas de ouro matrimoniais de um casal.
Depois de ofertas várias, além de outras ocorridas ao longo dos dias, seguiu-se um lanche de convívio, seguiu-se um lanche de convívio em perfeita
sintonia com os sentimentos que uniram as pessoas entre si e na sua relação
e estima para com o Pastor.
6. Tudo foi mensagem: na palavra, nos gestos, na presença, na relação
humana, fraterna e amiga, gerando uma verdadeira empatia e confiança que
dificilmente deixa indiferente quem quer que seja, incluindo, porventura, os
mais distraídos, arredios, indiferentes ou descrentes…
No respeito pelas mais diferentes sensibilidades e reconhecendo com
apreço o contributo válido de cada um na construção de uma sociedade
melhor, foi também particularmente notável, digno e elevado o encontro
com as diversas colectividades e associações. Estabeleceu-se um diálogo
cordial, confiante e aberto, com desafios a uma unidade plural, capaz de uma
integração de todos na consideração e respeito pela validade dos seus diferentes contributos, em ordem a um empenhamento colectivo e orgânico pela
comparticipação corresponsável de uma sociedade chamada à comunhão, à
unidade e ao crescimento, na aceitação do contributo válido de cada um com
a riqueza da sua participação específica.
Foi particularmente notável e fortemente sonante o apelo final: “Abri as
portas do vosso coração a Cristo e ao seu amor por todos vós…”, em consonância com o destaque dado à importância e necessidade de um cada vez
maior conhecimento da Palavra de Deus e da progressiva formação cristã de
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .
. especial . visita pastoral .
todos.
7. Em termos de expectativas, fica, sem dúvida, o desejo de maior unidade
e comunhão para um melhor bem-estar humano, social e eclesial.
8. Teremos de reunir, sem perda de tempo, de energia e de entusiasmo,
para, numa expressão alargada de comunhão com todos, nos tornarmos naquilo que somos chamados a ser, a Igreja de Jesus Cristo, na certeza de que
Ele a todos ama e chama para o melhor serviço à pessoa humana.
Padre Manuel Peixoto, pároco de Mira de Aire,
Alvados, S. Bento e Serra de Santo António
1. É a melhor das iniciativas. A Igreja, na pessoa do Bispo, ou melhor, Cristo, na pessoa do Bispo, desce visivelmente ao meio do povo. Cheias de
entusiasmo, as pessoas exclamam que nunca se viu
coisa semelhante.
2. A preparação fez-se, espiritualmente, através
da oração da Lectio Divina… Depois elaborou-se
um programa para as quatro paróquias, que, depois
de aprovado pelo Senhor Bispo, foi distribuído de casa em casa. Enviaram-se
convites às várias associações e aos empresários… só a estes escreveram-se
cerca de 100 cartas também entregues pessoalmente.
3. Na elaboração do programa teve-se em conta que o Senhor Bispo não
vinha ver monumentos nem em visita de cortesia mas, sendo pastor de todos,
desejava encontrar-se com as pessoas e os grupos, com os que estão dentro
da Igreja e os que vivem mais ou menos fora. Tivemos a preocupação de que
a presença do Bispo servisse para uma maior aproximação da Igreja ao povo
ajudando a fazer desaparecer a ideia da distância que por vezes se vive, e a
despertar muitos que apenas se abeiram para casar, baptizar um filho, ou ter
funeral religioso.
4. A vista correu muito bem. Toda a gente está contente, mesmo toda. A
correspondência foi grande. Não foi perfeito…mas muitíssimo bom. É de
acentuar a pontualidade de todos, algo que muitíssimo aprecio.
5. De entre os vários momentos destacaria a visita às escolas de Mira de
Aire, a celebração com os idosos e doentes, o encontro inter-paroquial de
catequistas (Mira, Alvados, Serra de Santo António, S. Bento) e os diversos
encontros com as crianças e adolescentes da catequese. De tantas coisas
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comoventes, realçaria ainda a visita particular a duas doentes em Alvados.
Quer do lado das doentes, quer do lado do Bispo, foi um verdadeiro encontro
de Cristo. Via-se nos olhos dessas doentes, que foi mesmo uma inesperada e
felicíssima surpresa!
6. Porque as marcas parecem tantas e tão profundas, é difícil destacar
algumas. A primeira terá sido o optimismo e a alegria de se ser cristão, contrariando tanta lamúria que há por aí. O Bispo disse claramente, e isso ficou
nas memórias e nos corações, que não vinha alimentar lamúrias mas fazer ver
o lado positivo das coisas. A nossa fé é uma mais-valia.
Depois, deu-nos uma imagem daquilo que Jesus é, tão perto de todos, sobretudo das crianças, dos doentes e dos idosos. Quer uns quer outros ficaram
radiantes e até muito comovidos. Pudemos dizer: Cristo veio até nós!
Por fim, deixou-nos uma mensagem de encorajamento. Cada paróquia
ouviu o apelo: “Ó querida comunidade de Mira de Aire, da Serra de Santo
António, de S. Bento, de Alvados: coragem, abre as portas a Jesus Cristo!
Não tenhas medo!”
7. Criaram-se excelentes expectativas. As paróquias não serão como antes. Os objectivos de reavivar a fé adormecida, renovar a vida cristã, viver a
alegria da comunhão, de libertação do medo, encorajamento nas dificuldades,
superação das divisões, alegria e coragem no testemunho do Evangelho, estão ao alcance, diria mesmo, estão em acção. Assim sejamos capazes de os
levar por diante.
8. Em ordem ao aprofundamento e renovação, iremos insistir, nomeadamente na Lectio divina que desejamos seja descoberta por um número
crescente de pessoas.
Padre Albino da Luz Carreira, pároco de Minde
1. Porque a nossa Igreja diocesana foi confiada
ao nosso Bispo, é ele que tem a missão de nos conduzir como nosso pastor, em nome do Senhor Jesus
Cristo, sob a autoridade do Sumo Pontífice. Sendo
o pároco apenas colaborador do Bispo, a quem este
confia o cuidado da comunidade paroquial, no exercício do único sacerdócio de Cristo, a presença episcopal é momento privilegiado e grande testemunho
de dedicação à maneira de Jesus, o Bom Pastor. A
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .
. especial . visita pastoral .
vinda do nosso Bispo é sempre uma presença visível do Cristo invisível.
2. Se «A oração é a alma de todo o apostolado» e o Espírito Santo é a
«alma e o coração da Igreja», como dizia o Santo Padre Pio XI, era forçoso
começar a preparação desencadeando um clima de oração em toda a paróquia. Para isso recorremos à Lectio divina, tão recomendada pelo Senhor
Bispo, ao terço e a outras orações particulares e comunitárias.
Em simultâneo, formou-se uma equipa para preparação do programa que,
através do “Jornal de Minde” e de uma distribuição pessoal, havia de chegar
a todas as famílias, juntamente com a carta de anúncio da visita.
3. Na elaboração do programa tivemos presentes as orientações de Bento
XVI aos Bispos, na sua visita “Ad Sacra Limina”, em 19/11/2007: “Que os
padres sejam padres e que os leigos sejam leigos”. Os leigos também são
responsáveis por tornar “Deus presente na sociedade e na família”. Por seu
lado, o Senhor D. António, numa comunicação aos párocos, dizia: “Trabalhai menos, trabalhai melhor, trabalhai mais unidos”. Com estas orientações
acreditámos poder confirmar o provérbio: “Se queres chegar depressa, corre
sozinho; se queres chegar longe, corre juntamente com outros”. Acabou o
tempo do pároco auto-suficiente que tudo resolve sozinho. Aliás, hoje isso
é impossível. Em pastoral litúrgica, formação da fé, pastoral dos jovens, da
família, da caridade, cultura, saúde… só se pode trabalhar em cooperação.
Porque Jesus veio para todos e ama a todos, o programa foi elaborado de
modo que a visita atingisse todos os paroquianos, praticantes ou não. Certos
de que “é a oração profunda que nos confere a certeza de que vale a pena colocar-se ao serviço, trabalhando pela Igreja, pelas almas e pelo Reino, sob as
bênçãos do Pai”, enviámos o programa ao Senhor Bispo, que o aprovou.
4. Começou com esta saudação do povo: “Salvé, salvé, ó eleito de Cristo,
mensageiro da paz e do amor”. E terminou desta forma, por parte do Senhor
Bispo: “Salvé, ó povo santo, abri as portas do vosso coração ao Senhor. Parto,
mas levo-vos a todos no coração”. Ao que foi logo respondido: “As portas
do nosso coração já estão abertas. Também fica no nosso coração. O nosso
obrigado à maneira de Minde: volte sempre”.
Esta maneira de falar tão coloquial manifesta bem a proximidade criada, a
amizade franca e cordial e o bom ambiente que deixou todos contentes.
Os objectivos propostos pelo Senhor Bispo na sua recepção foram conseguidos: “Contactar com todos, olhos nos olhos, coração a coração, transmitir
conforto espiritual às famílias, aos organismos da Igreja e a toda a comunidade, e proporcionar um novo impulso, ardor, e mais-valia à fé e a uma vida de
comunhão onde todos se sintam unidos pelos vínculos espirituais da carida98 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
de”. Além dos organismos da Igreja, os mesmos objectivos foram escutados
pelas colectividades, empresários e autoridades da freguesia.
5. Destacarei especialmente o encontro com os conselhos e comissões de
toda a paróquia, pelo testemunho de unidade e capacidade de acção, o diálogo do Senhor Bispo com os crismandos e com as crianças e adolescentes na
creche, nas escolas e na catequese, e ainda a sessão com representantes dos
14 movimentos e sectores da paróquia durante a qual cada um expôs a acção
apostólica desenvolvida e os problemas e expectativas que vão vivendo. São
de salientar ainda a visita ao Vitória Clube Mindense, ao Conservatório de
Música, aos Bombeiros, ao Rancho Folclórico do Covão do Coelho e, de
modo especial, ao Lar de Idosos onde cumprimentou os utentes um por um.
Foram muito ricas as celebrações: a do Vale Alto, que se centrou na figura
de S. Paulo e contou com a presença dos crismandos e de cristãos de toda a
paróquia; a do Covão do Coelho, muito participada e animada pelo grupo coral da terra; e, de modo especial a celebração do domingo, na igreja paroquial,
em que foram crismados 28 jovens e adultos, a encerrar a visita pastoral.
6. D. António deixou em todos a forte impressão dum pastor próximo do
seu povo, sempre com um sorriso e uma palavra amiga de acolhimento para
todos, nas visitas programadas ou em plena rua.
D. António chamou mais uma vez a atenção para o grave problema da
ignorância religiosa, “chaga da Igreja”, e por isso insistiu na necessidade de
se desenvolver a formação cristã em todas as idades. A partir da passagem da
expulsão dos vendilhões do templo, referiu ainda o problema duma religião
mercantilista, baseada numa atitude comercial para com Deus, à qual é preciso opor um amor desinteressado, sem qualquer desejo de lucro. Falou da
mudança dos tempos, que proporcionou a vergonha de ser cristão, contra a
qual é urgente lutar, pela coragem do testemunho. Assinalou a necessidade do
enriquecimento espiritual, o mais importante da vida.
7. Como expectativas mais fortes, ficaram a esperança de uma caminhada
progressiva, na linha da novidade na continuidade, rumo a maior união entre
os diversos centros, sectores e pessoas da paróquia; o desejo de uma comunidade mais eucarística, empenhada na escuta prática da Palavra, quer vença os
meros limites dos preceitos, obrigações e proibições. Uma vida de comunhão
fraterna, sem conflitos nem rixas, permita a feliz experiência de “como é bom
e agradável encontrarmo-nos entre irmãos”.
8. Embora ainda não tenhamos analisado a visita, é nosso desejo dar prioridade à Palavra de Deus. Deste modo, realizar-se-á na Quaresma um curso
bíblico sobre S. Paulo; tentaremos introduzir o Curso Alpha, como modo de
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .
. especial . visita pastoral .
redescobrir a fé cristã; iremos incrementar a prática da missa dominical e fomentar a interioridade através dum retiro destinado sobretudo a pessoas mais
novas. Não é uma meta fácil, mas alenta-nos o o apelo do nosso Bispo para o
presente ano pastoral, “Permanecei firmes e sólidos na fé”, e a palavra segura
de S. Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me conforta”.
Padre Orlandino Bom, pároco de Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso
1. Vejo a visita pastoral numa dupla perspectiva.
Por parte do nosso Bispo, é resposta ao desafio do
Mestre e Bom Pastor que conhece as suas ovelhas.
Veio celebrar, conviver e aprofundar a fé com o seu
povo. Aproximou-se dos cristãos, nos lugares onde
a sua fé acontece. Da parte do povo de Arrimal,
Mendiga e Serro Ventoso, foi uma oportunidade ímpar de contacto com o lado mais humano do seu Bispo que, na simplicidade exterior, manifestou uma
profundidade interior que tocou até os mais frios e
distantes. É uma iniciativa a continuar, ainda que em
moldes mais suaves, porque um ritmo de duas visitas pastorais de dois meses
num só ano, com a intensidade que se viu na Vigararia, me pareceu demasiado desgastante para um Bispo que tem ao seu cuidado toda a Diocese.
2. Logo na preparação, houve a perspectiva do enquadramento de cada
paróquia num todo formado por três: Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso. Não
houve um só dia destinado apenas a uma mas olhou-se sempre para o conjunto. As comunidades paroquiais começaram a ter maior consciência da visita
pastoral quando, a partir de Julho, se inseriu uma prece na Oração dos Fiéis
da Eucaristia dominical, a pedir que esta actividade fosse um momento de
Graça. Constituíram-se também 14 grupos de Lectio Divina e, um mês antes
da visita, chegaram a cada casa o anúncio e o programa da visita.
No início do ano pastoral, houve uma reunião geral de pais com uma
catequese sobre a Diocese, o Bispo e a Visita Pastoral. Ainda em Outubro,
convocou-se a assembleia de cada paróquia para cada serviço e movimento
poder partilhar o seu trabalho, inquietações e esperanças. Entretanto, os catequistas trabalhavam com as crianças e adolescentes com base nos textos da
Lectio divina e preparavam em conjunto uma apresentação multimédia dos
seus trabalhos.
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Também os crismandos tiveram encontros com o pároco e com o Senhor
Bispo, oito dias antes do Crisma, enquanto os jovens preparavam um tema
que haveriam de apresentar e as zeladoras da Sagrada Família das três paróquias preparavam a celebração com os doentes e idosos, incluindo a administração da Santa Unção. Às comissões das igrejas coube a distribuição da carta
e a preparação dos convívios, e aos grupos corais o cuidado das celebrações.
Estou convicto de que houve outra preparação, ainda mais importante e
profunda, no silêncio da oração de cada um, de cada família e de cada grupo.
3. Tratando-se da sua primeira visita, houve a preocupação de que D.
António Marto estivesse em todos as celebrações e que houvesse distribuição
equilibrada entre celebrações, convívios e reuniões. Em cada paróquia haveria uma celebração mais forte – bênção da igreja de Chão das Pias (Serro
Ventoso), Santa Unção no Arrimal e Crisma na Mendiga – e as celebrações e
encontros seriam sempre que possível inter paroquiais. Isso aconteceu com a
Santa Unção, com o Crisma, os nos encontros com adolescentes, crismandos,
jovens e casais. Realizaram-se ainda encontros com todas as faixas etárias,
em horários adequados.
4. Na sua preparação e execução, a avaliação geral é positiva. Fica agora por saber o que, como comunidades cristãs, saberemos aproveitar deste
tempo de graça que nos foi dado viver com o nosso Bispo que, como o Bom
Pastor, visitou o seu povo.
5. Qual o momento a destacar? A pergunta foi feita ao nosso Bispo por
uma criança. D. António salientou dois momentos: a celebração com os doentes e idosos e os encontros com as crianças. Como pároco e pelo empenho
no acompanhamento às famílias, considero muito rico o encontro com casais.
D. António fez então um apelo à descoberta da alegria da vida familiar e
conjugal. Todos, até os que habitualmente não participam muito na vida das
comunidades, se sentiram tocados pela mensagem de esperança e pelo alto
apreço que D. António manifestou pela vivência do sacramento do Matrimónio. Foi um momento especial, em que ouvimos a voz do Pastor a abordar a
beleza de um estado de vida tão desacreditado pelos meios de comunicação
social e pelas políticas facilitistas do nosso tempo.
6. A grande mensagem que D. António Marto deixou foi o desafio às comunidades para viverem a alegria da fé. Um convite à redescoberta do essencial da fé no encontro pessoal com Jesus Cristo. A fé é uma relação que deve
ser alimentada ao longo da vida e diversamente consoante a etapa em que se
está. Cada pessoa e cada comunidade precisam de descobrir e acolher a luz da
fé para cada situação de vida e para a novidade que cada etapa vai trazendo.
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Padre Isidro Alberto, pároco de Alcaria e Porto de Mós
1. Além de ser um desejo pessoal, a visita do
nosso bispo inscreve-se no desempenho directo da
sua missão. Como lemos no Catecismo da Igreja
Católica, “a consagração episcopal confere a plenitude do Sacramento da Ordem” (nº 1557) e “juntamente com o poder de santificar, confere também
os poderes de ensinar e governar” (idem). De facto,
“a graça do Espírito Santo é dada e é impresso o
carácter sagrado, de tal modo que os bispos representam, de uma forma eminente e visível, o próprio
Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e actuam em vez
d’Ele (…). Por isso, pelo Espírito Santo, que lhes foi dado, os bispos foram
consagrados verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores (nº
1558). Cada bispo tem, como vigário de Cristo que é, o encargo pastoral da
igreja particular que lhe foi confiada. Mas, ao mesmo tempo, colegialmente
com todos os seus irmãos no episcopal, partilha a solicitude por todas as Igrejas. Se cada bispo é pastor propriamente dito apenas da porção do rebanho
que foi confiada aos seus cuidados, a sua qualidade de legítimo sucessor dos
Apóstolos, por instituição divina, torna-o solidamente responsável da missão
apostólica da Igreja (nº 1560). Por tudo isto, “a Eucaristia celebrada pelo bispo, tem um significado muito especial como expressão da Igreja reunida em
torno do altar sob a presidência daquele que representa visivelmente a Cristo
Bom Pastor e cabeça da Sua Igreja” (nº 1561).
2. Durante a preparação, distribuímos a carta do Sr. Bispo em todas as
casas, constituíram-se vários grupos da Lectio Divina, mobilizaram-se as
pessoas ligadas aos serviços e organismos das Paróquias, rezou-se nas Eucaristias a oração pela Visita pastoral, fez-se divulgação na rádio «Dom Fuas»,
e no jornal «O Portomosense».
3. O programa da Visita foi elaborado pelo Conselho Pastoral, atendendo
às características das Paróquias, e depois apresentado ao Sr. Bispo para aprovação. Deu-se prioridade ao encontro pessoal com as pessoas envolvidas na
catequese, catequizandos, pais e catequistas, crismandos, jovens, comissões
das Igrejas, professores das Escolas Básicas, Ciclo e Secundária de Porto de
Mós, casais e famílias, autarcas da Vigararia, Conselhos pastorais paroquiais,
Conselhos económicos paroquias, Conferência de S. Vicente de Paulo, Renovamento Carismático, Associação da Sagrada Família, ministros da Co102 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
munhão, leitores, grupos corais, acólitos, escuteiros, doentes e idosos. Todos
os encontros terminaram num convívio onde o contacto com D. António,
sempre solícito e amável, era constantemente solicitado.
4. O cumprimento do programa excedeu em muito as expectativas, graças
à boa coordenação e colaboração de todos. O Sr. Bispo foi inexcedível na sua
atenção a todos.
5. Foram muitas as mensagens deixadas pelo Senhor Bispo: a alegria de
ser cristão, encarar a vida humana e cristã pela positiva, a mais valia da fé
em Jesus Cristo que está presente em todos sobretudo nas crianças, doentes,
idosos e mais pobres. Só precisamos de O reconhecer.
6. Mas, o principal e mais impressionante desafio deixado pelo Senhor
Bispo foi este: «Alcaria, S. João Batista e S. Pedro, de Porto de Mós, coragem! Abri as portas a Jesus Cristo! Não tenhais medo!».
7. A Visita Pastoral do Sr. Bispo foi como um relâmpago, cheio de muita
luz, calor humano, oração, partilha, convívio, alegria, presença e emoção do
Visitante e dos Visitados. A mensagem ficou. É agora necessário desenvolvêla e aplicá-la à vida concreta das Paróquias, na evangelização, no culto e na
caridade.
8. O alerta do Sr. Bispo foi muito forte e muito sentido: a formação cristã
é a grande prioridade.
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Vida Eclesial
. especial . visita pastoral .
. notícias .
No dia 8 de Outubro, D. António Marto presidiu, na capela da Ressurreição, no Santuário de Fátima, à Eucaristia de abertura do ano académico
do ciclo de formação teológica para jovens que fazem o seu noviciado em
diversas congregações religiosas.
Trata-se de um curso de iniciação à teologia, organizado pelo Centro de
Formação e Cultura da Diocese de Leiria-Fátima, aberto às congregações
religiosas que querem integrar este projecto de formação “inter-noviciados”.
O curso, que decorre ao longo de dois anos, pretendendo ser uma iniciação ao
pensamento teológico, proporciona conhecimentos elementares para formação comum. Cada instituto religioso mantém uma formação própria no que
diz respeito à sua espiritualidade e carisma.
Aderiram à iniciativa congregações residentes em Fátima e algumas
vindas da área de Lisboa e Coimbra. Após dois anos de funcionamento, o
projecto encontra-se consolidado e recolhe uma avaliação muito positiva das
irmãs responsáveis.
A celebração foi ocasião para a entrega de diplomas às jovens religiosas
que concluíram o ciclo de estudos em Junho. Depois da Eucaristia houve
convívio e partilha, com um lanche no Albergue do Peregrino. Além das
noviças que integram o curso, participaram as irmãs responsáveis das congregações, o director do Centro de Formação e Cultura, alguns professores e
outros religiosos que quiseram associar-se, nomeadamente os noviciados da
Companhia de Jesus e dos Padres do Sagrado Coração de Jesus.
Formação sobre “acompanhamento espiritual”
A aproximação e o acolhimento, a escuta e a interrogação, o esclarecimento à luz da palavra de Deus e o abrir de horizontes, o consolar e o encorajar a pessoa dar os próprios passos para o seu crescimento na vida cristã e
clarificação vocacional, são atitudes importantes no acompanhamento espiritual pessoal. Assim ensinou o bispo de Leiria-Fátima, nas duas acções de
formação, nos dias 27 de Junho e 22 de Novembro, em Leiria.
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Vida Eclesial
CFC – Formação para a vida religiosa
. notícias .
Partindo da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús, que inspira
todo o acompanhamento espiritual, D. António Marto sublinhou a importância desta ajuda pessoal para a resposta ao chamamento divino e defendeu que,
na Igreja, é preciso maior disponibilidade para oferecer este serviço aos fiéis
e, em especial, aos jovens. Disse ainda que poderão fazer este acompanhamento, além dos sacerdotes e dos religiosos, também as religiosas e mesmo
os leigos com certa preparação e maturidade espiritual.
As duas sessões desta acção formativa, promovida pelo Serviço Diocesano de Animação Vocacional, juntaram mais de uma centena de pessoas, entre
sacerdotes, religiosas, leigos, alguns deles jovens, o que surpreendeu positivamente os organizadores e constitui um sinal de interesse pela ajuda que o
acompanhamento espiritual pode dar. Na partilha de experiências focou-se a
procura crescente por parte de jovens, que querem ser escutados e ajudados
para poderem orientar as suas vidas. Muitos já concluíram cursos superiores,
mas não clarificaram o rumo a seguir. O acompanhamento pode ser pontual,
por quem está próximo, em casa, em grupos, nos movimentos eclesiais ou nas
comunidades paroquiais. Mas pode também ser mais pessoal, regular e prolongado, proporcionado por quem tem conhecimentos e experiência, nomeadamente sacerdotes. A formação será, em princípio, continuada no próximo
ano, integrada na escola diocesana “Razões da Esperança”.
Leiria-Fátima nas Jornadas Mundiais da Juventude
Catorze jovens da diocese de Leiria-Fátima participaram nas Jornadas
Mundiais da Juventude (JMJ), em Sydney, Austrália: quatro de Maceira, dois
da Marinha Grande, dois dos Marrazes, dois da Bajouca, um da Caranguejeira, um de Ourém, um dos Pousos e um de São Mamede. Foram acolhidos na
diocese de Brisbane, a 1000 quilómetros de Sydney, onde participaram em
diversas actividades culturais e religiosas. “Recebereis a força do Espírito
Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). Foi o mote
das JMJ que, de 15 a 20 de Julho, reuniram jovens do mundo inteiro em peregrinação de fé, de redescoberta da sua vocação baptismal e celebração os
sacramentos, nomeadamente da Eucaristia e da Reconciliação. Os momentos
mais altos, que contaram com a presença do Papa, Bento VI, foram a grande
recepção na Baía de Sydney no dia 17, a vigília do dia 18 e a Eucaristia de
encerramento. Mas o programa deu um destaque muito especial à participação dos jovens nas catequeses matinais orientadas por bispos de diversas
nacionalidades, de acordo com os muitos grupos linguísticos.
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. notícias .
Alguns jovens clarificaram a sua posição vocacional no Grupo Santo
Agostinho, após a caminhada que decorreu durante o ano e se concluiu a 6 de
Julho, em Fátima. Os 10 jovens que fizeram a experiência orientam a sua vida
para a formação num seminário ou casa religiosa, ou para uma participação
mais consciente e integrada na vida das comunidades cristãs.
O itinerário durou seis meses, com encontros mensais em tardes de domingo, e incluiu a leitura orante da palavra de Deus, catequese sobre aspectos
vários do chamamento de Deus, testemunhos de vocações concretas, partilha
em grupo e momentos de reflexão pessoal. D. António Marto, que orientou
todo o encontro, fez uma meditação vocacional a partir da palavra de Deus,
contou a história da sua vocação e dialogou com os jovens, respondendo às
suas interpelações. A equipa dinamizadora é constituída por elementos do
serviço diocesano de animação vocacional e da pastoral juvenil.
No final, os jovens salientaram como a presença e os testemunhos dos
animadores e a progressividade das abordagens, cada mês melhor que o anterior, os foram aproximando de Deus, e não esconderam o desejo de verem
outros colegas a fazerem a mesma experiência.
O Grupo Vocacional Santo Agostinho é um itinerário proposto por D. António Marto aos jovens, como “experiência de fé, em grupo, cuja finalidade
é ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a
escolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte
que a cada um diz respeito”. Iniciado em 2007, continuará em 2008, provavelmente em Fevereiro, com nova caminhada para os jovens que entretanto
manifestem desejo de viver a experiência.
Associação Mãos Unidas P. Damião em Leiria
O 10º aniversário da Associação Portuguesa de Solidariedade Mãos Unidas P. Damião, foi duplamente celebrado em Leiria: com a realização, no dia
19 de Abril, do I Encontro Regional dos seus sócios e benfeitores, animado
com um sarau musical, e no dia 13 de Junho, com a nomeação da direcção do
Núcleo Regional de Leiria da mesma associação. Os dois momentos tiveram
lugar no Convento da Portela e contaram com a presença do director/sócio
fundador Mário Nogueira.
No dia foi analisado o Aditamento ao Regulamento Interno da Associação,
sobre os Núcleos Regionais, que define as competências, o funcionamento e
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Vida Eclesial
Jovens diocesanos decidem vocação
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a constituição das Assembleias Regionais, e entregue um documento, para
análise posterior por parte da Direcção do Núcleo Regional, sobre “Centros
Alimentares Contra a Pobreza”. No final, foi eleita a direcção do Núcleo
Regional de Leiria, que ficou constituída pelos seguintes elementos, para o
biénio 2008-2009: presidente – Francisco de Jesus Moreira; vice-presidente
– Sandrina Jesus Silva; secretárias – Isabel Maria Pereira Sousa, Dina Maria
Pereira Sousa e Piedade Duarte; tesoureiros – Luís Oliveira Silva e Carlos
Manuel Vertini; vogais – Joaquina Francisco, Ilda Cerejo, Maria Marques
Caneira e Graciete J. Ricardo.
