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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO INTERFACES DAS FERRAMENTAS DA WEB 2.0 NA CONSTRUÇÃO DOS TEXTOS COLETIVOS DA DISCIPLINA CCVAP DE 2001 A 2010 ADRIANA ANUNCIATTO DEPIERI ALAN CÉSAR BELO ANGELUCI ANTONIO MARCOS AMORIM ANTONIO HELIO JUNQUEIRA CHRISTIANE ELANY BRITTO DE ARAÚJO DANIELE PRÓSPERO FLÁVIO EDUARDO MARTINS JOSÉ VITOR MARCHI LAURA SANTANA MARGARETE DE MORAES MARIA CRISTINA ROSA DE ALMEIDA MARIA ROSA TROMBETTA SILENE DE ARAUJO GOMES LOURENÇO SILVIA R. B. NASCIMENTO TATIANA AOKI THAISA SALLUM BACCO SÃO PAULO 2011 i UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO INTERFACES DAS FERRAMENTAS DA WEB 2.0 NA CONSTRUÇÃO DOS TEXTOS COLETIVOS DA DISCIPLINA CCVAP DE 2001 A 2010 ADRIANA ANUNCIATTO DEPIERI ALAN CÉSAR BELO ANGELUCI ANTONIO MARCOS AMORIM ANTONIO HELIO JUNQUEIRA CHRISTIANE ELANY BRITTO DE ARAÚJO DANIELE PRÓSPERO FLÁVIO EDUARDO MARTINS JOSÉ VITOR MARCHI LAURA SANTANA MARGARETE DE MORAES MARIA CRISTINA ROSA DE ALMEIDA MARIA ROSA TROMBETTA SILENE DE ARAUJO GOMES LOURENÇO SILVIA R. B. NASCIMENTO TATIANA AOKI THAISA SALLUM BACCO Trabalho final apresentado como requisito para avaliação na disciplina Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Orientadora: Profª. Drª. Brasilina Passarelli SÃO PAULO 2011 ii DEDICATÓRIA Às nossas famílias. iii AGRADECIMENTOS A Deus, pela dádiva da vida; À professora orientadora Drª Brasilina Passarelli, que possibilitou e incentivou o trabalho coletivo; À colaboração de todos os integrantes da 11ª turma (1º semestre de 2011) da disciplina CCVAP; Aos demais discentes da disciplina, cujos trabalhos serviram como base para o presente estudo. iv “Estamos entrando agora na cultura da convergência. Não surpreende que ainda não estejamos prontos para lidar com suas complexidades e contradições. Temos de encontrar formas de transpor as mudanças que estão ocorrendo. Nenhum grupo consegue ditar as regras. Nenhum grupo consegue controlar o acesso e a participação”. Henry Jenkins v RESUMO O presente trabalho tem como objeto de estudo os textos produzidos coletivamente pelos alunos da disciplina Criando Comunidades de Aprendizagem e Prática (CCVAP), vinculada à linha de pesquisa em Comunicação e Educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e ministrada pela Profa. Dra. Brasilina Passarelli, entre os anos de 2001 e 2010. A pesquisa é centrada na compreensão das interfaces das ferramentas da Web 2.0 com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP durante uma década. Este estudo tentou caminhar na direção de uma ruptura epistemológica necessária a uma ciência pós-moderna, trazendo não somente um novo conhecimento à sociedade, mas também uma necessária ruptura com o senso comum. Para tanto, adotamos a pesquisa qualitativa como alternativa metodológica, usando a pesquisa documental como forma de coleta de dados, a fim de que o objeto de estudo fosse mapeado e reelaborado de acordo com o objetivo da pesquisa. Optou-se pela construção de uma matriz comparativa, a partir da seleção de eixos temáticos para um levantamento de temas comuns nos textos coletivos produzidos. Procura-se, então, compreender e descrever uma situação específica vivenciada por grupos singulares de pessoas, a partir de suas produções coletivas, considerando os seus contextos ao longo do tempo a fim de identificar e estabelecer as interfaces das ferramentas da Web 2.0 com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP ao longo de seus 10 anos de existência. Palavras-Chave: texto coletivo, ferramentas Web, Web 2.0, comunidades virtuais de aprendizagem vi LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Percentuais das redes sociais 33 FIGURA 2 - Portal da disciplina CCVAP 59 FIGURA 3 – Página do portal com links para os textos coletivos 61 FIGURA 4 – Print Screen do vídeo postado no YouTube 62 FIGURA 5 – Matriz – versão 1 66/67 FIGURA 6 – Matriz – versão 2 68/69 FIGURA 7 – Linha do tempo 1 – ferramentas da Web 2.0 72 FIGURA 8 Linha do tempo 2 – Produção Analisada 75 vii LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Comparativo da Web 2.0 com a Web 1.0 19 viii LISTA DE SIGLAS CCVAP - Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Práticas ECA - Escola de Comunicações e Artes USP - Universidade de São Paulo PCs Personal Computers (Computadores Pessoais) EaD - Educação à Distância GDocs - Google Docs ix SUMÁRIO DEDICATÓRIA .......................................................................................................................................... iii AGRADECIMENTOS.................................................................................................................................. iv RESUMO .................................................................................................................................................. vi LISTA DE FIGURAS................................................................................................................................... vii LISTA DE TABELAS.................................................................................................................................. viii LISTA DE SIGLAS....................................................................................................................................... ix 1. Introdução ..................................................................................................................................... 12 2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................. 14 2.1. O cenário contemporâneo e o sujeito pós-moderno............................................................ 14 2.2. A sociedade da informação e as novas tecnologias digitais ................................................. 17 2.2.1. A Web 2.0 ...................................................................................................................... 19 2.2.1.1. 2.3. O ciberespaço, as relações sociais e a produção do conhecimento. .................................... 39 2.3.1. Interação/ interatividade .............................................................................................. 42 2.3.2. Atores em rede/ redes sociais/ comunidades virtuais .................................................. 43 2.3.3. Novas relações de poder/ reputação/ capital social ......................................................... 45 2.3.4. 3. As ferramentas da década..................................................................................... 22 Coletivos digitais/ produção coletiva/ autoria (copyright/copyleft) ............................. 49 Metodologia da Pesquisa .............................................................................................................. 54 3.1. Pesquisa nas ciências sociais aplicadas ................................................................................. 54 3.2. Pesquisa Documental ............................................................................................................ 56 3.2.1. 3.3. Caracterização dos documentos utilizados na pesquisa ............................................... 57 3.2.1.1. O portal da disciplina............................................................................................. 57 3.2.1.2. Os textos coletivos ................................................................................................ 59 3.2.1.3. O making of ........................................................................................................... 61 Procedimentos metodológicos da pesquisa documental ..................................................... 62 x 4. 3.3.1. Mapeamento inicial do universo documental .............................................................. 63 3.3.2. Identificação (seletiva) de eixos temáticos ................................................................... 64 3.3.3. Organização dos dados em Matriz ................................................................................ 65 3.3.4. Construção da linha do tempo 1: as ferramentas Web 2.0 .......................................... 69 DESCRIÇÃO CRÍTICA DOS EIXOS TEMÁTICOS ................................................................................ 73 4.1. Linha do tempo 2: ferramentas Web 2.0 na produção coletiva ........................................... 73 4.2. Temas/Conteúdo ................................................................................................................... 76 4.2.1. Novos paradigmas para a educação.............................................................................. 77 4.2.2. Educação à distância ..................................................................................................... 81 4.2.3. Comunidades Virtuais de Aprendizagem ...................................................................... 83 4.2.4. TICs na educação ........................................................................................................... 85 4.2.5. Etnografia virtual ........................................................................................................... 87 4.3. Metodologia .......................................................................................................................... 90 4.3.1. Métodos da pesquisa nos textos................................................................................... 90 4.3.2. Pesquisa de campo ........................................................................................................ 91 4.3.3. Sujeitos da pesquisa ...................................................................................................... 93 4.4. Tópicos de reflexão ............................................................................................................... 94 5. Considerações finais ...................................................................................................................... 97 6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 101 6.1. Fontes utilizadas para a construção da Linha do Tempo - Ferramentas Web 2.0: ............. 109 APÊNDICES .......................................................................................................................................... 115 APÊNDICE A : MATRIZ PARA MAPEAMENTO DOS TEXTOS COLETIVOS LEITURA VERTICAL ........... 116 APÊNDICE B: Primeira versão da Linha do tempo........................................................................... 144 APÊNDICE C: ALUNOS DA 11ª TURMA DA DISCIPLINA CCVAP DO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011 146 APÊNDICE D: Apresentação do Making Of/2011 ............................................................................ 148 xi 1. Introdução Integrante do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), com área de concentração em Interfaces Sociais da Comunicação, a disciplina “Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e de Prática” (CCVAP) completou sua décima edição em 2010. Vinculada à linha de pesquisa em Comunicação e Educação, é ministrada pela professora Dra. Brasilina Passarelli. Além de propor a disseminação do conhecimento acerca de conceitos seminais da sociedade em rede, como redes sociais, comunidades virtuais de aprendizagem, coletivos digitais, folksonomias e etnografia virtual, a disciplina tem como finalidade estimular leituras, reflexões e novas práticas de produção coletiva do conhecimento no contexto da sociedade contemporânea em rede, assim como a reflexão sobre os cenários globais e locais que envolvem a educação presencial e a distância. Visa ainda propiciar instâncias presenciais e a distância, por meio do site da disciplina, para produção de texto coletivo com alternância de papéis que assegurem a participação igualitária de todos os alunos. No cumprimento desse escopo, desde 2001, o portal <http:// ccvap.futuro.usp.br> abriga e compartilha as produções coletivas de cada uma das turmas da disciplina, formadas por mestrandos e doutorandos regulares do programa, pesquisadores de outras unidades da USP e alunos ouvintes. Trata-se de uma vasta e rica documentação à espera de ser sistematizada para servir de contribuição no estudo das configurações e tendências da nova cultura participativa, bem como da aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação. Diante desse desafio, os alunos da 11ª turma da disciplina CCVAP decidiram eleger como objeto de pesquisa do seu texto coletivo o próprio percurso da disciplina, resgatado com base na investigação dos trabalhos colaborativos realizados pelas dez turmas anteriores. 12 Considerando, ainda, as transformações significativas na produção do conhecimento e nas interações sociais geradas pela disponibilização e expansão da Web 2.0, o grupo definiu como objetivo geral do projeto estabelecer as interfaces das ferramentas Web 2.0 com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP de 2001 a 2010. Intensos debates precederam e seguiram-se a essas resoluções, fortalecendo o consenso da equipe e motivando-a a percorrer as etapas necessárias para a composição do quadro referencial da pesquisa, a escolha da metodologia adequada e o processamento/análise da documentação. A bibliografia recomendada no programa da disciplina forneceu a indicação da maioria das fontes da fundamentação teórica, que constitui o capítulo inicial deste projeto, subdividido em três tópicos. O primeiro introduz o sujeito pós-moderno no cenário da contemporaneidade, revelando as suas forças, mas também as suas fragilidades. No segundo tópico, aborda-se a emergência da sociedade da informação, estreitamente vinculada ao avanço das tecnologias digitais, destacando-se a expansão da Web 2.0 e de suas principais ferramentas na primeira década do século XXI. Finalmente, o terceiro tópico trata do impacto das novas tecnologias nas relações sociais e na produção do conhecimento. Como relata o capítulo 2 deste projeto, a alternativa metodológica considerada mais pertinente para compreender e descrever a construção de atividades coletivas por grupos singulares de pessoas, ao longo de uma década, foi a abordagem qualitativa de dados coletados em pesquisa documental. Os textos colaborativos das dez turmas, assim como todos os making ofs dessa produção disponíveis no portal da disciplina, compuseram o corpo da pesquisa. Mapeados esses documentos, procedeu-se à seleção de eixos temáticos, organizados de forma matricial, e elaborou-se uma linha do tempo das ferramentas da web 2.0, a partir de pesquisa bibliográfica. A descrição crítica dos temas selecionados e os resultados do cruzamento da linha do tempo da Web 2.0 com os textos coletivos das turmas de 2001 a 2010 da CCVAP são apresentados no capítulo 3 deste projeto, em que também se incluem alguns tópicos de reflexão ensejados pela pesquisa. 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1.O cenário contemporâneo e o sujeito pós-moderno Desde 1970, os avanços tecnológicos têm ocorrido cada vez mais rapidamente, acarretando mudanças substantivas nos diversos ramos do conhecimento. No campo da economia, há uma aceleração do tempo de capital de giro e da especulação financeira, resultante da noção de velocidade e eficiência aliadas à tecnologia. No campo das artes, nota-se o advento de um movimento de contracultura, centrado particularmente nas artes e na arquitetura e caracterizado por recortes estéticos, imitação, relativismo e customização. Esses movimentos e a conjuntura histórica do pós-guerra levaram teóricos a constatar a afluência de uma nova ordem global, denominada sociedade pós-moderna, sociedade do conhecimento ou modernidade líquida, entre outros termos. A nova ordem representaria uma ruptura com os antigos padrões da modernidade, influenciados pelo pensamento iluminista1, cujos valores são racionalizados, estáticos, representados politicamente por um Estado forte e por uma economia de produção massiva. O homem urbano moderno é aquele que pouco interage com a natureza, da qual se emancipou graças ao uso da razão, baseada em valores fundamentados e sólidos. O que ocorre na pós-modernidade é uma inversão desses valores, constatada na fragmentação das relações, no caos, no relativismo, nos excessos e nas colagens. No entanto, embora aparentemente opostas, as características desses dois momentos históricos apresentam mais uma relação de continuidade do que de diferença 1 O projeto iluminista, cujo objetivo era libertar o homem do mundo dos dogmas e da religiosidade, por meio principalmente da ciência (GENTILLI, 2005, p. 67), impulsionou o aprimoramento das tecnologia, possibilitando ao ser humano liberar a sociedade da escassez e das limitações impostas pelo meio natural (HARVEY, 2007). 14 (HARVEY, 2007). Isso porque não há uma mudança efetiva na estrutura social que abriga o sujeito moderno e o pós-moderno. Na verdade, o que se nota na pós-modernidade é a intensificação e aceleração da inovação tecnológica já existente na modernidade. A velocidade e a compressão do espaço e do tempo da modernidade são reduzidas quando comparadas às da pós-modernidade; contudo, permanece a lógica do pensamento calcado na produtividade e no consumo. Mesmo sem contestar que a base do pensamento pós-moderno repousa no consumo e na eficiência, há de se admitir, como faz Jameson (2000), Castells (2006) e Harvey (2007), que o advento da Internet e, com ela, da sociedade em rede alterou profundamente o mundo capitalista contemporâneo. (GENTILLI, 2005, p. 27). A popularização da Internet, recurso tecnológico e hipermidiático que permite simultaneamente a representação virtual do espaço e a apreensão da realidade em tempo real, tem impactado fortemente as relações humanas, estabelecendo a comunicação em rede, mediada por interfaces digitais. Configura-se, desse modo, um espaço social de tempo determinado, organizado em fluxos e caracterizado, em termos relacionais, por “laços fracos múltiplos”, facilmente desconectáveis (CASTELLS, 2006, p. 445). Na esfera econômica, é também essa a lógica que predomina: ao perder sua fonte de valor, o indivíduo é desconectado do mercado na mesma velocidade com que foi conectado. Verifica-se, portanto, uma desumanização das relações, nas quais indivíduos procurados e valorizados contrapõem-se àqueles que, embora fisicamente disponíveis, não possuem as habilidades requeridas pela economia da inovação. Dependente de uma tecnologia que se aprimora a todo instante e moldado pela cultura da imagem e do simulacro, o sujeito pós-moderno perde profundidade e enfraquece sua visão e sua ação sobre a historicidade tanto na esfera privada como na pública (JAMESON, 2000). Como a informação “representa o principal ingrediente de nossa organização social, e os fluxos de mensagens e imagens entre as redes constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social” (CASTELLS, 2006, p. 573), é o conhecimento que move a 15 economia criativa, com a constante inovação tecnológica e a sobreposição das tecnologias antigas. O sujeito pós-moderno, que presencia a transformação do saber em dinheiro, levando à superação de limites físicos antes intransponíveis e à destruição criativa em prol da inovação, tem a constante sensação de instabilidade e insegurança, mas, ao mesmo tempo, insere-se como tutor de sua própria experiência, o que acaba por exacerbar o seu individualismo. Com o advento da sociedade em rede, ampliaram-se os fossos nodais de conhecimento, e o distanciamento entre as pessoas passou a ser determinado não pela localização geográfica, mas pelo grau de interação existente entre o indivíduo e o computador. Assim, quem não detém o conhecimento e a literacia necessários para interagir no mundo em rede não faz parte da sociedade civil e global, conforme definida por Castells (2006). Contemplando as duas últimas décadas sob uma perspectiva sócio-histórica, Passarelli (2010, p.72) distingue duas “ondas” na sociedade em rede: uma cujo núcleo central é definido pelas preocupações, políticas e programas de inclusão digital, e a outra que se concentra nas diferentes formas de apropriação e de produção de conhecimento na Web. No estudo do desenvolvimento dessas duas instâncias, para identificar e compreender as diferentes literacias dos atores conectados, bem como a interferência delas no processo de interação, conversação e participação dos sujeitos na construção do poder e do contrapoder nas redes sociotécnicas, estabeleceram-se os conceitos de “nativos” e de “imigrantes digitais”. O conceito de “nativos digitais” busca definir os comportamentos, as habilidades e as atitudes dos indivíduos pertencentes às gerações que nasceram, cresceram e se desenvolveram no contexto do advento da Web e de sua massificação. São pessoas que convivem diariamente com as tecnologias e ferramentas digitais, geralmente 16 desenvolvendo, por iniciativa própria, novos conhecimentos sobre o funcionamento das inovações tecnológicas que lhes chegam cotidianamente às mãos. A esse conceito contrapõe-se o de “imigrantes digitais”, os indivíduos que, embora não tenham nascido no mundo digital, por necessidade ou interesse, nele mergulham, adotando suas ferramentas, aplicando-se ao seu aprendizado e adaptando-se às demandas dos ambientes virtuais. 2.2.A sociedade da informação e as novas tecnologias digitais É difícil situar no tempo e no espaço um marco inconsteste da emergência das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), uma vez que resultam de contínuos avanços, cada vez mais acelerados, de uma vasta gama de técnicas, linguagens, programas e equipamentos. Do surgimento dos primeiros computadores (1945) e microcomputadores (1977) à liberação da Internet para uso comercial (década de 80), a inserção da sociedade no universo digital ocorreu em ritmo acelerado, consolidando, com a disponibilidade de acesso à Web nos anos 90, novas formas de relação estabelecidas a partir de redes de comunicação (MATTAR, 2008). Antes dos anos 2000 – e principalmente antes do seu boom, em 1990, a Internet era a terra do bate-papo por meio do teclado, com interfaces nem sempre amigáveis e muito menos intuitivas. A maior parte dos velhos usuários tinha um pé (ou as duas mãos, mais precisamente) na cultura hacker ou trabalhava na área da computação. Usava-se o IRC (Internet Relay Chat), um protocolo para comunicação que servia basicamente para bate-papo (chat) e troca de arquivos. Criado em 1988, era uma forma rápida e de se comunicar e que ainda sobrevive em algumas culturas da Internet, como a dos legenders (grupo de pessoas que se reúnem para legendar seriados e filmes que ainda não foram lançados no País e distribuí-los via Web) e, claro, dos gamers (jogadores em rede). 17 Os primeiros usuários das redes de computadores criaram comunidades virtuais (...) e essas comunidades foram fontes de valores que moldaram comportamento e organização social. Pessoas envolvidas nas redes da Usenet News, na FIDONET, e nos BBS, desenvolveram, difundiram formas e usos na rede: envio de mensagens, lista de correspondência, salas de chat, jogos para múltiplos usuários (expandindo os MUDs – acrônimo demulti-usersdungeon – pioneiros), conferências e sistemas de conferências (CASTELLS, 2003, p. 46). A partir da década de 90, as interfaces tornaram-se mais simples e os usuários não precisavam de conhecimento técnico nenhum para navegar na Internet. Isso aconteceu devido à entrada dos grandes provedores de Internet – como o AOL, nos Estados Unidos, em 1997 – que criaram salas de bate-papo e popularizaram esse tipo de uso. Além disso, as empresas começaram a perceber o potencial comercial da Internet, o que impulsionou a proliferação de novos sites (CASTELLS, 2003, p. 47). De acordo com a Hierarquia de Necessidades de Maslow (psicólogo norteamericano), a necessidade de pertencimento ocupa o que ele chamou de “terceiro grau na pirâmide de satisfação pessoal” (GOODWIN, 2005, p. 457). Seriam essas as necessidades sociais de amor, afeto, afeição e sentimentos, tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube. Para a pesquisadora Raquel Recuero (2010), a comunidade virtual é um conjunto de atores e suas relações, que, através da interação social em um determinado espaço, constitui laços e capital social em uma estrutura de cluster, através do tempo, associado a um tipo de pertencimento. Assim, é possível que a necessidade de fazer parte de um grupo tenha levado à criação das redes sociais, unindo pessoas em torno dos mesmos interesses e necessidades. A primeira rede social a permitir a criação de um perfil virtual foi a Sixdegress, lançada em 1997. Foi o embrião das atuais redes sociais, com suas listas de contatos e a visualização das listas de outras pessoas. Mas os usuários queriam mais. Além de teclar para bater papo e publicar seus perfis para conhecer mais e mais gente, restava pegar o bom e velho diário – aquele que ninguém mostrava a ninguém – e jogá-lo na Web, para que todo mundo conhecesse tudo 18 sobre todo mundo, mesmo que esse “tudo” fosse editado da maneira como conviesse ao dono daquilo que viria a se chamar “blog”. O primeiro Weblog foi criado por Jorn Barger em 1997 e logo abreviado para blog. O primeiro grande publicador do serviço blog foi o Blogger, que, em 2000, criou o permalink (“ligação permanente” ou “apontador permanente”). O permalink faz com que cada publicação (post) possa ser referenciada, uma vez que se torna uma localização permanente, ou seja, uma URL (endereço eletrônico). Um dos fatores que propiciou a criação dos blogs foi a facilidade de publicação por meio de ferramentas que dispensam conhecimentos técnicos (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 34). Para torná-los mais atraentes, é possível também introduzir fotos e vídeos, além dos feeds (palavra em inglês derivada do verbo “alimentar” ou “abastecer”). Sua função é alertar os visitantes quando há conteúdo novo no blog. Outro recurso que definiu o sucesso dos blogs foi a possibilidade de interação através dos comentários, ou seja, posts publicados pelos visitantes. “Não é incomum que o conteúdo de alguns blogs seja tão relevante quanto os próprios posts” (IBIDEM, p. 36). Com o aumento no número de blogs e a referência de um para outro, surgiu o termo “blogosfera”, que designa o universo dos blogs, seus conteúdos e os links de um para outro. Em 1999, não passavam de 50. No final de 2000, alguns milhares. Mas esse é só o começo da história. 