Leiria-Fatima_ed_46 - Diocese Leiria
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Leiria-Fatima_ed_46 - Diocese Leiria
ANO XVI • NÚMERO 46 • julho / dezembro • 2008 • Destaque • Assembleia diocesana • pág. 83 “O melhor investimento que a Igreja pode fazer é na formação” • Documentos • Carta Pastoral • pág. 25 Ir ao Coração da Fé - Formar para uma fé adulta • Destaque 2 • Tomadas de posse no Santuário de Fátima • pág. 87 No “coração mariano de Portugal” o apelo a “ir ao coração da fé” • Especial • Visita Pastoral do Bispo à Diocese • pág. 90 “Sinal visível da presença de Cristo” • História • Saul António Gomes • pág. 177 O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa de Lencastre no Mosteiro da Batalha DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO Leiria-Fátima Órgão Oficial da Diocese ANO XVI • NÚMERO 46 • JULHO / DEZEMBRO • 2008 Ficha Técnica| Director | Luís Inácio João Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz Administrador | Henrique Dias da Silva Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino, Manuel Melquíades, Saul Gomes Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria Tel.: 244832760 • Fax: 244821102 Correio Elec.: [email protected] Periodicidade | Semestral Tiragem | 330 exemplares Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual) Impressão | Tipografia de Fátima Depósito Legal | 64587/93 2 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Índice . editorial . O elogio da diferença 6 Documentos••• . decretos . Nomeação • Serviço Diocesano para o Diaconado Permanente Nomeação • Administrador do Santuário de Fátima Nomeação • Pároco da Barreira Decreto • Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus Nomeação • Reitor do Santuário de Fátima Decreto • Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus Nomeação • Capelão da Comunidade Ucraniana Nomeações • Paróquias e Serviços diversos Nomeação • Associação Fraternitas Movimento Nomeação • Escola de Formação Social Rural de Leiria Nomeação • Defensor do Vínculo e Promotor da Justiça do Tribunal Eclesiástico Nomeação • Notário do Tribunal Eclesiástico Nota Pastoral • Despertar o espírito de missão e reacender um novo ardor missionário Carta Pastoral • Ir ao Coração da Fé - Formar para uma fé adulta 16º Gala da Central FM - “Pensar Globalmente e agir localmente” • O lugar e a globalização Nota aos fiéis de Leiria-Fátima • Convocatória da Assembleia Diocesana Homilia do Jubileu Sacerdotal e tomada de posse do Reitor do Santuário de Fátima O nosso cântico de júbilo: eu Te bendigo, ó Pai... Tomada de Posse • Novo Reitor do Santuário de Fátima Homilia na celebração de S. Francisco de Assis para a Família Franciscana “Vai, Francisco, repara a minha casa, que está em ruínas” Bênção do Centro de Interpretação de S. Jorge • Revisitar a Figura de Nun’Álvares Nota Episcopal • O nosso Seminário precisa de ajuda! Mensagem de Natal • “Desperta, ó homem; por ti, Deus fez-Se homem” Dia da Sagrada Família • Mensagem às famílias Homilia de fim de ano • Gratos a Deus pelos seus dons Comunicado do Conselho Presbiteral • Professar, celebrar e viver a fé Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano • Ano Pastoral dedicado à formação Comunicado do Conselho Presbiteral • Reorganização pastoral da Diocese Ano Pastoral 2008-2009 • “Ir ao Coração da Fé” 11 11 12 13 16 16 18 19 20 20 21 21 . documentos pastorais . 22 25 . escritos episcopais . 51 52 53 57 61 65 68 69 71 73 . diversos . 77 78 79 80 | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 3 Índice Vida Eclesial••• . destaque . Assembleia diocesana • “O melhor investimento que a Igreja pode fazer é na formação” Tomadas de posse no Santuário de Fátima No “coração mariano de Portugal”, o apelo a “ir ao coração da fé” Visita Pastoral à Diocese • “Sinal visível da presença de Cristo” 83 87 . especial . 90 . notícias . CFC – Formação para a vida religiosa / Formação sobre “acompanhamento espiritual” Leiria-Fátima nas Jornadas Mundiais da Juventude Jovens diocesanos decidem vocação / Associação Mãos Unidas P. Damião em Leiria Acampamento de Verão do MCE / Celebração do padroeiro Santo Agostinho Bênção da primeira pedra da igreja da Martingança Jubileus sacerdotais / Assembleia do Clero para revisão do RABI Capelão dos imigrantes Ucranianos / Dia da Diocese: serviço à Igreja e ao mundo Canção Nova obtém aprovação pontifícia Padre Jorge Guarda publica No Silêncio do Santuário / Sacerdotes diocesanos em retiro em Singeverga Padre José Reis: 40 anos de sacerdócio / Pré-seminário… D. Anacleto apresentou “Um ano a caminhar com São Paulo” 4º aniversário da Comunidade Pastoral de S. Romão e Guimarota / Nova Junta Diocesana dos Escuteiros Instituição de Leitor, na festa de Natal no Seminário Estipêndios na Província Eclesiástica de Lisboa Faleceu o padre Boaventura Vieira • Um homem de paz e de obras Presidente da Ucrânia peregrino de Fátima Curso de música litúrgica / “Um dia em peregrinação” Exposição “Fátima no mundo” Perfil do visitante de Fátima / Dia Mundial das Missões Sistema de videovigilância no Santuário de Fátima Delegação do Iraque visita Fátima / Ciclo de conferências sobre São Paulo Site do Santuário de Fátima em polaco Seminário Diocesano de Leiria Serviço de Animação Vocacional Pré-Seminário Serviço Diocesano de Catequese Serviço Diocesano da Juventude Comissão Diocesana Justiça e Paz Serviço de Animação Missionária Cáritas Diocesana Escola Razões da Esperança 4 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 116 . Santuário de Fátima . 117 118 119 120 121 122 123 . serviços e movimentos . 124 126 128 129 132 135 137 139 144 Índice . entrevistas . Centro de Acolhimento de Leiria • “Sem-abrigo” não são apenas os que não têm casa! Cónego José de Oliveira Rosa • Uma vida ao serviço da Fé Padre Tony Neves - X Fórum Ecuménico Jovem • Percursos de Unidade Luís Sousa, chefe de campo do JAMBOREE 2008 – XIX Acampamento Regional de Leiria “O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem” Ana Sousa, missionária (Brasil) • “Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras” 145 149 154 157 161 Reflexões••• . teologia/pastoral . Monsenhor Joaquim Carreira • Apóstolo do bem, na guerra e na paz 167 1.º ano do Hospital da Misericórdia da Batalha Diversidade de contributos numa mesma missão de CUIDAR 173 Saul António Gomes O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa de Lencastre no Mosteiro da Batalha 177 . história . | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 5 Editorial O elogio da diferença Maior ou menor, a dificuldade não desaparece. Mesmo pela positiva, haverá sempre caminho entre o simples reconhecimento e a efectiva valorização das diferenças. A diferenciação é, na humanidade, um dado constitutivo, tal como a igualdade, esta reservada para o fundamental, não propriamente excepcional ou remoto, mas constante, como o direito a ser diferente. Únicos, necessários e necessitados, temos pela frente o desafio da harmonização dos nossos interesses com os dos outros. A despeito de resistências, talvez obstinadas, a apelos mais profundos, a experiência demonstra que a convivência é estruturante e exige o fiel da balança do lado do acolhimento e da vitória do confronto sobre a afronta. Nas sociedades de funcionamento prevalentemente mecânico, com forte consciência colectiva e altos níveis de conformidade, a integração social impunha-se a todos de uma forma que hoje achamos chocante. Não é assim na nossa contemporaneidade que, prezando as diferenças e apostando numa participação social orgânica, deixou para trás esse corpo social inflexível e inibidor de opções e iniciativas. A mudança foi rápida e abrupta, mas sem total descontinuidade porque a interacção é sempre indispensável. Mesmo assim, a exaltação exacerbada da individualidade, desenfreando a liberdade e a igualdade dos seus limites naturais, e comprometendo dessa forma a fraternidade igualmente proclamada, deixou as sociedades de participação orgânica sob a denúncia de um deficit que tenderia a agravar-se. Obrigadas cada vez mais a impor mínimos de conformidade, contra os excessos de anomia, as democracias poderão cada vez menos justificar essa repressão. À falta de valores comuns de referência, insuficientes ou inexistentes, o Estado de direito grita aos lobos e agita o espectro da insegurança. Mal iria a humanidade se o lugar, autonomia e participação de cada um fossem irremediavelmente fatais a uma coesão social suficiente e necessária. A recessão das capacidades de resposta às exigências de uma participação orgânica, desde o adeus à solidariedade mecânica, só pode indiciar anomalias graves nos pressupostos da organicidade ou na sua gestão. 6 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Editorial Dignos de apreço, muitos, desejando o épanouissement das consciências individuais e temendo o definhar da consciência colectiva, preocuparam-se com a salvaguarda de um lastro axiológico comum. Firmes rumo à participação cidadã, titubeavam, não obstante, quanto às fontes de coesão. Não abdicando de uma referência comum, necessariamente transcendente, mas obstinando-se na demarcação das crenças instituídas, muitos congeminaram deísmos de substituição; outros acreditaram poder manter a sociedade no pedestal, propondo-a à veneração comum; outros, ainda, legitimaram que a ordem e o progresso, por força da sua bondade intrínseca, fossem propostos aos razoáveis e impostos aos demais. Com os anos a democracia foi-se balizando de ilusões e voluntarismos, avisos à navegação, sucessos sectoriais e tragédias inigualadas, mas não pôde camuflar a necessidade de laços mais profundos que unam todos aqueles a quem assistem, em simultâneo, o direito da individualidade e o direito/dever da participação activa na construção do bem comum. Há quase dois mil anos, Paulo de Tarso descortinou o caminho da coabitação da diferenciação de cada um com a igualdade comum na referência, necessária e suficiente, a Jesus Cristo, explicada numa metáfora (1Cor 12,131). Ele é a cabeça e os demais são membros inseparáveis, com funções diferenciadas, complementares e imprescindíveis a todo o corpo. A harmonia orgânica é garantida pela especificidade da cabeça, Jesus Cristo, e não por simples operacionalidade funcional. Os interlocutores da proposta cristã são hoje diferentes dos tempos de Paulo e dos séculos que mediaram até à modernidade. O primado iluminista da razão, que viria a pôr em causa a referência humana ao transcendente, decidiuse, desde logo pelo distanciamento dos referentes instituídos e investigou os fundamentos e formas da vida social no âmbito restrito do humanismo ateu. Hoje, basta a onda generalizada de individualismo que ameaça gravemente a sociedade, para se justificarem algumas questões pertinentes. Que terá escapado, de essencial, às medidas premonitórias de uma coesão social sólida? Por que resultaram inglórios tantos esforços? Os apelos a uma verdadeira avaliação dos paradigmas culturais vigentes vão surgindo, de diversos quadrantes, contrariando, unânimes, o recurso sistemático à fuga para a frente que vai permitindo continuar a passar de crise | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 7 Editorial em crise sem nada mudar. Os próprios princípios de uma participação orgânica vão apontando uma laicidade positiva, ainda imprecisa, mas prometedora de efectiva convivência sócio-cultural, também religiosa, entre todos os membros da sociedade civil, particulares e colectivos. Há um ponto assente e uma adenda a fazer: toda a discriminação, excepto em caso de prejuízo ao bem comum, atenta contra os direitos inalienáveis da liberdade de pensamento, de expressão e de reunião, e assiste aos parceiros sociais o direito a não serem privados da cooperação do parceiro discriminado. A metáfora paulina aplica-se ao corpo eclesial cujos membros devem identificar-se pelo acolhimento ao mesmo e único Espírito de Cristo, que concede os seus dons a cada um, em ordem à edificação comum. Mas, não será plausível falar das outras sociedades humanas a essa mesma luz? É nesta condição de corpo vivo que a Igreja deve surgir, em atitude testemunhal, e tem direito a estar presente, na plenitude dos seus direitos de membro da sociedade civil. Sendo-lhe reconhecido que esteja, e estando com toda a sua identidade, a convivência social diferenciada não será privada deste caso típico de participação orgânica, afirmação clara da possibilidade de a humanidade se estruturar sob a base da máxima coesão e máximo reconhecimento da autonomia e participação de cada um. Portadora de esperança, a presença da Igreja será também interpelação e denúncia, se não mesmo sinal de contradição. Os cristãos não serão únicos a poderem encontrar num referencial transcendente a dignidade humana e a verdade da pessoa como ser em relação. O próprio pressuposto de que o homem só poderá encontrar-se fechando-se a outro, fora de si mesmo, é contestado pela prática da complementaridade subsidiária de funções e partilha do mesmo sentir comum. Mesmo assim, fica ainda espaço para o equívoco da supressão de toda a expressão religiosa, pública, em nome de uma autonomia humana absoluta, entendida como bem comum. Nisso, o mundo torna-se desafio claro à Igreja, que não regateará assumir-se, dialogante, no discernimento e correcção das anomalias históricas na concepção e gestão da cooperação orgânica. Esta será sempre a sua forma exclusiva de se entender no seu ser e na sua missão. 8 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Documentos . decretos . documentos pastorais . . escritos episcopais . diversos . . decretos . Nomeação António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários, havemos por bem nomear Responsável do Serviço Diocesano para o Diaconado Permanente o Revº P. Dr. Adelino Filipe Guarda, que entrará em funções no início do próximo mês de Setembro. Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos. Leiria, 15 de Julho de 2008 † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima Nomeação Administrador do Santuário de Fátima António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Tendo terminado o mandato do actual Administrador do Santuário de Fátima, de acordo com os Estatutos do Santuário de Fátima havemos por bem nomear Administrador e Capelão do Santuário de Fátima o Revº P. Cristiano João Rodrigues Saraiva, que entrará em funções durante o próximo mês de Setembro. Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos. Leiria, 15 de Julho de 2008 † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 11 Documentos Serviço Diocesano para o Diaconado Permanente . decretos . Nomeação Pároco da Barreira António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário prover ao cuidado pastoral da Paróquia da Barreira, havemos por bem confiá-la aos cuidados do Presbítero Leonel Vieira Baptista, que nomeamos Pároco da mesma, com os direitos e obrigações inerentes a este múnus, segundo a Lei da Igreja. Por mais este título, o consideramos Nosso especial colaborador e asseguramos-lhe a confiança e auxílio indispensáveis ao bom desempenho da sua missão, assim como a estabilidade no ofício, que o bem dos fiéis requeira. Exerça ele de tal modo o seu ministério de ensinar, santificar e governar, que os fiéis e toda a comunidade paroquial se sintam, de facto, membros vivos da Igreja diocesana e universal. Seja a sua actividade pastoral sempre penetrada de espírito missionário, para abranger, como deve, quantos vivem na paróquia. No desempenho do múnus de ensinar, pregue a Palavra de Deus a todos os fiéis, para que estes, fundados na fé, na esperança e na caridade, cresçam em Cristo e, reunidos na comunhão da Igreja, ofereçam ao mundo o testemunho de amor que o Divino Mestre recomendou (cfr. Jo. 13, 35). Seja diligente em garantir a todos uma adequada formação catequética e apostólica e não descure a evangelização dos que ainda não conhecem Cristo. No trabalho de santificação das pessoas, procure que a celebração do Sacrifício Eucarístico seja o centro e o ponto culminante de toda a vida da comunidade cristã. Esforce-se ainda por que os fiéis se alimentem no espírito, pela graça de Deus, recebendo com devoção e frequência os sacramentos e participando, de modo consciente e activo, na liturgia. No cumprimento do dever pastoral, procure conhecer bem o próprio rebanho e, sabendo-se ao serviço da Igreja, promova o progresso da vida cristã quer nos indivíduos, quer nas famílias, quer nas associações, sobretudo de apostolado, quer ainda em toda a comunidade paroquial. Visite as famílias e as escolas, como exigência do seu múnus pastoral; atenda diligentemente os adolescentes e os jovens, manifeste especial predilecção pelos pobres e pelos doentes e seja sinal do amor de Cristo para com os mais desprotegidos e necessitados. 12 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Mantenha-se unido aos outros sacerdotes e sinta-se corresponsável pelo bem de toda a Diocese. Lembre-se que os bens materiais, adquiridos no exercício da sua missão, andam intimamente ligados ao múnus sagrado. Socorra pois generosamente as necessidades materiais da Igreja, segundo as próprias disponibilidades e as indicações superiores. Finalmente, esperamos que os paroquianos o recebam, como legítimo pastor e o auxiliem no bom desempenho da sua missão. Todos se lhe devem unir pela oração e pela actividade apostólica. Concorram para a sua côngrua sustentação, de modo que, liberto de preocupações económicas, possa dedicar-se inteiramente ao serviço evangélico da comunidade paroquial. Esta nomeação é válida por seis anos. Dado em Leiria, a 15 de Julho de 2008 † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima Decreto Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário providenciar ao bem da Diocese e das suas instituições, e tendo em consideração que: - A Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, Pessoa Colectiva Religiosa com o nº 501232222, com sede no lugar de Aljustrel, freguesia de Fátima, concelho de Ourém, desta Diocese, erecta canonicamente pelo Bispo de Leiria-Fátima com decreto de 2 de Março de 1959, está sujeita à nossa autoridade, conforme determinam as leis canónicas, por ser uma Associação de Fiéis (cf Código de Direito Canónico, cân. 305); - A mesma PIA UNIÃO criou, com finalidade social, a Fundação Divino Coração de Jesus, com escritura pública de 22 de Junho de 2006, mas sem existência canónica, e para ela transferiu os seus bens, o que acarreta sério prejuízo no património daquela pessoa colectiva; - Os Estatutos da Fundação criada não asseguram de modo algum os fins religiosos da Pia União, nem na forma nem no espírito nem na substância, o que traduz inobservância dos Estatutos desta pessoa Colectiva Religiosa e das normas canónicas; | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 13 Documentos . decretos . . decretos . - Terminou, em 11 de Junho último, o mandato de três anos estabelecido nos Estatutos, da Superiora Geral, Irmã Maria Madalena de Jesus, com o nome civil de Gabriela Soares de Melo e Simas Prieto Ferreira; Exercendo o dever de vigiar sobre a administração das pessoas jurídicas sujeitas ao Ordinário diocesano, conforme os cânones 305, 1276 e outros aplicáveis do Código de Direito Canónico, e o artigo 7º das Normas Gerais das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, Decreta o seguinte: Designar, nos termos do cân. 318 § 1 e do artigo 23º das Normas Gerais das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, o ecónomo diocesano, Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva, portador do Bilhete de Identidade n.º 8466661 emitido em 05.03.2004 pelos S.I.C. de Leiria e residente em Rua Joaquim Ribeiro Carvalho, nº 2, Leiria, como comissário, e o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo, casado, portador do Cartão de Cidadão n.º 5074584, residente na Rua Dr. João Bernardo de Oliveira Rodrigues, n.º 5, em Ponta Delgada, como comissário adjunto, a fim de representarem a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, ficando desde já o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo mandatado singular e especificamente para a prática dos seguintes actos em Juízo e fora dele: - intentar, no Tribunal ou Tribunais competentes, acção judicial destinada à declaração de nulidade da Escritura Pública da Constituição da Fundação do Divino Coração de Jesus, outorgada aos 22 dias do mês de Junho de 2006 exarada de fls 104 e seguintes do Livro 33 do Cartório Notarial de Fátima Ramada, bem como, Providências Cautelares destinadas a evitar a prática de actos de transmissão dos Bens Imóveis afectos à mencionada Fundação no acto da sua constituição pela instituidora Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus e que actualmente se acham inscritos a favor daquela Fundação ou em nome ainda da entidade instituidora, e ou, revogar essa Escritura e outorgar no respectivo acto e praticar todos os actos necessários aos indicados fins da sua extinção e subsequente liquidação; - intentar no Tribunal competente acção judicial destinada à declaração de nulidade ou de anulação da Escritura Pública de Doação do imóvel sito na Ilha do Faial, outorgada pela Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus a favor de Pedro Manuel Ferreira de Seixas Antão, bem como Providência Cautelar destinada a evitar a prática de ulterior acto de transmissão daquele imóvel; - desistir do pedido e confessar o pedido reconvencional na Acção Ordinária n.º 2153/06.5TBCBR, que corre termos na 2ª Secção das Varas de Com14 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | petência Mistas e Juízos Criminais de Coimbra, em que é Autora a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus e Réu o Seminário Pio XII; - confessar, desistir e transigir na Acção Ordinária n.º 635/07.0TBPDL, que corre termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Ponta Delgada, em que é Autor o Seminário Pio XII e Ré a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus; - revogação de todos e quaisquer mandatos forenses constituídos e que venham a ser constituídos e notariais que tenham sido conferidos, ou que venham a ser conferidos, pela Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, designadamente a procuração outorgada em 19/10/2005 no Cartório Notarial de Ourém, em que foi mandatado o Dr Pedro Manuel Ferreira de Seixas Antão, divorciado, natural da freguesia de São Sebastião da Pedreira, concelho de Lisboa, residente em Farrobito, Caminho dos Moinhos, nº 86, Penedo, freguesia de Colares, concelho de Sintra; - revogação do mandato judicial conferido ao mandatário da Autora, o Dr Manuel José Motaco Piteira, com escritório no Bairro Horizonte, lote 76, Apartado 44, 7500-999 Vila Nova de Santo André, na Acção Ordinária n.º 2153/06.5TBCBR, que corre termos na 2ª Secção das Varas de Competência Mistas e Juízos Criminais de Coimbra, em que é Autora a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus e Réu o Seminário Pio XII; - revogação do mandato judicial conferido ao mandatário da Ré, Dr Manuel José Motaco Piteira, com escritório no Bairro Horizonte, lote 76, Apartado 44, 7500-999 Vila Nova de Santo André, na Acção Ordinária n.º 635/ 07.0TBPDL, que corre termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca de Ponta Delgada, em que é Autor o Seminário Pio XII e Ré a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus; - para conferir mandatos forenses a favor de Advogado ou Advogados, a fim de representar a Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus em Juízo. E para constar emite o presente decreto que assina e autentica com o selo branco que usa. Leiria, 15 de Julho de 2008 † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 15 Documentos . decretos . . decretos . Nomeação Reitor do Santuário de Fátima António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Tendo terminado o mandato do actual Reitor do Santuário de Fátima e tendo obtido o “nada obsta” da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, de acordo com o Artigo 10º dos Estatutos do Santuário de Fátima, havemos por bem nomear Reitor do Santuário de Fátima o Revº P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes, que tomará posse durante o próximo mês de Setembro. Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos. Leiria, 15 de Julho de 2008 † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima Decreto Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo dever do Ordinário do lugar cuidar que nas associações de fiéis diocesanas, públicas e privadas, “se mantenha a integridade da fé e dos costumes”, “não se introduzam abusos na disciplina eclesiástica” e “os bens sejam utilizados para os fins da associação” (cf cân. 305 e 325); Tendo em consideração que: - a associação de fiéis denominada Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, Pessoa Colectiva Religiosa com o nº 501232222, com sede no lugar de Aljustrel, freguesia de Fátima, concelho de Ourém, desta Diocese, foi erecta canonicamente pelo Bispo de Leiria-Fátima, com decreto de 2 de Março de 1959, estando por isso sujeita à sua autoridade, conforme os cânones 305 e 325 do Código de Direito Canónico; - se verificam procedimentos administrativos que lesam gravemente os bens da referida Pia União; 16 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | - terminou, em 11 de Junho último, o mandato de três anos, definido pelos Estatutos, da Superiora Geral, Irmã Maria Madalena de Jesus, com o nome civil de Gabriela Soares de Melo e Simas Prieto Ferreira; Exercendo o dever de vigilância sobre as associações de fiéis sujeitas à autoridade do Ordinário diocesano, conforme os cânones 305, 323, 325, 1276 e outros aplicáveis do Código de Direito Canónico, e o artigo 7º das Normas Gerais das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, Decreta o seguinte: 1. Designar, nos termos do cân. 318 § 1 e do artigo 23º das Normas Gerais das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, o ecónomo diocesano, Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva, portador do Bilhete de Identidade n.º 8466661, emitido em 05.03.2004 pelos S.I.C. de Leiria, residente em Rua Joaquim Ribeiro Carvalho, nº 2, Leiria, como comissário, e o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo, casado, portador do Cartão de Cidadão n.º 5074584, residente na Rua Dr. João Bernardo de Oliveira Rodrigues, n.º 5, em Ponta Delgada, como comissário adjunto, para em meu nome, e além dos poderes de representação já conferidos por força do nosso Decreto de 15 de Julho, também administrarem temporariamente os bens da Pia União, procurando pelos meios legais anular os procedimentos administrativos anteriores que lesaram o património da mesma Pia União e assegurar aos membros da Pia União os meios adequados à sua digna subsistência e apostolado. 2. Confirmar o mandato conferido ao Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo, para a prática dos actos em Juízo e fora dele mencionados no nosso Decreto de 15 de Julho e outros que se revelem necessários para o bem da Pia União. 3. Revogar todas as credenciais emitidas até ao presente à mencionada Superiora da Pia União e especialmente as de 29 de Setembro, 18 e 28 de Outubro 2005. Enquanto não for feita nova eleição, nos termos do direito, a actual Superiora Geral dirige os assuntos correntes da Pia União, nomeadamente no que se refere à sua vida religiosa e apostólica, sem prejuízo do mandato conferido aos Comissários acima designados. O presente decreto entra em vigor na data de hoje. E para constar emite o presente decreto que assina e autentica com o selo branco que usa. Leiria, 29 de Julho de 2008 † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 17 Documentos . decretos . . decretos . Nomeação Capelão da Comunidade Ucraniana António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sabendo que “na Igreja todos devem, de facto, encontrar a sua Pátria”, que é o mistério do amor de Deus entre os homens, e que os cristãos devem ser promotores de uma verdadeira cultura do acolhimento (cf. EMCC), e atendendo às necessidades pastorais dos fiéis católicos de origem ucraniana, de acordo com os cân. 564-566 e 568 do Código de Direito Canónico e com as orientações da Instrução Erga migrantes caritas Christi, havemos por bem nomear Capelão da Comunidade Ucraniana residente nesta Diocese, o Rev. P. Sílvio Litvinczuk, OSBM, que tomará posse no dia 14 de Setembro de 2008. Exercerá o seu ministério em comunhão com o Bispo diocesano e de acordo com as orientações eclesiásticas. Terá os deveres e direitos que o Código de Direito Canónico atribui aos párocos, nomeadamente as faculdades consignadas no cânone 1109. Deverá organizar a comunidade dos fiéis à semelhança de uma paróquia católica, nomeadamente no que diz respeito ao registo dos sacramentos e à constituição do Fundo Económico, com a ajuda de um Conselho Económico. Esta nomeação é válida pelo período de seis anos. Leiria, 1 de Setembro de 2008. † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima 18 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . decretos . Nomeações O Senhor D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, procedeu às seguintes nomeações: 1. O P. Dr. Virgílio Antunes é nomeado Reitor do Santuário de Fátima. Toma posse no dia 25 de Setembro. Continua como docente do Instituto Superior de Estudos Teológicos em Coimbra e deixa as funções de Delegado Episcopal para o Diaconado Permanente. 2. O P. Cristiano Saraiva é nomeado Administrador do Santuário de Fátima, continuando a ser Ecónomo Diocesano. Deixa as funções de Pároco da Barreira. 3. O P. Doutor Carlos Cabecinhas é enviado para o Seminário Maior de Coimbra para integrar a equipa formadora do Seminário. Assumirá as funções de docente do Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra e do Centro de Formação e Cultura de Leiria, e continuará como Director do Departamento de Liturgia desta Diocese, bem como membro do Secretariado Nacional de Liturgia. 4. O P. Dr. Adelino Guarda é nomeado Responsável do Serviço Diocesano para o Diaconado Permanente. Entra em funções no início do mês de Setembro. Acumula com as funções que já exerce: Director do Centro de Formação e Cultura, Responsável do Serviço Diocesano de Pastoral da Saúde e Director do Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais. 5. O P. Leonel Baptista é nomeado Pároco da Barreira, continuando como Vigário Paroquial de Leiria. Tomará posse durante o mês de Setembro. 6. Mons. Cón. Dr. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima desde 1973, tendo terminado o mandato para o qual foi nomeado, cessa as suas funções no Santuário de Fátima. 7. O P. António Lopes de Sousa, até ao momento Administrador do Santuário de Fátima, deixa estas funções, continuando como Capelão do mesmo Santuário. Leiria, 10 de Setembro de 2008 Vítor Coutinho, Chefe de Gabinete Episcopal | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 19 Documentos Paróquias e Serviços diversos . decretos . Nomeação Associação Fraternitas Movimento António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Por proposta da Direcção da “Associação Fraternitas Movimento”, associação privada de fiéis, com sede em Fátima, na Rua Francisco Marto, nº 128, havemos por bem nomear, com a anuência do seu Bispo, o Revº P. Guilhermino Teixeira Saldanha, da Diocese de Vila Real, para Assistente Espiritual da Associação Fraternitas Movimento, conforme o artº 35º dos seus Estatutos. Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de três anos. Leiria, 12 de Setembro de 2008. † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima Nomeação Escola de Formação Social Rural de Leiria António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Tendo em conta a identidade católica da Escola de Formação Social Rural de Leiria, e atendendo ao pedido que nos foi apresentado pela Direcção desta entidade, bem como ao “Regulamento interno” e à história da mesma instituição, havemos por bem nomear Assistente religioso da Escola de Formação Social Rural de Leiria o Revº P. Adelino Filipe Guarda, que entra imediatamente em funções. Desempenhará este serviço em comunhão com o Bispo diocesano e de acordo com os órgãos directivos da Escola. Esta nomeação é válida pelo período de seis anos. Leiria, 13 de Setembro de 2008. † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima 20 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . decretos . Nomeação António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários, havemos por bem nomear, de acordo com o cân. 1435 do Código de Direito Canónico, o Exmo Senhor Dr. Ilídio Gonçalves de Vasconcelos Defensor do Vínculo e Promotor da Justiça do Tribunal Eclesiástico da Diocese de Leiria-Fátima. Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos. Leiria, 14 de Novembro de 2008. † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima Nomeação Notário do Tribunal Eclesiástico António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários, havemos por bem nomear, de acordo com o cân.1437 do Código de Direito Canónico, o Exmo Senhor Engº Sérgio Pinto Macias Marques Notário do Tribunal Eclesiástico da Diocese de Leiria-Fátima. Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo diocesano. Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos. Leiria, 24 de Novembro de 2008. † António Augusto dos Santos Marto Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 21 Documentos Defensor do Vínculo e Promotor da Justiça do Tribunal Eclesiástico . documentos pastorais . Despertar o espírito de missão e reacender um novo ardor missionário De a 3 a 7 de Setembro próximos realiza-se, em Fátima, o Congresso Missionário Nacional. Com este congresso pretende a Igreja em Portugal despertar nas comunidades cristãs o espírito de missão, reacender um novo ardor missionário, descobrir novos caminhos da missão, na esteira da nossa melhor tradição como um povo de missionários. Este acontecimento proporciona-me a feliz ocasião de fazer um apelo à dimensão missionária da nossa diocese e a uma participação significativa no Congresso, que acontece no ano dedicado a São Paulo, o Apóstolo missionário por excelência. 1. A urgência da missão O Papa Bento XVI na mensagem de 2007 para a Jornada Missionária Mundial, com o título “Todas as Igrejas para o mundo inteiro”, sublinhou que é “urgente a acção missionária perante o avanço da cultura secularizada... De outro modo, as Igrejas correm o risco de se fecharem em si mesmas, de olharem com reduzida esperança para o futuro... Mas é precisamente este o momento de se abrir com confiança à providência de Deus que nunca abandona o seu povo.” O mandamento do Senhor ressuscitado “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho” (Mc 16,15,) é sempre actual e urgente. É interessante notar que o Ressuscitado não pede aos Apóstolos para embelezarem o sepulcro, colocarem lápides, lhe dedicarem ruas, nem lhe construirem monumentos, nem, muito menos, lhe organizarem festas. Pede-lhes para anunciarem o Evangelho a todo o homem, encorajados pela ternura de Deus e pelo seu intenso amor gratuito por toda a criatura humana. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 23 Documentos Nota Pastoral . documentos pastorais . 2. Toda a Igreja é missionária, a exemplo de S. Paulo S. Paulo compreende e vive, de modo extraordinário, esta dimensão missionária da Igreja. Ele mesmo nos confia o segredo da sua actividade de missionário incansável ao exclamar: “O amor de Cristo possui-nos e impele-nos ”. Foi o amor de Cristo que o levou a percorrer as estradas do império romano e a enfrentar todos os riscos como arauto e missionário do Evangelho. A missão é uma irradiação da luz e do amor de Deus que em Cristo entra na história dos homens. Nenhum cristão é estranho a esta tarefa. Toda a Igreja é missionária. A missão não é obra de navegadores solitários. Deve ser vivida na barca de Pedro, a Igreja, conforme os dons que cada um recebe do Espírito. Bento XVI, numa das catequeses semanais, ao apresentar as figuras dos colaboradores mais íntimos de S. Paulo – Barnabé, Silvano e Apolo – explicou que na evangelização não há solistas, porque todos têm uma tarefa decisiva no campo do Senhor. Paulo não age como solista, como puro indivíduo, mas juntamente com outros colaboradores dentro do “nós” da Igreja: “Cada um tem uma tarefa determinada no campo do Senhor: Eu plantei, Apolo regou, mas é Deus quem faz crescer... Somos de facto colaboradores de Deus e vós sois o campo de Deus e o edifício de Deus.” “Assim, nesta missão de evangelização eles encontraram o sentido da sua vida e, enquanto tais, estão diante de nós como modelos luminosos de desinteresse e de generosidade”, conclui o Santo Padre. Também hoje o Evangelho deve ser anunciado por nós como o pão para que o mundo não morra de fome; como a água para que ninguém morra de sede; como o ar que se respira ou como o sol que aquece e retempera. Basta que levemos o nosso testemunho humilde e generoso mas indispensável e precioso. E há tantos modos de levar este testemunho!... Felizmente encontramos hoje o ressurgir de novos tipos de vocação missionária entre jovens e menos jovens que se dispõem a oferecer, em forma de voluntariado, alguns meses ou anos da sua vida ao serviço dos irmãos em terras de missão. 24 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . documentos pastorais . Entre nós, é de salientar, neste contexto, a geminação entre a nossa diocese e a diocese do Sumbe, em Angola. Esta iniciativa é uma concretização do método missionário evocado pela mensagem do Santo Padre: “Todas as Igrejas para o mundo inteiro” e expressão da comunhão das Igrejas na missão evangelizadora. Tem servido para manter viva a dimensão missionária da (e na) nossa Diocese. Temos a trabalhar no Sumbe uma equipa constituída por um padre e alguns jovens leigos voluntários. Faço um apelo para que esta realidade seja dada a conhecer em cada uma das nossas comunidades, de modo a tornar-se interpeladora e suscitadora de vocações missionárias entre os jovens. Por fim, peço aos reverendos párocos que dêem a conhecer nas suas comunidades a realização do Congresso Missionário Nacional e envidem esforços para que cada comunidade se faça representar por alguns membros. O grande apóstolo São Paulo nos ajude, com a sua intercessão e exemplo, a reavivar o ardor missionário na nossa querida Diocese! 13 de Julho de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 25 Documentos 3. A geminação entre a diocese de Leiria-Fátima e a diocese do Sumbe . documentos pastorais . Carta Pastoral Ir ao Coração da Fé Formar para uma fé adulta Caríssimos Diocesanos, Irmãs e Irmãos no Senhor, “Graça e Paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador!”(Tito 1,4) Desejo saudar-vos, afectuosamente, com estas palavras do Apóstolo Paulo a Tito, seu “verdadeiro filho na fé comum”. Peço ao Senhor que me conceda poder partilhar como bispo, sucessor dos Apóstolos, a missão e a paixão de Paulo “servo de Deus, apóstolo de Jesus Cristo, para chamar à fé os eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade, que conduz à piedade, na esperança da vida eterna” (Tito 1,1-2). Sim, ó Senhor Jesus, guarda sempre viva e forte em mim a consciência da missão que me confiaste: “chamar à fé os eleitos de Deus”, ou seja, todos os homens por Ele amados; chamá-los “ao conhecimento da verdade” que resplandece nas palavras da Revelação divina e que encontra a plenitude de luz em Ti, Palavra incarnada. Esta palavra “conduz à piedade”, a uma vida filial, boa e bela; que está fundada “na esperança da vida eterna”, e, assim, abre os nossos olhos e o nosso coração à alegria e à plenitude da vida em Deus. É com esta consciência da missão e com esta invocação ao Senhor que vos escrevo a presente carta pastoral, para vos apresentar o percurso da nossa Igreja diocesana para o ano pastoral 2008/09. Esta carta é fruto não só da minha reflexão, mas também do contributo dos vários órgãos pastorais diocesanos cuja dedicada colaboração agradeço. 26 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Como sabeis, estamos a seguir o percurso já traçado pelo Sínodo Diocesano nas suas linhas gerais. A primeira etapa foi dedicada a descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã e do acolhimento, como resposta e expressão da infinita ternura de Deus. Não posso concentrar-me aqui sobre todas as iniciativas que se realizaram. Mas, se há uma imagem que me ficou mais gravada que outras no olhar, no coração e na memória, foi a participação impressionante de tantos adolescentes e jovens nas vigílias vocacionais em cada vigararia. A esta imagem associo também a do entusiasmo, que senti de perto, nos jovens que participaram no grupo vocacional de Santo Agostinho e nos adolescentes do Pré-Seminário. Tudo isto é um sinal de esperança a desmentir uma tendência para o pessimismo, relativa ao trabalho pastoral com os jovens. Poderemos nós deixar perder este “capital” de esperança? Admirável foi também a adesão de muitas pessoas (à volta de 5.000) e grupos à proposta de “retiro popular” durante a Quaresma. Quem ousa dizer que não vale a pena fazer propostas porque não há disponibilidade das pessoas para as agarrar? Caminho em sintonia com a Igreja universal Este ano pastoral será dedicado à formação cristã em ordem à revitalização e crescimento da fé, da sua vivência espiritual e do seu testemunho. Vem na sequência lógica do tema da vocação cristã, assume-o e prepara para o percurso futuro. Com efeito, “a formação dos fiéis leigos tem como objectivo fundamental a descoberta cada vez mais clara da própria vocação e a disponibilidade cada vez maior para vivê-la no cumprimento da própria missão”. (João Paulo II, Vocação e missão dos fiéis leigos, nº 58). A formação na fé é hoje mais necessária que nunca. Trata-se de “ir ao coração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. Uso aqui o termo “coração” num tríplice significado: enquanto núcleo central da fé, que é Jesus Cristo; como centro propulsor que leva o “sangue”, a vitalidade, o dinamismo, a todos os membros do corpo que é a Igreja; e como o lugar–símbolo do afecto com que se acolhe no íntimo de cada um, cheio de confiança, o anúncio de Cristo Salvador: “Se confessares com a tua boca que «Jesus é o Senhor» e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rom 10,9). Providencialmente, este ano pastoral coincide com dois grandes acontecimentos da Igreja universal, que de modo algum podemos ignorar e que | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 27 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . vamos integrar no nosso percurso pastoral. Aliás, vêm enriquecê-lo muito. O primeiro é o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Um sínodo dedicado a redescobrir a infinita bondade e ternura de Deus que, na sua Palavra, se revela ao homem como amigo, conversa com ele, convida-o à comunhão consigo e a colaborar com Ele na transformação da história, segundo o seu desígnio de salvação. Chama-nos, assim, a atenção para a primazia da Palavra de Deus na formação dos cristãos. O segundo acontecimento é o Ano Paulino para comemorar os dois mil anos do nascimento do grande Apóstolo Paulo. “Ele brilha como uma estrela de primeira grandeza na história da fé e do cristianismo”. (Bento XVI). Neste sentido, o Santo Padre proclamou um “Ano Paulino”, que – à semelhança do Ano Jubilar da redenção – possa ajudar a Igreja a redescobrir a rica e bela mensagem de Paulo, para se enamorar cada vez mais de Cristo e reavivar a fé. São Paulo será, pois, o mestre e guia no nosso caminho pastoral. Por isso, escolhemos como lema bíblico para este ano a exortação do Apóstolo: “Permanecei firmes e sólidos na fé” (Col 1,23). E, como símbolo, escolhemos um ícone de São Paulo a evocar o rosto da sua fé viva, do seu amor apaixonado por Jesus Cristo, do seu ardor missionário. Esta carta pastoral é uma reflexão sobre a formação para uma fé adulta. A primeira parte apresenta o panorama cultural em que nós somos chamados a viver a fé e o desafio que isso representa para a formação. Na segunda parte, procuramos “ir ao coração da fé”, à luz de São Paulo e na terceira apresentamos os diversos itinerários da formação cristã. Na última, oferecemos indicações e propostas pastorais concretas para as comunidades e para a Diocese. 1. “SENTINELA, QUE VÊS NA NOITE?” (Is 21,11): A NOITE DA FÉ NO NOSSO TEMPO Para indicar o espírito com que pretendo analisar a situação da fé hoje, escolhi uma palavra do profeta Isaías, algo enigmática. Parece imitar um canto que as sentinelas cantavam na noite para não cair no sono: “Chamam por mim desde Seir: Sentinela, que vês na noite? Sentinela, que vês na noite? 28 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . documentos pastorais . A imagem da sentinela é sugestiva. Evoca a noite, a solidão, o estado de vigia, a advertência do perigo a assinalar, o temor do inimigo, uma situação em geral incómoda, mas também a esperança da aurora do novo dia. Por isso, estes versículos, misteriosos e provocadores, são usados como imagem para indicar a fadiga de perscrutar o tempo presente e o seu significado para a fé. Uma fadiga semelhante à da sentinela que perscruta na noite; e uma vez despontado o dia, volta de novo a fadiga, porque volta também a noite. E, contudo, há momentos em que se torna imperativo e inevitável a responsabilidade de perscrutar na noite, como é o momento em que vivemos. Na noite do cenário da história, a nós cristãos é-nos pedido procurar penetrar a obscuridade, estar prontos à escuta das questões e dificuldades para a vivência e testemunho da nossa fé, mas também a discernir os apelos de Deus nesta situação e as possíveis aberturas à fé. 1.1. Onde estamos? Todos experimentamos que o mundo atravessa uma crise de fim de uma época. Sucedem-se mutações culturais profundas, a um ritmo vertiginoso, impossíveis de controlar e orientar. Assemelham-se a uma série de abalos sísmicos com repercussões em todos os âmbitos da vida: familiar, social, cultural, político, económico e religioso. Afectam até os valores fundamentais e perenes. Está a nascer, de forma confusa e algo caótica, um mundo novo, um modo novo de viver no mundo. E todos sofremos as dores deste parto difícil. Mudou também o contexto em que se vivia e transmitia a fé. Salta aos olhos de todos que já não vivemos mais numa “sociedade cristã” (a cristandade), em que a fé se transmitia em família como uma herança e era protegida pelo ambiente social e cultural, ainda com referências aos princípios cristãos. A fé deixou de ter este suporte ambiental. Hoje vivemos numa situação de pluralismo social e cultural. São-nos apresentados e oferecidos, como num mercado, os mais diversos projectos e modelos de vida. Muitos deles são estranhos ou contrários ao Evangelho e geram confusão nos cristãos que não têm a preparação sólida da fé. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 29 Documentos E a sentinela responde: Chega a manhã e a noite também. Se quereis voltar a perguntar, vinde de novo.” (Is 21,11-12). . documentos pastorais . Confrontamo-nos ainda com o pluralismo religioso. Surge, inevitavelmente, a questão da identidade cristã: porque sou cristão? O cristianismo é apenas mais uma religião entre as outras? Onde está o específico da fé cristã? Assistimos também a uma perda progressiva da memória cristã tanto a nível colectivo como individual. Há tentativas de fazer aparecer a fé cristã como estranha à cultura ou à moda dominantes, como relíquia ou vestígio do passado, do tempo dos nossos avós. Vai-se tornando moda ser agnóstico. Instala-se um clima de indiferença religiosa em que não há “ouvido interior” para Deus, nem “apetite” espiritual. Neste clima, muitos cristãos deixaram-se atingir por um complexo de inferioridade, pelo temor de ser diferentes. Mais impressionante é o analfabetismo e a iliteracia religiosos. Uma constatação que não podemos iludir é a grande ignorância de muitos católicos sobre os conteúdos, as noções e os conceitos mais elementares da fé. Há cristãos de idade adulta que, em relação ao conhecimento da fé, permanecem ao nível infantil. Permanecem numa religiosidade vaga e superficial; são incapazes de dialogar com a cultura e de enfrentar, à luz da fé, as novas questões que hoje se põem. E não raramente trazem consigo representações deturpadas da fé. Reduzem-na a um conjunto de práticas, de preceitos, obrigações e proibições como se fosse um fardo. Assim não descobrem a riqueza, a beleza e o encanto da fé em Jesus Cristo. De facto, a ignorância religiosa é hoje uma das “chagas” da Igreja e o maior inimigo da fé. Mesmo ao nível da catequese de crianças e adolescentes, apesar de todos os esforços louváveis para a sua renovação, os resultados não são muito satisfatórios. Fico triste quando vou crismar a algumas paróquias e o pároco, antecipadamente, me diz: “Senhor Bispo, destes crismandos ficam apenas uns 10% de fiéis praticantes”. Ouço calado e interrogo-me interiormente: será que estou destinado a ser bispo crismador de ateus práticos que vivem como se Deus não existisse? Mas, apesar disso, é mais forte em mim a esperança de que a semente lançada à terra dará frutos a seu tempo!... Em síntese, verifica-se entre nós o diagnóstico que João Paulo II traçou a respeito da situação europeia: “Muitos europeus pensam que sabem o que é o cristianismo, mas realmente não o conhecem. Frequentemente, ignoram os rudimentos da fé. Muitos baptizados vivem como se Cristo não existisse: repetem-se gestos e sinais da fé por ocasião das práticas de culto, mas sem a correlativa e efectiva aceitação do conteúdo da fé e adesão à pessoa de Jesus. Em muita gente, as grandes certezas da fé foram substituídas por um sentimento vago e pouco empenhativo; difundem-se várias formas de agnosticis30 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | mo e ateísmo prático que concorrem para agravar a divergência entre a fé e a vida; muitos há que se deixaram contagiar pelo espírito de um humanismo imanentista que enfraqueceu a sua fé, levando-os, com frequência, a abandoná-la completamente” (Igreja na Europa, nº 47). Na noite da fé há também “estrelas da manhã” que anunciam o despertar da aurora. Notam-se sinais de uma busca espiritual, de procura da bondade e da beleza da vida, que abrem caminhos ao anúncio do Evangelho. Têm surgido na Igreja novos dons do Espírito e múltiplas iniciativas que reacendem a chama da fé e a fortalecem. Despontam propostas de formação e tem crescido o interesse e a adesão de muitos fiéis. Há adultos que redescobrem a fé como uma música nova que dá esperança e alegria à vida. Sinto isto nas visitas pastorais. 