Espera-se que a direcção saiba corresponder ao que dela se espera para a
sua área de acção, difundido os princípios e os objectivos prosseguidos pela
Associação, angariando novos sócios, celebrando, de modo especial, o Dia
Mundial dos Leprosos, o Dia Mundial da Luta contra a Tuberculose, o Dia
Mundial da Criança e o Dia Mundial da SIDA, e estudando a viabilidade de
se conseguir, para breve, um espaço onde possa ser montado um Banco Alimentar contra a Pobreza.
Acampamento de Verão do MCE
Foram 56 estudantes da Diocese que participaram num campo de férias
organizado pelo Executivo Diocesano do Movimento Católico de Estudantes
(MCE). De 29 de Julho a 4 de Agosto, na praia fluvial de Mosteiro (Ribeira
de Pêra), Pedrógão Grande, estes estudantes, acompanhados pelo assistente
diocesano, padre Gonçalo Diniz, viveram momentos de reflexão e debate em
grupo, de oração e de lazer. “A verdade e as suas consequências” foi o tema
do encontro, tratado segundo a metodologia do “Ver, Julgar e Agir”, própria
dos movimentos de Acção Católica. Um dia de “peddy paper” proporcionou
um contacto mais directo com o meio, mas ficou também na recordação de
todos a visita dos pais numa tarde que foi convívio e integrou a celebração da
Eucaristia e um “banquete regional”.
Este ano, funcionaram na Diocese equipas base do MCE, distribuídas
pelos três níveis de ensino: básico, secundário e superior.
Celebração do padroeiro Santo Agostinho
D. António Marto presidiu à Eucaristia em honra de Santo Agostinho,
padroeiro da diocese, no dia 28 de Agosto, na igreja que lhe é dedicada, na
cidade de Leiria. Não obstante o dia litúrgico do Santo Doutor cair em pleno
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tempo de férias, a diocese esteve bem representada, em torno do seu Bispo,
por sacerdotes, religiosos e religiosas, e leigos que colaboram sobretudo nos
serviços diocesanos, movimentos e associações. D. António convidou todos
a “celebrarem juntos em honra do padroeiro, ao redor do bispo e do mesmo
altar, e a contribuírem para exprimir e alimentar a comunhão na mesma fé
e a consciência de pertencer ao mesmo corpo de Cristo”. Sob o exemplo de
Santo Agostinho e à luz da sua imensa herança doutrinal, D. António evocou
as palavras do Prefácio para reafirmar a importância dos santos como dom
de Deus: no seu “exemplo” permite-nos contemplar a realização concreta
da vida cristã; “na comunhão com eles”, oferece-nos “uma família” que é,
para todos, apoio e ajuda; e na sua intercessão possibilita-nos “um auxílio”.
Compreende-se pois que a comunidade diocesana se reúna para celebrar a
festa do seu padroeiro.
No mesmo acto litúrgico teve lugar a celebração do jubileu matrimonial
(25 anos) do casal Maria Eugénia e José António Ferreira, que têm dado provas de grande dedicação ao serviço da Igreja.
Santo Agostinho foi adoptado como padroeiro em 1918, aquando da
restauração da Diocese, escolha que radica, certamente, no facto de Leiria
ter estado, desde o século XII até 1545, sob a influência do Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra, dos religiosos da Ordem de Santo Agostinho. Esta
adopção foi confirmada pelo Papa João XXIII, que, em 13 de Dezembro de
1962, respondendo a um pedido do bispo diocesano, concedeu à Diocese dois
padroeiros principais: manteve o anterior, Santo Agostinho, e acrescentou
Nossa Senhora de Fátima.
Bênção da primeira pedra da igreja da Martingança
A 31 de Agosto teve lugar a bênção da primeira pedra da igreja de S. João
Baptista, na Martingança, paróquia de Pataias.
D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, presidiu à celebração em que
participaram também o pároco e outros sacerdotes com especial ligação à
comunidade. Estiveram ainda presentes o Governador Civil de Leiria, o
Presidente da Câmara de Alcobaça e o Presidente da Junta de Freguesia da
Martingança, e muitas pessoas da população local e terras vizinhas.
Após a Eucaristia, em sessão solene, foi assinado um pergaminho evocativo, depois inserido na pedra com algumas moedas do ano de 2008. As várias
entidades presentes salientaram a importância do novo templo para o serviço
da comunidade local e a sua beleza e funcionalidade, bem como a necessida| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 109
Vida Eclesial
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de da conjugação de esforços da população e dos organismos públicos para
que o projecto possa chegar a bom termo.
Segundo o arquitecto Vítor Grenha, autor do projecto, o “Tempieto in
Montorio”, obra de Bramante, em Roma, foi a inspiração. “O espaço da
igreja procura congregar a assembleia (172 lugares sentados) cujo corpo é
comunidade. A luz, usada como matéria de construção física e espiritual, usase como metáfora do guia e destino da comunidade, provindo do rasgo no
tecto e reforçando o caminho para o altar e para o sacrário”, explicou Vítor
Grenha.
Fernando Santos, membro da Comissão da Igreja, e o pároco, padre Virgílio Rossio, explicam o que pesou na decisão de uma nova construção: de
dimensões reduzidas e sem condições, a igreja existente era manifestamente
insuficiente para as necessidades da população e desprovida de qualquer
mais-valia estética ou histórica.
O investimento ronda os 500 mil euros e os prazos de execução ainda não
estão definidos. Com apenas um quinto do total necessário, os responsáveis
voltam-se agora para a generosidade das pessoas em iniciativas de angariação
de fundos, e aguardam a resposta à candidatura para financiamento já apresentada às entidades próprias.
Jubileus sacerdotais
À semelhança dos últimos anos, a Fraternidade Sacerdotal da Diocese de
Leiria-Fátima promoveu, no dia 25 de Setembro, no Santuário de Fátima, a
celebração dos jubileus sacerdotais.
Este ano comemoraram bodas de ouro e de prata sacerdotais, respectivamente, os padres Virgílio da Silva, a 10 de Agosto, e Jorge Manuel Faria
Guarda, a 24 de Abril. Do programa constou a Eucaristia, celebrada na Basílica às 11h00, e o almoço convívio na Casa Senhora do Carmo.
Assembleia do Clero para revisão do RABI
Cerca de 60 membros do clero diocesano reuniram-se em Assembleia, a
16 de Setembro pretérito. Na ordem do dia esteve em destaque a discussão de
um projecto de revisão do Regulamento da Administração dos Bens da Igreja
(RABI), sobretudo no que aos sacerdotes diz respeito, preparado por uma Comissão estatutária. Além das linhas gerais, estiveram em discussão algumas
propostas que a experiência dos últimos anos foi suscitando, por exemplo, a
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Capelão dos imigrantes Ucranianos
O padre Sílvio Litvinczuk Osbm, novo capelão da comunidade de imigrantes católicos ucranianos, tomou posse no passado dia 14 de Setembro,
na capela bizantina da Domus Pacis, em Fátima. Filho de pais brasileiros,
descendentes de ucranianos, nasceu no Brasil, em Prodentopolis, no Paraná, a
25 de Dezembro de 1978, frequentou o seminário da Congregação dos Padres
Basilianos, em Curitiba, durante um ano e meio, formou-se em Teologia em
2002, na Ucrânia e, em 2006, foi ordenado sacerdote. De 2006 a 2008 esteve
em Roma, no Ateneu Santo Anselmo, onde se licenciou em História da Teologia. Cedido por D. Dionísio Lachovicz, bispo ucraniano responsável pela
pastoral dos emigrantes, foi nomeado por D. António Marto e reside na Casa
Nossa Senhora do Carmo, no Santuário de Fátima.
Dia da Diocese: serviço à Igreja e ao mundo
A 5 de Outubro, Dia da Diocese, arrancou oficialmente o novo ano pastoral. Ao mesmo tempo que, em Assembleia diocesana, D. António Marto
apresentava aos primeiros responsáveis e agentes pastorais os objectivos para
2008/2009, nas paróquias dava-se início à catequese e a outras actividades
fundamentais das comunidades.
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Vida Eclesial
possibilidade de as paróquias instituírem o Fundo Paroquial de forma distinta
do Fundo da Igreja Paroquial.
Refira-se que o RABI, ao tratar da partilha de bens na diocese e nas
suas paróquias, também estabelece o estatuto económico dos sacerdotes,
com base no espírito de comunhão e de partilha que a tudo há-de presidir. A
proposta final, alargando o âmbito de incidência para lá do estatuto do clero
e das paróquias, faz referência a outras instituições e associações canónicas,
redefine responsabilidades e competências dos responsáveis das instituições
e serviços, pondera a sustentabilidade económica das instituições e projectos
eclesiais e aponta para o melhoramento da organização das instituições e do
procedimentos das pessoas responsáveis.
Aprovada, primeiro na generalidade e depois na especialidade, a proposta
foi entregue à Comissão de revisão. A este parecer da Assembleia, virá juntarse-á, em princípio, o parecer autónomo do Conselho Presbiteral que o Bispo
Diocesano quererá consultar igualmente antes de tomar a decisão final da sua
aprovação e publicação.
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O grande ponto de esforço será a formação em todas as comunidades
para que cada cristão, aprofundando “as razões da sua esperança”, se torne
fermento activo na Igreja e no mundo. Importa não desperdiçar nenhuma
oportunidade. Entretanto, prosseguirá o esforço de construção de uma comunidade unida e com maior consciência eclesial, na continuidade do ano
anterior.
A consciência e o sentido de pertença à Igreja serão das principais incidências da formação. Neste aspecto, o Dia da Diocese constitui uma óptima
oportunidade para os cristãos reforçarem e tornarem visível a comunhão
eclesial, que há-de ultrapassar âmbitos demasiado restritos e os próprios
contornos paroquiais. Assistimos ao desabrochar de carismas e projectos mas
nem aqueles nem estes podem fechar ninguém no seu grupo restrito contrariando os desígnios do Espírito que concede os seus dons para o crescimento
comum.
As comunidades cristãs não existem sem a pertença efectiva à Igreja Universal. O particularismo, por vezes sentido como virtude, é um falso engodo.
Não se atinge a meta sem cooperar na mesma estafeta. Ninguém, por hábil
que seja, poderá prescindir da equipa, numa união fundamental que faz a
força.
O Dia da Igreja diocesana exprime e cultiva o sentido de família alargada.
A Igreja de Jesus Cristo está onde os cristãos se reúnem, em comunhão de fé e
de sentimentos, com o seu bispo. Por belas que pareçam as obras de cada um,
ou de cada comunidade, é sempre em torno do Pastor que se faz a unidade.
Canção Nova obtém aprovação pontifícia
A comunidade católica Canção Nova, presente em Fátima, recebeu das
mãos do Cardeal Rylko o reconhecimento pontifício e a aprovação dos seus
estatutos como Associação Internacional de Fiéis de Direito Privado. Foi em
Roma, no Conselho Pontifício para os Leigos, a 3 de Novembro, na presença
do fundador, monsenhor Jonas Abib, de dois milhares de membros, de um
cardeal e vários bispos brasileiros. A diocese de Leiria-Fátima fez-se representar pelo vigário-geral.
Na audiência geral do dia 5, Bento XVI dirigiu-se aos peregrinos em
Português: “Saúdo a Comunidade “Canção Nova”, em festa pelo reconhecimento como associação internacional de fiéis junto do Pontifício Conselho
para os Leigos. Exprimo o apreço da Igreja pelo ideal e empenho que vos
anima de dar inspiração cristã às linguagens do nosso mundo e à leitura dos
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acontecimentos da história. Sobre todos vós invoco os dons do Espírito Santo
para serdes verdadeiros discípulos e missionários de Cristo Ressuscitado,
fazendo jorrar a sua Vida nas vossas famílias e comunidades, que de coração
abençoo.”
Na cerimónia do reconhecimento, o fundador da Canção Nova pediu aos
seus membros: «Permanecei unidos no amor e na oração. Que sejais uma
comunidade de amor e de adoração. Queremos levar ao mundo uma Canção
Nova renovada pelo Espírito Santo».
A Canção Nova foi fundada em Cachoeira Paulista (Brasil), no ano de
1978, por Jonas Abib, sacerdote salesiano, para promover a evangelização
dos jovens e dos homens e mulheres de hoje, através dos meios de comunicação social, especialmente a rádio, a televisão, a Internet, a publicação de
livros, a música e várias outras acções. Inspirada no Renovamento Carismático, conta actualmente com 1.075 membros consagrados, homens e mulheres:
sacerdotes, seminaristas, leigos consagrados e casais. Além do Brasil, a Canção Nova está em Portugal, Itália, Israel, Estados Unidos, França e África.
Em Portugal dispõe de televisão, rádio, duas livrarias e uma revista.
Padre Jorge Guarda publica No Silêncio do Santuário
No dia 24 de Outubro, foi apresentado o livro do padre Jorge Guarda “No
Silêncio do Santuário – Orações a partir dos Salmos”, no auditório do Espaço Fatimae, em Fátima. Com a colaboração da Comunidade Canção Nova e
apresentação pelo padre Dário Pedroso, editor pelo Apostolado da Oração, a
sessão incluiu cânticos e momentos de oração baseados nos textos publicados, e ainda a habitual sessão de autógrafos.
Sacerdotes diocesanos em retiro em Singeverga
Cinco dias de “escuta para ouvir o Mestre e inclinar o ouvido do coração”,
seguindo a recomendação de S. Bento.
A proposta do Serviço de Apoio ao Clero foi aceite por nove sacerdotes da
Diocese, que fizeram retiro anual, no mosteiro dos Beneditinos de Singeverga, de 19 a 24 de Outubro, sob orientação do abade do Mosteiro, Luís Aranha,
e do padre Lino de Miranda, mestre de noviços. Os participantes sentiram-se
“acolhidos como a Cristo (cf Regra, cap. 53), elevados pelo canto monástico
e serenados pelo ambiente da cerca e pelo silêncio do claustro”, segundo a
tradição beneditina. Agradecidos pela hospitalidade, tinham as palavras de S.
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Vida Eclesial
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Bento no coração: «Depois de termos, irmãos, perguntado ao Senhor quem
habitaria na sua morada, ouvimos as condições para nela se habitar. Oxalá
cumpramos nós agora os deveres do morador» (Regra, Prólogo, 39).
Padre José Reis: 40 anos de sacerdócio
No passado dia 18 de Outubro, a comunidade cristã do Juncal reuniu-se na
Igreja paroquial para celebrar os 40 anos de sacerdócio do seu pároco, padre
José Marques dos Reis. O templo estava repleto de paroquianos e representantes dos vários serviços – grupo coral, Conselho Económico, catequistas,
membros do Centro Paroquial, entre outros. Após uma representação cénica
da vocação sacerdotal, pelos jovens, houve jantar-convívio, com os membros
da comunidade e com o homenageado e seus familiares.
José Marques dos Reis, segundo de sete irmãos, nasceu a 24 de Junho de
1943, numa família humilde da Gondemaria, concelho de Vila Nova de Ourém. Aos treze anos sentiu-se chamado por Deus, inicialmente com o intuito
de partir para as Missões. Entrou no Seminário de Leiria, em 1956, e após
longa caminhada foi ordenado sacerdote em 18 de Outubro de 1968. Cinco
dias depois, iniciou o trabalho paroquial, nomeado sacerdote coadjutor, em
Maceira, onde permaneceu 3 anos e meio. Em 5 de Março de 1972 o Bispo
de Leiria deu-lhe uma nova missão, que o levaria a assumir a paroquialidade
de Serro Ventoso e S. Bento. Em Setembro desse ano, começou a leccionar
Religião e Moral, na Escola Secundária de Porto de Mós, acompanhando
adolescentes e jovens, actividade que apenas deixou no passado mês de Junho, quando atingiu a reforma, aos 65 anos. Em 1979, para estender a missão
paroquial a Arrimal e Mendiga, foi dispensado de São Bento.
Em Janeiro de 1993, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima nomeou-o Pároco
do Juncal, cargo que vem desempenhando há cerca 15 anos, com total dedicação ao crescimento desta comunidade cristã.
Pré-seminário…
Depois do reencontro de doze dos pré-seminaristas do ano passado, de 11
a 12 de Outubro, o Pré-Seminário reiniciou a 8 de Novembro as actividades
mensais para rapazes do 6º ao 8º ano (ordinariamente no 1º sábado de cada
mês, das 10h00 às 17h00). Os rapazes que frequentam a partir do 9º ano têm
um outro acompanhamento adequado à sua idade, com programa diverso.
Pretende-se, com este serviço, “continuar, passo a passo, o esforço iniciado
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em 2006 para a reabilitação deste sector da Diocese e do seu Seminário, num
esforço comum de promoção e acompanhamento das vocações sacerdotais”.
Em pleno Ano Paulino, a Conferência Episcopal Portuguesa propôs às
comunidades cristãs a meditação da Palavra de Deus com base na vida e
testemunho do Apóstolo S. Paulo. Para tal, foi editado um instrumento de
trabalho, “Um ano a caminhar com São Paulo”, com 52 temas de reflexão,
um por semana. O autor deste livro, D. Anacleto Cordeiro de Oliveira, bispo
auxiliar de Lisboa, natural das Cortes, foi convidado pela vigararia da Batalha a apresentar, na primeira pessoa, os conteúdos da proposta.
Cerca de duas centenas de pessoas acorreram à conferência proferida no
Centro Pastoral da Batalha, no passado dia 7 de Novembro. Na sessão, de
cerca de duas horas, D. Anacleto falou da vida de São Paulo e explanou as
cinco partes em que se agrupam os 52 temas: “a nossa vida cristã”, “a Igreja
de Deus”, “a nossa conduta cristã” “a vida que nos espera” e “Paulo fala-nos
(depois) do seu martírio”. Sobre o modelo de conversão, de evangelizador e
de vivência profunda da fé, referiu que a vida do Apóstolo foi “uma permanente e incansável caminhada para Cristo e para os homens” e que à luz dos
seus escritos podemos hoje “percorrer as sucessivas fases da nossa caminhada cristã”.
A leitura dos textos seleccionados permitirá descobrir a riqueza do ensinamento paulino e suscitará, por certo, a vontade de ler a totalidade das suas
cartas.
Cada tema é desenvolvido em três páginas: uma introdução de contextualização, um texto paulino e a respectiva meditação, sugestões de outras
leituras e uma proposta de oração. A reflexão, em leitura lenta e repetida, com
espaços de silêncio “para que Deus fale no coração de cada um”, pode ser
individual “mas será mais rica em grupo”.
Interpelado sobre a reduzida presença dos jovens, D. Anacleto exprimiu a
convicção de que muitos estão a fazer esta caminhada e pediu aos seus formadores que “não lhes ofereçam facilidades e coisas leves, mas a radicalidade
do Evangelho e a exigência da vida cristã na sua integralidade, porque é isso
que eles pedem e que os conquista”.
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Vida Eclesial
D. Anacleto apresentou
“Um ano a caminhar com São Paulo”
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4º aniversário da Comunidade Pastoral
de S. Romão e Guimarota
Constituída por decreto episcopal de 21 de Novembro de 2004, a Comunidade Pastoral de S. Romão e Guimarota celebrou o seu quarto aniversário
marcado pela renovação de algumas equipas litúrgicas, de catequese e de
serviço de voluntariado social.
Embrião de uma futura paróquia que congregue as populações de Casais
de São José, Casal dos Matos, São Romão, Guimarota, Quinta de São Venâncio, Quinta do Taborda (lado sul), Rua da Assunção, e Rua Vale de Lobos, a
comunidade assume-se em crescimento solidário e na organização progressiva de estruturas de unidade e de vida cristã no seio da Igreja diocesana.
Enquanto prosseguem as questões processuais da construção da igreja e
centro pastoral, decorrem já projectos de carácter pastoral a curto e médio
prazo, nomeadamente, anúncio (actividades formativas) e celebração da Fé
(sacramentos e sacramentais), e o exercício organizado da solidariedade (partilha e atenção especial aos mais carenciados, a todos os níveis).
Nova Junta Diocesana dos Escuteiros
No passado dia 7 de Dezembro, na igreja de S. Pedro, em Leiria, tomaram
posse a Junta Regional e o Conselho Fiscal e Jurisdicional do Corpo Nacional
de Escutas da Região de Leiria, eleitos pelos Dirigentes e Caminheiros, em
acto que decorreu em Novembro último.
O momento solene da tomada de posse e juramento dos eleitos foi presidido pelo Vigário-geral da diocese, Padre Dr. Jorge Guarda, em representação
do Sr. Bispo. Estiveram presentes representantes do Governo Civil, da Câmara Municipal de Leiria e do Instituto Português da Juventude, um membro
da Junta Central do CNE, os Chefes Regionais de Santarém e de Portalegre/
Castelo Branco, antigos Chefes Regionais, vários Dirigentes e elementos das
diferentes secções, e familiares e amigos dos novos elementos investidos.
A cerimónia, iniciada por um momento musical de órgão de tubos e repleta de simbologia escutista, marcou o início das actividades de mais um
triénio dedicado ao lema “Formar, Partilhar, Crescer”, que se espera profícuo
em termos de educação integral das crianças e jovens, com rumo ao Homem
Novo que Escutismo católico preconiza, fiel aos princípios do fundador Baden Powell.
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No final, o representante da Junta Central afirmou esperar que a Região
de Leiria, apesar de pequena em espaço territorial, continue com a dinâmica
e empreendorismo que tem vindo a demonstrar.
A data escolhida foi 19 de Dezembro. Seminaristas, equipa formadora,
padres residentes, funcionários e outras pessoas que colaboram de perto com
o Seminário, reuniram-se para a festa de Natal a que se dignou presidir D.
António Marto, Bispo de Leiria-Fátima. A celebração seria enriquecida com a
instituição no ministério dos Leitores do seminarista Miguel Sottomayor que
vinha acompanhado por seus familiares e alguns amigos.
D. António Marto, no início da Eucaristia, saudou a todos no espírito natalício e convidou ao “acolhimento da surpresa inaudita e última de Deus na
nossa vida”, e da humanidade e esperança que o Senhor nunca deixa de trazer
às situações de desesperança por que vamos passando.
Na homilia, retomando o tema da alegre confiança no Senhor que veio
ser o Deus Connosco, na nossa humanidade, o Presidente da assembleia afirmaria que “a nossa pequena e humilde história está inserida nessa grande e
sublime história do amor de Deus pelos homens: Ele ama-nos e está de mão
estendida para acolher o nosso amor, uma mão que nos acaricia, nos levanta,
nos abençoa e nos conduz”. Por isso, “toda e qualquer vida deve ser um projecto de amor, de colaboração no desígnio de salvação para o mundo, sinal de
esperança onde parece não haver esperança”.
No momento que precedeu a instituição de Leitor, D. António dirigiu
a Miguel de Sottomayor palavras de acolhimento e recomendação: “Foste
surpreendido por Deus, que desconcertou os teus caminhos e te trouxe a esta
diocese de Leiria-Fátima (...) Como proclamador da Palavra, deverás em
primeiro lugar escutá-la, amá-la, rezá-la, assimilá-la e vivê-la (...) Receberás
a graça para o realizar, a fim de saboreares antecipadamente a Palavra que
irás servir”. Depois da instituição, salientando que este é um primeiro passo
a caminho do ministério da Ordem, confiou o novo Leitor à protecção de
Nossa Senhora.
No final da celebração, no refeitório do Seminário, foi servido um almoço
de confraternização a que não faltaram os habituais sinais de Natal.
Natural de Vila do Conde, Miguel Sttomayor é aluno do Seminário de
Leiria e está a estudar no Seminário Filosofico-Teologico Internazionale Giovanni Paolo II, em Roma.
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Vida Eclesial
Instituição de Leitor, na festa de Natal no Seminário
. notícias .
Estipêndios na Província Eclesiástica de Lisboa
Os Bispos da Província Eclesiástica de Lisboa (Lisboa, Santarém, Setúbal, Angra, Funchal, Portalegre-Castelo Branco, Leiria-Fátima, Guarda e
Forças Armadas e de Segurança) aprovaram um decreto conjunto sobre os
estipêndios das missas que uniformizou o valor (10 euros) com o já praticado
pelas Províncias Eclesiásticas de Braga e de Évora, com data de aplicação a
partir de 13 de Outubro passado.
O decreto refere que “não é permitido a qualquer sacerdote exigir quantia mais elevada”, ressalvando, no entanto, que pode “receber o que lhe for
espontaneamente oferecido” e que, por outro lado, “não deixe de aceitar
quantia inferior, de modo que ninguém se sinta excluído”, uma norma especialmente sublinhada pelo “momento social que se vive”. Quanto às Missas
plurintencionais, “o estipêndio é de oferta livre”.
Os Bispos recordam ainda o referido sobre assunto no Código de Direito
Canónico e na Tabela de Taxas, Tributos e Emolumentos já aprovada para a
Província Eclesiástica, e recomendam o especial cuidado de “evitar em absoluto, especialmente nas Missas plurintencionais, a mais leve aparência de
comércio ou negócio; de atender à intenção expressa do oferente, mesmo que
o estipêndio seja diminuto ou se venha a perder; de recordar que as esmolas
lançadas na «Caixa das Almas» têm tradicionalmente a finalidade exclusiva
de contribuírem para a celebração de Missas em sufrágio de todos os fiéis defuntos; de fomentar nos cristãos um sentido de mais ampla caridade, de modo
que, não sendo possível atender localmente aos seus pedidos, aceitem que as
missas sejam celebradas em outro lugar; e de evitar enganos e esquecimentos,
anotando as obrigações assumidas e o seu cumprimento.
Finalmente, os Bispos determinam que “se dê oportunamente conhecimento deste Decreto a todos os fiéis, sacerdotes e leigos”.
A acompanhar este decreto, os Bispos assinam também uma “Carta aos
Sacerdotes e às Comunidades Cristãs”, em que esclarecem mais pormenorizadamente a pastoral que fundamenta o estabelecimento do estipêndio, “uma
longa tradição da Igreja, confirmada pelo Direito Canónico”, e justificam o
actual aumento com a exigência de cumprimento do acordo existente com as
outras Províncias Eclesiásticas, embora o façam “com preocupação pastoral
motivada pela situação social que o País atravessa, com a maior parte das
famílias a sentirem dificuldades económicas”.
Na mesma perspectiva, lembram “o sentido desta oferta e dos valores
pastorais que devem orientar as nossas atitudes, quer do clero, quer dos fi118 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
éis”, e salientam em primeiro lugar a gratuidade dos sacramentos que “não se
vendem, nem têm preço material”. Nesse espírito, deve cuidar-se que os fiéis
mais pobres, que não possam pagar, “tenham direito a que o sacerdote celebre
pelas suas intenções”, e que os fiéis contribuam “livremente para as despesas
da Igreja, entre as quais se conta a sustentação do clero”. Em todo o caso,
“esta gratuidade dos sacramentos exige dos sacerdotes o desprendimento e a
ausência de qualquer espírito de avidez e de negócio”.
Sobre o sentido do estipêndio, lembra-se que é “uma oferta ao sacerdote”,
não para o fundo paroquial, que o deve usar para “praticar pessoalmente a
caridade e investir na sua própria formação cultural”.
Sobre a Missa por várias intenções, que “não deve anular o direito que os
fiéis têm de pedir a Missa por uma só intenção”, nada pode ser exigido aos
fiéis, “dando cada um segundo as suas posses e generosidade”, não sendo
sequer “legítimo indicar o estipêndio fixado para as intenções individuais
como ponto de referência”. Do dinheiro recolhido, “o sacerdote pode retirar
o correspondente ao estipêndio fixado” e o restante “não pertence ao Fundo
Paroquial”, mas “constitui um fundo autónomo posto à disposição do Bispo
Diocesano, que o deve utilizar para o bem da Igreja, para ajudar outras Dioceses mais necessitadas, para mandar celebrar Missas pelas intenções de quem
ofereceu e para incentivar a acção pastoral”.