2.2.1. A Web 2.0 O termo Web 2.0 designa a segunda geração de ferramentas e serviços disponibilizados na Internet, as quais viabilizaram a ampliação das formas de participação direta dos atores na rede, incluindo a criação e o compartilhamento de informações e conteúdos on-line. 19 Segundo Goulart e Montardo (2008, p. 123), embora o termo Web 2.0 tenha sido “popularizado pela O’Reilly Media e pela Media Live International como denominação de uma série de conferências realizadas a partir de 2004 (...), as práticas de interação mútua na Web, através de redes sociais de relacionamento, blogs, fotologs, plataformas de compartilhamento de notícias ou fotografias”, não apenas surgiram antes dessa data como são anteriores ao próprio conceito de Web 2.0. Para os autores, “a vantagem desse conceito é organizar o sentido referente às possibilidades de participação do usuário na Web a partir de uma série de fatores”. A Web 2.0 tem expandido a socialização de informações e abertura da aprendizagem via diversas mídias. O´Reilly (2007) destaca a grande marca da Web 2.0 como uma plataforma participativa, diferente da Web anterior (1.0), que consistia numa interface de navegação (ver Tabela 1). Com a Web 2.0, os usuários podem não apenas “navegar” na Internet como usuários passivos, mas produzir e compartilhar suas produções em diversos formatos, como textos, apresentações, vídeos, áudios e aplicativos. Tabela 1: Comparativo da Web 2.0 com a Web 1.0. Aspecto WEB 1.0 WEB 2.0 Web Informacional Colaborativa Foco Instrucional Construção coletiva Conteúdo Navegação Gerado por qualquer usuário Acesso Leitura Publicação compartilhada Recursos Navegadores Aplicações Web 20 Exemplos Enciclopédias Wikis, blogs, lms, ... Recursos HTML, portais (taxonomy) XML, RSS, API (folksonomy) Características Formulários, diretórios, hipertexto Espaços abertos para re-edição e remixagem Usuários Leitores passivos Co-autores colaborativos Deficiências Interação, Escalabilidade Contexto Personalização, Portabilidade Interoperabilidade Tecnologias Informação e comunicação Conhecimento coletivo e redes sociais Para Tori (2010), o conceito da Web 2.0 é uma tentativa de identificar e caracterizar o novo paradigma da Internet. Segundo o autor, parte da confusão gerada ao se tentar designar o conceito deriva da ausência de uma definição precisa dada pelo próprio O’Reilly, e seu brainstorming com Dale Dougherry, que originou o evento Web 2.0 Conference (http://en.oreilly.com/web2009). Tori também cita os princípios que direcionam a Web 2.0. Dentre eles, estão: a Web como plataforma, já que as aplicações importantes são executadas no navegador Web; a inteligência coletiva, na qual os usuários criam conexões e conteúdos, como na Wikipedia e no Flickr; as bases de dados, como o Google e a Amazon, com seus acervos de informação; o software como serviço, uma vez que a maioria das aplicações não necessita da instalação de um software, pois são executadas nos servidores; a simplicidade e a reusabilidade, o que ajuda programas como o RSS e o Twitter a se tornarem populares; Twitter; a independência do hardware, pois os conteúdos não estão presos às máquinas, e sim à Internet e, finalmente, as interfaces ricas, que propiciaram as aplicações on-line, como os editores de texto, planilhas (como as usadas neste trabalho), imagem e vídeo, entre outros. 21 Pode-se afirmar que existe um consenso entre pesquisadores da cibercultura quanto à utilização das terminologias Web 1.0 e Web 2.0. Enquanto a primeira refere-se a lógica da publicação, a segunda incorpora novas possibilidades de interferência e participação direta dos sujeitos, que assim se transformam de “usuários” em “atores em rede” (LATOUR, 2008). As principais ferramentas da Web 2.0 na atualidade são: serviços de mensagem (e-mail), blogs, fóruns, wikis (Wikipédia), redes sociais (Facebook, Orkut e outras), mecanismos de busca (Google, Yahoo!) e sistemas de conexão, produção, publicação e interação com fotos, sons, música, vídeos (podcast, videocast, Flickr, You Tube, Skype, Windows Live Messenger, Google Voice, entre outros). 2.2.1.1. As ferramentas da década No ano 2000, muita gente esperava que o mundo acabasse. Ou que, pelo menos, o mundo formado pela rede dos computadores entrasse em pane, o famoso “Bug do Milênio”. Entramos em contagem regressiva e, para decepção dos fatalistas, nada aconteceu. O primeiro dia de janeiro de 2000 começou como todos os dias de qualquer dia de qualquer ano: com computadores funcionando e a Internet crescendo exponencialmente. Eram mais de 300 milhões de computadores conectados a uma rede com 20 milhões de sites em todo o mundo. E, como o Apocalipse não veio, as empresas deram o tom do que viriam a ser os próximos anos logo em janeiro, quando a AOL comprou um dos maiores grupos de comunicação do mundo, a Time Warner, por U$ 160 milhões de dólares. Os investimentos na Nasdaq, a bolsa de eletrônica de valores de Nova York, disparam. O crescimento vertiginoso cria um efeito “bolha”: a Nasdaq alcança cinco mil pontos e despenca pouquíssimo tempo depois. Algumas empresas se fundem para sobreviver. Outras, quebram. 22 Enquanto isso, usuários comuns estavam mais preocupados em utilizar o que havia de melhor na Internet, cujos serviços mais acessados eram e-mails e mensagens instantâneas. O Geocities, criado em 1994, era um sucesso, mas o foco ainda ficava com o bate-papo. A troca de arquivos, notadamente de músicas, virou febre com o Napster, que em poucos meses alcançou 20 milhões de usuários (ERCÍLIA; GRAEF, 2008. P. 99). Gravadoras e artistas, assustados com um possível efeito devastador sobre as vendas de CDs nos Estados Unidos, processaram os autores do site. O Napster seria o precursor de uma profunda mudança na questão da autoria e no panorama cultural nos próximos anos. Em 2000, o Google inovou ao criar o “link patrocinado”, que viria a ser sua maior fonte de renda. Tratava-se de vender publicidade na forma de links de texto cujo conteúdo é associado aos termos na caixa de busca (IBIDEM, 2008, p. 28). O Brasil tornou-se mais relevante no cenário mundial da Internet em 2000, quando adotou a banda larga. A adaptação foi rápida: 9,98 milhões de declarações de Imposto de Renda foram feitas pela Web, e o jornal O Estado de S.Paulo tornou-se o primeiro jornal a publicar conteúdo gratuito on-line. O País tinha, então, 6 milhões de usuários (eram 349 milhões no mundo). Segundo Ercilia e Graeff (2008), o ano também foi bom para as empresas do setor: 11 provedores anunciaram suas operações entre os meses de janeiro e fevereiro e cerca de 10% dos investimentos diretos no Brasil no setor de serviços estavam sendo direcionados para as empresas ligadas à Internet. A banda larga foi fundamental para que os usuários brasileiros realmente pudessem ter acesso à Web 2.0. Sem velocidade de acesso, o uso das ferramentas até então disponíveis em outros países, notadamente nos Estados Unidos, era não apenas lento, mas quase impossível. Web 2.0 e velocidade são elementos absolutamente interligados. O ano de 2001 começa com uma nota fúnebre para os usuários do Napster, que torciam pela troca livre de arquivos. Os donos do site perdem o processo para os grandes conglomerados e o Napster é obrigado a interromper suas atividades. Em seu lugar, 23 nos anos seguintes, nasceriam outros programas, com ferramentas ainda mais rápidas e eficientes, favorecendo a livre troca de arquivos, casos do e-Mule e do BitTorrent. Não só as empresas tentavam censurar a Internet. O Talebã bane o acesso à Web no Afeganistão, em uma atitude até então inédita, mas reveladora: a Internet era perigosa para estados totalitários. O grande destaque de 2001 foi, sem dúvida, a criação dos “wikis”. O termo “wiki” vem da expressão “wikiwiki”, que no idioma falado no Havaí quer dizer “superrápido”. Os wikis são sites com conteúdo colaborativo. Isso significa que qualquer pessoa pode criar um novo conteúdo ou editar um conteúdo já publicado (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 37). A Wikipédia tornou-se o site colaborativo mais conhecido e hoje está disponível em diversos idiomas, em todo o mundo. Os órfãos do Napster começaram o ano de 2002 respirando aliviados. O BitTorrent 1.0 foi lançado, facilitando o download de imagens. E pelo site yousendit, tornava-se muito simples enviar e receber arquivos de qualquer natureza. Mas a interatividade Web 2.0 explodiu nos Estados Unidos, principalmente, com o site Friendster (hoje agonizante devido ao sucesso do Facebook). Chegou a ter 115 milhões de usuários e versões um tanto “pitorescas”, nos quais os perfis pertenciam a “cães” e “gatos”. O conceito do Friendster era bem simples: formar um círculo de amizades com pessoas com interesse em comum, criação e divulgação de perfis e listas de contatos, o que viria a ser a base para todas as futuras redes sociais. A preferência popular pelas mensagens instantâneas não diminuía. O ICQ (um acrônimo feito com base na pronúncia das letras em inglês -I Seek You-, em português, "Eu procuro você”), por exemplo, passou de 100 milhões de usuários no começo de 2001 para 200 milhões no ano seguinte. Outra febre que tomou conta da Web colaborativa foram os blogs, que existiam desde o final da década de 90, mas explodiram em 2002. Acompanhando a tendência, surgem os diários de fotos, ou Fotologs (abreviação do termo em inglês para “álbum de fotografias”). Trata-se de um sistema que permite ao usuário publicar fotos 24 acompanhadas de textos curtos, com a possibilidade de receber comentários de visitantes. Sua criação foi possível devido à proliferação das câmeras digitais (RECUERO, 2010. P. 168). O sistema fez sucesso no Brasil. Entre 2003 e 2004, os brasileiros foram os maiores criadores de fotologs do mundo. Em 2003, o Friendster ainda era um sucesso absoluto quando o MySpace surgiu. Muitos o chamaram de mera cópia de seu antecessor (foi criado por ex-funcionários do Friendster). O fato é que, com alguns ajustes, a nova rede social começou a crescer em número de adeptos, principalmente porque apostou na total interatividade. Além de possuir as características habituais das redes sociais – lista de contatos, publicação de perfis etc –, tornou possível publicar um blog por usuário, além de oferecer grande espaço para músicas e fotos. Alcançou seu auge em 2006, ficou associado ao mundo da música e das artes, mas desde 2008 enfrenta certa decadência (em 2011, perdeu 47% de sua equipe), com a migração de seus usuários para o Facebook (IBIDEM, 2010, p. 173). A partir de 2003, desenvolvedores começaram a lançar serviços com conceitos diferenciados, mas sempre com a ideia de compartilhamento em comum. Um bom exemplo foi o site Delicious – originalmente, del.icio.us –, que começou como um serviço online para marcação de links (bookmarks). Foi comprado inicialmente pelo Yahoo e, depois, pelos fundadores do YouTube. Basicamente, trata-se de uma ferramenta para arquivar e catalogar os sites preferidos dos usuários, que assim podem acessá-los de qualquer lugar. Esses “favoritos” podem ser compartilhados com amigos, entre outros atrativos. Quando várias redes sociais começam a surgir, é esperado que algumas se “especializem” em públicos distintos. Foi o caso do LinkedIn, a rede social de empresários e profissionais. Sua proposta diferenciada não procurava reunir pessoas com interesses em comum. A publicação dos perfis (muito semelhantes a currículos profissionais) sempre teve como objetivo a ligação entre usuários por conexões que podem gerar busca por empregos ou negócios. De acordo com matéria publicada pelo Portal G1 em março de 2011, o LinkedIn possui 300 milhões de usuários e o Brasil, com 3 milhões de cadastrados, é o país onde a rede mais cresce (428% apenas em 2010). 25 Ainda no setor de redes sociais diferenciadas, surge o Second Life, que permite um grau de interação jamais visto, mas possivelmente imaginado pelos adeptos dos games on-line. Os usuários podiam criar avatares – perfis visuais que representariam a si mesmos – e interagir com outras pessoas em mundos fictícios ou que simulavam o “mundo real”. O mundo do Second Life tinha moeda própria e um visual que emulava os jogos online. A novidade foi saudada como o futuro da Internet, mas tropeçou em problemas técnicos. No Brasil, chegou no início de 2007. O Second Life terminaria suas atividades no final desse mesmo ano. Falar por telefone usando o computador? Melhor ainda se isso trouxesse uma economia significativa, principalmente nas ligações internacionais. Nascia o Skype, um software que permite a comunicação por voz entre PCs em todo o mundo. Atenta às trocas de músicas entre usuários, a Apple lança a iTunes Music Store para o seu iPod e, contra todos aqueles que achavam que ninguém pagaria para ter música, legaliza parte do download da rede. Só na primeira semana de operação, vende um milhão de músicas pelo preço único de US$ 0,99 (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 100). A mania dos blogs começa a render dinheiro também: o Google compra o Blogger, o mais popular serviço de blogs naquele momento. Mas foi fora das telas dos computadores que uma das manifestações mais interessantes e participativas da Internet nasceu: os “flash mobs”, ou “manifestações relâmpago”, sempre organizadas via Web, através das redes sociais e de mensagens instantâneas. Os eventos reúnem grupos de pessoas em um lugar predeterminado para realizar um ato insólito e depois desaparecerem rapidamente. A onda chega ao Brasil também: dezenas de pessoas param entre a Avenida Paulista e a Rua Augusta, tiram um dos sapatos do pé e batem-no no chão. (IBIDEM, p. 105). Atualmente, os “flash mobs” são filmados e divulgados através do YouTube. Alguns se tornam famosos internacionalmente. O ano de 2004 talvez seja um dos mais marcantes da Web 2.0. É o ano do Orkut, do Digg, do Flickr e, claro, do Facebook. Não foi à toa que a partir desse ano o termo “Web 2.0” passou a se tornar mais popular. 26 O Facebook foi criado pelos estudantes da Universidade de Harvard Mark Zuckerberger, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Cris Hughes. A questão sobre quem realmente foi o criador do Facebook transformou-se em polêmica e gerou livros e um filme. Talvez nunca se chegue a uma conclusão sobre quem criou exatamente o quê. De fato, isso nem interessa muito. O que era para ser uma rede social restrita para os estudantes de Harvard foi se expandindo para outros campi e, em 2006, qualquer usuário podia criar seu perfil no Facebook. Os motivos para o sucesso do Facebook estão na facilidade para a publicação de conteúdos e, principalmente, na possibilidade de fazer interconexões com amigos de amigos. Com o passar do tempo, o site incorporou diversos serviços e passou a ser a maior rede social da Web. O Facebook derrubou várias redes, mas em 2004 e nos anos seguintes, foi o Orkut quem deu o que falar. O site foi criado por Orkut Buyukkokten em suas horas vagas, enquanto estudava na Universidade de Stanford e trabalhava no Google (que acabaria comprando o Orkut no mesmo ano de sua criação). Ainda não se sabe exatamente por qual motivo o Orkut alcançou tamanha popularidade no Brasil, tornando-se o maior usuário do mundo, seguido pela Índia. A quantidade de brasileiros on-line provocava lentidão e falhas no serviço. Além disso, motivou o Google criar um escritório no País (RECUERO, 2010, p. 166). Enquanto isso, o Google se estabeleceu como gigante da Internet em termos econômicos e culturais. Ao fazer sua estreia na bolsa eletrônica Nasdaq, passa na frente de empresas como General Motors e Amazon (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 29). O Gmail – serviço de e-mails do Google - ultrapassa os até então campeões Hotmail (dois megabytes) e Yahoo (quatro megabytes), oferecendo 1 gigabyte de capacidade de armazenamento. Nasce o serviço de mensagens instantâneas Google Talk e o Google anunciou o projeto de digitalizar obras de bibliotecas de universidades norteamericanas para pesquisa on-line. Alguns sites deixaram sua marca e se tornaram marcos da Web 2.0. É o caso do Digg, inicialmente voltado para ciência e tecnologia. Seu grande diferencial foi elevar ao 27 máximo o conceito de popularidade e levar um passo adiante a usabilidade do Delicious. O Digg reúne links para textos, podcasts, vídeos e outras contribuições. Como o Delicious, funciona através de bookmarks, mas inclui blogs e feeds. Nele, as contribuições mais votadas pelo usuário vão para a página principal. Criado por Kevin Rose, o Digg sobrevive ao tempo, mantendo-se sempre atualizado, abordando mais temas e criando novos aplicativos. Mais recentemente, incluiu aplicativos para iPhone e Android. Outra rede social, inspirada nos fotologs, surgiu em 2004 e teve sucesso instantâneo, o Flickr. O serviço permite a publicação de fotos e vídeos acompanhados de comentários, e o usuário pode criar palavras-chave para buscas e organização. Para Ercilia e Graeff (2008), o Flickr faz parte de um movimento denominado “Folksonomia”: O Flickr foi um dos pioneiros no uso de tags (etiquetas) para classificação de conteúdo. As tags, termos associados a uma imagem hospedada no serviço, ajudam a organizar o conteúdo de maneira mais flexível do que usando álbuns e categorias, além de servir como forma de reunir imagens relacionadas de vários usuários. Essa forma de identificação do conteúdo é conhecida como “folksonomia”, fazendo analogia à “taxonomia” – termo de origem grega para “ciência de classificar” – e referência ao caráter informal do método – folk em inglês é termo coloquial para pessoal (folks é “gente”, “pessoal’). As tags são uma forma de classificação intuitiva e desestruturada, que reflete uma tendência na nova geração de sites: o abandono gradual de metáforas e formas de organização ligadas ao espaço físico (como diretórios e pastas, por exemplo). As novas formas de classificação são mais fluidas e não metafóricas, pois as pessoas já têm referenciais de como funciona um site e não precisam de equivalentes concretos. Elas exploram melhor o fato de o conteúdo digital poder estar em mais de um “lugar” e ser organizado de várias formas simultaneamente. Um formato bastante comum de apresentar as tags é conhecido como “nuvem de tags” (tagcloud). As tags são organizadas em um bloco de texto e o tamanho de cada palavra é usado para identificar a popularidade daquela tag. Quanto mais usuários ou mais conteúdo estão associados a uma tag, maior o corpo. (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 40) 28 Em 2004 começou, também, a “guerra dos navegadores”, com o lançamento do Mozilla Firefox, ameaçando o até então inatacável Internet Explorer, da Microsoft. No primeiro mês de lançamento, o Firefox alcançou 25 milhões de downloads e passou a ameaçar o Explorer, ao lado de oponentes menos poderosos, como o Ópera e o Safári. O ano de 2004 fecha com o lançamento da versão beta do Messenger 7.0, o comunicador que se tornaria o mais popular no Brasil. Os podcasts – sistemas de divulgação de áudio via Web – estavam se tornando cada vez mais populares quando surgiu o YouTube, em 2005. Não era o primeiro site para visualização de vídeos on-line (já existia o Vimeo, por exemplo), mas revolucionou a Internet ao facilitar a publicação e visualização de materiais em vídeo. Criado por Steve Chen e Chad Hurley, oferecia um sistema de busca simples e espaço para comentários, escolha de favoritos e outros serviços. O PC tornou-se TV. De acordo com o Ibope/NetRatings, o Brasil torna-se, pela primeira vez, recordista em tempo de navegação, com média de 15 horas e 14 minutos mensais. Também foi líder em uso de mensagens instantâneas (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 106). Esse recorde seria ultrapassado diversas vezes, nos anos seguintes. Em 2006, a Web começou com boas notícias. O Google (sempre ele), comprou o YouTube por US$ 1,65 bilhão. Também lançou o Google Earth, serviço de imagens via satélite. E professores do Instituto de Tecnologia de Massachussets anunciaram um projeto para construção de um laptop educacional que seria comercializado por U$ 100. (IBIDEM, 2008, p. 102) Os números assombram e um bom exemplo é o aumento da audiência do YouTube, que cresce 1.972% em 2006, segundo pesquisa da comScore Networks. Mas nada foi mais importante para a Web 2.0 quanto o surgimento de um microblogging no qual o usuário tinha apenas 140 caracteres para responder à singela questão “O que você está fazendo?”. Se a interface era simples e os aplicativos eram limitados, o Twitter ganhava em velocidade. O conceito era seguir amigos e pessoas interessantes (celebridades, principalmente) e obter o maior número de seguidores (a fim de 29 tornar-se popular). O Twitter é o caso de rede social que demorou um pouco para se tornar mania, mas a partir de 2009 entrou em um processo de crescimento vertiginoso em todo o mundo. Hoje, são 200 milhões de usuários e 110 milhões de tweets (mensagens) por dia e, claro, os brasileiros estão entre os principais adeptos. Em 2006, aliás, bate novo recorde no tempo de uso de Internet: 18 horas e 42 minutos por mês (Ibope/NetRatings). Sintomaticamente, a prestigiosa revista Time – que todos os anos indica uma personalidade como emblemática – escolheu “Você” como personalidade do ano devido ao sucesso das redes sociais, como Twitter, YouTube, MySpace, Wikipédia e destacando o aspecto colaborativo e de compartilhamento de conteúdos e ideias. (ERCILIA; GRAEFF, 2008, p. 106). Em 2007, as redes sociais começam a migrar para o celular, com o lançamento do iPhone, aparelho da Apple que une funções de telefone, câmera, acesso à Internet, mp3 e diversos outros aplicativos. A partir desse lançamento, os smartphones, ainda que a preços proibitivos, começam a mudar a maneira como as pessoas se relacionam com as redes sociais. O fenômeno “mobile” leva as redes sociais para as ruas, casas noturnas, escolas. O IPhone reinaria até o lançamento do sistema Android, do Google, em 2008. Há uma diferença fundamental entre os dois sistemas: enquanto o iPhone só aceita aplicativos especialmente desenvolvidos para ele pela própria Apple, o Android tem como conceito a liberdade de hardware. Os usuários contam com um universo muito maior de aplicativos (atualmente, são mais de 100 mil), grande parte deles gratuitos. Embora a exclusão digital ainda seja tema de discussão, o Brasil atinge a marca de 40 milhões de computadores e um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas aponta que, pela primeira vez, a venda de computadores ultrapassa a de aparelhos de televisão. Foram comercializados 10,5 milhões de PCs apenas em 2007. (IBIDEM, p. 51). As redes sociais passam a compartilhar mais do que fotos de festas de família e festas, contatos de amigos e bate-papos. Elas são usadas também em movimentos sociais e interagem diretamente com a sociedade e a imprensa. O site Ushahidi (disponível em: <http://www.ushahidi.com/>), que começou como um blog criado por um ativista político 30 do Quênia para denunciar as agressões ocorridas nas disputas tribais durante as eleições nacionais naquele país, em 2008, logo tornou-se uma plataforma para denúncias internacionais. Já evitou fraudes eleitorais no México e localizou feridos no Haiti (<http://haiti.ushahidi.com/>). Utilizando outras plataformas – principalmente o Twitter -, fenômeno semelhante aconteceria no ano seguinte, durante as eleições presidenciais no Irã, país onde a Internet é fortemente controlada. Do outro lado do mundo, um candidato à presidência dos Estados Unidos utiliza as redes sociais como nenhum outro e vence as eleições. Barak Obama torna-se o primeiro presidente negro da maior potência mundial e uma parte de seu sucesso se deve ao uso certeiro das redes como forma de divulgação. As redes sociais continuam crescendo. A Wikipédia alcança o marco de dez milhões de artigos em mais de 250 idiomas. O Facebook conta com 100 milhões de usuários e o Flickr possui dois bilhões de imagens registradas. O iPhone chega ao Brasil e repete o mesmo fenômeno do lançamento nos Estados Unidos: filas enormes e estoques esgotados, apesar do custo elevado. Com as redes sociais já fazendo parte do dia a dia da sociedade, não demoraria muito para que elas influenciassem as relações do consumidor com as empresas. Um dos casos mais emblemáticos rodou o mundo em 2009 graças ao YouTube. Os membros da banda country norte-americana Dave Carrol faziam mais uma viagem pelos Estados Unidos quando, surpresos, viram seus instrumentos e bagagens sendo arremessados sem o menor cuidado pelos funcionários da United Airlines. A guitarra do vocalista, feita sob medida ao custo de U$ 3.500,00, quebrou. Depois de muitas tentativas de pedidos de ressarcimento e reclamações, sem sucesso, eles tiveram uma ideia genial: fazer um videoclipe contando a história2. A banda esperava alguma repercussão, mas não os 5 milhões de acessos que tiveram apenas no primeiro mês. A United Airlines provavelmente não esperava por isso, 2 O resultado pode ser conferido em http://www.youtube.com/watch?v=5YGc4zOqozo&feature=channel. 31 muito menos por toda repercussão na mídia, com matérias na TV e nos principais jornais e revistas do país. A empresa ofereceu um “patrocínio” para que o vídeo fosse retirado do ar. Foi a vez de a banda dizer “não”. E agora já existem mais dois clipes no YouTube. Ou seja, na Internet, até reclamação possui spin-of (jargão em inglês utilizado para denominar séries televisivas derivadas de outra). O Kindle (leitor digital de livros) finalmente chega ao Brasil, mas a maior parte dos e-books oferecidos ainda estão em língua inglesa e o aparelho tem alto custo. Começam as discussões sobre o futuro do livro e da autoria do escritor – bem como na sua forma de remuneração (direitos autorais). Os tablets – como o iPad (que chegaria ao País no ano seguinte) - reacendem a discussão, uma vez que provocam uma renovação no formato do livro, oferecendo possibilidades de links para vídeos, jogos, imagens e aplicativos que tornam a experiência da leitura algo muito diferente. Em matéria publicada no site da revista Superinteressante, o jornalista Alexandre Versignassi chama a atenção para os pontos positivos do tablet (iPad) e do Kindle. “Estamos a um passo do livro eletrônico perfeito. E quando isso acontecer, o livro impresso acaba” (VERSIGNASSI, 2010). Embora muitos concordem, esse pensamento não encontrou eco em toda a imprensa ou no mundo acadêmico. Afinal, há um precedente: mesmo com a possibilidade de baixar música gratuitamente on-line, a venda de CDs continua, ainda que todo o mercado fonográfico tenha passado por uma reestruturação. É muito cedo para prever o que irá acontecer com a indústria editorial, mas é possível que também passe por mudanças significativas. Em 2010, Umberto Eco e Jean-Claude Carrière lançariam uma obra com um título autoexplicativo: “Não contem com o fim do livro”. Em entrevista para a agência Estado, Eco diria: “O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. (...) Eletrônicos duram dez anos; livros, cinco séculos”. 32 Seguindo o exemplo bem-sucedido de Barak Obama, as eleições no Brasil também acontecem nas redes sociais: os candidatos Dilma Roussef e José Serra inauguram um momento de utilização das redes mais intenso. Dilma vence. As grandes redes sociais tornam-se cada vez maiores e abrem espaço para a criação de redes mais segmentadas. Um bom exemplo disso é o lançamento, nos Estados Unidos, da versão beta do site Storify (<http://storify.com/>), que tem como conceito “criando história com as redes sociais”. Trata-se de uma ferramenta que permite a criação de histórias usando o conteúdo das redes sociais. O usuário pode filtrar o conteúdo de redes como Twitter, Flickr, Facebook e YouTube, entre outras, adicionar conteúdos e criar a sua versão dos fatos do dia a dia. Foram criadas mais de 20 mil histórias (ainda na versão teste do site), visitadas por 13 milhões de pessoas. Criado por um jornalista (Burt Herman), exrepórter da Associated Press, uma das maiores agências de notícias do mundo, o site se propôs ajudar jornalistas e blogueiros a ter mais conteúdo para suas matérias. E ainda no campo das notícias, o WikiLeaks, site dedicado a divulgar conteúdos de fontes anônimas, vazados de governos, empresas ou outras organizações, em 2010, chamou a atenção de todo o mundo ao publicar uma grande quantidade de documentos confidenciais de fontes diplomáticas dos Estados Unidos. Apesar do nome, o site de Julian Assange não é um wiki: as pessoas podem enviar conteúdo de forma anônima, mas a publicação e edição são responsabilidade dos editores do site. De qualquer forma, sua importância na Web é inquestionável. Enquanto isso, o uso as redes sociais mais “tradicionais” aumenta, seguindo o próprio crescimento da Internet. A ONU divulga: há 1,97 bilhão de usuários da Internet no mundo, e a troca de e-mails chega a 107 trilhões. Dos 255 milhões de sites na Web, 21,4 milhões foram adicionados somente em 2010. E os blogs continuam fazendo sucesso: já são 152 milhões. O Twitter torna-se mais do que uma simples mania e sobe ao patamar de fenômeno. Em 2010, 175 milhões de novas contas são abertas. O astronauta T.J. Creamer envia o primeiro tweet do espaço. 