Revista nº. 2 - Ateneu Comercial do Porto
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Revista nº. 2 - Ateneu Comercial do Porto
boletim ~ abril 2006 ATHENEU COMMERCIAL DO PORTO Edição Quadrimestral - Ateneu Comercial do Porto N. 2 >> 2 euros “NÃO TERÍAMOS FÉ PARA CONTINUAR SE NÃO TIVESSEMOS AMIGOS COMO VÓS” Ramos Horta em 13 de Março EDITORIAL Caros leitores Estimados Consócios Cumprindo mais um compromisso assumido em Dezembro de 2005, voltamos a editar um novo número da “ATHENEU”, que passará a ser uma publicação quadrimestral com edição nos meses de Abril (após aprovação do Relatório e Contas do ano anterior), Agosto (mês do aniversário do Ateneu) e em inícios do mês de Dezembro, de forma a divulgar as actividades de final do ano, nomeadamente o Aniversário da Biblioteca. Continuamos a fazer tudo para que esta publicação seja cada vez mais um meio privilegiado de comunicação entre os Senhores Associados, bem como um instrumento fundamental para dar a conhecer a toda a comunidade em geral, às instituições públicas e seus responsáveis em particular, as actividades desenvolvidas pelo nosso ATENEU. Mesmo com algumas dificuldades, esta é mais uma edição sem custos para a nossa Instituição. Continuamos a encontrar quem veja a colaboração nesta publicação como um excelente meio de divulgar os seus produtos. É de salientar ainda que praticamente a totalidade dos textos deste número são fruto da colaboração dos Senhores Associados, o que significa que também este objectivo foi conseguido uma vez que temos contado com a entusiástica adesão dos Sócios e amigos do Ateneu. Neste número, pela sua importância para a nossa Instituição, merecem especial referência as notícias relativas a algumas das iniciativas desenvolvidas no último quadrimestre, das quais destacamos: A Festa da Biblioteca, com a conferência proferida pelo Exm.º Sr. Doutor António Arnault; o debate sobre a OTA e TGV apresentado nos meios de comunicação social como “uma verdadeira cimeira sobre os transportes”; o jantar e conferência com o Sr. Dr. José Ramos Horta, ilustre Ministro dos Negócios Estrangeiros de Estado e da Cooperação de Timor-Leste; o Festival de Bridge, que reuniu mais de uma centena de praticantes, graças ao empenhamento e excelente trabalho desenvolvido pela Sr.ª Directora, D. Carlota Teixeira da Rede, a quem deixo os meus públicos agradecimentos; e ainda ao sucesso do 43.º leilão organizado pelo Núcleo Filatélico. As iniciativas enunciadas, bem como muitas outras desenvolvidas, nomeadamente, os concertos de música, as exposições e o lançamento de livros, são a melhor prova de que o nosso Ateneu está no bom caminho, pese embora o enorme esforço financeiro que é necessário fazer para “inventar” recursos que nos permitam levar a cabo um tão vasto conjunto de iniciativas. Nunca será demais referir que - embora nos últimos anos a Câmara Municipal do Porto não tenha atribuído qualquer apoio à nossa Instituição, face à última resposta recebida: “informando que está a ser ultimado um regulamento que irá determinar a colaboração da autarquia em função das actividades desenvolvidas” - depositamos fortes esperanças de que brevemente esse apoio aparecerá, atendendo ao enorme número de acções desenvolvidas pelo Ateneu, à qualidade das mesmas e, ainda porque todas as actividades são de acesso gratuito e abertas à comunidade. Não resistimos por isso, a parafrasear com a devida vénia o Senhor Presidente da Assembleia Municipal do Porto, Dr. José Pedro Aguiar-Branco ao considerar que “inquietar os nossos espíritos, motivar a nossa solidariedade, interpelar as nossas consciências, aguçar o nosso engenho, dar sentido à nossa existência promovendo a nossa realização como seres inteligentes e pensantes” é o desafio da actualidade das instituições que são a alma da nossa cidade. Pela nossa parte, no Ateneu, esse desafio há muito que faz já parte do nosso quotidiano. É pois com esperança num futuro mais risonho que vos damos conta do enorme esforço desenvolvido para levar a cabo tão grande conjunto de realizações, sendo certo que a vontade de todos os Corpos Gerentes é fazer cada vez mais e melhor. O Presidente da Direcção Hélder Firmino Ribeiro Pereira pags 1 MENSAGEM O tempo que cada um vive é necessariamente transitório. Mas a matriz do modo de viver esse tempo pode e deve ter características de perpetuidade, assente no exemplo, do passado, de que nos orgulhamos, no trabalho presente, que queremos deixar como testemunho e no apontar de objectivos, para o futuro, com que queremos motivar as gerações vindouras. Essa estruturação sustentada passa pela discussão empenhada dos temas mais marcantes que, hoje, provocam o nosso conforto intelectual - como sejam, por exemplo a procriação assistida, o conceito de família, a exclusão social ou o modelo de desenvolvimento - tudo o que, ajudando a apurar o que nos separa uns dos outros, contribui decisivamente para o reforço do nosso regime democrático, para a descoberta de novos valores que nos orientem ou para a sedimentação dos O fio condutor dessa matriz tem a ver com os valores que que se devem manter para lá das conjecturas específicas de uma instituição ao longo dos tempos vai sedimentando como uma determinada época. seus, não só através da palavra ou do pensamento mas, também, por força dos actos que concretiza. Elevar o plano da discussão das matérias de cidadania, convocar o maior número de nós para uma participação A alma de uma região busca-se, assim, igualmente, nas influente na determinação do bem comum são exigências instituições que, permanecendo no tempo - para lá da distância que se impõem aos que, como nós, não desejam entregar os curta do horizonte… - vão contando, de geração em geração, comandos da vida ou a gestão da fazenda aos que se movem a história viva de uma comunidade. mais pela lógica do interesse próprio do que pelo verdadeiro As instituições transmitem e fazem emergir os sentimentos sentido do interesse público. nobres que distinguem os seus membros e permitem a O Porto é sinónimo de resistência, de tolerância e de afirmação do orgulho da respectiva cidadania quer no universo empreendorismo. Tudo o que é necessário para o despertar regional quer nacional quer mesmo internacional. das vontades que, navegando na onda da maioria, se refugiam O Ateneu Comercial do Porto é uma instituição de referência no aconchego do seu egoísmo, desprezando o que de mais da nossa cidade e um espaço de encontro do espírito liberal nobre se pode esperar da actividade do homem: a realização que caracteriza as nossas gentes. do bem comum, proporcionando ao outro a igual oportunidade Espaço tanto mais importante quanto é cada vez mais evidente a natureza de crise do