A concluir, os Bispos convidam a “encontrar em Paulo um modelo inspirador” e reconhecem que “há alguns pontos a corrigir”, tarefa a cumprir por
“todos generosamente, na certeza de que o nosso desprendimento merecerá
de Deus a força da Sua graça para fazer crescer a Igreja”.
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 119
Vida Eclesial
. notícias .
Faleceu o padre Boaventura Vieira
Um homem de paz
e de obras
O padre Boaventura Domingos Vieira, da diocese de Leiria-Fátima,
faleceu no dia 29 de Agosto, no Hospital de S. André, em Leiria. Tinha
79 anos de idade e era capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte
Real. O funeral realizou-se no dia seguinte para Santa Catarina da Serra,
de onde este sacerdote era natural. Presidiu à celebração das exéquias o
bispo diocesano, D. António Marto, que recordou o percurso deste sacerdote e disse estar grato a Deus pela sua vida e pelas suas obras. De entre
as suas qualidades, destacou o testemunho de dedicação, disponibilidade e
generosidade ao longo de um ministério exercido ao serviço da Igreja, em
múltiplos lugares e actividades.
Filho de José Vieira Repolho e de Ana Maria, o Padre Boaventura nasceu a 1 de Janeiro de 1929, em Santa Catarina da Serra. Tinha 8 irmãos,
um deles também sacerdote. Entrou para o Seminário de Leiria em 1942.
Terminando o curso em 1953, foi ordenado sacerdote no dia 12 de Julho
desse ano, no Santuário de Fátima, e logo nomeado coadjutor na paróquia
de Monte Redondo. Em 1956, recebeu a missão de Pároco de Nossa Senhora dos Prazeres, em Aljubarrota, serviço que exerceu até Setembro de
1961. Neste ano, foi nomeado ecónomo do Seminário Diocesano e começou a acompanhar os trabalhos de construção do novo edifício.
Cessado aquele serviço, em 1973, foi enviado para trabalhar na Diocese de Nova Lisboa, em Angola, onde também desempenhou funções de
ecónomo do Seminário. Dali, em 1976, transferiu-se para o Brasil, onde,
em São José do Rio Preto, estado de S. Paulo, exerceu a missão de Pároco
e de administrador da Diocese.
Em 1987, regressado à diocese de Leiria-Fátima, colaborou com o seu
irmão, Padre Júlio, na paróquia de Maceira onde também foi professor de
Educação Moral e Religiosa Católica. Dez anos depois, passou a ser administrador da Gráfica de Leiria, cargo que exerceu até Julho de 2007. Entretanto, desde 1998, exerceu também o serviço de Vigário Paroquial do Souto
da Carpalhosa e de capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real.
120 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. Santuário de Fátima .
Victor Yushchenko, acompanhado de sua esposa, integrou uma viagem ao
Santuário de Fátima no programa da visita presidencial realizada a Portugal no
final de Junho. À chegada ao Santuário, vários grupos de ucranianos acolheram
com emoção, no Recinto de Oração, o seu Chefe de Estado. Seguiu-se a recepção oficial pelo padre Virgílio Antunes, director do Serviço de Peregrinos do
Santuário, que acompanhou e guiou a numerosa comitiva presidencial na visita
a vários locais do Santuário, nomeadamente, à Capelinha, onde o casal esteve
por breves momentos em oração, Basílica e Igreja da Santíssima Trindade.
O casal manifestou muito interesse em tudo o que se refere a Fátima e
grande conhecimento da sua história e mensagem, particularmente das referências à conversão da Rússia. Sempre rodeado de fortes medidas de segurança, o Presidente da Ucrânia colocou uma vela a arder no tocheiro localizado
ao lado da Capelinha das Aparições. No Livro de Honra do Santuário, o casal
formulou votos de bênçãos de Deus para o mundo e, no final da visita, ofereceu ao Santuário um ícone de Nossa Senhora.
…e o irmão do Presidente
Dias depois, foi a vez do deputado Petro Yushchenko, irmão mais velho
do Presidente da Ucrânia, visitar o recinto. Na mesma página do Livro de
Honra do Santuário em que o irmão tinha assinado, escreveu: “Glória a Deus
por tudo”. No livro que lhe foi oferecido, “Memórias da Irmã Lúcia” (também editado em ucraniano), o deputado pediu que, na publicação, lhe fosse
indicada a parte onde a vidente escreveu sobre a Rússia, e leu de imediato o
relato de terceira aparição de Nossa Senhora em Fátima. Pediu para ver a coroa que tem incrustada a bala oferecida pelo Papa João Paulo II e, na ocasião,
visitou a exposição “Fátima Luz e Paz”, patente no edifício da Reitoria. Na
sala dedicada a João Paulo II disse ter visitado recentemente o Vaticano e que,
na altura fez questão de ir à cripta onde está o corpo do falecido Papa.
Por várias vezes durante a visita-guiada aos espaços do Santuário, o deputado afirmou a sua preocupação pela situação na Geórgia e disse que a decisão de se deslocar a Fátima foi tomada precisamente pelo receio em relação à
instabilidade sentida naquela área geográfica. Petro Yushchenko ofereceu ao
Santuário de Fátima o livro “Churches of Ukraine”.
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Vida Eclesial
Presidente da Ucrânia peregrino de Fátima
. Santuário de Fátima .
Curso de música litúrgica
Com o patrocínio do Santuário de Fátima, numa organização do Serviço
Nacional de Música Sacra e do Secretariado Nacional de Liturgia iniciou-se,
nos dias 18 a 30 de Agosto de 2008, um Curso de Música Litúrgica, Destinado principalmente aos responsáveis vicariais, arciprestais ou paroquiais de
Música Sacra e Litúrgica e aos cantores, organistas e directores de coro que
trabalham nas comunidades.
Com a duração de três anos e realização nas duas últimas semanas de
Agosto, em dois dias a seguir ao Natal e em dois dias a seguir à Páscoa,
o Curso é estruturado e orientado pelo Serviço Nacional de Música Sacra,
presidido pelo Cónego Dr. António Ferreira dos Santos. Os anos lectivos
iniciar-se-ão em Agosto (segunda metade do mês) de 2008, 2009 e 2010,
e terminarão na segunda metade de Agosto de 2011. No final do Curso será
entregue um diploma.
O curso tem três departamentos: a) Cantores: cadeiras de tronco comum e
específicas; b) Directores de Coros: cadeiras de tronco comum e específicas;
c) Organistas: cadeiras de tronco comum e específicas. As condições gerais
para a admissão, nas suas variadas vertentes são: a) prova de bom ouvido e
boa voz, para todos e, sobretudo, para os Cantores; b) prova de formação
musical, de média dificuldade, para todos; c) prova de domínio de teclado
para os organistas; d) prova de capacidade para dirigir, para os directores de
Coros; e) aceitação de regulamento do Curso que, por ser intensivo, implica
trabalho, disciplina e amor à causa. Com um número “clausus” de alunos (40
Cantores, 30 Directores de Coros e 30 Organistas), o curso terá 13 professores: a) dois professores de formação musical; b) dois professores de Direcção
Coral; c) quatro professores de Órgão; d) dois professores de Canto; e) um
professor de Liturgia; f) um professor de História da Salvação; g) em professor de História da Música Sacra.
“Um dia em peregrinação”
Sem qualquer necessidade de marcação prévia por parte dos interessados,
decorreu este ano mais uma edição do programa “Um dia em peregrinação”,
iniciativa do Santuário de Fátima, desenvolvida pelo Serviço de Peregrinos
através da secção Acolhimento e Informações, que é retomada todos os anos,
de 16 de Julho a 15 de Setembro.
122 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Todos os dias e sempre com início marcado no “coração” do Santuário de
Fátima, a Capelinha das Aparições, o programa assume-se como um convite
aos peregrinos que pretendam conhecer de forma acompanhada os locais, a
história e a mensagem de Fátima.
Neste projecto, que para além da exibição de vídeos e da visita aos principais locais relacionados com as aparições, contempla também vários momentos de oração, o acompanhamento aos peregrinos estará uma vez mais a
cargo de um grupo de seminaristas.
PROGRAMA: De segunda a sexta-feira: 10h15 – Saudação a Nossa
Senhora, na Capelinha; 10h30 –Encontro (junto à Azinheira grande) e visita
ao Santuário; 12h00 – Rosário, na Capelinha; 12h30 – Missa, na Capelinha;
15h00 – Vídeo (por baixo da Colunata Norte); 16h00 – Partida (frente ao
Posto de Socorros), em autocarro; visita aos Valinhos e Aljustrel; 18h00
– Regresso, com passagem pela Rodoviária; 21h30 – Rosário, na Capelinha,
e procissão de velas. Sábado: 10h00 – Rosário, na Capelinha; 11h00 – Missa
internacional, na ISST; 12h15 – Encontro (frente à porta principal da Igreja
da Santíssima Trindade) e visita ao Santuário; 15h00 – Vídeo (por baixo da
Colunata Norte); 16h00 – Partida (frente ao Posto de Socorros), em autocarro; visita aos Valinhos e Aljustrel; 18h00 – Regresso, com passagem pela
Rodoviária; 21:30 – Rosário, na Capelinha, e procissão de velas.
Exposição “Fátima no mundo”
Inaugurada por ocasião do encerramento das celebrações dos 90 anos das
Aparições de Nossa Senhora em Fátima, a exposição “Fátima no mundo” foi
transferida para a Igreja da Santíssima Trindade, também ela inaugurada em
Outubro de 2007.
Esta mostra exibe, no espaço conhecido como “Convívio de Santo Agostinho”, no piso inferior da Igreja da Santíssima Trindade, um vasto conjunto
de fotografias de santuários, igrejas e capelas dedicados a Nossa Senhora de
Fátima nos cinco continentes. Conta também com um roteiro dos santuários e
igrejas vistas do espaço (imagens de satélite), a partir do Google Earth, onde
é possível identificar alguns dos templos expostos em fotografia.
As entradas são livres e permitem ao visitante conhecer de forma rápida e
resumida alguns dos inúmeros lugares dedicados a Nossa Senhora de Fátima,
e aperceber-se da grande difusão da Mensagem de Fátima. Desde a primeira
Catedral no mundo dedicada a Nossa Senhora de Fátima, a Sé Catedral Nossa
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Vida Eclesial
. Santuário de Fátima .
. Santuário de Fátima .
Senhora de Fátima Mãe da Paz, em Nampula, Moçambique, sagrada a 23
de Agosto de 1956, até outros locais menos prováveis como a Paróquia de
Nossa Senhora de Fátima, em Heredia, na Diocese San Jose de Costa Rica,
na Costa Rica, construída em 1996 após a destruição da anterior igreja pelos
sismos de 1990.
Fotograficamente, um dos grandes santuários expostos é o Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Zakopane, na Diocese de Kraków, na Polónia, cuja
construção teve início em 1987 e terminou em 1994. Em 1987, o Santo Padre
João Paulo II coroou a imagem de Nossa Senhora de Fátima aí venerada e,
em 7 de Junho de 1997, em viagem apostólica ao seu país natal, sagrou esta
igreja–santuário e proclamou que a sua sobrevivência ao atentado de 13 de
Maio de 1981 se deveu à intercessão da Virgem de Fátima: “A minha vida foi
salva por intercessão da Virgem de Fátima”. O P. Drozdek, amigo pessoal de
João Paulo II, foi o mentor e reitor.
Perfil do visitante de Fátima
No dia 27 de Setembro, Dia Mundial do Turismo, foi apresentado um
novo estudo sobre o perfil do visitante de Fátima, trabalho desenvolvido
pela Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL) e coordenado por
Graça Poças Santos, no âmbito do Projecto de Investigação Identidade(s) e
Diversidade(s) para a Cooperação Europeia dos Locais Maiores de Acolhimento (COESIMA) liderado a nível local pela Região de Turismo de Leiria/
Fátima. A autora afirma que o estudo verificou a existência de uma “considerável heterogeneidade” dos que visitam Fátima, considerando não estudar
o fenómeno do Turismo Religioso “por ser uma excentricidade, mas sim por
ser uma realidade em crescimento em todo o mundo”.
Dia Mundial das Missões
A 19 de Outubro, a Igreja Católica viveu o Dia Mundial das Missões. No
Santuário de Fátima, D. Augusto César, Bispo Emérito de Portalegre-Castelo
Branco, exortou os peregrinos a, tal como o apóstolo Paulo pediu aos Tessalonicenses, serem “firmes na esperança e fecundos na caridade, como servos
e apóstolos de Jesus Cristo”. O prelado sublinhou que a fé “não assenta em
teorias e promessas mas na pessoa de Jesus Cristo” e apelou aos cristãos para
que “saibamos cultivar a paz à nossa volta e rezemos por aqueles que não
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sabem ou não querem rezar”. Ainda na homilia da Eucaristia internacional
desse domingo, no Recinto de Oração, D. Augusto César falou sobre a sua
vida de missionário: «Fala-vos quem esteve 16 anos nas missões, e ainda lá
estaria hoje, se Aquele que me enviou para lá, não me enviasse de lá para cá.
As “missões” são o encanto da “missão”, na linha do bem-fazer, de partilhar
a sorte com os que mais precisam e de testemunhar a Jesus Cristo com entusiasmo e sem desistências. Em todas estas circunstâncias, devemos sentir o
conforto da presença de Deus; e, se quisermos um modelo concreto que nos
é proposto este ano, será S. Paulo, como gigante da fé».
Não basta ser cristão, reiterou o Bispo, “é preciso ser apóstolo de convicção e de vida”, “em minha casa e junto dos que vivem comigo… no emprego,
colaborando com todos e testemunhando a alegria de ser cristão… na paróquia, fazendo escola de comunhão e mostrando disponibilidade apostólica…
e, segundo os apelos de mais longe e a inspiração de Deus, partindo com
generosidade e com o coração agradecido e cheio de confiança”.
No final da homilia D. Augusto César rezou: “Nossa Senhora de Fátima
e Rainha das Missões… dai-nos muitos e santos missionários. E fazei-nos,
ainda, servos, apóstolos e missionários, ao jeito dos Pastorinhos. Acolhei,
também, as súplicas destes peregrinos aqui presentes e de muitos jovens indecisos. Tornai-os generosos, Ámen!”
Sistema de videovigilância no Santuário de Fátima
O Santuário de Fátima congratulou-se com a decisão do Ministério da
Administração Interna, com a assinatura do despacho que permitiu a activação do sistema de videovigilância nos espaços do Santuário, por considerar
que possibilitará aos peregrinos e visitantes maior segurança, tranquilidade
e liberdade.
O Santuário de Fátima é um local onde as pessoas se sentem seguras, por
ser espaço de oração e recolhimento, conhecido dentro e fora de fronteiras
como “cidade da paz”, e que pretende continuar a zelar pelo bem-estar e segurança dos cerca de cinco milhões de peregrinos e turistas que anualmente
o visitam.
Felizmente, não tem havido notícia de ocorrências graves, mesmo nas
grandes peregrinações que reúnem multidões vindas de vários lugares do
mundo (Em 2007, o Serviço de Peregrinos registou grupos de 74 países). De
acordo com os dados oficiais, mesmo os pequenos furtos vêm diminuindo.
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Vida Eclesial
. Santuário de Fátima .
. Santuário de Fátima .
Reconhecendo e agradecendo o importante trabalho das forças policiais
e de segurança nos espaços do Santuário, no tocante à segurança colectiva e
ao respeito dos direitos individuais, a instituição acredita que a activação do
sistema de videovigilância será uma mais valia para todos.
Delegação do Iraque visita Fátima
Liderada por Ammar Al-Hakim, vice-presidente do Conselho Superior
Islâmico e líder político da actual coligação no governo do Iraque, uma delegação daquele país esteve no Santuário de Fátima em Outubro deste ano.
Para além de outros membros do Governo iraquiano, a missão integrou Nazih
Radwan, da Direcção do Fórum Luso Árabe, e o Embaixador do Iraque em
Portugal, Mowafak Maroki.
À chegada, o grupo foi recebido, no edifício da Reitoria, pelo Reitor
do Santuário de Fátima, Padre Virgílio Antunes. Dirigindo-se ao grupo,
o Reitor afirmou ser “para nós uma grande honra receber-vos aqui no
Santuário de Fátima”. De seguida, resumiu a mensagem e a história do
santuário.
A paz foi o tema fundamental do breve discurso de Ammar Al-Hakim,
que começou por agradecer ao Santuário de Fátima o acolhimento caloroso.
Sobre a situação no Iraque disse que “milagres estão a acontecer nas mãos
de boas pessoas” e acrescentou que também a religião e a cultura islâmica
procuram caminhos de entendimento para a paz no mundo.
Em visita oficial a Portugal, Ammar Al-Hakim fez questão de visitar Fátima, segundo as suas palavras, porque “no Iraque ouvimos muito falar sobre
esta cidade”.
O grupo visitou a Capelinha das Aparições, onde Ammar Al-Hakim esteve alguns minutos em silêncio a orar, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário
e as casas de Francisco e Jacinta, e de Lúcia, em Aljustrel.
Ciclo de conferências sobre São Paulo
O Santuário de Fátima leva a efeito, de Novembro de 2008 a Abril de
2009, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, um Ciclo de Conferências
sobre S. Paulo, para o qual foram convidados vários especialistas. Cada sessão, sempre aos domingos e com carácter mensal, será enriquecida com um
concerto de órgão.  
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As conferências dirigem-se a todos os que venham a interessar-se pela
iniciativa e corresponde ao desejo da Conferência Episcopal Portuguesa na
Nota Pastoral “Ano Paulino, uma proposta pastoral”.
Programa do ciclo:
• 9 de Novembro, 16h00 – “A mensagem da Irmã Lúcia (e dos Pastorinhos) à luz de São Paulo”, pelo Doutor José Carlos Carvalho.
• 14 de Dezembro, 16h00 – “S. Paulo - Uma vida ao serviço do Evangelho”, pelo Padre Doutor Gonçalo Teixeira Diniz.
• 11 de Janeiro, 16h00 – “A vida nova em Cristo”, pelo Padre Doutor
Vítor Leitão Coutinho.
• 8 de Fevereiro, 16h00 – “As comunidades cristãs de São Paulo”, por D.
António Rocha Couto.
• 8 de Março, 16h00 – “São Paulo e a Nova Evangelização”, por D. Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira.
• 19 de Abril, 16h00 – “As grandes descobertas de S. Paulo: Cristo, a
Igreja e a Graça”, pelo Padre Doutor Jacinto Farias.
Site do Santuário de Fátima em polaco
A página oficial do Santuário de Fátima na Internet – www.fatima.pt
– está também disponível em polaco. Esta iniciativa pretende dar resposta às
solicitações de peregrinos de outros idiomas, neste caso do Polaco, que desejam assim estar mais intimamente ligados ao Santuário de Nossa Senhora de
Fátima, em Portugal.
Recorde-se que, em 13 de Maio de 2004, o Santuário remodelou a sua
página oficial na Internet, na altura em dois idiomas – Português e Inglês.
Em Abril de 2007 entrou on-line a edição em Italiano e, por ocasião da Peregrinação Aniversária de Outubro 2007, no encerramento dos 90 anos das
aparições de Nossa Senhora, a página disponibilizou também uma versão em
Espanhol.
Em resposta ao desenvolvimento que o site foi conhecendo, no Verão
de 2008 procedeu-se a nova remodelação gráfica e, no que diz respeito ao
Arquivo Multimédia, à inserção de novos meios ao serviço dos internautas,
com a disponibilização de ficheiros áudio e vídeo, que permitem o acesso a
homilias, entrevistas, pequenas reportagens e vídeos.
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Vida Eclesial
. Santuário de Fátima .
. serviços e movimentos .
Seminário Diocesano de Leiria
Começado a construir em 10 de Junho de 1962, nos terrenos da Quinta
da Bela Vista, o actual edifício do Seminário Diocesano abriu as portas a 2
de Novembro de 1965 ainda com obras em curso. A inauguração oficial só
aconteceria no dia 22 de Maio de 1968.
Com características únicas, era um dos edifícios mais notáveis da cidade
e do país. Numa área coberta de 19070 m2, tinha capacidade para 250 alunos
em 3 sectores (secções) diferentes, Seminário Menor, Seminário Médio e
Seminário Maior, cada um com capela, refeitório, salas de aulas, quartos e
zonas de recreio próprios. Em comum, havia ainda outras salas, igreja, ginásio, aula magna, enfermaria, biblioteca, museu e outros espaços de serviço.
Além disso, havia também uma zona de quartos e habitação para empregados
e outra para lar de sacerdotes. Na sua abertura, frequentavam o Seminário
174 alunos.
Na homilia proferida no dia da inauguração oficial, o senhor bispo D.
João Pereira Venâncio dedicou a nova igreja e todo o edifício ao patrocínio de
Nossa Senhora de Fátima. E D. Domingos de Pinho Brandão, bispo auxiliar
da diocese, dizia em conferência proferida na mesma ocasião que “o Seminário-edifício é obra de muitos e muitas coisas, desde o arquitecto à empresa
construtora, desde a oração à oferta material, da pregação do sacerdote ao
entusiasmo dos fiéis, desde o pequeno subsídio à oferta avultada (…) Tantos
nomes, tanta dedicação”.
Com o passar dos anos, o edifício foi sendo usado cada vez mais para actividades diocesanos que não eram especificamente de formação e preparação
sacerdotal, ao mesmo tempo que ia aumentando a área desabitada, por escassez de alunos. Foram assim surgindo adaptações e ajustes físicos, ao sabor
das necessidades. Actualmente, o Seminário alberga uma escassa dezena de
alunos provenientes de diferentes dioceses.
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Vida Eclesial
As obras no edifício diocesano
. serviços e movimentos .
Estes e outros condicionalismos levaram a equacionar uma remodelação
no edifício que, sem esquecer a sua especificidade como casa de formação
e preparação de candidatos ao sacerdócio, permita acorrer também às necessidades da reorganização pastoral da diocese. Depois de propostas de
diferentes equipas, longamente discutidas, chegou-se ao projecto que está em
execução há cerca de um mês.
Com esta remodelação, o Seminário que é o coração da Diocese por cuidar da formação dos candidatos ao sacerdócio, sê-lo-á por mais um motivo:
sem deixar aquela sua função prioritária, será também espaço de formação
laical (Casa de Retiros) e sede dos organismos diocesanos (Centro Pastoral).
A 1ª fase das obras abrange a Comunidade do Seminário e a Casa de
Retiros e Formação; a 2ª fase abrange o Centro Pastoral e os grandes espaços
do edifício; a 3ª fase, a Residência Sacerdotal e as salas comuns a todas as
valências.
A primeira fase, já em execução, permitirá melhorar os espaços da Comunidade do Seminário, com 25 quartos que poderão triplicar, e criar uma Casa
de Retiros/Formação com 43 quartos que podem duplicar.
O esforço financeiro ultrapassa as possibilidades do Seminário e da
Diocese! Precisamos da ajuda de todas as comunidades cristãs e de cada
um dos seus membros. Para o efeito, sugerimos que, durante as obras, cada
comunidade organize, anualmente, uma festa de angariação de fundos e propomos para esta festa dois momentos principais: um tempo de oração pelas
vocações, em especial sacerdotais, e um convívio cuja receita reverta a favor
das obras do nosso Seminário.
Pe. Armindo Janeiro (reitor)
Comissão de obras e acompanhamento: Padre Manuel Armindo Pereira
Janeiro (Reitor do Seminário e Coordenador das obras); Padre Jorge
Manuel Faria Guarda (Vigário Geral); Padre Cristiano João Rodrigues
Saraiva (Ecónomo Diocesano); Padre Pedro Miguel Ferreira Viva
(Ecónomo do Seminário); Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca;
Padre António Lopes de Sousa.
Equipa Diocesana de angariação de fundos: P. Armindo Janeiro; P. Jorge
Guarda; Jacinta Santos; Joaquim Mexia; Joaquim Silva; Júlio Martins;
Manuel Valentim; Vítor Joaquim.
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. serviços e movimentos .
Serviço de Animação Vocacional
O acompanhamento personalizado faz o jovem entender o seu caminho e
encoraja-o a responder positivamente ao chamamento de Cristo para seguir
uma vocação concreta. Este foi um dos ensinamentos dados no encontro de
formação sobre esta relação de ajuda, que teve lugar no Seminário de Leiria,
no dia 22 de Novembro. Quase duas dezenas de sacerdotes, religiosas e leigos, participaram nesta iniciativa do Serviço de Animação Vocacional cujo
objectivo é sensibilizar para que cada vez mais pessoas se tornem disponíveis
e capazes de ajudar outros na sua caminhada de fé e da vocação.
Partindo da sua experiência de acompanhamento vocacional de jovens,
a irmã Maria Amélia Costa, franciscana da Imaculada Conceição, observou
que eles estão “numa procura impressionante de Deus” e é preciso ir ao seu
encontro onde eles estão. Encontrar-se com eles é, em primeiro lugar, escutar
cada um com o coração e procurar conhecê-lo com grande compreensão e
paciência. Quem faz caminho com um jovem para o ajudar espiritualmente,
também aprende e é enriquecido por ele.
Em diálogo e partilha mencionaram-se oportunidades que a catequese dos
adolescentes, os grupos de jovens e mesmo a vida das famílias podem constituir para levar os mais novos a conhecerem a ajuda a que podem recorrer.
Por seu lado, a atenção e zelo dos educadores, animadores, sacerdotes e pais
não deixarão perder as ocasiões para um diálogo oportuno e para proporem a
solicitação de um acompanhamento espiritual de alguém de confiança.
A formação, tal como a anterior realizada em Junho passado, concretiza as
orientações pastorais do Bispo diocesano que tem sublinhado a “fundamental
importância” da “chamada direcção ou orientação espiritual”, “forma privilegiada de acompanhamento personalizado e de discernimento vocacional”.
Grupo Vocacional de Santo Agostinho
O Bispo de Leiria-Fátima propõe, uma vez mais, aos jovens cristãos, rapazes e raparigas, dos 20 aos 30 anos, abertos ao chamamento de Deus, um
itinerário formativo designado por Grupo Vocacional Santo Agostinho. “É
uma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é ajudar a buscar a vontade
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Vida Eclesial
“Acompanhar é começar por escutar”
. serviços e movimentos .
de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do projecto de vida
para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um diz respeito”.
O percurso consta de um encontro mensal, durante seis meses, de Fevereiro a
Julho de 2009, em Fátima. Haverá também um retiro espiritual.
A equipa de apoio é constituída por pessoas de diferentes vocações ligadas aos serviços diocesanos de pastoral juvenil e de animação vocacional. O
desdobrável com a proposta de D. António Marto, as informações gerais e a
ficha de inscrição encontram-se disponíveis no site da Diocese: www.leiriafatima.pt na secção “Notícias”, de onde pode ser descarregado. Quem desejar
mais informações pode obtê-las junto de uma das seguintes pessoas: Irª Ângela Coelho (914 199 234), Padre Gonçalo Diniz (960 194 507), Padre Jorge
Guarda (962 445 325) e Filomena Carvalho (962 550 764).
Este grupo vocacional teve já dois percursos nos anos passados, com
cerca de 30 jovens, alguns dos quais já clarificaram a sua vocação e tomaram
decisões, enquanto outros continuam em busca a melhor maneira de se empenharem na Igreja e na sociedade.
Encontro de Animadores Vocacionais
Subindo a escadaria do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, sob
o impulso dos textos de São Paulo, os animadores vocacionais paroquiais
da vigararia de Leiria reuniram-se na noite de 10 de Dezembro para oração,
formação e convívio. A organização foi da Equipa Vicarial de Animadores
Vocacionais, com apoio respectivo do Serviço Diocesano. Estavam cinco das
nove paróquias da Vigararia.