33 O YouTube alcança a marca de 2 bilhões de vídeos assistidos por dia e 35 horas de vídeos enviados por minuto, em todo o mundo. E o Flickr conta com 5 bilhões de fotos, recebendo mais de 3 mil imagens enviadas por minuto. Esse avanço também está ligado à popularização dos smartphones. O sistema Android é utilizado em aparelhos celulares de diversas marcas. O iPad chega ao Brasil. O Facebook consolida-se como a maior rede social do planeta, conforme demonstrado na figura 1, com 600 milhões de usuários, 70% dos quais se concentrando fora dos Estados Unidos. No Brasil, é a rede que mais cresce, mas o Orkut ainda tem mais usuários (26 milhões contra 9,6 milhões do Facebook). Figura 1. Compartilhamento de conteúdo na Web (Fonte: CHART OF THE DAY: How People Share Content On The Web. Disponível em < http://www.businessinsider.com/chart-of-the-day-socialnetworking-sites-dominate-sharing-2009-7>). 34 O Google Street View, serviço do Google que atualiza o Google Maps com imagens, chega ao Brasil. Os sites de compras coletivas tornam-se a nova mania brasileira. Os “memes” tornam-se outra mania, mas em nível mundial. São vídeos, frases, imagens ou até mesmo ideias que se tornam “febres” na Internet. Alguns exemplos: “Sad Keanu” (foto do ator Keanu Reeves, aparentando tristeza, que foi aplicada a diversas situações, geralmente hilárias ou inusitadas) e o nacional “Cala a boca Galvão”, pedindo um pouco de silêncio ao eloquente apresentador esportivo Galvão Bueno durante a Copa da África do Sul. O conceito de memes foi cunhado por Richard Dawkins, que discutia a cultura como produto da replicação de ideias, que ele chamou de memes. O conceito de meme foi cunhado em seu livro “O gene egoísta”, publicado em 1976. A partir de uma abordagem evolucionista, Dawkins compara a evolução cultural com a evolução genética, onde o meme é o “gene” da cultura, que se perpetua através de seus replicadores, as pessoas. (RECUERO, 2010, p. 122) Outra novidade que chega ao país são os sites crowdfunding (iniciativas de financiamento coletivo), como o Catarse (<http://catarse.me/pt>), nos mesmos moldes do norte-americano Kickstarter (http://www.kickstarter.com/). Através de sites como este, o autor de uma ideia apresenta sua proposta e diz o quanto quer captar. Usuários fazem doações. Em troca, o dono do projeto oferece uma recompensa. Se o projeto obtiver os recursos desejados, os donos da plataforma repassam a verba para o dono da ideia e ficam com uma comissão. Mas se a meta não for atingida, os investidores recebem o dinheiro de volta ou o recebem em crédito para investimento em outros projetos. (MOREIRA, 2011) No final de 2010, segundo o censo do IBGE, o Ibope Ratings e a F/Nazca, a Internet no Brasil somava 81,3 milhões de usuários, com média de uso de 3 horas por dia, 70% dos quais compartilhando conteúdos. No ranking das mídias sociais, o Orkut, com 26 milhões de inscritos, aparecia em primeiro lugar, seguido de perto pelo YouTube (20 milhões) e, um pouco mais distantes, pelo Twitter (9,8 milhões), Facebook (9,6 milhões) e Yahoo Respostas (5,5 milhões). 35 O setor de EaD (Ensino a Distância) cresceu 40% no Brasil e faturou 3 bilhões de reais, entre cursos técnicos, treinamento de funcionários, cursos rápidos, graduação e pós-graduação, de acordo com a Associação e-Learning Brasil. Em 2011, o mundo da Web 2.0 está nos PCs e nos smartphones. Está, também, no dia a dia, nas conversas, nos jornais, nas universidades, mas não reina absoluto na Internet. Enquanto arautos do futuro anseiam por uma Web 3.0 – quiçá uma 4.0 – talvez seja preciso lembrar que a Web 2.0 convive em perfeita harmonia com sua irmã mais velha, a Web 1.0. Ao contrário do que acontece com o mundo dos softwares, em que a versão mais nova de um aplicativo, por exemplo, elimina a anterior, a Web 2.0 não “matou” a 1.0. Afinal, quem vai querer compartilhar os dados de seu banco on-line? Ou quem vai querer um site de compras totalmente 2.0? Convivendo em harmonia com a Web 1.0, a Web 2.0 é filha dileta da velocidade, da banda larga, do movimento e, não à toa, adaptou-se generosamente aos smartphones. Neste ano, ficou um pouco mais caseira, com o lançamento das SmartTVs, aparelhos de televisão que acessam as redes sociais. Matéria publicada pelo site Meio & Mensagem revela que o Brasil possui 205,150 milhões de celulares, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações. Com uma população de 192,5 milhões de pessoas (IBGE), isso significa que há 1,06 celular para cada habitante do País. Pré-pagos são maioria: 82,32% (contra 17,68% de pós-pagos), mas isso não é mais empecilho para o acesso às redes, pois operadoras como a TIM, por exemplo, oferecem planos populares de acesso por R$ 0,50 por dia. Do total de celulares, 22,5 milhões são equipados com tecnologia 3G. Junto aos celulares, começa a crescer também a venda tablets, com a chegada de novos modelos de outras marcas, além do iPad, da Apple. Até mesmo o aprendizado de um idioma pode migrar para uma rede social e o sucesso da plataforma Livemocha é um exemplo disso. Já são três milhões de usuários brasileiros que utilizam recursos como bate-papo e compartilhamento de multimídia (vídeos de aprendizado, e-books, áudio-books e outros materiais de estudo). Idiomas como inglês e 36 espanhol lideram, mas há também bom percentual de italiano e francês (o site oferece, no total, 35 idiomas, incluindo menos conhecidos, como o eslovaco, o hindi e o urdu). O Livemocha funciona como um site convencional de ensino de idiomas: cada aula é composta por exercícios, testes de gramática, de áudio e de conversação e, ao término, o aluno realiza uma prova de escrita e pronúncia (gravada com o microfone do computador), que é corrigida por nativos do idioma aprendido. Para aumentar a interatividade, o Livemocha promove competições e, para motivar os usuários, insere todos os resultados em um ranking que destaca os primeiros colocados. O site também estimula a formação de novos tutores on-line oferecendo remuneração aos usuários que tiverem melhor desempenho na correção dos exercícios dos colegas. O que o diferencia dos sites convencionais é justamente o fato de adicionar a função “rede social” ao aprendizado, incentivando a interação e disponibilizando ferramentas usuais nas redes. A fórmula tem dado certo. O maior fenômeno das redes sociais – o Facebook – chegou a batizar uma criança egípcia. Por mais bizarro que pareça, a fundamental influência das redes sociais nos movimentos que levaram à queda do regime de Hosni Mubarak levaram uma família a batizar seu primeiro filho de “Facebook” (as informações são do site TechCrunch (<http://techcrunch.com/>). E o Facebook, que cresce no Brasil e atinge agora 19 milhões de usuários, começa a cair em países como os Estados Unidos. Será a “bolha”? Há um fenômeno recorrente na Internet. Tudo o que cresce muito e rápido demais tende a deixar de ter interesse para os usuários depois de um tempo. Afinal, há sempre algo novo. Não é de hoje que se diz que os megaconglomerados da Web irão sucumbir devido à sua própria grandiosidade, e os próximos alvos poderiam ser o Google e o Facebook. Levantamento feito pelo site Inside Facebook (<http://www.insidefacebook.com/>) mostrou que, em apenas um mês (maio de 2011), a rede social de Mark Zuckerberg perdeu cerca de 6 milhões de usuários nos Estados Unidos e 37 1,52 milhão de pessoas no Canadá, enquanto no Reino Unido, Noruega e Rússia a perda foi de mais de 100 mil. O Inside Facebook sugere que esse seja um movimento de saturação, uma vez que os únicos países em que o Facebook está em alta são aqueles onde demoraram a se estabelecer, como o Brasil. Prestes a alcançar a marca de 700 milhões de usuários no mundo, o Facebook pode estar inchado demais, perdendo terreno para inovações como as microrredes sociais, que seguem no sentido oposto ao conceito “eu quero ter um milhão de amigos” do Facebook. É o caso de novas redes sociais que limitam o número de amigos até 50 e que, em grande parte, foram criadas apenas para a plataforma mobile. O Path (criado por um exfuncionário do Facebook) e o Group Me são os mais bem-sucedidos até o momento, alcançando juntos 11 milhões em investimentos. O Facebook tentou contornar a situação e introduziu a função “Grupos” em sua plataforma. Em poucos meses, foram criados 50 milhões de grupos em todo o mundo. Na mesma linha, o Google lançou um aplicativo para celular chamado Disco, voltado para a formação de grupos de (poucos) amigos. Já surgiram outras microrredes sociais, como Huddl, Rally Up e Shizzlr, todas com o mesmo conceito de compartilhar apenas com os “amigos do peito”, ou seja, com quem realmente importa. Nesse contexto, a definição clássica de Pierre Lévy para ciberespaço talvez tenha que ser revista: A palavra “ciberespaço” foi inventada em 1984 por William Gibson em seu romance de ficção científica “Neuromancer”. No livro, esse termo designa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural. (...). Eu defini ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores (grifo do autor). (LÉVY, 1994, p. 94) 38 O ciberespaço, cada vez mais, é espelho do mundo como ele é. Movimentos sociais que antes aconteciam apenas nas ruas migram para as redes. O eterno desejo de pertencer a grupos exclusivos cria redes menores, segmentadas. A procura constante do capital para vender mais com custos menores encontrou na rede formas de captar recursos e financiar projetos. “A rede, portanto, centra-se em atores sociais, ou seja, indivíduos com interesses, desejos e aspirações, que têm papel ativo na formação de suas conexões sociais”. (RECUERO, 2010, p. 143) Ver o que o outro está fazendo, comentar, interagir, fazer, refazer, compartilhar, divulgar, criar. A Web 2.0 é a interface que permite levar a nossa real humanidade para o mundo virtual. Se alguma outra “Web” virá, talvez se apresente como a quebra da fronteira entre o que é “real” e o que é “virtual”. 2.3.O ciberespaço, as relações sociais e a produção do conhecimento. As TICs em geral e, especialmente, as ferramentas da Web 2.0 têm viabilizado o surgimento de novos padrões de interatividade social, nos quais o sujeito, cada vez mais, assume papéis ativos de produção, compartilhamento e troca de informações e conteúdos, ampliando, assim, as suas possibilidades de comunicação e colaboração no âmbito de comunidades virtuais. De um ponto de vista histórico, cada estádio de desenvolvimento das comunicações – em termos de códigos, técnicas e meios – corresponde a um desenvolvimento específico das competências comunicativas e culturais e, por consequência, a um diferente modelo de literacia. (VIEIRA, 2008: 193). Para Lisbôa, Bottentuit Junior e Coutinho (2009, p. 177), os ambientes virtuais se constituem como “espaço fértil de significação no qual seres humanos e objectos técnicos interagem, potencializando a construção de conhecimentos e, consequentemente, a 39 aprendizagem”. E, nesses ambientes, “a informação reproduz-se, circula, modifica-se e actualiza-se, a comunicação flui, a interacção é rápida...”. A comunicação mutidirecional ensejada pela conexão dos atores em rede (LATOUR, 2008) concretiza, dessa forma, possibilidades de descoberta baseadas na construção, elaboração, simulação e discussão de novas informações e sentidos, a partir das quais o conhecimento e a aprendizagem emergem, em um contexto de interação entre sujeito e meio social (LISBÔA; BOTTENTUIT JÚNIOR; COUTINHO, 2009), mediado sobretudo pela linguagem (VIGOTSKY, 1998). Assim, o novo ambiente comunicacional viabiliza a horizontalização das relações sociais de poder, favorecendo a emergência de novos modelos de relacionamento, de ação e interação (THOMPSON, 1998). No final do século passado, Masetto (2000, p. 152) definiria a aplicação das TICs na educação como: (...) o uso da informática, do computador, da Internet, do CD-ROM, da hipermídia, da multimídia, de ferramentas para educação a distância – como chats, grupos ou listas de discussão, correio eletrônico etc. – e de outros recursos de linguagens digitais de que atualmente dispomos e que podem colaborar significativamente para tornar o processo de educação mais eficiente e mais eficaz. Ao longo da primeira década deste século, na esteira do avanço da Web 2.0, novos e mais poderosos instrumentos viriam reforçar esse arsenal, permitindo enriquecer os processos educacionais, sobretudo nos ambientes virtuais de aprendizagem. Segundo Benkler (2006), as ferramentas digitais que povoam a Web 2.0 representam mecanismos e possibilidades de produção, inovação e divulgação cultural. A partir de seu uso e apropriação, as operações digitais simbólicas do “cortar”, “colar”, “remixar” “anotar”, “editar”, “comentar” e “publicar” viabilizam e facilitam a discussão da cultura e de seus símbolos, tornando “o consumo uma experiência mais crítica e, certamente, mais interativa” (SANTOS, 2010. p. 136). 40 No contexto do advento e contínua expansão das TICs, na ambiência da massificação do uso de computadores e da Internet, inaugura-se uma verdadeira revolução das práticas socioculturais contemporâneas, permitindo a emergência de um novo tipo de ator, mais ativo, estimulado e apto a produzir seu próprio conhecimento, lazer e socialização. O uso das ferramentas da Web 2.0 na sala de aula – real ou virtual –colabora para que o professor abandone sua posição tradicional de único agente legítimo na transmissão de saberes, tornando-se agente mediador de uma nova forma de aprendizagem, interativa, dialógica e construtivista. A expansão de redes globais e de comunidades virtuais, facilitada pelo uso de ferramentas descentralizadas e de fácil utilização, constitui fator motivador para o desenvolvimento de formas criativas de comunicação e para a construção de conhecimento em áreas da educação formais ou informais. Promove-se a ruptura com os processos de ensino-aprendizagem sequenciais e propõem-se, como alternativa, os sistemas de ensino-aprendizagem em rede, a redistribuição de poderes na criação de conhecimento e o reconhecimento do valor educativo em ambientes virtuais de aprendizagem” (AIRES; AZEVEDO, 2010, p. 30). Para Alava (2002, p. 14), ao utilizar o ciberespaço, as TICs estimulam a recontextualização das “práticas de formação, valorizando a construção de saberes pelo aprendiz”, numa dinâmica verdadeiramente colaborativa. Nesse processo, consolidam-se as comunidades virtuais de aprendizagem, definidas por Aires e Azevedo (2010, p. 37) como “grupos sociais construídos no ciberespaço com culturas próprias e desenvolvidos em torno de objetivos científicos e educativos”, os quais “se constroem com experiências que os indivíduos estabelecem entre si, on-line e offline, como materiais de aprendizagem”. Trata-se, portanto, de uma nova dinâmica, resultante de uma ação mediada e dialógica3, que supera os tradicionais paradigmas instrucionistas, abrindo caminho para a instauração de modalidades alternativas de 3 Na ação mediada, indivíduo e artefato – interpretados como elementos constituintes de uma nova ecologia da aprendizagem – tornam-se indissociáveis, enquanto na dialogia convocam-se as “dimensões culturais, interativas e partilhadas da identidade” (AIRES; AZEVEDO, 2010, p. 38). 41 educação (MATTAR, 2008) e oferecendo aos educadores possibilidades de transformar o processo de ensino-aprendizagem em uma experiência significativa (DEMO, 2008). 2.3.1. Interação/ interatividade No ambiente sociotécnico que sustenta a comunicação contemporânea, interação e interatividade adquirem diferentes significados. Em um mapeamento da discussão sobre o tema, Luciana Mielniczuk (2001, p. 175) identifica autores que definem de modo bastante específico ambos ou cada um desses atributos. Para André Lemos (1997), a interatividade pode ser classificada em analógicomecânica ou eletrônico-digital. No primeiro caso, a ação ocorre entre o sujeito e a máquina, enquanto no segundo, para além dessa instância, a interatividade se expande para abarcar também a informação, ou seja, o conteúdo. Faz sentido, nesse último caso, chamar a atenção para o aspecto das interfaces, entendendo-as como zonas de contato interativo e de troca de informações entre homens e máquinas. Pierre Lévy (1999) pressupõe diferentes graus de interatividade, entendo-a como fenômeno altamente complexo. Para esse autor (apud MIELNICZUK, 2001, p. 180), diferentes eixos analíticos podem ser concebidos para a compreensão do processo, listando, ele próprio, os seguintes: a) possibilidade de apropriação e de personalização da mensagem, b) reciprocidade na comunicação, c) virtualidade, d) implicação da imagem dos participantes na mensagem e e) telepresença. Outros autores essencialmente preocupados com a comunicação mediada por computador (CMC), como Alex Primo (1998) e Nicoletta Vittadini (1995), propõem pensar analiticamente a interatividade homem-máquina de modo comparado aos contextos da comunicação interpessoal. Assim, a comunicação que se pretende plenamente interativa é aquela que mais se aproxima da interação interpessoal. Nicoletta Vittadini (apud MIELNICZUK, 2001, p.181) propõe diferentes níveis para a classificação da interatividade, de acordo com três critérios: a) tempos de resposta 42 (quanto menor o tempo, maior o grau de interatividade, visando ao ideal da simultaneidade dos diálogos interpessoais); b) qualidade dos resultados (relacionada à complexidade do sistema), e c) complexidade do diálogo (baseada na capacidade do sistema de simular o comportamento de um interlocutor real). Também estudando aspectos da CMC, Bayman (apud RIBEIRO, 2001, p.144) ressalta cinco fatores que influenciam diretamente a constituição dos processos comunicativos derivados dos espaços virtuais: a) os contextos externos; b) a estrutura temporal do grupo; c) a infraestrutura do sistema tecno-informático; d) os propósitos grupais e e) as características específicas dos participantes. O conjunto de combinações dessas variáveis promoveria a base para o estabelecimento da dinâmica social emergente da ambiência virtual, criando condições para o florescimento de interações sociais com características peculiares, tais como: trocas interacionais efetuadas apenas por comunicação textual, ausência de referências físicas e corporais, possibilidade de anonimato nas relações, etc. (IDEM) Nos ambientes virtuais de aprendizagem, pode-se considerar a interatividade como um dos componentes que influem na sensação de distância, principalmente em atividades educacionais. Tori (2010), que associa a interação ao trabalho compartilhado e a interatividade à capacidade de um sistema de comunicação de possibilitar a interação, afirma que uma aula não precisa ter interação o tempo todo para ser interativa, pois o que está em jogo não é a quantidade, mas a eficiência da interação. Garantir o engajamento nas atividades de aprendizagem representa, portanto, o grande desafio para que sejam bemsucedidas. 2.3.2. Atores em rede/ redes sociais/ comunidades virtuais A democratização do acesso à Internet tem elevado substancialmente o número de pessoas que utilizam do meio para se interrelacionar. Esse fenômeno tem sido objeto de análise de especialistas interessados em entender as novas formas de interação social engendradas no ciberespaço. 43 David Silver (apud PASSARELLI, 2010, p. 66) classifica três gerações de estudos sobre o tema: (...) a primeira é marcada pela descrição jornalística (...); a segunda, chamada de “estudos sobre a cibercultura” (cyberculture studies), caracteriza-se pelo teor acadêmico, dedicado a eixos como comunidades virtuais e identidade on-line; a terceira designa estudos críticos sobre a cibercultura. Integrante da terceira geração, Howard Rheingold é o responsável pela formulação do termo “comunidades virtuais” e pela identificação do poder de mobilização dos coletivos digitais (PASSARELLI, 2010). Deve-se a Henry Jenkins a definição de convergência das mídias como “fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos”, o que situa sua emergência no momento em que os meios marcados pela unidirecionalidade (um para muitos) convivem, competem e colaboram com as mídias interativas. Para o autor, os meios de comunicação são, ao mesmo tempo, sistemas de distribuição (tecnologia) e práticas sociais (cultura). Isso significa que apenas “quando uma rede de computadores possibilita a interação mediada entre pessoas, organizações e instituições”, pode-se “falar em redes sociais que incorporam as características interativas das mídias digitais e constituem uma cultura do digital” (op. cit., p. 67). Segundo Passarelli (2010, p. 67), mais do que resultado de uma mudança tecnológica, a convergência das mídias “altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos”, modificando “a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento”. Em outras palavras, com a possibilidade de produção e publicação em rede de conhecimentos e trabalhos amadores e seu crescimento exponencial, surgem novas formas de ver e produzir cultura, formas essas que modificam as relações de produção e de mercado. Ao sociólogo francês Bruno Latour coube a elaboração da teoria do ator-rede, resultado de suas investigações sobre como se desenvolvem as conexões entre os 44 participantes da rede. Partindo de estudos etnográficos, o autor propõe uma nova maneira de superar a antiga dicotomia entre sociedade e natureza com a constituição de um coletivo, construído a partir do conhecimento científico, que incorpore o humano e o não humano. (PASSARELLI, 2010). 2.3.3. Novas relações de poder/ reputação/ capital social A massificação do acesso, uso e apropriação das novas ferramentas da Web 2.0 e da conexão em rede implicaram novas formas de ação e interação social, novos modelos de relacionamento e novas relações de poder. Durante as últimas décadas, diversos autores vieram contribuir, em diferentes campos do saber, para uma melhor compreensão dos modos de estar em rede que conformam a contemporaneidade. Da metáfora rizomática de Deleuze (1995) à organização flexível das maltas de Elias Canetti (1995), passando pelos movimentos dos atores em rede de Bruno Latour (2005), esforços têm sido crescentemente despendidos para conceber, observar, descrever e interpretar os fenômenos das redes sociais em suas conexões com as mediações e construção das novas relações de poder. Renova-se, nessa ambiência, o conceito de multidão, entendida como um coletivo empenhado na construção do comum, em que muitos autores contemporâneos enxergam uma nova forma de democracia (HARDT; NERI, 2006). Para Cláudia Freire (2009, p. 18), “a potência da multidão está em seu poder de falar e compartilhar em rede... a multidão é a rede”. Em outras palavras, “a potência dos fenômenos em rede está na comunicação, no encontro de um comum, entre conversações singulares” (IBIDEM, p.19). Partindo da conceituação do termo commons – como forma institucional específica de estruturar direitos de acesso, uso e controle das fontes de conhecimento e de informação – Freire (2009) situa, na ambiência das redes, território típico para os commons, 45 a existência dos coletivos digitais. E enxerga a mobilização do comum e da lógica da cooperação na sociedade em rede como prática e conduta fundamental de alteração (e de subversão) das ordens política e econômica (mercado), ou seja, da reconfiguração do poder. Discutir as relações sociais de poder, a partir da emergência da sociedade do conhecimento, requer que se aborde a centralidade das redes e de suas implicações comunicativas na reorganização da vida social, ou seja, dos novos “territórios informacionais”. Assim, é preciso integrar três concepções: a de “revolução das tecnologias da informação” (CASTELLS, 2003), que carreou a descentralização do conhecimento; a de “globalização”, que veio a enfraquecer os limites do nacional na política e no direito; a de “pós-modernidade” que possibilitou a emergência das expressões da pluralidade e da heterogeneidade cultural, questionando os lugares da legitimação do saber (LYOTARD, 1983; HARVEY, 2006). Citando novamente Cláudia Freire (2009, p. 20), destacamos que “a rede é a plataforma da ação na qual a troca de conhecimentos tornou possível a produção organizada de um comum, estritamente baseada no esforço coletivo e na inovação, em ambiente de interconexão que possibilita, no dizer extraído de Yochai Benkler (2006, p.60) “uma nova modalidade de organização da produção: radicalmente descentralizada, colaborativa e não proprietária”. A conexão em rede permite que grupos (des)organizem, (re)classifiquem e atribuam (ou não) valor à informação e ao conhecimento circulante. E isso significa poder. Para Rheingold (2002, p. 178), a emergência das relações de poder e contrapoder durante a realização de uma tarefa em comum, ou trabalho coletivo, associa-se à definição da reputação dos atores ao longo do próprio processo construtivo, cujos critérios se organizam em função dos valores atribuídos a diferentes características, habilidades e status (cultural, social) desses agentes em interatividade. Nesse sentido, o poder deve ser pensado como movimento impermanente, que se constrói nas e pelas próprias relações entre os agentes participantes, a partir de posturas e valores emergentes, nômades e mutantes. E tal concepção aponta para as 46 possibilidades sempre presentes de construção de novas lideranças compartilhadas, híbridas e móveis ao longo do exercício da atividade coletiva. Por considerar a reputação “um elemento-chave na cultura das redes digitais”, John Perry Barlow (1994, apud SILVEIRA, 2008, p. 58) corrobora a ideia de que, na sociedade em rede, o relacionamento superará a propriedade: os sujeitos serão reconhecidos e valorizados pelo seu desempenho, conhecimento e comportamento e, cada vez menos, pela propriedade material ou direitos de copyright que detêm. Alex Primo (2005, p. 41) alerta para o fato de que cooperação e conflito não se opõem nas atividades interativas entre atores sociais em coletividades digitais. Para esse autor “nem a cooperação é sempre intencional e frutífera, nem tampouco o conflito é constantemente prejudicial e aniquilador” (PRIMO, 2005, p.44). Trata-se de uma abordagem renovada na busca de conferir novos fundamentos epistemológicos que respondam às dimensões da complexidade e instabilidade ligadas às comunidades virtuais permanentemente transformadas pelas ferramentas da Web 2.0. Busca-se superar, assim, as perspectivas mais idealizadas das partilhas cordiais e fraternas entre agentes (RHEINGOLD, 1993), para outras que “realçam as desigualdades e os conflitos nessas comunidades, ou para postulados de natureza política” (AIRES; AZEVEDO, 2010, p.36). Ao propor um instrumento de medição da produção de conhecimento das redes sociais – reais ou virtuais – quando dotadas de condições de desenvolvimento e funcionamento, em sua dissertação de mestrado defendida na ECA/USP, Anita Vera Bliska (2007, p. 36) utiliza a noção de capital social, “entendida como a capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir não só com os que estão à sua volta, seus parentes, amigos, colegas de trabalho, mas também com os que estão distantes e podem ser acessados remotamente (...) tendo como resultado a produção de conhecimento (...)”