1.2. Para onde vamos? Esta é a situação nova em que somos chamados a viver a fé, em tempos difíceis. Devemos encará-la com realismo e esperança. Não podemos ficar junto ao muro das lamentações. Aliás, não é uma situação inédita. É muito semelhante àquela em que nasceu e se desenvolveu o cristianismo e viveram os primeiros cristãos. Também não é só negativa. É uma crise acrisoladora, purificadora da nossa fé. É um tempo providencial para reencontrar a autenticidade da fé. Mostra-nos que estamos a passar de um cristianismo transmitido como herança, de geração em geração, por uma espécie de pertença passiva, a uma fé de opção livre, vivida como um percurso deliberado de adesão consciente, convicta e alegre. É uma provação e provocação, um desafio a crer mais (em profundidade) e a crer melhor (em qualidade). “Supõe que haja o cuidado de promover a passagem de uma fé apoiada na tradição social, e que tem o seu valor, a uma fé mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta” (Igreja na Europa, nº 50). Vale para nós hoje o que Tertuliano dizia para o seu tempo (séc. III): “Não se nasce cristão; faz-se cristão”! O desafio, hoje, não é só baptizar os novos convertidos, mas também levar os baptizados a converterem-se a Cristo e ao Seu Evangelho. Antes da questão: como anunciar a fé aos outros?, precisamos de enfrentar ainda esta: como podemos nós, enquanto cristãos e comunidade cristã, descobrir a riqueza da fé e vivê-la, tornarmo-nos adultos na fé? Eis a razão da nossa preocupação pastoral, que é uma aposta decisiva para o século XXI: formar para uma fé adulta, deixando-nos iluminar por esse gigante da fé que é São Paulo. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 31 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . 1.3. “Passa e ajuda-nos” (Act 16,9) É neste contexto que queremos viver o Ano Paulino na nossa Diocese. No livro dos Actos dos Apóstolos há uma passagem muito sugestiva. Mostra-nos o itinerário da actividade missionária de São Paulo – o itinerário da Palavra de Deus – que o faz aportar à Europa. É a conhecida “visão do macedónio”. Estando em Tróade, na Ásia, “durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé, diante dele, e fazia-lhe este pedido: “Passa à Macedónia e vem ajudar-nos”. Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa Nova” (16,9-10). Na Macedónia podemos ver a figura dum povo, da própria Europa. A súplica a Paulo é um convite a fazer-se ao mar e a atravessar o estreito; é um grito de quem está em perigo de perder-se e tem necessidade da ajuda e da luz do Evangelho. A evangelização de Paulo aparece, assim, como resposta ao grito da Europa, à urgência da gente que pede a Palavra; e faz parte do desígnio de salvação, porque é Deus a guiar os acontecimentos. “Passa e ajuda-nos” é também a nossa súplica hoje, a São Paulo, neste início do segundo milénio em que a Europa corre o perigo de esquecer e renegar a memória e as raízes da fé cristã. “Paulo não é para nós uma figura do passado que recordamos com veneração. É também o nosso mestre, apóstolo e arauto de Jesus Cristo também para nós. Paulo quer falar connosco hoje. Por isso, quis proclamar este especial Ano Paulino: para escutá-lo e para aprender dele, agora, a fé e a verdade, em que ele é o nosso mestre” – diz o Papa Bento XVI. Com a sua mestria, São Paulo conduzir-nos-á ao coração da fé e a nela crescer. Façamos uma pausa, em oração silenciosa, pedindo: Senhor, tu que guiaste São Paulo por caminhos misteriosos e o fizeste aportar à Europa, até junto de nós, para nos trazer a Tua Palavra, faz com que nós o acolhamos hoje e acolhamos o Teu admirável desígnio de salvação que ele proclamou com desassombro. 32 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . documentos pastorais . 2. IR AO CORAÇÃO DA FÉ, COM SÃO PAULO Se perguntássemos a São Paulo qual o acontecimento fulcral e determinante de toda a sua vida, certamente não hesitaria em responder-nos: o encontro com Cristo Ressuscitado no caminho para Damasco – assim afirma o cardeal Martini. O que aconteceu a Paulo num dia incerto, entre 33 e 35 do séc. I, a caminho de Damasco, ficou impresso na memória colectiva através da imaginação criadora de Caravaggio na famosa tela que se encontra na igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma: um enorme cavalo olha de soslaio para um Paulo que perdeu as estribeiras, caído por terra, inundado por um clarão de luz repentina que desce do céu como um raio que o cega. Mas a descrição desta singular manifestação de Cristo a Paulo, narrada por São Lucas nos Actos dos Apóstolos, em três textos (9,1-18; 22,3-21; 26,9-18), não inclui aquele cenário equestre. Detenhamo-nos, então demoradamente, na primeira narração (Act 9,118). Procuraremos descobrir em primeiro lugar a riqueza e beleza do conteúdo numa leitura meditada (lectio divina), para, num segundo momento, actualizar a sua mensagem para nós. O texto descreve Saulo – que tinha também o nome romano de Paulo – como um judeu praticante e zeloso das tradições religiosas e, por isso, adversário e perseguidor dos cristãos. Foi durante uma viagem em que se dispunha a prender cristãos, já perto de Damasco, que este homem, natural de Tarso, na actual Turquia, teve esse encontro decisivo com Cristo. O acontecimento é descrito através de uma linguagem simbólica, com o objectivo de expressar em palavras algo que excede a linguagem humana. Interessa-nos pois, compreender a experiência sobrenatural de grande densidade que as palavras e os símbolos deixam entrever. Como na sequência de um filme, o episódio desenrola-se em três cenas de extraordinário efeito. 1. Tudo começa, sendo Paulo “envolvido subitamente por uma luz intensa vinda do céu”. O facto de tudo suceder subitamente acentua o carácter ines- | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 33 Documentos 2.1. Um terramoto de luz no caminho de Damasco: a revelação de Cristo a Paulo . documentos pastorais . perado do acontecimento: trata-se de uma graça divina completamente gratuita, imprevisível, extraordinária. Deus é sempre surpresa e surpreendente! A luz intensa vinda do céu faz referência a uma experiência divina. Como sucedera tantas vezes ao longo do Antigo Testamento, Deus manifesta a sua presença grande e maravilhosa, através de uma luz intensa, que deslumbra a pessoa e a eleva a uma realidade nova fascinante. Paulo não só vê essa luz, mas é envolvido totalmente por ela: não é algo exterior que ele contempla, mas toca toda a sua pessoa, abarca todo o seu ser e deixa-o cego. É o esplendor do Ressuscitado que o cega. De facto, Cristo “é um abismo de luz que cega e desassossega” (Kierkgaard). O fulgor no qual é envolvido faz com que caia por terra, expressão do assombro e atitude de adoração. Cai por terra, sim, mas não cai no vazio. Na realidade, cai nos braços do amor de Cristo, como mais tarde virá a descobrir. Paulo está fora de si, rendido ao que acaba de experimentar, incapaz de dizer ou fazer o que quer que seja. 2. Uma voz irrompe e interroga-o: Saulo, Saulo, porque me persegues? A resposta de Paulo mostra, uma vez mais, o assombro e o mistério no qual se sente envolvido: ainda não percebeu o que está a suceder e, menos ainda, de quem é a voz que o interroga. Por isso, responde com uma pergunta: Quem és tu, Senhor? A resposta que recebe é a chave, a explicação de toda a experiência: é Jesus! Mas a frase tem um peso enorme: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. O texto original grego é muito expressivo: ao utilizar literalmente o pronome pessoal “eu” (só se utiliza nos casos em que se quer sublinhar, num modo particular, o sujeito) acompanhado pelo verbo ser (eu sou), tem uma referência clara ao nome de Deus como foi revelado a Moisés. Jesus ressuscitado revela-se assim a Paulo como sendo Deus. Quem lhe veio ao encontro, era o Deus que ele servia e a quem queria ser fiel. Mas agora descobre que esse Deus se identifica com a Pessoa de Jesus, a quem ele estava a perseguir na pessoa dos cristãos. 3. Segue-se uma ordem. “Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer”. É a continuação lógica do anterior. O “erguer-se”, alude à ressurreição. Significa a nova etapa que começa e é a única resposta que a pergunta de Jesus pode ter: dispor-se a uma vida nova, a um novo começo. A partir de agora, já não será ele a decidir o que deve fazer; será a comunidade, a Igreja que lhe transmitirá o que Deus dele pretende. 34 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | O facto de Paulo, ainda cego, ter de ser levado pela mão e estar sem comer nem beber durante três dias até que lhe imponham as mãos e seja baptizado, acentua a profundidade do sucedido: a necessidade de interiorizar o acontecimento e a necessidade de purificação e preparação para entrar plenamente na Igreja. Só então, Paulo recupera a luz que a “visão” tinha cegado. É curioso que Ananias, a quem Deus ordena ir ter com Paulo, ainda sem saber da sua conversão, mostre medo de o encontrar pela fama que tinha. A resposta consoladora que recebe de Deus é um resumo daquela que será a vida de Paulo a partir daquele momento: “Vai, pois esse homem é instrumento da minha escolha, para levar o meu nome entre os pagãos, os reis e os filhos de Israel. Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu nome!” No futuro, devido a este encontro com Jesus, Paulo intitula-se e é reconhecido por todos como Apóstolo, equiparado aos doze que conviveram com Jesus durante os três anos da sua vida pública. O caminho de Damasco tornou-se um símbolo universal para indicar não só uma mudança existencial, mas também uma verdadeira fulguração que transforma e transfigura todo o ser de uma pessoa. Além disso, tornouse um paradigma do caminho espiritual de todo o cristão, um itinerário de conversão, de fé e de amor a Cristo, que começa pela experiência pessoal do encontro com ele. Que nos diz a nós hoje? Como ilumina o nosso crescimento e a nossa formação na fé e na vida cristã? 2.2. “Fui agarrado por Cristo” (Fil 3,12): a fé como encontro com Cristo Enquanto São Lucas narra o facto com uma grande riqueza de pormenores, Paulo nas suas cartas vai directo ao essencial. Para recordar a mudança radical da sua vida, várias vezes se refere a essa experiência extraordinária em termos autobiográficos. Ele fala de visão (Cristo fez-se ver a mim: 1Cor 15,8; 9,1), de iluminação (2Cor 4,6) e sobretudo de revelação e vocação (aprouve a Deus revelar o Seu Filho em mim: Gal 1,15-16), de corrida ou luta (fui agarrado por Cristo: Fil 3,12), no encontro com o Ressuscitado. A expressão mais forte a que Paulo recorre talvez seja a da carta aos Filipenses (cf. Fil 3,2-16), onde diz que foi agarrado, apanhado, tomado, conquistado, alcançado, cativado por Cristo. Esta expressão está inserida no contexto de uma imagem proveniente do campo desportivo: Paulo corre para | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 35 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . agarrar Cristo, tendo sido já agarrado por Ele. É esta experiência de ter sido “apanhado” por Cristo, que dá impulso à sua “corrida”; e, ao mesmo tempo, proporciona-lhe o maior tesouro: “a maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”. Sim, Jesus Cristo é o seu tesouro! Foi uma revelação que provocou nele uma “revolução”: desde então, tudo o que antes considerava “um ganho” tornou-se paradoxalmente, em palavras suas, “perda e lixo”. “Daqui deriva para nós uma lição muito importante: o que conta é pôr Jesus Cristo no centro da própria vida, de tal modo que a nossa identidade seja caracterizada, essencialmente, pelo encontro com Cristo e com a Sua Palavra. À sua luz, qualquer outro valor é recuperado e purificado de eventuais imperfeições” (Bento XVI). Eis a originalidade da fé cristã: ela encontra e exprime a sua originalidade na relação com Jesus Cristo. Ele é o “coração” da própria fé, “o autor e aperfeiçoador da nossa fé” (Heb 12,2). É o fundamento seguro, o conteúdo essencial e a meta viva e pessoal do acto de fé. Só com os olhos postos em Cristo, o cristão aprende a reconhecer a presença e a acção de Deus que o busca, que vem ao seu encontro e o chama a uma comunhão nova. Jesus Cristo é o tesouro único que o cristianismo tem para oferecer. 2.3. “Vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20): a fé como história de amor Num passo ulterior, Paulo guia-nos à contemplação do rosto de Cristo, redentor do homem e Senhor da história. Aqui deixa-nos ver a razão do seu encanto por Jesus, como tão bem o exprime Bento XVI: “Na carta aos Gálatas, ele dá-nos uma profissão de fé muito pessoal em que abre o seu coração diante dos leitores de todos os tempos e mostra qual é a mola mais íntima da sua vida: “Vivo a vida presente na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (2,20). Tudo o que Paulo faz, parte deste centro. A sua fé é a experiência do ser amado por Jesus Cristo de modo completamente pessoal: é a consciência de que Cristo enfrentou a morte não por qualquer coisa anónima, mas por amor dele, Paulo; e de que, como Ressuscitado, o continua a amar agora, isto é, que Cristo se entregou por ele. A sua fé é o ser alcançado pelo amor de Jesus Cristo, um amor que o toca no mais íntimo e o transforma. A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre 36 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus no seu coração. E assim esta fé é amor por Jesus Cristo.” Vemos portanto que a fé não nos coloca frente a coisas ou a um elenco de verdades abstractas e portanto frias ou ainda perante um conjunto de obrigações e proibições. Crer é aceitar alegremente, como válido para mim tal qual sou, esse inigualável acto pessoal de Jesus “Filho de Deus que me amou e se entregou por mim”. Só o Amor é digno de fé! Só daqui, o cristão tira luz e força para a sua vida presente que se torna vida nova. Não é uma teoria ou uma lei que nos salva; é a pessoa viva de Cristo acolhido como Filho de Deus e Salvador nosso. Ele é tudo para nós como foi para Paulo: Ele é “a nossa paz” (Ef 2,14) “a nossa vida” (Col 3,4) nossa “sabedoria, justiça, santificação e redenção” (1Cor 1,30), nosso “único fundamento” (1Cor 3,11), “nossa esperança” (Col 1,27)! “Se não nos enamorarmos de Cristo, não teremos interesse algum como cristãos” (J. Ratzinger). 2.4. “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo...” (Ef 1,3): a fé, um sim ao Deus-Amor Por amor de Cristo, Paulo foi feito prisioneiro. Na prisão sente que a ameaça de morte pende sobre ele como uma espada de Dámocles. Na sua solidão, pensando porventura no fim próximo, procura, de algum modo, “compreender qual a amplidão, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, que excede todo o conhecimento” (Ef 3,18-19). E no amor de Cristo contempla, deslumbrado, a beleza e a riqueza da ternura de Deus que se revela no “Filho do Seu Amor”, como um projecto a realizar na história dos homens. Do coração de Paulo comovido, até às entranhas, brota um hino de júbilo, um Magnificat de acção de graças (cf. Ef 1,3-14). Aí desenvolve, como num grande fresco, o grandioso projecto de Deus e convida a associarmo-nos à sua contemplação maravilhada: não à contemplação estética de um objecto ou coisa bela, mas antes à contemplação cristã de um Deus que nos surpreende com a sua iniciativa, o seu sonho de amor para connosco e nos agracia com toda a espécie de dons espirituais, em Cristo. Contemplemos, pois, estes dons, ainda que brevemente: – o amor de eleição e predilecção que nos envolve e precede desde toda a eternidade, tal como o amor dos nossos pais nos precede antes de nos gerarem para a vida. Eis porque, de maneira tão estupenda, São Tomás de Aquino, | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 37 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . afirma: “Deus ama-me não porque sou bom; mas faz-me bom ao amar-me”; – o dom da filiação pelo qual nos introduz no mistério da sua intimidade e nos faz participantes da sua vida divina, da sua santidade; – o dom da redenção pelo qual nos recria e regenera através da sua misericórdia e do perdão; – o dom da reconciliação pelo qual nos une a todos em comunhão para formar um só povo e um só corpo de que Cristo é a cabeça; – o dom do Espírito Santo no baptismo como início da vida nova e garantia da vida eterna como nossa herança; – e, como vértice, o dom da recapitulação final, ou seja, da plenitude de vida que nos espera na ressurreição. Eis aqui a síntese da fé cristã! Como não dizer “ámen” (sim) a um Deus assim e ao seu desígnio de amor? Como não dobrar os joelhos diante do Pai de quem toma nome toda a família no céu e na terra? (cf. Ef 3,14). Eis aqui um espelho místico no qual cada cristão e cada comunidade podem ler a infinita ternura de Deus e a sua maravilhosa vocação a serem colaboradores de Deus neste seu projecto. E que fantástica visão do mundo e da história nos oferece! Enquanto tantos homens não sabem porque estão sobre a terra e para onde caminham; enquanto alguns apregoam, com grande retórica, que tudo é absurdo, Deus enche-nos da sua sabedoria e garante-nos que a história humana tem um sentido, uma direcção, um significado, uma meta. A fé dá-nos, pois, uma profunda confiança e uma imensa alegria para a vida! Como estamos longe da religião do medo! 2.5. O que é que suscita e alimenta a fé? São Paulo ensina-nos que é fundamental pôr Jesus Cristo no centro da nossa vida para que marque todo o nosso ser. Mas, imediatamente, surge a pergunta: Como se dá o encontro dum ser humano com Cristo? O que é que desperta a fé, a alimenta e nos faz crescer na vida com Cristo? 2.5.1. “Esta palavra é a da fé que anunciamos” (Rom 10,8): a escuta da Palavra Há uma passagem verdadeiramente iluminante na carta aos Romanos, como resposta à questão: “É junto de ti que está a palavra: na tua boca e no teu coração. Esta palavra é a da fé que anunciamos. Porque se confessares com a tua boca: “Jesus é o Senhor” e acreditares que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo... E como hão-de acreditar naquele de quem 38 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar sem alguém que o anuncie?... Portanto, a fé surge da pregação e a pregação surge pela palavra de Cristo” (Rom 10,8-9.14-17). Àqueles que julgam que a salvação é um processo difícil e complicado, submetido a uma série de práticas extenuantes, Paulo diz que a Palavra da Salvação espera somente ser acreditada e professada com o coração e a boca. Mas, para se tornar próxima precisa de ser anunciada. Trata-se do primeiro anúncio de Cristo, Senhor e Salvador. A atitude fundamental da fé, é pois escutar e responder a Deus que na sua Palavra nos fala como um amigo, coração a coração, e se comunica a nós. A fé é resposta à comunicação que Deus faz de si e esta comunicação é o elemento fundador da experiência cristã. Vemos assim como a Palavra de Deus tem um lugar primário, fundamental no início da vida cristã; mas também para alimentar a vida de fé dia após dia e formar o cristão maduro e adulto. Assim entendemos a exortação de Paulo a Timóteo: “Desde a tua tenra infância conheces as Sagradas Escrituras. Elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir e formar para a justiça, a fim de que o homem de Deus seja completo e preparado para toda a obra boa” (2Tim 3,15-17). O verdadeiro discípulo deixa-se habitar pela Palavra do Verbo (Cristo): escuta-a atentamente e rumina-a pacientemente, de tal modo que é ela que vive nele, nas suas palavras e nos seus gestos. Como Paulo poderá exclamar: “ Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). 2.5.2. “Deus está no meio de vós” (1Cor 14,25): a celebração da presença do Senhor O coração que acolhe a Palavra do amor do Pai, é um coração que reza. Ao rezar, o cristão escuta o seu Senhor, entra em diálogo com Ele, abre-lhe o seu coração, adora, louva, agradece, suplica (cf. Col 3,16-17). Que outra coisa é a oração cristã se não a expressão da nossa relação filial com Deus? É o próprio Espírito Santo que inspira a nossa oração, pondo o nosso coração em sintonia com o coração do Pai (cf. Rom 8,15.26-27). Mas a pregação do Evangelho inclui também o anúncio da celebração dos dons salvíficos de Deus nos sacramentos. Neste sentido, Paulo atribui uma importância decisiva ao baptismo e à eucaristia. Oferece-nos uma passagem muito iluminante sobre o significado do baptismo como coroamento do anúncio da Boa Nova da renovação em Cristo: “Quando se manifestou | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 39 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, Ele salvou-nos pela sua misericórdia mediante o baptismo do novo nascimento e da renovação pelo Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tito 3,4-6). Porém, no centro da vida da comunidade e dos cristãos está a celebração da “ceia do Senhor” na qual Cristo dá continuamente o seu Corpo em comunhão e faz de nós o seu Corpo: “O pão que partimos, não é comunhão com o Corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, somos um só corpo, porque todos participamos de um só pão” (1Cor 10,16). Para Paulo, Cristo na Eucaristia é o centro da existência cristã em virtude do qual todos e cada um podem experimentar de modo muito pessoal a entrega de Cristo no seu amor por nós: “Ele amou-me e entregou-se por mim” (Gal 2,20). Compreendemos assim que a celebração litúrgica (celebrar a presença do Senhor) faz parte da identidade do cristão. Por isso, os mártires da Abitínia, no momento do martírio, proclamaram esta fé: “Nós não podemos viver sem a celebração do dia do Senhor”! E como seria desejável que as nossas assembleias litúrgicas testemunhassem esta fé de tal modo que se realizasse o voto de S. Paulo aos Coríntios: que um não cristão que entre na nossa assembleia, no final possa dizer: “verdadeiramente, Deus está no meio de vós, está convosco!” (1Cor 14,24-25). 2.5.3. “Revesti-vos do amor que é o laço da perfeição” (Col 3,14): a santidade no amor Para Paulo não basta dizer que os cristãos são baptizados ou crentes. Eles vivem de Cristo e com Cristo: o que dá uma nova orientação, um novo estilo, uma nova respiração espiritual à vida. É a vida nova em Cristo. Os cristãos estão chamados por Deus a ser um “hino de louvor à sua glória” (Ef 1,14), ou seja, a deixar aparecer através da santidade da vida, a beleza de Deus e do seu infinito amor na vida pessoal, familiar e social. Este é o verdadeiro “culto espiritual” agradável a Deus (cf. Rom 12,1). O agir cristão encontra o seu centro e a sua expressão concreta no amor: “Acima de tudo revesti-vos do amor que é o laço da perfeição” (Col 3,14), o dom por excelência, a plenitude de toda a lei (cf. Rom 13,8-10). “A fé que actua em obras de amor ” (Gal 5,6) é um dos princípios primordiais do cristianismo. Neste sentido, Paulo deixou-nos um dos textos mais significativos, o Hino à Caridade (1Cor 13,1-13) que é um verdadeiro monumento, inspirador de toda a fantasia da caridade em todos os tempos. 40 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Nele se diz, em quinze modos diversos, o que é a caridade no presente (v.4-7). E acrescenta que só a caridade tem futuro: o único que permanece é o amor com a fé e a esperança que o sustentam e o tornam possível. A caridade é amar Deus com todo o coração e amar os outros com o coração de Deus. Este é o amor que abraça todas as vocações, se estende a todos os âmbitos, a todos os tempos e lugares, penetra a terra e é eterno. É a mola que tudo move; é o fogo primordial que anima o universo. O próprio Paulo nos deixa um testemunho extraordinário naquela sua iniciativa genial de “fantasia da caridade” que foi a grande colecta, realizada nas várias comunidades, a favor dos pobres de Jerusalém! A chamar-nos hoje à globalização da caridade! 3. CRESCER NA FÉ: FORMAR PARA UMA FÉ ADULTA Segundo a narração dos Actos dos Apóstolos, a conversão repentina e fulgurante de Paulo, às portas de Damasco, foi continuada com uma iniciação por parte da comunidade cristã. Os três dias de cegueira e de jejum configuram um tempo de iniciação, acompanhado pela instrução de Ananias e concluída pela recepção do baptismo. Só então readquiriu a luz dos olhos, o sentido da sua inserção na Igreja e da segurança no caminho de Cristo. Embora tendo feito uma experiência formidável de Jesus em Damasco, teve que percorrer um caminho, relativamente longo, da cegueira à luz, de neo-convertido a cristão maduro. Passou mesmo através de provações de todo o género para que resplandecesse nele a força de Cristo (cf. 2Cor 12,710). A partir da sua própria experiência, Paulo fala de um crescimento ou progresso na fé. Como tudo na vida, também a fé requer crescimento para permanecer viva. De contrário regride e definha. O conhecimento da “riqueza” que está em Cristo não é algo adquirido ou estático. É antes um processo permanente. Todo o ministério de Paulo vai na linha da consolidação e formação da vida cristã dos membros da comunidade (cf. 1Tess 2,7-12). A fé precisa de alimento, de cuidado, de orientação, de formação atenta e dedicada. Deve ser cuidada e cultivada para que lance raízes profundas em nós e produza muitos e bons frutos. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 41 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . 3.1. A formação cristã, mais necessária que nunca A formação cristã sempre foi necessária. Mas hoje é-o mais que nunca para não abortar a vida de fé. Ninguém, em qualquer âmbito, se pode contentar com os conhecimentos iniciais. Se é certo que a fé permanece sempre a mesma, todavia nunca se acaba de “compreender o que se crê e de crer o que se compreende” (Santo Agostinho). Além disso, é preciso aprender a dizer a fé, a falar da fé e, deste modo, alimentá-la e testemunhá-la. Um amor que não se diz, morre à partida. De igual modo, uma fé que não se exprime, sofre de anemia, perde a vitalidade. Qual o objectivo da formação cristã? Nunca nos cansaremos de repetir com São Paulo: que a razão de ser da formação é chegar a “que Cristo seja formado em vós” (Gal 4,19) ou a “alcançar a estatura do homem adulto, à medida de Cristo na sua plenitude” (Ef 4,13). Não se trata, simplesmente, de armazenar conhecimentos; mas de formar o “ser cristão” em todas as dimensões para descobrir a riqueza e a beleza da fé, da sua própria vocação, e realizar a sua missão no mundo. A formação para uma fé adulta exige, pois, a educação para viver a fé cristã na sua totalidade una e indivisível, como fé professada, celebrada e vivida. É também uma formação para todas as idades da vida. A fé não é uma posse tranquila, uma segurança definitiva. Em cada fase ou situação da vida, ela é sacudida, posta à prova e deve ser renovada e aprofundada. Novas circunstâncias, novas experiências, novas questões e novos problemas fazem com que a significação da fé precise de ser descoberta de modo novo. Eis porque é importante permanecer sempre iniciados na fé. 3.2. Percursos (itinerários) de acesso à fé e de crescimento na fé Queremos apresentar agora, numa visão global e coerente, o itinerário de formação dos cristãos e as suas várias etapas. Trata-se de responder às questões: quais são os caminhos para um primeiro conhecimento da fé cristã? Como é que a riqueza e a profundidade do Evangelho nos pode tocar? Como podemos nós, enquanto cristãos, crescer na fé? Numa palavra, como tornar-se adulto na fé? 42 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | 3.2.1. O primeiro anúncio A fé autêntica, no seu núcleo, é uma adesão amorosa à pessoa viva de Jesus Cristo. Acontece aqui algo de semelhante ao amor entre as pessoas. Primeiro, há algo (palavra, atitude, gesto, experiência) que “toca” e atrai; depois, vem o namoro em que se conhecem. Às vezes, depois de uma vida matrimonial enriquecedora, evoca-se aquele primeiro encontro para testemunhar: “a partir daquele momento, mudou toda a minha vida”. Na origem da fé autêntica está uma Palavra ou experiência de graça que nos toca. Para chegar à fé, há algo de muito pessoal que se passa. Algo que toca o coração da pessoa e a decide a voltar-se para Jesus Cristo e converterse a Ele. Paulo fez esta experiência única às portas de Damasco. Certamente não se pode esperar que cada um experimente o que viveu Paulo de modo extraordinário. Todavia, cada vez mais, os cristãos acreditarão a partir de uma descoberta e de um encontro com Cristo e de uma decisão pessoal. Este ser tocado no íntimo é obra da graça de Deus. Mas passa, normalmente, pelas mediações humanas: através de um anúncio, do testemunho ou de sinais humanos. Trata-se de um género muito particular de anúncio. Quanto ao seu conteúdo, é muito breve e muito simples: “Jesus Cristo morreu por ti e ressuscitou. Oferece-te uma vida nova. Qual é a tua resposta?”. É a primeira descoberta de Cristo como Salvador, tal como Paulo ao exclamar: “Ele amou-me e entregou-se por mim” (Gal 2,20) ou “O amor de Cristo tomou conta de nós ao pensar que um só homem morreu por todos” (2Cor 5,14). Não se trata de uma mera informação neutra e abstracta. É um anúncio que faz emergir todo o potencial de vida, de verdade e de bem que habita no coração de cada ser humano. É isto que se chama o Kerygma, o apelo que atinge directamente e trespassa o coração (cf. Act 2,37). É daí que nasce a conversão. Assemelha-se a uma espécie de “big bang” que liberta uma enorme energia capaz de transformar toda a vida da pessoa, de torná-la vida bela, amada, feliz! Chama-se também “primeiro anúncio” pela importância primordial que reveste! E ainda porque está no princípio como os fundamentos estão no princípio da casa. Está no início de tudo. É o coração e a alma de toda a revelação e da fé. Dá cor e calor a tudo. É o primeiro e primordial para todos: crianças, jovens e adultos. E deve estar sempre presente nas outras etapas de crescimento. Na prática pastoral precisamos de valorizar e apoiar as iniciativas (retiros, encontros com testemunhas vivas da fé, leitura orante da Palavra, preparação | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 43 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . do baptismo ou casamento...) e os vários movimentos que se dedicam a oferecer o primeiro anúncio ou a primeira descoberta da fé de modo que levem a um encontro, de coração a coração, com Cristo vivo, ressuscitado. 3.2.2. Catequese de iniciação à vida cristã O primeiro anúncio é o catalizador que desencadeia o processo da fé. Mas, em seguida, deve ser aprofundado para encontrar solo firme no caminho da fé. É esta a função do catecumenado: oferecer um itinerário próprio de aprofundamento da fé, para os não baptizados enquanto crianças, que leva a uma conversão inicial à profissão de fé e à celebração dos sacramentos de iniciação cristã. É esta também, para os baptizados, a função da catequese: apresentar e propor o conteúdo da fé, de modo orgânico e sistemático, pedagogicamente adaptado a cada idade. Trata-se de estruturar a fé na pessoa, de lhe dar uma coluna vertebral, com o auxílio de um “catecismo” e de um grupo de catequistas como testemunhas da fé; e também com o apoio da comunidade cristã que é o berço vivo da catequese. Não se pode confundir a catequese com a mera transmissão de conhecimentos ou de doutrina; nem a relação de catequista-catequisando com a relação de professor-aluno. A catequese tem o carácter de iniciação, gradual e progressiva, a toda a vida cristã, nas várias dimensões: iniciação ao conhecimento do mistério de Jesus Cristo e dos grandes conteúdos da fé; à oração e celebração da fé; à vida da comunidade cristã e ao estilo de vida próprio de um cristão. A catequese visa, em última análise, ajudar a fazer discípulos de Jesus, num encontro de amizade com Ele. Isto é algo que tem de estar presente em todos os encontros de catequese. Por isso, é muito importante a figura do catequista, enamorado por Cristo. O catequista é o “catecismo” vivo e torna vivo o livro do catecismo. Porque um encontro pessoal com Cristo não se ensina, nem se pode fabricar. Só se pode partilhar, testemunhar. É um facto de que dispomos de muitos catequistas capazes de ensinar e explicar, mas nem todos sabem tocar os corações. Devemos, pois, preparar os nossos catequistas de modo que se deixem também “agarrar” por Cristo e, na intimidade com Ele, adquiram a arte de cativar os corações. 44 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | 3.2.3. Formação contínua ou permanente dos jovens e dos adultos Cada idade é uma estação da vida que comporta os seus desafios e a sua maturação adulta. Não basta ser adulto em idade, para ser adulto na fé! Uma grande parte dos cristãos crescem em idade e em cultura, mas ao nível da fé ficaram com os conhecimentos infantis. Na sociedade actual tão complexa, não se permanece cristão só pelo facto de se ter aprendido a sê-lo, quando criança ou adolescente. Tornar-se cristão e adulto na fé não é algo automático. Também como adultos temos necessidade de um aprofundamento da fé para que esta seja uma escolha pessoal e fundada, e para o diálogo entre a fé e a cultura do nosso tempo. Para isso, não bastam as homilias ou assistir a uma conferência avulsa. Torna-se indispensável uma formação sistemática. Hoje a formação (ou catequese) dos jovens e dos adultos é mais necessária ainda do que a das crianças e dos adolescentes. Na situação actual deveríamos dinamizar toda a formação recentrando-a nos adultos. Uma das maiores lacunas de muitos cristãos é a falta de uma visão de síntese da fé cristã. É como quem vê as árvores, mas não vê a harmonia e a beleza da floresta. Para responder a esta necessidade confio à Comissão de Catequese com Adultos e ao Centro de Formação e Cultura a elaboração desta síntese, em vários encontros ao longo de um ano, e segundo um método interactivo em que se possa partilhar a experiência da fé. Esta formação poderá, posteriormente, ser oferecida em cada paróquia ou a nível de vigararia. Outra lacuna a preencher com urgência é a falta de conhecimento e de gosto da Palavra de Deus contida na Bíblia. A Bíblia, porém, é o primeiro livro da fé e da cultura cristãs. É uma vergonha que grande parte dos católicos não tenham familiaridade com a Palavra de Deus por ignorância e incapacidade de ler e entender a Bíblia. Ora, como diz São Jerónimo, “a ignorância das Escrituras é a ignorância acerca de Cristo.” Como se pode amar Aquele que se não conhece? Neste sentido é necessário que, a nível de paróquias ou vigararias, se realizem cursos de iniciação à Bíblia ou “serões bíblicos”. Além disso, “um meio seguro para aprofundar e saborear a Palavra de Deus é a lectio divina que constitui um verdadeiro itinerário espiritual. O estudo e a meditação da Palavra de Deus devem levar à adesão a uma vida conforme a Jesus Cristo e aos seus ensinamentos” (Bento XVI). Já lançámos, no ano passado, este método de leitura orante e familiar da Bíblia, com grande adesão popular. Continuaremos a incentivá-lo neste ano pastoral. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 45 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . 3.2.4. O Ano Litúrgico como itinerário de formação para todos Outro lugar e meio fundamental de formação da vida cristã é a liturgia. Como diz o Concílio Vaticano II, ela “é a fonte primeira e necessária onde os fiéis hão-de ir beber o espírito verdadeiramente cristão” (SC 14), isto é, alimentar a sua fé e a sua vida espiritual. Ao longo do Ano Litúrgico, a Igreja celebra o mistério de Cristo – mistério da Salvação – nos seus distintos aspectos e momentos. Na celebração é o Senhor que vem ao nosso encontro, que nos fala, que nos faz participantes da infinita riqueza da sua vida e do seu amor, e nos santifica. A espiritualidade do Ano Litúrgico educa-nos, pois, a vivermos e a alimentarmo-nos da Palavra, das orações, dos símbolos da celebração e do mistério celebrado. Assim, o Ano Litúrgico é, para todos, uma verdadeira escola da fé. Como esta riqueza deveria suscitar em nós todo o cuidado a pôr na preparação, na vivência interior, na dignidade e beleza das nossas celebrações! O Ano Litúrgico convida-nos a desenvolver uma outra vertente da formação dos fiéis que precisa de ser incrementada: a formação da vida espiritual através de propostas de tempos fortes de oração, meditação e contemplação (retiros, encontros…). Há um défice muito grande de espiritualidade nas nossas comunidades! 3.2.5. O contributo da piedade popular Embora a liturgia ocupe o lugar central no caminho espiritual do cristão, não esgota porém toda a espiritualidade da vida cristã. Existe também a piedade popular que engloba determinadas devoções, peregrinações e procissões, festas em honra dos santos. Caracterizam-se por um clima mais afectivo e espontâneo, ou então por dar mais espaço à interioridade e à oração pessoal. As expressões desta piedade popular são também meios para fomentar a vida espiritual e até a santidade popular. Merecem que se lhes reserve uma especial atenção em ordem a renová-las com um conteúdo mais bíblico e evangélico, orientá-las para o coração da fé que é Jesus Cristo, e a purificá-las de sentimentalismos exagerados e dos riscos de superstições. Fátima tem sido exemplo no esforço de evangelização e renovação da piedade popular. De modo particular, impõe-se restituir dignidade cristã às festas populares em honra dos Padroeiros que, nalguns lugares, estão a resvalar para um consumismo imprudente e até escandaloso, roçando mesmo o paganismo. 46 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . documentos pastorais . Já vimos como Paulo, após a revelação inesperada de Cristo, foi acolhido na Igreja de Jesus, que já existia antes da sua conversão. Foi a Igreja que o iniciou no conhecimento e aprofundamento da fé em Jesus e da existência cristã. Ele próprio, no seu anúncio, refere: “ Transmitivos o que eu mesmo recebi” (1Cor 15,3). Isto já diz, por si só, como e quanto a Igreja foi para ele Mãe e Mestra, que o ajudou a gerar para a fé. Disto sentese devedor. Torna-se então claro que a fé professada por um cristão não é algo que cada um inventa ou fabrica a seu bel-prazer. É verdade que a fé é dom de Deus. Mas chega até nós através da mediação da Igreja. Só nesta é possível encontrar as feições completas e originais do rosto de Cristo. Pelo baptismo tornamo-nos a família de Deus, “membros da casa de Deus” (Ef 2,19), filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos e irmãs de Cristo e em Cristo, reunidos todos pelo mesmo Espírito de amor. Isto é a essência da Igreja, a nossa família espiritual, a nossa casa espiritual. Tal como na casa de família somos iniciados à vida, assim na casa da nossa família espiritual somos iniciados à vida cristã. 4.1. A paróquia, comunidade formativa Uma comunidade cristã é, pois, o lugar natural onde somos acolhidos e iniciados no mistério de Cristo e da existência cristã; onde a fé é vivida e partilhada, onde ela pode crescer, amadurecer e dar frutos. Lugar onde nos reunimos para escutar a Palavra de Deus; onde se celebra a Aliança de Deus connosco; onde se vive o amor fraterno; onde os cristãos se ajudam mutuamente a viver o Evangelho pela riqueza da fé, do testemunho e do serviço de cada um em relação aos outros. Assim se torna uma comunidade de fé viva e irradiante. Eis como e porque a comunidade cristã é uma casa e escola da fé. A fé precisa de um ambiente comunitário para sobreviver e crescer! Toda a comunidade é responsável na iniciação e formação dos seus membros. A paróquia é, pois, uma comunidade educativa, comunidade de formação antes de ser um centro de organização de actividades e serviços. Isto deve ser uma das suas prioridades. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 47 Documentos 4. A IGREJA, CASA E ESCOLA DA FÉ . documentos pastorais . Também neste aspecto, São Paulo é exemplo. Através das cartas, sobressai a sua preocupação por arranjar muitos e bons colaboradores, formando uma rede de trabalho e em equipa. E cuidava, muito seriamente, da sua formação (formação de formadores!) para o anúncio da Palavra e o crescimento da comunidade. Só em Rom 16,1-24 recorda 36 pessoas e cada uma é caracterizada com atributos que evocam a intensidade de relações. É surpreendente o afecto e a alegria de Paulo por esta rede de relações, pela equipa de colaboradores que considerava preciosa para o evangelho de Jesus Cristo. Chama-os “meus colaboradores em Cristo”. E deixa ver como se respirava uma atmosfera de comunhão na fé e na alegria, de corresponsabilidade na formação da comunidade cristã. Do que foi dito derivam três propostas concretas a implementar. Antes de mais, a escolha e a “formação de formadores idóneos” é uma urgência primária para assegurar a formação geral e específica de todos os fiéis. O pároco não pode fazer tudo. Uma atenção particular merece a formação dos adultos. Em cada paróquia ou vigararia poderá criar-se uma escola da fé (ou de formação de adultos) para oferecer, em cada ano, a um grupo diferente de adultos, a visão de síntese da fé, já antes mencionada. A formação cristã não se esgota no âmbito da paróquia, porque esta, por si só, não é capaz de responder a tudo. Os grupos, as associações e os movimentos também têm o seu lugar na formação dos fiéis. Seria bom “trabalhar em rede” segundo as necessidades e oportunidades, em espírito de comunhão eclesial. Quero ainda recordar que a visita pastoral é uma boa oportunidade para sensibilizar e dinamizar as paróquias em ordem à formação cristã. 4.2. Serviços diocesanos de apoio à formação cristã A Diocese tem uma série de serviços centrais organizados para promover e apoiar a formação cristã, em todas as suas dimensões, para as várias idades e para os diferentes serviços na Igreja e nas comunidades. Lembro o nosso Centro de Formação e Cultura, que, em colaboração com os outros departamentos, oferece uma possibilidade de formação para jovens e adultos, a diversos níveis: um curso fundamental da fé, intitulado “Razões da Esperança”, de acessibilidade geral e frequentado, no ano transacto, por 48 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | 400 pessoas; o Curso Geral de Teologia, de nível mais profundo e sistemático; e ainda cursos especializados para os vários ministérios e serviços. Como não entusiasmar nas paróquias os fiéis leigos mais empenhados nos serviços da comunidade, a aproveitarem esta oportunidade? Seja-me permitido lembrar ainda, a propósito, que é no nosso Seminário que funcionam todos os serviços de apoio à formação cristã. O edifício vai entrar em obras de remodelação para instalar adequadamente estes serviços e destinar uma parte dele a uma casa de retiros. Será dada uma informação pormenorizada à diocese, mas desde já recordo que é obra de todos e para todos os diocesanos. Espero que todos possamos amar esta obra e contribuir generosamente para ela. 4.3. Família, reacende o dom da fé que está em ti! Comunica a tua fé! O ano pastoral coincide também com o Ano comemorativo do centenário do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ir ao coração da fé. O programa já foi divulgado pelo Santuário de Fátima. É uma ocasião para descobrir o lugar e o protagonismo das crianças na história do mundo e da salvação. E, consequentemente, o papel importante da família como lugar nativo da primeira iniciação à fé, o seu empenho na formação cristã dos filhos, a sua colaboração indispensável com a catequese. A cada família deixo um apelo vibrante: “Família, reacende o dom da fé que está em ti! Família, comunica a tua fé!”. Desde já, faço o convite e a proposta para que as crianças da catequese com os seus pais participem na peregrinação das crianças a Fátima, no dia 10 de Junho. Peço aos catequistas que as entusiasmem e preparem com elas, bem e antecipadamente, esta peregrinação. 4.4. Um ano a caminhar com São Paulo no crescimento da fé Neste contexto, o ano dedicado a São Paulo é um verdadeiro “Kairós”, quer dizer, um tempo especial de graça para a formação cristã na companhia de Paulo como Mestre. Assim propomos uma série de iniciativas a levar a cabo na nossa diocese: 1. “Um ano a caminhar com São Paulo” é a proposta da Conferência Episcopal Portuguesa para a vivência do Ano Paulino. Para isso dispomos de | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 49 Documentos . documentos pastorais . . documentos pastorais . um livro, com o mesmo título, da autoria de D. Anacleto, Bispo auxiliar de Lisboa. É um autêntico itinerário de fé, com 52 temas, um para cada semana do ano, que oferecem uma visão sintética da fé. Para isso seria bom e recomendável constituir os “grupos paulinos” nas paróquias, movimentos, associações, para que se faça a reflexão em grupo e se partilhe a fé e a oração. 2. O Retiro Quaresmal com São Paulo: à semelhança do que fizemos no ano passado, vamos viver a Quaresma como um tempo de “retiro popular”, em ordem ao aprofundamento da fé. Será feito nas paróquias, em pequenos grupos, a partir de alguns textos de São Paulo, sob a forma de meditação orante e familiar da Palavra de Deus (lectio divina). 3. Um encontro de formação e oração: “Ir ao coração da fé”, em cada vigararia, presidido pelo bispo, particularmente destinado aos membros mais empenhados nos serviços das comunidades e paróquias. 4. Um módulo de formação sobre São Paulo e a sua actualidade, da iniciativa do Centro de Formação e Cultura, com a duração de 8 horas, a propor às comunidades. 5. A “lectio divina” da Carta aos Romanos, a mais importante das cartas de São Paulo, que é a síntese de todo o seu anúncio e da sua fé. É também uma iniciativa do Centro de Formação e Cultura e estará disponível no site da Diocese. 6. O estudo das comunidades paulinas: será o tema da semana de formação permanente para o clero diocesano. 7. Início da fase de reflexão e sensibilização do presbitério e das comunidades em ordem à implementação do diaconado permanente como um ministério, com configuração própria, para a edificação da comunidade e ao serviço da sua formação, na linha da teologia de São Paulo acerca dos ministérios. 8. Uma colecta a favor dos pobres a ser realizada no ofertório das celebrações eucarísticas no dia 25 de Janeiro de 2009, festa da conversão de São Paulo, que coincide com o domingo. É um modo de actualizar a grande colecta por ele realizada. Será entregue à Cáritas Diocesana. 9. Participação numa grande celebração nacional no mesmo dia 25 de Janeiro, na igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. 10. Encerramento solene do Ano Paulino, a 28 de Junho de 2009, domingo, na Sé de Leiria, sob a presidência do bispo. 