No momento formativo, acolheram-se as orientações do bispo diocesano
sobre a finalidade deste serviço: “preparar nas paróquias um terreno fértil
para que a acção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ouvido e
seguido”. Ouviram depois o relato de uma experiência de caminhada na
constituição e definição de objectivos, e primeiras iniciativas de uma equipa
paroquial das vocações. No diálogo, focaram-se algumas dificuldades e uma
ou outra acção já desenvolvida. Os animadores viram reconhecida e fortalecida a sua missão.
Este esforço de Leiria é sinal de que o novo “ministério da animação
vocacional” se vai desenvolvendo nas comunidades cristãs. Já se avança, embora lentamente. A criação de um Grupo de Animadores Vocacionais em cada
paróquia ou vigararia faz parte das linhas de acção apresentadas pelo nosso
Bispo na sua carta pastoral de 2006 e reafirmadas na de 2007.
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. serviços e movimentos .
Pré-Seminário
O Pré-Seminário é um serviço da Diocese de Leiria-Fátima que pretende
proporcionar aos adolescentes e jovens da Diocese um espaço de discernimento e acompanhamento no seu crescimento vocacional e de fé.
Procura ajudar a criar na Diocese uma cultura da vocação ao sacerdócio.
Destina-se a todos os rapazes a partir dos 12 anos (até qualquer idade)
que apresentem sinais de abertura ao dom da vocação sacerdotal e estejam
disponíveis para descobrir e deixar entrar esse dom na sua vida.
Actividades programadas para o ano lectivo 2008/09:
08.Novembro.08: Encontro de Convocação
22/23.Novembro.08: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos
06.Dezembro.08: Primeiro Sábado
20/21.Dezembro.08: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos
03.Janeiro.08: Primeiro Sábado
17/18.Janeiro.09: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos
07.Fevereiro.09: Primeiro Sábado
21.Fevereiro.09: Recolecção para o Grupo dos Mais Velhos
28/29.Março.09: Peregrinação Diocesana
09.Abril.09: Missa Crismal
02.Maio.09: Primeiro Sábado
16/17 Maio.09: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos
06 Junho.09; Primeiro Sábado
6/7/8 Julho.09: Actividade de Verão.
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Vida Eclesial
Alguém continua a chamar-te
. serviços e movimentos .
Serviço Diocesano de Catequese
“A Bíblia na catequese e na vida”
Encontro Diocesano de Catequistas
O ginásio do seminário ficou praticamente cheio com cerca de 400 catequistas que responderam ao convite. Muitos vieram de Bíblia na mão para se
sintonizarem com o Sínodo dos Bispos, sobre a Palavra de Deus, que, nesse
5 de Outubro, se iniciava em Roma, e corresponderem à dinâmica do Ano
Paulino e, nessa manhã do Dia da Igreja Diocesana, se unirem na perspectiva
comum do ano pastoral: “Ir ao coração da Fé – Formar para uma Fé adulta”.
O Pe. Paulo Malícia, director do Secretariado da Catequese de Lisboa, começou por aprofundar a importância da Palavra de Deus na catequese, referiu
as várias formas de contacto com a Bíblia e ajudou a ler um texto bíblico,
fornecendo um esquema de leitura desde a pré-compreensão, à exegese do
texto e sua actualização existencial e ao compromisso para a vida. Salientou
ainda a necessidade de compreender a mensagem como uma boa notícia, quer
para o catequista quer para o catequizando.
Alguns aspectos práticos foram também referidos: a necessidade de habilitar as crianças e adolescentes para o contacto com a Bíblia, a importância de
um «cantinho da Bíblia», nas salas de catequese, para que os catequizandos
compreendam desde cedo que é um livro diferente, a leitura directa da Bíblia
nas catequeses e a necessidade de os catequistas trabalharem os textos bíblicos em casa.
Seguiu-se uma parte prática de aplicação do que foi aprofundado. Num
momento de partilha e oração, 30 grupos, espalhados pelo seminário, procuraram concretizar o esquema de leitura de um texto bíblico.
Após o plenário dos grupos, o Encontro terminou com um apelo à paixão
pela Palavra de Deus que fará de cada um seu portador. A tarde foi preenchida
com a Assembleia Diocesana.
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. serviços e movimentos .
Em plena época de início das catequeses paroquiais, apresentamos um
sítio, www.catequeseparoquial.net, para apoio aos catequistas durante todo
o ano. É um espaço em que se disponibiliza uma grande quantidade de subsídios para a apresentação e desenvolvimento dos temas dos diferentes anos
catequéticos, se incentiva a partilha entre catequistas, e se expõe um largo
repositório de textos e apresentações multimédia.
Na página inicial encontram-se alguns pequenos artigos em destaque. No
item “catequese”, há documentos importantes sobre os 10 anos do itinerário,
com temáticas adequadas. Se pretendemos numa reunião de pais, saber para
que serve a catequese, há um esquema apropriado em “reuniões de pais”. Na
opção “catequistas” apresentam-se temas de formação própria e de pedagogia.
Também não foi esquecida a catequese de adultos (informações em “adultos”).
Em “dinâmicas”, encontram-se várias formas de desenvolvimento e explanação dos temas. Por último, a ideia do blog, neste momento desactualizado, é
permitir um contacto permanente, directo e regular entre os visitantes.
Fica a sugestão. Quem organiza reuniões de pais, sessões de catequese,
espaços de oração, dinâmicas e jogos de grupo… pode disponibilizá-los para
todos colocando-os aqui.
Campanha para o Advento 2008
“Postais de Natal”
O Serviço Diocesano de Catequese apresentou uma proposta de caminhada desde o início do Advento até ao final do Natal. É uma campanha para as
catequeses da infância e adolescência que, sob o imaginário «Postais de Natal», contribui para uma aproximação à Bíblia, na linha da formação proposta
pelo nosso Bispo para este ano pastoral.
Recebendo um postal de Natal por semana, cada criança e adolescente
acolhe a Palavra de Deus sobre o mistério da Encarnação de Jesus Cristo,
celebrado na liturgia, e será convidado a partilhar a sua fé com os outros
para que a manifestação do Senhor (Epifania) chegue a toda a humanidade. A
completar a vertente missionária, há um convite para uma recolha de fundos
para a Infância Missionária e de catecismos para a missão da Diocese no
Gungo (Angola).
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Vida Eclesial
Catequese com espaço na internet
. serviços e movimentos .
Programa de actividades de 2008-2009
No mês de Setembro: 9: Reunião da Equipa; 16: Exames da 2ª Época;
23: Reunião da Equipa; 30: Abertura da Escola Diocesana «Razões da Esperança».
Outubro: 5: Encontro Diocesano de Catequistas; 7: 1ª Escola Diocesana
«Razões da Esperança»; 14: Reunião da Equipa; 21: 2ª Escola Diocesana
«Razões da Esperança»; 25: Encontro de Formação sobre os novos catecismos.
Novembro: 4: 3ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 11: Reunião
da Equipa; 18: 4ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 19: Reunião
com os Padres Responsáveis Vicariais da Catequese.
Dezembro: 2: 5ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 9: Reunião da
Equipa; 16: 6ª Escola Diocesana «Razões da Esperança».
Janeiro: 6: 7ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 13: Reunião da
Equipa; 20: 8ª Escola Diocesana «Razões da Esperança».
Fevereiro: 3: 9ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 10: Reunião
da Equipa; 17: 10ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 21 – 22: Encontro Interdiocesano – Catequistas da Zona Centro.
Março: 3: 11ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 10: Reunião de
Equipa; 13-15: Retiro Diocesano de catequistas; 17: 12ª Escola Diocesana
«Razões da Esperança»; 31: 13ª Escola Diocesana «Razões da Esperança».
Abril: 14-17. Encontro nacional dos Secretariados Diocesanos; 21: 14ª
Escola Diocesana «Razões da Esperança».
Maio: 5: 15ª Escola Diocesana «Razões da Esperança», 12: Reunião da
Equipa, 19: 16º escola Diocesana «Razões da Esperança».
Junho: 2: Encerramento da Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 9:
Reunião da Equipa.
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. serviços e movimentos .
Serviço Diocesano da Juventude
Numa leitura atenta da situação da Diocese no que diz respeito à pastoral juvenil, reconhece-se uma urgência no campo da formação de animadores de jovens. Para dar resposta a esta necessidade, e de acordo com as prioridades deste
ano pastoral a nível diocesano, o Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ)
decidiu fazer uma aposta séria na formação de animadores, aberta também aos
catequistas dos últimos anos de catequese da adolescência (9º e 10º anos).
Esta formação destina-se a todas as pessoas que já trabalham no âmbito
da pastoral juvenil ou que possam vir a fazê-lo, sobretudo na animação de
grupos de jovens, tanto no espaço paroquial como no seio de movimentos
eclesiais e aos catequistas ou futuros catequistas dos 9º e 10º anos da catequese. Os participantes devem ter pelo menos 20 anos.
Os objectivos desta equipa são capacitar os destinatários para o desempenho da missão de animador, ajudar a aproximar o projecto de Jesus Cristo
da realidade actual da juventude, aprofundar a animação de jovens como
educação na fé e para a fé, promover o gosto pelo trabalho de animação com
os jovens, contribuir para a vivência da própria vocação como animador de
jovens e apontar caminhos práticos no relacionamento com os jovens e no
desenrolar da dinâmica de grupo.
A formação decorrerá em duas modalidades alternativas: a) De Outubro
a Maio, quinzenalmente, inserida na Escola Razões da Esperança (às terçasfeiras no Seminário de Leiria): na primeira hora (das 21h00 às 21h45), os
participantes assistem à formação teológica geral proposta; na segunda hora
(das 22h00 às 22h45), tem lugar a formação “4x4” propriamente dita; b)
Durante quatro sábados, em sessões de quatro horas (das 09h00 às 13h00),
numa frequência quinzenal. Esta modalidade realiza-se três vezes ao ano, em
lugares distintos da Diocese, para facilitar o mais possível a participação de
todos os interessados: Em Leiria (Salão da Quinta da Matinha): 18 de Outubro; 8 e 22 de Novembro; 13 de Dezembro. Na Bajouca: 17 e 31 de Janeiro;
14 e 28 de Fevereiro. Em Fátima (Salão da Igreja Paroquial): 18 de Abril; 9,
23 e 30 de Maio. Seguir-se-á como linha orientadora o “Curso de Iniciação
para Animadores de Pastoral Juvenil”, completado e adaptado de acordo com
os objectivos e destinatários.
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Vida Eclesial
“4x4” – Formação de animadores juvenis
. serviços e movimentos .
O I Módulo – Pastoral juvenil e dinâmica de grupo – tem quatro temas:
A Pastoral Juvenil, A animação, O Grupo na Pastoral Juvenil e Dinâmica de
grupo. O II Módulo – O animador – tem como temas: A vocação, A espiritualidade do animador, A maturidade do animador e O animador – mestre e
acompanhante. O III Módulo – A animação do jovem: processo educativo
– apresenta os seguintes temas: A dimensão da identidade, A dimensão relacional, A dimensão social e A dimensão espiritual. O último e IV Módulo
– Metodologias – visa os seguintes temas: Planificação e avaliação (ou:
Avaliação e planificação), Dimensões da animação, Dinâmicas de grupo e
Expressão e linguagem.
As inscrições deverão ser enviadas para: [email protected].
Leiria-Fátima vence festival nacional
“Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (Act 1, 8). Este foi o tema do VII Festival Nacional Jovem
da Canção Mensagem que se realizou no dia 1 de Dezembro de 2008, pelas
15h00, no pavilhão multi-usos em Coimbra. Participaram 13 das 19 dioceses
do país e o Secretariado Diocesano Pastoral Juvenil (SDPJ) de Coimbra, em
consonância com todos os SDPJ, foi o responsável pela organização. A Diocese Leiria/Fátima esteve muito bem representada.
O grupo de Leiria-Fátima, ANIMAchorus – Cortes Leiria, foi o grande
vencedor. Além do primeiro prémio, ainda obtiveram o de melhor música e,
o mais importante, segundo eles, o prémio Ser, atribuído pelos colegas concorrentes, o que demonstra grande carinho pelos nossos participantes. Isto
guarda-se no coração!
De facto, o nosso grupo teve uma presença muito forte ao longo destes
dias. Predominou a boa disposição e, acima de tudo, o companheirismo.
Sempre activos, na Eucaristia, nas orações, na catequese, no serão, por onde
andaram cativaram sorrisos! Foram merecidos vencedores, pela qualidade da
música e pelas pessoas que são, humildes, simpáticos, divertidos, trabalhadores e cheios de força (do Espírito Santo).
ANIMAchorus, em Latim, Coro da Alma, em Português, ó o nome do
grupo constituído por sete elementos que partilham um sentimento comum e
a música! Sentem também o orgulho de poderem, através da música, “espalhar a palavra que cada uma traz (…) sobre Deus, e a união de todos num só.”
(Fábio Ferreira – teclista, palhaço e muito amigo de todos).
138 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
O programa teve início no dia 30 de Novembro, com o acolhimento às
10h00, seguido da oração da manhã. Primeiro encontro de todos os concorrentes, primeiro e único, diria, tendo em conta que, a partir de então, os dois
dias se viveram em plena comunhão, sem mais separação. “O festival foi
uma experiência única! Já tinha começado a nível regional e a atitude foi
sempre a mesma, com a diversão, o convívio e a mensagem a orientarem a
nossa caminhada! Ainda agora terminou, e as saudades já se fazem sentir…”
(Joana Bento – voz).
Seguimos para o autocarro panorâmico, em passeio por Coimbra, ao
sabor do vento, chuva e muito frio! Almoço e, durante a tarde, os testes de
som quando cada grupo realizou alguns ensaios sob o olhar atento do júri
composto por um elemento representante dos SDPJ. Às 19h00 fomos para a
Igreja de São José onde participámos na Eucaristia presidida por D. Serafim,
bispo emérito da nossa diocese, e animada pelos concorrentes do festival.
Jantámos e seguimos logo para um serão muito alegre, entre danças, jogos e
muita, muita união e companheirismo. “Foi simplesmente fantástico, cheio
de alegria e diversão! Adorei estar lá, principalmente no que toca às amizades!” (Marcelo Andrade – percussão).
No grande dia, iniciámos a manhã com uma catequese esclarecedora e
dinâmica. Já se sentia a ânsia e o nervosismo mas predominou a união. De
fora, ninguém percebia quem era de cada diocese, não havia grupos, antes um
só, de amigos a partilharem uma única experiência de fé e cheios da força do
Espírito Santo. “Senti uma imensa alegria, felicidade, companheirismo e paz
interior, uma vontade de levar a música e a fé pela terra fora, de levar esta
alegria a todos ”(Helder Brites – baixo)
O grande momento chegou, mas nunca se sentiu espírito de competição,
antes de união. Todos deram o seu melhor e todos se apoiaram mutuamente,
numa vibração muito positiva e aconchegante. Afinal todos já eram vencedores.
Melhor do que ninguém, só eles podem descrever o que se viveu. “Existem momentos que nos marcam e que nunca mais esqueceremos como os de
convívio, alegria, paz, fé, partilha, loucura, conhecimento, amor e muita emoção, quando todos fomos um durante um festival onde acolhemos o Espírito
Santo! (…). Obrigado pela oportunidade de levar a mensagem a todos como
canção e a honra de sermos ainda mais felizes! Ao grupo de 7 elementos,
mais um, a nossa júri, e às nossas famílias e amigos, que estiveram sempre a
torcer por nós, muito obrigado!” (Marco Fernandes – voz).
Catarina Bagagem
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Vida Eclesial
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Comissão Diocesana Justiça e Paz
Colóquio “Direitos Humanos:
limites e potencialidades no contexto actual”
Ocorreu em 10 de Dezembro de 2008 o sexagésimo aniversário da adopção e proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela
Assembleia-geral da ONU. A declaração defende, logo no seu preâmbulo, a
dignidade da pessoa humana e os seus direitos, iguais e inalienáveis, a justiça
e a paz no mundo, a liberdade religiosa e a libertação de todos os homens do
terror e da miséria, a protecção dos direitos humanos através do estado de
direito, a igualdade de direitos de homens e mulheres, numa palavra, a instauração de melhores condições de vida, dentro de uma liberdade mais ampla.
Sabendo o enorme contributo que esta carta ética universal tem prestado
ao longo destes anos ao serviço do homem, sabendo também as enormes
limitações a que ainda hoje está sujeita uma enorme multidão de pessoas
no nosso país e no mundo, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, na linha da
Doutrina Social da Igreja e tendo sempre presente a referida Declaração da
ONU, tem vindo a promover uma série de colóquios sobre direitos humanos
e realidades actuais.
A mesma Comissão Diocesana quis assinalar o aniversário da Declaração
Universal, com a realização, a 11 de Dezembro, data quase coincidente, de
mais um colóquio no qual se fez o ponto da promoção dos direitos humanos,
tendo em conta situações como a que se refere à realização do Estado de Direito e à matéria candente das relações entre a ética e a vida política.
Para tanto convidou uma autoridade eminente da Igreja Católica neste
domínio, o Sr. D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e Presidente da
Comissão Episcopal de Pastoral Social, que versou o tema “Direitos Humanos: limites e potencialidades no contexto actual”.
“Direitos humanos e Vida cristã” – Texto de D. Carlos Azevedo
Acedendo ao pedido da Comissão Diocesana Justiça e Paz, que desejava
anunciar o 4º colóquio sobre Direitos humanos e Realidades actuais, D. Carlos Azevedo disponibilizou o seguinte texto sobre “Direito humanos e Vida
cristã”, que foi publicado alguns dias antes, na imprensa diocesana:
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Um grande avanço na civilização representa a sistematização e formulação jurídica desse critério maior, resultante da simples condição humana,
da defesa da sua dignidade. Hoje parece-nos incrível como é que tão tardiamente (1948) se tenha chegado à proclamação da Declaração Universal dos
Direitos humanos, que afirma no artigo primeiro: “Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir uns com os outros com espírito de fraternidade”.
Continua contudo a ser urgente esclarecer o ensino da Igreja sobre a matéria. Faz parte da missão essencial da Igreja proclamar a dignidade do ser
humano. As razões para esta identificação são profundas e próprias. Para
os cristãos, cada ser humano é criado à imagem de Deus, amado por Deus
e salvo por Cristo.
É por isso imperativo para os cristãos trabalhar com todas as energias e
sempre para valorizar tudo o que salvaguarde e promova a dignidade humana, recebida do Criador. Aqui os cristãos unem-se a muitos outros irmanados
na construção da fraternidade humana.
Muitos e significativos passos têm sido dados para garantir a aplicação
desses direitos nas decisões dos governos e nas relações internacionais.
Constituem talvez a página mais bela da humanidade no século XX que, em
contraponto, tão dolorosamente sofreu atentados graves contra o espírito
patente na Declaração.
Existe ainda muito trabalho pedagógico para transmitir às novas gerações este património, de modo a ser preocupação comum de todos e não assunto de especialistas. Acontecem ainda limites postos a uma efectiva prática
de todos os direitos: direito á vida, à liberdade e à segurança pessoal, à justiça, ao respeito pela vida privada e familiar, domicílio e correspondência;
à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; à liberdade de opinião e de expressão, de reunião e associação; à educação e à participação
na vida cultural, à escolha de residência, ao benefício de asilo, de casar e
constituir família, à participação na vida pública, ao trabalho sem discriminação, ao repouso a ao tempo livre, direito a não ser pobre.
Aprofundar as nossas motivações cristãs, perceber a fundamentação
que inspira a nossa luta pelos direitos humanos é serviço essencial para os
nossos dias. A base da nossa acção necessita de muita solidez perante o pluralismo tendencioso que desvaloriza os critérios universais de valores.
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Vida Eclesial
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Serviço de Animação Missionária
Congresso Missionário 2008
Convocados pelo Espírito, por meio dos pastores da Igreja em Portugal,
reuniram-se em Fátima, de 3 a 7 de Setembro, oito centenas de participantes
portugueses e representantes de diversos países. O dia 6 foi enriquecido com
a presença e a juventude do voluntariado missionário.
Dez anos após o Ano Missionário de 1998, o Congresso celebrou, reflectiu e apontou caminhos de futuro a partir do tema: “No encontro com Cristo
vivo, chamados e enviados para a Missão em Portugal e no mundo”, e sob o
lema: “Portugal, rasga horizontes, vive a Missão”.
Linhas de força
Deus, Trindade de Amor, envia a humanidade toda a fazer do outro um
irmão. A Missão é de Deus. Por isso, ao tomar parte na vida de Cristo, o baptizado, é impelido a ser contemplativo e servo da sua Palavra.
A Missão de cada cristão é tarefa indelegável. Esta concretiza-se no espaço e no tempo, conhecendo e amando aqueles a quem se é enviado. A vivência comunitária da fé em família, na paróquia, na diocese ou comunidades de
vida consagrada, é o testemunho mais credível do anúncio de Deus-Amor.
A Santidade (sair de si por amor) e a Missão (ser enviado por Deus ao diferente) são o húmus vital de todo o cristão e de todas as actividades pastorais.
Com o Concílio Vaticano II (1965), assistimos a uma nova compreensão
da Missão. Cada um de nós é, simultaneamente, enviado e destinatário da
evangelização. O Espírito é o protagonista da Missão e a Igreja Local o seu
sujeito de encarnação e vivência. Nela e a partir dela, surgem e actuam todas
as vocações missionárias laicais, consagradas e sacerdotais. O despertar do
laicado para a Missão é hoje um dos sinais dos tempos.
Em pleno Ano Paulino, o Apóstolo dos gentios, com o seu itinerário de
conversão e missão, é para nós modelo a conhecer melhor e a seguir no zelo
e na urgência de evangelizar.
Para além de momento privilegiado de reflexão e partilha, o Congresso
foi também uma experiência de comunhão na dor com os nossos irmãos perseguidos na Índia e em outras situações de falta de liberdade religiosa.
142 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Propostas
Sentimos o coração a arder e desejamos que toda esta riqueza possa
contribuir para a Igreja em Portugal viver mais em Missão. Por isso, como
Congressistas, propomos que:  
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promova uma melhor coordenação e integração das diversas áreas pastorais para todas serem fecundadas pelo dinamismo missionário e anseio de santidade.
A CEP, partindo do Congresso Missionário e do Ano Paulino, avive a
vocação missionária de todos os cristãos e prepare um documento-base para
a Missão em Portugal.
Cada Igreja Local incentive a criação de estruturas e dinâmicas que demonstrem a consciência e urgência do anúncio do Evangelho: Secretariado
diocesano missionário, grupos missionários paroquiais, semanas de animação
missionária, geminações, voluntariado, sacerdotes “fidei Donum”, institutos
de vida consagrada...
Cada diocese promova, oportunamente, um Congresso Missionário Diocesano.
Promova-se formação missionária às crianças, jovens, adultos, seminaristas, consagrados e sacerdotes, de acordo com o novo paradigma de Missão.
Fomente-se, com espírito de solidariedade e subsidiariedade, a comunhão
e a partilha de fé, de pessoas - numa dinâmica de partir e receber - e de bens
entre as diversas Igrejas.
Ajude-se cada cristão a crescer até à estatura de Cristo, Sacerdote que
celebra a liturgia e oferece a sua vida pela salvação de todos, Profeta que
proclama a Palavra de Deus e denuncia as injustiças e contravalores da sua
sociedade e cultura, e Rei que serve com caridade os mais desprotegidos e
excluídos.
Num mundo global e em mudança, à procura de sucesso mas infeliz, queremos viver em Missão e anunciar Cristo Vivo ao mundo, sendo profetas da
esperança e rasgando novos horizontes.
Fátima, 7 de Setembro de 2008
Os participantes no congresso missionário nacional
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Vida Eclesial
. serviços e movimentos .
. serviços e movimentos .
Cáritas Diocesana
Por Ambrósio Santos, Presidente da Cáritas Diocesana
Apontamentos de Verão
Não tem férias, a solidariedade genuína e verdadeira. No frenesim dos
dias de verão, como nos dias sombrios do Inverno mais agreste. O tempo de
precisar não conhece hora marcada, e o de estar disponível não escolhe estações nem dias, porque é sempre tempo de edificar, de ajudar e de construir.
E é mesmo nos aprazíveis meses do verão que ganham visibilidade maior
as acções mais estruturadas da Cáritas de Leiria no seu equipamento na praia
da Pedrógão. Uma casa que nesta época regurgita de actividade e azáfama
laboriosa, com as actividades ali desenvolvidas em prol das gerações mais
novas e das pessoas mais velhas.
São perto de oito centenas as pessoas que, de Maio a Setembro, encontram
naquele espaço, por entre o marulhar das ondas e o verde ondulante da mata, o
ambiente propiciador do desenvolvimento das suas capacidades, uns, e o convívio saudável que ajuda a retemperar energias e refazer equilíbrios, outros.
Para as crianças: crescer em tempo de férias
Desde o dia 22 de Julho que a Casa ficou cheia da vozearia alegre das
crianças. Um frenesim de actividades e emoções que se vão prolongar até já
perto do recomeço das aulas.
As colónias da Cáritas são, como não podia deixar de ser, um tempo de
lazer e de brincadeiras. Mas visam também a descoberta e desenvolvimento
de capacidades, a aprendizagem da vida em grupo, escola de socialização e
de integração social onde se aprende também a respeitar e a conviver com as
legítimas diferenças.
Na Cáritas, entende-se que não é legítimo falar de colónias de férias sem
dar lugar às dezenas de jovens monitores e monitoras. Rapazes e raparigas,
mais novos ou já em vida profissional, tirando dias de férias para não faltar, ano
após ano. São eles e elas os pais, as mães, os psicólogos, enfermeiras, animadoras e quanto mais. São tudo, na colónia, dando-se todos os dias, até à exaustão.
144 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. serviços e movimentos .
A recompensa? Fazer uma experiência de voluntariado em gratuidade total,
ficar de bem consigo e com os outros, e experimentar a satisfação ímpar de
ter conseguido, de vencer os próprios limites e pôr as capacidades pessoais ao
serviço do projecto comum de ajudar 300 crianças a crescer e ser felizes. Uma
pedrada no charco da mediocridade, e a esperançosa certeza de muitas mãos
que não cessam de abrir-se em promissores gestos de humanidade.
Começaram a chegar na segunda quinzena de Maio, os primeiros grupos.
Vindas de S. Catarina da Serra, Ourém, Tomar, Junceira, Ferreira do Zêzere,
Cruz da Légua, Leiria, Porto de Mós, Torres Novas, Fátima, e também os
Centros de Recuperação Infantil de Ourém e de Fátima, foram até agora 304
as pessoas que, por iniciativa das suas instituições, encontraram na Casa um
ambiente acolhedor e tranquilo, para alguns dias de repouso e de animado convívio. Após as crianças, outros grupos se seguirão, até meados de Outubro.
Por breves que sejam, em cada ano, os dias ali passados, eles são intensamente vividos e saboreados, ajudando a contrariar a rotina dos dias
invariavelmente iguais, a vencer desalentos e a retemperar energias físicas e
espirituais, num ambiente de rara beleza.
Uma saudação, por isso, e aplauso, bem merecidos, para as instituições
que cultivam esta preocupação de proporcionar aos seus idosos oportunidades como esta.
Vida Ascendente – a coragem de acreditar
Mas nem só das instituições partem as belas iniciativas.
Foi o caso da “Vida Ascendente – movimento cristão de reformados”.
Atentas aos apelos que emanam da matriz que lhe dá o nome, as suas responsáveis puseram mãos ao trabalho. Dinamizaram-se vontades, motivaram-se
voluntárias, por todas as formas trataram de reunir os meios.
Diversas entidades deram a sua colaboração, para que nada faltasse, e até
equipamentos especializados foram trazidos, para que algumas pessoas em
situação “especialíssima” pudessem, uma vez na vida, saborear o prazer do
contacto com a água do mar.
Coisas banais, dirão alguns; mas acontecimento único para o Luís, que
há seis anos não saía de casa, ou para o Tiago, ambos em cadeira de rodas
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Vida Eclesial
Um lugar ao sol, também para os mais velhos
. serviços e movimentos .
e também para a Isabel a quem, por não ver, nunca fora dado experimentar
essa sensação.