. Para a pesquisadora, o desempenho das Comunidades Virtuais de Aprendizagem (CVAs) está relacinado a três variáves da teoria do capital social: 1) capital social estrutural (infra-estrutura tecnológica e políticas de incentivo ao uso das Tecnologias da Informação), 2) capital social cognitivo (criação da cultura digital e aprendizagem 47 cooperativa) e 3) coesão social (adesão ao uso das tecnologias da informação (TI) para ações coletivas). Segundo Bourdieu (apud BLISKA, 2007), o capital social não se encontra nos indivíduos, mas origina-se das relações sociais. Em outras palavras, o capital social individual é uma extensão da rede social e depende do capital econômico e cultural ou simbólico que possuem as pessoas com as quais o indivíduo se relaciona. Dessa forma, o capital social possuiria um efeito catalisador e multiplicador sobre as outras formas de capital. De forma análoga a Bourdieu, Coleman (1999, apud BLISKA, 2007) aborda a noção de capital social como um recurso que gera benefícios, e recorre a termos econômicos para explicar a sua concepção do conceito. Para ele, capital social é a habilidade de as pessoas trabalharem juntas para atingir objetivos comuns. Segundo Coleman (1999), o capital social é produzido a partir das mudanças das relações interpessoais que facilitam determinadas ações; dessa forma, o capital social depende da ação individual para a produção de um bem coletivo e é sustentado por dois pilares, a confiança e a reciprocidade. Nessa perspectiva, aqueles que geram capital social beneficiam-se apenas de uma pequena parte do todo que foi produzido. Putnam (apud BLISKA, 2007), nessa mesma linha, afirma que o capital social está relacionado às conexões que tem por base a reciprocidade e a confiança. Para o autor, capital social é um conjunto de recursos que o grupo possui; “diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas [de participação cívica], que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas" (op. cit., p. 177). Embora haja convergência entre os autores em relação à concepção geral de capital social, é possível perceber divergências em aspectos particulares, como a unidade social a qual se aplica o conceito de capital social e como este poderia ser mensurado. Coleman (1999), por exemplo, está preocupado com o retorno em educação, que aumenta com a posse de capital social. Já Putnam quer explicar as diferenças políticas e econômicas 48 entre o norte e o sul da Itália. Bourdieu, por sua vez, enfatiza a ideia de “campo” para distinguir tipos de capital social e formas de medi-lo. Higgins (apud BLISKA, 2007) propõe novos elementos para o modelo de capital social retomando a perspectiva de conflito de Bourdieu em conjunto com a sociologia do fato moral de Durkheim. O modelo proposto parece apontar para o diálogo entre Bourdieu, Durkheim e Habermas sobre as lacunas das perspectivas utilitaristas e dominantes. 2.3.4. Coletivos digitais/ produção coletiva/ autoria (copyright/copyleft) Se já podemos realizar uma genealogia do pensamento sobre a produção coletiva de conhecimento na rede (dada a pouca distância temporal que nos separa do pioneirismo deste debate na academia), certamente vamos nos deparar com o conceito fundamental na obra de Pierre Lévy: inteligência coletiva, formulados nos anos 90 (LÉVY, 1998). Essa referência pioneira abriu caminho para conceituações mais atuais, tais como inteligência emergente (Steven Johnson), coletivos inteligentes (Howard Rheingold), cérebro global (Francis Heylighen), sociedade da mente (Marvin Minsky), inteligência conectiva (Derrick de Kerckhove) e redes inteligentes (Albert Barabasi) (COSTA, p. 1, s/d). Um solo comum sustenta essas proposições: uma profunda transformação do conhecimento (da produção à transmissão) na sociedade contemporânea, marcada decisivamente pela interconectividade em rede, a colaboração entre os atores e o compartilhamento dos saberes. Os coletivos digitais são uma faceta deste momento. Com uma conceituação ainda incerta, podemos conceber os coletivos digitais como as experiências de interação em rede que contam com indíviduos que atuam na Web em função de um propósito ou objetivo. Para além das comunidades virtuais (LÉVY, 1996), que são vivências sociais que se desenvolvem em função da rede, os coletivos digitais são agrupamentos voltados para ação 49 que utilizam as possibilidades suscitadas pela sociabilidade própria da cibercultura, impulsionados pelo desejo de atuar, seja de forma política (GURAK, LOGIE, 2003, p. 25), artística (LABRA, 2006, p. 197) ou mesmo educacional/ produção de conhecimento. O processo de criação das técnicas e tecnologias da informática sempre foi marcado pelo compartilhamento coletivo de saberes. Dos rudimentos da computação ao desenvolvimento da Internet, as trocas e abertura à cooperação sempre foram conceitoschave que impulsionaram a sinergia que possibilitou o surgimento das tecnologias e de todo o universo cibernético subsequente. É justamente neste contexto que podemos situar a história recente do chamado copyleft como modelo de abertura de uso de software. Seu marco inaugural é o ano de 1983, como parte do movimento organizado Software Livre, proposto e orquestrado por Richard Stallman (um programador do Laboratório de Inteligência Artificial do MIT) no Projeto GNU e, posteriormente, levado a cabo pela Free Software Foundation. Stallman era membro importante de uma comunidade de técnicos que desenvolvia em sistema colaborativo um software mais potente que pudesse funcionar em qualquer tipo de máquina e que permitisse conectar servidores a Internet. No projeto UNIX, estavam empresas comerciais, universidades e instituições governamentais como a ARPANET, a estrutura-mãe da Internet. De uma intensa colaboração entre os envolvidos surge assim o UNIX como um ambiente compartilhado que tornou possível aos pesquisadores comunicar-se para a criação de programas para redes de servidores. Diante da disputa judicial entre os financiadores iniciais do projeto por direitos autorais, Stallman cria com um grupo de pesquisadores o GNU (significando “GNU não é o UNIX”), um novo sistema que fosse inspirado tecnicamente no UNIX, mas que não fosse submetido ao copyright (CASTELLS, 2003, p. 40). O objetivo do Projeto GNU era o de criar um sistema operacional que fosse totalmente livre, para que qualquer usuário tenha o direito de uso, estudo, modificação e redistribuição do programa e de seu código fonte, desde que garanta a todos os usuários 50 seguintes os mesmos direitos. Um dos resultados mais destacados do projeto é o sistema operacional Linux. Criada em 1985, sob o comando de Richard Stallman, a Free Software Foundation foi baseada em um conjunto de ferramentas de software, o GNU que se tornou a espinha dorsal da comunidade de programação livre e o nascedouro do que ficou conhecido como copyleft. Para o criador Stallman (1999), “o copyleft usa a lei de direitos autorais (copyright), mas a inverte para servir ao objetivo oposto: em vez de um meio de privatização de software, torna-se um meio de manter o software livre". Em suma, o que ficou conhecido como copyleft foi proposto em 1988 e tratase de uma designação da Licença Pública Geral, aplicável em todas as situações onde direitos de autor são utilizadas, seja em livros, imagens, música, que se tornam liberados sob esta licença. A cunhagem do termo contém uma profunda ironia, pois, de acordo com Stallman, o termo foi uma sugestão do artista e programador Don Hokins que incluiu a expressão "Copyleft - all rights reversed." numa carta a ele enviada. A frase é um trocadilho expressão "Copyright - all rights reserved", usada para garantir direitos de autor em diversos tipos de obras. Este novo modelo de uso coletivo das obras segue o paradigma das quatro liberdades: a primeira, a liberdade de executar o programa, para qualquer propósito; a segunda, liberdade de estudar como o programa funciona e de adaptá-lo para as suas necessidades, para isso o acesso ao código-fonte é um pré-requisito; a terceira, a liberdade de redistribuir cópias; e a última, a liberdade de aperfeiçoar o programa e de liberar os seus aperfeiçoamentos. O movimento pelo Software Livre originou a expansão do uso de diversos tipos de programas (são resultado desta iniciativa o sistema Linux, o Wordpress, o Apache, entre outros), permitindo o desenvolvimento da Internet tal qual a conhecemos, além disso, legou como contribuição importante: tornar público um modelo de abertura colaborativa 51 que tem se consolidado como novo paradigma da cultura que emerge da rede mundial de computadores. A rede não é aqui um dispositivo fechado, mas lugar de passagem e de contato, crescendo em valor de acordo com o crescimento do número de seus utilizadores. Ela é construída pela dinâmica de suas interações, não sendo assim, fechada a priori, conformando dinamicamente e sendo conformada de forma complexa pela sociedade e, consequentemente, por todo o campo comunicacional. Da cultura de massa centralizadora, massiva e fechada estamos caminhando para uma cultura copyleft, personalizada, colaborativa e aberta. (LEMOS, 2004, p. 15) Ainda tratando do impacto desta nova dinâmica de produção de conhecimento, Lemos (op. cit., p. 11) destaca que “a cibercultura potencializa aquilo que é próprio de toda dinâmica cultural, a saber, o compartilhamento, a distribuição, a cooperação, a apropriação dos bens simbólicos. Não existe propriedade privada no campo da cultura já que esta se constitui por intercruzamentos e mútuas influências”. A denominação genérica copyleft surge em contraposição a copyright, que se refere à lógica proprietária dominante na dinâmica cultural dos mass media (LEMOS, 2004). Na contemporaneidade, não se entende, nem tampouco se propõe, uma substituição de modelos de produção e de consumo midiáticos, já que ambas as formas seguem e deverão continuar seguindo em coexistência. Trata-se, em realidade, de apontar o surgimento de um contraponto cultural que complexifica o ambiente midiático contemporâneo (LEMOS, 2004, p.18), enfatizado pelos princípios e lógicas da colaboração, trocas, circulação, reapropriações criativas de informações e objetos culturais que decorrem da emergência das redes sociais. Movimentos como o chamado Creative Commons são em realidade entendidos como “complementares ao copyright ao invés de competir com ele. Seu objetivo não é derrotar os direitos do autor, e, sim, facilitar para autores e criadores o exercício de seus direitos, de forma mais flexível e barata” (LESSIG, 2005, p. 256). A cultura copyleft - que diz respeito aos processos de cooperação, troca e modificação criativa de obras -, surge em meados da década de 1970 e se populariza a partir dos anos 90, baseada nas oportunidades advindas da crescente conectividade em rede, bem como dos usos e apropriações das ferramentas digitais da Web 2.0. 52 Para André Lemos (2004, p.18), os maiores emblemas atuais da cibercultura constituem-se no movimento dos softwares livres e na cultura copyleft. Esse autor ressalta que nesses movimentos, o que essencialmente se diferencia não são a tecnologia empregada e suas possibilidades, mas sim as formas de trabalho cooperativo que delas emergem. Encontramos, nesse autor, uma voz em “defesa da prática recombinante como ideologia da tecnocultura” (SILVEIRA, 2008, p. 56). Para ele, o “princípio que rege a cibercultura é a re-mixagem” (LEMOS, 2006, p. 52). Segundo Silveira (2008), seus argumentos confluem para uma compreensão muito próxima à que Pierre Lévy teceu sobre a cibercultura em sua obra “Cibercultura”, editada no Brasil em 1999: “...a metamorfose contínua das obras adjacentes e do meio virtual que sustenta e penetra a obra contribui para destruir um eventual autor de suas prerrogativas de fiador de sentido” (LÉVY, 1999, p.138). Os processos colaborativos são conhecidos por sua existência já de largo tempo no âmbito dos negócios e das sociedades empresariais. No entanto, são essencialmente diferentes do que ora se observa na contemporaneidade sóciotécnica. E essa diferença reside principalmente no fato de que a colaboração massiva nas redes digitais é articulada a partir de agentes individuais livres, que atuam conjuntamente na discussão e resolução de questões de seu interesse. Nesta cooperação, não há obrigação, nem vínculos que reflitam compromissos institucionais nos campos social, econômico, político ou de qualquer outra natureza ideológica. 53 3. Metodologia da Pesquisa 3.1.Pesquisa nas ciências sociais aplicadas O presente estudo insere-se no campo das Ciências Sociais Aplicadas e seu objeto de estudo “está associado com o homem enquanto ser relacionado, com si próprio, com os outros, com seu entorno físico e biológico e com as entidades mentais: ideias, conceitos, lógica.” (MARTINS, THEÓPHILO, 2007, p. 2). O objetivo da pesquisa, centrada na compreensão das interfaces das ferramentas da Web 2.0 com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP de 2001 a 2010, por suas características peculiares e objeto de estudo, requer delineamento metodológico específico. De certa forma, esta pesquisa tentou caminhar na direção de uma ruptura epistemológica necessária a uma ciência pós-moderna, trazendo não somente um novo conhecimento à sociedade, mas também uma necessária ruptura com o senso comum. Como bem aponta Santos (1989: 147), (...) o ato epistemologicamente mais importante é a ruptura epistemológica. Isto significa que (...) deixou de ter sentido criar um conhecimento novo e autônomo em confronto com o senso comum (primeira ruptura) se esse conhecimento não se destinar a transformar o senso comum e a transformar-se nele (segunda ruptura). Depois de três séculos de prodigioso desenvolvimento científico, torna-se intoleravelmente alienante concluir como Wittgenstein, citado em epígrafe, que a acumulação de tanto conhecimento sobre o mundo se tenha traduzido em tão pouca sabedoria do mundo, do homem consigo próprio, com os outros, com a natureza. A realização deste estudo baseou-se, sobretudo, na crença – privilegiada pela posição dos observadores frente ao objeto – de que a escolha da pesquisa qualitativa seria a melhor alternativa metodológica. Para tanto, foram utilizados ainda os estudos de Horn (1998) e Sutton (1993). 54 Segundo Gall et al. (1997), para a pesquisa qualitativa, a realidade é construída por seus participantes por meio de casos em que são estudados o significado que os indivíduos criam para o fenômeno, considerando o contexto no qual a ação social ocorre de forma holística, e só são possíveis generalizações quando identificados outros casos similares. Em contraponto, a pesquisa quantitativa assume a realidade social como relativamente constante e objetiva, razão por que estuda populações ou amostras que as representem, por meio de fenômenos observáveis, que geram dados numéricos que a represente. O que se pretende neste estudo é compreender e descrever uma situação específica vivenciada por um grupo singular de pessoas, a partir de suas produções coletivas, considerando os seus contextos ao longo do tempo a fim de identificar e estabelecer as interfaces das ferramentas da Web 2.0 com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP de 2001 a 2010. Dessa forma, visualizamos a “[...] qualidade como expressão complexa e não linear dos fenômenos, ao mesmo tempo indicativa de sua incompletude ostensiva e potencialidade pretensamente ilimitada.” (DEMO, 2000, p. 149). Além disso, é preciso lembrar que, de uns anos para cá, ocorreu uma revisão das abordagens metodológicas aplicadas aos estudos de Comunicação no Brasil e na América Latina. Por isso, segundo Lopes (2004, p. 3-4), deve haver o cuidado necessário em apontar os malefícios simplificadores acarretados pela reedição do velho debate frente à cultura de massas, que Moragas (1997) identifica como a disputa entre “neo-apocalípticos” e “neo-integrados”, o que implica reter os estudos sérios relativos a questões cruciais sobre a densidade e as ambiguidades da nova fase de desenvolvimento do capitalismo neoliberal, tematizando-as por meio de pistas conceituais, tais como “cultura-mundo” (MARTÍNBARBERO, 1998), “comunicação-mundo” (MATTELART, 1994), “sociedade da comunicação” (VATTIMO,1992), “paradigma da globalização” (IANNI, 1994). Tais pistas acenam para a centralidade da comunicação no modo de organização da sociedade contemporânea, o que significa dizer que a comunicação opera 55 agora no nível das lógicas internas de funcionamento do sistema social. Com isso, o campo da comunicação complexifica-se enormemente, tornando explícito o erro epistemológico de continuar tratando a comunicação como objeto de estudo numa perspectiva meramente instrumental, quer seja através da crítica meramente ideológica, quer seja através da afirmação funcionalista. Dentre os mais recorrentes problemas metodológicos nas Ciências da Comunicação apontados por Lopes (1990; 2004), estão a falta de clareza conceitual, pela inexistência de uma preocupação epistemológica, e mesmo de definição de termos, tornando impreciso o objeto de estudo, o que buscamos evitar neste projeto. 3.2.Pesquisa Documental Na busca por responder à questão central que motiva esta pesquisa – as possíveis relações entre o uso das ferramentas da Web 2.0 e a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP ao longo de seus dez anos de existência –, optou-se pela pesquisa documental como procedimento de coleta de dados. Embora possa conduzir a soluções apenas parciais do problema proposto, a técnica permite uma visão mais acurada do próprio problema e a eventual adequação do objeto de estudo ao objetivo da pesquisa (GIL, 1991, p. 151-153). Além disso, requer recursos financeiros reduzidos – a principal exigência em termos de custo é o tempo de dedicação do pesquisador ao objeto – e prescinde de contatos interpessoais. Em contrapartida, apresenta como uma de suas principais dificuldades a falta de garantia de objetividade, aspecto presente, aliás, na maior parte da investigação social. Mesmo partindo da premissa de que a objetividade não será atingida sem passar pela subjetividade do indivíduo, algumas medidas de cautela podem ser adotadas para assegurar a objetividade possível, a saber: a) identificar as informações e os dados 56 constantes nos documentos; b) estabelecer as relações das informações e dos dados obtidos com o problema proposto; c) analisar a consistência de informações e dados apresentados. Para identificar os dados, realiza-se uma leitura exploratória dos documentos, a fim de rapidamente verificar se o material relaciona-se à proposta da pesquisa. Em seguida, faz-se uma leitura seletiva e analítica, adotando a atitude de imparcialidade, cuidado e objetividade, para estabelecer as relações necessárias ao andamento do estudo (GIL, 1991). 3.2.1. Caracterização dos documentos utilizados na pesquisa Para a realização desta pesquisa, foram utilizados documentos disponíveis no portal da disciplina “Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática” (http://ccvap.futuro.usp.br), como os textos coletivos produzidos pelas turmas de 2001 a 2010 e os making ofs de algumas delas. A caracterização desses documentos, a partir dos quais foram coletados os dados da pesquisa, e a descrição da percepção dos pesquisadores quanto à experiência de produção colaborativa e à utilização dos recursos tecnológicos disponíveis no portal da disciplina são apresentados a seguir. 3.2.1.1. O portal da disciplina No Programa de Pós-graduação da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo são desenvolvidos diversos projetos na linha de pesquisa Comunicação e Educação. A disciplina CCVAP, ministrada pela Profa. Dra. Brasilina Passarelli tem como objetivo: “(...) proporcionar oportunidade de reflexão sobre a educação à distância bem como sobre o potencial educacional das tecnologias de comunicação e 57 informação, sem as quais já não mais se concebe a educação na pós-modernidade”. (PASSARELLI, 2007, p.105) Criado para que os alunos participantes da disciplina pudessem produzir e publicar trabalhos, além trocar ideias sobre os ambientes virtuais de aprendizagem, o portal do CCVAP funciona como uma comunidade virtual de aprendizagem e prática. Uma vez acessado, permite ao visitante consultar desde a ementa e conteúdo programático da disciplina (com diversos textos, vídeos e animações inseridos pela professora) até as seções Bibliografia, InterAção e Texto Coletivo. Todas as seções do portal foram extremamente valiosas para os alunos de 2011, em especial a InterAção – que dá acesso ao Blog da turma e aos making ofs, ou diários de bordo, de turmas anteriores, contendo relatos sobre as aulas e considerações sobre a construção do texto coletivo – e a Textos Coletivos, que disponibiliza links para todas as produções coletivas da disciplina, organizadas por ano de edição. A Figura 2 mostra a página inicial do site e suas respectivas seções. O portal da disciplina sofreu diversas alterações ao longo de uma década de existência, incluindo as atualizações tecnológicas. Nesse período também sofreu invasões de hackers que danificaram registros como o fórum, ferramenta disponibilizada para as primeiras turmas e que não pode mais ser acessada. Assim, parte significativa das percepões de participantes de turmas anteriores, principalmente dos primeiros cinco anos, foi perdida. Cabe ainda ressaltar que o portal é mais bem visualizado quando se utiliza o browser Internet Mozila Firefox. Por essas razões, a turma de 2011 optou pelo uso da ferramenta 4-Shared (disponível em: <http://www.4shared.com>), para compartilhamento de resenhas e slides de apresentações, e pela criação de um grupo de discussão e de um arquivo para documentos no Google Docs, com um endereço de e-mail da turma ([email protected]), para a construção do texto coletivo. 58 Figura 2. Página inicial do Portal da disciplina. 3.2.1.2. Os textos coletivos Como mencionado antes, os textos coletivos das dez turmas anteriores da disciplina puderam ser acessados, em formato pdf, por meio dos links disponíveis no portal do CCVAP, postados em ordem decrescente pela data e ano da publicação. Houve uma distribuição desses textos entre os alunos da turma de 2011 para que fossem feitas e apresentadas suas resenhas. Como o grupo é numeroso – com 16 pessoas-, alguns de seus componentes ficaram responsáveis por resenhar dissertações e teses relacionadas ao tema ou obras sobre metodologia da pesquisa científica. 59 Foram estes os textos contemplados nas resenhas e escolhidos como objeto de estudo: • Turma 2010 (12/07/2010) – Uma leitura despretensiosa sobre comunidades, autoria e controle na contemporaneidade • Turma 2009 (11/08/2009) – Etnografia virtual: uma tendência para pesquisa em Ambientes Virtuais de Aprendizagem e de Prática • Turma 2008 (16/03/2009) – Stranger in Co-text: uma análise do "estranhamento" na producão colaborativa mediada • Turma 2007 (06/07/2007) – Cibercultur@, comunidades e relações de poder: uma producao colaborativa • Turma 2006 (25/04/2007) – Comunidades Virtuais de Aprendizagem em universidades brasileiras: um olhar sobre os consórcios CVA RICESU e CEDERJ • Turma 2005 (25/04/2007) – Participação no Fórum de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem: facilidades e dificuldades • Turma 2004 (25/04/2007) – Comunidades Virtuais de Aprendizagem e de Prática: uma leitura dos processos de construcão • Turma 2003 (25/04/2007) – O Fórum na construcão de Comunidades Virtuais de Aprendizagem • Turma 2002 (25/04/2007) – O texto coletivo: um estudo de caso • Turma 2001 (25/04/2007) – Multimídia e narrativa não-linear 60 Figura 3. Página do portal da disciplina contendo os links para os texts coletivos 3.2.1.3. O making of Devido aos já mencionados problemas técnicos ocorridos no portal da disciplina, foi possível acessar os blogs com os making ofs de apenas quatro turmas: 2007, 2008, 2009 e 2010. Neles, estão as relatorias das aulas, geralmente compostas de humoradas participações dos integrantes da turma, algumas fotos, vídeos e músicas. A turma de 2009 foi a mais inovadora, ao apresentar também um vídeo e postá-lo no Youtube (<http://www.youtube.com/watch?v=RZnc_rAsPzk>). Apesar de os making ofs não serem o principal objeto desta pesquisa, forneceram uma visão mais holística do processo de construção dos textos coletivos. 61 Figura 4. Print Screen do video postado <http://www.youtube.com/watch?v=RZnc_rAsPzk>). no YouTube. (Fonte: 3.3.Procedimentos metodológicos da pesquisa documental A pesquisa documental utiliza fontes primárias que, de acordo com Martins e Theóphilo (2007, p. 55), “[...] ainda não foram objeto de análise, ou que ainda podem ser reelaboradas de acordo com os propósitos da pesquisa”. Assim, para compreender as interfaces das ferramentas da Web 2.0 com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP de 2001 a 2010, foram utilizados os documentos produzidos pelas turmas anteriores da disciplina e disponíveis no portal da disciplina, dando maior atenção aos textos coletivos produzidos como objeto principal de pesquisa. 62 Inicialmente realizou-se o mapeamento desse universo documental, que possibilitou a identificação e seleção de eixos temáticos, organizados de forma matricial. Adicionalmente, por meio de pesquisa bibliográfica com ênfase no desenvolvimento histórico das ferramentas da Web 2.0, elaborou-se uma linha do tempo dessas ferramentas. O cruzamento dos dados da matriz dos textos coletivos com a linha do tempo das ferramentas Web 2.0 deu origem a uma linha que explicita as interfaces dessas ferramentas com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP de 2001 a 2010. A seguir, essas diferentes etapas serão descritas. 3.3.1. Mapeamento inicial do universo documental O mapeamento inicial do universo documental teve origem como uma atividade individual da disciplina. Cada aluno participante da turma de 2011 teve como tarefa individual fazer a resenha de um dos textos coletivos produzidos pelas turmas anteriores. Como o número de textos coletivos (dez) era inferior ao número de participantes (16), além dos textos coletivos, foram objeto de resenha livros de metodologia da pesquisa, tese de doutorado e dissertação de mestrado. Para a realização dessa tarefa estava prevista no calendário da disciplina um aula externa no dia 26 de abril. Considerando que nesse período o portal da disciplina estava instável em decorrência de ataque de hackers, a professora orientou a turma a utilizar um ambiente virtual externo para o depósito das resenhas. Assim, foi utilizado o 4-Shared (<http://www.4shared.com>) para o compartilhamento das resenhas. Adicionalmente também foi criado um grupo para facilitar a comunicação com todos os participantes do grupo utilizando a ferramenta Google Groups. Em ambas as ferramentas, 4-Shared e Google Groups, foi criado um usuário “[email protected]” e a senha para acesso às ferramentas foi compartilhada com todos os participantes da disciplina, incluindo a professora. Além da resenha, os participantes prepararam uma apresentação breve a respeito de cada texto resenhado com o objetivo de apresentar o texto aos demais 63 participantes. Tais apresentações foram realizadas nos dias 03 e 10 de maio de 2011. Durante as apresentações realizadas no primeiro dia, a turma experimentou um forte sentimento de angústia ao perceber que em momentos similares da disciplina, turmas anteriores estavam em estágios mais avançados da produção coletiva que, até aquele momento, ainda não tinha se delineado enquanto tema ou objeto de pesquisa para a turma de 2011. Tal inquietação originou uma iniciativa de manifestação e eleição de temas de pesquisa realizada por meio da ferramenta Google Groups, como discussão, e que foi realizada durante a aula. Essa iniciativa marcou o início do trabalho coletivo propriamente dito da turma de 2011. A apresentação das resenhas dos trabalhos coletivos proporcionou ao grupo um panorama geral das temáticas abordadas pelas turmas anteriores, bem como um panorama geral de arcabouço teórico, conclusões, dificuldades no processo de produção coletiva e lições aprendidas. Além da perspectiva do conteúdo produzido, essa atividade possibilitou que o grupo refletisse sobre a dinâmica de produção coletiva e, ao longo do processo, essa reflexão se mostrou bastante efetiva na prática de produção coletiva da turma de 2011. 