50 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . documentos pastorais . Dirigimo-nos a ti, ó grande apóstolo São Paulo, Arauto de Cristo e nosso Mestre na fé. Fazemos nossa a mesma súplica do macedónio: “Passa e ajuda-nos” com o teu anúncio, o teu exemplo e a tua intercessão. Intercede ao Senhor por nós, cristãos do século XXI: Que Ele nos abra os olhos da mente e do coração Como abriu os teus, no caminho de Damasco, Para alcançarmos o sublime conhecimento de Cristo, E, assim, podermos ir ao coração da fé. Contigo e com Maria, a Virgem fiel, O Senhor nos conceda Reacender a chama da nossa fé, Crescendo numa fé adulta, esclarecida e convicta. Ajuda-nos a permanecer firmes e sólidos na fé. Ámen! Saúdo-vos, de todo o coração, † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima Leiria, 8 de Setembro de 2008 Festa da Natividade de Nossa Senhora | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 51 Documentos Confiemos à intercessão de São Paulo e de Maria, a Virgem fiel, o êxito do nosso caminho: 16º Gala da Central FM - Outubro de 2008 “Pensar Globalmente e agir localmente” O lugar e a globalização Uma das mudanças mais radicais e mais fascinantes do nosso mundo é a globalização da comunicação, do conhecimento, do mercado, da cultura, enfim, da vida. Todos vivemos nesta aldeia global. Na internet todos somos vizinhos: podemos sentar-nos e conversar com pessoas do outro lado do planeta; podemos viver em comunidades virtuais. A geografia, para muita gente desapareceu. Os jovens autodefinem-se como “nativos digitais”, porque o ciberespaço é o seu “lar”. Isto é maravilhoso, e evoca a experiência da universalidade. O homem de hoje é, de facto, cidadão do mundo. Pensar globalmente vai-se tornando natural. E, além disso, é uma exigência para o desenvolvimento da sociedade e a resolução dos seus problemas. Mas, por outro lado, não é assim tão simples. Cada pessoa é um ser concreto. E, nesta aldeia global, precisamos de lugares concretos para lançar raízes, para crescer, trabalhar e agir, para nos refrescarmos e renovarmos. Somos corpos e, por isso, precisamos de espaços que tenham recordações, “lares” nos quais nos refresquemos e renovemos. Não se pode viver todo o dia na Web. É maravilhoso e apaixonante viver e pensar à escala global, universal. Mas precisamos de amar lugares concretos, determinados, onde possamos descansar: oásis de paz, onde nos sintamos em casa... Leiria, 1 de Julho de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 53 Documentos . escritos episcopais . . escritos episcopais . Nota aos fiéis de Leiria-Fátima Convocatória da Assembleia Diocesana Caríssimos Diocesanos, Irmãos e Irmãs no Senhor, “Graça e Paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador” (Tit 1,4). Desejo saudar-vos, afectuosamente, com estas palavras do Apóstolo Paulo a Tito, seu “verdadeiro filho na fé comum”. Como sabeis, estamos a seguir o percurso traçado pelo Sínodo Diocesano e desenvolvido no projecto pastoral “Testemunhar Cristo, fonte de esperança”. Ao longo do ano passado, tivemos a ocasião de saborear e testemunhar a ternura de Deus, na vida quotidiana pessoal e comunitária e em várias realizações vicariais e diocesanas. Este ano pastoral será dedicado à formação cristã. Nesta caminhada comum, seguindo as realizações dos anos passados, venho convocar uma Assembleia Diocesana, que terá lugar na tarde do Domingo, 5 de Outubro, no ginásio do Seminário Diocesano, em Leiria, com início às 15h00 e termo com a missa, às 18h00. São objectivos deste encontro: fazer experimentar que, como Igreja diocesana, somos muitos, mas um só corpo, em Cristo; apresentar a carta pastoral Ir ao Coração da Fé e o programa do ano; e celebrar o Dia da Igreja Diocesana. Os destinatários são os agentes pastorais da Diocese e demais fiéis empenhados na sua vida e missão, nomeadamente: Bispo e padres, Conselho Pastoral Diocesano, membros dos Serviços e organismos diocesanos, direcções dos Movimentos, Associações e Obras, superiores ou representantes das comunidades religiosas masculinas e femininas, direcções dos Institutos Seculares e Novas Comunidades, membros dos conselhos pastorais vicariais e paroquiais, catequistas, ministros da comunhão e outros. Na manhã desse dia e no mesmo local, realiza-se o encontro anual dos catequistas da Diocese, promovido pelo Departamento da Educação Cristã. Estes eventos marcam o início do novo pastoral e promovem a comunhão eclesial, imprimindo no coração dos colaboradores da Igreja diocesana maior sentido de co-responsabilidade e de pertença a uma mesma e grande família espiritual. Leiria, 18 de Setembro de 2008 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima 54 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . O nosso cântico de júbilo: eu Te bendigo, ó Pai... É grande a alegria dos nossos corações hoje: uma alegria que contém e exprime gratidão e louvor ao Senhor pelos aniversários jubilares dos 25 e 50 anos de ordenação sacerdotal, respectivamente, dos nossos caros P. Jorge Guarda, Vigário Geral da Diocese, e P. Virgílio da Silva, pároco da Urqueira. Todo o presbitério diocesano com o seu Bispo e os féis aqui presentes se unem, com afecto, a eles – bem como ao novo reitor e ao novo administrador do Santuário que hoje tomam posse – e saúdam-nos com vivos e jubilosos parabéns. Este jubileu acontece no Ano Paulino, nas vésperas do Sínodo dos bispos sobre a Palavra de Deus, no início do Ano Pastoral da Diocese que nos convida a ir ao coração da fé com São Paulo e no ano centenário do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ir ao coração da fé. São momentos significativos da vida eclesial que ajudam a iluminar alguns aspectos da missão e da espiritualidade do padre. Para exprimir a nossa alegria e o nosso louvor, deixemo-nos inspirar pela Palavra de Deus que acaba de ser proclamada. O cântico de júbilo de Jesus, nosso cântico O texto evangélico (Mt 11, 25-30) é uma página extraordinária, considerada como uma das pérolas mais preciosas de todo o evangelho: é o hino de júbilo, o Magnificat de Jesus, que constitui uma “síntese da revelação”. Revela-nos o “segredo” vivo e palpitante de todo o projecto de salvação em Jesus, o Filho do Pai. É uma página que lança uma luz calorosa e fascinante sobre a nossa celebração jubilar. Estamos diante do mais belo cântico de amor filial que jamais se entoou sobre a terra. Aparece como um “intermezzo” de alegria no meio das dificuldades do ministério de Jesus, que encontra a recusa nas cidades de Cafarnaum, de Betsaida e Corozaim. Parece que Jesus, em tais circunstâncias, sente a necessidade de se refontalizar, de ir à fonte profunda. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 55 Documentos Homilia do Jubileu Sacerdotal e tomada de posse do Reitor do Santuário de Fátima . escritos episcopais . Este canto sai do coração humano de Jesus, em exultação, pelo mistério de infinito amor, bondade e ternura de Deus que quer comunicar aos homens e onde todos encontramos abrigo; pelas maravilhas de graça que este amor realiza nos corações simples que o acolhem. Contudo, Jesus não o entoou só para si. Entoou-o também para nós; quis envolver-nos nele. O seu cântico torna-se, hoje, o nosso cântico, porque o seu Espírito – o Espírito Santo –, quando toca as cordas do coração, torna-as sensíveis às vibrações da graça e suscita nelas um cântico divino, a música do Amor. No hino de júbilo de Jesus leio, pois, um convite a viver e exprimir, de modo simples e profundo, três sentimentos fundamentais da vida sacerdotal: o de um agradecimento alegre pelo dom do sacerdócio; o de um voltar de novo ao coração da vida sacerdotal; e o de um renovado impulso na missão evangélica que nos foi confiada. Gratidão de alegria pelo dom do sacerdócio O primeiro sentimento que deve encher o nosso coração é o de uma extraordinária gratidão ao Senhor pelo dom do sacerdócio: uma gratidão que se torna louvor ao Pai, fonte de todos os dons. O louvor de exultação ao Pai abre e faz vibrar todo o cântico de júbilo de Jesus: “Eu Te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estas coisas aos pequeninos”! “Eu te bendigo” significa “ eu te agradeço, te louvo, te exalto, te confesso”. A referência ao Pai (Abbá) proclama a sua infinita ternura de amor, a sua condescendência (o seu voltar-se para nós) cheia de afecto. E o objecto de louvor alegre é o facto de que “estas coisas” – o plano divino da salvação, o reino de Deus, o mistério de Cristo – são reveladas aos “pequenos”, aos humildes, aos simples, àqueles que são transparentes a Deus. Este é o dom, por excelência, que Deus manifesta e oferece à humanidade. E neste dom encontram lugar todos os outros dons que vêm de Deus. Também o dom do sacerdócio. Com Cristo damos graças e louvor ao Pai que no seu amor, absolutamente livre e gratuito, sem qualquer mérito nosso, nos chamou, na nossa pequenez e fragilidade, a colaborar no seu desígnio de salvação como dispensadores dos seus dons aos irmãos. Voltar de novo ao coração da vida sacerdotal Um segundo sentimento que deve caracterizar os jubileus da nossa ordenação sacerdotal é a alegria de um voltar, sempre de novo, ao coração da vida sacerdotal, enquanto vida consagrada a Deus e aos irmãos. 56 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Qual é este “coração”? Jesus responde: “Tudo me foi dado pelo meu Pai; ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (v. 27). Encontramo-nos perante o vértice da revelação do mistério de Deus: o Pai que nos mostra o seu rosto e nos abre o seu coração no rosto e no coração humanos do Filho, Jesus Cristo. Jesus, no seu cântico de júbilo, é a alegria do Eterno Amor. Fala de um conhecimento recíproco, isto é, de uma relação profunda, de uma comunhão íntima de vida e amor. É o mistério da Trindade, da vida íntima de conhecimento e amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É este o “segredo” de Deus que o Filho quer comunicar aos simples. No desígnio divino, o homem é chamado a participar, partilhar, experimentar em si mesmo a misteriosa riqueza e beleza do Amor Trinitário. Eis o dom impensável e inimaginável que Deus quer oferecer a cada homem. “Ó admirável intercâmbio que faz com que Deus é graça e o homem acção de graças”! Este é o coração da vida cristã: ser habitados por Deus, Trindade Santíssima. Não pode ser outro o coração da vida sacerdotal. Toda a sua dignidade e beleza, todo o seu fascínio estão no ser uma existência humana que conhece o “segredo” da vida divina e faz deste segredo o sentido, o valor, o destino, a fonte e a alegria de todo o seu pensamento e sentimento, de toda a acção do seu ministério. É este o significado exacto e profundo da conhecida expressão: “O padre é um homem de Deus”. A inabitação da Santíssima Trindade em nós, Deus em nós, deve constituir o tesouro mais precioso que nos é dado a guardar, amar, adorar, viver, testemunhar! Renovado impulso na missão evangélica Um outro sentimento que deve enriquecer os nossos jubileus é o de um renovado impulso na missão evangélica que a ordenação sacerdotal nos confiou. Revelando o mistério do Pai, Jesus revela o coração misericordioso de Deus, o seu rosto de infinita misericórdia e “compaixão” pelo homem: “Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu vos confortarei (darei forças)!” A nossa missão comporta dificuldades, provações, fadigas, cansaços, desilusões. Quem não sente a fadiga de viver, a fadiga do trabalho pastoral, da sementeira dura e, por vezes, árida do semeador do evangelho, os limites da idade ou da saúde, a incompreensão e os pesos a suportar? É então o momento no qual a nossa fé deve despertar e revigorar-se escutando a voz de Jesus que nos chama e assegura: “Vinde a mim e eu vos darei força... O meu jugo é suave e o meu peso é leve”. Sim, o peso do seu amor levanta quem o leva! | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 57 Documentos . escritos episcopais . . escritos episcopais . Contudo, isto que vale para nós, deve valer também para os outros aos quais o Senhor nos envia. Se recebemos ajuda e consolação do Senhor, devemos também oferecê-las, com a nossa palavra e a nossa acção, a quantos se dirigem a nós. É assim que realizamos a missão que o Senhor nos confia. É Ele, o Senhor Jesus, que nos envolve na sua missão, que nos pede para sermos instrumentos humildes, dóceis e generosos das suas mãos e do seu coração misericordioso para com os nossos e seus irmãos cansados e oprimidos, necessitados de alívio, famintos e sedentos de consolação e força. Ir ao coração da fé: entrar no sublime conhecimento de Cristo Jesus Depois do que acabamos de meditar, compreendemos o testemunho apaixonado e vibrante que S. Paulo nos oferece da sua fé em Cristo. Paulo é um mestre e modelo para todos os pastores. Dele devemos aprender um grande amor por Jesus. Ele mesmo se define como “agarrado” por Cristo, “impelido” pelo seu amor. “A sua fé é o ser alcançado pelo amor de Jesus Cristo, um amor que o toca no mais íntimo e o transforma. A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus no seu coração. E assim esta fé é amor por Jesus Cristo” (Bento XVI). Comove-nos, de facto, o amor de Paulo por Jesus precisamente pela sua intensidade. Era tão forte e vivo que o levava a exclamar: “Considero tudo uma perda frente ao sublime conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”. Com este testemunho, Paulo convida-nos a ir ao coração da fé, a pôr Cristo no centro da nossa vida, a construir sobre Ele a nossa existência apostólica. A graça que pedimos, nesta Eucaristia jubilar, é entrar cada vez mais no “sublime conhecimento de Cristo”, segundo as palavras de Paulo, de conhecer o poder da sua ressurreição, participando nos sofrimentos do seu amor pela humanidade. Não sabemos como serão os tempos novos que o Espírito nos reserva; como serão os tempos novos que nós mesmos, com a nossa vida e o nosso testemunho, preparamos para o futuro. Sabemos, sim, que o Senhor nos chama a viver este nosso tempo – “de noite da fé”, de eclipse cultural de Deus – como tempo providencial para ir ao essencial, ao coração da fé, para reencontrar a autenticidade da fé, para crer mais e crer melhor. Nossa Senhora nos acompanhe no caminho, ajudando-nos a viver na escuta da Palavra, na adesão pronta e total à acção do Espírito e no canto incessante de louvor: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador”! Ámen! Aleluia! Fátima, 25 de Setembro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 58 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . Tomada de Posse 1. Gratidão a Monsenhor Luciano Guerra Em tão significativa circunstância, neste momento da “passagem de testemunho”, sinto o dever da justiça, a necessidade da virtude (da gratidão) e o laço da comunhão como imperativo para exprimir ao Mons. Luciano Guerra o mais vivo e sentido reconhecimento pela dedicação e pelo amor que colocou no desempenho da nobre, bela e árdua missão de Reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima ao longo de 35 anos, para o bem de todo o povo de Deus peregrino. Nestes dois anos de Bispo de Leiria-Fátima em que o Senhor nos chamou a trabalhar juntos, pude apreciar, pessoalmente, os dotes da sua alma de pastor, inteiramente dedicado ao Santuário e à Mensagem que lhe dá a razão de ser; a sua competência iluminada, a seriedade e ponderação das suas decisões, a sua capacidade empreendedora de novos caminhos e estruturas de evangelização, a sua lealdade de colaborador fiel, o seu grande sentido eclesial, a sua profunda e esclarecida devoção mariana. Com a sua reitoria, o Santuário conheceu uma nova etapa e um novo impulso que culminaram na inauguração da Igreja da Santíssima Trindade e que deixam marcas indeléveis na história de Fátima. O Santuário, a nível material, espiritual e ambiental, tornou-se um verdadeiro oásis espiritual de encanto, de recolhimento e contemplação, de frescura interior e de paz. Por isso, para além de lhe exprimir os meus sentimentos de gratidão como bispo da diocese de Leiria-Fátima, faço-me também intérprete da gratidão do episcopado português e de todos aqueles que, no decurso destes 35 anos, o conheceram como Reitor e admiraram a sabedoria prudente e o zelo incansável com que, sem poupar energias, realizou a sua missão, tendo em conta, unicamente, o bem da Igreja. Asseguro-lhe a minha sincera e constante estima, o meu afecto de pastor e a comunhão fraterna, bem como ao Senhor P.e António Sousa pelo seu trabalho dedicado na administração competente, eficaz, honesta e transparente do Santuário. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 59 Documentos Novo Reitor do Santuário de Fátima . escritos episcopais . O Senhor Deus, a quem confio todo o desejo da vossa alma sacerdotal, vos conforte e apoie nos anos futuros, dando-vos saúde física e infundindo no vosso ânimo serenidade, alegria e esperança. A Virgem Mãe, Nossa Senhora de Fátima vele, de modo particular, sobre vós concedendo-vos as melhores bênçãos pelo serviço filial que lhe prestastes no nosso Santuário e através do mundo. 2. Votos de bênção e serviço fecundo para o novo Reitor Caro Pe Dr. Virgílio Antunes: Acaba, Vossa Reverência, de tomar posse como Reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima com estatuto de Santuário nacional e de projecção mundial, onde afluem, como a um porto de mar acolhedor, cinco milhões de peregrinos por ano. É uma ocasião para lhe endereçar as mais vivas e sentidas felicitações em nome pessoal e do episcopado português que, em assembleia plenária, ratificou, unanimemente, a sua indigitação para este cargo. Estendo estas felicitações ao novo Administrador, P.e Cristiano Saraiva. É também um momento propício para sublinhar a relevância do lugar e da missão do Santuário de Fátima na Igreja, no país e no mundo, e por conseguinte, a relevância da missão que agora lhe é confiada como Reitor. A relevância nacional e mundial do Santuário de Fátima A partir da minha experiência, ainda curta, de Bispo de Leiria-Fátima creio poder afirmar, sem exagero, que o Santuário de Nossa Senhora de Fátima representa, de algum modo, o coração materno de Portugal, o coração espiritual do país. Além disso, possui uma particular importância para a Igreja universal e para o mundo inteiro, como testemunham as declarações dos últimos Pontífices desde Pio XII a Bento XVI. Fátima tornou-se para Portugal e muito além das suas fronteiras lugar-símbolo de paz, de reconciliação e de unidade de corações, de povos e culturas. É símbolo de uma abertura que supera não só as fronteiras geográficas e nacionais mas, na pessoa de Maria, remete para uma dimensão essencial ao homem: a busca de Deus, a capacidade de se abrir ao mistério de Deus e da beleza do seu Amor, como o fundamento e advogado supremo da dignidade humana e da causa da paz entre os povos. 60 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | O Santuário de Fátima insere-se numa rede de santuários marianos espalhados pelo mundo, que constituem um recurso de amor, um oásis espiritual e uma reserva de esperança face à força devastadora do mal e são fonte perene de elevação espiritual da humanidade. Como um oásis espiritual, um santuário indica ao mundo de hoje a coisa mais importante e, por fim, a única decisiva: existe uma última razão pela qual vale a pena viver, peregrinar na história, sofrer e esperar, a saber, Deus e o seu Amor imperscrutável, que excede todo o nosso entendimento e o nosso cálculo. O Santuário na missão evangelizadora da Igreja Como todos os santuários, também o nosso participa da missão evangelizadora da Igreja e dos desafios que hoje se lhe põem, enquanto lugar privilegiado de acolhimento, centro de unidade pessoal, fraterna e eclesial, caminho para a santidade de povo (popular), sinal de esperança, lugar de anúncio e de revitalização da fé. Como não evocar aqui a tão bela síntese de Bento XVI em relação a Fátima? “Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”. Nesta vertente, colocam-se, permanentemente, o desafio e a responsabilidade do santuário, de conservar sempre um rosto e um dinamismo missionários para não se reduzir a um mero “centro de serviços religiosos”. Enquanto desafio, o santuário é provocado a interrogar-se sobre a qualidade, a modalidade e as circunstâncias da comunicação da fé em múltiplas formas, linguagens, símbolos e sinais. É um desafio que requer competência teológica e cultural, fina sensibilidade psicológica, prudente mas corajosa inovação no estilo e no método da comunicação da fé. Do mesmo modo, o Santuário é interpelado, sente-se chamado em causa para responder às novas questões e buscas geradas pela cultura pós-moderna. Isso exige verificar a qualidade e aptidão da pregação; considerar os conteúdos do anúncio segundo os ritmos do Ano Litúrgico ou de eventos próprios do Santuário; avaliar o contributo específico nas modalidades de acolhimento e escuta dos fiéis e nos tempos de diálogo espiritual, mesmo para além do atendimento no sacramento da reconciliação; em síntese, cuidar da “excelência” da oferta, isto é, de tudo o que é oferecido no Santuário para o bem dos peregrinos. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 61 Documentos . escritos episcopais . . escritos episcopais . O carisma próprio do Santuário de Fátima Não deve ser esquecido, por fim, que o rosto próprio do Santuário se manifesta e realiza no cumprimento do seu carisma atribuído pelo desígnio de Deus para a salvação do homem, neste preciso lugar, através da Mensagem de Nossa Senhora com o símbolo do seu Imaculado Coração de Mãe que vela pela humanidade. Maria dá-nos olhos e coração para contemplar o Amor Misericordioso “como força de Deus e limite divino contra o mal no mundo” (Bento XVI). A grande lição de Fátima é que a oração é sempre a arma mais forte, mesmo no campo da história, para a conversão dos corações e a paz entre os povos. “Fátima é uma fonte que Deus abriu no mundo e que continua a brotar para dessedentar corações e fecundar histórias” (João Paulo II). O Santuário, de facto, dilata o coração do homem à medida do coração de Cristo, a exemplo do coração de Maria, através de um olhar universal. A universalidade caracteriza a autêntica espiritualidade católica e o santuário educa a sair dos limites, das atitudes egoístas, das próprias estreitezas mentais e esforça-se por promover uma corresponsabilidade global, um afecto universal típico dos cristãos maduros e da própria Mensagem da Senhora; esforçase por abrir os corações às dimensões do mundo. Como foi dito pelo profeta: “ O meu templo chamar-se-á casa de oração para todos os povos” (Is 56,7). Confiança e esperança Oxalá estas breves reflexões possam iluminar e ajudar o reitor e o administrador do Santuário no desempenho dos seus cargos. Desde já, assegurolhes a minha confiança, a minha comunhão e o meu apoio. O Senhor Reitor, Pe Dr. Virgílio, alia uma sólida formação doutrinal e teológica a uma sábia experiência pastoral, já testada aqui no Santuário. O Senhor Administrador, Pe Cristiano, já deu provas, como ecónomo diocesano, das suas qualidades e aptidões para gerir um grande Santuário, segundo os critérios evangélicos e as normas canónicas. Tudo isto é, para nós, motivo de fundada esperança! Por intercessão de Maria, Nossa Senhora de Fátima, imploro a luz e a força do Espírito para a vossa nobre, bela e árdua missão! Fátima, 25 de Setembro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 62 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . “Vai, Francisco, repara a minha casa, que está em ruínas” É com grande alegria e fraterno afecto que acolho e saúdo toda a família franciscana nesta igreja da SS. Trindade, em celebração eucarística, fazendo memória litúrgica do nosso querido Pai e Irmão S. Francisco. Saúdo-vos a todos, à boa maneira franciscana: “Paz e Bem” a todos e cada um de vós! Para exprimir a nossa alegria e o nosso louvor ao Senhor pelo dom de Francisco, deixemo-nos inspirar pela Palavra de Deus que acaba de ser proclamada. O cântico de júbilo de Jesus, nosso cântico O texto evangélico (Mt 11, 25-30) é uma página extraordinária, considerada como uma das pérolas mais preciosas de todo o evangelho: é o hino de júbilo, o Magnificat de Jesus, que constitui, por sua vez, uma “síntese da revelação”. Revela-nos o “segredo” vivo e palpitante de todo o projecto de salvação em Jesus, o Filho do Pai. É o mais belo cântico de amor filial que jamais se entoou sobre a terra. Sai do coração humano de Jesus, em exultação pelo mistério de infinito amor, bondade e ternura de Deus que quer comunicar aos homens e onde todos encontramos abrigo; pelas maravilhas de graça que este amor realiza nos corações simples que o acolhem. Contudo, Jesus não o entoou só para si. Entoou-o também para nós; quis envolver-nos nele. O seu cântico torna-se, hoje, o nosso cântico, porque o seu Espírito – o Espírito Santo –, quando toca as cordas do coração, torna-as sensíveis às vibrações da graça e suscita nelas um cântico divino, uma música nova – a música do Amor, como fez em Francisco de Assis, que entoou dois dos mais belos cânticos da literatura mundial: “Os louvores de Deus Altíssimo” e “O Cântico das criaturas”. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 63 Documentos Homilia na celebração de S. Francisco de Assis para a Família Franciscana . escritos episcopais . No hino de júbilo de Jesus leio, pois, um convite a viver e exprimir, de modo simples e profundo, três sentimentos fundamentais da vida cristã: o de um agradecimento alegre pelo dom da revelação aos pequeninos; o de um voltar de novo ao coração da vida cristã; e o de um renovado impulso na missão evangélica que nos foi confiada. Gratidão de alegria pelo dom da Revelação aos pequeninos O primeiro sentimento que deve encher o nosso coração é o de uma extraordinária alegria e gratidão ao Senhor pelo dom da revelação aos pequeninos: uma gratidão que se torna louvor ao Pai, fonte de todos os dons. O louvor de exultação ao Pai abre e faz vibrar todo o cântico de júbilo de Jesus: “Eu Te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estas coisas aos pequeninos”! “Eu te bendigo” significa “ eu te agradeço, te louvo, te exalto, te confesso”. A referência ao Pai (Abbá) proclama a sua infinita ternura de amor, a sua condescendência (o seu voltar-se para nós) cheia de afecto. E o objecto de louvor alegre é o facto de que “estas coisas” – o plano divino da salvação, o reino de Deus, o mistério de Cristo, o Evangelho – são reveladas aos “pequenos”, aos humildes, aos simples, àqueles que são transparentes a Deus. Este é o dom, por excelência, que Deus manifesta e oferece à humanidade. E neste dom encontram lugar todos os outros dons que vêm de Deus: os dons da criação, da vida, da bondade e beleza da vida, da graça do Seu amor que salva… Com Cristo damos graças e louvor ao Pai que no seu amor, absolutamente livre e gratuito, sem qualquer mérito nosso, nos chamou, na nossa pequenez e fragilidade, a colaborar no seu desígnio de salvação. Francisco respondeu a este chamamento: abandonou os sonhos da glória e dos sucessos mundanos, tornou-se pequeno, irmão menor, humilde e pobre, satisfeito só com Deus e a sua ternura. Descobriu que o Evangelho vivido na santa simplicidade e sem descontos, nos torna criaturas novas e felizes. Tornou-se um cantor apaixonado da ternura e da beleza de Deus, verdadeiro jogral (trovador) de Deus com os “Louvores de Deus Altíssimo” e “O cântico das criaturas”. São o cântico novo da “perfeita alegria” em Deus, da bondade e da beleza da vida e da criação, do louvor e da gratidão como estilo de vida. 64 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Voltar de novo ao coração da vida cristã Um segundo sentimento é a alegria de um voltar, sempre de novo, ao coração da vida cristã, enquanto vida baptismal consagrada a Deus e aos irmãos. Qual é este “coração”? Jesus responde: “Tudo me foi dado pelo meu Pai; ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (v. 27). Encontramo-nos perante o vértice da revelação do mistério de Deus: o Pai que nos mostra o seu rosto e nos abre o seu coração no rosto e no coração humanos do Filho, Jesus Cristo. Jesus, no seu cântico de júbilo, é a alegria do Eterno Amor. Fala de um conhecimento recíproco, isto é, de uma relação profunda, de uma comunhão íntima de vida e amor. É o mistério da Trindade, da vida íntima de conhecimento e amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É este o “segredo” de Deus que o Filho quer comunicar aos simples. No desígnio divino, o homem é chamado a participar, partilhar, experimentar em si mesmo a misteriosa riqueza e beleza do Amor Trinitário. Eis o dom impensável, inimaginável, inigualável, que Deus quer oferecer a cada homem. “Ó admirável intercâmbio que faz com que Deus é graça e o homem acção de graças”! Este é o coração da vida cristã: ser habitados por Deus, Trindade Santíssima. A inabitação da Santíssima Trindade em nós, Deus em nós, deve constituir o tesouro mais precioso que nos é dado a guardar, amar, adorar, viver, testemunhar! Também neste aspecto, Francisco é um grande educador da nossa fé. Quem como ele era um verdadeiro enamorado de Cristo que ele “levava sempre no coração, nos lábios, nos ouvidos, nos olhos, nas mãos…”, como diz o biógrafo? E “Os louvores de Deus Altíssimo” revelam uma alma constantemente arrebatada no diálogo com a Trindade! Em Francisco, tudo parte de Deus e a Deus volta! Renovado impulso na missão evangélica Um outro sentimento que nos deve enriquecer é o de um renovado impulso na missão evangélica. Revelando o mistério do Pai, Jesus revela o coração misericordioso de Deus, o seu rosto de infinita misericórdia e “compaixão” pelo homem: “Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu vos confortarei (darei forças)!” A nossa vida e a nossa missão comportam dificuldades, provações, fadigas, cansaços, desilusões. Quem não sente a fadiga de viver, a fadiga do | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 65 Documentos . escritos episcopais . . escritos episcopais . trabalho pastoral, da sementeira dura e, por vezes, árida do semeador do evangelho, os limites da idade ou da saúde, a incompreensão e os pesos a suportar? É então o momento no qual a nossa fé deve despertar e revigorar-se escutando a voz de Jesus que nos chama e assegura: “Vinde a mim e eu vos darei força... O meu jugo é suave e o meu peso é leve”. Sim, o peso do seu amor levanta quem o leva! Foi o amor de Cristo, contemplado no crucifixo da igreja de S. Damião e gravado no seu corpo através dos sinais dos estigmas, que constituiu a mola da missão de Francisco: reparar a casa do Senhor, o amor aos leprosos e comunicar a paz de Deus (“O Senhor te dê a paz”). Queria chamar a vossa atenção, muito brevemente, para a actualidade da missão de reparar a casa do Senhor. É uma responsabilidade atribuída a cada baptizado. Também hoje o Senhor diz a cada um como a Francisco: “Vai, Francisco, repara a minha casa que, como vês, está em ruínas”. Trata-se de renovar a Igreja a partir de dentro, a partir de nós mesmos, indo ao coração da fé, vivendo a medida alta da santidade, descobrindo e realizando, com generosidade, a vocação a que o Senhor chama cada um. A lei do crescimento e da renovação da Igreja é de dentro para fora… Que S. Francisco e Maria, a Virgem Mãe, que ele tão ternamente amou e cantou, vos acompanhem e iluminem na vossa missão e no vosso testemunho da simplicidade, da alegria e beleza do Evangelho que irradia a paz nos corações, nas famílias e nos povos. Igreja da Santíssima Trindade, 4 de Outubro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 66 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . Bênção do Centro de Interpretação de S. Jorge Saúdo com toda a deferência e cordialidade Sua Excelência, o Senhor Presidente da República e sua Ex.ma esposa, e estendo esta saudação a todos os ilustres convidados. Saúdo e agradeço, de modo particular, ao Senhor Presidente da “Fundação Batalha de Aljubarrota” o amável convite para proceder à bênção deste Centro de Interpretação. A seu insistente pedido, aceitei fazer, neste momento, uma breve evocação da exemplaridade cristã do Patrono espiritual da Fundação e herói da batalha, D. Nuno Álvares Pereira. Interpretei o pedido como um convite a revisitar a antiga e nobre figura de Nun’Álvares, por vezes tão maltratada. Como todas as grandes figuras da história, também esta está sujeita ao conflito de interpretações. O que está em causa é a interpretação da figura do Condestável do Reino, militar distinto na campanha da consolidação da independência nacional depois da crise de 1383-85, considerado fundador da Real Casa de Bragança, proprietário de boa parte do território nacional que, a certa altura da vida, pensa abandonar a pátria e, na impossibilidade disso, resolve – à semelhança de Francisco de Assis – doar grande parte da fortuna aos pobres e a mosteiros e ingressar na Ordem dos Carmelitas, como simples irmão leigo. A sua caridade e generosidade sem limites para com os pobres, criando casas de abrigo para doentes, órfãos e viúvas, a sua benevolência, misericórdia e protecção para com os vencidos nas batalhas, granjearam-lhe já em vida o epíteto de “O Santo Condestável”. O seu amor ao próximo não conhecia distinção de raças ou crenças, acolhendo nas suas terras mouros ou judeus que o chamavam de “pai” por lhes ter construído mesquitas e sinagogas. Neste conflito de interpretações há, segundo um interessante estudo de D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, duas versões inaceitáveis, uma antiga e uma moderna. A primeira delas é de Luís de Camões que o vê como um militar violento (“A mão na espada, irado e não facundo/ Ameaçando a terra, o mar e mundo”), à imagem do Orlando Furioso (“D. Nuno Álvares digo, verdadeiro | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 67 Documentos Revisitar a Figura de Nun’Álvares . escritos episcopais . açoute dos soberbos castelhanos, como já o fero Huno o foi primeiro…”). Esta é uma interpretação belicista, própria de um espírito medieval de cruzada, completamente inexacta e desactualizada. A segunda é a de Júlio Dantas (1907 e 1913). Trata-se de uma interpretação que oscila entre o jacobinismo republicano, a medicina e a psicologia positivista. Faz de Nun’Álvares uma espécie de D. Sebastião, avant la lettre, um homem movido pela neurose da violência, um doente psíquico, possuído por estranhas ideias sobre a virgindade, portador de uma hereditariedade patológica (com um bispo de Braga de permeio!) que o autor vai rebuscar, por duvidosos métodos historiográficos, até à 5ª geração! Esta interpretação é proposta precisamente no momento em que acontecia o processo de beatificação do Condestável, para a ridicularizar. O texto de Júlio Dantas chama-se significativamente “Libelo do Cardeal Diabo”. Ambas as interpretações são completamente erróneas e inaceitáveis para o Bispo Ferreira Gomes. Ele propõe a sua própria interpretação, no contexto da reflexão sobre a tradição portuguesa antiga a respeito dos “direitos humanos”. Começa por revisitar a “Crónica de D. João I” de Fernão Lopes que mostra Nun’Álvares como um homem mesurado, sensato na palavra e na presença, inteligente, militar eficaz, mas nunca gratuitamente violento. Como homem do seu tempo, era muito interessado por romances de cavalaria (“Távola Redonda”), de origem britânica. Mas não leria somente isso; eventualmente terá lido também as teorias de João de Salisbúria sobre o regime do príncipe e a consolidação das liberdades contidas na “Magna Charta” de 1215, sobre os direitos dos cidadãos. Esta índole e esta formação são decisivas para explicar a sua história posterior e engrandecem a sua figura humana e cristã. Porque pensou o Condestável deixar o Reino (como fizeram os Príncipes D. Fernando e D. Pedro, filhos de D. João I), uma vez consolidada a paz e a independência? Na interpretação de D. António, é por duas razões. Primeiro, porque estava em desacordo com a posição da velha nobreza (para reconstituir a velha ordem feudal), que não compreendeu o sentido cívico-burguês da revolução de 1383/85. Em segundo lugar, porque a política D. João I se encaminhava no sentido de centralização do poder, anulando as liberdades municipais dos Burgos. D. António dá o exemplo do Porto, cidade cujo senhorio foi, por essa altura, comprado pelo rei ao bispo. A tese é que as liberdades das cidades medievais (liberdades de cidadania) e o seu desenvolvimento burguês económico se processam mais facilmente sob a inspiração cristã da Igreja do que sob a ordem do centralismo real. 68 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Uma vez que o rei se opôs à partida do Condestável do Reino, ele escolheu a forma de recusa mais radical (em vista dos desenvolvimentos da história com que não estaria de acordo) e recolheu-se ao claustro carmelita, despojando-se dos seus bens, numa entrega total a Deus. É inegável a exemplaridade cristã da sua vida, a sua exemplar santidade de vida reconhecida pela Igreja e que nos interpela, sobremaneira, na momento actual: como apelo a uma cidadania exemplar animada pelas virtudes evangélicas; a um sentido nobre da política alicerçada nos valores transcendentes do humanismo cristão para “mais e melhor democracia” não só como regime formal mas sobretudo como virtude e cultura da dignidade da pessoa e dos direitos humanos; e à escuta do clamor dos pobres e dos mais desfavorecidos, as primeiras vítimas da actual crise do sistema financeiro e da sua avidez do lucro imediato. Num país onde o fosso entre ricos e pobres é um dos maiores da Europa é necessário lembrar a indiscutível frase de Kant e repetida pelo cardeal Cardijn: “as coisas têm preço; os homens têm dignidade”! Oxalá a canonização próxima de D. Nun’Álvares possa trazer uma nova linfa vital para uma mais digna, justa e saudável vida cívica, social e política à sua e nossa amada Pátria! Campo de S. Jorge, 11 de Outubro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 69 Documentos . escritos episcopais . . escritos episcopais . Nota Episcopal O nosso Seminário precisa de ajuda! Dois desafios importantes marcam o início do presente ano pastoral: o lançamento do segundo biénio do Projecto Pastoral Diocesano, dedicado ao aprofundamento da dimensão comunitária da vida cristã, e o arranque da primeira fase das obras de conservação e introdução de melhorias no interior do edifício do Seminário. É uma feliz coincidência, porque se, com a nova etapa do Projecto Pastoral, queremos cuidar do edifício espiritual da Diocese – indo ao coração da fé – com estas obras vamos melhorar os espaços que darão apoio aos seus dinamismos pastorais. Para o futuro, nesta casa coexistirão duas dinâmicas essenciais à vida do Povo de Deus: a formação dos candidatos ao sacerdócio e a formação dos fiéis leigos. Olhando para o edifício, aberto em 2/11/1965, temos de reconhecer que o nosso antecessor (D. João Venâncio e quem o acompanhava) pensou em grande, ao dotar o Seminário dos meios necessários para que pudesse cumprir a sua missão. Agora é a nossa vez! Como então, também hoje somos convidados a responder aos novos desafios com ousadia e generosidade. Temos de ser dignos da herança recebida e do tempo que nos é dado viver! Vamos todos dar o nosso contributo. Como? Que cada comunidade/centro de culto assuma as obras do Seminário como suas, pois o que está ao serviço de todos por todos deve ser participado; que cada cristão se sinta co-responsável pelo seu bom êxito e colabore nas iniciativas propostas. Proponho três formas de colaboração: com a oração, promover o ambiente favorável às vocações; com a formação, melhorar a participação na vida eclesial e social; com festas e outras iniciativas, participar na angariação de fundos para as obras do Seminário. Neste sentido, faço um apelo à iniciativa dos reverendos párocos para sensibilizarem e dinamizarem as comunidades e os centros de culto para esta causa que é de todos nós. Espero, pois, que todos possamos amar esta obra e contribuir generosamente para ela com a consciência de que o nosso Seminário é uma casa no coração da Diocese e ao serviço de toda a Diocese! Leiria 24 de Outubro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 70 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . Mensagem de Natal O Natal de Cristo é de todos e para todos 1. O Natal, festa da fraternidade e da paz O Natal é a festa mais alegre, mais familiar, mais calorosa do nosso calendário. A ceia em família, a missa da meia noite, os cânticos tradicionais, a troca de presentes, os votos de Boas Festas, o presépio, a árvore de Natal, a partilha com os pobres... Tudo isto nos mostra que o Natal é uma festa diferente das outras. É símbolo da alegria do reencontro, da fraternidade e da paz dos corações; é a festa de crentes e não crentes, de todos os que esperam um mundo mais fraterno, mais acolhedor e mais justo! Mas ao falar assim do Natal, não estaremos, porventura, a reduzi-lo à fantasia de um sonho que, uma vez por ano, nos reconcilia com realidades em que, de facto, não se acredita? Não será que corremos o risco de reduzir o Natal a uma recordação nostálgica do passado, a uma fantasia poética, a um mero jogo de sentimentos? Será que o Natal é apenas celebração poética duma página convencional do calendário? 2. O Natal de Cristo, novidade e coração da fé cristã De facto, o Natal cristão, para além das expressões culturais a que deu origem, é sobretudo a celebração dum profundo mistério, que constitui a novidade e o coração da fé cristã: o mistério da Encarnação de Deus. Deus entrou no mundo dos homens num sentido inaudito! Não só por via psicológica, no ânimo de uma pessoa profundamente piedosa; não só em termos espirituais, nos pensamentos de uma grande personalidade. Mas, em Jesus Cristo, o Filho eterno do Pai, Deus entrou em pessoa na história dos homens: fez-se homem, filho duma mãe humana, sem deixar de ser o que Ele é eternamente. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 71 Documentos “Desperta, ó homem; por ti, Deus fez-Se homem” . escritos episcopais . É Deus connosco, Deus junto de nós, com rosto e coração humanos, para contagiar os nossos corações e os nossos dias com o Seu Amor Eterno e Santo, partilhá-lo connosco, criando uma família de irmãos, uma nova fraternidade. “Desperta, ó homem; por ti, Deus fez-se homem” (Santo Agostinho)! É deste acontecimento que fala o Natal. Tudo o resto tira sentido a partir daqui. A nossa fé não é um pensamento, uma ideia, uma opinião. É o acolhimento humilde e maravilhado deste dom incalculável e incrível: Jesus Cristo, Deus connosco. 3. O Natal e os direitos humanos De Deus feito homem, aprendemos a verdadeira humanidade. Por isso “quem coloca a afirmação da sua fé na Encarnação do Filho de Deus, pode ser protector dos homens, pode levar a felicidade às crianças, às famílias, aos aflitos. A fé na Encarnação ajuda a salvar os homens e a realizar os direitos humanos” (Th. Schniltzer). Eis o apelo forte do Natal deste ano de 2008 em que comemoramos os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos humanos! Vivemos este Natal num contexto de profunda crise económico-social que se reflecte em várias formas de pobreza. Que o “Menino-Deus” desperte em todos uma onda de ternura e caridade, de partilha e solidariedade a favor de quantos fazem a experiência dura da fragilidade: os pobres, os doentes, os idosos, os sós, os sem trabalho e sem casa, os marginais, os recusados e os desesperados. O Natal de Cristo é de todos e para todos: é plural. Ou o fazemos juntos ou não é verdadeiro Natal! A todos os diocesanos cheguem os meus melhores votos de Santo Natal e Feliz 2009! Leiria, 10 de Dezembro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 72 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . Dia da Sagrada Família 1. Celebramos o Natal de Jesus, como a festa do “grande encontro” de Deus com a humanidade. Um encontro que nos faz ver aquele grande “Sim” que, em Jesus Cristo, Deus disse ao homem, à sua vida, ao amor humano, à família, e que é fonte de alegria para o mundo. Jesus, Filho de Deus, dignou-Se ser também filho de uma família humana fundada pelo amor de dois esposos, Maria e José. Ele abraçou a vocação humana primordial, que é a família, desde o seu nascimento, em Belém, até à casa de Nazaré, amando e sendo amado, crescendo em sabedoria e em graça diante de Deus e dos homens, e ganhando a vida com o suor do seu rosto. Na alegria e na paz do Natal do Senhor, saúdo afectuosamente as vossas famílias e cada um de vós. Que o Senhor Jesus Cristo seja por vós acolhido para poderdes crescer no amor e reforçar sempre os laços familiares que vos unem. Quarenta dias após o nascimento do Menino, os seus pais levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor (Cf: Lc 2,22-40). Era uma norma que todos os casais, em Israel, observavam após o nascimento do primeiro filho. Mas Maria e José, procedendo do mesmo modo, acreditavam no que lhes foi dado a conhecer da parte de Deus e guardavam tudo em seus corações. Ninguém poderá sentir melhor que vós, pais e mães, a fé e a emoção com que se apresenta a Deus um filho, esse tesouro que o Senhor colocou nos vossos braços depois de abençoar e tornar fecundo o vosso amor. É um gesto que condensa e celebra de maneira extraordinária toda a grandeza do matrimónio e da família. 2. No início do Ano Pastoral escrevi uma Carta à Igreja diocesana, desejando que todos “vão ao coração da fé” para descobrirem a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E, pensando em vós, deixei um apelo que me saiu do coração: Família, reacende o dom da fé que está em ti! Comunica a tua fé! Voltando a escrever-vos, renovo hoje o mesmo apelo. É o chamamento a despertar e a reforçar a consciência do dom da fé: não só para descobrir a sua preciosidade e beleza, mas também para | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 73 Documentos Mensagem às famílias . escritos episcopais . superar o clima generalizado de desalento e de medo que pesa fortemente sobre a família e sobre a sua missão educativa da transmissão dos valores e, em particular, da fé. O dom de Deus é fonte e garantia de confiança e coragem, torna-nos seguros, serenos e alegres: esta missão é possível e é bela, como diz o salmista: “O que ouvimos e aprendemos e os nossos pais nos transmitiram não o ocultaremos aos seus filhos; contaremos às gerações futuras as glórias do Senhor, o seu poder e as maravilhas que Ele fez” (Sl 78,3-4). Os cristãos sabem que a comunidade familiar só brilhará com todo o seu esplendor à luz do projecto e do desígnio do amor de Deus. Também ela foi salva, juntamente com a nossa humanidade, pelo amor de Jesus Cristo que se entregou para a vida e felicidade de todos. O amor humano lembra e assinala este amor/doação de Jesus Cristo e é chamado a caminhar no exemplo do Senhor. Pensando nas pessoas e famílias que mais sofrem com as duras dificuldades que estão a atingir a nossa sociedade, peço ao Pai celeste que nos conceda um coração generoso na partilha, atento, cooperante e solidário. Confiando-vos à Sagrada Família de Nazaré, imploro sobre vós e vossas famílias as bênçãos de Deus para que vos confirme na alegria da unidade e do amor. Com votos de Feliz Ano 2009, saúdo-vos com fraterno afecto. 28 de Dezembro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 74 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . Homilia de fim de ano No final de um ano civil encontramo-nos reunidos todos juntos, em vigília, para elevar um hino de acção de graças a Deus, Senhor do tempo e da história; para dar graças pelos inúmeros dons e benefícios concedidos a cada um, à Igreja e à humanidade. É nosso dever – para além duma necessidade do coração – louvar e agradecer Àquele que nos acompanha no tempo, sem nunca nos abandonar, que vela sobre a humanidade com o seu amor fiel e misericordioso (1ª leitura) e que nos enche com todos os dons espirituais em Cristo (2ª leitura). O canto do Te Deum, que hoje ressoa nas igrejas de todo o mundo, quer ser um sinal da gratidão alegre que dirigimos a Deus por todos os dons que nos ofereceu em Cristo. Neste momento desejaria fazer memória de alguns acontecimentos da Igreja universal e diocesana pelos quais sinto o dever e a alegria de agradecer ao Senhor e com os quais Ele ilumina o nosso caminho rumo ao futuro. 1. Antes de mais, o Ano Paulino proclamado pelo Santo Padre, no bimilenário do nascimento do grande Apóstolo Paulo, para pôr toda a Igreja “um ano a caminhar com S. Paulo”, a fim de redescobrir a sua rica e bela mensagem, de enamorar-se cada vez mais de Cristo, de reavivar a sua fé e o ardor missionário. “O Ano Paulino é um ano de peregrinação não só no sentido de um caminho exterior em direcção aos lugares paulinos, mas também e sobretudo no sentido de uma peregrinação interior, do coração, com S. Paulo, até Jesus Cristo” (Bento XVI). Quem entra em diálogo com Paulo é levado por ele ao coração da fé: ao encontro vivo com Cristo crucificado e ressuscitado, até exclamar: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim”. Por isso, também a Igreja em Portugal marca um grande encontro com São Paulo, numa especial peregrinação a Fátima no dia 25 de Janeiro, festa litúrgica da conversão do apóstolo a Cristo. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 75 Documentos Gratos a Deus pelos seus dons . escritos episcopais . 2. Dentro do Ano Paulino, recordamos um outro acontecimento significativo: o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, que nos chama a atenção para a Primazia da Palavra de Deus na fé e na formação dos cristãos, a tal ponto que, como diz São Jerónimo, “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Convida-nos a tomar consciência de que Deus, na sua Palavra, se dirige pessoalmente a cada um de nós, fala ao coração de cada um. Se o nosso coração desperta e se abre o ouvido interior, então cada um pode aprender a ouvir a Palavra dirigida, propositadamente, a ele. Esta Palavra tem uma voz que é a Revelação de Deus; tem um rosto que é Jesus Cristo; tem uma casa que é a Igreja e o coração de cada um; e tem um caminho que é a missão que a leva às várias estradas da vida e do mundo, onde se faz nossa companhia e luz. De um verdadeiro amor à Palavra de Deus esperamos uma primavera de renovação espiritual da Igreja! 3. Na linha do Ano Paulino e do Sínodo sobre a Palavra de Deus inserese o percurso pastoral da nossa Igreja Diocesana, dedicado à formação cristã em ordem à revitalização e crescimento da fé, da sua vivência espiritual e do seu testemunho, em tempos difíceis como os nossos. Para esse efeito, escrevi uma carta pastoral: “Ir ao coração da fé: formar para uma fé adulta”. Trata-se de “ir ao coração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E com a descoberta da beleza da fé, descobrir também a bondade e a beleza da vida. Por isso, a formação na fé é mais necessária que nunca em ordem a uma fé esclarecida, convicta, adulta. A ignorância religiosa é hoje o maior inimigo da fé. Também nesta perspectiva se insere a Visita Pastoral às paróquias que este ano iniciámos e tem sido ocasião de um novo despertar da fé nas comunidades, do entusiasmo e da coragem de ser cristão e uma força criadora de comunhão. 4. Voltando-nos agora para o nosso Santuário desejaria lembrar a comemoração do centenário do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é capaz de “ir ao coração da fé”. Aqui queria fazer-vos uma confidência. Todos vós conheceis o meu particular afecto pelas crianças. Este meu afecto vem de Jesus no Evangelho, mas aprofundou-se e alargou o seu horizonte no contacto com a Mensagem de Nossa Senhora em Fátima confiada a três crianças. Foi o momento de tomar consciência da importância do papel das crianças na história da salvação e 76 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . escritos episcopais . 