Um aplauso agradecido para Governo Civil de Leiria, Juntas de Freguesia
do Coimbrão e Chainça, Bombeiros Voluntários de Leiria, nadador salvador
do Clube de Pesca do Pedrógão, Santuário de Fátima, Paróquia do Arrabal,
Grupo de Jovens Missionários da Consolata, e outras pessoas que levaram
amizade e animação ao grupo reunido no Casa da Cáritas.
Mais de cinquenta pessoas, em situações e de proveniências diferentes,
mas todas amarradas a um quotidiano invariavelmente estreito e muitas vezes sofrido, puderam, assim, saborear dias felizes de saudável convívio, num
espaço diferente a agradável, quebrando a monotonia dos dias penosamente
iguais.
Na hora de regressar, tão intensa era a satisfação comum, que não era
possível distinguir para que lado pendia a felicidade maior: se a das que se
deram e organizaram, se a de quem recebeu com simplicidade e alegria. Em
circunstâncias como esta, como não recordar Bento XVI na mensagem para a
Quaresma deste ano?: “Quando partilhamos com amor, tudo nos retorna sob
a forma de bênção, de satisfação interior, de alegria e de paz”.
Pastoral Social em Congresso
De 9 a 11 de Setembro, decorreu em Fátima, no Centro Social Paulo VI,
o I Congresso da Pastoral Social.
Subordinado ao tema “Intervir na sociedade, hoje! memória e projecto”,
contou com a participação de reputados conferencistas que reflectiram sobre
as linhas que distinguem a identidade cristã da acção social da Igreja, discutindo o presente, com os olhos postos no futuro.
Destinou-se a quantos intervêm, de alguma forma, nas nossas instituições
de acção social e espera-se que venha a repercutir-se nas comunidades, como
verdadeira força mobilizadora.
21 de Setembro: Cáritas de Portugal, rumo a Fátima
Foi o III Encontro Nacional de todas as Cáritas Diocesanas, que assume
como tema central “Na diversidade, peregrinos da verdade”. O encontro destinou-se a todos os colaboradores, voluntários e utentes das Cáritas Diocesanas e aos grupos paroquiais sócio-caritativos que se relacionam com elas.
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. serviços e movimentos .
Pretendeu-se reforçar os laços por que se exprime a identidade comum,
aprofundar motivações e estimular para uma acção generosa e esclarecida
que constitua compromisso efectivo pela promoção e ajuda aos mais pobres.
Uma causa social, mobilizadora e concreta, foi também proposta aos participantes e outras entidades: a reunião de meios para atribuição de dez bolsas de
estudo para estudantes em formação superior, atendendo às imensas dificuldades que têm sido presentes à Cáritas Portuguesa.
O III Encontro Nacional da Cáritas teve lugar no dia 21 de Setembro,
em Fátima, como os anteriores, para onde peregrinaram, mais uma vez, as
Cáritas Diocesanas e Paroquiais, grupos de acção social identificados com
a missão e acção da Cáritas, colaboradores, voluntários e utentes dos seus
serviços. Para orar aos pés de Maria, para lhe consagrar o trabalho generoso e
dedicado, feito de Norte a Sul de Portugal, na ajuda e promoção daqueles que
são também os seus filhos mais dilectos.
Foi também ocasião para reforçar os laços por que se exprime identidade
comum, e para aprofundar o sentido evangélico e evangelizador do serviço
aos outros, sobretudo os mais empobrecidos e marginalizados. A reunião de
meios, através da venda de um boné identificativo, para 10 bolsas de estudo
para estudantes pobres, foi a causa social que deu sentido concreto ao espírito
que a todos reuniu.
Campanha Anual: “Acender estrelas pela paz”
Num mundo tão atravessado de contradições e conflitos e graves ameaças
à segurança humana e ambiental, não são demais os esforços e iniciativas de
exposição pública da causa da paz. Compreender-se-á, por isso, que a Cáritas,
a todos os níveis da sua organização, abrace também com entusiasmo a causa
da paz, tão indissoluvelmente ligada à dignidade, ao bem-estar e ao desenvolvimento dos povos.
Foi a constatação da precariedade da paz e da necessidade de continuadamente desenvolver esforços no sentido da sua construção ou consolidação,
que fez a Cáritas em França desencadear a operação “Dez Milhões de Estrelas, um Gesto pela Paz”, há mais de 30 anos. A iniciativa está hoje difundida
um pouco por todo o mundo e conta também com a participação das Cáritas
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Vida Eclesial
Peregrinação a Fátima
. serviços e movimentos .
de Portugal que, vai para seis anos, a realizam anualmente, na quadra do Natal. Sensibilizar e educar para uma cultura de paz, alicerçada nos valores universais da solidariedade e da justiça, é o objectivo da operação “10 milhões
de estrelas” que, nos dois momentos mais marcantes, recorre à linguagem
simbólica para se exprimir e comunicar.
Assim, na noite de Natal, as famílias foram convidadas a fazer brilhar nas
janelas ou varandas de suas casas, a chama de uma vela, dando visibilidade à
esperança universal, evocada nessa noite, de um mundo mais justo e solidário. Além de símbolo, a vela é também um instrumento ao serviço da partilha
de bens com os mais pobres. Adquiri-la constitui um gesto de descentramento
individual, mas também uma forma de ajudar numa causa social de âmbito
internacional, (neste ano, projectos de apoio à comunidade minoritária dos
Pigmeus, na República do Congo, nas áreas da saúde e educação), e de colaborar na ajuda aos mais desamparados e desprotegidos, através da Cáritas
de cada diocese.
Com a colaboração da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de
Leiria, “10 Milhões de Estrelas - um gesto pela Paz” desenvolveu-se também
no espaço público, com a Festa pela Paz. Aberta à participação de todos, foi
em Leiria, na tarde de 13 de Dezembro, no palco da Aldeia de Natal, junto ao
jardim da cidade.
Indiferentes ao frio e à chuva copiosa no último sábado à tarde, centenas
de pessoas acorreram a esta Festa pela Paz. E não foram iludidas as expectativas dos participantes. Cerca de duzentas crianças e jovens de escolas e
colectividades do concelho encherem de cor e de ritmo uma tarde que se
prefigurava cinzenta, mas que acabou por constituir um tempo bem agradável, marcado pela alternância das danças ao som de ritmos trepidantes, das
canções de mensagem, de interpretações de música instrumental e tradicional
portuguesa, do coro das crianças e das coreografias de belo efeito cénico.
Diferentes, mas igualmente belas, foram as formas por que se exprimiram
o talento, a criatividade, o bom gosto e a alegria das gerações mais novas.
A uni-las, o propósito comum de sensibilizar, formar e fortalecer as consciências para uma cultura de solidariedade e de paz; não uma paz qualquer,
mas a paz autêntica assente em fundamentos sólidos como o são a justiça, a
prevalência do bem comum, e os direitos humanos; não uma paz anónima
e distante, mas aquela que está ao alcance da cada um, no dia a dia, que se
realiza em gestos de perdão e de generosidade e na vontade de melhorar o
quotidiano de cada existência concreta.
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. serviços e movimentos .
Escola Razões da Esperança
A Escola Diocesana Razões da Esperança (EDRE) reabriu no dia 30 de
Setembro, com a Missa presidida pelo Bispo D. António Marto. Trata-se de
um espaço de formação especialmente dedicado às pessoas envolvidas nas
várias actividades pastorais das paróquias e serviços, a funcionar no Seminário Diocesano, às terças-feiras, a um ritmo quinzenal, com as aulas a começarem no dia 7 de Outubro.
Como usual, na primeira hora (21h00 às 21h50), os participantes frequentam em conjunto uma das cadeiras teóricas propostas em cada semestre; na
segunda hora (22h00 às 23h00), dividem-se conforme desejarem pelas várias
ofertas formativas que cada serviço ou movimento organizam (catequese,
animação vocacional, grupos de jovens, canto litúrgico, leitores, cursos de
cristandade, etc.).
“Animação Vocacional”
A animação e o acompanhamento vocacional foi uma das ofertas escolhidas para este ano, para o período da segunda hora. Orientada pelo Serviço
Diocesano de Animação Vocacional, pretende dar apoio concreto a quem
se ocupa da animação vocacional ou está interessado em fazer algo neste
sentido, na catequese, na liturgia ou em qualquer outro serviço apostólico
que realiza. Podem inscrever-se qualquer animador vocacional, integrado ou
não num grupo organizado, os catequistas, os animadores da liturgia e outras
pessoas que queiram escolher esta oferta formativa. O programa do primeiro semestre centra-se em vários aspectos práticos da ajuda ao despertar das
vocações nos grupos e comunidades. No segundo semestre, o assunto central
será o acompanhamento pessoal e em grupo, como ajuda para a descoberta e
amadurecimento da própria vocação.
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Vida Eclesial
Formação de agentes pastorais
. entrevistas .
Centro de Acolhimento de Leiria
“Sem-abrigo” não são apenas
os que não têm casa!
Cruzamo-nos com eles numa rua, num jardim, numa passadeira, na fachada de um prédio. O conceito de dificuldade é sempre relativo, assim como o
de estado económico e psíquico. Quando menos se espera, podemos encontrar-nos na encruzilhada da vida, sem soluções à vista.
Aberto em 15 de Setembro de 1998, na sequência de uma proposta da
Assembleia Sinodal da Diocese, que reconhecia a urgência na criação de “um
espaço de apoio aos excluídos onde, gratuitamente, se possa oferecer o mínimo que a dignidade humana exige”, o Centro de Acolhimento da Paróquia
de Leiria é um espaço aberto aos que um dia viram o chão fugir-lhes, uma
instituição que há dez anos ajuda pessoas com dificuldades de toda ordem:
económicas, familiares, sociais, de saúde...
Antecedendo a época natalícia que se aproxima, fomos tentar perceber
melhor os problemas dos sem-abrigo, visitando uma das instituições da Igreja
que lhes abre as portas.
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Vida Eclesial
Entrevista de Ana Vala e Joaquim Santos
. entrevistas .
Entrámos pela Rua Conde Ferreira e deparámo-nos com um quadro
pendurado numa pequena sala de espera onde se lêem versos adaptados de
Manuel Alegre: “É possível andar sem olhar para o chão; É possível viver
sem que seja de rastos; Os teus olhos nasceram para os astros…; É possível
viver de outro modo… É possível o amor; É possível viver de pé”. Edite
Tojeira, coordenadora do Centro, mostrou-nos a casa onde se proporcionam
alimentação, cuidados de higiene pessoal e espaços de lazer, numa tarefa diária de organização por vezes bem complexa. Pedimos-lhe que respondesse
às nossas perguntas.
Sabemos que o seu trabalho social já vem de longe, em grande parte
exercido neste Centro de Acolhimento de Leiria. Que nos diz dessa experiência e dos objectivos do Centro desde a sua abertura?
Há vinte anos que faço serviço social. Embora pertença ao Centro Pastoral Paulo VI, uma valência paroquial, há 10 anos que exerço a função de
coordenadora deste Centro de Acolhimento que tem como presidente o Pároco de Leiria.
Desde a sua fundação, em 15 de Setembro de 1998, o objectivo é o
acolhimento de todos os que manifestem carências primárias, de forma a
satisfazer as principais necessidades, com todo o respeito pela dignidade das
suas pessoas.
Como consegue manter-se um serviço que, além da sua complexidade,
tem custos tão avultados?
Não se trata de um trabalho isolado, que não iria longe, mas de uma cooperação, sob forma de parceria, que inclui a Santa Casa da Misericórdia, a
Conferência de São Vicente de Paulo, a Cáritas Diocesana e a Ordem Terceira
de São Francisco.
Estas são cooperações permanentes que permitem a subsistência da instituição. Mas a prossecução dos seus objectivos é ainda possível graças à
ajuda imprescindível do Banco Alimentar e de pessoas privadas e colectivas,
materializada em donativos monetários e em géneros.
Quais são as principais actividades e serviços prestados pelo Centro?
São acolhidas todas as pessoas atingidas de exclusão, de qualquer forma
que seja: alcoolismo, toxicodependência, doenças do foro psiquiátrico e outras, pobreza, violência, ex-reclusos, sem-abrigo, desempregados, isolados…
Na sua maioria, os casos agravam-se pela acumulação de múltiplas destas si152 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. entrevistas .
Como tem evoluído o número de procuras?
Com alguma variabilidade, ao longo de 10 anos atendemos 980 pessoas,
mais homens que mulheres, de 25 nacionalidades diferentes, incluindo países
que vão da Finlândia aos países do Leste, ao Brasil e países dos PALOP’S.
Ultimamente a procura tem vindo a acentuar-se, no sentido inverso da diminuição da distribuição de géneros alimentares, assim como a reincidência dos
utentes, que voltam duas e três vezes.
Existem espaços de lazer, no Centro?
O acolhimento deve ser, por natureza, temporário, na premissa de que o
importante é integrar. Mesmo assim, e não obstante a exiguidades dos locais,
os utentes podem passar aqui parte do seu tempo, o que dependerá sempre
dos casos. Além dos famintos, que é preciso alimentar, algumas pessoas demoram mais algum tempo a serem devolvidas a uma vida própria e condigna.
Explicam-se perfeitamente uma sala de televisão e de leitura, com funcionamento diurno, das 10h00 às 19h00.
Haverá muita gente a viver nas ruas de Leiria?
Claro que sim, apesar de nada constar nos resultados do recenseamento
nacional, dado que há diferença relativamente a Lisboa e Porto onde se vêem
pessoas a dormirem diariamente nas ruas, sobre cartão ou algum cobertor.
Em Leiria, vivem na rua os dependente do álcool e de outras drogas mas os
demais abrigam-se em casas abandonadas onde são procurados pela intervenção dos serviços sociais.
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Vida Eclesial
tuações e com a falta tão comum de apoio familiar de retaguarda. Procuramos
atender a todos, que se apresentem por iniciativa própria ou recomendados
por outras instituições, de modo a minimizar os resultados negativos dos seus
problemas, mesmo que sem solução definitiva.
O próprio processo individual, ainda que sucinto, com alguns dados de
identificação e o elenco dos principais problemas, já se orienta para a busca
das melhores soluções possíveis. Há, normalmente, necessidades básicas a
satisfazer: duas refeições diárias, possibilidade de banho e higiene pessoal,
roupas e pequenos curativos.
Mas é importante pensar num encaminhamento, rumo a um projecto de
vida, à reconstrução de uma autonomia pessoal e, sempre que viável, a uma
integração familiar. A linha condutora é a promoção da pessoa, com as suas
etapas, o que pressupõe um verdadeiro trabalho conjunto.
. entrevistas .
Pode dizer-se que a exclusão é um problema leiriense?
É difícil responder. Já aconteceu arranjarmos pensão para quem vivia na
rua e, passado um mês, essa pessoa veio dizer que desistia porque “queria ver
as estrelas no céu”. Uma coisa é a exclusão social e outra a auto-exclusão.
Nem todos sentem a vida como nós seguindo os mesmos padrões, o que nos
obriga a um permanente ajustamento. A exclusão, sendo sempre a de cada
um, não é tipicamente leiriense.
A crise económica deve afectar o CAL… Há alguma ajuda do Estado?
Não há qualquer comparticipação do Estado. A Paróquia de Leiria assume
os encargos do Centro, contando com os apoios e contributos dos parceiros
estratégicos já referidos e com donativos mais ou menos eventuais. Entre
estes contributos avulta especialmente o da Caritas diocesana que tem doado
metade do seu peditório anual ao Centro de Acolhimento.
A crise económica sente-se bastante. há uns anos nunca comprávamos
batatas, mas nestes últimos tempos temos de o fazer porque as ofertas não nos
chegam como antes e gastamos seis sacos por mês. O mesmo está a acontecer
com outros géneros. Leiria é uma cidade com proximidade a meios rurais.
Antigamente, as pessoas traziam algumas das suas produções, ajudando o
Centro no seu aprovisionamento com a oferta de leguminosas secas, batatas e
outros alimentos. Para continuarmos a servir refeições gratuitas, e desde 1998
já foram servidas 85.904, contamos com toda a espécie de ajuda.
E na quadra natalícia que se avizinha, haverá programa especial?
Sim, faremos uma festa de Natal que juntará os utentes e os ex-utentes
que residam perto, os trabalhadores e os nossos parceiros. Os que refizeram a
sua vida são sempre convidados a envolverem-se nessa festa, numa partilha
entre os que já saíram e os que estão a chegar. É o testemunho vivo de que
será possível mudar. Ao mesmo tempo é mais um momento de afirmação de
que ninguém é apenas um número mas todos têm nome e são pessoas.
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. entrevistas .
Cónego José de Oliveira Rosa
Uma vida ao serviço da Fé
Figura singular e por todos sobejamente conhecido, o
senhor Cónego Rosa celebrou
92 anos de vida no passado
dia 31 de Julho, 69 deles
dedicados à Diocese como
sacerdote. Nasceu na pequena
aldeia (a que ele chama de
capital) do Padrão, freguesia
dos Pousos, no seio de uma
família humilde, trabalhadora e muito religiosa. Seu pai
faleceu quando ele ainda era
criança e por isso provavelmente a figura que mais marcou os seus momentos
de criança foi a avó “uma grande mulher, sempre muito activa”.
Nessa data, o jornal O Mensageiro publicou uma entrevista, que aqui
reproduzimos. Apesar de curvado, de bengala na mão e cabelos brancos,
continua o homem conversador, sábio, perspicaz e bem-humorado.
Nascido em 1916 é praticamente contemporâneo das aparições de Fátima. Recorda-se de alguma coisa sobre o assunto e que pertença às suas
recordações de criança?
Não muito. Os meus conhecimentos e o meu interesse por Fátima pertencem já ao tempo em que era estudante no Seminário. A primeira vez que ouvi
falar de Fátima, no entanto, terá sido pelos 7 ou 8 anos, e foi pela boca da
minha avó que era uma entusiasta das aparições. Só depois de entrar no Seminário é que Fátima começou a interessar-me e comecei eu próprio a procurar
conhecer melhor o que ali aconteceu.”
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Vida Eclesial
Entrevista de Rui Ribeiro e Ana Vala
. entrevistas .
Outra grande transformação que marcou a Igreja foi o Concílio Vaticano II. Seria uns anos mais tarde, quando já era sacerdote. Foi difícil para
si apanhar o comboio do Concílio?
No próprio momento da sua realização e mesmo nos anos imediatamente
a seguir, o Concilio Vaticano II não teve o impacto que depois se haveria de
descobrir. Por isso, assisti à sua realização, acompanhando de longe, mas
devo confessar que sem grande motivação ou transformação da minha forma
de ser padre.
Eu e os meus colegas de ministério só queríamos ser padres para servir a
Igreja, Povo de Deus. As especulações não nos interessavam muito. Houve
aspectos que de imediato se fizeram sentir, sobretudo na celebração da fé,
mas as mudanças rituais que foram realizadas não são o mais importante das
inovações do Vaticano II. Quem só dá importância a isso mostra que não sabe
apreciar o que realmente tem importância.”
O facto de não parecer muito motivado pelas especulações, significa que
o espírito académico não fervilhava nos seminaristas do seu tempo?
Eu frequentei o Seminário no edifício junto ao Castelo. Fui um bom aluno, sem ser intelectualmente avançado ou inovador. Não era o melhor, mas
também não era o pior; fui um aluno mediano. De qualquer modo, terminei
o curso bastante cedo (teria uns 22 anos de idade) e requeri a dispensa para
poder ser ordenado.
Logo depois do final do curso, fiquei no Seminário como professor de
música, mesmo ainda antes da ordenação, que só aconteceu a 6 de Julho de
1939. O facto de ficar no Seminário como professor deveu-se ao meu gosto
pessoal, e alguma capacidade, para a música.
Devo confessar que a música era o de que gostava realmente. E foi ela
que me manteve “preso” ao Seminário por muitos anos, praticamente tantos
quantos os do ministério activo.
Recorda-se da sua ordenação. O acontecimento marcou a diocese?
Fui ordenado na Sé de Leiria pelo Bispo D. José. Não havia naquela época um sentido ou uma valorização social tão grande como há hoje sobre este
assunto. Por isso o dia da minha ordenação foi um dia de festa para mim e
para a minha família, não um dia de farra, mas celebrado com muita alegria
junto dos que mais estavam presentes na minha formação sacerdotal. Nesse
dia foram ordenados mais dois padres, o padre António Cunha e o padre
Simão.
156 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. entrevistas .
Continuou então no Seminário. E a partir de então, como foi o seu percurso ministerial?
Nos primeiros anos fui professor no Seminário e em Fátima, depois fui
pároco dos Parceiros durante um ou dois anos e, ao mesmo tempo, era chanceler da Câmara Eclesiástica. Esta foi uma missão que assumi desde logo.
Ainda fui Capelão no Santuário de Nossa Senhora da Encarnação onde celebrava a eucaristia aos domingos e era o coordenador do pessoal que cuidava
do santuário. Creio que é daí que as pessoas mais me conhecem.
Foi também nesse âmbito que esteve na origem e organização da Cáritas?
Não me considero como fundador da Cáritas, mas de facto há uma explicação a dar sobre esse assunto.
O nome “Caritas” está ligado à caridade para com as crianças vítimas
da Segunda Grande Guerra. França, Áustria e Alemanha organizaram uma
complexa rede de ajuda às crianças, muitas delas órfãs, outras a viverem em
condições menos favoráveis. A caridade passava então pelo acolhimento
dessas crianças de diferentes países em famílias acolhedoras. O convite foi
feito também à diocese de Leiria-Fátima, via Câmara Eclesiástica, onde eu
trabalhava.
Fui assim envolvido neste trabalho, que me deu enorme satisfação. Eram
crianças que precisavam de apoio psicológico, moral e económico. Fazíamos
o possível para as ajudar.
Foi um movimento esporádico ou teve alguma continuidade?
Eu era uma espécie de intermediário entre os padres, as famílias acolhedoras e os responsáveis dos países de onde elas vinham. Passaram por cá
cerca de 30 crianças que foram bem recebidas sem problemas de maior a
registar. Isto só foi possível com muito trabalho. As famílias apareciam e nós
tínhamos que conhecê-las, saber em que condições ficavam as crianças, tudo
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Vida Eclesial
Todos recordamos o seu trabalho na Câmara Eclesiástica. Foi para si um
gosto ou um trabalho “sofrido”, por obediência?
Foi um gosto pessoal. Gostei muito deste trabalho na Câmara Eclesiástica. Permitia-me uma visão abrangente da diocese e um contacto com os padres, que provavelmente não é possível noutros ambientes. Nisso até me sinto
um privilegiado. O trabalho era bastante burocrático mas havia um grande
contacto com os padres e outras pessoas que se dedicavam à Igreja.
. entrevistas .
com critério muito apertado, pois não se podiam mandar crianças frágeis,
algumas sem família, para casa de desconhecidos.
Quase tudo me passava pelas mãos, mas nunca me senti o responsável
pela criação da Caritas. Éramos muitos os que fazíamos o que se podia.
Nos últimos tempos veio residir para Fátima e deixou o Seminário que
o acolheu durante tantos anos. O edifício prepara-se agora para entrar
em obras, sinal dos tempos, da falta de vocações e talvez até dos rumos
diferentes dos trabalhos pastorais. Tudo isto o inquieta? Como vive estas
mudanças?
O facto do edifício do Seminário ser usado para outras coisas não é um
impedimento para que continue a ser um lugar onde se cultivam as sementes
de vocação. Penso até que o melhor caminho para enfrentar a apregoada crise
de vocações sacerdotais e laicais, é a oração, e por isso é bom que se pense
num espaço que ajude a orar, a fazer retiro, a pensar. Para além da oração parece-me que o exemplo da parte do clero é fundamental para este dinamismo
vocacional que a diocese quer viver. Foi o Senhor que escolheu os apóstolos,
é Ele também que nos escolhe a nós. Não se pode só olhar para a própria
vocação é preciso também preocupar-se com os outros. Antigamente havia
pessoas que encaminhavam outras para o seminário, umas ficavam, outras
não. É preciso continuar a desafiar.
Augurámos ao Senhor Cónego Rosa todo o bem-estar que a sua avançada idade permita, guardámos a excelente impressão das suas recordações e confirmámos a gratíssima certeza da sua amizade.
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. entrevistas .
Figura ilustre da nossa Igreja
Foi uma lembrança feliz e plena de actualidade, a da evocação, pelo Mensageiro, da figura ilustre da nossa Igreja de Leiria-Fátima, que é o Sr. Cónego
Rosa. São quase sessenta e nove anos de sacerdócio generoso e esclarecido,
e a Cáritas Diocesana associa-se às legítimas manifestações de júbilo e de
acção de graças pela fecundidade do seu longo e profícuo ministério.
Para além de repetidas expressões de estímulo e de apoio que lhe tem
prodigalizado, há ainda um laço especial que associa o Sr. Cónego Rosa à
Cáritas em Leiria.
Muitos leitores saberão já que foi durante a II guerra mundial que a instituição Cáritas se expandiu por toda a Europa e chegou a Portugal. E que
as várias delegações nacionais da Cáritas nasceram todas para participar no
projecto comum de responder às imensas carências de uma Europa em ruínas.
Acolher em famílias portuguesas centenas de crianças órfãs, vindas da Áustria depois de terminada a guerra, foi a primeira e principal actividade a que,
na ocasião, se lançou a Cáritas de Portugal.
Poucos saberão, porém, que foi ao padre José Rosa que D. José Alves
Correia da Silva encarregou de identificar famílias da diocese em condições
de poder receber essas crianças. “ Deviam ter algumas posses”, disse-me há
tempos, “porque vêm de países mais avançados”. Eram também com ele a
organização dos transportes, na vinda e no regresso, bem como o acompanhamento das crianças e das famílias em Portugal.
Por entre as muitas dificuldades que não é difícil imaginar -  valia-lhe
a motorizada para vencer distâncias e dificuldades de comunicação e levar
longe algum recado urgente -, o Padre Rosa conseguiu encontrar, assim, por
toda a diocese, numerosas famílias que souberam receber carinhosamente
como filhos, muitas dessas crianças, estabelecendo com elas laços indestrutíveis de afecto, que perduram até aos nossos dias.
Com esta actividade diocesana, integrada num projecto da Cáritas de
Portugal, e pela mão do P. José Rosa, a Cáritas em Leiria, se não ainda pelo
nome, ao menos pela pureza  do espírito e grandeza das motivações, tinha
dado também os primeiros passos.
É-nos grato trazer, assim, a memória deste acontecimento fundador;
mas esta é, sobretudo, uma ocasião bem ao jeito para saudar também com
afectuoso  respeito, reconhecimento e admiração, o Sr. Cónego Rosa.
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Vida Eclesial
Testemunho de Ambrósio J. Santos, Presidente da Caritas Diocesana
. entrevistas .
Padre Tony Neves - X Fórum Ecuménico Jovem
Percursos de Unidade
O X Fórum Ecuménico Jovem (FEJ 2008) realizou-se na Quinta da Matinha, Marrazes, sob o tema ‘Alegrai-vos na Esperança’. Depois das boas
vindas dadas pelos responsáveis das quatro Igrejas organizadoras (Católica,
Lusitana, Metodista e Presbiteriana), houve uma apresentação multimédia
sobre os 10 anos de caminho percorrido no ‘planeta jovem’. Foi uma viagem de Leiria a Leiria, passando por Lisboa, V. N. Gaia, Coimbra, Aveiro,
Santarém, Braga, Guarda e Viana do Castelo, como mostravam as dez placas
espalhadas pelo auditório.
D. Manuel Felício (Presidente da Comissão Episcopal do Ecumenismo)
e D. Sifredo Teixeira (Presidente do Conselho Português das Igrejas Cristãs)
aprofundaram o tema do FEJ, assegurando este espaço formativo que desembocou no trabalho de 10 grupos de reflexão. Os mais novos tiveram uma
dinâmica própria, coordenada pelos Jovens Sem Fronteiras.
Foi simbólico o momento em que os grupos de reflexão levaram um pano
com uma palavra-chave e, depois de a proclamarem, o ofereceram para ser
atado a todos os outros, em sinal de unidade e comunhão.