3.3.2. Identificação (seletiva) de eixos temáticos Considerando a perspectiva de conteúdo, as apresentações das resenhas dos textos coletivos produzidos pelas turmas de 2001 a 2010 proporcionou à turma uma oportunidade de reflexão a respeito dos temas que se mostraram recorrentes nas produções ao longo dos anos e a partir dessa reflexão coletiva, incluindo a professora, a produção coletiva das turmas anteriores emergiu como objeto de pesquisa para a produção coletiva da turma de 2011. Assim, com base nas apresentações e resenhas dos textos coletivos a turma selecionou eixos temáticos para um levantamento de temas comuns nos textos coletivos produzidos nos dez anos da disciplina. 64 Inicialmente foram identificados seis eixos temáticos, cada um dos quais podia ou não ter subtemas, como se vê abaixo: 1) Temas/conteúdo – educação a distância, comunidades virtuais de aprendizagem e uso de tecnologias 2) Metodologia – método, trabalho de campo e atores/público-alvo 3) Making of – divisões de trabalho, formas de comunicação, negociação e dificuldades 4) Auto-avaliação 5) Resultados/conclusões 6) Autores mais citados 3.3.3. Organização dos dados em Matriz Os eixos temáticos inicialmente identificados foram organizados na forma de uma matriz onde as colunas correspondiam aos anos em que os trabalhos coletivos foram produzidos (2001 a 2010) e as linhas aos eixos temáticos, conforme Figura 5. Essa matriz inicial foi compartilhada com o grupo por e-mail utilizando a ferramenta Google Groups e foi estabelecido um prazo para as colaborações quanto aos eixos temáticos. Assim, em 12 de maio, após as colaborações, a primeira versão da Matriz dos Textos Coletivos foi elaborada e disponibilizada por meio da ferramenta Google Docs. Na primeira versão da Matriz ficaram estabelecidos os seguintes eixos temáticos e respectivos subeixos: 1) Temas/conteúdo – educação a distância/ autores mais citados; comunidades virtuais de aprendizagem/ autores mais citados; uso de tecnologias/ autores mais citados; novos paradigmas para a educação/autores mais citados; relações de poder/ 65 autores mais citados; etnografia virtual/ autores mais citados e Web 2.0 (relativo aos textos coletivos)/ autores mais citados 2) Metodologia – método, trabalho de campo e atores/público-alvo 3) Making of – divisões de tarefas, formas de comunicação, negociação, estrutura do trabalho e dificuldades 4) Auto-avaliação 5) Resultados/conclusões 6) Tópicos de reflexão 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 1) TEMAS / Conteúdo 1.1 Educação a distância 1.2 Comunidades Virtuais de Aprendizagem 1.3 Uso de Tecnologias 2) Metodologia 2.1 Método 2.2 Trabalho de campo 2.3 Atores / públicoalvo 3) Making of 3.1 Divisões do trabalho 3.2 Formas de comunicação 3.3 Negociação 3.4 Dificuldades 66 4) Auto-avaliação 5) Resultados/ conclusões 6) Autores mais citados Figura 5. Matriz comparativa dos textos coletivos de 2001 a 2010 – versão 1 Os participantes que fizeram resenhas relacionadas a textos coletivos deveriam preencher as colunas da Matriz de acordo com o ano em que o texto coletivo sob sua análise foi elaborado. Assim, ficou determinado às 12h do dia 17 de maio como o prazo para o preenchimento dessa etapa da matriz pelos respectivos responsáveis. Naquele dia, o produto desse trabalho foi analisado e discutido presencialmente com a turma contando com a mediação da professora. A partir do produto do trabalho sintetizado na Matriz o grupo foi provocado a pensar em alguns termos utilizados no trabalho que foram posteriormente alterados na segunda versão da matriz. Também foi discutido a respeito do objeto da pesquisa e de seu objetivo. Discuti-se a elaboração de uma linha do tempo onde serão consideradas as ferramentas da Web 2.0 e suas interfaces na produção coletiva dos textos na disciplina no período de 2001 a 2010. Assim, a segunda versão da Matriz além de renomear subtemas, também incorpora uma nova linha com a inclusão das ferramentas da Web 2.0. Nessa segunda versão, a Matriz (Figura 6) fica assim configurada: 1) Temas/conteúdo – educação a distância/ autores mais citados; comunidades virtuais de aprendizagem/ autores mais citados; TICs na educação/ autores mais citados; novos paradigmas para a educação/ autores mais citados; relações de poder/ autores mais citados; etnografia virtual/ autores mais citados e Web 2.0 (relativo aos textos coletivos)/autores mais citados 2) Metodologia – método da pesquisa nos textos, pesquisa de campo e sujeitos da pesquisa)/autores mais citados 3) Making of - divisões de tarefas, interação e interatividade, negociação, estrutura do trabalho e dificuldades)/autores mais citados 67 4) Auto-avaliação 5) Resultados/conclusões 6) Tópicos de reflexão 7) Web 2.0 (contexto histórico, panorama geral) )/autores mais citados. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 1) TEMAS / Conteúdo 1.1 Educação a distância Autores mais citados 1.2 Comunidades Virtuais de Aprendizagem Autores mais citados 1.3 Uso de Tecnologias Autores mais citados 1.4 Novos Paradigmas para a Educação Autores mais citados 1.5 Relações de Poder Autores mais citados 2) Metodologia 2.1 Método 2.2 Trabalho de campo 2.3 Atores / públicoalvo 3) Making of 3.1 Divisões de tarefas 68 3.2 Formas de comunicação 3.3 Negociação 3.4 Estrutura do trabalho 3.4 Dificuldades 4) Auto-avaliação 5) Resultados/ conclusões 6) Observações relevantes Figura 6. Matriz comparativa dos textos coletivos de 2001 a 2010 – versão 2 Além dessas inovações, definiu-se o início da escrita do texto do trabalho coletivo e essa organização seria inicialmente organizada de acordo com as linhas da Matriz como um guia. Assim, a Matriz seria relida, agora, considerando sua horizontalidade. Cada participante seria responsável por uma linha da Matriz, mas poderia, livremente, colaborar com outros assuntos ou temas, de acordo com sua proximidade, estímulo ou conhecimento prévio. Dessa forma, o texto seria produzido coletivamente por meio de um documento compartilhado no Google Docs. A matriz completa, com os respecticvos campos preenchidos podem ser vistos no Apêndice A. A leitura horizontal da Matriz que gerou a primeira estrutura do texto coletivo representa a terceira versão da Matriz. 3.3.4. Construção da linha do tempo 1: as ferramentas Web 2.0 Para analisar as interfaces entre o lançamento das ferramentas da Web, e sua utilização na produção dos textos coletivos da disciplina CCVAP de 2001 a 2010, foi necessário elaborar uma linha do tempo, que traz o benefício adicional de fornecer um 69 panorama sobre a emergência de práticas no ambiente virtual que se tornaram estritamente ligadas com a vida social e profissional das pessoas (KEVIN; CAMPESATO, 2011). A linha do tempo aqui construída (Figura 7) estabelece como critério para demarcação de datas o momento em que a primeira versão da ferramenta é lançada e não a ocasião em que atinge seu auge de notoriedade e uso mundial. Isso porque é interesse deste trabalho observar o, principalmente, gap temporal que se estabelece entre o lançamento dessas ferramentas e sua utilização no curso da disciplina. Um segundo motivo é a carência de fontes fidedignas sobre os momentos de boom de cada ferramenta, já que muitas vezes esses números são contaminados por interesses publicitários e de promoção da marca, ou seus ápices ocorrem em momentos diferentes em cada região ou país (ou sequer ocorrem); apesar de as fontes históricas também serem variáveis sobre a data de lançamento de algumas ferramentas – em alguns casos, com diferenças de um ano para mais ou para menos –, optamos por escolher literaturas especializadas (descritas a seguir) para estabelecer esses marcos. Um outro aspecto de relevância concerne na construção de uma continuidade da linha para antes de 2001 indicando algumas ferramentas que surgiram em período anterior ao recorte dado. Isso se justifica a partir do momento em que elas foram bastante presentes nos primeiros anos de 2000 e tiveram peso na elaboração dos primeiros trabalhos coletivos das disciplinas; dessa forma, fez necessário também situá-las no tempo. Um último ponto que deve ser considerado é em relação à inclusão de multiplataformas físicas como os mobiles, tablets e TV conectada, nos anos de 2007, 2009 e 2010, respectivamente. À primeira vista, fogem do escopo inicial que considera somente as ferramentas Web executáveis na nuvem e não dispositivos eletrônicos. Como já abordado em capítulos anteriores, a emergência desses dispositivos trouxeram forte impacto no uso e apropriação dessas próprias ferramentas Web, que passaram a estar embarcadas nessas plataformas e expandiram seu ambiente de execução para além do tradicional PC, trazendo mudanças nos comportamentos dos usuários e em sua própria concepção. A diminuição ou aumento das telas demandam novas adaptações dos recursos de cada ferramenta buscando aproximá-la das características e linguagens de cada dispositivo. No caso da emergência da TV 70 Conectada, que possui um dispositivo que permite à conexão com Internet e com ferramentas Web, verificam-se questões emergentes ainda pouco resolvidas nesse âmbito. A expansão da Internet é um fato e a importância do acesso público às suas ferramentas para o desenvolvimento das nações já foi amplamente reconhecida (SEY; FELLOWS, 2009). No entanto, a aplicação de sua ubiquidade para além dos limites do PC é algo que requer atenção. Uma das grandes dificuldades da aproximação entre TV e Internet, por exemplo, é desenvolver implementações considerando requerimentos e limitações específicas da TV, tanto como equipamento quanto linguagem, já que o know-how estabelecido para essas aplicações era, até então, com foco para PC (MATSUBARA; KAWAMORI, 2011). Uma última observação relaciona-se a uma observável onda de ferramentas entre os anos de 2003 e 2006 e depois uma queda acentuada no lançamento de novas ferramentas a partir de 2008. Para isso, a literatura nos indica dois movimentos que nos ajudam a construir um diagnóstico: o primeiro, refere-se ao fato de que, com o boom de novas plataformas e dispositivos móveis, portáteis e individuais, as ferramentas Web caminham para um ambiente de ‘Internet das coisas’ (IoT), estando presente nos objetos dentro e fora de casa e não mais restrita aos limites do PC; as características diferenciais de cada ferramenta deixaram de ser um atrativo, tornando-se mais válidas ferramentas que sejam convergentes e que detenham variados recursos em um ambiente só; um segundo movimento observa entre 2008/2009, a crise financeira que passou a afetar diversos países do mundo teve impacto em empresas que criam ferramentas Web, que por conta disso tiveram que reduzir gastos e frear suas criações (NILSON; CAMPESATO, 2011). 71 Figura 7. Linha do tempo 1: ferramentas da Web 72 4. DESCRIÇÃO CRÍTICA DOS EIXOS TEMÁTICOS 4.1.Linha do tempo 2: ferramentas Web 2.0 na produção coletiva Pode-se observar que, na Figura 7, a linha do tempo construída no capítulo 2 sofre um acréscimo, com a inserção de uma segunda barra inferior, que indica a ocorrência das ferramentas Web nos textos coletivos do CCVAP. Dessa maneira, faz-se o cruzamento dos dados referentes aos lançamentos das ferramentas Web e sua ocorrência nos textos coletivos. Nos anos de 2001, 2005 e 2009, não foram registradas ocorrências de uso ou citação relevante que revelasse uma presença marcante de tais ferramentas no processo de construção dos textos coletivos referentes a esses anos. Nos outros anos (2002, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008 e 2010), há a citação do uso de algumas ferramentas. Em geral, as mais utilizadas foram, nesta ordem: Fórum, E-mail, Chat, MSN e Wikipédia (entre 5 e 3 ocorrências); Orkut e o Site da disciplina foram registrados em 2 momentos cada um; e Youtube, Twitter, Facebook, MySpace, Flickr, Skype, ICQ, Mirc, SlashDot e Google Docs apresentaram ao menos uma ocorrência cada um. Considerando o PhpBB um dos primeiros registros de lista de discussão/fórum da Web que atingiu grande notoriedade a partir de seu lançamento em 2000, verificamos que a utilização do Fórum foi uma constante entre os anos de 2002 e 2007 (com exceção de 2005). A diminuição de seu uso se justifica pela opção de desativação deste recurso durante as disciplinas a partir de meados de 2005. Mesmo assim, registra uma alta frequência. O site da disciplina foi citado em dois momentos, 2002 e 2008, porém seu uso nos parece transversal a todos os anos, já que é um Ambiente Virtual de Aprendizado utilizado como ferramenta na disciplina. Já o E-mail é uma ferramenta consolidada e tradicional bastante recorrente nos anos de 2002, 2003 e 2004, porém estima-se que seu uso se estenda também de maneira transversal em todos os anos. 73 As ferramentas de Mensagem Instantânea (MSN, ICQ) também foram utilizadas em vários momentos ao longo da década – ICQ principalmente na primeira metade dos anos, período em que caiu em desuso e sofre com o crescimento do MSN. Em relação às ferramentas de redes sociais, como Orkut, observamos que seu primeiro uso na disciplina se deu 2 anos após sua criação em 2004. O Facebook, também criado em 2004 e disponibilizado ao público em 2006 teve sua utilização pelos alunos da turma de 2010, bem como o Twitter, criado em 2006 e utilizado em 2010. Essa brecha entre a criação e o uso efetivo como ferramenta de produção coletiva pode ter a ver com o período de maturação e massificação da ferramenta, da construção de uma intimidade dos usuários com os próprios recursos disponíveis e da atualização e implementação técnicas das ferramentas. O Portal do Tidia, criado em 2001 por iniciativa de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), foi utilizado como ferramenta cinco anos mais tarde pela turma de 2006. Em termos gerais, observamos um gap de no mínimo dois anos entre a criação da ferramenta e sua utilização na produção dos textos coletivos, além de uma postura mais conservadora em termos de utilização de ferramentas na maioria dos anos estudados. Observamos também que, apesar de algumas intersecções entre os conteúdos das abas na linha do tempo (“Lançamento de Ferramentas Web” e “Ocorrência das Ferramentas Web nos textos coletivos do CCVAP”), é significativamente maior o número e disponibilidade de ferramentas Web existentes comparadas às de fato utilizadas pelos alunos das disciplinas. Talvez um importante desafio para as próximas turmas subsequentes seja se lançar ao uso dessas e outras ferramentas, saindo da zona de conforto propiciada pelo E-mail, e experimentando o uso de Youtube, redes sociais, prezi, enfim, como têm buscado fazer as últimas turmas de 2010 e a atual de 2011. 74 Figura 7. – Linha do tempo 2 – Ferramentas da Web 2.0 75 4.2.Temas/Conteúdo Com exceção da turma de 2001, que, em vez de uma produção coletiva, apresentou uma coletânea de textos com temas variados, todas as outras, a partir de 2002, construíram seus trabalhos m torno de um único tema, sendo que dois deles aparecem de forma recorrente. O fórum, por exemplo, é eleito como tema dos trabalhos de 2003 (O Fórum na Construção de Comunidades Virtuais de Aprendizagem) e 2005 (Participação no Fórum de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem: Facilidades e Dificuldades). Da mesma forma, relações de poder aparecem nos trabalhos de 2007 (Cibercultur@, comunidades e relações de poder: uma produção colaborativa) e 2010 (Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática” – Uma leitura despretensiosa sobre comunidades, autoria e controle na contemporaneidade). Até 2005, a escolha dos temas parece ter sido norteada pela necessidade de se entender o processo em si de construção e funcionamento de uma CVA: em 2002, propõe-se um estudo de caso (autorreferente) da produção do texto coletivo; em 2003, procura-se explicar o papel do fórum na construção de CVA; em 2004, faz-se uma leitura do processo de construção da CVA; e, em 2005, retoma-se a questão do fórum com foco na participação (facilidades e dificuldades). A partir de então, os temas não se limitam mais ao processo em si, mas procuram englobar os desdobramentos da construção de CVA, exigindo reflexões mais densas e complexas. Assim, em 2006, o tema recairá sobre a construção de CVA no âmbito das universidades brasileiras; em 2007, a construção de CVA é apresentada no contexto de uma nova cultura – a cibercultura –, que implica novas relações de poder; em 2008, o tema vai abarcar a questão da subjetividade e suas implicações na produção colaborativa mediada por tecnologias; em 2009, coloca-se em evidência o surgimento de novas ferramentas de análise (Etnografia Virtual) para a compreensão das CVA; e, em 2010, as relações de poder são retomadas e discutidas no âmbito das CVA a partir dos conceitos de autoria e controle na sociedade contemporânea. 76 Com respeito particularmente ao tema educação, podemos ressaltar quatro linhas de estudo das turmas do CCVAP conforme nossa matriz original: os novos paradigmas para a educação, a educação a distância, as comunidades virtuais de aprendizagem e o uso das TICs na educação. Esses temas são complementares e é correto dizer que muitas vezes eles se sobrepõem. 4.2.1. Novos paradigmas para a educação Nestes últimos dez anos, diversos novos desafios foram colocados à educação, graças aos modos singulares como a informação e o conhecimento são elaborados, distribuídos e socialmente intercambiados. Diante disso, praticamente todos os trabalhos coletivos desenvolvidos pelos alunos da disciplina CCVAP abordam, discutem e apresentam novos paradigmas presentes na escola e no processo de aprendizagem. No entanto, as ferramentas da Web não são abordadas nos textos por este olhar de quais mudanças – positivas ou negativas – trouxeram para a educação. Em 2002, o texto lembra que, no final do século XX, a cibercultura trouxe a necessidade de uma nova relação com o saber e o ciberespaço tornou-se o lugar onde o conhecimento é produzido e armazenado, reforçando a necessidade de um novo paradigma educacional, onde não há como ignorar os desafios e os impactos causados pelas novas tecnologias de comunicação e informação (TCIs). O estudo aponta então a necessidade de revolução na educação e descreve características da educação pré e pós-cibernética. Na primeira, o aluno vem à escola com a cabeça vazia e a escola nela coloca um conjunto de conhecimentos factuais e habilidades intelectuais, testando periodicamente a aquisição destes conhecimentos através de provas e exames. Já na educação pós-cibernética, um novo paradigma educacional está em desenvolvimento, segundo o qual a escola tem que ser, antes de tudo, um ambiente "inteligente", rico em recursos, onde os alunos podem construir o conhecimento segundo o estilo individual de aprendizagem que caracteriza cada um. 77 O texto discute a necessidade de uma revolução nas formas, organização e conteúdo da educação. E não se trata simplesmente de trabalhar com propostas de modernização da educação, é preciso repensar a dinâmica do conhecimento no seu sentido mais amplo, e as novas funções do educador como mediador deste processo. Essas questões colocadas vêm ao encontro às novas ferramentas vigentes na época. A Internet passa a ser mais acessível e novas ideias de compartilhamento e troca de conteúdo ad hoc são utilizados, tais como Weblogs e RSS. Ou seja, há um impacto direto na educação e os professores precisam acompanhar este processo. Em 2003, o texto aborda novamente a questão do “novo modelo educacional” em que os professores deixam de ser os entregadores principais da informação, passando a atuar como facilitadores do processo de aprendizagem, onde o aprender a aprender é privilegiado em detrimento da memorização de fatos. Neste momento, são discutidos também aspectos em relação aos alunos, que devem ser preparados para conviver numa sociedade em constantes mudanças, assim como devem ser os construtores do seu conhecimento e, portanto, serem sujeitos ativos deste processo onde a "intuição" e a "descoberta" são elementos privilegiados desta construção. O texto não aborda diretamente a relação das ferramentas de Web, como o MSN, que deslanchou neste ano, como a educação, mas o impacto foi visível. Muitos pesquisadores começaram a discutir que a forma de troca entre os alunos e a maneira da escrita, inclusive, muito curta, repleta de novas gírias, começava a se refletir na forma dos alunos escreverem seus textos, por exemplo. Uma nova abordagem e desafio para a educação é abordado no texto produzido pela turma de 2004. No capítulo referente à sociedade do conhecimento, os autores discorrem sobre o desenvolvimento no processo de divisão e organização do trabalho na história da humanidade até os dias atuais. Neste sentido, afirma que, atualmente, as necessidades advindas do próprio processo de desenvolvimento industrial e de tecnologias avançadas de comunicação e informação configuram uma nova era, que busca mudanças cada vez mais rápidas e diversificadas no perfil profissional, social e político 78 do indivíduo-cidadão, conferindo a educação um papel fundamental na formação deste indivíduo. Além disso, são abordadas questões como, por exemplo, o papel não indiferenciado da educação escolar no desencadeamento de novos processos cívicos, éticos e sociais ao indivíduo. A missão da educação para a era planetária é fortalecer as condições de possibilidade de emergência de uma sociedade-mundo constituída por cidadãos protagonistas conscientes e criticamente comprometidos com a construção de uma civilização. Novamente, a questão do professor e do aluno é abordada no texto coletivo desse ano. O professor, assim como o aluno, deve estar preparado para trabalhar com possibilidades de sistematização, abstração e pensamento coletivo – tecnologias – que representem desafios a serem superados no processo do conhecer. E entende-se que essa superação ocorre a partir do trabalho com um novo paradigma do saber fazer, do pensar coletivo, aprender a aprender, da utilização de recursos gráficos e ‘interfaceados’, humanos, os quais possam, cada vez mais, ser agregados na facilitação do processo comunicativo e de evolução humana. Essas questões vêm ao encontro dos novos paradigmas trazidos pela Web 2.0. Em 2005, o texto fala sobre a educação para o futuro e afirmam que há muitas reflexões a respeito dos rumos da educação, que apontam para mudanças sobre a construção do conhecimento, as relações entre os envolvidos no contexto educacional, as concepções do que é ensinar e a redefinição do papel da escola, do professor e do aluno. Esses aspectos também são abordados no texto de 2007. No entanto, os autores procuram trazer para a discussão a proposta do pensamento integralizador, tendo em vista as mudanças da sociedade. A mudança de paradigma é respaldada pela reforma do pensamento, por movimentos constantes de (des)construção do que é posto e acordado como verdade absoluta pela ciência, do que é a parte e o todo e principalmente de novas formas mais coerentes, conscientes de atuação dos indivíduos na sociedade. 79 Por outro lado, a escola tem se mostrado um instrumento de alienação que, mesmo assumindo o papel de formadora do aluno que irá compor a equipe de pessoas sobreviventes e interconectadas ao mundo do trabalho, tem conseguido tão pouco funcionar como reprodutora de informações e conhecimentos para o futuro cidadão da era global. Ou seja, o mundo das tecnologias de comunicação é caracterizado por atributos como interatividade, mobilidade, multiplicidade, interconectividade, globalização e velocidade. Presenciamos mudanças significativas de valores. Diante deste cenário, a escola do século XXI, não mais pode se dar ao luxo de ignorar as profundas alterações que os meios e tecnologias de comunicação introduziram na sociedade contemporânea e, principalmente, perceber que os mesmos criam novas maneiras de "apreender" e "aprender" o mundo. Essa multiplicidade de pontos de vista, essa riqueza de leituras precisa ser digerida e incorporada pela escola, se ela tiver a pretensão de sobreviver como instituição geradora, mantenedora e delegadora do saber humano. Os novos paradigmas para a educação consideram que o aluno deve ser visto como um ser 'total' e, como tal, possuidor de inteligências outras que não somente a linguística e a lógico-matemática. Outras inteligências devem ser desenvolvidas como a espacial, a corporal, a musical, a interpessoal e a intrapessoal. É importante ressaltar que, neste ano, diversos artigos acadêmicos passam a discutir o impacto das redes sociais na educação, mas essas questões não são abordadas diretamente como novos paradigmas no texto coletivo produzido. No texto de 2008, o trabalho dedica um capítulo a discutir o novo paradigma Ensino-Aprendizagem, abordando questões importantes como a revisão das metodologias de ensino, tendo em vista que os alunos hoje não aceitam mais esse processo de apenas receber informações. Os alunos querem participar ativamente do seu processo de aprendizagem, principalmente por suas características. Isso vem ao encontro das redes sociais cada vez mais presentes na vida dos alunos. 80 Pela primeira vez aparece então nos textos o termo “educomunicação”, apontada pelos alunos como uma abordagem educativa interessante a ser observada pela escola. Por fim, frente aos novos paradigmas apresentados à educação, o texto traz um capítulo sobre ensino e aprendizagem em rede. No ano seguinte, em 2009, os alunos discorrem sobre as epistemologias moderna e pós-moderna. Os alunos afirmam, por exemplo, que “desordem, repensar, pensar a educação pública e subversão são atitudes pós-modernas que nós, educadores, temos negligenciado nos meandros desse labirinto” (as mudanças das quais a sociedade tem vivenciado). Os alunos trazem também para o debate no texto sobre sociedade, redes e educação, as perspectivas das teorias líquidas de Bauman. Os alunos afirmam que, para o autor, vivemos uma modernidade líquida (o que chamamos acima de sociedade pósmoderna) uma vez que as relações e transformações na sociedade já não são mais estáticas (haja vista os processos de globalização, a Internet e a conectividade mundial) e sólidas (como por exemplo, os sistemas financeiros - no passado as pessoas acreditavam na solidez dos bancos, e hoje? Isso é possível?). Em 2010, o último texto coletivo da série, não traz questionamentos sobre os novos paradigmas da educação. 