5. Em Setembro passado assistimos à passagem de testemunho no cargo de Reitor do Santuário. Tivemos ocasião de dar graças pelos 35 anos de serviço dedicado de Mons. Luciano Guerra ao Santuário de Fátima, que culminaram, simbolicamente, com a inauguração desta belíssima Igreja da Santíssima Trindade. E dirigimos ao novo Reitor, P.e Dr. Virgílio Antunes, votos de bênção e de serviço fecundo para a nova missão. Exprimimos então o voto de que o Santuário conserve sempre um rosto e um dinamismo missionários para não se reduzir a um mero “centro de serviços religiosos”. Hoje queria confidenciar-vos um sonho que trago comigo, a saber: que, com o tempo e a seu tempo, o Santuário possa oferecer um serviço de acolhimento, aconselhamento e acompanhamento a pessoas com problemas ou perturbações de ordem psíquico-espiritual, com uma fragilidade interior a toda a prova e que, cada vez em maior número, batem à nossa porta. E também um outro serviço de acolhimento e acompanhamento ao grupo dos “buscadores de Deus”, isto é, de pessoas que se afastaram da fé e da sua prática, que a esqueceram, mas que, neste momento, andam à procura de encontrar-se com um Deus vivo que lhes dê outro sentido à vida. 6. Sabemos bem que nunca acabaríamos de enumerar os dons do Senhor e de captar o seu alcance de graça para a vida da Igreja e do mundo. Há tantos dons escondidos que não têm conta, nem contabilidade, nem visibilidade. É motivo para tornar mais profunda a nossa gratidão. Muitas vezes, no escondimento querido pelas pessoas ou imposto pelo silêncio dos meios de comunicação, quanto bem quotidiano, humilde, desinteressado, generoso que não se rende diante das dificuldades: Quantos gestos de vida frente a factos e a fenómenos de morte; Quantos gestos de caridade e de justiça frente a antigas e novas pobrezas; Quantas formas de comunhão fraterna e de solidariedade frente a tantas solidões; Quantas intervenções de diálogo e de paz frente a tensões e conflitos permanentes; | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 77 Documentos do mundo. Relativamente ao Francisco é impressionante a capacidade da experiência religiosa de Deus, o intenso amor e encanto pela beleza de Deus, a dimensão mística da fé, a coragem da fé frente às provações, a capacidade de evangelizar os outros. O centenário do seu nascimento não será um chamamento a dar a devida importância às crianças e ao serviço que elas podem oferecer ao mundo e à Igreja? . escritos episcopais . Quantos gestos de consolação para com quem vive angustiado ou desesperado. Estes gestos e tantos outros são obra do homem, fruto do seu amor para com os outros. Mas, no fundo, são sinais de amor do próprio Deus para com os homens. São dons de Deus pelos quais lhe dizemos a nossa alegre e eterna gratidão: “Nós te louvamos, ó Deus; nós te bendizemos, Senhor”! 7. Enquanto se encerra 2008 e se antevê já a aurora de 2009, peçamos à Mãe de Deus que nos obtenha o dom de uma fé adulta: uma fé semelhante à sua, uma fé límpida, genuína, humilde mas também corajosa, feita de alegria e entusiasmo por Deus, liberta de todo o fatalismo, e toda disponível a cooperar no projecto salvífico de Deus, com a certeza de que Deus não quer outra coisa que Amor e Vida verdadeira, sempre e para todos. Obtém-nos, ó Maria, com a tua intercessão, uma fé autêntica e pura. Obtém-nos um novo ano de paz interior, de paz familiar e de paz social. Pedimo-la sobretudo para a terra de Jesus ensanguentada pela guerra e pela morte de tantos inocentes. Faz com que olhemos para o novo ano com os olhos da fé, da esperança e da caridade. Sê sempre louvada e bendita, ó Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa. Ámen! Aleluia! Abençoado Ano Novo para todos vós aqui presentes e para todos os que vos são queridos! Fátima, 31 de Dezembro de 2008 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 78 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . diversos . Comunicado do Conselho Presbiteral O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência do Sr. Bispo, D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 24 de Junho, no Seminário Diocesano, para avaliar o Ano Pastoral e perspectivar o próximo, integrando as grandes iniciativas da Igreja Católica, tanto a nível nacional como internacional, nomeadamente o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos sobre A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja, a realizar em Outubro. Os Conselheiros passaram em revista os principais momentos deste Ano dedicado à consolidação dos dinamismos criados no primeiro biénio do Projecto Pastoral sobre A Vocação Pessoal é Dom e Missão. Além de salientarem a sua importância, referiram o bom acolhimento que as propostas lançadas (Carta Pastoral, Retiro Popular, Vigílias, Campanhas da Catequese...) tiveram junto das comunidades, suscitando novas oportunidades para acolher, saborear e testemunhar a ternura de Deus. Num segundo momento e após breve introdução de D. António Marto, os membros do Conselho, tendo em conta o previsto para o primeiro ano do segundo biénio do Projecto Pastoral – Testemunhar Cristo, fonte de Esperança – dedicado ao aprofundamento da dimensão comunitário da fé, reflectiram sobre os caminhos a percorrer no próximo Ano Pastoral que terá como objectivo cuidar da formação dos cristãos. Este cuidar, nas palavras de D. António, concretizar-se-á em três dimensões: a fé professada, a fé celebrada e a fé vivida. No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho acentuaram duas linhas de acção: por um lado, a formação cristã deverá levar à renovação dos dinamismos existentes; por outro, promover a coragem de inovar, na fidelidade à Palavra de Deus e ao tempo que nos foi dado viver, segundo o exemplo de São Paulo. Também se foi sentindo que as propostas da Igreja, vindas dos âmbitos nacional e internacional, são uma ajuda preciosa para lançar e articular, com os diversos níveis de acção pastoral da Diocese, um itinerário cristão de formação que responda aos novos desafios expressos numa diversidade de situações cada vez maior. O Secretariado | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 79 Documentos Professar, celebrar e viver a fé . diversos . Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano Ano Pastoral dedicado à formação Sob a presidência do Senhor Bispo, D. António Marto, no dia 4 de Outubro, no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da Diocese de LeiriaFátima teve como ponto principal da sua ordem de trabalhos “Perspectivas do Ano Pastoral”. Assim, tendo em conta a temática prevista para este ano pastoral 2008/09, dedicado à formação dos cristãos para uma fé adulta, esclarecida e convicta, pedia-se aos conselheiros a apresentação e apreciação de propostas concretas e mais necessárias para o efeito, a partir da Carta Pastoral “Ir ao coração da Fé”. No dia em que a Igreja invoca a memória de São Francisco de Assis, D. António Marto, num momento de oração e meditação, deu início aos trabalhos reflectindo, a partir de um excerto da Epístola aos Efésios (Ef 4, 11-13), sobre a actual necessidade e importância da formação dos membros da Igreja e o apelo que Deus hoje nos lança: “Vai e reconstrói a minha Igreja”, o mesmo lançado ao santo fundador da Ordem Franciscana. Seguidamente o Vigário Geral, padre Jorge Guarda, apresentou, de forma sucinta, aos conselheiros presentes a Carta Pastoral “Ir ao coração da Fé” de D. António Marto e salientou as acções locais e diocesanas nela propostas, com o objectivo de formar os membros da Igreja Diocesana para uma fé adulta. Os conselheiros foram depois convidados a reflectir, em pequenos grupos, sobre as formas de implementar e levar por diante as propostas da referida Carta Pastoral. No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho acentuaram a necessidade de sensibilizar as comunidades para a formação sólida na Fé. Assim, considerando que o trabalho deverá ser feito em rede, sugeriu-se a criação de equipas responsáveis pela formação nas diversas vigararias, que sejam o elo de ligação entre os organismos centrais da Diocese e as comunidades, além de gerirem os recursos humanos das respectivas paróquias. Também se considerou imprescindível preparar formadores em todos os campos, nomeadamente na liturgia, catequese e caridade. Porque a Igreja precisa de pessoas bem formadas e o investimento nos recursos humanos é o melhor que se pode fazer, nos orçamentos das comunidades deve constar a formação. Concluindo, o senhor Bispo apelou aos membros do Conselho 80 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . diversos . Documentos Pastoral Diocesano para que sejam impulsionadores das propostas feitas nas suas comunidades e advertiu que a sua Carta Pastoral não se esgotará ao longo deste ano. A terminar, houve um apelo à participação de todos os membros do Conselho na Assembleia Diocesana que se realizaria no dia seguinte, e marcaram-se as reuniões do próximo ano para 10 de Janeiro e 23 de Maio. O Secretariado Permanente Comunicado do Conselho Presbiteral Reorganização pastoral da Diocese O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência do Sr. Bispo, D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 28 de Outubro, no Seminário Diocesano, para iniciar a reflexão sobre a reorganização pastoral da Diocese, tendo em conta as suas necessidades e os desafios da nova evangelização. Depois do canto dos Salmos, os conselheiros, em quatro grupos, procuraram discernir a situação da Diocese, no que diz respeito aos meios humanos de que dispõe (clero e laicado) e propor caminhos a seguir. Já em plenário, os grupos fizeram-se eco da necessidade e delicadeza do tema, reconheceram a sua importância e apresentaram algumas propostas. No essencial, estas apontam para uma dupla forma de trabalhar: por um lado, gerir melhor os recursos humanos para atender às situações mais urgentes, e, por outro, pensar a Diocese a médio e longo prazo, começando por definir princípios e identificar critérios que hão-de presidir à sua reorganização pastoral. Na sua intervenção final, o Sr. Bispo agradeceu o trabalho do Conselho e informou que nomeará uma Comissão para dar continuidade à reflexão iniciada. O Secretariado | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 81 Ano Pastoral 2008–2009 Tema «Ir ao coração da Fé» Documento orientador: Carta Pastoral do Bispo Diocesano: “Ir ao Coração da Fé” Subsídios para estudo da Carta Pastoral: Guião de leitura, para Catequistas Motivo Condutor Caminhar com S. Paulo Acções “paulinas”: • Criação de grupos para reflexão sobre escritos paulinos • Colecta para os pobres • Encerramento diocesano do “Ano Paulino”, no dia 28 Junho Objectivo Geral Formar para uma fé adulta Objectivo Específico 1 Intensificar a formação cristã de adultos Instrumentos: Itinerário catequético para uma síntese da fé Acções locais: • “Escolas da Fé” para adultos • Cursos de iniciação à leitura da Bíblia ou “serões bíblicos” Acções diocesanas: • Curso sobre São Paulo orientado pelo CFC • Cursos de formação teológica no CFC Objectivo Específico 2 Reacender a chama da fé e permanecer firmes nela Instrumentos: • Guião para os grupos de “lectio divina” • “Lectio divina” com a Carta aos Romanos • Livro: “Um ano a caminhar com S. Paulo” Acções locais: • “Retiro popular”: grupos de “lectio divina” na Quaresma • Grupos de “lectio divina” na preparação das visitas pastorais • Constituir “grupos paulinos” para reflexão, partilha e oração Objectivo Específico 3 Cuidar da formação dos colaboradores Instrumentos: (os mesmos dos objectivos anteriores) Acções locais: Encontros vicariais de formação e oração, com o Bispo Acções diocesanas: • Escola “Razões da Esperança” • Curso para o clero sobre as comunidades paulinas • Reflexão e sensibilização sobre o diaconado permanente • Divulgação dos cursos de formação teológica do CFC 82 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Vida Eclesial . destaque . notícias . Santuário de Fátima . . serviços e movimentos . entrevistas . . destaque . Assembleia diocesana “O melhor investimento que a Igreja pode fazer é na formação” LMFerraz Mais de 500 diocesanos participaram na assembleia que marcou o início das actividades do novo ano pastoral de 2008-2009. Leigos, padres e religiosos, em representação das comunidades e serviços da Diocese, sintonizaram no mesmo tema e assumiram os mesmos objectivos, para que o projecto pastoral, em curso desde 2005, seja caminhada comum em todos os sectores da acção pastoral e em todo o território desta Igreja particular. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 85 Vida Eclesial Por Luís Miguel Ferraz . destaque . LMFerraz Resumo do passado A sessão começou por uma breve retrospectiva do último ano, em que se aprofundaram as temáticas do acolhimento e da vocação, as mesmas que marcaram o primeiro biénio do projecto pastoral. Em apresentação multimédia, foram passando em revista algumas das principais acções, tanto a nível diocesano, como a nível do que algumas paróquias ou serviços sectoriais programaram. Sem se pretender uma análise exaustiva, recordaram-se a inauguração da Igreja da Santíssima Trindade, a acção missionária do grupo Ondjoyetu, a ordenação sacerdotal de Marcelo Cavalcante, várias iniciativas da pastoral vocacional, os jubileus vocacionais, vigílias de oração vocacional e outros momentos celebrativos, o Retiro Popular Quaresmal, sessões da lectio divina que aconteceram um pouco por toda a Diocese, reuniões de programação pastoral, acções de formação do clero, conferências, colóquios, debates e outras iniciativas de formação laical, sobretudo ao nível da Escola Razões da Esperança, acções culturais e de evangelização de várias instituições e serviços, a peregrinação diocesana a Fátima, a acção social da Cáritas, o acampamento regional de escuteiros, a participação nas jornadas mundiais da juventude, a tomada de posse dos novos reitor e administrador do Santuário de Fátima… O principal destaque foi para o início da visita pastoral à diocese, que D. António Marto iniciou na vigararia da Batalha e já se afirmou como momento privilegiado de proximidade do Pastor com os fiéis e com a vida social e eclesial das comunidades, levando a todos o testemunho vivo da “ternura do amor de Deus”. 86 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | “Ir ao coração da fé” “A vivência comunitária do Evangelho é o melhor anúncio”. Este lema da segunda fase temática do projecto pastoral, que vai no seu quarto ano, focaliza-se sobretudo na formação cristã, base da renovação das comunidades. E porque decorre o Ano de S. Paulo, escolheu-se a frase do Apóstolo, “Permanecei firmes e sólidos na fé” (Col 1, 23) para explicitar o subtema do ano, “Ir ao coração da Fé”. Intensificar a formação cristã de adultos; reacender a chama da fé e permanecer firmes nela; cuidar da formação dos colaboradores. Para o cumprimento de cada uma destas vertentes do objectivo último de “Formar para uma Fé adulta”, preparam-se instrumentos de trabalho e propostas de acção, que foram apresentadas pelo vigário-geral da Diocese, padre Jorge Guarda. O momento central do encontro foi a apresentação da Carta Pastoral “Ir ao coração da fé”, em que o Bispo diocesano faz uma reflexão sobre a urgência da formação cristã no contexto da sociedade actual, indica como modelo de caminhada o percurso de formação na fé do apóstolo S. Paulo, e aponta as orientações gerais para este ano pastoral. A formação no topo das prioridades Apelando ao “entusiasmo e ousadia” dos agentes pastorais presentes na assembleia, D. António Marto lembrou a “exigência do mundo moderno, caracterizado pela ignorância e relativismo religiosos”, em que “a formação é um caminho primordial para que os cristãos saibam dar as razões da sua fé adulta e esclarecida”. E afirmou que “a falta de familiaridade com a Palavra de Deus, a incapacidade da maioria dos cristãos de lerem e compreenderem a Bíblia, é uma das vergonhas da nossa Igreja”, adiantando que esta sua maneira de falar sem rodeios das “situações negras” que vivemos não é por pessi| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 87 Vida Eclesial . destaque . . destaque . LMFerraz mismo, mas sim uma forma de “chocar, de tocar um alarme que nos acorde do marasmo”. Na mesma linha, o Pastor defendeu a importância do tema deste ano, considerando que “o melhor investimento da Igreja é na formação dos seus membros, padres e leigos”. Desde as catequeses de infância e adolescência até à educação permanente dos adultos, “temos de investir na qualidade da oferta formativa, pois precisamos de gente espiritualmente e intelectualmente bem preparada”. Na celebração eucarística que encerrou esta jornada, o Bispo diocesano voltou a frisar a importância de cada um dos agentes pastorais assumir o papel que lhe compete, na “autenticidade da resposta ao chamamento de Deus que convida permanentemente cada um a trabalhar na Sua vinha”. E o segredo para essa resposta está em “conhecer verdadeiramente Jesus Cristo como Salvador, dando primazia à Sua Palavra e colocando o Evangelho no centro da vida, para descobrir a novidade, beleza e riqueza da Sua mensagem”, concluiu D. António Marto. O último acto da celebração foi a entrega de um ícone de S. Paulo aos representantes da vigararia de Ourém, uma imagem que irá percorrer todas as paróquias durante o ano pastoral, como sinal da unidade em torno deste objectivo comum, especialmente visível aquando da realização dos encontros de formação que cada vigararia irá realizar sob a presidência do Bispo. 88 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . destaque . Tomadas de posse no Santuário de Fátima No “coração mariano de Portugal” o apelo a “ir ao coração da fé” A 25 de Setembro, o padre Virgílio do Nascimento Antunes assumiu a reitoria do Santuário de Fátima. A celebração decorreu na igreja da Santíssima Trindade, presidida por D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, com a participação de três Bispos eméritos, cerca de uma centena de sacerdotes e várias centenas de fiéis, na presença das principais autoridades civis e militares da região. Na mesma celebração, o padre Cristiano Saraiva assumiu o cargo de administrador do Santuário, função que acumula com a de ecónomo da Diocese, e celebraram-se os jubileus sacerdotais dos padres Virgílio da Silva (50 anos) e Jorge Manuel Faria Guarda (25 anos). | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 89 Vida Eclesial Por Luís Miguel Ferraz . destaque . “Este é um dia especial para a Diocese”, começou por referir D. António Marto, centrando a sua homilia no “agradecimento alegre pelo dom do sacerdócio”, no apelo a “voltarmos de novo ao coração da vida sacerdotal, que é ser-se habitado por Deus” e no estímulo a um “renovado impulso na missão evangélica”, os três sentimentos que apresentou como fundamentais nesta celebração jubilar. “O Senhor chama-nos a viver este tempo como «tempo providencial», para encontrarmos de novo a autenticidade e o coração da fé”, sintetizou. Passagem de testemunho O acto simbólico da tomada de posse dos novos reitor e administrador do santuário, inserido nos ritos finais da celebração, deu-se com a leitura dos decretos de nomeação, a assinatura dos respectivos textos de compromisso e a entrega das chaves da reitoria por monsenhor Luciano Guerra, que ocupava o cargo desde 1973, ao padre Virgílio Antunes. D. António Marto manifestou gratidão e reconhecimento ao ex-reitor por todos os serviços prestados ao longo dos últimos 35 anos, com “sabedoria prudente, zelo incansável, inteira dedicação e seriedade, capacidade empreendedora, lealdade ao serviço eclesial e uma devoção mariana profunda e esclarecida”. Referindo-se depois ao novo estatuto de “Santuário Nacional” que este espaço passa a deter, o Bispo diocesano salientou a sua projecção mundial, com mais de 5 milhões de peregrinos anuais, classificando-o como “um verdadeiro oásis espiritual, de encanto, frescura interior e paz, o coração mariano de Portugal, lugar privilegiado para o acolhimento da reconciliação e santificação do povo, lugar de esperança e de revitalização da fé”. Dirigindo-se ao novo reitor, o prelado felicitou-o pela nomeação, que mereceu a aprovação unânime da Conferência Episcopal, mas alertou para a responsabilidade de não se reduzir o Santuário a “mero centro de serviços religiosos”, antes um lugar de resposta às novas exigências de uma sociedade caracterizada pela “debilidade do pensamento, precariedade dos afectos e relativismo moral”, de modo que “tudo o que é oferecido seja para bem dos peregrinos”, não perdendo de vista que “a grande lição de Fátima é que a oração é sempre a arma mais forte, mesmo no campo da história, para a conversão dos corações e a paz entre os povos”. Na sua primeira alocução oficial, o padre Virgílio Antunes começou por agradecer aos familiares, amigos e a todos os que o ajudaram e confiaram nele para esta missão, e desejou que “não faltem ao Santuário os meios huma90 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . destaque . Consagração Já na Capelinha das Aparições, o ex-reitor agradeceu à Virgem as graças recebidas, que poeticamente resumiu no “dom das lágrimas, que tantas vezes pude contemplar, no meio da multidão e no oásis desta Capelinha: lágrimas de alegria, nas promessas cumpridas; muitas e muitas lágrimas de solidão, clamando por sinais de fraternidade; lágrimas de arrependimento, que proclamam a alegria do perdão”. E deixou também uma palavra de gratidão às entidades oficiais, comerciantes, funcionários, sacerdotes e peregrinos em geral, que com ele colaboraram nesta missão de mais de três décadas. Num último gesto, o novo reitor, dirigindo-se também à imagem de Nossa Senhora de Fátima, fez a sua consagração: “Neste dia tão especial, diante da vossa singela capela e da vossa branca imagem, a vós nos consagramos. Nas vossas mãos entregamos o vosso santuário, a vós oferecemos todos os projectos e programas. A vós suplicamos auxílio e protecção, para que seja difundida a vossa mensagem, para que triunfe o vosso coração imaculado, para que encontrem salvação os vossos peregrinos. A vós consagramos todos os colaboradores, os sacerdotes, os assalariados, os voluntários. Abençoai as nossas pessoas e todas as nossas acções. Ámen”. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 91 Vida Eclesial nos, concretamente os sacerdotes, para o seu serviço”, de modo a responder aos desafios que lhe são colocados. Referindo a sua ligação a Fátima desde os tempos de criança, confessou admirar a força deste espaço como “algo que nos comove e nos ultrapassa, algo que os homens não controlam”. E quanto ao futuro, agradeceu o legado de monsenhor Luciano Guerra, cuja dedicação afirmou admirar, e defendeu que terá “a marca da continuidade, para que tenha a marca da fidelidade à história e ao Deus que a conduz”. A palavra final foi para os peregrinos: “Vós sois a razão de ser de tudo o que aqui se propõe, se anuncia e se vive; queremos ser pequenos instrumentos que vos ajudem ao encontro com Deus através da figura de Maria”. . especial . visita pastoral . Visita Pastoral à Diocese D. António Marto iniciou a 15 de Outubro a segunda fase da Visita Pastoral à Diocese. Depois da abertura deste périplo, na vigaria da Batalha, no início do ano, seguiu-se a vigararia de Porto de Mós. Sob o lema “O Bispo faz-se sinal visível da presença de Cristo que visita o seu povo na paz”, o Pastor percorreu as paróquias de Alqueidão da Serra (de 16 a 19 de Outubro), Alvados, Mira de Aire, Serra de S. António e S. Bento (de 22 de Outubro a 2 de Novembro), Minde (de 6 a 9 de Novembro), Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso (de 20 a 30 de Novembro), Alcaria (de 5 a 7 de Dezembro) e Porto de Mós (de 10 a 14 de Dezembro). Prosseguindo o acompanhamento da visita, damos conta de uma primeira leitura dos párocos acerca do modo como decorreu e do que dela resulta de mais importante, continuando a trazer à revista Leiria-Fátima as entrevistas publicadas na ocasião no jornal O Mensageiro. Manteremos as mesmas perguntas que voltarão a ser colocadas a cada um: 1. Que pensa desta iniciativa de o Bispo diocesano fazer uma visita pastoral a todas as paróquias? 2. Como se preparou a comunidade para receber o Bispo? 3. Qual foi o critério na elaboração do programa? 4. De forma geral, como decorreu a visita? 5. Houve algum momento especial que queira destacar? 6. Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto? 7. Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral? 8. Foi já definida alguma prioridade pastoral ou tomada alguma decisão em ordem à renovação da dinâmica paroquial? Padre José Frazão, pároco do Alqueidão da Serra 1. A vinda do Bispo diocesano à paróquia é uma excelente oportunidade de contacto directo com o Povo de Deus, presente nesta comunidade, que é uma simples parcela da realidade maior da Diocese, confiada aos seus cui| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 93 Vida Eclesial “Sinal visível da presença de Cristo” . especial . visita pastoral . dados de Pastor, embora, por delegação, entregue a quem o representa, o pároco. 2. Para além do simples anúncio público e da entrega ao domicílio do desdobrável com o calendário vicarial da visita pastoral, houve uma primeira reunião alargada a todos os organismos pastorais da paróquia, com a presença das respectivas direcções. A partir daí desencadeou-se um processo de constituição de grupos de Lectio Divina, que ajudaram a criar uma sensibilização crescente e maior espírito de Igreja. A expectativa e a receptividade iam aumentando. Além disso, na regularidade dos encontros com os diversos grupos de Catequese, ACR, Vicentinos, Apostolado da Oração, JOC, Movimento Esperança e Vida, Ministros Extraordinários da Comunhão, etc. o anúncio da visita pastoral ia sendo feito, de maneira directa e indirecta, apurando e mobilizando sensibilidades. Fez-se ainda um forte apelo à oração pessoal, familiar, em grupo e em comunidade, pelo melhor proveito humano e espiritual deste momento único de graça. Em termos de sensibilização devo salientar não só a divulgação do programa em diversos locais de maior afluência e referência pública, mas também a possibilidade de cada pessoa poder ter consigo um exemplar do programa largamente distribuído. 3. A partir das ideias colhidas numa primeira reunião aberta a todos, chegou-se a um esboço de programa que depois, num segundo encontro, voltou a ser apreciado e reajustado de modo a dar melhor conta da realidade, não só religiosa, mas também sócio-económica, geográfica e cultural da paróquia. Posteriormente apresentado ao senhor Bispo, que o ratificou, procedeu-se à sua divulgação à escala máxima. 4. A visita correu bastante bem, de forma agradável e leve. A aceitação e participação foram as melhores. Convocadas por sectores, as pessoas correspondiam e mostravam a sua alegria. Do mesmo modo, foi clara a satisfação manifestada pelas diferentes colectividades e organismos que D. António fez questão de visitar. 5. É-me difícil destacar um momento sem me arriscar a desconsiderar o que terá sido mais importante e digno de registo para outros. Ainda assim, permito-me destacar o encontro com os cabouqueiros (cortadores de pedra), e o diálogo com estes conhecedores da riqueza da pedra e da arte de a trabalhar. 94 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Puderam falar dos seus anseios no meio das imposições feitas ao seu sector laboral, que sentem demasiado pesadas para quem dá o melhor de si, pelos seus e pela arte que conhecem como ninguém. Destacaria ainda a celebração dos doentes e idosos, com a administração da Santa Unção a 48 pessoas, e, na mesma linha, a visita aos dois lares de idosos da paróquia, sem esquecer a visita ao Centro de Dia onde o Senhor Bispo almoçou com os utentes e demais pessoas. Também não posso esquecer a visita às escolas do pré-escolar e do 1º ciclo, aos “amiguitos e amiguitas” que guardam a melhor recordação e amizade ao Bispo amigo que acolheram com as suas músicas e presentearam com os seus desenhos. D. António Marto também não esquecerá a descoberta dos principais pontos turísticos e culturais da freguesia, com a ajuda dos apontamentos históricos do professor Carlos Vieira. Entretanto, a apoteose deu-se na Eucaristia final, com a administração do Crisma a 19 jovens e as bodas de ouro matrimoniais de um casal. Depois de ofertas várias, além de outras ocorridas ao longo dos dias, seguiu-se um lanche de convívio, seguiu-se um lanche de convívio em perfeita sintonia com os sentimentos que uniram as pessoas entre si e na sua relação e estima para com o Pastor. 6. Tudo foi mensagem: na palavra, nos gestos, na presença, na relação humana, fraterna e amiga, gerando uma verdadeira empatia e confiança que dificilmente deixa indiferente quem quer que seja, incluindo, porventura, os mais distraídos, arredios, indiferentes ou descrentes… No respeito pelas mais diferentes sensibilidades e reconhecendo com apreço o contributo válido de cada um na construção de uma sociedade melhor, foi também particularmente notável, digno e elevado o encontro com as diversas colectividades e associações. Estabeleceu-se um diálogo cordial, confiante e aberto, com desafios a uma unidade plural, capaz de uma integração de todos na consideração e respeito pela validade dos seus diferentes contributos, em ordem a um empenhamento colectivo e orgânico pela comparticipação corresponsável de uma sociedade chamada à comunhão, à unidade e ao crescimento, na aceitação do contributo válido de cada um com a riqueza da sua participação específica. Foi particularmente notável e fortemente sonante o apelo final: “Abri as portas do vosso coração a Cristo e ao seu amor por todos vós…”, em consonância com o destaque dado à importância e necessidade de um cada vez maior conhecimento da Palavra de Deus e da progressiva formação cristã de | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 95 Vida Eclesial . especial . visita pastoral . . especial . visita pastoral . todos. 7. Em termos de expectativas, fica, sem dúvida, o desejo de maior unidade e comunhão para um melhor bem-estar humano, social e eclesial. 8. Teremos de reunir, sem perda de tempo, de energia e de entusiasmo, para, numa expressão alargada de comunhão com todos, nos tornarmos naquilo que somos chamados a ser, a Igreja de Jesus Cristo, na certeza de que Ele a todos ama e chama para o melhor serviço à pessoa humana. Padre Manuel Peixoto, pároco de Mira de Aire, Alvados, S. Bento e Serra de Santo António 1. É a melhor das iniciativas. A Igreja, na pessoa do Bispo, ou melhor, Cristo, na pessoa do Bispo, desce visivelmente ao meio do povo. Cheias de entusiasmo, as pessoas exclamam que nunca se viu coisa semelhante. 2. A preparação fez-se, espiritualmente, através da oração da Lectio Divina… Depois elaborou-se um programa para as quatro paróquias, que, depois de aprovado pelo Senhor Bispo, foi distribuído de casa em casa. Enviaram-se convites às várias associações e aos empresários… só a estes escreveram-se cerca de 100 cartas também entregues pessoalmente. 3. Na elaboração do programa teve-se em conta que o Senhor Bispo não vinha ver monumentos nem em visita de cortesia mas, sendo pastor de todos, desejava encontrar-se com as pessoas e os grupos, com os que estão dentro da Igreja e os que vivem mais ou menos fora. Tivemos a preocupação de que a presença do Bispo servisse para uma maior aproximação da Igreja ao povo ajudando a fazer desaparecer a ideia da distância que por vezes se vive, e a despertar muitos que apenas se abeiram para casar, baptizar um filho, ou ter funeral religioso. 4. A vista correu muito bem. Toda a gente está contente, mesmo toda. A correspondência foi grande. Não foi perfeito…mas muitíssimo bom. É de acentuar a pontualidade de todos, algo que muitíssimo aprecio. 5. De entre os vários momentos destacaria a visita às escolas de Mira de Aire, a celebração com os idosos e doentes, o encontro inter-paroquial de catequistas (Mira, Alvados, Serra de Santo António, S. Bento) e os diversos encontros com as crianças e adolescentes da catequese. De tantas coisas 96 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | comoventes, realçaria ainda a visita particular a duas doentes em Alvados. Quer do lado das doentes, quer do lado do Bispo, foi um verdadeiro encontro de Cristo. Via-se nos olhos dessas doentes, que foi mesmo uma inesperada e felicíssima surpresa! 6. Porque as marcas parecem tantas e tão profundas, é difícil destacar algumas. A primeira terá sido o optimismo e a alegria de se ser cristão, contrariando tanta lamúria que há por aí. O Bispo disse claramente, e isso ficou nas memórias e nos corações, que não vinha alimentar lamúrias mas fazer ver o lado positivo das coisas. A nossa fé é uma mais-valia. Depois, deu-nos uma imagem daquilo que Jesus é, tão perto de todos, sobretudo das crianças, dos doentes e dos idosos. Quer uns quer outros ficaram radiantes e até muito comovidos. Pudemos dizer: Cristo veio até nós! Por fim, deixou-nos uma mensagem de encorajamento. Cada paróquia ouviu o apelo: “Ó querida comunidade de Mira de Aire, da Serra de Santo António, de S. Bento, de Alvados: coragem, abre as portas a Jesus Cristo! Não tenhas medo!” 7. Criaram-se excelentes expectativas. As paróquias não serão como antes. Os objectivos de reavivar a fé adormecida, renovar a vida cristã, viver a alegria da comunhão, de libertação do medo, encorajamento nas dificuldades, superação das divisões, alegria e coragem no testemunho do Evangelho, estão ao alcance, diria mesmo, estão em acção. Assim sejamos capazes de os levar por diante. 8. Em ordem ao aprofundamento e renovação, iremos insistir, nomeadamente na Lectio divina que desejamos seja descoberta por um número crescente de pessoas. Padre Albino da Luz Carreira, pároco de Minde 1. Porque a nossa Igreja diocesana foi confiada ao nosso Bispo, é ele que tem a missão de nos conduzir como nosso pastor, em nome do Senhor Jesus Cristo, sob a autoridade do Sumo Pontífice. Sendo o pároco apenas colaborador do Bispo, a quem este confia o cuidado da comunidade paroquial, no exercício do único sacerdócio de Cristo, a presença episcopal é momento privilegiado e grande testemunho de dedicação à maneira de Jesus, o Bom Pastor. A | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 97 Vida Eclesial . especial . visita pastoral . . especial . visita pastoral . vinda do nosso Bispo é sempre uma presença visível do Cristo invisível. 2. Se «A oração é a alma de todo o apostolado» e o Espírito Santo é a «alma e o coração da Igreja», como dizia o Santo Padre Pio XI, era forçoso começar a preparação desencadeando um clima de oração em toda a paróquia. Para isso recorremos à Lectio divina, tão recomendada pelo Senhor Bispo, ao terço e a outras orações particulares e comunitárias. Em simultâneo, formou-se uma equipa para preparação do programa que, através do “Jornal de Minde” e de uma distribuição pessoal, havia de chegar a todas as famílias, juntamente com a carta de anúncio da visita. 3. Na elaboração do programa tivemos presentes as orientações de Bento XVI aos Bispos, na sua visita “Ad Sacra Limina”, em 19/11/2007: “Que os padres sejam padres e que os leigos sejam leigos”. Os leigos também são responsáveis por tornar “Deus presente na sociedade e na família”. Por seu lado, o Senhor D. António, numa comunicação aos párocos, dizia: “Trabalhai menos, trabalhai melhor, trabalhai mais unidos”. Com estas orientações acreditámos poder confirmar o provérbio: “Se queres chegar depressa, corre sozinho; se queres chegar longe, corre juntamente com outros”. Acabou o tempo do pároco auto-suficiente que tudo resolve sozinho. Aliás, hoje isso é impossível. Em pastoral litúrgica, formação da fé, pastoral dos jovens, da família, da caridade, cultura, saúde… só se pode trabalhar em cooperação. Porque Jesus veio para todos e ama a todos, o programa foi elaborado de modo que a visita atingisse todos os paroquianos, praticantes ou não. Certos de que “é a oração profunda que nos confere a certeza de que vale a pena colocar-se ao serviço, trabalhando pela Igreja, pelas almas e pelo Reino, sob as bênçãos do Pai”, enviámos o programa ao Senhor Bispo, que o aprovou. 4. Começou com esta saudação do povo: “Salvé, salvé, ó eleito de Cristo, mensageiro da paz e do amor”. E terminou desta forma, por parte do Senhor Bispo: “Salvé, ó povo santo, abri as portas do vosso coração ao Senhor. Parto, mas levo-vos a todos no coração”. Ao que foi logo respondido: “As portas do nosso coração já estão abertas. Também fica no nosso coração. O nosso obrigado à maneira de Minde: volte sempre”. Esta maneira de falar tão coloquial manifesta bem a proximidade criada, a amizade franca e cordial e o bom ambiente que deixou todos contentes. Os objectivos propostos pelo Senhor Bispo na sua recepção foram conseguidos: “Contactar com todos, olhos nos olhos, coração a coração, transmitir conforto espiritual às famílias, aos organismos da Igreja e a toda a comunidade, e proporcionar um novo impulso, ardor, e mais-valia à fé e a uma vida de comunhão onde todos se sintam unidos pelos vínculos espirituais da carida98 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | de”. Além dos organismos da Igreja, os mesmos objectivos foram escutados pelas colectividades, empresários e autoridades da freguesia. 5. Destacarei especialmente o encontro com os conselhos e comissões de toda a paróquia, pelo testemunho de unidade e capacidade de acção, o diálogo do Senhor Bispo com os crismandos e com as crianças e adolescentes na creche, nas escolas e na catequese, e ainda a sessão com representantes dos 14 movimentos e sectores da paróquia durante a qual cada um expôs a acção apostólica desenvolvida e os problemas e expectativas que vão vivendo. São de salientar ainda a visita ao Vitória Clube Mindense, ao Conservatório de Música, aos Bombeiros, ao Rancho Folclórico do Covão do Coelho e, de modo especial, ao Lar de Idosos onde cumprimentou os utentes um por um. Foram muito ricas as celebrações: a do Vale Alto, que se centrou na figura de S. Paulo e contou com a presença dos crismandos e de cristãos de toda a paróquia; a do Covão do Coelho, muito participada e animada pelo grupo coral da terra; e, de modo especial a celebração do domingo, na igreja paroquial, em que foram crismados 28 jovens e adultos, a encerrar a visita pastoral. 6. D. António deixou em todos a forte impressão dum pastor próximo do seu povo, sempre com um sorriso e uma palavra amiga de acolhimento para todos, nas visitas programadas ou em plena rua. D. António chamou mais uma vez a atenção para o grave problema da ignorância religiosa, “chaga da Igreja”, e por isso insistiu na necessidade de se desenvolver a formação cristã em todas as idades. A partir da passagem da expulsão dos vendilhões do templo, referiu ainda o problema duma religião mercantilista, baseada numa atitude comercial para com Deus, à qual é preciso opor um amor desinteressado, sem qualquer desejo de lucro. Falou da mudança dos tempos, que proporcionou a vergonha de ser cristão, contra a qual é urgente lutar, pela coragem do testemunho. Assinalou a necessidade do enriquecimento espiritual, o mais importante da vida. 7. Como expectativas mais fortes, ficaram a esperança de uma caminhada progressiva, na linha da novidade na continuidade, rumo a maior união entre os diversos centros, sectores e pessoas da paróquia; o desejo de uma comunidade mais eucarística, empenhada na escuta prática da Palavra, quer vença os meros limites dos preceitos, obrigações e proibições. Uma vida de comunhão fraterna, sem conflitos nem rixas, permita a feliz experiência de “como é bom e agradável encontrarmo-nos entre irmãos”. 8. Embora ainda não tenhamos analisado a visita, é nosso desejo dar prioridade à Palavra de Deus. Deste modo, realizar-se-á na Quaresma um curso bíblico sobre S. Paulo; tentaremos introduzir o Curso Alpha, como modo de | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 99 Vida Eclesial . especial . visita pastoral . . especial . visita pastoral . redescobrir a fé cristã; iremos incrementar a prática da missa dominical e fomentar a interioridade através dum retiro destinado sobretudo a pessoas mais novas. Não é uma meta fácil, mas alenta-nos o o apelo do nosso Bispo para o presente ano pastoral, “Permanecei firmes e sólidos na fé”, e a palavra segura de S. Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me conforta”. Padre Orlandino Bom, pároco de Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso 1. Vejo a visita pastoral numa dupla perspectiva. Por parte do nosso Bispo, é resposta ao desafio do Mestre e Bom Pastor que conhece as suas ovelhas. Veio celebrar, conviver e aprofundar a fé com o seu povo. Aproximou-se dos cristãos, nos lugares onde a sua fé acontece. Da parte do povo de Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso, foi uma oportunidade ímpar de contacto com o lado mais humano do seu Bispo que, na simplicidade exterior, manifestou uma profundidade interior que tocou até os mais frios e distantes. É uma iniciativa a continuar, ainda que em moldes mais suaves, porque um ritmo de duas visitas pastorais de dois meses num só ano, com a intensidade que se viu na Vigararia, me pareceu demasiado desgastante para um Bispo que tem ao seu cuidado toda a Diocese. 2. Logo na preparação, houve a perspectiva do enquadramento de cada paróquia num todo formado por três: Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso. Não houve um só dia destinado apenas a uma mas olhou-se sempre para o conjunto. As comunidades paroquiais começaram a ter maior consciência da visita pastoral quando, a partir de Julho, se inseriu uma prece na Oração dos Fiéis da Eucaristia dominical, a pedir que esta actividade fosse um momento de Graça. Constituíram-se também 14 grupos de Lectio Divina e, um mês antes da visita, chegaram a cada casa o anúncio e o programa da visita. No início do ano pastoral, houve uma reunião geral de pais com uma catequese sobre a Diocese, o Bispo e a Visita Pastoral. Ainda em Outubro, convocou-se a assembleia de cada paróquia para cada serviço e movimento poder partilhar o seu trabalho, inquietações e esperanças. Entretanto, os catequistas trabalhavam com as crianças e adolescentes com base nos textos da Lectio divina e preparavam em conjunto uma apresentação multimédia dos seus trabalhos. 100 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Também os crismandos tiveram encontros com o pároco e com o Senhor Bispo, oito dias antes do Crisma, enquanto os jovens preparavam um tema que haveriam de apresentar e as zeladoras da Sagrada Família das três paróquias preparavam a celebração com os doentes e idosos, incluindo a administração da Santa Unção. Às comissões das igrejas coube a distribuição da carta e a preparação dos convívios, e aos grupos corais o cuidado das celebrações. Estou convicto de que houve outra preparação, ainda mais importante e profunda, no silêncio da oração de cada um, de cada família e de cada grupo. 3. Tratando-se da sua primeira visita, houve a preocupação de que D. António Marto estivesse em todos as celebrações e que houvesse distribuição equilibrada entre celebrações, convívios e reuniões. Em cada paróquia haveria uma celebração mais forte – bênção da igreja de Chão das Pias (Serro Ventoso), Santa Unção no Arrimal e Crisma na Mendiga – e as celebrações e encontros seriam sempre que possível inter paroquiais. Isso aconteceu com a Santa Unção, com o Crisma, os nos encontros com adolescentes, crismandos, jovens e casais. Realizaram-se ainda encontros com todas as faixas etárias, em horários adequados. 4. Na sua preparação e execução, a avaliação geral é positiva. Fica agora por saber o que, como comunidades cristãs, saberemos aproveitar deste tempo de graça que nos foi dado viver com o nosso Bispo que, como o Bom Pastor, visitou o seu povo. 5. Qual o momento a destacar? A pergunta foi feita ao nosso Bispo por uma criança. D. António salientou dois momentos: a celebração com os doentes e idosos e os encontros com as crianças. Como pároco e pelo empenho no acompanhamento às famílias, considero muito rico o encontro com casais. D. António fez então um apelo à descoberta da alegria da vida familiar e conjugal. Todos, até os que habitualmente não participam muito na vida das comunidades, se sentiram tocados pela mensagem de esperança e pelo alto apreço que D. António manifestou pela vivência do sacramento do Matrimónio. Foi um momento especial, em que ouvimos a voz do Pastor a abordar a beleza de um estado de vida tão desacreditado pelos meios de comunicação social e pelas políticas facilitistas do nosso tempo. 6. A grande mensagem que D. António Marto deixou foi o desafio às comunidades para viverem a alegria da fé. Um convite à redescoberta do essencial da fé no encontro pessoal com Jesus Cristo. A fé é uma relação que deve ser alimentada ao longo da vida e diversamente consoante a etapa em que se está. Cada pessoa e cada comunidade precisam de descobrir e acolher a luz da fé para cada situação de vida e para a novidade que cada etapa vai trazendo. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 101 Vida Eclesial . especial . visita pastoral . . especial . visita pastoral . Padre Isidro Alberto, pároco de Alcaria e Porto de Mós 1. Além de ser um desejo pessoal, a visita do nosso bispo inscreve-se no desempenho directo da sua missão. Como lemos no Catecismo da Igreja Católica, “a consagração episcopal confere a plenitude do Sacramento da Ordem” (nº 1557) e “juntamente com o poder de santificar, confere também os poderes de ensinar e governar” (idem). De facto, “a graça do Espírito Santo é dada e é impresso o carácter sagrado, de tal modo que os bispos representam, de uma forma eminente e visível, o próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e actuam em vez d’Ele (…). Por isso, pelo Espírito Santo, que lhes foi dado, os bispos foram consagrados verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores (nº 1558). Cada bispo tem, como vigário de Cristo que é, o encargo pastoral da igreja particular que lhe foi confiada. Mas, ao mesmo tempo, colegialmente com todos os seus irmãos no episcopal, partilha a solicitude por todas as Igrejas. Se cada bispo é pastor propriamente dito apenas da porção do rebanho que foi confiada aos seus cuidados, a sua qualidade de legítimo sucessor dos Apóstolos, por instituição divina, torna-o solidamente responsável da missão apostólica da Igreja (nº 1560). Por tudo isto, “a Eucaristia celebrada pelo bispo, tem um significado muito especial como expressão da Igreja reunida em torno do altar sob a presidência daquele que representa visivelmente a Cristo Bom Pastor e cabeça da Sua Igreja” (nº 1561). 2. Durante a preparação, distribuímos a carta do Sr. Bispo em todas as casas, constituíram-se vários grupos da Lectio Divina, mobilizaram-se as pessoas ligadas aos serviços e organismos das Paróquias, rezou-se nas Eucaristias a oração pela Visita pastoral, fez-se divulgação na rádio «Dom Fuas», e no jornal «O Portomosense». 3. O programa da Visita foi elaborado pelo Conselho Pastoral, atendendo às características das Paróquias, e depois apresentado ao Sr. Bispo para aprovação. Deu-se prioridade ao encontro pessoal com as pessoas envolvidas na catequese, catequizandos, pais e catequistas, crismandos, jovens, comissões das Igrejas, professores das Escolas Básicas, Ciclo e Secundária de Porto de Mós, casais e famílias, autarcas da Vigararia, Conselhos pastorais paroquiais, Conselhos económicos paroquias, Conferência de S. Vicente de Paulo, Renovamento Carismático, Associação da Sagrada Família, ministros da Co102 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | munhão, leitores, grupos corais, acólitos, escuteiros, doentes e idosos. Todos os encontros terminaram num convívio onde o contacto com D. António, sempre solícito e amável, era constantemente solicitado. 4. O cumprimento do programa excedeu em muito as expectativas, graças à boa coordenação e colaboração de todos. O Sr. Bispo foi inexcedível na sua atenção a todos. 5. Foram muitas as mensagens deixadas pelo Senhor Bispo: a alegria de ser cristão, encarar a vida humana e cristã pela positiva, a mais valia da fé em Jesus Cristo que está presente em todos sobretudo nas crianças, doentes, idosos e mais pobres. Só precisamos de O reconhecer. 6. Mas, o principal e mais impressionante desafio deixado pelo Senhor Bispo foi este: «Alcaria, S. João Batista e S. Pedro, de Porto de Mós, coragem! Abri as portas a Jesus Cristo! Não tenhais medo!». 7. A Visita Pastoral do Sr. Bispo foi como um relâmpago, cheio de muita luz, calor humano, oração, partilha, convívio, alegria, presença e emoção do Visitante e dos Visitados. A mensagem ficou. É agora necessário desenvolvêla e aplicá-la à vida concreta das Paróquias, na evangelização, no culto e na caridade. 8. O alerta do Sr. Bispo foi muito forte e muito sentido: a formação cristã é a grande prioridade. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 103 Vida Eclesial . especial . visita pastoral . . notícias . No dia 8 de Outubro, D. António Marto presidiu, na capela da Ressurreição, no Santuário de Fátima, à Eucaristia de abertura do ano académico do ciclo de formação teológica para jovens que fazem o seu noviciado em diversas congregações religiosas. Trata-se de um curso de iniciação à teologia, organizado pelo Centro de Formação e Cultura da Diocese de Leiria-Fátima, aberto às congregações religiosas que querem integrar este projecto de formação “inter-noviciados”. O curso, que decorre ao longo de dois anos, pretendendo ser uma iniciação ao pensamento teológico, proporciona conhecimentos elementares para formação comum. Cada instituto religioso mantém uma formação própria no que diz respeito à sua espiritualidade e carisma. Aderiram à iniciativa congregações residentes em Fátima e algumas vindas da área de Lisboa e Coimbra. Após dois anos de funcionamento, o projecto encontra-se consolidado e recolhe uma avaliação muito positiva das irmãs responsáveis. A celebração foi ocasião para a entrega de diplomas às jovens religiosas que concluíram o ciclo de estudos em Junho. Depois da Eucaristia houve convívio e partilha, com um lanche no Albergue do Peregrino. Além das noviças que integram o curso, participaram as irmãs responsáveis das congregações, o director do Centro de Formação e Cultura, alguns professores e outros religiosos que quiseram associar-se, nomeadamente os noviciados da Companhia de Jesus e dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Formação sobre “acompanhamento espiritual” A aproximação e o acolhimento, a escuta e a interrogação, o esclarecimento à luz da palavra de Deus e o abrir de horizontes, o consolar e o encorajar a pessoa dar os próprios passos para o seu crescimento na vida cristã e clarificação vocacional, são atitudes importantes no acompanhamento espiritual pessoal. Assim ensinou o bispo de Leiria-Fátima, nas duas acções de formação, nos dias 27 de Junho e 22 de Novembro, em Leiria. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 105 Vida Eclesial CFC – Formação para a vida religiosa . notícias . Partindo da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús, que inspira todo o acompanhamento espiritual, D. António Marto sublinhou a importância desta ajuda pessoal para a resposta ao chamamento divino e defendeu que, na Igreja, é preciso maior disponibilidade para oferecer este serviço aos fiéis e, em especial, aos jovens. Disse ainda que poderão fazer este acompanhamento, além dos sacerdotes e dos religiosos, também as religiosas e mesmo os leigos com certa preparação e maturidade espiritual. As duas sessões desta acção formativa, promovida pelo Serviço Diocesano de Animação Vocacional, juntaram mais de uma centena de pessoas, entre sacerdotes, religiosas, leigos, alguns deles jovens, o que surpreendeu positivamente os organizadores e constitui um sinal de interesse pela ajuda que o acompanhamento espiritual pode dar. Na partilha de experiências focou-se a procura crescente por parte de jovens, que querem ser escutados e ajudados para poderem orientar as suas vidas. Muitos já concluíram cursos superiores, mas não clarificaram o rumo a seguir. O acompanhamento pode ser pontual, por quem está próximo, em casa, em grupos, nos movimentos eclesiais ou nas comunidades paroquiais. Mas pode também ser mais pessoal, regular e prolongado, proporcionado por quem tem conhecimentos e experiência, nomeadamente sacerdotes. A formação será, em princípio, continuada no próximo ano, integrada na escola diocesana “Razões da Esperança”. Leiria-Fátima nas Jornadas Mundiais da Juventude Catorze jovens da diocese de Leiria-Fátima participaram nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), em Sydney, Austrália: quatro de Maceira, dois da Marinha Grande, dois dos Marrazes, dois da Bajouca, um da Caranguejeira, um de Ourém, um dos Pousos e um de São Mamede. Foram acolhidos na diocese de Brisbane, a 1000 quilómetros de Sydney, onde participaram em diversas actividades culturais e religiosas. “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). Foi o mote das JMJ que, de 15 a 20 de Julho, reuniram jovens do mundo inteiro em peregrinação de fé, de redescoberta da sua vocação baptismal e celebração os sacramentos, nomeadamente da Eucaristia e da Reconciliação. Os momentos mais altos, que contaram com a presença do Papa, Bento VI, foram a grande recepção na Baía de Sydney no dia 17, a vigília do dia 18 e a Eucaristia de encerramento. Mas o programa deu um destaque muito especial à participação dos jovens nas catequeses matinais orientadas por bispos de diversas nacionalidades, de acordo com os muitos grupos linguísticos. 106 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . notícias . Alguns jovens clarificaram a sua posição vocacional no Grupo Santo Agostinho, após a caminhada que decorreu durante o ano e se concluiu a 6 de Julho, em Fátima. Os 10 jovens que fizeram a experiência orientam a sua vida para a formação num seminário ou casa religiosa, ou para uma participação mais consciente e integrada na vida das comunidades cristãs. O itinerário durou seis meses, com encontros mensais em tardes de domingo, e incluiu a leitura orante da palavra de Deus, catequese sobre aspectos vários do chamamento de Deus, testemunhos de vocações concretas, partilha em grupo e momentos de reflexão pessoal. D. António Marto, que orientou todo o encontro, fez uma meditação vocacional a partir da palavra de Deus, contou a história da sua vocação e dialogou com os jovens, respondendo às suas interpelações. A equipa dinamizadora é constituída por elementos do serviço diocesano de animação vocacional e da pastoral juvenil. No final, os jovens salientaram como a presença e os testemunhos dos animadores e a progressividade das abordagens, cada mês melhor que o anterior, os foram aproximando de Deus, e não esconderam o desejo de verem outros colegas a fazerem a mesma experiência. O Grupo Vocacional Santo Agostinho é um itinerário proposto por D. António Marto aos jovens, como “experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um diz respeito”. Iniciado em 2007, continuará em 2008, provavelmente em Fevereiro, com nova caminhada para os jovens que entretanto manifestem desejo de viver a experiência. Associação Mãos Unidas P. Damião em Leiria O 10º aniversário da Associação Portuguesa de Solidariedade Mãos Unidas P. Damião, foi duplamente celebrado em Leiria: com a realização, no dia 19 de Abril, do I Encontro Regional dos seus sócios e benfeitores, animado com um sarau musical, e no dia 13 de Junho, com a nomeação da direcção do Núcleo Regional de Leiria da mesma associação. Os dois momentos tiveram lugar no Convento da Portela e contaram com a presença do director/sócio fundador Mário Nogueira. No dia foi analisado o Aditamento ao Regulamento Interno da Associação, sobre os Núcleos Regionais, que define as competências, o funcionamento e | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 107 Vida Eclesial Jovens diocesanos decidem vocação . notícias . a constituição das Assembleias Regionais, e entregue um documento, para análise posterior por parte da Direcção do Núcleo Regional, sobre “Centros Alimentares Contra a Pobreza”. No final, foi eleita a direcção do Núcleo Regional de Leiria, que ficou constituída pelos seguintes elementos, para o biénio 2008-2009: presidente – Francisco de Jesus Moreira; vice-presidente – Sandrina Jesus Silva; secretárias – Isabel Maria Pereira Sousa, Dina Maria Pereira Sousa e Piedade Duarte; tesoureiros – Luís Oliveira Silva e Carlos Manuel Vertini; vogais – Joaquina Francisco, Ilda Cerejo, Maria Marques Caneira e Graciete J. Ricardo. Espera-se que a direcção saiba corresponder ao que dela se espera para a sua área de acção, difundido os princípios e os objectivos prosseguidos pela Associação, angariando novos sócios, celebrando, de modo especial, o Dia Mundial dos Leprosos, o Dia Mundial da Luta contra a Tuberculose, o Dia Mundial da Criança e o Dia Mundial da SIDA, e estudando a viabilidade de se conseguir, para breve, um espaço onde possa ser montado um Banco Alimentar contra a Pobreza. Acampamento de Verão do MCE Foram 56 estudantes da Diocese que participaram num campo de férias organizado pelo Executivo Diocesano do Movimento Católico de Estudantes (MCE). De 29 de Julho a 4 de Agosto, na praia fluvial de Mosteiro (Ribeira de Pêra), Pedrógão Grande, estes estudantes, acompanhados pelo assistente diocesano, padre Gonçalo Diniz, viveram momentos de reflexão e debate em grupo, de oração e de lazer. “A verdade e as suas consequências” foi o tema do encontro, tratado segundo a metodologia do “Ver, Julgar e Agir”, própria dos movimentos de Acção Católica. Um dia de “peddy paper” proporcionou um contacto mais directo com o meio, mas ficou também na recordação de todos a visita dos pais numa tarde que foi convívio e integrou a celebração da Eucaristia e um “banquete regional”. Este ano, funcionaram na Diocese equipas base do MCE, distribuídas pelos três níveis de ensino: básico, secundário e superior. Celebração do padroeiro Santo Agostinho D. António Marto presidiu à Eucaristia em honra de Santo Agostinho, padroeiro da diocese, no dia 28 de Agosto, na igreja que lhe é dedicada, na cidade de Leiria. Não obstante o dia litúrgico do Santo Doutor cair em pleno 108 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | tempo de férias, a diocese esteve bem representada, em torno do seu Bispo, por sacerdotes, religiosos e religiosas, e leigos que colaboram sobretudo nos serviços diocesanos, movimentos e associações. D. António convidou todos a “celebrarem juntos em honra do padroeiro, ao redor do bispo e do mesmo altar, e a contribuírem para exprimir e alimentar a comunhão na mesma fé e a consciência de pertencer ao mesmo corpo de Cristo”. Sob o exemplo de Santo Agostinho e à luz da sua imensa herança doutrinal, D. António evocou as palavras do Prefácio para reafirmar a importância dos santos como dom de Deus: no seu “exemplo” permite-nos contemplar a realização concreta da vida cristã; “na comunhão com eles”, oferece-nos “uma família” que é, para todos, apoio e ajuda; e na sua intercessão possibilita-nos “um auxílio”. Compreende-se pois que a comunidade diocesana se reúna para celebrar a festa do seu padroeiro. No mesmo acto litúrgico teve lugar a celebração do jubileu matrimonial (25 anos) do casal Maria Eugénia e José António Ferreira, que têm dado provas de grande dedicação ao serviço da Igreja. Santo Agostinho foi adoptado como padroeiro em 1918, aquando da restauração da Diocese, escolha que radica, certamente, no facto de Leiria ter estado, desde o século XII até 1545, sob a influência do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, dos religiosos da Ordem de Santo Agostinho. Esta adopção foi confirmada pelo Papa João XXIII, que, em 13 de Dezembro de 1962, respondendo a um pedido do bispo diocesano, concedeu à Diocese dois padroeiros principais: manteve o anterior, Santo Agostinho, e acrescentou Nossa Senhora de Fátima. Bênção da primeira pedra da igreja da Martingança A 31 de Agosto teve lugar a bênção da primeira pedra da igreja de S. João Baptista, na Martingança, paróquia de Pataias. D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, presidiu à celebração em que participaram também o pároco e outros sacerdotes com especial ligação à comunidade. Estiveram ainda presentes o Governador Civil de Leiria, o Presidente da Câmara de Alcobaça e o Presidente da Junta de Freguesia da Martingança, e muitas pessoas da população local e terras vizinhas. Após a Eucaristia, em sessão solene, foi assinado um pergaminho evocativo, depois inserido na pedra com algumas moedas do ano de 2008. As várias entidades presentes salientaram a importância do novo templo para o serviço da comunidade local e a sua beleza e funcionalidade, bem como a necessida| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 109 Vida Eclesial . notícias . . notícias . de da conjugação de esforços da população e dos organismos públicos para que o projecto possa chegar a bom termo. Segundo o arquitecto Vítor Grenha, autor do projecto, o “Tempieto in Montorio”, obra de Bramante, em Roma, foi a inspiração. “O espaço da igreja procura congregar a assembleia (172 lugares sentados) cujo corpo é comunidade. A luz, usada como matéria de construção física e espiritual, usase como metáfora do guia e destino da comunidade, provindo do rasgo no tecto e reforçando o caminho para o altar e para o sacrário”, explicou Vítor Grenha. Fernando Santos, membro da Comissão da Igreja, e o pároco, padre Virgílio Rossio, explicam o que pesou na decisão de uma nova construção: de dimensões reduzidas e sem condições, a igreja existente era manifestamente insuficiente para as necessidades da população e desprovida de qualquer mais-valia estética ou histórica. O investimento ronda os 500 mil euros e os prazos de execução ainda não estão definidos. Com apenas um quinto do total necessário, os responsáveis voltam-se agora para a generosidade das pessoas em iniciativas de angariação de fundos, e aguardam a resposta à candidatura para financiamento já apresentada às entidades próprias. Jubileus sacerdotais À semelhança dos últimos anos, a Fraternidade Sacerdotal da Diocese de Leiria-Fátima promoveu, no dia 25 de Setembro, no Santuário de Fátima, a celebração dos jubileus sacerdotais. Este ano comemoraram bodas de ouro e de prata sacerdotais, respectivamente, os padres Virgílio da Silva, a 10 de Agosto, e Jorge Manuel Faria Guarda, a 24 de Abril. Do programa constou a Eucaristia, celebrada na Basílica às 11h00, e o almoço convívio na Casa Senhora do Carmo. Assembleia do Clero para revisão do RABI Cerca de 60 membros do clero diocesano reuniram-se em Assembleia, a 16 de Setembro pretérito. Na ordem do dia esteve em destaque a discussão de um projecto de revisão do Regulamento da Administração dos Bens da Igreja (RABI), sobretudo no que aos sacerdotes diz respeito, preparado por uma Comissão estatutária. Além das linhas gerais, estiveram em discussão algumas propostas que a experiência dos últimos anos foi suscitando, por exemplo, a 110 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . notícias . Capelão dos imigrantes Ucranianos O padre Sílvio Litvinczuk Osbm, novo capelão da comunidade de imigrantes católicos ucranianos, tomou posse no passado dia 14 de Setembro, na capela bizantina da Domus Pacis, em Fátima. Filho de pais brasileiros, descendentes de ucranianos, nasceu no Brasil, em Prodentopolis, no Paraná, a 25 de Dezembro de 1978, frequentou o seminário da Congregação dos Padres Basilianos, em Curitiba, durante um ano e meio, formou-se em Teologia em 2002, na Ucrânia e, em 2006, foi ordenado sacerdote. De 2006 a 2008 esteve em Roma, no Ateneu Santo Anselmo, onde se licenciou em História da Teologia. Cedido por D. Dionísio Lachovicz, bispo ucraniano responsável pela pastoral dos emigrantes, foi nomeado por D. António Marto e reside na Casa Nossa Senhora do Carmo, no Santuário de Fátima. Dia da Diocese: serviço à Igreja e ao mundo A 5 de Outubro, Dia da Diocese, arrancou oficialmente o novo ano pastoral. Ao mesmo tempo que, em Assembleia diocesana, D. António Marto apresentava aos primeiros responsáveis e agentes pastorais os objectivos para 2008/2009, nas paróquias dava-se início à catequese e a outras actividades fundamentais das comunidades. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 111 Vida Eclesial possibilidade de as paróquias instituírem o Fundo Paroquial de forma distinta do Fundo da Igreja Paroquial. Refira-se que o RABI, ao tratar da partilha de bens na diocese e nas suas paróquias, também estabelece o estatuto económico dos sacerdotes, com base no espírito de comunhão e de partilha que a tudo há-de presidir. A proposta final, alargando o âmbito de incidência para lá do estatuto do clero e das paróquias, faz referência a outras instituições e associações canónicas, redefine responsabilidades e competências dos responsáveis das instituições e serviços, pondera a sustentabilidade económica das instituições e projectos eclesiais e aponta para o melhoramento da organização das instituições e do procedimentos das pessoas responsáveis. Aprovada, primeiro na generalidade e depois na especialidade, a proposta foi entregue à Comissão de revisão. A este parecer da Assembleia, virá juntarse-á, em princípio, o parecer autónomo do Conselho Presbiteral que o Bispo Diocesano quererá consultar igualmente antes de tomar a decisão final da sua aprovação e publicação. . notícias . O grande ponto de esforço será a formação em todas as comunidades para que cada cristão, aprofundando “as razões da sua esperança”, se torne fermento activo na Igreja e no mundo. Importa não desperdiçar nenhuma oportunidade. Entretanto, prosseguirá o esforço de construção de uma comunidade unida e com maior consciência eclesial, na continuidade do ano anterior. A consciência e o sentido de pertença à Igreja serão das principais incidências da formação. Neste aspecto, o Dia da Diocese constitui uma óptima oportunidade para os cristãos reforçarem e tornarem visível a comunhão eclesial, que há-de ultrapassar âmbitos demasiado restritos e os próprios contornos paroquiais. Assistimos ao desabrochar de carismas e projectos mas nem aqueles nem estes podem fechar ninguém no seu grupo restrito contrariando os desígnios do Espírito que concede os seus dons para o crescimento comum. As comunidades cristãs não existem sem a pertença efectiva à Igreja Universal. O particularismo, por vezes sentido como virtude, é um falso engodo. Não se atinge a meta sem cooperar na mesma estafeta. Ninguém, por hábil que seja, poderá prescindir da equipa, numa união fundamental que faz a força. O Dia da Igreja diocesana exprime e cultiva o sentido de família alargada. A Igreja de Jesus Cristo está onde os cristãos se reúnem, em comunhão de fé e de sentimentos, com o seu bispo. Por belas que pareçam as obras de cada um, ou de cada comunidade, é sempre em torno do Pastor que se faz a unidade. Canção Nova obtém aprovação pontifícia A comunidade católica Canção Nova, presente em Fátima, recebeu das mãos do Cardeal Rylko o reconhecimento pontifício e a aprovação dos seus estatutos como Associação Internacional de Fiéis de Direito Privado. Foi em Roma, no Conselho Pontifício para os Leigos, a 3 de Novembro, na presença do fundador, monsenhor Jonas Abib, de dois milhares de membros, de um cardeal e vários bispos brasileiros. A diocese de Leiria-Fátima fez-se representar pelo vigário-geral. Na audiência geral do dia 5, Bento XVI dirigiu-se aos peregrinos em Português: “Saúdo a Comunidade “Canção Nova”, em festa pelo reconhecimento como associação internacional de fiéis junto do Pontifício Conselho para os Leigos. Exprimo o apreço da Igreja pelo ideal e empenho que vos anima de dar inspiração cristã às linguagens do nosso mundo e à leitura dos 112 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | acontecimentos da história. Sobre todos vós invoco os dons do Espírito Santo para serdes verdadeiros discípulos e missionários de Cristo Ressuscitado, fazendo jorrar a sua Vida nas vossas famílias e comunidades, que de coração abençoo.” Na cerimónia do reconhecimento, o fundador da Canção Nova pediu aos seus membros: «Permanecei unidos no amor e na oração. Que sejais uma comunidade de amor e de adoração. Queremos levar ao mundo uma Canção Nova renovada pelo Espírito Santo». A Canção Nova foi fundada em Cachoeira Paulista (Brasil), no ano de 1978, por Jonas Abib, sacerdote salesiano, para promover a evangelização dos jovens e dos homens e mulheres de hoje, através dos meios de comunicação social, especialmente a rádio, a televisão, a Internet, a publicação de livros, a música e várias outras acções. Inspirada no Renovamento Carismático, conta actualmente com 1.075 membros consagrados, homens e mulheres: sacerdotes, seminaristas, leigos consagrados e casais. Além do Brasil, a Canção Nova está em Portugal, Itália, Israel, Estados Unidos, França e África. Em Portugal dispõe de televisão, rádio, duas livrarias e uma revista. Padre Jorge Guarda publica No Silêncio do Santuário No dia 24 de Outubro, foi apresentado o livro do padre Jorge Guarda “No Silêncio do Santuário – Orações a partir dos Salmos”, no auditório do Espaço Fatimae, em Fátima. Com a colaboração da Comunidade Canção Nova e apresentação pelo padre Dário Pedroso, editor pelo Apostolado da Oração, a sessão incluiu cânticos e momentos de oração baseados nos textos publicados, e ainda a habitual sessão de autógrafos. Sacerdotes diocesanos em retiro em Singeverga Cinco dias de “escuta para ouvir o Mestre e inclinar o ouvido do coração”, seguindo a recomendação de S. Bento. A proposta do Serviço de Apoio ao Clero foi aceite por nove sacerdotes da Diocese, que fizeram retiro anual, no mosteiro dos Beneditinos de Singeverga, de 19 a 24 de Outubro, sob orientação do abade do Mosteiro, Luís Aranha, e do padre Lino de Miranda, mestre de noviços. Os participantes sentiram-se “acolhidos como a Cristo (cf Regra, cap. 53), elevados pelo canto monástico e serenados pelo ambiente da cerca e pelo silêncio do claustro”, segundo a tradição beneditina. Agradecidos pela hospitalidade, tinham as palavras de S. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 113 Vida Eclesial . notícias . . notícias . Bento no coração: «Depois de termos, irmãos, perguntado ao Senhor quem habitaria na sua morada, ouvimos as condições para nela se habitar. Oxalá cumpramos nós agora os deveres do morador» (Regra, Prólogo, 39). Padre José Reis: 40 anos de sacerdócio No passado dia 18 de Outubro, a comunidade cristã do Juncal reuniu-se na Igreja paroquial para celebrar os 40 anos de sacerdócio do seu pároco, padre José Marques dos Reis. O templo estava repleto de paroquianos e representantes dos vários serviços – grupo coral, Conselho Económico, catequistas, membros do Centro Paroquial, entre outros. Após uma representação cénica da vocação sacerdotal, pelos jovens, houve jantar-convívio, com os membros da comunidade e com o homenageado e seus familiares. José Marques dos Reis, segundo de sete irmãos, nasceu a 24 de Junho de 1943, numa família humilde da Gondemaria, concelho de Vila Nova de Ourém. Aos treze anos sentiu-se chamado por Deus, inicialmente com o intuito de partir para as Missões. Entrou no Seminário de Leiria, em 1956, e após longa caminhada foi ordenado sacerdote em 18 de Outubro de 1968. Cinco dias depois, iniciou o trabalho paroquial, nomeado sacerdote coadjutor, em Maceira, onde permaneceu 3 anos e meio. Em 5 de Março de 1972 o Bispo de Leiria deu-lhe uma nova missão, que o levaria a assumir a paroquialidade de Serro Ventoso e S. Bento. Em Setembro desse ano, começou a leccionar Religião e Moral, na Escola Secundária de Porto de Mós, acompanhando adolescentes e jovens, actividade que apenas deixou no passado mês de Junho, quando atingiu a reforma, aos 65 anos. Em 1979, para estender a missão paroquial a Arrimal e Mendiga, foi dispensado de São Bento. Em Janeiro de 1993, o Senhor Bispo de Leiria-Fátima nomeou-o Pároco do Juncal, cargo que vem desempenhando há cerca 15 anos, com total dedicação ao crescimento desta comunidade cristã. Pré-seminário… Depois do reencontro de doze dos pré-seminaristas do ano passado, de 11 a 12 de Outubro, o Pré-Seminário reiniciou a 8 de Novembro as actividades mensais para rapazes do 6º ao 8º ano (ordinariamente no 1º sábado de cada mês, das 10h00 às 17h00). Os rapazes que frequentam a partir do 9º ano têm um outro acompanhamento adequado à sua idade, com programa diverso. Pretende-se, com este serviço, “continuar, passo a passo, o esforço iniciado 114 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . notícias . em 2006 para a reabilitação deste sector da Diocese e do seu Seminário, num esforço comum de promoção e acompanhamento das vocações sacerdotais”. Em pleno Ano Paulino, a Conferência Episcopal Portuguesa propôs às comunidades cristãs a meditação da Palavra de Deus com base na vida e testemunho do Apóstolo S. Paulo. Para tal, foi editado um instrumento de trabalho, “Um ano a caminhar com São Paulo”, com 52 temas de reflexão, um por semana. O autor deste livro, D. Anacleto Cordeiro de Oliveira, bispo auxiliar de Lisboa, natural das Cortes, foi convidado pela vigararia da Batalha a apresentar, na primeira pessoa, os conteúdos da proposta. Cerca de duas centenas de pessoas acorreram à conferência proferida no Centro Pastoral da Batalha, no passado dia 7 de Novembro. Na sessão, de cerca de duas horas, D. Anacleto falou da vida de São Paulo e explanou as cinco partes em que se agrupam os 52 temas: “a nossa vida cristã”, “a Igreja de Deus”, “a nossa conduta cristã” “a vida que nos espera” e “Paulo fala-nos (depois) do seu martírio”. Sobre o modelo de conversão, de evangelizador e de vivência profunda da fé, referiu que a vida do Apóstolo foi “uma permanente e incansável caminhada para Cristo e para os homens” e que à luz dos seus escritos podemos hoje “percorrer as sucessivas fases da nossa caminhada cristã”. A leitura dos textos seleccionados permitirá descobrir a riqueza do ensinamento paulino e suscitará, por certo, a vontade de ler a totalidade das suas cartas. Cada tema é desenvolvido em três páginas: uma introdução de contextualização, um texto paulino e a respectiva meditação, sugestões de outras leituras e uma proposta de oração. A reflexão, em leitura lenta e repetida, com espaços de silêncio “para que Deus fale no coração de cada um”, pode ser individual “mas será mais rica em grupo”. Interpelado sobre a reduzida presença dos jovens, D. Anacleto exprimiu a convicção de que muitos estão a fazer esta caminhada e pediu aos seus formadores que “não lhes ofereçam facilidades e coisas leves, mas a radicalidade do Evangelho e a exigência da vida cristã na sua integralidade, porque é isso que eles pedem e que os conquista”. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 115 Vida Eclesial D. Anacleto apresentou “Um ano a caminhar com São Paulo” . notícias . 4º aniversário da Comunidade Pastoral de S. Romão e Guimarota Constituída por decreto episcopal de 21 de Novembro de 2004, a Comunidade Pastoral de S. Romão e Guimarota celebrou o seu quarto aniversário marcado pela renovação de algumas equipas litúrgicas, de catequese e de serviço de voluntariado social. Embrião de uma futura paróquia que congregue as populações de Casais de São José, Casal dos Matos, São Romão, Guimarota, Quinta de São Venâncio, Quinta do Taborda (lado sul), Rua da Assunção, e Rua Vale de Lobos, a comunidade assume-se em crescimento solidário e na organização progressiva de estruturas de unidade e de vida cristã no seio da Igreja diocesana. Enquanto prosseguem as questões processuais da construção da igreja e centro pastoral, decorrem já projectos de carácter pastoral a curto e médio prazo, nomeadamente, anúncio (actividades formativas) e celebração da Fé (sacramentos e sacramentais), e o exercício organizado da solidariedade (partilha e atenção especial aos mais carenciados, a todos os níveis). Nova Junta Diocesana dos Escuteiros No passado dia 7 de Dezembro, na igreja de S. Pedro, em Leiria, tomaram posse a Junta Regional e o Conselho Fiscal e Jurisdicional do Corpo Nacional de Escutas da Região de Leiria, eleitos pelos Dirigentes e Caminheiros, em acto que decorreu em Novembro último. O momento solene da tomada de posse e juramento dos eleitos foi presidido pelo Vigário-geral da diocese, Padre Dr. Jorge Guarda, em representação do Sr. Bispo. Estiveram presentes representantes do Governo Civil, da Câmara Municipal de Leiria e do Instituto Português da Juventude, um membro da Junta Central do CNE, os Chefes Regionais de Santarém e de Portalegre/ Castelo Branco, antigos Chefes Regionais, vários Dirigentes e elementos das diferentes secções, e familiares e amigos dos novos elementos investidos. A cerimónia, iniciada por um momento musical de órgão de tubos e repleta de simbologia escutista, marcou o início das actividades de mais um triénio dedicado ao lema “Formar, Partilhar, Crescer”, que se espera profícuo em termos de educação integral das crianças e jovens, com rumo ao Homem Novo que Escutismo católico preconiza, fiel aos princípios do fundador Baden Powell. 116 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . notícias . No final, o representante da Junta Central afirmou esperar que a Região de Leiria, apesar de pequena em espaço territorial, continue com a dinâmica e empreendorismo que tem vindo a demonstrar. A data escolhida foi 19 de Dezembro. Seminaristas, equipa formadora, padres residentes, funcionários e outras pessoas que colaboram de perto com o Seminário, reuniram-se para a festa de Natal a que se dignou presidir D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima. A celebração seria enriquecida com a instituição no ministério dos Leitores do seminarista Miguel Sottomayor que vinha acompanhado por seus familiares e alguns amigos. D. António Marto, no início da Eucaristia, saudou a todos no espírito natalício e convidou ao “acolhimento da surpresa inaudita e última de Deus na nossa vida”, e da humanidade e esperança que o Senhor nunca deixa de trazer às situações de desesperança por que vamos passando. Na homilia, retomando o tema da alegre confiança no Senhor que veio ser o Deus Connosco, na nossa humanidade, o Presidente da assembleia afirmaria que “a nossa pequena e humilde história está inserida nessa grande e sublime história do amor de Deus pelos homens: Ele ama-nos e está de mão estendida para acolher o nosso amor, uma mão que nos acaricia, nos levanta, nos abençoa e nos conduz”. Por isso, “toda e qualquer vida deve ser um projecto de amor, de colaboração no desígnio de salvação para o mundo, sinal de esperança onde parece não haver esperança”. No momento que precedeu a instituição de Leitor, D. António dirigiu a Miguel de Sottomayor palavras de acolhimento e recomendação: “Foste surpreendido por Deus, que desconcertou os teus caminhos e te trouxe a esta diocese de Leiria-Fátima (...) Como proclamador da Palavra, deverás em primeiro lugar escutá-la, amá-la, rezá-la, assimilá-la e vivê-la (...) Receberás a graça para o realizar, a fim de saboreares antecipadamente a Palavra que irás servir”. Depois da instituição, salientando que este é um primeiro passo a caminho do ministério da Ordem, confiou o novo Leitor à protecção de Nossa Senhora. No final da celebração, no refeitório do Seminário, foi servido um almoço de confraternização a que não faltaram os habituais sinais de Natal. Natural de Vila do Conde, Miguel Sttomayor é aluno do Seminário de Leiria e está a estudar no Seminário Filosofico-Teologico Internazionale Giovanni Paolo II, em Roma. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 117 Vida Eclesial Instituição de Leitor, na festa de Natal no Seminário . notícias . Estipêndios na Província Eclesiástica de Lisboa Os Bispos da Província Eclesiástica de Lisboa (Lisboa, Santarém, Setúbal, Angra, Funchal, Portalegre-Castelo Branco, Leiria-Fátima, Guarda e Forças Armadas e de Segurança) aprovaram um decreto conjunto sobre os estipêndios das missas que uniformizou o valor (10 euros) com o já praticado pelas Províncias Eclesiásticas de Braga e de Évora, com data de aplicação a partir de 13 de Outubro passado. O decreto refere que “não é permitido a qualquer sacerdote exigir quantia mais elevada”, ressalvando, no entanto, que pode “receber o que lhe for espontaneamente oferecido” e que, por outro lado, “não deixe de aceitar quantia inferior, de modo que ninguém se sinta excluído”, uma norma especialmente sublinhada pelo “momento social que se vive”. Quanto às Missas plurintencionais, “o estipêndio é de oferta livre”. Os Bispos recordam ainda o referido sobre assunto no Código de Direito Canónico e na Tabela de Taxas, Tributos e Emolumentos já aprovada para a Província Eclesiástica, e recomendam o especial cuidado de “evitar em absoluto, especialmente nas Missas plurintencionais, a mais leve aparência de comércio ou negócio; de atender à intenção expressa do oferente, mesmo que o estipêndio seja diminuto ou se venha a perder; de recordar que as esmolas lançadas na «Caixa das Almas» têm tradicionalmente a finalidade exclusiva de contribuírem para a celebração de Missas em sufrágio de todos os fiéis defuntos; de fomentar nos cristãos um sentido de mais ampla caridade, de modo que, não sendo possível atender localmente aos seus pedidos, aceitem que as missas sejam celebradas em outro lugar; e de evitar enganos e esquecimentos, anotando as obrigações assumidas e o seu cumprimento. Finalmente, os Bispos determinam que “se dê oportunamente conhecimento deste Decreto a todos os fiéis, sacerdotes e leigos”. A acompanhar este decreto, os Bispos assinam também uma “Carta aos Sacerdotes e às Comunidades Cristãs”, em que esclarecem mais pormenorizadamente a pastoral que fundamenta o estabelecimento do estipêndio, “uma longa tradição da Igreja, confirmada pelo Direito Canónico”, e justificam o actual aumento com a exigência de cumprimento do acordo existente com as outras Províncias Eclesiásticas, embora o façam “com preocupação pastoral motivada pela situação social que o País atravessa, com a maior parte das famílias a sentirem dificuldades económicas”. Na mesma perspectiva, lembram “o sentido desta oferta e dos valores pastorais que devem orientar as nossas atitudes, quer do clero, quer dos fi118 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | éis”, e salientam em primeiro lugar a gratuidade dos sacramentos que “não se vendem, nem têm preço material”. Nesse espírito, deve cuidar-se que os fiéis mais pobres, que não possam pagar, “tenham direito a que o sacerdote celebre pelas suas intenções”, e que os fiéis contribuam “livremente para as despesas da Igreja, entre as quais se conta a sustentação do clero”. Em todo o caso, “esta gratuidade dos sacramentos exige dos sacerdotes o desprendimento e a ausência de qualquer espírito de avidez e de negócio”. Sobre o sentido do estipêndio, lembra-se que é “uma oferta ao sacerdote”, não para o fundo paroquial, que o deve usar para “praticar pessoalmente a caridade e investir na sua própria formação cultural”. Sobre a Missa por várias intenções, que “não deve anular o direito que os fiéis têm de pedir a Missa por uma só intenção”, nada pode ser exigido aos fiéis, “dando cada um segundo as suas posses e generosidade”, não sendo sequer “legítimo indicar o estipêndio fixado para as intenções individuais como ponto de referência”. Do dinheiro recolhido, “o sacerdote pode retirar o correspondente ao estipêndio fixado” e o restante “não pertence ao Fundo Paroquial”, mas “constitui um fundo autónomo posto à disposição do Bispo Diocesano, que o deve utilizar para o bem da Igreja, para ajudar outras Dioceses mais necessitadas, para mandar celebrar Missas pelas intenções de quem ofereceu e para incentivar a acção pastoral”. A concluir, os Bispos convidam a “encontrar em Paulo um modelo inspirador” e reconhecem que “há alguns pontos a corrigir”, tarefa a cumprir por “todos generosamente, na certeza de que o nosso desprendimento merecerá de Deus a força da Sua graça para fazer crescer a Igreja”. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 119 Vida Eclesial . notícias . Faleceu o padre Boaventura Vieira Um homem de paz e de obras O padre Boaventura Domingos Vieira, da diocese de Leiria-Fátima, faleceu no dia 29 de Agosto, no Hospital de S. André, em Leiria. Tinha 79 anos de idade e era capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real. O funeral realizou-se no dia seguinte para Santa Catarina da Serra, de onde este sacerdote era natural. Presidiu à celebração das exéquias o bispo diocesano, D. António Marto, que recordou o percurso deste sacerdote e disse estar grato a Deus pela sua vida e pelas suas obras. De entre as suas qualidades, destacou o testemunho de dedicação, disponibilidade e generosidade ao longo de um ministério exercido ao serviço da Igreja, em múltiplos lugares e actividades. Filho de José Vieira Repolho e de Ana Maria, o Padre Boaventura nasceu a 1 de Janeiro de 1929, em Santa Catarina da Serra. Tinha 8 irmãos, um deles também sacerdote. Entrou para o Seminário de Leiria em 1942. Terminando o curso em 1953, foi ordenado sacerdote no dia 12 de Julho desse ano, no Santuário de Fátima, e logo nomeado coadjutor na paróquia de Monte Redondo. Em 1956, recebeu a missão de Pároco de Nossa Senhora dos Prazeres, em Aljubarrota, serviço que exerceu até Setembro de 1961. Neste ano, foi nomeado ecónomo do Seminário Diocesano e começou a acompanhar os trabalhos de construção do novo edifício. Cessado aquele serviço, em 1973, foi enviado para trabalhar na Diocese de Nova Lisboa, em Angola, onde também desempenhou funções de ecónomo do Seminário. Dali, em 1976, transferiu-se para o Brasil, onde, em São José do Rio Preto, estado de S. Paulo, exerceu a missão de Pároco e de administrador da Diocese. Em 1987, regressado à diocese de Leiria-Fátima, colaborou com o seu irmão, Padre Júlio, na paróquia de Maceira onde também foi professor de Educação Moral e Religiosa Católica. Dez anos depois, passou a ser administrador da Gráfica de Leiria, cargo que exerceu até Julho de 2007. Entretanto, desde 1998, exerceu também o serviço de Vigário Paroquial do Souto da Carpalhosa e de capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real. 120 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . Santuário de Fátima . Victor Yushchenko, acompanhado de sua esposa, integrou uma viagem ao Santuário de Fátima no programa da visita presidencial realizada a Portugal no final de Junho. À chegada ao Santuário, vários grupos de ucranianos acolheram com emoção, no Recinto de Oração, o seu Chefe de Estado. Seguiu-se a recepção oficial pelo padre Virgílio Antunes, director do Serviço de Peregrinos do Santuário, que acompanhou e guiou a numerosa comitiva presidencial na visita a vários locais do Santuário, nomeadamente, à Capelinha, onde o casal esteve por breves momentos em oração, Basílica e Igreja da Santíssima Trindade. O casal manifestou muito interesse em tudo o que se refere a Fátima e grande conhecimento da sua história e mensagem, particularmente das referências à conversão da Rússia. Sempre rodeado de fortes medidas de segurança, o Presidente da Ucrânia colocou uma vela a arder no tocheiro localizado ao lado da Capelinha das Aparições. No Livro de Honra do Santuário, o casal formulou votos de bênçãos de Deus para o mundo e, no final da visita, ofereceu ao Santuário um ícone de Nossa Senhora. …e o irmão do Presidente Dias depois, foi a vez do deputado Petro Yushchenko, irmão mais velho do Presidente da Ucrânia, visitar o recinto. Na mesma página do Livro de Honra do Santuário em que o irmão tinha assinado, escreveu: “Glória a Deus por tudo”. No livro que lhe foi oferecido, “Memórias da Irmã Lúcia” (também editado em ucraniano), o deputado pediu que, na publicação, lhe fosse indicada a parte onde a vidente escreveu sobre a Rússia, e leu de imediato o relato de terceira aparição de Nossa Senhora em Fátima. Pediu para ver a coroa que tem incrustada a bala oferecida pelo Papa João Paulo II e, na ocasião, visitou a exposição “Fátima Luz e Paz”, patente no edifício da Reitoria. Na sala dedicada a João Paulo II disse ter visitado recentemente o Vaticano e que, na altura fez questão de ir à cripta onde está o corpo do falecido Papa. Por várias vezes durante a visita-guiada aos espaços do Santuário, o deputado afirmou a sua preocupação pela situação na Geórgia e disse que a decisão de se deslocar a Fátima foi tomada precisamente pelo receio em relação à instabilidade sentida naquela área geográfica. Petro Yushchenko ofereceu ao Santuário de Fátima o livro “Churches of Ukraine”. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 121 Vida Eclesial Presidente da Ucrânia peregrino de Fátima . Santuário de Fátima . Curso de música litúrgica Com o patrocínio do Santuário de Fátima, numa organização do Serviço Nacional de Música Sacra e do Secretariado Nacional de Liturgia iniciou-se, nos dias 18 a 30 de Agosto de 2008, um Curso de Música Litúrgica, Destinado principalmente aos responsáveis vicariais, arciprestais ou paroquiais de Música Sacra e Litúrgica e aos cantores, organistas e directores de coro que trabalham nas comunidades. Com a duração de três anos e realização nas duas últimas semanas de Agosto, em dois dias a seguir ao Natal e em dois dias a seguir à Páscoa, o Curso é estruturado e orientado pelo Serviço Nacional de Música Sacra, presidido pelo Cónego Dr. António Ferreira dos Santos. Os anos lectivos iniciar-se-ão em Agosto (segunda metade do mês) de 2008, 2009 e 2010, e terminarão na segunda metade de Agosto de 2011. No final do Curso será entregue um diploma. O curso tem três departamentos: a) Cantores: cadeiras de tronco comum e específicas; b) Directores de Coros: cadeiras de tronco comum e específicas; c) Organistas: cadeiras de tronco comum e específicas. As condições gerais para a admissão, nas suas variadas vertentes são: a) prova de bom ouvido e boa voz, para todos e, sobretudo, para os Cantores; b) prova de formação musical, de média dificuldade, para todos; c) prova de domínio de teclado para os organistas; d) prova de capacidade para dirigir, para os directores de Coros; e) aceitação de regulamento do Curso que, por ser intensivo, implica trabalho, disciplina e amor à causa. Com um número “clausus” de alunos (40 Cantores, 30 Directores de Coros e 30 Organistas), o curso terá 13 professores: a) dois professores de formação musical; b) dois professores de Direcção Coral; c) quatro professores de Órgão; d) dois professores de Canto; e) um professor de Liturgia; f) um professor de História da Salvação; g) em professor de História da Música Sacra. “Um dia em peregrinação” Sem qualquer necessidade de marcação prévia por parte dos interessados, decorreu este ano mais uma edição do programa “Um dia em peregrinação”, iniciativa do Santuário de Fátima, desenvolvida pelo Serviço de Peregrinos através da secção Acolhimento e Informações, que é retomada todos os anos, de 16 de Julho a 15 de Setembro. 122 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Todos os dias e sempre com início marcado no “coração” do Santuário de Fátima, a Capelinha das Aparições, o programa assume-se como um convite aos peregrinos que pretendam conhecer de forma acompanhada os locais, a história e a mensagem de Fátima. Neste projecto, que para além da exibição de vídeos e da visita aos principais locais relacionados com as aparições, contempla também vários momentos de oração, o acompanhamento aos peregrinos estará uma vez mais a cargo de um grupo de seminaristas. PROGRAMA: De segunda a sexta-feira: 10h15 – Saudação a Nossa Senhora, na Capelinha; 10h30 –Encontro (junto à Azinheira grande) e visita ao Santuário; 12h00 – Rosário, na Capelinha; 12h30 – Missa, na Capelinha; 15h00 – Vídeo (por baixo da Colunata Norte); 16h00 – Partida (frente ao Posto de Socorros), em autocarro; visita aos Valinhos e Aljustrel; 18h00 – Regresso, com passagem pela Rodoviária; 21h30 – Rosário, na Capelinha, e procissão de velas. Sábado: 10h00 – Rosário, na Capelinha; 11h00 – Missa internacional, na ISST; 12h15 – Encontro (frente à porta principal da Igreja da Santíssima Trindade) e visita ao Santuário; 15h00 – Vídeo (por baixo da Colunata Norte); 16h00 – Partida (frente ao Posto de Socorros), em autocarro; visita aos Valinhos e Aljustrel; 18h00 – Regresso, com passagem pela Rodoviária; 21:30 – Rosário, na Capelinha, e procissão de velas. Exposição “Fátima no mundo” Inaugurada por ocasião do encerramento das celebrações dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, a exposição “Fátima no mundo” foi transferida para a Igreja da Santíssima Trindade, também ela inaugurada em Outubro de 2007. Esta mostra exibe, no espaço conhecido como “Convívio de Santo Agostinho”, no piso inferior da Igreja da Santíssima Trindade, um vasto conjunto de fotografias de santuários, igrejas e capelas dedicados a Nossa Senhora de Fátima nos cinco continentes. Conta também com um roteiro dos santuários e igrejas vistas do espaço (imagens de satélite), a partir do Google Earth, onde é possível identificar alguns dos templos expostos em fotografia. As entradas são livres e permitem ao visitante conhecer de forma rápida e resumida alguns dos inúmeros lugares dedicados a Nossa Senhora de Fátima, e aperceber-se da grande difusão da Mensagem de Fátima. Desde a primeira Catedral no mundo dedicada a Nossa Senhora de Fátima, a Sé Catedral Nossa | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 123 Vida Eclesial . Santuário de Fátima . . Santuário de Fátima . Senhora de Fátima Mãe da Paz, em Nampula, Moçambique, sagrada a 23 de Agosto de 1956, até outros locais menos prováveis como a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Heredia, na Diocese San Jose de Costa Rica, na Costa Rica, construída em 1996 após a destruição da anterior igreja pelos sismos de 1990. Fotograficamente, um dos grandes santuários expostos é o Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Zakopane, na Diocese de Kraków, na Polónia, cuja construção teve início em 1987 e terminou em 1994. Em 1987, o Santo Padre João Paulo II coroou a imagem de Nossa Senhora de Fátima aí venerada e, em 7 de Junho de 1997, em viagem apostólica ao seu país natal, sagrou esta igreja–santuário e proclamou que a sua sobrevivência ao atentado de 13 de Maio de 1981 se deveu à intercessão da Virgem de Fátima: “A minha vida foi salva por intercessão da Virgem de Fátima”. O P. Drozdek, amigo pessoal de João Paulo II, foi o mentor e reitor. Perfil do visitante de Fátima No dia 27 de Setembro, Dia Mundial do Turismo, foi apresentado um novo estudo sobre o perfil do visitante de Fátima, trabalho desenvolvido pela Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL) e coordenado por Graça Poças Santos, no âmbito do Projecto de Investigação Identidade(s) e Diversidade(s) para a Cooperação Europeia dos Locais Maiores de Acolhimento (COESIMA) liderado a nível local pela Região de Turismo de Leiria/ Fátima. A autora afirma que o estudo verificou a existência de uma “considerável heterogeneidade” dos que visitam Fátima, considerando não estudar o fenómeno do Turismo Religioso “por ser uma excentricidade, mas sim por ser uma realidade em crescimento em todo o mundo”. Dia Mundial das Missões A 19 de Outubro, a Igreja Católica viveu o Dia Mundial das Missões. No Santuário de Fátima, D. Augusto César, Bispo Emérito de Portalegre-Castelo Branco, exortou os peregrinos a, tal como o apóstolo Paulo pediu aos Tessalonicenses, serem “firmes na esperança e fecundos na caridade, como servos e apóstolos de Jesus Cristo”. O prelado sublinhou que a fé “não assenta em teorias e promessas mas na pessoa de Jesus Cristo” e apelou aos cristãos para que “saibamos cultivar a paz à nossa volta e rezemos por aqueles que não 124 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | sabem ou não querem rezar”. Ainda na homilia da Eucaristia internacional desse domingo, no Recinto de Oração, D. Augusto César falou sobre a sua vida de missionário: «Fala-vos quem esteve 16 anos nas missões, e ainda lá estaria hoje, se Aquele que me enviou para lá, não me enviasse de lá para cá. As “missões” são o encanto da “missão”, na linha do bem-fazer, de partilhar a sorte com os que mais precisam e de testemunhar a Jesus Cristo com entusiasmo e sem desistências. Em todas estas circunstâncias, devemos sentir o conforto da presença de Deus; e, se quisermos um modelo concreto que nos é proposto este ano, será S. Paulo, como gigante da fé». Não basta ser cristão, reiterou o Bispo, “é preciso ser apóstolo de convicção e de vida”, “em minha casa e junto dos que vivem comigo… no emprego, colaborando com todos e testemunhando a alegria de ser cristão… na paróquia, fazendo escola de comunhão e mostrando disponibilidade apostólica… e, segundo os apelos de mais longe e a inspiração de Deus, partindo com generosidade e com o coração agradecido e cheio de confiança”. No final da homilia D. Augusto César rezou: “Nossa Senhora de Fátima e Rainha das Missões… dai-nos muitos e santos missionários. E fazei-nos, ainda, servos, apóstolos e missionários, ao jeito dos Pastorinhos. Acolhei, também, as súplicas destes peregrinos aqui presentes e de muitos jovens indecisos. Tornai-os generosos, Ámen!” Sistema de videovigilância no Santuário de Fátima O Santuário de Fátima congratulou-se com a decisão do Ministério da Administração Interna, com a assinatura do despacho que permitiu a activação do sistema de videovigilância nos espaços do Santuário, por considerar que possibilitará aos peregrinos e visitantes maior segurança, tranquilidade e liberdade. O Santuário de Fátima é um local onde as pessoas se sentem seguras, por ser espaço de oração e recolhimento, conhecido dentro e fora de fronteiras como “cidade da paz”, e que pretende continuar a zelar pelo bem-estar e segurança dos cerca de cinco milhões de peregrinos e turistas que anualmente o visitam. Felizmente, não tem havido notícia de ocorrências graves, mesmo nas grandes peregrinações que reúnem multidões vindas de vários lugares do mundo (Em 2007, o Serviço de Peregrinos registou grupos de 74 países). De acordo com os dados oficiais, mesmo os pequenos furtos vêm diminuindo. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 125 Vida Eclesial . Santuário de Fátima . . Santuário de Fátima . Reconhecendo e agradecendo o importante trabalho das forças policiais e de segurança nos espaços do Santuário, no tocante à segurança colectiva e ao respeito dos direitos individuais, a instituição acredita que a activação do sistema de videovigilância será uma mais valia para todos. Delegação do Iraque visita Fátima Liderada por Ammar Al-Hakim, vice-presidente do Conselho Superior Islâmico e líder político da actual coligação no governo do Iraque, uma delegação daquele país esteve no Santuário de Fátima em Outubro deste ano. Para além de outros membros do Governo iraquiano, a missão integrou Nazih Radwan, da Direcção do Fórum Luso Árabe, e o Embaixador do Iraque em Portugal, Mowafak Maroki. À chegada, o grupo foi recebido, no edifício da Reitoria, pelo Reitor do Santuário de Fátima, Padre Virgílio Antunes. Dirigindo-se ao grupo, o Reitor afirmou ser “para nós uma grande honra receber-vos aqui no Santuário de Fátima”. De seguida, resumiu a mensagem e a história do santuário. A paz foi o tema fundamental do breve discurso de Ammar Al-Hakim, que começou por agradecer ao Santuário de Fátima o acolhimento caloroso. Sobre a situação no Iraque disse que “milagres estão a acontecer nas mãos de boas pessoas” e acrescentou que também a religião e a cultura islâmica procuram caminhos de entendimento para a paz no mundo. Em visita oficial a Portugal, Ammar Al-Hakim fez questão de visitar Fátima, segundo as suas palavras, porque “no Iraque ouvimos muito falar sobre esta cidade”. O grupo visitou a Capelinha das Aparições, onde Ammar Al-Hakim esteve alguns minutos em silêncio a orar, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e as casas de Francisco e Jacinta, e de Lúcia, em Aljustrel. Ciclo de conferências sobre São Paulo O Santuário de Fátima leva a efeito, de Novembro de 2008 a Abril de 2009, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, um Ciclo de Conferências sobre S. Paulo, para o qual foram convidados vários especialistas. Cada sessão, sempre aos domingos e com carácter mensal, será enriquecida com um concerto de órgão. 