Na despedida, ficou a certeza de que o XI FEJ já está na linha do horizonte
e o Maestro Carlos Pedro, responsável pela animação musical, garantiu que o
II CD ecuménico jovem está já a caminho.
160 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. entrevistas .
Quando o Fórum estava ainda em preparação, não quisemos perder oportunidade da presença do padre Tony Neves, organizador e delegado da Igreja
Católica, a quem colocámos as nossas perguntas. Ficamos-lhe gratos pelas
suas respostas que ajudam a compreender a natureza destes encontros e o
espírito que os anima.
E tem havido outras iniciativas, além do Fórum?
Ao longo dos anos têm-se realizado acções diversas, sempre carregadas
de significado. Lançou-se um CD com músicas que abrem ao ecumenismo
e todos os anos há coisas novas, como o encontro em Taizé, onde o grupo
também participou.
A semana da unidade, celebrada todos os anos em meados de Janeiro, tem
proporcionado um vasto conjunto de realizações e celebrações que muito têm
ajudado a incrementar o mesmo espírito. Este ano celebramos em comum o
Ano Paulino, por isso pegámos no apóstolo dos gentios, o primeiro grande
obreiro do ecumenismo e acolhemos a sua recomendação: “Alegrai-vos na
esperança, sede pacientes na tribulação, preservai na oração” (Rom 12,12).
Quais expectativas antecedem a realização de mais um Fórum?
Queremos motivar os jovens que já têm alguma caminhada neste espírito
e, ao mesmo tempo, encontrar novos rostos e novos desafios.
Contamos geralmente com 200 a 250 jovens mas já chegámos aos 800,
em Braga, que é uma cidade grande com muita juventude. A escolha de Leiria
tem a ver com o facto de ter sido o local do I Fórum após o qual fomos percorrendo o país, passando por Lisboa, Porto (Gaia), Coimbra, Aveiro, Santarém,
Braga, Guarda e Viana do Castelo.
Quem são os organizadores habituais?
A organização não está atribuída a nenhuma pessoa em concreto; é antes
uma organização conjunta das quatro Igrejas referidas e que trabalham ao
longo do ano em verdadeiro espírito ecuménico. No dia do Fórum todas as
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Vida Eclesial
Qual é a ideia que presidiu à origem do Fórum?
O espírito que anima o Fórum Ecuménico Jovem é envolver as gerações
jovens na prática do ecumenismo. O passado contava já com algumas experiências enriquecedoras desenvolvidas na Suiça, Áustria e Roménia. Dessas
experiências saiu a certeza de que os jovens têm uma forte capacidade para
acções ecuménicas. Daí que se tenha avançado.
. entrevistas .
igrejas são representadas por dois membros: a Igreja Católica conta com o padre Tony Neves e o professor João Luís Fontes; a Igreja Metodista conta com
o bispo Sifredo e Ana Lameiras; a Igreja Lusitana conta com a presença do
Pastor Jorge Cabral e Sérgio Alves; e a Igreja Presbiteriana será representada
pelo pastor Eva Michel e Pedro Brito.
Quais são os apoios com que contam para a realização deste evento?
Procuramos fazer com que estes encontros sejam momentos de partilha
e troca de experiências, por isso os custos são mínimos. De qualquer modo
cada Igreja e cada participante encontra os meios necessários para se auto-financiar. Tudo o que é material logístico é proveniente de ofertas e patrocínios
particulares. Trabalhamos sem orçamentos previamente elaborados, apostamos mais na generosidade e na partilha, também ao nível das despesas.
Quem pode participar no Fórum?
Não há qualquer tipo de discriminação. Trata-se de um encontro ecuménico e por isso mesmo todos os jovens podem participar, sem qualquer reserva
cultural, religiosa ou racial. Basta querer e estar deveras preocupado com a
causa ecuménica.
O ecumenismo é mais que uma ideia e que um bonito propósito?
A nosso ver o ecumenismo é uma urgência e uma necessidade para a Igreja. Constatamos que nem tudo é fácil, por vezes fica-se em bonitas palavras
e desafios que depois não são levados à acção. Recordo que em Braga houve
mesmo o desabafo de alguns jovens que se mostravam descontentes com a
pouca actividade ecuménica. Mas nem por isso desistimos porque achamos
que é uma causa importante e um verdadeiro serviço ao Evangelho.
Concretamente, em Portugal, como está a causa ecuménica?
No início, em Portugal, as pessoas não aderiram muito ao ecumenismo.
As pessoas são mais fechadas e auto-suficientes, vivem a sua vida e fechamse para as outras religiões. Hoje os tempos são outros, temos muitas áreas,
temos muita gente que não acredita em coisa nenhuma, outras acreditam em
algumas coisinhas. Tiram um bocado de cada religião e vivem assim, uma
comunidade difusa, onde existem muitas religiões.
Está portanto na altura de fazer diferença, ajudar a formar pessoas para
concertar posições e atitudes, lutar contra a pobreza e dignificar as pessoas,
criar pontes com toda a gente de todas as religiões.
162 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. entrevistas .
Luís Sousa, chefe de campo do JAMBOREE 2008
– XIX Acampamento Regional de Leiria
“O escutismo é um complemento
à formação integral de cada jovem”
Na Charneca do Nicho, Souto da
Carpalhosa, decorreu o XIX Acampamento Regional (ACAREG), designado
como “Jamboree 2008”. Participaram
cerca de 1400 escuteiros, alguns dos
quais estrangeiros.
O chefe de campo, Luís Filipe Ruivo
de Sousa, de 38 anos, natural da Maceira e residente na Batalha, deu-nos conta
da organização que o encheu de orgulho
e das vivências dos escuteiros durante
essa semana, de 3 a 10 de Agosto.
Num desafio abraçado há quatro anos, a organização haveria de transformar-se numa rica fonte de experiências, na conjugação de princípios e conhecimentos e no máximo aproveitamento dos valores comuns. O acampamento
do Souto da Carpalhosa destacou-se pela organização que valorizou temáticas de países que se separavam por arruamentos mas se uniam na partilha,
com entusiasmo e fé, das suas culturas complementares.
Tanto empenhamento faz pensar numa grande paixão… Como começou
tudo isso?
É uma paixão de 23 anos, que remonta à minha entrada no Agrupamento
762 de Maceira,, em Outubro de 1985, com os meus 15 anos. Um familiar que
estava integrado nessa equipa falava-me do que faziam com tanto entusiasmo
que acabou por me contagiar. O agrupamento tinha nascido há pouco e não
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 163
Vida Eclesial
Entrevista de Joaquim Santos
. entrevistas .
havia suficiente divulgação mas queria saber a fundo o que era ser escuteiro.
O interesse foi-se desenvolvendo e acabai por me integrar por completo. Decidi entrar como pioneiro embora, na altura, não fosse essa a designação.
E o que é, afinal, ser escuteiro?
É complicado transmitir os nossos sentimentos e propósitos no escutismo.
Para mim, ser escuteiro é muito mais do que uma forma de vida e de estar. É
estar presente, ser pessoa sempre alerta para poder servir, entendendo a mão,
dando uma palavra amiga. E há também uma ligação forte com a natureza
que se defende e utiliza com respeito e espírito. Ser escuteiro é ter uma força
que nos faz estar bem connosco próprios, entregando-nos com mais verdade
e intensidade aos outros.
Mas a contra-corrente, numa sociedade em crise de valores, acha que se
vislumbram facilmente caminhos de autêntico crescimento humano?
O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem. Hoje
em dia, numa sociedade com tantos e tão diversificados desafios, os jovens
têm dificuldades sérias de identidade. Ser escuteiro não é apenas um abrigo
ou refúgio, é uma força que se encontra, que acompanha e dá a mão para que
seja ainda possível tomar boas decisões e abraçar a própria vida. Nisto sobretudo, o escutismo, embora com cem anos, continua um movimento actual.
Pela sua metodologia continua a incutir nos jovens valores essenciais.
É verdade que o escutismo estreita laços com a religião e aproxima da intimidade com Deus. Poderá abrir também a outros horizontes culturais
e a atitudes verdadeiramente ecuménicas?
Claro que sim. Há dois movimentos de escuteiros em Portugal. O CNE
– Corpo Nacional de Escutas (Escutismo Católico Português – a que pertencemos e que conta com mais de 60 mil participantes e a AEP – Associação
dos Escuteiros de Portugal, com o acolhimento diversificado, sem qualquer
critério de religião. Tendo o CNE requisitos como ser-se baptizado, frequentar a catequese enquanto jovem e estar efectivamente ligado à Igreja, os escuteiros devem descobrir o verdadeiro espírito ecuménico, com acolhimento
e respeito pelas diferenças. Neste “Jamboree 2008” formulámos um convite
a um grupo de escuteiros de Marrocos que, infelizmente, não vieram por
problemas de vistos. O objectivo era criar um espaço ecuménico, abrindo as
portas a outras religiões, estreitando laços e respeitando-nos mutuamente,
como nos ensina a nossa fé.
164 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Como foi a programação do ACAREG 2008?
Depois do convite da Junta Regional de Leiria, criámos uma equipa e começámos a planear o acampamento, há cerca de um ano e meio. Não queríamos
mais um ACAREG mas algo de diferente. Daí o aproveitamento para “Jamboree 2008”. “Jamboree” significa encontro de escuteiro. Nesta belíssima mata do
Souto da Carpalhosa pugnámos sempre pelo respeito do sentido da palavra. A
estrutura que, com escuteiros de outras nações, teve uma vertente internacional,
dividia o acampamento em subáreas de países, embora a participação externa
não tenha sido numerosa como desejávamos por causa das formalidades com
as passagens para Portugal. Tivemos apenas Cabo Verde e o Canadá, e contávamos também com os jovens angolanos e marroquinos.
Voltando à programação, foi preciso começar imediatamente distribuindo
tarefas e responsabilidades pela equipa. Depois foi coordenar os contributos
específicos de cada área: pedagógica, logística, infra-estruturas, segurança,
programação, burocracias e imagem. Estas realizações, que se fazem de
quatro em quatro anos, são bastante complexas. Só o desejo de fazer melhor
permitiu que nos ultrapassássemos e apontássemos para um jamboree. Passo
a passo, a ideia tornou-se realidade.
Quanto às actividades propostas…
Foram muitas e diversificadas. No domingo à noite abrimos o acampamento com uma concentração na arena, dando aos participantes a verdadeira
noção do “Jamboree 2008”. Desenvolvemos temas como a cultura, direitos
humanos, ambiente e fé, com cerca de trezentos participantes em cada área e
rodando-os de duas em duas horas.
Em saídas de campo desenvolvemos ateliers com temáticas como “ser
leal”, “ser escuteiro” e “ser sensível”. Houve também saídas pelo distrito.
Base Aérea de Monte Real, salinas de Rio Maior, Mosteiro de Santa Maria da
Vitória na Batalha, porto de abrigo da Nazaré com a possibilidade de andar
de traineira, farol de São Pedro, Pia do Urso e Fátima. Numa visita à Valorlis
fez-se sensibilização sobre o meio ambiente. Não podíamos deixar de visitar
também Leiria, onde se prepararam jogos para todos, incluindo uma surpreendente criação de um logótipo humano da actividade, com 1240 escuteiros
formando um chapéu, na Aldeia do Desporto nos Marrazes. Entretanto, lobitos, exploradores e caminheiros organizavam-se em secções para actividades
e dinâmicas que se transformaram em experiências marcantes, enchendo
chouriços, competindo em carros de rolamentos, fazendo pão, trabalhando o
barro, numa evocação das principais actividades tradicionais da região.
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 165
Vida Eclesial
. entrevistas .
. entrevistas .
Em termos de acompanhamento espiritual, havia alguma orientação de
fundo?
“Partilhar a mesma Aventura” era o tema que presidia a tudo. Havia depois subtemas como “Ser, Saber e Fazer”. Sempre presentes, os padres José
Henrique (Assistente Regional), Leonel Baptista e André Antunes, iam colocando a espiritualidade na mira constante de uma sólida formação. Sobretudo, a Palavra de Deus ia abrindo horizontes transformando o ACAREG num
acompanhamento também de espiritualidade vivida e partilhada.
E se lhe pedir para destacar alguns momentos do Jamboree 2008?
Um dos momentos mais importantes foi a “Feira dos Povos” em que
todos os países apresentaram um pouco da sua cultura, gastronomia, jogos,
costumes e outras realidades próprias. Depois, e a condizer com esta abertura
aos outros, assinalo, na manhã desse mesmo dia, a dádiva de sangue, por
parte dos escuteiros e de seus familiares, numa recolha que o Instituto do
Sangue propôs no local.
A mensagem de Baden Powell continua bem presente…
É um legado que nos propomos cultivar sempre, nomeadamente nas reuniões semanais, nos agrupamentos. Mas os acampamentos são tempos fortes
de aprofundamento mesmo das coisas mais simples. Há um pequeno hábito
muito simbólico de fazer pela manhã um nó no lenço e só o desatar quando
se praticar uma boa acção. É a prática da BA (boa acção) que todos os escuteiros devem levar a sério. É também com pequenos detalhes que o espírito
se mantém vivo.
E, no fim de tudo, uma enorme satisfação, não?
Há um lema na minha vida que me ajudou muito neste “Jamboree 2008”:
na nossa existência é preciso simultaneamente acreditar e agir para podermos
alcançar. Esta equipa começou por acreditar no projecto, lançou depois mãos
à obra e, finalmente, alcançou o objectivo.
166 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. entrevistas .
Ana Sousa, missionária em Alagados (Brasil)
“Todos somos pobres
de algumas coisas e ricos de outras”
Ana Maria Febra de Sousa
nasceu na Maceirinha no dia
31 de Dezembro de 1971.
Teve uma formação cristã
tradicional e os tempos da
adolescência trouxeram-lhe
alguma revolta interior e
descontentamento. Mesmo
assim, ainda muito nova, sentiu-se tocada pela experiência
de alguns missionários que
passaram pela sua terra.
Por iniciativa própria e para não desagradar aos pais, frequentava a missa
dominical e integrou-se no grupo de jovens da paróquia, enquanto prosseguia
os estudos até realizar o sonho de ser professora.
Em 1996 participou no Fórum Jovem, em Fátima, e aí a sua vida mudou
completamente. Nas vésperas de partir em missão, por dois anos, no Brasil,
pudemos encontrar-nos e conversar.
Sobre a mudança na sua vida explicou-nos:
Um dos frutos da experiência do Fórum Jovem, em Setembro de 1996,
foi o desejo de anunciar o amor de Deus a quem ainda o não experimentou.
E como o amor só com amor se paga, em resposta ao apelo de Deus, decidi
segui-Lo no celibato consagrado, numa entrega radical da minha vida que me
permitisse a maior disponibilidade para a missão de anunciar o evangelho.
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 167
Vida Eclesial
Entrevista de Rui Ribeiro
. entrevistas .
Nesse encontro fui posta em contacto com a Comunidade Emanuel e desde
então o Senhor tem-me surpreendido muito para além das minhas expectativas. Tem sido uma aventura na confiança, na fé e na providência de Deus, que
me tem proporcionado uma felicidade ímpar.
E por que decidiu partir, em vez de continuar no seu meio?
A missão além fronteiras é um desejo que vem dos meus 12 anos, fruto da
passagem de um grupo de missionários na minha terra natal. Após uma dúzia
de anos de trabalho como professora do 2º Ciclo do Ensino Básico, variante
Educação Visual Tecnológica, já no quadro de nomeação definitiva, solicitei
um tempo de licença sem vencimento para poder partir com a Fidesco, para
colocar as minhas competências profissionais ao serviço dos mais pobres. Foi
um pedido que surgiu de mim e da própria Comunidade Emanuel.
No ano passado estive em Formação na Comunidade Canção Nova, em
Bruxelas. Foi uma experiência aliciante, com as irmãs de Madre Teresa de
Calcutá. Percorríamos as ruas de Bruxelas e abeirávamo-nos dos mais pobres
entre os pobres. No decurso da formação, a comunidade Emanuel lançou-me
o desafio, que logo abracei, de partir em missão. E cá estou, com bilhete de
viagem para 16 de Outubro.
O que a motiva, fundamentalmente?
O que me move é o amor. A minha felicidade consiste em colocar-me ao
serviço do outro, particularmente dos mais pobres. Só se deixa um amor por
um amor mais forte. A medida do amor é amar sem medidas! Na vida tudo é
passageiro, só o amor permanece para sempre!
O que é a Fidesco?
Trata-se de uma palavra composta por FIDES (fé) e CO (cooperação).
Fundada em 1981, a Fidesco é uma ONG, (Organização Não Governamental)
de Solidariedade Internacional, que envia todos os anos cerca de 60 voluntários para países em desenvolvimento para colocarem as suas competências
profissionais ao serviço de projectos de desenvolvimento ou de acções humanitárias.
Cerca de 130 voluntários estão actualmente no terreno em, mais ou menos, 30 países do mundo, nos diversos continentes. Desde 1981, mais de
1200 voluntários partiram para darem um ou dois anos das suas vidas, no
desejo de viverem a aventura do serviço.
168 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. entrevistas .
Concretamente, que conta ir fazer?
Eu não escolhi um país e um projecto, mas acolhi uma missão que a Fidesco me confiou. Em resposta ao meu desejo e ao apelo da igreja da América
do Sul, em Outubro de 2008, irei para o Nordeste do Brasil, para o estado da
Bahia, cidade de Salvador, paróquia de Nossa Senhora de Alagados, por dois
anos. Alagados é uma favela construída em terrenos alagadiços e enlameados. Há uns anos as pessoas viviam em palafitas, e os camiões do lixo iam
despejar para dar estabilidade a estas frágeis construções.
Hoje são poucas as famílias que ainda vivem nessas condições, mas o
bairro continua bastante desfavorecido. Quando João Paulo II fez a sua 1ª
visita ao Brasil, manifestou o desejo de ir ao lugar onde se encontrassem os
mais pobres dos pobres. A Conferência Episcopal do Brasil enviou-o a Alagados. O Papa ofereceu o necessário para a construção da igreja paroquial.
A minha missão será coordenar um centro de formação feminina, na paróquia de Nossa Senhora de Alagados, onde a Fidesco criou, há cerca de 5 anos,
um projecto de reforço escolar para crianças carentes, dos 8 aos 13 anos. As
mães dessas crianças vivem em condições miseráveis em termos de habitação
e outros recursos.
Muitas passam o dia na rua a apanhar garrafas descartáveis e a juntar
cartão para vender, e recebem muito pouca formação humana e profissional.
As famílias são destruturadas, com filhos de diferentes companheiros. Por
tudo isto, o referido projecto vai ser ampliado de forma a oferecer formação
culinária, sanitária, de cabeleireiro, de costura, e outros cursos de primeira
necessidade, e assim colaborar com as mães no reforço escolar e na promoção de uma educação familiar; a promovê-las com um curso que lhes abra
as portas de um emprego; a restituir-lhes a sua dignidade de mães na missão
educativa dos filhos.
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 169
Vida Eclesial
Que tipo de pessoas são os voluntários?
Os voluntários que partem com a Fidesco podem ser celibatários, casais,
ou famílias que desejam trabalhar para os mais desfavorecidos em nome da
sua fé, como o nome indica: FIDES+CO = Fé e cooperação. Colocam-se
ao serviço de parceiros locais que já trabalham para o bem das populações
desfavorecidas sem distinção de religião, de etnia ou de cultura, em diversos
domínios: educação, agronomia, saúde, ensino, construção, etc.
A Fidesco trabalha prioritariamente nos países do Sul, com as Igrejas locais, que têm uma experiência única ao serviço dos pobres, na defesa dos seus
direitos e na boa gestão dos seus meios.
. entrevistas .
Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras. Vou fazer uma
experiência de partilha dando do que tenho e recebendo do que as pessoas
têm para me dar. Cada um à sua maneira, todos temos algo para dar, desde
que acolhamos o apelo.
Comigo vão estar mais cinco voluntários, dois casais e um seminarista.
Como pudemos acompanhar e ajudar a Ana na sua Missão?
De duas formas, designadamente: pela oração, sempre e antes de mais, e
com um financeiramente. Se alguém contribuir com um donativo regular de
15€ por mês (ou o valor pontual de 360€), receberá trimestralmente o meu relatório detalhado da missão e será meu “padrinho”. Comprometo-me a enviar
um relatório de 3 em 3 meses e a rezar diariamente por todos os meus padrinhos (dos quais apenas conhecerei os nomes). Em todo o caso, quem fizer um
donativo, qualquer que seja, receberá o “Courrier des Missions Fidesco” com
notícias trimestrais das diversas missões no mundo.
Um voluntário custa cerca de 18000 € por ano (viagem, seguro, alojamento, saúde, alimentação...): 30% deste custo é financiado pelo Ministério
dos Negócios Estrangeiros Francês e os restantes 70% dependem das generosidades pessoais. Todo o apoio é verdadeiramente precioso. Quanto a mim,
receberei mensalmente um valor de subsistência, que me permitirá viver
convenientemente, nas condições próximas da população local, ou seja, com
cerca de 100€.
Espero que possamos ser muito numerosos nesta barca que nos levará
muito longe, até ao outro lado do Atlântico, e não só ao longo dos próximos
2 anos.
170 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Reflexões
. teologia / pastoral . história .
. teologia / pastoral .
Monsenhor Joaquim Carreira
Celebra-se em 2008 o
centenário do nascimento de
Monsenhor Joaquim Carreira,
extraordinário e zeloso sacerdote
desta diocese. Foi pároco da Boa
Vista, mas exerceu o seu ministério, sobretudo em Roma, como
reitor do Colégio Português,
onde deixou marcas notáveis na
protecção aos judeus e demais
refugiados do nazismo.
O momento alto das comemorações do centenário
decorreu a 7 de Setembro, com
romagem à sua sepultura, no
cemitério dos Soutos, Caranguejeira, e a celebração solene da
Eucaristia, presidida pelo Bispo
diocesano, D. António Marto.
Seguiu-se um momento musical
pela Filarmónica de S. Cristóvão
e o lançamento de uma biografia da autoria do padre João Carreira Mónico,
seu sobrinho e principal promotor das comemorações, sob o título: “Monsenhor Joaquim Carreira. Apóstolo do bem, na guerra e na paz”. Na sessão
marcou presença a mãe do padre Mónico, irmã mais nova do homenageado,
actualmente com 95 anos. O autor da biografia destacou a faceta humanista e
sacerdotal de Monsenhor Carreira, as saudades que tinha da sua terra, o facto
de ter sido o primeiro piloto aviador padre em Portugal e, sobretudo, o que
sofreu em Roma, pondo em risco a sua vida e a dos alunos do Colégio Por| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 173
Reflexões
Apóstolo do bem, na guerra e na paz
. teologia / pastoral .
tuguês, para dar guarida e comida a judeus e outros perseguidos pelo regime
Nazi. Homem discreto e simples, de vasta cultura, viveu os últimos anos em
Roma, na Casa das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que se fizeram presentes, numerosamente, nesta homenagem, que encheu o auditório da paróquia
da Caranguejeira.
No final da sessão, D. António Marto, de forma veemente, lembrou que
não podemos esquecer os grandes valores que temos na nossa Igreja, num
tempo onde faltam referências. Lembrando um adágio medieval, “nós somos
anões levados às costas de gigantes”, referiu que “o que somos hoje, o devemos a quem nos precedeu” e salientou, sobretudo, a coragem de Monsenhor
Carreira em arriscar a vida para salvar a de outros. “Isto não se pode esquecer
e deve constituir para todos exemplo e uma referência”, concluiu o prelado.
A sessão terminou com um convívio, oferecido pela Junta de Freguesia que
também se associou aos festejos.
No Seminário
No dia 16 de Setembro, foi a vez de o Seminário de Leiria acolher uma
sessão comemorativa do centenário do nascimento de Monsenhor Joaquim
Carreira, também com a presença de D. António Marto. Mais uma vez, o
Bispo exaltou as qualidades deste notável servidor da Igreja e da sociedade:
o seu carácter inovador e ousado, que manifestou tanto na criação de um
laboratório de física e química no Seminário, que na época era o melhor das
instituições de ensino da cidade de Leiria, a sua acção pastoral, especialmente
na Boa Vista, cuidando de dar às pessoas do movimento da Acção Católica
uma sólida formação humana e espiritual. Foi o primeiro sacerdote com a
carta de aviador e criou uma rádio local. Na sua vida transparecia uma fé
intrépida e uma espiritualidade profunda. Na defesa dos perseguidos, foi um
homem corajoso e de grande caridade cristã. No seu zelo pastoral e na prática
do bem, é um sacerdote digno de ser imitado nos dias de hoje.
O padre João Carreira Mónico voltou a fazer a apresentação da biografia
de seu tio, um livro volumoso com fotografias e documentos que nos permitem conhecer a grandeza da vida e da acção desta grande figura, “um sacerdote de corpo inteiro, ao serviço de Deus, da Igreja e dos perseguidos, apóstolo
do bem, na guerra e na paz, com acções, palavras e escritos”.
Ao historiador José Travaços Santos coube a tarefa de dar a conhecer
a acção humanitária de Monsenhor Carreira, no acolhimento aos judeus e
a outros perseguidos, em Roma. Associou a sua acção solidária à de outro
português ilustre, Aristides Sousa Mendes, na mesma época. E leu alguns
174 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. teologia / pastoral.
depoimentos daqueles que encontraram abrigo no Colégio Português. Com
outros participantes na sessão, defendeu que urge divulgar, a nível nacional
e mesmo internacional, a obra deste leiriense em favor das vítimas de perseguição.
O padre Joaquim Carreira das Neves testemunhou o seu convívio com
Monsenhor Carreira e a tentativa que fizera para ouvir do próprio o relato da
obra que realizara. Ao que o sacerdote sempre respondeu: “Essas coisas não
se dizem, fazem-se”.
Retalhos da vida
Joaquim Carreira nasceu no lugar do Souto de Cima, paróquia da Caranguejeira, a 8 de Setembro de 1908. Seus pais, Joaquim Carreira e Maria
Inácia, pequenos lavradores, cedo se preocuparam com a educação do pequenito Joaquim, o único rapaz do ranchinho de 5 filhos que Deus concedeu ao
casal.
Fez a 3.ª classe na Escola da Caranguejeira. Para continuar os estudos,
teve de imigrar para Monte Real. Aqui, com apenas 10 anos, entre o trabalho
de casa (ir à lenha e à fonte) e a escola, fez a 4ª classe. Preparou-se então
para ingressar no Seminário de Leiria. Vencidas as resistências do pai, que
se opunha por este ser o seu único rapaz, é aceite em 15 de Outubro de 1920.
Tinha 12 anos. No Seminário, foi aluno aplicado, distinto e alegre, revelando
os seus talentos e o muito que tinha para dar. Com os seus colegas de curso,
fundou a revista manuscrita, “Vida Activa”.
Por decisão do Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, foi enviado para Roma, em 1926, para continuar os estudos eclesiásticos na Universidade Pontifícia Gregoriana. Aí concluiu a Licenciatura em Filosofia e Direito
Canónico e o Doutoramento em Teologia. A 19 de Setembro de 1931 foi
ordenado sacerdote, em Roma. Nesse mesmo ano regressou a Portugal, cheio
de entusiasmo e conhecimentos filosóficos, teológicos e científicos.
No Seminário de Leiria, de 1931 a 1940, o seu saber, alegria, dedicação
aos alunos, amor ao sacerdócio e ao apostolado, eram contagiantes. A actividade sacerdotal multifacetada granjeou-lhe simpatia e colaboração, dentro
e fora do Seminário. Animado pelos conhecimentos da física e química, lan-
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 175
Reflexões
Por João Carreira Mónico
. teologia / pastoral .
çou-se na organização de um Laboratório para fazer experiências naquelas
disciplinas. Criado para os alunos do Seminário era, no entanto, aberto aos
de outras escolas da cidade. Paladino da comunicação, pôs no ar a sua Rádio
local que, com graça, rotulou de “Rádio Esfola Gatos”! De Roma, trouxe
consigo uma máquina fotográfica. Com ela, guindou-se a fotógrafo do Santuário, elaborando um pequeno álbum intitulado “Vistas de Fátima”.