nosso tempo. Vivemos uma época em que se exige uma militância activa contra o pessimismo, contra a atracção pela futilidade, contra a desvalorização do ideológico, contra a elevação do pragmatismo ao patamar cimeiro dos valores a preservar. A afirmação de uma sociedade dinâmica, crente nas suas potencialidades, com vontade de elevar a sua auto estima, confiante na sua capacidade que nos foi concedida e a todos o direito a ser feliz. É esse o desafio da actualidade das instituições que são a alma da nossa cidade. Inquietar os nossos espíritos, motivar a nossa solidariedade, interpelar as nossas consciências, aguçar o nosso engenho, dar sentido à nossa existência promovendo a nossa realização como seres inteligentes e pensantes. Com tudo isso, ajuda-se a criar lideranças fortes, competentes e com capacidade para alcançar e exercer o verdadeiro poder, o que transporta as reformas e se impõe aos arcaísmos que bloqueiam o nosso desenvolvimento colectivo. para ultrapassar as agruras É esse o desafio do Porto no início sociais e económicas em que se do século XXI: ser a referência, o move, obriga à estruturação, modelo, a vanguarda de uma sustentada, de uma massa crítica sociedade que acredita no futuro. política que dimensione o reconhecimento à escala nacional das suas élites. José Pedro Aguiar-Branco Advogado NA FESTA DA BIBLIOTECA Pai do Serviço Nacional de Saúde analisa Estado de Direito, Autoridade e Ética o poder democraticamente legitimado, e as pessoas colectivas e os cidadãos, estão sujeitos à Lei, e que esta é o produto da vontade popular expressa pelos seus genuínos representantes”. Por outro lado, Autoridade, explicou, “é o direito ou o poder de emitir comandos e de os fazer cumprir, obtendo, assim, de outrem, um certo comportamento positivo ou negativo”. Quanto à Ética, “pode definir-se como o conjunto de valores que devem reger o comportamento do homem na sua vida de relação, de modo a alcançar-se a paz social e o bem colectivo”. O problema, disse, é fazer o enquadramento prático destes três conceitos, “ou seja, de ajuizar como deve ser exercida a autoridade políticoadministrativa no Estado de Direito democrático”. Mas a questão é “delicada” retorquiu. “Vivemos um tempo em que os grandes valores éticos parecem arredados da sociedade e da administração pública. A preocupação individual pelo sucesso, o nepotismo, a ânsia desmedida de enriquecimento, António Arnault, personalidade emblemática da sociedade a corrupção, a mediocridade, a falta de escrúpulos e do portuguesa, pai e fundador do Serviço Nacional de Saúde sentido de servir a causa pública, tornam o mundo numa em Portugal, foi o convidado de honra do Ateneu Comercial selva, onde predomina a lei do mais forte, ou num pântano, do Porto para desenvolver a palestra sobre “Estado de Direito, onde reina a regra do salve-se-quem-puder”. O problema, Autoridade e Ética”, que juntou uma forte assistência no portanto, “consiste em conciliar a ética com a política”, Ateneu, a 12 de Dezembro de 2005. afirma. Porque “democracia é uma construção permamente e exige a participação de todos. O civismo e a cultura são as Autoridade e Ética são conceitos “intimamente ligados” entre suas traves-mestras. É que o Estado de direito é também o si. Para Arnault, Estado de Direito significa que “o Estado, Estado dos deveres. É da conjugação destes dois valores que entendido como o conjunto de entidades públicas que detêm se alcança a paz social”. O Dr. António Arnaut deu uma verdadeira lição de cidadania O almoço da Festa da Biblioteca foi o mais participado dos últimos anos e na mesa de honra sentaram-se alguns dos sócios mais antigos do Ateneu Arnault provou, por A mais B, porque considera que Direito, pags 2, 3 EXEMPLO DE INTEGRAÇÃO DE ESTRANGEIROS Numa época em que a integração das comunidades imigrantes constitui um dos mais preocupantes temas da vida portuguesa, é justo, mais uma vez, recordar o extraordinário desempenho do Ateneu Comercial do Porto nessa matéria, ao longo dos seus venerandos 136 anos de actividade. Boullosa Camiña de 32 anos, Com efeito, nos seus salões convivem, desde há décadas, sócios de várias nacionalidades cuja integração é tão perfeita que nem nos damos conta da sua origem. Guerra, é admitido o industrial José empregado comercial e Pablo Gali, industrial, morador na Rua do Amial. Giacomo Mazzoni, da Rua da Boavista e o Conde Alain du Doré, proprietário em Vila do Conde, ambos engenheiros, entram para sócios no ano de 1937 e, após um hiato compreensível devido à Vasques Enriques, em 1940. A partir de 1942 assistimos ao aumento acentuado do número de sócios, incluindo estrangeiros. A este facto que não será estranha a remodelação das instalações iniciadas em 1941, segundo (admitido sócio em 1941). O edifício (Vice-Presidente da Direcção) DRA. ISA BARBOSA a traça do Arquitecto Amoroso Lopes ganhou um ar moderno, sem contudo perder a sua imponência. O Restaurante, as novas Salas de Jogo e sobretudo o Salão Nobre, que manteve os seus enormes espelhos onde se reflectiam as elegantes toilettes das senhoras e dos cavalheiros, atraíram novos associados. Como exemplo, foram estudados os boletins de admissão de sócios no período de 1936 a 1946. Uma década marcada pela tragédia das guerras e pela chegada de muitos refugiados que procuravam no Porto a paz necessária para desenvolverem os seus negócios e, concomitantemente, criar os seus filhos. Foi certamente a época de ouro do Dado que nos boletins de inscrição não se fazia referência à nacionalidade dos associados, só o apelido e o conhecimento pessoal, nalguns casos, possibilitou o seu conhecimento. recordam, com uma nostalgia Lembremos, então, alguns desses associados. saborosas… voltemos ao nosso tema. Em 1936 foram admitidos os ingleses Edmond Francis Riley, morador na Rua da Bandeirinha 78, proposto por seu pai e Alexander Young Smart, de 62 anos, morador no Hotel Sul Americano, juntamente com os espanhóis Álvaro verificam-se as admissões dos Ateneu Comercial do Porto no que diz respeito a actividades recreativas. Ficaram famosos os Bailes e Chás Dançantes animados por novos ritmos onde imperava o Tango, dançado a primor e com garbo, sobretudo pela comunidade espanhola. Ainda hoje muitos associados se perfeitamente justificada, desses serões onde a alegria e o glamour andavam de mãos dadas! Depois deste momento de recordações Relativamente ao ano de 1942 comerciantes Edouard Henry, da Rua do Paraíso, 95, e de José Vaquero, da Rua de Cedofeita; de Duvet M. Beaumont, agente comercial da Sociedade L’Air Liquide; de Raymond Schwab, químico industrial e dos catalães João e Luís Villaderprat Muns, industriais, moradores em Gaia, aos quais se viria a juntar posteriormente seu irmão Miguel, em 1944. A partir do ano de 1943 os formulários para admissão de sócios tornam-se mais completos, embora continuem a não fazer referência à nacionalidade. Nesse ano são admitidos Saul Finkelstein, industrial, Maurice Palman, jornalista, os comerciantes Ernest Balduin Simon, e Alfredo Stocker, Nicolás Juárez Montero, e Gilbert Guitton, proprietário. Em 1944 é admitido o Engenheiro Robert Journot, nascido em Besançon, França, com residência na Avenida da Boa-Vista. No triénio de 45/47 assistimos à admissão de um número considerável de estrangeiros, sobretudo sócios de origem espanhola. Estão neste caso os comerciantes Armindo Vaquero dos Santos, José Fermoselle González, Alejandro Sendín Lozano e Óscar José Flores Marcos, curiosamente todos parentes, oriundos de Fermoselle, Zamora; e António-Luís Morró y Arroyo Arroyo de Aguilar, director artístico. Além destes deram entrada também Alfred Rost, engenheiro de minas, Enrico Guiseppe Girardi, estudante, e Achille Prisse d’Avennes, inspector do Serviço de Águas e Saneamento. Do exposto pode-se portanto concluir que foram em número significativo os imigrantes - espanhóis, italianos, franceses, alemães e ingleses - de várias gerações, exercendo profissões diversas, que contribuíram com as suas experiências para enriquecer a nossa vida associativa. O Ateneu, espelho de uma cidade aberta onde a hospitalidade é timbre, contribuiu para a integração de cidadãos estrangeiros, promovendo o intercâmbio cultural e social, negócios e romances mas sobretudo …quebrou solidões! III FESTIVALDE BRIDGE FOI UM ÊXITO ABSOLUTO Os grandes vencedores do Torneio, o Par Juliano Barbosa/ João Barbosa, quando receberam os respectivos prémios das mãos da Direcção do Ateneu A realização do III Festival de Bridge do Ateneu Comercial do Porto, nos passados dias 17 e 18 de Março, foi, uma vez mais, um êxito absoluto. O Festival registou uma enorme adesão (cerca de uma centena de participantes, incluindo alguns pares espanhóis), provando que o interesse dos bridgistas na realização de torneios em local próprio - vulgo clubes ou associações - continua vivo. Quanto às melhores classificações, foram as seguintes: Geral 1.º Par Classificado - Juliano Barbosa / João Barbosa 2.º Par Classificado - Nuno Dâmaso / Pedro Pratas 3.º Par Classificado - Ricardo Braga / Rafael Braga 4.º Par Classificado - Ernesto Ferreira / Lax Gocaldas 5.º Par Classificado - N. C. Oliveira / A. Barbosa 1.º Par Senhoras - Gely Rodriguez / Flor Perez Categorias Especiais 2.º Par Senhoras - Maria de Lurdes Pedrosa / Teresa Miranda 1.º Par 2.as Categorias - Maria Ana Jordão / Anante Rajani 2.º Par 2.as Categorias - Fátima Alegre / Cipriano Alegre 3.º Par 2.as Categorias - Maria Deolinda Alexandrino / Luciano Alexandrino 1.º Par Juniores - Max Enes / Paulo Bettencourt 1.º Par Sócios do Ateneu - Luísa Costa Lima / Teixeira Lopes 2.º Par Sócios do Ateneu - Carlindo Sá Ribeiro / António Fernandes 1.º Par 3.as Categorias - A. Castro / José Meireles 2.º Par 3.as Categorias - Nestor Rodrigues / António Cerquinho 1.º Par da Média - Sofia Sarmento / Carlos Araújo 3.º Par 3.as Categorias - Carlota Rêde / João Ambrósio O Torneio, que foi patrocinado uma vez mais pelo BPI, 1.º Par Mistos - Filomena Braga / L. M. Ribeiro terminou com um jantar de confraternização e, naturalmente, 2.º Par Mistos - Paula Lima / João Paulo Rocha Pinto a entrega de prémios. As imagens não enganam sobre o êxito de participação do Festival de Bridge pags 4, 5 O Núcleo de Filatelia do Ateneu retomou uma velha tradição: a dos leilões, com a organização da 43.ª edição NÚCLEO DE FILATELIA REALIZOU 43.º LEILÃO Está mais uma vez de parabéns o Núcleo de Filatelia do Ateneu Comercial do Porto que, no passado dia 1 de Abril, realizou o seu 43.º Leilão público. Uma razoável quantidade de selos raros estiveram em exibição perante numerosa plateia interessada. As transacções foram de muito bom nível. Destaque para uma peça bonita e de extrema raridade que foi uma das “vedetas” do certame: um sobrescrito circulado em Novembro de 1926, com selo Ceres de 2 avos de Macau com sobrecarga local e com etiqueta de propaganda da Exposição Industrial de 1926 que foi a leilão por dois mil euros. A organização, impecável, prometeu já outro certame, o 44.º Leilão, para o dia 18 de Novembro e que está já a ser organizado, sendo os lotes aceites até ao próximo dia 15 de Junho. Com mais de um quarto de século de existência, o Núcleo de Filatelia do Ateneu Comercial do Porto é um dos mais antigos do país e também um dos de maior prestígio, que volta dar sinais de grande vitalidade, após um curto período de letargia, nomeadamente aquando do falecimento de um dos seus maiores impulsionadores, o Eng.º Armando Vieira. in Jornal “Correio da Manhã” de 2006.03.26 de outras economias. entre o sistema público de segurança O actual sistema português já incorpora social (que é financiado em repartição esta componente através do Fundo de das despesas dos pensionistas pelos Estabilização Financeira da Segurança contribuintes em idade activa) e o Social (FEFSS, vulgo Fundo de sistema complementar dentro de Capitalização) que tem contribuído limites contributivos pré-definidos. O positivamente para o reforço da sistema complementar compreende garantia dos direitos dos beneficiários regimes legais, regimes contratuais e do sistema de Segurança Social, esquemas facultativos. apresentando nos últimos 3 e 5 anos DR. HENRIQUE CRUZ prevê a livre opção dos beneficiários uma rentabilidade anual média real Os regimes complementares legais visam a cobertura de eventualidades ou a atribuição de prestações em articulação com o sistema público de segurança social, vislumbrando-se neles um carácter sucedâneo em relação ao sistema público. Já os regimes complementares contratuais visam a atribuição de prestações complementares do (4.2% e 2.1%) superior ao crescimento Tal como é mencionado no relatório real dos salários em Portugal (1.3% e sobre a sustentabilidade da segurança 0.7%). Trata-se, portanto, digamos social anexo à proposta de Orçamento assim, de um pilar de comple- de Estado para 2006, a simulação da mentaridade de acesso universal a introdução de tectos contributivos a 5 todos os beneficiários do sistema. Salários Mínimos Nacionais (SMN) Todavia, ainda assim, o sistema de protecção social Português paga pensões, em termos absolutos, subsistema (do sistema público) consideradas baixas para o conjunto previdencial na parte não coberta por de países da União Europeia, pelo que este, bem como a protecção face a é desejável um sistema complementar eventualidades não cobertas por aquele de financiamento de uma protecção mesmo subsistema. Estes regimes têm, social adicional ao sistema de portanto, um cariz suplementar. repartição que contribua para o reduz a receita de contribuições em cerca de 14% podendo antecipar o esgotamento do FEFSS em 5 anos. Para o limiar de 12 SMN estima-se uma redução de 3% da receita e a ruptura do FEFSS para 2013. O desenvolvimento do sistema complementar coloca dois desafios distintos: aumento da taxa de substituição dos Finalmente, os esquemas comple- rendimentos do trabalho por pensões. mentares facultativos visam o reforço d a a u t o - p r o t e c ç ã o vo l u n t á r i a A materialização do princípio da assumindo, entre outras, a forma de complementaridade assenta em duas planos de poupança-reforma, seguros componentes: de vida, seguros de capitalização e de modalidades mútuas. 1 › A articulação dos regimes complementares legais com o A introdução de uma componente de sistema de repartição capitalização no sistema de protecção 1 › O encontro de formas de mitigar a redução transitória de receita do sistema de repartição por via da introdução do plafonamento para viabilizar os regimes complementares legais e 2 › O desenvolvimento no imediato de regimes complementares social permite a “aquisição” de 2 › A criação de um quadro geral de contratuais por iniciativa das crescimento real de outras economias confiança e de transparência para associações sindicais, patronais ou a t r av é s d a r e n t a b i l i d a d e d o s o desenvolvimento do sistema profissionais, através da negociação investimentos realizados sobre activos complementar. colectiva. (resumo da intervenção na Conferência “Novos Desafios para as Pensões em Portugal” organizada pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimómios no dia 17.03.2006) pags 6, 7 (Sócio do Ateneu) A Lei de Bases da Segurança Social Vice-Presidente do Instituto de Gestão de Fundos de capitalização da Segurança Social DESENVOLVIMENTO DOS REGIMES COMPLEMENTARES EM PORTUGAL RAMOS HORTA LEMBROU NO ATENEU QUE O POVO DO NORTE SERÁ SEMPRE AMIGO DE TIMOR o primeiro presidente de câmara do país, a doar um cheque de dois mil contos para a Resistência Timorense”. Mais tarde, já em Lisboa, continuou, “lancei o desafio aos clubes portugueses, no sentido de boicotarem os produtos desportivos produzidos na Indonésia, à força da exploração de mão-deobra, como a Reebock e a Nike. O primeiro a responder foi Pinto da Costa, Presidente do Futebol Clube do Porto, dizendo que não compraria mais produtos made in Indonésia”. O gesto, disse, “nunca mais o esqueci”. Mas até hoje, confessa, nunca sequer conheceu Pinto da Costa. A emoção de Ramos Horta esteve ao rubro noite dentro. O Ateneu “engalanou-se” para o Jantar e Conferência do Dr. José Ramos Horta Clima que se generalizou junto da assistência: “Não teríamos fé para continuar, se não tivéssemos amigos como vós”, As vozes femininas, por poucas que fossem, ecoaram pelo afirmou o ministro. Recordando ainda o esforço levado a salão nobre do Ateneu, unindo, uma vez mais, dois povos cabo pelo ex-primeiro ministro António Guterres: “Em 1999, distantes. E foram motivo suficiente para Luciano Vilhena, as Nações Unidas, de forma célere e eficaz, entraram em Presidente da Assembleia Geral do Ateneu, lembrar que a Timor. Portugal teve um papel decisivo, pela mão do música “espelha a unidade que existe entre o povo de Timor Engenheiro António Guterres”. Porém, só mais tarde Ramos Leste e o povo português”, mostrando o que é “cooperação, Horta saberia disso: “Bill Clinton, então presidente dos EUA, harmonia, beleza”. No dia 13 de Março, o Ateneu encheu, disse-me que o que mais o comoveu e persuadiu a avançar com mais de duas centenas de pessoas que quiseram participar foi António Guterres. Durante a crise em Timor, em 1999, no jantar-conferência, subordinado ao tema “Timor-Leste: Guterres, que estava no Porto, telefonou do seu carro para Progressos e Desafios da Década”, que contou com a presença Bill Clinton, dizendo-lhe que se os EUA não alinhassem com de Ramos Horta, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Portugal na causa de Timor, seria muito difícil segurar o povo Cooperação de Timor. português e que, além disso, Portugal teria de sair da Bósnia, onde estava com tropas, no âmbito da NATO”. Essa ameaça, Emocionado, Horta começou por recordar “as várias vezes” que esteve no Porto, a primeira das quais há cerca de 20 garantiu, “foi decisiva para nós, timorenses”. anos, e as gentes do Norte, “sempre amigas de Timor”: Mas nem tudo foi bom em Timor com a presença da ONU, “Fernando Gomes, então Presidente da Câmara do Porto, foi confessou o ministro. Que esbanjou dinheiro, sem construir O Presidente da Assembleia Geral do Ateneu, Dr. Luciano Vilhena Pereira, fez oferta ao ilustre visitante do nosso Álbum de Memórias… … assinando, entretanto, na presença do Presidente da Direcção, Dr. Hélder Pereira, o Livro de Honra do Ateneu OTA E TGV NO ATENEU nada. Em contrapartida, disse, As actividades do Ateneu Comercial do Porto continuam a merecer “Portugal, desde 1999, sempre foi destaque, habitual, nos órgãos de comunicação social. Dos jornais, o que mais ajudou Timor em às rádios, das televisões às edições informativas on-line, o Ateneu dinheiro e a nossa obrigação é lembrar sempre isso”. Foi também não pára de surpreender... Os prós e os contras, gerados em Portugal, por causa dos dois mega-projectos anunciados Depósitos, referiu, que “em dois pelo Governo – OTA e TGV – motivaram o Ateneu a efectuar um debate sobre o assunto. anos injectou 100 milhões de A “importância dos grandes projectos estruturantes na afirmação da Área Metropolitana dólares na Economia timorense, do Porto no contexto do Noroeste Peninsular Nacional” foi o mote do encontro, que dando mais que a ONU, porque decorreu a 17 de Fevereiro. O debate, moderado por Jorge Fiel, editor de Economia investiu em transportes públicos, do semanário Expresso, trouxe ao Ateneu os intervenientes António Guilhermino em casas. Fez pela nossa Rodrigues, Presidente do Conselho de Administração da ANA/NAER; Alberto José Economia, o que nunca fizeram Castanho Ribeiro, Administrador da as agências das Nações Unidas”. REFER/RAVE; Carlos Brito, Provedor do Um painel de gabarito debateu a OTA e TGV, numa sala pejada de interessados o caso da Caixa Geral de Cliente do STCP; e Paulo Morais, ex-viceActualmente, completou Ramos Presidente da Câmara Municipal do Porto Horta, a Economia de Timor está e Professor Universitário. a crescer, com o esforço de todos: “Hoje, Timor está classificado, em termos de desenvolvimento, abaixo de Cabo Verde ou S. Tomé, mas acima de Angola e Moçambique. A pobreza continua, muitos não têm ainda acesso a água e a luz, não tem assistência médica, mas estamos a crescer”. Com a ajuda de todos: “Neste momento, a partir de um programa que estabelecemos com Cuba, O objectivo do debate era apresentar os principais argumentos, contra e a favor, quer da OTA, como do TGV. Do lado dos que estão a favor das duas grandes obras, o público presente no salão nobre ouviu garantias de que o Novo Aeroporto de Lisboa – que será construído na freguesia da OTA, em Alenquer, a cerca de 50 km da capital, não vai colocar em causa a sustentabilidade da gare do Porto. Guilhermino Rodrigues frisou, mesmo, que o futuro do Aeroporto do Porto não depende do gestor da infraestrutura, mas sim das forças vivas da região: “Quando estiverem os dois a funcionar”, disse, “a área de influência da infra-estrutura, a 90 minutos da OTA, vai sobrepor-se somente em cerca de 500 mil passageiros por ano, ao do Porto”. temos cerca de 400 médicos Alberto Ribeiro, da RAVE, lançou, por seu turno, a ideia de que será, sobretudo, o cubanos em Timor e vários interior do país a beneficiar com a futura rede ferroviária (TGV). Questionado pela timorenses a estudar naquele país”. assistência se o Governo não teria dado primazia aos interesses espanhóis na definição E Timor tem mais. Tem petróleo, das ligações internacionais, o Administrador referiu que “Espanha não queria o traçado tem “um grande potencial de Aveiro-Salamanca e tinha muitas reticências em relação ao de Porto-Vigo”. Sendo certo, investimento”, que ajudará o adiantou, que o interesse do Estado se norteia exclusivamente pelo euro Lisboa-Madrid. pequeno país a erguer-se. Aos que estão no contra preocupa, basicamente, os milhares de euros que vão ser A sessão terminou com a entrega, gastos com as duas obras. Paulo Morais não pode, por isso, deixar de questionar o a Ramos Horta, do Álbum de Memórias do Ateneu. E um pedido de Luciano Vilhena: “Espero que venha a criar em Timor um Ateneu Administrador da ANA sobre as garantias que o Governo pode dar para evitar as potenciais derrapagens de custos: “Houve a preocupação de fazer estudos”, respondeu Guilhermino Rodrigues, “com especial destaque para os factores de derrapagem, nomeadamente os geotécnicos, geológicos e hidrológicos”. igual a este, porque esta instituição O debate serviu, acima de tudo, para mostrar à assistência porque existe uma ala da também nasceu como embrião da sociedade que está contra a OTA e o TGV; e uma outra a favor. Depois do que se ouviu democracia”. no Ateneu, fica na consciência de cada um tomar posição sobre o assunto. pags 8, 9 PINCELADAS DO PORTO Que diz além, além entre montanhas, O Rio Doiro, quando a tarde passa? Que diz ao vê-lo, o rosto da cidade Onde as velas são ruas com mil vidas? (Sócio do Ateneu) LUCÍLIA ABREU Pedro Homem de Melo “Balada do Rio Doiro” Toda a cidade com as agulhas dos Templos, as torres cinzentas, os pátios e os muros em que se cavam escadas, varandas com os seus restos de tapetes de quarto pendurados e o estripado dos seus interiores ao sol fresco, tem toda ela uma forma, uma alma de muralha. Agustina Bessa Luís Numa idade em que a memória parece apostada em fazer o levantamento de todos os ambientes e afectos que ajudaram a moldar a nossa personalidade e também porque acredito na integridade das coisas que amamos, sinto que há ainda, e sempre, pedaços do velho Porto – “concretos como frutos, nítidos como pássaros” – que aprendi a amar desde a minha meninice, quer na eloquência dos seus monumentos, quer na simplicidade das suas gentes. sendo muitos dos seus espaços ocupados por quintais e hortas. No entanto, as casas aí existentes, abstraindo de uma ou outra mais fraca ou térrea, eram, na maioria, de boa arquitectura e a construção então emergente, bastante significativa. Dos vários prédios que davam corpo à Rua do Rosário, o mais importante era, sem dúvida, o denominado Palacete dos Albuquerques, (com uma das mais apetrechadas cocheiras do Porto) pertença do ilustre fidalgo João de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres. Como eu gostava de “descobrir” a magia tão própria desta cidade agreste quando, em passeios curtos, com a minha mãe, entrava nos ronceiros eléctricos – estávamos longe da era informática, electrónica e cibernética e de uma visão holística da vida! – e tinha todo o tempo para “saborear” a cor Única do velho jacarandá da Rua da Bandeirinha, a explosão multicolor das japoneiras que impunham uma presença aristocrata junto dos velhos muros dos velhos quintais, a silhueta da Torre dos Clérigos parada nos séculos, aquela Fonte dos Leões que deu o nome à Praça… E que espanto para os meus olhos de criança, a visão daquelas figuras aladas, moldadas em bronze, deitando água pela boca num movimento imparável! Muitas tardes da minha meninice vivi-as no velho Palácio de Cristal, ora vivo, pleno de riso e das brincadeiras das crianças, ora silencioso, tranquilo, gerador de sonhos e de fantasias, quando no Outono, já frio, pisávamos, deliciadas, as primeiras folhas secas dos velhos plátanos, num último aceno de Verão! Quanto à parte comercial e industrial, expandira-se numa diversidade apreciável de lojas. Para só citar algumas, registarei, nessa época, (meados do século XIX) uma carvoaria, uma loja de fabrico de brinquedos, uma fábrica e forno de cozer telha, tijolo e outros objectos de barro. Uma curiosidade: o forno ficava quase encostado ao muro da propriedade dos Morais e Castro (ou dos Carrancas) que se estendia até à Rua do Rosário. Havia também uma loja de peso ou mercearia, com as armas reais apostas na tabuleta da fachada, uma oficina de torcedor, uma estrebaria com aluguer de cavalgaduras, serralharia de Rosa Violante, uma barbearia, uma venda de vinhos da Companhia, outra loja de peso, com as armas reais estampadas numa vistosa tabuleta. Era, pois, uma zona do velho Porto cheia de vitalidade e com certo prestígio, ao qual não foi certamente alheio a instalação do Colégio Inglês, dirigido por Miss Brown, bem como o edifício do Hotel dos Ingleses. Acrescentarei ainda que, no amplo edifício da esquina da RUA D. Manuel II, funcionou, no 3º quartel do século XIX, o Hotel do Louvre, dirigido por D. Henriqueta de Melo Lemos e Alvelos. Neste Hotel, considerado justamente um Hotel de Luxo, estiveram hospedados em Março de 1872, o Imperador do Brasil, D. Pedro II e sua esposa, a Imperatriz Teresa Cristina Maria. Nesse mesmo prédio, em 1 de Janeiro de 1881, é inaugurada a Casa de Saúde Dr. António Bernardino de Almeida e, já por volta de 1930, ali esteve assente o Orfeão Lusitano. Quando já adulta, quis o acaso que, no meu percurso profissional, assentasse arraiais, durante duas décadas, na Escola Pêro Vaz de Caminha, nascida na Rua do Rosário, em 1970. O nome da Rua deve-se ao negociante Domingos do Rosário de Almeida, morador e proprietário de uma fábrica de chapéus com o honroso título de Real, nessa artéria. Domingos do Rosário de Almeida (tio de Almeida Garrett) devia ser muito devoto de Nª Sª do Rosário, como prova o nome “de devoção” que acrescentou ao seu. O piso da Rua do Rosário, até meados do século XIX, era cascalhoso, terrento e não possuía, como hoje, passeios laterais, O nome da escola atrás referida e “nascida” precisamente na Rua do Rosário, vem-lhe do escrivão com esse nome que fez parte da frota de Pedro Álvares Cabral e cuja notoriedade está ligada à “Carta” que, do Brasil, dirigiu ao Rei D. Manuel, acerca POESIA da terra recém-descoberta e das suas gentes. “Carta” que, como alguém escreveu, é a certidão de idade de um país, lavrada junto ao berço em que nasceu. A Escola “Pêro Vaz de Caminha” começou por funcionar num edifício alugado, apresentando já um certo grau de degradação e no qual estivera sedeada uma antiga pensão. Situada, pois, numa rua estreita, com velhas casas encostadas umas às outras, com frontarias enegrecidas pelo tempo, e ainda com pequenas lojinhas de variado comércio, também, ela não tinha, exteriormente, tal como a RUA, qualquer sinal de juventude. Juventude havia dentro dela: vida, risos, tropelias, em perfeito contraste com a sua estrutura interior que, como pensão, albergara, por certo, gerações com as suas alegrias, segredos, mas nunca com um tão grande pulsar de vida nova. Os quartos haviam sido adaptados a salas de aula. Nas que se situavam na cave – antigas cavalariças – os alunos, curiosamente, espreitavam para a rua através de uns postigos e viam os pés das pessoas que passavam…Outras, situadas no sótão, tinham acesso por uma velha escada carcomida, que os jovens galgavam num fôlego. Lá dentro, num preâmbulo de aula, esperava-nos uma luz suave, doce, vinda de pequenas clarabóias – essas clarabóias tão características do velho Porto! – e de velhas janelas de guilhotina. Atrás de nós, não raro, entrava sem cerimónia, o gato preto, gordo…Não sei se alguma coisa aprendeu nas nossas aulas, mas lá que tinha ar de sabichão, isso tinha! Havia as salas que davam para as traseiras do edifício e, através de altas portadas, debruçavam-se sobre o pequeno quintal, com muros de pedra cobertos de musgo e em que as japoneiras floridas em cada Inverno, eram uma promessa de Primavera. Quando esta chegava, e os alunos, logo esbaforidos, reclamavam as vidraças abertas, as aulas saíam das quatro paredes e corriam pelo quintal fora numa maravilhosa sinfonia com o chilrear dos pássaros, felizes porque eram livres! Livres eram também todas aquelas crianças quando, ao toque da campainha se precipitavam pelas escadas, saltando, gritando, enchendo de juventude e de alegria, os gastos degraus que, de “tanto bater de asa”, estremeciam…era a hora de todos os recantos do quintal se encherem: as raparigas com pequenos grupos, talvez numa troca de primeiras confidências, os rapazes jogando à bola ou “às caçadinhas”. Risos, sol, em todas as estações, esquecendo o desaconchego do vento que assobiava pelas frinchas das velhas portas. A exiguidade dos espaços fazia de nós uma grande família, sempre a encontrar-se. A sala dos professores, acanhada, era apenas iluminada por uma janela que deitava para a rua, suja e barulhenta. Mas cabíamos todos e havia um ambiente muito especial, de correspondência plena aos acenos amigos… Como dizia Baudelaire, “as cidades mudam mais depressa do que o coração dos homens.” Também o Porto mudou muito: novas vias se abriram, amplas, congestionadas de trânsito, em que as gentes fervilham, num ritmo de vida frenético. No lugar da “velha Pêro”, ergue-se agora uma moderníssima unidade hoteleira – o Hotel Eurostars das Artes” – com 82 quartos e as mais modernas tecnologias e equipamentos, salas de reuniões, business centre. Há pouco, entrei lá e localizei um pedaço do velho quintal, com as velhas japoneiras, carregadas de flores de todas as belezas, sim, precisamente essas que, em cada Inverno, foram promessa de muitas Primaveras, naquela idade em que os sonhos de juventude vão adiante de nós, alados… Ponto de reencontro com uma época já tão distante, a minha alma roçou pelas pedras dos velhos muros e, naquele entardecer lento, apeteceu-me encostar a ACIDENTES ACIDENTAIS suplicaria a sua sombra tal era a intensidade imaginada em rotação á perna junto á coxa pelo lado interior ao cimo a visão o tráfico das crinas quando gemeu num aborto de égua solta-me solta-me presa e só toquei no mamilo esquerdo que o direito era propriedade dum recepiente no instituto de oncologia estupor murmurou ela e sua mão estendeu-se para pegar no livro de santa teresinha mater virtude de cabeceira e chicotear-me as costas de segredos oh que belo sacrificio em que nos envolviamos em honra de todos os restantes divinos santos assistindo ao nosso amor parado virtude da humildade ela prostada já ressonava não valia mais a pena o amor estava esgotado perto de ti vive a situação o meu caso ou então o meu ocaso consoante a resposta que tens num envelope de concurso para sortear se disseres para ficar subo só para buscar uma roupa mas melhor pensando nem roupa preciso porque se fico é para enfeitar a nudez confirmar a nitidez do belo enquanto a vela de cheiro cintila se disseres talvez não sei se devas ficar subo para buscar um livro ler-te enquanto preparas um chá que já entendi ser melhor saborear umas tostas bimbo que imaginar comer maças no teu rosto mas se disseres vai que é tarde subo em definitivo para me deitar vestido sem tirar a gabardine para chorar sem molhar alguém que me assassine também Manuel Barroca 2006 (Sócio do Ateneu) elas e agarrar o tempo… pags 10, 11 O BARBEIRO DO… ATENEU Cabelo e Barba a Cinco Euros Sento-me, pela sétima ou oitava vez, naquela cadeira, ainda assim sem conseguir disfarçar o incómodo que me causa a “infidelidade” que cometi, há cerca de dois anos, quando troquei o Toni pelo Senhor Luís. A Barbearia do Ateneu Comercial do Porto foi inaugurada em 1931, tendo anexo um serviço de… engraxadoria, como não podia deixar de ser, olhando à época. Contudo, a ideia nascera já em 1925, quando a Direcção de então pensou nas obras a efectuar para a sua instalação. Eu explico: o Senhor Luís é o barbeiro do Ateneu Comercial do Porto. Isso mesmo, barbeiro, designação à antiga portuguesa que lhe assenta como uma luva e como os habituais clientes o gostam de denominar. Quanto ao Toni…. Bom, o Toni foi o cabeleireiro que, durante mais de duas décadas, eu “persegui” por toda a cidade do Porto para me tratar das extensões capilares e já algum tempo depois de, sujeito à “ditadura” do meu pai, ser obrigado a cortar o cabelo sempre que ele cortava o dele e deixava o serviço pago para a minha vez. Em cada Sócio, o Senhor Luís tem um amigo… Acomodado numa das duas cadeiras da Barbearia do Ateneu, rara é a vez que não dou comigo a divagar entre o barbeiro de figura austera do meu pai e o Toni, aproveitando os longos silêncios do Senhor Luís, enquanto volteia o pente e a tesoura por sobre a minha cabeça que entretanto desloca daqui para ali em toques de alguma rudeza. D e s t a ve z , p o r é m , i a predisposto a quebrar-lhe a rotina. Afável, mas de poucas falas – contrariando a tradicional figura do barbeiro que põe a vidinha de todos nós em dia –, Luís Barroso não renega as origens de homem do campo que a PSP teve depois no activo e que, já reformado, continua a tratar da “barba e cabelo” da Polícia e dos Associados do Ateneu Comercial do Porto. “Aqui, já lá vão catorze anos!”, conta-nos, alertando depois para a curiosidade de ser quase uma tradição os barbeiros do Ateneu terem a “escola” da Polícia. Sem a quantidade de trabalho de outrora, efectuadas antecipadamente as respectivas marcações, “hoje apenas é necessário vir à quinta-feira à tarde”, o Senhor Luís continua a ter em cerca de duas dezenas de Sócios “clientes fiéis”. A relação de confiança que os anos cimentaram obriga-o mesmo a deslocar-se amiúde a casa de qualquer Associado, normalmente acamado, que o solicite, ou mesmo ao Ateneu fora das normais quintas-feiras. A sua quase total disponibilidade granjeia-lhe uma simpatia sem paralelo entre a população associativa, apesar de alguns, cujo grau de exigência no que respeita a horários e particularidades atinentes ao pêlo, quase roçarem o anedótico. Afinal, a Barbearia não foi criada para servir os Sócios!? Faria sentido, nesta Casa, um serviço prestado por um cabeleireiro em vez de um barbeiro? E aí volto eu a mergulhar nos meus fantasmas: o Toni e o barbeiro austero do meu pai. Já despojado do lençol transparente que me envolvia o corpo, desperto pelo reflexo da minha própria imagem no espelho que o Senhor Luís me coloca à frente. “Está bem assim?” – pergunta. “Está óptimo”. Que diabo! – penso - Em Roma… sê romano! Em 75 anos, o mais longo período de encerramento registou-se de 1982 a 1994, explicando os nossos arquivos “por motivo de doença do barbeiro”, depois substituído. Também ao longo dos anos foram várias as formas que pautaram a relação entre o prestador de serviços (barbeiro) e a Instituição: desde um contrato de concessão (com fiador) para exploração de Serviços – com pagamento ou não da respectiva energia eléctrica -, até à simples cedência a título gratuito das instalações, desde 1948, como ainda hoje acontece. Ainda assim, os primeiros tempos revelaram algumas dificuldades, quer nos pagamentos por parte dos Concessionários (com atrasos sistemáticos), quer nos serviços, que não teriam a qualidade exigível pelos Sócios que frequentemente lavravam os seus protestos junto das direcções. Cerca de uma dezena de barbeiros prestaram serviços nestas instalações, sendo que houve períodos em que ao principal se somava um ajudante (daí as duas cadeiras) e outros de horários completos nos sete dias da semana. As próprias instalações, nem sempre no mesmo local do edifico, foram alvo de melhoramentos por diversas vezes. A título de curiosidade, aqui a actual Tabela de Preços da Barbearia: Cabelo e Barba: € 5,00; Cabelo: € 3,75; Barba: € 1,25; Barba à Tesoura: € 2,00; Cortar, Lavar e Pentear: € 5,00. O ATENEU NA ENCRUZILHADA O Ateneu Comercial do Porto é uma “velha” Instituição da Cidade, nascida há 136 anos com o nome de Nova Euterpe, por vontade dos caixeiros portuenses, que sentiram necessidade de terem uma “estrutura associativa” que fosse ponto de encontro e de dinamização das suas ambições sociais e culturais. Pegou “de estaca” e deu azo ao enraizamento de uma árvore encorpada por vultos da política e da cultura, que fizeram desta Instituição uma referência incontornável da vida portuense do último século. Hoje o Ateneu reflecte muitas das dificuldades que atravessa o Porto, onde a falta de motivação cívica é patente e a perda de dinamismo e de procura de r e j u ve n e s c i m e n t o d e ve d e i x a r preocupados todos os seus associados, pois o seu envelhecimento pode revelarse fatal se não for contrariado por uma estratégia de refundação voltada para as novas exigências que o presente e o que se vive ao nível do associativismo futuro exigem. e da participação de índole cívica e Não é caso único de Instituição do cultural. Porto que enfrenta estes problemas, O Ateneu foi sempre uma “Escola de porque outras mais recentes e que Civismo” e não há razões para que o perseguem similares objectivos também não o continue a ser, através da procura os têm, mas o processo de formação e de parcerias que levem até ele “sangue o trajecto histórico do Ateneu exigem novo” pelas veias de temas e iniciativas dos seus dirigentes, e o mais importante, que sempre foram caras ao do corpo dos seus associados, um inconformismo portuense. esforço de procura de “nova alma” para De há muito que a Cidade está em a sua regeneração em moldes de perda, mais acentuada depois da exigência cívica e cultural mais retirada que lhe fizeram de sectores e apelativos. actividades comerciais e de serviços Não diria ainda, vamos salvar o Ateneu, que a integração europeia desencadeou, porque seria um exagero, mas pode aliados ao envelhecimento do seu corpo dizer-se, sem dúvida de errar, que é social e produtivo e às mutações preciso haver consciência das grandes urbanas de repercussão cultural que dificuldades por que passa a nossa vida tais perdas originaram. Não admira que associativa e cultural e o empenho que o “comércio tradicional” acuse estas é preciso colocar para contrariar esta fragilidades e que Instituições a ele tendência de alheamento e desinteresse, ligadas também o sintam, como é o caso do nosso Ateneu, que tem de ir à procura de “novos públicos alvo” e ser capaz de atrair novos associados, sem perda da sua “alma” intrínseca, mas demonstrando ser um campo apetecível também para as gerações mais novas. A finalizar, direi que o Ateneu também está à espera que “a Baixa portuense” se renove, mas não pode “esperar sentado”, porque não há renovação melhor do que aquela que começa de dentro para fora, ou seja, que resulta da punção regeneradora do próprio corpo, neste caso do seu corpo e alma. Este é, porventura, o grande desafio que se coloca ao Ateneu nos tempos mais próximos, e os seus dirigentes têm a incumbência de o fazer sentir, em primeira linha aos seus associados e, também à Cidade, junto da própria Câmara, que não pode alhear-se de tal responsabilidade, tem de entender esta velha Instituição como um verdadeiro parceiro do futuro cultural