126 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | As conferências dirigem-se a todos os que venham a interessar-se pela iniciativa e corresponde ao desejo da Conferência Episcopal Portuguesa na Nota Pastoral “Ano Paulino, uma proposta pastoral”. Programa do ciclo: • 9 de Novembro, 16h00 – “A mensagem da Irmã Lúcia (e dos Pastorinhos) à luz de São Paulo”, pelo Doutor José Carlos Carvalho. • 14 de Dezembro, 16h00 – “S. Paulo - Uma vida ao serviço do Evangelho”, pelo Padre Doutor Gonçalo Teixeira Diniz. • 11 de Janeiro, 16h00 – “A vida nova em Cristo”, pelo Padre Doutor Vítor Leitão Coutinho. • 8 de Fevereiro, 16h00 – “As comunidades cristãs de São Paulo”, por D. António Rocha Couto. • 8 de Março, 16h00 – “São Paulo e a Nova Evangelização”, por D. Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira. • 19 de Abril, 16h00 – “As grandes descobertas de S. Paulo: Cristo, a Igreja e a Graça”, pelo Padre Doutor Jacinto Farias. Site do Santuário de Fátima em polaco A página oficial do Santuário de Fátima na Internet – www.fatima.pt – está também disponível em polaco. Esta iniciativa pretende dar resposta às solicitações de peregrinos de outros idiomas, neste caso do Polaco, que desejam assim estar mais intimamente ligados ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal. Recorde-se que, em 13 de Maio de 2004, o Santuário remodelou a sua página oficial na Internet, na altura em dois idiomas – Português e Inglês. Em Abril de 2007 entrou on-line a edição em Italiano e, por ocasião da Peregrinação Aniversária de Outubro 2007, no encerramento dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora, a página disponibilizou também uma versão em Espanhol. Em resposta ao desenvolvimento que o site foi conhecendo, no Verão de 2008 procedeu-se a nova remodelação gráfica e, no que diz respeito ao Arquivo Multimédia, à inserção de novos meios ao serviço dos internautas, com a disponibilização de ficheiros áudio e vídeo, que permitem o acesso a homilias, entrevistas, pequenas reportagens e vídeos. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 127 Vida Eclesial . Santuário de Fátima . . serviços e movimentos . Seminário Diocesano de Leiria Começado a construir em 10 de Junho de 1962, nos terrenos da Quinta da Bela Vista, o actual edifício do Seminário Diocesano abriu as portas a 2 de Novembro de 1965 ainda com obras em curso. A inauguração oficial só aconteceria no dia 22 de Maio de 1968. Com características únicas, era um dos edifícios mais notáveis da cidade e do país. Numa área coberta de 19070 m2, tinha capacidade para 250 alunos em 3 sectores (secções) diferentes, Seminário Menor, Seminário Médio e Seminário Maior, cada um com capela, refeitório, salas de aulas, quartos e zonas de recreio próprios. Em comum, havia ainda outras salas, igreja, ginásio, aula magna, enfermaria, biblioteca, museu e outros espaços de serviço. Além disso, havia também uma zona de quartos e habitação para empregados e outra para lar de sacerdotes. Na sua abertura, frequentavam o Seminário 174 alunos. Na homilia proferida no dia da inauguração oficial, o senhor bispo D. João Pereira Venâncio dedicou a nova igreja e todo o edifício ao patrocínio de Nossa Senhora de Fátima. E D. Domingos de Pinho Brandão, bispo auxiliar da diocese, dizia em conferência proferida na mesma ocasião que “o Seminário-edifício é obra de muitos e muitas coisas, desde o arquitecto à empresa construtora, desde a oração à oferta material, da pregação do sacerdote ao entusiasmo dos fiéis, desde o pequeno subsídio à oferta avultada (…) Tantos nomes, tanta dedicação”. Com o passar dos anos, o edifício foi sendo usado cada vez mais para actividades diocesanos que não eram especificamente de formação e preparação sacerdotal, ao mesmo tempo que ia aumentando a área desabitada, por escassez de alunos. Foram assim surgindo adaptações e ajustes físicos, ao sabor das necessidades. Actualmente, o Seminário alberga uma escassa dezena de alunos provenientes de diferentes dioceses. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 129 Vida Eclesial As obras no edifício diocesano . serviços e movimentos . Estes e outros condicionalismos levaram a equacionar uma remodelação no edifício que, sem esquecer a sua especificidade como casa de formação e preparação de candidatos ao sacerdócio, permita acorrer também às necessidades da reorganização pastoral da diocese. Depois de propostas de diferentes equipas, longamente discutidas, chegou-se ao projecto que está em execução há cerca de um mês. Com esta remodelação, o Seminário que é o coração da Diocese por cuidar da formação dos candidatos ao sacerdócio, sê-lo-á por mais um motivo: sem deixar aquela sua função prioritária, será também espaço de formação laical (Casa de Retiros) e sede dos organismos diocesanos (Centro Pastoral). A 1ª fase das obras abrange a Comunidade do Seminário e a Casa de Retiros e Formação; a 2ª fase abrange o Centro Pastoral e os grandes espaços do edifício; a 3ª fase, a Residência Sacerdotal e as salas comuns a todas as valências. A primeira fase, já em execução, permitirá melhorar os espaços da Comunidade do Seminário, com 25 quartos que poderão triplicar, e criar uma Casa de Retiros/Formação com 43 quartos que podem duplicar. O esforço financeiro ultrapassa as possibilidades do Seminário e da Diocese! Precisamos da ajuda de todas as comunidades cristãs e de cada um dos seus membros. Para o efeito, sugerimos que, durante as obras, cada comunidade organize, anualmente, uma festa de angariação de fundos e propomos para esta festa dois momentos principais: um tempo de oração pelas vocações, em especial sacerdotais, e um convívio cuja receita reverta a favor das obras do nosso Seminário. Pe. Armindo Janeiro (reitor) Comissão de obras e acompanhamento: Padre Manuel Armindo Pereira Janeiro (Reitor do Seminário e Coordenador das obras); Padre Jorge Manuel Faria Guarda (Vigário Geral); Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva (Ecónomo Diocesano); Padre Pedro Miguel Ferreira Viva (Ecónomo do Seminário); Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca; Padre António Lopes de Sousa. Equipa Diocesana de angariação de fundos: P. Armindo Janeiro; P. Jorge Guarda; Jacinta Santos; Joaquim Mexia; Joaquim Silva; Júlio Martins; Manuel Valentim; Vítor Joaquim. 130 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . Serviço de Animação Vocacional O acompanhamento personalizado faz o jovem entender o seu caminho e encoraja-o a responder positivamente ao chamamento de Cristo para seguir uma vocação concreta. Este foi um dos ensinamentos dados no encontro de formação sobre esta relação de ajuda, que teve lugar no Seminário de Leiria, no dia 22 de Novembro. Quase duas dezenas de sacerdotes, religiosas e leigos, participaram nesta iniciativa do Serviço de Animação Vocacional cujo objectivo é sensibilizar para que cada vez mais pessoas se tornem disponíveis e capazes de ajudar outros na sua caminhada de fé e da vocação. Partindo da sua experiência de acompanhamento vocacional de jovens, a irmã Maria Amélia Costa, franciscana da Imaculada Conceição, observou que eles estão “numa procura impressionante de Deus” e é preciso ir ao seu encontro onde eles estão. Encontrar-se com eles é, em primeiro lugar, escutar cada um com o coração e procurar conhecê-lo com grande compreensão e paciência. Quem faz caminho com um jovem para o ajudar espiritualmente, também aprende e é enriquecido por ele. Em diálogo e partilha mencionaram-se oportunidades que a catequese dos adolescentes, os grupos de jovens e mesmo a vida das famílias podem constituir para levar os mais novos a conhecerem a ajuda a que podem recorrer. Por seu lado, a atenção e zelo dos educadores, animadores, sacerdotes e pais não deixarão perder as ocasiões para um diálogo oportuno e para proporem a solicitação de um acompanhamento espiritual de alguém de confiança. A formação, tal como a anterior realizada em Junho passado, concretiza as orientações pastorais do Bispo diocesano que tem sublinhado a “fundamental importância” da “chamada direcção ou orientação espiritual”, “forma privilegiada de acompanhamento personalizado e de discernimento vocacional”. Grupo Vocacional de Santo Agostinho O Bispo de Leiria-Fátima propõe, uma vez mais, aos jovens cristãos, rapazes e raparigas, dos 20 aos 30 anos, abertos ao chamamento de Deus, um itinerário formativo designado por Grupo Vocacional Santo Agostinho. “É uma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é ajudar a buscar a vontade | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 131 Vida Eclesial “Acompanhar é começar por escutar” . serviços e movimentos . de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um diz respeito”. O percurso consta de um encontro mensal, durante seis meses, de Fevereiro a Julho de 2009, em Fátima. Haverá também um retiro espiritual. A equipa de apoio é constituída por pessoas de diferentes vocações ligadas aos serviços diocesanos de pastoral juvenil e de animação vocacional. O desdobrável com a proposta de D. António Marto, as informações gerais e a ficha de inscrição encontram-se disponíveis no site da Diocese: www.leiriafatima.pt na secção “Notícias”, de onde pode ser descarregado. Quem desejar mais informações pode obtê-las junto de uma das seguintes pessoas: Irª Ângela Coelho (914 199 234), Padre Gonçalo Diniz (960 194 507), Padre Jorge Guarda (962 445 325) e Filomena Carvalho (962 550 764). Este grupo vocacional teve já dois percursos nos anos passados, com cerca de 30 jovens, alguns dos quais já clarificaram a sua vocação e tomaram decisões, enquanto outros continuam em busca a melhor maneira de se empenharem na Igreja e na sociedade. Encontro de Animadores Vocacionais Subindo a escadaria do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, sob o impulso dos textos de São Paulo, os animadores vocacionais paroquiais da vigararia de Leiria reuniram-se na noite de 10 de Dezembro para oração, formação e convívio. A organização foi da Equipa Vicarial de Animadores Vocacionais, com apoio respectivo do Serviço Diocesano. Estavam cinco das nove paróquias da Vigararia. No momento formativo, acolheram-se as orientações do bispo diocesano sobre a finalidade deste serviço: “preparar nas paróquias um terreno fértil para que a acção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ouvido e seguido”. Ouviram depois o relato de uma experiência de caminhada na constituição e definição de objectivos, e primeiras iniciativas de uma equipa paroquial das vocações. No diálogo, focaram-se algumas dificuldades e uma ou outra acção já desenvolvida. Os animadores viram reconhecida e fortalecida a sua missão. Este esforço de Leiria é sinal de que o novo “ministério da animação vocacional” se vai desenvolvendo nas comunidades cristãs. Já se avança, embora lentamente. A criação de um Grupo de Animadores Vocacionais em cada paróquia ou vigararia faz parte das linhas de acção apresentadas pelo nosso Bispo na sua carta pastoral de 2006 e reafirmadas na de 2007. 132 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . Pré-Seminário O Pré-Seminário é um serviço da Diocese de Leiria-Fátima que pretende proporcionar aos adolescentes e jovens da Diocese um espaço de discernimento e acompanhamento no seu crescimento vocacional e de fé. Procura ajudar a criar na Diocese uma cultura da vocação ao sacerdócio. Destina-se a todos os rapazes a partir dos 12 anos (até qualquer idade) que apresentem sinais de abertura ao dom da vocação sacerdotal e estejam disponíveis para descobrir e deixar entrar esse dom na sua vida. Actividades programadas para o ano lectivo 2008/09: 08.Novembro.08: Encontro de Convocação 22/23.Novembro.08: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos 06.Dezembro.08: Primeiro Sábado 20/21.Dezembro.08: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos 03.Janeiro.08: Primeiro Sábado 17/18.Janeiro.09: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos 07.Fevereiro.09: Primeiro Sábado 21.Fevereiro.09: Recolecção para o Grupo dos Mais Velhos 28/29.Março.09: Peregrinação Diocesana 09.Abril.09: Missa Crismal 02.Maio.09: Primeiro Sábado 16/17 Maio.09: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos 06 Junho.09; Primeiro Sábado 6/7/8 Julho.09: Actividade de Verão. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 133 Vida Eclesial Alguém continua a chamar-te . serviços e movimentos . Serviço Diocesano de Catequese “A Bíblia na catequese e na vida” Encontro Diocesano de Catequistas O ginásio do seminário ficou praticamente cheio com cerca de 400 catequistas que responderam ao convite. Muitos vieram de Bíblia na mão para se sintonizarem com o Sínodo dos Bispos, sobre a Palavra de Deus, que, nesse 5 de Outubro, se iniciava em Roma, e corresponderem à dinâmica do Ano Paulino e, nessa manhã do Dia da Igreja Diocesana, se unirem na perspectiva comum do ano pastoral: “Ir ao coração da Fé – Formar para uma Fé adulta”. O Pe. Paulo Malícia, director do Secretariado da Catequese de Lisboa, começou por aprofundar a importância da Palavra de Deus na catequese, referiu as várias formas de contacto com a Bíblia e ajudou a ler um texto bíblico, fornecendo um esquema de leitura desde a pré-compreensão, à exegese do texto e sua actualização existencial e ao compromisso para a vida. Salientou ainda a necessidade de compreender a mensagem como uma boa notícia, quer para o catequista quer para o catequizando. Alguns aspectos práticos foram também referidos: a necessidade de habilitar as crianças e adolescentes para o contacto com a Bíblia, a importância de um «cantinho da Bíblia», nas salas de catequese, para que os catequizandos compreendam desde cedo que é um livro diferente, a leitura directa da Bíblia nas catequeses e a necessidade de os catequistas trabalharem os textos bíblicos em casa. Seguiu-se uma parte prática de aplicação do que foi aprofundado. Num momento de partilha e oração, 30 grupos, espalhados pelo seminário, procuraram concretizar o esquema de leitura de um texto bíblico. Após o plenário dos grupos, o Encontro terminou com um apelo à paixão pela Palavra de Deus que fará de cada um seu portador. A tarde foi preenchida com a Assembleia Diocesana. 134 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . Em plena época de início das catequeses paroquiais, apresentamos um sítio, www.catequeseparoquial.net, para apoio aos catequistas durante todo o ano. É um espaço em que se disponibiliza uma grande quantidade de subsídios para a apresentação e desenvolvimento dos temas dos diferentes anos catequéticos, se incentiva a partilha entre catequistas, e se expõe um largo repositório de textos e apresentações multimédia. Na página inicial encontram-se alguns pequenos artigos em destaque. No item “catequese”, há documentos importantes sobre os 10 anos do itinerário, com temáticas adequadas. Se pretendemos numa reunião de pais, saber para que serve a catequese, há um esquema apropriado em “reuniões de pais”. Na opção “catequistas” apresentam-se temas de formação própria e de pedagogia. Também não foi esquecida a catequese de adultos (informações em “adultos”). Em “dinâmicas”, encontram-se várias formas de desenvolvimento e explanação dos temas. Por último, a ideia do blog, neste momento desactualizado, é permitir um contacto permanente, directo e regular entre os visitantes. Fica a sugestão. Quem organiza reuniões de pais, sessões de catequese, espaços de oração, dinâmicas e jogos de grupo… pode disponibilizá-los para todos colocando-os aqui. Campanha para o Advento 2008 “Postais de Natal” O Serviço Diocesano de Catequese apresentou uma proposta de caminhada desde o início do Advento até ao final do Natal. É uma campanha para as catequeses da infância e adolescência que, sob o imaginário «Postais de Natal», contribui para uma aproximação à Bíblia, na linha da formação proposta pelo nosso Bispo para este ano pastoral. Recebendo um postal de Natal por semana, cada criança e adolescente acolhe a Palavra de Deus sobre o mistério da Encarnação de Jesus Cristo, celebrado na liturgia, e será convidado a partilhar a sua fé com os outros para que a manifestação do Senhor (Epifania) chegue a toda a humanidade. A completar a vertente missionária, há um convite para uma recolha de fundos para a Infância Missionária e de catecismos para a missão da Diocese no Gungo (Angola). | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 135 Vida Eclesial Catequese com espaço na internet . serviços e movimentos . Programa de actividades de 2008-2009 No mês de Setembro: 9: Reunião da Equipa; 16: Exames da 2ª Época; 23: Reunião da Equipa; 30: Abertura da Escola Diocesana «Razões da Esperança». Outubro: 5: Encontro Diocesano de Catequistas; 7: 1ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 14: Reunião da Equipa; 21: 2ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 25: Encontro de Formação sobre os novos catecismos. Novembro: 4: 3ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 11: Reunião da Equipa; 18: 4ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 19: Reunião com os Padres Responsáveis Vicariais da Catequese. Dezembro: 2: 5ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 9: Reunião da Equipa; 16: 6ª Escola Diocesana «Razões da Esperança». Janeiro: 6: 7ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 13: Reunião da Equipa; 20: 8ª Escola Diocesana «Razões da Esperança». Fevereiro: 3: 9ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 10: Reunião da Equipa; 17: 10ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 21 – 22: Encontro Interdiocesano – Catequistas da Zona Centro. Março: 3: 11ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 10: Reunião de Equipa; 13-15: Retiro Diocesano de catequistas; 17: 12ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 31: 13ª Escola Diocesana «Razões da Esperança». Abril: 14-17. Encontro nacional dos Secretariados Diocesanos; 21: 14ª Escola Diocesana «Razões da Esperança». Maio: 5: 15ª Escola Diocesana «Razões da Esperança», 12: Reunião da Equipa, 19: 16º escola Diocesana «Razões da Esperança». Junho: 2: Encerramento da Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 9: Reunião da Equipa. 136 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . Serviço Diocesano da Juventude Numa leitura atenta da situação da Diocese no que diz respeito à pastoral juvenil, reconhece-se uma urgência no campo da formação de animadores de jovens. Para dar resposta a esta necessidade, e de acordo com as prioridades deste ano pastoral a nível diocesano, o Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ) decidiu fazer uma aposta séria na formação de animadores, aberta também aos catequistas dos últimos anos de catequese da adolescência (9º e 10º anos). Esta formação destina-se a todas as pessoas que já trabalham no âmbito da pastoral juvenil ou que possam vir a fazê-lo, sobretudo na animação de grupos de jovens, tanto no espaço paroquial como no seio de movimentos eclesiais e aos catequistas ou futuros catequistas dos 9º e 10º anos da catequese. Os participantes devem ter pelo menos 20 anos. Os objectivos desta equipa são capacitar os destinatários para o desempenho da missão de animador, ajudar a aproximar o projecto de Jesus Cristo da realidade actual da juventude, aprofundar a animação de jovens como educação na fé e para a fé, promover o gosto pelo trabalho de animação com os jovens, contribuir para a vivência da própria vocação como animador de jovens e apontar caminhos práticos no relacionamento com os jovens e no desenrolar da dinâmica de grupo. A formação decorrerá em duas modalidades alternativas: a) De Outubro a Maio, quinzenalmente, inserida na Escola Razões da Esperança (às terçasfeiras no Seminário de Leiria): na primeira hora (das 21h00 às 21h45), os participantes assistem à formação teológica geral proposta; na segunda hora (das 22h00 às 22h45), tem lugar a formação “4x4” propriamente dita; b) Durante quatro sábados, em sessões de quatro horas (das 09h00 às 13h00), numa frequência quinzenal. Esta modalidade realiza-se três vezes ao ano, em lugares distintos da Diocese, para facilitar o mais possível a participação de todos os interessados: Em Leiria (Salão da Quinta da Matinha): 18 de Outubro; 8 e 22 de Novembro; 13 de Dezembro. Na Bajouca: 17 e 31 de Janeiro; 14 e 28 de Fevereiro. Em Fátima (Salão da Igreja Paroquial): 18 de Abril; 9, 23 e 30 de Maio. Seguir-se-á como linha orientadora o “Curso de Iniciação para Animadores de Pastoral Juvenil”, completado e adaptado de acordo com os objectivos e destinatários. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 137 Vida Eclesial “4x4” – Formação de animadores juvenis . serviços e movimentos . O I Módulo – Pastoral juvenil e dinâmica de grupo – tem quatro temas: A Pastoral Juvenil, A animação, O Grupo na Pastoral Juvenil e Dinâmica de grupo. O II Módulo – O animador – tem como temas: A vocação, A espiritualidade do animador, A maturidade do animador e O animador – mestre e acompanhante. O III Módulo – A animação do jovem: processo educativo – apresenta os seguintes temas: A dimensão da identidade, A dimensão relacional, A dimensão social e A dimensão espiritual. O último e IV Módulo – Metodologias – visa os seguintes temas: Planificação e avaliação (ou: Avaliação e planificação), Dimensões da animação, Dinâmicas de grupo e Expressão e linguagem. As inscrições deverão ser enviadas para: [email protected]. Leiria-Fátima vence festival nacional “Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (Act 1, 8). Este foi o tema do VII Festival Nacional Jovem da Canção Mensagem que se realizou no dia 1 de Dezembro de 2008, pelas 15h00, no pavilhão multi-usos em Coimbra. Participaram 13 das 19 dioceses do país e o Secretariado Diocesano Pastoral Juvenil (SDPJ) de Coimbra, em consonância com todos os SDPJ, foi o responsável pela organização. A Diocese Leiria/Fátima esteve muito bem representada. O grupo de Leiria-Fátima, ANIMAchorus – Cortes Leiria, foi o grande vencedor. Além do primeiro prémio, ainda obtiveram o de melhor música e, o mais importante, segundo eles, o prémio Ser, atribuído pelos colegas concorrentes, o que demonstra grande carinho pelos nossos participantes. Isto guarda-se no coração! De facto, o nosso grupo teve uma presença muito forte ao longo destes dias. Predominou a boa disposição e, acima de tudo, o companheirismo. Sempre activos, na Eucaristia, nas orações, na catequese, no serão, por onde andaram cativaram sorrisos! Foram merecidos vencedores, pela qualidade da música e pelas pessoas que são, humildes, simpáticos, divertidos, trabalhadores e cheios de força (do Espírito Santo). ANIMAchorus, em Latim, Coro da Alma, em Português, ó o nome do grupo constituído por sete elementos que partilham um sentimento comum e a música! Sentem também o orgulho de poderem, através da música, “espalhar a palavra que cada uma traz (…) sobre Deus, e a união de todos num só.” (Fábio Ferreira – teclista, palhaço e muito amigo de todos). 138 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | O programa teve início no dia 30 de Novembro, com o acolhimento às 10h00, seguido da oração da manhã. Primeiro encontro de todos os concorrentes, primeiro e único, diria, tendo em conta que, a partir de então, os dois dias se viveram em plena comunhão, sem mais separação. “O festival foi uma experiência única! Já tinha começado a nível regional e a atitude foi sempre a mesma, com a diversão, o convívio e a mensagem a orientarem a nossa caminhada! Ainda agora terminou, e as saudades já se fazem sentir…” (Joana Bento – voz). Seguimos para o autocarro panorâmico, em passeio por Coimbra, ao sabor do vento, chuva e muito frio! Almoço e, durante a tarde, os testes de som quando cada grupo realizou alguns ensaios sob o olhar atento do júri composto por um elemento representante dos SDPJ. Às 19h00 fomos para a Igreja de São José onde participámos na Eucaristia presidida por D. Serafim, bispo emérito da nossa diocese, e animada pelos concorrentes do festival. Jantámos e seguimos logo para um serão muito alegre, entre danças, jogos e muita, muita união e companheirismo. “Foi simplesmente fantástico, cheio de alegria e diversão! Adorei estar lá, principalmente no que toca às amizades!” (Marcelo Andrade – percussão). No grande dia, iniciámos a manhã com uma catequese esclarecedora e dinâmica. Já se sentia a ânsia e o nervosismo mas predominou a união. De fora, ninguém percebia quem era de cada diocese, não havia grupos, antes um só, de amigos a partilharem uma única experiência de fé e cheios da força do Espírito Santo. “Senti uma imensa alegria, felicidade, companheirismo e paz interior, uma vontade de levar a música e a fé pela terra fora, de levar esta alegria a todos ”(Helder Brites – baixo) O grande momento chegou, mas nunca se sentiu espírito de competição, antes de união. Todos deram o seu melhor e todos se apoiaram mutuamente, numa vibração muito positiva e aconchegante. Afinal todos já eram vencedores. Melhor do que ninguém, só eles podem descrever o que se viveu. “Existem momentos que nos marcam e que nunca mais esqueceremos como os de convívio, alegria, paz, fé, partilha, loucura, conhecimento, amor e muita emoção, quando todos fomos um durante um festival onde acolhemos o Espírito Santo! (…). Obrigado pela oportunidade de levar a mensagem a todos como canção e a honra de sermos ainda mais felizes! Ao grupo de 7 elementos, mais um, a nossa júri, e às nossas famílias e amigos, que estiveram sempre a torcer por nós, muito obrigado!” (Marco Fernandes – voz). Catarina Bagagem | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 139 Vida Eclesial . serviços e movimentos . . serviços e movimentos . Comissão Diocesana Justiça e Paz Colóquio “Direitos Humanos: limites e potencialidades no contexto actual” Ocorreu em 10 de Dezembro de 2008 o sexagésimo aniversário da adopção e proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela Assembleia-geral da ONU. A declaração defende, logo no seu preâmbulo, a dignidade da pessoa humana e os seus direitos, iguais e inalienáveis, a justiça e a paz no mundo, a liberdade religiosa e a libertação de todos os homens do terror e da miséria, a protecção dos direitos humanos através do estado de direito, a igualdade de direitos de homens e mulheres, numa palavra, a instauração de melhores condições de vida, dentro de uma liberdade mais ampla. Sabendo o enorme contributo que esta carta ética universal tem prestado ao longo destes anos ao serviço do homem, sabendo também as enormes limitações a que ainda hoje está sujeita uma enorme multidão de pessoas no nosso país e no mundo, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, na linha da Doutrina Social da Igreja e tendo sempre presente a referida Declaração da ONU, tem vindo a promover uma série de colóquios sobre direitos humanos e realidades actuais. A mesma Comissão Diocesana quis assinalar o aniversário da Declaração Universal, com a realização, a 11 de Dezembro, data quase coincidente, de mais um colóquio no qual se fez o ponto da promoção dos direitos humanos, tendo em conta situações como a que se refere à realização do Estado de Direito e à matéria candente das relações entre a ética e a vida política. Para tanto convidou uma autoridade eminente da Igreja Católica neste domínio, o Sr. D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social, que versou o tema “Direitos Humanos: limites e potencialidades no contexto actual”. “Direitos humanos e Vida cristã” – Texto de D. Carlos Azevedo Acedendo ao pedido da Comissão Diocesana Justiça e Paz, que desejava anunciar o 4º colóquio sobre Direitos humanos e Realidades actuais, D. Carlos Azevedo disponibilizou o seguinte texto sobre “Direito humanos e Vida cristã”, que foi publicado alguns dias antes, na imprensa diocesana: 140 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Um grande avanço na civilização representa a sistematização e formulação jurídica desse critério maior, resultante da simples condição humana, da defesa da sua dignidade. Hoje parece-nos incrível como é que tão tardiamente (1948) se tenha chegado à proclamação da Declaração Universal dos Direitos humanos, que afirma no artigo primeiro: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns com os outros com espírito de fraternidade”. Continua contudo a ser urgente esclarecer o ensino da Igreja sobre a matéria. Faz parte da missão essencial da Igreja proclamar a dignidade do ser humano. As razões para esta identificação são profundas e próprias. Para os cristãos, cada ser humano é criado à imagem de Deus, amado por Deus e salvo por Cristo. É por isso imperativo para os cristãos trabalhar com todas as energias e sempre para valorizar tudo o que salvaguarde e promova a dignidade humana, recebida do Criador. Aqui os cristãos unem-se a muitos outros irmanados na construção da fraternidade humana. Muitos e significativos passos têm sido dados para garantir a aplicação desses direitos nas decisões dos governos e nas relações internacionais. Constituem talvez a página mais bela da humanidade no século XX que, em contraponto, tão dolorosamente sofreu atentados graves contra o espírito patente na Declaração. Existe ainda muito trabalho pedagógico para transmitir às novas gerações este património, de modo a ser preocupação comum de todos e não assunto de especialistas. Acontecem ainda limites postos a uma efectiva prática de todos os direitos: direito á vida, à liberdade e à segurança pessoal, à justiça, ao respeito pela vida privada e familiar, domicílio e correspondência; à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; à liberdade de opinião e de expressão, de reunião e associação; à educação e à participação na vida cultural, à escolha de residência, ao benefício de asilo, de casar e constituir família, à participação na vida pública, ao trabalho sem discriminação, ao repouso a ao tempo livre, direito a não ser pobre. Aprofundar as nossas motivações cristãs, perceber a fundamentação que inspira a nossa luta pelos direitos humanos é serviço essencial para os nossos dias. A base da nossa acção necessita de muita solidez perante o pluralismo tendencioso que desvaloriza os critérios universais de valores. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 141 Vida Eclesial . serviços e movimentos . . serviços e movimentos . Serviço de Animação Missionária Congresso Missionário 2008 Convocados pelo Espírito, por meio dos pastores da Igreja em Portugal, reuniram-se em Fátima, de 3 a 7 de Setembro, oito centenas de participantes portugueses e representantes de diversos países. O dia 6 foi enriquecido com a presença e a juventude do voluntariado missionário. Dez anos após o Ano Missionário de 1998, o Congresso celebrou, reflectiu e apontou caminhos de futuro a partir do tema: “No encontro com Cristo vivo, chamados e enviados para a Missão em Portugal e no mundo”, e sob o lema: “Portugal, rasga horizontes, vive a Missão”. Linhas de força Deus, Trindade de Amor, envia a humanidade toda a fazer do outro um irmão. A Missão é de Deus. Por isso, ao tomar parte na vida de Cristo, o baptizado, é impelido a ser contemplativo e servo da sua Palavra. A Missão de cada cristão é tarefa indelegável. Esta concretiza-se no espaço e no tempo, conhecendo e amando aqueles a quem se é enviado. A vivência comunitária da fé em família, na paróquia, na diocese ou comunidades de vida consagrada, é o testemunho mais credível do anúncio de Deus-Amor. A Santidade (sair de si por amor) e a Missão (ser enviado por Deus ao diferente) são o húmus vital de todo o cristão e de todas as actividades pastorais. Com o Concílio Vaticano II (1965), assistimos a uma nova compreensão da Missão. Cada um de nós é, simultaneamente, enviado e destinatário da evangelização. O Espírito é o protagonista da Missão e a Igreja Local o seu sujeito de encarnação e vivência. Nela e a partir dela, surgem e actuam todas as vocações missionárias laicais, consagradas e sacerdotais. O despertar do laicado para a Missão é hoje um dos sinais dos tempos. Em pleno Ano Paulino, o Apóstolo dos gentios, com o seu itinerário de conversão e missão, é para nós modelo a conhecer melhor e a seguir no zelo e na urgência de evangelizar. Para além de momento privilegiado de reflexão e partilha, o Congresso foi também uma experiência de comunhão na dor com os nossos irmãos perseguidos na Índia e em outras situações de falta de liberdade religiosa. 142 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Propostas Sentimos o coração a arder e desejamos que toda esta riqueza possa contribuir para a Igreja em Portugal viver mais em Missão. Por isso, como Congressistas, propomos que: A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promova uma melhor coordenação e integração das diversas áreas pastorais para todas serem fecundadas pelo dinamismo missionário e anseio de santidade. A CEP, partindo do Congresso Missionário e do Ano Paulino, avive a vocação missionária de todos os cristãos e prepare um documento-base para a Missão em Portugal. Cada Igreja Local incentive a criação de estruturas e dinâmicas que demonstrem a consciência e urgência do anúncio do Evangelho: Secretariado diocesano missionário, grupos missionários paroquiais, semanas de animação missionária, geminações, voluntariado, sacerdotes “fidei Donum”, institutos de vida consagrada... Cada diocese promova, oportunamente, um Congresso Missionário Diocesano. Promova-se formação missionária às crianças, jovens, adultos, seminaristas, consagrados e sacerdotes, de acordo com o novo paradigma de Missão. Fomente-se, com espírito de solidariedade e subsidiariedade, a comunhão e a partilha de fé, de pessoas - numa dinâmica de partir e receber - e de bens entre as diversas Igrejas. Ajude-se cada cristão a crescer até à estatura de Cristo, Sacerdote que celebra a liturgia e oferece a sua vida pela salvação de todos, Profeta que proclama a Palavra de Deus e denuncia as injustiças e contravalores da sua sociedade e cultura, e Rei que serve com caridade os mais desprotegidos e excluídos. Num mundo global e em mudança, à procura de sucesso mas infeliz, queremos viver em Missão e anunciar Cristo Vivo ao mundo, sendo profetas da esperança e rasgando novos horizontes. Fátima, 7 de Setembro de 2008 Os participantes no congresso missionário nacional | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 143 Vida Eclesial . serviços e movimentos . . serviços e movimentos . Cáritas Diocesana Por Ambrósio Santos, Presidente da Cáritas Diocesana Apontamentos de Verão Não tem férias, a solidariedade genuína e verdadeira. No frenesim dos dias de verão, como nos dias sombrios do Inverno mais agreste. O tempo de precisar não conhece hora marcada, e o de estar disponível não escolhe estações nem dias, porque é sempre tempo de edificar, de ajudar e de construir. E é mesmo nos aprazíveis meses do verão que ganham visibilidade maior as acções mais estruturadas da Cáritas de Leiria no seu equipamento na praia da Pedrógão. Uma casa que nesta época regurgita de actividade e azáfama laboriosa, com as actividades ali desenvolvidas em prol das gerações mais novas e das pessoas mais velhas. São perto de oito centenas as pessoas que, de Maio a Setembro, encontram naquele espaço, por entre o marulhar das ondas e o verde ondulante da mata, o ambiente propiciador do desenvolvimento das suas capacidades, uns, e o convívio saudável que ajuda a retemperar energias e refazer equilíbrios, outros. Para as crianças: crescer em tempo de férias Desde o dia 22 de Julho que a Casa ficou cheia da vozearia alegre das crianças. Um frenesim de actividades e emoções que se vão prolongar até já perto do recomeço das aulas. As colónias da Cáritas são, como não podia deixar de ser, um tempo de lazer e de brincadeiras. Mas visam também a descoberta e desenvolvimento de capacidades, a aprendizagem da vida em grupo, escola de socialização e de integração social onde se aprende também a respeitar e a conviver com as legítimas diferenças. Na Cáritas, entende-se que não é legítimo falar de colónias de férias sem dar lugar às dezenas de jovens monitores e monitoras. Rapazes e raparigas, mais novos ou já em vida profissional, tirando dias de férias para não faltar, ano após ano. São eles e elas os pais, as mães, os psicólogos, enfermeiras, animadoras e quanto mais. São tudo, na colónia, dando-se todos os dias, até à exaustão. 144 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . A recompensa? Fazer uma experiência de voluntariado em gratuidade total, ficar de bem consigo e com os outros, e experimentar a satisfação ímpar de ter conseguido, de vencer os próprios limites e pôr as capacidades pessoais ao serviço do projecto comum de ajudar 300 crianças a crescer e ser felizes. Uma pedrada no charco da mediocridade, e a esperançosa certeza de muitas mãos que não cessam de abrir-se em promissores gestos de humanidade. Começaram a chegar na segunda quinzena de Maio, os primeiros grupos. Vindas de S. Catarina da Serra, Ourém, Tomar, Junceira, Ferreira do Zêzere, Cruz da Légua, Leiria, Porto de Mós, Torres Novas, Fátima, e também os Centros de Recuperação Infantil de Ourém e de Fátima, foram até agora 304 as pessoas que, por iniciativa das suas instituições, encontraram na Casa um ambiente acolhedor e tranquilo, para alguns dias de repouso e de animado convívio. Após as crianças, outros grupos se seguirão, até meados de Outubro. Por breves que sejam, em cada ano, os dias ali passados, eles são intensamente vividos e saboreados, ajudando a contrariar a rotina dos dias invariavelmente iguais, a vencer desalentos e a retemperar energias físicas e espirituais, num ambiente de rara beleza. Uma saudação, por isso, e aplauso, bem merecidos, para as instituições que cultivam esta preocupação de proporcionar aos seus idosos oportunidades como esta. Vida Ascendente – a coragem de acreditar Mas nem só das instituições partem as belas iniciativas. Foi o caso da “Vida Ascendente – movimento cristão de reformados”. Atentas aos apelos que emanam da matriz que lhe dá o nome, as suas responsáveis puseram mãos ao trabalho. Dinamizaram-se vontades, motivaram-se voluntárias, por todas as formas trataram de reunir os meios. Diversas entidades deram a sua colaboração, para que nada faltasse, e até equipamentos especializados foram trazidos, para que algumas pessoas em situação “especialíssima” pudessem, uma vez na vida, saborear o prazer do contacto com a água do mar. Coisas banais, dirão alguns; mas acontecimento único para o Luís, que há seis anos não saía de casa, ou para o Tiago, ambos em cadeira de rodas | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 145 Vida Eclesial Um lugar ao sol, também para os mais velhos . serviços e movimentos . e também para a Isabel a quem, por não ver, nunca fora dado experimentar essa sensação. Um aplauso agradecido para Governo Civil de Leiria, Juntas de Freguesia do Coimbrão e Chainça, Bombeiros Voluntários de Leiria, nadador salvador do Clube de Pesca do Pedrógão, Santuário de Fátima, Paróquia do Arrabal, Grupo de Jovens Missionários da Consolata, e outras pessoas que levaram amizade e animação ao grupo reunido no Casa da Cáritas. Mais de cinquenta pessoas, em situações e de proveniências diferentes, mas todas amarradas a um quotidiano invariavelmente estreito e muitas vezes sofrido, puderam, assim, saborear dias felizes de saudável convívio, num espaço diferente a agradável, quebrando a monotonia dos dias penosamente iguais. Na hora de regressar, tão intensa era a satisfação comum, que não era possível distinguir para que lado pendia a felicidade maior: se a das que se deram e organizaram, se a de quem recebeu com simplicidade e alegria. Em circunstâncias como esta, como não recordar Bento XVI na mensagem para a Quaresma deste ano?: “Quando partilhamos com amor, tudo nos retorna sob a forma de bênção, de satisfação interior, de alegria e de paz”. Pastoral Social em Congresso De 9 a 11 de Setembro, decorreu em Fátima, no Centro Social Paulo VI, o I Congresso da Pastoral Social. Subordinado ao tema “Intervir na sociedade, hoje! memória e projecto”, contou com a participação de reputados conferencistas que reflectiram sobre as linhas que distinguem a identidade cristã da acção social da Igreja, discutindo o presente, com os olhos postos no futuro. Destinou-se a quantos intervêm, de alguma forma, nas nossas instituições de acção social e espera-se que venha a repercutir-se nas comunidades, como verdadeira força mobilizadora. 21 de Setembro: Cáritas de Portugal, rumo a Fátima Foi o III Encontro Nacional de todas as Cáritas Diocesanas, que assume como tema central “Na diversidade, peregrinos da verdade”. O encontro destinou-se a todos os colaboradores, voluntários e utentes das Cáritas Diocesanas e aos grupos paroquiais sócio-caritativos que se relacionam com elas. 146 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . Pretendeu-se reforçar os laços por que se exprime a identidade comum, aprofundar motivações e estimular para uma acção generosa e esclarecida que constitua compromisso efectivo pela promoção e ajuda aos mais pobres. Uma causa social, mobilizadora e concreta, foi também proposta aos participantes e outras entidades: a reunião de meios para atribuição de dez bolsas de estudo para estudantes em formação superior, atendendo às imensas dificuldades que têm sido presentes à Cáritas Portuguesa. O III Encontro Nacional da Cáritas teve lugar no dia 21 de Setembro, em Fátima, como os anteriores, para onde peregrinaram, mais uma vez, as Cáritas Diocesanas e Paroquiais, grupos de acção social identificados com a missão e acção da Cáritas, colaboradores, voluntários e utentes dos seus serviços. Para orar aos pés de Maria, para lhe consagrar o trabalho generoso e dedicado, feito de Norte a Sul de Portugal, na ajuda e promoção daqueles que são também os seus filhos mais dilectos. Foi também ocasião para reforçar os laços por que se exprime identidade comum, e para aprofundar o sentido evangélico e evangelizador do serviço aos outros, sobretudo os mais empobrecidos e marginalizados. A reunião de meios, através da venda de um boné identificativo, para 10 bolsas de estudo para estudantes pobres, foi a causa social que deu sentido concreto ao espírito que a todos reuniu. Campanha Anual: “Acender estrelas pela paz” Num mundo tão atravessado de contradições e conflitos e graves ameaças à segurança humana e ambiental, não são demais os esforços e iniciativas de exposição pública da causa da paz. Compreender-se-á, por isso, que a Cáritas, a todos os níveis da sua organização, abrace também com entusiasmo a causa da paz, tão indissoluvelmente ligada à dignidade, ao bem-estar e ao desenvolvimento dos povos. Foi a constatação da precariedade da paz e da necessidade de continuadamente desenvolver esforços no sentido da sua construção ou consolidação, que fez a Cáritas em França desencadear a operação “Dez Milhões de Estrelas, um Gesto pela Paz”, há mais de 30 anos. A iniciativa está hoje difundida um pouco por todo o mundo e conta também com a participação das Cáritas | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 147 Vida Eclesial Peregrinação a Fátima . serviços e movimentos . de Portugal que, vai para seis anos, a realizam anualmente, na quadra do Natal. Sensibilizar e educar para uma cultura de paz, alicerçada nos valores universais da solidariedade e da justiça, é o objectivo da operação “10 milhões de estrelas” que, nos dois momentos mais marcantes, recorre à linguagem simbólica para se exprimir e comunicar. Assim, na noite de Natal, as famílias foram convidadas a fazer brilhar nas janelas ou varandas de suas casas, a chama de uma vela, dando visibilidade à esperança universal, evocada nessa noite, de um mundo mais justo e solidário. Além de símbolo, a vela é também um instrumento ao serviço da partilha de bens com os mais pobres. Adquiri-la constitui um gesto de descentramento individual, mas também uma forma de ajudar numa causa social de âmbito internacional, (neste ano, projectos de apoio à comunidade minoritária dos Pigmeus, na República do Congo, nas áreas da saúde e educação), e de colaborar na ajuda aos mais desamparados e desprotegidos, através da Cáritas de cada diocese. Com a colaboração da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Leiria, “10 Milhões de Estrelas - um gesto pela Paz” desenvolveu-se também no espaço público, com a Festa pela Paz. Aberta à participação de todos, foi em Leiria, na tarde de 13 de Dezembro, no palco da Aldeia de Natal, junto ao jardim da cidade. Indiferentes ao frio e à chuva copiosa no último sábado à tarde, centenas de pessoas acorreram a esta Festa pela Paz. E não foram iludidas as expectativas dos participantes. Cerca de duzentas crianças e jovens de escolas e colectividades do concelho encherem de cor e de ritmo uma tarde que se prefigurava cinzenta, mas que acabou por constituir um tempo bem agradável, marcado pela alternância das danças ao som de ritmos trepidantes, das canções de mensagem, de interpretações de música instrumental e tradicional portuguesa, do coro das crianças e das coreografias de belo efeito cénico. Diferentes, mas igualmente belas, foram as formas por que se exprimiram o talento, a criatividade, o bom gosto e a alegria das gerações mais novas. A uni-las, o propósito comum de sensibilizar, formar e fortalecer as consciências para uma cultura de solidariedade e de paz; não uma paz qualquer, mas a paz autêntica assente em fundamentos sólidos como o são a justiça, a prevalência do bem comum, e os direitos humanos; não uma paz anónima e distante, mas aquela que está ao alcance da cada um, no dia a dia, que se realiza em gestos de perdão e de generosidade e na vontade de melhorar o quotidiano de cada existência concreta. 148 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . serviços e movimentos . Escola Razões da Esperança A Escola Diocesana Razões da Esperança (EDRE) reabriu no dia 30 de Setembro, com a Missa presidida pelo Bispo D. António Marto. Trata-se de um espaço de formação especialmente dedicado às pessoas envolvidas nas várias actividades pastorais das paróquias e serviços, a funcionar no Seminário Diocesano, às terças-feiras, a um ritmo quinzenal, com as aulas a começarem no dia 7 de Outubro. Como usual, na primeira hora (21h00 às 21h50), os participantes frequentam em conjunto uma das cadeiras teóricas propostas em cada semestre; na segunda hora (22h00 às 23h00), dividem-se conforme desejarem pelas várias ofertas formativas que cada serviço ou movimento organizam (catequese, animação vocacional, grupos de jovens, canto litúrgico, leitores, cursos de cristandade, etc.). “Animação Vocacional” A animação e o acompanhamento vocacional foi uma das ofertas escolhidas para este ano, para o período da segunda hora. Orientada pelo Serviço Diocesano de Animação Vocacional, pretende dar apoio concreto a quem se ocupa da animação vocacional ou está interessado em fazer algo neste sentido, na catequese, na liturgia ou em qualquer outro serviço apostólico que realiza. Podem inscrever-se qualquer animador vocacional, integrado ou não num grupo organizado, os catequistas, os animadores da liturgia e outras pessoas que queiram escolher esta oferta formativa. O programa do primeiro semestre centra-se em vários aspectos práticos da ajuda ao despertar das vocações nos grupos e comunidades. No segundo semestre, o assunto central será o acompanhamento pessoal e em grupo, como ajuda para a descoberta e amadurecimento da própria vocação. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 149 Vida Eclesial Formação de agentes pastorais . entrevistas . Centro de Acolhimento de Leiria “Sem-abrigo” não são apenas os que não têm casa! Cruzamo-nos com eles numa rua, num jardim, numa passadeira, na fachada de um prédio. O conceito de dificuldade é sempre relativo, assim como o de estado económico e psíquico. Quando menos se espera, podemos encontrar-nos na encruzilhada da vida, sem soluções à vista. Aberto em 15 de Setembro de 1998, na sequência de uma proposta da Assembleia Sinodal da Diocese, que reconhecia a urgência na criação de “um espaço de apoio aos excluídos onde, gratuitamente, se possa oferecer o mínimo que a dignidade humana exige”, o Centro de Acolhimento da Paróquia de Leiria é um espaço aberto aos que um dia viram o chão fugir-lhes, uma instituição que há dez anos ajuda pessoas com dificuldades de toda ordem: económicas, familiares, sociais, de saúde... Antecedendo a época natalícia que se aproxima, fomos tentar perceber melhor os problemas dos sem-abrigo, visitando uma das instituições da Igreja que lhes abre as portas. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 151 Vida Eclesial Entrevista de Ana Vala e Joaquim Santos . entrevistas . Entrámos pela Rua Conde Ferreira e deparámo-nos com um quadro pendurado numa pequena sala de espera onde se lêem versos adaptados de Manuel Alegre: “É possível andar sem olhar para o chão; É possível viver sem que seja de rastos; Os teus olhos nasceram para os astros…; É possível viver de outro modo… É possível o amor; É possível viver de pé”. Edite Tojeira, coordenadora do Centro, mostrou-nos a casa onde se proporcionam alimentação, cuidados de higiene pessoal e espaços de lazer, numa tarefa diária de organização por vezes bem complexa. Pedimos-lhe que respondesse às nossas perguntas. Sabemos que o seu trabalho social já vem de longe, em grande parte exercido neste Centro de Acolhimento de Leiria. Que nos diz dessa experiência e dos objectivos do Centro desde a sua abertura? Há vinte anos que faço serviço social. Embora pertença ao Centro Pastoral Paulo VI, uma valência paroquial, há 10 anos que exerço a função de coordenadora deste Centro de Acolhimento que tem como presidente o Pároco de Leiria. Desde a sua fundação, em 15 de Setembro de 1998, o objectivo é o acolhimento de todos os que manifestem carências primárias, de forma a satisfazer as principais necessidades, com todo o respeito pela dignidade das suas pessoas. Como consegue manter-se um serviço que, além da sua complexidade, tem custos tão avultados? Não se trata de um trabalho isolado, que não iria longe, mas de uma cooperação, sob forma de parceria, que inclui a Santa Casa da Misericórdia, a Conferência de São Vicente de Paulo, a Cáritas Diocesana e a Ordem Terceira de São Francisco. Estas são cooperações permanentes que permitem a subsistência da instituição. Mas a prossecução dos seus objectivos é ainda possível graças à ajuda imprescindível do Banco Alimentar e de pessoas privadas e colectivas, materializada em donativos monetários e em géneros. Quais são as principais actividades e serviços prestados pelo Centro? São acolhidas todas as pessoas atingidas de exclusão, de qualquer forma que seja: alcoolismo, toxicodependência, doenças do foro psiquiátrico e outras, pobreza, violência, ex-reclusos, sem-abrigo, desempregados, isolados… Na sua maioria, os casos agravam-se pela acumulação de múltiplas destas si152 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Como tem evoluído o número de procuras? Com alguma variabilidade, ao longo de 10 anos atendemos 980 pessoas, mais homens que mulheres, de 25 nacionalidades diferentes, incluindo países que vão da Finlândia aos países do Leste, ao Brasil e países dos PALOP’S. Ultimamente a procura tem vindo a acentuar-se, no sentido inverso da diminuição da distribuição de géneros alimentares, assim como a reincidência dos utentes, que voltam duas e três vezes. Existem espaços de lazer, no Centro? O acolhimento deve ser, por natureza, temporário, na premissa de que o importante é integrar. Mesmo assim, e não obstante a exiguidades dos locais, os utentes podem passar aqui parte do seu tempo, o que dependerá sempre dos casos. Além dos famintos, que é preciso alimentar, algumas pessoas demoram mais algum tempo a serem devolvidas a uma vida própria e condigna. Explicam-se perfeitamente uma sala de televisão e de leitura, com funcionamento diurno, das 10h00 às 19h00. Haverá muita gente a viver nas ruas de Leiria? Claro que sim, apesar de nada constar nos resultados do recenseamento nacional, dado que há diferença relativamente a Lisboa e Porto onde se vêem pessoas a dormirem diariamente nas ruas, sobre cartão ou algum cobertor. Em Leiria, vivem na rua os dependente do álcool e de outras drogas mas os demais abrigam-se em casas abandonadas onde são procurados pela intervenção dos serviços sociais. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 153 Vida Eclesial tuações e com a falta tão comum de apoio familiar de retaguarda. Procuramos atender a todos, que se apresentem por iniciativa própria ou recomendados por outras instituições, de modo a minimizar os resultados negativos dos seus problemas, mesmo que sem solução definitiva. O próprio processo individual, ainda que sucinto, com alguns dados de identificação e o elenco dos principais problemas, já se orienta para a busca das melhores soluções possíveis. Há, normalmente, necessidades básicas a satisfazer: duas refeições diárias, possibilidade de banho e higiene pessoal, roupas e pequenos curativos. Mas é importante pensar num encaminhamento, rumo a um projecto de vida, à reconstrução de uma autonomia pessoal e, sempre que viável, a uma integração familiar. A linha condutora é a promoção da pessoa, com as suas etapas, o que pressupõe um verdadeiro trabalho conjunto. . entrevistas . Pode dizer-se que a exclusão é um problema leiriense? É difícil responder. Já aconteceu arranjarmos pensão para quem vivia na rua e, passado um mês, essa pessoa veio dizer que desistia porque “queria ver as estrelas no céu”. Uma coisa é a exclusão social e outra a auto-exclusão. Nem todos sentem a vida como nós seguindo os mesmos padrões, o que nos obriga a um permanente ajustamento. A exclusão, sendo sempre a de cada um, não é tipicamente leiriense. A crise económica deve afectar o CAL… Há alguma ajuda do Estado? Não há qualquer comparticipação do Estado. A Paróquia de Leiria assume os encargos do Centro, contando com os apoios e contributos dos parceiros estratégicos já referidos e com donativos mais ou menos eventuais. Entre estes contributos avulta especialmente o da Caritas diocesana que tem doado metade do seu peditório anual ao Centro de Acolhimento. A crise económica sente-se bastante. há uns anos nunca comprávamos batatas, mas nestes últimos tempos temos de o fazer porque as ofertas não nos chegam como antes e gastamos seis sacos por mês. O mesmo está a acontecer com outros géneros. Leiria é uma cidade com proximidade a meios rurais. Antigamente, as pessoas traziam algumas das suas produções, ajudando o Centro no seu aprovisionamento com a oferta de leguminosas secas, batatas e outros alimentos. Para continuarmos a servir refeições gratuitas, e desde 1998 já foram servidas 85.904, contamos com toda a espécie de ajuda. E na quadra natalícia que se avizinha, haverá programa especial? Sim, faremos uma festa de Natal que juntará os utentes e os ex-utentes que residam perto, os trabalhadores e os nossos parceiros. Os que refizeram a sua vida são sempre convidados a envolverem-se nessa festa, numa partilha entre os que já saíram e os que estão a chegar. É o testemunho vivo de que será possível mudar. Ao mesmo tempo é mais um momento de afirmação de que ninguém é apenas um número mas todos têm nome e são pessoas. 154 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Cónego José de Oliveira Rosa Uma vida ao serviço da Fé Figura singular e por todos sobejamente conhecido, o senhor Cónego Rosa celebrou 92 anos de vida no passado dia 31 de Julho, 69 deles dedicados à Diocese como sacerdote. Nasceu na pequena aldeia (a que ele chama de capital) do Padrão, freguesia dos Pousos, no seio de uma família humilde, trabalhadora e muito religiosa. Seu pai faleceu quando ele ainda era criança e por isso provavelmente a figura que mais marcou os seus momentos de criança foi a avó “uma grande mulher, sempre muito activa”. Nessa data, o jornal O Mensageiro publicou uma entrevista, que aqui reproduzimos. Apesar de curvado, de bengala na mão e cabelos brancos, continua o homem conversador, sábio, perspicaz e bem-humorado. Nascido em 1916 é praticamente contemporâneo das aparições de Fátima. Recorda-se de alguma coisa sobre o assunto e que pertença às suas recordações de criança? Não muito. Os meus conhecimentos e o meu interesse por Fátima pertencem já ao tempo em que era estudante no Seminário. A primeira vez que ouvi falar de Fátima, no entanto, terá sido pelos 7 ou 8 anos, e foi pela boca da minha avó que era uma entusiasta das aparições. Só depois de entrar no Seminário é que Fátima começou a interessar-me e comecei eu próprio a procurar conhecer melhor o que ali aconteceu.” | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 155 Vida Eclesial Entrevista de Rui Ribeiro e Ana Vala . entrevistas . Outra grande transformação que marcou a Igreja foi o Concílio Vaticano II. Seria uns anos mais tarde, quando já era sacerdote. Foi difícil para si apanhar o comboio do Concílio? No próprio momento da sua realização e mesmo nos anos imediatamente a seguir, o Concilio Vaticano II não teve o impacto que depois se haveria de descobrir. Por isso, assisti à sua realização, acompanhando de longe, mas devo confessar que sem grande motivação ou transformação da minha forma de ser padre. Eu e os meus colegas de ministério só queríamos ser padres para servir a Igreja, Povo de Deus. As especulações não nos interessavam muito. Houve aspectos que de imediato se fizeram sentir, sobretudo na celebração da fé, mas as mudanças rituais que foram realizadas não são o mais importante das inovações do Vaticano II. Quem só dá importância a isso mostra que não sabe apreciar o que realmente tem importância.” O facto de não parecer muito motivado pelas especulações, significa que o espírito académico não fervilhava nos seminaristas do seu tempo? Eu frequentei o Seminário no edifício junto ao Castelo. Fui um bom aluno, sem ser intelectualmente avançado ou inovador. Não era o melhor, mas também não era o pior; fui um aluno mediano. De qualquer modo, terminei o curso bastante cedo (teria uns 22 anos de idade) e requeri a dispensa para poder ser ordenado. Logo depois do final do curso, fiquei no Seminário como professor de música, mesmo ainda antes da ordenação, que só aconteceu a 6 de Julho de 1939. O facto de ficar no Seminário como professor deveu-se ao meu gosto pessoal, e alguma capacidade, para a música. Devo confessar que a música era o de que gostava realmente. E foi ela que me manteve “preso” ao Seminário por muitos anos, praticamente tantos quantos os do ministério activo. Recorda-se da sua ordenação. O acontecimento marcou a diocese? Fui ordenado na Sé de Leiria pelo Bispo D. José. Não havia naquela época um sentido ou uma valorização social tão grande como há hoje sobre este assunto. Por isso o dia da minha ordenação foi um dia de festa para mim e para a minha família, não um dia de farra, mas celebrado com muita alegria junto dos que mais estavam presentes na minha formação sacerdotal. Nesse dia foram ordenados mais dois padres, o padre António Cunha e o padre Simão. 156 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Continuou então no Seminário. E a partir de então, como foi o seu percurso ministerial? Nos primeiros anos fui professor no Seminário e em Fátima, depois fui pároco dos Parceiros durante um ou dois anos e, ao mesmo tempo, era chanceler da Câmara Eclesiástica. Esta foi uma missão que assumi desde logo. Ainda fui Capelão no Santuário de Nossa Senhora da Encarnação onde celebrava a eucaristia aos domingos e era o coordenador do pessoal que cuidava do santuário. Creio que é daí que as pessoas mais me conhecem. Foi também nesse âmbito que esteve na origem e organização da Cáritas? Não me considero como fundador da Cáritas, mas de facto há uma explicação a dar sobre esse assunto. O nome “Caritas” está ligado à caridade para com as crianças vítimas da Segunda Grande Guerra. França, Áustria e Alemanha organizaram uma complexa rede de ajuda às crianças, muitas delas órfãs, outras a viverem em condições menos favoráveis. A caridade passava então pelo acolhimento dessas crianças de diferentes países em famílias acolhedoras. O convite foi feito também à diocese de Leiria-Fátima, via Câmara Eclesiástica, onde eu trabalhava. Fui assim envolvido neste trabalho, que me deu enorme satisfação. Eram crianças que precisavam de apoio psicológico, moral e económico. Fazíamos o possível para as ajudar. Foi um movimento esporádico ou teve alguma continuidade? Eu era uma espécie de intermediário entre os padres, as famílias acolhedoras e os responsáveis dos países de onde elas vinham. Passaram por cá cerca de 30 crianças que foram bem recebidas sem problemas de maior a registar. Isto só foi possível com muito trabalho. As famílias apareciam e nós tínhamos que conhecê-las, saber em que condições ficavam as crianças, tudo | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 157 Vida Eclesial Todos recordamos o seu trabalho na Câmara Eclesiástica. Foi para si um gosto ou um trabalho “sofrido”, por obediência? Foi um gosto pessoal. Gostei muito deste trabalho na Câmara Eclesiástica. Permitia-me uma visão abrangente da diocese e um contacto com os padres, que provavelmente não é possível noutros ambientes. Nisso até me sinto um privilegiado. O trabalho era bastante burocrático mas havia um grande contacto com os padres e outras pessoas que se dedicavam à Igreja. . entrevistas . com critério muito apertado, pois não se podiam mandar crianças frágeis, algumas sem família, para casa de desconhecidos. Quase tudo me passava pelas mãos, mas nunca me senti o responsável pela criação da Caritas. Éramos muitos os que fazíamos o que se podia. Nos últimos tempos veio residir para Fátima e deixou o Seminário que o acolheu durante tantos anos. O edifício prepara-se agora para entrar em obras, sinal dos tempos, da falta de vocações e talvez até dos rumos diferentes dos trabalhos pastorais. Tudo isto o inquieta? Como vive estas mudanças? O facto do edifício do Seminário ser usado para outras coisas não é um impedimento para que continue a ser um lugar onde se cultivam as sementes de vocação. Penso até que o melhor caminho para enfrentar a apregoada crise de vocações sacerdotais e laicais, é a oração, e por isso é bom que se pense num espaço que ajude a orar, a fazer retiro, a pensar. Para além da oração parece-me que o exemplo da parte do clero é fundamental para este dinamismo vocacional que a diocese quer viver. Foi o Senhor que escolheu os apóstolos, é Ele também que nos escolhe a nós. Não se pode só olhar para a própria vocação é preciso também preocupar-se com os outros. Antigamente havia pessoas que encaminhavam outras para o seminário, umas ficavam, outras não. É preciso continuar a desafiar. Augurámos ao Senhor Cónego Rosa todo o bem-estar que a sua avançada idade permita, guardámos a excelente impressão das suas recordações e confirmámos a gratíssima certeza da sua amizade. 158 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Figura ilustre da nossa Igreja Foi uma lembrança feliz e plena de actualidade, a da evocação, pelo Mensageiro, da figura ilustre da nossa Igreja de Leiria-Fátima, que é o Sr. Cónego Rosa. São quase sessenta e nove anos de sacerdócio generoso e esclarecido, e a Cáritas Diocesana associa-se às legítimas manifestações de júbilo e de acção de graças pela fecundidade do seu longo e profícuo ministério. Para além de repetidas expressões de estímulo e de apoio que lhe tem prodigalizado, há ainda um laço especial que associa o Sr. Cónego Rosa à Cáritas em Leiria. Muitos leitores saberão já que foi durante a II guerra mundial que a instituição Cáritas se expandiu por toda a Europa e chegou a Portugal. E que as várias delegações nacionais da Cáritas nasceram todas para participar no projecto comum de responder às imensas carências de uma Europa em ruínas. Acolher em famílias portuguesas centenas de crianças órfãs, vindas da Áustria depois de terminada a guerra, foi a primeira e principal actividade a que, na ocasião, se lançou a Cáritas de Portugal. Poucos saberão, porém, que foi ao padre José Rosa que D. José Alves Correia da Silva encarregou de identificar famílias da diocese em condições de poder receber essas crianças. “ Deviam ter algumas posses”, disse-me há tempos, “porque vêm de países mais avançados”. Eram também com ele a organização dos transportes, na vinda e no regresso, bem como o acompanhamento das crianças e das famílias em Portugal. Por entre as muitas dificuldades que não é difícil imaginar - valia-lhe a motorizada para vencer distâncias e dificuldades de comunicação e levar longe algum recado urgente -, o Padre Rosa conseguiu encontrar, assim, por toda a diocese, numerosas famílias que souberam receber carinhosamente como filhos, muitas dessas crianças, estabelecendo com elas laços indestrutíveis de afecto, que perduram até aos nossos dias. Com esta actividade diocesana, integrada num projecto da Cáritas de Portugal, e pela mão do P. José Rosa, a Cáritas em Leiria, se não ainda pelo nome, ao menos pela pureza do espírito e grandeza das motivações, tinha dado também os primeiros passos. É-nos grato trazer, assim, a memória deste acontecimento fundador; mas esta é, sobretudo, uma ocasião bem ao jeito para saudar também com afectuoso respeito, reconhecimento e admiração, o Sr. Cónego Rosa. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 159 Vida Eclesial Testemunho de Ambrósio J. Santos, Presidente da Caritas Diocesana . entrevistas . Padre Tony Neves - X Fórum Ecuménico Jovem Percursos de Unidade O X Fórum Ecuménico Jovem (FEJ 2008) realizou-se na Quinta da Matinha, Marrazes, sob o tema ‘Alegrai-vos na Esperança’. Depois das boas vindas dadas pelos responsáveis das quatro Igrejas organizadoras (Católica, Lusitana, Metodista e Presbiteriana), houve uma apresentação multimédia sobre os 10 anos de caminho percorrido no ‘planeta jovem’. Foi uma viagem de Leiria a Leiria, passando por Lisboa, V. N. Gaia, Coimbra, Aveiro, Santarém, Braga, Guarda e Viana do Castelo, como mostravam as dez placas espalhadas pelo auditório. D. Manuel Felício (Presidente da Comissão Episcopal do Ecumenismo) e D. Sifredo Teixeira (Presidente do Conselho Português das Igrejas Cristãs) aprofundaram o tema do FEJ, assegurando este espaço formativo que desembocou no trabalho de 10 grupos de reflexão. Os mais novos tiveram uma dinâmica própria, coordenada pelos Jovens Sem Fronteiras. Foi simbólico o momento em que os grupos de reflexão levaram um pano com uma palavra-chave e, depois de a proclamarem, o ofereceram para ser atado a todos os outros, em sinal de unidade e comunhão. Na despedida, ficou a certeza de que o XI FEJ já está na linha do horizonte e o Maestro Carlos Pedro, responsável pela animação musical, garantiu que o II CD ecuménico jovem está já a caminho. 160 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Quando o Fórum estava ainda em preparação, não quisemos perder oportunidade da presença do padre Tony Neves, organizador e delegado da Igreja Católica, a quem colocámos as nossas perguntas. Ficamos-lhe gratos pelas suas respostas que ajudam a compreender a natureza destes encontros e o espírito que os anima. E tem havido outras iniciativas, além do Fórum? Ao longo dos anos têm-se realizado acções diversas, sempre carregadas de significado. Lançou-se um CD com músicas que abrem ao ecumenismo e todos os anos há coisas novas, como o encontro em Taizé, onde o grupo também participou. A semana da unidade, celebrada todos os anos em meados de Janeiro, tem proporcionado um vasto conjunto de realizações e celebrações que muito têm ajudado a incrementar o mesmo espírito. Este ano celebramos em comum o Ano Paulino, por isso pegámos no apóstolo dos gentios, o primeiro grande obreiro do ecumenismo e acolhemos a sua recomendação: “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, preservai na oração” (Rom 12,12). Quais expectativas antecedem a realização de mais um Fórum? Queremos motivar os jovens que já têm alguma caminhada neste espírito e, ao mesmo tempo, encontrar novos rostos e novos desafios. Contamos geralmente com 200 a 250 jovens mas já chegámos aos 800, em Braga, que é uma cidade grande com muita juventude. A escolha de Leiria tem a ver com o facto de ter sido o local do I Fórum após o qual fomos percorrendo o país, passando por Lisboa, Porto (Gaia), Coimbra, Aveiro, Santarém, Braga, Guarda e Viana do Castelo. Quem são os organizadores habituais? A organização não está atribuída a nenhuma pessoa em concreto; é antes uma organização conjunta das quatro Igrejas referidas e que trabalham ao longo do ano em verdadeiro espírito ecuménico. No dia do Fórum todas as | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 161 Vida Eclesial Qual é a ideia que presidiu à origem do Fórum? O espírito que anima o Fórum Ecuménico Jovem é envolver as gerações jovens na prática do ecumenismo. O passado contava já com algumas experiências enriquecedoras desenvolvidas na Suiça, Áustria e Roménia. Dessas experiências saiu a certeza de que os jovens têm uma forte capacidade para acções ecuménicas. Daí que se tenha avançado. . entrevistas . igrejas são representadas por dois membros: a Igreja Católica conta com o padre Tony Neves e o professor João Luís Fontes; a Igreja Metodista conta com o bispo Sifredo e Ana Lameiras; a Igreja Lusitana conta com a presença do Pastor Jorge Cabral e Sérgio Alves; e a Igreja Presbiteriana será representada pelo pastor Eva Michel e Pedro Brito. Quais são os apoios com que contam para a realização deste evento? Procuramos fazer com que estes encontros sejam momentos de partilha e troca de experiências, por isso os custos são mínimos. De qualquer modo cada Igreja e cada participante encontra os meios necessários para se auto-financiar. Tudo o que é material logístico é proveniente de ofertas e patrocínios particulares. Trabalhamos sem orçamentos previamente elaborados, apostamos mais na generosidade e na partilha, também ao nível das despesas. Quem pode participar no Fórum? Não há qualquer tipo de discriminação. Trata-se de um encontro ecuménico e por isso mesmo todos os jovens podem participar, sem qualquer reserva cultural, religiosa ou racial. Basta querer e estar deveras preocupado com a causa ecuménica. O ecumenismo é mais que uma ideia e que um bonito propósito? A nosso ver o ecumenismo é uma urgência e uma necessidade para a Igreja. Constatamos que nem tudo é fácil, por vezes fica-se em bonitas palavras e desafios que depois não são levados à acção. Recordo que em Braga houve mesmo o desabafo de alguns jovens que se mostravam descontentes com a pouca actividade ecuménica. Mas nem por isso desistimos porque achamos que é uma causa importante e um verdadeiro serviço ao Evangelho. Concretamente, em Portugal, como está a causa ecuménica? No início, em Portugal, as pessoas não aderiram muito ao ecumenismo. As pessoas são mais fechadas e auto-suficientes, vivem a sua vida e fechamse para as outras religiões. Hoje os tempos são outros, temos muitas áreas, temos muita gente que não acredita em coisa nenhuma, outras acreditam em algumas coisinhas. Tiram um bocado de cada religião e vivem assim, uma comunidade difusa, onde existem muitas religiões. Está portanto na altura de fazer diferença, ajudar a formar pessoas para concertar posições e atitudes, lutar contra a pobreza e dignificar as pessoas, criar pontes com toda a gente de todas as religiões. 162 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Luís Sousa, chefe de campo do JAMBOREE 2008 – XIX Acampamento Regional de Leiria “O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem” Na Charneca do Nicho, Souto da Carpalhosa, decorreu o XIX Acampamento Regional (ACAREG), designado como “Jamboree 2008”. Participaram cerca de 1400 escuteiros, alguns dos quais estrangeiros. O chefe de campo, Luís Filipe Ruivo de Sousa, de 38 anos, natural da Maceira e residente na Batalha, deu-nos conta da organização que o encheu de orgulho e das vivências dos escuteiros durante essa semana, de 3 a 10 de Agosto. Num desafio abraçado há quatro anos, a organização haveria de transformar-se numa rica fonte de experiências, na conjugação de princípios e conhecimentos e no máximo aproveitamento dos valores comuns. O acampamento do Souto da Carpalhosa destacou-se pela organização que valorizou temáticas de países que se separavam por arruamentos mas se uniam na partilha, com entusiasmo e fé, das suas culturas complementares. Tanto empenhamento faz pensar numa grande paixão… Como começou tudo isso? É uma paixão de 23 anos, que remonta à minha entrada no Agrupamento 762 de Maceira,, em Outubro de 1985, com os meus 15 anos. Um familiar que estava integrado nessa equipa falava-me do que faziam com tanto entusiasmo que acabou por me contagiar. O agrupamento tinha nascido há pouco e não | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 163 Vida Eclesial Entrevista de Joaquim Santos . entrevistas . havia suficiente divulgação mas queria saber a fundo o que era ser escuteiro. O interesse foi-se desenvolvendo e acabai por me integrar por completo. Decidi entrar como pioneiro embora, na altura, não fosse essa a designação. E o que é, afinal, ser escuteiro? É complicado transmitir os nossos sentimentos e propósitos no escutismo. Para mim, ser escuteiro é muito mais do que uma forma de vida e de estar. É estar presente, ser pessoa sempre alerta para poder servir, entendendo a mão, dando uma palavra amiga. E há também uma ligação forte com a natureza que se defende e utiliza com respeito e espírito. Ser escuteiro é ter uma força que nos faz estar bem connosco próprios, entregando-nos com mais verdade e intensidade aos outros. Mas a contra-corrente, numa sociedade em crise de valores, acha que se vislumbram facilmente caminhos de autêntico crescimento humano? O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem. Hoje em dia, numa sociedade com tantos e tão diversificados desafios, os jovens têm dificuldades sérias de identidade. Ser escuteiro não é apenas um abrigo ou refúgio, é uma força que se encontra, que acompanha e dá a mão para que seja ainda possível tomar boas decisões e abraçar a própria vida. Nisto sobretudo, o escutismo, embora com cem anos, continua um movimento actual. Pela sua metodologia continua a incutir nos jovens valores essenciais. É verdade que o escutismo estreita laços com a religião e aproxima da intimidade com Deus. Poderá abrir também a outros horizontes culturais e a atitudes verdadeiramente ecuménicas? Claro que sim. Há dois movimentos de escuteiros em Portugal. O CNE – Corpo Nacional de Escutas (Escutismo Católico Português – a que pertencemos e que conta com mais de 60 mil participantes e a AEP – Associação dos Escuteiros de Portugal, com o acolhimento diversificado, sem qualquer critério de religião. Tendo o CNE requisitos como ser-se baptizado, frequentar a catequese enquanto jovem e estar efectivamente ligado à Igreja, os escuteiros devem descobrir o verdadeiro espírito ecuménico, com acolhimento e respeito pelas diferenças. Neste “Jamboree 2008” formulámos um convite a um grupo de escuteiros de Marrocos que, infelizmente, não vieram por problemas de vistos. O objectivo era criar um espaço ecuménico, abrindo as portas a outras religiões, estreitando laços e respeitando-nos mutuamente, como nos ensina a nossa fé. 164 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Como foi a programação do ACAREG 2008? Depois do convite da Junta Regional de Leiria, criámos uma equipa e começámos a planear o acampamento, há cerca de um ano e meio. Não queríamos mais um ACAREG mas algo de diferente. Daí o aproveitamento para “Jamboree 2008”. “Jamboree” significa encontro de escuteiro. Nesta belíssima mata do Souto da Carpalhosa pugnámos sempre pelo respeito do sentido da palavra. A estrutura que, com escuteiros de outras nações, teve uma vertente internacional, dividia o acampamento em subáreas de países, embora a participação externa não tenha sido numerosa como desejávamos por causa das formalidades com as passagens para Portugal. Tivemos apenas Cabo Verde e o Canadá, e contávamos também com os jovens angolanos e marroquinos. Voltando à programação, foi preciso começar imediatamente distribuindo tarefas e responsabilidades pela equipa. Depois foi coordenar os contributos específicos de cada área: pedagógica, logística, infra-estruturas, segurança, programação, burocracias e imagem. Estas realizações, que se fazem de quatro em quatro anos, são bastante complexas. Só o desejo de fazer melhor permitiu que nos ultrapassássemos e apontássemos para um jamboree. Passo a passo, a ideia tornou-se realidade. Quanto às actividades propostas… Foram muitas e diversificadas. No domingo à noite abrimos o acampamento com uma concentração na arena, dando aos participantes a verdadeira noção do “Jamboree 2008”. Desenvolvemos temas como a cultura, direitos humanos, ambiente e fé, com cerca de trezentos participantes em cada área e rodando-os de duas em duas horas. Em saídas de campo desenvolvemos ateliers com temáticas como “ser leal”, “ser escuteiro” e “ser sensível”. Houve também saídas pelo distrito. Base Aérea de Monte Real, salinas de Rio Maior, Mosteiro de Santa Maria da Vitória na Batalha, porto de abrigo da Nazaré com a possibilidade de andar de traineira, farol de São Pedro, Pia do Urso e Fátima. Numa visita à Valorlis fez-se sensibilização sobre o meio ambiente. Não podíamos deixar de visitar também Leiria, onde se prepararam jogos para todos, incluindo uma surpreendente criação de um logótipo humano da actividade, com 1240 escuteiros formando um chapéu, na Aldeia do Desporto nos Marrazes. Entretanto, lobitos, exploradores e caminheiros organizavam-se em secções para actividades e dinâmicas que se transformaram em experiências marcantes, enchendo chouriços, competindo em carros de rolamentos, fazendo pão, trabalhando o barro, numa evocação das principais actividades tradicionais da região. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 165 Vida Eclesial . entrevistas . . entrevistas . Em termos de acompanhamento espiritual, havia alguma orientação de fundo? “Partilhar a mesma Aventura” era o tema que presidia a tudo. Havia depois subtemas como “Ser, Saber e Fazer”. Sempre presentes, os padres José Henrique (Assistente Regional), Leonel Baptista e André Antunes, iam colocando a espiritualidade na mira constante de uma sólida formação. Sobretudo, a Palavra de Deus ia abrindo horizontes transformando o ACAREG num acompanhamento também de espiritualidade vivida e partilhada. E se lhe pedir para destacar alguns momentos do Jamboree 2008? Um dos momentos mais importantes foi a “Feira dos Povos” em que todos os países apresentaram um pouco da sua cultura, gastronomia, jogos, costumes e outras realidades próprias. Depois, e a condizer com esta abertura aos outros, assinalo, na manhã desse mesmo dia, a dádiva de sangue, por parte dos escuteiros e de seus familiares, numa recolha que o Instituto do Sangue propôs no local. A mensagem de Baden Powell continua bem presente… É um legado que nos propomos cultivar sempre, nomeadamente nas reuniões semanais, nos agrupamentos. Mas os acampamentos são tempos fortes de aprofundamento mesmo das coisas mais simples. Há um pequeno hábito muito simbólico de fazer pela manhã um nó no lenço e só o desatar quando se praticar uma boa acção. É a prática da BA (boa acção) que todos os escuteiros devem levar a sério. É também com pequenos detalhes que o espírito se mantém vivo. E, no fim de tudo, uma enorme satisfação, não? Há um lema na minha vida que me ajudou muito neste “Jamboree 2008”: na nossa existência é preciso simultaneamente acreditar e agir para podermos alcançar. Esta equipa começou por acreditar no projecto, lançou depois mãos à obra e, finalmente, alcançou o objectivo. 166 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Ana Sousa, missionária em Alagados (Brasil) “Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras” Ana Maria Febra de Sousa nasceu na Maceirinha no dia 31 de Dezembro de 1971. Teve uma formação cristã tradicional e os tempos da adolescência trouxeram-lhe alguma revolta interior e descontentamento. Mesmo assim, ainda muito nova, sentiu-se tocada pela experiência de alguns missionários que passaram pela sua terra. Por iniciativa própria e para não desagradar aos pais, frequentava a missa dominical e integrou-se no grupo de jovens da paróquia, enquanto prosseguia os estudos até realizar o sonho de ser professora. Em 1996 participou no Fórum Jovem, em Fátima, e aí a sua vida mudou completamente. Nas vésperas de partir em missão, por dois anos, no Brasil, pudemos encontrar-nos e conversar. Sobre a mudança na sua vida explicou-nos: Um dos frutos da experiência do Fórum Jovem, em Setembro de 1996, foi o desejo de anunciar o amor de Deus a quem ainda o não experimentou. E como o amor só com amor se paga, em resposta ao apelo de Deus, decidi segui-Lo no celibato consagrado, numa entrega radical da minha vida que me permitisse a maior disponibilidade para a missão de anunciar o evangelho. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 167 Vida Eclesial Entrevista de Rui Ribeiro . entrevistas . Nesse encontro fui posta em contacto com a Comunidade Emanuel e desde então o Senhor tem-me surpreendido muito para além das minhas expectativas. Tem sido uma aventura na confiança, na fé e na providência de Deus, que me tem proporcionado uma felicidade ímpar. E por que decidiu partir, em vez de continuar no seu meio? A missão além fronteiras é um desejo que vem dos meus 12 anos, fruto da passagem de um grupo de missionários na minha terra natal. Após uma dúzia de anos de trabalho como professora do 2º Ciclo do Ensino Básico, variante Educação Visual Tecnológica, já no quadro de nomeação definitiva, solicitei um tempo de licença sem vencimento para poder partir com a Fidesco, para colocar as minhas competências profissionais ao serviço dos mais pobres. Foi um pedido que surgiu de mim e da própria Comunidade Emanuel. No ano passado estive em Formação na Comunidade Canção Nova, em Bruxelas. Foi uma experiência aliciante, com as irmãs de Madre Teresa de Calcutá. Percorríamos as ruas de Bruxelas e abeirávamo-nos dos mais pobres entre os pobres. No decurso da formação, a comunidade Emanuel lançou-me o desafio, que logo abracei, de partir em missão. E cá estou, com bilhete de viagem para 16 de Outubro. O que a motiva, fundamentalmente? O que me move é o amor. A minha felicidade consiste em colocar-me ao serviço do outro, particularmente dos mais pobres. Só se deixa um amor por um amor mais forte. A medida do amor é amar sem medidas! Na vida tudo é passageiro, só o amor permanece para sempre! O que é a Fidesco? Trata-se de uma palavra composta por FIDES (fé) e CO (cooperação). Fundada em 1981, a Fidesco é uma ONG, (Organização Não Governamental) de Solidariedade Internacional, que envia todos os anos cerca de 60 voluntários para países em desenvolvimento para colocarem as suas competências profissionais ao serviço de projectos de desenvolvimento ou de acções humanitárias. Cerca de 130 voluntários estão actualmente no terreno em, mais ou menos, 30 países do mundo, nos diversos continentes. Desde 1981, mais de 1200 voluntários partiram para darem um ou dois anos das suas vidas, no desejo de viverem a aventura do serviço. 168 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . entrevistas . Concretamente, que conta ir fazer? Eu não escolhi um país e um projecto, mas acolhi uma missão que a Fidesco me confiou. Em resposta ao meu desejo e ao apelo da igreja da América do Sul, em Outubro de 2008, irei para o Nordeste do Brasil, para o estado da Bahia, cidade de Salvador, paróquia de Nossa Senhora de Alagados, por dois anos. Alagados é uma favela construída em terrenos alagadiços e enlameados. Há uns anos as pessoas viviam em palafitas, e os camiões do lixo iam despejar para dar estabilidade a estas frágeis construções. Hoje são poucas as famílias que ainda vivem nessas condições, mas o bairro continua bastante desfavorecido. Quando João Paulo II fez a sua 1ª visita ao Brasil, manifestou o desejo de ir ao lugar onde se encontrassem os mais pobres dos pobres. A Conferência Episcopal do Brasil enviou-o a Alagados. O Papa ofereceu o necessário para a construção da igreja paroquial. A minha missão será coordenar um centro de formação feminina, na paróquia de Nossa Senhora de Alagados, onde a Fidesco criou, há cerca de 5 anos, um projecto de reforço escolar para crianças carentes, dos 8 aos 13 anos. As mães dessas crianças vivem em condições miseráveis em termos de habitação e outros recursos. Muitas passam o dia na rua a apanhar garrafas descartáveis e a juntar cartão para vender, e recebem muito pouca formação humana e profissional. As famílias são destruturadas, com filhos de diferentes companheiros. Por tudo isto, o referido projecto vai ser ampliado de forma a oferecer formação culinária, sanitária, de cabeleireiro, de costura, e outros cursos de primeira necessidade, e assim colaborar com as mães no reforço escolar e na promoção de uma educação familiar; a promovê-las com um curso que lhes abra as portas de um emprego; a restituir-lhes a sua dignidade de mães na missão educativa dos filhos. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 169 Vida Eclesial Que tipo de pessoas são os voluntários? Os voluntários que partem com a Fidesco podem ser celibatários, casais, ou famílias que desejam trabalhar para os mais desfavorecidos em nome da sua fé, como o nome indica: FIDES+CO = Fé e cooperação. Colocam-se ao serviço de parceiros locais que já trabalham para o bem das populações desfavorecidas sem distinção de religião, de etnia ou de cultura, em diversos domínios: educação, agronomia, saúde, ensino, construção, etc. A Fidesco trabalha prioritariamente nos países do Sul, com as Igrejas locais, que têm uma experiência única ao serviço dos pobres, na defesa dos seus direitos e na boa gestão dos seus meios. . entrevistas . Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras. Vou fazer uma experiência de partilha dando do que tenho e recebendo do que as pessoas têm para me dar. Cada um à sua maneira, todos temos algo para dar, desde que acolhamos o apelo. Comigo vão estar mais cinco voluntários, dois casais e um seminarista. Como pudemos acompanhar e ajudar a Ana na sua Missão? De duas formas, designadamente: pela oração, sempre e antes de mais, e com um financeiramente. Se alguém contribuir com um donativo regular de 15€ por mês (ou o valor pontual de 360€), receberá trimestralmente o meu relatório detalhado da missão e será meu “padrinho”. Comprometo-me a enviar um relatório de 3 em 3 meses e a rezar diariamente por todos os meus padrinhos (dos quais apenas conhecerei os nomes). Em todo o caso, quem fizer um donativo, qualquer que seja, receberá o “Courrier des Missions Fidesco” com notícias trimestrais das diversas missões no mundo. Um voluntário custa cerca de 18000 € por ano (viagem, seguro, alojamento, saúde, alimentação...): 30% deste custo é financiado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Francês e os restantes 70% dependem das generosidades pessoais. Todo o apoio é verdadeiramente precioso. Quanto a mim, receberei mensalmente um valor de subsistência, que me permitirá viver convenientemente, nas condições próximas da população local, ou seja, com cerca de 100€. Espero que possamos ser muito numerosos nesta barca que nos levará muito longe, até ao outro lado do Atlântico, e não só ao longo dos próximos 2 anos. 170 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Reflexões . teologia / pastoral . história . . teologia / pastoral . Monsenhor Joaquim Carreira Celebra-se em 2008 o centenário do nascimento de Monsenhor Joaquim Carreira, extraordinário e zeloso sacerdote desta diocese. Foi pároco da Boa Vista, mas exerceu o seu ministério, sobretudo em Roma, como reitor do Colégio Português, onde deixou marcas notáveis na protecção aos judeus e demais refugiados do nazismo. O momento alto das comemorações do centenário decorreu a 7 de Setembro, com romagem à sua sepultura, no cemitério dos Soutos, Caranguejeira, e a celebração solene da Eucaristia, presidida pelo Bispo diocesano, D. António Marto. Seguiu-se um momento musical pela Filarmónica de S. Cristóvão e o lançamento de uma biografia da autoria do padre João Carreira Mónico, seu sobrinho e principal promotor das comemorações, sob o título: “Monsenhor Joaquim Carreira. Apóstolo do bem, na guerra e na paz”. Na sessão marcou presença a mãe do padre Mónico, irmã mais nova do homenageado, actualmente com 95 anos. O autor da biografia destacou a faceta humanista e sacerdotal de Monsenhor Carreira, as saudades que tinha da sua terra, o facto de ter sido o primeiro piloto aviador padre em Portugal e, sobretudo, o que sofreu em Roma, pondo em risco a sua vida e a dos alunos do Colégio Por| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 173 Reflexões Apóstolo do bem, na guerra e na paz . teologia / pastoral . tuguês, para dar guarida e comida a judeus e outros perseguidos pelo regime Nazi. Homem discreto e simples, de vasta cultura, viveu os últimos anos em Roma, na Casa das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que se fizeram presentes, numerosamente, nesta homenagem, que encheu o auditório da paróquia da Caranguejeira. No final da sessão, D. António Marto, de forma veemente, lembrou que não podemos esquecer os grandes valores que temos na nossa Igreja, num tempo onde faltam referências. Lembrando um adágio medieval, “nós somos anões levados às costas de gigantes”, referiu que “o que somos hoje, o devemos a quem nos precedeu” e salientou, sobretudo, a coragem de Monsenhor Carreira em arriscar a vida para salvar a de outros. “Isto não se pode esquecer e deve constituir para todos exemplo e uma referência”, concluiu o prelado. A sessão terminou com um convívio, oferecido pela Junta de Freguesia que também se associou aos festejos. No Seminário No dia 16 de Setembro, foi a vez de o Seminário de Leiria acolher uma sessão comemorativa do centenário do nascimento de Monsenhor Joaquim Carreira, também com a presença de D. António Marto. Mais uma vez, o Bispo exaltou as qualidades deste notável servidor da Igreja e da sociedade: o seu carácter inovador e ousado, que manifestou tanto na criação de um laboratório de física e química no Seminário, que na época era o melhor das instituições de ensino da cidade de Leiria, a sua acção pastoral, especialmente na Boa Vista, cuidando de dar às pessoas do movimento da Acção Católica uma sólida formação humana e espiritual. Foi o primeiro sacerdote com a carta de aviador e criou uma rádio local. Na sua vida transparecia uma fé intrépida e uma espiritualidade profunda. Na defesa dos perseguidos, foi um homem corajoso e de grande caridade cristã. No seu zelo pastoral e na prática do bem, é um sacerdote digno de ser imitado nos dias de hoje. O padre João Carreira Mónico voltou a fazer a apresentação da biografia de seu tio, um livro volumoso com fotografias e documentos que nos permitem conhecer a grandeza da vida e da acção desta grande figura, “um sacerdote de corpo inteiro, ao serviço de Deus, da Igreja e dos perseguidos, apóstolo do bem, na guerra e na paz, com acções, palavras e escritos”. Ao historiador José Travaços Santos coube a tarefa de dar a conhecer a acção humanitária de Monsenhor Carreira, no acolhimento aos judeus e a outros perseguidos, em Roma. Associou a sua acção solidária à de outro português ilustre, Aristides Sousa Mendes, na mesma época. E leu alguns 174 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . teologia / pastoral. depoimentos daqueles que encontraram abrigo no Colégio Português. Com outros participantes na sessão, defendeu que urge divulgar, a nível nacional e mesmo internacional, a obra deste leiriense em favor das vítimas de perseguição. O padre Joaquim Carreira das Neves testemunhou o seu convívio com Monsenhor Carreira e a tentativa que fizera para ouvir do próprio o relato da obra que realizara. Ao que o sacerdote sempre respondeu: “Essas coisas não se dizem, fazem-se”. Retalhos da vida Joaquim Carreira nasceu no lugar do Souto de Cima, paróquia da Caranguejeira, a 8 de Setembro de 1908. Seus pais, Joaquim Carreira e Maria Inácia, pequenos lavradores, cedo se preocuparam com a educação do pequenito Joaquim, o único rapaz do ranchinho de 5 filhos que Deus concedeu ao casal. Fez a 3.ª classe na Escola da Caranguejeira. Para continuar os estudos, teve de imigrar para Monte Real. Aqui, com apenas 10 anos, entre o trabalho de casa (ir à lenha e à fonte) e a escola, fez a 4ª classe. Preparou-se então para ingressar no Seminário de Leiria. Vencidas as resistências do pai, que se opunha por este ser o seu único rapaz, é aceite em 15 de Outubro de 1920. Tinha 12 anos. No Seminário, foi aluno aplicado, distinto e alegre, revelando os seus talentos e o muito que tinha para dar. Com os seus colegas de curso, fundou a revista manuscrita, “Vida Activa”. Por decisão do Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, foi enviado para Roma, em 1926, para continuar os estudos eclesiásticos na Universidade Pontifícia Gregoriana. Aí concluiu a Licenciatura em Filosofia e Direito Canónico e o Doutoramento em Teologia. A 19 de Setembro de 1931 foi ordenado sacerdote, em Roma. Nesse mesmo ano regressou a Portugal, cheio de entusiasmo e conhecimentos filosóficos, teológicos e científicos. No Seminário de Leiria, de 1931 a 1940, o seu saber, alegria, dedicação aos alunos, amor ao sacerdócio e ao apostolado, eram contagiantes. A actividade sacerdotal multifacetada granjeou-lhe simpatia e colaboração, dentro e fora do Seminário. Animado pelos conhecimentos da física e química, lan- | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 175 Reflexões Por João Carreira Mónico . teologia / pastoral . çou-se na organização de um Laboratório para fazer experiências naquelas disciplinas. Criado para os alunos do Seminário era, no entanto, aberto aos de outras escolas da cidade. Paladino da comunicação, pôs no ar a sua Rádio local que, com graça, rotulou de “Rádio Esfola Gatos”! De Roma, trouxe consigo uma máquina fotográfica. Com ela, guindou-se a fotógrafo do Santuário, elaborando um pequeno álbum intitulado “Vistas de Fátima”. Nomeado capelão da Boavista (1931-1940), para lá caminhava todas as semanas, quer chovesse, ventasse ou fizesse sol. Não tinha carro. Apenas uma bicicleta. Mesmo assim, chegava a tempo e horas, tantas vezes com a batina repassada pela chuva e lama dos caminhos. Na Boavista deu o melhor da sua vida, através de uma pastoral pensada e organizada para um povo faminto de Deus e de cultura. Fundou a Acção Católica e Conferência de S. Vicente de Paulo. Organizou a catequese e formou as catequistas através de retiros e cursos. Para as crianças, além da catequese, havia récitas, magustos, amêndoas e concursos. Fomentou encontros inter-paroquiais e diocesanos. Promoveu e acarinhou as vocações sacerdotais e religiosas que acompanhava com solicitude paternal. Em 1940, após os treinos no aeródromo de Leiria e Monte Real, fez exame em Alverca e, sendo considerado apto e idóneo, recebeu a carta para pilotar aviões de turismo. Válida em Portugal e na Itália. Em Maio de 1940, o Bispo D. José Alves Correia da Silva mandou-o ir novamente para Roma. Foi de comboio. A Europa estava em guerra. Hitler e Mussolini faziam distúrbios em Roma. Não era risonho o cenário que o esperava. Nomeado Vice-Reitor do Colégio Pontifício Português, em breve passou a Reitor. Aqui e durante a guerra, correndo o risco da própria vida, acolheu muitos refugiados, políticos e civis, fascistas, antifascistas, judeus e não judeus. Nunca foi molestado, mesmo quando saía de Roma para as aldeias vizinhas à procura de alimentos. Furtando-se à vigilância dos soldados nazis, lá ia, estrada fora, no carro do Colégio, mendigando alguns quilos de milho e outros mimos para os seus refugiados. Dispensado dos afazeres do Colégio Português, onde viveu 16 anos de intenso trabalho, dedicação e orientação, retirou-se para a sua nova “Tebaida” – a Casa Madonna di Fátima – confiada às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Daqui, fazia caminho para a Embaixada de Portugal junto da Santa Sé, onde era Consultor Eclesiástico. Fiel cumpridor dos seus deveres, por todos era apreciado pela sua inteligência, bondade, desprendimento, hospitalidade e alegria. Acompanhou missões diplomáticas. Recebeu e acompanhou a visita da Imagem Peregrina 176 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . teologia / pastoral. a Roma. Pregou, viveu e difundiu a Mensagem de Fátima. Tinha apenas 73 anos de idade, quando Deus Pai, Senhor da vida e da morte, veio chamar este seu servo bom e fiel. Faleceu no seu quarto, na Casa Madonna di Fátima, em Roma, no dia 7 de Dezembro de 1981, em ambiente de simplicidade e pobreza franciscana, como era o seu viver. Nada fazia prever este súbito desenlace. No entanto, Monsenhor Carreira preparou, com muita antecedência, a sua viagem para a casa do Pai, como podemos ler nas cartas que escreveu, depois de ter celebrado, com a família e na casa paterna, as suas Bodas de Ouro Sacerdotais, em Setembro de 1981. Ficou sepultado em jazigo do Pontifício Colégio Português, no cemitério do Campo Verano, em Roma. Volvidos 20 anos, os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério dos Soutos da Caranguejeira, sua terra natal. Era o dia 25 de Fevereiro de 2001. Testemunhos de uma acção heróica A ternura de Deus manifesta-se não apenas directamente mas também através das pessoas. Ele mesmo as escolhe para seus ministros, mensageiros e instrumentos e lhes dá a capacidade de fazerem o bem. Monsenhor Joaquim Carreira, cujo centenário de nascimento ocorre no dia 8 de Setembro, praticou o bem por palavras e gestos simples, mas também por actos heróicos, acolhendo perseguidos, durante a guerra, em Roma, nos anos 1943 e seguintes. Ao seu lado estiveram alunos e funcionários do Colégio Português. Várias cartas relatam e agradecem o amor de que beneficiaram. Quando a gratidão perdura no tempo e se repete é sinal de que o benefício deixou marcas profundas na memória das pessoas. Um dos refugiados refere o aumento destes no Colégio e o tratamento que receberam. Eram dezenas de professores, estudiosos, comerciantes, militares, estudantes, hebreus: “todos puderam, a seu modo, experimentar a bondade e o espírito de altruísmo do reitor que, com verdadeira caridade cristã e nobre generosidade, desafiou as ferozes leis de guerra alemãs e fascistas, para aju- | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 177 Reflexões “O coração português em Roma” . teologia / pastoral . dar aqueles que, como nós, se encontravam expostos ao perigo”. Nesta acção, os padres portugueses, diz outro, “arriscavam-se a muito – e sabiam-no. Mas nunca nos deram a perceber que estávamos a mais. Pelo contrário, rodeavamnos, a cada instante, de atenções, procurando tornar-nos a vida o mais agradável possível”. E conclui o depoimento de admiração, afirmando: “Em nome da caridade cristã, um punhado de corajosos sacerdotes portugueses sob a direcção do Rev.