Nomeado capelão da Boavista (1931-1940), para lá caminhava todas as
semanas, quer chovesse, ventasse ou fizesse sol. Não tinha carro. Apenas
uma bicicleta. Mesmo assim, chegava a tempo e horas, tantas vezes com a
batina repassada pela chuva e lama dos caminhos. Na Boavista deu o melhor
da sua vida, através de uma pastoral pensada e organizada para um povo
faminto de Deus e de cultura. Fundou a Acção Católica e Conferência de S.
Vicente de Paulo. Organizou a catequese e formou as catequistas através de
retiros e cursos. Para as crianças, além da catequese, havia récitas, magustos,
amêndoas e concursos. Fomentou encontros inter-paroquiais e diocesanos.
Promoveu e acarinhou as vocações sacerdotais e religiosas que acompanhava
com solicitude paternal.
Em 1940, após os treinos no aeródromo de Leiria e Monte Real, fez
exame em Alverca e, sendo considerado apto e idóneo, recebeu a carta para
pilotar aviões de turismo. Válida em Portugal e na Itália.
Em Maio de 1940, o Bispo D. José Alves Correia da Silva mandou-o ir
novamente para Roma. Foi de comboio. A Europa estava em guerra. Hitler
e Mussolini faziam distúrbios em Roma. Não era risonho o cenário que o
esperava. Nomeado Vice-Reitor do Colégio Pontifício Português, em breve
passou a Reitor. Aqui e durante a guerra, correndo o risco da própria vida,
acolheu muitos refugiados, políticos e civis, fascistas, antifascistas, judeus
e não judeus. Nunca foi molestado, mesmo quando saía de Roma para as aldeias vizinhas à procura de alimentos. Furtando-se à vigilância dos soldados
nazis, lá ia, estrada fora, no carro do Colégio, mendigando alguns quilos de
milho e outros mimos para os seus refugiados.
Dispensado dos afazeres do Colégio Português, onde viveu 16 anos de
intenso trabalho, dedicação e orientação, retirou-se para a sua nova “Tebaida”
– a Casa Madonna di Fátima – confiada às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras
da Imaculada Conceição. Daqui, fazia caminho para a Embaixada de Portugal junto da Santa Sé, onde era Consultor Eclesiástico.
Fiel cumpridor dos seus deveres, por todos era apreciado pela sua inteligência, bondade, desprendimento, hospitalidade e alegria. Acompanhou
missões diplomáticas. Recebeu e acompanhou a visita da Imagem Peregrina
176 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. teologia / pastoral.
a Roma. Pregou, viveu e difundiu a Mensagem de Fátima.
Tinha apenas 73 anos de idade, quando Deus Pai, Senhor da vida e da
morte, veio chamar este seu servo bom e fiel. Faleceu no seu quarto, na Casa
Madonna di Fátima, em Roma, no dia 7 de Dezembro de 1981, em ambiente de simplicidade e pobreza franciscana, como era o seu viver. Nada fazia
prever este súbito desenlace. No entanto, Monsenhor Carreira preparou, com
muita antecedência, a sua viagem para a casa do Pai, como podemos ler nas
cartas que escreveu, depois de ter celebrado, com a família e na casa paterna,
as suas Bodas de Ouro Sacerdotais, em Setembro de 1981. Ficou sepultado
em jazigo do Pontifício Colégio Português, no cemitério do Campo Verano,
em Roma. Volvidos 20 anos, os seus restos mortais foram trasladados para o
cemitério dos Soutos da Caranguejeira, sua terra natal. Era o dia 25 de Fevereiro de 2001.
Testemunhos de uma acção heróica
A ternura de Deus manifesta-se não apenas directamente mas também
através das pessoas. Ele mesmo as escolhe para seus ministros, mensageiros
e instrumentos e lhes dá a capacidade de fazerem o bem. Monsenhor Joaquim
Carreira, cujo centenário de nascimento ocorre no dia 8 de Setembro, praticou
o bem por palavras e gestos simples, mas também por actos heróicos, acolhendo perseguidos, durante a guerra, em Roma, nos anos 1943 e seguintes.
Ao seu lado estiveram alunos e funcionários do Colégio Português. Várias
cartas relatam e agradecem o amor de que beneficiaram. Quando a gratidão
perdura no tempo e se repete é sinal de que o benefício deixou marcas profundas na memória das pessoas.
Um dos refugiados refere o aumento destes no Colégio e o tratamento que
receberam. Eram dezenas de professores, estudiosos, comerciantes, militares,
estudantes, hebreus: “todos puderam, a seu modo, experimentar a bondade e
o espírito de altruísmo do reitor que, com verdadeira caridade cristã e nobre
generosidade, desafiou as ferozes leis de guerra alemãs e fascistas, para aju-
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 177
Reflexões
“O coração português em Roma”
. teologia / pastoral .
dar aqueles que, como nós, se encontravam expostos ao perigo”. Nesta acção,
os padres portugueses, diz outro, “arriscavam-se a muito – e sabiam-no. Mas
nunca nos deram a perceber que estávamos a mais. Pelo contrário, rodeavamnos, a cada instante, de atenções, procurando tornar-nos a vida o mais agradável possível”. E conclui o depoimento de admiração, afirmando: “Em nome
da caridade cristã, um punhado de corajosos sacerdotes portugueses sob a
direcção do Rev.º Dr. Carreira fazia à sua maneira a guerra contra a injustiça
e contra o arbítrio, contra a violência, contra o despotismo”.
Um médico declara que ali experimentou o acolhimento fraternal dos
“braços amigos” do reitor e uma “vida que deveria ser a de todos os homens
– verdadeiros irmãos, sem distinção de raça, de religião, de nacionalidade”.
Mesmo sem esquecer as “tristes e cruéis vicissitudes da guerra, viverá sempre
em mim a lembrança daqueles poucos dias passados na paz tão hospitaleira
e fraterna do Colégio Português”. Outro médico, na altura estudante, fala do
reitor que aparecia “em toda a parte com o seu sorriso a alentar a nossa mocidade deprimida”. Se “Roma sofria as torturas da fome”, no Colégio, “em
nossa mesa, nada faltava, graças à estremada diligência e aos sacrifícios de
quem nos hospedava. Superior e alunos todos partilhavam das nossas angústias e das nossas alegrias”.
Um engenheiro recorda a sua experiência de sete meses: “Guardo ainda
uma maior admiração e gratidão para com o reitor, Dr. Joaquim Carreira, que
foi para mim, mais do que para qualquer um dos hóspedes, pai e irmão, que
me dispensou não só o conforto de sacerdote, mas também o da amizade e
ainda o exemplo admirável do homem que não se deixa abater pelas dificuldades, que sabe assumir a responsabilidade, ainda que grave, no momento da
crise e sabe perdoar de modo perfeito”. “Um oásis de serena espiritualidade,
de alta intelectualidade e de afectuosa hospitalidade, eis o que encontrámos
quando, perturbados pela situação geral e pessoal, entrámos no inviolável
recinto do Colégio Português”, testemunha outro refugiado. E classifica a
instituição como “ilha de paz no coração da cidade atormentada”. Outro falou
dele como “o coração português na Itália”.
Um ano depois do termo da guerra, no aniversário da aparição de nossa
Senhora em Fátima, os que tinham encontrado abrigo no Colégio reuniram-se
“em torno do altar” para agradecerem o benefício daquele acolhimento.
178 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. teologia / pastoral.
1.º ano do Hospital da Misericórdia da Batalha
Diversidade de contributos
numa mesma missão de CUIDAR
“Foi um ano em que
levámos a cabo a missão
dos cuidados continuados,
em trabalhos suados, numa
obra de bem-fazer que
procurámos sempre que
fosse bem feita”. Foi com
estas palavras que António
Monteiro, provedor da
Irmandade da Santa Casa
da Misericórdia da Batalha
(ISCMB), abriu a sessão
do primeiro aniversário do
Centro Hospitalar de Nossa
Senhora da Conceição (CHNSC), no passado dia 6 de Dezembro. Em jeito de
apresentação do espírito que preside à instituição, esta frase pode também resumir o trabalho que, de facto, ali tem sido desenvolvido desde a sua abertura
oficial, há cerca de um ano.
A cerimónia de aniversário contou com a participação de cerca de uma
centena de irmãos da Misericórdia da Batalha, que se juntaram nesta data
festiva aos utentes, à equipa de médicos, enfermeiros, administrativos e auxiliares, ao grupo de voluntários que ali prestam apoio e a alguns convidados,
como os presidentes da Assembleia e da Câmara Municipal, respectivamente,
Francisco Freitas e António Lucas, o presidente do Concelho de Gestão do
Grupo Misericórdias Saúde, Salazar Coimbra, e um representante do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, Júlio Freire.
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 179
Reflexões
Por Luís Miguel Ferraz
. teologia / pastoral .
Presente de sucesso rumo ao futuro
“O sucesso deste ano de trabalho deve-se à excelente equipa de profissionais, em todos os sectores desta Unidade de Cuidados Continuados (UCC),
mas também à profícua colaboração com os parceiros nacionais e regionais
da Segurança Social, da Saúde e da autarquia”, continuou o provedor, deixando, no entanto, a nota de que “este é um arremedo de obra feita, pois ainda
há muito trabalho a fazer para ampliar este tipo de serviços sociais e também
diversos problemas a enfrentar, como seja a sustentabilidade financeira do
projecto”, muito dependente das políticas de Saúde do Governo.
A título de exemplo, António Monteiro referiu o anunciado serviço domiciliário de medicina e enfermagem, para o qual defendeu que se “aproveite a
experiência, os meios e as equipas já presentes no terreno por parte dos serviços de apoio domiciliário das Instituições Privadas de Solidariedade Sociais”
(IPSS), que “devem ser ouvidas pelo Estado antes de ditar as suas sentenças
vindas de cima, normalmente acompanhadas de complexas obrigações e burocracias”. E atreveu-se a sugerir que “em vez de mais uns quilómetros de
auto-estrada, de mais uns relvados para o jogo da bola, de mais uns minutos
na velocidade do TGV, o Governo usasse uma parte dos nossos impostos para
financiar os serviços de apoio domiciliário, possibilitando a sua extensão aos
fins-de-semana e o alargamento do leque de serviços para além das refeições
e trabalho doméstico, aos cuidados médicos e de enfermagem”.
Ampliar as valências da acção social é também uma preocupação da
Câmara da Batalha, como referiu na ocasião António Lucas, defendendo o
“rápido regresso às negociações, entretanto paradas, para a transferência de
competências do Governo para as autarquias nas áreas sociais, como sejam
a Educação e a Saúde”. O presidente da edilidade frisou a colaboração que
tem sido prestada ao CHNSC, por ser “uma infra-estrutura de topo na região
e uma mais-valia fundamental no Concelho”, defendendo a continuidade
deste serviço noutras áreas e para outros públicos, “onde a autarquia tem
investido, mesmo sem ter essas competências específicas, como é exemplo
a recente criação de um Centro de Ajudas Técnicas, em colaboração com a
Segurança Social, que permite uma resposta rápida e eficaz aos pedidos dos
munícipes de equipamentos como camas articuladas, cadeiras de rodas, etc.”
Outro exemplo apontado foi a tentativa de implementação do serviço SOS
Vizinhos, visando um apoio directo às pessoas dependentes por parte de um
vizinho, devidamente ajudados financeiramente, e que “apenas não está em
execução porque, infelizmente, apenas uma pessoa em todo o concelho se
manifestou disponível para este trabalho”.
180 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. teologia / pastoral.
Cuidar, mais que tratar
O mesmo espírito é assumido por todos os profissionais, desde o corpo
clínico aos administrativos e auxiliares. “Curar às vezes, aliviar frequentemente, mas confortar sempre” é o lema apresentado por José Leite, director
clínico desta UCC. Honrado com o convite que lhe foi dirigido há um ano, o
médico afirma encontrar neste espaço o lugar ideal para o cumprimento dessa
missão, num compromisso entre exigência de profissionalismo e primazia ao
humanismo com que se desempenham as tarefas. “A primeira preocupação é
a saúde, mas o alívio da dor é o primeiro objectivo”, num processo que deve
envolver o doente, tendo como finalidade o cimentar da esperança e qualidade de vida enquanto se vive.
Na ocasião, foi projectado um filme sobre este primeiro ano de actividade,
que tornou clara esta mensagem. Os rostos iluminados pelo sorriso foram
mais evidentes do que as lágrimas de dor, a força de vontade para voltar a
aprender os primeiros passos foi mais visível do que o desânimo de um AVC,
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 181
Reflexões
Voluntariado destacado
Esta disponibilidade para a ajuda a quem mais precisa é uma das condições essenciais para o funcionamento de excelência deste tipo de projectos.
Também neste caso, a instituição registou uma resposta de qualidade, como
salientou Carlos Monteiro, coordenador-geral do CHNSC: “O grupo de voluntariado, que desde a primeira hora se organizou e se disponibilizou para
colaborar com a unidade no apoio aos doentes, assegura essa colaboração
durante todos os dias da semana, período de férias e feriados, o que não é
comum no voluntariado que se faz pelas demais unidades de saúde”. Como
exemplo desse compromisso, foi referida a organização pelos voluntários de
uma campanha para a oferta de um moderno sistema de som e projecção de
imagem que foi estreado nesta sessão.
Considerando que “também aqui marcamos a diferença”, este responsável lembrou o lema que move toda a equipa: “associar à vertente do trabalho,
um grande espírito de solidariedade e de amor ao próximo”. Esse será, aliás,
o segredo para o sucesso, que se mede pela satisfação geral dos mais de 150
doentes que já passaram por esta UCC, como prova o facto de “todos os que
regressaram a suas casas, apresentando grandes resultados de recuperação,
o fizeram com lágrimas de emoção, por sentirem que receberam aqui todo o
acolhimento, tratamento, carinho e respeito, que não encontraram em nenhuma outra unidade de saúde por onde haviam passado”. Graças a isso, conclui
Carlos Monteiro, “deixaram-nos a agradável sensação do dever cumprido”.
. teologia / pastoral .
a luz dos espaços e ambientes quase escondeu a realidade soturna da doença
que motivou o levantar desta casa. Como bem resumiu Graça Pereira, enfermeira-chefe da unidade, em forma de poema, é o esforço multidisciplinar de
muitos que dá sentido a este trabalho, na “certeza de que estamos a crescer”.
Unidade modelo
O presidente do Grupo Misericórdias Saúde reconheceu também o trabalho exemplar desta unidade no âmbito da rede nacional, salientando o papel
deste Governo na solução do problema dos Cuidados Continuados, em diálogo com as Misericórdias e outras IPSS. “A Batalha é um bom exemplo do
serviço que queremos prestar”, afirmou Salazar Coimbra, alertando para o
facto de “continuarmos atentos às necessidades e a defender um projecto que
deverá ir mais longe, abrangendo os apoios domiciliários nas áreas da medicina, enfermagem, psicologia, terapias da fala e ocupacionais, etc.”
Na mesma linha, o representante da União das Misericórdias Portuguesas
referiu a importância da cooperação com o Estado, “que não conseguirá nunca responder a todas a necessidades sociais e poderá contar com o inestimável
serviço das Misericórdias”. Júlio Freire apontou o exemplo do CHNSC como
“das melhores instituições a nível nacional, com provas dadas no serviço às
pessoas, com qualidade e humanismo, pela dignidade humana”. Referindo os
elevados índices de satisfação dos utentes, louvou o facto de “terem começado no início do projecto e revelado a capacidade e a coragem de aprender”.
Se dúvidas havia ainda, o testemunho espontâneo de alguns utentes ali
presentes desfê-las por completo. O senhor Joaquim afirmava com comoção:
“eu não era capaz de andar nem de fazer nada e recebi aqui todo o carinho
e força para recuperar essas capacidades”. Também a dona Alice, primeira
utente desta unidade, marcou presença no acto. As lágrimas de gratidão corroboraram as palavras da sua filha: “melhorou muito e sente-se aqui muito
acarinhada por uma equipa que poupou imenso sofrimento, a ela e a toda a
família”. Curiosamente, neste momento partilha o quarto com o marido, que
foi também ali internado posteriormente, “num verdadeiro lar onde ambos se
sentem amados”.
Voltando à alegria, a sessão terminou com uma bonita interpretação musical a capela pelo grupo Domus, seguindo-se a Missa de acção de graças,
presidida pelo padre franciscano Joaquim Costa, e um beberete de convívio
entre todos.
182 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. história .
O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa
de Lencastre no Mosteiro da Batalha
Saul António Gomes (Universidade de Coimbra)
António Manuel Rebelo (Universidade de Coimbra)
1 — Problemática historiográfica
No braço meridional do transepto da igreja do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, à mão esquerda de quem nele entra, encontra-se uma lápide,
extremamente esfacelada e incrustada entre silhares enegrecidos, na qual se
descobrem e se lêem, não sem dificuldade, tal o estado de deterioração que a
pedra atingiu, antigos caracteres góticos.
Ainda que seja uma lápide gótica rara no espectro da epigrafia quatrocentista, em Portugal, o seu estudo nunca foi levado a cabo por nenhum dos
historiadores que se debruçaram sobre o passado deste monumento pátrio.
Fr. Francisco de S. Luiz, que viveu algum tempo “exilado” no Mosteiro
da Batalha, antes de ser elevado ao cardinalato, anota a sua existência na
“Memoria Historica Sobre as Obras do Real Mosteiro de Santa Maria da Victoria”, publicada em 1827, onde se lhe refere nos seguintes termos:
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Reflexões
Resumo: Neste artigo, os autores dão notícia e procedem à publicação
crítica do epitáfio latino, que se conserva inédito e apenas fragmentariamente, alusivo à trasladação, em 1416, da rainha D. Filipa de Lencastre
para o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha).
Abstract: A latin epitaph of the Philippa of Lencastre, Queen consort of
Portugal through her marriage with King John I, remained unpublished
and unstudied until now. It regards the first transfer of her body into the
Monastery of Santa Maria da Vitória (Batalha), in 1416, which was placed
in a crypt, where it temporarily remained until the royal pantheon was
finished.
. história .
“Ultimamente no outro topo fronteiro, entrando a porta travessa da
igreja, vê-se na parede do lado esquerdo a inscripção latina, de que falla o
chronista no fim do cap. XXV, mas está a pedra tão despedaçada, e lascada no fogo, que ahi fizerão os soldados francezes, que nos não foi possivel
ler o seu conteudo, e nem ao menos conhecer, se com effeito se referia
á trasladação da senhora D. Filippa, como Fr. Luiz de Souza affirma no
mesmo lugar.”1
A leitura do passo da História de S. Domingos, de Fr. Luís de Sousa, a
que se refere o Cardeal Saraiva, sendo esclarecedora, não nos deixa, infelizmente, a respectiva transliteração epigráfica. Escreveu o insigne cronista
dominicano, que estanciou no Mosteiro por 1621, momento em que redigiu
o magnífico texto que consagra ao monumento gótico, encerrando o capítulo
dedicado ao enaltecimento de D. Filipa de Lencastre, que:
“Aqui pertence advirtirmos aos curiosos, que querem rezão de tudo,
que a letra de huma pedra, que parece na Igreja á entrada da porta travessa
contém hum breve epitafio Latino d’esta santa Rainha pera memoria da
sua primeira tresladação pera esta Igreja, que fica contada, em quanto tardava a segunda pera a sua capella, que foi muitos annos despois.”2
Revelaram-se infrutíferas as investigações que realizámos junto de outros
Autores, especialmente os mais antigos, no sentido de apurar uma possível transliteração ou nova informação acerca da lápide que nos ocupa. As
pormenorizadas informações acerca da morte de D. Filipa de Lencastre, no
Mosteiro de Odivelas, no dia 19 de Julho de 1415, devidas ao erudito labor
do cronista Gomes Eanes de Zurara, são omissas em matéria de registo dos
epitáfios da generosa Rainha3. Igual silêncio se encontra nas páginas em que
cronistas como Rui de Pina, Garcia de Resende, Damião de Góis, Cristóvão
Acenheiro ou D. Jerónimo Osório aludem às trasladações dos féretros reais
para o mausoléu batalhense4.
Não menciona esta inscrição o até hoje ainda não identificado autor de O
Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, em redacção por volta de 16501657, posto que apresente preciosas informações acerca do Convento nessa
época5. Também o Conde da Ericeira, D. Fernando de Menezes, em 1677,
nas páginas, inspiradas no Cronista dominicano, em que enaltece a obra de
D. João I não se lhe refere6.
184 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. história .
2 — Características epigráficas
Colocada, como escrevemos, no muro poente do braço meridional do
transepto da igreja conventual de Santa Maria da Vitória, a 2,06 metros do
chão, esta lápide mede 70cm de altura por 47 cm de largura14.
Do ponto de vista paleográfico, a inscrição apresenta caracteres perfeitamente góticos, contrastando com a tradição gráfica uncial corrente em peças
medievais anteriores. Ainda que estejamos perante uma lápide fragmentária
bastante estilhaçada, deveremos assinalar a sua regularidade gráfica traduzida
numa paginação reflectida e bem programada, na cuidadosa definição das
margens, na projecção de espaços interlineares amplos e na preferência pela
concatenação das linhas de texto em ordem a acentuarem o efeito visual da
versificação.
A elegância das letras maiúsculas, no começo de cada linha, por seu
lado, traduz alguma uncialidade e gosto pelo ornato (sobretudo letras mais
redondas como os AA, os MM e os CC, contrastando estas, no entanto, com
os HH mais angulosos), numa época, a dos começos do século XV, em que,
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 185
Reflexões
Nas páginas generosas, em informação documental, coligidas por José
Soares da Silva, dedicadas ao reinado de D. João I e publicadas em 1730,
encontramos dados relevantes para a biografia da rainha D. Filipa. Deve-selhe, aliás, a primeira tentativa de publicação integral do epitáfio da Rainha,
exposto no facial do túmulo real existente na Capela do Fundador, mas, infelizmente, não se ateve minimamente ao epitáfio em causa7. Muito embora
D. António Caetano de Sousa nos tenha deixado, com data de 1744, uma
pormenorizada notícia sobre a morte desta rainha, ela nada adianta, uma vez
mais, para a questão que nos ocupa8, o mesmo se podendo aferir da consulta
de outros historiógrafos desses séculos9.
Têm um elevado lugar de relevo, no panorama da historiografia batalhina,
os comentários históricos e descritivos que James Murphy insere no Álbum
intitulado Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalha…,
mas, também aqui, a informação histórica limita-se a reproduzir o estabelecido por Fr. Luís de Sousa, nada se enunciando acerca deste letreiro gótico10.
Igualmente infrutíferas, sobre esta matéria, são as observações sobre o monumento devidas a Thomas Pitt, que o visitou em 176011. Escapou a inscrição,
ainda, a Francisco da Fonseca Benavides, na sua obra sobre as Rainhas de
Portugal, publicada em 187812. Não consta, finalmente, do opus magnum da
epigrafia medieval portuguesa, onde se reúnem todas as epígrafes medievais
do País entre 862 e 1422, da autoria de Mário Jorge Barroca13.
. história .
nas chancelarias reais, se recupera o gosto pelo traçado de litterae elongatae
e também de literae notabiliores.
Nas datas recorreu-se a numeração romana de tradição medieva (“CCCC”
e não “CD”) escrevendo-se ainda o milésimo por extenso.
Entre as minúsculas, devemos anotar a prevalência de nexos em conjuntos
como “or” e “pr” (v. g., “florentis”, “armorum”, “prelustris”, na primeira e
segunda linhas) e “le” (“culentis”, na primeira regra). O recurso a abreviação
por contracção é, contudo, muito reduzido podendo referir-se, na última linha, os exemplos “glia” (gloria) e “xpisto” (Christo) que dão expressão à antífona litúrgica. Recorreu-se a modificação literal na expressão “[F]rancique”
em que sucedem ao “q” final três pontos.
Usou-se o ponto intermédio na separação entre cada palavra assim se
procurando viabilizar uma leitura menos árdua e mais compassada do texto
inscrito.
3 — Análise filológica
Muito embora, como escrevemos, a lápide esteja muito estilhaçada, é possível observar que possuiu 14 linhas de texto, em caracteres de gótica alemã,
de que, hoje em dia, apenas se consegue reconstituir uma leitura satisfatória
para as primeiras quatro, bastante insuficiente para as regras cinco a sete, e
pouco mais do que sofrível para as restantes linhas com excepção das duas
últimas cujo sentido se reconstitui por sabermos corresponderem a parte do
milésimo ou data da morte de D. Filipa e a uma imprecação final de louvor
a Jesus Cristo.
A planificação do epitáfio, com linhas alternadamente recuadas, à maneira
dos dísticos elegíacos, parece indiciar uma disposição em verso, apesar dos
informes mais prosaicos das linhas finais e da doxologia com que termina o
texto completo, ocupando parte da última linha.
O grau de destruição, levada a cabo pelas tropas francesas, é tal que o
núcleo do texto ficou irrecuperavelmente perdido. Podemos presumir o que
lá se encontrava, mas não podemos conjecturar uma reconstituição segura do
texto. Neste capítulo, aduzimos a autoridade de R. Marichal para justificar
a orientação cautelosa do nosso trabalho: “l’expérience prouve que les restitutions, lorsqu’il ne s’agit pas de formules établies, sont presque toujours
annulées par les découvertes postérieures”15.
186 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Reflexões
. história .
Fotografia da lápide no Mosteiro de Santa Maria da Vitória
Foto: Luís Ferraz
| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 187
. história .
O texto da lápide poderá ser reconstituído do seguinte modo:
A[n]glie florentis armorum q[......] culentis
Henrrici prelustris german[a fra]ncique regis
Hic iacet in cripta quondam [praec]lara [Philipp]a
Moribus et vita gra[n]d[is] d(om)i(n)a [.......a]
Ind[e in] mon(a)s[terio.....................................no]n
Min[ime............................................................]m
Inf[antes....................................................] a
Dudum regin[a......................................]na
Portugalis et [........................................................]
Augusti xiii[i............................ ultimum die]m
Clausit mallis[.........................mortem] uicit
Lumen adprehendens [......................]
[A]nno millesimo quadringentesimo[..........................]
[D]ecimo quinto. Sit laus [et glor]ia Christo.
A suspeita de se tratar de um poema é reforçada pela colocação em posições poeticamente estratégicas dos principais nomes. Como se pode ver, Anglie, Henrrici, Philippa, Infantes e Portugalis ora estão no início ou no final
da linha – as posições mais importantes onde os poetas latinos habitualmente
costumam colocar os nomes que pretendem enaltecer.
A assonância florentis – culentis, prelustris – regis, e cripta – Philippa
fazem-nos suspeitar de rima leonina, embora a primeira palavra não coincida
com o final do primeiro hemistíquio e, a partir do séc. XII, a rima seja geralmente dissilábica (mesmo que impura)16.
Todavia, ainda que admitíssemos um ritmo intensivo (o ritmo quantitativo está fora de questão devido a irregularidades gritantes), o esquema mais
próximo que poderíamos admitir seria o ritmo anapéstico baseado essencialmente em metros anfíbracos. Trata-se de um ritmo muito semelhante ao do
britânico limerick uma forma variante de poesia atestada na poesia inglesa
vernácula já desde o séc. XIV17.
E é curioso que, tratando-se de um epitáfio de D. Filipa, o autor comece
por enaltecer a Inglaterra e o Rei Henrique IV, irmão de D. Filipa, apesar de
o soberano em causa ter falecido dois anos antes da irmã. À data do falecimento da Rainha portuguesa reinava já Henrique V, filho de Henrique IV e
sobrinho de D. Filipa. Todavia, dois ou três anos de reinado ainda não tinham
sido suficientes para merecer uma referência especial na lápide da tia. Estava
188 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
ainda bem presente o reinado do pai. É, pois, de estranhar que o nome da
própria homenageada só surja no final da terceira linha.