4.2.2. Educação a distância O tema “Educação a distância” foi trabalhado em seis dos dez textos coletivos produzidos para a disciplina. A temática foi mais recorrente nas monografias produzidas inicialmente, como em 2001, quando os autores produziram seis textos individuais. A pesquisadora Patrícia Passos (2001) defendeu que a “educação é comunicação”, sendo necessário refletir sobre essa questão para orientar a prática pedagógica, principalmente nos cenários do ensino não presencial. Na sequência, a discente Mirian Carabetti (2001) 81 afirma ser necessário o fascínio de alunos e professores pela educação, tanto no modelo presencial como em EaD. E em seu artigo “Ensino a distância e gestão do conhecimento na formação profissional”, Carabetti (2001) afirma que no modelo não presencial a lógica é a mesma do “diferencial competitivo” de outros serviços. E o valor da EaD está no reconhecimento, criação, gerenciamento, acumulação, transferência, embalagem e comercialização do conhecimento. No artigo de Itamar Santos (2001), o autor diz que a educação a distância precisa de criatividade para representar uma opção educacional diferenciada. Regina dos Anjos Fazioli (2001) aborda o “aprendente” e a cultura da afeição ao professor. Para a autora, a possibilidade de digitalização da informação confere status à EaD, modalidade que aceita melhor a TV e o rádio, pois é esperada a valorização da transmissão de informações pela oralidade em um país com altas taxas de analfabetismo. Estudar o texto coletivo foi a proposta da turma de 2002. Assim, no referencial teórico do trabalho, os autores falam sobre a história dos cursos à distância no país, relacionando-a às características culturais. Não existem citações bibliográficas no corpo do texto, mas os sete autores do trabalho explicam a escolha da televisão e do rádio como veículos de apoio às políticas educacionais nos anos 60. O trabalho da turma de 2003, que teve como título “O fórum na construção de comunidades virtuais de aprendizagem” abordou os novos paradigmas educativos, em que os alunos são sujeitos ativos de um processo de construção, pautados nos elementos de intuição e descoberta. No texto, a educação a distância é vista como um amplo espectro de diversas formas de estudo e estratégias educativas. Em 2004, antes de discorrer sobre a educação a distância especificamente, os oito autores traçam um panorama das teorias da reforma do pensamento, passando pela sociedade do conhecimento e da informação e daí às teorias da aprendizagem e cognição, apontando para as novas tecnologias da informação e seu uso na educação e nas comunidades virtuais, que permitem o surgimento das comunidades virtuais de aprendizagem e de prática. Educação a distância foi tema de um capítulo do texto coletivo da turma de 2006, que tratou sobre as CVA em dois consórcios de universidades brasileiras, 82 o CVA Ricesu e o Cederj. Em 70 páginas, os 10 autores falaram sobre o histórico da EaD no Mundo e no Brasil e as tendências do ensino presencial naquela época. No ano seguinte, em 2007, a modalidade de ensino não presencial também foi abordada pelo texto coletivo intitulado “Cibercultur@, comunidades e relações de poder: uma produção colaborativa”. As três últimas turmas da disciplina (2008, 2009 e 2010) não abordaram o tema educação a distância durante a produção do texto coletivo. 4.2.3. Comunidades Virtuais de Aprendizagem O tema “Comunidades Virtuais” está presente na maioria dos trabalhos das turmas do CCVAP. A turma de 2001, a primeira da nossa linha do tempo, ainda não estava preparada para as mudanças que paradigma que descrevemos em nossa linha do tempo. Por conta disso, o seu trabalho final foi dividido entre os participantes e a “comunidade virtual de aprendizagem” ficou restrita às discussões de sala, enquanto que a construção coletiva a que a disciplina CCVAP se propunha ainda estava enredada nos moldes modernos de educação. Ao mesmo tempo em que a turma de 2002 apresenta um relato superficial da experiência vivida pelo grupo durante a construção do trabalho, ela também abre caminho para que a turma de 2003 faça uma importante caracterização: a de que a interação e o trabalho cooperativo são um caminho não só para buscar um produto coletivo, enquanto os aprendizes devem ser vistos como co-autores da construção do conhecimento e do seu próprio processo de aprendizado. Ao refletir sobre seu processo de criação, e talvez ajudados pelas novas ferramentas de interação com a introdução do MSN Messenger (que vai além do ICQ em popularidade), esses trabalhos começam a focar na sua experiência como produtores e compartilhadores de conhecimento. 83 A turma de 2004, por sua vez, apresenta o conceito de comunidade virtual como amplificadores das relações sociais existentes. Segundo o grupo, essas comunidades podem, dependendo do grau de participação e envolvimento individual, constituir verdadeiros centros de discussão, de relacionamento e de produção de conhecimento. Além disso, a turma de 2004 discute as comunidades virtuais e os processos de ensino e aprendizagem, relacionando o conceito de comunidade virtual com os novos paradigmas da educação na sociedade do conhecimento, a partir da experiência de uma comunidade virtual de aprendizagem e de prática. Eles também avançam no sentido de apresentar alguns passos devem ser seguidos para que uma comunidade virtual seja uma Comunidade de Aprendizagem e de Prática. Devemos lembrar que é também em 2004 que o Orkut aparece e se transforma em febre, como mencionado em nossa linha do tempo, especialmente no Brasil, onde o número de usuários causa um congestionamento do sistema. É o ano em que as redes sociais começam a se tornar cada vez mais parte de nossas vidas. Após um breve intervalo, a turma de 2006 retorna ao tema, desta vez para procurar definir melhor o conceito de Comunidade e de Comunidades Virtuais de Aprendizagem a partir de um olhar sobre em universidades brasileiras: um olhar sobre os consórcios CVA RICESU e CEDERJ, procurando, assim, sair da experiência pessoal que os outros grupos apresentaram para um cenário maior. Porém, o conceito de Comunidades Virtuais é estendido para além das fronteiras de comunidade em 2007. Num primeiro momento, ele é apresentado através das suas funcionalidades e características. Logo após, os passos para a construção das comunidades são esquematizados. Há a discussão de outros temas, como o processo de mediação, as novas formas de interação e o efeito de descentralização da produção de conhecimento. A inovação do trabalho surgiu com a proposta de apresentação do terceiro tema ainda não tratado pelas turmas anteriores: relações de poder desenvolvidas na comunidade virtual dos alunos da disciplina de CCVAP. 2007 é, como vimos anteriormente, o ano em que as redes sociais saem dos computadores e vão para os telefones, tornando-se cada vez mais móveis. Com a melhora da qualidade e rapidez da transmissão de dados, as 84 comunidades virtuais de aprendizagem têm um aspecto muito diferente daquele presenciado pelos alunos dos primeiros cursos de CCVAP. Em 2008, a disciplina inova em trazer para o âmbito da educação formal (e presencial) a experiência de desenvolvimento de comunidades virtuais de aprendizagem em crescente desenvolvimento no ambiente Web (Wikipedia, Second Life, etc). Para a turma, que trata do “estranhamento” do grupo de alunos, essa noção foi motivada por três fatores básicos: ausência de experiência em produções de texto coletivo; uso de ferramentas on-line para essa produção; e pouca interferência da professora no processo. O trabalho de 2009, por sua vez, focou em um novo conceito de comunidade que envolve as redes sociais, as comunidades pessoais e a inteligência coletiva, ainda permeado pelo fenômeno das redes sociais. O conceito de comunidade virtual e suas interações é um dos temas da turma de 2010, ficando mais interessante ainda pelo formato apresentado pelo grupo, que inovou apresentando hiperlinks, demonstrando ser ousado. O texto volta-se especificamente para as comunidades voltadas para a aprendizagem. 4.2.4. TICs na educação Os impactos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) foram um dos eixos norteadores de nossa matriz. Eles são citados na maioria dos trabalhos estudados, seja na educação formal a distância, seja na educação aberta, pois influenciam no processo de aprendizagem. Em 2001, um dos trabalhos do grupo, o da pesquisadora Regina dos Anjos Fazioli, aborda a melhor aceitação do uso da TV e do Rádio na EAD por conta do alto índice de analfabetismo. Ou seja, a oralidade da linguagem da TV e do Rádio passa a ser valorizada para que haja maior compreensão. Nesse trabalho existe um curto relato histórico e crítico da relação entre a educação e os meios de comunicação no Brasil, desde a política de analfabetismo da época da colonização, até a repercussão das novas tecnologias de comunicação e informação no ambiente educacional. Além disso, ele ressalta que nos anos 90 o uso do computador significava apenas mais uma destreza a ser aprendida. É importante 85 ressaltar que em 2001 as ferramentas populares de mensagem instantânea eram ainda o ICQ ou mesmo o MIrc no Brasil, ou seja, a comunicação entre usuários não era pautada pelas noções de interação e interatividade que são hoje. Já no trabalho da turma de 2002 também há um relato histórico e crítico da relação entre a educação e os meios de comunicação no Brasil, desde a política de analfabetismo da época da colonização, até a repercussão das novas tecnologias de comunicação e informação no ambiente educacional. Como o tema das TICs na educação ainda era novo havia uma preocupação em esclarecer o contexto histórico no qual as TICs estavam inseridas. Em 2003, o MSN Messenger toma o gosto popular e passa a ser a principal ferramenta de chat. Além disso, a Microsoft faz do Hotmail com o MSN Messenger integrado um sucesso de abertura de conta. Não é de se estranhar que o trabalho da turma de 2003 seja visto a partir da ótica da sociedade da informação, em um ambiente caracterizado pela interatividade, multiplicidade e conectividade, plasmadas na velocidade da informação e no rastro da globalização, formando um novo arranjo social. O tema (Novas) Tecnologias da Informação e Comunicação é tratado também pela turma de 2004. Ressalta-se a noção de que as tecnologias, além de produções humanas, são fatos históricos que partem de um coletivo pensante, de uma inteligência contextual em constante transformação a partir dos valores presentes em cada sociedade. Essa inteligência coletiva e essa nova maneira de pensar estão cada vez mais presentes com a criação do Flickr e do Orkut, e das primeiras referências à Web 2.0. Depois de um breve intervalo, as TICs reaparecem na Turma de 2007, novamente passando pelo histórico do uso das tecnologias no Brasil e abordando o paradigma do excesso de informação em oposição ao que seria a não informação. São discutidas as novas relações entre espaço e tempo derivadas do uso constante das tecnologias. Com tantas formas de conexão e maneiras de se compartilhar conteúdo já em 2006 (E.g., Rapidshare, Slideshare, Google Docs, Twitter e Facebook), o foco parece se voltar 86 à quantidade de informação disponível em relação a sua qualidade. Tanto que essas ferramentas continuam a ser discutidas nos trabalhos seguintes. Em 2008, o tema aparece brevemente através das lentes da interatividade, enquanto em 2010 o tema não é abordado com profundidade no que diz respeito à educação. Porém, o grupo trabalha com o conceito das redes sociais emergentes, tais como Twitter, Facebook, Orkut, as wikis, a blogosfera, etc., assim como também acontece com o grupo de 2009. Compartilhar parece ser a palavra-chave das novas gerações, e esse o conceito mostra-se inerente ao sujeito pós-moderno. 4.2.5. Etnografia virtual O ciberespaço apresenta-se repleto de oportunidades de convivências virtuais, nos quais os sujeitos podem iniciar e manter relações sociais, muitas vezes em grupos ou redes de relacionamentos. Situado entre o real e o imaginário, o ciberespaço surge como um espaço alternativo, onde algumas referências modeladoras das interações face a face (p.ex. postura, gestos faciais, distância entre os interlocutores, tom de voz, etc.) não se mostram presentes e tampouco necessárias na composição destes vínculos sociais. Desta forma, o ciberespaço pode ser caracterizado como um não-lugar, um lugar sem espaço, um espaço de alucinação consensual, um espaço de comunicação pura, um espaço virtual no qual as relações são construídas sem a presença do corpo físico, e, portanto vivenciadas unicamente através das construções imaginárias dos cibernautas, gerando novas formas de interação mediadas pela presença do computador. (RIBEIRO, 2001, p. 142) Para Aires e Azevedo (2010, p. 40), “a separação do corpo físico do processo comunicativo característico dos espaços on-line levanta novas questões acerca da identidade”. Suler (2000) discute que, ao estabelecer relações virtuais, os sujeitos estabelecem interação entre identidades construídas pelos participantes, cuja finalidade é a de ampliar as experiências, enriquecendo as dimensões da “vida real”. Estabelece-se, dessa 87 forma, uma “cultura de simulação” (TURKLE, 1995), na qual as identidades se constituem e se mostram de forma fluida, múltipla, mutante e impermanente. A Internet constitui-se em um novo espaço e em um novo tempo de socialização em rede, nos e pelos quais se estruturam novos processos cognitivos, sociais e afetivos, “povoados por seres que (re)constroem as suas identidades e os seus laços sociais nesse novo contexto comunicacional”, gerando “uma teia de novas sociabilidades que suscitam novos valores. Estes novos valores, por sua vez, reforçam as novas sociabilidades. Essa dialética é geradora de novas práticas culturais”. (SILVA, 2001, p. 152) Para André Parente (2004, p. 96), constituir-se enquanto sujeito na rede é um fenômeno processual e não uma expressão de uma natureza ou essência intrínseca. Entende-se, então, que “a subjetividade na rede é um espaço de possibilidades para conversações e intervenções sociais” (PASSARELLI; KIYOMURA, 2010, p.167). Como “ponto de ancoragem fundamental na construção das identidades”, o território é, em realidade, fruto da construção de sistemas de representação (SILVA, 2001, p.159). E é esse conceito que permite pensar a existência de territórios na Internet, nos quais se diluem as fronteiras geográficas. A etnografia aplicada ao estudo da interface entre os campos Comunicação/Educação origina-se e adapta-se a partir dos métodos tradicionais da Antropologia. Porém, para além do estrito foco descritivo denso, incorpora, também, a interpretação e a crítica dos fenômenos educativos, adquirindo a sua própria intencionalidade, a partir da completa imersão e da observação participante do pesquisador nas comunidades e culturas locais (SABIRÓN, 2001). Para Carlos Fino (2003, p. 3), a validade e a riqueza dos significados obtidos dependem diretamente da “habilidade, disciplina e perspectiva do observador” na apreensão e vivência partilhada com a comunidade pesquisada e, também, na realização de entrevistas etnográficas e análise de documentos. A partir dos aportes teórico-metodológicos de autores como Latour (2005, p.131), para quem “(...) uma rede social não é o que está representado no texto, mas quais 88 leituras do texto podemos tirar do revezamento dos atores como mediadores destas ações”, torna-se consistente pensar o conceito de etnografia virtual, no qual os instrumentos tradicionais da pesquisa etnográfica são chamados a colaborar na análise e interpretação das atitudes, comportamentos, apropriações, usos e produção de conhecimentos em comunidades virtuais de aprendizagem e de prática (PASSARELLI, 2010). Esse conjunto de novas competências, habilidades, ou letramento, representa o que contemporaneamente vem sendo designado de “literacia” (WARCHAUER, 2003), ou ainda mais especificamente “literacia digital” (GILSTER, 1997), que busca referir-se à capacidade dos sujeitos de interagir e comunicar-se se utilizando das TICs”. Tais capacidades referem-se não apenas à leitura, mas também à interpretação, pesquisa e navegação (PASSARELLI, 2010). Assim, literacia implica o uso efetivo e criativo da informação no ambiente multimídia propiciado pelo advento das TICs, da interconectividade em rede e da inclusão digital pela amplicação do acesso a computadores (JONES-KAVALIER & FLANNINGAN, 2008). Braga (2008) aponta as potencialidades e limitações das abordagens etnográficas aplicadas ao estudo da cultura digital. Atenta ao fato de que o pesquisador é interpelado metodologicamente pelo seu próprio objeto, a cada investigação específica, a autora reconhece a validade da etnografia virtual na construção de estratégias multimetodológicas para a abordagem empírica e operaciona das pesquisas envolvendo as atividades dos atores em rede. A autora destaca, sobretudo, o cuidado a ser tomado quanto à “observação não participante”cuja ocorrência é possível no ambiente on-line. E adiciona, ainda, a desejável perspectiva da ampliação das pesquisas para além do exclusivo ambiente on-line, como forma de aumentar a percepção do investigador a respeito dos “sentidos intersubjetivamente partilhados pelo grupo em exame” (BRAGA, 2008. p. 207). A pesquisa etnográfica em ambientes digitais já se configura como uma relevante abordagem metodológica, a qual vem sendo adotada, desde 1995 (BRAGA, 2007; ROCHA e MONTARDO, 2005) em estudos em diversos contextos e países, viabilizando a 89 observação, a coleta de dados, a análise crítica e a interpretação da cultura produzida pelos agentes conectados via Internet (AICHHOLZER e SCHMUTZER, 2001; HINE, 2000, 2005: PASSARELLI, 2007a 2007b, 2007c, 2007d 2008, 2010; PASSARELLI, SALLA e TAVERNARI, 2010; PASSARELLI e TAVERNARI, 2009). A etnografia também aparece nos trabalhos produzidos coletivamente pelas turmas de 2008 e 2009, ora como metodologia, ora para a discussão do conceito de etnografia virtual. No caso de 2008, o grupo desenvolveu uma pesquisa etnográfica envolvendo os próprios participantes da disciplina para que se pudesse entender as relações estabelecidas entre os sujeitos participantes e os significados de suas ações. Para tanto, foram utilizados questionários, observações dos participantes e depoimentos dos alunos sobre a realização do curso e do texto coletivo, porém com uma abordagem quantitativa. Por sua vez, o grupo de 2009 usa a etnografia não só como metodologia de pesquisa, mas também como um de seus temas. Ele faz um panorama da metodologia etnográfica de pesquisa, desde a etnografia chamada de tradicional até chegar à etnografia virtual usada na investigação dos espaços cibernéticos. A atenção volta-se a esta metodologia de pesquisa como uma pesquisa exploratória que reconhece o pesquisador como não sendo um observador neutro. Seus autores, diferentemente do grupo de 2008, partilham do interesse pelo estudo qualitativo e concordam com Hine (2000, 2005) que, assim como na etnografia tradicional, o pesquisador pode lançar um olhar sobre como a tecnologia é experimentada em contextos virtuais, mesmo sendo dentro de uma comunidade localizada no ciberespaço. 4.3.Metodologia 4.3.1. Métodos da pesquisa nos textos 90 Considerando que a metodologia busca, segundo Martins e Theóphilo (2007, p.37), “o aperfeiçoamento dos procedimentos e critérios utilizados na pesquisa”, e que o método é o caminho utilizado para se alcançar determinado objetivo, os textos coletivos produzidos na disciplina CCVAP no período de 2001 a 2010 apresentam uma abordagem qualitativa e podem ser classificados, em sua maioria, como pesquisas exploratórias. Quanto a estratégias de pesquisa podem ser classificados em dois grupos: estudos de caso (2002 e 2004) e pesquisa etnográfica (2003, 2006, 2008 e 2009). 4.3.2. Pesquisa de campo A fundamentação da pesquisa de campo está na documentação direta. O levantamento de dados é realizado no local onde ocorrem os fenômenos com o objetivo de obter informações sobre um problema, ou confirmar uma hipótese, ou descobrir novas relações entre fatos por meio da observação. Nesta fase serão estabelecidos os objetivos, como o meio de coleta de dados e tamanho da amostra. As fases da pesquisa de campo são formadas por uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto, a definição de um modelo teórico de referência, sobre as técnicas que serão empregadas e a representatividade da amostra, e quais as técnicas que serão utilizadas para a análise e registro dos dados. De acordo com as técnicas de coleta, análise e interpretação dos dados, a pesquisa de campo será classificada como de abordagem predominantemente quantitativa ou qualitativa. Segundo Trujillo (1982, p. 229), a pesquisa de campo “não deve ser confundida com a simples coleta de dados (este último tipo corresponde à segunda fase de qualquer pesquisa); é algo mais que isso, pois exige contar com controles adequados e objetivos preestabelecidos que discriminam suficientemente o que deve ser colocado”. Entendemos aqui a importância de validar estes estudos, de priorizar as análises. 91 Ao analisarmos os textos coletivos das turmas de 2001 a 2010, percebemos que na turma de 2001 a pesquisa ficou concentrada nas bibliografias utilizadas por cada um dos seis autores, pois o objeto da pesquisa foi o texto de cada um. Nas turmas de 2002 (“O texto coletivo: Um Estudo de Caso”), na de 2006 (“Comunidades virtuais de aprendizagem em universidades brasileiras: um olhar sobre os consórcios CVA RICESU e CEDERJ”), e na de 2010 (“Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática – Uma leitura despretensiosa sobre comunidades, autoria e controle na contemporaneidade”) notamos que a base de estudos ficou em dados secundários, bibliográficos. As turmas se concentraram em levantamento das informações existentes em bibliografias, e ou estudos apresentados. Já nas turmas de 2003 (“O Fórum na Construção de Comunidades Virtuais de Aprendizagem”) e 2004 (“Comunidades virtuais de Aprendizagem e de Prática: Uma leitura dos processos de construção”) houve a aplicação de questionários e entrevistas, como coleta de depoimentos dos alunos anteriores. Na turma de 2005 (“Participação no Fórum de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem: Facilidades e Dificuldades”) foram trabalhados os depoimentos dos alunos das turmas de 2003 e 2004 que estavam disponíveis no fórum da disciplina. Isto quer dizer que a turma optou somente pelas informações disponíveis no site, contando com o risco de diversos dados não terem sido apontados. O foco dado pelas turmas de 2007 (“Cibercultur@, comunidades e relações de poder: uma produção colaborativa”) e 2009 (“Etnografia Virtual: uma tendência para pesquisa em ambientes virtuais de aprendizagem e de prática”) estava também relacionado às turmas anteriores, e a pesquisa se ateve aos mapeamentos correlacionados. Não houve utilização de questionários. Em 2008 (“Strangers in Co-text: uma análise do ‘estranhamento’ na produção colaborativa mediada”), a própria turma foi objeto da pesquisa, o que fez com que a pesquisa de campo se dirigisse para as entrevistas pessoais e making of. Como pesquisa de campo, as turmas de 2001 a 2010 em sua maioria, se concentrou em depoimentos de turmas anteriores - com entrevistas ou análise de depoimentos, ou em pesquisa bibliográfica. No entanto percebemos também que a 92 metodologia da pesquisa não é totalmente descrita em diversas turmas, o que faz com que a análise possa se tornar um pouco superficial. A entrevista como pesquisa de campo pode ser realizada de diferentes formas – individual, em grupo, por telefone (MATTAR, 1997). A não identificação do tipo de entrevista realizada – padronizada, despadronizada ou painel (MARCONI & LAKATOS, 1996), como do questionário aplicado – estruturado, não estruturado, disfarçado ou não disfarçado (MARCONI e LAKATOS, 1996; MATTAR, 1996), revela um certo distanciamento ou desconhecimento em relação à Metodologia da Pesquisa Científica. Finalizando, entendemos o distanciamento principalmente quando lembramos o que a professora Maria Imacolata Vassallo (1990, p.13) aponta em relação ao próprio entendimento de pesquisa, quando diz que a preocupação com a Teoria (que é um dos níveis de qualquer discurso científico) na pesquisa tem relegado para segundo plano as questões de metodologia, tanto em termos de estudo (Metodologia enquanto disciplina) como em termos de sua aplicação (Metodologia enquanto prática). 4.3.3. Sujeitos da pesquisa Ao analisar os sujeitos da pesquisa no objeto desse projeto, percebemos que nas dez turmas analisadas, somente em duas (2001e 2006) não há observações sobre os sujeitos. Em outras duas turmas (2005 e 2007) os sujeitos foram os produtores – alunos dos textos publicados pelas turmas anteriores. Em 2005, esse estudo foi baseado nas observações dos alunos transcritas e coletadas no Fórum da Disciplina, e em 2007, foram os textos o objeto de estudos. Já nas turmas de 2003, 2004 e 2008, os sujeitos foram os próprios alunos participantes da disciplina. 93 Notamos também que, em sua maioria, o relato da dificuldade em se obter informações dos anos anteriores foi apontado. Mesmo as turmas que utilizaram dos blogs, fóruns ou making of como pesquisa, assinalaram esse contratempo. Para Gil (2002, p.48), a pesquisa é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. Pensando que, além das características básicas do pesquisador como curiosidade, perseverança e paciência, entre outras, as informações possíveis e dados disponíveis são requisitos para fortalecimento do estudo, para a produção e desenvolvimento da pesquisa. Neste contexto é que fica a questão da dificuldade em levantar as informações dos alunos - sujeitos, e não somente dos textos coletivos, já que era o “conjunto” do estudo. 4.4.Tópicos de reflexão Alguns tópicos de interesse emergem nos textos coletivos produzidos entre os anos de 2001 e 2010. Muitos deles tangenciam essas produções, pois acabam se configurando como um aspecto recorrente durante a prática de elaboração coletiva do material proposto. Vamos aqui nos deter a três tópicos relevantes: formato do texto coletivo, ferramentas interativas da Web e metodologia. A dificuldade dos alunos envolvidos em desenvolver e aprimorar uma forma eficiente de revisão do texto coletivo constata-se ao longo dos trabalhos. Muitas vezes precarizada, incorre em erros grosseiros e básicos. A primeira turma a enfrentar o desafio, a de 2001, apresentou um documento inacabado ou em desenvolvimento dado como finalizado. Esta característica se constata ao realizar uma leitura do material e verificar 94 conteúdos desconexos ou inacabados, com erros de formatação, digitação, coesão e coerência, gramática, além de anotações pessoais soltas no meio do material. O mesmo ocorre com o material de 2002, carente de uma revisão bibliográfica consistente e pertinente ao material produzido. Não é possível, porém, definir um padrão de evolução neste tópico: cada turma é única em sua experiência no tempo e espaço, e depende muito do perfil de seus integrantes. Em 2010, por exemplo, o trabalho do grupo de alunos buscou a criatividade na formatação de seu conteúdo, não se esquecendo de respeitar as regras básicas de produção de um texto de caráter científico. Outro tópico relevante presente nas reflexões destes trabalhos se refere ao uso de ferramentas interativas da Web e seu uso efetivo como ferramenta de interação e comunicação na produção de textos coletivos. Neste tópico, verificamos que o uso dessas ferramentas está ligado a um momento histórico e às habilidades de literacia digital dos integrantes dos grupos. Se tomarmos como base as reflexões de grupos nos primeiros cinco anos da disciplina, podemos identificar a tentativa de utilização de ferramentas por indivíduos não nativos digitais lidando constantemente com o desafio de utilizar o ambiente virtual como espaço de troca coletiva. À época, o Fórum era uma ferramenta bastante utilizada, principalmente por ser a proposta da disciplina até então. Quando a ferramenta foi tornando-se ineficiente por se tornar obsoleta não respondendo mais adequadamente à demanda da disciplina, foram introduzidas outras mais atuais. Podemos verificar que, prioritariamente, as ferramentas interativas da Web mais utilizadas foram os E-mails e os Fóruns (em uma primeira etapa). Relatos de uso de chats e outros ambientes de mensagens instantâneas também são verificados, mas a ocorrência é bastante baixa. Ao longo desses 10 anos, experienciaram-se ascendências e decadências de diversas tecnologias interativas na Web, tais como ICQ e Mirc já descontinuados e pouco utilizados e o boom das redes sociais. Mas é bastante difícil constatar esse movimento dentro dos próprios textos coletivos. Um terceiro e último tópico de relevância refere-se a aspectos metodológicos. Boa parte dos trabalhos buscou observar o próprio processo de produção do texto coletivo ou de outros grupos anteriores. Em 2006, por exemplo, há um primeiro deslocamento desta 95 prática quando há a opção por trabalhar com um objeto de estudo externo – no caso, os consórcios CVA-Ricesu e CEDERJ. Em 2009, o grupo diferenciou-se dos outros ao utilizar como metodologia a etnografia virtual e fazer o uso de outras mídias, como o vídeo. É importante destacar, novamente, que a construção metodológica dos trabalhos depende do perfil e da experiência dos alunos envolvidos e, muitas vezes, está atrelada ao momento histórico. Nos textos de 2003, havia ainda a citação do modelo emissor-receptor de McLuhan como uma referência ao processo de comunicação em um ambiente virtual. Essa premissa não pode mais ser considerada após anos de reflexão sobre o mundo digital e sua arquitetura em rede. 96 5. Considerações finais A disciplina “Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e de Prática” coloca, a cada ano, um novo desafio aos pesquisadores participantes, visando sempre incentivar a produção coletiva do saber. Em 2011, mais uma vez, a turma formada teve de enfrentar os desafios colocados para a consolidação de uma comunidade, que garantisse o compartilhamento dos conhecimentos, a troca e a construção de novas perspectivas, que agregasse à produção científica e ao cotidiano de seus alunos. O presente grupo, a partir de um processo intenso de discussões e questionamentos, construiu um consenso sobre a temática a ser elaborada e a forma de trabalhar para a construção do trabalho coletivo. O olhar se ateve, portanto, ao percurso de dez anos do armazenamento e compartilhamento da produção da própria disciplina, realizada pelas turmas dos anos anteriores, de outros coletivos que se formaram e produziram. Essa bagagem trouxe a oportunidade de novas descobertas para os alunos da turma de 2011. O trabalho foi motivado, principalmente, por esse marco de uma década de trabalhos coletivos produzidos na disciplina, tendo como pano de fundo a relação imediata com as grandes mudanças trazidas pelas novas tecnologias, que se destacaram também nestes dez anos. O objetivo, assim, do grupo foi estabelecer as interfaces das ferramentas da Web com a construção das atividades coletivas da disciplina CCVAP de 2001 a 2010. Para isso, como apresentado ao longo de toda a pesquisa, os alunos passaram por várias etapas de análise dos documentos já produzidos, com a leitura e resenha das produções anteriores, assim como de todo um amplo referencial teórico e metodológico. O grupo optou pela construção de uma matriz comparativa, a partir da seleção de eixos temáticos para um 97 levantamento de temas comuns nos textos coletivos produzidos nos dez anos da disciplina, o que apresentou um panorama da produção coletiva anterior. A elaboração de uma linha do tempo sobre ferramentas Web no recorte 2001-2010 também foi um passo importante desenvolvido no presente trabalho, trazendo a base para a verificação feita das interfaces entre o lançamento dessas ferramentas e sua ocorrência e utilização na produção dos textos coletivos da disciplina neste período. Diante de toda a construção elaborada, foi possível perceber algumas questões importantes de serem revisitadas neste momento. O grupo identificou que ferramentas mais consolidadas e tradicionais, como o próprio e-mail (e os egroups), foram bastante recorrentes ao longo de todos os anos de existência da disciplina, assim como as ferramentas de mensagem instantânea, permitindo, portanto, uma troca constante entre os membros da comunidade virtual de aprendizagem. No entanto, as ferramentas de redes sociais se consolidaram e foram incorporadas pelos grupos já na metade da década para frente, com destaque principalmente nestes anos finais. Foi possível observar, como apontado pelo trabalho, um possível gap entre a criação da ferramenta e sua utilização na produção dos textos coletivos. Além disso, a própria temática de uso destas novas ferramentas não são objetos de estudo das turmas da disciplina. O que se percebe é que, atualmente, há um número muito maior de ferramentas sendo criadas do que as de fato utilizadas pelos alunos das disciplinas. Talvez um importante desafio para as próximas turmas subsequentes seja lançar ao uso dessas e outras ferramentas, saindo da zona de conforto propiciada pelo e-mail, e experimentando o uso de Youtube, redes sociais, enfim, como tem buscado fazer as últimas turmas de 2010 e a atual de 2011. Para o desenvolvimento deste trabalho coletivo a partir do desafio anteriormente colocado, o grupo de alunos de 2011 teve a oportunidade de lidar e superar algumas dificuldades enfrentadas ao longo do semestre. Algumas questões foram de ordem tecnológica, como o não funcionamento do portal da disciplina CCVAP conforme previsto e 98 os problemas para acessar os documentos no GDocs. Outras questões se referiram à manutenção da motivação e participação dos membros do grupo até o final da disciplina, assim como da própria construção do trabalho. Os alunos tiveram de lidar com a ansiedade e mudança de foco do trabalho coletivo, que interferiram no processo e no prazo de realização, assim como momentos de desentendimento entre os participantes e a falta de tempo para a realização das atividades propostas. No entanto, o grupo conseguiu superar as adversidades e conquistar importantes resultados a partir da vivência neste processo, como novos aprendizados sobre como trabalhar em grupo e construção coletiva de um texto; a possibilidade intensa de troca de experiências entre os participantes; a própria formação de uma rede de contatos entre os membros da CCVPA e a vivência concreta da cultura participativa. É importante ressaltar que o presente trabalho abre também possibilidades para novas pesquisas e objetos de estudo para aqueles que desejarem analisar com mais profundidade outros aspectos destes dez anos de disciplina. Se o olhar for direcionado para a tecnologia, é possível fazer uma pesquisa observando, relatando e relacionando outras ferramentas e dispositivos que foram criados nesta linha do tempo de dez anos. No entanto, se a proposta for trabalhar na perspectiva social e/ou antropológica, é possível trazer novos questionamentos sobre os impactos das comunidades na vida cotidiana dos alunos e sua relação com as mudanças na sociedade atual. Ou ainda, o uso de fato que os próprios estudantes fazem das redes sociais que surgiram neste tempo na prática de comunidades virtuais de aprendizagem e no seu cotidiano. Trata-se de algo que não foi abordado ainda neste momento, mas totalmente relevante para quem se atém a garantir e ampliar a apropriação destes espaços no estabelecimento de novas relações com o saber e o conhecimento hoje disponibilizado pela sociedade. A própria turma de 2011 pode, a partir de agora, ser um interessante objeto de estudo, assim como todo o processo desenvolvido neste semestre, que contou com uma intensa participação dos membros desta CCVAP. O trabalho desenvolvido, que contou com etapas diferenciadas de pesquisa, como a construção da matriz e da linha do tempo, 99 possibilita ainda novos olhares de um pesquisador atento, que tiver interesse em promover uma pesquisa comparativa ou analítica das turmas que passaram pelos dez anos da disciplina. Enfim, as vertentes são múltiplas e a riqueza do processo de construção de um texto coletivo permite diversas possibilidades de avaliações e análises. Os dez anos da disciplina contam com um material muito rico produzido pelos estudantes que passaram por esta comunidade virtual de aprendizagem. Diversos novos questionamentos, principalmente levando-se em consideração as rápidas mudanças pelas quais a sociedade atual passa, poderão ser trazidos pelos alunos que comporão as novas turmas da disciplina, tais como: Quais as novas ferramentas criadas? Que impactos elas têm na educação? Qual uso e aplicabilidade se fazem delas para o aprimoramento e melhoria da sociedade? Quais as relações de poder possíveis de ser identificadas? Como lidar com a questão da ética? Novas tecnologias e ferramentas, como a Web 3.0 (Web semântica), poderão proporcionar possibilidades de reconhecimento dos significados/sentidos nos textos produzidos. Sendo assim, objetos de estudo não faltarão para que estes novos pesquisadores possam também dar a sua contribuição na discussão qualificada sobre as formações, relações e impactos de uma CCVAP. 100 6. REFERÊNCIAS AICHHOLZER, Georg; SCHMUTZER, Rupert. The digital divide in Austria, 2000. 32 p. (Report prepared to Seminary 'STEPPING STONES INTO THE 'DIGITAL WORLD', 21-22 sept. 2000, Bremen - Germany). AIRES, Luísa; AZEVEDO, José. Contributos teórico-metodológicos para a análise de comunidades virtuais de aprendizagem. In: PASSARELLI, Brasilina; AZEVEDO, José (Org.). Atores em rede: olhares luso-brasileiros. São Paulo: Editora SENAC, 2010. p. 29-62. ALAVA, Séraphin (Org.). 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Global Connected TV Report. Telecom Research Report, 12 April 2011. 114 APÊNDICES 115 APÊNDICE A : MATRIZ PARA MAPEAMENTO DOS TEXTOS COLETIVOS LEITURA VERTICAL 116 2001 1) TEMAS / Conteúdo 2002 2003 2004 2005 O trabalho é um “Comunidades virtuais O texto Coletivo: Um “O Fórum na “Participação no conjunto de 6 textos, Estudo de Caso Construção de de Aprendizagem e de Fórum de uma de vários autores: Comunidades Virtuais Prática: Uma leitura Comunidade Virtual de Aprendizagem” de Aprendizagem: dos processos de construção” Facilidades e 1. Profa. Brasilina Dificuldades” “Multimídia e Narrativa não Linear” / 2. Patrícia Passos / 3. Mírian Carabetti “Sem Tesão não Há Educação” / 4. Itamar A. L. Santos / 5. Miriam Carabetti “Ensino a Distância e Gestão do Conhecimento na Formação Profissional” / 6. Regina dos Anjos Fazioli A história dos cursos Novos paradigmas à distância no país, educativos; alunos é comunicação” diretamente são sujeitos ativos de sendo necessário relacionada às suas um processo de refletir sobre isto para características construção pautados orientar a prática culturais, explicam a nos elementos da “intuição” e pedagógica, escolha da TV e do “descoberta”; principalmente em rádio como veículos EaD. “Educação à de apoio às políticas Distância”, como um educacionais nos amplo espectro de anos 60. 3. Mírian Carabetti diversas formas de “Sem Tesão não Há estudo e estratégias Educação”: Diz que é educativas. essencial o fascínio tanto para alunos quanto para educadores, no presencial e na EaD. 1.1 Educação à 2. Patrícia Passos: Afirma que “educação distância 4. Itamar A. L. Santos: A EaD precisa de Antes de discorrerem sobre educação à distância especificamente, o autores traçam um panorama das teorias da reforma do pensamento, passando pela sociedade do conhecimento e da informação e daí às teorias da aprendizagem e cognição, apontando para as novas tecnologias da informação e seu uso educação e as comunidades virtuais que permitem o 2006 2007 Comunidades virtuais de aprendizagem em universidades brasileiras: um olhar sobre os consórcios CVA RICESU e CEDERJ “Cibercultur@, comunidades e relações de poder: uma produção colaborativa” 2008 2009 Strangers in Co-text Etnografia Virtual:uma Uma análise do tendência para ‘estranhamento’ na pesquisa em produção colaborativa ambientes virtuais de mediada aprendizagem e de prática 2010 “Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática” – Uma leitura despretensiosa sobre comunidades, autoria e controle na contemporaneidade Temas principais: Autoria, poder, comunidades 1. Histórico da EAD 1. O que significa a expressão Não aborda Não Observado. Não se aplica 1.1 EAD no Mundo 1.2 EAD no Brasil 2. Como surgiu nos outros países e no Brasil 1.3 Tendências atuais 3. Exemplos de como em EAD se dá a EAD 117 criatividade para representar uma opção educacional diferenciada. surgimento das comunidades virtuais de aprendizagem e de prática. 5. Miriam Carabetti “Ensino a Distância e Gestão do Conhecimento na Formação Profissional”: Em EaD a lógica é a mesma do “diferencial competitivo” de outros serviços: o valor da EaD está no reconhecimento, criação, gerenciamento, acumulação, transferência, embalagem e comercialização do conhecimento. 6. Regina dos Anjos Fazioli : aborda o “aprendente” e a cultura da afeição ao Professor. A possibilidade de digitalização da informação dá status à EaD. É esperada a valorização da transmissão de informações pela oralidade por existir alto índice de analfabetismo, com isso a melhor 118 aceitação da TV e do rádio para EaD. Autores mais citados 1. Profa. Brasilina “Multimídia e Narrativa não Linear”: Brenda Laurel, J.J. Anderson & Andrew Himes BAIRON, Sérgio Postman, 1994 PASSARELLI, B. (educação); Peters, (2004); MANFREDI, 2001, e Garcia Aretio, S. M. (2002); 1994, (“Ensino à TAKAHASHI, T Distância” e (2000); MORIN(2004); “Educação à HILGARD, E. R. Distância”); (1966); MATURANA; VARELA(1995); PIAGET(1973). ALVES (1998) - PETERS, O. NISKIER (1999) - ALVES, L. R. G SCATLER (2006) ARETIO ---- BIELSCHOWSKY (2005) LITTO (2002, 2006) COHN, Gabriel EPSTEIN, Isaac DIMENSTEIN, Gilberto. McLuhan Pierre Lévy *** 2. Patrícia Passos: Claudia Landim Vygotsky *** 3. Mírian Carabetti “Sem Tesão não Há Educação”: Viola Spolin RIZZO, Gilda 119 *** 4. Itamar A. L. Santos: Rollo May Locke *** 5. Miriam Carabetti “Ensino a Distância e Gestão do Conhecimento na Formação Profissional”: TAKEUCHI, Hirotaka *** 6. Regina dos Anjos Fazioli: Gardner Csikzentmihalyi 1.2 Comunidades Virtuais de Aprendizagem Não Observado. Relato superficial da Apresentam uma experiência vivida importante pelo grupo durante a caracterização: “a construção do interação e o trabalho trabalho cooperativo são um caminho não só para buscar um produto coletivo (...); os aprendizes são coautores da construção do conhecimento e do seu próprio processo de aprendizado” Apresentam o conceito de comunidade virtual, qual seja, o de que as comunidades virtuais amplificam as relações sociais existentes e podem, dependendo do grau de participação e envolvimento individual, constituir verdadeiros centros de discussão, de relacionamento e de produção de 1. Conceito de comunidade 1. Conceito 1. Sociedade da Informação 2. Funcionalidades 2. Conceito de CVA 2. Cibercultura 3. Características 4. Passos para a construção das comunidades virtuais de aprendizagem 3. Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Práticas 1. Por um novo A proposta é discutir o conceito de conceito de comunidade: redes comunidade virtual e sociais, comunidades suas interações. pessoais e inteligência coletiva 5. Planilha dos 4C 6. Processo de 120 conhecimento. Mediação Discutem as comunidades virtuais e os processos de ensino e aprendizagem, relacionando o conceito de comunidade virtual com os novos paradigmas da educação na sociedade do conhecimento a partir da experiência de uma comunidade virtual de aprendizagem e de prática. 7. Novas formas de interação 8. Criação coletiva e descentralização da produção do conhecimento Tratam de apresentar alguns passos devem ser seguidos para que uma comunidade virtual seja uma Comunidade de Aprendizagem e de Prática, no item “Da teoria para a prática”. Autores mais citados Não Observado. LÉVY (1993); WENGER, E.; MCDERMOTT, R. ; SNYDER, W. (2002). RHEINGOLD (1993) - LÉVY, P. - WILLIAMS (1992) LÉVY (1999) - RHEINGOLD, H. - BARBERO (2003) RHEINGOLD (2002)AQUILLA E RONFELDT (1993) KENSKI (2001) - WEBER, M. - GIOIELLI (2005) ANTOUN (2004) CARVALHO e SCHLEMMER (2005) - PALLOFF, R. M. e PRATT, K. - CASTELLS (2005) COSTA (2004) - WOLTON (2006) PASSARELLI PASSARELLI (2003) - PASSARELLI, B. PERAYA (2002) - MAGDALENA E - LÉVY (2001) Lynn Alves, Richard Bartle, Brasilina Passarelli, Cristina Álvares Beskow, Tania Pereira Christopoulos, Eduardo Henrique Diniz, Rogério da Costa, José L. Rodriguez Illera, André Lemos, Pierre Lèvy, Howard 121 PALLOFF e PRATT (2004) MAGDALENA E COSTA (2006) COSTA - DRUCKREY (1999) - KENSKI, V. M. - CASTELLS (1999) - MASETTO, M. T PASSARELLI (2007) Rheingold - MARCHAND (2002) - ALAVA (1990) - LÉVY (1996) - TAYLOR, WARD (1998) 1.3 TICs na Educação Tratam do tema no 6. Regina dos Anjos Curto relato histórico e Visto a partir da ótica crítico da relação da sociedade da item (Novas) Fazioli : Melhor aceitação do uso da entre a educação e os informação, em um Tecnologias da ambiente Informação e TV e do Rádio na EaD meios de por existir alto índice caracterizado pela Comunicação, em que comunicação no de analfabetismo, Brasil, desde a política interatividade, as tecnologias, além multiplicidade, portanto, ser de analfabetismo da de produções valorizada a conectividade, época da colonização, humanas, são fatos oralidade. plasmados na até a repercussão das históricos que partem velocidade da novas tecnologias de de um coletivo comunicação e informação e no rastro pensante, de uma da globalização, inteligência contextual informação no ambiente educacional. formando um novo em constante arranjo social. transformação a partir dos valores presentes Anos 90: o uso do em cada sociedade. computador significava apenas mais uma destreza a ser aprendida. Conceituam as denominadas TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação e relacionam estas com o desenvolvimento das sociedades modernas. Não observado. 1. Uso das tecnologias no Brasil 2. Paradigma: Excesso de informação x não informação 3. Nova relação entre espaço e tempo 4. Estratificação social 5. Pensamento crítico x técnica 1. Interatividade O tema não é abordado com profundidade no que diz respeito à educação. Porém, o grupo trabalha com o conceito das redes sociais emergentes, tais como Twitter, Facebook, Orkut, as wikis, a blogosfera etc. 122 Pensam a inserção destas tecnologias em diversos setores da sociedade (nova organização do trabalho, na economia e na política) e principalmente por novos desafios postos ao pensamento e a educação como consequência destes. Autores mais citados Lemos (2002); Silva (2003); Castells (2001); Gibson (1991); Lévy (1999); SANCHO (1998) - DUDZIAK, E. - FREIRE (1976) LÉVY (1993) - SCHWAB - MARTIN-BARBERO (2000) CASTELLS (1999) Don Tapscott; Anthony D. Williams CEMINA (2004) - SILVA (2002) - MARCHAND (1986) -COUCHOT (1997) -PLAZA (1993) - ECO (1976) - LÉVY (1993) 1.4 Novos Paradigmas para a Educação 1. Profa. Brasilina No final do século XX, Os alunos No capítulo referente à sociedade do “Multimídia e a cibercultura traz a Narrativa não Linear” necessidade de uma devem ser preparados conhecimento, os autores discorrem - A tecnologia como nova relação com o para conviver numa sobre o desenvolum “possibilitador”. saber e o ciberespaço sociedade em torna-se o lugar onde vimento no processo constantes o conhecimento é de divisão e *** organização do produzido e mudanças, assim armazenado, como devem ser os trabalho na história da 2. Patrícia Passos - O reforçando a humanidade até os construtores do seu Educador como necessidade de um dias atuais. Neste conhecimento e, comunicador. novo paradigma sentido, afirmam que, 1. Consórcios de Universidades (modelos CVARICESU e CEDERJ) 1. Reforma do pensamento 2. Múltiplas inteligências 1. Novo paradigma 1. As epistemologias moderna e pósEnsino-Aprendizagem moderna 2. Educomunicação 2. A sociedade líquida 2. Parâmetros de 3. Novo modelo 3. Ensino e qualidade em EAD educacional - alunos e Aprendizagem em professores Rede 3. Indicadores para 4. Novas habilidades a serem avaliação da desenvolvidas pelos qualidade em comunidades de Não se aplica 123 *** educacional, onde não atualmente, as portanto, serem há como ignorar os sujeitos ativos deste necessidades desafios e os processo onde a advindas do próprio 3. Mírian Carabetti "intuição" e a processo de “Sem Tesão não Há impactos causados pelas novas desenvolvimento Educação”: o fascínio tecnologias de industrial e de como essencial na "descoberta" são comunicação e tecnologias elementos educação. informação (TCI). avançadas de privilegiados desta comunicação e construção. Neste *** informação Aponta a necessidade novo modelo configuram uma nova de revolução na 4. Itamar A. L. Santos: era, que busca educacional, os A criatividade na EaD educação e descreve características da professores deixam mudanças cada vez para que ela mais rápidas e de ser os represente uma nova educação pré e pósdiversificadas no perfil cibernética entregadores opção educacional. profissional, social e principais da político do indivíduo*** informação, passando cidadão, conferindo a educação um papel a atuar como Miriam Carabetti fundamental na facilitadores do “Ensino a Distância e formação deste processo de Gestão do indivíduo. Conhecimento na aprendizagem, onde o Formação aprender a aprender Profissional”: é privilegiado em Aplicação do “tripé do No item detrimento da diferencial Aprendizagem competitivo” na EaD. humana: teorias e memorização de tecnologias, os fatos. *** autores discutem as relações entre as 6. Regina dos Anjos descobertas Fazioli - fala da científicas sobre a necessidade das aprendizagem e “Inteligências cognição (por meio de Múltiplas” e a Teoria exposição de algumas do Fluir, aplicadas na teorias) e o desenvolEaD. vimento tecnológico contemporâneo. Autores mais Ver na seção “1.1 Educação à distância CENSO 2000 do Postman (1994), Garcia Aretio (1994), PASSARELLI, B. (2004); MANFREDI, aprendizagem alunos MAIA (2002, 2003) - GARDNER, H. -MARTIN-BARBERO SAVIANI --- 124 citados - Autores mais citados.” IBGE Peters (2001) LEVY (2001) S. M. (2002); TAKAHASHI, T (2000); Bigge (1977); Hilgard (1969); COUTINHO; MOREIRA, (1991); GARDNER, (1987); MATURANA; VARELA, 1995). MORAN (2003, 2004, 2006) - MORIN, E. (1996) (1990) -BORDIEU (2001) GIROUX (1997) - SOUSA (2006) ZEICHNER - CASTELLS (2005) (2001) - SOARES (1999) MIGNOLO (2000) - BELLONI (2003) BIANCHETTI (1996) - ALAVA (2002) USHER & EDWARDS (1994) CUNHA (2006) SLACK (2002) LUCCHESI (2002) GROTTO (2002) ANGELONI (2002) PEREIRA (2002) - PASSARELLI (2007) BARBETA e SANTOS (2006) BAUMAN MACHADO (2002) 1.5 Novas Relações de Poder Não Observado. Não Observado. Não observado Para os autores, as comunidades virtuais rompem estas barreiras da desigualdade, e estabelecem um ambiente propício ao aprendizado coletivo e a colaboração. Para eles, esta nova forma de comunidade estabelece uma cooperação é mais difícil de acontecer em ambientes de relações assimétricas, de poder, prestígio ou de coação. Autores mais citados Não Observado. Não Observado. Não observado LÉVY (2000). Não observado. Não aborda de forma específica - FOUCAULT, M. - RUSSELL, B. Não Observado. Os autores abordam questões relativas às novas relações de poder nos capítulos sobre Controle e Autoria. Surgem questões como o uso da tecnologia como forma de controle social e, no caso da autoria, os autores refletem sobre o papel do autor, tanto individual quanto coletivo, no ambiente digital. Mikhail Bakhtin, Roland Barthes, Zygmunt Bauman, Michel Foucault, Ronaldo Lemos, 125 - WEBER, M. Edgar Morin, Cristina Alvarez Beskow, Rogério Costa, André Lemos, Pierre Lèvy - BOBBIO, N. - BOURDIEU, P - PALLOFF, R. M.e PRATT, K. - MATUS, C. - RHEINGOLD, H. - NEGRI, A. - ZAJDSZNAJDER, L. 1.6 Etnografia Virtual Não Observado. Não observado. Etnografia virtual Não se aplica Conceitualiza-ção de Etnografia Tradicional e de Etnografia Virtual GIL (1991) Autores mais citados --- MENEZES DE SOUZA(2000) PASSARELLI (2007) CAVALCANTI \& MOITA LOPES (1991) HINE (2000, 2005) 1.7 Web 2 1) site da disciplina http://bpassarelli.fut Chat do MSN, 1) Portal na Incubadora de 1) Lista de Foco em redes sociais, sem 126 uro.usp.br (relativo ao texto coletivo) fórum e emai. Conteúdos Virtuais do Tidia 2) fórum profundidade. Citam: You Tube; Twitter, Facebook, Orkut, Blogs, wikis, chats, transmissões pessoais, Myspace, Flickr discussão 2) SlashDot 2) Email 3)e-mail 3) Wikipédia 3) Skype 4) MSN 4) Fórum de debates 5) Chats 5) Enquetes 6) Fórum 6) Blogs 7) Orkut 7) Arquivos no formato wiki 8) Software livre Não citam, apenas utilizam essas ferramentas para construção do texto coletivo Autores mais citados 2) Metodologia Não Observado. Pesquisa exploratória Estudo Etnográfico Pesquisa exploratória em forma de um em forma de um estudo de caso do tipo estudo de caso do tipo único único. Não citam, apenas utilizam essas ferramentas para construção do texto coletivo. - Pesquisa descritiva sobre os dois consórcios (LAKATOS, 1995) - Pesquisa etnográfica antropológica (ANDRÉ, 2005) MANNOVICH. WEINBERGER Don Papscott; Anthony D. Williamns BARABÁSIRHEIN GOLD. Pesquisa etnográfica envolvendo os próprios participantes da turma de 2008 na disciplina Etnografia virtual Pesquisa exploratória N=14 - Pesquisa bibliográfica 127 2.1 Método da Pesquisa nos Textos 6. Regina dos Anjos Produção de um texto. Coleta de dados entre Inicialmente o trabalho Fazioli - em os alunos da com base em disciplina dos anos de pesquisa bibliográfica, determinado momento Exposição de do texto argumenta conteúdos dados em 2001, 2002 e 2003, com a consulta a sobre o aumento do que referenciavam fontes primárias e aula. Resumo das uso da EaD no Brasil, seis questões: (1) secundárias. teorias de com base num aprendizagem (única frequência de acesso Posteriormente há um ao fórum, (2) levantamento de levantamento de parte referenciada do interação com dados que realizou, dados com a texto: mensagem do fórum, verificando o aumento GARDNER,1985; aplicação de um (3) motivação de de incidência de questionário CSIKSZENTMIHALYI, palavras-chave sobre 1982; MORIN,2001 e acesso ao fórum, (4) construído para coleta entraves ao acesso, EaD e Internet, nas de informações PENTEADO,2000 (5) preferência de matérias do “O Estado relacionadas a ferramentas de construção da CVAP de SP” por meio do interação e (6) as questões foram site do jornal. categorias de análise agrupadas em 3 (três) sobre o fórum, a partes distintas com o saber: (6.1) mudança objetivo de registrar: de comportamento; Perfil do aluno; (6.2) preferência pelo Avaliação da disciplina; e presencial; (6.3) Avaliação do processo receio ou pouca de construção de contribuição a dar; (6.4) aprofundamento Comunidade Virtual. de conhecimento; Na última parte, os (6.5) aumento de uso autores recolheram um depoiment em função do texto coletivo; (6.6) maior interação entre os o pessoal dos colegas. entrevistados, o que compôs a parte da pesquisa documental do trabalho. - Não descrevem os instrumentos de coleta de dados dos consórcios analisados. - Produção de um livro. 1. Objetivo: Pesquisa qualitativa Estudo da literatura com mapeamento dos sobre os temas projetos. abordados a fim de Analisar o fenômeno criar um texto coletivo social do - Pesquisa com e hipertextual “estranhamento” abordagem qualitativa, utilizandoencontrado em se os textos coletivos experiências de elaborados pelas produção coletiva em turmas CCVAPs como ambientes virtuais base documental para tomando como case a a pesquisa. proposta de Desenvolveu-se um construção coletiva de estudo de natureza texto científico exploratória, por meio utilizando as da análise de tecnologias da conteúdo de tais informação e da textos. Trata-se de um comunicação disponíveis no estudo expositório, ambiente cibernético que para além do desenvolvido na exploratório consiste em expor, disciplina sistematicamente informações e 2. Considera-se o conhecimentos a estranhamento como cerca do campo de objeto de estudo saber que envolve os científico. temas estudados, subsidiando a 3. Defini-se construção de novos estranhamento como parâmetros e uma variáveis qualitativas para novos estudos “Forma insólita de ver mais aprofundados e apreender os sobre o tema. fenômenos que estão à volta dos indivíduos e dos processos que os formam”, um desafio às convenções. 4. Enfoques: 1)relação entre perfil de participante e 128 dificuldade no uso das ferramentas; 2)relação entre conhecimento prévio em literacia digital e problemas de acesso ao portal; 3)observação das etapas da construção do texto coletivo; e 4)relações de comunicação e poder emergentes sob o ponto de vista de um observador e o de um participante do processo. 129 2.2 Pesquisa de campo Não Observado. Não observado. Aplicação de questionários e entrevistas. Aplicação de questionários e recolhimento de depoimentos. - Não observado. 1. Identificação de Técnicas de coleta de 1. Mapeamento das temas transversais, dados próprios turmas de 2001-2008 abordados em participantes da turma produções das turmas de 2008 na disciplina 2. Mapeamento de anteriores (2001 a pesquisas de 2006) para produção Mestrado e Doutorado (N=14): do texto. 1) Observação 2. Apresentação da participante metodologia e os resultados alcançados 2) Questionários pelas turmas anteriores (2003, 2.1) Perfil do aluno, 2004 e 2005) 2.2) Tarefas e dificuldades, Não houve 3. Mapeamento dos projetos Mundiais: VKS (Holanda);THE VIRTUAL ETHNOGRAPHY (RU) e DIGITAL ETHNOGRAPHY (EUA) 2.3) Usos de TICs 2.4) Uso do portal 3) Depoimentos dos alunos 3.1)Aluno participante do processo de escrita de um texto coletivo e suas dinâmicas 3.2) Aluno participanteobservador com foco no grupo e suas relações Para 2 e 3 - utilização da ferramenta “Google Docs”. 2.3 Sujeitos da Pesquisa Não Observado. Próprios participantes Partícipantes da Os alunos existentes na turma da disciplina da turma de 2002 na turma de 2003 e disciplina (N=7) alguns das de 2002 e Criando Comunidades 2001. Virtuais de Aprendizagem e de Não observado. - Produção das turmas anteriores - Próprios participantes da turma de 2008 na disciplina Não observado. Autores/membros de comunidades virtuais 130 Prática” durante o segundo semestre de 2004 na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Pauloa ser investigada, um total de oito (8) alunos. 3) Making of 3.1 Divisões de tarefas Não Observado. Antes discorrerem Um editor - coordenou Divisão em equipe de Houve divisão de sobre educação à a integração dos editoração, redação, tarefas, mas não foi distância textos individuais e pesquisa e making of. possível observá-la especificamente, o claramente no texto, intermediário autores traçam um eletrônico. pois não há makingo panorama das teorias of disponível. da reforma do pensamento, passando pela sociedade do conhecimento e da informação e daí às teorias da aprendizagem e cognição, apontando para as novas tecnologias da (N=14): 1.. Vídeo postado no Um dos destaques do youtube com um trabalho é o making pequeno clipe da of, que narra a turma. evolução do trabalho de forma criativa e denominada pelos 2. Produção de um autores como Power point com linha “Jornada do do tempo, gráfico de Conhecimento”. dados e de presença virtual, além do vídeo postado no youtube. Escreveram um memorial descritivo e anexaram ao trabalho contando todas as atividades desenvolvidas pelos 10 guerreiros CCVAP 2006, com direito a uma fotomontagem na capa do anexo, em que os integrantes da disciplina aparecem com roupas de guerreiros. - Não houve uma divisão clara de papéis, uma aluna foi a editora e outra administradora de um portal que criaram e hospedaram na Incubadora de Conteúdos Virtuais (IV) do Tidia-Fapesp 3. No trabalho escrito, tabelas com a participação de cada aluno, a cada semana, 1. Os nove alunos se dividiram pe;los 3 temas propostos, para a produção do trabalho final e foi feita uma seleção de trechos em cada texto coletivo, de cada ano. 2. Num segundo momento, os grupos foram reorganizados para a revisão final do trabalho (introdução, conclusão, etc). 1. Os 14 alunos se dividiram em Nove alunos. Não Através de reuniões, houve menção da decidiram as palavrasdivisão dos trabalhos. chave que determinaram os temas do trabalho. A partir disso, cada membro ficou responsável por pesquisar bibliografia e produzir texto. Novas reuniões criaram os links entre esses textos. Estes links são fundamentais, dada a característica hipertextual do 131 informação na educação e nas comunidades virtuais que permitem o surgimento das comunidades virtuais de aprendizagem e de prática. 3.2 Interação e Interatividade Não Observado. trabalho. - Forum onde eram registrados todos os resultados das reuniões, decisões, planos de ação e outras informações importantes. - e-mails com troca de arquivos Uso preferencial dos Chat do MSN, fórum e encontros coletivos, email, além dos emails e fóruns. encontros presenciais. - Portal na Incubadora 1. Lista de discussão: do Tidia com por meio da qual foi ambiente wiki possível - Email - Skype 3. Uso do Skype, MSN - MSN -Telefone - Encontros presenciais combinar as atividades e perceber os níveis de interação de cada um dos Ferramentas do 1.Blogs individuais e depois Blog de todos Google: e-mail/ Docs/ Groups e encontros on-line pelo Ning 2. grupo de discussão do goolegroups grupos, negociando tarefas, inclusões de trechos e alterações. - Chat - Fórum - Orkut 2. Ambiente wiki: criado dentro dos servidores da Escola do Futuro. Nesse espaço, disponibilizado por um dos 4. Construção de um Power point com linha do tempo, gráfico de dados e de presença virtual, além do vídeo postado no youtube. 5. No trabalho escrito, tabelas com a participação de cada aluno, a cada semana, com todos os dados estatísticos da produção. alunos da turma, pesquisador do laboratório, cada aluno possuía um login e senha para incluir e/ou alterar os textos, conforme estrutura consensuada no grupo. 132 3.3 Negociação Não Observado. 3.4 Estrutura do Trabalho composto por 6 textos acerca do trabalho tema Educação, com tangencias em EaD. O arquivo apresentase como um documento em desenvolvimento, com vários conteúdos desconexos ou inacabados, alguns com erros de formatação, de digitação e da língua Certa harmonia: Durante os encontros relatam que o presenciais: vivência processo de criação de negociação e coletiva teve a possibilidade de participação, expressão de todos colaboração e presentes; contribuições eram cooperação de todos. situadas e clarificadas. Monografia dividida em 4 capítulos: Introdução; 1. Objetivos, contextualização e conceitos - Novas 1) A Nova Ecologia tecnologias, novos Educacional valores, importância das comunidades 2) O Novo Cenário Cibernético e Teorias virtuais; 2. Casuística e Métodos de Aprendizagem e construção da Educação pesquisa, etapas da 3) A Aprendizagem pesquisa, coletas de dados, questionários; Colaborativa no 3. Análise dos Ambiente Informático resultados; Educacional Considerações Finais e Anexos Apesar da grande diferença de áreas de interesse entre os participantes, os autores apontam nos depoimentos ter havido intensa troca de opiniões, um debate acalorado na realização do trabalho, mas uma intensa negociação que permitiu o curso das atividades de maneira a contemplar a todos, com o compartilhamento da produção individual para a composição de um todo, na medida do possível, harmônico. - Desde o começo do - Conflitos diante de aluno que se trabalho (escolha do tema) houve conflito identificou como “subcomandante”. - Após muitas reclamações sobre o - Troca de acusações editor de texto do sobre quem seria líder Portal (reST), a e tratamento diferente equipe de suporte com os alunos instalou um outro ouvintes (Kupu, mais próximo do Word e compatível com o Plone) É possível dividirmos o texto em duas partes que se complementam. Na primeira parte, que inclui os dois primeiros capítulos, os autores tratam de conferir embasamento teórico às proposições que apresentam na parte seguinte, que versa sobre o caráter empírico da pesquisa. Nesta segunda parte, observa-se como os autores estudaram as - Monografia dividida Livro formatado em em 8 partes: três capítulos: 1)Introdução, 2) Histórico da EAD, 3) i) Redes Digitais e Comunidades Virtuais Sociais, englobando de Aprendizagem e subtemas tais como: Consórcios de Educação a Distância Universidades, 4) (EAD), comunidades Parâmetros de virtuais (conceitos) e qualidade em EAD, 5) interação; Modelos de Gestão de dois consórcios: CVA- ii) Diferentes formas RICESU e CEDERJ, de interação, reunindo 6) Indicadores para subtemas como: avaliação da compartilhar, qualidade em contribuir, colaborar, comunidades de Os autores não apresentaram dificuldades na negociação de temas e tarefas. A escolha de apenas três temas principais parece ter facilitado o trabalho, mantendo o foco - Somente na fase final algumas lideranças surgiram no grupo 1.Introdução: descreve objetivos macro e micro e o trabalho do turma Além da apresentação em PDF, há um blog que aproveita melhor as interações através de hiperlinks 2. Capitulo sobre http://ccvap.wordpress .com/ - Após Epistemologias/ apresentação geral, Sociedade Líquida/Novo conceito os autores tratam de cada um dos temas de comunidade principais, além do próprio processo de 3. Capítulo sobre produção de texto Etnografia Virtual coletivo, terminando com o making of. 4. Mapeamento dos Destaque para a projetos e conexão entre os 133 portuguesa, além de 4) O Texto Coletivo. possuírem, em seu corpo, anotações Primeiro capítulo é pessoais e indicações uma narrativa de referências. histórica sem citações ou referências. Segundo capítulo descrição de 4 teorias de aprendizagem citando os autores. (depoimentos e entrevistas) características do próprio grupo a que pertencem, compreendendo assim como se deu o processo de criação da comunidade virtual entre estes. Cpítulos 3 e 4 relato de experiências, pobre em detalhes. 3.4 Dificuldades Não Observado. - na escolha do tema; dificuldade de De acordo com os interação no fórum, de depoimentos dos alunos foi possível - faltaram discussões interagir por meio da tecnologia; literacia observar as entre alunos para digital; dificuldades na determinar o que realização do escrever a tantas trabalho: suporte às mãos; dificuldades técnicas como a postagem de - problemas alguns trabalhos, falta operacionais na de tempo, as comunicação virtual dificuldade para encontrar o grupo em outros momentos presenciais, entre outras. aprendizagem, 7)Considerações finais 8) Referências Além disso, a monografia tem um anexo chamado “A criação de uma comunidade para a pesquisa de comunidades - um exercício metacognitivo”, onde apresentam o memorial descritivo do trabalho. Neste anexo, tem uma foto do grupo vestidos de guerreiros - Lentidão da incubadora que hospedava o Portal da turma - Dificuldades no uso do Portal cooperar. dissertações iii) Relações de poder desenvolvidas na comunidade virtual dos alunos da disciplina de CCVAP. 5. Conclusões parciais links, aproveitando os “ganchos” entre os temas. 6. Making-Of com tabelas e Making-Of em video - Além de referências e anexos (Glossário) - Texto com gráficos - O grupo contou com um Blog para postagem das relatorias. Além do texto, cada relatoria tinha uma imagem principal. Além de colocarem as discussões da aula, copiavam parte dos emails para mostrar o que estavam fazendo. 1. Trabalhar com a ferramenta wiki 2. Falta de tempo para a produção do material 1. greve da USP 2.como lidar com a heterogeneidade do grupo O tempo, sem dúvida, foi o grande “inimigo” dos autores. - Limitações individuais relacionadas a equipamentos, browsers, softwares (especialmente o editor de textos reST),, redes locais e conhecimentos técnicos 134 - Desinteresse pelo aprendizado da nova tecnologia (por falta de tempo, problemas pessoais ou falta de afinidade) - Houve distanciamentos, discussões, princípio de briga, cansaço, desânimo, raiva e mal entendido entre o grupo 4) Autoavaliação Não Observado. Não observado Pouca mudança de Quanto à avaliação comportamento; realizada sobre a preferencia pelo própria participação presencial; falta de no curso, 75% dos cultura para utilização alunos da tecnologia; relataram que sua participação foi boa e 25% das respostas relatou uma participação ótima, o que revela grande grau de envolvimento dos alunos com a disciplina e com as atividades propostas. - Desenvolveram alguns truques para editar e salvar os arquivos no Portal - Avaliaram que o processo foi extremamente democrático. Apontaram que - No final do trabalho, algumas pessoas se destacaram pelos os mais resistentes à conhecimentos tecnologia anteriores sobre aprenderam a lidar produção com ela Não observado Não observado acadêmica, - Apesar dos experiência em desentendimentos do gerência de projetos, grupo, no final, conhecimento dos ficaram amigos temas - Apresentam uma pergunta ao final: “Não teríamos nós, os 10 guerreiros CCVAP, sido atraídos por esta disciplina, neste exato momento de nossas vidas, com estas pessoas, neste lugar, com essa proposta, justamente por estarmos precisando APRENDER a nos abordados, e prática com ferramentas da Web. Essas foram as que sugeriram uma direção para o trabalho, disponibilizando bibliografias e formas de organização dos grupos tais como: 135 relacionarmos em COMUNIDADE?” rotinas de tarefas e cronograma. - Acreditam que cumpriram o objetivo proposto inicial plenamente. 5) Resultados/ conclusões Não Observado. Nos depoimentos foi O curso e a produção Boa frequencia de do texto coletivo alunos nos foruns por possível observar que propiciou para todos conta da realização os alunos obtiveram os alunos uma do texto coletivo, diversos ganhos no experiência porém ainda a curso da realização do extraordinária. trabalho. Podemos preferência pela prática da oralidade apontar: convívio com profissionais de Efetiva prática de que a escrita. Falta de diferentes áreas, comunidade virtual.. tempo para verbalizar as ideias no fórum. possibilidade de Uso de ferramentas contato mais próximo mais tradicionais (e- com as tecnologias da mail). O fórum não era informação e da uma ferramenta comunicação; eficiente para as oportunidade de criar trocas que a disciplina diálogos e solucionar exigia: provocou problemas pouca mudança de coletivamente, entre comportamento já que outros. a resistência pelo uso do ambiente virtual ainda era muito grande e a cultura/hábito de utilização do fórum não era uma prática corriqueira em outras atividades do dia-adia. - Foram dois aprendizados 1) Quanto ao processo pelo qual o texto foi elaborado, o grupo conclui que a pesquisa sobre comunidade virtual deve abarcar as complexidades que não estão aparentes na superfície, mas que permeiam todas as relações dos participantes 2) Quanto às contribuições dos consórcios descritos a) geram fluxo de informações e contribuições culturais, educacionais e inovações b) ajudam a viabilizar os cursos que não teriam condições de sobreviver sozinhos c)EAD abre oportunidades porque não há a barreira da - Após uma análise - Rede de interações que se formou ao mais detalhada dos longo do curso na seis textos coletivos, turma possibilitou a objeto do presente comunicação com estudo, alternância de equilíbrio de poderes identifica-se a existência de oito - Ausência de etapas percorridas pelos grupos CCVAP, hierarquia e de de 2001 a 2006, coordenação foi um dos fatores de durante seus respectivos processos estranhamento de negociação. - Mudança de paradigma provocada pelas novas TICs e seus consequentes redimensionamentos de tempo e espaço implicando em novos modos de agir, pensar e criar - A utilização de tecnologia no processo não se configurou como ‘catalisador’ do estranhamento, mas sim, como um fator positivo auxiliando em sua diminuição. O ciberespaço Embora o trabalho transforma as relação possa ser criticado por com o saber, não apresentar facilitando o acesso e propostas concretas oferecendo um sobre os temas, potencial de preferindo ficar no aprendizagem. campo das especulações, é bem sucedido em seu a utilização das objetivo (não tão tecnologias coloca em despretensioso questão o ambiente pedagógico. somente quanto afirmam os autores no título) de o acesso à apresentar um informação não garante uma melhor formato diferenciado de texto coletivo. Não aprendizagem. linear e hipertextual, não perde o foco e os papéis do professor e do aluno. consegue criar “nós” entre os temas, criando uma navegação fácil e nada confusa. O texto, vale destacar, é de excelente qualidade. - O aumento das possibilidades de 136 distância d) CVAP possibilitam o crescimento dos envolvidos à medida que trocam ideias, informações e conhecimentos. interações oferecidas pelas TICs elevou a intensidade de interação entre os participantes; - A multiplicidade de canais e a preocupação em não impor vontades individuais geraram excesso de comunicações que podiam ser consideradas como ruído; - Um projeto educativo que associa atividades presenciais e a distância tem potencial para desenvolver capacidades interativas, porém requer um tempo de adaptação do grupo que varia de acordo com as características do grupo e as habilidades nos usos das TICs. 6) Observações relevantes O arquivo apresenta- Citações inexistentes, Relatos de um público Tecnologias em uso se como um apenas listados na não nativo digital; na CCVAP de 2004 documento em Bibliografia. ascendência e desenvolvimento, com decadência de Chat, E-mail, ferramentas vários conteúdos Ferramentas de tecnológicas desconexos ou busca, Fórum/Lista de interativas (Fóruns, inacabados, alguns discussão com erros de ICQ e MIRC quase formatação, de não são mais utilizados) e digitação e da língua emergencia de redes portuguesa, além de Trabalho foi o primeiro da disciplina a tomar como objeto de estudo algo externo, como os consórcios CVA-Ricesu e CEDERJ. O grupo sugeriu O trabalho inovou O trabalho mostra temas para trabalhos pela inserção da uma nova futuros: Etnografia virtual na possibilidade – em sua metodologia e o termos de formato para a criação de 1) Conflitos em gerir o uso de outras mídias (vídeo). Ele teve uma conhecimento coletivo conhecimento do construção coerente. acadêmico, utilizando grupo; a tecnologia de forma relativamente simples, 2) Conflitos na mas inteligente. convergência dos estilos de 137 possuírem, em seu corpo, anotações pessoais e indicações de referências. Web 2.0 (contexto histórico, panorama geral) Uso das TIC´s para disponibilizar serviços e informações para a sociedade durante sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia e trezentos e sessenta e cinco dias por ano (7x24x365), de qualquer lugar e a qualquer momento (Dorris, 2000 e Fountain, 2001); Ano 2000: Internet discada, - Buscador utilizado: Altavista, - Mensageiro utilizado: ICQ, - os ‘blogs’ eram páginas do Geocities. E a multimídia, chegava pelo RealPlayer e seus sociais; revisão da literatura, que para os dias atuais precisam de ressalvas (como o modelo emissorreceptor utilizado e bibliografia de Lévy). -2002: The Web becomes ubiquitous - Após a bolha, a conectividade ‘a Internet começa a torna-se mais acessível. NOVA ERA: - deu origem às redes sociais, aos sites como o MySpace e Facebook, que apesar de inpopular de início, rapidamente ganhou aceitação da maioria dos jovens.. - 1a citação da WEB 2.0. - O mundo produziu 5 exabytes* de informação - 253 milhões de emails armazenados. Governo eletrônico - Materializa a relação entre duas grandes áreas, a social aplicada e a tecnologia (Hoeschl, 2003); aprendizagem de cada elemento do grupo; 3) Conflitos na dimensão social - Divulgado o termo WEB 2.0 - Web 2.0 Conference organizado por O´Rilley. - O e-commerce gerou uma receita de R$ 1,8 bilhão em 2004. - A partir 2004, o aumento no tráfego aliado à volta dos investimentos em publicidade online fez com que o modelo do clique voltasse com força. Web 2.0: Novas ideias de compatilhamento e troca de conteúdo ad hoc, tais como Weblogs e RSS, ganharam rápida aceitação na Web. - O Brasil se torna líder mundial de inscritos no Orkut, então o site de comunidades virtuais mais procurado do mundo. - Publicado o livro: What is Web 2.0 Design patterns and business models for the next generation of software, considerada aprimeira conceituação de Web 2.0. - Criação do site de visualização de vídeos chamado YouTube. - Mais de 50% do custo de extração de petróleo está associado à obtenção e tratamento de informação. (Santos, 2005). - Panorama da Classe “C” no -Twitter Novidades da Web 1. Criação do Ning, neste ano, pela Netscape; 2. Google anunciou o OpenSocial, um sistema que permite desenvolver aplicativos para redes sociais. 3. Criação de diversas ferramentas pelo Twitter (busca; análise de conteúdo etc). 4. Neste ano, a comunidade do Orkut Eu AMO Floripa foi alvo da primeira transação comercial de que se teve notícia na rede no Brasil quando foi "adquirida" pela RBS, que pagou R$ 2 mil a um jovem carioca para se tornar - Ambiente dinâmico e interativo onde os usuários são responsáveis pela organização do conteúdo (Gibson, 2008); - On June 10, 2009 the Global Language Monitor declared it to be the one-millionth English word. - Ênfase na interatividade, representada pelas comunidades, e a ênfase nos serviços Web (Herrington, 2008) - Surge o Intel Core i7 - transistores de 45nm – 731 milhões transistores –Clock speed: 3 GHz •7 mil vezes mais eficiente - o número de celulares no Brasil chegou a 167 milhões (set/2009), enquanto a quantidade de computadores em uso, em ambiente corporativo e doméstico, é de 43 milhões em - O número de usuários net no mundo cresce. São 1,97 bilhão de usuários net (14% de aumento em relação a 2009). No Brasil, 81,3 milhões de usuários. - Explosão dos emails - 107 trilhões de e-mails trocados em todo o mundo. - 255 milhões de sites na net mundial (21,4 milhões adicionados somente em 2010) - São 152 milhões de blogs em todo o mundo. - Boom do Facebook, atingindo 600 milhões de usuários no mundo (70% fora dos EUA). No Brasil, é a rede que mais 138 vídeos. O mundo estava descobrindo a Internet, e as revistas de negócios só falavam nas "empresas ponto com" – que recebiam toneladas de investimento e estavam inaugurando a chamada Nova Economia, anticíclica e de crescimento ilimitado. - Maio de 2001: Estouro da bolha da Internet O boom da Web 2.0 dá início à democratização da Web. - O número de transações bancárias realizadas pela Web ultrapassam as realizadas nas agências. Os PORTAIS DA WEB eram classificados em (Ramprasad, 2002): •Portal informacional; Crise afetou o mercado da Internet e começava a surgir os conceitos da Web 2.0. •Portal transacional; •Portais colaborativos; - - a "Bolha da Internet", ou seja, o fenômeno de supervalorização das empresas pontocom e de As tendências (Computer Association, 2002): •Acesso Centralizado; 2) O uso das Webcams se popularizariza. Brasil: Internet: 2% Computador: 6% 3) Nova tecnologia cria o HD de altíssima capacidade. 4) O Projeto Kyatera é lançado. Desenvolvido em laboratórios virtuais de universidades brasileiras, o objetivo do projeto era, por intermédio de uma nova rede, a Internet 3, permitir a interligação entre pesquisadores a velocidades 200 milhões de vezes mais rápidas. 5) Mnemotécnica, conjunto de aplicações que ampliam o potencial destes espaços de estimular a memorização de conteúdos, é utilizada no Brasil na estimulação de memória e reforço de aprendizado em Internet: 10% Computador: 15%. mediadora do fórum de discussão. (set/2009) 5. Criação do MySpaceTV (semelhante ao Youtube) e novidades para celulares -Solid State Drives, ou SSD: Tá certo que hoje em dia a gente não ouve mais aquele CRRRR dos discos rígidos, mas eles estão com os dias contados, os SSD são mais rápidos, mais confiáveis e usam menos energia. 6. Crescimento do uso das redes pelas empresas/organiza ções 7. Divulgação de pesquisas sobre o cuidado com as redes sociais (divulgação de dados pessoais) 8. Aprimoramento do Facebook com criação de listagem de pesquisa pública Principais discussões dos autores (em revistas acadêmicas neste ano) 1) Qual é o desafio que os sites de relacionamento, como o Messenger, da -Interface 3D: Depois que a Apple nos forçou a usar interfaces sensíveis ao toque, agora ela patenteou uma interface 3D (clique na foto para saber mais, em inglês). Mas não é a única, soluções como BumpTop e Project Looking Glass, da Sun também estão nesse caminho -– Computação nas Nuvens (Cloud Computing): Segundo a Google, é o futuro. Já tem até Sistema Operacional na Web. Cada vez cresce, mas Orkut ainda tem mais usuários (26 milhões, contra 9,6 milhões do Facebook). - Megaboom do Twitter. 25 bilhões de tweets (175 milhões de novas contas no Twitter – set 2010). No Brasil, são 9,8 milhões de usuários em 2010. - YouTube alcança a marca de 2 bilhões de vídeos assistidos por dia no YouTube (35 horas de vídeos enviados por minuto), no mundo. - Uso das redes sociais nas eleições cresce no Brasil, seguindo o exemplo Obama. - Surge o crowdfunding (iniciativas de financiamento coletivo) no Brasil, com o site Catarse, nos mesmos moldes do norteamericano Kickstarter. 139 suas ações, estourou. Foi o fim de centenas de pequenas empresas virtuais que davam seus primeiros passos. No entanto, empresas sólidas saíram praticamente ilesas. Viu-se que o mercado de Internet gera lucros e que, apesar de extenso, tem limites. Apesar do abalo, a rede mundial segue influindo na economia. Conforme dados da AOL/RoperASW, do Ibope e da Receita Federal, 29% dos internautas procuram emprego por meio da rede, 50% planejam férias com a ajuda de sites, 58% organizam eventos sociais, 50% acessam serviços bancários, 69% realizam pesquisa de preços, 3,6 milhões de pessoas fazem compras e 20 milhões declaram o •Acesso Flexível; •Canais Estruturados. espaços virtuais. Microsoft, e a rede de relacionamentos Orkut, do Google, entre os mais populares, representam para a educação? É possível ignorar a presença desta nova forma de expressão comunicativa? (Ismar de Oliveira Soares) 2. A ferramenta wiki: uma experiência pedagógica (GOMES, Mayra Rodrigues) 3. Podemos ser mais criativos ao adotar a inovação tecnológica em educação? Uma proposta em comunicação (Guillermo Orozco Gómez) 4. Avaliação qualitativa de interações em redes sociais (Alex Primo) 5. Cultura dos links: conjunção e conexão nas redes (Marta de Araújo mais o seu navegador começa a ficar mais importante que seu Sistema Operacional. - Propagação cada vez maior dos memes (vídeos, frases, imagens ou até mesmo ideias que viram “febres” na net). Exemplos: “Cala a boca Galvão”, “Sad Keanu”, “Et Bilu”. - Google Street View no Brasil. - O setor de EAD cresce 40% no Brasil e fatura 3 bilhões de reais entre cursos técnicos, treinamento de funcionários, cursos rápidos, graduação e pósgraduação, de acordo com a Associação eLearning Brasil. - Sites de compras coletivas explodem no Brasil. - Mobile: redes sociais são cada vez mais utilizadas via celulares (devido, principalmente, à popularização do sistema Android, do Google) 140 Imposto de Renda via Internet. Pinheiro) 6. Memes em Weblogs: proposta de uma taxonomia (Raquel da Cunha Recuero) - Wikileaks divulga quantidade inédita de documentos militares secretos. 7. - WEB 3.0 Cybersubculturas e cybercenas: explorações iniciais das práticas comunicacionais electro-goth na Internet (Adriana Amaral) ----------------Panorama da Internet no Brasil (CGI,2008): - 25% da população brasileira com idade superior a 16 anos usou a Internet para interagir com órgãos públicos em 2007; - Correlação direta entre o grau de instrução, a renda familiar e a classe social; - O perfil 141 econômico do brasileiro que usa serviços de governo eletrônico é composto por: 5% de indivíduos da classe A, 36% da classe B, 48% da classe C, e 11% das classes DE; - Entre aqueles que não utilizaram serviços de governo eletrônico em 2007, o principal motivo declarado é a preferência pelo contato pessoal (49%); Custo dos equipamentos e internet banda larga; Falta de habilidade no uso de computadores. -59% dos brasileiros nunca acessaram a internet; 47% nunca utilizaram um computador; Redução de 9pp em relação a 2005 (7 milhões de pessoas); - Aumento expressivo da 142 classe “C”: Internet: 2% em 2005, para 15% em 2007 Computador: 6% em 2005, para 24% em 2007 Internet: 10% em 2005, para 28% em 2007 Computador: 15% em 2005, para 40% em 2007 143 APÊNDICE B: Primeira versão da Linha do tempo 144 145 APÊNDICE C: ALUNOS DA 11ª TURMA DA DISCIPLINA CCVAP DO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011 146 147 APÊNDICE D: Apresentação do Making Of/2011 148 149 150