º Dr. Carreira fazia à sua maneira a guerra contra a injustiça e contra o arbítrio, contra a violência, contra o despotismo”. Um médico declara que ali experimentou o acolhimento fraternal dos “braços amigos” do reitor e uma “vida que deveria ser a de todos os homens – verdadeiros irmãos, sem distinção de raça, de religião, de nacionalidade”. Mesmo sem esquecer as “tristes e cruéis vicissitudes da guerra, viverá sempre em mim a lembrança daqueles poucos dias passados na paz tão hospitaleira e fraterna do Colégio Português”. Outro médico, na altura estudante, fala do reitor que aparecia “em toda a parte com o seu sorriso a alentar a nossa mocidade deprimida”. Se “Roma sofria as torturas da fome”, no Colégio, “em nossa mesa, nada faltava, graças à estremada diligência e aos sacrifícios de quem nos hospedava. Superior e alunos todos partilhavam das nossas angústias e das nossas alegrias”. Um engenheiro recorda a sua experiência de sete meses: “Guardo ainda uma maior admiração e gratidão para com o reitor, Dr. Joaquim Carreira, que foi para mim, mais do que para qualquer um dos hóspedes, pai e irmão, que me dispensou não só o conforto de sacerdote, mas também o da amizade e ainda o exemplo admirável do homem que não se deixa abater pelas dificuldades, que sabe assumir a responsabilidade, ainda que grave, no momento da crise e sabe perdoar de modo perfeito”. “Um oásis de serena espiritualidade, de alta intelectualidade e de afectuosa hospitalidade, eis o que encontrámos quando, perturbados pela situação geral e pessoal, entrámos no inviolável recinto do Colégio Português”, testemunha outro refugiado. E classifica a instituição como “ilha de paz no coração da cidade atormentada”. Outro falou dele como “o coração português na Itália”. Um ano depois do termo da guerra, no aniversário da aparição de nossa Senhora em Fátima, os que tinham encontrado abrigo no Colégio reuniram-se “em torno do altar” para agradecerem o benefício daquele acolhimento. 178 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . teologia / pastoral. 1.º ano do Hospital da Misericórdia da Batalha Diversidade de contributos numa mesma missão de CUIDAR “Foi um ano em que levámos a cabo a missão dos cuidados continuados, em trabalhos suados, numa obra de bem-fazer que procurámos sempre que fosse bem feita”. Foi com estas palavras que António Monteiro, provedor da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Batalha (ISCMB), abriu a sessão do primeiro aniversário do Centro Hospitalar de Nossa Senhora da Conceição (CHNSC), no passado dia 6 de Dezembro. Em jeito de apresentação do espírito que preside à instituição, esta frase pode também resumir o trabalho que, de facto, ali tem sido desenvolvido desde a sua abertura oficial, há cerca de um ano. A cerimónia de aniversário contou com a participação de cerca de uma centena de irmãos da Misericórdia da Batalha, que se juntaram nesta data festiva aos utentes, à equipa de médicos, enfermeiros, administrativos e auxiliares, ao grupo de voluntários que ali prestam apoio e a alguns convidados, como os presidentes da Assembleia e da Câmara Municipal, respectivamente, Francisco Freitas e António Lucas, o presidente do Concelho de Gestão do Grupo Misericórdias Saúde, Salazar Coimbra, e um representante do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, Júlio Freire. | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 179 Reflexões Por Luís Miguel Ferraz . teologia / pastoral . Presente de sucesso rumo ao futuro “O sucesso deste ano de trabalho deve-se à excelente equipa de profissionais, em todos os sectores desta Unidade de Cuidados Continuados (UCC), mas também à profícua colaboração com os parceiros nacionais e regionais da Segurança Social, da Saúde e da autarquia”, continuou o provedor, deixando, no entanto, a nota de que “este é um arremedo de obra feita, pois ainda há muito trabalho a fazer para ampliar este tipo de serviços sociais e também diversos problemas a enfrentar, como seja a sustentabilidade financeira do projecto”, muito dependente das políticas de Saúde do Governo. A título de exemplo, António Monteiro referiu o anunciado serviço domiciliário de medicina e enfermagem, para o qual defendeu que se “aproveite a experiência, os meios e as equipas já presentes no terreno por parte dos serviços de apoio domiciliário das Instituições Privadas de Solidariedade Sociais” (IPSS), que “devem ser ouvidas pelo Estado antes de ditar as suas sentenças vindas de cima, normalmente acompanhadas de complexas obrigações e burocracias”. E atreveu-se a sugerir que “em vez de mais uns quilómetros de auto-estrada, de mais uns relvados para o jogo da bola, de mais uns minutos na velocidade do TGV, o Governo usasse uma parte dos nossos impostos para financiar os serviços de apoio domiciliário, possibilitando a sua extensão aos fins-de-semana e o alargamento do leque de serviços para além das refeições e trabalho doméstico, aos cuidados médicos e de enfermagem”. Ampliar as valências da acção social é também uma preocupação da Câmara da Batalha, como referiu na ocasião António Lucas, defendendo o “rápido regresso às negociações, entretanto paradas, para a transferência de competências do Governo para as autarquias nas áreas sociais, como sejam a Educação e a Saúde”. O presidente da edilidade frisou a colaboração que tem sido prestada ao CHNSC, por ser “uma infra-estrutura de topo na região e uma mais-valia fundamental no Concelho”, defendendo a continuidade deste serviço noutras áreas e para outros públicos, “onde a autarquia tem investido, mesmo sem ter essas competências específicas, como é exemplo a recente criação de um Centro de Ajudas Técnicas, em colaboração com a Segurança Social, que permite uma resposta rápida e eficaz aos pedidos dos munícipes de equipamentos como camas articuladas, cadeiras de rodas, etc.” Outro exemplo apontado foi a tentativa de implementação do serviço SOS Vizinhos, visando um apoio directo às pessoas dependentes por parte de um vizinho, devidamente ajudados financeiramente, e que “apenas não está em execução porque, infelizmente, apenas uma pessoa em todo o concelho se manifestou disponível para este trabalho”. 180 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . teologia / pastoral. Cuidar, mais que tratar O mesmo espírito é assumido por todos os profissionais, desde o corpo clínico aos administrativos e auxiliares. “Curar às vezes, aliviar frequentemente, mas confortar sempre” é o lema apresentado por José Leite, director clínico desta UCC. Honrado com o convite que lhe foi dirigido há um ano, o médico afirma encontrar neste espaço o lugar ideal para o cumprimento dessa missão, num compromisso entre exigência de profissionalismo e primazia ao humanismo com que se desempenham as tarefas. “A primeira preocupação é a saúde, mas o alívio da dor é o primeiro objectivo”, num processo que deve envolver o doente, tendo como finalidade o cimentar da esperança e qualidade de vida enquanto se vive. Na ocasião, foi projectado um filme sobre este primeiro ano de actividade, que tornou clara esta mensagem. Os rostos iluminados pelo sorriso foram mais evidentes do que as lágrimas de dor, a força de vontade para voltar a aprender os primeiros passos foi mais visível do que o desânimo de um AVC, | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 181 Reflexões Voluntariado destacado Esta disponibilidade para a ajuda a quem mais precisa é uma das condições essenciais para o funcionamento de excelência deste tipo de projectos. Também neste caso, a instituição registou uma resposta de qualidade, como salientou Carlos Monteiro, coordenador-geral do CHNSC: “O grupo de voluntariado, que desde a primeira hora se organizou e se disponibilizou para colaborar com a unidade no apoio aos doentes, assegura essa colaboração durante todos os dias da semana, período de férias e feriados, o que não é comum no voluntariado que se faz pelas demais unidades de saúde”. Como exemplo desse compromisso, foi referida a organização pelos voluntários de uma campanha para a oferta de um moderno sistema de som e projecção de imagem que foi estreado nesta sessão. Considerando que “também aqui marcamos a diferença”, este responsável lembrou o lema que move toda a equipa: “associar à vertente do trabalho, um grande espírito de solidariedade e de amor ao próximo”. Esse será, aliás, o segredo para o sucesso, que se mede pela satisfação geral dos mais de 150 doentes que já passaram por esta UCC, como prova o facto de “todos os que regressaram a suas casas, apresentando grandes resultados de recuperação, o fizeram com lágrimas de emoção, por sentirem que receberam aqui todo o acolhimento, tratamento, carinho e respeito, que não encontraram em nenhuma outra unidade de saúde por onde haviam passado”. Graças a isso, conclui Carlos Monteiro, “deixaram-nos a agradável sensação do dever cumprido”. . teologia / pastoral . a luz dos espaços e ambientes quase escondeu a realidade soturna da doença que motivou o levantar desta casa. Como bem resumiu Graça Pereira, enfermeira-chefe da unidade, em forma de poema, é o esforço multidisciplinar de muitos que dá sentido a este trabalho, na “certeza de que estamos a crescer”. Unidade modelo O presidente do Grupo Misericórdias Saúde reconheceu também o trabalho exemplar desta unidade no âmbito da rede nacional, salientando o papel deste Governo na solução do problema dos Cuidados Continuados, em diálogo com as Misericórdias e outras IPSS. “A Batalha é um bom exemplo do serviço que queremos prestar”, afirmou Salazar Coimbra, alertando para o facto de “continuarmos atentos às necessidades e a defender um projecto que deverá ir mais longe, abrangendo os apoios domiciliários nas áreas da medicina, enfermagem, psicologia, terapias da fala e ocupacionais, etc.” Na mesma linha, o representante da União das Misericórdias Portuguesas referiu a importância da cooperação com o Estado, “que não conseguirá nunca responder a todas a necessidades sociais e poderá contar com o inestimável serviço das Misericórdias”. Júlio Freire apontou o exemplo do CHNSC como “das melhores instituições a nível nacional, com provas dadas no serviço às pessoas, com qualidade e humanismo, pela dignidade humana”. Referindo os elevados índices de satisfação dos utentes, louvou o facto de “terem começado no início do projecto e revelado a capacidade e a coragem de aprender”. Se dúvidas havia ainda, o testemunho espontâneo de alguns utentes ali presentes desfê-las por completo. O senhor Joaquim afirmava com comoção: “eu não era capaz de andar nem de fazer nada e recebi aqui todo o carinho e força para recuperar essas capacidades”. Também a dona Alice, primeira utente desta unidade, marcou presença no acto. As lágrimas de gratidão corroboraram as palavras da sua filha: “melhorou muito e sente-se aqui muito acarinhada por uma equipa que poupou imenso sofrimento, a ela e a toda a família”. Curiosamente, neste momento partilha o quarto com o marido, que foi também ali internado posteriormente, “num verdadeiro lar onde ambos se sentem amados”. Voltando à alegria, a sessão terminou com uma bonita interpretação musical a capela pelo grupo Domus, seguindo-se a Missa de acção de graças, presidida pelo padre franciscano Joaquim Costa, e um beberete de convívio entre todos. 182 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . história . O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa de Lencastre no Mosteiro da Batalha Saul António Gomes (Universidade de Coimbra) António Manuel Rebelo (Universidade de Coimbra) 1 — Problemática historiográfica No braço meridional do transepto da igreja do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, à mão esquerda de quem nele entra, encontra-se uma lápide, extremamente esfacelada e incrustada entre silhares enegrecidos, na qual se descobrem e se lêem, não sem dificuldade, tal o estado de deterioração que a pedra atingiu, antigos caracteres góticos. Ainda que seja uma lápide gótica rara no espectro da epigrafia quatrocentista, em Portugal, o seu estudo nunca foi levado a cabo por nenhum dos historiadores que se debruçaram sobre o passado deste monumento pátrio. Fr. Francisco de S. Luiz, que viveu algum tempo “exilado” no Mosteiro da Batalha, antes de ser elevado ao cardinalato, anota a sua existência na “Memoria Historica Sobre as Obras do Real Mosteiro de Santa Maria da Victoria”, publicada em 1827, onde se lhe refere nos seguintes termos: | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 183 Reflexões Resumo: Neste artigo, os autores dão notícia e procedem à publicação crítica do epitáfio latino, que se conserva inédito e apenas fragmentariamente, alusivo à trasladação, em 1416, da rainha D. Filipa de Lencastre para o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha). Abstract: A latin epitaph of the Philippa of Lencastre, Queen consort of Portugal through her marriage with King John I, remained unpublished and unstudied until now. It regards the first transfer of her body into the Monastery of Santa Maria da Vitória (Batalha), in 1416, which was placed in a crypt, where it temporarily remained until the royal pantheon was finished. . história . “Ultimamente no outro topo fronteiro, entrando a porta travessa da igreja, vê-se na parede do lado esquerdo a inscripção latina, de que falla o chronista no fim do cap. XXV, mas está a pedra tão despedaçada, e lascada no fogo, que ahi fizerão os soldados francezes, que nos não foi possivel ler o seu conteudo, e nem ao menos conhecer, se com effeito se referia á trasladação da senhora D. Filippa, como Fr. Luiz de Souza affirma no mesmo lugar.”1 A leitura do passo da História de S. Domingos, de Fr. Luís de Sousa, a que se refere o Cardeal Saraiva, sendo esclarecedora, não nos deixa, infelizmente, a respectiva transliteração epigráfica. Escreveu o insigne cronista dominicano, que estanciou no Mosteiro por 1621, momento em que redigiu o magnífico texto que consagra ao monumento gótico, encerrando o capítulo dedicado ao enaltecimento de D. Filipa de Lencastre, que: “Aqui pertence advirtirmos aos curiosos, que querem rezão de tudo, que a letra de huma pedra, que parece na Igreja á entrada da porta travessa contém hum breve epitafio Latino d’esta santa Rainha pera memoria da sua primeira tresladação pera esta Igreja, que fica contada, em quanto tardava a segunda pera a sua capella, que foi muitos annos despois.”2 Revelaram-se infrutíferas as investigações que realizámos junto de outros Autores, especialmente os mais antigos, no sentido de apurar uma possível transliteração ou nova informação acerca da lápide que nos ocupa. As pormenorizadas informações acerca da morte de D. Filipa de Lencastre, no Mosteiro de Odivelas, no dia 19 de Julho de 1415, devidas ao erudito labor do cronista Gomes Eanes de Zurara, são omissas em matéria de registo dos epitáfios da generosa Rainha3. Igual silêncio se encontra nas páginas em que cronistas como Rui de Pina, Garcia de Resende, Damião de Góis, Cristóvão Acenheiro ou D. Jerónimo Osório aludem às trasladações dos féretros reais para o mausoléu batalhense4. Não menciona esta inscrição o até hoje ainda não identificado autor de O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, em redacção por volta de 16501657, posto que apresente preciosas informações acerca do Convento nessa época5. Também o Conde da Ericeira, D. Fernando de Menezes, em 1677, nas páginas, inspiradas no Cronista dominicano, em que enaltece a obra de D. João I não se lhe refere6. 184 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . história . 2 — Características epigráficas Colocada, como escrevemos, no muro poente do braço meridional do transepto da igreja conventual de Santa Maria da Vitória, a 2,06 metros do chão, esta lápide mede 70cm de altura por 47 cm de largura14. Do ponto de vista paleográfico, a inscrição apresenta caracteres perfeitamente góticos, contrastando com a tradição gráfica uncial corrente em peças medievais anteriores. Ainda que estejamos perante uma lápide fragmentária bastante estilhaçada, deveremos assinalar a sua regularidade gráfica traduzida numa paginação reflectida e bem programada, na cuidadosa definição das margens, na projecção de espaços interlineares amplos e na preferência pela concatenação das linhas de texto em ordem a acentuarem o efeito visual da versificação. A elegância das letras maiúsculas, no começo de cada linha, por seu lado, traduz alguma uncialidade e gosto pelo ornato (sobretudo letras mais redondas como os AA, os MM e os CC, contrastando estas, no entanto, com os HH mais angulosos), numa época, a dos começos do século XV, em que, | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 185 Reflexões Nas páginas generosas, em informação documental, coligidas por José Soares da Silva, dedicadas ao reinado de D. João I e publicadas em 1730, encontramos dados relevantes para a biografia da rainha D. Filipa. Deve-selhe, aliás, a primeira tentativa de publicação integral do epitáfio da Rainha, exposto no facial do túmulo real existente na Capela do Fundador, mas, infelizmente, não se ateve minimamente ao epitáfio em causa7. Muito embora D. António Caetano de Sousa nos tenha deixado, com data de 1744, uma pormenorizada notícia sobre a morte desta rainha, ela nada adianta, uma vez mais, para a questão que nos ocupa8, o mesmo se podendo aferir da consulta de outros historiógrafos desses séculos9. Têm um elevado lugar de relevo, no panorama da historiografia batalhina, os comentários históricos e descritivos que James Murphy insere no Álbum intitulado Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalha…, mas, também aqui, a informação histórica limita-se a reproduzir o estabelecido por Fr. Luís de Sousa, nada se enunciando acerca deste letreiro gótico10. Igualmente infrutíferas, sobre esta matéria, são as observações sobre o monumento devidas a Thomas Pitt, que o visitou em 176011. Escapou a inscrição, ainda, a Francisco da Fonseca Benavides, na sua obra sobre as Rainhas de Portugal, publicada em 187812. Não consta, finalmente, do opus magnum da epigrafia medieval portuguesa, onde se reúnem todas as epígrafes medievais do País entre 862 e 1422, da autoria de Mário Jorge Barroca13. . história . nas chancelarias reais, se recupera o gosto pelo traçado de litterae elongatae e também de literae notabiliores. Nas datas recorreu-se a numeração romana de tradição medieva (“CCCC” e não “CD”) escrevendo-se ainda o milésimo por extenso. Entre as minúsculas, devemos anotar a prevalência de nexos em conjuntos como “or” e “pr” (v. g., “florentis”, “armorum”, “prelustris”, na primeira e segunda linhas) e “le” (“culentis”, na primeira regra). O recurso a abreviação por contracção é, contudo, muito reduzido podendo referir-se, na última linha, os exemplos “glia” (gloria) e “xpisto” (Christo) que dão expressão à antífona litúrgica. Recorreu-se a modificação literal na expressão “[F]rancique” em que sucedem ao “q” final três pontos. Usou-se o ponto intermédio na separação entre cada palavra assim se procurando viabilizar uma leitura menos árdua e mais compassada do texto inscrito. 3 — Análise filológica Muito embora, como escrevemos, a lápide esteja muito estilhaçada, é possível observar que possuiu 14 linhas de texto, em caracteres de gótica alemã, de que, hoje em dia, apenas se consegue reconstituir uma leitura satisfatória para as primeiras quatro, bastante insuficiente para as regras cinco a sete, e pouco mais do que sofrível para as restantes linhas com excepção das duas últimas cujo sentido se reconstitui por sabermos corresponderem a parte do milésimo ou data da morte de D. Filipa e a uma imprecação final de louvor a Jesus Cristo. A planificação do epitáfio, com linhas alternadamente recuadas, à maneira dos dísticos elegíacos, parece indiciar uma disposição em verso, apesar dos informes mais prosaicos das linhas finais e da doxologia com que termina o texto completo, ocupando parte da última linha. O grau de destruição, levada a cabo pelas tropas francesas, é tal que o núcleo do texto ficou irrecuperavelmente perdido. Podemos presumir o que lá se encontrava, mas não podemos conjecturar uma reconstituição segura do texto. Neste capítulo, aduzimos a autoridade de R. Marichal para justificar a orientação cautelosa do nosso trabalho: “l’expérience prouve que les restitutions, lorsqu’il ne s’agit pas de formules établies, sont presque toujours annulées par les découvertes postérieures”15. 186 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Reflexões . história . Fotografia da lápide no Mosteiro de Santa Maria da Vitória Foto: Luís Ferraz | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 187 . história . O texto da lápide poderá ser reconstituído do seguinte modo: A[n]glie florentis armorum q[......] culentis Henrrici prelustris german[a fra]ncique regis Hic iacet in cripta quondam [praec]lara [Philipp]a Moribus et vita gra[n]d[is] d(om)i(n)a [.......a] Ind[e in] mon(a)s[terio.....................................no]n Min[ime............................................................]m Inf[antes....................................................] a Dudum regin[a......................................]na Portugalis et [........................................................] Augusti xiii[i............................ ultimum die]m Clausit mallis[.........................mortem] uicit Lumen adprehendens [......................] [A]nno millesimo quadringentesimo[..........................] [D]ecimo quinto. Sit laus [et glor]ia Christo. A suspeita de se tratar de um poema é reforçada pela colocação em posições poeticamente estratégicas dos principais nomes. Como se pode ver, Anglie, Henrrici, Philippa, Infantes e Portugalis ora estão no início ou no final da linha – as posições mais importantes onde os poetas latinos habitualmente costumam colocar os nomes que pretendem enaltecer. A assonância florentis – culentis, prelustris – regis, e cripta – Philippa fazem-nos suspeitar de rima leonina, embora a primeira palavra não coincida com o final do primeiro hemistíquio e, a partir do séc. XII, a rima seja geralmente dissilábica (mesmo que impura)16. Todavia, ainda que admitíssemos um ritmo intensivo (o ritmo quantitativo está fora de questão devido a irregularidades gritantes), o esquema mais próximo que poderíamos admitir seria o ritmo anapéstico baseado essencialmente em metros anfíbracos. Trata-se de um ritmo muito semelhante ao do britânico limerick uma forma variante de poesia atestada na poesia inglesa vernácula já desde o séc. XIV17. E é curioso que, tratando-se de um epitáfio de D. Filipa, o autor comece por enaltecer a Inglaterra e o Rei Henrique IV, irmão de D. Filipa, apesar de o soberano em causa ter falecido dois anos antes da irmã. À data do falecimento da Rainha portuguesa reinava já Henrique V, filho de Henrique IV e sobrinho de D. Filipa. Todavia, dois ou três anos de reinado ainda não tinham sido suficientes para merecer uma referência especial na lápide da tia. Estava 188 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | ainda bem presente o reinado do pai. É, pois, de estranhar que o nome da própria homenageada só surja no final da terceira linha. Ao enfatizar a ascendência britânica de D. Filipa, em vez de começar por a relacionar com o seu marido, D. João I, bem mais glorioso e conhecido no mosteiro que ele próprio mandou construir, o autor do epitáfio denuncia a sua nacionalidade: só pode ser inglesa. Efectivamente, o texto abre com o nome de Inglaterra (Anglie). Por outro lado, a referência ao título do monarca britânico, um Plantageneta em plena guerra dos cem anos, está de acordo com a documentação da época: Regis Anglie et Francie18. Com Eduardo III, os reis de Inglaterra, que também eram duques da Aquitânia, tornaram-se pretendentes ao trono de França. Não admira que este título tenha suscitado a ira dos soldados de Napoleão, gerando neles o desejo de descarregar sobre a lápide toda a fúria que nutriam contra os Ingleses. Se a primeira linha começa por Anglie, a segunda principia por Henrrici e termina por Francique regis. Esperar-se-ia Francieque regis. Não está claro que haja razões de natureza métrica para se substituir o substantivo pelo adjectivo. Obscuro é para nós, ainda, o final da primeira linha que termina em algo que nos parece –culentis. Mais sentido faria, neste contexto, tanto excellentis como luculentissimi (ambos com um sentido muito parecido) ou luculentissimorum e luculentissimae, se concordar, respectivamente com armorum ou com Anglie. Poder-se-ia admitir uma abreviatura por suspensão, mas falta a sílaba inicial, da qual não se vislumbram quaisquer vestígios. A referência às armas é idêntica àquela com que Camões inicia Os Lusíadas, na linha da imitação de Virgílio: as armas da casa real inglesa ou da de Lencastre, uma vez que é D. Filipa que, nessa referência à ilustre linhagem inglesa, é nobilitada. Traduzindo a primeira parte, à excepção do final da primeira linha, teríamos o seguinte sentido: A irmã do mui ilustre D. Henrique, Rei da florescente Inglaterra, (de armas ilustríssimas) e de França, a preclara D. Filipa, que outrora foi uma grande senhora em costumes e no modo de vida, jaz aqui na cripta... Seguir-se-á uma alusão à sua morte no Mosteiro de Odivelas e à trasladação do seu corpo para a Batalha. Onde conjecturamos non minime, também poderíamos admitir non minus, uma lítotes para enaltecer D. Filipa ou a acção dos Infantes, cujos feitos gloriosos em Ceuta estavam ainda bem presentes. Relembremos que D. Filipa sempre incentivou os filhos a conquistar as espo| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 189 Reflexões . história . . história . ras de cavaleiro através de feitos gloriosos, não em justas e torneios, mas em acções guerreiras, como era o caso da conquista de Ceuta. Só depois virá a referência à sua condição de Rainha de Portugal e dos Algarves, e esposa de D. João I. O mês de Agosto e o número XIII, que nós reconstituímos para XIV (na forma habitual de xiiii), estará certamente relacionado com a sua morte: no 14º dia das calendas de Agosto (19 de Julho), embora reconheçamos que a posposição do número ao nome do mês seja pouco comum. O texto que se segue descreve a morte da Rainha, recorrendo certamente a um eufemismo muito comum equivalente à forma mais prosaica mortua est: ultimum (ou extremum) diem clausit. O autor exprime a convicção de a Rainha, tendo vencido a morte e resistido aos males deste mundo, se encontrar já na plenitude da luz de Deus (lumen adprehendens). As duas linhas finais fazem alusão à data da morte ou da sua deposição. É, todavia, de estranhar a ausência das letras iniciais, que se esperariam no alinhamento das iniciais das linhas anteriores. Terão sido destruídas – pelos Franceses ou num primeiro processo de limpeza ou de qualquer outro polimento, a que a lápide terá sido submetida para se eliminar o negrume da fogueira a que foi exposta – ou terá sido lapso do sculptor? Entre o início da data, registada por extenso, e o final, há um espaço que não conseguimos descortinar. Estaria reservado à designação da Era de Cristo? O texto é rematado com uma aclamação doxológica de louvor e glória a Cristo. O elevado estado de fragmentação desta lápide não nos permite aquilatar devidamente a qualidade literária do texto, no qual subsistem algumas dúvidas e incertezas. 4 — Contexto histórico Pelo que subsiste desta pedra, podemos testemunhar a elevada qualidade da paginação primitiva (ainda que o lapicida possa ter desvirtuado nalguns elementos de pormenor o texto escrito que lhe foi fornecido pelo autor intelectual da epígrafe), toda ela servida pela inscrição de caracteres góticos, maiúsculos e minúsculos, de elevado esmero gráfico e efeito estético. O razoável profissionalismo do lapicida mostra-se à altura da dignidade régia que envolve todo o monumento batalhino, o qual, depois da conquista de Ceuta, em 1415, se viu elevado à categoria de panteão da nova dinastia lusitana consagrada, como sabemos, pela vitória portuguesa, na Batalha Real de 14 de Agosto de 1385, nos campos vizinhos ao Mosteiro, sobre os exércitos 190 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . história . “(…) Obiit autem decima octava die Julii anno Domini Mº CCCCXVº. Et in monasterio de odivellis ante chorum monialium decima nona die mensis ejusdem extitit sepulta, et anno sequenti, mensis obtobris die [decima] nona fuit pretiosum corpus ejus desepultum, integrum inventum, et suavviter odoriferum, et per victoriosissimum Regem dominum Johannem eius coniugem et per illustrissimos infantes scilicet dominum Edduardum, suum primogenitum, et dominum Petrum Colimbrie ducem, et dominum Henricum ducem Viseensem, et dominum Johannem, et dominum Fernandum, et infantem dominam Elisabeth ipsorum gloriosissimi regis, et felicissime Regine filios, sociante prelatorum, et cleri, et religiosorum copia numerosa, et dominis, et generosis dominabus etiam et domicellis quamplurimis comitantibus, fuit corpus dicte reginehonorandissime translatum in capella maiori, et principaliori, die mensis obtobris decima quinta, anno Domini Mº CCCCº. XVIº, et postea fuit translatum ad hanc capellam, in hoc tumulo reconditum, cum corpore gloriosissimi regis domini Johannis sui coniugis virtuosissimi, sub illa forma, que in suo epitaphio continetur. Horum autem personas Deus omnipotens glorificare dignetur perpetua felicitate. Amen.”20 (“Faleceo a dezoito de Julho de 1415, e foi sepultada no dia seguinte no antecoro das Freiras de Odivellas. E sendo desenterrada no anno adiante em nove de Outubro, foi achado seu corpo inteiro, e sem corrupção, e acompanhado de suave cheiro, e foi trazido a este Convento polo victoriosissimo Rei dom João seu marido, e polos serenissimos Infantes, a | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 191 Reflexões invasores que faziam perigar a independência nacional19. Esta foi, aliás, a primeira lápide a ser afixada nas paredes da igreja monástica mandada edificar, entre os anos de 1385-1388, como é bem conhecido, por D. João I. A informação legada por Fr. Luís de Sousa indica que era epígrafe alusiva à trasladação dos restos mortais de D. Filipa de Lencastre dos Mosteiro de Odivelas para este novo mausoléu. Conhece-se bastante bem o acontecimento em causa. Os cronistas referem-se-lhe e as fontes epigráficas subsistentes no Mosteiro da Batalha confirmam-na. De facto, no segundo e longo epitáfio da rainha D. Filipa de Lencastre, exposto no painel lateral sul do túmulo conjugal, levantado no centro da Capela do Fundador, para onde ela foi levada, conjuntamente ao seu marido, em soleníssimo cerimonial de Estado celebrado em 1434, sensivelmente um ano após o falecimento do Rei da Boa Memória, podemos ler a dado passo: . história . saber, dom Duarte seu filho primogenito, dom Pedro Duque de Coimbra, dom Anrique Duque de Viseu, dom João, e dom Fernando, e dona Isabel filhos d’elle, e d’ella: sendo acompanhados de grande numero de Prelados, e Clerigos, e Frades, e de todos os senhores, e fidalgos da Corte, e de muitas donas, e donzellas illustres que seguião a Infante dona Isabel: e em quinze de Outubro do anno de 1416 ficou depositado na capella mór, d’onde foi despois treladado a esta capella, e sepultura em companhia delRei seu marido, na fórma que no epitafio do dito Rei se declara. Ambos tenha o Senhor em sua gloria. Amen.”21) Bastaria, de qualquer modo, a própria lápide exposta no transepto da igreja, todavia, para assinalar a solenidade da trasladação do féretro de D. Filipa de Lencastre para o Mosteiro. Como vemos, no entanto, o acontecimento ficou gravado tanto na inscrição exposta no transepto como na parietal do túmulo conjugal destes monarcas. Ainda assim, cumpre considerar o testamento de D. João I, datado de 1426, no qual o assunto vem igualmente explicitado nos seguintes termos: “(…) Item mandamos que noso corpo se lamçe no Moesteiro de Samta Maria da Vitoria, que nos mandamos fazer com a rrainha dona Felipa, mynha molher, a que Deus acreçente em sua glorya, em aquell moymento em que ella jaaz, nom com os seus ossos della, mas em huum ataude, asy e em tall guisa que ella jaça em seu ataude e nos em o noso, pero jaçamos ambos em huum moymento, asy como o nos mandamos fazer. E esto seja na capella moor, asy como ora ella jaaz, ou na outra que nos ora mandamos fazer, despois que for acabada.”22 Há que assinalar, ainda, o precioso documento lavrado no Mosteiro da Batalha, por Gonçalo Lourenço, escrivão da puridade régia, autenticado pela assinatura autógrafa do próprio D. João I, com data de 24 de Outubro de 1416, no qual se atesta terem decorrido nesse exacto dia — informe que não coincide, significativamente, com o que foi lavrado no respectivo túmulo, onde aparece inscrito 15 de Outubro — as cerimónias da solene trasladação da rainha defunta. Embora já publicado, reiteramos, aqui, o seu teor, dada a sua relevância para o assunto que nos motiva: “Saibam quantos este strumento birem como na Era de mil iiiic çinquoenta e quatro anos, vynte e quatro dias do mes d Outubro dentro no 192 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | Moesteiro de Sancta Maria da Batalha, o qual Moesteiro he edeficado e aseentado no termo da bila de Leyrea, em presença de mim notairo e testemunhas adiante scriptas. Estando hi o muito alto, ilustriximo dom Joham pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve e Senhor de Çepta e com el os muito altos e nobres senhores Ifantes seus filhos e os nobres condes e cavaleiros e ricos homees e fidalgos dos seus senhorios e outrossi muitos e honrrador e discretos bispos e abades e priores de sua terra e muito clerigos e religiooes dos seus Regnos que por seu mandado foram chamados pera traladarem aa mujto alta enobre ilustrixima sua molher dona Philipa Rainha dos dictos Regnos em cuja gloria Deus acreçente, do Moesteiro d Odivelas onde primeiramente foy sopultada ao dicto Moesteiro de Sancta Maria da Batalha. E estando a dicta Senhor em o dicto Moesteiro pera lhe seerem çelebradas suas honrras de sua traladaçom pareçeo perante o dicto senhor Rei Gonçalo Gill enlecto do Moesteiro de Sancta Cruz 23 de Coinbra e disse lhe em como el bem sabia que o dicto Moesteiro da Batalha en que se a dicta traladaçom fazia esta fecto e adificado em termo da dicta bila de Leirea que he terra do dicto Moesteiro de Sancta Cruz em a qual bila de Leirea e termo o dicto Moesteiro de Sancta Cruz ha toda jurdiçom episcopal, isenta aa igreja de Roma sem outro alguum meo perteeçente. E em como assy fosse e he que o dicto Moesteiro de Sancta Cruz aja e ha muitos privilegios e liberdades dos padres sanctos de Roma e dos nobres sanctos Reix de Portugal e confirmados por o dicto senhor Rei dom Joham que Deus mantenha, em os quaees faz mençom antre as outras eygeiçooes e liberdades que nenhuuns arçebispos nem bispos nem outro alguum escresiastico nom possam çelebrar o sancto sacrifiçio divino nem outro nenhuum ofiçio que perteeça aa jurdiçom e hordem episcopal em a dicta bila de Leyrea e seu termo salvo ao priol que for do dicto Moesteiro de Sancta Cruz, o qual priol por bem do dicto privilegio pode çelebrar em pontefical em a dicta bila de Leyrea e seus termos. E que agora em estes autos eram prestes bispos e abades e priores pera çelebrarem em as dictas oussequyas em pontefical, a qual cousa era em prejuizo dos privilegios do dicto Moesteiro. E porquanto o dicto enleyto estava de presente e por os dictos privilegios do dicto Moesteiro nom seerem quebrantados fez dello rolaçam ao dicto senhor Rei que fosse sua merçee que mandase comprir e agoardar os privilegios e liberdades do dicto Moesteiro e nom desse lugar a sse quebrantarem. E o dicto senhor Rei respondendo disse que o que da parte do dicto enleyto era razo| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 193 Reflexões . história . . história . ado que lhe prazia muito quanto em esto que seus privilegios lhe fossem goardados ao dicto Moesteiro como em eles faz mençom. E porquanto o dicto Moesteiro careçia por agora de prelado que podesse do dicto pontifical husar e çelebrar segundo nos dictos privilegios faz mençam, e porquanto era neçessario seerem celebradas as dictas oussequyas ponteficalmente por bispos e abades e priores e hordees segundo perteeçia a tam alta Senhor, que mandava esto fazer com entençom de nom husurpar nem mingoar nem ir contra os privilegios do dicto Moesteiro, mandando o dicto Senhor Rey que os dictos bispos e abades e priores çelebrassem as dictas oussequias ponteficalmente, nom consentindo nem quebrantando os dictos privilegios nem hursupando sua honrra e jurdiçom senom tam solamente porque o dicto Moesteiro careçia de prelado por agora. E por se fazerem as sobredictas cousas mais honrradamente. E mandou e deu lugar ao dicto enlecto que assy de presente era que fezesse suas protestaçooes pera goarda do direito do dicto Moesteiro de Sancta Cruz. O qual logo protestou que de toda cousa que se em o dicto Moesteiro fezesse e çelebrasse em as dictas oussequias lhe nom quebrantasse nem fezesse perjuizo em parte nem em todo aos dictos privilegios e honrra e jurdiçom do dicto Moesteiro. E pedio por 24 merçee ao dicto senhor Rei que lhe mandase assy delo dar huum strumento pubrico pera goarda do dicto Moesteiro. E o dicto senhor Rei lho mandou dar. E por mayor abastança asynou o dicto senhor Rei este strumento por sua maao. Testemunhas que presentes foram o meestre frey Joham Xira seu confessor e Johane Anes seu meirinho e Fernam Gomes de Lemos seu camareiro e outros. (Ass.) El Rey. E eu Gonçalo Lourenço scripvam da poridade do dicto senhor Rei e notairo geeral na ssa corte e em todo o seu senhorio que com as dictas testemunhas a esto pressente fui e esto por minha mãao ssoescrevi e aqui meu signal fiz que tal he (sinal do notário).”25 Por outro lado, sabemos, por carta de 11 de Novembro de 1416, que “na traslladaçom que nosso senhor el Rei ora fez ao corpo de nossa Senhora a Raynha dona Phillipa a cuja alma Deus perdõoe no soterramento que do dicto seu corpo fez no Monsteiro da Batalha honde jaz sopultado” foram feitas muitas ofertas, esmolas,, oferendas e dós, entre eles setenta peças de panos de ouro e de seda “novos emteiros mui nobre e mui ricos”. Destes panos, ficaram aos frades da Batalha sete peças tendo as demais sido distribuídas pelos prelados e beneficiados presentes nas reais exéquias, facto que motivou o agravo 194 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | dos cónegos de Santa Cruz de Coimbra, senhores, no espiritual, do Priorado de Leiria, em cujo termo se situava o novo mausoléu dinástico26. D. João I e os seus filhos, perante toda a Corte, patrocinaram uma trasladação soleníssima. Nos rituais que envolveram todo o cerimonial projectavase a mais pura consideração familiar pela defunta Rainha ao mesmo tempo que se propiciava, no amplo e majestoso cenário batalhino, o ambiente espiritual comemorativo da piedosa consorte em torno da qual se sedimentara todo um discurso que reflectia a sua consideração como mulher de vida exemplar e morte santa. Gomes Eanes de Zurara recolheu e amplificou, eficazmente, esta projecção de santidade maternal no seio das duas primeiras gerações da nova dinastia avisina. O epitáfio que aqui publicamos não só proclama, com óbvio significado institucional, a Rainha de Portugal como orgulhoso membro da Casa dos Lencastre, como enaltece o prestígio de que se revestia, na Europa do tempo, a associação entre as Coroas de Portugal e da Inglaterra. Não menos significativo é o facto da inscrição registar que o corpo da Rainha jazia “in cripta”, ou seja, soterrado em túmulo raso. A lápide mantém-se in situ, assinalando o preciso lugar da primeira tumulação de D. Filipa de Lencastre na igreja dominicana27. Tratava-se, como vemos, de sepultura térrea. Algum tempo depois, contudo, o corpo de D. Filipa de Lencastre seria trasladado para túmulo alto à entrada da capelamor da igreja. Aí se encontrava em 1426, conforme refere o testamento de D. João I e, ainda, em 1433, por ocasião da morte do monarca. No ano seguinte, o corpo de D. João I foi levado da Sé de Lisboa, onde tivera primeira sepultura, para o Mosteiro da Batalha. No dia 14 de Agosto desse ano, com a grandiosa pompa de que os cronistas dão nota, procedeu-se, na presença do novo soberano, D. Duarte, e de toda a Corte, à tumulação dos féretros de D. João e de D. Filipa no seu novo e definitivo jazigo, na Capela do Fundador, expressamente edificada, segundo um projecto do arquitecto catalão Mestre Huguet, para esse efeito. Nas inscrições mandadas lavrar nos parietais desta arca funerária conjugal, a primeira que assim de cerziu no País, assinalam-se dados biográficos de ambos os monarcas com grande pormenor de factos e de datas. Neles omite-se a prévia tumulação de D. Filipa, em 1416, defronte da Capela dos Mártires ou de S. Miguel, só depois transferida para lugar mais adequado à sua dignidade como era a capela-mor do Mosteiro. A lápide comemorativa da chegada do corpo da Rainha à Batalha, contudo, permaneceria intacta no seu devido lugar, sobre a cripta fúnebre. Na Terceira Invasão Francesa, co| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 195 Reflexões . história . . história . mandada pelo General Massena, as tropas francesas aquartelaram, entre 1810 e inícios de 1811, no Mosteiro. A igreja viu-se transformada em estrebaria, guardando-se o feno e demais forragem para os animais na capela-mor. Na sacristia conventual, como no próprio braço sul do transepto da igreja, a soldadesca acendeu fogueiras28. As marcas dessas bárbaras sevícias ainda hoje perduram nas paredes e nalguns dos túmulos do monumento. O primeiro epitáfio de D. Filipa de Lencastre, infelizmente, foi uma das peças que mais prejuízo sofreu nessa ocasião. Foi à sua edição, interpretação e contextualização histórica, na fragmentariedade que lhe é própria e no fecho de quase seiscentos anos depois da sua inauguração em que tem passado praticamente em silêncio, que nos propusemos no presente estudo. Notas S. Luiz, Fr. Francisco de (1827), “Memoria Historica sobre as Obras do real Mosteiro de Santa Maria da Victoria, chamado vulgarmente da Batalha”, in Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 163-231: 206. 2 Sousa, Fr. Luís de (1977), História de S. Domingos. Volume Primeiro. Introdução e Revisão de M. Lopes de Almeida. Porto: Lello & Irmãos – Editores, 671. [1ª edição: Lisboa, 1623]. 3 Zurara, Gomes Eanes de (1992), Crónica da Tomada de Ceuta. Introdução e notas de .Reis Brasil. Lisboa: Publicações Europa-América, 143-177. [1ª edição: Lisboa: 1644]. 4 Uma consulta cómoda destas páginas pode encontrar-se em Gomes, S. A. (1997), Vésperas Batalhinas. Estudos de História e Arte. Leiria: Edições Magno, 43-66. 5 O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria (1980), Leiria: O Mensageiro, 97-107. [1ª edição, 1868: Braga: Typographia Lusitana]. 6 Menezes, D. Fernando (1677), Vida e Acçoens D’El Rey Dom João I Offerecida à Memoria Posthuma do Serenissimo Principe Dom Theodosio. Lisboa: Oficina de João Galrão, 414-427. 7 Silva, José Soares da (1730), Memorias para a Historia de Portugal que comprehendem o governo del Rey D. João o I. Tomo Primeiro. Lisboa: Oficina de Joseph Antonio da Sylva, 308-315. [O epitáfio tumular de D. Filipa de Lencastre, como o de D. João I, aliás, foi parcialmente publicado, e traduzido, por Fr. Luís de Sousa. Retomou-o José Soares da Silva, como escrevemos, completando a transcrição de Fr. Luís de Sousa. D. Fr. Francisco de S. Luiz, por seu turno, voltaria a editá-lo, em 1827, repondo texto em falta nas citadas edições. Permanece em aberto, hoje em dia, a necessidade de uma nova leitura epigráfica destes epitáfios, desejando-se que seja metodológica e cientificamente mais criteriosa]. 1 196 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 | . história . Sousa, D. António Caetano de (2002), Agiológio Lusitano dos Santos e Varões Ilustres em Virtude do Reyno de Portugal e suas Conquistas. Tomo IV. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 220-229. [1ª edição: 1744, Lisboa]. O mesmo autor não se lhe refere na sua Historia Genealogica da Casa Real Portugueza. 9 Nomeadamente Vasconcelos, Pe. António (1621), Anacephalaeoses id est Summa Capita Actorum Regum Lusitaniae. Antuérpia: Petrum & Ioannem Belleros., 154-155; Leão, Duarte Nunes (1690), Genealogia Verdadera de los Reyes de Portugal con sus elogios y summario de sus vidas. Lisboa: Oficina de Antonio Alvarez49-50. 10 Murphy, James (1795), Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalha in the Province of Estremadura in Portugal, with the History and Description by Fr. Luis de Sousa; with remarks. Londres. [2ª edição, Londres: 1836]. 11 Pitt, Thomas (2006), Observações de uma Viagem a Portugal e Espanha (1760). Introdução de Maria João Neto. Lisboa: Ippar – Centro de História da Universidade de Lisboa, 130-135. 12 Benevides, Francisco da Fonseca (1878), Rainhas de Portugal. Estudo Historico com muitos documentos. Tomo I. Lisboa: Typographia Castro Irmão, 243-260. De notar que Frederico Francisco de la Figanière não abrange, nas suas Memorias das Rainhas de Portugal (Lisboa: Tip. Universal, 1859), o reinado de D. Filipa de Lencastre. Alguns curiosos dos séculos XIX e XX aludem a esta placa epigráfica, mas sempre sem procederem a qualquer estudo ou interpretação da mesma. 13 Barroca, Mário Jorge, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422). Vol. II. Corpus Epigráfico Medieval Português, Tomo 2. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia. 14 Cumpre agradecer a ajuda que nos foi gentilmente prestada, para o estudo desta lápide, bem assim a sua reprodução, pelo Senhor Dr. Pedro Redol, conservador do quadro do Mosteiro da Batalha. 15 Vd. R. Marichal (1961), “La critique des textes”, in Ch. Samaran (ed.) L’histoire et ses méthodes (Encyclopédie de la Pléiade, 11). Paris, 1247-1360; citação da p. 1273. 16 Em épocas anteriores, bastava que a rima fosse monossilábica, i. e. que a vogal e a consoante final fossem idênticas ou semelhantes (assonância). 17 Embora os exemplos mais frequentes do limerick se possam encontrar na poesia inglesa do séc. XIX, Shakespeare recorreu a ele nas sua peças Othello, King Lear, The Tempest e Hamlet. 18 Eis alguns exemplos colhidos ao acaso: “Serenissimo principi ac domino, domino Henrico, florentis Anglie ac Francie inclito regi...”; “Henricus, Edwardus (etc.)... Dei gratia Regis Anglie et Francie”; “...ex parte dicti Serenissimi principis, regis Anglie et Francie”; “Beda [...] Ecclesiasticam scripsit Historiam regi Henrico Dei gratia regi Anglie et Francie...”. Repare-se no epíteto de Inglaterra, no primeiro exemplo que fornecemos – florentis – o mesmo que encontramos no nosso texto. 19 Na verdade, como temos vindo a defender de há muito, só depois de Ceuta o Mosteiro da Batalha se viu decididamente elevado à missão de panteão régio. À data da morte do primogénito real, o Infante D. Afonso, ocorrida em 1400, D. João I optou | 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 197 Reflexões 8 . história . por o sepultar na Sé de Braga. Poderia argumentar-se que o Mosteiro da Batalha não ofereceria, nesse momento, as condições minimamente adequadas à recepção tumular desse Infante. É uma hipótese. Cremos, contudo, que a morte de D. Filipa de Lencastre, em 1415, coincidindo com o momento da conquista de Ceuta veio precipitar a opção régia pela Batalha como lugar de memória funerária da Dinastia de Avis. Sobre a família e vida de D. João I, leia-se Coelho, Maria Helena da Cruz (2005), D. João I. O que re-colheu Boa Memória. Lisboa: Círculo de Leitores. Para a história do monumento e sua edificação, permita-se-nos remeter para Gomes, S. A. (1990), O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV. Coimbra: Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1-146 e 293-368. 20 Seguimos a lição de S. Luiz, Fr. Francisco de, “Memoria Historica…”, 229-230. 21 Mantemos a tradução de Sousa, Fr. Luís de, História de S. Domingos, 671. 22 Silva, J. Soares da (1730), Memorias…, T. 1, 285 e segs.; Sousa, D. António Caetano de (1738), Provas da História Genealógica, T. 1, Liv. 3, nº 4; Monumenta Henricina. Dir. J. Dias Dinis. Vol. III (1421-1431), Coimbra: Comissão Comemorativa do 6º Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 131-139 (cuja edição seguimos). 23 Riscou um “E”. 24 Riscou “a mi”. 25 Costa, A. D. de Sousa Costa (1985), “A Jurisdição quase episcopal do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Leiria e seus termos, reivindicada em processo judicial perante D. Álvaro Afonso, Bispo de Silves e legado a latere do papa Calisto III”, in Itinerarium, XXXI, nº 123, 432-435; Gomes, S. A. (2000), Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII). Vol. I. Lisboa: Ippar, 93-95. 26 Gomes, S. A. (2000), Fontes Históricas e Artísticas…, T. I, 96-97. 27 Recentemente verificou-se a existência, justamente neste ponto da igreja, de uma cripta, facto que mais reitera as observações que deixamos neste artigo. (A informação em causa foi-nos prestada, há alguns anos atrás, pelo Senhor Dr. Júlio Órfão, Director do Mosteiro, a quem muito agradecemos). 28 Fr. Francisco de S. Luiz recolheu memórias precisas da barbárie napoleónica neste Mosteiro; podem somar-se-lhe os testemunhos, bastante impressivos, devidos a autores estrangeiros como o Reverendo W. M. Kinsey (Portugal Illustrated. Londres: 1829) e Julia Pardoe (Traits and Traditions of Portugal, Vol. I. Londres: 1833). Leia-se, também, Estrela, Jorge (2009), Leiria no Tempo das Invasões Francesas. Lisboa: Gradiva, 72-75. 198 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |