Tainá Mayara da Silva Souza

Transcrição

Tainá Mayara da Silva Souza
RESENHA: “LINGUÍSTICA HISTÓRICA: UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA
DAS LÍNGUAS”
Tainá Souza
FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da história
das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
A linguagem humana perpassa várias transformações, língua alguma pode ser tomada
como uma realidade estática, utilizada através das antigas civilizações a língua já passou e
passa por diversas mudanças que ocorrem ao longo da historia, e que a linguística histórica em
seu estudo vem trazendo à tona. Nesta obra, o autor Carlos Alberto Faraco nos leva a
fascinante viagem pela historia das línguas.
Filologia foi o nome dado ao estudo da linguística, introduzida no Brasil nas primeiras
décadas deste século, e tida como um estudo hegemônico, teve sua quebra quando na década
de 60 foi introduzida nos currículos das universidades brasileiras do curso de letras a disciplina
de linguística, dando a ela uma fundamentação estruturalista em que não se privilegiavam os
estudos históricos. Não é comum a percepção nítida da mudança da nossa linguagem, os
falantes normalmente não tem a percepção de que sua língua passa por constantes
transformações, e variadas são as razões para criar tal imagem de que a língua é ou parece ser
uma realidade estática. As mudanças atingem sempre partes e não o todo da língua, o que
torna mais complexo o estudo, pois ao longo dos tempos a historia da humanidade, as
sociedades se constituirão com uma linguagem que foi tomando ou perdendo forma, o foco
dos linguistas é resgata essa historia perdida para melhor compreensão das variantes da
atualidade, como um jogo de mutação e permanência da língua.
Podemos notar palavras que hoje não são mais usadas como (ca, esto, mentre,
malhandante) usadas na era medieval ou ainda palavras que utilizamos com o significado
diferente ou de outra forma (fermosa, padre, sa, meor) e os artigos definidos que eram
utilizados com menor frequência comparado aos dias de hoje. Mesmo com a complexidade da
historia e sentimento estático da língua usual, no português utilizado nas varias regiões
brasileiras podemos perceber essa mudança na fala das diferentes gerações, enquanto que um
falante de 75 anos ao pronunciar a palavra mal, papel, lençol e ainda, no mais das vezes, usa
uma consoante lateral, semelhante ao primeiro som das palavras como lama, leite, lado, na
fala das gerações da atualidade o ultimo some a semivogal [w], idêntica ao ultimo som de
palavras como mau, céu, vendeu (principalmente entre os falantes da classe media urbana).
Houve ai um processo de mudança sonoro que alterou a realidade do [l] em fim de sílabas e
cujas formas antigas e novas ainda coexistem. Outra possível fonte de eventuais mudanças em
progresso é o contraste entre língua falada e escrita, isso ocorre por que a escrita é
geralmente mais conservada que a língua falada tendo em vista o contraste que ambas nos
fazem perceber fenômenos inovadores de expansão da fala que não entraram para escrita,
qualquer parte da língua pode mudar, desde aspectos que vão de sua organização semântica
ate a pragmática, veremos a seguir segundo Alberto Faraco algumas dessas mudanças.
Discente ¹ Tainá Souza Letras/Francês da universidade federal de Roraima – UFRR
Mudança fonética – fonológicas, ocupam-se com a realidade sonora das línguas, o som
das falas, suas reproduções e qualidades acústicas, estuda a face estrutural e o sistema de
princípios e relação que da a organização sonoro de cada língua, isso explica a alteração do
som do [l] pelo [w] no exemplo anterior e continuam existindo como unidade sonora distinta.
Mudanças morfológicas – tratam dos princípios que reagem à estrutura interna das
palavras, chamados de morfemas esses processos derivacionais (obtenções de novas palavras)
Mudanças sintáticas – consiste no estudo da organização das sentenças em uma
linguagem, um exemplo de sintaxe histórica e a passagem do latim para as línguas românicas.
Mudanças semânticas – na linguística histórica tem sido abordada como um processo
que altera o significado da palavra podendo restringir ou ampliar seu significado, exemplos;
a) Restrição - a palavra ARREIO no português medieval designava qualquer enfeite,
adorno mas hoje significa exclusivamente aparelhamento de cavalos para montaria ou carga.
b) Ampliação - a palavra REVOLUÇÃO originalmente era um termo astronômico que
designava movimento regular, sistemático e cíclico dos corpos celestes, seu significado
ampliou-se ao ser introduzido no campo semântico da política passando a designar também
movimentos sociais alteradores de uma ordem estabelecida.
Mudanças pragmáticas – estuda o uso dos elementos linguísticos em contraste com o
estudo das propriedades estruturais desses elementos, um exemplo desse estudo é o da
palavra você no tratamento do interlocutor, observando quem é tratado por você no fim do
período medieval ate os dias de hoje.
Mudanças lexicais – consistem em observar e compreender a formação do léxico
português e sua origem que tem sua base na língua latina, assim como os diversos fluxos de
incorporação de palavras de outras línguas os chamados empréstimos.
Mudanças linguísticas, caracterizando suas variações
O desaparecimento de uma língua é resultado do desaparecimento da própria sociedade que a
fala, ou ainda aniquilamento como no caso de muitas sociedades indígenas no Brasil 1500;
nesse caso o desaparecimento total da língua interrompe o fluxo histórico, o latim, por
exemplo, é mais voltado para o estudo que propriamente dito para uso, mas de qualquer
forma ainda o utilizamos através de suas derivações em outras línguas as chamadas línguas
românicas como já vimos antes. Não há nesse sentido na historia das línguas momentos de
transformações radicais em um ponto bem localizado, elas veem sempre de um processo lento
inserido em contextos históricos sociais.
Essas mudanças são relativamente singulares, não são fortuitas, nem se dão sem
rumo, há sempre uma regularidade e generalidade do processo, tomemos o exemplo dos
encontros consonantais [kl] e [PL] do latim que se transmudaram regularmente na palavra
clamare, quando no inicio de palavra, na consoante [l] em espanhol llamare (grafada ll) e na
consoante [s] em português chamar (grafada ch). A regularidade observada na mudança
linguística nos permite estabelecer correspondências sistemáticas entre duas ou mais línguas,
tornando assim a reconstituição da historia, porem que fique claro nesse ponto que, embora a
regularidade seja uma característica de mudança, ela nunca deve ser entendida como
absoluta.
Sincronia X Diacronia
Essa denominação passou a ser corrente entre os linguistas depois da publicação em
1916 do livro, curso de linguística geral, de Saussure, que diferente dos estudos linguísticos
hegemônicos dos séculos XVII, XVIII que abordavam a língua como uma realidade estável,
atemporal e organizada, concepções estas assumidas com caráter universal e não histórico, ou
mesmo do pensamento linguista predominante do século XIX, que entendia a ciência da língua
como uma realidade em transformação, entendendo o estudo da língua necessário somente
como fator histórico, Saussure estabeleceu nesse livro duas dimensões de estudo.
Diacronia – visa mostrar a mudança a qual passa uma língua no tempo, o pressuposto
da analise diacrônica é a mutabilidade das línguas no tempo.
Sincronia – visa mostrar as características da língua, sua marca esta na linguística
descritiva tida como um sistema estável, contida em um espaço de tempo aparentemente
estático, o pressuposto da sincronia é a relativa imutabilidade da língua.
A língua na perspectiva Saussuriana reconhece somente uma ordem interna, em razão
de assumir o equilíbrio interno do sistema fora da dimensão de tempo, e que essas dimensões
não se constituem num complexo sistema de dependências recíprocas. O objetivo do livro de
Carlos Alberto Faraco não é entrar em detalhes sobre a filosofia da ciência linguística e sim
demonstrar à complexidade do estudo através dos períodos, sociedades, descobertas, a língua
nunca foi e nem será uma realidade estática, ela vem evoluindo junto com a necessidade das
sociedades em se comunicar e variadas são essas formas de comunicação, sendo que a cada
dia surgem novas inserções através das falas, gestos, escritas. Alguns têm a falsa impressão
que a língua esta se perdendo ou regredindo quando na verdade segue seu curso natural na
historia se adequado ao tempo, dos usuários, cumprindo sua função que é a de comunicar-se
entre os mesmos, tempo esse que é cada vez mais rápido o que nos leva a perceber na
atualidade muitas abreviações e símbolos que em algumas vezes representam a frase
propriamente dita ou escrita.
Referência Bibliográfica: Faraco, Carlos (2005), linguística histórica. São Paulo: parábola

Documentos relacionados

Entrevista com Louis-Jean Calvet: a relação permanente entre

Entrevista com Louis-Jean Calvet: a relação permanente entre http://www.portalingua.info/pt/poids-des-langues/barometre-des-langues-regionaleslatines/

Leia mais