portuense. Arqto. Gomes Fernandes (Sócio do Ateneu) pags 12, 13 AGENDA ATENEU COMERCIAL DO PORTO OUTROS RECITAIS E CONCERTOS Dr. Eduardo Simões (Jurista e Director da Associação Fonográfica Portuguesa) 7 de Maio Dr. Miguel Guedes (Jurista e músico) ECAP – Encontro de Coros da Academia do Porto Maestro Pedro Osório (Director da Sociedade Portuguesa de Autores) Hora: 21.30, Local: Salão Nobre Isidro Lisboa (Radialista) Dia 1 de Junho O debate será moderado por Ricardo Salazar, Advogado. Conservatório de Música do Porto Entrada livre Orquestra de Cordas com Piano Sob a Direcção do Maestro KAMEM GOLEMINOV Hora: 21.30, Local: Salão Nobre A entrada é livre ACTIVIDADE LÚDICA O Ateneu Comercial do Porto vai reatar os seus passeios turístico-culturais, abertos a sócios e não sócios, tendo já agendadas: VISITA A VALONGO Dia 12 de Maio Dia 20 de Maio Organização da Associação Cultural “Euterpe” Preço para Sócios: € 25,00 Preço para Não Sócios: € 35,00 Recital de Canto Hora: 21.30, Local: Salão Nobre A entrada é livre Inclui: Transporte em Auto-Pullman Visita guiada ao Concelho pelo Sr. Presidente da C.M. Valongo, Dr. Fernando Melo Almoço em Ermesinde Dias 7 e 8 de Julho MÚSICA Concertos Internacionais de Música do Ateneu/ 2006 Depois da realização do primeiro Recital, no passado dia 6 de Abril, com os pianistas Inês Várzea, Carlota Amado e Jan Wierzba, este Ciclo prossegue Organização da Associação Cultural “Euterpe” Concerto do Final do Ano Lectivo Hora: 21.30 (dia 7), 18.00 (dia 8) Local: Salão Nobre A entrada é livre Ementa: Entradas, Sopa, Churrasco de Carnes Misto com Batata a Murro, Legumes, Salada de Fruta, Vinho e Bebidas, Café Partida do Ateneu Comercial do Porto 12.00 horas Chegada ao Ateneu Comercial do Porto EXPOSIÇÕES 19.00 horas Dia 4 de Maio De 25 Junho a 2 de Julho Vlad Dimulescu (piano) VISITA A PONTE DE LIMA Organização do Grupo Desportivo e Culturaldos Empregados do Banco BPI Dia 23 de Setembro De referir que, durante a estadia deste conceituado pianista romeno, o Ateneu leva a efeito uma MASTERCLASS de Piano nos dias 5, 6 e 7 de Junho, com um Concerto final pelos melhores alunos no final da tarde do próprio dia 7. Dia 8 de Junho Bruno Monteiro (violino) João Paulo Santos (piano) Exposição de trabalhos criados pelos associados do GDCEBBPI, que frequentam cursos de formação artística Patente das 14 às 23.00 horas Local: Sala de Exposições do Ateneu Preço para Sócios: € 40,00 Preço para Não Sócios: € 50,00 Inclui: Transporte em Auto-Pullman, Visita guiada a Ponte de Lima pelo Sr. Cônsul José Pires da Silva Almoço no Solar de Calheiros Dia 22 de Junho DEBATES Ementa: Aperitivos,Creme de Legumes, Bifinhos estufados à minhota, Mousse de chocolate, Fruta Laminada, Café e Vinho do Port, Vinhos: Vinho Verde e Vinho Dão Daniel Filipe Cunha (piano) Dia 3 de Maio Partida do Ateneu Comercial do Porto Dia 26 de Outubro Organização do Ateneu Comercial do Porto e Associação Jurídica do Porto 9.30 horas Afonso Fesh (violino) Evgueny Nefedov (piano) Todos os concertos realizam-se às 21.30 horas no Salão Nobre do Ateneu Comercial do Porto e têm o Patrocínio da JUNTA DE FREGUESIA DE SANTO ILDEFONSO, GOVERNO CIVIL DO PORTO, MONTEPIO GERAL A entrada é livre Entrada livre Local: Salão Nobre, Hora: 21.30 Tema: “ Soluções legislativas e funcionais para uma Indústria Musical em Portugal” Chegada ao Ateneu Comercial do Porto 19.30 horas Dr. Adolfo Luxúria Canibal (Jurista e músico) Em ambos os casos, as inscrições devem ser efectuadas junto dos Serviços de Secretaria, em horas normais de expediente, através dos Artur Ribeiro (Director da Associação Portuguesa de Lojistas de Audiovisual) telefones: 22 3395410/7 e-mail:[email protected] Com as presenças de: PRODUTOS 1 Percursos › A Pintura Do Ateneu Comercial do Porto 6 Engarrafado por Bago de Touriga Vinhos, Lda. Santa Marta de Penaguião Tinto de 2003 13% vol. Garrafa de 75 cl. Catálogo › Inventário Capa dura com sobrecapa Com 204 páginas e 236 ilustrações Sobre o património pictórico do Ateneu Preço € 2 30,00 Álbum de Memórias Do Ateneu Comercial do Porto (1869-1994) Preço 1 grf. € 6,00 6 grfs. € 33,00 7 Documento Brindes Conjunto de bar em caixa de madeira de luxo para garrafa Capa dura com sobrecapa couché mate de 160 gr. e interior em papel couché mate de 160 gr. 5 peças em metal e madeira 365x 115x 111 mm Com 336 páginas e 324 ilustrações A História do Ateneu ao longo dos seus primeiros 125 anos de existência Preço € Preço € 3 Vinho Ateneu 50,00 50,00 Faiança Portuguesa Do Ateneu Comercial do Porto 8 Catálogo › Inventário Em edição bilingue (Português e Inglês) Brindes Jogo de cartas e póker com caixa em madeira 90x 100x 27 mm Preço € Capa dura com sobrecapa couché mate de 160 gr. e interior em papel couché mate de 160 gr. 5,00 Com 192 páginas e 165 ilustrações Sobre a Colecção de Faiança do Ateneu Preço € 4 10,00 Medalha Comemorativa dos 125 Anos 9 Do Ateneu Comercial do Porto Módulo ›100 x 80 mm (trapezoidal) Metal › Latão Preço 5 Módulo › 80 mm (redonda) Metal › Latão com banho em prata Preço € 10,00 Estação de secretária dispõe de calculadora, relógio com várias horas mundiais, alarme, data e calendário duas pilhas LR-44 incluídas Aberta: 86x 106x 80 mm € 7,50 Medalha Evocativa da Memória de João Araújo Correia Brindes Preço € 15,00 10 Brindes Prata › Estojo com esferográfica e roller em caixa forrada a veludo e fecho com íman Caixa: 180x 70x 25 mm Preço € 15,00 pags 14, 15 CARO CONSÓCIO Só com a sua colaboração podemos tornar o Ateneu Comercial do Porto ainda maior. Proponha mais um Associado. Para tal, basta que nos envie, devidamente preenchida, esta PROPOSTA DE ADESÃO ATENEU REGISTO ANUAL N.º COMERCIAL DO PORTO Proponho para sócio o Exmo(a). Sr.(a) Profissão Empresa Com sede em Telef. Ramo de Actividade Data do Nascimento Bilhete de Identidade n.º do Arq.º , de Filiação Estado Cônjuge Residência Telef. Cobrança por conta bancária Banco NIB Quais as colectividades de que faz ou fez parte Porto, de de 200 O Proponente Sócio n.º Assinatura do Proposto, Aprovado em sessão de Direcção de de de 200 O Secretário, Sócio n.º Anexo 2 fotos tipo passe / / Ficha Técnica | Periodicidade Quadrimestral Distribuição Correio Sede de Redacção Rua de Passos Manuel, 44 - 4000-381 Porto Telefone 22 339 5410/2 Fax 22 339 5419 E-mail [email protected] Site www.ateneucomercialporto.pt Director Hélder Firmino Ribeiro Pereira Director Adjunto Dra. Iza Maria Barbosa Flores Marcos Vieira Editor Ateneu Comercial do Porto Responsável Editorial Direcção Ateneu Grafismo, Pré-impressão, Impressão e Acabamento Empresa Diário do Porto, Lda. Depósito Legal 231656/05 Tiragem 2000 J. D. Sanches “Amendoeiras em Flor” (da colecção particular do Ateneu Comercial do Porto)