Ao enfatizar a ascendência britânica de D. Filipa, em vez de começar por
a relacionar com o seu marido, D. João I, bem mais glorioso e conhecido no
mosteiro que ele próprio mandou construir, o autor do epitáfio denuncia a sua
nacionalidade: só pode ser inglesa. Efectivamente, o texto abre com o nome
de Inglaterra (Anglie). Por outro lado, a referência ao título do monarca britânico, um Plantageneta em plena guerra dos cem anos, está de acordo com a
documentação da época: Regis Anglie et Francie18. Com Eduardo III, os reis
de Inglaterra, que também eram duques da Aquitânia, tornaram-se pretendentes ao trono de França.
Não admira que este título tenha suscitado a ira dos soldados de Napoleão, gerando neles o desejo de descarregar sobre a lápide toda a fúria que
nutriam contra os Ingleses.
Se a primeira linha começa por Anglie, a segunda principia por Henrrici e
termina por Francique regis. Esperar-se-ia Francieque regis. Não está claro que
haja razões de natureza métrica para se substituir o substantivo pelo adjectivo.
Obscuro é para nós, ainda, o final da primeira linha que termina em algo
que nos parece –culentis. Mais sentido faria, neste contexto, tanto excellentis
como luculentissimi (ambos com um sentido muito parecido) ou luculentissimorum e luculentissimae, se concordar, respectivamente com armorum ou
com Anglie. Poder-se-ia admitir uma abreviatura por suspensão, mas falta a
sílaba inicial, da qual não se vislumbram quaisquer vestígios. A referência às
armas é idêntica àquela com que Camões inicia Os Lusíadas, na linha da imitação de Virgílio: as armas da casa real inglesa ou da de Lencastre, uma vez
que é D. Filipa que, nessa referência à ilustre linhagem inglesa, é nobilitada.
Traduzindo a primeira parte, à excepção do final da primeira linha, teríamos o seguinte sentido:
A irmã do mui ilustre D. Henrique, Rei da florescente Inglaterra, (de
armas ilustríssimas) e de França, a preclara D. Filipa, que outrora foi uma
grande senhora em costumes e no modo de vida, jaz aqui na cripta...
Seguir-se-á uma alusão à sua morte no Mosteiro de Odivelas e à trasladação do seu corpo para a Batalha. Onde conjecturamos non minime, também
poderíamos admitir non minus, uma lítotes para enaltecer D. Filipa ou a acção
dos Infantes, cujos feitos gloriosos em Ceuta estavam ainda bem presentes.
Relembremos que D. Filipa sempre incentivou os filhos a conquistar as espo| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 189
Reflexões
. história .
. história .
ras de cavaleiro através de feitos gloriosos, não em justas e torneios, mas em
acções guerreiras, como era o caso da conquista de Ceuta.
Só depois virá a referência à sua condição de Rainha de Portugal e dos
Algarves, e esposa de D. João I.
O mês de Agosto e o número XIII, que nós reconstituímos para XIV (na
forma habitual de xiiii), estará certamente relacionado com a sua morte: no
14º dia das calendas de Agosto (19 de Julho), embora reconheçamos que a
posposição do número ao nome do mês seja pouco comum.
O texto que se segue descreve a morte da Rainha, recorrendo certamente a
um eufemismo muito comum equivalente à forma mais prosaica mortua est:
ultimum (ou extremum) diem clausit. O autor exprime a convicção de a Rainha, tendo vencido a morte e resistido aos males deste mundo, se encontrar já
na plenitude da luz de Deus (lumen adprehendens).
As duas linhas finais fazem alusão à data da morte ou da sua deposição.
É, todavia, de estranhar a ausência das letras iniciais, que se esperariam no
alinhamento das iniciais das linhas anteriores. Terão sido destruídas – pelos
Franceses ou num primeiro processo de limpeza ou de qualquer outro polimento, a que a lápide terá sido submetida para se eliminar o negrume da
fogueira a que foi exposta – ou terá sido lapso do sculptor?
Entre o início da data, registada por extenso, e o final, há um espaço que não
conseguimos descortinar. Estaria reservado à designação da Era de Cristo?
O texto é rematado com uma aclamação doxológica de louvor e glória a
Cristo.
O elevado estado de fragmentação desta lápide não nos permite aquilatar
devidamente a qualidade literária do texto, no qual subsistem algumas dúvidas e incertezas.
4 — Contexto histórico
Pelo que subsiste desta pedra, podemos testemunhar a elevada qualidade
da paginação primitiva (ainda que o lapicida possa ter desvirtuado nalguns
elementos de pormenor o texto escrito que lhe foi fornecido pelo autor intelectual da epígrafe), toda ela servida pela inscrição de caracteres góticos,
maiúsculos e minúsculos, de elevado esmero gráfico e efeito estético. O razoável profissionalismo do lapicida mostra-se à altura da dignidade régia que
envolve todo o monumento batalhino, o qual, depois da conquista de Ceuta,
em 1415, se viu elevado à categoria de panteão da nova dinastia lusitana
consagrada, como sabemos, pela vitória portuguesa, na Batalha Real de 14
de Agosto de 1385, nos campos vizinhos ao Mosteiro, sobre os exércitos
190 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
. história .
“(…) Obiit autem decima octava die Julii anno Domini Mº CCCCXVº.
Et in monasterio de odivellis ante chorum monialium decima nona die
mensis ejusdem extitit sepulta, et anno sequenti, mensis obtobris die
[decima] nona fuit pretiosum corpus ejus desepultum, integrum inventum, et suavviter odoriferum, et per victoriosissimum Regem dominum
Johannem eius coniugem et per illustrissimos infantes scilicet dominum
Edduardum, suum primogenitum, et dominum Petrum Colimbrie ducem,
et dominum Henricum ducem Viseensem, et dominum Johannem, et dominum Fernandum, et infantem dominam Elisabeth ipsorum gloriosissimi
regis, et felicissime Regine filios, sociante prelatorum, et cleri, et religiosorum copia numerosa, et dominis, et generosis dominabus etiam et
domicellis quamplurimis comitantibus, fuit corpus dicte reginehonorandissime translatum in capella maiori, et principaliori, die mensis obtobris
decima quinta, anno Domini Mº CCCCº. XVIº, et postea fuit translatum
ad hanc capellam, in hoc tumulo reconditum, cum corpore gloriosissimi
regis domini Johannis sui coniugis virtuosissimi, sub illa forma, que in
suo epitaphio continetur. Horum autem personas Deus omnipotens glorificare dignetur perpetua felicitate. Amen.”20
(“Faleceo a dezoito de Julho de 1415, e foi sepultada no dia seguinte no antecoro das Freiras de Odivellas. E sendo desenterrada no anno
adiante em nove de Outubro, foi achado seu corpo inteiro, e sem corrupção, e acompanhado de suave cheiro, e foi trazido a este Convento polo
victoriosissimo Rei dom João seu marido, e polos serenissimos Infantes, a
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Reflexões
invasores que faziam perigar a independência nacional19.
Esta foi, aliás, a primeira lápide a ser afixada nas paredes da igreja monástica mandada edificar, entre os anos de 1385-1388, como é bem conhecido,
por D. João I. A informação legada por Fr. Luís de Sousa indica que era epígrafe alusiva à trasladação dos restos mortais de D. Filipa de Lencastre dos
Mosteiro de Odivelas para este novo mausoléu.
Conhece-se bastante bem o acontecimento em causa. Os cronistas referem-se-lhe e as fontes epigráficas subsistentes no Mosteiro da Batalha confirmam-na. De facto, no segundo e longo epitáfio da rainha D. Filipa de Lencastre, exposto no painel lateral sul do túmulo conjugal, levantado no centro da
Capela do Fundador, para onde ela foi levada, conjuntamente ao seu marido,
em soleníssimo cerimonial de Estado celebrado em 1434, sensivelmente um
ano após o falecimento do Rei da Boa Memória, podemos ler a dado passo:
. história .
saber, dom Duarte seu filho primogenito, dom Pedro Duque de Coimbra,
dom Anrique Duque de Viseu, dom João, e dom Fernando, e dona Isabel
filhos d’elle, e d’ella: sendo acompanhados de grande numero de Prelados, e Clerigos, e Frades, e de todos os senhores, e fidalgos da Corte, e
de muitas donas, e donzellas illustres que seguião a Infante dona Isabel: e
em quinze de Outubro do anno de 1416 ficou depositado na capella mór,
d’onde foi despois treladado a esta capella, e sepultura em companhia delRei seu marido, na fórma que no epitafio do dito Rei se declara. Ambos
tenha o Senhor em sua gloria. Amen.”21)
Bastaria, de qualquer modo, a própria lápide exposta no transepto da igreja, todavia, para assinalar a solenidade da trasladação do féretro de D. Filipa
de Lencastre para o Mosteiro. Como vemos, no entanto, o acontecimento
ficou gravado tanto na inscrição exposta no transepto como na parietal do túmulo conjugal destes monarcas. Ainda assim, cumpre considerar o testamento de D. João I, datado de 1426, no qual o assunto vem igualmente explicitado
nos seguintes termos:
“(…) Item mandamos que noso corpo se lamçe no Moesteiro de Samta
Maria da Vitoria, que nos mandamos fazer com a rrainha dona Felipa,
mynha molher, a que Deus acreçente em sua glorya, em aquell moymento
em que ella jaaz, nom com os seus ossos della, mas em huum ataude, asy
e em tall guisa que ella jaça em seu ataude e nos em o noso, pero jaçamos
ambos em huum moymento, asy como o nos mandamos fazer. E esto seja
na capella moor, asy como ora ella jaaz, ou na outra que nos ora mandamos fazer, despois que for acabada.”22
Há que assinalar, ainda, o precioso documento lavrado no Mosteiro da
Batalha, por Gonçalo Lourenço, escrivão da puridade régia, autenticado pela
assinatura autógrafa do próprio D. João I, com data de 24 de Outubro de
1416, no qual se atesta terem decorrido nesse exacto dia — informe que não
coincide, significativamente, com o que foi lavrado no respectivo túmulo,
onde aparece inscrito 15 de Outubro — as cerimónias da solene trasladação
da rainha defunta. Embora já publicado, reiteramos, aqui, o seu teor, dada a
sua relevância para o assunto que nos motiva:
“Saibam quantos este strumento birem como na Era de mil iiiic çinquoenta e quatro anos, vynte e quatro dias do mes d Outubro dentro no
192 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
Moesteiro de Sancta Maria da Batalha, o qual Moesteiro he edeficado
e aseentado no termo da bila de Leyrea, em presença de mim notairo e
testemunhas adiante scriptas. Estando hi o muito alto, ilustriximo dom
Joham pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve e Senhor de
Çepta e com el os muito altos e nobres senhores Ifantes seus filhos e os
nobres condes e cavaleiros e ricos homees e fidalgos dos seus senhorios
e outrossi muitos e honrrador e discretos bispos e abades e priores de
sua terra e muito clerigos e religiooes dos seus Regnos que por seu mandado foram chamados pera traladarem aa mujto alta enobre ilustrixima
sua molher dona Philipa Rainha dos dictos Regnos em cuja gloria Deus
acreçente, do Moesteiro d Odivelas onde primeiramente foy sopultada ao
dicto Moesteiro de Sancta Maria da Batalha. E estando a dicta Senhor
em o dicto Moesteiro pera lhe seerem çelebradas suas honrras de sua
traladaçom pareçeo perante o dicto senhor Rei Gonçalo Gill enlecto do
Moesteiro de Sancta Cruz 23 de Coinbra e disse lhe em como el bem sabia que o dicto Moesteiro da Batalha en que se a dicta traladaçom fazia
esta fecto e adificado em termo da dicta bila de Leirea que he terra do
dicto Moesteiro de Sancta Cruz em a qual bila de Leirea e termo o dicto
Moesteiro de Sancta Cruz ha toda jurdiçom episcopal, isenta aa igreja de
Roma sem outro alguum meo perteeçente. E em como assy fosse e he que
o dicto Moesteiro de Sancta Cruz aja e ha muitos privilegios e liberdades dos padres sanctos de Roma e dos nobres sanctos Reix de Portugal
e confirmados por o dicto senhor Rei dom Joham que Deus mantenha,
em os quaees faz mençom antre as outras eygeiçooes e liberdades que
nenhuuns arçebispos nem bispos nem outro alguum escresiastico nom
possam çelebrar o sancto sacrifiçio divino nem outro nenhuum ofiçio que
perteeça aa jurdiçom e hordem episcopal em a dicta bila de Leyrea e seu
termo salvo ao priol que for do dicto Moesteiro de Sancta Cruz, o qual
priol por bem do dicto privilegio pode çelebrar em pontefical em a dicta
bila de Leyrea e seus termos.
E que agora em estes autos eram prestes bispos e abades e priores
pera çelebrarem em as dictas oussequyas em pontefical, a qual cousa
era em prejuizo dos privilegios do dicto Moesteiro. E porquanto o dicto
enleyto estava de presente e por os dictos privilegios do dicto Moesteiro
nom seerem quebrantados fez dello rolaçam ao dicto senhor Rei que fosse
sua merçee que mandase comprir e agoardar os privilegios e liberdades
do dicto Moesteiro e nom desse lugar a sse quebrantarem. E o dicto senhor Rei respondendo disse que o que da parte do dicto enleyto era razo| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 193
Reflexões
. história .
. história .
ado que lhe prazia muito quanto em esto que seus privilegios lhe fossem
goardados ao dicto Moesteiro como em eles faz mençom. E porquanto
o dicto Moesteiro careçia por agora de prelado que podesse do dicto
pontifical husar e çelebrar segundo nos dictos privilegios faz mençam, e
porquanto era neçessario seerem celebradas as dictas oussequyas ponteficalmente por bispos e abades e priores e hordees segundo perteeçia a
tam alta Senhor, que mandava esto fazer com entençom de nom husurpar
nem mingoar nem ir contra os privilegios do dicto Moesteiro, mandando
o dicto Senhor Rey que os dictos bispos e abades e priores çelebrassem as
dictas oussequias ponteficalmente, nom consentindo nem quebrantando
os dictos privilegios nem hursupando sua honrra e jurdiçom senom tam
solamente porque o dicto Moesteiro careçia de prelado por agora. E por
se fazerem as sobredictas cousas mais honrradamente. E mandou e deu
lugar ao dicto enlecto que assy de presente era que fezesse suas protestaçooes pera goarda do direito do dicto Moesteiro de Sancta Cruz. O qual
logo protestou que de toda cousa que se em o dicto Moesteiro fezesse e
çelebrasse em as dictas oussequias lhe nom quebrantasse nem fezesse
perjuizo em parte nem em todo aos dictos privilegios e honrra e jurdiçom
do dicto Moesteiro. E pedio por 24 merçee ao dicto senhor Rei que lhe
mandase assy delo dar huum strumento pubrico pera goarda do dicto
Moesteiro. E o dicto senhor Rei lho mandou dar. E por mayor abastança
asynou o dicto senhor Rei este strumento por sua maao. Testemunhas que
presentes foram o meestre frey Joham Xira seu confessor e Johane Anes
seu meirinho e Fernam Gomes de Lemos seu camareiro e outros.
(Ass.) El Rey.
E eu Gonçalo Lourenço scripvam da poridade do dicto senhor Rei e
notairo geeral na ssa corte e em todo o seu senhorio que com as dictas
testemunhas a esto pressente fui e esto por minha mãao ssoescrevi e aqui
meu signal fiz que tal he (sinal do notário).”25
Por outro lado, sabemos, por carta de 11 de Novembro de 1416, que “na
traslladaçom que nosso senhor el Rei ora fez ao corpo de nossa Senhora a
Raynha dona Phillipa a cuja alma Deus perdõoe no soterramento que do dicto seu corpo fez no Monsteiro da Batalha honde jaz sopultado” foram feitas
muitas ofertas, esmolas,, oferendas e dós, entre eles setenta peças de panos de
ouro e de seda “novos emteiros mui nobre e mui ricos”. Destes panos, ficaram
aos frades da Batalha sete peças tendo as demais sido distribuídas pelos prelados e beneficiados presentes nas reais exéquias, facto que motivou o agravo
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dos cónegos de Santa Cruz de Coimbra, senhores, no espiritual, do Priorado
de Leiria, em cujo termo se situava o novo mausoléu dinástico26.
D. João I e os seus filhos, perante toda a Corte, patrocinaram uma trasladação soleníssima. Nos rituais que envolveram todo o cerimonial projectavase a mais pura consideração familiar pela defunta Rainha ao mesmo tempo
que se propiciava, no amplo e majestoso cenário batalhino, o ambiente espiritual comemorativo da piedosa consorte em torno da qual se sedimentara todo
um discurso que reflectia a sua consideração como mulher de vida exemplar
e morte santa. Gomes Eanes de Zurara recolheu e amplificou, eficazmente,
esta projecção de santidade maternal no seio das duas primeiras gerações da
nova dinastia avisina.
O epitáfio que aqui publicamos não só proclama, com óbvio significado
institucional, a Rainha de Portugal como orgulhoso membro da Casa dos
Lencastre, como enaltece o prestígio de que se revestia, na Europa do tempo,
a associação entre as Coroas de Portugal e da Inglaterra. Não menos significativo é o facto da inscrição registar que o corpo da Rainha jazia “in cripta”,
ou seja, soterrado em túmulo raso.
A lápide mantém-se in situ, assinalando o preciso lugar da primeira tumulação de D. Filipa de Lencastre na igreja dominicana27. Tratava-se, como
vemos, de sepultura térrea. Algum tempo depois, contudo, o corpo de D.
Filipa de Lencastre seria trasladado para túmulo alto à entrada da capelamor da igreja. Aí se encontrava em 1426, conforme refere o testamento de
D. João I e, ainda, em 1433, por ocasião da morte do monarca. No ano seguinte, o corpo de D. João I foi levado da Sé de Lisboa, onde tivera primeira
sepultura, para o Mosteiro da Batalha. No dia 14 de Agosto desse ano, com a
grandiosa pompa de que os cronistas dão nota, procedeu-se, na presença do
novo soberano, D. Duarte, e de toda a Corte, à tumulação dos féretros de D.
João e de D. Filipa no seu novo e definitivo jazigo, na Capela do Fundador,
expressamente edificada, segundo um projecto do arquitecto catalão Mestre
Huguet, para esse efeito.
Nas inscrições mandadas lavrar nos parietais desta arca funerária conjugal, a primeira que assim de cerziu no País, assinalam-se dados biográficos
de ambos os monarcas com grande pormenor de factos e de datas. Neles
omite-se a prévia tumulação de D. Filipa, em 1416, defronte da Capela dos
Mártires ou de S. Miguel, só depois transferida para lugar mais adequado à
sua dignidade como era a capela-mor do Mosteiro. A lápide comemorativa
da chegada do corpo da Rainha à Batalha, contudo, permaneceria intacta no
seu devido lugar, sobre a cripta fúnebre. Na Terceira Invasão Francesa, co| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 195
Reflexões
. história .
. história .
mandada pelo General Massena, as tropas francesas aquartelaram, entre 1810
e inícios de 1811, no Mosteiro. A igreja viu-se transformada em estrebaria,
guardando-se o feno e demais forragem para os animais na capela-mor. Na
sacristia conventual, como no próprio braço sul do transepto da igreja, a soldadesca acendeu fogueiras28.
As marcas dessas bárbaras sevícias ainda hoje perduram nas paredes e
nalguns dos túmulos do monumento. O primeiro epitáfio de D. Filipa de
Lencastre, infelizmente, foi uma das peças que mais prejuízo sofreu nessa
ocasião. Foi à sua edição, interpretação e contextualização histórica, na fragmentariedade que lhe é própria e no fecho de quase seiscentos anos depois
da sua inauguração em que tem passado praticamente em silêncio, que nos
propusemos no presente estudo.
Notas
S. Luiz, Fr. Francisco de (1827), “Memoria Historica sobre as Obras do real Mosteiro
de Santa Maria da Victoria, chamado vulgarmente da Batalha”, in Memorias da
Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa,
163-231: 206.
2
Sousa, Fr. Luís de (1977), História de S. Domingos. Volume Primeiro. Introdução e
Revisão de M. Lopes de Almeida. Porto: Lello & Irmãos – Editores, 671. [1ª edição:
Lisboa, 1623].
3
Zurara, Gomes Eanes de (1992), Crónica da Tomada de Ceuta. Introdução e notas
de .Reis Brasil. Lisboa: Publicações Europa-América, 143-177. [1ª edição: Lisboa:
1644].
4
Uma consulta cómoda destas páginas pode encontrar-se em Gomes, S. A. (1997),
Vésperas Batalhinas. Estudos de História e Arte. Leiria: Edições Magno, 43-66.
5
O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria (1980), Leiria: O Mensageiro, 97-107.
[1ª edição, 1868: Braga: Typographia Lusitana].
6
Menezes, D. Fernando (1677), Vida e Acçoens D’El Rey Dom João I Offerecida à
Memoria Posthuma do Serenissimo Principe Dom Theodosio. Lisboa: Oficina de
João Galrão, 414-427.
7
Silva, José Soares da (1730), Memorias para a Historia de Portugal que comprehendem o governo del Rey D. João o I. Tomo Primeiro. Lisboa: Oficina de Joseph
Antonio da Sylva, 308-315. [O epitáfio tumular de D. Filipa de Lencastre, como o
de D. João I, aliás, foi parcialmente publicado, e traduzido, por Fr. Luís de Sousa.
Retomou-o José Soares da Silva, como escrevemos, completando a transcrição de
Fr. Luís de Sousa. D. Fr. Francisco de S. Luiz, por seu turno, voltaria a editá-lo, em
1827, repondo texto em falta nas citadas edições. Permanece em aberto, hoje em
dia, a necessidade de uma nova leitura epigráfica destes epitáfios, desejando-se que
seja metodológica e cientificamente mais criteriosa].
1
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. história .
Sousa, D. António Caetano de (2002), Agiológio Lusitano dos Santos e Varões Ilustres
em Virtude do Reyno de Portugal e suas Conquistas. Tomo IV. Porto: Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, 220-229. [1ª edição: 1744, Lisboa]. O mesmo autor
não se lhe refere na sua Historia Genealogica da Casa Real Portugueza.
9
Nomeadamente Vasconcelos, Pe. António (1621), Anacephalaeoses id est Summa
Capita Actorum Regum Lusitaniae. Antuérpia: Petrum & Ioannem Belleros., 154-155;
Leão, Duarte Nunes (1690), Genealogia Verdadera de los Reyes de Portugal con sus
elogios y summario de sus vidas. Lisboa: Oficina de Antonio Alvarez49-50.
10
Murphy, James (1795), Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalha
in the Province of Estremadura in Portugal, with the History and Description by Fr.
Luis de Sousa; with remarks. Londres. [2ª edição, Londres: 1836].
11
Pitt, Thomas (2006), Observações de uma Viagem a Portugal e Espanha (1760).
Introdução de Maria João Neto. Lisboa: Ippar – Centro de História da Universidade
de Lisboa, 130-135.
12
Benevides, Francisco da Fonseca (1878), Rainhas de Portugal. Estudo Historico com
muitos documentos. Tomo I. Lisboa: Typographia Castro Irmão, 243-260. De notar
que Frederico Francisco de la Figanière não abrange, nas suas Memorias das Rainhas
de Portugal (Lisboa: Tip. Universal, 1859), o reinado de D. Filipa de Lencastre.
Alguns curiosos dos séculos XIX e XX aludem a esta placa epigráfica, mas sempre
sem procederem a qualquer estudo ou interpretação da mesma.
13
Barroca, Mário Jorge, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422). Vol. II. Corpus
Epigráfico Medieval Português, Tomo 2. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian e
Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
14
Cumpre agradecer a ajuda que nos foi gentilmente prestada, para o estudo desta
lápide, bem assim a sua reprodução, pelo Senhor Dr. Pedro Redol, conservador do
quadro do Mosteiro da Batalha.
15
Vd. R. Marichal (1961), “La critique des textes”, in Ch. Samaran (ed.) L’histoire et ses
méthodes (Encyclopédie de la Pléiade, 11). Paris, 1247-1360; citação da p. 1273.
16
Em épocas anteriores, bastava que a rima fosse monossilábica, i. e. que a vogal e a
consoante final fossem idênticas ou semelhantes (assonância).
17
Embora os exemplos mais frequentes do limerick se possam encontrar na poesia
inglesa do séc. XIX, Shakespeare recorreu a ele nas sua peças Othello, King Lear,
The Tempest e Hamlet.
18
Eis alguns exemplos colhidos ao acaso: “Serenissimo principi ac domino, domino
Henrico, florentis Anglie ac Francie inclito regi...”; “Henricus, Edwardus (etc.)... Dei
gratia Regis Anglie et Francie”; “...ex parte dicti Serenissimi principis, regis Anglie
et Francie”; “Beda [...] Ecclesiasticam scripsit Historiam regi Henrico Dei gratia regi
Anglie et Francie...”. Repare-se no epíteto de Inglaterra, no primeiro exemplo que
fornecemos – florentis – o mesmo que encontramos no nosso texto.
19
Na verdade, como temos vindo a defender de há muito, só depois de Ceuta o Mosteiro da Batalha se viu decididamente elevado à missão de panteão régio. À data da
morte do primogénito real, o Infante D. Afonso, ocorrida em 1400, D. João I optou
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Reflexões
8
. história .
por o sepultar na Sé de Braga. Poderia argumentar-se que o Mosteiro da Batalha
não ofereceria, nesse momento, as condições minimamente adequadas à recepção
tumular desse Infante. É uma hipótese. Cremos, contudo, que a morte de D. Filipa
de Lencastre, em 1415, coincidindo com o momento da conquista de Ceuta veio
precipitar a opção régia pela Batalha como lugar de memória funerária da Dinastia
de Avis. Sobre a família e vida de D. João I, leia-se Coelho, Maria Helena da Cruz
(2005), D. João I. O que re-colheu Boa Memória. Lisboa: Círculo de Leitores. Para
a história do monumento e sua edificação, permita-se-nos remeter para Gomes, S.
A. (1990), O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV. Coimbra: Instituto
de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1-146 e
293-368.
20
Seguimos a lição de S. Luiz, Fr. Francisco de, “Memoria Historica…”, 229-230.
21
Mantemos a tradução de Sousa, Fr. Luís de, História de S. Domingos, 671.
22
Silva, J. Soares da (1730), Memorias…, T. 1, 285 e segs.; Sousa, D. António Caetano
de (1738), Provas da História Genealógica, T. 1, Liv. 3, nº 4; Monumenta Henricina.
Dir. J. Dias Dinis. Vol. III (1421-1431), Coimbra: Comissão Comemorativa do 6º
Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 131-139 (cuja edição seguimos).
23
Riscou um “E”.
24
Riscou “a mi”.
25
Costa, A. D. de Sousa Costa (1985), “A Jurisdição quase episcopal do Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra em Leiria e seus termos, reivindicada em processo judicial
perante D. Álvaro Afonso, Bispo de Silves e legado a latere do papa Calisto III”,
in Itinerarium, XXXI, nº 123, 432-435; Gomes, S. A. (2000), Fontes Históricas e
Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII). Vol. I. Lisboa:
Ippar, 93-95.
26
Gomes, S. A. (2000), Fontes Históricas e Artísticas…, T. I, 96-97.
27
Recentemente verificou-se a existência, justamente neste ponto da igreja, de uma
cripta, facto que mais reitera as observações que deixamos neste artigo. (A informação em causa foi-nos prestada, há alguns anos atrás, pelo Senhor Dr. Júlio Órfão,
Director do Mosteiro, a quem muito agradecemos).
28
Fr. Francisco de S. Luiz recolheu memórias precisas da barbárie napoleónica neste
Mosteiro; podem somar-se-lhe os testemunhos, bastante impressivos, devidos a autores estrangeiros como o Reverendo W. M. Kinsey (Portugal Illustrated. Londres:
1829) e Julia Pardoe (Traits and Traditions of Portugal, Vol. I. Londres: 1833).
Leia-se, também, Estrela, Jorge (2009), Leiria no Tempo das Invasões Francesas.
Lisboa: Gradiva, 72-75.
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